fepiano xiv

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Agitação Fepiana Páginas 2 e 3 A outra face da Grécia Páginas 4 e 5 O encanto da Invicta ao pôr do sol Páginas 10 e 11 Juros da dívida portuguesa a 10 anos batem mínimos históricos Páginas 12 e 13 Porto de Emprego Páginas 16 e 17 A (Ad)click para a tua solução Páginas 18 e 19 Uma História de Gregos e “Troikanos” Páginas 20 e 21 Agenda Cultural Página 22 Classificações FEP League Página 23 nº 14 • março 2015 • distribuição gratuita • Periodicidade: mensal www.facebook.com/fepianojornal Prefácio de Júlio Magalhães Guia Prático EMPREGO Bom e Já! O trabalho existe e há empresas a contratar. Saiba como conquistar essas vagas! Autor: Ricardo Peixe Págs.: 232 CLARA SOTTOMAYOR EM ENTREVISTA “Os homens dividem as mulheres para reinar” Páginas 6 a 9 Página 23 Hélder Nunes, jogador de hóquei “Um curso é uma mais-valia”

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Edição nº 14 - março 2015

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Page 1: Fepiano XIV

Agitação FepianaPáginas 2 e 3

A outra face da GréciaPáginas 4 e 5

O encanto da Invicta ao pôr do sol

Páginas 10 e 11

Juros da dívida portuguesa a 10 anos batem mínimos históricos

Páginas 12 e 13

Porto de EmpregoPáginas 16 e 17

A (Ad)click para a tua solução

Páginas 18 e 19

Uma História de Gregos e “Troikanos”

Páginas 20 e 21

Agenda Cultural Página 22

Classifi cações FEP League

Página 23

nº 14 • março 2015 • distribuição gratuita • Periodicidade: mensal www.facebook.com/fepianojornal

Prefácio de Júlio Magalhães

Guia PráticoEMPREGO Bom e Já!O trabalho existe e há empresas a contratar.

Saiba como conquistar essas vagas!

Autor: Ricardo Peixe Págs.: 232

CLARA SOTTOMAYOR EM ENTREVISTA

“Os homens dividem as mulheres para reinar”

Páginas 6 a 9

Página 23

Hélder Nunes, jogador de hóquei

“Um curso é uma mais-valia”

Page 2: Fepiano XIV

2 Nº 14 - março 2015

Viviam-se os últimos mo-mentos do longínquo 2014 quando decidimos marcar en-contro neste novo ano. Prome-tíamos continuar a fazer notícia juntos. E assim tem acontecido. A uma dose de “Je suis Char-lie” juntou-se mais uma Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo. Deixou-se marinar um pedido de reembolso de parte do em-préstimo português ao FMI e bateu-se uma vitória do Syriza nas eleições gregas, com umas agitadas negociações no Euro-grupo. Adicionou-se a tensão russa às acusações ucranianas e deixou-se cozinhar um acordo de cessar-fogo, em lume bran-do. Uma receita improvável, servida num mundo inquieto, polvilhado, como sempre, com o inesperado.

Elaborando um arriscado exercício de generalização, por-ventura enviesado pela inexis-tência de um distanciamento considerável aos factos aludidos, arriscaria apelidar os começos de 2015 como os momentos de “ser”. Foi-se liberdade e logo de seguida censura. De lápis em punho, proclamaram-se os ideais da Revolução Francesa, mostrando o seu fulgor... Mas com o mesmo lápis bem afiado traçar-se-ia um severo risco azul no poulet verde e branco paro-diado por terras nacionais.

Também por cá se foi Syriza. Ecos de umas eleições gregas que deram alento à esquerda portuguesa. Era o fim prome-tido da austeridade, que, se ca-lhar, não o será, e o das gravatas, uma tira de tecido, símbolo do sistema. Olhou-se a dívida e a caxemira, debateu-se o défice e cabedal, tricotaram-se opiniões e costurou-se o marketing políti-co, num jogo de passerelles.

Apanhado por esta onda helénica, Costa viu-se grego nestes últimos tempos. Rumo ao Oriente, mais do que volta-do para São Bento, admitiu o

que, até então, poderia paracer improvável para um candidato ao Governo que se encontra na oposição. No seu entendimen-to, Portugal está melhor. Uma campanha peculiar, que parece ter deixado alguns socialistas de “olhos em bico”.

Certamente, os Deuses, que usavam juntar-se em Consílio glorioso, como cantou o poeta, andam distraídos do governo da humana gente, fruto dos tem-pos e das vontades. Vénus virou guionista e quis marcar o dia dos namorados com uma estreia há muito prometida. Convidou Marte e, juntos, inspiraram uma fita.

É mesmo de cinema, que vos falo. “Vem sentar-te comigo, Anastasia, nesta bela poltrona lusa”, uma deixa intensa que podia perfeitamente pertencer ao argumento do filme do mo-mento ou ao “Querido”, é certo. Sem sombra para dúvidas, esta é uma película essencial para os verdadeiros amantes do luxuoso mobiliário português, capaz de satisfazer os mais sofisticados e irreverentes gostos.

A odisseia continuará, ao longo das páginas do teu jor-nal. Sem Ulisses no comando, relatamos as aventuras de ou-tras personagens, desta feita do nosso tempo. Quase todas serão mulheres, por serem celebradas neste mês. Guerreiras contra a desigualdade, amantes das artes e dos motores, mas, sobretudo, generosas por se darem através das suas histórias e vivências. Permitiram que entrássemos nas suas vidas e que estas passassem a fazer parte das nossas.

O princípio foi tudo aquilo atrás narrado e muito mais. Foi o ser com os outros. Foi a pala-vra dita para, agora, ser a palavra escrita. Aquela que nos imor-taliza e nos conforta. A cada momento, construímos a nossa história e, inevitavelmente, tra-çamos a do nosso mundo.

In media res

AGITAÇÃO FEPIANA

Mulheres da minha faculdadeJOÃO SEQUEIRA

PEDRO MALAQUIASTÂNIA FREITAS

Associado ao mês de março, há um dia que não passa despercebi-do, o 8, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. Este dia representa uma trajetória de lutas feministas em busca de melhores condições de vida e de trabalho, com variados movimentos e revo-luções desde os finais do século XIX e ao longo do século XX, com o ob-jetivo de impôr a independência e os direitos das mulheres. Assim, o dia 8 de março deve ser visto como o momento em que se relembra to-das as conquistas de direitos das Mulheres já alcançadas. A luta ainda continua, contra discrimi-nações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mu-lheres.

O Fepiano não quis deixar de assinalar esta data. Para isso, en-trevistámos mulheres Fepianas, que, além da sua vida académi-ca, destacaram-se em atividades e projetos de relevo fora da faculda-de.

Inês AmorimDe Economia ao Canto

e a África

Inês Amorim é finalista da Li-cenciatura em Economia e des-taca-se em duas outras ativida-des bastante relevantes: o canto e o voluntariado.

O canto é uma paixão que apareceu aos 5 anos, ao partici-par em coros e atividades expo-rádicas. Depois de entrar na fa-culdade sentiu a necessidade de aperfeiçoar esta arte. Assim, no final do primeiro ano da licen-ciatura, decidiu começar a pre-parar-se para as provas de acesso ao conservatório e, atualmente, está a realizar duas licenciatu-ras simultaneamente: Economia e Música. Esta última apresen-

ta um programa com cadeiras como canto, práticas de teclado, coro, proteção da música con-temporânea, psicologia e dinâ-micas de grupo, quatro línguas (italiano, inglês, alemão e fran-cês), formação musical, história da música, análise musical, en-tre outras. A principal motiva-ção para conciliar e continuar a realizar estes dois cursos é, sem dúvida, a vontade de aprender e ser o melhor possível nas coisas que mais a apaixonam. No fu-turo, vê-se a conciliar estes dois mundos, a economia e o canto, com a sua outra paixão, o volun-tariado, por exemplo, através de um projeto musical que visasse a integração de jovens com menos possibilidades ou deficiências, em que pudesse aplicar os seus conhecimentos de economia so-cial.

Tal como o canto, o volunta-riado também começou muito cedo, com 12 anos, como ati-vidade familiar. Já na FEP, foi convidada para pertencer ao departamento Solidário da AE-FEP, consolidando as compe-tências que tinha começado a desenvolver na sua antiga escola, como a angariação de fundos e a preocupação geral de chamar a atenção para os problemas na sociedade. Este desafio foi bas-tante importante para o projeto que agora integra, o “Grao”, que a levou em missão para África e que tem uma enorme compo-nente de angariação de fundos com o objetivo de financiar o projeto. Os dois principais fato-res que a levaram a realizar esta experiência durante 2 meses em África foram, em primeiro lu-gar, a vontade que tinha desde muito nova de realizar a missão, influenciada pela irmã que já o tinha feito, e, em segundo, pelo facto de a sua mãe ser angolana e, por isso, sentir aquele conti-nente como também seu.

Este projeto foi realizado com o intuito de fazer a diferença na-quele continente, como já o fazia cá, acreditando que “não vale a pena uma pessoa estar a ir tão lon-ge se também não sente vontade de dar de si cá.” Para realizar esta

Page 3: Fepiano XIV

3Nº 14 - março 2015

AGITAÇÃO FEPIANA

Mulheres da minha faculdademissão é necessária uma forma-ção bastante exigente em várias áreas como direitos dos humanos, educação para o desenvolvimen-to, cidadania global, vida em co-munidade, auto conhecimento, entre outras, onde são questio-nadas várias vezes as motivações para a realizar. Este processo tem a fi nalidade de os missionários contribuírem da melhor forma possível para o projeto.

A missão foi iniciada em São Tomé e Príncipe e, como em todos os projetos do “Grao”, esta deve ser feita duma forma sustentada de modo a garan-tir a sua continuidade, dando formação aos locais para a pre-servarem, mesmo quando este-ja terminada. O objetivo é que estes consigam contribuir para obterem um maior impacto na sua comunidade. Para isso, cria-ram um campo de férias

para as crianças da zona norte da ilha, deram aulas de inglês, dinamizaram um grupo coral e apoiaram o estudo de crianças, entre outras atividades.

Filipa SanguedoDa Economia para o Rali

Filipa Sanguedo, Alumni da Licenciatura em Economia, considera as duas áreas perfeita-mente compatíveis. O histórico familiar associado a esta ciência, aliado a um enorme interesse, ditaram que esta fosse a profi s-são que se imagina a desempe-

nhar no futuro. Para além disso, é piloto de rali, considerando as duas distintas áreas algo “per-feitamente conciliável”. O des-porto automóvel é uma paixão antiga, alimentada pela infl uên-cia do seu pai, que foi piloto de Ralicross e Autocross, cujas pro-vas ela acompanhava, “mesmo quando tinha três ou quatro tes-tes na semana seguinte lá ia apa-nhar pó para as pistas de Auto-cross e apoiá-lo. Só é prova da paixão que é preciso ter.”

Estreou-se em 2011 no Rali-cross e só, posteriormente, pas-sou para os Ralis. Apesar da curta “carreira” no desporto au-tomóvel, já passou por provas de Ralicross, Autocross, Velocida-de e Ralis e já conta com alguns títulos. O mais recente foi em 2014, tendo sido Campeã de 2 Rodas Motrizes no Campeonato Centro de Ralis.

Apesar do desporto automó-vel ser um desporto maiorita-riamente masculino, não sen-te qualquer tipo de preconceito por parte dos seus adversários, “é tudo muito natural”. Sente-se muito acarinhada pelo público: “De facto, em todas as provas, há sempre espetadores que vêm ter comigo demonstrando o seu apoio.”

Considera que a sua melhor corrida foi o Rali de Mesão Frio, tendo havido grande sintonia entre ela, o co-piloto e o carro, correndo tudo pelo melhor num cenário idílico. Nem tudo é per-feito, é necessário muito empe-nho e dispensar muito tempo: deslocar-se ao local uma sema-na antes e fazer todos os testes para assegurar que tudo corre bem na prova real. Também pre-cisa de muita preparação física,

tendo já feito uma classifi cativa de 30 km e crê que “é, de facto, muito complicado manter o rit-mo se não estivermos bem fi si-camente.”

A seu ver, como mensagem fi -nal diz-nos: “cada um deve per-seguir os seus objetivos e percor-rer o caminho que mais gosta, independentemente de isso ser considerado o normal ou não.”.

Mariana SantosGestão Empreendedora

em Movimento

Mariana Santos está, atual-mente, a frequentar o 2º ano da Licenciatura em Gestão e tem o seu próprio grupo de dança, com alguns amigos. Porquê a dança? Pois encontra “uma for-ma de descomprimir de toda a pressão do dia-a-dia”. Esta ex-pressão de arte corporal “é tam-bém sinónimo de ajuda, parti-lha e união, uma vez que estes são pontos fortes do grupo que

coordeno.” O projeto começou com a apresentação de uma co-reografi a da sua turma, no fi nal do 9º, coordenado por ela, e decidiram continuar essa ativi-dade, adquirindo novos mem-bros, mas também com algumas desistências. Acredita que o seu grupo pode, também, transmi-tir alguns valores. “Numa altu-ra em que a nossa sociedade res-pira individualismo, relativismo e consumismo, o nosso maior objetivo é contrariar todas essas correntes por onde quase todos embalam. No fundo, mostramos a diferença relativamente à par-te humana: estamos a construir Homens e não máquinas.”

O tipo de atividades que são desenvolvidas vai desde dar aulas, caminhadas, jantares ou lanches com as famílias e têm em perspe-tiva a organização de um espetá-culo, tal como um fl ash mob. O convívio, no seu entender, é fun-damental para o crescente entro-samento do conjunto.

Considera-se, de certa forma, uma empreendedora, pois, para além da faculdade e deste pro-jeto, é, também, revendedora duma marca, colabora num ne-gócio familiar, faz bolos de ani-versário personalizados e está in-serida em diversas atividades na sua localidade. Aprendeu mui-to com isso a nível de gestão de tempo e pensa que “todas elas me ajudam a crescer, sobretudo, enquanto pessoa.”

Queres deixar alguma mensagem de apelo às mulheres para serem diferentes e lutarem pelos seus direitos?De facto, sinto que houve muitos progressos no sentido da igualdade de géneros, apesar de ainda existir muito por fazer. Penso, defi nitivamente, que devem ser mudadas algumas coisas e eu quero fazer alguma coisa sobre isso. Não aconselho necessariamente as

mulheres a trabalharem mais, mas acho que enquanto seres humanos devemos tentar ser todos o melhor possível e atingir o estado de desenvolvimento mais avançado possível e, se forem mulheres, ainda bem!

Inês Amorim

Queres deixar alguma mensagem de apelo às mulheres para serem diferentes e lutarem pelos seus direitos?De facto, sinto que houve muitos progressos no sentido da igualdade de géneros, apesar de ainda existir muito por fazer. Penso, defi nitivamente, que devem ser mudadas algumas coisas e eu quero fazer alguma coisa sobre isso. Não aconselho necessariamente as

mulheres a trabalharem mais, mas acho que enquanto seres humanos devemos tentar ser todos o melhor possível e atingir o estado de desenvolvimento mais avançado possível e, se forem mulheres, ainda bem!

Como mulher, que palavras gostarias de deixar para assinalar este dia? É um dia para celebrar as conquistas que as mulheres foram conseguindo ao longo do tempo, portanto é o nosso dia, temos de o desfrutar da melhor maneira.

Este ano vou celebrá-lo duma forma muito especial pois vou estar a participar num Rali na ilha Terceira dedicado 100% às mulheres.

Filipa Sanguedo

Como mulher, que palavras gostarias de deixar para assinalar este dia? É um dia para celebrar as conquistas que as mulheres foram conseguindo ao longo do tempo, portanto é o nosso dia, temos de o desfrutar da melhor maneira.

Este ano vou celebrá-lo duma forma muito especial pois vou estar a participar num Rali na ilha Terceira dedicado 100% às mulheres.

Em relação ao dia da mulher, queres tecer algum comentário sobre as (des)igualdades que ainda há a esse respeito?Atualmente, ainda se verifi cam muitas desigualdades entre géneros, concordo plenamente. Que razão justifi ca que, para o mesmo emprego, um homem

tenha maior salário do que uma mulher? O meu desejo é que a mulher consiga realmente a igualdade que tanto anseia, fundamental a meu ver. Mas é preciso ter muito cuidado com as formas como procuramos esta igualdade.

Mariana Santos

Em relação ao dia da mulher, queres tecer algum comentário sobre as (des)igualdades que ainda há a esse respeito?Atualmente, ainda se verifi cam muitas desigualdades entre géneros, concordo plenamente. Que razão justifi ca que, para o mesmo emprego, um homem

tenha maior salário do que uma mulher? O meu desejo é que a mulher consiga realmente a igualdade que tanto anseia, fundamental a meu ver. Mas é preciso ter muito cuidado com as formas como procuramos esta igualdade.

Page 4: Fepiano XIV

4 Nº 14 - março 2015

“Vamos destruir as bases sobre a qual esta oligarquia é construída. Década após década este sistema, esta rede, tem absorvido a energia e o poder económico de toda a Grécia.”

DANIEL SALAZARPEDRO GONZÁLEZ

A afirmação, sentenciosa, é de Yanis Va-roufakis, a mais recente superstar da política europeia. Estamos a 23 de Janeiro e, numa entrevista ao Channel 4, o atual ministro das finanças grego não deixa margem para dú-vidas: está pronto, mais, ansioso, para ocu-par o posto que as eleições legislativas, dois dias mais tarde, irão oficializar. A proposta de deitar por terra o sistema, ainda que não pioneira, faz crescer as expectativas.

Em resumo, temos uma situação já conhe-cida: um partido quebra a dicotomia vigente (a alternância do poder entre o PASOK e a Nova Democracia) e promete expurgar o Es-tado da corrupção. No entanto, o que torna o caso grego particularmente interessante é o modo como o setor privado se imiscuiu no setor público, a ponto de atingirem um esta-do quase simbiótico. Não há melhor exem-plo que o da famosa ‘lista Lagarde’, na qual a então ministra das finanças francesa de-nunciava cerca de dois milhares de cidadãos gregos com contas não declaradas na Suíça. O caso foi prontamente abafado pelos gran-des conglomerados de media grego e, quan-

do Kostas Vaxevanis, já dois anos mais tarde, publicou a lista foi detido sob acusações de violação de privacidade. Ainda que Vaxeva-nis tenha sido posteriormente absolvido, o caso não deixa de ser uma excelente ilustra-ção da perfeita coordenação entre media e poder executivo, com todas as óbvias impli-cações que daí resultam.

É neste contexto que se dão as eleições legislativas do passado mês, nas quais as-sistimos a resultados verdadeiramente sur-preendentes: a Nova Democracia perde 53 assentos parlamentares (ocupa agora apenas 76 de 300) e o PASOK continua a sua que-da, ficando em sétimo lugar e não indo além dos treze assentos. Mais interessante ainda, assistimos ao esmorecer das grandes famílias que dominaram a cena política grega duran-te a segunda metade do século XX.

A família Papandreou, cuja dinastia é ini-ciada com Georgios Papandreou, duas vezes

primeiro-ministro (às quais se somam um breve período entre Novembro e Dezembro de 1963 em que também desempenhou o cargo) ao qual se segue Andreas, fundador do PASOK, que veio também a ocupar o cargo durante um total de onze anos, pare-ce ter chegado ao fim com o novo Georgios. Eleito primeiro-ministro em 2009, demitiu--se em 2011 e criou recentemente um novo partido que não conseguiu conquistar repre-sentação parlamentar – a primeira vez, des-de 1923, que a família se encontra afastada deste.

A esta junta-se ainda a família Karaman-lis cujo patriarca, Konstantínos, é a figura cimeira da política grega a par de Elefthé-rios Venizélos. Konstantínos ocupou o car-go de primeiro-ministro quatro vezes en-tre 1955 e 1980 e ainda o de presidente da república, fundando também o partido da Nova Democracia. O seu filho, Kostas Ka-ramanlis, primeiro-ministro entre 2004 e 2009 parece ter entretanto desaparecido da cena política.

Por último, a dinastia iniciada por Kon-stantinos Mitsotakis parece ter encontrado forma de se perpetuar sob a figura do seu fi-lho, ainda que o cargo de primeiro-ministro que o seu pai ocupou entre 90 e 93 lhe deva estar, durante os próximos anos, vedado.

A outra face da Grécia“1750 milhões de euros como aumento da ajuda às regiões mais desfavorecidas da Grécia, através dos PIM (Programas Integrados do Mediterrâneo). Este foi o preço do “sim” da Grécia”

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5Nº 14 - março 2015

A “economia da informalidade” na Grécia

Não há dados oficiais, mas estimativas de estudos académicos concluem que a dimen-são da “economia sombra” da Grécia está significativamente acima da média. Buehn e Schneider calculam que tenha sido, em média, 8,1% do PIB entre 1999 e 2010. A média da OCDE é de 6%. Na Europa, ape-nas Bulgária, Chipre e Roménia têm valores mais altos. A fuga ao fisco, em concreto, não se destaca face à média, mas se esses valores foram ajustados ao número de trabalhado-res por conta própria, é um dos maiores do mundo. Esse é um dos principais problemas gregos: existem muitos trabalhadores inde-pendentes, o que facilita a fuga ao fisco, as-sim como um sector agrícola grande e frag-mentado.

Um estudo levado a cabo por investigado-res da faculdade de gestão Chicago Booth, através de dados recolhidos para sete anos de registos de processos de crédito de um banco grego, refere que, no caso dos profissionais li-berais, o mesmo utiliza um modelo para esti-mar o verdadeiro rendimento dos clientes. A adaptação do banco privado à evasão fiscal na

Grécia significa que a instituição tem coefi-cientes de fuga fiscal por profissão, que aplica para estimar o rendimento real da pessoa que pede um empréstimo. Assim, não admira a taxa de esforço média (o peso da prestação no rendimento) ser de 82%, chegando a va-lores acima de 100% no caso de advogados, médicos ou contabilistas, comparativamente com o limite superior de 30% praticado pela banca ocidental.

A partir dos dados recolhidos os modelos dos autores do estudo apontam para um bolo de 28 mil milhões de euros – só referente a profissões liberais – que fugiu à tributação em 2009. O valor em falta permitiria redu-

zir em cerca de um terço o défice orçamental grego nesse ano (que, depois de várias revi-sões, foi avaliado em -15,7% do PIB, preci-pitando a pressão dos mercados e o início da crise da dívida soberana do euro). Em média, o rendimento verdadeiro dos profissionais li-berais é 1,92 vez maior face ao declarado.

“Sabe o que aconteceu da última vez que alguém tentou tirar o poder das mãos da oli-garquia grega…” avisa o entrevistador, num tom de advertência.

“É uma guerra que tem que ser travada, independentemente do custo” remata Varou-fakis.

Veremos.

Afinal tudo tem um preço, até o veto da Grécia!

Decorria o ano de 1985, as nações ibéricas enfrentavam negocia-ções duras em Bruxelas com vista à sua integração na Comunidade Económica Europeia (atual União Europeia). Negociava-se então o alargamento da comunidade de 10 para 12 países. No entanto, contavam com um opositor de peso: a Grécia, último integrante da união havia apenas 4 anos, que temia as dificuldades que a sua economia teria de enfrentar devido à competição dos setores produtivos ibéricos. O então primeiro-ministro grego, Andreas Papandreou, exigia mais fundos europeus para a Grécia como moeda de troca para aceitar o alargamento. Em finais de março, as negociações continuavam difíceis: “A Grécia entende que a sua economia não poderá fazer

face ao alargamento da Comunidade sem receber os subsídios propostos pela Comissão e não aprovados para desenvolver as regiões agrícolas mais atrasadas”, escreveu o Diário de Lisboa na altura.Finalmente, a 29 de março, chegam ao fim as negociações, com a retirada do veto por parte dos gregos. Ficou assim acordado a transferência de 2 mil milhões de dólares (a preços de 1985), isto é, qualquer coisa como 1750 milhões de euros como aumento da ajuda às regiões mais desfavorecidas da Grécia, através dos PIM (Programas Integrados do Medi-terrâneo). Este foi o preço do “sim” da Grécia.

“Em média, o rendimento verdadeiro dos profissionais liberais é 1,92 vez maior face ao declarado”

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6 Nº 14 - março 2015

Clara Sottomayor, a mais nova juíza na história do Supremo Tribunal de Justiça, recebeu- -nos em sua casa e contou-nos como abraça as causas em que acredita. No seu traço resiliente e emotivo, revelou- -se uma mulher lutadora, que crê que um mundo melhor está à distância da vontade individual e da assunção de um compromisso intergeracional.

JOÃO SEQUEIRAMATILDE ROSA CARDOSO

Quais são as perguntas que não lhe podemos fazer?

Tenho o dever de reserva, no estatuto da Magistratura, em relação a casos concretos. De resto, podem perguntar-me tudo.

Não é muito comum os juízes consen-tirem ser entrevistados. Porque é que aceitou o nosso convite?

A população deve conhecer os seus juízes. Um juiz ou uma juíza, num Tribunal supe-

rior, não tem contacto com a população, mas também não deve estar numa torre de marfim. Necessita de conhecer a realidade e de conviver com as pessoas ao seu redor. O nosso trabalho não é apenas técnico-jurídico. Dirige-se a pessoas e pressupõe conhecimen-to da realidade social e económica em que vi-vem os cidadãos. Além disso, fui professora universitária muitos anos e vocês fazem parte da comunidade educativa à qual pertenci. Te-nho muita esperança nos jovens.

Quem é Clara Sottomayor para lá da figura pública?

É uma pergunta muito difícil. Em primei-ro lugar, acho que não sou uma figura pú-blica. Tenho participado, no espaço público, em lutas cívicas pelos direitos humanos das mulheres e das crianças, mas julgo que tal não faz de mim uma figura pública. Por ou-tro lado, como estou habituada a lidar com pessoas que me conhecem, não sei o que é

que as pessoas que não me conhecem gosta-riam de saber sobre mim, além daquilo que já foi divulgado.

Lecionou na Universidade Católica durante 23 anos e é, atualmente, a mais nova juíza na história do Supre-mo Tribunal de Justiça (STJ). Para al-cançar o patamar profissional em que se encontra, foi necessário abdicar de alguma coisa?

Não, não tive que abdicar de nada. Apenas tenho que dedicar muito tempo ao trabalho, como sempre fiz.

Integra uma instituição com sessenta juízes, dos quais só sete são mulheres. Estes números agradam-lhe?

Antes do 25 de Abril de 1974, as mulhe-res não podiam entrar para a Magistratura. Pensava-se que eram demasiado emotivas e que isso seria prejudicial à administração da justiça. Há, portanto, uma explicação his-tórica para haver tão poucas mulheres no Supremo Tribunal de Justiça. Claro que eu gostaria de ver um número semelhante de homens e mulheres, no mais alto tribunal da hierarquia dos tribunais judiciais. A de-mocracia é paritária por definição e deve permitir a participação de ambos os géne-ros. É a forma mais equilibrada de adminis-trar a justiça.

CLARA SOTTOMAYOR, EM ENTREVISTA

Cavaqueando com...

“A população deve conhecer os seus juízes”

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7Nº 14 - março 2015

Ainda assim, vê sintomas de mudan-ça no sentido do aumento da represen-tação feminina no STJ?

A mudança é muito lenta. Há mais de trinta anos que há mulheres na Magistratura, portanto, penso que já podiam estar a entrar mais mulheres no STJ neste momento. No entanto, continuam a entrar poucas, em ter-mos de proporção em relação ao número de homens.

Recentemente, publicou um texto acerca do assédio sexual de rua em que relata alguns episódios que viveu, sobretudo entre os 14 e os 16 anos. Fo-ram estas circunstâncias que a incenti-varam a tornar-se feminista?

Há casos muito mais graves, passados com outras crianças e mulheres. Nesta medida, acho que foi o que ocorreu com outras pes-soas que me fez ser feminista e não propria-mente o que me aconteceu a mim. Claro que também me influenciou, mas foi muito me-nos relevante. Fez-me perceber o que é o as-sédio sexual, a forma como perturba e fez-me querer lutar pela sua punição. Acabar com o silêncio. Porém, outras formas de violên-cia, como a violência doméstica, a violação e o abuso sexual de crianças, são muito mais graves. Essas são a principal razão de eu ser feminista e defender a igualdade de género em todas as áreas: na família, na política, no trabalho.

Acha que a sociedade continua a pen-sar que um piropo é um elogio?

Acho que sim. A sociedade continua a en-tender que os homens desconhecidos têm o poder de dirigir a palavra às mulheres para comentarem o corpo delas ou para fazerem observações de carácter humilhante ou inti-midatório. Penso que as pessoas sempre sou-beram que estes ditos “piropos de rua” são violentos e agressivos, mas, como acontecem, sobretudo, a adolescentes e se educa as crian-ças na base da crença na bondade do mundo, tentam “dourar a pílula”, como se costuma dizer, e designar por piropos e elogios reali-dades que, de facto, são violentas e intrusi-vas. Pensam que nós – as meninas e as mu-

lheres – vamos esquecer, que não vamos dar importância e que o silêncio é a solução para este problema; não ter ouvidos e não falar. Na verdade, a sociedade tenta referir-se aos assé-dios de rua de forma eufemística para suavi-zar uma coisa que é grave. Se não dissermos às meninas que isto lhes vai acontecer e se es-tas não se queixarem a ninguém, fazemos de conta que o problema não existe.

Considera que há diferenças entre o entendimento daquilo que é o piropo para homens e mulheres?

É entre as mulheres que encontramos pes-soas que nos ajudam nesta luta, mas também é neste mesmo grupo que encontramos quem reproduza o discurso machista contra a cri-minalização do assédio de rua.

Em relação aos homens, encontro, tam-bém, dois tipos de posições: num dos gru-pos, temos os homens que têm medo que as mulheres possam fazer queixas contra eles ou que interpretem mal a sua aproximação; no outro, temos homens informados e sensíveis que muito nos podem ajudar nesta luta.

É a favor da abolição da prostituição. Não encontra espaço para os indivíduos decidirem livremente?

Segundo alguns estudos, a prostituição atinge, sobretudo, pessoas que foram víti-mas de abuso sexual, maus tratos na infân-cia e que são muito pobres, sendo maiorita-riamente mulheres, mas existindo, também, homens.

A prostituição mudou muito nas últimas

décadas com o tráfico de pessoas. Há estudos que demonstram que a maioria das pessoas prostituídas não está em condições de pres-tar um consentimento livre. Deste modo, en-tendo que a prostituição, na maior parte dos casos, é violência contra a pessoa prostituída.

Por outro lado, o fenómeno do tráfico de pessoas para finalidades de exploração sexual seria encoberto, no caso de legalização da prostituição como contrato de trabalho, des-protegendo as vítimas e despojando-as da sua dignidade humana e liberdade. São situações de escravatura, em que a moeda de troca é apenas um teto e uma refeição. Por isso, vão buscar as mulheres aos países subdesenvolvi-dos e prostituem-nas nos países desenvolvi-dos. É uma nova forma de colonização.

O ano de 2014 ficou marcado pela morte de 42 mulheres, vítimas dos seus maridos, namorados ou ex-companhei-ros. O que é preciso fazer para comba-ter esta dura realidade?

Há muito a fazer, na verdade. Quando as mulheres decidem sair de casa, deve ser-lhes dada proteção e segurança de imediato, por-que é neste preciso momento que aumenta a intensidade da violência. As medidas que existem atualmente são ineficazes e insufi-cientes. A medida de coação utilizada – afas-tamento da vítima – não é cumprida pelo agressor e aplica-se numa fase mais tardia do processo penal. Contudo, estas mulheres são assassinadas logo no início, assim que apre-sentam queixa-crime.

Quanto aos profissionais que acompa-

Clara Sottomayor “A Justiça é muito tardia”

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nham estas questões, deviam ter uma for-mação especializada para saberem avaliar o risco. Há mulheres vítimas de violência que não estão em perigo de vida e outras que es-tão. É preciso saber distinguir as situações. Porém, o sistema não sabe discernir. As pes-soas tendem a desvalorizar, quando a mulher diz que o companheiro a ameaçou de morte, pensando tratar-se apenas de uma discussão e que este não irá concretizar a ameaça, porque ninguém de bom-senso o faria. A verdade é que quem não tem formação pensa de acordo com as suas crenças, o que é contraproducen-te para lidar com estas matérias.

E no caso de existirem filhos?Um aspeto muito relevante é o medo que

estas mulheres têm de perder a guarda dos filhos. Ao saírem de casa, ficam sem habita-ção, muitas vezes perdem o emprego e aca-bam por não ter condições para sustentar os filhos. É preciso assegurar, através de medidas económicas e sociais, que a vítima terá uma casa, alimentação, manutenção do emprego, de modo a que sinta confiança de que os fi-lhos não ficarão entregues ao agressor ou que não irão para uma instituição.

A regulação das responsabilidades paren-tais tem que ser feita no imediato e com pro-teção da criança contra o agressor. Nos Tribu-nais de Família, está na moda aplicar a guarda partilhada, incluir o pai na educação dos fi-lhos, assegurar a relação da criança com o pai após o divórcio... Estas medidas estão corre-tas para as famílias em que não há violência doméstica, não para as restantes, uma vez que é altamente perturbador, quer para as mulhe-res, quer para as crianças, manter contactos com o agressor. As crianças não desejam con-viver com o pai e os tribunais obrigam-nas. Às vezes, até entregam a guarda ao progeni-tor que foi condenado por violência domés-tica ou ofensa à integridade física da mulher. A investigação científica tem demonstrado que as crianças sofrem problemas psicológi-cos, mentais e psicossomáticos por assistirem à violência. Portanto, é necessário, nesta fase, suspender as visitas e entregar a casa de mo-rada da família à mãe e aos filhos. Não é justo que as mulheres tenham que ir para centros

de abrigo, localizados noutras cidades, o que obriga, designadamente, à mudança de esco-la das crianças; os agressores é que deveriam ser deslocados para outras habitações, caso não se aplique a prisão preventiva. Ao fim e ao cabo, as vítimas é que ficam «presas» nos centros de abrigo.

Não é frequente aplicar-se a prisão preventiva ao agressor neste tipo de ca-sos...

Não, ainda que a lei o permita. Afinal, a violência doméstica é um caso de criminali-dade violenta e o Código do Processo Penal, permite a aplicação da prisão preventiva nes-tas situações, havendo fortes indícios da prá-tica de crime violento e perigo de continua-ção da atividade criminosa.

A prisão preventiva tem pressupostos mui-to específicos no Código do Processo Penal e é a medida extrema, porque priva a pessoa da liberdade antes de esta ser condenada. Exi-ge, assim, uma especial cautela na sua apli-cação. Contudo, não há nenhuma proibição legal de que se utilize nos casos de violência doméstica, como, às vezes, se pensa. Sendo a violência doméstica um fenómeno cícli-co, que implica ritmos cada vez mais inten-sos de violência, existe, por definição, perigo de continuação da atividade criminosa. Os agressores perseguem as mulheres e amea-çam-nas, mesmo depois do divórcio. Outro aspecto desadequado é que, em cerca de 90% das condenações, o agressor permanece em li-berdade, com pena suspensa. As finalidades de prevenção geral e especial ligadas à aplica-ção da pena não são cumpridas.

Concorda que, hoje em dia, enquanto às mulheres é exigido que sejam boni-

tas, boas mães, governantes económi-cas e que saibam cozinhar, aos homens quase que só se exige que não bebam, que não tenham outras mulheres e que não batam?

Concordo plenamente. O critério que se exige aos homens é minimalista: que não pra-tiquem crimes. E, mesmo aí, sabemos que há muita tolerância, designadamente nos crimes sexuais e na violência doméstica.

Por outro lado, às mulheres exige-se não só que sejam cidadãs honestas e que não come-tam crimes, como também que sejam mães impecáveis, trabalhadoras disponíveis, que tomem conta da casa, que sejam boas ami-gas, que estejam sempre bonitas – que é ou-tra atividade que dá muito trabalho e com a qual se “perde” muito tempo –, que falem de uma forma muito suave, que agradem aos outros, que nunca levantem a voz... Há uma série de construções e de preconceitos sociais que limitam muito a liberdade e as opções das mulheres.

Compreende que a emancipação da mulher tenha sido tão tardia na histó-ria? O que falta conquistar?

As mulheres foram o último grupo, en-tre os discriminados, a iniciar a sua eman-cipação. Os negros, por exemplo, inicia-ram primeiro o seu processo. A situação das mulheres está ligada ao facto de a sua subordinação ter sido a primeira forma de escravidão conhecida na história, assim que se deu a sedentarização e surgiu a pro-priedade privada. O processo de socializa-ção para a legitimação desta escravatura é de tal forma antigo que foi muito difícil às mulheres ter consciência dele e fazer--lhe frente. Em primeiro lugar, foi neces-sário reconhecê-lo como escravatura e, em segundo lugar, enfrentá-lo e lutar contra ele. Ainda assim, sempre houve, ao longo da história, mulheres excecionais que lu-taram, que nos deixaram uma pista, um exemplo, um sinal de esperança. E hoje há cada vez mais mulheres a lutar contra o sis-tema patriarcal.

Tem consciência de constituir uma re-ferência para várias mulheres? Em que medida isso influencia a sua conduta?

Ignoro ser uma referência para outras mu-lheres, mas gostava que isso fosse verdade. Tento não só ter um discurso que dê força às outras mulheres para lutarem contra a discri-minação e contra a violência que sofrem, mas também ser coerente na minha vida e, através dela, dar o exemplo dos ideais que defendo.

As mulheres são cruéis entre si?Eu acho que as mulheres podem ser mui-

to solidárias umas com as outras – e conhe-ço muitas que o são – ou podem ser muito críticas e reproduzirem os discursos machis-tas. Porém, julgo que não têm consciência disso. O seu processo de autoemancipação e de autoconsciencialização está mais atrasado.

“A subordinação [das mulheres] foi a primeira forma de escravidão conhecida na história”

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As mulheres que estão mais avançadas neste processo individual e psicológico são mais so-lidárias.

Há, normalmente, uma grande competi-tividade entre as mulheres, o que as divide muito. Os homens que querem dominar as mulheres dividem-nas para reinar e têm su-cesso nesse tipo de estratégia.

Algumas feministas dizem que há uma ra-zão ancestral para o excesso de competiti-vidade entre as mulheres: ao longo de todos estes séculos de patriarcado, para poderem so-breviver, as mulheres tinham que casar. Caso contrário, o destino era a miséria ou a pros-tituição. Ora, para casarem, tinham que de-senvolver, em si, capacidades de atrair os ho-mens. Não precisavam apenas de ser bonitas, mas também de agradar ao potencial marido. Quanto melhor este fosse, mais protegidas elas estariam. Era uma questão de sobrevivência, que permanece no subconsciente.

Neste âmbito, faz sentido analisar a for-ma de discriminação designada por «moral dupla»: a sociedade julga de forma diferente homens e mulheres, sendo estas muito mais criticadas e censuradas. E isto aplica-se, inclu-sive, ao julgamento que as mulheres fazem de outras mulheres.

Porém, não se pode generalizar e dizer que as mulheres são cruéis umas com as outras. Há mulheres muito solidárias, que com-preendem o sofrimento das outras, que aju-dam e estendem a mão. Ou seja, as grandes solidariedades que existem também são entre mulheres.

Se o século XIX foi o século do poder legislativo e o século XX o do poder exe-cutivo, poderá o século XXI vir a ser o século do poder judicial?

Espero que sim. Desejo que tenhamos uma jurisprudência adaptada à realidade e aos di-reitos humanos. O Direito está ao serviço das pessoas. Estando no início do século XXI, ainda temos muitos anos para evoluir. É cada vez mais importante o processo de aplicação da lei, não sendo suficiente a proclamação dos direitos humanos pela lei. Têm que ser os tri-bunais a garanti-los e a fazê-los respeitar.

Acredita na Justiça portuguesa? Acredito que a maior parte dos casos são

bem decididos, mas que a Justiça é muito tar-dia, não sendo possível, muitas vezes, na prá-tica, resolver os problemas de forma eficaz e com a celeridade que as partes precisam.

Como concilia o lado racional com o emocional na tomada de decisões a que

está obrigada no exercício do seu papel profissional?

Há muitas emoções que são passíveis de se-rem traduzidas em razões e argumentos jurí-dicos. Portanto, não se pode afirmar que haja uma separação entre razão e emoção. As duas atividades mentais são necessárias nas deci-sões judiciais e em qualquer profissão, com-plementando-se.

Utilizadora ativa do Facebook, fez uma publicação no início do ano onde afirmava que “Não há uns mais iguais do que outros!”, relativamente às dife-rentes reações aos massacres na Nigé-ria e no jornal satírico “Charlie Hebdo”. Existem dois pesos e duas medidas?

Julgo que sim. Compreende-se, em par-te, que, estando na Europa, os atos terro-ristas aqui praticados nos ofendam e ame-drontem mais, pela proximidade. Esse é o motivo para nos manifestarmos e lutarmos contra eles, mas, realmente, para quem vê o mundo de uma forma global, não há vidas a valer mais do que outras, não há vidas a me-recer mais a pena que se lute por elas do que outras e, consequentemente, há, sobretudo, da parte dos poderes públicos, uma necessi-dade de ter isso em consideração. Por exem-plo, na Nigéria, nem os estados, nem as Na-ções Unidas fazem o suficiente para exigir a libertação das meninas raptadas. O que se tem feito são medidas soft, resultando em conformismo.

O que a move e comove? Move-me eliminar o sofrimento huma-

no e a desigualdade entre as pessoas. Não suporto que haja pessoas a sofrer devido à violência ou a outro tipo de injustiças. Move-me, igualmente, o objetivo último de construir um mundo mais justo. Estou consciente de que aquilo que está ao alcance de cada um de nós é uma gota no oceano e também sei que nunca ninguém consegue grandes mudanças no seu tempo de vida, mas o que me move é pensar que, mesmo que agora esteja a remar contra a corrente ou a lutar por coisas que nunca vão acon-tecer, deixo pistas para outros continuarem esse combate, porque se nós, que lutamos muitas vezes em vão, não lutarmos, as gera-ções seguintes também não o vão fazer. No fundo, é importante passarmos o testemu-nho, como um estafeta a correr. Podemos perder a corrida, mas, entretanto, alguma pessoa mais nova, que nos viu correr, vai ser impelida a ir atrás. Seguidamente, essa pes-soa fará o mesmo percurso e passará, nova-mente, o testemunho. Um dia, nesta cadeia, alguém vai conseguir um mundo melhor.

Comovem-me, em geral, a fragilidade hu-mana, a luta dos oprimidos pela sua eman-cipação, a música e a poesia.

O que vale realmente a pena na vida? O que vale a pena na vida é o amor entre

as pessoas.

“Não há vidas a merecer mais a pena que se lute por elas do que outras”

O conceito antes do preconceito

MATILDE ROSA CARDOSO

Não me vou despir. Não vou gritar his-tericamente. Também não vou rejeitar o género masculino e muito menos vou de-fender mais para as mulheres do que para os homens. Não o faço, porque nada disto é ser feminista.

Feminismo não é femismo. A seme-lhança na escrita das duas palavras é, de facto, o único ponto de tangência entre ambas. Femismo é algo que jamais que-rerei cultivar, pelas mesmas razões que não o faço em relação ao termo oposto – o machismo. Na verdade, é fácil pensar em feminismo e, pela construção da palavra, associá-la apenas à mulher. O segredo re-side em ir além do óbvio aparente, abrir o baú e, talvez, descobrir um tesouro.

As mulheres lutaram, ao longo da his-tória, apesar das batalhas perdidas, das palavras caladas, das lágrimas choradas e de muitas vidas perdidas. Fizeram-no para poderem partilhar os mesmos direi-tos que assistiam aos homens. Não mais. Não menos. É isto o feminismo.

As vozes que ecoam em defesa de que os direitos das mulheres já estão assegu-rados e que, por isso, não é necessário insistir no feminismo não são altas o sufi-ciente para calar a realidade. A discrimi-nação de género permite que, em pleno século XXI, ainda existam países em que as mulheres estão proibidas de conduzir, de votar, de frequentar o ensino, de se divorciar, de procurar trabalho sem auto-rização do marido ou de escolher a forma como se vestem.

A perplexidade não disfarçada perante o ruído mulherio que discorda do feminis-mo é-me inevitável. Como teria sido se os movimentos desta índole tivessem perma-necido na praia? Quantos mares estariam por navegar? Quantos direitos estariam por conquistar? Rejeitar as vitórias femi-nistas ao longo da história é ilegitimar o usufruto que delas fazemos.

Aos meus amigos homens que cos-tumam perguntar-me se podem ser fe-ministas respondo “Claro! É clichê des-culparem-se com as tradições e falarem em «tarefas de mulher». Percebam que também gostamos de ser independentes e de ter tempo para dedicarmos a nós próprias, tal como vocês. Queremos ter oportunidade de ser bem sucedidas pro-fissionalmente, sem abdicarmos da vida familiar, tal como vocês. Queremos poder liderar e assumir cargos de topo, tal como vocês. Sobretudo, não digam às mulhe-res que parecem homens por preferirem discutir política a cores de verniz para as unhas, porque tal não faz delas menos fe-mininas.”.

Malala Yousafzai disse que o progresso da humanidade não acontecerá enquanto metade dos seus protagonistas forem dei-xados para trás. Se a valentia das mulhe-res, mesmo quando oprimidas, lhes per-mitiu alcançar montanhas tão íngremes, aguardo as maravilhas que alcançarão em plena liberdade e direito.

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O que vais fazer fazer depois das 19 horas? O Porto aglomera harmonia, história, gastronomia, comércio, descoberta, arquitetura e também uma preenchida vida noturna.Conjugámos estes encantos com a beleza do entardecer e traçámos um roteiro imperdível.

CAROLINA REIS HÉLDER FERREIRAREGINA CAPELA

Zé do Prego

Este mês o Fepiano foi até Cedofeita, onde se situa a grande “pregaria” do mo-mento na Invicta, o concorrido “Zé do Prego”, com aproximadamente 3 meses de existência. Há pregos de vários tipos, to-dos eles servidos em bolo do caco e acom-panhados por batatas fritas de qualidade, temperadas em azeite, especiarias e alho. Se não quiseres grandes invenções, esco-lhe o Prego Clássico por 5,90J. Se gosta-res de queijo inglês, podes experimentar o best-seller, Prego Cheddar. Mas se esti-veres numa disposição mais vegetariana, é melhor pedires o Prego Tofu. Vale a pena distrairmo-nos com algumas frases ins-critas nas t-shirts escuras dos empregados ou numa das paredes do estabelecimen-to: «Pregos há muitos», «‘Tás aqui, ‘tás a comer», «Prego a prego, enche a galinha o papo». De quinta a sábado, o horário é mais alargado, encerrando apenas às duas da madrugada.

Numa conversa informal com o pro-prietário, José Abreu, foi bem notória a infl uência da comunicação social no re-conhecimento e divulgação do estabele-cim ento. Confessa mesmo, que a notícia no JN e na revista Time Out, muito con-tribuíram para aumentar a visibilidade e o número de visitantes. Afi rma também, que, devido à sua localização, junto de vá-rios hostels, torna-se um local recomenda-do para turistas. Ainda nos confessou, que, no fi nal de fevereiro foram lançados novos pregos, por isso não podes perder esta es-treia.

Terás ainda a oportunidade de partici-par no passatempo no nosso facebook e habilitas-te a ganhar uma ida ao “Zé do Prego” para duas pessoas para saboreares à tua disposição.

Real Hamburgueria Portuguesa

Este foi outro dos locais eleitos pelo Fe-piano para o seu trabalho de campo. Para isso, deslocámo-nos até à Rua da Torri-nha para te apresentarmos este estabele-cimento que conta já com mais de um ano de existência na baixa do Porto, sen-do o principal objetivo dos dois funda-dores transformar um prato tipicamente americano e associado ao fast-food numa iguaria totalmente portuguesa, com pro-dutos nacionais e confecionados na hora, tal como afirma Marco, um dos proprie-tários.

Consideram que se trata de um concei-to inovador, sendo que muitos dos ham-búrgueres disponíveis na carta têm no-mes e ingredientes que fazem referência a uma determinada zona geográfi ca de Por-tugal e, para se diferenciarem dos outros, são servidos em pratos de ardósia. Há, por exemplo, o “Tripeiro”, o “Açores”, o “Cha-

parro” e o “Careto” com preços a rondar os 6 euros.

Para fazer uma referência à atualidade portuguesa, temos também o hambúrguer “Troika”, com alface, tomate, queijo Fla-mengo e cebola, ou o “Submarino do Por-tas” com chouriço acompanhado por to-mate, queijo da Ilha, bacon, salsa e regado com molho de natas.

Para os mais ousados, não pode faltar o hambúrguer mais forte da lista, o “Mala-gueta”.

Para acompanhar esta iguaria, podemos ainda desfrutar de uma deliciosa sobreme-sa por 1 euro e da cerveja artesanal Sovina.

Quando confrontados com a enorme va-riedade de novos e modernos espaços com diferentes conceitos que têm surgido, e que estão a revitalizar a cidade do Porto, afi rmam que tal se deve ao atual consumi-dor ser mais exigente e crítico em relação ao preço e qualidade.

As traseiras escondem uma ampla espla-nada. A “Real Hamburgueria Portuguesa” está aberta de domingo a quarta, das 12h às 22h, e de quinta a sábado, das 12h às 2h.

Cantinho do Avillez

O “Cantinho do Avillez”, localizado na Rua Mouzinho da Silveira, é envolvido por um ambiente acolhedor, agradável e descontraído. Como em todos os restau-rantes do Chef, que arrecada já uma es-trela Michelin, a qualidade na confeção é uma prioridade. A cozinha é inspirada no país luso, com um toque multicultural. O nível de preços é em geral mais elevado, sendo que, por exemplo, uma sobremesa de chocolate tem um preço de 5 euros e um prego tradicional um preço de 8.75 euros.

O encanto da Invicta ao pôr do sol

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O encanto da Invicta ao pôr do solA loja dos Pastéis

de Chaves

Localizado numa perpendicular da Rua de Santa Catarina, situa-se “A Loja dos Pastéis de Chaves”, criada por quatro flavienses com o objetivo de proporcionar aos portugueses o sa-bor original desta iguaria transmontana deno-minada, Pastel de Chaves.

Trata-se de um conceito de restauração ori-ginal, em que os produtos se diferenciam pela qualidade superior. Podemos provar desde o pastel tradicional, passando pelo vegetariano até ao de frango e bacalhau, havendo uma adaptação a todos os consumidores.

O famoso Brunch também poderá ser uma opção para os Sábados, Domingos e Feriados.

O Verdadeiro Ristorante Italiano

O espaço situa-se mesmo no centro de Ma-tosinhos e é já um estabelecimento conhecido, não só pela frescura e leveza das suas massas, como por ser o primeiro restaurante em Por-tugal a produzir géneros sem glúten, oferecen-do um menu para celíacos que incluí pizzas e pastas com um sabor muito agradável, muito semelhante à massa tradicional, e ainda sala-das, gnocchi de milho e outras especialidades.

Parte do que serve é preparado diariamen-te com matérias-primas vindas diretamente de Itália, como os molhos, as massas, os enchi-dos, a farinha e a sêmola.

E como o restaurante está implantado numa

terra de mar e peixe, foi inevitável que a pró-pria comida sofresse uma influência marítima com a conjugação de frutos do mar, chocos, lulas, camarões, mexilhões ou amêijoas, por exemplo, assim dando origem a molhos para pastas com nomes como “Alla Mediterrânea” ou “Ai Frutti di Mare”.

Cocktails

Descendo em direção à Baixa, inundado pelas infinitas descobertas, edifícios antigos e excelente vista, o “Cais Bar” vai obrigar-te a uma pausa. Com uma atmosfera de pub britâ-nico, desde o revestimento a madeira das pare-des até os imensos espelhos, proporcionar-te-á uma diferente sensação. Viajar sem sair do sí-tio. Se estás inclinado a viajar para não muito longe, o “Peter Café Sport” traz-te um pouco dos Açores à Baixa portuense, cujo ex libris é o famoso gin do mar. Caso o teu espírito este-ja demasiado animado para uma simples saída para conversa com os amigos, nas imediações, encontrarás o Duque da Ribeira, que fará com que até os teus amigos mais tímidos tenham vontade de se juntar ao grupo de karaoke, mostrando os seus dotes vocais.

Atravessando a ponte D. Luís I e caso te-nhas necessidade de um local mais requin-tado, o “17º”, para além de te proporcionar excelente comida ligeira, fornecer-te-á uma das melhores vistas sobre a cidade do Porto, somente comparável à do funicular. Por isso, apesar de um pouco mais cara em comparação com as outras propostas, tem em consideração que a experiência de poder observar em 360º semelhante vista é decidadamente recompen-sa suficiente.

Se és um fã das bebidas espirituosas, a “Bal-doaria” é um excelente ponto de passagem, que alia não só a qualidade e mestria da conceção das suas bebidas mas consegue embrulhar tudo isto num espaço que funde tradição e moderni-dade, ótimo ponto de paragem para momentos tranquilos com os amigos ou mesmo para um primeiro passo para o começo da noite. Se, por outro lado, sangria condiz mais contigo, talvez devas dar uma vista de olhos ao “Cálice do Por-

to” na Rua Fernandes Tomás. Por outro lado, se aderiste à moda dos gins, “Gin Signature” é uma paragem obrigatória, quer pela bebida em si, quer pela loja especializada que dispõe no Mercado do Bom Sucesso.

Em Matosinhos, para terminar a viagem, uma paragem no Mercado “food&drinks” é indispensável. Conhecido pela sua oferta va-riada de gins, caipirinhas, mojitos, cocktails e sangria sempre acompanhados de comida, é uma boa opção para um final de dia calmo para desfrutar de um regalo de sensações no Mercado Municipal.

Discoteca e vida noturna

Desengane-se quem pensa que as discotecas do Porto se resumem ao berço das festas aca-démicas, o “Via Rápida”.

Quem gosta de ritmos africanos, pode en-contrar na Discoteca “Number One”, pertíssi-mo da nossa faculdade, ou no “Muxima Bar”, na Madalena, a sua praia.

Quem tiver curiosidade em ir ao “Belo Ho-rizonte”, na Foz, ou ao “Bela Cruz”, em Mato-sinhos, pode continuar a sua diversão noturna numa das mais icónicas discotecas da Invicta: “Indústria Club”, na Avenida Brasil.

No centro do Porto há uma pluralidade de discotecas e bares apropriados para dançar, gratuitamente ou não. No primeiro caso, a rua das Galerias de Paris tem uma imensidão de bares com um clima bastante agradável. Seja de música Rock como a “Rendezvous”, seja de ritmos latinos como o “Mau Maria” ou “The Wall”, um espaço adequado para uma saída com amigos, num ambiente descontraído, co-nhecido pela sua atmosfera cosmopolita, con-seguido pelo design do espaço, em que todas as bebidas se encontram expostas na parede, criando uma sensação de multiculturalidade e de imersão no mundo desconhecido. Não fal-tam também os espaços com sons para todos os gostos como o “Porto Tónico” e “We Love Porto”.

Quem preferir maior exclusividade e gla-mour, o “Eskada” na Rua da Alegria, ou o “Olympia” ao lado do Coliseu são ótimas es-colhas para uma noite eclética repleta de di-versão.

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RUI PEDRO

A taxa de juro da dívida de Portugal a 10 anos tem apresentado valores cada vez mais baixos no mercado secundário e de obriga-ções, atingindo um mínimo histórico pela oitava sessão consecutiva, diminuindo o gap face às obrigações alemãs (para menos de 150 pontos base), sendo este o nível mais baixo desde Abril de 2010.

Os juros de Portugal caem há 12 sessões consecutivas, o que já não se registava desde 2005, e a taxa de juro de referência alcançou no passado dia 26 de fevereiro um recorde de 1,874%, um valor abaixo dos 2,0% dois dias depois de ter registado 2,004%. A dívida de Portugal encontra-se assim a ser negociada à volta dos valores registados a 26 de fevereiro.

O Tesouro português colocou recentemen-te 1.500 milhões de euros em dívida a 10 anos, renovando a taxa de juro mais baixa de sempre.

A acompanhar esta tendência, também os juros da dívida a 30 anos recuaram pela pri-meira vez abaixo dos 3%, caindo 13,6 pon-tos base na última sessão e batendo o mínimo histórico de 2,882%.

Para além de Portugal, também na Alema-nha as taxas de juro batem recordes no mer-

cado secundário e de obrigações, registando valores negativos nas taxas de juros a 2 anos, -0,237%, e 0,004% no que se refere à dívida negociada a 7 anos. Com estes registos, a Ale-manha financiou-se recentemente em 3 mil milhões de euros com taxas de juros inedita-mente negativas a cinco anos.

Na Zona Euro, também Irlanda, Bélgica, Finlândia, Itália e Espanha têm visto a sua taxa de juro de referência cair para 0,942%, 0,545%, 0,329%, 1,418% e 1,340%, respe-tivamente, sendo os referidos valores também mínimos históricos nos casos da Irlanda, Bél-gica e Finlândia.

A dívida grega, no entanto, a avançou para 8,902%, tendo somado 4,0 pontos base.

Esta tendência de queda nos mercados de obrigações acontece a par da situação de cal-maria na Grécia, acompanhada da “permis-são” do Eurogrupo e da troika, no que se refe-re às propostas de reformas vindas de Atenas, por contraponto da cessão da extensão do empréstimo com maturidade a quatro meses, tendência esta que tem sido corroborada com o programa de alívio quantitativo do Banco Central Europeu, que prevê a compra de dí-vida pública e privada no valor de 60 mil mi-lhões de euros, com início em março.

O risco da dívida de Portugal cai para mí-nimos de quase cinco anos, o que tem sido alimentado pelos resultados no mercado de obrigações de mínimos históricos.

O risco da dívida portuguesa continua a baixar nos mercados internacionais, com o “spread” face à dívida alemã, registando o va-lor mais baixo desde Abril de 2010 (147,8 pontos base).

A descida dos juros da dívida portuguesa, que têm consecutivamente alcançado míni-mos históricos (situados em 1,874%, o va-lor mais baixo de sempre), aliada à subida das ‘yields’ associadas à dívida alemã, têm contri-buído para que o prémio de risco que os in-vestidores exigem agora para comprar dívida portuguesa em vez de alemã seja cada vez mais baixo (o menor em quase cinco anos).

Juros da dívida portuguesa a 10 anos batem mínimos históricos

O Tesouro português colocou recentemente 1.500 milhões de euros em dívida a 10 anos, renovando a taxa de juro mais baixa de sempre.

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JOSÉ GUILHERME SOUSAQUESTÕES (IN)EXISTENCIAIS

Relativizar em caso de dúvidaPergunto: é bom ou não terminar a li-

cenciatura na FEP com uma média de 18 valores? Porquê? Por outras palavras, há al-guma correlação entre o meu brilhantismo académico e o impacto positivo que este terá sobre a minha vida? A resposta que me ocorre às duas formulações é “depende” e “não”, respectivamente. Em que podemos e devemos acreditar e de que podemos es-tar certos e seguros? Sinceramente, não sei! Deveremos acreditar numa ideia com base na sua explicação ou nos resultados que surte? Esta comparação não é válida para os casos em que essa ideia não teve oportuni-dade de sair do plano teórico e de produzir, assim, resultados, já que apenas teríamos um resultado esperado (e não efectivo), que resultaria das premissas fundamenta-das na explicação dessa ideia. A relevância deste último ponto assenta não na validade do que é deduzido mas na fragilidade das premissas que permitem essas deduções. Assim, apesar de poder achar a ideia/pessoa inteligente, não sei o que esperar dessa ideia e, por isso, continuo a não me sentir seguro. Por outro lado, devo acreditar em termos absolutos ou em termos relativos, isto é, devo acreditar na melhor “ideia” (apoiar o melhor partido dentro dos partidos portu-gueses) ou acreditar numa boa ideia (apoiar

o Futebol Clube do Porto)? O contexto encontra-se em constante

mutação, o que, além de tornar algumas ideias obsoletas, dá sentido a outras. Por exemplo, a circulação da moeda fi duciária é aparentemente mais vantajosa do que a moeda representativa, mas, mesmo assim, antes da introdução defi nitiva, teve que se acostumar as pessoas à ideia, ou seja, mos-trar que os resultados daquela ideia eram, de facto, bons. Ainda assim, alguém acredi-ta que o regresso à troca directa não é pas-sível de ser debatido? Não consigo ter posi-ções claras em relação a nada, porque tudo me parece susceptível de ser posto em cau-sa, refutado… Mais do que isso, parece-me que podemos conhecer relativamente bem os prós e os contras (e esses prós e contras poderão não o ser de facto) das duas coisas em causa no momento de escolher, mas, sem enviesamento à partida (preconceito), nunca é fácil optar e, depois disso, não po-demos dizer senão que foi uma boa opção (mas terá sido a melhor?). Quem poderá fa-zer esse julgamento e qual o seu valor?

Apesar de sermos capazes de questionar e de sermos, até, obrigados por outros a ques-tionar as nossas convicções, há assuntos tabu como o futebol (quem diria?) em que a rigidez pelos dois lados é tão grande que

não há as “Zitas Seabra” do futebol. Sendo uma escolha que eu diria ter sido feita por terceiros (nomeadamente pelo pai), porque não reconsideramos, como em quase todas as outras questões da vida, a nossa posição (em relação ao Benfi ca)? Porque é mais fácil cortar com a/o mulher/homem do que com o clube de futebol que apoiamos? Por outro lado, porque não temos mais convicções fortes como as do futebol? Porque temos no “depende” uma resposta legítima e inte-ligente para tudo?

As nossas inseguranças e incertezas po-dem ser explicadas pela volatilidade do grau de veracidade das premissas que orientam a nossa decisão, pelo facto de haver estudos para tudo… Parece que tudo está invaria-velmente a ser reescrito. Se o azeite era mau para a saúde há uns anos, agora não o é. Mas será que o mesmo produto despoletará sempre o mesmo efeito sobre o indivíduo, ou podemos esperar que o azeite volte a ser nocivo dentro de uns anos? Quem devemos ouvir: os produtores de azeite, os de óleo, o “Estado” ou a experiência dos nossos pais? Ou devemos estar sempre dependentes das nossas experiências e pensar pela nossa ca-beça? Perdoem a falta de afi rmações, mas assim torna-se evidente o que consto há al-gum tempo: nem sei se algo sei.

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Leonor Reis recorre a exemplos marcantes de figuras públicas em Portugal e nos Estados Unidos para ilustrar como os mesmos comunicam a sua marca pessoal de modo eficaz, com base no seu estilo de vida pessoal e como atraem mais negócios, tendo em conta as suas competências e qualidades profissionais.

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MOBILIDADE INTERNACIONAL... na FEPVivien Szczepanik, de 26 anos, veio de Budapeste para obter uma pós-gradução na FEP. O Fepiano conseguiu que partilhasse algumas opiniões sobre o seu país e a sua atual experiência na nossa Faculdade.

SARA RIBEIROTERESA SOUSA

O que te levou a escolher Portugal e, em particular, a FEP, como destino para o teu Mestrado?

Quando decidi que me queria inscrever numa pós-graduação, sabia que gostaria de fazê-lo no estrangeiro. Depois de uma ár-dua pesquisa, a FEP pareceu-me a melhor decisão, entre todas as Universidades pos-síveis.

Em primeiro lugar, gostei muito do pro-grama oferecido e pareceu-me constituir uma perfeita continuação dos meus estu-dos até à data. Adicionalmente, dar-me-ia a possibilidade de aplicar a minha experiên-cia de trabalho.

Além disso, o Porto é uma cidade bo-nita e “habitável”: não só tem pessoas amá-veis, como também não é uma cidade par-ticularmente cara. Ah, e é claro que o clima foi, ainda, um dos fatores decisivos para a minha escolha.

As expectativas que te levaram a es-colher a FEP estão a ser cumpridas? O que pensas do nosso ensino?

Para já, sim. O programa é muito mais prático do que aquilo que eu esperava. A maioria dos professores tem muita expe-riência e esse facto torna as aulas mais in-teressantes.

Na verdade, o ensino português é um pouco diferente do nosso. A maior parte dos meus testes de avaliação tem sido com consulta, o que no meu país não é muito frequente. O ensino húngaro é mais basea-do em memorização, sendo que não pode-mos usar quaisquer tipos de materiais de ajuda. A primeira vez que fiz um teste com consulta foi muito estranho. Contudo, não penso que este método seja melhor ou pior, apenas diferente. É uma metodologia alter-nativa, que requer conhecimentos e técni-cas distintas.

A solidão é um dos maiores receios para quem pondera estudar no estran-geiro. Na tua experiência de Erasmus em Portugal, passaste por algum mo-mento no qual te sentiste sozinha?

Seria impossível sentir-me só ou receo-sa, pois vim para o Porto com uma amiga muito chegada, que também é de Budapes-te. Todavia, ainda que tivesse vindo para cá sozinha, não me sentiria de tal forma, uma vez que toda a gente é largamente prestável e simpática. Penso que é bastante fácil criar amizades na faculdade e até noutros locais da cidade.

Na Hungria, como é visto o povo português? Vai de encontro ao que tens vindo a observar?

Para ser sincera, nunca tinha ouvido fa-lar muito sobre o povo português. Apenas alguns amigos, que já tinham estado em Portugal, me falaram de aspetos positivos sobre os portugueses, tais como a vossa afa-bilidade. Aspetos positivos que, agora, pos-so confirmar.

Quando pensas no teu país, quais as três primeiras coisas que te vêm à cabeça?

“Vibrante”, “SPA”, “família”.

O húngaro não é, de todo, uma lín-gua fácil, tendo 14 vogais e 27 con-soantes. Porém, o português também

“A maioria dos professores tem muita experiência e isso torna as aulas mais interessantes”

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não é simples. Que impacto teve a mudança de língua acompanhada da mudança de país? Tens ou tiveste au-las de português?

As línguas que optei por aprender na mi-nha escola foram o alemão e o inglês, sen-do que não detecto quaisquer semelhanças às mesmas quando oiço alguém falar por-tuguês. Portanto, para mim, é uma língua totalmente nova, cuja aprendizagem exige mais esforço. Frequentei um curso de Por-tuguês, mas não sou ainda capaz de ter dis-ciplinas do Mestrado ensinadas nesta lín-gua.

Março é o mês da mulher. Neste âmbito, achas que a mulher húngara desempenha um papel significativo na esfera política e económica?

Diria que, na Hungria, continuamos a ter poucas mulheres na vida política e na área dos negócios, em cargos elevados.

Mas isto tem vindo a mudar. Podemos ver gradualmente mais mulheres com po-der e sucesso significativos na esfera dos negócios. Porém, uma vez atingindo deter-minado patamar profissional, é geralmente mais difícil para uma mulher progredir na carreira. Adicionalmente, é frequente aufe-rirem um menor salário do que os homens numa mesma posição profissional.

A comunidade internacional tem condenado a governação do primeiro--ministro húngaro, Viktor Orbán, cujo partido obteve, nas eleições de 2010 e de 2014, uma maioria parlamentar de dois terços. Em Julho de 2014, o primeiro-ministro afirmou publica-mente que a Hungria permaneceria uma democracia, mas que se tornaria num “estado antiliberal”, citando os exemplos da Rússia, China e Turquia. O que achas da sua política centrali-zadora?

Em primeiro lugar, é bastante difícil res-ponder a esta pergunta, uma vez que não se trata de uma situação “preto no branco”. A maioria parlamentar de dois terços con-cede ao Governo um enorme poder, que, na minha opinião, não é saudável no lon-go prazo. A percentagem de abstenção foi muito elevada, e penso que este facto este-ve na base da obtenção de tal maioria. Mas gostaria de mencionar que o partido de Vi-ktor Orbán, o Fidesz, perdeu essa maioria parlamentar há cerca de duas semanas, de-vido a um sufrágio parcial que afastou um dos seus deputados do hemiciclo.

De volta à questão, reconheço que os húngaros não se encontram perante uma situação fácil, pois não só estamos depen-dentes da União Europeia, como também da Rússia. Por exemplo, dependemos des-tes últimos a nível energético. O governo tem que equilibrar e manter uma boa rela-ção com a UE, os EUA e a Rússia, o que, de facto, pode ser incompatível.

Outro problema é que o governo age sem atender à opinião dos cidadãos húngaros, relativamente a assuntos preponderantes. Como seria de esperar, tais atitudes geram insatisfação, que estão na base das recentes manifestações.

No entanto, a democracia é algo muito recente na Hungria e talvez nos falte algu-ma maturidade para lidar com um governo descentralizado.

O Jobbik, partido de direita radical, obteve 20,54% dos votos nas passa-das eleições legislativas na Hungria, sendo o terceiro maior partido da As-sembleia Nacional. Apesar de negar as acusações de prática fascista e racis-ta, por parte da comunidade interna-cional, as ações do Jobbik revelam-se deveras discriminatórias das minorias étnicas. Como encaras a crescente adesão a este partido?

Como já referi, muitos cidadãos não vo-taram nas últimas eleições, pelo que não considero que essa adesão ao partido reflita a opinião de 20,54% da população húnga-ra. No entanto, os números são demasiado altos. Ainda que, infelizmente, haja fascis-mo e racismo na Hungria, estes não pare-cem estar presentes nos locais que frequen-to, nem enraizados, de forma generalizada, no país. Não o devem encarar como um as-peto reiterado e observável frequentemen-te nas ruas. Acredito que tais assuntos são transmitidos de forma exagerada através dos meios de comunicação internacionais.

Na minha perspetiva, aqueles que apoiam o Jobbik não têm, geralmente, uma boa formação, e a maioria da sociedade não aceita, de todo, o fascismo e o racismo! Na verdade, quer os políticos, como o cidadão comum, tentam combater este tipo com-portamento, o que é visível nas próprias manifestações.

Não obstante, a discriminação que tem como alvo as minorias, especialmente a et-nia cigana, existe na Hungria. Isto é um ciclo vicioso: se um indivíduo da etnia ci-gana pretender trabalhar, muitas vezes a sociedade marginaliza-o, mesmo que este seja um profissional competente. Assim, o indivíduo acaba por agir de acordo com o preconceito de que é vítima, tornando--se desempregado e dependente das ajudas do Estado. Atualmente, este é um tema em voga e há várias ações contra a discrimina-ção, o que pode dever-se ao facto de ter-mos cada vez mais pessoas talentosas per-tencentes a minorias em áreas como, por exemplo, a música, o cinema e, ainda, a política.

Qual a tua opinião sobre a adesão da Hungria à moeda única europeia? Deveria esta ser feita em breve, ou não estará o país ainda preparado?

Não creio que estejamos prontos para adotar o Euro num futuro próximo, e não acho que tal adesão ocorrerá em breve.

Após a conclusão do teu mestrado, ficar em Portugal é uma opção a equa-cionar?

De facto, gosto de Portugal e, depois de terminar os estudos, planeio cá ficar por uns tempos. Gostaria de trabalhar na minha área o mais brevemente possível. Quanto a um futuro mais longínquo, não sei se ainda estarei em Portugal, uma vez que tal depende de vários fatores!

“Na Hungria, continuamos a ter poucas mulheres em cargos elevados”

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Entre os dias 10 e 12 de março, irá ocorrer a 15ª edição do Porto de Emprego, mais uma vez da responsabilidade da FEP Junior Consulting, com a colaboração do SEREIA (Serviço de Relações Externas e Integração Académica). Contará com a presença de 41 empresas das mais diversas áreas, o segundo número mais elevado de sempre.

ALICE MOREIRARITA VALE XAVIER BRANDÃO

O objetivo é permitir um elo de ligação entre os estudantes das mais diversas facul-dades com as empresas presentes, de modo a tomarem conhecimento de toda a infor-mação relevante.

Com efeito, no dia 11 de março, vai decorrer o Speed Recruitment, um evento que permite um contacto direto e indivi-dual de 18 candidatos selecionados pelo seu currículo com 18 empresas presentes em entrevistas de cinco minutos. No en-tanto, a generalidade das pessoas usufrui do evento através de apresentações e dos stands.

As apresentações têm a duração de 45 minutos e são o espaço onde os emprega-dores descrevem a atividade da empresa e o processo de recrutamento. O horário destas pode ser consultado no programa.

Os stands são o espaço onde o contac-to com as empresas é mais personalizado e te podes dar a conhecer. É, no entanto, complicado saber como o fazer. Lembra--te que só existe uma oportunidade para causar uma boa primeira impressão. Por isso, toma nota de alguns conselhos im-portantes:

1. Não perguntar o que faz a empre-sa ou mostrar desconhecimento

da sua atividade. Os empregadores aconselham que os candidatos pes-quisem informações sobre a empre-sa antecipadamente, sendo até uma boa técnica usá-las ao longo da con-versa;

2. Preparar uma apresentação rápi-da para as empresas que te são mais atrativas. Fala sobre ti, o cur-so e o ano que frequentas. Introduz nesse discurso o que podes oferecer à empresa, porque quanto mais es-pecífico for o discurso, mais interes-sante é para o recrutador.

3. Criar um currículo adaptado. Al-gumas dicas sobre o currículo são deixadas abaixo, mas sugerem que este seja distintivo, podendo, por exemplo, ser acompanhado de um

cartão de visita com o contacto e a página do Linked-In.

4. Ser interativo. É importante fazer perguntas, sendo que se destacam a possibilidade de existência de está-gios e os seus termos; a localização dos postos de trabalho; o funcio-namento da progressão de carreira e da necessidade de realização de mestrado, que são um bom pilar para chegar às perguntas mais “out of the box”.

O Porto de Emprego pode, portanto, ser uma preparação para um processo de recrutamento. Como este é específico de cada organização, deves consultar a página da empresa antes de te candidatares. No entanto, existem fases comummente ado-tadas pela generalidade destas.

Porto de Emprego

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Fase de candidatura:A candidatura é geralmente feita através

de um formulário de candidatura ou pela apresentação do teu CV.

Este não deve ter mais do que uma folha e, a menos que a empresa o peça especifi ca-mente no formato europass, deve ser cria-tivo e esteticamente apelativo. Há sites que oferecem a possibilidade de criar um CV online com sugestões de design diferente.

Fases de seleção: Nesta fases, predominam de um modo

geral as entrevistas, contudo, podem tam-bém ocorrer:

1. Inventários de interesses: avaliam a preferência por tipos específicos de atividades relacionadas com fun-ções dentro de um alargado leque de profissões

2. Questionários de personalidade e motivação: procuram aferir o es-tilo comportamental do candidato em termos de personalidade e tam-bém o seu nível de motivação.

3. Teste de aptidões: analisam em que medida o candidato é capaz de levar a cabo vários aspetos de um traba-

lho, avaliando uma grande varieda-de de capacidades e com diferentes níveis de dificuldade.

4. Exercícios de simulação: reprodu-ção de uma tarefa ou competência particular, necessária para o desem-penho da função em causa.

5. Assessment Centres: o candidato, enquanto membro da equipa, é ava-liado para determinar a sua aptidão para funções específicas. Aqui po-des encontrar diversos testes, não só a nível individual (como os psi-cotécinos), mas também a nível de grupo.

Dica: Há empresas que permitem trei-nar em sites online questões tipo, que te deixam mais seguro no teu percurso.

“Poderás participar no Porto de Emprego interagindo com stands ou indo às apresentações”

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Há quem diga que o 7 é o número da sorte e também o foi para a Adclick, criada em 2007, fruto do processo de incubação no UPTEC. Estivemos à conversa com a gestora de operações, Ana Bicho, e com o business developer, Nuno Lopes, para vos dar a conhecer a Adclick, uma empresa de marketing digital que nasceu a uns metros da nossa Faculdade.

CAROLINA FERNANDESRAQUEL MENESES

Começou em 2007 com apenas 3 pessoas e hoje, já conta com 60 pessoas nos seus qua-dros com uma faturação de 5,2M em 2014. É uma empresa de marketing, mas não exe-

cuta campanhas de publicidade propriamen-te ditas, o trabalho da Adclick baseia-se em performance - isto é, investe, em publicidade online, mas só tem retorno se, efetivamente, existirem resultados para os seus clientes. As-sim, a Adclick facilita o match entre as pes-soas que desejam adquirir algum serviço ou produto às empresas que mais lhes interessa para o efeito. Há um leque de opções dispo-níveis em portais temáticos idealizados pelos profissionais e é, desta forma, que os poten-ciais clientes ficam aptos para optarem pela melhor escolha para eles. Portanto, geração de lead, e-mail marketing, compra de tráfe-go e até plataformas usadas são tudo projetos desenvolvidos integralmente pelos trabalha-dores desta empresa – de base tecnológica. A Adclick possui inúmeros clientes de diversas áreas, desde Finanças a Educação, passando por Seguros e Emprego. Estes contactos ge-rados, são imediatamente enviados para os clientes, assim que encontrado um potencial comprador para os seus produtos ou servi-ços. É necessário salientar que a Adclick só é remunerada quando o contacto é válido, ou

seja, se existir realmente a transação - por sua parte, o serviço é gratuito para o utilizador.

Ao contrário da norma padrão, em que o início da atividade da empresa é no país de raíz e só após alguma maturidade do projeto se dá a internacionalização, a Adclick desde sempre foi “internacional”. Ana Bicho afirma “não há mercado em Portugal para este tipo de serviço, exportamos cerca de 75% da produção”. Paí-ses como Espanha, França, Brasil, Bélgica, Po-lónia, México e a maioria dos países da Amé-rica Latina fazem parte do seu portefólio, e é de notar que apesar desta imensa exportação, quase toda a produção é realizada em Portu-gal. E apenas não é na sua totalidade porque, em 2011, começou um projecto no Brasil - a BeeLeads – uma empresa spinoff do grupo que opera a partir de São Paulo e conta já com cerca de 35 colaboradores tendo já obtido 1,5 MJ de faturação.

Apesar da atividade principal da Adclick ser o marketing, não descuram o seu próprio ma-rketing, isto é, mostrar até que ponto é van-tajoso fazer parte da equipa. Aliás, o Fepiano conheceu o espaço e é, claramente, um har-

A (Ad)click para a tua solução

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monioso ambiente de trabalho, possuindo também um compartimento à parte de relaxa-mento e convívio para recuperar forças. Nuno Lopes confirma que “são estes momentos que aumentam a nossa eficiência.”

Um apontamento interessante que nos re-velaram foi que como os potenciais clientes, normalmente, utilizam o Google como fonte de pesquisa, a Adclick esforça-se por manter os sites o mais atualizados possível, para que nas pesquisas apareçam nas primeiras posi-ções, isto é, na parte superior da página de re-sultados.

Porquê o UPTEC? Parece que adivinhas! A escolha pela incubação no UPTEC e não noutro local deve-se ao acesso ao conheci-mento que consegue fornecer, nomeadamente pela Universidade do Porto. A prova da im-portância deste aspeto para a Adclick é que a média de idades dos trabalhadores é apro-ximadamente de 28 anos e a maior parte fo-ram alunos da FEUP e da FEP. Nuno Lopes é um excelente exemplo, “ainda na FEUP fiz um estágio curricular aqui, depois fiz um es-tágio profissional e já estou cá a trabalhar há

34 anos”. Tanto Ana Bicho como Nuno Lopes salientam a importância da partilha de conhe-cimento entre faculdades, o acesso a recém-li-cenciados e mesmo as partilhas entres as pró-prias empresas que o UPTEC alberga.

Com muito orgulho a Adclick pode dizer que os softwares são integralmente desenvol-vidos pelos seus engenheiros informáticos e a excelente qualidade do trabalho permite o de-senvolvimento de alguns projetos individuais, tal como o caso do Email Biidding e do SMA-RKIO, a próxima novidade da empresa.

Em 2013, conseguiram o melhor resultado de empresas portuguesas no Ranking Tech-nology Fast 500 EMEA, realizado pela De-

loitte e conquistando o 44º lugar a nível Eu-ropeu – 1º lugar a nível nacional. Ana Bicho esclarece que lhes deu algum reconhecimen-to, mas na perspetiva de gestão de recursos humanos e não no próprio negócio, pois a maior parte da produção é exportada e em Portugal não há um grande reconhecimento desta posição.

Um aspeto relevante a frisar, referido por Ana Bicho, é que apesar de existirem já alguns cursos sobre marketing digital, estes “inevi-tavelmente desatualizam-se facilmente face à rapidez da tecnologia, como todos sabemos”. Ainda sobre o tema, confessaram-nos de que as competências analíticas e criativas que a maioria dos cursos oferecem são uma base im-portante da aprendizagem. Incitam-nos, tam-bém a não descurar da formação online, claro que é necessário ser cauteloso com a infor-mação, mas é um ótimo meio para aprender. Chegam a dar o exemplo do Facebook como uma ferramenta de trabalho muito interessan-te para perceber o seu funcionamento e a di-nâmica que cativa as pessoas, excluindo a par-te social desta rede.

Estamos a falar de inovação, mas é sempre bom recuperar alguma tradição e já faltavam os conselhos para ti. Ana Bicho e Nuno Lo-pes estão de acordo quanto à existência de ple-no emprego em novas profissões, o que é uma ótima notícia. Reforçaram o argumento com o seu próprio exemplo, já que ainda não exis-te conceito de experiência profissional na área do Marketing Digital. Assim, aconselham-nos a apostar em novos mercados e profissões, tra-balhando com uma equipa que envolva várias áreas simultaneamente. Ana Bicho confirma “é uma área muito aliciante por todos os de-safios que nascem quase diariamente”. E tu quando fazes click? Desafia-te!

“É importante a partilha de conhecimento entre faculdades, o acesso a recém--licenciados e mesmo as partilhas entres as próprias empresas que o UPTEC alberga”

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JOÃO FERNANDES

O Syriza, partido radical de esquerda lide-rado pelo jovem herói grego Alexis Tsipras contabiliza agora cerca de um mês do seu rejuvenescedor governo na Grécia, mas os deuses do Olimpo continuam sem sossego à vista. As promessas eleitorais que coloca-ram o partido extrema-esquerdista no poder, do perdão de dívida ao fi m da austeridade, estão longe de agradar aos principais parcei-ros europeus e a dúvida em torno do futuro do “berço da democracia” tem vindo inevi-tavelmente a agravar-se nas últimas semanas. Muitos são os que temem o regresso do cli-ma de incerteza de 2012, com o espetro imi-nente de um “default” grego e da saída da Zona Euro.

Antes de debater o futuro dos gregos, será no entanto de relevante interesse uma bre-ve incursão ao passado da Grécia, nomea-damente após a adesão à união monetária europeia (UEM). Facilmente salta à vista a escalada, quer da dívida, quer do défi ce pú-blicos, atualmente nos 175% e 12% do Pro-duto Interno Bruto (PIB), respetivamente. A questão relevante aqui incidiria inicialmente sobre a relação entre este endividamento e esta despesa pública e o crescimento da eco-nomia grega. Ora, após a entrada na União Europeia em 1980 e a adesão ao euro em 2000, o PIB grego registou, de facto, taxas de crescimento anuais signifi cativamente po-sitivas. O grande problema foi precisamen-te o facto de a Grécia, uma economia ba-seada no setor dos serviços, nomeadamente no turismo, ter potenciado esta expansão à custa do acesso a crédito barato e ao cresci-mento do setor público. Em 2008, ano mar-cado pelo rebentar da crise do subprime e pela falência do Lehman Brothers, o défi ce e dívida públicos gregos encontravam-se já em patamares insustentáveis. Em resultado, os gregos têm vindo a atravessar a pior crise económica desde 1974, vendo-se confronta-dos com severas políticas de austeridade e de reforma do setor público impostas pelo Fun-do Monetário Internationcal (FMI) e pela Comissão Europeia no seguimento do pro-grama de assistência fi nanceira internacional assinado em 2010.

Como é do conhecimento geral, esta cri-se de dívida soberana, agravada pela crise fi -nanceira internacional, afetou também outros

“países periféricos” da Zona Euro, como a Ir-landa, Portugal e Espanha, obrigando similar-mente à intervenção da tão badalada troika e à imposição das políticas de austeridade e de corte do défi ce público. A questão agora re-cairá sobre a razão pela qual apenas a Grécia continua a colocar a Europa em alvoroço e a ameaçar a UEM. A resposta é relativamente simples e reside essencialmente nos funda-mentos económicos. Nos últimos anos, estes países têm provado a sua capacidade de cum-prir com as exigências impostas pelos credo-res, reduzindo os défi ces orçamentais, poten-ciando as exportações e atingindo excedentes nas contas correntes. Contrariamente, na Grécia arrastaram-se sucessivamente as refor-mas, enquanto as exportações continuaram a desapontar, aumentando as necessidades de fi nanciamento do país e conduzindo o novo governo “anti-austeridade” e “anti-dívida” de Tsipras à tentativa de renegociação do paga-mento da dívida do país com os parceiros eu-ropeus, enfrentando, como seria de esperar, uma forte oposição do lado da “mãe da auste-ridade” Alemanhã.

Onde reside então a razão nesta luta entre gregos e “troikanos”? Bem, no que concerne ao perdão da dívida, os argumentos apresen-tados por Tsipras e pelo também controverso ministro das fi nanças grego Yanis Varoufakis parecem carecer de fundamento, com o ser-viço da dívida longe de ser o principal pro-blema do país. Isto porque, apesar da fraca conjuntura económica, do elevado envidi-damento e da incerteza que marca o futuro da Grécia, o país conseguiu obter períodos de carência consideravelmente longos e ta-xas de juro bastante baixas. Apesar de se en-contrar em 175% do PIB, a dívida pública grega gera um serviço de dívida que repre-senta apenas 1,5% do PIB, valores inferio-res aos da Irlanda ou da Itália, por exemplo, cujos rácios de dívida bruta em relação ao

PIB são signifi cativamente mais baixos. Até o governo de Tsipras parece ter já abandona-do a ideia do perdão de dívida defendida du-rante a campanha eleitoral, procurando ape-nas, segundo Varoufakis, uma extensão do acordo de fi nanciamento com os parceiros da Zona Euro. Isto porque o problema da Grécia não é, de facto, a sustentabilidade da dívida a vencer em 20 ou 30 anos e a pagar juros muitos baixos. O que verdadeiramente preocupa agora são os pagamentos a vencer este ano devidos ao FMI e ao Banco Central Europeu (BCE). Foi precisamente esta a ra-zão que conduziu às intermináveis reuniões do Eurogrupo e que culminaram no adia-mento até ao fi nal de junho do acordo de fi -nanciamento com os credores europeus que supostamente terminaria a 28 de fevereiro. Naturalmente, novas interrogações surgem agora. E no fi nal de junho, será necessário novo adiamento? Com as volumosas amorti-zações de dívida previstas para julho e agosto deste ano, será a Grécia capaz de se realinhar com os interesses da Europa em apenas qua-tro meses? À partida, fi ca apenas a certeza de que medidas usadas como promessas eleito-rias, como o aumento do salário mínimo, te-rão de fi car adiadas para um futuro “plano de recuperação”, tal como referiu Varoufakis após a última reunião do Eurogrupo no pas-sado dia 20 de fevereiro.

A questão do excesso de austeridade pare-ce ser passível de uma discussão mais alarga-da em comparação com a controvérsia em volta do perdão da dívida. As imposições da troika no âmbito do plano de resgate de 2010 apontam para um excedente primário (excluindo, portanto, o pagamento de ju-ros) na ordem dos 4% do PIB este ano, algo que o Governo grego considera, mais uma vez, excessivo. Por um lado, muitos consi-deram esta meta razoável, atendendo a que excedentes semelhantes foram registados du-

Uma História de Gregos e “Troikanos”

Source: tradingeconomics/Eurostat

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Uma História de Gregos e “Troikanos”

We Can Solve It desafiou 170 estudantes da UP

O We Can Solve It é um projeto desenvolvido pela AIE-SEC na FEP que tem o intui-to de desafiar os estudantes universitários a resolverem ca-sos de estudo propostos por empresas. Ao participar nesta competição, as empresas têm, igualmente, uma oportunidade única de reunir ideias inovado-ras para solucionar problemas reais. A sua 7ª edição realizou--se no passado dia 19 de feve-reiro.

O evento ocorreu na Faculda-de de Economia do Porto e con-tou com a participação de mais de 170 alunos de toda a Univer-sidade do Porto, com especial foco nas Faculdades de Enge-nharia e Economia. Participa-ram também duas empresas dis-tintas, a Eurico Ferreira e a Sage, que se associaram à organização e expuseram os seus desafios aos participantes.

Esta edição revestiu-se de su-cesso pelo que, segundo Sofia Souto, diretora de Marketing da

AIESEC na FEP, será certamen-te um evento a repetir no futu-

ro próximo. Aproveitou, ainda, para “agradecer a todos os parti-

cipantes pela dedicação e esforço durante o evento”.

rante pelo menos dez anos por outros países europeus com níves excessivos de dívida na sequência de crises financeiras, dando como exemplo o caso da Irlanda em 1991, da Bél-gica em 1995 ou da Noruega em 1999. Por outro lado, há quem defenda que a Grécia será incapaz de cumprir com as suas obriga-ções para com os credores com os atuais pa-drões de austeridade.

Apesar de tudo, ao fim de quatro anos sob a alçada da troika, os gregos consegui-ram transformar um défice primário de 10% num excedente de 3%, a custo de elevadís-simos valores de desemprego. No entanto, para além dos 4% previstos para este ano, os termos acordados no plano de assistência fi-nanceira prevêem alcançar um excedente pri-mário de 4.5% e a sua manutenção ao lon-go da duração do programa. Voltando mais uma vez ao passado, verifica-se que a proba-bilidade de tal ocorrer é muito reduzida. Por exemplo, desde 1995, o excedente primário agregado de todos os países da Zona Euro

atinigiu os 3.6% apenas uma vez, em 2000, registando atualmente valores negativos. Mesmo a Alemanha, apelidada por alguns de República Federal da Austeridade, atingiu excedentes de 3% apenas por duas vezes, no-meadamente no último trimestre de 2007 e no primeiro trimestre de 2008. De facto, um estudo publicado no ano passado em conjun-to pela Universidade da California e pelo Ins-tituto de Altos Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra revela que, en-tre 1974 e 2013, apenas três países se revela-ram capazes de atingir excedentes primários iguais ou superiores a 5% por mais de uma década: Singapura, uma cidade-estado em regime de autocracia benevolente; Noruega, possuidora de petróleo; e Bélgica, que flores-ceu ao longo dos anos 90. Em qualquer caso, tais excedentes implicam impreterivelmente uma economia forte e sustentável, o que não acontece no caso grego.

Para terminar, é ainda de salientar que mesmo os referidos 4.5% não constituem, à

partida, o objetivo final dos gregos. De acor-do com o FMI, o pagamento da dívida grega deverá ser suportado pelo crescimento eco-nómico do país até que o rácio de dívida pú-blica face ao PIB atinja o padrão de 60% de-finido para a Zona Euro. O problema reside no facto de, segundo a mesma instituição, a Grécia ser obrigada a apresentar um exce-dente primário de 7.2% entre 2020 e 2030. Ora, se atendermos a que apenas a Noruega conseguiu atingir tamanho excedente duran-te tão alargado período, a probabilidade de os gregos atingirem tais metas parece ser, no mínimo, surrealista. Por agora, o governo do carismático Alexis Tsipras parece ter ganho algum tempo para tentar resolver a situação problemática do país, mas a confiança dos parceiros europeus neste novo governo está longe de estar assegurada. Dentro de portas, a euforia gerada em torno do Syriza parece ter os dias contados. Para não variar, o futu-ro grego continua a definir-se numa palavra: incerteza.

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Apesar de ainda estarmos em março, podemos afirmar que Fifty Shades of Grey foi um dos filmes mais aguardados do ano. Um pouco por todo o mundo, fãs da trilogia best-seller de livros escritos pela autora britânica E.L.James, prin-cipalmente, ou simplesmente curiosos por ver um dos filmes mais falados nos meios de comunicação dos últimos anos, iniciaram uma corrida às salas de cine-ma que resultou em receitas de mais de 94 milhões de dólares em apenas 5 dias nos EUA e mais de 873 mil euros em 3 dias de exibição em Portugal.

Com um custo aproximado de 40 mi-lhões de dólares, Fifty Shades of Grey foi realizado por Sam Taylor-Johnson, que apresentava uma carreira tremen-damente modesta, sendo este filme a sua estreia na “primeira divisão” do cinema. Para os protagonistas da his-tória, Jamie Dorman foi escolhido para dar vida a Christian Grey. Apesar de não ter feito nada de relevante anteriormen-te, a produção do filme achou que teria o carisma e charme necessário, e Dako-ta Johnson, esta sim com mais algum curriculum, deu vida a Anastasia. Com estas escolhas, a produção acabava de dar dois tiros nos pés, pois em momen-to algum existiu qualquer tipo de quí-mica entre as personagens, e num filme destes a química entre eles seria tudo.

Sam Taylor-Johnson fez um péssimo trabalho com o filme, tal como seria de prever, caindo em algum amadorismo: as cenas nunca terminavam, meramen-te acabavam, não existindo qualquer elo de ligação entre elas. Mesmo o próprio argumento (e nunca li o livro) é demasiado fraco, nunca captando totalmente a atenção do espectador e arrastando-se até um final desinspira-dor. Também quem procurou o filme pelo erotismo ficará certamente desi-ludido, em nenhum momento o filme se aproxima de um clássico como Nove Semanas e Meia ou Ultimo Tango em Paris, ou mesmo até do filme de culto dos anos 90, Instinto Fatal.

Apesar do deserto cinematográfico, o filme foi um sucesso de bilheteiras assente no hype que se foi gerando em seu torno nos meses que antecederam.

Prevendo isto, foram muitas as marcas que procuram ser associadas e ser par-te integrante da campanha de marke-ting construída ao longo do ano para promover o filme. Começado pela Audi, que depois de referida no livro era ex-pectável que se associasse ao filme; por isso, ao longo da trama, são vários os modelos que podemos ver, A3, S7, S8, Q7 e, claro, o belíssimo R8. Christian Grey usa um Omega Seamaster Aqua Terra, avaliado em cerca de 6 mil eu-ros, dando continuidade à forte aposta da marca em product placement, sendo a saga James Bond o seu principal veí-culo nesta vertente de Marketing. Por último, e apenas para apresentar as três principais marcas (pois a lista podia-se arrastar-se), a Apple está representada

através dos seus MacBooks e iMac que aparecem em algumas das principais cenas da história.

Se por acaso se perguntaram qual seria a fortuna de Mr. Grey, a Forbes fez-nos o favor e estimou, baseando--se nos produtos que vão aparecendo ao longo de filme, que será de cerca de 2,2 mil milhões de dólares.

Fifty Shades of Grey é uma reflexo da tendência seguida por Hollywood nos últimos anos: pouco conteúdo, muitas receitas. No entanto, e apesar de po-dermos criticar a forma como se comer-cializa a arte atualmente, não podemos negar que a campanha de Marketing elaborada foi das melhores nos últimos anos e um verdadeiro case-study para o futuro.

Neste momento, grande parte da arte deixou de ter valor e apenas a ter preço, e Hollywood não ficou para trás. Pode-mos concluir que as massas têm aqui algo a dizer, pela simples razão de que filmes que verdadeiramente glorificam a sétima arte são, proporcionalmente, cada vez menos quando comparados com filmes como Fifty Shades of Grey.

PROMOE (Looptroop Rockers)

6 Mar 23h00 Pré-venda 13,50J

No dia 16J - Plano B

PROMOE nasceu na Suécia e aos 15 anos já estava a fundar os Loop-troop com o seu colega de escola Embee. Durante anos foram lan-çando vários projetos sem apoios financeiros exteriores. Mais tarde, criaram a própria editora, mas sem-pre com a filosofia independen-te “do it yourself”. Nesta altura (1998), os Looptroop já tinham estendido a sua formação com a entrada de Supreme e Cos.M.I.C

para o grupo. PROMOE vem a solo ao Porto mostrar as suas clássicas rimas conscientes, preenchidas de ativismo político e social.PONTOS DE VENDA: KATE Ska-teshop, Matéria-Prima, Dedicated Store Porto, BBW STORE Oporto, Versus Street Team: Pedro Ariga-to (912 435 889), Worten, Fnac, Agências Abreu, TicketLine

“10 passos para um CV mais atrativo”

09 Mar 14h00*Cidade das Profissões

“Identificas-te com a imagem do teu currículo? Ele está a passar a mensagem que pretendes? Neste workshop dar-te-emos dicas para que possas aperfeiçoá-lo!”*Todas as actividades são gratuitas, mas sujeitas a inscrição. Para mais informações sobre este e outros

workshops consultar : www.cdp.por-todigital.pt

Rita Guerra27 Mar 21h30 - 12,50J - 25J

Coliseu do Porto

Rita Guerra, cantora dos singles “Deixa-me sonhar”, “Sentimento” e “Castelos no ar”, entre outros, irá ao Coliseu apresentar as músicas do seu último álbum “Volta”, assim como os grandes sucessos de uma carreira de 30 anos.

GRIGORY SOKOLOV24 Mar 21h00 - 22J

Casa da Música

Grigory Sokolov nasceu na Rússia, onde começou a estudar música com apenas 5 anos. Mais tarde, aos 16, iniciou a carreira intercional, ao conquistar o 1º Prémio no Concur-so Tchaikovski de Moscovo. Sokolov é atualmente considerado um dos maiores pianistas vivos do mundo, impressionando de igual modo o pú-blico e a crítica.

Agenda Cultural EVENTOS A NÃO PERDER

GUSTAVO SOUSAPAULO MARTINS

ESTREIAS DE CINEMA

Depois de “Amo-te Phillip Morris” e do excelente “Amor, Estúpido e Louco”, Glen Ficarra e John Requa juntaram-se novamente para nos tra-zer “Focus”, que marca também o regresso de Will Smith ao grande écrã, depois dos fraquíssimos “After Earth” e “Winter’s Tale”.Will Smith interpreta Nicky, um expe-riente ladrão (ao jeito da saga Ocean’s) que aceita treinar a inexperiente e belíssima Jess, interpretada por Mar-got Robbie. Enquanto Nicky planeia o último golpe, que lhe permitirá deixar os assaltos (um cliché deste género de filmes), vê todos os seus planos serem destruídos quando se apaixona por Jess e acaba por arranjar problemas com um playboy milionário interpreta-do por Rodrigo Santoro.Apesar de alguns momentos divertidos e bem conseguidos, o filme falha pre-cisamente nos twists que deveria ter na sua história, sendo por isso mais ou menos previsível. A química entre os dois protagonistas é boa e só por isso deixa os espectadores, tal como diz o título do filme, focados do início ao fim. Visualmente, o filme é excelente, com Buenos Aires e Nova Orleães a se-rem cenários perfeitos, complementa-dos com carros de luxo, hotéis exóticos e um guarda-roupa de fazer inveja.Apesar de não ser revolucionário, o fil-me entretém. Durante 104 minutos é como se acompanhássemos as férias de Will Smith, o que não é, de todo, algo desinteressante.

Fifty Shades of Grey - Don´t believe the hype

FOCUS - FOCUSGénero: Comédia, Crime, Drama

Duração: 104 minutosRealização: Glen Ficarra, John RequaEstrelas: Will Smith, Rodrigo Santoro,

Margot RobbieClassificação: 7/10

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23Nº 14 - março 2015

GRUPO AClassificação Equipa Pontos Jogos Vitórias Empates Derrotas GM GS DG1º Prescritos 15 5 5 0 0 48 6 422º Jamaican All-Stars 15 5 5 0 0 38 7 313º IPM 13 5 4 1 0 27 14 134º Jocivalter F.C. 10 5 3 1 1 26 13 135º Real Sucata 9 7 3 0 4 28 31 -36º Zééé’s 6 6 2 0 4 19 26 -77º Passes Perdidos 6 6 2 0 4 16 49 -338º Pi100Pé 3 5 1 0 5 15 32 -179º = MOCHE 0 7 0 0 7 20 62 -4210º = eCOROballs A.M.U.S. 0 0 0 0 0 0 0 0

GRUPO BClassificação Equipa Pontos Jogos Vitórias Empates Derrotas GM GS DG1º Atlético Atum 19 7 6 1 0 52 9 432º Siga Maluco 18 6 6 0 0 44 14 303º Montanelas United 14 6 4 2 0 26 12 144º NC Galasataray 13 7 4 1 2 41 26 155º XERIFES UTD 12 5 4 0 1 24 13 116º = CTT 4 7 1 1 5 23 32 -97º = Os Pupilos do Houdini 4 7 1 1 5 18 40 -228º Serviços FepCretos 3 5 1 0 4 12 32 -209º TAFEP 3 6 1 0 5 5 42 -3710º = WaitForIt 0 6 0 0 6 14 39 -25

DESPORTO NA FEP

Classificações FEP LeagueMelhor

MarcadorEquipa Golos

Gonçalo Quintal

Prescritos 16

João Barbosa

Atlético Atum 12

Rui Pedro NC Galasataray 12

Diogo Cardoso

Siga Maluco 12

Afonso Menezes

Atlético Atum 11

Henrique Sousa

CTT 11

André Pereira

Jamaican All-Stars

9

Diogo Silva MOCHE 9

Filipe Alves Real Sucata 9

João Sampaio

IPM 9

AFONSO VIEIRA

Hélder Nunes

Desporto: Hóquei em PatinsIdade: 21 anosCurso: GestãoAno: 1º ano

A patinar desde os 2 anos, seguiu a in-fluência do pai e da cidade de onde é oriundo, Barcelos, sendo uma das jovens promessas do nosso país e da modalidade, já com um palmarés recheado: três cam-peonatos nacionais (dois pelo Óquei Clube de Barcelos, em infantis e iniciados, e um pelo Futebol Clube do Porto), uma taça de Portugal e duas vezes vice campeão euro-peu (pelo Futebol Clube do Porto), sem es-quecer a final alcançada na Taça Cers pelo Hóquei Clube de Braga. Desde os 18 anos na seleção nacional, foi campeão europeu

sub-17, sub-20 e campeão mundial sub-20. Fez também parte da seleção nacional que alcançou o 3º posto no Campeonato Mundial e no Campeonato Europeu.

Como é ser atleta ao mais alto nível e ao mesmo tempo tirar um curso na melhor faculdade de economia de Portugal? É muito bom porque não é qualquer pes-soa que tem o privilégio de conseguir es-tar no topo do hóquei e também a nível de ensino, apesar de por vezes não ser fácil conciliar, porque o hóquei é o meu trabalho e é ao que me dedico mais, sa-bendo sempre que tenho um curso para ir fazendo, garantindo assim um futuro para além do hóquei.

Como é que os teus companheiros de equipa e os teus colegas da faculdade veem isso?Tenho colegas de equipa que estão a estudar, outros que já acabaram o cur-so e que me dizem para não deixar de estudar, incentivam-me a fazer o curso porque eles têm mais valias e tentam transmitir-me o que tiraram de bom des-sa situação. Por acaso, os dois guarda redes (Nélson Filipe e Edo Bosch) tam-bém estudaram na Universidade Católi-ca, onde concluíram o curso de Gestão.

Consegues descrever-nos o tempo que tens de dedicar ao hóquei durante uma semana?

Normalmente, os treinos têm a duração de 2 horas, mas temos de ir mais cedo e muitas vezes ficamos no fim do treino a fazer algum trabalho específico. Mas o hóquei ao nível que jogamos no Porto leva mais dedicação para além dessas horas, e cuidados que devemos ter com a alimentação e com o descanso, para estarmos sempre bem e em forma todos os dias.

Como vês a decisão que os outros atle-tas profissionais tomam de abandonar os estudos para se dedicarem a 100% ao desporto? Achas possível conciliar os estudos com o desporto?Sim, sem dúvida que é possível con-ciliar, apesar de não ser fácil, ao nível que se joga em alguns clubes. Em re-lação a abandonarem os estudos, cada um toma a sua decisão com base nas suas ideias e no que querem para a sua vida, e não censuro porque podem ter mais privilégios e melhores performan-ces, mas eu mantenho a minha ideia, e acho que estudar ao mesmo tempo só nos traz coisas boas em todos os sen-tidos.

Entrevista a um atleta fepiano: Hélder Nunes jogador de hóquei do Futebol Clube do Porto e da Seleção Nacional

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24 Nº 14 - março 2015

Coordenação: João Sequeira e Matilde Rosa CardosoRedação: Afonso Vieira; Alice Moreira; Carolina Fernandes; Carolina Reis; Daniel Salazar; Guilherme Sousa; Gustavo Sousa; Hélder Ferreira; João Parreira; Manuel Lança; Paulo Martins; Pedro Gonzalez; Pedro Malaquias; Raquel Meneses; Regina Capela; Rita Vale; Rui Pedro; Sara Ribeiro; Tânia Freitas; Teresa Sousa; Xavier BrandãoPaginação: Célia César - Grupo Editorial Vida Económica, S.A.Impressão: UnicópiaMorada: Rua Dr. Roberto Frias, 4200-464 (Porto, Portugal) Contacto: [email protected] Facebook: www.facebook.com/fepianojornal Issuu: www.issuu.com/fepiano

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