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Fernanda Judite de Camargo
PERCEPÇÃO DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO DO TRABALHO EM
PADARIAS COMUNITÁRIAS, NA CIDADE DE CURITIBA E REGIÃO
METROPOLITANA.
Trabalho de conclusão de curso apresentado para o curso
de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná.
Orientadora: Professora Doutora Marilene Zazula
Beatriz.
CURITIBA
2009
PERCEPÇÃO DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO DO TRABALHO EM
PADARIAS COMUNITÁRIAS, NA CIDADE DE CURITIBA E REGIÃO
METROPOLITANA. Fernanda Judite de Camargo. Professora Doutora: Marilene
Zazula Beatriz. (Universidade Tuiuti do Paraná).
O objetivo desta pesquisa foi identificar a percepção da atuação do psicólogo do
trabalho em Padarias Comunitárias de acordo com os princípios e fundamentos da
Economia Solidária. Foram entrevistadas dezenove mulheres, todas participantes da
Associação de Padarias e Cozinhas Comunitárias “Fermento na Massa”, localizadas
em Curitiba e Região Metropolitana, com faixa etária entre 35 e 69 anos e baixa
escolaridade, onde 78% possuem Ensino Fundamental incompleto ou completo. Fez-se
uso de um termo de consentimento para que as mulheres soubessem o real sentido
desta pesquisa e também concordassem ou não com a gravação das entrevistas. Foi
utilizada uma entrevista composta por nove perguntas, que indagavam sobre o perfil
das entrevistadas e sobre o trabalho do psicólogo neste novo modo de produção,
questionou-se sobre o conceito da Psicologia, abordando sobre o conhecimento que
possuíam a respeito do profissional, bem como sobre suas atividades, a fim de
identificar a possibilidade de atuação dentro da Padaria Comunitária. Para o tratamento
dos dados empregaram-se procedimentos descritivo-qualitativos. Por meio desta
pesquisa foi possível perceber que as mulheres acreditam que a atuação do psicólogo é
importante, pois poderá auxiliá-las no relacionamento com o grupo e com os clientes.
Conclui-se, que, a participação de um profissional da psicologia neste ambiente
proporciona um trabalho de crescimento para as interações: indivíduo-indivíduo,
indivíduo-grupo, grupo-grupo e grupo-clientes, assim como o desenvolvimento deste
novo modo de produção, fazendo conhecer esta economia.
Palavras-chaves: Economia Solidária, Psicologia do Trabalho, Mulheres, Padarias
Comunitárias.
1) INTRODUÇÃO:
Por trabalhar com recrutamento e seleção, percebe-se que o índice de
desemprego entre homens e mulheres é um dado relevante, Teles (2007, p.83), nos
aponta que:
“A taxa de desemprego feminino é 30% maior que a dos homens. Isso porque prevalece a
idéia de que é mais caro contratar mulheres do que homens, em que pesem os salários
femininos serem menores. O pretexto é que os encargos sociais gastos com as mulheres são
maiores porque elas têm licença-maternidade.”
Assim, percebe-se que a exclusão da mulher por meio do modo produção
capitalista continua visível nos mesmos preconceitos de tempos antigos, onde a
licença-maternidade e cuidado com os filhos limitam este ser humano a atuar em
trabalhos inferiores e com salários menores, como descrito por Santos (2007, p.67):
“Nas sociedades capitalistas, a situação das mulheres no mundo do trabalho é geralmente de
exploração e de invisibilidade. São elas que recebem salários menores que os dos homens, são
responsáveis pelo trabalho reprodutivo, mas não são reconhecidas como trabalhadoras. Como
no capitalismo tudo se transforma em mercadoria, o corpo da mulher também é usado como
mercadoria.”
A desigualdade entre homens e mulheres existe desde tempos remotos; de
acordo com Teles (2007, p.37) “conclui-se que a desigualdade não é fruto do acaso ou
da natureza humana. Pelo contrário, a desigualdade social foi criada, inventada e
construída pela própria sociedade para atender a interesses de determinados grupos.”
Interesses que podem ser relacionados aos direitos humanos, os quais
deveriam servir para propor um bom convívio entre homens e mulheres, conforme nos
diz a autora Teles (2007, p.28):
“Inicialmente, direitos humanos significam a afirmação da dignidade da pessoa humana
diante do Estado. O poder público deve estar a serviço dos seres humanos. Não pode ofender
os direitos inerentes das pessoas. Deve ser um instrumento para que os cidadãos possam viver
em sociedade, em condições de realizar direitos e respeitar os dos demais segmentos sociais.
Ou seja, direitos e deveres são realizados, em concomitância, pela sociedade e pelo Estado.
Isso não impede que sejam usados também indevidamente.”
Conforme descrito por Bruschini (1995, p. 83): “Nas sociedades ocidentais,
como a brasileira, predominam relações de gênero assimétricas e hierárquicas, que se
expressam em posições desiguais ocupadas pelos indivíduos de um e outro sexo tanto
na esfera da produção quanto no âmbito privado das relações familiares.”
Como revela Simon (2007, p.33):
“O Brasil é exemplo típico desse engessamento discriminatório legal: o homem era
considerado o ‘cabeça do casal’, a mulher para comerciar tinha que ter ‘a autorização do
marido’(...) recentes pesquisas demonstram, inclusive, que a mulher brasileira cada vez mais
aumenta o seu papel na condição de ‘chefe de família’.”
Com esta citação, percebe-se que a mulher ainda é discriminada na sociedade
onde vive; o que a deixa a mercê do desrespeito. Bruschini (1995), comenta que apesar
das dificuldades encontradas e das sucessivas crises econômicas, as mulheres buscam
conquistar espaço para permanecer mais tempo no mercado de trabalho.
Segundo Pereira e Muller (2002, p.02):
“As novas formas de organizar o trabalho, concretizadas nas organizações solidárias, são
experiências recentes que visam essencialmente gerar possibilidades de renda para um
contingente expressivo de trabalhadores, abrindo espaço para a reinserção social e o regaste
de direitos e da cidadania daqueles que engajam nas organizações solidárias.”
A autora Teles (2007, p.11), também comenta sobre a exclusão:
“A cultura de exclusão dos direitos e da cidadania das mulheres está de tal forma arraigada na
mentalidade institucional que não causa nenhuma comoção social ou política o fato de
mulheres terem salários mais baixos que os dos homens, mesmo exercendo funções iguais, ou
de estarem no mercado de trabalho desempenhando atividades profissionais consideradas
‘femininas’ (o que justifica menores salários), como enfermagem, magistério do ensino
fundamental, educação infantil e secretária.”
De acordo com Luz (2003, p. 33) “a idéia de inclusão é uma manifestação
social bastante contemporânea, que vem sendo defendida e difundida entre os mais
variados setores da sociedade.” É possível perceber que ainda há um caminho longo
pela frente para que todos possam ser incluídos socialmente.
Como possibilidade de inclusão, surge a Economia Solidária, como resposta
para o meio que oprimiu as mulheres excluindo-as de sua participação no mercado
capitalista, citando Bertucci (2007, p.49) “o movimento da Economia Solidária surge
forte, como parte da reação a este mundo onde poucos têm tudo e muitos não têm
direito a nada.”
A Economia Solidária, segundo Singer (2002, p.83), “foi inventada por
operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta a pobreza e ao
desemprego resultante da difusão ‘desregulamentada’ das máquinas-ferramentas e do
motor a vapor no início do século XIX.”
Na base desta economia existem alguns fundamentos e princípios básicos que
norteiam os Empreendimentos Solidários, seriam eles: cooperação contribuindo para
atingir os objetivos comuns do empreendimento, buscando os mesmos resultados;
Solidariedade que visa o desempenho e o bem estar de cada um; Autogestão, não
existem empregados e nem patrão e sim sócios do mesmo empreendimento, é um
processo vivo no qual tanto trabalho quanto relacionamento interpessoal, deve
caracterizar-se com atividade essencialmente humana; Sustentação Econômica, propõe
um trabalho digno e uma renda justa para todos os sócios; e Sustentabilidade
Ambiental, os empreendimentos preocupam-se com a saúde das pessoas e a
preservação do meio ambiente. (Filho, et al, 2006. p. 39-42)
Para se entender um pouco mais sobre Economia Solidária, Coutinho (2005,
p.08), traz um breve relato que pode auxiliar em uma rápida definição sobre este
conceito:
“A Economia Solidária tem se disseminado cada vez mais como uma possibilidade de
sobrevivência das camadas da população excluídas do mercado formal de trabalho.
Manifesta-se sob diferentes formas organizativas, construídas sobre princípios gerais que
fundamentam a prática da autogestão, caracterizada por tomadas de decisão mais
democráticas, relações sociais de cooperação entre pessoas e grupos e pela horizontalidade
nas relações sociais em geral.”
No documento de Trabalho do Encontro Brasileiro de Cultura e
Socioeconomia Solidária (2000) diz que é necessário que a socioeconomia solidária
seja um espaço privilegiado para repensar processos de construção-desconstrução-
reconstrução das relações humanizantes com sustentabilidade.
Desta forma é necessário expor algumas definições a respeito do conceito de
gênero, para entender seu significado: “Assim, gênero é uma produção da cultura, que
vai determinar os valores, as normas e os comportamentos que as mulheres e os
homens devem assumir na sociedade e os diferentes papéis sociais esperados para cada
um.” (Santos, 2007, p.67).
Segundo Santos (2007, p. 65):
“Para pensar a Economia Solidária como um projeto de desenvolvimento, é necessário
reconhecer as desigualdades de gênero existentes na base da organização social, econômica,
cultural e política da sociedade e, sobretudo, contribuir para a sua transformação, construindo
a solidariedade de gênero como plataforma da nova sociedade que queremos.”
Com foco na Economia Solidária é possível que o psicólogo também atue
com o seu conhecimento, como nos diz Coutinho (2005, p.09):
“Buscando auxiliar os trabalhadores nesta difícil realidade, acreditamos que a psicologia
social e do trabalho pode ser de grande valia para a consolidação destes empreendimentos,
atuando de diversas maneiras, seja com a organização como um todo, seja com cada
trabalhador.”
Conforme citado por Fávero e Eidelwein (2004, p.37):
“Em relação à importância da psicologia ou do trabalho do profissional desta área, um dos
entrevistados nos relata que o psicólogo seria ‘uma pessoa que tem a possibilidade de fazer
um aconselhamento, traduzir de uma maneira que seja fácil de perceber ou entender as tuas
emoções, os teus sentimentos’ (SIC). Esta característica do psicólogo de um tradutor remete-
nos ao trabalho de significação da própria palavra dita pelo sujeito, de ouvir o não dito, ou
seja, de dizer em essência aquilo que é desejado comunicar”.
Como diz Coutinho et al (2005, p. 7-8):
“A psicologia tem, no que se refere ao trabalho, grandes possibilidades de atuação, sendo de
significativa importância na medida em que possibilita resgatar, escutar as experiências dos
trabalhadores, seus sofrimentos, seu dia-a-dia dentro deste contexto excludente do mudo
globalizado. Assessorando-os na construção de uma consciência crítica, propondo novas
formas de experienciar o trabalho, reconstruindo vínculos e reivindicando direitos. Neste
sentido, a psicologia social, voltada para o trabalho, busca compreender a realidade social
destes trabalhadores, identificando suas diferenças e igualdades, suas histórias, regras,
reestruturações e lutas. Desta forma, busca-se criar um novo campo de atuação para
psicólogos, voltado para coletivos solidários de trabalhadores.”
Conforme Lane (2004), a Psicologia social estuda o comportamento de
indivíduos no que ele é influenciado socialmente. Pois historicamente esteve voltada
para os grupos populares.
Segundo Gocci e Occhini (1995, p.16) “o objeto essencial da psicologia social
é o estudo sistemático das interações humanas e das bases psicológicas dessas
interações: interações entre indivíduos, entre indivíduo e grupo e entre grupos.”
Afinal, segundo Gocci e Occhini (1995, p.165) “os psicólogos sociais podem,
por conseguinte, oferecer um notável contributo em áreas sociais no sentido de
melhorarem a qualidade de vida dos membros de uma coletividade.”
A Psicologia do trabalho expõe desafios como desenvolver estruturas e canais
de diálogos compatíveis com as necessidades e a cultura dos associados e também de
garantir o bem estar dos indivíduos. De acordo com Rodrigues (1983, p.46):
“Ao utilizar um conhecimento oriundo da psicologia social numa situação concreta de sua
atividade profissional, o especialista de outra área (escolar, clínica, organizacional, etc.),
estará se beneficiando do conhecimento descoberto cientificamente pela psicologia social
(básica ou aplicada), combinando-o com os conhecimentos que possui da realidade onde atua
e com isso aprimorando sua forma de lidar com ela”. (1983, p.46).
Para prosseguir com este pensamento, onde é possível atuar com o grupo, com
referência à Coutinho (2005, p.11), pode-se relatar que “o principal objetivo é o
fortalecimento dos laços coletivos, atuando a partir do entendimento dos processos
grupais desenvolvidos em cada organização solidária, utilizando técnicas de dinâmicas
de grupo que favorecem a emergência das características singulares do grupo”.
Entretanto, fica claro entender o porquê algumas mulheres deixam a economia
capitalista e assumem seu papel dentro de um Empreendimento Solidário. De acordo
com o pensamento de Knapik (2006, p.54) “a convivência com os outros,
especialmente no ambiente de trabalho, não é fácil, e o desafio é transformar essa
dificuldade em uma oportunidade de contato interpessoal que promova o crescimento
e o amadurecimento emocional.” Conforme verificado nos princípios e fundamentos
da Economia Solidária, onde todos são iguais e possuem os mesmos direitos. Assim
pode-se conviver de forma agradável, ao expor seus sentimentos e necessidades.
Assim o trabalho do psicólogo dentro de uma organização capitalista difere do
trabalho a ser realizado com Empreendimentos da Economia Solidária. De acordo com
Coutinho (2005, p.10) “diferente das práticas tradicionais, a Psicologia do trabalho
voltada para as organizações solidárias visa o desenvolvimento da autonomia e da
solidariedade, buscando re-significar a identidade profissional do
trabalhador/cooperado, fortalecendo o vínculo grupal”.
2) OBJETIVO:
Identificar a possibilidade de intervenção do psicólogo do trabalho, com as
mulheres participantes em Padarias Comunitárias, e qual sua efetividade.
3) MÉTODO:
Optou-se por explorar o Empreendimento Solidário das Associações, que
atuam com a finalidade de assegurar os interesses dos associados, que prezam pelos
direitos humanos e viabilizam a igualdade entre homens e mulheres. Nas pesquisas
sobre Associações, deparou-se com o tema Padarias Comunitárias, que teve seu início
a partir da exclusão social de mulheres, com o objetivo de incluí-las em um modo de
produção que favorecesse o sustento de suas famílias por meio da solidariedade e da
igualdade. No Paraná as Padarias Comunitárias iniciaram em 1993, com o auxílio do
Padre Bertrand na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, localizada no bairro Sítio
Cercado em Curitiba.
Como Associação, a união das Padarias Comunitárias foi fundada em 23 de
abril de 2007, com representantes destas, que elaboraram seu estatuto, com o objetivo
de contribuir na melhoria da qualidade de vida da população, fundamentados nos
princípios e fundamentos da Economia Solidária, foi formalizada sob o nome de:
Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias “Fermento na Massa.”
O método utilizado para esta pesquisa foi o qualitativo o qual fornece uma
compreensão mais aprofundada a respeito do objetivo a ser pesquisado. Desse modo,
esta pesquisa visou investigar os fenômenos relacionados à Percepção das mulheres
das padarias comunitárias a respeito da atuação do psicólogo do trabalho.
Para esta pesquisa a idéia inicial era abordar 31 (trinta e uma) mulheres com
faixa etária entre 18 e 60 anos, participantes de 20 (vinte) Padarias Comunitárias na
cidade de Curitiba e região Metropolitana. Este número referia-se a uma Associação
de Padarias Comunitárias composta por 103 (cento e três) mulheres.
No entanto, ao realizar contato com as Padarias Comunitárias, obteve-se o
seguinte resultado: foram abordadas 19 (dezenove) mulheres, com faixa etária entre 35
e 69 anos, participantes de 10 (dez) Padarias Comunitárias compostas por 35 (trinta e
cinco) mulheres de Curitiba e região Metropolitana. Este resultado foi devido ao
fechamento de 03 Padarias, 05 sem contato e 01 não ser considerada Padaria
Comunitária; assim como o interesse das integrantes em participar da pesquisa. Segue
abaixo o quadro demonstrativo de cada Padaria contatada:
Quadro 01: Relação de Padaria Comunitárias. Padaria Cidade Bairro Número de Integrantes Status
Santo Antônio Colombo J. Guarujá 4 2 Entrevistadas
Santiago Curitiba Bairro Novo 2 2 Entrevistadas
Projeto Mutirão Cozinha Curitiba Bairro Novo A 0 Não é Padaria.
São Pedro Curitiba Cajuru 0 Fechou
Nossa Senhora da Luz Curitiba CIC 2 2 Entrevistadas
Sagrada Família Curitiba CIC 0 Sem contato
Nossa Senhora de Lourdes Curitiba CIC 4 2 Entrevistadas
Sol Amanhecer Curitiba CIC - Barigui I 1 1 Entrevistada
Monte Carmelo Curitiba Pinheirinho 0 Sem contato
São Vicente Paula Curitiba Pinheirinho 0 Sem contato
Nossa Senhora das Vitórias Curitiba Sitio Cercado 6 2 Entrevistadas
São Sebastião Curitiba Sitio Cercado 0 Sem contato
Nossa Senhora Auxiliadora Curitiba Sitio Cercado 4 2 Entrevistadas
Nossa Senhora de Fátima Curitiba Sitio Cercado 4 2 Entrevistadas
Santo Aníbal Curitiba Uberaba 0 Fechou
Madre Ângela Curitiba Uberaba 0 Fechou
AIC São Cristóvão Curitiba Vila Guaira 0 Sem contato
CECOPAM Curitiba Xaxim 5 2 Entrevistadas
Nossa Senhora do Rocio São José dos Pinhais Rio Pequeno 3 2 Entrevistadas Fonte: Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias “Fermento na Massa”.
Para abordar as mulheres foi utilizado como instrumento de pesquisa uma
entrevista com 09 (nove) questões divididas em duas partes: a primeira visou
identificar as participantes e a segunda objetivou compreender o seguinte conceito:
Psicologia (O que entendem por Psicologia; Se conhecem o trabalho do psicólogo
dentro da Economia Solidária; O que acham do trabalho do psicólogo dentro da
Padaria Comunitária; e se acreditam que este trabalho pode auxiliar no
desenvolvimento do grupo).
Para a efetivação desta pesquisa foi necessário entrar em contato com estas
mulheres para explicar como funcionaria a pesquisa e verificar se elas aceitariam
participar, após isto foi agendado dia e horário para que as entrevistas fossem
realizadas. Ao chegar às Padarias Comunitárias a primeira atividade foi ler o termo de
consentimento, a fim de deixar claro os reais motivos da pesquisa e estabelecer um
acordo de que as entrevistas seriam gravadas caso elas aceitassem, do contrário as
entrevistas seriam realizadas sem a gravação. Após realizadas as entrevistas, e foram
transcritas e tratadas a partir da análise do discurso, método utilizado para análise de
questionários abertos, que segundo Rocha e Deusdará (2005, p. 308) “propõe o
entendimento de um plano discursivo que articula linguagem e sociedade, entremeados
pelo contexto ideológico”.
A fim de manter sigilo sobre as participantes, as entrevistas foram
identificadas, no decorrer da análise, por meio de números. Assim obtêm-se a seguinte
nomenclatura: Entrevista nº.1 ou Entrevistada nº.1.
4) RESULTADOS:
4.1) PERFIL DAS ENTREVISTADAS:
Inicialmente as mulheres responderam questões pessoais sobre: idade, estado
civil, número de filhos, escolaridade e região onde mora. O intuito foi identificar o
perfil destas.
O primeiro dado avaliado foi com relação à faixa etária. Compreendida entre
35 e 69 anos, com a maior incidência acima de 50 anos, conforme observado no
gráfico 01:
Gráfico 01: Faixa Etária
N=19
21%
16%63%
35-40
40-45
Acima de 50
Fonte: Entrevista realizada com as mulheres participantes da Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias
“Fermento na Massa”.
No que diz respeito ao estado civil, tem-se um total de quatorze mulheres
casadas, equivalente a 73% da amostra; duas viúvas, duas separadas e uma solteira,
como apresentado no gráfico 02:
Gráfico 02: Estado Civil
N=19
73%
11%
11%5%
Casada
Separada
Solteira
Viúva
Fonte: Entrevista realizada com as mulheres participantes da Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias
“Fermento na Massa”.
Quanto ao número de filhos, todas alegaram que possuíam, variou de um a
oito, de acordo com o gráfico 03:
Gráfico 03: Número de filhos
N=19
11%
37%
32%
5%
5%5%
5%
1 filho
2 filhos
3 filhos
4 filhos
5 filhos
6 filhos
8 filhos
Fonte: Entrevista realizada com as mulheres participantes da Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias
“Fermento na Massa”.
Sobre a escolaridade, a maior porcentagem verificada incidiu entre o ensino
fundamental completo e o incompleto (78%), o que denotou a amostra possuir baixa
escolaridade, onde oito concluíram o ensino fundamental, sete possuem o ensino
fundamental incompleto, duas possuem o ensino médio incompleto e somente duas
concluíram o ensino médio, conforme apresentado no gráfico 04:
Gráfico 04: Escolaridade
N=19
37%
41%
11%
11%
Ensino Fundamental
Incompleto
Ensino Fundamental
Completo
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio
Completo
Fonte: Entrevista realizada com as mulheres participantes da Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias
“Fermento na Massa”.
Referente à localidade de moradia das dezenove entrevistadas, compreende-se
Curitiba e região Metropolitana. Em Curitiba, tem-se: oito moradoras do bairro Sítio
Cercado, cinco na Cidade Industrial de Curitiba e uma no Xaxim. Já na região
Metropolitana tem-se uma moradora na Fazenda Rio Grande, duas em Colombo e duas
em São José dos Pinhais. Conforme o gráfico 05:
Gráfico 05: Região onde moram
N=19
26%
42%
5%
11%
5%
11%
Cidade Industrial de
CuritibaSítio Cercado
Xaxim
Colombo
Fazenda Rio Grande
São José dos Pinhais
Fonte: Entrevista realizada com as mulheres participantes da Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias
“Fermento na Massa”.
4.1.1) Compreensão sobre Psicologia e o profissional de Psicologia:
Para iniciar o questionamento, perguntou-se: “O que você entende por
Psicologia?” com o objetivo de verificar se elas conheciam o significado da
Psicologia. Seis mulheres não souberam responder, fornecendo um “não sei” como
resposta:
Entrevistada n°.6: “Não sei (risos).”
Percebeu-se que as seis integrantes desconheciam o significado do termo em
seu sentido técnico, pois no decorrer da entrevista respondiam o que entendiam sobre a
Psicologia na prática, visando o trabalho do psicólogo como importante para o
convívio na Padaria Comunitária. Doze mulheres responderam de forma simples e
objetiva o que conheciam a respeito do termo.
Entrevistada n°.18: “Há sei lá, se isso é bem a resposta que você vai querer obter, não sei,
psicologia eu entendo que é as pessoas que tentam ajudar , ouvir os problemas da gente né,
tentar ajuda, que nem eu to turbulada, to precisando de um profissional pra me ajudar né.”
As mulheres que não conheciam a teoria sobre o termo psicologia,
acreditavam que este profissional pode atuar dentro do empreendimento e
proporcionar bem-estar ao grupo. Assim como dito por Coutinho (2005) o psicólogo
pode trabalhar com o todo ou com cada trabalhador, auxiliando o grupo.
Com isto observou-se que o trabalho do psicólogo pode auxiliar as mulheres
que deixaram o mercado formal de trabalho e iniciaram nas Padarias Comunitárias.
Pois, as entrevistadas percebem-se incluídas nas Padarias Comunitárias, obtendo nas
colegas companheirismo incluindo-se socialmente, assim como descrito no próximo
depoimento:
Entrevistada n°. 15: “Psicologia... Ai pensei que umas perguntinha mais ai... (risos)... Não
é... a maneira de a gente tratar as pessoas... Tem a ver né... I não só pensar na gente né... Ser
mais né... Companheirismo, por igualdade aqui dentro a gente... Meu modo de pensar é esse.
não pode pensar só na gente pensar nelas, tem tanta gente que vem lá de fora desabafar, tem
que conversar, falar né.”
Com isto foi possível perceber, dentre as entrevistadas que responderam
conhecer sobre o termo Psicologia, tem-se a necessidade em se ter um outro a quem
possa desabafar e conversar, sempre com o intuito de ajudar o grupo, a fim de
estabelecer uma relação mais próxima entre as integrantes das Padarias Comunitárias,
da mesma forma que Gocci e Occhini (1995) relatam que a Psicologia Social tem
como objetivo estudar as interações humanas: interações entre indivíduos, entre
indivíduo e grupo e entre grupos.
Entrevistada n°.01: “Hum... é... Quando você não tá bem... Daí tem que procurar um
psicólogo, você tem que assim... As veiz a gente vem desabafa pros outros, assim... Que a
gente tem em casa né...”
Entrevistada n°.02: “Então... Psicologia eu acho que é uma boa coisa. Tipo assim... A gente
precisa às vezes... Às vezes é preciso sim... A gente percebe... Mesmo eu que já levei minha
filha que o médico falou que era bom levar... Acho que eu fui 4 vezes e a menina já... sabe...
é... o pessoal da... da... o psicólogo né... eles tem um jeito tão especial... que a minha filha
não precisou voltar mais...sabe... então acho que pra nois como padaria também... porque as
vezes... a gente precisa sim...é uma boa.”
Entrevistada n°.03: “Essa é difícil... Bom eu acho que... Eu acho que é tratar, o psicólogo,
cada pessoa né!?”
Entrevistada n°.04: “É psicólogo assim... Eles podem auxiliar né... Ajudar a gente...”
As entrevistadas percebem o psicólogo como o profissional que deve observar
os comportamentos e atitudes das pessoas, no meio em que atua, como um parceiro do
grupo, para auxiliar as pessoas de forma que possam expor suas inseguranças, visando
o bem comum do grupo:
Entrevistada n°.15: “Psicologia.... eu acho que assim... a gente... ter mais consciência das
coisas que a gente faiz, ter uma abertura né... ah... eu acho que é isso aí... Não te medo né...”
Entrevistada n°.19: “Psicologia é a ciência que estuda... Há alguma coisa... É.. O intimo da
gente o pensamento, tipo assim o sentimento... Deve ser...”
Percebeu-se também durante as entrevistas que o termo psicologia representa
uma forma de orientação, como se o profissional fosse o único responsável por indicar
algum caminho sobre trabalho e família.
Desta forma percebeu-se que para as mulheres é relevante possuir orientação
para continuar com seus planos e objetivos, sendo possível expor seus reais
sentimentos, para falar de suas opiniões conscientemente sem receio da opinião das
colegas:
Entrevistada n°.17: “Psicologia ai que complicado, psicologia sei lá, eu acho que é um
trabalho que... Como vou dizer... É uma área que vai atua sobre... Diretamente sobre as
pessoas dando apoio, orientação de vivencia como vive como agir em determinada
situações.”
A entrevistada n°.16, apresenta dificuldade para responder, pois relata que é a
pergunta mais difícil da entrevista. Esta dificuldade pode estar associada à baixa
escolaridade ou a falta de conhecimento do termo, o que a deixa insegura para
responder e relatar sobre sua colega que aparenta precisar de ajuda, mas a entrevistada
n°.16 não sabe como auxiliar esta pessoa, conforme apresentado no depoimento a
seguir:
Entrevistada n°.16: “Olha essa é a pergunta mais difícil né... porque eu acho assim... é... nos
temos bastante gente assim... que a gente percebe que ele tem um problema... e a gente não
podemo falar, que aqui dentro não tem isso mas a gente percebe...até um...até pobrema de
deficiência ou um pobrema em casa...assim ele precisa de um apoio... eu acho que tem que
ter um psicólogo... nos temos uma aqui que precisa de um psicólogo e nos não sabemos
como ajudar, com certeza todos nos precisamos né...mas aquele a gente percebe, que ta
estampado assim...quando pedimos para ela ir a unidade de saúde ela diz que não ta
doente...e ela é uma pessoa que precisa de ajuda...eu acho que é isso que eu entendi.”
O depoimento acima refletiu que as mulheres não conhecem a diferença entre
um psicólogo clínico e um psicólogo do trabalho, como se o mesmo profissional
atuasse com as duas linhas em um mesmo ambiente.
Para dar seguimento ao questionamento, indagou-se: “Você conhece o
trabalho do Psicólogo dentro da Instituição?” Um total de dezesseis mulheres,
equivalente a 84% responderam que não conheciam e utilizaram um simples “não”, ou
“não conheço” como resposta:
Entrevistada n°.2: “Na instituição? Não, não, não... Vamo falar a verdade que não porque eu
num... Num sei se tem na instituição... Não.”
Entrevistada n°.17: “Olha aqui na instituição não porque eu, eu... primeiro que cheguei agora
né, então não deu muito tempo de conhecer tudo o que a instituição oferece né, mas por
enquanto não conheço.”
No relato, foi possível observar que o trabalho do psicólogo dentro de
Padarias Comunitárias é um campo novo para a profissão. Conforme descrito por
Coutinho (2005) “A psicologia tem, no que se refere ao trabalho, grandes
possibilidades de atuação, sendo de significativa importância.” Pois é um ambiente
onde atividades de comunicação e motivação podem ser realizadas, com o fim de
manter os princípios e os fundamentos da Economia Solidária existentes neste
empreendimento.
Três entrevistadas já ouviram falar sobre o trabalho, mesmo assim
desconheciam ainda a totalidade e abrangência desta função, percebeu-se mais uma
vez que as mulheres buscam um meio em que possam encontrar auxílio e respaldo
para continuar na busca por reconhecimento e acolhimento diante da sociedade em que
estão:
Entrevistada n°.1: “Já ouvi fala.”
Entrevistada n°.10: “Ai moço... é aqueles que cuidam das pessoas que não estão bem com
elas mesmas.”
Entrevistada n°.16: “Não. Tem um psicólogo que visitou uma padaria, foi só um dia e não
deu assim pra gente... ela até falou que se a gente... precisasse era pra marcar com ela, mas
ela também trabalha daí quando a gente precisa né.”
Nas respostas, entendeu-se que o trabalho do psicólogo dentro da Padaria
Comunitária pode ser um trabalho relevante, para atuar com as mulheres participantes
deste empreendimento.
Denotou-se que este é um aprendizado que ainda pode ser desenvolvido, desta
forma perguntou-se: “O que você acha do trabalho do psicólogo dentro da padaria
comunitária?” Como resposta ouviu-se em dezoito entrevistas que seria muito
importante a presença do psicólogo no empreendimento, apenas uma respondeu que
não sabia. Verificou-se que mesmo sendo um trabalho ainda desconhecido, já se
percebe a importância de um profissional capaz de avaliar o comportamento dentro da
Padaria Comunitária, reforçando o que Lane (2004) informa, “a psicologia social
estuda o comportamento de indivíduos”. A fim de trabalhar com o grupo todos os
conceitos já conhecidos pela Economia Solidária como a igualdade, a cooperação e a
solidariedade. Conforme verificado nas entrevistas:
Entrevistada n°.1: “Eu acho que ele vinha... Da uma orientação... Orienta a pessoa
né...conversa com a pessoa... Sabe o que tá acontecendo... Se ta se sentindo bem né... Daí... É
isso.”
Entrevistada n°.2: “Muito bom... Eu acho que seria importante, porque... Aqui nois somo 5
cabeça e cinco cabeça pensa diferente... Tem umas hora aí que bate, então é isso... Assim a
gente se conserta sabe... A gente mesmo percebe que... Erro e... Tudo bem... Ninguém fica...
né... mas olha que uma psicologa no nosso meio, não só no nosso... em todas, porque todas
tem problema.”
Entrevistada n°.3: “Ah sim! Seria útil.”
Entrevistada n°.4: “É importante... Porque aqui mesmo a gente tem pessoas que pensam né
só no dinheiro... Ele pode auxiliar o grupo.”
Entrevistada n°.5: “Nossa... Como seria bom menina... Tanta coisa que as vezes a gente...
Até mesmo o próprio... Vai passando o ano, chegando final do ano a gente tá super
carregado... E assim se tivesse pra gente... Conversa... Ajudaria bastante.”
Entrevistada n°.6: “É... Importante né...”
Com este pensamento, é possível perceber que as pessoas buscam em seus
empregos um local estável e agradável, a motivação no trabalho é essencial. Por meio
das entrevistas realizadas, com as mulheres participantes de Padarias Comunitárias, e
da teoria estudada, verifica-se que na Economia Solidária as pessoas encontram este
ambiente tão almejado. Sendo necessário o trabalho do psicólogo para que este
Empreendimento possa manter o acolhimento, a solidariedade e a igualdade. Neste
caso em específico, as mulheres buscam um local que propicie renda para o sustento
de suas famílias, valorização do seu trabalho e também um bom clima de trabalho.
Relacionando-se Coutinho (2005) com as entrevistas realizadas, pode-se perceber que
o fortalecimento dos laços afetivos é o principal objetivo do trabalho do psicólogo.
Na próxima entrevistada, seu relato aparentou que a necessidade em se ter
alguém para auxiliar dentro da Padaria Comunitária não é apenas para o
relacionamento entre o grupo e sim entre o grupo e os clientes:
“Entrevistada n°.7: Seria bom, pois ajudaria, pois tem muita gente chata.
P.: Quem são os chatos?
Entrevistada n°.7: São alguns clientes e também algumas mulheres que já trabalharam por
aqui elas eram ignorantes.
P.: Porque ignorante?
Entrevistada n°.7: Elas só pensava nelas mesmas e eram difícil de repartir as coisas.”
O relacionamento entre o grupo é um fator que pode influenciar na
produtividade, assim como se deve estender aos clientes, para que se tenha retorno da
qualidade do trabalho oferecido, para fortalecer este novo modo de produção no meio
social. Com a resposta acima foi possível observar que nas Padarias Comunitárias
pode existir o trabalho do profissional da psicologia, com o intuito de avaliar o
relacionamento entre os membros, a fim de focar nos princípios e fundamentos da
Economia Solidária que visam o bem comum entre seus integrantes.
“Entrevistada n°.8: Seria muito bom pois as vezes da uns estresse, tem muito cliente chato.
P.: Porque cliente chato?
Entrevistada n°.8: Agente já quase da o pão, e ai vem reclamando do preço ainda.”
Entrevistada n°.09: “Seria muito bom né... pois ajuda a gente a pensar melhor e trabalhar
melhor.”
“Entrevistada n°.10: Seria bom, pois agente sempre precisa de alguém para chorar no ombro.
P.: Porque diz chorar no ombro?
Entrevistada n°.10: A gente as vezes precisa, sempre quis levar meus filhos em um
psicólogo, mas é muito caro, ai agente acaba deixando.”
As mulheres entrevistadas, ao relatar sobre a importância do trabalho do
psicólogo, focaram seus argumentos sempre na relação do grupo com os clientes e
com a família, com foco nos ensinamentos da igualdade, da solidariedade e da
autogestão.
Entrevistada n°.11: “Pra nós aqui seria muito bom, porque esta dona M. que te falei, ela tem
um filho drogado, ela expulsou ele de casa, ela ficou bem pra baixo. Pra gente seria uma
grande valia, pra ela principalmente pra dona M. seria de grande valia. Ou até para o meu
netinho que foi assaltado a alguns dias atrás, e infelizmente ele agora é agressivo, tem muito
medo de andar dentro da casa. Mas não é como a gente quer, a gente tem que viver a
realidade da gente.”
Com a realidade citada, forneceu a idéia de pessoas que lutam por objetivos,
mas não recebem estímulos para seguir em frente. Desta forma, o trabalho do
psicólogo nas Padarias Comunitárias, é um campo em desenvolvimento, sendo
possível auxiliar as integrantes a se perceberem como parte fundamental do
empreendimento.
Dentre as entrevistadas, pode-se averiguar que elas acham importante o
trabalho que o psicólogo pode realizar, no sentido de auxiliar, orientar e ajudar
algumas pessoas a serem incluídas. Dentro da Economia Solidária as mulheres
participantes de Padarias Comunitárias, compreenderam que são incluídas, pois foram
aceitas com seus defeitos e qualidades, independente dos conceitos que aprenderam
em sua constituição como sujeito. Todos estes sentimentos relatados podem ser
percebidos nas seguintes respostas:
Entrevistada n°.12: “Sei lá eu acho que não há necessidade, mas talvez se viesse e
conversasse, a visão da gente seria outra.”
Entrevistada n°.13 “Seria bom, a gente precisa também.”
Entrevistada n°.15: “Seria ótimo... né... porque a gente... é meio assim... tem momentos que a
gente ta meio pra baixo né... meio... meio assim... desestruturado mais o meno né... assim...
daí então... ca ajuda dum psicólogo é muito melhor né... orientando né...”
Entrevistada n°.16: “Eu acho... seria importante né, as vezes eu posso até achar que a pessoa
tem...ele vai ter certeza do que ela precisa, ele é mais né...porque quando né....que nem essa
uma...as vezes ela tem um pobrema lá na casa...as vezes até a pessoa vem mais disposta...fala
e as vezes lá dentro né.”
Entrevistada n°. 17: “Eu acho que é importante, necessário porque muitas pessoas que vem
buscar a Padaria Comunitária elas necessitam de um apoio de uma orientação psicológica,
por causa quando a pessoa, carente, carente totalmente de esta a margem pra ela consegui....
entra na inclusão da sociedade ele necessita de um apoio moral psicológico, acho super
importante.”
Entrevistada n°.18: “Seria uma boa, é uma boa né, uma boa esta fazendo, orientando,
auxiliando a gente... É uma boa lógica.”
Entrevistada n°.19: “A ta... Importante acho bom, tipo assim como é... Como é família mais
carente as vezes a gente fica meio perdido não sabe como atender direito a pessoa né e as
vezes a pessoa não se abre com a gente tá com problemas não fala , e tendo uma pessoa mais
importante né, um psicólogo ele pode se abrir.”
Dessa maneira seria possível instigar nestas pessoas a importância de se
conversar com o outro para que exista uma relação de equilíbrio em ambas as partes.
Por fim indagou-se para estas mulheres: “Você acredita que o psicólogo
pode auxiliar no trabalho e desenvolvimento do grupo, de que forma?” Apenas
uma entrevistada não soube responder, já as outras dezoito expressaram interesse neste
trabalho:
Entrevistada n°.01: “Acredito que pode, porque ele dando conselhos, vindo aí conversando
com a pessoa né... Então... Eu acho que é muito bom.”
Entrevistada n°.02: “Podia é... Tipo aceita as qualidades do outro né... Porque é difícil né...
Então tem que tentá aceita...”
Nas entrevistas foi possível observar que no meio dos Empreendimentos
Solidários existem pessoas, que não pensam de acordo com os princípios e os
fundamentos da Economia Solidária, conforme o relato da entrevistada n°.03, que
comentou sobre sua colega que pensa muito no lucro individual. Mas de acordo com o
relato de Filho et al (2006) o lucro individual não faz parte dos princípios e
fundamentos da Economia Solidária
Entrevistada n°.03: “Eu acho... Pode porque têm muitos... Aqui mesmo a gente enfrenta
problema, elas são assim... Elas pensam mais no material do que né... Então elas que... Não
sei... Elas... Tem duas... É... Tem uma que trabalha na reciclagem também, então não sei se é
poder aquisitivo da pessoa que é menor... então elas pensam muito no dinheiro, dinheiro,
dinheiro.”
Os próximos relatos, falam sobre o relacionamento em grupo, como o
psicólogo poderia atuar nesta situação, perante o grupo. Para as mulheres entrevistadas
este profissional pode auxiliar por meio de conversas e palestras, pois algumas vezes
ficam estressadas e podem atender mal seus clientes, conforme dizem abaixo:
Entrevistada n°.04: “Então né... Ele pode conversar as vezes a gente tem brigas...há não é
briga né... Elas acham que a gente quer mandar mais as vezes elas não limpam a forma
direito aí tem que falar né... Se não o pão fica com farelo preto né... E elas não gostam...”
Entrevistada n°.05: “É isso mesmo que acabei de falar né... Ele pode orientar, tem tanta coisa
né que a gente né, pensa de uma maneira e as vezes conversando, orientando, dando palestra,
a gente pensa diferente... Eu creio que até convívio no grupo seria melhor.”
Entrevistada n°.06: “Há o psicólogo na padaria... Ele ajuda bastante e né a gente sempre esta
estressado, ele pode passar mais segurança né... Também mesmo em grupo né atendimento,
as vezes você está estressada e a pessoa vem compra pão você pode falar alguma coisa...
Ajuda muito.”
Entrevistada n°.08: “Pode sim, seria legal... conversar... se não se sente a vontade com os
colegas ai o psicólogo pode ajudar pois é ai que agente tem mais coragem para falar.”
Como citado anteriormente o trabalho em grupo das mulheres pode ser
melhorado sempre. O psicólogo pode atuar neste empreendimento para realizar uma
avaliação do clima, para que estas trabalhem situações onde o stress pode estar
envolvido e até mesmo prejudicar o andamento do grupo e a qualidade dos produtos.
Entrevistada n°.11: “Com certeza, conversando, instruindo a pessoa para viver a sua
realidade e pessoa tem que saber conviver com aquilo.”
Entrevistada n°.13: “Seria bom, pois ele pode fazer algumas palestras pra nós, ai agente vai
aprender melhor como viver.”
Entrevistada n°.14: “Acredito... seria... era bom que tivesse né... pra orientá nois né... sobre
convive junto né... todo nois junto né... acho que é isso.”
Entrevistada n°.15: “Pode... podê ajudá pode... sobre... acho que sobre as conversa...
conversá... sobre... orientá né... assim psicologicamente né... que as vezes a gente.... ta
nervoso assim... ta... meio assim... pra baixo né... como eu falei...”
Mais uma vez as entrevistadas comentam que o psicólogo pode auxiliar o
grupo a conviver e a melhorar o relacionamento. Conforme visto o Psicólogo do
trabalho pode atuar com o trabalho em grupo. Nas Padarias Comunitárias esta
atividade é bem vinda, de acordo com as entrevistas realizadas as mulheres entendem
que este profissional pode auxiliá-las no relacionamento com as colegas, bem como no
atendimento com os clientes.
Entrevistada n°.16: “É eu acho assim... que temo bastante pessoa que precisa de psicólogo...
porque nos já trabalhamo com pessoa que ta mais escruida né... as vezes tem pobrema... que
tem pobrema na família... tem... as vezes elas falam pra mim mais eu não sei como ajudar, já
pedi pra ir no centro de saúde... mas se tivesse psicólogo pra ele... mas tem que faze um
acompanhamento, se ele vir aqui só um dia e conversa com todo mundo... eu acho que tem
que ser individual né... ou fazer mais visita e percebe as coisa né...e aquelas pessoa ser
encaminhada... eu acho que... não sei se todas as padarias tem esse pobrema mas comigo
aqui tem.”
Entrevistada n°.17: “Pode, pode não digo no trabalho na mão de obra, mas na vivencia no,
na, vivencia dos participantes da padaria pra que as pessoas consigam conviver,
compartilhar, entender o outro e a maneira de ser de cada um, porque cada um tem seu jeito
de se... eu... I acho que o psicólogo consegue orientar as pessoas a saber respeita o limite do
outro e seu próprio limite.”
As entrevistadas n°.16 e n.°17 relataram que o psicólogo pode atuar para que
as mulheres das Padarias Comunitárias encontrem ali acolhimento, inclusão e além
disso, união no grupo, para assim poder fazer parte de um meio estimulador, que
propicie à elas aquisição de renda, ocupação e motivação. Bem como, estas mulheres
que possuem problemas de família, possam expor suas dificuldades, para este
profissional, a fim de encontrar auxílio e orientação.
Contudo ainda resta esperança para que a total inclusão aconteça, pois as
mulheres lutam cada vez mais para conseguir seu real espaço no meio em que estão
inseridas, segundo Simon (2007) “a mulher brasileira cada vez mais aumenta seu papel
na condição de ‘chefe de família’.” Foi possível perceber que o trabalho do psicólogo
dentro do Empreendimento Solidário pode vir a auxiliar as mulheres em sua motivação
e satisfação consigo mesmas, pois só assim elas podem explorar suas habilidades e
aplicar no dia-a-dia, durante a realização de suas atividades na Padaria Comunitária.
5) CONCLUSÃO:
Assim percebeu-se que dentro da Padaria Comunitária o psicólogo poderia
atuar por meio do trabalho em grupo e verificar o relacionamento da equipe, para
propor atividades onde seja possível a compreensão de cada participante sobre o
quanto é importante este relacionamento e vivência. Pois de acordo com o verificado
nas entrevistas, percebe-se que a vontade em se manter um bom relacionamento em
equipe é o que prevalece no empreendimento. Concluí-se que as participantes de
Padarias Comunitárias encontram hoje, neste novo modo de produção, uma forma de
recomeçar suas atividades. A Economia Solidária não vê o ser humano como apenas
mais um na população, mas sim como parte fundamental dela.
Por meio das entrevistas realizadas e da pesquisa teórica, pode-se concluir que
o Psicólogo do trabalho pode atuar com efetividade neste ambiente, afinal irá trabalhar
com o grupo como um todo, para o bem estar destas pessoas dentro da Padaria
Comunitária, com o intuito de fortalecer as relações existentes. De acordo com as
respostas fornecidas pelas participantes da pesquisa, percebeu-se que estas atuam neste
empreendimento, por encontrar ali, um local de inclusão, o que não ocorreu no modo
de produção capitalista, de onde vieram por possuir baixa escolaridade ou idade
elevada.
Ao serem aceitas na Padaria Comunitária, perceberam que podem aprender,
assim como ensinar o que sabem, sendo vistas igualmente. Contudo fica fácil entender
quais os motivos que as mantêm atuantes neste meio, que lhes fornece uma renda
baixa, mas que as satisfazem, pois aprendem a partilhar de forma igual, sendo
solidárias e cooperando com as colegas de trabalho. De maneira geral estas mulheres,
que antes eram excluídas da sociedade capitalista, sentem-se incluídas neste novo
modo de produção e buscam repassar este aprendizado para outras pessoas, com o
intuito de agregar conhecimento e mostrar que uma nova sociedade é possível.
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