fazendo 62

8
Ilustração Daniel Seabra Lopes #62 http://fazendofazendo.blogspot.com 9 a 23 JUN. 2011 que o mar lave a costa

Upload: fazendo

Post on 24-Mar-2016

229 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

boletim do que por cá se faz

TRANSCRIPT

Page 1: fazendo 62

Ilust

raçã

o D

anie

l Sea

bra

Lop

es

#62http://fazendofazendo.blogspot.com 9 a 23 JUN. 2011

que o mar lave a costa

Page 2: fazendo 62

FICHA TÉCNICA: FAZENDO - Isento de registo na ERC ao abrigo da Lei de Imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2 - DIRECÇÃO GERAL: Jácome Armas - DIRECÇÃO EDITORIAL: Pedro Lucas - COORDENAÇÃO GERAL: Aurora Ribeiro

COORDENADORES TEMÁTICOS: Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Miguel Valente, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart - COLABORADORES: Cristina Lourido, Daniel Seabra Lopes, João Carlos

Fraga, Inês Martins, Mário Moniz, Miguel Machete, PNF, Sara Soares, Tomás Melo - PROJECTO GRÁFICO: Nuno Brito e Cunha - PROPRIEDADE: Associação Cultural Fazendo SEDE: Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta - PERIODICIDADE:

Quinzenal TIRAGEM: 400 exemplares IMPRESSÃO: Gráfica o Telégrapho CONTACTOS: [email protected]

2 09 a 23 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

opinião Desígnios Anti-civilizacionais:

Daniel Seabra Lopes

APOIO:DIRECÇÃO REGIONAL DA CULTURA

Foto

graf

ia A

fon

so C

hav

es P

orto

de

Pont

a D

elga

da/

Ram

pa d

o C

orpo

San

to c

om s

olda

dos

e m

arin

heir

os n

orte

-am

eric

anos

- 19

18

capa

Daniel Seabra LopesDaniel Seabra Lopes [n.1970, Lisboa] autor incerto, tem dividido uma carreira instável na área da antropologia com sucessivos retornos à banda desenhada e à ilustração, cultivando o sentido do anacronismo, o gosto pelo anonimato e outros fetiches igualmente irrelevantes.

Correm duas histórias convencionais sobre os Açores: uma história de fascínio e uma história de evasão. A primeira tende a ser contada pelos forasteiros, enquanto a segunda pertence aos que nasceram no arquipélago ou para aí foram desterrados. São perspectivas complementares em vários sentidos.

O fascínio exerce-se de modo subtil: é preciso romper através da bruma que forra estas ilhas e as afasta da imaginação dos viajantes que anseiam por destinos mais exóticos; já a segunda impressão é opressiva e não encerra nenhum mistério: o espaço insular é limitado e de difícil acesso, o que faz com que todos os seus habitantes acabem por saber uns dos outros, tornando difícil viver a magia do anonimato proporcionada pelas grandes cidades.

Ambos os movimentos têm conhecido desvios e elipses interessantes, motivados pela chegada de novos personagens — dos velejadores, aos professores, investigadores e operadores turísticos, passando pelos intelectuais e artistas estrangeiros de que nos fala Vicente Jorge Silva, pelos comerciantes chineses e ciganos, ou ainda pelas famílias insulares que se

Dir-se-ia que naturalismo e etnografia constituem mundos separados n’As Ilhas Desconhecidas.

foram espalhando por vários pontos do arquipélago. Pode ser que um dia a diversificação dos pontos de vista acabe por dissolver a impressão de complementaridade. Em todo o caso, essa complementaridade traduz um genuíno problema antropológico que se resume da seguinte forma: que experiência se enquadra na formidável paisagem deste arquipélago?

O fascínio de Raul Brandão pelos habitantes do Corvo advinha p r e c i s a m e n t e da procura de uma forma de vida que encaixasse ali, na mais extrema das ilhas, e que pudesse fazer escola, fundar uma civilização. Era também esse o propósito das dissertações de Nemésio sobre a «Açorianidade», que todavia não deixam de ser sensíveis à questão — na verdade, recorrente — do «emparedamento do ilhéu».

O próprio Brandão cedo compreendeu as limitações duma antropologia insular («todos os dias os mesmos gestos e repetindo sempre a mesma meia dúzia de palavras até à morte»), e não é por acaso que o seu olhar se

desvia tantas vezes para o mar e para o céu, para os grandes relevos das ilhas, para os recortes das suas costas, para as falésias cobertas de vegetação. Dir--se-ia que naturalismo e etnografia

constituem mundos separados n’As Ilhas Desconhecidas.

De facto, não é fácil conjugar as

duas coisas quando se recorre a uma visão empedernida e pontualmente romantizada do autóctone, como a que tem marcado a antropologia açoriana.

Por seu turno, o nexo entre espaços insulares e civilizações alternativas (ou desconhecidas) constitui um tema persistente do imaginário ocidental moderno, impedindo o reconhecimento de que a verdadeira vocação das ilhas assenta sobretudo na contra--civilização, no que não pode fazer escola. Voltamos portanto ao ponto de partida: que formas de vida se ajustam a este cenário que sejam capazes de

suplantar as histórias complementares de atracção e repulsa? Em jeito de resposta, apenas consigo evocar o relato de um amigo que passou um verão nas fajãs da mítica ilha das Flores, com uma tenda por abrigo e amoras silvestres por alimento, qual Heraclito reencarnado. Objectar-se-á que também isto é romantizar, e que tais experiências são sobretudo um produto da interioridade, podendo ser vividas em qualquer parte do mundo — mas essa seria uma objecção banal, por não reconhecer que o romantismo se alimenta sempre de uma qualquer miséria, e, principalmente, por descurar a verdura pujante das fajãs, a agitação curiosa do mar, o negro retorcido das encostas vulcânicas, o amplo côncavo das caldeiras, enfim, a tremenda complexidade do céu açoriano, feito de várias camadas de nuvens que se entreabrem de quando em vez para o azul.

Este é o caminho para uma nova antropologia dos Açores.

para uma nova antropologia dos

Açores

O Luís “Pica-Salsinha”, pela porta entreaberta, espreitava a oportunidade de surripiar uma faca de cozinha à mãe. Bastava que ela tivesse necessidade de ir à rua despejar as cascas das batatas no balde onde se acumulavam os restos de comida, futura “beberagem” dos porcos que, com fome, já roncavam no curral.

Pedir a faca estava fora de qualquer hipótese. Tinha que ouvir sempre o mesmo sermão sobre cuidados, perigos e cortes. Arrazoado a que não ligava “peva”, até porque acabava sempre por golpear um dedo e ter que ir, a correr, para casa da Palmira “dos Tolos”.

A dita Palmira morava mesmo ao lado e tratava de lhe estancar o sangue,

enrolando depois uma tira de lençol velho à volta do dedo ferido. Tentava, assim, evitar que a mãe “ralhasse”, com ele, ao descobrir o que tinha acontecido, “… mesmo depois de tanto te avisar, meu filho! Cuidado para esse golpe não infectar!”

“Ferida de cão cura mesmo com cabelo!”, dizia o Luís, e ria, todo contente, por se lembrar da frase que ouvira alguém dizer no “botequim” do senhor Martins.

Tanta cicatriz, de tanto corte nos dedos de cada vez que a faca resvalava em cima da cana que tentava aguçar para servir como lança ou estaca no “castelo” que defendia ciosamente dos ataques dos inimigos, “danados” para lhe ocupar o lugar majestoso e sobranceiro que tanto custara a

descobrir.Quando se trata de defender o que é nosso, há cortes bem piores que o “lanho” num dedo!

Cortes da Minha InfânciaMário Moniz

lacuna

Page 3: fazendo 62

exemplo), ou se queremos escrever uma carta de amor, e a menos que da nossa estratégia gráfica de sedução façam partes almofadas em forma de coração com rendinhas ou ursos fofos, o melhor mesmo é NÃO procurar no Google sobre esse tema.

Aqui ficam alguns sites onde se podem roubar ou apenas apreciar imagens de qualidade (para qualquer tema):

http://ffffound.com/ (um clássico da net, há de tudo, mas é difícil procurar através de palavras chave, o melhor é percorrer as páginas e páginas, encontra-se sempre alguma coisa)

http://www.imgspark.com/ (outro clássico, tem pesquisa por palavra chave, e pode ainda criar a sua própria colecção de imagens - roubadas por si, ou colocadas por si lá)

http://vi.sualize.us/ (semelhante ao anterior, já tem alguns temas seleccionados na barra lateral, para facilitar pesquisas)

Todas as páginas dos grandes museus do Mundo, especial referência ao Thyssen, em Madrid, onde pode navegar nesta tabela de tempo e ver todas as obras http://www.museothyssen.org/en/thyssen/linea_del_tiempo

Se usar uma imagem, faça uma referência ao autor e à obra, ou pelo menos ao local de onde a retirou. É simpático para quem a fez e também para quem a possa apreciar.

arquitectura e artes plásticas

http://fazendofazendo.blogspot.com 9 a 23 JUN. 2011 3

Desígnios Anti-civilizacionais:

Ainda há quem se lembre de tirar fotocópias, recortar, colar e tirar depois outra fotocópia da composição final. As cores só se usavam se valesse mesmo a pena. Trabalhos para a escola, os testes feitos pelos professores, cartazes para festas e concertos. Mais antigas, eram umas fotocopiadoras que copiavam a duas cores em degradé de uma para outra. Verde e vermelho, salvo erro. Ia-se buscar imagens onde elas haviam, enciclopédias ilustradas, revistas, jornais, livros. A tesoura e a cola eram o software de edição.

Depois vulgarizou-se o uso do computador. O Word passou a ser a mesa de trabalho e recorria-se a uma coisa linda e maravilhosa que continua a existir e que agora já ninguém se lembra de usar. Eram as imagens do Clip Art, fornecidas pela Microsoft no seu Office e que davam muito jeito, porque havia temas para tudo, desde as quatro estações, a música, festas, escritórios e muitas, muitas coisas inspiradoras. Tinham, porém, o problema de serem normalmente muito generalistas e serem todas do mesmo estilo: o estilo “clip art” (que também se foi desenvolvendo com as sucessivas edições do Office).

Hoje em dia, se precisamos de ilustrar algo, se precisamos de encontrar uma fotografia de alguém

Ilustrar, roubando

internet

ou de qualquer sítio, vamos sempre à internet. A pesquisa mais óbvia é inserir o que se procura no Google ou noutro motor de busca e carregar na opção imagens. Quase tudo o que se procura tem milhares de resultados e só mesmo alguém graficamente exigente não encontra estampa que lhe sirva – desde que procure uma coisa simples.

Mas nem sempre o que procuramos para ilustrar a nossa ideia é simples. Às vezes sabemos que imagem queremos (um quadro que vimos uma vez, por exemplo), mas não fazemos a mínima ideia de quem possa ser o autor ou de qual possa ser o nome do quadro. Outras vezes encontramos uma imagem muito boa mas que infelizmente não tem definição suficiente para o que

pretendíamos dela.

O Google, apesar do nome e dos “oo”, não tem olhinhos, nem tem (confiemos) milhares de chineses em frente a ecrãs à procura de imagens solicitadas pelos utilizadores. Procura as imagens pelo título e pelas palavras associadas (que estejam perto delas nos sites) ou nas legendas das mesmas. Mas não é parvo de todo. Também dá

resultados de assuntos relacionados, que costumem estar ligados ao que se procura. A pesquisa por imagens do Google teve recentemente algumas

melhorias e entre outras coisas pode--se restringir a pesquisa de imagens a uma cor dominante, às categorias de fotografias ou desenhos, caras de pessoas, ou à resolução pretendida, (opção disponível há mais tempo).

Sendo o Google uma ferramenta essencial, existem outros locais, muitos deles mais fascinantes, onde encontrar imagens. Se procura uma obra de arte, por exemplo, é bom recorrer aos sites dos museus onde elas estão (quase todos os grandes museus têm as suas colecções online, onde é frequentemente possível roubar as imagens em alta definição). Para encontrar imagens de um filme, o Google é muito fraquinho apresentando milhares de versões do cartaz nas várias línguas e apenas duas ou três imagens do filme, usadas na promoção do mesmo. Mais vale procurar o filme neste site (www.dvdbeaver.com), que disponibiliza vários fotogramas retirados directamente dos DVD’s (ou fazer um printscreen do próprio filme lido no VLC player).

Outras vezes não procuramos uma imagem específica, mas qualquer coisa que possa ilustrar a nossa ideia. Se temos um texto sobre amor (por

As casas nos Açores não podem ser iguais às casas de todos os outros locais, o nosso clima é especial. Ventos e chuvas durante todo o ano têm de ser tidos em atenção.

Esta Casa tem uma enorme parede para se defender dos fortes ventos (lembra John Hejduk) e tem também diversos pátios, cobertos, exteriores e com diferentes orientações para

que seja sempre possível usufruir do espaço exterior. No interior o destaque vai para a cozinha que parece o interior de uma enorme chaminé, (lembra o palácio da Vila de Sintra). A sala serpenteia em redor dos pátios interiores que também são salas. Nos quartos, alguns elementos em madeira acolhem os moradores tornando toda a vivência muito mais “quente”. Respira qualidade de vida.

Casa do Voodos Pássaros

Tomás Melo

a boa arquitectura que por cá se faz

Aurora Ribeiro

Se

este

art

igo

foss

e so

bre

amor

, pod

ia s

er il

ustr

ado

com

est

a im

agem

h

ttp:

//th

isis

nth

app

ines

s.co

m/

Arquitecto, Bernardo RodriguesIlha de São Miguel, Ribeira Grande

Page 4: fazendo 62

música

ww

w.c

lari

celis

pect

or.c

om.b

rw

ww

.cla

rice

lispe

ctor

.com

.br

4 9 a 23 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

Recentemente a Horta pôde ouvir os trabalhos dos Faialenses Pedro Lucas e do seu ‘O experimentar na m’incomoda’, e os Bandarra, finalistas dos 1ºs prémios da Associação Megafone5. O público afluiu e entranhou o que os músicos e convidados (Zeca Medeiros, Carlinhos Medeiros e Jácome Armas) ofereceram. Pretexto para uma conversa com o Fazendo.

Durante os espectáculos passou para fora a busca comum de gerações.Zeca Medeiros – Em relação ao que se faz aqui nos Açores, para mim é tão importante continuar a fazer música tradicional no sentido mais convencional – por exemplo o grupo Bela Aurora, que continua a cantar como se fazia há 50 ou 60 anos – como estas coisas mais sofisticadas, ou o próprio marco que é a obra do Carlinhos Medeiros, que sendo mais sofisticada e inovadora nunca perde a matriz.

‘Música para uma nova tradição’, quer dizer o quê?Pedro Lucas - A tradição transforma- -se e está em permanente mutação.

Pietá (Miguel Machete) – Sempre foi assim, só que agora fala-se disso. Já o Giacommetti, quando gravava um cantar, dizia que ’se viesse cá noutro dia talvez eles tocassem de outra forma’. A música tradicional estava directamente relacionada com o trabalho, religião, lazer, enfim, de consumo, mas provavelmente não se questionava isso. Tinha de se cantar e tocar para as pessoas poderem sobreviver, para caminhar nesse dia--a-dia.

E os Bandarra precisam dessa tradição para sobreviver?Pietá – Claro, pois vamos beber à música tradicional, embora os

Música de Gerações

Pedro Afonso

Ilust

raçã

o C

har

les

M. S

chu

lz (

Pea

nuts

) U

nite

d Fe

atur

es S

yndi

cate

, Inc

. (c)

Bandarra não sejam uma banda tradicional...

Pedro Lucas– Como o ‘Experimentar’ também não é...

Pietá - ...mas têm na sua estrutura uma coisa muito forte que é Portugal. Não estou a vê-los a aparecer noutro lado.

Isso tem sobretudo a ver com a língua?Pietá – Não, não.

Porque não fazem umas músicas em inglês?Pietá – isso é outro mito. Redescobre--se agora que a língua portuguesa oferece uma riqueza e uma capacidade de expressão muito mais redonda, mais diversa do que o inglês.

Zeca Medeiros – mas atenção que já outros fizeram essa viragem antes, sobretudo a ver com o 25 de Abril. É incontornável falar do Zeca Afonso, do Adriano, e também de outros que trouxeram a língua portuguesa para o quotidiano de uma maneira extraordinária, como o Sérgio Godinho, Rui Veloso e Carlos Tê, João Monge, e já agora a Dona Amália. Embora eu ache que quem quer cantar em inglês o deva fazer – eu até fui para a música por causa dos Beatles e dos Blues. Mas gosto de celebrar a minha cultura e a minha língua. O que eu não acho legítimo é justificar a canção em inglês porque o português não é musical.

Pietá – Por exemplo, a incrível diversidade do projecto ‘A música Portuguesa a gostar dela própria’, do Tiago Pereira, que não passa na rádio e tv.

Zeca Medeiros – Isso é outra

questão muito importante. A música portuguesa sempre foi tratada abaixo de cão nos media, com honrosas excepções. Há poucos anos havia listas negras de bandas censuradas que de facto não passavam na rádio. E os critérios de escolha são um bocado preversos.

Esse cenário está a mudar?Zeca Medeiros - Parece-me que está a mudar um bocadinho, talvez até por causa do Provedor, talvez por causa da internet, embora nem toda a gente tenha acesso a isso.

Pietá – Mas às vezes também se vai pelo lado pior. Por que não são as pessoas que escolhem o que se ouve na rádio, mesmo com a internet de hoje.

Zeca Medeiros – Obviamente, ama-se o que se conhece. Na maior parte dos países europeus que conheço, passa--se sobretudo música nacional, mas isso não acontece em Portugal. Talvez isso esteja a mudar, sobretudo com a internet.

Há uma dimensão pessoal e interior no ‘Experimentar’ em que as pessoas se revêm mais facilmente?Pedro Lucas - A revisita que eu fiz foi pessoal. E a música que me atrai, dos songwriters, é muito pessoal.

Experimentar quer incomodar?Zeca Medeiros - A mim não me incomoda. Pode incomodar outras pessoas mais conservadoras.

Pedro Lucas – Não é para incomodar... para desafiar.

Pietá – Claro que quer incomodar. Desafiar é incomodar.

Zeca Medeiros – O artista pode ser incómodo em relação ao

conservadorismo, ao poder. Projectos como o experimentar, os Bandarra, etc, acho que é como a frase do Pessoa – queremos que se estranhe para que depois se entranhe. Eu fui o primeiro produtor das “Ilhas de Bruma”, e também achei estranho e irónico quando o Pedro me pediu para fazer esta versão...

É subversivo trazer estas novas roupagens à música tradicional?Pedro Lucas – Não. Os grupos folclóricos fazem muita falta e tem de haver esse registo, senão perde-se, mas também são necessários outros projectos que o actualizem.

Zeca Medeiros – Como a língua. Quando chegaram as telenovelas também ouve o pânico de que íamos passar todos a falar brasileiro, mas a língua não morreu por causa disso.

Pedro Lucas - A minha música precisa de se actualizar em relação ao seu contexto. A tecnologia, a filosofia, a política, tudo avança, e a música tem de acompanhar.

Pietá – Desde sempre que existem ‘experimentares’, querer mudar e fazer diferente é inerente a nós, precisamos de respirar, de nos surpreender.

A tecnologia, a filosofia, a

política, tudo avança, e a

música tem de acompanhar.

entrevista

Foto

graf

ia T

omás

Mel

o

Page 5: fazendo 62

literatura

http://fazendofazendo.blogspot.com 9 a 23 JUN. 2011 5

Otília FrayãoJoão Carlos Fraga

Eram os tempos dos Aventureiros.No dia 28 de Outubro de 1950, fundeia no porto da Horta o veleiro inglês “Temptress”. Com 34’ de comprimento de fora a fora e aparelhado em yawl, este yacht tinha sido construído em madeira e no ano de 1910, no estaleiro de Calenick, em Cornwall.

Apresentava sinais de avarias múltiplas, resultantes dos vários temporais que o açoitaram durante a viagem desde New York, donde aparelhara a 24 de Agosto.

A bordo, o navegador solitário e arquitecto naval inglês Edward Allcard. No ano anterior tinha velejado em solitário de Gibraltar até New York, sem escalas e em 80 dias.Depois de várias semanas, muitas delas passadas em reparações, numa noite de Janeiro o “Temptress” faz-se ao mar. A bordo levava mantimentos para duas semanas, tempo estimado por Allcard para uma viagem até Gibraltar, com possíveis escalas em S. Miguel e Madeira. Enfim, iniciava a última tirada da sua travessia do Atlântico em solitário.

Após uma noite fria com vento soprando de NW e passada enregelado ao leme, quando esperava condições que lhe permitissem ir fazer um café bem quente, Allcard depara-se com uma mulher que assomava à escotilha com ar de criatura apanhada numa armadilha e sem esperança.

Era Otília Frayão que embarcara clandestinamente, e assim iniciava a viagem que modificou a sua vida e que foi inspiradora para centenas, talvez milhares, de pessoas. O mar, visto por muita gente como uma muralha, agora abria-se a Otília como um caminho para a sua liberdade e para o Mundo.

Allcard, pelo menos até 2005, manteve a sua reputação de perfeito gentleman, mas esta intromissão no seu projecto de atravessar o Atlântico em solitário nos dois sentidos deve ter sido muito difícil de gerir. No entanto, enquanto raciocinava ferozmente para resolver a situação, conseguiu que o seu clássico sentido de humor e sangue frio prevalecessem.

Conhecendo bem a Horta, avaliadas as consequências deste imprevisto e os efeitos negativos de um desembarque num porto português, ficou decidido aceder ao pedido de Otília e transportá-la até Inglaterra, para onde queria ir.

De imediato, e voluntariamente, Otília começou a aprendizagem que fez dela uma grande navegadora.

Para surpresa do skipper, embora um pouco enjoada e apreensiva, passou para o leme e, segundo Allcard, corria-lhe nas veias sangue dos antigos navegadores portugueses.

Além disso ele conversara na Horta com muitos homens que diziam quererem, mas…e logo se apercebeu da coragem desta jovem bonita, inteligente e culta em ultrapassar o “MAS” e aventurar-se à procura da realização do seu “QUERER”.

A meados de Janeiro o “Temptress” é apanhado por um violento temporal. Ao fim de quase 6 dias navegando de capa e em condições bem “desconfortáveis”, Otília tinha adquirido o seu estatuto de marinheiro conseguindo até cozinhar, actividade difícil a bordo duma pequena embarcação fustigada por mar alteroso e vento forte. Com o reaparecimento do Sol, foi possível determinar a posição do yacht que era a 340 milhas da Madeira.

A 23 o vento refrescou de novo e, dois dias mais tarde, estabelecem contacto, através do código de bandeiras como não havia rádio a bordo, com um navio turco que sinaliza o “Temptress” aos Lloyd’s de Londres.

Com novo agravamento de tempo e mudança do vento, a rota foi alterada e Casablanca é a alternativa mais lógica a Gibraltar. É a própria Otília que anota no seu diário a 30 de Janeiro que Edward diz estarem a 116 milhas desse porto e que, se o vento o permitir, poderão chegar lá no dia seguinte.

Finalmente, após 24 dias de mar, no dia 1 de Fevereiro fundeiam em Casablanca perto das instalações da Societé Nautique.

Passados que foram dois dias, explorando livrarias e gozando o charme da grande cidade, a notícia da viagem do “Temptress” espalhou--se e este foi abordado por uma multidão de jornalistas e fotógrafos.Depois de ter aprendido a lidar com o Oceano Atlântico no Inverno, foi a vez de Otília enfrentar a ferocidade dos media, o que não deve ter sido tarefa muito fácil. A notícia da sua grande aventura espalhou-se mundialmente e abriram-se novos horizontes para a sua vida.

Numa sociedade onde, ainda hoje, a mulher continua a lutar pelos seus direitos, é fácil avaliar o impacto social desta viagem em 1951.Em pouco tempo começou a chegar correspondência de remetentes mais diversos até que, um dia, Otília Frayão recebeu o convite de uma

senhora de Londres, oferecendo-lhe a passagem de avião e alojamento por um ano. Depois de muitas cartas, resolveu aceitar esta proposta e embarcou num avião rumo à Inglaterra.

Contudo não se passou muito tempo para, com a venda da história da sua viagem a um semanário britânico, resolver os seus compromissos financeiros e ser ela própria a traçar o rumo da sua vida.

Curiosamente esta grande aventura nunca foi esquecida. É impossível contabilizar tudo o que foi escrito sobre este feito. As notas abaixo servem, apenas, para mostrar que os anos foram passando e o nome de Otília Frayão continua presente.

Em Casablanca, o australiano Ben Carlin, o da circum-navegação num jeep anfíbio, no seu livro “Half-Safe” (1955) diz que os Carlins não eram os únicos malucos da cidade. Também havia um homem de nome Allcard, do qual se dizia ter andado só pelo Atlântico entre furacões até ter embarcado, nos Açores, uma passageira portuguesa clandestina. Ainda acrescenta que uma passageira clandestina mais atraente do que Otília Frayão, nunca vira.

Mais tarde, em 1964 e aquando da sua escala na Horta a bordo do “Smile”, o navegador francês Olivier Stern-Veryn encontrou Otília Frayão em casa do Dr. Decq Motta. No seu livro Solitaire ou Pas declarou ter encontrado uma jovem cujo nome pertence à História da Vela.

Em 2004, na publicação comemorativa dos 50 anos do Ocean Cruising Club, do qual Allcard foi um dos fundadores, Tony Vasey escreveu que a história da viagem deste com Otília Frayão ficou nos anais do iatismo.

Ainda neste mês de Junho, sessenta anos mais tarde, o conhecido cronista náutico Tom Cunliffe, na secção Great Seamanship da prestigiada revista Yachting World, dedica 3 páginas ilustradas a esta viagem inesquecível da faialense Otília Frayão.

”Uma aventura de Júlio Verne. Um sonho de poetisa que é afinal uma deliciosa realidade.” Assim titulava - ah, bela ingenuidade - o jornal “Açores” uma noticia da sua edição de 9 de Março de 1951, que se referia a uma jovem faialense, Otília Frayão.

O artigo dizia que um navegador solitário inglês, de seu nome Edward Allcard, “.. surpreendera a bordo uma passageira açoriana..” depois de sair do porto da Horta, na ilha do Faial.

O jornal acrescentava que O. Frayão era uma “...poetisa de uma extraordinária sensibilidade, que o gosto da aventura e o desejo irresistível de correr mundo levara a este passo romanesco e imprevisto.”Dias depois, sabia-se que a jovem chegara a Casablanca, a bordo do iate inglês. Entretanto, no mesmo jornal escrevia-se (sem se explicar como sucedera) que um casal, também inglês, sem filhos, convidava a jovem faialense para viajar durante 3 meses pela Europa, propondo- -lhe ainda que estudasse depois em Inglaterra, oferecendo eles uma mesada de 5 libras à poetisa. E, segundo o “Açores”, diziam também: “Na Inglaterra, Otília poderá, livremente, ir a quaisquer reuniões, bailes ou espectáculos com as suas amigas. Ela aqui passará uma época maravilhosa.”

A sra. inglesa chamava-se Owen e era - palavras do jornal - “especialista no tratamento de artrite e reumatismo através do veneno de abelha..” e tinha enviado um telegrama para Casablanca que rezava: “ofereço-vos um ano de hospitalidade na minha casa de Londres. Pagarei passagem e todas as despesas.” (Pelos vistos, também convidava o companheiro de viagem e proprietário do iate, E. Allcard).

O “Açores” rematava a noticia, dizendo que a atitude (a fuga) de Otília “...alarmou muito particularmente a vida rotineira destas ilhas.”

O jornal micaelense fazia acompanhar o artigo por um desenho do rosto de O. Frayão, uma mulher bonita que lembrava a actriz Natalie Wood.

Anos depois soube que Otília casara com um inglês de ascendência nobre e que em 2005, com 79 anos, vivia numa localidade chamada Berdun, em Espanha.

Entretanto, Ruy Galvão de Carvalho, especialista em literatura açoriana, integra alguns poemas de Otilia Frayão no seu livro “Poetas dos Açores”, considerando-a “a mais açoriana de todas as poetisas nascidas nestas ilhas atlânticas, pois cremos que é aquela cujos versos trazem, vincadamente, a marca da sua origem natal, o drama de quem nasceu na solidão de uma ilha.”

Oh! Este desejo de partir / E não voltar. /Este receio de ficar / Por não poder partir. / Esta brusca saudade / Daquilo que existe lá longe / No meio, princípio e fim / Dessas águas de sombra... / Este querer doloroso... / Que salta, geme e se espalha / Por coisas nunca vividas, / Que grita enlouquecido / A dor de não poder entrar / No porto que não quero ver. / Luz que não quero acender / E que em vão procuro apagar

Raízes - Otília Frayão

Page 6: fazendo 62

cinema e teatro

6 9 a 23 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

Não é a primeira vez que falamos de Tiago Pereira nestas páginas. O realizador não pára quieto e entre a “A Música Portuguesa a Gostar dela Própria” (mais de 100 projectos musicais e 300 videos - http://vimeo.com/channels/musicaportuguesa) e outras coisas que tais, apresentou recentemente o seu último documentário - “Sinfonia Imaterial”.

O Inatel e a Direcção de Cultura fizeram esta encomenda que extravasou a fronteira das entrevistas, das questões em voz off, dos discursos e das suposições e privilegiou uma outra coisa mais simples e mais complicada – a Natureza. E na nossa natureza está a diversidade e a consequente riqueza harmónica, melódica das vozes e instrumentos (por vezes parcos, pequenos, mas nunca insignificantes) que se espalham por Portugal inteiro, desde o Algarve a Trás-os-montes com paragem nas ilhas dos Açores e Madeira.

Essa viagem é feita pelo Tiago nesta Sinfonia, captando os muito tocadores e cantores tradicionais que vão mantendo a chama acesa e o sorriso (ou a tristeza, que a música

da gente tem destas coisas) na cara. Desengane-se portanto quem acha que no nosso país as fontes da tradição e da revisitação da música que é de todos secaram ou já não matam a sede a ninguém. Mentira. Embora não o saiba, muita mais sede e fome passa quem consome com frequência e em exclusivo os muitos-barulhos-quase- -ruídos que disfarçados, se pavoneiam nas rádios, nas televisões, nos

podcasts, nos videocasts e noutros formatos chifrudos. Para comprovar o que aqui digo, nada como estacar, ver, ouvir e sentir. Para isso, basta no dia 16 de Julho, às 21h30, dirigirem-se ao Teatro Faialense e, sem qualquer custo monetário, lograrem com as vozes e os sons das nossas gentes e com o olhar atento do Tiago Pereira que muito tem feito pelo património imaterial

Português. Esta iniciativa do INATEL e da Direcção Regional da Cultura (que no Faial tem apoio da Associação Música Vadia), prolongou-se a outras ilhas, nomeadamente às Lajes do Pico (dia 12 de Junho), Velas (dia 13), Praia da Vitória (dia 14) e Ponta Delgada (dia 15). As sessões são de entrada livre e a produtora do documentário Ana Xavier estará presente. Pela vossa saúde, apareçam!

Sinfonia Imaterial

documentário

Miguel Machete

Do outro lado da rua ergue-se uma voz. Agarrado a ela vem um homem com cabelos cor de limão e joelhos ossudos. Assentou praça com a manta no chão de erva, dispôs meticulosamente os seus tarecos e ficou ali de pé com uma firmeza incrivelmente frágil.

É dia de Mercado de Trocas, ao câmbio de abraços, sorrisos e demais carinhos.

Na vila as portas das casas reluzem de verniz e as telhas encaixam como perucas, impecavelmente penteadas. As paredes e as janelas tinham ido à manicura e as chaminés expeliam círculos de fumo, desenhados a carvão.

Marcelo é homem de constituição de tonel e dois pequenos buracos para olhar para fora. Os dentes assemelham-se a uma multidão amontoada, o cabelo apontava para qualquer coisa no céu. Dono de uma voz branda, feita de boa fazenda, atracou com hortícolas tão bonitas quanto as cores do arco-íris e quedou-se, então, de mãos cimentadas nos bolsos.A srª Maria escutava a janela, ligeiramente aberta sobre a

tranquilidade, daí até à porta de casa vai um dia inteiro. Também ela se acerca da festa, trouxa com panos e loiças de saborear outros vagares.

Lembro-me da minha mãe manipular compotas, coisas doces e coloridas que armazenava como se enlatasse raios de sol para o Inverno, no dia de anos escolhíamos as nossas prendas nas páginas das revistas, como num jogo não hesitávamos em pedir os brinquedos mais caros. Havia verde e gargalhadas e cumplicidade.Tanta gente! Chegam em ondas vindas na maré, deslumbradas de espanto, palavras sacudidas rente à terra tal como os artigos que expõem, uns em bancada de madeira outros em tapete voador.

A árvore, tão frondosa (metrozidero), faz um lago de sombra onde cabem violas da terra e nuvens, pessoas e ovos, galinhas e pão em forno de lenha, flores e leguminosas, artefactos de funções surpreendentes.Mª Papoila traz as mãos cheias de tamarindos a negociar com os antigos,

a traquinice presa na bainha oca das roupas ligeiras. Pelo Faustino a idade avança como um anzol em peixe desprevenido, o som das rugas cada vez que se mexe, como se fosse um homem com fato de papel. O riso percorre-lhe a face, de patins. Dentro da sua tenda espreguiça-se roda de bicicleta e rádio a pilhas, entre diversos assuntos importantes.No pátio as nuvens tropeçam e aglomeram-se estupidamente no céu. Grandes nuvens obesas. Negras e roliças. Chocando umas com as outras. Desculpando-se. Encadeadas fisgando espaço, escorrem chuva alagada.

Mestre Henrique dobrou o jornal e enfiou-o por baixo da camisa. Quando chegou ao mercado de trocas o suor tinha sugado as palavras para a sua pele. O jornal aterrou no quiosque mas as notícias ficaram pregadas no seu peito. Uma tatuagem. O passeio que só tinha chuva do lado de cá desdobrou-se em sol, a ponta da colher com chá frio, os pássaros a secar estendidos nos fios de electricidade.

Há algo de artesanal no lancil dos dias. Sentada na cancela do mundo Dª Carolina pausava, plantando serenidades ao compasso dos minutos. Do muito que trouxera outro tanto lhe coubera e regressava de pana cheia, ora sementes, ora biscoitos, ora cassettes-pirata.

Ainda sobejam os que apoiam o corpo nos ladrilhos e esperam. Esperar não é necessariamente ficar à espera – é viver enquanto não acontece uma coisa que, afinal, queremos menos do que viver apenas. É bom.À beira deste Domingo as palavras bóiam sublinhando paisagens, os verbos aos gomos embrulhados em biombos de mel.

Este é o universo e estas são as minhas sapatilhas brancas, que me estão apertadas. É tudo uma questão de asas.Se eu não souber dizer-te o fim desta história lembra-te que isto se passa num círculo, de amigos. Encontramo--nos no próximo Mercado de Trocas e bem hajam.

O sol está cheio de anjos em pé.

Cristina Lourido

lacuna

A propósito do Primeiro Mercado de Trocas da ilha do Pico

dia 23 de Junho, às 15h, S. Roque(Promovido pela Associação Padre José Idalmiro, será no Adro do Convento de S. Pedro de Alcântara)

Receita para ultrapassaros Domingos

Page 7: fazendo 62

ciência e ambiente

http://fazendofazendo.blogspot.com 9 a 23 JUN. 2011 7

PNF

Os ecossistemas associados ao oceano profundo são motivo de curiosidade e fascínio para os cientistas das mais variadas áreas, em particular os ecossistemas hidrotermais cujas características físico-químicas são potencialmente tóxicas para os organismos marinhos. As fontes hidrotermais têm a sua origem na entrada da água do mar nas fissuras da crosta oceânica sofrendo um aumento da temperatura e consequente alteração química devido ao resultante gradiente geotérmico.

Por convecção, a água a altas temperaturas e rica em minerais dissolvidos ascende e é expelida. A pluma/fumarola expelida, em contacto com a água do mar fria e oxigenada sofre alterações químicas que provocam a precipitação dos minerais presentes formando uma estrutura em forma de chaminé. A pluma hidrotermal com uma temperatura elevada, rica em CO

2, pobre em oxigénio, rica em

compostos sulfurados (ex. H2S), metano (CH4) e metais dissolvidos, à partida, inibiria a colonização dos ambientes adjacentes pelos organismos marinhos aeróbios. No entanto, em 1977, o primeiro mergulho com submersível às fontes hidrotermais desvendou um ecossistema luxuriante, constituído por vários níveis tróficos que inclui microrganismos, invertebrados e vertebrados marinhos.

A adaptação dos organismos associados a um ambiente potencialmente tóxico e independente dos processos fotossintéticos é um fenómeno ímpar que sustenta as teorias de uma origem quimioautotrófica para a vida. A investigação dos processos biológicos que permitem a estes organismos a colonização e adaptação a condições extremas permitirá o desenvolvimento de novas tecnologias e síntese de produtos do interesse público na área da biotecnologia e da farmacologia.

Sinfonia Imaterial

Ecossistemas Hidrotermais Porquê o interesse?

Inês Martins

Conceitos sobre a origem das espéciesMuitos conceitos se utilizam nos nossos dias para definir as origens dos mais variados organismos, em relação a um determinado local. Por vezes podem ser feitas confusões entre essas mesmas definições, e que muitas das vezes até soam um pouco estranhas, pelo que decidimos aproveitar este espaço para explicar essas palavras “caras”, mas que são fundamentais para um entendimento mais fácil entre investigadores, ou simplesmente para pessoas interessadas em assuntos relacionado com as espécies e suas origens. Assim, entre o conceito facilmente entendível de, por exemplo, “planta invasora nos Açores”, e o vocábulo já um pouco mais estranho de “endémico”, cremos que esta é uma boa oportunidade para esclarecer os seus sentidos. Em jeito de enunciado, apresentamos alguns conceito e seus significados.

Espécie endémica: espécie que apenas se encontra (naturalmente) numa área geográfica restrita, por exemplo, a vidália, planta que apenas se encontra nos Açores.

Espécie nativa: espécie que ocorre naturalmente numa determinada região, por exemplo, a faia, planta que podemos encontrar no Continente e nos Açores.

Espécie exótica: espécie que se encontra fora da sua área natural de distribuição. Pode ser, por exemplo uma espécie introduzida pelo homem, como é o caso do coelho- -bravo.

Espécie invasora: é uma espécie exótica que ao se encontrar num novo local que não o da sua área de distribuição natural, encontra condições de tal forma propícias ao seu desenvolvimento, que compete agressivamente com as espécies nativas e/ou endémicas desse local. É o exemplo da roca-da-velha e do incenso.

Foto

graf

ia N

un

o P.

Rod

rigu

es V

eron

ica

dabn

eyi –

esp

écie

end

émic

a da

s Fl

ores

e C

orvo

Espécie autóctone: designação com o mesmo significado de nativa, ou indígena.

Espécie alóctone: designação com o mesmo significado de exótica ou introduzida.

Esperamos que depois de ler este texto não restem dúvidas ao leitor de pelo menos quando ouvir algo como, “aquele peixe é endémico dos Açores”, tenha logo a rápida percepção de que esse mesmo peixe não pode ser observado em mais nenhum local do mundo, ou seja, que é de facto um tesouro do nosso arquipélago.

cont

e-no

s o

que

faz

por

A adaptação dos organismos associados a um ambiente potencialmente tóxico e independente dos processos fotossintéticos é um fenómeno ímpar

[email protected]

Page 8: fazendo 62

até SÁB. 25 JUN.exposiçãoHOCHZEITde Eugénia RufinoMuseu da Horta

DOM. 12 JUN.festaARRAIALImpério da Ramada - Almoxarife - 18h

Gatafunhos Tomás Melo

Gatafunhos Tomás Melo

a partir de 5 NOV.exposiçãoEVOLUÇÃOresposta a um planeta em mudançaCentro de Interpretação do Vulcão

até 26 NOVexposição temporáriaA REPÚBLICA - IDEIAS E VALORESBiblioteca PúblicaSeg. a Sex. - 10h às 17h30

até 31 DEZ.exposiçãoAPROXIMAÇÕESde Jorge BarrosBiblioteca Pública - 18h

SEX. 12 NOV.Biblioteca PúblicamostraLABJOVEMBiblioteca Pública - 18h

TER. 16 NOV.cinemaO FIM DA LINHAde Rupert MurrayAuditório do DOP - 21h30

QUI. 18 NOV.lançamento do livroVIDAS SEPARADAS PELO MARde Sheila CalgaroBiblioteca Pública - 19h

SÁB. 20 NOV.recitalFLAUTA E PIANOTeatro Faialense - 21h30

DOM. 21 NOVcinemaTOY STORY 3de Lee UnkrishTeatro Faialense - 17h

cinemaSALTde Philip NoyceTeatro Faialense - 21h30

fazendus

8 11 a 25 NOV. 2010

Ilust

raçã

oTo

más

Silv

a

faial

HortaLegenda

Serviços Públicos1 - Cais de Embarque2 - Hospital3 - Posto de Turismo4 - Biblioteca5 - Museu6 - Câmara Municipal7 - Correios8 - Mercado Municipal9 - Piscinas Municipais

Percursos Pedonais1 - Sra. da Guia2 - Miradouro dos Dabney3 - Praia de Porto Pim4 - Monte Queimado5 - Da ribeira à Torre do Relógio6 - Parque da Alagoa

Comércio1 - Ourivesaria Olímpio2- ZON Açores3- Alberg. Estrela do Atlântico

1

2

3 4 5 67

8

9

1

23 4

5

6

1

2

3

Ourivesaria OlímpioLg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta

Tel. 292 292 311. [email protected]

Loja ZON AçoresRua de Jesus, Matriz, 9900 Horta

Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Calçada Santo António 1 9900-135 HortaTel. 292 943 003 [email protected] www.edatlantico.com

Agenda

8 9 a 23 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

AgendaJun.

Gatafunhos Tomás Melo

a partir de 5 NOV.exposiçãoEVOLUÇÃOresposta a um planeta em mudançaCentro de Interpretação do Vulcão

até 26 NOVexposição temporáriaA REPÚBLICA - IDEIAS E VALORESBiblioteca PúblicaSeg. a Sex. - 10h às 17h30

até 31 DEZ.exposiçãoAPROXIMAÇÕESde Jorge BarrosBiblioteca Pública - 18h

SEX. 12 NOV.Biblioteca PúblicamostraLABJOVEMBiblioteca Pública - 18h

TER. 16 NOV.cinemaO FIM DA LINHAde Rupert MurrayAuditório do DOP - 21h30

QUI. 18 NOV.lançamento do livroVIDAS SEPARADAS PELO MARde Sheila CalgaroBiblioteca Pública - 19h

SÁB. 20 NOV.recitalFLAUTA E PIANOTeatro Faialense - 21h30

DOM. 21 NOVcinemaTOY STORY 3de Lee UnkrishTeatro Faialense - 17h

cinemaSALTde Philip NoyceTeatro Faialense - 21h30

fazendus

8 11 a 25 NOV. 2010

Ilust

raçã

oTo

más

Silv

a

faial

HortaLegenda

Serviços Públicos1 - Cais de Embarque2 - Hospital3 - Posto de Turismo4 - Biblioteca5 - Museu6 - Câmara Municipal7 - Correios8 - Mercado Municipal9 - Piscinas Municipais

Percursos Pedonais1 - Sra. da Guia2 - Miradouro dos Dabney3 - Praia de Porto Pim4 - Monte Queimado5 - Da ribeira à Torre do Relógio6 - Parque da Alagoa

Comércio1 - Ourivesaria Olímpio2- ZON Açores3- Alberg. Estrela do Atlântico

1

2

3 4 5 67

8

9

1

23 4

5

6

1

2

3

Ourivesaria OlímpioLg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta

Tel. 292 292 311. [email protected]

Loja ZON AçoresRua de Jesus, Matriz, 9900 Horta

Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Calçada Santo António 1 9900-135 HortaTel. 292 943 003 [email protected] www.edatlantico.com

Agenda

festaARRAIALImpério do Divino Espírito Santo Flamengos - 21h

TER. 14 JUN.festaARRAIALImpério do Chão Frio Almoxarife - 18h

de QUI. 16 a SÁB. 18 JUN.encontroENCONTRO DO MUNDO RURALAgricultura, Pecuária, Exposições, Concursos, Empreendedorismo, Comércio, Indústria, Gastronomia e AnimaçãoQuinta de São Lourenço

exposição de fotografiaRAID FOTOGRÁFICO - VULCÃO DOS CAPELINHOSQuinta de São Lourenço

SÁB. 18 JUN.conferência BIODIVERSIDADE - METAS PARA 2020Biblioteca Pública - 21h30

concerto THE VELMANSQuinta de São Lourenço (Encontro do Mundo Rural) - 23h

DOM. 19 JUN.festaARRAIALImpério da Trindade - Almoxarife - 18h

festaARRAIALImpério da Trindade - Flamengos - 21h

SEX. 24 JUN. encontroCOMUNIDADE DE LEITORESBiblioteca Pública - 18h

QUI. 23 E SEX. 24 JUN.festividadesSÃO JOÃO DA CALDEIRALargo Jaime Melo