falando em série – smash

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Falando em Série – Smash Escrever sobre um seriado que você gosta tanto com o calor a as emoções imediatas após assistir ao último episódio sempre deixam você meio atordoado, mas não poderia escolher um momento melhor para escrever sobre Smash, que encerrou em sua segunda temporada com um gosto doce nos lábios. Desde que vi os anúncios de uma série produzida por Steven Spielberg retratando a produção de um espetáculo da Broadway, as minhas expectativas foram às alturas de imediato, mas, até conseguir acompanhar os episódios desta série que se iniciava, levaria certo tempo. Só depois de minha febre repentina por assistir diversos seriados é que cheguei a ela e minhas expectativas não poderiam ser mais do que surpreendidas: nunca havia assistido a um seriado que retratasse um processo criativo em teatro e as imbricações pessoais que este tipo de situação provoca em quem dele participa. Processos de criação sempre me interessaram: sou daqueles que acompanha making ofs, faixas de comentário de DVDs e que gosta de ler sobre bastidores de filmes e séries, tentando entender um pouco como o “ser criativo” destas pessoas se movimenta, passeia pelas ideias, frustrações e decisões que precisam ser atravessadas durante a criação artística. Então, conferir estes dramas em um musical teatral (um dos meus gêneros teatrais e cinematográficos favoritos) em episódios semanas poderia ser considerado um verdadeiro presente. Quando comecei a assistir Smash, a estrutura

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Falando em Srie SmashEscrever sobre um seriado que voc gosta tanto com o calor a as emoes imediatas aps assistir ao ltimo episdio sempre deixam voc meio atordoado, mas no poderia escolher um momento melhor para escrever sobre Smash, que encerrou em sua segunda temporada com um gosto doce nos lbios. Desde que vi os anncios de uma srie produzida por Steven Spielberg retratando a produo de um espetculo da Broadway, as minhas expectativas foram s alturas de imediato, mas, at conseguir acompanhar os episdios desta srie que se iniciava, levaria certo tempo. S depois de minha febre repentina por assistir diversos seriados que cheguei a ela e minhas expectativas no poderiam ser mais do que surpreendidas: nunca havia assistido a um seriado que retratasse um processo criativo em teatro e as imbricaes pessoais que este tipo de situao provoca em quem dele participa. Processos de criao sempre me interessaram: sou daqueles que acompanha making ofs, faixas de comentrio de DVDs e que gosta de ler sobre bastidores de filmes e sries, tentando entender um pouco como o ser criativo destas pessoas se movimenta, passeia pelas ideias, frustraes e decises que precisam ser atravessadas durante a criao artstica. Ento, conferir estes dramas em um musical teatral (um dos meus gneros teatrais e cinematogrficos favoritos) em episdios semanas poderia ser considerado um verdadeiro presente. Quando comecei a assistir Smash, a estrutura narrativa e os personagens concebidos por Theresa Rebeck em cativaram de cara, principalmente Julia Houston (Debra Messing) e Tom Levitt (Christian Borle), respectivamente a dramaturga e compositor que encarnam os pilares do processo criativo de Bombshell, o musical inspirado na vida do mito cinematogrfico Marilyn Monroe, a ser dirigido Derek (Jack Davenport) e produzido por Eillen Rand (Anjelica Houston). Contudo, um cone como Marilyn precisaria de uma intrprete altura, papel disputado na raa por Karen Cartwright (Katharine McPhee) e Ivy Lynn (Mehan Hilty): a primeira, uma iniciante que acabou de chegar de uma cidade no interior dos EUA; a segunda, a garota do coro em diversos espetculos de Nova York que pode ter neste espetculo a chance de provar seu talento. Com um mote simples, que poderia render constrangimentos do gnero de Burlesque, os episdios passeiam pelos problemas e prazeres no processo criativo do espetculo, contando com nmeros musicais muito bem coreografados e executados pelos talentosos atores. Uma das principais qualidades do seriado tornar seus personagens humanos, tornar suas atitudes reprovveis, mas ainda assim, compreensveis pelo pblico. Quando observamos a trajetria da disputa entre as protagonistas, no se percebem embates novelescos maniquestas, mas diversas nuances que envolvem os outros integrantes do elenco e da produo.Quando acompanhamos os episdios, vamos perdendo um pouco o olhar ingnuo e at mesmo romntico sobre a arte teatral de que envolve a arte, sentimentos elevados, a intelectualizao, a cultura e outros conceitos -, percebendo como o lado industrial e profissional deste tipo de entretenimento envolve os mesmos problemas que acontecem em empresas e trabalhos convencionais: a dramaturga que tem problemas em casa que refletem na escrita do texto, o diretor que precisa usar a arrogncia para ser respeitado pela equipe, o assistente do produtor que no considera consequncias quando pensa em ascender profissionalmente e assim por diante. Ou seja, quando a arte vira uma profisso, os sentimentos mais nobres e a criao so desfavorecidos em relao aos egos, os problemas familiares e as frustraes com o emprego.Quanto esttica do seriado em si, a escolha por focar na trama ao invs dos nmeros musicais mostrou-se mais do que acertada, pois, ao contar com uma mdia de trs msicas por episdio, sua narrativa flua com mais dinamicidade do que seu parente prximo o seriado teen Glee. Em relao serialidade das temporadas (ou seja, o modo como as tramas so concatenadas nos episdios), Smash exibiu o talento primoroso de Theresa Rebeck ao contar com uma estrutura muito bem planejada, com os personagens sendo utilizados de forma orgnica ao longo dos episdios (SPOILER ALERT: excluindo alguns pontos que parecem no ter sido bem recebidos, como a adoo de um beb por Julia, que sumiu da histria rapidamente, e um affair entre Tom e Kyle, que rendeu menos do que o esperado). Alm disso, a direo dos episdios torna os nmeros musicais filmados no teatro algo complexo que corre o risco de ficar montono e pouco convidativo mais dinmicos na conjuno entre as belas msicas compostas por Marc Shaiman, Chris Bacon e Scott Wittman e as coreografias de Joshua Bergasse.O encerramento da primeira temporada arrepia o espectador com o nmero final da estreia do musical apresentando a Marilyn escolhida pela equipe e com uma msica apaixonante e intensa a saber, Dont Forget Me. O incio da segunda temporada, contudo, promete com um nmero belssimo Cut, Print... Moving On que resume o sentimento das personagens na temporada do musical e abre as portas para a ascenso de um espetculo alternativo que concorrer pela ateno do pblico com Bombshell, Hit List. Todavia, esta temporada decepcionou no somente nos ndices de audincia, mas tambm na prpria narrativa, j que inclui um personagem particularmente irritante Jimmy, o bartender rebelde sem causa que ganha uma projeo muito grande na narrativa e muitas idas e vindas por conta da ascenso deste novo espetculo. Apesar de no contar com a mesma pompa e charme cinquentista de Bombshell, Hit List conquista o pblico pelo ar underground e a proximidade com que se comunica com um pblico vido pela cultura pop modernosa dos anos 2000 e mostra um processo criativo bastante distinto de seu concorrente. Todavia, todas estas qualidades no impediram o cancelamento do seriado, que se despediu de seu pblico no dia 26 de maio, com um episdio final de duas horas que mostrou justamente a premiao do Tony Awards o chamado Oscar do teatro norte-americano em que foram indicados os dois espetculos e as duas atrizes Karen e Ivy. E devo dizer que foram poucas as surpresas para quem conferiu o ltimo episdio, mas todas as resolues foram bastante coerentes e emocionantes, deixando saudades de conferir as agruras dos bastidores de um musical. Smash emociona no s por conter todas as estratgias do melodrama a que estamos acostumados nas novelas e seriados que assistimos, mas por versar sobre o poder da criao de nos curar, mas tambm de nos consumir. Afinal, quem no deseja ser reconhecido pelo seu trabalho rduo por quem que seja, ainda mais quando este trabalho envolve tanta exposio? Como um f de teatro e, principalmente, de musicais, digo que este seriado deixar muitas saudades por sua histria, seus personagens e por trazer s telas de TV tanta nostalgia, arte e superao mesmo em meio cotidiana frieza da indstria do entretenimento.

Para quem conferiu ou no o seriado, deixo aqui meus nmeros musicais favoritos da srie (com uma dificuldade enorme para selecionar somente oito):1. 20th Century Fox Mambo

http://www.youtube.com/watch?v=JWDcaOLPKW82. History Is Made At Night

http://www.youtube.com/watch?v=7KnEJ9EXxHI3. They Just Keep Moving The Line

http://www.youtube.com/watch?v=vN5gZOYw2x44. Dont Forget Mehttp://www.youtube.com/watch?v=07RNVGriWYQ5. Cut, Print Moving Onhttp://www.youtube.com/watch?v=tDabvj0rUEE6. I Never Met a Wolf Who Didn't Love to Howl http://www.youtube.com/watch?v=tYDu9upUnsw7. Under Pressure

http://www.youtube.com/watch?v=ZUtdYUsmUYs8. A Thousand and One Nightshttp://www.youtube.com/watch?v=NvZ3QSKtYvk