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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE FAMÍLIA E CONFLITO CONJUGAL NA COTIDIANEIDADE ALUNA: ANDREZZA MONTEIRO PEREIRA ORIENTADOR: GENI LIMA NITERÓI JULHO/2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

FAMÍLIA E CONFLITO CONJUGAL NA COTIDIANEIDADE

ALUNA: ANDREZZA MONTEIRO PEREIRA

ORIENTADOR: GENI LIMA

NITERÓI JULHO/2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

FAMÍLIA E CONFLITO CONJUGAL NA COTIDIANEIDADE

Monografia apresentada á

Universidade Candido Mendes

como parte dos requisitos

para a obtenção do título de

Pós graduação em Terapia

Familiar.

CURSO TERAPIA DE FAMILIA

ALUNO: ANDREZZA MONTEIRO PEREIRA

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Agradecimentos

Agradeço a Deus pela oportunidade,

Ás amigas pela força,

E a minha família que sempre acreditou em mim !!

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“Nas profundezas da

alma humana deixa de existir

o hiato entre subjetividade e

objetividade.”

(autor desconhecido)

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Resumo

Este trabalho apresenta algumas determinações do conflito

conjugal, como esse se expressa no cotidiano das famílias.

Buscar compreender essa realidade suscita uma análise onde

tudo é complexo e dinâmico, são muitos os aspectos a serem

analisados. Tal análise é ancorada sobre observações e conceitos de

alguns autores da área de família, como por exemplo, Luiz Carlos

Osório, Szymanski e Winnicot que sem dúvida iluminan o trabalho e

assim propicia um melhor entendimento do tema abordado.

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Metodologia

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica a partir de

material previamente selecionado que constitui no exame de

bibliografias e análises do que já se produziu sobre o tema, conforme

proposto em projeto original.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................8

CAPÍTULO I

1.1- Algumas considerações sobre família .............................................9

CAPÍTULO II

2.1- Fatores que podem determinar conflito conjugal: reflexos da

contemporaneidade.................................................................................14

2.2- Aspectos econômicos e conflito conjugal ......................................16

2.3- As relações de poder na família entre o homem e a mulher..........19

CAPÍTULO III

3.1- O conflito conjugal na dinâmica família...........................................24

CONCLUSÃO.........................................................................................31

BIBLIOGRAFIAS.....................................................................................33

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INTRODUÇÃO

Ideologicamente, a família é constituída de um homem e uma mulher

que se amam e que através do ato de amor, se reproduzem oferecendo aos

seus filhos também este amoR, assim como meios de subsistência, num

ambiente de carinho e proteção no qual estes se desenvolvem. Porém na

realidade não é isso que ocorre, e diante desta constatação buscando como

referência essa realidade e o modo como se dão essas relações onde cada ser

tráz seus valores ,tratamos neste trabalho de

O que está imediato nestes conflitos permanece preso as nossas

interpretações que não alcançam o sentido do que está acontecendo num todo,

ou seja ,nem tudo o que aparece num primeiro momento é o real. A queixa é

um sinal de que algo não está bem em relação ao todo, por isso a importância

da contextualidade histórico, político, social e econômica que nos dá subsídios

para entendermos essa realidade. Buscar a compreensão desse cotidiano

permite sem dúvidas a obtenção de dados, os quais subsidiam a prática

profissional.

Nesta perspectiva, no primeiro capítulo vamos fazer algumas

considerações sobre família, no segundo capítulo como os reflexos da

contemporaneidade podem influênciar a dinâmica conjugal, como as relações

de poder entre o homem e a mulher e os aspectos econômicos, fatores muitas

vezes implícitos também são determinantes no conflito conjugal e no terceiro

e último capítulo , o conflito conjugal na dinâmica familiar, a violência que

ocorre nas famílias e que muitas vezes é a linguagem em que a família se

comunica ,como isto se apresenta .

Creio que tal análise possa estimular a capacidade de se fazer uma

reflexão acerca da complexidade desse objeto e também de buscar

conhecimentos que auxiliem e capacite os profissionais que atuam nessa área.

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CAPÍTULO I

Algumas Considerações Sobre Família:

A proposta desse neste primeiro capítulo é pensar as diversas definições

da família, trazidas por diversos autores.

Conceitualmente a família é definida por vários autores, existindo assim

muitas teorias sobre ela, como por exemplo, no dicionário onde aparece como “

pessoas aparentadas que vivem em geral, na mesma casa, particularmente

pai, mãe e filhos; pessoas do mesmo sangue; ascendência; conjunto de

gêneros afins (Ferreira,1917,p.214)”.

Observamos nesta definição uma certa proximidade à chamada família

tradicional com pai, mãe, filhos e etc, já para Szymanski (2002), ele coloca a

família como “ uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões

afetivas e assumem um compromisso de cuidado mútuo...(p.9)”

Segundo Maciel (2002), a família se tornou um canal de iniciação e

aprendizagem de afetos e das relações sociais:

“Um canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das

relações sociais, a instituição família constitui-se em

locus primário por onde os indivíduos desenvolvem suas

primeiras experiências como membros da sociedade em

geral...uma instituição que independente das variantes de

desenhos e formatações da atualidade(p.123).”

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Também quanto ao relacionamento supra referido, Kaslow (2001), cita

algumas formas como se dispõe e se inter-relacionam os membros de uma

família:

“família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos

biológicos; famílias adotivas; famílias monoparentais,

chefiadas por pai ou mãe; casais homoxesuais com ou

sem crianças; famílias reconstituídas depois do divorcio;

várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas

com forte compromisso mútuo(p.37).”

Já Osório afirma que a família não é um conceito unívoco,

“ pode-se até afirmar, radicalizando, que a família não é

uma expressão passível de conceituação, não somente

de descrições; ou seja, é possível descrever as várias

estruturas ou modalidades assumidas pela família

através dos tempos, mas não defini-la ou encontrar

algum elemento comum a todas as formas com que se

apresenta este agrupamento humano...são tantas as

variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais,

políticas ou religiosas que determinam as distintas

composições das famílias até hoje, que o simples cogitar

abarca-las num enunciado integrador já nos paralisa o

ânimo e tolhe o propósito(p.14)”.

Porém o que se pode observar é que a grande maioria, vê a família

como uma instituição em contínua transformação, uma rede de emaranhadas

relações de obrigações mútuas que permite aos indivíduos andarem de cabeça

erguida mesmo diante das adversidades.

A família é hoje, um dos elementos sociais que mais se ressentiu com

todas as transformações e mudanças ocorridas no mundo. Os processos de

industrialização, urbanização, os meios de comunicação de massa, a inclusão

da mulher no mercado de trabalho, a crescente segurança dos métodos

anticoncepcionais, a superação de tabus, preconceitos e outros, refletem-se

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intensamente na constituição e estruturas familiares do mundo hoje,

conduzindo a revisão de valores e conceitos.

Quando o assunto é família não se pode tratar de forma isolada é

preciso entender a totalidade problematizando-a em suas contradições e

complexidade “ não comportam leituras que reduzam tais questões a qualquer

um dos aspectos que a compõem, sejam elas de natureza econômica,

psicológica, cultural, política, social, ética, jurídica Mioto,2000,p.221).”

Complementado por Symanski,2000:

“O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de

formas de organização, com crenças, valores e práticas

desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes

que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso é vã

pretensão de colocar essa multiplicidade de

manifestações sob a camisa de força de uma única forma

de emocionar, interpretar, comunicar... (p.27)”

Gregori, traz uma definição para família que creio ser a de melhor

perspectiva de análise para este trabalho, ela diz que “ prefere pensar na

existência de vários núcleos de significado que se contrapõem e se misturam

(p.138) .”

Há necessidade de desvelar cada vez mais este universo familiar em

particular.O conflitante, é tentar encontrar o ponto de resistência desses laços,

pois diante de tudo isso, podemos também dizer que

“um dos pontos de elucidação teórica necessária reside

exatamente nesta curiosa e espantosa capacidade de

permanência e renovação desta instituição que, ao que

tudo indica, está em crise há pelo menos cem anos e

nem por isso desapareceu (Bilac,2000.p.34).”

É importante pensar a família contemporânea no contexto das

expressões, considerando o extenso número de relações existentes numa

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família, considerando as formas com que as pessoas se relacionam, sua

história, cultura e classe social a qual pertence.

Ou seja , quando o assunto é família não se deve trabalhar de forma

isolada é preciso entender à totalidade problematizando-a em suas

contradições e complexidade “não comportam leituras que reduzam tais

questões a qualquer um dos aspectos que a compõe ... Mioto (2000.p.221)”.

Na análise da estrutura familiar é necessário estabelecer sua correlação

com as demais instituições sociais como; escolas, igrejas e comunidades.

Podemos destacar como meio de análise da estrutura familiar alguns

elementos como:

-a idade nupcial, a freqüência de casamentos, o estatuto jurídico do

casamento, usos e costumes de valores;

-quanto a dimensão da família, sua extensão, a composição, número de

pessoas ou filhos;as relações sociais no seio da família, papel do marido e da

mulher, pai, mãe, filhos, enteados, tios e outros;

-o ciclo familiar, ou seja, os diferentes períodos da vida familiar;

orçamento familiar- condições financeiras, a que classe social essa família

pertence;

-condições de habitação;

-autoridade e hierarquia.

Podemos dizer, que também é parte desse elemento, as funções

institucionais, ou seja, as que dizem respeito à família e ao matrimônio como

instituição social, como:

-a biológica, transmição de vida

-a econômica,provisão de bens materiais

- cultura, transmissão de conhecimento e valores sociais

- conjugal , relacionamento entre cônjuges;

- parental, relacionamento entre pais, filhos ou enteados

- e fraternal , relacionamento entre irmãos.

Todos esses aspectos revelam que há uma inter-dependência entre

estrutura e funções, uma implicando necessariamente na outra, confirmando

que as sensíveis modificações na constituição da sociedade e as pressões da

evolução econômica influíram na organização da família.

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Por tantos motivos a família se torna uma instituição forte, onde os

indivíduos se reproduzem onde encontram um amparo, onde são transmitidos

valores culturais básicos para vida, e frágil porque nela também pode haver

violência, desencontros e rupturas, ou seja, a família pode se apresentar como

lugar de dramas, riscos, solidão, angústias e traumas que podem trazer muitas

inseguranças aos indivíduos dando origem aos conflitos familiares , o que

veremos no capítulo a seguir.

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CAPÍTULO II

2.1- Reflexos da contemporaneidade: Fatores que podem determinar

conflitos conjugais

As modificações na relação do indivíduo com o trabalho acarretaram

novos posicionamentos, que indiscutivelmente refletiram na família

contemporânea determinando novos mapeamentos em sua estruturação e

diferentes referenciais que norteiam entre marido e mulher e entre pais e filhos.

Quando paramos para observar hoje, as características da família

contemporânea, podemos afirmar que o processo de desenvolvimento do

indivíduo, sofreu e sofre, influências direta das mudanças ocorridas na

estrutura social. Ao se modificarem as relações do homem com o trabalho, a

partir de novos instrumentos e novas condições impostas pela indústria de

consumo, transformam-se também as relações entre indivíduos, afetando a

estrutura e toda a dinâmica familiar que compõe o tecido social.

Assim a família considerada como mediadora entre o indivíduo e a

sociedade, oferecendo recursos para uma relação saudável e ativa, não deixa

de ser analisada fora do contexto das transformações sociais ocasionadas

pelas mudanças no sistema produtivo.

Ao analisar as transformações familiares ocorridas na

contemporaneidade, ressalta-se o caráter “nostálgico” atribuído a “família ideal

“, nuclear e estruturada, que gera uma espécie de dívida tanto da família

quanto da mulher atual, fomentada pela indústria cultural e pelos meios de

comunicação. O peso maior desta dívida recai sobre a mulher, que foi quem

mais abandonou suas posições tradicionais na família nos últimos tempos.

Se por um lado as conquistas no âmbito do trabalho promoveram uma

maior inserção da mulher em diferentes segmentos da sociedade,por outro,

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essa mesma conquista roubou a possibilidade de controle de sue tempo,

sobretudo no que se refere á dedicação aos filhos e aos filhos e ao

desempenho da função educativa, que sempre lhe foi atribuída, dentro da

família.

Como conseqüência, houve uma necessidade de reorganização das

funções entre marido e esposa, impondo aos homens o desempenho de papéis

que anteriormente eram exercidos exclusivamente pelas mulheres.

A família contemporânea, configurada sob novos arranjos, tem sido

muitas vezes considerada como desestruturada, o que fundamenta a

justificativa do grande aumento no número das psicopatologias de diferentes

ordens. Isso tem resultado numa busca significativa por atendimentos

terapêuticos .

A família vem deixando de ser livre para se adaptar num modelo pré-

determinado e marcado pelos efeitos da industrialização, que invadem as

casas, tirando a autonomia e a privacidade das famílias – aqueles que não se

adaptam a este ritmo é excluído constantemente e até por algumas vezes

excluído de sua própria família.. Enfim o homem acaba se organizando em

função do tempo que não foi consumido pelo trabalho, e é este tempo, este

pouco tempo, que é dedicado a família, ocasionando um certo desgaste em

suas relações afetiva e gerando conflitos.

Esses desgastes de convivência no lar, ganham sentido no processo de

deterioração da vida sob as múltiplas formas de pressão do mundo, trazendo

fortes impactos e desafios para o cotidiano das relações familiares conforme

afirma Mioto (2000), “ O terreno sobre o qual a família se movimenta não é o da

estabilidade, mas o do conflito, o da contradição “. ( p..219).

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2.2- Aspectos Econômicos e Conflito Conjugal

A analise da conjuntura econômica atual evidência que o até

então papel de “provedor “ atribuído ao homem, encontra-se modificado,

papel cultural, que no cotidiano reflete ou pode também determinar

conflitos, uma vez que é embutido de cobranças ou não.

As observações sobre a dinâmica familiar mostram as condições

de vulnerabilidade em que vivem algumas famílias brasileiras vivem e

que consequentemente compromete a qualidade de suas relações.

Mioto(2000) diz que,

“não existe desemprego, a doença, enquanto categorias

abstratas, mas existem os desempregados, os doentes e

todas as implicações de caráter social , psíquico,

cultural... não é atoa que a família tem sido considerada a

caixa de resonância das grandes questões sociais de

nossa época”(p.220).

A autora também afirma que “na sociedade Brasileira, em

particular, o grau de vulnerabilidade vem aumentando, dadas as

desigualdades características da sua estrutura social...”(p.2l8).

Falar da questão social, da desigualdade e exclusão, fato

concreto na sociedade nos leva a pensar que estas possuem várias

facetas, sendo complexas e multicausais, porém o que me vem de

imediato quanto a este assunto é a contradição existente entre capital e

trabalho, e para podermos melhor explicar essa situação, faz-se

necessário descrever um pouco do processo moderno histórico em que

passou a problemática do trabalho. Daremos então uma rápida passada

neste processo.

Durante a primeira metade do século XX, nos países capitalistas

desenvolvidos, construíram-se conjuntos de políticas econômicas e

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sociais, inspiradas em Keynes(John Maynard Keynes, economista inglês

que atacou o problema do desemprego na Inglaterra propagando o

aumento do investimento público e consequentemente maior intervenção

estatal na economia), favoráveis ao bem estar da sociedade.

Estas políticas, baseadas em forte intervenção estatal na

economia, geraram uma maior segurança aos trabalhadores. Nas

principais economias capitalistas do mundo , o mercado de trabalho

tornou-se mais homogêneo e inflexível; várias leis e conquistas

trabalhistas se consolidaram e o desemprego era baixo.

A partir da crise dos anos 70 porém, tudo mudou. As empresas

tiveram que se reestruturar e se tornou impossível manter políticas

estruturadas de bem estar social.

Assistimos a uma progressiva retirada da intervenção estatal na

economia e uma maior flexibilidade da mesma e das relações de

trabalho: era o avanço das políticas neoliberais. Paralelo a isso, o Brasil

mergulhado no poço escuro da ditadura militar, não acompanhava o

processo histórico que os países desenvolvidos passavam, ficando para

traz no desenvolvimento tecnológico.

Sabemos que hoje o Estado tem se retirado nas suas

responsabilidades passando-as para a sociedade, que o mercado é livre

e que isso torna mais acirrada a concorrência e que;

“quanto menor ingerência estatal e mais flexivel as

relações econômicas, maiores são os índices de

desemprego e exclusão social, subemprego,

informalidade, precarização das relações trabalhistas “(

PIMENTEL & SILVA, apud JÚNIOR, p.184,2002).

E o primeiro núcleo afetado é a família que tem dificuldades para

suprir suas necessidade básicas, deixando ainda de aspirar níveis

melhores de ascensão, melhores padrões de consumo, educação e

assistência de saúde.

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A incompreensão de um todo social por parte da família, faz com

que seus membros procure respostas imediatas, concretas, culpando

necessariamente alguém, que vem em forma de cobranças, de

ameaças, de agressões ou simplesmente de um grande e profundo

silêncio.

Desdobramentos múltiplos se seguem inexplicáveis a um primeiro

instante ao núcleo familiar que quando se lembra de sua origem cercado

de sonhos e romances se depara com um “pesadelo “ interminável

chamado de “falta dê...” , às necessidades de subsistência vão cedendo

ao máximo primeiro pelas substituições aos mais baratos, imitações,

genéricos. Posteriormente percebe-se que não é mais possível substituir

mas simplesmente ignorar, esquecer, com o argumento de que é

impossível adquirir , pagar ou usufruir.

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2.3- As Relações de Poder Entre o Homem e a Mulher

Na definição do dicionário Aurélio, a palavra conflito expressa

“discussões acompanhadas de injúrias e ameaças ou desavenças(...)”

Ainda neste contexto abordaremos o tema conflito como o

resultado dos problemas vivenciados no cotidiano familiar acreditando

que esses problemas no âmbito familiar quando não administrados

adequadamente, geram tensões.

Abordaremos então a questão do poder nas famílias mas

especificamente falando do casal que se compõe de dois

companheiros que ao gerar descendentes gera o mundo familiar e suas

teias de relações que são, o conjunto de relações que cada membro

dessa família possui e que conforme já vimos não ocorrem sem tensões,

sendo este último nosso objeto de análise.

Falamos em teia de relações ou conjunto de relações

“... não como simples somatório de comportamentos,

anseios e demandas individuais mas sim como um

processo interagente da vida e das trajetórias individuais

de cada um de seus integrantes” (Kaloustian e Ferrari,

1994, p.13).”

“as trocas afetivas na família imprimem marcas que as

pessoas carregam a vida toda, definindo direções no

modo de agir com as pessoas. Esse ser com os outros

apreendido com as pessoas significativas, prolonga-se

por muitos anos e frequentemente projeta-se nas famílias

que se formarão posteriormente”.(p.l2).

No “mundo conjugal” ainda hoje com todas as transformações

ocorridas podemos observar o fenômeno da subordinação da mulher em

relação ao homem o que atravessa todas as classes sociais e que

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muitas vezes se reproduz dando inicio a um ciclo de conflitos. Como

afirma Romaneli, 2000:

...O jogo nas relações de força entre os cônjuges, a

autoridade da esposa , ainda, permanece subordinada

aos comandos do marido. Mesmo a expressão de poder

da esposa tende a manifestar-se á sombra das

imposições do parceiro, já que nem sempre os conflitos

entre eles são enfrentados abertamente...”(p.83)

Ao “sexo forte”, o homem, este deve negar o medo, ser o

provedor das necessidades da família e não deve falhar, associando

também valores como força, coragem, razão, inibindo assim sua

sensibilidade. Á mulher são associados valores negativos como,

fragilidade, emoção e resignação .

“O temor , por parte da esposa, da reação do marido

diante eventuais desafios à sua autoridade, aliado ao

receio de romper a coesão da família, contribuem

poderosamente para manter grande parte das tensões e

conflitos...(Romaneli,2000:84)”.

A relação homem-mulher está permeada pelo poder. O poder está

nas mãos do homem há milênios, e há indícios de que o homem teme

perde-lo devido aos privilégios que asseguram sua supremacia sobre as

mulheres.

Pode parecer em um primeiro olhar repetitivo, a abordagem do

“poder masculino”, mas observo ser de extrema importância tratar essa

questão do poder do homem sobre a mulher na sociedade, devido ao

contexto do tema tratado neste trabalho, sendo um dos determinantes

do conflito conjugal.

Homens e mulheres não ocupam posições iguais na sociedade. A

identidade social da mulher é constituída através da atribuição de

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distintos papéis impostos pela sociedade que delimita os campos onde a

mulher pode operar.

A responsabilidade da casa e dos filhos é da mulher. Ela é

socialmente responsável pela manutenção da ordem no lar e criação dos

filhos. Sua identidade social é construída.

Há uma relação estreita entre a representação social e a

formação identitária da mulher.

Jovchelovitch (2000), afirma que as representações sociais,

“são saberes sociais, isto é, formas de saber e fazer que

circulam em uma sociedade, que são parte da cultura

popular, erudita e científica, que se mesclam e penetram

uma nas outras, e emergem como recursos que umas

comunidade dispõe para dar sentido a sua realidade e

entender seu cotidiano. Os afetos, porque saber envolve

o desejo de saber ou não-saber, envolve investimento e

paixão em relação ao objeto do saber. Representar algo

não é apenas a árida construção de um mapa cognitivo,

é um ato que vem de gente que pensa e sente, que tem

motivos, intenções, que sustenta uma identidade e vive

um mundo social (p.177).”

É imposto a mulher que seu lugar é “em casa” diminuindo a

possibilidade de ser estimulada a desenvolver suas potencialidades,

inclusive a inteligência.

As mulheres são socialmente fragilizadas pelas brutais

discriminações praticadas cotidianamente contra elas um exemplo disso

é o do estupro, caso extremo do uso do poder que contrariando a

vontade da mulher, o homem mantém com a mesma relações sexuais

julgando-se no direito disto, atitude esta permeada pelo poder , poder

este que a sociedade o confere .

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Um outro exemplo é o do homem que julga-se no direito de

espancar sua mulher e esta aceita pois foi criada num ambiente onde tal

prática era comum, educada a submeter-se aos desejos masculinos e

toma isso como natural.

O exercício do poder elimina as dimensões extremamente

humanas da personalidade daqueles que dominam e exploram, inibindo

assim a sensibilidade destes.

Numa sociedade em que se mutilam dimensões da

personalidade feminina, condutas são impostas aos homens, o que

limita extraordinariamente seu desenvolvimento. E quando alguém se

nega a submeter-se ao estereótipo, arrisca-se à ser colocado à margem

das relações consideradas normais. Normais porque ele acredita em

algo que lhe foi apresentado como tal.

Barry (1976), falando sobre a questão da ordem moral da vida

social explicita bem isso quando diz que:

“As normas,, regras de procedimento e conduta na vida

social, são intrinsecamente sociais. São sociais na

medida em que não apenas se referem à vida social, mas

que são elas próprias um produto da vida social. Elas são

parte da “sociedade” ...o indivíduo nasce numa sociedade

e é socializado para aceitar as regras dessa sociedade

que já existiam antes dele. Internaliza as regras, aceita-as

como padrões do certo e do errado, e é controlado por

elas não apenas por causa do medo de vir a ofender os

outros, mas também por causa dos seus próprios

sentimentos de culpa que advêm da infração às

normas(p.38)”.

Ele afirma ainda que:

”a ordem moral da vida é muito mais penetrante. Além de

regras implícitas ou explícitas que prescrevem a conduta

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social ... as definições socialmente compartilhadas sobre

a natureza da ordem social são elas próprias dotadas de

moralidade(p.38).”

Não há fundamentação teórica ou científica dessa ideologia da

“superioridade do homem”, a mulher não é menos inteligente que o

homem, o que existe é uma falsa ideologia machista que muitas vezes

é assimilada pela mulher que acredita nessas idéias e as transmitem

para seus filhos desde o nascimento, por exemplo, a alimentação de

meninos deve ser mais forte em maior quantidade pois os meninos

devem ser mais fortes , as meninas são sempre vistas como frágeis tais

valores são passados a cada geração como citado a cima, pois como

afirma Kaloustian e Ferrari (l994), a família,

“desempenha um papel decisivo na educação formal e

informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores

éticos e humanitários... onde se constróem as marcas

entre as gerações e são observados valores

culturais”(p.12).

Como nos diz também Winnicot (1990),

“aqueles que sustentam o ponto de vista de que a

moralidade precisa ser inculcada, ensinam as crianças

pequenas de acordo com essa idéia, e renunciam ao

prazer de observar a moralidade se desenvolver

naturalmente em seus filhos”(p19).

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CAPÍTULO III

3.1- O conflito conjugal na dinâmica familiar

Kauloustian (1994), quando fala sobre a importância da família , afirma

que:

“A família brasileira em meio a

discussões sobre sua desagregação ou enfraquecimento,

está presente e permanece enquanto espaço privilegiado

de socialização, de prática de tolerância e divisão de

responsabilidades de busca coletiva de estratégias de

sobrevivência e lugar inicial para o exercício da cidadania

sob os parâmetros da igualdade, do respeito e dos

direitos humanos. A família é o espaço indispensável

para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e

da proteção integral dos filhos e demais membros,

independente do arranjo familiar ou da forma como vêm

se estruturando. È a família que propicia os aportes

afetivos e sobretudo materiais necessários ao

desenvolvimento e bem estar dos seus componentes. Ela

desempenha um papel decisivo na educação formal e

informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores

éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de

solidariedade...(p.12)”.

Porém sabemos que nem sempre é assim, pois muitas vezes a violência

é a linguagem pela qual a família se comunica.

Em um grupo social doméstico que manifesta uma relação cotidiana e

significativa, supostamente de amor e proteção, existe a violência familiar,

quando uma pessoa exerce coação sobre a outra, sem que esta pessoa possa

se proteger, por se encontrar numa situação de submissão. Uma das formas

mais freqüentes de manifestação de violência doméstica é a violência conjugal

que afeta de algum modo a todos os membros da família em conflito.

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Abordaremos a questão do conflito conjugal na relação pais e filhos,

onde num momento de conflito os pais apresentam dificuldades no exercício de

suas funções. Bergman (1996) afirma que os sintomas nas crianças,

normalmente estabilizam casamentos instáveis e quanto maior a magnitude do

conflito, maior será a magnitude do sintoma. Desta forma alguns conflitos

conjugais e familiares acabam repercutindo no comportamento das crianças,

como aquilo que o corpo expõe.

Deve-se, portanto admitir que assim como a família é o agente

socializador básico, ao mesmo tempo e em muitos casos constitui uma escola

da violência em que os filhos aprende que as condutas agressivas representam

um método eficaz para controlar as demais pessoas e para que realizar seus

próprios desejos.

As brigas conjugais são muito comuns a todos os casamentos, mas

saber trabalhar com as diferenças e expressar abertamente os sentimentos

delas oriundos, aceitando as emoções negativas como raiva e medo, ajudarão

muito aos filhos.

Bergman(1996) também mostra algumas formas de “proteger” os filhos

dos conflitos conjugais:

* Trabalhar a emoção no casamento,ou seja ,os casais que sabem lidar

com as emoções no seu casamento demonstram ser pais capazes de lidar

positivamente com as emoções negativas de seu filho.

* Não usar o filho como uma arma nos conflitos conjugais,sendo de

fundamental importância que se possa separar a conjugalidade da

parentalidade, esforçando-se para que os filhos se sintam seguros e amados

por ambos, mesmo que para isso tenham que abrir mão em favor do outro, de

parte de seu poder de autoridade.

* Avisar ao filho quando os problemas forem resolvidos, pois eles se

traquilizam ao saber que os pais se entenderam.

* Criar rede de apoio emocional, famílias de amigos que possam acolhe-

los nestes momentos de conflitos.

* Reservar algum tempo para quando estiver calmo conversar com a

criança sobre como ela esta se sentido em relação aos problemas.

* Ficar ligado aos detalhes da criança, sendo emocionalmente disponível

para ela .a vida da criança continua mesmo com a agonia de uma relação

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conjugal se acabando.Os filhos necessitam da presença dos pais e, de forma

especial, em períodos de tumulto familiar.

Nestes casos em que os conflitos conjugais acabam tomando a maior

parte do tempo e energia dos pais, estes devem se dar conta de que é o

momento em que seus filhos mais precisam de atenção, cuidados e carinho.

Vale também ressaltarmos uma questão de extrema importância no

cotidiano das famílias em conflito , que acaba se tornando um determinante,

que é a violência na família.

Considerando que os membros das famílias sempre estão envolvidos

nos acontecimentos que ocorrem no âmbito doméstico, e que ao olhar

sistêmico, todos são participantes do contexto, seja ativa ou passivamente, as

crianças que convivem com a violência conjugal sofrem suas conseqüências

inevitavelmente.

Almarales (2002) acredita que o fenômeno violento, quando produzido

no seio da família, adquire um significado especial, uma vez que a unidade

familiar aparece como um reduto de amor, incompatível com o uso da

agressão e da força.

As múltiplas manifestações da violência na família sempre são uma

forma de exercício do poder mediante emprego de força e implicam a

existência de alguém abaixo, papéis simbólicos que adotam a forma de papéis

complementares; pai-filho, homem-mulher, jovem-velho e etc .. Para que a

interação violenta se dê, deve haver a existência de certo desequilíbrio de

poder, que pode estar definido culturalmente ou pelo contexto, ou produzido

por manobras interpessoais de controle de relação.

Existem aqueles que acreditam na existência um dilema entre amor e

violência, visto que a principal questão do ser humano é amar, proteger, ajudar

o outro ou se intrometer, dominar e controlar e também acredita-se que

quanto maior e intenso o amor, mais próximo se estará da violência, no sentido

de possessividade invasiva e que a violência, neste caso, pode também ter a

função de obter amor.

A violência ocorre na forma de destruição de bens, ofensas, intimidação,

humilhações, ameaças e uma série de atitudes covardes como por exemplo a

violência psicológica, que mexe com o mais íntimo, trazendo dor e sofrimento.

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A seguir citaremos alguns tipos de violência cometidas no contexto

familiar que trás implicações e gera conflitos nas dinâmicas familiares.

• Violência sexual: È considerado violência sexual, as situações de abuso,

violação (agressão sexual com penetração sem consentimento mútuo ) e

assédio sexual ( forma de pressão sobre o outro como o fim de lhe impor

relações sexuais) São exemplos de violência sexual: forçar relações

sexuais que não são de agrado do outro assim como as práticas de caráter

exibicionista perante o outro,obscenidade escrita ou oral, obrigatoriedade

de assistir a espetáculos e o uso de objetos pornográficos. È uma agressão

focalizada na sexualidade da pessoa , mas que atinge todo o seu ser.

• Violência doméstica, quebra ou destruição de utensílios ou documentos

pessoais ou mesmo roupas...

• Violência física :agressões que deixam marcas no corpo da vítima, como

hematomas, cortes, arranhões, manchas, fraturas ou até mesmo que não

deixam marcas...

• Violência psicológica: Consiste em um comportamento (não físico)

específico por parte do agressor , seja este um indivíduo ou um grupo.

Caracteriza-se em: impedir a mulher de sair de casa, trabalhar, ir ao

médico, trancá-la dentro de casa, xingamentos, humilhações, falta de

diálogo, gritos, gozações, insinuações que ofendem moralmente a mulher

como por exemplo afirmar que esta tem amantes e etc...

• Violência emocional:È caracterizada por rejeição, depreciação, humilhação

e desrespeito. Esse tipo de violência é pouco debatido, não deixa marcas

corporais visíveis mas emocionalmente deixa cicatrizes para toda a vida

causando graves transtornos. A violência emocional, também conhecida

como agressão emocional é a ação destinada a degradar as ações ,

comportamentos, crenças e decisões de outras pessoas por meio de

intimidação, humilhação,isolamento, ameaça direta ou indireta ou qualquer

outra conduta desse tipo que implique em prejuízos, á saúde psicológica,

autodeterminação desenvolvimento pessoal . Uma outra forma de violência

psicológica são as crises de quebra de utensílios, documentos pessoais,,

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também são consideradas violência emocional pois não houve agressão

física diretamente.

Violência social: constrangimentos e agressões morais em outros

ambientes, fora o doméstico, salários diferenciados para o mesmo cargo,

exigência de boa aparência, assédio sexual, exigência de atestado de

laqueadura ou exame de gravidez, discriminação em função da etnia (raça/cor),

discriminação ideológica...( velada ou não).

Podemos afirmar e até citar que muitos são os danos na vida de um

indivíduo que sofre ou sofreu violência familiar, exemplos:

*Quanto á violência física:

-fraturas, queimaduras ou contusões corporais, óbitos,

*Quanto á violência sexual :

-hemorragia vaginal ou retal, infecções e lesões genitais, gravidez

indesejada, aquisição de doenças sexualmente transmissíveis,

-sono agitado pesadelos frequentes;

-medo do escuro, enurese;

-mal desempenho escolar

-tentativa de suicídio;

-agressividade e depressão;

-uso de drogas e alcoolismo.

*Quanto á violência psicológica:

-mudanças súbitas e inexplicáveis de comportamento etc...

Existem também vários tipos de violência que podem gerar conflitos nas

famílias. Podemos sistematizar algumas considerações sobre o tema violência

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tão presente em nosso cotidiano como também negado por muitos apesar de

sua gritante conseqüência.

ODALIA(1983), nos chama a tenção quando fala sobre a atual

arquitetura das casas dos bairros mais sofisticados onde esta busca a

segurança, e a defesa, se interiorizando em muros para ele:

“O mundo torna-se menor, restringe-se, e o isolamento familiar,

assegurado atrás de pesados portões e protegido por uma

parafernália eletrônica - único contato com o mundo exterior -

revela com nitidez que a casa hoje é menos compreendida

como lugar de repouso e tranqüilidade, uma ligação amorosa

com o exterior, e mais como um refúgio contra a vida exterior,

contra a violência, preocupação constante e

diurna.(Odala,1983:12)”.

Diz ainda que os bairros da periferia e favelas onde os moradores

sem condições de custear toda essa proteção, são obrigados a viver no

seu cotidiano com a violência como se esta fosse coisa normal que de

tão banal se torna íntima e assim molda seu estilo de vida com

naturalidade.

“Na favela, no cortiço, embaixo das pontes , como o isolamento

é uma quimera, a única arma contra a violência é permitir que a

promiscuidade e o hábito teçam uma rede de conformismo que,

aqui ou ali rompida, não deixam de funcionar como falsa

proteção(p.12)”.

Wilheim (1996) relacionando a violência com a desigualdade

social presente em nosso atual contexto diz que,

“a exclusão do outro expressa uma intolerância que pode

degenerar em violência, como se tem observado nesta década

com triste freqüência. Por outro lado, a banalização na mídia,

da violência, dos crimes, do erotismo, em virtude, da difusão

acrítica dessas ocorrências, dessemsibiliza e torna pasivos os

cidadãos, eliminando a crítica e o sentimento de indignação ...

(p.53)”.

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Refletimos a identificação do fenômeno em questão, proposto em

considera-lá sob a forma de ”privação de algo”. Privar alguém de algo,

expressa por si o ato de violência.

No, dicionários a palavra violência vem definida como força

destrutiva , coação, ato violento e etc ... muitas são as definições para a

palavra, porém creio que tais denominações se tornam estreitas para

expressar suas manifestações no cotidiano das famílias.

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CONCLUSÃO

Ao final deste trabalho acredito ter aprofundado a busca pela

compreensão da dinâmica familiar, na ótica da totalidade, nas múltiplas

dimensões da vida social.

Na tentativa de reconstruir o objeto de análise desses conflitos vemos

que os aspectos materiais, em especial as carências materiais se inter-

relacionam com as carências afetivas íntimanente e a impotência da satisfação

dessas necessidades explode numa corrente crescente de nervosismo e

agressões. Agride-se primeiro a sí mesmo (bebendo, chorando, frustando-se) e

posteriormente agride o outro, o que está mais próximo, o que é cúmplice.

O trágico neste ínterim é a “presença de filhos não “na” presença de

filhos. Como herança cultural, genética e institiva o macho provém recursos e

sustentação a prole - é assim na natureza – Dar respostas ao que não se

consegue explicação é por demais adulto. Exige-se maturidade, sabedoria e

auto controle.

Mas gostaria de não terminar sem antes dizer no que realmente me veio

a cabeça, durante todo o tempo dessa pesquisa: Queria dizer que apesar deste

ser um trabalho do curso de terapia de família, penso que tudo se perderia se

eu deixasse de pensar como profissional da área da assistência social que sou,

porque as carências afetivas e as materiais estão juntas e fazendo que o

indivíduo possa SENTIR .

Então me pergunto : Que políticas existem para atender aqueles que

passam por esses tipos de conflito nas famílias ? Que alternativas teriam

aqueles que não podem pagar por atendimento ?

A pergunta nos leva a pensar em políticas de atendimentos a essas

famílias, políticas de prevenção, medidas mais abrangentes visando prevenir

as formas desses conflitos, enfim uma abordagem que dê conta da

complexidade deste objeto, considerando que o mesmo se configura como a

síntese de múltiplas determinações. Uma proposta seria a implantação de

clínicas que respondam pela terapêutica mais abrangente essas situações,

contando com equipes multidisciplinares para que a população de baixa renda

tenha acesso e assim possibilidade de sanar seus problemas, pois o que

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vemos é que aqueles que não tem condições financeiras de pagar não podem

ter esse tipo de atendimento quando o assunto é conflito conjugal.

Enfim infelizmente é notório que quando é este o assunto, somente

aqueles que pagam recebem o tratamento adequado.

O tratamento de tais situações extrapola os limites de um único

atendimento, o que vem confirmar a necessidade de uma ação profissional

mais prolongada, assim como a necessidade de procura de novos elementos

para a compreensão do fenômeno de subsídios acadêmicos práticos e teóricos

nesta área.

Volto a dizer então que articular respostas das políticas sociais públicas

que atendam a essas demandas é fundamental assim como, é imprescindível

que se interceda cada vez mais na subjetividade dos seres e o apoie nesta

afirmação de suas carências emocionais , em sua forrma de enxergar o mundo

que o cerca e principalmente das suas possibilidades no enfrentamento de sua

história.

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