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ESTIMATIVAS DA PERMEABILIDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DE NOVAS TECNOLOGIAS: O PERFIL NMR FELIPE DA ROCHA BRANCO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE LABORATÓRIO DE ENGENHARIA E EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO MACAÉ - RJ MARÇO - 2012

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ESTIMATIVAS DA PERMEABILIDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DENOVAS TECNOLOGIAS: O PERFIL NMR

FELIPE DA ROCHA BRANCO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSELABORATÓRIO DE ENGENHARIA E EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

MACAÉ - RJMARÇO - 2012

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ESTIMATIVAS DA PERMEABILIDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DENOVAS TECNOLOGIAS: O PERFIL NMR

FELIPE DA ROCHA BRANCO

Monografia apresentada ao Centro de Ci-

ências e Tecnologia da Universidade Esta-

dual do Norte Fluminense, como parte das

exigências para obtenção do título de En-

genheiro de Exploração e Produção de Pe-

tróleo.

Orientador: Prof. Roseane Marchezi Misságia, D.Sc.

MACAÉ - RJMARÇO - 2012

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ESTIMATIVAS DA PERMEABILIDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DENOVAS TECNOLOGIAS: O PERFIL NMR

FELIPE DA ROCHA BRANCO

Monografia apresentada ao Centro de Ci-

ências e Tecnologia da Universidade Esta-

dual do Norte Fluminense, como parte das

exigências para obtenção do título de En-

genheiro de Exploração e Produção de Pe-

tróleo.

Aprovada em 13 de Março de 2012.

Comissão Examinadora:

Prof. Antônio Abel González Carrasquilla(D.Sc, Geofísica Aplicada) - LENEP/CCT/UENF

Prof. Marco Antônio Rodriguês de Ceia(D.Sc, Engenharia de Reservatório e Exploração) - LENEP/CCT/UENF

Prof. Roseane Marchezi Misságia

(D.Sc, Engenharia de Reservatório e Exploração) - LENEP/CCT/UENF - (Orientador)

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Dedicatória

Dedico esta obra a Deus, que sempre me deu forças para superar os meus

obstáculos, e aos meus pais, Idealino e Alice, que sempre me apoiaram

✐✐

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Agradecimentos

Aos meus pais, Idealino e Alice, a quem eu dedico este trabalho.

Ao meu irmão, Guilherme, seus conselhos e companhia foram de grande ajuda.

A minha família, em especial as minhas tias Regina e Sônia, seu apoio foi muito

importante.

Ao D.Sc, Valdo Rodriguês, o seu apoio e orientação durante o breve período em

que estivemos juntos me permitiu ter uma nova visão da industria como um todo.

Ao D.Sc, Ronaldo Paiva, que não deixou de me prestar ajuda em momentos críti-

cos.

Ao geólogo, Carlos Afonso de André, por ter doado o seu tempo para o debate a

respeito dos aspectos operacionais do NMR.

Ao geólogo, Felipe Reis, por ter se disponibilizado em me dar apoio com respeito

a interpretação dos dados.

Ao D.Sc, Abel Carrasquilla, por me inserir em seu projeto cientifico, pelo apoio e

discussão a respeito do tema.

Aos meus colegas em geral, pela companhia e pelos momentos em que dividimos

alegrias e dificuldades.

Aos membros da banca e professores, que me permitiram adquirir o background

fundamental para a realização deste trabalho.

Aos Funcionários do LENEP/CCT/UENF pelo apoio e bom serviço fornecido du-

rante o período da graduação.

A PETROBRAS S.A. pelo fornecimento dos dados utilizados durante este trabalho.

A Senergy Ltd. pela concessão da licença acadêmica para a utilização do Software

Interactive Petrophysics 4.0.

A SPE (Society of Petroleum Engineers) seção Macaé pelo apoio no pagamento

da OnePetro, sua ajuda foi das mais imprescindíveis.

Ao comitê gestor do PRH20-ANP/LENEP/CCT/UENF, a Agência Nacional do

Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, a Financiadora de Estudos e Projetos

– FINEP e ao Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT pelo fornecimento de bolsa

de estudos e taxa de bancada por meio do Programa de Recursos Humanos da ANP

para o Setor Petróleo e Gás – PRH-ANP/MCT.

✐✐✐

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Epígrafe

“A noite escura tem no seu firmamento

as estrelas mais cintilantes...”

Autor: desconhecido

✐✈

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Sumário

Nomenclatura xi

Abstract xv

1 Introdução 1

1.1 Escopo do Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.3 Organização do Documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Revisão Bibliográfica 5

2.1 A Permeabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2 Comparação Entre Modelos: Uma Perspectiva Evolutiva . . . . . . . . . 6

2.3 Aplicações Específicas ao NMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.4 Crítica aos Trabalhos Existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3 Revisão dos Conceitos e Modelos a Serem Utilizados 17

3.1 Revisão de Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.2 Aquisição e inversão de dados de NMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.3 Aplicações Petrofísicas e Propriedades dos Fluidos . . . . . . . . . . . 33

4 Metodologia 43

4.1 Motivação Para o Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.2 Classificação da Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

4.3 Hipóteses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4.4 Instrumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

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Sumário

4.5 Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4.6 Experimentos - Ensaios e Simulações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.7 Estudos Estatísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

5 Resultados e Análises 53

5.1 Interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5.2 Análise e Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

6 Conclusões 69

6.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

6.2 Sugestões Para Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Apêndice A -- Saturação de Água Irredutível, Swi 76

A.1 O que é Swi? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

A.2 Como Determinar Swi Para Propósitos Práticos em Perfilagem . . . . . 76

Apêndice B -- Permeabilidade a Partir do Teste a Formação 79

B.1 Fluxo Radial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

B.2 Fluxo Esférico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

B.3 Formulação Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Apêndice C -- Determinação Laboratorial da Permeabilidade em Testemunhos 85

C.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

C.2 Permeabilidade Medida Através De Um Meio Líquido . . . . . . . . . . 86

✈✐

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Lista de Figuras

1 Cartas para correlação da permeabilidade com φ e Swi (INTERPRETA-

TION, 1972) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 Sistema de amostragem do RFT (INTERPRETATION, 1972). . . . . . . . . 16

3 Ilustração do momento angular J, e do momento magnético ♠ para uma

partícula carregada qe em órbita circular.(FEYNMAN et al., 1964) . . . . . 20

4 Vetores representando o movimento de precessão do momento magné-

tico µ na frequência de Larmor (BECKER, 2000). . . . . . . . . . . . . . . 21

5 (Esquerda)Quando sob a influência de um campo magnético externo, a

frequência de precessão de um núcleo depende do raio giromagnético

e da magnitude deste campo.(Direita) O alinhamento do eixo de preces-

são dos núcleos com respeito a direção do campo externo determina o

estado de energia do núcleo (COATES et al., 1999). . . . . . . . . . . . . 22

6 Analogia entre a obtenção do sinal de NMR e uma corrida em uma pista

de atletismo.(KENYON R. KLEINBERG, 1995) . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

7 Visualização do esquema de pulsos. No painel (a) podemos observar

que um campo B1 orientado a 90º orientou os spins no plano xy e foi

desativado, em (b), os spins começam a defasar. No painel (c) o campo

B1 é reaplicado com magnitude e duração suficiente para reverter os

spins no plano longitudinal, ou seja a 180º. No painel (e), os spins

foram rotacionados para produzir um máximo local. Esta configuração

é chamada de pulse-echo. (ELLIS; SINGER, 2007) . . . . . . . . . . . . . 26

8 Representação de uma sequencia de operações de perfilagem. O 1º

pulso rotaciona os spins para o plano transversal onde pode ser visto o

decaimento FID. Então, um novo pulso é emitido rotacionando os spins

a 180º. A aplicação do pulso a 180º é então varias vezes repetida a

intervalos regulares. Este esquema (90º seguido de vários 180º) é cha-

mado CPMG. A amplitude máxima do Spin Echo decai com uma cons-

tante de tempo T2. (ELLIS; SINGER, 2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

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Lista de Figuras

9 Sinal do NMR no domínio do tempo para um angulo de fase diferente de

zero. R(t) cos (real) e I(t) sen (imaginário) (BERGMAN; LATORRACA, 2002) 31

10 Picos do spin echo coletados para posterior inversão de T2.(BERGMAN;

LATORRACA, 2002) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

11 Desenho esquemático representando a primeira geração do NML e sua

obtenção de sinal.(ELLIS; SINGER, 2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

12 A constante de relaxação é afetada por mecanismos superficiais, de

difusão e estruturais (COATES et al., 1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

13 No painel acima vemos um decaimento que aparentemente não pode

ser modelado por uma curva exponencial, ele deve ser decomposto em

um somatório de curvas com diferentes componentes (estrutural e su-

perficial). A inversão do sinal, mostra uma distribuição bimodal. Presu-

mivelmente, as componentes de decaimento mais rápido estão associa-

das aos poros de tamanho menor. A integral sob esta curva normalizada

é a porosidade.(ELLIS; SINGER, 2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

14 Método CBVI, onde um cutoff fixo determina a parcela livre e presa dos

fluidos (COATES et al., 1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

15 Área sensível de investigação do MRIL, vista superior ao poço. (COATES

et al., 1999) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

16 Gráfico do diâmetro de investigação do MRIL como função da tempera-

tura e da banda de frequência.(COATES et al., 1999) . . . . . . . . . . . 48

17 Corte superior transversal de uma ferramenta CMR (KENYON R. KLEIN-

BERG, 1995) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

18 Comparação entre a área sensível de investigação das ferramentas de

MRIL® e CMR®. As linhas em verde delimitam o campo magnético está-

tico, às em azul o campo de radiofrequência e a área em laranja escuro,

representa a área sensível à investigação. (KENYON R. KLEINBERG, 1995) 49

19 Vista de corte superior do MReX e sua área de investigação.(Extraído

de www.bakerhughes.com, 2010) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

20 Exemplo de área de trabalho no IP 4.0. Extraído do IP Help Manual 2011 50

✈✐✐✐

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Lista de Tabelas

21 CrossPlot entre os Perfis de nêutron e densidade indicando o conteúdo

aproximado de argila. Os pontos que correspondem ao canto superior

esquerdo são referenciados como formações limpas, os que correspon-

dem ao canto inferior direito são formações argilosas. (WHITEHEAD, 2011) 56

22 Posição e comprimento dos componentes do óleo dentro da distribuição

do espectro de T2 em função da viscosidade e molhabilidade. A sepa-

ração entre óleo e água é mais difícil em formações molháveis tanto

pela água quanto pelo óleo. Nestes casos, as curvas do espectro se

sobrepõe (COATES et al., 1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

23 Perfil de Raios Gamma gerado para o poço “A”. A partir dele, pode-se

ter uma primeira impressão a respeito da litologia . . . . . . . . . . . . 61

24 Triple Combo do Poço “B” indicando a litologia. Note a separação posi-

tiva entre as curvas de Resistividade Deep e Med indicando uma zona

de hidrocarbonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

25 Interpretação Preliminar do Poço A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

26 Interpretação preliminar do Poço B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

27 Perfil de NMR. Note que inicialmente o melhor ajuste é feito pela formula

de Timur-Coates para a permeabilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

28 Display do IP para o calculo dos coeficientes através da formula de

Timur-Coates. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

29 Ajuste fornecido pela curva de NMR para os valores da permeabilidade

após carregados os coeficientes corretos e modificado o cut-off na fór-

mula de Timur-Coates . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

30 Comportamento assimptótico da pressão capilar como função da per-

meabilidade (TIAB; DONALDSON, 2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

31 Gráfico semi-log da Pressão durante o período de Drawdown (Painel

superior) e durante o período de Build-up (Painel inferior) (TIAB; DONALD-

SON, 2004). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

32 Geometria e vista superior de um fluxo esférico ideal. (MONCADA et al.,

2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

33 Solução gráfica da equação B.2 demonstrando diferentes simplificações

possíveis. (CULHAM, 1974) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

✐①

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Lista de Tabelas

34 Permeâmetro do tipo Coreholder (TIAB; DONALDSON, 2004). . . . . . . . 87

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Nomenclatura

A nomenclatura está dividida em: alfabeto latino, alfabeto grego, sub-índices e

acrônimos, sendo apresentada em ordem alfabética.

Alfabeto Latino

A1 Constante empírica a ser ajustada através da fórmula de Kozeny

a Coeficiente do Fator de Formação, Coeficiente de Ajuste das SDR e

Timur-Coates

ai Amplitude do Sinal Correspondente a Distribuição de Ti

B Constante de ajuste da Fórmula de Archie, Fator Volume-Formação,

Campo Magnético

BVI Fração em Volume de Fluidos Presos

c Constante Experimental

ct Compressibilidade total, psi−1 ou atm−1

D Coeficiente de Difusão Molecular

F Fator de Formação

f Frequência de Larmor

FFI Volume de Fluido Livre

G Gradiente do Campo de Força

Gr Amplitude do Perfil de Raios Gamma

GrClay Valor do Perfil de Raios Gamma para Argilas

GrClean Valor do Perfil de Raios Gamma para Formações livres de Argila

h Constante de Planck, 6,62620×10−34 J s

I Número quântico nuclear spin

I(t) Componente Imaginária do Sinal de NMR

J Momento Angular

k Permeabilidade [mD], [D], Constante de Boltzman

M0 Vetor Magnetização inicial

M z Vetor magnetização na direção do eixo z

m Fator de Cimentação

n Expoente de Saturação

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Nomenclatura

PwD Queda de Pressão Devido ao Teste a Formação em Termos Adimensionais

Ro Resistividade do óleo

R(t) Parte Real do Sinal de NMR

Rw Resistividade da água

So Saturação de óleo

Sw Saturação de água

T1 Tempo de relaxação longitudinal da medida do NMR, ms

T2 Tempo de relaxação Transversal da medida do NMR, ms

v Velocidade Macroscópica do Fluido

ve Velocidade Real do Fluido em um Meio Viscoso

w Expoente da Fórmula de Coates-Dumanoir

Alfabeto Grego

α Ângulo de Fase do Vetor Campo Magnético

γ Raio Giromagnético

η Viscosidade do fluido, cP

θ Mudança de Ângulo

µ Vetor Momento Magnético, Viscosidade Dinâmica

π Relação entre o Perímetro e o Diâmetro de uma Circunferência

ρ Densidade do Fluido, g/cm3

σ Erro Medido para o Iézimo echo

τ Tortuosidade, Intervalo de Tempo, Tempo no Qual o Campo Oscilatório é

Aplicado

φ Porosidade [m3/m3], Ângulo de Fase

ω Freguência do Sinal

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Nomenclatura

Sub-índices

e Efetivo

eq Equivalente

i Índice, inicial, irredutível

o óleo

T Total

x Posição

w Água

Acrônimos

ASCIIAmerican Standard Code for Information Interchange (Código Padrão

Americano para o Intercâmbio de Informações)

C++ Linguagem de programação com recursos para orientação a objetos

CMRCombinable Magnetic Resonance Tool (Sonda de Perfilagem NMR da

Schlumberger Serviços de Petróleo Ltda)

DLISDigital Log Interchange Standard (Código Digital para Intercâmbio de

Informações)

MRILMagnetic Resonance Imaging Logging (Sonda de Perfilagem NMR da

Halliburton Serviços Ltda)

MReXMagnetic Resonance Explorer (Sonda de Perfilagem NMR da

Baker-Hughes do Brasil Ltda)

LASLog ASCII Standard (Formato de Arquivo Texto Criado com Base no

ASCII)

LIS Log Information Standard (Formato de Arquivo Texto)

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Nomenclatura

Estimativas da permeabilidade através da analise de novas tecnologias: O Perfil NMR

ResumoAs rochas podem ser identificadas em função de suas propriedades elétricas,

acústicas, radioativas e mecânicas. Tais propriedades petrofísicas podem ser obti-

das com o deslocamento continuo de um ou mais sensores de perfilagem (sonda)

dentro de um poço. A representação gráfica entre as profundidades e as proprieda-

des petrofísicas, é denominada de Perfil Geofísico. Portanto, estes perfis poderão

ser classificados de acordo com as propriedades de interesse da rocha como: Perfis

resistivos, Perfis sônicos, Perfis nucleares, e outros.

O perfil de Ressonância Nuclear Magnética (NMR- Nuclear Magnetic Resonance)

responde ao fluido no espaço poroso e pode ser usado para estimar valores, inde-

pendentes da litologia, para a porosidade efetiva, distribuição de espaços porosos,

saturação de fluidos e permeabilidade (esta última de forma empírica).

No presente trabalho desenvolve-se uma análise crítica das novas tecnologias em-

pregadas na industria para a estimativa da permeabilidade de rochas reservatório en-

fatizando o perfil de ressonância magnética. A validação de métodos empíricos para a

determinação deste parâmetro petrofísico é feita através da comparação entre dados

obtidos em laboratório e perfis geofísicos de poço.

Palavras chave: Permeabilidade, NMR, Perfilagem

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Permeability Estimates By Analysis of New Technologies: The NMR log

Abstract

The Rocks can be identified by Its Electrical, Acoustic, Radioactive and Mecha-

nicals proprieties. Those petrophysics proprieties can be obtained moving sensors

into the well. The graphic representation between deepness and petrophysic propriety

is named Geophysic logging. Therefore, those logs can be classified in: Resistivity,

Acoustic and others.

The Nuclear Magnetic Resonance loggings (NMR) respond to the fluids in pore

space, and can be used to estimate lithology-independent values of effective porosity,

pore-size distribution, fluid saturation and permeability (the last one empirically).

In the present work we develop a critical analysis of new technologies used in in-

dustry to estimate the permeability of reservoir rocks emphasizing the Nuclear Magne-

tic Resonance Logging. The validation of the empirical methodology for petrophysical

parameters determination is done by comparing laboratorial data with well logging.

Keywords: Permeability, NMR, Logging

xv

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1

1 Introdução

No presente trabalho desenvolve-se uma análise crítica das novas tecnologias em-

pregadas na industria para a estimativa da permeabilidade de rochas reservatório en-

fatizando o perfil de ressonância magnética. A validação de métodos empíricos para a

determinação deste parâmetro petrofísico é feita através da comparação entre dados

obtidos em laboratório e perfis geofísicos de poço.

1.1 Escopo do Problema

A permeabilidade é distinguida na indústria como uma das propriedades mais de-

safiadoras de se quantificar em uma rocha reservatório e sua determinação ainda não

se encontra bem desenvolvida (HADDAD et al., 2000). As dificuldades podem ser atri-

buídas à natureza fundamental da permeabilidade como uma função da direção e do

volume de observação, bem como das interações rocha-fluido e fluido-fluido. A per-

meabilidade desempenha um papel primário no fluxo de fluidos e é o principal input

para qualquer esforço de predição da produção de um determinado campo. Quanto

mais perto o modelo computacional e matemático do reservatório honrar e integrar a

permeabilidade de diferentes origens, mais confiança pode-se depositar na sua habi-

lidade de predizer a produtividade do poço e a performance do reservatório.

Sendo assim, fica evidente a necessidade de uma estimativa confiável para a per-

meabilidade. Muito esforço e trabalho tem sido usado pela industria para se conseguir

uma estimativa deste parâmetro de modo prático e econômico. Com o passar dos

anos, diversas formas foram apresentadas para quantificar e descrever a permeabi-

lidade. Alguns métodos se mostraram infrutíferos enquanto outros foram adotados

como padrão pela indústria. Em geral, a literatura apresenta os métodos mais conven-

cionais tais como: testemunhos, correlações feitas através da perfilagem, e testes de

formação. Nenhuma destas várias fontes podem individualmente prover um modelo

de simulação com a informação da permeabilidade desejada, elas apenas enfatizam

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diferentes aspectos do reservatório.

A permeabilidade dos testemunhos corresponde à menor escala de medida (em

geral, apenas uma polegada de diâmetro e comprimento). No entanto, tem sido con-

siderada como o padrão para a petrofísica. Idealmente dever-se-ia testemunhar cada

intervalo do poço, mas isso não é prático, muito menos econômico, especialmente em

poços offshore de grande profundidade.

O Perfil de Ressonância Nuclear Magnética (NMR, Nuclear Magnetic Resonance)

é uma ferramenta nova que vem mostrando uma aplicabilidade crescente na indús-

tria. Este perfil fornece uma visão da estrutura porosa que é relativa à permeabilidade

absoluta. Operacionalmente, o NMR é o método mais conveniente para a estimativa

contínua da permeabilidade in-situ por razões econômicas e operacionais. Porém,

estas estimativas são baseadas em correlações empíricas que precisam ser calibra-

das com respeito a alguma referência, em geral testemunhos, para assegurar a sua

exatidão. Deve ser enfatizado que não existe um perfil que nos forneça o valor da

permeabilidade absoluta de um reservatório.

Os testes de formação, sejam eles os mais convencionais ou não, correspondem

à maior escala de investigação. Eles medem a permeabilidade efetiva em uma escala

métrica. A permeabilidade é calculada a partir dos dados da estática (Build-up) e do

fluxo de fluidos (Drawdown) para o reservatório.

Em geral, é muito difícil pesar o valor da informação de uma fonte em particular, em

especial em reservatórios heterogêneos, porque as aquisições de dados apresentam

inconvenientes intrínsecos associados como: ruídos, problemas operacionais, custo,

etc. Logo, a indústria tem buscado aperfeiçoar a aquisição de dados integrando infor-

mações de diferentes fontes para assegurar o máximo proveito dos dados disponíveis.

Todos estes esforços nos levam a exploração de novos horizontes onde a aplica-

ção das diferentes fontes para a estimativa da permeabilidade tem importância pre-

ponderante. Um exemplo deste tipo é a exploração de hidrocarbonetos em formações

complexas na forma de “Tight Gas”; ou, ainda outro exemplo, seria a aplicação cres-

cente do LWD NMR ( Logging-while-drilling - NMR) para a alocação de poços direcio-

nais em ambientes de produção excelente.

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1.2 Objetivos

Neste estudo, busca-se investigar a aplicabilidade, em aspectos operacionais e

econômicos, do perfil de ressonância nuclear magnética (NMR) para a estimativa da

permeabilidade de modo quantitativo. Para a validação destas estimativas e como

fonte de dados serão utilizados dados de campo fornecidos por uma operadora de

campos de petróleo brasileira.

Será apresentada toda a teoria relativa aos fenômenos físicos associados a este

perfil e os métodos de análise e interpretação computacional do mesmo. Também

será explicado como os dados de perfilagem e laboratório devem ser associados com

os dados de teste à formação para uma melhor estimativa da permeabilidade. Sendo

esta uma prática muito comum na indústria. No entanto, não estão disponíveis dados

específicos de campo para a simulação com o teste à formação.

A metodologia e os resultados se concentrarão apenas no uso do NMR como

método de aferição dos parâmetros relativos a produtividade do reservatório. A inter-

pretação será validada utilizando a inteira suíte de perfis disponíveis para associação

com o perfil de ressonância magnética.

1.3 Organização do Documento

Este documento encontra-se dividido da seguinte forma:

No Capítulo 2, “Revisão Bibliográfica”, apresenta-se uma temática voltada para os

esforços feitos em se conseguir um perfil capaz de fornecer dados de permeabilidade.

O capítulo estará focado na descrição e desenvolvimento de fórmulas empíricas para

a estimativa deste parâmetro petrofísico.

No Capítulo 3, “Revisão de Modelos”, apresenta-se o conjunto de conceitos e

modelos desenvolvidos por outros autores que serão amplamente utilizados neste tra-

balho. Inclui-se o funcionamento do NMR, seus fenômenos físicos associados, infor-

mações sobre a área da pesquisa, informações a respeito das operações com o NMR,

instrumentos utilizados e dados de campo. A última parte deste capítulo se relaciona

diretamente ao “Apêndice_B”.

No Capítulo 4, “Metodologia”, apresenta-se neste capítulo a motivação para o de-

senvolvimento do tema, o conjunto de hipóteses e pré-supostos utilizados, a descrição

do tipo de dado utilizado, referências a respeito da fonte de dados, descrição do con-

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junto de equipamentos e softwares utilizados e a diretriz do fluxo de trabalho em suas

formas de análise e interpretação.

No Capítulo 5, “Resultados e Análises”, apresenta-se os resultados obtidos e aná-

lises desenvolvidas.

No Capítulo 6, “Conclusões”, apresenta-se nesta capítulo as conclusões e suges-

tões para trabalhos futuros.

Apresenta-se a seguir as “Referências Bibliográficas” e os “Apêndices”:

Apêndice_A: “Saturação de água irredutível, Swi”; descreve-se neste apêndice os

métodos práticos para a obtenção deste parâmetro.

Apêndice_B: “Permeabilidade a Partir do Teste a Formação”; descreve-se breve-

mente neste apêndice como é feita a interpretação da permeabilidade a partir de um

teste a formação em regime radial e esférico.

Apêndice_C: “Medidas de Permeabilidade feitas em laboratório”, descreve-se neste

o método laboratorial para a estimativa da permeabilidade em meio líquido.

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2 Revisão Bibliográfica

Nesta seção serão apresentados alguns dos métodos propostos para a correlação,

e melhor entendimento, das relações entre permeabilidade, porosidade e saturação a

fim de se caracterizar a distribuição da permeabilidade de um reservatório da forma

mais representativa possível. Também encontra-se neste capitulo algumas conside-

rações a respeito dos fatores geológicos que afetam a permeabilidade; e exemplos

de esforços que a industria desenvolveu ao longo dos tempos para a estimativa deste

parâmetro.

2.1 A Permeabilidade

A permeabilidade é um parâmetro petrofísico que tem se mostrado muito difícil

de se obter ao longo dos anos. Atualmente não existe um perfil que nos forneça a

permeabilidade. Numerosos autores tem tentado conseguir estimar este parâmetro

a partir de perfis de poço, mas com sucesso limitado. Mesmo o NMR não pode nos

fornecer uma estimativa confiável se usado como única fonte de dados. Este perfil

deve ser correlacionado com dados de rocha, ou seja, medidas de testemunho, para

se obter a permeabilidade.

A permeabilidade é definida como a habilidade da rocha de permitir o fluxo de

fluidos pelos seus poros interconectados. A magnitude desta medida é afetada por

vários fatores geológicos; tais como (TIAB; DONALDSON, 2004):

• Forma e tamanho dos grãos: Suponhamos uma rocha composta por grãos lar-

gos e uniformemente espalhados numa orientação horizontal, então, neste caso,

a permeabilidade horizontal será grande quando comparada à permeabilidade

vertical. Em contra partida, se a rocha for predominantemente formada de grãos

largos e arredondados, não haverá uma orientação preferencial dos sedimen-

tos. Consequentemente, não existirão barreiras ao fluxo de fluidos. Logo, a

permeabilidade será alta, quando comparada ao caso anterior, e será de mesma

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magnitude em todas as direções. A compactação dos sedimentos geralmente

conferem a eles uma orientação preferencial, que influirá em sua permeabili-

dade.

• Laminação: Minerais placoides, como muscovita e biotita, agem como barreiras

à permeabilidade vertical quando a sua deposição ocorre junto com os grãos da

matriz. A presença de alguns argilo minerais expansíveis poderá, devido a mu-

danças químicas no fluido do reservatório ou devido a invasão de filtrados, sofrer

alteração de tamanho reduzindo consideravelmente a magnitude da permeabili-

dade.

• Cimentação: Tanto a porosidade quanto a permeabilidade serão largamente afe-

tadas pela cimentação e localização do material selante dentro do espaço po-

roso.

• Fraturamento e Dissolução: Estes parâmetros não tem muita importância na

permeabilidade secundaria de arenitos, mas em rochas carbonáticas este efeito

causado pela dissolução e fraturamento pode representar um grande aumento

na magnitude final da permeabilidade.

2.2 Comparação Entre Modelos: Uma Perspectiva Evo-lutiva

A caracterização de um reservatório é fundamental para o domínio da engenharia

de petróleo. Toda e qualquer estratégia efetiva de gerenciamento de reservatório só

será bem sucedida após a obtenção de uma imagem detalhada e realística da distri-

buição espacial das propriedades da rocha. Dentre elas, a mais difícil de determinar é

a permeabilidade, por ser um parâmetro dinâmico.

Inúmeros autores tentaram descrever a permeabilidade como uma função de apli-

cação geral. Estes estudos forneceram um maior entendimento dos fatores que con-

trolam a permeabilidade, mas também demonstraram que é uma ilusão buscar uma

relação universal entre a permeabilidade e outras variáveis. Esta relação não é univer-

sal. No entanto, uma média condicional pode ser obtida para cada campo particular a

depender da quantidade e qualidade de informações petrofísicas disponíveis.

Os modelos empíricos são baseados em correlações entre a permeabilidade, a

porosidade e a saturação irredutível de água.

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Kozeny (1927): A equação criada por Kozeny e mais tarde modificada por Carman

(1937) tem sido a base de numerosos modelos de permeabilidade. Este modelo cap-

tura o comportamento dinâmico da rocha, refletindo as condições do meio poroso. Ela

foi derivada utilizando a equação de Poiseuille e a lei de Darcy assumindo um meio

poroso formado por um pacote de tubos capilares paralelos e que não se comunicam

entre si.

k = A1φ3

S2o(1 − φ)2

(2.1)

onde:

k é a permeabilidade absoluta;

A1 é uma constante empírica a ser ajustada;

φ é a porosidade;

So é a área superficial por unidade de volume do material sólido;

Civan e Larson (LARSON et al., 1981; CIVAN, 2002) reportaram que este modelo tem

limitações inerentes. Em adição, nenhum tipo de correlação pode ser feita entre os

dados de testemunho e os perfis neste caso. Apenas uma predição qualitativa de uni-

dades de fluxo pode ser feita a partir deste modelo em regiões não testemunhadas.

Larson indicou que a simplificação para um pacote de tubos capilares é inadequada

em ao menos três sentidos: (1) O modelo não descreve o comportamento da molha-

bilidade no meio poroso; (2) O modelo ignora a geometria irregular dos poros; (3) O

modelo ignora a interconexão entre estes poros e não foram considerados os efeitos

causados pela cimentação do meio.

Archie (1942): Neste artigo clássico, Archie fundou as bases para a interpreta-

ção quantitativa dos perfis. Analisando várias amostras de rocha saturadas com uma

solução hipersalina, Archie introduziu o conceito de “ fator de formação”:

F =Ro

Rw

(2.2)

onde:

Ro é a resistividade da formação 100% saturada com a salmoura;

Rw é a resistividade unicamente da salmoura;

Ele descobriu que o fator de formação, F , é função do tipo e das características

da formação e varia, entre outras propriedades, com a porosidade e a permeabilidade

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da rocha reservatório:

F =a

φm=

τ 2

φ(2.3)

onde:

a é o coeficiente do fator de formação;

m é o fator de cimentação;

φ é a porosidade;

τ é a tortuosidade e pode ser expressa como a razão entre a largura da amostra

(L ) e o caminho que os íons terrão de percorrer na amostra (Le).

A velocidade real do fluxo de fluidos em um meio poroso, ve, é maior que a veloci-

dade macroscópica do fluido, v, esta, implícita por q/A, onde q é vazão volumétrica e

A é a área da seção transversal do meio poroso. A velocidade real é proporcional ao

caminho que o fluido deve percorrer e pode ser expressa pela fórmula:

ve =v

φτ (2.4)

Combinando 1.4 com a lei de Darcy:

v = −k

µ

dp

dl(2.5)

resulta em:

k = − veµφ

τ (dp/dl)(2.6)

onde:

k= permeabilidade;

µ= viscosidade do fluido;

dp/dl = gradiente potencial.

Desta fórmula podemos observar claramente que a permeabilidade decresce com

o aumento da tortuosidade e fica evidente que, tanto a condutividade elétrica quanto

a permeabilidade do meio poroso, são determinadas pelo caminho efetivo do fluxo

de íons. Quanto maior for a tortuosidade do meio, menor será a condutividade e a

permeabilidade. Uma relação empírica relacionando estas duas propriedades físicas

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foi obtida por Bassiouni (OGBE; BASSIOUNI, 1978) combinando 2.3 e 2.6. Esta relação

é da forma:

F = Ak−B (2.7)

Onde A e B são constantes para uma formação específica. Vários estudos ex-

perimentais corroboram a relação dada pela equação 2.7 . Em um extensivo estudo

estatístico, Carothers (CAROTHERS, 1968) observou que a relação existente entre a

permeabilidade e o fator de formação seguia a seguinte forma para os campos em

que ele obteve dados:

k = (4.0 × 108)/F 3.65 (2.8)

Válida para carbonatos.

E, para arenitos:

k = (7.0 × 108)/F 4.5 (2.9)

Onde k é dado em milidarcies nas equações acima. Experiências subsequentes

mostraram, no entanto, que os valores obtidos para a permeabilidade não podem

ser extrapolados de forma quantitativa para outros campos. Os parâmetros A e B

devem ser reajustados com base em testemunhos para cada campo petrolífero em

particular. Isso requer um grande numero de amostras e um estudo estatístico bem

fundamentado, o que torna esta fórmula pouco prática.

Tixier (1949): Usando relações empíricas entre resistividade e a saturação de

água; saturação de água e pressão capilar e; pressão capilar e permeabilidade; Tixier

estabeleceu um método para a determinação da permeabilidade a partir do gradiente

de resistividade.

k = C

(

a2.3

ρw − ρo

)2

(2.10)

a =△R

△D

1

Ro

(2.11)

onde:

C é uma constante, normalmente ao redor de 20;

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△R é a variação da resistividade (ohm-metro);

△D é a variação da profundidade (ft) correspondente a △R;

ρw é a densidade da água da formação (g/cm3);

ρo é a densidade dos hidrocarbonetos (g/cm3).

O gradiente de resistividade pode ser determinado pelo “deep investigation tool”,

“lateral” ou “focused logs” ; corrigindo os efeitos de poço.

Este método assume que o expoente de saturação é igual a 2.0 e que; para qual-

quer saturação de água, a pressão capilar está relacionada com a permeabilidade na

forma: Pc = f/(k)1/2 . O modelo é fisicamente limitado no escopo da relativa escas-

sez de perfis exibindo um contato óleo água válido e da necessidade da estimativa

da densidade dos hidrocarbonetos, supondo que eles existam no reservatório. Outra

limitação, é o fato da permeabilidade calculada ser uma média para a zona correspon-

dente ao gradiente de resistividade. Seguindo o trabalho de Wyllie e Rose (WYLLIE;

ROSE, 1950), Tixier desenvolveu uma fórmula mais simples e que é mais comumente

usada:

k1/2 = 250φ3

Swi

(2.12)

Neste estudo, usaremos esta equação quando nos referirmos a fórmula de Tixier.

Wyllie & Rose (1950): Na sua análise da teoria básica para a interpretação quanti-

tativa de perfis, Wyllie & Rose expandiram as relações empíricas propostas por Tixier,

baseando-se nas seguintes premissas:

• A tortuosidade aplicável ao fluxo de fluidos em um meio poroso é a mesma que

afeta à condutividade no meio.

• A saturação de água irredutível, Swi, é uma função linear da área superficial do

grão.

• A mínima saturação de água computada em um reservatório é igual a saturação

de água irredutível, Swi.

O modelo proposto por estes autores foi:

k = C

(

1

P 2c F (2− 1

m)Sw

)

(2.13)

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onde:

C é uma constante igual a 21.2d2/ts para k em milidarcies;

Pc é a pressão capilar (psi);

d é a tensão interfacial em dynes/cm;

ts é o fator de forma, orientado originalmente para ser usado como 2.25 para are-

nitos.

Quando a pressão capilar não é obtenível, isto é, quando não temos um contato

óleo água no reservatório, eles sugeriram a seguinte correlação:

Swi = C

(

1

k1/2F 0.67

)

+ C ′ (2.14)

onde:

C é uma constante textural com dimensão de comprimento;

C’ é uma constante adimensional referente ao percentual de água absorvido pela

argila ( C’=0 para arenitos limpos).

Os próprios autores sugeriram que, o valor de k ,estimado através destas equa-

ções não fornecerá mais do que uma ordem de magnitude do valor real.

Timur (1968): Baseado no trabalho de Kozeny e de Wyllie & Rose, Timur propôs

uma equação generalizada da forma:

k = AφB

SCwi

(2.15)

Esta equação pode ser avaliada em termos da determinação estatística dos parâ-

metros A, B e C. Ele aplicou o método obtido na análise de medidas de laboratório pro-

venientes de 155 amostras de diferentes campos do norte dos E.U.A.. Baseando-se

na maior correlação e no menor erro padrão, Timur ajustou os parâmetros da seguinte

forma:

k = 0.136φ4.4

S2wi

(2.16)

Ele verificou que a fórmula acima era válida para as suas amostras com um desvio

padrão de 13%.

Coates & Dumanoir (1974): A fórmula empírica proposta por Coates foi:

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k1/2 =C

W 4

φ2W

Rw/Rti

(2.17)

Onde

C = 23 + 465ρh − 188ρ2h (2.18)

W 2 = (3.75 − φ) +1

2

[

log(Rw

Rt

) + 2.2

]2

(2.19)

Suportado por amostras de testemunho e perfis de poço, os autores adotaram um

expoente comum, W , para ambos, o expoente de saturação, n, e de cimentação, m.

m = n = W (2.20)

As equações 2.17, 2.18, 2.19, são válidas para formações limpas portadoras de

óleo com densidade igual a 0.8. Caso o valor de ρh seja muito diferente de 0.8, o valor

de Rti deve ser multiplicado pelo fator de correção abaixo para a sua aplicação na

fórmula 2.17.

Rtcor

Rtlog

= 0.077 + 1.55ρh − 0.627ρ2h (2.21)

Coates & Dumanoir também apresentaram uma metodologia para testar se uma

formação estaria em sua saturação de água irredutível. No entanto, eles notaram que

para reservatórios heterogêneos, a metodologia era falha sobre qualquer circunstân-

cia. Se a formação não está em sua saturação irredutível, o valor de Rt obtido do perfil

é menor que o valor de Rti resultando em erros para a estimativa de W . Para superar

este problema, os autores estabeleceram uma relação empírica entre a densidade da

matriz limpa (ρgcn) e Rti:

(

Rw

Rt

)

cn

= (φSwirr)wcn =

10−6

G(ρgcn − 2.6)3(2.22)

Onde G é um coeficiente envolvendo a classificação da matriz, para mais detalhes

veja (COATES; DUMANOIR, 1974). O valor corrigido de (Rw/Rt)cn derivado da equa-

ção 2.22 para formações limpas é usado em lugar de Rw/Rti na equação 2.19 para

determinar W quando a formação não está em sua saturação irredutível.

O método de Coates & Dumanoir é o primeiro a satisfazer a condição de perme-

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abilidade zero na porosidade zero e Swirr = 100%. Devido as correções propostas,

este método pode ser aplicado a formações que não estão na saturação irredutível.

No apêndice A se encontra uma breve explicação sobre como obter a saturação irre-

dutível de uma zona produtora.

2.3 Aplicações Específicas ao NMR

Nos últimos anos, alguns autores tem publicado trabalhos correlacionando as me-

didas de NMR com a permeabilidade. A interpretação dos dados de ressonância para

a estimativa da permeabilidade em geral baseia-se em fórmulas empíricas (ELLIS; SIN-

GER, 2007; COATES et al., 1999; BERGMAN; LATORRACA, 2002). A ideia central para a

interpretação dos dados é o fato da permeabilidade ser controlada pela garganta de

poros (HADDAD et al., 2000).

Qualquer uma das fórmulas citadas anteriormente pode receber como dados ini-

ciais os de NMR. Porém, a literatura costuma citar duas fórmulas principais:

Conhecida como fórmula de Coates-Timur, é dada pela seguinte equação:

k = aφb

[

FFI

BV I

]c

(2.23)

onde:

FFI é o volume de fluido livre, estimado pela amplitude do sinal de NMR acima de

um limiar a ser determinado;

BVI corresponde à fração em volume presa e;

a,b e c são constantes que devem ser ajustadas para as condições locais;

A segunda relação é chamada SDR (em homenagem ao Schlumberger Doll Re-

search) ou T2lm, e é dada por:

k = aφbT c2lm (2.24)

onde:

a,b e c são constantes a serem determinadas experimentalmente;

T2lm é a média logarítmica de T2;

No capítulo três será detalhadamente explicado o sentido físico destes parâmetros,

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como obtê-los e como inverter o sinal de NMR. Também será ampliado o conceito de

permeabilidade a partir de ressonância magnética. O objetivo desta sessão é apenas

introduzir o assunto e citar alguns trabalhos importantes publicados na área.

Algumas sugestões para o uso destas fórmulas são (BERGMAN; LATORRACA, 2002):

• Reservatório invadido por fluido base água: Quando um fluido de perfuração é

usado e a formação é invadida pelo filtrado em um reservatório molhável prefe-

rencialmente pela água, devemos usar a formula SDR. Esta estimativa é menos

sensível ao ruído do que as determinações de BVI.

• Reservatório invadido por fluído base água com significante óleo de baixa vis-

cosidade restante: Quando quantidades significantes de óleo permanecem na

formação, a distribuição de T2 parece ser bimodal. Por isso, a equação de Coa-

tes parece se ajustar melhor.

• Reservatório invadido por fluido base óleo: Quando um poço é perfurado com

fluido base óleo de baixa viscosidade, é preferível usar a fórmula de Coates.

2.4 Crítica aos Trabalhos Existentes

Ao longo das décadas, a indústria tentou aplicar de diferentes maneiras as fórmu-

las anteriormente citadas. Para isso, uma série de ferramentas foram desenvolvidas e

antigas ferramentas receberam novas aplicações. Esta seção do trabalho tem como

objetivo citar algumas destas diferentes aplicações e relatar como algumas promessas

acabaram se mostrando um fracasso com o passar do tempo.

• Permeabilidade a partir do gradiente de resistividade: Como consequência do

decréscimo de Sw acima do contato óleo água, ocorre um acréscimo na resisti-

vidade da formação. Assumindo que a porosidade se mantenha homogênea e

que a resistividade aumenta de um valor R0 (no banco de água) para um valor

máximo Rt (na zona de saturação de água irredutível), Tixier demonstrou que a

transição da resistividade é linear com a profundidade. As dificuldades relativas

a este método foram apontadas acima, durante a exposição do trabalho de Ti-

xier. No entanto, como pode ser visto na figura abaixo (Fig.1), este método pode

ser usado com base em cartas e gráficos para uma interpretação qualitativa da

permeabilidade.

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• Permeabilidade a partir de Swi e φ : Baseando-se no trabalho de Wyllie & Rose,

e nas hipóteses de porosidade homogênea e intergranular na formação, óleo de

grau API médio (20° API), e conhecidos os valores iniciais de Swi , φ, ρw e ρo,

pode-se simplificar a equação 2.13 para:

k1/2 =70φ2(1 − Swi)

Swi

(2.25)

Simplificações semelhantes podem ser obtidas para o trabalho de Timur, Coates

e Dumanoir. Estas geram as seguintes cartas de correlação:

Figura 1: Cartas para correlação da permeabilidade com φ e Swi (INTERPRETATION,

1972)

O problema inerente ao uso destas cartas para a estimativa da permeabilidade são as

incertezas associadas e as hipóteses que são assumidas para a criação das mesmas.

• Permeabilidade a partir de ferramentas de teste a formação: A permeabilidade

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também pode ser estimada através do registro da pressão do reservatório du-

rante um teste a formação. Algumas ferramentas disponíveis na indústria para

este fim são: RFT (Repeat Formation Tester - SLB), Geotap (Halliburton) e WFT

(Wireline Formation Tester - SLB). Estas ferramentas funcionam de forma se-

melhante. Cada uma delas apresenta uma espécie de sonda (ou “probe”) que

encosta na parede do poço. Quando isso ocorre, uma válvula de fluxo é aberta

e o fluido da formação flui para uma câmara de amostragem. Durante o período

de fluxo é feito um registro contínuo da pressão do reservatório. Este período é

chamado de “Drawdown”. O registro da pressão continua após o preenchimento

da câmara. Neste estágio, a pressão aumenta. Este é o período de “Build-up”.

A figura abaixo, mostra um esquema do funcionamento do RFT.

Figura 2: Sistema de amostragem do RFT (INTERPRETATION, 1972).

Dados estes exemplos, fica claro que uma nova iniciativa deve ser feita a fim de se

estimar a permeabilidade de maneiras indiretas.

É neste contexto que surge o presente trabalho. Durante o percurso deste, iremos

demonstrar um novo avanço da indústria: o NMR. Através deste, faremos os cálculos

da permeabilidade e consideraremos a validade dos resultados para a extensão dos

mesmos pelo campo analisado.

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3 Revisão dos Conceitos eModelos a Serem Utilizados

Na revisão bibliográfica apresentou-se uma revisão dos trabalhos relacionados a

esta monografia. Apresenta-se neste capítulo um conjunto de conceitos e modelos

físicos e matemáticos fundamentais para o entendimento do funcionamento do NMR.

O tema principal do capítulo é explicar como interações de propriedades quânticas

(como o spin e momento magnético) podem se relacionar com parâmetros petrofísicos

dinâmicos como a permeabilidade. Para esta finalidade, pretende-se:

• Explicar o principio físico da indução nuclear e sua aplicação no perfil de NMR

• Demonstrar como é feita a aquisição dos dados de NMR e a inversão dos mes-

mos.

• Exemplificar algumas aplicações para o perfil de NMR

• Desenvolver os conceitos básicos para a obtenção da permeabilidade e como

seu uso se relaciona com outras ferramentas.

3.1 Revisão de Conceitos

Apresenta-se nesta seção todos os conceitos físicos e matemáticos para a com-

preensão do funcionamento do perfil de ressonância magnética.

Tendo começado antes da II guerra mundial, o advento das mediadas de ressonân-

cia magnética só foi bem sucedido em 1946 de modo independente por pesquisado-

res das universidades de Havard e Stanford. Embora este fenômeno tenha se iniciado

com estudos físicos e químicos em escala molecular, não muito tempo depois (1960)

ele teve a sua primeira aplicação na perfilagem desenvolvida pela Chevron(BERGMAN;

LATORRACA, 2002).

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O interesse na perfilagem de ressonância magnética se iniciou baseado na no-

vidade da descoberta que este método era capaz de detectar hidrogênios (ou seja,

prótons) e consequentemente medir a porosidade. O equipamento, no entanto, apre-

sentava baixa sensibilidade e requeria custosos tratamentos no fluido de perfuração e

consumia muito tempo, ou seja, limitando a sua utilidade. Este equipamento ressur-

giu em meados de 1990 com um novo design que possibilitava não apenas a medida

da porosidade, mas também distinguir as características do fluido (Hidrocarbonetos

ou água) e delimitar a natureza da estrutura dos poros possibilitando uma enorme

variedade de aplicações.

3.1.1 Ressonância Nuclear Magnética

Ressonância nuclear magnética (ou Nuclear Magnetic Resonance - NMR) é um

fenômeno que se refere à resposta de um núcleo atômico quando na presença de

um campo magnético (COATES et al., 1999). Antes de explicar como são as interações

físicas e os fenômenos observáveis, devemos evidenciar alguns conceitos básicos.

3.1.2 Spin e Momento Magnético

É conhecido da mecânica quântica que o momento angular é sempre quantizado

em inteiros ou semi múltiplos inteiros (ou seja: 0, 1/2, 1, 3/2 ...) da constante de

Planck, h, dividido por 2π. Para os elétrons, o numero quântico spin é 1/2, mas, o

valor do spin difere de um nuclídeo para outro como resultado das interações entre

prótons e nêutrons no núcleo. Se nós usarmos o símbolo I para denotar este número

quântico nuclear spin (ou simplesmente spin), poderemos escrever para o máximo

observável de componentes do momento angular

J = Ih/2π (3.1)

Logo, podemos classificar os núcleos de acordo com o seu spin nuclear. Existe um

certo número de núcleos que tem I = 0 e não possuem momento angular. Esta classe

de núcleos inclui todos aqueles que possuem número atômico e numero de massa

ambos iguais; que é o caso, por exemplo, dos isótopos 12C e 16O. Estes núcleos

como pode ser observado não apresentarão ressonância magnética sob nenhuma

circunstância. Para alguns outros núcleos, o spin será da forma

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I = 1/2 : 1H, 3H 13C...

I = 1 : 2H, 14N

I > 1 : 10B, 11B, 17O...

Quando um núcleo apresenta I > 1/2, a distribuição de carga em sua órbita não

é esférica, apresentando um momento de quadripolo elétrico. O nosso foco estará

em núcleos que possuem I 6= 0, porque estes possuem um momento de dipolo mag-

nético, ou momento magnético µ. Nós podemos pensar qualitativamente neste mo-

mento magnético como sendo decorrente do movimento giratório de uma partícula

carregada. Isso nos permite tirar os seguintes resultados (1) Núcleos que possuem

número spin diferente de zero também apresentam momento magnético, (2) O vetor

momento magnético é colinear com o momento angular. Podemos expressar estes

fatos escrevendo

µ = γJ (3.2)

A constante de proporcionalidade γ é conhecida como raio giromagnético e difere

a depender do tipo de núcleo. Ela recebe este nome em analogia com o giroscópio,

que faz um movimento de precessão ao redor do campo gravitacional da terra.

Para a maioria de núcleos encontrados nas formações sedimentares, o sinal nu-

clear magnético induzido por um campo externo é muito pequeno para ser detectado

por uma ferramenta de perfilagem NMR. No entanto, o hidrogênio, que possui apenas

um próton e nenhum nêutron, é abundante tanto na água quanto nos hidrocarbone-

tos e possui um momento magnético relativamente grande podendo produzir um sinal

forte o suficiente para ser detectado pelas sondas de perfilagem. Por essa razão, este

texto irá se concentrar nas interações do átomo de hidrogênio com o campo magnético

externo.

O núcleo do átomo de hidrogênio é um próton no qual está associado um momento

angular e um momento magnético. No caso deste átomo, o movimento do próton gera

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um campo magnético com dois polos (norte e sul) alinhados com o eixo do spin e

pode ser encarado como uma imã barra (com polo norte e sul) no qual o eixo mag-

nético está alinhado com o eixo do spin. Duas importantes aplicações do NMR são

consequência destas duas propriedades. A primeira é que a existência do momento

magnético permite que energia eletromagnética seja absorvida pelo dipolo magnético,

modificando a orientação do dipolo magnético com respeito ao campo magnético in-

duzido. A segunda é que a existência de um momento angular, ou spin, ao longo do

semieixo do momento de dipolo vai ter a tendência de resistir a qualquer mudança

na orientação do vetor momento angular. A interação entre o momento magnético e

um campo magnético externo aplicado produzirá um torque, que por sua vez produz

a precessão do vetor momento angular ao redor do eixo do campo magnético externo

aplicado. No caso dos núcleos, a frequência de precessão é governada pelo momento

magnético intrínseco e pelo campo magnético externo e é conhecida como frequência

de Larmor. O hidrogênio, que corresponde basicamente a um único próton, é o exem-

plo mais simples de um núcleo que possui ambos, spin e momento magnético. Na

verdade, para a maioria dos núcleos encontrados nas formações litológicas da terra o

sinal induzido pelo campo magnético externo é muito pequeno para ser detectado com

o perfil NMR, salvo a exceção do Hidrogênio. A figura 3 abaixo ilustra estes vetores e

grandezas físicas.

Figura 3: Ilustração do momento angular J, e do momento magnético ♠ para uma

partícula carregada qe em órbita circular.(FEYNMAN et al., 1964)

3.1.3 Polarização

O primeiro passo para a medida do NMR é alinhar os núcleos com o campo mag-

nético estático, B0. Quando na presença de um campo externo, este irá exercer um

determinado torque no núcleo agindo no sentido de alinhar o spin com B0. Quando

B0 é aplicado ao núcleo do hidrogênio, acontecerá um movimento de precessão do

núcleo ao redor de B0 que pode ser esquematizado conforme a figura 4 .

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Figura 4: Vetores representando o movimento de precessão do momento magnético

µ na frequência de Larmor (BECKER, 2000).

A este movimento está associada uma frequência chamada frequência de Larmor,

dada por

f = γB0/2π (3.3)

Onde γ é o raio giromagnético, mencionado anteriormente, este é uma medida

do comprimento do magnetismo nuclear sendo um valor medido experimentalmente,

tem o valor γ/2π = 42, 58 MHz/tesla para o Hidrogênio. Esta equação mostra que

a frequência de Larmor para um dado núcleo é proporcional a magnitude do campo

magnético estático e do raio giromagnético. Diferentes espécies de núcleos terão

diferentes frequências de Larmor por causa do raio giromagnético e, portanto, podem

ser diferenciadas com base nestas frequências.

Alternativamente, para uma dada espécie nuclear, como o hidrogênio, o raio giro-

magnético tem um valor fixo, e de acordo com a equação 3.3, a frequência de Larmor

será função da magnitude do campo estático. Se a magnitude do campo é depen-

dente da posição, então a frequência de Larmor associada a este núcleo é função

da posição do núcleo. Esta observação é fundamental para as medidas de NMR. No

campo o NMR produz um gradiente de campo primário estático cuja magnitude é fun-

ção da distância radial da ferramenta à superfície. Logo, a locação investigada pela

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ferramenta é determinada pela resposta da ferramenta à frequência de Larmor.

De acordo com os mecanismos quânticos, quando um próton é sujeito a um campo

magnético externo, o próton é forçado a entrar em um dentre dois estados de energia.

Como indicado na figura 5, o estado de energia de um próton em particular depende da

orientação do eixo de precessão do próton com respeito à direção do campo externo

B0. Quando o eixo de precessão é paralelo a B0 o próton está em um estado de

energia baixa, que é o estado preferível. Quando o eixo de precessão é antiparalelo a

B0, o próton está no estado de alta energia.

Figura 5: (Esquerda)Quando sob a influência de um campo magnético externo, a

frequência de precessão de um núcleo depende do raio giromagnético e da magnitude

deste campo.(Direita) O alinhamento do eixo de precessão dos núcleos com respeito

a direção do campo externo determina o estado de energia do núcleo (COATES et al.,

1999).

Quando um grande numero de prótons spins estão em precessão ao redor de B0,

mais spins irão realizar o fenômeno da precessão alinhados com B0 do que antipara-

lelo a este. A diferença entre os prótons paralelos e antiparalelos forma a magnetiza-

ção resultante M0, que é o sinal medido pelo NMR.

M0 é definida como momento magnético liquido por unidade de volume. Para o

caso de N núcleos por unidade de volume, a magnetização é dada pela lei de Curie:

M0 = Nγ2h2I(I + 1)

3(4π2)kTB0 (3.4)

onde:

k =Constante de Boltzman;

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T =Temperatura absoluta (Kelvin);

h =Constante de Planck;

I =Numero quântico Spin do núcleo;

Desta equação podemos concluir que M0 é proporcional ao numero de prótons, a

magnitude do campo externo, e ao inverso da temperatura absoluta. Após os prótons

se alinharem com o campo magnético estático eles se polarizam. Esta polarização não

acontece imediatamente, ela cresce com uma constante de tempo que é longitudinal

ao tempo de relaxação, T1:

Mz(t) = M0(1 − e−t/T1) (3.5)

onde:

Mz(t) =Magnetização em função do tempo t quando B0 é tomado na direção do

eixo z;

t =Tempo de exposição a B0;

M0 =Magnetização final máxima;

T1 =Tempo no qual a magnetização atinge 63% do seu valor final, e 3 vezes T1 é

o tempo no qual 95% de polarização foi atingida. Diferentes fluidos como água, óleo e

gás terão constantes de tempo de relaxação diferentes.

3.1.4 Obtenção do Espectro de NMR

No inicio, os estudos de ressonância nuclear de alta resolução eram restritos

a métodos sequenciais de excitação e magnetização aplicando-se inicialmente uma

frequência de radio fixa e variando o campo magnético até que a relação de Larmor

fosse obedecida. Mais tarde, métodos de excitação sequencial mantiveram o campo

magnético fixo enquanto a frequência variava. Atualmente, a maioria dos espectros

de NMR de alta resolução, da indústria de perfilagem, química ou médica, são obtidos

aplicando-se pulsos de radio frequência.

O método sequencial foi um dos motivos para o insucesso inicial da Chevron no

uso do NMR.

Seguindo o conceito de pulsos de radio frequência, o segundo passo para a me-

dida de NMR é a mudança da magnetização da direção longitudinal para o plano

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transversal. Esta mudança está associada a aplicação de um campo magnético osci-

latório B1 perpendicular a B0, o campo magnético estático. Para a mudança efetiva, a

frequência de B1 deve ser igual a frequência de Larmor para os prótons relativos a B0.

Do ponto de vista quântico, se um próton está em um estado de energia baixo

ele pode absorver energia provinda de B1 e passar para um estado de maior energia.

A aplicação de B1 também faz com que os prótons passem a realizar o fenômeno da

precessão em fase um com o outro. Esta mudança de estado de energia e a precessão

em fase causada por B1 é chamada ressonância nuclear magnética.

Em escala macroscópica, o resultado da ressonância é a mudança do vetor mag-

netização. O ângulo no qual a magnetização é mudada é dado por:

θ = γB1τ (3.6)

onde:

θ =Mudança de ângulo;

B1 =Amplitude do campo oscilatório;

τ =Tempo no qual o campo oscilatório é aplicado;

Após a aplicação deste segundo campo, B1, a precessão dos prótons volta para

o estado caótico anterior. Ou seja, eles não irão realizar a precessão em fase. Com

isso a magnetização liquida começa a decair. Nesta situação, detectaremos o sinal

na direção do decaimento da magnetização, direção transversal. Este decaimento

é frequentemente exponencial e é chamado decaimento livre de indução (FID-“Free

Induction Decay ”). A constante de tempo para este decaimento é muito pequena,

alguns microssegundos apenas. O decaimento livre de indução é causado por hetero-

geneidades no campo magnético relacionados ao seu gradiente e a certos processos

moleculares que ocorrem no material.

3.1.5 Spin-Echo

A perda de fase causada pelas heterogeneidades do campo estático fazem com

que os átomos de hidrogênio percam a sincronização, causando um decaimento no

sinal detectado pela antena. Porém, este decaimento do sinal é reversível. Podemos

rearranjar os prótons em fase aplicando B1 a 180°. Se o vetor magnetização tem um

ângulo de fase ❛, a aplicação de B1 a 180°irá mudar este ângulo de fase para –❛. De

fato, a ordem do vetor magnetização transversal é revertida. Logo, vetores mais lentos

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irão ficar a frente dos vetores mais rápidos. Quando os vetores mais rápidos ultrapas-

sam os vetores mais lentos a fase anterior volta a ocorrer gerando um sinal detectável

em uma bobina. Este sinal é chamado Spin Echo. Uma analogia muito tradicional e

muito útil para entender este conceito é feita da seguinte maneira: Imagine uma pista

de corrida em que a partida é dada por um tiro de partida, análogo a um pulso de 90°.

Os corredores começam a corrida todos em uníssono, mas após algumas voltas eles

começam a ficar dispersos pela pista devido a sua diferença de velocidade. Agora, o

árbitro dá outro sinal de inicio atirando um pulso a 180°. Os corredores começam a

fazer o mesmo trajeto na direção oposta. O corredor que inicialmente foi mais rápido

terá uma distância maior para percorrer. No entanto, se as condições permanecerem

as mesmas, o que nunca é o caso, todos os corredores chegarão no ponto de partida

ao mesmo tempo. Similarmente, os prótons de hidrogênio realizam o movimento de

precessão com frequências de Larmor levemente diferentes, mas podem ser refocali-

zados quando um pulso a 180°é transmitido. O pulso de 180°tem a mesma dimensão

do pulso à 90°, mas este primeiro é ativado pelo dobro do tempo. Quando os prótons

refocalizam, estes geram um sinal na antena - o Spin-Echo (KENYON R. KLEINBERG,

1995). A figura 6 é uma ilustração da analogia apresentada.

Figura 6: Analogia entre a obtenção do sinal de NMR e uma corrida em uma pista de

atletismo.(KENYON R. KLEINBERG, 1995)

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O tempo para a defasagem, t, é igual ao tempo para o pulso entrar em fase, t.

Logo, um máximo ocorre em 2t. É chamado TE (Inter time-echo) ao tempo entre dois

picos adjacentes de echos. Embora um único spin echo decaia muito rapidamente,

os pulsos de B1 a 180° podem ser aplicados repetidamente gerando uma série de

spin echos. No entanto, a defasagem resultante de interações moleculares e difusão

é irreversível. Uma vez que esta defasagem irreversível ocorre, os prótons não podem

mais entrar completamente em foco e o conjunto de spin echos irá decair em ampli-

tude. O perfil NMR mede a amplitude dos spin echos, monitorando a magnetização

transversal e o seu decaimento e defasagem irreversível (COATES et al., 1999). A figura

7 nos ajuda a visualizar melhor o método de obtenção do spin-echo.

Figura 7: Visualização do esquema de pulsos. No painel (a) podemos observar que

um campo B1 orientado a 90º orientou os spins no plano xy e foi desativado, em (b),

os spins começam a defasar. No painel (c) o campo B1 é reaplicado com magnitude e

duração suficiente para reverter os spins no plano longitudinal, ou seja a 180º. No pai-

nel (e), os spins foram rotacionados para produzir um máximo local. Esta configuração

é chamada de pulse-echo. (ELLIS; SINGER, 2007)

3.1.6 CPMG

O spin echo produzido pelo pulso a 180º é um echo de decaimento de indução

livre produzido pelo pulso preparativo a 90º (BERGMAN; LATORRACA, 2002). O echo

pode ser considerado uma “ressurreição” do pulso inicial à 90º. A forma do echo é

determinada pela forma da curva de decaimento da indução livre. Após atingir um

máximo coerente, o núcleo sai de fase novamente à uma taxa aproximadamente igual

àquela inicial do pulso à 90º. A segunda parte da curva reproduz de modo bem similar

a Curva FID (Free Induction Decay Curve).

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As heterogeneidades do campo magnético tem duas componentes: uma depen-

dente do tempo e a outra independente deste. A parcela independente do tempo

ocorre devido a diferentes susceptibilidades magnéticas do campo local e seus efei-

tos podem ser anulados por um pulso a 180º. Já a parcela dependente do tempo, é

irreversível. Esta última é causada pelos núcleos vizinhos que estão vibrando e de-

senvolvendo movimentos rotacionais. A parcela do sinal dependente do tempo pode

ser caracterizada por uma constante T2. Logo, o echo obtido após um certo período

de tempo é menor em amplitude do que o inicial por um fator de e−2τ/T2.

Este T2 é o chamado tempo de relaxação transversal; é a constante de tempo para

o decaimento da magnetização transversal. A amplitude de um conjunto de spin echos

no tempo t, que é a amplitude da magnetização transversal, é dada por:

Mx(t) = M0xe−t/T2 (3.7)

Onde M0X é a magnitude da magnetização em t = 0 (Tempo no qual o pulso

transversal a B0 cessa). O decaimento de T2 contém a maior parte da informação

petrofísica do perfil NMR e é o objetivo das medidas. Devido a suas características

intrínsecas T2 sempre será menor ou igual a T1.

Um conjunto de echos (echo train) pode ser obtido repetindo os pulsos a 180º em

intervalos de tempo apropriados (a cada 2τ ) para produzir vários echos após o pulso

inicial à 90º. Sequências de pulso elaboradas foram feitas para remover os efeitos

independentes do tempo e os erros do instrumento. O método mais utilizado hoje é o

chamado CPMG em homenagem a seus idealizadores: Carr, Purcell, Meiboom e Gill

(CARR; PURCELL, 1954; MEIBOOM; GILL, 1958). A figura 8 demonstra uma sequência de

pulsos CPMG. Devido a efeitos de difusão, é preferível usar pequenos intervalos de

tempo (τ) para a aplicação do campo oscilatório para reduzir a atenuação.

3.1.7 Efeitos da Difusão

Na nossa discussão não foi mencionado até o paragrafo anterior os efeitos causa-

dos pela difusão. Este efeito é fundamental para a interpretação petrofísica de várias

propriedades.

Devemos considerar que spins nucleares em um meio liquido podem se mover da

sua posição inicial através do movimento difusivo dos átomos. Este efeito introduz um

decaimento adicional no echo spin se existir um gradiente no campo magnético. Isso

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Figura 8: Representação de uma sequencia de operações de perfilagem. O 1º pulsorotaciona os spins para o plano transversal onde pode ser visto o decaimento FID.Então, um novo pulso é emitido rotacionando os spins a 180º. A aplicação do pulso a180º é então varias vezes repetida a intervalos regulares. Este esquema (90º seguidode vários 180º) é chamado CPMG. A amplitude máxima do Spin Echo decai com umaconstante de tempo T2. (ELLIS; SINGER, 2007)

se deve ao fato de que, partículas que se moveram por difusão para um novo valor de

campo magnético, terão a sua frequência de Larmor alterada, visto que esta é uma

função associada a posição do núcleo, levando ao efeito global de reduzir a coerên-

cia do sinal. Este é um exemplo de um processo de relaxação irreversível e irá se

adicionar em T2, decrementando a amplitude do vetor magnetização no plano trans-

versal. Para fluidos em meios porosos, 3 mecanismos independentes de relaxação

estão envolvidos (COATES et al., 1999):

• Processos totalmente relacionados ao fluido, afetam T1 e T2

• Processos de relaxação superficial, afetam T1 e T2

• Processos de difusão na presença de um gradiente de campo magnético, este

afetará apenas T2

Todos estes processos ocorrem em paralelo, logo, as constantes T1 e T2 podem ser

expressas como

T−12 = T−1

2b + T−12s + T−1

2D (3.8)

T−11 = T−1

1b + T−11s (3.9)

onde

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T2 =Tempo de relaxação transversal do fluido no meio poroso medido pela se-

quencia CPMG

T2b =Tempo de relaxação medido negligenciando efeitos superficiais, relaxação

estrutural

T2s =Parcela resultante dos efeitos superficiais

T2D =Tempo de relaxação induzido pelos efeitos da difusão

T1 =Tempo de relaxação longitudinal

T1b =Tempo de relaxação longitudinal medido negligenciando efeitos superficiais

T1s =Parcela resultante dos efeitos superficiais no tempo de relaxação longitudinal

A importância relativa destes três mecanismos depende do tipo de fluido no meio

poroso, do tamanho dos poros da molhabilidade da rocha e da magnitude dos efeitos

superficiais.

Gás, óleo leve, água e alguns óleos de viscosidade média irão exibir um signifi-

cante efeito da difusão induzida no tempo de relaxação quando submetidos ao gradi-

ente do campo magnético e espaçamentos longos no inter-echo da sequencia CPMG.

Para estes fluidos, o tempo de relaxação associado ao mecanismo de difusão, T2D,

se torna uma importante ferramenta de detecção. Quando um gradiente significante

existe no campo magnético estático, a difusão molecular causa uma defasagem adici-

onal aumentando o valor de T2. Este efeito pode ser calculado a partir da equação de

Bloch (BLOCH et al., 1946; BENDEL, 1990), resultando em:

T−12D =

D(γGTe)2

12(3.10)

onde

D =Coeficiente de Difusão Molecular

γ =Raio giromagnético do próton

G =Gradiente do campo de força (G/cm)

Te =espaçamento inter echo usado na sequencia CPMG

Partindo desta formula e do coeficiente de difusão molecular, várias aferições fo-

ram feitas a respeito da viscosidade dos fluidos e da forma geométrica da estrutura

porosa. Maiores detalhes serão dados na parte de aplicação petrofísica

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3.2 Aquisição e inversão de dados de NMR

Apresenta-se nesta seção uma breve explicação a respeito dos mecanismos de

aquisição e inversão dos dados de NMR a partir de medidas de T2 obtidas através

de pulsos CPMG. Para facilitar a compreensão, no final da seção será ilustrado o

funcionamento de um aparato primitivo para a obtenção de dados de NMR.

3.2.1 Aquisição de Dados

Em adição à detecção inicial do echo train, detalhadamente explicado anterior-

mente, é necessário fazer a digitalização, armazenagem e processamento deste sinal.

Para uma tipica sequência CPMG, estão associados centenas ou milhares de echos.

Não é possível, e nem necessário, digitalizar o inteiro perfil de echos, apenas os picos

do sinal spin echo são medidos e armazenados. Existem dois métodos de se fazer o

registro do sinal: o método simples e o método de detecção por quadratura.

No método simples, o sinal de radio frequência alimenta um detector que registra

a média de frequências de Larmor que propusemos para as medições. Este detector

pode determinar apenas a magnitude da frequência e é incapaz de determinar diferen-

ças de fase. Por isso, ele não é usado em aparatos de perfilagem. Apenas o método

de quadratura é normalmente usado.

Usando a detecção de quadratura, o sinal inicial alimenta dois detectores sensí-

veis à fase cuja referência difere em 90º. O sinal resultante é amplificado e passa

por um filtro passa-baixa. O sinal é digitalizado e armazenado em blocos de memória

separados. A transformada de Fourier irá produzir um sinal real e um espectro ima-

ginário de uma maneira análoga a detecção anterior com a exceção de que agora,

as frequências podem ser distinguidas como sendo positivas ou negativas. Podemos

modelar o sinal da seguinte forma:

R(t) =∑

Ai(t)cos(ωit − φ) (3.11)

I(t) =∑

Ai(t)sin(ωit − φ) (3.12)

onde

R(t) =Componente real do sinal

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I(t) =Componente imaginária

A(t) =Amplitude

ω =Frequência do sinal

φ =Fase

No caso de uma sequência CPMG, o sinal terá a seguinte aparência demonstrada

pela figura 9 .

Figura 9: Sinal do NMR no domínio do tempo para um angulo de fase diferente de

zero. R(t) cos (real) e I(t) sen (imaginário) (BERGMAN; LATORRACA, 2002)

No nosso caso, apenas o sinal com uma pequena banda de tempo, ou seja, o pico

do spin echo é digitalizado e armazenado. Isso permite que simplifiquemos o caso

anterior para o seguinte esquema ilustrado na figura abaixo (figura 10).

3.2.2 Inversão de Dados

O processo de inversão envolve encontrar um conjunto de amplitudes para T2, fj,

a partir de um conjunto de echos, gi, de modo que o erro associado seja minimizado.

Este é um problema de inversão linear que pode ser tratado a partir da teoria dos

mínimos quadrados para minimizar a seguinte formula (BERGMAN; LATORRACA, 2002):

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32

Figura 10: Picos do spin echo coletados para posterior inversão de T2.(BERGMAN;

LATORRACA, 2002)

min

{

φ(t) =n∑

i=1

1

σ2i

(m∑

j=1

fje−ti/Tj − gi)

2

}

(3.13)

onde

σi =Erro medido para o iézimo echo gi

Este é um problema mal-posto. Pequenas flutuações na medida do dado podem

levar a drásticas diferenças em fj todos os quais com bom ajuste. Para solucionar o

problema, deve-se aplicar algum método de regularização e penalidade. Um exemplo

deste tipo é o método de Tikonov (TIKHONOV, 1963).

3.2.3 NML -Nuclear Magnetic Logging

As primeiras ferramentas de perfilagem baseadas no NMR tinham como intenção

fazer a distinção entre óleo e água baseando-se no tempo de relaxação. Elas fadaram

em insucessos devido ao desconhecimento de fatores anteriormente mencionados

neste trabalho.

Em 1984 uma versão final de um aparato de perfilagem magnética foi desenvol-

vido pela Schlumberger Serviços de Petróleo Ltda. Esta ferramenta foi mais tarde

abandonada devido as suas limitações. Porém, pode ajudar a ilustrar os processos

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33

globais envolvidos. Conforme descrito em Ellis (ELLIS; SINGER, 2007), os elementos

básicos para as ferramentas convencionais de NMR usadas até os anos 80, consis-

tiam em uma bobina na qual é feito passar uma alta corrente. Esta produz um campo

magnético aproximadamente perpendicular ao campo da terra. Isto servia para alinhar

uma certa fração dos prótons dos fluidos presentes na formação (água, óleo e gás)

na profundidade de investigação se o campo polarizante fosse mantido por um tempo

suficiente (aproximadamente 2s). Após um determinado tempo, a corrente era desli-

gada e a bobina passaria a ser usada como receptora do sinal induzido pelos prótons

previamente alinhados e precessando na frequência de Larmor ao redor do campo

magnético da terra. Neste caso, não existia um pulso que refocaliza-se a ferramenta.

Por isso, o sinal era menor e mascarado com ruídos. Outra desvantagem era a ne-

cessidade de dopar o fluido de perfuração com magnetita para minimizar os efeitos

do poço. A figura 11 é uma representação esquemática do processo. Uma explica-

ção a respeito do funcionamento e das particularidades das ferramentas modernas

disponíveis no mercado, se encontra no capítulo 4, “Metodologia”, deste trabalho.

Figura 11: Desenho esquemático representando a primeira geração do NML e suaobtenção de sinal.(ELLIS; SINGER, 2007)

3.3 Aplicações Petrofísicas e Propriedades dos Flui-dos

Apresenta-se nesta seção algumas das aplicações do NMR para a estimativa de

dados petrofísicos. Um foco especial será dado apenas às aplicações que posterior-

mente serão usadas para o desenvolvimento dos resultados do presente trabalho.

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34

3.3.1 Índice de Hidrogênio

O uso do NMR para a determinação da porosidade de reservatórios portadores de

hidrocarbonetos, é baseado na calibração da ferramenta com respeito a um volume

conhecido de água. Esta calibração requer que seja conhecido o sinal de NMR por

unidade de volume da fase saturante. Por isso, se introduziu o termo “Índice de Hi-

drogênio”, (HI), para quantificar a densidade atômica do hidrogênio contido no óleo ou

gás relativo ao mesmo volume de água. Logo, podemos definir HI como:

HI = Quantidade de H Presente na AmostraQuantidade de H Presente em Igual V olume de agua

Logo, o HI deve ser uma quantidade independente do método de medida. Embora

o conceito seja simples, os detalhes práticos para sua aplicação são complicados.

Efeitos como a salinidade causam variações significativas neste índice e estão além

do escopo deste trabalho.

3.3.2 Mecanismos de relaxação e suas propriedades

Em seu trabalho original a respeito do comportamento do NMR, Bloch (BLOCH et al.,

1946) postulou um conjunto de equações que tem encontrado sucesso na descrição

do comportamento macroscópico da magnetização na presença de um campo de ra-

dio frequência. A partir do comportamento do vetor magnetização, Bloch postulou as

seguintes equações que podem ser resolvidas analiticamente sob algumas condições

limitantes:

dMx/dt = γ(MyB0 + MzB1sinωt) − Mx/T2 (3.14)

dMy/dt = γ(−MxB0 + MzB1cosωt) − My/T2 (3.15)

dMz/dt = γ(MxB1sinωt + MyB1cosωt) − (Mz − M0)/T1 (3.16)

A solução simplificada (ou seja, não considerando os termos relativos á difusão)

deste conjunto de fórmulas tem a forma Aet/Ti onde A é uma constante, t é um tempo

arbitrário e Ti é a constante de tempo a ser analisada, onde i = 1 ou 2. Partindo deste

principio, podemos analisar o comportamento das equações 3.8 e 3.9.

O tempo de relaxação estrutural, T2b, é uma propriedade intrínseca do fluido. Este

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é controlado pelas propriedades físicas do fluido como a viscosidade e composição

química. T2b pode ser medido colocando o fluido em um reservatório suficientemente

largo, eliminando os efeitos superficiais, e então submetendo o fluido a um campo

magnético perfeitamente homogêneo e a uma sequência CPMG. Condições ambien-

tais como temperatura e pressão afetarão a medida e devem ser controladas.

O tempo de relaxação superficial, T1s ou T2s, ocorre na interface fluido-sólido, isto

é, na superfície do grão das rochas. Análises teóricas demonstraram que podemos

ampliar estes termos da seguinte forma (KLEINBERG et al., 1994; BROWNSTEIN; TARR,

1979):

T−12s = ρ2

(

S

V

)

poro

(3.17)

T−11s = ρ1

(

S

V

)

poro

(3.18)

onde

ρi =Relaxação de superfície para T2 ou T1, conforme o índice i respectivo

(S/V )poro =Razão entre a superfície do poro e o volume de fluido

Para formas simples, S/V é uma medida do tamanho do poro. Por exemplo, para

uma esfera, S/V é igual a 3/r, onde r é o raio da esfera.

A relaxação de superfície varia com a mineralogia. Por exemplo, carbonatos exi-

birão um valor de ρ menor que o quartzo. Estimativas deste valor podem ser feitas

em laboratório. Fluidos controlados pela relaxação de superfície exibem um T2 in-

dependente da pressão e da temperatura. Por esta razão, medidas de NMR feitas

em condições padrão são comumente usadas para calibrar fórmulas empíricas que

estimam parâmetros petrofisicos, como a permeabilidade.

Óleo leve, gases e alguns óleos de viscosidade média exibem um efeito de difusão

importante. Para estes fluidos T2D, a constante de relaxação associada aos mecanis-

mos de difusão, se torna uma ferramenta importante para sua detecção.

Bendel (BENDEL, 1990), chegou a seguinte relação para a estimativa de T2D, usada

hoje pela industria e já anteriormente citada:

T−12D =

D(γGTe)2

12(3.19)

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36

onde

D =Coeficiente de Difusão Molecular

γ =Raio giromagnético do próton

G =Gradiente do campo de força (G/cm)

Te =espaçamento inter echo usado na sequencia CPMG

Propriedades físicas como viscosidade e composição molecular controlam o coefi-

ciente de difusão e condições ambientais como temperatura e pressão são fatores que

influirão nesta medida. Pode-se estimar estes coeficientes da seguinte forma(COATES;

HOU, 2004; PRAMMER et al., 1995):

Dg ⋍ 8, 5 × 10−2

(

T 0,9K

ρg

)

× 10−5cm2/s (3.20)

Do ⋍ 1, 3

(

TK

298η

)

× 10−5cm2/s (3.21)

Dw ⋍ 1, 2

(

TK

298η

)

× 10−5cm2/s (3.22)

onde

w, o, g =são índices que se referem a água, óleo e gás, respectivamente

D =Coeficiente de difusão molecular

Tk =Temperatura em Kelvins

η =Viscosidade do fluido (cp)

ρ =Densidade do fluido

Três fatores principais irão controlar a força do gradiente do campo magnético em

uma formação perfilada pelo NMR(COATES et al., 1999). O primeiro fator é função

do design da ferramenta e da sua configuração, ou seja, o tamanho da ferramenta

e sua frequência. O segundo fator são as condições ambientais, como temperatura

e pressão. O terceiro fator refere-se ao gradiente induzido pelo campo aplicado B0,

este fator é conhecido como gradiente interno, e está relacionado a susceptibilidade

magnética dos grãos da rocha e dos fluidos.A figura ilustra todos estes mecanismos.

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37

Figura 12: A constante de relaxação é afetada por mecanismos superficiais, de difusãoe estruturais (COATES et al., 1999).

3.3.3 Decaimento Multi Exponencial e Distribuição do Tamanhode Poros

Rochas reservatório comumente exibem distribuição de tamanhos porosos e fre-

quentemente contém mais de um tipo de fluido. Logo, o spin-echo train medido pela

sequência CPMG não decaí com uma única constante T2mas sim, com uma distribui-

ção de valores de T2. Podemos descrever este comportamento por:

M(t) =∑

Mi(0)e−t/T2i (3.23)

onde

M(t) =Medida da magnetização no tempo t

Mi(0) =Magnetização inicial do iézimo componente

T2i =Constante de decaimento transversal do iézimo termo

O somatório é sobre toda a amostra, isto é, todos os poros e diferentes tipos

de fluido. A relaxação superficial se torna dominante quando um pequeno espaço

inter-echo é usado e a formação está saturada com água. Sob estas condições, T2

é diretamente proporcional ao tamanho do poro. Quando a distribuição completa de

poros é considerada, a amplitude do sinal é dada por:

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M(t) =∑

M0ie−ρ2( S

V )it (3.24)

onde

(S/V )i =é a razão superfície volume do iézimo poro

Se M100%(0) , magnetização medida para 100% do volume sensível preenchido

com água, é um valor conhecido, então M(0) e M0i pode ser calibrado para permitir

estimar a porosidade

φ =M(0)

M100%(0)=∑ M0i

M100%(0)=∑

φi (3.25)

onde

φ =Porosidade calibrada da formação

φi =Porosidade calibrada associada ao iézimo poro

Logo, a distribuição de T2 ( na forma de amplitudes associadas a M0i com constan-

tes de tempo T2i) é calibrada para a distribuição de porosidades ( ou seja, aos poros

individuais φi com constantes de tempo T2i).

Se os poros estiverem parcialmente saturados, isto é, contiverem óleo e gás em

adição a água, então, o óleo e o gás contribuirão para a medida da magnetização

como se segue:

M(t) =∑

M0ie−ρ2( S

V )it + Moleoe

−t/T2o + Mgase−t/T2g (3.26)

onde

Moleo =Magnetização produzida pelo óleo no espaço poroso

Mgas =Magnetização produzida pelo gás no espaço poroso

T2oleo =T2 medido para o óleo com a sequência CPMG

T2gas =T2 medido para o gás com a sequência CPMG

A equação anterior assume que a rocha é preferencialmente molhável pela água

e que o decaimento do spin-echo para o óleo e o gás pode ser caracterizado usando

uma exponencial única para representar os efeitos da difusão e os efeitos estruturais

da fase não molhante. Se óleo ou gás ocupa parte do poro, o volume de água no

poro é reduzido mas a área superficial permanece a mesma. Logo, a razão V/S di-

minui e o espectro de T2 não representará a distribuição de tamanho de poros neste

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39

caso, porque ele contém uma resposta associada a fase não molhante. Estes poros

contendo fluidos não molhantes aparecem no espectro contendo um tempo de decai-

mento muito rápido. A porosidade nestes casos é contabilizada na resposta estrutural

dos fluidos não molhantes e, embora a distribuição de tamanho de poros esteja distor-

cida, a estimativa da porosidade não é afetada. Um dos passos mais importantes no

processamento de dados de NMR é a determinação da distribuição de T2 associada

a magnetização observada. Este passo, chamado de echo-fit é um processo de in-

versão matemática abordado no subtópico de inversão do sinal. Podemos representar

este passo alternativamente por um conjunto de equações que representem os echos

individualmente.

echo(1) = φ1e−[t(1)/T2,1] + φ2e

−[t(1)/T2,2] + φ3e−[t(1)/T2,3] + ... + φme−[t(1)/T2,m] + ruido

echo(2) = φ1e−[t(2)/T2,1] + φ2e

−[t(2)/T2,2] + φ3e−[t(2)/T2,3] + ... + φme−[t(2)/T2,m] + ruido

echo(n) = φ1e−[t(n)/T2,1] + φ2e

−[t(n)/T2,2] + φ3e−[t(n)/T2,3] + ... + φme−[t(n)/T2,m] + ruido

Os valores de T2 são pré-selecionados (por exemplo, 0.5, 1, 2, 4, 8ms....) e o

sistema se torna linear com n equações e m variáveis, φ1...φm, onde n é muito maior

que m. O método de solução para este conjunto de equações está explicitado na

equação 3.13 e foi discutido anteriormente. Uma poderosa interpretação pode ser feita

a partir deste ponto, desde que T2 é dominado pelos efeitos superficiais, a distribuição

do tempo de relaxação transversal é simplesmente um reflexo da distribuição da razão

S/V. A partir destas conclusões, podemos estimar a porosidade. A figura 13 resume

as ideias apresentadas neste subtópico.

3.3.4 Determinação de BVI

A estimativa do volume total de água irredutível de uma formação (BVI) é uma das

aplicações mais usadas pela perfilagem de ressonância magnética. O conceito de

Bound Water (sinônimo para BVI- Bulk Volume Irreducible) é usado de duas diferentes

maneiras. A primeira se refere ao fluido que não irá fluir para dentro do poço e não

será produzido, e a segunda maneira, refere-se ao fluido que não é deslocado pelos

hidrocarbonetos durante o “enchimento” do reservatório. Atualmente, dois métodos

são utilizados para esta estimativa aproximada deste valor: o cutoff BVI (CBVI) e o

spectral BVI (SBVI).

O método CBVI baseia-se em um valor fixo de T2 que divide a distribuição do

espectro em dois componentes, um consistindo de poros contendo fluido móvel, e o

outro, contendo poros em que os fluidos estarão imóveis (figura 14). A determinação

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Figura 13: No painel acima vemos um decaimento que aparentemente não pode sermodelado por uma curva exponencial, ele deve ser decomposto em um somatóriode curvas com diferentes componentes (estrutural e superficial). A inversão do sinal,mostra uma distribuição bimodal. Presumivelmente, as componentes de decaimentomais rápido estão associadas aos poros de tamanho menor. A integral sob esta curvanormalizada é a porosidade.(ELLIS; SINGER, 2007)

do cutoff pode ser feita em laboratório ou pode-se assumir um valor fixo para a região

em estudo.

O método SBVI é baseado na premissa de que um poro pode conter tanto fluido

livre como fluido preso por fenômenos capilares ou aderido à argila. Para este mé-

todo, são associadas funções peso que irão delimitar a parcela dos poros em que

o fluido pode ser produzido. O valor para cada função peso pode ser determinado

laboratorialmente.

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41

Figura 14: Método CBVI, onde um cutoff fixo determina a parcela livre e presa dos

fluidos (COATES et al., 1999).

3.3.5 Permeabilidade

Conforme mencionado anteriormente no Capítulo 2, os métodos para a estimativa

da permeabilidade através do NMR mais usados são: O método empírico teórico de

Timur-Coates e o método SDR.

A equação de Timur-Coates é dada por:

k = aφb

[

FFI

BV I

]c

(3.27)

onde

FFI é o volume de fluido livre, (em geral, FFI = φ − BV I);

BVI corresponde à fração em volume presa, onde os métodos para a sua estima-

tiva foram descritos acima;

a,b e c são constantes que devem ser ajustadas para as condições locais;

A relação SDR (em homenagem ao Schlumberger Doll Research) ou T2lm, e é

dada por:

k = aφbT c2lm (3.28)

onde

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a,b e c são constantes a serem determinadas experimentalmente;

T2lm é a média logarítmica de T2 dada por:

T2lm = exp

[∑

i ailog(T2i)∑

i ai

]

(3.29)

onde

ai é a amplitude correspondente a distribuição de Ti

T2i , tempo de relaxação transversal

Através destes métodos e do conhecimento dos parâmetros matemáticos e físicos

envolvidos no processo de aquisição dos dados, podemos introduzir o Capitulo 4.

Este irá se referir a metodologia utilizada e fará extensivo uso dos conceitos até aqui

apresentados.

Adicionalmente, podemos delinear neste trabalho os princípios físicos e a des-

crição dos métodos de obtenção da permeabilidade a partir das diferentes escalas

usadas na industria. Embora este trabalho tenha focado os seus resultados principal-

mente no NMR, através deste capítulo e dos apêndices B e C, podemos ter uma visão

geral da menor escala (as medidas pontuais de testemunhos) passando pela estima-

tiva da permeabilidade através da perfilagem (a meso escala) contemplando também

os conceitos fundamentais para a interpretação do teste a formação. De todas estas

formas, poderemos em fim, estimar a permeabilidade de modo confiável honrando

todas as diferentes escalas de observação.

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4 Metodologia

Apresenta-se neste capítulo a metodologia científica a ser utilizada no desenvolvi-

mento deste trabalho. Inclui-se informações sobre a área da pesquisa, instrumentos

(materiais, equipamentos, softwares) utilizados, dados e formas de análise e interpre-

tação. No subtópico Instrumentos, será dada uma breve explicação a respeito das

diferenças entre as ferramentas de NMR disponíveis no mercado, em Software será

dada uma explicação a respeito dos softwares utilizados e das vantagens e desvanta-

gens do mesmo e, em Experimentos encontra-se a especificação do fluxo de trabalho

para o desenvolvimento do tema.

4.1 Motivação Para o Tema

A estimativa da permeabilidade através da correlação com medidas físicas em

rochas é um assunto clássico na petrofísica e tem uma longa história de desenvolvi-

mento na área da perfilagem. Durante o capitulo de revisão de modelos, demonstra-

mos como funcionam fisicamente as ferramentas de NMR e foi ressaltado que dentre

as medidas disponíveis, o tempo de relaxação do NMR é a medida que tipicamente

se correlaciona melhor com a permeabilidade. Uma das razões para o funcionamento

deste ajuste é o fato da estimativa requerer informações em escala de comprimento.

Esta, pode ser obtida a partir do tempo de relaxação do NMR desde que este processo

é tipicamente controlado pela relação entre superfície/volume do espaço poroso. De

maneira simplificada, para um núcleo de hidrogênio em uma molécula de água em um

poro i , em uma rocha molhável preferencialmente pela água, o tempo de relaxação

transversal é dado por:

T−12i = ρ

Si

Vi

+ T−12b + T−1

2D (4.1)

onde:

ρ é uma constante de proporcionalidade

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44

SV

é a relação área/volume do poro

T2b é a taxa de relaxação total, normalmente considerada desprezível comparada

com as demais grandezas (LOOYESTIJN, 2001)

Logo, para um poro completamente preenchido por água, T2 ∼ V/S ∼ Rp, isto

é, T2 é proporcional ao tamanho do poro. A magnitude do decaimento do sinal de

T2 é diretamente proporcional ao volume do poro. Da mesma forma, o conjunto de

amplitudes obtidas a partir do procedimento de inversão do sinal de decaimento do

NMR é proporcional a distribuição de poros da rocha.

O método de interpretação geral para o NMR é dividir o sinal em um dado de

relaxação rápida e outro mais lento. A primeira parcela é interpretada como fluido

preso (BVI), seja aderido à argila, seja devido a efeitos capilares; e a segunda parcela

é interpretada como sendo fluido livre (FFI), isto é, água móvel ou hidrocarbonetos. A

diferenciação entre estas duas parcelas é feita aplicando-se um cut-off em T2.

A partir dos dados medidos pelo perfil de ressonância magnética podemos aplicar

os modelos teóricos e empíricos apresentados durante a revisão bibliográfica para a

estimativa da permeabilidade.

• Envolvimento anterior do aluno com o tema:

– Conhecimentos adquiridas nas disciplinas da graduação. Especificamente

Petrofísica e Perfilagem I e II.

– Tema desenvolvido durante o projeto de iniciação cientifica com apoio da

ANP.

• Usos futuros do conhecimento na área em estudo:

– Elaboração de rotinas em C++ que podem ser usadas em conjunto com o

software aplicado durante o presente trabalho considerando os conceitos

analisados.

– Como tema base para a realização de Mestrado.

– Estudo e aperfeiçoamento das variáveis envolvidas.

4.2 Classificação da Pesquisa

Podemos classificar o tipo de pesquisa sob diferentes aspectos. A seguir, fazemos

a classificação deste trabalho quanto ao fim (4.2.1), quando ao tipo de modelagem

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45

(4.2.2) e quanto ao tipo de análise (4.2.3).

4.2.1 Quanto ao fim, área, subárea, tema específico e disciplinasrelacionadas

• Quanto ao fim; este é um trabalho de metodologia aplicada que visa integrar o

processamento computacional às medidas de campo.

• Quanto à área e subárea de estudo; com base na definição das áreas de pes-

quisa do CNPq, este trabalho está inserido na área de Geociências na subárea

de propriedades físicas das rochas.

• Quanto à subordinação do tema a áreas do conhecimento científico; este traba-

lho relaciona-se com a área de modelos analíticos e de simulação.

• Está relacionado à aquisição e interpretação quantitativa de perfis de poço.

• Relaciona-se também com à área de análise de produtibilidade e gerenciamento

de reservatórios de petróleo. No entanto, estes temas não serão abordados

neste caso.

4.2.2 Quanto ao tipo de modelagem

O presente trabalho é de caráter experimental/numérico pois envolve a análise de

dados obtidos de forma experimental e posterior interpretação computacional através

do desenvolvimento de algoritmos e programas que dão resposta ao problema pro-

posto.

4.2.3 Quanto ao tipo de análise

Quanto ao tipo de análise, podemos classificar a pesquisa em indutiva, dedutiva

ou analítica.

A análise indutiva parte do conhecimento de alguns casos, e depois generaliza

para o todo. Parte de uma amostra da população e conclui para toda a população.

A análise dedutiva parte de conhecimentos gerais, e procura particularizar algo.

Parte da população para uma amostra.

A análise analítica consiste em partilhar o mesmo fenômeno de forma que, através

do estudo das partes chegar as conclusões para o todo.

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46

Logo, este é um trabalho de análise analítica onde busca-se estudar as proprieda-

des físicas de um determinado poço e chegar a conclusões válidas para o restante do

campo.

4.2.4 Pressupostos:

• No presente estudo vamos trabalhar sobre dados fornecidos por uma operadora

de campos de petróleo brasileira. Vamos partir do pressuposto de que a aquisi-

ção dos dados foi feita de maneira correta por parte da prestadora de serviços e

que a profundidade medida é compatível com a profundidade real.

• Parte-se também do pressuposto de que o leitor esteja familiarizado com todos

os perfis convencionais (sônicos, resistivos e nucleares) e que a aquisição e

calibração dos mesmos foi feita de modo correto por parte da prestadora de ser-

viços. A interpretação dos mesmos é feita segundo os métodos convencionais.

Este trabalho irá apresentar alguns conceitos da interpretação convencional e

dará maiores detalhes na parte de resultados, onde será explicado o porque da

aplicação dos diferentes métodos usados sem, no entanto, dar maiores explica-

ções a respeito da aquisição destes.

4.3 Hipóteses

1. As variações dos dados devido ao ambiente do poço não irão afetar significati-

vamente os dados

2. A baixa densidade de dados encontrada em algumas zonas não interferirá signi-

ficativamente nos resultados

4.4 Instrumentos

4.4.0.1 Equipamentos

• Podem ser utilizados diferentes equipamentos para a obtenção do perfil de res-

sonância magnética. Cada empresa apresenta uma particularidade e um arranjo

diferente de antenas magnéticas. Isso permite diferentes profundidades de in-

vestigação e diferentes efeitos de ruido. As principais ferramentas disponíveis

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47

no mercado são: NUMAR/Halliburton MRIL®, Schlumberger CMR® e o Baker-

Hughes MReX®.

– NUMAR/Halliburton MRIL® foi a pioneira no uso do perfil de ressonância

magnética. Ela obteve a primeira patente do perfil em 1985 e lançou seu

primeiro produto comercial em 1991. O MRIL é basicamente composto por

um forte imã permanente que produz um gradiente no campo magnético

usado para polarizar os átomos de hidrogênio, uma antena que transmite

e recebe ondas de radio frequência e um inserto eletrônico para ativação e

armazenamento de dados. A área sensível desta ferramenta é um cilindro

ao redor da parede do poço, como pode ser visto na figura 15. O diâme-

tro de investigação sensível desta ferramenta é determinado pelo gradiente

permanente do campo magnético B0, pela banda de frequência e pela tem-

peratura do poço.

Figura 15: Área sensível de investigação do MRIL, vista superior ao poço. (COATES et

al., 1999)

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Figura 16: Gráfico do diâmetro de investigação do MRIL como função da temperatura

e da banda de frequência.(COATES et al., 1999)

– Schlumberger CMR® diferente do MRIL®, é uma ferramenta focalizada e

constituída de 2 imãs permanentes de samário cobalto e uma antena trans-

missora receptora. Nesta ferramenta, um skid encosta na parede do poço

eliminando qualquer efeito condutivo do fluido de perfuração. O raio de

investigação é de 6 in e sua área sensível a investigação é um pequeno

cilindro localizado inteiramente na formação. A figura 17 exemplifica a com-

posição da ferramenta e a figura 18 mostra uma comparação entre a área

de investigação do MRIL® e do CMR®.

Figura 17: Corte superior transversal de uma ferramenta CMR (KENYON R. KLEINBERG,

1995)

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Figura 18: Comparação entre a área sensível de investigação das ferramentas de

MRIL® e CMR®. As linhas em verde delimitam o campo magnético estático, às em azul

o campo de radiofrequência e a área em laranja escuro, representa a área sensível à

investigação. (KENYON R. KLEINBERG, 1995)

– Baker-Hughes MReX® da mesma forma que o CMR®, é uma ferramenta fo-

calizada de segunda geração na qual um pad (ou skid) encosta na parede

do poço para alinhar os átomos de hidrogênio. Logo, esta ferramenta tam-

bém não necessita de cuidados especiais relativos ao fluido de perfuração,

e os efeitos do poço são minimizados. A sua região sensível é um arco de

aproximadamente 120º localizado dentro da formação, como pode ser visto

na figura 19.

Figura 19: Vista de corte superior do MReX e sua área de investigação.(Extraído de

www.bakerhughes.com, 2010)

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50

4.4.0.2 Softwares

• As simulações computacionais e interpretações de perfis realizadas neste traba-

lho foram feitas com o auxilio do Interactive Petrophysics™ versão 4.0 (IP 4.0),

um software privado desenvolvido pela Senergy Software Ltda.. Este software

contém vários módulos de análise, podemos citar dentre eles: Análise de ima-

gens, conexão com banco de dados externo, criação de gráficos 3D permitindo

a criação de mapas de parâmetros petrofísicos, funções básicas de análise de

perfis, definição de zonas em crossplots, modelar projetos de análise de teste a

formação, predizer curvas a partir da lógica Fuzzy, inferir dados através da re-

gressão multi linear e quantificar erros associados com a interpretação do fluxo

de trabalho a partir da simulação utilizando o método de Monte Carlo; apenas

para citar algumas funções. A figura 20 permite visualizar o ambiente de trabalho

do IP 4.0.

Figura 20: Exemplo de área de trabalho no IP 4.0. Extraído do IP Help Manual 2011

• O programa também permite a criação de rotinas próprias do usuário que po-

dem ser escritos em várias linguagens de programação tais como: FORTRAN,

PASCAL, C++ e VB.NET.

• O IP 4.0 também contém um módulo para normalização e interpretação do NMR

permitindo a integração destes dados em uma avaliação petrofísica completa. O

módulo de normalização converte a distribuição do NMR em padrões definidos

pelo usuário. A distribuição dos dados de NMR pode diferir grandemente depen-

dendo da ferramenta, da aquisição dos dados e do processamento dos mesmos.

Este módulo permite ao usuário plotar corretamente a distribuição do NMR em

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uma escala logarítmica para uso comparativo com outros dados de poço inde-

pendentemente da fonte dos dados.

• O módulo de interpretação permite ao usuário aplicar cut-offs diferenciados para

a estimativa do índice de fluidos livres (FFI) e, consequentemente, para os flui-

dos presos. Derivar os coeficientes da formula de Timur-Coates para o cálculo

da permeabilidade. Calcular a saturação de fluidos utilizando a curva de resis-

tividade e derivar curvas de pressão capilar a partir da distribuição de T1 ou T 2.

Neste último caso, os dados devem ser calibrados com uma medida da pressão

capilar feita em testemunhos.

4.5 Dados

• Os dados de poço utilizados durante este trabalho foram generosamente cedidos

por uma empresa operadora de campos de petróleo brasileira. A pedido da

mesma, faz-se necessário manter o sigilo a respeito da localização exata do

campo.

• Os dados foram obtidos a partir da contratação e operação de várias presta-

doras de serviço. Logo, podemos encontrar diferenças entre as ferramentas a

depender do poço analisado.

• Os dados foram organizados no formato ASCII (acrônimo para American Stan-

dard Code for Information Interchange, ou seja, código padrão americano para o

intercâmbio de informação que é uma codificação de caracteres de 8 bits com-

posta por arquivos texto), .LAS (acrônimo para Log ASCII Standard que é um

formato baseado no ASCII desenvolvido pela Canadian Well Logging Society -

CWLS com a intenção de prover um método fácil de leitura e distribuição de

dados de perfil) e nos formatos .LIS e .DLIS (respectivamente, acrônimos para

Log Information Standard e Digital Log Interchange Standard - que são forma-

tos de arquivo do tipo texto parecidos com o formato .LAS. Contudo, são mais

completos e maiores necessitando de mais espaço computacional)

• O IP possibilita o carregamento destes arquivos e organização dos mesmos em

pastas/poço. Essa simplificação facilita muito a organização dos dados e a sua

visualização. Os poços serão referenciados por letras como “Poço A”, “Poço B”

e assim em diante.

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4.6 Experimentos - Ensaios e Simulações

4.6.1 Simulações computacionais

Durante a interpretação do perfil, serão utilizados não apenas o NMR como tam-

bém outros perfis presentes na suíte do poço. Este trabalho tem como objetivo princi-

pal estimar a permeabilidade do reservatório a partir do NMR. No entanto, a validação

da interpretação é feita utilizando dados de outros perfis considerando uma certa mar-

gem de erro aceitável.

• O presente trabalho seguirá os seguintes passos:

– Selecionar as Zonas de interesse. Neste caso, as zonas de interesse são

aquelas que apresentam permeabilidade. Logo, usaremos o perfil de raios

gama para separar estas zonas. Calcularemos o teor de argila de cada zona

para diferenciar zonas convencionalmente produtoras das não produtoras.

– Após separadas as zonas de interesse, será feita a comparação das mes-

mas com o perfil de densidade para a identificação litológica.

– Calculo da saturação de água a partir do perfil resistivo.

– Plotagem do perfil de NMR e comparação do mesmo com o fluxo de traba-

lho anterior para validação e calculo de zonas de interesse.

– Análise do cut-off do NMR comparando os dados do mesmo com o restante

da suíte de perfis para validação dos dados.

– Ajuste dos parâmetros da fórmula de Timur-Coates e o cálculo da permea-

bilidade SDR.

– Criação do track-plot entre os dados de permeabilidade a critério compara-

tivo e dedutivo.

4.7 Estudos Estatísticos

Serão consideradas neste trabalho as estatísticas obtidas pela empresa presta-

dora de serviço para a estimativa da média logarítmica do tempo de relaxação, feita

através da equação 3.29.

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5 Resultados e Análises

Neste capítulo apresentam-se os conceitos fundamentais relacionados a interpre-

tação da suíte de perfis utilizada e os resultados obtidos pelo desenvolvimento da

interpretação. Os Poços utilizados serão referenciados como poço “A” e B.

5.1 Interpretação

A fase mais importante das operações de perfilagem é a interpretação. Durante

esta fase, geólogos, geofísicos, engenheiros e analistas usam os perfis para obter

informações necessárias para atingir seus alvos técnicos. Os perfis tem muitas apli-

cações. Geólogos de exploração os usam para reconhecer ambientes deposicionais,

geólogos de desenvolvimento os usam para correlacionar e mapear formações em po-

tencial. Os perfis são uma ferramenta valiosa para a interpretação de dados sísmicos

feitas por geofísicos. Engenheiros de perfuração usam os perfis para detectar zonas

de alta pressão e para estimar a pressão de poros e o gradiente de fratura, informa-

ções indispensáveis na fase de perfuração. Os perfis também são extremamente úteis

na avaliação de reservatórios, especialmente na estimativa de reservas. Contudo, o

uso mais critico dos perfis é feito na detecção de hidrocarbonetos e na estimativa

de formações potencialmente portadoras destes hidrocarbonetos (BASSIOUNI, 2010).

Uma importante correlação com a potencialidade da formação é feita com a possível

extração destes hidrocarbonetos. Este parâmetro está diretamente relacionado com a

permeabilidade.

Muitas técnicas de interpretação tem sido usadas para estimar zonas portadoras

de hidrocarbonetos e para estimar a porosidade e a saturação de fluidos. A melhor

técnica de interpretação e analise destas zonas depende da quantidade e da quali-

dade de dados disponíveis para o analista do perfil. Isto também está relacionado a

interpretação geológica e depende do problema que você tem em mãos no momento.

Os analistas de perfis em geral se deparam com as seguintes questões, que serão

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abordadas e respondidas durante os resultados deste trabalho:

• A zona ou formação em analise contém hidrocarbonetos?

• Que tipo de hidrocarbonetos estão presentes?

• A saturação dos hidrocarbonetos é grande o suficiente para indicar uma perme-

abilidade efetiva a estes?

• A reserva, ou acumulação, tem tamanho suficiente para justificar a completação

do poço?

Se o analista puder responder de forma conclusiva e confiável a estas questões, com

base na resposta obtida, será tomada a decisão a respeito do desenvolvimento ou

não do Campo. A interpretação pode variar entre técnicas superficiais à sofisticadas

interpretações, que usam todos os dados disponíveis.

5.1.1 Identificando Zonas de Interesse

Na identificação de zonas de interesse buscamos zonas com um grau minimo de

permeabilidade, isso pode ser feito analisando o perfil de Gamma Ray ou SP (Spon-

taneous Potencial) para uma análise qualitativa. No nosso caso, apenas a curva do

Gamma Ray será utilizada. Esta curva nos fornece informações a respeito da ener-

gia radioativa emitida pelo urânio (U 235), tório (Th 232) e potássio radioativo (K 40).

Qualquer elemento radioativo ocorre naturalmente nas rochas ígneas, os quais, du-

rante o processo de erosão e redistribuição dos sedimentos, são espalhados dentro

das rochas sedimentares. Devido a fatores sedimentológicos, formações pelíticas (fo-

lhelhos e argilitos, por exemplo) apresentarão valores maiores para a curva do Gamma

do que formações permeáveis. Rochas reservatório, em geral, apresentam uma radi-

oatividade muito baixa, devido a ocorrência do potássio radioativo em concentrações

apenas resquiciais. No entanto, existem alguns tipos de formações areníticas e síl-

ticas que apresentam algum tipo de radioatividade devido ao seu alto conteúdo de

K-feldspato, mica ou minerais pesados contendo tório e urânio. A radioatividade em

calcitas e dolomitas pode ser atribuída aos fosfatos ou a glauconita, ou ainda, a maté-

ria orgânica.

Por outro lado, zonas não radioativas, não são necessariamente poro-permeáveis,

podemos citar como exemplo a anidrita, o gipso e a halita.

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O conhecimento a respeito de jazidas adjacentes nos permite afirmar que este

é um campo de geologia padrão. Logo, este se enquadra no caso mais geral em

que poderemos usar o perfil de raios Gamma para identificar o conteúdo argiloso da

formação indicando, portanto, zonas não convencionalmente produtoras. Estas serão

excluídas da nossa análise.

Durante este trabalho, foi usado o módulo de interpretação do volume de argila

(Clay Volume) do IP 4.0. Este módulo é usado para calcular interativamente o volume

de argila através de múltiplos indicadores.

Os indicadores de argila podem ser divididos em duas seções, indicadores simples

de argila, onde uma única curva é selecionada para a plotagem do volume de argila.

E indicadores duplos que são combinações de Crossplots (Densidade/Nêutron, Den-

sidade/Sônico, Sônico/Nêutron). Estes podem ser usados em conjunto com o caliper,

por exemplo, para indicar a confiabilidade dos seus resultados. Podemos utilizar para

o Gamma os seguintes métodos:

• Linear: Expressa a relação entre o perfil de raios Gamma e a argilosidade utili-

zando a seguinte formula:

V clGr =Gr − GrClean

GrClay − GrClean(5.1)

onde

Gr =Valor da curva de raios Gamma lido na profundidade calculada

GrClean =Valor do perfil em uma formação livre de argila. Este valor é obtido do

mínimo valor observado no input da curva de raios Gamma

GrClay =Valor do Gamma Ray para argilas. É o máximo valor observado em

intervalos argilosos na curva de input

Esta fórmula é algumas vezes referenciada como índice de argilosidade. O con-

teúdo de argila pode ser superestimado utilizando-se esta fórmula (BASSIOUNI, 2010).

Algumas relações empíricas se mostraram mais confiáveis (CLAVIER et al., 1971; STIE-

BER, 1970; LARIONOV, 1969). O PI calcula estes índices usando as seguintes formulas:

1. Clavier: V clGr = 1, 7 −√

3, 38 − (z + 0, 7)2;

2. Steiber: V clGr = 0,5×z1,5−z

;

3. Larionov (rochas do mesozoico): V clGr = 0, 333(22×z − 1)

Usando z como sendo a equação 5.1.

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• Os indicadores duplos, mais complexos porque fazem o uso de crossplots, par-

tem do principio da definição entre zona limpa e argilosa. O volume de argila é

calculado como a distância entre os pontos de argila e os pontos de formações

limpas. O seguinte gráfico ilustra o principio:

Figura 21: CrossPlot entre os Perfis de nêutron e densidade indicando o conteúdoaproximado de argila. Os pontos que correspondem ao canto superior esquerdo sãoreferenciados como formações limpas, os que correspondem ao canto inferior direitosão formações argilosas. (WHITEHEAD, 2011)

Estas técnicas de interpretação devem ser usadas em conjunto com os perfis resisti-

vos para uma estimativa mais confiável.

5.1.2 Avaliação de Zonas Potencialmente Produtoras

Após a separação entre zonas de argila e zonas permeáveis, resta saber o possí-

vel potencial produtor da zona em questão. Isso pode ser feito a partir da identificação

do reservatório e da caracterização dos fluidos nele contidos, ou seja, sua avaliação. A

avaliação completa do reservatório baseada em dados de perfilagem tem os seguintes

objetivos essenciais:

1. Localizar o reservatório dentro da zona perfurada e determinar espacialmente as

suas coordenadas e fronteiras

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2. Determinação do tipo de fluido presente no reservatório: água, óleo ou gás

3. Calculo das reservas produzíveis e do conteúdo de óleo in place. Neste tópico

estão envolvidos:

(a) Determinação dos parâmetros petrofisicos, isto é, da porosidade (Total, pri-

mária, secundária e efetiva), do modo de distribuição desta propriedade

(b) Calculo da saturação de água

(c) Calculo da espessura do reservatório e determinação da sua geometria

(d) Seleção dos cut-offs a serem utilizados

4. Determinação da produtibilidade do poço, isto é, calculo do rendimento máximo

possível para o reservatório. Isto envolve:

(a) Determinação da mobilidade dos fluidos

(b) Calculo da permeabilidade total e relativa

(c) Determinação da pressão da formação

5. Determinação da litologia, das fácies e do ambiente deposicional. Isto nos per-

mite ter uma ideia da extensão lateral das propriedades físicas do reservatório

Zonas de reservatório podem ser identificadas pelas suas características petrofísicas.

Na verdade, podemos definir o conceito de reservatório como uma rocha que possui

porosidade e permeabilidade (SERRA, 1986). Podemos reconhecer estas zonas pela

presença simultânea das seguintes características:

1. Discriminação entre zonas potencialmente argilosas, isso pode ser feito utili-

zando o Gamma

2. Presença de reboco (Reservatórios inconsolidados, como alguns arenitos e car-

bonatos fraturados, podem colapsar ao invés de apresentar o reboco)

3. Separação positiva entre as curvas de resistividade Deep e Shallow medida por

macro-perfis, como o Dll ou o de indução

4. Porosidade aparente, que pode ser medida por perfis Sônicos, Nêutron, Densi-

dade ou NMR

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Além da caracterização feita através dos perfis, fatores como ambiente deposicional

da bacia e estratigrafia, só para citar alguns exemplos, devem ser levados em consi-

deração para a avaliação do reservatório.

A estimativa da porosidade pode ser feita através dos perfis de densidade, sônico e

NMR. O calculo da densidade total da formação pode ser convertido para porosidade

se a densidade dos fluidos e da matriz forem conhecidas. Podemos fazer isso da

seguinte forma para o perfil de densidade:

φ =ρma − ρb

ρma − ρf

(5.2)

onde

ρma =Valor da densidade da matriz

ρf =Valor da densidade dos fluidos

ρb =Valor medido diretamente do perfil

E para o perfil sônico, seguimos a mesma lógica:

φ =∆t − ∆tma

∆tf − ∆tma

(5.3)

onde

△t =Tempo medido pelo perfil na profundidade requerida

△tf =Tempo medido pelo perfil no fluido

∆tma =Tempo medido pelo perfil na matriz

Outra pergunta preponderante é: Qual o tipo de fluido que está presente no reser-

vatório e em que saturação?

A separação positiva entre as curvas de resistividade Deep e Shallow é uma indi-

cação de que existe não apenas água no reservatório mas também outro fluido mais

resistivo, como hidrocarbonetos.

Podemos utilizar também o perfil Neutrônico como um localizador de gás. Isso

pode ser feito porque as ferramentas sônicas e de densidade, não respondem da

mesma maneira que a ferramenta de nêutrons em zonas de gás. O perfil sônico irá

apresentar um valor de porosidade aparente maior do que a porosidade efetiva em zo-

nas de gás devido ao aumento no tempo de transito causado pelo gás. A ferramenta

de densidade se comporta da mesma maneira. O nêutron é afetado pela quantidade

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de hidrogênio na formação. Desde que o gás apresenta densidade muito menor do

que a água e o óleo, ele possui comparativamente menos átomos de hidrogênio para

um determinado volume. Devido a isto, o perfil de nêutrons tende a ter uma resposta

muito baixa de porosidade em zonas de gás. Quando a porosidade do Perfil de nêu-

trons é comparada com a do perfil de densidade ou sônico, uma larga diferença é

encontrada indicando uma zona de gás. Esta relação nem sempre é verdadeira, por

exemplo, uma zona profundamente invadida pode deslocar o gás para além do raio

de investigação da ferramenta. Assim, mesmo que a zona seja portadora de gás, o

nêutron não poderá indicar isto porque a sua leitura estará muito afetada pelo filtrado.

Faz-se necessário, no entanto, explicar um pouco mais a respeito do comporta-

mento do NMR na presença de hidrocarbonetos e como ele pode ser usado para sua

identificação.

A resposta do NMR aos fluidos é dependente de algumas variáveis como: Lo-

calização do fluido, Tipo de fluido (Índice de Hidrogênio, Viscosidade, Salinidade e

Densidade), Pressão, Temperatura e Características operacionais da ferramenta utili-

zada (espaçamento dos echos, tipo de ferramenta...) (CANNON et al., 1998). A posição

onde um fluido em particular aparece dentro do espectro de T2 é dependente da lo-

calização do fluido com respeito ao espaço poroso. Se o fluido estiver em poros mais

largos (maiores que 200 mícrons) este irá exibir efeitos estruturais dominantes, apre-

sentando tempos de T1 e T2 mais longos. Um comportamento similar ocorre quando os

fluidos não entram em contato com a superfície dos grãos, como em rochas molháveis

preferencialmente pela água.

O outro extremo ocorre quando os fluidos estão em contado direto com a superfí-

cie da rocha. Neste caso, os valores lidos de T1 e T2 serão muito pequenos, da ordem

de milissegundos por segundo. Exemplos deste tipo são a água de saturação irredu-

tível e à aderida as argilas. Óleos pesados também apresentam uma distribuição de

T2 semelhante. Modelos diferentes de interpretação acomodam todas estas possibi-

lidades. A figura abaixo, é um exemplo do comportamento do espectro do NMR com

relação às diferenças encontradas nos fluidos.

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Figura 22: Posição e comprimento dos componentes do óleo dentro da distribuição do

espectro de T2 em função da viscosidade e molhabilidade. A separação entre óleo e

água é mais difícil em formações molháveis tanto pela água quanto pelo óleo. Nestes

casos, as curvas do espectro se sobrepõe (COATES et al., 1999).

5.2 Análise e Resultados

Apresenta-se nesta seção os resultados obtidos durante a análise e interpreta-

ção do perfil. Ao final desta seção é feita uma estimativa qualitativa e quantitativa da

permeabilidade. A partir dos dados da suíte de perfis foram feitas as análises discri-

minadas no Capitulo 4, “Metodologia”, deste trabalho.

5.2.1 Delineando as zonas em estudo

Primeiramente foram plotados os dados referentes aos Poços “A” e “B” do Campo.

A primeira pergunta a ser respondida é: Que formações estão presentes no reserva-

tório. Dentre elas, quais são potencialmente econômicas?

As zonas potencialmente econômicas apresentam propriedades petrofísicas dis-

tintas como porosidade e permeabilidade. Estas não são necessariamente reservató-

rios produtivos. Questões relacionadas a geologia (Como a presença de trapas, rocha

geradora e maturação termal) definirão melhor e de modo mais abrangente o quão

potencial é um reservatório.

Uma ideia inicial da litologia pode ser tirada a partir da analise do perfil de raios

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Gamma. Na figura referente ao poço A (Figura 23) pode ser observado que existe

uma estrutura argilosa na profundidade de XX900 ft que se estende até X1225 ft.

Abaixo desta, pode ser visto um carbonato limpo. Esta identificação é feita com base

no conhecimento da geologia do campo. O perfil de densidade fornece uma variação

muito grande, não sendo muito confiável para a determinação do tipo de litologia. A

partir do perfil de raios Gamma, foi feio o calculo da argilosidade pelo método linear (

Eq.: 5.1). O último Track deste perfil demonstra o resultado deste calculo e permite-

nos fazer uma estimativa do conteúdo de argila das formações sobrejacentes.

Figura 23: Perfil de Raios Gamma gerado para o poço “A”. A partir dele, pode-se ter

uma primeira impressão a respeito da litologia

Para o poço B também foi plotado o perfil de raios Gamma, neste caso, optou-se

por demonstrar a litologia do campo em um perfil do tipo Triple Combo (Litologia, Re-

sistividade, Perfil Nuclear - Fig.: 24). Em uma análise superficial, podemos identificar

duas zonas argilosas. Uma entre X500 e Y100 metros e a outra entre Y415 e Y500

metros. Abaixo desta última camada citada, podemos encontrar uma formação limpa

que é reconhecidamente um reservatório. Nesta, foram feitas medidas de porosidade

tanto com o perfil de NMR quanto em testemunhos.

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Figura 24: Triple Combo do Poço “B” indicando a litologia. Note a separação positiva

entre as curvas de Resistividade Deep e Med indicando uma zona de hidrocarbonetos.

A identificação litológica inicial permite-nos separar primeiramente duas zonas pre-

dominantemente interessantes para a produção de hidrocarbonetos, no Poço A esta

se encontra abaixo da profundidade de X1250 ft e no Poço B ela se encontra abaixo

de Y500 metros. Estas regiões são de especial interesse porque montam um sistema

petrolífero completo, ou seja, formam uma trapa (o folhelho sobrejacente) com um

reservatório abaixo.

Focando a nossa atenção nesta região, a separação positiva entre as curvas de

resistividade permite a identificação possível de uma preliminar zona de hidrocarbo-

netos. Após esta análise, foram utilizados os conceitos acima mencionados para o

calculo da saturação de fluidos e da porosidade. Os resultados para o Poço A estão

na figura 25 e para o Poço B na figura 26.

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Figura 25: Interpretação Preliminar do Poço A.

Figura 26: Interpretação preliminar do Poço B

Em ambos os casos, a comparação entre os perfis de densidade e nêutrons su-

gere que a formação não é portadora de gás. Antes, podemos identificá-las como

portadoras de óleo. O calculo do índice de hidrogênio dos hidrocarbonetos e da den-

sidade aparente de hidrocarbonetos, pode ser feito respectivamente da seguinte forma

através do IP:

HcHI = 9 × ρhden × (4 − 2, 5ρhden)

(16 − 2, 5ρhden)(5.4)

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DenHcap = 2 × ρhden × (10 − 2, 5ρhden)

(16 − 2, 5ρhden)(5.5)

onde

ρhden é a densidade dos hidrocarbonetos medida na curva

Assumindo que estes cálculos são satisfatórios para a caracterização da zona

de hidrocarbonetos, o resultado desta análise nos permite identificar as zonas assi-

naladas como contendo estes hidrocarbonetos nas curvas apresentadas nas figuras

anteriores (Figuras: 25 e 26).

Agora que podemos identificar uma zona com poro-permeabilidade e possível por-

tadora de hidrocarbonetos, surge uma última questão relacionada a estimativa desta

reserva. Qual será o possível volume de óleo recuperável deste reservatório? Com a

interpretação preliminar do perfil, podemos delimitar o topo e a base do reservatório.

Avaliamos a qualidade da trapa. Dados sísmicos, de poços adjacentes e de testes

a formação poderão confirmar a extensão e a geometria do reservatório. Podemos

estimar o potencial de armazenagem a partir de dados de porosidade e saturação

calculados. Resta saber qual a capacidade do reservatório de transmitir estes fluidos.

Isto é feito através da estimativa da permeabilidade e da pressão do reservatório.

Para o calculo da permeabilidade, foram usados dados de laboratório e dados ob-

tidos através do perfil de ressonância nuclear magnética. No capitulo 3, “Revisão de

Modelos”, foi dada uma extensiva explicação a respeito do funcionamento da ferra-

menta e das considerações físicas que nos permite aplicar os resultados obtidos na

petrofisica e na estimativa da permeabilidade.

Através do uso de formulas empíricas, como a de Timur-Coates e a SDR podemos

estimar este parâmetro:

k = aφb

[

FFI

BV I

]c

(5.6)

onde

FFI é o volume de fluido livre, estimado pela amplitude do sinal de NMR acima de

um limiar a ser determinado;

BVI corresponde à fração em volume presa, onde os métodos para a sua estima-

tiva foram descritos no capitulo 3, “Revisão de Modelos”;

a,b e c são constantes que devem ser ajustadas para as condições locais;

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65

A segunda relação é chamada SDR (em homenagem ao Schlumberger Doll Re-

search) ou T2lm, e é dada por:

k = aφbT c2lm (5.7)

onde

a,b e c são constantes a serem determinadas experimentalmente;

T2lm é a média logarítmica de T2 dada por:

T2lm = exp

[∑

i ailog(T2i)∑

i ai

]

(5.8)

onde

ai é a amplitude correspondente a distribuição de Ti

T2i , tempo de relaxação transversal

Em geral, as empresas prestadoras de serviço fazem a aquisição destes dados

ajustando estes coeficientes para formações siliciclásticas (Para a equação 5.7: a=1,

b=4 e c=2; e para a equação 5.6 a=104, b=4 e c=2 ). Isso, gera uma série de erros

que podem afetar a qualidade final dos dados. A figura 27 ilustra o ajuste feito com os

dados utilizando o NMR sem levar em consideração as medidas feitas em laboratório

para o Poço B.

A partir destes dados, pode-se concluir que o ajuste feito pela fórmula de Timur-

Coate para a permeabilidade nos fornece uma melhor estimativa deste parâmetro.

Contudo, sem os dados de laboratório não podemos extrapolar o resultado como plau-

sível para uma estimativa quantitativa em outro poço do mesmo campo. Podemos

apenas fazer uma correlação qualitativa.

A operadora nos cedeu também os dados de laboratório. Carregando estes dados

no IP e fazendo o ajuste dos parâmetros da formula de Timur-Coates encontramos

os valores para os coeficientes como sendo a=50,94; b=-0,6708 e c=0,5056 seguindo

a nomenclatura anteriormente adotada na equação 5.6. Podemos ilustrar a caixa de

diálogo do IP para o calculo dos coeficientes na figura 28.

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Figura 27: Perfil de NMR. Note que inicialmente o melhor ajuste é feito pela formulade Timur-Coates para a permeabilidade.

Figura 28: Display do IP para o calculo dos coeficientes através da formula de Timur-

Coates.

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67

Após carregar estes novos valores para a formula de Timur, e modificando o valor

do cut-off para o valor medido em laboratório, podemos observar na figura 29 uma

sensível mudança especialmente na estimativa feita pela fórmula SDR. O ajuste feito

por esta mudança trouxe benefícios relativos a estimativa da permeabilidade e modi-

ficou diretamente os valores derivados do NMR para a estimativa dos outros parâme-

tros, como BVI e FFI. Este resultado é consistente com o que esperavamos e está

diretamente relacionado com a mudança feita em T2 cut-off. No que diz respeito às

variações referentes a permeabilidade entre os valores medidos pelo NMR e por tes-

temunho, estas podem ser atribuidas a possíveis heterogeneidades do campo tanto

na qualidade dos testemunhos quanto na modelagem do reservatório pelo NMR. Com

respeito aos testemunhos, medidas pontuais podem ter sido afetadas diretamente pelo

fluido de perfuração causando um decréscimo dos valores medidos em laboratório.

Com respeito ao NMR, a sua interpretação em carbonatos é reconhecidamente preju-

dicada devido a irregularidade da distribuição de poros.

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Figura 29: Ajuste fornecido pela curva de NMR para os valores da permeabilidadeapós carregados os coeficientes corretos e modificado o cut-off na fórmula de Timur-Coates

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69

6 Conclusões

Apresenta-se nesta capítulo as conclusões referentes ao presente trabalho e su-

gestões para trabalhos futuros.

6.1 Conclusões

A permeabilidade é distinguida na indústria como uma das propriedades mais de-

safiadoras de se quantificar em uma rocha reservatório e sua determinação ainda não

se encontra bem desenvolvida (HADDAD et al., 2000). As dificuldades podem ser atri-

buídas à natureza fundamental da permeabilidade como uma função da direção e do

volume de observação, bem como das interações rocha-fluido e fluido-fluido. Quanto

mais perto o modelo computacional e matemático do reservatório honrar e integrar a

permeabilidade de diferentes origens, mais confiança pode-se depositar na sua habi-

lidade de predizer a produtividade do poço e a performance do reservatório.

Sendo assim, fica evidente a necessidade de uma estimativa confiável para a per-

meabilidade. Muito esforço e trabalho tem sido usado pela industria para se conseguir

uma estimativa deste parâmetro de modo prático e econômico. Com o passar dos

anos, diversas formas foram apresentadas para quantificar e descrever a permeabi-

lidade. Alguns métodos se mostraram infrutíferos enquanto outros foram adotados

como padrão pela indústria. Em geral, a literatura apresenta os métodos mais conven-

cionais tais como: testemunhos, correlações feitas através da perfilagem, e testes de

formação. Nenhuma destas várias fontes podem individualmente prover um modelo

de simulação com a informação da permeabilidade desejada, elas apenas enfatizam

diferentes aspectos do reservatório.

O tema principal deste trabalho foi explicar como interações de propriedades quân-

ticas (como o spin e momento magnético) podem se relacionar com parâmetros petro-

físicos dinâmicos como a permeabilidade. Para esta finalidade, foram desenvolvidos

os seguintes temas:

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• O principio físico da indução nuclear e sua aplicação no perfil de NMR.

• Como é feita a aquisição dos dados de NMR e a inversão dos mesmos.

• Exemplificamos algumas aplicações para o perfil de NMR.

• Desenvolvemos os conceitos básicos para a obtenção da permeabilidade e como

seu uso se relaciona com outras ferramentas.

Para alcançar estes objetivos

• Foram manipulados dados referentes a dois poços de exploração em um campo

de reservatórios carbonáticos.

• Utilizou-se para tal o Interactive Petrophysics 4.0, software com rotinas elabora-

das para a plotagem e interpretação de perfis.

• Selecionamos as Zonas de interesse. Neste caso, as zonas de interesse são

aquelas que apresentam permeabilidade. Logo, usamos o perfil de raios gama

para separar estas zonas. Calculamos o teor de argila de cada zona para dife-

renciar zonas convencionalmente produtoras das não produtoras.

• Após separadas as zonas de interesse, foi feita a comparação das mesmas com

o perfil de densidade para a identificação litológica, quando possível.

• Calculamos a saturação de água a partir do perfil resistivo.

• Plotamos o perfil de NMR e comparamos o mesmo com o fluxo de trabalho

anterior para validação e calculo de zonas de interesse.

• Analisamos os efeitos do comportamento do cut-off do NMR em relação aos

dados do mesmo com o restante da suíte de perfis para validação dos dados.

• Ajustamos os parâmetros da fórmula de Timur-Coates e o cálculo da permeabi-

lidade SDR.

• Criamos um track-plot entre os dados de permeabilidade a critério comparativo

e dedutivo.

• Após este fluxo de trabalho, foi possível concluir que as mudanças do cut-off são

capazes de trazer ganhos reais na estimativa da permeabilidade. Contudo, estas

mudanças afetam inteiramente o restante dos parâmetros do perfil.

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• Independentemente das correções feitas e das comparações entre dados de

NMR e testemunhos, a fórmula de Timur-Coates nos forneceu os valores mais

próximos da escala de testemunho para o reservatório carbonático. Podemos

atribuir este resultado em parte ao melhor ajuste obtido com respeito aos parâ-

metros da formula de Timur-Coates.

• A formula SDR apresentou uma grande variação com respeito ao cut-off. Esta

variação está relacionada ao dado de porosidade e não a média logarítmica do

tempo de relaxação transversal.

• Deve-se apresentar cautela na avaliação quantitativa do perfil de NMR para ob-

tenção de dados de permeabilidade especialmente em carbonatos. Estas esti-

mativas são predominantemente qualitativas. No entanto, utilizando a equação

de Timur-Coates, podemos ter uma ideia bastante próxima da ordem de gran-

deza deste valor.

6.2 Sugestões Para Trabalhos Futuros

• Sugerimos como trabalho futuro a caracterização dos fluidos do reservatório a

partir de dados de NMR. Esta caracterização não foi feita no presente trabalho

por falta de dados relativos a validação das interpretações.

• Deve ser ressaltado também , que a teoria desenvolvida aplica-se não somente

a Engenharia de Petróleo como também a outros campos do conhecimento ci-

entifico, como a medicina e a química.

• Durante o presente trabalho, apenas dados referentes a perfilagem foram ana-

lisados e comparados com os dados de testemunho. Estes correspondem a

uma escala muito pequena do reservatório e estão sujeitos a heterogeneidades

pontuais. Em trabalhos futuros sugerimos a correlação dos dados de perfil com

dados de Teste a formação a cabo (RFT, WFT, GeoTap, entre outros) e testes

de longa duração para uma análise comparativa da abrangência dos dados de-

rivados da permeabilidade obtidos do NMR. Assim, obteremos uma resposta

mais confiável a respeito da interferência da heterogeneidade dos campos car-

bonáticos na estimativa dos parâmetros petrofísicos a partir do NMR e também,

poderemos derivar conclusões mais concretas a respeito da utilidade do teste de

formação em fluxo esférico (seja este wireline ou logging while drilling).

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APÊNDICE A -- Saturação de Água Irredutível,

Swi

Descreve-se neste apêndice o que é a saturação de água irredutível e como pode-

mos determinar se um reservatório está em sua saturação de água irredutível ou não

para fins práticos. Se o reservatório estiver abaixo da saturação de água irredutível,

como obtê-la.

A.1 O que é Swi?

Swi é a menor saturação de água que se pode obter em um testemunho de rocha

através do deslocamento da água por óleo ou gás.

Este estado de saturação pode ser obtido em laboratório utilizando-se um teste-

munho de rocha. Pode-se fluir óleo ou gás pelo testemunho saturado com água até

que obtenha-se apenas fluxo de hidrocarbonetos na saída do testemunho, ou pode-se

colocar a amostra em uma centrifuga permitindo que apenas a saturação irredutível

remanesça.

O termo é um tanto impreciso porque a saturação de água irredutível é dependente

da pressão final do meio ou da velocidade final da centrífuga.

A.2 Como Determinar Swi Para Propósitos Práticos emPerfilagem

Zonas de hidrocarbonetos com saturação de água acima da saturação de água

irredutível irão produzir uma determinada quantidade de água junto com os hidrocar-

bonetos. Isto pode acontecer em zonas de transição entre óleo e água ou, depois

que um determinado influxo de água entra no reservatório devido a produção de óleo

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ou gás. Logo, reservatórios que produzem apenas hidrocarbonetos são considera-

dos como estando em sua saturação de água residual. Podemos estimar este valor

através de um perfil de resitividade e da fórmula de Archie:

Snw =

a Rw

φm Rt

(A.1)

onde:

n = expoente de saturação de Archie,

Rw= resistividade da água da formação,

Rt= resistividade da zona de interesse,

φ= porosidade,

a = parâmetro estrutural,

m = fator de cimentação

Sw = Saturação de água,

Para reservatórios acima da saturação de água irredutível, pode-se estimar este

valor através da análise da pressão capilar ou através da medida deste valor em tes-

temunhos.

Para reservatórios em que temos os dados de pressão capilar disponíveis, um grá-

fico da pressão capilar versus saturação apresentará um comportamento assimptótico

conforme ilustrado pela figura 30.

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Figura 30: Comportamento assimptótico da pressão capilar como função da permea-

bilidade (TIAB; DONALDSON, 2004)

Porém, para efeitos práticos, costuma-se considerar que zonas produtoras unica-

mente de óleo estão em sua saturação de água irredutível. E poderemos calcular este

valor através do perfil de resistividade ou através do NMR.

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APÊNDICE B -- Permeabilidade a Partir do

Teste a Formação

Historicamente tem-se dado preferencia a teste de formação com longos períodos

de duração para análise das características de um reservatório. Os testes mais longos

apresentam diversas vantagens como a inferência do tamanho do reservatório, esti-

mativa da permeabilidade efetiva, teste de falhas geológicas como selantes ou não,

entre outras vantagens. A sua desvantagem principal é o custo associado ao teste.

Em geral quanto mais longo o teste maior o custo. Durante décadas a interpretação

do fluxo radial durante o período transiente foi interpretada para nos fornecer informa-

ções a respeito do reservatório e vários livros excelentes foram publicados a respeito

do assunto (LEE et al., 2003). Mais recentemente, porém, tem-se usado a interpre-

tação do fluxo esférico em testes de formação wireline como uma medida para se

diminuir custos e conseguir informações em tempo real. Este apêndice tratará deste

assunto e explicará de forma simplificada o auxilio que esta ferramenta pode fornecer

na interpretação da permeabilidade em especial para reservatórios heterogênicos.

B.1 Fluxo Radial

Em testes a formação convencionais, uma parte dos fluidos do reservatório é recu-

perada através de um diferencial de pressão criado no poço. É feito o registro contínuo

da pressão do poço em duas etapas, uma primeira etapa consistirá no decréscimo da

pressão devido a produção, e a segunda etapa, consistirá no aumento da pressão

devido a paralização da produção. Estes são os chamados períodos de Drawdown

e Build-up, respectivamente. Estes testes são feitos durante a fase de exploração

para avaliar a produtividade do reservatório. Os resultados obtidos são dependentes

primariamente da permeabilidade, da porosidade e da viscosidade da zona testada.

Várias técnicas foram desenvolvidas para a análise do registro de pressão (LEE et

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80

al., 2003). Para fazer uso das técnicas disponíveis é necessário conhecer o comporta-

mento do fluxo de fluidos através de um meio poroso.

A informação pratica obtida do teste inclui a permeabilidade, a porosidade, o for-

mato do reservatório, pressão média do reservatório, localização das fronteiras do

reservatório, e falhas selantes. O método mais comum de se obter a permeabilidade

consiste na criação de um gráfico semi-log dos dados de pressão versus tempo. O

gráfico é uma linha reta (figura 31), e do coeficiente angular desta podemos derivar a

permeabilidade da seguinte forma:

k = 162, 6qµB

mh(B.1)

onde

k =Permeabilidade, mD

q =Vazão medida, STB/D

µ =Viscosidade do fluido, cP

B =Fator volume formação, bbl/STB

m =Coeficiente angular da linha reta ajustada, psi/ciclo logarítmico

h =Espessura da formação, ft

B.2 Fluxo Esférico

Embora a pratica mais comum para dados de pressão transiente seja a análise do

fluxo radial, em poços com penetração/completação parcial o fluxo esférico/hemisférico

é mais representativo do sistema. Em muitas situações as formações são não unifor-

mes ou heterogêneas refletindo-se suas características em suas propriedades como

a porosidade e a permeabilidade. Nestes casos a anisotropia vertical é fundamental

na descrição da resposta da pressão ao redor de um poço parcialmente penetrante. O

conhecimento da anisotropia vertical para estes casos permitirá um melhor desenvol-

vimento do reservatório e, subsequentemente, programas de recuperação secundária

poderão ser planejados de modo mais eficiente.

Poços verticais podem exibir diferentes regimes de fluxo durante o seu comporta-

mento transiente. O fluxo esférico ocorre quando o poço está produzindo a partir de

uma seção limitada do reservatório ou quando o poço está produzindo sob uma de-

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Figura 31: Gráfico semi-log da Pressão durante o período de Drawdown (Painel supe-rior) e durante o período de Build-up (Painel inferior) (TIAB; DONALDSON, 2004).

terminada variedade de condições como a presença de uma barreira de folhelhos em

reservatórios delgados. O fluxo esférico pode ser visualizado como o fluxo ao longo

do raio de uma esfera. Na pratica, o fluxo não é puramente esférico ou hemisférico

porque o intervalo de completação não é um único ponto no cento do reservatório. No

entanto, levando em consideração o senso prático, podemos aproximar a solução se

o intervalo relativo à completação é muito pequeno comparado com as dimensões do

reservatório (ou seja, comparado a net pay zone). No caso de um reservatório con-

finado entre duas camadas impermeáveis ou com intervalo de penetração parcial, o

regime de fluxo esférico ocorrerá entre dois regimes de fluxo radial. Em ambos os ca-

sos o período de fluxo pode ser identificado por um primeiro momento em que ocorre

inicialmente fluxo radial, o reservatório se comportará como se a espessura da forma-

ção fosse igual ao comprimento da zona aberta ao fluxo, e um segundo momento em

que ocorre fluxo esférico.

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82

Figura 32: Geometria e vista superior de um fluxo esférico ideal. (MONCADA et al., 2005)

B.3 Formulação Matemática

A equação que descreve o fluxo de fluidos em regime esférico é a equação da di-

fusividade hidráulica em termos da função potencial da equação de Darcy. Assumindo

as seguintes simplificações:

1.O fluxo é considerado perfeitamente esférico em um poço de raio rw em um meio

qualquer.

2.O meio é esfericamente isotrópico. Esta análise do sistema permite a conside-

ração de que o valor da permeabilidade medido em direção vertical pode ser, ou

não, diferente do valor medido na direção horizontal.

Aplicando as condições de contorno apropriadas, a solução desta equação resulta:

PwD(tD) =

tDπ

(1 − e(−1/tD)) + erfc

(

1√tD

)

+ S (B.2)

onde

PwD =4πkrsw(Pi − P )

qµ(B.3)

e

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tD =kr2

swt

φµctr4(B.4)

PwD =Queda de pressão devido ao teste em termos adimensionais;

tD =Tempo adimensional

k =Permeabilidade absoluta

r =Coordenada espacial esférica

q =Vazão produzida

µ =viscosidade, cP

ct =Compressibilidade Total do sistema, atm−1

A função erro complementar (erfc) aparece constantemente em casos de solução

da equação da difusividade hidráulica em regime transiente e é definida por:

erfc(ξ) =2√π

∞∫

ξ

e−z2

dz (B.5)

Valores tabelados para esta função podem ser encontrados em livros de referência

(LEE et al., 2003). Todas as soluções clássicas para fluxo esférico são derivadas da

equação B.2. Estas apenas fazem uso de simplificações para facilitar a interpretação.

Na figura abaixo podemos visualizar o comportamento gráfico da equação B.2.

Figura 33: Solução gráfica da equação B.2 demonstrando diferentes simplificações

possíveis. (CULHAM, 1974)

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Neste caso, podemos estimar a permeabilidade seguindo o mesmo procedimento

descrito anteriormente através da seguinte formula:

k =

(

2454, 26qBµ

√φµct

m

)2/3

(B.6)

onde

k =Permeabilidade, mD

q =Vazão medida, STB/D

µ =Viscosidade do fluido, cP

B =Fator volume formação, bbl/STB

m =Coeficiente angular da linha reta ajustada, psi/ciclo logarítmico

h =Espessura da formação, ft

φ =Porosidade, %

ct =Compressibilidade Total do sistema, psi−1

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APÊNDICE C -- Determinação Laboratorial da

Permeabilidade em

Testemunhos

Descreve-se neste apêndice como são feitas as medidas da permeabilidade em

laboratório.

C.1 Introdução

A permeabilidade é uma medida da facilidade com que um fluido pode fluir através

de um meio poroso; isto é, o inverso da resistência ao fluxo. A permeabilidade em

testemunhos é determinada medindo-se a taxa na qual um liquido irá fluir através

de um meio poroso de dimensão específica dado um certo gradiente de pressão.

Podemos quantificar estas medidas através da lei de Darcy:

Q(cm3/s) =k(darcy) × A(cm2) × ∆P (atm)

µ(cP ) × L(cm)(C.1)

onde

Q =Vazão medida através do testemunho

k =Permeabilidade absoluta da amostra

A =Área da seção transversal ao testemunho

∆P =Gradiente de pressão a que a amostra está submetida

µ =Viscosidade do liquido

L =Comprimento da amostra

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C.2 Permeabilidade Medida Através De Um Meio Líquido

Pode-se facilmente determinar a permeabilidade em um meio liquido medindo-se o

tempo requerido para um volume fixo de liquido, a uma temperatura constante, passar

através de uma amostra sob um gradiente de pressão específico. Um permeâmetro

do tipo coreholder consta de uma câmara pressurizável (o “coreholder” em si), um

termômetro, uma válvula de cut-off, uma bureta para medir o volume de liquido e um

regulador de pressão. A pressão a montante é indicada por uma válvula de pressão

calibrável. O procedimento segue os seguintes passos :

1.A amostra é cortada do tamanho desejado, lavada e posta para secar em um

forno á temperatura de 110°C

2.A amostra seca é então colocada em uma câmara de vácuo para a remoção do

ar e é saturada com uma solução salina para evitar o inchamento de possíveis

minerais de argila

3.A amostra é então inserida no coreholder. A figura ilustra este os componentes

desta câmara. Uma bureta é posta na saída do coreholder para medir-se o

volume de liquido rejeitado

4.A pressão é regulada para o valor desejado e a válvula de descarga é aberta.

Começamos a marcar o tempo quando o nível de água chega na marca zero na

bureta e paramos de marcar o tempo quando atingimos o volume recuperável

desejado. O registro da pressão de entrada (P 1), do volume de fluidos (V ) e

do tempo requerido para o fluido percorrer a amostra (t) permite-nos calcular a

permeabilidade da seguinte forma

k =µV L

A ∆P t(C.2)

onde

µ =Viscosidade medida em cP na temperatura observada

V =Volume de fluidos recuperado, cm3

L =Comprimento da amostra, cm

A =Área da seção transversal, cm2

∆P =Diferencial de pressão em que a amostra está submetida, atm

t =Tempo para se obter o volume de fluidos observado, s

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k =Permeabilidade medida, D

Figura 34: Permeâmetro do tipo Coreholder (TIAB; DONALDSON, 2004).