fatores condicionantes do crescimento de longo prazo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA DANIEL CAIXETA ANDRADE

FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONMICO DE LONGO PRAZO NA CHINA: ASPECTOS TERICOS E INVESTIGAO EMPRICA

Uberlndia Janeiro 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA DANIEL CAIXETA ANDRADE

FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONMICO DE LONGO PRAZO NA CHINA: ASPECTOS TERICOS E INVESTIGAO EMPRICA

Dissertao apresentada ao Programa de PsGraduao em Economia da Universidade Federal de Uberlndia como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Economia. rea de concentrao: Economia Orientador: Prof. Dr. Flvio Vilela Vieira

Uberlndia Janeiro 2006

Universidade Federal de Uberlndia

Daniel Caixeta Andrade

FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONMICO DE LONGO PRAZO NA CHINA: ASPECTOS TERICOS E INVESTIGAO EMPRICA

Dissertao aprovada em _____ de janeiro de 2006 para obteno do ttulo de Mestre em Economia. rea de Concentrao: Economia

Banca Examinadora:

____________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Flvio Vilela Vieira IE / UFU

____________________________________________________ Prof. Dr. Antnio Maria da Silveira IE / UFRJ

___________________________________________________ Prof. Dr. Clsio Loureno Xavier IE / UFU

A553f

Andrade, Daniel Caixeta, 1981Fatores condicionantes do crescimento econmico de longo prazo na China: aspectos tericos e investigao emprica / Daniel Caixeta Andrade. - Uberlndia, 2006. 137f. : il. Orientador: Flvio Vilela Vieira. Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia, Programa de Ps-Graduao em Economia. Inclui bibliografia. 1. Desenvolvimento econmico Teses. 2. China Condies econmicas, 1978-2003 Teses. 3. Econometria Teses. 4. Poltica cambial China Teses. I. Vieira, Flvio Vilela. II. Universidade Federal de Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Economia. III. Ttulo. CDU: 330.34

AGRADECIMENTOS A realizao de um trabalho nunca exclusivamente individual. Ela conta com a participao de vrias pessoas, as quais, direta ou indiretamente, contribuem para que o trabalho seja, enfim, apresentado no seu formato final. Em sendo assim, gostaria de deixar registrados os agradecimentos a algumas pessoas que para mim foram de fundamental importncia para que esta etapa fosse concluda. Em primeiro lugar, e acima de tudo, agradeo a Deus pelo dom da vida e por sempre me acompanhar em todos os momentos. Sua presena no pode ser apreendida pelo sentido humano, mas sim percebida pela sutileza da alma e do corao. Agradeo aos meus pais, Antnio e Dilma, e aos meus irmos, Eduardo e Mariana, pelo apoio incondicional. O suporte da minha famlia foi imprescindvel para que a minha estadia no mestrado transcorresse da maneira mais tranqila possvel. Mesmo que eu no retribua na mesma intensidade o carinho e a dedicao para comigo, estes me so oferecidos em qualquer circunstncia da minha vida. Gostaria tambm de agradecer ao Prof. Flvio, pelo empenho e dedicao na minha orientao. Seu domnio intelectual e suas sbias ponderaes foram imensamente teis para a finalizao deste trabalho. Alm do que, o clima de amizade presente nas nossas reunies fez da elaborao da dissertao um processo extremamente gratificante e de grande realizao pessoal. Agradeo, no plano institucional, ao Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia, incluindo todos os professores e funcionrios, pela infra-estrutura disponibilizada. Agradeo tambm a CAPES, pelo apoio financeiro. A Keila, um agradecimento especial pelo carinho, companheirismo e dedicao. T-la ao meu lado neste perodo foi essencial para que eu pudesse tirar de letra os momentos de maior angstia e ansiedade. A melhor maneira de agradec-la respeitando-a e retribuindo a cumplicidade que temos. A Prof. Eneida, um agradecimento especial pela amizade, apoio e orientaes sempre bem-vindas. As nossas conversas e os conselhos a mim passados foram relevantes para que eu amadurecesse pessoal e academicamente, alm do que suas caractersticas pessoais e profissionais so, para mim, exemplos a serem seguidos. Por fim, gostaria de agradecer a todos os meus amigos, especialmente aqueles que, por um motivo ou outro, se tornaram mais prximos durante a minha estadia em Uberlndia. Cito

nominalmente a Diana, a Luciana, o Tiago, a Fernanda, o Andr Marra e o Ronaldo, sem querer fazer injustia aos demais cujos nomes no citei, os quais, sem dvida, foram tambm grandes companheiros de estrada. No poderia me esquecer tambm dos amigos de longa data que ficaram longe, mas nunca ausentes, durante este perodo.

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RESUMO O principal objetivo desta dissertao analisar empiricamente a experincia de crescimento econmico na China no perodo 1978-2003. Partiu-se da hiptese de que existem vrios aspectos (condicionantes) do crescimento econmico chins das ltimas dcadas, dentre os quais se destacam as altas taxas de investimento (acumulao de capital fsico), a maior abertura comercial e financeira (estmulo s exportaes e atrao de investimentos externos), o regime cambial rgido (poltica cambial favorvel ao desempenho do setor externo da economia) e os investimentos em capital humano. Os procedimentos metodolgicos utilizados foram a anlise de regresso, a estimao de modelos VAR e o uso dos instrumentais da anlise de decomposio de varincia e das funes de impulso-resposta, alm dos testes de causalidade (Granger) e testes de cointegrao (Johansen). Os resultados obtidos apontam que o investimento e a taxa de cmbio foram os principais determinantes do crescimento econmico da China no perodo analisado, confirmando a hiptese inicial apenas para estas duas variveis. Estes resultados no indicam, porm, que a continuidade do crescimento da economia chinesa deve se assentar apenas sobre as polticas de acumulao de capital fsico e na poltica cambial. importante que se eleve a produtividade da economia atravs de investimentos mais eficientes em capital humano, alm do que preciso repensar a questo do cmbio, no sentido de que no esto claros quais sero os impactos de uma poltica cambial mais flexvel sobre o crescimento econmico do pas caso a China ceda s presses de flexibilizao de seu atual regime cambial. Palavras-chave: Crescimento Econmico, China, Econometria de Sries Temporais. ABSTRACT The main goal of this dissertation is to empirically analyze Chinas growth experience during the period of 1978 to 2003. We have started with the hypothesis that Chinas economic growth during the last decades can be characterized by different aspects such as the investment rates (physical capital accumulation), a higher degree of financial and trade openness (stimulating exports and attracting external investments), a pegged exchange rate regime (favoring export performance) and human capital investments. The methodological procedures used were regression analysis, the estimation of a vector autoregressive (VAR) models using variance decomposition and impulse-response function instruments, Granger causality tests and the Johansen cointegration test. The results suggest that investment and exchange rate are the main determinants of Chinas economic growth for the period considered, which corroborates the initial hypothesis for these two variables. These results can not be understood as an indication that the continuity of Chinas economic performance should be centered only on capital physical accumulation and exchange rate policies. It is important that China can increase productivity based on more efficient investments on human capital and to rethink exchange rate management in the sense that is not clear yet the future impact of exchange rate flexibilization on Chinas economic growth once it moves towards a more flexible exchange rate regime. Key-words: Economic Growth, China, Econometric Time Series.

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SUMRIO

Resumo.............................................................................................................................. Lista de Tabelas................................................................................................................ Lista de Figuras................................................................................................................. Introduo......................................................................................................................... Captulo 1: Modelos de crescimento econmico.............................................................. 1.1 O Modelo de Solow................................................................................................. 1.1.1 A hiptese da convergncia............................................................................... 1.1.2 Decomposio do crescimento econmico........................................................ 1.2 Modelos de crescimento endgeno.......................................................................... 1.3 Modelos de crescimento neoclssicos versus modelos de crescimento endgeno.. Captulo 2: Crescimento econmico na China: teoria e evidncias.................................. 2.1 Aspectos tericos e evidncias empricas................................................................ 2.2 Evoluo do comrcio exterior da China................................................................. 2.3 Poltica cambial e fluxos de capital na China.......................................................... Captulo 3: Anlise economtrica do crescimento econmico de longo prazo na China no perodo 1978-2003..................................................................................... 3.1 Fundamentao terica dos testes economtricos utilizados................................... 3.1.1 Sries temporais, estacionariedade e testes de raiz unitria............................... 3.1.2 Modelos de Auto-Regresso Vetorial (VAR).................................................... 3.1.3 Causalidade e o teste de Granger....................................................................... 3.1.4 Cointegrao e o teste de Johansen.................................................................... 3.2 Resultados Economtricos....................................................................................... 3.2.1 Anlise de Regresso......................................................................................... 3.2.2 Modelos VAR.................................................................................................... 3.2.2.1 Anlise de Decomposio de Varincia....................................................... 3.2.2.2 Funes Impulso-Resposta.......................................................................... 3.2.3 Testes de Causalidade de Granger..................................................................... 3.2.4 Testes de cointegrao de Johansen................................................................... Consideraes Finais......................................................................................................... Referncias Bibliogrficas................................................................................................ Apndices..........................................................................................................................

Pg. i iii v 1 3 3 16 17 18 31 34 34 58 67 80 82 83 87 90 91 93 93 95 96 99 103 104 109 115 122

iii

LISTA DE TABELAS

Pg. Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: Tabela 5: Tabela 6: Tabela 7: Tabela 8: Tabela 9: Tabela 10: Tabela 11: Tabela 12: Tabela 13: Tabela 14: Tabela 15: Tabela 16: Tabela 17: Tabela 18: Tabela 19: Tabela 20: Tabela 21: Tabela 22: Taxas de crescimento do PIB China, Brasil, Argentina, Estados Unidos e Mundo no perodo 1978-2003 (% ao ano)............................... Crescimento do PIB, do PIB per capita e da populao na China no perodo 1978-2003 (% ao ano)................................................................ Formao Bruta de Capital Fsico (FBKF) e taxa de poupana na China no perodo 1978-2003 % do PIB............................................... Destinao do total de investimentos em ativos fixos na China no perodo 1981-2003 (%)........................................................................... Gastos do governo chins com Cultura, Educao e Sade no perodo 1978-2003 (% do total de gastos do governo)......................................... Estudantes matriculados na escola secundria na China perodo 1978-2003 (% da populao total).......................................................... Gastos do governo chins com Pesquisa e Cincia no perodo 19782003 (% do total de gastos do governo).................................................. Trabalhadores nas reas urbana e rural na China perodo 1978-2003 (% do total de empregados)..................................................................... Composio do PIB da China no perodo 1978-2003 % do PIB total. Taxa de desemprego urbano na China no perodo 1996-2003................ Taxa de inflao e taxa de juros de emprstimo na China no perodo 1980-2003 em %.................................................................................. Grau de abertura e corrente de comrcio da economia chinesa no perodo 1978-2003 ................................................................................. Valor das exportaes e importaes chinesas e suas respectivas taxas de crescimento perodo 1978-2003...................................................... Destino das exportaes chinesas no perodo 1981-2003 milhes de dlares..................................................................................................... Origem das importaes chinesas no perodo 1981-2003 milhes de dlares..................................................................................................... Taxa de cmbio nominal (Yuan/US$) e ndice de taxa de cmbio real efetiva (2000=100) na China no perodo 1978-2003.............................. Reservas internacionais da China no perodo 1978-2003 (US$ bilhes correntes) ................................................................................................ Entrada de investimentos diretos estrangeiros na China no perodo 1978-2003................................................................................................ Critrios de seleo das ordens de defasagem dos modelos VAR.......... Primeiro VAR (1) Anlise de Decomposio de Varincia para TCPIBC................................................................................................... Segundo VAR (1) (primeira verso) Anlise de Decomposio de Varincia para TCPIBC........................................................................... Segundo VAR (1) (segunda verso) Anlise de Decomposio de Varincia para TCPIBC........................................................................... 37 38 43 44 45 46 48 49 54 55 57 60 61 62 63 68 74 76 96 97 97 97

iv

Tabela 23: Tabela 24: Tabela 25: Tabela 26: Tabela 27: Tabela 28: Tabela 29: Tabela 30:

Teste de Causalidade de Granger (uma defasagem) para as variveis envolvidas na anlise economtrica do crescimento chins no perodo 1978-2003 ............................................................................................... Teste de cointegrao de Johansen para o primeiro VAR (1)................. Teste de cointegrao de Johansen para TCPIBC, IDE e GAB.............. Teste de cointegrao de Johansen para TCPIBC, LTXC e GAB.......... Teste de cointegrao de Johansen para TCPIBC, KHEST e INOV...... Teste de cointegrao de Johansen para TCPIBC, KHGG e INOV....... Teste de cointegrao de Johansen para TCPIBC, LTXC e IDE............ Nmero de vetores cointegrantes dos testes de cointegrao de Johansen trace e max-eigenvalue ........................................................

103 105 106 106 107 107 107 108

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Figura 2: Figura 3: Figura 4: Figura 5: Figura 6: Figura 7: Figura 8:

Grfico de Solow........................................................................................ Grfico de Solow e a funo de produo.................................................. Grfico de Solow para o modelo AK.......................................................... Evoluo da participao do comrcio chins no comrcio mundial no perodo 1978-2003..................................................................................... Evoluo da relao Exportaes/PIB na China no perodo 1978-2003 (%).............................................................................................................. Funes Impulso-Resposta Primeiro VAR (1)........................................ Funes de Impulso-Resposta segundo VAR (1) (primeira verso)....... Funes de Impulso-Resposta segundo VAR (1) (segunda verso).......

Pg. 6 8 30 59 62 100 101 102

INTRODUO As reformas econmicas conhecidas como Polticas de Portas Abertas implementadas na China a partir de 1978 permitiram que este pas vivenciasse um dos mais formidveis processos de crescimento econmico j vistos, evidenciado pelas altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita, com mdias de 9,48% e 8,18% ao ano no perodo 1978-2003, respectivamente. Este excepcional desempenho econmico no apenas nico entre as economias de transio ao capitalismo, mas tambm tem se mostrado mais vigoroso que o crescimento econmico dos demais pases do leste asitico poca do chamado Milagre Asitico, entre as dcadas de 60 e 80. A pujana econmica da China vem despertando ateno na comunidade internacional no apenas pela sua intensidade, mas tambm pela relativa sustentabilidade de seu crescimento, concomitante a um perodo em que o mundo como um todo apresentou um crescimento econmico mediano. Alm do que, o conhecimento da realidade chinesa imprescindvel para se apreender as mudanas recentes na geopoltica mundial. Se, de um lado, a maior integrao comercial e financeira da China tem impactos sobre a distribuio dos fluxos mundiais de comrcio e de capitais, de outro, a sua crescente importncia econmica contribuir para mudanas na hierarquia de poder entre as principais naes, elevando a relevncia do continente asitico como plo dinmico do capitalismo contemporneo. Ademais, o fenmeno de crescimento econmico chins de crescente interesse acadmico, no sentido de se verificar terica e empiricamente os condicionantes da excelente performance econmica da China no perodo ps-reforma (ps-1978). Tendo este ltimo ponto em vista, o objeto de estudo desta dissertao a experincia de crescimento econmico da China e o objetivo central desenvolver uma anlise emprica do crescimento econmico de longo prazo deste pas, apontando para os seus principais determinantes no perodo 1978-2003. Para tanto, foram utilizados como procedimentos metodolgicos ferramentas da modelagem economtrica, como a estimao de modelos de regresso e modelos de auto-regresso vetorial (VAR), alm das anlises de causalidade (teste de Granger) e de cointegrao (teste de Johansen). A hiptese que norteou a realizao deste estudo de que existem vrios aspectos (condicionantes) do crescimento econmico chins nas ltimas dcadas, dentre os quais se destacam as altas taxas de investimento (acumulao de capital fsico), a maior abertura comercial e financeira (estmulo s exportaes e atrao de investimentos externos), o

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regime cambial rgido (poltica cambial favorvel ao desempenho do setor externo da economia) e os investimentos em capital humano. Para testar esta hiptese, incluram-se nos modelos estimados variveis de formao bruta de capital fixo (FBKF), grau de abertura comercial da economia (GAB), fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE), taxa de cmbio e proxies para capital humano e progresso tecnolgico, dentre outras, com a inteno de verificar o papel que tais variveis desempenharam na explicao da dinmica da taxa de crescimento do PIB per capita da China. O trabalho est divido em trs captulos alm desta introduo e das consideraes finais. No primeiro captulo apresenta-se um breve resgate terico sobre os modelos de crescimento econmico, concentrando a anlise nos modelos de crescimento neoclssicos (Solow) e nos modelos de crescimento endgeno (Romer). No segundo captulo, realiza-se uma discusso sobre as evidncias tericas e empricas do crescimento econmico na China, de forma a ressaltar as indicaes da literatura recente sobre o tema. Ainda no segundo captulo, apresenta-se uma discusso sobre a evoluo do comrcio exterior da China e sua poltica cambial, focando a anlise na questo da rigidez da sua taxa de cmbio e as presses para sua flexibilizao. O terceiro captulo refere-se anlise emprica propriamente dita, sendo que suas sees descrevem, inicialmente, o referencial terico sobre os testes economtricos utilizados e, em seguida, os resultados empricos obtidos pela anlise dos dados e estimaes. Por fim, as consideraes finais apresentam uma sntese dos principais resultados e encerram de maneira sistematizada as principais lies apreendidas com a elaborao deste trabalho.

3

CAPTULO 1: MODELOS DE CRESCIMENTO ECONMICO Este captulo apresenta uma breve reviso sobre as teorias do crescimento econmico. O objetivo o de resgatar o debate terico entre os modelos de crescimento neoclssicos, cujo principal representante o modelo de Solow (1956), e os modelos da chamada Nova Teoria do Crescimento, ou modelos de crescimento endgeno. A primeira seo traz uma resenha sobre o modelo de Solow em trs verses: sem tecnologia, com tecnologia e incluindo o capital humano. Ao final, encontram-se duas subsees, as quais apresentam uma rpida discusso sobre a hiptese da convergncia, segundo a qual haveria uma tendncia de estreitamento do hiato de renda entre os pases, e sobre a decomposio do crescimento. A segunda seo trata dos modelos de crescimento endgeno, cuja principal contribuio para a teoria do crescimento foi a de superar a principal limitao dos modelos neoclssicos, qual seja, a no modelagem do progresso tecnolgico. Os principais representantes deste ltimo tipo de modelo so Romer (1990,1994)1. Finalizando este captulo, uma terceira seo objetiva sistematizar as principais concluses que podem ser extradas da anlise dos modelos de crescimento econmico. 1.1 O Modelo de Solow Em primeiro lugar, apresenta-se a formalizao de uma verso simples de um modelo sem tecnologia. Em seguida, introduz-se uma varivel para o progresso tecnolgico e verificase as implicaes para o crescimento no longo prazo deste modelo com tecnologia. Finalmente, analisa-se a incorporao feita ao modelo de Solow de uma varivel para capital humano, a fim de que este possa melhor se ajustar s evidncias empricas. O modelo construdo em torno de duas funes fundamentais: a funo de produo e a funo de acumulao de capital. A funo de produo a Cobb-Douglas e mostra como os insumos capital e trabalho (K e L, respectivamente) so combinados para a gerao do produto (Y): Y = f ( K , L) = K L1

(1.1.1)

O desenvolvimento do modelo de Solow nas trs verses indicadas e dos modelos de crescimento endgeno est baseado em Jones (2000).

1

4

onde um nmero qualquer entre 0 e 1. Importante observar que a equao (1.1.1) representa uma funo de produo com retornos constantes escala2. Nesta economia, paga-se um salrio w para cada trabalhador e um aluguel r para cada unidade de capital arrendada, de modo que o custo total de produo dado pelo somatrio dos gastos com salrio e com aluguel das unidades de capital. A funo-objetivo ou o problema a ser resolvido dado como se segue:max F ( K , L) rK wLK ,L

(1.1.2)

As condies de primeira ordem para a soluo do problema acima exigem que o salrio real seja igual ao produto marginal do trabalho e que o preo do aluguel de cada unidade de capital se iguale ao seu produto marginal. Em termos formais:

Y F = (1 ) , L L Y F r= = K K w=

(1.1.3)

Considerando que y = Y/L e que k = K/L (produto por trabalhador e capital por trabalhador, respectivamente) tem-se que: y = k

(1.1.4)

Aplicando-se log definio de k, tem-se:log k = log K log L, k K L = k K L

(1.1.5)

A equao (1.1.4) diz que no modelo de Solow o produto per capita (y) funo do capital por trabalhador (k). Observe tambm que a referida funo de produo apresenta retornos decrescentes ao capital por trabalhador isto , a cada unidade adicional de capitalUma propriedade geral das funes de produo com retornos constantes escala que no se pode auferir lucro econmico. Em outras palavras, os pagamentos aos fatores exaurem totalmente o valor do produto gerado.2

5

fornecida ao trabalhador, o produto gerado por esse trabalhador cresce a taxas decrescentes. A equao (1.1.5) foi obtida atravs da regra prtica de derivar os logaritmos3, indicando que a taxa de crescimento do capital por trabalhador igual taxa de crescimento do estoque de capital menos a taxa de crescimento do trabalho. Por hiptese, considera-se que a taxa de participao da fora de trabalho constante e que a taxa de crescimento da populao dada por um parmetro n exgeno ao modelo. Logo, a taxa de crescimento da fora de trabalho tambm dada pelo parmetro n. Dado que o produto per capita uma funo do capital por trabalhador, resta saber como se d a acumulao de capital. Esta dada pela seguinte equao:

K = sY dK

(1.1.6)

onde K representa a variao no estoque de capital. Em termos mais formais, K a derivada do estoque de capital (K) em relao ao tempo, ou seja, a verso contnua no tempo de K t +1 K t . O termo sY representa o investimento bruto, sendo que s uma frao constante da renda que o trabalhadores/consumidores poupam4. O terceiro termo da equao (1.1.6), dK, representa a depreciao do estoque de capital que ocorre durante a produo, sendo que d representa uma frao constante do estoque de capital que se deprecia a cada perodo (independente da quantidade produzida). Combinando-se as equaes (1.1.5) e (1.1.6) pode-se reescrever a equao da acumulao de capital em termos de capital por trabalhador:

k sY = nd k K k sy = nd k k

(1.1.7)

Reescrevendo a equao acima, obtm-se a equao bsica de acumulao de capital por trabalhador:

Uma importante propriedade dos logaritmos a que diz que a derivada com relao ao tempo do logaritmo de uma varivel a taxa de crescimento dessa varivel. 4 Note que a renda total dos trabalhadores Y = wL + rK . Sendo a economia fechada, a poupana igual ao investimento e a nica utilizao do investimento nessa economia a acumulao de capital.

3

6

k = sy (n + d )k

(1.1.8)

As equaes (1.1.4) e (1.1.8) so fundamentais dentro do modelo de Solow. Isto porque a taxa de crescimento da economia isto , a variao do produto per capita funo da taxa de crescimento do capital por trabalhador. Esta, por sua vez, funo do investimento por trabalhador (sy), da depreciao do capital por trabalhador (dk) e do crescimento populacional, o termo nk. Em ltima instncia, Solow mostra que as diferenas nas taxas de poupana (que gera o investimento) e nas taxas de crescimento populacional explicam as diferenas nas taxas de crescimento entre os pases. A figura 1 abaixo representa o Grfico de Solow, onde so plotadas duas curvas como funes da razo capital/trabalho, alm da curva que representa a funo de produo em funo de k. Figura1: Grfico de Solow.y (n+d)k sy

k0 Fonte: Jones (2000)

k*

k

A curva sy o montante de investimento per capita. A curva (n+d)k representa o montante de investimento per capita que necessrio para manter constante o montante de capital por trabalhador. Observe que tanto o aumento da fora de trabalho quanto a depreciao tendem a reduzir o montante de capital per capita da economia.

7

Um processo de aprofundamento de capital se d quando a economia est aumentando seu montante de capital por trabalhador e que h um alargamento de capital quando o estoque de capital da economia est crescendo, sem, contudo, alterar o capital per capita (devido ao crescimento populacional). No ponto k0 da figura acima, o investimento por trabalhador superior ao necessrio para manter constante a relao capital por trabalhador. Inicia-se um processo de aprofundamento de capital, que continua at o ponto k * , onde sy=(n+d)k e k = 0 . Neste ponto, chamado de estado estacionrio, o montante de capital por trabalhador constante. Caso a economia estivesse inicialmente em um ponto direita de k * , o montante de investimento por trabalhador seria menor do que o necessrio para manter constante o capital por trabalhador. Nesse caso, o termo k negativo e, portanto, o montante de capital por trabalhador comea a cair, sendo que esta queda prossegue at o ponto k * . A tendncia existente para que a economia se mova para o ponto de estado estacionrio ilustrada pelas setas presentes no eixo horizontal do grfico. O grfico de Solow fornece, portanto, o valor do capital por trabalhador no estado estacionrio. Este valor, por sua vez, est associado a um valor do produto por trabalhador no estado estacionrio ( y * ) . A figura 2 abaixo inclui a funo de produo da equao (1.1.4) no grfico de Solow. Observe que o consumo por trabalhador dado pela diferena entre o valor de y * e o investimento por trabalhador no estado estacionrio ( sy * ) . Nesta verso simples do modelo, quando a economia atinge seu estado estacionrio, a taxa de crescimento do produto per capita se estabiliza5 - ou seja, o produto por trabalhador cresce at o ponto onde comeam a operar os efeitos dos retornos decrescentes da acumulao de capital. Mudanas nos valores dos parmetros do modelo produzem um choque na economia, deslocando o estado estacionrio e, consequentemente, reiniciando o processo de ajustamento da economia ao novo estado estacionrio6. Dentre estas mudanas, pode-se citar, por exemplo, o aumento da taxa de investimento e o aumento da taxa de crescimento populacional. O primeiro aumento desloca para cima a curva sy, aumentando o valor de capital por trabalhador no estado estacionrio. A economia se torna mais rica no sentido deNo significa dizer que o produto Y no cresa no estado estacionrio. Ele simplesmente o faz mesma taxa n de crescimento populacional ou da fora de trabalho. 6 A economia cresce ao longo da sua trajetria de transio ao novo estado estacionrio. Uma vez atingido este novo ponto, a taxa de crescimento da economia (taxa de crescimento do produto per capita) cessa.5

8

que o aprofundamento de capital ocorrido est associado a um produto per capita maior. J o aumento da taxa de crescimento da populao desloca para a esquerda a curva (n+d)k, diminuindo o estoque de capital por trabalhador do estado estacionrio. Neste ponto, a economia tem menos capital por trabalhador do que no incio e est, portanto, mais pobre. Figura 2: Grfico de Solow e a funo de produo.y y* sy* y = k (n+d)k sy

K*

k

Fonte: Jones (2000)

Uma expresso para o produto per capita no estado estacionrio ( y * ) pode ser obtida encontrando-se o valor do estoque de capital por trabalhador no estado estacionrio (k * ) . Para tanto, basta substituir a equao (1.1.4) na equao (1.1.8) e igualar a equao resultante a zero. Este procedimento resulta na seguinte equao:1 /(1 )

s k* = n+d

(1.1.9)

Substituindo a equao (1.1.9) na funo de produo tem-se o valor do produto percapita no estado estacionrio: /(1 )

s y = n+d *

(1.1.10)

9

A equao acima mostra o que o modelo de Solow diz sobre as diferenas em termos de renda entre as naes: pases com maior taxa de poupana/investimento tendero a ser mais ricos, ceteris paribus. Pases que possuem um maior volume de investimentos acumulam um maior estoque de capital por trabalhador que, por sua vez, est associado a um maior produtoper capita. Por outro lado, pases que tm uma maior taxa de crescimento populacional

tendem a ser mais pobres de acordo com o modelo de Solow. Isto porque uma elevada taxa de crescimento da populao requer uma maior taxa de investimento para que haja um aprofundamento de capital. De acordo com Jones (2000), as previses gerais do modelo de Solow parecem ser confirmadas por dados empricos. Isto significa que se sustentam as constataes retiradas do modelo de que taxa de investimento e taxa de crescimento populacional determinam em parte o desempenho das economias em termos de crescimento econmico. Esta verso simples do modelo de Solow, porm, no consegue explicar um fato emprico importante: as economias apresentam crescimento sustentado da renda per capita. Conforme visto at agora, o crescimento do produto por trabalhador cessa quando a economia atinge o seu estado estacionrio. Entretanto, quando se introduz o progresso tecnolgico no modelo, este capaz de gerar crescimento sustentado da renda per capita. Isto porque com o progresso tecnolgico as melhorias na tecnologia compensam continuamente os efeitos dos rendimentos decrescentes sobre a acumulao de capital. Em conseqncia, a produtividade do trabalho aumenta tanto diretamente, devido s melhorias tecnolgicas, quanto indiretamente, devido acumulao de capital adicional que estas melhorias tornam possvel (Jones, 2000). A funo de produo neste caso (com progresso tecnolgico) toma a seguinte forma:Y = f ( K , AL) = K ( AL)1

(1.1.11)

ou em termos de produto por trabalhador:y = k A1

(1.1.12)

onde A uma varivel de tecnologia, conhecida como aumentadora de trabalho ou Harrodneutra. O progresso tecnolgico ocorre quando A aumenta ao longo do tempo.

10

Uma hiptese importante que o progresso tecnolgico exgeno, o que significa dizer que a tecnologia disponvel para as empresas no afetada por suas aes, dentre elas as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Supe-se que A cresa a uma taxa constanteg isto , A = g. A

Em termos de taxa de crescimento, a equao (1.1.12) toma a seguinte forma:

y k A = + (1 ) y k A

(1.1.13)

A equao (1.1.13) mostra que no modelo de Solow com tecnologia a taxa de crescimento do produto per capita uma mdia ponderada da taxa de crescimento do capital por trabalhador e da taxa de crescimento do progresso tecnolgico. Como no modelo simples sem tecnologia, a economia apresenta uma tendncia de se movimentar para um estado estacionrio. Entretanto, devido introduo do progresso tecnolgico no modelo, a nova varivel que se modifica ao longo da trajetria de transio ao ~ estado estacionrio chamada de razo capital-tecnologia (k ) , cuja expresso matemtica :~ ~ ~ k K / AL ou k = k / A . A funo de produo em termos da varivel k dada por:

~ ~=k y

(1.1.14)

onde ~ Y / AL = y / A e conhecida como a razo produto-tecnologia7. Esta ltima razo y~ funo de k , cuja taxa de crescimento dada por:

~ ~ k = s~ (n + g + d )k y

(1.1.15)

~ No estado estacionrio, prevalece a condio k = 0 , que resulta em:

7

As variveis ~ e k , respectivamente, so conhecidas tambm por produto por unidade efetiva de trabalho e y capital por unidade efetiva de trabalho. Essas denominaes ilustram o fato de que o progresso tecnolgico aumentador de trabalho, sendo que AL o montante efetivo de trabalho empregado na produo.

~

11

~ s k* = n+ g +d

1 /(1 )

(1.1.16)

~ onde k * o valor da razo capital-tecnologia no estado estacionrio.

y O valor da razo produto-tecnologia no estado estacionrio ( ~ * ) dado por:

s ~* = y n+g +d

/(1 )

(1.1.17)

Finalmente, as implicaes para o produto por trabalhador so: /(1 )

s y (t ) = A(t ) = n+g +d *

(1.1.18)

Como se v pela expresso acima, o produto por trabalhador e a tecnologia so funes do tempo. Conclui-se tambm que o produto per capita determinado pela tecnologia, pela taxa de investimento e pela taxa de crescimento populacional8. A incluso de uma varivel para o progresso tecnolgico superou a limitao do modelo simples no sentido de que agora o modelo capaz de explicar o crescimento sustentado do produto per capita. No intuito de se examinar como o modelo de Solow com tecnologia revela que o progresso tecnolgico a fonte do crescimento sustentado do produto per capita considere a equao (1.1.13). Quando a economia atinge o seu estado estacionrio, ela entra em uma trajetria de crescimento equilibrado, na qual capital, consumo e populao crescem a taxas constantes. Se na situao considerada o produto per capita e o capital por trabalhador crescem mesma taxa (gy e gk, respectivamente), percebe-se atravs de (1.1.13) que y e k crescem, ambos, taxa do progresso tecnolgico ou seja, g y = g k = g . Assim, quando se introduz o progresso tecnolgico, k deixa de ser constante no longo prazo isto , quando a economia atinge o estado estacionrio ela entra em uma trajetria de crescimento equilibrado, onde o crescimento do produto per capita igual ao crescimento do progresso tecnolgico.8

Note que quando g = 0 e A0 = 1 (sem progresso tecnolgico) retorna-se verso simples do modelo sem tecnologia. Neste caso, no h crescimento do produto per capita no longo prazo.

12

Assim sendo, pode-se destacar o papel central que o progresso tecnolgico desempenha nos modelos de crescimento neoclssicos. Entretanto, ele considerado exgeno e estes modelos no so capazes de explicar os fatores que o determinam isto , ao no modelar o progresso tecnolgico, estes modelos expem a sua principal deficincia. Outros dois resultados interessantes que se pode tirar do modelo de Solow com tecnologia so que mudanas de poltica econmica que promovam, por exemplo, o aumento da taxa de investimento da economia, tm efeitos temporrios sobre a taxa de crescimento isto , mudanas de poltica no tm efeito de crescimento no longo prazo; e que uma mudana de poltica permanente pode aumentar (ou diminuir) permanentemente o nvel do produto per capita. Este fato pode ser compreendido supondo-se uma economia que esteja no seu estado estacionrio e apresente uma taxa de investimento s. Atravs de uma de poltica de subsdio permanente ao investimento, a taxa s aumenta permanentemente para s. Este aumento faz ~ com que a economia transite para um estado estacionrio mais alto, k ** , por exemplo. O aumento da taxa de investimento para s aumenta a taxa de crescimento temporariamente ~ enquanto a economia transita para o novo ponto k ** e, uma vez que g constante, o ~ crescimento mais rpido de k ao longo da trajetria de transio implica que o produto per capita se eleva mais rapidamente do que a tecnologia ou seja, y y > g . Este crescimento mais veloz continua temporariamente at a razo produto-tecnologia atingir seu novo estado estacionrio, momento em que a economia retorna a seu nvel de longo prazo g. Neste ponto, o nvel do produto per capita maior. Mankiw et al. (1992) avaliaram que as predies do modelo de Solow so, em uma primeira aproximao, consistentes com as evidncias empricas. Ao analisarem dados disponveis para um conjunto de pases9, concluram que a poupana e o crescimento populacional afetam a renda na maneira prevista pelo modelo de Solow. No entanto, o modelo no prev corretamente as magnitudes dos efeitos que a poupana e o crescimento populacional tm sobre a renda. Os autores argumentam que os efeitos da poupana e do crescimento populacional sobre a renda so muito elevados. Eles afirmam, ainda, que, devido a duas razes principais, a excluso de uma varivel que capte a acumulao de capital

Os dados utilizados na anlise de Mankiw et al. (1992) so da Real National Accounts, construdos por Summers & Heston (1988). O conjunto de dados engloba quase todos os pases do mundo (excetuando-se os de economia centralmente planificada) e cobre o perodo de 1960-1985. Os pases foram divididos em trs amostras, sendo que a primeira continha 98 pases, a segunda 75, e a terceira 22.

9

13

humano pode explicar o motivo pelo qual os efeitos da poupana e crescimento so superestimados. Primeiro, para qualquer taxa de acumulao de capital humano dada, maiores taxas de poupana e menor crescimento populacional conduzem a maiores nveis de renda e, por conseguinte, a um maior nvel de capital humano. Em conseqncia disto, acumulao de capital fsico e crescimento da populao tm maiores impactos na renda quando a acumulao de capital humano levada em considerao. Segundo, acumulao de capital humano pode estar correlacionada com poupana e crescimento populacional, o que implica que omitir acumulao de capital humano viesa os coeficientes estimados da poupana e do crescimento da populao. Baseados nesta argumentao, Mankiw et al. (1992) sugerem que para um melhor entendimento da relao entre poupana, crescimento populacional e renda preciso incluir a acumulao de capital humano no modelo, criando o que eles mesmos denominaram de modelo de Solow aumentado10. Alm disso, os autores reconhecem a importncia do capital humano no processo de crescimento econmico11. A funo de produo do modelo com acumulao de capital humano tem a seguinte forma, de acordo com uma funo Cobb-Douglas com retornos constantes: Y = K ( AH )1 (1.1.19)

onde A representa a tecnologia aumentadora de trabalho que, tal como na verso anterior, cresce a uma taxa exgena g, e H o trabalho qualificado. A acumulao de capital humano nesta economia se d pela deciso dos agentes entre dispender seu tempo na aquisio de novas habilidades e trabalhar. Descrevendo como u a frao constante e exgena de mo-de-obra empenhada no aprendizado de habilidades e como L a quantidade de trabalho (em geral), tem-se que o trabalho qualificado H gerado de acordo com a seguinte equao:

H = eu L

(1.1.20)

A proxy para capital humano utilizada no modelo de Mankiw et al. (1992) foi a porcentagem da populao trabalhadora que se encontrava no nvel secundrio de escolaridade nos anos cobertos pela anlise. 11 Lucas (1988) tambm incorporou a acumulao de capital humano ao modelo de crescimento neoclssico. Segundo este autor, era necessrio que se inclusse uma teoria de capital humano dentro do modelo para que se pudesse formalizar o modo pelo qual decises individuais de adquirir conhecimento afetam a produtividade.

10

14

onde o quanto aumenta H quando h um pequeno aumento em u12. A acumulao de capital fsico se d como na verso anterior do modelo, ou seja: K = s K dK (1.1.21)

onde s K a taxa de investimento em capital fsico e d a taxa constante de depreciao13. Reescrevendo a funo de produo em termos de produto por trabalhador obtm-se: y = k ( Ah)1 (1.1.22)

onde as variveis representadas por letras minsculas esto divididas pelo estoque de trabalho no qualificado L. Sendo u fixo, h tambm constante, uma vez que h = eu . Assim, o modelo resolvido ~ de maneira semelhante verso anterior isto , em termos das variveis ~ e k , sendo que, y~ no presente caso, ~ Y / ALh = y / Ah e k K / ALh = k / Ah 14. Tal como na verso anterior y

do modelo, a funo de produo e de acumulao de capital em termos das variveis de situao so expressas como se segue: ~ = k y (1.1.23)

~ ~ k = s K ~ (n + g + d )k y

(1.1.24)

Observe que as equaes acima so idnticas s equaes (1.1.14) e (1.1.15), de modo ~ que a dinmica do modelo com tecnologia tambm se aplica neste caso. Os valores de k e ~ y ~ no estado estacionrio (k = 0) so:

d log H . As evidncias empricas internacionais demonstram que a cada ano adicional du de escolaridade aumenta os salrios ganhos por uma pessoa aproximadamente em 10% - isto , = 0,10 .12

Formalmente,

=

13 14

No modelo, assume-se que o capital humano se deprecia mesma taxa do capital fsico. Essas variveis expressam as quantidades efetivas por unidade de trabalho levando-se em conta a varivel h (AL o montante efetivo empregado na produo). Para o modelo em questo, elas so chamadas de variveis de situao.

15

~ sK k ~ = n+ g+d y /(1 )

(1.1.25)

sK ~* = y n+g +d

(1.1.26)

Em termos de produto por trabalhador, a equao acima toma a seguinte forma: /(1 )

sK y (t ) = n+ g +d *

hA(t )

(1.1.27)

onde foi includo t para mostrar quais variveis esto crescendo ao longo do tempo. Esta ltima equao mostra os resultados do modelo de Solow incluindo a acumulao de capital humano: um pas ser to mais rico quanto maior a taxa de investimento em capital fsico, maior o tempo despendido em acumulao de habilidades (h = eu ) , menor a taxa de crescimento populacional e maior o nvel de tecnologia. Mais ainda, no estado estacionrio, o produto per capita cresce taxa do progresso tecnolgico, g, tal como na verso anterior do modelo. Mankiw et al. (1992) testaram o modelo de Solow aumentado (com capital humano) e concluram que ele capaz de explicar por volta de 80% da variao da renda entre os pases. Os autores ainda argumentam que esta verso do modelo fornece uma explicao quase completa do porqu de alguns pases serem ricos e outros pobres. Jones (2000) tambm afirma que o modelo de Solow muito bem-sucedido no que se refere a explicar a ampla variao da riqueza entre as naes, sendo que pases que investem uma grande parcela de seus recursos em capital fsico e na acumulao de qualificaes so ricos, enquanto que pases que falham em algum desses pontos tm menor potencial de crescimento. No obstante, o modelo de Solow aumentado ainda mantm o progresso tecnolgico como exgeno, o que o mesmo que dizer que o modelo ainda no capaz de explicar as diferentes taxas de crescimento existentes entre os pases, tampouco por que alguns pases investem mais do que outros e atingem nveis de tecnologia e produtividade mais elevados.

16

1.1.1 A hiptese da convergncia

Um tema frequentemente estudado por tericos do crescimento econmico a hiptese da convergncia, segundo a qual os pases pobres tenderiam a crescer mais rpido que os pases ricos e superar o hiato de renda existente entre estes dois grupos. Uma constatao importante que evidncias empricas parecem suportar a convergncia para pases ricos; mas, quando se analisa amostras maiores, verifica-se que no h convergncia e que o hiato existente entre pases pobres e ricos no est se estreitando. Os modelos de crescimento neoclssicos apresentam uma explicao para este fenmeno: para pases que apresentam estados estacionrios similares, a hiptese da convergncia se sustenta ou seja, os pases pobres crescero mais rpido, em mdia, do que os pases ricos. Isto , para pases ricos, nos quais os determinantes do estado estacionrio taxa de investimento e de crescimento populacional so semelhantes, espera-se que haja convergncia. Entretanto, quando se considera grandes amostras, dentro das mesmas encontra-se uma grande variedade de taxas de investimento, crescimento populacional e nveis tecnolgicos, o que faz com que a falta de convergncia seja previsvel, uma vez que nem todos os pases do mundo possuem o mesmo estado estacionrio15. Uma decorrncia importante da propriedade de convergncia dos modelos neoclssicos o princpio da dinmica da transio, segundo o qual quanto mais abaixo do seu estado estacionrio estiver uma economia, tanto mais ela dever crescer; e, quanto mais acima a economia estiver do seu estado estacionrio, mais lentamente ela ir crescer. Considerando que os diversos pases podem estar em diferentes pontos de suas trajetrias de transio aos respectivos estados estacionrios, este princpio explica a existncia das diferentes taxas de crescimento no mundo. A relao inversa entre o nvel inicial de renda e a taxa de crescimento prevista pelo modelo neoclssico pode explicar o rpido crescimento dos pases do leste asitico, principalmente Coria do Sul, Cingapura e Hong Kong. Mais recentemente, o rpido crescimento econmico da China pode ser atribudo, dentre outros fatores, ao baixo nvel de renda inicial deste pas, corroborando o princpio da dinmica de transio previsto pelos modelos neoclssicos. Em outras palavras, pases que so pobres tendo como referencial15

Crticos afirmam que os modelos de crescimento neoclssicos falham ao prever a convergncia entre pases ricos e pobres. No entanto, estes crticos esquecem que estes modelos apenas prevem convergncia para pases com estados estacionrios semelhantes. Alm disso, Mankiw et al. (1992) argumentam que o modelo de Solow prev convergncia apenas aps o controle dos determinantes do estado estacionrio, fenmeno este que deveria ser chamado de convergncia condicional.

17

seus estados estacionrios tendem a crescer mais rapidamente; e os pases do leste asitico citados acima so bons exemplos disso. Para Barro (1996), a propriedade de convergncia dos modelos neoclssicos deriva dos retornos decrescentes do capital. Economias que tm menos capital por trabalhador (em relao ao seu nvel de longo-prazo) tendem a ter maiores taxas de retorno e, consequentemente, maiores taxas de crescimento. A convergncia condicional porque os nveis de capital por trabalhador e produto per capita do estado estacionrio dependem, dentro do modelo neoclssico, da propenso a poupar que o mesmo que capacidade para investir, uma vez que a poupana canalizada integralmente para investimento , da taxa de crescimento da populao e da posio da funo de produo. Barro (1996) encontrou suporte emprico para a propriedade de convergncia condicional dos modelos neoclssicos de crescimento: para dados nveis iniciais do produto per capita, a taxa de crescimento de uma economia tanto maior quanto maiores os nveis iniciais de escolaridade, menor fertilidade, menor consumo do governo, melhor manuteno da lei e da ordem, menor inflao e desenvolvimentos nos termos de comrcio; e, para dados valores dessas e outras variveis, o crescimento negativamente relacionado com o nvel inicial do produto per capita. Foram usados dados para quase cem pases, observados no perodo de 1960 a 199016.1.1.2 Decomposio do crescimento econmico

Outro tema de grande interesse emprico o exerccio de decomposio do crescimento17. Solow (1957) postula a seguinte funo de produo, usada para a decomposio do crescimento em aumento do capital, aumento da mo-de-obra e aumento da mudana tecnolgica: Y = BK L1 onde B um termo de produtividade Hicks-neutro. (1.1.28)

16

Os dados utilizados e o detalhamento das variveis usadas nos modelos contidos em Barro (1996) podem ser visualizados no conjunto de dados de Barro & Lee (2000), disponvel no National Bureau of Economic Research (NBER). 17 No captulo 2 sero revistos alguns estudos empricos de decomposio do crescimento econmico recente da China.

18

Reescrevendo (1.1.28) tirando-se os logaritmos e derivando em relao ao tempo , obtm-se a seguinte expresso:

Y K L B = + (1 ) + Y K L B

(1.1.29)

A equao acima mostra que a taxa de crescimento do produto uma mdia ponderada do crescimento do capital e do trabalho mais uma taxa de crescimento do termo de produtividade (B). Este ltimo termo conhecido como produtividade total dos fatores (PTF) (ou crescimento da produtividade multifatorial) e considerado um resduo no clculo das fontes de crescimento. Uma interpretao desse termo do crescimento da produtividade total dos fatores que ele representa a mudana tecnolgica e, em termos da equao (1.1.11), B = A1 . De modo geral, na fase inicial do processo de crescimento dos pases, principalmente aqueles recentemente industrializados do leste asitico, a acumulao de fatores (capital fsico e capital humano) um determinante mais importante do que o crescimento da produtividade dos fatores. medida que essas economias atingem uma maior maturidade nos seus processos de crescimento, devido em parte aos efeitos de rendimentos decrescentes, o crescimento da produtividade dos fatores tende a se tornar a principal fonte do crescimento econmico isto , fatores de produtividade tendem a superar os fatores de acumulao ao longo do processo de crescimento econmico.1.2 Modelos de crescimento endgeno

Os modelos neoclssicos associam crescimento econmico com acumulao de capital (fsico e humano). Estes modelos tambm destacam a importncia do progresso tecnolgico, sem o qual no h crescimento de longo prazo18. Entretanto, ao no apresentarem uma modelagem do progresso tecnolgico, os modelos de crescimento neoclssicos no conseguem explicar as diferenas nos nveis de tecnologia entre os pases e os determinantes das melhorias tecnolgicas. Em ltima instncia, os modelos de crescimento neoclssicos no

18

Como visto na seo anterior, dentro dos modelos de crescimento neoclssicos a existncia de progresso tecnolgico explica o crescimento sustentado do produto per capita. Pode-se dizer, portanto, que a principal concluso destes modelos que o progresso tecnolgico o motor do crescimento.

19

conseguem explicar as fontes do progresso tecnolgico que pavimentam o crescimento econmico. A grande contribuio dos modelos de crescimento endgeno ou modelos da Nova Teoria do Crescimento est no fato de que eles procuraram construir um modelo de crescimento no qual a tecnologia no fosse tratada como exgena isto , um modelo no qual so includos os determinantes dos avanos tecnolgicos. Em outras palavras, a Nova Teoria do Crescimento tenta entender as foras econmicas que esto por trs do progresso tecnolgico. Dentro da teoria do crescimento, a tecnologia tratada como a maneira como os insumos so transformados em produto no processo produtivo, sendo que ela melhorada atravs das idias. Uma caracterstica distintiva das idias que elas so no-rivais e apresentam diferentes graus de exclusibilidade19, o que confere a elas aspectos de bens pblicos. Uma conseqncia decorrente do fato de que as idias so no-rivais que elas envolvem um custo fixo de produo e um custo marginal igual a zero. Isto significa que a economia das idias est estreitamente ligada existncia de retornos crescentes escala, sendo que, neste caso, ... a modelagem desses retornos crescentes em um ambiente competitivo com pesquisa intencional exige necessariamente a concorrncia imperfeita (Jones, 2000, p.66-7)20. Deve-se destacar tambm que um fato muito importante para a economia das idias e para o crescimento econmico foi o desenvolvimento dos direitos de propriedade intelectual, cujo aperfeioamento responsvel pelo crescente nmero de inovaes (Jones, 2000). Um insumo importante na funo de produo de novas idias so os recursos destinados Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)21. A possibilidade de auferir lucros econmicos com a inveno de uma nova tcnica de produo ou com o aperfeioamento de uma tecnologia j existente faz com que as empresas destinem um volume crescente de recursos P&D. A ao das empresas maximizadoras na busca de novas tcnicas de produo19

De acordo com Jones (2000), a maioria dos bens econmicos rival: o uso de um bem por uma pessoa exclui o uso do mesmo bem por outra. J o grau de exclusibilidade de um bem est relacionado capacidade de o proprietrio da idia cobrar uma taxa pelo seu uso. As idias so apenas em parte exclusivas; o que significa que elas podem gerar benefcios que os seus inventores no podem captar (externalidades). 20 Da microeconomia, sabe-se que com retornos crescentes escala, o custo mdio sempre maior que o custo marginal e, portanto, a fixao do preo pelo custo marginal resulta em lucros negativos. Se a deciso de produo de novas idias necessita da possibilidade de auferir lucro (igual a zero na concorrncia perfeita), necessrio que se considere a concorrncia imperfeita. 21 Na produo de novas idias podem ser usados outros tipos de insumos alm de recursos rotulados como P&D. Entretanto, estes ltimos so considerados aqui como os principais insumos na produo de novas idias.

20

cria o progresso tecnolgico e o processo de crescimento torna-se um resultado endgeno da economia22. Em outras palavras, o progresso tecnolgico decorre da busca de novas idias, na qual os inventores captam na forma de lucros parte dos ganhos sociais gerados pelas novas idias. O modelo aqui desenvolvido para representar a nova teoria do crescimento o modelo de Romer (1990)23, que como o modelo de Solow, traz dois elementos principais: uma equao de produo e um conjunto de equaes que descreve a evoluo dos insumos da funo de produo ao longo do tempo. A funo de produo dada por:Y = K ( AL y )1

(1.2.1)

onde Y o produto , K o estoque de capital, Ly o trabalho dedicado a gerar produto, um parmetro com valor entre 0 e 1, e A o estoque de idias. A funo de produo acima apresenta retornos constantes escala para os insumos capital e trabalho. Entretanto, ao considerar o estoque de idias A como insumo, a funo de produo passa a exibir retornos crescentes escala. Como visto anteriormente, a presena de retornos crescentes escala decorre da natureza no-rival das idias. A acumulao de trabalho e capital dada tal como nos modelo neoclssicos: o trabalho cresce exponencialmente a uma taxa exgena e constante n, enquanto que o capital se acumula na medida em que as pessoas poupam parte da sua renda (na proporo s K ) e se deprecia taxa exgena d:

L =n L K = s K Y dK

(1.2.2)

(1.2.3)

A grande novidade em relao aos modelos neoclssicos a incluso de uma equao que descreve a acumulao do estoque de idias A. Dentro do modelo, A(t) o estoque de

22

Para Jones (2000, p. 92), ... uma das contribuies importantes de Romer (1990) foi a explicao de como construir uma minieconomia de agentes maximizadores de lucros que torne endgeno o progresso tecnolgico. 23 Este modelo descreve o conjunto de pases avanados, onde o progresso tecnolgico movido por atividades de P&D. Trata-se, portanto, de um modelo que descreve o avano da fronteira tecnolgica.

21

idias ou o estoque de conhecimento adquirido ao longo da histria at o momento t. O termo A , por sua vez, representa o nmero de novas idias geradas em qualquer ponto do tempo. Na verso mais simples do modelo, tem-se a seguinte equao: A = LA

(1.2.4)

onde A igual ao nmero de pessoas que tentam descobrir novas idias, L A , multiplicado pela taxa qual elas descobrem novas idias, . A mo-de-obra pode dedicar-se gerao de produto ou de novas idias, de modo que vale a seguinte restrio de recursos:L A + LY = L

(1.2.5)

Quanto taxa qual os pesquisadores geram novas idias ( ) , h que se considerar dois pontos: primeiro, a gerao de novas idias no momento presente facilitada por descobertas j realizadas, sendo que, neste caso, funo crescente de A; segundo, a gerao de idias novas se torna cada vez mais difcil, uma vez que aquelas mais bvias e menos custosas foram descobertas primeiro. Neste ltimo caso, funo decrescente de A. Levando em conta este raciocnio, a modelagem da taxa de gerao de novas idias toma a seguinte forma:

= A

(1.2.6)

onde e so constantes, sendo este ltimo conhecido como parmetro de transbordamento de conhecimentos. Nesta equao, > 0 indica que a produtividade da pesquisa aumenta com o nmero de idias j geradas, < 0 indica que o processo de gerao de idias se torna cada vez mais difcil ao longo do tempo, e = 0 indica que a produtividade da pesquisa independe do estoque de conhecimento j adquirido24.

24

Supe-se que

< 1 e que haja efeitos de transbordamento de conhecimento.

22

Considerando que o aumento do nmero de pessoas envolvidas no trabalho de pesquisa aumenta a produtividade da gerao de novas idias ou seja, modelando L A = L , com A variando entre 0 e 1 obtm-se a seguinte equao para a produo de novas idias: A = L A A

(1.2.7)

Tendo em vista as equaes acima e considerando que uma frao constante da populao esteja empregada na gerao de novas idias, o modelo de Romer (1990), assim como os modelos neoclssicos, tambm atribui ao progresso tecnolgico a explicao para o crescimento do produto per capita. Representando as variveis per capita por letras minsculas, e denotando g x a taxa de crescimento de qualquer varivel per capita x ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, tem-se que g y = g k = g A . o mesmo que dizer que, ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, o produto per capita, o capital por trabalhador e o estoque de idias crescero mesma taxa, sendo que na ausncia de progresso tecnolgico no h crescimento sustentado na economia. O que os modelos neoclssicos no conseguiram explicar e que o modelo de crescimento endgeno tenta mostrar como se d o crescimento do progresso tecnolgico ao longo da trajetria de crescimento equilibrado. Reescrevendo a equao (1.2.7) e dividindo ambos os termos por A, tem-se: L A A = 1 A A

(1.2.8)

Ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, tem-se que g A ser constante se, e somente se, o numerador e o denominador do lado direito da equao acima crescerem mesma taxa. Tirando os logaritmos e derivando ambos os membros de (1.2.8) e considerando que o crescimento do nmero de pesquisadores deve ser igual ao crescimento populacional n, obtm-se a seguinte expresso para g A :

gA =

n 1

(1.2.9)

23

Sendo g A o determinante do crescimento, pode-se dizer ento que a economia cresce como funo dos parmetros da equao de produo de idias e do crescimento do nmero de pesquisadores que, em ltima instncia, dado pela taxa de crescimento populacional. A equao acima sugere que quando e so iguais a um e zero, respectivamente, o crescimento da economia funo apenas do crescimento populacional n. Diferentemente do modelo neoclssico, nos modelos de crescimento endgeno o crescimento da populao influencia positivamente o crescimento da economia, uma vez que este ltimo leva ao crescimento do nmero de pesquisadores empenhados na gerao de novas idias25. Quando = 1 e = 0 , a produtividade dos pesquisadores uma constante igual a , sendo tambm independente do estoque de idias geradas no passado. A funo de produo de idias aparece na forma de A = L A , sendo que quando L A constante, a economia gera um nmero constante de novas idias ( L A ) a cada perodo. Neste caso, a taxa de crescimento do estoque de idias cair ao longo do tempo, uma vez que o nmero de novas idias ser cada vez menor em relao ao estoque de idias que se acumula. Para que haja crescimento, o nmero de novas idias deve ser crescente ao longo do tempo. Como visto anteriormente, o crescimento populacional, por exemplo, permite que mais pessoas estejam envolvidas no esforo de pesquisa, assegurando um volume crescente de novas idias, sem o qual no h crescimento de longo prazo. H, contudo, uma verso do modelo de crescimento endgeno que capaz de gerar crescimento sustentado na presena de esforo de pesquisa constante. Considera-se, para tanto, que = 1 e = 1 , de modo que a equao (1.2.7) seja A = L A A . Reescrevendo esta equao para A = L A , v-se que essa verso do modelo gera crescimento sustentado na A

presena de um esforo constante de pesquisa. Nesse caso, Romer (1990) sups que a produtividade da pesquisa proporcional ao estoque existente de idias: = A . Esta verso do modelo, porm, no se sustenta empiricamente. Tendo em vista que L A cresce rapidamente ao longo do tempo, a formulao descrita por A A = L A sugere que a taxa de crescimento das economias avanadas deveria ter se elevado rapidamente nos ltimosConforme Jones (2000), a relao entre crescimento da populao e crescimento econmico sugerida por este tipo de modelo difcil de ser testada empiricamente, embora se tenha evidncias dessa relao. Um exemplo disso que o crescimento sustentado da populao um fenmeno relativamente recente, tal como o crescimento rpido e sustentado do produto per capita. Aumentos na taxa de crescimento populacional para nveis mais significativos parecem acompanhar, de modo aproximado, a Revoluo Industrial.25

24

quarenta ou cem anos, o que no est de acordo com as evidncias. Para evitar discrepncia entre a previso e as evidncias empricas dentro do modelo de crescimento endgeno, necessrio assumir < 1 , o que fica compatvel com a especificao da equao (1.2.9). Tal como no modelo neoclssico, dentro dos modelos de crescimento endgeno a taxa de crescimento de longo prazo no afetada por polticas que alteram a taxa de investimento, e nem mesmo por alteraes na parcela da populao envolvida em pesquisa. Isto se deve ao fato de que nenhum dos parmetros da equao (1.2.9) afetado por mudanas na taxa de investimento e na composio da mo-de-obra destinada gerao de P&D, por exemplo. Por conseguinte, pode-se afirmar que, mesmo aps a endogeneizao do progresso tecnolgico no modelo, a taxa de crescimento de longo prazo no pode ser estimulada por meio de polticas pblicas (Jones, 2000)26. Uma poltica pblica que resulte, por exemplo, no aumento permanente da parcela da populao destinada a gerar novas idias faz com que a taxa de progresso tecnolgico se eleve temporariamente, sem que ela o faa no longo prazo. O que acontece no longo prazo um aumento no nvel de tecnologia em conseqncia do aumento permanente da P&D. No estado estacionrio, a razo y A constante ao longo da trajetria de crescimento equilibrado e dada pela seguinte equao, semelhante (1.1.18): /(1 )

sK y = n+ g +d A A

*

(1 s R )

(1.2.10)

onde a presena do termo (1 s R ) expressa a parcela da populao que no se dedica pesquisa. Reescrevendo (1.2.8) como s L A = R , onde L A = s R L e = 1 ( s R a parcela da A A

populao dedicada P&D), ela pode ser resolvida, ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, para o nvel de A em termos de fora de trabalho. A equao resultante :

26

Barro (1996) afirma que a taxa de crescimento e o volume de invenes tendem a no ser Pareto timo, devido s distores relacionadas criao de novas mercadorias e novos mtodos de produo. Afirma ainda que nestes modelos o governo tem grande potencial de influenciar a taxa de crescimento de longo prazo por meio de medidas tais como taxao, manuteno da lei e da ordem, proviso de servios de infra-estrutura, proteo aos direitos de propriedade intelectual, regulao do comrcio internacional e dos mercados financeiros, etc. Segundo Jones (2000, p.88), os modelos embasados em idias nos quais as mudanas nas polticas possam aumentar a taxa de crescimento da economia repousam na hiptese de que < 1 , ou seu equivalente.

25

A=

s R LgA

(1.2.11)

Combinando a equao acima com (1.2.10), obtm-se: /(1 )

sR y (t ) = n+ g +d A *

(1 s R )

s RgA

L(t )

(1.2.12)

No lado direito da equao acima, o primeiro termo conhecido do modelo de Solow e concluses como a de que economias que investem mais em capital sero mais ricas permanecem vlidas. No segundo termo do lado direito de (1.2.12), o termo s R , que representa a parcela da populao destinada pesquisa27, foi introduzido para mostrar que, de um lado, mais trabalhadores na pesquisa significa menos trabalhadores na produo, e, de outro, que mais pessoas envolvidas em pesquisa implica em mais idias (efeito de oferta), aumentando a produtividade da economia. Alm disso, h ainda um efeito de demanda, ou seja, uma economia maior oferece um mercado maior para uma idia, aumentando o retorno pesquisa. Uma das deficincias das primeiras verses dos modelos de crescimento endgeno apontadas por Barro (1996) que eles no mais prevem a convergncia condicional, um comportamento que encontra forte regularidade emprica para dados de pases e regies. Para este autor, necessrio ento que se ampliem os modelos da nova teoria do crescimento, os quais modelavam apenas as mudanas ocorridas na fronteira tecnolgica. Modelos de difuso tecnolgica (Barro & Sala-i-Martin, 1995) mantm a propriedade de convergncia dos modelos neoclssicos. Isto , estes modelos combinam o crescimento de longo prazo das teorias de crescimento endgeno com o comportamento de convergncia previsto pelos modelos neoclssicos. Economias que estejam afastadas da fronteira tecnolgica crescem medida que os seus trabalhadores aprendem a utilizar os mais avanados bens de capital j disponveis. A funo

27

Para Jones (2000), dentro do modelo a parcela da populao que se dedica P&D no tima, devido s externalidades que a pesquisa produz e que o mercado no capaz de captar.

26

de produo destes modelos28 leva em considerao o nvel de qualificao dos trabalhadores (h), que determina a quantidade de bens de capital que a mo-de-obra pode utilizar29: Y = K (hL)1

(1.2.13)

O estoque de capital K acumulado tal como nos casos anteriores, ou seja, pela renncia do consumo: K = s K Y dK

(1.2.14)

Sendo s K a participao do investimento no produto da economia e d uma constante maior que zero que representa a taxa de depreciao. A acumulao de qualificao se d de acordo com a seguinte equao: h = e u A h1

(1.2.15)

onde u o tempo que uma pessoa destina acumulao de qualificaes em vez de trabalhar e

o ndice de bens de capital mais avanados inventados at o momento. Supe-se que > 0 e 0 < 1 . Dividindo ambos os lados dessa equao por h, obtm-se:

h A = e u h h

(1.2.16)

onde se torna mais fcil ver que quanto mais prximo da fronteira tecnolgica A estiver um bem, mais difcil ser o seu aprendizado. Pode-se dizer tambm, com base na equao acima, que quanto mais prxima de A estiver o nvel de qualificao de um trabalhador, menor ser a

28

A suposio implcita na verso do modelo de difuso aqui desenvolvida a de que um nmero determinado de idias est disponvel para uso de qualquer pas. A exigncia que se faz, porm, que os trabalhadores destes pases aprendam a usar as tcnicas mais avanadas j disponveis. 29 Diferentemente da anlise dos modelos neoclssicos, na qual se considerava a qualificao como funo dos anos de escolaridade, usa-se aqui um conceito mais geral para o termo. Considera-se a qualificao como sendo o conjunto de bens intermedirios que os trabalhadores aprenderam a utilizar. medida que este conjunto de bens cresce, a economia tambm cresce.

27

relao A h e menor ser a velocidade de acumulao de qualificaes. Supe-se que A se expanda a uma taxa constante g, ou seja, A A = g . Antes de examinar as equaes do produto e capital per capita ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, necessrio que sejam feitas algumas hipteses simplificadoras. Considera-se a taxa de investimento da economia e o tempo que as pessoas destinam acumulao de qualificaes em vez de trabalhar como sendo exgenos e constantes, o mesmo sendo vlido para a taxa de crescimento da fora de trabalho da economia. Ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, a taxa de crescimento de h deve ser constante. Essa taxa, por sua vez, determina a taxa de crescimento do produto per capita, y Y / L , e do capital por trabalhador, k K / L . Da equao (1.2.16) sabe-se que a h h ser constante se, e apenas se, A h for constante, de modo que h e A precisam crescer mesma taxa. Tem-se, portanto, que g y = g k = g h = g A = g , onde g x representa a taxa de crescimento da varivel x. A taxa de crescimento da economia dada pela taxa de crescimento do capital humano ou da qualificao e essa taxa de crescimento est condicionada pela taxa de crescimento da fronteira tecnolgica. A equao de acumulao de capital implica que, ao longo da trajetria de crescimento equilibrado, a razo capital-produto dada por:*

sk K = n+g+d Y

(1.2.17)

Substituindo esses valores na funo de produo, equao (1.2.13), depois de reescrev-la em termos de produto per capita, tem-se: / 1

sK y (t ) = n+ g +d *

h * (t )

(1.2.18)

Nas equaes acima, o sobrescrito (*) denota que as variveis se encontram na trajetria de crescimento equilibrado e t indica as variveis que variam ao longo do tempo. A razo entre o nvel de qualificao da economia e a fronteira tecnolgica determinada pela equao (1.2.16). Sendo g h = g , tem-se:

28

h u = e A g

*

1/

(1.2.19)

Pela equao acima, percebe-se que quanto mais tempo as pessoas destinam acumulao de qualificaes, mais prxima da fronteira est a economia. Substituindo (1.2.19) em (1.2.18), tem-se que o produto per capita ao longo da trajetria de crescimento equilibrado como funo de variveis e parmetros exgenos: / 11/

sK y (t ) = n+ g +d *

u e g

A * (t )

(1.2.20)

Como foi dito acima, na trajetria de crescimento equilibrado o produto per capita cresce no mesmo ritmo que a taxa de crescimento do nvel de qualificao da fora de trabalho, sendo que esta ltima, por sua vez, dada pela taxa de crescimento da fronteira tecnolgica. O primeiro termo da equao acima mostra que, como no modelo de Solow, economias que investem mais em capital fsico sero mais ricas, enquanto que economias que apresentam um maior crescimento populacional tendero a ser mais pobres. O termo seguinte mostra a acumulao de qualificaes: economias que destinam mais tempo aprendendo a usar bens de capital mais avanados esto mais prximas da fronteira tecnolgica e tendero a ser mais ricas. J o ltimo termo da equao reflete a fronteira tecnolgica mundial. Assim como nos modelos de crescimento neoclssicos, dentro da nova teoria do crescimento o progresso tecnolgico tambm o motor do crescimento. A novidade aqui que a mudana tecnolgica est modelada e o modelo capaz de explicar os seus determinantes, como ela gerada e como se d o processo de transferncia de tecnologia entre os pases, atravs do processo de aprendizagem do uso de bens de capital mais avanados, sendo que, implicitamente, sups-se que a tecnologia est disponvel para todas as economias30. At aqui, sups-se que mudanas de polticas tinham efeitos de nvel mas no mudanas de crescimento de longo prazo. Mais recentemente, vm sendo desenvolvidos modelos de crescimento endgeno nos quais mudanas de polticas podem influir na taxa de crescimento de longo prazo.30

Na verdade, a transferncia de tecnologia um processo muito mais complexo do que o aprendizado do uso de bens de capital mais avanados. Para uma discusso a esse respeito, ver Jones (2000, p. 111-112).

29

Para ilustrar como relativamente fcil a construo de modelos endgenos nos quais mudanas permanentes nas polticas dos governos geram mudanas permanentes nas taxas de crescimento da economia, apresenta-se, em seguida, a formalizao de um modelo simples, conhecido como modelo AK, facilmente deduzido a partir do modelo original de Solow sem tecnologia da primeira seo. Fazendo = 1 , a funo de produo da equao (1.1.1) se torna Y = K . Considerando que neste tipo de modelo comum representar o produto como sendo proporcional ao estoque de capital em vez de ser exatamente igual ao estoque de capital, tem-se a seguinte funo de produo para o modelo AK:

Y = AKsendo A uma constante positiva.

(1.2.21)

O capital acumulado quando as pessoas poupam e investem parte do produto gerado na economia em vez de consumi-lo:

K = sY dK

(1.2.22)

onde s representa a taxa de investimento e d a taxa de depreciao, ambas constantes. Como simplificao, supe-se que a economia seja povoada por uma nica pessoa, de modo que as variveis de estoque e per capita coincidem. Significa dizer, portanto, que n = 0 . A figura 3 abaixo mostra como fica o grfico de Solow para o modelo AK. A diferena em relao figura 1 da seo anterior que as curvas do grfico original agora so representadas por retas, o que resulta em crescimento permanente. Em outras palavras, o investimento total (sy) sempre maior que o investimento necessrio para repor a depreciao do capital (linha dk), gerando crescimento contnuo do estoque de capital (qualquer ponto direita de K 0 31). A explicao de como este modelo gera crescimento permanente est na presena de

retornos constantes acumulao de capital, o que significa que o produto marginal de cadaunidade de capital sempre A. Isso difere do modelo original de Solow, onde a acumulao de capital se caracterizava pelos retornos decrescentes e < 1 .31

O ponto K 0 arbitrrio e supe-se que ele representa o ponto de partida de uma economia.

30

Figura 3. Grfico de Solow para o modelo AK.

y

sY

dK

K0 Fonte: Jones (2000)

K

Dividindo-se os termos da equao (1.2.22) por K, tem-se que

K Y = s d e K K

substituindo a funo de produo nesta ltima expresso obtm-se K K = sA d . Finalmente, tirando o logaritmo e derivando a funo de produo, percebe-se que a taxa de crescimento do produto igual taxa de crescimento do capital. Assim:

gy

Y = sA d Y

(1.2.23)

A equao acima mostra um resultado fundamental do modelo de crescimento AK: a taxa de crescimento da economia uma funo crescente da taxa de investimento. Portanto, mudanas permanentes de poltica, no sentido de aumentar permanentemente a taxa de investimento, podem afetar a taxa de crescimento da economia no longo prazo. Ao se fazer

= 1 , h uma linearidade em K e o modelo acima gera crescimento endgeno.Segundo Jones (2000), um argumento contra o modelo AK (com = 1 ) que evidncias empricas sugerem que o expoente do capital cerca de 1/3, sendo que quando o conceito de capital ampliado para incluir capital humano e externalidades esse valor pode chegar a 2/3 ou 4/5. Adicionalmente, conforme Mankiw et al. (1992), modelos com funo de produo do tipo Y = AK no predizem convergncia de qualquer espcie entre os pases, o

31

que est em desacordo com a evidncia emprica a respeito desta hiptese. Significa, portanto, que a literatura recente sobre o crescimento econmico estabelece uma preferncia pelos modelos nos quais mudanas nas polticas governamentais convencionais so modeladas como tendo efeitos de nvel em vez de efeitos de crescimento, uma vez que esta ltima classe de modelo parece encontrar sustentao emprica. Conforme Barro (1996), os modelos de crescimento endgeno em geral, os quais incluem descoberta de novas idias e mtodos de produo, so importantes porque fornecem explicaes do crescimento de longo prazo. Entretanto, trabalhos empricos sobre crescimento

entre pases tm sido baseados nos modelos de crescimento neoclssicos. Em outras palavras,o que Barro (1996) tenta mostrar que os modelos de crescimento endgeno podem ser teis para explicar porque o mundo como um todo pode crescer indefinidamente em termos per

capita, mas eles tm pouco a dizer sobre a determinao das taxas de crescimento relativasentre os pases, um elemento chave estudado na maioria das anlises empricas.1.3 Modelos de crescimento neoclssicos versus modelos de crescimento endgeno

Neste captulo foram abordadas as principais vertentes da teoria do crescimento econmico: a abordagem neoclssica, ou dos modelos de crescimento exgeno, cujo representante aqui tratado foi o modelo de Solow (1956); e a da nova teoria do crescimento, ou dos modelos de crescimento endgeno, sendo o modelo de Romer (1990) a principal contribuio para esta abordagem. A principal diferena existente entre as duas classes de modelos abordadas nas sees anteriores est no tratamento dado ao progresso tecnolgico: para os modelos neoclssicos, este um processo exgeno economia; enquanto que, para a nova teoria do crescimento, este um processo endgeno. No obstante, os dois tipos de modelos enxergam no avano tecnolgico o motor do crescimento econmico. Outra distino entre os dois tipos de modelos est na suposio quanto acumulao de capital. Nos modelos neoclssicos, h a presena dos retornos decrescentes ao capital, enquanto que nos modelos de crescimento endgeno verifica-se a presena de retornos crescentes, dada a natureza de no rivalidade das idias. As trs verses do modelo de Solow analisadas (sem tecnologia, com tecnologia e incorporando o capital humano) mostram que um pas ser to mais rico quanto maior a taxa de investimento em capital fsico, maior o tempo despendido em acumulao de habilidades,

32

menor a taxa de crescimento populacional e maior o nvel de tecnologia. Adicionalmente, o produto per capita cresce taxa do progresso tecnolgico, g, quando a economia atinge seu estado estacionrio. Este modelo, porm, no consegue explicar a origem do progresso tecnolgico, limitando-se apenas a admitir que ele existe e que a fonte de crescimento sustentando das economias. Os modelos de crescimento endgeno, por sua vez, tentaram superar esta deficincia ao inclurem nos seus modelos os determinantes das melhorias tecnolgicas. Para estes modelos, a ao das empresas maximizadoras na busca de novas tcnicas de produo cria o progresso tecnolgico e o processo de crescimento torna-se um resultado endgeno da economia. Permanece vlida a concluso de que uma economia ser mais rica quanto maior for o seu investimento em capital (fsico e humano). O que h de novo que o esforo de pesquisa, ou seja, um maior nmero de pessoas se dedicando inveno de novos mtodos de produo capaz de afetar positivamente o crescimento econmico de uma economia. Sendo assim, o crescimento populacional, por exemplo, pode aumentar o nmero de pesquisadores em uma economia e trazer efeitos benficos para o crescimento. Uma importante concluso que se pode retirar dos modelos neoclssicos e dos modelos de crescimento endgeno com difuso tecnolgica a propriedade/hiptese de convergncia, segundo a qual pases que apresentam estados estacionrios semelhantes tendem a estreitar o hiato de renda existente entre eles. Em outras palavras, pases pobres tendem a crescer mais rpido que pases ricos, o que leva ao princpio da dinmica da transio, para o qual quanto mais abaixo do seu estado estacionrio estiver uma economia, tanto mais ela dever crescer; e, quanto mais acima a economia estiver do seu estado estacionrio, mais lentamente ela ir crescer. A atratividade desta propriedade est no fato de que ela encontra sustentao emprica. Barro (1996), por exemplo, encontrou evidncias em sua anlise de que o crescimento realmente negativamente relacionado com o nvel inicial de renda per capita. Tal constatao pode ser til ento para o entendimento das experincias de crescimento de alguns pases do leste asitico. Tais pases fornecem um bom exemplo de como economias que se encontram abaixo do seu estado estacionrio tendem a crescer mais rpido. Um resultado comum aos dois tipos de modelos ( exceo do modelo AK) analisados que mudanas de poltica no tm efeito de crescimento de longo prazo. Em vez disso, mudanas nas polticas afetam a taxa de crescimento ao longo da trajetria de transio para o novo estado estacionrio ao alterar o nvel da renda. Mesmo aps a endogeneizao do

33

progresso tecnolgico, o que os dois modelos mostram que a taxa de crescimento de longo prazo no pode ser manipulada por formuladores de polticas pblicas por meio de instrumentos convencionais, como os subsdios P&D. O que parece ser provvel que os governos podem contribuir para o dinamismo de uma economia, no sentido de que ele pode oferecer uma infra-estrutura adequada e um ambiente propcio para a realizao de investimentos. Alis, choques positivos na infra-estrutura de uma economia podem ajudar a explicar a existncia de milagres de crescimento. Mas, afinal, qual o melhor tipo de modelo para descrever o processo de crescimento econmico? A resposta que no h consenso sobre isso. Como afirmam Mankiw et al. (1992), o modelo de Solow no uma teoria completa do crescimento, uma vez que desejvel que sejam conhecidos os determinantes da poupana, do crescimento populacional e do progresso tecnolgico todos tratados como exgenos no modelo. No significa, porm, que a nova teoria do crescimento seja a ltima palavra em crescimento. Uma evidncia disso que anlises empricas recentes encontram-se mais baseadas nos velhos modelos neoclssicos do que nos modelos de crescimento endgeno. Para Sianesi & Van Reenen (2000), as evidncias sobre o debate modelos neoclssicos versus modelos de crescimento

endgeno so inconclusivas. Um ponto em comum nestes dois tipos de modelo que ambosprevem que a taxa de crescimento da produo funo da taxa de crescimento do capital humano.

CAPTULO

2:

CRESCIMENTO EVIDNCIAS

ECONMICO

NA

CHINA:

TEORIA

E

Este captulo tem como objetivo apresentar uma reviso da literatura recente sobre a China. Na primeira seo, so revistos aspectos tericos e empricos j consolidados sobre o crescimento chins. Na segunda seo, apresenta-se uma discusso sobre o comrcio exterior chins, enfatizando o grande crescimento das exportaes e importaes do pas a partir das reformas de 1978. Na terceira seo, apresenta-se uma discusso sobre a poltica cambial e os fluxos de capital na China. Tal discusso de extrema importncia para o entendimento do fenmeno de crescimento econmico na China, dado que a dinmica da taxa de cmbio e dos fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) inegavelmente contriburam para o fortalecimento dos fundamentos macroeconmicos da China.2.1 Aspectos tericos e evidncias empricas

Por mais de 20 anos, a economia chinesa vem apresentando uma extraordinria performance econmica, refletida nas altas taxas de crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB). Este robusto desempenho econmico apresentado pela China vem despertando interesse no mundo inteiro, de um lado devido capacidade de a emergncia chinesa provocar mudanas na economia mundial seja em termos de padres de comrcio, fluxos de capitais ou disputas geopolticas32 e, de outro, tambm devido ao interesse emprico que este fenmeno vem causando na comunidade acadmica e nos formuladores de poltica econmica. As origens do crescimento da economia chinesa esto nas reformas pr-capitalistas iniciadas em 1978, conhecidas como Poltica de Portas Abertas, implementadas sob a liderana ideolgica de Deng Xiaoping33. Desde ento, ficou evidente a mudana de32

Os impactos da emergncia chinesa nos fluxos de comrcio e de capitais refletem-se no fato de que o pas um grande mercado consumidor (de commodities, como o petrleo, por exemplo) e um grande atraente de capitais (mais adiante sero analisados alguns dados a este respeito). Quanto aos impactos geopolticos, pode-se afirmar que a emergncia chinesa favorecer a mudana de hierarquia de poder entre as economias do leste asitico e as demais economias do globo. 33 Deng Xiaoping nasceu em 1904 e entrou para o Partido Comunista Chins (PCC) em 1925. Em 1945 passou a integrar o Comit Central e, em 1956, assumiu a secretaria-geral do PCC. No ano de 1959 afastou-se de Mao Tse-Tung, fundador do partido e lder da Revoluo Chinesa de 1949, e foi perseguido durante a Revoluo Cultural (1966-1976), perodo conhecido pela defesa intransigente da ideologia socialista. Com a morte de Mao em 1976, Deng encontrou espao para a retomada de sua poltica de reformas, cujo gradualismo pode ser descrito por uma metfora a ele atribuda: tateando as pedras enquanto se cruza o rio.

35

concepo do Partido Comunista Chins (PCC) em direo ao desenvolvimento econmico (Story, 2004). Esta mudana do PCC pavimentou o caminho da transio do pas para uma economia cada vez mais mercantilizada e integrada, embora tenha havido uma clara opo pela manuteno de um regime poltico fechado e centralizado. Segundo Prasad (2004), as reformas na China podem ser dividas em cinco fases. A primeira, de 1978 a 1984, compreende as reformas rurais, caracterizadas por profundas mudanas nos setores agrcolas e no agrcolas e responsveis por uma grande elevao da produtividade no campo34. A segunda fase (1984-1988) foi caracterizada por reformas nos setores industriais urbanos, dentre as quais se incluem alguma liberalizao na fixao de preos e salrios nas empresas, introduo de taxao sobre as empresas e quebra do sistema de um nico banco. A liberalizao de preos provocou uma onda inflacionria e, na terceira fase (1988-1991), as autoridades reintroduziram os controles de preos e implementaram polticas contracionistas. Tais medidas foram eficazes no controle da inflao, mas produziram efeitos negativos para a economia como um todo, como grandes prejuzos no setor de estatais e aumento no volume de dbito entre as empresas. A quarta fase (1992-1997) foi caracterizada pelo retorno de algumas polticas de estmulo ao crescimento e a queda no ritmo de atividade da fase anterior foi superada. A ltima fase (1998 aos dias atuais) tem sido caracterizada por um aprofundamento na abertura da economia e por sua maior integrao economia mundial, caracterizada pela entrada da China na Organizao Mundial do Comrcio (OMC) em novembro de 2001. Segundo Sachs & Woo (1997), a tentativa de interpretar o rpido crescimento chins desde 1978 fez surgir duas escolas de pensamento: a escola experimentalista e a escola de convergncia. A primeira atribui o sucesso chins natureza evolucionista e gradual das reformas implementadas, enquanto que a segunda argumenta que a principal explicao para o crescimento chins est na estrutura econmica do pas no incio das reformas, alm do que as instituies chinesas esto rapidamente convergindo com aquelas presentes nos demais pases do leste asitico. Esta ltima escola, na qual estes autores se incluem, afirma que a China iniciou o perodo de crescimento acelerado com uma populao altamente concentrada em setores agrcolas de baixos salrios, uma condio extremamente favorvel para um crescimento voltado para a exportao de bens intensivos em mo-de-obra, condio esta que tambm estava presente na maioria dos pases do leste asitico.34

Segundo Sachs & Woo (1997), apesar do sucesso inicial das reformas rurais, o setor agrcola vivenciou uma queda no ritmo do seu crescimento a partir de 1985, devido, principalmente, s incertezas dos agricultores sobre o direito de uso das terras e algumas polticas adotadas pelo governo.

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A despeito das vises divergentes, estas duas escolas de pensamento consideram importante a expanso das instituies de mercado, a estabilidade macroeconmica, a integrao da China economia mundial, a reduo de barreiras ao desenvolvimento do setor privado e o estabelecimento de instituies que suportem o mercado. O debate existente entre as