fanzine 23 - outubro

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 Loja 1 Rua Antônio Martins, 625 - centro

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Jornal de Literatura de Nova Serrana, uma iniciativa dos escritores locais, sem apoio dos comércio de Nova Serrana

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5/10/2018 Fanzine 23 - Outubro - slidepdf.com

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Loja 1 Rua Antônio Martins, 625 - centro

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Editorial

Fanzine Entre Aspas - Infrormativo Sócio-Cultural de Nova SerranaExpediente

Redação: Rua Patrícia Lacerda Santos - Centro, Nova Serrana MG - Tiragem: Mil exemplares - Impressão: Gráfica GL Ldta -

Distribuição gratuita - Contato: 8805 - 6012 - [email protected]

Esta é uma publicação independente, fruto da união de escritores e poetas de Nova que têm o apoio da inicitiva privada local.

Todos os textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.

Foi numamanhã de

primavera, umdia cinzentoe triste, comnuvens baixase densascobrindo océu. Derepente, num

trecho deserto da estrada, rodeado demata, a tempestade desabou. A florestadesapareceu num grande dilúvio. O veículo

foi envolvido por quedas de água que osimpediram de seguir. Desviaram para umapequena estrada e pararam.

Depois de alguns minutos, como sealguém fechasse a torneira celestial, atempestade acabou. Então, um arco-íristraçou sua curva no céu, erepentinamente, sentiram-se dominadospor uma profunda sensação de felicidade,havia um lago, e no lago estava o fim do

arco-íris! Era como se aquele arco, devívidas cores, houvesse sido construídosó para eles. Mal podiam falar, tão grandeera sua alegria.

Nesse instante suas mãos seencontraram e puderam perceber amaravilha de estarem juntos, umsentimento de comunhão tão grande, comose o ar, o céu, as árvores e aquelas duascriaturas humanas, que estavam alisolitárias, fossem unidas numa espécie de

identidade única, inexplicável...

Depois dachuva...

Texto recebido por e-mail

 Descendente de imigrantes italianos, Sueli Restani nasceu em 1972, na Cidade de Bonfim, Minas Gerais. É formada em Magistério mas não exerce a profissão. Reside atualmente em Brumadinho - MG.

Sueli Restani

Durante cerca de sete séculos,as lutas dos gladiadores, entre siou contra animais ferozes, foramo espetáculo preferido dos roma-nos, que ao final de cada combatepediam com um gesto do polegar operdão ou a morte do lutadorferido. Gladiador era o lutador

profissional que se apresentavaem espetáculos públicos no Coliseue em outros anfiteatros do Impé-rio Romano. Eram recrutados paraas lutas prisioneiros de guerra,escravos e autores de delitosgraves, mas na época dos impera-dores Claudius I, Caligula e Neroa condenação à arena foi estendi-da às menores culpas, o que au-

mentou o interesse pelas lutas.Menos comum era que um romano

de alta posição social, mas arrui-nado, se alistasse como gladiadora fim de garantir a própria sub-sistência, ainda que de maneiraarriscada.

O primeiro espetáculo conhe-cido, em 264 a.C., no funeral de

Brutus, reuniu três pares delutadores. Trezentos pares seapresentaram no tempo de JuliusCaesar, no ano de 44 da eracristã. No ano 107 d.C., o impera-dor Trajanus tinha cinco milpares de gladiadores. Augustuspermitia a apresentação degladiadores duas vezes por ano elimitou seu número a 120 por

espetáculo.Vinte séculos mais tarde,gladiadores ainda se encontram,porém, não em uma arena, mas empraça pública. Suas armas não sãomais os gládius e sim pedras,porretes, cassetetes, bombas degás lacrimogênio.

O palco não é mais o Anfitea-tro Flaviano e sim as ruas, aveni-das, praças, o que ainda faz

lembrar a era dos confrontosmortais é apenas a política doPanem et circenses criada pelosantigos romanos e copiada por“Manoeus” “Paulus” , “Joeus” 

“diumas”. Os gladiadores não sãomais escravos; são policiais,professores, estudantes.

A luta não se resume em entre-tenimento e sim em uma luta por

mais direitos, qualidade de vida,segurança e justiça.

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Rita Lamounier

http://thirteenlies.blogspot.com/

Estou me sentindo inútil hoje.Incapaz seria a melhor expressão.Não vejo possibilidades de trazer-te devolta.

Temo perder-te e não dormirei em umacama tão grande sozinha.Sinto falta do que era, quando conheci.Matar-te acabará me matando, poisestamos conectados.Arrependo-me dos erros passadosQue ocasionaram tamanho caos em nossasvidas.Tenho medo de pensar no futuroSe levas o presente loucamente e assimnão consigo.

Me sinto incapaz, inútil.Não consigo fazer você sair daí.Volta! Volta para mim...Veja a luz dos meus olhos e descubraQue o amor pode ser apenas nós dois!Se você for, não sobrevivereiPertença a mim, apenas a mim...A mais nada, a mais ninguém.Ah! VidaQuão sufocada, quanto tenho chorado

buscado respostas e soluções.EntendaEsse mundo jamais poderá habitar o nossoPois o nosso se chama apenasAmor.

Depressão

Tamara Coelho

Algumas pessoas se sentem tristes aodescobrir que determinada lembrança nãoaconteceu de verdade, e sim nos teussonhos. Adoro sonhar com algo e acordarachando que realmente aconteceu aquilo.Quando a vida real não lhe proporcionaemoções assim, sonhar passa a ser umanecessidade. Eu sou do tipo de pessoa quedorme muito! Mas é muito mesmo! Meusamigos sempre riem disso. Mal sabem eles,o mistério que me faz adormecer.

Me perco nesse mundo sem medo doque vem pela frente, nada pode me ferir eeu acordo quando meu corpo decidir. Quemme dera a “vida real” tivesse essa magiade uma hora você poder acordar e sentir oalívio ou a dor de esse fato não ter

acontecido de verdade. Só de me imaginarsonhando com aquela pessoa que eu nãoposso ter de verdade, já me dá vontade deir pra cama.

Ao meu modo de ver, sonhar comalguém é quase um encontro entre duasalmas que marcam um passeio no meio danoite e se amam. Já que quando o solamanhece e os dois corpos se levantamelas por algum motivo não podem seencontrar.

Estaria mentindo se dissesse quetambém gosto de pesadelos, mas é comodizem “há males que vem para o bem”reflito sobre os pesadelos e confirmomais uma coisa que dizem por aí: “nada étão ruim que não possa piorar”. Por mais

ruim que minha vida ou meu emocionalesteja, sempre existe um pesadelo quevem e me mostra o quanto eu estaria pior

se eu perdesse aquela pessoa querida ouse eu estivesse caindo em um buraco.Engraçado até, mas é verdade.

Se todos passassem a prestar maisatenção nos sonhos e fantasias noturnaspoderiam descobrir muito sobre si mesmo,e até serem mais felizes com lembrançasdaquilo que nunca aconteceu.

O mundo dos mistérios

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Alguns territórios trazem consigo oestigma da crueldade e da loucura dos

antepassados que ali viveram. Marcasprofundas que o tempo é incapaz deapagar.

Vales imensos são condenados,amaldiçoados e interferem de formanegativa e direta no psíquico do que vemali morar, fazendo-os sofrerem as maisterríveis influências e perseguiçõesespirituais. Pessoas inocentes, que nadativeram diretamente com os fatos ali

ocorridos, acabam sendo punidas, porcapricho do destino, por coabitarem umaterra condenada.

Embora céticos e religiosos,crentes em determinado poder superiorindependente do título de seus deuses,defendem a não existência da expiaçãopós vida ou pós morte, mas todos concor-dam em uma coisa: algumas coisas sãoabsolutamente inexplicáveis.

A bíblia cristã, no livro deMateus capítulo vinte e sete, descreveque Judas Iscariotes, depois de trairJesus, arrependeu-se da traição e tentadevolver as trinta moedas alegando quementira e suplica pela libertação dopreso. Diante da recusa, espalha pelochão do templo as moedas malditas ecomete suicídio por meio de forca.

Os doutores da lei, recolhem asmoedas e, sabedores de que se tratava de

um dinheiro maldito, responsável por umatraição, pelo derramamento do sangue deJesus filho de Maria e do carpinteironazareno José e do próprio suicídio deseu traidor Judas, reconhecem que elas,as moedas, não devem se misturar com otesouro, donativos dos fieis e assim,

decidem comprar um terreno que denomi-nado Campo do Oleiro (possivelmente umlocal de extração de argila) e determinamque o local seja destinado ao sepultamen-to de estrangeiros, um cemitério para osmortos indigentes. Esse local passa a ser

reconhecido como uma terra maldita,terra do preço do sangue justo, e nela, sóhabitaria à partir de então, os pobres emiseráveis depois de sua morte.

No século XVI, O vale doAnhangabaú, ou na língua tupi anhangaba- y, era uma terra indígena. O vale recebeuesse nome devido ao rio homônimo. Seusignificado: Rio do malefício, da diabrura,do feitiço, do diabo.

As tribos que habitavam o local,

nativos da região e donos légítimos antesda chegado do povo branco europeu,batizaram o local com esse nome devido asuas crenças e conhecimentos popularesque acreditavam ser aquele lugar amaldi-çoado. O Pagés das tribos orientavamseus povos a não beber e nem se banharnas aguás do rio Anhangabaú, suas águaseram impróprias para o consumo poiscausava todo tipo de doenças a quem dela

consumia, ou até mesmo se banhava, fatoque quase veio a disimar seus povos.Segundo o povo indigina, o lugar

era habitado por Anhangá, uma terrívelcriatura que protegia a mata, o rio e osanimais que ali viviam.

Para o povo Tupi, o Anhangá seapresenta sob a forma de vários animais,entre eles galinha do mato, morcego,macaco, rato, humano mas principalmentecomo um veado branco com olhos de fogoe uma cruz na testa entre os olhos.Quando tem contato com algum humano,traz para quem o viu a desgraça e oslugares freqüentados por ele são ditosmal-assombrados. Ele protege ospequenos animais e plantas dos sereshumanos, ou seja, não deixavam nem osíndios caçarem para subsistência.

Com a chegada dos bandeirantesportugueses ao local, os índios que ali

habitavam foram tomados como escravos.Muitos bravos guerreiros, na tentativa dedefenderem o que era seu de fato e dedireito, resistiram e acabaram sendomortos. Após a brutal carnificina, seuscorpos foram jogados no rio Anhangabaúe levados pela correnteza impregnando

todo o local com seu sangue inocente.A terra, após a “pacificação”,

tornou-se chácara de propriedade doBarão de Itapetininga, conhecida como“chácara do chá”, hoje, “viaduto do chá”.Já no século 17, as pessoas usavam a água

do rio para lavar roupas e objetos e atémesmo tomar banho. Até o ano 1822 osmoradores vendiam chá e agrião por isso onome da chácara. Para chegar ao outrolado do morro, era preciso atravessar aPonte de Lorena, que em 1855 se trans-formou na Rua Formosa.

A urbanização só veio a partir doprojeto de construção do Viaduto do Chá,em 1877, que resultou na desapropriaçãodas chácaras que ficavam ali. Depois de

um período de descaso, o lugar foi jardi-nado, o rio, canalizado e, em 1910,tornou-se o Parque do Anhangabaú,dividindo a nova São Paulo da velha. Aprimeira grande reforma do espaço foinos anos 40 com a criação das ligaçõessubterrâneas às Praças Ramos deAzevedo e Patriarcas – hoje conhecidacomo Galeria Prestes Maia.

O centro é lugar de grande

agitação que cresceu tanto quanto acidade. Preocupada com a revitalizaçãoda área, na década de 80, a Prefeitura deSão Paulo organizou um concurso queresultou no novo visual do Vale. Jardins,esculturas e três chafarizes compõem oquadro charmoso do local.

Devido sua extensão, muitasmanifestações culturais ocorreram nesseendereço. A mais significativa foi oComício das Diretas Já, em 16 de abril de1984. Cerca de 1,5 milhões de pessoas sereuniram para o maior comício público dahistória brasileira.

Atualmente, o Vale doAnhangabaú recebe eventos diversifica-dos, incluindo muitas das atrações daVirada Cultural, maratona paulistana de24 horas de cultura pelos quatro cantosda cidade. Quem passa por lá tambémpode eventualmente presenciar

apresentações teatrais que às vezes sãoencenadas ali mesmo.

Localizado no centro, entre osViadutos do Chá e Santa Ifigênia, o Valereúne o prédio da Prefeitura de SãoPaulo, o Teatro Municipal, a EscolaMunicipal de Balé, o Conservatório

Anhangabaú

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5    5Dramático e Musical de São Paulo e umcampus universitário. É também rodeadopor grandes edifícios.

Quem mora ou passeia pelacidade não pode deixar de conhecer oVale do Anhangabaú. Além de ter muito acontar sobre a história paulistana, o

lugar é com certeza um dos mais beloscartões postais de São Paulo.

Mas e a maldição?O vale do diabo, como fora batiza-

do por seus primeiros habitantes trazconsigo a sina de ser o espaço brasileiro,palco das maiores tragédias do país.

Berço dos maiores arranha-céus dopaís, em sua volta está localizado cente-nas de prédios altos e alguns centenári-os, dentre esses são tidos como mal-assombrados o prédio dos correios, oteatro municipal, o edifício Martinelli,Edifício Joelma o Edifício Andraus alémda câmara dos vereadores de São Paulo.

É a única região urbana do Brasilem que se concentram tantos casossobrenaturais. Seria a ação do Anhangápunindo os seres humanos por teremdestruído toda a natureza em volta do rioAnhangabaú? Sensitivos afirmam que o

vale do Anhangabaú emite energia muitoruim, e que as tragédias ocorridas sãofrutos da absorção desta energia.

Luciano de AssisTexto introdutório do livro: “Os

mistérios do Vale do Anhangabaú”, com acolaboração de Neuza Guerreiro deCarvalho, professora, memorista e escritora  paulistana, octagenária, nacionalmenteconhecida como Vovó Neuza, a blogueira daterceira idade.

O menino bateu à minha porta às duashoras da tarde. Eu almoçava sem terfome, estava cansada e com medo de abrir.Quem me visitaria àquela hora? Quemlembraria de mim ali tão disfarçada? Eucujo endereço sempre fora a solidão.Eructei para dentro, pousei o prato e fuiabrir. Diante de mim, o menino segurava

sacolas plásticas. “Ah, sim!”, era omercadinho, “Entre”, eu disse sem que eleme compreendesse, afinal eu falava cheiade medo como uma menina imatura a quemarrancaram as meias na noite gelada ecujos pés ficaram nus, susceptíveis. Eurepeti que ele entrasse. O menino assen-tiu com a cabeça, tirou as sandálias comuma humildade que me constrangeu. Entroupisando levemente no tapete velho e

Sem endereço

http:/a-flor-do-campo.blogspot.com

Taylane Cruz

Texto enviado por e-mail.Taylane Cruz é natural de Aracajú - SE, faz faculdade de jornalismo pela UniversidadeFederal de Sergipe.

esperou que eu o coordenasse. Ordeneique pusesse as sacolas na mesa, mas nãoesperasse gorjeta. Era sábado, eu estavafeia, triste e de mau humor. Ele nãopareceu indignado, ao contrário, calçouas sandálias surradas e retirou-se, antesme desejando uma boa tarde. Fechei aporta com dureza, o punho doloridodaquela humildade tão plácida, aquelemenino tão generoso em seu amor. Eu fuitão rude, praticamente o expulsei daminha casa, sempre escondida atrás deminhas paredes. Poderia tê-lo convidadopara almoçar, seria lindo comer em sua

companhia, falaríamos ambos de nossasvidas, eu contaria a ele como fui feliz na

minha viagem a São Paulo, ele me diriacomo era bacana sua vida de entregador.Eu o deixaria beber quanta limonadaquisesse, havia litros na minha geladeira.Poderia lhe contar do sonho que tiveontem, deixaria que ele tocasse meucabelo, que me fizesse cócegas, eu estavaprecisando rir e ele seria minha via de

escape, meu subterfúgio. Visitaríamos ocoração um do outro. Ah! Seria mesmo umaalegria tê-lo como amigo, tê-lo ao meulado como um confidente. Juro que seriacapaz de revelar a ele meus mais profun-dos segredos, não haveria máscaras. Maseu não o convidei e por isso fechei aporta. Meu coração oxidado não poderiaamá-lo. Ele se foi sem sequer me dizer umnome, apenas aquele sincero boa tarde queme iludiu, encheu meu peito de uma coisa

meio perigosa, a esperança. Conferi assacolas que ele deixara sobre a mesa,havia um vidro de azeitonas, um quilo desal e doze potes de manteiga. O que eufaria com tanta manteiga? Só uma descul-pa para o menino ter de entregar minhascompras, uma mentira meio boba. Senteipara terminar meu almoço. Como todos ossábados, eu estava feia e comia sem fome.

[email protected]

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Cem dias sem laçosCapítulo XI - Dr. Lauro

Alberto nem tivera ainda tempo defalar. O Sr Lauro tinha uma terrívelnecessidade de falar o tempo todo.Parecia uma pessoa muito solitária, nãoobstante vivesse, segundo ele com aesposa.

 _ Anamaria sempre queixa-se de meu

silêncio. Diz que não converso com ela. Eusinceramente não acho sentido em ficarfalando de coisas corriqueiras. Ela sim,conversa sem parar: “aquela galinha ródiaestá choca, terá quinze ovos para chocar,a cabra Roxinha está para parir aqualquer hora, minha samambaia choronaestá com piolhos quando você for à cidademe traga algum produto que salve asminhas lindinhas.” Anamaria é muito

dengosa, sabe? Eu disse a ela: se forpulgões experimente aplicar uma calda defumo que eu sei a receita, se forcochonilhas use uma calda com óleo edetergente, que eu também sei a receita,se forem lagartas, apele para a cataçãomanual mesmo, e muito olho clínico. Eu seipor que sou advogado e sempre tivecolegas mulheres que falavam desses

assuntos amenos para disfarçarem osestresses forenses, mas Anamaria éturrona e quer porque quer esses

remédios inventados, modernos,caríssimos e de resultados duvidosos. Ésó esperar uns quatro dias depois dacalda, e dar um banho de chuveirinhonelas, bastante água fria. No caso dasavencas, é bom tentar o banho antes dascaldas, porque são mais sensíveis. Mas elanão me escuta Sr Alberto. Mulher é assimmesmo. O senhor é casado?

 _ Sim, Dr. Lauro, eu sou casado.

Minha mulher Ângela está fazendo umaperegrinação pela Europa.O velho pareceu não entendê-lo,

absorto em uma repentina preocupação: _ Meu Deus, que será feito do

Tolstoi? Se o diabinho some nem precisovoltar para casa, que Anamaria vai querercomer meu fígado. Faz favor, meu rapaz.Me ajude a ficar de pé.

Alberto ergueu-se e deu a mão aovelho que se sustentando com a outra mãona bengala, e com certo custo de ambos,pôs-se de pé, pondo-se a gritar a plenospulmões:

 _ Tolstoi? Tolstoi? - E dirigindo-se aAlberto: é nosso cachorro. Anamaria quischamá-lo de Totó. Eu achei muito ridículo,então comecei a chamá-lo de Tolstoi e elegostou mais do nome russo, especialmentequando eu falo Leon Tolstoi. Ele balança orabo e chega a sorrir. – E elevando

novamente a voz: Leon Tolstoi? Ô,Tolstoi?

Não tardou e apareceu um cãozinhoraquítico, nanico, comprido e peludo, meiopoodle, meio basset, completamente vira-lata, preto com muitos fios brancos sob ofocinho, Lembrando mesmo o genialescritor russo. Olhou para Alberto erosnou. Aquietou-se a uma interjeição do

dono. _ È nosso amigo, Toltoi. Vai almoçar

conosco hoje. Não é isso mesmo SeuAlberto?

Era um convite, que Alberto pesoucautelosamente: iria esperar porSabonete até a tardinha, não tinha nada

para fazer, não sabia de recursos aindapara fazer uma refeição decente. Aindalembrou-se da conversa de Isac sobre achamada Providência. Era isso. Não tinhapor que recusar:

 _ Anamaria não vai se incomodar? _ É claro que não! O misantropo lá em

casa sou eu. Anamaria adora quando temalguém além de mim para quem servir umde seus pratos.

Empreenderam uma lenta caminhadapelo meio da vegetação das margens do rioaté que saíram num descampado onderepousava à sombra de um pequizeiro umavalha Parati vermelha. Era mesmo o carrode um homem que já se desvencilhara dasgarras da vaidade. Estava destrancado, osvidros abertos. Havia lama nas rodas epoeira na lataria queimada de sol. No póque se acumulara no para brisa estavamas marcas dos limpadores com riscos

comprobatórios do desgaste dasborrachas e da falta de manutenção.

 _Não repare, meu rapaz. Entre aí efique tranqüilo. Este seu amigo sempernas é um excelente motorista.

Entraram. Tolstoi acomodou-se noassoalho entre os pés de Alberto, jáquase íntimo. Sr. Lauro, com muitadificuldade e não poucos gemidos eimprecações, sentou-se ao volante,

depositou a bengala no banco trazeiro e ocaniço de pescar com o pé sobre o portamalas e a ponta saindo pela janela. deu apartida, ajeitou o chapéu de palha.Engatou uma ré e manobrou realmente comperícia o velho VW.

 _ Pelo que eu entendi você estáseparado da esposa.

O comentário repentino e inoportuno

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La diabla

Não foi da responsabilidade denenhuma maçã, muito menos da serpente, onascimento do pecado ordinário queaumentou seu capital.

Local: Ladário, cidade fronteira comCorumbá.

Ano: aproximadamente, 1975.Um rosto lindo: oval, pele branquinha,

impecável, pêlos negros e lisos, franjinharessaltando ainda mais seus lindíssimosolhos verdes. Vinte ou vinte-e-doisanos.Una peintura! 

Seu corpo... bem, ele já havia vistooutros melhores. Mas o que realmentevalia, éque na cama seu desempenho eracomo o de alguém queprecisasseaproveitar todos os momentosfinais do planeta condenado.

Pelo que ele me contou durante umporre de Gin, ela era o lado mais cavadoda calcinha.

— Y aún la diabla murmurava dulces

palabras castellanas en mis oídos! Todomuy exhaustivo, puesto que drenava alhombre el total de sus sugos, además desu energía vital. Pero, Diós lo sabe, comoera buena!

O marido insuficiente dividia a mesmaopinião com Deus e o mundo. Só nãoconcordava com a generosidade da esposa,que distribuía sua sofreguidão entre os

Texto recebido por e-mail

Professora especialista em recursosaudiovisuais, artes cênicas e administradorade empresas. Trabalhou na Divisão de Multimeios da Educação na Secretaria deEducação e Cultura do Rio de Janeiro, com projetos ligados a cinema, teatro, música e

Rosa Pena

escolhidos. O consorte azarento acredi-tava realmente que a fartura de jóias comque a diabla se enfeitava, vinha dosponchos que ela fazia para vender prosgringos. Que as rendas pretas, usadas pordebaixo dos artesanais vestidos, erampara seus olhos de cânhamo. Os perfumes

de alfazema, fabricados apenas para seunariz de vinagre.

Daí o súbito e ruidoso arrombamentoda porta da alcova num início de noitepelo dono do chifre, que também era donodo bar que ia até às tantas. A escapadado guerreiro (nu) na noite gelada, por uma janelinha pela qual mal passaria um gatomagro, driblando no jardim mil roseiras jádespidas de folhas e flores, a gritaria, os

vários tiros, a agulhada da penetração doestilhaço na perna, a invasão apavoradada única farmácia da cidade, o retornourgente para o Rio de Janeiro, a medalhade honra ostentada na coxa esquerda,para os netos que adoravam suas históri-as de major maioral.

— É big, é big, é big big boy! Vovô éum herói! Herói, herói, herói!

Grande à vera foi a pensão querecebeu das forças armadas pela bravura

em nome da pátria. Afirmou até a morte,que deu tudo de si na Araguaia. Que deutudo de si, deu mesmo, só se esqueceu decolocar um “P” antes do nome da guerri-lha. Gostosa a muchacha made in Paraguai.

No seu enterro apareceram maisduas chicas aos prantos. Pelo visto ocompanheiro tinha um grande mensalãodentro da cueca: viva o Brazil! 

merecia uma reflexão. Estava ou nãoestava?

 _ Não, Sr Lauro. Minha mulher estáviajando. è uma viagem de cem dias. Estouaproveitando para dar umas voltas a meu jeito.

 _Não acha difícil ficar tanto tempo

sem mulher?O velho era ladino e aquela pergunta

era um tanto capciosa. resolveu brincarcom ele:

 _ Ficar sem mulher eu não achodifícil, Dr Lauro. O que não é fácil éficar sem a minha mulher. Sintosaudades, sim. Se é isso que o senhorperguntou.

Dr Lauro o olhou por cima dosgrandes óculos e riu gostosamente,enquanto reduzia a marcha para subir umaladeira pela estradinha de terra. Tevenovo acesso de riso como que sereiterando da comicidade do assunto.

 _ Você é ótimo, meu amigo! Muitoperspicaz. Anamaria vai mesmo gostar devocê.

Chegaram a uma delicioso recanto aopé de uma montanha. havia uma casinhabranca com um pátio gramado á frente.

Algumas mangueiras formavam um poucomais à frente um aprazível sombreadoonde haviam duas redes armadas, umbanquinho de tabuas e uma mesa demadeira tosca. Por toda parte onde seolhasse haviam flores plantadas. Muitasflores. Dr Lauro estacionou a velhaParati, tomou mais um trago do seu cantil,acendeu um cigarro e antes de sair docarro comentou:

 _Você disse muito bem, rapaz. Ficarsem mulher é fácil. Difícil é ficar sem amulher da gente. Estou casado háquarenta e seis anos, acho que já tecontei, mas velho tem mesmo mania derepetir, e nunca, nunca mesmo, tive outramulher durante esse tempo. E vou lhedizer uma coisa. Um homem casado e fiel équase um celibatário...

E foi aí que Dr. Lauro disse aquelafrase tão conhecida de Alberto:

 _ Eu penso assim. E você?

Carlinhos Colé Leia outros textos deste autor no site:www.recantodasletras.com.br 

 Leia na próxima edição: Cap. XII 

[email protected]

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Maria Helena

Carla Cardoso

http://1cantomeu.blogspot.com

Vall Duarte

http//vallduarte.blogspot.com

8    8

E cravou em mim seu olhar de breu;agora vazio e oblíquo.Nervosamente, o pé agitava a poeirado cimento, onde faltou o asfalto.Eu continuava mudo.Mas, como assim?

No bolso de sua carteira, escondido.A raiva vazada.Saiu em fúria pela rua.Foi-se mesmo.Minha carteira curiosa, no bolsinhopequeno(o menor).Um bilhetinho azul.“O” bilhetinho.Sem data, com letra de mulher.Só consigo rir.Datava na memória de cinco anos atrás,trêsantes de conhecê-la...Chutei o ar. Fui-me.Congratulei-me pelo Dia do Homem.

Bilhetinho!?

era seu rosto na lembrança

no escuro da noite passadatão nítido que a pupila dilatavaaos detalhes dos traços, da facelímpida e pura aos olhos meus

e o rosto pedia calmaera feito um grito da alma

mesmo com um sorrisoo rosto implorava abrigo.A alma quando carece

proteger-se do perigochega pedindo aconchegode um jeito ou de outro...

Presença

Aprendi neste intervalo de tempoque o coração muitas vezes é refém do

que esperamos dele. Que nas idas evindas do viver ou até mesmo do morrer,nos tornamos cúmplices do que esconde-mos, esperando que os nossos atos quepor nós julgamos bons o bastante nostransformem em heróis ou que o nossomodelo seja entendido, compreendido ereconhecido pelos outros.

Porém, nós nos esquecemos deconciliar as vontades e de medir os

desejos, navegamos constantementerumo ao que entendemos ser a tal dafelicidade, então, penduramos os nossosrelógios velhos e nossas bússolasenferrujadas perto da janela da nossaalma, assim o tempo passa e a fome deviver aumenta, vivendo apenas no pilotoautomático.

É preciso rever os nossos anseios,ver o que há por trás das montanhas queos nossos olhos ainda não conseguem

enxergar. É com um ar de revelação queexponho o que sitno, na raiz sensivel dequem experimenta as formas, desde asbásicas até as mais complexas, e dilatao que concluo na ponta do lápis ou notrilhar das lembranças, querendo queelas se concretizem, deixando que aspalavras simbolize-as.

Penso que escrever seja mais quetecer palavras, pra mim, é recriar o que

existe daquele sentimento reservado etambém solidificar a miragem quetentamos enxergar, no que consideramosde mais bela no interior de cada um.

Expulsivo

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CartuchosCartuchosCartuchosCartuchosCartuchos

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Era mês de Março, a piracemaacabou e a temporada de pesca tinhaacabado de ser liberada. Nós pescadoresadoradores da prática, logo marcamos anossa pescaria, dessa vez queríamos ir aum rio chamado “samurá”, rio cujanascente fica ao lado da nascente do RioSão Francisco e que muita gente na regiãodiz, que o verdadeiro Rio é o Samurá e queo São Francisco lhe roubou a fama.

Nossa pescaria estava marcada econfirmada, sairíamos as cinco horas damanhã de sábado, com a previsão dechegada no local do acampamento para asnove horas, ficaríamos pescando até odomingo as treze horas, ondealmoçaríamos, e levantaríamosacampamento, com a chegada prevista paradezoito horas.

Mas, como todos que saem prapescar sabe, deu tudo errado. Tudo que se

combina nada dá certo. Quandoconseguimos sair já eram quase sete etrinta, chegamos na cidade de Bambuí, asdez horas e propriamente no barraco ondeacamparíamos quase ao meio dia. Aquiloali, o humor já tinha saído pela janela do

carro para a poeira entrar, o maismoreninho de nós naquela altura já tinhase tornado loiro dos olhos claros e lábiosróseos, de tanta poeira, mas, enfim

chegamos. Tiramos todos os petrechos,demos uma conferida nas iscas vivas,(minhocas e minhocaçu). Alguns disseramque iriam ajeitar as coisas e os outros sequisessem poderiam ir pescar ali pelasredondezas mesmos que, assim quealmoçássemos , um barco nos levaria aospesqueiros e a turma seria divida de trêsem três, que todos já pudessem irescolhendo seus parceiros.

Eu, é claro, fiquei com a turmaque iria pescar pelas redondezas e o meutrio não foi eu que escolhi, foi os doisque sobraram. Nenhum dos outros doiseram pescadores e de nós, provavelmenteeu era o de maior experiência no assunto,ou seja, então ninguém sabia praticamentenada.

Nessa hora então eu desci obarranco e me afastei uns vinte metrosdo barraco de acampamento, arrumaram-

me com umas boas minhocas e fui a luta.Não conhecia o rio, não sabia que tipo depeixes encontraria, sentia toda aquelaemoção adrenalinica, de encontrar com odesconhecido. Ajeitei o equipamento,isquei muito bem iscado o anzol earremessei em direção a correnteza dorio que não era tão forte e eu também nãosabia a profundeza, então coloquei umachumbada média. Arremessei o anzol por

uns trinta metros e assim que ele bateuna água , parece que já caiu dentro daboca de um peixe que deu um puxão tãoforte que eu me assustei e imediatamentepuxei, fisgando aquele peixe que eu nãosabia o que era, mas, pelo puxão era coisa

boa. De repente o peixe já fisgado, masainda com o espirito de luta, deu um saltopra fora d’água e eu pude maravilhar-mecom aquele espetáculo jamais visto atéentão. Com um pouco de fricção comecei apuxar o peixe, que resistia bravamente,não era um peixe enorme, talvez pouco

mais de um quilo, mas ele era muito forte,muito lutador, era um peixe muitoresistente, mas eu consegui vencê-lo etirá-lo de dentro do rio.

Eu nunca tinha visto igual, eracomprido, roliço, tinha uma cabeça esguia,com dois grandes dentes que pareciam nãocaber dentro da boca e se debatia muito.O Companheiro que estava próximo demim, aproximadamente a uns cinco metrosdisse que era uma cachorra, então fiqueisatisfeito, pois conheci uma nova espéciede peixe.

Quando eu consegui desvencilharo anzol de dentro daquela boca perigosapara mim e com certeza mortal paraoutras espécies, já ia colocando-o dentrodo cesto de peixe, quando ele olhou pramim e incrivelmente, piscou um olho edisse:

- A coisa tá feia caburé.

Eu levei um susto tão grande, queescorreguei, quase cai dentro d’água, opeixe em um único pulo caiu dentro do rio,nadou mais ou menos uns cinco metros,emergiu novamente, olhou pra mim, pareceter dado um sorriso, mergulhou novamentee desapareceu nas águas encardidasdaquele rio.

Eu olhei pro meu companheiro eperguntei se ele havia visto aquilo, ele

respondeu que não vira nada, entãoperguntei se havia ouvido alguma coisa,ele disse que também não. Eu achei melhornão contar isso pra ninguém, porque senão, iriam achar que eu estava ficandodoido. Mas, será...

Naquela pescaria, eu fiquei semgraça durante todo o restante do tempo, eninguém conseguiu pegar mais nenhumpeixe grande. Pegamos apenas algunspoucos mandizinhos brancos.

Já recebi um convite pra voltarnaquele rio, mais eu ainda não animei.Peixe falando, rindo, será...

A coisa ta feia caburé

Sgt Pimenta

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5/10/2018 Fanzine 23 - Outubro - slidepdf.com

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Ique era um adolescente gordo paramim ( magro e longilíneo segundo minhairmã a respeito hoje), loiro e de olhosazuis, um tipo nórdico que sempre mechamou a atenção, e eu não sabia dizerpor que.

Ficava feliz quando o via e sem quenunca tivesse falado com ele, admirava-o.Era colega de minha irmã Cláudia no

ginásio e com freqüência passava pelanossa casa para acompanhá-la a caminhoda escola. Eu ficava olhando os dois iremembora e dava-me uma sensação de satis-fação que uma pessoa como Ique estivessepor perto.

A vida nos separou, cada um de nósseguiu seus caminhos. Ficou apenas namemória aquele menino. Não foi um amor,uma paixão, nada disso. Era alguém dequem eu gostava, sentia forte simpatiapor ele. Ficou a imagem positiva de umapessoa indo embora a caminho da escola.

A semana passada, eu já aposentada,estava fazendo esteira na academia. Naesteira ao lado sobe um homem meio gordo,loiro, de olhos azuis, muito bonito eperfumado. Bem perfumado. Nunca fizisso na vida, mas dessa vez pensei “- Voubrincar de cantar esse homem......”

E, incontinenti, comecei: “Mas que

perfume bom você está usando... Umadelicia! Que perfume é esse?!” “É “NorthWind”.E pronunciou como as pessoas daminha cidade fazem para deixar os outrosa vontade, falam errado: “North Windi”em vez de “North Wînd”. Ao que eu semquerer pronunciei certo.

Ele me deu uma olhada como a dizer“Você não muda mesmo” (decerto jáouvira falar...) e pronunciou certo“North Wînd, o Vento Norte...Como vai aClaudia?” “Ora, então você é o Ique?”

E conversa vai, conversa vem dei pormim perguntando se ele já tinha sedivorciado....foi mais forte que eu. Elerespondeu “Ainda não...” Dei uma garga-lhada. “Ah...com quem você é casado?” “

Com a Silvia Dias.” Dei um grito:”Nossa,ela é linda por fora e por dentro!” E ohorário acabou. Saí.

Isto aconteceu na quinta-feira. Nosábado fui comprar meu perfume “Eros”,amadeirado e que serve tanto para homenscomo para mulheres. Qual não foi minhadecepção ao saber que ele tinha saido delinha. Comecei a tentar outros, femininos,adocicados, todos me pareciam muitoleves.

De repente vi na prateleira dosmasculinos um vidro verde, verde comomeu “Eros”. Disse “quero experimentareste”.

A atendente, já cansada, nem escreveuno papelzinho o nome que tinha escrito emtodos os outros. Experimentei e adorei.Era o que procurava. “Quero este. Comose chama este?” perguntei, entusiasmada.“- North Windi, o Vento Norte.”

O Vento Norte.

(Conto sobre um caso verídico)

Texto recebido por e-mail. Luciana reside em Franca - SP, é formada em Letras, Direito, Mestre em Direito pelaUNESP e tem Faculdade de Psicologia. Atualmente dedica-se às suas sempre paixões: fotografia artistica como profissional, poesias, contos e crônicas.”

Luciana Vettorazzo Cappelli

Na praça pública, a menina cantavaalegre pulando corda junto com seus doisamiguinhos, enquanto que do banco, ovelhinho decrepito a observava invejandosua doce juventude.

Quando os dois amiguinhos foram

embora, a menina ainda no pique se entris-teceu, o velhinho babão tomou coragem ecom extrema dificuldade se aproximoudela.

O velho amarrou uma das pontas dacorda em uma arvore seca e bateu a corda,enquanto a menina pulava e ria, gozandode toda sua infância. O velho se remo-endo de inveja, parou de bater a corda:

— É sua vez? – Perguntou ela inocen-te.

O velho se encheu de coragem eousou tentar o pulo... Fracassou, nãotinha forças para isto.

A menina lhe abraçou e antes de irembora disse:

— Fica triste não vovozinho... Fiquecom a corda e pule bastante, amanhã voltoaqui e a gente pula mais!

Diante a inocência da menina, o velhodesamarrou a corda, subiu com extrema

dificuldade na árvore seca, a amarrou numgalho, fez uma forca com a outra ponta epulou, da única forma que sabia.

A Menina e o Velho

Julio Cezar DosanTexto enviado por e-mail. Julio Cezar Dosan, Maringá - PR é estudante de Letras pela UEM (Universidade Estadual de Maringá)

 [email protected]@uol.com.br

5/10/2018 Fanzine 23 - Outubro - slidepdf.com

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Nos tempos da era medievalAlguém virou Burgo MestreQue vivia por trás de um vitralPoucos sabiam sobre o cabra-da-peste.Logo se enturmou com a eliteInformações da sociedade localIam chegando ao seu conhecimentoE aguardou a hora para dar o bote fatal.Numa sociedade aberta

Sabendo de tudo o que se passavaMazelas em todo lugarPegou a população sem alerta.Armou bem uma estratégiaJuntando-se com políticos da oposiçãoAssinou a carta régiaNa província que confusão.Muitas pessoas envolvidasFalsos testemunhos foram à regraUm escândalo com pessoas detidas

E a corda arrebentou na íntegra.Na província um arautoDenunciou todo o esquemaPra ele foi seu último atoAssassinaram sem problema.O Burgo Mestre era pobretãoComeçou a vender os bens patrimoniaisEm pouco tempo construiu sua mansãoO povo clamava por Robert Novais.Logo o Burgo sai de cenaPega seu baú cheio de ouro

Pica a mula sem problemaTodo eu, nós com cara de tolo

Até o fim do mandatovenderá tudo...

TangenyrusTexto recebido por e-mail. José Carlos Oliveira, Tangerynus, é naturalde Porto Ferreira, SP. Tangerynus é escritor,compositor, músico e acordionista

Esbarravam-se às vezes na correriada rotinas. Uma troca de olhares, que nofundo guardava um interesse comum:dissimulavam a curiosidade, mas sabiambem o que queriam um do outro. Podiam atéacreditar no acaso, mas pensavem que nocaso deles (o que se confirmou mais

tarde), tudo não passava de estratégia dodestino.E procuraram se conhecer. Fingiram

formalidades demais: queriam mesmo eracair um nos braços do outro. Um diaaconteceu, e o encanto do momento tãoímpar foi tão intenso que não conseguiramparar: foi uma surpresa para ambos. Ele,que sempre fora tão cafajeste e jamaisse importara com os sentimentos daquelasque cruzavam seu caminho; e ela, cujo

único interesse era usar os seus artifíci-os para exercitar seu poder de sedução,até o ponto de ver sua vítima rastejar,completamente sujeita ao seu mundo eseus desejos. E pensar que quando cruza-ram seus olhares pela primeiras vezealmejavam apenas isto.

Mas não. Descobriram que nada seriacomo queriam. Experimentaram sensaçõesaté ali desconhecidas; e tão prazerosas,

que perceberam que ser o canalha ou asacana já não era, assim, tão interessan-te.

Os dias foram passando, e a cadaencontro a vontade de estarem juntos foise tornando insuportável. Já não conse-guiam ficar um dia sem se falar, e sempre

que possível corriampara o seu ninho deamor com toda a ânsia eo desejo que seuscorpos eram capazes desentir. Aquele momentoera indescritível, nãotinham palavras. Talvezalgo mágico ocorressenaquele instante: nadapodia ser mais perfei-to.

Entretanto, veio a

tal armadilha dodestino: teriam que seseparar. Ele a deixaria.

No primeiro momento, tudo pareceudesabar. Mas aos poucos foram absorven-do a necessidade que existia naquelarealidade. Injusto? Sim, o destino.

Decidiram que juntos enfrentariamesse óbice e ainda viveriam essa históriade amor. E então ele se foi.

Não se sabe, porém, se voltou ou seela o esperou.Ninguém mais soube se continuaram

ou não a viver tão intrigante história.Sabe-se apenas que eram tão felizes

 juntos, que aqueles poucos momentos queviveram foram para eles, eternizados.

O cafajeste e a devassa

Suziene Cunha

5/10/2018 Fanzine 23 - Outubro - slidepdf.com

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Andava curvado sobre o próprio ventre

naquela manhã fria. Quem o visse tinha aimpressão de que apertava mais a blusapara aquecer-se. Mas a verdade era queapertava a barriga que roncava e doía.Com mil demônios! Há três dias que nãocomia. Três dias que não ingeria umacôdea de pão velho, nesses três dias haviaapenas bebido água.

Se pelo menos arranjasse um emprego.Não arranjava. Um bico por uns trocadospelo menos, também não arranjava. En-

quanto andava remexia os bolsos: nem umamoeda, nem mesmo vinte e cinco centavospara um pão. Sim, como seria saboroso umpão, sem manteiga nem nada, simplesmenteum pão.

Caminhava sem rumo certo, a fome otorturava de tal forma que tinha os olhosarregalados e uma forte vontade devomitar o que tinha no estomago: nada.

Pedir?! Nunca. Fora de cogitação! Não

era mendigo, ainda não, só passava por ummomento difícil. E sua dignidade onde iriaparar?

Andava eternamente e não chegava alugar algum. As pernas estavam fracas edoíam horrivelmente. Sentou-se então emum banco de praça. Fome.

Para o inferno! Que um raio caísse e orachasse ao meio - Era o que ele pedia. -

Não podia mais ficar naquele estado.Deus não glorificava mais os seus justos?

Mas, o que era aquilo? Ali, perto dospingos de ouro, num canto da praça?Deus! Oh sim, um presente de Deus. Umanota de dois reais, como Ele era bom,enviava-lhe uma notinha azul no auge do

desespero.Rapidamente encaminhou-se para a moita

de pingos de ouro, olhou de um lado parao outro, como ninguém olhasse,disfarçadamente a pegou. Maravilha!Estava salvo. Daria pra comprar trêspãezinhos com salame. Isso significavamais três dias de vida. Seguiu apressada-mente rumo a uma padaria. Três pães,

isso era demais, há um mês que já não se

fartava tanto.Passava então em frente uma loteria, emuma placa dizia: Acumulou! Oitentamilhões... Não, de forma alguma fariaaquilo. Não tinha forças para ficar umquarto dia sem comer nada. Continuouandando, contudo vagarosamente. Trêspães... Oitenta milhões...

Já havia passado por apertos maiores,não? E claro, esse seria um investimento.Havia gente que tomaria uma pinga com

esse dinheiro e com oitenta milhõespoderia atingir o nirvana, e era lógico queganharia, não foi Deus que lhe enviou osdois reais? Não era a vontade do Senhorque se tornasse milionário?

Fez o jogo, na mão o bilhete que salvariasua vida. Voltou para casa, não tinha nadaa fazer até amanhã. Amanhã sim, oitentamilhões! A tarde toda passou com eledormindo. Pelas sete da noite acordou, ou

melhor, os roncos em seu estomago oacordaram.Fome. Ergueu-se da melhor forma possí-

vel, fraco como estava, e andou a esmopelo barraco no qual vivia. Felizmenteesta seria a última noite, amanhã seriamilionário. Pagaria o aluguel vencido hádois meses e comeria até fartar-se.

Onze horas. Não agüentava mais as

câimbras no estomago, estava com febre eo suor escorria pelas faces. Já não tinhaconsciência, divagava. Andou pela casa abusca de alimento, não tinha nada. Abriuentão um travesseiro e mastigou algumasespumas vagarosamente, depois bebeu umcopo de água. Bem melhor já não sentia

fome.Então viu que as luzes do barraco se

acenderam, entraram duas lindas mulhe-res. Não, já não era o barraco e sim suanova mansão. As mulheres, vestidas comoodaliscas traziam nas mãos badejas comfrutas e carne assada. Ao lembrar-se decomida, o vomito subiu incontrolável. Nãoera mais a mansão, era novamente atapera onde morava. No chão o vomito com

pedaços de espuma e água. Dormiu nova-mente, agora sobre o vomito.O dia já ia claro. A fome o transformou

em um espectro humano. Encaminhou-serapidamente para a loteria. Os cheiros defritura das pastelarias o enjoavamnovamente. Vomitou ainda mais uma vez oque não tinha no estomago.

Na porta da loteria alguém que passavadeixou cair um embrulho, ele olhou. Pãocom salame! Sentiu nojo daquela comida,

um milionário não comeria isso. Pensandoassim atira para longe o embrulho. Aporta da loteria abrira, lá dentro ogrande cartaz: acumulou.... Oitenta ecinco milhões!

Amaldiçoava os deuses em voz alta.Histérico, gritava e chorava no meio darua. Tratante, era isso que Deus era, umtratante! Viu novamente o embrulho que apouco havia jogado fora. Apanhou-o e foi

roê-lo num canto qualquer.Não adiantava, o pão não parava em seuestomago. As lagrimas daquele últimomomento de vida se misturavam ao vomitona calçada. Morreu ali mesmo, com umpedaço de pão em uma mão e o bilhete deloteria na outra.

O jogo de sua vida

Evaldo Silva