fernando pessoa

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Fernando António Nogueira Pessoa Biografia : - 1888 – (13 de Julho) Nascimento, em Lisboa. - 1893 - Órfão de pai aos 5 anos. - 1895 - Casamento da mãe, com o cônsul português, em Durban (África do Sul). - Estudos: no Liceu de Durban e na Universidade (inglesa) do Cabo de Boa Esperança. - 1903 - Prémio: Rainha Victória. - Estado civil: solteiro, sem filhos e sem bens. - 1905 - Regresso a Lisboa, para frequentar Curso Superior de Letras. - 1907 - Abandono do curso. - Trabalho: ramo do comércio, redigindo cartas comerciais em várias línguas. - 1912 - Contacto estético-literário do séc. XX. - Mário de Sá-Carneiro (morte em 1916). - 1915 - Intensa actividade dos heterónimos. - 1925 - Morte da mãe. - 1034 - Publicação da Mensagem. - 1935 – (30 de Novembro) Morte de Pessoa (“obstrução intestinal”?). - 1943 - Publicação das Obras Completas. - Considerado o maior poeta português, depois de Camões. Publicações : Revista Orpheu , em 1915 (só 2 números) – representa o seu encontro com a cultura portuguesa e com as turbulências estéticas da Europa (cubismo, futurismo…), veiculadas por Sá-Carneiro de Paris. Revista Athena , entre 1924 e 1925 (5 números). Poemas do Pessoa Ortónimo e Heterónimos, desde 1925 até 1935.

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Page 1: Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa

Biografia:

- 1888 – (13 de Julho) Nascimento, em Lisboa.- 1893 - Órfão de pai aos 5 anos.- 1895 - Casamento da mãe, com o cônsul português, em Durban (África do Sul).- Estudos: no Liceu de Durban e na Universidade (inglesa) do Cabo de Boa Esperança.- 1903 - Prémio: Rainha Victória.- Estado civil: solteiro, sem filhos e sem bens.- 1905 - Regresso a Lisboa, para frequentar Curso Superior de Letras.- 1907 - Abandono do curso.- Trabalho: ramo do comércio, redigindo cartas comerciais em várias línguas. - 1912 - Contacto estético-literário do séc. XX. - Mário de Sá-Carneiro (morte em 1916).- 1915 - Intensa actividade dos heterónimos.- 1925 - Morte da mãe.- 1034 - Publicação da Mensagem.- 1935 – (30 de Novembro) Morte de Pessoa (“obstrução intestinal”?).- 1943 - Publicação das Obras Completas.

- Considerado o maior poeta português, depois de Camões.

Publicações:

Revista Orpheu, em 1915 (só 2 números) – representa o seu encontro com a cultura portuguesa e com as turbulências estéticas da Europa (cubismo, futurismo…), veiculadas por Sá-Carneiro de Paris.

Revista Athena, entre 1924 e 1925 (5 números). Poemas do Pessoa Ortónimo e Heterónimos, desde 1925 até 1935. Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Berbardo Soares, a partir de

1929. Mensagem , único livro que publicou no 1º de Dezembro de 1934

Page 2: Fernando Pessoa

Heterónimo:

É um autor de fora da sua pessoa; é de uma individualidade completa fabricada por ele, como o seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.

A origem apareceu em resposta à necessidade de uma expressão de multiplicidade contraditória e avassaladora de sentimentos / ideia e/ou ideias / sentimentos a expressão de uma pluri-subjectividade.

Os heterónimos nascem à medida que a criação os exige. Existem em função dos poemas.

Fernando Pessoa tinha uma vocação para o isolamento e pouco jeito para a vida sentimental. Desde pequeno que sentia uma tendência inata para se rodear de 7 hipotéticos que transformava em companheiros invisíveis da sua solidão; daí o nascimento dos heterónimos que corresponde ao desmembramento dramático.

O ciclo pessoano corresponde ao encontro de novos horizontes poéticos, comunicados numa linguagem nova. Ele assimilou o passado ético do seu povo e reflectiu em si as grandes inquietações humanas no primeiro quartel deste século devido á crise de cultura e valores de espírito da humanidade.

Partes evocadas por Fernando Pessoa:

Infância feliz – pois sempre o acompanhou os dias infantis com sabor paradisíaco.

Angústia e fingimento – Fernando Pessoa é um homem angustiado na alma, criador pelo espírito, torturado nos sentimentos, fecundo na imaginação, dividido na vontade e inteiro nos fins missionais e patrióticos a que se dedicou.

Sofreu todas as torturas interiores de um paradoxo vivo:

Paradoxo do sentimento e do pensamento Paradoxo da vontade e do pensamento

Estes paradoxos conduzem a momentos de desespero, tortura, estranheza e perturbação.

REIS (objectivo, subjectivo)

CAEIRO (objectivo) ORTÓNIMO (subjectivo)

CAMPOS (subjectivo, objectivo)

Contexto sócio-político do início do séc. XX

Page 3: Fernando Pessoa

Em Portugal e na Europa

Acontecimentos mais relevantes:

Final conturbado do séc. XIX: o Mapa Cor-de-Rosa, projecto nacional de ocupação das regiões compreendidas entre Angola e Moçambique;

Ultimato Inglês (1890) – obrigatoriedade da retirada das tropas portuguesas desses territórios;

Queda da monarquia e implantação da República em 1910; Primeira Guerra Mundial (1914-1918) com a participação de Portugal como aliado da

França e da Inglaterra – Pessoa contra; Revolução Soviética de 1917; 1910-1927 – Período de grande agitação política, económica e social; Golpe de Estado

militar de 28 de Maio de 1926 (início da Ditadura militar, até 1933); Ascensão do fascismo e de Salazar; Instauração do Estado Novo, a Constituição de 1933 e a cessação das liberdades

individuais e colectivas.

O Modernismo – expressões artísticas

Limites cronológicos do Modernismo – duas perspectivas:- finais do séc. XIX (1890) até finais dos anos 50 (mais alargado)- vésperas da 1ª Guerra Mundial até à Segunda (mais restrita).

Esta revolução cultural teve pouco influência na sociedade portuguesa; foi recebida com desprezo, tanto no seio literário como artístico (música, cinema, pintura …).

Movimento estético em que a literatura é associada às artes plásticas e por elas influenciada.

Geração de Orpheu: Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, António Botto e Fernando Pessoa.

As revistas literárias foram veículos difusores do Modernismo em Portugal:- Orpheu, em 1915;- Centauro e Exílio, em 1916;- Contemporânea (1922-1926) e Athena (1924-1925)- Presença (1927-1940)

Diversidade estética e ideológica dos autores modernistas; Múltiplos movimentos da dinâmica modernista (os múltiplos de “–ismos”): grande

efervescência cultural e crise ideológica:- Ultraísmo; Criacionismo; Imagismo; Vorticismo; Construtivismo; Expressionismo;

Cubismo, Sensacionismo; Interseccionismo; Paulismo; Neopaganismo e Futurismo.

Interacção das linguagens estéticas (ex: escritor e artista plástico).

Tendências literárias e estéticas do início do séc. XX –

Page 4: Fernando Pessoa

Características do Modernismo

A. Cubismo

Foi achado ao contemplar um quadro de Braque onde as casas de uma paisagem se assemelhavam a cubos. Este pintor e Picasso (1907-1914) lançaram o Cubismo:

- desligar-se de toda a subjectividade, de toda a sentimentalidade, de todo o conceito religioso, espiritual ou cósmico da arte, aspirando a reproduzir as formas puras, geométricas dos objectos.

B. Decadentismo

Chegou no fim do séc. XIX, com o culto do individualismo extremo e da torre de marfim. Representa como que agonia sumptuosa do que de mais isolado e requintado havia no espírito romântica.

Poetas decadentistas: Baudelaire, Óscar Wilde, Mário Sá-Carneiro…

C. Expressionismo

Insiste sobretudo no drama da condição humana, tentando exprimir as forças que agitam a alma ou a dilacera. A potência do instinto e a angústia de frustação movem a uma representação da humanidade ou da natureza através do disforme e do exacerbado.

Principais representantes: Van Gogh, Goya…

D. Futurismo (“Ode Marítima” e “Ode Mecânica” de Álvaro de Campos)

Caracteriza-se pelo lúcido delírio ou involuntária embriaguez.As suas características procuram substituir a estética aristotélica do belo, conseguida

através da imitação da natureza, por uma nova estética de força, dinamismo e agressividade:

1. esquecimento do passado; criação e construção do futuro;2. desprezo pelo que é clássico, tradicional (motivos de inspiração lírica, como a flor,

a mulher, o amor…) e estático (museus, academias …);3. culto da liberdade, da velocidade, da energia, do perigo, das imagens em

movimento, do útil e do prático, dos prodígios da técnica …- excessivo, arrebatador e dinâmico;

4. repúdio do sentimentalismo, do Homem contemplativo e o ingresso na vida activa (exaltação do Homem de acção);

5. veneração pela originalidade.

Quanto à poesia:

- versilibrismo (verso livre);- palavras em liberdade;- inteligência do interior da alma, das ciências ocultas, da astrologia, da insatisfação…;- proscrição do idealismo romântico;- recurso a onomatopeias.

Page 5: Fernando Pessoa

E. Interseccionismo (“Chuva oblíqua” de Fernando Pessoa)

Coincide com o aparecimento dos heterónimos.A evolução do Paulismo caracteriza-se pelo cruzamento de planos que se cortam -

intersecções de sensações ou percepções:

- paisagem presente / ausente; actual / pretérito; real / onírico (sonho).

Manteve-se próximo do Sensacionismo e fundiu-se com ele:

- realidades interiores / exteriores / planos;- o real / o sonho;- o espiritual / o material;- o vertical / o horizontal;- o presente / o pretérito.

F. Paulismo (“Impressões do Crepúsculo” de Fernando Pessoa)

Foi o primeiro programa do movimento de Orpheu, mas foi efémero.Vestígios do Simbolismo e Decadentismo:

1. confusão do objectivo e do subjectivo;2. associação de ideias desconexas;3. frases nominais e exclamativas;4. violação das regras de sintaxe;5. vocabulário expressivo do tédio, vazio da alma…;6. uso de maiúsculas que traduzem a profundidade espiritual de algumas palavras;7. subtileza das sensações sugeridas;8. expressão do vago, do indefinido, do complexo e do subtil.9. exacerbação do saudosismo, como a “ânsia de novo, mistério, estranheza e

audácia”.

G. SensacionismoÉ a corrente modernista que procura exprimir o tropel das sensações, a glorificação de

um quotidiano apreendido pelas sensações, mas a cada passa interceptado pelo sonho e pela fantasia.

Princípios do Sensacionismo:

- Todo o objecto é uma sensação nossa.- Toda a arte é a conversação de uma sensação em objecto.- Portanto, toda a arte é a conversão de uma sensação de uma outra sensação.

Aspectos principais da estética presencista:

Originalidade e sinceridade; Culto da liberdade, do génio interior do artista, do psicologismo; Esteticismo de uma arte viva e eterna; Curiosidade e divulgação de correntes e escritores estrangeiros; Reabilitação do movimento e dos principais nomes de “Orpheu”.

Fernando Pessoa – Ortónimo

Page 6: Fernando Pessoa

O poeta ortónimo diverge muito de Caeiro e Reis porque não expõe uma filosofia prática, nem inculca uma norma de comportamento. Nele há quase apenas a expressão musical e subtil do frio, do tédio e dos anseios da alma, de estados quase inefáveis em que se vislumbra por instantes “uma coisa linda”, nostalgia de um bem perdido que não sabe qual foi; oscilações quase imperceptíveis de uma inteligência extremamente sensível até vivências tão profundas que não vêm “à flor das frases e dos dias”, mas se insinuam pela euforia dos versos, pelas reticências de uma linguagem finíssima. O poeta utiliza um lirismo puro, melancólico, de uma resignação dorida agravada de quem sofre a vida, incapaz de a viver

Plano semântico

- Saudade de um tempo perdido (quando sonha em ter sido feliz) – infância ou momento de comunhão entre o Homem e Deus;- Consciência de que o mundo é uma cópia de outro mundo, que o ser humano não tem acesso;- Ansiedade metafísica – consciência dolorosa do mistério que infirma o modo sensível;- Tédio perante a existência;- Ocultismo como fonte de explicação da realidade.

Características temáticas:

- Teoria do fingimento poético;- Intelectualização do sentir;- Obsessão de auto-análise;- Sofrimento resultante da dor de pesar;- Distância entre sonho e realidade; - Evocação da infância como símbolo de uma felicidade mítica, imaginária e perdida;- Fragmentação do eu;- Recusa da ciência como forma da explicação das realidades das coisas – ocultismo;- Manifestação contra a sociedade – existe a massificação em detrimento da afirmação individual;- O tédio, a angústia existencial, a náusea, a solidão interior, a melancolia – resultante da inadaptação social e da sociedade materialista ==> incapacidade de fruir a plenitude da vida.

Características formais :

- Linguagem simples e sóbria, a nível lexical e sintáctico;- Linguagem simbólica e esotérica – ligação às ciências ocultas;- Reminiscências da lírica tradicional popular – repetições, rima interna, cruzada e emparelhada, métrica curta (redondilha menor e maior), estrofes curtas;- Recorrência frequente a adjectivos, comparações, metáforas, imagens para traduzir constatações ou reflexões;- Suavidade rítmica e musical – aliterações, onomatopeias.

O sensacionismo afirma que o artista não se deve preocupar com a verdade que descreve – pertence a ciência – mas a emoção traduzida pela arte. Procura apenas comunicar.

Alberto Caeiro – Heterónimo

Page 7: Fernando Pessoa

- Nascimento em 1914 e morte em 1915 ( “drama em gente” – o Mestre morreu cedo, como Cristo, depois de ter enunciado os seus preceitos para uma arte de viver e de morrer – os outros Heterónimos e Pessoa eram os discípulos, fiéis evangelistas, depois da sua morte).

- Mestre de todos os sujeitos poéticos pessoanos, incluindo o ortónimo; - Pertence surgir como um homem de visão ingénua, instintiva e entregue à infinita variedade do espectáculo dos sentidos, principalmente visuais.

- Ruptura com os cânones estéticos e tradicionais, ao nível temático e formal;- Revolução dos valores:

amoralidade (realidade não vista à luz das ideias moral/imoral); desculturalização (pensar as coisas e não as compreender); estoicismo (aceitação passiva de tudo).

Características temáticas:

- Relação pacífica e serena consigo próprio e com a vida- Poeta do real objectivo, observado com olhar ingénuo e puro - visão do real centrado no fenómeno (nada existe para além daquilo que é perceptível através dos sentidos);- Relação íntima e directa entre o Homem e a Natureza – panteísmo sensualista;- Tentativa de combater o vício de pensar - predomínio da sensação sobre o pensamento;- Privilégio do sentir em relação ao pensar - submissão do Homem às leis naturais (não racionalizar processos que existem naturalmente);- Predomínio de impressões visuais;- Vivência do presente, recusando passado e futuro, enquanto elaborações mentais;- Paganismo – descrença total na transcendência; a única verdade é a sensação.

Características formais :

- Linguagem simples e objectiva, com frequente recurso a metáforas concretizantes e repetições anafóricas;- Prosaísmo;- Predomínio do emprego da coordenação;- Lirismo espontâneo e ingénuo;- Ritmo lento;- Alternância entre sons nasais e vogais abertos e semi-abertas;- Liberdade estrófica, métrica e rimática – ausência de rima,- Quase ausência de metáforas, metonimias ou sinestesias, paralelismos, assíndetos;- Presença de comparações e imagens;- Recurso ao verbo “olhar” (importância da visão), ao Presente do Indicativo e a substantivos concretos.

Page 8: Fernando Pessoa

Álvaro de Campos – Heterónimo

- Segue a filosofia do:

Sensacionismo: considera a sensação a realidade da vida e a base da arte. Futurismo: exaltação da energia, da velocidade, da força; procura o corte do

passado para a exaltação do futuro. Decadentismo: atitude estética que exprime o tédio, o cansaço, a necessidade

de novas sensações.

- Aproxima-se de Fernando Pessoa ortónimo – nostalgia da infância e cepticismo;

- Poeta do cansaço, da abolia (não tem vontade para nada), do vazio e da náusea (da qual se libertou levemente); - Poeta do pessimismo (homem enganado pela música); - Poeta da melancolia e da angústia (incapacidade o indivíduo em ser feliz na sociedade); - Poeta do desencanto total por estar à margem da escala social e dos valores sociais.

- Divisão artificial da sua obra em 3 partes:

1. Poema decadente onde se reflecte o horror à vida e a nostalgia do além (decadentismo);

2. Uso o verso livre, a turbulência e as sensações (contacto com futurismo de Whitman e sensacionismo);

3. Poeta do cansaço, nauseado, abúlico; aproxima-se da visão existencial de Fernando Pessoa ortónimo (decadentismo).

¹ Em alguns poemas sensacionistas e futuristas : apologia da sensação, expulsão sentimental e emocional; defesa da máquina, da força mecânica.

² Na maioria doa poemas: expressão exacerbada dos sentimentos; melancolia pela infância perdida; oposição eu/sociedade.

Plano formal:

¹ Vocabulário técnico; estrangeirismos; neologismos; adjectivação múltipla.

² Metáforas; hipérboles; hipálages; anáforas; anástrofes; formas verbais no Presente do Indicativo.

Page 9: Fernando Pessoa

Características temáticas:

1ª fase (1914):

- Expressão do tédio e do desencanto;- Saturação da civilização moderna – revolta contra a ordem estabelecida;- Estilo confessional;- Busca de novas sensações – “queria outro ópio mais forte”.

2ª fase:

- Sensacionismo – “sentir tudo de todas as maneiras”;- Futurismo - exacerbamento da força, da energia, da civilização mecânica, aniquilamento do passado, exaltação do presente e do futuro;- Atitudes sadomasoquistas,- Erotismo doentio e febril.

3ª fase(1916):

- Regresso ao abatimento, ao cansaço da vida;- Tom introspectivo e reflexivo;- Dor de ser lúcido;- A infância como paraíso perdido;- A fragmentação do “eu”.

Características formais :

- Versos e estrofes longas;- Estilo torrencial e excessivo;- Linguagem marcada por um tom excessivo e intenso: exclamações, apóstrofes, enumerações, adjectivação abundante, anáforas, interjeições, onomatopeias, aliterações, jogos de sons, etc.

==> Álvaro canta a vida moderna, as maquinas, a velocidade e a energia mecânica. Contudo tem náusea pela poluição física e moral d vida moderna.

Page 10: Fernando Pessoa

Ricardo Reis – Heterónimo

- Poeta clássico – segue os poetas gregos e latinos (estética neo-clássica);

poesia horaciana (até na forma) – aceitar o presente com equilíbrio, não pensando no futuro

e aceitar a dor como inevitável

filosofia:

do epicurismo (o prazer como caminho da felicidade) do estoicismo (aceitar os destinos com calma e certa indiferença – carpe diem);

- Tranquilidade como meio para atingir a felicidade e a liberdade; recusa da inserção do indivíduo na sociedade pela crença na inutilidade da acção.

Características temáticas:

- Pagão, helenista e latinista – acredita em todos os deuses;- Conciliação da moral epicurista com a estóica (Reis vive cada dia como se fosse o último, mas controlando as emoções através da razão);- Procura da ataraxia, do não sofrimento (estoicismo): demissão da vida através da recusa de compromissos afectivos e sociais – intelectualização das emoções,- Constatação da inutilidade da acção;- Presença contínua do Fado, do Destino e da Fatalidade – consciência de um destino superior ao Homem (manipulado pelos Deuses) ==> tristeza nos poemas;- Obsessão da morte / efemeridade da vida e do tempo.

Características formais :

- Uso de vocabulário erudito, latinismos, de raiz clássica, com recurso a alguns arcaísmos;- Utilização de substantivos como atributos (valor de adjectivo);- Emprego de formas estróficas e métricas de influência clássica – rima no interior dos versos; utilização da Ode sáfica e alcaíca;- Repetição de sons – sobretudo sons nasais e fechados;- Sintaxe alatinada: hipérbato, apócope e anástrofe (inversão da ordem natural das palavras na frase);- Pidactismo – parece ensinar uma lição de vida;- Tom coloquial – destinatário implícito (“tu”);- Estilo elegante e cuidado.

Page 11: Fernando Pessoa

Para Reis, o Outono corresponde ao passar do tempo e à decadência, o Inverno ao sono ou à morte, a Primavera ao recomeço ou à renovação.

Relação entre o Homem / Deus e o Destino na poesia De Ricardo Reis :

- Homem limites à liberdade sentimento de fraqueza e de inutilidade

- Deus paganismo conceito de Deuses

- Destino ameaça implacável acima dos Deuses e do Homem dita todas as leis do universo conduz à morte.

Page 12: Fernando Pessoa

“Mensagem”

- A publicação da Mensagem num momento de crise e falta de identidade nacional; é um poema de características épicas (glorificação de heróis), líricas (expressão da subjectividade de um “eu”) e elegíacas (tom triste e melancólico);- Tem uma estrutura triádica e sua simbologia: nascimento – apogeu – declínio (que contém gérmenes de um novo nascimento);- Carácter profético da obra: a profecia de um Quinto Império, não material, mas de dimensão espiritual e cultural, “da matéria de que os sonhos são feitos”; presença de um sebastianismo renovador, voltado para o futuro, consubstanciado na figura inspiradora de D. Sebastião;- D. Sebastião como mola impulsionadora da regeneração e cumprimento de Portugal; conceito de herói como agente de uma vontade transcendente e divina;- Leitura interpretativa da História de Portugal: valorização do carácter mítico em detrimento dos aspectos factuais e narrativos;- A leitura esotérica da obra: o poeta da Mensagem como uma espécie de mediador entre Deus e os homens, uma espécie de profeta dos mistérios divinos de Portugal.

Mito do Vº Império:

“E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos”.

É o sonho mítico do padre António Vieira, segundo o qual Portugal, através D. João IV consumaria a realização do Reino Universal de Cristo. Seria um império espiritual construído com o esforço. Os homens abandonariam o reino terreno para viver num reino divino. A pátria enquanto símbolo materno liga-se à terra que acolhe ao paraíso o espaço que concentra todas as possibilidades de satisfação dos desejos humanos.

Para Pessoa, seria uma hipótese de transformação e purificação da humanidade. Significa, em última análise, a relação harmoniosa entre o Homem e as coisas, entre o Homem e Deus.

A. Rosicrucianismo

É o símbolo divino que conteria o segredo (vontade, emoção fundamental, círculo). A rosa simboliza a realidade, a redenção total do Homem e a sua unificação com Cristo, substituindo-o misticamente, na demanda da perfeição e do amor.

B. Poemas – Generalidade

Foram escritos ao longo da vida de Pessoa e falam sobre a História de Portugal, já que celebra os heróis e profetiza a renovada grandeza da pátria. Geralmente são breves e concisos. Foram compostos em épocas diferentes. Têm no entanto uma unidade de inspiração – percorre a um supro patriótico de exaltação e incitamento – e um certo equilíbrio arquitectónico.

Page 13: Fernando Pessoa

O livro divide-se em 3 partes:

1. “Brasão” – onde desfilam os heróis lendários e históricos, desde Ulisses a D. Sebastião, ora evocados pelo poeta, ora definindo-se a si próprios como em inscrições lapidares – proposta portuguesa ao mundo (origem da pátria).

2. “Mar português” – poesia inspiradas na ânsia do desconhecido e no esforço heróico da luta com o mar – justificação marítima (época dos Descobrimentos).

3. “O Encoberto” – onde se afirma um sebastianismo de apelo e de certeza profética – síntese profética (Vº Império).

É uma poesia épico-lírica, não só pela forma fragmentária como pela atitude introspectiva de contemplação no espelho da alma. Só raras vezes o poeta se serve da “tuba canora” da épica tradicional (“O Monstrengo”) ou lembra com humana comoção as dores reais da história trágica marítima (“Mar português”).

De um modo geral, interioriza, mentaliza a matéria épica integrando-a na corrente subjectiva, reduzindo essa matéria a imagens simbólicas pelas quais o poeta liricamente se exprime. Há assim na Mensagem uma dupla face de tédio e ansiedade, de céptica lucidez e intuição divinatória.

Glosando a ideia de predestinação nacional, Pessoa impregna de idealismo platónico a sua visão do acontecer histórico: não é tanto o império terreno que ele canta, mas sim a ideia condutora, o que não existe no mundo sensível, a quimera, o mito, a loucura, a fome do impossível, utilizando uma linguagem metafórica e musical.

Pode-se dizer que na Mensagem Pessoa expressou poeticamente os mitos que os Descobrimentos tinham expressado sob a forma de acção.

Os heróis mistificam-se - o Infante D. Henrique surge como o Imperador que tem a seus pés o mar; Fernando Magalhães e Vasco da Gama são os mitos da ousadia, do sonho e do espanto, e ainda têm o poder de dominar o céu e a terra; D. Sebastião surge com gigantes dimensões já que ele é o sonho, a loucura, a ambição e a grandeza.

Os heróis na Mensagem são gente de carne e sentidos; são bravos, mas nunca infalíveis - as suas dimensões nunca ultrapassam o humano. Diz mesmo que os Deuses tornam-se humanos, excepto o Deus do Cristianismo que se revela acima de todas as vicissitudes.

==> Os heróis e os mitos exaltam as façanhas do passado em função de um desesperado apelo para as grandezas futuras projectando no mito do Vº Império o Encoberto (o desejado).

C. Maçonaria

É um sistema sacramental que tem um aspecto exterior visível e cerimonial - doutrinas e símbolos - e noutro aspecto interior, mental e espiritual, oculto sob as cerimónias - doutrinas e símbolos - e acessível só ao maçon que haja aprendido a usar a imaginação espiritual e seja capaz de apreciar a realidade velada pelo símbolo; é a continuação ou renovação dos Antigos Mistérios.

A Mensagem tem um acentuado cunho meceánico (“Nevoeiro”) porque o poeta confessa que a linha ocultista rosicruciana está patente.

Page 14: Fernando Pessoa

Associada a esta visão esotérica, deve-se também ter em conta a numerologia já que basicamente o livro se estrutura a partir dos números 1, 2, 3, 5 e 7.

1. nº. da unidade, a própria obra em si (Mensagem é o único livro do autor em vida). Representa também a figura de Nuno Álvares Pereira que na 3ª parte (“A Coroa”) ocupa a totalidade.

2. nº. das oposições e da divisão. Está relacionado com a figura dos grandes sonhadores.3. nº. da perfeição e da independência à realização (Infante D. Henrique, D. João II, Afonso de

Albuquerque). Simboliza o princípio fecundo de pai e mãe na fecundação do filho.5. segundo a numerologia, as pessoas sujeitas às vibrações deste número podem atingir grande

brilho, porém de pouca duração (D. Sebastião)7. nº. da sabedoria da perfeição. Trata-se de um número sagrado em todas as teogonias.

A Mensagem é uma obra construída para focar o passado e construir o futuro. A ortografia utilizada recria uma atmosfera passadista e confere-lhe um certo mistério, fiel ao princípio místico que procura alcançar.

D. Resumo geral

1ª parte: glorificação dos reis e heróis portugueses, aqueles que fundaram Portugal.2ª parte: glorificação dos Descobrimentos e dos seus heróis.3ª parte: exaltação do Vº Império, ou seja, aquilo que vamos realizar.

Tópicos:

Ode – conjunto de versos onde se exalta alguma pessoa ou acontecimentoMito – é o nada quando está oculto e é tudo quando descreve, pois descobre-se a verdade.Ocultismo – puro sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais.