faraway é sobre a distância, aquela entre pessoas, objetivos, · piso com meus pés indigentes o...

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Sergio Almeida.

cip-brasil. catalogação-na-fonte

Sindicato nacional dos editores de livros, rj a451c

Almeida, Sergio

Faraway / Sergio Almeida.

-1. ed.

rio de janeiro: 2017.

123p. inclui bibliografia

isbn 9781521439265

1.poesia brasileira. i. título.

11-4451. cdd:

869.98 cdu:

821.134.3(81)-8

18.07.1125.07.11028174

Faraway é sobre a distância, aquela entre pessoas, objetivos,

sonhos; aquela entre o que queremos e o que é possível,

entre o que ansiamos e o que precisamos. A distância entre a

necessidade de segurança e o impulso pela busca de

aventuras, entre o que somos e o que queremos ser, entre o

que fomos e o que vamos nos tornar; entre o que a vida faz

de nós e nós fazemos com ela.

A distância muitas vezes sobrepõem-se à nossa vontade,

obrigando-nos a contínuas e precipitadas mudanças de

planos. A sombra da austeridade reinante resulta numa

personificação das perdas. A intensa confusão, desvario e

desnorte nos empurram para situações que nos transformam

naquilo que precisamos ser, mais do que naquilo que

gostaríamos de nos tornar.

longe de ti desertos

são os caminhos

1.

caminho por campos noturnos,

vagueio entre muros soturnos,

cruzo esquinas de solidão

que sufocam a minha canção.

a melodia escapa no descompasso

do meu sorriso escasso:

me acompanham nesta invenção

meus passos e minha canção.

me perco em campos escuros,

ruas de imprevisíveis futuros,

me afogo na desunião

entre meus pés e a canção.

busco a música que existe

com sua melodia líquida e triste

nas pontas frágeis dos meus dedos,

nos meus lábios amargos de segredos.

2.

nada tenho

além desta vida

que me resta.

não existem caminhos,

somente meus pés

sobre o asfalto.

nesta rude viagem

que inicio

rumo ao desencanto

não há o que contemplar,

minha incerteza

é meu único guia.

fonte, fogo ou rosas,

o que me espera

além da noite?

3.

piso com meus pés indigentes o enigma

que o universo expõe e sobre o caos me apoio.

piso a manhã desmantelada sobre o asfalto

da cidade ruída.

queria percorrer a todo custo a origem

da admirável magia porém apenas me acovardo

e desmorono e tudo o que resta é a dissolução

do enigma que busco.

corpos

suados,

entrelaçados.

somos

apenas

um.

nesse meio tempo

me vejo errando

entre meias palavras:

black label,

marlboro red.

me vejo sonhando e isso dá medo,

perdido num mundo onde não posso entrar.

sou apenas mais um que você amou,

você está saindo da minha vida

mas o tempo custa a passar.

nesse meio tempo reli antigos versos,

revi fotos,

filmes que assistimos juntos,

conheci outras mulheres,

outros timbres, outros risos,

outros paraísos.

neste mundo desconexo sem você

meu silêncio desvenda meu sorriso vazio.

tempo perdido,

os anos vividos,

os tons de verde

das folhas das árvores

traduziam

minha solidão.

vida perdida

nos anos passados.

alegria furtada,

atirava-me ao abismo

como quem se atira ao nada.

coleciono agoras.

quem sou eu

senão uma metade

esperando outra parte

a implorar palavras

e um abraço que me solde

a um mundo que me molde

e me deixe livre,

que do amor não me prive?

no infinito dicionário

das palavras não ditas

me desfaço do discurso

para te encontrar.

caminho entre as cores austeras

desta rua de lembranças

nos jardins da memória.

caminho entre folhas rubras,

entre as azaleias de um sonho

sob as árvores nas calçadas.

pássaros em revoada

no azul do céu.

meu voo aprisionado.

verão silenciado

nos muros das casas.

meus caminhos tortos estão tingidos de sangue,

ferida aberta exposta ao mundo.

sou um ser ausente que no presente leva

o oco do corpo que um dia será pó.

a vida não é o infinito dos sonhos

mas um repositório de lembranças.

voo solitário, nada a dizer.

entre paredes geladas de granito,

escadas para o infinito,

sem nada compreender.

sempre inflexível, com meu julgamento inatingível.

envolto em concreto

com meus olhos que não enxergam o que veem.

restaram

estes olhos letárgicos

que não enxergam mais horizontes,

esta casa desmantelada,

estes poemas silenciados,

esta taça trincada,

esta familiaridade com o vazio,

repetitivo,

submisso,

esta escassez de palavras e vozes,

esta beatitude,

este corpo exausto de perseguir o não vivido

e esta alma descrente do eterno.

restaram

estas ruas onde caminho trôpego,

este medo de tudo,

esta aptidão em atirar

na lata de lixo

aquilo que já passou.

restaram

estas mãos fracas,

paradas e frias e mortas,

estes relógios

feitos de segundas-feiras,

estas pilhas de imposições

acordos, pactos,

esta falta de sono,

esta extrema unção.