fan 2009
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Festival de Arte Negra 2009 catalogTRANSCRIPT
1
No âmbito do Anoda França no Brasil
2
A Prefeitura de Belo Horizonte por
meio da Fundação Municipal de
Cultura apresenta: 5º FAN – Festival
Internacional de Arte Negra de Belo
Horizonte. De 3 a 8 de novembro na
orla da Lagoa da Pampulha. No ano
da França no Brasil os congos daqui
recebem os congos de lá. Música,
dança, teatro, cinema, literatura,
gastronomia, artes plásticas e artesa-
nato. Artistas do Brasil, da África e do
Caribe numa celebração da cultura
da paz. Entrada gratuita. Mais infor-
mações: www.fanbh.com.br
3
4
Babilak Bah trabalha
com a arte de ritmar e
tirar som de objetos.
Também é poeta, pes-
quisador e arte-educa-
dor e não se considera
um músico, nem um
compositor no sentido
clássico, mas um artísta
do ruído. Em 20 anos
de estrada, construiu
mús
ica
Babilak Bahalguns projetos, entre
eles o “Enxadário –
Orquestra das Enxadas”
e o “Enxadigma”, uma
nova pesquisa que surge
a partir da possibilidade
de se fazer uma série
de instrumentos com
o ícone enxada e um
diálogo com a música
eletroacústica.
5
Carlinhos Antunes é
cantor, compositor,
produtor, arranjador e
multi-instrumentista
(violão, viola, charango
e percurssão). Como
instrumentista trabalhou
em shows e discos com
Fátima Guedes, Jair
Rodrigues, Oswaldinho
do Acordeon, Grupo
Carlinhos AntunesTarancón, Susana Baca
(Peru), Carlos Nuñes
(Espanha), Paul Winter
(EUA) e grupo Ron Ben-
gale (Romênia). Tocou
no Marrocos, Peru,
Nicarágua, Holanda,
Cuba, França, Inglaterra
e Grécia.
6
Celson Moretti é músico
autodidata. Iniciou em
1984 sua carreira no
reggae como compositor
e vocalista da banda
Nêgo Gato, considerada
a primeira do gênero de
Minas Gerais. É criador
Celso Morettido reggae favela, tipo
de música oriunda do
reggae jamaicano. Tem
como principais influên-
cias Luis Melodia, Marku
Ribas, Itamar Assump-
ção e Bob Marley.
7
Cidade Negra é uma
banda brasileira, ori-
ginalmente de reggae,
com outras influencias,
como soul e o pop rock.
A banda surgiu ainda
nos anos 80, na Baixada
Fluminense sob a alcu-
nha de Lumiar e é atual-
Cidade Negramente um dos maiores
nomes do Reggae
brasileiro. Formado por
Alexandre Massau (vo-
cal), Bino Farias (baixo)
e Lazao (bateria). Suas
letras falam de amor e
problemas sociais.
8
O Grupo Conexão African
Beat é coordenado pelo
músico, multi-instru-
mentista, compositor
e arranjador senegalês
Mamour Bá, e procura
regatar os ritmos tribais
ConexãoAfrican Beat
ao utilizar técnicas de
tambor, djembê, congas,
tambores de base, can-
to, violão, interpretação
e dança, por meio de
arranjos sofisticados.
9
O grupo Fala Tambor é o
primeiro grupo de sam-
ba de roda da cidade
de Belo Horizonte e do
Estado de Minas Gerais.
Também foi o primeiro
movimento cultural tom-
bado como bem cultural
imaterial afro-brasileiro
da cidade, no Inventário
“Tradições Afro-Brasi-
leiras”, realizado pela
Fundação Municipal de
Cultura. Criado em 2000,
por Carlinhos de Oxossi,
ogan, percussionista,
cantor e compositor,
o grupo Fala Tambor
é formado por um
corpo cênico-vocal, que
produz suas leituras,
criações e recriações
Fala Tamborcontemporâneas a partir
da influência da cultura
de matriz africana. Todo
trabalho desenvolvido
foi feito a partir de
pesquisas de ritmos e
danças provenientes
dessa matriz durante os
sete anos de existência
do grupo. Atualmente
possui um acervo de 80
composições próprias,
nas expressões musicais
de samba-de-roda,
congo-frevo e afoxés.
Ritmos variados como o
quebra-caboclo, cabula,
mojolo, congo, arrebate,
rebate e barra-vento
também integram o
repertório musical do
grupo.
10
“Africane” é o nome
do show deste artista
que se apresenta com
um repertório que
possibilita pensar uma
música extraída dire-
tamente da fonte com
textos em vissungos
JorgeDissonância
africanos, um mix de
português (expressões
coloquiais), com Tupi e
outros falares, embalado
com fusões, variações
rítmicas brasileiras de
diversas influências.
Foto: Yuri Pimenta
11
L’Indigo é atualmente
“o” grupo de referência
do maloya da Ilha de
Reunião. Revelado no
show de encerramento
do Festival Africolor
(França), L’Indigo lança
seu terceiro álbum e
multiplica shows. Depois
de “Misaotra Mama”
(2004), “Zanatany”
(2006) e “Lafrikindma-
da” (2008) traduz as raí-
zes do maloya e do povo
da ilha da Reunião: o en-
contro da África, da Índia
e mais especificamente
de Madagascar, com um
L’Indigogrande interesse voltado
ao idioma e tradições.
Influenciados pelos sevis
kabaré, cerimônias em
homenagem aos seus
antepassados, a música
do grupo L’Indigo provo-
ca a transe. Fundado em
1999 pelo cantor líder
Olivier Araste, o show
de L’Indigo é conhecido
pela energia cênica e
a comunicação com o
público. Pontuados de
gaita e sanfona, L’Indigo
é uma fúria de vozes e
percussões que deixa
marcas por onde passa.
12
Pereira da Viola é violei-
ro, cantor e compositor,
considerado um ícone
da viola caipira. Nasceu
no Vale do Mucuri,
Norte de Minas Gerais,
impregnado pela cultura
afro-indígena e pelo som
das folias. Foi com o
Pereirada Viola
folião Valdão que Pereira
aprendeu a tocar a viola
utilizando, simultane-
amente, o tampo para
percussão, o que deu
origem a suas famosas
batidas de contra-dança,
batuques e voltados-
inteira.
13
Simone Soul é consi-
derada uma das mais
atuantes percussionistas
brasileiras. Apresenta
um espetáculo de rítmos
brasileiros e linguagem
de música eletrônica
com enfoque na cultura
popular. Iniciou sua
Simone Soulcarreira como baterista
de uma banda de hard
rock em São Paulo, na
década de 80. Atual-
mente acompanha Zeca
Baleiro.
Cubana radicada no Brasil, Tereza Morales e banda
fazem show espetacular com o melhor da salsa, do
merengue, do mambo e do chá-chá-çhá.
TerezaMorales e banda
14
Estrela africana do
reggae, Tiken Jah possui
um toque de tristeza
combativa e incansável
na voz. Natural da Costa
do Marfim se exilou
em Mali para fugir das
perseguições políti-
cas por denunciar os
costumes medievais do
casamento forçado e da
mutilação sexual, bem
como as perseguições
étnicas, que culmi-
nam em verdadeiros
“banhos” de sangue,
que ainda acontecem
no dia a dia do país.
TikenJah
Tiken é um típico artista
africano, com multipli-
cidade de influências
artísticas (Dioula, Akan,
Senóufo, Brasileira, Afro-
americana) que espalha
pelo mundo a identidade
de seu continente. Em
2003, na França, ganhou
o prêmio “Victoire de
Musíque”, com os
discos “Françafrique” e
“Coup de Gueule” em
função da linguagem
simples e direta que
utiliza para criticar a tor-
tuosa situação política e
social do seu país.
Foto: Youri Lenquette
15Reconhecido como um
dos principais nomes da
nova safra de com-
positores e cantores
de Minas Gerais, Tom
Nascimento apresenta
o show “TecnoGroove”,
uma mistura de soul
music com salsa, afoxé e
variações do samba, que
vão dar num punch que,
ainda, ganha percussi-
vidade com os timbres
eletrônicos. Juntos
desde 2007, Dokttor
Bhu, um dos fundadores
da extinta banda Divisão
de Apoio – pioneira na
Tom Nascimentoconvida DokttorBhu e Shabê
cena do hip hop de BH
nos anos 80 –, e Shabê,
rapper despojado,
letrista sensível e rebus-
cado – com referências
literárias –, destacam-se
como uma singular dupla
do rap mineiro. Apesar
da recente parceria, os
“broda” possuem anos
de estrada pelos palcos
de BH. Moradores da
região de Venda Nova,
o encontro foi inevitável
e esse freestyle já foi
apresentado em eventos
como o 4º FAN em 2007,
Conexão Vivo 2008 e
no último Hip Hop In
Concert, tendo sido
agraciados pelo festival
como o melhor conteúdo
poético.
16
Para o show a ser
realizado na quinta
edição do FAN, o cantor
e compositor Vander Lee
preparou um espetáculo
diferente de seu show
“Faro”, em turnê pelo
país. Acompanhado de
sua banda composta por
Arthur Rezende (bateria),
Thiago Corrêa (baixo),
Luiz Peixoto (guitarra) e
Gustavo Figueiredo (te-
clados), a apresentação
conta com as partici-
pações especiais do
congolês Lokua Kanza e
da carioca Elza Soares.
Foto: Levindo Carneiro
Vander Lee convida
Elza Soares eLokua Kanza
17
Elza Soares possui uma
relação antiga com o
artista. Foi através do
primeiro CD de Vander
Lee lançado em 1997
que a cantora o conhe-
ceu e resolveu incluir
a música “Subindo a
ladeira” de autoria dele
em seus shows. Ele fez
participações nos shows
de Elza e a convidou
para gravarem essa
mesma música em seu
CD “Ao Vivo” de 2003.
Com Lokua Kanza a
parceria foi firmada mais
recentemente. Além de
dividirem o palco em
alguns shows, compu-
seram canções como
“Vou ver” e “Outonos”,
presentes nos álbuns re-
centes do africano e de
Regina Souza, respec-
tivamente. Lokua ainda
canta com Vander Lee
em “Do Bão”, faixa do
disco “Faro” (lançado em
2009). Essas canções
estarão no roteiro do
show, além de sucessos
dos três artistas e mú-
sicas que fazem alusão
ao tema “africanidade
brasileira” e negritude,
como “Juventude Trans-
viada” de Luiz Melodia,
“Ave Maria no Morro”,
de Erivelto Martins, “Fa-
ceira” de Chico Buarque,
“A carne” de Seu Jorge,
Foto: Lucille Reyboz
Vander Lee convida
Elza Soares eLokua Kanza
Marcelo Yuka e Ulisses
Capelletti, “No balanço
do balaio” e “Galo e
Cruzeiro” de Vander Lee,
entre composições em
ngala, dialeto da terra
natal de Lokua Kanza.
18
A história de vitórias e
resistência do negro,
que trouxe da África
para o Brasil crenças
e costumes, é o tema
central do musical
“O Negro, a Flor e o
Rosário”, novo trabalho
de Maurício Tizumba. O
espetáculo leva para os
palcos, de forma diver-
MaurícioTizumba
tida, contos da cultura
afro-brasileira: “Orixás”,
“Zumbi dos Palmares”,
“Dandara”, “Saci Pere-
rê”, “Cosme e Damião”
e “Nossa Senhora do
Rosário”. A peça tem
direção de Paula Manata
e traz no elenco nove
atrizes negras.
teat
ro
Fotos: Netun Lima
19
As atrizes Eva Doumbia e Nana Triban, integrantes
da companhia francesa “La part du Pauvre”, e o
Núcleo Bartolomeu, de São Paulo, apresentam a
performance “France du Brazil”.
La Part du Pauvre convida NúcleoBartolomeu
20
A Cia. Baobá (Ágora
do Ojá) é formada pela
bailarina-coreógrafa
Júnia Bertolino, pelo
dançarino-coreógrafo
Willian Silva e pelo
musicista e compositor
Jorge África. Criada em
1999, desde então suas
montagens buscam
abordar o cotidiano do
negro em seu habitat
natural de ontem (as
Cia Baobásavanas, florestas e
desertos africanos e
os quilombos forma-
dos a partir das ações
de resistência face à
escravidão) e de hoje
(mormente as cidades
com sua desorganiza-
ção social), no intuito
de trazer a público
uma imagem do negro
em toda sua beleza e
altivez.
perf
orm
ance
Fotos: Netun Lima
21
Trata-se do encontro
da encenação com a
literatura, com destaque
a personagens da vida
cotidiana, por meio da
interpretação de contos,
relacionando-os em uma
teia rítmica de voz e
movimento. O espe-
táculo apresenta uma
sequência de monólogos
e diálogos presentes
em alguns contos do
escritor Cuti.
Cuti é o pseudônimo de
Luiz Silva. Nasceu em
Ourinhos-SP, formou-se
em Letras (português-
francês) na universidade
de São Paulo. Mestre
Luis Cuti eDj Raphão
em Teoria da Literatura
e Doutor em Literatura
Brasileira pelo Instituto
de Estudos da Lingua-
gem – Unicamp. Foi um
dos fundadores e mem-
bros do Quilombohoje-
Literatura, e um dos
criadores e mantenedo-
res da série Cadernos
Negros, de 1978 a 1993.
Raphão participa do gru-
po Estimulamentes, da
Banda Uafro, do projeto
Jazz e Rap Conde Favela
e da Banda Audácia,
que o acompanha nos
shows. Além de rimas,
Raphão produz algumas
bases para os projetos
Prato do dia: Pretume – 7 contos
dos quais participa
e para outros grupos
parceiros. Participou do
Fórum Nacional de Hip
Hop, e do Movimento Hip
Hop organizado brasilei-
ro. Participa e organiza
vários eventos e festi-
vais, como Festival pela
derrota do imperialismo
no Iraque, o Hip Hop
ocupa a USP e o Festival
contra as demissões no
ABC paulista. Atualmen-
te, organiza o Dia da
Cabeça Preta, evento
que reúne importantes
nomes da cultura negra
e do movimento negro,
em São Paulo.
22
Em edições anteriores,
foram criadas estruturas
e ações para promover
intercâmbios e cotejos
de tecnologia e saberes.
Neste sentido, foram
criados o Coletivo Fan
da Cena, o Coletivo Fan
da Imagem e a Rádio
Ojá. Nesta edição o
Fan convocou artistas,
com foco na dança,
para acentuar ainda
mais o sentimento
de pertencimento da
cidade para com este
evento patrimonial,
criando o Coletivo Fan
de Dança. Inspirado pela
vida de Aimé Césaire e
especialmente em seus
pensamentos sobre a
Negritude, esta criação
é norteada pela obra
“Cahier d’un retour au
pays natal”. A idéia é
iniciar através desta
linguagem, um diálogo
entre o Brasil e a África.
danç
a
Foto: Natália Turcheti
23
ColetivoFAN da DançaA direção é de Patrick
Acogny, especializado
em técnicas contem-
porâneas e tradicionais
de danças da África,
com sólida formação
nas técnicas de dança
contemporânea ociden-
tal. Por uma década,
dançou em companhias
de dança na França e,
em meados dos anos
noventa, migrou para
o Reino Unido, onde
trabalhou com a com-
panhia de Teatro Dança
Afro Caribe Kokum como
coreógrafo residente e
diretor artístico. Hoje,
encontra-se instalado
em França, na Bretanha.
Patrick também é o
diretor artístico adjunto
da École des Sables, no
Senegal. Um centro de
formação profissional
para dançarinos da
África e fora de África.
Partindo de uma audi-
ção, foram seleciona-
dos sete artistas para
vivenciar um processo
criativo de confronta-
ções e trocas. Estas
vivências foram abertas
ao público em geral
e tiveram, além dos
participantes efetivos,
ouvintes e observa-
dores interessados no
desenvolvimento desta
construção coletiva.
24
CinemaparaescolasMostra Fespaco 40 anos
Fespaco é um dos mais
importantes festivais do
mundo e acontece na
cidade de Ouagadougou,
em Burkina Faso, no
oeste da África. O cine-
ma é uma das principais
atividades econômicas
do país. O Festival é
bienal e tem 40 anos
de existência. O evento
acontece por toda a
Odum OrixásO grupo Odum Orixás
se desafia a fazer arte
com o propósito de
promover o desenvolvi-
mento e a cidadania dos
afro-descendentes na
Grande BH. Constitu-
ído como Associação
Cultural Odum Orixás,
a entidade orienta seu
trabalho a partir de
pesquisas e reflexões
sobre as trajetórias do
povo negro e as produ-
ções culturais de matriz
africana no contexto de
Minas Gerais.
danç
a | c
inem
a | p
ales
tra
25
ÁfricaNegra Fábio Leite
Permanência de práticas ancestrais
Fábio Leite é autor do
livro “A Questão Ances-
tral África Negra”, indi-
cado ao Premio Jabuti.
É professor do Centro
de Estudos Africanos da
USP. Trabalhou na África,
com socialização de
Educadores, na Costa do
Marfim. É especialista
em sociolagia da África
Negra.
cidade, em diversas
salas de cinema, duas
ao ar livre. Paralelamen-
te, acontecem shows,
encontros profissionais,
Mercado Internacional
de cinema e televisão
e oficinas de formação
para centenas de pro-
fessores oriundos de ou-
tros países da África. O
Diretor Geral do Fespaco
é Michel Ouedraogo.
26
LiteraturaNegro-Brasileira
Mestre Gilmar (Turma-
lina): Griot que explica o
significado das cores das
fitas da Folia de Reis.
Mestra Lucélia (Bocaiú-
va): Participa do Catopê
de Nossa Senhora do
Luis Cuti
Por meio de reflexões
sobre intertextualidade,
“eu” poético, relação
história e literatura,
metalinguagem, leitor/
texto/autor, além da in-
fluência das ideologias,
a palestra apresenta, de
Vozes da paz:3 Mestres
Rosário e São Benedito.
Mestre Antônio (Minas
Novas): Tambores Ritu-
alísticos e Congada do
Jequitinhonha.
forma audiovisual, um
panorama da produção
literária dos afro-des-
cendentes, destacando
os vários fatores que
a influenciaram e a
influenciam.
27
OriRaquel Gerber é soció-
loga, cineasta, pesqui-
sadora e conselheira da
Cinemateca Brasileira.
Ori, o filme: Abordando
os movimentos negros
no Brasil e na América, a
partir de 1977 e através
de suas lideranças, o fil-
me discute pensamentos
e ideologia. Resultado
de 10 anos de pesquisa,
viagens e filmagens
por vários Estados do
Brasil (São Paulo, Minas,
Alagoas, Rio) e África
Ocidental (Senegal, Mali
e Costa do Marfim), num
trabalho que envolveu
mais de 100 pessoas.
“Orí” significa “cabe-
ça” – consciência negra
na sua relação com o
tempo, a história e a
memória – um termo
Raquel Gerber
de origem yorubá, povo
da África Ocidental.
Assim, numa definição
mais sucinta pode-se
dizer que “Orí” fala da
memória e da busca da
autoimagem do negro
na modernidade. O filme
revela ainda a emoção
da luta pela liberdade
do corpo e da alma
dos povos da Moderni-
dade do Ocidente: no
cotidiano, nas festas,
como o Carnaval e nos
ritos como o Candomblé
(terreiro Ylê Xoroquê),
ressaltando o poder da
Terra, dos Orixás e dos
ancestrais. “Orí” já foi
premiado nos Festivais
Ouagadougou, na África,
Tróia, em Portugal e em
Curitiba.
28
Quatro jovens artistasafrodescendentesAté pouco tempo eram
quase desconhecidas as
aventuras dos afrodes-
cendentes no campo do
tão sonhado meio elitista
das artes plásticas do
Brasil. Tinham desa-
parecido dos espaços
alternativos, dos eventos
oficiais – como nos
salões de arte plásticas,
bienais e concursos
afins.
A grande participação
dos artistas negros
no século XVIII com o
evento do Barroco e do
Rococó na Bahia, Minas
Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo e nos princi-
pais centros culturais do
nordeste brasileiro foi
rareando no século XIX
com o surgimento da
Missão Francesa e da
Academia Imperial de
Belas Artes, e mais ain-
expo
siçõ
es
29
da com o modernismo
e quase desaparecendo
na contemporaneidade.
É sempre bom lembrar
dos grandes nomes
de negros e mestiços
dessas épocas áureas
das artes no Brasil:
Antonio Francisco Lisboa
– O Aleijadinho – em
Minas Gerais; Manoel da
Cunha, Mestre Valentim
e Leandro Joaquim no
Rio de Janeiro; Teófilo
de Jesus, Francisco
das Chagas – O Cabra
– e Franco Velasco na
Bahia; Jesuíno do Monte
Carmelo e Patrício da
Silva Manso em São
Paulo; além de artistas
do Século XIX, da Aca-
demia Imperial de Belas
Artes, como Estevão
Silva, Firmino Monteiro,
Rafael Pinto Bandeira e
os irmãos Arthur e João
Timótheo, estes com
produção até o início
do Século XX, quando
faleceram; e por aí vai
a grande contribuição
desses artistas na cultu-
ra e nas artes plásticas
30
do Brasil.
Assim é que festejamos
esses jovens artistas,
suas vocações e as suas
diversas linguagens,
que a princípio definem
o talento e o largo
caminho que eles tem a
percorrer.
Alex Hornest – sua arte
nasceu na chamada
Street Art (arte da rua)
os conhecidos grafiteiros
que a cada dia ganham
mais prestígio nas
galerias de arte do Brasil
e do exterior. A arte do
graffiti tem em Alex
um grande e refinado
criador, seus persona-
gens tem características
próprias na sua morfolo-
gia assim como na sua
ação, como se fosse um
personagem de história
em quadrinhos. Mas
vale ainda ressaltar a
grafia e a técnica adqui-
rida por esse artista, na
substituição do pincel
pela agilidade do ma-
nuseio do spray, técnica
essencial para a prática
do graffiti, assim sua
31
obra aos poucos vai se
enquadrando na dimen-
são da obra de arte, da
arte que sai da rua para
um novo enfrentamento
da própria obra de arte.
Washington Silvera –
um criador de sensa-
ções materiais, pela
dimensão em que tra-
balha com a experiência
de iludir e de fazer sentir
a relação das coisas
que são propostas nas
suas instalações, seja
com sua intervenção na
natureza, onde todas as
coisas se excedem no
espaço e na realidade,
ou nos objetos do coti-
diano em que ele inverte
a materialidade. Vejam
essas fotografias onde
ele propõe uma nova
versão dos cinco senti-
dos, tendo o seu próprio
rosto como modelo para
interpretar seu sentir.
Sidney Amaral – um
outro artista que tam-
bém evoca a mate-
rialidade dos objetos,
em muitos dos seus
trabalhos ele transforma
o frágil ou o leve em
pesado, o efêmero em
definitivo, ou ainda a
essência dos materiais
normalmente usados
nas artes plásticas. Essa
relação surreal e provo-
cativa com que ele lida
as suas propostas eleva
seus objetos a uma nova
concepção da função
antiga. Assim é que essa
cornucópia de moedas
armada no espaço se
opõe à sua função de
realidade material.
Tiago Gualberto –
completa esse time de
artistas intrinsecamente
unidos pelo expressar
32
suas criações plásticas
buscando, cada um
com sua inventiva, a
transformação material
das suas apropriações.
Nesse caso, o artista
propõe ainda uma posi-
ção política com esses
coadores de café, onde
ele imprime suas xilo-
gravuras de rostos rea-
listas de negros, numa
provação histórica para
resgatar a memória de
escravos africanos como
plantadores de um dos
períodos de riqueza do
Brasil. Poderíamos per-
guntar quantos homens
e mulheres – escravos
africanos – foram con-
sumidos na produção do
“ouro negro” no século
XIX. Claro que a obra de
Tiago não responde essa
angustiosa pergunta,
mas ela homenageia no
presente a memória de
um passado recente.
Emanoel Araujo
Curador
Diretor | Museu Afro Brasil
33
Fotógrafo autodidata,
desde 1984 atua como
freelancer na área de
publicidade e de docu-
mentação. Desenvolve
trabalho de expressão
pessoal em fotografia e
realiza pesquisas com
técnicas alternativas
e multidisciplinares,
manipulando negativos e
cópias. Completou curso
Eustáquio Nevestécnico em química
na Escola Politécnica
de Minas Gerais, Belo
Horizonte (1989). Foi
premiado ao longo de
sua carreira com o 7º
Prêmio Marc Ferrez de
Fotografias, Funarte
(1994), Prêmio Nacional
de Fotografia, Funarte
(1997) e Grande Prêmio
J. P. Morgan de Fotogra-
fia (1997), entre outros.
Em 1999 foi contempla-
do com o programa de
residência da Gasworks
Studios and Triangle Arts
Trust com suporte da
Autograph de Londres.
Dedica-se a pesquisas
de caráter etnográfico
junto às comunidades
negras.
34
realizaçãoPrefeitura Municipal de Belo Horizonteprefeito Márcio Lacerda Fundação Municipal de Culturapresidente Thaïs Velloso Cougo Pimentel
chefe de gabineteLuciana Ferron
diretoria executivaEdilane CarneiroGeraldo VenutoSolanda Steckelberg diretoria de ação culturalSolanda Steckelberg
diretoria de equipamentos especiaisRodrigo Barroso
35
casa do baileRachel Murta
co-realizaçãoAPPA (Associação Pró Cultura Palácio das Artes)
projeto, curadoria e direção artísticaAdyr Assumpção e Rui Moreira
produção executivaPlural Entretenimento
design gráficoGuiliSeara Design
exposição jovens artistas negrosartistas expositoresAlex HornestSidney AmaralTiago GualbertoWashington Silvera curadoria Emanoel Araujoassistente de curadoria Cláudio Nakai
36
apoio
co-realização realização