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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO MAGDA RIBEIRO TARGINO RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS. CABEDELO-PB 2016

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MAGDA RIBEIRO TARGINO

RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS.

CABEDELO-PB

2016

MAGDA RIBEIRO TARGINO

RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS.

Trabalho de conclusão de curso em forma de artigo

científico apresentado a Coordenação do curso de

Direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba –

FESP como requisito parcial para a obtenção do título

de Bacharel em Direito.

Área: Direito Civil

Orientador (a): Profª Karina Pinto Brasileiro

CABEDELO-PB

2016

MAGDA RIBEIRO TARGINO

RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS.

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de

artigos científicos da Faculdade Superior da Paraíba –

FESP como exigência para obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

APROVADO EM _____/_______2016

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profª Ms. Karina Pinto Brasileiro

ORIENTADORA - FESP

_____________________________________________________

Profª Esp. Francisca Luciana de Andrade Borges Rodrigues

MEMBRO - FESP

___________________________________________

Prof. Esp. Ivo Sérgio Correia Borges da Fonseca MEMBRO – FESP

A meu pai, amor meu e fonte inspiradora de

minha vida e deste trabalho, que aos meus 10 anos de

idade já me concedia o título de sua advogada.

Dedico

AGRADECIMENTOS

A Deus por me conceder paciência, força e sabedoria para chegar até aqui.

Aos meus filhos Philippe e José Marcos Filho, que sempre me apoiaram nos meus

desafios e vibram com minhas conquistas e superações.

Aos irmãos Safira, Esmeralda e John, pela parceria nos cuidados com o nosso pai, e

em especial, a primeira, por também, me sustentar em orações.

Aos amigos, o “sal da vida”.

Agradeço singular, a minha orientadora, professora Karina Pinto Brasileiro, pela

confiança e disponibilidade na construção deste trabalho.

TERMO DE RESPONSABILIDADE/DIREITOS AUTORAIS

Eu MAGDA RIBEIRO TARGINO, RG nº 758307 SSP/PB, acadêmica do Curso de

Bacharelado em Direito, autora do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, intitulado

RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS, orientado pela professora Ms.

KARINA PINTO BRASILEIRO, declaro para os devidos fins que o TCC que apresento

atendem as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos, indicadas no

Manual para Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdades de Ensino

Superior da Paraíba - FESP. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e

apresentam a origem da ideia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. Caso

não apresente estas indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, estou ciente das

implicações legais decorrentes deste procedimento.

Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no TCC,

isentando o professor orientador, a Banca Examinadora e a Instituição de qualquer

ocorrência referente à situação de ofensa aos direitos autorais.

Cabedelo, PB, 24 de novembro de 2016.

_____________________________________

MAGDA RIBEIRO TARGINO

Mat.2012210076

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 08

2 FAMÍLIA: GÊNESE, EVOLUÇÃO E PRINCÍPIOS................................................10

2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ...................................... 10

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA ............................... 11

2.2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.................................................................12

2.2.2 Princípio da Afetividade................................................................................................13

2.2.3 Princípio da Solidariedade Familiar............................................................................13

3 DIREITOS DOS IDOSOS: MARCOS NA LEGISLAÇÃO..................................... 14

3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ARTIGOS 229 E 230................................................... 15

3.2 LEI DE ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (LEI Nº 8.742/93) .............. 15

3.3 POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (LEI N 8.842/94)................................................16

3.4 CÓDIGO CIVIL DE 2002: ART. 1696...........................................................................16

3.5 ESTATUTO DO IDOSO (LEI Nº 10.741/03).................................................................16

4 ABANDONO AFETIVO INVERSO.............................................................................17

4.1 CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO INSTITUTO.................................................17

4.2 DO DEVER DE CUIDADO E DE ASSISTÊNCIA DOS FILHOS COM OS PAIS

IDOSOS...........................................................................................................................19

4.2.1 Da Assistência Material: O Dever de Prover Alimentos............................................20

4.2.2 Da Assistência Imaterial: O Afeto................................................................................21

5 DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO INVERSO.....22

5.1 INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS PELOS FILHOS: UM DEVER

JURÍDICOS.....................................................................................................................22

5.2 ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE CIVIL EM CASOS DE ABANDONO

AFETIVO INVERSO PELA JURISPRUDÊNCIA PÁTRIA.........................................24

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................26

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 27

8

RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO: O DEVER DOS FILHOS COM OS PAIS

Magda Ribeiro Targino *

Karina Pinto Brasileiro **

RESUMO

Em família, a velhice, enquanto etapa última da vida deve ser compartilhada e vivida na mais

plena dignidade. Essa ideia é fruto, em parte, de uma conjuntura estreada pela Constituição

Federal de 1988, que passou melhor a tutelar os direitos fundamentais e sociais. O que acabou

via de consequência, influenciando diversos documentos tutelares específicos, a exemplo do

Estatuto do Idoso, culminando numa melhor interpretação do Direito Civil, mais precisamente

do Direito Civil de Família, no trato das relações familiares. Muito embora tenham existido

avanços legislativos acerca da matéria, o problema do abandono afetivo inverso, que muito

vilipendia princípios axiológicos, como o da dignidade humana, da afetividade e da

solidariedade, é realidade, que merece ser combatida pelo Direito. O idoso deve ser encarado

como sujeito de direitos, contrapondo a visão negativa que se tem da mais avançada idade,

calcada nos ideais de trabalho e produção. O manejo de ações judiciais com clara intenção de

compensar o abandono dos pais pelos filhos pode figurar como instrumento reparatório.

Ainda que os posicionamentos quanto à responsabilização dos filhos pelo abandono de seus

genitores sejam dissonantes, o Judiciário não pode ser inerte. Assim, utilizando-se do método

dedutivo, o presente trabalho visa analisar a possibilidade de responsabilidade civil em casos

de abandono afetivo inverso, privilegiando premissas jurídico-legais e contextos, e obtendo

conclusões a partir das premissas levantadas.

Palavras chave: Abandono. Idoso. Afeto. Dignidade da Pessoa Humana. Direito de Família

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Tendo as sociedades observado um aumento vertiginoso dos grupos microsocietários

de idade avançada, com consequente diminuição do número de jovens, na pirâmide social,

concomitantemente, acompanha igual incremento do número de pessoas abandonadas, já que

em condições de vulnerabilidade. É o caso dos idosos. Estes, a despeito do fato de hoje se ter

uma melhor qualidade e expectativa de vida, tornaram-se um grande desafio para a sociedade

brasileira, incapaz de sanar em sua plenitude alguns dos problemas típicos da velhice,

preferindo muitas vezes o desamparo da pessoa com idade mais avançada a observar o dever

de cuidado.

* Aluna concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP,

semestre 2016.2, Graduada em Estudos Sociais pela UEPB, em 28/07/1984 e Geografia pela UEPB em

25/11/1988, Pós-Graduada em Estratégia Empresarial pela UNIPE em 24108/2000, Mediador Judicial pelo CNJ,

em 2015.2, Funcionária Pública Federal, e-mail <, [email protected]> **

Professora do Curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, Mestre em Direito

Sustentável pelo Centro Universitário de João Pessoa, Pós-graduada em Direito Público pela Universidade

Anhanguera-Uniderp (SP), email <[email protected]>

9

O direito, mormente, o direito civil de família, hoje, muito, influenciado pelo

constitucionalismo, tem ampliado amiúde o conceito e a função social da família e, acima de

tudo, sua responsabilização. Caso em que, mais precisamente, dos filhos, por exemplo, seriam

instados a compor o dano moral pelo abandono afetivo inverso, tudo fulcrado no comando

previsto na legislação constitucional e infra, bem como nos documentos estatutários tutelares,

que preconizam que os filhos têm o dever de amparar os pais na velhice, na subsistência ou na

doença.

De antemão, tem-se que o dano nesses casos não é evidente, por envolver caracteres

implícitos da personalidade humana, o que torna bastante difícil a atividade jurisdicional

direcionada a reparar eventual existência de desamor/desafeto no seio familiar, que, no geral,

acaba deixando de lado a população anciã e seus direitos mais basilares, prejudicando-lhes,

ainda, uma futura vida digna.

Neste tocante, importante, asseverar que nem a doutrina nem a jurisprudência nacional

são uníssonas quanto à hipótese de condenação dos filhos em indenização por danos morais

no caso de abandono afetivo inverso. E a premissa é das mais simples, posto que não se possa

exigir amor nem afeto, nem carinho, não sendo cabível uma ação cível para reparar

sentimentos interpessoais de tal magnitude, muito embora o direito já venha revendo esse

posicionamento com fundamento numa interpretação mais sistemática de todo o ordenamento

jurídico.

Feitas essas considerações, o presente artigo monográfico tem como objetivo precípuo

realizar um estudo do instituto da responsabilidade civil em face do abandono afetivo inverso,

com base no atual direito de família, fortemente influenciado pelos princípios axiológicos e

informadores do direito, bem como por instrumentos tutelares, que preconizam que o idoso

também é sujeito de direitos.

Para tanto, utilizou-se o método dedutivo, sendo a pesquisa qualitativa, global e

interelacionada, privilegiando premissas jurídico-legais e contextos. Optou-se, por fim, pela

averiguação bibliográfica e documental, perfazendo uma leitura do tema em questão, na

doutrina e jurisprudência de forma exploratória, seletiva, interpretativa e crítica.

Assim, num primeiro momento, analisar-se-á a instituição família, sua gênese, seu

conceito mais atual e seus princípios constitucionais informadores, a exemplo da afetividade,

partindo-se do pressuposto que a família é o campo propício para a execução de todo um ciclo

vital, que vai desde a concepção à idade mais avançada. Após, promover-se-á, sem a

pretensão de exaurir o tema, uma análise das normas atuais aplicadas à velhice, buscando,

10

com isso, conscientizar, apesar da visão negativa que se tem da “terceira idade”, que o idoso é

também sujeito de direitos.

Ainda, desaguará este artigo monográfico, num estudo do instituto do dever de

cuidado e assistência dos filhos para com seus genitores e, com base em tal premissa, por

derradeiro, encerrar-se-á o presente estudo verificando soluções para a problemática do

abandono afetivo inverso com base na composição civil do dano moral, à luz da

jurisprudência pátria.

2 FAMÍLIA: GÊNESE, EVOLUÇÃO E PRINCÍPIOS

A família é a mais germinal das formas de organização social, tendo perpassado desde

a selvageria, à barbárie e, desta, à civilização. O direito, ao longo da história da humanidade,

surgiu com o intuito de regular as relações familiares e tentar solucionar os conflitos oriundos

delas. No Brasil, denota um período de rompimentos e de fervura. Neste sentido a

constitucionalização do direito civil começa a perceber a família não mais como mera

instituição típica da formação das sociedades. Mas, sobretudo, uma instituição política,

econômica, religiosa e jurisdicional.

Além disso, também jaz enquanto instrumento catalisador da promoção da dignidade

da pessoa humana, da afetividade e da solidariedade, desideratos estes informadores da

contemporaneidade constitucional. Possui, pois, conteúdo afetivo, contribuindo para o

desenvolvimento da personalidade do homem, valorizando, de forma extremamente

imensurável, a pessoa humana (FARIAS; ROSENVALDI, 2011).

2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA

A família era influenciada pelos ideais cristãos, assim como nos tempos atuais, onde

se formava por meio do matrimônio, dando origem a monogamia, modelo de convivência

estabelecido para promover alianças entre o homem e a mulher, caracterizada para a

procriação e, mais especificamente, pelos laços de sangue.

De certo modo, era a busca pela afirmação do poder masculino, a procriação e a

necessidade de conservar os bens que induziam as pessoas a constituir família desde os

tempos mais remotos. Daí porque se diz que a família sempre foi uma sociedade

eminentemente natural, formada por indivíduos unidos, ora por laços de consanguinidade, o

11

que enseja a noção de descendência, ora por afinidade, o que encena a agregação de novos

parentes ao grupo pelo casamento, ora pelo patrimônio, ora pela herança (DIAS, 2013).

Assim, ao longo da história, embora passando por profundas transformações seja de

ordem social ou cultural, a família sempre manteve características de uma entidade política,

econômica, religiosa e porque não dizer, também jurisdicional. Jurisdicional porque, aliada

aos fatores anteriores, traduz expressivamente os alicerces do próprio direito civil de família,

calcado nos institutos da filiação, do casamento e do autoritarismo, imposto pela figura do

pater, dando origem ao termo pátrio poder, hoje denominado poder familiar.

Obviamente, este conceito precípuo, formulado à luz dos argumentos acima, jaz

transmudado, mormente as transformações por que passou civilização contemporânea

(TARTUCE, 2015). Logo, se antes a entidade familiar era tão somente consangüínea ou

também por afinidade, deve hoje ser entendida também como grupo social fundado,

essencialmente, em laços de afetividade, capaz de fomentar aos seus membros uma vida

digna.

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA

Como visto antes, a evolução conceitual da família, diga-se de passagem, instituto este

aliado a predicados, como os asseverado ab initio, de cunho político, econômico, religioso e

também jurisdicional, acabou por incorpora-se ao direito, mormente a necessidade de

conceituar e tutelar institutos ligados à delimitação da entidade e familiar e do pátrio poder.

Hoje, o direito jaz fortemente influenciado por uma série de princípios informadores, que

acabam transcendendo muitas vezes a própria noção que se tem de

normatividade/coercitividade, funcionando como meios integradores de todo o sistema

jurídico.

Neste diapasão, imperioso ressaltar que os princípios são normas jurídicas que se

distinguem das regras não só porque têm alto grau de generalidade, mas também por serem

mandados de otimização, ou seja, incorporam-se às exigências de justiça e de valores éticos

que constituem o suporte axiológico do direito, conferindo coerência interna e estrutura

harmônica a todo o sistema jurídico.

Assim, se antes os códigos civis de 1916 e de 2002 e o direito de família, eram

interpretados, respectivamente, como ramos autônomos do direito e um simples micro-

sistema do ramo do direito civil, cujas normas e costumes regulam as relações jurídicas do

casamento, da união estável, do concubinato e do parentesco, hoje, tais definições não mais

12

subsistem, já que interpretados ao lume do constitucionalismo e do caráter principiológico do

atual direito civil constitucional. Este bastante influenciado pelo estandarte da dignidade da

pessoa humana e outros micro-princípios informadores, não menos importantes, a exemplo da

afetividade e da solidariedade.

2.2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A dignidade da pessoa humana é princípio formador de toda a base do estado

democrático de direito, dai porque este é evocado no primeiro artigo da Constituição

Federal/88, visando, portanto, assegurar os direitos do indivíduo e protege-lo das injustiças

sociais. É Importante frisar que o direito civil de família procura, assim como todo o

ordenamento jurídico brasileiro, a proteção da pessoa como a parte fundamental da sociedade,

independentemente de distinção de sexo, de idade ou qualquer outra característica.

A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social, em

específico, com a proteção da pessoa, levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa

humana como valor nuclear da ordem constitucional, tanto assim é que: “o princípio da

dignidade humana é o mais universal de todos os princípios. É um macroprincípio do qual se

irradiam todos os demais: liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade, uma coleção de

princípios éticos” (DIAS, 2013, p. 62).

A dignidade da pessoa humana relaciona-se com o livre desenvolvimento da

personalidade humana, que, nas fases adulta e da velhice, encontra sua plenitude. Neste

sentido, Ingo Wolfgang Sarlet (2011, p. 112), esclarece:

[...] é precipuamente com fundamento no reconhecimento da dignidade da pessoa

humana por nossa Constituição, que se poderá admitir, também entre nós, apesar da

omissão do Constituinte nesse particular, a consagração – ainda que de modo

implícito, de um direito ao livre desenvolvimento da personalidade.

Destaque-se ainda que, este princípio é a base para a convivência harmônica de todo

o ordenamento jurídico, sendo que a partir da positivação deste postulado, surgiram, portanto,

os demais regramentos do direito enquanto sistema, inclusive outros microprincípios

informadores.

13

2.2.2 Princípio da Afetividade

A palavra afetividade é apontada, atualmente, como o basilar alicerce das relações

domésticas e familiares. No entanto, mesmo não fazendo parte a palavra “afetividade”,

tampouco a palavra “afeto” da Constituição Federal vigente, nem mesmo no ordenamento

jurídico brasileiro, de forma expressa, como um direito fundamental, pode-se asseverar que

aludido standard jurídico é extraído densamente do apreço que se tem hoje pela dignidade da

pessoa humana, conquanto baluarte de todo o sistema jurídico contemporâneo (DIAS, 2013).

Desta maneira, a afetividade está, sem sombra de dúvidas, interligada ao princípio da

dignidade da pessoa humana, tanto o é que boa parte dos estudiosos do tema compreendem

ser este um princípio capaz de quebrar a força da hierarquia familiar, seja ela imposta pelos

laços de sangue ou de afinidade.

Ainda, o referido princípio subjaz como capaz de instituir características diferenciadas

nestas relações (familiares), sendo, contemporaneamente, os laços de uma família muito mais

calcados no amor, no afeto, no apego, na inclinação, na dedicação e na ternura entre os seus

membros do que no arrolamento hierárquico consanguíneo ou por afinidade.

Sob este liame de compreensão, o princípio da afetividade rompe paradigmas e

quebra barreiras, trazendo à discussão uma novel percepção da família, agora também

reajustada no ambiente social em que está inserida. Via de consequência, os termos “afeto” e

“afetividade” são tão significantes e respeitáveis, que têm servido para desmistificar conceitos

anteriores do direito infraconstitucional, a exemplo do próprio direito civil de família, outrora,

acalcanhado tão apenas na consanguinidade ou simplesmente na afinidade.

2.2.3 Princípio da Solidariedade Familiar

O coração do princípio da solidariedade familiar encontra-se no art. 3º, inciso I, da

Constituição Federal de 1988, segundo o qual a construção de uma sociedade livre, justa e

solidária, constitui hoje um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. O

fato é que o referido princípio acaba ressoando, nas relações familiares, já que a solidariedade

precisa, decerto, se imortalizar nos relacionamentos interpessoais, como forma de amparar e

salvaguardar a própria coletividade, que, racionalmente conduzida, balizada e

autodeterminada, contribui para com os deveres de cooperação, assistência, amparo e cuidado

em relação ao outro.

14

Por exemplo, o Estatuto do Idoso transformou o dever apenas moral de amparo dos

idosos em dever jurídico; ou seja, o sentimento moral de proteção migrou para o direito,

concretizando o princípio da solidariedade.

O princípio da solidariedade familiar previsto no texto constitucional (art. 1°, III c/c

os arts. 3°, I, 226, caput, 227, 229 e 230 da CF) viabiliza a adoção de postura mais

flexível e consentânea com o direito de família da pós-modernidade. Reconhece-se

que tanto o nascituro como a criança, o adolescente e o adulto possuem direitos

decorrentes das relações havidas da constituição de entidades familiares. Além

disso, contempla-se em favor do adulto que tem pelo menos sessenta anos de idade

um regime legal protetivo dos seus interesses, assim como se procedeu com a

previsão de normas tutelares dos interesses das crianças e adolescentes (LISBOA,

2010, p. 298).

Frise-se, por oportuno, que este princípio, tem relação direta com o dever de os filhos

prestarem, na condição de credores dos genitores, a assistência devida, não só econômica

como também afetiva e psicológica, escassas com o avançar da idade, provendo o dever de

alimento, proibindo-se a violência, coibindo o abandono afetivo, problemas estes existentes

até na mais velha idade.

3 DIREITOS DOS IDOSOS: MARCOS NA LEGISLAÇÃO

Analisado, em linhas gerais, um aparato introdutório acerca da família, sua gênese e

princípios informadores, denota-se ao ser humano, vivendo em grupo, a partir do momento

em que nasce, perpassa uma série de fases na vida, que vão desde a juventude até culminar na

velhice, a qual, atualmente, é um dos vieses em que se deságua a ideia de família afetiva. Ora,

os avanços das áreas da saúde e da tecnologia acarretaram uma diminuição da população

jovem, tendo por consequência um maior aumento da população anciã, que se percebeu, às

duras penas, desamparada pela falta de uma política legislativa que a acudisse, tanto que o

Estatuto do Idoso, a título de exemplo, só veio a vigorar na realidade jurídica em meados de

2003.

Hoje, em virtude dos instrumentos legislativos em vigor que visam à proteção dos

idosos, tem-se que a velhice com “um direito humano fundamental” (RAMOS, 2015, p. 477),

motivo por que os idosos, mesmo na idade mais avançada, são sujeitos de direitos. Quedam a

eles assegurados, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à

dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Deste modo percebe-se que, a

passos bem lentos, houve um avanço satisfatório do aparato legal atinente à proteção da

15

velhice, de modo que não mais cabe tão somente à família este dever de proteção, mas a toda

sociedade e também ao Estado, conforme se verá adiante.

3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: ARTIGOS 229 E 230

A preocupação para com a pessoa humana idosa nunca foi regra, não tendo a

legislação brasileira nem sempre dado à velhice o tratamento que merecia. A Constituição de

1934 foi pioneira ao tratar da velhice, dentro das questões de ordem econômica e social.

Depois, em 1937, foram instituídos os seguros de velhice, invalidez, de vida e para os casos

de acidente de trabalho, disposições normativas que foram repetidas e acompanhadas pelas

constituições de 1946 e 1967. No entanto, somente com a Constituição de 1988, é que se

tentou promover, em sua plenitude, os direitos típicos da velhice, protegendo-a ainda contra

discriminações e injustiças (PINHEIRO, 2008).

Em seu artigo 229, a Carta Magna preconiza que os pais têm o dever de assistir, criar e

educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na

velhice, carência ou enfermidade. Já, no art. 230, o Texto é bem claro ao aduzir que cabe a

família, a sociedade e ao Estado o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando-lhes sua

participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o

direito à vida. Assim, pode-se afirmar que ambos os artigos – 229 e 230, da CF/1988, é uma

concretização da responsabilidade tripartite, ou seja, da família, da sociedade e do Estado,

que, juntos, têm o poder-dever de efetivar os direitos fundamentais, em especial, os da pessoa

idosa.

3.2 LEI DE ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (LEI Nº 8.742/93)

Com intuito de melhor efetivar o já previsto na Constituição Federal de 1988, o

constituinte, valendo-se de seu espírito inclusivo e fraternal, previu a existência de um

benefício assistencial a ser concedido ao idoso, buscando assegurar-lhe a existência digna.

Desse modo, foi que a assistência social foi concebida com o desígnio de prestada a quem

dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos,

dentre outros, a proteção à velhice.

Acompanhando essa conjuntura, a Lei de Organização da Assistência Social (LOAS),

portanto, ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República, estabeleceu, em seu art.

20, os critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo seja concedido aos idosos,

16

que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por

sua família.

3.3 POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (LEI N 8.842/94)

Continuando este viés evolutivo da legislação aplicada à figura do idoso, visando,

então, sua promoção, enquanto pessoa humana, portadora de direitos inerentes à sua condição,

foi que no ano de 1994, instituída, através da lei supra a Política Nacional do Idoso (GAMA,

2008). Tal instrumento tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando

condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, assim

dispondo seu art. 3º:

I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os

direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade, bem-estar e o direito à vida;

II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser

objeto de conhecimento e informação para todos;

III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;

IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem

efetivadas através desta política;

V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições

entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes

públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei.

A referida lei, que igualmente estatuiu os conselhos nacional, estaduais, municipais e

do Distrito Federal do idoso, é tida como a gênese do Estatuto do Idoso, o qual será mais bem

abordado no subcapítulo 3.5.

3.4 CÓDIGO CIVIL (LEI Nº 10.406/2002): ART.1696

O Código Civil, dando efetividade aos artigos 229 e 230, da CF/1988, passou a prever

em seu art. 1696, entre outros, o dever recíproco de prestação de alimentos entre pais e filhos.

Numa leitura do direito civil ao lume do constitucionalismo, tem-se, portanto, que o art. 1696,

do CC/02, traz como uma manifestação expressa dos princípios da afetividade e da

solidariedade familiar, segundo os quais, compreendida os membros do núcleo familiar, todos

possuem o dever de assistência moral e patrimonial uns para com os outros.

17

3.5 ESTATUTO DO IDOSO (LEI Nº 10.741/03)

O Estatuto do Idoso, em tese, é considerado como marco histórico acerca da matéria,

haja vista que, desde 2003, referido documento legal regulamenta as prerrogativas das pessoas

com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, no que se relaciona à salvaguarda e ao

provimento da vida, da saúde, da alimentação, da educação, da cultura, entre outros deveres.

Apresenta em seu núcleo uma cadeia de injunções de viés político, econômico, cultural e

subjetivo, no trato com a figura da velhice, já que pensado, construído e legislado a partir das

disposições sobre o idoso, contidas na Constituição Federal de 1988 e na legislação

infraconstitucional anterior e vigente, tendo assumido, ainda, um papel fundamental na forma

com a velhice é vista e tratada na sociedade brasileira contemporânea.

Antes de tudo, também jaz como uma obra alegórica e conceitual que projeta o idoso

na cultura atual, retirando daí a legitimização das políticas destinadas especificamente a esse

segmento, com base inclusive na promoção da dignidade da pessoa humana. Sua importância

é tamanha que, com base numa leitura teleológica de tal instrumento tutelar cumulada com o

art. 186, do código civil/2002, o idoso se vê, dentre outras prerrogativas, protegido em face de

eventual violência ou abandono afetivo, caso em que os filhos podem ser responsabilizados

civilmente.

4 ABANDONO AFETIVO INVERSO

Ainda que tenha a legislação aplicada à família e, mais precisamente, ao idoso passado

por um importante avanço, é certo que, em termos de efetividade, a produção legal neste

tocante ainda peca por não ter conseguido tornar eficaz as medidas protetivas legais previstas

nos instrumentos legais vigentes. Sendo assim, imperiosa a análise do abandono afetivo

inverso, com base nas transformações que tem vivenciado a sociedade contemporânea,

perpassando por seu conceito e sua caracterização, até desaguar no dever de cuidados dos

filhos para com seus ascendentes, seja de forma material, seja de forma imaterial.

4.1 CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO INSTITUTO

Em linhas gerais, o abandono afetivo inverso, aqui traduzido no abandono dos

pais/idosos pelos filhos e/ou descendentes, ainda que simplório, é um conceito de difícil

definição por parte de vários autores. Muitas vezes, ao contrastar com o ideal de convivência

18

familiar perfeita, acaba por desmerecer o corolário da dignidade da pessoa humana e do dever

de cuidado entre os familiares, decorrente de princípios menores, mas não menos importantes,

como o da afetividade e o da solidariedade. Neste sentido, segundo Jones Figueirêdo

Alves, diretor nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM):

Diz-se abandono afetivo inverso a inação de afeto, ou mais precisamente, a não

permanência do cuidar, dos filhos para com os genitores, de regra idosos, quando o

cuidado tem o seu valor jurídico imaterial servindo de base fundante para o

estabelecimento da solidariedade familiar e da segurança afetiva da família. O

vocábulo “inverso” da expressão do abandono corresponde a uma equação às

avessas do binômio da relação paterno-filial, dado que ao dever de cuidado

repercussivo da paternidade responsável, coincide valor jurídico idêntico atribuído

aos deveres filiais, extraídos estes deveres do preceito constitucional do artigo 229

da Constituição Federal de 1988 [...] Assim, não há negar que, axiologicamente, o

abandono constitui um desvio desconcertante do valor jurídico estabilidade familiar,

recebendo aquele uma modelagem jurídica e jurisdicional capaz, agora, de defini-lo

para os fins de responsabilização civil [...] (ALVES, 2013).

Na verdade, mais do que a violência física ou financeira, a negligência pelo abandono

impõe ao idoso uma negação de vida, quando lhe é subtraída a oportunidade de viver com

qualidade. Esse descaso para com o contingente ancião, cuja marca é muitas vezes o

abandono em asilos e hospitais, a discriminação, os maus tratos, ainda que seja um problema

das mais variadas famílias, é facilmente percebido nas mais humildes, com um nível

econômico mais baixo. As causas são as mais diversas, pode-se mencionar como causa

primeira a falta de políticas públicas no que tange à reversão deste quadro.

Destarte, a realidade é no mínimo curiosa, uma vez que, na medida em que o Estado

transforma a velhice em problema social, traçando, igualmente, um conjunto de orientações e

intervenções hábeis a garantir um envelhecimento com dignidade e segurança, em

contrapartida, este mesmo poder público é um dos primeiros a violar o dever de solidariedade,

previsto constitucionalmente, como objetivo fundamental da República, ao relegar, junto com

a sociedade excludente, o dever de cuidado eminentemente à família. É também, no mínimo

paradoxal, porque aparentemente o Estado não sopesa que existam famílias depreciadas por

antipatias, animosidades, rancores e relações quase nulas. Famílias estas praticamente

molestadas também pela falta de afeição entre os pares de um mesmo grupo familiar

(DEBERT; OLIVEIRA, 2013).

Ainda, de igual sorte, como concausa, os idosos possuem geralmente um nível

econômico baixo, resultado muitas vezes de uma parca aposentadoria, que não muito

contribui para o sustento da família, senão constitui, por vezes, um "fardo" a ser sustentado

pelos filhos/descendentes. A negação do amparo afetivo, moral e psíquico, em última análise,

19

engendram danos à personalidade do idoso, efetivo tolhimento dos valores mais sublimes e

virtuosos do indivíduo (dignidade, honra, moral, reputação social). A aflição, a dor, o

sofrimento e a angústia são os sentimentos mais fortemente experimentados por aqueles que,

além da velhice, convivem com abandono, sendo a morte a pior das hipóteses.

Não deixa de ser uma realidade triste e cruel, cada vez mais presente nas sociedades

contemporâneas, que merece uma resposta por parte do poder público, mais precisamente, do

judiciário, na medida em que, se cabe dano moral por abandono afetivo aos pais que

abandonaram os filhos, a mesma punição deve também ser imposta aos filhos que abandonam

seus pais na velhice, carência ou enfermidade.

4.2 DO DEVER DE CUIDADO E DE ASSISTÊNCIA DOS FILHOS COM OS PAIS

IDOSOS

A obrigação dos filhos perante os pais idosos é um compromisso de natureza afetiva e

ética, que merece observância por parte de todos, com base, inclusive, no dever de

consciência, e se subdivide no dever de assistência material, este calcado na provisão de

alimentos, e imaterial, postulado do dever de proteção e amparo, com fulcro no afeto

(princípio da afetividade).

Em razão destes e outros fatores, foi assegurado ao idoso amparo no Texto Maior e em

normas infraconstitucionais, como forma do Estado proteger e e garantir o cumprimento desse

dever pela sociedade. Contudo, é embaraçoso constatar que uma sociedade tenha o

compromisso de proteção com a velhice instigada por leis ou normas.

Hoje, o dever de proteção e amparo, tanto material quanto afetivo, está alicerçado nos

princípios constitucionais do direito, sobretudo do direito de família, e em diversos diplomas

legais, já citados em tópicos anteriores, a exemplo da CF/1988, do próprio Código Civil/2002

e do Estatuto do Idoso. O Estatuto do Idoso, em específico, prevê, inclusive em seu art. 3º,

parágrafo único, inciso V, exato o seguinte:

Art. 3° - É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público

assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde,

à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à

liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do

atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de

manutenção da própria sobrevivência (BRASIL, 2003).

20

O supracitado artigo elege, pois, a família como principal agente na ordem de

cuidados para com os idosos, devendo assegurar a dignidade destes tanto em caráter

alimentar, quanto lhes dando amparo e proteção devida. É assim que o vilipêndio aos direito

típicos da velhice, bem como às suas garantias, enseja, hodiernamente, a responsabilização

dos filhos, já que aquele que, por ato ilícito ou ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete

ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo.

Portanto, a família (aqui, os filhos) tem por obrigação garantir aos ascendentes

(idosos) não só o alimento necessário à sobrevivência, mas também um envelhecimento

tranquilo e sereno, saudável e participativo, bem como isento de exclusões, sob pena de serem

responsabilizados civilmente. Feitas essas considerações, passa-se a analisar as formas em que

se perfaz a obrigação de cuidado e de assistência dos filhos para com os pais, cujo dever

reitere-se, é prévio a qualquer preceito, norma ou princípio jurídico, expresso ou não.

4.2.1 Da Assistência Material: O Dever de Prover Alimentos

O direito a alimentos data dos primórdios da civilização, não se sabendo exatamente

um momento histórico preciso de quando o dever de prestação alimentícia tornou-se

reconhecível no contexto familiar (CAHALI, 2013). Entretanto, atualmente, decorre do

princípio da solidariedade familiar e pode ser considerado um direito fundamental por ser

essencial para a sobrevivência do indivíduo, salvaguardando sua vida, saúde e dignidade

(DIAS, 2013, p. 531).

Dessa forma, na obrigação alimentar, um parente fornece ao outro aquilo que é

imprescindível a sua manutenção, assegurando-lhe meios de sustento. Daí porque os pais

idosos terem o direito de receber pensão alimentícia dos filhos quando não possuírem meios

de manutenção própria ou recursos suficientes para a subsistência. Cumpre advertir que a

exegese da doutrina e jurisprudência atual acerca do assunto tem implicado uma interpretação

mais ampla do vocábulo “alimentos”, compreendendo tanto o valor necessário para a

alimentação em si quanto o imprescindível para a manutenção da pessoa de forma geral.

Assim, são do mesmo modo alimentos os recursos para remédios, assistência médica,

pagamento de despesas básicas como água, luz, gás, telefone e até cuidadores ou empregados,

se o idoso não puder viver sozinho. De acordo com o art. 11 do Estatuto do Idoso, "os

alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil". No código civil, é bom relembrar, a

matéria está disciplina nos artigos. 1.694 a 1.699.

21

Sob este liame de compreensão, compreende-se que, no mesmo seio familiar – são

vários os incumbidos de proporcionar alimentos, obviamente, sempre com base nos

parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade. Portanto, as crias têm para com seus

genitores as mesmas obrigações paternas e maternas prévias a senilidade, de modo que nada

mais justo que, se um pai ou uma mãe idoso, sem condição alguma de subsistência, depender

de um entre quaisquer dos descendentes, todos, até o quarto grau, deverão responder por tal

obrigação na proporção de seus recursos.

4.2.2 Da Assistência Imaterial: O Afeto

O dever de prestar assistência aos pais pelos filhos está bem aquém do comando legal

de prover o sustento pecuniário. A obrigação de prover alimentos, impreterivelmente, é de

extrema relevância. No entanto, é bastante insuficiente para, por si só, garantir a vida, de

forma digna, em sua plenitude. Daí que, para além dos proventos de caráter eminentemente

material, surge o afeto, que se traduz no cuidado que uma pessoa tem pela outra,

compartilhando com ela alegrias e tristezas (LISBOA, 2010). Enriquecido à base de uma

coexistência mútua, não só sustenta o corpo, fomentando um equilíbrio deste para com o

psíquico, como também nutre a alma, em suas mais variadas facetas.

A Constituição em vigor prevê o afeto de forma indireta e implícita, nas entrelinhas, já

que imbuído de uma função social, direcionado para o bem da coletividade, inclusive, para o

bem da população idosa, já que esta, sem tal diretiva, acaba tendo ameaçada a própria

integridade psíquica (PEREIRA, 2015). Ainda que seja um princípio constitucional implícito,

melhor trabalhado na legislação infraconstitucional, há quem sustente que o dever de afeto é

letra de lei morta, sobretudo porque não existe obrigação jurídica de amar, sendo o fato de não

sentir afeto por outrem nenhum ilícito (NASSRALLA, 2010).

Mas esse não é o entendimento dominante. Tanto que o poder dever de assistência

imaterial, encontra-se como corolário do atual direito civil de família, de sorte que seja no

casamento, na união estável, na filiação, na adoção e principalmente nas relações que

envolvem os idosos, o afeto é a mola propulsora, capaz de dar sentido e dignidade à existência

humana (MADALENO, 2015). Assim sendo, o direito civil de família torna dever filial

obrigações jurídicas imateriais, como o dever de prover o amparo e o convívio, por exemplo,

(KARAM, 2011).

Tão importante o é a afetividade (afeto), que jaz enquanto instrumento efetivador da

dignidade humana, deixando em segundo plano o valor econômico, tão em primazia nas

22

relações familiares antigas. Sem afeto, não só os filhos, como também os idosos, são

relegados ao esquecimento, ao abandono. Sob esse aspecto, o dever de cuidado, não é mais

um simples postulado de cunho ético, mas sobremaneira um axioma jurídico, tornando-se

evidente enquanto valor legal apreciável, tendo repercussão no âmbito da responsabilidade

civil.

5 DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO INVERSO

Este último capítulo traçará um perfil de como o direito tem se debruçado no que

tange à questão do abandono afetivo inverso, privilegiando contextos, bem como buscando

fomentar soluções para a problemática analisada, realizando uma pequena digressão quanto à

possibilidade de ser aplicada às relações familiares à normatização referente à compensação e

dissuasão do dano moral.

5.1 INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS PELOS FILHOS: UM DEVER JURÍDICOS

Imperioso, desde já, indagar se há fundamento para aplicar a responsabilidade civil em

casos de dano moral nas relações familiares ou, mais precisamente, o dever de indenizar pelos

filhos em caso de abandono afetivo, calcado na falta de amor/afeto daqueles para com seus

genitores. Antes de responder a este problema, necessário se faz um pequeno estudo acerca da

teoria do dano e da responsabilidade civil, como forma de melhor entender a temática aqui a

ser abordada.

O dever de indenizar é previsto, em tese, na Constituição Federal, no art. 5º, inciso X,

assegurando-se o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de eventual

violação a caracteres pessoalíssimos do ser humano. Esse dispositivo constitucional está

também fundamentado e aprimorado pela legislação civilista vigente que, ao pontuar a

responsabilidade civil, nos artigos 186 e 187, preconiza que: “aquele que, por ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Assim sendo, a responsabilidade civil figura no ordenamento jurídico enquanto dever

que tem o sujeito de direitos e obrigações de ressarcir a outra por eventuais prejuízos

causados. Neste viés, Diniz (2015, p.50) aduz que:

23

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar

dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato próprio imputado de

pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda, ou

ainda de simples imposição legal.

É moral o dano que “atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É

lesão de bem que integra os direitos da personalidade [...] e que acarreta ao lesado dor,

sofrimento, tristeza, vexame e humilhação” (GONCALVES, 2010, p.359). E material ou

patrimonial o dano que “compreende todos os bens e direitos [...], abrangendo nesse sentido

não apenas as coisas corpóreas, mas de outra banda incluindo necessariamente as coisas

incorpóreas” (CAVALIERI FILHO, 2010, p. 35).

Fixados, pois, o ponto doutrinário acerca da teoria do dano e da responsabilidade civil

tem-se por certo não mais poderem existir restrições legais à aplicação das regras relativas à

responsabilidade civil, no direito civil de família, porque, como vista acima, há tratamento

amplo e irrestrito da matéria na legislação vigente. Além disso, a existência de singularidades

na relação família, entremeadas de complexos contornos subjetivos, que constituem (ou

constituíam) entraves à aplicação do instituto da composição civil nestes casos, não pode mais

servir de óbice a uma interpretação sistemática do direito e das relações familiares, que não

podem estar desprotegidas, muitas vezes, em face da lacuna.

Destaque-se, ainda, o respeito e a honra à família, e mais precisamente aos genitores é,

antes de tudo, um impositivo ético dos mais antigos, que ultrapassa, diga-se de passagem, a

noção do próprio direito enquanto ciência. Daí que a composição civil, verificada a tríade

negligência-nexo-dano, em casos de abandono afetivo inverso, em análise última, tornar-se,

então, imperiosa, brotando enquanto possibilidade no combate à violação da dignidade da

pessoa humana dos de idade igual ou superior a 60 anos, caso em que toda sorte de

abandonos, discriminações, violências, humilhações e mágoas seriam passíveis de

compensação ou dissuasão, sem que houvesse necessariamente uma monetarização do amor

e/ou afeto.

Obviamente, perseguiria não o enriquecimento da vítima (idosa), vilipendiada em sua

dignidade, porque desprezada e abandonada na mais avançada idade, mas, antes, uma

tentativa, ainda que tardia, de prover, pela via pecuniária, uma vida íntegra, para quem, em

idade avançada, merece receber amparo. Neste passo, também, essa possibilidade jurídica de

reparação do dano moral, enquanto dever a ser observado pelos filhos, decorrente de

abandono afetivo inverso, assumiria um viés duplo, típico dos pagamentos de uma

24

indenização em casos parecidos ou análogos, qual seja, além do compensatório, um

eminentemente dissuasivo e pedagógico.

Na verdade, não há um critério legal, objetivo e tarifado para a fixação do dano moral,

já que “depende muito do caso concreto e da sensibilidade do julgador” (CONSULTOR

JURÍDICO, 2009). Assim é que, na fixação, são sopesados fatores como o prejuízo suportado

pela vítima, a extensão do dano e também a capacidade econômica do ofensor.

Por fim, a condenação em danos morais, no direito civil de família e, sobretudo, dos

filhos em casos de abandono afetivo inverso, é uma tese de todo pacífica. Estas divergências

entre os jurisconsultos serão mais bem estudadas no item a seguir, que tentará traçar um

quadro da judicialização da proteção da velhice por estudiosos do direito e pela politização do

judiciário neste tocante através da produção jurisprudencial.

5.2 ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE CIVIL EM CASOS DE ABANDONO AFETIVO

INVERSO PELA JURISPRUDÊNCIA PÁTRIA

A doutrina brasileira é praticamente escassa no que tange ao estudo do abandono

afetivo inverso, hipótese tal que muito dificulta a atividade política e jurisprudencial dos

tribunais brasileiros quanto ao estudo da matéria. A produção doutrinária, quando muito

existente, abrange apenas artigos científicos, que ainda ensaiam a busca de soluções para a

problemática.

Além disso, por medo, insegurança, desconhecimento de causa ou até por amor

demais, são poucas as ações movidas por pais em face de seus filhos. A escassez de ações,

neste sentido, também afeta o judiciário, que não se vê incitado a melhor analisar a temática.

Tão verdade o é que as decisões jurídicas a respeito do assunto mais condizem com abandono

afetivo dos filhos pelos pais, e não o inverso, como delineado nas ementas abaixo:

RESPONSABILIDADE CIVIL Danos morais Preliminar de nulidade da sentença

por cerceamento de defesa Afastamento - Abandono afetivo por parte do réu, genitor

do autor - Inocorrência de ato ilícito, pressuposto da indenização por dano moral -

Inexistência de obrigação de afeto no ordenamento jurídico pátrio. Precedentes do

STJ e desta Câmara Ação improcedente Recurso improvido. (TJ-SP - APL:

00245909120128260302 SP 0024590-91.2012.8.26.0302, Relator: Paulo Eduardo

Razuk, Data de Julgamento: 29/04/2014, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de

Publicação: 01/05/2014)

DANO MORAL. ABANDONO AFETIVO. Espontaneidade do afeto que não se

confunde com o dever jurídico de cuidado, decorrente da relação paterno-filial. Não

caracterização de abandono afetivo. [...] (TJ-SP - APL: 02047279220128260100 SP

0204727-92.2012.8.26.0100, Relator: Francisco Loureiro, Data de Julgamento:

14/05/2015, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/05/2015)

25

Ala diversa a respeito do caso se posiciona pela composição civil, sopesando critérios

como a efetividade máxima das normas constitucionais, a extensão do abandono no

desenrolar da personalidade da pessoa idosa, vilipendiada pela conduta de seus filhos, o grau

de culpa e a situação econômica destes. No STJ, inclusive, a questão do abandono afetivo, foi

alvo de decisão pela Ministra Nancy Andrighi, nos autos do Recurso Especial nº 1.159.242 -

SP (2009/0193701-9). Muito embora o decisium não trate necessariamente do abandono dos

pais pelos seus filhos, certo é que abriu o precedente:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.

COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL . POSSIBILIDADE. 1. Inexistem

restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o

consequente dever de indenizar⁄compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como

valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com

essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas

desinências, como se observa do art. 227 da CF⁄88. 3. Comprovada que a imposição

legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de

ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem

juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia

- de cuidado - importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a

possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono

psicológico. [...] 7. Recurso especial parcialmente provido" (REsp nº 1.159.242⁄SP,

Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24⁄4⁄2012,

DJe 10⁄5⁄2012).

Obviamente, a decisão pioneira da Ministra Nancy encontrou vozes divergentes,

dentro do próprio STJ. Em voto-vogal, o Exmo. Sr. Ministro Massaim Uyeda, assim

ponderou:

[...] Ora, isso faria com que quantificássemos mágoas íntimas – muitas legítimas,

algumas supostamente legítimas – [...] E os estudos indicam que esse amor é uma

coisa de convivência. O que pode acontecer nesse nível de família? [...] Não posso

exigir que os meus padrões psicológicos se coloquem na normalidade. O voto de V.

Exa. é pioneiro, Sra. Ministra Nancy Andrighi, mas também atento para a seguinte

circunstância: se abrirmos essa porta como Tribunal de unificação jurisprudencial de

interpretação da lei federal [...] também não podemos esquecer que a interpretação

dos princípios constitucionais requer razoabilidade e proporcionalidade. [...] Então,

abrir essa porta aqui, reconhecer isso como um direito não podemos, com todo o

respeito.[...] Se abrirmos essa tese aqui, olha, como diria o pessoal, sai de baixo.

Este tribunal cuidará de mágoas (REsp nº 1.159.242⁄SP, Voto-vogal Ministro

MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24⁄4⁄2012, DJe 10⁄5⁄2012).

A inquietação do Ministro Massami Uyeda é salutar e faz refletir. Eclipsa do voto-

vogal acima uma preocupação com a interpretação das normas legais e infra no tocante à

responsabilização civil com base na proporcionalidade e na razoabilidade, que não pode,

deveras, ser afastada, sob pena de afogar o judiciário em face da propositura de ações judiciais

26

as mais diversas fulcradas na ausência de amor/afeto dos filhos para com seus pais e vice-

versa, podendo o tribunal cuidar de mágoas, como asseverou o Ministro.

Por último, a partir de uma análise, da matéria junto à produção dos tribunais, tem-se

que o direito não é uníssono, característica que lhe é peculiar. Em suma, não haverá nunca

consenso no que tange ao abandono afetivo, seja na forma como é mais conhecido, seja na

forma do abandono afetivo inverso (dos pais pelos filhos), porque as decisões são pautadas no

livre convencimento do juiz. Uns negarão o direito com base na premissa de que não há

obrigação positivada de prover o afeto dos filhos aos genitores, e vice-versa. Outros, mais

progressistas, farão coro no sentido de que o direito não é letra morta e deve se adaptar ao

meio para, na medida do possível, corrigir as imperfeições.

Ora, se há obrigação legal de ajudar a amparar a velhice, mormente durante toda uma

vida dedicada aos filhos, nada mais justo que o judiciário esteja aberto para interferir nas

questões familiares, de modo a, por meio da composição dos litígios e ponderação de valores

caso a caso, prover, ainda que pelas vias adversas, a condenação filial na reparação civil,

agindo, não só preventivamente, como também pela compensação e dissuasão.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A família é o campo propício ao desenvolvimento de todo um ciclo vital até culminar

na velhice. A mais avançada idade, apesar de decorrer dos valores e representações sociais

que se tem dos ideais de trabalho e de produção, típicos das sociedades capitalistas e

tecnológicas, muitas vezes, foi vista de forma negativa, sendo não só um desafio, como

problemática social.

Hoje, consubstanciada no direito civil de família constitucional e em seus princípios

axiológicos, uma velhice digna é direito humano fundamental, sendo plenamente reconhecida

na Constituição Federal de 1988, que acabou influenciando, a passos lentos, posteriormente

uma política legislativa no sentido de se salvaguardar e amparar os que contam com idade

igual ou acima de 60 anos.

Daí que, hoje, o dever de afeto, dentre outros princípios, independentemente da

obrigação de prover alimentos ou o básico à subsistência, figura como um aliado importante

para concretizar esse dever ético de afeto e amparo na consecução de uma existência final a

ser vivida, no mínimo, em condições dignas. Entretanto, mesmo com os progressos legais no

que tange à tutela da velhice, não se pode refutar que o abandono afetivo inverso, há muito,

27

foi realidade que enseja obrigação apenas da família e, hoje se constitui como um dever

conjunto da família, da sociedade e do Estado.

Portanto, ainda que existam vozes dissonantes no judiciário pátrio a respeito do tema,

reitera-se aqui a possibilidade de se aviar ações judiciais no sentido de compensar e dissuadir

o abandono afetivo inverso, condenando-se, assim, os filhos que relegarem seus pais ao

desamparo material, bem como à solidão dos asilos e dos hospitais, a uma indenização

pecuniária justa e condizente com o caso. A postura aqui adotada coaduna-se com a missão do

próprio direito, que, a despeito do fetichismo legal de muitos juízes, deve estar aberto para as

mais diversas possibilidades, buscando sempre promover e proteger, até mesmo na velhice, os

caracteres mais intrínsecos e, inclusive, subjetivos da personalidade humana.

CIVIL RESPONSIBILITY ARISING OUT OF INVERSE AFFECTION ABANDON: THE

DUTY OF CHILDREN WITH PARENTS

ABSTRACT

Among family, old age, as the last stage of life, must be shared and lived in full dignity. This

idea is due, in part, to a conjuncture inaugurated by the Federal Constitution of 1988, which

went better to protect fundamental and social rights. This ended up influencing a number of

specific tutelary documents, such as the Elderly Statute, culminating in a better interpretation

of Civil Law, more specifically Family Civil Law, in dealing with family relationships.

Although there have been legislative advances on the subject, the problem of inverseaffective

abandonment, which greatly abuses axiological principles, such as dignity, affection and

solidarity, is a reality that deserves to be opposed by law. The elderly should be subject of

rights, opposing the negative view of the most advanced age, based on the ideals of work and

production. The handling of lawsuits with a clear intention to compensate for the

abandonment of the parents by the children can appear as a deterrent. Although the positions

regarding the responsibility of the children for the abandonment of their parents are dissonant,

the Judiciary can not remain inert. Thus, the present work intends, without exhaustion of the

matter, the analysis regarding the possibility of civil composition in cases of inverse affective

abandonment, privileging juridical-legal premises and contexts. The method used here was

the deductive, obtaining conclusions from the assumptions raised.

KEYWORDS: Abandonment. Old Man. Affection. Dignity of Human Person. Family Right

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29f. Orientadora: Profª. Ms. Karina Pinto Brasileiro. Artigo Científico (Graduação em Direito).Faculdades de Ensino Superior

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1. Abandono. 2. Idoso. 3. Afeto. 4. Dignidade da Pessoa Humana. 5. Direito de Família. I. Título

BC/Fesp CDU: 347 (043)