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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL UniBrasil MARIELI CASTIONI HOW I MET YOUR MOTHER E THE NEWSROOM: REPRESENTAÇÕES JORNALÍSTICAS NA FICÇÃO SERIADA CURITIBA 2014

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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UniBrasil

MARIELI CASTIONI

HOW I MET YOUR MOTHER E THE NEWSROOM:

REPRESENTAÇÕES JORNALÍSTICAS NA FICÇÃO SERIADA

CURITIBA

2014

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MARIELI CASTIONI

HOW I MET YOUR MOTHER E THE NEWSROOM:

REPRESENTAÇÕES JORNALÍSTICAS NA FICÇÃO SERIADA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito para a obtenção do grau de

bacharel em Jornalismo, Escola de

Comunicação das Faculdades Integradas do

Brasil – UniBrasil.

Orientadora: Profª. Maura Oliveira Martins

CURITIBA

2014

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão de curso ao meu falecido irmão Maurício

Castioni, que mesmo nos deixando cedo, seu coração ficou conosco para conseguir

enfrentar essa difícil porém incrível jornada que Deus nos proporcionou. Sei e sinto

que sempre está ao meu lado, me dando forças para continuar. Tudo neste trabalho

é para você meu grande irmão.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

Ao meu noivo Bruno Sena, pessoa com quem аmо partilhar а vida. Com ele tenho

mе sentido mais viva de verdade. Obrigado pelo carinho, paciência е por sua

capacidade de me trazer paz na correria de cada semestre. À minha irmã pelo

incentivo e apoio incondicional e à minha mãe e pai que sempre me incentivaram a

fazer novas conquistas.

À minha orientadora Maura Martins, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube,

pelas suas correções e incentivos.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram

a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, e pela confiança no mérito e ética

aqui presentes.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito

obrigado.

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“O desejo de vencer é a mais poderosa arma e fórmula para o sucesso” - Mauricío Castioni.

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Resumo O trabalho analisa como se insere a representação social do jornalista em duas séries ficcionais televisivas The Newsroom e How I Met Your Mother. O objetivo da análise é investigar como se consolidam as representações sociais do jornalista em discursos provenientes de diferentes gêneros, drama e humor. Tem-se como hipótese inicial que ambos os discursos concretizam representações estereotipadas do profissional de jornalismo, ainda que o texto de uma das séries pretenda-se realista, enquanto o da outra se pretenda cômica. Para a investigação de tal hipótese, o trabalho utiliza como referencial teórico as pesquisas sobre representações sociais e emprega como aparato metodológico a análise de discurso. A análise adota como corpus dois episódios das referidas séries, que têm como temática comum às tensões entre a vida pessoal e profissional dos jornalistas.

Palavras-chave: representações sociais; seriado; How I Met Your Mother; The

Newsroom; personagem jornalista.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7

2. DELIMITAÇÃO DO TEMA .............................................................................................. 10

2.1 Cultura da mídia ............................................................................................................... 10

2.2 A ficção seriada como produto sintomático da cultura da mídia .............................. 11

2.3 A cultura da mídia exporta legitimidade para a ficção seriada de jornalistas ......... 13

2.4 Dois gêneros e uma definição: humor versus drama – correlatos da ficção .......... 16

3. REPRESENTAÇÃO SOCIAL – UM CONTEXTO BÁSICO .......................................... 20

3.1 O que é um estereótipo? ................................................................................................. 22

3.2 Estereótipos da profissão do jornalista enquanto apresentados na ficção ............. 24

4. OBJETO ............................................................................................................................... 29

4.1 How I Met Your Mother .................................................................................................... 29

4.1.1 Robin Charles Scherbatsky Jr .................................................................................... 30

4.2 The Newsroom.................................................................................................................. 32

4.2.1 William McAvoy ............................................................................................................. 33

4.3 Recorte Feito .................................................................................................................... 35

5. ANÁLISE DE DISCURSO – O QUE É? PARA QUE SERVE? .......................................... 35

5.1 A pertinência de uma pesquisa em representações sociais com elementos da

análise de discurso francesa ................................................................................................ 37

5.2 Quem são os objetos de uma análise do discurso ...................................................... 39

5.3 Objetos jornalistas ........................................................................................................... 40

6. RECORTE DOS OBJETOS ANALISADOS ....................................................................... 42

6.1. The Newsroom – episódio 6 da primeira temporada – bullies .................................. 44

6.2 How I Met Your Mother – episódio 4 da sétima temporada – The Stinson Missile

Crisis ........................................................................................................................................ 50

6.3 Critérios de análise discursiva para as séries .............................................................. 54

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 57

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 60

9. ANEXOS ......................................................................................................................................... 64

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho propõe a análise comparativa da representação do jornalista nas

séries How I Met Your Mother (Como Eu Conheci Sua Mãe) e The Newsroom (A

Redação). As distinções das séries no formato de gêneros diferentes, é essencial na

imagem representada e apresentada do jornalista nas séries. Porém não é levado

tanto em consideração, pois o que mais dá credito a essa tal representação é o

significado que se traz no decorrer das falas e imagens em que o jornalista aparece

realmente trabalhando. Estudar as representações requer atribuições

comportamentais a outras pessoas e ao ambiente, porque toda explicação

primeiramente parte da ideia do que nós temos de realidade, como quando, nos

perguntamos por que, já se começa neste momento uma representação social, a fim

de buscar uma resposta. (MOSCOVICI, 2012, p.85)

Os objetos de pesquisas foram escolhidos por mostrar de forma distinta a

profissão de jornalista. Ambos concretizam representações sociais da profissão, e

mais que isso, a especificidade de cada um difere na forma de como quem assiste

vê a profissão em dois contextos distintos, drama e humor. Foram analisados

comparativamente ambos os estereótipos, de modo a contribuir ao estudo das

representações sociais.

O aparato teórico será baseado nas representações sociais, pois fornece

características para absorção de momentos significativos na sociedade. Já que uma

característica principal das representações é classificar algo para poder inseri-lo num

contexto conforme experiências, que pode ser desde o normal ao aberrante

(MOSCOVICI, 2012, p.65).

O aparato metodológico será baseado na análise de discurso, pois é

produtivo para mapeamento de vozes e identificação de sentidos. A análise introduz

uma linguagem de imagens como forma de apresentar e diferenciar algo a todos.

É preciso considerar que o jornalista principal de The Newsroom, William

McAvoy1, busca ser aquele em que todos querem se basear como profissionais (ou

seja, corresponde a uma representação idealizada do jornalista); enquanto a

personagem jornalista de How I Met Your Mother, Robin Scherbatsky, é tão ligada à 1 A série é toda construída com jornalistas, alguns apresentadores, produtores e correspondentes,

como: Jim, Charlie, Maggie, Don, Mackenzie e Neal e Sloan. Mas Will McAvoy é citado porque seu papel é central e se funde com aos outros, não por ser o âncora, mas no contexto dele ser completo como um jornalista-produtor-editor. É o protagonista da série.

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profissão quanto a sua vida pessoal (o que tantos querem conciliar tão bem como

ela).

A teoria das representações sociais se torna o aparato ideal à pesquisa

porque busca nas imagens, sons e falas apresentar e identificar a origem e/ou o

modo de como é e foi relacionado a algo. "Sempre necessitamos saber o que temos

a ver com o mundo que nos cerca. É necessário ajustar-se, conduzir-se, localizar-se

física ou intelectualmente, identificar e resolver problemas que o mundo põe. Eis

porque construímos representações" (JODELET, 2014, p.01). Eis porque se estuda

essa área, para enfim compreender porque uma ou mais pessoas constroem as

mesmas ou diferentes representações, no caso aqui, do jornalista. E mesmo com

uma definição, estamos cercados de estereótipos, novos sentidos e representações

sociais, o mundo precisa dessa definição para buscar respostas, mesmo que não

haja uma representação ideal ou correta.

As representações sociais, para Jodelet (id), são tratadas como sistemas de

interpretação, que organizam e orientam as formas de comunicação para fazer

relação com o mundo e intervêm em processos tão diferentes nas expressões e

definições de grupos sociais (ibid, p.05). Esses grupos formam para a sociedade

referências básicas para compreender, estudar e acima de tudo pesquisar sobre o

tema.

O presente trabalho nos direciona a uma pequena parcela para explicar o

porquê à representação está direta e indiretamente ligada às mídias sociais, ao

jornalista e ao formato de produtos.

A falta de credibilidade da jornalista Robin Scherbatsky vista na série How I

Met Your Mother pode apontar para uma representação excessivamente cômica da

profissão, o que já não acontece na série dramática The Newsroom. Um exemplo é

o segundo episódio da primeira temporada de How I Met Your Mother, no qual a

jornalista aparece de forma séria, numa representação mais próxima da realidade.

No episódio número quatro, no entanto, a personagem apresenta uma

faceta mais estereotipada. Em uma das cenas, ela aposta com um amigo que pode

falar “mamilos” ao vivo o jornal que apresenta; no seriado The Newsroom, não

vemos esse jogo “ao vivo” e nem fora do expediente, ao trabalho deles é ético acima

de tudo.

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Diante disso, as perguntas são: até que ponto é possível identificar a

representação da profissão de jornalista na personagem fictícia da Robin

Scherbatsky? O personagem de William McAvoy de The Newsroom se parece mais

com o modelo comum de profissional? Quais são as representações nas duas

séries? Qual a forma que se alimenta essa representação? São as roupas? As

falas? Os gestos?

Moscovici (2012), Travancas (1992), Vizeu (2014), Hall (2003), Senra (1997)

entre outros autores das representações sociais e profissão jornalista, são

essenciais para a trajetória de pesquisa sobre a área.

O trabalho de conclusão de curso contribui para uma pesquisa futura de

como fundamentar as questões de gêneros e jornalismo.

O tema tem como base comparar a realidade e a ficção do papel do

jornalista na sociedade. A monografia é essencial para o relatório analítico deste

trabalho de conclusão de curso, a importância social acresce na visão do profissional

fora e dentro da televisão.

O tema é importante ser retratado, pois diferente do filme de uma hora, duas

ou até três, o telespectador acompanha por meses o papel e julga daquela forma

como é mostrada a representação de uma profissão tanto no quesito dramático

quando no humorístico2.

O seriado How I Met Your Mother foi escolhido para ser analisado neste

projeto por causa de uma forte representação associada ao jornalismo feito pela

personagem Robin. E a série The Newsroom foi escolhida por compor em sua base

fixa, uma redação de jornalistas. A personagem Robin Scherbatsky, foi escolhida

porque ela é a única jornalista principal da série e pelo seu modo de ligar com

fontes, fama, família e público e o personagem Will McAvoy, é o ancora (assim como

a Robin) e é o principal.

A importância deste estudo para o jornalismo, ou para a discussão das

representações sociais no âmbito da comunicação. A busca por séries americanas

(já que o Brasil não produz massivamente séries) contextualiza a frequente

atualização por parte dos telespectadores enquanto moderadores de estereótipo. O

que causa uma frequente avalanche de equívocos, trazendo más interpretações não

só para profissionais da comunicação, mas de todas as áreas.

2 Sempre de acordo com o repertório.

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2. DELIMITAÇÃO DO TEMA

2.1 Cultura da mídia

Compreender os meios pelos quais o homem experimenta a cultura – e, por

consequência, as maneiras nas quais entra em contato com as representações

sobre os grupos sociais que o cercam – deve passar, gradativamente, pela análise

dos produtos midiáticos os quais consome em seu cotidiano. Assim, o estudo aqui

proposto (a investigação da representação do jornalista materializado em dois

produtos ficcionais de gêneros distintos) tem como pressuposto que “as narrativas e

as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os mitos e os recursos que

ajudam a construir uma cultura comum para a maioria dos indivíduos em muitas

regiões do mundo de hoje” (KELLNER, 2001, p. 9).

A cultura veiculada pelos meios de comunicação oferece um incremento

pessoal aos indivíduos, com base em material de identidades. Com isso corroboram

com a globalização da cultura, que se faz por meios dos veículos disponíveis –

rádios, tevês, revistas e afins – informando por meios de imagens e sons (Id, p. 9).

No meio televisivo, Tesche argumenta que o espaço destinado ao que é

informação e o que é ficção é uma construção de linguagem. “Ali, tudo acontece

muito além da linha vermelha que separa o real do fictício; o recorte da realidade

obedece a critérios de uma produção estética construída pela seleção de ângulo,

altura, movimento, distância e enquadramento de câmara, iluminação, sonorização,

montagem, vozes e muitos outros elementos”. Ou seja, a mensagem audiovisual,

transporta identidades e linguagens que, querendo ou não, ajudam no consumo de

“novas ideias de mundo” (TESCHE, 2002, p. 08).

Vizeu (2014) relata bem essa dinâmica, pois hoje as mídias mediam as

formas de fazer ver, sentir e acreditar de uma sociedade, oferecendo um material

cotidiano para dialogar e entender temas amplamente discutidos por outros

telespectadores e também por divulgá-las de modo boca-a-boca. Para o autor, "no

campo midiático, o jornalismo e com isso a cultura da mídia assume hoje um

imprescindível papel de mediação, garantindo deste modo a constituição de um

sentido comum e a indispensável coesão social" (id, p.02).

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A mídia e sua cultura, para Vizeu (ibid.), são de extrema importância para

todos, porque sem elas (a cultura vinculada à mídia), o indivíduo fica reduzido

apenas ao que o cerca – os parentes e a comunidade local onde este sujeito está

inserido – ampliada e sem sair de onde apenas os olhos enxergam, ou seja, sem

perspectiva. Para Kellner (2001), a importância da cultura da mídia se deve à sua

proximidade com o mundo real, no sentido de ofertar ao espectador diferentes

discursos provindos do mundo externo e, consequentemente, aproximando

pensamento e o comportamento. Mesmo assim, o consumidor pode resistir e acabar

criando a própria leitura e seu modo de inventar “significados, identidades e forma de

vida própria” (id, p. 9).

2.2 A ficção seriada como produto sintomático da cultura da mídia

As ficções seriadas, exploradas especialmente pelos veículos midiáticos

televisivos, costumam abordar temas relacionados à realidade (assim, traz às

pessoas valor informativo, ao se referir ao que acontece no mundo) que é essencial

para a cultura (KELLNER, 2001, p. 9). Balogh concorda e acrescenta que “a ficção

não tem, em princípio, nenhum compromisso maior com a verdade e nem com a

realidade, tem apenas um compromisso de verossimilhança no relato” (BALOGH,

2002, p. 02). 9).

Os seriados, como um produto central na cultura da mídia, adquirem um

enquadramento com estruturas distintas do nosso produto nacional (id, 2012, p. 05),

pois passaram a servir de plano para chamar atenção e perder um pouco a

criatividade humana (KELLNER, 2001, p. 11). Para Kellner, “a cultura, em seu

sentido mais amplo, é uma forma de atividade que implica em alto grau de

participação, na qual as pessoas criam sociedades e identidades. A cultura modela o

indivíduo, evidenciando e cultivando suas potencialidades” (id, p. 11).

Essa potencialidade vem do poder da televisão já que com “exceção feita ao

rádio (…), nenhum outro veículo tem presença e permanência tão fortes quanto à

TV” (BALOGH apud ELALI, 2012), que fica conectada e com uma programação

disponível ao espectador durante o dia todo, e ano após ano.

Santos (2003) demostra que os seriados entraram de forma discreta na TV

brasileira e foram ofuscadas, a princípio, pelos novos formatos literários para a

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televisão e pela forte relevância das novelas. “Em linhas gerais, os primeiros

seriados brasileiros tinham estrutura semelhante aos seriados norte-americanos,

mas somente no final dos anos setenta é que os seriados vão se tornar e se basear

na realidade brasileira” (id, p. 04).

Se as telenovelas brasileiras assumiram o lugar do seriado na mobilização de símbolos nacionais, de espaço público para se efetuarem comentários da conjuntura política, econômica e social, ou seja, tratar dos temas da realidade brasileira como avaliam alguns autores, o seriado em compensação com menos compromisso com a política de audiência

3,

tornou-se seguramente o lugar da livre experimentação estética e de representação imagética (id. p. 08).

Por ficção seriada definem-se as “sequências de histórias independentes,

vividas pelos mesmos protagonistas, articuladas numa ação que se desenvolve

dentro de um contexto cultural determinado” (PALLOTTINI, 1996, p. 02). E a

diferença de algumas ficções são tomadas pelos subtítulos: minisséries, telenovelas

e séries. “A minissérie exige menos conteúdo ficcional, basta-se com histórias mais

simples e mais curtas, com menor número de personagens, de sets4 e de

complicações” (id). A minissérie não é tão longa; “em comparação ao grande

romance da telenovela, a minissérie é um romance curto, uma similaridade da

novela literária” (ibid). Diferente das minisséries e mais perto das telenovelas, as

séries vão ao ar ainda em construção, sem esse imediatismo do final, há dramas,

romances e um contexto por trás, que de acordo com as recepções do público,

“Passa a durar mais ou menos, a telenovela segue esse rumo, porém o autor já a

tem toda escrita, mas se precisar mudar algo, muda. Já as minisséries, só vão ao ar

quando são inteiramente terminadas” (PALLOTTINI, 1996, p. 03-04).

E essas definições, que parecem simples, viram complexas na prática.

Visando que elas são interligadas com determinados personagens fixos, que

possuem representação confundida em uma mesma visão explicativa das novelas

(SANTOS, 2003, p. 07).

As novelas e os programas televisivos podem gerar opiniões e

comportamentos, construindo ideias sobre como o mundo deveria ser e veiculando

mensagens enganosas que podem alcançar grande credibilidade da realidade, isto

3 Assim entra como exemplo o seriado “A diarista”, “A grande família” e “Agora sim” (2003, 2001 e

2014 respectivamente). 4 Local das gravações ou filmagens.

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é, “não são simples reflexos do mundo, mas construções específicas e,

consequentemente, representam formas de conhecimento sobre o mundo” (BAKER

apud ELALI, 2012, p. 06).

Valim (2014), em um estudo sobre o pensamento de Kellner (2001), defende

que tudo que é veiculado na mídia pode gerar dados para uma significância na vida

de quem consome, “até porque a hegemonia é negociada, renegociada e vulnerável

a ataques e à subversão, em uma relação em que a própria mídia oferece recursos

que os indivíduos podem acatar ou rejeitar” (VALIM, 2014 p.02). Ou seja, há uma

grande questão em pauta aqui, em que sugere:

Constante preocupação em contribuir para que as pessoas entendam melhor e sejam capazes de discernir as mensagens, os valores e as ideologias, presentes na cultura veiculada pela mídia, nos parece bastante louvável, pois promove um questionamento mais geral da organização da sociedade, favorecendo a participação política e contribuindo para transformações sociais (id, p.03).

As transformações se dão de acordo, em casos como de séries e filmes, em

que a cultura da mídia se fortalece para criar tais apresentações mediante o público

e assim expandir temas ligados ao sexo, raça e classe, tanto no cinema como em

cultura popular (ibid, 2014, p.04- 05). Aliando assim a cultura da mídia, a ficção e a

representação de uma profissão, como sustentado a seguir.

2.3 A cultura da mídia exporta legitimidade para a ficção seriada de

jornalistas

Há formas de apresentar e representar algumas profissões, que são

consideradas distante do verossímil. Pois não há uma forma de representar algo

sem símbolos, formatos e afins. Visando que não tem como fazer esse recorte de

uma vida inteira em uma série ou filmes em que há pouco tempo e espaço para

apresentar todas as características de certa profissão.

Nisso são feitos pequenos recortes considerados grandes símbolos e assim

se apresenta o objeto na série. Um bom exemplo são os filmes com jornalistas, em

que os símbolos básicos são: leem jornal, fumam ou bebem, são curiosos e são

quase sempre mostrados como heróis, como explica Tesche (2002, p.11), Balogh

acredita que “no mundo da ficção há regras e recortes próprios que o distanciam da

realidade” (2002, p.02).

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Um desses recortes é o temporal, por meio de elipses, nas quais é reduzida

uma boa parte da vida de um personagem em alguns episódios da série, ou em

duas horas de filmes, gerando um distanciamento com o que de fato ocorreu e como

ocorreu; se foi daquela maneira apresentada.

O que é mostrado é mais do que contar a vida inteira do personagem. Um

recorte é mais que explicativo e diferenciado para explicar uma personalidade e ou

uma ação tomada pelo personagem (id). “Embora a ficção televisiva não esteja

inteiramente livre da imitação do real, ela não se reduz a isso” (TESCHE, 2002, pg.

05).

Como um bom exemplo para essa imitação não generalizada, foi o primeiro

filme com um personagem jornalista, O Poder da Imprensa5 (The Power Of The

Press) que foi feito nos Estados Unidos em 1909, e que conta a história de um

político que tenta corromper um jornalista. Vendo que não iria conseguir, ele se volta

contra o profissional e a sua reputação, fazendo-o ser mal visto na sociedade. A

imitação de uma possível realidade neste filme já se consta como um profissional

ético, herói e que está a serviço do povo, desde esse filme, podem-se ver vários

outros filmes lançados com um formato não generalizado, como: Cidadão Kane

(Citizen Kane, (EUA, 1940) e Todos os homens do presidente (All the president’s

men, EUA, 1976). No Brasil, algumas produções investiram na profissão de jornalista

para alavancar o poder e a credibilidade dessa profissão.

Exemplos como: Jenipapo (Brasil, 1995) e Doces Poderes (Brasil, 1997)6.

Nessas séries, filmes e afins veiculados na mídia, busca-se culturalmente

trazer bens “simbólicos que se constituem nesse acoplamento de campos, e que têm

a função de constituir um determinado senso de realidade” (TESCHE, 2005, p.03).

Quando falta esse senso, a narrativa não tem valor.

São eles que vão embasar suas regras e estruturas. É a partir desse senso de realidade compartilhado que o processo de socialização torna-se uma linha de experiências contínua a partir da qual os espectadores definem o modo como veem o mundo representado na tela” (id), um representar compartilhados (TESCHE, 2005, p.03).

Todo esse modo de representar algo é para refletir “uma realidade que se

vincula a um regime de educar7, radicalmente comprometido com a verossimilhança

5 Dirigido por Van Dyke Brooke

6 Original de Jornalismo &Cinema - http://bit.ly/1Cqjv5h acesso em 23 de agosto de 2014.

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cultural” (TESCHE, 2005, p. 10). Isso faz com que se apresente um lugar de conflito

entre as forças de produção e os modos de recepção. E, cada um deles possuem

interesses próprios que os levam a originar uma disputa pelo significado. Com isso

só deve ser real o que contém valores culturais, tanto pela mídia e a sua cultura,

quanto pelo modo geral (id).

O telespectador diverte-se porque essas representações em telenovelas,

filmes e séries o ajudam a entender o mundo em que ele próprio está inserido. Ele

reconhece o seu mundo nos mundos da imaginação. Mas também aprecia a

capacidade que ela tem de criar conjuntos de situações alternativas que colocam o

mundo real em outras perspectivas. A ficção desafia a realidade (TESCHE, 2002,

p.11).

Após vários filmes com jornalistas, começaram a aparecer algumas séries

em que o papel central é de um personagem jornalista, tais como 30 Rock (EUA,

2006), News Radio (EUA, 1995), How I Met Your Mother (EUA, 2005) e The

Newsroom (EUA, 2012).

Nos dados a seguir, podemos ver que as casas norte-americanas e sul-

americanas possuem televisores e que esse meio é usado frequentemente. De

acordo com o Instituto Nielsen (2008) 99% das moradias possuem televisão. Há 2,24

televisores/habitação e um americano típico passa 7 horas/dia com a televisão

ligada. Pensando na audiência e criando novos formatos para o público a consumir

mais a cultura da mídia e a ficção seriada, os canais de televisão aberta e fechada

criam séries de acordo com a temporada.

Como a fall season8 é a principal delas, é nesse período que as maiores

apostas de cada canal têm início. A série HIMYM9 estreou na fall season, no dia 19

7 Originalmente chamado de Regime Escópico. Nada mais é do que a forma de como se usa uma

imagem tanto para gerar novas representações, quanto para educar no sentido real da palavra, trazer algo novo e apresentar como um dado certo. Disponível em: http://bit.ly/1lQTrhk. Acesso em 02 de setembro de 2014. 8 O fall season é o período mais importante na TV americana para as séries. As novas temporadas

das séries de sucesso, e as novas apostas dos canais entram no ar durante esse período, que geralmente começa em setembro e vai até maio. Disponível em <http://bit.ly/1g6VxjL> acesso em 13 de março de 2014.

9 Daqui em diante How I Met Your Mother será abreviado por HIMYM

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de setembro de 2005 e acabou em 31 de março de 2014. A série TN10 estreou em

24 de junho de 2012 na mid season11 e está no ar até data presente deste trabalho.

HYMYM é uma comédia de situação (sitcom12), um dos mais conservadores

e consagrados gêneros de ficção seriada nos Estados Unidos. TN é um drama de

tema especifico voltado para situações da profissão de jornalista. Esse produto

sintomático da mídia reforça que em comparação com os seriados produzidos no

Brasil, os Estados Unidos possuem uma relação com público sobre o produto que se

mostra bastante diversificado. Devido ao desenvolvimento tecnológico e à

estabilidade da televisão como meio de comunicação de massa (ELALI, 2012, p. 05).

Os programas televisivos inseridos na lógica da produção por gêneros

compartilham uma série de elementos comuns, como um estoque de sentido, um

modelo de mundo com seus objetos e eventos, de ações e de atores (TESCHE,

2002, p. 11). E é essa parte dos gêneros que vem a seguir.

2.4 Dois gêneros e uma definição: humor versus drama – correlatos da

ficção

Para entender melhor os gêneros ficcionais, temos que entender qual é a

definição de gênero em si. De acordo com Medina, a palavra vem do verbo latino

gigno, que traz a ideia de sexo, ou seja, uma linhagem, que de princípio engloba a

ciência e no qual possui diferenças de generalizações (MEDINA, 2001, p.01). Mas

Medina classifica melhor o gênero. “Que designa uma classe de discursos,

reconhecível graças a critérios de natureza socioletal”, ou seja, dois pares de alguma

coisa, no caso aqui, dois gêneros distintos (id, p. 02).

Agora, no sentido mais racional, a palavra “gênero é um conjunto de seres

ou objetos que possuem a mesma origem (...), ou categoria das línguas que

distingue classes de palavras (...), e na literatura, cada uma das divisões que

englobam obras literárias de características similares – são primordialmente três:

lírico, épico e dramático – e que formam as bases” (HOUAISS, 2009, p.963).

10

Daqui em diante The Newsroom será abreviado por TN. 11

Entre um fall season e outro, acontece o mid season, que seria a “temporada do meio”. É nesse período que entram séries muitas vezes descompromissadas, para durar uma ou duas temporadas mesmo, com poucos episódios. Disponível em <http://bit.ly/1g6VxjL> acesso em 13 de março de 2014. 12

Comédia de situação é usada para designar uma série com personagem e que exista toda uma história, um contexto como família, trabalho e amigos.

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17

As três bases são entendidas por um grupo que faz com que a imagem, a

imaginação, o personagem e o narrador se distanciem (GARCIA, 2007 p.18). E que

baseiam em formas “ou manifestações como o poema, o romance, o conto, a

novela, a tragédia, a comédia etc; admitindo-se variantes, formas mistas e o

aparecimento de novas realizações artísticas” (PROENÇA FILHO, 2007, p. 70).

Voltando um pouco agora para uma definição ampla de gênero, em que

Medina cita os primeiros estudos do gênero, que era uma atividade já feito na Grécia

antiga, “Platão propôs uma classificação binária, entre gênero sério, que incluía a

epopéia e a tragédia, e gênero burlesco, do qual faziam parte a comédia e a sátira”

(MEDINA, 2001, p.01). Mais além em sua pesquisa, Platão classificou de outra

maneira, sendo uma variação de “entre literatura e realidade, à luz do conceito da

imitação: gênero mimético ou dramático (tragédia e comédia); gênero expositivo ou

narrativo (ditirambo, poesia lírica); e gênero misto, constituído pela associação das

duas classificações anteriores (epopéia)” (id).

Sabendo que o gênero tem as suas variantes, Bonini acredita que o conceito

ainda está em fase de construção, “mas o que se tem é que de modo consensual, a

língua do ponto de vista de sua prática, reflete, de acordo com o gênero

principalmente, os padrões culturais e interacionais da comunidade em que está

inserida” (BONINI, 2014, p.02).

Assim, um gênero literário, ainda que possa ser delimitado e definido

conceitualmente com a concepção de categorias que ele insere, ainda que

aceitando a conclusão do conjunto de narrativas, serve como estratégia para que

possa afirmar a existência de outros tipos de gêneros literários e de delimitá-los em

função da manifestação dos tipos de narrativas (GARCIA, 2007, p.20).

Nesses outros tipos de gêneros se inserem o drama, que na literatura, por

exemplo, “participa dos caracteres da tragédia e da comédia. Esse hibridismo não só

se revela no drama romântico mas também em outras formas literárias, como no

romance” (MEDINA, 2001, p.02). E o gênero de comédia, que “o desafio do humor é

construir um texto evocando outro, texto que apresentará uma oposição em suas

proposições, deflagradas pelo jogo de significados por via de elementos semânticos”

(GRAMISCELLI, 2008, p.05).

Logo esses dois gêneros têm suas distinções e amplitudes, como no caso

do humor, em que “há duas importantes premissas para trazer esse efeito: o texto

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18

ser compatível com duas proposições que se opõem e que sejam percebidas como

opostas em determinado contexto”, e nisso se forma o humor com três diferenciais

“dicotomias real/irreal, oposição de discursos e categorias da existência humana,

atual/não atual e absurdo/possível”. Portanto, o humor se utiliza de vários contextos

que usa pequenos espaços para realizar uma mediação da comédia.

(GRAMISCELLI, 2008, p.04 e 05)

A comédia promete ainda o riso, já o drama, “busca aflorar emoções e

sentimentos relacionados ao angustiante, que, diante disso, podem-se destinguir

sentimentos opostos e que reflete em características diferentes, que também se dá

de acordo com cada pessoa” (ARAUJO, 2014, p.02). Araújo ainda cita mais sobre o

drama, que busca ser “um desfecho catártico, em que toda a violência potencial é

absorvida nos limites da encenação realizada na arena pública” (id).

Tanto no humor, como no drama, o conflito existe, mas não tão explícito, já

que o texto permite “rir” de tudo e de todos, sem tanto criar conflitos internos e

externos com os personagens. Como cita Carvalho, ao falar do efeito risível, “humor

é obtido por meio das estratégias discursivas utilizadas nas piadas de um modo

geral, como a possibilidade de dupla interpretação, sendo selecionada pelo autor a

menos provável” (2014, p. 04). Ainda nisso é possível perceber que o humor é

baseado no desenvolvimento de uma situação com a temática do momento para

elevar algumas características de personagens tanto quanto a profissão como das

qualidades pessoais (id, p.04).

A discussão acima buscou trazer uma reflexão sobre os gêneros em

questão, como elemento para a análise da personagem Robin Scherbatsky, que

gera de forma indireta e diretamente o drama e o humor como forma de interação.

Os gêneros fundantes determinam a construção desses dois personagens, pois:

há duas importantes premissas para o efeito de humor, portanto o humor seria uma relação de proposições diversas, em que o sentido é produzido nas fendas, nas interfaces dessas oposições (GRAMISCELLI, 2008, p.04-05).

Já que o desafio do humor é construir um texto evocando outro, “texto que

apresentará uma oposição em suas proposições, deflagradas pelo jogo de

significados por via de elementos semânticos” (id, p.05). Para Raskin, do ponto de

vista psicológico, humor e riso são apenas estratégias de dissimular/mascarar outros

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estados mentais. Isso explicaria por que as pessoas costumam rir para disfarçar a

timidez ou o nervosismo. O riso, além de ser expressão de sentimentos de alegria,

felicidade, prazer e diversão, seria mecanismo de defesa (RASKIN apud

GRAMISCELLI, 2008, p.07).

Ainda inferir que o humor enquanto estratégia para determinado fim é de

cunho intencional, pois aponta uma direcionalidade no plano discursivo: atingir o

interlocutor, embora o humor não mire especificamente o indivíduo, ou a instituição,

mas a própria condição humana (id). O riso ocupa importante espaço em nosso

cotidiano e a televisão tem explorado a capacidade mutável do riso para entreter e

informar, entre outros (NOLL, 2013, p.01).

Já para os gêneros fundantes, no sentido dramático, que serve aqui para

determinar a construção do personagem Will McAvoy, “se é certo e tudo é drama,

que drama é ação e que ação é atividade de intensidade, significações e objetivos”

(PALLOTTINI, 1998, p.45).

A natureza do humor e, consequentemente, da piada vem, de acordo com

Ramos, do verbo piar e que contextualiza o contexto de riso, cômico, risível, mas

que depende do momento, porque há vários lados, como: humor irônico, jocoso,

farsa, paródia, sarcasmo, sorriso, sátira entre outros (RAMOS, 2011, p. 33). Ainda

de acordo com ele, “o riso surgiria a partir da mistura do prazer (o riso em si) com

uma das dores da alma, a inveja (manifestada na pessoa que é risível)” (id, p.37).

O risível, ou seja, o cômico é o oposto de trágico eventualmente. Pois é

associado com o verossímil e possui algumas relações de diferença com o trágico,

que “não pune os homens maus em seu desfecho (bem ao contrário da tragédia), e

representa os chamados homens baixos (não nobres)” (RAMOS, 2011, p.37). Nisso

o humor não se relaciona com dor e nem é visto de maneira negativa, e pode se

considerado inofensivo.

Ainda para ele, o homem “é o único animal que ri” (id) e esse riso é

provocado por um “calor na região do diafragma, motivo extremamente físico” (ibid).

Fora que ainda há uma terceira alternativa para explicar o humor, que pode ser

associado a uma oratória, que como exemplo pode ser distrair de algum ponto que

se queira esconder, exemplo o medo. Pode-se dizer que serve também para fazer

frases de duplo sentido (RAMOS, 2011,p.37).

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20

Gêneros são determinados pelos estereótipos, porque ele não é dado, ele é

construído de acordo com a interação entre pessoas e em certos dados ele é

maleável e variável, tal como a linguagem (RAMOS, 2011, p.19),

a forma padrão de manifestação dos gêneros viabilizaria o contrato verbal entre as pessoas. Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de cria-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível (id, p.18).

Classificamos os gêneros, de acordo com a tipificação do texto e nisso

passamos a ver outras características que serão dadas a seguir (ibid).

3. REPRESENTAÇÃO SOCIAL – UM CONTEXTO BÁSICO

A origem da expressão representação social é europeia, e ela designa ao

conceito do coletivo de Émile Durkheim, que foi deixado de lado até Moscovici

retomar “para desenvolver uma teoria das representações sociais no campo da

Psicologia Social” (ALEXANDRE, 2001 p. 01).

As representações sociais têm como preocupação responder, de acordo

com Vizeu (2014), o que as pessoas fazem, por que fazem ou compram, o que

compram, como votam, sobre o que conversam, por que fazem isso e não aquilo.

“Segundo a teoria por de trás dessas ações, e fundamentando as razões pelas quais

as pessoas tomam tais atitudes, está uma representação do mundo que não é

apenas racional, cognitiva, mas, muito mais do que isso é um conjunto amplo de

sentidos criados e partilhados socialmente” (id, p. 10).

As representações sociais, para Moscovici (2012), “são entidades quase

tangíveis, que circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através de

uma palavra, de um gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidiano” (p.45).

Vizeu (2004) diz que com o mundo oferece oportunidades para que seja comentado

e explorado, dando espaço a estudos como os da análise de discurso, os quais

verificam onde há representações (Vizeu, 2004, p. 10).

A cultura abre espaços para se fazer ligações para responder e entender o

mundo, “as representações sociais estão associadas às práticas culturais”

(ALEXANDRE, 2001 p. 13). Portanto, “não é uma cópia nem um reflexo e nem uma

imagem fotográfica da realidade, ela é uma tradução, uma versão desta”. Ela se

evolui, modifica-se continuamente, se move, e ao mesmo tempo de acordo com

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essas características, se formam na sociedade “sábios amadores13” (MOSCOVICI,

2012), para os quais o importante é falar do que todo o mundo fala. Já que “a

comunicação é berço e desaguadouro das representações, isto indica que o sujeito

do conhecimento é um sujeito ativo e criativo”, que não fica parado ao que o mundo

oferece, “como se a divisória entre ele e a realidade fosse um corte bem traçado”.

(ARRUDA, 2002, p.08).

Sêga (2000) acredita que as representações sociais são práticas e que

nomeiam os sentidos que já são reais, pois:

As representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana, uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objetos e comunicações que lhe concernem. O social intervém de várias formas: pelo contexto concreto no qual se situam grupos e pessoas, pela comunicação que se estabelece entre eles, pelo quadro de apreensão que fornece sua bagagem cultural, pelos códigos, símbolos, valores e ideologias ligados às posições e vinculações sociais específicas (SÊGA, 2000, p.01).

“O problema da representação está no fato de esta reproduzir mecanismos

de regulação e de controle do olhar em um jogo de visibilidade/invisibilidade que

define quem são e como são os outros” (SCORALICK, 2009, p.06), pois reproduzem

as representações com as quais a sociedade está familiarizada e evitam propor

alterações às ordens das coisas (id).

E nisso, se põe a prova, através de ações, “o valor – vantagens e

desvantagens – do posicionamento dos que se comunicam com ele, objetivando e

selecionando seus comportamentos e coordenando-os em função de uma procura

de personalização” (MALRIEU apud MAURER; SILVA 2004, p.35). Assim, então a

representação se constrói tanto da ação do sujeito quanto pelas formas que se opõe

ou concordam com ele (id).

Uma análise concreta das representações e tudo que as rodeia “só é

possível se as considerarmos inseridas num discurso bastante amplo, onde as

lacunas, as contradições e, consequentemente, as ideologias possam ser

detectadas” (MAURER; SILVA 2004, p.36). Esse discurso amplo envolve também

numa pequena, mas importante parte, o entendimento dos estereótipos para ajudar

13

No sentido de que todos podem e são capazes de opinar algo.

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a entender essas representações e assim detectar o que se precisa para formar uma

opinião sobre determinado tema.

3.1 O que é um estereótipo?

Segundo Vizeu (2004), ao citar Ferrés (1998) e que explica como se

classificam os estereótipos. Estes “são representações sociais, institucionalizadas,

reiteradas e reducionistas” (p.10). Os estereótipos divulgam uma visão

compartilhada sobre o que um coletivo possui sobre o outro, e que se baseiam na

repetição de imagens e que se parecem mais naturais, e que sua finalidade na

verdade é “que não pareçam formas de discurso e sim formas de realidade” (VIZEU,

2004, p.10).

Para Bhabha (1998), “o estereótipo é um modo de representação complexo,

ambivalente e contraditório, ansioso na mesma proporção em que é afirmativo,

exigindo não apenas que ampliemos nossos objetivos críticos e políticos mas que

mudemos o próprio objeto da analise” (p. 108).

Mas quando se fala em estereótipo, é preciso saber que se possui muitos

lados, ou “multiplicidade de faces” (BACCEGA, 2007 p.02). As pessoas buscam,

através de estereótipos e normas, se inteirar ao grupo que pertence, “buscando

garantir o êxito de suas ações e a aceitação social. Até porque, sem essas normas e

estereótipos, estaríamos sempre redescobrindo a América e constatando de novo

que o fogo queima e pode matar” (id). A partir desses procedimentos, o indivíduo vê

o que deixaram pronto para ele através da segmentação dos estereótipos e assim

deixando de ser “dono da voz e passando a ser apenas a voz do dono” (ibid).

Como introduziu Vizeu, os estereótipos são representações sociais

reiteradas porque são consolidadas com base numa repetição, e essa base se

subdivide em reiteração e rigidez, que fazem com que pareça mais natural essa

introdução. A grande finalidade dos estereótipos é com que se pareça mais com a

realidade e não com discurso, fazendo que algo complexo seja representado de

forma simples (VIZEU, 2014 p. 09).

O estereótipo dá acesso a uma "identidade baseada tanto na dominação e

no prazer quanto na ansiedade e na defesa, pois é uma forma de crença múltipla e

contraditória em seu reconhecimento da diferença e recusa da mesma” (BHABHA,

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1998 p.114). Este conflito entre prazer e desprazer, dominação e defesa,

conhecimento e recusa, ausência ou presença, tem uma significação fundamental

para o discurso colonial14 (id).

Para entender como se examina a consolidação de um estereótipo de uma

profissão, como a do jornalista, que será visto a seguir, primeiramente é preciso

passar ao entendimento do que é o estereótipo em si, que costuma ser associado “a

conceitos negativos manifestados quando é emitido julgamento acerca de algum

tema, de uma determinada pessoa, de um grupo, ou mesmo relacionado a ações”

(TELES, 2014, p. 27). Como esclarece Teles (id), não é somente de modo negativo

que esse estereótipo passa a revelar algo: “os estereótipos não devem ser

associados apenas a conceitos negativos, como nas origens dos estudos sobre eles,

mas por aquilo que é entendido e expresso pelo senso comum” (ibid, p.29).

Os estereótipos fazem parte do dia a dia da sociedade e formam opiniões e,

consequentemente, as atitudes que influenciam tanto no interior, quanto no exterior

dos grupos (Ibid, p.08).

Sem indivíduos não haveria sociedade, mas a menos que indivíduos também se percebam como pertencentes a grupos, isto é, dividindo características, circunstâncias, valores e crenças com outras pessoas, então a sociedade seria sem estrutura ou ordem. Estas percepções de grupos são chamadas de estereótipos (McGARTHY; YZERBYT; SPEARS apud TELES, 2014, p.28).

Para Teles, “todo relato vem impregnado dos valores e estereótipo da

cultura de quem relata” (p.09). Baccega já ressalta que muitos estereótipos chegam

até a uma pessoa editada pela mídia, “que nos conta a realidade através de relatos

impregnados de estereótipos que no mais das vezes nos são desfavoráveis”. Para a

autora, são esses os relatos que nos enchem e preenchem de “visões” sobre o

mundo e a todos que neles vivem (BACCEGA, 2014, p.10).

Os estereótipos, uma vez formados, comporão o conjunto de visões que um determinado grupo tem de sua realidade, assim como possivelmente influenciarão comportamentos e atitudes, o que pode interferir positiva ou negativamente na visão interna e na externa, ou seja, daqueles que não integram aquela comunidade (TELES, 2014, p.28).

14

Discurso cheio de “representações” e que conforme o discurso colonial inserido, ele pode

descaracterizar tudo o que já foi construído e criar um novo.

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Quando em determinado momento algo recai, diretamente ou não, acaba

fazendo parte e gradativamente dando opiniões de acordo com os repertórios

possuídos, na forma de palavras, “que é formado predominantemente pela

linguagem” (BACCEGA, 2014, p.09). O discurso carrega os conceitos e os

estereótipos. Desse modo, “acabamos por dividir os fatos em dois grandes blocos:

aqueles considerados normais em nossa cultura, ou aqueles considerados

estranhos” (id). Segundo Lippmann, quando nos aproximamos da realidade, "não

vemos primeiro para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos".

(LIPPMANN apud BACCEGA, 2014, p.08).

Neste caso, para a autora (id), é a partir desse fato de ver para depois

definir, que o estereótipo se torna um padrão é pode ou não interferir numa realidade

construída ou pré-construída pela cultura e linguagem. Nisso há a linguagem de um

profissional, que no caso aqui é o jornalista, que muitas vezes é “vítimas de

estereótipos” e transmite vários outros à sociedade de acordo com o representado

na ficção.

3.2 Estereótipos da profissão do jornalista enquanto apresentados na

ficção

Hoje em dia, muitas coisas chegam até o telespectador e/ou leitor editado

pelos meios de comunicação, que fomentam a realidade através de relatos cheios

de estereótipos e que na maioria das vezes são desfavoráveis. “São esses os

relatos que recebemos cotidianamente e que vão preencher nossa visão de mundo

não apenas sobre os fatos de que não participamos, mas, muitas vezes, também

sobre os fatos do universo em que vivemos” (BACCEGA, 2007 p.04). Teles reforça

esse pensamento e cita que, a televisão, os filmes e todos os veículos

comunicacionais contribuem de alguma forma com a interação do público e

“dependendo da intenção de aumentar ou diminuir defeitos e valores, de uma forma

que atrai a atenção das pessoas para o que se deseja ressaltar, ela pode mudar o

comportamento quanto à identidade” (TELES, 2014, p.28).

Fora essa introdução acima, sobre a forma em que a mídia chega até as

pessoas e o que se parte depois disso (o que as pessoas acabam achando de tais

estereótipos), se sabe que o mais representado neste quesito de ser estereotipado,

é o jornalista, e que, “nunca se conseguirá uma representação pura dessa profissão,

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que sempre estará reproduzindo visões de outrem – sem contar a presença de todos

os outros que formaram a sua própria visão de mundo” (COSTA, 2009, p. 09).

Assim como vários personagens que são apresentados e representados no

cinema, “o jornalista tem sua origem no mundo real, no ambiente do jornal com seus

espaços próprios e seus objetos de eleição, suas figuras características e seus

conflitos específicos” (SHARTZ apud SENRA, 1997, p. 45). Mas o

Filme de jornalista não constitui por sua vez um mero reflexo da realidade cotidiana dos jornais. A evocar o processo através do qual se definem de modo geral os diferentes gêneros cinematográficos, o crítico Thomas Shatz descreveu o modo como opera a dinâmica entre a chamada “realidade” e a forma ficcional. “Uma vez que uma história se repete no cinema e se refina até chegar a uma fórmula, sua base de experiência de vivida dá lugar a uma lógica interna que não diz mais respeito ao seu mundo de origem, mas é definida pelas normas especificas de cada narrativa cinematográfica” (id).

Há muitos filmes que possuem em seu roteiro personagens jornalistas,

principalmente os que buscam remeter o estereótipo constituído à profissão em

filmes e séries, há de se passar por uma breve explicação de como começaram

essas representações. Nota-se que há vários filmes com personagens jornalistas e

Gomes (apud SENRA, 1997p.03) cita que muitos pesquisadores fizeram uma busca

para identificar o número de filmes com jornalistas e as suas representações.

Pesquisadores percorreram aproximadamente 25 mil sinopses de filmes, e encontraram em 785 delas indicações das presenças de personagens jornalistas, protagonistas ou secundários, em tramas que variavam entre ter o jornalismo como atividade central na narrativa ou como acessória – destes filmes, 536 são norte-americanos (id).

“Quando o cinema começou a se basear em jornalistas para construir

personagens, já havia uma breve sintonia do mundo dos jornalistas para com os

seus leitores e fontes, as trocas operadas por ambos davam margem a novos

conceitos da profissão” (SENRA, 1997, p. 46). Isto acontece em filmes como

Confidencial (EUA, 2006), e em vários outros.

Esses filmes abaixo foram selecionados por possuir um jornalista como

personagem e por suas características pessoais se fundirem com a do profissional

relativamente apresentado no livro de Isabel Travancas (1992), no qual é dado a

caracterização de dados pessoais mais amenos, como: criatividade, altruístas,

generosos, são hábeis, buscam se fortalecer em suas profissões e são receptivos

com os novatos no ramo, entre outras características.

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O filme Confidencial (EUA, 2006) conta a história de Truman Capote, que

descobre um assassinato numa pequena cidade e vai até lá investigar. Com isso,

fica frente a frente com os assassinos e passa a entrevistá-los dentro da prisão para

saber o que se passou na sua vida para cometerem um crime como aquele (uma

família inteira foi assassinada, numa tentativa de roubo). A história pessoal do

jornalista e a história do crime passam a se fundir, sendo que Capote se apaixona

pelo presidiário. Até então as suas características se fundem com a do jornalista que

é curioso, que investiga, que se aprofunda e que se entrega ao trabalho, fora as

bebidas e o jeito criativo (se aproxima tanto dos presos quanto das outras pessoas,

contanto coisas interessantes sobre a sua vida), paciente (fica a espera que algum

morador da cidade o ajude, contando como era a família e o que acha das mortes) e

arrogante que o personagem mostra ser, dando ênfase às celebridades que

conhece. A história, mais tarde, virou um livro chamado “A Sangue Frio”.

O filme Intrigas de Estado (EUA, 2009) mostra um deputado que passa a ser

investigado logo que sua amante morre. Ao falar sobre ela na televisão, ele se

emociona e a partir disso todos passam a desconfiar que eles tinham um caso e que

talvez ele tenha algo a ver com a morte. Um jornalista, ex-chefe de campanha desse

mesmo deputado, começa a trabalhar num jornal no qual o deputado está sendo

investigado. Em suas características básicas, o jornalista é representado como

altruísta (ele acaba meio que ajudando o deputado a limpar a sua ficha, coisa que

jornalista buscam fazer ao contrário), audacioso, curioso e competente (se propôs a

investigar e vai até o fim).

Há ainda alguns filmes de gênero comédia e que conta a história de

jornalistas, âncoras. Como no caso do filme O âncora - A lenda de Ron Burgundy

(Anchorman: The Legend of Ron Burgundy, 2004), uma comédia sobre um âncora

de TV dos anos 70, que acaba sendo confrontado por uma colega de trabalho bem

ambiciosa. O filme mostra claramente o ego do jornalista e que quando confrontado,

ou melhor, quando se sente ameaçado no trabalho, ele fica viciado no trabalho e

quer mostrar produtividade, o que se insere no fator tempo, no qual é importante na

representação de um jornalista, que vive para o trabalho.

O filme Quase famosos (Almost Famous, 2000) conta a história de um

adolescente que passa a trabalhar para a revista Rolling Stone, e acaba tendo que

cobrir uma turnê inteira de uma banda de rock, e consequentemente, passa a seguir

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os passos de todos em todos os momentos e ver de perto como é a vida de um rock

star. O jovem jornalista entrevista pessoas desde a banda até as groupies ao seu

redor. Suas características são a de um foca, ou seja, um profissional em início de

carreira, procurando construir seu próprio estilo autoral, além de mostrar sua

produtividade e de que não tem medo das coisas, que encara tudo com

naturalidade, em vista que ele ficava em casa e depois teve que sair em turnê com

essa banda. Sua representação mostra com clareza o profissional que se entrega ao

trabalho e se deslumbra com a proximidade com celebridades e autoridades.

Há tantos outros filmes com personagens jornalistas, tanto que passamos a

ver que existem muitos journalism films15, que caracterizam os filmes que possuem

algum personagem jornalista, que está lá para definir um profissional e a sua

relevância. As expressões inglesas acima reforçam que os Estados Unidos são os

maiores produtores de filmes nesse quesito, já que “não somente pelo volume, mas

também por características inerentes à sua própria indústria, foram os Estados

Unidos os responsáveis por melhor traduzir (ou ajudar a construir) o imaginário em

torno dessa profissão” (Gomes apud SENRA, 1997, p. 03).

Assim,

A construção da identidade do jornalista se realiza dentro de um contexto em que diversas áreas da vida social se misturam e se confundem. Suas experiências e vivências apresentam ambiguidades e contradições. Não se pode pensar em identidade levando em conta apenas trajetórias e projetos conscientes e lineares, sem curvas e oscilações. A própria vivência profissional é uma fonte de convivência e contato com essas complexidades (TRAVANCAS, 1992, p. 104).

O jornalista no cinema, como descreve Senra (1997) é um personagem

“desprovido de uma história pessoal” (id, p. 53), já que em suma são abordados

majoritariamente como profissionais, sendo que raramente são vinculados à família

e amigos. É quase como se o jornalista fosse um fantasma que está lá para fazer

seu trabalho e ir embora (ibid). Há também outro aspecto para os jornalistas na

ficção seriada, em vista que eles são representados como “portadores de uma

ideologia individualista, apresentando uma postura blasé diante dos fatos e da vida,

e usando a profissão como instrumento, ocupar um lugar destacado na sociedade”

(TRAVANCAS,1992, p. 104).

15

Filme jornalístico, tradução livre. São filmes que possuem um jornalista no elenco e mesmo ele não

sendo o principal, o filme passa a cobrir a maior parte com ele, o que ele faz e como faz.

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Essas características já apresentadas aqui, mostram que a construção da

identidade do jornalista se limita a razões das áreas sociais, no quais se misturam e

se confundem, visando que “suas experiências e vivências apresentam

ambiguidades e contradições” (TRAVANCAS, 1992, p.104). “O jornalista é antes de

tudo o suporte de uma função e será visto, principalmente enquanto trabalha de

preferência na redação ou no local dos acontecimentos” (SENRA, 1997, p. 53).

Essa vivência tem sentidos e esses sentidos possuem traços, que como explica

Senra, vem do “gênero da comédia, que já comporta tanto a busca de traços

pitorescos das personagens quanto o reforço do estereótipo” (SENRA, 1997, p. 61).

Esse traço traz uma característica importante, retratados na maioria dos filmes: “o

alcoolismo atribuído ao jornalista é evidentemente uma herança do contexto boêmio

em que viviam os profissionais da imprensa” (SENRA, 1997, p. 48-49). O jornalismo

e seus conhecimentos podem ser recriados, produzidos, gerados e transmitidos

(LAGO, 2008, p.110). De forma extensa, o jornalismo é uma produção que influi na

construção de acontecimentos, mas que depende de outras formas de interferência,

que no caso são “a realidade, os constrangimentos impostos pelos jornalistas no

sistema organizacional, as narrativas que os orienta a escreverem, as rotinas de

trabalho, os valores-notícias, a identidade das fontes e seus interesses” (TRAQUINA

apud LAGO, 2008, p.111). Outra característica do personagem neste período, o

“alcoolismo”, que acompanha os jornalistas há muito tempo e que referência a “uma

herança do contexto boêmio em que viviam os profissionais da imprensa” (SENRA,

1997, P. 48 e 49).

Tudo isso faz parte de recortes utilizados pela ficção, para designar os

personagens jornalistas, e com isso Eco diz que “é fácil entender porque a ficção

nos fascina tanto. Ela nos proporciona a oportunidade de utilizar infinitamente

nossas faculdades para perceber o mundo e reconstruir o passado” (ECO, 2004, p.

132), e que de acordo com isso que se exercita o que é visto em ficções, que serve

para “estruturar nossa experiência passada e presente” (id).

Ao transformar um acontecimento em história, a narrativa opera uma diferenciação, localizando ocorrências naturais e ações humanas na compreensão de mundo de indivíduos e sociedades, papel desempenhado tanto pela ficção quanto pelas narrativas não ficcionais (LEMOS, 2014, p.01).

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Essas narrativas não ficcionais possuem formatos para a construção de

estereótipos na ficção, o telespectador/leitor/ouvinte que tanto se quer informar (de

acordo com todos os autores citados acima), na verdade muita das vezes ajuda o

próprio jornalista a fazer notícia (MARQUES, 2008 p. 04). Ou seja, os jornalistas

quando não sabem sobre o assunto, buscam a ajuda da população como fontes,

mas não fontes oficiais.

Sabendo disso, a ficção algumas vezes usa e abusa de efeitos para criar

uma realidade paralela e se distanciar da imagem real (Id, p. 05), na qual o jornalista

apresentado na ficção tem que criar laços de familiaridade entre o que se cria e o

que já existe. Uma boa parte disso vem das séries ficcionais de diversos gêneros,

assim como apresentado nas duas séries, a How I Met Your Mother e The

Newsroom.

4. OBJETO

4.1 How I Met Your Mother

A série How I Met Your Mother é uma comédia americana que passa no

canal de televisão a cabo, CBS. A série retrata a vida de Ted Mosby, um arquiteto

que narra sua vida em 2030 para os seus filhos adolescentes. Tudo começa em

2005, quando Marshall Eriksen resolve se casar com sua namorada da faculdade,

Lily Aldrin, Ted então com 27 anos, ao ver o seu amigo dar um passo tão grande na

vida, começa a pensar em se casar também. Em How I Met Your Mother16, o

arquiteto conta aos seus filhos (25 anos mais tarde) como conheceu a mãe deles, e

como começou essa procura. O cenário principal da série é a casa onde Ted,

Marshall e Lily vivem e o bar localizado logo abaixo da casa dos três, o Maclaren’s

Pub.

A comédia é construída pela forma de flashbacks, nos quais são voltados ao

futuro para Ted receber um retorno de seus filhos, que estão na sala, sentados e

ouvindo a história de todos os seus namoros e experiências. As narrativas são em

primeira pessoa, mas em alguns casos em terceira, e é feita sob a forma de relatos

16

“How I Met Your Mother” já recebeu importantes prêmios durante as seis primeiras temporadas. Na

lista inclui 5 Emmy Awards como "Melhores séries de comédia" em 2009.

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de casos que aconteceram na vida de Ted no passado antes de 2005 (como

exemplo, a época deles na faculdade).

Na vida de Ted passa a jornalista Robin Scherbatsky, que desde o começo

da série passa a ser o centro das atenções para ele, porque se apaixona por ela

assim que a vê no bar Maclaren’s Pub com algumas amigas. A jornalista passa

então a fazer parte da vida deles, todos se envolvem emocionalmente e Ted até a

oitava temporada, mantém segredo de quem seria a Mother17.

4.1.1 Robin Charles Scherbatsky Junior

Robin Charles Scherbatsky Jr18 é uma dos cinco personagens na série

HIMYM. Robin foi tratada na adolescência como menino pelo pai, que a mandava

praticar esportes e fazer coisas de meninos. Ela mostrou a ele que era mulher

quando beijou um colega do time e o seu pai viu. Com a decepção dele após esse

fato, ela passou a morar com a mãe e assim se tornou uma popstar canadense, a

Robin Sparkles.

Totalmente diferente do que ela tinha costumado a ser, a cantora era

feminina, loira e com roupas divertidas. Ainda não satisfeita com sua vida de

adolescente e famosa, ela foi para Nova York, onde passou a trabalhar como

repórter de televisão de segunda linha (em nenhum momento da série, se mostra

essa transição de estudante de jornalismo ou a personagem na faculdade, somente

mostra que ela que ela é uma jornalista - formada), pois cobria matérias

consideradas fúteis e sem relevância social. Posteriormente, foi promovida a ser

apresentadora de um programa matinal (na série ao todo, são 60 episódios em que

a personagem aparece fazendo o jornalismo, junto dela em casa há uma inquietação

quanto ao seu trabalho, ela se sente inútil a maior parte da série).

Logo após, Robin se muda para o Japão para apresentar um programa de

formato diferente do que costumava ser nos Estados Unidos, um programa um tanto

bizarro, mas esse trabalho foi transitório e ela logo volta aos EUA. Ao retornar ela

passa a ser a âncora do noticiário da madrugada.

17

Nome no qual os fãs passaram a chamar a Tracy, futura mulher do Ted. 18

Robin é vivida pela atriz Colbie Smulders, a 32º atriz mais bem paga por cada episódio exibido (cerca de 225 mil dólares).

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Em suas características pessoais, Robin não é nada romântica, não pensa

em ter filhos e nem em se casar. A personagem é forte e um tanto masculinizada. A

personagem também é bastante comentada por ser canadense, isso é um fator que

é usado muitas vezes na série, na hora em que ela perde o emprego ele fica

correndo o risco de ser deportada para o Canadá. Ela chama uma prima sua do país

para vir ao seu casamento e o noivo descobre que essa prima também é prima dele,

ou seja, ele descobre ser metade canadense também (o que o apavora), a

personagem tinha fama no Canadá e nos EUA ela tenta a mesma coisa, só que em

uma profissão diferente, apesar dela ser considerada rude, a fama dos canadenses

de serem adoráveis a irrita e atrapalha muitas vezes, e outras coisas a mais que

representa essa sintetização de sua nacionalidade versus sua profissão.

No decorrer da série, ela namora Ted, Barney, seu terapeuta, um espanhol,

um empresário rico e o seu colega de trabalho, um jornalista famoso, Don. Mas

nenhum de seus relacionamentos dá certo. Muito independente, ela chega a ficar

noiva do Kevin, mas ao saber que nunca poderá ter um filho, ela rompe o noivado e

tem uma recaída com Barney. No último episódio da oitava temporada, Robin se

casa com Stinson. Ela fica reconhecida no meio jornalístico por controlar um avião

em pleno ar. O casamento não dura e eles se separam, Robin fica pensando em Ted

e por que não se casou com ele. No último episódio da nona temporada, Ted tenta

conquistar a jornalista fazendo as mesmas coisas que tinha feito no primeiro

episódio da série, roubando uma trompa francesa azul para ela. Ao final, mostra que

a série toda não foi para mostrar como ele conheceu a mãe das crianças, foi para

mostrar como foi a transição da vida dele com a da jornalista, a história deles.

Em seu papel de jornalista, ela se mostra ambiciosa e independente. A sua

profissão (como repórter e âncora) não é reconhecida por ela ter um programa

matinal. A série retrata que quem assiste ao programa de madrugada são alunos

que estão bêbados num bar em que apostam quantas vezes a jornalista usará a

expressão but e hmm (mas e hmm). A personagem é curiosa, viciada no trabalho e

muitas vezes deixa o lado pessoal para dar mais ênfase ao profissional (caso em

que ela deixa de ter um encontro com Ted, para poder cobrir um colega que estava

doente). Robin mostra ser independente, namora colegas de profissão (Os

relacionamentos não dão certo por causa do ego dos parceiros), ela é paciente e

dinâmica, suas características principais são ser básica, ter o pé no chão e saber o

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que quer. Ela ainda reflete a representação de um jornalista que bebe que passa

muito tempo em um bar e que busca ser bem sucedida na profissão, mais que no

pessoal.

4.2 The Newsroom

A série, da emissora HBO, tem como base uma redação de um veículo

televisivo ficcional ACN, em que se desenrolam os dramas, relacionados ao

processo de produção de notícias, aos conflitos internos (entre os jornalistas) e

externos (com instâncias que determinam seu trabalho, como a relação com a

empresa), além de retratar os engendramentos entre o trabalho e vida particular das

personagens.

Quase todos os personagens são jornalistas, dentre eles: o protagonista, o

âncora/produtor/mediador Will McAvoy19; sua produtora, Mackenzie McHale; além

dos demais jornalistas: Jim Harper, Maggie Jordan, Don Keefer, Neal Sampat e

Sloan Sabbith (é uma jornalista com doutorado em economia e que na redação tem

o papel de comentarista, mas ao longo da história, passa a apresentar os

telejornais); Charlie Skinner (que desempenha o papel de um diretor de redação, e

faz a mediação entre a equipe jornalística e os donos do canal).

Depois de uma reformulação no jornal News Night (no qual, passa a ser um

formato mais fechado, ou seja, não é qualquer notícia que entra, somente os

relevantes e fatos de interesse público e do público), os personagens têm que

construir a notícia de acordo com o novo formato de show que foi proposto pela

nova produtora, o News Night 2.0.

Entre os dramas pessoais, há diversos casos, um deles é o do novo

jornalista que quer "roubar a atenção" da namorada do outro, a vinda de uma ex-

namorada para a redação, a briga entre fornecedores e jornalista, o comando do

programa, atentados, mortes, ameaças dentre outros fatores. Os conflitos

jornalísticos são a base do programa, já que tudo passa a ser informado e explicado,

desde uma pauta na reunião a por que veicular tal notícia.

Em tudo há bases para mostrar que eles estão ali para serem relevantes

para a sociedade. Um exemplo clássico é quando Will tenta criar uma nova forma de

19

É vivido pelo ator Jeff Daniels.

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debate entre os presidenciáveis, ele usa toda a colaboração da equipe para criar

esse novo formato, mas tem que lidar com a problemática de mudar todo um formato

seguido há anos, as críticas em relação a agredir verbalmente os candidatos e que o

novo debate segue um padrão de atacar e não informar, isso de acordo com os

fornecedores que a dona do canal Leona, contratou.

A redação ganha vida e os jornalistas parecem acreditar mais na hora de

construir notícias e informar diante da tevê. A chamada reunião de pauta busca

novos assuntos sem trazer vítimas ao programa, o que se busca é total

imparcialidade dos dois lados.

4.2.1 William McAvoy

William Duncan McAvoy é o âncora principal do telejornal em News Night.

Ele se tornou um jornalista daqueles que não incomodam ninguém, com sua

cobertura de notícias e tem sido chamado de Jay Leno20 dos âncoras por um

moderador de um debate no primeiro episódio da primeira temporada.

Na série, sabe-se que McAvoy, antes de ser âncora, era um promotor de

justiça. Mais tarde, foi contratado como o correspondente do “News Night”. Em 11 de

setembro de 2001, depois do atentado, Charlie passa a querer uma pessoa que

entenda de leis e de como tudo funciona dando a notícia, nisso Will passa a fazer

parte do meio jornalístico.

Em 2010, durante um painel político da Universidade Northwestern, Will faz

uma declaração polêmica dizendo que os EUA não é o melhor país do mundo, em

resposta a uma pergunta de um estudante do segundo ano da faculdade de

jornalismo, como muitos estavam gravando, o vídeo dele dando essa declaração

viraliza na internet, e o cenário eletrônico no qual Will buscou sempre estar junto,

passa a fazer parte do seu maior pesadelo, que é a partir disso que ele passa a dar

importância pelo que é veiculado sobre ele.

20

Jay Leno iniciou sua carreira em clubes noturnos, e seu grande momento foi em 1992, com o seu

próprio talk show de fim de noite, o The Tonight Show com Jay Leno (1992). Essa referência veio de acordo com o comportamento de Jay perante as mídias, sempre discreto e imparcial. Will McAvoy recebeu esse apelido por ser extremamente igual a Leno. Fonte: http://imdb.to/1dAmoKz

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O fato de a série começar com essa representação sincera e de uma pessoa

culta e entendedora de vários assuntos, faz com que o personagem se iguale a

muitos profissionais e que seja inspiração a muitos outros.

McAvoy fez uma pausa de duas semanas para evitar a polêmica causada

por sua declaração e volta a trabalhar, mas ao chegar na redação da ACN, percebe

que sua equipe agora trabalhava com Don Keefer e Elliot Hirsch, porque os

jornalistas queriam um chefe mais amigável e fazer um novo programa.

Logo após, Charlie conta a McAvoy que contratou um novo produtor

executivo sem a aprovação do âncora. A nova escolhida foi MacKenzie McHale, sua

ex-namorada21, cuja relação terminou depois que ela revelou que o tinha traído com

um ex-namorado também jornalista. A partir desse fato, todos se empenham as

noites para fazer um novo telejornal.

Will McAvoy é maduro, porém um pouco instável, chegando a ser infantil

algumas vezes (como quando ele toma muitos remédios por que fizeram uma

matéria sobre ele e que ele não gostou). Não segue, porém gosta de dar ordens.

Para elevar a sua representação de um jornalista, Will fuma e toma bebidas

alcoólicas diariamente. Após o término com MacKenzie, McAvoy permanece solteiro,

e há elementos na narrativa em que o jornalista demonstra ainda amar a sua

produtora.

Ele é representado como temperamental, muito inteligente, sagaz e

antipático. Nos episódios, há elementos discursivos que nos mostram que a vida de

McAvoy se funde com a sua carreira no jornalismo, de modo que há pouco espaço

para a sua vida pessoal. Como chefe, valoriza e gosta de quem demonstra o

mesmo.

Não somente Will, mas todos os jornalistas possuem traços pitorescos que

os diferenciam no pessoal versus profissional, tais como: Sloan Sabbith, é madura e

segura de si, mas lhe falta a sutileza e a gentileza esperada às mulheres; e de

acordo com as narrativa construídas, ela vem de relacionamentos fracassados. Há

ainda o caso mal resolvido do trio formado por Maggie, Don e Jim, os conflitos

quando Jim Harper começa um relacionamento por acidente com a amiga da mulher

por quem é secretamente apaixonado. Aí mostra-se nitidamente que todos sabem

lidar bem com o seu lado profissional, diferentemente do lado pessoal, exemplo: Jim

21

Sobre The Newsroom, fonte: http://bit.ly/1dztjDB.

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sabe resolver todos os conflitos que aparecem na redação, mas quando a pauta é a

sua vida amorosa, ele se perde todo, fica sem rumo e recorre ao jornalismo para

esquecer.

Outro bom exemplo é a Sloan de novo, que é decidida, competente, que

sabe o que quer, mas quando o lado pessoal entra em jogo, é quase como se ela

perdesse o jogo de cintura que possuem para lidar com os casos jornalísticos, ela

fica mais rude e mais grossa que o comum. William e MacKenzie possuem os

mesmos traços que Sloan quando o assunto é a vida pessoal.

4.3 Recorte Feito

As duas séries foram escolhidas por conterem um profissional da mídia em

sua base fixa. Isso abre margem para representações individuais sobre um âncora

de um telejornal. A série TN contém vários jornalistas, mas o personagem escolhido

Will McAvoy é o apresentador/pauteiro/produtor: nada passa sem o consentimento

do personagem e isso mostra claramente a sua influência na redação.

A personagem Robin foi escolhida por ser a personagem que apresenta o

jornalismo aos seus companheiros e que aparece mais que outros (âncoras e

apresentadores), com isso todas as referências ao seu trabalho são construídas na

maioria sobre seus relatos. O gênero das duas séries, drama e comédia, foi a base

para analisar a representação ligada ao profissional de dois pontos de vistas

diferentes.

5. ANÁLISE DE DISCURSO – O QUE É? PARA QUE SERVE?

A análise de discurso procura compreender, estudar e interpretar sentidos. A

AD22 é dividida em duas principais vertentes, compreendidas como anglo-americana

e francesa. A anglo-americana busca traços na psicossociológica23, e que é mais

utilizada para se entender o funcionamento interno dos textos (como foi parar lá,

quem o colocou lá e afins), além de limitar a contextualização. Os indivíduos tendem

a ter uma interação cooperativa e das regras do discurso. (PINTO, 2002, p. 21).

22

Abreviação de análise de discurso. 23

Que além de analisar ela intervém na forma de construção dos textos.

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Já a linha francesa, mais pertinente a este trabalho, possui três bases

principais em sua forma, que é o estudo dos sentidos, das vozes e da interpretação

(PINTO, 2002, p. 20). A análise francesa pode ser entendida por práticas que

determinam um contexto social e histórico do que se procura saber, além de ser

utilizada para:

Análises principalmente de textos impressos ou transcrições de textos orais, quase sempre tratados isoladamente, de modo independente de outros sistemas semióticos presentes, e cujas implicações político-ideológicas procuravam desvelar, de um ponto de vista crítico (id, p. 21).

A análise de discurso francesa, que é “produtiva para dois tipos de estudo no

jornalismo, o mapeamento de vozes e identificação de sentido” (LAGO; BENETTI,

2008, p.107), é pertinente para este trabalho, por apresentar e mostrar como se

partem essas representações, visando que os textos da análise do presente trabalho

não são textos jornalísticos, mas sim textos com personagens jornalistas e que são

referenciados de tal forma (id, p.108).

No primeiro tipo “é necessário situar a estrutura do texto como um todo de

fora para dentro, que pode vir da sociedade, cultura, ideologia e imaginário. A lógica

desse discurso é que ele representa aquilo que pode ou poderia ser dito para certas

pessoas ou certa pessoa só” (LAGO E BENETTI, 2008, p.111-121). No segundo, o

mapeamento de vozes, parte de várias formas e formatos, tais como “fontes,

jornalista, instituições, leitores e afins, se refere tanto na forma de dizer como no de

interpretar” (id). Mas que não se resolve somente com esses formatos, porque o

estudo de vozes requer um “locutor e o enunciador como forma de características

para o estudo” (ibid). Já no terceiro, a identificação de sentidos, compreende o

“pesquisador como mostra a sua interpretação e repertório diante de analisar os

dados fornecidos para uma resposta da representação” (ibid, p.111-121). .

A AD nasceu tendo como base a interdisciplinaridade, pois ela era preocupação não só de linguistas como de historiadores e de alguns psicólogos; é a uma explicação de texto (BRANDÃO, 2004, p.16).

Todo texto é híbrido ou heterogêneo quanto à sua enunciação, no sentido de

que ele é sempre um tecido de vozes ou citações, cuja autoria fica marcada ou não,

vindas de outros textos preexistentes, contemporâneos ou do passado. Assim, todo

texto se constrói por um debate com outros (PINTO, 2002, p.31).

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Brandão (2004) cita Foucault, ao explicar o conceito da AD com base nas

regras de formação,

Cabe à análise do discurso descrever essa dispersão, buscando o estabelecimento de regras capazes de reger a formação dos discursos. Tais regras, chamadas por Foucault de "regras de formação", possibilitariam a determinação dos elementos que compõem o discurso, a saber: os objetos que aparecem coexistem e se transformam num "espaço comum" discursivo; os diferentes tipos de enunciado que podem permear o discurso; os conceitos em suas formas de aparecimento e transformação em campo discursivo, relacionado em um sistema comum; os temas e teorias, isto e, o sistema de relações entre diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias (BRANDÃO, 2004, p.32).

A análise de discurso francesa traz várias vertentes a ser analisadas, uma

delas inclui a abordagem da imagem e do som. No tópico a seguir será mostrado a

forma que se utilizará em base da análise para verificar a representação dos

jornalistas nestas duas séries ficcionais de gênero comédia e drama.

5.1 A pertinência de uma pesquisa em representações sociais com elementos

da análise de discurso francesa

O presente trabalho se baseará no mapeamento do tempo e do espaço

diegético em que se inserem os personagens Robin Scherbatsky e Will McAvoy. Isso

quer dizer que certos elementos da narrativa, como a música de background não

serão analisados e nem interpretados. Outro exemplo é o personagem Ted em 2030

narrando os acontecimentos. Essa narrativa não fará parte, somente eles no

passado, mostrando o que de fato aconteceu, como exemplo o episódio analisado

aqui, pois Robin conta em primeira pessoa o que houve, não tendo a interferência do

elemento externo, que é a narração. Como diz Lago e Benetti, o nome para esse

estudo diegético é outro, porém estuda e averigua as mesmas coisas (LAGO E

BENETTI, 2008, p.111).

O trabalho se baseia na mensagem, visando verificar a representação

apresentada dos dois jornalistas das séries TN e HIMYM. Nessa pertinência, entra a

análise do estudo das vozes, que, como citam as autoras, o “jornalismo é idealmente

polifônico, que por ele circulam diversas vozes” (LAGO; BENETTI, 2008, p.116). No

texto das séries, há diversas vozes, que são dadas como exemplo as personagens,

o narrador (no caso de HIMYM, que não será analisado), as fontes, a fala da

instituição na qual o jornalista trabalha e a do próprio jornalista. Nesse caso, esse

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estudo prioriza a voz e a representação do jornalista em relação às demais vozes

em consonância com as representações mostradas em estudos de Moscovici (2012)

e de Travancas (1992).

A AD defende que a imagem deve ser considerada no estudo para

classificar dados, sem ser vista como marcas ou exceções, tais como imagens de

igrejas, cruz e afins, “mas essas semelhanças existentes em certos signos

linguísticos (onomatopeias, por exemplo, que são: atchim, tique-taque), é um efeito

de sentido construído por técnicas de representações como a perspectiva ou a

fotografia” (PINTO, 2002, p.37). Para Pinto (id), logo mais esses signos são

nomeados de Iconografias, que no caso são as imagens que já possuem um

significado em si, sem ter que haver estudo para isso, como a cruz.

A AD define também os discursos como práticas que já estão no nosso

cotidiano, o qual está sempre mudando. Como relata Pinto (id), “toda fala é uma

forma de ação, o que tem muito a ver com a ideia de discurso como prática social

que adota a análise como imune de qualquer coação social” (ibid, p.21-22).

Mas uma análise concreta das representações que um indivíduo tem ou que

um texto promulga, só é possível se as considerarmos inseridas num discurso

bastante amplo, no qual as lacunas, as contradições e, consequentemente, as

ideologias possam ser detectadas (MAURER; SILVA 2004, p.36), e no presente

trabalho, elas deverão ser achadas e analisadas.

Há várias formas de se estudar um personagem usando a AD, que no caso

no estudo deixa algumas marcas para que o pesquisador desvende essas

produções. “A análise de discurso não se interessa tanto pelo que o texto diz ou

mostra, pois não é uma interpretação semântica de conteúdo, mas sim em como e

por que o diz e mostra” (PINTO, 2002, p.27).

Ao contrário do que estabelece o senso comum e algumas análises de discurso que tomam os textos ao pé da letra, não só não somos inteiramente responsáveis pelas representações que acreditamos fazer nos textos que produzimos, como também nem sequer somos os únicos responsáveis pelas representações que ali aparecem (id, p.30).

Os sujeitos nas séries, que trazem algum tipo de enunciação - que é o

produto utilizado culturalmente, possuem lugares “enunciativos ou lugares de fala,

que mostram as diferentes formas de apresentar e representar uma determinada

área do conhecimento”, que foi proposta e pode ou não aparecer em cena (PINTO,

2002, p.32). “Desde que acordamos para a comunicação e a linguagem, estamos

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entrando no amplo mundo das representações, das relações e identidades sociais, e

aceitamos alguma forma de controle social” (PINTO, 2002, p.44).

Para criar na consciência dos homens essa visão ilusória da realidade como se fosse realidade, a ideologia organiza-se como um sistema lógico e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar/ o que devem valorizar, o que devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer (CHAUI apud BRANDÃO, 2004, p. 22).

Esses conjuntos de elementos, ou sistematizações com a imagem são

criados sob a perspectiva, sendo que se não são explícitas (não seguindo regras ou

lógica de fácil entendimento), elas podem trazer o risco de perder as diferenças

entre si. Com isso podem ser trazidas novas contradições (BRANDÃO, 2004, p. 22).

Para a imagem ou a pesquisa em si, trazer e moldar as diferenças não necessárias

é necessário, mas sim apresentar elementos que comprovem a representação de

uma profissão de acordo com os objetos de análise.

5.2 Quem são os objetos de uma análise do discurso

Os objetos da AD são os enunciados, que surgem com a relação entre

sujeitos.

Foucault situa-se na vertente oposta a uma concepção de ideia de lista do sujeito que, interpretado como fundador do pensamento e do objeto pensado, vê a história como um processo sem ruptura em que os elementos são introduzidos continuamente no tempo concebido como totalização. Crítica, dessa forma, uma concepção do sujeito enquanto instância fundadora da linguagem: poder-se-ia dizer que o tema do sujeito fundador permite elidir a realidade do discurso (BRANDÃO, 2004 p. 33-34).

O sujeito fica responsável por trazer vida própria para as línguas, “e ele que,

atravessando a espessura ou a invertia das coisas vazias, retoma, intuitivamente, o

sentido que ai se encontra depositado” (id), e que ele é quem irá fundar novos

significados, que antes não teria, para “excitar e onde as proposições, as ciências,

os conjuntos dedutivos encontrarão enfim seu fundamento” (id).

Logo, o “discurso não existe por si só, mas em um espaço entre os sujeitos”

(ibid). Aqui os sujeitos são dois jornalistas, que se apresentam formalmente –

indiferente do gênero e formato (sitcom e drama), que buscam se alinhar a certos

moldes de apresentação já representados anteriormente, em que o sujeito traz a

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vida própria para criar sentidos. “O discurso é fruto do trabalho de interação entre

sujeitos” (LAGO; BENETTI, 2008, p.116).

A unidade de análise compreende a “conversação como sendo uma unidade

de analise uma linha, uma sentença ou um parágrafo” (ROSE, 2002 p. 348). A

unidade está, consequentemente,

Baseada na fala, e ciente da importância dos aspectos não-verbais dos textos audiovisuais. Há um espaço para o pragmatismo em analises complexas É impossível descrever tudo o que está na tela e eu diria que as decisões sobre transcrição devem ser orientadas pela teoria (ROSE, 2002 p. 348).

Escolheu-se a unidade de análise com base no visual, sonoro e

representativo. Mas também, por motivos práticos, pois elas analisam de forma

direta e prática e na grande maioria dos casos, essas tomadas são simples de

serem trabalhadas.

5.3 Objetos jornalistas

O jornalista, pelo estilo de vida que sua profissão implica, de intensa

atividade e mudança, “com tensão constante e excesso de estímulos, será candidato

natural à atitude blasé. Atitude resultante de estímulos contrastantes em rápidas

mudanças e impostas aos nervos de uma busca incessante de prazer”

(TRAVANCAS,1992, p. 40).

Travancas (id) reflete sobre a rotina produtiva de um jornalista de jornal que,

segundo a autora, costuma se centralizar em um personagem que chega no

trabalho, corre para ver a pauta do dia, e quando não a tem pronta, vai procurar no

computador ou conversar com os colegas. Além disso, ao receber a pauta, o

jornalista sai da redação com um fotógrafo e um carro da reportagem, no intervalo

de tempo de locomoção, o jornalista lê jornal, assim chega onde produz sua matéria

do dia, o que deveria ser a única, mas muitas vezes faz mais que uma matéria só. A

jornalista ressalta que em seus poucos dias livres, sai para a praia ou cinema, e

enfatiza que é difícil achar um namorado não-jornalista, que compreenda esse

trabalho com horário à disposição da redação.

Um repórter de televisão, diferentemente de um de jornal impresso ou rádio,

se diferencia necessariamente pela aparência, pois tem uma prioridade imagética.

“Por isso uma repórter, por exemplo, deve estar sempre maquiada, penteada e bem

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41

vestida, principalmente da cintura para cima, que é o que aparece no vídeo” (id, p.

39).

Traquina vê o jornalista e o jornalismo como uma profissão cheia de cultura

e que “fornece um modo de ser/estar, um modo de agir, um modo de falar, e um

modo de ver o mundo” (TRAQUINA, 2005, p. 36) e completa que algo que define o

jornalista e o jornalismo é “o fator tempo” (id, 37). Travancas dá uma clara definição

do que muita gente acha que “o jornalismo é uma profissão que se prende nas

redações, na prática [...], profissão essa que só passou a atingir a massa através do

rádio e da televisão (TRAVANCAS,1992, p.32).

Outro aspecto fundamental da competência jornalística é o conhecimento das regras acerca das fontes de notícias e a execução das três generalizações básicas seguintes acerca delas: a) a maioria dos indivíduos, como fontes de notícia, têm algo a defender. Para ser credível, um indivíduo deve provar ser seguro como fonte de informação, através de um processo de tentativa e erro; b) alguns indivíduos, tais como os presidentes de comissões, estão numa posição em que sabem mais que qualquer outra pessoa na organização. Apesar de terem algo a defender, a sua informação é provavelmente mais “exata” porque têm mais “fatos” à sua disposição; c) instituições e organizações: os procedimentos concebidos para proteger, que a instituição, quer as pessoas que entram em contato com ela, têm significados (TRAQUINA, 2005, p. 42).

Ao criar uma nova forma de se comunicar, como cita Traquina (id), o

jornalês, o jornalista designa para si mesma uma característica importante: que ele

precisa se esvaziar de tudo o que aprendeu e sabe, porque ser jornalista é saber se

“comunicar através de fronteiras de classe, étnicas, políticas e sociais existentes

numa sociedade” (ibid, p. 46). Fora que “o próprio ethos jornalístico é determinante

na elaboração de mitos” (ibid, p.50).

O jornalismo é uma profissão importante na sociedade, pois visa trazer à

tona a transparência, serve para informar e formar opiniões. Nisso está centrado o

papel do jornalista na sociedade, porque como cita Travancas (1992) “sempre que

alguém pensa em jornalista, logo lhe ocorre à ideia de um jovem correndo atrás da

notícia que anseia ser um furo de reportagem”. A sociedade pode ter uma visão

ampla e geral da profissão, mas o fator tempo e o teor das notícias veiculadas. São

o que atraí as pessoas. “Hoje, ser jornalista significa trabalhar em jornal, televisão,

rádio ou assessoria de imprensa” (TRAVANCAS, 1992, p. 17).

O jornalista se designa pelo que faz e quando faz, pois ele é visto com um

suporte para a sociedade, pode ser enquanto trabalha ou nas redações. Travancas

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42

menciona sobre o ego do jornalista, que principalmente os de televisão, os famosos

“repórteres que aparecem na televisão não se perdem no anonimato da classe, o

que acontece normalmente com os jornalistas de rádio e jornal; ao contrário, são

reconhecidos na rua e identificados pelos telespectadores (id, p. 39).

Outro fator importante que Traquina cita é a temporalidade da profissão, pois

“o jornalismo não é uma simples ocupação, um passatempo; é mais que um trabalho

porque é uma vida” (TRAQUINA, 2005, p. 53). O jornalista tem que ser inteiro da

profissão e até mesmo casar-se com ela, pois não há hora para ser chamado, tem

que estar disponível 24 horas por dia. “O jornalista não tem tempo, não pode jantar

em paz, não tem tempo para luas-de-mel, tem sempre que deixar o número de

contato (id). Travancas também relata esta representação do amor pela profissão,

“um repórter não tem hora definida para sair de uma redação ou terminar uma

matéria. Não existe jornalismo com cartão de ponto ou horário rígido de saída”

(TRAVANCAS,1992, p. 34). Isso parece ser um traço importante da profissão, e

mesmo inerente a ela. O jornalista de certo modo não é “dono” do seu próprio

tempo: este não lhe pertence, e sim à carreira.

6. RECORTE DOS OBJETOS ANALISADOS

O episódio escolhido de TN para compor o corpus da presente análise

é o sexto da primeira temporada, denominado Bullies24, que mostra o personagem

jornalista Will McAvoy buscando uma ajuda profissional (um terapeuta) para

aprender a lidar com sua vida pessoal sem que ela atrapalhe a vida profissional. No

episódio, Will aparece preocupado com a ajuda que deu a sua colega sobre uma

matéria.

Sloan acaba cometendo um erro ao vivo no telejornal, pois acatou aos

conselhos dele. Além disso, Will precisa aprender a lidar com o seu amor por

MacKenzie, que está muito presente em sua vida, mas o sentimento de abandono

que ela causou é forte demais para perdoá-la ela por tê-lo traído com outro jornalista

alguns anos antes.

O jornalista está também com um segurança, pois sua vida corre perigo

frente a uma ameaça de morte (cuja razão será desvendada ao fim do episódio) e

24

Tradução livre: valentões, ou as ameaças.

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isso é mais um fator para atrapalhar a sua vida pessoal. Will não consegue e não

quer (somente no final, sente que está aprendendo a lidar com a sua vida pessoal

de uma forma mais completa e sem elementos externos atrapalhando) ter controle

de sua vida, pois acha uma grande responsabilidade ser uma figura pública amada e

odiada.

Já no que refere ao corpus de análise de HIMYM, o episódio escolhido é o

quarto da sétima temporada, e leva o nome de The Stinson Missile Crisis,25 pois

assim como em TN, mostra a personagem Robin procurando ajuda profissional

(terapeuta) após atacar uma mulher na rua. Ela enrola um pouco, mas acaba

contanto para Kevin (o terapeuta) o que houve e por que atacou a menina, mas

antes faz todo uma cerimónia (típico do jornalista que quer fazer de tudo uma boa

história). A personagem fica com ciúmes de sua colega de trabalho (ou seja, há

desde o início da narrativa a representação do jornalista como um profissional que

não consegue separar bem a vida no trabalho da vida pessoal), que está saindo com

Barney. Robin se descobre apaixonada por ele, e relata como lidou com isso ao seu

terapeuta; fala que o seu jeito de resolver os problemas é bebendo, e não bebendo

em um bar, mas sim bebendo na redação, debaixo de sua mesa de trabalho. A

personagem conta como no final ela atacou a menina (no intuito de estragar o jantar

de Nora e Barney), pois ela percebeu que seu amor era forte, mas que não

precisava fazer nada para estragar esse relacionamento, pois poderia sim ser feliz

sozinha.

Os critérios de análise para os dois episódios foram, a forma de construção

dos personagens protagonistas, que são Robin e William. Para tanto, se analisa

tanto a forma com que lidam com o pessoal, profissional como também o que se

baseia o jornalismo deles, se fazem reunião de pauta, se bebem e se transmitem os

valores notícias.

Analisa-se também a construção das relações humanas, que são cenas

interagindo com colegas, amigos, parentes ou famílias. Os laços de amor entre os

profissionais, se lidam bem com este lado.

A construção das relações profissionais e por último, o discurso imagético

que também averigua como estão à disposição das mesas, as vestimentas

correspondem ás usadas diariamente por jornalistas.

25

A Crise dos Mísseis Stinson, tradução livre.

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6.1. The Newsroom – episódio 6 da primeira temporada – bullies

Os momentos apontados/analisados aqui são os que, discursivamente,

ajudam a construir a representação do jornalista no corpus apresentado. Na primeira

temporada, o episódio 6 já começa com William McAvoy apresentando o News Night

2.0. Ao relatar a última notícia do telejornal, Will confunde as informações do

teleprompters ao vivo, deixando-o descontente por sua atuação.

O jornalista, logo após sair da bancada, confessa à sua produtora

MacKenzie McHale que está com dificuldades de dormir há semanas. Após isso, ele

vê que uma possível solução é visitar seu terapeuta, o Dr. Habib.

A representação aqui é do jornalista que possui dificuldade de relatar os

problemas da vida pessoal. No caso do personagem William McAvoy, ele retém

determinadas histórias as quais não compartilha com ninguém. Will, por sua relação

com a profissão durar as 24 horas do dia e ele perder o foco da vida pessoal, e não

saber lidar com ela. O fato dele não conseguir dormir há semanas reforça que o

emocional do jornalista está abalado, e o corpo responde de alguma forma.

Representado como arrogante, William sente que ninguém pode ajudá-lo. Esta

representação é lembrada por Marcondes Filho que, ao analisar a evolução do

jornalismo desde seu surgimento, aponta que “não raro (os jornalistas) assumem

ares que lembram a arrogância por desprezar outras fontes que não si mesmos, por

pouco se importarem dos rumos que as coisas tomam” (2002, p.57).

O terapeuta começa a abordar pontos fracos do Will, coisas da infância e

questões sobre como ele lida com a emoção. Como citado anteriormente, o

jornalista não se abre facilmente. A terapia é uma forma de ele contar para alguém

seu problema, porque a vida profissional toma muito tempo e ele começa a guardar

tudo para si. E só percebe que está cheio de coisas quando algo começa a

desandar na vida pessoal.

Neste caso, a insônia aponta o caráter workaholic do jornalista personificado

em William McAvoy. Traquina diz que ser profissional na medida certa é “possuir

uma capacidade performativa avaliada pela aptidão de dominar o tempo em vez de

ser vítima dele” (TRAQUINA, 2005, p. 40). Por que como demostra Will no cotidiano,

o jornalista começa a ser vítima do próprio tempo ao invés de senti-lo, pois para o

autor os jornalistas em geral possuem uma forma frenética e obsessiva de usar o

tempo a favor, mas quando se perde, o tempo passa a ser o inimigo. No caso dele

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também afeta as noites de sono. O autor (id) ainda complementa sobre a

performance do profissional “o jornalismo não é uma simples ocupação, um

passatempo; é mais que um trabalho porque é uma vida” (id, p. 53).

O autor ainda acredita que ser jornalista é se casar com a profissão e estar

disponível sempre, ainda mais porque, “o jornalismo exerce-se sempre em clima de

urgência; o jornalista não tem tempo; não pode jantar em paz; não tem tempo para

luas-de-mel; tem sempre que deixar o número de contato” (TRAQUINA, 2005, p. 53).

Esse imediatismo que faz parte da profissão, aparece bem em outro episódio

quando Bin Laden é morto e eles estão numa festa. Todos correm para as redações

afim de averiguar se a pauta era quente, ou seja, a urgência em noticiar este fato

antes de outros veículos se faz parte do imediatismo presente na profissão. Neste

episódio analisado, esse exemplo é bem claro quando Sloan tem que deixar o que

estava programando para apresentar um noticiário ao vivo.

No terapeuta, a dificuldade com que Will se abre é quase paralela à forma

com que ele lida com seus problemas. Na série, ao perceber a relutância do

jornalista em falar, Dr. Habib interpreta que o jornalista precisa mudar alimentação,

malhar, fazer coisas normais de pessoas que prestam atenção na vida particular. O

personagem mostra que segue uma rotina desde que saiu da faculdade, no qual ele

mantém hábitos ruins de uma vida corrida. No caso aqui Traquina cita que “o fator

tempo define o jornalismo” (TRAQUINA, 2005, p. 37). Travancas diz que pela forma

como o jornalista conduz a vida pessoal, “implica, de intensa atividade e mudança,

com tensão constante e excesso de estímulos, será candidato “natural” à atitude

blasé” (TRAVANCAS,1992, p. 40), e essa atitude é contra novos estímulos ou

rápidas mudanças. A ideia de Will de seguir a mesma dieta desde que se formou,

faz com que os novos estímulos, não façam parte do cotidiano dele. A intensa

atividade profissional do jornalista não o deixa livre para conduzir a vida pessoal.

A personagem sofre com estresse incomum no trabalho, como uma ameaça

de morte, a mudança das regras no formato de um programa, alterações de humor e

atitudes relacionadas à vida profissional -- como reunião de pautas, pesquisas,

fontes e afins. Ele e os jornalistas da redação aparecem buscando e respondendo

possíveis respostas redundância: respondendo respostas da entrevistada de Will

sobre a mesquita, dizendo que os EUA não foram atacados por muçulmanos, mas

sim por sociopatas.

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Os jornalistas averiguam os valores notícias do dia. Um fato é sempre

repleto de valores-notícia; frente a isso, o filtro do sistema jornalístico irá determinar

o que entra e o que sai. Isso é assunto da disciplina de Teorias da Notícia. “Um

conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é

susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado merecedor de ser

transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo “valor-notícia”

(TRAQUINA, 2005, p. 63).

Sloan demonstra querer aprender boas e novas técnicas, “seu universo é

autorreferente, e a curiosidade maior que eles, ela está em acompanhar o trabalho

de outros jornalistas” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 56). A personagem vê em

William McAvoy um profissional qualificado para se pedir ajuda. Que traz a

representação de um jornalista curioso e que se utiliza de uma “espécie de espelho

narcísico e de auto avaliação” (id).

Um fator importante aqui no significado de narcisista para a profissão de

jornalista, é que um repórter de televisão é somente diferenciado basicamente pela

aparência. “A televisão é um meio onde a imagem é fundamental, e por isso uma

repórter, por exemplo, deve estar sempre maquiada, penteada e bem vestida,

principalmente da cintura para cima, que é o que aparece no vídeo”

(TRAVANCAS,1992, p. 39) Como no caso de Sloan, no episódio após ser intimada

para apresentar o noticiário, o produtor Jim a convence somente quanto ele cita que

a roupa que ela vai usar é terninho da marca Gucci.

A jornalista se rende a um maquiador e a um armário profissional com

muitas opções básicas e formais. A jornalista se rende a um maquiador e a um

armário profissional com muitas opções básicas e formais. Sloan demostra ser

sexista e durante toda a série, é representada como extremamente profissional (com

uma imensa capacidade intelectual e baixa capacidade de lidar com a vida

emocional), e mesmo que prezando sua carreira, é no final seduzida pela

expectativa de vestir Gucci.

Sloan entra na sala e pede conselhos ao âncora Will McAvoy (Figura 01).

Altruísta, o jornalista ajuda Sloan com as questões que a atormentam - coisas de

ética no trabalho e não mentir para o público. Sua dica para ela é que não deve

parar o programa até o entrevistado falar a verdade no ar, por causa de um valor

notícia que é o interesse público. O resultado disso é que os jornalistas antes

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possuíam um faro para as notícias, não eram controlados por empresas e interesses

pessoais das instituições. Se buscava informar a qualquer custo, tanto que Sloan

busca até o final tirar a verdade de seu entrevistado, sem temer represálias. Porém

hoje, os profissionais estão perdidos, não se sabe nem ao certo se a profissão

continuará aos viés que começou (MARCONDES FILHO, 2002, p. 56-80). Não

somente Sloan, mas todos os profissionais de TN demonstram que buscam algo de

novo na profissão.

Aliando importância da notícia com a relação dos jornalistas no trabalho,

Travancas cita que as características diferentes dos jornalistas (como no caso de

Sloan e Will), se percebe que não importa a idade, pois “a relação está restrita ao

mundo dos jornalistas, sendo a grande maioria dos amigos são da mesma profissão”

(TRAVANCAS,1992, p. 99).

Fig. 1 – William é questionado sobre como fazer uma fonte dizer a verdade ao vivo

Após narrar o fato, Will mostra o altruísmo frequente do personagem

jornalista, dizendo que na ocasião em que Sloan pediu ajuda ele diz: “eu estava de

mau humor e honestamente, estava apenas tentando motivá-la. Mas ela é a última

pessoa que precisa de motivação, então acabei apenas” e o terapeuta completa

“assustando-a”. Will tenta dizer que Sloan é profissional, que ao tentar ajudá-la, ele

acaba fazendo com que ela cometa um erro, no caso aqui, ele passa a se sentir

culpado. William ainda se refere que as dicas que deu à jornalista. Não precisavam

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ser dadas, pois ela é auto didada, ou seja, vai atrás do que interessa e faz da melhor

forma possível, ela queria demonstrar isso ao entrevistar um japonês.

Ao produzir o noticiário, Sloan vê que a tradutora não estava repassando

exatamente o que o convidado japonês estava dizendo, então, depois de muito

insistir, ela perde a paciência e começa a falar em japonês ao vivo com o

entrevistado. Sloan se mostra uma jornalista intimorata26, ou seja, uma profissional

sem medo de represálias e que preza mostrar como as coisas são. Sloan se mostra

também pouco submissa, como cita Senra “Naturalmente a submissão do jornalista

é uma visibilidade cada vez mais ampliada e a afirmação da sua imagem são mais

notáveis na televisão (SENRA, 1997, p. 17). E que para isso, o jornalista não deve

perder a ética (id, p 18).

Ao ir para a redação, que segue o formato de mesas juntas e com divisórias,

sempre em cores claras, neste caso em tom de cinza claro, com cada jornalista em

sua mesa e muitos papéis ao redor, que demonstra o trabalho frequente. Sloan tem

que lidar com a ira do produtor Don e de Charlie, que a suspende

remuneradamente, pois para ele uma jornalista dar a sua opinião ao vivo sobre algo

sem ter a confirmação de uma fonte oficial. Ele diz “nós não reportamos o que você

acha Sloan, se o cara disse que os reatores estão estáveis, eles estão estáveis” diz

Charlie.

A forma de lidar com a fonte é um clássico problema do jornalista. Sloan é

suspensa. Traquina (2005) cita que a competência jornalística vem de conhecer as

regras e as fontes, pois com elas se tem uma base para seguir, tais como: “a maioria

dos indivíduos, como fontes de notícia, têm algo a defender. Para ser credível, um

indivíduo deve provar ser seguro como fonte de informação, através de um processo

de tentativa e erro” (TRAQUINA, p. 42). Traquina também cita que as fontes oficiais

são as que mais são utilizadas por seus conhecimentos acerca da notícia (id).

A produtora e também jornalista MacKenzie McHale, é outra personagem

que revela confusão na vida profissional para resolver conflitos pessoais. No

episódio, ela descobre que Will, seu ex-namorado, recebeu uma proposta para ir

para uma nova TV, a FOX, e ter um programa em Las Vegas, em 2006. Ela vai

consultá-lo sobre isso, referenciando que o jornalista não tinha a intenção de ter um

futuro com ela e nem casar. Ele mostra então um anel de noivado da Tiffany. Ela fica

26

Pessoa que não tem medo de nada.

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sem palavras e fala para ele “bom, vamos voltar ao trabalho”, típico de um jornalista

não saber lidar com as emoções pessoal.

Will acaba tendo que lidar com um novo fato em sua vida pessoal: ele é

ameaçado de morte pela internet. Após noticiar uma matéria sobre o senador Rick

Santorum. Will força tanto a sua fonte ao vivo para ele dar uma opinião, que o

entrevistado se revolta com ele e dá uma lição de moral nele. Ao ser chamado de

ignorante, o jornalista fica sem graça e desnorteado. Will depois aparece sentado no

sofá do terapeuta e ele diz que ele era a ameaça ao entrevistado, não o senador.

MacKenzie fala para o segurança de Will, que deve garantir que ele vá ao

terapeuta. Charlie acha uma saída para Sloan não precisar ser suspensa e Will

concorda com o método. Charlie sugere que Sloan diga que se confundiu com as

informações e que assim ele salvará o emprego do entrevistado e salvará Sloan da

punição. Sloan pede ajuda de Will de novo e diz (Figura 02) “Will, você quer que eu

minta? Na televisão? Na bancada do noticiário com o logo da ACN no canto?”

Fig. 2 – Sloan pedindo um conselho do jornalista âncora Willian McAvoy sobre mentir

na TV

E ele responde: “Quero. E diz que se houver consequências ele estará ao

lado dela”.

Para o terapeuta, Will revela que mentir ao vivo e para o público era um

retrocesso no trabalho dele, que ele sempre lutou e chamou a atenção das pessoas

por nunca mentir na bancada. Outro fator, como apresenta Marcondes Filho (2002),

é que antigamente, os profissionais de comunicação eram vistos como cães

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indomáveis, e que hoje eles desapareceram, são mais como cães perdidos. No

comportamento jornalístico há “um certo mal-estar, uma revolta diante de um mundo

que eles frequentemente conhecem por dentro” (MARCONDES FILHO, 2002, p.56).

No episódio, é evidenciado a relação pessoal versus profissional do

personagem. William confessa que a falta de sono é por ter forçado o seu

entrevistado ao vivo. Nisso, o terapeuta diz que Will não consegue dormir porque

come bacon com ovo antes de dormir, e isso afeta o sono. Will fica nervoso e diz

que ele confessou isso há uma hora atrás, que não precisava contar tudo o que

tinha contado. Ele ainda completa que o Will está passando por muita coisa na vida

dele no momento, que está sendo caçado pelos jornalistas, pelas pessoas da

internet e obviamente pelo sentimento que ainda nutre por MacKenzie e a forma de

como não consegue perdoa-la por ter traído. Ele passa muito tempo fingindo não

sentir nada, quando na verdade ele sente e muito por tudo o que ocorre ao redor

dele.

As representações aqui são de jornalistas que procuram ser um espelho,

tanto William quanto Sloan, para Traquina (2005) buscam ser um “jornalista que

reflete a realidade” (TRAQUINA, 2005, p. 62). E o que o jornalista é mediador, e que

para eles reconhecer a importância de seu trabalho é difícil (id).

6.2 How I Met Your Mother – episódio 4 da sétima temporada – The Stinson

Missile Crisis27

Assim como TN, o episódio quatro da sétima temporada de HIMM começa

com a Robin Scherbatsky falando com o terapeuta Kevin. A jornalista frisa que ela

não é o tipo de pessoa que fala de suas emoções. A personagem se gaba de sua

atitude e é cortada por Kevin, que diz a ela que atacar uma pessoa na rua e ser

recomendada para terapia para saber se é um perigo a sociedade não é crescer.

Da mesma forma que Will McAvoy, Robin revela dificuldades em abordar

seus problemas e angústias (Fig.03). Mas logo passa a falar. Ela narra, dizendo que

namorava Barney e que quando terminaram, ela o apresentou a uma colega do

trabalho, a Nora. A relação com colegas de trabalho aqui se define conforme cita

Senra (1997), que diz que o trabalho do jornalista seja cada vez mais distribuído

27

A Crise dos Mísseis Stinson, tradução livre.

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entre vários profissionais e que “percorra uma hierarquia cada vez mais acentuada

de funções, subtraindo ao profissional o seu antigo domínio sobre o produto final”

(id, P. 25).

Fig. 3 – Robin no terapeuta relatando sobre a sua dificuldade em se abrir

Isto é mostrado claramente quando o chefe de ambas, o Sandy Rivers,

famoso jornalista da redação, ia precisar de uma companhia para cobrir a cúpula do

G8 na França, Robin indicou a Nora para esse trabalho a fim dela ficar longe por

alguns dias. Nora agradece ao suporte dado pela Robin.

A jornalista então fica sabendo pelo próprio chefe que ia chamar a Nora de

qualquer forma. Robin argumenta que ela tem mais experiência, mostrando que “o

investimento intelectual do jornalista é o melhor lucro que os donos de jornais podem

ter a longo prazo. E o que tornaria o trabalho desses jornalistas mais respeitados”

(MARCONDES FILHO, 2002, p.66). Que é caso de Robin, depois de mostrar seu

valor como profissional ela acaba recebendo esse crédito como boa jornalista.

Sandy diz que ele quer ir com Nora porque quer dar cima dela. A

personagem acopla então outro fator à representação, que é o do jornalista, que se

relaciona com colegas de trabalho, pois “a paixão é frequente e pode ser percebido

nos jornalistas que demonstram, portanto, um grande envolvimento afetivo, mesmo

que suas vidas estejam invadidas pela profissão” (TRAVANCAS, 1992, p.60).

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52

E há um diferencial nesta parte que representa que o jornalista somente se

relaciona com outro jornalista, que é o sobre o bom profissional que não mistura

trabalho com pessoal. No caso, Sandy Rivers, é todo antiético, não profissional e

não possui noções de como um jornalista deve se portar, como cita Marcondes Filho

(2002) ao mostrar o lado profissional de um jornalista “nenhum bom jornalista irá se

firmar profissionalmente se não tiver uma boa cabeça, uma capacidade de

discernimento, critérios de julgamento, valores consolidados e uma base intelectual

que suporte as turbulências da profissão” (id, p. 65).

Há um corte para uma cena no ambiente de trabalho, mostrando que Robin

mantém uma pose de indiferença ao ver seu ex-namorado mandando flores para

outra, mas na primeira oportunidade que pode, cutuca a menina dizendo que Barney

deve ter arrumado outra pessoa, ou seja, ela estava mentindo para algo dar errado

no relacionamento.

Observa-se que, em consonância à narrativa de The Newsroom, os

momentos da fala na terapia de Robin assemelham-se aos de Will McAvoy durante

sua sessão. Que os profissionais de imprensa aderem muito a discursos cheio de

detalhes significativos nas histórias que contam. Um fator importante é que desde a

narrativa inicial, as cenas seguintes são da jornalista na redação, aonde ela aparece

sempre bem caracterizada, roupas formais, pouca maquiagem e uma mesa cheia de

papeis e bagunçada.

Todos ao redor seguem esse mesmo padrão, boas vestimentas e muito

trabalho. Computadores sempre ligados e matérias ou textos a serem escritos são o

que demonstram que o trabalho é frequente. A redação segue o padrão de mesas

coladas mas com divisórias. O que diferencia aqui é que a redação não é aberta

para todos; no episódio Barney entra cantando e ninguém o atrapalha.

A cena volta ao escritório onde ela, Robin e Nora trabalham, Barney está em

cima da mesa cantando para ela, rodeado de pessoas do escritório. Na terapia,

Robin relata que se descontrolou neste momento e que para afogar as mágoas ela

ficou bebendo vinho e comendo chocolate que eram da colega embaixo da mesa do

trabalho e com as roupas que geralmente usa para trabalhar.

Em outra cena, ela faz a mesma coisa: desconta na bebida a sua ira. Senra

cita o alcoolismo atribuído ao profissional de comunicação, e diz que é uma herança

de outros profissionais que viviam em contextos boêmios. “Este vício aparece como

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traço característico do universo socialmente mais valorizado” (SENRA, 1997, Pg. 48-

49).

Um amigo diz que precisa de ajuda para se livrar dos sistemas que ele

usava para pegar meninas. Robin aceita ajudar. Na terapia, ela diz a Kevin para ele

anotar que ela é altruísta, que ajudou um amigo que precisava.

Ela enrola um pouco, porém acaba confessando seus reais sentimentos.

Kevin acha bom ela começar a se abrir e diz que é um bom sinal ela estar falando

dela e não de seus amigos. Aqui se percebe a reiteração do jornalista como uma

profissão que está, sobre quem deve ser, o que fazer e como fazer, como cita

Marcondes Filho (2002), “é uma profissão que exige cada vez mais competência e

em cada vez mais domínios, porque o real é cada vez mais complexo” (id, p;63).

No bar do McLaren’s, Barney agradece a Robin por tê-lo ajudado, e o chama

de irmão. A jornalista, por ser dada como forte e saber lidar com as suas emoções

na frente dos amigos, é generalizada como masculina.

O mundo do jornalista sempre foi considerado como eminentemente masculino, porque a crueza dos fatos, a disparidade dos meios sociais por ele frequentados, sua jornada principalmente noturna de trabalhos e o risco de certas situações a serem enfrentadas não se adequavam à presença feminina (SENRA, 1997, Pg. 48 e 49).

Robin então conta como foi que atacou a menina. Ela correu atrás da

menina que ia estragar o jantar do Barney e da Nora, e ela derrubou e bateu na

moça, para ela não atrapalhar o jantar deles. Ela diz que Barney não sabe de nada

do que houve e por isso a justiça ordenou que fizesse terapia, ao que ela completa:

“você deve me achar louca”. O terapeuta diz que acha ela uma boa amiga e ela diz

que acha isso bom, que eles lidaram com isso em uma sessão apenas.

Ted então aparece depois com Robin dizendo que “amar, às vezes é dar um

passo atrás”. Ela tenta minimizar seus atos dizendo que “as vezes é melhor interferir

e sabotar”. Ted então diz que se você gosta de alguém você deve querer vê-los feliz.

Mesmo que você acabe se lascando. A jornalista percebe que errou, e que isso

reflete emocionalmente e fisicamente no seu bem-estar, mesmo que por poucos

minutos, “o jornalista que reconhece ter se enganado se coloca em perigo. Não em

relação ao público mas à sua própria hierarquia.

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Os responsáveis de um telejornal, são sempre persuadidos que há um erro a

pagar” (MARCONDES FILHO, 2002, p.70). Robin demostra isso no final do episódio

(Fig.04), mas que ela sabe que fez o que deveria ter feito, assim como Sloan, que ao

ter que ir ao ar e dizer que errou, que seu japonês não era fluente, ela sente que

essa responsabilidade tem que ser dividida, pois ela não estava errada. William

então reforça que ele após ela declarar o erro, estará ao lado dela e na frente da

mesma para poder eles juntos enfrentar esse problema.

Fig. 4 – Robin fica feliz ao conseguir falar sobre a sua vida pessoal somente em uma

sessão, o mesmo fato ocorre com William McAvoy.

Neste momento se instalam relações fora do ambiente de trabalho, pois “os

amigos não jornalistas são considerados como uma segunda família, e em certos

casos tornam-se mais importantes que parentes” (TRAVANCAS,1992, p. 92).

“O jornalismo tem uma das culturas profissionais mais ricas, se não a mais

rica, identificando os valores mais nobres na história da humanidade, como é, por

exemplo, o valor da liberdade” (TRAQUINA, 2005, p. 35). Tanto para Robin quanto

para Sloan, Will e McKenzie, essa relação de amizade no ambiente de trabalho se

instaura após conflitos internos.

6.3 Critérios de análise discursiva para as séries

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Construção dos

personagens protagonistas

Os personagens são construídos a base representações

marcantes dos profissionais de imprensa, tais como: alcoolismo

(todos vão a bar e bebem); eles são altruístas, arrogantes às

vezes e não sabem lidar com as emoção interior. Não lidam

também com a vida pessoal da mesma forma com que trata a

profissional, deixando um estereótipo de jornalista no qual traz ao

público um discurso de espelho. Nos momentos de relatos sobre

o que houve para eles estarem procurando um terapeuta, são os

momentos em que enfatizam a falta de coordenância para com a

vida pessoal. Os profissionais no geral se portam como jornalistas

de grandes redações, que visam informar e avaliar os valores-

notícias.

Discurso imagético A amostra de cenas, com bancadas jornalísticas e

grandes redações, é o que caracteriza um ambiente de trabalho

de um profissional da comunicação. Todo o conjunto é de

representação realista de uma redação de verdade, claro que

mudando fortemente o formato e até mesmo o estilo de mesas,

mas priorizando a colmeia (todos acoplados com mesas lado a

lado, podendo ser reta ou em círculos) que se situa numa redação

tanto de jornal quanto de telejornal.

Vestem-se todos com cores escuras e vestimentas

sociais, visando não somente apresentar o lado externo, mas que

além do terno Gucci, há um bom profissional da imprensa em

busca de furos. Vestem-se impecavelmente.

Construção das

relações humanas

O estilo blasé dos protagonistas é o que mais

apresentam sobre as relações pessoais dos mesmos. Tanto no

que diz respeito a conflitos internos quanto externos, os

jornalistas não costumam saber lidar com as emoções,

principalmente pelo fator tempo e veracidade. Há muito com que

se preocupar, tanto que quando as emoções são deixadas de

lado, o corpo começa a sofrer as consequências, respondendo de

forma automática com dores ou eventuais faltas de sono, como

ocorre com o jornalista William McAvoy.

Construção das

relações profissionais

As ajudas constantes, as amizades com outros

jornalistas, são dadas como forma de uma construção profissional

que é levada ao pessoal pois, os jornalistas em sua maioria

adquirem amigos próximos que também são jornalistas. A

vivencia faz com que a falta de tempo ou até mesmo interesse

reflita nas amizades dentro do ambiente de trabalho. Nas séries,

as relações profissionais são exemplares, tanto de TN que

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possuem um quadro de 8 a 10 profissionais que se conversam

todos os dias, quanto de HIMYM que apesar de evidenciar mais o

lado pessoal da profissional, demonstra que mesmo assim no

ambiente de trabalho se acha um bom colega e amigo.

A pesquisa documentada foi usada neste trabalho pois não há monografia

recente sobre este assunto de representações de jornalistas em séries na faculdade.

Entre a pesquisa documentada estão os vídeos de ambas as séries, de sites e

DVD’s.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho, depois da análise de dois episódios das séries HIMYM

e TN, constata que os jornalistas de ambas as séries possuem características

constantes à profissão, como a dificuldade de lidar com a vida profissional em

detrimento à pessoal e a independência dos veículos de comunicação e seus

interesses comerciais. O lado mais enfatizado na representação é que as

personagens jornalistas não lidam muito bem com os sentimentos: quanto mais

competente o profissional for, menos facilidade possui para lidar com relações

pessoais. A ideia de jornalista em ambas as séries aponta a um perfil masculinizado,

ou seja, mesmo Robin sendo mulher, é considerada masculina pelos amigos e

colegas por ser autossuficiente, comprometida profissionalmente e crítica quanto ao

funcionamento do jornalismo televisivo. Para que os profissionais não se percam

profissionalmente (precisam um do outro), somente TN possui reuniões de pauta,

HIMYM somente aparece a jornalista produzindo matérias e sendo âncora.

Constata-se uma diferença nos discursos pelo fato de se tratar de séries de

gêneros diferentes. HIMYM, apesar de ser um seriado cômico, na representação da

profissão somente é enfatizado o humor quando ela comete deslizes em

transmissões (quando aceita dinheiro para falar coisas ao vivo, quando ela se muda

para o Japão achando que vai apresentar um programa sério), mas no contexto

geral da série, a personagem tenta, assim como os jornalistas de TN, crescer na

profissão e passar a ser reconhecida.

TN mostra que os profissionais buscam se moldar a um novo formato de

programa, criando novas regras (desde regras políticas até a forma como mandam

e-mail) e querem fazer o jornalismo de fato, centrado em notícias de interesse

público e do público. Os jornalistas da série são tão exemplares que qualquer

profissional desejaria ser assim, mostrando assim que são estereotipados. Os

personagens de TN se confrontam diante da construção de temas e assuntos da

pauta, o que apresenta o jornalista ético, e estável em relação à busca de fontes.

Em ambos os jornalistas, o fato de a bebida fazer parte do cotidiano fora do

expediente enaltece a representação do jornalista que ingere bebidas alcoólicas e

ou até mesmo muito café. Em toda a série de TN e HIMYM, os personagens não

ingerem café nenhuma vez. Os dois personagens trazem elementos reais da

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profissão para a ficção e demonstram como um jornalista possui amor pela profissão

e gosta do que faz.

A personagem Robin Scherbatsky é representada como uma jornalista que

quer reconhecimento, que trabalha para evoluir na empresa, tanto que chega a

viajar para o Japão a fim de voltar com mais experiência; durante toda a série Robin

jamais diz não para a profissão; passou por momentos humilhantes; quase foi

deportada por estar sem trabalho e ser canadense nos EUA e largou vários

namorados para poder seguir a profissão. Robin Scherbatsky aparece fazendo

jornalismo efetivamente em sessenta episódios de duzentos de quatorze total da

série. Em TN, todos os episódios efetivamente são jornalísticos. Esses dados

mostram que a representação do jornalista é constantemente reiterada, sendo uma

média de 8 episódios mostrando a profissão dentre 22 da temporada toda.

As representações aqui são de personagens jornalistas altruístas

companheiros profissionalmente; hábeis, buscam se fortalecer em suas profissões e

são receptivos com os novatos no ramo.

Não há diferenciação efetivamente sobre as séries de acordo com cada

gênero, pois mesmo HIMYM sendo comédia e TN drama, ambas são segmentadas

para mostrar uma representação estereotipada da profissão. Mesmo numa série

como TN, que busca mostrar o cotidiano de uma profissão e o dilema que envolve o

jornalismo em relação às fontes, instituição e outros jornalistas, requer uma visão

compartilhada do que se crê que o jornalismo e os jornalistas são. Elas são criadas

com base nas repetições anexadas a filmes, séries e programas jornalísticos.

HIMYM, por ser do gênero cômico, reproduz a profissão, mas se

embasando no estado atual da profissão e recriando como efetivamente mais risível.

Porém em hipóteses iniciais do presente trabalho, via-se a jornalista como

representativa da baixa credibilidade perante a profissão, o que não se confirmou.

Robin é caracterizada como uma profissional que busca reconhecimento e

crescimento profissional, ou seja, a transição dela como recém-formada a uma

profissional é o elemento principal para efetivar que a jornalista não interfere na

representação do jornalista em si.

A representação social da jornalista Robin Scherbatsky e do jornalista Will

McAvoy são sim obviamente diferentes, cada um com a sua ênfase, TN buscando

um novo formato de programa, criando uma nova forma de ver e fazer jornalismo.

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HIMYM mostra a transição de um foca28 para uma profissional qualificada e

reconhecida e demonstra que o trabalho pode ser transitório, renovando-se sempre.

Além disso, a série retrata também o lado pessoal da jornalista, o que a coloca em

primeiro plano. O estereótipo da profissão independente de gêneros são formas de

seguir e buscar êxito profissional.

Por fim, constata-se que a personagem Robin é mais realista do que os do

seriado The Newsroom, por saber diferenciar a vida pessoal da do trabalho, sua

forma de reproduzir o jornalismo é na frente das câmeras somente, a forma de

trabalho do personagem Will McAvoy é diante da televisão e fora dela.

The Newsroom traz uma representação que está ligada à maneira de como

os profissionais se veem ou gostariam de ser dentro do próprio grupo de jornais. A

mídia influencia a recepção da forma como se vê a profissão de jornalista e,

portanto, The Newsroom está mais próxima da forma como o jornalista quer ser.

Will McAvoy Robin Scherbatsky

Irônico X

Altruísta X X

Egocêntrico X X

Experiente X

Maduro X

Audacioso X X

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Jornalista recém-formado.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. ANEXOS

Cd com os episódios analisados.