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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL
CARLOS EDUARDO LISEMBERG DIAS FERREIRA RAMON VOLTOLINI DE ASSIS
ONDE TÁ O JORNAL? UM VIDEODOCUMENTÁRIO SOBRE OS USOS E SIGNIFICADOS
SECUNDÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO
CURITIBA 2012
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CARLOS EDUARDO LISEMBERG DIAS FERREIRA RAMON VOLTOLINI DE ASSIS
ONDE TÁ O JORNAL? UM VIDEODOCUMENTÁRIO SOBRE OS USOS E SIGNIFICADOS
SECUNDÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Jornalismo, do setor de Comunicação Social das Faculdades Integradas do Brasil, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Jornalismo.
Orientadora: Suzana Rozendo
CURITIBA 2012
2
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3
1.1 DESPINDO A TEMÁTICA .............................................................................. 3
1.2 UM REFERENCIAL TERMINOLÓGICO: A DEFINIÇÃO DE UM DIALETO PARA 4
O ESTUDO DOS USOS SECUNDÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO ...................... 4
1.3 O DESESPERO DA CRÍTICA E O REDUCIONISMO PLÁSTICO: O JORNALISMO IMPRESSO VISTO POR UM OUTRO ÂNGULO ............................. 6
2 DELIMITAÇÃO ..................................................................................................... 8
2.1 OS SIGNIFICADOS PRIMÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO AO LONGO DA HISTÓRIA ................................................................................................................ 8
2.2 O RITMO INDUSTRIAL DE SE FAZER JORNALISMO ................................... 10
2.3 A INTERNET COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E AGENTE TRANSFORMADOR DO JORNALISMO IMPRESSO ............................................ 12
2.4 AS SIGNIFICAÇÕES SECUNDÁRIAS DO JORNAL IMPRESSO ................... 15
2.4.1 O USO CRIATIVO DA FOLHA DE JORNAL ............................................. 18
2.5 A CIRCULAÇÃO DE JORNAL IMPRESSO EM CURITIBA ............................. 20
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 22
3.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 22
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 22
4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 23
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 24
5.1 A LÓGICA CIENTÍFICA E A SEMIÓTICA DE CHARLES PEIRCE .................. 24
5.2 O UNIVERSO COMUNICACIONAL E A ORTODOXIA LINGUÍSTICA ............ 26
5.3 O OBJETO E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES.................................................. 27
5.4 RESIGNIFICAÇÕES AO LONGO DE UM CICLO DE VIDA ............................ 29
5.5 O DOCUMENTÁRIO E A “IMPRESSÃO DE AUTENTICIDADE” ..................... 30
5.6 ATORES FICCIONAIS OU ATORES SOCIAIS EM CENA? ............................ 31
5.7 UMA VOZ PRÓPRIA PARA O DOCUMENTÁRIO ........................................... 32
6 METODOLOGIA .................................................................................................... 33
6.1 METODOLOGIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 33
6.2 SONDAGEM SOBRE OS USOS CRIATIVOS DO JORNAL IMPRESSO ........ 34
7 ANÁLISE DAS PESQUISAS ................................................................................. 35
8 DELINEAMENTO DO PRODUTO ......................................................................... 35
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 37
10 CRONOGRAMA .................................................................................................. 39
11 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 40
3
1 INTRODUÇÃO
1.1 DESPINDO A TEMÁTICA
“Nos dias mais terríveis do inverno, procura proteger-se do frio colocando
algumas folhas de jornal entre a camisa e a camiseta. ‘Sou um esnobe: só uso o
Times’, diz ele” (MITCHELL, 2003, p. 13). Esse trecho, retirado de uma das mais
notórias obras do jornalismo literário, pode sintetizar o que se objetiva estudar no
correr deste trabalho: analisar, por meio de um videodocumentário jornalístico, os
significados derivados dos usos secundários1 do jornal impresso.
A adoção desse olhar “periférico” sobre as funções atípicas exercidas por
essa plataforma de mídia se justifica, justamente, pela inexistência de estudos mais
“ousados” que tentam, de alguma forma, desmistificar certas proposições a despeito
da polissemia do jornalismo impresso. Calhamaços de papel versam sobre o modus
operandi da atividade jornalística. Manuais de redação, de radiojornalismo, de
telejornalismo e tantos outros “ismos” abarrotam as prateleiras das bibliotecas
universitárias. E todo esse aparato teórico se vale das notas sobre a produção de
notícias enquanto reprodutora/construtora da realidade; teses estas protagonistas de
debates sobre o jornalismo como marcação histórica e/ou cultural da civilização
(BERGAMO, 2011).
Deste modo, constroem-se historiografias que podem, por assim dizer, limar
as potências criativas do homem ao passo que geram, como corolários, a conquista
e manutenção de símbolos e informações referentes, apenas, ao legado cultural de
um povo. Como polemiza Nietzsche, “certamente precisamos da história, mas não
como o passeante mimado no jardim do saber, por mais que este olhe
certamente com desprezo para as nossas carências e penúrias rudes e sem graça”
(NIETZSCHE, 2003, p.5).
Para que a crítica feita não permaneça encrustada somente nestas folhas,
cabe, então, uma discussão pelo viés jornalístico – e crítico – sobre esses supostos
usos secundários do jornal impresso. Ainda na introdução deste emaranhado
1 Sousa (1999) prevê uma série de funções típicas que são, em tese, desenvolvidas naturalmente
pelas mídias noticiosas. A ideia de “usos e secundários”, como um tipo de “olhar periférico por sobre essas “funções primárias”, será melhor trabalhada nas páginas seguintes desse trabalho.
4
teórico, dois outros tópicos serão apresentados com o objetivo de, no primeiro,
descrever sucintamente os termos e condições que guiarão o desenrolar desse
trabalho (um referencial terminológico) e, seguidamente, outro que versa sobre a
necessidade da elaboração de sistemas analíticos reducionistas para a construção
tradicional de ciência (o desespero da crítica).
1.2 UM REFERENCIAL TERMINOLÓGICO: A DEFINIÇÃO DE UM DIALETO PARA
O ESTUDO DOS USOS SECUNDÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO
Seja como explicação alternativa ao surgimento do nacionalismo europeu ou
simplesmente entendido como um veículo de circulação e distribuição de notícias e
serviços, o jornal impresso congrega em si, hoje, valores distintos daqueles
contemplados pelas suas folhas durante os tempos áureos da modernidade
(THOMPSON, 2001). Além de fazer parte de um sistema social complexo enquanto
organismo estrutural-funcionalista (WOLF, 2003), esta plataforma de mídia (a
impressa) parece exercer funções e gerar efeitos que extrapolam as suas estreitas e
ingênuas projeções primárias2. “Se (...) a natureza do jornalismo está no medo, sua
origem como veículo periódico está no lucro. Em seu código genético não
encontramos um serviço público, mas sim um comércio de notícias” (PENA, 2005, p.
33).
Os processos geradores de notícias – e, consequentemente, os efeitos
provocados por elas – calçam diversas discussões a despeito do papel do jornalismo
enquanto fenômeno social; uma outra dimensão desse movimento, entretanto,
carece de atenção: quais seriam os efeitos e funções derivados a partir dos usos
“secundários”3 do jornal impresso? O consumo da folha timbrada é feito apenas por
quem busca informação por meio dessa plataforma de mídia? Com estas
2 Jorge Pedro Sousa (1999), em seu artigo “As Notícias e seus Efeitos”, chega a elaborar uma
fórmula matemática na tentativa de unificar a teoria do jornalismo (recepção e produção de notícias) a partir das premissas clássicas das teorias de comunicação. Alguns elementos dessa equação são realmente interessantes, tais como: Nf (o formato das notícias condiciona a recepção delas), Nc (os efeitos são condicionados pelo conteúdo das informações) dentre outros. 3 Já que as projeções primárias, escoradas na fórmula de Sousa (1999), foram designadas como as
“funções teoricamente comuns, genéricas” do consumo de qualquer mídia noticiosa, será utilizada, doravante, o termo “funções, consumo, efeitos ou significados secundários” do jornal impresso em alusão à hipótese que versa sobre os usos e pós-usos atípicos e subjacentes da folha timbrada.
5
provocações, se quer dizer que os usos do jornal impresso (enquanto objeto, em
sentido material) elucidam um fenômeno constante e indissociável dos artefatos
sociais: os processos de significação, entendidos substancialmente pelo acréscimo,
subtração ou transformação de sentido da coisa, atuam constantemente sobre toda
produção material humana (CARDOSO, 2012).
Trocando em miúdos, se quer discutir os significados do consumo do jornal
impresso face aos efeitos e funções que extrapolam aquelas previsões
funcionalistas centradas, sobretudo, nas significações primárias que consideram os
elementos teóricos mostrados por Bergamo (2011). Nesse sentido, pretende-se
revelar os significados secundários – que estão para além ou aquém dos tradicionais
– do consumo do jornal impresso enquanto artefato material na contemporaneidade;
essas observações estão, por conseguinte, enunciadas por meio de um
videodocumentário jornalístico (produto final de todo este projeto). Como teoria
basilar das acepções sobre “signo”, ter-se-á, para a análise dessas significações, a
peirceana.
Assim, objetiva-se trazer à tona uma discussão sobre o significado da
utilização secundária do jornal impresso tendo em vista, justamente, essas “funções
periféricas” que estão encrustadas no “ciclo de vida”4 da folha pintada. Ademais,
como aponta Cardoso (2012), são consideradas, em cada uma das etapas desse
ciclo, quatro dimensões que regem o processo de significação dos artefatos
materiais, quais sejam: a materialidade (estrutura, forma e configuração do objeto), o
ambiente (a inserção social, o entorno, o contexto de uso), os usuários (o repertório
de cada usuário, requisitos ergonômicos, ideias e intenções) e o tempo (o impacto
da passagem do tempo sobre o artefato em questão).
A exemplo do que se pretende estudar aqui, será mencionada, neste trecho,
apenas uma das possíveis significações secundárias que o uso do jornal impresso
pode – eminentemente – assumir. Se uma pessoa em situação de rua fosse, por
exemplo, entrevistada, seria bastante provável que o desabrigado, assim como Joe
Gould e seu segredo com Joseph Mitchell, usasse folhas de jornal debaixo do braço
para, porque não, se aquecer em dias frios, ou para enrolar fumo, fazer dinheiro
catando gramas de papel pelas ruelas de Curitiba (com bem demonstrado nos
4 O conceito de “ciclo de vida” será pormenorizado em outros momentos desse trabalho. Deve-se
deixar claro agora, no entanto, que serão utilizados os fundamentos de Cardoso (2012, p. 160) para que a construção de um método analítico seja, assim, devidamente desenvolvido.
6
instantes iniciais do “Onde tá o Jornal?”). Nesse caso, e à custa do indício
metodológico de análise mencionado, as fases do ciclo de vida (CARDOSO, 2012,
p. 160) são elucidadas e levam em conta, ao mesmo tempo, aquelas quatro
dimensões que guiam o processo de significação dos artefatos (o jornal impresso)
materiais (materialidade, ambiente, usuários e tempo).
1.3 O DESESPERO DA CRÍTICA E O REDUCIONISMO PLÁSTICO: O
JORNALISMO IMPRESSO VISTO POR UM OUTRO ÂNGULO
É bastante fácil encontrar nas bibliotecas calhamaços de papel que versam
sobre o modus operandi do jornalismo. Basta bater perna por dentre os corredores
das casas dos livros para que, logo, sejam encontrados aos borbotões manuais de
redação, de radiojornalismo, de telejornalismo, de webjornalismo e de tantos outros
“ismos” que volta e meia surgem por aí. Teorias sobre a produção de notícias
enquanto reprodutora/construtora da realidade assumem papéis centrais em
discussões que tentam desvendar a identidade do jornal na contemporaneidade; o
jornalismo protagoniza, assim, um capítulo novo da sua trajetória, pois figura não
apenas como veículo de propagação de notícias e serviços, mas como marcação
em sentido histórico e/ou cultural das sociedades (BERGAMO, 2011).
Todavia, como pontua Pena (2005), toda teorização significa dar um passo
rumo ao reducionismo. Mesmo através do uso de metodologia e conceitos mais
ubíquos possíveis, a pesquisa irá se reduzir, invariavelmente, a um quadro teórico
bastante, bastante específico. Nas palavras dele, “teorizar é uma tentativa
desesperada de enquadrar interpretações críticas que, vistas sob qualquer ângulo,
mostrariam-se mais complexas” (PENA, 2005, p. 09). Paradoxalmente, reduzir quer
dizer, também, ampliar. Nosso sistema cartesiano de fazer ciência enxerga esses
“reducionismos teóricos” como meios pelos quais o conhecimento é, sabe-se lá
como, ampliado. E é aí que outra antinomia aparentemente vem à tona.
Parece que grande parte dos ensaios científicos, nos conformes da lógica
supracitada, quer se aprofundar num determinado tema através da construção de
um “reducionismo métrico (de forma e conteúdo determinados)”. Assim, é de se
pensar: como o jornalismo se apropria das teorias da comunicação – viciadas, por
7
excelência, em métodos e conceitos precisos – e constrói um conhecimento genuíno
sobre si mesmo? Para além dessa incitação, é possível formular: seria o jornalismo
um fenômeno social com fim em si mesmo? (WOLF, 2003). Numa fuga às respostas
convencionais e conseguinte embate a ambos os questionamentos formulados na
frase anterior, pode-se ter a ideia de que “não existem sistemas autotélicos (cuja
finalidade reside apenas em si mesmo) que não sejam necessariamente tautológicos
(cujos termos são redundantes e autoreferenciais). Portanto: logicamente inválidos”
(PETRÔNIO, 2012, p. 27).
Provocações como estas cerram de lágrimas os olhos da academia. Se
travestidos a temáticas sociais e talhados nos conformes de uma receita
pasteurizada de sucesso, quaisquer esboços – assim como qualquer blockbuster5 –
têm chances palatáveis de serem ovacionados pela mais ríspida das bancas, pelos
mais sisudos dos mestres e doutores. Mas não. As respostas àquelas insinuações
não serão encontradas no corpo deste trabalho. Esses apontamentos têm como
função, outrossim, constituir parte da justificativa à escolha de um olhar, na falta de
um termo mais adequado, “periférico” sobre a cultura de uma das mais saudosas
plataformas de mídia da atualidade: a do jornal impresso.
Ainda nesta parte “estrutural-teórica” do trabalho, que visa, assim, delimitar a
temática do estudo, uma sucinta explanação sobre o “significado ordinário”
(BERGAMO, 2011) do jornal impresso durante o correr de sua história é feita.
Portanto, para que um olhar periférico seja alçado por sobre a cultural material do
jornal impresso na contemporaneidade, um escorço histórico, breve, será a seguir
construído; sua finalidade irá se concentrar na elucidação dos significados primários
do jornal numa Europa Moderna – berço do jornalismo impresso.
Visto isso, será ressaltado o perfil do jornalismo emergente a partir do início
do século XIX. Marcadas por uma nova divisão do trabalho social, as fronteiras entre
elementos de distinção simbólica ganharam vigor e ficaram, por assim dizer, ainda
mais evidentes. Como arremata Martinho (2003, p. 34), “cada campo passa a
cultivar seus próprios ídolos, valorizar seus próprios teóricos e estabelecer um
habitus específico, ainda que semelhante, sob certos aspectos, aos outros”. Deste
modo, colocar-se-á em xeque o significado secundário do consumo do jornal
5 Blockbuster: conceito criado nos idos de 1970, que se refere a filmes feitos para o grande mercado,
cuja bilheteria, sempre vasta, justifica-se pelo apelo da trama a temas sempre bem quistos pela massa consumidora.
8
impresso na contemporaneidade tendo em vista, naturalmente, os apontamentos
feitos acerca dos significados primários dele.
A título de concretizar devidamente as pretensões listadas acima, definiram-
se, a priori, algumas diretrizes que, sequencialmente, estruturam a delimitação
temática deste trabalho. Em linhas gerais, serão três os tópicos apresentados, a
saber: 2.1) os significados primários do jornal impresso ao longo de sua história (que
pontua a função primária dessa plataforma de mídia e desdobra-se, seguidamente,
em outros dois subtópicos, quais sejam, 2.2: o ritmo industrial de se fazer jornalismo
e 2.3: a internet como meio de comunicação de massa e agente transformador do
jornalismo impresso); 2.4) as significações secundárias do jornal impresso (pesquisa
em plataformas eletrônicas de dados sobre os “usos secundários” das folhas de
jornal, e conseguinte citação de exemplos desses “usos criativos da folha de jornal”
como tópico de número 2.5) e, por fim, 2.6) a circulação de jornal impresso em
Curitiba (apontamento de informações sobre a circulação dos maiores jornais na
capital paranaense).
2 DELIMITAÇÃO
2.1 OS SIGNIFICADOS PRIMÁRIOS DO JORNAL IMPRESSO AO LONGO DA
HISTÓRIA
O surgimento dos tipos alfabéticos e a invenção da máquina impressora,
concebidos originalmente por Johann Gutenberg por volta de 1440, possibilitaram a
produção de material impresso em larga escala como novas bases de poder
simbólico a partir da segunda metade do século XV.
Anton Koberger de Nuremberg desenvolveu uma organização editorial de porte que, já nas primeiras décadas do século XVI, tinha 24 prensas e cerca de 100 trabalhadores, bem como uma extensa rede comercial interligando os mais importantes centros comerciais da Europa (THOMPSON, 2011, p. 87).
Durante a fase mais incipiente do jornalismo impresso, as publicações se
resumiam a sentenças oficiais, folhetos e descrições de eventos (religiosos,
9
familiares, militares e congêneres). Progressivamente, os periódicos começaram a
tratar de assuntos diversos como economia, comentários sociais (uma forma
primitiva do que se conhece hoje por “coluna”) e de teor cultural. Nessa fase, notada
com maior fulgor no século XVII, Londres, por exemplo, contava com vários jornais
diários, trissemanais, semanais e muitos outros “mais baratos, com uma circulação
total de aproximadamente 100.000 cópias por semana” (THOMPSON, 2011, p. 101).
Pena (2005), ao parafrasear Ciro Marcondes Filho, cita um quadro evolutivo
composto por cinco etapas do jornalismo. No “Primeiro Jornalismo”, findado entre
anos 1789 e 1830, o conteúdo literário e político, o texto crítico e as redações
comandadas por escritores, político e intelectuais fizeram dos jornais veículos de
publicação de notícias voltadas a públicos específicos. No entanto, com o aumento
do número de leitores notado fortemente a partir do século XIX, a imprensa passa
adquirir caracteres que, logo, a definiriam como Meio de Comunicação de Massa (os
famosos MCM). “Segundo Jornalismo: 1830 a 1900: a imprensa de massa marca o
início de profissionais dos jornalistas, a criação de reportagens e manchetes, a
utilização da publicidade e a consolidação da empresa” (PENA, 2005, p. 33).
Os jornais na modernidade “se tornaram um meio vital para a venda de
outros bens e serviços, e sua capacidade de garantir receita através dos anúncios
diretamente dependente do tamanho do perfil de seus leitores” (THOMPSON, 2011,
111). Sobre o perfil dessa classe de receptores, e face à importância (frequência e
quantidade) da propaganda comercial emergente do final do século XVIII
concomitantemente ao desenvolvimento de uma sociedade de relações cada vez
mais complexas, Kellner (2001) afirma que as características individuais de
identidade se escoravam em dois pilares: na fragilidade e na instabilidade.
Os pós-estruturalistas, por sua vez, desfecharam um ataque contra a própria noção de sujeito e de identidade, afirmando que a identidade subjetiva em si é um mito, um construto da linguagem e da sociedade, uma ilusão sobredeterminada de que somos realmente um sujeito substancial de que realmente temos uma identidade fixa (KELLNER, 2001, p. 298).
Deste modo, parece razoável considerar a impressão de que, na
modernidade, o significado do jornal impresso, na mais objetiva e óbvia das
abstrações possíveis, não extrapola os apontamentos feitos anteriormente sobre a
valência ordinária, primária, dos seus usos. Em outras palavras, as funções
10
desempenhadas por esta plataforma de mídia, numa sociedade marcada pela
complexidade das relações em sentido amplo, são justamente aquelas previstas por
Pena (2005, p. 129): ”tratamento dos fatos como acontecimento notável; tratamento
genérico e não, portanto, idiossincrático aos fatos e organização segundo lógica
industrial de produção de informações e serviços”.
Em atendimento às predisposições citadas logo na introdução deste trabalho, e
visto o significado ordinário dos usos do jornal impresso ao longo dos pontos chave
de sua história – arraigados, sobretudo, em considerações feitas a cerca e somente
sobre as instâncias “materiais” do jornal –, colocar-se-á em xeque as terceira e
quarta fases do jornalismo definidas, sucintamente, por este conceito:
Terceiro jornalismo: 1900 a 1960: Imprensa monopolista, marcada por grandes tiragens, influência das relações públicas, grandes rubricas políticas e fortes grupos editoriais que monopolizam o mercado. Quarto jornalismo: de 1960 em diante. Caracterizado pela informação eletrônica e interativa, como ampla utilização da tecnologia, mudança das funções do jornalismo, muita velocidade na transmissão de informações, valorização do visual e crise da imprensa escrita (PENA, 2005, p. 33, grifos do autor).
Assim, portanto, cabe pensar nas mutações que acompanharam o jornal
impresso durante outro “cataclismo histórico” que, em alusão ao “terceiro jornalismo”
de Pena (2005), fizeram da conjuntura social um palco marcado por grandes e fortes
grupos editoriais que monopolizaram o mercado. Aqui, serão citados os efeitos
gerados por esse ritmo industrial de se fazer jornalismo a partir da Segunda Guerra
Mundial. A cultura da mídia, a aparente crise da imprensa escrita e a polissemia do
jornal impresso guiarão as discussões do tópico subsequente.
2.2 O RITMO INDUSTRIAL DE SE FAZER JORNALISMO
Após a Segunda Guerra, o jornalismo como “subproduto das belas letras”,
cujo estilo se confundia com a literatura, em sentido amplo, entrou numa nova fase.
A sociedade politicamente aberta, a industrialização e a equidade urbana, como
aponta Dines (1986), foram os resultados do “pós-guerra” que mais influenciaram o
desenvolvimento de um novo método de produção de jornalismo. “Nossos jornais,
11
banhando-se do noticiário telegráfico, apreenderam um novo estilo, seco e forte, que
já não tinha qualquer ponto de contato com o beletrismo. (...) Passamos, então, no
fim dos anos 40, à funcionalidade e à eficiência” (DINES, 1986, p. 26).
O ritmo industrial de se fazer jornalismo foi ainda mais acelerado com o
advento da internet. Vive-se, hoje, num mundo onde a organização social se pauta
cada vez mais nos pressupostos da “cultura da mídia”; os processos e protocolos
técnicos como meios de produção e a circulação e recepção são alguns dos
principais fenômenos constituintes da sociedade contemporânea (NETO, 2008). A
convergência das mídias, nesse contexto, tem sido movimento comum no meio
jornalístico nesses últimos vinte anos. A unificação das redações de rádio, televisão,
jornal e internet é a realidade com a qual os jornalistas e veículos de comunicação
se deparam hoje (MURAD, 2001).
Sobre esse assunto, as respostas acerca do destino das mídias físicas têm
sido divergentes quando, no bojo dessas discussões, coloca-se em pauta o
elemento internet. Há quem preveja a morte quase imediata dos jornais, das
revistas, dos panfletos. Philip Meyer, citado por Dornelles (2007), diz que “o
surgimento da internet comercial lançou o jornalismo na pior crise da sua história”.
Paul Gillin, veterano do jornalismo especializado em tecnologia, lançou um site6 que
monitora o “tempo de vida, o batimento cardíaco”, de alguns dos maiores jornais
impressos dos EUA.
Numa tentativa de driblar tal conjuntura, tem se acreditado que o mais
coerente dos caminhos é aquele que tenta fundir, ou interligar de alguma forma, as
plataformas de mídias físicas com as virtuais – prática esta atualmente em evidência
no mundo da indústria jornalística. O desenvolvimento da internet como Meio de
Comunicação de Massa alterou o modus operandi de todo o jornalismo. A fórmula
elementar que ordena a relação de comunicação entre as partes, entre os
“interlocutores”, certamente enfrenta uma mutação. Agentes antes meramente
passivos à recepção de um conteúdo jornalístico qualquer hoje criam e perpetuam
mensagens, forjando, dessa maneira, um elo novo desse tão complexo sistema
comunicacional. Como indica Murad (1999), a digitalização multiplicou a capacidade
de transmissão de conteúdos e criou a base para que a informação tivesse
6 Disponível em: <http://newspaperdeathwatch.com/>. Acessado em: 01/06/2012.
12
tratamento homogêneo e fosse convertida facilmente para diferentes meios de
comunicação.
No entanto, apesar do impacto evidente das novas mídias sobre todos os
segmentos do jornalismo tradicional, outro aspecto desse fenômeno deve ser
revelado: as ressignificações dos elementos pertencentes ao universo midiático
contemporâneo não se restringem apenas às considerações que se fazem a
respeito das “narrativas transmídia”, como bem pontua Jenkins (2008). Isto é, além
das relações estabelecidas entre os meios de comunicação em suas mais variadas
plataformas, existe, ainda, um valor agregado, ambíguo (que extrapola os
pressupostos funcionalistas do objeto – secundários, portanto), em cada ferramenta
de comunicação – novamente faz-se menção ao significado secundário do jornal
impresso, nos conformes das ideias apresentadas no tópico sobre o “dialeto
terminológico”.
2.3 A INTERNET COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E AGENTE
TRANSFORMADOR DO JORNALISMO IMPRESSO
O desenvolvimento da internet como meio de comunicação de massa a
partir do século XX inaugurou uma nova estrutura social. A flexibilidade
administrativa face à globalização do capital, a consolidação da supremacia dos
valores e liberdade individuais e os avanços extraordinários da computação e,
consequentemente, da comunicação foram os principais marcos gerados a partir da
revolução microeletrônica (CASTELLS, 1999). Ainda a partir da segunda metade da
década de 1990, o uso disseminado dessa nova tecnologia registrou o número de 16
milhões de usuários de redes de comunicação por computador no mundo. “No início
de 2001, eles eram mais de 400 milhões; previsões confiáveis apontam que haverão
cerca de 1 bilhão de usuários em 2005, e é possível que estejamos nos
aproximando da marca dos 2 bilhões por volta de 20107” (CASTELLS, 1999, p. 8).
7 Em 2011 a internet contou com 21 milhões de usuários, segundo relatório da companhia de
estatísticas Pingdom. Disponível em:< http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2012/01/18/internet-atinge-21-bilhoes-de-usuarios-no-mundo-em-2011-aponta-consultoria.jhtm>. Acessado em: 08/10/2012.
13
Sinteticamente, a internet pode ser definida como uma associação mundial
de computadores e redes interligados que une milhares de pessoas através do
compartilhamento de informações estocadas por meio de texto, de imagem e de
som em formato digital sob o suporte de diversos aparatos tecnológicos, como fibra
ótica, linhas de telefone, satélite e rádio (MURAD, 1999). Infere-se, assim, que a
rede constitui-se como um meio “híbrido”, vez que o fluxo do processo de
comunicação é, agora, dinâmico (MONTEIRO, 2001). Com isso, quer se dizer,
substancialmente, que “usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa”
(CASTELLS, 1999).
Em um primeiro momento, destaca-se, pode parecer razoável atribuir apenas
à ascensão vertiginosa dos meios online o declínio da mídia impressa como um todo
e dos jornais em particular – o que parece compor grande parte do discurso do
senso comum na atualidade. Entretanto, um olhar mais acurado e cuidadoso pode
facilmente revelar novas dimensões que são, por natureza, bastante multifacetadas.
Ao analisar a questão sob duas perspectivas principais – quais sejam, a circulação e
a participação dos jornais no dispêndio publicitário -, é possível perceber que a
perda de terreno por parte do jornal impresso ocorre mesmo antes de a internet ter
feito seus primeiros ensaios. Ao analisar o mercado estadunidense, em particular,
percebe-se que o declínio do jornal impresso produziu seus primeiros índices
durante a década de 1950 (RIGHETTI; QUADROS, 2009).
Conforme colocam Righetti (2009) e Quadros (2009), a perda de espaço do
jornal impresso pode estar, inicialmente, ligada à concorrência com mídias
audiovisuais (rádio e TV), e também à diminuição do hábito de leitura naquele país –
conclusão que é estendida também para o cenário brasileiro. Tal afiguração é ainda
consubstanciada por análises quanto à participação dos impressos na publicidade
entre os anos de 1995 e 2005 – revelando ainda uma participação relativamente
ínfima da internet no total gasto com conteúdos publicitários.
No Brasil vemos que a publicidade, no período analisado (1995-2005), migrou sobretudo para a TV (que teve um aumento de participação de 5% nos dispêndios) e para os chamados “outros meios de comunicação” que, somando meios como a internet, cinema e TV por assinatura, chegaram a 11% dos dispêndios publicitários em 2005 (ante 3% em 1995). Mas vale destacar que a participação da internet, sozinha, foi pequena e só aparece a partir de 2004, com 1,7% do total gasto em publicidade (RIGHETTI; QUADROS, 2009).
14
Não obstante, a autora chama a atenção para o crescimento posterior da
internet como plataforma publicitária – sobretudo em razão das possibilidades de
anúncio descortinadas pela tecnologia própria dos ambientes online. “A mídia
eletrônica (...) tem potencial para se tornar alvo do mercado publicitário, pois oferece
novas formas de anúncios (interativos, por exemplo) e atinge a um número
incalculável de receptores” (RIGHETTI; QUADROS, 2009, n.p).
A despeito de questões estritamente ligadas aos caracteres de um teorizado e
enumerado declínio do formato de mídia impresso, parece fundamental perceber,
também, que a própria atividade jornalística encerra na contemporaneidade
demandas e processos notadamente distintos daqueles experimentados em sua
aurora. Em contramão ao beletrismo tipicamente desenvolvido nos seus primeiros
anos como instrumento de mediação pública, a atividade jornalística parece, hoje,
inequivocamente focada em sumos materiais, factuais. Nas palavras de Ajzenberg
(2002):
Quando penso em jornalismo, aqui, penso em notícias, fatos. Não me passa pela cabeça a crônica. Não penso em nada que não tenha referência direta, indestrutível, no reconhecido, naquilo que ao menos mais de uma pessoa viu. Estamos no século XXI. Só posso, hoje, conceber o jornalismo assim — uma relação multilateral, no mínimo triangular. Penso em retratos duros (AJZENBERG, 2002, p. 53-54).
Ao voltar os olhos para as influências que animam estilo e modus
operandi do jornalismo hodierno, em contraponto àquele praticado em períodos
anteriores – sobretudo naqueles em que pressões industriais ainda representavam
força incipiente -, é possível vislumbrar certa dicotomia, materializada por processos
de legitimação oriundos de modelos industriais, de um lado, e por formas de
legitimação típicas de uma abordagem ligada às elites artísticas de cada época –
sobretudo em relação às formas utilizadas. Conforme lembra Bergamo, tal distinção
se torna patente, sobretudo, durante os anos 50, momento em que o jornalismo
passa a ensaiar estilos próprios, materializados pelos “manuais de redação e estilo”
(BERGAMO, 2001).
Dessa forma, parece razoável considerar que qualquer análise baseada em
linguagens e critérios eletivos da atividade jornalística deveria permear uma
apreciação sobre a formação de uma identidade jornalística e, consequentemente,
15
sobre a identidade possível para o próprio jornalista – sobretudo em um período em
que o termo “jornalismo” assume uma natureza tão destacadamente polissêmica.
O conflito passou a ser definido, nos anos 80 e 90, por “antigos” e “novos” jornalistas – os “antigos” sendo os profissionais mais críticos, e os novos, egressos dos cursos de jornalismo, os mais “acríticos”. Os primeiros auto definiam sua posição como de enfrentamento do poder político e econômico, e os segundos eram definidos – por esses mais “antigos” – como alienados (DALMONTE, 2007).
Conforme coloca Dalmonte (id), as décadas de 1980 e 1990 notabilizaram-se
pela produção de duas identidades consideravelmente distintas, formadas na
heterogeneidade de um cenário ocupado por profissionais de formações diversas e
egressos dos cursos de jornalismo – os quais viam no diploma a única forma de
exercer a profissão, posto que este havia se tornado obrigatório. Ainda assim, essa
aparente crise de identidade do jornalista, somada à massificação da produção de
notícias, não alterou de modo significante a função primária da atividade jornalística,
que, segundo Pena (2005), é:
[...] tornar possível o reconhecimento de um fato desconhecido como acontecimento notável; elaborar formas de relatar os acontecimentos que não tenham a pretensão de dar a cada fato ocorrido um tratamento idiossincrático; organizar, temporal e espacialmente, o trabalho de modo que os acontecimentos noticiáveis possam afluir e ser trabalhados de uma forma planificada (PENA, 2005, p. 129).
Em outras palavras, apesar de todas as mutações pelas quais o jornalismo
passou, “cataclismos” esses apontados sucintamente nos tópicos anteriores, a
suma, a substância da função primária da atividade jornalística ainda é bastante
verificável; o uso dos veículos noticiosos (e aqui, por óbvio, a ideia de “jornal
impresso” deve vir à tona) é feito, primordialmente, por quem busca informações,
notícias e serviços.
2.4 AS SIGNIFICAÇÕES SECUNDÁRIAS DO JORNAL IMPRESSO
Até esta altura do trabalho se quis mostrar, sob ponto de vista histórico
especialmente, que o jornalismo – sobretudo o jornal impresso – desempenha como
16
função primária a veiculação de informações, notícias e serviços. É o que Ajzenberg
(2002) chama de “retrato duro” da realidade. Desde a publicação de folhetos durante
a sua fase mais incipiente até o declínio do hábito de leitura a partir da década de
1950 e conseguinte “crise” do impresso (RIGHETTI; QUADROS, 2009), o jornalismo
parece que se concentrou mais em adequar-se às conjunturas socioeconômicas do
que em alterar significativamente os fundamentos que pautam a sua existência.
Aqui, deve-se fazer menção novamente às ideias de Pena (2005) que,
condensadas, podem definir a atividade jornalística como prática que veicula fato
convencionalmente tido como noticioso por meio de um ritmo determinado
(periodicidade) de produção.
Enunciada, portanto, a existência dessas funções primárias desempenhadas
pelo jornal impresso, agora se quer pensar nos usos secundários que se fazem
dessa plataforma de mídia. Antes, todavia, é preciso deixar claro que há poucos
trabalhos de teor científico sobre essas “finalidades secundárias” atribuídas às folhas
de jornal. A título de ilustrar essa assertiva, fez-se, primeiramente, uma sondagem
nos sites Scielo8, Google Acadêmico9 e Capes10 – plataformas eletrônicas de dados
especializadas na publicação de material acadêmico. Como palavras-chave foram
usados os seguintes termos: descarte de jornais, reutilização de jornais, reciclagem
de jornais, pós-uso de jornais, jornais reciclados e jornais velhos.
TABELA 1 – PESQUISA DIRECIONADA DE PALAVRAS-CHAVE
Site de busca
Número de resultados por palavras-chave
Descarte de jornais
Reutilização de jornais
Reciclagem de jornais
Pós-uso de jornais
Jornais reciclados
Jornais velhos
Total
Scielo 0 0 0 0 0 0 0
Google Acadêmico
1 3 8 0 17 515 544
Capes 0 0 0 0 0 0 0
Os resultados obtidos sobre os termos “reciclagem de jornais” e “jornais
reciclados” mostram trabalhos que, na sua maioria, consideram a dimensão material
dessa plataforma de mídia enquanto matéria prima para, substancialmente, a
“confecção de artesanatos”; o “valor artístico” – e não o significado propriamente dito
8 Disponível em:< http://scielo.org/php/index.php>. Acessado em: 02/06/2012.
9 Disponível em:< http://scholar.google.com.br/>. Acessado em: 02/06/2012.
10 Disponível em:< http://www.periodicos.capes.gov.br/>. Acessado em: 02/06/2012.
17
– desses usos fica mais evidente nessas buscas. Na pesquisa pela palavra-chave
“jornais velhos”, além das considerações artísticas que se fazem acerca da folha
timbrada, trabalhos sobre o “discurso imaterial do jornal impresso” (como em “os
jornais velhos como registro de memória social”, por exemplo) permeiam os
resultados – não há, novamente, pormenorizações sobre os usos e significados
secundários do jornal sob perspectiva material, como artefato objeto de significações
constantes (CARDOSO, 2012).
Quando a pesquisa é feita no Google11 sem nenhum tipo de direcionamento,
os resultados encontrados a partir da procura pelos mesmos termos são opostos
àqueles decorrentes de uma busca segmentada – feita anteriormente em
plataformas eletrônicas de dados especializadas na publicação de material
acadêmico.
TABELA 2 – PESQUISA GENERALISTA DE PALAVRAS-CHAVE
Site de busca
Número de resultados por palavras-chave
Descarte de jornais
Reutilização de jornais
Reciclagem de jornais
Pós-uso de jornais
Jornais reciclados
Jornais velhos
Total
1.280
5.660
11.600
0
3.360
40.400
62.300
Apesar de superar os 60.000 resultados, a sondagem realizada revelou
consonância com os dados apontados anteriormente pela pesquisa segmentada: as
informações concentram-se, nessa busca generalista, em “dicas de artesanato”,
“arte com jornal velho” e “reciclagem de jornais”; os usos secundários por vieses
científico e jornalístico, que tentam de alguma forma pensar nas funções primárias
do jornal impresso face a essas latentes significações novas que a folha de papel
naturalmente adquire, praticamente não são considerados.
Para que o trabalho, a partir deste ponto, ganhe mais materialidade serão
citados três exemplos obtidos a partir da busca via Google pelo termo “jornais
velhos” (termo que, dentre todas as palavras-chave, rendeu mais resultados). A
elucidação dessa tríade é acessória, pois pretende-se demonstrar, de um jeito
didático, que a existência dos usos secundários do jornal impresso é, então,
verificável. Deve-se destacar, ainda nesse parágrafo, que é desinteressante aos
11
Disponível em:< http://www.google.com.br/>. Acessado em: 02/06/2012.
18
objetivos do trabalho analisar cada um dos 62.844 resultados encontrados sobre
aqueles seis termos que guiaram as pesquisas acima tabuladas.
2.4.1 O USO CRIATIVO DA FOLHA DE JORNAL
Confecção de lápis, construção de móveis e como matéria-prima de obras
artísticas. Esses são alguns dos usos secundários que se fazem a partir do jornal
impresso. Abaixo, imagens que, além de servirem como ilustrações aos
apontamentos feitos durante todo o desenrolar teórico do trabalho, deverão guiar o
“olhar periférico” – e criativo – que se pretende adotar durante a execução das
filmagens do videodocumentário jornalístico.
Na figura 1, faz-se menção à agência de design holandesa Vij512, que “produz
madeira” prensando folhas de jornal velhas. Armários, estantes e cadeiras são
alguns dos móveis confeccionados por ela. Na figura 2, o trabalho empresa da norte
americana Treesmart13 vem à tona: produção de lápis à base de folhas de jornal
desde 1998. Por fim, e tendo em vista a utilização dessas imagens apenas como
ilustração dos usos criativos que se podem fazer a partir do jornal impresso, a arte
do norte americano Nick Georgiou14 (Figura 3) ganha destaque: folhas de jornal são
usadas para construção de esculturas (a dimensão artística, nos conformes do
demonstrado pela sondagem anterior, prepondera o pensamento sobre o “pós-uso”
da folha).
12
Disponível em:<http://www.vij5.nl/default_EN.html>. Acessado em: 02/06/2012. 13
Disponível em:< http://www.treesmart.com/>. Acessado em: 02/06/2012. 14
Disponível em:< http://oplanetaquetemos.blogspot.com.br/2011/06/lapis-feitos-de-jornais-velhos.html>. Acessado em 02/06/2012. 14
Disponível em:<http://myhumancomputer.blogspot.com.br/>. Acessado em: 02/06/2012.
19
Figura 1
A parede Fonte: <http://www.aparede.com/view/1146>. Acessado em 10/08/2012.
Figura 2
Lápis produzidos com folhas de jornaisFonte: <http://oplanetaquetemos.blogspot.com.br/2011/06/lapis-feitos-de-jornais-velhos.html>. Acessado em 10/08/2012.
20
Figura 3
Escultura do artista norte-americano Nick Georgiou Fonte: <http://www.mais1livro.com/as-esculturas-incriveis-de-nick-georgiou>. Acessado em 10/08/2012.
É bastante palatável, agora, a discussão que ser quer travar no bojo deste
trabalho. Alternativos às projeções primárias que se fazem acerca dos efeitos
ordinários do jornal impresso, os usos secundários dessa plataforma de mídia
parecem extrapolar aquelas proposições primeiras, centradas, apenas, no “efeito
gerado pela notícia, pelas potências da mídia enquanto coisa imaterial”. Desta
forma, essa lacuna é que motiva o estudo aqui desenvolvido. Por isso, cabe a
seguinte exposição de dados de alguns dos maiores jornais que circulam na cidade:
Gazeta do Povo, Tribuna do Paraná e Metro.
2.5 A CIRCULAÇÃO DE JORNAL IMPRESSO EM CURITIBA
Para que este estudo pudesse ser, de fato, realizado, foram selecionados três
dentre os jornais que mais circulam em Curitiba. Deve-se destacar, com fulgor, que a
intenção desse trabalho não é fazer uma análise quantitativa dos impressos que
rodam na capital paranaense. Se quer, com este tópico, preparar um pano de fundo
que deverá servir como indicação material da pesquisa de campo sobre os usos e
significados secundários do jornal impresso.
21
TABELA 3 – Circulação diária dos três jornais selecionados como indicação material da pesquisa de campo futura sobre os usos secundários do jornal impresso.
JORNAL TIRAGEM DIÁRIA
Gazeta do Povo 43.51315
Metro 30.00016
Tribuna do Paraná 12.00017
A partir dos dados listados acima, pode-se perceber que um estudo mais
aprofundado sobre os significados e usos atípicos, criativos ou, como se
convencionou chamá-los neste trabalho, secundários do jornal impresso é possível.
Cabe, então, pensar sobre essas provocações de modo a trazer tona uma miríade
de discussões acerca dessa dimensão material do jornal impresso – muitas vezes
deixada de lado pelos discursos acadêmicos.
Enunciada a existência dos significados primários do jornal impresso através
de um apanhado histórico acessório, e listadas algumas das possíveis releituras que
esse artefato pode admitir, pode-se problematizar: como, por meio de um
videodocumentário jornalístico, é possível retratar os usos e significados
secundários do jornal impresso em Curitiba?
15
Disponível em:<http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-no-brasil/maiores-jornais-do-brasil>. Acessado em: 02/06/2012. 16
Disponível em:< http://jobs.agenciainka.com.br/metro/_pdf/apresentacao.pdf>. Acessado em: 02/06/2012. 17
Disponível em:< http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=1201559>. Acessado em: 02/06/2012.
22
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Revelar alguns dos usos e significados secundários do jornal impresso que se
sobrepõem às funções primárias desta plataforma de mídia por meio de um
videodocumentário jornalístico.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Contrapor os usos primários do jornal impresso às utilizações e significados
secundários desta folha de papel.
Provocar reflexões sobre as dimensões significadoras do jornal impresso.
23
4 JUSTIFICATIVA
Logo na introdução deste trabalho, diversas críticas foram tecidas à ausência
de um olhar científico mais “criativo, ousado”, sobre a dimensão material do jornal
impresso e seus patentes significados secundários. Na citação referente aos
“calhamaços de papel que versam sobre o modus operandi do jornalismo” se quis
fazer menção à lacuna que separa, de um lado, as naturalmente idealizadas
projeções sobre os “efeitos certos de um dado disparo noticioso” e, de outro, a
existência de fato da coisa pensada e seus “significados diversos daqueles
previstos”. Assim, optou-se por estudar os usos e significados secundários do jornal
impresso numa tentativa de suprir parte da necessidade por “análises periféricas”
desta plataforma de mídia que projeta não apenas discursos, mas que profere, de
algum modo, “mensagens” díspares às projetadas inicialmente – sob perspectiva
imaterial.
Ademais, pretendeu-se, com a construção breve do apanhado histórico,
deixar latente a ideia de que, apesar dos “cataclismos” pelos quais o jornal impresso
passou (e ainda enfrenta) ao longo do tempo, os fundamentos que regem a sua
existência não sofreram alterações drásticas; o jornal continua veiculando
informações, notícias e serviços e conserva, assim, seu significado primário – que
serve, aqui, como animus do objetivo geral desse estudo.
Para demonstrar a pertinência dessas provocações, foram tabuladas duas
pesquisas que deixam clara a necessidade de se pensar sobre a polivalência do
jornal impresso enquanto objeto que admite outros usos e possui, por conseguinte,
significados variados encrustados nas suas folhas – configurando-se, assim, como
seara relativamente nova a possíveis investigações acadêmicas por viés jornalístico.
Como fundamentação teórica, foram utilizados os conceitos semióticos de
Charles Peirce (2000) e de Lúcia Santaella (1983) somados às proposições de
Rafael Cardoso (2012) sobre as significações dos artefatos. Na semiótica, o conceito
de signo pode ser apreendido, sumariamente, como a “capacidade de exercer
função de substituição”. Nas palavras de Peirce, “um signo (...) é aquilo que, sob
certo aspecto ou modo, representa algo para alguém” (PEIRCE, 2000, p. 228).
Assim, encontrou-se consonância entre “o processo de significação dos artefatos”
(CARDOSO, 2012) e “o dinamismo dos signos face a conjunturas socioculturais
24
específicas” (PEIRCE, 2000); o que justifica, pois, a escolha desses emaranhados
teóricos como predicados deste estudo.
O videodocumentário jornalístico parece ser o formato mais adequado de
publicação pelo fato de congregar, em si, áudio e vídeo possibilitando, desta
maneira, a mostra nua – e teoricamente fiel – dos usos e significados secundários
do jornal impresso (objeto que pretende conduzir as acepções semióticas deste
projeto). Esse gênero de filme é visto, na opinião de Bill Nichols (2005), como obra
capaz de carregar um poder de denúncia social, política e econômica considerável –
mais um dos motivos que justificam a escolha deste formato de produto.
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 A LÓGICA CIENTÍFICA E A SEMIÓTICA DE CHARLES PEIRCE
Traçar pretensas linhas divisórias claras entre lógica e semiótica no legado de
Charles S. Peirce seria um claro despropósito. De fato, para o estudioso — que
acabou por se embrenhar em inúmeros campos de pesquisa científica e filosófica
em sua carreira prolífica, porém pouco reconhecida —, ambos os termos chegavam
quase a ser tomados como sinônimos, posto que Peirce pretendia, em seu esforço
rumo a novos horizontes no estudo dos signos, tanto destacar a lógica embutida na
práxis científica quanto levar os princípios assim obtidos para processos filosóficos,
expandindo ainda, conforme visto anteriormente, o escopo tradicional da linguística
– esta ocupada, sobretudo, com o estudo dos signos de natureza exclusivamente
linguística (SANTAELLA, 1983).
Para entender a sistemática de Peirce, entretanto, convém atravessar um
terreno desbravado por vários outros pensadores. Assentada sobre uma natureza
tricotômica, a analise dos símbolos, conforme conduzida pelo pensador, lança seu
princípio heurístico sobre uma lógica analítica tripartida — pressuposto que já havia
sido estudado pelo filósofo Immanuel Kant — à qual chega mesmo a prospectar
origens fisiológicas, psicológicas e metafísicas (PEIRCE, 2000). Todavia, entre
diversas estruturas em tríades levantadas pelo pensador em suas projeções
semióticas originais, há uma considerada como de particular interesse, a saber: a
25
tricotomia formada pelas formas sígnicas “ícone, índice e símbolo”. Peirce (2000)
escreve:
Descobriu-se que há três tipos de signos indispensáveis ao raciocínio; o primeiro é o signo diagramático, ou ícone, que ostenta uma semelhança ou analogia com o sujeito do discurso; o segundo é o índice que, tal como um pronome demonstrativo ou relativo, atrai a atenção para o objeto por meio de uma associação de ideias ou conexão habitual entre o nome e o caráter significado (PEIRCE, 2000, p. 10).
Contudo, Peirce trata de ainda uma segunda base tricotômica, capaz de
fundamentar o três tipos sígnicos mencionados acima. Destarte, cabe reconhecer,
como categorias normativas, três termos predicativos. Por singulares, têm-se
caracteres predicáveis de objetos singulares, “tal como quando dizemos que algo é
branco, grande etc.” (PEIRCE, 2000, p. 10). Já os denominados caracteres duplos
englobam termos capazes de predicar — de dizer algo — sobre pares de objetos —
ressaltando similitudes, disparidades, relações de dependência etc. Por fim, por
caracteres plurais, entende-se a categoria que compreende caracteres triplos ou
mais amplos. Todavia, neste momento, sobre o termo síntese, tem-se novamente
uma estrutura compreendida em natureza tríplice. De fato, pode-se entender
qualquer caracterização, por ampla que seja, como um encadeamento de
ordenações ternárias (PEIRCE, 2000).
Em uma tricotomia de natureza epistemológica, pode-se, portanto, dividir e
categorizar a forma como um signo é apreendido por meio de “uma conexão tripla
entre signo, coisa significada e cognição produzida na mente” (PEIRCE, 2000, p.
11). Dessa forma, mediante combinações entre as categorias supracitadas, tem-se
que: um signo é classificado como ícone quando há apenas uma relação racional
entre este e a coisa significada; de forma análoga, considera-se um índice o signo
que apela diretamente aos sentidos — uma “ligação física direta” (PEIRCE, 2000, p.
11), em caráter intelectivo; por fim, considera-se um símbolo (ou nome) a relação em
que a mente associa um signo a determinado objeto.
26
5.2 O UNIVERSO COMUNICACIONAL E A ORTODOXIA LINGUÍSTICA
Nós, humanos, somos seres eminentemente simbólicos. Comunicamo-nos
constantemente por meio de signos instituídos e lavrados ao longo de quase
incontáveis séculos, os quais formam não apenas nossa língua pátria, mas também
todo o nosso acervo comunicacional em escopo social. De fato, neste momento,
salta à vista um dos maiores equívocos que ainda hoje se faz no campo das
interpretações linguísticas. Somo seres dotados de rara faculdade intelectiva, a qual
materializou-se em linguagens formalmente instituídas. Mas não há de ser apenas
isso. Nas palavras de Santaella (1983):
Tão natural e evidente, tão profundamente integrado ao nosso próprio ser é o uso da língua que falamos, e da qual fazemos uso para escrever — língua nativa, materna ou pátria, como costuma ser chamada —, que tendemos a nos desaperceber de que esta não é a única e exclusiva forma de linguagem que somos capazes de produzir, criar, reproduzir, transformar e consumir, ou seja, ver-ouvir-ler para que possamos nos comunicar uns com os outros (SANTAELLA, 1983, p. 10).
Dado o saber analítico que é deslindado e proporcionado por sistemas de
linguagem escrita e falada formais, acaba-se por firmar, de forma equivocada, que
há nessa ortodoxia intelectiva um “saber de primeira ordem”. Não obstante, há que
se ter a noção de que, em todos os períodos da história humana, a comunicação
jamais ficou restrita a formalizações em signos conscientes. Comunicamo-nos
também por meio de inúmeros sinais, relações de forças, formas, como também por
meio de cheiros e texturas. Há, portanto, todo um universo comunicacional em
potencial — para além dos limites clássicos da linguística — pronto a ser
interpretado, notadamente, por uma modalidade de ciência que ainda dá seus
primeiros passos rumo a uma aceitação definitiva e a uma definição razoável de um
corpus de estudo. Trata-se da semiótica (SANTAELLA, 1983).
Cabe reconhecer, portanto, na imensa parcela de signos não calcados em
ortodoxias sistemas sociais e históricos igualmente ricos, igualmente adequados
para se efetuar leituras da realidade — a fim de conferir sentido ao universo sensível
em caráter interpessoal. Ademais, cabe ainda reconhecer nas tecnologias
desenvolvidas no bojo da Revolução Industrial uma série de aparatos e vias capazes
27
de potencializar a produção, o armazenamento e a difusão de formas as mais
variadas de linguagem. Mas seria apenas “linguagem”, em sentido estrito?
Considerando-se que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constitui-se como práticas significantes (SANTAELLA, 1983, p. 12).
Destarte, não parece arriscado assumir que toda a compreensão de
fenômenos conformadores da realidade deve passar — devidamente catalisado pela
“inquieta indagação” do homem — por sistemas de signos capazes de conferir
sentido ao que se vê, ouve, escreve e, por fim, ao que se comunica. “É no homem e
pelo homem que se opera o processo de alteração dos sinais (qualquer estímulo
emitido pelos objetos do mundo) em signos ou linguagens (produtos da
consciência)” (SANTAELLA, 1983, p. 13). Cabe reforçar, portanto, que, mais do que
identificar sistemáticas formais de ordenamento em determinado cenário, uma
compreensão ampla das trocas simbólicas efetuadas deve, assim, despir-se de
limitações inócuas no que se refere ao potencial humano para produzir e identificar
signos.
5.3 O OBJETO E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Será possível circunscrever um objeto quanto à sua função? Ou,
considerando-se que possa haver mais de uma, será a função dita primordial de
uma entidade material não apenas perfeitamente projetável, mas também possível
de ser tomada como princípio orientador de interpretações e usos possíveis em uma
conformação idealizada — esta orientada segundo otimizações no que diz respeito à
operacionalidade e sentido de determinado produto? De fato, tal concepção,
consideravelmente limitada, parece resumir apenas os pressupostos ditos
“funcionalistas” (CARDOSO, 2012, p. 102), emanações de uma escola estilística que
tomava como certo que deveria existir uma dimensão de projeto ideal para cada
artefato — leitura que deixa transparecer as técnicas industriais ainda incipientes e,
portanto, pouco afeitas a mudanças de modelo. Sob esta perspectiva, todo artefato
28
parece ser lido a partir de dimensões capazes de alterar efetivamente o seu uso,
este orientado para uma perfeitamente funcional.
Porém, tanto o amadurecimento das técnicas industriais quanto o
desenvolvimento das ciências relacionadas à leitura simbólica do mundo parecem
mostrar, por fim, que os objetos transcendem escopos funcionalistas. Segundo
Cardoso (2012), “quando se fala genericamente na “função” de um artefato, gera-se
uma confusão nefasta entre o que se pode fazer com ele — ou seja, seus usos — e
o que ele pode significar”. Portanto, além da utilização efetiva e de qualquer
instrumentalização idealizada, parece quase um lato sensu afirmar que, hoje, as
formas “falam”; há um valor simbólico tão rico quanto “difícil de mensurar”
(CARDOSO, 2012).
Cabe destacar, entretanto, que uma leitura simbólica de determinado objeto
não deveria se restringir ao que se pode dizer de sua forma. De acordo com
Cardoso (2012, p. 108), constitui dimensão do artefato também o seu contexto
cultural, do qual acaba impregnado por uma série de conceitos diversos. “As
aparências características dos objetos nos remetem a vivências, hábitos e até
pessoas que associamos ao contexto em que estamos acostumados a deparar com
eles” (CARDOSO, 2012, p. 110). Há que se destacar, assim, conexões de cunho
psicológico, constituintes da carga cultural presente em cada artefato.
Trata-se de uma transferência psíquica de valor baseado no princípio da associação. Ou seja, a mente associa uma coisa à outra, gerando uma correspondência entre elas que não necessariamente existe fora da experiência de cada um (CARDOSO, 2012, p. 110).
É necessário notar, também, que as associações efetuadas psiquicamente
não se baseiam em argumentos racionais — novamente, para além de pressupostos
funcionalistas (CARDOSO, 2012). “Ao comunicar informações, os objetos falam de si
mesmos — ou, melhor dizendo, remetem ao nível dos discursos que cercam sua
inserção no mundo” (CARDOSO, 2012, p. 112). Pode-se sustentar, portanto, que o
revestimento cultural de cada artefato/produto pode ser menos racional do que
fundamentado no uso, na tradição e na composição de conceitos culturais que
transcendem as lógicas de consumo e as leituras focadas puramente em formas
e/ou em conceitos operacionais.
29
5.4 RESIGNIFICAÇÕES AO LONGO DE UM CICLO DE VIDA
Mesmo considerando-se que resta como certo que qualquer artefato
transcende o seu projeto inicial e quaisquer possíveis noções funcionalistas, ainda
restaria a dúvida de como, afinal, um dado objeto pode ganhar novos sentidos ao
longo de sua existência material. Para Cardoso (2012, p. 125), “à medida que os
objetos viram dejetos, aquele projeto que ontem operava como solução, hoje se
apresenta como obstáculo e problema”. Portanto, ao sobreviver além da finalidade
para a qual foi inicialmente projetado, um dado artefato impõe novos processos de
significação — o que pode mesmo ser a “ausência” de sentido ou propósito,
tornando-o em “ruína” (CARDOSO, 2012, p. 125).
Uma forma adequada de se proceder a leitura da carga simbólica encerrada
por determinado artefato pode se dar ao longo do tempo, considerando-se um ciclo
de vida. Conforme coloca Cardoso (2012, p. 156), sob uma lógica fabril típica, pode-
se dividir a existência de um produto de acordo com os seguintes estágios:
concepção, planejamento, projeto, manufatura, distribuição, venda, uso e descarte.
Além disso, cada artefato ainda pode ser lido de acordo com dimensões
emaranhadas, sobretudo, ao seu usuário final. Quais sejam: “materialidade” (ligada
à conformação física do artefato); “ambiente” (relacionada à inserção social e ao
contexto em que o artefato é utilizado); “usuários” (laçada ao cabedal cultural, as
intenções e às exigências de um usuário em particular); e “tempo” (remetendo ao
impacto da passagem do tempo sobre a leitura simbólica do artefato). De acordo
com Cardoso (2012, p. 154): “Saber compreender os artefatos é saber que eles
mudam no tempo, impelidos pela ação dos usuários e condicionados pela força do
ambiente, até os limites de sua materialidade”. Quer se parecer que, mesmo que as
formas de determinado artefato/produto permaneçam relativamente inalteradas,
compreende-se que o material simbólico por ele encerrado atravessa inúmeras
configurações, como resultado das dimensões sociais que compuseram sua
existência cultural (CARDOSO, 2012).
30
5.5 O DOCUMENTÁRIO E A “IMPRESSÃO DE AUTENTICIDADE”
Ao nos debruçarmos sobre pretensas qualidades capazes de perfazer uma
linguagem documental unívoca, deparamo-nos, de forma bastante natural, com uma
série de impressões que, se criteriosamente analisadas, produzem apenas noções
vagas, cambiantes, do que pode constituir a abordagem de um documentário. Para
Nichols (2001, p. 20), “a tradição do documentário está profundamente enraizada na
capacidade de ele nos transmitir uma impressão de autenticidade”. Não obstante,
em uma era marcada por tecnologias capazes de registrar o mundo sensível com
definição assombrosa, mostram-se linhas tênues entre conteúdos ficcionais e
documentais — conquanto não apenas os filmes “usurpam” caracteres tipicamente
documentais, como os próprios documentários, por vezes, lançam mão de um
modus operandi tradicionalmente utilizado em películas ficcionais (NICHOLS, 2001).
Diante de linhas limítrofes consideravelmente borradas, acaba-se, pois, por
esbarrar com a tentação de unificar, sob uma ótica eminentemente holística,
dimensões relacionadas a todo e qualquer película. “Todo filme é um documentário.
Mesmo a mais extravagante das ficções evidencia a cultura que a produziu e
reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela” (NICHOLS, 2001).
Conforme colocam Lins e Mesquita (2008), ao analisar os movimentos atuais da
tradição documental, pode-se reduzir a questão acima levantada indagando-se
sobre “a crença do espectador diante das imagens do mundo” (p. 69). Dessa forma,
a fim de lançar luz sobre uma distinção possível entre conteúdos ficcionais e não
ficcionais — notadamente, partindo da intenção do cineasta —, Nichols (2001)
sugere uma categorização relativamente simples, quais sejam: documentários de
satisfação de desejos e documentários de representação social.
Os documentários de satisfação de desejos são o que normalmente chamamos de ficção. Esses filmes expressam de forma tangível nossos desejos e sonhos, nossos pesadelos e terrores. Os documentários de representação social são o que normalmente chamamos de não ficção. Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos (NICHOLS, 2001, p. 26)
31
Dessa forma, um documentário não ficcional deve, mesmo que em um plano
ideal, repousar sobre a necessidade de retratar o real de forma razoavelmente
fidedigna e concreta, capaz de tornar “visível e audível, de maneira distinta, a
matéria de que é feita a realidade social” (NICHOLS, 2001, p. 26). Há que se
considerar, ainda, os documentários como oportunidades para iluminar “questões
oportunas”; pontos do real que necessitem de atenção premente por parte da
sociedade, fornecendo não apenas uma visões de problemas recorrentes, mas
também iluminando soluções possíveis. Para Nichols há, portanto, um “vínculo entre
o documentário e o mundo histórico” que é “forte e profundo” (p. 26).
Para tanto, Nichols (2001) entende o documentário como uma representação
do real calcada em três dimensões, a saber: um retrato ou uma representação
reconhecível do mundo; uma representação do interesses de outros; e a conquista
de consentimento e/ou a influência de opiniões.
5.6 ATORES FICCIONAIS OU ATORES SOCIAIS EM CENA?
Imiscuindo-se pelo dimensionamento colocado por Nichols (2001), entretanto,
há que se considerar ainda questões ligadas à forma com que o cineasta lida com a
realidade retratada em um documentário e, sobretudo, com os atores que comporão
a não-ficção. Não obstante a possibilidade de se utilizarem caracteres tipicamente
ficcionais em um material documental, o tratamento ético esperado neste caso pode
ser considerado de natureza diversa daquele presente em questões contratuais de
películas baseadas em ficção.
Não apenas isso, mas a sua função na composição da obra fílimica é também
diversa. No que tange ao que Nichols (2001) chama de “atores sociais”, cabe
resguardar que o que se pretende retratar, nesse caso, não é a capacidade de
dissimulação e atuação, mas sim uma faceta genuína do real.
Seu valor reside não nas formas pelas quais disfarçam ou transformam comportamento e personalidade habituais, mas nas formas pelas quais comportamento e personalidade habituais servem às necessidades do cineasta (NICHOLS, 2001, p. 31).
32
Dessa forma, no que tange a uma linguagem eminentemente documental,
cabe ressaltar que quaisquer performances ou decisões intrusivas por parte do
cineasta podem acabar alterar a realidade retratada, pode “introduzir um elemento
de ficção no processo do documentário (...)”, ocasionando uma deturpação da
realidade que se pretende retratar (NICHOLS, 2001, p. 31). De qualquer forma,
como alude o próprio Nichols (2001, p. 47), o documentário se esquiva de qualquer
definição que o ligue univocamente a uma simples apresentação do real. “Ele não é
uma reprodução da realidade, é uma representação do mundo em que vivemos” (p.
47).
5.7 UMA VOZ PRÓPRIA PARA O DOCUMENTÁRIO
Embora mostre-se arraigado em uma natureza discursiva, o documentário
dificilmente poderia ter associados a si de forma literal termos como discurso e voz
(NICHOLS, 2001). Isso porque a linguagem documental não se baseia apenas na
palavra falada. “Quando falam do mundo histórico, os documentários fazem-no com
todos os meios disponíveis, especialmente com sons e imagens inter-relacionados
ou, nos filmes mudos, só com imagens” (NICHOLS, 2001, p. 72).
Não obstante, parece também arriscado definir uma estilística própria do
documentário calcada unicamente em conteúdos audiovisuais. De fato, a filmagem
documental parece ainda repousar no que Sales (2005) apud Martins, Eckert; e
Caiuby (2005, p. 58) definiu como “polimorfismo”, posto que o formato documental
jamais se viu contemplado por qualquer tipo de “força estabilizadora” de uma
indústria. Dessa forma, parece existir, como componente frouxamente delimitador,
uma forma de contrato, por meio do qual “realizador e espectador (...) concordam
que tais pessoas existiram, que disseram tais e tais coisas, que fizeram isso e
aquilo”. Sales conclui, então, que, para que exista um documentário, é fundamental
que mantenha-se no espectador certa “fé” em um contrato que, por excelência, é
incrivelmente frágil — constantemente flutuando ao sabor de técnicas, alteridades e
pressupostos de orientação corporativa.
33
6 METODOLOGIA
Até este momento, as preocupações de toda explanação teórica consistiram
em demonstrar as condições e justificativas ao desenvolvimento deste trabalho.
Para dar conta dos objetivos da pesquisa, os procedimentos metodológicos
escolhidos para desenvolver o documentário atacaram três frentes, a saber: uma
que considera a relevância de material bibliográfico existente sobre as análises
materiais/semiótica do jornal impresso; outra que consiste numa sondagem sobre a
lacuna notada acerca de estudos sobre os usos e significados secundários de tal
plataforma midiática e, finalmente, a que projeta todas as considerações a uma
etapa posterior, entendida tradicionalmente como “metodologia para o produto”.
6.1 METODOLOGIA BIBLIOGRÁFICA
No correr do trabalho, diversos autores foram mencionados. Como inspiração
à crítica que provoca uma aparente “desconstrução historiográfica”, citou-se, por
exemplo, Nietzsche (2003). Entretanto, é possível fazer uma seleção de teóricos
que, juntos, podem ser encarados como os pensadores basilares deste estudo.
Logo na introdução, Joseph Mitchell (2003) dá o pontapé inicial à discussão
sobre os usos secundários do jornal impresso. John B. Thompson (2001) contribui
de modo significativo à construção daquele apanhado histórico em parceria com
Mauro Wolf (2003), Alexandre Bergamo (2011) e Felipe Pena (2005).
Encabeçando as reflexões sobre as significações dos artefatos, Rafael
Cardoso (2012) apresenta, também, um sistema de análise que, somado aos
conceitos semióticos de Charles Peirce (2000) e Lúcia Santaella (1983),
estruturaram a execução das análises dos usos e significados secundários do jornal
impresso.
34
6.2 SONDAGEM SOBRE OS USOS CRIATIVOS DO JORNAL IMPRESSO
Se quis mostrar que existem discussões que trilham caminhos semelhantes
aos objetivos deste trabalho a partir do levantamento de dados feito pelas pesquisas
apresentadas anteriormente. Por isso foram utilizados como portais guias os três
mais significantes sites no tocante à busca por material de teor científico: Google
Acadêmico, Scielo e Capes. As palavras-chave não contemplam dos termos “usos e
significados secundários do jornal impresso” porque, nos conformes do “dialeto
terminológico”, optou-se por derivar tal referência de um termo já usado por Sousa
(1999) – bastante restrito, portanto. Assim, foram pensados em designações
genéricas e abstratas às referências possíveis ao objeto guia deste estudo: descarte
de jornais, reutilização de jornais, reciclagem de jornais, pós-uso de jornais, jornais
reciclados e jornais velhos.
6.3 METODOLOGIA PARA O PRODUTO
As críticas de Bill Nichols (2005), um dos maiores pensadores de filmes de
não-ficção do cinema contemporâneo, guiaram o traçar firme de uma tênue que
separa a “ficção” da “realidade”. Apesar da existência de um olhar “poético” sobre o
real, a mostra da realidade sem tipo algum de preparo cenográfico somada às
abordagens de personagens que representam um “microcosmo” específico
configuram-se, naturalmente, como características que diferenciam o gênero
videodocumentário dos demais formatos de filmes de ficção. Nas palavras do crítico,
“o documentário define-se pelo contraste com filme de ficção ou filme experimental e
de vanguarda” (NICHOLS, 2005, p. 47).
Ainda como observa o teórico, toda edição pressupõe, necessariamente, um
determinado recorte do real – dotado, portanto, de valores axiológicos mistos. Para
que a construção sob perspectiva científica – que admite como “fundamentos” o
desenvolvimento de método e conseguinte mostra verificável do objeto estudado –
desse estudo seja realizada, as quatro etapas que significam os artefatos foram (não
de forma explícita, ressalta-se) devidamente consideradas durante a execução do
35
videodocumentário (CARDOSO, 2012), quais sejam: a materialidade (estrutura,
forma e configuração do objeto), o ambiente (a inserção social, o entorno, o contexto
de uso), os usuários (o repertório de cada usuário, requisitos ergonômicos, ideias e
intenções) e o tempo (o impacto da passagem do tempo sobre o artefato em
questão).
7 ANÁLISE DAS PESQUISAS
Deve-se destacar, novamente, que a intenção desse trabalho foi a de fazer
um estudo quantitativo sobre a circulação de jornais em Curitiba. As duas pesquisas
feitas, no entanto, tiveram o objetivo de evidenciar a carência de estudos de teor
científico sobre os usos e significados secundários do jornal impresso. Nesse
sentido, foi criado – a partir de todos os apontamentos feitos até o presente
momento – um cenário material/teórico que serviu como palco de toda construção
do videodocumentário jornalístico.
8 DELINEAMENTO DO PRODUTO
O que é
O videodocumentário jornalístico se inspirou nas linguagens adotadas por
dois grandes documentaristas brasileiros contemporâneos: Jorge Furtado e Eduardo
Coutinho. Como no “A Ilha das Flores”, daquele, pretendeu-se trabalhar o texto de
forma a valorizar cada estímulo audiovisual feito; até a mais singela das cenas pode
regar um olhar mais calibrado levando em conta, naturalmente, a polissemia do
quadro. No momento em que, por exemplo, Mauri König fala sobre a credibilidade da
informação gerada pela materialidade do jornal impresso, a imagem dos jornais
sendo montados em calhamaços aparece: para os operários do parque gráfico, seria
o jornal, ali, um veículo de transmissão de informações? A amarração feita entre o
início e o final do filme, que se vale da continuidade de uma cena protagonizada por
um cachorro, teve a intenção de trabalhar a dimensão “tempo”, de Cardoso (2012);
36
se mostrou, nesse interim, a polifonia ecoada pelas diversas vozes das personagens
durante o “Onde tá o Jornal”.
O não uso de gerador de caractere
Aquele olhar periférico e criativo e não necessariamente ficcional, sugerido
tanto por Bill Nichols (2005) quanto pelos outros autores deste trabalho, de fato foi
adotado: o não uso de titulação às personagens (GC18) teve o objetivo de não viciar
a leitura do expectador às custas de um ou outro valor que é, quase que
invariavelmente, atribuído ao comentário do “jornalista, do carrinheiro, da
bibliotecária”.
Trilha sonora
Se pensou em usar, num primeiro momento, músicas que seriam compostas
pelos autores deste trabalho. Todavia, se notou, durante a edição do filme, que o
uso de sonoplastia artificial poderia comprometer o “tom poético” gerado,
naturalmente, pelo documentário.
Gravações e personagens
Os personagens, que justificaram a opção por uma análise qualitativa e não
quantitativa dos elementos retratados no filme, representam, de alguma forma, uma
ou outra determinada faceta da sociedade. Eles congregam uma gama de valores
condizentes a um determinado recorte da realidade. As autorizações ao uso de
imagem foram obtidas em forma de registro audiovisual, e estão todas gravadas em
um DVD separado ao que contém o arquivo único do documentário.
Edição, título e tempo
Corte limpos, secos – mas sutis – e composições sonoras forjadas a partir do
próprio som ambiente ajudam a outorgar ao documentário ainda mais coincidência
18
Gerador de Caractere
37
com a realidade. Também com o objetivo de não direcionar a interpretação do leitor
tendo em vista a leitura de um título ou outro, não se nomeou o produto no correr do
filme. Todos os créditos (entrevistados, agradecimentos e dedicatória) aparecem ao
final da sequência filmográfica. O nome “Onde tá o jornal?” é uma referência à frase
“On the Jack Tall Beck?”, que aparece numa das cenas do parque gráfico. Essa
gíria, no português, quer significar “onde é que tá o ‘begue19’?”. O tempo de 15
minutos não é ultrapassado por mero motivo de necessidade; não seria prudente
estender sonoras ou imagens de off uma vez que a mensagem projetada
inicialmente, nos parece, foi devidamente veiculada: os usos e significados
secundários do jornal impresso estão carimbado no tema, em todos os minutos do
documentário.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluir este trabalho significou construir, de uma forma extremamente cara,
um processo dialético no qual nós, depois de contrapor o que fora formulado a priori
à realização do produto em si, observamos como síntese algumas das possíveis
aplicações e desdobramentos dos princípios que regem os meandros da atividade
jornalística como um todo.
Queremos dizer com isso que, apesar de notada – mesmo que de modo
singelo – uma linha condutora razoavelmente linear, é possível desvelar facetas
quase que ocultas não apenas do objeto que congregou as nossas pulsões criativas;
fato é que se nota, com a simples adoção de um olhar pouco mais atento, uma
superfície tal e qual à de um fractal (especialmente nos temas que dizem respeito às
ciências da sociedade).
Ponto que serve como ilustração à construção do tal processo dialético foi a
nossa dificuldade de manter, durante a execução das gravações, uma “margem
segura de manobra”. Isto é, para que não nos perdêssemos em qualquer uma
dessas “superfícies porosas” e cheias de possibilidades de leitura, algumas vozes
precisaram ficar quase inaudíveis – como quando uma das carrinheiras quase
19
Gíria usada para se designar a cigarros de maconha.
38
“desvia” a leitura do documentário sugerindo a existência de um outro cosmo por
trás da mera coleta de materiais recicláveis.
Não bastasse a polifonia onipresente em todas as personagens e cenas deste
produto, um aprendizado técnico de grande valia fora também adquirido. No correr
dos dias, ficou claro que a logística de produções midiáticas em formato audiovisual
exige muito cuidado: é preciso estar preparado para eventuais falhas de
equipamento, furos na agenda por parte de entrevistados e tantos outros imprevistos
inerentes por excelência ao jornalismo.
.
39
10 CRONOGRAMA
MESES
ATIVIDADES Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Idealização do Trabalho de Conclusão de Curso
Pesquisa bibliográfica
Leitura de bibliografia
Orientação com professor responsável
Início da elaboração da estrutura do TCC
Correções de estrutura do TCC
Primeira entega/pré-banca
Elaboração de roteiro
Início das gravações de vídeo
Fim das gravações de vídeo
Decupagem
Início das gravações de áudio
Fim das gravações de áudio
Transcrição das sonoras do produto
Edição
Revisão de texto do TCC
Revisão geral
Entrega final/Avaliação final da banca
40
11 REFERÊNCIAS
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