LÍTICOS FÓSSEIS DE MEGAFUNA PLEISTOCÊNICA ENCONTRADOS NO TANQUE FOSSILÍFERO JIRAU 1,

MUNICÍPIO DE ITAPIPOCA, ESTADO DO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL

Antônio Sílvio Teixeira dos Santos

antsiltei@hotmail.com

Diretor do Museu de Pré-história de Itapipoca - MUPHI

O tanque fossilífero Jirau 1 está localizado no Sítio Paleontológico e Arqueológico Jirau, distante 36 km da sede do município de Itapipoca, Estado do Ceará Nordeste do Brasil. É um tanque natural esculpido através de processos físicos através da água, do vento e do sol e químicos através da água ao longo de centenas de milhares de anos antes dos períodos Pleistoceno. Esse tanque foi identificado como jazigo fossilífero no ano de 2001 pelo geólogo Celso Lira Ximenes, e posteriormente escavado no ano de 2005. O sedimento encontrado no nível fossilífero é uma mistura de material de animais vivos que caíram dentro do tanque, por ele ser do tipo armadilha, e outra parte de material carreado para dentro da fenda pelas enxurradas do período.

Dentro do tanque Jirau 1 encontra-se um nível fossilífero dos períodos Holoceno e Pleistoceno, onde centenas de milhares de peças fossilizadas de ossos de animais da megafauna americana são encontrados. Mais recentemente, por volta do ano de 2010, ferramentas líticas de quartzo e sílex lascado, além de cerâmica, começaram a ser identificadas dentro desse tanque, sendo que muitas delas foram encontradas junto aos fósseis da camada estratigráfica mais superficial do nível fossilífero.

Durante o processo de higienização e classificação dos fósseis foram isoladas duas peças que apresentam quebramento e polimento muito diferentes das demais, em um conjunto de mais de quinze mil peças fósseis e arqueológicas coletadas naquele tanque, estas foram identificadas como tendo características de possíveis ferramentas líticas feitas de osso e dente de mamíferos extintos e, devido ao longo período de isolamento no sedimento, fossilizaram, resguardando as características da ação antrópica e do tipo de animal do qual o homem se utilizou.

A primeira delas, chamada 01, aparenta ser um cortador com lâmina serrilhada feita de um fragmento de um tecido córneo, tendo três dentes na lâmina de corte, com apoio para o dedo indicador, inclusive com descanso da porção da palma da mão desta região, facilitando o emprego de mais força, e outro apoio para os dedos médio e anular. A peça apresenta treze pontos de pulsão, onde foi feito o lascamento do osso, dando o acabamento da ferramenta.

A segunda peça, chamada 02, é outro cortador feito de um dente de Milodontinae, possivelmente um Ocnotherium gigantheum. A peça foi polida na face de encaixe com o polegar, inclusive são visíveis nessa face, com o uso de lentes binoculares, as ranhuras feitas em um único sentido, derivadas do processo de polimento, este polimento também criou uma das lâminas de corte. Os ângulos criados na peça pela ação de lascamentos são precisos e formam uma lâmina de corte transversal e outra horizontal. A peça permite o perfeito manuseio através da pressão do dedo polegar com o dedo indicador, apoiados ao dedo médio.

As peças apresentam características típicas de ferramentas líticas. Mesmo não havendo material comparativo, as particularidades no formato, tipo de quebramento, polimento, forma e dsigner em relação às demais, mostram que os líticos são ferramentas feitas com ossos da megafauna, o que possibilita estabelecermos um período superior a dez mil anos para a chegada do homem nesta região e a convivência desses paleoíndios com os grandes mamíferos extintos.

Peça 01 mostrando ângulos de encaixe com os dedos. Lítico fóssil coletado no tanque Jirau 1.

Peça 02 mostrando face polida e fio de corte transversal. Lítico fóssil coletado no tanque Jirau 1.

Peça 01 mostrando ângulos de encaixe e serrilhado. Lítico fóssil coletado no tanque Jirau 1.

Peça 02 mostrando ângulos de encaixe com os dedos. Lítico fóssil coletado no tanque Jirau 1.