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FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO LETÍCIA CASTRO GAZIRI CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA MOVELEIRA DO PARANÁ CURITIBA 2010

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FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM

ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO

MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO

LETÍCIA CASTRO GAZIRI

CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO NA

INDÚSTRIA MOVELEIRA DO PARANÁ

CURITIBA

2010

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LETÍCIA CASTRO GAZIRI

CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO NA

INDÚSTRIA MOVELEIRA DO PARANÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Organizações e Desenvolvimento.

Orientação: Profª. Dra. Sieglinde Kindl da Cunha.

CURITIBA

2010

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À Renée, por um dia ter feito parte da minha vida.

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Agradecimentos

Agradeço a colaboração de todas as pessoas que me acompanharam neste

projeto e, especialmente:

Aos meus pais, meus ídolos, meu orgulho, a quem devo tudo que sou;

Ao meu marido, pelo amor, paciência e parceria nas privações;

À equipe do Centro de Design Paraná, que me apoiou nesta investida, em especial à

Claudia Ishikawa, que deu todo o suporte à equipe em minha ausência;

À Ana Brum, minha companheira e incentivadora, e ao Ken Fonseca, sempre disposto a

me ajudar e orientar;

À minha incrível orientadora, Sieglinde Kindl da Cunha, por ter acreditado neste projeto

e com quem espero ainda escrever inúmeros artigos;

Aos professores João Carlos da Cunha, Antoninho Caron e José Edmilson de Souza

Lima, pelas valiosas contribuições;

Aos empresários Ronaldo Duschenes, Luiz Fernando Tedeschi e Claudio Luis Heck,

por terem aberto as portas de suas empresas e pelo interesse em contribuir com

esta pesquisa;

Ao Aurélio Santana, por ter-me aberto as portas de algumas empresas do

setor moveleiro.

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RESUMO

GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – Programa de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.

O objetivo desta dissertação é compreender o fenômeno da inovação na indústria brasileira de móveis a partir do entendimento de que as empresas possuem diferentes capacidades de inovar. Ao tratar a inovação como um fator sistêmico, considerou-se importante avaliar não apenas as condicionantes da inovação internas à empresa, mas também em sua relação com outras empresas, organizações e governos, além do ambiente macro onde a mesma se insere. O presente estudo pretende contribuir com o entendimento das condicionantes de inovação do setor moveleiro a fim de promover o desenvolvimento da indústria através da inserção e do aprimoramento do processo de inovação por meio de políticas públicas mais eficazes. O modelo de estudo foi elaborado com base em revisão teórica que permitiu determinar os elementos constitutivos das dimensões micro, meso e macro da inovação e, ainda, qualificar as empresas a partir de sua capacidade de inovação. O levantamento das informações foi realizado nos meses de setembro a novembro de 2010 junto a quatro empresas fabricantes de móveis de Curitiba-PR. A proposta de qualificar as empresas a partir de sua capacidade de inovação permitiu apreender suas características e potencialidades e relacionar esta capacidade às condicionantes de inovação. Os resultados apontam as principais condicionantes da inovação na indústria de móveis. Do ponto de vista micro, os empresários se mostraram sensibilizados para a inovação, entendem sua importância e procuram inseri-la em suas indústrias. Contudo, encontram barreiras, como falta de tempo para planejamento, falta de recursos, falta de conhecimento do processo, entre outras. Do ponto de vista meso, percebem-se falta de cooperação, falta de troca de informações e poucas parcerias, o que se mostrou evidente pela ausência de um sistema setorial de inovação. Do ponto de vista macro há um destaque para a ausência de políticas públicas direcionadas ao setor. Os dados desta pesquisa reforçam a necessidade de estimular a inovação a partir de uma estruturação sistêmica setorial e de políticas públicas direcionadas à inovação.

Palavras-chave: inovação; capacidade de inovação; condicionantes da inovação; setor moveleiro.

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ABSTRACT

GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – Programa de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.

The objective of this dissertation is to understand the phenomenon of innovation in the Brazilian furniture industry based on the understanding that the companies have different capacities to innovate. By treating innovation as a systemic factor, it was considered important to understand the determinants of innovation not only internal to the company, but also in its relationship with other companies, organizations and governments, and the macro environment where it is inserted. This study aims to contribute to the understanding of the determinants of innovation in the furniture sector to promote industrial development through the integration and improvement of the innovation process through more effective public policies. The study model was based on a theoretical approach that allowed us to determine the innovation components in the micro, meso and macro dimentions and the companies capacities to innovate. The information survey was conducted during September to November 2010 together with four furniture manufacturers from Curitiba, in Paraná State, Brazil. Qualifying companies from its capacity for innovation allowed us to understand its characteristics and potential and relate these capacities to the innovation determinants. Results show the main determinants of innovation in the furniture industry. From the micro point of view, the entrepreneurs have proved sensitive to innovation, seek to understand their importance and put it into their industries, however, face barriers such as lack of time for planning, lack of resources, lack of knowledge of the process, among other. From the standpoint of meso, one perceives a lack of cooperation, lack of exchange of information and few partnerships that were evident by the lack of a sectoral system of innovation. From the macro point of view there is an emphasis on the lack of public policies directed to the sector. Data from this study reinforce the need to stimulate innovation from a systemic structure and sectoral policies targeting innovation.

Keywords: innovation; capacities to innovate; determinants of innovation; furniture sector.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - DIMENSÕES DO MODELO DO MINNESOTA INNOVATION SURVEY ......................... 44

FIGURA 2 - SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO ............................................................................. 50

FIGURA 3 - CADEIA PRODUTIVA DA MADEIRA E DE MÓVEIS ....................................................... 76

FIGURA 4 - DESENHO DA PESQUISA ............................................................................................... 90

FIGURA 5 - NÍVEL DE CAPACIDADE DE INOVAÇÃO E DIMENSÕES E

CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO .............................................................................. 96

FIGURA 6 - LINHA DE PRODUTOS DA EMPRESA FLEXIV .............................................................. 103

FIGURA 7 - LINHA DE PRODUTOS DA EMPRESA ALFA .................................................................. 105

FIGURA 8 - LINHAS DE PRODUTOS DA EMPRESA INFORLINE ..................................................... 106

FIGURA 9 - PRODUTOS DA EMPRESA MÓVEIS HECK ................................................................... 108

FIGURA 10 - PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ............................................. 111

FIGURA 11 - PRODUTOS DESENVOLVIDOS EM PARCERIA .......................................................... 130

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - SÍNTESE DOS MODELOS DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA ................................... 36

QUADRO 2 - COMPONENTES DA ORGANIZAÇÃO INOVADORA .................................................... 38

QUADRO 3 - SÍNTESE DAS CONDICIONANTES MICRO DE INOVAÇÃO........................................ 46

QUADRO 4 - SÍNTESE DAS CONDICIONANTES MESO DE INOVAÇÃO ......................................... 52

QUADRO 5 - PLANO DE AÇÃO DA COMUNIDADE EUROPEIA ....................................................... 57

QUADRO 6 - POLÍTICA INDUSTRIAL DO MITI ................................................................................... 63

QUADRO 7 - POLÍTICAS PÚBLICAS E INSTRUMENTOS PARA INOVAÇÃO .................................. 64

QUADRO 8 - SÍNTESE DAS CONDICIONANTES MACRO EM INOVAÇÃO ...................................... 66

QUADRO 9 - CONDICIONANTES MACRO DE INOVAÇÃO ............................................................... 69

QUADRO 10 - CARACTERÍSTICAS DO SEGMENTO DE MÓVEIS DE MADEIRA ............................ 75

QUADRO 11 - PRINCIPAIS POLOS MOVELEIROS E SUAS CARACTERÍSTICAS .......................... 77

QUADRO 12 - DIMENSÕES E CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO ................................................. 91

QUADRO 13 - NÍVEL DE CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ................................................................... 93

QUADRO 14 - OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................... 97

QUADRO 15 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA .................. 100

QUADRO 16 - DADOS DA EMPRESA FLEXIV ................................................................................... 101

QUADRO 17 - DADOS DA EMPRESA ALFA ....................................................................................... 103

QUADRO 18 - DADOS DA EMPRESA INFORLINE ............................................................................. 105

QUADRO 19 - DADOS DA EMPRESA MÓVEIS HECK ....................................................................... 107

QUADRO 20 - ESTRUTURA E FORMAÇÃO DA EQUIPE DE CRIAÇÃO DA EMPRESA

FLEXIV ............................................................................................................................. 109

QUADRO 21 - ESTRUTURA E FORMAÇÃO DA EQUIPE DE CRIAÇÃO ........................................... 116

QUADRO 22 - SÍNTESE DA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS EMPRESAS

PEQUISADAS .................................................................................................................. 119

QUADRO 23 - SÍNTESE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ........................................................... 146

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abimóvel - Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário

APEC - Asian Pacific Economic Cooperation

APL - Arranjo Produtivo Local

Asbea - Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura

BMTs - Baixa e Média Tecnologia

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

C&T - Ciência e Tecnologia

CE - Comunidade Europeia

CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas

Cohapar - Companhia de Habitação do Paraná

DI - Registro de Desenho Industrial

EDC - Equipe de Design Comercial

EFD - Estúdio de Design de Produto

EIRs - Economias de Industrialização Recente

EU - União Europeia

FIEP - Federação das Indústrias do Estado do Paraná

Finep - Financiadora de Estudos e Projetos

IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBQP - Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade

INNFORM - Innovative Forms of Organizing

IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados

ICSID - International Council of Societies of Industrial Design

MDF - Medium Density Fiberboard

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MEC - Ministério da Educação

MIS - Minnesota Innovation Survey

Miti - Ministry of International Trade and Industry

MPEs - Micro e Pequenas Empresas

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development

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OIC - Organização Internacional de Comércio

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

PDP - Política do Desenvolvimento Produtivo

PI - Propriedade Intelectual

Rais-MTE - Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do

Trabalho e Emprego

Secex - Secretaria de Comércio Exterior

Senai/Cetemo - Centro Tecnológico do Mobiliário

SI - Sisitema de Inovação

Simov - Sindicato das Indústrias Marceneiras do Estado do Paraná

Sindimov - Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Paulo

SNI - Sistema Nacional de Inovação

SPRU - Science Polish Research Unit

SRI - Sistema Regional de Inovação

SVID - Swedish Industrial Design Foundation

Tecpar - Instituto de Tecnologia do Paraná

Unindus - Universidade da Indústria

UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

UFPR - Universidade Federal do Paraná

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14

1.1 QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO ................................................................... 18

1.2 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 18

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 18

1.4 JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA ......................................................... 18

2 CONCEITOS GERAIS E REVISÃO DA LITERATURA ........................................ 22

2.1 A INOVAÇÃO ................................................................................................. 22

2.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ....................................................................... 29

2.2.1 The Design Ladder ......................................................................................... 30

2.2.2 Capacidade de Inovação ................................................................................ 32

2.3 CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO.............................................................. 36

2.3.1 Condicionantes em Nível Micro ...................................................................... 37

2.3.2 Condicionantes em Nível Meso ...................................................................... 46

2.3.3 Condicionantes em Nível Macro ..................................................................... 52

2.4 OUTRAS VARIÁVEIS CONDICIONANTES OU INTERVENIENTES ............. 69

3 O SETOR MOVELEIRO ....................................................................................... 74

3.1 HISTÓRICO .................................................................................................... 74

3.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SETOR MOVELEIRO .............................. 74

3.2.1 Polos Moveleiros ............................................................................................ 77

3.3 INOVAÇÃO NO SETOR MOVELEIRO ........................................................... 78

3.4 OUTROS ESTUDOS REALIZADOS .............................................................. 83

3.4.1 Inovação Tecnológica na Indústria de Móveis ................................................ 83

3.4.2 O Setor de Móveis na Atualidade: Uma Análise Preliminar ............................ 84

3.4.3 Prospectiva Tecnológica da Cadeia Produtiva Madeira e Móveis .................. 84

3.5 DADOS DA INOVAÇÃO NO SETOR.............................................................. 85

3.5.1 Inovação no Setor Moveleiro do Paraná ......................................................... 85

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 89

4.1 QUESTÃO DA DISSERTAÇÃO ...................................................................... 89

4.2 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 89

4.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 89

4.4 DESENHO DA PESQUISA ............................................................................. 90

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4.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ........................................................................ 90

4.5.1 Dimensões e Condicionantes da Inovação ..................................................... 90

4.5.2 Nível de Capacidade de Inovação .................................................................. 92

4.5.3 Estratégia da Empresa, Estágio de Vida e Porte ............................................ 93

4.5.4 Outros Conceitos ............................................................................................ 94

4.5.4.1 Inovação............................................................................................ 94

4.5.4.2 Design............................................................................................... 94

4.6 MODELO DE PESQUISA ............................................................................... 95

4.7 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................... 95

4.8 CLASSIFICAÇÃO E DELINEAMENTO DA PESQUISA ................................. 97

4.9 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS CASOS ................................................. 98

4.10 FONTES DE EVIDÊNCIA, COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ..................... 99

4.11 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ....................................................................... 100

4.12 RESUMO DA METODOLOGIA .................................................................... 100

5 AS EMPRESAS E SUA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ................................... 101

5.1 BREVE NOTA SOBRE AS INDÚSTRIAS PESQUISADAS .......................... 101

5.1.1 A Flexiv ……….. ........................................................................................... 101

5.1.2 A Empresa Alfa ............................................................................................. 103

5.1.3 A Inforline ………………………………………………………………………….105

5.1.4 A Móveis Heck .............................................................................................. 107

5.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ..................................................................... 108

5.2.1 Capacidade de Inovação da Flexiv ............................................................... 108

5.2.2 Capacidade de Inovação da Empresa Alfa ................................................... 113

5.2.3 Capacidade de Inovação da Empresa Inforline ............................................ 115

5.2.4 Capacidade de Inovação da Empresa Móveis Heck .................................... 117

5.2.5 Síntese da Capacidade de Inovação das Empresas Estudadas .................. 118

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE COMPARATIVA DAS CONDICIONANTES DE

INOVAÇÃO DAS EMPRESAS SELECIONADAS .............................................. 120

6.1 CONDICIONANTES DE INOVAÇÃO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL .. 120

6.1.1 Estrutura Adequada e Ambiente Criativo ...................................................... 120

6.1.2 Descentralização e Redução dos Níveis Hierárquicos ................................. 122

6.1.3 Visão Compartilhada, Liderança e Desejo de Inovar .................................... 124

6.1.4 Trabalho em Equipe e Indivíduos-Chave ...................................................... 125

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6.1.5 Aprendizagem ............................................................................................... 126

6.1.6 Comunicação ................................................................................................ 128

6.2 CONDICIONANTES DE INOVAÇÃO NAS RELAÇÕES EXTERNAS DAS

EMPRESAS .................................................................................................. 129

6.2.1 Foco Externo ................................................................................................ 129

6.2.2 Organizações de Caráter Associativo ........................................................... 131

6.2.3 Empresas Públicas e Privadas e Instituições de P&D .................................. 133

6.2.4 Organizações de Ensino e Pesquisa ............................................................ 135

6.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E SEUS REFLEXOS NA INDÚSTRIA DE MÓVEIS137

6.3.1 Aprendizado e Conhecimento ....................................................................... 137

6.3.2 Estrutura……………………………………………………………………………139

6.3.3 Mercado………… ......................................................................................... 140

6.3.4 Incentivo e Fomento ..................................................................................... 141

7 RELAÇÃO ENTRE A CAPACIDADE INOVADORA E OS CONDICIONANTES

DA INOVAÇÃO ................................................................................................... 145

7.1 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MICRO ...................... 145

7.2 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MESO ........................ 152

7.3 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MACRO ..................... 155

CONCLUSÃO .........................................................................................................160

REFERÊNCIAS .......................................................................................... .............166

APÊNDICE 1 - Modelos de capacidade tecnológica .................................... .......172

APÊNDICE 2 - Roteiro de entrevista .................................................................... 177

APÊNDICE 3 - síntese das questões do roteiro de entrevista ........................... 183

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1 INTRODUÇÃO

O atual cenário de globalização, economia mundial e desenvolvimento

tecnológico têm exigido mudanças constantes por parte das indústrias, que são

condicionadas a inovar em busca da competitividade, participação no mercado e

desenvolvimento sustentável.

A empresa, para se manter competitiva, atender às necessidades dos clientes

e pessoas físicas e jurídicas e conquistar volumes de lucros crescentes se

relocaliza nos espaços territoriais mundiais e se reconverte produtivamente,

passando de um estágio de qualidade e produtividade menor para um estágio

de inovações intensas e constantes na busca da redução de custos, da

incorporação de invenções e inovações. (CARON, 2009, p.2).

Apesar da constatação desta necessidade de mudança e desenvolvimento da

indústria nacional, o Brasil ainda possui uma das mais baixas taxas de lançamento de

novos produtos no mercado, o que, segundo Cunha et al. (2009), indica um baixo

potencial de inovação dos empreendimentos brasileiros, uma vez que apenas 3,3%

deles têm capacidade para lançar novos produtos. Para a autora, um dos fatores que

levam o Brasil a ser um dos últimos países em termos de desenvolvimento de novos

produtos é a característica do empreendedorismo por necessidade.

Os problemas sociais de desemprego e renda é que têm gerado um perfil

de empreendedor brasileiro que busca solução para a miséria em atividades

de baixo valor agregado. Esse empreendedor por necessidade está

desprovido de informações sobre tecnologias e mercado; além de não

dispor de recursos e de apoio financeiro, não possui formação e informação

sobre a atividade empreendedora (CUNHA et al., 2009, p.16).

Enquanto o governo busca criar políticas públicas de inovação focando no

ambiente externo à empresa, é preciso pensar em como levar a inovação para

dentro das micro e pequenas empresas, de forma prática, com baixo custo, visando

criar um processo permanente de inovação, respeitando as dificuldades que estas

empresas enfrentam e permitindo que a inovação passe a fazer parte de sua

cultura organizacional.

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Vários fatores sistêmicos exógenos conformam o cenário da inovação nos

países em desenvolvimento, tais como: incerteza macroeconômica;

instabilidade; infra-estrutura física (falta de serviços básicos como eletricidade

ou tecnologias de comunicação "velhas"); fragilidade institucional; ausência

de consciência social sobre a inovação; natureza empresarial de aversão ao

risco; falta de empreendedores; existência de barreiras aos negócios

nascentes; ausência de instrumentos de políticas públicas para dar suporte

aos negócios e para o treinamento gerencial (OCDE, 1997, p.155).

As políticas em inovação são uma ferramenta estratégica para o desenvol-

vimento econômico, uma vez que oportunizam o desenvolvimento de produtos de

valor agregado, elevando o país do patamar de produtor de manufatura para o de

produtor de produtos industrializados e com reconhecimento internacional. No cenário

atual, o Estado tem papel fundamental na elaboração e coordenação de políticas de

incentivos e regulatórias que busquem o desenvolvimento econômico da nação.

É fundamental tratar das indústrias como base para o desenvolvimento

econômico, bem como das políticas públicas direcionadas para este desenvolvimento.

A cada dia a indústria brasileira precisa se reinventar, principalmente quando se leva

em consideração a questão da sustentabilidade, entendida neste contexto como

economicamente viável, socialmente correta e ambientalmente menos impactante.

A Política do Desenvolvimento Produtivo - PDP (MDIC, 2010), desenvolvida

pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC, trata de

forma estratégica o setor madeira e móveis no contexto do programa de

fortalecimento da competitividade, uma das linhas estruturantes dessa política.

Segundo dados do relatório de acompanhamento da implementação da PDP, o

Brasil possui 3,2% da produção mundial (US$ 8,7 bilhões) e 1,0% das exportações

(US$ 100 bilhões).

O setor de madeira e móveis vem sofrendo pressões mundiais relacionadas

à sustentabilidade econômica, social e ambiental. Nesse cenário, diversas empresas

vêm buscando as certificações e adequações necessárias, sobretudo as que estão

vinculadas à exportação.

Trata-se de um setor composto, majoritariamente, por Micro e Pequenas

Empresas (MPEs), as quais estão, em muitos casos, organizadas em Arranjos

Produtivos Locais (APLs).

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A PDP traçou como metas para 2009: crescimento médio de 5% a.a. nas

vendas internas; crescimento médio de 5% a.a. nas exportações, e ampliação do

investimento em inovação e P&D para, respectivamente, 3% e 0,5% das vendas

líquidas. Dentre os desafios encontrados para o setor estão: capacitar empresas em

APLs; ampliar negócios com geração de valor (design, escala e inteligência

comercial); ampliar as exportações da cadeia produtiva, e ampliar a participação da

produção sustentável da cadeia.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior, a indústria de móveis teve um faturamento de R$ 27 bilhões em 2008, o que

representou um crescimento de 22,73% em relação a 2007. O setor empregou 207.006

pessoas em 2008, ou seja, 2,21% do emprego total, que foi de 9.347.727 no ano.

Outro dado significativo é a arrecadação de imposto sobre produtos

industrializados (IPI), que representou US$ 211.962 milhões em 2008, ou seja,

19,5% do IPI arrecadado em 2007/2008. Os dados mais recentes de empresas

formais do setor são da Rais de 2004 (Relação Anual de Informações Sociais, do

Ministério do Trabalho e Emprego), que identificou a existência de 16.104 empresas.

São 11.992 microempresas (de até 9 empregados), 3.372 de pequeno porte (10 a 49

empregados), 436 de médio porte (50 a 99 empregados) e 304 de grande porte

(mais de 100 empregados).

Os números significativos do setor de madeira e móveis demonstram o

potencial industrial brasileiro. Entretanto, é preciso entender que o empreendedor,

apesar do papel fundamental que representa na economia de um país, ainda se

depara com inúmeras dificuldades para se manter no mercado.

A inovação, especialmente voltada ao lançamento de novos produtos, deve se

apoiar em políticas de incentivo ao design, o qual tem um papel essencial, não só no

desenvolvimento de produtos com menor custo de produção, mas também daqueles

devidamente alinhados à estratégia de mercado das empresas, aumentando as

chances de sucesso do investimento. Além disso, o design tem uma função significativa

na especificação de matérias-primas menos impactantes no meio-ambiente, na

determinação da obsolescência dos produtos, no uso de materiais recicláveis e no

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processo de descarte dos produtos. Confirma-se, assim, sua importância em face da

questão da sustentabilidade, relacionada não apenas ao meio-ambiente, mas também à

sustentabilidade econômica da indústria. Há neste ponto uma relação importantíssima

com o desenvolvimento de produtos mais eficazes e de maior qualidade, que se destina,

especialmente, ao bem-estar das pessoas.

A inovação é tema essencial não só ao tratarmos de desenvolvimento

econômico, mas também ao falarmos em sustentabilidade, especialmente quando há

uma urgência no desenvolvimento de produtos mais adequados à realidade em que

vivemos. Legislações começam a surgir com diversas exigências em relação aos novos

produtos, e a indústria nacional terá que adaptar sua produção a esse cenário.

O presente estudo se propõe a analisar como as condicionantes da inovação

em nível micro, meso e macro estabelecem e estimulam a capacidade de inovação

das empresas fabricantes de móveis no Paraná.

O trabalho se apoia no entendimento de que, em muitos casos, a capacidade

de inovação das empresas brasileiras não depende apenas de seu porte, mas também

das condições, estruturas, processos e culturas voltados à inovação, os quais podem

determinar ou não seu potencial para inovar.

O estudo foi elaborado a partir de revisão teórica que permitiu levantar as

variáveis fundamentais para a elaboração de uma pesquisa com base na

capacidade tecnológica das empresas, tratando-as por seu nível de capacidade de

inovação. Também permitiu a realização de uma análise das condicionantes micro,

meso e macro em cada empresa, no intuito de compreender todas as instâncias das

condicionantes de inovação da indústria.

Pretende-se, aqui, contribuir com o entendimento das condicionantes de

inovação do setor moveleiro a fim de promover o desenvolvimento da indústria

através da inserção e do aprimoramento do processo de inovação por meio de

políticas públicas mais eficazes. O modelo apresentado nesta pesquisa contribui

para uma análise mais profunda das condicionantes de inovação e pode ser

aplicado a diversos setores.

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1.1 QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO

Como as condicionantes da inovação em nível micro, meso e macro

estabelecem e estimulam a capacidade de inovação das empresas fabricantes de

móveis no Paraná?

1.2 OBJETIVO GERAL

Entender as condicionantes de inovação em nível micro, meso e macro das

empresas do setor moveleiro considerando sua capacidade de inovação.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Definir uma tipologia e características de capacidade de inovação para

empresas do setor moveleiro, fundamentadas no referencial teórico;

2. Definir e identificar os principais condicionantes de inovação em nível

micro, meso e macro;

3. Estabelecer a relação entre capacidade de inovação e os condicionantes

da inovação micro, meso e macro das empresas do setor moveleiro.

1.4 JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA

Diversos países desenvolvidos têm direcionado suas estratégias econômicas

para políticas públicas de incentivo à inovação. As estratégias adotadas variam em

cada país: alguns optam por programas isolados, outros desenvolvem políticas para a

inovação em planos mais elaborados. A Comunidade Europeia (CE) e a Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm desenvolvido uma

série de estudos e monitoramentos com diretrizes para a elaboração de políticas

públicas em inovação tanto em nível nacional quanto regional.

A inovação é condição fundamental para conquistar capacidade de competição

em produtos e processos na economia globalizada e competitiva do século XXI. A

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cultura da inovação deve ser incentivada nacionalmente através de políticas públicas

que foquem a inovação como uma estratégia competitiva para o país. Neste sentido, há

um consenso entre especialistas e empresários sobre a necessidade de intervenção do

Estado na criação de uma estratégia econômica baseada na inovação e no design.

Para que uma empresa se torne inovadora, é preciso criar um ambiente propício a isto.

Este ambiente é tanto externo quanto interno à empresa e está diretamente ligado à

capacidade das nações de criarem ambientes econômicos que incentivem a inovação.

A realidade das micro e pequenas empresas muitas vezes é a de não ter

tempo para a elaboração de estratégias muito complexas que permitam caminhar,

passo a passo, rumo ao desenvolvimento de sua capacidade competitiva. Neste

contexto, vários autores têm apontado o design, associado à inovação, como uma das

ferramentas para enfrentar os desafios atuais. Em um ambiente de competitividade

cada vez mais acirrado, este instrumento oferece um caminho bastante promissor, ao

criar diferenciação de produtos e gerar maior competitividade.

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

(2007-2008), as empresas com até 100 funcionários representam 99,14% do universo

empresarial e o maior potencial de crescimento da nossa economia. Contudo, apenas

uma pequena parcela destas empresas adota a inovação como estratégia. A dificuldade

está no fato de que as teorias sobre processos de inovação foram idealizadas em

países desenvolvidos e se aplicam a estruturas e culturas organizacionais bem diferentes

das nossas. Assim, apesar do grande número de estudos sobre o tema, criar uma

cultura inovadora continua a ser uma tarefa bastante complexa no cenário nacional.

Segundo a Pintec 2008, a influência do ambiente macroeconômico interfere

diretamente na decisão dos empresários em investir em inovação.

O Produto Interno Bruto - PIB cresceu 4,0% em 2006 e 6,1% em 2007. Do

lado da demanda, em 2006 e 2007, o consumo das famílias cresceu 5,3% e

6,3%, respectivamente, e a formação bruta de capital fixo apresentou

expressivos aumentos de 9,8% e 13,9%, respectivamente. As exportações

cresceram (5,0% em 2006 e 6,2% em 2007), embora não em patamares tão

expressivos quanto nos anos anteriores; já as importações se mantiveram

com taxas positiva e alta (18,4% e 19,9%). O conjunto dessas informações

sugere um cenário favorável às decisões de investimento em inovação por

parte do empresário (PINTEC, 2008).

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De acordo com análise da pesquisa, o cenário favorável impulsionou a

inovação no País, impactando nos resultados da pesquisa notadamente nos

investimentos em atividades inovativas e P&D. Verificou-se, também, ampliação

nas inovações realizadas com outras empresas e institutos bem como maior apoio

do governo.

Ainda segundo a Pintec 2008, houve um aumento da taxa de inovação, de

34,4%, no período 2003 a 2005, para 38,6%, de 2006 a 2008. Entretanto, apesar de

22,9% das empresas industriais terem inovado em produto, apenas 4,1%

implementaram produto novo ou aperfeiçoaram substancialmente para o mercado

nacional. A taxa de inovação do setor de fabricação de móveis ficou na média da

indústria, com 34,6%. A principal responsável pela inovação por produto é a própria

empresa, em 84,2% dos casos, e os problemas e obstáculos mais significativos são

os elevados custos da inovação (73,2%), seguido pelos riscos econômicos excessivos

(65,9%), falta de pessoal qualificado (57,8%) e escassez de fontes de financiamento

(51,6%). Para 76% das indústrias, o impacto mais significativo da inovação é a

participação de mercado, e 75,2% delas citam a melhora da qualidade dos bens

ou serviços.

Diversos estudos sobre inovação têm estabelecido diretrizes e parâmetros

para o desenvolvimento de políticas públicas em inovação. Contudo, a maioria dos

estudos está voltada para os países desenvolvidos e ainda é focada em políticas de

inovação de uma forma geral. Além disso, as estratégias e políticas públicas tratam

as empresas por porte, traçando programas de incentivo moldados a partir de

informações baseadas em faturamento, número de funcionários e localidade, sem

levar em conta o perfil ou capacidade de inovação das empresas.

Em se tratando de políticas de inovação, é importante pensar como tornar

diferentes empresas, com diferentes culturas e potencialidades, mais inovadoras e

preparadas para atuar em um mercado de acirrada competitividade.

Entendendo a inovação como um fator sistêmico, é preciso considerar a

necessidade de avaliação de condicionantes da inovação não apenas internos à

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empresa, mas também em sua relação com outras empresas, organizações e

governos, além do ambiente macro onde ela se insere, ambiente este que determina

o cenário em que vai atuar.

Esta dissertação, mediante o estudo dos condicionantes macro, meso e

micro de inovação e, ainda, considerando o nível de capacidade de inovação das

empresas, deseja contribuir para a elaboração de políticas públicas em inovação

realmente focadas nas necessidades da indústria moveleira nacional, e, também,

propor um modelo que permita identificar as necessidades de cada setor em termos

de ações eficazes e direcionadas à real necessidade das indústrias.

De forma prática, esta pesquisa resulta em um modelo que determina não

apenas condicionantes da inovação em nível micro, meso e macro, mas também

características das indústrias em diferentes estágios de maturidade da inovação. O

modelo permite a aplicação do levantamento das condicionantes em inovação em

diversos setores e pode ser aplicado de forma qualitativa e quantitativa.

O levantamento teórico realizado para a elaboração desse modelo pode

servir de referência para outros estudos relacionados à inovação e está voltado

especialmente a suas dimensões micro (relacionada ao ambiente interno da

empresa), meso (relações da empresa) e macro (políticas públicas).

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2 CONCEITOS GERAIS E REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo apresenta os conceitos e as estruturas analíticas relativos à

inovação, capacidade de inovação e condicionantes da inovação à luz dos quais

serão examinadas as evidências empíricas desta dissertação.

A seção 2.1 traz os conceitos de inovação nos quais o presente trabalho se

baseia. A seção 2.2 apresenta breve referencial de capacidade tecnológica, tomando

como referências, especialmente, Figueiredo (2005), Bell (1997), Lall (1992), Drouvot

e Verna (1994), a partir dos quais será definido o conceito de capacidade de inovação

utilizado para qualificar as empresas deste estudo. E, a seção 2.3 apresenta um

levantamento das condicionantes da inovação em nível micro, meso e macro.

2.1 A INOVAÇÃO

O principal elemento direcionador de mudança no mundo atual é a inovação

tecnológica. O progresso econômico e social dos diversos países e o êxito das

indústrias dependem da eficiência e da eficácia com que o conhecimento tecnocientífico

é produzido, transferido, difundido e incorporado aos produtos e serviços (REIS,

2004, p.41).

Na literatura econômica tradicional a inovação era vista como um processo

linear, em que a pesquisa era a base para o desenvolvimento de novas tecnologias

science push que, por sua vez, seriam produzidas e comercializadas, ou seja, todo

investimento realizado em pesquisa básica resultaria em novos produtos

comercializáveis. Na década de 1960 é sugerido um modelo no qual a inovação se

desenvolveria a partir de uma demanda do mercado demand pull. Ambos os modelos

apresentavam problemas, uma vez que no primeiro não eram consideradas as

incertezas do mercado e da economia e, ainda, ignorava-se o fato de que a geração

de conhecimento e transformação em novos produtos nem sempre pode funcionar. O

segundo modelo, por sua vez, não leva em conta o conhecimento tácito e cumulativo

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ao nível das empresas e do sistema econômico, deixando de explicar quando e por

que algumas tecnologias se desenvolvem e outras não (CAMPANÁRIO, 2002).

A partir do final dos anos 1960 a inovação passa a ser vista como um processo

não-linear e que envolvia conhecimento, aprendizado, interação e não apenas pesquisa

e desenvolvimento com base em descobertas tecnológicas, como era a visão linear da

inovação ou, ainda, a partir das necessidades do mercado. A evolução do conceito

através de diversos estudos empíricos permitiu uma maior compreensão do processo

de inovação e abriu portas para o início de uma série de estudos que começam a

considerar o ambiente da empresa e suas rotinas, o local onde a mesma está inserida,

o ambiente macroeconômico, entre outros fatores, que influenciam diretamente a

inovação. Esta deixa de ser encarada como um processo linear e passa a ter um

caráter sistêmico, sendo entendida não apenas como um processo isolado, mas

também como um processo resultante de diversas interações em variados níveis, isto é,

a inovação ocorre não só pelos impulsos gerados dentro da empresa, mas

principalmente pelos condicionantes que definem o sistema de inovação.

O modelo chain linked, mais aceito atualmente e difundido pela Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, considera que as repetidas

interações e retroalimentações que caracterizam a visão sistêmica da inovação

giram em torno do design ou projeto enquanto atividade aglutinante da nova

tecnologia. Esta ótica, derivada da literatura neoshumpeteriana, vê a inovação como

transformação de uma ideia em um produto novo ou aperfeiçoado introduzido com

sucesso no mercado (CAMPANÁRIO, 2002).

Diversos são os conceitos de inovação disponíveis na literatura. Entre eles

há que se considerar a enorme influência de Schumpeter nas teorias da inovação,

hoje seguidas por grande parte dos autores. Segundo ele, o desenvolvimento

econômico é um processo dinâmico de mudanças em que novas tecnologias

substituem as antigas, um processo que ele denominou "destruição criativa":

O impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a máquina

capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de

produção ou transporte, dos novos mercados e das novas formas de

organização industrial criadas pela empresa capitalista. [...] A abertura de

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novos mercados, estrangeiros e domésticos, e a organização da produção,

da oficina do artesão a firmas [...] servem de exemplo do mesmo processo

de mutação industrial – se é que podemos usar esse termo biológico – que

revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro,

destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos. Este

processo de destruição criadora é básico para se entender o capitalismo. É

dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a empresa

capitalista para sobreviver (SCHUMPETER, 1961, p.110).

No modelo clássico a tecnologia não é endógena, é um fator dado, não muda,

não evolui. Schumpeter questiona este modelo no ano de 1911, introduzindo a

questão da inovação e da tecnologia como um sistema endógeno, que é criado dentro

da economia e posiciona o empreendedor como grande agente desse movimento.

Para esse autor, a inovação é o motor do desenvolvimento. Diversos investimentos

são necessários para desenvolver uma inovação. Atrás de um produto, por exemplo,

vem uma série de modificações, novos fornecedores, novos clientes, novos mercados,

novos serviços, capacitações, novos hábitos dos consumidores, entre outros, gerando

um 'surto de inovação'. É um grande fluxo de investimentos que gera o crescimento.

Schumpeter entende a inovação desta forma, como algo transformador, radical. Para

ele, a economia não cresce linearmente, como os clássicos defendiam. Ela cresce em

saltos, em surtos de crescimento, como ondas de inovação. A partir do momento em

que se tem uma inovação, deixa-se algo obsoleto, em desuso. Destrói-se o antigo e

criam-se novos capitais.

Schumpeter (1982, p.54), em sua explanação sobre o excedente, aborda a

questão do uso, pelos empresários, dos meios de produção de forma diferente. "Não

acumularam nenhuma espécie de bens, não criaram nenhum meio de produção

original, mas empregaram os meios de produção existentes de modo diferente, mais

apropriadamente, de maneira mais vantajosa. Eles realizaram novas combinações."

Neste sentido, fala do empresário inovador, que, na busca pelo excedente, precisa

constantemente inovar para estar à frente da sua concorrência, para garantir seu

lucro. Schumpeter considera cinco tipos de inovação: 1. a introdução de novos

produtos ou o aperfeiçoamento de produtos existentes; 2. a introdução de novos

métodos de produção, de novas tecnologias; 3. a abertura de novos mercados nos

quais um produto não seja familiar; 4. o desenvolvimento de novos fornecedores de

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matéria-prima; e 5. a criação de nova organização de uma indústria. A base do

conceito de inovação, para Schumpeter, está na combinação de fatores existentes.

A OCDE, no Manual de Oslo, assim considera inovação e atividades de

inovação:

Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou

significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de

marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na

organização do local de trabalho ou nas relações externas.

As atividades de inovação são etapas científicas, tecnológicas,

organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou visam conduzir,

à implementação de inovações. Algumas atividades de inovação são em si

inovadoras, outras não são atividades novas, mas são necessárias para a

implementação de inovações. As atividades de inovação também inserem a

P&D que não está diretamente relacionada ao desenvolvimento de uma

inovação específica (OCDE, 1997, p.56 e 56).

Uma inovação só pode ser assim considerada a partir do momento em que

passa a fazer parte da sociedade como um todo, a partir do momento em que se

torna viável, acessível, tangível. Partindo-se deste entendimento, constata-se o

papel fundamental do design como ferramenta que permite a materialização de uma

tecnologia em algo tangível, passível de consumo, um produto de mercado.

Para que a ideia de um produto ou processo inventado passe a ser uma

inovação, é necessário que seja colocado à disposição do mercado e

principalmente usado por ele. A criatividade de um invento ou o valor de

uma descoberta não garante o seu êxito como inovação (REIS, 2004, p.44).

A invenção de um novo produto ou processo ocorre dentro do que podemos

chamar de esfera tecnocientífica e ali podem ficar para sempre. Por outro

lado, a inovação é um feito econômico. A primeira introdução comercial de

uma inovação a transfere para a espera tecnoeconômica como um feito

isolado, cujo futuro será decidido no mercado. Se fracassar, pode

desaparecer temporariamente ou para sempre. Se tiver êxito poderá

permanecer como um feito isolado ou se tornar economicamente significativo,

dependendo do seu grau de apropriabilidade, de seu impacto nos

competidores ou em outras áreas da atividade econômica. O feito que tem as

consequências sociais de maior alcance são os processos de adoção

massiva. A vasta difusão é o que realmente transforma o que um dia foi uma

invenção em um fenômeno socioeconômico (PEREZ, 2004, p.16).

A inovação é um processo sistêmico, econômico, social, cultural. O ciclo de

vida da inovação tem início com a experimentação do produto por parte dos

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consumidores (mercado), seu posicionamento gradual no mercado, a realização de

melhoramentos incrementais ligados às adequações necessárias para que o produto

seja um sucesso comercial e, finalmente, obtenha sua maturidade.

Nesse contexto, Caron (2003, p. 93) menciona a importância do empresário

como agente que personifica as inovações mediante a criação de uma empresa e

através de sua capacidade criativa e cultura empreendedora. "O que se espera do

empresário é uma capacidade de ação empreendedora, e ele deve ter qualidades de

liderança e não de propriedade; capacidade de previsão e iniciativa e não de posse

de capital."

Dentro do escopo da inovação torna-se necessário levar em conta a

importância do design como ferramenta para a inovação em toda a sua amplitude.

No intuito de compreender este conceito, faz-se uso da definição do ICSID -

International Council of Societies of Industrial Design –, que conceitua design como

uma atividade criativa cuja finalidade é estabelecer as qualidades multifacetadas de

objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo o seu ciclo de

vida. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de tecnologias e o

fator crucial para o intercâmbio econômico e cultural. Ainda sobre o conceito de

design, afirma:

O design procura identificar e avaliar relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas, visando: (1) ampliar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global); (2) oferecer benefícios e liberdade para a comunidade humana como um todo, usuários finais individuais e coletivos, protagonistas da indústria e comércio (ética social); (3) apoiar a diversidade cultural, apesar da globalização do mundo (ética cultural); (4) dar aos produtos, serviços e sistemas formas que expressem (semiologia) e sejam coerentes com (estética) sua própria complexidade. O design diz respeito a produtos, serviços e sistemas concebidos a partir de ferramentas, organizações e lógica introduzidos pela industrialização – não apenas quando produzidos por meio de processos seriados. O adjetivo "industrial" associado ao design deve relacionar-se ao termo indústria, ou no seu sentido de setor produtivo ou em seu sentido mais antigo de "atividade engenhosa, habilidosa". Assim, o design é uma atividade que envolve um amplo espectro de profissões nas quais produtos, serviços, gráfica, interiores e arquitetura, todos participam. Juntas, essas atividades deveriam ampliar ainda mais – de forma integrada com outras profissões relacionadas – o valor da vida (ICSID, 2009).

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Este conceito mundialmente aplicado prova a importância do design como

ferramenta de materialização da inovação na economia globalizada de hoje, quando,

antes de mais nada, é preciso inovar para garantir a competitividade neste mercado.

"A inovação é um ingrediente vital para o sucesso dos negócios. A economia de livre

mercado depende de empresas competindo entre si, para superar marcas

estabelecidas por outras empresas." (BAXTER, 1998, p.1).

O IDEO, consultoria em design mundialmente conhecida, emprega o

conceito do design thinking para implementar a inovação nas empresas que atende.

Segundo Tim Brown, presidente do IDEO1, design thinking é um processo que utiliza

a sensibilidade e metodologia dos designers para resolver problemas que atendem

às necessidades das pessoas de forma tecnológica e comercialmente viável. Em

outras palavras, é a inovação focada nas pessoas.

Para Puerto (1999), o design tem sido utilizado cada vez mais como

elemento estratégico nas empresas, bem como na elaboração de políticas públicas

de Ciência e Tecnologia em países desenvolvidos. Na Europa, diversos países têm

incentivado a criação de Centros de Design que promovem o design localmente e

atuam como broker entre a indústria e os escritórios do mercado, orientando os

empresários no uso dessa ferramenta com vistas à inovação.

É importante destacar a inovação sob o conceito de novos processos e

novos mercados. Utiliza-se, neste aspecto, uma visão mais completa da inovação,

em que a busca por melhorias contínuas permite o desenvolvimento competitivo da

indústria e a exploração de novos mercados concretiza o potencial industrial. O

design, mais uma vez, mostra-se como ferramenta fundamental neste processo,

uma vez que é responsável por determinar processos produtivos e estimular a

inovação tecnológica pela necessidade de desenvolvimento de novos produtos. É

também um instrumento na busca por novos mercados, por meio da identificação de

1 Tim Brown possui um blog na internet onde fala do conceito de design thinking:

http://designthinking.ideo.com/

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oportunidades de novos produtos, criando demandas até então não consideradas

como necessárias pela sociedade.

As empresas micro e pequenas, ou com até 100 funcionários, e que

representam, segundo o IBGE (2007-2008), 99,14% da economia nacional, não são

capazes de manter grandes investimentos em inovação e, muitas vezes, acreditam

que um único esforço inovativo possa ser capaz de mantê-las como referenciais de

mercado por muito tempo. A inovação deve ser implementada como um processo

permanente dentro das empresas, seja qual for o seu porte. "A chave do sucesso

reside em ter um processo delineado que possa se transformar numa prática de

negócios." (ROBERT, 1995, p.37).

As empresas, na busca diária por competitividade e sustentação de suas

economias, tendem a focar em eficiência, baixo custo, melhorias incrementais,

melhores processos produtivos, quando na verdade deveriam centrar-se na inovação

(STAMM, 2005). No entanto, a realidade das micro e pequenas empresas muitas vezes

é a de não ter tempo para a elaboração de estratégias muito complexas que permitam,

passo a passo, caminhar rumo ao desenvolvimento de sua capacidade competitiva.

No caso da inovação de produto, a empresa pode ganhar uma vantagem

competitiva por meio da introdução de um novo produto, o que lhe confere a

possibilidade de maior demanda e maiores margens sobre custos. As

empresas podem também aumentar a demanda em virtude da diferenciação

de produto, objetivando novos mercados e influenciando a demanda por

produtos existentes. Mudanças nos métodos organizacionais podem elevar

a eficiência e a qualidade de suas operações e, assim, aumentar a

demanda ou reduzir os custos (OCDE,1997, p.37).

Nesta pesquisa será utilizado o conceito de inovação com base na OCDE

(1997), para a qual uma inovação é a implementação de um produto (bem ou

serviço) novo ou significativamente melhorado. Este produto não necessariamente

precisa ser novo para o mercado, mas pode ser novo para a empresa.

Considerando o conceito da Pintec (2008), a inovação pode tanto ser

desenvolvida pela empresa como ter sido adquirida de outra empresa ou instituição,

ou, ainda, ter sido desenvolvida em cooperação com outra empresa ou instituição.

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Ainda, poderá ser resultante tanto de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico

(P&D) interno à empresa quanto de novas combinações tecnológicas existentes,

novos usos para tecnologias existentes, ou ainda, de novos conhecimentos

adquiridos pela empresa.

Este entendimento será importante para validar a pesquisa a ser realizada

nas indústrias do setor moveleiro. Para fins deste estudo, será considerada a

inovação por processo e produto, bem como a inovação realizada pela empresa, ou

seja, um produto ou processo novo para a indústria em questão, sem tomar como

indicador apenas o registro de propriedade intelectual.

2.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

Este tópico apresenta alguns modelos, conceitos e estudos já realizados

sobre Capacidade Tecnológica. Alguns autores (Hobday, 1999; Figueiredo, 2005;

Bell, 1997; Lall, 1992; Drouvot e Verna, 1994) desenvolveram modelos que levam

em consideração o grau de capacidade tecnológica e o nível de aprendizado de uma

indústria com relação à tecnologia e à inovação. Estes conceitos serão fundamentais

para embasar as variáveis que classificarão as empresas analisadas não por porte,

mas, sim, por nível de capacidade de inovação.

Também será considerada aqui uma revisão de estudos realizados em

empresas e modelos que avaliam o nível de capacidade de inovação das empresas

em relação ao design devido à importância que esta ferramenta tem em relação ao

desenvolvimento de novos produtos e processos.

Esta análise pretende mostrar a importância da capacidade tecnológica das

empresas e a forma como este entendimento pode auxiliar no desenvolvimento de

políticas públicas de incentivo à inovação. Considera-se a importância da evolução

tecnológica da indústria e a forma de estimular este desenvolvimento a partir do

entendimento de que os níveis de capacidade básicos e intermediários são condição

para atingir patamares mais altos (FIGUEIREDO, 2005), ou seja, a empresa deve

percorrer uma trajetória de acumulação tecnológica que permita seu desenvolvimento

e evolução para estágios mais avançados. As empresas possuem experiências de

aprendizado diferentes, e estas dependem de sua situação inicial e esforços

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posteriores. Além disso, países diferentes e níveis de desenvolvimento econômico

diversos também interferem neste aprendizado (LALL, 2005).

Esta temática foi considerada importante para a base empírica deste estudo

por levar em conta a relação entre trajetória tecnológica e acumulação tecnológica

das empresas, criando as bases para o desenvolvimento sob uma perspectiva

dinâmica de assimilação do conhecimento e da inovação.

2.2.1 The Design Ladder

A Design Ladder é um modelo com quatro degraus ou fases que vem sendo

utilizado para agrupar empresas de acordo com seu grau de maturidade em design.

Quanto mais alto a empresa se encontra nos degraus, mais estratégico é o design para

ela. O modelo foi desenvolvido pelo Dansk Design Center, da Dinamarca, tendo sido

utilizado posteriormente como base para uma pesquisa realizada em parceria com a

Danish National Angency for Enterprise and Housing (RAMLAU et al., 2004. p.49).

Segundo Ramlau (2004), a Design Ladder é um instrumento para o

desenvolvimento de estratégias e técnicas de mensuração que considerem o uso do

design por uma empresa, isto é, seu grau de maturidade em design. A 'escada do

design' apresenta esses quatro degraus como forma de hierarquizar a maturidade

das empresas em relação ao design, como segue:

· 1º degrau: sem design - o design não é utilizado no processo de

desenvolvimento de produtos, e estes são feitos por pessoas que não são

designers. As soluções são baseadas na funcionalidade e na estética. O

mesmo não é percebido pelos usuários;

· 2º degrau: design como estilo - o design é considerado apenas em sua

função estética. Em alguns casos, designers estão envolvidos no momento

final do processo e, em outros, profissionais de outras áreas o fazem;

· 3º degrau: design como processo - neste caso, o design não é inserido

apenas no final do processo, mas funciona como metodologia, sendo

incluído desde o início do processo de desenvolvimento de um novo

produto. A solução em design é focada no usuário final e exige uma

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abordagem multidisciplinar, envolvendo áreas como engenharia, produção,

técnica em materiais, marketing etc.;

· 4º degrau: design como inovação - o designer colabora com o proprietário ou

presidente da empresa na tomada de decisões, adotando uma perspectiva

inovadora em todas as instâncias do negócio ou em grande parte delas O

processo de design está em sintonia com a estratégia da empresa.

A 'escada do design' foi inicialmente aplicada em uma pesquisa realizada em

2003, na Dinamarca, em 1.500 empresas divididas em categorias, segundo o

número de empregados: de 10 a 19; de 20 a 49; de 50 a 99, e com mais de 100

empregados. Os resultados foram publicados no livro The Economic Effects of

Design. Neste, Kretzchmar (2003) menciona que os resultados demonstraram que

as empresas que utilizam design sistematicamente aumentaram seu faturamento e

suas exportações comparativamente com as empresas que não o utilizam.

O estudo e o modelo serviram como referência para alguns países da Europa

interessados em mensurar os efeitos do uso do design como base para a inovação.

Em maio de 2004, com base na 'escada do design', foi realizada uma

pesquisa, por telefone, com 1.308 empresas suecas que tinham mais de 20

funcionários. As entrevistas foram conduzidas de dezembro de 2003 a março de

2004 pelo Swedish Industrial Design Foundation - SVID e pela Association of

Swedish Engineering Industries (Teknikföretagen). Os resultados revelaram que a

demanda por design cresceu significativamente nos últimos anos, bem como a

forma como o design vem sendo utilizado pelas empresas. As empresas com maior

maturidade em design foram as que apresentaram maior crescimento (SVID, 2010a).

Em 2006, o mesmo modelo foi adaptado para um estudo aplicado na Áustria

pelo Departamento GMBH. O trabalho foi o primeiro a empregar o modelo de 'escada

do design' na Áustria. Devido ao grande número de pequenas e médias empresas,

todos os portes de empresas foram incluídos no estudo. A metodologia foi baseada nas

pesquisas realizadas na Dinamarca, Suécia, Noruega e Reino Unido. As perguntas

foram ancoradas em quatro objetivos principais: o significado e a importância

estratégica do design nas empresas; a percepção do design como fator econômico;

estrutura e tamanho das equipes de design nas empresas, e as áreas de atuação do

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design. Mil empresas foram entrevistadas, sendo que 400 estavam em Viena. Os

entrevistados foram pessoas de cargos diretivos, ou seja, capazes de dar informações

relevantes para a pesquisa. Das empresas, 98% tinham menos de 50 empregados. A

pesquisa demonstrou que as empresas precisam entender melhor a importância do

design e passar a utilizá-lo de forma mais estratégica; que a demanda por design não

está mais limitada ao produto, mas engloba todo o processo de inovação; e finalmente,

que as empresas que consideram o design como estratégico são mais fortes

economicamente e mais competitivas. (MICROGIANTS DESIGN RESEARCH, 2006).

2.2.2 Capacidade de Inovação

Nos anos 1970 têm início os primeiros estudos sobre tecnologia em países

em desenvolvimento sob uma perspectiva dinâmica, considerando as mudanças

tecnológicas e a maneira como as empresas as implementavam. Segundo Figueiredo

(2005), esses estudos tiveram início na América Latina sob a liderança de Jorge Katz,

seguidos de trabalhos na Ásia e África. Já nos anos 1990 surgem os trabalhos sobre

os processos de aprendizagem na trajetória de acumulação tecnológica das empresas

sob uma perspectiva mais ampla, que levou em conta a base organizacional dos

processos de aprendizagem nas trajetórias tecnológicas, os quais evidenciaram a

relação entre a aprendizagem tecnológica e a inovação industrial.

O tema passa a ser explorado por diversos autores, entre eles Lall (2005, p.26),

que considera a capacidade tecnológica como "o conjunto de habilidades,

experiências e esforços que permitem que as empresas adquiram, utilizem,

adaptem, aperfeiçoem e criem tecnologias com eficiência".

Lall desenvolveu um modelo (ver quadro 1 do Apêndice 1) que permitiu

mensurar a capacidade tecnológica das empresas a partir de níveis, possibilitando

traçar a trajetória tecnológica das mesmas em vez de gerar apenas um resultado

transversal. Para Lall (2005), as empresas se desenvolvem por meio de rotinas

organizacionais e administrativas e reúnem estas informações ao longo do tempo,

aprendendo a partir de sua experiência, ou seja, o aprendizado depende de sua

trajetória e é cumulativo.

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O grau de profundidade do desenvolvimento tecnológico impacta

diretamente no processo de inovação. As aptidões operacionais (know-how) são

essenciais para a atividade produtiva, mas a empresa inovadora precisa ter domínio

da tecnologia incorporada para ser capaz de entender os princípios da tecnologia

(know-why) e, assim, poder adaptá-la, melhorá-la, torná-la mais eficiente e, a partir

disso, desenvolver "aptidões inovadoras autônomas" (LALL, 2005, p. 34).

Kim (2003) definiu competências tecnológicas como a habilidade em fazer uso

do conhecimento tecnológico para assimilar, usar, adaptar e modificar tecnologias

existentes. Seu modelo mostra a diferença entre a trajetória tecnológica das empresas

em países desenvolvidos comparativamente às empresas em países emergentes.

Kim (2003) menciona que a capacidade tecnológica das empresas em

países emergentes se desenvolve a partir da assimilação de uma tecnologia

transferida dos países industrializados e que, a partir desta tecnologia, de sua

assimilação, a empresa vai adquirindo capacidade tecnológica para produzir

produtos diferenciados (ver figura 1 do Apêndice 1). O processo de desenvolvimento

tecnológico se dá, desta forma, na sequência produção – investimento – inovação,

diferentemente das empresas em países desenvolvidos, que acumulam capacidade

tecnológica na sequência inovação – investimento – produção.

Bell e Pavitt (1995) conceituam capacidade tecnológica como os recursos

que as empresas têm para gerar e gerir mudanças no âmbito dos indivíduos e dos

sistemas organizacionais. Neste sentido, Figueiredo (2005) considera que a

capacidade tecnológica está armazenada em quatro componentes: nos sistemas

técnicos físicos; nas mentes dos indivíduos; no tecido organizacional, e nos produtos

e serviços, e que a mesma está vinculada ao contexto em que se insere.

No modelo de Bell, conforme figura 2 do Apêndice 1, as empresas possuem

quatro tipos de competência tecnológica: Competência Técnica, no caso em que a

empresa possui capacidade técnica e gerencial/organizacional para operar

tecnologias existentes. Essas tecnologias foram adquiridas/transferidas de outras

organizações ou parceiros; Competência Incremental, quando a empresa possui

capacidade na criação de desenhos, engenharia, gestão e P&D para inovações

incrementais de produtos e processos existentes; Competência de Imitação, quando

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a empresa é capaz de realizar atividades de P&D e engenharia para copiar,

implementar e desenvolver tecnologias existentes; e Competência Inovadora, em

que a empresa possui habilidades de operar esforços em P&D e engenharia para

criar, desenvolver e implementar novas tecnologias.

Em seu modelo, Dutrénit (2007) apresenta o processo de desenvolvimento

tecnológico embasado nos níveis de capacidade inicialmente operacional e,

posteriormente, inovativa das empresas. Na figura 3 do Apêndice 1 é possível

visualizar este processo, que se inicia com a base de conhecimento necessário ao

processo de inovação até a inovação considerada estratégica. Nota-se a importância

do processo de acumulação para que a empresa possa atingir patamares mais

elevados de desenvolvimento tecnológico.

Para Figueiredo (2003, p.38), capacidade tecnológica diz respeito às

"habilidades da empresa para promover internamente aprimoramentos nas diferentes

funções tecnológicas, como, por exemplo, processos e organização da produção,

produtos, equipamentos e investimentos". O autor distingue também dois tipos de

capacidade: as rotineiras, em que a empresa possui atividades tecnológicas realizadas

num determinado nível de eficiência e utilização de insumos – “são as aptidões

necessárias para usar tecnologia, os conhecimentos e os mecanismos organizacionais,

ou seja, gerir a inovação tecnológica”; e as capacidades inovadoras, que dizem respeito

à competência de "criar, modificar ou aperfeiçoar produtos e processos – são as

aptidões necessárias para modificar tecnologias, os conhecimentos, a experiência e os

mecanismos organizacionais", isto é, para gerar a inovação tecnológica.

Figueiredo (2003) estuda as trajetórias de acumulação de capacidade

tecnológica e os processos de aprendizagem e apresenta uma proposta de modelo

descritivo da capacidade tecnológica em empresas de economias emergentes. O

modelo foi desenvolvido com base em estudos iniciais de autores que vinham

estudando trajetória tecnológica, entre eles Lall (1992) e Bell e Pavitt (1995). O

modelo de Figueiredo, apresentado no quadro 2 do Apêndice 1, possui sete níveis

de capacidade tecnológica e caracteriza as empresas segundo suas funções

tecnológicas e atividades afins. Além disso, considera os dois tipos de capacidades

conceituados pelo autor, como a capacidade de rotina e a de inovação.

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Com base no modelo de Lall (1992), Drouvot e Verna também dividem a

capacidade tecnológica, segundo três níveis, em básica, intermediária e avançada, e

estabelecem condicionantes relacionadas à capacidade tecnológica a partir do nível

de capacidade tecnológica das empresas. Para os autores, a inovação começa

informalmente na empresa e se desenvolve à medida que esta evolui em sua

trajetória, passando pela atividade de design formalizada, pela atividade de PCP e

pela engenharia, até atingir o nível em que possui atividade formal de P&D. Os

autores atrelam o nível de capacidade e de inovação ao porte da empresa, conforme

quadro 3 do Apêndice 1.

Diversos autores têm utilizado taxonomias que escalonam as empresas em

níveis de capacidade tecnológica, de inovação e de aprendizagem. Estes estudos

mostram que as empresas possuem maturidades diferentes em relação ao nível em

que se encontram. Este escalonamento traduz claramente a possibilidade de se

analisar as empresas frente a sua capacidade de inovação, tecnológica e de

aprendizagem, em vez de entendê-las pelo seu número de funcionários ou faturamento,

como vem sendo feito por diversos organismos públicos bem como por estudos que

classificam as empresas apenas por porte. Além disso, muitos estudos mensuram a

capacidade tecnológica com base em P&D nas empresas, patentes, gastos em

educação, equipe de engenharia, entre outros fatores, que traduzem uma abordagem

incompleta da trajetória tecnológica das empresas com recorte numérico transversal,

sem considerar a acumulação e a evolução tecnológica das mesmas. Cabe aqui

mencionar recente pesquisa realizada por De Negri (2005, p.7), para o IPEA, em que o

autor optou por classificar as empresas por estratégia competitiva, em vez de

considerar a classificação mais comum que as categoriza por porte (faturamento e

número de trabalhadores). Para o estudo, classificou as empresas em três categorias:

1. firmas que inovam e diferenciam produtos; 2. firmas especializadas em produtos

padronizados, 3. firmas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor. De

Negri (2005, p.7) considera ainda que na indústria brasileira poderia haver um quarto

agrupamento, que seria o das firmas de base tecnológica, provenientes, em geral, de

incubadoras tecnológicas.

Sintetizando os conceitos analisados com relação à capacidade tecnológica

e inovadora das empresas, tem-se:

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QUADRO 1 - SÍNTESE DOS MODELOS DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA

FIGUEIREDO (2003) DROUVOT e VERNA (1994) BELL (1997)

'ESCADA DO

DESIGN'

KRETZCHMAR

(2003)

Capacidade de inovação Capacidade

Tecnológica

Tipo de

Inovação

Tipos de Competência

Tecnológica Uso do Design

Processo e produtos

Pequenas adaptações e intermitentes em

processos, eliminação de gargalos e alongamento

de capacidade.

Pequenas adaptações em especificações dadas.

Criação de especificações próprias para aços

(dimensão, forma, propriedades mecânicas).

Básica

Informal

Competência e

técnica e gerencial /

organizacional para

usar e operar

tecnologias existentes

Não utiliza

design

Alongamentos sistemáticos de capacidade.

Manipulação de parâmetros-chave de processo.

Novas técnicas organizacionais (TQC/M, ZD, JIT).

Aprimoramentos sistemáticos em especificações

dadas. 'Engenharia reversa' sistemática. Desenho

e desenvolvimento de aços tecnicamente

assistidos. Desenvolvimento de especificações

próprias.

Atividade de

design

formalizada Competência em

desenho, engenharia,

gestão e P&D para

aprimoramento

incremental de

produtos / processos

e organizacional

Design como

estilo Aprimoramento contínuo de processo. Desenho de

sistemas automatizados estáticos. Integração de

sistemas automatizados de processo e

PCP.Alongamento rotinizado de capacidade.

Aprimoramento contínuo em especificações

próprias. Desenho, desenvolvimento, manufatura e

comercialização de aços complexos e de alto valor

sem assistência técnica. Certificação para

desenvolvimento de produto (ex.: ISO 9001).

Atividade

formal de PCP

Integração entre sistemas operacionais e sistemas

corporativos. Engajamento em processos de

inovação baseados em pesquisa e engenharia.

Adição de valor a aços desenvolvidos

internamente. Desenho e desenvolvimento de aços

extracomplexos e de alto valor agregado

Engajamento em projetos de desenho e

desenvolvimento com usuários.

Intermediária

Atividade

formal de

Engenharia

Competência em P&D

e engenharia básica /

gestão de projetos

para copiar,

implementar e

desenvolver

tecnologias existentes

Design como

processo

Produção de classe mundial. Desenhos e

desenvolvimento de novos processos baseados em

E e P&D.

Desenho e desenvolvimento de produtos em classe

mundial. Desenho original via E, P e D.

Avançada

Atividade

formal de P&D

Competência em P&D

e engenharia para

desenvolver e

implementar novas

tecnologias

Design

estratégico

FONTE: Elaborado pela autora com base em Dudrénit e Verna (1994), Bell apud Figueiredo (2003), Figueiredo (2003) e

Escada do Design

NOTA: E= engenharia; PCP = Planejamento e Controle de Produção.

2.3 CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO

No contexto da inovação em seu conceito mais amplo, esta é compreendida

não apenas como um processo linear, mas também como uma ação transversal que

inclui a interação entre as empresas, o conhecimento, o aprendizado e a

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disseminação da informação. A partir deste entendimento, torna-se fundamental a

análise e compreensão da inovação tanto no ambiente interno da empresa quanto

no ambiente externo, que compreende suas relações e o ambiente econômico em

que está inserida.

Por considerar a importância do processo de inovação nessas diferentes

dimensões, serão analisadas aqui as condicionantes da inovação tanto em nível

micro (intrafirma) quanto em nível meso (relações de cooperação) e macro

(instrumentos e políticas públicas), a fim de garantir um completo entendimento das

condicionantes de inovação para a capacidade tecnológica das empresas.

2.3.1 Condicionantes em Nível Micro

Uma influência significativa no sucesso ou fracasso das inovações é o

contexto organizacional em que elas estão inseridas. Assim, como criar ambientes

organizacionais que incentivem a inovação? Como desenvolver equipes de sucesso,

integradas e que de fato representem o grande ativo para a empresa? Tidd, Bessant

e Pavitt (2008, p.486) entendem a organização inovadora como "um conjunto

integrado de componentes que trabalham juntos para criar e fortalecer o tipo de

ambiente que permite que a inovação prospere". Para os autores, a organização

inovadora é formada por: visão compartilhada, liderança e desejo de inovar,

estrutura adequada, indivíduos-chave, trabalho de equipe eficaz, desenvolvimento

individual contínuo e amplo, comunicação extensiva, inovação de alto envolvimento,

foco externo, ambiente criativo e aprendizagem.

Nessa abordagem, e em conformidade com o papel do aprendizado para a

inovação, é importante considerar o envolvimento das pessoas no processo de

inovação e na diminuição da rejeição à mudança, bem como a importância de

indivíduos-chave responsáveis pela realização de grande parte das inovações e do

trabalho em equipe eficaz tanto no desenvolvimento de inovações quanto na

redução do tempo de desenvolvimento.

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Em se tratando de ambientes organizacionais, é essencial considerar o

estímulo à inovação mediante ambientes criativos. Um espaço de criação e

desenvolvimento de novos produtos, serviços, processos, entre outros, precisa ser

atrativo, vibrante, inovador, permitindo o estímulo necessário às equipes de criação.

Isto não significa que se trata de um ambiente totalmente livre ou em desordem; o

que se quer dizer é que inovações exigem processos, sinergia e organização, mas

exigem também flexibilidade e liberdade de ação.

De um modo geral as organizações precisam ser ágeis, estar abertas à

mudança, buscar aprendizagem contínua e se manter abertas a novas

oportunidades. As "melhores práticas" podem servir como uma orientação para uma

empresa inovadora e serem adaptadas levando-se em conta as suas peculiaridades.

Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.486) sintetizam os componentes da

"organização inovadora", detalhando suas características-chave, conforme o quadro 2:

QUADRO 2 - COMPONENTES DA ORGANIZAÇÃO INOVADORA

COMPONENTE CARACTERÍSTICA-CHAVE

Visão compartilhada, liderança e

desejo de inovar

Senso de propósito claramente compartilhado e articulado "comprometimento da alta

gestão".

Estrutura adequada

Projeto de organização que permite criatividade, aprendizado e interação. Nem sempre

um modelo de unidade de pesquisa e desenvolvimento livremente estruturado; a

questão-chave é encontrar o equilíbrio necessário entre as opções "orgânica" e

"mecânica" para contingências específicas.

Indivíduos-chave Promotores, defensores, gatekeepers e outras funções que energizam ou facilitam a

inovação.

Trabalho de equipe eficaz Uso adequado de equipes (nível local, interfuncional e interorganizacional) para solução

de problemas. Exige investimento em seleção e formação de equipe.

Desenvolvimento individual

contínuo amplo

Compromisso de longo prazo com ensino e treinamento para assegurar altos níveis de

competência e habilidades para aprender eficazmente.

Comunicação extensiva Dentro e entre a organização, e fora dela. Internamente, em três direções – ascendente,

descendente e lateralmente.

Inovação de alto envolvimento Participação de toda a organização em atividades de melhoria contínua.

Foco externo Orientação do cliente externo e interno. Extensivo trabalho em rede.

Ambiente criativo Abordagem positiva a ideias criativas, apoiadas por sistemas de motivação relevantes.

Organizações que aprendem

Altos níveis de envolvimento dentro e fora da empresa em experimentação pró-ativa,

encontrando e resolvendo problemas; comunicação e compartilhamento de experiências

e captura e disseminação de conhecimento.

FONTE: Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.487)

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As organizações passam a exercer papel fundamental no processo de

inovação. Para Queiroz (2007, p.79), as empresas inovadoras precisam de uma

estrutura organizacional com poucos níveis hierárquicos, trabalhando por meio de

equipes e facilitando a comunicação e a cooperação. Além disso, trabalham em um

processo mais aberto, com objetivos e metas mais amplos, e em que a construção

da solução é conjunta. A equipe técnica e a diretoria tomam decisões em conjunto.

As informações são inseridas no projeto ao longo do seu desenvolvimento e à

medida que a pesquisa evolui.

Nas organizações inovadoras, a inovação é tratada de forma estratégica. Os

líderes acreditam em seu valor e especialistas ocupam cargos de decisão. Este

ambiente também requer aprendizado interativo, o qual está tanto dentro quanto fora

da organização. Neste momento, mostra-se a importância da cooperação com

clientes, fornecedores e consumidores como fonte de conhecimento e aprendizado.

São organizações cujas fronteiras são permeáveis, nas quais seus

membros se agrupam temporariamente para atender a necessidades do

ambiente externo, a comunicação flui de maneira ágil e o conhecimento é

adequadamente disseminado para os níveis em que agrega maior valor.

(QUEIROZ, 2007, p.90)

Para a autora, a flexibilização das estruturas dificulta a coordenação e

controle. Sua eficácia, então, vai depender da forma como estas organizações lidam

com aspectos como aprendizagem organizacional, cultura organizacional e gestão

das novas tecnologias da informação e comunicação.

Existem diversas formas de controle em uma organização, estando este

diretamente relacionado com o ambiente em que as equipes estão inseridas, seu

papel no trabalho e níveis de responsabilidade. Equipes com autonomia de ação e

poder de decisão mostram-se mais envolvidas em seus projetos, trazendo maiores

resultados para as empresas onde atuam. Além disso, essa liberdade e autonomia

permitem uma troca maior de informações e incentivam a liberdade criativa; por isso,

objetivos e metas claros são fatores importantes em estruturas horizontais.

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Para Mintzberg (2003, p.12), "a estrutura de uma organização pode ser

definida simplesmente como a soma total das maneiras pelas quais o trabalho é

dividido em tarefas distintas e, depois, como a coordenação é realizada entre essas

tarefas". O autor, em seu clássico Criando organizações eficazes, classifica as

estruturas organizacionais em cinco tipos: (1) Estrutura simples - diz respeito a

organizações com estruturas enxutas, centralizadas e orgânicas. São estruturas

pequenas com divisão do trabalho não rigorosa e pequena hierarquia gerencial; (2)

Burocracia mecanizada - trata-se das organizações grandes, com trabalho altamente

padronizado, como correio, órgão de segurança, empresa automobilística; (3)

Burocracia profissional - mecanismo de coordenação que permite, ao mesmo tempo,

a padronização e a descentralização (universidades, hospitais gerais, sistemas

escolares, empresas de auditoria). Utiliza profissional especializado e treinado com

poder de decisão; (4) Forma divisionalizada - organização integrada em unidades de

linhas intermediárias. As unidades são denominadas de divisões e administradas por

escritório central, como as estatais. O fluxo do poder é verticalizado; (5) Adhocracria -

estrutura altamente orgânica, com pouca formalização do comportamento, altamente

horizontalizada e baseada no treinamento formal. Seus especialistas são agrupados

em equipes multidisciplinares de projeto para realização de um trabalho específico

com interação e controle mútuo.

A inovação sofisticada requer uma quinta configuração muito diferente, que seja hábil em fundir especialistas advindos de diferentes especializações em equipes de projeto ad hoc que funcionem regularmente. [...] inovar significa romper padrões estabelecidos. Portanto, a organização inovadora não pode confiar em qualquer forma de padronização para a coordenação. (MINTZBERG, 2003, p.282).

Para Mintzberg (2003), a Adhocracia é a estrutura mais adequada à inovação

por ser mais orgânica, menos formalizada e horizontalizada. Suas equipes se reúnem

em grupos de trabalho multidisciplinares como "força-tarefa" com um objetivo a ser

cumprido. As unidades de comando são descentralizadas e os líderes são definidos

de acordo com as atividades a serem executadas. Possui poucas regras e

regulamentos e a autoridade é descentralizada. O papel mais importante da alta

administração é a interligação com o ambiente externo. Seus integrantes são

relativamente autoadministrados e criativos, capazes de uma rápida aprendizagem.

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Este modelo permite que participantes tenham maior envolvimento, conhecimento das

tarefas, versatilidade e, consequentemente, tenham suas responsabilidades ampliadas.

Desta forma, pode-se considerar que a Adhocracia apresenta as seguintes

características que se adaptam às estruturas organizacionais inovadoras:

§ estrutura altamente orgânica, com pouca formalização de comportamento;

§ especialização do trabalho altamente horizontalizada, baseada em

treinamento formal;

§ tendência a agrupar especialistas das unidades funcionais para o propósito

de organização interna, divididos em pequenas equipes de projetos, tendo

como base o mercado e visando à execução de um trabalho específico;

§ confiança nos instrumentos de interligação para encorajar o ajustamento

mútuo, mecanismo-chave de coordenação interna e entre as equipes;

§ adoção da descentralização seletiva das equipes localizadas em vários

pontos da organização, envolvendo vários grupos formados por gerentes de

linha, especialistas, operacionais e assessores (MINTZBERG, 2003, p.282).

Notadamente as organizações mais inovadoras tendem a buscar estruturas

organizacionais menos burocráticas e mais flexíveis, permitindo maior integração

dos especialistas nas tomadas de decisão. Algumas empresas grandes e mesmo

multinacionais têm criado diretorias de inovação no intuito de estimular a

participação desta área nas tomadas de decisões estratégicas para a organização.

Este posicionamento já demonstra que algumas empresas estão mais propensas a

inserir a inovação de forma estratégica em suas estruturas. Além disso, a rapidez

com que as informações trafegam e a dinamicidade do mercado têm exigido, cada

vez mais, tomadas de decisão rápidas e respostas constantes das empresas que

pretendem se manter competitivas. Os produtos não mais são desenvolvidos em

anos, mas sim em meses, e esta necessidade de adaptação à velocidade em que as

coisas acontecem exige estruturas organizacionais mais rápidas e dinâmicas,

integradas e articuladas em todos os seus níveis de atuação.

Pettigrew e Massini (2003, p.6), em estudo realizado para o programa

de pesquisa em Innovative Forms of Organizing - INNFORM, realizado pela

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Warweick Business School (UK), envolvendo seis universidades da Europa, uma

dos Estados Unidos e uma do Japão, consideraram como características das

organizações inovadoras:

- descentralização radical da responsabilidade por resultado nas unidades

operacionais e dependência de mecanismos de contratação interna;

- redução dos níveis hierárquicos;

- redução do papel do staff corporativo – a alta cúpula concentra-se no

conhecimento, criação e disseminação;

- mudança no modelo de gestão, de "comandar e controlar" para "facilitar e

autorizar";

- sistemas formais e informais de comunicação interna, tanto horizontais

quanto verticais;

- uso extensivo de conferências entre as diversas áreas e funções e

equipes de trabalho, em vez das estruturas organizacionais mais rígidas;

- uso deliberado de recursos humanos internos para disseminação do

conhecimento.

Machado (2008, p.318), em estudo realizado com base na metodologia do

Minnesota Innovation Survey - MIS, descrita por Van de Ven et al. (2000) e aplicada a

30 empresas brasileiras, afirma que "o ambiente inovador apresenta características

semelhantes" e que "o ambiente interno da empresa é o maior responsável pela

percepção de inovação". Os elementos condicionantes e que determinavam a

inovação na estrutura organizacional foram: (1) Eficiência percebida com a inovação,

(2) Incerteza sobre a inovação, (3) Escassez de recursos, (4) Padronização de

procedimentos, (5) Grau de influência nas decisões, (6) Expectativas de prêmios e

sanções, (7) Liderança do time de inovação, (8) Liberdade para expressar dúvidas,

(9) Aprendizagem encorajada e (10) Média dos desvios-padrão. Os elementos

"refletem os comportamentos, as interações, os conflitos e as negociações que

ocorrem no cotidiano organizacional".

O questionário MIS (VAN de VEN et al., 2000), a partir do qual diversas

pesquisas foram realizadas nesta área, foi elaborado com base em extensa pesquisa

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sobre o processo de gestão da inovação, incluindo todos os tipos de inovação –

produtos, processos, âmbito administrativo – e analisando todo o processo, desde a

ideia até sua implementação. A pesquisa apresenta uma estrutura respaldada em

cinco conceitos: ideias, resultados, pessoas, transações e contextos.

O modelo do MIS apresenta quatro dimensões: fatores e situações de

contingência; resultados; dimensão externa, e dimensão interna. Esta última, que

representa a estrutura organizacional para a inovação e foco deste capítulo, divide-

se ainda em: ideias inovadoras; pessoas; transações internas e contexto. Dentro

desta abordagem, o MIS considera as seguintes dimensões para a inovação no

ambiente interno:

1. eficiência percebida com a inovação: diz respeito aos resultados

atingidos com a inovação, sua efetividade em resolver problemas e sua

contribuição para atingir os objetivos da organização;

2. incerteza sobre a inovação: considera tanto a dificuldade quanto a

variedade das ideias inovadoras e sua percepção pelas pessoas

envolvidas no processo;

3. escassez de recursos: está relacionada a pessoal, recursos, materiais e

gestão do processo de desenvolvimento e de inovação;

4. padronização de procedimentos: regras, modelos, padrões que siste-

matizam o processo de inovação;

5. grau de influência nas decisões: liberdade de decisão por parte da

equipe de inovação na condução do processo;

6. expectativas de prêmios e sanções: possibilidade de prêmios e

reconhecimentos, ou de punição, atribuídos ao indivíduo ou à equipe

pelo resultado de suas inovações;

7. liderança do grupo de inovação: diz respeito ao papel do líder como

gestor de uma equipe de inovação, delegando responsabilidades e

estimulando a iniciativa nas equipes;

8. liberdade para expressar dúvidas: possibilidade de expressar opiniões e

sugestões. Está relacionada à aprendizagem, à construção conjunta, ao

trabalho em equipe;

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9. incentivo à aprendizagem: valorização do aprendizado e valorização do

risco (VAN de VEN et al., 2000, p.58-61).

A figura 1, a seguir, mostra as dimensões estudadas por Van de Ven et al. e

a interação entre elas. Este estudo é significativo no sentido de se aprofundar nas

dimensões da gestão da inovação, mas traz elementos importantes para a estrutura

necessária a uma organização inovadora ao estabelecer os fatores internos

inerentes ao processo de inovação.

FIGURA 1 - DIMENSÕES DO MODELO DO MINNESOTA INNOVATION SURVEY

Situational / contingency factors

Novelty of innovation

Innovation scope / size

Innovation stage (age)

Internal dimensions

Innovation ideas:

Difficulty

Variability

People:

Competence

Time invested

Decision influense

Leadership

Internal transactions:

Satandardization of procedures

Communication frequency

Conflict frequency

Conflict resolution methods

Context:

Innovation climate

Organiacional risk taking

Freedom to Express doubts

"turf guarding"

Expectancy of rewards and sanctions

Resource scarcity

Outcomes

Perceived innovation effectiveness

External innovation dimensions

External transactions: Environmental uncertainty:

Dependence Technological

Formalization Economic

Influence Demographic

Effectiveness Legal/regulatory

FONTE: Van de Ven et al. (2000, p.56)

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Zilber et al. (2008, p.86), em estudo realizado junto à indústria de eletromédica,

levantou as seguintes características como fatores para a organização inovadora:

§ Interação - a inovação resulta da "integração de múltiplas perspectivas",

exigindo interação e colaboração entre os indivíduos e departamentos;

§ Descentralização - a descentralização e o uso de unidades de negócio

facilitam a inovação pela diminuição da burocracia, aumento da responsabi-

lidade e contato direto com clientes. A estrutura organizacional é apropriada;

§ Controle - o excesso de controle pode inibir a criatividade e, consequen-

temente, a possibilidade de inovação;

§ Flexibilidade - planos estratégicos flexíveis e controles financeiros e

operacionais pouco restritivos a fim de abrir espaço para inovações

inesperadas. Multiplicidade de comando;

§ Liderança - o líder tem papel decisório e de promotor das inovações como

agente interno de mudança;

§ Reconhecimento - aprovação pelo trabalho realizado e oportunidade

profissional.

De uma forma geral, as organizações exercem papel fundamental em nossas

vidas, realizando tarefas que não poderiam ser feitas se estivéssemos sozinhos. Fazem

parte da vida de todos e representam um ambiente de convívio social, crescimento,

troca de informações e realização profissional.

Uma organização é uma coletividade com uma fronteira relativamente

identificável, uma ordem normativa (regras), níveis de autoridade (hierarquia),

sistemas de comunicação e sistemas de coordenação dos membros

(procedimentos); essa coletividade existe em uma base relativamente

contínua, está inserida em um ambiente e toma parte de atividades que

normalmente se encontram relacionadas a um conjunto de metas; atividades

acarretam conseqüências para os membros da organização, para a própria

organização e para a sociedade (HALL, 2004, p.30).

As organizações possuem diferentes estruturas, modelos e necessidades,

mas todas elas, de uma forma ou outra, têm que se adaptar a um novo modelo que

vem se impondo em face das características do mercado atual. Estruturas rígidas e

extremamente verticalizadas mostram-se, cada vez mais, pouco apropriadas para a

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geração de inovações. Diversos autores têm apontado para a necessidade de

flexibilização destas estruturas e de suas formas de trabalho a fim de criar ambientes

mais propícios à inovação. Algumas características são apontadas por mais de um

autor e podem servir como referência na busca de uma organização inovadora. Com o

quadro 3, a seguir, pretende-se sistematizar alguns dos conceitos aqui abordados.

QUADRO 3 - SÍNTESE DAS CONDICIONANTES MICRO DE INOVAÇÃO

COMPONENTE CARACTERÍSTICA-CHAVE AUTOR / ANO

Estrutura adequada e

ambiente criativo

Estrutura adequada à interação e trabalho em

equipe, facilitando a comunicação. Estímulo a

ideias criativas.

Tidd et al. (2008), Zilber et al. (2008)

Descentralização e

redução dos níveis

hierárquicos

Estruturas horizontalizadas, com pouca

hierarquia.

Queiroz (2007), Mintzberg (2003),

Pettigrew e Massini (2003), Zilber et al.

(2008)

Visão compartilhada,

liderança e desejo de

inovar

Propósito compartilhado e articulado.

Comprometimento da alta gestão.

Abertura para resultados inesperados

Tidd et al. (2008), Queiroz (2007),

Mintzberg (2003), Van de Ven et al.

(2000), Zilber et al. (2008)

Liberdade de decisão e

responsabilidade pelos

resultados

Liberdade de decisão no nível técnico e amplo

diálogo com a diretoria.

Queiroz (2007), Mintzberg (2003), Van de

Ven et al. (2000), Machado (2008), Zilber

et al. (2008)

Indivíduos-chave Promotores da inovação dentro da empresa. Tidd et al. (2008), Zilber et al. (2008)

Trabalho em equipe

Uso de equipes multidisciplinares no

desenvolvimento das inovações. Conceito de

"força-tarefa". Construção conjunta da solução.

Tidd et al. (2008), Queiroz (2007),

Mintzberg (2003), Van de Ven et al.

(2000), Machado (2008), Zilber et al.

(2008)

Aprendizagem

Capacitação constante da equipe; troca de

informações dentro e fora da empresa;

interação entre as equipes

Tidd et al. (2008), Queiroz (2007),

Mintzberg (2003) Pettigrew e Massini

(2003), Van de Ven et al. (2000) e

Machado (2008)

Comunicação Comunicação ágil e fluida em todos os níveis

verticais e horizontais

Tidd et al. (2008), Queiroz (2007),

Pettigrew e Massini (2003)

Foco externo Organização com fronteiras permeáveis;

trabalho em rede; cooperação. Tidd et al. (2008), Queiroz (2007),

FONTE: A autora

2.3.2 Condicionantes em Nível Meso

A constante busca pela inovação como forma de competitividade vem

obrigando as nações a se prepararem cada vez melhor em termos de pesquisa,

tecnologias, informações. Diversos autores afirmam que o aprendizado e o

conhecimento se tornaram as bases para o desenvolvimento e crescimento das

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economias. Nesse contexto, as redes e sistemas têm realizado papel importante como

meio de troca de informações e aprendizado entre instituições, empresas e

universidades. Proporcionam um ambiente propício para a troca de experiências e

criam bases mais fortalecidas de conhecimento em uma região.

Na década de 1980, Freeman (1987) realizou um estudo de grande importância

(Sappho-study, organizado pela SPRU - Science Polish Research Unit, na Universidade

de Sussex), no qual foram avaliadas as inovações realizadas por pares de empresas,

sendo que uma delas era de grande sucesso e, a outra, um fracasso. O resultado

principal desse estudo mostrou que as empresas que tinham alcançado sucesso eram

aquelas que desenvolviam as inovações através de interações com outras áreas. A

partir desse trabalho, Freeman começa a difundir dois dos conceitos mais importantes

sob o enfoque da inovação: (1) a inovação não constitui um processo linear provindo

apenas de esforços em P&D, e (2) a importância da interação para a inovação,

iniciando o que viria a ser o conceito de Sistema de Inovação (LUNDVALL, 2010).

Freeman (1987) define o Sistema de Inovação (SI) como uma rede de

instituições, públicas ou privadas, cujas atividades e interações são responsáveis

por importar, modificar e difundir novas tecnologias, e Lundvall (2010) entende o SI

como os elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso do

conhecimento e que estão localizados em uma mesma região.

Para a OECD (1997, p.7), o Sistema Nacional de Inovação pode ser definido

como o conjunto de instituições e organizações responsáveis pela criação e adoção

de inovações em um determinado país.

A inovação é o resultado de uma complexa interação entre vários atores e

instituições. Mudanças tecnológicas não ocorrem em uma sequência linear

perfeita, mas sim através de movimentos de vai-e-vem neste sistema. No

centro deste sistema estão empresas, a forma como elas organizam sua

produção e a inovação e os canais pelos quais elas têm acesso às fontes de

conhecimento externo. Estas fontes podem ser outras empresas, institutos de

pesquisa públicos e privados, universidades ou instituições de transferência –

tanto regionais quanto nacionais e internacionais. Aqui, a empresa inovadora

opera em uma complexa rede de cooperação e competição entre outras

empresas e instituições, construindo um leque de joint ventures e ligações

com fornecedores e consumidores (OECD, 1997, p.12).

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Para a OECD (1997), o Sistema de Inovação está baseado em fluxos de

informação que podem ocorrer em quatro níveis diversos, a saber: interação entre

empresas; universidades e institutos de pesquisa; difusão de conhecimentos e

tecnologias para as empresas; e mobilidade de pessoas entre as diversas áreas.

1) Interações entre empresas para atividades de pesquisa primária e

colaborações técnicas; 2) interações entre empresas, universidades e

institutos públicos de pesquisa, incluindo a realização de pesquisa, patentes,

publicações em parceria; 3) difusão de conhecimento e tecnologias para as

empresas, incluindo adoção de novas tecnologias pelas empresas, e difusão

através de maquinário e equipamento, e 4) mobilidade de pessoal focada no

movimento de pessoal entre os setores públicos e privados. Relacionar estes

fluxos com a performance das empresas mostra que altos níveis de

colaboração técnica, difusão tecnológica e mobilidade de pessoal contribuem

para melhorar a capacidade inovadora das empresas em termos de produtos,

patentes e produtividade (OECD, 1997, p.7).

Para Cassiolato e Lastres (2005), o sistema de inovação é conceituado

como um conjunto de instituições distintas que contribuem para o desenvolvimento

da capacidade de inovação e aprendizado de um país, região, setor ou localidade –

e que também o afetam. Constitui-se de elementos e relações que interagem na

produção, difusão e uso do conhecimento.

A ideia básica do conceito de sistemas de inovação é que o desempenho

inovativo depende não apenas do desempenho de empresas e

organizações de ensino e pesquisa, mas também de como elas interagem

entre si e com vários outros atores, e como as instituições – inclusive as

políticas – afetam o desenvolvimento dos sistemas. Entende-se, deste

modo, que os processos de inovação que ocorrem no âmbito da empresa

são, em geral, gerados e sustentados por suas relações com outras

empresas e organizações, ou seja, a inovação consiste em um fenômeno

sistêmico e interativo, caracterizado por diferentes tipos de cooperação.

Com relação a esse último ponto, conclui-se que esses sistemas contêm

não apenas as organizações diretamente voltadas ao desenvolvimento

científico e tecnológico, mas também, e principalmente, todas aquelas que,

direta ou indiretamente, afetam as estratégias dos agentes (CASSIOLATO e

LASTRES, 2005, p.37).

Para os autores, um sistema nacional de inovação é composto por empresas,

instituições de ensino e pesquisa, entidades de financiamento e o governo, que, indi-

vidual e conjuntamente, contribuem para o desenvolvimento e difusão de tecnologias.

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Para Landabaso et al. (2003), a competitividade das empresas não depende

somente delas, mas também da qualidade de seu entorno, o que pode promover a

competitividade estrutural. As interações dentro das organizações e entre estas e os

subsistemas geram a corrente de conhecimento que conduz à evolução dos sistemas

regionais de inovação. Regiões mais desfavorecidas têm sistemas de inovação

subdesenvolvidos, fragmentados e menos eficientes e, portanto, maiores dificuldades

em absorver os investimentos públicos em inovação. Desta forma, quanto mais a

região precisa, mais difícil é investir de modo eficaz. Isto se deve ao fato de as

empresas em sistemas menos desenvolvidos não estarem maduras para absorver os

incentivos disponíveis, por isso é preciso estruturar antes de investir.

A capacidade de inovação das empresas regionais está diretamente ligada à

habilidade da região em aprender. Por sua vez, a capacidade de inovação e a

capacidade de aprender estão diretamente relacionadas à densidade e qualidade

das redes do entorno produtivo regional. A aprendizagem depende da inteligência

empresarial e do acesso ao conhecimento – a inovação é o produto final.

Um sistema regional de inovação - SRI eficiente (figura 2) precisa de uma

célula inteligente composta por um governo regional e agências de desenvolvimento

que promovam a articulação e dinamização. O próprio SRI é o sistema de

aprendizagem, e é ele que garante a efetividade e eficiência da construção e da

transferência de conhecimento entre as diferentes partes do sistema. O SRI permite

que o total seja maior que a soma das partes, e promove articulação em busca de

sinergia e complementariedade entre os diversos agentes, promovendo uma agenda

única e aumentando o potencial inovador.

Lundvall (2010) entende que um Sistema Nacional de Inovação é composto

por alguns elementos, como: (1) organizações internas das empresas; (2) relações

entre empresas; (3) setor público; (4) setor financeiro; e (5) organizações de P&D.

Independentemente da nação estes elementos existirão, entretanto com diferentes

características históricas e culturais.

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FIGURA 2 - SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO

FONTE: Landabaso et al. (2003)

Para ele, o SNI é um sistema social, feito de pessoas que interagem entre si,

em que o fator mais importante são os recursos humanos – as pessoas que

compõem estas redes, com seus conhecimentos tácitos, suas experiências e troca

de informações por meio de suas redes de contatos. Além disso, é um sistema

dinâmico, que depende de interação, produção e reprodução de conhecimento, troca

e relação entre pessoas, seja através de indivíduos ou de agentes coletivos.

Partindo do princípio de que a base do SNI é o aprendizado, o mesmo

acontece não apenas a partir de P&D e da ciência, mas também das atividades

rotineiras de produção, distribuição e consumo. Neste sentido, Lundvall (2010)

propõe duas definições de SNI: uma mais fechada, focada nas organizações e

instituições voltadas para a pesquisa, e outra mais aberta, que diz respeito não só à

estrutura institucional, mas também à econômica, que envolve os sistemas de

produção, marketing e finanças:

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A definição restrita inclui organizações e instituições de pesquisa como

departamentos de P&D, institutos de tecnologia e universidades […] A

definição mais ampla que parte do princípio teórico apresentado inclui todos

os aspectos da estrutura econômica e institucional, afetando o aprendizado

e a pesquisa – o sistema de produção, o sistema de venda e o sistema

financeiro se apresentam como subsistemas nos quais o aprendizado se

insere (LUNDVALL, 2010, p.12).

Para Edquist (2005, p.188), o SNI é composto principalmente por instituições

e organizações. Organizações são estruturas formais que têm um propósito, como

empresas, universidades, organizações de capital de risco e agências públicas.

Instituições são hábitos, normas, rotinas ou práticas que regulam a interação entre

os indivíduos e organizações, como leis de propriedade intelectual. Ainda que a

base dos SNIs sejam organizações e instituições, seus componentes diferem muito

de país para país, ou, ainda, de região para região.

Para Campanário (2002), o SNI compreende as agências públicas de

fomento, suporte e apoio à execução de P&D; as universidades e os institutos de

pesquisa; as empresas que investem em P&D e em novas tecnologias; programas

públicos; leis e regulamentações.

A PINTEC 2008 avalia a cooperação de forma significativa para a inovação e

considera que a mesma pode ser realizada com clientes ou consumidores;

fornecedores; concorrentes; outra empresa do grupo; empresas de consultoria;

universidades ou instituições de pesquisa; centros de capacitação profissional e

assistência técnica e instituições de testes, certificações e ensaios com o objetivo de

desenvolver P&D; assistência técnica; treinamento; desenho industrial; ensaios e

testes de produtos, entre outros.

A partir dos conceitos do Sistema Nacional de Inovação e do entendimento

de que a base para este sistema é a troca de conhecimento, far-se-á uso dos

seguintes elementos principais para determinar as organizações e relações mais

importantes do SNI, mesmo porque estas diferem de região para região e há uma

enorme quantidade de modelos de sistema de inovação devido à diversidade

cultural, econômica e social de cada região. Em termos de modelos, e para fins

deste estudo, propõe-se, no quadro a seguir, elementos como base referencial para

a estruturação das variáveis desta pesquisa.

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QUADRO 4 - SÍNTESE DAS CONDICIONANTES MESO DE INOVAÇÃO

ELEMENTO CARACTERIZAÇÃO AUTORES

Governos Definem as diretrizes e políticas gerais, tendo papel

regulatório.

Cassiolato e Lastres (2005),

Landabaso et al. (2003)

Organizações de caráter

associativo

Organizações que promovem interação entre empresas,

governos e institutos, como: associações, cooperativas e

redes de cooperação.

Landabaso et al. (2003)

Empresas privadas e

instituições de P&D

As empresas de uma forma geral, tanto produtoras como

fornecedoras, e os laboratórios de pesquisa privada.

OECD (1997), Cassiolato e Lastres

(2005), Landabaso et al. (2003),

Lundvall (2010),

Campanário (2002), PINTEC 2008

Organizações de ensino Universidades e organizações que produzem

conhecimento e qualificam pessoas.

OECD (1997),

Cassiolato e Lastres (2005),

Landabaso et al. (2003), Lundvall

(2010), Campanário (2002),

PINTEC 2008

Organizações públicas e

privadas

Outras organizações, como laboratórios públicos,

organizações de transferência de tecnologia, institutos de

patentes, organismos de formação, institutos de

certificação, incubadoras tecnológicas, parques

tecnológicos.

OECD (1997),

Cassiolato e Lastres (2005),

Landabaso et al. (2003), Lundvall

(2010), Edquist (2005),

Campanário (2002), PINTEC 2008

Empresas de capital Capital tanto público quanto privado. São organizações

de crédito, fomento, capital etc.

Cassiolato e Lastres (2005),

Lundvall (2010),

Edquist (2005),

Campanário (2002)

Instituições Leis que regulam as ações e interações entre as

organizações, normas, rotinas ou práticas.

Edquist (2005),

Campanário (2002)

FONTE: A autora

2.3.3 Condicionantes em Nível Macro

Para os economistas clássicos a tecnologia era um fator exógeno ao desen-

volvimento, considerada como um elemento dado, conhecido, responsável pela

combinação dos fatores de produção. Para os economistas neoclássicos a

tecnologia passa a ser considerada um fator endógeno, sendo o principal fator para

os empresários e governo na promoção da competitividade (CAMPANÁRIO, 2002).

Os neoclássicos deslocam o epicentro da discussão da produção para o

mercado. Para eles, o mercado era autorregulado, não havendo necessidade da

intervenção do Estado.

Com a crise mundial de 1929, que abala fortemente o capitalismo e as bases

da economia liberal, torna-se necessária a criação de novos instrumentos de

interpretação e intervenção para solucionar os problemas da acumulação do capital.

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Cabe a Lord Keynes grande projeção ao defender que as forças de mercado

não eram capazes de promover a alocação ótima dos recursos. Fazia-se necessária

a intervenção do Estado na economia, não apenas como administrador ou regulador

das atividades privadas, mas como agente direto da produção, orientando a

estrutura econômica (MANTEGA, 1985).

Desta forma, e no cenário atual, principalmente em se tratando de países em

desenvolvimento, o Estado possui um papel fundamental como regulador e

coordenador de ações e políticas públicas e, em especial no âmbito da inovação, de

políticas industriais para o desenvolvimento econômico.

Mais significativo, porém, é que estes trabalhos [...] associam essas ideias

sobre o processo inovativo ao surgimento do novo paradigma tecnológico

proveniente da ideia da evolução do capitalismo em termos de ondas de

crescimento e depressão de longo prazo, de que há necessidade de

iniciativas governamentais para se dar conta da incerteza e de um

pressuposto (certamente polêmico no contexto da OCDE) de que o livre

comércio seria desvantajoso para países menos desenvolvidos.

(CASSIOLATO e LASTRES, 2005, p.36).

Diversos autores já desenvolveram extensa análise sobre políticas públicas

e, neste caso especialmente, de políticas de inovação como foco para o

desenvolvimento econômico das nações. Far-se-á aqui uma breve revisão destes

conceitos e, em especial, das condicionantes macro para a inovação nas empresas

sob o enfoque da corrente neoshumpeteriana, que se apoia no entendimento de que

os mercados "livres" não são suficientes para conduzir o desenvolvimento e que o

Estado tem papel fundamental na elaboração e coordenação de políticas públicas e

como regulador de instabilidade econômica.

Entende-se por políticas públicas "o conjunto de ações coletivas voltadas

para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa

dar conta de determinada demanda, em diversas áreas. Expressa a transformação

daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público".

(GUARESCHI et al., 2004, p.180).

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Há uma certa proximidade entre as noções de política pública e de plano,

embora a política possa consistir num programa de ação governamental

que não exprima, necessariamente, no instrumento do plano [...] a política é

mais ampla que o plano e se define como processo de escolha dos meios

para a realização dos objetivos do governo com a participação dos agentes

públicos e privados (BUCCI, 2008, p.258).

As políticas públicas são instrumentos governamentais necessários para

estabelecer estratégias de ação de conhecimento público, a fim de criar uma

sinergia entre as diversas instâncias do governo. Da mesma forma que atuam dando

direcionamento às atividades e ações governamentais, devem ser mensuradas

como forma de avaliar sua pertinência. Além disso, é preciso considerar que em um

Estado democrático as políticas não podem ser criadas a partir de gabinetes

fechados, mas devem exprimir as necessidades e vontades de uma nação. As

políticas públicas em geral são diretrizes criadas em âmbito governamental que

precisam de ações estratégicas para serem realizadas.

As políticas devem levar em consideração as especificidades de cada país

ou região. Políticas de países desenvolvidos, por exemplo, não atenderiam às

necessidades de países em desenvolvimento. Elas poderiam servir de base para a

criação de políticas mais adequadas, mas devem sofrer as devidas adaptações

considerando-se as características socioeconômicas de cada país. Para Cassiolato

e Lastres (2005), ao propor políticas adequadas é preciso levar em conta os

condicionantes macroeconômicos, políticos, institucionais e financeiros específicos

de cada país.

Para Cimoli et al. (2007), as políticas públicas têm papel fundamental nos

países em processo de emparelhamento (catching up) como base para estratégias

de desenvolvimento econômico e, ainda, reforçam o papel das políticas e instituições

no processo de aprendizado tecnológico, de coordenação e mudança econômica.

Um elemento fundamental dos países que conseguiram equiparar-se com

sucesso aos países líderes durante os séculos XIX e XX residiu no ativo

apoio governamental ao processo de emparelhamento, envolvendo várias

formas de proteção e subsídios diretos ou indiretos. O argumento condutor

dessas políticas foi a necessidade sentida pela indústria local, nos ramos

então considerados críticos para o processo de desenvolvimento, de

alguma proteção face às empresas mais avançadas dos países líderes.

(CIMOLI, M. et al., 2007, p.66).

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Com os estudos desenvolvidos na área de inovação e os novos conceitos

gerados, principalmente o de Sistema Nacional de Inovação, as novas políticas

passam a sofrer influências. "A inovação passa a ser o mais importante componente

das estratégias de desenvolvimento [...] e as políticas a ela direcionadas passam a

ser entendidas como políticas direcionadas a sistemas de inovação." (CASSIOLATO

e LASTRES, 2005, p.37).

Lall (2005) menciona que na teoria convencional o mercado era autorregulado

e as intervenções do governo só se justificavam frente às imperfeições do mercado.

Hoje, o papel do governo como interventor vem sendo bem mais aceito. O debate,

então, se insere na questão das intervenções funcionais (imperfeições gerais do

mercado) ou seletivas, em que a política industrial seria responsável pelo

direcionamento das ações. O autor acredita que ao governo não cabe apenas promover

condições estruturais, mas sobretudo amparar determinados setores onde se percebe

maior potencial de desenvolvimento.

Diversos países vêm canalizando, há algum tempo, grande energia na

elaboração de políticas focadas em inovação, e todos eles praticam, de uma forma

ou de outra, algum tipo de intervenção. Em geral estas intervenções têm sido

relativamente em alto grau e variam de país para país, seja através de políticas

industriais ou não – o que diferencia os países são o tipo e o grau de intervenção.

(CIMOLI et al., 2007).

Percebe-se claramente a importância das políticas públicas para o

desenvolvimento econômico e, principalmente, o papel do Estado como indutor

deste desenvolvimento, primeiramente na elaboração de políticas adequadas às

suas nações, depois na coordenação destas atividades em consonância com os

governos regionais e, por último, como catalisador dessas iniciativas e promotor de

uma agenda única de convergência nacional.

Procura-se, aqui, levantar possíveis condicionantes para políticas públicas

em inovação com o intuito de buscar variáveis comuns entre as principais políticas

mundiais através de estudos da Comunidade Europeia, OECD e autores concei-

tuados neste tema.

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Um estudo da OECD (2006, p.50-51) analisa os planos de ciência e

tecnologia dos países membros e apresenta um overview das principais diretrizes

adotadas por estes países:

§ prioridade na elaboração de planos nacionais de Ciência, Tecnologia

e Inovação;

§ desenvolvimento de prospectiva tecnológica para identificar desafios e

oportunidades em novas ciências e tecnologias;

§ definição de metas de investimento em P&D como estímulo para a

iniciativa pública e privada;

§ avaliação como forma de monitorar a pesquisa financiada por fundos

públicos e de garantir o acesso às informações;

§ mecanismos de financiamento;

§ infraestrutura;

§ estímulo a open innovation e a inovação em serviços;

§ formalização da transferência de conhecimentos entre as universidades e

a indústria;

§ maior envolvimento dos governos regionais na inovação;

§ preocupação contínua com a existência de profissionais na área de

tecnologia (cientistas, engenheiros).

Em face do entendimento de que políticas centradas na inovação e pesquisa

seriam fundamentais para a sustentabilidade e competitividade global, a Comissão

Europeia publicou, em 2005, um material que apresenta o plano de ação com foco

em inovação como base para os países da União Europeia. Além disso, consideram

o envolvimento de todos os países membros como fundamental para esta

cooperação em busca de uma economia sólida e competitiva. O plano de ação

possui quatro diretrizes que preveem a inserção da pesquisa e inovação no centro:

(1) das políticas públicas da Comunidade Europeia - CE; (2) dos recursos e fundos;

e (3) dos negócios da CE; a quarta diretriz está voltada para a promoção de políticas

públicas em pesquisa e inovação. Por entender que a elaboração e a aplicação de

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políticas públicas em inovação estão atreladas não apenas aos governos centrais,

mas também aos regionais, a CE criou um plano de ação reforçando as políticas

necessárias e atividades e suas respectivas responsabilidades, conforme quadro 5.

QUADRO 5 - PLANO DE AÇÃO DA COMUNIDADE EUROPEIA

DIRETRIZ POLÍTICA

P&I (Pesquisa e Inovação)

no centro das políticas

públicas

- Diminuir barreiras regulatórias de forma a incentivar inovação e pesquisa

- Apoio do Estado à inovação e pesquisa

- Melhorar o uso e a eficiência da Propriedade Intelectual

- Criar um mercado atrativo para pesquisadores. Dar suporte, monitorar e desenvolver

recursos humanos para pesquisa

- Considerar o uso de contratos públicos como incentivo à P&I, uma vez que o Estado pode

ser grande contratante de tecnologia em determinadas áreas como transporte, energia,

meio ambiente, saúde, educação, comunicação etc.

- Incentivar e disseminar o uso de incentivos fiscais para P&I

P&I no centro dos

recursos e fundos

- Direcionar recursos e criar fundos para áreas estratégicas e utilizá-los como incentivo à P&I

- Melhorar e facilitar o acesso de MPEs aos recursos públicos

- Mobilizar programas e fundos nacionais e regionais de apoio à inovação

P&I no centro dos

negócios

- Incentivar a transferência de conhecimento entre organizações públicas de pesquisa e a

indústria

- Promover clusters industriais e polos de inovação e conhecimento

- Serviços de apoio à P&I, em particular para MPEs através de instituições de apoio

- Promover boas práticas de gestão da inovação e serviços de inovação

- Monitorar e analisar os investimentos privados em P&I

FONTE: Adaptado de European Comission (2005, p.12-24)

Percebe-se que, na maioria dos casos, a CE criou programas de apoio e

suporte à inovação como forma de garantir o acesso das empresas a estas ações e,

ainda, a aplicação das políticas públicas estabelecidas (programas para PI, para

acesso a recursos, para inovação e pesquisa, entre outros). As ações realizadas e

propostas pela CE foram desenvolvidas por meio de diálogos estabelecidos com a

indústria e stakeholders a fim de garantir sua pertinência. Além disso, observa-se

grande coerência e coordenação das ações propostas, bem como a grande

articulação da CE com outras instâncias do governo. Isto mostra a adoção de uma

agenda comum no desenvolvimento de ações voltadas à inovação, possibilitando

uma convergência nas ações e, consequentemente, maiores resultados.

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Para Lall (2005), um sistema nacional focado em inovação deve dar ênfase

ao regime de incentivos e às políticas públicas. Em seu modelo, ele considera como

principais fatores de base para este sistema e para a formulação de políticas os

incentivos, os mercados de fatores (mercados de capital humano, desenvolvimento

tecnológico, mercados de capitais) e as instituições.

Pack (2005), por sua vez, acredita que a competência tecnológica de um país

depende de ações em três fases, em que, inicialmente, há o ensino básico, a

orientação para as exportações e a abertura à tecnologia estrangeira, seguidos de

especializações na área de engenharia e pesquisa e desenvolvimento. Por fim, viriam

os investimentos em novos empreendimentos. Nota-se que o autor se refere às bases

iniciais, como a educação e abertura do mercado, segundo o entendimento de que é

preciso considerar a troca de tecnologias como fator de aprendizagem. A partir de

uma base inicial é que se prioriza o desenvolvimento dos fatores humanos e, por fim,

investimentos necessários ao desenvolvimento realizado em bases apropriadas.

Em seu estudo, Cimoli et al. (2007, p.69) apresentam uma taxonomia para o

papel das políticas públicas e instituições reforçando a importância do papel do Estado

como promotor de ações de incentivo ao desenvolvimento e como coordenador de

ações de mudança. O foco está no aprendizado tecnológico de países em processo de

catching up. Entre ações e políticas sugeridas pelo autor com base nas possíveis áreas

de intervenção, pode-se considerar: políticas científicas, políticas educacionais e de

treinamento, projetos tecnológicos, políticas de P&D e políticas para aquisição de novos

equipamentos, regulação de preços e tarifas inclusive no comércio internacional,

regulação da propriedade intelectual, política e regulação antitruste e regulação da

concorrência, governança dos mercados de trabalho e produto, governança das

relações organizacionais para controle e compartilhamento das informações, políticas

para "campeões nacionais" e políticas que afetam os investimentos de multinacionais.

Os autores consideram o desenvolvimento tecnológico a partir da evolução das

capacidades tecnológicas e se centram em elementos constitutivos de uma política

industrial com foco no aprimoramento da indústria.

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Com base em pesquisa realizada com os países membros, a OCDE

estabeleceu as seguintes recomendações para Políticas de Ciência, Tecnologia e

Inovação (SILVA e MELO, 2001, livro verde, p.42):

- aperfeiçoar a gestão da base de pesquisa científica e tecnológica por

meio da maior flexibilidade nas estruturas de pesquisa e do incremento da

colaboração universidade-indústria;

- assegurar que o progresso tecnológico de longo prazo seja preservado

por meio do financiamento adequado da pesquisa pública e de incentivos

para a colaboração entre empresas em pesquisa pré-competitiva;

- melhorar a eficiência do apoio financeiro público à P&D e eliminar os

obstáculos ao desenvolvimento dos mecanismos de mercado para o

financiamento da inovação, através, por exemplo, do capital de risco privado;

- fortalecer os mecanismos de difusão tecnológica por meio da promoção

de maior competição nos mercados de produtos e do aperfeiçoamento

dos programas de difusão tecnológica;

- adotar medidas que contribuam para reduzir os desencontros entre a

demanda por qualificações e competências e a oferta das mesmas, bem

como melhorar as condições para que as empresas adotem novas

práticas organizacionais;

- facilitar a criação e o crescimento de empresas baseadas em novas

tecnologias, por meio do desenvolvimento de maior capacitação gerencial e

inovativa, da redução de barreiras regulatórias, financeiras e de informação,

além da promoção da capacidade para novos empreendimentos;

- promover novas áreas e oportunidades de crescimento, mediante reforma

legal e regulatória que estimule novos entrantes e respostas tecnológicas

flexíveis;

- aperfeiçoar técnicas e fortalecer os mecanismos institucionais de avaliação;

- introduzir novos mecanismos de apoio à inovação e à difusão tecnológica,

particularmente através da maior utilização de parcerias público/privado;

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- eliminar os obstáculos à cooperação tecnológica internacional por meio

de maior transparência no acesso de empresas e instituições estrangeiras

aos programas nacionais e da garantia de um quadro confiável de direitos

de propriedade intelectual;

- ampliar a capacidade de coordenação econômica mediante reformas nos

mercados financeiro, de produtos e de trabalho e bem como reformas na

educação e formação profissional;

- incrementar a abertura para os fluxos internacionais de produtos, pessoas e

ideias e aumentar a capacidade de absorção das economias domésticas.

Como referência mundial em desenvolvimento é importante recorrer às

Economias de Industrialização Recente - EIRs, nas quais a ciência, tecnologia e

inovação têm desempenhado papel central no desenvolvimento econômico e

industrial. Alguns autores têm realizado estudos nas EIRs Asiáticas, e algumas

contribuições devem ser consideradas.

Dogson (2005), em estudo sobre as EIRs Asiáticas, divide as políticas em

Científica, Tecnológica e de Inovação e faz distinção entre a capacidade tecnológica

e a capacidade de criação, que exigem políticas diferenciadas, mas que podem se

complementar dependendo do grau de desenvolvimento econômico do país. O

desenvolvimento de capacidade tecnológica, em que as empresas acumulam,

assimilam e adaptam tecnologias, exige políticas centradas em infraestrutura

tecnológica. Já o desenvolvimento de capacidade de criação, em que as empresas

desenvolvem novas tecnologias com base em P&D, exige treinamento científico

apropriado e proteção dos direitos de propriedade intelectual. As políticas nas EIRs

têm focado muito em disseminação de tecnologias, em vez de criação e

desenvolvimento. Este aspecto pode trazer um déficit na competitividade, uma vez

que são facilmente transferíveis e não representam, de fato, um diferencial. Para

Dogson (2005), o mais importante é a forma como as organizações se adaptam e

mudam ao longo do tempo.

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Paralelamente a este estudo, Lee (2005) analisa a evolução da política sul-

coreana a partir de três fases do seu desenvolvimento: imitação, internalização e

fase da criação. A primeira fase (imitação) caracteriza-se pelo apoio à infraestrutura

tecnológica através de instituições básicas para ciência e tecnologia e ao que o

autor chama de "política industrial" a ramos industriais selecionados – ações que

propiciaram a assimilação de tecnologia. Nesta fase, destacam-se (1) o

direcionamento industrial; (2) o estímulo às exportações, facilitando a exposição às

fronteiras estrangeiras; e (3) a interação com fornecedores de bens de capital ou

compradores estrangeiros que contribuíram para a transferência de tecnologia. A

segunda fase (internalização) caracterizou-se por políticas que apoiavam a inovação

e aptidões tecnológicas individuais e políticas de apoio financeiro. As políticas

dividiam-se em dois tipos principais: o primeiro, programas horizontais, incluía

incentivos fiscais à P&D, créditos fiscais para desenvolvimento do capital humano,

reduções nos direitos aduaneiros sobre equipamentos importados e empréstimos

para desenvolvimento de tecnologia. O segundo, políticas direcionadas de amparo a

tecnologias estratégicas, envolveu a participação do setor privado com recursos

para pesquisa em cooperação com os institutos. Na terceira fase (criação) o objetivo

foi estabelecer sistemas nacionais de inovação similares aos dos países mais

avançados. Nestas políticas destacam-se ações como: (1) financiamento prioritário

de pesquisa cooperada; (2) criação de centros de pesquisa e apoio à pesquisa em

universidades; (3) aumento dos programas governamentais de P&D nos Ministérios;

(4) criação de conselho interministerial de Ciência e Tecnologia para coordenar as

ações; e (5) proteção dos direitos de propriedade intelectual.

Cassiolato et al. (2000) analisam as características mais relevantes das

políticas tecnológicas do sistema japonês de inovação, nas quais se destacam, em nível

microeconômico, a aprendizagem coletiva, a interconexão e a colaboração. Neste

sentido, o sistema japonês se destaca por sua estrutura de informação: os fluxos

horizontais de informação, diferentes dos fluxos verticais típicos das estruturas hierar-

quizadas. Também a engenharia simultânea e a engenharia social permitem o

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envolvimento de diversas áreas e funcionários da empresa, gerando comprometimento,

troca de informações e aprendizado contínuo. Houve estímulo à comercialização

precoce através da inserção imediata de novos produtos no mercado, os quais eram

testados pelos próprios consumidores, trazendo um rápido feedback para as empresas

e estimulando o aprendizado tecnológico e uso de novas tecnologias. Em nível

mesoeconômico destacam-se a articulação, colaboração e relação cooperativa entre as

empresas dos setores produtivos – estrutura de Keiretsu, bem como as associações

industriais que têm papel de facilitadoras da interação e fluxos de informação. Em nível

macroeconômico, o Sistema Japonês de Inovação se diferencia pelo monitoramento de

informações, tanto nas empresas e associações, quanto nacional e internacionalmente.

O sistema cria "visões de futuro", servindo de base de informação de possíveis cenários

para inúmeras instituições, incluindo as financeiras. Ainda no nível macro, salienta-se o

papel do governo desenvolvimentista japonês e a atuação do Ministry of International

Trade and Industry - MITI como principal agente promotor da política industrial e

tecnológica. Em 1996 é aprovado o Plano Básico para Ciência e Tecnologia - C&T com

foco em: maiores investimento em P&D, conservação de energia e ambiente, criação

de novas indústrias de informação e comunicação e promoção da importância de C&T.

Neste estudo, destacam-se a interação dos componentes do sistema e sua

complementariedade, bem como a aprendizagem coletiva, interconexão e colaboração.

Nos anos 1990 há grande articulação entre a política tecnológica e industrial.

No quadro 6, a seguir, observa-se o plano da política industrial e tecnológica

elaborada pelo MITI.

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QUADRO 6 - POLÍTICA INDUSTRIAL DO MITI

Pontos de ênfase

Fomentar o desenvolvimento de indústria de alto valor agregando o capital intelectual, expresso em P&D e tecnologias da

informação

Desenvolvimento

tecnológico

· Crescentes recursos para a P&D para a criação de novos empreendimentos com ênfase em

empresas médias regionais

· Criação de programas de P&D regionais

· Ampliação do apoio às tecnologias-chave

· Apoio às tecnologias eletrônicas ultra-avançadas, médicas e de bem-estar

Oferta de capital · Insenções fiscais para pessoas físicas em novos empreendimentos

· Tratamento fiscal especial para capital de risco em novos empreendimentos

Recursos humanos · Apoiar spinoffs

· Reforço à cooperação universidade-indústria

· Apoio ao desenvolvimento de clusters industriais regionais

· Promoção de infraestrutura industrial

Criação de

infraestrutura para

clusters regionais

· Criação de infraestrutura para novos empreendimentos

· Construção de fábricas para arrendamento nos clusters

· Criação de parques industriais para pequenas e médias empresas

Promoção da P&D e

desenvolvimento de RH

em clusters regionais

· Criação de um sistema de P&D regional

· Apoio às pequenas e médias empresas regionais

· Desenvolvimento de competências nos clusters industriais regionais em conjunto com o

Ministério do Trabalho

Promoção do

investimento em

clusters regionais

· Formulação de novo sistema fiscal e de financiamento para PMEs

· Apoio às redes de produção regionais

· Apoio a desenvolvimentos tecnológicos ainda na fase de concepção

· Apoio ao desenvolvimento de infra-estrutura para PMEs

Construir sociedade e uma economia que leve em conta o ambiente e o bem-estar dos cidadãos

Políticas globais

energéticas e

ambientais

· Eficiência energética

· Introdução de novas fontes de energia

· Desenvolvimento do uso de energia nuclear

· Fortalecimento do sistema de subsídios para geração de energia solar

· Estabelecimento de sistema de apoio aos governos locais para a introdução de novas fontes de

energia

· Estabelecimento de um consenso nacional quanto à localização das usinas nucleares

· Persecução de políticas de reciclagem

· Eliminação de rejeitos

· Estímulo a parque industrial para adoção da problemática ambiental

· Promoção do conceito de "emissão zero"

Políticas de segurança

e bem-estar

· Implementação de políticas que levem em conta o envelhecimento da população

· Implementação de políticas que objetivem a industrialização dos serviços médicos e do bem-

estar

· Implementação de políticas de oferta de habitação de baixos custos

Adoção de políticas internacionais adequadas à economia global de redes

Adoção de políticas em sintonia com a Organização Internacional de Comércio (OIC)

Promoção da APEC (Asian Pacific Economic Cooperation)

Promoção do estabelecimento de infra-estrutura econômica na Ásia

Liberalização do comércio e do investimento internacional

FONTES: Miti, Maldonado (1998) apud Cassiolato (2000)

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Rodriguez et al. (2008, p.101 e 102) realizam estudo sobre o Brasil que veio

a ser editado pela Confederação Nacional da Indústria com o objetivo de trazer

reflexões sobre o tema do conhecimento e da inovação como bases para a

competitividade. Os autores analisam o Sistema Nacional de Inovação, seus

instrumentos, instituições e recursos humanos sob o enfoque de tipos de inovação.

O resultado traz condicionantes importantes para políticas públicas em inovação, as

quais podem ser observadas no quadro abaixo, que traz parte do resultado:

QUADRO 7 - POLÍTICAS PÚBLICAS E INSTRUMENTOS PARA INOVAÇÃO

TIPO DE INOVAÇÃO POLÍTICAS E INSTRUMENTOS

Criação e comercialização

do conhecimento

· Investimentos públicos em P&D, incluindo programas nacionais, financiamento

competitivo de P&D e revisão por pares

· Políticas públicas de P&D, abrangendo financiamentos de contrapartida, incentivos fiscais

e regime de direito de propriedade intelectual

· Políticas públicas para comercialização de conhecimento criado com financiamento do

governo, incluindo uma nova lei de inovação e parcerias com o setor privado como

condição para o recebimento de financiamento para pesquisa

· Redes nacionais de educação para pesquisa

Aquisição de conhecimento

e tecnologia estrangeiros

· Abertura para o exterior, incluindo comércio, investimento estrangeiro direto e política de

importação de tecnologia

· Aquisição de conhecimento estrangeiro por meio de estudo no exterior, viagens de

negócios e feiras comerciais, publicações e bancos de dados, e acesso à Internet

· Medidas de incentivo para atrair a volta ao País de brasileiros que vivem no exterior

· Instalação de centros avançados de P&D no exterior

Difusão e uso do

conhecimento

existente no país

· Políticas públicas que criam informações e serviços de extensão tecnológica

· Políticas sobre padrões

· Políticas sobre direitos de propriedade intelectual

· Estratégias para ampliar o acesso à Internet

Ambiente favorável

(ou seja, o clima de

investimento)

· Política comercial e de competitividade

· Política regulatória eficiente

· Apoio às empresas

· Estado de Direito eficaz

· Estabilidade econômica adequada

FONTE: Adaptado de Rodriguez et al. (2008, p.101 e 102)

A Pintec (2008) reconhece a importância das políticas públicas para a

inovação e considera, na metodologia de pesquisa, os seguintes itens: incentivo

fiscal à P&D e à inovação tecnológica (Leis 8.661 e 11.196); incentivo fiscal via lei da

informática; subvenção econômica à P&D e à inserção de pesquisadores (Lei

10.973); financiamento a projetos de P&D e inovação tecnológica; financiamento

exclusivo para compra de máquinas e equipamentos para inovar; bolsas oferecidas

pelas fundações de amparo à pesquisa e RHAE e aporte de capital de risco.

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O aporte de capital de risco está relacionado a investimentos de risco para

capitalizar a empresa inovadora através da compra de um percentual de ações ou

debêntures da empresa, viabilizado ou realizado por bancos oficiais ou por

programas oficiais, tais como: Inovar e Inovar Semente, da Finep2, ou Programa

Criatec3, do BNDES.

A presente revisão nos permite determinar os condicionantes macro que

servirão de base para este estudo. Nesta análise, percebe-se a importância do

Estado como promotor e coordenador de políticas públicas que permitam a

regulação do mercado e, consequentemente, o desenvolvimento econômico. Nota-

se ainda a importância das políticas de inovação como ferramenta para a

competitividade da indústria em um mercado globalizado. Diversos países vêm

adotando a inovação como ferramenta estratégica, e seus governos têm feito uso de

planejamentos e políticas voltados ao estímulo à inovação.

Com base nos diferentes autores analisados, nos planos de ação de alguns

países e em estudos da OCDE, Comissão Europeia e Banco Mundial, e ainda,

levando-se em conta a sinergia entre os diferentes aspectos das políticas públicas

apresentadas, elaborou-se o quadro 8, a seguir, como base referencial para este

estudo. Por se perceber a reincidência das políticas em determinadas áreas e

levando-se em conta o número bastante expressivo de elementos, estas foram

divididas em seis categorias: incentivo e fomento; aprendizado e conhecimento;

estrutura; mercados e regulações, propriedade intelectual, e políticas específicas.

2 Desde 1999, a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia)

possui o Programa Inovar, que tem como objetivo apoiar empresas inovadoras através de um

programa de venture capital: <http://www.venturecapital.gov.br>

3 Criatec é um Fundo de Investimentos de capital semente destinado à aplicação em empresas

emergentes inovadoras. Visa obter ganho de capital por meio de investimento de longo prazo em

empresas em estágio inicial, com perfil inovador e que projetem um elevado retorno:

<http://www.fundocriatec.com.br>

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68

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69

A análise das políticas públicas estudadas no quadro 8 permitiu aferir algumas

conclusões: (i) de uma forma geral, os países têm investido em políticas públicas em

inovação com diferentes níveis de intensidade; (ii) as políticas variam de país para país,

levando-se em conta suas peculiaridades. Em alguns países, estão mais voltadas a

investimentos; em outros, o foco está no conhecimento e, em outros, em infraestrutura;

e (iii) de um modo geral os países entendem a necessidade de disseminação do

conhecimento como base para uma economia da inovação.

A partir do levantamento das políticas públicas, pode-se considerar as

seguintes condicionantes agrupadas em categorias mais relevantes, identificadas no

quadro a seguir.

QUADRO 9 - CONDICIONANTES MACRO DE INOVAÇÃO

CATEGORIA CONDICIONANTES AUTORES

Aprendizado e

conhecimento

Capacitação

- formação de recursos humanos [ensino básico e

especializado]

- capacitação

Cassiolato e Lastres (2005); Lall (2005;

Pack (2005); Dogson (2005); EC (2005);

Cimoli et al. (2007); Silva e Melo (2001);

OCDE (2006) e Rodriguez et al. (2008).

Disseminação

- acesso à informação

- serviço de extensão tecnológica

EC (2005); Cimoli et al. (2007); Silva e

Melo (2001); OCDE (2006); Rodriguez et

al. (2008)

PI

- agilidade, facilitação e eficiência do processo de

propriedade intelectual

Dogson (2005); EC (2005); Cimoli et al.

(2007); Silva e Melo (2001) e Rodriguez

et al. (2008)

Estrutura Infraestrutura tecnológica

Organizações de apoio à C, T&I

Cassiolato e Lastres (2005); Lall (2005);

Dogson (2005); Lee (2005); EC (2005);

OECD (2006) e Rodriguez et al. (2008)

Mercados Mecanismos de regulação do mercado

Orientação e acesso à exportação

Acesso à tecnologia estrangeira

Redução de barreiras regulatórias

Lall (2005); EC (2005); Pack (2005)

Cimoli et al. (2007); Silva e Melo (2001) e

Rodriguez et al. (2008)

Incentivo e fomento - Incentivo fiscal, subvenção econômica e

financiamentos à P&D (pública, privada e cooperada) e

à inovação

- Bolsas para pesquisadores

- Aporte de capital de risco.

Cassiolato e Lastres (2005); Lall (2005);

EC (2005); Lee (2005); Cimoli et al.

(2007); Silva e Melo (2001); OCDE

(2006); Rodriguez et al. (2008) e Pintec

(2008)

FONTE: A autora

2.4 OUTRAS VARIÁVEIS CONDICIONANTES OU INTERVENIENTES

Diversos são os fatores que condicionam a inovação nas empresas. Entre

eles, é necessário considerar uma variável muito significativa – a estratégia adotada

pela empresa, que poderá variar de acordo com o segmento, porte, tipo de produto,

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70

público-alvo, entre outros. A estratégia vai definir o posicionamento da empresa e

impactar diretamente na forma como esta trabalha a inovação.

Segundo Mintzberg et al. (2006), nos anos 1960 Ken Andrews torna-se

referência ao abordar a importância da avaliação do contexto externo a empresas,

ou seja, suas oportunidades e ameaças, bem como da sua capacidade interna –

suas forças e fraquezas na elaboração de uma estratégia. O autor relaciona

formulação e implementação, destacando a importância da implementacão e a

necessidade de uma estrutura apta a receber e aplicar a estratégia proposta. Trata-

se de um processo organizacional que é inseparável da estrutura, do

comportamento e da cultura da empresa. Possui duas etapas claras, a formulação e

a implementação. Na formulação é necessário identificar oportunidades e ameaças

do ambiente. Antes da definição é preciso avaliar forças e fraquezas, além dos

recursos disponíveis. A resposta desta comparação é o que se pode chamar de

estratégia econômica.

Para Andrews a estratégia é um modelo de decisões de uma empresa que

determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as principais

políticas e planos para atingir essas metas e define o escopo de negócios que a

empresa vai adotar, o tipo de organização econômica e humana que ela é ou

pretende ser e a natureza da contribuição econômica e não-econômica que ela

pretende fazer para seus acionistas, funcionários, clientes e comunidade

(ANDREWS, K. R., apud MINTZBERG et al., 2006, p.78).

Hamel e Prahalad (apud MINTZBERG et al., 2006) questionam a abordagem

clássica de estratégia ao se apoiar nos exemplos das empresas japonesas. Os

autores mencionam que a obsessão pela busca da liderança global nos últimos 10

ou 20 anos é o que eles chamam de "objetivo estratégico", ou seja, "uma posição de

liderança desejada que estabelece os critérios que a organização vai usar para

representar esse progresso". O objetivo estratégico engloba:

Focar a atenção da organização na essência da vitória; motivar pessoas ao

comunicar o valor da meta; deixar espaço para contribuições individuais e de

equipes; sustentar o entusiasmo fornecendo definições para novas operações

à medida que as circunstâncias mudam; e usar consistentemente o objetivo

para guiar as alocações de recursos (HAMEL e PRAHALAD, p.91, apud

MINTZBERG et al., 2006).

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71

Desta forma, o objetivo estratégico diferencia-se da visão tradicional de

estratégia ao criar uma falta de ajuste extrema entre recursos e ambição. "A essência

da estratégia está em criar as vantagens competitivas de amanhã mais rápido do que

os concorrentes podem imitar as que você já possui hoje." As vantagens competitivas

não são duradouras e a empresa deve estar sempre à frente das outras. "A capacidade

de uma organização de melhorar aptidões existentes e aprender novas é a vantagem

competitiva mais defensável de todas." (p.92).

Para Mintzberg (2006, p.24-27), não há uma definição clara para o conceito de

estratégia, o qual vem sendo utilizado de diferentes formas. Ele conceitua estratégia de

cinco modos diferentes, mas que se complementam e possuem inter-relações.

· Estratégia como plano: algum tipo de recurso de ação conscientemente

pretendido, uma diretriz ou conjunto de diretrizes para lidar com uma

situação;

· Estratégia como pretexto: uma manobra para superar um oponente ou

concorrente;

· Estratégia como padrão: um padrão em uma corrente de ações. Consis-

tência no comportamento, pretendida ou não;

· Estratégia como posição: força mediadora ou "combinação" entre organi-

zação e ambiente, ou seja, entre o contexto interno e o externo;

· Estratégia como perspectiva: trata-se não apenas de uma posição

escolhida, mas também de uma maneira fixa de olhar o mundo, sendo

uma perspectiva compartilhada por todos.

Porter (1991, p.49) define estratégia como "ações ofensivas ou defensivas

para criar uma posição defensável em uma indústria, para enfrentar com sucesso as

cinco forças competitivas e, assim, obter um retorno maior sobre o investimento".

Para Porter, existem três estratégias genéricas potencialmente bem-sucedidas:

liderança no custo, diferenciação e enfoque. Para que uma empresa busque uma

vantagem competitiva em relação às outras, é preciso que faça uma escolha sobre o

tipo de vantagem competitiva que busca obter. A liderança por custo, comum nos anos

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72

1970, direciona as ações da empresa para a redução de custos em relação aos

concorrentes. A diferenciação busca a criação de produtos e serviços únicos e

diferentes dos produtos da concorrência. O enfoque trata de assumir uma estratégia

de enfoque em determinado grupo consumidor. Esta estratégia divide-se em enfoque

no custo e na diferenciação.

Wright et al. (2000, p.24) abordam a administração estratégica, que se refere

aos "planos da alta administração para alcançar resultados consistentes com a

missão e os objetivos gerais da organização". A administração estratégica envolve a

formulação da estratégia, a implementação da estratégia e o seu controle.

Tidd et al. (2008, p.131) apresentam a estratégia para inovação através dos

conceitos de estratégia racionalista e incrementalista. A estratégia racionalista foi

influenciada pela experiência militar, consistindo em descrever, compreender e

analisar o cenário; elaborar um plano de ação a partir desta análise; e executar o

plano. Ou seja, trata-se de um modo linear: 'avalie, determine e aja'. Esta proposta

migrou para o meio empresarial como o SWOT - análise das forças, fraquezas,

oportunidades e ameaças. Entretanto, a estratégia corporativa tem um foco diferente

deste, de "combate ao inimigo". O foco empresarial é "estabelecer uma competência

distintiva que lhe permita satisfazer o consumidor melhor do que a concorrência".

Por acreditar que é impossível possuir o total entendimento de todo o

cenário interno e externo e do futuro da empresa, os incrementalistas defendem a

ideia de que a empresa deve estar "preparada para adaptar sua estratégia em face

de nova informação e conhecimento, que ela deve conscientemente buscar obter".

Este método envolve tomar medidas deliberadas rumo a um objetivo proposto; medir

e avaliar, constantemente, os efeitos destas medidas (ou mudanças) e ajustar o

objetivo e definir o próximo passo. Desta forma, no caso do desenvolvimento de

inovações, o processo seria "design – desenvolvimento – teste – ajuste de design –

retestagem – operação". Para os autores, as estratégias não podem mais ser

rígidas, mas devem ser adaptáveis à realidade das empresas e necessidades do

mercado. A estratégia permite que a empresa esteja apta a aproveitar oportunidades

e evitar ameaças.

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73

Ao determinar sua estratégia, a empresa define também sua linha de ação,

seus objetivos e metas, ou seja, um caminho a ser trilhado. Este caminho envolve

toda a organização em um alinhamento geral, direcionando todos os seus esforços.

Esta grande determinação, ou seja, a estratégia vai influenciar todas as decisões da

organização, sua forma de agir e de pensar, além, é claro, da forma como ela vê a

inovação. É por esta razão que a estratégia passa a ser uma variável muito

significativa na avaliação da forma como fatores internos e externos condicionam a

inovação na empresa, assim como o porte da empresa e o estágio de vida.

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3 O SETOR MOVELEIRO

O presente capítulo apresenta uma breve nota a respeito do setor moveleiro

no Brasil, mais especificamente da indústria de móveis, sua história, características

e peculiaridades. Além disso, traz uma análise do que é inovação para o setor.

3.1 HISTÓRICO

Segundo a Abimóvel (2010), em 1836 o alemão Michel Thonet foi o primeiro

a fabricar móveis em madeira compensada, método precursor da produção de

móveis em escala que tem início em 1890 no Rio de Janeiro, com a Companhia de

Móveis Curvados. A empresa iniciou sua produção em escala utilizando moldes

austríacos. Em 1897, também no Rio de Janeiro, a Gelli - Indústria de Móveis,

situada em Petrópolis, inicia suas atividades.

No sul do Brasil, a indústria moveleira tem início em 1913, com a Móveis

Cimo, empresa situada em São Bento do Sul (SC). Em 1919 é fundada a

Ronconi, em Curitiba (PR), com foco na produção de colchões e estofados. A

indústria moveleira se desenvolve no estado de São Paulo, em 1927, com a

criação da Bergamo e da Lafer, esta última em São Bernardo do Campo.

A partir daí diversas iniciativas passam a movimentar o setor no Brasil, como

a criação do Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Paulo - Sindimov, a

realização do 1º Concurso de Mobília Proletariado do Brasil, e a criação, em 1951,

da Eucatex, primeira empresa a fabricar chapas de fibra de madeira no País.

3.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SETOR MOVELEIRO

O setor de madeira e móveis é caracterizado pela reunião de diversos

processos de produção, com variadas matérias-primas, resultando em diferentes

produtos finais. É um setor que movimenta uma extensa cadeia produtiva e que,

segundo Gorini (1998), pode ser classificado em função dos materiais empregados

Page 75: FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS … · RESUMO GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado

75

na produção, entre eles madeira e metal, ou, ainda, do uso para o qual são

destinados, como: móveis para residência e móveis para escritório.

O setor engloba tanto a produção de madeira e seus acessórios quanto a

fabricação de móveis. Na Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE,

o setor pertence à seção indústria de transformação, e é caracterizado como

fabricação de móveis e indústrias diversas. A subdivisão considera a fabricação de

artigos do mobiliário de acordo com as seguintes classes: (a) fabricação de móveis

com predominância de madeira; (b) fabricação de móveis com predominância de

metal; (c) fabricação de móveis de outros materiais; e (d) fabricação de colchões. Na

classe de móveis com predominância de madeira incluem-se móveis para uso

residencial e não-residencial.

Os móveis de madeira, segmento mais expressivo do setor, o qual

representa 83,3% da produção brasileira (REMADE, 2006), podem ainda ser

divididos em retilíneos – móveis lisos com desenhos mais simples, linhas retas e que

utilizam painéis como matéria-prima (aglomerado ou compensado) – ou torneados,

estes feitos em madeira maciça, de lei, de reflorestamento ou Medium Density

Fiberboard - MDF (aglomerado que permite usinagem) e que se caracterizam por

serem mais detalhados, em madeira usinada, com formas retas ou curvas.

A classificação mais interessante para os fins desta pesquisa será segundo

o tipo de móvel de madeira: retilínio e torneado. Algumas características podem ser

observadas no quadro 10.

QUADRO 10 - CARACTERÍSTICAS DO SEGMENTO DE MÓVEIS DE MADEIRA

TIPO DE

MÓVEL PRODUÇÃO

MATÉRIA-PRIMA

PREDOMINANTE

PORTE DA

EMPRESA

PRINCIPAL MERCADO

CONSUMIDOR

GRAU DE

TECNOLOGIA

Torneado Seriada Madeira de reflorestamento,

especialmente serrado de pínus

Médias e grandes Exportação Alto

Sob encomenda Madeira de lei, em especial serrado

de folhosas

Micro e pequenas Mercado nacional, em

especial para classes

média e alta

Baixo, quase

artesanal

Retilíneo Seriada Aglomerado Médias e grandes Mercado nacional, em

especial para classes

média e baixa

Alto

Sob encomenda Compensado e aglomerado Micro e pequenas Mercado nacional, em

especial para classes

média e baixa

Médio

FONTE: Gorini (1998, p.20)

Page 76: FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS … · RESUMO GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado

76

O estudo de prospectiva tecnológica da cadeia produtiva de madeira e

móveis (IPT, 2002) sistematizou um desenho desta cadeia para fins de

entendimento estrutural, conforme figura 3, abaixo:

FIGURA 3 - CADEIA PRODUTIVA DA MADEIRA E DE MÓVEIS

FONTE: IPT (2002, p.47)

O estudo apresentou algumas características importantes do setor no que

tange à estrutura produtiva, devendo-se destacar:

- elevada verticalização da produção, com pressão sobre os custos e a

baixa especialização;

- informalidade do setor, inexistência de barreiras à entrada, com a proliferação

de empresas informais, o que dificulta a redução da heterogeneidade

tecnológica da cadeia e a implementação de normas técnicas para

padronizar a qualidade dos móveis;

- pequeno porte de estabelecimentos industriais, sendo que as micro e

pequenas empresas, até 19 empregados, representam em torno de 88%

do total de estabelecimentos registrados;

Page 77: FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS … · RESUMO GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado

77

- baixa qualidade das máquinas nacionais, como equipamentos para as

linhas integradas. A produção de máquinas no Brasil não acompanha o

nível tecnológico daquelas produzidas no exterior (Itália e Alemanha) em

termos de precisão e produtividade;

- baixos investimentos em design, predominando cópias dos modelos do

exterior, sendo que poucas empresas possuem departamento de design

constituído. (IPT, 2002, p.11).

3.2.1 Polos Moveleiros

Uma das principais características do setor é a organização das empresas

em polos produtivos, conhecidos como polos moveleiros. Estes possuem

características produtivas e de produtos próprios e focos de mercado e atuação

específicos, conforme quadro 11.

QUADRO 11 - PRINCIPAIS POLOS MOVELEIROS E SUAS CARACTERÍSTICAS

POLO MOVELEIRO UF NÚMERO DE

EMPRESAS EMPREGOS

PRINCIPAIS

MERCADOS

PRINCIPAIS

PRODUTOS

Ubá MG 153 3.150 Minas Gerais, São Paulo,

Rio de Janeiro e Bahia

Cadeiras, dormitórios, salas, estantes e

móveis sob encomenda

Bom Despacho e

Martinho Campos

MG 117 2.000 Minas Gerais Cadeiras, dormitórios, salas, estantes e

móveis sob encomenda

Linhares e Colatina ES 130 3.000 São Paulo, Espírito Santo e

Bahia

Móveis retilíneos (dormitórios, salas) e

móveis sob encomenda

Arapongas PR 145 5.500 Todos os estados Móveis retilíneos, estofados, de

escritório e tubulares

Votuporanga SP 350 7.000 Todos os estados Cadeiras, armários, estantes, mesas,

dormitórios, estofados e móveis sob

encomenda em madeira maciça

Mirassol, Jaci,

Bálsamo e Neves

Paulista

SP 80 3.000 São Paulo, Minas Gerais,

Rio de Janeiro, Paraná e

Região Nordeste

Cadeiras, salas, dormitórios, estantes e

móveis sob encomenda em madeira

maciça

Tupã SP 54 700 São Paulo Mesas, racks, estantes, cômodas e

móveis sob encomenda

São Bento do Sul e

Rio Negrinho

SC 210 8.500 Exportação, Paraná, Santa

Catarina e

São Paulo

Móveis de pínus, sofás, cozinhas e

dormitórios

Bento Gonçalves RS 130 7.500 Todos os estados e

exportação

Móveis retilíneos, móveis de pínus e

metálicos (tubulares)

Lagoa Vermelha RS 60 1.800 Rio Grande do Sul, São

Paulo, Paraná, Santa

Catarina e exportação

Dormitórios, salas, móveis de pínus,

estantes e estofados

FONTE: Gorini (1998)

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Os três primeiros polos brasileiros originaram-se nos anos 1950, na cidade de

São Paulo e municípios vizinhos (Santo André, São Bernardo e São Caetano). Nas

décadas seguintes surgem os polos do Rio Grande do Sul e, depois, Santa Catarina.

Atualmente existem polos em Minas Gerais (Uberaba e Uberlândia), Espírito Santo e

Paraná. Outros polos também se consolidam em Macapá e Santana (AP); Paragominas

(PA); Fortaleza (Sobral), Juazeiro e Igatu (CE); Teresina (PI); Caruaru, Afogados,

Garanhuns, Gravatá e Lajedo (PE); Brasília (DF) e Itapetininga (SP) (IPT, 2002).

A organização da indústria de móveis em polos, muitos deles considerados

arranjos produtivos formais, fortalece a característica colaborativa desta cadeia e

reforça a importância da colaboração entre as empresas, seja na troca de

informações, articulação setorial, compra de tecnologia, compra de matérias-primas

etc. Este aspecto fortalece a cooperação para a inovação tecnológica, mas não

atende às necessidades de desenvolvimento de novos produtos, que ainda estão

muito focados nos processos internos das empresas.

3.3 INOVAÇÃO NO SETOR MOVELEIRO

Classificada como de baixa e média tecnologia - BMTs, a indústria moveleira

se caracteriza, segundo o Manual de Oslo (OCDE, 1997), pela inovação incremental

e pela transferência de tecnologia. O foco, em geral, está na eficiência da produção,

na diferenciação dos produtos e no marketing.

Em termos tecnológicos, Gorini (1998) menciona que a tecnologia é bastante

difundida e acessível e a cooperação entre as empresas permite constante atuali-

zação da base técnica. O processo produtivo não é contínuo, permitindo moder-

nização da base tecnológica apenas em algumas etapas da produção e, ainda,

investimento incremental.

Não obstante, cabe enfatizar a grande diversidade no grau de atualização

tecnológica das empresas moveleiras. Como se trata de manufatura, em

que o produto final é a reunião puramente mecânica de partes, a

modernização das plantas pode ser feita em determinada etapa do

processo produtivo. Em decorrência, as várias etapas do processo produtivo

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revelam diferentes graus de atualização tecnológica, em que equipamentos

mais antigos convivem ao lado de outros mais modernos e sofisticados. O

investimento, portanto, é divisível, permitindo que máquinas de diferentes

gerações convivam lado a lado. Esta é uma característica mais acentuada

nos segmentos de móveis torneados e para escritório, enquanto no

segmento de móveis retilíneos a produção aproxima-se mais de um

processo contínuo, o que exige a modernização conjunta de todas as

etapas (GORINI, 1998, p.29).

Segundo a autora, os principais fatores de competitividade da indústria

moveleira são: novas matérias-primas, design, especialização da produção, estratégias

comerciais e de distribuição, entre outros. A inovação está muito vinculada a novos

produtos através do design e do uso de novos materiais.

A competitividade da indústria moveleira depende não somente da

eficiência dos processos produtivos, mas também da qualidade, do conforto,

da facilidade de montagem e, sobretudo, do design dos móveis. A utilização

de novos materiais, os novos tipos de acabamento e o design constituem as

principais atividades inovadoras na indústria, ou seja, a mais importante

fonte de dinamismo tecnológico origina-se da inovação dos produtos, uma

vez que as tecnologias de processo estão consolidadas e difundidas e as

mudanças tecnológicas são incrementais (GORINI, 1998, p.31).

As matérias-primas mais utilizadas são:

- Madeiras maciças: pínus, eucalipto (proveniente de florestas plantadas) e

madeiras de lei como mogno, cerejeira, imbuia, cedro, cedrinho, virola e

sucupira;

- Compensados: chapas duras e painéis de madeira aglomerada;

- Diversos revestimentos: lâmina de madeira, papéis, laminados plásticos,

PVC, tintas e vernizes, tecidos, entre outros.

A autora enfatiza a importância do design no processo de inovação da indústria

moveleira. Este desempenha, além do aspecto de realização do projeto, que envolve

funcionalidade, ergonomia e estética, os seguintes papéis: (a) diminuição do uso de

insumos; (b) queda no número de partes e peças envolvidas num determinado produto;

e (c) redução do tempo de fabricação.

Estes aspectos impactam diretamente no lado econômico da indústria, pois

focam a redução dos custos e o aumento da qualidade de produtos. A autora ressalta o

papel do design para além da estética, destacando sua função de "eficiência global na

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fabricação do produto, incluindo práticas que minimizem a agressão ao meio ambiente"

(GORINI, 1998, p.31).

Para a Pintec (2008), inovação de produto é um produto novo ou aperfeiçoado

e, ainda, novo tanto para o mercado quanto para a empresa. Em se tratando de

produtos de madeira e artigos do mobiliário, a inovação de produto envolve:

- introdução de novo produto cujas características fundamentais em termos de

especificidades técnicas, matérias-primas e/ou composição de insumos

diferem significativamente daquelas previamente produzidas pela empresa;

- introdução de novo produto cujos usos pretendidos se diferenciam subs-

tancialmente dos anteriores, requerendo aperfeiçoamentos tecnológicos

do produto;

- exploração de novos segmentos de mercado a partir de produtos novos em

termos de especificidades técnicas, matérias-primas e usos pretendidos;

- melhoria substancial do desempenho ou da qualidade de produtos

previamente existentes através da utilização de novos insumos;

- incorporação de melhorias tecnológicas significativas em determinados

componentes incorporados ao produto; e

- melhorias significativas no design de produtos previamente existentes

visando à melhoria da qualidade, funcionalidade e desempenho, desde

que isto implique a realização de esforços tecnológicos in-house.

A Pintec (2008) também leva em conta a inovação de processo novo ou

aperfeiçoado, tanto para o mercado quanto para a empresa. A inovação de processo,

no setor em questão, inclui:

- aperfeiçoamento de etapas críticas do processo de produção (como

montagem das peças de mobiliário) visando evitar gargalos;

- incorporação de novas máquinas e equipamentos (introdução de mesa de

corte a laser, máquinas com controle numérico, processo de secagem de

madeira em estufa utilizando parcialmente energia solar – osmopres-

surização) e mudanças nas técnicas de produção e/ou logística desde que

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estas aumentem a eficiência do processo (alterando etapas do processo de

produção, incluindo uma nova etapa ou excluindo etapas preexistentes);

- sofisticação dos procedimentos de subcontratação de etapas específicas

do processo de produção, incorporando aperfeiçoamentos tecnológicos

nessas etapas;

- utilização de sistemas CAD/CAM para design, projeto e produção;

- melhoria substancial do planejamento e controle da produção através da

utilização de sistemas MRP II, JIT, OPT, APS etc. ou de softwares para

atividades específicas (compra, estoque, manutenção); e

- novos métodos de acondicionamento ou preservação para entrega do

produto aos clientes.

Segundo Ferreira et al. (2008), em estudo realizado para o relatório de

acompanhamento setorial da indústria moveleira, "a indústria de móveis é classificada,

atualmente, como uma indústria tradicional, com tecnologia de produção consolidada e

amplamente difundida". Desta forma, a inovação no setor é determinada pelo design,

pelas máquinas e equipamentos utilizados e pela introdução de novos materiais. Os

autores especificam esses três fatores de inovação:

Design: O design é o único fator de inovação próprio da indústria moveleira

[...] está vinculado com todos os aspectos relacionados à concepção do

produto que permitam à empresa se diferenciar e construir vantagens sobre

os concorrentes: manufaturabilidade, ergonomia, qualidade, durabilidade,

conforto, utilização de novos materiais, estratégias de distribuição e

marketing [...] as inovações em design propiciam a criação de uma

"identidade própria" para os móveis de uma empresa, se constituindo em

um dos elementos-chave para as condições de concorrência nesta

indústria. Máquinas e equipamentos: [...] a grande mudança ocorrida nas

últimas décadas foi a substituição da base eletromecânica pela

microeletrônica, o que permitiu maior aproveitamento dos materiais, maior

flexibilidade na produção e melhor qualidade nos produtos. Apesar de esta

indústria ser intensiva em mão de obra, as inovações tecnológicas estão

permitindo uma redução em seu uso, principalmente em segmentos que

possam ser transformados em processos contínuos, como é o caso da

produção de móveis retilíneos seriados. Materiais: [...] a principal tendência

observada na indústria moveleira mundial é a substituição das madeiras

nativas [...] pelas madeiras reflorestáveis, como o pínus e o eucalipto, bem

como pelas chapas e painéis de madeira reconstituída. Dentre as inovações

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trazidas pela indústria de painéis, destaca-se o MDF - Medium Density

Fiberboard, que revolucionou a indústria moveleira desde que foi introduzido

no mercado europeu nos anos 80. [...] Por fim, observa-se a crescente

utilização de outros materiais combinados com a madeira, como o vidro, os

metais, as pedras, os couros e os plásticos (FERREIRA et al., 2008, p.2).

Os autores mencionam que a dinâmica tecnológica do setor está relacionada

"tanto ao fluxo de inovações vindas da interação com fornecedores especializados de

máquinas e matérias-primas, quanto às inovações em design desenvolvidas pelas

próprias empresas do setor" (FERREIRA et al., 2008, p. 3). São estes os fatores que

lideram a inovação de produtos e processos no setor moveleiro, garantindo a vantagem

competitividade do segmento.

Os autores mencionam também as inovações na estrutura organizacional

"gerando maior flexibilidade produtiva, redução de custos e criação de novas

capacitações técnicas e de marketing". Dentre as inovações organizacionais há uma

ênfase "nas relações de subcontratação, fazendo as empresas se concentrarem em

suas atividades nucleares, e o desenvolvimento de ações coletivas de caráter

cooperativo com fornecedores, clientes, concorrentes ou instituições de apoio".

(FERREIRA et al., 2008, p. 3)

Segundo os autores, a indústria brasileira de móveis não evoluiu da mesma

forma que a indústria brasileira em geral. O dinamismo tecnológico está relacionado

apenas pelo design, máquinas e equipamentos e novos materiais. "O único fator

próprio da indústria moveleira é o design. Na indústria brasileira são raras as

empresas que têm adotado a estratégia de desenvolvimento de um design próprio

de forma a ser um elemento de vantagem competitiva." As empresas brasileiras que

se destacam pela inovação em design são as produtoras de móveis residenciais de

Bento Gonçalvez e empresas produtoras de móveis para escritório de São Paulo,

predominando as cópias e adaptações de projetos existentes. As empresas grandes,

que exportam, operam como fornecedoras, executando projetos vindos do exterior.

"A incorporação do design nos produtos é um dos desafios competitivos da indústria

moveleira nacional. A inovação em design é o elemento central na criação de maior

valor, além de permitir uma inserção ativa no comércio internacional." (FERREIRA et

al., 2008, p.24)

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O investimento em máquinas e equipamentos está mais restrito a empresas

médias e grandes, especialmente produtoras de móveis seriados. As MPEs fazem

uso da habilidade e do baixo custo de mão de obra como forma de se manterem

competitivas, sem inovar em máquinas e equipamentos. Já a incorporação de novos

materiais está muito relacionada à P&D dos fornecedores. Atualmente, a indústria

brasileira tem utilizado painéis de madeira reconstituída e madeiras reflorestadas

(pínus e eucalipto).

3.4 OUTROS ESTUDOS REALIZADOS

Além dos estudos já apresentados, devem ser mencionados outros trabalhos

realizados com enfoque na inovação para o setor moveleiro e que permitiram

ampliar a compreensão sobre os segmentos e características da inovação nestas

empresas.

3.4.1 Inovação Tecnológica na Indústria de Móveis

O artigo "Inovações tecnológicas na indústria de móveis: uma avaliação a partir

da concentração produtiva de Bento Gonçalves (RS)", apresentado na Revista

Brasileira de Inovacão, avalia a adoção de inovações tecnológicas na indústria de

móveis retilíneos residenciais de Bento Gonçalves, importante polo moveleiro do Brasil,

situado no Rio Grande do Sul. A partir de uma análise descritiva dos dados obtidos por

meio de questionários enviados às empresas, os pesquisadores concluem que as

inovações mais importantes para a indústria deste polo são: inclusão de novos produtos

para a empresa, apesar de já existentes no mercado, e alterações no desenho ou estilo

dos móveis; mudanças tecnológicas parciais em processos já adotados e adoção de

processos já existentes no setor; e implementação de novas técnicas de gestão e

mudanças na estrutura organizacional.

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3.4.2 O Setor de Móveis na Atualidade: Uma Análise Preliminar

O estudo "O Setor de Móveis na Atualidade: uma análise preliminar",

realizado junto ao BNDES, apresenta uma visão geral da indústria brasileira de

mobiliário, com destaque para os móveis de madeira. São levantadas as caracterís-

ticas gerais do setor, como tipos de móveis, tipos de processos, matérias-primas,

bem como questões econômicas relacionadas ao faturamento e competitividade.

Além disso, o trabalho discute com maior ênfase as questões ligadas ao suprimento

de matéria-prima, os padrões de localização das empresas do setor e o papel da

tecnologia. Dadas as características do setor, o estudo enfatiza a importância do

design como ferramenta de inovação para a competitividade do setor. Apresenta

dados do mercado nacional e internacional e discute o grande crescimento das

exportações brasileiras de móveis nos últimos anos e algumas tendências mais

recentes, como a importância crescente para a governança do setor.

3.4.3 Prospectiva Tecnológica da Cadeia Produtiva Madeira e Móveis

A "Prospectiva Tecnológica da Cadeia Produtiva Madeira e Móveis", realizada

pela Divisão de Produtos Florestais São Paulo - IPT, teve como objetivo entender a

cadeia produtiva madeira e móveis com o intuito de levantar subsídios para a

elaboração de políticas para o setor. O estudo foi realizado a partir dos polos

moveleiros brasileiros, buscando informações segmentadas com base nos tópicos

matérias-primas, estrutura produtiva, ambiente institucional e organizacional,

distribuição, e consumidor. Foram pesquisadas 47 empresas nos estados de São

Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará, Santa Catarina e Minas Gerais. O resultado

apontou para a necessidade de políticas públicas relacionadas ao aumento da

competitividade no setor, entre elas: melhora da tecnologia, qualificação de mão de

obra, inserção do design e relação com o mercado.

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3.5 DADOS DA INOVAÇÃO NO SETOR

A análise dos dados da Pintec (2005) sobre a inovação tecnológica na

indústria brasileira com base conceitual no Manual de Oslo e fonte classificatória

da CNAE apresenta informações importantes sobre a inovação no setor

moveleiro. No contexto da pesquisa, é importante mencionar que a Pintec

considera como inovação produtos e processos tecnologicamente novos ou

substancialmente aprimorados.

O setor moveleiro, principalmente por se caracterizar como setor de

média intensidade tecnológica, apresentou taxa de inovação de 33,5%, quase na

média da indústria, que foi de 33,4%, mas fica atrás dos setores de ponta como

telecomunicações e informática.

Das 5.067 empresas do setor moleiro entrevistadas, 1.695 realizaram

inovação de produto ou de processo e 2.273 fizeram mudanças estratégicas e

organizacionais. Dentre as 993 empresas que realizaram dispêndios com

atividades inovativas apenas 87 investiram em P&D.

Considerando a amostra de 30.377 indústrias extrativas e de

transformação que implementaram inovação por produto ou processo, 16.931

empresas (55%) possuíam de 10 a 29 funcionários enquanto 1216 indústrias

(4%) possuíam 500 ou mais funcionários.

Das inovações por produto ou processo realizadas na indústria de artigos

do mobiliário, o destaque ficou com a inovação de processo, que representou

27,15% enquanto 19,22% das empresas realizaram inovação por produto. Das

inovações por produto, 95% são produtos novos para a empresa e apenas 5,33%

novos para o mercado.

Os produtos são desenvolvidos em sua maioria (84,9%) pela empresa e

uma parte significativa (13%) por outras empresas ou institutos. Já os processos,

em sua maioria quase absoluta (95,27%), são desenvolvidos por outras

empresas ou institutos. Um número muito pequeno de empresas desenvolve

produtos e/ou processos em cooperação com as demais.

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As empresas do setor em geral dão importância à aquisição de máquinas

e treinamento. Os outros aspectos do esforço para inovar foram considerados de

baixa importância.

Das 1.695 empresas que implementaram inovações por produto ou

processo, apenas 19,70% receberam apoio do governo (incentivo fiscal,

financiamento, entre outros).

Dentre as empresas que não implementaram inovações 79,8% atribuiu a

dificuldade a fatores como de natureza econômica (custos, riscos, fontes de

financiamento apropriadas), problemas internos à empresa (rigidez

organizacional), deficiências técnicas (escassez de serviços técnicos externos

adequados, falta de pessoal qualificado), problemas de informação (falta de

informações sobre tecnologia e sobre os mercados), problemas com o sistema

nacional de inovação (escassas possibilidades de cooperação com outras

empresas/instituições), e problemas de regulação (dificuldade para se adequar a

padrões, normas e regulamentações).

3.5.1 Inovação no Setor Moveleiro do Paraná

Na indústria moveleira paranaense, 655 empresas foram entrevistadas no

levantamento da Pintec (2005) e, destas, 262 (40%) desenvolveram inovações por

produto ou processo e 319 (48,7%) realizaram inovações através de mudanças

estratégicas e organizacionais. Das empresas que desenvolveram inovações, 58%

realizaram inovações de produto e processo, 36% fizeram inovações apenas de

processo e 6% realizaram inovações apenas de produto. Das inovações realizadas,

mais de 90% consistiram em novos produtos ou processos para a empresa; 73%

das inovações de produto são desenvolvidas pela própria empresa, contudo, as

inovações por processo, em sua maioria (99%), são desenvolvidas por outras

empresas e institutos.

Dentre as atividades inovativas, em torno de 90% das empresas consideram

de baixa importância ou não realizaram atividades internas de pesquisa, aquisição

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de software, aquisição externa de P&D e aquisição de outros conhecimentos

externos. As empresas consideram a aquisição de máquinas e treinamentos como

sendo de alta a média importância.

Com relação às fontes de financiamento às atividades de pesquisa e

desenvolvimento, 76% das empresas pesquisadas utilizam recursos próprios,

enquanto 24% empregam recurso privado de terceiros, e nenhuma utiliza recurso

público. Nas demais atividades inovativas, tais como aquisição externa de P&D,

aquisição de outros conhecimentos, aquisição de software, máquinas e equipamentos,

treinamento, introdução das inovações no mercado e projetos industriais, 38%

utilizaram recursos públicos, contra 4% de recursos privados de terceiros, mas ainda

há uma predominância do uso de recursos próprios por 57% das empresas.

Dentre as empresas que implementaram inovações (262), apenas 47

receberam apoio do governo e, destas, 72% utilizaram financiamentos para compra

de máquinas e equipamentos e 25% fizeram uso de outros programas de apoio.

Das empresas que implementaram inovações, 39% atribuíram média

importância aos fornecedores como fonte de informação, e 38,5% atribuíram muita

importância aos clientes e consumidores. Em torno de 90% destas empresas

creditaram baixa importância às fontes de informações de concorrentes, consultorias

externas, universidades e institutos de pesquisa, centros de capacitação profissionais e

instituições de testes e certificações.

Das 393 empresas que não implementaram inovações, 78,5% atribuíram a

dificuldade à falta de condições de mercado, 14,5% mencionaram outros fatores

impeditivos e apenas 7% afirmaram ter inovações prévias.

Sobre a importância dada aos obstáculos à implementação de inovações

pelas empresas que inovaram, as opiniões são divergentes: 31% atribuíram alta

importância à escassez de fontes de financiamento, contra 49% que a consideraram

de baixa importância; 83% atribuíram as dificuldades à rigidez organizacional; 44,5%

deram alta importância à falta de pessoal qualificado, contra 52% que consideraram

este item pouco relevante; 83% atribuíram média a alta importância à falta de

informações sobre tecnologia, e 77% conferiram certa importância à falta de

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cooperação entre empresas e instituições.

Cabe mencionar que a Pintec 2005 não considera, no conceito de inovação

por produto, as mudanças puramente estéticas ou de estilo, passando a tratar este

item como mudanças estratégicas e organizacionais, denominando-as como

"mudanças na estética, desenho ou outras mudanças subjetivas em pelo menos um

dos produtos" (PINTEC, 2005).

Assim, das 393 empresas que não inovaram, 313 realizaram mudanças na

estética ou no desenho do produto. Das 262 empresas que implementaram

inovações, 204 realizaram mudanças na estética ou no desenho do produto.

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4 METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentada a metodologia utilizada para o desenvol-

vimento da pesquisa, detalhando-se os procedimentos empregados para a

consecução dos objetivos propostos. Serão apresentadas as especificações do

problema de pesquisa, o desenho da pesquisa, as definições das variáveis, a classi-

ficação da pesquisa, o delineamento desta, os critérios para seleção dos casos,

fonte de coleta, forma de análise dos dados e limitações do estudo.

4.1 QUESTÃO DA DISSERTAÇÃO

Como as condicionantes da inovação em nível micro, meso e macro estabe-

lecem e estimulam a capacidade de inovação das empresas fabricantes de móveis

do Paraná?

4.2 OBJETIVO GERAL

Entender as condicionantes de inovação em nível micro, meso e macro das

empresas do setor moveleiro, considerando sua capacidade de inovação.

4.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Como se caracteriza a capacidade de inovação nas empresas do setor

moveleiro?

2. Quais os principais condicionantes de inovação em nível micro, meso e

macro?

3. Como se relacionam a capacidade de inovação e os condicionantes da

inovação micro, meso e macro nas empresas do setor moveleiro?

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4.4 DESENHO DA PESQUISA

A Figura 4, a seguir, apresenta o desenho da pesquisa onde, a partir da

capacidade de inovação das empresas serão determinadas as condicionantes em

nível micro, meso e macro, levando-se em conta a estratégia de cada empresa, seu

estágio de vida e porte enquanto variáveis intervenientes.

FIGURA 4 - DESENHO DA PESQUISA

FONTE: A autora

4.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS

A presente seção discute as variárias envolvidas na elaboração do modelo

proposto para esta pesquisa.

4.5.1 Dimensões e Condicionantes da Inovação

No contexto da inovação em seu conceito mais amplo, a mesma é

compreendida não apenas como um processo linear, mas sim como uma ação

transversal que compreende a interação entre as empresas, o conhecimento,

aprendizado e disseminação da informação. A partir desta compreensão torna-se

fundamental a análise e entendimento da inovação tanto no ambiente interno da

empresa quanto no ambiente externo que compreende suas relações e o ambiente

econômico em que está inserida.

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Por considerar a importância do processo de inovação nestas diferentes

dimensões, serão analisadas aqui as condicionantes da inovação tanto em nível

micro (intra-firma), quanto em nível meso (relações de cooperação) e macro

(instrumentos e políticas públicas), a fim de garantir um completo entendimento das

condicionantes de inovação para a capacidade tecnológica da empresa, conforme

quadro 12.

QUADRO 12 - DIMENSÕES E CONDICIONANTES DA INOVAÇÃO

AMBIENTE ELEMENTOS

Micro (características

internas)

· Estrutura adequada e ambiente criativo

· Descentralização e redução dos níveis hierárquicos

· Visão compartilhada, liderança e desejo de inovar

· Liberdade de decisão e responsabilidade pelos resultados

· Indivíduos-chave

· Trabalho em equipe

· Aprendizagem

· Comunicação

Meso

(relações da empresa)

· Organizações de caráter associativo

· Empresas privadas e instituições de P&D

· Organizações de ensino

· Organizações públicas e privadas

· Empresas de capital

Macro

(políticas públicas

em inovação)

Aprendizado e

conhecimento

Capacitação

· formação de recursos humanos [ensino básico e especializado]

· capacitação

Disseminação

· acesso a informação

· serviço de extensão tecnológica

PI

· agilidade, facilitação e eficiência do processo de propriedade intelectual

Estrutura · infraestrutura tecnológica

· organizações de apoio à C, T &I

Mercados · mecanismos de regulação do mercado

· orientação e acesso à exportação

· acesso à tecnologia estrangeira

· redução de barreiras regulatórias

Incentivo e fomento · incentivo fiscal, subvenção econômica e financiamentos à P&D (pública,

privada e cooperada) e à inovação

· bolsas para pesquisadores

· aporte de capital de risco

FONTE: A autora

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92

4.5.2 Nível de Capacidade de Inovação

Levando em conta que o conceito de inovação que servirá de base para esta

pesquisa é mais amplo, e não necessariamente está vinculado à inovação

tecnológica, será considerada como capacidade de inovação a capacidade de criar,

modificar ou aperfeiçoar produtos e/ou serviços a fim de gerar a inovação.

Com o intuito de qualificar de forma mais apropriada as empresas que farão

parte do presente estudo, será empregado o conceito de capacidade de inovação

como base para classificar as empresas considerando suas habilidades para gerar a

inovação e posicionando-as em diferentes níveis.

A proposta de classificação das empresas levando em conta sua capacidade

de inovação se justifica por se considerar que a capacidade é algo que a empresa

adquire e que pode ser aprimorado com o passar do tempo, por isso podem ser

definidos níveis de capacidade. Quando se trata de inovação, a proposta torna-se

ainda mais pertinente, uma vez que a empresa não nasce inovadora, mas adquire

esta capacidade a partir dos conhecimentos que assimila, do ambiente em que está

inserida e dos estímulos aos quais é exposta. A empresa amadurece com o passar

do tempo galgando patamares mais altos de capacidade, ou seja, o input à inovação

deve ser direcionado à melhora das empresas no intuito de atingir sua maturidade.

Seguindo este propósito, entende-se que o porte da empresa não é suficiente para

qualificar o seu grau de inovação, propondo-se, portanto, esta outra forma de

avaliação, a fim de entender o que condiciona as empresas a inovarem.

Com base nas informações sobre a inovação no setor moveleiro e na

estrutura analítica de Figueiredo (2003) e Bell apud Figueiredo (2003), ter-se-á como

estrutura classificatória das empresas sua capacidade de inovação, sendo esta

dividida em quatro níveis, a partir da básica até a avançada, conforme modelo

apresentado no quadro 13.

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QUADRO 13 - NÍVEL DE CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

NÍVEL DE CAPACIDADE

DE INOVAÇÃO

CARACTERÍSTICAS QUANTO À INOVAÇÃO DE

PRODUTOS/PROCESSOS VARIÁVEIS

Nível I

BÁSICA

Pequenas adaptações em produtos existentes; capacidade

para operar tecnologias existentes; aperfeiçoamento de

produtos existentes; não utiliza design.

Equipe de criação/estrutura

Processo de desenvolvimento

de produto/serviço

Novos produtos

Patentes

Prêmios

Pesquisa

Tecnologia (softwares)

Nível II

INTERMEDIÁRIA

Desenvolvimento de produtos com engenharia reversa e

benchmarking; desenho e desenvolvimento para

aprimoramento incremental de produtos tecnicamente

assistidos; design como estilo.

Nível III

INTERMEDIÁRIA SUPERIOR

Desenho e desenvolvimento de produtos mais complexos e

de valor agregado com envolvimento de usuários e baseados

em pesquisa; Capacidade para copiar, implementar e

desenvolver tecnologias existentes; design como processo.

Nível IV

AVANÇADA

Desenhos e desenvolvimento de novos produtos originais

baseados em E e P&D; capacidade para implementar novas

tecnologias; design estratégico.

FONTE: Adaptado pela autora a partir de Figueiredo (2003), Bell apud Figueiredo (2003) e Design Ladder

NOTA: E= engenharia; PCP = Planejamento e controle de produção.

4.5.3 Estratégia da Empresa, Estágio de Vida e Porte

O conceito de estratégia será baseado em Porter (1991, p.49), que a define

como "ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável em uma

indústria, para enfrentar com sucesso as cinco forças competitivas e, assim, obter

um retorno maior sobre o investimento".

Para o autor existem três estratégias genéricas potencialmente bem-

sucedidas: liderança no custo, diferenciação e enfoque. Para que uma empresa busque

uma vantagem competitiva em relação às outras, é preciso que faça uma escolha sobre

o tipo de vantagem competitiva que busca obter. A liderança por custo, comum nos

anos 1970, direciona as ações da empresa para a redução de custos em relação aos

concorrentes. A diferenciação busca a criação de produtos e serviços únicos e

diferentes dos produtos da concorrência. O enfoque trata de assumir uma estratégia

de enfoque em determinado grupo consumidor. Esta estratégia divide-se em enfoque

no custo e na diferenciação.

Para definir estágio de vida será considerada a data de fundação das empresas

analisadas.

A classificação do porte da empresa é dada a partir de seu faturamento e

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94

número de funcionários, sendo elas micro, pequenas, médias ou grandes. O BNDES

considera a classificação a partir do faturamento sendo:

1. Microempresa: faturamento menor ou igual a R$ 2,4 milhões

2. Pequena empresa: faturamento anual bruto maior que R$ 2,4 milhões e

menor ou igual a R$ 16 milhões

3. Média empresa: faturamento anual bruto maior que R$ 16 milhões e

menor ou igual a R$ 90 milhões

4. Média-grande empresa: faturamento anual bruto maior que R$ 90 milhões

e menor ou igual a R$ 300 milhões

5. Grande empresa: faturamento anual bruto maior que R$ 300 milhões

4.5.4 Outros Conceitos

A seguir serão discutidos dois outros conceitos significativos para a

elaboração desta pesquisa: inovação e design.

4.5.4.1 Inovação

Nesta pesquisa será utilizado o conceito de inovação com base na OCDE

(1997), que define inovação como a implementação de um produto (bem ou serviço)

novo ou significativamente melhorado. Este produto não necessariamente precisa

ser novo para o mercado, mas pode ser novo apenas para a empresa.

Levando em conta o conceito da Pintec (2008), a inovação pode ser

desenvolvida tanto pela empresa como, também, ter sido adquirida de outra empresa

ou instituição, ou, ainda, ter sido desenvolvida em cooperação com outra empresa ou

instituição. A inovação poderá, também, ser resultante tanto de pesquisa ou desenvol-

vimento tecnológico (P&D) interno à empresa quanto de novas combinações

tecnológicas existentes, novos usos para tecnologias existentes ou, ainda, de novos

conhecimentos adquiridos pela empresa.

4.5.4.2 Design

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O conceito de design utilizado aqui é aquele adotado pelo ICSID, a saber,

uma atividade criativa cuja finalidade é estabelecer as qualidades multifacetadas de

objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo o seu ciclo de

vida. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de tecnologias e o

fator crucial para o intercâmbio econômico e cultural.

4.6 MODELO DE PESQUISA

A figura 5 que se segue apresenta a relação das condicionantes de inovação

nas dimensões micro, meso e macro em relação à capacidade de inovação em que

as empresas serão classificadas.

4.7 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

A partir do referencial teórico, foram determinadas as bases conceituais para

o desenvolvimento do modelo de pesquisa apresentado no item 4.5. As variáveis

resultantes do modelo proposto serviram como referência para o desenvolvimento

da estrutura do questionário semiestruturado que será aplicado em entrevistas,

inicialmente, como um piloto, a fim de validar os conceitos e variáveis propostos.

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Uma vez aplicado o piloto, o modelo deverá ser avaliado e alterado caso se

identifiquem indicadores pouco significativos.

A seleção intencional das empresas deverá qualificá-las de acordo com seu

nível de capacidade de inovação. A análise, então, com base em entrevistas realizadas

nas empresas e análise documental, deverá permitir avaliar os condicionantes de

inovação da referida indústria em suas diferentes dimensões micro, meso e macro. O

quadro 14 faz uma síntese da operacionalização da pesquisa.

QUADRO 14 - OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

CONSTRUTO ELEMENTOS OPERACIONALIZAÇÃO

Capacidade de Inovação Nível I Definição de uma amostra intencional de quatro empresas do

setor moveleiro, especificamente de produção retilínea. Cada

empresa deverá ser classificada por seu nível de Capacidade

de Inovação. Um questionário prévio comprovará este

posicionamento. Caso a empresa não se qualifique no nível

proposto, a mesma será desclassificada e outra empresa

deverá ser pesquisada.

Nível II

Nível III

Nível IV

Dimensões da Inovação Micro (intrafirma) O questionário semiestruturado servirá de base para conduzir a

investigação do objeto de pesquisa. O resultado deverá

fornecer informações sobre os condicionantes de inovação em

nível micro, meso e macro.

Meso (relações)

Macro (políticas públicas)

FONTE: A autora

4.8 CLASSIFICAÇÃO E DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa realizada foi de caráter descritivo de corte transversal,

contemplando estudo de caso múltiplo como método qualitativo de coleta de infor-

mações. As pesquisas bibliográfica, documental e de campo complementaram a

metodologia proposta.

A estratégia de estudo foi qualitativa, em que a coleta de dados ocorre

através de palavras ou figuras, e as técnicas utilizadas podem ser a pesquisa de

campo e o comparativo histórico (NEUMAN, 1997).

Entende-se por pesquisa descritiva aquela que visa à descrição das

características de determinado fenômeno ou ao estabelecimento de relações entre

variáveis (GIL, 1999).

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Ainda sobre a metodologia proposta, entende-se a importância do estudo de

caso, que, para Yin (2005, p.26), permite "uma investigação para se preservar as

características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real". O estudo de

caso também permite a observação de condições contextuais de determinada situação,

sendo mais apropriado para responder às questões como e por quê (YIN, 2005).

De acordo com Yin (2005, p.68), a diferença entre o estudo de caso único e

o estudo de caso múltiplo está nos diferentes fundamentos lógicos que subjazem à

replicação, em oposição à lógica da amostragem. Os estudos de casos múltiplos

devem ser cuidadosamente selecionados de forma a prever resultados semelhantes

(uma replicação literal) ou produzir resultados contrastantes apenas por razões

previsíveis (uma replicação teórica).

O estudo de caso múltiplo com quatro empresas do mesmo setor foi

selecionado a fim de analisar os diferentes condicionantes de inovação a partir do nível

de capacidade de inovação das empresas, nível este que, com base no referencial

teórico, foi escalonado em quatro níveis. O estudo de caso permitirá entender como e

por que determinados condicionantes estimulam a inovação nas organizações.

Para Godoy (2007), a ampla utilização do estudo de caso em organizações

demonstra a pertinência e relevância dessa modalidade de investigação para o

avanço do conhecimento científico e favorece o engajamento do pesquisador com o

cotidiano da administração, proporcionando uma compreensão profunda e ao

mesmo tempo ampla e integrada da realidade das organizações.

4.9 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS CASOS

A pesquisa será aplicada em empresas do setor moveleiro de Curitiba e região.

Para este estudo, pretende-se qualificar as empresas pela capacidade de inovação,

conforme modelo proposto no item 4.5. O município de Curitiba foi escolhido por se

destacar pelo número de empresas que compõem o setor moveleiro e por possuir

diversas empresas de caráter inovador que podem servir de referência para o propósito

da pesquisa. Além disso, o campo empírico foi considerado pela facilidade de acesso e

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pelo tempo de pesquisa de que se dispõe. Entende-se que, pela qualidade do campo

de pesquisa de que dispomos, será claramente possível levantar informações sufi-

cientes para a qualidade do resultado.

As empresas estudadas apresentam diferentes portes, estratégias de

negócios e estágios de vida, informações estas que serão consideradas como

variáveis intervenientes na análise dos resultados.

As quatro empresas a serem estudadas serão selecionadas intencionalmente

pela pesquisadora a partir do entendimento de que, por sua estrutura e tipo de produto,

poderão contribuir para o bom resultado da pesquisa.

O setor moveleiro foi selecionado por ser considerado um setor de destaque

no Estado do Paraná e, ainda, por fazer uso constante da inovação por produtos e

do uso do design como ferramenta de diferenciação dos produtos.

4.10 FONTES DE EVIDÊNCIA, COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A análise de dados contemplará a interpretação das informações coletadas a

partir da pesquisa bibliográfica, documental e observação, as quais auxiliam na

composição do processo de entrevistas semiestruturadas. Esta etapa se caracteriza

pela análise documental, englobando "uma série de operações que visam estudar e

analisar um ou vários documentos" (RICHARDSON, 1999, p.230).

Os dados serão coletados a partir de entrevistas com quatro diretores e três

funcionários de quatro empresas do setor moveleiro do Paraná. Para a coleta dos

dados será utilizado um questionário semiestruturado como guia de investigação. As

entrevistas pretendem aproximar o pesquisador do objeto de estudo e permitir a coleta

dos dados necessários à resposta do questionamento da pesquisa. A análise

documental e a observação complementarão as informações necessárias à pesquisa.

Segundo Richardson (1999), a entrevista não estruturada ou em profundidade

tem como objetivo identificar os aspectos mais relevantes do problema e informações

detalhadas de uma situação. Ocorre através de uma conversação guiada pelo pesqui-

sador, tendo como respostas como e por que algo ocorre.

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Para atender aos objetivos deste estudo, será realizada na etapa final a

triangularização dos dados obtidos por meio das fontes secundárias, das entrevistas

e da análise dos quatro casos (CRESWELL, 2007).

4.11 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

A presente pesquisa foi realizada com base em uma mostra intencional a fim

de caracterizar as empresas conforme seu nível de capacidade para a inovação.

Desta forma, foram selecionadas quatro empresas que atendiam aos critérios

preestabelecidos. A escolha por uma amostra intencional se deu devido ao tempo

disponível para a realização da pesquisa.

O modelo foi desenvolvido especificamente para o setor moveleiro. Para o

desenvolvimento de um modelo genérico torna-se necessária a aplicação do mesmo

em uma amostra significativa, a fim de definir um resultado estatístico para a

determinação das qualificações por nível de capacidade de inovação.

4.12 RESUMO DA METODOLOGIA

Apresenta-se, neste item, um resumo da metodologia proposta para o

desenvolvimento da pesquisa, conforme o quadro 15:

QUADRO 15 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

Metodologia Qualitativa Objeto empírico Indústrias

Tipo da pesquisa Descritiva Quantidade de casos Quatro

Método Estudo múltiplo de casos Unidade de análise Organizacional

Instrumento de

coleta

Entrevista semiestruturada;

Análise de documentos; e

observação

Unidade de observação Diretores, gerentes, designer,

engenheiros e técnicos

Análise dos dados Análise de conteúdo Enfoque da observação

Condicionantes da inovação com

base no nível de Capacidade de

Inovação

Perspectiva

temporal Corte transversal Critério de seleção dos casos Intencionalidade e acessibilidade

FONTE: A autora

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5 AS EMPRESAS E SUA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

Este capítulo apresenta as empresas de móveis pesquisadas no Paraná e, a

partir do levantamento de dados realizado, classifica-as em relação ao seu nível de

capacidade em inovação.

A seção 5.1 discorre brevemente sobre o histórico e as principais caracte-

rísticas das empresas analisadas, e a seção 5.2 qualifica as empresas em relação ao

seu nível de capacidade em inovação.

As análises são realizadas à luz do modelo proposto com base na literatura

pesquisada. As informações foram coletadas a partir de entrevistas semiestruturadas

com diretores e funcionários das empresas Flexiv, Inforline, empresa Alfa e Móveis

Heck e, ainda, de dados secundários advindos de documentos disponibilizados pelas

empresas pesquisadas.

5.1 BREVE NOTA SOBRE AS INDÚSTRIAS PESQUISADAS

Esta seção constitui uma breve nota sobre as indústrias de móveis

pesquisadas, contendo seu histórico e dados institucionais como porte, ano de

fundação, nome e cargo dos entrevistados. O item 5.1.1 apresenta a empresa Flexiv; o

item 5.1.2 a Inforline; o item 5.1.3 a Móveis Heck; e, por fim, o item 5.1.4 apresenta a

empresa Alfa.

5.1.1 A Flexiv

QUADRO 16 - DADOS DA EMPRESA FLEXIV

Razão Social G.C. Indústria e Comércio de Móveis Ltda.

Cidade Pinhais UF PR

Endereço Rua Salgado Filho, 570 80330-110

Nome entrevistado 1: Ronaldo Duschenes Cargo: Presidente

Nome entrevistado 2: Dari Beck Cargo: Gerente de Design

E-mail: [email protected] Tel.: 41 3888-7273

Faturamento Publicação não autorizada Nº de funcionários 100

Porte Média Fundação 1985

FONTE: dados resultantes da pesquisa

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Em 1981, Ronaldo Duschenes mudou-se para Curitiba, abrindo sua fábrica de

móveis para escritório, a Flexiv, logo depois, em 1985. No início, contava com apenas

sete funcionários e, apesar do pequeno porte da empresa, ele já se preocupou em

contratar um designer, pois já acreditava que este representaria um grande e importante

diferencial para o segmento. Embora tivesse tido oportunidades de desenhar mobiliário

– como a poltrona para a Probel, um sucesso de vendas em 1972 –, Duschenes, na

época, tinha uma experiência consistente somente como arquiteto.

Para a Flexiv, a concepção do espaço de trabalho pode ser um fator

determinante do sucesso de uma empresa. Por este motivo, os móveis da marca

são concebidos e desenvolvidos com a preocupação de atender às necessidades

das empresas no que diz respeito à durabilidade, conforto ergonômico, flexibilidade

de layout e, principalmente, qualidade no seu premiado design. Para reforçar e

sustentar o design como vantagem competitiva, a Flexiv investe no Estúdio Flexiv de

Design, o qual conta com uma equipe interna capacitada e atualizada quanto às

últimas tendências do mercado mundial para o desenvolvimento de novas soluções

em mobiliário para escritórios.

Atualmente a Flexiv possui uma fábrica em Pinhais, no Paraná, e showrooms

em Curitiba/PR e São Paulo/SP, além de revendas em todas as regiões do Brasil.

Em termos estratégicos, possui produção limitada e foco no design e no

público A. Busca se diferenciar pelo design e pela possibilidade de customização do

produto. Tem como missão inovar em ambientes com design, inspirando mentes no

prazer de trabalhar, e tem como visão ser a mais inovadora e rentável empresa de

design para ambiente de trabalho.

A Flexiv fabrica móveis para escritórios e vende para todo o Brasil. Sua linha

de produtos possui mais de 7.000 itens, que incorporam as oito linhas de produtos:

Linha Ergospace, Linha Uffizi, Linha Painel, Linha MB90, Linha Estante, Linha DR3,

Linha Webstation e Linha ByoGraphos, além de acessórios e cadeiras que

completam seu mix de produtos.

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103

FIGURA 6 - LINHA DE PRODUTOS DA EMPRESA FLEXIV

Linha Webstation Linha DR3

Modularidade dos produtos

FONTE: Flexiv

5.1.2 A Empresa Alfa

QUADRO 17 - DADOS DA EMPRESA ALFA

Razão Social Empresa Alfa (divulgação não autorizada)

Faturamento Publicação não autorizada No de funcionários 110

Porte Média Fundação 1987

FONTE: dados resultantes da pesquisa

Fundada em 1987, a empresa Alfa tem, entre suas diretrizes, o investimento

em tecnologia e qualidade industrial no desenvolvimento de móveis para escritório.

Com sede em Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba, e uma

instalação industrial de 13.000m², a empresa apresenta soluções em mobiliário para

todo tipo de ambiente, desde salas executivas a áreas completamente operacionais,

treinamento, recepção e cadeiras de espera para áreas públicas.

Tendo a ergonomia como eixo balizador no desenvolvimento dos produtos,

busca o conforto do usuário. Por meio de mecanismos que possibilitam mobilidade

total, os produtos se adaptam às mais diversas atividades. Entre os produtos da

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empresa destacam-se duas linhas diretivas, seis linhas operacionais, três linhas

direcionadas a call centers e produtos específicos para ambientes de treinamento e

atendimento. Completam a linha de produtos estantes, salas de reunião, móveis

para arquivamento, cadeiras e divisórias.

O foco da empresa é o mercado corporativo de grandes empresas. A Alfa

também participa de licitações, algumas vezes especificando seu próprio produto e,

outras, adequando sua linha para atender à demanda.

Sua estratégia é destacar-se no mercado pela qualidade dos produtos. Por

isso, investe constantemente em maquinários de ponta e possui certificação NBR ISO

9001:20004. Para 2011 está redesenhando toda a linha de produtos, alguns deles

incorporando maiores mudanças e outros não, refazendo logomarca e investindo em

novos catálogos e materiais de comunicação.

O cuidado com o meio ambiente é outra característica da empresa, que se

destaca pela certificação NBR ISO 14001:20045, concedida em 2008. A Alfa foi a

primeira empresa paranaense no setor moveleiro a receber as certificações ISO.

Possui parceiros comerciais nos estados de Mato Grosso, Pernambuco,

Sergipe, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Alguns destes atuam com showrooms,

e outros apenas como representantes.

4 A norma NBR ISO 9001:2000 é um Sistema de Gestão da Qualidade que se tornou referência

internacional para requisitos de controle da qualidade nas empresas, colaborando para o aumento

da produtividade, redução de custos, inovação e agilidade.

5 A norma NBR ISO 14001:2004 é uma norma internacional que estabelece as melhores práticas a

serem adotadas no gerenciamento do Sistema de Gestão Ambiental.

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FIGURA 7 - LINHA DE PRODUTOS DA EMPRESA ALFA

Linha Diretiva Linha Operacional

Call Center Linha Operacional

FONTE: empresa Alfa

5.1.3 A Inforline

QUADRO 18 - DADOS DA EMPRESA INFORLINE

Razão Social Inforline Indústria e Comércio de Móveis Ltda.

Cidade Colombo UF PR

Endereço Rua Guilherme Socher, 16

Nome entrevistado 1: Rodrigo Karan Cargo: Gerente de P&D

Nome entrevistado 2: Luiz Fernando Tedeschi Cargo: Diretor

E-mail: [email protected] Tel.: 41 3223-8585 / 9991-0199

Faturamento Publicação não autorizada Nº de funcionários 60

Porte Pequena Fundação 1992

FONTE: dados resultantes da pesquisa

No mercado desde 1992, a Inforline é uma empresa brasileira que iniciou

suas atividades com a fabricação de abafadores de ruído de impressoras matriciais,

negócio que tinha prazo determinado para cessar, em face do avanço tecnológico.

Percebendo a crescente oportunidade de negócio no segmento de móveis

corporativos, o empresário passou a se dedicar ao desenvolvimento de produtos que

permitissem a interação do homem com seu ambiente de trabalho.

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A empresa possui uma fábrica em Colombo, região metropolitana de

Curitiba, onde fica todo o desenvolvimento e fabricação dos produtos. Além disso,

possui duas lojas no Paraná, uma delas em Curitiba e outra em Londrina, e

representantes em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo,

Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Tem como missão fabricar e fornecer, com agilidade, organização e produti-

vidade, produtos com qualidade para seus clientes, satisfazendo suas necessidades e

tornando seu ambiente de trabalho mais confortável, agradável e prático.

Como estratégia atual, busca um aumento no atendimento do setor

corporativo e redução da participação em licitações, a qual, de 80% do faturamento

da empresa, hoje está em 60%. Seu foco está na personalização da produção,

atendendo cada vez mais às necessidades específicas de cada cliente.

A Inforline produz móveis para escritórios, como: mesas, cadeiras, estações

de trabalho e divisórias, e possui quatro linhas de produtos: Linha Delta, Linha

Ômega, Linha Diretiva e Linha Studio.

FIGURA 8 - LINHAS DE PRODUTOS DA EMPRESA INFORLINE

Linha Delta Linha Excecutiva

Linha Diretiva Linha Studio

FONTE: Inforline

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5.1.4 A Móveis Heck

QUADRO 19 - DADOS DA EMPRESA MÓVEIS HECK

Razão Social Móveis Heck Ltda.

Cidade Curitiba UF PR

Endereço Rua Santa Rita Durão, 14 - São Lourenço

Nome entrevistado 1: Claudio Luis Heck Cargo: Sócio Proprietário

E-mail: [email protected] Tel.: 41 3354-6161 / 9908-1635

Faturamento Publicação não autorizada No de funcionários 8

Porte Micro Fundação 1923

FONTE: dados resultantes da pesquisa

Em 1923, o filho de imigrantes austríacos Oscar Heck, casado com a Sra.

Maria Sanson Heck, filha de família tradicional do bairro Ahú, na cidade de Curitiba,

Estado do Paraná, fundou a empresa Heck Móveis. Como na época em que esta foi

fundada não havia energia elétrica na região, a alternativa foi utilizar máquinas

movidas a tração animal em um engenho puxado por cavalos.

Em 1932, os filhos de Oscar Heck, José, João, Antônio e Luiz, começaram a

trabalhar na empresa. Com a aposentadoria de Oscar, os filhos assumiram a

empresa, mas apenas dois continuaram a trabalhar na mesma.

Com a desistência dos outros irmãos e a aposentadoria de Oscar, José e

Antônio constituíram uma nova empresa, cujo nome era Móveis Garibaldi, que

perdurou até o ano de 1981. Os filhos de José e Antônio passaram a fazer parte da

empresa e se mantiveram na sociedade até 1989, quando esta foi dividida. Nessa

nova mudança foi criada a empresa Móvel Heck Ltda., cuja sociedade foi mantida

entre Cláudio Luis Heck e José Ronaldo Heck, que continuam até hoje.

Atualmente a empresa está sediada no bairro Ahú, em Curitiba, e fabrica

móveis sob medida em pequenas séries ou individuais. Recentemente reformada,

passou a contar com uma loja que funcionará como um showroom, com exposição

dos produtos fabricados pela empresa e outros produtos de fornecedores parceiros.

A loja permitirá um atendimento direto aos clientes.

Desde 2008, o filho do Sr. Cláudio passou a integrar a empresa e, com sua

experiência na área administrativa, tem trazido novidades, como a criação de um

showroom. O foco, então, tem sido dar uma atenção especial à parte de comercia-

lização e atendimento aos clientes.

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FIGURA 9 - PRODUTOS DA EMPRESA MÓVEIS HECK

Cozinhas Salas

FONTE: Móveis Heck

5.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

Com o intuito de qualificar as empresas que farão parte do presente estudo,

considerando sua capacidade de promover a inovação e não apenas seu porte ou

idade, fez-se uso do conceito de capacidade de inovação (FIGUEIREDO, 2003) à

luz do conceito de inovação da OCDE (1997). Esta análise permitiu posicionar as

empresas a partir dos seus níveis de capacidade de inovação, a qual foi delineada

tomando como base as entrevistas com os presidentes ou diretores das empresas e

com gerentes de design, além de informações secundárias coletadas em relatórios.

Os indicadores determinados para qualificar a empresa foram sua equipe de criação

e estrutura, processo de desenvolvimento de produtos, novos produtos, patentes,

prêmios, pesquisa e tecnologia com base em Figueiredo (2003), Drouvot e Verna

(1994), Bell (1997) e Kretzchmar (2003), conforme quadro 13.

5.2.1 Capacidade de Inovação da Flexiv

A Flexiv possui um departamento de pesquisa e desenvolvimento de

produtos dividido em duas linhas: o estúdio de design de produto - EFD, dirigido pelo

designer Dari Beck e mais cinco designer, e uma equipe de design comercial - EDC

voltada ao desenvolvimento dos serviços, cujo objetivo é entender o espaço de

trabalho das empresas, seu layout e as necessidades dos clientes e propor soluções

personalizadas, mas com base nos produtos desenvolvidos pela empresa. A equipe

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do EDC é composta por cinco pessoas, sendo um líder, dois profissionais em

Curitiba e dois profissionais em São Paulo. "Estes profissionais são antenas

essenciais no contato com o consumidor final", diz o empresário.

Além dessa atuação do design a empresa foca o design estratégico, ligado

diretamente à presidência, visando orientar todo o processo de gestão do design na

empresa, bem como os objetivos macro e estratégicos de atuação. O foco estra-

tégico do design permeia a cultura e a filosofia de negócio da empresa, fazendo

parte do dia-a-dia desta.

Também contrata designers externos para "arejar" as ideias da equipe

interna. "Os designers externos contribuem apenas para o momento de criação, pois

na maioria das vezes não são capazes de desenvolver produtos compatíveis com a

capacidade produtiva da empresa." Neste momento, mais uma vez se destaca a

importância da equipe interna alinhada com todas as áreas da indústria e que

adapta as criações externas à possibilidade executiva da empresa (quadro 20).

QUADRO 20 - ESTRUTURA E FORMAÇÃO DA EQUIPE DE CRIAÇÃO DA EMPRESA FLEXIV

ÁREA CARGO/FUNÇÃO FORMAÇÃO

Design Estratégico Presidente do Conselho Arquiteto e Designer FAU-USP

Design de Produtos Gerente de Design Design de Produto pela UTP; pós em gestão estratégica; cursando MBA na FGV

Designer Design de Produto pela UTFPR e pós em gestão de projetos

Designer de Produto Design de Produto pela UTFPR; pós em empreendedorismo

Designer de Produto Design de Produto pela UP

Designer de Produto Design de Produto pela PUC-PR; pós em Design de Interiores pela UP; estágio em Milão

Design Comercial Curitiba Designer de Produto Design de Produto pela UTP

Designer de Produto Design de Produto pela PUC-PR

Designer de Produto Design de Produto pela UP

Design Comercial SP Design de Produto Arquitetura

Design de Produto Design de Produto

FONTE: Elaborado pela autora a partir de entrevista

O design é a grande competência diferencial da Flexiv no mercado em que

atua. Assim, todo o processo interno, desde a criação do produto, desenvolvimento de

fornecedores, prototipia, processo de fabricação, até a disponibilização do produto para

o mercado, tem uma monitoria linear e constante sob o foco do design – gestão do

design. Como destaca Puerto (1999), o design se mostra como ferramenta fundamental

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no desenvolvimento da inovação, uma vez que é responsável por determinar processos

produtivos e estimular a inovação tecnológica pela necessidade de desenvolvimento de

novos produtos. É também uma ferramenta na busca por novos mercados através da

identificação de oportunidades de novos produtos, criando demandas até então não

consideradas como necessárias pela sociedade.

A empresa possui um processo claro e, neste momento, está investindo em

uma sistematização maior desse processo, definindo as competências de cada área –

esta iniciativa partiu do estúdio de design, que estava acumulando atividades que não

lhe cabiam. Além disso, o Estúdio de Design pretende que todos na empresa entendam

como é o processo, como ele acontece e o que compete a quem.

Existem atualmente três processos distintos na empresa: o desenvolvimento de

produtos próprios, a customização e a parceria para o desenvolvimento para terceiros.

Na parceria existem algumas etapas antes de se chegar ao início do

processo, como a elaboração de um briefing com os clientes, a assinatura de um

termo de confidencialidade, a avaliação da oportunidade (se é um bom negócio ou

não), a elaboração de orçamento e contrato, para, então, seguir as etapas de

desenvolvimento de produto.

Na customização, o EDC levanta as necessidades do cliente e propõe uma

solução fazendo uso dos sistemas da empresa, grande diferencial da Flexiv.

No processo de desenvolvimento de produtos efetivamente, este é dividido

em duas fases: o design de produto e a engenharia de produto, que diz respeito à

implantação do mesmo na fábrica (figura 10).

"Neste processo é importante mencionar que o designer é 'dono' do produto

e, portanto, cuida de todo o processo", diz o gerente de design. É ele quem

responde por tudo e, por sua característica multidisciplinar, é quem "alinhava" com

as outras áreas envolvidas. No caso da inovação de produto, a empresa pode

ganhar uma vantagem competitiva por meio da introdução de um novo produto, o

que lhe confere a possibilidade de maior demanda e maiores margens sobre custos.

As empresas podem também aumentar a demanda em virtude da diferenciação de

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produto, visando a novos mercados e influenciando a demanda por produtos

existentes. Mudanças nos métodos organizacionais podem elevar a eficiência e a

qualidade de suas operações e, assim, aumentar a demanda ou reduzir os custos

(OCDE,1997, p.37).

FIGURA 10 - PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS

FONTE: Empresa Flexiv

Para a empresa, um fator importante no processo de desenvolvimento de

novos produtos como fator de gestão de riscos e, ainda, com foco na inovação é a

pesquisa. A pesquisa é a base para a identificação de oportunidades e tomadas de

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decisão. É realizada pelo estúdio de design e possui cinco etapas: pesquisa de

similares, pesquisa do perfil do mercado, pesquisa do perfil do consumidor, pesquisa

de materiais, processos e tecnologias e análise dos concorrentes. Além desta

pesquisa formal há a participação de outras áreas com informações, como o EDC,

que está em contato direto com os clientes, e inputs da presidência e da gerência a

partir de participação em feiras e viagens.

Cabe citar também que atualmente o estúdio de design é responsável pela

etapa de engenharia de produto, mas a intenção da empresa é criar uma nova área

para assumir esta atividade.

A empresa desenvolve novos produtos e modifica os produtos existentes de

acordo com as necessidades identificadas no mercado. Atualmente possui oito linhas

de produtos: linha ergospace, linha uffizi, linha painel, linha MB90, linha estante, linha

DR3, linha webstation e linha ByoGraphos, além de uma linha de acessórios e cadeiras.

De acordo com o planejamento estabelecido pela alta gestão, são lançadas

duas soluções de produtos novos por ano, isto sem contar o redesign de produtos

existentes. Todo o processo de desenvolvimento de um novo produto da pesquisa

ao produto no showroom leva aproximadamente seis meses.

Ao desenvolver um novo produto, o estúdio de design e a empresa estão

arriscando, pois precisam inovar, mas o suficiente para o mercado absorver essas

inovações. Segundo o Dari, gerente de Design, "é um pacote mágico de produto que

vai dar certo". Pesquisa-se com prospecção de 20 anos, olha-se a realidade, o

entorno, o mercado, e lança-se uma inovação que o mercado é capaz de absorver.

É uma aposta da empresa que pode dar certo, ou não. Algumas vezes o produto é

inovador demais e pode levar até três anos para "emplacar" no mercado. Um dos

limitantes e determinantes é a tecnologia, que normalmente só chega ao Brasil três

anos depois de ter sido lançada lá fora.

Além da busca pela inovação, o estúdio tem que desenvolver um produto

factível, centrado na intercambialidade das peças e no compartilhamento de

componentes, otimizando o número de peças a serem produzidas, permitindo a

posterior customização para o cliente e com foco na sustentabilidade – uma das

diretrizes futuras da empresa, que deseja focar no desenvolvimento de produtos

mais sustentáveis, em vez de buscar meios de remediar o impacto produzido.

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O que comprova o investimento em inovação são os 20 Registros de Desenho

Industrial6 - DI que a empresa possui e os prêmios de design. O empresário entende

que inscrever os produtos em prêmios de design e investir na imagem da empresa

através desta visibilidade é um importante fator para a inovação na empresa, a qual

valida suas criações e se sente estimulada a inovar mais. A empresa já recebeu sete

prêmios nacionais de design e foi premiada três vezes na categoria gestão do

design do prêmio da Confederação Nacional das Indústrias - CNI. Além dos prêmios,

teve participação em feiras internacionais, como: Salão Internacional de Milão, na

Itália; Gwangju Biennale Design, na Coreia do Sul; International Furniture Fair Tókio,

no Japão; Birmingham Furniture Fair, na Inglaterra, e Feira Internacional de

Valência, na Espanha.

A Flexiv não desenvolve novos equipamentos internamente. Quando precisa

desenvolver uma nova peça ou parte de produto, ela recorre a um fornecedor. O

maquinário da empresa é simples, formado basicamente por máquinas operatrizes e

que conta com a especialização da mão de obra da empresa. O foco estratégico da

empresa é investimento em inovação e design, e não na base tecnológica da indústria.

Com relação a softwares, a empresa possui um sistema integrado Flex Web,

onde estão todas as informações de produção e dados da empresa. Na área de

desenvolvimento de produtos utiliza Solid Works, Autocad, Rinoceros e 3DMax.

5.2.2 Capacidade de Inovação da Empresa Alfa

A empresa Alfa é composta por quatro sócios, responsáveis respectivamente

pelas diretorias de Administração, Comercial, Produção e Técnica. Abaixo dos

diretores estão os gerentes de área, supervisores e assistentes. Ligado à diretoria

técnica está o departamento técnico responsável pela adequação dos produtos à linha

6 Considera-se Registro de Desenho Industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. O DI é um título de propriedade temporária sobre um Desenho Industrial, outorgado pelo Estado aos autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras dos direitos sobre a criação. A proteção vale por 10 anos, prorrogáveis a 25.

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de produção, adequação dos projetos de licitação e detalhamento técnico dos

produtos desenvolvidos pelo escritório de design terceirizado. Na equipe estão dois

designers, um deles formado em Desenho Industrial e um outro estagiário.

A empresa optou desde o início pelo desenvolvimento de novos produtos

com escritórios especializados. Trabalhou por muito tempo com a Inove Design e já

desenvolveu produtos com a Asa Design, ambas de Curitiba. Também vai iniciar

uma parceria com o escritório Athié | Wohnrath. O desenvolvimento das linhas de

produto são realizadas atualmente por um escritório de design de São Paulo.

O designer da empresa Alfa vem para Curitiba a cada 15 dias e faz uma

imersão na empresa por três dias, quando acontecem todo o alinhamento e as

decisões relativas aos novos produtos. Este processo intensificou-se em 2010 com a

proposta de redesenho de todas as linhas e criação de novas. Normalmente, a

empresa lança uma nova linha por ano.

Desde a implantação da ISO 9001:2000 todos os processos da empresa

foram sistematizados, entre eles o processo de desenvolvimento de produtos,

marcado por uma série de etapas que contemplam a participação de todas as áreas

da empresa, pesquisa e avaliação do processo.

As informações para o desenvolvimento dos novos produtos partem do

Comercial, que está em contato direto com os representantes e clientes. As feiras

nacionais e internacionais também são fonte de pesquisa. Contudo, o Diretor

Técnico menciona que "leva de dois a três anos para o mercado absorver uma

inovação apresentada nas feiras internacionais, por isso é preciso saber como

aplicar as ideias aos produtos e até que ponto inovar".

A partir da identificação de uma necessidade, o briefing é passado para o

designer da empresa Alfa, que desenvolve as alternativas e as apresenta para a

empresa. A interação entre o designer e a empresa é muito grande, e as reuniões

ajudam a definir o produto. As áreas técnica, comercial, administrativa e de produção

participam das reuniões e opinam diretamente no trabalho do designer. Segundo o

diretor, "o designer gosta muito desta interação e deste alinhamento que nós temos

com ele porque ele tem muita liberdade para trabalhar". Para o diretor, esta relação

"fortalece o resultado final do produto, que conta com a contribuição de todos".

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As reuniões de desenvolvimento dos produtos são feitas em diversas etapas

do projeto. Nas reuniões iniciais são apenas desenhos, ideias, e posteriormente as

decisões são tomadas a partir dos protótipos. Uma vez definido o produto final, o

departamento técnico é responsável pelo detalhamento.

A empresa Alfa não registra os produtos, por entender que neste setor o

registro é pouco significativo. Mesmo com registro, o produto pode ser copiado e sofrer

pequenas alterações que descaracterizem a cópia. Para se proteger, a empresa

procura desenvolver soluções técnicas mais complexas que dificultem a cópia. As

empresas maiores não vão copiar, e as menores não terão tecnologia para

desenvolver.

Também não participa de prêmios de design, por entender que este não é o

foco do público-alvo, o mercado corporativo.

A pesquisa é realizada e está atrelada às exigências da ISO. A empresa realiza

a pesquisa de satisfação do consumidor e os resultados são direcionados ao

desenvolvimento dos produtos. A participação em feiras também é fonte de informação.

A empresa investe em tecnologia de ponta para garantir qualidade e

produtividade. Na marcenaria, trabalha basicamente com máquinas CNC - Comando

Numérico Computadorizado, e, na metalúrgica, tanto com CNC quanto com NC -

Comando Numérico.

Os softwares utilizados na área de desenvolvimento de produtos são do

Solid Works e o AutoCad. Na empresa, utiliza-se um sistema de gestão específico

para a indústria moveleira.

5.2.3 Capacidade de Inovação da Empresa Inforline

A empresa possui um departamento de desenvolvimento de produtos

formado por três profissionais, sendo um gerente de P&D formado em Design e com

especialidade na área, e mais dois designers graduados, conforme quadro a seguir:

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QUADRO 21 - ESTRUTURA E FORMAÇÃO DA EQUIPE DE CRIAÇÃO

ÁREA CARGO/FUNÇÃO FORMAÇÃO

Gerência de P&D Gerente de P&D Design de Produto pela PUC-PR

Design de Produtos Designer Design de Produto pela UFPR

Designer Design de Produto pela UTFPR

FONTE: Elaborado pela autora a partir da entrevista

Segundo o gerente de P&D, Rodrigo Karan, "a empresa está muito focada no

atendimento de licitações, o que dificulta o desenvolvimento de novos produtos de uma

maneira sistemática ou de forma metodológica. As demandas da licitação exigem o

envolvimento da equipe de engenharia de produto na personalização do pedido, que,

na maioria das vezes, tem diversas peculiaridades". Desta forma, sempre que há uma

licitação a ser atendida a equipe é responsável pela readequação dos produtos de linha

e pelo desenvolvimento de um protótipo para o atendimento da licitação. São em média

5 a 6 readequações de produtos por semana – uma demanda significativa de novas

configurações, adaptações e prototipagem da linha existente. Segundo o designer,

"este processo tem prejudicado o desenvolvimento de novos produtos, impedindo a

implantação de uma metodologia ou processo de design". Na empresa, desde 2007 o

designer menciona que "o processo de desenvolvimento de produto foi aplicado uma

vez na criação de uma linha quando havia uma designer responsável por esta área e

que não atendia licitações; depois disso não foi mais possível". O foco foi direcionado

para a melhoria de produtos existentes e a busca de novos materiais.

A equipe de engenharia de produtos, composta pelos três designers, é respon-

sável por todo o processo de desenvolvimento ou readequações dos produtos, desde

pesquisa, geração de alternativas, engenharia do produto, desenvolvimento do

protótipo, até a alimentação da base de dados da empresa. Além disso, responde pela

área de comunicação da empresa desenvolvendo materiais gráficos e website.

O diretor da empresa, Luiz Fernando Tedeschi, confirma que "existe um

gargalo na produção que se concentra no departamento de engenharia de produtos

que não consegue dar mais vazão às demandas". O problema, diz ele, é que "a

empresa está em um momento em que não consegue investir em maior número de

profissionais". Além disso, comentou que, apesar da importância do sistema de

gerenciamento implantado em 2008, "algumas vezes o programa engessa o

processo, contribuindo para o gargalo no setor de engenharia".

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Os produtos que estão em linha hoje foram desenvolvidos por designers

com contratos externos. A empresa desenvolve novos produtos e modifica os

existentes de acordo com as necessidades identificadas no mercado; contudo, tem

como meta passar a lançar uma nova linha por ano.

Possui quatro linhas de produtos desenvolvidos de acordo com as necessi-

dades dos grupos consumidores, desde linhas diretivas até linhas mais simples. Os

produtos são componíveis, garantindo maior agilidade na configuração de diferentes

soluções de layout e se adaptando a diferentes demandas de clientes. Possuem

opções de cores e acabamentos.

A empresa não possui nenhuma patente e nenhum prêmio de design. Não

recorre ao registro de produtos, por considerar o processo muito caro e burocrático.

Devido à grande demanda diária de adequação dos produtos, a equipe de

design não chega a fazer pesquisa porque, segundo o designer, "não há tempo

suficiente para isto". Entretanto, estão antenados a algumas tendências devido ao

envolvimento com o setor e participação em feiras e eventos.

A empresa não desenvolve tecnologias, mas adquire de fornecedores.

Atualmente, possui tecnologias para:

- comunicação interna - o sistema Seven foi implantado no final de 2008 para

melhorar a comunicação entre as lojas e a fábrica, bem como com a

produção, proporcionando agilidade com orçamentos e agilidade com

comunicação interna, bem como registro e dados da empresa;

- acabamento - as peças são usinadas em um Centro de Usinagem CNC

de última geração, que garante melhor qualidade de acabamento e

padronização da linha de produtos com maior produtividade.

No desenvolvimento de produtos, o software mais utilizado é o AutoCAD.

5.2.4 Capacidade de Inovação da Empresa Móveis Heck

A empresa não possui equipe de desenvolvimento de produtos. Os produtos

são desenvolvidos sob medida, de acordo com projetos de arquitetos ou designers

para atender a determinados clientes. O proprietário da empresa, Cláudio Luis Heck,

apenas realiza adaptações nos projetos para torná-los factíveis.

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Não existem profissionais na área de desenvolvimento de produtos.

Contudo, a empresa está contratando um projetista para atender às demandas dos

clientes, que passarão a vir diretamente na loja.

O processo de desenvolvimento dos produtos se inicia a partir de um projeto

vindo de um arquiteto ou designer. O projeto é adequado pelo proprietário da

empresa, que, com base em sua experiência, ajusta-o ao processo produtivo. O

projeto é então replicado em escala 1:1 manualmente, onde são conferidas todas as

medidas, funcionando como um molde e, a partir daí, passa a ser produzido.

O empresário menciona que "a partir de sua experiência na empresa

desenvolve produtos para os clientes que não têm projeto". Neste caso, o desenho é

feito à mão.

Como a empresa está centrada no atendimento a projetos sob medida e a

licitações, não tem um desenvolvimento de linhas de produtos, mas foca no aten-

dimento dos pedidos e modifica os projetos a fim de garantir qualidade e produtividade.

Para o empresário Cláudio Luis Heck, "o grande diferencial da Móveis Heck

está na produção de alta qualidade e baixo custo, viável graças ao maquinário da

empresa".

Não há desenvolvimento de pesquisa. As informações e atualizações são

obtidas em feiras, onde o empresário conhece novos equipamentos e materiais.

A empresa possui maquinário de ponta necessário para atender às demandas

do setor, as quais, segundo Cláudio, "se concentram em três operações básicas: corte,

laminação e furação". Seu maquinário garante uma produção mais rápida e com baixo

custo. Entre o maquinário da empresa estão serras, seccionadoras, coladeira de bordas

e furadeiras.

5.2.5 Síntese da Capacidade de Inovação das Empresas Estudadas

Os dados das empresas pesquisadas estão sistematizados no quadro a

seguir, permitindo, para fins desta pesquisa, a qualificação das empresas em

relação à sua capacidade de inovação.

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QUADRO 22 - SÍNTESE DA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS EMPRESAS PEQUISADAS

NÍVEL DE CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

EMPRESA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

Nível IV FLEXIV

· Departamento de design dividido em 3 áreas: design estratégico, design de

produto e design Comercial totalizando 10 funcionários. Equipe de

desenvolvimento integrada e aliada às áreas de diretoria, marketing, comercial e

produção. Departamento de design estruturado.

· Processo de desenvolvimento de produtos / serviços formatado, com base em

Balenced Score Card e Plano Estratégico.

· 2 novos produtos lançados por ano

· 20 registros de DI

· 11 prêmios de design

· 5 etapas de pesquisa no processo

· Máquinas operatrizes

· Softwares: Solid Works; AutoCad; Rinoceros; 3DMax e Sistema de

Gerenciamento.

Nível III EMPRESA ALFA

· Departamento de design com um profissional e um estagiário. Acessória de um

escritório de design terceirizado.

· Processo de desenvolvimento de produtos formatado com participação de

escritório terceirizado

· 1 nova linha por ano

· Não possui registro dos produtos nem prêmios de design

· Realiza pesquisa e avaliação dos processos

· Máquinas CNC

· Softwares: Solid Works; AutoCAD e Sistema de Gerenciamento

Nível II INFORLINE

· Departamento de design e engenharia de produto composto por três profissionais

entre eles especialistas e graduados.

· Processo de desenvolvimento de produtos mais direcionado à adequação dos

produtos existentes.

· Não há desenvolvimento sistemático de novos produtos. São realizadas de 5 a 6

adequações de produtos por semana.

· Não possui registros de DI ou patente

· Não possui prémio de design

· Pesquisa de tendências e materiais

· Máquinas operatrizes

· Softwares: Autocad e Sistema de Gerenciamento

Nível I MÓVEIS MOVEIS

HECK

· Não possui departamento de design/projetos

· O processo de desenvolvimento de produtos está atrelado à adequação dos

projetos dos clientes à linha de produção.

· Não há desenvolvimento sistemático de novos produtos.

· Não possui registros de DI ou patente

· Não possui prémio de design

· Não possui pesquisa

· Serras, seccionadoras, coladeira de bordas e furadeiras.

· Não utiliza softwares

FONTE: A autora

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6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE COMPARATIVA DAS CONDICIONANTES DE

INOVAÇÃO DAS EMPRESAS SELECIONADAS

Serão analisadas, nesta seção do trabalho, as condicionantes da inovação

tanto em nível micro (intrafirma), quanto em nível meso (relações de cooperação) e

macro (instrumentos e políticas públicas), a fim de garantir um completo entendimento

das condicionantes de inovação para o desenvolvimento econômico e competitividade

das empresas. Esta análise parte do conceito de inovação, em que esta é entendida

não como um processo linear, e sim como uma ação sistêmica que compreende a

interação entre as empresas, o conhecimento, o aprendizado e disseminação da

informação. Considera-se, também, a importância da análise na inovação tanto no

ambiente interno da empresa quanto no ambiente externo, que compreende suas

relações e o ambiente econômico em que está inserido.

Desta forma, o item 6.1 analisa os resultados levantados nas condicionantes

relacionadas à inovação na estrutura das empresas (dimensão micro), a seção 6.2

examina as condicionantes à inovação a partir das relações das empresas com o

ambiente externo (dimensão meso), e, finalmente, o item 6.3 analisa as condicionantes

à inovação relacionadas a políticas públicas (dimensão macro).

6.1 CONDICIONANTES DE INOVAÇÃO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Este item analisa comparativamente as variáveis que condicionam a

inovação nas empresas pesquisadas a partir da dimensão micro, ou seja, da

estrutura organizacional das empresas.

6.1.1 Estrutura Adequada e Ambiente Criativo

No que tange à estrutura organizacional, e com base em Tidd et al. (2008) e

Zilber et al. (2008), é importante a empresa ter uma estrutura adequada à interação

e ao trabalho em equipe, facilitando a comunicação e estímulo às ideias criativas.

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Por entender esta necessidade, a Flexiv recentemente realocou a equipe de

desenvolvimento e criou uma nova área exclusiva para o departamento de design.

Com duas salas sendo a primeira para toda a equipe, com espaço para reunião, e a

segunda para a gerência com espaço para os protótipos, que são segredos

industriais. A criação do showroom, em 1996, passou a permitir uma interação maior

com os clientes passando a ser mais fácil entender suas necessidades.

A empresa Alfa possui uma estrutura adequada e procura promover a

integração das equipes através de reuniões, das quais todas as áreas participam.

Possui um departamento técnico com dois designers. Contudo, o desenvolvimento

dos novos produtos fica a cargo de um escritório de design terceirizado. Mesmo

trabalhando com um terceiro, a integração entre as equipes no desenvolvimento dos

produtos é grande. O designer externo passa três dias na empresa, onde consegue

interagir com todas as áreas.

A Inforline também estruturou um departamento exclusivo para a equipe de

desenvolvimento de produtos, que nesta empresa é chamada de engenharia de

produtos. A sala fica ao lado da produção, por entenderem a importância desta

relação mais estreita. O espaço não é muito grande, mas a equipe divide um único

ambiente o que também facilita a comunicação.

A empresa Móveis Heck ainda não possui um departamento dedicado ao

desenvolvimento de produtos.

Nenhuma das empresas possui um valor exato para o investimento em P&D.

Entretanto, algumas ações podem ser destacadas em cada uma delas. Na Flexiv,

10% da força de trabalho da empresa está voltada para o desenvolvimento dos

produtos. A empresa Alfa atua de forma diferente, investindo mais na contratação de

escritórios de design e arquitetura terceirizados, e mantém uma equipe interna mais

reduzida, hoje com duas pessoas. A Inforline conta, atualmente, com três

profissionais formados e fez um investimento de um milhão de reais na aquisição de

maquinário em 2008. A Móveis Heck direciona seus investimentos apenas para a

compra de maquinário. Um fator significativo para estas empresas é o fato –

mencionado pelo Sr. Claudio, da Móveis Heck – de que o maquinário torna-se

obsoleto em apenas cinco anos, exigindo investimentos constantes das empresas.

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6.1.2 Descentralização e Redução dos Níveis Hierárquicos

Queiroz (2007), Mintzberg (2003), Pettigrew e Massini (2003) e Zilber et al.

(2008) mencionam que é preciso que a estrutura das empresas sejam horizontalizadas,

com pouca hierarquia, o que estimularia a inovação a partir da troca de conhecimento e

liberdade para a tomada de decisões.

As quatro empresas analisadas possuem estrutura vertical. Entretanto, a impor-

tância do design e da inovação se destaca na Flexiv, onde o departamento de design se

reporta diretamente à diretoria e participa de todas as decisões da empresa.

Na Flexiv, o processo de desenvolvimento de produtos possui momentos de

definições formais junto à diretoria e gerências, quando o projeto é apresentado e as

decisões são tomadas. Todas as áreas são envolvidas neste processo por meio de

seus gerentes, e outras áreas participam ainda em momentos específicos. O

desenvolvimento do produto é feito de forma integrada em todas as áreas da empresa.

Todos participam de forma a serem parte daquela ideia. Na implantação não é preciso

"vender" o projeto internamente, pois todos acompanharam sua evolução de forma

participativa. Contudo, o processo é todo coordenado pelo Estúdio de Design, que

possui liberdade de decisão e responsabilidade pelos resultados. A diretoria e a equipe

de criação estão altamente alinhadas – o design está diretamente ligado à diretoria da

empresa e se reporta diretamente a ela, garantindo o "comprometimento da alta

gestão", um dos fatores que caracteriza a grande capacidade de inovação da empresa.

(TIDD et al., 2008; QUEIROZ, 2007; MINTZBERG, 2003; VAN DE VEN et al., 2000;

ZILBER et al., 2008).

Assim como os autores, a empresa acredita no uso de equipes multidisci-

plinares no desenvolvimento das inovações e no processo integrado de desenvol-

vimento de produtos, com participação da diretoria, marketing, comercial, comunicação,

produção e design. "O Design, o Marketing e a Comunicação juntos permitem que as

ideias saiam da invenção e passem para o mercado", comenta Ronaldo Duschenes. O

início do desenvolvimento de um produto é marcado pela elaboração de uma matriz de

produto em que todos os representantes das áreas participam.

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Na empresa Alfa o desenvolvimento de novos produtos também ganha

destaque, bem como o "comprometimento da alta gestão", mas há uma diferença no

processo. O designer é terceirizado, mas faz uma imersão de três dias na empresa a

cada 15 dias. Neste momento há uma grande interação do designer com o depar-

tamento técnico, que é dirigido por um dos sócios da empresa. Com um processo de

desenvolvimento de produtos bem sistematizado, todas as áreas participam das

reuniões e opinam sobre o produto. Segundo o diretor, "o designer dá grande impor-

tância para esta integração, pois o desenvolvimento do produto acaba sendo

integrado. Há grande liberdade para que todos opinem e contribuam com o projeto e

o designer tem total liberdade para realizar suas propostas". As decisões sobre o

novo produto são tomadas em conjunto com as áreas comercial, administrativa,

técnica e de produção, e tanto os diretores quanto os gerentes e supervisores

participam. O alinhamento maior se dá entre o diretor técnico e o designer, mas a

área comercial também se envolve bastante.

Na Inforline, a estrutura também é vertical e possui departamentos distintos

para cada área, além de dois diretores. O diretor promove reuniões semanais

chamadas "Bom Dia Inforline", das quais todas as áreas parcitipam. O objetivo,

segundo ele, é "promover a interação e conhecimento e trazer para o grupo o que

vem acontecendo, o que precisa ser resolvido". Entretanto, os problemas não são

discutidos em grupo, apenas mencionados.

De 15 em 15 dias a equipe de engenharia vai à loja para conversar com os

consultores e buscar informações dos clientes e do mercado. Algumas vezes, a

equipe de engenharia de produto também vai até os clientes para trocar ideias e

obter informações.

A gerência de design tem total liberdade para decidir, fica totalmente

responsável pelo encaminhamento dos projetos e se reporta diretamente à diretoria.

Como não há um processo sistemático de desenvolvimento de novos

produtos, não há uma participação formal de outras áreas da empresa. Nos

processos de readequação dos produtos, o empresário acredita que "a equipe de

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criação deveria interagir mais com a produção para buscar soluções que já existem

e criar configurações mais factíveis".

Na Móveis Heck, o cenário é diferente. Com uma estrutura muito enxuta, a

administração está mais voltada ao proprietário e seu irmão, que também é sócio,

assim como seus filhos. As decisões estratégicas para a empresa têm sido tomadas em

conjunto. Devido à pequena estrutura, há um envolvimento muito grande de todos os

funcionários nos diferentes processos e uma grande integração com os proprietários.

6.1.3 Visão Compartilhada, Liderança e Desejo de Inovar

Na Flexiv, os objetivos estratégicos da empresa são determinados pela

Direção Geral em parceria com os níveis gerenciais das áreas: financeira, design e

comercial. Todo o grupo estrutura em conjunto o Balanced Scorecard - BSC7 da

empresa e ajuda a monitorá-lo por meio de reuniões. O compromisso e a

participação de todos estimulam o comprometimento.

Na empresa Alfa os objetivos estratégicos são definidos pelos quatro sócios,

responsáveis pelas áreas administrativa, comercial, de produção e técnica. Não há

um envolvimento dos funcionários neste momento.

Na Inforline, os objetivos estratégicos são determinados pela Direção Geral.

Segundo o designer, "o empresário entende a importância da inovação e está

sensibilizado para o tema. Participa do sindicado e de ações da FIEP, mas tem

dificuldade de aplicar na empresa". O diretor confirma que, apesar da vontade, tem

dificuldade de inovar. Manter a empresa aberta ainda é o desafio diário.

Na Móveis Heck, as decisões relacionadas à produção cabem aos

funcionários responsáveis pela área e os proprietários que estão diretamente

envolvidos no processo. As novas diretrizes têm sido capitaneadas pelo filho do Sr.

Cláudio e foram definidas em comum acordo entre os proprietários.

7 Metodologia de medição e gestão de desempenho desenvolvida pelos professores da Harvard

Business School, Robert Kaplan e David Norton, em 1992.

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Tanto na empresa Alfa quanto na Inforline e Móveis Heck não existem

propriamente objetivos estratégicos relacionados diretamente à inovação. As

empresas ainda estão estrategicamente voltadas à qualidade e produtividade.

Ainda que os autores Tidd et al. (2008), Queiroz (2007), Mintzberg (2003), Van

de Ven et al. (2000), Zilber et al. (2008) reforcem a importância da visão compartilhada,

liderança e desejo de inovar, o que se percebe é que não há propriamente uma

sistematização desses conceitos nas empresas, com exceção da Flexiv, que tem no

próprio empresário o agente de inovação. Há um comprometimento da alta gestão, que

está diretamente envolvida no processo, tanto na empresa Alfa como na Flexiv.

6.1.4 Trabalho em Equipe e Indivíduos-Chave

Segundo Tidd et al. (2008) e Zilber et al. (2008), é importante que a empresa

inovadora tenha um promotor da inovação, e a Flexiv possui uma característica

fundamental neste aspecto, que é o papel do próprio empresário como líder de

inovação. Cabe destacar que, em alguns casos, ter um líder não alinhado à diretoria

não permite que as inovações aconteçam. Além de ser um líder em inovação é

preciso que ele tenha liberdade dentro da empresa, como mencionado no item 6.1.3.

Na empresa Alfa não há um líder em inovação que trabalhe com este propósito.

Os diretores técnico e administrativo é que trazem as novidades das feiras e

determinam o que deve ou não ser implementado. Entretanto, o foco está mais no

alinhamento comercial da empresa do que uma busca pela inovação. Os diretores

estimulam o designer e dão total liberdade para ele – este é um aspecto muito positivo.

Na Inforline, a equipe de engenharia de produto é composta por três

designers, responsáveis por todo o processo de desenvolvimento dos produtos, bem

como pela identidade e comunicação da empresa. O líder em inovação é o gerente

de P&D, Rodrigo Karam. Mas, apesar das intenções de inovar, o gerente diz que

ainda não consegue aplicar de forma sistemática o processo na empresa. Ele

comenta que tentou cumprir seu papel de líder em inovação, mas, segundo ele,

"além da falta de tempo, não há estímulo e apoio suficientes".

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126

6.1.5 Aprendizagem

Para Tidd et al. (2008), Queiroz (2007), Mintzberg (2003), Pettigrew e Massini

(2003), Van de Ven et al. (2000) e Machado (2008), a empresa deve valorizar a

aprendizagem e manter uma capacitação constante da equipe, troca de informações

dentro e fora da empresa e interação entre as equipes.

A Flevix não possui um programa de capacitação formal, mas investe no

ensino dos funcionários individualmente, de acordo com as necessidades. Apoiou o

curso universitário e a pós-graduação do seu designer chefe. A equipe de criação

participa de todas as feiras nacionais pertinentes ao setor e de algumas feiras

internacionais mais relevantes, neste segundo apenas a gerência participa. Os

funcionários são estimulados a se capacitar e a participar de palestras e cursos

menores. Outro fator importante de aprendizagem para o empresário é a partici-

pação em diversas associações, conselhos e instituições. Toda esta troca é repas-

sada por ele aos funcionários em seu convívio diário.

A empresa contrata constantemente consultorias externas para apoiá-la em

situações específicas. No momento, está com a consultoria da Don Cabral. Já teve

consultoria do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade - IBQP para a

inserção dos princípios de qualidade e produtividade, como Kaisen e Engenharia de

Valor, entre outros.

Com relação à aprendizagem do processo, os produtos, depois de vendidos,

são avaliados pelo cliente e, caso necessário, são realizadas adequações. Todo o

processo de desenvolvimento do produto é registrado em um pacote com toda a

documentação, consolidado ao final do processo e passada a todas as áreas

envolvidas: produção, suprimentos, logística, comercial etc. O Estúdio de Design da

Flexiv lança o produto no sistema, cadastrando todos os seus detalhes, e a área

responsável pelo banco de dados faz a multiplicação da informação gerando as

necessidades para produção.

Na empresa Alfa não há nenhum programa formal de capacitação,

entretanto todos os funcionários que vêm para a empresa são capacitados para

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ações específicas. Um exemplo é o uso do Solid Works, no setor de projetos, que

exige qualificação específica dos designers. A equipe participou de um curso para

poder usar o software, e também tem liberdade para participar de feiras e seminários

pertinentes ao setor. Além dos diretores, o designer terceirizado recebe apoio para

acompanhá-los em feiras internacionais.

Graças ao processo de gestão da empresa, implementado pela ISO, todos

os processos são avaliados constantemente e registrados em documentos, nos

quais são apontadas as necessidades de melhoria. A avaliação constante permite

integração entre as áreas responsáveis e a busca pela melhoria no processo.

Para o diretor da empresa Alfa, "um dos aspectos que mais impulsiona a

inovação na empresa são as informações vindas dos representantes e a participação

em feiras". Após as feiras, faz-se um relatório, que é avaliado cuidadosamente para se

definir o que deve ou não ser aplicado.

A Inforline também não possui um programa de capacitação formal, mas

capacita individualmente os funcionários de acordo com as necessidades. Há um

foco maior em produtividade. A equipe de engenharia de produto, de compras e a

Diretoria participam de feiras nacionais e internacionais onde adquirem informações

sobre tendências, materiais, equipamentos, entre outros temas afins. A equipe de

criação tem liberdade para participar de eventos da área e seminários.

Após a participação na feira, o funcionário ou o próprio diretor que participou

realiza uma apresentação formal para toda a empresa, a fim de dividir o conhecimento.

Com relação ao aprendizado relacionado ao processo, todos os projetos e

readequações do produto são lançados no sistema para que, então, seja gerada a

ordem de produção. Este processo obriga a empresa a arquivar dados importantes

sobre todo o processo e permite uma troca de informações entre as diferentes áreas

que acessam o sistema. Entretanto, o designer comenta que "não há uma avaliação

dos processos porque não há um processo estabelecido e não há tempo para

avaliar os desenvolvimentos voltados à licitação".

Com 87 anos de experiência, na Móveis Heck a capacitação está muito nas

mãos do empresário que ensina seus funcionários a produzir os produtos. Segundo

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o Sr. Cláudio, a empresa possui muita qualificação no desenvolvimento dos produtos

e seu processo é único. "Os funcionários que vêm fazer parte da empresa precisam

em geral de 4 a 5 meses de capacitação." O processo de aprendizagem fica a cargo

do proprietário da empresa.

6.1.6 Comunicação

Um dos fatores importantes para a inovação é a comunicação ágil e fluida,

entre as diferentes áreas das indústrias. Além de garantir o bom andamento dos

processos, a boa comunicação tem o papel de estimular a troca de informações

entre as equipes, aumentando a integração entre as áreas (TIDD et al., 2008;

QUEIROZ, 2007; PETTIGREW e MASSINI, 2003).

Por se tratar de uma empresa média, a comunicação na Flexiv é ágil e fluida,

e a integração entre as equipes das diversas áreas é constantemente estimulada.

Esta integração é fortalecida pelas reuniões entre as áreas, que são constantes e

todos participam do desenvolvimento de novos produtos e busca de soluções quando

algum problema é identificado, garantindo uma construção conjunta.

O mesmo acontece na empresa Alfa, onde uma das principais

características no desenvolvimento dos produtos é o processo sistematizado e a

participação das diversas áreas nas reuniões. Apesar do designer ser terceirizado,

há um canal de comunicação aberto entre ele e todas as áreas. O diretor acredita

que isto se deve à liberdade que a empresa dá ao designer e à abertura que este dá

para a empresa intervir nos projetos.

Na Inforline, a comunicação está relacionada às reuniões periódicas entre as

diversas áreas e ao uso do sistema de gestão. Os dados dos produtos são inseridos

pela equipe de desenvolvimento no sistema de gerenciamento da empresa e podem

ser acessados pelos outros departamentos, como, por exemplo, o departamento de

compras que realiza a compra da matéria-prima.

A área comercial está alinhada e se reporta diretamente à diretoria, mas não

à área de desenvolvimento. Não há um uso sistemático das informações vindas dos

clientes, apenas considerações pontuais.

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A área de engenharia de produtos monta materiais impressos sobre as

linhas de produtos e passa este material, com as devidas explicações, para os

consultores de vendas, que atendem não só na loja, mas também em outros estados

brasileiros. Desta forma, recebem informações sobre os produtos para facilitar as

vendas e comunicação com os clientes e, ainda, para que realizem as vendas

corretamente. Também são reportados sobre produtos que saem de linha.

Na Móveis Heck, a estrutura é muito enxuta e o espaço não é grande,

influenciando a troca de informações e a interação entre os funcionários. Como os

móveis em geral são sob medida, não há uma comunicação direcionada à equipe

de vendas.

Para Tidd et al. (2008) e Queiroz (2007), as empresas precisam ter "fronteiras

permeáveis", garantir o trabalho em rede e a cooperação. O foco externo da

organização será abordado na seção a seguir, que trata das relações da empresa.

6.2 CONDICIONANTES DE INOVAÇÃO NAS RELAÇÕES EXTERNAS

DAS EMPRESAS

Este capítulo apresenta e analisa comparativamente as variáveis que

condicionam a inovação nas empresas pesquisadas a partir da dimensão meso, ou

seja, nas relações externas das empresas com o ambiente em que estão inseridas.

6.2.1 Foco Externo

Considerando que Freeman (1987) define o Sistema de Inovação - SI como

uma rede de instituições, públicas ou privadas, cujas atividades e interações são

responsáveis por importar, modificar e difundir novas tecnologias, e que Lundvall (2010)

entende o SI como os elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso

do conhecimento e que estão localizados em uma mesma região ou localização,

realizou-se a análise da estrutura de inovação em que as empresas se inserem e de

que forma acontecem suas relações.

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A Flevix desenvolve produtos em colaboração com outras empresas de

áreas afins e não propriamente com empresas fabricantes de linhas de escritório.

Dois cases se destacam neste exemplo. O primeiro foi o desenvolvimento da linha

BypGraphos, que ganhou o prêmio de melhor mobiliário para a diretoria, no IV

Grande Prêmio da Indústria Corporativa, na feira Office Solution, em São Paulo. O

produto, feito em vidro e alumínio, permite personalização com a aplicação gráfica

no tampo de vidro, e foi desenvolvido em parceria com a Cinex, líder latino-

americana na fabricação de portas de vidro e alumínio de alto padrão.

"Esse é o resultado de uma parceria positiva, entre duas empresas com

vocação e habilidades em criação e inovação", afirmam César Cini, diretor-presidente

da Cinex, e o arquiteto e designer Ronaldo Duschenes, presidente da Flexiv.

Outro exemplo é a linha educacional desenvolvida em parceria com o Grupo

Positivo e que hoje já possui mais de 3.000 carteiras escolares espalhadas em todo

o Brasil. A Flexiv entrou com o design e o know-how no desenvolvimento, e o

Positivo, com a engenharia. O próprio Positivo vende o produto no mercado.

FIGURA 11 - PRODUTOS DESENVOLVIDOS EM PARCERIA

Linha ByoGraphos Linha Educacional

FONTE: Flexiv

Além das parcerias, desenvolve partes de produtos com fornecedores, como

é o caso da linha de divisórias, que não são fabricadas pela empresa, mas são

adaptadas aos seus produtos junto aos fornecedores. Outras partes de produtos

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para as quais a empresa não possui equipamento para produção, também são

desenvolvidas e fabricadas em fornecedores. Nestes casos, a equipe do Estúdio de

Design desenvolve a peça junto com o fornecedor. Segundo o designer Dari Beck,

"por sua característica inovadora, muitos fornecedores usam a Flexiv como

precursora na aplicação de determinado acessório ao produto".

Também desenvolve moldes e protótipos, os quais, dependendo do processo,

precisam ser terceirizados. Os moldes são desenvolvidos em Joinville, Santa Catarina.

Na empresa Alfa o foco externo se destaca pelo desenvolvimento de produtos

com escritório de design terceirizado, como mencionado no item 5.2.2. Além disso,

possui outros desenvolvimentos em parceria com outros escritórios, um de design e

outro de arquitetura, e desenvolve partes de produtos com fornecedores, como é o caso

de divisórias e cadeiras. Especificamente no caso das cadeiras, a empresa já fez uma

parceria com uma empresa alemã para licença e produção das cadeiras, contudo o

projeto acabou não se viabilizando. Para 2011, busca nova parceria neste segmento,

em que a maioria das empresas, em vez de desenvolver as cadeiras, apenas compra

suas partes de fornecedores e as monta internamente. Não há colaboração com outras

empresas do mesmo setor no desenvolvimento de produtos, nem tampouco parcerias

com indústrias.

A Inforline também não colabora com outras empresas, mas abre a empresa

para realizações de pesquisas e constantemente disponibiliza dados para o setor.

Da mesma forma que nos casos acima, desenvolve peças e partes de produtos com

fornecedores, quando necessário.

Já a Móveis Heck estabeleceu uma parceria com a empresa Fenap para o

desenvolvimento de alguns produtos, mas não tem esta relação de forma sistemática

na empresa.

6.2.2 Organizações de Caráter Associativo

Para grande parte dos autores analisados, como Cassiolato e Lastres (2005),

Landabaso et al. (2003), Lundvall (2010), Campanário (2002), e algumas instituições, a

exemplo da OECD (1997) e PINTEC (2008), as organizações que promovem interação

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entre empresas, governos e institutos, entre elas: associações, cooperativas e redes de

cooperação, têm papel importante na promoção da interação da empresa com o seu

meio, na troca de informações e, consequentemente, na inovação.

Uma característica comum às quatro empresas pesquisadas e que, sem

dúvida, interfere em suas condições para inovar é o fato de não fazerem parte de

nenhum Arranjo Produtivo Local - APL. Isto se explicita na falta de informações e

acessos a recursos e projetos públicos, bem como no caráter associativo do setor, que

se demonstrou enfraquecido. As quatro empresas participam do Sindicato das

Indústrias Marceneiras do Estado do Paraná - SIMOV, algumas mais ativamente, e

outras menos. Os benefícios identificados vêm, na maioria dos casos, através desta

interação com o sindicato. Entretanto, é perceptível que não há, de fato, uma ação

conjunto e associativa das indústrias em busca de articulações para o benefício comum.

Na Flexiv, o principal executivo da empresa se destaca por ser uma pessoa

de grande articulação e participante de diversas associações do setor. É vice-

presidente do Sindicato das Indústrias Marceneiras do Estado do Paraná - SIMOV;

vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP; participa da

Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura - ASBEA e do Instituto de

Arquitetos do Brasil - IAB; é membro dos conselhos do Instituto Brasileiro da

Qualidade e Produtividade - IBQP, do Centro de Design Paraná, da Universidade da

Indústria - Unindus e da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário -

ABIMÓVEL. Este envolvimento e articulação garante benefícios para a empresa além

de grande acesso a informações do setor.

Já o diretor da empresa Alfa se mostrou mais alheio a essas participações.

Comentou que fazem farte do sindicato, mas não se envolvem ativamente. Acrescenta

que a empresa não vê benefícios nessas articulações e que quem participa de algumas

reuniões muito pontuais é o diretor administrativo.

O diretor da Inforline, Fernando Tedeschi, é vice-presidente do SIMOV e parti-

cipa do Conselho Setorial para Móveis de Escritório. Para ele, "este envolvimento com

o sindicato é bastante significativo, em função das informações que a empresa recebe e

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das ações promovidas pelo Sindicato, das quais a empresa consegue se beneficiar.

Além disso, permite grande articulação com o setor e acesso a muitos contatos".

O proprietário da Móveis Heck, Cláudio Luiz Heck, também participa do

Simov, mas considera que o sindicato não tem sido muito ativo na promoção da

cooperação entre as empresas, e sente falta desta união.

6.2.3 Empresas Públicas e Privadas e Instituições de P&D

Para OECD (1997), Cassiolato e Lastres (2005), Landabaso et al. (2003),

Lundvall (2010), Edquist (2005), Campanário (2002) e Pintec (2008), a relação com

outras organizações, como laboratórios públicos, organizações de transferência de

tecnologia, institutos de patentes, organismos de formação, institutos de certificação,

incubadoras tecnológicas e parques tecnológicos, é fundamental no desenvolvimento

da inovação e como base para a informação e aprendizagem. Entretanto, é importante

mencionar que, em alguns casos, esta estrutura não é adequada e a empresa mais

uma vez torna-se refém de suas próprias tecnologias.

A Flevix já fez uma série de certificações em seus produtos utilizando

laboratórios públicos, como o Instituto de Tecnologia do Paraná - Tecpar, e público/

privado, a exemplo do Senai - Cetmam. Como a matéria-prima já vem certificada, a

certificação realizada pela empresa é no produto ou em partes dele, como testes de

esforço, durabilidade, qualidade, entre outros.

A mesa educacional desenvolvida em parceria com a Positivo Informática

precisou de avaliação da resistência dos bancos que seriam usados por crianças. Cada

mesa possui três bancos. Os testes foram realizados pelo Senai - Cetmam, que

certificou a resistência e durabilidade do produto. Com a tranquilidade da certificação, a

empresa vendeu 2.000 carteiras para algumas escolas no Brasil. Duas escolas que

receberam a mesa tiveram problemas com os bancos. A madeira cedeu nas beiradas e

começou a abrir. O laboratório testou o uso dos bancos fazendo esforço direto apenas

no centro dele, e as crianças não se sentam no centro do banco, o que invalidou o

resultado da medição.

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Outro caso foi o encaminhamento de um teste junto ao Tecpar. A empresa

precisava identificar qual o produto de limpeza utilizado nas escolas que estava

danificando as carteiras e providenciar um solvente adequado para proteger a

matéria-prima. O processo tramitou por seis meses no Tecpar, sem resultado para

a empresa.

Com duas certificações ISO (14001:2004 e 9001:2000), a empresa Alfa tem

nas certificações seu diferencial de qualidade. As normas ABNT NBR 13967:1997 e

14113:1998 são utilizadas como garantia de qualidade das estações de trabalho

cujas características físicas e dimensionais: estabilidade, resistência e durabilidade

são constantemente avalidadas. Em 2006, a linha Work foi a primeira linha de

estação de trabalho do Brasil a receber a certificação, concedida pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas. Em outubro de 2008, a linha Job também recebeu a

certificação referente às normas ABNT.

A empresa Alfa não realiza suas certificações no Paraná porque, segundo a

empresa, não existe um laboratório específico para as demandas da indústria de

móveis de escritório. As certificações são feitas no Centro Tecnológico do Mobiliário

Senai/Cetemo, no Rio Grande do Sul. O laboratório utilizado pelas empresas

moveleiras no Paraná era o Cetman. Entretanto, atualmente este está mais focado

em produtos com espuma, como sofás, poltronas, colchões, entre outros, e não

atende mais às demandas da empresa. Indiretamente, a empresa já fez uma

certificação no Tecpar, mas a solicitação foi encaminhada via Cetemo.

A Inforline realiza suas certificações de produtos com o Cetman, Tecpar e

SENAI especialmente para atender às licitações.

A Móveis Heck não utiliza laboratórios e não ceritica seus produtos.

Nenhuma das empresas utiliza laboratórios para pesquisa e todas elas

desconhecem estruturas específicas para este fim. Também não utilizam outras

estruturas de apoio à inovação.

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6.2.4 Organizações de Ensino e Pesquisa

Outro aspecto importante para a inovação é a relação Universidade – Empresa,

que, segundo OECD (1997), Cassiolato e Lastres (2005), Landabaso et al. (2003),

Lundvall (2010), Campanário (2002) e Pintec (2008), pode proporcionar capacitação,

informação e conhecimento para a empresa. Grandes exemplos são identificados nos

Estados Unidos, onde a cultura de relacionamento entre a academia e a indústria é

significativa. No Brasil, esta relação ainda é muito incipiente, mas já se destaca por

algumas iniciativas isoladas.

A Flexiv já buscou, algumas vezes, desenvolver produtos e pesquisas junto

à Universidade, mas nem sempre teve sucesso no processo. Para o empresário, "os

professores são muito inflexíveis e não entendem a indústria. A base científica é

fundamental, mas não funciona sozinha, a intuição faz parte do processo. A

dificuldade de linguagem torna-se uma barreira." Ele acredita na importância desta

ligação universidade – empresa e pretende continuar tentando uma aproximação.

A formação do seu designer-chefe e o produto que ele desenvolveu como um

produto de graduação, com todo o apoio da empresa, e que hoje é um produto

premiado no mercado, foi uma experiência muito boa e que o empresário gostaria de

repetir. Mas foi um caso específico, no qual o gerente de design estava pessoalmente

muito envolvido.

Outra iniciativa é a parceria, desde 2009, com a Universidade Positivo. A

equipe de criação da Flexiv lançou um tema para os estudantes universitários de 4o

ano trabalharem em sala de aula como tema de curso. A equipe do estúdio de

design dedicou diversas horas no acompanhamento de todo o processo como

orientadores dos alunos. “Foram seis encontros de muita troca e aprendizado",

menciona o gerente de design. Ao final, os alunos apresentaram suas soluções e

mostraram um grande salto qualitativo em relação às primeiras propostas. Para o

coordenador do curso de Design da Universidade Positivo, "a ideia de trabalharmos

com empresas do mercado foi de trazermos para dentro da academia os processos

reais desenvolvidos por elas". Além disso,

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[...] a interação é a mais positiva possível, pois é uma relação de pessoal

profissional que está vivenciando o dia a dia de desenvolvimento de

produtos com todos os questionamentos inerentes ao processo produtivo.

Estes trazem para os alunos exemplos vivos de suas atuações e fazendo

observações às propostas apresentadas pelos alunos. Esses (os alunos)

dão um maior crédito a essas observações, pois trazem uma linguagem

mais próxima da prática profissional diária e ainda sendo estes jovens

trazem uma fala mais afinada a linguagem deles. Acho salutar para os dois

lados este tipo de atividade, pois como professor percebi que quando se

atua para ensinar, educar e promover o conhecimento a pessoa deve

elaborar estratégias e desta forma busca-se um raciocínio de construção do

conhecimento indicando ao aluno pontos não observados pela falta de

maturidade, e da mesma forma visões e soluções de propostas

apresentadas pelos alunos trazem algo novo no universo dos profissionais

que o dia a dia não deixa tempo para essas análises, desta forma a relação

promove o crescimento de ambos. (Antonio Razera, coordenador do curso

de Design da Universidade Positivo)

A empresa Alfa teve uma parceria com a Universidade Tecnológica Federal

do Paraná - UTFPR para o desenvolvimento de um produto, mas isto aconteceu há

muito tempo e, depois, não realizou mais nada.

A Inforline também tem um case interessante que foi o desenvolvimento de

produtos em parceria com o Núcleo de Sustentabilidade da Universidade Federal do

Paraná - UFPR. A empresa apoiou um projeto de móveis populares para a

Companhia de Habitação do Paraná - Cohapar. O empresário também acha

importante esta aproximação com a Universidade. Já tentou se aproximar de outros

projetos, mas não obteve resultado. Já colocou a empresa à disposição para

pesquisas, mas não foi procurado.

A Móveis Heck não teve aproximação com a Universidade.

Ainda, para Cassiolato e Lastres (2005), Lundvall (2010), Edquist (2005) e

Campanário (2002), um Sistema de Inovação deve ser composto por empresas de

capital, tanto público quanto privado. Neste caso, refere-se a organizações de crédito,

fomento, capital, entre outros. Edquist (2005) e Campanário (2002) mencionam ainda

que, para que um Sistema de Inovação se desenvolva, são necessárias leis que

regulem as ações e as interações entre as organizações. São normas, rotinas ou

práticas que estabelecem este relacionamento. Estas condicionantes serão trabalhadas

no item 6.3, que se refere à dimensão macro de inovação.

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Segundo Cassiolato e Lastres (2005) e Landabaso et al. (2003), os governos

são itens fundamentais na estruturação dos sistemas regionais de inovação e

funcionam como articuladores e promotores da interação entre as partes. Ações

relacionadas ao governo serão tratadas a seguir.

6.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E SEUS REFLEXOS NA INDÚSTRIA DE MÓVEIS

Esta seção apresenta e analisa comparativamente as variáveis que

condicionam a inovação nas empresas pesquisadas a partir da dimensão macro, ou

seja, nas políticas públicas voltadas à inovação.

6.3.1 Aprendizado e Conhecimento

Para Cassiolato e Lastres (2005), Lall (2005), Pack (2005), Dogson (2005),

EC (2005), Cimoli et al. (2007), Silva e Melo (2001), OECD (2006) e Rodriguez et al.

(2008), o aprendizado é a base para o desenvolvimento de uma nação. A informação e

o conhecimento devem ser largamente disseminados através da formação de recursos

humanos, ensino básico e especializado de qualidade, capacitação e formação técnica.

Todos os empresários foram unânimes em mencionar a dificuldade de

encontrar mão de obra qualificada e pessoas dispostas a trabalhar. Segundo eles,

alem do desinteresse no emprego há uma concorrência muito grande com o

mercado da construção civil, que está extremamente aquecido.

Ronaldo Duschenes, diretor da Flexiv, também acredita que o ensino é uma

base importante para a indústria, em sua opinião um dos fatores mais importantes de

atuação do governo. Menciona que a mão de obra disponível é muito despreparada e

desqualificada. Para ele, "o foco principal de ação do governo deveria ser o ensino de

1º e 2º grau, o foco no empreendedorismo e em uma formação de qualidade e

quantidade com um processo de educação consolidado".

De acordo com o empresário, a indústria precisa de mão de obra

especializada. "Cursos generalistas não ajudam neste sentido, por isso a importância

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dos cursos tecnólogos focados em áreas técnicas específicas". A indústria procura

funcionários para atividades específicas e não para atuar em todas as áreas

da empresa.

O diretor da empresa Alfa investe sozinho na qualificação dos seus funcionários

e utiliza empresas de Recusos Humanos terceirizadas para encontrar funcionários.

Fernando Tedeschi, diretor da Inforline, comenta que "nos últimos dois anos

perdeu muitos funcionários para a construção civil e outros setores em maior

desenvolvimento". O empresário capacita sozinho toda a mão de obra que sai da

empresa extremamente qualificada, não só em aspectos técnicos, mas também de

valor humano. Ele menciona que "não existe nenhum tipo de apoio do governo nesta

área e há um grande investimento da empresa na qualificação da mão de obra que

em geral chega despreparada. Quanto o funcionário está capacitado sai para outro

emprego que pague melhor". Tedeschi acredita que são necessárias mais escolas

técnicas como opção de ensino para preparar as pessoas que têm interesse em

trabalhar na indústria.

Na Móveis Heck não é diferente. O proprietário, Cláudio Luiz Heck, sente muita

dificuldade em conseguir pessoas qualificadas, e quando contrata bons profissionais

bons ainda assim leva de 4 a 5 meses para qualificá-los. Todo o processo de

qualificação fica por conta da empresa. "Se eu contratar menor aprendiz tenho que

pagar o piso do sindicato de R$ 715,00, quando na verdade o governo poderia dar este

incentivo, considerando que a empresa já está capacitando o jovem." Além disso, o

empresário menciona que faltam cursos técnicos. "O Cetmam forma pessoas em nível

técnico, entretanto quem participa dos cursos são donos de empresas que querem

conhecer melhor o processo."

Segundo a EC (2005), Cimoli et al. (2007), Silva e Melo (2001), OECD (2006)

e Rodriguez et al. (2008), é preciso disponibilizar para a indústria acesso facilitado à

informação, serviços de extensão tecnológica, respostas técnicas, ou seja, a

informação de base tecnológica deve ser disponível e facilitada. Entretanto, a

empresa não encontra essas informações facilmente, buscando as informações por

conta própria através de pesquisa, feiras, entre outros.

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139

Todos os empresários entrevistados mencionaram desconhecer qualquer

mecanismo de acesso a informações técnicas. Todos eles realizam pesquisa por conta

própria e, quando têm alguma dúvida, em geral buscam resolvê-la com fornecedores ou

na internet. As informações sobre maquinários são adquiridas nas feiras.

Das empresas entrevistadas, apenas a Flexiv registra seus produtos. Apesar de

possuir 14 registros de DI, a empresa considera o processo muito complexo e de alto

custo, pois precisa do apoio de serviço especializado para realizar o registro junto ao

INPI. Por conta disso, decidiu registrar apenas o que considera mais importante.

Mesmo com apoio externo, de escritório especializado, a empresa perdeu seu único

registro de patente por falha do escritório responsável pelo processo. Para Dogson

(2005), EC (2005), Cimoli et al. (2007), Silva e Melo (2001), OECD (2006) e Rodriguez

et al. (2008), é fundamental que o governo garanta agilidade, facilidade e eficiência no

processo de Propriedade Intelectual. A busca pela inovação está diretamente ligada à

competitividade dos países, e a inovação sem garantia de proteção é um investimento

sem segurança para o empresariado.

As empresas que não registram seus produtos não o fazem por não

acreditarem na proteção, pela burocracia que envolve o processo e pelo custo elevado.

6.3.2 Estrutura

Outro aspecto fundamental para a inovação, destacado pelos autores

Cassiolato e Lastres (2005), Lall (2005), Dogson (2005), Lee (2005), Rodriguez et al.

(2008), e em pesquisas institucionais como EC (2005) e OECD (2006), é a

necessidade de uma estrutura regional voltada à inovação, que deve contar com

organizações de apoio à C, T & I, centros de pesquisa, laboratórios de certificação,

laboratórios de ensaios técnicos, entre outros.

Este item, por se referir não só à infraestrutura disponibizada pelo Estado,

mas também às relações das empresas com essas estruturas, encontra-se melhor

detalhado no item 6.2.3 deste estudo, 'Empresas públicas e privadas e instituições

de P&D'.

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140

Ainda assim, apesar de as empresas utilizarem um ou outro laboratório do

Estado para certificação dos seus produtos, acreditam que não há uma estrutura

realmente adequada para suas necessidades.

6.3.3 Mercado

Lall (2005), EC (2005), Pack (2005), Cimoli et al. (2007), Silva e Melo (2001),

OECD (2006) e Rodriguez et al. (2008) destacam que o governo tem um papel

importante na criação de mecanismos de regulação do mercado, na orientação e

acesso à exportação, em garantir às empresas o acesso à tecnologia estrangeira,

bem como na redução de barreiras regulatórias. Alguns aspectos têm sido

contemplados de certa forma, como é o caso do apoio à exportação através da

Agência Brasileira de Promoção à Exportacão - APEX via Abimóvel e da redução do

imposto sobre produtos industrializados - IPI (de 10% para 5%).

Através da parceria da APEX com a Abimóvel, a Flexiv iniciou o processo de

exportação, o qual estava praticamente concluído quando houve a queda do dólar.

O empresário decidiu interromper o processo porque este não seria mais

interessante para eles, uma vez que o seu produto teria o valor regulado em função

da queda do dólar, e a matéria-prima não.

Segundo os empresários entrevistados, há falta de incentivo direto e uma

tributação muito significativa sobre o produto industrial, especialmente no caso das

indústrias médias, como a Flexiv e a empresa Alfa.

Para Luiz Fernando Tedeschi, da Inforline, "a redução do IPI foi significativa,

entretanto houve um aumento grande no setor de painéis, matéria-prima principal da

indústria, por isso a redução não foi percebida".

O empresário menciona que a tributação ainda é muito alta, especialmente

em empresas de porte pequeno, que estão tentando migrar para empresa de médio

porte. "É uma faixa de faturamento crítica porque possui muita tributação e pouco

apoio ou incentivo, entretanto é uma faixa de empresas importantes para alavancar

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141

o desenvolvimento econômico." O diretor entende que este porte de empresa

encontra-se em um momento crítico de falta de apoio, vendo-se, muitas vezes,

obrigado a reduzir os investimentos e diminuir a empresa.

Todas as empresas entrevistadas participaram do Promóvel8, que não resultou

propriamente em exportações efetivas, apesar de este ser o foco do programa. Mas,

na opinião dos empresários, o programa foi muito significativo na estruturação

interna das empresas, graças às consultorias disponibilizadas e aos cursos dos

quais os empresários participavam. Segundo o Sr. Cláudio, proprietário da Móveis

Heck, "o Promóvel não foi efetivo porque faltou articulação entre as empresas para que

de fato pudessem desenvolver móveis em parceria para atender às demandas de

exportação". Nenhuma das empresas entrevistadas exporta seus produtos.

Além do Promóvel, a Inforline também participou do PEIEX9. Segundo o

empresário, contudo, este projeto foi pouco significativo e não teve resultados.

6.3.4 Incentivo e Fomento

O fomento é um tema abordado por grande parte dos autores que vêm

pesquisando o tema da inovação, entre eles Cassiolato e Lastres (2005), Lall (2005),

EC (2005), Lee (2005), Cimoli et al. (2007), Silva e Melo (2001), OECD (2006) e

Rodriguez et al. (2008) e Pintec (2008), os quais defendem a importância do fomento à

inovação. No Brasil, a importância deste tema também é bastante evidente e vem

sendo trabalhada pelos Ministérios e Agências de Financiamento, mas o recurso

disponibilizado nos diversos fundos e programas criados para este fim não chega nas

indústrias.

8 Promóvel era o Programa Brasileiro de Incremento à Exportação de Móveis, criado pela Associação

Brasileira das Indústrias do Mobiliário - Abimóvel, em parceria com a APEXBrasil.

9 O PEIEX - Projeto de Extensão Industrial Exportadora é um sistema de resolução de problemas

técnicos, gerenciais e tecnológicos do MDIC e da APEX para elevar o nível de competitividade das

empresas, através da modernização e capacitação empresarial e da inserção de inovações

técnicas, gerenciais e tecnológicas.

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142

A Flevix não faz uso de nenhum tipo de apoio do governo. A compra de

maquinário dentro e fora do País é realizada pela empresa com recursos próprios ou

financiamento da empresa vendedora. Já conseguiu utilizar o Finame, do BNDES, para

a compra de maquinário. Entretanto, por ser uma empresa de porte médio, não se

enquadra nos programas de apoio do Sebrae, que está focado em micro e pequenas

empresas e, ao se considerar a classificação do BNDES, ela ainda é uma empresa

pequena10, ficando também sem acesso a determinadas facilidades. Recentemente,

contando com o apoio do IBQP, a Flexiv submeteu um projeto à Finep para apoio à

Inovação, e mesmo com o conhecimento dos consultores envolvidos no projeto seu

processo foi barrado pela burocracia da instituição.

A empresa Alfa também utiliza os recursos do BNDES para a compra de

maquinário nacional. As máquinas importadas precisam ser adquiridas com recursos

próprios, empréstimos ou, ainda, através de financiamento direto com o fornecedor.

O único recurso ao qual a Inforline já teve acesso foram os financiamentos

do BNDES para compra de maquinário. O empresário menciona que não tem tempo

para pesquisar editais e montar projetos para buscar os recursos da FINEP de

incentivo à inovação. Para ele, "a burocracia e as dificuldades são muito grandes e

exigem um tempo do qual ele não dispõe."

A Móveis Heck compra maquinário com recursos do BNDES, com pagamento

para 120 meses. O empresário menciona que o investimento é constante, uma vez que,

não obstante a vida útil do maquinário ser de 10 anos, fica defasado em cinco anos.

Nenhuma das empresas teve acesso a qualquer incentivo fiscal para a

inovação ou programas de incentivo.

Além das ações já mencionadas há alguns programas específicos dos quais

as empresas participam e que, de certa forma, estão relacionados à inovação.

10 O BNDES considera empresa pequena aquela que tem faturamento bruto anual maior que R$ 2,4

milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões, e empresa média aquela que tem faturamento maior

que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões. Para o SEBRAE, microempresa tem receita

bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14, e empresa de pequeno porte tem receita bruta anual

superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00.

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143

A Inforline foi pioneira na implantação do PGRS - Plano de Gerenciamento

de Resíduos Sólidos através do SENAI, mas pagou por todo o projeto e não teve

apoio algum para a implantação. Realiza palestras sobre o programa para incentivar

que outras empresas também o implementem. Dos resíduos gerados, 95% são

vendidos para empresas que realizam o manejo adequado e o restante é doado

para a FAS - Fundação de Ação Social de Curitiba. Possui um setor responsável

pelo PGRS na empresa.

A Móveis Heck também participa do PGRS e está tentando implantá-lo na

empresa, mas tem muita dificuldade, pois sente falta de parceria com outras

empresas para dar a devida destinação aos resíduos. Atualmente, o seu resíduo de

produção é coletado por uma empresa que o utiliza para queima, como combustível.

Sabe que não é apropriado, mas não conseguiu corrigir ainda.

Alguns autores, como Cassiolato e Lastres (2000), Silva e Melo (2001),

OECD (2006), Rodriguez et al. (2008) e Cimoli et al. (2007), defenden ainda a

necessidade de políticas específicas e direcionadas à inovação.

Para Ronaldo Duschenes, da Flexiv, há quatro ações fundamentais que cabem

ao governo: educação, fomento, regulação do mercado e políticas de longo prazo:

1. Educação - o foco principal de ação do governo deveria ser o ensino de 1º

e 2º graus e foco no empreendedorismo e uma formação de qualidade e

quantidade com um processo de educação consolidado, sem o travamento

corporativista do MEC. A indústria precisa de mão de obra especializada.

Cursos generalistas não ajudam neste sentido, por isso a importância do

tecnólogo. A empresa procura um funcionário para uma ação específica.

2. Fomento - fomento à pesquisa dentro da indústria, com acesso a recurso

direto para a empresa. Afirma o empresário: "O recurso disponível hoje

para a inovação não chega na empresa. O que está disponível está

amarrado a universidades e instituições de ensino e a empresa não

consegue fazer esta ligação. Também são necessários recursos facili-

tados para a importação de maquinário. É preciso incentivo à atualização

da base tecnológica da indústria".

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144

3. Mercado - cabe ao governo alguma proteção contra dumping, mas o

mercado tem que permanecer aberto. A proteção não é boa nem para os

empresários nem para o consumidor. É preciso que o governo mantenha

uma posição cambial mais equilibrada. Neste sentido, há necessidade de

intervenção direta do governo. O governo monocentrado, que atua

apenas na taxa de juros, garante o controle da inflação mas dificulta o

processo de compra de equipamentos, gerando, a médio e longo prazos,

uma base tecnológica defasada.

A indústria média não tem acesso a juros especiais. Para o BNDES, a Flexiv

ainda é uma empresa pequena. "O que não se percebe é que a indústria

média é a base de alavancagem econômica. É preciso ter mais flexibilidade

neste sentido e buscar uma mudança rápida", diz o empresário.

4. Políticas de longo prazo - para o empresário, "há a necessidade de

garantir o pensamento de longo prazo que a democracia prejudica". As

ações do tamanho dos mandatos fazem com que os empresários deixem

de investir e "puxem o freio", por desconhecerem o futuro econômico e

político do País.

Para o diretor da empresa Alfa, cabe ao governo primeiramente entender que a

inovação é incremental; "a indústria realiza pequenas melhorias e está inovando o

tempo todo". Outra questão importante, segundo ele, é levar o conhecimento para

dentro das empresas através de consultores qualificados. Por fim, é preciso disponibili-

dade de recursos para as empresas que têm interesse em investir em inovação, mas

recursos disponíveis e de fácil acesso.

Luiz Fernando Tedeschi, da Inforline, acredita que ao governo cabe facilitar

e flexibilizar o acesso aos recursos existentes; facilitar o custo operacional da

indústria; buscar meios de incentivo às empresas pequenas que estão tentando se

tornar médias e reduzir a carga tributária da indústria.

Para a Móveis Heck, o fator mais importante é a qualificação de mão de obra

e maiores incentivos para a aquisição de maquinário.

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145

7 RELAÇÃO ENTRE A CAPACIDADE INOVADORA E OS CONDICIONANTES

DA INOVAÇÃO

Este capítulo apresenta uma análise da relação entre a capacidade inovadora

das empresas pesquisadas e as condicionantes de inovação nas dimensões micro,

meso e macro. A proposta é ressaltar, à luz dos dados empíricos e com base na

literatura, os condicionantes que, de fato, promovem a inovação na indústria. O quadro

23, a seguir, sintetiza o resultado por empresa.

Na seção 7.1 são relacionadas as capacidades de inovação das empresas

Flexiv, Empresa Alfa, Inforline e Móveis Heck com as condicionantes micro de

inovação. Na seção 7.2 são relacionadas as capacidades de inovação dessas

empresas com as condicionantes meso de inovação. Finalmente, na seção 7.3 são

relacionadas as capacidades de inovação com as codicionantes macro.

7.1 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MICRO

Esta seção apresenta a relação entre a capacidade inovadora das empresas

pesquisadas e os condicionantes micro de inovação.

Do ponto de vista teórico, alguns autores se destacam por estudos

organizacionais relacionados à inovação. Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p.486) carac-

terizam a organização inovadora e pontuam características importantes definindo-a

como "um conjunto integrado de componentes que trabalham juntos para criar a

fortalecer o tipo de ambiente que permite que a inovação prospere". Este conceito

está relacionado não apenas ao âmbito da estrutura, mas também às relações que

ali ocorrem.

Mintzberg (2003) ressalta essa questão das relações dando importância à

forma como as tarefas são realizadas e coordenadas em uma estrutura organiza-

cional, pontuando a importância da descentralização, comunicação entre os diversos

níveis, reuniões e estruturas menos rígidas.

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146

QUADRO 23 - SÍNTESE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

continua

EMPRESA FLEXIV

Estratégia de diferenciação por design, porte médio, 25 anos de mercado

Capacidade de

Inovação – CI

Avançada

Fatores Condicionantes - FC

Relação CI - FC Micro Meso Macro

· Departamento de design

dividido em 3 áreas:

design estratégico,

design de produto e

design comercial,

totalizando 10

funcionários.

· Equipe de

desenvolvimento

integrada e aliada às

áreas de diretoria,

marketing, comercial e

produção.

· Processo de

desenvolvimento de

produto formatado, com

base em Balanced

Score Card e Plano

Estratégico.

· 2 novos produtos

lançados por ano.

· 20 registros de DI.

· 11 prêmios de design.

· 5 etapas de pesquisa no

processo.

· Máquinas operatrizes.

· Softwares: Solid Works;

Autocad; Rinoceros;

3DMax e Sistema de

Gerenciamento.

· Departamento de

design estruturado

(incluindo pesquisa e

prototipagem).

· Ambiente aberto facilita

a comunicação.

· Showroom permite

contato direto com o

cliente.

· Equipe de Design de

Serviços focada no

contato direto com o

consumidor.

· 10% da força de

trabalho da empresa

focada no

desenvolvimento de

produtos.

· 10 designers com

curso superior

completo.

· A gerência de design

participa diretamente

das decisões

estratégicas da

empresa.

· Gerente de Design tem

total liberdade para

decidir.

· Todas as gerências

participam da

elaboração das metas

e do BSC da empresa.

· Participação das

gerências e diretoria na

definição das etapas de

desenvolvimento dos

produtos – comprome-

timento da alta gestão.

· Aprendizado em feiras,

na troca de

informações e no

incentivo ao estudo.

· Proprietário da

empresa e gerente de

design são promotores

da inovação.

· Aprendizado do

processo.

· Integração e

multidisciplinaridade.

· Foco externo.

· Participação em

associações,

instituições públicas e

privadas, grande

articulação no meio em

que atua.

· Desenvolvimento de

produtos e peças com

fornecedores.

· Desenvolvimento de

produtos em parceria.

· Desenvolvimento de

atividades com a

Universidade.

· Uso de laboratórios

locais para certificação

dos produtos.

· 14 registros em DI.

· Participou de

programa de apoio à

exportação.

· Redução do IPI.

· Uso de recurso do

BNDES para compra

de maquinário

nacional.

Micro

· Equipe interna

altamente quafilicada e

estruturada.

· Comprometimento da

alta gestão e desejo de

inovar.

· Líder em inovação.

· Estratégia de

diferenciação pelo

design.

· Processo sistemático

de desenvovimento de

produtos, com

pesquisa e participação

das diversas áreas da

empresa.

· Informações da equipe

de Design de Serviços.

· Participação em feiras

nacionais e

internacionais.

Meso

· Grande participação do

empresário em

associações e

instituições público-

privadas.

· Parcerias com outras

empresas e

universidade.

Macro

· Participação em

programa de apoio à

exportação - Promóvel.

· Financiamento do

BNDES para aquisição

de maquinário

nacional.

Page 147: FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS … · RESUMO GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado

147

QUADRO 23 - SÍNTESE DOS RESULTADOS DA PESQUISA continua

EMPRESA ALFA

Estratégia de diferenciação pela qualidade, porte médio, 23 anos de mercado

Capacidade de

Inovação – CI

Intermediária Superior

Fatores Condicionantes - FC

Relação CI - FC Micro Meso Macro

· Departamento de design

com um profissional e

um estagiário. Acessoria

de um escritório de

design terceirizado.

· Processo de

desenvolvimento de

produtos formatado com

participação de

escritório terceirizado.

· 1 nova linha por ano

· Não possui registro dos

produtos nem prêmios

de design.

· Realiza pesquisa e

avaliação dos

processos.

· Máquinas CNC.

· Softwares: Solid Works;

AutoCAD e Sistema de

Gerenciamento.

· Departamento técnico

interno com dois

designers qualificados.

· Escritório de design

terceirizado, mas com

grande interação com

equipe interna da

empresa.

· Designer passa três

dias na empresa a

cada 15 dias.

· Certificação ISO NBR

14001:2004 e

9001:2000.

· Participação das

gerências e diretoria na

definição das etapas de

desenvolvimento dos

produtos –

comprometimento da

alta gestão.

· Aprendizado em feiras,

na troca de

informações e no

incentivo ao estudo.

· Todas as áreas

participam das

definições em relação

aos novos produtos, as

reuniões são

constantes e

sistemáticas.

· Avalização e registro

de todos os processos

com indicação de

melhorias.

· Integração e

multidisciplinaridade.

· Diretor técnico é

promotor da inovação.

· Foco externo

relacionado apenas ao

desenvolvimento de

produtos com

fornecedores.

· Certificações dos

produtos realizadas no

Cetemo - RS.

· Está buscando parceria

para o

desenvolvimento

interno de cadeiras.

· Participou de

programa de apoio à

exportação.

· Uso de recurso do

BNDES para compra

de maquinário

nacional.

Micro

· Participação em feiras

e informações dos

representantes.

· Certificação ISO

9001:2000 sistematizou

os processos internos,

inclusive de

desenvolvimento de

produtos.

· Interação do designer

terceirizado com a

empresa.

· Participação de todas

as areas nas reuniões

de definição dos

produtos.

· Avaliação de todos os

processos.

Meso

· Escritório de design

terceirizado.

· Certificação dos

produtos.

· Parceria para o

desenvolvimento

interno de cadeiras.

Macro

· Participação em

programa de apoio à

exportação - Promóvel.

· Financiamento do

BNDES para aquisição

de maquinário

nacional.

Page 148: FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE PÓS … · RESUMO GAZIRI, Letícia Castro. Condicionantes da inovação na indústria moveleira do Paraná. 2010. 183p. Dissertação (Mestrado

148

QUADRO 23 - SÍNTESE DOS RESULTADOS DA PESQUISA conclusão

EMPRESA INFORLINE

Estratégia de aumentar o atendimento ao mercado corporativo, pequeno porte, com 19 anos de mercado

Capacidade de

Inovação – CI

Intermediária

Fatores Condicionantes - FC

Relação CI - FC Micro Meso Macro

· Departamento de design e engenharia de produto composto por três profissionais, entre eles especialistas e graduados.

· Processo de desenvolvimento de produtos mais direcionado à adequação dos produtos existentes.

· Não há desenvolvimento sistemático de novos produtos. São realizadas de 5 a 6 adequações de produtos por semana.

· Não possui registros de DI ou patente.

· Não possui prêmio de design.

· Pesquisa de tendências e materiais.

· Máquinas operatrizes. · Softwares: Autocad e

Sistema de Gerenciamento.

· Departamento de engenharia de produto com três profissionais qualificados.

· Ambiente aberto facilita a comunicação.

· Showroom permite contato direto com o cliente.

· Gerente de Design tem total liberdade para decidir.

· Reuniões constantes promovem a integração entre as áreas.

· Desenvolvimento de produtos voltado à adequação dos produtos existentes.

· Aprendizado em feiras.

· Foco externo relacionado apenas aos produtos desenvolvidos com fornecedores.

· Participação ativa no SIMOV.

· Empresário inserido e articulado com instituições locais do setor.

· Tentativas de integração com a Universidade.

· Abertura da empresa para realizações de pesquisas.

· Uso de laboratórios locais para certificação dos produtos.

· Participou de programa de apoio à exportação.

· Redução do IPI. · Uso de recurso do

BNDES para compra de maquinário nacional.

Micro · Departamento de

engenharia de produto com profissionais qualificados.

· Reuniões sistemáticas entre os departamentos.

· Showroom permite contato com clientes.

· Participação em feiras nacionais e internacionais.

Meso · Participação do

empresário em associações e instituições público-privadas.

· Projetos em parceria com a Universidade.

· Uso de laboratórios locais para certificação.

Macro · Participação em

programa de apoio à exportação – Promóvel.

· Financiamento do BNDES para aquisição de maquinário.

EMPRESA MÓVEIS HECK

Estratégia é comercialização e atendimento aos clientes, micro empresa com 87 anos de mercado

Capacidade de

Inovação – CI

Básica

Fatores Condicionantes - FC

Relação CI - FC Micro Meso Macro

· Não possui departamento de design/projetos.

· O processo de desenvolvimento de produtos está atrelado à adequação dos projetos dos clientes à linha de produção.

· Não há desenvol-vimento sistemático de novos produtos.

· Não possui registros de DI ou patente.

· Não possui prêmio de design.

· Não possui pesquisa. · Serras, seccionadoras,

coladeira de bordas e furadeiras.

· Não utiliza softwares.

· Não possui departamento de design/projetos.

· Empresa pequena e ambiente aberto permite o contato direto entre as áreas.

· Showroom novo permitirá contato direto com o cliente.

· Ingresso do filho do proprietário na empresa inicia uma nova fase com criação do showroom e contratação de 1 projetista.

· Aprendizado em feiras.

· Parceria para o desenvolvimento de produtos com outra empresa.

· Participação no SIMOV.

· Participou de programa de apoio à exportação.

· Redução do IPI. · Uso de recurso do

BNDES para compra de maquinário nacional.

Micro · Participação em feiras

nacionais. · Projetos desenvolvidos

por terceiros.

Meso · Participação no SIMOV. · Parceria com outra

empresa para desenvolvimento de produto.

Macro · Participação em

programa de apoio à exportação - Promóvel.

· Financiamento do BNDES para aquisição de maquinário.

FONTE: Elaborado pela autora a partir da pesquisa

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Queiroz (2007) trata especialmente do trabalho em equipe visando à solução

conjunta, com objetivos e metas amplos. Para ela, em uma organização inovadora

os líderes acreditam em seu valor.

Estes, dentre outros autores, balizaram a definição dos condicionantes em

nível micro conforme o quadro 3, página 46. Entre eles, foram trabalhados nesta

pesquisa: estrutura adequada e ambiente criativo; descentralização e redução dos

níveis hieráquicos; visão compartilhada e liderança e desejo de inovar; liberdade de

decisão e responsabilidade pelos resultados; indivíduos-chave; trabalho em equipe;

aprendizagem e comunicação.

Do ponto de vista das condicionantes, as que estão relacionadas ao

ambiente interno da empresa, ou seja, à dimensão micro da inovação, mostraram-se

as mais significativas condicionantes da inovação para a realidade das empresas

entrevistadas. O que se percebe é que, em se tratando de estrutura das empresas,

há um esforço dos empresários em criar condições de estímulo à inovacão, seja na

estruturação de equipes qualificadas, contratação de consultores, envolvimento de

diversas áreas e departamentos nos processos de decisão, liberdade de decisão,

estímulo à comunicação, à integração e à aprendizagem.

Essas ações se destacam especialmente por dependerem apenas da

vontade e capacidade de investir de cada empresário. Uma vez sensibilizados, os

empresários estão dispostos a estruturar uma empresa capaz de inovar, em menor

ou maior grau. Esta relação se deve não apenas às condições financeiras, mas

também à cultura organizacional imposta pelo empresário.

Em três das quatro empresas analisadas há um investimento significativo

nas equipes responsáveis pelo desenvolvimento de novos produtos. Em maior grau,

como é o caso da Flexiv, com 10 designers, ou em menor grau, como na Inforline,

que possui três designers.

O que se percebe é que há um investimento maior na estrutura da Flevix,

especialmente pelo seu posicionamento estratégico – diferenciação pelo design. O

departamento de design ganhou espaço na empresa com o passar dos anos e a

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partir dos resultados alcançados. Consequentemente, com um grupo maior de

profissionais, um ambiente adequado e um grande comprometimento da alta gestão

em inovar, a Flexiv torna-se a empresa com maior capacidade para a inovação,

dentre as entrevistadas.

Além de atender às demandas do dia-a-dia, a equipe é capaz de planejar,

estruturar um processo de desenvolvimento de produtos sistematizado, pesquisar

tendências, participar de cursos, seminários e feiras e, ainda, desenvolver projetos

em parceria com universidades, fornecedores e outras empresas. Este tempo do

qual dispõe para pesquisar e realizar parcerias "para fora da empresa" traz como

retorno um grande potencial de inovação para a equipe, que consegue se manter

atenta aos acontecimentos externos à organização.

Já na Inforline, com uma equipe reduzida, há uma dificuldade muito maior

em se dedicar ao planejamento, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. A

equipe de desenvolvimento está totalmente envolvida com o trabalho diário de

adequação dos produtos para atender ao que a empresa chama de projetos

especiais, ou seja, projetos personalizados para cada cliente. Apesar da vontade do

empresário de inovar, ele ainda não encontrou a equação ideal entre capacidade de

investimento e possibilidade de inovar.

Ao se posicionar como uma empresa com produtos de alta qualidade para o

mercado corporativo, a empresa Alfa não vê o design de forma estratégica, mas

investe na contratação de escritórios terceirizados para o desenvolvimento de novos

produtos focados na necessidade de seus consumidores. Os empresários entendem

a importância da inovação e direcionam seus esforços para a constante melhoria de

seus produtos, ou seja, inovações incrementais. O foco da empresa está na

qualidade. Destaca-se por ter certificações ISO 14001:2004 e 9001:2000. Esta

última, por estar relacionada ao processo de gestão da empresa, está obrigada a,

além de sistematizar seus procedimentos, manter avaliações constantes dos

mesmos, pontuando e buscando melhorias.

A Móveis Heck começa a sentir a necessidade de se estruturar para o

desenvolvimento de produtos. Com a criação do showroom, a empresa pretende

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contratar um projetista e, talvez, este seja o primeiro passo para a estruturação de

um departamento de desenvolvimento de produtos no futuro.

Outra característica importante no processo de desenvolvimento dos produtos,

com destaque para a Flexiv e para a empresa Alfa, é a realização de pesquisa de forma

sistemática. A pesquisa está inserida no processo das empresas e é realizada

constantemente em busca de tendências, e de informações necessárias para o

desenvolvimento dos novos produtos. A empresa Alfa faz avaliação da satisfação dos

consumidores com seus clientes e utiliza as informações como feedback para os novos

projetos. A Flexiv, através da equipe de Design de Serviços, busca diretamente o

feedback dos clientes atendidos.

Um destaque especial está na participação de feiras nacionais e internacionais.

Todas as empresas entrevistadas investem em visitas a feiras do setor, sejam elas de

maquinários ou de fabricantes. Nas feiras, as empresas identificam tendências, novos

materiais, avaliam o mercado concorrente, conhecem novos equipamentos e adquirem

maquinário. Além das feiras nacionais, a Flexiv, empresa Alfa e Inforline visitam feiras

internacionais e, quando possível, levam também os gerentes de desenvolvimento de

produtos. Todas as empresas demonstraram dar grande importância para este contato

constante com as feiras e mencionaram ser este uma das únicas fontes de informações

sobre o setor.

Entre as empresas analisadas não há propriamente um ambiente criativo,

mas em todos os casos percebe-se o uso de ambientes únicos que estimulam a

comunicação. Outra característica é o fato de se tratarem de micro, pequenas e

médias empresas com número reduzido de funcionários na área administrativa, o

que facilita a promoção da comunicação e integração entre os departamentos.

Em geral, as empresas são capazes de promover, em maior ou menor grau,

uma integração interna das equipes através de reuniões sistemáticas e decisões

conjuntas, mas não possuem programas de capacitação. Em geral estão mais

voltadas às demandas específicas e à qualificação da mão de obra da produção e

participação em feiras.

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Em resumo, constata-se que a estrutura interna das empresas está, de fato,

diretamente ligada à sua capacidade de inovação. Ainda que algumas empresas não

estejam totalmente preparadas, elas conhecem o caminho e aos poucos estão

buscando se estruturar adequadamente.

7.2 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MESO

Esta seção apresenta a relação entre a capacidade inovadora das empresas

pesquisadas e os concidionantes meso de inovação.

Diversos autores têm defendido que o aprendizado e o conhecimento são a

base para o desenvolvimento das nações e das organizações. A disseminação do

conhecimento, especialmente aquele relacionado à capacidade de desenvolvimento

da indústria, está atrelado às redes que permitem a troca e disseminação do

conhecimento. Freeman foi um dos primeiros autores a falar em Sistemas de

Inovação, reforçando a importância desta interação para a inovação.

Cassiolato e Lastres (2005, p.37) comentam que "[...] o desempenho

inovativo depende não apenas do desempenho de empresas e organizações de

ensino e pesquisa, mas também de como elas interagem entre si e com vários

outros atores". Há um fator muito importante de impulsionamento do desenvol-

vimento econômico de uma nação que está atrelado ao forlalecimento da base

industrial. Este fortalecimento não depende apenas de suas estruturas, mas também

do conhecimento gerado e disseminado entre estas empresas e da forma como

esse conhecimento é capaz de desenvolver uma região. Os autores comentam

ainda que "os processos de inovação que ocorrem no âmbito da empresa são, em

geral, gerados e sustentados por suas relações com outras empresas e organi-

zações, ou seja, a inovação consiste em um fenômeno sistêmico e interativo, carac-

terizado por diferentes tipos de cooperação".

Landabado et al. (2003) afirmam que a competividade das empresas não

depende somente delas, mas também da qualidade do seu entorno, que pode

promover a competitividade estrutural.

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Estes, entre outros autores que têm trabalhado intensamente este conceito

de Sistema de Inovação, importantíssimo para o desenvolvimento industrial,

contribuíram para a formulação dos condicionantes meso de inovoção desta

pesquisa, ou seja, o que diz respeito às relações das empresas, seu foco externo.

Os condicionantes aqui trabalhados, conforme quadro 4, página 54, dizem

respeito às organizações de caráter associativo das quais as empresas fazem parte;

às empresas privadas e instituições de P&D com as quais elas se relacionam; às

organizações de ensino e organizações públicas e privadas como estrutura de apoio

à inovação. Governo, empresas de capital e instituições (leis), apesar de comporem

o sistema de inovação, serão analisados, para fins desta pesquisa, na seção 7.3, na

dimensão macro.

Das quatro empresas pesquisadas, apenas uma demonstrou ter fronteiras mais

permeáveis e, de certa forma, dar grande valor às suas relações externas, buscando

parcerias com outras indústrias para o desenvolvimeto de produtos inovadores,

parcerias com universidades, com o intuito de ampliação do conhecimeto, e parceria

com fornecedores, para o desenvolvimento de peças exclusivas. Neste aspecto, a

Flexiv se destacou e se mostrou com maior foco externo. Dois fatores contribuem para

este aspecto: primeiro, o posicionamento altamente articulado do proprietário da

empresa e, segundo, a disponibilidade da equipe de desenvolvimento de produtos em

realizar estas parcerias, que, além de tempo, exigem dedicação, especialmente as

realizadas com a universidade, que possui um tempo de trabalho diferenciado. Estas

parceiras reforçam a capacidade de inovação da empresa, estimulando a equipe a

buscar novas soluções e ampliar seu conhecimento.

A empresa Alfa tem seu foco externo mais direcionado à contratação de um

escritório de design terceirizado, e esta iniciativa não chega a caracterizar um foco

externo mais desenvolvido. O que se percebeu durante a pesquisa é que a empresa

não dá grande valor às iniciativas realizadas em parceria e tem um foco maior no

seu desenvolvimento interno. Apesar disso, está buscando uma parceria para o

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desenvolvimento interno de cadeiras, o que, certamente, trará um salto significativo

para a empresa em termos de novos conhecimentos e inovacão, uma vez que em

geral as empresas deste segmento apenas montam cadeiras comprando os aces-

sórios de terceiros.

A Inforline mostrou-se aberta a parcerias, mas, apesar de algumas experiências

isoladas, não teve sucesso nesta proposta. Já se dispôs a participar de projetos com a

universidade, mas não foi procurada. Mais uma vez revela-se, aqui, a falta de tempo da

equipe de desenvolvimento de produtos para articular estes projetos.

A Móveis Heck está iniciando uma parceria para o desenvolvimento de um

produto com outra empresa.

Das quatro empresas pesquisadas, três realizam certificações de seus

produtos em laboratórios. A Flexiv teve dificuldade com seus processos de

certificação no Paraná, e a empresa Alfa comentou que os laboratórios locais não

estão aptos a atender ao setor em que trabalham, e suas certificações são feitas no

Cetemo, no Rio Grande do Sul.

O fato mais significativo é a participação de todas as empresas pesquisadas

no Simov. A relação e participação no sindicato é significativa pelo menos em duas

das empresas – Flexiv e Inforline –, onde os empresários são vice-presidentes. A

partir do sindicato ficam a par de iniciativas voltadas ao setor, têm condições de

buscar benefícios comuns, se articulam com outros empresários, participam de

caravanas para feiras, entre outras ações conjuntas.

O que se percebe em todas as empresas é que a participação em grupos

associativos e sindicais fica muito atrelada à diretoria. As equipes de criação e

desenvolvimento de produtos não têm acesso e não participam de grupos em

suas áreas.

Fica claro, ainda, que nas indústrias de móveis do Paraná que não estão

relacionadas a nenhum APL não há uma cooperação ou articulação em busca de

benefício comum. O setor mostra-se fragilizado neste sentido. O sindicato tem

algumas ações, mas talvez não tenha força suficiente e participação das empresas

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para buscar benefícios maiores. A cooperação entre indústrias ainda constitui uma

grande barreira à inovação em termos setoriais e de sistema de inovação.

Para Landabaso et al. (2003), a capacidade de inovação das empresas

regionais está diretamente ligada à habilidade da região em aprender. Por sua vez, a

capacidade de inovação e capacidade de aprender estão diretamente relacionadas à

densidade e qualidade das redes do entorno produtivo regional. A aprendizagem

depende da inteligência empresarial e do acesso ao conhecimento. A inovação é o

produto final.

Um dos pontos frágeis observados na pesquisa é o foco externo das

empresas e o ambiente onde elas se inserem.

Considerando que Cassiolato e Lastres (2005) definem o sistema de inovação

como um conjunto de instituições distintas que contribuem para o desenvolvimento da

capacidade de inovação e aprendizado de um país, região, setor ou localidade – e

também o afetam –, conclui-se que não há um Sistema Setorial de Inovação

estruturado no Paraná. Existem, sim, instituições, algumas ações e alguns agru-

pamentos de empresários, mas estas ações estão completamente desarticuladas, sem

interação, sem sinergia. Além disso, existe um APL de móveis em Arapongas que está

mais articulado, entretanto as indústrias de móveis de Curitiba não fazem parte de

nenhum desses Arranjos e trabalham de forma competitiva e não cooperativa.

Em um ambiente pouco promissor é difícil que a indústria se desenvolva a

contento. Ações mais significativas são observadas através das articulações da

Federação das Indústrias do Estado do Paraná e do Sistema S, neste caso o Senai,

mais voltado à capacitação técnica; Sesc, voltado ao ensino, e Sebrae, direcionado

sobretudo a micro e pequenas empresas.

7.3 CAPACIDADE INOVADORA E CONDICIONANTES MACRO

Esta seção apresenta a relação entre a capacidade inovadora das empresas

pesquisadas e os condicionantes macro de inovação.

Ao propor uma análise das condicionantes macro de inovação, buscou-se, a

partir da análise teórica de diversos autores, entender o papel dos governos no

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incentivo e na promoção de uma indústria mais competitiva a partir da disseminação

da inovação.

A extensão do levantamento sobre os condicionantes macro de inovação,

realizado para esta pesquisa, já demonstra a importância do tema para diversos

países que têm focado em políticas públicas de inovação para o desenvolvimento

econômico. Entre eles estão Japão, Coreia do Sul e Comunidade Europeia. São

diversas as políticas voltadas para a inovação e, em geral, elas estão centradas na

infraestrutura tecnológica, no aprendizado e no conhecimento, incentivo e fomento e

regulação dos mercados.

As políticas públicas são instrumentos importantes para criar uma sinergia

entre as diversas instâncias do governo e promover uma ação direcionada com

objetivos e metas claros que possam ser mensurados.

Para Cassiolato e Lastres (2000, p. 2), "o aproveitamento pleno das

vantagens oferecidas por novas oportunidades tecnológicas dependem da adoção

de mudanças organizacionais, institucionais e sociais, tanto ao nível da empresa,

quanto ao nível meso e macroeconômico." Isto significa mudanças não só nos

sistemas industrial e de C&T, mas também de educação, financeira, legal e política,

e nas demais esferas relacionadas ao comércio, investimentos e onde as

tecnologias são difundidas.

O corolário desta discussão é que a política tecnológica bem-sucedida deve

possuir esta dimensão sistêmica e, portanto, (i) estar articulada com demais

políticas correlatas; (ii) contemplar os diferentes níveis que influenciam o

desenvolvimento e difusão de inovações, deste o micro até o

macroeconômico; e (iii) focalizar a interatividade das inovações técnicas,

organizacionais e institucionais (CASSIOLATO e LASTRES, 2000, p.2).

As políticas de inovação não dizem respeito a ações pontuais, mas sim a

ações sistêmicas, e precisam envolver diversas áreas para, de fato, estabelecer uma

base sólida de desenvolvimento econômico e consolidação da base industrial

nacional. A partir da revisão e deste entendimento sistêmico da inovação identificou-

se como condicionantes macro: aprendizado e conhecimento, estrutura, mercados e

incentivo e fomento, conforme o quadro 9, página 71.

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A análise da relação das condicionantes macro de inovação com a

capacidade de inovação das empresas permitiu compreender que há um grande

potencial inovador a ser explorado.

Das quatro empresas pesquisadas, são apenas dois os aspectos relacio-

nados a políticas públicas: uso de financiamento através do BNDES para compra de

maquinário nacional e participação em um programa de apoio à exportação, no

período de 1998 a 2003.

As quatro empresas fazem uso constante das linhas de financiamento do

BNDES para a aquisição de maquinário nacional. Segundo os empresários, o

recurso não permite a compra de máquinas importadas. Neste caso, a compra é

feita com recurso próprio das empresas ou através de financiamento direto com o

fornecedor. Considerado de baixa e média tecnologia, o setor de móveis não tem em

seu maquinário um grande diferencial que permita algum destaque em termos de

inovação. Todas as empresas têm o maquinário necessário para atender a suas

demandas produtivas e que lhes permite desenvolver as inovações incrementais em

termos de design, característica importante para o setor.

Peças diferenciadas que exijam algum ferramental, uso de vidros e alumínio em

geral são desenvolvidas junto aos fornecedores. O mesmo acontece com os acessórios

como dobradiças, fixadores, puxadores, entre outros, que fazem parte dos móveis e

que são comprados diretamente de terceiros. Em algumas empresas, como a Flexiv, há

o desenvolvimento de acessórios exclusivos junto aos fornecedores.

A importância do financiamento para aquisição do maquinário está em

garantir condições de equiparação tecnológica entre as empresas do setor.

Destaca-se a menção feita por todos os empresários entrevistados ao

programa Promóvel. O Promóvel foi um programa de incremento à exportação de

móveis, criado pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário - Abimóvel em

parceria com a Agência de Promoção de Exportações – APEX Brasil. O programa

destinou recursos para o financiamento de pesquisa e treinamento, visando

qualificar as empresas a cumprirem as exigências básicas dos importadores, a se

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tornarem competitivas em custo e qualidade e a conhecerem as demandas

mercadológicas dos mercados visados. Entre seus objetivos estava a reestruturação

das empresas através de projetos específicos visando a sua inserção no mercado

internacional, dando-lhes condições de competitividade e preparando-as para a

globalização do setor. Para atender a suas metas estava estruturado em 16 linhas

de atuação: 1) ISO 9.000, 2) Sensibilização ISO 14.000, 3) Selo Verde, 4) Produção

de normas técnicas para fabricação de móveis, 5) Programa de gestão de qualidade

e produtividade, 6) Aquisição de know-how no exterior, 7) Missões empresariais, 8)

Estudos de mercados internacionais, 9) Marketing no exterior, 10) Formação de

consórcios, 11) Móveis brasileiros em exposições internacionais, 12) Desenvolvimento

de design, 13) Pontos avançados de negócios no exterior, 14) Capacitação

gerencial, 15) Prospecção do mercado de móveis nos Estados Unidos, e 16)

Adequação das plantas fabris (ABIMÓVEL, 1998).

Mesmo sem garantir as exportações dessas quatro empresas, o Promóvel

foi muito significativo em sua estruturação interna e aquisição de conhecimento

através do contato com os consultores. O diretor da empresa Alfa comenta que "o

programa foi bom porque fez com que a empresa amadurecesse através dos cursos

promovidos e consultorias. Por conta do programa é que buscaram a ISO".

Apesar de não ter atingido seu objetivo fim, o programa mostrou-se muito

significativo em levar informações para dentro das empresas, qualificá-las e

estruturá-las. Isto nos mostra que programas de apoio às indústrias são, de fato,

significativos e capazes de promover seu desenvolvimento. Apesar de não estar

focado em inovação, o Promóvel promoveu mudanças inovativas nas estruturas

organizacionais e criou base gerencial e de conhecimento que contribuiu para o

desenvolvimento interno da inovação.

Cabe colocar aqui que há uma necessidade de articulação entre as políticas

industriais e macroeconômicas. O Promóvel foi anulado pela baixa do dólar em um

momento econômico em que o Brasil buscava uma política cambial de valorização

do real, reduzindo, assim, a competitividade das exportações.

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As variáveis intervenientes consideradas neste projeto como estágio de vida,

porte e estratégia da empresa mostraram-se muito significativas, especialmente na

análise das condicionantes micro e meso das empresas. Percebe-se que as

empresas seguem as estratégias para as quais se propuseram, o que determina

claramente seu posicionamento de mercado e seu posicionamento em relação ao

design. A empresa Flexiv, ao se colocar como estrategicamente diferenciada pelo

design, investe altamente nesta ferramenta estratégica e garante seu diferencial no

mercado graças aos produtos que desenvolve. A empresa Alfa, estrategicamente

colocada como fornecedora de produtos de qualidade, faz uso do design de forma

mais voltada à produtividade e qualidade dos produtos.

O porte, também se mostrou significativo, e determina tanto o entendimento

da empresa em relação ao seu mercado quanto sua capacidade de investimento.

Mesmo tendo se mostrado significativas, as variáveis intervenientes não foram o

foco principal deste estudo, tendo sido relacionadas às empresas, mas não

estudadas em profundidade. Sugere-se, portanto, que este item seja mais

aprofundado em pesquisas posteriores.

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CONCLUSÃO

O presente estudo se propôs a identificar as condicionantes de inovação

nas indústrias de móveis do Paraná a partir de um modelo estruturado à luz da

revisão teórica de autores que têm trabalhado os aspectos da inovação

mundialmente e localmente. O objetivo foi entender as condicionantes de inovação

em nível micro, meso e macro das empresas do setor moveleiro, considerando sua

capacidade de inovação.

Para atender ao objetivo proposto foram definidas uma tipologia e caracte-

rísticas de capacidade de inovação para empresas do setor moveleiro, fundamentadas

no referencial teórico.

A proposta de qualificar as empresas a partir de sua capacidade inovadora

permitiu identificar suas características e potencialidades e relacionar esta capacidade

às condicionantes de inovação. Ao trabalhar por níveis, entende-se que a capacidade

de inovação é algo que a empresa adquire e que pode e deve ser aprimorado com o

passar do tempo. Especialmente no caso da inovação, a qualificação em níveis

reforça o caráter de aprendizado, isto é, a empresa não nasce inovadora, mas adquire

esta capacidade a partir dos conhecimentos que adquire, do ambiente em que está

inserida e dos estímulos aos quais é exposta. Para esta pesquisa, e a partir do

referencial teórico, chegou-se a quatro níveis de capacidade de inovação: avançada,

intermediária superior, intermediária e básica, conforme descrição a seguir:

· Básica - pequenas adaptações em produtos existentes; capacidade para

operar tecnologias existentes; aperfeiçoamento de produtos existentes;

não utilização do design;

· Intermediária - desenvolvimento de produtos com engenharia reversa e

benchmarking; desenho e desenvolvimento para aprimoramento incremental

de produtos tecnicamente assistidos; design como estilo;

· Intermediária superior - desenho e desenvolvimento de produtos mais

complexos e de valor agregado, com envolvimento de usuários e baseados

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em pesquisa; capacidade para copiar, implementar e desenvolver

tecnologias existentes; design como processo;

· Avançada - desenhos e desenvolvimento de novos produtos originais

baseados em E e P&D; capacidade para implementar novas tecnologias;

design estratégico.

Para compor o modelo de pesquisa foram definidos e identificados os

principais condicionantes de inovação em nível micro, meso e macro. Ao considerar

a amplitude do conceito de inovação e entendê-la como uma ação sistêmica, foi

necessário analisar não só o ambiente interno à empresa (micro), mas também suas

relações externas (meso) e o ambiente em que estava inserida (macro). A proposta

de realizar uma análise considerando estas três dimensões da inovação foi

fundamental para o entendimento sistêmico da mesma e para caracterizar o que

condiciona a inovação na indústria de móveis.

Obteve-se como condicionantes da inovação, a partir da revisão teórica, na

dimensão micro: estrutura adequada e ambiente criativo; descentralização e redução

dos níveis hierárquicos; visão compartilhada, liderança e desejo de inovar; liberdade

de decisão e responsabilidade pelos resultados; indivíduos-chave; trabalho em

equipe; aprendizagem e comunicação. Na dimensão meso, com foco no sistema

regional de inovação, consideraram-se: organizações de caráter associativo;

empresas privadas e instituições de P&D; organizações de ensino; organizações

públicas e privadas e empresas de capital. Por fim, a dimensão macro incluiu: i)

aprendizado e conhecimento que envolve capacitação e formação de recursos

humanos, acesso à informação, serviço de extensão tecnológica e agilidade,

facilitação e eficiência do processo de propriedade intelectual: ii) estrutura, que

envolve infraestrutura tecnológica e organizações de apoio à C, T &I; iii) mercados,

que diz respeito aos mecanismos de regulação do mercado, orientação e acesso à

exportação, acesso à tecnologia estrangeira e redução de barreiras regulatórias, e

iv) incentivo e fomento, em que se destacam incentivo fiscal, subvenção econômica

e financiamentos à P&D (pública, privada e cooperada) e à inovação, bolsas para

pesquisadores e aporte de capital de risco.

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A partir desse modelo estabeleceram-se as relações entre a capacidade de

inovação das empresas e os condicionantes em nível micro, meso e macro,

podendo-se destacar:

1. Do ponto de vista das estruturas das empresas, o que se observa é que os

empresários já estão sensibilizados para o tema da inovação e acreditam

nela como um fator de diferenciação no mercado, especialmente no setor

moveleiro, considerado de baixa e média tecnologia e onde a diferenciação

se reforça no design dos produtos. Levando em conta seus diferentes

níveis de interesse no tema e sua capacidade de investimento, cada

empresa se estrutura da melhor maneira possível para desenvolver a

inovação. Por ser um aspecto que depende apenas do empresário e das

condições econômicas, percebe-se, pela pesquisa, que atualmente o maior

fator condicionante da inovação na indústria moveleira é a estrutura de

desenvolvimento de produtos das empresas, a participação em feiras e o

desejo de inovar por parte dos empresários.

2. Do ponto de vista meso, há uma grande falta de foco externo nas

empresas e pouca cooperação entre elas, o que se deve, especialmente,

ao fato de não existir um sistema setorial de inovação que estimule esta

interação, a troca de informações e de conhecimentos, o ganho comum,

e, ainda, ao fato de não fazerem parte de um APL. O Sistema Setorial de

Inovação é uma estrutura fundamental no processo de desenvolvimento

da inovação, uma vez que permite a troca de informações entre as

empresas, fortalece a base industrial e de serviços, articula políticas

junto às instâncias locais e federais e proporciona uma estrutura

adequada ao desenvolvimento de inovações do setor de móveis.

Entretanto, é claro o fato de, atualmente, o Estado do Paraná estar em

defasagem com sua estrutura tecnológica, deixando o empresariado

órfão de estruturas de apoio ao desenvolvimento, especialmente

estruturas tecnológicas e voltadas a inovação. As relações realizadas

pela empresa e a articulação dos empresários são resultados de esforço

próprio e individual de cada um.

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3. Do ponto de vista das políticas públicas há uma carência imensa para o

setor moveleiro, mesmo este sendo considerado um dos setores

estratégicos da Política do Desenvolvimento Produtivo - PDP. Talvez isto

de deva ao fato de estas empresas não estarem atreladas a nenhum APL,

mas, independentemente disto, há uma grande potencialidade a ser

explorada na indústria brasileira. Cabe aos governos entenderem suas

capacidades e fragilidades, propondo uma política industrial efetiva, que

crie as bases para uma indústria de qualidade, fortalecida e capaz de

atenter o mercado interno e competir com a qualidade e diferenciação dos

produtos mundiais. Fica claro, na pesquisa – o que pode ser reforçado

com dados da Pintec, segundo os quais 72% das empresas utilizaram

financiamento –, que com relação a políticas públicas para o setor, o único

apoio do governo que as empresas têm encontrado e utilizado é o

financiamento do BNDES para aquisição de maquinário.

Conclui-se, com o presente estudo, que a inovação na indústria de móveis

precisa, de fato, de incentivos para acontecer. É bastante evidente, a partir da

análise realizada, a falta de apoio ao empresariado por parte do governo, que não

promove uma estrutura tecnológica adequada, não possui incentivo fiscal

apropriado, não possui recursos passíveis de uso direto pela indústria, não promove

a indústria brasileira e cria programas sem direcionamento e incapazes de

incrementar a inovação nas empresas que já possuem capacidade para inovar.

Governos têm um papel importante na elaboração de políticas públicas

voltadas ao desenvolvimento industrial e à inovação como base para a

competitividade. As políticas públicas, com programas direcionados, e a estruturação

de sistemas setoriais e regionais de inovação atrelados a um sistema nacional de

inovação, podem significar um imenso ganho competitivo para a indústria nacional.

Políticas públicas bem estruturadas e coordenadas as políticas macro-econômicas,

podem ser capazes de condicionar a inovação na indústria, elevando os patamares de

capacidade de inovação de cada empresa e criando as bases para uma indústria de

móveis altamente qualificada e competitiva.

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Ao considerar o setor moveleiro como estratégico a Política do

Desenvolvimento Produtivo - PDP (2008) reforça a necessidade de fortalecimento do

mesmo – uma vez que representa 3,2% da produção mundial e um faturamento de

R$ 27 bilhões em 2008. Dentre as metas estabelecidas entendem como importante

a ampliação dos negócios com geração de valor (design, escala e inteligência

comercial) e a produção sustentável da cadeia.

Esses dados reforçam a necessidade, verificada neste trabalho, de uma

estruturação tanto sistêmica setorial quanto de políticas direcionadas à inovação. Se

considerarmos a importância sistêmica da inovação e o seu papel como promotora

da melhoria e qualificação da indústria e do produto nacional, é premente que a

mesma seja estratégia de desenvolvimento da indústria nacional.

Cabe ainda ressaltar a importância do design enquanto ferramenta

estratégica para a materialização da inovação. O design cumpre um papel

fundamental não so no desenvolvimento de produtos com menor custo de produção,

mas também daqueles devidamente alinhados à estratégia de mercado das

empresas, aumentando as chances de sucesso no investimento. Além disso, é

estratégico no desenvolvimento de produtos menos impactantes ao meio-ambiente

uma vez que determina o uso das matérias-primas mais adequadas, processos

produtivos, uso de embalagens, obsolecência dos produtos, entre outros fatores

relacionados a sustentabilidade, econômica e ambiental.

Em termos de contribuições deste estudo, destaca-se o modelo proposto, o

qual, com as devidas adequações, pode ser aplicado em diferentes setores,

qualitativa ou quantitativamente. O resultado permitirá uma análise mais profunda

das condicionantes de inovação de determinado setor, munindo instituições de

informações necessárias à elaboração de políticas públicas em inovação a partir do

estado da arte da mesma no setor de interesse.

Como sugestão para pesquisas futuras propõe-se a incorporação da

sustentabilidade ao modelo proposto. Neste trabalho, não foi possível ampliar o

modelo para analisar as condicionantes da sustentabilidade na indústria e as formas

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de impulsioná-la. Entretanto, a sustentabilidade é um fator urgente nas economias

mundiais e se tornará obrigatória para as indústrias.

Cabe mencionar que a inovação e a sustentabilidade estão profundamente

atreladas, uma vez que a sustentabilidade exigirá grandes mudanças não só nos

consumidores, mas também nas indústrias responsáveis pelo impulsionamento do

consumo mundial. Ao impulsionar a inovação, os governos criam e desenvolvem

estruturas responsáveis pela busca constante do aprimoramento da produção

industrial, usos de novos maquinários, pesquisa de novas matérias-primas, uso do

design como fator de humanização das tecnologias, desenvolvimento econômico e

social, ou seja, sustentabilidade.

O estímulo à inovação está intrinsecamente ligado ao estímulo à sustentabi-

lidade, e é nesse sentido que é preciso criar as bases para uma plataforma industrial

mais preparada para a mudança e capaz de investir em P&D em prol de uma

sociedade melhor.

Fica, aqui, a sugestão para a incorporação de dados relacionados às condi-

cionantes da sustentabilidade na indústria a partir de seu entendimento mais amplo:

economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente menos impactante.

Outro fator significativo e não contemplado neste estudo é a cultura

organizacional. Ao definir o ambiente micro da empresa optou-se por analisar sua

estrutura ou características para a inovação, mas não se considerou a cultura

organizacional devido à amplitude do tema. Ao propor uma análise da cultura

organizacional a partir do modelo proposto, pode-se focar no ambiente micro e meso

analisando o fatores mais relacionados à cultura da empresa, ou seja, sua estrutura,

ambiente, pessoas e suas relações.

Sugere-se, ainda, uma análise mais significativa da estratégia das empresas

uma vez que esta variável interveniente se mostrou bastante significativa no

posicionamento das mesmas em relação ao design e a inovação.

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172

APÊNDICE 1 - MODELOS DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA

QUADRO 1 - CAPACIDADE TECNOLÓGICA DE LALL

CAPACIDADE TECNOLÓGICA GRAU DE COMPLEXIDADE

Básico Intermediário Avançado

Fun

cion

al

Inve

stim

ento

s Pré-Investimento

Estudos de viabilidade

técnico-econômico; seleção

local; cronograma de

investimentos

Busca de fonte tecnológica;

Negociação de contratos com

fornecedores; Sistemas de

Informação

Execução de

Projeto

Construção Civil; Serviços

auxiliares; Instalação de

equipamentos;

Comissionamento

Obtenção de equipamentos;

Detalhamento; Recrutamento

e treinamento de pessoal

Design do processo

básico; Design de

equipamentos

Pro

duçã

o

Engenharia de

Processo

Controle de qualidade;

Manutenção preventiva;

Assimilação de tecnologia e

processo.

Adaptação de processos e

redução de custos;

Licenciamento de novas

tecnologias

Inovação de processo

in house; Pesquisa

básica

Engenharia de

Produto

Engenharia reversa;

pequenas adaptações as

necessidades do mercado.

Melhoria da qualidade do

processo; Modificações de

produtos adquiridos por

licenciamento.

Inovação de produto

in house; Pesquisa

básica

Engenharia

Industrial

Estudo dos métodos e dos

tempos de trabalho;

Controle de estoque

Monitoramento da

produtividade; Melhorias na

coordenação dos processos

Relacionamento

com a Economia

Obtenção local de bens e

serviços; Troca de

informações com

fornecedores

Transferência de tecnologia

de fornecedores locais;

Relações com instituições de

C&T

Licenciamento de

tecnologias próprias

para outros

FONTE: Lall (1992)

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173

FIGURA 1 - MODELO DE KIM – TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS DE EMPRESAS

EM ECONOMIAS INDUSTRIALIZADAS VERSUS EMPRESAS DE

ECONOMIAS RECENTES

FONTE: Kim (2003)

FIGURA 2 - MODELO DE BELL

FONTE: Bell apud Figueiredo (2003)

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174

FIGURA 3 - MODELO DE DUTRÉNIT

FONTE: Dutrénit (2007, p.133)

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175

QUADRO 2 - MODELO DE FIGUEIREDO

Modelo Descritivo da Capacidade Tecnológica em Empresas de Economias Emergentes

Níveis de Capacidade

Tecnológicas

Funções Tecnológicas e Atividades Relacionadas

Investimentos Processos e Organização da

Produção Produtos Equipamentos Decisão e Controle

sobre a Planta Engenharia de

Projetos

CAPACIDADES DE ROTINA

(1) Básico

Decisão sobre localização da planta. Termos de referência.

Preparação inicial de projeto. Sincronização de trabalhos de construção civil e instalações.

Coordenação de rotina na planta. Absorção da capacidade da planta. PCP e CQ básicos.

Replicação de aços seguindo especificações amplamente aceitas. CQ de rotina. Fornecimento a mercados de exportação.

Reposição de rotina de componentes de equipamento. Participação em instalações e testes de performance.

(2) Renovado

Monitoramento ativo de rotina de unidades existentes na planta.

Serviços rotineiros de engenharia na planta nova e/ou existente.

Estabilidade do AF e aciaria. Coordenação aprimorada da planta. Obtenção de certificação (ex.: ISO 9002, QS 9000)

Replicação aprimorada de especificações de aços dados ou próprias. Obtenção de certificação internacional para CQ de rotina.

Manufatura e reposição de componentes (ex.: cilindros) sob certificação internacional (ISO 9002)

CAPACIDADES INOVADORAS

(3) Extra-básico

Envolvimento ativo em fontes de financiamento de tecnologia.

Planejamento de projeto. Estudos de viabilidade tecnicamente assistidos, para grandes expansões.

Pequenas adaptações e intermitentes em processos, eliminação de gargalos, e alongamento de capacidade.

Pequenas adaptações em especificações dadas. Criação de especificações próprias para aços (dimensão, forma, propriedades mecânicas).

Pequenas adaptações em equipamentos para ajustá-los a matérias-primas locais. Manutenção break-down.

(4) Pré-Intermediário

Monitoramento parcial e controle de estudos de viabilidade de expansão, busca, avaliação, e seleção de tecnologia e fornecedores.

Engenharia de instalações. Expansões tecnicamente assistidas. Engenharia de detalhamento.

Alongamentos sistemáticos de capacidade. Manipulação de parâmetros-chave de processo. Novas técnicas organizacionais (TQC/M, ZD, JIT).

Aprimoramentos sistemáticos em especificações dadas. 'Engenharia reversa' sistemática. Desenho e desenvolvimento de aços tecnicamente assistidos. Desenvolvimento de especificações próprias.

Reforma de grandes equipamentos (ex.: AF) sem assistência técnica. Engenharia reversa de detalhe e básica. Manufatura de grandes equipamentos.

(5) Intermediário

Monitoramento completo, controle e execução de estudos de viabilidade, busca, avaliação, seleção, e atividades de financiamento.

Engenharia básica de plantas individuais. Expansão da planta sem assistência técnica. Provisão intermitente de assistência técnica.

Aprimoramento contínuo de processo. Desenho de sistemas automatizados estáticos. Integração de sistemas automatizados de processo e PCP.Alongamento rotinizado de capacidade.

Aprimoramento contínuo em especificações próprias. Desenho, desenvolvimento, manufatura e comercialização, de aços complexos e de alto valor sem assistência técnica. Certificação para desenvolvimento de produto (ex.: ISO 9001).

Contínua engenharia básica e de detalhe e manufatura de plantas individuais (ex.: AF, Sinter). Manutenção preventiva.

(6) Intermediário Superior

Elaboração e execução próprias de projetos. Provisão de assistência técnica em decisões de investimentos.

Engenharia básica da planta inteira. Provisão sistemática de assistência técnica em estudos de viabilidade, engenharia de aquisição, de detalhe, básica, e partida da planta.

Integração entre sistemas operacionais e sistemas corporativos. Engajamento em processos de inovação baseados em pesquisa e engenharia.

Adição de valor a aços desenvolvidos internamente. Desenho e desenvolvimento de aços extra complexos e de alto valor agregado Engajamento em projetos de desenho e. desenvolvimento com usuários.

Continua E básica e detalhe de equipamento para planta inteira de aço e/ou componentes para outras indústrias. Assistência técnica (ex.: reforma de AF) para outras empresas.

(7) Avançado

Gestão de projetos de classe mundial. Desenvolvimento de novos sistemas de produção via P&D.

Engenharia de classe mundial. Novos desenhos de processos e P&D relacionado.

Produção de classe mundial. Desenhos e desenvolvimento de novos processos baseados em E e P&D.

Desenho e desenvolvimento de produtos em classe mundial. Desenho original via E, P e D.

Desenho e manufatura de equipamentos de classe mundial. P&D para novos equipamentos e componentes.

FONTE: Figueiredo (2003)

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QUADRO 3 - MODELO DE DROUVOT E VERNA

CAPACIDADE

TECNOLÓGICA ETAPAS CAPACIDADES

PRINCIPAL FONTE

DE TECNOLOGIA

TIPO DE

INOVAÇÃO

ORGANIZAÇÃO

DA EMPRESA

Básica

1º Formação de RH Clientes Informal Micro – intensiva

em Mão de Obra

2º Manutenção Fornecedores de

Insumos

Atividade de

design formalizada

PME's – intensiva

em mão de obra

3º Controle de

Qualidade

Fornecedores de

Equipamentos

Atividade formal de

PCP

Grandes –

intensivas em mão

de obra

Intermediária 4º Engenharia de

Produto

Centros

Tecnológicos

Atividade formal de

Engenharia

Intensivas em

capital

Avançada 5º Pesquisa Aplicada Instituições de C&T Atividade formal de

P&D Intensivas em C&T

FONTE: Drouvot e Verna (1994)

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APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA

1 DADOS DA EMPRESA

Empresa: CNPJ:

Cidade: UF:

Endereço:

Nome entrevistado: Cargo:

E-mail: Tel.:

Faturamento: No funcionários

2 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INOVAÇÃO

2.1 Equipe de criação e estrutura

2.1.1 A empresa possui um departamento de pesquisa e desenvolvimento de

produtos?

2.1.2 Existem profissionais de design envolvidos? Quantos profissionais? Que

profissionais participam? Qual sua formação e que nível de formação?

2.2 Processo de desenvolvimento de produtos

2.2.1 Existe um processo? Como ele é? Quantos e que profissionais participam?

2.3 Novos produtos

2.3.1 A empresa desenvolve novos produtos, modifica os existentes ou realiza as duas

atividades? Como funciona? Com que freqüência o desenvolvimento acontece?

Quantos lançamentos por ano?

2.4 Patente

2.4.1 A empresa possui algum registro de patente ou modelo de utilidade?

2.5 Prêmios

2.5.1 A empresa possui prêmios de design? Quantos? Quais? Quem inscreveu o

produto?

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2.6 Pesquisa

2.6.1 Existe pesquisa? Como ela é feita? Quem participa? Que profissionais

participam?

2.7 Tecnologias

2.7.1 A empresa desenvolve novas tecnologias? Quem é responsável pelo processo?

Quando isto acontece? Que tecnologias de ponta a empresa utiliza hoje?

2.8 Estratégia

2.8.1 Qual a estratégia da empresa em relação ao mercado?

3 CONDICIONANTES DE INOVAÇÃO

Dimensão Micro

3.1 Estrutura adequada e ambiente criativo

3.1.1 Como é a estrutura da empresa? Ela permite a interação e o trabalho em

equipe?

3.1.2 Quais os departamentos envolvidos no desenvolvimento de produtos / serviços?

3.1.3 O ambiente estimula a criatividade?

3.1.4 A empresa investe em P&D? Que percentual do seu faturamento?

3.2 Descentralização e redução dos níveis hierárquicos / Liberdade de decisão e

responsabilidade pelos resultados

3.2.1 Qual o modelo organizacional e a estrutura hierárquica da empresa? Vertical ou

Horizontal?

3.2.2 Como é o processo de decisão: centralizado ou descentralizado? Quais as

instâncias envolvidas no processo de desenvolvimento de um novo produto?

3.2.3 Qual o nível de liberdade e poder de decisão da equipe de criação? Quem

decide? Quem é responsável pelos resultados?

3.2.4 Como é o diálogo da equipe de criação com a diretoria da empresa?

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3.3 Visão compartilhada, liderança e desejo de inovar

3.3.1 Como os objetivos estratégicos em inovação da empresa são definidos? Como

são repassados a todos? Há colaboração e envolvimento da área de criação?

3.4 Trabalho em equipe e Indivíduos-chave

3.4.1 Como é a equipe de desenvolvimento de novos produtos / serviços? Quem

participa? De que áreas?

3.4.2 Existe um líder (ou agente) em inovação na empresa?

3.5 Aprendizagem

Aprendizagem relacionada à capacitação

3.5.1. A empresa possui algum programa de capacitação? A equipe de criação recebe

alguma capacitação específica?

3.5.2 A equipe de criação participa de feiras e eventos? Onde e quais? Faz viagens

para o exterior?

Aprendizagem relacionada ao processo

3.5.3 Existe algum momento de avaliação do processo e busca por melhorias? Como

é feita? Quando?

3.6 Comunicação

3.6.1 Como é a comunicação interna da empresa com relação aos novos produtos?

3.6.2 Os processos de desenvolvimento são registrados? Como são repassados às

outras pessoas? Existe um banco de dados? Um banco de repertórios?

3.6.3 Existe alguma forma de colaboração de outras áreas ou outras pessoas no

desenvolvimento dos produtos? Como isto ocorre?

3.6.4 Há relacionamento interno na empresa entre as diferentes áreas? A

comunicação e troca de experiências é estimulada?

3.7 Outras

3.7.1 Dentre as ações realizadas em sua empresa para inovação, qual você acredita

que é a mais significativa e eficaz?

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Dimensão Meso

3.8 Foco Externo

3.8.1 Existe colaboração entre sua empresa e outras do mesmo setor?

3.8.2 Como ocorre?

3.8.3 Quais as principais iniciativas de cooperação?

3.8.4 Em que circunstâncias ela é importante?

3.9 Organizações de caráter associativo

3.9.1 Sua empresa participa de alguma associação, cooperativas ou rede? Quais?

Como ocorre? Qual o retorno para a empresa? Como poderia melhorar?

3.9.2 Está inserido em algum APL? Qual? Qual o retorno desta participação?

3.9.3 Seus funcionários de criação estão em constante troca de informações com

outros grupos de outras organizações? Participam de ações colaborativas, redes ou

associações? Esta participação é estimulada pela empresa? Qual o benefício desta

participação?

3.10 Empresas privadas e instituições de P&D/Organizações públicas e privadas

3.10.1 Desenvolve produtos e soluções em parceria com fornecedores? Como ocorre?

Quais os efeitos para a empresa? Como poderia melhorar?

3.10.2 Faz uso de laboratórios de pesquisa? Públicos ou privados? Para que? É

importante para a empresa?

3.10.3 Faz algum trabalho de certificação de produtos, medições? Onde? Com que

freqüência? Qual a importância para a empresa?

3.10.4 Faz uso de algum parque tecnológico? Possui alguma estrutura similar de apoio

à indústria em sua região?

3.11 Organizações de Ensino

3.11.1 Possui relação com Universidades? Para que? Qual o benefício? Como poderia

melhorar?

3.11.2 Possui algum programa interno de capacitação em parceria com universidades

ou unidades de ensino?

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3.12 Outras

3.12.1 Das relações estabelecidas por sua empresa para a inovação, qual você

acredita que é a mais eficaz e que traz maior retorno?

Dimensão Macro

3.13 Aprendizado e conhecimento

3.13.1 Que ações do governo têm ajudado a disponibilizar mão de obra qualificada no

mercado? Que ações específicas poderiam melhorar o nível de aprendizado de mão

de obra para o setor?

3.13.2 O governo tem alguma ação específica voltada à capacitação da mão de obra

para o setor? Existe algum programa de qualificação?

3.13.3 Como a empresa obtém informações técnicas? Existe alguma ação do governo

para melhorar o nível de informações? O que o governo poderia fazer para melhorar o

nível de informações e o acesso a ela?

3.13.4 A empresa registra os produtos desenvolvidos? Possui alguma patente ou

modelo de utilidade? Teve facilidade no processo de registro? A estrutura e

informações disponibilizadas pelo governo são suficientes? O que poderia melhorar?

3.14 Estrutura

3.14.1 O governo disponibiliza infra-estrutura tecnológica na sua região? Possui

parques tecnológicos com laboratórios de fácil acesso? Como a empresa se beneficia

desta estrutura? O que poderia melhorar?

3.14.2 Em sua região existem organizações de apoio à Ciência, Tecnologia e

Inovação? Quais?

3.15 Mercados

3.15.1 Quais os mecanismos de regulação do mercado utilizados pelo governo em

relação ao setor moveleiro? Houve alguma ação específica nos últimos 2 anos? O que

poderia ser feito para melhorar o mercado para o setor?

3.15.2 Qual o apoio do governo com relação à exportação? Possui algum mecanismo

de apoio? Possui algum órgão orientando estas ações? O que o governo poderia fazer

para facilitar este processo?

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3.15.3 Existe algum apoio do governo para aquisição de tecnologia estrangeira? Como

funciona? Quais os benefícios dessa ação? O que pode melhorar?

3.15.4 Você encontra muitas barreiras regulatórias no seu mercado? Como isso

poderia ser facilitado?

3.16 Incentivo e fomento

3.16.1 Faz uso de algum mecanismo como incentivo fiscal (Lei do Bem ou Lei da

Inovação)? É importante para a empresa? Como poderia melhorar?

3.16.2 Faz uso de recurso público como subvenção econômica, financiamento ou

algum outro programa de incentivo à inovação?

3.16.3 Faz uso de programas do governo para capital de risco como INOVAR e

INOVAR SEMENTE da FINEP ou Programa CRIATEC do BNDES.

3.16.4 Faz uso de financiamentos privados destinados a inovação?

3.16.5 Utiliza bolsa para pesquisa? Quantas? Que tipo?

3.17 Outras

3.17.1 Você considera o papel do governo no estímulo à inovação efetivo?

3.17.2 Dentre as possibilidades de atuação do governo no incentivo à inovação, o que,

não sua opinião, seria mais importante?

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APÊNDICE 3 - SÍNTESE DAS QUESTÕES DO ROTEIRO DE ENTREVISTA

AMBIENTE ELEMENTOS PERGUNTA

Micro

(estrutura

interna à

empresa)

· Estrutura adequada e ambiente criativo 3.1.1 / 3.1.2 / 3.1.3 / 3.1.4

· Descentralização e redução dos níveis hierárquicos 3.2.1 / 3.2.2 / 3.2.3 / 3.2.4

· Liberdade de decisão e responsabilidade pelos resultados 3.2.1 / 3.2.2 / 3.2.3 / 3.2.4

· Visão compartilhada, liderança e desejo de inovar 3.3.1

· Indivíduos-chave 3.4.2

· Trabalho em equipe 3.4.1

· Aprendizagem 3.5.1 / 3.5.2 / 3.5.3

· Comunicação 3.6.1 / 3.6.2 / 3.6.3 / 3.6.4

Meso

(relações da

empresa)

· Organizações de caráter associativo 3.9.1 / 3.9.2 / 3.9.3

· Empresas privadas e instituições de P&D 3.10.1 / 3.10.2 / 3.10.3 / 3.10.4

· Organizações de Ensino 3.11.1 / 3.11.2

· Organizações públicas e privadas 3.10.1 / 3.10.2 / 3.10.3 / 3.10.4

· Empresas de capital 3.16

Macro

(políticas

públicas em

inovação)

Aprendizado e

conhecimento

· Formação de recursos humanos [ensino

básico e especializado] 3.13.1

· Capacitação 3.13.2

· Acesso a informação 3.13.3

· Serviço de extensão tecnológica 3.13.3

· Agilidade, facilitação e eficiência do

processo de propriedade intelectual 3.13.4

Estrutura · Infraestrutura tecnológica 3.10 / 3.14.1

· Organizações de apoio à C, T &I 3.10 / 3.14.2

Mercados · Mecanismos de regulação do mercado 3.15.1

· Orientação e acesso a exportação 3.15.2

· Acesso a tecnologia estrangeira 3.15.3

· Redução de barreiras regulatórias 3.15.4

Incentivo e

fomento

· Incentivo fiscal, subvenção econômica e

financiamentos à P&D (pública, privada

e cooperada) e a inovação;

3.16.1 / 3.16.2 / 3.16.4

· Bolsas para pesquisadores 3.16.5

· Aporte de capital de risco. 3.16.3

FONTE: Elaborado pela autora