fgv caixa - projeto aplicativo - private equity v15.1-

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1 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO ANÁLISE SOBRE COMO FUNDOS DE INVESTIMENTO DE PRIVATE EQUITY CRIAM VALOR A SEUS COTISTAS E ÀS EMPRESAS INVESTIDAS Nome: ROBERTO CAMARGO LEITE MOREIRA Orientador CAIXA : Cássio Viana de Jesus Orientador EAESP/FGV : Prof. Flávio Macau SÃO PAULO DEZEMBRO 2013

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Economy & Finance


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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

ANÁLISE SOBRE COMO FUNDOS DE INVESTIMENTO DE PRIVATE EQUITY CRIAM VALOR A SEUS COTISTAS E ÀS

EMPRESAS INVESTIDAS

Nome: ROBERTO CAMARGO LEITE MOREIRA

Orientador CAIXA : Cássio Viana de Jesus Orientador EAESP/FGV : Prof. Flá vio Macau

SÃO PAULO DEZEMBRO 2013

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Aluno: Roberto Camargo Leite Moreira

ANÁLISE SOBRE COMO FUNDOS DE INVESTIMENTO DE PRIVATE EQUITY CRIAM VALOR A SEUS COTISTAS E ÀS

EMPRESAS INVESTIDAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas como requisito para obtenção do Certificado de Pós Graduação em Mercado de Capitais. Campo de conhecimento: Finanças Corporativas; Mercado de Capitais; Banking; Mercado Financeiro; Private Equity.

Data da aprovação: / / . Banca examinadora: Cássio Viana de Jesus - Orientador CAIXA Prof. Flávio Macau - Orientador EAESP/FGV

SÃO PAULO DEZEMBRO 2013

3

RESUMO

O presente trabalho apresenta um panorama do mercado de fundos de

Private Equity, e busca estabelecer uma metodologia a ser aplicada para a

análise e gestão de empresas que poderão vir a ser objeto de investimento em

cotas de participação societária por um fundo, de modo que venham a criar

valor para os cotistas e para as empresas investidas. A metodologia abordará

desde o início do processo de aquisição de participação em uma empresa,

passando pela avaliação do valor da empresa, pelo processo de due dilligence,

na definição dos covenants estabelecidos no acordo de acionistas, na

implantação de uma estrutura de governança corporativa, e buscaremos

apontar formas e modalidades de desinvestimento. Buscaremos identificar

medidas estratégicas e administrativas que, uma vez que sejam adotadas pela

gestão da empresa, promovam a melhoria dos processos operacionais, gerem

ganhos de eficiência, ampliem mercados e, consequentemente, criem valor

para o acionista e para a empresa investida.

Palavras-chave: Finanças Corporativas; Mercado de Capitais; Investment

Banking; Valuation; Private Equity; Banco de Investimento; Estrutura de

Capital; Leveraged Buyout.

4

Índice de Figuras ......................................................................................................................... 5 Índice de Tabelas......................................................................................................................... 7 Índice de ANEXOS ..................................................................................................................... 7 1.Introdução................................................................................................................................. 8

1.1. Metodologia............................................................................................................... 12 1.2. Revisão da literatura sobre criação de valor .............................................................. 13 1.3. Cenário do investimento em Private Equity no Brasil............................................... 20 1.4. Retornos Líquidos do investimento em Private Equity ............................................. 24 1.5. Efeitos do Private Equity sobre a rentabilidade das empresas................................... 30

2. Análise da atratividade das oportunidades de investimento ........................................ 33 2.1. Geração de Fluxo de Caixa Livre pela empresa ........................................................ 34 2.2. Análise atual e prospectiva das condições de Mercado .............................................36 2.3. Taxas de crescimento do mercado e da empresa ....................................................... 36 2.4. Margens de lucro ....................................................................................................... 37

3. Análise da Estrutura de Capital...................................................................................... 38 3.1. Viabilidade de otimização da estrutura de capitais.................................................... 38 3.2. Alavancagem financeira e resultados esperados........................................................ 41 3.3. Perspectivas de novos investimentos e CAPEX requeridos ...................................... 42 3.4. Ampliação do perfil da dívida ................................................................................... 42 3.5. Redução do custo da dívida ....................................................................................... 43 3.6. Redução dos encaixes sem aplicação produtiva ........................................................ 44 3.7. Aplicação do Valuation para se estimar o Enterprise Value...................................... 44 3.8. Leveraged Buyout (LBO) – Aquisição Alavancada .................................................. 50 3.9. Taxa Interna de Retorno ............................................................................................ 52 3.10. Taxa Interna de Retorno Líquida para o cotista .................................................... 55

4. Negociação de Covenants e realização de Due Dilligence...................................................58 4.1 Estrutura de Governança Corporativa........................................................................ 59 4.2 Mapeamento e otimização de processos produtivos.................................................. 62 4.3 Estrutura de incentivos à produtividade atreladas a métricas de performance .......... 62 4.4 Reestruturação organizacional ................................................................................... 63 4.5 Profissionalização da gestão ...................................................................................... 63 4.6 Acompanhamento sistemático dos resultados projetados.......................................... 64 4.7 Não promover diluição da participação no capital social .......................................... 65 4.8 Não vender participações na empresa a novos sócios................................................65 4.9 Limites de endividamento total.................................................................................. 66 4.10 Due Diligence ............................................................................................................ 68

5 Planos de negócios que agregam valor ........................................................................... 70 5.1 Ciclo PDCA............................................................................................................... 71 5.2 Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP)...................................................73 5.3 Ganhos de produtividade operacional........................................................................ 73 5.4 Redução de custos fixos e variáveis........................................................................... 74 5.5 Ampliação de mercados e aumento de vendas .......................................................... 74 5.6 Novos produtos.......................................................................................................... 76 5.7 Tecnologias de produção inovadoras......................................................................... 77 5.8 Ganhos de eficiência de logística............................................................................... 77

6 Negociação para desinvestmento..................................................................................... 78 6.1 Busca por parceiros estratégicos Nacionais e Estrangeiros ....................................... 80 6.2 Oferta para investidores institucionais....................................................................... 81 6.3 Oferta para outros Fundos de Private Equity............................................................. 82 6.4 Possibilidade de IPO.................................................................................................. 82

7 Perfil de Risco e Retorno dos Fundos de Private Equity................................................ 85 8 Estudo de Caso da participação dos Fundos de Private Equity nos IPOs do Brasil

entre 2004 e 2013 .............................................................................................................. 92 9 Conclusão .......................................................................................................................... 97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 112

5

Índice de Figuras

Seção 1

Figura 1.1 – Taxas Internas de Retorno (TIR) de Private Equity comparadas com índices de ações

Figura 1.2 – Processo de Criação de Valor pelos Gesto res de Private Equity

Figura 1.3 – Retornos brutos do capital investido e m Private Equity , com saídas entre 2005 e 2012

Figura 1.4 – Principal origem na criação de valor de negócios de PE em %

Figura 1.5 – Tempo gasto na interação entre os gest ores do fundo PE e a alta gestão da empresa

Figura 1.6 – Os 13 Componentes do Crescimento de Val or Acima da Média

Figura 1.7 – Evolução do Capital Comprometido Alocad o ao Brasil em US$ bilhões

Figura 1.8 – Veículos de investimento em Private Equity e Venture Capital no Brasil

Figura 1.9 – Porcentagem do Capital Comprometido em relação ao PIB

Figura 1.10 – Origem do Capital das Organizações Ge storas

Figura 1.11 – Breakdown das origens do capital dos Investidores Locais (amo stra 239 veículos)

Figura 1.12 – Notas atribuídas por investidores par a regiões atrativas para Private Equity

Figura 1.13 – Percentual de setores considerados atr ativos por investidores de PE

Figura 1.14 - Taxa Interna de Retorno Líquida para os investidores de Private Equity

Figura 1.15 - Razão entre o retorno em Private Equity e o retorno com o S&P500

Figura 1.15 – Taxa Interna de Retorno Líquida por t ipo de investidor em PE

Seção 2

Figura 2.1 – Motivadores de crescimento do EBITDA – América Latina e EUA-Europa

Figura 2.2 – Variação de crescimento da receita e m últiplos de saída em setores diferentes

Seção 3

Figura 3.1 – Fórmula de Valuation para determinar o Enterprise Value

Figura 3.2 – Fórmula de Valuation para determinar o Enterprise Value

Figura 3.3 – Fórmula de cálculo do Fluxo de Caixa L ivre

Figura 3.4 – Exemplo de cálculo do Fluxo de Caixa L ivre

Figura 3.5 – Crescimento no Enterprise Value de empresas investidas por Private Equity

Figura 3.6– Fluxos de Caixa Livre projetado Atual e Potencial com atuação do PE

Figura 3.7– Enterprise Value da empresa Atual e Potencial com atuação do Fundo d e Private Equity

Figura 3.8 – Participação de Equity em operações de LBO

Figura 3.9 – Múltiplos de Dívida/ EBITDA em operações de LBO

Figura 3.10 – Taxa Interna de Retorno com e sem ala vancagem financeira em Private Equity

Figura 3.11 – Taxa Interna de Retorno Líquida com PE - com e sem alavancagem financeira

Seção 4

Figura 4.1 – Atingimento da estrutura de Capital ót ima (WACC mínimo)

6

Seção 5

Figura 5.1 – Ciclo de Gerenciamento PDCA

Figura 5.2 – Ciclo de Gerenciamento PDCA – Fases e O bjetivos

Figura 5.3 – Origens do crescimento orgânico das re ceitas das empresas investidas por PE na

América Latina

Figura 5.4 – Criação de valor ao acionista para cad a US$1 de receita incremental

Seção 6

Figura 6.1 – Evolução do valor e quantidade de desin vestimentos por tipo de saída

Figura 6.2 – Percentual do valor de desinvestimento s por tipo de saída no Brasil

Figura 6.3 – Desinvestimentos dos PE para negociação direta das cotas de participação

Figura 6.4 – Processo de preparação para o IPO

Seção 7

Figura 7.1 – Mecanismos operacionais e financeiros de criação de valor da empresa

Figura 7.2 – Distribuição de Risco e Retorno de Fun dos de PE

7

Índice de Tabelas

Tabela 1.1 – Capacidades diferenciadoras e direcion adores de valor.

Tabela 1.2 – Estratégias Financeiras e direcionadore s de valor.

Tabela 1.3 – Taxas de Retorno em Fundos de PE, dividi da por fonte e por décadas de investimento

Tabela 1.4 - Razão média entre o retorno em Private Equity e o retorno com o S&P500, por década

Tabela 1.5 - Diferenças entre empresas de Buyout controladas por PE, MBO e Investidores

Tabela 1.6 - Diferenças de rentabilidade entre emp resas controladas por PE e outras

Tabela 3.1 – Taxa Interna de Retorno Bruta, com e s em alavancagem financeira em Private Equity

Tabela 3.2 – Taxa Interna de Retorno Líquida, com e sem alavancagem financeira em Private Equity

Tabela 3.3 – Redução de Taxas de Retorno Bruta e Lí quida para Fundos de PE

Tabela 3.4 – Proporção do valor criado direcionado p ara GP e LP

Tabela 4.1 – Distribuição de controle nas empresas brasileiras listadas na BOVESPA

Tabela 7.1 – Características dos Quadrantes de Risc o e Retorno de Fundos PE

Índice de ANEXOS

ANEXO I – Cálculos do Valuation da empresa a partir do Fluxo de Caixa Descontado

ANEXO II – Cálculo da TIR para aquisições de partici pação com e sem alavancagem

ANEXO III – Cálculo do Atingimento da Estrutura de Ca pital Ótima

ANEXO IV – Taxas Internas de Retorno Líquidas para os Investidores em Private Equity na América

do Norte

ANEXO V – Razão dos retornos do investimento em Private Equity comparados com o S&P500

(Retorno PE/ S&P500)

ANEXO VI - Tabelas de fluxo de caixa para o investido r (LP) e o gestor (GP) de Fundos de Private

Equity

8

1.Introdução Estamos vivenciando um período de recuperação da economia mundial, logo

após termos passado por um período de grande tensão social e econômica ocorrida

durante a crise de 2008/2009, na qual as inovações financeiras de resultado

questionável, o excesso de liquidez no mercado, e os problemas atrelados ao risco

dos tomadores de crédito subprime geraram uma crise que se espraiou a partir de

Wall Street para a economia real norte-americana, e daí para o resto do mundo, a uma

velocidade assustadoramente vertiginosa, e com efeitos que ainda perduram.

Em resposta à crise, diversos governos nacionais, através de seus respectivos

bancos centrais, procuraram estimular a economia real por meio da redução das taxas

de juros a níveis reais praticamente negativos (abaixo da inflação). Soma-se a isto o

programa norte-americano de Quantitative Easing (QE) o qual promoveu a recompra

de títulos emitidos pelo governo norte americano, gerando nova injeção de liquidez na

economia mundial, além da ampliação da base monetária de dólares, criando uma

conjuntura que fez com que os investidores procurassem alternativas de investimento

nos mercados internacionais, bem como nos mercados de países emergentes,

causando apreciação cambial em diversas moedas, inclusive no Real brasileiro.

Este cenário de crise produziu uma situação de queda mundial das taxas de

juros, e de queda generalizada de preços no mercado mundial de ações, período

durante o qual os investidores saíram em busca por alternativas atraentes para a

aplicação de seus recursos financeiros, as quais não estivessem tão sujeitas às

repentinas oscilações típicas do mercado acionário.

Neste contexto de busca por menor volatilidade de preços, aliada à busca por

melhores taxas de retorno para o investimento em comparação às taxas de juros

pagas no mercado de renda fixa, identifica-se que a aplicação em Fundos de Private

Equity se apresenta como uma importante fonte de diversificação de capital, na

medida em que esta modalidade de investimento constitui-se em uma participação

efetiva e representativa em empresas com boa rentabilidade, boa participação no

mercado em que atuam e que, dependendo das condições do mercado, estão menos

sujeitas às amplas e bruscas flutuações de valor encontradas no mercado acionário.

Dependendo do tamanho da empresa investida, e da sua fase de

desenvolvimento, será possível identificar uma situação em que o fluxo de caixa

gerado por estas empresas apresentará certa regularidade, o que é um fator

importante para minimizar o risco de investidores institucionais, tais como fundos de

pensão, dentre outros grupos de investidores com perfil mais conservador.

9

Além desta característica de regularidade de fluxo de caixa atender ao perfil do

investidor mais conservador, conferindo-lhe maior segurança de retorno, deve-se

destacar que as taxas de retornos médios obtidos neste investimento de longo prazo

são, comparativamente, muito superiores aos retornos obtidos com a aplicação direta

no mercado de ações, conforme se observa na Figura 1.1 abaixo.

Figura 1.1 – Taxas Internas de Retorno (TIR) de Private Equity comparadas com índices de ações

Fonte: Prequin – Private Equity Spotlight

O levantamento realizado e apresentado pela consultoria Prequin1, em seu

relatório Private Equity Spotlight – 2014, indica que os investimentos em Private

Equity, com horizonte de investimento de dez anos encerrados em 30 de Junho de

2013, oferecem as melhores taxas internas de retorno anuais, na ordem de 22% a

26%, superando em muito a média de longo prazo do índice S&P 500 e do índice

MSCI Europa , ambas próximas a 7%, conforme se constata.

O presente trabalho buscará traçar um caminho a ser percorrido pelo gestor em

Fundos de Private Equity, de modo que lhe seja possível trilhar, do início ao fim, o

processo de identificação da empresa a ser investida, fazer a seleção dentre as várias

alternativas disponíveis, aplicar o investimento na participação da empresa após a

negociação de covenants e realização da due diligence, supervisionar a

implementação de melhorias operacionais, e promover a realização do

desinvestimento, com uma taxa de retorno que, em muitos sentidos, supera o obtido

com outras alternativas de investimento, com um nível controlado de risco, ou seja, o

gestor efetivamente promoverá a criação de valor para o cotista e, em diversas vezes,

também para a empresa investida.

1 Prequin – Relatório Private Equity Spotlight. Fevereiro de 2014.

10

A despeito do fato de que os gestores dos Fundos de Private Equity são,

eminentemente, profissionais da área financeira, constata-se que, em diversas

ocasiões, as empresas que serão por ele investidas atuam em áreas tão distintas

quanto no setor de saúde, varejo, indústria de bens de consumo, educação, aluguel de

veículos, tecnologia da informação, dentre outras. Em função da necessidade

prática de se promover melhorias e o aumento da rentabilidade e produtividade das

empresas investidas, sejam elas de que setor forem, os profissionais da área de

gestão de Fundos de Private Equity muitas vezes devem se envolver com questões de

ordem operacional, tais como melhoria de processos de logística e distribuição,

redução de estoques, ampliação de mercados, além das tradicionais questões

financeiras de otimização da estrutura de capital, redução de custos financeiros,

redução de prazos de recebimento de clientes, ampliação de perfil da dívida, etc.

Diante do apresentado anteriormente, podemos dizer que buscaremos abordar,

ainda que sucintamente, as medidas administrativas e estratégicas que efetivamente

agregam valor, em cada uma das etapas da cadeia de criação de valor do

investimento em Private Equity, tal como apresentado na Figura 1.2 destacada abaixo.

Figura 1.2 – Processo de Criação de Valor pelos Gesto res de Private Equity Fonte: Elaboração do próprio autor com base em VESTER ( 2011) e KAISER (2010)

É preciso estabelecer algumas características particulares do mercado

brasileiro de Private Equity, em contraste com o cenário apresentado em outros

mercados mais desenvolvidos, nomeadamente o dos EUA, Inglaterra e Europa, de

11

onde provêm grande parte da fonte de estudos aqui apresentados, para que

possamos adequar melhor os nossos esforços de pesquisa e análise.

A primeira distinção importante diz respeito ao que se entende tradicionalmente

como Private Equity no mundo, e a aplicação que se faz no Brasil.

Em mercados mais desenvolvidos existem, basicamente, duas formas

principais de adquirir cotas de participação em empresas por meio de Fundos.

Existem fundos voltados a adquirir cotas de participação em empresas

iniciantes, muitas vezes pré-operacionais, nas quais existem grandes perspectivas de

crescimento baseadas em uma idéia, produto ou processo produtivo inovador, cujo

investimento é caracterizado por ser de Venture Capital. A segunda modalidade

de investimento é a aplicação de recursos em empresas já estabelecidas, na maioria

das vezes já listadas em bolsa de valores, e cujos recursos serão utilizados para a

compra de participação majoritária na empresa, de modo que se promoverá o

fechamento do capital da empresa, que são caracterizadas como Buyout. Esta

modalidade de PE é a que mais atrai recursos no mundo atualmente, pois grande

parte destas aquisições são feitas com alavancagem financeira (LBO – Leveraged

Buyout) fazendo com que a rentabilidade dos fundos seja sensivelmente aumentada,

conforme veremos com mais detalhes nas seções 3.7 e 3.8 deste trabalho.

No Brasil este cenário é bastante diferenciado, na medida em que a maior

parte dos recursos aplicados em Private Equity são voltados para empresas já

estabelecidas, não listadas em bolsa e de origem familiar, possuidoras de uma marca

forte e bastante conhecida, que apresentam boas margens de lucro e um bom Market

Share na área em que atuam, e que possuem grande potencial de crescimento

orgânico. Conforme se evidencia a partir desta breve descrição, o mercado

brasileiro não apresenta as mesmas condições para operações de Buyout, na medida

em que relativamente poucas empresas estão listadas na BM&F-BOVESPA (maior

bolsa de valores do Brasil), além do fato de que a possibilidade de captação de

recursos de longo prazo é mais difícil e custosa em nosso mercado de capitais, o que

praticamente inviabiliza a aplicação do modelo tradicional de PE utilizado em outros

mercados. As operações mundiais de LBO normalmente são aplicadas para

adquirir empresas de elevado valor de mercado, com controle pulverizado, a partir da

assunção de novas dívidas no mercado de capitais, ou junto a instituições financeiras,

de modo que sua estrutura de capital seja alterada. Após um período de

reestruturação organizacional e de implementação de melhorias operacionais (2-4

anos), refletidas no aumento de margens de lucro e crescimento de receitas, estas

empresas normalmente voltam ao mercado de ações através de novo IPO – Initial

Public Offering, também chamado de Secondary IPO (SIPO).

12

No mercado brasileiro o caminho mais percorrido pelos gestores dos Fundos

de PE é o de se adquirir participação em empresas de Middle Market (aqui

considerado aquelas com faturamento anual bruto entre R$100 Milhões e R$1 bilhão),

com marca forte e reconhecida (TOK&STOK, CVC, Ri Happy, Livraria Nobel, Trifil,

Wizard Idiomas, Universidade Anhanguera, etc.), para melhorar sua produtividade e

promover o crescimento orgânico de receitas, e realizar a venda posterior das cotas

para outros fundos de PE, ou para empresas do mesmo segmento, ou mesmo a

realização de IPO no mercado de ações.

Concluímos o trabalho apresentando um perfil dos Fundos de Private Equity,

tomando como base os estudos quantitativos apresentados sobre as taxas de retorno

líquidas para o cotista, bem como as simulações elaboradas ao longo do trabalho,

para definir quatro “tipos ideais” de fundos PE, sobre os quais discorreremos a

respeito das características que cada tipo está mais identificado, em termos de

alavancagem, do nível de risco, da taxa de retorno líquida, da propensão a conseguir

nova captação em fundos futuros organizados pelo gestor, do impacto das taxas de

administração, e das melhorias operacionais e de rentabilidade implementadas nas

empresas integrantes do portfolio dos Fundos de PE.

1.1. Metodologia Buscaremos na literatura especializada em Private Equity informações a

respeito do entendimento moderno existente sobre os mecanismos de criação de valor

aplicados nas empresas investidas, cujos resultados se refletirão na rentabilidade das

cotas do Fundo de PE. Além da análise da literatura existente sobre criação de

valor, buscaremos levantar os processos atualizados de investimento de Fundos de

Private Equity, tais como os mecanismos de Leveraged Buyout e Management Buyout,

analisando a rentabilidade auferida pelos fundos de PE como um todo, comparando

esta modalidade com o mercado de ações.

Apresentaremos evidências empíricas de criação de valor nas empresas

promovida pelos gestores de Fundos de Private Equity, tanto em termos de melhorias

nas taxas de produtividade quanto em termos de rentabilidade e aumento de vendas,

observadas nas empresas adquiridas para o portfolio do fundo, após a parceria

estabelecida com o PE, em comparação com outras empresas do mesmo segmento

que não possuem a parceria com gestores de fundos de PE.

Buscaremos também lançar mão de exemplos ilustrativos e simulações, de

modo que fiquem mais simples e evidentes as relações existentes entre o Fluxo de

Caixa Livre gerado pela empresa e o seu preço atual (Enterprise Value), calculado

13

pela metodologia de Valuation de Fluxo de Caixa Descontado, simulando também a

Taxa Interna de Retorno Bruta para cada projeto de investimento, bem como a Taxa

Interna de Retorno Líquida para o cotista, depois de deduzidas as taxas de

administração e demais taxas de performance. Isto ajudará a orientar qual a

melhor estratégia a ser adotada pelos gestores de Fundos de Private Equity para criar

e maximizar o valor ao seu cotista.

Uma distinção importante que devemos fazer aqui diz respeito ao veículo de

investimento utilizado no mercado brasileiro, em que a maioria dos investimentos em

PE serão feitos, que será o Fundo de Investimento em Participações (FIP), conforme

veremos adiante na seção 1.3. Este veículo de investimento é utilizado também

para adquirir cotas de participação em SPE – Sociedades de Propósito Específico, que

investirão em projetos de investimento (Project Finance) voltados para áreas de

infraestrutura, energia, concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos.

Esta modalidade de investimento é melhor caracterizada como sendo Fundo de

Infraestrutura, e não propriamente Fundo de Private Equity, conforme o entendimento

tradicional que apresentamos acima, apesar de o veículo utilizado ser o mesmo.

Neste trabalho iremos focar, principalmente, a realização de investimentos em

empresas já existentes, conforme a linha principal das aplicações em Private Equity no

Brasil, restringindo, onde for possível, a análise de investimentos em fundos voltados

para Venture Capital, bem como para os Fundos de Infraestrutura.

Este trabalho buscará apresentar algumas medidas de cunho operacional e

financeiro que promovem a criação de valor para as empresas (Value Drivers), apesar

de o detalhamento de cada uma destas ações não ser o foco principal deste trabalho,

mesmo porque isto seria impossível de se realizar, dentro do escopo relativamente

limitado de um trabalho de conclusão de curso de pós-graduação.

1.2. Revisão da literatura sobre criação de valor

Encontramos na literatura nacional informações relevantes em relação ao tema

da Gestão Baseada no Valor, em Assaf Neto (2012)2, o qual nos apresenta a sua

definição de empresa criadora de valor:

“Uma empresa é considerada como criadora de valor quando for capaz de oferecer a

seus proprietários de capital (credores e acionistas) uma remuneração acima de suas

expectativas mínimas de ganhos. Em outras palavras, quando o resultado gerado

pelos negócios superar a taxa de remuneração exigida pelos credores, ao financiarem

2 NETO, Assaf. Finanças Corporativas e Valor. 2012. p.143-160.

14

parte dos ativos, e pelos acionistas, em suas decisões de investimento de risco.

Nesse contexto, criação de valor é entendida quando o preço de mercado da empresa

apresentar uma valorização decorrente de sua capacidade de melhor remunerar o

custo de oportunidade de seus proprietários.”

Esta definição do eminente autor brasileiro pressupõe a aceitação do antigo

conceito de criação de valor econômico, presente na denominação de Economic Value

Added (EVA)3, a qual considera que o valor econômico efetivamente criado pela

empresa é aquele que remunera o capital empregado em seus ativos a uma taxa de

retorno acima do custo de captação, calculada pela WACC4.

Em seu trabalho, Assaf Neto também elencou um conjunto de capacidades

diferenciadoras, as quais são capazes de agir como direcionadores de valor (value

drivers) dentro da empresa. Apresentamos em seguida tais capacidades

diferenciadoras e os Direcionadores de Valor:

Capacidades

Diferenciadoras Objetivo Estratégico

Direcionadores de Valor

(Value Drivers)

Relações de

negócios

Conhecer a capacidade de relacionamento da

empresa com o mercado financeiro,

fornecedores, clientes e empregados como

fundamento diferenciador do sucesso

empresarial.

* fidelidade de clientes;

* satisfação dos empregados;

* atendimento dos fornecedores;

* alternativas de financiamento;

Conhecimento

do negócio

Ter a visão ampla da empresa e a sinergia do

negócio. Visa ao efetivo conhecimento de

suas oportunidades e mais eficientes

estratégias de agregar valor.

* necessidades dos clientes;

* dimensão e potencial do mercado;

* ganhos de escala;

* ganhos de eficiência operacional;

Qualidade

Desenvolver o produto que o consumidor

deseja adquirir pelo preço que se mostra

disposto a pagar.

* preço de venda mais baixo;

* produtos com maior giro;

* medidas de redução de custos;

* satisfação dos clientes com novos

produtos;

Inovação

Atuar com vantagem competitiva em mercado

de forte concorrência, criando alternativas

inovadoras no atendimento, distribuição,

vendas, produção, etc.

* rapidez no atendimento;

* redução na falta de estoques;

* tempo de produção;

* Valor da marca;

* tempo de lançamento de novos

produtos.

Tabela 1.1 – Capacidades diferenciadoras e direcion adores de valor. Fonte: ASSAF NETO - Finanças Corporativas e Valor (201 0)

3 Marca registrada de propriedade da Stern Stewart & Co. 4 WACC – Weighted Average Cost of Capital

15

Assim como as Capacidades Diferenciadoras elencadas acima são medidas de

cunho operacional e de posicionamento estratégico capazes de atuarem como

direcionadores de valor (Value Drivers), Assaf Neto aponta também algumas

estratégias de cunho mais financeiro com esta capacidade de criar valor, nas quais ele

identifica três dimensões: operacionais, financiamento e investimento. Apresentamos

em seguida tais medidas:

Estratégias

Financeiras Objetivo Estratégico

Direcionadores de Valor

(Value

Operacionais

Maximizar a eficiência das decisões

operacionais, estabelecendo políticas de

preços, compras, vendas e estoques etc.

voltadas a criar valor.

* crescimento das vendas;

* prazos operacionais de cobrança e

pagamentos;

* giro dos estoques;

* margem de lucro.

Financiamento

Por meio de decisões de financiamento,

procura-se minimizar o custo de capital da

empresa, promovendo o incremento de seu

valor de mercado.

* estrutura de capital;

* custo de capital próprio;

* custo de capital de terceiros;

* risco financeiro.

Investimento

Implementar estratégias de investimento

voltadas a agregar valor aos acionistas, por

meio da obtenção de uma taxa de retorno

maior que o custo de capital.

* investimento em capital de giro;

* investimento em capital fixo;

* oportunidades de investimentos;

* análise giro x margem;

* risco operacional.

Tabela 1.2 – Estratégias Financeiras e direcionadore s de valor. Fonte: ASSAF NETO - Finanças Corporativas e Valor (201 0)

16

Nesta seção da pesquisa procuraremos analisar com mais detalhes os

chamados Value Drivers, ou seja, quais os elementos que efetivamente agregam valor

para o cotista de Private Equity.

Podemos observar na Figura 1.3 abaixo, elaborado com base no estudo da

Ernst & Young5, que o valor das saídas do investimento em Private Equity, ocorridas

entre 2005 e 2012, giram em torno de 3,6 vezes o rendimento obtido no mercado de

ações. Pelo estudo realizado pela consultoria, uma parte deste crescimento de valor

(28%) se dá pelo crescimento do próprio mercado de ações, outra parte (33%) se dá

pela alavancagem financeira e redução do custo de capital, e a parte mais significativa

(39%) se dá pela implementação de melhorias operacionais e pela busca de um novo

posicionamento estratégico.

Figura 1.3 – Retornos brutos do capital investido e m Private Equity , com saídas entre 2005 e 2012

Fonte: Earnst&Young

Outro importante estudo encontrado na pesquisa realizada sobre a criação de

valor, desta vez elaborado pela empresa de consultoria Mc Kinsey & Company6,

aponta que existem fatores que diferenciam empresas gestoras de Private Equity de

alta performance das demais.

Dentre um total de 60 negócios realizados por 11 empresas de Private Equity

líderes do mercado, encontrou-se que, em 63% dos casos, a principal fonte de criação

de valor obtido no momento da saída do investimento veio do diferencial de

performance em relação às empresas que lhe servem de parâmetro de comparação

(company outperformance), conforme se observa na Figura 1.3 abaixo.

5 Ernst & Young: Myths and challenges. How do private equity investors create value? 6 Mc Kinsey & Company. Why Some Private Equity firms do better than others.

17

Figura 1.4 – Principal origem na criação de valor de negócios de PE, em %

Fonte: Mc Kinsey & Company

A partir desta informação, juntamente com outras apresentadas ao longo deste

trabalho, podemos inferir a enorme importância da implementação de mudanças

estratégicas e operacionais nas empresas investidas, de modo a se criar valor para o

cotista de Fundos de Private Equity. Os autores do estudo, KEEL e

KEHOE (2005), afirmam que a “participação ativa” dos gestores do fundo de PE,

principalmente nos primeiros 100 dias após a aquisição da participação, é de vital

importância para os resultados auferidos ao final do ciclo de investimento.

A seguir serão apresentados os cinco fatores, apontados pelo estudo, que

diferenciam os negócios da amostra com resultados superiores (1/3 com melhor

retorno) daqueles com resultados inferiores (1/3 com pior retorno):

1) Recorrendo a especialistas : Os gestores dos Fundos de PE procuram obter

informações detalhadas sobre o negócio e sobre a empresa, recorrendo a

experts externos e a reuniões com a diretoria da companhia investida, em nada

menos que 83% dos melhores negócios, enquanto encontrou-se que isto é feito

em menos da metade das vezes nos piores negócios da amostra.

2) Tornando a alta gestão sócia: Os gestores dos fundos de PE procuram

implementar sistemas de incentivo à performance para a alta gestão da

empresa, baseados na distribuição de 15% a 20% da participação no capital

social, tornando-os sócios, de modo a suscitar a motivação e o envolvimento dos

executivos na promoção de melhorias nos resultados obtidos. Identificou-se

que estruturas de incentivo muito amplas não geram os mesmos resultados.

3) Planos de Negócios com métricas de performance: Os promotores dos

melhores negócios também conseguem criar e implementar Planos de Negócios

18

mais efetivos focados na criação de valor para a empresa. Os planos pré-

existentes na própria empresa são considerados também, todavia normalmente

se criam novos, elaborados com auxílio de experts externos, fundamentados em

métricas de performance estabelecidas para realizar o acompanhamento

sistemático dos resultados. Identificou-se que em 92% dos melhores retornos

aplicou-se esta prática, e em menos da metade dos piores negócios.

4) Tempo gasto com a alta gestão: Os parceiros mais exitosos se mostraram

aqueles que devotam mais tempo às empresas investidas nos estágios iniciais

da aquisição da participação. Identificou-se que os gestores dos melhores

negócios passam praticamente metade do seu tempo com a alta gestão da

empresa investida, nos primeiros 100 dias desde o investimento inicial. Desta

forma o relacionamento se consolida, a estratégia a ser perseguida caminha

para um consenso, e há o estabelecimento claro das responsabilidades, bem

como a definição das metas a serem atingidas. Em contraste, os gestores

dos negócios com pior resultado passaram apenas cerca de 20% do tempo com

a alta gestão, conforme nos apresenta a Figura 1.4 abaixo.

Figura 1.5 – Tempo gasto na interação entre os gest ores do fundo PE e a alta gestão da empresa

Fonte: Mc Kinsey & Company

5) Troca de gestão logo no início: No caso de haver necessidade de troca de

executivos e gestores na empresa investida, normalmente isso ocorre no início

do processo de aquisição de participação. Identificou-se que em 83% dos

melhores resultados o reforço na gestão ocorreu antes mesmo do fechamento

do negócio, e em apenas 33% dos casos nos piores resultados. De modo

semelhante foi encontrado que os novos gestores utilizam-se da assessoria de

profissionais especialistas no segmento de atuação da empresa, também após

a aquisição da participação.

19

Em relação a outros fatores que criam valor para o cotista, tendo como base o

artigo publicado por VESTER (2011)7, observamos que se buscou identificar os 13

principais componentes que conseguem promover um retorno diferenciado em relação

ao retorno médio no valor das cotas dos Fundos de Private Equity, dentro de uma

amostra de 176 saídas ocorridas entre 2006 e 2009.

Observamos que os principais componentes de crescimento apontados pela

pesquisa, conforme a Figura 1.5 destacada abaixo, advém das melhorias de

posicionamento estratégico e no aumento da produtividade e eficiência operacional, na

fase seguinte à realização do investimento, a que ele se refere como Improving, na

qual deverá ocorrer a implementação de melhorias da empresa investida, tais como:

a) atuar ativamente nas oportunidades de expansão m últipla;

b) apoiar uma boa equipe de administração e seus pl anos de negócios;

c) focar menos em aquisições e mais na expansão org ânica;

d) começar o processo de mudanças logo após a aquis ição da participação;

e) viabilizar crescimento das operações e a redução de custos;

Outras medidas também agregam valor, e destacaremos aquelas que

promovem um crescimento no retorno próximo de 20% acima da média, que são:

f) adotar como alvo negócios menores, com maior pot encial de crescimento;

g) buscar oportunidades de investimento através de contatos de negócios;

h) sair do investimento via IPO.

Figura 1.6 – Os 13 Componentes do Crescimento de Val or Acima da Média

Fonte: VESTER (2011) - The Journal of Private Equity 7 The Journal of Private Equity. VESTER, John. How do Private Equity Investors Create Value. 2011.

20

1.3. Cenário do investimento em Private Equity no B rasil

Para podermos elaborar a proposta de uma metodologia de criação de valor ao

cotista de Private Equity, devemos aqui traçar um breve panorama do mercado

brasileiro desta modalidade de investimento, para que possamos contextualizá-la de

maneira mais adequada.

Daremos início agora apresentando os volumes efetivamente alocados em

nosso país pela indústria de Private Equity, o que nos apresenta uma dimensão da

importância desta modalidade de investimento frente ao PIB nacional, de modo que

poderemos aferir o potencial de crescimento ainda existente, bem com a velocidade

de crescimento deste investimento no país. Há que se destacar que a participação

do FIP-FGTS, gerido pela CAIXA, no montante de R$24,3 Bilhões, não foi considerada

no volume total apresentado, conforme a metodologia aplicada pelo 2º Censo

Brasileiro de PE/VC, uma vez que existe o requerimento dos gestores deste FIP

poderem influir na gestão e estratégias das empresas investidas, o que não ocorre

com outros veículos, e boa parte destes recursos estão aplicados em infraestrutura.

Observa-se um crescimento bastante acentuado do volume investido,

principalmente a partir de 2005, ano em que o investimento foi de US$7 Bilhões

chegando a atingir US$36 bilhões de capital comprometido em 2009, conforme se

observa na Figura 1.5 destacada abaixo.

Figura 1.7 – Evolução do Capital Comprometido Alocad o ao Brasil em US$ bilhões

Fonte: Base de Dados da GVCepe–FGV e Censo Brasileiro de PE/VC

Abaixo apresentamos os principais veículos utilizados pelos fundos de Private

Equity e de Venture Capital para investirem no Brasil, com dados extraídos do 2º

Censo Brasileiro da Indústria de Private Equity e Venture capital8.

Constatamos que o FIP – Fundo de Investimento em Participações ainda é o

veículo mais utilizado pelos gestores, conforme evidenciado na Figura 1.6, com cerca

8 A Indústria de Private Equity e Venture Capital. 2º Censo brasileiro. 2011.

21

de 30% dos casos, seguido pela modalidade de Limited Partnership, que é a forma

mais comum utilizada em países que se utilizam da Common Law e que estão

baseados no exterior, com cerca de 22% da representação total, seguido pelo FMIEE

– Fundo Mútuo de Investimento em Empresas Emergentes e das Holdings, com

ambas totalizando 23% de participação no total de investimentos em PE.

Figura 1.8 – Veículos de investimento em Private Equity e Venture Capital no Brasil

Fonte: ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

Em seguida apresentaremos, na Figura 1.7, dados relativos ao percentual de

capital comprometido por fundos de PE/VC em relação ao PIB de diversos países,

para que tenhamos um parâmetro de comparação mundial em relação ao potencial de

crescimento de nosso mercado de PE/VC.

Figura 1.9 – Porcentagem do Capital Comprometido em relação ao PIB

Fonte: National empowerment Fund (2008) e Base de D ados da GVCepe – FGV

Observamos que o Brasil apresenta uma participação relativamente pequena

de Capital Comprometido em relação ao PIB, atingindo 1,8% até Agosto de 2008, o

que denota um potencial de crescimento muito grande quando comparado com países

desenvolvidos como Inglaterra (4,7%) e EUA (3,7%), e mesmo comparado a países

em desenvolvimento como África do Sul (2,8%) e Israel (4,2%).

Em seguida apresentamos a origem do capital administrado pelas

organizações gestoras, destacada na Figura 1.8, que demonstra que a maior parte do

22

capital é de origem nacional, com 62% do total, no entanto devemos observar que

parcela significativa provêm de outros países (38%), principalmente dos EUA, com

25% do volume total investido. Isto denota que os esforços de captação de

recursos em fundos de PE não podem prescindir de contatos internacionais, na

medida em que há demanda externa para investimentos no Brasil, de onde provêm

38% dos recursos atualmente investidos.

Figura 1.10 – Origem do Capital das Organizações Ge storas

Fonte: Base de Dados da GVCepe – FGV

Em relação ao perfil do investidor nacional, evidenciado pela Figura 1.9

apresentada abaixo, identificamos que a maioria do capital comprometido em fundos

de PE/VC pelos investidores locais é proveniente dos Fundos de Pensão, com 38% de

participação, seguido dos chamados Corporate Ventures com 22% de participação, os

quais são também conhecidos como Organização Mãe, pelo fato de representarem

companhias participantes do grupo empresarial com interesse nas empresas

investidas. Em seguida destaca-se o capital dos próprios sócios das organizações

gestoras de recursos, com significativos 20% de participação no volume investido nos

Fundos de PE/VC por eles geridos, o que denota alto nível de skin in the game9, ou

seja, um alto grau de comprometimento dos gestores de fundos nas empresas

escolhidas, e em seus resultados futuros.

9 Nota do Autor: Skin in the game – Expressão que, em uma tradução livre, significa “própria pele na jogada”, que representa a participação de capital dos próprios gestores nas empresas investidas, o que denota confiança na gestão e nos seus resultados. Frase já foi atribuída a Warren Buffet.

23

Figura 1.11 – Breakdown das origens do capital dos Investidores Locais (amo stra 239 veículos)

Fonte: Base de Dados da GVCepe – FGV

A despeito das ineficiências do nosso mercado de capitais, somadas ao

chamado “Custo Brasil”, o qual envolve elevados custos de transporte e logística, a

alta carga tributária, a taxa de juro real dentre as mais altas do mundo, podemos dizer

que ainda assim o Brasil têm se mostrado bastante atraente para os investidores

internacionais em Private Equity, como demonstra a Figura 1.10 abaixo, extraída do

relatório da empresa de consultoria Bain&Company10. Observa-se que o Brasil

continua sendo um dos destinos mais atraentes para os investidores, juntamente com

a China e demais países da América Latina, principalmente em decorrência do

crescimento do nosso mercado consumidor, o aumento pela demanda por bens de

consumo antes inacessíveis à “nova classe média”, bem como às oportunidades

ligadas a investimentos necessários em infraestrutura, energia e construção civil.

Figura 1.12 – Notas atribuídas por investidores par a regiões atrativas para Private Equity

Fonte: Bain & Company – Global Private Equity Report 2013

10 Bain & Company: Global Private Equity Report 2013.

24

Em pesquisa realizada pela PwC – INSEAD11 junto a gestores de recursos de

Private Equity, sobre quais os setores mais atraentes para se investir no Brasil,

obteve-se o resultado de que os setores de Serviços, Saúde, Infraestrutura e Bens de

Consumo apresentavam as oportunidades mais atraentes (Figura 1.11).

Figura 1.13 – Percentual de setores considerados atr ativos por investidores de PE

Fonte: INSEAD- PwC: Study in Private Equity in Brazil

1.4. Retornos Líquidos do investimento em Private E quity

Podemos considerar que um dos principais fatores que atraem os investidores

para a modalidade de investimento em Private Equity são as taxas de retorno

usualmente apresentadas, sobre as quais existem evidências que indicam que estas

superam as taxas de retorno do mercado de ações, utilizado como parâmetro de

comparação em termos de análise de Risco X Retorno.

Para uma comparação adequada, todavia, devemos discorrer sobre a forma de

cobrança de taxas de administração e outras formas de taxas de performance, que

afetam a rentabilidade líquida dos Fundos de Private Equity.

Além da taxa de administração, cobrada sobre o capital comprometido para

investimento, a qual gira em torno de 2% sobre o montante total, os investidores

devem considerar também que, no momento da saída do investimento, será cobrado

pelos gestores dos Fundos de PE o carried interest, que representa a percentagem

cobrada sobre o valor efetivamente agregado em relação ao capital inicialmente

comprometido pelo cotista.

Há que se ter em mente que os investimentos de Private Equity usualmente

são feitos com horizonte de longo prazo (normalmente 10 anos), e cujo retorno

auferido costuma ser maior que a média do retorno no mercado de ações, todavia o 11 Ver referências bibliográficas: PwC – INSEAD: Study in Private Equity in Brazil. 2011.

25

PE não apresenta a mesma liquidez que esta última opção de investimentos, o que

implica em ponderações acerca do retorno líquido para o cotista, deduzidas de todas

as taxas e demais custos envolvidos.

Existe ampla literatura internacional sobre o tema da rentabilidade dos Fundos

de PE, e a maioria deles utiliza os retornos brutos dos investimentos de PE, em função

de que estes dados são mais facilmente disponíveis, uma vez que eles costumam ser

utilizados como parâmetros de comparação para o levantamento de novos fundos

mas, por outro lado, os dados sobre os retornos líquidos já são mais difíceis de se

obter, uma vez que dependem das condições estabelecidas em contratos assinados

entre os gestores (GP - General Partners) e os investidores (LP - Limited Partners), os

quais são cercados por cláusulas de confidencialidade.

A despeito deste fato dificultador para se elaborar análises acerca da

rentabilidade líquida, pesquisadores conseguiram obter acesso a bases consolidadas

de retornos líquidos dos Fundos de Private Equity, com informação proveniente de

investidores institucionais e outros Limited Partners (LP), de modo que passaremos a

analisar estes retornos.

Em levantamento realizado por Kaplan e Harris (2012)12, com base obtida junto

à Burgiss, empresa de informações financeiras que coleta dados de mais de 1400

fundos, a partir de mais de 200 investidores institucionais norte-americanos (EUA e

Canadá), foram levantados as Taxas Internas de Retorno dos Fundos de Private

Equity e de Venture Capital, ao longo dos anos de 1984 até 2008. Os anos

considerados como referência são os anos Vintage, ou seja, o ano em que os fundos

PE efetivamente começaram a realizar os investimentos nas empresas.

Para ampliar o escopo da pesquisa, bem como para compará-la com outras

fontes de dados, os autores utilizaram também dados de rentabilidade líquida, quando

disponíveis, obtidos junto às seguintes empresas: Venture Economics (VE), Preqin,

Cambridge Associates (CA), bem como extraíram dados de estudos acadêmicos que

analisaram os retornos líquidos de Fundos de PE, de Kaplan-Schoar (KS) e Robinson

e Sensoy (RS). Os autores deste estudo também realizaram comparações com

o que eles chamaram de PME – Public Market Equivalent, que é o índice de ações

mais amplamente utilizado: S&P500.

Apresentamos abaixo na Figura 1.12 as taxas de retorno líquidas de Taxas de

Administração e Carried Interest, representando os retornos efetivos para os

12 KAPLAN, Steven; HARRIS, Robert; JENKINSON, Tim. PRIVATE EQUITY PERFORMANCE:WHAT DO WE KNOW? 2012. National Bureau of Economic Research.

26

investidores (Limited Partners)13, com taxas médias ponderadas pelo tamanho dos

fundos (em US$ comprometidos).

Figura 1.14 - Taxa Interna de Retorno Líquida para os investidores de Private Equity

Fonte: Robert Harris, Tim Jenkinson, Steven N. Kapla n. 2012.

Este gráfico evidencia que os investimentos em Fundos de Private Equity

apresentam taxas de retorno líquidas bastante expressivas, atingindo a média geral de

14,70%, considerando todas as fontes de dados e todos os anos de investimento.

Devemos ressaltar, todavia, que a média de retornos está se reduzindo em

cada década, passando de 18,05% na década de 80, para 16,20% nos anos 90, e

atingindo o retorno médio de 9,72% nos anos de 2001 até o ano 2008, período que

culminou com a crise financeira mundial, conforme observamos na Tabela 1.1.

Anos Burgiss

Venture

Economics Preqin

Cambridge

Associates

Kaplan-

Schoar

Robinson-

Sensoy

Média da

década

2000-2008 11,00 7,10 12,80 11,90 - 5,80 9,72

1990-1999 19,30 11,80 17,60 15,90 14,50 18,10 16,20

1980-1989 16,70 21,00 22,00 15,10 18,00 15,50 18,05

Média 15,70 12,30 16,90 14,20 16,30 12,80 14,70

Tabela 1.3 – Taxas de Retorno em Fundos de PE, dividi da por fonte e por décadas de investimento Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados de Kap lan (2012)

13 ANEXO IV – Taxas Internas Líquidas de Retorno para os Investidores em Private Equity na América do Norte

27

Conforme mencionamos14, os autores do estudo também compararam os

retornos com o S&P500, e esta comparação de deu pelo cálculo da razão anual das

taxas de retorno dos Fundos PE com os ganhos do mercado de ações. Quando a

razão for maior que 1 significa que o investimento em PE superou o S&P500, e

quando for menor que 1 o retorno de PE ficou abaixo deste índice de ações. Há que

se destacar que o Beta (β) considerado na comparação foi igual a 1, ou seja, não foi

feito o ajuste do retorno pelo risco representado pelas empresas de Private Equity.

A comparação resultante está apresentada na Figura 1.13 abaixo.

Figura 1.15 - Razão entre o retorno em Private Equity e o retorno com o S&P500

Fonte: Robert Harris, Tim Jenkinson, Steven N. Kapla n. 2012.

Interessante notar que existe uma diferença acentuada entre a rentabilidade

nominal elevada, obtida em alguns períodos, conforme se observa na Figura 1.14, e a

relativa estabilidade dos retornos de Fundos de PE acima do benchmark, observada

na Figura 1.15. Esta relação de retorno superior de Fundos PE foi particularmente

acentuada no início da década de 90, e no período entre 1997 e 2005, quando o

retorno em PE superou em mais de 20% o S&P500. Entretanto a partir de 2006

até 2008 o retorno foi igual ou levemente inferior ao mercado de ações.

14 ANEXO V – Razão dos retornos do investimento em Private Equity comparados com o S&P500 (Retorno PE/ S&P500)

28

Em relação às razões médias obtidas, por década, não encontramos diferenças

significativas, conforme se observa na tabela 1.4 abaixo, o que denota a regularidade

de obtenção de retorno líquido superior dos Fundos de Private Equity, no longo prazo,

em relação ao retorno obtido no mercado de ações (S&P500).

Anos Burgiss

Robinson-

Sensoy

Venture

Economics Preqin

Média da

década

2000-2008 1,29 1,16 1,14 1,33 1,23

1993-1999 1,27 1,29 1,11 1,21 1,22

Média 1,28 1,23 1,13 1,27 1,23

Tabela 1.4 - Razão média entre o retorno em Private Equity e o retorno com o S&P500, por década

Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados de Kap lan (2012)

Um estudo realizado por RICHARDSON e LJUNGQVIST (2003)15 chegou a

conclusões semelhantes, também considerando os retornos líquidos de Fundos de

PE, descontadas as taxas de administração e carried interest, em relação ao retorno

obtido com o S&P500. Este estudo analisou o resultado líquido de 73 fundos de PE,

com base nos retornos informados pelos investidores (LP), em aplicações efetuadas

entre 1981 e 1993. O retorno médio anual obtido pelos Fundos de PE foi de 19,81%,

contra 14,10% obtido no S&P 500 no mesmo período. Interessante destacar também

que o beta (β) calculado nestes Fundos de PE foi de 1,08 em média, com beta do

primeiro quartil de 1,04 e 1,13 no terceiro, ou seja, o acréscimo de risco da carteira de

investimento dos fundos institucionais (LP) não foi muito maior do que o obtido com

algumas ações mais voláteis do próprio índice S&P 500, mas com cerca de 5,70% de

acréscimo no retorno líquido.

Em um artigo publicado por LERNER (2007)16, outro comportamento

interessante foi observado para os resultados dos Fundos de PE: o perfil dos

investidores também afeta o resultado líquido dos fundos, ou seja, o resultado auferido

por fundos de Universidades e Fundações (endowments) apresenta retorno muito

superior ao resultado obtido pelos Fundos de Fundos e Bancos. O autor compilou um

número expressivo de 7.587 aplicações em empresas, realizadas por 1.398 Fundos de

Private Equity, em nome de 417 investidores (LP), durante o período de 1991 a 2001.

O resultado encontra-se apresentado na Figura 1.16 destacada abaixo.

15 Ver referências bibliográficas em: Richardson, Matthew. Ljungqvist, Alexander. The cash flow, return and risk characteristics of private equity. 2003. 16 Ver referências bibliográficas em: LERNER, Josh. Private Equity: The enigma of Private Equity. Financial Times. London. 24/04/2007.

29

Figura 1.15 – Taxa Interna de Retorno Líquida por t ipo de investidor em PE

Fonte: Josh Lerner in The Financial Times of 24/04/ 2007

O resultado obtido ainda não foi devidamente explicado por LERNER, mas

KAISER e WESTARP (2011)17 levantam a hipótese de que isto ocorre em função de

diferenças em relação à forma de contratação dos Fundos de PE, bem como ao

melhor acompanhamento dos resultados auferidos. Especificamente em relação

aos Bancos, os autores Kaiser e Westarp, levantam a hipótese que isto ocorre pois os

bancos costumam compensar os resultados com operações de empréstimo para

fundos de Private Equity realizarem aquisições alavancadas (LBO), além de

comissões com o assessoramento para a compra das empresas investidas.

Em artigo da Harvard Business Review18, é analisado o processo de escolha

das empresas gestoras de recursos de Private Equity, pelos responsáveis pelo

endowment da Universidade YALE, e o resultado apresentado é que os investidores

fazem a escolha baseado em um critério muito rigoroso, analisando o track record

(resultado histórico), bem como a metodologia de trabalho dos gestores, e são

estipulados contratos que estabelecem o alinhamento de interesses entre os dos

gestores de recursos e os do endowment, de modo que a remuneração passa a ser

intimamente ligada à performance do fundo.

Estes investidores (LP) também costumam aplicar repetidamente com os

gestores de Private Equity com os melhores resultados pregressos, pois é comum que

os melhores resultados de gestores de PE sejam replicados em Fundos sucessivos. 17 Ver em referências bibliográficas: KAISER, Kevin; WESTARP, Christian. Value Creation in the Private Equity and Venture Capital Industry. 18 INSERIR A REFERÊNCIA

30

1.5. Efeitos do Private Equity sobre a rentabilidad e das empresas

Nesta seção entraremos no cerne da questão sobre a criação de valor pelos

gestores de Fundos de Private Equity: i) se eles efetivamente agregam valor às

empresas adquiridas; ii) se agregam valor, em qual medida isto ocorre, e em quais

dimensões isto se observa.

Em resposta à primeira pergunta procuraremos apresentar dados que

evidenciam que as empresas investidas pelos fundos de PE efetivamente apresentam

melhoras em termos operacionais e em termos de resultados financeiros, além dos

indicativos indiretos já apresentados, obtidos com o retorno superior em relação ao

mercado de ações (cerca de 23%).

Em um estudo de COTTER e PECK (2001)19 os autores analisaram uma

amostra contendo 64 empresas norte-americanas que passaram pelo processo de

Buyout entre 1984 e 1989, dentre as quais 40 eram controladas por Fundos PE, 14

foram MBO e eram controladas pelos gestores, e 10 eram controladas por outros

investidores (não PE), comparando os resultados em termos de Performance da

Empresa (EBITDA/ Vendas, EBITDA/ Ativos), Características das Dívidas

(maturidade), Estresse Financeiro (nº de incidências), incentivos ao CEO e

composição do Conselho de Administração.

Analisando a relação entre EBITDA/ Vendas, comparando os dados de um ano

antes (t-1) com um ano depois do evento de Buyout (t+1), houve um aumento de 24%

nas empresas controladas por Private Equity, contra uma queda de 0,6% das

empresas controladas pelos gestores (MBO), e um aumento de 7,3% nas empresas

de outros investidores. Sobre a maturidade da dívida, encontrou-se que a dívida

das empresas controladas por PE apresentavam 9,2 anos em média até o vencimento,

enquanto este prazo era de 7,8 anos para as empresas de MBO e 6,6 anos para

outros investidores. Isto evidencia um prazo maior para o pagamento e,

consequentemente, um dispêndio mensal menor com as parcelas, sobrando mais

recursos para o Fluxo de Caixa Livre. Sobre eventos de Estresse Financeiro,

entendidos como sendo ou pedido de falência ou solicitação de reestruturação da

dívida, observou-se a ocorrência de eventos em 15% dos casos nas empresas

controladas por Private Equity, enquanto esta proporção foi de 29% nas empresas

adquiridas por MBO e de 80% nas controladas por outros investidores.

No caso dos incentivos ao CEO, medido pela proporção de ações mantidas

pelo principal executivo, não foi surpresa identificar que esta proporção era de 4,7%

19 Ver Referências Bibliográficas: Cotter, James; Peck, Sarah. 2001. The structure of debt and active equity investors, The case of Buyout specialists.

31

nas empresas controladas por Private Equity, contra 18,1% nas empresas de MBO e

6,3% nas outras. No caso da composição do Conselho Diretor nas empresas

controladas por PE encontrou-se uma participação de 37,4% de membros de firmas de

Private Equity, os membros da própria gestão somam 44,4% e zero de outros

investidores. Esta proporção se inverte nas empresas de MBO, passando o

conselho a ser de 12,4% de membros de firmas de PE, 52,2% de membros da gestão

e 2,1% outros investidores. Os resultados encontram-se na Tabela 1.5 abaixo.

Tabela 1.5 - Diferenças entre empresas de Buyout controladas por PE, MBO e Investidores

Fonte: COTTER e PECK (2001) – Tabelas 3, 5 e 11

32

Em outro estudo conduzido por CRESSY, MUNARI e MALIPIERO (2007)20

foram analisadas 122 empresas que passaram por processo de Buyout na Grã-

Bretanha de 1995 a 2002, e os autores procuraram comparar os resultados obtidos

por estas empresas, no período pós Buyout, com o resultado obtido por empresas do

mesmo tamanho e mesmo setor de atuação, que não foram adquiridas por Private

Equity, como forma de estruturar um grupo de controle comparável à amostra.

Os resultados apresentados foram comparados também no ano em que

ocorreu o evento Buyout (t=0) com a média do período de 1 ano até 3 anos após o

evento. Foi analisado a rentabilidade operacional (EBITDA/ Ativos) e a evolução da

receita. Os resultados encontrados novamente suportam a conclusão que as

empresas adquiridas por gestores de Fundos de Private Equity apresentam resultados

operacionais e financeiros superiores à média do mercado em que atuam, e

superiores aos resultados apresentados historicamente.

A margem operacional, medida pelo EBITDA/ Ativos, passou de 8,5% para

9,1% na média dos 3 anos posteriores à aquisição, enquanto o resultado das

empresas do grupo de controle foi de 6,2% para 4,7% no mesmo período.

Interessante notar que os autores segmentaram também algumas empresas de

PE especializadas em determinados setores, para identificar se havia diferença

significativa entre estas e as firmas de PE não especialistas, e o resultado mostrou

que existe diferença, principalmente sobre a rentabilidade operacional, que foi de 6,6%

para empresas não especialistas e 10,2% para PE especialistas nos setores das

empresas analisadas. Em relação ao aumento de vendas, houve uma evolução

de 14,05% em média no período posterior à aquisição, contra um crescimento médio

de 7,08% para as empresas não controladas por PE. Neste item não houve grande

diferenciação entre as empresas controladas por firmas de PE especialistas e as não

especialistas, pois estas obtiveram 13,83%, contra 14,15% de retorno daquelas.

20 Ver em Referências Bibliográficas: Cressy, Robert; Munari, Federico; Malipiero, Alessandro (2007). Playing to their strenghts. Evidence that specialization in the private equity industry confers competitive advantage.

33

Apresentamos os resultados analisados na Tabela 1.6 abaixo.

Tabela 1.6 - Diferenças de rentabilidade entre emp resas controladas por PE e outras

Fonte: CRESSY, MALIPIERO e MUNARI (2007) – Tabelas 2, 3 e 4

2. Análise da atratividade das oportunidades de inv estimento

O processo de criação de valor para o cotista de um Fundo de Private Equity

deve começar com a análise criteriosa e metodologicamente constituída dos setores

da economia em que se deseja atuar, bem como da análise das informações

financeiras e operacionais das empresas que poderão ser objeto do investimento do

fundo. Este processo será o chamado Screening21, ou seja, a filtragem das

melhores empresas diante da enormidade de opções que estarão disponíveis ao

investidor em PE. Deverá se evitar, por exemplo, o investimento em setores

estagnados, ou com pequena perspectiva de crescimento no horizonte de

investimento (3 a 7 anos), focando os recursos disponíveis em setores promissores e

com grande perspectiva de crescimento, e este será um primeiro passo no processo

de criação de valor para o cotista.

A partir da metodologia mais amplamente utilizada para a avaliação de

empresas, a de Fluxo de Caixa Descontado, depreendemos que o Fluxo de Caixa

Livre gerado pela empresa deverá ser avaliado, tanto em termos atuais quanto em

termos prospectivos. Assim também o gestor do fundo deverá proceder quando for

analisar os setores da economia em que o fundo irá atuar, ou seja, ele deverá

considerar tanto as condições atuais quanto as macro-tendências, indicativas do

comportamento prospectivo dos setores analisados.

21 TETEN, David; Farmer, Chris. Where Are the Deals? Private Equity and Venture Capital

Funds’ Best Practices in Sourcing New Investments.

34

Outro ponto a ser observado são as taxas de crescimento das receitas da

empresa sob análise, bem como as margens de lucro obtidas. Obviamente que um

investimento na participação de empresas deve buscar identificar aquelas nas quais

as taxas de crescimento da receitas se apresentem promissoras, assim como aquelas

em que as margens de lucro auferidas sejam atraentes.

2.1. Geração de Fluxo de Caixa Livre pela empresa

O primeiro aspecto para se analisar a atratividade de um projeto de

investimento em participações em empresas privadas, através da estrutura de um

Fundo de Private Equity, deveria ser a capacidade de geração de fluxos de caixa livre

para o cotista, que é aquele recurso proveniente do lucro operacional, descontados os

impostos, os desembolsos com a manutenção de investimentos atuais, e investimento

em capital de giro, e novamente adicionados da depreciação dos ativos, uma vez que

não representaram desembolsos efetivos.

Com base na metodologia de Fluxos de Caixa Descontados, técnica de

Valuation amplamente utilizada para precificar uma empresa ou empreendimento, e

que veremos com mais detalhes nos itens 3.1 e 3.7 deste trabalho, o valor atual de

uma empresa equivale ao valor dos fluxos de caixa livre gerados, descontados pela

taxa WACC (Weighted Average Cost of Capital), deduzidas as suas dívidas. Por sua

vez a WACC representa a taxa média ponderada do custo de capital da empresa,

considerando a parcela do capital do acionista e o seu custo (onde We – participação

do capital próprio e Ke – custo do equity), bem como o capital de terceiros (onde Wd –

participação da Dívida e Kd – custo do debt). Estimamos o custo de capital

próprio com a metodologia CAPM (Capital Asset Pricing Model), que utiliza a

correlação da volatilidade do mercado geral com o mercado em que a empresa atua

(considerando o β – Beta de empresas do setor) para estimar qual o custo de capital

do setor em que a empresa atua, calculado como um prêmio aplicado sobre a taxa

livre de risco (rrf – Taxa Livre de Risco).

A metodologia de precificação de empresas utiliza ainda o modelo de

perpetuidade de Gordon, considerando que a empresa irá gerar retornos para além do

período da projeção explícita, utilizando a taxa de crescimento da empresa como a

perpetuidade (fator g).

Uma vez que temos claramente estabelecidos os conceitos aplicados na

metodologia para mensuração do valor das companhias investidas, cabe agora

analisar com maior nível de detalhe o que efetivamente promove o crescimento dos

35

fluxos de caixa livre para o cotista do fundo de PE, de modo a lhe agregar valor

através do valorização das suas cotas.

Segundo o estudo da Ernst & Young22, cerca de 80% do crescimento

percentual do EBITDA das empresas investidas por fundos de PE na América Latina

foi motivado pelo crescimento orgânico das receitas, conforme evidenciado na Figura

2.1 destacada abaixo. Este percentual contrasta enormemente em relação ao

obtido nos mercados mais maduros, como EUA e Europa, nos quais o crescimento

orgânico responde por apenas 44% da evolução do EBITDA.

No mercado latino-americano de PE, o crescimento do EBITDA decorrente de

aquisições e incorporações de outras empresas atuantes no mesmo mercado, e o

conseqüente ganho de sinergia operacional, representa apenas 14% da evolução do

indicador, contra 26% nos mercados dos EUA e Europa. A maior disparidade do

crescimento do EBITDA entre os dois mercados, entretanto, encontra-se no fator

obtido na redução de custos e com reestruturação, que representou 33% do resultado

nos mercados dos EUA e Europa, enquanto constituiu apenas 5% do crescimento do

EBITDA nas empresas da América Latina.

Figura 2.1 – Motivadores de crescimento do EBITDA – América Latina e EUA-Europa

Fonte: Ernst & Young

22 Ernst & Young – Dynamic Growth: value creation in Latin America

36

2.2. Análise atual e prospectiva das condições de M ercado

A análise das condições de mercado deve considerar o nicho específico de

mercado em que a empresa atua, qual é seu tamanho, qual é o seu público-alvo, quais

são as perspectivas de crescimento tanto em termos nacionais quanto internacionais.

Evidentemente que a análise do mercado deve demonstrar que existem

perspectivas atraentes de crescimento, assim como que o segmento apresenta boas

margens de lucro, para constituir um bom mercado de atuação para as empresas em

fase de prospecção de investimentos pelo Fundo de Private Equity. Dentro deste

mercado devemos considerar qual é a participação atual da empresa objeto de análise

(market share), e qual o nível de relevância desta empresa regionalmente e

nacionalmente, qual o seu nível de rentabilidade operacional em comparação com o

mercado, qual seu nível de crescimento, e qual o nível de qualidade e capacidade

estratégica e operacional da sua atual gestão.

2.3. Taxas de crescimento do mercado e da empresa As taxas de crescimento do mercado sob análise, bem como a evolução da

empresa objeto da análise, devem sem consideradas para a tomada de decisão pela

entrada no capital como cotistas. Entendemos que um mercado crescente seja o

indicativo de que existe demanda pelo produto ou serviço que a empresa esteja

oferecendo, o que tende a minimizar o risco do investimento, na medida em que

podemos projetar, com um nível de acerto razoável que, dentro do horizonte de tempo

necessário para a maturidade do investimento do Fundo naquela empresa (3 a 7

anos), as taxas de crescimento da receita e do lucro devem se manter próximas às

atuais, ou ainda melhores, em um cenário mais otimista.

A Figura 2.2, destacada abaixo, nos apresenta um levantamento realizado pela

Ernst & Young23 sobre os montantes investidos em diferentes setores na Europa por

Fundos de Private Equity (tamanho da bolha), posicionando os dados em relação ao

retorno obtido em relação à média (eixo vertical) e comparando com os múltiplos de

Equity (eixo horizontal), no momento das saídas, ocorridas entre 2005 e 2011.

23 Ernst & Young: Branching Out – How do Private Equity Investors Create Value? A Study of European Exits. 2012.

37

Figura 2.2 – Variação de crescimento da receita e m últiplos de saída em setores diferentes

Fonte: Ernst & Young

Este estudo demonstra que os setores investidos apresentam retornos

diferenciados, e que o montante investido pelas empresas de Private Equity na Europa

muitas vezes estão concentrados em alguns destes setores, tais como Bens

Industriais (Industrial Goods), empresas de Varejo (Retail), setor de Saúde

(Healthcare) e Serviços Financeiros (Financial Services).

Os gestores do Fundo de Private Equity devem analisar, especificamente para

o mercado brasileiro, quais setores apresentam as melhores perspectivas de retorno

potencial, qual o tamanho deste mercado, bem como quais setores oferecem

condições de margem de lucro e de Valuation abaixo e acima da média de mercado.

2.4. Margens de lucro

As margens de lucro médias obtidas pela empresa, em tempos recentes, bem

como as margens de lucro de empresas semelhantes atuantes no mercado, devem se

mostrar atraentes para o investidor. Podemos imaginar que haja boa possibilidade de

manutenção destas margens e, em caso de êxito na implantação dos processos que

buscarão obter incrementos produtivos e de eficiência, objetivaremos melhorar

sensivelmente estas margens de lucro, com vistas à criação do valor para o cotista.

O incremento das margens de lucro implicam no aumento dos Fluxos de Caixa

Livre para o acionista, caso não haja grande aumento de desembolsos para novos

investimentos, e para se calcular o novo valor da empresa deverão ser considerados

também os novos valores de custo de capital (WACC).

38

3. Análise da Estrutura de Capital

Assim como a análise setorial criteriosa se apresenta como o primeiro passo

para a criação de valor, e dentro do setor considerado promissor escolhe-se uma

empresa em particular que se mostra interessante, deveremos focar agora na

estrutura de capital da empresa, de modo a se estimar a possibilidade de otimização

desta estrutura, tendo em vista a criação de valor da empresa, auferido pelo método

amplamente utilizado pelo mercado, de fluxo de caixa descontado.

A partir desta análise da estrutura de capital, uma possibilidade que se

apresenta é a de se aumentar significativamente a parcela de dívida da empresa (D –

Debt) no capital total, visando a redução do custo do capital ponderado (WACC),

conforme se observa no artigo de LESLIE e OYER (2008)24. Isto implica diretamente

no aumento do valor da empresa pela metodologia de fluxo de caixa descontado.

Outra análise importante se dará em relação à projeção futura dos

investimentos que serão necessários, uma vez que os Fluxos de Caixa Livre deverão

ser impactados pelos desembolsos previstos para eventuais aumentos de capacidade

produtiva, melhoria do parque produtivo, novas instalações, etc.

Em seguida o gestor do fundo deverá rever as atuais dívidas da empresa,

visando a possibilidade de alongamento do perfil da dívida, seja através de

contratações de operações semelhantes com outras instituições financeiras a uma

taxa de juros menor e com prazos maiores, seja por meio de emissão de títulos de

dívida privada no mercado de capitais, de modo a se atingir o mesmo objetivo de

alongar o perfil da dívida e reduzir o custo financeiro, minimizando os desembolsos

com amortização e juros, maximizando o Fluxo de Caixa Livre para o acionista.

3.1. Viabilidade de otimização da estrutura de capi tais

A estrutura de capitais da empresa deverá ser analisada, utilizando a

metodologia CAPM – Capital Asset Pricing Model, de tal modo a se aferir o seu custo

de capital, bem como o das empresas atuantes naquele mercado.

A partir do custo de capital das empresas atuantes no mercado iremos estimar

a melhor estrutura de capital (capital de terceiros x capital próprio) de modo a reduzir o

custo de capital médio ponderado (WACC), e consequentemente, melhorar as

24 Ver referências bibliográficas. LESLIE, Phillip; OYER, Paul. Managerial Incentives and Value Creation: Evidence from Private Equity. 2008. O autor analisa os incentivos utilizados pelos fundos de PE para a alta gestão, bem como o aumento no nível de dívida das empresas.

39

margens de lucro da empresa e alavancar os resultados obtidos, por cada unidade de

capital próprio investido (Equity).

Em diversas etapas do processo de avaliação do valor de uma empresa pelo

método de Fluxo de Caixa Descontado (FCD) entra na equação a participação relativa

da dívida (Debt) e do capital próprio (Equity).

É fundamental para o processo de avaliação do valor de uma empresa a

determinação do custo do capital, ponderado pela participação de cada uma das

fontes, para termos o chamado WACC – Weighted Average Cost of Capital, ou custo

de capital médio ponderado. A ponderação do custo de capital se dará

exatamente pela participação relativa do capital próprio e o de terceiros.

Por sua vez, estimamos o custo de capital próprio a partir do método de

CAPM25, ou modelo de precificação de ativos, o qual considera um conjunto de

empresas atuantes no mesmo ramo de negócios que o da empresa a ser avaliada, e

com este grupo calcula-se o β – Beta da empresa, que é uma correlação do

comportamento das ações do segmento em relação ao benchmark do mercado (Ex:

S&P500, NASDAQ, Dow Jones, etc.).

Usualmente o custo de capital da empresa (Equity - E) é maior que o custo de

dívida (Debt – D), em decorrência do prêmio de risco exigido para o investimento em

uma atividade empresarial, em relação ao investimento em títulos livres de risco.

Alguns setores da economia apresentam um número β maior que 1, o que

significa que as ações deste setor costumam oscilar mais fortemente do que o

mercado acionário como um todo, e por isso são consideradas ações mais arriscadas,

o que aumenta o prêmio de risco exigido pelo investidor. Outros setores, por sua vez,

apresentam um β menor que 1, o que denota que o setor é menos propenso a

oscilações no preço de suas ações, em relação ao mercado, constituindo uma opção

“conservadora” de investimento no mercado de ações, fazendo com o prêmio de risco

seja comparativamente menor.

Dependendo da participação relativa do capital próprio no capital total da

empresa, bem como dependendo do custo da dívida, e do custo estimado para o

capital próprio, obtêm-se o WACC, que será a taxa de desconto dos fluxos de caixa

futuros projetados.

25 CAPM – Capital Asset Pricing Model

40

Obtemos o valor da empresa a partir da equação:

Figura 3.1 – Fórmula de Valuation para determinar o Enterprise Value Fonte: Valuation. Damoraran.

Depreende-se, a partir da fórmula apresentada acima, que o valor da empresa

é sensibilizado positivamente pelo aumento dos Fluxos de Caixa Livre que a empresa

possa gerar, assim como pela redução do WACC, por meio da otimização da estrutura

de capital, e pela redução do custo de capital total. A perpetuidade é o crescimento

esperado para a empresa, no longo prazo, acima da inflação, e normalmente costuma

se utilizar um valor que se aproxima do crescimento do PIB da economia como um

todo. Dependendo do desempenho histórico do setor, a perpetuidade pode ser

estimada como tendo um crescimento maior que o PIB, o que também faz com que o

valor calculado para a empresa tenha um acréscimo de valor significativo.

Adicionalmente encontra-se na literatura pesquisada26 que o valor da empresa

é representado pela seguinte relação:

Figura 3.2 – Fórmula de Valuation para determinar o Enterprise Value

Fonte: McKinsey

Nesta equação o NOPLAT representa o Net Operating Profit Less Adjusted

Taxes, ou o Lucro Operacional Líquido menos impostos ajustados, growth representa

a taxa de crescimento das receitas, o ROIC representa o Return On Invested Capital,

ou o Retorno sobre o Capital Investido, e o WACC representa o Weighted Average

Cost of Capital, ou custo do capital médio ponderado.

26 Mc Kinsey. Valuation: Measuring and Managing the Value of Companies. 2012.

Enterprise Value = Σ FCLn FCLultimo x (1+g) ------------------------- + -------------------------- (1 + WACC)n (WACC – g) Onde:

Enterprise Value: Valor da empresa (Ativo e Passivo)

FCLn: Fluxo de Caixa Livre no ano “n” da projeção explícita

FCLúltimo : Fluxo de Caixa Livre no último ano de projeção explícita

g: Perpetuidade

WACC: Custo de Capital Médio Ponderado

41

Em ambas as metodologias de Valuation verifica-se que a taxa de desconto

utilizada é a WACC, ou seja, o valor da empresa encontra-se atrelado ao resultado

financeiro produzido pela empresa, bem como ao seu custo de capital.

Elaboraremos uma simulação para a aplicação da fórmula de Valuation,

apresentada na Figura 3.1, ao longo dos itens 3.7 e 3.9 deste trabalho, para ilustrar os

efeitos positivos no Enterprise Value quando se consegue aumentar o Fluxo de Caixa

Livre com medidas de melhoria operacional, bem como ao se reduzir o WACC.

3.2. Alavancagem financeira e resultados esperados A partir da simulação para a otimização da estrutura de capital da empresa

será possível estimar o incremento de rentabilidade operacional, assim como o

aumento potencial do Enterprise Value da empresa sob análise, a partir a redução dos

seus custos de financiamento, na medida em que o resultado do Enterprise Value a

partir da metodologia de Valuation depende diretamente do custo de capital (WACC)

atualmente vigente na empresa, além dos seus Fluxos de Caixa Livre auferidos, os

quais serão projetados com base nos dados históricos da companhia e com base no

potencial de melhorias com as medidas de gestão.

A análise detalhada do Balanços e Demonstrações de Resultado da empresa,

bem como a realização do processo de Due Dillingence, apresentarão subsídios para

se estimar quais são as áreas passíveis de redução de custos, quais as medidas de

ganhos de eficiência operacional e, consequentemente, qual o potencial de aumento

do Fluxo de Caixa Livre para o cotista do Fundo de Private Equity.

Em grande parte dos casos observa-se que as empresas poderão ampliar os

volumes de crédito contratados junto a bancos, assim como poderá ser possível a

ampliação de prazos de pagamento junto a fornecedores, de modo a se reduzir o

custo do capital ponderado da empresa.

Em decorrência do grande expertise dos profissionais gestores de fundos de

Private Equity, é comum que o acesso a novos recursos de terceiros seja ampliado

para a companhia, seja por conta de um bom nível de networking dos gestores com

instituições financeiras, seja por conta de uma confiança renovada na empresa pela

entrada dos novos sócios, ou ainda pela melhoria do perfil do endividamento com o

aporte de capital realizado pelos novos sócios.

42

3.3. Perspectivas de novos investimentos e CAPEX re queridos Assim como o fluxo de caixa livre é utilizado para mensurar o valor presente da

empresa, os projetos de investimento deverão ser considerados nas projeções de

resultado, pois envolvem dispêndio efetivos de capital (CAPEX – Capital

Expenditures), e irão impactar nos resultados futuros do negócio.

A empresa deverá apresentar os projetos de investimento atualmente em

análise, ou, pelo menos, o montante gasto periodicamente com as atualizações do

parque produtivo, para que possamos analisar os futuros dispêndios de fluxo de caixa.

Os projetos de investimento devem conter a análise financeira realizada,

considerando os montantes de investimento e os retornos previstos, calculando-se o

Payback - período estimado de retorno do investimento, o VPL – Valor Presente

Líquido do projeto, e a TIR – Taxa Interna de Retorno, de modo que esta taxa se

mostre superior ao custo de capital ponderado (WACC), evidenciando o potencial de

agregação de valor intrínseco ao projeto.

Caso os projetos em andamento não apresentem as taxas de retorno

requeridas para se agregar valor acima do custo de captação (WACC) eles devem ser

postergados, ou devem sofrer alterações para atenderem aos requisitos de retorno.

3.4. Ampliação do perfil da dívida O perfil da dívida de uma empresa, ou seja, o prazo médio de vencimento de

seus empréstimos e obrigações financeiras, causa impacto direto nos fluxos de

desembolso de pagamento de amortização e juros e, muitas vezes, as dívidas de mais

longo prazo apresentam taxas de juros diferentes daquelas de dívidas de mais curto

prazo. O que costuma acontecer com freqüência è que as taxas de juros de

mais longo prazo, voltadas para projetos de investimento, tais como as obtidas junto

ao BNDES, costumam ser menores que as taxas de juros de curto prazo, como o

cheque especial e desconto de títulos.

Dados levantados por KIRCH e TERRA (2012)27 em artigo publicado no

Journal of Corporate Finance, mostram que o prazo médio de pagamento das dívidas

das empresas brasileiras está concentrado no curto prazo, com mais de 50% do total

das dívidas, precisamente no segmento em que o custo também é maior, na maioria

dos casos. Este estudo também mostrou que as empresas latino-americanas são

pouco alavancadas, com cerca de 26,38% do firm value, enquanto nas empresas

27 KIRCH, Guilherme; TERRA, Paulo Renato Soares. Determinants of corporate debt maturity in South America: Do institutional quality and financial development matter? 2012. Journal of Corporate Finance. Volume 18, Issue 4, September 2012, Pages 980–993.

43

brasileiras o nível de alavancagem é um pouco maior, com 27,48% de dívidas na

estrutura de capital.

A partir do estabelecimento de metas de performance pela Diretoria e pelos

gestores do Fundo de Private Equity, a gestão da área financeira da empresa deverá

dar início a um trabalho de busca ativa por linhas de crédito de perfil mais longo (36 –

60 meses), além da negociação de ampliação de prazos de pagamento com

fornecedores, e a redução do prazo de pagamento com clientes.

3.5. Redução do custo da dívida A redução do custo da dívida se configura em um esforço sistemático e

contínuo na busca por melhores alternativas de financiamento para as atividades da

empresa e para os investimentos de longo prazo. O que é usual de ocorrer é

que a empresa possua conta corrente com determinado banco, ou pequeno grupo de

bancos, há bastante tempo, e as suas operações de crédito são concentradas nestas

instituições, e esta situação descrita, se por um lado ajuda na obtenção e concessão

do crédito junto aos bancos, em função do conhecimento do cliente, por outro lado

conduz à acomodação da área de gestão financeira em relação à busca por menores

taxas de juros e reduzidas tarifas por serviços.

A recente diminuição das taxas de juros básicas da economia brasileira

(SELIC), bem como a atuação dos bancos públicos (principalmente BNDES, CAIXA e

BB) conduziu a um processo de diminuição das taxas de juros bancários (redução de

spreads), no entanto este processo teve alcance limitado nas instituições financeiras

privadas, enquanto observou-se que os bancos públicos aplicaram reduções maiores

nas suas taxas, o que fez com que elas ganhassem Market Share no mercado de

crédito brasileiro. Muitos clientes empresariais, todavia, ainda não buscaram

atualizar a sua dívida com prazos mais longos e taxas de juros menores, mantendo o

relacionamento com os bancos em que possuíam conta, mesmo com o direito de

portabilidade do saldo das dívidas. Além deste fator comportamental, há que

se mencionar que o mercado de capitais ainda é praticamente inexistente para a

emissão de títulos de dívida de pequenas e médias empresas.

44

3.6. Redução dos encaixes sem aplicação produtiva

Observa-se que algumas empresas mantém elevados volumes de recursos

investidos em aplicações financeiras de elevada liquidez. Se, por um lado, isto

é visto com muito bons olhos pelos credores, pois significa a manutenção de grande

índice de liquidez da empresa, o que reduz o risco de inadimplência, por outro lado

minimiza os indicadores de rentabilidade da empresa, especificamente o ROIC –

Return On Invested Capital, uma vez que a rentabilidade da aplicação certamente será

menor que o WACC da empresa, o que se traduz em destruição de valor ao cotista.

Diante do exposto chega-se à conclusão que a redução dos encaixes, alocados

em aplicações financeiras, para níveis que não sejam comprometedores junto às

instituições financeiras para a obtenção de crédito, mas que minimizem o capital não

produtivo, contribuem na criação de valor para o cotista.

Uma sugestão que se faz é que este capital em caixa seja utilizado para reduzir

o estoque de dívidas contraídas, na medida em que estas tem um custo maior do que

o recebido nas aplicações financeiras, em função do spread cobrado pelos bancos.

Por sua vez a redução do Passivo (Debt) implica em um aumento imediato de

Patrimônio Líquido (Equity), na mesma proporção, ou seja, a amortização de dívidas

corporativas com capital ocioso agrega valor às cotas do fundo de Private Equity.

3.7. Aplicação do Valuation para se estimar o Enterprise Value Uma vez que tenhamos disponíveis os valores necessários para o Valuation da

empresa pelo método do Fluxo de Caixa Descontado, e inserindo-os na fórmula

apresentada no item 3.1 deste trabalho, tais como o Fluxo de Caixa Livre, a taxa de

crescimento deste FCL projetado no período explícito, a perpetuidade e a taxa de

custo de capital médio ponderado (WACC), poderemos então projetar o valor atual da

empresa (Enterprise Value).

Outras metodologias de Valuation poderão ser aplicadas caso a caso, tais

como a comparação de indicadores financeiros e contábeis extraídos de empresas no

mesmo segmento de atuação que a empresa sob análise, tais como os múltiplos

EV/EBITDA, DÍVIDA/EBITDA, P/L, FCF Yield, dentre outros. No entanto, para

efeito deste trabalho, não abordaremos esta metodologia de Valuation, uma vez que

consideramos que a comparação de múltiplos com empresas semelhantes será de

difícil aplicação em nosso mercado, em oposição ao que ocorre em mercados

desenvolvidos, na medida em que as informações sobre os dados contábeis de

empresas no Brasil são escassas e pouco confiáveis, pois em sua maioria não são

45

auditados, o que por si só já tornariam os resultados precários para efeito de

comparação de valor.

Desta forma passaremos a detalhar aqui a metodologia de Fluxo de Caixa

Descontado. Desde o início do processo de análise poderemos estimar o quanto a

empresa vale hoje, assim como o quanto ela poderá vir a valer no futuro, após a

implementação de melhorias operacionais que agregam valor, com os ganhos de

produtividade que serão obtidos, a otimização da estrutura de capital, as reduções de

custos, e a conseqüente melhoria das margens de lucro e da ampliação do Fluxo de

Caixa Livre gerado pela empresa.

Apresentamos abaixo na Figura 3.3 a fórmula para o cálculo do Fluxo

de Caixa Livre (FCL), a qual considera a soma do volume de Vendas e a Depreciação,

por esta não implicar em saída de caixa, e descontando-se destes valores os

Impostos, o CAPEX e o incremento anual do Capital de Giro.

Figura 3.3 – Fórmula de cálculo do Fluxo de Caixa L ivre

Fonte: McKinsey

Abaixo destacamos na Figura 3.4 um exemplo extraído do sítio da empresa

Economática28, que nos apresenta a forma de cálculo do FCL das empresas para as

quais desejamos estimar o Enterprise Value, destacando o período de dados

históricos (efetivamente realizado), do período em que será feita a projeção

(resultados estimados com base em premissas adotadas).

28 Site da Economàtica: www.economatica.com

FCL = Vendas – Custos – Impostos + Depreciação – CAPEX – ∆Cap. Giro

Onde: Vendas: Receita advinda das operações da empresa Custos: Custos, diretos e indiretos, e despesas incorridas Impostos: Impostos estaduais, municipais e federais Depreciação: Montante de depreciação contábil incidente nos ativos CAPEX: Capital Expenditure – gasto de capital para

manutenção ou aumento de capacidade produtiva ∆Cap. Giro: Incremento anual no capital de giro da empresa

46

Figura 3.4 – Exemplo de cálculo do Fluxo de Caixa L ivre

Fonte: Economática

Quanto maior for o diferencial existente entre o valor do Enterprise Value Atual

e o valor de EV Potencial desta mesma empresa, a ser obtido com a implementação

das melhorias de incremento de produtividade e otimização da estrutura de capital,

melhor será a atratividade da empresa para o Fundo de Private Equity, assim como

menor será o risco da operação de aquisição de participação acionária.

Estudo da consultoria Ernst & Young29 indica que empresas que passam a ter

como sócio os Fundos de Private Equity apresentam maiores índices de crescimento

de Enterprise Value do que o crescimento apresentado pelas empresas listadas em

bolsa, dentro do mesmo país, do mesmo setor e no mesmo período de comparação,

conforme observamos na Figura 3.5 destacada abaixo. O crescimento anual médio

no EV das empresas investidas pelo Fundos de Private Equity foi de 33% nos EUA e

23% na Europa, comparado com um crescimento de 11% e 15% das ações listadas

em mercado, respectivamente.

29 Ernst&Young. How do Private Equity Investors Create Value? 2006.

47

Figura 3.5 – Crescimento no Enterprise Value de empresas investidas por Private Equity

Fonte: Ernst & Young

A parceria com gestores de Fundos de Private Equity normalmente resultam

em incrementos nos resultados das empresa investidas, conforme relatado em

reportagem publicada no jornal Valor Econômico, sobre o portfolio das empresas

investidas pelo Fundo Pátria30:

“Apesar do fraco desempenho da economia brasileira, as empresas investidas vêm apresentando bons resultados, segundo Marco D'Ippolito, sócio da gestora. Ele calcula que, se as companhias do portfólio pudessem ser reunidas em apenas uma, apresentariam neste ano, um crescimento de 25% na receita e de 42% na geração de caixa medida pelo EBITDA (sigla para lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização). ‘Nossa decisão de investimento procura ir além de questões como juros ou inflação’, afirma D'Ippolito.”

As empresas investidas muitas vezes são incentivadas a promoverem sua

expansão orgânica, conforme Planos de Negócios traçados juntamente com a atual

gestão, e conforme as metas estabelecidas consensualmente.

No caso da Doceria “Amor aos Pedaços”, cujos sócios aceitaram vender 33%

de participação na empresa para o Fundo de Private Equity Mercatto, “a chegada do

parceiro permitirá à marca acelerar o plano de nacionalização, que inclui 150 lojas em

operação até 2016 - ao final de 2013, serão 60 unidades.”31

A seguir apresentaremos, na Figura 3.3 destacada abaixo, a elaboração de

duas curvas de Fluxo de Caixa Livre projetado para a empresa, e mostraremos a

diferença para as estimativas de Enterprise Value, sendo o primeiro valor obtido com

base na eficiência operacional e nos resultados presentemente obtidos, extraídos dos

30 Valor Econômico. Pátria tem 70% de fundo investido. 05/12/2013. 31 Valor Econômico. Governança ajuda a atrair parceiro. Publicada 30/09/2013.

48

dados históricos de Balanços e Demonstrações de Resultados, e em seguida

apresentaremos o FCL Potencial para a mesma empresa, após a implementação das

melhorias operacionais que agregam valor, cujas ações gerenciais serão detalhadas

no capítulo 5 deste trabalho, e supondo o atingimento das metas de performance

propostas. Este exemplo nos apresenta um Fluxo de Caixa Livre projetado para

uma empresa, com base em dados históricos, tendo sido fixadas todas as proporções

entre Vendas, Custos, Depreciação e CAPEX (Figura 3.3), a partir da média dos

últimos 3 exercícios efetivamente realizados, alterando-se na projeção apenas o

volume anual de VENDAS, cuja curva resultará no FCL Atual (baseline)32. No outro

cenário temos a projeção do Fluxo de Caixa Livre para a mesma empresa, após a

implantação das medidas de ganho de produtividade, a redução de custos

identificados como excessivos, com o conseqüente aumento de receitas e ampliação

de margens de lucro, medidas que se refletirão em uma taxa de crescimento anual

maior, e a esta segunda curva resultante passaremos a chamar de FCL Potencial.

Neste aspecto seguimos a metodologia proposta por ROSEMBAUM e PEARL

(2013)33, os quais adotam diferentes cenários para cada premissa, de modo a

poderem realizar a análise de estresse e testes de sensibilidade, bem como para

estipularem uma banda de valores para o Enterprise Value.

Estimamos um crescimento anual para o FCL nesta simulação, seguindo a

mesma proporção das VENDAS, uma vez que todas as proporções das contas

contábeis foram mantidas estáveis, de maneira que se supõe um incremento anual de

7,08% para o cenário-base, e uma evolução deste percentual para 14,05% no cenário

Potencial, com melhorias operacionais que agregam valor implementadas pela gestão

da companhia, com base nos resultados de CRESSY, MUNARI e MALIPIERO (2007),

conforme apresentado anteriormente no item 1.5. Em ambos os casos ocorre a

convergência para uma taxa de crescimento de vendas na perpetuidade, de modo que

a taxa de crescimento se reduz a cada ano, até atingir a taxa estipulada em 3%, obtida

a partir do 7º ano da simulação. O resultado do FCL em ambos os cenários

apresentamos na Figura 3.6.

32 ANEXO I – Cálculos do Valuation da empresa a partir do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) 33 Rosembaum, J. e Pearl, J. Investment Banking: Valuation, Leveraged Buyout and Mergers & Acquisitions. 2013. p.125-181.

49

Figura 3.6– Fluxos de Caixa Livre projetado Atual e Potencial com atuação do PE

Fonte: Simulação elaborada pelo autor com bas e na metodologia de Valuation com FCD

Veremos que esta projeção será uma medida do potencial de criação de valor

a partir da implementação de mudanças operacionais, em relação à situação atual da

companhia. Estas mudanças operacionais que serão implantadas pela gestão da

empresa investida, em parceria com os gestores do Fundo de Private Equity,

juntamente com a implementação de uma melhoria na estrutura de capital farão com

que o Enterprise Value aumente significativamente. A título de simulação de valores,

com o intuito de exemplificar os conceitos aqui apresentados, aplicaremos a

metodologia de Valuation mais amplamente utilizada, a de Fluxo de Caixa Descontado

(FCD) apresentada anteriormente, considerando uma WACC de 16,60% ao ano, a

qual estipulamos como sendo a vigente no momento da aquisição da participação, e

para ambas as situações utilizaremos uma taxa de perpetuidade de 3%.

Observa-se que existe um significativo aumento no valor potencial da empresa,

medida por múltiplos do Fluxo de Caixa Livre anual inicial, partindo de 15,52 vezes o

FCL antes da parceria com o Fundo de Private Equity (EV Atual), e constatamos que

existe um incremento para um múltiplo de 19,06 vezes o FCL inicial, no cenário de

implementação de medidas de melhoria, o que representa uma valorização potencial

de 22,80% no Enterprise Value (EV Potencial), com os parâmetros adotados.

50

Figura 3.7– Enterprise Value da empresa Atual e Potencial com atuação do Fundo d e Private Equity

Fonte: Simulação elaborada pelo autor com base na me todologia de Valuation com FCD

3.8. Leveraged Buyout (LBO) – Aquisição Alavancada

A partir de informações extraídas de consultorias que acompanham o mercado de

Private Equity34, obtêm-se a informação de que a maior parte dos fundos desta

modalidade, no mundo, estão concentrados em operações de Leveraged Buy Out –

LBO, as quais são realizadas com parte de capital próprio (Equity) e a maior parte com

dívidas (Debt) contraídas junto ao mercado, sob diversas modalidades de

instrumentos de captação, o que faz com que as aquisições das participações das

empresas sejam “alavancadas” com recursos de terceiros.

A Figura 3.8 abaixo nos apresenta o percentual médio de capital próprio (Equity)

aplicado em negócios de LBO, o que demonstra que a maior parcela advém de dívida,

e que este percentual depende, dentre outros fatores, da liquidez de recursos no

mercado de crédito. Em períodos em que há fartura de liquidez e abundância de

recursos de crédito disponíveis, bem como com taxas de juros reduzidas, o percentual

de Equity chega a 30% e a participação de dívida 70%, e em momentos de maior

estresse no mercado a participação de Equity se eleva para 40% e o percentual de

dívida é reduzido para 60%.

34 Stowell, David. An introduction to Investment Banks, Hedge Funds and Private Equity. 2010. p.283 – 345.

51

Figura 3.8 – Participação de Equity em operações de LBO

Fonte: An introduction to Investment Banks, Hedge Funds an d Private Equity (2010)

Outro aspecto importante a se destacar deste tipo de alavancagem financeira é

que os múltiplos de EBITDA pagos nas negociações envolvendo LBO também estão

sujeitas a alterações das condições de mercado, de modo que é possível obter

“barganhas” em períodos de crise, cujo resultado se traduz em melhor TIR da

operação, segundo AXELSON, STROMBERG e WEISBACH (2007)35.

Apresentamos na Figura 3.9 a evolução da proporção entre Dívida e o EBITDA,

para operações LBO de empresas cujo EBITDA estava acima de US$ 50 milhões,

ocorridas entre 1997 e 2008. Interessante notar como esta relação teve uma

queda de 1997 a 2002, para então voltar a crescer, atingindo um pico em 2007, e

reduzindo-se drasticamente em 2008, no ano da crise de crédito.

Figura 3.9 – Múltiplos de Dívida/ EBITDA em operações de LBO

Fonte: An introduction to Investment Banks, Hedge Funds an d Private Equity (2010)

35 Axelson, Ulf; Stromberg, Per; Weisbach, Michael. Why are Buyouts Levered: The Financial Structure of Private Equity Funds. 2007.

52

3.9. Taxa Interna de Retorno

Dando continuidade à simulação do resultado da operação, poderemos passar a

calcular a Taxa Interna de Retorno (TIR) da aquisição da participação na empresa

para o portfolio de um Fundo de Private Equity, a partir do valor estimado pela análise

do Valuation da empresa, antes e depois da implementação das melhorias de gestão e

a otimização da estrutura de capital (WACC), conforme apresentado no item 3.7.

Conforme havíamos visto anteriormente, retornos anuais na ordem de 25% não

são incomuns para investimentos em Private Equity, pelo contrário, este valor

representa a média dos retornos auferidos, conforme estudo da Prequin apresentado

na introdução deste trabalho, principalmente quando as aquisições são alavancadas

com recursos provenientes da contratação de novas dívidas (LBO).

Desta forma iremos calcular e comparar os retornos para o investidor (TIR),

considerando as melhorias operacionais e a otimização da estrutura de capital, bem

como considerando se a aquisição da participação foi realizada sem alavancagem

(totalidade da aquisição da participação com capital próprio) ou com alavancagem de

recursos de terceiros. Para isto utilizaremos a média de 40% de capital próprio

e 60% de capital de terceiros, conforme demonstrado na Figura 3.8 como sendo o

padrão do mercado para situações de liquidez reduzida.

Cabe aqui fazer a ressalva de que o mercado de capitais para emissão de títulos

corporativos no Brasil é mais restrito que o encontrado em países de economia e

mercados de capitais mais desenvolvidos (EUA e Europa), assim como é mais

escasso o mercado de crédito de longo prazo, e que a taxa de juros em nosso país é

sensivelmente mais alta, o que faz com que haja maior dificuldade para se estabelecer

uma típica operação de LBO em nosso país, entretanto não se exclui totalmente esta

possibilidade, caso se consiga uma captação externa com tal finalidade, com a

utilização de hedge cambial, por exemplo via contratação de swaps cambiais com o

BACEN. Para a finalidade de cálculo da TIR obtida com o investimento em

Private Equity seguiremos o sugerido por Rosembaum e Pearl (2013)36, com

adaptações para contemplar o pagamento de dividendos anuais, e classificaremos as

situações existentes em 4 cenários distintos, conforme se segue:

36 Rosembaum, J. e Pearl, J. Investment Banking: Valuation, Leveraged Buyout and Mergers & Acquisitions. 2013. p.185-234.

53

Cenário I – Sem Alavancagem e Sem Melhorias – Situação em que o investidor não

se utiliza de alavancagem para a aquisição da participação de 50% na empresa, e os

resultados auferidos pela empresa seguem o projetado para o FCL Atual (baseline).

Cenário II – Sem Alavancagem e Com Melhorias – Situação em que o investidor

não se utiliza de alavancagem para a aquisição da participação de 50% na empresa,

porém os resultados auferidos pela empresa são incrementados com as melhorias

operacionais, de modo que seguem o projetado para o FCL Potencial.

Cenário III – Com Alavancagem e Sem Melhorias – Situação em que o investidor se

utiliza de alavancagem para a aquisição da participação de 50% na empresa, e do

total deste montante investido, 40% será com capital próprio e os 60% restantes serão

obtidos com capital de terceiros, porém os resultados auferidos pela empresa seguem

o projetado para o FCL Atual (baseline).

Cenário IV – Com Alavancagem e Com Melhorias – Situação em que o investidor se

utiliza de alavancagem para a aquisição da participação de 50% na empresa, e além

disso os resultados auferidos pela empresa são incrementados com as melhorias

operacionais, de modo que seguem o projetado para o FCL Potencial.

Os resultados calculados demonstram claramente o efeito da alavancagem, uma

vez que a participação de capital próprio (Equity) na operação de aquisição das cotas

torna-se menor, enquanto que o Enterprise Value calculado para o momento de

desinvestimento não sofre grande alteração, uma vez que nesta ocasião a dívida

contraída (Debt) para a aquisição da participação já terá sido paga pelo próprio FCL

da companhia adquirida, ou seja, o valor de saída será aproximadamente o mesmo,

enquanto o investimento de capital próprio terá sido 60% menor, conforme cálculos

detalhados no ANEXO II37, o que resulta em um significativo aumento da TIR Bruta.

Observa-se na Figura 3.9 que o incremento de rentabilidade auferido pela

alavancagem fica em torno de 14% a 16% ao ano, considerada isoladamente

(comparando o Cenário I com III, e Cenário II com IV). As melhorias operacionais e

de otimização na estrutura de capital também tem impacto positivo no resultado,

porém em dimensão mais reduzida que a obtida com a alavancagem. Em

comparação realizada entre a rentabilidade do Cenário I com II, e do Cenário III com

IV, de modo a se isolar o efeito de melhorias de gestão, constata-se que o incremento

de rentabilidade anual proveniente das otimizações gerenciais fica em torno de 4,7% a

6,5% ao ano, dentro dos parâmetros adotados nesta simulação.

37 ANEXO II – Cálculo da TIR para aquisições de participação - com e sem alavancagem

54

Figura 3.10 – Taxa Interna de Retorno com e sem ala vancagem financeira em Private Equity

Fonte: Simulação elaborada pelo autor com base na me todologia de Valuation com FCD

Constata-se que as Taxas Internas de Retorno (TIR), obtidas na simulação

acima, estão em linha com as apresentadas pela consultoria Prequin para os retornos

brutos dos Fundos de Private Equity, em comparação com a valorização do mercado

de ações (Figura 1.1 apresentada anteriormente), uma vez que a média calculada da

TIR com alavancagem ficou em 28,90% em nossa simulação, enquanto a Preqin

apresenta média de longo prazo de 26% para fundos alavancados (LBO). A TIR Bruta

média dos 4 cenários estimada foi de 21,29%, conforme apresentado na Tabela 3.1

abaixo, cujo resultado também está em linha com a rentabilidade média de longo

prazo da Preqin para todos os fundos de PE, de aproximadamente 22% conforme se

observa na Figura 1.1.

TIR Cenário I TIR Cenário II TIR Cenário III TIR Cenário IV

11,32% 16,05% 25,58% 32,21%

Média TIR sem alavancagem Média TIR com alavancagem TIR Média geral

13,69% 28,90% 21,29%

Tabela 3.1 – Taxa Interna de Retorno Bruta, com e s em alavancagem financeira em Private Equity Fonte: Simulação elaborada pelo autor com base nas p remissas do ANEXO

55

3.10. Taxa Interna de Retorno Líquida para o cotist a

Considerando-se isoladamente as Taxas Internas de Retorno do investimento

em uma determinada empresa, a rentabilidade se mostra bastante atraente, e de fato

é, quando comparada com outras alternativas disponíveis ao investidor, todavia

devemos também considerar que o Fluxo de Caixa para o cotista (LP) não segue

exatamente o fluxo de caixa da aquisição de cotas de uma única empresa.

Devemos relembrar que o período de investimento no Fundo de Private Equity

costuma ser de 10 anos, podendo ser prolongado por acordo entre os cotistas e a

firma de PE, além de haver o período de screening, que consiste na seleção das

empresas do portfolio, que pode durar de 2 a 4 anos, e além disto o período de saída

do investimento também não é coincidente entre todas as empresas. Esta diferença

de prazo existente entre o momento do investimento inicial, e o momento da saída

final, traz um impacto negativo na TIR total do investimento feito pelo cotista.

Outro ponto a destacar é que, durante todo o período de funcionamento do

fundo, incide a taxa de administração (normalmente 2%) sobre o valor comprometido

inicialmente pelo cotista, além do pagamento do carried interest (normalmente de

20%) incidente sobre os ganhos de capital promovidos pela valorização das cotas das

empresas investidas.

A seguir apresentaremos uma simulação elaborada para estimar o impacto

destes custos incidentes na taxa de retorno, bem como o impacto negativo trazido pela

decorrência do prazo entre o investimento inicial e o recebimento dos fluxos de caixa

positivos para o cotista (LP), culminando com o saque final proveniente da venda da

totalidade das cotas de participação existentes no portfolio de investimento.

Para este cálculo consideramos os Fluxos de Caixa utilizados nas seções

anteriores, com a diferença que existe um prazo de, pelo menos, dois anos para a

efetiva aquisição da participação das empresas, durante o qual é cobrada a taxa de

administração sobre o valor inicialmente comprometido pelo cotista.

Neste exemplo decidimos simplificar a operação do Fundo de PE, simulando

um fundo com apenas duas empresas investidas, e consideramos o saque de

dividendos anuais pelo cotista, sobre os quais incide o carried interest de 20%. Este

percentual também incide na diferença entre o valor final da venda da totalidade das

cotas da empresa e o valor nominal inicial do investimento (ganho de capital), cujos

detalhes são apresentados no ANEXO VI38. Na Figura 3.10 abaixo apresentamos a

38 ANEXO VI-Tabelas de fluxo de caixa para o investidor (LP) e o gestor (GP) de Fundos de Private Equity

56

rentabilidade líquida estimada para o cotista, após o pagamento de todas as taxas

incidentes, nos 4 cenários analisados.

Figura 3.11 – Taxa Interna de Retorno Líquida com PE - com e sem alavancagem financeira

Fonte: Simulação elaborada pelo autor com base nas p remissas do ANEXO

Neste caso devemos comparar os resultados obtidos na simulação com os

obtidos por Kaplan e Harris (2012), uma vez que estes autores fizeram o levantamento

dos resultados líquidos para o cotista (LP), com base nos dados da Burgiss,

confrontados com os da Preqin e Venture Economics, e outros, conforme seção 1.4.

Os resultados obtidos pela simulação também estão em linha com estes

autores, na medida em que obtivemos a TIR média geral de 14,96%, conforme Tabela

3.2 abaixo, contra o resultado de 14,70% da média geral da Burgiss e outros,

conforme apresentado na tabela 1.3 na seção 1.4 acima. Em relação ao retorno

líquido de taxas obtido com fundos alavancados (Buyout) os autores RICHARDSON e

LJUNGQVIST (2003), em estudo já mencionado, chegam à TIR líquida média de

21,39% sendo que, na distribuição estatística verificada, o retorno do primeiro quartil

foi de 10,40% e o retorno no terceiro quartil foi de 30,62%. Em nossa simulação a

TIR média para fundos alavancados foi de 21,82%, e a TIR média para fundos não

alavancados foi de 8,11%. Diante deste quadro comparativo podemos considerar

que nossa simulação está obtendo resultados dentro de parâmetros razoáveis.

TIR Cenário I TIR Cenário II TIR Cenário III TIR Cenário IV

6,03% 10,19% 18,85% 24,79%

Média TIR sem alavancagem Média TIR com alavancagem TIR Média Geral

8,11% 21,82% 14,96%

Tabela 3.2 – Taxa Interna de Retorno Líquida, com e sem alavancagem financeira em Private Equity Fonte: Simulação elaborada pelo autor com base nas p remissas do ANEXO III

57

Em relação à análise dos resultados obtidos, observamos uma acentuada

redução da rentabilidade auferida pelo cotista, comparando-se a TIR Líquida em

relação à TIR Bruta, calculada anteriormente, com base nos fluxos de caixa a partir do

ano de investimento (Vintage).

Esta redução é mais acentuada para os investimentos sem alavancagem, com

TIR mais reduzida, conforme se observa na tabela 3.4 apresentada abaixo.

Cenário I Cenário II Cenário III Cenário IV Média

TIR Bruta 0,1132 0,1605 0,2558 0,3221 0,2129

TIR Líquida 0,0603 0,1019 0,1885 0,2479 0,1496

Variação -46,76% -36,55% -26,29% -23,05% -29,72%

Tabela 3.3 – Redução de Taxas de Retorno Bruta e Lí quida para Fundos de PE Fonte: Elaboração do autor com base nas premissas ap resentadas no ANEXO VI

Em relação ao total de valor criado pelo investimento feito pelos gestores de

Private Equity nas empresas investidas, entendido como sendo a diferença nominal de

valor entre o total retirado (Dividendos + Venda final das cotas) e o total investido,

observamos que uma parcela significativa vai para os gestores dos fundos (GP –

General Partner) em detrimento dos cotistas (LP – Limited Partner).

O resultado obtido nesta comparação está em linha com a Tabela 3.3

apresentada acima, na medida em que demonstra que quanto menor o retorno do

Fundo de PE, maior é o impacto na proporção do valor direcionado para os cotistas

(LP). Apresentamos abaixo na Tabela 3.4 a proporção do valor criado direcionado

para o cotista (LP) e para o gestor do Fundo de PE (GP).

Cenário I Cenário II Cenário III Cenário IV Média

Proporção do valor

criado para o LP 54,72% 64,21% 72,49% 74,85% 66,57%

Proporção do valor

criado para o GP 45,28% 35,79% 27,51% 25,15% 33,43%

Tabela 3.4 – Proporção do valor criado direcionado p ara GP e LP Fonte: Elaboração do autor com base nas premissas ap resentadas no ANEXO VI

58

A discussão acerca do elevado custo de administração dos Fundos de PE não

é nova, e autores começam a analisar o impacto desta modalidade de custo de

agência39, em relação ao usual custo representado pelos executivos profissionais

responsáveis pela gestão das empresas listadas em bolsa de valores.

Podemos destacar o recente trabalho de SORENSEN, WANG e YANG

(2013)40, que consideram não apenas a taxa de administração (2% sobre o capital

comprometido) e o carried interest (20% sobre o ganho de capital), mas inserem na

equação também o prêmio de liquidez, considerado um custo relevante diante do fato

de que o capital precisará ficar imobilizado pelo menos 10 anos para que o cotista (LP)

veja o retorno integral do seu investimento. A conclusão do estudo vai no sentido

de que, apesar de os gestores de Private Equity efetivamente produzirem resultados

superiores aos do mercado de ações (cerca de 25%), os custos incorridos e o prêmio

de liquidez dos Fundos de PE fazem com que este resultado venha a se tornar

equivalente ao mesmo retorno obtido com as ações, quando ajustado ao risco

incorrido.

Independente destes resultados obtidos, inseridos no contexto da atual

polêmica sobre os valores cobrados pelos Fundos de Private Equity, consideramos

relevante lançar luz sobre esta questão, diante de o tema da presente pesquisa

procurar analisar a “criação de valor ao cotista”, e por isso devemos considerar que

parte significativa deste valor é direcionado para os próprios gestores dos fundos.

4. Negociação de Covenants e realização de Due Dilligence

A depender da parcela de participação societária do Fundo de Private Equity

na empresa objeto de análise de investimento, poderão ser negociadas a adoção tanto

de covenants positivos quanto negativos, ou seja, aquilo que a empresa se

compromete a fazer e o que se compromete a não fazer para que se efetive a entrada

do fundo no quadro de acionistas.

Para aquelas participações mais significativas no quadro de acionistas,

poderão ser negociados covenants positivos, mas mesmo para as participações

minoritárias o Fundo de Private Equity deveria agregar cláusulas de covenants

negativos, na medida em que se possa impedir que a gestão de empresa faça a

diluição de capital, a venda a participação na empresa sem a anuência dos demais

cotistas, que exceda o nível de endividamento, e outras medidas de cunho prudencial

39 Custo relacionado com a contratação de agentes, pelos proprietários de capital, para administrar seus recursos e bens. Existe um conflito de interesses entre benefícios aos gestores e os resultados auferidos. 40 Ver em Referências Bibliográficas. Sorensen, Morten; Wang, Neng; Yang, Jinqiang (2013). VALUING PRIVATE EQUITY.

59

semelhante. Existem diversos artigos acadêmicos que tratam sobre covenants em

contratos estabelecidos entre agentes no mercado financeiro, dentre eles destacamos

os publicados por Anderson (1999)41, Djankov (2007)42 e Miller (2009)43.

Dentre os covenants positivos devemos destacar alguns de grande importância

que poderão ser negociados, dependendo da necessidade identificada pelos gestores

de Private Equity, a partir das características das empresas investidas:

• Estrutura de Governança Corporativa;

• Mapeamento e otimização de processos produtivos;

• Estruturas de incentivo à produtividade atreladas a métricas de performance;

• Reestruturação organizacional;

• Profissionalização da gestão;

• Acompanhamento sistemático dos resultados obtidos;

Dentre os covenants negativos podemos destacar:

• Não promover diluição de capital sem a anuência do Fundo de Private Equity;

• Não vender participações na empresa sem a anuência dos demais sócios;

• Limites de endividamento total;

4.1 Estrutura de Governança Corporativa

O pesquisador e autor brasileiro sobre o tema de governança corporativa, André

Luiz Carvalhal da Silva (2004)44 demonstrou que as empresas brasileiras listadas em

bolsa, no ano de 2000, possuíam elevado nível de concentração acionária e de poder

de voto, conforme evidenciado pela Tabela 4.1 abaixo:

Tabela 4.1 – Distribuição de controle nas empresas brasileiras listadas na BOVESPA

Fonte: SILVA (2004)

41 Anderson, C., 1999, Financial Contracting Under Extreme Uncertainty: An Analysis of Brazilian Corporate Debentures, Journal of Financial Economics. p. 51, 45-84. 42 Djankov, S., C. McLiesh, and A. Shleifer, 2007, Private credit in 129 countries, Journal of Financial Economics. p.84, 299-329 43 Miller, Darius, 2009, Do country level investor protections impact security level contract design? Evidence from foreign bond covenants, The Graduate School of Economics, p.4-7. 44 Ver referências bibliográficas. SILVA, André Luis Carvalhal. Governança corporativa, valor, alavancagem e política de dividendos das empresas brasileiras.

60

É interessante notar que 90% das 225 empresas da amostra são controladas

por acionistas majoritários, e o maior destes acionistas controla, em média, 76% do

Capital Votante, e os 3 maiores controlam 88%. Por outro lado observamos que,

mesmo as empresas com menor grau de concentração de controle, a proporção do

capital votante é significativamente maior que do capital total, demonstrando a ampla

utilização da emissão de ações ordinárias (com direito a voto) e de ações preferenciais

(sem direito a voto) como mecanismo para concentrar o poder efetivo sobre as

decisões da empresa.

Para os investidores em Private Equity este cenário significa que a aquisição

da participação majoritária da empresa deverá ser negociada com um único acionista,

ou um conjunto pequeno de acionistas, em sua grande maioria, ou então a aquisição

de ações pelo Fundo PE deverá ser feita para uma posição de acionista minoritário,

que neste caso ficará dependente da forma de gestão comandada pelo acionista

majoritário, caso não seja negociado um acordo de acionistas que promova a

possibilidade de participação efetiva na gestão.

São notórios os casos de falhas na governança de grandes empresas listadas

na BM&F-BOVESPA, tais como os casos da SADIA, COSAN, TENDA, ARACRUZ e

AGRENCO, os quais conseguiram destruir R$12,83 Bilhões de valor dos acionistas

em apenas 15 dias, representando uma queda de 61% em média nas ações neste

período. Estes eventos são relatados com mais detalhes por SILVEIRA (2010)45.

Há que se ter em mente que a Governança Corporativa é muito frágil no Brasil,

mesmo nas grandes empresas, em que o nível de controle e a exigência de

apresentação de documentos contábeis é muito maior do que no segmento de Middle

Market, onde a maior parte da atividade de Private Equity se desenvolve no país.

Em outro estudo que buscou levantar o impacto da governança corporativa no

valor da empresa, e o autor SILVEIRA (2002)46 identificou que a separação de

pessoas distintas ocupando o cargo de Diretor Executivo e o Presidente de Conselho

são mais valorizadas pelo mercado, assim como a existência de um número

intermediário de conselheiros aumenta o valor da empresa. A independência do

conselho, por sua vez, não impactou na variável de valor da empresa.

Visando a maximização do valor ao cotista de Private Equity, a possibilidade de

influenciar na gestão é importante e, como parte da estrutura societária a ser

implementada, deverá constar a estruturação de um Conselho Diretor atuante, de

modo a melhorar a Governança Corporativa, caso esta já não tenha sido instituída.

45 Ver referências bibliográficas. SILVEIRA, Alexandre Miceli. Governança Corporativa no Brasil e no Mundo 46 Ver referências bibliográficas. SILVEIRA, Alexandre Miceli. GOVERNANÇA CORPORATIVA, DESEMPENHO E VALOR DA EMPRESA NO BRASIL

61

Com isto espera-se que a empresa venha a apresentar um nível de

transparência muito maior que a situação existente no momento da negociação com o

Fundo de Private Equity, na maioria dos casos nas empresas brasileiras,

principalmente as de origem familiar. A participação a ser adquirida, na faixa de

20% a 50% do capital da empresa, deverá gerar o direito à indicação de executivos

que deverão ter papel ativo na implementação das mudanças operacionais da

empresa. Estes executivos deverão ter provada experiência no ramo da empresa, e

também deverão estar comprometidos com o atingimento das metas de incremento da

produtividade, e poderão ganhar incentivos financeiros, nos moldes da distribuição das

Stock Options e bônus sobre o atingimento das metas.

Outro aspecto importante deverá ser a auditoria dos balanços, assim como a

divulgação periódica dos demonstrativos contábeis auditados, juntamente com a

análise dos relatórios gerenciais do acompanhamento das metas de indicadores de

eficiência propostos.

Em recente reportagem sobre investimentos em Private Equity no Brasil,

publicada no jornal Valor Econômico47 descobriu-se que a aceitação, por parte dos

proprietários da empresa, para que seja implantada uma estrutura de governança

efetiva e atuante nas companhias investidas é de fundamental importância para a

realização do investimento, conforme relatado:

“Outro ponto que costuma interromper as negociações é a estrutura de governança da

empresa. Mais especificamente, a capacidade do sócio ou fundador de abrir mão de

uma cultura de tomada de decisões vertical e unilateral para decisões colegiadas,

prática muitas vezes desconhecida em empresas familiares. ‘Os fundos avaliam o

empreendedor e detectam se o perfil é o de uma pessoa que não vai abrir mão de suas

posições. Em alguns casos ele se afasta, quando identifica que a pessoa não está

disposta a aceitar esse acréscimo à operação, que reduzirá o tamanho do seu poder na

empresa. É difícil desmontar uma estrutura familiar, que muitas vezes está acima da

governança. Em alguns casos chega a ser uma experiência traumática’, opina o sócio

de Transaction Services da BDO Brazil, Jairo da Rocha Soares”.

A visão de negócios dos proprietários de algumas empresas, por outro lado, é

a de que os gestores dos Fundos de Private Equity podem vir a agregar valor à

parceria, na medida em que trazem um conjunto importante de expertises para o

negócio, tal como o conhecimento do mercado financeiro e de capitais, metodologias

de otimização e rentabilização do negócio, e um foco no atingimento de metas,

47 Valor Econômico. Plano de negócios tem papel essencial para private equity. 30/09/2013.

62

conforme relata a empresária, fundadora e CEO da doceria “Amor aos Pedaços”, ao

comentar sua parceria com a gestora de Fundos de Private Equity Mercatto48:

"Mais do que os recursos, tínhamos necessidade de uma estrutura de

governança, de maior critério de trabalho. Vários fundos se interessaram, mas o

Mercatto nos atraiu por conta do know-how no segmento de alimentos e porque a

parceria envolvia a chegada de profissionais para as áreas financeira e administrativa.

Saímos das reuniões do conselho centrados no que precisa ser feito"

4.2 Mapeamento e otimização de processos produtivos Dentro do pacote de compromissos estabelecidos com a alta gestão, estará a

previsão de a empresa passar pela atividade de mapeamento de processos de

negócios, análise da possibilidade de melhorias, registro destes processos otimizados

e divulgação para todos os níveis da empresa. Este mecanismo é um pré-requisito

para a implementação de certificações do tipo ISO 9001, o qual promove melhorias na

eficiência produtiva, verticaliza o conhecimento dos processos em toda a empresa e

reduz custos com falhas operacionais.

A padronização de processos conduz ao controle de custos, por evitar

desperdícios e aumentar o controle de qualidade do produto final.

Principalmente para empresas do setor industrial, a padronização de processos

têm se mostrado uma ferramenta importante no controle da qualidade do produto final,

bem como no controle dos insumos utilizados no processo produtivo.

4.3 Estrutura de incentivos à produtividade atrelad as a métricas de performance

É consenso razoavelmente estabelecido entre os grandes investidores em Private

Equity, comprovada como sendo uma prática comum neste mercado por estudo de

LESLIE e OYER (2008)49, que o compartilhamento dos resultados e ganhos

operacionais com os colaboradores e com a gestão contribui enormemente para o

comprometimento deles na implementação das melhorias operacionais propostas.

A implementação de uma estrutura de incentivos financeiros atrelados a métricas

de performance será um fator-chave para o sucesso da iniciativa de implementação de

ganhos de produtividade da empresa, de redução de custos, do aumento da margem

de lucro líquido e incremento dos fluxos de caixa livre para o acionista.

48 Valor Econômico. Governança ajuda a atrair parceiro. 30/09/2013. 49 National Bureau of Economic Research. LESLIE, Phillip; OYER, Paul. Managerial Incentives and Value Creation: Evidence from Private Equity. 2008.

63

Para os profissionais atuantes no nível hierárquico da média gerência, poderão ser

implementados incentivos financeiros atrelados ao atingimento de metas operacionais,

e para os executivos do nível de diretoria poderão ser oferecidas stock options, as

quais poderão ser exercidas no futuro, dependendo do atingimento das metas

operacionais e financeiras, além do reflexo no aumento do Fluxo de Caixa Livre para o

acionista e, consequentemente, no Valor Presente da empresa.

4.4 Reestruturação organizacional Como conseqüência natural da implementação das medidas anteriormente

elencadas, serão identificadas disfunções operacionais, bem como ficarão claros os

gargalos na produção, além do mapeamento de áreas em que os custos operacionais

excedem a sua agregação de valor interno, de maneira que deverão ser

implementadas reestruturações organizacionais, além da redução pontual do número

de funcionários. Estas medidas atreladas à redução de custos e ganhos de

produtividade, por mais dolorosas que possam ser, são ciclos que a empresa deve

passar periodicamente, de modo a se manterem competitivas com o mercado.

Como serão feitas com o uso de critérios claros de identificação de

ineficiências, bem como pelo mapeamento de processos e a identificação do valor

agregado de cada área, o impacto no moral dos colaboradores será minimizado, uma

vez que as áreas que sejam consideradas mais produtivas, e que agregam mais valor,

deverão ser menos afetadas que as áreas que oferecem redundâncias e ineficiências.

4.5 Profissionalização da gestão Constata-se que é muito comum nas empresas brasileiras que a origem de

muitas empresas é de um empreendimento familiar que ganhou escala e teve um

crescimento muito grande ao longo de gerações, resultando em um cenário em que

vários familiares são os responsáveis pela gestão na empresa, tendo eles aptidão

gerencial ou não, mantendo-se nos cargos baseados mais em laços familiares que na

competência em negócios e no atingimento de objetivos corporativos.

O investimento no capital da empresa pelo Fundo de Private Equity deverá

estar atrelado ao comprometimento da atual gestão na implementação do processo de

profissionalização da gestão, a partir da contratação de executivos com experiências

anteriores similares, os quais ficarão comprometidos ao atingimento de metas

operacionais claras e pré-definidas.

Este ponto provavelmente terá que ser tratado com extremo cuidado e com

muito tato pelos gestores do Fundo, pois pode representar um choque frontal com a

64

cultura organizacional familiar arraigada, e enfrentará resistências pelos familiares que

vierem a se sentir preteridos no processo de profissionalização, todavia a correta

implementação desta medida poderá incrementar os resultados de maneira muito

positiva, de modo que esta se torna uma questão que não deve deixar de ser

abordada pelos gestores de Fundos de Private Equity em busca de maximizar o

retorno para o cotista.

Destacamos abaixo o relato da experiência vivenciada pelo BNDESPar ao

investir na Quality, empresa da área de Tecnologia da Informação, sobre como lidar

com a questão da profissionalização da gestão, extraído da reportagem do jornal Valor

Econômico50:

“Com a entrada do fundo, foram definidas três ações objetivas para profissionalizar a

empresa. A primeira foi a montagem das ‘entidades decisórias’ da empresa, como o conselho de

administração e o quadro executivo. A segunda etapa foi identificar os profissionais mais

adequados para assumir as posições chave, independentemente de a origem ser da família

fundadora que comandava o negócio ou os novos parceiros. ‘Foi implantado um rito para as

tomadas de decisão dentro de cada entidade. Na segunda onda, foi remodelada a estrutura

diretiva da empresa. Os fundadores foram para o conselho e o único membro da família que

permaneceu no quadro executivo fui eu’, diz Júlio Britto Júnior, CEO e diretor de Relações com

Investidores da Quality.

O exemplo da Quality mostra os atrativos que justificam a aposta dos fundos de

investimento em determinados negócios: empresas com potencial de crescimento em seus

mercados, com plano de negócios estruturado e dispostas a alcançar seus objetivos por meio da

implantação de uma gestão mais profissional. ‘Da fundação, em 1989, até a chegada do fundo,

em 2008, a casa não tinha uma governança corporativa. Tínhamos uma clara visão de empresa

familiar’, completa Britto Júnior.

A passagem de uma gestão familiar para outra profissional, que envolve decisões

colegiadas sobre planos estratégicos da empresa, era primordial para a adoção do terceiro

objetivo da parceria: o crescimento acelerado. Do momento da chegada do fundo até o ano

passado, o faturamento passou de R$ 14,65 milhões para R$ 27,80 milhões, e a expectativa é

superar os R$ 30 milhões em 2013. Agora, a Quality prepara o processo de listagem

como empresa aberta e a entrada no Bovespa Mais, a plataforma de acesso ao mercado de

capitais para pequenas empresas da bolsa. ‘A evolução do faturamento está relacionada ao

processo de governança e da estrutura corporativa montada’, diz Britto Júnior.”

4.6 Acompanhamento sistemático dos resultados proje tados A partir da implantação do sistema integrado de gestão, do estabelecimento de

metas operacionais que medirão os incrementos de produtividade, e dos business

plans, os quais irão detalhar e especificar a implantação de projetos de melhorias, será

responsabilidade da gestão da empresa, bem como do parceiro cotista investidor do

50 Valor Econômico. Governança ajuda a atrair parceiro. 30/09/2013.

65

Fundo de Private Equity, o acompanhamento sistemático do que foi planejado, bem

como a indicação da necessidade de eventuais ajustes ao longo do processo de

implantação dos projetos.

A capacidade de mensuração dos resultados planejados é absolutamente

essencial, na medida em que o ganho de valor presente da empresa deverá refletir os

ganhos operacionais implementados ao longo do período de permanência da empresa

no portfolio de investimentos do Fundo de Private Equity. A escolha dos indicadores

operacionais também será de grande importância, na medida em que eles pautarão a

atuação dos gestores, e, portanto, eles devem possuir grande capacidade de

efetivamente refletir os ganhos de eficiência operacional, a redução de custos e, por

conseqüência, deverão impulsionar o incremento do resultado da criação de valor

econômico pela empresa.

4.7 Não promover diluição da participação no capita l social

Para qualquer investidor em empresas privadas, principalmente para aqueles

com posições minoritárias, a diluição da participação no capital social pode

representar uma séria ameaça aos retornos esperados, na medida em que estes

potencialmente serão menores que os previstos anteriormente, ocorrendo a diluição

dos dividendos para novos acionistas, assim como os investimentos necessários para

o atingimento dos resultados serão possivelmente maiores, haja vista a necessidade

de novos aportes de capital demandados pelos gestores atuais.

Em decorrência desta elevada sensibilidade ao retorno esperado pelo Fundo

de Private Equity com a perspectiva de uma diluição na participação, recomenda-se

que se adote uma medida prudencial para precaver os cotistas de eventuais

desvalorizações no valor do portfolio, a qual deve ser negociada já no processo inicial

de contato com os proprietários, antes da efetivação do acordo de acionistas.

Este acordo deverá prever que os atuais proprietários se comprometerão a não

emitir novas cotas ou ações representativas no capital social, para obterem novos

aportes no capital social da empresa, a menos que haja expressa anuência dos

gestores do Fundo de Private Equity.

4.8 Não vender participações na empresa a novos sóc ios

Outro perigo encontrado no caminho de investidores minoritários é a possibilidade

de os atuais gestores venderem uma nova parcela de suas participações para

parceiros desconhecidos aos gestores dos Fundos de Private Equity. Esta atitude

poderá alienar o controle da empresa investida, no caso da venda do bloco de

66

controle, que por sua vez poderá gerar a descontinuidade nas medidas administrativas

visando a melhoria da eficiência operacional da empresa, ou no mínimo poderá

acarretar uma mudança de rumos previamente acordados entre a atual gestão e o

Fundo de Private Equity, o que poderia colocar em perigo o crescimento da empresa e

a valorização da empresa investida, tendo como consequência a destruição de valor

ao cotista do fundo.

Eventuais questionamentos jurídicos sobre os potenciais prejuízos auferidos aos

sócios minoritários podem demorar vários anos para serem solucionados, sem

apresentarem uma conclusão favorável para o Fundo de Private Equity, de modo que

se considera uma medida prudencial a negociação para que seja vedada a venda de

participações a novos sócios no acordo de acionistas, sem que haja a expressa

anuência dos atuais gestores do Fundo de PE.

4.9 Limites de endividamento total

É conhecida a relação existente entre a participação do capital próprio e o capital

de terceiros com o nível de risco de crédito da empresa tomadora, ou seja, as

instituições financeiras incorporam em seus modelos de credit score, bem como em

suas análises fundamentalistas, estes indicadores de alavancagem. Sob o prisma

do credor, quanto maior for a participação do capital próprio da empresa no capital

social total, menor será o risco de crédito que a empresa apresenta, pois ela está em

uma situação de menor grau de alavancagem. O oposto se verifica quando a

empresa apresenta alto grau de alavancagem financeira, com elevada participação de

capital oneroso de fonte externa no capital social total, ou seja, o capital proveniente

de credores, na figura de instituições financeiras ou detentores de títulos de dívida

corporativa (commercial notes, debêntures, etc.).

O motivo desta relação entre o risco de crédito e alavancagem financeira baseia-

se no fato de que as empresas que trabalham com uma participação elevada de

capital de terceiros estão comprometidas a retornar parcelas deste capital

periodicamente, com amortização e juros embutidos, e caso haja algum problema

operacional na empresa, ou caso ocorra alguma situação desestabilizadora que

provoque volatilidade no mercado em que atuam, as suas receitas e os resultados

operacionais podem ficar comprometidos, afetando o fluxo de pagamentos das dívidas

e, consequentemente, aumentando o risco de default.

Neste trabalho apresentamos a estratégia de promover o aumento do capital de

terceiros pela empresa investida pelo Fundo de Private Equity, visando incrementar o

valor presente da empresa por meio da redução da taxa WACC, até o atingimento do

67

ponto ótimo, que é aquele em que a assunção de novas dívidas começará a elevar o

custo de capital total, por conta do aumento da percepção do risco de crédito da

empresa pelos credores, seguindo um padrão ilustrado na Figura 4.1 abaixo51.

A figura nos representa a evolução do custo de capital médio ponderado (WACC),

a partir de diferentes níveis de participação de capital de terceiros (dívidas onerosas)

no capital total da empresa, admitindo-se que ocorre o aumento da taxa de juros em

função deste aumento da relação entre dívida e capital próprio (Debt/ Equity).

Para a construção deste cenário nos utilizamos dos dados do Banco Central para

taxas de mais longo prazo52, bem como nos baseamos em estudos sobre a estrutura

de capital de empresas brasileiras, publicados por FILHO et al (2011)53, e em BRITO,

CORRAR e BATISTELLA (2007)54, e as premissas e valores utilizados nesta

simulação foram apresentados com mais detalhes no ANEXO III.

Adotamos a metodologia apresentada por DAMODARAN (2008)55 quando este

considera que o Beta do Equity da empresa também aumenta à medida em que o

nível de dívida se eleva, conforme explicitado com maiores detalhes no ANEXO III

deste trabalho. Para elaborarmos uma curva WACC que esteja de acordo com

os parâmetros brasileiros, utilizamos a taxa de juros pré-fixada da linha de crédito de

“Capital de giro com prazo superior a 365 dias”, extraída do BACEN, e segmentamos

as taxas oferecidas pelos bancos, classificados da menor taxa de juros para a maior,

em 8 Faixas, calculando a média das taxas de 3 bancos em cada Faixa, conforme

apresentado no ANEXO IX. O racional desta construção reside na idéia de que as

empresas primeiro procurarão as menores taxas de juros oferecidas, caso o seu nível

de alavancagem seja reduzido (Rating de AAA até A), e quando este nível for sendo

elevado as empresas serão obrigadas a buscar alternativas mais “caras” de

financiamento, contratando operações junto a bancos das Faixas subsequentes

(Rating de BB até D). Cabe ressaltar que foram feitas inferências, aplicadas à

realidade brasileira, com base no exemplo de Damoraran, em artigo já citado, sobre os

níveis de Rating e a relação D/E (Debt/ Equity). Estudos mais detalhados podem ser

elaborados neste sentido, para aferir com mais precisão a curva WACC brasileira, em

casos particulares.

51 ANEXO III – Cálculo do Atingimento da Estrutura de Capital Ótima 52 Ver Referências Bibliográficas: Site do BACEN. 53 Ver Referências Bibliográficas: FILHO et al. Estrutura de Capital e Alavancagem Financeira em Micro e Pequenas Empresas Goianas. 2011 54 Ver Referências Bibliográficas: BRITO, CORRAR e BATISTELLA. Fatores determinantes da estrutura de capital das maiores empresas que atuam no Brasil. 2007. 55 Ver Referências Bibliográficas: DAMODARAN, Aswath. The Anatomy of an LBO: Leverage, Control and Value. 2008.

68

O resultado obtido nesta simulação evidencia que o nível de WACC ótimo no Brasil

esteja próximo de 20% de dívida na composição da estrutura de capital, de modo que

um aumento do nível de alavancagem promovido posteriormente pelos gestores de

Fundos PE possa agregar valor à empresa, caso ela esteja com menos dívida que

este patamar ótimo, mas devemos alertar que o valor da empresa pode vir a sofrer

reduções, bem como o risco de inadimplência pode aumentar significativamente, caso

a alavancagem seja muito maior que este nível. Ressaltamos que o patamar de

20% de dívida é próximo do resultado obtido por Damodaran (2008) no referido

estudo, que demonstrou um patamar entre 20% a 30% como o ponto mínimo de

WACC no contexto norte-americano.

Figura 4.1 – Atingimento da estrutura de Capital ót ima (WACC mínimo)

Fonte: Simulação elaborada pelo autor

Haja vista esta conceituação teórica apresentada propomos que, como medida

prudencial a ser adotada pelo Fundo de Private Equity, poderá ser negociada uma

covenant negativa com os atuais proprietários das empresas, a qual deverá constar no

acordo de acionistas, e que estabelecerá um limite ao nível de endividamento total que

a empresa possa assumir, para algo próximo ao nível de atingimento do WACC ótimo

(estimada entre 20% a 30% de capital de terceiros), de modo que a percepção do

risco de crédito dela não supere níveis considerados normais pelo mercado,

acarretando um aumento no custo de captação.

4.10 Due Diligence

Uma fase de importância fundamental no processo de aquisição da

participação em uma empresa por um Fundo de Private Equity é a de Due Diligence,

ou simplesmente Diligência, na qual se irá esmiuçar a documentação constitutiva da

69

empresa, para se certificar de que não há nenhuma irregularidade, bem como na qual

se irá realizar uma verdadeira auditoria nos contratos da empresa, tanto com

fornecedores quanto com clientes, empregados e demais colaboradores, em busca de

potenciais indícios de contingências que possam vir a prejudicar os resultados da

companhia no futuro.

O que se costuma encontrar, principalmente em empresas de menor porte, são

situações em que há elevado índice de informalidade nas operações, com poucos

contratos formais com fornecedores e clientes, e também situações em que as

relações trabalhistas com os colaboradores poderão estar sujeitas a questionamentos

futuros em tribunais trabalhistas, por causa de situações relacionadas a falta de

registro de funcionários, falta de pagamento de contribuições previdenciárias, falta de

pagamento de horas-extras, ou então relacionadas com a contratação de

colaboradores como “autônomos”, mas que na verdade prestam serviço exclusivo à

empresa, o que é vedado pela CLT.

Nesta fase do processo de aquisição da participação na empresa também irão

ser levantadas as situações junto às diversas esferas tributárias (municipais, estaduais

e federais), além da regularidade junto a outros órgãos fiscalizadores, conforme o

caso, tais como a CETESB, IBAMA, e demais secretarias ambientais. A questão da

falta de separação clara entre o patrimônio dos sócios e o da empresa também é uma

situação frequentemente encontrada, conforme relatado em reportagem publicada

pelo jornal Valor Econômico, a respeito da informalidade nas empresas em

negociação com Fundos de Private Equity56.

“A diretora da área de Contabilidade da Hirashima Associados, Carla Trematore, explica

que o erro mais comum cometido por muitas empresas e que pode levar ao fracasso em uma

negociação é a informalidade na gestão. Isso se materializa em aspectos como o desrespeito ao

que o jargão contábil batiza de princípio da entidade, quando ativos e despesas dos sócios (dos

mais diversos, do imóvel sede da empresa, passando por automóveis, empréstimos e até mesmo

faturas pessoais) estão misturados aos do próprio negócio. ‘No momento de mostrar para o

fundo o que de fato é da empresa e o que pertence aos sócios, dependendo do nível de controle

da operação, é impossível segregar’, afirma.

Outros fatores de informalidade que, se não chegam a abortar a negociação, no mínimo

reduzem o poder de barganha da empresa na precificação do negócio, incluem a falta de

documentação fiscal e ambiental, a inexistência de relatórios gerenciais, práticas contábeis

meramente voltadas ao atendimento à Receita Federal e planejamentos fiscais agressivos sem

embasamento e respaldo de escritórios de advocacia ou consultorias especializadas. Uma

informalidade, na visão da especialista, com o objetivo de uma suposta economia de impostos,

mas que pode se materializar em contingências tributárias no futuro.”

56 Valor Econômico. Plano de negócios tem papel essencial para private equity. Publicado 30/09/2013.

70

Outro fator importante no processo de Due Diligence reside no fato de

que este é praticamente o último momento para se identificar oportunidades de

melhorias, bem como para se ajustar as estimativas de crescimento de faturamento e

de redução de custos, antes do efetivo aporte de recursos pelo Fundo de Private

Equity. Conforme nos orienta o artigo de COUTO, DIVAKARAN, CAGLAR

(2012), publicado pela empresa de consultoria Booz&Co57, a definição de como e para

quando haverá a criação de valor pela empresa deve se dar desde a fase de Due

Diligence:

“O foco das firmas de Private Equity em valor intrínseco se inicia com a diligência.

Gestores de fundos escolhem cuidadosamente cada uma das empresas-alvo e explicitamente

definem como elas irão criar valor incremental, e para quando. Esta avaliação não cessa após a

aquisição – eles periodicamente avaliam o potencial de criação de valor das empresas do

portfolio e rapidamente se livram daquelas que não estão correspondendo, de modo a liberar

fundos para investimentos mais rentáveis.”58

5 Planos de negócios que agregam valor

Como visto anteriormente, uma maneira de se incrementar o valor da empresa,

e agregar valor para o cotista, se dá através da otimização da estrutura de capital,

bem como pela redução de custos financeiros, e a outra maneira que se pode atingir

este objetivo, talvez com um maior grau de complexidade gerencial, mas de grande

relevância para o crescimento do valor da empresa, são as melhorias operacionais e

de produtividade.

Evidentemente que nesta seção apenas apresentaremos algumas medidas de

gestão consideradas as “melhores práticas” do mercado, as quais deverão ser

adaptadas para cada uma das empresas objeto do investimento do Fundo de Private

Equity, todavia a lista serve de indicativo para que a gestão possa melhorar os ganhos

de produtividade, apesar de não buscar encerrar o tema de melhorias operacionais,

que possibilitam à empresa melhorar as margens de lucro, reduzir seus custos, assim

promovendo o crescimento do Fluxo de Caixa Livre para o acionista e,

consequentemente, criando valor para o acionista e para a empresa investida.

Este plano de negócios poderá ser elaborado, de preferência, anteriormente à

entrada formal do fundo de Private Equity na empresa, de modo a servir de parâmetro

para a atuação da gestão, uma vez que seja adquirida a participação.

57 Ver referências bibliográficas. COUTO, DIVAKARAN, CAGLAR. Booz&Co. Seven Value Creation Lessons from Private Equity. 2012. 58 Tradução do próprio autor.

71

Destacamos abaixo algumas medidas que usualmente promovem a melhoria

de produtividade:

• Aplicação do ciclo PDCA para implementação de planos de negócios;

• Implantação de sistemas integrados de gestão empresarial (ERP);

• Busca incessante de ganhos de produtividade operacional;

• Redução inteligente de custos fixos e variáveis;

• Ampliação geográfica de mercados e aumento de vendas nos mercados

atualmente atendidos;

• Lançamento de novos produtos;

• Busca por tecnologias de produção inovadoras;

• Promover ganhos de eficiência logística;

5.1 Ciclo PDCA

Abaixo destacamos o ciclo PDCA – Plan, Do, Check, Act que é uma

metodologia que poderá auxiliar no planejamento, implementação, conferência e

correções dos diversos projetos de melhoria operacional que mencionamos.

Esta metodologia tem sido aplicada com sucesso em diversas empresas de

nível internacional, podendo se destacar, inclusive, que o Brasil conta com

especialistas de renome na área, tal como o Prof. Vicente Falconi59, especialista em

implantação de sistemas de Qualidade Total e membro do conselho de administração

de empresas como AMBEV, Lojas Americanas, dentre outras, nas quais implementou

a metodologia com sucesso.

59 CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciando pelas diretrizes. BH: Editora de Desenvolvimento Gerencial, 2002

72

Figura 5.1 – Ciclo de Gerenciamento PDCA

Fonte: Gerenciamento pelas Diretrizes

Figura 5.2 – Ciclo de Gerenciamento PDCA – Fases e O bjetivos

Fonte: Gerenciamento pelas Diretrizes

73

5.2 Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP) A implementação da integração de sistemas de gestão nas empresas-alvo dos

investimentos do Fundo de Private Equity possibilita o mapeamento de processos, a

mensuração da agilidade e efetividade dos diversos processos produtivos, a

identificação de gargalos operacionais, além da mensuração de indicadores que

servirão de critérios para a premiação por ganhos de produtividade para os

colaboradores. A partir da implantação do sistema será possível controlar melhor os

níveis de estoques de matéria-prima e de produtos prontos, possibilita o controle da

qualidade da carteira de recebíveis, e com isso, haverá a possibilidade de reduzir o

investimento em capital de giro. Outra vantagem deste sistema de gestão é a

possibilidade de acompanhamento, em tempo real, das operações de toda a empresa,

mesmo que remotamente, pelos gestores e controladores da empresa, assim como

pelos gestores do Private Equity.

5.3 Ganhos de produtividade operacional Independente da área de atuação da empresa, partimos da premissa que

sempre será possível implementar maneiras de se trabalhar de modo mais produtivo,

mais eficiente e com menor custo. Muitas das inovações que deverão ser

implementadas pela empresa, ao longo deste processo de busca por melhorias,

advirão da experiência operacional dos próprios colaboradores, os quais serão

estimulados a inovar para atingir metas de produtividade e incrementar ganhos de

eficiência operacional.

Em relação a empresas industriais poderá ser implementado um sistema de

otimização de logística, a criação de centros de distribuição, o estabelecimento de

novas linhas de produtos, instalação de máquinas mais novas e eficientes, etc.

Empresas comerciais poderão a minimizar de estoques, promover a implantação de

sistemas just-in-time, a ampliação do giro de vendas, a abertura de novas lojas

próprias e outras por franchising, etc. Nas empresas de serviços será possível a

implementação de novas formas de contato com o cliente, utilização do uso intensivo

de call centers, estabelecimento de ferramentas de CRM (Customer Relationship

Management), etc.

Existem estudos famosos sobre o aumento de produtividade de empresas que

passaram por processos de LBO ou MBO60, tais como o desenvolvido por Harris,

60 MBO - Management Buyout: Processo no qual a alta gestão da companhia adquire o controle

74

Siegel e Wright (2005)61, em que foram mapeadas os indicadores de produtividade de

4.877 indústrias no Reino Unido, que passaram por processos de MBO durante o

período de 1994 a 1998. O estudo indicou que, antes da aquisição, as indústrias

adquiridas eram 2% menos produtivas que a média do setor, e que 3 anos depois de

serem adquiridas pela própria gestão (MBO) a produtividade cresceu de tal forma que

elas passaram a ser 90% mais produtivas que a média do setor. O crescimento de

produtividade ocorreu em 14 dos 18 setores da economia pesquisados. As

empresas apresentaram redução na produção total, mas com menor razão entre a

quantidade de empregados por unidade produzida, e empregavam menos capital em

sua operação, o que se configurou em aumento de produtividade.

5.4 Redução de custos fixos e variáveis A partir dos processos de melhoria operacional descritos anteriormente, será

possível identificar os potenciais gargalos produtivos, as ineficiências operacionais, e a

identificação do problema é o primeiro passo para se sanar estas deficiências, e o

resultado obtido será que a empresa passará a ter ganhos de escala, reduzirá custos

variáveis, e poderá proporcionalmente reduzir custos fixos por cada unidade de novo

capital investido.

O resultado da redução de custos fixos e variáveis, a melhoria dos processos

produtivos, e a mensuração da performance, implicará na melhoria das margens

operacionais, de modo que o resultado do investimento terá forte agregação do valor a

partir deste processo de melhoria contínua e ganho de produtividade. Conforme

mencionado anteriormente, o valor atual da empresa é mensurado pelo Fluxo de

Caixa Livre projetado, considerando seu crescimento na perpetuidade, e o custo de

capital médio ponderado, todos estes fatores serão sensivelmente impactados pela

redução de custos e pela ampliação das margens de lucro.

5.5 Ampliação de mercados e aumento de vendas A empresa deverá apresentar, como parte do Business Plan, as formas de

incrementar o volume de vendas, a partir de novas estratégias de marketing, a

identificação de novos mercados consumidores, a penetração em novos meios de

distribuição e em novos clientes atacadistas, bem como a estruturação de um

programa de propaganda & marketing para incrementar a amplitude e conhecimento

da marca.

61 Harris, Richard; Sieguel, Donald and Mike Wright (2005). Assessing the impact of management buyouts and economic efficiency. The Review of Economics and Statistics. Vol. 87 (1), pp. 148-153.

75

Estes resultados, assim como todo o resto das metas operacionais e de

produtividade, devem ser mensurados e acompanhados, e devem pautar a

remuneração variável da força de vendas.

O estudo da EMPEA62 - Emerging Markets Private Equity Association

demonstra evidências de que a expansão geográfica da atuação da empresa

representa 48% do aumento das receitas, bem como o crescimento da demanda pelos

produtos corresponde a outros 22% deste indicador, totalizando 70% do crescimento

orgânico das receitas das empresas integrantes do portfolio de investimento dos

fundos PE na América Latina, conforme gráfico abaixo. Outros 28% do crescimento

das receitas auferidas pelas empresas advém do lançamento de novos produtos

(15%), e em melhoria da efetividade da força de vendas (13%). Deve-se esclarecer

que, de acordo com a fonte, o Brasil representa 56% do volume investido na América

Latina.

Figura 5.3 – Origens do crescimento orgânico das re ceitas das empresas investidas por PE na

América Latina Fonte: EMPEA

62 EMPEA. Building vital partnerships: How do private equity investors create value?

76

5.6 Novos produtos A introdução de novos produtos e serviços atende à busca pela melhoria

contínua e ao atendimento das necessidades dos consumidores finais.

É importante destacar que o ganho de valor da empresa, assim como o seu

aumento de vendas, muitas vezes está atrelado ao valor agregado pelos produtos e

serviços da empresa, e ao valor percebido pelo cliente, pelo que ele está disposto a

pagar de bom grado, caso fique satisfeito com o atendimento de suas necessidades.

A empresa deve continuamente estar em processo de renovação, bem como

deve promover ajustes dos planos de negócios da empresa, visando a melhor maneira

de atender ao consumidor em suas necessidades, com o menor custo e a maior

produtividade possível, que se traduz em conseguir “fazer sempre mais com menos

recursos”.

A capacidade de a empresa continuamente promover e introduzir a inovação é

uma característica imperativa para que a empresa consiga adquirir e manter uma

posição de liderança em seu respectivo mercado de atuação.

O feedback dos funcionários e dos clientes sobre as operações, produtos e

serviços da empresa, bem como o estabelecimento de um sistema de análise que

efetivamente aproveite estas valiosas informações de maneira produtiva, torna-se um

fator de ganho de competitividade frente à concorrência.

Em relação ao lançamento de novos produtos, para empresas que produzem e

comercializam produtos de consumo para o cliente final, tais como indústrias de

alimentos ou de produtos de higiene e limpeza, o valor agregado ao acionista,

impactado diretamente no valor de suas ações, para cada US$1 de receita incremental

cria-se cerca de US$1,75 a US$2,00 de valor pelo lançamento de novos produtos no

mercado63. Em segundo lugar encontra-se a expansão de negócios em um

mercado pré-existente em que a empresa já atua, com US$0,30 a US$0,75 de valor

criado para US$1 de aumento de receita, e em terceiro lugar está o aumento de

Market Share em um mercado em crescimento, agregando US$0,10 a US$0,50 para

cada US$1 de receita incremental. Há que se observar que a competição por

aumento de participação em um mercado estagnado pode potencialmente destruir

valor para o acionista, em função de redução de margens de lucro e aumento de

gastos com marketing, conforme se observa na Figura 5.4.

63 Mc Kinsey & Company – Valuation: Measuring and Managing the Value of Companies

77

Figura 5.4 – Criação de valor ao acionista para cad a US$1 de receita incremental

Fonte: Valuation – Measuring and Managing the Value o f Companies

5.7 Tecnologias de produção inovadoras

A tecnologia está em constante evolução, e de tempos em tempos o parque

produtivo de uma empresa necessitará de atualizações de maquinário, os quais, em

decorrência dos avanços tecnológicos, serão capazes de produzir de modo mais

rápido, em maiores quantidades e com menor custo que o maquinário anteriormente

utilizado.

Em decorrência da concorrência com outras empresas em determinado

segmento da economia, em que o Fundo de Private Equity decida investir por meio da

aquisição de uma participação em uma empresa atuante no ramo, para que não

ocorra a perda relativa de market share o parque produtivo deverá ser constantemente

atualizado, para se manter a vantagem competitiva.

O investimento deverá ser sempre feito com base em um estudo prévio

considerando o retorno esperado do investimento, de modo que o Valor Presente

Líquido agregado pelo projeto seja satisfatório, ou seja, esteja pelo menos acima do

WACC atual da empresa.

5.8 Ganhos de eficiência de logística

Os custos de transporte de mercadorias e insumos, no Brasil, representam

valores significativos na planilha de custos de praticamente qualquer empresa, seja

nos custos diretos ou indiretos, na medida em que nosso país apresenta uma

dimensão continental, e a infra-estrutura de transporte é precária, tornando complexa

78

e custosa a tarefa de levar o produto até o cliente, ou de trazer os insumos dos

fornecedores.

Diferentemente de outros países, no Brasil a participação da modalidade

rodoviário é majoritária na matriz de transporte existente, de modo que os custos

envolvidos se tornam maiores do que, comparativamente, os custos de transporte

ferroviário, fluvial ou marítimo. Por sua vez a infra-estrutura rodoviária é considerada

ruim ou péssima na maior parte da malha existente no país64, o que acarreta custos

adicionais com manutenção de veículos, além de problemas relacionados com a

segurança das cargas, com grande ocorrência de furtos e roubos.

Em conseqüência desta situação de alto custo relativo do transporte, os

ganhos de eficiência em logística poderão ter grande impacto na redução de custos de

produção ou comercialização dos produtos, gerando aumentos na margem de lucro.

Existem medidas gerenciais disponíveis para se obter a redução de

custos de transporte, tais como a terceirização da frota de caminhões, a criação de

centros de distribuição de mercadorias, a ampliação de contratos com distribuidores

regionais dos produtos, dentre outras medidas.

6 Negociação para desinvestmento

A partir do momento da entrada do investidor no quadro de acionistas da

empresa, o momento da saída do investimento, ou desinvestimento, é de fundamental

importância para o cotista, na medida em que será o momento em que, efetivamente,

se dará o retorno do investimento, e as cotas de investimento se tornarão líquidas,

depois de vários anos de participação da empresa, e depois de melhorias operacionais

implementadas, bem como do incremento das receitas.

Existem diversas maneiras de tornar as cotas de participação em Fundos de

Private Equity em recursos líquidos, dentre estas destacamos o seguinte:

• Negociação das cotas com parceiros estratégicos nacionais e estrangeiros;

• Negociação com investidores institucionais;

• Negociação com outros Fundos de Private Equity;

• Realização de IPO – Initial Public Offering.

Com base no relatório da empresa de consultoria Preqin65 observamos que o

chamado Trade Sale, ou negociação com parceiros estratégicos, constitui a maior

parcela das saídas, em termos de quantidade de negócios, seguida pela venda para

outros Fundos de Private Equity, e em terceiro lugar fica o IPO. Estes dados são

64 Pesquisa CNT de Rodovias. 17ª Edição. 2013. 65 Ver Referências Bibliográficas: Preqin. Global Private Equity Report. 2014.

79

válidos para os fundos de PE em termos mundiais. Constatamos uma recuperação

gradual do volume de negócios realizados em relação ao mínimo ocorrido durante a

crise financeira internacional, no período de 2008/2009, atingindo o volume próximo a

US$90 Bilhões em mais de 360 saídas feitas no último trimestre de 2013.

Figura 6.1 – Evolução do valor e quantidade de desin vestimentos por tipo de saída

Fonte: Preqin

Em relação ao mercado brasileiro em particular, conforme se observa no

gráfico abaixo extraído do estudo da KPMG66, a maior parte dos desinvestimentos, em

termos de percentual sobre o valor total de negócios realizados, se deu através de

IPO, seguido pela modalidade de venda a outro investidor estratégico.

Figura 6.2 – Percentual do valor de desinvestimento s por tipo de saída no Brasil

Fonte: KPMG

66 KPMG - Consolidação de Dados da Indústria de Private Equity e Venture Capital no Brasil.

80

Observamos que, em termos de valor da transação, o IPO representa o tipo de

saída mais utilizado pelos fundos de PE, no entanto devemos ponderar que, em

termos de quantidade de negócios efetivados, o percentual de negócios é

relativamente menor nesta modalidade, o que evidencia que os negócios por meio de

IPO são mais concentrados, ou seja, o valor médio por transação é maior que as

outras modalidades de saída analisadas.

6.1 Busca por parceiros estratégicos Nacionais e Es trangeiros Os relatórios periódicos de empresas que atuam no assessoramento de

processos de Fusão & Aquisição de empresas, tais como KPMG, Ernst & Young, etc.,

oferecem um panorama interessante dos motivadores dos processos de negociação

de investimentos em outras empresas, bem como dão indicação sobre o perfil dos

agentes atuantes neste mercado, e o resultado indica que uma boa parcela dos

negócios são fechados entre empresas que atuam no mesmo setor, e estes são

chamados de parceiros estratégicos.

Estes investidores estratégicos nacionais são empresas que entendem que o

processo de aquisição de uma empresa já atuante no setor, com parcela significativa

do mercado consumidor, que possui um conjunto de ativos fixos, um grupo de pessoas

treinadas e capacitadas, pode ser um meio mais rápido de crescer, além de ser mais

interessante economicamente, que o mero crescimento orgânico das suas operações,

além de agregar ganhos de escala.

Por outro lado os investidores estratégicos estrangeiros podem ser um grupo

interessante para se oferecer a participação na empresa investida pelo Fundo de

Private Equity, na medida em que estas empresas podem estar ansiosas por uma

oportunidade de entrarem no mercado consumidor brasileiro, e poderão considerar

como positivo o investimento a ser feito em uma empresa otimizada, com uma atuante

estrutura de governança corporativa, com sistemas de gestão integrados já

implementados, uma relevante participação no mercado nacional, um saudável fluxo

de caixa livre ao cotista, e com margens de lucro compensadoras.

Segundo o estudo da Ernst & Young: Dynamic Growth: value creation in Latin

America67, no mercado latino-americano de PE, no qual o Brasil representou 75% das

saídas entre 2007 e 2011, a maior parcela dos desinvestimentos, ou as formas de

saída do investimento pelo cotista, ocorreram através da venda para parceiros

estratégicos (50%), seguida por IPO (40%), conforme se observa na Figura 6.2 abaixo.

67 Ernst & Young – Dynamic Growth: value creation in Latin America

81

Figura 6.3 – Desinvestimentos dos PE para negociação direta das cotas de participação

Fonte: Ernst&Young

Interessante notar também que, dentre estes compradores das cotas de

participação formados por parceiros estratégicos, em 55% dos casos a venda ocorre

para um mesmo comprador, enquanto em 27% dos casos as cotas vendidas se

efetivaram em processos de leilão, podendo ser vendidas para mais de um investidor

em cada ocasião.

O estudo indica que, desde o momento do investimento nas empresas do

portfolio, os gestores dos Fundos de Private Equity já têm em vista os potenciais

compradores das cotas, na venda a ser efetivada no momento da saída. Por outro

lado, o estudo também aponta que os gestores procuram preparar as empresas

investidas para os padrões internacionais de governança corporativa, e procuram

implementar melhorias de controle financeiro, muitas vezes com a nomeação de novos

CFO para as empresas, com vistas a torná-las atraentes para potenciais compradores.

6.2 Oferta para investidores institucionais Outra via de desinvestimento da participação das cotas societárias presentes

no portfolio do Fundo de Private Equity será a oferta para investidores institucionais,

os quais têm grande necessidade de alocação de capital em investimentos que

garantam um retorno maior que suas metas atuariais.

No cenário atual, com a queda das taxas de juros no mercado de títulos

públicos, as metas atuariais de rendimento dos Fundos de Pensão estão se tornando

cada vez mais difíceis de serem atingidas. Uma maneira bastante razoável de

investimento, com boa relação Risco x Retorno, é o investimento em participações

societárias em empresas que possuem bom histórico de crescimento de receitas

operacionais, boas margens de lucro, e com bom fluxo de pagamento de dividendos a

82

seus cotistas. Existe grande disponibilidade de capital para investimento pelos

fundos de pensão, em empresas que se encontrem nestas condições.

6.3 Oferta para outros Fundos de Private Equity Os relatórios das empresas de assessoria, anteriormente mencionados,

também nos apresentam a grande relevância de participação percentual, no total de

transações de Fusões & Aquisições, para aquelas realizadas entre diferentes Fundos

de Private Equity, ou seja, um fundo que tenha adquirido cotas em estágios anteriores

do desenvolvimento das empresas pode vir a repassar estas cotas, com ganhos da

capital, para outros fundos semelhantes, com perfil de menor apetite por risco e,

muitas vezes, com maior volume de recursos sob administração, e que possam se

contentar com menores taxas de retorno sobre o capital investido.

Em decorrência da uniformidade da aplicação da metodologia de Fluxo de

Caixas Descontados para a avaliação do valor das empresas, bem como pela razoável

base consensual sobre as premissas do modelo de avaliação de empresas (WACC,

CAPM, Fluxo de Caixa Livre, perpetuidade, etc.) o valor a ser negociado para a

transferência das cotas fica dentro de margens mais próximas, o que facilita o

atingimento de um valor de venda consensual para a efetivação do negócio.

6.4 Possibilidade de IPO A última maneira analisada para a saída do investimento realizado em

determinada participação societária, para um Fundo de Private Equity, é aquela que se

dá através da abertura de capital em bolsa de valores, caso ela ainda não esteja no

mercado, por meio do lançamento de ações em uma Oferta Primária de Ações (OPA),

ou Initial Public Offering (IPO).

Esta forma de desinvestimento costuma ser a última etapa de uma longa série

de entradas e saídas de parceiros anteriores, desde que a empresa começou a aceitar

parceiros estratégicos de Fundos Private Equity em seu quadro societário, ou desde o

seu início como empresa de um portfolio de Venture Capital (fase anterior).

Os processos de IPO no mercado brasileiro costumam ser voltados para

empresas com faturamento superior a R$1 Bilhão, portanto isto limita a quantidade de

empresas que atualmente podem vir a ser alvo desta forma de desinvestimento pelo

volume de recursos necessários para a aquisição da participação inicial, entretanto

esta pode ser uma alternativa bastante atraente para alguns Fundos com perfil mais

conservador, exatamente pelo fato de o volume a ser captado poder ser maior, uma

vez que poderia ser difícil conseguir sair de outra forma.

83

O processo de IPO depende, dentre outros fatores, das perspectivas

econômicas vigentes, bem como pelo apetite do mercado por novos lançamentos.

Normalmente ocorre de as empresas postergarem o lançamento de suas ações

em decorrência de condições adversas do mercado acionário nacional.

Em seguida apresentamos, na Figura 6.3, o detalhamento do processo de

preparação de uma empresa para o IPO, de forma a que esteja apta a atender as

exigências legais junto à CVM e à Bolsa de Valores, contando com uma estrutura de

Governança Corporativa implementada, bem como com uma área de Relações com

Investidores.

84

Figura 6.4 – Processo de preparação para o IPO

Fonte: PricewaterhouseCoopers

85

7 Perfil de Risco e Retorno dos Fundos de Private Equity

Neste trabalho procuramos evidenciar que os Fundos de PE efetivamente trazem ganhos

superiores aos auferidos nos mercados de ações, usado como base de comparação, de

modo que os investidores com horizonte de longo prazo (investidores institucionais, fundos de

pensão, etc.) podem ter uma alternativa de investimentos muito interessante para atender a

suas metas de rentabilidade, principalmente em um cenário de estagnação ou depreciação

dos preços de ações. Procuramos evidenciar que o retorno superior auferido pelos

Fundos de PE foram obtidos mediante a melhoria nos aspectos operacionais e financeiros da

empresa investida, bem como com o uso de alavancagem financeira (LBO), a qual

incrementa o retorno obtido pelo cotista através da redução de recursos necessários para a

aquisição da participação acionária na empresa, conforme evidenciado pela simulação

elaborada.

A simulação foi feita com base em premissas adotadas ao longo deste trabalho, e

foram sendo confrontadas com os dados efetivamente verificados a partir de dados obtidos no

mercado – TIR Bruta comparada com dados da Preqin, TIR Líquida comparada com Burgiss,

WACC estimada foi comparada com a estrutura de capital observada em empresas

brasileiras e taxas de juros bancários informados pelo BACEN – de modo que pudemos ter

uma visão prática de como este mercado de investimento em Private Equity obtém seus

resultados superiores, e qual o impacto das taxas de administração na rentabilidade para o

cotista.

Com base nestes resultados calculados nas simulações, e com base nos resultados

dos autores apresentados, podemos também apresentar o seguinte diagrama explicativo, na

Figura 7.2 abaixo:

86

Figura 7.2 – Distribuição de Risco e Retorn o de Fundos de PE

Fonte - Elaboração do próprio autor

Pela lógica, todos os resultados dos Fundos de Private Equity devem ficar em um dos

quatro quadrantes especificados acima, divididos pela linha horizontal em relação ao retorno

líquido médio do mercado de ações, estimada pela média anual de retorno de longo prazo do

mercado local de ações, designado pela letra grega Mi (µ), e divididos pela linha vertical em

relação ao risco de mercado dos Fundos de PE, estimada pela volatilidade relativa dos

preços, tomada usualmente como sendo o Beta (β) de mercado. Adotaremos o Beta (β)

médio dos Fundos de PE como sendo 1,08, conforme calculado por Ljungqvist e Richardson

(2003).

Cabe aqui o alerta que não foi feito o levantamento dos resultados individuais de

Fundos de PE, nem os qualificamos de acordo com esta metodologia proposta, ficando porém

o indicativo para um trabalho posterior neste sentido. Todavia procuraremos extrair, ainda

assim, algumas conclusões dos resultados que foram levantados por outros pesquisadores

apresentados ao longo deste trabalho, bem como a partir das nossas simulações, para

buscarmos traçar um perfil de Risco e Retorno dos Fundos de Private Equity. Para isto

estabeleceremos algumas premissas teóricas, de modo que criaremos quatro “Tipos ideais”,

que se encaixam nos quadrantes.

87

Estas premissas consideram que:

i) As empresas investidas por um Fundo de PE podem apresentar a mesma taxa de

crescimento de Fluxo de Caixa Livre (FCL) do que aquela no momento da

aquisição, ou melhoram esta taxa, ou pioram esta taxa de crescimento ao longo

da manutenção das cotas da empresa no portfolio do fundo.

ii) O crescimento do FCL das empresas investidas promove o aumento da TIR

Líquida do Fundo de PE e a piora dos resultados promove a sua redução.

iii) Os Fundos de PE cujas empresas apresentam maior nível de alavancagem que a

média do mercado apresentam maior nível de risco (β), e os fundos cujas

empresas apresentam menor alavancagem apresentam menor nível de risco (β).

iv) Os investidores (Limited Partners - LP) terão maior propensão a investir em um

próximo Fundo de Private Equity com o gestor (General Partner – GP) que

apresenta retornos superiores à média do mercado de ações (µ), e menor

propensão a investir caso o gestor apresente retornos inferiores.

v) Quanto menor a TIR bruta de um Fundo de PE, maior é o impacto proporcional da

Taxa de Administração e carried interest cobrado pelo gestor (GP).

Feitas estas colocações preliminares, segue a descrição do perfil de Risco e Retorno

dos Fundos de Private Equity.

Quadrante 1: Neste quadrante estão os Fundos PE que não conseguem atingir a

média de retorno auferido pelo mercado de ações (µ), no entanto apresentam um nível de

risco (β) também inferior ao mercado. Dependendo desta relação de risco e retorno, bem

como dependendo do perfil do investidor, estes Fundos de PE podem atender às expectativas

dos cotistas, principalmente se o retorno líquido apresentado ficar acima do retorno auferido

pelo mercado de renda fixa, considerado com nível de risco próximo a zero. Caso o

investidor considere que o retorno obtido com o Fundo de PE tenha embutido um prêmio

satisfatório pela falta de liquidez dos recursos, pode ser que haja novos investimentos por

parte dos cotistas (LP) em outros fundos organizados pelos gestores (GP), mas devemos

atribuir uma probabilidade mediana disto ocorrer. Neste quadrante devem ficar aqueles

fundos que apresentam menor nível de alavancagem financeira (LBO), minimizando o seu

risco financeiro, e que investem em empresas que seguem o crescimento projetado pela

curva de Fluxo de Caixa Livre utilizado para estimar o Enterprise Value (baseline), ou ficam

abaixo do projetado. Neste quadrante se pressupõe que não haja incremento dos resultados

operacionais e de rentabilidade das empresas investidas além do crescimento inicialmente

planejado pelos gestores do Fundo PE, ou mesmo que haja piora. Supomos também que os

resultados brutos dos cotistas (LP) são mais pesadamente impactados pelas taxas de

administração e do carried interest cobrados pelo gestor do fundo (GP).

88

Quadrante 2: Neste quadrante encontram-se os Fundos PE que conseguem superar

a média de retorno auferido pelo mercado de ações (µ), e além disto apresentam um nível de

risco (β) inferior ao mercado. Estes fundos apresentam a característica desejada pelos

investidores de obterem um retorno superior, e com uma volatilidade menor que a do

mercado de ações e dos outros Fundos PE. Caso este retorno exceda também o retorno da

renda fixa, de risco próximo a zero, o resultado irá superar as expectativas dos cotistas,

incrementando sensivelmente a probabilidade de captação de novos recursos em um próximo

fundo organizado pelo gestor (GP). Neste quadrante devem estar aqueles fundos que

apresentam nível de alavancagem financeira menor que o do mercado, minimizando o seu

risco financeiro, mas que investem em empresas que conseguem superar o projetado pela

curva de Fluxo de Caixa Livre utilizado para estimar o Enterprise Value (baseline). Neste

quadrante se pressupõe que os gestores dos Fundos de PE consigam promover o incremento

dos resultados operacionais e de rentabilidade das empresas investidas, se aproximando ou

superando o resultado planejado com as premissas otimistas projetada pelo FCL Potencial.

Supomos também que os resultados brutos dos cotistas (LP) são medianamente impactados

pelas taxas de administração e do carried interest cobrados pelo gestor do fundo.

Quadrante 3: Neste quadrante encontram-se os fundos que conseguem superar a

média de retorno auferido pelo mercado de ações (µ), no entanto apresentam um nível de

risco (β) superior ao mercado. Estes fundos apresentam a característica desejada pelos

investidores de obterem um retorno superior, no entanto este acréscimo de retorno foi obtido

com uma volatilidade maior que a do mercado de ações e dos outros Fundos PE. Caso

este retorno exceda também o retorno da renda fixa, de risco próximo a zero, o resultado

também irá superar as expectativas dos cotistas, incrementando sensivelmente a

probabilidade de captação de recursos em um próximo fundo organizado pelo gestor (GP).

Neste quadrante devem estar aqueles fundos que recorreram a um maior nível de

alavancagem financeira (LBO), aumentando o seu risco financeiro, e também estão aqueles

fundos que investem em empresas que conseguem atingir ou superar o projetado pela curva

de Fluxo de Caixa Livre utilizado para estimar o Enterprise Value (baseline). Neste

quadrante se pressupõe que os gestores dos Fundos de PE consigam promover o incremento

dos resultados operacionais e de rentabilidade das empresas investidas, se aproximando do

resultado planejado com as premissas otimistas projetada pelo FCL Potencial. Supomos

também que os resultados brutos dos cotistas (LP) são menos impactados pelas taxas de

administração e do carried interest cobrados pelo gestor do fundo (GP).

89

Quadrante 4: Neste quadrante encontram-se os fundos que não conseguem superar

a média de retorno auferido pelo mercado de ações (µ), e ainda apresentam um nível de risco

(β) superior ao mercado. Estes fundos apresentam a característica indesejada pelos

investidores de obterem um retorno inferior, contando ainda com uma volatilidade maior que a

do mercado de ações e dos outros Fundos PE. Caso este retorno seja inferior também ao

retorno da renda fixa, de risco próximo a zero, o resultado ficará muito abaixo das

expectativas dos cotistas (LP), reduzindo significativamente a probabilidade de captação de

recursos em um próximo fundo organizado pelo gestor (GP). Neste quadrante devem estar

aqueles fundos que recorreram a um maior nível de alavancagem financeira (LBO),

aumentando o seu risco financeiro, e que investiram em empresas que não conseguiram

atingir os resultados projetados pela curva de Fluxo de Caixa Livre utilizado para estimar o

Enterprise Value (baseline). Neste quadrante se pressupõe que os gestores dos Fundos de

PE não conseguiram impactar positivamente a gestão das empresas, de modo se observa

uma piora dos resultados operacionais e de rentabilidade das empresas investidas, se

distanciando do resultado planejado com as premissas projetadas pelo FCL Atual. Os níveis

de risco de crédito podem ter sido impactados pelo aumento da alavancagem assumida.

Supomos também que os resultados brutos dos cotistas (LP) são pesadamente impactados

pelas taxas de administração e do carried interest cobrados pelo gestor do fundo (GP).

O resultado pode ser resumido também na Tabela 7.1 abaixo:

Retorno

(μ) Risco (β=1)

Alavancagem

em relação à

média

Melhoria

Operacional

Melhoria

na margem

líquida

Probabilidade

de novos

recursos de LP

Impacto

das taxas

de Adm.

Quadrante 1 Inferior a μ Inferior a β Inferior Não Não Média Alto

Quadrante 2 Superior a μ Inferior a β Inferior Sim Sim Alta Médio

Quadrante 3 Superior a μ Superior a β Superior Sim Sim Alta Baixo

Quadrante 4 Inferior a μ Superior a β Superior Não Não Baixa Alto

Tabela 7.1 – Características dos Quadrantes de Risc o e Retorno de Fundos PE

Fonte - Elaboração do próprio autor

Devemos voltar a fazer a ressalva de que esta classificação é um modelo teórico que

não contempla todas as possibilidades possíveis, podendo haver exceções que não se

enquadram no descrito acima, mas que contrariam a lógica e a teoria financeira utilizada e

que, por isso, devem ter probabilidade pequena de ocorrerem, tal como a existência de um

conjunto de empresas que apresente significativas melhorias operacionais e de margem

líquida mas que resulte em um fundo de PE com retorno inferior ao mercado (µ), e um Fundo

PE que tenha alavancado financeiramente (LBO) as empresas do portfolio acima da média do

mercado, mas que apresente um nível de Risco (β) inferior ao mercado, por exemplo.

90

Em termos quantitativos, novamente baseando-nos no estudo realizado por Ljungqvist

e Richardson (2003), poderemos estimar qual o percentual de fundos de PE que se

encontram em cada um dos 4 quadrantes, tendo em vista que estes autores calcularam a

média e desvio padrão de uma amostra de 73 fundos dos resultados líquidos (TIR Líquida) e

do Beta, os quais foram levantados entre 1981 e 1993, e cujo investimento se transcorreu até

meados de 2003, data de publicação do estudo.

Os autores compararam a Taxa Interna de Retorno líquida dos fundos de PE com os

resultados do S&P 500 e NASDAQ no mesmo período. Para esta comparação os autores

criaram 5 hipóteses de cálculo do resultado comparativo, destacadas no ANEXO VII68, e

neste trabalho adotaremos aquela que considera US$1 investido no índice S&P 500 de

acordo com o cronograma do efetivo desembolso de recursos pelo investidor (LP), para cada

US$1 desembolsado no Fundo PE, e mantido este recurso aplicado até o encerramento do

fundo, em 10 anos, que é a premissa mais conservadora das existentes. Neste cenário o

excesso de retorno anual obtido pelos fundos de PE foi de, em média, 5,71% comparado ao

S&P 500 e de 2,63% comparado ao NASDAQ.

A média de retorno dos fundos PE foi de 21,39%, e com desvio padrão de 22,89%.

O nível de risco (beta) calculado para os fundos PE foi feito com base nos betas dos

48 setores da economia calculados por FAMA e FRENCH, aos quais foi atribuído às

empresas do portfolio dos fundos de acordo com o setor de atuação, e ajustados de acordo

com o nível de alavancagem (Debt/ Equity). A partir desta metodologia os autores

conseguiram calcular que a carteira dos fundos de PE tem, em média, um beta de 1,08, com

o primeiro quartil até 1,04 e o terceiro quartil a partir de 1,13.

Com base nestes dados já calculados pelos autores, podemos simplesmente adotar a

curva da distribuição normal para interpolar qual a percentagem de Fundos que têm retorno

superior ao mercado de ações (retorno do S&P 500, adotado como 15,50%) e beta superior

ao mercado (β=1), de modo que passaremos a calcular quantos Fundos de Private Equity se

encaixam em cada um dos 4 quadrantes. Evidentemente consideramos que estes valores

de retorno e nível de risco sejam representativos do mercado de Private equity como um todo,

particularmente do mercado norte-americano, e não apenas em relação àquela amostra

específica utilizada pelos autores Ljungqvist e Richardson (2003). A distribuição dos valores

e os parâmetros utilizados estão no ANEXO VIII69. Cerca de 60% dos resultados dos

Fundos de PE estão acima do retorno do mercado (S&P 500), e 89% dos fundos contam com

Beta acima de 1, de modo que podemos elaborar o quadrante com os respectivos percentuais

estimados de Risco e Retorno. Os resultados estão apresentados na Figura 7.3 abaixo.

68 ANEXO VII – Excesso de retorno dos Fundos de Private Equity em relação ao S&P 500 e NASDAQ 69 ANEXO VIII – Parâmetros da distribuição estatística dos retornos e betas dos fundos PE

91

Figura 7.3 – Estimativa numérica da distribuição de Risco e Retorno de Fundos de PE

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados de Lju ngqvist e Richardson (2003) Os resultados apresentados demonstram que o perfil majoritário dos Fundos de

Private Equity, neste caso calculados como sendo representativos dos fundos norte-

americanos, é de um perfil de retorno superior ao mercado e risco também superior ao

mercado, classificados no Quadrante 3 em nosso modelo teórico, com 53,53% dos fundos PE

nesta categoria. Em segundo lugar estão os fundos que apresentam retornos inferiores

ao mercado, e que contam com volatilidade superior (β>1), e que se classificam no Quadrante

4 em nosso modelo, com 35,47% dos Fundos PE, seguido pelos Quadrantes 2 e 1 com

6,62% e 4,38% respectivamente.

É relevante destacar que cerca de 17% dos Fundos de PE, pelos parâmetros de

Ljungqvist e Richardson (2003), apresentam retornos negativos , ou seja, não conseguem

retornar a totalidade dos recursos investidos, representando um nível de risco bastante

considerável para o investidor, implicando em potencial perda de capital. Pela proporção

utilizada para calcular o Beta (89% acima de β=1) podemos estimar que 15,13% destes

fundos PE que ocasionam perdas ao cotista estejam no Quadrante 3, ou seja, fundos cujas

empresas apresentam alavancagem e piora nos resultados, ou que não suportam o elevado

nível de dívidas assumidas, e cujo resultado é pesadamente impactado pelas taxas de

administração.

92

8 Estudo de Caso da participação dos Fundos de Private Equity nos IPOs do Brasil entre 2004 e 2013

Para demonstrar a relevante participação dos Fundos de Private Equity no mercado de

aquisição de participações em empresas privadas brasileiras, analisaremos a participação

destes fundos nas empresas que fizeram IPO – Initial Public Offering, ou oferta pública inicial

de ações, na BMF-BOVESPA. Para esta análise pesquisamos os prospectos das

empresas que realizaram o IPO no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2013.

Consideramos relevante a determinação do perfil da participação do fundo PE no

processo de abertura de capital, para que possamos levantar informações sobre qual seria a

forma de participação acionária destes fundos em nosso mercado, seja majoritária ou

minoritária, bem como sobre o veículo de investimento utilizado (FIP, Limited Liability

Company - LLC, etc.).

A respeito da participação dos Fundos de PE no capital social das empresas que

ofertaram ações na BMF-BOVESPA, encontramos que a os fundos participaram em nada

menos que 43,71% dos 151 processos de abertura de capital. Foi identificado que na

maioria dos casos a participação dos Fundos de PE são minoritárias, consideradas como

aquelas participações menores que 50% do capital social total, com 28,48% dos casos, e

participação majoritária em 15,23% dos casos de IPOs no Brasil, no período de análise,

conforme destacado na Figura 8.1 abaixo.

Figura 8.1 – Participação de Private Equity nos IPOs no Brasil (2004-2013)

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

93

Na Figura 8.2 abaixo apresentamos a quantidade de processos de abertura de capital,

destacando a participação dos Fundos de Private Equity, seja minoritária ou majoritária, em

determinado ano de realização do IPO. Notamos que o ápice, em termos de quantidade

de processos de IPOs, ocorreu em 2007, logo antes do ano da crise financeira de 2008,

quando a quantidade de IPOs chegou a 64 processos de abertura de capital.

Até aquele ano o Brasil ainda não era classificado como investment grade pelas grandes

agências classificadoras de risco (S&P, Moody’s e Fitch).

Figura 8.2 – Quantidade de Fundos de Private Equity nos IPOs do Brasil (2004-2013) Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

Para observar com mais detalhes a participação dos Fundos PE, seja majoritária ou

minoritária, e também nos casos em que não houve participação destes fundos no capital

social das empresas que realizaram IPO, buscamos analisar também a participação em cada

ano, e constatamos que houve um aumento significativo na participação acionária após o

Brasil ter passado a ser considerado um país com nível de risco de investment grade pelas

grandes agências de classificação de risco. Enquanto a média de participação de

Private Equity nos processos de IPO ocorridos no período de 2004 a 2007 era de

aproximadamente 40%, constata-se que este percentual subiu para cerca de 67% dos IPOs

do país entre 2008 e 2013. Observa-se na Figura 8.3 que no ano de 2011 os Fundos de

Private Equity estavam presentes em 82% dos IPOs, e com participação majoritária no capital

social em 45% deles (11 IPOs no total). Esta média de participação elevada nos IPOs

94

também se verificou no ano de 2013, chegando a 80% dos processos de abertura de capital,

porém desta vez com 70% dos casos com participação minoritária (10 IPOs no total).

Figura 8.3 – Participação anual de Private Equity nos IPOs do Brasil (2004-2013) Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

Também analisaremos o volume captado nestes processos de IPOs, bem como o

volume médio por operação. Enquanto em termos de volume total captado o ano de

2007 também detêm o recorde no período analisado, com R$55,6 Bilhões captados, observa-

se que o 2º e 3º lugares ficaram com anos posteriores à crise financeira, com R$23,83

Bilhões captados em 2009 e R$17,29 Bilhões captados em 2013, respectivamente.

Em termos de captação média de recursos em cada IPO notamos que o ápice ocorreu

no ano de 2009, no qual grandes operações ocorreram tais como VISANET e SANTANDER,

elevando a média captada por IPOs neste ano para R$3,8 Bilhões, enquanto que em 2º e 3º

lugares estão os anos de 2008 com R$1,9 Bilhão e 2013 com R$1,7 Bilhão por IPO, conforme

observamos na Figura 8.4.

95

Figura 8.4 – Volume de emissão e volume médio dos IPO s no Brasil (2004-2013)

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

Para encontrarmos a participação média dos Fundos de Private Equity nas empresas que

abriram capital elaborarmos o histograma contendo a participação acionária dos fundos nas

empresas, e constata-se que a mediana ocorre com uma participação acionária de 30% de

PE no capital das empresas. Existe uma grande quantidade de empresas nas quais os fundos

de PE detinham 100% de participação acionária, conforme se observa na Figura 8.5.

Figura 8.5 – Histograma da participação do capital dos Fundos PE nos IPOs do Brasil (2004-2013)

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

96

Buscamos analisar também o setor da economia nos quais os processos de IPO se

concentraram, em termos de volume captado na BMF-BOVESPA, e encontramos que existe

uma grande concentração nos setores de Serviços Financeiros, com 43,16% do total captado,

seguido pelo setor Imobiliário, com 13,13% e pelo setor de Petróleo e Álcool, com 7,86%.

Estes setores, juntamente com os setores de Transporte, Alimentos e Energia Elétrica,

compreendem 80% do volume de recursos captados no Brasil por meio de IPOs no período,

que foi de R$150 Bilhões, conforme observamos na Figura 8.6.

Figura 8.6 – Volume captado em IPOs por setor da econ omia

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA e prospectos

Em relação aos compradores das ações lançadas em IPOs brasileiros, observamos

um fato persistente durante todos os anos analisados: 67% do volume de ações ofertado é

adquirido por investidores estrangeiros. Este percentual tem um desvio padrão de 17,75%,

mas em 87% dos casos de IPOs, no período analisado, os investidores estrangeiros tiveram

participação igual ou superior a 50% do volume de ações adquiridas, conforme dados da

BM&F-BOVESPA. Isto demonstra o apetite por ações de boas empresas brasileiras por

parte de investidores estrangeiros. Do total de ações ofertadas, 18% do volume foi adquirido

por investidores institucionais, conforme observamos na Figura 8.7.

97

Figura 8.7 – Compradores das ações lançadas em IPO n o Brasil

Fonte - Elaboração do próprio autor com dados da BM& F-BOVESPA

9 Conclusão

O presente trabalho buscou identificar maneiras para se criar valor para o cotista e

para a empresa investida, em resposta ao problema original proposto pela pesquisa.

Ao longo trabalho e da pesquisa realizada foram identificados elementos, de cunho

financeiro e gerencial, que agregam valor ao cotista de Fundos de Private Equity, de acordo

com relatórios de empresas de consultoria especializada, de acordo com gestores de

recursos que relataram suas experiências em livros e em reportagens de jornais e revistas, e

com base em pesquisas na literatura encontrada em artigos acadêmicos publicados em

revistas científicas de renome.

Sob diversos aspectos analisados, desde a confiabilidade de dados financeiros e

contábeis, até a possibilidade de participação efetiva na gestão, identificou-se que a

implantação de uma estrutura de Governança Corporativa agrega valor à empresa e ao

cotista, na medida em que a transparência de informações operacionais e financeiras

minimiza, em muito, os riscos de investimento na participação em determinada empresa, e

isto se traduz em um aumento de valor intrínseco da empresa investida pelo Fundo de Private

Equity.

A partir de estudos acadêmicos pesquisados e destacados na bibliografia deste

trabalho, corroborados por levantamentos de empresas de consultoria que atuam no

98

segmento de Private Equity, foi identificado que a otimização da estrutura de capital pode

criar valor para o cotista, a partir da inserção de novas parcelas de capital de terceiros,

principalmente com a assunção de novas dívidas contraídas junto a instituições financeiras,

mas também por meio de emissões de títulos de dívidas de longo prazo, caso não ultrapasse

o ponto mínimo de WACC. Isto ocorre porque o custo de capital de terceiros é

significativamente inferior ao custo de capital próprio, estimado pelo CAPM, o que faz com

que o WACC se reduza, até o ponto ótimo. Esta taxa indicadora do custo de captação,

por sua vez, é a taxa de desconto aplicada na metodologia de Valuation de empresas,

baseada na prática de avaliação de empresa pelos seus Fluxos de Caixa Livre Descontados.

Observa-se que quanto menor a taxa de desconto aplicada, maior é o valor presente

dos Fluxos de Caixa proporcionados pela empresa, e consequentemente maior é o valor

presente da empresa investida pelo Fundo de Private Equity.

A partir de um segundo momento, nas seções 3 a 5 deste trabalho, buscamos abordar

as técnicas gerenciais e as melhores práticas de gestão capazes de produzir impactos

positivos nos aspectos operacionais da empresa, pois a pesquisa apontou que estas técnicas

são de fundamental importância para a criação de valor para o cotista de Fundos de Private

Equity, na medida em que elas aumentam as taxas de crescimento de receitas das empresas

investidas, assim como as tornam mais eficientes e produtivas, o que significa que permitem a

ampliação das margens de lucro, ao conseguirem entregar os mesmos resultados com menos

recursos aplicados, ou, descrito de outro modo, faz com que os recursos sejam aplicados de

maneira mais efetiva e inteligente. Dentre estas medidas fundamentais encontra-se a

redução de custos operacionais, de um modo que não impactem na qualidade percebida pelo

cliente final, assim como a otimização de processos de logística, na medida em que estes

representam custos significativos em um país de dimensões continentais como o Brasil, e

também na implantação de sistemas de remuneração baseados no atingimento de metas de

performance, juntamente com outras medidas estratégicas capazes de criar valor à empresa.

Em pesquisa realizada pela empresa de consultoria Ernst & Young foi identificado que

o aumento de vendas é responsável por 80% do crescimento do EBITDA das empresas

investidas pelos Fundos de PE na América Latina, e dentre este crescimento destaca-se a

expansão geográfica da atuação das empresas, bem como o crescimento da demanda do

mercado como um todo.

Os mercados consumidores de países emergentes são menos competitivos que os de

economias desenvolvidas, o que significa que boas empresas atuando naqueles conseguem

expandir-se simplesmente atendendo novos segmentos de seus mercados internos, sem

haver necessidade de expansão para outros mercados além fronteiras.

O crescimento do EBITDA representa, com alguns ajustes, o crescimento de Fluxos

de Caixa Livre para os acionistas das empresas investidas pelos Fundos de Private Equity, e,

99

consequentemente, o crescimento deste indicador representa o aumento do valor intrínseco

da empresa (Enterprise Value), mensurado pelas metodologias tradicionais de Valuation, que

trazem ao valor presente os fluxos descontados pela WACC.

Abaixo apresentamos um quadro que sintetiza os elementos de criação de valor para

o cotista e para a empresa investida, separados em fatores estratégicos e operacionais que

geram ganhos de produtividade e fatores financeiros que promovem a otimização da estrutura

de capital, conforme indicado por Assaf Neto (2010). Neste quadro considera-se que as

melhorias implementadas nas empresas investidas pelo fundo de Private Equity devem estar

inseridas em um contexto gerencial de estabelecimento de métricas de performance na

empresa, bem como considera-se que a maior parcela da remuneração dos executivos deve

acompanhar o atingimento destas metas estratégicas e financeiras, criando um ambiente

corporativo que será indutor de estímulos positivos e incentivador da meritocracia.

Figura 7.1 – Mecanismos operacionais e financeiros de criação de valor da empresa

Fonte - Elaboração do próprio autor com base em ASSAF NETO (2010)

Concluímos, a partir da realização das extensas pesquisas e estudos demandados

para se elaborar este trabalho, que os Fundos de investimento em Private Equity, se

constituem em uma excelente maneira de promover a diversificação da carteira de qualquer

investidor, seja ele privado ou institucional, pelas características intrínsecas desta modalidade

de investimentos aqui apresentadas, ao se aliar elevadas taxas de retorno à segurança de se

estar adquirindo ativos reais, representados pelas cotas de participação em empresas com

elevado potencial de gerar lucros e dividendos, e com altas taxas de crescimento.

100

Caso os gestores de Private Equity consigam aliar a habilidade gerencial, por um lado,

ao atuarem em parceria com a alta administração das empresas adquiridas para melhorar sua

performance, juntamente com a habilidade financeira avançada, ao conseguirem alavancar a

aquisição da participação na empresa usando menos recursos disponibilizados pelo cotista,

por outro lado, o resultado será um retorno que supera em muito o obtido no mercado de

ações e também no mercado de renda fixa, com um nível de risco bastante razoável (β≈1,08).

101

ANEXO I – Cálculos do Valuation da empresa a partir do Fluxo de Caixa Descontado

Resultados:

Ano

FCL Atual

(baseline )

Taxa de

crescimento

FCL Atual FCL potencial com PE

Taxa de

crescimento FCL

Atual VP Atual VP Potencial com PE

0 100,00 100,00 100,00 100,00

1 107,08 7,08% 114,05 14,05% 91,84 97,81

2 113,93 6,40% 127,97 12,21% 83,80 94,13

3 120,45 5,72% 141,24 10,37% 75,98 89,10

4 126,52 5,04% 153,28 8,53% 68,45 82,93

5 132,04 4,36% 163,53 6,68% 61,26 75,87

6 136,90 3,68% 171,44 4,84% 54,48 68,22

7 141,00 3,00% 176,59 3,00% 48,12 60,27

583,93 668,33

Parâmetros:

Antes Depois PE

WACC 16,60% 16,60%

Perpetuidade 3% 3%

Crescimento 7,08% 14,05%

Onde:

Enterprise Value (EV): Valor da empresa

EV com PE: Valor da empresa após melhorias de gestão e redução da WACC

FCLn: Fluxo de Caixa Livre no ano “n” da projeção explícita

FCLúltimo : Fluxo de Caixa Livre no último ano de projeção explícita

Perpetuidade (g): Taxa de perpetuidade (crescimento futuro anual)

WACC: Custo de Capital Médio Ponderado

FCL: Fluxo de Caixa Livre

VP Atual: Valor Presente do Fluxo de Caixa Livre descontado pela WACC atual

VP Potencial com PE: Valor Presente do FCL Potencial descontado pela WACC após otimização

Perpetuidade atual: Valor da parcela de perpetuidade calculada com parâmetros atuais

Perpetuidade potencial : Valor da parcela de perpetuidade calculada com parâmetros com criação de

valor

Crescimento: Percentual nominal de crescimento do Fluxo de Caixa Livre

Fórmula:

Perpetuidade

(EV Atual)

Perpetuidade

(EV Potencial)

1067,89 1337,38

EV Atual

EV Potencial

com PE

1551,82 1905,70

Enterprise Value = Σ FCLn FCLultimo x (1+g) ------------------------- + -------------------------- (1 + WACC)n (WACC – g)

102

ANEXO II – Cálculo da TIR para aquisições de participação com e sem alavancagem

Esta simulação pressupõe que o Fluxo de Caixa Livre auferido anualmente será

distribuído aos acionistas, a título de Dividendo e Juros sobre o Capital Próprio, na proporção

de 50% do FCL anual, e que as dívidas atualmente existentes serão renovadas, mantendo-se

o nível atual em relação ao Capital Total, de modo que não promovam a redução do montante

da dívida e o consequente aumento do Patrimônio Líquido (Equity) pela via da diminuição do

estoque de dívida.

Estimamos que o FCL se aproxima do Lucro Líquido, acrescido da depreciação, de modo

que possa ser distribuído como Dividendo e Juros sobre o Capital Próprio. Devemos

lembrar que o Enterprise Value representa o valor total da empresa, e que devemos subtrair o

valor da dívida da empresa (Debt) para obtermos o valor do Patrimônio Líquido (Equity).

Consideramos ainda que as dívidas contraídas pela alavancagem, a uma taxa de 15% ao

ano, serão pagas durante o período do investimento (7 anos), mas que trarão o benefício de

reduzirem o montante de IRPJ a pagar, pelo fato de consistirem um aumento de despesa

financeira, ao deduzir a base tributável do imposto, à alíquota de 34% (25% de IRPJ e 9% de

CSLL).

Em relação ainda às dívidas da empresa, entendemos que uma parcela do Passivo Total

é representada pelas obrigações do Passivo Circulante, necessária à condução operacional

dos negócios, constituindo-se nas contas de pagamento a fornecedores, pagamento de

salários, impostos, e outras despesas correntes, consideradas de caráter não oneroso, por

não implicarem no pagamento de juros, e outra parcela do Passivo representa o pagamento

de despesas financeiras, a partir de obrigações com credores tais como bancos e detentores

de papéis emitidos (ex: debêntures), de caráter oneroso. Para efeito de simulação adotamos

o percentual de 50% para cada espécie de Passivo (oneroso e não oneroso), dentro de uma

participação de 30% de capital de terceiros no Capital Total (30% Debt e 70% Equity).

Parâmetros

103

Alavancagem

Taxa de Juros Prazo PMT

PV (Equity

Financiado)

15% 7 -R$ 78,33 325,88

Alíquota IRPJ 34%

Redução IRPJ -R$ 26,63

Impacto no FCL anual -R$ 51,70

Equity (R$) Debt (R$)

217,25 325,88

Equity (%) Debt (%)

40% 60%

Resultados

104

ANEXO III – Cálculo do Atingimento da Estrutura de Capital Ótima

Parâmetros:

Onde: We: Participação de Equity (Capital Próprio) na estrutura de capital

Wd: Participação de Debt (Dívida) na estrutura de capital

Kd* (% Selic): Taxa de juros de dívida como percentual da Selic, estimada

a título de exemplificação

Kd: Taxa de juros anual de dívida, calculada com base na SELIC

Ke: Taxa de juros anual de capital próprio (a ser estimada pelo método CAPM)

WACC: Weighted Average Cost of Capital – Custo de Capital Médio Ponderado

SELIC: Taxa de Juros básica da economia

Imposto: Alíquota média de IRPJ aplicada aos resultados da empresa

Rating: Nível de risco de crédito do cliente, estimado pela razão D/E

Risk Free: Taxa de juros sem risco para a economia brasileira (SELIC – LFT)

Prêmio de Risco: Utilizamos um spread de 5% para o risco de empresas de midlle

market.

Fórmula:

WACC = We*Ke + Wd*Kd*(1-T)

Resultados:

%Dívida %Equity D/E Risk FreeBeta

Alavancado

Prêmio de

riscoRating

Custo do

Equity

Taxa de

juros de

dívida

Alíquota de

imposto

Custo de

dívida (pós-

imposto

WACC

0% 100% 0% 10,75% 1,08 5% AAA 16,15% 14,87% 34% 9,81% 16,15%

10% 90% 11% 10,75% 1,16 5% AA 16,55% 14,87% 34% 9,81% 15,87%

20% 80% 25% 10,75% 1,26 5% A 17,04% 14,87% 34% 9,81% 15,60%

30% 70% 43% 10,75% 1,39 5% BB 17,68% 21,25% 34% 14,02% 16,58%

40% 60% 67% 10,75% 1,56 5% B- 18,53% 23,49% 34% 15,51% 17,32%

50% 50% 100% 10,75% 1,79 5% CC 19,71% 24,83% 34% 16,39% 18,05%

60% 40% 150% 10,75% 2,15 5% C 21,50% 26,38% 34% 17,41% 19,05%

70% 30% 233% 10,75% 2,74 5% C 24,47% 27,87% 34% 18,39% 20,21%

80% 20% 400% 10,75% 3,93 5% C 30,41% 29,18% 34% 19,26% 21,49%

90% 10% 900% 10,75% 7,50 5% D 48,23% 33,70% 34% 22,24% 24,84%

SELIC Imposto

10,75% 34,00%

Prêmio de risco 5%

105

ANEXO IV – Taxas Internas de Retorno Líquidas para os Investidores em Private Equity na América do Norte

Fonte: Robert Harris, Tim Jenkinson, Steven N. Kapl an. PRIVATE EQUITY PERFORMANCE:WHAT DO WE KNOW? 201 2. pp.34

106

ANEXO V – Razão dos retornos do investimento em Private Equity comparados com o S&P500 (Retorno PE/ S&P500)

Fonte: Robert Harris, Tim Jenkinson, Steven N. Kapl an. PRIVATE EQUITY PERFORMANCE:WHAT DO WE KNOW? 201 2. pp.37

107

ANEXO VI - Tabelas de fluxo de caixa para o investi dor (LP) e o gestor (GP) de Fundos de Private Equity

108

109

ANEXO VII – Excesso de retorno dos Fundos de Private Equity em relação ao S&P 500 e NASDAQ

Fonte: Ljungqvist, Richardson (2003). Tabela 7

110

ANEXO VIII – Parâmetros da distribuição estatística dos retornos e betas dos fundos PE

Distribuição dos Betas de Fundos de Private Equity Distribuição dos retornos de Fundos de Private Equity

Média do Beta de PE 1,08%

Desvio padrão 0,065%

Beta do mercado β=1

Média do retorno com PE 21,39%

Desvio padrão 22,90%

Retorno S&P 500 15,50%

111

ANEXO IX – Taxas de Juros de Capital de giro com pr azo superior a 365 dias

Fonte: BACEN – Período de 07/03/2014 a 13/03/2014.

Posição Instituição % a.m.

% a.a. Faixa Taxa média

da Faixa

1 BCO VOLKSWAGEN S.A 0,52 6,4

2 BCO CITIBANK S.A. 1,43 18,58

3 CAIXA ECONOMICA FEDERAL 1,5 19,62

1 14,87%

4 BCO SAFRA S.A. 1,54 20,08

5 BCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A. 1,61 21,19

6 NBC BANK BRASIL S.A. - BM 1,7 22,47

2 21,25%

7 HSBC BANK BRASIL SA BCO MULTIP 1,72 22,77

8 BCO SANTANDER (BRASIL) S.A. 1,78 23,62

9 BCO DO EST. DO RS S.A. 1,82 24,09

3 23,49%

10 BCO PANAMERICANO S.A. 1,84 24,41

11 BCO LUSO BRASILEIRO S.A. 1,86 24,81

12 BCO BANESTES S.A. 1,9 25,28

4 24,83%

13 BCO DO BRASIL S.A. 1,93 25,76

14 BANCO RANDON S.A. 1,97 26,45

15 LECCA CFI S.A. 2,01 26,94

5 26,38%

16 BANCO FIDIS 2,04 27,36

17 BCO ARBI S.A. 2,06 27,67

18 BCO BRADESCO S.A. 2,12 28,57

6 27,87%

19 ITAÚ UNIBANCO BM S.A. 2,13 28,78

20 BCO TRIANGULO S.A. 2,14 28,9

21 SOROCRED CFI S.A. 2,2 29,87

7 29,18%

22 BCO DES. DE MG S.A. 2,34 32,03

23 BCO A.J. RENNER S.A. 2,46 33,9

24 BANCO TOPÁZIO S.A. 2,54 35,17

8 33,70%

25 GAZINCRED S.A. SCFI 2,59 35,84

26 BCO DO EST. DE SE S.A. 2,68 37,29

27 BCO DA AMAZONIA S.A. 2,88 40,66

9 37,93%

28 BCO DO EST. DO PA S.A. 2,94 41,51

29 BRB - BCO DE BRASILIA S.A. 2,94 41,57

30 BCO MERCANTIL DO BRASIL S.A. 3,1 44,27

10 42,45%

31 OMNI SA CFI 3,36 48,6

32 PORTOSEG S.A. CFI 3,68 54,37

11 51,49%

112

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