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Família São as mães que faltam ao trabalho para cuidar dos filhos Páginas 6e 7

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Page 1: Família mães que faltam ao trabalho para cuidar filhos · Dia da Família Subsídio dado pela Segurança Social ... cuidar". E voltamos ao conservadorismo. Porque, diz Vanessa Cunha,

Família São asmães que faltamao trabalho paracuidar dos filhosPáginas 6 e 7

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Dia da Família Subsídio dado pela Segurança Social é maioritariamente

solicitado pelas mães. Empregadores avessos a masculinidade cuidadora

Só 15% dospais pedemapoio paraassistênciaa 11 lho

Joana Amorimjamorim(ajn.pt

? É, duplamente, uma dor de cabeçapara muitos pais. Sobretudo para asmães. Ao filho pegou-lhe uma daque-las "ites" - otite, faringite, laringite... -e a criança não pode ir para a crecheou para a escola. Invariavelmente, fal-ta a mãe ao trabalho para ficar em casaa cuidar do menor. No ano passado,apenas 15% dos pais requereram, jun-to da Segurança Social (SS), o subsídio

para assistência a filho a que têm direi-to. Os restantes 92 371 requerimentosforam apresentados por mães.

É pouco, todos reconhecem, mas jáfoi pior. Em 2010 aquela relação era de10% para os pais e 90% para as mães. Afamília, cujo Dia Internacional hoje seassinala, sofreu uma enorme transfor-mação, como comprova o facto de, em2017, 18% dos nados-vivos serem filhosde pais que não coabitavam. Mas o

ritmo dessa mudança não foi, no en-tanto, acompanhado no que à partilhade responsabilidades concerne.

"A partilha de papéis mudou muito

pouco. Quando a criança está doente é

uma tarefa que recai sobre a mãe", su-blinha a demógrafa Maria loão ValenteRosa. Prova disso, adianta, é a excessi-va dedicação do pai à atividade profis-sional, "uma questão de sociedade a re-solver, de partilha de responsabilida-des parentais". O que, avisa, "não se faz

por decreto, começa na escola".

Empregadores conservadoresPoucas serão as mulheres portuguesascom filhos menores que nunca foram

discriminadas no mercado de trabalho.Olhadas de lado por ficarem em casa acuidar do filho doente. Ou por usufruí-rem da redução de horário de trabalho

que o Código do Trabalho prevê paraamamentarem. "O mercado de traba-lho penaliza-as por serem mães. Mes-mo assim, há uma maior tolerânciapara serem as mulheres as cuidadoras",explica ao IN a socióloga do Instituto deCiências Sociais (ICS) da Universidadede Lisboa.

Por conservadorismo. Devido a"uma atitude pouco favorável dos em-pregadores a uma masculinidade cui-

dadora", lê-se no "Livro Branco - Ho-mens e igualdade de género em Por-tugal", feito pelo ICS em parceria coma Comissão para a Igualdade no Traba-lho e no Emprego. Por outro lado, fri-sa a investigadora, "só muito recente-mente os homens foram chamados acuidar".

E voltamos ao conservadorismo.Porque, diz Vanessa Cunha, "esta ge-ração de pais não foi educada por paiscuidadores", são "homens que não fo-ram socializados para serem cuidado-res". Razão pela qual as "mudanças sãolentas". Otimista, a socióloga, que cen-tra a sua investigação na temática dafamília e da igualdade, entende que"estamos a caminhar no sentido certo,de maior partilha".

Se na anterior geração de pais era in-

concebível o "chefe de família" le-vantar ou pôr a mesa, por exemplo,hoje é já parte integrante do quoti-diano de muitos homens. E do seus

filhos. "As gerações mais novas,mais escolarizadas, estão mais fa-voráveis a todas as questões que se

prendem com a igualdade", expli-ca. Daí para a frente, segue-se umcaminho "natural". •A sociólogaVanessaCunharecordaempregado-res conser-vadoresque nãovêem combons olhosos paiscuidadores

Esta geraçãode pais não foieducada porpais cuidadores"

Vanessa Cunha

Socióloga, investigadorado ICS

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Igualdade Hugo Oliveira diz que sempre sonhou ser paiTexto de Alexandra Figueira | Foto de José Carmo / Global Imagens

Vânia (24 anos) continua a trabalhar enquanto Hugo (28 anos) fica em casa, com o filho Martim (4 anos), que está doente

"É justo dividir tarefasda casa e do filho"

ão é a primeira vez: Hu-go Oliveira vai passaresta semana em casa,

l para cuidar do filhoM Martim, doente com

uma infeção na garganta e conjun-tivite, enquanto Vânia Amorim vaitrabalhar. Sentados frente a frente,na mesa da sala, garantem que nada

podia ser mais natural, que nem se-

quer foi ponto de discussão entre o

casal. Tratar do filho -eda casa é

tarefa de ambos. Sem complexos,como prova o sobrenome dado aofilho. Martim é Amorim e não Oli-

veira. "Amorim soava melhor do

que Oliveira", justifica Vânia. E a fa-mília do pai não se zangou? "Não".

Hugo garante que não se quervangloriar, mas olha em torno e vê

que só uma minoria dos homensassume a sua quota parte do tra-balho doméstico e parental. Nasua casa não é assim: "Trabalha-mos os dois, é justo que, em casa,

as tarefas também sejam dividi-das". Até porque, acrescenta Vâ-nia, "quanto mais depressa foremfeitas, mais tempo podemos estarcom o nosso filho".

Quanto ao Martim, Hugo enco-lhe os ombros sobre o facto de nãose adaptar ao tradicional papel de-sempenhado pelo homem. "O meusonho sempre foi ter um filho". Porisso, nunca virou costas às noitesmal dormidas, à mudança de fraldas, à hora do banho e às brincadei-ras. "A melhor coisa do mundo são

as crianças. Às vezes chego ao tra-balho cansado, preocupado, masvejo aquele sorriso e esqueço todosos problemas".

No trabalho, na Pluricosmética,não é esta baixa por assistência à

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família que lhe traz problemas."Até me perguntaram se preferiameter férias, para não ser financei-ramente prejudicado". Mas essesdias serão usados no verão, quan-do a escola fecha para férias. Talcomo uns que lhe sobraram doano passado e que usou para ficarcom Martim quando faltaram pro-fessores ou auxiliares. É certo quea família ajuda, mas "o filho é nos-so, somos nós quem tem de resol-ver o problema", diz a mãe. Elaprópria já ficou em casa inúmerasvezes, a tratar do filho.

A ideia de ter um segundo deixa-os de sorriso aberto, mas "é preci-so fazer contas", dizem. Com o Mar-tim, chegaram a pagar 112 euros poruma ama da Segurança Social.»

Hugo já usou fériaspara ficar com Martimquando uma grevefecha a escola

Lides decasa? Somoso quarto paísda UE maisdesigual? Ao retrato da mulher cuida-dora junta-se o retrato da vul-go dona de casa. E, também,aqui, as mudanças ocorremlentamente. Por cá, em 2016,apenas 19% dos homens de-sempenhavam, diariamente,tarefas domésticas, contrauma média europeia de 34%.Em sentido inverso, 78% dasmulheres dedicavam-se às li-des domésticas. 0 que nos tor-

na no quarto país da União Eu-ropeia (UE) mais desigual no

que à distribuição de tarefasconcerne, de acordo com umestudo do gabinete de estatís-ticas europeu. Pior do que nóssó mesmo os gregos, os italia-nos e os búlgaros."No núcleo duro das tarefasfemininas os homens entra-ram pouco, mas não é exclusi-vo de Portugal", explica a so-cióloga Vanessa Cunha queidentifica o tratamento de

"roupa e limpeza" como focosde "maior resistência". Já a co-mida, sublinha, "é um caso à

parte, porque é onde muitoshomens estão a entrar nas ta-refas domésticas". Se primei-ramente foi às mulheres quefoi pedido que estudassem,trabalhassem e cuidassem,aos homens "só recentementelhes foi pedido para muda-rem", diz a investigadora doInstituto de Ciências Sociais(ICS) da Universidade de Lis-boa. As estatísticas isso mes-mo comprovam. De acordocom o "Livro Branco - Homense Igualdade de Género em Por-tugal", feito pelo ICS, "ao longoda última década os homens a

viver em casal aumentaramligeiramente a sua participa-ção no trabalho doméstico". Seem 2002 dedicavam apenassete horas semanais às tarefasdomésticas, contra 26,3 das

mulheres, em 2014 dedicavammais uma hora. Mesmo assim,somos o país da UE a registar a

maior assimetria, j.a.

"A partilha depapéis mudoumuito pouco. Amudança começa

na escola"

Maria João Valente RosaDemógrafa, diretora

da Pordata

Segurança Social 0 que é o subsídiopara assistência a filho?0 subsídio para assistência a filho é um apoio dado em di-nheiro pela Segurança Social às pessoas que têm que fal-tar ao trabalho para prestar assistência urgente aos filhos

em caso de doença ou acidente. Sendo menores de 12

anos, o progenitor tem direito a faltar até 30 dias por cada

ano civil, sendo que acresce um dia por cada filho além do

primeiro. Se maiores de 12 anos, são 15 dias. Correspondea 65% da remuneração de referência.

1,1%Menos de nascimentosNo ano passado, nasceram, em Por-

tugal, quase menos mil bebés, numtotal de 86 154 nados-vivos. Sendo

que há cada vez mais primeiros fi-lhos, num país de filhos únicos, e de

mães cada vez mais velhas.

29,2Idade a que saem de casaOs jovens portugueses são dos euro-

peus que mais tarde saem de casados pais. No ano passado, de acordo

com o gabinete de estatísticas euro-

peu, a média de idade fixou-se nos

29,2, contra uma média da UE de 26.

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