fernado g. s. batista msc 2004

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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES FERNANDO GOMES DA SILVA BATISTA CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECANÍSTICA DOS AGREGADOS DE ARGILA CALCINADA PRODUZIDOS COM SOLOS FINOS DA BR-163/PA Rio de Janeiro 2004

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Page 1: Fernado G. S. Batista MSc 2004

MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES

FERNANDO GOMES DA SILVA BATISTA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECANÍSTICA DOS

AGREGADOS DE ARGILA CALCINADA PRODUZIDOS COM

SOLOS FINOS DA BR-163/PA

Rio de Janeiro

2004

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

FERNANDO GOMES DA SILVA BATISTA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECANÍSTICA DOS AGREGADOS DE

ARGILA CALCINADA PRODUZIDOS COM SOLOS FINOS DA BR-163/PA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.

Orientador: Prof. Luiz Antônio Silveira Lopes - D.Sc. Co-Orientador: Prof. Salomão Pinto – D.Sc. Co-Orientador: Prof Álvaro Vieira – M.Sc.

Rio de Janeiro

2004

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2

c2004

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha

Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270

Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e

do(s) orientador(es).

620.19108113 BATISTA, Fernando Gomes da Silva B333 Caracterização Física e Mecanística dos Agregados de Argila

Calcinada Produzidos com Solos Finos da BR-163/PA / Fernando Gomes da Silva Batista – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2004.

159 p.: il., tab.

Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – Rio de Janeiro, 2004.

1. Pavimentação - Amazônia. 2. Argila Calcinada - Agregados. I. Instituto Militar de Engenharia. II. Título.

620.19108113

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3

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

FERNANDO GOMES DA SILVA BATISTA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECANÍSTICA DOS AGREGADOS DE ARGILA

CALCINADA PRODUZIDOS COM SOLOS FINOS DA BR-163/PA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de

Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes. Orientador: Prof. Luiz Antônio Silveira Lopes - D.Sc. Co-Orientador: Prof. Salomão Pinto – D.Sc. Co-Orientador: Prof Álvaro Vieira – M.Sc. Aprovada em 15 de janeiro de 2004 pela seguinte Banca Examinadora:

Prof. Luiz Antônio Silveira Lopes – D.Sc. do IME - Presidente

Profa Laura Maria Goretti da Motta – D.Sc. da COPPE/UFRJ

Prof. Salomão Pinto – D.Sc. do IPR/DNIT

Prof Álvaro Vieira – M.Sc. do IME

Rio de Janeiro

2004

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4

Aos meus pais, João Carlos e Edilce, e à minha esposa, Zoraide.

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5

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado a força e perseverança necessárias ao desenvolvimento e conclusão deste trabalho. À minha família, pela compreensão e paciência demonstradas ao longo destes 2 anos. Ao Cel Álvaro, meu co-orientador, pela oportunidade de ingressar no curso de mestrado do IME e pelos sábios ensinamentos passados ao longo dos anos, desde a época de graduação. Ao Cel Silveira Lopes, meu orientador, pelo apoio e ensinamentos recebidos. Ao professor Salomão Pinto, meu co-orientador, pela oportunidade de utilização dos laboratórios e pessoal do IPR e pela sua dedicação e paciência durante a execução dos estudos e ensaios relacionados a misturas asfálticas. À professora Laura Motta, integrante da Banca Examinadora, pelo tempo dedicado à apreciação desta dissertação, pela oportunidade de cursar a cadeira de Materiais de Pavimentação na COPPE e por todos os ensinamentos recebidos durante os 2 anos. Aos professores da Pós-Graduação em Engenharia de Transportes e do Departamento de Engenharia de Fortificação e Construção do IME, pela transmissão de preciosos conhecimentos nas cadeiras ministradas no curso. Ao meu amigo Chagas, por toda a sua contribuição e demonstração de amizade, desde os primeiros momentos em que ingressamos no mestrado. Aos colegas do IME, pelo apoio nos momentos de dúvidas e, por todos os bons momentos que passamos juntos, em especial, àqueles que de alguma forma engrandeceram esta dissertação com suas colaborações: Lima, Veiga, Kary, Albuquerque, Isolina. Ao pessoal do laboratório de solos do IME, Sgt Mozeika, Cb Mauro e Wanderlei, pela dedicação e empenho demonstrados durante a execução dos ensaios. Ao pessoal do IPR: Washington, os laboratoristas Sérgio Romário e André e as engenheiras Luciana e Dilma, por todo o apoio recebido. Ao Cristiano e Reiner, do CETEM, pelo apoio durante a execução dos ensaios de sedimentação e difração de raios-x com as amostras de solos. Ao pessoal do DE/4, em especial o Felipe, pela valiosa contribuição no estudo e realização dos ensaios químicos e mineralógicos.

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6

A autoconfiança é o primeiro requisito para grandes empreendimentos”.

SAMUEL JOHNSON

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7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................11

1.1 Considerações Gerais...............................................................................11

1.2 Objetivo.....................................................................................................12

1.3 Estrutura do Trabalho................................................................................12

2 AGREGADOS PARA PAVIMENTAÇÃO..................................................14

2.1 Conceituação, Classificação e Propriedades............................................14

2.1.1 Classificação dos Agregados....................................................................15

2.1.2 Propriedades dos Agregados....................................................................17

2.1.2.1 Propriedades Químicas de Agregados......................................................18

2.1.2.2 Propriedades Mineralógicas......................................................................18

2.1.2.3 Propriedades Físicas dos Agregados .......................................................19

2.2 O Problema dos Agregados na Região Amazônica..................................32

2.3 Agregados de Argila Calcinada e Expandida............................................39

2.3.1 Histórico.....................................................................................................39

2.3.2 Características da Matéria-Prima para a Produção dos Agregados.........53

3 PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS......................58

3.1 Caracterização e Classificação das Amostras..........................................58

3.2 Produção dos Agregados de Argila Calcinada..........................................60

3.3 Seleção Expedita pelo Processo da Fervura e Perda de Massa

Após Fervura............................................................................................71

3.4 Abrasão Los Angeles................................................................................73

3.5 Tensão de Ruptura por Flexão –TRF........................................................74

3.6 Análise Mineralógica e Análise Química...................................................76

4 DOSAGEM DE MISTURAS ASFÁLTICAS...............................................83

4.1 Ensaios Preliminares.................................................................................84

4.1.1 Granulometria............................................................................................84

4.1.2 Massa Específica Aparente e Densidade..................................................85

4.1.3 Adesividade...............................................................................................86

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8

4.2 Dosagem de Mistura Tipo CBUQ..............................................................87

4.2.1 Considerações Iniciais...............................................................................87

4.2.2 Materiais Empregados e Definição do Teor Ótimo de Ligante..................90

4.3 Dosagem de Mistura Tipo PMF...............................................................101

4.3.1 Considerações Iniciais.............................................................................101

4.3.2 Materiais Empregados e Definição do Teor Ótimo de Emulsão..............102

5 ENSAIOS COMPLEMENTARES............................................................110

5.1 Resistência à Tração...............................................................................114

5.1.1 Metodologia de Ensaio............................................................................114

5.1.2 Resultados...............................................................................................115

5.1.2.1 Concreto Asfáltico...................................................................................115

5.1.2.2 Pré-Misturado a Frio................................................................................117

5.2 Módulo Resiliente....................................................................................118

5.2.1 Metodologia de Ensaio............................................................................118

5.2.2 Resultados...............................................................................................121

5.2.2.1 Concreto Asfáltico...................................................................................121

5.2.2.2 Pré-Misturado a Frio................................................................................123

5.3 Fadiga......................................................................................................124

5.3.1 Metodologia de Ensaio............................................................................124

5.3.2 Resultados...............................................................................................127

6 APLICAÇÃO DOS RESULTADOS NO PROJETO DE PAVIMENTAÇÃO

DA BR-163..............................................................................................134

6.1 Considerações Iniciais.............................................................................134

6.2 Verificação do Dimensionamento com a Utilização do Programa

FEPAVE2................................................................................................135

6.3 Análise dos Resultados...........................................................................148

7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES............................................................152

7.1 Conclusões..............................................................................................152

7.2 Sugestões...............................................................................................153

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................155

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RESUMO

O trabalho apresenta os resultados referentes à caracterização dos agregados de argila calcinada produzidos em laboratório. São estudadas diversas amostras de solos, provenientes da região de Santarém-PA. Inicialmente são analisadas as características físicas, químicas e mineralógicas dos solos, e posteriormente são selecionadas algumas amostras para a produção do agregado. A escolha definitiva do solo que foi utilizado no estudo é realizada com os solos que apresentaram melhores resultados nos ensaios preliminares de caracterização dos agregados artificiais produzidos. Foram realizados ensaios complementares com esses agregados para verificação da sua resistência mecânica. Utilizou-se a argila calcinada em substituição ao agregado tradicional para a execução de ensaios em misturas asfálticas, realizando a dosagem pelo método Marshall e analisando os resultados de fadiga e módulo de resiliência para os corpos-de-prova produzidos no teor ótimo.

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ABSTRACT

This thesis presents calcined clay aggregates characterization results. Several soil samples from Santarem-PA had been studied. First the physical, chemical and mineralogical properties of the soils are studied, and then the samples for the production of the aggregates are chosen. The final choice was made using the soils that presented the best results in some preliminary characterization tests with the produced aggregates. Other tests were performed in order to analyze the mechanic resistance of the aggregate. The calcined clay aggregate was used instead of regular aggregates in asphalt mixes and the Marshall test was performed intending to study fatigue and resilient modulus results in the best substance.

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1. INTRODUÇÃO

1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O principal fator condicionante do projeto e execução de pavimentos rodoviários

na região amazônica é a escassez de agregados pétreos naturais, o que torna

economicamente inviável o emprego de bases granulares e misturas asfálticas

convencionais. Por outro lado, a abundância e variedade dos solos finos na região

constituem um natural atrativo à produção de agregados artificiais calcinados.

Desde o final dos anos 20 o agregado artificial de argila, em especial o de argila

expandida, é estudado e produzido industrialmente nos Estados Unidos da América.

Destacam-se os estudos realizados pelo Texas Highway Department e pela

Louisiana Department of Highways no final dos anos de 1960.

No mesmo período, através da CINASA (atual CINEXPAN), deu-se início a

produção de agregados de argila expandida no Brasil. A sua utilização como

agregado em pavimentação rodoviária se limita, entretanto, a algumas obras de

pontes e viadutos e a um trecho experimental construído em 1982 pelo DNIT. Este

trecho se constituiu na etapa final de uma grande pesquisa iniciada pelo órgão no

final dos anos 70, na qual foram realizadas algumas considerações sobre o

agregado de argila calcinada.

Nos dias atuais, a tecnologia de produção e emprego de agregados de argila

expandida é razoavelmente conhecida pelo meio técnico, porém os elevados custos

de produção desse agregado acabam por inviabilizar economicamente o seu

emprego em serviços de pavimentação rodoviária. Estudos anteriores realizados

pelo DNER (1981) e pelo IME (1998 e 2000) já demonstraram a possibilidade da

obtenção de agregados artificiais de argila calcinada a custos significativamente

inferiores aos da argila expandida, o que pode se constituir numa alternativa técnica

atraente para a região amazônica.

De maneira geral entende-se por agregado artificial (ou agregado sintético) de

argila, o agregado produzido com a utilização de solos argilosos. Pode ser

classificado como expandido se apresenta um inchamento quando queimado a

temperaturas superiores a 1100oC ou não expandido, sendo este último também

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12

denominado de agregado de argila calcinada ou de argila queimada, não

apresentando inchamento e sendo queimado a temperaturas de cerca de 900oC.

1.2. OBJETIVO

O objetivo principal desta dissertação é o desenvolvimento de estudos e ensaios

de laboratório relacionados à caracterização da argila calcinada visando verificar a

viabilidade da sua utilização na região amazônica como agregado em misturas

asfálticas, especialmente na pavimentação da BR-163, em substituição aos

agregados tradicionais.

Para alcançar este objetivo, procura-se desenvolver uma metodologia que

permita a produção em larga escala do agregado artificial de argila. Como uma

primeira etapa do estudo, serão realizadas pesquisas com fabricantes de

equipamentos de laboratório e de olarias, a fim de se adquirir uma máquina capaz

de reproduzir em laboratório o processo de produção que se pretende implementar.

Estudar-se-ão, também, os procedimentos de moldagem, secagem e calcinação do

material, incluindo neste caso os tempos e as temperaturas de queima.

Serão estudadas as características físicas, químicas e mineralógicas da matéria

prima a ser utilizada na produção deste agregado para que se possa selecionar um

solo com propriedades adequadas. Para tanto, serão usadas diversas amostras da

região de Santarém-PA para serem analisadas e selecionadas para a produção dos

agregados.

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO

No capítulo 1, este próprio capítulo, é apresentada uma breve introdução sobre a

produção e emprego dos agregados artificiais de argila, além dos objetivos e

justificativa do estudo.

No capítulo 2 é feita uma revisão bibliográfica sobre os agregados para

pavimentação, abordando as suas características e propriedades, além do problema

da carência de agregados na Amazônia. É apresentado ainda um histórico das

origens e utilização da argila calcinada e expandida, bem como as características da

matéria-prima para a produção destes agregados.

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No capítulo 3 são apresentados os ensaios de caracterização e classificação das

amostras recebidas, a produção dos agregados de argila calcinada e os diversos

ensaios realizados com estes agregados.

O capítulo 4 descreve as dosagens de misturas asfálticas realizadas com

concreto asfáltico e pré-misturado a frio.

No capítulo 5 são detalhadas as metodologias de realização dos ensaios de

resistência a tração por compressão diametral, módulo resiliente e fadiga, e os

resultados obtidos nestes ensaios.

O Capítulo 6 contém uma aplicação dos resultados obtidos no capítulo anterior

para o projeto de pavimentação da BR-163/PA, com a utilização do programa

FEPAVE2.

O capítulo 7 apresenta as conclusões e algumas recomendações para futuros

estudos.

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14

2. AGREGADOS PARA PAVIMENTAÇÃO

2.1 CONCEITUAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E PROPRIEDADES DOS AGREGADOS

Areia e pedra britada são insumos que se caracterizam pelo baixo valor unitário e

pelos grandes volumes consumidos. O seu transporte responde – em termos médios

- por cerca de 2/3 do preço final do produto, o que impõe a necessidade de produzi-

las o mais próximo possível do mercado. O maior problema para o aproveitamento

das reservas existentes é a urbanização crescente que restringe a extração de

importantes depósitos. A ocupação do entorno de pedreiras por habitações e as

restrições ambientais à utilização de várzeas e leitos de rios para extração de areia

limitam, cada vez mais, a operação das lavras. Em conseqüência, novas áreas de

extração estão cada vez mais distantes dos pontos de consumo, encarecendo o

preço final dos produtos.

CHIARI (2002) relata que a distribuição aproximada do consumo de pedra

britada no Brasil é de 50% para a produção de concreto, 30% para pavimentação

asfáltica, 13% para a produção de artefatos pré-moldados de cimento e 7% para

outros usos, como lastro de ferrovia, drenos, contenção de taludes, etc. Quanto à

areia, 50% do consumo destina-se à fabricação de concreto e o restante em usos

diversos. Com um consumo, em 2000, da ordem de 1,6 milhão de metros

cúbicos/mês, a região metropolitana de São Paulo é o maior mercado consumidor

de pedra britada e de areia do país. Outros grandes mercados são as regiões

metropolitanas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre e as

regiões de Campinas, Sorocaba e Baixada Santista.

Os grandes centros consumidores de agregados no Brasil encontram-se em

regiões geologicamente favoráveis à ocorrência de rochas de boa qualidade. Os

tipos litológicos mais utilizados na produção de pedra britada são os granitos e os

gnaisses (85%), os calcários e dolomitos (10%) e os basaltos e diabásios (5%).

Algumas regiões, entretanto, não possuem ocorrências suficientes de rochas

adequadas para britagem. Entre elas, podemos citar as cidades situadas na Bacia

do Paraná, onde, não raramente, a pedra britada tem que ser transportada por

distâncias superiores a 100 km.

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15

Na região amazônica o problema é muito mais grave. Como mais da metade de

sua área é coberta por espessa camada de sedimentos quaternários e terciários,

não consolidados, são poucas as ocorrências de agregado natural, quase todas

situadas em regiões de difícil acesso e afastadas dos centros consumidores. Isso

exige, muitas vezes, o transporte aquaviário de brita a distâncias de até 3.000 km –

como em algumas cidades do estado do Acre – utilizando-se infra-estrutura de

transportes precária e ineficiente. Essa escassez de agregados gera um aumento

considerável nos custos da construção civil na região, tornando economicamente

atraente o estudo para produção de agregado artificial com o uso de matéria prima

local.

Segundo o ASPHALT INSTITUTE (1989) a quantidade de agregado mineral em

misturas asfálticas de pavimentação é geralmente de 90 a 95% em peso e 70 a 85%

em volume e esta parcela mineral é em parte a responsável pela capacidade de

suporte de cargas dos revestimentos, influenciando assim o desempenho dos

pavimentos. Na pavimentação asfáltica o agregado é também usado comumente na

base e eventualmente na sub-base. Na pavimentação rígida o agregado é usado na

confecção do concreto de cimento Portland.

MARQUES (2001) relata que, de acordo com a NBR 9935, que determina a

terminologia dos agregados, o termo “agregado” é definido como material sem forma

ou volume definido, geralmente inerte, de dimensões e propriedades adequadas

para produção de argamassa e concreto.

Já WOODS (1960) define agregado como sendo uma mistura de pedregulho,

areia, pedra britada, escória ou outros materiais minerais, usada em combinação

com um ligante para formar um concreto, uma argamassa, etc.

2.1.1 CLASSIFICAÇÃO DOS AGREGADOS

Segundo PINTO (1996), os agregados podem ser classificados quanto à sua

natureza, tamanho e graduação. Quanto à sua classificação segundo a natureza, os

agregados são divididos em:

Naturais: aqueles que são utilizados tal como se encontram na natureza, salvo

operações de britagem e lavagem como, por exemplo, os cascalhos, saibros, areias;

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16

Artificiais: aqueles que resultam de uma alteração física ou química de outros

materiais, como a escória de alto forno, argila expandida, ou que exige extração

como é o caso das rochas, sendo a pedra britada o tipo mais comum.

Quanto ao tamanho, os agregados podem ser classificados em:

Agregado graúdo: é o material retido na peneira n° 10 : britas, cascalhos, seixos;

Agregado miúdo: é o material que passa na peneira n° 10 e fica retido na n°200:

areia, pó de pedra;

Material de enchimento ou fíler: é o que passa pelo menos 65 % na peneira

n°200: cal extinta, cimento portland.

Quanto à graduação se dividem em:

Agregado de graduação densa: é aquele que apresenta uma curva

granulométrica de material bem graduado e contínua, com quantidade de material

fino, principalmente na peneira n°200, suficiente para preencher os vazios entre as

partículas maiores;

Agregado de graduação aberta: é aquele que apresenta uma curva

granulométrica de material bem graduado e contínua, com insuficiência de material

fino, principalmente na peneira n°200, para preencher os vazios entre as partículas

maiores;

Agregado tipo macadame: é aquele que possui partículas de um único tamanho.

Trata-se, portanto, de um agregado de granulometria uniforme onde o diâmetro

máximo é aproximadamente o dobro do diâmetro mínimo.

Com relação à origem, ROBERTS et al (apud MARQUES, 2001), em 1996,

definem que os agregados usados em construção rodoviária são largamente obtidos

de depósitos de rochas naturais. As rochas naturais ocorrem como afloramentos ou

próximo à superfície ou como depósitos de agregados ao longo de velhos extratos

aluvionares. As rochas naturais são classificadas pelos geólogos em 3 grupos

dependendo da sua origem: ígneas (magmáticas), sedimentares e metamórficas.

Outros tipos de agregados que podem ser usados em misturas a quente são os

agregados leves de argila expandida e os de argila calcinada, produzidos pelo

aquecimento da argila a altas temperaturas, além de escórias, normalmente obtidas

nos alto-fornos durante a produção de aço.

Denomina-se “ocorrência” o depósito natural de pedregulho ou areia possível de

emprego em rodovias, também chamadas de cascalheiras. Quanto à origem

Page 18: Fernado G. S. Batista MSc 2004

17

geológica as ocorrências podem ser classificadas como residual, eólico, ou aluvial;

quanto à formação, em bancos (acima do terreno), minas (abaixo do terreno), de rio,

de mar (MARQUES, 2001).

Areias quartzosas de formação eólica são bastante puras (mais de 90% de teor

de sílica), porém exibem granulometria uniforme e fina. Areias quartzosas de origem

fluvial não são tão puras, mas apresentam em geral granulometria adequada aos

trabalhos de pavimentação rodoviária (MARQUES, 2001).

MARTINS (1995) relata que uma grande quantidade das rochas duras

exploradas para a indústria de construção encontra-se em áreas de alto valor

paisagístico ou em áreas de preservação ambiental, sendo necessário um

planejamento cuidadoso para minimizar os danos à paisagem e as perturbações

ambientais. Não há escassez previsível de recursos de rocha para produção de brita

no Brasil, a despeito da extração anual (estimada) superar 100 milhões de metros

cúbicos e do consumo “per capita” ser muito baixo, denotando uma demanda

reprimida. Entretanto, estas ocorrências se concentram em determinadas regiões do

país, havendo uma escassez de agregados em outras, como a região amazônica.

Nesta região é possível o uso de agregados artificiais de argila para utilização em

serviços de pavimentação.

2.1.1 PROPRIEDADES DOS AGREGADOS

Segundo ROBERTS et al (1996) são as propriedades físicas dos agregados que

determinam principalmente a adequação para o uso em misturas asfálticas e, em

menor extensão, as suas propriedades químicas. São propriedades

físicas/mecânicas básicas a densidade, porosidade e a resistência. Propriedades

químicas/físico-químicas tais como umidade, adesão e descolamento são função da

composição e estrutura dos minerais no agregado. Uma compreensão da

mineralogia e identificação de minerais pode produzir informações sobre

propriedades físicas e químicas potenciais de um agregado para um determinado

uso, e pode ajudar a evitar o uso de um agregado que tenha constituintes minerais

nocivos. Exigências em especificações devem ser selecionadas para que os

agregados que tenham componentes minerais indesejáveis não sejam aceitos para

uso (MARQUES, 2001).

Page 19: Fernado G. S. Batista MSc 2004

18

2.1.1.1 PROPRIEDADES QUÍMICAS DE AGREGADOS

As propriedades químicas de um agregado identificam a composição química

e/ou determinam as transformações que um agregado pode estar sujeito devido à

ação química. Estas propriedades têm pequeno efeito no desempenho, exceto

quando elas afetem a adesão do ligante asfáltico ao agregado e a compatibilidade

com aditivos antidescolamento que podem ser incorporados ao ligante asfáltico.

A adesão do cimento asfáltico ao agregado e o deslocamento do filme asfáltico

pela água é um fenômeno complexo segundo ROBERTS et al (1996), envolvendo

interações físico-químicas entre muitos parâmetros. Várias teorias têm sido

sugeridas para explicar os mecanismos de adesão e adesividade (descolamento).

Porém nenhum deles pode ser completamente explicado e mais de um mecanismo

pode ocorrer ao mesmo tempo (MARQUES, 2001).

MARQUES (2001) afirma que existem grandes evidências indicando que alguns

agregados parecem ter mais afinidade pela água que pelo cimento asfáltico, e os

filmes asfálticos nestas partículas de agregados podem tornar-se destacados

(separados) ou não aderidos depois de exposto à água. Estes agregados são

chamados hidrofílicos e eles tendem a ser ácidos na natureza. Por outro lado,

agregados que tem afinidade com cimento asfáltico são chamados hidrofóbicos e

eles tendem a ser básicos na natureza. É comumente aceito que a natureza da

carga elétrica da superfície dos agregados, quando em contato com água, afete

significativamente a adesão entre o agregado e o cimento asfáltico e sua resistência

ao dano por umidade.

Apesar das normas brasileiras que visam avaliar características químicas de

agregados estarem relacionadas diretamente ao concreto de cimento Portland,

dependendo da necessidade, estes ensaios podem ser solicitados para agregados a

serem usados em misturas asfálticas.

2.1.1.2 PROPRIEDADES MINERALÓGICAS

A maioria de agregados é composta de uma combinação de minerais. Dentre os

minerais mais importantes pode-se citar os minerais de sílica (quartzo), os feldspatos

(ortoclásio, plagioclásio), os minerais ferromagnésicos (muscovita, vermiculita),

Page 20: Fernado G. S. Batista MSc 2004

19

minerais carbonatados (calcita, dolomita) e minerais argílicos (ilita, caulinita e

montmorilonita) (MARQUES, 2001).

Em sua maioria, os agregados são compostos de muitos minerais, com

composições variáveis, podendo ter suas propriedades alteradas pela oxidação,

hidratação, lixiviação, intemperismo ou coberturas estranhas. Podem-se utilizar

exames petrográficos e a observação do desempenho anterior de agregados

similares na avaliação de agregados., uma vez que a mineralogia não pode por si só

predizer o comportamento de um agregado em serviço.

Segundo MARQUES (2001), o outro fator que afeta a utilização dos agregados

em misturas betuminosas, até certo grau relacionado à mineralogia, é a presença de

coberturas superficiais e outras substâncias deletérias. Estas substâncias deletérias

podem incluir argila, xisto argiloso, silte, óxidos de ferro, gesso, sais dissolvidos e

outras partículas frágeis que afetam a ligação com o asfalto. Também podem

aumentar a susceptibilidade à umidade de uma mistura asfáltica e não devem ser

usados a menos que a quantidade de matéria estranha seja reduzida por lavagem

ou por outros meios.

Um dos efeitos mais importantes da mineralogia dos agregados no desempenho

de misturas asfálticas segundo ROBERTS et al (1996) é a adesividade da película

de asfalto à brita e a resistência ao descolamento por ação da água. A ligação entre

o cimento asfáltico e os agregados é melhor com certos tipos de minerais. Num

primeiro instante, o cimento asfáltico normalmente se liga melhor aos agregados

“carbonatados” (calcário) que aos agregados “silicosos” (cascalhos).

Apesar da ligação do cimento asfáltico não ser boa em relação a determinados

tipos de agregados, esta ligação pode ser melhorada através da adição de

determinadas substâncias tais como cal, pó calcário ou agentes melhoradores de

adesividade, também chamados “dopes”. Estes materiais associados aos agregados

fazem com que a ligação do cimento asfáltico seja aumentada, possibilitando

misturas asfálticas melhores.

2.1.1.3 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS AGREGADOS

MARQUES (2001) afirma que o agregado para misturas asfálticas geralmente

deve ser duro, tenaz, forte, durável (são), bem graduado, ser constituído de

Page 21: Fernado G. S. Batista MSc 2004

20

partículas cúbicas com baixa porosidade e com superfícies limpas, rugosas e

hidrofóbicas. A adequação de agregados para uso em misturas asfálticas é

determinada pela avaliação das seguintes características:

1 – Tenacidade

2 - Resistência Abrasiva

3 - Dureza

4 - Durabilidade

5 - Sanidade

6 - Forma da Partícula (lamelaridade e angulosidade)

7 - Textura Superficial

8 - Limpeza / Materiais Deletérios

9 - Afinidade ao asfalto

10 - Porosidade e Absorção

11 - Características expansivas

12 - Polimento e Características Friccionais

13 - Tamanho e graduação

14 - Densidade Específica / Massa Específica

TENACIDADE, RESISTÊNCIA ABRASIVA E DUREZA

Os agregados devem transmitir as cargas de rodas às camadas sobrejacentes

por intermédio do atrito interno e também devem ser resistentes à abrasão e ao

polimento devido ao tráfego. São sujeitos à fragmentação (quebra) e ao uso

abrasivo durante sua produção, transporte e compactação de misturas asfálticas.

Eles devem ser duros e tenazes para resistir a britagem, degradação e

desintegração quando estocados, manipulados através de algum equipamento

durante a produção de uma mistura asfáltica, espalhadas no pavimento,

compactados com rolos e quando solicitados por caminhões (ROBERTS et al 1996).

A Abrasão Los Angeles é uma medida preliminar da resistência do agregado

graúdo à degradação por abrasão e impacto; entretanto, segundo ROBERTS et al

(1996), observações de campo não mostram uma boa relação entre a perda de

abrasão Los Angeles e o desempenho. Este ensaio não é satisfatório para uso em

escórias, cinzas vulcânicas ou outros agregados leves. A experiência mostra que

Page 22: Fernado G. S. Batista MSc 2004

21

muitos destes agregados produzem excelente desempenho mesmo com valor de

abrasão Los Angeles alto. Um detalhe que deve ser observado quando se utilizam

agregados com alto valor de abrasão Los Angeles em misturas asfálticas é a

produção de pó durante sua manipulação e a produção da mistura asfáltica. O alto

índice de pó poderá causar problemas ambientais assim como problemas no

controle da mistura (MARQUES, 2001).

MARQUES (2001) relata que a tenacidade e resistência abrasiva são tratadas

por algumas normas brasileiras. Nestes ensaios, os agregados são submetidos a

algum tipo de degradação mecânica e medida a alteração provocada, principalmente

na granulometria original, ao final da degradação. Desta forma, as características de

tenacidade, resistência abrasiva e até mesmo de dureza dos agregados são

presumidamente avaliadas.

As especificações brasileiras para serviços de pavimentação que envolvem o uso

de agregados como execução de camadas de base e revestimento, normalmente

limitam o valor da Abrasão Los Angeles (LA) entre 40 e 55%. Entretanto, agregados

de algumas regiões do Brasil, como por exemplo a região do município do Rio de

Janeiro, apresentam o valor da abrasão Los Angeles muito acima de 55%, em

alguns casos, chegando a 65%. Devido à impossibilidade de se encontrar agregados

com este parâmetro atendido nas proximidades da obra, muitas rodovias foram

pavimentadas usando-se os agregados da região do Rio de Janeiro, embora

estivessem em desacordo com a especificação vigente, mas com a autorização do

DNER para tal procedimento (MARQUES, 2001).

Em virtude desta experiência e de outras em que agregados com abrasão Los

Angeles acima do limite superior foram usados e o desempenho ao longo dos anos

mostrou-se satisfatório quanto a este parâmetro, o DNER passou a recomendar a

execução de outros ensaios a serem conduzidos nos agregados que apresentassem

o valor da abrasão Los Angeles acima do limite superior especificado. A TAB. 2.1

apresenta para estes métodos de ensaios para agregados mais recentemente

padronizados no Brasil os valores limites que foram estabelecidos em recente

pesquisa do DNER (IPR, 1998).

Page 23: Fernado G. S. Batista MSc 2004

22

TAB 2.1. Métodos de Ensaios de Características Mecânicas e Valores de Aceitação

de Agregados

Métodos de Ensaios Valores Limite – Tentativa

DNER ME 35/94 “Agregado – determinação da abrasão Los Angeles” LA � 65%

DNER ME 399/99 “Agregados – determinação da perda ao choque no aparelho Treton” T � 60%

DNER – ME 96/98: Agregado graúdo avaliação da resistência mecânica pelo método dos 10% de finos” 10% Finos � 60 KN

DNER ME 401/99 “Agregados – determinação do índice de degradação de rochas após compactação Marshall, com ligante – IDML e sem ligante – IDM”

IDM c/ Ligante � 5 IDM s/ Ligante � 8

DNER ME 398/99 “Agregados – determinação do índice de degradação após compactação Proctor IDP” IDP � 6

DNER ME 397/99 “Agregados – determinação do índice de degradação Washington – IDW” IDW � 30

DNER ME 197/97 ou NBR 9938 “Agregados – determinação da resistência ao esmagamento de agregados graúdos”

E � 60

DNER/IPR (1998)

DURABILIDADE E SANIDADE

Os agregados também devem ser resistentes ao quebramento ou desintegração

quando sujeitos ao umedecimento e secagem e/ou congelamento e degelo. Se a

cobertura de cimento asfáltico permanece intacta, estes ciclos de intemperismo não

afetam significativamente as misturas asfálticas. Entretanto, a água pode penetrar

nas partículas de agregados se alguma degradação da mistura asfáltica ocorreu

durante a construção. Partículas frágeis e fracas que se quebram durante a

compactação produzem fácil acesso para a água. A água também pode penetrar se

a mistura asfáltica apresentar descolamento (WU et al 1998). O ensaio de sanidade

tem a intenção de produzir uma estimativa da resistência do agregado à ação do

intemperismo (MARQUES, 2001).

FORMA DA PARTÍCULA E TEXTURA SUPERFICIAL

Segundo ROBERTS et al, para uso em misturas asfálticas as partículas de

agregados devem ter formato mais cúbico que plano, fino ou alongado. Em misturas

Page 24: Fernado G. S. Batista MSc 2004

23

compactadas, as partículas de forma angular exibem um maior intertravamento e

atrito interno, resultando consequentemente em maior estabilidade mecânica que

partículas arredondadas. Por outro lado, misturas que contém partículas

arredondadas, tais como a maioria dos cascalhos naturais e areias, tem melhor

trabalhabilidade e requerem menor esforço de compactação para se obter a

densidade requerida. Esta facilidade de compactar não constitui necessariamente

uma vantagem, visto que as misturas que são mais fáceis de compactar durante a

construção podem continuar a densificar sob ação do tráfego, levando a

deformações permanentes devido aos baixos índices de vazios e fluxo plástico.

A textura superficial também exerce influência na trabalhabilidade e na

resistência da mistura asfáltica. Uma textura superficial rugosa, como uma lixa,

encontrada na maioria das rochas britadas tende a aumentar a resistência e

requerem cimento asfáltico adicional para superar a perda de trabalhabilidade,

quando comparada com agregados de superfícies lisas como cascalhos e areias de

rio. Segundo ROBERTS et al, agregados de textura lisa podem ser mais facilmente

cobertos pelo filme asfáltico, mas o cimento asfáltico forma usualmente ligações

mecânicas mais fortes com os agregados de textura rugosa (MARQUES, 2001).

LIMPEZA E MATERIAIS DELETÉRIOS

MARQUES (2001) cita que para ROBERTS et al (1996) a limpeza refere-se à

ausência de certos materiais estranhos e deletérios que tornam os agregados

indesejáveis para misturas asfálticas. Lavar agregados sujos pode reduzir a

quantidade de matéria estranha indesejada a um nível aceitável. Estes materiais

objetivamente incluem vegetação, xisto argiloso, partículas frágeis, torrão de argila,

argila cobrindo partículas de agregados e às vezes, excesso de pó da operação de

britagem.

Para KANDHAL et al (1997) a limpeza tem a ver com as coberturas presentes

nas partículas de agregado ou o excesso de partículas mais finas que 75µm (peneira

N° 200), ao passo que material deletério se refere a partículas individuais que são

feitas de materiais inadequados ou insalubres.

O ensaio ME 054/97 “Equivalente de Areia” determina a proporção relativa de

finos no agregado fino ou em solos.

Page 25: Fernado G. S. Batista MSc 2004

24

Os ensaios ME 082/94 e ME 122/94 determinam o limite de plasticidade e o

limite de liquidez de solos. A determinação do Índice de plasticidade (IP) se faz pela

subtração do Limite de Plasticidade (LP) do Limite de Liquidez (LL). O IP é uma

medida do grau de plasticidade dos finos (material passante na peneira n° 200) e

pode indicar indiretamente a quantidade e o tipo de finos plásticos.

AFINIDADE AO ASFALTO

A presença de finos plásticos na porção fina dos agregados de misturas

asfálticas pode induzir descolamento na mistura quando exposta à água ou

umidade. MARQUES (2001) relata que a presença de pó e cobertura de argila no

agregado graúdo e/ou fino pode inibir a cobertura entre o cimento asfáltico e o

agregado e produzir canais para a penetração da água. O cimento asfáltico fica

sobre a cobertura de pó e não entra em contato com a superfície do agregado

resultando em descolamento da mistura asfáltica.

Segundo MARQUES (2001), existe também a hipótese de que algum material

argiloso muito fino possa causar deslocamento pela emulsificação do cimento

asfáltico na presença de água. Finos plásticos em excesso também podem enrijecer

o cimento asfáltico, e consequentemente levar a mistura asfáltica a trincamento por

fadiga.

O ensaio do equivalente de areia mede a quantidade relativa de partículas de

argila em um agregado fino, enquanto que o ensaio do azul de metileno determina a

quantidade e a natureza do material potencialmente prejudicial, tal como argila ou

matéria orgânica, que pode estar presente em um agregado.

O DNER ME 078/94 fixa o modo pelo qual se verifica a adesividade de agregado

graúdo ao ligante betuminoso. Define-se adesividade de agregado ao material

betuminoso como a propriedade que tem o agregado de ser aderido por material

betuminoso. É verificada pelo não deslocamento da película betuminosa que recobre

o agregado, quando a mistura agregado-ligante é submetida, a 40° C, à ação de

água destilada, durante 72 horas (MARQUES, 2001).

Page 26: Fernado G. S. Batista MSc 2004

25

POROSIDADE E ABSORÇÃO

Segundo KANDHAL et al (1997) nenhum dado significativo de pesquisa ainda é

apropriado para indicar alguma relação entre a absorção de água do agregado e o

desempenho da mistura asfáltica que utilize aquele agregado. O valor máximo

permitido para a absorção de água pelos estados americanos varia muito:de 2 a 6%.

Alguns tipos de agregados, especialmente os artificiais, apresentam alta absorção,

gerando um elevado consumo de ligante.

CARACTERÍSTICAS EXPANSIVAS

MARQUES (2001) relata que o inchamento do agregado miúdo é o fenômeno da

variação do volume aparente, provocado pela absorção de água livre pelos grãos e

que incide sobre a sua massa unitária. Existem alguns ensaios que medem

expansibilidade de solos como a ME 029/94 “Solos - determinação da

expansibilidade” ou o próprio ensaio para a determinação do Índice de Suporte

Califórnia (ISC ou CBR) através da ME 049/94.

POLIMENTO E CARACTERÍSTICAS DE ATRITO

MARQUES (2001) afirma que, no Brasil, exige-se um procedimento para

avaliação da superfície de rolamento durante a construção e operação do

revestimento. A ES 313/97 do DNER “Concreto Betuminoso” que especifica o uso e

aplicação do concreto asfáltico, recomenda o uso do Pêndulo Britânico e do ensaio

de Mancha de Areia no item sobre condições de segurança. Neste item, recomenda-

se que o revestimento acabado deverá apresentar VRD (valor de Resistência à

Derrapagem) superior a 55 medido com auxílio do Pêndulo britânico. Ainda existe a

avaliação pelo “µ-meter” que é a mais utilizada pelo Comando da Aeronáutica

Brasileiro e consiste de um reboque constituído por 3 rodas montadas em uma

estrutura metálica triangular, onde registram-se as informações referentes às

condições de atrito da pista de forma contínua

O pêndulo britânico é um equipamento tipo impacto dinâmico usado para medir a

perda de energia quando uma ponta de borracha é propelida sobre uma superfície

Page 27: Fernado G. S. Batista MSc 2004

26

de teste. O equipamento é apropriado tanto para laboratório quanto para ensaios em

campo sobre superfícies planas e para amostras obtidas de ensaios com rodas de

polimento acelerado. O ensaio da mancha de areia é a forma mais difundida de se

medir a macrotextura (o pêndulo britânico mede a microtextura) (MARQUES, 2001).

DENSIDADE ESPECÍFICA / MASSA ESPECÍFICA

As relações entre quantidade de matéria (massa) e volume são denominadas

massas específicas, e expressas geralmente em ton/m3, kg/dm

3 ou g/cm

3 e as

relações entre pesos e volumes são denominados pesos específicos e expressos

geralmente em kN / m3.

Segundo MARQUES (2001), a expressão “densidade”, comum na engenharia, se

refere à massa específica e “densidade relativa” é a relação entre a densidade do

material e a densidade da água a 4°C. Como esta é igual a 1 kg/dm3, resulta que a

densidade relativa tem o mesmo valor que a massa específica (expressa em g/cm3,

kg/dm3

ou t/m3), mas é adimensional.

Os termos densidade e massa específica são freqüentemente usados como

“equivalentes”, o que sugere que eles tenham o mesmo significado, embora isto seja

tecnicamente incorreto.

A densidade relativa (Specific Gravity) de um agregado é a razão do peso de

uma unidade de volume do material para o peso do mesmo volume de água à

temperatura de 20 a 25 °C (aproximadamente 23°C).

O termo “massa específica”, usual no Brasil, é definido pelo Sistema

Internacional (S.I.) como “density”. Já o termo “densidade” é definido pelo S.I. por

“mass density”. Em ambos, as unidades são kg/m3, g/m

3, e são designados por “�”.

O termo “peso específico” usado no Brasil é definido por “weight density” pelo

S.I. É designado por “�” e a unidade é N/m3.

MARQUES (2001) relata que, para agregados, são comuns as seguintes

definições:

Densidade Específica Real (Gsa): É a razão entre o peso seco em estufa, ao ar,

de uma unidade de volume de um material impermeável a uma temperatura fixa e o

Page 28: Fernado G. S. Batista MSc 2004

27

peso de um volume igual de água destilada livre de gás a uma temperatura fixa. Gsa

é normalmente usada para cálculos (transformação) de peso para volume dos fileres

minerais somente, visto que os valores do Gsa desta fração são muito difíceis de

obter.

Densidade Específica Aparente Seca (Gsb): A razão entre o peso seco em

estufa, ao ar, de um volume unitário de um material permeável (incluindo tanto

vazios permeáveis quanto impermeáveis para o material) a uma temperatura fixa e o

peso de um volume igual de água destilada livre de gás a uma temperatura fixa.

Os ensaios para determinação da Densidade / Massa Específica de Agregados

são os seguintes:

- Para agregados graúdos as normas americanas que tratam do assunto (ASTM

C127 e AASHTO T85) sugerem as seguintes expressões para determinação da

densidade relativa de agregados graúdos:

CAA

Gsa−

= (Densidade Real) EQ. 2.1

CBA

Gsb−

= (Densidade Aparente) EQ. 2.2

( )100A

ABAbs

−= (Absorção) EQ.2.3

Onde:

A = Peso do agregado seco em estufa ;

B = Peso do agregado na condição saturada superfície seca após 24h de

imersão em água;

C = Peso do agregado imerso em água.

O método de ensaio adotado pelo DNER (ME-081/98) para determinação de

densidades relativas tem os procedimentos análogos aos das normas americanas, já

citadas e descritas anteriormente. Porém, a equação 2.1 é determinada pelo DNER

e citada por PINTO (1996) como sendo a “densidade real do grão”. A equação 2.2 é

denominada “densidade aparente do grão”.

Portanto, pelas normas brasileiras o termo “densidade real” é numericamente

maior que a densidade aparente. Nas normas americanas o termo “apparent specific

gravity” (traduzido por MARQUES (2001) como densidade relativa aparente) é

Page 29: Fernado G. S. Batista MSc 2004

28

numericamente maior que a “bulk specific gravity” (traduzida como densidade

relativa global). Dessa forma o termo em inglês “bulk” é que significa aparente e o

termo “apparent” é comparado ao termo “real” em português, uma vez que os vazios

que são impermeáveis não têm como serem mensurados, daí não ser possível obter

a densidade real absoluta. Muito cuidado deve-se tomar com estes termos durante

os cálculos das propriedades volumétricas das misturas asfálticas.

Para agregados miúdos o DNER indica um procedimento para determinação da

densidade relativa de agregados miúdos (ME 084/95) e o denomina de “densidade

real dos grãos”. Este procedimento é semelhante ao do ensaio para determinação

da “massa específica aparente seca” (�s) de solos (ME 094/94) e faz uso do

picnômetro de 500 ml.

A maioria das misturas betuminosas contém vários agregados diferentes

(pedregulho, areia, filer, etc.) que são combinados para encontrar a graduação

desejada. Usualmente, estes agregados têm densidades específicas diferentes que

necessitam serem combinadas para determinar as relações peso-volume das

misturas.

O método de ensaio TR-312-69, do DEPARTAMENTO DE RODOVIAS DO

ESTADO DA LOUISIANA (EUA) (Louisiana Department of Highways), é indicado

para o caso de agregados com elevada absorção, como é o caso dos agregados

artificiais de argila. Este método consiste em se medir a densidade do agregado

recoberto por cimento asfáltico, com o auxílio de um recipiente de vidro de boca

larga repleto de água. Para a realização do ensaio deve ser seguida a metodologia

apresentada a seguir:

1. aquecer o agregado seco e o cimento asfáltico a uma temperatura de

149º C a 163º C.

2. Pesar aproximadamente 250g de agregado e colocar em recipiente

para mistura.

3. Pesar no recipiente de 10% a 15% de cimento asfáltico, em relação ao

peso de agregado. O método de tentativa e erro deve ser utilizado para

determinar a porcentagem correta de cimento asfáltico, necessária para

permitir o recobrimento dos agregados.

4. Misturar os agregados e o cimento asfáltico até que cada partícula de

agregado esteja completa e uniformemente coberta. Durante a mistura

Page 30: Fernado G. S. Batista MSc 2004

29

pode ser necessário manter o recipiente sob aquecimento por alguns

minutos a fim de permitir uma cobertura uniforme.

5. Espalhar a mistura em uma superfície limpa e aguardar o resfriamento

a temperatura ambiente.

6. A mistura resfriada deve ser pesada ao ar e seu peso anotado.

7. Calcular a exata porcentagem de asfalto na mistura, tomando cuidado

para não perder nenhuma partícula coberta através da equação:

)100(B

ABC

−=

onde:

A = peso do agregado seco

B = peso da mistura seca

C = porcentagem de asfalto na mistura

8. Em seguida, encher o recipiente de vidro com água até o topo. Colocar

a tampa cuidadosamente, de maneira a não criar bolhas de ar entre a

tampa e a água. Enxugar cuidadosamente a parte externa do recipiente

e da tampa com uma toalha limpa. Pesar o recipiente cheio com água e

anotar.

9. Retirar aproximadamente metade da água e introduzir a mistura de

asfalto e agregados. Recolocar a quantidade de água necessária para

encher o recipiente até o topo novamente.

10. Algumas das partículas mais leves podem flutuar, porém ao se colocar

a tampa estas partículas irão submergir na água. Após a cuidadosa

colocação da tampa, o recipiente deve ser seco com uma toalha limpa

e seu peso anotado.

11. Calcular a densidade relativa da mistura através da fórmula:

EBDB

F−+

=

onde:

B = peso da mistura seca

D = peso do recipiente + tampa + água

E = peso do recipiente + tampa + água + mistura

F = densidade relativa da mistura

Page 31: Fernado G. S. Batista MSc 2004

30

12. Após obter a densidade relativa da mistura F, calcular a densidade

relativa do agregado leve através da fórmula:

HC

F

XG

−=

100

onde:

G = densidade relativa do agregado leve

X = percentagem de agregado na mistura

F = densidade relativa da mistura

C = porcentagem de asfalto na mistura

H = densidade relativa do cimento asfáltico

Outro método de ensaio semelhante ao da Louisiana e que normalmente tem

sido utilizado neste caso é o ASTM D2041, mais conhecido como Método de Rice.

Neste método, segundo Kandhal e Khatri (1992), é calculada a densidade dos

agregados utilizados na mistura a partir da densidade relativa da mistura e da

quantidade de cimento asfáltico, e a absorção de asfalto pelos agregados é

calculada a partir destes resultados.

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

A graduação do agregado é a distribuição dos tamanhos de partículas expressa

em porcentagem do peso total. A graduação é obtida fazendo-se passar o material

através de uma série de peneiras empilhadas com aberturas progressivamente

menores, e pesando-se o material retido em cada uma (MARQUES, 2001).

Para ROBERTS et al (1996), no entanto, expressar a graduação como uma

porcentagem do volume total é mais importante, porém a graduação como uma

porcentagem do peso é mais fácil e já é um padrão tradicional. As graduações pelo

volume e peso são aproximadamente iguais se os materiais têm aproximadamente a

mesma densidade real. Se existem grandes diferenças nas densidades dos

agregados usados para uma mistura em particular, então a graduação deve ser

determinada como uma porcentagem do volume total.

A graduação de um agregado pode ser graficamente representada por uma

curva granulométrica na qual a ordenada é a porcentagem total de peso passante

em um dado tamanho em escala aritmética, enquanto que a abscissa é o tamanho

Page 32: Fernado G. S. Batista MSc 2004

31

da partícula plotada numa escala logarítmica. As peneiras podem ter designação em

polegadas (3/4, 3/8, etc.) ou por nº da peneira (nº 10, 40, 80, 200, etc.).

Segundo MARQUES (2001), a graduação é talvez a propriedade mais importante

de um agregado. Ela afeta quase todas as propriedades importantes de uma mistura

incluindo rigidez, estabilidade, durabilidade, permeabilidade, trabalhabilidade,

resistência à fadiga, resistência por atrito e resistência ao dano por umidade. Por

isso, a graduação é a primeira consideração num projeto de mistura asfáltica e as

especificações utilizadas colocam limites na graduação do agregado que pode ser

usado numa mistura asfáltica.

Usualmente as graduações são expressas como porcentagem passante total,

que indica o percentual total de agregado em peso que passa em cada uma das

peneiras. A percentagem retida total é o somatório do peso retido em cada uma das

peneiras. A porcentagem retida, de dois tamanhos sucessivos de peneiras ou

porcentagem individual de cada tamanho é o percentual retido em peso em cada

peneira.

Em todas as especificações de pavimentos asfálticos de mistura a quente é

estabelecido que as partículas de agregado devam estar dentro de uma gama de

tamanhos e que cada tamanho de partícula esteja presente em certa proporção.

MARQUES (2001) afirma que, por várias razões, principalmente aquelas

associadas com a obtenção da máxima densidade e propriedade de vazios

desejada, certos limites de graduação são usualmente exigidos dos agregados para

uso em misturas asfálticas. Por ser improvável que um simples material natural ou

britado alcance estas especificações, dois ou mais agregados de diferentes

graduações são tipicamente misturados para alcançarem os limites especificados.

Agregados são também separados em tamanhos para produzir características de

manuseio. Misturas de agregados graúdos e miúdos em um estoque resultam em

segregação. Consequentemente, agregados devem ser separados em tamanhos,

por exemplo 3/4” a 3/8” (19 a 9,5 mm), 3/8” a nº 4 (9,5 a 4,8 mm) e menor que nº 4

(4,8 mm) antes de transportar e estocar.

Page 33: Fernado G. S. Batista MSc 2004

32

2.2 O PROBLEMA DOS AGREGADOS NA REGIÃO AMAZÔNICA

A Amazônia brasileira compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato

Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte dos estados do Maranhão e

Goiás, correspondendo a uma área de aproximadamente 5 milhões de km2, ou seja,

cerca de 60% da superfície do Brasil. A sua grande extensão territorial concentra

poucos núcleos de polarização econômica, resultando em isolamento destes

núcleos, que dificulta o planejamento regional e urbano. Esse escasso inter-

relacionamento vem gerando elevados custos nas relações produtor-consumidor,

agravado pela ausência de meios de transporte adequados. Com efeito, dentre os

problemas de infra-estrutura ganha realce o de transporte, por ser fator de

integração econômica entre seus pólos de desenvolvimento. A Amazônia conta com

peculiaridades de subdesenvolvimento que a diferenciam do contexto econômico

brasileiro e cuja solução requer um equacionamento também diferenciado.

A geologia da região Amazônica caracteriza-se por uma imensa formação

sedimentar ao longo da calha dos rios Amazonas – Solimões e de seus principais

afluentes. Baseado nisso, pode-se concluir que a Amazônia constitui-se em uma

região com elevado potencial para a produção de agregados artificiais de argila,

podendo estes se transformar em alternativa eficaz para a extensa área carente de

agregados naturais, mostrada na FIG. 2.1.

Essa formação sedimentar do período terciário cenozóico, não consolidada,

constitui-se, principalmente por depósitos de argilas e areias finas uniformes. A

inexistência de maciços cristalinos com expressão econômica e a carência de

jazidas de agregados pétreos naturais constitui-se num dos principais fatores para o

elevado custo da construção civil na região, além de impor dificuldades técnicas

executivas adicionais nas obras de construção de estradas, pelas características

geotécnicas desfavoráveis da maioria dos solos.

Page 34: Fernado G. S. Batista MSc 2004

33

FIG 2.1. Área carente de agregado da região Amazônica (VIEIRA, 2000)

Segundo o relatório intitulado PROJETO ARGILA BELÉM, do CPRM (1972), os

mais importantes depósitos de argila desta área foram localizados a oeste do

Estado, ao longo da costa paraense banhada pela baía do Marajó e baía do

Guajará, e se destacam também pelo potencial econômico, os depósitos verificados

na porção inferior dos rios Guamá, Moju, Acará e Capim, salientando-se entre esses

os depósitos do rio Guamá.

As argilas dos depósitos marginais e pequenas ilhas da costa são argilas de

idade recente. Nas partes mais elevadas encontram-se depósitos de argilas da

BBRR--336644

BBRR--330077

BBRR--117744

BBRR--116633

BBRR--223300

BBRR--331199

Manaus

Rio BrancoPorto Velho

CuiabáAREA CARENTE DE AGREGADO

Santarém

Page 35: Fernado G. S. Batista MSc 2004

34

Formação Barreiras. Entretanto, as argilas mais usadas para a produção cerâmica

na região são retiradas dos depósitos das ilhas, por se apresentarem bastante

plásticas e homogêneas.

No citado estudo foram coletadas amostras através de sondagem a trado

manual, em depósitos de argila pertencentes às olarias locais e áreas adjacentes.

Entre todas as 66 amostras de solos argilosos analisadas para a produção cerâmica,

apenas 7 delas apresentaram resultados favoráveis para uma possível fabricação de

agregados leves, todas do município de Barcarena. O relatório indicou que essas

argilas teriam as condições necessárias no limiar, com alguma possibilidade de

inchamento piroplástico, dependendo ainda, no entanto, de ensaios específicos de

queima. Este resultado vem confirmar a dificuldade de se obter jazidas de solos

argilosos para a produção de argila expandida, pois o mesmo estudo indicou ainda

que 41 destas amostras poderiam servir para cerâmica vermelha (e

conseqüentemente para a produção de agregados de argila calcinada) e as

amostras restantes poderiam ser utilizadas para cerâmica branca ou outras

finalidades.

O estudo já em 1972 concluía que a indústria de construção civil em Belém

enfrentava problemas com relação a materiais de construção, principalmente em se

tratando de agregados graúdos. As ocorrências de rochas duras para brita como por

exemplo os granitos, existem na área mas a distâncias consideráveis do principal

mercado consumidor, num raio mínimo de aproximadamente 190km. Diante do

elevado custo desse material, a brita tem sido substituída, em parte, por cascalhos

na cidade de Belém.

Em Santarém o problema é mais grave ainda, com distâncias de transporte de

até 300 km. Estudos realizados pelo CPRM nesta região e sintetizados no relatório

CARACTERÍSTICAS DAS ARGILAS UTILIZADAS NA CERÂMICA VERMELHA EM

SANTARÉM (1997) demonstram que este município apresenta grande potencial em

argilas como matéria-prima para a indústria cerâmica.

Dos depósitos periodicamente alagados, destacam-se os de Arapemã e Bom

Futuro, com material de muito boa qualidade para fabricação de cerâmica vermelha.

As amostras dos depósitos de Perqueté e Maicá podem também ser amplamente

utilizadas. Quanto aos depósitos de terra firme, todos situados na Formação Alter do

Page 36: Fernado G. S. Batista MSc 2004

35

Chão, destacam-se os depósitos de Cucurunã e São Braz. Os depósitos de Lagoa

da Prata, Urumari e Mutunuí foram avaliados como inadequados.

Com relação ao desenvolvimento da rede de transportes na região amazônica, é

importante ressaltar que todas as principais vias terrestres de transporte atravessam

a área considerada mais crítica de carência de agregados, compreendendo as

rodovias federais (VIEIRA, 2000):

BR-230 – Transamazônica: liga a região amazônica com os centros dinâmicos

do Nordeste e Sudeste. Idealizada para funcionar como um eficiente meio de

integração de transporte, interliga os principais portos fluviais dos afluentes

navegáveis do Rio Amazonas. Implantada na década de sessenta e não

pavimentada, permite tráfego somente de veículos utilitários e apenas durante

alguns meses do ano, na época da seca.

BR-364 - Trecho Porto Velho / Divisa Brasil-Peru: encontra-se na área de

concentração de seringais e de produção de borracha, constituindo-se na única

ligação terrestre dos municípios do estado do Acre. Contribuiu também para que

essa área sofresse profundas modificações econômicas decorrentes da abertura de

novas frentes de ocupação. Pavimentada somente até a capital Rio Branco, permite

tráfego precário no restante do trecho, na estação da seca.

BR-319 - Trecho Manaus / Porto Velho: importante rodovia que propiciaria o

escoamento da produção do sudeste da Região Amazônica através do porto de

Manaus, além da redução dos custos do frete entre Manaus e o restante do país.

Construída nos anos setenta, teve o tráfego interrompido desde os anos oitenta,

principalmente por falta de manutenção das obras de arte. Seu pavimento carece de

obras de restauração.

BR-174 – Trecho Manaus / Divisa Venezuela (BV-8): rodovia implantada nos

anos setenta e com pavimentação concluída nos anos noventa, permite a ligação

terrestre do Brasil com o Caribe, além de interligar todos os principais municípios do

estado de Roraima.

BR-307 – Perimetral Norte: rodovia de significativa importância estratégica, por

se constituir na única via terrestre de acesso à toda fronteira oeste amazônica,

interligando todos os municípios fronteiriços com os grandes centros regionais. Sua

construção foi iniciada nos anos setenta e interrompida em seguida, sendo

implantadas poucas centenas de quilômetros hoje abandonados.

Page 37: Fernado G. S. Batista MSc 2004

36

BR-163 – Cuiabá-Santarém: localiza-se nas regiões Centro-Oeste e Norte do

país, abrangendo os Estados de Mato-Grosso e Pará. Possui cerca de 1200 km de

extensão no trecho paraense, dos quais menos de 100 km pavimentados, e o

restante se encontra em condições precárias, o que dificulta o tráfego local e o

desenvolvimento econômico de certos setores da região (VIEIRA, 2004). A sua

pavimentação viria a beneficiar milhares de usuários, entre eles os produtores de

soja da região centro-oeste, que economizarão centenas de quilômetros e muitos

dólares de frete se fizerem sua produção ser embarcada no porto de Santarém em

vez de Paranaguá, como vêm fazendo atualmente. O tráfego existente é limitado

pela baixa densidade populacional da região, bem como pela má qualidade da

rodovia, sendo que no período de chuvas é bastante reduzido. (COMITÊ BR-163,

2003).

A melhoria das condições da BR-163 certamente incrementará o tráfego regional

na rodovia. Além disso, há ainda o interesse declarado dos transportadores de carga

da Zona Franca de Manaus de transferir o transporte hoje efetuado pelo rio até o

porto de Belém e a seguir pela BR-010, para o porto de Santarém e BR-163.

São apresentados na FIG. 2.2 o mapa de situação do segmento Santarém-

Rurópolis, objeto deste estudo, e a rede de transportes, existentes na região.

Quanto ao setor aeroportuário, dele dependem mais de uma centena de

municípios isolados, sendo responsabilidade da COMARA (Comissão de Aeroportos

da Região Amazônica, da Força Aérea Brasileira) a construção e manutenção de

mais de 120 aeródromos na região. A necessidade de importação de agregados a

grandes distâncias constitui-se na mais séria dificuldade técnica enfrentada nessas

obras.

No setor portuário, a navegação fluvial, de grande importância na região, precisa

de modernização, principalmente através do seu inter-relacionamento com os outros

meios de transportes. Isto só será conseguido com a construção de novos portos,

terminais de carga e áreas de armazenamento, com a execução de obras civis de

porte.

No setor da construção civil em geral, destacam-se as obras executadas pelos

dois maiores centros da região, Belém e Manaus.

Page 38: Fernado G. S. Batista MSc 2004

37

No setor do petróleo, desde os anos 1980 a Petrobrás vem desenvolvendo

intensa atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural na região de

Urucu - AM, onde, somente em estradas de acesso às sondas de perfuração

terrestres já foram construídos mais de 200 km de estradas em plena selva, sob

FIG 2.2. Rede de transportes do estado do Pará. (DNIT, 2004)

Page 39: Fernado G. S. Batista MSc 2004

38

rigorosas condições técnicas inerentes à região, conforme ilustra a FIG. 2.3. A

inexistência de agregado natural, a adversidade do regime pluviométrico e a baixa

qualidade dos solos locais têm comprometido técnica e economicamente o emprego

de tecnologias convencionais do tipo solo-cal, solo-cimento e outros aditivos

químicos.

FIG 2.3. Região de Urucu-AM (VIEIRA, 2000)

Page 40: Fernado G. S. Batista MSc 2004

39

2.3 AGREGADOS DE ARGILA CALCINADA E EXPANDIDA

2.3.1 HISTÓRICO

A CINASITA (1998) descreve que o uso do concreto leve vem da época dos

romanos, que o utilizavam em grande escala, em obras que podem ser apreciadas

até hoje, como por exemplo a Via Appia e o Pantheon, com sua cúpula de 43 metros

de diâmetro, localizada em Roma.

Em seguida, o seu uso se estendeu para diversos países da Europa e para

outros continentes, sendo também utilizado pelos astecas, que construíram seus

monumentos arquitetônicos, pirâmides e edifícios com rochas vulcânicas (pedra

pomes) que ainda desafiam o tempo.

A técnica de se “queimar” argilas para obtenção de agregados para uso

rodoviário é relativamente antiga, tendo sido desenvolvida há cerca de 86 anos. O

empreiteiro e fabricante de tijolos STEPHEN J. HAYDE, da cidade de Kansas, em

Missouri, EUA, é apontado como o criador da indústria de argila expandida.

Tentando resolver um problema de inchamento anormal dos tijolos fabricados com

alguns folhelhos argilosos, acabou criando toda uma indústria de agregados leves.

Haydes patenteou o seu processo em fevereiro de 1918 e desde então o emprego

deste agregado evoluiu e espalhou-se rapidamente, sendo utilizado tanto para fins

estruturais quanto para pavimentação rodoviária.

O DNER (1981) relata que um dos fatos que chamou a atenção para a ótima

qualidade do concreto fabricado com argila expandida foi o navio americano USS

Selma, lançado no mar em 1919, cujo casco foi construído utilizando-se concreto

leve, cujo agregado foi a argila expandida. Em 1953, o EXPANDED SHALE CLAY

AND SLATE INSTITUTE dos EUA encomendou a uma firma especializada a análise

das condições estruturais do concreto do casco, que por essa ocasião já tinha sido

afundado. O laudo dos peritos mostrou que, mesmo após decorridos 34 anos, o

concreto estava em excelentes condições em todas as partes examinadas. Além

disso, foi constatado que mesmo os elementos do casco que ficaram expostos

alternadamente à água salgada e ao ar não apresentavam trincas ou outros sinais

de deterioração, e que as barras de aço das armaduras estavam em bom estado.

Page 41: Fernado G. S. Batista MSc 2004

40

Agregados leves de argila vêm sendo ainda largamente utilizados pela indústria

de elementos pré-moldados de concreto armado e protendido, em todos os tipos de

construção civil. Uma das obras que mais despertou a atenção dos profissionais da

época para as grandes vantagens técnicas do uso da argila expandida foi a

construção da ponte sobre a baía de Oakland, em São Francisco. Estima-se que a

redução de peso, proporcionada pelo seu uso no revestimento do tabuleiro da ponte

foi da ordem de 134 kg/m2, possibilitando uma economia no custo total da estrutura

de cerca de três milhões de dólares, em valores da época da construção (1936).

O emprego da argila expandida em pavimentos rodoviários começou na década

de 50, também nos Estados Unidos, baseado em estudos pioneiros da Universidade

Texas A & M. Posteriormente, o estado da Louisiana desenvolveu estudos no

mesmo sentido, sendo que atualmente a técnica do emprego desse agregado em

misturas betuminosas e tratamentos superficiais para rodovias já está bastante

difundida. É importante ressaltar que a argila expandida tem revelado um

comportamento melhor do que os agregados tradicionais quando empregada na

execução de tratamentos superficiais e de camadas antiderrapantes para

pavimentos (DNER, 1981).

Com relação à produção dos agregados de argila, LEES (1969) descreve a

metodologia empregada na Guiana Inglesa na década de trinta para obtenção

destes agregados para uso em construção rodoviária. Através de um dispositivo

bastante simples, toras de madeira eram utilizadas para se fazer um colchão de 10 x

15 m, com 0.60 m de espessura, sobre o qual se colocava uma camada de 0.60 m

de solo argiloso a ser queimado, conforme mostrado na FIG. 2.4 (VIEIRA, 2000).

Após a operação de queima, que durava de 6 a 8 horas, novas camadas de

lenha e argila, com as mesmas espessuras anteriores eram alternadamente

sobrepostas, até que um total de 4 camadas de solo fossem queimadas. Extinto o

fogo, 5 a 6 dias eram necessários para o resfriamento e a utilização dos agregados

produzidos. Relatos de GRAINGER (1951) do Road Research Laboratory - RRL, da

Inglaterra, mencionam o fato de que para cada jarda cúbica (0.76 m3) de agregado

produzido havia a necessidade de se queimar um peso equivalente de lenha, e que

somente em temperaturas acima de 500oC obtinha-se agregado com boa

resistência. O agregado obtido através da queima nestes dispositivos, de acordo

com os relatos, teria um bom comportamento como material de revestimento

Page 42: Fernado G. S. Batista MSc 2004

41

primário e também em misturas betuminosas para confecção de revestimentos

(VIEIRA, 2000).

FIG 2.4. Produção artesanal de agregados de argila na Guiana (VIEIRA, 2000)

LEES (1938) descreve ainda a metodologia usada no Sudão para obtenção de

agregados de argila utilizados no revestimento do aeroporto em Málaca em 1932. A

jazida mais próxima de agregado natural distava mais de 300 milhas (480 km) da

obra, o que tornava seu emprego inviável economicamente. Utilizando-se de fornos

circulares do tipo iglu, camadas alternadas de lenha e argila eram arranjadas até a

espessura total de 2.30 m, e queimados durante cerca de 24 h, conforme esquema

mostrado na FIG. 2.5. A operação total levava cerca de 3 a 4 dias, após os quais os

agregados produzidos eram selecionados e recolhidos em cestos para serem

transportados. Segundo relatos do autor citado, para cada 12 m3 de lenha eram

Page 43: Fernado G. S. Batista MSc 2004

42

obtidos cerca de 15 m3 de agregados, e cerca de 2 m3 de material não totalmente

calcinado porém de boa qualidade como camada de base (VIEIRA, 2000).

FIG 2.5. Forno para calcinação de argila, segundo Lees (1938) (VIEIRA, 2000)

A tecnologia de emprego de agregados de argila expandida em pavimentação

rodoviária desenvolveu-se nos EUA na década de 1960, principalmente nos estados

Page 44: Fernado G. S. Batista MSc 2004

43

do Texas e da Louisiana, regiões onde a carência de agregados naturais viabilizou

economicamente o seu uso.

Segundo o DNER (1981), o DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DO ESTADO DO

TEXAS (1949) realizou inicialmente estudos em laboratório, com amostras de argila

moldadas em umidades próximas ao limite de plasticidade, sob forma de cilindros

com 125 mm de diâmetro e 380 mm de comprimento, com a finalidade de verificar a

viabilidade técnica e econômica de emprego desses materiais em camadas de base

e de revestimento, que permitiram as seguintes observações:

• os minerais argilosos do tipo montmorilonita, ilita e caolinita não se reidratam,

nas condições ambientais, quando são completamente desidratados (desidroxilados)

através de tratamento térmico. A desidratação completa é conseguida aquecendo-se

os corpos de prova à temperatura de 760oC (1400o F) por um período mínimo de 15

minutos;

• para se verificar se a desidratação dos corpos de prova foi completada,

utilizou-se um procedimento experimental bastante simples, denominado “Pressure

Slaking Test”, que consiste, basicamente, em se ferver o agregado em uma panela

de pressão de uso doméstico, medindo-se o desgaste do mesmo após agitação em

água utilizando-se um agitador de peneiras.

• os estudos concluíram que praticamente todos os solos argilosos que

possuam uma razoável resistência à compressão manual quando secos ao ar,

depois de umedecidos e moldados em forma de pelotas, podem servir como

matéria-prima para fabricação de agregados de argila calcinada com boas

características técnicas.

Conforme relatos do DNER (1981), em 1963 e 1964 foram construídos no estado

do Texas vários trechos experimentais de pavimentos flexíveis, totalizando cerca de

24 km, empregando-se como base uma mistura de 70% de agregados de argila e

30% de areia siltosa (LL<35, IP<10). Os trechos foram monitorados até 1968, sendo

constatado que todos os trechos experimentais apresentaram bom desempenho. Os

testes de desgaste após fervura realizados em amostras de agregados sintéticos

mostraram que não houve desintegração significativa durante o tempo de serviço (3

a 5 anos). Agregados comerciais fabricados por Wharton já tinham sido usados

anteriormente na execução de bases estabilizadas no Texas e seu comportamento

foi considerado muito bom. Também os agregados designados por Madison 1 e

Page 45: Fernado G. S. Batista MSc 2004

44

Madison 2 foram estudados em laboratório para emprego em bases de pavimento

rodoviário, tendo sido considerados aptos para isso.

Experiências posteriores no estado do Texas enfatizaram o emprego de

agregados de argila em camadas de revestimento, como, por exemplo:

• recapeamento em 1975 da rodovia I-20, em Fort Worth próximo a Tarrant

County, onde foi empregado 2.5 cm de concreto betuminoso usinado a quente

utilizando como agregado graúdo argila expandida. Seu desempenho foi

considerado muito satisfatório;

• recapeamento da rodovia I-30, próximo do trecho experimental anterior,

também em 1975, com o mesmo tipo de revestimento. Devidamente monitorado, o

trecho apresentou excelente comportamento, com tráfego diário atingindo 93.000

veículos por dia;

• recapeamento em 1978 da rodovia US-377, próximo a Fort Worth, com 2.5

cm de CBUQ com argila expandida, suportando um tráfego diário de 12.300

veículos, com desempenho surpreendente.

Segundo o DNER (1981), também no estado da Louisiana foi estudado o

emprego de agregados de argila expandida em camadas de rolamento do tipo de

tratamentos superficiais e concreto asfáltico usinados a quente.

No caso particular de agregados de argila expandida, cujos grãos apresentam

uma estrutura alveolar, os revestimentos executados apresentam a vantagem

adicional de serem anti-derrapantes e não perderem esta qualidade com a abrasão

devida ao tráfego, pois o agregado sempre apresentará arestas vivas à medida em

que se vai desgastando.

Estudos desenvolvidos pelo Departamento de Estradas da Louisiana, no início

da década de setenta, conduziram às seguintes observações sobre o emprego de

CBUQ com agregados de argila:

• o teor ótimo de asfalto nas misturas variou de 6 a 8.5 %;

• o índice de vazios médio e o de vazios preenchidos na mistura variaram de

5.8 a 6.8% e 62.4 a 69.1%, respectivamente;

• a estabilidade Marshall média da mistura foi de 1600 lbs (725 kgf) para 7.0%

de asfalto, passando para 1720 lbs (780 kgf) com 8.0% de asfalto, valores esses

maiores do que os obtidos com misturas utilizando agregados naturais;

Page 46: Fernado G. S. Batista MSc 2004

45

• os valores da estabilidade Marshall foram muito influenciados pelo teor de

agregado da mistura. Para misturas com 25% de agregado passando na #4 a

estabilidade foi de 1180 lbs (535 kgf), passando para 1580 lbs (715 kgf) com 30% e

para 2140 lbs (970 kgf) com 35%;

• misturas asfálticas com agregados de argila sem fíler mineral mostraram-se

instáveis. Por exemplo, misturas sem fíler, com 30% de agregado, apresentaram

980 lbs (445 kgf) de estabilidade, passando para 1600 lbs (725 kgf) quando 3 e 5%

de fíler foi empregado, com pouca variação nos resultados entre os dois teores de

ligante;

• os valores da resistência ao deslizamento foram mais influenciadas pelo teor

de agregado de argila do que pelo teor de ligante ou outra característica da mistura;

• a temperatura adequada de compactação da mistura no campo foi de 200oF

(93oC), variando-se o número de passadas do rolo de 13 a 19. Aparentemente não

se observou nenhum efeito crítico de supercompactação como freqüentemente

observado nas misturas tradicionais.

No Brasil a argila expandida é produzida por uma única empresa, a CINEXPAN

(antiga CINASITA), fundada em 1968 e localizada em Jundiaí, São Paulo. Sua

capacidade instalada de fabricação é de 228.000 m3/ano e produz exclusivamente

agregados do tipo argila expandida, de custo relativamente elevado para uso

rodoviário na região sudeste, em comparação aos agregados naturais pela

abundância de jazidas de agregados naturais. (CINEXPAN, 2003).

O agregado de argila expandida apresenta propriedades específicas, como a

baixa densidade, durabilidade, resistência mecânica, incombustibilidade e inércia

química.

Sua produção é consumida principalmente pela indústria da construção civil na

região da Grande São Paulo, para fabricação de elementos pré-moldados de

concreto armado e protendido. Também pode ser utilizada em jardinagem,

estonagem de jeans (“stone washed jeans”), isolamento térmico e acústico.

Em pavimentação rodoviária, o agregado de argila expandida foi usado apenas

para atendimento de alguns casos muito particulares, como a construção da mureta

divisória entre as duas pistas do vão central da ponte Rio-Niterói, assim como a

camada de regularização entre a laje e a camada de rolamento do vão central do

viaduto Paulo de Frontin, com o objetivo de se aliviar a carga permanente.

Page 47: Fernado G. S. Batista MSc 2004

46

Os principais tipos de argila expandida produzidos pela CINEXPAN e suas

características são os indicados na TAB. 2.2.

O Departamento de Estradas de Rodagem do Texas publicou, em 1969, um

relatório especial intitulado A RECOMENDED SYNTHETIC COARSE AGGREGATE

CLASSIFICATION SYSTEM estabelecendo um sistema de classificação de

agregados de argila utilizado até hoje. A TAB. 2.3 apresenta essa classificação.

Esta classificação já se encontra normatizada no Brasil pelo DNER segundo a

EM 230/94, que manteve os mesmos valores de referência porém excluiu os

parâmetros de saturação e congelamento/degelo por não serem necessários nas

especificações de pavimentação para o clima tropical.

TAB 2.2. Tipos de argila expandida produzidos pela CINEXPAN e suas

características

CINEXPAN (2003)

0500: de 0/5 mm – equivalente a areia grossa. Utilização: Concreto leve estrutural, blocos de concreto leve e chapisco. Massa específica: 850 kg/m³.

1506: de 6/15 mm – equivalente a brita 0. Utilização: Isolamento térmico e acústico, enchimento de vazios, regularização de nível, concreto leve estrutural e misturas asfálticas e pavimentações. Massa específica: 600 kg/m³

2215: de 15/22 mm – equivalente a brita 1. Utilização: Isolamento térmico e acústico, enchimento de vazios, projetos paisagísticos, stone washed jeans e misturas asfálticas. Massa específica: 500 kg/m³

3222: de 22/32 mm – equivalente a brita 2. Utilização: Stone washed jeans, jardinagem, isolamento térmico e acústico. Massa específica: 450 kg/m³

Page 48: Fernado G. S. Batista MSc 2004

47

TAB 2.3. Sistema de Classificação de Agregados Sintéticos Graúdos.

CLASSE

GRUPO

Massa Especif. Aparente

Saturaç. em 100

min

Congel. e Degelo

Desgaste após

Fervura

Abrasão Los

Angeles max min % max perda % % Max % max I A 0.88 0.56 15 7 6 35

Argila B 0.88 0.56 20 15 6 40 Expandida C 0.88 0.56 - - 10 45

II A - 0.88 - 7 6 35 Argila não B - 0.88 - 15 6 40 Expandida C - 0.88 - - 10 45

TEXAS HIGHWAY DEPARTMENT (1969)

Os agregados de argila, segundo esse sistema, estão divididos em duas classes,

cada uma com três grupos A, B e C, organizados em ordem decrescente de

qualidade. Deve-se notar que a classe I é a correspondente aos agregados de argila

expandida, enquanto que a classe II é a correspondente aos agregados de argila

não expandida.

Os parâmetros numéricos indicados na TAB. 2.3 referem-se aos seguintes

ensaios:

��determinação da massa específica aparente: esse ensaio é feito com

agregados passando na peneira de ½ “ e retidos na peneira nº 4. A amostra

deve, também, apresentar 30 a 70% de grãos retidos na # de 3/8”. Este

assunto será abordado com mais detalhes no próximo capítulo;

��determinação da saturação com 100 minutos: esse ensaio não é necessário

para as camadas de pavimento tratadas com material betuminoso. O mesmo

porém é decisivo para a seleção de agregados para uso em estruturas e

pavimentos de concreto de cimento portland em climas frios, porque chegou-

se à conclusão de que quando a saturação dos agregados graúdos é maior do

que 25% durante a execução das obras, a resistência do concreto ao

congelamento e degelo decresce bastante. Para a determinação da saturação

com 100 minutos dos agregados graúdos, há a necessidade de se determinar

a densidade absoluta, por intermédio de um picnômetro de pressão (1200

psi), bem como a absorção de água com um tempo de 100 minutos;

��determinação do desgaste por congelamento e degelo: esse ensaio não é

necessário para regiões climáticas onde o fenômeno não ocorre;

Page 49: Fernado G. S. Batista MSc 2004

48

��determinação do desgaste na água após fervura: esse ensaio é o mais

decisivo na seleção e classificação dos agregados de argila, podendo, até

mesmo, prescindir do ensaio de desgaste de abrasão Los Angeles. A

aparelhagem usada é a comum de um laboratório de solos, acrescido

somente de uma panela de pressão de uso doméstico. O teste consiste em se

ferver o agregados a serem ensaiados em uma panela de pressão, medindo-

se depois a porcentagem de desgaste dos mesmos após agitação com água

em um agitador de peneiras. Os resultados e peculiaridades deste ensaio

estão detalhados na seção 3.3;

��determinação do desgaste por abrasão Los Angeles: esse ensaio, tal como é

executado pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Texas,

compreende pequenas modificações do ensaio padronizado (Método DNER

ME-35-64 e ASTM C-131) que visaram adaptá-lo para o caso dos agregados

leves. O peso dos agregados a serem ensaiados foi reduzido de modo a se

evitar um volume excessivo de materiais dentro da máquina Los Angeles. O

peso correto é calculado a partir da massa específica aparente do material a

ensaiar e da massa específica aparente dos agregados pétreos

convencionais, admitida igual a 1,55 ton/m3. Da mesma maneira, a carga

abrasiva indicada para a faixa granulométrica do agregado é também

reduzida, conforme será mostrado na seção 3.4.

A TAB. 2.4 mostra os diversos tipos de agregados classificados pela TAB. 2.3

com as respectivas recomendações para uso.

TAB 2.4. Utilização dos Agregados Sintéticos Graúdos. Utilização Classe e Grupo

Tratamentos Superficiais I A Revestimento de concreto asfáltico I A, II A

Bases de concreto asfáltico I A, B, C II A, B, C

Estruturas expostas de concreto de cimento portland leve I A

Pavimentos e concretos de cimento portland não expostos I A, B II A, B

Materiais para base I A, B, C II A, B, C

TEXAS HIGHWAY DEPARTMENT (1969)

Page 50: Fernado G. S. Batista MSc 2004

49

Esta classificação também foi normatizada pelo DNER segundo a ES 227/89,

que manteve praticamente os mesmos parâmetros de referência, alterando apenas

a especificação de utilização para pavimentos e bases de concretos de cimento

portland.

A experiência brasileira no emprego de agregados de argila em pavimentação

rodoviária é bastante limitada, o mesmo ocorrendo no meio acadêmico onde são

inexpressivos os trabalhos de pesquisa até hoje desenvolvidos sobre o assunto.

Merecem destaque apenas os estudos desenvolvidos pelo IPR/DNER, nos anos de

1978 a 1981 (DNER,1981), sobre a VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DA FÁBRICA

DE ARGILA EXPANDIDA NA REGIÃO AMAZÔNICA. Como parte dessa pesquisa

foram realizados levantamentos geológicos, prospecção de jazida e coleta de cerca

de 200 amostras em onze áreas diferentes, conforme mostrado na FIG. 2.6.

FIG 2.6. Regiões estudadas pela pesquisa DNER (1981)

Na região de Santarém e áreas adjacentes foram coletadas 18 amostras de

solos durante a citada pesquisa.

Altamira

BelémSantarém

Jacareacanga

Manaus

Rio BrancoSena Madureira

Assis Brasil

TarauacáFeijó

Cruzeiro do Sul

Page 51: Fernado G. S. Batista MSc 2004

50

As amostras coletadas foram submetidas a ensaios de perda ao fogo e desgaste

após fervura, segundo metodologia do Texas, verificando-se a qualidade dos

agregados produzidos às temperaturas de 1050º a 1300º C. Os resultados obtidos

mostraram que quase todas as amostras estudadas apresentaram características

favoráveis à fabricação de agregados calcinados, mas muitas delas não

apresentaram boas características como matéria prima para agregados leves.

Ainda como parte do estudo do DNER (1981), foram construídos três pequenos

segmentos experimentais de pavimentos utilizando agregados de argila expandida

comercial CINASITA, na rodovia BR-116, trecho Santa Guilhermina - Parada

Modelo, na pista de sentido Rio de Janeiro - Teresópolis. O esquema construtivo

utilizado está mostrado na FIG. 2.7. Nesse experimento, os agregados de argila

expandida foram utilizados tanto na camada de revestimento como na base. Foi

executada uma camada de base de granulometria aberta com 15 cm de espessura e

um revestimento com 10 cm de espessura em CBUQ, distribuídas alternadamente

em segmentos de 60 m de extensão, combinados de forma a apresentarem três

soluções diferentes para as observações e estudos posteriores.

O controle de qualidade do agregado empregado obedeceu às especificações do

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO TEXAS, obtendo-se os

resultados apresentados na TAB. 2.5.

TAB 2.5. Resultados dos ensaios de controle de qualidade da argila expandida

Agregado

Comercial

Bitola

(mm)

Densidade

apar. Solta

Desgaste

Fervura

Abrasão

L.Angeles

Classif.

Texas

2013 20 a 13 0.62 < 6% 39 I B

1305 13 a 5 0.60 < 6% 26 I A

Page 52: Fernado G. S. Batista MSc 2004

51

FIG 2.7. Esquema construtivo do trecho experimental da BR-116/RJ (DNER, 1981)

A base foi executada em pré-misturado a frio de granulometria aberta e emulsão

asfáltica, utilizando-se agregado pétreo convencional e argila expandida, em

segmentos diferentes. No trecho com agregado artificial foi empregada a seguinte

constituição:

47% de agregado 2013

- traço em peso 47% de agregado 1305

6% de emulsão RM-1C

- peso espec. aparente do PMF compactado: 0.75 ton/m3

Page 53: Fernado G. S. Batista MSc 2004

52

O revestimento foi do tipo concreto betuminoso usinado a quente com as

seguintes características:

24.8% de agregado 2013

25.0% de agregado 2005

- traço em peso 38% pó de pedra

4.7% fíler

7.5% CAP 50-60

- densidade aparente: 1.617

- estabilidade Marshall: 1070 kgf (75 golpes)

A construção dos segmentos experimentais foi feita durante os meses de junho e

julho de 1980, mediante orientação e acompanhamento técnico do IPR, em

condições normais de trabalho, seguindo-se a rotina e critérios construtivos da

empreiteira do trecho, com exceção do PMF, cujo preparo foi feito em betoneira.

Apesar da falta de dados referentes ao desempenho desse trecho e a

conseqüente inexistência de relatórios a respeito do comportamento dos diversos

segmentos, a experiência foi considerada satisfatória, não sendo observadas

diferenças iniciais de comportamento entre os trechos adjacentes executados com

agregados naturais, e um comportamento inicial satisfatório sob tráfego,

evidenciando a viabilidade técnica da solução testada.

Nos dias atuais, a tecnologia de produção e emprego de agregados de argila

expandida é razoavelmente conhecida pelo meio técnico. No entanto, os elevados

custos de produção desse agregado têm limitado o seu emprego, principalmente no

Brasil, à produção de artefatos de concreto de cimento leve, inviabilizando

economicamente o seu emprego em serviços de pavimentação rodoviária.

Deve-se destacar que, para uso em pavimentação rodoviária, o agregado de

argila não deve ser, necessariamente, expandido. Uma argila com baixo ponto de

fusão, quando calcinada, fornece um agregado com maior peso específico, mais

adequado para emprego em misturas asfálticas. Estudos preliminares em laboratório

realizados pelo IME (1998 e 2000) têm indicado ser viável a obtenção de agregados

artificiais de argila calcinada (não expandida), a custos significativamente inferiores

aos da argila expandida, o que pode se constituir numa alternativa técnica atraente

para algumas regiões do país.

Page 54: Fernado G. S. Batista MSc 2004

53

Para a fabricação de agregados de argila calcinada a matéria-prima utilizada

não necessita ter as mesmas características citadas anteriormente para a produção

de argila expandida. Como já foi comentado, resultados experimentais obtidos pelo

DNER (1981) e pelo CETEM (1972 e 1997) têm evidenciado que a maioria das

argilas muito plásticas, que, quando moldadas em forma de pequenas pelotas ou

cilindros e seca ao ar apresente boa resistência à compressão manual, pode estar

apta à fabricação destes agregados.

A luz da atual tecnologia e do conhecimento técnico disponível pode-se afirmar

que a opção de se empregar ou não agregados artificiais de argila em pavimentação

rodoviária é uma questão predominantemente econômica, sendo mais viável quanto

menor a disponibilidade de agregados naturais na região da obra. Estima-se que o

custo de produção da argila calcinada oscile em torno de R$ 30/m3, enquanto que,

para a região de Santarém, o custo da brita é de cerca de R$ 55/m3 (DNIT, 2004).

2.3.2 CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA-PRIMA PARA A PRODUÇÃO DOS

AGREGADOS

Segundo estudos realizados pelo DNER (1981), acredita-se que em geral as

amostras propícias para a fabricação de cerâmica vemelha são também aptas para

a fabricação de agregados artificiais de argila.

Segundo NORTON (1973), no Brasil as argilas utilizadas para fabricação de

tijolos de alvenaria, tijolos furados e extrudados e telhas de vários tipos são

normalmente argilas sedimentares, terciárias e quaternárias, de deposição recente

em várzeas e margens de rios. Assim não há distribuição preferencial dessas argilas

pelas regiões do Brasil, exceto o fato de se acharem nas bacias fluviais.

Segundo ROSSI (2003), a argila é um material proveniente da decomposição,

durante milhões de anos, das rochas feldspáticas, muito abundantes na crosta

terrestre.

SANTOS (1975) define a argila como um material terroso, de granulação fina, que

geralmente adquire, quando umedecido com água, certa plasticidade; quimicamente,

são as argilas formadas essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro e

magnésio. Designa ainda o nome “argila” um grupo de partículas do solo cujas

dimensões se encontram entre uma faixa especificada de valores. O termo “folhelho” é

Page 55: Fernado G. S. Batista MSc 2004

54

usado para argilas laminadas ou estratificadas naturalmente; pode o folhelho ter a

mesma consistência ou textura das argilas usuais ou ser completamente adensado e

duro, chamando-se então “argilito”.

As argilas têm grande importância nas prospecções geológicas, em agricultura, em

mecânica dos solos e em grande número de indústrias, como por exemplo, metalúrgica

de petróleo, de borracha, de papel e de cerâmica.

As argilas se classificam em duas categorias: argilas primárias e argilas

secundárias ou sedimentares. As primeiras são formadas no mesmo local da

rocha mãe e têm sido pouco atacadas pelos agentes atmosféricos. Possuem

partículas mais grossas e coloração mais clara, são pouco plásticas, porém de

grande pureza e possuem alto nível de fusão. O caulim é uma das argilas deste tipo.

Argilas secundárias ou sedimentares são as que têm sido transportadas para

mais longe da rocha mãe pela água, pelo vento e incluindo ainda o degelo. A água

especialmente tritura a argila em partículas de diferentes tamanhos, fazendo com

que as mais pesadas se depositem primeiro, enquanto que as outras vão se

depositando de acordo com seu peso pelo decorrer do caminho, sendo que as mais

leves se depositam onde a água pára. As argilas secundárias são mais finas e

plásticas que as primárias, podendo, no entanto conter impurezas ao se misturarem

com outras matérias orgânicas.

SANTOS (1975) relata que as argilas, sendo produto de alteração de rochas por

ação de intemperismo e depois transportadas, são constituintes de sedimentos flúvio-

lacustres, por isso estão freqüentemente próximas às comunidades humanas atuais:

isto é, de forma simples, onde há água superficial, há argilas em quantidade.

Segundo NORTON (1973), as argilas naturais contêm muitos tipos de material

cristalino, e todos aqueles que não são argilominerais são conhecidos como

minerais acessórios. Os minerais acessórios mais comuns em argilas são quartzos,

feldspatos, micas e minerais de ferro, titânio e manganês; carbonatos alcalino-

terrosos são raros. Os principais argilominerais são os dos grupos da caulinita e da

montmorilonita.

Toda argila contém ainda alguma matéria orgânica. Há grande quantidade dela

em argilas para cerâmica vermelha. A matéria orgânica está na forma de linhito,

ceras e derivados do ácido húmico e tem grande influência nas propriedades

plásticas e de secagem das argilas.

Page 56: Fernado G. S. Batista MSc 2004

55

SANTOS (1975) define que todas as argilas são constituídas essencialmente por

partículas cristalinas extremamente pequenas de um numero restrito de minerais,

conhecidos como “argilominerais”. Uma argila qualquer pode ser composta por

partículas de um argilomineral ou por uma mistura de diversos argilominerais.

As argilas contêm, além dos argilominerais, geralmente outros materiais e minerais,

tais como matéria orgânica, sais solúveis e partículas de quartzo, pirita, mica, calcita,

dolomita e outros minerais residuais, e podem conter também minerais não-cristalinos

ou amorfos.

O tamanho das partículas de argila é uma característica muito importante pois

influencia muitas outras propriedades como por exemplo, plasticidade, tensão ou

módulo de ruptura à flexão a seco e capacidade de troca de base.

Como termo de granulometria, a “fração argila” é a fração de um solo que contém

partículas de menores diâmetros, geralmente inferior a 2 µ�m (SANTOS, 1975).

O conhecimento da composição química de argilas fornece informações para a

avaliação de seus usos específicos. No entanto essa informação deve ser usada em

combinação com as propriedades físicas para uma completa avaliação do seu uso

tecnológico.

A fabricação industrial de agregados de argila expandida emprega como matéria-

prima argilas e folhelhos argilosos com determinadas características químicas que,

depois de beneficiados, são queimados a temperaturas de 1100oC a 1300oC.

Durante a queima, são liberados gases, em um processo de fusão incipiente, que

provocam a expansão do material beneficiado. A massa específica aparente da

argila expandida é da ordem de 500 a 700 kg/m3, dependendo da granulometria do

produto acabado, e a resistência à compressão dos grãos varia entre 300 a 400

kg/cm2.

Para a fabricação dos agregados de argila expandida, a bibliografia consultada

(DNER, 1981; SANTOS, 1975) recomenda que a matéria prima deve possuir as

seguintes características:

• a argila deverá possuir quantidade adequada de substâncias minerais

produtoras de gases durante o processo de fusão;

• a argila deverá conter quantidade adequada de minerais que se vitrifiquem

suficientemente para fechar os poros e reter os gases formados durante o processo

de fusão incipiente (K2O + Na2O);

Page 57: Fernado G. S. Batista MSc 2004

56

• os gases deverão ser liberados no momento em que o material esteja

passando da fase sólida para a fase líquida, permitindo a formação de um grande

número de bolhas. Estes gases são liberados por reações químicas complexas da

alumina (Al2O3), do óxido de silício (SiO2) e do óxido de ferro (Fe2O3), como por

exemplo:

6Fe2O3 + CALOR → 4Fe3O4 + O2

• a fusão incipiente (fase pastosa) e a liberação de gases deverão ocorrer a

temperaturas relativamente baixas, por razões econômicas;

• a composição mineralógica deverá atender às proporções indicadas no

diagrama da FIG. 2.8 (Diagrama de Riley).

FIG 2.8. Diagrama de Riley (VIEIRA, 2000)

Nesse diagrama da FIG. 2.8, observa-se que as argilas que melhor atendem

a estas características são as argilas da família das ilitas (ou montmorilonitas), que

se apresentam na natureza sob a forma de folhelhos sedimentares, estratificadas

em camadas de coloração variada e apresentam grande plasticidade quando

moídas e misturadas à água. Possuem também elevado teor de hidróxido de ferro e

caulinita e baixo ponto de fusão. O DNER (1981) concluiu que a pirita, a calcita, a

Page 58: Fernado G. S. Batista MSc 2004

57

dolomita e a hematita se enquadram no citado critério, devendo, pois, produzirem o

inchamento procurado.

RILEY (1951) e WILSON (1963), recomendam que a matéria prima argilosa

deve apresentar um ponto de fusão baixo além de possuir composição química

semelhante à apresentada na TAB. 2.6 (DNER, 1981).

TAB 2.6. Composição química da argila para produção de agregados

SiO2 50 % a 65 %

Al2O3 15 % a 20 %

Fe2O3 5 % a 10 %

CaO 1 % a 5 %

Na2O + K2O 1 % a 5 %

DNER (1981)

O processo de fabricação de agregados de argila consiste basicamente em se

aquecer, em fornos próprios, a matéria-prima (argila) moldada ou não em pelotas,

conservando o aquecimento por um determinado período de tempo, seguindo-se o

resfriamento do produto, o qual poderá ser posteriormente britado ou não e

classificado de acordo com as bitolas usuais, para distribuição e emprego nas

diversas utilizações.

Em geral, para a fabricação de agregados de argila expandida são necessárias

temperaturas de queima acima de 1100oC. Já para fabricação de agregados não

expandidos (calcinados) esta temperatura poderá ser da ordem de 800oC a 900oC.

Page 59: Fernado G. S. Batista MSc 2004

58

3. PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS

3.1 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS DE SOLOS

Para o desenvolvimento do presente estudo, foram recebidas 55 (cinqüenta e

cinco) amostras de solos do subleito da rodovia BR-163/PA, trecho Santarém/PA –

Rurópolis/PA, obtidas a intervalos de 1 km entre os km 163 e 217. Foram

selecionadas 32 amostras e os resultados dos ensaios de caracterização se

encontram na TAB. 3.1.

Além das amostras do subleito da BR-163 foram recolhidas outras amostras de

beira de rio da região metropolitana de Santarém, muito utilizadas pelas olarias

locais.

A granulometria da fração fina dos solos foi realizada no Centro de Tecnologia

Mineral (CETEM), com o uso do equipamento Micromeritics Sedigraph 5100,

mostrado na FIG. 3.1. Adicionou-se a 20 g de amostra, 80 ml de água deionizada e

20 ml de solução 0,05% de hexametafosfato de sódio. Procedeu-se à

homogeneização em placa de agitação magnética, mantendo-se o pH próximo a 9,0

durante 30 minutos por meio de adição de pequenas quantidades de solução 5% de

NaOH. Em seguida, foi realizada dispersão em Ultra-som Vibra Cell Modelo 501

durante 4 minutos. Efetuou-se então a determinação da curva de distribuição de

tamanhos de partícula na faixa de 80 a 0,2 micrometros no sedígrafo. Este método

mostrou-se muito mais preciso e rápido do que o ensaio tradicional de granulometria

por sedimentação.

Após a caracterização das amostras foi possível selecionar quais seriam

utilizadas para a produção de agregados de argila calcinada, uma vez que estudos

anteriores realizados pelo DNER (1981) e pelo IME (1998 e 2000) mostraram que

para obter um agregado de boa qualidade era preciso que o Índice de Plasticidade

fosse maior que 20 (IP > 20). Foram escolhidas duas amostras de solos argilosos

com esta característica, referentes aos km 172 e 164.

Page 60: Fernado G. S. Batista MSc 2004

59

TAB 3.1. Caracterização das amostras oriundas da BR – 163/PA Ensaios Físicos Granulometria (finos)

km LL% LP% IP% % silte % argila

163 34,3 20,0 14,3 9,12 45,99 164 49,0 26,2 22,8 20,81 41,32 165 37,9 21,1 16,8 41,84 6,92 166 46,6 25,0 21,6 4,07 56,98 167 49,5 29,5 20,0 8,48 58,15 168 39,8 23,8 16,0 8,00 48,57 169 33,4 20,2 13,2 2,22 40,72 170 61,7 34,7 27,0 7,78 71,62 172 62,0 33,5 28,5 6,72 70,01 174 NP NP NP 8,05 14,06 175 27,6 17,0 10,6 10,03 27,80 176 NP NP NP 8,26 23,50 178 29,3 18,0 11,3 3,11 33,05 180 27,9 18,7 9,2 9,54 22,55 182 52,6 30,7 21,9 31,87 59,13 183 48,1 30,3 17,8 34,38 63,03 184 50,1 29,4 20,7 9,21 64,36 186 33,0 18,2 14,8 5,91 42,12 188 40,0 24,5 15,5 3,72 61,65 189 43,0 24,1 18,9 2,83 46,93 192 77,1 47,8 29,3 17,10 65,39 193 50,0 29,0 21,0 10,28 60,66 194 NP NP NP 6,16 18,75 197 73,2 36,8 36,4 4,29 64,98 199 35,7 23,3 12,4 8,60 56,69 200 34,3 23,0 11,3 10,53 54,94 202 NP NP NP 6,23 27,25 203 59,7 36,4 23,3 3,26 64,62 213 54,0 35,0 19,0 12,51 58,49 215 59,5 39,6 19,9 21,23 60,36 216 36,2 20,4 15,8 4,41 38,49 217 33,0 19,8 13,2 2,26 40,10

Page 61: Fernado G. S. Batista MSc 2004

60

FIG 3.1. Sedígrafo utilizado neste estudo

3.2 PRODUÇÃO DOS AGREGADOS DE ARGILA CALCINADA

Os estudos realizados no IME por SOARES et al (1998) e COSTA et al (2000)

com solos oriundos da BR-364/AC e da região de Urucu/AM demonstraram a

viabilidade da utilização de solos finos para a produção de agregados de argila

calcinada. Não ficaram, porém, perfeitamente identificadas, quais as propriedades

indispensáveis para obtenção de agregado de boa qualidade.

O presente estudo dedicou-se inicialmente à pesquisa de um equipamento de

laboratório capaz de produzir um agregado de boa qualidade e em grandes

quantidades, e que pudesse servir de modelo para uma futura produção industrial.

Foram pesquisados diversos fabricantes de extrusoras (também conhecidas

industrialmente como “marombas”), geralmente utilizadas pela indústria cerâmica

para a produção de tijolos, chegando-se ao modelo de laboratório produzido pela

empresa Máquinas MAN e apresentado na FIG. 3.2. Constatou-se que a extrusora

produz uma barra bastante compactada, reduzindo o índice de vazios do agregado e

possibilitando uma velocidade muito maior de produção, em relação à produção

manual. Visando estudar o melhor formato para os agregados, foram

confeccionadas sob encomenda 6 boquilhas de diferentes formatos e diâmetros de

saída, ilustradas na FIG. 3.3, permitindo a variação do formato da seção da barra

prismática.

Page 62: Fernado G. S. Batista MSc 2004

61

FIG 3.2. Maromba de laboratório usada neste estudo

Durante a fase de pesquisa para aquisição do equipamento, foram feitos testes

para a produção de agregados de forma manual. Inicialmente eram moldadas

pelotas, conforme mostrado na FIG. 3.4. Posteriormente, objetivando-se acelerar o

processo de produção e obter agregados com formatos irregulares, optou-se por

utilizar formas de madeira, conforme mostrado na FIG. 3.5. O solo era moldado sob

forma de barras prismáticas de seção retangular e levado ao forno desta forma.

Após a calcinação, as barras eram quebradas manualmente, originando agregados

poliédricos.

Page 63: Fernado G. S. Batista MSc 2004

62

FIG 3.3. Boquilhas de saída nos formatos circular, hexagonal e quadrado

confeccionadas para este estudo

FIG 3.4. Agregados arredondados produzidos de forma manual

Page 64: Fernado G. S. Batista MSc 2004

63

FIG 3.5. Forma de madeira usada para a moldagem de barras prismáticas de argila

Estes processos se mostraram bastante lentos, maçantes e ineficientes, sendo

aconselháveis somente quando não é necessária a produção de uma grande

quantidade de agregados. Quando há necessidade de grande quantidade

recomenda-se a aquisição de um equipamento semelhante à maromba utilizada

neste projeto, uma vez que é visível a melhor qualidade do agregado produzido pelo

equipamento em comparação com o produzido manualmente, através do uso das

formas.

Os primeiros resultados obtidos com os solos em estudo (km 164 e km 172)

produziram agregados frágeis, facilmente quebráveis com as mãos, tanto para os

produzidos através das formas de madeira quanto para os produzidos na maromba.

Após pesquisa e análise do ocorrido, chegou-se a conclusão que um dos fatores que

influenciaram nos resultados foi o tempo de secagem prévia ao ar, que inicialmente

foi de 24 a 48 h. Concluiu-se também que este deveria ser de, no mínimo, 3 a 4 dias,

dependendo das condições climáticas. Não existe um período determinado para

esta secagem, devendo-se observar a mudança de coloração das barras seguida da

verificação táctil da umidade existente. Caso se considere que a barra já está

praticamente seca ao ar e a umidade existente não é suficiente para provocar trincas

Page 65: Fernado G. S. Batista MSc 2004

64

na mesma, já se pode colocá-las sob o calor de lâmpada infravermelha (cerca de

60o C) ou levar as amostras diretamente à estufa (cerca de 110o C), se for o caso.

NORTON (1973) define que a retração excessiva é indesejável porque tende a

causar trincas e empenamento de peça seca. A mais comum das formas de corrigir

esse defeito é adicionar materiais não-plásticos à argila. Esses materiais

adicionados devem ser relativamente “grosseiros”, e da mesma forma, argilas de

granulometria grossa retraem-se menos que argila de granulometria fina, donde se

conclui que um solo com um teor muito elevado de argila pode não ser o ideal para a

produção de agregados.

Tais mudanças foram experimentadas e produziram uma melhora aparente na

resistência do agregado, porém esta ainda não foi suficiente para atingir a qualidade

desejada. A expectativa inicial foi confirmada através dos ensaios de Seleção

Expedita pelo Processo da Fervura e Perda de Massa após Fervura, cujos

resultados se encontram nas TAB.s 3.3 e 3.4, na seção 3.3. Foram realizados ainda

ensaios com a amostra do km 190, porém os resultados também não foram

satisfatórios.

Utilizaram-se então 2 novas amostras de solo da região de Santarém, em

processo semelhante ao adotado pelas olarias locais: mistura de dois solos de

beira de rio para a produção dos agregados. Estes solos foram identificados como

“olaria1” e “olaria2” e apresentaram os resultados de caracterização mostrados na

TAB. 3.2, e a mistura destes 2 solos foi denominada de “olaria”.

TAB 3.2. Resultados da caracterização dos solos de olaria

Amostra LL% LP% IP% #200 % silte % argila

OLARIA1 55,3 31,5 23,8 100 48,2 51,8

OLARIA2 66,2 34,6 31,6 100 57,0 43,0

Nota-se que os limites de Atterberg obtidos por estes 2 solos, especialmente o

“olaria1”, são bastante semelhantes aos do km 172. Existe uma diferença maior

apenas na granulometria pois apesar de o solo de olaria1 passar 100% na peneira

#200, ele possui menor teor de argila, e, conseqüentemente, um maior teor de silte

do que o solo do km 172. Poder-se-ia imaginar que este baixo teor de silte seria a

causa da fragilidade dos agregados, porém este fator não é citado pela bibliografia

Page 66: Fernado G. S. Batista MSc 2004

65

pesquisada, o que é também confirmado pela análise do solo do km 190, que possui

granulometria da fração fina semelhante ao solo “olaria1”.

NORTON (1973) e SANTOS (1975) alertam que deve-se conhecer a composição

química das argilas a fim de se obter informações para a avaliação de seus usos

específicos. No entanto essa informação deve ser complementada com as

mineralógicas, como difração de raios X, análise térmica diferencial e outros

métodos. Assim, pode-se realizar uma avaliação mais completa do seu uso

tecnológico, donde se conclui que para a produção de agregados artificiais de argila o

solo deve possuir, além das propriedades físicas, determinadas características

químicas e mineralógicas, que serão discutidas na seção 3.6.

NORTON (1973) define ainda que no caso de vários objetos feitos da mesma

massa cerâmica porém de tamanhos diferentes, os maiores não apenas secarão

mais lentamente em igualdade de condições, mas também terão uma tendência

maior para trincar. Assim sendo e visando-se acelerar o tempo de secagem ao ar,

reduzir o tempo necessário de calcinação no forno e também a energia gasta para a

britagem das barras, resolveu-se cortar as barras de argila em comprimentos de 1 a

2 cm logo após a extrusão, conforme mostra a FIG. 3.6. Foram moldadas barras nos

3 formatos de boquilhas existentes e o formato escolhido para a produção destinada

aos testes mecânicos foi o hexagonal, em função da sua maior angulosidade.

Foram produzidos então agregados em quantidades suficientes para a execução

dos ensaios de tensão de ruptura a flexão (corpos de prova prismáticos), desgaste

após fervura e abrasão Los Angeles, cujos resultados serão apresentados nas

próximas seções. Inicialmente foram calcinadas amostras variando-se a temperatura

entre 800o C, 850o C, 900o C, 950o C e 1000o C e o tempo de calcinação entre 15

min, 30 min, 45 min e 60 min, visando-se obter um agregado com resistência

mecânica satisfatória e baixo custo. Através de análise táctil visual e empregando os

resultados obtidos no ensaio de tensão de ruptura à flexão, que serão apresentados

na seção 3.6, fixou-se a temperatura de calcinação em 900oC e o tempo de

calcinação em 30 min.

Page 67: Fernado G. S. Batista MSc 2004

66

FIG 3.6. Agregados após extrusão e corte em tamanhos de aproximadamente 2 cm

Foi realizado ainda um teste com a colocação das amostras no forno a

temperatura ambiente e deixando-as aquecer até atingir a temperatura desejada (no

caso, 900o C). Após atingir esta temperatura, a amostra era retirada no dia seguinte,

após o resfriamento do forno. Os resultados obtidos foram superiores a qualquer

outro, porém esta forma de calcinação seria antieconômica e não traduziria a

metodologia que se pretende empregar industrialmente.

Cabe ressaltar que os diversos tipos de solos estudados apresentaram

comportamentos diferentes em relação ao tempo e temperatura de queima

adotados, em função da sua composição granulométrica (teor de silte e argila),

química e mineralógica, o que indica que para cada tipo de solo devem ser

estudados o tempo e a temperatura de calcinação ótimos.

Em síntese, a metodologia para a produção dos agregados atendeu a seguinte

sequência:

��Recebimento das amostras, desagregação e secagem ao ar;

��Ensaios de granulometria por peneiramento e sedimentação, LL e LP

(FIG. 3.7);

��Separação da fração passante na peneira 2.0 mm ou laminação da

amostra na maromba ;

��Umedecimento da amostra próximo ao limite de plasticidade (FIG. 3.8);

��Extrusão na maromba utilizando a boquilha selecionada (FIG. 3.9);

Page 68: Fernado G. S. Batista MSc 2004

67

��Corte no tamanho desejado e secagem ao ar por no mínimo 48h (FIG.

3.10). Deve ser realizada preferencialmente em ambiente aberto e

ensolarado, podendo ser acelerada através de lâmpada infravermelha a

60oC, se desejado;

��Secagem em estufa a 110o C por no mínimo 24h (FIG. 3.11);

��Calcinação a 900oC / 30 minutos (FIG. 3.12);

��Britagem dos agregados (FIG.s 3.13 e 3.14). Em substituição a um

britador, do qual não se dispunha em laboratório, foi utilizada uma prensa

Amsler, equipamento usado para a realização dos ensaios de 10% de

finos e de compressão axial em concreto, para a quebra dos agregados e

um futuro enquadramento nas faixas granulométricas do DNER. A carga

utilizada variou conforme o tamanho de agregado desejado;

��Recalcinação por mais 20 min dos agregados quebrados, se necessário

(FIG. 3.15 e 3.16).

FIG 3.7. Amostras para ensaios de sedimentação

Page 69: Fernado G. S. Batista MSc 2004

68

FIG 3.8. Umedecimento da amostra utilizando misturador

FIG 3.9. Extrusão na maromba utilizando a boquilha selecionada

Page 70: Fernado G. S. Batista MSc 2004

69

FIG 3.10. Secagem ao ar das amostras após corte

FIG 3.11. Secagem das amostras em estufa a 110o C

Page 71: Fernado G. S. Batista MSc 2004

70

FIG 3.12. Calcinação das amostras no forno

FIG 3.13. Equipamento de compressão FIG 3.14. Britagem dos agregados

Page 72: Fernado G. S. Batista MSc 2004

71

FIG 3.15. Agregados quebrados FIG 3.16. Agregados recalcinados

3.3 SELEÇÃO EXPEDITA PELO PROCESSO DE FERVURA E ENSAIO DE

PERDA DE MASSA APÓS FERVURA

O ensaio de seleção expedita, baseado na especificação do Texas (THD) e

normatizado pelo DNER segundo o ME 223/94, consiste em umedecer uma porção

do solo com umidade próxima ao limite de plasticidade e confeccionar manualmente

cerca de dez corpos de prova cilíndricos com aproximadamente 1,3 cm de diâmetro

e 4,0 cm de comprimento, conforme a FIG. 3.17. Em seguida calcinam-se os

cilindros em estufa a 760º C por 15 minutos e deixa-se resfriar a temperatura

ambiente.

FIG 3.17. Corpos de prova cilíndricos produzidos para o ensaio de seleção

expedita pelo processo de fervura (DNER ME 223/94).

Page 73: Fernado G. S. Batista MSc 2004

72

Após resfriados, colocam-se os cilindros numa panela de pressão, deixando-os

ferver por cerca de 15 minutos. Finalmente, em um exame manual, se as amostras

se apresentaram duras e sem alteração aparente são classificadas como

provavelmente aptas a serem utilizadas na fabricação de agregados sintéticos. Os

resultados obtidos estão mostrados na TAB. 3.3.

TAB 3.3. Resultados do ensaio de fervura para as amostras deste estudo

Resultado

km 164 Desfavorável

km 172 Desfavorável

km 190 Desfavorável

Olaria Favorável

Os agregados produzidos, com exceção do referente ao km 190, que já se

mostrava extremamente frágil e quebradiço, foram submetidos ainda ao desgaste

após fervura, ensaio também baseado nas especificações do THD e normatizado

pelo DNER segundo o ME 225/94 com o título de “Perda de massa após fervura”. O

ensaio consiste em se colocar uma fração de cerca de 250g de agregados

passantes na peneira 3/4" e retidas na #10 em um recipiente de vidro adequado

(Erlenmeyer) com água e levar o conjunto à fervura em uma panela de pressão

durante 15 minutos, conforme mostra a FIG. 3.18. Após o resfriamento, o recipiente

é tampado e devidamente fixado em um agitador de peneiras por 30 minutos. O

resultado da TAB. 3.4 apresenta o percentual de material passante na peneira no.

40 após a agitação, sendo que o máximo para a aceitação dos agregados para uso

em misturas asfálticas é de 6%, de acordo com a TAB. 2.2.

Page 74: Fernado G. S. Batista MSc 2004

73

FIG 3.18. Fervura em panela de pressão para o ensaio de Perda de Massa após

Fervura (DNER ME 225/94)

TAB 3.4. Resultados de Desgaste após Fervura das amostras usadas neste estudo

CLASSE

GRUPO

Desgaste

após Fervura km 164 km 172 olaria

% máximo % obtido % obtido % obtido

II A 6

Argila não B 6

Expandida C 10

39,0 8,6 1,3

3.4 ABRASÃO LOS ANGELES

Este ensaio foi realizado apenas com a amostra de olaria, por ter sido a única

considerada favorável nos ensaios anteriores.

O ensaio de Abrasão Los Angeles preconizado pelo THD e adotado pelo DNER

através da ME 222/94, é realizado utilizando-se uma quantidade menor de

agregados e uma carga abrasiva menor do que o ensaio de abrasão tradicional.

Após o enquadramento em uma das graduações (A, B, C ou D) com base na

Page 75: Fernado G. S. Batista MSc 2004

74

granulometria da amostra, faz-se uma correção na carga e na quantidade de

material a fim de evitar um volume excessivo na máquina de ensaio. O resultado

deste ensaio, mostrado na TAB. 3.5, associado ao de desgaste após fervura

classificou a amostra como IIA, segundo a TAB. do THD e de acordo com a EM

230/94, do DNER.

TAB 3.5. Resultado do ensaio de Abrasão Los Angeles modificado, para as

amostras deste estudo (DNER ME 222/94)

CLASSE

GRUPO

Abrasão Los

Angeles

Abrasão Los

Angeles

% máximo % obtido

II A 35

Argila não B 40

Expandida C 45

23

3.5 TENSÃO DE RUPTURA POR FLEXÃO – TRF

Os ensaios de resistência à flexão foram realizados conforme a NBR-6113 e

seguindo orientações contidas no manual do CURSO DE TECNOLOGIA EM

CERÂMICA VERMELHA, do SENAI-PI. Este ensaio, empregado para seleção de

matéria prima para produção de produtos cerâmicos, foi realizado moldando-se

corpos de prova prismáticos de seção retangular de dimensões 15 x 1,8 x 1,8 cm,

com material passando na peneira nº 40. Depois de moldados, os prismas foram

calcinados às temperaturas de 800º C, 850º C e 900º C, por 30 minutos, e deixados

resfriar a temperatura ambiente por 24 horas. Em seguida as barras foram

submetidas ao ensaio de flexão estática, com cutelos distanciados de 10 cm,

conforme mostrado na FIG. 3.19.

Page 76: Fernado G. S. Batista MSc 2004

75

FIG 3.19. Determinação da tensão de ruptura à flexão

Este ensaio pode ser adotado para medir a resistência dos corpos de prova

produzidos com os diversos tipos de solo ou ainda para comparação da resistência a

diversas temperaturas.

O ensaio foi realizado apenas com o solo de olaria, apresentando os resultados

descritos na TAB. 3.6. Estes resultados podem ser considerados satisfatórios se

comparados com os valores limites para tijolos maciços, que são de 20 kgf/cm2,

segundo SANTOS (1975).

Page 77: Fernado G. S. Batista MSc 2004

76

TAB 3.6. Resultados de Tensão de ruptura por flexão – TRF para o solo de olaria

Temperatura TRF

kg/cm2

800o C 31,0

850o C 34,8

900o C 38,9

3.6 ANÁLISE MINERALÓGICA E ANÁLISE QUÍMICA

Conforme citado na seção 2.3.2, constatou-se que a constituição mineralógica do

solo provavelmente exerce forte influência nas características do agregado obtido.

Solos com mesmas características de plasticidade e elevados teores de argila

produziram agregados com propriedades totalmente diferentes, reforçando ainda a

crença de que LL e LP não são bons indicadores de mineralogia para solos tropicais.

O solo inicialmente utilizado (km 172) apresentava teor de argila em torno de 68% e

IP = 21%, propriedades que seriam por si só consideradas satisfatórias à obtenção

de um agregado de boa qualidade. Os resultados obtidos, no entanto, foram

desfavoráveis, levando à obtenção de um agregado quebradiço e de baixa

resistência. Observou-se que a quantidade excessiva da fração argila poderia se

tornar desfavorável ao processo de queima, levando o agregado à fragmentação. A

partir destes resultados, realizaram-se os mesmos procedimentos e estudos com a

amostra do km 164, que possui teor de argila de aproximadamente 38% e IP = 23%,

o que aparentemente deveria apresentar resultados satisfatórios, porém os

agregados produzidos também se apresentaram frágeis e quebradiços.

Utilizou-se ainda a amostra do km 190 (teor de argila = 58% e IP = 13), com

resultados semelhantes aos descritos anteriormente, o que leva a crer que a

composição mineralógica do solo realmente possui fundamental importância no

processo. Para uma análise mais completa desta característica foram realizados

então os ensaios de difração de raios-x e de análise química, a fim de se identificar

os minerais e elementos químicos constituintes do solo.

Para a análise química dos elementos constituintes das amostras de solos por

EDS (energy dispersive spectrometry) foi utilizado o microscópio eletrônico de

Page 78: Fernado G. S. Batista MSc 2004

77

varredura (MEV) do IME, sendo utilizado o equipamento Jeol, modelo JSM-5800LV.

Os resultados obtidos se encontram na TAB. 3.7

O ensaio de difração de raios-X (DRX), a exemplo do ensaio de sedimentação,

foi realizado no CETEM. O espectro de difração de raios-X da amostra foi coletado

pelo método do pó, em um equipamento Bruker-AXS. A interpretação qualitativa de

espectro foi efetuada por comparação com padrões contidos no banco de dados

PDF-02 (ICDD,1996) em software Bruker DiffracPlus.

Foram analisadas 25 amostras de solos, conforme descrito na TAB. 3.8. Após

análise dos resultados obtidos, considerou-se que seria interessante a realização da

análise química das amostras para uma conclusão mais precisa. Os difratogramas

das amostras do km 164, 172, 190 e olaria encontram-se nas FIG. 3.21 a 3.24.

TAB 3.7. Resultados da composição química das amostras deste estudo

submetidas ao ensaio de EDS

Amostra Composição Química

(km) SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 K2O Au MgO

163 49.18 32.30 16.02 2.50 - - -

164 52.23 38.58 5.76 3.43 - - -

165 49.45 31.96 3.54 0.98 - - -

167 51.62 35.27 11.02 2.09 - - -

168 47.14 32.26 18.33 2.27 - - -

169 43.61 31.39 21.63 3.37 - - -

170 45.38 35.14 17.51 1.96 - - -

171 42.53 32.55 21.81 3.12 - - -

172 46.49 35.41 18.10 - - - -

174 62.32 29.07 8.61 - - - -

175 57.69 25.97 4.51 0.89 0.54 - -

176 47.91 31.24 20.85 - - - -

177 52.84 30.51 10.54 - - 6.11 -

180 45.83 31.55 20.13 2.49 - - -

183 63.41 20.56 14.73 1.30 - - -

184 51.76 41.21 5.22 1.81 - - -

185 47.08 33.97 15.75 3.20 - - -

Page 79: Fernado G. S. Batista MSc 2004

78

Amostra Composição Química

(km) SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 K2O Au MgO

187 44.19 31.96 17.40 3.01 - 3.43 -

190 40.63 32.06 11.73 1.38 - - -

193 33.59 27.66 36.65 2.09 - - -

197 50.26 37.97 9.05 2.72 - - -

198 47.17 38.61 11.49 2.71 - - -

202 48.99 35.82 13.11 2.08 - - -

204 48.13 34.41 14.78 2.68 - - -

208 49.27 31.10 13.29 1.56 4.22 - 0.55

211 49.62 32.38 14.25 - 3.75 - -

213 49.62 34.05 12.77 3.57 - - -

214 40.13 34.85 8.48 2.26 1.47 - -

216 41.63 31.24 23.42 3.71 - - -

A fim de se verificar a influência dessas características na resistência do

agregado produzido, foram realizados testes com algumas destas amostras de solo.

Visando obter uma maior rapidez e praticidade no processo, foi utilizada uma

“gaveta” de gelo, mostrada na FIG. 3.20, para a moldagem dos “agregados” de

solos.

FIG 3.20. Moldagem de “agregados” de solos em gaveta de gelo

Page 80: Fernado G. S. Batista MSc 2004

79

TAB 3.8. Resultados da análise mineralógica das amostras deste estudo submetidas ao ensaio de difração de raios-X Composição Minerológica

Amostra (km) Quartzo Caulinita Muscovita Ilita Montmorilonita Hematita(Fe2O3) Goetita Albita Anortita Fe2O3H2O 163 X X - - - - - - - - 164 X X - - - - - - - - 165 X X - - - - - - - - 167 X X - - - - - - - X 168 X X - - - - - - - X 169 X X X - - - - - - - 170 X X - - - - - - - X 172 X X - - - X - - - - 174 X X X - - - - - - - 175 X X - - - - - - - - 176 X X - - - - - - - - 180 X X - - - - - - - - 182 X X X - - - - - - - 183 X X X - - - - - - - 184 X X - - - - - - - - 190 X X - - - - - - - - 193 X X - - - - X - - - 197 X X - - - - - - - - 198 X X - - - - - - - - 204 X X X - - - - - - - 208 X X X - - - - - - - 211 X X X - - - - - - - 214 X X X - - X - - - -

Olaria X X X - - - - X X - Olaria2 X X - - - - - - - -

Page 81: Fernado G. S. Batista MSc 2004

80

Para a verificação dos resultados obtidos foi realizada uma análise manual da

resistência e da coesão do produto final, após secagem em estufa a 110oC por 24h

e após calcinação a 900oC por 30 min, sendo classificados conforme a TAB. 3.9.

TAB. 3.9. Avaliação qualitativa das amostras de solos após secagem em estufa e

após calcinação

Amostra Avaliação

(km) Estufa (110o C) Calcinação (900o C)

164 Ruim Ruim

168 Regular Ruim

169 Boa Ruim

170 Boa Ruim

172 Regular Ruim

174 Ruim Ruim

175 Ruim Ruim

180 Regular Ruim

183 Boa Boa

184 Boa Ruim

193 Boa Regular

197 Boa Ruim

198 Regular Ruim

204 Regular Regular

208 Regular Ruim

211 Boa Regular

Page 82: Fernado G. S. Batista MSc 2004

81

14-0164 (I) - Kaolinite-1A - Al2Si2O5(OH)446-1045 (*) - Quartz, syn - SiO2km 164

Lin

(Cou

nts)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

2-Theta - Scale

3 10 20 30 40 50 60 70

FIG. 3.21. Difratograma da amostra do km 164

13-0092 (Q) - Iron Oxide Hydrate Green Rust II - Fe2O3·H

33-0664 (*) - Hematite, syn - Fe2O346-1045 (*) - Quartz, syn - SiO214-0164 (I) - Kaolinite-1A - Al2Si2O5(OH)4km 172

Lin

(Cou

nts)

0

100

200

300

400

500

600

700

2-Theta - Scale

3 10 20 30 40 50 60 70

FIG. 3.22. Difratograma da amostra do km 172

Page 83: Fernado G. S. Batista MSc 2004

82

FIG. 3.23. Difratograma da amostra do km 190

20-0528 (C) - Anorthite, sodian, ordered - (Ca,Na)(Al,Si)2S09-0466 (*) - Albite, ordered - NaAlSi3O8

07-0042 (I) - Muscovite-3T - (K,Na)(Al,Mg,Fe)2(Si3.1Al0.9)14-0164 (I) - Kaolinite-1A - Al2Si2O5(OH)446-1045 (*) - Quartz, syn - SiO2Olaria

Lin

(Cou

nts)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

1500

1600

2-Theta - Scale

3 10 20 30 40 50 60 70

FIG. 3.24. Difratograma da amostra do solo de olaria

Page 84: Fernado G. S. Batista MSc 2004

83

4. DOSAGEM DE MISTURAS ASFÁLTICAS

Os asfaltos usados para pavimentação são geralmente obtidos da destilação do

petróleo, recebendo o nome de Cimentos Asfálticos de Petróleo (CAPs). O CAP é

um produto semi-sólido na temperatura ambiente, necessitando de aquecimento

para poder ser misturado com os agregados. Para haver boa mistura faz-se

necessário aquecer também o agregado. Evidentemente, a mistura asfáltica

resultante necessita ser espalhada e compactada a quente.

Caso se queira espalhar e compactar a mistura asfáltica na temperatura

ambiente necessita-se liquefazer o CAP. Pode-se liquefazer o CAP de duas

maneiras:

a) Diluindo-o com um solvente derivado do petróleo (nafta, querosene ou óleo

diesel) – obtém-se os asfaltos diluídos (ADs)

b) Emulsificando-o em água (já que o CAP não é dissolvido pela água) – obtém-

se as emulsões asfálticas (EAs).

Não se deve confundir a ruptura (o CAP se separa da água e adere ao

agregado) com a cura (evaporação da água e do solvente quando houver). Note-se

que após a ruptura da EA e a cura do AD, o que resta na mistura asfáltica é o CAP.

O tipo de mistura e o tipo de ligante (com sua especificação) são definidos no

projeto de pavimentação. São definidos usualmente ainda a camada onde vai ser

empregada, a faixa granulométrica, os tipos de agregado (graúdo, miúdo e fíler -

com suas especificações), e as especificações concernentes à mistura (geralmente

referidas a um método com base num ensaio de estabilidade, por exemplo o

Marshall).

Com as definições dadas pelo projeto de pavimentação e com amostras dos

materiais indicados para a obra passa-se ao projeto da mistura asfáltica, ou, como

se diz corretamente, a sua dosagem, onde o teor de asfalto é o item fundamental.

Após a realização dos ensaios de caracterização e controle de qualidade dos

agregados produzidos por calcinação, e verificando-se que os resultados mecânicos

foram todos satisfatórios, iniciaram-se os estudos referentes a dosagem de misturas

asfálticas.

Page 85: Fernado G. S. Batista MSc 2004

84

Foram determinadas a granulometria, massa específica aparente e densidade

dos agregados, além da verificação da adesividade ao ligante. Primeiramente foi

realizada a dosagem de uma mistura de concreto asfáltico, sendo moldados corpos-

de-prova em quantidade suficiente para a realização dos ensaios de resistência à

tração por compressão diametral, módulo de resiliência e fadiga. Posteriormente,

aproveitando-se que os ensaios de concreto asfáltico não consumiram todo o

material de que se dispunha, foram moldados alguns corpos-de-prova utilizando-se

emulsão asfáltica e obtendo-se um pré-misturado a frio (PMF). A tentativa de se

estudar a argila calcinada em PMF justifica-se pela larga utilização deste tipo de

revestimento na região amazônica.

4.1 ENSAIOS PRELIMINARES

4.1.1 GRANULOMETRIA

Foi realizada a granulometria dos agregados sintéticos produzidos, utilizando-se

o procedimento descrito no ME 083/98, do DNER, obtendo-se os valores descritos

na TAB. 4.1.

TAB 4.1. Granulometria dos agregados de argila calcinada produzidos neste estudo

com o solo de olaria

Peneiras % passando 3/4 pol 100% 1/2 pol 85% 3/8 pol 74%

N0 4 49% N0 10 21% N0 40 10% N0 80 6%

N0 200 3%

Foram realizadas ainda a granulometria de uma amostra de areia da região de

Belterra, localizada a 40 km de Santarém, e do fíler a ser utilizado (cimento

portland), obtendo os resultados mostrados nas TAB.s 4.2 e 4.3.

Page 86: Fernado G. S. Batista MSc 2004

85

TAB 4.2. Granulometria da areia de Belterra (PA) utilizada neste estudo

Peneiras % passando

3/8 pol 100%

N0 4 99%

N0 10 94%

N0 40 35%

N0 80 6%

N0 200 1%

TAB 4.3. Granulometria do fíler (cimento portland) utilizado neste estudo

Peneiras % passando

N0 80 100%

N0 200 95%

4.1.2 MASSA ESPECÍFICA APARENTE E DENSIDADE

A massa específica aparente foi determinada utilizando-se caixote de madeira

com 1.500 cm3 de volume, obtendo-se o valor de 1,061 g/ cm3 .

A densidade dos agregados foi determinada utilizando-se o método da Louisiana

TR-312-69 para agregados sintéticos graúdos, que consiste basicamente em se

medir a densidade de agregados retidos na peneira de 2,0 mm envolvidos em

ligante, por diferença de volume, com o auxílio de um recipiente de vidro de boca

larga repleto de água, como mostrado na FIG. 4.1. A determinação da densidade foi

realizada segundo este método em função da porosidade e da alta absorção

existentes nos agregados artificiais de argila, sendo que o valor encontrado para a

densidade foi de 1,87 g/cm3. Este método de ensaio encontra-se descrito

detalhadamente no anexo. As densidades reais da areia e do fíler foram medidas

através dos métodos de ensaio tradicionais do DNER (ME 084/95 e 085/94),

obtendo-se os valores de 2,67 g/cm3 e 3,11 g/cm3 , respectivamente.

Page 87: Fernado G. S. Batista MSc 2004

86

FIG 4.1. Ilustração da forma de determinação da densidade do agregado graúdo

de argila calcinada usada neste estudo

4.1.3 ADESIVIDADE

Para verificação da adesividade do agregado produzido utilizou-se, em cada

ensaio, cerca de 100g de agregado e o ligante foi o CAP-20, oriundo da REDUC/RJ,

cujas características se encontram descritas na TAB. 4.6. A verificação final da

adesividade consistiu na avaliação visual qualitativa da película de ligante em cada

agregado, considerada satisfatória em todos os ensaios realizados, como mostra a

FIG. 4.2.

FIG 4.2. Ilustração da forma de verificação da adesividade do agregado

calcinado e do CAP-20 utilizados neste estudo

Page 88: Fernado G. S. Batista MSc 2004

87

4.2 DOSAGEM DE MISTURA TIPO CBUQ

4.2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Após a realização dos ensaios preliminares, cujos valores se encontram

resumidos na TAB. 4.4, procurou-se selecionar e enquadrar os materiais em uma

das faixas do DNER (A, B ou C), expressas na TAB. 4.5, seguindo o método

Marshall de dosagem.

TAB 4.4. Resultados dos ensaios preliminares para a mistura asfáltica a quente com

agregado calcinado deste estudo

Material Resultados

Massa Específica Aparente 1,06 g/cm3

Adesividade Satisfatória

Argila Calcinada

Densidade 1,87 g/cm3

Areia Densidade Real 2,67 g/cm3

Cimento Densidade Real 3,11 g/cm3

TAB 4.5. Faixas de projeto do DNER para misturas de concreto asfáltico %, em peso, passando

Peneiras Faixa A Faixa B Faixa C

# Binder Binder/Capa Capa

2" 100 - -

1 ½" 95 – 100 100 -

1" 75 – 100 95 - 100 -

¾" 60 – 90 80 - 100 100

½" - - 85 – 100

3/8" 35 – 65 45 – 80 75 – 100

Nº 4 25 – 50 28 – 60 50 – 85

Nº 10 20 – 40 20 – 45 30 – 75

Nº 40 10 – 30 10 – 32 15 – 40

Nº 80 5 – 20 8 – 20 8 – 30

Nº 200 1 – 8 3 – 8 5 – 10

Betume solúvel 4,0 - 7,0 4,5 - 7,5 4,5 - 9,0

Page 89: Fernado G. S. Batista MSc 2004

88

No Brasil, utiliza-se a aparelhagem Marshall, mostrada nas FIG.s 4.3 e 4.4, para

formular o projeto do concreto asfáltico. O método Marshall consiste inicialmente em

estabelecer uma composição granulométrica de agregado que se enquadre numa

faixa especificada. Em seguida, procura-se determinar a quantidade de cimento

asfáltico que, misturado ao agregado, proporcione uma boa mistura, ou seja,

satisfazendo os requisitos das especificações.

Sabe-se que uma mistura betuminosa do tipo concreto asfáltico é constituída de

agregados (graúdos, miúdos e material de enchimento) e cimento asfáltico. O

agregado responde geralmente por mais de 90% da mistura e constitui o esqueleto

que suporta e transmite as cargas aplicadas na superfície do pavimento. O cimento

asfáltico é o elemento que une as partículas do agregado e as mantém na posição

adequada para transmitir o carregamento aplicado pelos veículos às camadas

inferiores.

FIG 4.3. Compactador Marshall usado FIG 4.4. Prensa Marshall usada neste estudo neste estudo

Segundo PINTO (1996), em uma mistura betuminosa o ligante deverá preencher,

até certo ponto, os vazios existentes no agregado, deixando, portanto, uma parcela

Page 90: Fernado G. S. Batista MSc 2004

89

dos vazios ocupada pelo ar. A estabilidade de uma mistura representa a resistência

oferecida pela mesma aos esforços de cisalhamento, medida com o auxílio da

prensa Marshall, conforme ilustrado em detalhe na FIG. 4.5. A resistência ao

cisalhamento é atribuída ao atrito entre as partículas do agregado e a coesão

ocasionada pela presença do ligante. A resistência friccional está intimamente ligada

às características do agregado. É mais elevada quando se dispõe de partículas de

forma angulosa e superfície áspera, e fato oposto verifica-se em agregados de forma

arredondada e superfície relativamente lisa. A adição excessiva de ligante pode

reduzir de tal modo a resistência friccional que a mistura se torna instável.

FIG 4.5. Detalhe do equipamento de determinação da estabilidade Marshall

usado neste estudo

Ainda segundo PINTO (1996), essa resistência é influenciada pela energia de

compactação empregada, pois esta última influirá na posição relativa que as

partículas assumirão na massa. Por outro lado, a resistência coesiva decorrente da

adição de betume é bastante influenciada pela temperatura do corpo de prova e pelo

tempo de aplicação do carregamento. Aumentando gradativamente o teor de ligante

betuminoso, ter-se-á um crescimento progressivo da resistência coesiva até que as

Page 91: Fernado G. S. Batista MSc 2004

90

partículas estejam totalmente recobertas. Acréscimos posteriores de ligantes não

produzirão variações substanciais na referida resistência, podendo até provocar

queda da mesma.

4.2.2 MATERIAIS EMPREGADOS E DEFINIÇÃO DO TEOR ÓTIMO DE LIGANTE

Os CAPs são classificados pela sua consistência, que traduz o conceito

cotidiano de “mais mole” ou “mais duro”. A consistência dos CAPs é atualmente

definida pela penetração (em 0,1 mm), ou pela viscosidade absoluta (em poise).

No Brasil, a classificação dos CAPs é feita por penetração (CAP-30/45, CAP-

50/60, CAP-85/100, CAP-150/200) nas refinarias que trabalham com petróleos mais

pesados (como boscan e bachaqueiro), e por viscosidade (CAP-7, CAP-20, CAP-40)

nas refinarias que trabalham com petróleos mais leves (cabiunas, árabe leve).

A execução dos ensaios de misturas asfálticas com concreto asfáltico foi

realizada no laboratório do IPR/DNIT. Foi utilizado como ligante o CAP-20, fornecido

pela REDUC (Refinaria Duque de Caxias) e proveniente do Petróleo Árabe Leve,

cujas características, medidas neste laboratório, se encontram listadas na TAB. 4.6.

TAB 4.6. Características do ligante asfáltico utilizado neste estudo

Características – CAP-20

Recuperação Elástica 10°C, 20cm (%) 11

Penetração 0,1 mm (100g, 5 seg, 15°C) 17

Penetração 0,1 mm (100g, 5 seg, 25°C) 59

Penetração 0,1 mm (100g, 5 seg, 35°C) 190

Penetração 0,1 mm (após ECA, 15°C) 11

Penetração 0,1 mm (após ECA, 25°C) 40

Penetração 0,1 mm (após ECA, 35°C) 133

Índice de Penetração -0.5

Índice de Penetração (após ECA) -2.1

Densidade Relativa (25°C) 1.04

Ponto de Amolecimento 51

Dutilidade 25o C, cm > 100

Ponto de Fulgor, o C 358

Viscosidade Saybolt Furol 135°C, s 172

Page 92: Fernado G. S. Batista MSc 2004

91

Características – CAP-20

Viscosidade Saybolt Furol 145°C, s 112

Viscosidade Saybolt Furol 155°C, s 76

Viscosidade Saybolt Furol 165°C, s 47

Viscosidade Saybolt Furol 175°C, s 31

Viscosidade Absoluta 60°C, Poise 2211

Viscosidade Absoluta 60°C (após ECA) 4126

Viscosidade Absoluta 135°C, Poise 3.87

Viscosidade Absoluta 145°C, Poise 2.52

Viscosidade Absoluta 155°C, Poise 1.71

ECA= Efeito de calor e do ar (5h a 163°C)

A viscosidade do ligante asfáltico deve ser tal que assegure o envolvimento

adequado do agregado e trabalhabilidade apropriada para espalhar e compactar a

mistura. As especificações brasileiras preconizam temperaturas para o aquecimento

do cimento asfáltico correspondentes a viscosidades Saybolt Furol de 85 ± 10 SSF.

O aquecimento acima da temperatura adequada pode resultar em defeitos do tipo

exsudação - fluimento do ligante para a superfície do revestimento. Para os

agregados a temperatura deve ser de 10oC a 15oC acima do ligante, e para a

compactação a temperatura da mistura é aquela na qual o ligante apresenta uma

viscosidade Saybolt Furol de 140 ± 15 SSF. De acordo com as características do

CAP dadas na TAB. 4.6, e através da FIG. 4.6, viscosidade x temperatura, foram

obtidas as temperaturas de aquecimento do ligante e de compactação,

apresentadas na TAB. 4.7.

Page 93: Fernado G. S. Batista MSc 2004

92

Viscosidade X Temperatura

1

10

100

1000

120 130 140 150 160 170 180

Temperatura (o C)

Vis

cosi

dade

(s)

FIG 4.6. Relação Viscosidade X Temperatura para o CAP utilizado neste estudo

TAB 4.7.Temperaturas de aquecimento dos agregados, do ligante e de compactação

deste estudo

Temperatura (ºC)

Ligante 152o C

Agregados 165o C

Compactação 140o C

Para o presente estudo, os agregados foram enquadrados na faixa B do DNER

conforme mostram a TAB. 4.8 e a FIG. 4.7. Foram utilizados apenas os agregados

de argila calcinada e o cimento portland (fíler), sendo descartada a necessidade de

utilização de outros tipos de agregados, graúdos ou miúdos.

Page 94: Fernado G. S. Batista MSc 2004

93

TAB 4.8. Mistura de agregados enquadrada na faixa B do DNER

Argila Calcinada Fíler

Peneiras 97% 3% PROJETO Faixa B

1 pol 100 97.0 100 3.0 100.0 95 – 100

3/4 pol 100 97.0 100 3.0 100.0 80 - 100

½ pol 85 82.5 100 3.0 85.5 -

3/8 pol 74 71.8 100 3.0 74.8 45 - 80

No 4 49 47.5 100 3.0 50.5 28 - 60

No 10 21 20.4 100 3.0 23.4 20 - 45

No 40 11 10.7 100 3.0 13.7 10 - 32

No 80 6 5.8 100 3.0 8.8 8 - 20

No 200 3 2.9 95 2.9 5.8 3 - 8

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

100.0

0.01 0.1 1 10 100

Diâmetro das Partículas (mm)

% Q

ue P

assa

da

Am

ostr

a To

tal

Faixa B - DNIT

FIG 4.7. Mistura de agregados enquadrada na faixa B do DNER

Nota-se, entretanto, que há uma grande diferença entre as densidades do

agregado e do fíler, fato este que leva à necessidade de se efetuar uma correção no

traço, conforme preconiza o ASPHALT INSTITUTE (1961) e é mostrado a seguir.

Page 95: Fernado G. S. Batista MSc 2004

94

Traço em peso: 97% argila calcinada (com densidade dac = 1.87);

e 3% fíler (com densidade df = 3.11).

( ) ( )91.1

100311.39787.1

100

%%=×+×=

×+×=

fdacdD fac

t EQ. 4.1

%9591.1

9787.1% =×=×=t

acac D

acdP EQ. 4.2

%591.1

311.3%=×=

×=

t

ff D

fdP EQ 4.3

Onde:

Dt = densidade teórica

dac = densidade da argila calcinada

%ac = percentual de argila calcinada

df = densidade do fíler

%f = percentual de fíler

Pac = percentual de argila calcinada corrigido

Pf = percentual de fíler corrigido

A composição granulométrica corrigida da mistura, enquadrada na faixa B, está

expressa na TAB. 4.9.

A definição dos 3 teores de CAP que seriam utilizados para a determinação do

teor ótimo era uma incógnita, em função da alta absorção dos agregados de argila

calcinada. Separou-se então cerca de 1.000 g da mistura de agregados e foi-se

acrescentando e pesando o ligante até se obter uma mistura com recobrimento

adequado, como mostra a FIG. 4.8. Resolveu-se então moldar os corpos-de-prova

nos teores de 9 %, 10 % e 11 % de CAP, tendo sido verificado ainda que, em função

da baixa densidade dos agregados, o peso de 1200 g seria excessivo para a

moldagem dos corpos-de-prova. Inicialmente foram utilizados 1000 g para o teor de

10 %, porém verificou-se que este peso continuava excessivo, resultando em

corpos-de-prova de mais de 7,0cm de espessura. Resolveu-se, então, trabalhar com

Page 96: Fernado G. S. Batista MSc 2004

95

uma mistura asfáltica de 900 g para os demais teores.

TAB 4.9. Composição granulométrica da mistura usada neste estudo corrigida pela

diferença de densidades, enquadrada na faixa B do DNER

Argila Calcinada Fíler

Peneiras 95% 5% PROJETO Faixa B

1 pol 100 95.0 100 5.0 100.0 100 - 95

¾ pol 100 95.0 100 5.0 100.0 100 - 80

1/2 pol 85 80.8 100 5.0 85.8 -

3/8 pol 74 70.3 100 5.0 75.3 80 - 45

No 4 49 46.6 100 5.0 51.6 60 - 28

No 10 21 20.0 100 5.0 25.0 45 - 20

No 40 11 10.5 100 5.0 15.5 32 - 10

No 80 6 5.7 100 5.0 10.7 20 - 8

No 200 3 2.9 95 4.8 7.6 8 – 3

FIG 4.8. Mistura do concreto asfáltico com argila calcinada

Para estes teores foram calculados os percentuais de cada material e estes

foram separados em diversas faixas da granulometria, conforme mostra a FIG. 4.9,

para que se pudesse dar início à moldagem dos corpos-de-prova. Os resultados

obtidos estão descritos na TAB. 4.10. Os percentuais de cada material foram os

Page 97: Fernado G. S. Batista MSc 2004

96

seguintes:

TEOR 1 (CAP = 9%): 86.5% argila calcinada

4.5% fíler

9% ligante

TEOR 2 (CAP = 10%): 85.5% argila calcinada

4.5% fíler

10% ligante

TEOR 3 (CAP = 11%): 84.5% argila calcinada

4.5% fíler

11% ligante

FIG 4.9. Agregados de argila calcinada separados em bandejas por intervalo de

peneiras.

Os agregados foram aquecidos sobre placa aquecedora na temperatura

calculada, e o ligante em estufa. Durante o aquecimento notou-se entretanto que o

agregado de argila calcinada perde calor mais rapidamente que a brita, logo

recomenda-se aquecê-lo a cerca de 5o C acima da temperatura prevista

normalmente para os agregados. O tempo de mistura também se mostrou um pouco

superior ao do agregado tradicional. A moldagem dos corpos-de-prova foi realizada

no compactador Marshall original, do IPR/DNIT, cuja especificação determina que

sejam dados 60 golpes em cada face do corpo-de-prova para a compactação, em

vez de 75 golpes.

Page 98: Fernado G. S. Batista MSc 2004

97

TAB 4.10. Traço de Mistura Betuminosa com Argila Calcinada usada neste estudo

TRAÇO DE MISTURA BETUMINOSA NÚMERO DA FÓRMULA 1 9% 2 10% 3 11%

AGREGADO GRAÚDO 3/4 - 1/2: 15% 116.8 128.3 114.1 Registro no. 1/2 - No.4: 36% 280.3 307.8 273.8 D = 1,87 No.4 - No. 10: 28% 218.0 239.4 212.9 Pass No.10: 21% 163.5 179.6 159.7 AGREGADO GRAÚDO Registro no. D = 1,87 MATERIAL DE ENCHIMENTO 40.5 45 40.5 LIGANTE 81 100 99 DENSIDADE TEÓRICA 1.77 1.76 1.75

9% 10% 11% Corpo-de-prova 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Peso ao ar (g) 883.5 871.5 923.8 920.3 965.8 879.5 886.5 884.1 Peso imerso (g) 411.7 392.5 434.8 442.2 462.8 404.3 410.3 410.0 Peso úmido (g) 940.1 919.8 985.2 982.1 1031.1 921.3 927.5 920.5 Densidade aparente (ar) 1.67 1.65 1.68 1.70 1.70 1.70 1.71 1.73 Porcentagem de vazios 5.9% 7.0% 4.6% 3.5% 3.5% 2.7% 2.2% 1.0% Vazios cheios de betume 14.5% 14.3% 16.2% 16.3% 16.3% 18.0% 18.1% 18.3% Vazios do agregado mineral 20.4% 21.3% 20.8% 19.8% 19.8% 20.7% 20.3% 19.3% Relação betume-vazios 71.1% 67.1% 77.9% 82.3% 82.3% 87.0% 89.2% 94.8% Espessura 6,93 6,90 7,14 7,06 7,19 6,67 6,64 6,66 Defletômetro (0.001 mm) 505 465 430 464 490 488 Estabilidade encontrada (kgf) 787.8 725.4 670.8 723.8 764.4 761.3 Estabilidade corrigida (kgf) 654 612 553 673 715 708 OBS.: PESO (g) =1000 (2) e 900 (1 e 3)

Page 99: Fernado G. S. Batista MSc 2004

98

A mistura com o teor 1 (9%) se apresentou muito pobre em ligante, como mostra

a FIG. 4.10, tendo os corpos-de-prova se rompido sem que fosse possível

determinar a estabilidade.

A densidade aparente foi calculada utilizando-se a equação 4.4, em função da

elevada absorção dos agregados (PINTO, I, 2002).

ih

arap PP

Pd

−= EQ. 4.4

onde:

dap = densidade aparente;

Par = peso do corpo-de-prova seco ao ar;

Ph = peso do corpo-de-prova após imersão e seco superficialmente;

Pi = peso do corpo-de-prova imerso após 5 minutos.

FIG. 4.10. Corpo-de-prova com 9% de CAP-20 após desmoldagem

Através das FIG.s 4.11 e 4.12, Relação Betume-Vazios e Percentual de Vazios

por teor de ligante, pôde-se determinar o teor ótimo de ligante na mistura, que foi de

9,7%.

Page 100: Fernado G. S. Batista MSc 2004

99

FIG 4.11 e 4.12. Relação Betume-Vazios e Percentual de Vazios

Foram moldados então 3 corpos-de-prova no teor ótimo, sendo determinada a

estabilidade Marshall em 2 deles e a resistência à tração no outro. Os resultados

encontrados, detalhados na TAB. 4.11, foram considerados bastante satisfatórios.

Seguindo a programação de ensaios, e de acordo com a quantidade de material

disponível, foram moldados então 27 corpos-de-prova no teor de 9,7%, como

mostram as FIG.s 4.13 e 4.14, visando a execução dos ensaios de resistência à

tração, módulo de resiliência e fadiga, que serão analisados no próximo capítulo.

4.0%

79.0%

9.7%

Page 101: Fernado G. S. Batista MSc 2004

100

TAB 4.11. Traço de Mistura Betuminosa com Argila Calcinada no Teor Ótimo

TRAÇO DE MISTURA BETUMINOSA - TEOR ÓTIMO: 9,7% AGREGADO GRAÚDO 3/4 - 1/2: 15% 85.8% Registro no. 1/2 - No.4: 36% D = 1,87 No.4 - No. 10: 28% Pass No.10: 21% MATERIAL DE ENCHIMENTO cimento 4.5% LIGANTE CAP-20 9.7% DENSIDADE TEÓRICA 1.765

Corpo-de-prova 1 2 3 Peso ao ar (g) 887.6 875.5 873.2 Peso imerso (g) 401.8 400.1 396.7 Peso úmido (g) 924.9 918.5 914.0 Densidade aparente (ar) 1.70 1.69 1.69 Porcentagem de vazios 3.7% 4.2% 4.2% Vazios cheios de betume 16.3% 16.3% 16.3% Vazios do agregado mineral 20.0% 20.5% 20.5% Relação betume-vazios 81.5% 79.5% 79.5% Espessura 6.78 6.72 6.67 Defletômetro (0.001 mm) 398 570 560 Estabilidade encontrada (kgf) - 889.2 873.6 Estabilidade corrigida (kgf) - 818 812 Resistência à Tração (kgf/cm2) 5.7 - -

FIG 4.13 e 4.14. Corpos-de-prova de Concreto Asfáltico com Argila Calcinada

preparados neste estudo

Page 102: Fernado G. S. Batista MSc 2004

101

4.3 DOSAGEM DE MISTURA TIPO PMF

4.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

SANTANA (1992) define o Pré-Misturado a Frio (PMF) como a mistura

preparada, em usina apropriada, com agregado graúdo (acompanhado ou não de

agregado miúdo e de fíler) e ligante asfáltico liquefeito (geralmente em forma de

emulsão asfáltica catiônica), espalhada e compactada na pista a temperatura

ambiente, podendo-se aquecer ou não o ligante e/ou o agregado, podendo ser

usada em revestimento e base.

De acordo com a ES 317-97 do DNER, a composição do PMF deve satisfazer

aos requisitos, com as respectivas tolerâncias, no que diz respeito à granulometria e

aos percentuais de ligante betuminoso, conforme a TAB. 4.12.

TAB 4.12. Faixas de projeto do DNER para misturas de concreto pré-misturado a frio

PENEIRAS % Mínima Passando

Pol.

mm

A

B

C

D

Tolerâncias

da Faixa de

Projeto

1” 25,4 100 - 100 - ± 7%

3/4” 19,1 75-100 100 95-100 100 ± 7%

1/2” 12,7 - 75-100 - 95-100 ± 7%

3/8” 9,5 30-60 35-70 40-70 45-80 ± 7%

N° 4 4,8 10-35 15-40 20-40 25-45 ± 5%

N° 10 2,0 5-20 10-24 10-25 14-30 ± 5%

N° 200 0,075 0-5 0-5 0-8 0-8 ± 2%

Betume Solúvel

no CS2 %

4-6

4-6

4-6

4-6

± 2%

Page 103: Fernado G. S. Batista MSc 2004

102

4.3.2 MATERIAIS EMPREGADOS E DEFINIÇÃO DO TEOR ÓTIMO DE EMULSÃO

SANTANA (1992) relata que para se emulsionar um CAP deve-se dividi-lo em

partículas muito pequenas (2 x 10–3 a 5 x 10-3 mm), o que é feito nos chamados

moinhos coloidais, e envolvê-las com um agente emulsificador (ou emulsificante), de

modo a impedir a união dessas partículas dispersas em água, ou seja a ruptura

prematura da EA.

De acordo com a natureza eletrolítica do emulsificante, as EAs são classificadas

em emulsões asfálticas catiônicas e aniônicas. As emulsões catiônicas rompem mais

por reação química entre emulsificante e o agregado e muito menos pela

evaporação da água. Nas aniônicas se dá o contrário.

As emulsões catiônicas se classificam quanto à velocidade de ruptura em

Ruptura Rápida (RR), Ruptura Média (RM) e Ruptura Lenta (RL). Quanto à

viscosidade, se classificam em dois tipos: 1 (menos viscosa) e 2 (mais viscosa),

sendo que para a RL há um único tipo (tipo 1).

As RR-1C e RR-2C praticamente só são usadas em tratamentos superficiais,

macadames betuminosos e em pinturas de ligação.

As EACs tipo RM-1C e RM-2C são de ruptura média, sendo indicadas para os

Pré-Misturados a Frio (PMFs) em geral. São usadas com agregados com menos

finos passando na peneira 2,0 mm. A RM-2C sendo mais viscosa que a RM-1C, é

indicada para envolver partículas mais graúdas.

Se o agregado contiver mais finos faz-se necessário maior tempo de contacto

para envolver as partículas (sem ruptura). A RL-1C é usada com agregado com mais

finos e principalmente com mais fíler passando na peneira. nº 200.

Para a realização da dosagem com PMF através do método Marshall, foi

utilizada uma emulsão catiônica RM-1C fornecida pela PROBITEC, cujas

características principais se encontram descritas na TAB. 4.13. O agregado utilizado

foi constituído de 100% de argila calcinada, enquadrado na faixa C do DNER,

conforme mostram a TAB. 4.14 e a FIG. 4.15. Foi necessária uma nova produção de

agregados de argila calcinada, cuja granulometria também se encontra na TAB.

4.14.

Page 104: Fernado G. S. Batista MSc 2004

103

TAB 4.13. Características e especificação da emulsão asfáltica usada neste estudo

Características – Emulsão Asfáltica RM-1C

Ensaios Especificação Resultados

Viscosidade Saybolt Furol ....... a 25o C (s) - -

....... a 50o C (s) 20 – 200 32,5 s

Resíduo por evaporação (% em peso) Min. 62% 64,4%

Peneiração (0,84 mm % em peso) Max. 0,1% 0,02%

Carga de partícula Positiva Positiva

PH - 2,67

Desemulsibilidade (% em peso) Max. 50% 16%

Sedimentação (05 dias, % em peso) 5% 1,7%

TAB 4.14. Granulometria da argila calcinada e projeto de PMF enquadrado na faixa

C do DNER, usada neste estudo.

PENEIRAS % Mínima Passando

Pol. mm Projeto (100%

Argila Calcinada) Faixa C

1” 25,4 100 100

¾” 19,1 100 95-100

½” 12,7 76 -

3/8” 9,5 63 40-70

N° 4 4,8 38 20-40

N° 10 2,0 22 10-25

N° 200 0,075 2 0-8

Page 105: Fernado G. S. Batista MSc 2004

104

Granulometria (PMF) - Faixa C - DNIT

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0.01 0.1 1 10 100

Diâmetro das Partículas (mm)

% Q

ue P

assa

da

Am

ostr

a To

tal

FIG 4.15. Argila calcinada enquadrada na faixa C do DNER para PMF

Para a execução do PMF foi definida empiricamente uma quantidade de 20 % de

água a se acrescentar aos agregados a fim de se propiciar um bom recobrimento,

em função da alta absorção destes. O peso total calculado para a mistura foi de

800g e a ruptura foi realizada com os agregados espalhados em bandeja por 4

horas, como mostra a FIG. 4.16.

FIG 4.16. Mistura de PMF sendo espalhada na bandeja

Page 106: Fernado G. S. Batista MSc 2004

105

Após a ruptura, foi utilizada a aparelhagem Marshall para a moldagem dos

corpos-de-prova, que depois de compactados foram levados a estufa a 60o C por um

período de 24 horas. Após aguardar 2 horas para a desmoldagem, foram medidos a

espessura e a densidade dos corpos-de-prova. Para a medição da estabilidade, o

corpo-de-prova é colocado por mais 2 horas na estufa a 40o C.

A definição dos 3 teores de emulsão para a determinação do teor ótimo foi

realizada com base no teor ótimo de CAP-20 encontrado na seção anterior. Foram

utilizados inicialmente os teores de 14%, 16% e 18%, porém os resultados

encontrados indicaram um teor ótimo próximo de 14%, logo resolveu-se moldar

corpos-de-prova também no teor de 12%, a fim de confirmar este teor ótimo. Os

percentuais de cada material foram os seguintes:

TEOR 1: 12% Emulsão

92.3% argila calcinada

7.7% ligante (CAP)

TEOR 2: 14% Emulsão

91.0% argila calcinada

9.0% ligante (CAP)

TEOR 3: 16% Emulsão

89.7% argila calcinada

10.3% ligante (CAP)

TEOR 4: 18% Emulsão

88.4% argila calcinada

11.6% ligante (CAP)

Em função da pouca quantidade de material disponível, foram moldados apenas

2 corpos-de-prova em cada teor. Como os resultados se mostraram bastante

dispersos, conforme pode ser visto na TAB. 4.15, em vez de se moldar corpos-de-

prova em um suposto teor ótimo do qual não se tinha plena certeza, foram moldados

então os últimos 12 corpos-de-prova possíveis, sendo 3 em cada teor. Para a

determinação da resistência à tração foram utilizados 2 CPs em cada teor e para o

módulo de resiliência, 1 CP em cada teor, de forma a tentar auxiliar na definição do

teor ótimo. Os 2 últimos corpos-de-prova foram moldados com apenas 600 g de

material. Os valores obtidos para a resistência à tração e os de módulo de resiliência

Page 107: Fernado G. S. Batista MSc 2004

106

serão apresentados no próximo capítulo. Os ensaios foram realizados a temperatura

de 25o C e os parâmetros obtidos no traço da mistura usada para os ensaios de

resistência à tração se encontram na TAB. 4.16. Para os CPs que foram submetidos

ao ensaio de módulo foram medidas preliminarmente apenas as suas espessuras.

Page 108: Fernado G. S. Batista MSc 2004

107

TAB 4.15. Traço de PMF com argila calcinada usado neste estudo TRAÇO DE PMF

NÚMERO DA FÓRMULA 1 12% 2 14% 3 16% 4 18% AGREGADO GRAÚDO 3/4 - 1/2: 24% 177.2 174.7 172.2 169.7

Registro no. 1/2 - 3/8: 13% 96.0 94.6 93.3 91.9 D = 1,87 3/8 - No.4: 25% 184.6 182.0 179.4 176.8 No.4 - No. 10: 16% 118.1 116.5 114.8 113.2 AGREGADO GRAÚDO No.10 - No.40: 18% 132.9 131.0 129.2 127.3 Registro no. Pass.40: 4% 29.5 29.1 28.7 28.3 D = 1,87 MATERIAL DE ENCHIMENTO 0 CAP 0 CAP 0 CAP 0 CAP LIGANTE (EMULSÃO / CAP) 96.0 61.8 112.0 72.1 128.0 82.4 144.0 92.7 DENSIDADE TEÓRICA 1.76 1.74 1.73 1.71

12% 14% 16% 18% Corpo-de-prova 1 2 3 4 5 6 7 8

Peso ao ar (g) 708.0 729.9 779.8 784.2 779.9 836.2 784.1 775.0 Peso imerso (g) 328.7 333.7 348.3 348.2 338.7 369.6 348.0 338.9 Peso úmido (g) 747.2 771.2 820.5 827.7 816.8 874.0 812.0 794.7 Densidade aparente (ar) 1.69 1.67 1.65 1.64 1.63 1.66 1.69 1.70 Porcentagem de vazios 4.0% 5.2% 5.4% 6.0% 5.7% 3.9% 1.3% 0.7% Vazios cheios de betume 16.7% 16.5% 16.3% 16.2% 14.1% 14.4% 18.8% 18.9% Vazios do agregado mineral 20.7% 21.7% 21.7% 22.2% 19.8% 18.3% 20.1% 19.6% Relação betume-vazios 80.7% 76.0% 75.1% 73.0% 71.2% 78.7% 93.5% 96.4% Espessura 6.03 5.92 6.61 6.75 6.55 7.02 6.23 6.46 Defletômetro (0.001 mm) 157 270 305 343 240 275 155 148 Estabilidade encontrada (kgf) 244.9 421.2 475.8 535.1 374.4 429.0 241.8 230.9 Estabilidade corrigida (kgf) 267 472 447 487 356 365 249 225 Estabilidade média 370 467 361 237

Page 109: Fernado G. S. Batista MSc 2004

108

TAB 4.16. Traço de PMF com argila calcinada para a execução do ensaio de resistência à tração deste estudo TRAÇO DE PMF (2)

NÚMERO DA FÓRMULA 1 12% 2 14% 3 16% 4 18% AGREGADO GRAÚDO ¾ – 1/2: 24% 177.2 174.7 172.0 169.9

Registro no. ½ – 3/8: 13% 96.0 94.6 93.2 92.0 D = 1,87 3/8 – No.4: 25% 184.6 182.0 179.2 177.0 No.4 - No. 10: 16% 118.1 116.5 114.7 113.3

AGREGADO GRAÚDO No.10 - No.40: 18% 132.9 131.0 129.0 127.4 Registro no. Pass.40: 4% 29.5 29.1 28.7 28.3 D = 1,87 MATERIAL DE ENCHIMENTO 0 CAP 0 CAP 0 CAP 0 CAP LIGANTE (EMULSÃO / CAP) 96.0 61.8 112.0 72.1 128.0 82.4 144.0 92.7 DENSIDADE TEÓRICA 1.76 1.74 1.73 1.71

12% 14% 16% 18% Corpo-de-prova 1 2 3 4 5 6 7 8

Peso ao ar (g) 792.0 768.9 804.0 775.5 771.9 778.5 742.8 796.1 Peso imerso (g) 348.3 338.1 354.6 350.0 340.3 327.5 312.7 340.9 Peso úmido (g) 822.9 803.7 835.6 803.2 793.2 804.3 773.3 825.6 Densidade aparente (ar) 1.67 1.65 1.67 1.71 1.70 1.63 1.61 1.64 Porcentagem de vazios 5.2% 6.3% 4.3% 2.0% 1.7% 5.7% 5.9% 4.1% Vazios cheios de betume 14.5% 14.3% 12.4% 12.7% 16.8% 16.1% 14.0% 14.2% Vazios do agregado mineral 19.7% 20.6% 16.7% 14.7% 18.5% 21.8% 19.9% 18.3% Relação betume-vazios 73.6% 69.4% 74.3% 86.4% 90.8% 73.9% 70.4% 77.6% Espessura 6.67 6.57 6.21 6.27 6.15 6.52 6.27 6.54 Defletômetro (0.001 mm) 81 85 63 55 43 72 74 80

Page 110: Fernado G. S. Batista MSc 2004

109

Mesmo estes resultados não apresentaram valores que pudessem levar a uma

conclusão definitiva, porém podem ser utilizados para que se possa ter uma idéia da

ordem de grandeza dos valores de estabilidade para o PMF com argila calcinada,

além do teor ótimo de emulsão. Através dos resultados, de resistência à tração e

módulo de resiliência, que serão apresentados no próximo capítulo, e de uma

análise visual dos corpos-de-prova, foi possível notar que o teor de 12% se

apresentava com escassez e o de 18% com excesso de ligante, indicando que o

melhor teor seria em torno de 14% a 15%, como já se suspeitava inicialmente. A

TAB. 4.17 e a FIG. 4.17 demonstram os resultados obtidos.

TAB 4.17. Valores médios de estabilidade para o PMF com argila calcinada deste

estudo

Teor Estabilidade (kgf)

12% 370

14% 467

16% 361

18% 237

Estabilidade (PMF)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

11 12 13 14 15 16 17 18 19

Teor de Emulsão (%)

Est

abili

dade

(kgf

)

FIG 4.17. Valores de Estabilidade para o PMF com argila calcinada deste estudo

Page 111: Fernado G. S. Batista MSc 2004

110

5. ENSAIOS COMPLEMENTARES

MEDINA (1997) relata que foram de FRANCIS HVEEM (1955) as observações

feitas sobre o comportamento dos pavimentos asfálticos sob a ação das cargas de

tráfego que permitem afirmar que a degradação estrutural do pavimento asfáltico é

associada a dois fatores principais:

��A deformação permanente – manifestada pela profundidade das trilhas

de roda e pela irregularidade do perfil longitudinal, que vai crescendo com o número

N. Ou seja, à medida que vai crescendo o número N, vão crescendo as deformações

permanentes nos perfis transversal e longitudinal, que são devidas ao somatório das

deformações permanentes de todas as camadas: do subleito ao revestimento.

��A fadiga à flexão – manifestada pelas trincas em forma de couro de

jacaré no revestimento asfáltico. O revestimento asfáltico sob a ação do tráfego vai

trabalhar a flexão, sofrendo deflexões reversíveis (elásticas) que provocam a

repetição de tensões de tração (σ) e das respectivas deformações relativas (ε) em

sua face inferior. À medida que se repetem as (σ) (e as ε), isto é, à medida que vai

crescendo o número N, o revestimento asfáltico vai enfraquecendo. Inicialmente

aparecem fissuras, seguidas de trincas isoladas que vão tendendo a formar trincas

tipo de couro de crocodilo: é o fenômeno da fadiga.

HVEEM (apud MEDINA, 1997), em 1955 apontava que o projeto deve

considerar, fundamentalmente a repetição do carregamento aplicado. Sistematizou a

observação dos defeitos dos pavimentos e concluiu que a maioria deles tinham

origem na fadiga do revestimento, devido à repetição de pequenas deformações

elásticas.

PINTO (1991) confirma que no nosso país, o principal defeito dos pavimentos

flexíveis é o trincamento por fadiga do revestimento provocado pela repetição das

cargas de tráfego. Por outro lado, a resiliência das camadas granulares é

relativamente elevada para baixos níveis de tensões confinantes atuantes,

contribuindo bastante para o aumento da deformabilidade elástica e, assim,

acelerando o processo de degradação por fadiga dos revestimentos betuminosos ou

de camadas cimentadas.

Page 112: Fernado G. S. Batista MSc 2004

111

O conhecimento das tensões e deformações em uma seção de pavimento

estudada, permite avaliar a ocorrência de fadiga durante o período de projeto.

Ensaios de laboratório têm sido desenvolvidos para estudar os materiais de

pavimentação sob condições de carregamento similares àqueles de campo. Entre

eles, cita-se o ensaio triaxial de carga repetida para materiais terrosos, permitindo

determinar o módulo de elasticidade ou resiliente sob diferentes condições de

umidade, densidade, tensão confinante, tensão desvio, freqüência do carregamento,

duração e repetição do carregamento.

PINTO e MOTTA (1995) observam que a estimativa da vida de fadiga pode ser

feita em duas condições:

- ensaios de placa ou pistas de simulações de tráfego, como a pista circular do

IPR; ou

- ensaios de laboratório em corpos-de-prova que representam uma modelização

das condições de solicitação, utilizando equipamentos como o mostrado na fig. 5.1.

FIG 5.1. Equipamento do IME para a execução dos ensaios de módulo de

resiliência e fadiga

Neste trabalho, a vida de fadiga foi estudada através de corpos-de-prova

cilíndricos compactados no teor ótimo segundo a metodologia Marshall, utilizando

concreto asfáltico. Para os 27 corpos-de-prova moldados foi realizada uma

programação de ensaios, conforme as quantidades descritas na TAB. 5.1.

Page 113: Fernado G. S. Batista MSc 2004

112

TAB 5.1. Programação dos ensaios de concreto asfáltico com argila calcinada deste

estudo

Ensaio Quantidade

25o C 3

30o C 2 Resistência à Tração 7

35o C 2

25o C 4

30o C 2 Módulo de Resiliência 8

35o C 2

10% 4

20% 2

30% 3 Fadiga (25o C)* 12

40% 3

(*) inicialmente seriam 3 em cada percentual, mas em função da dispersão de

valores no nível de tensão de 10%, resolveu-se realizar mais 1 ensaio neste nível.

Aproveitando-se os corpos-de-prova não rompidos, onde foram medidos os

módulos de resiliência a 25o C e a 30o C, foram realizados ainda mais 2 ensaios de

resistência à tração (a 30o C e a 35o C). Apesar de não terem sido somados os

golpes recebidos na execução do ensaio de módulo, foram realizados também 2

novos ensaios de fadiga (1 a 10% e 1 a 20%), como mostra a TAB. 5.2. Os corpos-

de-prova onde foi realizado ensaio de módulo a 35o C não foram reaproveitados, em

função das deformações permanentes próximas do friso de carga (em especial)

serem mais intensas do que nas outras temperaturas.

A TAB. 5.2 detalha todos os ensaios realizados em cada corpo-de-prova. Os

resultados obtidos em cada ensaio estão relatados na próxima seção.

Para os corpos-de-prova moldados utilizando-se pré-misturado a frio foram

realizados apenas os ensaios de resistência à tração e módulo de resiliência,

conforme descrito no capítulo anterior: 2 ensaios de resistência à tração e 1 ensaio

de módulo em cada teor estudado, a 25o C.

Page 114: Fernado G. S. Batista MSc 2004

113

TAB 5.2. Relação de todos os ensaios realizados com os corpos-de-prova de

concreto asfáltico com argila calcinada

CP 1o ENSAIO 2o ENSAIO

1 RT 25o C X

2 RT 25o C X

3 RT 25o C X

4 Fad 40% X

5 Fad 30% X

6 Mod 25o C Fad 10%

7 Fad 40% X

8 Fad 40% X

9 Fad 30% X

10 Fad 30% X

11 Fad 20% X

12 Fad 20% X

13 Mod 25o C Fad 20%

14 Fad 10% X

15 Fad 10% X

16 Mod 25o C RT 30o C

17 RT 30o C X

18 RT 30o C X

19 Mod 30o C -

20 Fad 10% X

21 Mod 35o C X

22 Mod 35o C X

23 RT 35o C X

24 RT 35o C X

25 Mod 30o C -

26 Fad 10% X

27 Mod 25o C RT 35o C

Page 115: Fernado G. S. Batista MSc 2004

114

5.1 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO

5.1.1 METODOLOGIA DE ENSAIO

O ensaio de resistência à tração por compressão diametral foi realizado segundo

o método ME 138/94 do DNER, utilizando-se a prensa Marshall, com movimento do

êmbolo a uma velocidade de 0,8 ± 0,1 mm/s, como ilustra a FIG. 5.2. Estes ensaios

foram realizados no laboratório do IPR/DNIT.

Inicialmente foram medidas as espessuras e os diâmetros dos corpos-de-prova,

sendo estes colocados então em banho a temperatura controlada de 25oC (3 CPs),

30oC (2 CPs) e 35oC (2 CPs) por um período de 2 (duas) horas. Após este tempo, os

corpos-de-prova foram levados à prensa e aplicada a carga de compressão até a

sua ruptura por separação das 2 metades do CP, segundo o plano diametral vertical.

FIG 5.2. Ilustração do ensaio de resistência à tração por compressão diametral

na prensa utilizada neste estudo

O valor da carga de ruptura (F) é anotado e a resistência à tração por

compressão diametral calculada através da equação 5.1.

Page 116: Fernado G. S. Batista MSc 2004

115

DhF

R πσ 2= EQ. 5.1

onde:

σR – resistência a tração, em MPa;

F – carga de ruptura, em MPa;

D – diâmetro do CP, em cm;

h – espessura do CP, em cm.

A prensa utilizada possuía um fator de calibração k=1,56, que deve ser

multiplicado ao valor encontrado para se obter o valor final da resistência à tração.

5.1.2 RESULTADOS

5.1.2.1 CONCRETO ASFÁLTICO

Os resultados de resistência à tração obtidos para o concreto asfáltico com argila

calcinada deste estudo estão expressos na TAB. 5.3 e na FIG. 5.3.

TAB 5.3. Resultados dos ensaios de resistência à tração

Ensaio Temp. (o C) RT (MPa) RT Média (MPa)

25o C 0,64

25o C 0,65 Resistência à Tração

25o C 0,66

0,65

30o C 0,36

30o C 0,25 Resistência à Tração

30o C 0,38

0,33

35o C 0,23

35o C 0,22 Resistência à Tração

35o C 0,21

0,22

Page 117: Fernado G. S. Batista MSc 2004

116

y = 93.559e-0.109x

R2 = 0.905

0.1

1

20 25 30 35 40

Temperatura (o C)

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

FIG 5.3. Resistência à Tração a diversas temperaturas para o CBUQ deste estudo

A resistência à tração por compressão diametral a 25ºC de concretos asfálticos

usuais brasileiros, com agregados tradicionais [PREUSSLER (1983), PINTO (1991)

e MOTTA et al (1993)], varia entre 0,5 MPa e 1,9 MPa para módulos de resiliência

entre 2.000 MPa e 14.600 Mpa, para várias faixas granulométricas e ligantes

distintos (PINTO e PREUSSLER, 2002).

Uma comparação dos valores obtidos neste estudo com os obtidos por PINTO

(1991) para corpos-de-prova de concreto asfáltico com agregados tradicionais e

utilizando o CAP-20 como ligante é mostrada na TAB. 5.4 e na FIG. 5.4.

TAB 5.4. Comparação da Resistência à Tração obtida neste estudo com a obtida

por PINTO (1991)

Ensaio Temp. (o C) RT obtida neste

estudo (Mpa) RT PINTO (Mpa)

Resistência à Tração 25o C 0,65 0,83

Resistência à Tração 30o C 0,33 0,63

Resistência à Tração 35o C 0,22 0,42

Page 118: Fernado G. S. Batista MSc 2004

117

0.1

1

20 25 30 35 40

Temperatura (o C)

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Este estudo PINTO (1991)

FIG 5.4. Comparação da Resistência à Tração obtida neste estudo com a obtida

por PINTO (1991)

Os resultados obtidos para a resistência à tração dos corpos-de-prova utilizando

o concreto asfáltico com argila calcinada podem ser considerados bastante

satisfatórios, uma vez que não apresentam uma redução significativa em relação ao

concreto asfáltico com agregado tradicional, especialmente nas temperaturas mais

baixas.

5.1.2.2 PRÉ-MISTURADO A FRIO

Os resultados de resistência à tração obtidos para o PMF preparado com argila

calcinada neste estudo estão expressos na TAB. 5.5 e na FIG. 5.5. A mistura foi

compactada após um tempo de cura de 4 horas e o ensaio de resistência à tração

realizado cerca de 2 a 3 dias após a compactação.

TAB 5.5. Valores de resistência à tração para o PMF com argila calcinada

Teor Resist. à tração (MPa) 12% 0,12 14% 0,09 16% 0,09 18% 0,12

Page 119: Fernado G. S. Batista MSc 2004

118

FIG 5.5. Valores de resistência à tração para o PMF com argila calcinada

Os resultados obtidos para a resistência à tração utilizando o pré-misturado a frio

com argila calcinada não mostraram uma tendência linear, apresentando os valores

mais elevados nos teores de 12% e 18%.

5.2 MÓDULO DE RESILIÊNCIA

5.2.1 METODOLOGIA DE ENSAIO

No cálculo das tensões e deformações nos modelos elásticos usa-se o clássico

módulo de elasticidade E que também é chamado de Módulo de Young.

Segundo PINTO (1991), denominou-se de Módulo de Resiliência a relação entre

a tensão desvio σd e a deformação elástica (ε). Essa denominação de módulo de

resiliência foi estendida aos resultados obtidos com outros tipos de ensaios, como é

o caso de ensaio de compressão diametral dinâmico nas misturas asfálticas.

O ensaio de compressão diametral estático foi desenvolvido pelo professor

Fernando Luiz Lobo B. Carneiro da COPPE/UFRJ, para a determinação da

resistência à tração de corpos-de-prova cilíndricos de concreto de cimento Portland,

sendo conhecido no exterior como “ensaio brasileiro”.

Resistência à Tração (PMF)

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

0.14

11 12 13 14 15 16 17 18 19

Teor de Emulsão (%)

Res

iste

ncia

a T

raçã

o (M

Pa)

Page 120: Fernado G. S. Batista MSc 2004

119

PINTO e PREUSSLER (2002) relatam ainda que Schmidt, da Chevron,

Califórnia, foi quem introduziu esse ensaio para as misturas betuminosas sob

carregamento repetido.

A carga é aplicada por compressão diametral em amostras cilíndricas, induzindo

um estado de compressão na direção vertical e de tração na horizontal. O

carregamento vertical é aplicado e distribuído através de um friso de carga curvo e o

deslocamento horizontal é medido por transdutores do tipo LVDT (“linear variable

differential transformer”).

A aplicação da teoria da elasticidade a misturas asfálticas no ensaio de

compressão diametral, é admissível a níveis de tensão de tração de 50% ou menos

em relação à resistência à ruptura estática e a temperaturas inferiores a 35°C.

O equipamento de compressão diametral utilizado para a determinação dos

módulos de resiliência e estudos de fadiga de misturas betuminosas é mostrado na

FIG. 5.6. A temperatura do ensaio deve ser especificada e controlada mediante o

condicionamento do equipamento em uma câmara termo-regulável, que pode ser

vista na FIG. 5.7. Estes equipamentos mostrados pertencem ao laboratório de solos

do INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA (IME) e foram utilizados nesta pesquisa.

Em resumo, o módulo de resiliência (MR) de misturas betuminosas é a relação

entre a tensão (σt) aplicada repetidamente no plano diametral vertical de uma

amostra cilíndrica de mistura betuminosa e a deformação específica recuperável (εt)

correspondente à tensão aplicada, numa temperatura (T°C), para uma certa

freqüência de aplicação de carga.

Tem-se adotado para o ensaio a temperatura de 25°C (em vez de 30oC como

prevê o ME), com uma freqüência de 60 solicitações por minuto e duração da carga

de 0,10 s, conforme preconiza o método ME 133/94, do DNER.

Page 121: Fernado G. S. Batista MSc 2004

120

FIG 5.6. Equipamento do IME para execução do ensaio de módulo de resiliência

em corpos-de-prova de misturas betuminosas

FIG 5.7. Câmara do equipamento do IME para controle de temperatura dos

corpos-de-prova

Page 122: Fernado G. S. Batista MSc 2004

121

O corpo-de-prova é colocado entre os frisos de carga, com o suporte de LVDTs

acoplado e centralizado. Inicialmente os LVDTs são posicionados e zerados, e o

corpo-de-prova é submetido a um condicionamento, no qual é aplicada 10 (dez)

vezes uma carga em forma de pulsos. No equipamento automatizado, a

amostragem é realizada em 3 ciclos de 5 (cinco) pulsos cada, sendo que se algum

dos pulsos estiver com um erro maior do que a porcentagem admissível,

automaticamente serão medidos 10 pulsos para se fazer a média. A pressão inicial

de ensaio é de 0,50 kgf/cm2, com incremento de 0,25 kgf/cm2.

5.2.2 RESULTADOS

5.2.2.1 CONCRETO ASFÁLTICO

Os resultados de módulo de resiliência obtidos para o CBUQ preparado com

argila calcinada deste estudo estão expressos na TAB. 5.6 e na FIG. 5.8.

y = 23118e-0.0989x

R2 = 0.803

100

1000

10000

20 25 30 35 40

Temperatura (o C)

Mód

ulo

Res

ilien

te (M

Pa)

FIG 5.8. Resultados de módulo de resiliência a diversas temperaturas do CBUQ com

argila calcinada deste estudo

Page 123: Fernado G. S. Batista MSc 2004

122

TAB 5.6. Resultados dos ensaios de módulo de resiliência do CBUQ com argila

calcinada deste estudo

CP T (oC) MÉDIA DO CP (Mpa) MÉDIA FINAL (Mpa)

06_1 25

06_2 25

2641

13_1 25

13_2 25

2129

27_1 25

27_2 25

1488

2086

19_1 30

19_2 30

1126

25_1 30

25_2 30

1011

1068

21_1 35

21_2 35

906

22_1 35

22_2 35

655

780

Page 124: Fernado G. S. Batista MSc 2004

123

5.2.2.2 PRÉ-MISTURADO A FRIO

Os resultados de módulo de resiliência obtidos para o PMF preparado com argila

calcinada deste estudo estão expressos na TAB. 5.7 e na FIG. 5.9.

TAB 5.7. Valores do módulo de resiliência para o PMF com argila calcinada

* foi adotado apenas o valor do 2o ciclo.

Módulo de Resiliência (PMF)

0

100

200

300

400

500

600

700

11 12 13 14 15 16 17 18 19

Teor de Emulsão (%)

Mód

ulo

(MP

a)

FIG 5.9. Valores de Módulo de Resiliência para o PMF com argila calcinada

Teor Espessura

(cm)

Módulo de resiliência

(MPa)

Módulo de resiliência

médio (MPa) 664*

250 12% 6,29

-

250

401

355 14% 6,65

331

362

624

577 16% 4,58

523

575

395

341 18% 4,71

299

345

Page 125: Fernado G. S. Batista MSc 2004

124

5.3 FADIGA

5.3.1 METODOLOGIA DE ENSAIO

Para estimativa da vida de fadiga de misturas asfálticas, dispõem-se de ensaios

laboratoriais que procuram simular as condições de solicitação de uma rodovia e os

que procuram uma representação mais simplificada, embora menos aproximada

com a real situação de pista.

No primeiro grupo, estão os ensaios executados em placas ou vigas apoiadas

em suporte que visam representar as camadas subjacentes ao revestimento. No

segundo grupo, estão classificados os ensaios laboratoriais executados em corpos-

de-prova cilíndricos ou prismáticos, submetidos a níveis de tensões ou deformações

de modo a simular a condição de solicitação no campo.

Os métodos experimentais podem ser classificados em função do carregamento

imposto, do seguinte modo (PINTO, 1991):

• Condição de Carga:

�� Estática – Fluência, Relaxação, Velocidade de Deformação Constante;

�� Dinâmica – Senoidal, Pulsatória.

• Tipo de Carga:

�� Compressão simples;

�� Compressão diametral;

�� Tração;

�� Flexão simples ou em balanço;

�� Triaxial;

�� Rotativa – torção.

Os ensaios sob carga dinâmica distinguem-se, quanto ao processo empregado

para desenvolver tensões e deformações repetidas: torção, tração direta ou indireta,

flexão.

O ensaio de compressão diametral é bastante utilizado devido à sua simplicidade

de execução e por se aproximar das condições de solicitação produzidas na fibra

inferior das camadas de revestimento - estado biaxial de tensões, no ensaio. Além

disso, as mostras são aquelas preparadas para a definição do projeto das misturas

Page 126: Fernado G. S. Batista MSc 2004

125

pelo método Marshall e podem ser facilmente coletadas no campo com sondas

rotativas (PINTO, 1991).

A carga repetida pode ser induzida através de uma solicitação simples ou

complexa. Na solicitação simples, os parâmetros de carga como a forma, duração,

freqüência, nível, intervalo entre as cargas são mantidos constantes durante o

ensaio. Na solicitação complexa, os parâmetros de carga variam ao longo do ensaio.

Embora na prática corrente os pavimentos estejam submetidos a solicitações

complexas, os centros de pesquisa freqüentemente realizam ensaios de fadiga sob

condições de solicitação simples.

Os equipamentos laboratoriais para ensaios de carga repetida permitem a

aplicação de carregamentos cíclicos ao material sob o regime de tensão controlada

e de deformação controlada. Assim, a grande separação que se pode fazer entre os

diferentes ensaios é quanto ao modo de solicitação.

PINTO (1991) relata que no ensaio de tensão controlada (TC), a carga aplicada

é mantida constante e as deformações resultantes aumentam no decorrer do ensaio.

O ensaio de deformação controlada (DC) envolve a aplicação de cargas repetidas

que produzam uma deformação constante ao longo do ensaio, o que conduz a uma

diminuição da carga aplicada, para manter a deformação constante. Em ambos os

ensaios há uma redução da rigidez inicial do material a um nível que pode ser pré-

estabelecido, no sentido de definir o fim do ensaio.

PINTO (1991) mostrou que para as condições predominantes de estruturas de

pavimentos brasileiros, o comportamento à tensão controlada ocorre na maioria das

vezes e que para algumas misturas betuminosas estudadas, a diferença entre as

curvas obtidas de ensaios à tensão controlada e à deformação controlada não é

muito relevante.

No ensaio à tensão controlada, o critério de fadiga está associado à fratura da

amostra. A carga é mantida constante ao longo do ensaio e as deformações atingem

um valor máximo até o estágio de colapso do corpo-de-prova. Portanto, a vida de

fadiga (N) é definida como o número total de aplicações de uma carga necessária à

fratura completa da amostra.

No ensaio à deformação controlada, o critério de fadiga não está condicionado à

ruptura completa do corpo-de-prova. Para que a deformação seja mantida constante

ao longo do ensaio, é necessário que haja uma diminuição do carregamento

Page 127: Fernado G. S. Batista MSc 2004

126

aplicado. Alguns autores definem a vida de fadiga à deformação controlada como o

número de repetições da carga capaz de reduzir o desempenho ou rigidez inicial da

amostra a um nível pré-estabelecido. Consideram esses autores que uma redução

de módulo de rigidez ou de resiliência, da ordem de 50%, define o fim do ensaio, ou

seja, da vida de fadiga. PINTO (1991) admite que o fim do ensaio é atingido quando

a carga aplicada para manter a deformação é reduzida de 40% ou 50% da carga

inicial.

Neste trabalho, a vida de fadiga foi estudada utilizando-se o ensaio de

compressão diametral, com corpos-de-prova cilíndricos, a níveis de tensão

controlada variando de 10% a 40% do valor obtido para a resistência à tração

estática indireta. No equipamento automatizado pertencente ao IME, que foi utilizado

neste estudo, o corpo-de-prova é colocado entre os cutelos de aplicação da carga,

como mostra a FIG. 5.10, e são digitados os valores do sigmaT máximo e do nível

de tensão (NT) desejado. O programa calcula então a diferença de tensões e a força

a ser empregada. Esta força se correlaciona com a pressão do cilindro aplicador de

carga. Ao atingir a pressão alvo no cilindro inicia-se a contagem do número de

golpes, que é efetuada até a ruptura do corpo-de-prova.

A temperatura do ensaio adotada é de 25°C + 0,5°C, fácil de manter no

laboratório. Tem-se modelado os resultados dos ensaios de fadiga em termos de

deformação específica resiliente inicial e da diferença de tensões (∆σ) – estado

biaxial de tensões “versus” número de solicitações do carregamento repetido (N) –

Vida de Fadiga.

FIG 5.10. Detalhe do CP no equipamento utilizado neste estudo para execução

do ensaio de fadiga em corpos-de-prova de misturas betuminosas

Page 128: Fernado G. S. Batista MSc 2004

127

5.3.2 RESULTADOS

Os resultados de fadiga obtidos para a mistura tipo CBUQ preparada com argila

calcinada neste estudo se encontram na TAB. 5.8 e nas FIG. 5.11 e 5.12.

TAB 5.8. Valores obtidos nos ensaios de fadiga para a mistura tipo CBUQ preparada

com argila calcinada neste estudo

Corpo-de-prova

Nível de Tensão

(%)

Número de Golpes

Dif. Tensões ∆σ ∆σ ∆σ ∆σ

Def. Especif. Resiliente Inicial εεεεi (cm/cm)

7 40 396 1.04 1,24 x 10-4

8 40 491 1.04 1,24 x 10-4

9 30 1353 0.78 9,29 x 10-5

10 30 1296 0.78 9,29 x 10-5

11 20 2757 0.52 6,19 x 10-5

12 20 4680 0.52 6,19 x 10-5

14 10 44596 0.26 3,10 x 10-5

15 10 22769 0.26 3,10 x 10-5

20 10 14365 0.26 3,10 x 10-5

26 10 8892 0.26 3,10 x 10-5

y = 586.48x-2.61

R2 = 0.926

100

1000

10000

100000

0.1 1 10

Diferença de Tensões ∆σ∆σ∆σ∆σ (Mpa)

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.11. Vida de fadiga x diferença de tensões

Page 129: Fernado G. S. Batista MSc 2004

128

y = 3E-08x-2.61

R2 = 0.926

100

1000

10000

100000

0.00001 0.0001 0.001

Deformação Específica Resiliente Inicial

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.12. Vida de fadiga x deformação específica resiliente inicial

Visando se obter um melhor ajuste, foi subtraído o resultado do corpo-de-prova

no 26, obtendo-se os resultados expressos nas FIG. 5.13 e 5.14.

y = 561.33x-2.82

R2 = 0.960

100

1000

10000

100000

0.1 1 10

Diferença de Tensões ∆σ ∆σ ∆σ ∆σ (Mpa)

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.13. Vida de fadiga x diferença de tensões

Page 130: Fernado G. S. Batista MSc 2004

129

y = 5E-09x-2.82

R2 = 0.960

100

1000

10000

100000

0.00001 0.0001 0.001Deformação Específica Resiliente Inicial

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.14. Vida de fadiga x deformação específica resiliente

Com a introdução dos valores obtidos dos corpos-de-prova no 6 e 13, expressos

na TAB. 5.9, que já haviam passado pelo ensaio de módulo, se obteve uma nova

reta de ajuste, mostrada nas FIG.s 5.15 e 5.16. Estes valores foram considerados

neste estudo pois, apesar de não terem sidos somados os golpes que os CPs já

haviam sofrido durante o ensaio de módulo, os valores obtidos para o número de

golpes em cada nível de tensão foram superiores aos mínimos obtidos

anteriormente.

TAB 5.9. Valores dos ensaios de fadiga com a introdução de mais 2 ensaios Corpo-de-

prova Nível de

Tensão (%) Número de

Golpes Dif. Tensões

∆σ ∆σ ∆σ ∆σ (Mpa) Def. Especif. Resiliente

Inicial ε ε ε εi (cm/cm) 7 40 396 1.04 1,24 x 10-4 8 40 491 1.04 1,24 x 10-4 9 30 1353 0.78 9,29 x 10-5

10 30 1296 0.78 9,29 x 10-5 11 20 2757 0.52 6,19 x 10-5 12 20 4680 0.52 6,19 x 10-5 14 10 44596 0.26 3,10 x 10-5 15 10 22769 0.26 3,10 x 10-5 20 10 14365 0.26 3,10 x 10-5 26 10 8892 0.26 3,10 x 10-5 6 10 34165 0.26 3,10 x 10-5

13 20 2989 0.52 6,19 x 10-5

Page 131: Fernado G. S. Batista MSc 2004

130

y = 568.34x-2.71

R2 = 0.929

100

1000

10000

100000

0.1 1 10

Diferença de Tensões ∆σ∆σ∆σ∆σ (Mpa)

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.15. Vida de fadiga x diferença de tensões com a introdução de mais 2 CPs

y = 1E-08x-2.71

R2 = 0.929

100

1000

10000

100000

0.00001 0.0001 0.001Deformação Específica Resiliente Inicial

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.16. Vida de fadiga x deformação específica resiliente com a introdução de

mais 2 CPs

Novamente foi subtraído o ponto referente ao corpo-de-prova no 26, chegando

finalmente aos resultados expostos nas FIG.s 5.17 e 5.18.

Page 132: Fernado G. S. Batista MSc 2004

131

y = 542.83x-2.89

R2 = 0.963

100

1000

10000

100000

0.1 1 10

Diferença de Tensões ∆σ∆σ∆σ∆σ (Mpa)

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.17. Representação da Vida de fadiga x diferença de tensões para o CBUQ

com argila calcinada deste estudo

y = 3E-09x-2.89

R2 = 0.963

100

1000

10000

100000

0.00001 0.0001 0.001

Deformação Específica Resiliente Inicial

Vid

a de

Fad

iga

(N)

FIG 5.18. Representação da Vida de fadiga x deformação específica resiliente inicial

para o CBUQ com argila calcinada deste estudo

Page 133: Fernado G. S. Batista MSc 2004

132

Logo, as equações consideradas representativas para a vida de fadiga em

função da diferença de tensões (em MPa) e da deformação específica resiliente

inicial para o CBUQ com argila calcinada deste estudo foram, respectivamente:

N = 542.83 (∆σ)-2.89 EQ. 5.2

N = 3 x 10-9 (ε)-2.89 EQ. 5.3

São apresentadas nas FIG.s 5.19 e 5.20 e na TAB. 5.10, uma comparação entre

os valores acima mencionados e os obtidos por PINTO (1991) para um concreto

asfáltico com agregados tradicionais com um CAP-20 semelhante ao usado neste

experimento.

100

1000

10000

100000

0.1 1 10

Diferença de Tensões ∆σ∆σ∆σ∆σ (Mpa)

Vid

a de

Fad

iga

(N)

Este estudo Pinto (1991)

FIG 5.19. Comparação entre as curvas de fadiga em função da diferença de tensões

para o CBUQ deste estudo e um CBUQ convencional

Page 134: Fernado G. S. Batista MSc 2004

133

100

1000

10000

100000

0.00001 0.0001 0.001

Deformação Específica Resiliente Inicial

Vid

a de

Fad

iga

(N)

Obtida Pinto

FIG 5.20. Comparação entre as curvas de fadiga em função da deformação

específica resiliente inicial para o CBUQ deste estudo e um CBUQ convencional

TAB 5.10. Comparação entre parâmetros utilizados, valores obtidos e equações

obtidas para o CBUQ deste estudo e um CBUQ convencional

N x ∆σ∆σ∆σ∆σ N x εεεε Amostra Faixa DNER Ligante Módulo de

Resiliência (MPa) σσσσt

(MPa) k1 n k2 n2 Este estudo B CAP-20 2086 0,65 5,43x102 -2,89 3x10-9 -2,89

PINTO (1991) B CAP-20 3520 0,81 5,63x105 -2,61 2,0x10-8 -2,61

Os valores obtidos para a vida de fadiga nos ensaios com CBUQ utilizando a

argila calcinada como agregado podem ser considerados satisfatórios em

comparação com os valores obtidos para um CBUQ com agregado tradicional. A

aparente inversão entre os gráficos de comparação 5.19 e 5.20 se explica pela

diferença encontrada nos valores de módulo de resiliência para o CBUQ com argila

calcinada utilizado neste estudo e o CBUQ convencional.

Page 135: Fernado G. S. Batista MSc 2004

134

6. APLICAÇÃO DOS RESULTADOS NO PROJETO DE PAVIMENTAÇÃO DA BR-163

6.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A deflexão de um pavimento caracteriza a resposta das camadas estruturais e

do subleito à aplicação do carregamento. Quando uma carga é aplicada em um

ponto (ou uma área) da superfície do pavimento, todas as camadas fletem devido às

tensões e às deformações geradas pelo carregamento. O valor da deflexão em cada

camada geralmente diminui com a profundidade e com o distanciamento do ponto

de aplicação da carga e depende ainda do módulo de elasticidade das camadas. A

partir de certas distâncias e profundidades as deflexões tornam-se muito pequenas e

até nulas.

Os pavimentos mais robustos estruturalmente fletem menos do que os

pavimentos mais debilitados. A significativa diferença na “resposta” entre os

pavimentos robustos e debilitados indica os efeitos no desempenho estrutural. Assim

sendo, pavimentos com deflexões mais baixas suportam maior número de

solicitações de tráfego.

Um projeto de pavimento flexível bem concebido, deve atender limitações de:

• Tensões que possam provocar ruptura por cisalhamento;

• Deformações permanentes; e

• Deformações recuperáveis ou elásticas.

Um pavimento bem dimensionado, em função do CBR, em geral garante as duas

primeiras condições. Contudo, a repetição das cargas transientes pode levar a

ruptura por fadiga do revestimento betuminoso prematuramente, se não for

considerado o limite admissível das deformações elásticas para um “N” de projeto –

repetição do carregamento.

Para SANTANA (1992), não se dispondo de resultados de laboratório pode-se

tomar as faixas de valores para o módulo de resiliência e os µ seguintes constantes

da TAB. 6.1.

Page 136: Fernado G. S. Batista MSc 2004

135

TAB 6.1. Valores do módulo de resiliência e coeficiente de Poisson sugeridos por

SANTANA (1992)

CAMADA MR (MPa) µµµµ

Concreto Asfáltico 2.000 – 4.000 0,30

Base Granular 300 - 500 0,35

Sub-base (Granular) 150 – 300 0,35

Subleito 7 CBR – 13 CBR 0,45

PINTO (2004) recomenda a adoção dos valores típicos relacionados na TAB. 6.2

para o módulo de resiliência, e MOTTA (1991) aconselha a utilização dos valores

relacionados na TAB. 6.3 para o coeficiente de Poisson:

TAB 6.2. Valores de módulo de resiliência recomendados por PINTO (2004)

Média Mínimo Máximo Camada

(MPa) (MPa) (Mpa)

Revestimentos (CA) 3000 1500 6000

Bases Granulares 250 100 700

Sub-bases Granulares 160 90 300

Reforço do Subleito 150 70 250

Subleitos 100 50 250

TAB 6.3. Valores do coeficiente de Poisson recomendados por MOTTA (1991) Camada Coef. de Poisson

Betuminosa 0,30

Granular 0,35

Argilosa 0,45

6.2 VERIFICAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO COM UTILIZAÇÃO DO PROGRAMA

FEPAVE2

Para a avaliação dos resultados obtidos e aplicação no projeto de pavimentação

da BR-163, desenvolvido por VIEIRA e SOUZA (2002), foi escolhida como

Page 137: Fernado G. S. Batista MSc 2004

136

ferramenta o programa computacional FEPAVE2, por ser de fácil utilização e

disponibilidade.

O programa FEPAVE utiliza o método dos elementos finitos para o cálculo de

tensões e deslocamentos de estruturas de pavimentos. O perfil proposto é dividido

em malhas quadrangulares e a carga de uma roda é aplicada na superfície,

distribuída uniformemente em uma área circular. Para estruturas não-lineares, a

carga de roda é aplicada em incrementos iguais e os módulos dos elementos são

calculados pelas equações de resiliência, definidas nos ensaios de laboratório,em

função dos níveis de tensões gerados pelo incremento de carga anterior. Os

módulos iniciais podem ser calculados com a consideração ou não das tensões

gravitacionais. Admite até 12 camadas estratificadas e caracterizadas por

parâmetros de resiliência, no caso de materiais de comportamento não-linear, ou por

módulos constantes para os materiais elástico-lineares. Devem ser também

fornecidos os coeficientes de Poisson, peso específico, coeficiente de empuxo no

repouso para os materiais terrosos e a variação do módulo de resiliência do material

betuminoso com a temperatura, ao longo da espessura da camada do

revestimento.(SILVA, 1995)

MOTTA (1991) e SILVA (1995) desenvolveram rotinas que facilitaram o arquivo

de saída do programa e também a entrada dos dados no FEPAVE.

Com relação ao projeto de pavimentação da BR-163 desenvolvido por VIEIRA e

SOUZA (2002), o estudo do subleito revelou a existência de solos lateríticos com

valor de CBR predominante baixo (menor que 10%) e as análises estatísticas

indicaram um valor estimado de projeto para o CBR de 6%.

A partir do número N = 8,85 x 106 obtido nos estudos de tráfego, foi adotado um

pavimento constituído por:

♦ Reforço do subleito: 20,0 cm de solo com CBR mínimo de 10%;

♦ Sub-base: 20,0 cm de solo estabilizado granulometricamente (solo laterítico

com CBR superior a 20);

♦ Base: 15,0 cm de camada estabilizada granulometricamente (mistura de solo

laterítico com areia, com CBR superior a 80);

♦ Revestimento: 7,5 cm de CBUQ.

Sendo assim, para o desenvolvimento da análise mecanística tomou-se esta

estrutura inicial como primeira alternativa para o cálculo das tensões, variando-se a

Page 138: Fernado G. S. Batista MSc 2004

137

seguir a espessura do revestimento. Foram adotados inicialmente os valores

constantes da TAB. 6.4. O módulo de resiliência para o concreto asfáltico foi o

apresentado no capítulo anterior, na temperatura de 25o C. Para o subleito,

selecionou-se aleatoriamente uma amostra de solo ensaiada por CHAGAS (2004),

tendo sido escolhido o km 176, cujos resultados se encontram na TAB. 6.5 e nas

FIG. 6.1 e 6.2. Em função da pouca dispersão de valores, foi adotado o valor médio

de 147,1 MPa (excluído o primeiro ponto) como um valor constante para o módulo

de resiliência do subleito.

TAB 6.4. Valores de módulo de resiliência, coeficiente de Poisson e espessuras adotados neste estudo

CAMADA MR (kgf/cm2) µµµµ ESP (cm)

Concreto asfáltico com argila calcinada 2086* 0,30 5,0, 7,5 e 10,0

Concreto asfáltico tradicional 3000 0,30 5,0, 7,5 e 10,0

Pré-misturado a frio com argila calcinada 500 0,30 7,5 e 10,0

Base granular 300 0,35 15,0

Sub-base (granular) 220 0,35 20,0

Reforço do subleito 180 0,40 20,0

Subleito 147* 0,45 -

(*) medido neste estudo

TAB 6.5. Valores de módulo de resiliência obtidos para o subleito do km 176 da BR-163

σσσσ3 (MPa) �d (MPa) V.Médio(mm) εεεε M.R.(MPa) 0.021 0.021 0.006744 0.000034 611 0.021 0.041 0.045092 0.000225 183 0.021 0.062 0.095760 0.000479 129 0.034 0.034 0.049171 0.000246 140 0.034 0.069 0.114776 0.000574 120 0.034 0.103 0.172045 0.000860 120 0.051 0.051 0.073286 0.000366 139 0.051 0.103 0.164188 0.000821 125 0.051 0.154 0.227829 0.001140 136 0.069 0.069 0.083965 0.000420 163 0.069 0.137 0.187792 0.000939 146 0.069 0.206 0.275378 0.001378 149 0.103 0.103 0.107069 0.000536 192 0.103 0.206 0.241640 0.001209 170

Page 139: Fernado G. S. Batista MSc 2004

138

FIG 6.1. MR X sigma d FIG 6.2. MR X sigma 3

Diversos modelos de fadiga, relacionados às tensões ou deformações de tração

foram formulados ao longo dos últimos 30 anos, em vários centros de pesquisa.

Dentre eles, se destacam os modelos da SHELL OIL, do ASPHALT INSTITUTE e de

Berkeley. Alguns modelos propostos por PINTO (1991), para a previsão do número

de repetições de carga, mais representativos da condição brasileira são a seguir

apresentados: 033,065,2

9 111007,9

−−

���

����

����

����

�×=

Rtf M

EQ.6.1.

Onde:

εt – máxima deformação específica horizontal de tração na face inferior da camada

betuminosa, cm/cm;

MR – módulo de resiliência do concreto betuminoso, em kgf/cm2.

Especificamente para um CAP-20, ligante do mesmo tipo que o utilizado neste

estudo, PINTO (1991) obteve as seguintes relações: 61,2

5 11063,5 �

���

∆×=

σLN EQ. 6.2

61,2

8 11004,2 ��

����

�×= −

i

EQ. 6.3

Page 140: Fernado G. S. Batista MSc 2004

139

LoC NfN = EQ.6.4

Onde:

NL - número de repetições de carga necessárias à ruptura completa da mistura

betuminosa no laboratório, no ensaio de compressão diametral à tensão controlada

– Vida de Fadiga;

∆σ - diferença algébrica entre as tensões horizontal (de tração) e vertical (de

compressão) no centro da amostra;

fO – fator laboratório-campo definido nos estudos de PINTO, tomado igual a: fo = 104;

NC – número terminal de solicitações do eixo padrão rodoviário, para uma área

afetada por trincas de fadiga de ordem de 20% da área total do respectivo

revestimento.

A previsão da deformação permanente de forma indireta, pode ser considerada

através de tensões verticais e deformações causadas pelas cargas aplicadas nos

pavimentos.

A limitação da tensão vertical no topo do subleito é um critério bastante utilizado

devido ser a camada de menor resistência ao cisalhamento e, portanto, com aptidão

para plastificação. HEUKELOM E KLOMP indicam para pavimentos dimensionados

pelo método do CBR, o modelo abaixo:

NM R

admV log70,01006,0

)(+

=σ EQ.6.5

R

admVadmV M

)()(

σε = EQ.6.6

onde:

(σV )adm - tensão vertical admissível no topo do subleito, kgf/cm2;

MR – módulo de resiliência do subleito, kgf/cm2:

N – número de aplicações de carga.

Para a determinação da deflexão máxima admitida foi utilizado o modelo

proposto por PINTO e PREUSSLER (2002):

Padm ND log188,0148,3log −= EQ.6.7

Page 141: Fernado G. S. Batista MSc 2004

140

Os valores da deflexão máxima admissível e da tensão vertical admissível no

subleito foram obtidos, para os valores de N e MR do subleito adotados e já citados,

através das equações 6.7 e 6.6, respectivamente:

Dadm = 0,69 mm

σσσσV adm = 1,50 kgf/cm2

Os valores da diferença de tensões e da deformação específica resiliente

admissíveis foram obtidos através das equações 5.2 e 5.3, para CBUQ com argila

calcinada deste estudo, e 6.2 e 6.3 para um CBUQ convencional (PINTO, 1991), e

considerando o N = 8,85 X 106 :

∆∆∆∆σσσσ adm = 8,4 kgf / cm2 (argila calcinada)

εεεεadm = 0,00024 cm/cm (argila calcinada)

∆∆∆∆σσσσ adm = 11,9 kgf / cm2 (agregado tradicional)

εεεεadm = 0,00020 cm/cm (agregado tradicional)

Não foi possível realizar ensaios de fadiga com os corpos-de-prova de pré-

misturado a frio com argila calcinada. Os resultados obtidos através do FEPAVE

para as várias estruturas analisadas estão detalhados nas TAB. 6.6 a 6.8 e nas FIG.

6.3 a 6.14, bem como os valores admissíveis pertinentes a cada caso.

TAB 6.6. Valores obtidos no programa Fepave para o revestimento de concreto

asfáltico com argila calcinada, em comparação com os valores admissíveis

REVESTIMENTO COM ARGILA CALCINADA

Espessura do

revestimento (cm) D (0.01mm) εεεεi (cm/cm) ∆σ (∆σ (∆σ (∆σ (kgf/cm2) σσσσv ((((kgf/cm2)

5,0 24 2,9 x 10-4 7.9 0.073

7,5 23 2,3 x 10-4 6.0 0.067

10,0 22 1,7 x 10-4 4.7 0.062

ADMISSÍVEL 69 2,4 x 10-4 8.4 1.50

Page 142: Fernado G. S. Batista MSc 2004

141

TAB 6.7. Valores obtidos no programa Fepave para o revestimento de concreto

asfáltico com agregado tradicional, em comparação com os valores admissíveis

REVESTIMENTO COM AGREGADO TRADICIONAL

Espessura do

revestimento (cm) D (0.01mm) εεεεi (cm/cm) ∆σ (∆σ (∆σ (∆σ (kgf/cm2) σσσσv ((((kgf/cm2)

5,0 24 3,1 x 10-4 9.7 0.071

7,5 22 1,8 x 10-4 6.4 0.065

10,0 21 1,4 x 10-4 5.1 0.060

ADMISSÍVEL 69 2,0 x 10-4 11.9 1.50

TAB 6.8. Valores obtidos no programa Fepave para o revestimento de pré-misturado

a frio com argila calcinada

REVESTIMENTO COM ARGILA CALCINADA

ESPESSURA D (0.01mm) εεεεi (cm/cm) ∆σ (∆σ (∆σ (∆σ (kgf/cm2) σσσσv ((((kgf/cm2)

7,5 cm 24 2,7 x 10-4 3,7 0.065

10,0 cm 23 2,5 x 10-4 3,4 0.060

Onde:

D - deflexão

εi - deformação específica resiliente

∆σ - diferença de tensões no revestimento

σv – tensão vertical no subleito

Page 143: Fernado G. S. Batista MSc 2004

142

Argila Calcinada - Deflexão

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2.5 5 7.5 10 12.5Espessura do Revestimento (cm)

Def

lexã

o (0

.01m

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.3. Valores de deflexão para 3 espessuras de revestimento com argila

calcinada, comparados com o valor admissível

Argila Calcinada - Diferença de Tensões

0

2

4

6

8

10

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

∆σ (

∆σ (

∆σ (

∆σ (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.4. Valores de diferença de tensões para 3 espessuras de revestimento com

argila calcinada, comparados com o valor admissível

Page 144: Fernado G. S. Batista MSc 2004

143

Argila Calcinada - Deformação Específica Resiliente

0

0.0001

0.0002

0.0003

0.0004

0.0005

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

εε εε (c

m/c

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.5. Valores de deformação específica resiliente para 3 espessuras de

revestimento com argila calcinada, comparados com o valor admissível

Argila Calcinada - Tensão Vertical no Subleito

0

0.5

1

1.5

2

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

σσ σσ v (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.6. Valores de tensão vertical no subleito para 3 espessuras de revestimento

com argila calcinada, comparados com o valor admissível

Page 145: Fernado G. S. Batista MSc 2004

144

Agregado Tradicional - Deflexão

0

50

100

150

200

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

D (0

.01m

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.7. Valores de deflexão para 3 espessuras de revestimento com agregado

tradicional, comparados com o valor admissível

Agregado Tradicional - Diferença de Tensões

0

2

4

6

8

10

12

14

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

∆σ (

∆σ (

∆σ (

∆σ (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.8. Valores de diferença de tensões para 3 espessuras de revestimento com

agregado tradicional, comparados com o valor admissível

Page 146: Fernado G. S. Batista MSc 2004

145

Agregado Tradicional - Deformação Específica Resiliente

0

0.0001

0.0002

0.0003

0.0004

0.0005

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

εε εε (c

m/c

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.9. Valores de deformação específica resiliente para 3 espessuras de

revestimento com agregado tradicional, comparados com o valor admissível

Agregado Tradicional - Tensão Vertical no Subleito

0

0.5

1

1.5

2

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

σσ σσ v (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.10. Valores de tensão vertical no subleito para 3 espessuras de revestimento

com agregado tradicional, comparados com o valor admissível

Page 147: Fernado G. S. Batista MSc 2004

146

Argila Calcinada (PMF) - Deflexão

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2.5 5 7.5 10 12.5Espessura do Revestimento (cm)

Def

lexã

o (0

.01m

m)

Obtida

FIG. 6.11. Valores de deflexão para 2 espessuras de revestimento em PMF com

argila calcinada, comparados com o valor admissível

Argila Calcinada (PMF) - Diferença de Tensões

0

2

4

6

8

10

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

∆σ (

∆σ (

∆σ (

∆σ (k

gf/c

m2)

Obtida

FIG. 6.12. Valores de diferença de tensões para 2 espessuras de revestimento em

PMF com argila calcinada

Page 148: Fernado G. S. Batista MSc 2004

147

Argila Calcinada (PMF) - Deformação Específica Resiliente

0

0.0001

0.0002

0.0003

0.0004

0.0005

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

εε εε (c

m/c

m)

Obtida

FIG. 6.13. Valores de deformação específica resiliente para 2 espessuras de

revestimento em PMF com argila calcinada

Argila Calcinada (PMF) - Tensão Vertical no Subleito

0

0.5

1

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

σσ σσ v (k

gf/c

m2)

Obtida

FIG. 6.14. Valores de tensão vertical no subleito para 2 espessuras de revestimento

em PMF com argila calcinada

Page 149: Fernado G. S. Batista MSc 2004

148

6.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Todos os revestimentos em concreto asfáltico com 7,5 cm e 10,0 cm de

espessura foram aprovados nos critérios de verificação. Como os valores de módulo

de resiliência utilizados nas verificações do dimensionamento, baseados nos obtidos

para o subleito, foram superiores aos valores médios recomendados por PINTO

(2004) na TAB. 6.2, foi testada então, finalmente, uma outra alternativa de

verificação do dimensionamento. Foram utilizados os valores de módulo de

resiliência obtidos para o concreto asfáltico com argila calcinada na camada de

revestimento e os valores mínimos de módulo de resiliência recomendados por

PINTO (2004) para as demais camadas, nas espessuras de 7,5 cm e 10,0 cm, como

mostra a TAB. 6.9. Os resultados obtidos através do FEPAVE estão expressos na

TAB. 6.10 e nas FIG. 6.15 a 6.18.

TAB 6.9. Valores de módulo de resiliência, coeficiente de Poisson e espessuras

adotados na segunda verificação

CAMADA MR (kgf/cm2) µµµµ ESP (cm)

Concreto asfáltico com argila calcinada 20.860* 0,30 7,5 e 10,0

Base granular 1000 0,35 15,0

Sub-base (granular) 900 0,35 20,0

Reforço do subleito 700 0,40 20,0

Subleito 500 0,45 -

TAB 6.10. Valores obtidos no programa Fepave para o revestimento de concreto

asfáltico com argila calcinada na segunda verificação, em comparação com os

valores admissíveis

REVESTIMENTO COM ARGILA CALCINADA – MÓDULOS MÍNIMOS

ESPESSURA D (0.01mm) εεεεi (cm/cm) ∆σ (∆σ (∆σ (∆σ (kgf/cm2) σσσσv ((((kgf/cm2)

7,5 cm 59 3,9 x 10-4 8.7 0.06

10,0 cm 54 2,6 x 10-4 6.3 0.05

ADMISSÍVEL 69 2,4 x 10-4 8.4 0.50

Page 150: Fernado G. S. Batista MSc 2004

149

Argila Calcinada - Deflexão

01020304050607080

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

D (0

.01m

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.15. Valores de deflexão para 2 espessuras de revestimento com argila

calcinada, comparados com o valor admissível – segunda verificação

Argila Calcinada - Diferença de Tensões

0

2

4

6

8

10

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

∆σ (

∆σ (

∆σ (

∆σ (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.16. Valores de diferença de tensões para 2 espessuras de revestimento com

argila calcinada, comparados com o valor admissível – segunda verificação

Page 151: Fernado G. S. Batista MSc 2004

150

Argila Calcinada - Deformação Específica Resiliente

0

0.0001

0.0002

0.0003

0.0004

0.0005

2.5 5 7.5 10 12.5Espessura do Revestimento (cm)

εε εε (c

m/c

m)

Obtida Admitida

FIG. 6.17. Valores de deformação específica resiliente para 2 espessuras de

revestimento com argila calcinada, comparados com o valor admissível – segunda

verificação

Argila Calcinada - Tensão Vertical no Subleito

0

0.5

1

2.5 5 7.5 10 12.5

Espessura do Revestimento (cm)

σσ σσ v (k

gf/c

m2)

Obtida Admitida

FIG. 6.18. Valores de tensão vertical no subleito para 2 espessuras de revestimento

com argila calcinada, comparados com o valor admissível – segunda verificação

Page 152: Fernado G. S. Batista MSc 2004

151

Os valores de deflexão, diferença de tensões, deformação específica resiliente e

tensão vertical no subleito obtidos para o revestimento de concreto asfáltico com

argila calcinada podem ser tratados, de uma forma geral, como satisfatórios, se for

considerado que estão muito próximos dos admissíveis, especialmente para o

revestimento com espessura de 10 cm, e que foram verificados com os valores

mínimos para os módulos de resiliência. Associando esses valores aos bons

resultados obtidos na TAB. 6.6, que contém valores mais prováveis para os módulos

de resiliências dos solos da região, e comparando-se com os obtidos para um

revestimento com agregados tradicionais, fica demonstrada a viabilidade técnica da

utilização da argila calcinada como agregado em misturas asfálticas para

pavimentação. Os resultados obtidos para o revestimento em pré-misturado a frio

também indicam boa possibilidade de utilização, necessitando, entretanto, de

maiores estudos a fim de se realizar ensaios de fadiga e deformação permanente,

melhor definindo também os valores de módulo de resiliência e resistência à tração.

Page 153: Fernado G. S. Batista MSc 2004

152

7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

7.1 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste estudo comprovam a viabilidade técnica da

utilização do agregado de argila calcinada em misturas asfálticas para a

pavimentação na Região Amazônica. A metodologia para a produção deste

agregado foi praticamente definida, devendo ser empregados equipamentos

industriais de grande porte semelhantes aos equipamentos de pequeno porte

utilizados neste estudo para uma obra real.

Esta metodologia deve, entretanto, sofrer ajustes e otimizações, sobretudo no

que diz respeito à temperatura e ao tempo de calcinação, visando sempre a melhora

da qualidade final do agregado e a redução dos custos de produção.

Uma temperatura e um tempo de calcinação um pouco mais elevados que os

adotados neste estudo provavelmente irão levar a um agregado de resistência

superior, porém deve-se analisar se esta melhoria é economicamente interessante,

em função do aumento nos custos que certamente ocorrerá. Em síntese, deve-se

buscar o equilíbrio entre a qualidade do agregado e os custos de produção.

É certo que as características químicas e mineralógicas do solo, associadas às

suas características físicas, exercem influência na qualidade do agregado produzido.

Se possível, devem ser realizados sempre ensaios de análise química e difração de

raios-x com as amostras de solos estudadas, afim de se obter uma gama maior de

dados para uma melhor definição das características desejáveis em solos argilosos

para a produção de argila calcinada, uma vez que estas características não são

claramente definidas.

Ressalta-se que a temperatura e o tempo de queima variam conforme a

natureza da argila e do forno utilizado. A sua produção, entretanto, pode ser

realizada de forma industrial e a um baixo custo, se comparada com os gastos para

a aquisição e transporte do agregado pétreo na região amazônica, como mostrado.

No entanto são recomendados estudos complementares em função de se tratar de

uma técnica inédita no Brasil.

Page 154: Fernado G. S. Batista MSc 2004

153

Os bons resultados obtidos na caracterização mecânica dos agregados

produzidos indicam uma excelente possibilidade de utilização destes agregados

para a execução de bases para pavimentação.

7.2 SUGESTÕES

Para próximos estudos sugere-se uma aprofundada pesquisa sobre a absorção

destes agregados, pois esta exerce forte influência no percentual de ligante, gerando

a necessidade de um alto teor de ligante e um elevado consumo.

Em função desta absorção, podem ser estudados e comparados ainda

diferentes métodos de medida da densidade, em especial os métodos da Louisiana

e de Rice.

Pode-se britar/triturar ainda mais a argila e testar uma dosagem com 100% de

argila calcinada, sem a inclusão de fíler artificial.

Estudar a resistência e demais propriedades do agregado com a variação do

tempo e da temperatura de calcinação, por exemplo: 800oC, 850 oC, 900 oC, 950 oC;

e 20, 30, 40, 50 e 60 minutos.

Além dos ensaios químicos e mineralógicos, pode ser realizado ainda o ensaio

de Análise Térmica Diferencial, que não foi possível neste trabalho em função de

problemas no equipamento de análise, mas que pode ser útil para melhor

entendimento das características necessárias aos solos para a produção de um

agregado de boa resistência mecânica, especialmente no que diz respeito à

definição do ponto de fusão. A análise química também pode ser realizada através

do método da fluorescência, mais preciso do que o MEV.

Fazer as avaliações pertinentes para a utilização deste agregado em bases de

pavimentos.

Realizar em termos de deformação permanente ensaios de creep estático e

dinâmico, a fim de se comparar os resultados destes ensaios com os resultados

obtidos em misturas asfálticas com agregados tradicionais.

Sugere-se também a execução de um grande número de ensaios com misturas

asfálticas utilizando a argila calcinada como agregado, de forma que possam ser

propostas algumas modificações nos métodos de ensaio atualmente adotados, em

função das características peculiares deste tipo de agregado.

Page 155: Fernado G. S. Batista MSc 2004

154

Finalmente, sugere-se que sejam executados estudos mais aprofundados em

relação aos custos de produção industrial deste agregado, especialmente em

relação aos equipamentos, combustíveis e mão-de-obra necessários. É de grande

importância também a identificação e cubagem das jazidas de solos visando, em um

futuro próximo, a implementação de uma fábrica para a produção dos agregados de

argila calcinada na Amazônia.

Page 156: Fernado G. S. Batista MSc 2004

155

8 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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fabricado com argila – desgaste por abrasão: ME 222/94, Rio de Janeiro, 1994.

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de argila calcinada – determinação da perda de massa após fervura: ME 225/94, Rio de Janeiro, 1994.

Page 157: Fernado G. S. Batista MSc 2004

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DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM, Agregados –

determinação da absorção e da densidade de agregado graúdo: ME 081/98, Rio de Janeiro, 1998.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM, Agregados –

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sintéticos graúdos de argila calcinada – emprego em obras rodoviárias: ES 227/89, Rio de Janeiro, 1989.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM, Agregados

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betuminosas – determinação do módulo de resiliência: ME 133/94, Rio de Janeiro, 1994.

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betuminosas – determinação da resistência à tração por compressão diametral: ME 138/94, Rio de Janeiro, 1994.

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