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FERNANDOFERNANDO

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Ao longe, ao luar,No rio uma velaSerena a passar,Que é que me revela?

Não sei, mas meu serTornou-se-me estranho,E eu sonho sem verOs sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?Que amor não se explica?É a vela que passaNa noite que fica.

05/08/1921

O meu olhar é nítido como um girassol.O meu olhar é nítido como um girassol.Tenho o costume de andar pelas estradasTenho o costume de andar pelas estradasOlhando para a direita e para a Olhando para a direita e para a esquerda,esquerda,E de vez em quando olhando para trás...E de vez em quando olhando para trás...E o que vejo a cada momentoE o que vejo a cada momentoÉ aquilo que nunca antes eu tinha visto,É aquilo que nunca antes eu tinha visto,E eu sei dar por isso muito bem...E eu sei dar por isso muito bem...Sei ter o pasmo essencialSei ter o pasmo essencialQue tem uma criança se, ao nascer,Que tem uma criança se, ao nascer,Reparasse que nascera deveras...Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momentoSinto-me nascido a cada momentoPara a eterna novidade do Mundo... Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,Creio no mundo como num malmequer,Porque o vejo. Mas não penso nelePorque o vejo. Mas não penso nelePorque pensar é não compreender... Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos neleO Mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos)(Pensar é estar doente dos olhos)Mas para olharmos para ele e estarmos de Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...Se falo na Natureza não é porque saiba o que Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,ela é,Mas porque a amo, e amo-a por issoMas porque a amo, e amo-a por issoPorque quem ama nunca sabe o que amaPorque quem ama nunca sabe o que amaNem sabe por que ama, nem o que é amar... Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,Amar é a eterna inocência,E a única inocência não pensar...E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos“

8-3-1914

Vaga, no azul amplo solta,Vaga, no azul amplo solta,Vai uma nuvem errando.Vai uma nuvem errando.O meu passado não volta.O meu passado não volta.Não é o que estou chorando. Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.O que choro é diferente.Entra mais na alma da alma.Entra mais na alma da alma.Mas como, no céu sem gente,Mas como, no céu sem gente,A nuvem flutua calma. A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristezaE isto lembra uma tristezaE a lembrança é que entristece,E a lembrança é que entristece,Dou à saudade a riquezaDou à saudade a riquezaDe emoção que a hora tece.De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que choraMas, em verdade, o que choraNa minha amarga ansiedadeNa minha amarga ansiedadeMais alto que a nuvem mora,Mais alto que a nuvem mora,Está para além da saudade.Está para além da saudade. Não sei o que é nem consintoNão sei o que é nem consintoÀ alma que o saiba bem.À alma que o saiba bem.Visto da dor com que mintoVisto da dor com que mintoDor que a minha alma tem.Dor que a minha alma tem.

29-3-1931

Eu tenho idéias e razões,Eu tenho idéias e razões,Conheço a cor dos Conheço a cor dos argumentosargumentosE nunca chego aos E nunca chego aos corações.corações.

19321932

Por quem foi que me trocaramPor quem foi que me trocaramQuando estava a olhar pra ti?Quando estava a olhar pra ti?Pousa a tua mão na minhaPousa a tua mão na minhaE, sem me olhares, sorri. E, sem me olhares, sorri.

Sorri do teu pensamentoSorri do teu pensamentoPorque eu só quero pensarPorque eu só quero pensarQue é de mim que ele está feitoQue é de mim que ele está feitoÉ que tens para mo dar.É que tens para mo dar. Depois aperta-me a mãoDepois aperta-me a mãoE vira os olhos a mim...E vira os olhos a mim...Por quem foi que me trocaramPor quem foi que me trocaramQuando estás a olhar-me assim? Quando estás a olhar-me assim?

Eu amo tudo o que foi,Eu amo tudo o que foi,Tudo o que já não é,Tudo o que já não é,A dor que já me não dói,A dor que já me não dói,A antiga e errônea fé,A antiga e errônea fé,O ontem que dor O ontem que dor deixou,deixou,O que deixou alegriaO que deixou alegriaSó porque foi, e voouSó porque foi, e voouE hoje é já outro dia.E hoje é já outro dia.

19311931

Amigos!Amigos!

Agradeço se divulgarem essas poesias de Fernando Agradeço se divulgarem essas poesias de Fernando Pessoa.Pessoa.

Divulgar poesias de poetas consagrados é uma forma de Divulgar poesias de poetas consagrados é uma forma de espalhar cultura e participar ativa e positivamente da espalhar cultura e participar ativa e positivamente da teia teia

mundial de informações e trocas , a “nossa” mundial de informações e trocas , a “nossa” Internet!Internet!

Agradeço também por respeitarem os Agradeço também por respeitarem os créditoscréditos!!

Muitas alegrias, conquistas, reconhecimentos e vitórias Muitas alegrias, conquistas, reconhecimentos e vitórias nesse ano que se inicia!nesse ano que se inicia!

Poesias: Fernando PessoaPoesias: Fernando Pessoa

Fonte: http://www.insite.com.br/art/pessoa/Fonte: http://www.insite.com.br/art/pessoa/

Imagens: Imagens: www.whatatop.com e e www.trekearth.com

Música: Trecho de Adiós Nonino, de Astor PiazzollaMúsica: Trecho de Adiós Nonino, de Astor Piazzolla

Criação: Fátima GraziottinCriação: Fátima Graziottin02/02/200802/02/2008