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FACULDADE MERIDIONAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO PAOLA POL SARAIVA PROJETO URBANO E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL: O USO DE SISTEMAS DE COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS EM UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE Passo Fundo 2018

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FACULDADE MERIDIONAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ARQUITETURA E URBANISMO

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

PAOLA POL SARAIVA

PROJETO URBANO E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL: O

USO DE SISTEMAS DE COMPARTILHAMENTO DE

BICICLETAS EM UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE

Passo Fundo

2018

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1

Paola Pol Saraiva

PROJETO URBANO E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL: O

USO DE SISTEMAS DE COMPARTILHAMENTO DE

BICICLETAS EM UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Faculdade Meridional, na área de

concentração Projeto de Arquitetura e

Urbanismo, como requisito para obtenção do

grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo,

sob orientação do Dr. Lauro André Ribeiro e

coorientação da Dra. Caliane Christie

Oliveira de Almeida Silva.

Passo Fundo

2018

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AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGARQ) da Faculdade

Meridional (IMED), ao Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino

Particulares (PROSUP) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pelo auxílio financeiro que possibilitou esta pesquisa.

À MobHis Automação Urbana e à Prefeitura Municipal de Passo Fundo, especialmente à

Secretaria de Planejamento pelo fornecimento de dados que permitiram uma aproximação com

o objeto de estudo e o alcance dos resultados desta dissertação.

Aos senhores Ricrad Pons, Miguel Yury Mayorga Cardenas e Gabriel Perez Franco, por

aceitarem o convite para serem entrevistados em Barcelona, contribuindo com informações

relevantes quanto ao tema abordado nesta pesquisa.

Aos colegas e amigos Bruna Dal Agnol, Juliano Lima da Silva e Maurício Kunz, que dividiram

todas as etapas dessa jornada comigo.

Ao professor orientador desta pesquisa, Doutor Lauro André Ribeiro, pela paciência,

comprometimento e disposição em compartilhar do seu conhecimento para auxílio durante

todas as fases de desenvolvimento desta pesquisa.

À professora coorientadora desta dissertação, Doutora Caliane Christie Oliveira de Almeida

Silva pela disposição em contribuir com seu conhecimento sempre que solicitada.

A todos os professores do PPGARQ da IMED que, por meio de suas disciplinas contribuíram

para o embasamento desta pesquisa.

Aos meus pais Nilse Ana Pol e Paulo Ricardo Leão Saraiva e meus irmãos Pâmela Pol Saraiva,

Pablo Pol Saraiva e Paulo Ricardo Pol Saraiva pela presença, apoio e incentivo incondicionais

em todos os momentos.

Por fim, à Deus, que é dono de toda ciência e sabedoria, por dar sentido a tudo o que vivi durante

esta jornada.

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“É necessário saber o que

queremos para a nossa

cidade. E com certeza

queremos que as pessoas

estejam felizes. Viver em

congestionamentos não é

um exemplo do que

planejamos para qualidade

de vida.”

Enrique Peñalosa

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CIP – Catalogação na Publicação

S243p SARAIVA, Paola Pol

Projeto urbano e mobilidade sustentável : o uso de sistemas de

compartilhamento de bicicletas em uma cidade de médio porte / Paola Pol Saraiva. –

2018.

240 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade IMED,

Passo Fundo, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Lauro André Ribeiro.

Coorientador: Profa. Dra. Caliane Christie Oliveira de Almeida Silva.

1. Mobilidade urbana. 2. Bicicletas – Meios de transporte compartilhado. 3.

Meios de transporte compartilhado – Passo Fundo. I. RIBEIRO, Lauro André,

orientador. II. SILVA, Caliane Christie Oliveira de Almeida, coorientadora. II.

Título.

CDU: 72

Catalogação: Bibliotecária Angela Saadi Machado - CRB 10/1857

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RESUMO

O agravamento dos problemas relacionados à mobilidade urbana, especialmente acarretados

pelo constante crescimento da frota de veículos, tem gerado inúmeros desafios para as

municipalidades brasileiras. Na busca por soluções para estes problemas, tomadores de decisão

têm investido na promoção da mobilidade ativa, incentivando os deslocamentos a pé ou de

bicicleta. Neste contexto, muitas prefeituras têm implantado sistemas de compartilhamento de

bicicletas, buscando ofertar formas de deslocamento mais sustentáveis e que promovam mais

qualidade de vida aos habitantes urbanos. Neste sentido, esta dissertação tem como objeto de

estudo o sistema de compartilhamento de bicicletas denominado Passo Fundo Vai de Bici,

implantado no ano de 2016 na cidade de Passo Fundo/RS Brasil. Tem-se como principal

objetivo propor diretrizes de melhoria, adequação e ampliação deste sistema, com base no

estudo do atual cenário da mobilidade ativa a partir das bicicletas compartilhadas na cidade.

Para isso, criou-se um sistema multimétodos de análise, organizado em sete etapas, para criação

de embasamento e diagnóstico que subsidiaram a proposição das diretrizes. Estas por sua vez

basearam-se em recomendações direcionadas aos principais problemas identificados, ou seja,

operacionais, comportamentais e de infraestrutura. Ademais, junto às diretrizes voltadas ao

Passo Fundo Vai de Bici foram destacados os principais aspectos em macro e microescala a

serem considerados em possíveis projetos de ampliação da rede de estações de bicicleta, como

a integração global, a identificação de subcentros, a densidade demográfica, o relevo e a

existência de infraestrutura cicloviária. Portanto, os resultados atingidos nesta dissertação

representam uma contribuição para o entendimento das questões relacionadas à mobilidade

ativa na cidade de Passo Fundo, especialmente ao que se refere ao uso das bicicletas

compartilhadas. Tais resultados confirmam o potencial de utilização da bicicleta compartilhada

na cidade além de destacarem os benefícios gerados pelo uso da mesma. Ademais, as

informações contidas nesta pesquisa poderão auxiliar outras cidades a desenvolverem projetos

urbanos que contemplem sistemas de compartilhamento de bicicletas.

Palavras-chave: Mobilidade Urbana; Mobilidade Ativa; Bicicletas Compartilhadas;

Diretrizes; Metodologia de Avaliação; Passo Fundo.

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ABSTRACT

The aggravation of problems related to urban mobility, especially caused by the constant

growth of the fleet of vehicles, has generated numerous challenges for Brazilian municipalities.

While seeking for solutions to these problems, decision makers have invested in the promotion

of active mobility, encouraging walking or cycling. In this context, many municipalities have

implemented bicycle-sharing systems, seeking to offer more sustainable forms of movement and

to promote better quality of life for urban dwellers. In this sense, this dissertation’s object of

study is the bicycle-sharing system called Passo Fundo Vai de Bici, implemented in 2016 in the

city of Passo Fundo / RS Brazil. The main objective of this study is to propose guidelines for

improving, adapting and expanding this system, based on the study of the current scenario of

active mobility regarding the bicycle-sharing in the city. For this, a multi-method analysis

system was created, organized in seven stages, to provide background and diagnosis that

supported the guidelines proposition. These in turn were based on recommendations aimed at

the main problems identified: operational, behavioral and infrastructure. In addition, along

with the guidelines for the Passo Fundo Vai de Bici, the main macro and microscale aspects to

be considered in possible projects to expand the network of bicycle stations were highlighted,

such as global integration, subcentres identification, demographic density, the relief and the

existence of cycling infrastructure. Therefore, the results achieved in this dissertation represent

a contribution to the understanding of issues related to active mobility in the city of Passo

Fundo, especially regarding the use of shared bicycles. The results confirm the potential of

bicycle-sharing use in the city and highlight the benefits generated by the use of bikes.

Additionally, the information provided by this research may help other cities to develop urban

projects that contemplate bicycle-sharing systems.

Key words: Urban Mobility; Active Mobility; Shared Bicycles; Guidelines; Evaluation

Methodology; Passo Fundo.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Organograma da metodologia de pesquisa. .............................................................. 24

Figura 2: Localização das 10 estações e dos 3 pontos de observação sob a malha urbana de

Passo Fundo. ............................................................................................................................. 33

Figura 3: Linha do tempo das leis nacionais estudadas. ........................................................... 53

Figura 4: Bicicletas brancas distribuídas em Amsterdã............................................................ 61

Figura 5: Mapa mundial de bicicletas compartilhadas. ............................................................ 63

Figura 6: Características das bicicletas compartilhadas. .......................................................... 68

Figura 7: Mapa das estações disponibilizado no site do Bike Rio. .......................................... 73

Figura 8:Imagem das bicicletas e estações do Bike Rio. .......................................................... 74

Figura 9: Mapa das estações disponibilizado no site do Bike Poa. .......................................... 75

Figura 10:Imagem das bicicletas e estações do Bike Poa. ....................................................... 75

Figura 11: Mapa mundial de bicicletas compartilhadas- Brasil. .............................................. 76

Figura 12: Estações de bicicleta em Barcelona. ....................................................................... 78

Figura 13: Supermanzana em fase experimental em Barcelona............................................... 79

Figura 14: Furgão redistribuindo as bicicletas do Bicing no turno da noite............................ 81

Figura 15: Fotos de dois trechos, o primeiro de ciclofaixa e o segundo de ciclovia em Barcelona.

.................................................................................................................................................. 83

Figura 16: Mapa de localização da cidade de Passo Fundo no Estado e país. ......................... 86

Figura 17: Mapas da expansão urbana de Passo Fundo até 1853 e até 1888, representada em

laranja em cima da malha urbana atual. ................................................................................... 87

Figura 18: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1918, representada em laranja em

cima da malha urbana atual. ..................................................................................................... 88

Figura 19: Fotos da rua General Neto na década de 1940. ....................................................... 89

Figura 20: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1953, representada em laranja em

cima da malha urbana atual. ..................................................................................................... 90

Figura 21: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1970, representada em vermelho em

cima da malha urbana atual. Nota-se o surgimento dos primeiros loteamentos periféricos. ... 91

Figura 22: Mapa da expansão até 1989, da ferrovia a partir de 1982 e do anel perimetral. ..... 92

Figura 23: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 2016, representada em vermelho em

cima da malha urbana atual. ..................................................................................................... 93

Figura 24: Mapa de Passo Fundo com seus principais eixos e centralidades........................... 94

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Figura 25: Mapa de Integração Local desenvolvido no Dephtmap X 0.5 com marcação de

recorte para aproximação.......................................................................................................... 96

Figura 26: Recorte aproximado do Mapa de Integração Local e marcação das vias principais.

.................................................................................................................................................. 96

Figura 27: Mapa do sistema viário de Passo Fundo. ................................................................ 97

Figura 28: Mapa Choice desenvolvido no Dephtmap X 0.5. ................................................... 98

Figura 29: Mapa de Integração Global- análise de segmentos, desenvolvido no Dephtmap X

0.5. ............................................................................................................................................ 99

Figura 30: Mapa com identificação de quarteirões regulares. ................................................ 100

Figura 31: Mapa com identificação dos vazios urbanos, expansão além das perimetrais e formas

de ligação entre o bairro Petrópolis e o restante da cidade. .................................................... 102

Figura 32: Mapa de relevo da cidade de Passo Fundo. .......................................................... 103

Figura 33: Mapa de relevo da cidade de Passo Fundo- aproximado. ..................................... 103

Figura 34: Mapa de densidades demográficas por setor censitário de Passo Fundo. ............. 105

Figura 35: Gráfico de distribuição modal em Passo Fundo.................................................... 105

Figura 36: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 1......................................... 110

Figura 37: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 2......................................... 110

Figura 38: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 3......................................... 111

Figura 39: Soluções para integração modal sugeridas no Plano Municipal de Mobilidade. .. 112

Figura 40: Fotos do primeiro trecho de ciclovia da cidade de Passo Fundo. ......................... 112

Figura 41: Fotos do trecho de ciclofaixa da Avenida Brasil Oeste. ....................................... 113

Figura 42: Fotos do trecho de ciclofaixa presente no bairro Santa Marta. ............................. 113

Figura 43: Fotos de 2 bicicletários implantados em Passo Fundo. ......................................... 114

Figura 44: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque Linear de Passo Fundo. ................. 114

Figura 45: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque da Gare na cidade de Passo Fundo.

................................................................................................................................................ 115

Figura 46: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque Banhado da Vergueiro em Passo Fundo.

................................................................................................................................................ 115

Figura 47: Trechos existentes de ciclovia na cidade de Passo Fundo. ................................... 116

Figura 48: Localização das 10 estações de bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo.

................................................................................................................................................ 117

Figura 49: Fotos das estações Boqueirão Legal (esquerda) e IE (direita). ............................. 117

Figura 50: Fotos das estações Notre Dame (esquerda) e Parque da Gare (direita). ............... 117

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Figura 51: Trechos existentes e em construção de ciclovias e ciclofaixas na cidade de Passo

Fundo. ..................................................................................................................................... 118

Figura 52: Modelo de estação da empresa ganhadora da licitação......................................... 125

Figura 53: Modelo de bicicleta da empresa ganhadora da licitação. ...................................... 125

Figura 54: Mapa com a localização das estações de bicicleta e seus raios de abrangência. .. 130

Figura 55: Foto da estação Brigada Militar. ........................................................................... 131

Figura 56: Mapa de relevo com a localização das 10 estações de bicicleta. .......................... 131

Figura 57: Mapa com a localização das paradas de ônibus e das estações de bicicleta. ........ 132

Figura 58: Mapa de Integração Local com a localização das estações. ................................. 133

Figura 59: Demanda por estação de acordo com número de bicicletas retiradas e devolvidas nos

24 meses de operação do sistema. .......................................................................................... 134

Figura 60: Quantidade de bicicletas retiradas em cada estação por mês. ............................... 135

Figura 61: Quantidade de bicicletas devolvidas em cada estação por mês. ........................... 136

Figura 62: Fotos da estação Boqueirão Legal (esquerda) e ciclovia do entorno (direita). ..... 137

Figura 63: Mapa do entorno da Estação Boqueirão legal. ...................................................... 138

Figura 64: Fotos da Estação IE (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita)........................ 138

Figura 65: Mapa do entorno da Estação IE. ........................................................................... 139

Figura 66: Fotos da Estação Notre Dame (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita). ....... 139

Figura 67: Mapa do entorno da Estação Notre Dame. ........................................................... 140

Figura 68: Foto da Estação Teixeirinha (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita). ......... 140

Figura 69: Mapa do entorno da Estação Teixeirinha. ............................................................. 141

Figura 70: Fotos da Estação Praça Marechal Floriano. .......................................................... 141

Figura 71: Mapa do entorno da Estação Praça Marechal Floriano......................................... 142

Figura 72: Fotos da Estação Vera Cruz. ................................................................................. 142

Figura 73: Mapa do entorno da Estação Vera Cruz................................................................ 143

Figura 74: Fotos da Estação Praça Tochetto. ......................................................................... 143

Figura 75: Mapa do entorno da Estação Praça Tochetto. ....................................................... 144

Figura 76: Fotos da Estação Parque da Gare. ......................................................................... 144

Figura 77: Mapa do entorno da Estação Parque da Gare. ...................................................... 145

Figura 78: Foto da Estação Praça Santa Terezinha (esquerda) e entorno (direita). ................ 145

Figura 79: Mapa do entorno da Estação Praça Santa Terezinha. ........................................... 146

Figura 80: Fotos da Estação Brigada Militar. ......................................................................... 146

Figura 81: Mapa do entorno da Estação Brigada Militar. ...................................................... 147

Figura 82: Média de bicicletas retiradas e devolvida nas diferentes estações por mês .......... 151

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Figura 83: Gráfico do grau de escolaridade dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de

Bici. ........................................................................................................................................ 156

Figura 84: Gráfico de renda familiar mensal dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de

Bici. ........................................................................................................................................ 156

Figura 85: Gráfico da distribuição dos usuários por bairros. ................................................. 157

Figura 86: Gráfico da distribuição por estação de bicicleta. .................................................. 158

Figura 87: Gráfico da finalidade de uso das bicicletas compartilhadas. ................................ 158

Figura 88: Gráfico das distâncias entre pontos de origem e destino até a estação mais próxima.

................................................................................................................................................ 160

Figura 89: Gráfico da distribuição por via de circulação. ...................................................... 160

Figura 90: Gráfico de distribuição por trecho cicloviário. ..................................................... 161

Figura 91: Gráfico da substituição de outras modalidades de transporte pela bicicleta

compartilhada. ........................................................................................................................ 163

Figura 92: Nuvem de palavras relacionadas às sugestões de melhorias................................. 168

Figura 93: Mapa com a localização das estações existentes e com as sugestões dos respondentes.

................................................................................................................................................ 169

Figura 94: Gráfico do grau de escolaridade dos respondentes não usuários. ......................... 171

Figura 95: Gráfico da renda mensal familiar dos respondentes não usuários de bicicleta. .... 171

Figura 96: Gráfico de distribuição por bairro dos respondentes não usuários. ...................... 172

Figura 97: Gráfico quanto ao meio de transporte mais utilizado. .......................................... 172

Figura 98: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários. ................................ 180

Figura 99: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários. ................................ 181

Figura 100: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários. .............................. 181

Figura 101: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários. .............................. 182

Figura 102: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários. .............................. 182

Figura 103: Fotos do trecho de ciclovia da Avenida Brasil Centro, próximo à Escola Notre

Dame. ...................................................................................................................................... 185

Figura 104: Fotos do trecho de ciclovia da Avenida Brasil Centro, próximo à Escola Notre

Dame (esquerda) e Bairro Boqueirão (direita). ...................................................................... 186

Figura 105: Fotos da ciclofaixa presente na Avenida Brasil Bairro Boqueirão. .................... 187

Figura 106: Fotos da ciclovia presente no entorno do Parque da Gare. ................................. 188

Figura 107: Infográfico dos resultados e contribuição ambiental do Passo Fundo Vai de Bici.

................................................................................................................................................ 193

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Figura 108: Esquema de mapas com aspectos a serem considerados em projetos de ampliação

do Passo Fundo Vai de Bici. ................................................................................................... 203

Figura 109: Mapa esquemático da sugestão de criação de rede de estações a partir dos

corredores de centralidade. ..................................................................................................... 204

Figura 110: Mapa com as sugestões para próximas instalações de estações.......................... 205

Figura 111: Localização das 3 estações onde realizou-se estimativas de uso ........................ 206

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Sistematização dos indicadores propostos pelo ITDP (2014a) ............................... 71

Quadro 2: Cidades brasileiras que possuem os sistemas de compartilhamento de bicicletas em

operação. ................................................................................................................................... 76

Quadro 3: Detalhamento dos locais a serem implantadas as 10 estações de bicicletas em Passo

Fundo. ..................................................................................................................................... 122

Quadro 4: Medição/ levantamento dos cinco critérios nas 10 estações ................................. 148

Quadro 5: Dados faixa etária dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de Bici .......... 155

Quadro 6: Distâncias percorridas com as bicicletas compartilhadas. ..................................... 159

Quadro 7: Média e desvio padrão das motivações para o uso da bicicleta. ........................... 163

Quadro 8: Média e desvio padrão das dificuldades enfrentadas no uso do sistema. .............. 165

Quadro 9: Correlações existentes entre variáveis de dificuldade e motivação....................... 166

Quadro 10: Locais mais citados pelos respondentes para criação de novas estações. ........... 168

Quadro 11: Dados faixas etárias dos respondentes não usuários de bicicleta. ....................... 170

Quadro 12: Média e desvio padrão das variáveis de motivos para o não uso da bicicleta. .... 175

Quadro 13: Média e desvio padrão das variáveis relacionadas às motivações para começar a

usar a bicicleta. ....................................................................................................................... 177

Quadro 14: Correlações existentes entre as variáveis de motivos para o não uso com as variáveis

de motivações para começar a usar a bicicleta. ...................................................................... 178

Quadro 15: Correlações existentes entre as variáveis de motivações para começa a usar a

bicicleta e elas mesmas. .......................................................................................................... 179

Quadro 16: Medição/levantamento dos cinco critérios nas 3 estações sugeridas .................. 207

Quadro 17: Resultados das estimativas de uso das estações sugeridas .................................. 207

Quadro 18: Síntese das diretrizes propostas ........................................................................... 208

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dados utilizados para cálculo da população abrangida em cada estação, sendo a área

de abrangência 0,785 km² para cada uma delas. ...................................................................... 37

Tabela 2: Dados de crescimento demográfico e de frota veicular .......................................... 104

Tabela 3: Prévia de orçamento apresentado no Termo de Referência. .................................. 123

Tabela 4: Análise de variância para a quantidade de bicicletas retiradas ............................... 149

Tabela 5: Análise de variância para a quantidade de bicicletas devolvidas ........................... 150

Tabela 6: Média para cada item avaliado nos 3 trechos de ciclovia citados. ......................... 162

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul

ANTP Associação Nacional de Transportes Públicos

APO Avaliação Pós-Ocupação

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNT Confederação Nacional dos Transportes

CO Monóxido de Carbono

CO2 Dióxido de Carbono

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

DETRAN Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul

DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito

EPP Empresa de Pequeno Porte

FEE Fundação de Economia e Estatística

FGV Fundação Getúlio Vargas

GEE Gases de Efeito Estufa

GESFRA Grupo Executivo para Substituição de Ferrovias e Ramais

Antieconômicos

GM General Motors

GPS Global Positioning System

HC Hidrocarbonetos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDAE Instituto para la Diversificación y Ahorro de la Energía

IE Instituto Educacional

IGP-M Índice Geral de Preços-Mercado

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

ITDP Institute for Transportation and Development Policy

JK Juscelino Kubitschek

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

ME Microempresa

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development

ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

ONU Organização das Nações Unidas

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PBE Programa Brasileiro de Etiquetagem

PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

PMPF Prefeitura Municipal de Passo Fundo

PROCONVE Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos

Automotores

PROMOT Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e

Veículos Similares

RFFSA Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima

SEDEC Secretaria de Desporto e Cultura

SEPLAN Secretaria de Planejamento

SIRENE Sistema de Registro Nacional de Emissões

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

TI Tecnologia da Informação

UPC Universitat Politècnica de Catalunya

UN-HABITAT United Nations Human Settlements Programme

VLT Veículo Leve sobre Trilhos

WHO World Health Organization

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18

1. METODOLOGIA ........................................................................................................... 23

1.1. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 25

1.2. Levantamento Documental ......................................................................................... 25

1.3. Pesquisa com Survey ................................................................................................... 26

1.4. Pesquisa em Campo e Levantamento de Dados ......................................................... 27

1.4.1. Visitas in loco e Registro Fotográfico ................................................................. 27

1.4.2. Análise Morfológica da Cidade de Passo Fundo ................................................ 28

1.4.3. Avaliação Pós-Ocupação do Sistema Passo Fundo Vai de Bici ......................... 29

1.4.4. Levantamento das Contribuições Ambientais .................................................... 34

1.4.5. Levantamento de Demanda e Potencial de Utilização das Estações .................. 35

1.5. Estudo de Caso ............................................................................................................ 37

1.6. Diretrizes de melhoria, adequação e ampliação .......................................................... 39

2. FUNDAMENTAÇÃO: CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO NACIONAL ... 40

2.1. Conceitos Gerais: Transporte, Acessibilidade e Mobilidade Urbana ........................ 40

2.2. A Indústria Automobilística e a Dependência Econômica ........................................ 42

2.3. Trilhos versus Rodovias e Bondes versus Ônibus ..................................................... 45

2.4. A Política de Expansão Urbana Segregativa ............................................................. 47

2.5. A Relação Entre o Automóvel e o Impacto Ambiental ............................................. 47

2.6. As Alterações nos Últimos Anos Advindas das Políticas Públicas ........................... 50

2.6.1. A Política Nacional de Mobilidade Urbana e o Contexto Global da

Sustentabilidade ................................................................................................................ 51

2.7. Mobilidade Sustentável, Mobilidade Ativa e a Bicicleta Como Meio de Transporte 56

3. AS BICICLETAS COMPARTILHADAS: PANORAMA GERAL E ESTUDO DE

CASO ....................................................................................................................................... 60

3.1. As Bicicletas Compartilhadas .................................................................................... 60

3.1.1. As Bicicletas Compartilhadas e o Estado da Arte .............................................. 64

3.1.2. As Principais Características, Indicadores e Fases dos Sistemas de Bicicletas

Compartilhadas.................................................................................................................. 67

3.1.3. As Bicicletas Compartilhadas no Brasil ............................................................. 72

3.2. Estudo de Caso: Barcelona e o Bicing ....................................................................... 77

3.2.1. As Principais Dificuldades Enfrentadas e as Estratégias Para Solucioná-las ..... 80

3.2.2. A Operação e o Financiamento do Bicing .......................................................... 83

3.2.3. O Bicing e a Sustentabilidade Urbana ................................................................ 84

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4. ANÁLISES MACRO E MICROESCALA EM PASSO FUNDO ............................... 86

4.1. A Cidade de Passo Fundo .......................................................................................... 86

4.2. Análise Morfológica e as Atuais Condições de Mobilidade em Passo Fundo .......... 93

4.3. Dados Demográficos e Frota de Veículos ............................................................... 103

4.4. O Plano de Mobilidade Municipal e o Incentivo ao Uso da Bicicleta ..................... 106

5. IMPLANTAÇÃO E POTENCIALIDADES DE USO DO PASSO FUNDO VAI DE

BICI ....................................................................................................................................... 120

5.1. Idealização do Passo Fundo Vai de Bici .................................................................. 120

5.2. Implantação e Caracterização do Passo Fundo Vai de Bici ..................................... 129

5.3. Estimativas de Potencial de Utilização .................................................................... 148

6. USO, PERCEPÇÃO E IMPACTO AMBIENTAL DO PASSO FUNDO VAI DE BICI

154

6.1. Percepção de Usuários e Não Usuários do Passo Fundo Vai de Bici ...................... 154

6.1.1. Usuários: Perfil Socioeconômico ..................................................................... 155

6.1.2. Usuários: Caracterização de Uso do Sistema ................................................... 157

6.1.3. Usuários: Motivações ....................................................................................... 163

6.1.4. Usuários: Análise de Correlações ..................................................................... 165

6.1.5. Usuários: Análise das Respostas Abertas ......................................................... 166

6.1.6. Não usuários: Perfil Socioeconômico .............................................................. 170

6.1.7. Não Usuários: Caracterização de Deslocamento .............................................. 172

6.1.8. Não usuários: Percepção Sobre o Uso da Bicicleta .......................................... 173

6.1.9. Não usuários: Análise de Correlações .............................................................. 177

6.1.10. Atribuição de Valores (notas) .......................................................................... 180

6.2. Observação do Pesquisador: O Uso das Ciclovias de Passo Fundo ........................ 184

6.3. O Passo Fundo Vai de Bici e as Contribuições Ambientais .................................... 190

7. DIRETRIZES DE MELHORIA, ADEQUAÇÃO E AMPLIAÇÃO DO PASSO

FUNDO VAI DE BICI ......................................................................................................... 194

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 211

8.1. Conclusões e recomendações para estudos futuros ................................................. 211

8.2. Contribuições ........................................................................................................... 214

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 216

APÊNDICES ......................................................................................................................... 229

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18

INTRODUÇÃO

Esta dissertação se insere na temática da mobilidade urbana e tem como objeto de estudo o

sistema de compartilhamento de bicicletas, inaugurado no ano de 2016 na cidade de Passo

Fundo, localizada ao norte do estado do Rio Grande do Sul. Ela se vincula à Área de projeto

em arquitetura e urbanismo, uma vez que parte da análise de projeto urbano voltado para a

mobilidade. Neste sentido, entende-se nesta pesquisa como projeto urbano um conjunto de

estratégias e instrumentos que auxiliam na produção e ordenação das cidades. Mais

especificamente, a presente pesquisa está associada à linha de “Tecnologia, projeto e gestão do

ambiente construído”, ao passo que trata da compreensão dos processos de projetação e de

gestão de sistema urbano de transportes cicloviários em uma cidade de porte médio no Brasil.

É importante destacar, nesse contexto que o Departamento Nacional de Trânsito relatou um

aumento da frota motorizada brasileira de 95,58% no ano de 2017 com relação ao ano de 2007

(DENATRAN, 2007; 2017). De acordo com o último censo, no ano de 2010 havia cerca de um

automóvel para cada 2,94 habitantes no Brasil (IBGE, 2010a). Esse número excessivo de

veículos gera graves consequências paras as cidades e principalmente para a população urbana,

que, dentre outros fatores, tem os espaços destinados à circulação ativa diminutos e

comprometidos.

Neste sentido, cabe recordar que os problemas relacionados ao excesso de veículos refletem-se

tanto em nível local como a nível global. Quanto ao local, destacam-se como principais os

problemas relacionados à poluição atmosférica que geram impactos na saúde humana, os

congestionamentos, os acidentes de trânsito e a consequente queda na qualidade de vida dos

habitantes urbanos (MINAYO, 2009; VASCONCELLOS, 2013). A nível global destacam-se

os problemas relacionados às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), já que a maioria dos

veículos motorizados são movidos a partir da queima de combustíveis fósseis, que contribuem

para o aquecimento global (BARCKZAC; DUARTE, 2012).

Frente ao agravamento da problemática relacionada ao crescimento da frota motorizada no país,

pensadores, tomadores de decisão e/ou profissionais envoltos com a questão, como arquitetos,

urbanistas e planejadores, vêm desenvolvendo estudos, propostas e modelos no sentido de

mitigar a referida situação. Entretanto, ainda são diversos os desafios enfrentados por estes

letrados no processo de conscientização da população, e da própria administração pública, para

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19

a redução do uso do automóvel, bem como para a inserção de aspectos relacionados à

sustentabilidade neste contexto (RASTOGI, 2011).

Neste sentido, na busca por soluções para uma série de problemas, no ano de 2015, líderes

mundiais reuniram-se na sede da ONU para desenvolverem um plano de ação, que ficou

conhecido como Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Neste plano estão contidos

os objetivos a serem alcançados pelas nações até o ano de 2030, ou seja, os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável (ODS). O tema relacionado aos transportes objetiva, mais

precisamente, tornar as cidades mais inclusivas, com acesso a sistemas de transporte seguros,

acessíveis e sustentáveis (ONU, 2015).

Além disso, no ano de 2015 a ONU lançou uma série de documentos temáticos destinados à

Habitat III, uma conferência voltada à habitação e ao desenvolvimento urbano sustentável. O

documento destinado aos transportes e à mobilidade esclarece que “O objetivo de todo o sistema

de transporte é criar acesso universal ao transporte seguro, limpo e a preços acessíveis para

todos que possa assim providenciar acesso a oportunidades, serviços, bens e equipamentos”

(ONU HABITAT III, 2016, p. 1).

Sendo assim, estes objetivos podem ser alcançados por meio da utilização de modalidades de

transporte que agridam menos o meio ambiente e que sejam acessíveis de modo equitativo aos

cidadãos, abrangendo as três esferas da sustentabilidade: ambiental, social e econômica. Dentre

as possibilidades, podem ser citados o uso de fontes alternativas de energia, de sistemas de

transporte em massa com veículos leves sobre trilhos (VLT’s) e os bondes, ou os modais não

motorizados, como a caminhada e o ciclismo, comumente chamados de mobilidade ativa.

Por esta ótica, Buehler e Pucher (2012) afirmam que por meio da mobilidade ativa, entendida

como aquela que utiliza somente o esforço físico do ser humano para a realização das viagens,

é possível deslocar-se de maneira sustentável. Isso porquê estas modalidades não necessitam

de combustíveis poluentes, não geram ruído, utilizam menos espaço nas cidades, não

necessitam de altos investimentos e geram uma série de efeitos positivos na saúde humana.

Neste sentido, as bicicletas vêm ganhando destaque em inúmeras cidades e, em alguns casos,

tornaram-se tão utilizadas quanto os modais motorizadas, principalmente por serem uma

alternativa econômica, ágil e saudável de se locomover (BUEHLER; PUCHER, 2012). Dentre

as possibilidades de mobilidade por meio da bicicleta, esta dissertação destaca os sistemas de

compartilhamento de bicicletas, mais precisamente, o sistema pertencente ao programa Passo

Fundo Vai de Bici, inaugurado na cidade de Passo Fundo no ano de 2016.

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20

Pode-se entender por bicicletas compartilhadas um conjunto de estações equipadas com

bicicletas distribuídas em pontos estratégicos da cidade que, por meio de cadastro e/ou

pagamento de taxa, podem ser utilizadas pela população. A partir da criação de uma rede de

estações, a população pode retirar uma bicicleta para fazer sua viagem e devolvê-la em outra

estação desejada (INSTITUTE FOR TRANSPORTATION AND DEVELOPMENT POLICY-

ITDP, 2014a; DEMAIO, 2009).

Em Passo Fundo, a partir da criação do Plano de Mobilidade Municipal, em 2014, reconheceu-

se problemas relacionados ao excesso de veículos, além da potencialidade para o uso da

bicicleta na cidade (PASSO FUNDO, 2014a). Desde então, a prefeitura tem investido e

incentivado o uso da bicicleta como prática de esportes e como meio de transporte para a

população de uma maneira geral. As bicicletas compartilhadas se inserem num conjunto de

ações promovidas a partir deste cenário na cidade.

Mais detalhadamente, segundo o Plano de Mobilidade de Passo Fundo (2014), a cidade possui

uma área central sobrecarregada e sofre os efeitos do esgotamento das políticas de mobilidade

urbana dirigidas para o transporte individual, além de enfrentar sérios problemas de

congestionamentos e acidentes de trânsito. Quanto ao uso da bicicleta, o plano ressalta que a

cidade possui uma demanda potencial crescente e que “possui características que podem

facilitar a implantação de uma política de estímulo ao transporte cicloviário” (PASSO FUNDO,

2014a, p. 120).

A partir do conhecimento deste panorama surgiram as questões que balizaram esta pesquisa.

São elas: O que motivou o poder público local a planejar, implementar e gerir o sistema de

compartilhamento de bicicletas em Passo Fundo e como se deu este processo? Como se dá o

cenário da mobilidade ativa a partir das bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo e

como este serviço é percebido e utilizado pela população? De que modo as bicicletas

compartilhadas têm contribuído para a solução da problemática da mobilidade na cidade e para

a redução do impacto no meio ambiente? Que diretrizes de melhoria, adequação e/ou ampliação

para o sistema de compartilhamento de bicicletas de Passo Fundo podem ser definidas a partir

deste cenário?

Frente a estes questionamentos, tornou-se essencial estudar o programa Passo Fundo Vai de

Bici com o intuito de incentivar a mobilidade ativa na cidade de Passo Fundo e entender a sua

contribuição para a sustentabilidade urbana, além de buscar compreender como ele pode tornar-

se mais eficiente. Vale ressaltar, ainda, que há uma lacuna historiográfica de pesquisas voltadas

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21

à mobilidade ativa local, especialmente com foco no uso das bicicletas compartilhadas. Por

estes aspectos, justificam-se o interesse, a temática e o objeto desta pesquisa.

Desse modo, tem-se como objetivo principal desta dissertação propor diretrizes de adequação,

melhoria e ampliação para o sistema de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de

Bici, a partir do estudo do atual cenário da mobilidade por meio das bicicletas compartilhadas.

Mais precisamente, objetiva-se: analisar a implantação das bicicletas compartilhadas como

resultado de políticas públicas de mobilidade em Passo Fundo; avaliar os processos de projeto,

implantação, gestão e uso do sistema de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de

Bici; verificar os impactos do uso das bicicletas compartilhadas na cidade e a percepção da

população em relação a elas.

Dessa forma, a importância desta pesquisa é representada pelo elenco de novos dados e

informações que podem contribuir para o estudo da mobilidade ativa local, a partir das

bicicletas compartilhadas, bem como por colaborar para a elaboração de projetos de

implantação, adequação e ampliação de sistemas compartilhados em outras cidades de pequeno

e médio porte, com características semelhantes à cidade aqui abordada.

Em se tratando da estrutura, esta dissertação está dividida em 8 (oito) capítulos. O primeiro

capítulo denomina-se Metodologia e nele foram apresentadas todas as etapas de pesquisa, bem

como as ferramentas elencadas para desenvolvimento das mesmas, como forma de alcançar

todos os objetivos propostos.

O segundo capítulo denomina-se “Fundamentação: Conceitos e Contextualização Nacional”.

Nele são apresentados os principais conceitos considerados nesta pesquisa, bem como um

histórico de acontecimentos nacionais que contribuíram para a problemática relacionada à

mobilidade e à geração de políticas públicas voltadas ao tema.

No terceiro capítulo intitulado “As Bicicletas Compartilhadas: Panorama Geral e Estudo de

Caso” são apresentados exemplos relevantes quanto aos sistemas de compartilhamento de

bicicletas em nível nacional e internacional bem como as principais características deste tipo

de sistema de transporte.

No quarto capítulo denominado “Análises Macro e Microescala da Cidade de Passo Fundo”,

foram apresentadas as análises morfológicas e as discussões acerca das condições de

mobilidade urbana local, com foco nas estratégias implantadas voltadas à bicicleta, após o Plano

Municipal de Mobilidade, de 2014.

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22

No quinto capítulo denominado “Potencialidade de Uso do Passo Fundo Vai de Bici” foram

inseridos dados quanto às fases de idealização e implantação do sistema, bem como apresentou-

se uma caracterização do objeto de estudo e uma análise quanto à influência dos entornos na

utilização de cada estação de bicicleta.

O sexto capítulo denomina-se “Uso, Percepção e Impacto Ambiental do Passo Fundo Vai de

Bici”, no qual foram apresentados os principais resultados quanto ao uso e a percepção dos

usuários e não usuários de bicicleta na cidade de Passo Fundo, contribuindo para o

entendimento da cultura da mesma na cidade. Ademais, neste capítulo foram inseridas

informações quanto às contribuições ambientais provenientes do uso das bicicletas

compartilhadas na cidade.

O sétimo capítulo, denominado “Diretrizes de Melhoria, Adequação e Ampliação do Passo

Fundo Vai de Bici” traz as diretrizes de melhoria e adequação de sistemas de bicicletas

compartilhadas em espaços urbanos, além dos aspectos a serem considerados em possíveis

projetos de ampliação da rede de estações de bicicleta. A dissertação é finalizada com texto

conclusivo, com base nos resultados obtidos na pesquisa, ao longo do seu desenvolvimento.

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23

1. METODOLOGIA

As análises realizadas nesta dissertação referem-se ao sistema de compartilhamento de

bicicletas da cidade de Passo Fundo, pertencente ao programa Passo Fundo Vai de Bici,

inaugurado em maio de 2016. De forma geral, os dados foram analisados a partir de três

variáveis principais: o que foi idealizado e executado pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo;

o modo como está sendo utilizado e percebido pelos usuários e não usuários de bicicleta da

cidade; e as contribuições ambientais e potencialidades de uso do sistema.

Para isso, a pesquisa baseou-se principalmente em dados primários levantados em arquivos

públicos, além de análise de documentos referentes ao objeto de estudo. Também foram

utilizados dados complementares, coletados através de entrevistas semiestruturadas com

representantes do poder público e privado, além de questionários aplicados junto à população

passofundense.

Esta pesquisa possui natureza aplicada, já que parte da necessidade do conhecimento para

aplicação dos resultados encontrados, na busca por fins práticos que visam a solução de

problemas reais (BARROS; LEHFELD, 2000). Esta pesquisa também possui caráter

qualitativo, já que se considera que há uma relação entre o mundo real e o sujeito, um vínculo

que não pode ser traduzido em números (SILVA; MENEZES, 2005) e quantitativo, já que

alguns resultados foram quantificados e focados na objetividade. A união destes 2 tipos de

pesquisa possibilitou a coleta de informações complexas que dificilmente seriam acumuladas

isoladamente (FONSECA, 2002).

A pesquisa foi organizada em seis etapas relacionadas aos objetivos elencados. Para alcança-

los optou-se por uma abordagem multimétodos de coleta de dados e análises, que podem ser

visualizados no organograma da Figura 1, que mostra a síntese metodológica da pesquisa.

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24

Análise macro escala

Análise microescala

Sintaxe espacial

Levantamento Documental

Idealização e execução-

Passo Fundo Vai de Bici

Observação do

pesquisador

Percepção de

usuários e não

usuários

Fundamentação

Impacto ambiental e

potencialidades de uso do

Passo Fundo Vai de Bici

Visitas in loco-

Registro Fotográfico

Estudo da mitigação de

poluentes

Levantamento

documental

Diretrizes de melhoria, adequação e ampliação- Passo Fundo Vai de Bici

Uso e percepção-

Passo Fundo Vai de

Bici

Avaliação Pós-ocupação

Passo Fundo Vai de Bici

Estudo de demanda e

potencial de utilização

Revisão Bibliográfica

Figura 1: Organograma da metodologia de pesquisa.

Fonte: Autora (2018).

Dados complementares Entrevistas

semiestruturada

com

especialistas

Estudo de Caso

(objeto de referência) Complementar

Levantamento documental

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25

As etapas de pesquisa estão descritas e detalhadas abaixo:

1.1. Revisão Bibliográfica

Foi realizada revisão bibliográfica como forma de delimitar e compreender a temática abordada,

bem como para subsidiar o objetivo de estudar o atual cenário da mobilidade ativa por meio de

bicicleta compartilhada.

Para isso, foram pesquisadas palavras-chave como transportes, acessibilidade, mobilidade

urbana, mobilidade sustentável, mobilidade ativa, mobilidade não motorizada e bicicletas

compartilhadas. Estas buscas possibilitaram uma maior compreensão quanto aos estudos já

realizados na área bem como a escolha de conceitos-chave que foram considerados nesta

pesquisa, contribuindo para o processo argumentativo da dissertação.

Nesse sentido, utilizou-se como critério de busca tanto acervos físicos como digitais, artigos

em periódicos qualificados pelo sistema Qualis CAPES, artigos de eventos relevantes e

vinculados ao tema e visitas em bancos de teses e dissertações desenvolvidas em importantes

Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu nacionais e internacionais, bem como em livros de

autores conceituados como Eduardo Alcântara de Vasconcellos, Ermínia Maricato e Flávio

Villaça.

Além disso, foram realizadas consultas em manuais desenvolvidos por entidades reconhecidas

em nível nacional e internacional, como o Institute for Transportation and Development Policy-

ITDP. Ademais, para realização de revisão bibliográfica voltada ao município de Passo Fundo

e seu histórico também se baseou em palestras desenvolvidas em nível local acerca do

desenvolvimento municipal ao longo dos anos, a fim de complementar as informações obtidas

nas demais fontes citadas.

1.2. Levantamento Documental

Esta etapa relaciona-se principalmente ao objetivo específico de analisar a implantação das

bicicletas compartilhadas como resultado de políticas públicas de mobilidade urbana. Para isso,

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26

foram realizados levantamento e análise de documentos oficiais como leis e decretos nacionais

e locais1 voltados para a mobilidade urbana.

Como critério, buscou-se em arquivos digitais federais e municipais, como os do Ministério da

Cidade, da Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade e da Prefeitura Municipal de Passo

Fundo. Os principais documentos analisados foram a Lei 12.587/2012 - Política Nacional de

Mobilidade Urbana e o Plano Municipal de Mobilidade.

Esta etapa da pesquisa foi complementada com revisão bibliográfica, já que se considerou

necessário compreender uma série de fatos históricos que influenciaram a criação das políticas

públicas nacionais e que refletiram na atual situação das cidades.

Já para embasar o objetivo específico de avaliar o processo de projeto, implantação, gestão e

uso do sistema de compartilhamento de bicicleta na cidade de Passo Fundo, foi realizado

levantamento dos documentos desenvolvidos para o sistema de compartilhamento de bicicletas

através de consulta aos arquivos da Prefeitura Municipal de Passo Fundo, bem como da empresa

ganhadora da licitação. Os principais documentos analisados foram o Termo de Referência, o

Regulamento de Uso e os Editais de Licitação desenvolvidos pela prefeitura para a escolha da

empresa operadora do sistema, como forma de compreender todas as etapas pertencentes ao

processo de planejamento e implantação do mesmo.

Além disso, foram coletados dados referentes ao funcionamento do sistema junto à Prefeitura

Municipal de Passo Fundo, a fim de suplementar a pesquisa. Para isso, foram coletados

relatórios de controle mensais que contêm dados como: total de viagens realizadas; total de

quilômetros percorridos; número de bicicletas retiradas e devolvidas por estação; dias e horários

de maior utilização; e tempo de duração médio das viagens. Estes relatórios possibilitaram uma

análise da evolução e complementaram a caracterização do uso do sistema.

1.3. Pesquisa com Survey

Como forma de compreender o processo de projeto, implantação e gestão do Passo Fundo Vai

de Bici e de embasar a pesquisa para a construção de diretrizes para o sistema foram realizadas

entrevistas semiestruturadas junto a um representante do poder público local, ou seja, a

Secretária Adjunta do Planejamento da Prefeitura Municipal de Passo Fundo, que foi a

1 Não existem leis e decretos voltados à mobilidade urbana em nível estadual no Rio Grande do Sul.

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27

responsável pelo processo de implantação do Passo Fundo Vai de Bici. Além disso, realizou-

se entrevista junto a dois representantes da empresa que implantou e atualmente opera o sistema

na cidade de Passo Fundo.

Esta etapa visou o conhecimento das principais motivações e dificuldades encontradas nas fases

de projeto e implantação do sistema, sendo que as perguntas desenvolvidas para as entrevistas

realizadas em Passo Fundo se encontram no Apêndice A.

Ornstein (2005) explica que para realização de entrevista é necessário que haja interação entre

entrevistador e entrevistado, no entanto, deve se evitar induzir os entrevistados para

determinadas direções. Ainda, a autora explica que normalmente as entrevistas são direcionadas

para pessoas chave, que possuem um papel importante quanto ao tema que se pretende

investigar. A autora destaca também que sempre que possível as entrevistas devem ser

registradas para posterior transcrição. Sendo assim, as entrevistas realizadas foram gravadas

por meio de telefone móvel e posteriormente foram transcritas, para que pudessem ser

analisadas e apresentadas nos resultados da dissertação.

1.4. Pesquisa em Campo e Levantamento de Dados

Esta etapa relaciona-se ao objetivo de estudar o atual cenário da mobilidade ativa por meio da

bicicleta compartilhada e como forma de embasar a pesquisa para a construção de diretrizes

para a otimização, ampliação e adequação do sistema Passo Fundo Vai de Bici. Além disso,

contribuir com o alcance do objetivo relacionado aos impactos do uso das bicicletas

compartilhadas na cidade e a percepção da população em relação a elas. Para isso, a mesma

divide-se em 5 partes:

1.4.1. Visitas in loco e Registro Fotográfico

Esta etapa da pesquisa objetivou embasar e complementar a dissertação para a construção das

diretrizes para o Passo Fundo Vai de Bici. Para isso foram realizadas visitas nas 10 estações de

bicicletas pertencentes ao sistema da cidade de Passo Fundo, bem como nos entornos das

mesmas para levantamento fotográfico e reconhecimento dos arredores, como forma de

contribuir com a etapa de caracterização do objeto de estudo.

Após realizadas as visitas, foi criado um banco de fotografias para posteriores seleções e

análises.

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28

1.4.2. Análise Morfológica da Cidade de Passo Fundo

Como forma de subsidiar o estudo do atual cenário da mobilidade ativa na cidade de Passo

Fundo foi realizada uma análise da morfologia urbana da cidade. Esta análise dividiu-se em

duas partes, ou seja, em macro escala para entendimento da configuração espacial da cidade

como um todo, destacando-se as análises de relevo, sistema viário, conectividade e integração

da malha viária, e microescala, para entendimento das características dos entornos das 10

estações de bicicletas do sistema, destacando-se o uso do solo, configuração dos quarteirões e

infraestrutura cicloviária, como forma de desenvolver um diagnóstico.

Esta etapa da pesquisa possibilitou a compreensão da atual configuração urbana da cidade e de

seus reflexos na mobilidade, com o reconhecimento das limitantes para o uso da bicicleta, bem

como as possibilidades para incentivo ao uso da mesma como meio de transporte.

Como ferramentas de análise foram utilizados como base os mapas desenvolvidos pela

Prefeitura Municipal de Passo Fundo, especialmente os presentes no Plano de Municipal de

Mobilidade, com foco no sistema viário, no estudo do crescimento da cidade, nas principais

barreiras existentes e nas condições do relevo local.

Além disso, utilizou-se a sintaxe espacial para complementar e aprofundar as análises. Esta

teoria parte da descrição da configuração do traçado da cidade e suas relações entre espaços,

através de medidas quantitativas. Estas medidas possibilitam a compreensão de aspectos

relevantes do sistema urbano, como acessibilidade, conectividade, integração e distribuição de

usos do solo (HOLANDA, 2002). Ademais, Holanda (2002) afirma que a sintaxe espacial não

deve ser considerada somente como um conjunto de técnicas, mas que, além disso, deve ser

analisada como uma teoria, que necessita de um método.

A sintaxe espacial relaciona a configuração urbana com os padrões de deslocamentos. Dessa

forma, as análises possíveis através da sintaxe espacial permitem avaliar quais vias são as mais

movimentadas e quais são as menos (PEREIRA et al., 2011). Sendo assim, pode-se avaliá-la

como uma importante ferramenta para a proposição de estratégias voltadas aos transportes.

Para as análises realizadas na cidade de Passo Fundo utilizou-se como ferramenta o software

Dapthmap X 0.50 para geração de mapas axiais e análises de segmentos. Primeiramente

utilizou-se a técnica da axialidade para representar os possíveis trajetos, de pessoas ou veículos

na malha urbana. Dessa forma, foi confeccionado um mapa de linhas axiais, ou seja, com base

em um mapa digital da cidade foram traçadas as maiores linhas retas sob as vias, capazes de

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cobrir o sistema de espaços abertos da cidade (HILLIER; HANSON, 1984). Esta etapa foi

desenvolvida com o auxílio do software AutoCad e posteriormente, o arquivo foi importado

para o Dapthmap X 0.50 para transformá-lo em mapa axial e em mapa de segmentos para

realização das análises.

Por meio do mapa axial tornou-se possível reconhecer categorias hierárquicas que revelaram as

áreas com maior e menor capacidade de concentração e movimento de pessoas e veículos. Além

disso, o mapa permitiu visualizar a conectividade da malha viária, ou seja, a quantidade de

conexões que cada linha possui, representando o grau de acessibilidade de cada linha traçada,

considerando o sistema como um todo.

O mapa axial também permitiu conhecer o índice de integração de cada segmento de linha. Este

índice foi representado nos mapas através de um sistema de cores, sendo que as mais quentes

(vermelho, laranja e amarelo) representam maior integração, e as mais frias (verde, cyan e azul)

representam menor integração (BARROS, 2006).

Como forma de aperfeiçoar as análises globais do sistema utilizou-se também a análise de

segmentos, considerada uma nova abordagem da sintaxe espacial. Esta análise consistiu na

transformação de um mapa axial simples em um mapa de segmentos de eixos, considerando-se

como referência todos os cruzamentos de vias. Turner (2004) defende que a análise de

segmentos pode ser utilizada para análises globais, contudo, em nível local ela pode ser

desinteressante.

1.4.3. Avaliação Pós-Ocupação do Sistema Passo Fundo Vai de Bici

Como forma de alcançar o objetivo específico de verificar o impacto do uso das bicicletas

compartilhadas na cidade e a percepção da população em relação a elas, foram utilizados

métodos e técnicas relacionados à Avaliação Pós-ocupação no sistema Passo Fundo Vai de Bici.

Sendo assim, a Avaliação Pós-ocupação (APO) baseia-se principalmente na observação do

profissional ou pesquisador, nas medições e na percepção de determinados usuários. Ou seja,

tratam-se de técnicas e ferramentas que buscam diagnosticar e medir os comportamentos,

necessidades, percepções e satisfação, a fim de fomentar recomendações e melhorias para um

edifício ou conjunto edificado (ORNSTEIN, 2005). Elali (2010) afirma que a APO pode ser

entendida como uma estratégia que une e valoriza tanto os pontos de vista da equipe técnica

quanto da população usuária de determinado edifício ou espaço.

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Voordt e Wegen (2013), afirmam que a Avaliação Pós-ocupação pode ser entendida como a

avaliação após o fato, dessa forma, a APO do sistema Passo Fundo Vai de Bici tratou de analisar

o sistema após aproximadamente 21 meses da sua implantação. Com isso, foi possível conhecer

situações não previstas, compreender o grau de aceitação dos usuários, as formas de utilização

e apropriação e visualizar soluções para algumas deficiências do sistema.

Dessa forma, optou-se nesta pesquisa em utilizar das seguintes ferramentas de APO: a

observação do pesquisador; e a percepção dos usuários do sistema Passo Fundo Vai de Bici e

dos não usuários da bicicleta na cidade de Passo Fundo. As ferramentas de APO selecionadas

para o desenvolvimento da pesquisa estão descritas abaixo:

- Percepção dos usuários do Passo Fundo Vai de Bici e dos não usuários de bicicleta

Para levantamento da percepção dos usuários do Passo Fundo Vai de Bici e dos não usuários

de bicicleta nem particular nem compartilhada, foram desenvolvidos dois modelos de

questionário, para aplicação em amostragens pré-determinadas.

Para o grupo de usuários, conforme técnicas utilizadas por Saraiva et al. (2017a), buscou-se

compreender o comportamento dos mesmos quanto ao serviço ofertado, bem como identificar

a satisfação e observar as formas de utilização do sistema. Já para os não usuários, o objetivo

foi o conhecimento da percepção da parcela da população que não utiliza a bicicleta em seu dia

a dia, buscando-se compreender os principais motivos pelos quais não utilizam. Bem como

investigar o que motivaria estas pessoas a tornarem-se adeptas da bicicleta como meio de

transporte. Esta parte da pesquisa possibilitou conhecer a realidade da cultura da bicicleta na

cidade de Passo Fundo sob a ótica de seus moradores adeptos e não adeptos da bicicleta.

A técnica utilizada para a coleta de dados foi a aplicação de questionários junto aos dois grupos.

Segundo Voordt e Wegen (2013), os questionários são adequados para coletar uma série de

informações com determinado grupo de pessoas, permitindo análises estatísticas e o anonimato

dos respondentes. Já segundo Rheingantz et al. (2009), o questionário representa um importante

instrumento de pesquisa que possui uma série de perguntas direcionadas a um determinado

assunto ou problema.

Dessa forma, a primeira fase da pesquisa tratou de estipular as duas amostragens a serem

utilizadas para o estudo. Elali (2010) afirma que a quantidade de abordagens deve ser avaliada

com cuidado bem como o tempo de envolvimento dos participantes. Sendo assim, esta

investigação enquadrou-se como pesquisa de opinião e a amostra foi selecionada por

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conveniência, já que nenhum dos participantes foi identificado. Além disso, a aplicação de

questionários teve um delineamento transversal e foi do tipo descritivo e exploratório.

Para o cálculo das amostragens para o grupo de usuários do Passo Fundo Vai de Bici foi

utilizado como população alvo o número de usuários cadastrados no sistema que tivessem

realizado pelo menos 3 viagens com as bicicletas do Passo Fundo Vai de Bici. Este dado foi

coletado junto à empresa operadora do sistema e totalizou cerca de 2.000 usuários. O erro

amostral considerado foi de 5% e o nível de confiança de 90%, totalizando 239 questionários.

Já para os não usuários da bicicleta, foi considerada a população estimada de Passo Fundo, de

acordo com o IBGE (2017a), ou seja, cerca de 198.000. Isso porquê no último estudo realizado

pela Prefeitura Municipal acerca dos modais utilizados pela população constatou-se que

somente 0,4% da mesma utilizava a bicicleta para se deslocar na cidade (PASSO FUNDO,

2014a). O erro amostral considerado foi de 5% e o nível de confiança de 90%, totalizando 270

questionários a serem aplicados.

Conhecida a amostra necessária, os questionários para os usuários do sistema foram aplicados,

sendo que 60% deles foram aplicados de forma presencial e 40% de forma on-line. Para os

questionários aplicados presencialmente, a forma de abordagem partiu da espera do

entrevistador nos pontos de coleta (estações de bicicleta), que aguardou até que algum usuário

se aproximasse para retirar ou devolver uma bicicleta. Após um convite formalizado foi

realizada a leitura das perguntas pelo entrevistador.

Já os questionários para usuários do Passo Fundo Vai de Bici aplicados de forma on-line, os

mesmos foram criados através da ferramenta Google Forms, que permitiu que os questionários

fossem respondidos e as respostas fossem automaticamente armazenadas em um banco de

dados.

Quanto aos questionários para usuários, eles possuíam um total de 29 perguntas, sendo 17 delas

questões fechadas de múltipla escolha, 3 questões onde utilizou-se a escala Likert de 1 a 5, 4

questões abertas e 5 questões onde se poderia atribuir uma nota de importância de 0 a 10. Os

questionários foram desenvolvidos a partir de 5 blocos, ou seja, perfil socioeconômico, local de

moradia e cadastramento, caracterização do uso, motivações e por fim, percepção. O modelo

de questionário aplicado nos usuários se encontra no Apêndice B.

Já os questionários para os não usuários de bicicleta foram aplicados 100% de forma on-line.

Para isso, os mesmos foram criados através da ferramenta Google Forms, que permitiu que os

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questionários fossem respondidos e automaticamente as respostas fossem armazenadas em um

banco de dados.

Os questionários para o grupo de não usuários de bicicleta foram desenvolvidos com base em

5 blocos, o primeiro deles direcionado ao perfil socioeconômico, o segundo ao local de moradia,

o terceiro as formas de deslocamento, o quarto às motivações e o quinto bloco relacionado a

percepção. Foram desenvolvidas 18 questões, sendo 11 delas questões fechadas de múltipla

escolha, 5 questões para atribuição de notas que variavam de 0 a 10, 1 questão aberta e 2

questões com respostas organizadas por meio da escala Likert. Nestas, eram apresentadas

possíveis razões para não se utilizar a bicicleta como meio de transporte e possíveis razões que

motivariam as pessoas a utilizar a bicicleta, avaliando-se então o nível de concordância dos

respondentes em cada uma das opções de resposta. O modelo de questionário aplicado também

se encontra no Apêndice B.

Por fim, os dados coletados foram utilizados unicamente com fins estatísticos e para isso criou-

se um banco de dados para processamento dos mesmos. Posteriormente foram analisados

através do software Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, que possibilitou a

compreensão de fenômenos comportamentais, comparações entre os usuários das bicicletas

compartilhadas e os não usuários de bicicleta bem como correlações de aspectos positivos e

negativos relacionados aos critérios investigados. Esta etapa foi uma importante contribuinte

para o desenvolvimento de diretrizes para melhoria, ampliação e adequação do Passo Fundo

Vai de Bici.

- Observação do pesquisador

Esta parte da APO voltou-se para a observação dos entornos das estações com foco na

infraestrutura existente para a bicicleta na cidade de Passo Fundo bem como na observação

quanto aos usos e comportamentos dos usuários.

Quanto à infraestrutura para bicicleta, foram observados e registrados os usos das ciclovias

existentes que ficam próximas às estações de bicicletas e são as mais utilizadas pelos usuários

do Passo Fundo Vai de Bici, de acordo com as respostas dos questionários supracitados. Ou

seja, os dois trechos existentes na Avenida Brasil e o trecho pertencente ao Parque da Gare,

conforme mapa da Figura 2.

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Figura 2: Localização das 10 estações e dos 3 pontos de observação sob a malha urbana de Passo

Fundo.

Fonte: Autora (2018).

Optou-se pela observação não participante, onde o observador não interage com os observados

sendo que as ferramentas utilizadas para o levantamento de dados foram a fotografia e o diário

de campo (FERREIRA; TORRECILHA; MACHADO, 2012). O diário de campo foi

organizado em forma de tabela, que permitiu sistematizar as informações coletadas.

A tabela desenvolvida para esta fase de levantamento se encontra no Apêndice C e foi

organizada em 3 colunas, uma para inserção dos detalhes descritivos do local como horário, dia

da semana e condições climáticas, outra para inserção das observações individuais e outra para

comentários analíticos.

Para esse levantamento de dados foram realizados 2 registros por ciclovia, um em dia de semana

e outro em final de semana, como forma de averiguar se há diferentes comportamentos nos 2

grupos. Cada levantamento teve duração de 1 hora e durante a semana eles concentraram-se

nos horários entre as 18:00 e as 19:00 horas, considerados horários de pico na cidade, e foram

realizados entre terças-feiras e quintas-feiras. Para os levantamentos nos finais de semana os

mesmos ocorreram das 17:00 até as 18:00 ou das 18:00 até as 19:00 horas. Estes levantamentos

foram realizados no intervalo entre os dias 28 de abril até 10 de maio de 2018.

Após realizados os levantamentos nos 3 trechos de ciclovia, as informações foram analisadas e

apresentadas nos resultados. Esta análise serviu para compreender a dinâmica de

funcionamento das ciclovias e ciclofaixas, bem como para identificar se esta infraestrutura está

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sendo utilizada adequadamente tanto pelos usuários do Passo Fundo Vai de Bici, os ciclistas de

forma geral e os pedestres que utilizam o caminhódromo existente junto a um dos trechos.

Esta etapa foi fundamental para a proposição de diretrizes de melhoria para o sistema, levando-

se em conta que o sucesso dos sistemas de compartilhamento de bicicletas depende também da

infraestrutura dedicada às bicicletas na cidade e do comportamento dos usuários destas

infraestruturas.

1.4.4. Levantamento das Contribuições Ambientais

Como forma de subsidiar a análise os impactos do sistema de compartilhamento de bicicletas

na cidade, foi realizado um levantamento de estimativas de mitigação de poluentes advindas da

substituição de veículos motorizados pelas bicicletas compartilhadas.

Para quantificação do consumo de combustíveis e CO2 evitados foi realizada uma adaptação do

método utilizado por Saraiva e Ribeiro (2017), que se baseia nos dados de avaliação

disponibilizados pelo Instituto Nacional de Metrologia - INMETRO e

pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE de 2016 acerca de 1102 Modelos/Versões de

veículos motorizados leves que circulam no Brasil. Contudo, como forma de adaptar e

quantificar a mitigação de forma mais precisa, além dos dados dos veículos de 2016 foram

coletados dados de 4003 modelos/versões de veículos motorizados leves comercializados no

Brasil referentes aos últimos 5 anos (INMETRO; PBE, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017).

Optou-se por utilizar dados dos últimos 5 anos tendo em vista que o PBEV- Programa Brasileiro

de Etiquetagem Veicular passou a disponibilizar dados de emissão de poluentes somente a partir

do ano de 2013. Utilizou-se dados de consumo de gasolina em litros por quilômetro percorrido

dentro da cidade e dados das emissões de CO2 em gramas por quilômetro percorrido.

Foi realizada uma média destes 5 anos quanto ao consumo de combustível em litros por

quilômetro percorrido e emissões de CO2 em gramas por quilômetro percorrido. Além disso,

para calcular as mitigações foi utilizado o dado fornecido pela Prefeitura Municipal acerca da

quilometragem total percorrida com as bicicletas compartilhadas dentro do intervalo de 16 de

maio de 2016 até 15 de maio de 2018.

Por fim, o último dado utilizado como base para cálculo foi coletado por meio dos questionários

aplicados junto aos usuários do sistema, que continha uma pergunta quanto a substituição de

viagens realizadas com veículo motorizado leve pelas bicicletas do sistema.

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Dessa forma, utilizou-se a porcentagem obtida de substituições de viagens motorizadas na

quilometragem total, multiplicando-se esse valor pela média de consumo de combustíveis e de

CO2 dos últimos 5 anos. Sendo assim, utilizando-se de todos estes dados, desenvolveu-se duas

equações para quantificar a redução no consumo de combustível poupado e de emissões de CO2

evitadas.

Esta etapa da pesquisa serve como justificativa da implantação do Passo Fundo Vai de Bici e

do incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte, já que possibilita a quantificação da

contribuição ambiental em relação a mitigação de emissões atmosféricas proveniente do Passo

Fundo Vai de Bici.

1.4.5. Levantamento de Demanda e Potencial de Utilização das Estações

Como forma de embasar a pesquisa para o desenvolvimento de diretrizes de ampliação,

melhoria e adequação, foi realizado estudo de demanda e de potencial de utilização das 10

estações pertencentes ao Passo Fundo Vai de Bici.

A metodologia utilizada parte da análise dos entornos de cada estação de bicicleta e da

identificação dos possíveis pontos ou características geradoras de demanda para o sistema, tais

como: praças, parques, instituições de ensino, ciclovias, entre outros. Com base no

reconhecimento das características dos entornos de cada estação foram definidas variáveis

(critérios) quantitativas. Estes critérios foram relacionados com o histórico de dados reais de

utilização das estações, gerando um modelo matemático, o qual possibilitou estimar o potencial

de uso das estações.

Zhang et al. (2017), afirmam que o impacto das particularidades urbanas de diferentes regiões

da cidade influenciam diretamente nas escolhas da população local, quanto maior a densidade,

diversidade, acessibilidade e infraestrutura dedicada às bicicletas, maior será a aceitação por

parte dos usuários. Neste sentido, os procedimentos metodológicos foram organizados em

quatro etapas:

Etapa I: Coleta de dados junto à Prefeitura Municipal de Passo Fundo quanto o histórico de

utilização de cada estação, ou seja, o número de bicicletas retiradas e devolvidas em cada uma

delas, entre os meses de abril de 2017 até abril de 2018, totalizando 12 meses.

Etapa II: Realizou-se o levantamento da atual situação das dez estações da cidade e seus

entornos, já que autores como Vogel, Greiser e Mattfeld (2011) afirmam que o uso de cada

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estação depende dos arredores das mesmas. Assim, para este levantamento foi considerada a

área de abrangência de cada estação atingida por um raio de, aproximadamente, 500 metros

(IPTD, 2014), isso como forma de identificar os principais pontos e características que

contribuem para a geração de viagens.

Nesta etapa, a ferramenta Google Maps foi utilizada para mapear e identificar a presença de

pontos de interesse, tais como: escolas, faculdades, praças, parques, dentre outros.

Etapa III: Realizou-se uma análise dos entornos das 10 estações levantadas anteriormente a

partir de cinco critérios, como forma de se criar variáveis contínuas, já que, de forma geral,

tratam-se de características mensuráveis que podem assumir valores em uma escala contínua.

Estes critérios foram baseados nas pesquisas do ITDP (2014a), Saraiva et al. (2017b), Chardon,

Caruso e Thomas (2017) e Zhang et al. (2017) e foram elencados nesta pesquisa devido as

possibilidades de medição, tais como:

• Educação: quantidade de instituições de ensino no entorno, entre escolas, faculdades e

demais instituições.

• Áreas verdes: metragem quadrada de área verde dentro da área de abrangência de cada

estação, as quais foram contabilizadas áreas de canteiros (utilizados como praças),

praças e parques.

• Segurança no tráfego: distância, em metros, entre a estação e as ciclovias ou ciclofaixas

mais próximas para realização da viagem, considerando válidos trechos superiores a

500 metros;

• Distância da estação mais próxima: menor distância, em metros, entre duas estações;

• População potencial: população em potencial na área de abrangência de cada estação

calculada de acordo com a densidade populacional em cada uma delas.

Este último critério (população potencial) utilizado na avaliação dos entornos relaciona-se à

densidade populacional, destacada pelo ITDP (2014a) como fundamental para se planejar,

implementar e gerir um sistema de compartilhamento de bicicletas em uma cidade. Para este

critério utilizou-se os dados coletados junto à Prefeitura Municipal de Passo Fundo quanto à

densidade populacional de cada setor urbano da cidade onde se encontram as estações de

bicicleta. Após, calculou-se a área de abrangência de cada estação (raio de 500 metros) e

multiplicou-se pela população presente por km² em cada setor em que existem estações

instaladas. Os dados são apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1: Dados utilizados para cálculo da população abrangida em cada estação, sendo a área de

abrangência 0,785 km² para cada uma delas.

ESTAÇÃO DENSIDADE

(habitantes/km²)

POPULAÇÃO

POTENCIAL

1. Boqueirão Legal 5373 4219

2. IE 5373 4219

3. Notre Dame 7878 6187

4. Teixeirinha 7878 6187

5. Praça Marechal Floriano 7878 6187

6. Vera Cruz 5017 3940

7. Praça Tocheto 7878 6187

8. Parque da Gare 7878 6187

9. Praça Santa Terezinha 5521 4336

10. Brigada Militar 4197 3296

Fonte: Autora (2018).

Etapa VI: Posteriormente, utilizando um software de planilha eletrônica, a partir do histórico

de informações quantitativas de bicicletas (retiradas e devoluções mensais) levantadas na

primeira etapa da pesquisa e das variáveis criadas a partir dos critérios citados foram realizadas

análises empíricas de dados por meio de regressão linear do histórico de uso de bicicletas das

10 estações. Consequentemente, obteve-se duas equações de primeira ordem aditiva, uma para

as bicicletas retiradas e outra para as bicicletas devolvidas, considerando a influência dos

critérios previamente estabelecidos.

Buscou-se por meio das equações estimar quantitativamente o uso (retiradas e devoluções) de

bicicletas em estações através das variáveis que caracterizam seus entornos. Considerou-se

válidos os critérios com um nível de significância (P-valor) de 0,05 (5%) ou menos.

Vogel, Greiser e Mattffeld (2011), Lin e Yang (2011), García-Polomares, Gutiérrez e Latorre

(2012), Martinez et al. (2012), ITDP (2014a) e Tran, Ovtracht e D’arcier (2015), confirmam a

necessidade de estudos voltados ao entendimento das variáveis que influenciam na utilização

das bicicletas compartilhadas. Estes estudos tendem a contribuir com a tomada de decisão

quanto à localização das estações e podem evitar implantações pouco úteis que tendem a gerar

custos desnecessários.

1.5. Estudo de Caso

Como forma de embasar a pesquisa para a construção de diretrizes para o sistema Passo Fundo

Vai de Bici optou-se por selecionar um caso de referência para complementar a pesquisa e o

entendimento quanto aos sistemas de compartilhamento de bicicletas. Segundo Yin (2001), o

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estudo de caso permite uma compreensão de fenômenos a partir da coleta de dados e análise

dos mesmos.

Neste sentido, foi realizado estudo de caso do sistema de compartilhamento de bicicletas

denominado Bicing, localizado na cidade de Barcelona, na Espanha, eleito nesta pesquisa como

objeto de referência.

Esta cidade foi selecionada por possuir um dos mais relevantes e bem-sucedidos casos de

compartilhamento de bicicletas do mundo. A escolha desde sistema baseou-se principalmente

no ranking desenvolvido pelo ITDP (2013), onde o Bicing alcançou primeiro lugar, sendo

considerado o sistema com melhor desempenho no mundo. Além disso, este sistema está em

funcionamento há cerca de 10 anos.

Para complementar esta etapa do estudo e vivenciar o sistema e seu contexto, foi realizada

viagem de campo para levantamento de dados fotográficos das estações, bicicletas e

infraestrutura para bicicleta existente na cidade, bem como para observação do funcionamento

do sistema sob a ótica do pesquisador e para realização de entrevistas com especialistas.

Além disso, como forma de complementar a etapa de estudo de caso, foram realizadas

entrevistas semiestruturadas presenciais na cidade de Barcelona. Dessa forma, foram

selecionados três representantes do sistema Bicing, em Barcelona, escolhidos com base em

pesquisa on-line no site da Universidade Politécnica da Catalunha, no site da Prefeitura de

Barcelona e no site do Bicing.

Selecionou-se para entrevista um professor e pesquisador da Universidade Politécnica da

Catalunha, com estudos na área de mobilidade urbana, um representante da empresa gestora do

Bicing, responsável pela operação do mesmo, e um representante do poder público atuante na

área de urbanismo de Barcelona. O agendamento das entrevistas foi realizado por e-mail, que

continha a explanação dos objetivos da pesquisa bem como das entrevistas a serem realizadas,

além de um ofício assinado pelo orientador da presente dissertação, o coordenador do mestrado

e a mestranda, atestando as intenções da investigação.

Esta etapa trouxe importantes contribuições para a pesquisa, já que uma série de estratégias

aplicadas no caso europeu puderam servir de exemplo para o caso brasileiro, mesmo que os

dois casos não possam ser comparados, por possuir diferentes realidades socioeconômicas e

escalas. As perguntas aplicadas nos 3 entrevistados podem ser encontradas no Apêndice D deste

documento.

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1.6. Diretrizes de melhoria, adequação e ampliação

Por fim, foram sistematizados todos os dados obtidos nas etapas anteriores e analisados os 3

aspectos investigados: o projeto e a implantação; o que estava em uso e a percepção dos usuários

do Passo Fundo Vai de Bici e não usuários de bicicleta; e a contribuição ambiental e

potencialidades de utilização do sistema. Tornou-se possível propor diretrizes de melhoria,

ampliação e adequação para o sistema da cidade de Passo Fundo, bem como da infraestrutura

necessária para o sucesso do mesmo.

Neste sentido, considera-se como diretrizes algumas orientações e indicações, baseadas nos

levantamentos e análises realizadas neste estudo, voltadas a promover maior eficiência e

eficácia ao sistema Passo Fundo Vai de Bici.

Dessa forma, para a proposição das diretrizes seguiu-se os seguintes passos: primeiramente

identificou-se o critério para geração da diretriz, ou seja, o problema ou aspecto a ser

considerado, com base nos diagnósticos realizados; após, desenvolveu-se a diretriz e por fim,

criou-se o objetivo a ser alcançado por meio da diretriz proposta.

Esta parte da pesquisa resultou como produto final desta pesquisa, e tratou de concentrar todos

os objetivos elencados neste estudo. Esta etapa conclusiva trouxe importantes contribuições

para o Passo Fundo Vai de Bici bem como para o entendimento da cultura da bicicleta e o

possível aumento da mobilidade ativa na cidade. Além disso, estas diretrizes podem contribuir

com outras cidades que estejam planejando implantar um sistema semelhante ou até mesmo

para as que já possuem sistemas de compartilhamento de bicicletas em operação e buscam

melhorias.

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2. FUNDAMENTAÇÃO: CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO NACIONAL

Neste capítulo serão apresentadas as informações coletadas por meio de revisão bibliográfica,

buscando-se uma compreensão acerca dos fatos históricos que contribuíram para a atual

situação das cidades brasileiras, além da apresentação dos principais conceitos elencados nesta

pesquisa. Além disso, neste capítulo serão apresentados dados coletados por meio de

levantamento documental, acerca de leis e decretos voltados à mobilidade urbana em nível

nacional, que também contribuíram para transformações ocorridas nas cidades.

Todas estas informações contribuíram para o entendimento da temática abordada nesta

dissertação e contribuíram com o processo argumentativo da pesquisa, bem como serviram

como base para o alcance do objetivo principal desta dissertação.

2.1.Conceitos Gerais: Transporte, Acessibilidade e Mobilidade Urbana

Os estudos direcionados à mobilidade, acessibilidade e aos transportes têm crescido nos últimos

anos, tanto nos setores técnico e científico quanto no setor político. Visto que o aumento da

população em áreas urbanas gera novas demandas e consequentemente novos desafios para

tomadores de decisão (RASTOGI, 2011).

Frente a esta realidade, considera-se de extrema importância compreender o papel e o

significado dos transportes, da acessibilidade e da mobilidade, tanto para as cidades quanto para

as pessoas, bem como de compreender suas diferenças e fundamentos. Dessa forma, este tópico

tratará de abordar estes conceitos e objetivos de cada um deles.

Quanto ao transporte, pode-se entendê-lo como a movimentação de pessoas e mercadorias, de

um ponto ao outro, portanto, podemos considerá-lo como uma necessidade, tanto para as trocas

sociais quanto econômicas, ou seja, trabalho, lazer, consumo de bens e serviços, dentre outros.

Costa (2007, p. 36) afirma que “cada uma destas motivações origina deslocações entre pares de

lugares cuja magnitude, frequência e regularidade, no tempo e no espaço, são bastante

diferenciadas.”

Costa (2007, p. 30) complementa que um dos objetivos do transporte é, portanto, “transpor o

espaço num período de tempo aceitável, que se deseja o mais curto possível”. Pode-se afirmar

então que um meio de transporte eficiente ou ideal será aquele em que se consegue percorrer

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um ponto de origem até um ponto de destino com o menor tempo possível, com o menor

impacto ambiental, com o menor custo econômico e com a maior disponibilidade e capacidade.

Para Vasconcellos (2000) existem diferentes meios de transporte ofertados nos países em

desenvolvimento, no entanto, operados de diferentes formas. De um lado, existem os

transportes provenientes de veículos motorizados, que podem ser coletivos, como os ônibus e

os bondes, ou individuais, como as motocicletas e automóveis. Do outro lado, os transportes

não motorizados, que de forma geral se enquadram a caminhada e os provenientes do uso da

bicicleta e demais equipamentos, que exigem o esforço físico do ser humano para a realização

do deslocamento.

Quanto à acessibilidade, Costa (2007) afirma que a mesma está relacionada com a facilidade

de se alcançar um destino desejado, ou, a capacidade de um determinado local poder ser

alcançado. Ainda, a acessibilidade pode ser considerada como fundamental para o bom

funcionamento das cidades, pois, ao facilitar o acesso da população aos equipamentos urbanos

e serviços, contribui-se também para a qualidade de vida e a inclusão social.

Quanto ao conceito de mobilidade urbana, o mesmo é relativamente novo e é comumente

relacionado somente com os meios de transporte, principalmente com os motorizados

(MIRANDA et al., 2009). No entanto, o conceito de mobilidade é mais abrangente e pode ser

entendido como um conjunto de políticas de transporte, circulação e planejamento que

objetivem promover acesso democrático aos espaços urbanos (VASCONCELLOS, 2009).

Alves e Raia Junior (2007), afirmam que as transformações ocorridas na cidade atual

contribuíram para o desenvolvimento de um conceito mais amplo para a mobilidade, tratando-

a como um fenômeno multifacetado, que se difere de acordo com o nível social, econômico e

político.

Litman (2010) afirma que a mobilidade não é um fim em si, mas sim, possui o objetivo final de

promover a acessibilidade, ou seja, a capacidade de as pessoas alcançarem bens, serviços e as

atividades desejadas. O autor complementa que a mobilidade é apenas um fator da

acessibilidade.

Por outro lado, Brasil (2015, p. 107) considera que “A mobilidade urbana é ao mesmo tempo

causa e consequência do desenvolvimento socioeconômico, da expansão urbana e da

distribuição espacial das atividades.”

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Ainda, a mobilidade urbana é um direito previsto na Constituição Federal (BRASIL, 2017), já

que em 16 de julho de 2014 aprovou-se a Emenda Constitucional n° 82, onde se inseriu o 10°

parágrafo ao art. 144, trazendo inovações ao mundo jurídico e incluindo a mobilidade urbana

como direito constitucional:

[...] § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e

da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído

pela EC n. 82/2014)

I – compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras

atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade

urbana eficiente; e (Incluído pela EC n. 82/2014) [...] (BRASIL, 2017b, p. 483).

Assim, pode-se compreender que o transporte, a acessibilidade e a mobilidade urbana possuem

distintos significados, mas, ao que se refere ao desenvolvimento das cidades, ou da equidade

social, estes conceitos são indissociáveis, pois a eficácia ou a ineficácia de qualquer um deles

têm impacto direto na qualidade de vida dos habitantes urbanos.

Neste sentido, nos seguintes subcapítulos serão sistematizadas uma série de informações quanto

a evolução destes temas em nível nacional, buscando-se compreender as causas e consequências

de uma série de decisões políticas e econômicas que, até os dias atuais geram impactos na

mobilidade urbana.

2.2. A Indústria Automobilística e a Dependência Econômica

Vasconcellos (2013) afirma que, para compreensão da atual situação da mobilidade urbana no

Brasil é preciso entendimento de dois processos simultâneos, ou seja, a rápida e descontrolada

urbanização e a constituição da indústria automobilística.

Neste sentido, foi no início do século XX que o Brasil iniciou seu processo de urbanização.

Motivado por acontecimentos como a proclamação da República, a presença de uma indústria

incipiente, as necessidades do trabalhador livre e a consolidação do mercado interno

(MARICATO, 2011a).

Em 1956 Juscelino Kubitschek foi eleito presidente do Brasil e seu Plano de Metas voltado ao

rápido desenvolvimento econômico do país- 50 anos em 5- tinha como foco o investimento nas

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áreas de infraestrutura e indústria local, sendo os setores de transporte e energia os que mais

ganharam relevância nos planos de avanço econômico e social (CAMPOS, 2007).

Neste contexto, o governo JK abriu a economia do país para o capital internacional,

principalmente por meio da implantação de montadoras, como a Ford, Volkswagen e a General

Motors- GM (CAMPOS, 2007). Nesta mesma época, o governo criou políticas de estímulo para

a indústria automobilística, tanto para a produção de componentes quanto para a instalação de

novas indústrias deste setor no país (ROEHE, 2011).

Esta abertura marcou uma importante etapa da industrialização brasileira, que começou a

produzir bens duráveis e bens de produção, como eletrodomésticos, eletrônicos e

principalmente o automóvel (MARICATO, 2011b).

Inicialmente, o governo investiu na instalação de filiais de empresas automobilísticas na região

sudeste do país, especialmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e na região do ABC

(Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul). No entanto, cabe destacar que

esta região passou a ficar dependente economicamente das multinacionais, e apesar da criação

de novos empregos, a rápida urbanização fez com que os índices de violência e pobreza

aumentassem. Além disso, a concentração das industrias nesta parcela do território

contribuíram para que o problema da desigualdade regional do Brasil se intensificasse

(CAMPOS, 2007).

Em 1960, objetivando levar desenvolvimento e destaque para a região centro-oeste do país, o

governo JK transferiu a capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília. A construção da nova

capital teve como consequência o aumento da dívida externa do Brasil, além de contribuir com

a intensificação do êxodo rural e fortalecer ainda mais os problemas urbanos, como a pobreza

e a violência (CAMPOS, 2007).

Além disso, outro importante contribuinte para a compreensão das transformações ocorridas no

país foi a implantação da indústria do petróleo. Suas atividades foram iniciadas por volta de

1940 e em 1950 ela passou a receber incentivos do governo para pesquisas, refinamento e

transporte (FARES, 2007). Durante o século XX, o petróleo tornou-se o principal combustível

da matriz energética global, além de tornar-se a mais importante disputa pelo poder no mundo

(MARICATO, 2011a).

Ademais, para se compreender a relação entre a indústria automobilística e as políticas públicas

brasileiras deve-se levar em conta os tributos gerados pela indústria, que, de acordo com

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Vasconcellos (2013) tornaram o governo sócio e refém da mesma. Ou seja, ao recolher uma

grande quantidade de impostos o governo torna-se sócio e tem interesses no aumento dos

faturamentos, no entanto, quando a indústria enfrenta dificuldades e ameaça reduzir o número

de empregados no setor, o governo torna-se refém e frequentemente cede, buscando sempre

fornecer o que for necessário para manter a indústria automobilística em operação.

Dessa forma, torna-se clara a forte dependência econômica entre a indústria automobilística e

o governo. Como consequência desta dependência criou-se no país a chamada cultura de

valorização do automóvel. Ou seja, a partir de uma série de acontecimentos relacionados à

indústria automobilística e às decisões políticas, desenvolveu-se um universo simbólico

relacionado a este bem de consumo. Desde a década de 1950 o automóvel vem ganhando espaço

na vida da população urbana brasileira e foi responsável por mudanças significativas no modo

de viver na cidade, desde o interior da moradia até as formas de ocupação do solo urbano

(MARICATO, 2011b).

Vasconcellos (2000), explica que a valorização do automóvel nos países em desenvolvimento,

como o Brasil, ocorreu principalmente pelos processos de modernização capitalista. Estes

processos fizeram surgir um novo estilo de vida para a população de classe média, onde os

padrões de deslocamento foram redefinidos, transformando o automóvel em algo essencial para

a sua reprodução como classe. Para compreender a valorização do automóvel é preciso entender

que o mesmo está intimamente ligado a questões econômicas, sociais e políticas. Nesse sentido

Vasconcellos (2000) afirma que:

A valorização do automóvel é explicada também pelas políticas urbanas,

econômicas e de transporte promovidas nos países em desenvolvimento, que

têm moldado o espaço de uma forma que induz a necessidade do automóvel,

ao mesmo tempo que torna impraticável o transporte público. Considerando o

ambiente construído, a facilidade de usar o automóvel e o baixo nível de

serviço do transporte público a classe média não tem alternativa a não ser

comprar e usar o automóvel (VASCONCELLOS, 2000, p. 121).

Além disso, no ano de 1993 uma ação importante do governo federal alavancou a consolidação

do automóvel, ou seja, o IPI do carro de mil cilindradas foi reduzido de 20 para 0,1%. Este

barateamento aumentou as vendas e fomentou a indústria automobilística, fato que, segundo

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Vasconcellos (2013) representa a decisão mais importante do governo frente à valorização da

motorização privada no país e que coincide com o início do declínio no uso dos transportes

públicos.

2.3. Trilhos versus Rodovias e Bondes versus Ônibus

Além dos fatos supracitados relacionados ao automóvel, no contexto da industrialização e do

desenvolvimento econômico, cabe recordar que a infraestrutura dedicada aos transportes no

Brasil também passou por modificações.

Em 1854 foi inaugurada a primeira linha ferroviária no país, na cidade do Rio de Janeiro, com

cerca de 14 quilômetros de extensão. De 1870 até meados de 1920 a rede férrea expandiu-se e

era um meio de transporte muito comum para a realização de grandes deslocamentos

(MARTINS; FILHO, 1998).

Contudo, no governo de 1926-1930 o cenário começou a mudar. De acordo com Martins e Filho

(1998), o então presidente, Washington Luís iniciou o processo de desvalorização das ferrovias.

Ele priorizou a construção de rodovias, voltadas principalmente para o transporte de

passageiros. Esta priorização repetiu-se nos governos seguintes, de Getúlio Vagas em 1940 e

Juscelino Kubitschek, em meados de 1950.

Segundo Campos (2007) a partir dos interesses econômicos do governo JK, com os

investimentos nas montadoras, o papel do transporte ferroviário foi sendo abandonado em prol

do rodoviário, como forma de favorecer ainda mais o crescimento da indústria automobilística.

Neste contexto, cabe destacar que, quanto à viabilidade econômica, o transporte de passageiros

sobre trilhos só é possível através do fornecimento de subsídios do poder público. Dessa forma,

as ferrovias brasileiras, por não conseguirem ressarcir os valores recebidos pelo poder público

contribuíram para o déficit do governo. Como consequência, em 1940 o governo começou a

estatizar as ferrovias privadas e em 1957 foi criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade

Anônima- RFFSA, empresa estatal brasileira de transporte ferroviário. Nessa época as ferrovias

chegaram a representar cerca de 90% do déficit público brasileiro (BAER; KERSTENETZKY;

SIMONSEN, 1962).

Entre 1964 a 1985 a malha ferroviária brasileira passou por uma reestruturação conduzida pelo

autoritário regime militar. O número de servidores do setor foi reduzido, sendo que somente

foram mantidos os ramais considerados mais eficientes economicamente, ou seja, somente para

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o transporte de cargas. Nesta época as ferrovias iniciaram um processo de sucateamento. De

acordo com Paula (2001), em 1966 foi criado o GESFRA, ou seja, Grupo Executivo para

Substituição de Ferrovias e Ramais Antieconômicos, que passou a comandar as operações de

desativação de ramais ferroviários, tendo papel decisivo neste processo.

De acordo com Silveira (2002), durante a década de 1970 as ferrovias brasileiras entraram em

decadência devido à falta de investimentos públicos e privados e a concorrência com os

transportes rodoviários. Este período de decadência seguiu até meados de 1990, quando a rede

ferroviária foi concedida à iniciativa privada.

Neste mesmo sentido, no campo do transporte público inúmeras transformações ocorreram. Na

década de 1970 os bondes, meio de transporte coletivo e público que representavam a maioria

dos deslocamentos urbanos no país até a década de 1940, foram substituídos pelos ônibus,

também coletivos e públicos, porém operados de forma distinta (VASCONCELLOS, 2013).

Nessa época, a maioria das mercadorias passaram a ser transportadas por caminhões e o número

de automóveis em circulação nas cidades brasileiras aumentou consideravelmente. Assumiu-se

o modelo rodoviário como prioritário no país, substituindo boa parte das antigas estradas de

ferro. O espaço nacional foi então reconfigurado e passou a tornar-se acessível por meio de uma

rede de rodovias (VASCONCELLOS, 2013).

A RFFSA foi privatizada durante o governo de 1995-2003. Silveira (2002) complementa que,

a partir de 1995 iniciou-se o processo de desestatização das ferrovias concedidas às empresas

privadas. Este processo gerou uma reestruturação no setor ferroviário brasileiro, especialmente

no setor de logística e comunicação. Algumas concessionárias alcançaram avanços, enquanto

outras encontram-se em situação de sucateamento e contribuem muito pouco para o progresso

das áreas em que estão inseridas.

Castro (2000) esclarece que atualmente as maiores movimentações nas ferrovias brasileiras

concentram-se na região sudeste do país, com distâncias bastante limitadas. Esta situação

posiciona o Brasil como um dos únicos países do continente que, mesmo dotado de atividades

industriais, minerais e agrícolas, transporta a maioria de suas cargas por meio de caminhões.

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2.4. A Política de Expansão Urbana Segregativa

Conforme mencionado, com a vinda das industrias às cidades brasileiras, a população passou a

migrar do campo para a cidade. Atraídas principalmente pelas oportunidades de emprego, esse

processo migratório gerou um aumento expressivo da população urbana (MARICATO, 2011a).

Dessa forma, as cidades brasileiras começaram a crescer de forma acelerada e sem

planejamento, sendo que a maior parte delas foi autoproduzida por seus moradores que, devido

à falta de políticas de controle do preço do solo urbano, foram produzidas de acordo com os

interesses das diferentes classes econômicas (VILLAÇA, 2001).

De forma geral, a classe média e as elites localizaram-se em áreas mais centrais, dotadas de

infraestrutura, ou em empreendimentos imobiliários isolados do restante da cidade. Já as classes

de renda mais baixa passaram a ocupar áreas periféricas e inadequadas para moradia, como os

morros ou beira dos rios, dando início a favelização, a desintegração social e a perda da

identidade cultural. Além disso, principalmente para os moradores das periferias, a dependência

do transporte público se intensificou, juntamente com o aumento das distancias, o tempo e o

gasto para se deslocar (VASCONCELLOS, 2013).

De acordo com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos- UN HABITAT,

entre 1950 e 2011 a população urbana cresceu 5 vezes, no mundo todo. O IBGE (2010c) afirma

que em 1940 a população urbana no Brasil era de 26,3%, no ano de 2000 esta população cresceu

para 81,2% e no ano de 2010 a população urbana já representava 84%.

Este crescimento acelerado da população urbana, principalmente nos países em

desenvolvimento, fez com que as cidades crescessem de forma espontânea. Este fato aliado a

falta de recursos públicos e políticos fizeram com que os problemas gerados não fossem

resolvidos à medida que aconteciam. Portanto, a rápida introdução do automóvel nas cidades e

a adaptação das vias para privilegiar os veículos, dentre outros motivos, trouxeram graves

consequências para os dias atuais, como a segregação socioespacial, a intensificação da

desigualdade social e a falta de acessibilidade.

2.5. A Relação Entre o Automóvel e o Impacto Ambiental

Quanto ao automóvel, apesar de ter sido “vendido” com a imagem de facilitador do cotidiano

urbano, o mesmo tem gerado inúmeros problemas tanto para as cidades quanto para as pessoas.

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Já que o excesso de veículos contribui para o agravamento de inúmeras adversidades sociais e

ambientais.

Dentre elas, a insegurança e dificuldade de deslocamento, causados principalmente pelo

aumento dos acidentes. A WHO- World Health Organization (2015) afirmou que, somente no

ano de 2013 41 mil pessoas perderam a vida nas estradas e ruas brasileiras.

O uso do automóvel também acarreta em um aumento dos congestionamentos, já que, na cidade

de São Paulo, por exemplo, desde 1940 já enfrentava seus primeiros casos, sendo que na época

sua população era de somente 2 milhões de habitantes e o número de veículos em circulação

era de 50 mil (VASCONCELLOS, 2013). Atualmente a cidade possui cerca de 11 milhões de

habitantes e uma frota de aproximadamente 8 milhões de veículos (IBGE, 2018a), colocando-

se entre as cidades com os maiores congestionamentos do mundo.

Além disso, Gomide (2006) destaca o problema da precariedade dos serviços de transporte

público, que gera altos custos das viagens, além das longas distâncias a serem percorridas. O

autor afirma que as populações de baixa renda, principalmente nas grandes cidades do Brasil,

estão sendo privadas do acesso aos transportes públicos. Dessa forma, essa população fica

impedida de acessar equipamentos urbanos e serviços essenciais para o seu dia a dia, como as

escolas e hospitais.

A WHO (2006) afirma que, outro problema relacionado ao excesso de veículos são as altas

concentrações de poluentes na atmosfera, já que estes estão entre as principais causas dos

problemas respiratórios.

Neste sentido, apesar de existirem inúmeros outros problemas relacionados ao excesso de

veículos que poderiam ser citados e aprofundados, como forma de seguir o objetivo do presente

trabalho optou-se por dar enfoque nesta revisão bibliográfica a um único problema, ou seja, a

poluição advinda dos automóveis.

Neste contexto, pode-se afirmar que existem dois tipos de poluentes, ou seja, os locais e os

globais. Os poluentes locais referem-se àqueles que afetam especificamente as áreas de

abrangência da operação do transporte, dentre eles destacam-se o monóxido de carbono (CO),

os hidrocarbonetos (HC), os materiais particulados, os óxidos de nitrogênio (NOx) e os óxidos

de enxofre (SOx). Quanto aos poluentes globais, são aqueles relacionados às mudanças

climáticas, como os gases de efeito estufa (GEE), principalmente o CO2, que tem o setor de

transporte como um dos principais emissores (CARVALHO, 2011).

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A Confederação Nacional do Transporte - CNT (BRASIL, 2009) afirma que o setor de

transporte responde por cerca de 20% das emissões globais de CO2 e em nível nacional, segundo

o Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, este setor responde por cerca de 9% das emissões

totais de CO2, enquanto que as queimadas respondem por mais de 70% delas.

O Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários

(BRASIL, 2013) mostra que, quanto ao CO2, no ano de 2012, 38% do total das emissões

provenientes de veículos automotores vieram dos automóveis, e do total de poluentes, 33% veio

da queima da gasolina como combustível.

Além disso, pesquisas afirmam que, anualmente cerca de 8 milhões de pessoas morrem no

mundo por causas respiratórias. Em regiões com alta concentração de O3 na troposfera,

formadas pelos óxidos nitrosos (NOx) e hidrocarbonetos liberados na queima dos combustíveis

fósseis, a probabilidade de morte por problemas respiratórios aumenta em 30%. Na Região

Metropolitana de São Paulo por exemplo, acontecem cerca de 3 mil mortes por ano com causas

relacionadas à poluição do ar, representando um custo anual de cerca de R$ 1,5 bilhão para a

cidade (CARVALHO, 2011).

Frente a este cenário, há um considerável esforço por parte das esferas do governo em criar

políticas públicas que afetam diretamente os níveis de emissão de poluentes veiculares. As

mesmas podem ser analisadas sob duas perspectivas, ou seja, existem as políticas públicas

focadas no problema da poluição, com medidas de mitigação das emissões de poluentes e

existem as políticas públicas voltadas aos combustíveis ou ao incentivo a venda de automóveis.

Esta segunda, muitas vezes acaba gerando impactos negativos no ambiente, como as já citadas

políticas de redução tributária de automóveis e motocicletas, que visam unicamente a

movimentação da economia (CARVALHO, 2011).

Quanto às políticas direcionadas para a redução das emissões de poluentes destaca-se o

lançamento do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores-

PROCONVE pelo governo federal em 1986. O mesmo tinha como objetivo a redução das

emissões de poluentes pelos automóveis e veículos comerciais. A partir de 1993 foram

estabelecidos limites máximos de emissões, que chegaram a reduzir mais de 90% as emissões

unitárias de uma série de poluentes. No entanto, a frota de veículos cresceu de forma acelerada

e continua aumentando, fazendo com que estas medidas, sozinhas, se tornem ineficientes.

O Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA estabeleceu limites de emissões para as

motocicletas com o chamado Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e

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Veículos Similares - PROMOT. A partir desta iniciativa no ano de 2003 a indústria passou a

lançar no mercado veículos que poluem menos, com tecnologia inovadora para o país

(CARVALHO, 2011).

Além destas políticas, a inserção no mercado brasileiro de outros combustíveis também

contribuiu para a redução das emissões veiculares, como o gás natural e os biocombustíveis,

ainda que, atualmente sejam utilizados em menor escala no Brasil em comparação com a

gasolina e diesel fabricados a partir do refino de petróleo.

Em nível local é possível citar como exemplo algumas políticas de controle da cidade de São

Paulo. No ano de 1997 a prefeitura criou o rodízio de placas, proibindo a circulação de cerca

de 20% da frota que circulava diariamente nas áreas mais congestionadas da cidade. Esta

iniciativa gerou resultados positivos na época, no entanto, com o aumento da frota veicular estes

benefícios já não são alcançados (GUERRA; CUNHA, 2001). Além disso, inúmeras prefeituras

municipais têm incentivado os deslocamentos ativos, com especial atenção aos realizados com

bicicleta, a fim de reduzir os deslocamentos motorizados, conforme será abordado em detalhes

nesta pesquisa.

2.6. As Alterações nos Últimos Anos Advindas das Políticas Públicas

Conforme mencionado, as atuais condições de mobilidade das cidades brasileiras foram

influenciadas por uma série de decisões políticas ocorridas desde a década de 1930. No

contexto das políticas públicas, cabe ressaltar que em 1941 foi criado o Primeiro Código

Nacional de Trânsito, onde nele e em sua promulgação em 1966, os municípios eram excluídos

do controle sobre o trânsito em suas vias, reflexo do período autoritário ocorrido no Brasil

(VASCONCELLOS, 2013).

Neste sentido, o papel dos municípios quanto aos transportes só veio a ser modificado com a

criação do Estatuto da Cidade, no ano de 2001 (BRASIL, 2001). Este acontecimento foi

importante para a política urbana nacional e impactou fortemente as questões relacionadas à

mobilidade.

O Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257 de 2001) passou a regulamentar o capítulo “Política

Urbana” da Constituição Federal. O Estatuto estabelece que a política urbana deve envolver a

integração de planos de ordenamento do território, nas diferentes escalas governamentais. Ele

detalha o papel do município no planejamento, que deve ser feito de forma participativa e

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aberta, instituindo a obrigatoriedade do Plano Diretor como o principal instrumento para os

municípios cumprirem suas funções (BRASIL, 2001).

Cabe ressaltar que o Estatuto da Cidade não dispõe sobre mobilidade urbana, no entanto,

estabelece que as cidades com mais de 500 mil habitantes devem desenvolver um plano de

transporte urbano integrado, em compatibilidade com o Plano Diretor do município (BRASIL,

2001).

Dessa forma, no ano de 2003 foi dado outro passo importante para a política nacional, ou seja,

foi criado o Ministério das Cidades. O mesmo tem como objetivo a criação de políticas que

buscam investimentos coerentes de acordo com as prioridades e necessidades previstas nos

planos, indicadores e posturas dos municípios. Além disso, o Ministério difere o papel do

governo em suas diferentes escalas, ou seja, estabelece que é responsabilidade do governo

federal definir as diretrizes gerais da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, já aos

municípios cabe o planejamento e a gestão urbana (BRASIL, 2015).

O Ministério é composto por uma Secretaria Executiva e quatro secretarias nacionais, ou seja,

a Secretaria Nacional de Habitação, a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, a

Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana e a Secretaria Nacional de

Acessibilidade e Programas Urbanos.

Quanto a Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, a mesma objetiva

formular e implementar a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, de forma

integrada com a política de desenvolvimento urbano, promovendo uma mobilidade segura,

inclusiva e com equidade no espaço público, priorizando os deslocamentos coletivos e não

motorizados (BRASIL, 2017a).

2.6.1. A Política Nacional de Mobilidade Urbana e o Contexto Global da

Sustentabilidade

A partir das iniciativas da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, em

janeiro de 2012 a Presidência da República sancionou a Política Nacional de Mobilidade

Urbana (Lei Federal 12.587/2012). Nela estabelece-se que é de responsabilidade dos

municípios a garantia do acesso inclusivo e sustentável às cidades (BRASIL, 2012).

A Política Nacional de Mobilidade Urbana é um dos eixos da Política Nacional de

Desenvolvimento Urbano e deve ser compreendida como os princípios, diretrizes e normas que

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orientam as ações do poder público em conjunto com a sociedade, na gestão e produção das

cidades.

Desde a sua criação, o poder de tomar medidas e adotar instrumentos de priorização de modos

não motorizados e coletivos de transporte foi dado aos municípios. Ainda, a lei permite que

ações e investimentos das prefeituras sejam contestadas caso não estejam de acordo com as

diretrizes fixadas na lei nacional (BRASIL, 2015).

A Lei 12.587/2012 possui como princípios a acessibilidade universal, o desenvolvimento

sustentável, a equidade no acesso ao transporte público coletivo e no uso dos espaços públicos

de circulação, a eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano

e na circulação urbana, a gestão democrática do planejamento e a segurança nos deslocamentos

(BRASIL, 2012).

Suas principais diretrizes são a integração com a política de desenvolvimento urbano e

respectivas políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso

do solo, a prioridade dos modos não motorizados e coletivos, a integração entre os diferentes

modos de transporte, a mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos provenientes dos

deslocamentos, o incentivo ao desenvolvimento científico - tecnológico e ao uso de energias

renováveis e a priorização de projetos voltados ao transporte público coletivo (BRASIL, 2012).

Quanto aos objetivos, destaca-se a promoção da inclusão social, melhores condições de

acessibilidade e mobilidade, gestão democrática da mobilidade urbana e o desenvolvimento

sustentável das cidades (BRASIL, 2012).

O artigo 24 da Lei 12.587/2012 estabelece que entre as principais ferramentas para o

planejamento e efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana está o Plano de

Mobilidade Urbana. Ele é obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes entre outros

critérios, como requisito para acesso aos recursos federais para o setor.

Este plano deve partir da análise dos meios de transporte que ocorrem em cada município ou

região, com identificação das características e papel de cada um, bem como da infraestrutura

existente, a fim de identificar e planejar ações de melhoria para a mobilidade local. O plano

também deve garantir a prioridade dos transportes não motorizados, dos transportes públicos

coletivos, a circulação de pessoas com deficiência e restrição de mobilidade, a integração entre

os modos públicos e privados de transporte bem como entre os motorizados e os não

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motorizados, a operação e disciplinamento do transporte de cargas, os polos geradores de

viagens, as áreas de estacionamentos, áreas e horários de acesso e circulação restrita ou

controlada, a avaliação, revisão e atualização periódica do Plano de Mobilidade Urbana a cada

10 anos (BRASIL, 2012).

Como forma de sistematizar o levantamento documental realizado na presente pesquisa, a

Figura 3 ilustra uma linha do tempo das políticas públicas analisadas, desde a criação do

Estatuto da Cidade em 2001 até a instituição dos Planos de Mobilidade Municipais, em 2012.

2001 2003 2012

Figura 3: Linha do tempo das leis nacionais estudadas.

Fonte: Autora (2018).

Como visto, o conceito de mobilidade urbana é relativamente novo para todas as esferas do

governo no país, especialmente para a maioria das cidades brasileiras (BOARETO, 2008). A

visão de priorização dos transportes coletivos e não motorizados são muito recentes nas

políticas públicas nacionais, aparecendo com ênfase como solução para os problemas gerados

pelo excesso de veículos somente após a criação da Lei 12.587/2012. Rastogi (2011) confirma

que os planejadores estão procurando diferentes opções políticas para o desafio da mobilidade

urbana, sendo que uma dessas soluções é promover e integrar modos não motorizados de

transporte.

No entanto, cabe destacar que a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável vem ao

encontro de um contexto mais amplo dissipado em nível global há muitas décadas. Ou seja, a

preocupação quanto aos limites relacionados a sociedade e sua atuação no meio ambiente, que

levaram ao surgimento de novas alternativas na busca pela redução dos impactos produzidos

sobre o meio (BELLEN, 2005).

Estatuto da

Cidade

Ministério das

Cidades

Lei

12.587/2012

Secretaria de

Transportes e

Mobilidade

Institui os Planos de

Mobilidade Municipais

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Bellen (2005) afirma que a compreensão acerca do tema desenvolvimento sustentável remete

ao debate internacional acerca do conceito de desenvolvimento. Neste sentido, trata-se da

relação entre desenvolvimento associado unicamente à ideia de crescimento, até o surgimento

do conceito de desenvolvimento orientado à sustentabilidade.

Um dos primeiros relatórios relacionados a esta temática foi o The limits to growth de 1972,

produzido pelo Clube de Roma. Ele rompeu com a ideia de não haver limites na exploração da

natureza (BELLEN, 2005).

Outro ponto importante quanto a essas discussões foi o desenvolvimento do conceito de eco

desenvolvimento, no ano de 1973, por Ignacy Sachs, na Primeira Conferência de Meio

Ambiente e Desenvolvimento da ONU (Conferência de Estocolmo). Este conceito abordava

principalmente a questão da educação, da participação, da preservação da natureza e da

satisfação das necessidades básicas da população. O conceito de eco desenvolvimento foi

importante pois reforçou a interdependência entre desenvolvimento e meio ambiente

(BELLEN, 2005).

Layrargues (1997) afirma que:

O eco desenvolvimento representa uma abordagem ao desenvolvimento cujo

horizonte temporal coloca-se a décadas ou mesmo séculos adiante. Entende

que a satisfação das necessidades das gerações futuras deve ser garantida, isto

é, deve haver uma solidariedade diacrônica sem que, no entanto, comprometa

a solidariedade sincrônica com a geração presente, já por demais sacrificada

pelas disparidades sociais da atualidade. Entre as condições para tornar o

conceito operacional, destaca-se a necessidade do amplo conhecimento das

culturas e dos ecossistemas, sobretudo em como as pessoas se relacionam com

o ambiente e como elas enfrentam seus dilemas cotidianos; bem como o

envolvimento dos cidadãos no planejamento das estratégias, pois eles são os

maiores conhecedores da realidade local (LAYRARGUES,1997, p. 3).

Além deste conceito, a partir da indicação da ONU para a primeira-ministra da Noruega, Gro

Harlem Brundtland chefiar a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a

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comissão apresentou o documento “Nosso Futuro Comum”, mais conhecido como Relatório

Brundtland, no ano de 1987 (BRYAN, 2005).

Neste sentido, cabe destacar um dos conceitos mais citados quanto à sustentabilidade, definido

e descrito neste Relatório, ou seja, a capacidade de as gerações atuais suprirem suas

necessidades sem comprometerem as gerações futuras de suprirem as suas (RELATÓRIO

BRUNDTLAND, 1991).

Desde a definição do Relatório de Brundtland em 1987, a sustentabilidade passou a ser vista de

forma equilibrada e completa somente ao abranger 3 dimensões, ou seja, a ambiental, relativa

aos impactos das ações humanas sob o meio ambiente, a social, com ênfase na qualidade de

vida e a econômica, que abrange a divisão e distribuição eficiente dos recursos (RELATÓRIO

BRUNDTLAND, 1991).

No entanto, a simplificação da sustentabilidade sob estas 3 dimensões não é unanimidade no

meio científico. Sachs (2009) cita também as dimensões geográfica ou espacial, relacionada a

distribuição dos assentamentos humanos e o equilíbrio entre cidade e campo, a dimensão

cultural, com ênfase na modernização em equilíbrio com a identidade cultural de cada

ecossistema, a dimensão ecológica, diretamente ligada à preservação da natureza e a dimensão

política nacional e internacional.

Ademais, em 1992 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro mais uma conferência da ONU. O

evento teve foco nos conceitos de desenvolvimento e meio ambiente, e contribuiu ainda mais

para a tomada de consciência sobre os modelos de desenvolvimento adotados na época,

destacando os limites que os mesmos possuíam. A partir daí o discurso sobre desenvolvimento

socioeconômico juntamente com a questão ambiental passou a ser disseminado na maioria dos

países.

No ano de 2012 a conferência Rio+20 sobre Desenvolvimento Sustentável, ocorrida 20 anos

após a Rio 92, colaborou para a definição da agenda do desenvolvimento sustentável para o

futuro. Além disso, a conferência renovou o compromisso político quanto ao desenvolvimento

sustentável.

No ano de 2015 líderes mundiais reuniram-se na sede na ONU em Nova Iorque para

desenvolverem um plano de ação com foco na erradicação da pobreza, proteção do planeta e a

garantia de que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Este plano de ação ficou conhecido

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como Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e nele estão contidos os 17 objetivos a

serem alcançados até 2030, voltados a promoção do desenvolvimento sustentável (ONU, 2015)

Dentre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), o objetivo 11: “Tornar as

cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (ONU,

2015, p. 11), vem ao encontro à temática abordada na presente pesquisa. Já que dentro deste

objetivo a ONU (2015) incluiu o propósito de:

[...] até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros,

acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a

segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes públicos, com

especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de

vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos (ONU,

2015, p. 11).

Dessa forma, pode-se compreender que o surgimento da Política Nacional de Mobilidade

Urbana Sustentável e, consequentemente dos Planos Municipais de Mobilidade vão ao encontro

às reflexões recorrentes em nível global acerca das preocupações com o desenvolvimento e a

preservação ambiental, juntamente com a promoção da qualidade de vida.

2.7. Mobilidade Sustentável, Mobilidade Ativa e a Bicicleta Como Meio de Transporte

Conforme mencionado, a mobilidade urbana é essencial para o desenvolvimento das cidades e

das próprias atividades humanas. Sendo assim, a presente pesquisa possui foco em uma das

vertentes da mobilidade urbana, ou seja, a mobilidade sustentável, que vem sendo muito

discutida no meio científico. Sendo assim, neste subcapítulo foram inseridos os principais

conceitos sobre a temática, buscando-se compreender os impactos do incentivo ao uso da

bicicleta como meio de transporte.

A OECD- Organisation for Economic Co-operation and Development e o grupo de

Especialistas em Transporte e Meio Ambiente da Comissão Europeia definiram um dos

primeiros conceitos de mobilidade urbana sustentável, destacando que o transporte sustentável

é aquele que contribui de forma positiva para a sociedade e para a economia, sem, no entanto,

prejudicar a saúde humana e o meio ambiente (MOURELO, 2002).

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Alves e Raia Junior (2007) afirmam que a sustentabilidade pode ser alcançada no contexto da

mobilidade quando há controle e redução dos níveis de poluição sonora e do ar provenientes

dos transportes, que prejudicam a qualidade de vida da população e causam danos ao meio

ambiente.

Já para Campos (2006), a sustentabilidade pode se fazer presente na mobilidade a partir de dois

enfoques, ou seja, o primeiro deles relaciona-se com a adequação entre realidade

socioeconômica e a oferta de transportes, portanto, deve haver um equilíbrio entre o transporte,

o desenvolvimento urbano e a equidade social. O segundo enfoque relaciona-se com a qualidade

do meio ambiente, ou seja, com a inserção de novas tecnologias para melhorias na operação

dos transportes, além dos diferentes modos a serem utilizados, visando o menor impacto

ambiental.

Quanto a estes modos de transporte, aqueles em que se utiliza unicamente o esforço físico do

ser humano para a realização dos deslocamentos são comumente associados à mobilidade

sustentável e conhecidos como mobilidade ativa ou mobilidade não motorizada. As principais

modalidades desta vertente da mobilidade são o ciclismo e a caminhada, que são consideradas

as formas mais sustentáveis de se deslocar pois contribuem para a qualidade ambiental e

reduzem os problemas acarretados pelo excesso de veículos nas cidades (BUEHLER;

PUCHER, 2012).

Rastogi (2011) destaca que o papel da mobilidade ativa pode ser determinado de acordo com a

comparação destas modalidades de transporte com os modais motorizados. Essa comparação

deve basear-se na capacidade de movimentação de tráfego, relacionada à capacidade de

passageiros por hora, no espaço requerido para movimentação em cada uma das modalidades

de transporte, no custo da infraestrutura, no consumo de energia envolvido nos diferentes tipos

de deslocamento, nas emissões de poluentes provenientes dos meios de transporte, no custo

social e nos custos com congestionamentos, acidentes e problemas de saúde, que nos meios

ativos de transporte são largamente inferiores.

Para Litman (2010), a caminhada e o ciclismo podem ser os modos de transporte mais

econômicos para muitos tipos de viagens. Baudrin (2007) destaca que a distância usual

realizada por meio da caminhada é entre 0,5 e 1,0 km, enquanto que com a bicicleta esta

distância pode aumentar para até 5 km. Estas modalidades podem facilmente funcionar de

forma integrada com os meios coletivos de transporte, que aumentam intensamente o alcance

dos próprios sistemas de transporte em massa e facilitam os deslocamentos para a população.

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Além dos benefícios econômicos causados pelas viagens ativas, Litman (2010) destaca outras

vantagens, como o aumento das opções de viagem, o aumento da mobilidade para pessoas que

não dirigem veículos motorizados, o aumento da atratividade e segurança das ruas e calçadas e

o aumento da aptidão física dos habitantes urbanos.

Além disso, a mobilidade ativa contribui para outros fatores, como a segurança urbana, a

equidade social e a democratização dos espaços urbanos, já que a caminhada e o ciclismo

permitem que as pessoas acessem os espaços públicos e equipamentos urbanos com maior

facilidade (JACOBS, 2011).

Litman (2017) esclarece também que o transporte ativo desempenha papéis importantes e

únicos para que a mobilidade possa ser considerada eficiente e equitativa. O autor complementa

que inúmeras decisões políticas e de planejamento afetam as condições de mobilidade ativa.

Ou seja, a medida que um planejador subestima e não investe no transporte ativo a diversidade

e eficiência do sistema de transporte como um todo é comprometida.

Isso se comprova ao serem analisadas muitas ações, mesmo que de pequena e média escala, de

governos locais ao investirem em infraestrutura e educação para a mobilidade ativa. Fato

recente que se repete em inúmeras cidades brasileiras, motivadas principalmente a partir da lei

12.587/2012, conforme compreensão da necessidade de inserir a sustentabilidade no contexto

da mobilidade.

Dessa forma, especialmente ao que se refere a bicicleta como meio de transporte, a mesma

tende a gerar uma série de benefícios tanto para os usuários quanto para o meio ambiente. A

Comissão Europeia (2000) listou alguns dos benefícios gerados pelo uso da bicicleta, ou seja,

benefícios econômicos, relacionados a redução das horas perdidas em congestionamentos, além

das redução de despesas médicas graças à prática de exercícios físicos, benefícios políticos,

como a redução da dependência energética em alguns países, benefícios sociais, como a

democratização e equidade dos espaços urbanos, além da autonomia e aumento da

acessibilidade e benefícios ecológicos, como a redução das emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, para que a mobilidade ciclável possa efetivamente funcionar como meio de

transporte e gerar estes benefícios para as cidades e população, não é possível analisá-la nem

ofertá-la de forma isolada. Ou seja, é necessário que haja a intermodalidade, ou seja, a bicicleta

deve ser integrada a outras formas de transporte.

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A intermodalidade permite que a bicicleta potencialize as opões de viagens para a população,

que pode então realizar percursos mais longos, sem ter que depender do uso do automóvel

particular. Ela ocorre principalmente por meio da integração entre bicicleta e o transporte

público (ANTP, 2005).

Sendo assim, existem duas formas de realizar a intermodalidade. A primeira delas pode ocorrer

por meio da implantação de estações de aluguel ou estacionamento de bicicletas próximas às

estações de trem, metrô, terminais de ônibus dentre outros, que promoverão a integração entre

as diferentes formas de deslocamento. A segunda forma ocorre por meio da possibilidade de o

ciclista transportar sua bicicleta em outros meios de transporte, dentro ou fora do mesmo. Essa

forma de promover a intermodalidade é também conhecida como interpenetração (ANTP,

2005).

Além disso, a ANTP (2005) complementa que é por meio da caminhada e do uso da bicicleta

como meio de transporte que se torna possível alcançar a microacessibilidade, outro conceito

importante ao que se refere à mobilidade ativa. A microacessibilidade pode ser compreendida

como os percursos porta-a-porta, ou seja, as curtas distâncias. Para estas distâncias, a caminhada

e o ciclismo são as maneiras mais econômicas e eficientes de se deslocar. Dessa forma, a

intermodalidade e a microacessibilidade devem ser princípios norteadores do planejamento da

mobilidade urbana sustentável.

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3. AS BICICLETAS COMPARTILHADAS: PANORAMA GERAL E ESTUDO DE

CASO

Neste capítulo buscou-se realizar uma revisão quanto à evolução da implantação das bicicletas

compartilhadas em nível global e nacional. Além disso, investigou-se na literatura os principais

indicadores e fatores de influência quanto aos sistemas de compartilhamento de bicicletas. Por

fim, neste capítulo é apresentado o estudo de caso do sistema Bicing, de Barcelona, juntamente

com os dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos envolvidos

selecionados.

3.1. As Bicicletas Compartilhadas

Dentre as alternativas da mobilidade ativa, conforme mencionado, o uso da bicicleta como meio

de transporte tem grande potencial. Neste contexto, os sistemas de bicicletas compartilhadas

vêm ganhando popularidade, destacando-se de forma positiva em muitas cidades nacionais e

internacionais (CHARDON; CARUSO; THOMAS; 2017).

Nas últimas décadas foram desenvolvidos muitos trabalhos científicos relacionados ao tema.

No entanto, não há unanimidade quanto a denominação do sistema estudado (WU; ZHANG,

2010). Autores das diferentes partes do mundo denominam os sistemas de bicicletas

compartilhadas de diferentes formas, dentre elas, os sistemas de bicicletas públicas, sistema de

aluguel de bicicletas, programa de bicicleta comunitária, bicicletas coletivas, sistema de

bicicletas inteligentes, bicicletas de uso público, dentre outros. Neste trabalho, contudo, optou-

se por defini-las como sistemas de bicicletas compartilhadas.

Neste sentido, pode-se entender um sistema de compartilhamento de bicicletas como um

conjunto de estações espalhadas de forma estratégica pela malha da cidade, contendo um

conjunto de bicicletas disponíveis para a população utilizá-las de forma gratuita ou não,

dependendo da forma de gestão, e devolvê-las posteriormente na estação desejada (DEMAIO,

2009; SHAHEEN; GUZMAN; ZHANG, 2010; WU; ZHANG, 2010; ITDP, 2014a;

BANDEIRA et al. 2017).

A primeira experiência de implantação das bicicletas compartilhadas ocorreu em 1965, na

cidade de Amsterdã, nos Países Baixos, e ficou conhecida como a primeira geração dos sistemas

de compartilhamento de bicicletas. Ela surgiu a partir de uma iniciativa do então vereador Luud

Schimmelpennink, com o objetivo de diminuir o tráfego de automóveis. Sua proposta era

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distribuir 20.000 bicicletas na cidade, que foi inicialmente rejeitada pelo poder local. No

entanto, apoiadores da ideia decidiram distribuir 50 bicicletas pintadas de branco (Figura 4),

que logo em seguida foram recolhidas pela polícia local, que alegava que tais bicicletas

incitavam furtos (ITDP, 2014a).

Figura 4: Bicicletas brancas distribuídas em Amsterdã.

Fonte: Blog Zagster (2017).

Apesar do insucesso da iniciativa em Amsterdã, a ideia começou a ser replicada e bem aceita

em inúmeras cidades da Europa. A segunda tentativa de implantação do sistema em grande

escala ocorreu na cidade de Copenhague, na Dinamarca em 1995. Para isso, foram

implementadas melhorias no funcionamento do sistema, ou seja, as bicicletas passaram a

possuir pneus mais resistentes, as rodas tinham espaço para anúncios publicitários, e,

principalmente, havia pontos específicos na área central da cidade para retirada e devolução das

bicicletas, juntamente com um local para depósito de moedas, já que a iniciativa era sem fins

lucrativos. Esta fase de implantação ficou conhecida como a segunda geração dos sistemas de

bicicletas compartilhadas e apesar de estar mais formalizada que a geração anterior, ainda

ocorriam muitos casos de furto de bicicletas, devido ao anonimato dos usuários (DEMAIO,

2009).

Esta dificuldade deu origem a chamada terceira geração do sistema. Em 1996 se inseriu a

tecnologia de cartão inteligente, bloqueio eletrônico das bicicletas nas estações, acesso por

telefone móvel, dentre outras melhorias, que possibilitaram controle das bicicletas em tempo

real e conhecimento dos usuários do sistema. Nesta época, o número de cidades que

implantaram o sistema cresceu de forma lenta (ITDP, 2014a; DEMAIO, 2009).

Um caso de destaque nesta época foi o de Rennes, na França em 1998. No entanto, o maior

sistema implantado pertencente à terceira geração das bicicletas compartilhadas foi o de Lyon,

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em 2003, também na França. Este sistema teve um impacto notável e inspirou o sistema Velib

de Paris, inaugurado dois anos depois, em 2005. O sistema Velib inicialmente possuía 7.000

bicicletas e posteriormente foi se expandindo até os subúrbios da cidade, atualmente este

sistema conta com cerca de 20.000 bicicletas (ITDP, 2014a; DEMAIO, 2009).

A partir destas experiências exitosas, o interesse por esta forma de deslocamento aumentou na

Europa. No entanto, fora dela foi a partir do ano de 2008 que surgiram os primeiros casos de

implantação em países como Brasil, Chile, China, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Taiwan e

Estados Unidos. Demaio (2009) afirma que no final de 2007 havia cerca de 60 programas da 3ª

geração espalhados pelo mundo, em 2008 havia cerca de 92 programas e em 2009 cerca de 120

programas.

Já a 4° geração ficou marcada por inovações como o uso de tecnologias avançada em T.I., a

presença de placas solares para fornecer energia às estações, GPS (Global Positioning System)

nas bicicletas, bicicletas elétricas, possibilidade de distribuir as estações de acordo com a

demanda diária através de estações móveis, a implantação de totem com tela sensível ao toque,

acesso por telefone móvel com aplicativos disponíveis em tempo real e o uso de cartões

universais que permitem a integração com outras modalidades de transporte, favorecendo a

intermodalidade, principal característica desta geração de bicicletas compartilhadas

(SHAHEEN; GUZMAN; ZHANG, 2010; SHAHEEN et al., 2011; ITDP, 2014a).

Atualmente, os principais objetivos dos sistemas de compartilhamento de bicicletas são a

promoção do transporte rápido, flexível e econômico, além da intensificação da

intermodalidade (WU; ZHANG, 2010). Neste contexto, nos últimos anos o interesse por esta

forma de deslocamento tem crescido de maneira contínua, sendo que as bicicletas

compartilhadas têm funcionado como parcela importante na rede de transportes de inúmeras

cidades pelo mundo. Anaya e Castro (2012) afirmam que o maior pico de crescimento dos

sistemas de compartilhamento de bicicletas se deu a partir do ano de 2000.

De acordo com o mapa mundial de bicicletas compartilhadas desenvolvido por Meddin e

Demaio (2018a) em maio de 2018, cerca de 1600 cidades no mundo possuíam o sistema em

operação e cerca de 400 cidades possuíam o sistema em fase de construção ou planejamento,

conforme pode ser visto na Figura 5.

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Figura 5: Mapa mundial de bicicletas compartilhadas.

Fonte: Demaio e Meddin (2018).

Demaio (2009), Shaheen, Guzman e Zhang (2010), Bauman et al. (2017), afirmam que a

utilização de sistemas de bicicletas compartilhadas tende a gerar uma série de benefícios, tais

como: aumento da flexibilidade de mobilidade; redução das emissões de poluentes; diminuição

dos congestionamentos; aumento da acessibilidade para uma parcela maior da população;

encorajamento frente ao desenvolvimento da infraestrutura cicloviária; promoção da

intermodalidade e do ciclismo urbano; baixo custo global se comparado a outas modalidades

de transporte; aumento da segurança no tráfego; otimização do espaço público; integração com

a paisagem urbana; e uma série de benefícios para a saúde pública. Ademais, os sistemas de

compartilhamento de bicicletas tendem a gerar melhorias na imagem da cidade, que passa a ser

percebida como uma cidade mais dinâmica e moderna.

Os sistemas de compartilhamento de bicicletas podem ser promovidos de diferentes formas, ou

seja, os provedores podem ser o próprio governo, agências de transporte, universidades,

organizações com ou sem fins lucrativos, empresas publicitárias ou através de parcerias entre

eles (BÜHRMANN, 2008). Como no caso do Bicing em Barcelona, um exitoso programa

inaugurado no ano de 2007 e reconhecido internacionalmente como um dos maiores sistemas

de compartilhamento de bicicletas do mundo. Ele é gerido e mantido pela Câmara Municipal

de Barcelona e a Clear Channel Communications Corporation (BICING, 2016).

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3.1.1. As Bicicletas Compartilhadas e o Estado da Arte

Desde que surgiram, os sistemas de compartilhamento de bicicletas têm despertado o interesse

de muitos pesquisadores. Demaio (2003, 2004, 2007, 2009) vem desenvolvendo estudos

voltados às bicicletas compartilhadas, especialmente nos Estados Unidos. Ele destaca o uso das

bicicletas compartilhadas como um uso inteligente, ressalta seu papel no transporte público e

comenta sobre o uso das bicicletas compartilhadas em universidades.

Além disso, Demaio (2009), Shaheen, Guzman e Zhang (2010), Fishman, Washington e

Haworth (2013) e Fishman (2015) produziram artigos comumente citados em pesquisas

voltadas ao tema, em nível internacional. Já que nestes, os autores fazem um breve histórico

dos sistemas, desde o seu surgimento, mostrando os impactos e os principais benefícios da

implantação dos sistemas de bicicletas compartilhadas.

Ainda, Demaio desenvolveu o Bike- sharing World Map, no ano de 2007 sendo que a partir do

ano de 2009 passou a ser operado em conjunto com Meddin. Este mapa mostra, com diferentes

ícones, todos os programas em operação, em construção, em fase de planejamento e os que já

foram encerrados, em cidades dos mais variados países. O site onde o mapa é apresentado é

atualizado com notícias sobre os programas diariamente, e é uma base de dados importante para

compreender a extensão e o crescimento dos sistemas de compartilhamento de bicicletas em

nível global, diariamente.

Outra fonte relevante para pesquisas no tema é o Institute for Transportation and Development

Policy (ITPD, 2014a). O Instituto desenvolveu um importante documento denominado Guia de

Planejamento de Bicicletas Compartilhadas. Neste guia encontram-se importantes informações

que auxiliam na compreensão dos sistemas, desde o seu planejamento e implantação, até a sua

operação e manutenção. Este guia apresenta inúmeros exemplos de sistemas em nível nacional

e internacional. Além disso, ele mostra os principais indicadores que devem ser considerados

ao se avaliar um sistema de compartilhamento de bicicletas.

Também o ITDP (2014b) desenvolveu um relatório intitulado A Global High Shift Cycling

Scenario. Neste relatório foram elencados os benefícios globais que poderiam ser alcançados

se mais pessoas substituíssem suas viagens motorizadas pela bicicleta. Os autores destacam que

atualmente somente cerca de 7% das viagens mundiais são feitas de bicicleta, e que, se esse

percentual subisse para 23% até o ano de 2050 a sociedade economizaria 24 trilhões de dólares

(entre 2015 e 2050) e seriam poupadas 300 megatoneladas de CO2.

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Ademais, muitos autores vêm desenvolvendo pesquisas baseadas em estudos de caso, como

forma de buscar compreender as características de uso e funcionamento dos sistemas de

compartilhamento de bicicletas em diferentes cidades. Bachand-Marleau, Lee e El-Geneidy

(2012) analisaram os fatores que influenciam a probabilidade e a frequência de uso de sistemas

de bicicletas compartilhadas. Para isso, os autores realizaram estudo de caso na cidade de

Montreal, no Canadá, investigando as motivações dos próprios usuários do sistema.

Etienne e Latifa (2014) realizaram um estudo sobre o sistema Vélib, de Paris. Os autores

propõem um modelo estatístico para analisar os dados das viagens do sistema e os resultados

desta pesquisa mostraram as diferentes funções do Vélib nas diferentes áreas da cidade de Paris.

Estas diferenças basearam-se principalmente nas características de uso, contribuindo com o

entendimento da dinâmica de deslocamentos com bicicleta na cidade.

Goodman, Green e Woodcock (2014) analisaram a contribuição do sistema de

compartilhamento de bicicletas da cidade de Londres, Inglaterra na visibilidade positiva do

ciclismo. Eles concluíram que a implantação de sistemas de compartilhamento de bicicletas

pode incentivar de forma intensa o ciclismo urbano.

Ricci (2015) pesquisou sobre os impactos e os processos de implantação e operação dos

sistemas de compartilhamento de bicicletas. O autor afirma que as bicicletas podem ser

implantadas e operadas por diferentes modelos de governança. Além disso, destaca que um

desafio de operação dos sistemas é a questão da redistribuição das bicicletas. Por fim, o autor

enfatiza que a alta qualidade dos sistemas está fortemente relacionada com a questão da coleta,

monitoramento e análise de dados relacionados aos mesmos, que trarão informações relevantes

que podem contribuir na busca por melhorias.

Lowry e Loh (2016) mediram a conectividade da rede de bicicletas compartilhadas da cidade

de Washington, nos Estados Unidos. Esta pesquisa mostrou que para aumentar o uso da

bicicleta os planejadores e decisores políticos devem fornecer maior facilidade para o uso da

mesma.

Vogel, Greiser e Mattffeld (2011), Lin e Yang (2011), García-Polomares, Gutiérrez e Latorre

(2012), Martinez et al. (2012), ITDP (2014a) e Tran, Ovtracht, e D’arcier (2015), realizaram

estudos voltados ao entendimento das variáveis que influenciam na utilização das bicicletas

compartilhadas. Estes estudos mostraram que as características do entorno, as densidades, a

presença de infraestrutura cicloviária, dentre outros aspectos, tendem a contribuir com a

intensificação do uso dos sistemas.

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66

Neste mesmo sentido, Zhang et al. (2017) empregaram um modelo de regressão linear múltipla

para estimar a influência das variáveis do ambiente construído na demanda de viagens do

sistema de compartilhamento de bicicletas de Zhongshan, na China. Estas variáveis referiram-

se principalmente a acessibilidade, a infraestrutura de ciclismo, instalações de transporte

público e características de uso do solo. Os autores concluíram que a densidade populacional,

as ciclovias e a variedade de uso do solo próximo as estações tiveram uma influência positiva,

enquanto que a distância até o centro da cidade e o número de estações nas proximidades

tiveram uma influência negativa no uso do sistema.

Chardon, Caruso e Thomas (2017) também investigaram quais são as principais determinantes

que influenciam o sucesso dos sistemas de compartilhamento de bicicletas. Para isso os autores

realizaram uma comparação de inúmeros sistemas presentes principalmente em cidades da

Europa e América do Norte. Eles concluíram que expandir o sistema, ou seja, aumentar o

número de estações e de bicicletas não aumenta o desempenho do mesmo. Contudo, novamente

concluíram que a presença de infraestrutura para bicicleta está intimamente ligada ao sucesso

dos sistemas.

Em nível nacional existem muitos estudos de caso de sistemas de compartilhamento de

bicicletas. Miñano e Santos (2015) realizaram estudos de caso nos sistemas de

compartilhamento de bicicletas das cidades de Brasília, Pernambuco, São Paulo e Rio de

Janeiro. Eles buscaram investigar a contribuição dos sistemas de compartilhamento de

bicicletas na redução das viagens motorizadas. Os autores concluíram que, entre estas cidades,

a média de substituição de viagens antes realizadas com veículo particular era de 23%,

destacando este dado como extremamente positivo, já que a média da Europa, por exemplo, é

de 15%. Além disso, o estudo mostra que o incremento das bicicletas compartilhadas nas

cidades aumentou também o uso do transporte público, com cerca de 30%. Também

concluíram que 30% das viagens são realizadas por motivos de trabalho ou estudo.

Melo (2013) realizou uma dissertação de mestrado baseada no tema das bicicletas

compartilhadas. Nesta pesquisa, a autora buscou enfatizar a importância da inserção da

mobilidade sustentável nas cidades brasileiras, destacando o potencial da bicicleta como meio

de transporte. Além disso, ela desenvolveu um estudo de caso do sistema de bicicletas

compartilhadas da cidade de Recife. Para isso, realizou entrevistas com os gestores, operadores

e financiadores do sistema, onde constatou que os entrevistados estavam conscientes da

necessidade de infraestrutura cicloviária, da promoção da acessibilidade e da segurança para

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67

que o sistema de compartilhamento de bicicletas pudesse atuar com sucesso. Por fim, a autora

faz uma série de recomendações de melhoria para o sistema da cidade de Recife.

3.1.2. As Principais Características, Indicadores e Fases dos Sistemas de Bicicletas

Compartilhadas

O INSTITUTO PARA LA DIVERSIFICACIÓN Y AHORRO DE LA ENERGÍA (IDAE, 2007)

afirma que qualquer cidade, independente das suas características, pode implantar um sistema

de compartilhamento de bicicletas, já que eles podem ser operados de diferentes maneiras,

podendo ser adaptados a cada realidade.

Dessa forma, os serviços de compartilhamento de bicicletas podem ser ofertados de formas

distintas. Em alguns casos o serviço é ofertado de forma gratuita, e em outros, por meio de

tarifas cobradas de acordo com o tempo de utilização (ITDP, 2014a). Apesar de cada sistema

possuir características próprias de acordo com a cultura e características de cada cidade, é

possível destacar alguns pontos em comum encontrados na maioria deles.

Dentre elas, destacam-se a questão da flexibilidade, já que a principal essência do sistema é que

a bicicleta seja retirada de um local e seja depositada em outro, a obrigatoriedade de

identificação de quem usufrui do sistema, através de registro que garante maior segurança

quanto ao roubo e preservação do sistema como um todo. Também, a questão da rotatividade,

alcançada através da política de tarifas, a intermodalidade, já que um dos principais objetivos

dos sistemas é que ele possa ser integrado às demais modalidades de transporte existentes nas

cidades, a presença de estações acessíveis e bem posicionadas, normalmente próximas a pontos

atrativos das cidades (MELO, 2013).

Além das características comuns aos sistemas, existem inúmeros fatores capazes de

potencializar ou enfraquecer o uso dos sistemas de compartilhamento de bicicletas. Melo (2013)

destaca alguns destes fatores, como a questão da tecnologia utilizada para acesso (cartão,

código/senha, chave etc), nas estações, que podem ser de baixa ou alta tecnologia, com a

presença de totem automatizado ou não, além da forma como as mesmas são inseridas nas

cidades, já que elas podem ser fixas ou móveis. Além disso, uma série de fatores relacionados

às bicicletas, que devem ser adaptáveis, resistentes e com boa mecânica.

Na Figura 6 é possível observar as características mais comuns existentes em bicicletas

pertencentes aos sistemas de compartilhamento.

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Figura 6: Características das bicicletas compartilhadas.

Fonte: Autora com base em ITDP (2014a).

Além disso, outro fator determinante está relacionado com o serviço ofertado. Ou seja, o

tamanho do sistema, a densidade de estações (estações por km²), a disponibilidade de bicicletas

(número de bicicletas para cada 1000 moradores), a disponibilidade de informação para os

usuários, a disponibilidade de utilização em diferentes horários e épocas do ano, as tarifas a

serem cobradas dos usuários e a intensidade de integração com os demais meios de transporte

(ITDP, 2014a).

Ademais, o ITDP (2014a) explica que outro fator importante para o sucesso dos sistemas são

os contratos. Eles geralmente ocorrem entre munícipio e empresas operadoras, variando de

acordo com a infraestrutura do sistema e com a operação do mesmo. Os operadores podem ser

empresas de publicidade, fornecedores de mobiliário urbano ou outros serviços públicos,

agencias de transporte, empresas de bicicletas públicas, associações ou cooperativas ou os

próprios municípios. Neste contexto, também influenciam os custos e formas de financiamento,

que podem advir de parcerias público privadas entre empresas de publicidade e o governo, por

exemplo, ou da renda gerada por impostos relacionados aos transportes.

Segundo o IDAE (2007), outras características que influenciam o uso das bicicletas são as

características físicas e morfológicas das cidades, como o relevo, que deve ser levado em

consideração na fase de planejamento do sistema, pois a implantação de estações em áreas com

topografia muito íngreme pode desestimular o uso nestas áreas. No entanto, cabe destacar que

o problema relacionado ao relevo pode ser resolvido com a utilização de estações de bicicletas

elétricas em determinadas regiões da cidade.

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O IDAE (2007) também destaca que o clima é um fator importante que influencia a intensidade

de utilização nas diferentes estações climáticas. O conhecimento da curva de utilização de cada

cidade é essencial pois contribui para a tomada de decisão quanto à disponibilidade do serviço

nas diferentes fases do ano, que podem ajudar a reduzir custos operacionais e de manutenção.

O tamanho da cidade também deve ser levado em consideração pois influencia diretamente no

número de usuários potenciais e consequentemente deve influenciar no tamanho do sistema, na

tecnologia a ser empregada e no orçamento disponível para planejamento, implantação e

operação do sistema. Além do tamanho, a densidade da própria cidade deve ser observada, ou

seja, cidades que possuem bairros pouco densos e afastados tendem a dificultar a utilização dos

sistemas (IDAE, 2007). Neste sentido, recomenda-se que a implantação seja concentrada

inicialmente nas áreas mais densas e atrativas da cidade, e posteriormente e gradativamente se

expanda para as áreas mais periféricas (ITDP, 2014a).

Conforme mencionado, a presença de infraestrutura para o uso da bicicleta é essencial para o

bom funcionamento do sistema. O ITDP (2014a) esclarece que não há obrigatoriedade de existir

infraestrutura cicloviária para que um sistema seja implantado em uma cidade. Contudo, a

combinação da infraestrutura juntamente com a implantação do sistema de compartilhamento

de bicicletas tende a promover maior aceitação pública, já que aumenta a segurança dos

usuários.

Além destes fatores que influenciam o sucesso dos sistemas, cabe destacar também alguns

obstáculos relacionados aos mesmos. Fishman (2015) destaca que muitos sistemas acabam

fracassando pela utilização em excesso ou pela ociosidade do sistema, já que algumas redes não

são dimensionadas de forma correta. Além disso, é muito comum na maioria das cidades a

ocorrência de muitos casos de furto e vandalismo com os equipamentos, pois em algumas

cidades há o problema cultural e a dificuldade de cuidado com os bens públicos.

Outra dificuldade é a questão da redistribuição das bicicletas. Em muitos casos algumas

estações recebem muitas bicicletas, enquanto outras ficam vazias na maior parte do tempo. A

inexistência de um serviço de redistribuição de bicicletas pode levar o sistema ao fracasso.

Além disso, para muitas cidades a implantação e manutenção dos sistemas pode se tornar

inviável economicamente, especialmente porque em muitos casos não são cobradas taxas dos

usuários, tornando o sistema insustentável economicamente (FISHMAN, 2015).

Por fim, Fishman (2015) destaca que a implantação dos sistemas de compartilhamento de

bicicletas pode gerar a exclusão tecnológica ou financeira. Muitos programas exigem que seus

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usuários cadastrem um cartão de crédito para poderem usufruir do mesmo, o que pode gerar a

exclusão das pessoas de baixa renda já na fase de inscrição. Além de que, alguns programas

funcionam a partir de aplicativos de celular, que também podem gerar a exclusão de uma

parcela da população. Além destes obstáculos, o autor cita também a dificuldade relacionada à

preocupação com relação a segurança no trânsito, a existência ou não de legislações locais

voltadas ao ciclismo, dentre outros.

Contudo, como os sistemas são adaptáveis, cada cidade pode propô-los da maneira mais

adequada, para alcançar os mais distintos objetivos. As questões de topografia, densidade,

clima, infraestrutura e cultura local devem ser analisadas e consideradas para que se possa

implantar um sistema adequado.

Quanto aos indicadores, o ITDP (2014a) destaca que os mesmos servem para nortear os estudos

de viabilidade e planejamento de sistemas de bicicletas compartilhadas, de acordo com dados

disponíveis. Tais indicadores permitem que o sistema seja planejado com tamanho e escala

proporcionais de acordo com as metas financeiras e objetivos do mesmo. Além disso, o ITDP

(2014a) indica alguns indicadores de performance o/ou desempenho, que servem para medir a

eficiência de sistemas que já estão em operação. No Quadro 1 estão sistematizados estes

indicadores.

O ITDP (2014a) esclarece que estes indicadores devem servir como diretrizes ou como valores

médios para a fase de estudos de viabilidade e planejamento do sistema. No entanto, os

indicadores de planejamento não devem servir como base para definir detalhes do sistema,

como a localização das estações e a capacidade de cada uma delas. Para definir a localização, é

importante considerar a proximidade com as estações de transporte público, para promoção da

intermodalidade, a proximidade com a ciclovia, quando existir, devem estar em locais

acessíveis ao público vindo de diferentes direções e locais com a máxima mistura de usos do

solo (residencial, comercial, institucional), que potencializam a utilização do sistema.

Ainda, a dimensão de um sistema pode ser medida de acordo com o número de estações e de

bicicletas. Para os usuários, é importante que haja uma densidade adequada tanto de estações

quanto de bicicletas e vagas por estação. É importante que as distâncias entre as estações sejam

adequadas para percursos realizados a pé, ou seja, a área de cobertura com boa densidade é a

garantia de que, onde quer que o usuário esteja, haverá uma estação próxima. Além disso, a

capacidade de cada estação deve ser dimensionada de acordo com a atratividade de cada região,

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sendo que todo sistema deve possuir estações de vários tamanhos, adequadas à demanda,

podendo variar de 10 até 100 bicicletas por estação.

Quadro 1: Sistematização dos indicadores propostos pelo ITDP (2014a)

Indicadores básicos

Indicadores de

dimensionamento e

planejamento contextual

Indicadores de

performance/desempenho

Área de cobertura do sistema:

calculada a partir de raio de

500m em torno de cada

estação, medida em km².

Coeficiente de densidade de

estações: número médio de

estações em determinada área.

Ideal: 1 estação a cada 300m

ou de 10 a 16 estações por km².

Penetração no mercado:

número de viagens para cada

1000 moradores

População na área de

cobertura: calculado de acordo

com a densidade populacional

da área de cobertura, medida

em hab/km².

Coeficiente de

bicicletas/população: média de

bicicletas por pessoa na área de

cobertura.

Ideal: 10 a 30 bicicletas por

grupo de 1.000 moradores da

área de cobertura.

Média de uso por bicicleta:

número de viagens por dia por

bicicleta. Ideal: de 4 a 8

viagens por dia por bicicleta.

Número de bicicletas: número

de bicicletas ativas e em

circulação (não inclui bicicletas

em concerto).

Coeficiente de vagas/bicicleta:

número médio de vagas

por bicicleta. Ideal: de 2 a 2,5

vagas por bicicleta.

Média de uso por morador:

número de viagens por dia por

morador. Ideal: uma viagem

para cada 20 a 40 moradores

Número de posições: número

total de vagas disponíveis para

depositar as bicicletas.

-

Número de usuários

recorrentes por bicicleta em

serviço. Ideal: 10 usuários

recorrentes por bicicleta em

serviço, para que o sistema

funcione bem

Número de estações: número

de locais específicos em que se

pode retirar ou devolver uma

bicicleta

- -

Número de usuários: devem ser

definidos de forma distinta os

ocasionais (alugam por no

máximo 7 dias) e os

permanentes (alugam por 1

mês ou 1 ano)

- -

Fonte: Autora com base em ITDP (2014a).

Após a fase de planejamento e estudo de viabilidade, o ITDP (2014a) recomenda que a

administração municipal inicie o planejamento detalhado do sistema. Que inclui a escolha do

software de controle, dos equipamentos e tipo de bicicleta a ser utilizado, o projeto das estações

(manual ou automática, modular ou permanente e mecanismo de travamento) e os sistemas de

T.I., além da elaboração de plano de comunicação, estratégias de marketing e identidade visual,

bem como os estudos de localização das estações.

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Além das fases citadas, cabe ressaltar os custos de implantação de um sistema de

compartilhamento de bicicletas. Eles incluem investimento na compra das bicicletas e estações,

componentes do sistema de T.I., centro de controle, local para manutenção e veículo para

realização da redistribuição das bicicletas entre estações. Além destes, os custos operacionais

como a contratação de uma equipe, seguros, marketing, website e despesas de lançamento

(ITDP, 2014a).

3.1.3. As Bicicletas Compartilhadas no Brasil

Conforme mencionado, no Brasil é recente o reconhecimento da utilização da bicicleta como

meio de transporte e como contribuinte para o desenvolvimento sustentável. Enquanto na

Europa a bicicleta já era utilizada como modal de transporte desde a virada do século XIX, no

Brasil, país que estava em construção e que dispunha de espaço para o automóvel, a bicicleta

foi vista durante muito tempo com preconceito e principalmente como meio de transporte para

pessoas de baixa renda (ALCORTA, 2003).

Porém, com o aumento da preocupação ambiental e com o surgimento do conceito de

desenvolvimento sustentável, o interesse pela bicicleta aumentou e a mesma passou a ser vista

como uma incentivadora da inclusão social e da equidade no uso do espaço público, sendo então

inserida nas políticas públicas de mobilidade. Muitas empresas privadas em parceria com

governos locais ou universidades, têm ofertado serviços de compartilhamento de bicicletas no

Brasil, ainda que em escalas muito menores se comparadas com as cidades europeias.

No Brasil os sistemas de compartilhamento de bicicletas começaram a ser implantados a poucos

anos. As cidades pioneiras foram Toledo no Paraná2 e Rio de Janeiro, no ano de 2011. Após as

cidades de São Paulo, Santos, Porto Alegre, Salvador, Recife e Sorocaba também implantaram

o sistema (KOHL et al., 2015).

Um dos sistemas brasileiros mais populares é o do Rio de Janeiro, que possui o Bike Rio. Ele

foi inaugurado para substituir o sistema Pedala Rio, que fracassou devido a pequena frota de

estações e bicicletas, ou seja, 19 e 150, respectivamente. Além disso, o sistema enfrentou

inúmeros casos de furto, que chegaram a 37% da frota de bicicletas (SOUZA, 2011).

2 A cidade de Toledo no Paraná encerrou o sistema Toopeladando no ano de 2013. Contudo, em fevereiro de 2018

a prefeitura lançou uma nova licitação para reimplantar o sistema na cidade.

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O Bike Rio é operado pela Serttel3, empresa vencedora da licitação feita pela Prefeitura

Municipal do Rio de Janeiro. Além disso, o Bike Rio recebeu investimentos da iniciativa

privada, ou seja, o Banco Itaú, que utiliza as bicicletas e estações para publicidade (PERES,

2011).

O objetivo do poder público ao propor o Bike Rio era o de introduzir a bicicleta como meio de

transporte alternativo e viável, além de buscar a redução dos poluentes ambientais, dos

congestionamentos e a humanização da cidade (BIKE RIO, 2018).

Atualmente o sistema conta com cerca de 2600 bicicletas distribuídas em cerca de 260 estações

(MEDDIN; DEMAIO, 2018b), conforme Figura 7. As estações são alimentadas por energia

solar e possuem sistema de comunicação sem fio. As bicicletas são travadas ao rack por meio

de travamento eletromecânico, que garante maior segurança ao sistema. Além disso, as

bicicletas são retiradas das estações por meio de ligação realizada com celular, onde é solicitado

que o usuário digite o número da estação e o número da bicicleta que deseja retirar (BIKE RIO,

2018).

Figura 7: Mapa das estações disponibilizado no site do Bike Rio.

Fonte: Bike Rio (2018).

As bicicletas do sistema são laranjas e pesam cerca de 19kg (Figura 8). O sistema possui um

veículo móvel para pequenas manutenções, e uma central, para manutenções maiores. Além

disso, o Bike Rio possui um veículo de cargas para redistribuição das bicicletas nas estações.

3 A Serttel é a principal operadora do país.

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Figura 8:Imagem das bicicletas e estações do Bike Rio.

Fonte: Bike Rio (2018).

O Bike Rio pode ser utilizado por moradores e não moradores da cidade, como turistas, tanto

nacionais quanto internacionais. O sistema funciona diariamente das 6:00 até às 22:00 horas.

Para se cadastrar, os usuários podem escolher entre comprar um passe diário ou um passe

mensal (BIKE RIO, 2018).

Outro exemplo brasileiro é o Bike Poa, localizado na cidade de Porto Alegre, capital do estado

do Rio Grande do Sul. O sistema foi inaugurado no ano 2012, originado da mesma parceria

realizada na cidade do Rio de Janeiro, ou seja, entre a Prefeitura Municipal e a empresa Serttel

juntamente com o Banco Itaú.

O Bike Poa possui um total de 400 bicicletas e 40 estações (MEDDIN; DEMAIO, 2018c),

conforme Figura 9. As estações estão localizadas dentro de uma área com raio de

aproximadamente 5 km (KOHL et al., 2015). Os usuários que tiverem interesse em utilizar o

sistema poderão adquirir um passe diário ou um passe mensal, devendo os pagamentos serem

feitos por meio de cartão de crédito. O modelo de bicicletas e estações do Bike Poa podem ser

vistos na Figura 10.

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Figura 9: Mapa das estações disponibilizado no site do Bike Poa.

Fonte: Bike Poa (2018).

Figura 10:Imagem das bicicletas e estações do Bike Poa.

Fonte: Bike Poa (2018).

Além destes, o Bike Sampa, localizado na cidade de São Paulo também é um caso de destaque

e está em operação desde o ano de 2012. Ele também partiu da parceria entre a Prefeitura

Municipal a Serttel e o Banco Itaú.

O sistema possui a mesma tecnologia do Bike Rio e do Bike Poa e possui um total de 3.000

bicicletas espalhas em 300 estações (MEDDIN e DEMAIO, 2018d). O Bike Sampa possui

passes de 1 dia, 3 dias, 1 mês ou 1 ano. O modelo de estação e bicicletas é o mesmo utilizado

no Bike Rio (BIKE SAMPA, 2018).

De acordo com o Mapa Mundial de Bicicletas compartilhadas desenvolvido por Meddin e

Demaio (2018a), no Brasil existem 22 cidades com os serviços de bicicletas compartilhadas em

operação, conforme apresentado na Figura 11 e no Quadro 2.

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Figura 11: Mapa mundial de bicicletas compartilhadas- Brasil.

Fonte: Demaio e Meddin (2018).

Quadro 2: Cidades brasileiras que possuem os sistemas de compartilhamento de bicicletas em operação.

Cidade/ Estado Ano da Inauguração N° Estações

Atual

N° Bicicletas

Atual

Rio de Janeiro 2011 260 2600

Petrolina/ Pernambuco 2011 10 30

Porto Alegre/Rio Grande do Sul 2012 40 400

Bertioga/ São Paulo 2012 7 45

Santos/ São Paulo 2012 37 370

Sorocaba/São Paulo 2012 25 200

Indaiatuba/ São Paulo 2012 3 200

São Paulo/São Paulo4 2012 300 3000

2013 17 200

Salvador/ Bahia 2013 40 500

Recife/ Pernambuco 2013 80 800

Belo Horizonte/ Minas Gerais 2013 40 400

Ipaussu/São Paulo 2013 1 12

Fortaleza/Ceará 2014 80 800

Aracajú/ Sergipe 2014 5 50

Brasília/ Distrito Federal 2014 50 450

Goiânia/ Goiás 2016 15 150

Uberlândia/ Minas Gerais 2016 4 40

Vitória/ Espírito Santo 2016 20 200

Passo Fundo/Rio Grande do Sul 2016 10 100

Belém/ Pará 2016 9 80

Manaus/ Amazonas 2017 11 110

Vila Velha/ Espírito Santo 2018 20 200

Fonte: Autora, com base em Meddin e Demaio (2018).

4 A cidade de São Paulo possui dois sistemas em operação, um em parceria com o Banco Itaú e outro em parceria

com o Bradesco.

Em operação

Em planejamento

Encerrado

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Por fim, destaca-se que inúmeros estudos vêm comprovando os benefícios gerados nas cidades

brasileiras que implantaram os sistemas, conforme será citado neste trabalho. Muitas destas

cidades estão contribuindo com a disseminação da ideia de que a bicicleta pode ser utilizada

como meio de transporte e não apenas para lazer e esporte, modificando os padrões de

mobilidade urbana, ainda que em pequena escala frente aos atuais problemas de mobilidade

urbana enfrentados nas cidades brasileiras.

3.2. Estudo de Caso: Barcelona e o Bicing

Como forma de alcançar os objetivos da pesquisa e subsidiar o desenvolvimento de diretrizes

de melhoria, adequação e ampliação para o Passo Fundo Vai de Bici, neste subcapítulo foi

desenvolvido um estudo de caso onde, além das informações coletadas na literatura, foram

sistematizadas informações coletadas por meio de viagem de campo para realização de

entrevistas com especialistas no tema.

Neste sentido, em levantamento bibliográfico realizado constatou-se que o sistema Bicing de

Barcelona está entre os sistemas do mundo com melhor desempenho. Essa afirmação baseia-se

nos indicadores: Número de viagens por 1.000 moradores dentro da área de cobertura do

sistema, ou seja, 67,9; e Número de viagens por dia por bicicleta, 10,8 (ITDP, 2013).

Em virtude destes dados, o sistema Bicing alcançou 1° lugar em um ranking feito pelo IPTD

com 7 cidades, superando as cidades de Lyon, Cidade do México, Montreal, Nova York, Paris

e Rio de Janeiro (ITDP, 2013; MOBILIZE, 2013).

Além disso, outros estudos comprovam o impacto positivo do Bicing na cidade de Barcelona.

Rojas-Rueda et al. (2011) analisaram os benefícios do ciclismo para a saúde humana e o meio

ambiente. Eles concluíram que, na época, o Bicing evitava 12,28 óbitos por ano (24% as mortes

anuais na cidade), considerando a redução de acidentes rodoviários e da poluição do ar e a

prática de atividades físicas. Além do impacto na qualidade de vida, os autores concluíram

também que a redução anual das emissões de CO2 foi de 9.062.344 kg.

O ArchDaily (2014) destacou que as cidades latino americanas que pretendem implantar os

sistemas de compartilhamento de bicicletas devem observar e aprender com as experiências de

cidades mais avançadas, como Barcelona. Sendo, por estes motivos, escolhida para a realização

do estudo de caso e viagem de campo nesta pesquisa.

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A cidade de Barcelona localiza-se na Espanha e é a capital da Catalunha. Ela possui cerca de

1.611.800 habitantes e é considerada o maior centro industrial do país (AJUNTAMENT DE

BARCELONA, 2016).

Desde março de 2007 a cidade possui um dos maiores sistemas de compartilhamento de

bicicletas do mundo chamado Bicing. Atualmente o sistema conta com cerca de 6.000 bicicletas

distribuídas em cerca de 420 estações, conforme Figura 12. Um diferencial é que Barcelona

também possui bicicletas elétricas, distribuídas em 46 estações, que complementam o sistema

de compartilhamento e facilitam viagens mais longas e percursos em áreas com topografia mais

íngreme. O Bicing possui uma área de cobertura (calculada a partir de um raio de 500 metros

em torno de cada estação) de 42 km², e a densidade das estações é de 10,3 (ITDP, 2014a). O

número de viagens diárias por bicicleta é de 7,5 (BICING, 2016).

Figura 12: Estações de bicicleta em Barcelona. Fonte: Autora (2017).

Segundo o site do Bicing (2016), os primeiros trinta minutos de cada viagem são incluídos na

taxa paga no momento do cadastro e válido por um ano, excedido este tempo são cobradas taxas

adicionais de acordo com o intervalo de tempo utilizado. As viagens podem durar no máximo

duas horas e os usuários retiram e devolvem as bicicletas através de um cartão magnético em

um totem automatizado, além disso, somente maiores de 16 anos podem se cadastrar para

utilizar o serviço.

As bicicletas podem ser utilizadas de segunda a quinta-feira das 05h às 02h e fora desta janela

de tempo elas somente podem ser devolvidas. Nas sextas-feiras podem ser utilizadas das 05h

às 03h e aos sábados e domingos o serviço funciona 24 horas. Atualmente, o site do Bicing

disponibiliza mapa com a localização de todas as estações, incluindo as das bicicletas elétricas,

onde se pode acompanhar a situação em tempo real de cada uma delas, ou seja, número de

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bicicletas e vagas disponíveis. Em relação às bicicletas elétricas, elas possuem um motor que

necessita que o usuário pedale para carregar, elas podem atingir uma velocidade máxima de 20

km/h (BICING, 2016).

A partir das entrevistas realizadas com os especialistas selecionados, foi possível coletar uma

série de informações relacionadas ao Bicing. Neste sentido, de acordo com um professor e

pesquisador de Universidade Politécnica da Catalunha – UPC (Entrevistado 1), o objetivo da

implantação do Bicing foi motivar o transporte sustentável e aproveitar o território que é

bastante plano. Também, o professor complementou que a implantação do Bicing segue os

objetivos do Plano de Mobilidade de Barcelona, que considera a reestruturação da cidade em

supermanzanas, ou seja, no agrupamento de 9 quarteirões, onde, em seus centros, a prioridade

é o incentivo ao uso da bicicleta e a liberação de espaço que antes eram usados pelos carros

para os pedestres e ciclistas, conforme ilustrado nas fotos da Figura 13.

Figura 13: Supermanzana em fase experimental em Barcelona.

Fonte: Autora (2017).

De acordo com o entrevistado 2, funcionário da Prefeitura de Barcelona do setor de urbanismo

e usuário do Bicing, constatou-se que, desde a sua implantação, o objetivo do sistema era

melhorar a mobilidade urbana em Barcelona, complementando o transporte público

convencional, a fim de se utilizar a bicicleta como transporte público, de forma fácil, direta e

saudável.

Neste contexto, segundo o site do Bicing (2016), um total de 14.254.000 viagens foram

realizadas somente no ano de 2016, e de 2007 até janeiro de 2017 foram realizadas cerca de

122 milhões de viagens, sendo percorridos 256 milhões quilômetros. A duração média das

viagens é de 13 minutos e percorre-se cerca de 600 km por bicicleta por mês. Quanto aos

usuários, 57% deles são homens e 43% são mulheres.

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3.2.1. As Principais Dificuldades Enfrentadas e as Estratégias Para Solucioná-las

Com base nas entrevistas realizadas com os especialistas constatou-se que, em sua fase de

implantação, as maiores dificuldades do Bicing relacionavam-se com a questão de que não

havia a cultura da bicicleta na cidade de Barcelona, apesar de a mesma ter evoluído muito nos

últimos anos. Os entrevistados 1, 2 e 3 (representante da empresa operadora do Bicing),

destacaram que a cidade só possuía ciclovia em suas principais vias.

Além disso, o entrevistado 1, esclareceu que no início havia dificuldade de se trabalhar com a

demanda e oferta do sistema Bicing. Ou seja, entender onde as estações deveriam estar

localizadas e segundo ele, levou-se tempo para um bom planejamento da rede como um todo.

Sob a ótica do entrevistado 2, no início ocorreram muitos problemas com o sistema operacional

do Bicing. Ele destacou que algumas bicicletas não funcionavam bem e muitas vezes o sistema

não reconhecia a devolução das mesmas nas estações. Ainda, muitas vezes não havia vagas

livres para depositar a bicicleta na estação desejada e não havia um aplicativo que avisasse em

tempo real a situação das estações para que o usuário pudesse se programar. Ademais, ele

confirmou que como a cidade de Barcelona não possuía a cultura da bicicleta, muitos ciclistas

sentiam-se confusos quanto aos locais que poderiam circular, gerando conflitos entre pedestres,

motoristas e ciclistas.

O representante da empresa responsável pela operação do Bicing em Barcelona, entrevistado

3, complementou que na fase de implantação, as principais dificuldades relacionadas ao Bicing

eram os casos de vandalismo, que geravam um desafio de manutenção e reposição de bicicletas.

No entanto, o mesmo foi diminuindo com o tempo e atualmente ocorrem de 2 a 2,5% de casos

de vandalismo ao mês, com exceção dos meses de férias das escolas, onde o vandalismo

aumenta para 4 até 4,5%.

A maioria das estações Bicing estão localizadas próximas às entradas das estações de metrô,

trem e estacionamentos públicos. Neste sentido, o entrevistado 1 explicou que, com o passar

dos anos surgiu a necessidade de se trabalhar e se pensar a intermodalidade em Barcelona, e a

partir desta preocupação as estações de bicicletas passaram a ser implantadas próximas aos

terminais de transporte público. No entanto, o entrevistado 1 afirmou que ainda falta muito para

resolver a questão da intermodalidade na cidade, especialmente porque as tarifas de transporte

não são unificadas, representando uma falha na mobilidade urbana e um desafio para o poder

público.

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Além destas informações, em uma pesquisa de satisfação realizada em 2010 com os usuários

do Bicing, os dois maiores problemas detectados foram a impossibilidade de encontrar uma

bicicleta quando o usuário deseja iniciar sua viagem devido a ausência de bicicletas e a

impossibilidade de deixar a bicicleta na estação desejada devido a ausencia de vagas livres

(KALTENBRUNNER et al., 2010).

Neste sentido, o entrevistado 3 afirmou que atualmente existem cerca de 105.000 usuários

cadastrados no sistema e confirma que a rede ainda não atende a todos os usuários, ou seja, há

um desequilíbrio entre o serviço ofertado e a demanda por bicicletas.

Frente a esta dificuldade, o sistema Bicing possui furgões para redistribuição das bicicletas

quando determinadas estações estão muito cheias ou vazias, conforme Figura 14. Os usuários

podem solicitar a redistribuição por telefone quando observarem estas situações. No entanto,

na prática, os mesmos não esperam pela chegada dos furgões e acabam desistindo ou tendo que

caminhar até outra estação, já que os furgões não possuem horário fixo nem garantem um tempo

de resposta máximo (KALTENBRUNNER et al., 2010).

Ainda sobre a questão da redistribuição, muitos usuários do Bicing utilizam as bicicletas do

sistema para descerem das partes mais elevadas da cidade, contudo, utilizam outros meios de

transporte para subi-las. Neste sentido, os operadores do Bicig utilizam a estratégia de

redistribuição contínua das bicicletas da parte mais baixa até a mais alta da cidade (MIDGLEY,

2011).

Figura 14: Furgão redistribuindo as bicicletas do Bicing no turno da noite.

Fonte: Autora (2017).

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Quanto à algumas soluções criadas para as dificuldades atuais, o entrevistado 3 afirmou que

existem projetos para implantação de estações mistas, com bicicletas mecânicas e elétricas,

onde com o mesmo cartão se poderá utilizar qualquer tipo de bicicleta. Já que em Barcelona a

parte central da cidade está situada em um leito de vale, sendo que em muitas regiões o

deslocamento de bicicleta não se torna atrativo.

Também, como forma de motivar as pessoas a utilizar a bicicleta como meio de transporte, os

operadores do sistema estão planejando criar uma gamificação para pontuar e premiar as

pessoas que mais se deslocarem de bicicleta pela cidade. Além disso, o entrevistado 3 afirmou

que o poder público local está gradativamente reduzindo a velocidade dos carros para tornar os

deslocamentos de bicicleta mais seguros, além de, gradativamente, também reduzirem o espaço

de circulação de veículos para criar mais ciclovias.

Ademais, o entrevistado 1 defendeu que, como estratégia para melhoramento do sistema deve-

se buscar uma diversificação das tarifas do Bicing, já que, atualmente, todos os usuários pagam

igualmente, independente da intensidade de utilização.

Quanto a cultura da bicicleta, o entrevistado 2 afirmou que a mesma mudou muito após o

Bicing. O sistema acabou modificando a forma de a população se deslocar na cidade, além de

mudar também o uso dos demais transportes públicos. Ele afirmou que após o Bicing, o uso da

bicicleta privada também se intensificou.

Neste contexto, o entrevistado 3 esclareceu que nos últimos anos estão surgindo muitos ateliês

de aluguel de bicicletas e além disso, muitas lojas que antes só vendiam bicicletas agora vendem

e alugam, como um “efeito colateral” do Bicing.

Quanto à infraestrutura dedicada a bicicleta, o entrevistado 1 explicou que as ciclovias nas

principais vias da cidade existem muito tempo antes de o Bicing ser implantado. No entanto,

com o passar dos anos começaram a estender a rede cicloviária por outras vias, seja por pintura

no chão ou ciclovias centrais, no meio dos carros (Figura 15). Neste sentido, o entrevistado 3

afirmou que como o Bicing foi muito bem aceito pela população, o poder local investiu muito

em novas ciclovias, no entanto, afirmou que as mesmas ainda se mostram insuficientes para a

população.

Ainda quanto às ciclovias, o entrevistado 3 esclareceu que o planejamento das mesmas não é

feito pela equipe do Bicing e sim pelo setor de mobilidade da Prefeitura de Barcelona. Contudo,

trata-se de um trabalho conjunto e a equipe do Bicing contribui com o mesmo, inclusive

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mudando o local das estações de bicicleta para facilitar a integração entre estações e rede

cicloviária.

No entanto, durante entrevista, o entrevistado 1 afirmou que não existe relação direta entre o

Bicing e a infraestrutura para bicicleta na cidade. Ou seja, a criação de ciclovias não segue as

estratégias do Bicing. As estações são colocadas nos centros de atração e não necessariamente

porque estarão próximas as ciclovias, que são implantadas pensando nas bicicletas em geral e

não somente nas compartilhadas.

Figura 15: Fotos de dois trechos, o primeiro de ciclofaixa e o segundo de ciclovia em Barcelona.

Fonte: Autora (2017).

3.2.2. A Operação e o Financiamento do Bicing

A fonte de receitas para manutenção e operação do Bicing são provenientes das taxas de adesão

pagas pelos usuários cadastrados e pelas campanhas publicitárias, onde uma empresa pode

utilizar as bicicletas e estações para promoção de publicidade. Quanto a isto, o entrevistado 1

afirmou que atualmente o governo de Barcelona é de esquerda e tem a ideia de que o sistema

de compartilhamento de bicicletas é um bem público e não se deve cobrar nenhuma taxa dos

usuários, bem como não se deve utilizar as bicicletas para publicidade. O governo entende que

gerar vínculos entre empresas privadas e a prefeitura não é bem visto sob o ponto de vista ético.

Porém, o entrevistado complementou que este posicionamento se tornou conflituoso, já que há

a necessidade de uma fonte de receita para que o serviço se mantenha.

O entrevistado 3 esclareceu que a responsabilidade do Bicing é da Prefeitura de Barcelona, no

entanto, a gestão e operação do serviço fica a cargo de uma empresa público-privada, ganhadora

de um concurso promovido pela Prefeitura. Neste sentido, a Prefeitura controla esta empresa

para que o serviço ofertado seja o mais correto possível, e para isso, a empresa tem de alcançar

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alguns indicadores propostos pela Prefeitura. A responsabilidade das equipes de trabalho e

equipamentos são da empresa. Ainda, o custo total de operação e manutenção do Bicing é de

16 milhões de euros ao ano, destes, 4 milhões de euros provém das taxas pagas pelos usuários

e pela publicidade e 12 milhões de euros provém da própria Prefeitura de Barcelona.

3.2.3. O Bicing e a Sustentabilidade Urbana

Quanto à sustentabilidade urbana, o entrevistado 1 afirmou que, a partir do Bicing mais pessoas

passaram a se deslocar de bicicleta em Barcelona, logo, menos pessoas estão se deslocando de

carro. Neste sentido, em nível ambiental, está se aumentando a qualidade do ar. Já em nível

social, o entrevistado defendeu que deveria buscar-se mais incentivo para que o Bicing fosse

mais barato para os usuários e para que o mesmo tivesse maior cobertura e atendesse a toda a

população. Em nível econômico, o entrevistado defendeu que depende de qual é a perspectiva

em que se analisa o sistema. Ou seja, se o desejo é que ele seja viável ou rentável, destacando

que a cidade é para as pessoas e que mercantilizar um bem público não pode ser um objetivo

deste tipo de sistema, ressaltando que a mobilidade é um direito do cidadão e não pode tornar-

se um negócio.

O entrevistado 1 defendeu também que o poder público deve oferecer distintas formas de a

população se deslocar, que sejam acessíveis economicamente e que rompam as desigualdades

sociais. Para isso, todos os bairros devem ser acessíveis e conectados igualmente. Já que,

quando se fala em preço ou dinheiro relacionado ao transporte, de um lado há o investimento e

manutenção dos serviços e de outro, o retorno, pois sempre que há investimento busca-se um

retorno. No entanto, ao que se refere à mobilidade urbana, deve-se quantificar o ganho ou

retorno em direito social e não em dinheiro.

O entrevistado 2 afirmou que o Bicing é muito barato para a população, já que se paga por volta

de 40 a 50 euros por ano, que é o custo do cartão de um mês de metrô. Além disso, em nível

social, a bicicleta é acessível e é um catalizador de oportunidades para a vida urbana, que

conecta pessoas com a cidade. Por fim, ele afirma que com o passar dos anos o Bicing tornou-

se necessário para muitos usuários, por ser uma maneira fácil, rápida e agradável de se deslocar,

já que permite chegar ao destino desejado de forma mais rápida que o próprio metrô. O

entrevistado 2 destacou ainda que o Bicing criou uma necessidade onde não havia, ou, onde

não se percebia.

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Como visto, com os relatos provenientes das entrevistas juntamente com a pesquisa

bibliográfica, o Bicing tornou-se essencial para a população barcelonense. Os usuários do

sistema podem usufruir das bicicletas para realizar seus deslocamentos curtos ou mais longos,

já que o sistema está parcialmente integrado com outras modalidades de transporte, carecendo

ainda de tarifas integradas. Pode-se notar também que a cidade vem se transformando

gradativamente e a cultura da bicicleta aos poucos vai sendo inserida no dia a dia população e

no espaço físico da cidade, que passou a privilegiar os deslocamentos ativos em detrimento dos

motorizados, sendo o sistema Bicing um importante contribuinte deste processo.

Dessa forma, pode-se confirmar a relevância do caso estudado bem como conhecer uma série

de experiências quanto a problemas enfrentados e estratégias encontradas para solucioná-los.

Mesmo que Barcelona possua uma realidade distinta da realidade de Passo Fundo, muitas ações

podem inspirar a busca por melhorias do Passo Fundo Vai de Bici e da mobilidade ativa como

um todo nas cidades brasileiras.

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4. ANÁLISES MACRO E MICROESCALA EM PASSO FUNDO

Neste capítulo serão apresentadas informações quanto à cidade de Passo Fundo, a qual está

inserido o objeto de estudo da presente pesquisa. Na primeira parte serão sistematizadas

informações relevantes quanto ao processo de urbanização, morfologia e condições de

mobilidade na cidade e, por fim, serão apresentadas informações quanto ao recente incentivo

ao uso da bicicleta como meio de transporte na cidade.

4.1. A Cidade de Passo Fundo

A cidade de Passo Fundo localiza-se ao norte do estado do Rio Grande do Sul e dista 225 km

(em linha reta) da capital do Estado, Porto Alegre. Sua latitude sul é 28° 05’ e sua longitude w

54° 24’ 32”, conforme Figura 16. Ela possui população estimada de aproximadamente 198.800

habitantes e é considerada uma cidade de médio porte (IBGE, 2018b).

Figura 16: Mapa de localização da cidade de Passo Fundo no Estado e país.

Fonte: Autora com base em PMPF (2018).

Como forma de compreender a atual configuração da cidade bem como as atuais condições de

mobilidade, neste subcapítulo foram sistematizadas informações relevantes quanto ao

município, desde seu histórico de urbanização, crescimento e de Planos Diretores, sua

configuração, morfologia, hierarquia viária até o Plano Municipal de Mobilidade e a recente

inserção e incentivo ao uso da bicicleta.

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Quanto ao processo de urbanização de Passo Fundo, o mesmo teve início na fase do

Tropeirismo no Rio Grande do Sul, que se intensificou no século XVIII com a criação de

caminhos comerciais. Neste contexto, durante os séculos XVII e XIX inúmeros povoados se

estabeleceram nestes caminhos, tais que, vieram a formar uma série de municípios, como no

caso de Passo Fundo (IBGE, 2017b). A região de Passo Fundo passou a fazer parte do 4°

Distrito de Cruz Alta por volta de 1834 e finalmente em 1857 o distrito foi elevado à município

(FERRETTO, 2012; GOSH, 2002; PASSO FUNDO, 2014a).

Neste contexto, a cidade surgiu de forma pouco adensada onde hoje está situado o Bairro

Boqueirão, ao longo da chamada Rua do Comércio5, estabelecida como caminho para a

passagem das tropas (FERRETO, 2012). Os mapas representados na Figura 17 apresentam uma

mancha das primeiras décadas de expansão de Passo Fundo sob a atual malha urbana da cidade,

o primeiro até 1953 e o segundo até 1988.

Figura 17: Mapas da expansão urbana de Passo Fundo até 1853 e até 1888, representada em laranja em

cima da malha urbana atual.

Fonte: Autora com base em Ferretto (2012).

No final do século XIX a região de Passo Fundo passou por dois acontecimentos que

alavancaram o seu desenvolvimento, ou seja, a implantação da ferrovia e a colonização

europeia. Sendo assim, a partir da articulação econômica viabilizada pela ferrovia, que

conectava a região com o Estado de São Paulo em conjunto com a disseminação de práticas

agrícolas trazidas pelos colonos europeus, a cidade se configurou como polo de

5 Atual Avenida Brasil, principal eixo indutor da cidade.

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desenvolvimento para a região. Como consequência houve transformações na configuração da

cidade e nas condições de mobilidade urbana (FERRETTO, 2012; PASSO FUNDO, 2014a).

A partir da implantação da ferrovia a cidade passou a se desenvolver próximo à estação férrea,

a sudoeste do município, conforme ilustrado no mapa da Figura 18. No entanto, apesar do centro

da cidade localizar-se ao redor da estação, a chamada Rua do Comércio, via pela qual os

tropeiros utilizavam, já estava consolidada como um importante eixo estruturador para a cidade.

Além da área central, entre o final do século XIX e a metade do XX formaram-se os primeiros

bairros residenciais na cidade (FERRETO, 2012).

De acordo com Wikert (2017), nesta mesma época foi construída a atual Rua General Neto,

seguindo os conceitos dos bulevares franceses, com abundante arborização e largura. Esta via

foi criada com o objetivo de conectar a estação férrea com a Rua do Comércio, além de

caracterizar a cidade de Passo Fundo como uma cidade moderna (Figura 19).

Figura 18: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1918, representada em laranja em cima da

malha urbana atual.

Fonte: Autora com base em Ferretto (2012).

No contexto da mobilidade, as vias de Passo Fundo caracterizam-se, de forma geral, como

largas, mesmo quando não existiam veículos motorizados. Quanto às vias perpendiculares a

Rua do Comércio, as mesmas caracterizam-se entre as mais largas, no sentido da estação férrea

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(sul), e as mais estreitas, do lado oposto da Rua do Comércio (norte). Esta característica deve-

se ao fato de que inicialmente as vias perpendiculares posicionadas ao norte da Rua do

Comércio eram estradas que levavam até as antigas fazendas. Além disso, ao longo dos anos

foram surgindo muitas ruas informais, sem nenhum desenho ou planejamento (WIKERT,

2017).

Figura 19: Fotos da rua General Neto na década de 1940.

Fonte: Fotos Antigas RS (déc. 1940).

Quanto ao primeiro Plano Diretor da cidade, o mesmo foi desenvolvido no início da década de

1950, representando a consolidação regional e a importância de Passo Fundo como polo

(GOSH, 2002). De acordo com o Plano de Mobilidade de Passo Fundo o primeiro Plano Diretor

da cidade indicou os vetores de crescimento urbano nas direções oeste, norte e sul. Além disso,

por meio das rodovias RS 324 e BR 285 a cidade de Passo Fundo conectou-se a Porto Alegre e

a São Paulo, alavancando o desenvolvimento da cidade (PASSO FUNDO, 2014a).

A partir da criação de novos bairros a cidade começou a expandir-se para outros sentidos. A

criação da Vila Cruzeiro e da Vila Vera Cruz6 configuraram um outro importante eixo

estruturador na cidade, sentido norte-sudeste, formado pela avenida Presidente Vargas (na

época Avenida Progresso) e Rua Teixeira Soares (FERRETO, 2012). Além disso, nesta época

a cidade expande-se para leste da Avenida Brasil, ultrapassando a barreira natural existente, ou

seja, o rio Passo Fundo. O mapa representado na Figura 20 ilustra esse crescimento.

6 A delimitação dos bairros Vera cruz e São Cristóvão no mapa representado na Figura 23 refere-se à configuração

atual dos mesmos.

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Figura 20: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1953, representada em laranja em cima da

malha urbana atual.

Fonte: Autora com base em Ferretto (2012).

Aproximadamente em 1960 a cidade teve seu primeiro ônibus operando como transporte

coletivo urbano, já que, com o surgimento de novos bairros, a necessidade de deslocamentos

aumentou. A primeira linha a operar em Passo Fundo foi entre os Bairros Vera Cruz e São

Cristóvão, ou seja, uma linha transversal que atendia aos principais polos atratores de público.

Nesta época, a mobilidade na cidade já acontecia por diferentes modalidades, ou seja, os

veículos de propulsão animal, o trem, o ônibus e os primeiros carros (WIKERT, 2017).

De acordo com Ferreto (2012) a implantação dos primeiros loteamentos periféricos voltados à

população de baixa renda se deu por volta de 1950, principalmente nos bairros Planaltina, Lucas

Araújo, Edmundo Trein, Luiz Secchi e Alexandre Zachia. Em 1970 iniciou-se a verticalização

da área central, habitada principalmente pela população de média e alta renda, marcando esse

período como uma produção desigual e segregada do espaço urbano. É também nesta época

que se iniciam as ocupações de risco, como as próximas ao leito do rio, além das ocupações de

áreas rurais passíveis de urbanização, que fizeram com que a cidade crescesse para todos os

lados.

Ademais, as implantações de grandes equipamentos urbanos também contribuíram para a

expansão da cidade, como a implantação da Universidade de Passo Fundo em um de seus

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extremos, na década de 1970. A implantação deste equipamento fez com que a população

urbana aumentasse aproximadamente 6 vezes nesta época. O mapa representado na Figura 21

ilustra o crescimento da cidade nesta época.

Figura 21: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 1970, representada em vermelho em cima da

malha urbana atual. Nota-se o surgimento dos primeiros loteamentos periféricos.

Fonte: Autora com base em Ferretto (2012).

Na década de 1980 os trilhos de trem foram retirados de dentro da cidade e movidos para onde

deveriam ser os limites urbanos. Nesta mesma época criou-se um cinturão (atuais vias

perimetrais da cidade) a fim de conter o crescimento urbano (WIKERT, 2017), conforme pode

ser visto na Figura 22, juntamente com a mancha de expansão nesta fase.

Nesta mesma época foi elaborado o segundo Plano Diretor da cidade com o objetivo de

posicionar Passo Fundo como um polo regional nos setores econômico e cultural. Para isso,

elaboraram um zoneamento que permitia altos índices de aproveitamento na área central,

iniciando assim o adensamento e a especulação imobiliária (GOSCH, 2002).

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Figura 22: Mapa da expansão até 1989, da ferrovia a partir de 1982 e do anel perimetral.

Fonte: Autora com base em Ferretto (2012).

Já no ano de 2000, a cidade passou por um novo processo de planejamento coordenado pela

SEPLAN, ou seja, o Plano Diretor em vigor passou por um processo de reformulação, foi o

chamado Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI). Este plano tinha como objetivo

o planejamento estratégico do desenvolvimento local e regional, incluindo a criação de um

Plano Municipal de Mobilidade. Este processo buscou envolver a população nas tomadas de

decisões e visava projetar os próximos 30 anos do município, ele representou um importante

avanço quanto às questões de planejamento para a cidade (ROSSETO, 2003). O PDDI foi

lançado no ano de 2006 e o Plano Municipal de Mobilidade, primeiro e único, somente no ano

de 2014, sendo que o mesmo é reconhecido pela municipalidade, porém ainda não se configura

como lei.

O mapa da Figura 23 ilustra a expansão urbana de Passo Fundo até os últimos anos. Nota-se a

criação de loteamentos próximos ao principal reservatório utilizado pela concessionária de

abastecimento de água, destacados no mapa. Ressalta-se que um destes loteamentos se localiza

fora das vias perimetrais.

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Figura 23: Mapa da expansão urbana de Passo Fundo até 2016, representada em vermelho em cima da

malha urbana atual.

Fonte: Autora com base em mapa da PMPF (2017).

Atualmente a cidade está dividida em 22 setores, entre bairros, vilas e loteamentos, ela é

considerada uma cidade de porte médio, sua taxa de urbanização é de 97,5%, sua área territorial

é de 783,421 km² e sua densidade demográfica é de 235,92 hab/km² (IBGE, 2018b). Passo

Fundo é considerada polo regional principalmente nos setores de saúde, educação, comércio e

serviços.

4.2. Análise Morfológica e as Atuais Condições de Mobilidade em Passo Fundo

Como forma de compreender a qualidade dos espaços urbanos presentes na cidade de Passo

Fundo, este tópico apresentará uma breve análise morfológica da cidade, buscando-se analisar

as características físico-espaciais do espaço urbano que podem influenciar nas condições de

mobilidade.

Como já mencionado, o histórico de políticas públicas locais favoreceu a densidade da área

central, configurando-a como um centro principal. Neste sentido, a expansão da área central de

Passo Fundo ocorreu durante todo o século XX, sendo que a população de alta renda se

concentrou e o centro começou a ser verticalizado.

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Um fato importante quanto à verticalização do centro foram os altos investimentos do mercado

imobiliário, que tinham as classes média e alta como alvo e começaram a construir uma série

de edifícios com uso misto, em sua maioria, com térreo comercial e torre residencial. Sendo

assim, a maioria dos empregos e estabelecimentos comerciais e de serviços concentram-se no

centro principal, criando-se a necessidade de deslocamentos diários para uma parcela da

população (FERRETO, 2012).

Neste cenário, a distribuição espacial em Passo Fundo se dá basicamente entre a área central e

seu entorno imediato ocupado pelas classes média e alta e pela ocupação da periferia com o

restante da população.

Quanto à centralidade, Villaça (2001) e Kneib (2008) destacam que um centro pode ser

entendido como um espaço dinâmico onde ocorrem multifunções, com locais de comércio e

prestação de serviços. Além disso, os autores relacionam o centro com o aspecto acessibilidade,

seja pela presença de infraestrutura viária ou de linhas de transporte coletivo.

Neste sentido, o Plano de Mobilidade de Passo Fundo identifica, além da centralidade principal,

mais 4 centralidades, localizadas nos principais bairros da cidade, conforme pode ser visto no

mapa da Figura 24. Além disso, o Plano de Mobilidade identifica os 2 principais eixos

estruturadores de Passo Fundo, formados pela Avenida Brasil no sentido leste e oeste, pela

Avenida Presidente Vargas no sentido sul e pela Rua Sete de Setembro que une-se a Avenida

Rio Grande, no sentido norte.

Figura 24: Mapa de Passo Fundo com seus principais eixos e centralidades.

Fonte: Autora com base em Plano Municipal de Mobilidade (2014).

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Pode-se perceber que estas centralidades se relacionam fortemente com os principais eixos

indutores da cidade e além disso, estão situadas em bairros que possuem importantes

equipamentos urbanos, áreas de intenso comércio e prestação de serviços, e consequentemente

alto fluxo de pessoas e veículos em circulação diariamente.

Contudo, apesar de o Plano de Mobilidade identificar somente 4 centralidades além do centro

principal, no Mapa de Integração Local R3 desenvolvido por meio da sintaxe espacial, onde se

faz uma análise da configuração urbana, torna-se possível identificar uma série de subcentros.

Neste contexto, Villaça (2001) identifica os subcentros como uma réplica do centro, em escala

menor, porém com as mesmas funções e importância. Além disso, o autor descreve um

subcentro como uma aglomeração diversificada e equilibrada de comércios e serviços que se

forma em função da inacessibilidade das camadas populares à centralidade principal da cidade,

tornando estas regiões importantes.

No mapa representado na Figura 25 é possível observar as áreas da cidade com maior

conectividade e acessibilidade, representadas pelas linhas com cores mais quentes (vermelho,

laranja e amarelo) e que representam os subcentros, e as áreas com menor conectividade,

representadas pelas linhas com cores mais frias (verde, cyan e azul).

Nesse sentido, considerando que a integração local mede a importância de um determinado

espaço, dentro de uma área (NOGUEIRA, 2006), pode-se concluir que existem na cidade

inúmeros subcentros, em diferentes escalas e tamanhos. Sendo assim, pode-se observar a

formação de multicentralidades que, em muitos casos, tratam-se de réplicas em menores escalas

do centro principal.

No recorte ilustrado na Figura 26 pode-se observar os subcentros presentes na Vila Xangri-la,

Professor Schisler e Loteamento Jaboticabal. Nota-se que estes subcentros caracterizam-se pela

presença de uma via principal, que funciona como receptora de fluxo e está destacada em cores

quentes, pela presença de vias intermediárias, que assumem o papel de distribuidoras e em sua

maioria estão destacadas em cores quentes, e as vias menores, que promovem movimento nos

arredores. Além disso, destaca-se a existência de multifunções de comércio e serviços, em

escalas pequenas, porém que contribuem para a geração de atratividade nesta região.

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Figura 25: Mapa de Integração Local desenvolvido no Dephtmap X 0.5 com marcação de recorte para

aproximação.

Fonte: Autora (2018).

Figura 26: Recorte aproximado do Mapa de Integração Local e marcação das vias principais.

Fonte: Autora (2018).

A identificação da presença de inúmeros subcentros permite afirmar que existem inúmeras áreas

da cidade além do centro principal, onde ocorrem importantes atividades e principalmente, que

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há um elevado fluxo de pessoas diariamente. Portanto, áreas com potencial para implantação

de equipamentos urbanos e sistemas de transporte.

Quanto ao sistema viário, conforme mencionado, Passo Fundo possui 2 eixos principais, sendo

que, conforme supracitado, em seu cruzamento localiza-se o centro principal da cidade. A

mesma está cercada pelas vias perimetrais, que se configuram como rodovias federais e

estaduais. Além disso, além das vias que compõe seus eixos indutores, destacam-se como vias

principais as paralelas situadas à norte da Avenida Brasil, como a rua Paissandú, Uruguai e a

rua Eduardo de Brito, à sul como a rua Moron e Independência e algumas perpendiculares como

a Coronel Chicuta, Fagundes dos Reis, Benjamin Constant, dentre outras.

No mapa da Figura 27 é possível perceber a hierarquia das vias da cidade, bem como

compreender a desconexão entre importantes regiões de Passo Fundo, especialmente entre

centro e periferia. Isso se deve à própria configuração viária, já que existem muitas vias

descontínuas e poucas vias de ligação, configurando o sistema viário de Passo Fundo como uma

malha irregular e pouco coesa.

Figura 27: Mapa do sistema viário de Passo Fundo.

Fonte: Autora com base em mapa da PMPF (2018).

Pode-se notar que muitas vias importantes são interrompidas por barreiras físicas, como o

viaduto da ferrovia, a linha férrea e os loteamentos desconexos, e naturais, como o rio que cruza

várias regiões da cidade.

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Além disso, o mapa Choice, desenvolvido através da análise de segmentos permite confirmar a

situação de descontinuidade das vias. Esta análise baseia-se na centralidade de atravessamento,

ou seja, a probabilidade de se atravessar um determinado segmento a partir de outros pontos.

Esta análise facilita a identificação de eixos contínuos no sistema urbano (HILLIER; YANG;

TURNER, 2012). Conforme pode ser visto no mapa da Figura 28 somente alguns trechos da

Avenida Brasil, da Avenida Presidente Vargas e da Rua Teixeira Soares aparecem com cores

quentes (vermelho, laranja e amarelo), representando maior continuidade.

Figura 28: Mapa Choice desenvolvido no Dephtmap X 0.5.

Fonte: Autora (2018)

Ainda quanto à conexão das vias, o mapa de integração (Figura 29) desenvolvido através da

análise de segmentos mostra que a Avenida Brasil, especialmente em sua área mais central,

possui alto índice de integração, representada pela cor vermelha. Isso quer dizer que esta é a

via da cidade mais bem integrada à outras vias, que garante maior facilidade para deslocamentos

de um ponto ao outro. Já as áreas mais periféricas da cidade, que aparecem com cores frias, são

os espaços mais segregados.

Além disso, pode-se perceber também um maior índice de integração nas primeiras vias

paralelas à Avenida Brasil (Paissandú e Uruguai ao norte e Moron ao sul), também na região

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central da cidade, representadas na cor laranja. As vias perpendiculares à Avenida Brasil,

situadas na região central também possuem índice de integração considerável, representada pela

cor laranja. Esta análise auxilia na previsão de fluxos de pedestres e veículos, bem como para

a identificação da localização das áreas de maior interesse para encontros sociais.

Figura 29: Mapa de Integração Global- análise de segmentos, desenvolvido no Dephtmap X 0.5.

Fonte: Autora (2018).

Quanto aos elementos estruturadores do espaço, conforme mencionado anteriormente, o

crescimento da malha urbana da cidade de Passo Fundo se deu basicamente por meio da criação

de novos bairros e loteamentos, à medida que a população urbana aumentava. Nesse sentido,

de forma geral, pode-se perceber que, nas primeiras ocupações, a configuração dos quarteirões

da cidade de Passo Fundo se deu basicamente de forma regular, conforme pode ser observado

nos quarteirões ao longo da Avenida Brasil e nas vias paralelas a mesma, especialmente na área

central da cidade (Figura 30).

Pode-se observar também a presença de quarteirões regulares na região localizada próxima a

antiga estação férrea, que também se constituiu nas primeiras ocupações urbanas de Passo

Fundo, e algumas pequenas parcelas localizadas em alguns bairros. Contudo, com o passar dos

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anos, com a criação de novos setores, loteamentos e bairros, planejados de maneira isolada, sem

considerar as estruturas pré-existentes, nota-se que, de forma geral, cada região possui uma

configuração distinta, sendo que a regularidade não é mantida.

Figura 30: Mapa com identificação de quarteirões regulares.

Fonte: Autora com base em mapa da PMPF (2018).

Pode-se notar também que, na junção entre diferentes loteamentos/bairros e nas regiões

próximas às barreiras físicas e naturais como o leito do rio, a linha férrea ou as vias perimetrais,

existem inúmeros quarteirões irregulares, que foram adaptados às limitantes existentes e

contribuem para a situação de descontinuidade das vias de Passo Fundo.

Neste contexto, pode-se encontrar na cidade quarteirões de variadas formas, desde os

quadrados, retangulares e triangulares até as mais diversas formas poligonais. Além dessa

irregularidade de formas, há também irregularidade de dimensões. Neste sentido cabe recordar

que a presença de quarteirões muito extensos, situados principalmente nas áreas mais

periféricas da cidade, reduzem a quantidade de vias e consequentemente a possibilidade de

caminhos. Neste contexto, Jacobs (2011) ressalta a importância das vias como fator de

conectividade, afirmando que quanto mais possibilidades de deslocamento, mais segura a

cidade se torna, especialmente para os pedestres e ciclistas.

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Esta irregularidade causada pelos quarteirões, pela presença de vazios urbanos e,

principalmente pela ausência de planejamento coeso, que considerasse a cidade como unidade,

prejudicaram a acessibilidade e conectividade da Passo Fundo. Em muitas regiões nota-se a

ausência de vias que poderiam conectar melhor as partes da cidade e, por não existirem, deixam

as regiões isoladas e acarretam problemas de mobilidade.

Ademais, quanto às barreiras físicas, de acordo com Wikert (2017), apesar da tentativa de

mover os trilhos do trem para fora da cidade em 1982, a mesma acabou crescendo e espraiando-

se ao ponto que os trilhos estão novamente dentro dela. Neste sentido, a ferrovia configura-se

como um limite urbano, gerando inúmeros problemas, conforme pode ser analisado no mapa

da Figura 31. Nota-se que existem poucas vias que conectam a região a leste da Avenida Brasil

com o restante da cidade sendo que, entre o centro e o bairro Petrópolis, a conexão se dá

unicamente por meio da Avenida Brasil.

Outra barreira física que deve ser destacada são as vias perimetrais da cidade, que, apesar de

terem sido criadas para conter o crescimento urbano não impediram que novos bairros, como o

Zachia e o Integração, além de condomínios fechados surgissem fora delas. Como

consequência, atualmente existem rodovias urbanizadas, que geram insegurança para a

população que vive nestas regiões, conforme Figura 31.

Além disso, este espraiamento da cidade não pode ser justificado pela falta de espaço, já que a

cidade possui inúmeros vazios urbanos, sendo preferível o adensamento destas áreas ao invés

da expansão horizontal da cidade (PASSO FUNDO, 2014a). Tais vazios ocorrem

principalmente nas regiões mais periféricas, mas também podem ser identificados nas zonas

centrais, conforme destacado no mapa da Figura 31. É possível perceber uma série de vazios

urbanos, que poderiam ser utilizados para urbanização, bem como para criação de parques e

áreas verdes, para preservação dos recursos hídricos.

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Figura 31: Mapa com identificação dos vazios urbanos, expansão além das perimetrais e formas de

ligação entre o bairro Petrópolis e o restante da cidade.

Fonte: Autora com base em mapa da PMPF (2018).

Além dos elementos já citados, outra questão importante quanto à análise da cidade é a sua

topografia. De acordo Rybarczyk e Wu (2010) a análise do relevo da cidade é essencial em

estudos voltados à mobilidade. Neste sentido, na Figura 32 é possível notar que, de forma geral,

a área central da cidade possui pouca variação de altimetria, bem como em toda a Avenida

Brasil Oeste e na região onde encontra-se a estação férrea. Cabe recordar que estas regiões

foram onde ocorreram as primeiras ocupações urbanas de Passo Fundo.

Contudo, no trecho da Avenida Brasil Leste, nota-se uma variação altimétrica maior, entre a

área central e o bairro Petrópolis. Este é mais um dos motivos pelos quais esta área da cidade é

menos conectada com o restante.

No mapa da Figura 33 pode-se analisar a conformação do relevo da cidade em escala menor.

Torna-se possível visualizar que existe pouca variação de altimetria no eixo indutor da cidade

composto pelas vias Avenida Presidente Vargas, Avenida Sete de Setembro e Rua Rio Grande.

Contudo, ao afastar-se destes eixos, em alguns bairros existe grande variação altimétrica, que

chegam a aproximadamente 100 metros e, portanto, uma barreira para a mobilidade ativa na

cidade.

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Figura 32: Mapa de relevo da cidade de Passo Fundo.

Fonte: Google (2018).

Figura 33: Mapa de relevo da cidade de Passo Fundo- aproximado.

Fonte: Google (2018).

4.3. Dados Demográficos e Frota de Veículos

Como consequência do processo de urbanização e adensamento, na última década, Passo Fundo

passou por um aumento da frota motorizada, de aproximadamente 69.600 em 2007 para cerca

de 123.800 em 2017, ou seja, um aumento de 77,87% (DETRAN, 2007, 2017).

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Na Tabela 2 é possível analisar o crescimento da frota de veículos (DETRAN, 2007 a 2017)

juntamente com o crescimento da população (FEE, 2007 a 2017) e dos veículos per capta na

cidade de Passo Fundo.

Tabela 2: Dados de crescimento demográfico e de frota veicular

Ano Frota de veículos em

circulação População Veículos per capta

2007 69.587 184.838 0,37

2008 75.378 186.799 0,40

2009 81.338 188.779 0,43

2010 87.561 190.681 0,45

2011 94.988 193.112 0,49

2012 101.824 194.261 0,52

2013 108.385 195.455 0,55

2014 114.135 196.587 0,58

2015 117.849 197.200 0,59

2016 120.701 197.800 0,61

2017 123.828 198.800 0,62 Fonte: Autora com base em Detran para dados de frota de veículos e na Fundação de Economia e

Estatística para dados de crescimento populacional (2007 a 2017).

Estes dados demonstram o crescimento contínuo da frota de veículos e da população residente

na cidade. Destaca-se que atualmente na cidade existe 1 carro para cada 1,6 pessoas.

Conhecendo-se as dificuldades quanto à mobilidade na cidade, pode-se confirmar a necessidade

de novas estratégias voltadas aos deslocamentos urbanos.

No mapa da Figura 34 é possível visualizar a distribuição da população de acordo com os dados

de densidade demográfica preliminar fornecidos pelo IBGE em todos os setores censitários da

cidade. Pode-se observar que, de forma geral, as maiores concentrações populacionais ocorrem

na área central, ao longo da Avenida Brasil e vias paralelas.

Além disso, quanto à população passofundense, o IBGE (2015) indicou que o salário médio

mensal era de 2,8 salários mínimos, sendo 36,2% da população considerada ocupada. Contudo,

25,7% da população possuía rendimentos mensais de até meio salário mínimo, representando

uma considerável parcela da população com baixos rendimentos.

Quanto à faixa etária, de acordo com o último censo realizado no município (IBGE 2010b), a

maior parcela de residentes é jovem, com idades entre 20 e 29 anos, tanto homens quanto

mulheres.

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Figura 34: Mapa de densidades demográficas por setor censitário de Passo Fundo.

Fonte: IBGE (2010).

Além disso, quanto às formas de deslocamento utilizadas pela população, o gráfico da Figura

35 mostra que mais da metade dos percursos realizados na cidade são feitos com transporte

individual, 22,9% com transporte coletivo e somente 22,2% com transporte não motorizado,

como o ciclismo e a caminhada (PASSO FUNDO, 2014a). Estes dados confirmam que uma das

maiores dificuldades da cidade é o excesso de veículos motorizados individuais e o baixo índice

de utilização do transporte coletivo e não motorizado. Contudo, pode-se dizer que as

características da população favorecem o uso da bicicleta como meio de transporte.

Figura 35: Gráfico de distribuição modal em Passo Fundo.

Fonte: Autora com base em Plano Municipal de Mobilidade (2014a).

22,9

54,8

22,2

Distribuição modal

Transporte coletivo Transporte individual

Transporte não motorizado

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Apesar do cenário apresentado atualmente o poder público da cidade de Passo Fundo, em

consonância com as preocupações globais voltadas ao aumento da qualidade de vida e do

desenvolvimento sustentável, vem investindo em estratégias que buscam promover a

sustentabilidade urbana. Muitas destas estratégias possuem foco na mobilidade e objetivam

preservar a área central do uso do automóvel e reduzir a sobrecarga da infraestrutura.

Estas iniciativas surgiram principalmente a partir do desenvolvimento do primeiro Plano

Municipal de Mobilidade, no ano de 2014. A partir dele, o reconhecimento de que a cidade

possui uma área central sobrecarregada e que sofre os efeitos do esgotamento das políticas de

mobilidade dirigidas somente para o transporte individual, dentre outras dificuldades, tornaram-

se mais claras (PASSO FUNDO, 2014a).

4.4. O Plano de Mobilidade Municipal e o Incentivo ao Uso da Bicicleta

O Plano de Mobilidade da cidade de Passo Fundo tem como principal objetivo “a oferta de

condições adequadas ao exercício da mobilidade da população e da logística de circulação de

mercadorias” (PASSO FUNDO, 2014a, p. 6). Ele parte de preocupações gerais, como a

ampliação da mobilidade de forma qualificada e adequada, melhoria da qualidade de vida da

população urbana, condições adequadas para circulação de mercadorias, insumos, produtos e

cargas em geral a fim de contribuir com o desenvolvimento econômico local e por fim, com a

sustentabilidade da cidade.

Ainda, por meio do plano, a municipalidade revela um posicionamento claro acerca dos

princípios fundamentais de mobilidade para a cidade. O plano firma-se no conceito de

mobilidade sustentável e segue orientações como: integração entre a política de mobilidade e

as demais políticas setoriais; priorização do transporte coletivo público; prioridade para a

segurança e qualidade de vida de seus moradores em detrimento da fluidez do tráfego de

veículos; valorização dos transportes não motorizados; garantia de acesso às pessoas com

restrição de mobilidade; mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos

deslocamentos; e fortalecimento do papel do poder público como regulador e gestor dos

serviços de transporte. Além disso, o plano é bastante claro quanto aos desafios da mobilidade

na cidade e explica que (PASSO FUNDO, 2014a):

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O trânsito já aparece como um dos principais problemas para a população,

principalmente em função do agravamento dos congestionamentos, que

penaliza tanto usuários de automóveis quanto (e muito mais) usuários dos

ônibus. O sistema municipal de transporte coletivo, sem um tratamento

adequado que priorize a circulação dos coletivos, perde competitividade, não

atrai novos passageiros e apresenta crescentes custos operacionais. Pedestres

contam com calçadas em bom estado apenas na área central e ciclistas se

arriscam ao compartilhar o espaço das ruas e rodovias com os veículos

motorizados. Somados, todos esses fatores apontam para uma acelerada perda

de qualidade de vida (PASSO FUNDO, 2014a, p. 9).

Quanto à estrutura, o plano foi desenvolvido a partir da apresentação do histórico de

urbanização da cidade e de uma revisão quanto às políticas municipais, como o PDDI e demais

planos setoriais. Após, apresenta um diagnóstico urbano, considerando questões

socioeconômicas e demográficas, destacando que entre 1940 e 2010, a população do município

de Passo Fundo cresceu 136%, além disso apresenta a caracterização do uso do solo, dentre

outras características.

O plano também apresenta um diagnóstico quanto à frota de veículos, estudos de demanda e

análises espaciais da cidade. Após esta etapa, o plano apresenta um prognóstico feito para o

período de 15 anos, tendo 2030 como ano de horizonte. O intuito do prognóstico era prever os

impactos da infraestrutura de transportes, do crescimento da frota veicular e da demanda por

deslocamentos, na condição hipotética de que não fossem tomadas providencias adequadas.

Nesta etapa foram criados 2 cenários demográficos e no pior deles, no ano de 2030 a população

passofundense chegaria a aproximadamente 195.000 habitantes, dado que, de acordo com as

estimativas do IBGE, já foi ultrapassado. Quanto às previsões de crescimento de demanda por

transportes, no período 2015-2030, chegou-se a um crescimento de viagens de 12% e concluiu-

se que 71,5% das mesmas ocorreriam de modo individual e somente 28,5% de modo coletivo.

Já quanto aos impactos no sistema viário constatou-se que as linhas de ônibus ligadas aos

vetores de crescimento da cidade sofrerão uma sobrecarga de passageiros. Com isso, o plano

apresenta algumas diretrizes e ações de curto, médio e longo prazo para o município, que se

voltam desde a circulação intraurbana até a circulação regional.

Uma das estratégias citadas no plano que já estão implantadas na cidade de Passo Fundo é o

anel perimetral. A partir dele restringiu-se a circulação de veículos pesados na área urbana em

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alguns horários do dia. Também, o anel viário proposto no plano já foi implantado, ou seja, a

partir de rotas perimetrais alternativas, possibilita-se a realização de deslocamentos urbanos

sem a necessidade de se trafegar pelas vias centrais, como forma de reduzir a sobrecarga das

mesmas. Algumas ações menores também podem ser destacadas, como a revisão das

programações semafóricas, criação de vias de mão única, regramento dos cruzamentos,

investimentos em sinalização, revisão de algumas áreas de estacionamento e conversões, além

da criação do estacionamento rotativo na área central da cidade (WIKERT, 2015).

Como visto, o plano tem, dentre outros objetivos, a valorização dos transportes não motorizados

em detrimento dos motorizados. Neste contexto, cabe destacar as iniciativas voltadas à

mobilidade ativa, em especial ao uso da bicicleta como meio de transporte, foco desta pesquisa.

Quanto à ciclomobilidade, o plano (PASSO FUNDO, 2014) destaca que a cidade de Passo

Fundo possui distâncias compatíveis para o uso da bicicleta, contudo, ressalta alguns

impeditivos:

Algumas condicionantes que contribuem à baixa aderência a esse modo;

sozinhas, não seriam significativas para limitar o uso da bicicleta como meio

de transporte na cidade; porém, associadas, representam um grande

impeditivo: o relevo extremamente acidentado do Município, associado aos

“binários repetidos” (vias paralelas, de mão única, seguindo todas para o

mesmo sentido, ou seja, sem ser uma que vai, uma que volta, outra que vai e,

assim, sucessivamente) e a falta de sinalização específica voltada para o

ciclista, indicando as rotas mais planas e seguras para os ciclistas, fazem com

que as pessoas prefiram utilizar outros meios de transporte para se

deslocar cotidianamente.

Outro fator que também dificulta o deslocamento por bicicletas é a existência

de faixa de estacionamento, no bordo direito da pista, em diversas vias por

onde também circulam e param ônibus, sem nenhum tipo de sinalização de

compartilhamento ou estrutura cicloviária segregadora do trânsito de

bicicletas (ciclovia ou ciclofaixa) (PASSO FUNDO, 2014a, p. 118).

De acordo com o Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da Associação Nacional de

Transportes Públicos- ANTP (2012), em cidades com o porte de Passo Fundo (entre 100 e 250

habitantes), a média de viagens que ocorrem de bicicleta é de 5,65%. Contudo, em pesquisa

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realizada na cidade por meio do Plano de Mobilidade (PASSO FUNDO, 2014a) constatou-se

que somente 0,4% das viagens ocorriam de bicicleta.

Embora este dado não tenha sido positivo, o plano destaca a possibilidade de ampliar o uso da

bicicleta, ressaltando que a mesma possui “demanda potencial crescente”, destacando algumas

facilidades para a promoção e estimulo ao uso da bicicleta. Destra elas, a largura das ruas, que,

de forma geral facilitam a construção de infraestruturas destinas à bicicleta.

O plano aponta que os eixos estruturadores da cidade devem funcionar como “espinha dorsal”,

tanto para os transportes motorizados como para os ciclistas e pedestres. Nesse sentido, o plano

apresenta como primeiro objetivo relacionado às bicicletas:

Legitimar a presença de ciclistas nas vias e garantir a sua segurança, tendo

como premissa básica que sempre houve e que sempre haverá uma parcela da

população disposta a se deslocar por bicicleta na cidade, seja por opção ou por

falta de outras opções vantajosas; além de garantir a essas pessoas as

condições mais confortáveis possíveis (PASSO FUNDO, 2014a, p. 121).

Após alcançado o primeiro objetivo, o plano ressalta que, a partir daí será necessário estruturar

o território e ligar as diversas áreas da cidade, além de conectar a bicicleta a outros meios de

transporte. As diretrizes voltadas a ciclomobilidade são: criação de condições adequadas para

os ciclistas; programas educacionais para a população; criação de locais para guarda de

bicicletas; integração da bicicleta com outras modalidades de transporte; criação de condições

ótimas à circulação; e inserção de ciclovias e facilidades voltadas ao ciclismo na legislação

municipal.

Em sua última parte, o plano apresenta propostas voltadas ao sistema viário, ao transporte

coletivo, a circulação de pedestres e de ciclistas. Quanto às propostas voltadas ao uso da

bicicleta destacam-se as propostas para a criação de uma rede cicloviária para a cidade, dividida

em 3 fases prioritárias e definidas para serem “implementadas de acordo com as características

viárias- topografia, velocidade e fluxo de veículos motorizados, fluxo de ciclistas, uso e

ocupação dos lotes lindeiros, inserção urbana, etc” (PASSO FUNDO, 2014a, p. 155). Na

primeira fase, o plano propõe que sejam criados trechos cicloviários na Avenida Brasil Oeste,

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na Avenida Sete de Setembro (centro), no Parque da Gare e na Avenida Rui Barbosa, conforme

mapa da Figura 36.

Figura 36: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 1.

Fonte: Autora com base em Plano Municipal de Mobilidade (2014a).

Na segunda fase de ampliação, propõe-se que a ciclovia seja complementada na região central

da cidade e pela Avenida Presidente Vargas, conforme mapa da Figura 37.

Figura 37: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 2.

Fonte: Autora com base em Plano Municipal de Mobilidade (2014a).

Após a consolidação da rede cicloviária proposta nas fases I e II, o plano indica que deve ser

criado um Plano Cicloviário específico para a cidade e Passo Fundo, buscando desenvolver um

estudo aprofundado das infraestruturas existentes e do potencial de ciclistas na cidade. Após

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esta etapa, propor a ampliação da malha cicloviária existente, com implantação de uma rede

complementar, conforme exemplo indicado no plano e representado pela Figura 38.

Figura 38: Proposta de implantação de ciclovia com prioridade 3.

Fonte: Autora com base em Plano Municipal de Mobilidade (2014a).

Além das ciclovias, o plano também propõe que sejam instalados paraciclos ou estacionamentos

de bicicletas, em um raio de até 25 metros de edifícios públicos, pontos nodais do transporte

coletivo, parques, praças, etc, para estacionamento de bicicletas por períodos de até 2 horas. O

plano também propõe que seja criada sinalização adequada para a circulação dos ciclistas, além

de mapas temáticos que auxiliem na escolha das rotas, programas educativos que incentivem o

uso da bicicleta e promovam segurança para os ciclistas frente aos motoristas de transportes

individuais e coletivos (PASSO FUNDO, 2014a).

Por fim, o plano propõe que, como forma de alcançar o objetivo de integração modal sejam

criadas oportunidades para a integração da bicicleta com o transporte coletivo, tendo em vista

principalmente o relevo acidentado presente em algumas regiões. Nesse sentido, o plano

apresenta a possibilidade de transportar bicicletas nos ônibus, seja internamente ou

externamente, como uma possível solução para a cidade, conforme exemplos da Figura 39.

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Figura 39: Soluções para integração modal sugeridas no Plano Municipal de Mobilidade.

Fonte: Vá de Bike (2016) e The city fix Brasil (2016).

Neste contexto, como forma de seguir os objetivos e diretrizes do Plano de Mobilidade, a

prefeitura lançou o programa Passo Fundo Vai de Bici estruturado em três áreas temáticas:

educação para o trânsito, incentivo à atividade física e infraestrutura.

O planejamento do programa contempla a construção dos primeiros trechos de ciclovia da

história de Passo Fundo, sendo o primeiro deles entregue a população no final de 2014. Este

trecho conta com aproximadamente, 1,5 km de comprimento e localiza-se na Avenida Brasil,

do trecho entre a Avenida Sete de Setembro até a Rua Livramento no Bairro Boqueirão,

conforme Figura 40.

Figura 40: Fotos do primeiro trecho de ciclovia da cidade de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

A ciclovia foi construída aproveitando-se dos caminhos já existentes no canteiro central da

avenida. Além disso, ela possui uma faixa destinada ao ciclismo e outra para a caminhada e foi

implantada com investimentos da própria prefeitura (PASSO FUNDO, 2014b).

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Outro trecho entregue a população, porém de ciclofaixa e sem o caminhódromo, foi finalizado

no ano de 2015, com 1,5 km de comprimento na Avenida Brasil Oeste, da Rua Livramento até

o trevo do Bairro Boqueirão, na saída para a RST 153, conforme Figura 41 (PASSO FUNDO,

2015a).

Figura 41: Fotos do trecho de ciclofaixa da Avenida Brasil Oeste.

Fonte: Autora (2018).

No ano de 2015 a prefeitura ampliou a rede cicloviária da cidade e criou mais 2,5 km de

ciclofaixa (ida e volta), que sai da Avenida Brasil em direção à Rua Diogo de Oliveira, com

acesso à Avenida João Catapan até o trevo da Perimetral Sul, na entrada do Bairro Santa Marta

(PASSO FUNDO, 2015b), conforme pode ser visto na Figura 42.

Figura 42: Fotos do trecho de ciclofaixa presente no bairro Santa Marta.

Fonte: Autora (2018).

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Além disso, no ano de 2015 a prefeitura realizou um chamamento público para as empresas

patrocinarem 20 bicicletários, ou seja, estacionamentos públicos de bicicleta pela cidade

(Figura 43). Em troca, as empresas doadoras do mobiliário urbano podem utilizar o mesmo para

publicidade gratuita (PASSO FUNDO, 2015c).

Figura 43: Fotos de 2 bicicletários implantados em Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

No ano de 2016 a prefeitura entregou outro trecho cicloviário à população, juntamente com um

Parque Linear, localizado no canteiro central da Avenida Rui Barbosa, no Bairro Petrópolis

(Figura 44). O parque conta com 1,5 km de ciclovia e de caminhódromo, porém neste caso, as

vias estão separadas por vegetação (PASSO FUNDO, 2016a).

Figura 44: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque Linear de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

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Também no ano de 2016 foi entregue a população o Novo Parque da Gare (Figura 45), que

passou por intensa revitalização. O mesmo passou a contar com uma ciclovia em seu entorno

(PASSO FUNDO, 2016b).

Figura 45: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque da Gare na cidade de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

Também no ano de 2016, a municipalidade entregou à população o Parque Ambiental Banhado

da Vergueiro, revitalizando uma área abandonada. O parque foi equipado com trecho de

ciclovia no seu entorno, posicionada junto ao passeio público e sinalizada pela cor do piso,

conforme Figura 46 (PASSO FUNDO, 2016c).

Figura 46: Fotos da ciclovia construída junto ao Parque Banhado da Vergueiro em Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

O mapa da Figura 47 ilustra os trechos de ciclovia já executados na cidade de Passo Fundo.

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Figura 47: Trechos existentes de ciclovia na cidade de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

Ainda, em maio de 2016 inaugurou-se na cidade mais uma das iniciativas pertencentes ao

programa Passo Fundo Vai de Bici7, um sistema de compartilhamento de bicicletas disponíveis

para a população realizar seus deslocamentos gratuitamente, como forma de viabilizar e facilitar

o uso da bicicleta para a população. Tratam-se de 10 estações distribuídas na cidade, contendo

100 bicicletas e 150 vagas livres para depositar a mesma, incentivando a mobilidade ativa e

reduzindo as viagens motorizadas (PASSO FUNDO VAI DE BICI, 2017). O mapa da Figura

48 ilustra a localização das 10 estações de bicicleta na malha da cidade e nas Figura 49 e 50

torna-se possível observar o modelo de estação e de bicicletas empregados.

7 Apesar de o nome “Passo Fundo Vai de Bici” referir-se ao programa como um todo, o sistema de

compartilhamento de bicicletas é popularmente conhecido na cidade pelo mesmo nome, e assim foi denominado

nesta pesquisa.

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Figura 48: Localização das 10 estações de bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

Figura 49: Fotos das estações Boqueirão Legal (esquerda) e IE (direita).

Fonte: Autora (2018).

Figura 50: Fotos das estações Notre Dame (esquerda) e Parque da Gare (direita).

Fonte: Autora (2018).

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Por fim, no ano de 2017 a prefeitura anunciou uma obra de revitalização da Avenida Brasil

Leste onde será criado trecho cicloviário para a população, com aproximadamente 2

quilômetros de extensão. A revitalização acontecerá em 5,5 quilômetros da Avenida Brasil, do

trevo do bairro São José até a Rua 20 de Setembro (PASSO FUNDO, 2017).

Ademais, no ano de 2018 foram aprovadas as obras para construção de mais um trecho

cicloviário, desta vez na Avenida Presidente Vargas, com 2 quilômetros de extensão. Este

trecho ligará o Parque da Gare ao shopping Passo Fundo, que se encontra em fase de construção,

no bairro São Cristóvão. O mapa da Figura 51 ilustra os novos trechos de ciclovia que estão em

fase de construção e planejamento em Passo Fundo.

Figura 51: Trechos existentes e em construção de ciclovias e ciclofaixas na cidade de Passo Fundo.

Fonte: Autora (2018).

Contudo, apesar dos esforços do poder público para promover a ampliação das ciclovias e

ciclofaixas, nota-se que as mesmas ainda não se configuram como uma rede, já que a cidade

possui apenas trechos desconectados que não permitem ao ciclista deslocar-se de forma segura

pelos eixos indutores, que facilitam o acesso às demais regiões. Além disso, nota-se que a

implantação das ciclovias não segue rigorosamente as estratégias sugeridas no Plano de

Mobilidade. Esta realidade confirma a necessidade de continuidade ao que se refere aos

investimentos voltados à mobilidade ciclável na cidade.

Neste sentido, tendo como objetivo neste subcapítulo o conhecimento das fases de crescimento

urbano da cidade de Passo Fundo, a análise morfológica e as condições de mobilidade da

mesma, além de uma revisão quanto às estratégias voltadas ao uso da bicicleta promovidas a

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partir do Plano de Mobilidade da cidade, esta etapa do trabalho contribuiu para a compreensão

da configuração e dos desafios relacionadas à mobilidade em Passo Fundo.

Primeiramente concluiu-se que os métodos utilizados para as análises morfológicas, ou seja, a

criação e análises de mapas e da apropriação da teoria da sintaxe espacial foram adequadas para

esta etapa. Por meio deles tornou-se possível evidenciar a configuração da cidade.

Neste sentido, concluiu-se que esta configuração se dá basicamente por meio da existência de

loteamentos desconexos, planejados de forma isolada. Como consequência tem-se uma malha

viária descontínua que contribui para o isolamento de algumas áreas e agrava os problemas de

mobilidade.

Além disso, confirmou-se que a cidade possui uma centralidade principal, pouco conectada com

o restante das áreas e com os demais subcentros. Percebeu-se também o forte papel dos

principais eixos para o desenvolvimento da cidade, devido à conectividade e integração destas

vias.

Este subcapítulo também possibilitou a compreensão do Plano de Mobilidade de Passo Fundo

e seu forte papel quanto ao incentivo ao uso da bicicleta, embora tenha-se concluído certa

escassez de informações e análises quanto à cidade de Passo Fundo.

Contudo, pode-se afirmar que a partir do plano, a municipalidade identificou a necessidade de

incentivar outras formas de transporte na cidade, além do transporte motorizado individual.

Pôde-se conhecer uma série de estratégias e ações já implementadas de curto, médio e longo

prazo, voltadas à inserção da bicicleta na cidade, desde a implantação das ciclovias, os

paraciclos e do sistema de compartilhamento de bicicletas, objeto de estudo desta pesquisa.

Este tópico da pesquisa também permitiu identificar algumas dificuldades para o uso da

bicicleta como meio de transporte em Passo Fundo, como a topografia, já que existem variações

altimétricas entre regiões da cidade e a inexistência de estratégias eficazes implantadas voltadas

à integração modal.

Por fim, os resultados presentes neste capítulo servem como importante subsídio para o

desenvolvimento de diretrizes para melhoria, ampliação e adequação do sistema Passo Fundo

Vai de Bici, levando-se em conta a premissa de analisar este sistema em conjunto com o maior

número possível de características da cidade.

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5. IMPLANTAÇÃO E POTENCIALIDADES DE USO DO PASSO FUNDO VAI DE

BICI

Como forma de conhecer as fases de planejamento e implantação do Passo Fundo Vai de Bici,

este capítulo abordará primeiramente uma análise de documentos desenvolvidos pela

municipalidade para a concretização do projeto voltado às bicicletas compartilhadas. Além

disso, estas informações serão complementadas com dados coletados por meio de entrevistas

semiestruturadas realizadas junto aos envolvidos. Após, será apresentada uma caracterização

quanto à implantação do sistema, buscando-se compreender os entornos de cada estação e seu

impacto quanto à intensidade de utilização de cada uma delas, sendo que nesta etapa foram

desenvolvidas equações de estimativas de utilização.

5.1. Idealização do Passo Fundo Vai de Bici

Como forma de compreender as fases de idealização, planejamento e implantação do sistema

de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de Bici, este tópico da dissertação

apresentará um levantamento documental referente a estas etapas. Para isso, foram analisados

documentos como Termo de Referência, Termo de Uso e Licitações e, como forma de

complementar as informações foi realizada entrevista semiestruturada com representantes do

poder público e privado envolvidos nestas fases.

Conforme mencionado, desde a criação da lei 12.587/2012 Política Nacional de Mobilidade

Urbana instituiu-se que todos os municípios com mais de 20.000 habitantes deveriam

desenvolver seu Plano Municipal de Mobilidade, em conformidade com os objetivos e

diretrizes fixadas na lei nacional. Neste sentido, no ano de 2014 a Prefeitura Municipal de Passo

Fundo desenvolveu o seu plano, onde, dentre outros fatos, constatou-se a necessidade de

incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte, já que o diagnóstico desenvolvido junto

ao plano detectou que somente 0,4% das viagens ocorridas na cidade eram feitas com bicicleta.

Motivada por esta constatação a municipalidade desenvolveu o programa Passo Fundo Vai de

Bici, estruturado nos eixos: educação para o trânsito; incentivo ao ciclismo; e estruturação,

voltado à implantação de ciclovias. Dessa forma, o sistema de bicicletas compartilhadas foi

idealizado para complementar o programa e facilitar o uso da bicicleta como meio de transporte.

Como ponto de partida, no ano de 2015 o então prefeito municipal abriu uma concorrência

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pública do tipo “Menor preço global” para chamamento de empresas interessadas em concorrer

à prestação dos serviços de instalação, operação e manutenção de uma rede de estações de

bicicletas públicas, com o fornecimento dos materiais e da mão de obra necessários.

Dessa forma, no ano de 2015 a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, por meio da Secretaria de

Planejamento lançou o Termo de Referência da concorrência pública n° 11/2015, destinado a

esclarecer e detalhar o que se pretendia contratar para o serviço de bicicletas compartilhadas. O

Termo de Referência apresentou informações acerca da definição do objeto, caracterização dos

itens e locais a serem implantadas as estações e orçamento estimado para a implantação e

manutenção do serviço (PASSO FUNDO, 2015d).

O Termo de Referência detalhou que o objeto a ser oferecido a população deveria ser um

sistema equipado com estações de bicicleta, de maneira que o usuário pudesse retirar uma

bicicleta, utilizá-la para realização de pequenos percursos e devolvê-la na mesma ou em

qualquer outra estação. Além disso, o termo é bastante claro ao esclarecer que o serviço deveria

ser ofertado de forma gratuita para a população, por períodos de até 2 horas consecutivas. O

sistema deveria funcionar diariamente das 6h até as 22h para retiradas das bicicletas e 24 horas

para devoluções.

Quanto às características de projeto, o termo esclareceu que o sistema deveria ser operável de

forma autônoma pelos usuários, ser facilmente compreendido e ser aberto ao cadastramento de

todas as pessoas que tivessem interesse. As estações de bicicleta deveriam possuir monitor para

interatividade dos usuários, painel de informações, dispositivo de travamento e liberação das

bicicletas, microprocessador gerenciador das operações e conjunto de alimentação de energia e

de transmissão de dados. Também, que elas deveriam possuir no mínimo 14 vagas para

colocação de bicicletas, sendo 10 equipadas com bicicletas e 4 livres para rotatividade (PASSO

FUNDO, 2015d).

As estações também deveriam possuir barra de travamento geral ou dispositivo de travamento

individual para a liberação e a devolução das bicicletas, leitores eletrônicos para identificação

das bicicletas conectadas e dispositivo de conexão com a Unidade Central de Controle, através

de link de transmissão de dados on-line, para permitir o monitoramento remoto da estação, o

acompanhamento da ocupação pelas bicicletas, inclusive a posição na estação (PASSO

FUNDO, 2015d).

Quanto às bicicletas, as mesmas deveriam ser novas e pesar no máximo 20 kg, possuir câmbio

manual com no mínimo 3 marchas, assento anatômico, suporte para abrigar artigos pessoais e

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sistema de proteção contra a retirada das rodas pata evitar o vandalismo. Além disso as

bicicletas deveriam possuir identificador que permitisse fazer a exata identificação da bicicleta

na estação por meio eletrônico, dispositivo que permita o travamento das bicicletas junto à

estação, bem como a sua liberação automática pelo usuário autorizado. Além de pneus voltados

à utilização em meio urbano, espelho retrovisor, campainha, sinalização noturna, dentre outras

características (PASSO FUNDO, 2015d).

Além das estações de bicicletas, o Termo de Referência esclareceu que a empresa operadora do

sistema deveria possuir uma Unidade Central de Controle, onde deveria acontecer o controle

geral de disponibilidade e recepção das bicicletas, além de controle dos recursos tecnológicos.

Ainda, que a empresa deveria possuir uma Unidade Operacional, destinada a coleta,

abastecimento, redistribuição das bicicletas nas estações, limpeza, conservação e manutenção

das mesmas, devendo esta unidade possuir um veículo para coleta, abastecimento e distribuição

das bicicletas, quando necessário.

Além disso, o termo esclareceu que a empresa a ser contratada também seria responsável pela

gestão do sistema empregado, ou seja, dos softwares, equipamentos, tecnologias e processos de

gestão e funcionamento da operação da rede de estações de bicicletas, suas atividades de

supervisão, cadastramento, estatísticas de uso, registro e acompanhamento de ocorrências

gerais. O Termo de Referência também esclareceu que seria contratado um conjunto de 10

estações, equipadas com 10 bicicletas cada, com mais 10% de reserva técnica. As regiões onde

deveriam ser implantadas as estações também foram definidas no termo, conforme pode ser

visto no Quadro 3.

Quadro 3: Detalhamento dos locais a serem implantadas as 10 estações de bicicletas em Passo Fundo.

Local das estações Número de bicicletas

1- Av. Brasil próximo à Rua Cel. Miranda 10 unidades

2- Av. Brasil próximo à Rua Capitão Araújo 10 unidades

3- Rua Moacir da Motta Fortes, próximo à Rua Erechim 10 unidades

4- Av. Brasil próximo à Rua Sete de Setembro 10 unidades

5- Av. Presidente Vargas, próximo à Rua Prestes Guimarães 10 unidades

6- Av. Presidente Vargas, próximo à Rua Scarpeline Ghezi 10 unidades

7- Rua Moron, nas imediações da Praça Tochetto 10 unidades

8- Parque da Gare 10 unidades

9- Praça Tochetto 10 unidades

10- Av. Brasil próximo à rua Diogo de Oliveira 10 unidades

Fonte: Adaptado do Termo de Referência, Passo Fundo (2015).

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Quanto aos procedimentos para utilização do sistema, por meio do Termo de Referência

explicou-se que o usuário deveria cadastrar-se no site ou presencialmente, na sede física da

empresa operadora. Presencialmente, o usuário deveria apresentar comprovante de residência e

cópia do RG, já via internet, o usuário necessitaria de cartão de crédito, onde seria cobrado um

valor simbólico de R$1,00. Após cadastrado, o usuário poderia usufruir do sistema, utilizando

número do CPF e senha previamente cadastrada para destravar as bicicletas nas estações e para

devolve-las posteriormente (PASSO FUNDO, 2015d).

De acordo com o Termo de Referência, o prazo de vigência do contrato com a empresa

operadora do sistema de compartilhamento de bicicletas seria de 1 ano, sendo possível renová-

lo por mais 4 anos. Quanto ao custo estimado, a Tabela 3 mostra os valores unitários, mensais

e totais estimados pela municipalidade.

Tabela 3: Prévia de orçamento apresentado no Termo de Referência.

Descrição Custo unitário mensal

(por estação)

Custo mensal

(10 estações)

Implantação, operação e manutenção de sistema de

transporte por bicicletas públicas, no município de Passo

Fundo/RS, conforme detalhamento abaixo.

R$ 5.000,00 R$ 50.000,00 Item Quant. Reserva

Técnica

Total

Estação de Bicicletas 10 - 10

Bicicletas 100 10 (10%) 110

Custo global (10 estações por 12 meses) R$ 600.000,00

Fonte: Adaptado do Termo de Referência, Passo Fundo (2015).

Por fim, o Termo de Referência esclareceu que a empresa operadora do sistema teria

possibilidade de ceder espaço nas estações e bicicletas para patrocinadores, que poderiam

utilizar as estações e bicicletas para publicidade.

A Prefeitura Municipal de Passo Fundo também lançou o documento denominado Regulamento

de Uso (PASSO FUNDO, 2015e), voltado a fornecer instruções quanto à correta utilização do

sistema de compartilhamento de bicicletas aos interessados.

Neste contexto, o regulamento instrui que os usuários devidamente cadastrados devem assinar

um termo de adesão e responsabilidade, concordando com os direitos e deveres dos usuários

das bicicletas compartilhadas, independente da forma de cadastro realizado pelo usuário. Além

disso, os usuários devem ser maiores de 18 anos, sendo que a bicicleta é de responsabilidade

total dos mesmos.

Quanto ao tempo de uso, o regulamento explica que os usuários podem usufruir de 2 horas

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consecutivas utilizando uma mesma bicicleta, de forma gratuita. Após esse intervalo de tempo

os usuários devem devolver a bicicleta e retirá-la novamente depois de 15 minutos, sem nenhum

custo.

Contudo, se o usuário não obedecer a essas regras, o regulamento explica que podem ser

cobradas taxas, de acordo com o tempo excedido. Se o usuário ficar com a bicicleta por um

período de 2:15 min, será considerado tempo de tolerância e não serão cobradas taxas. Se ficar

com a bicicleta por períodos entre 2:16 até 4:00 horas, o usuário será punido com 2 dias úteis

de suspensão e ficará sujeito ao pagamento no valor de R$20,00. Se o usuário ficar com a

bicicleta por períodos de 4:00 até 5:00 horas será punido com 5 dias úteis de suspensão,

precisará realizar um novo cadastro e ficará sujeito ao pagamento no valor de R$30,00. Se ficar

com a bicicleta por períodos de 5:00 até 24 horas o usuário será punido com 20 dias úteis de

suspensão, precisará fazer novo cadastramento e ficará sujeito ao pagamento no valor de

R$50,00 (PASSO FUNDO, 2015e).

Em caso de não devoluções dentro de 24 horas os usuários serão comunicados quanto ao

bloqueio de seus CPFs. O regulamento também explica que em caso de roubo da bicicleta em

posse de algum usuário, o mesmo deverá avisar imediatamente a unidade central de operação e

registrar um boletim de ocorrência na delegacia de polícia mais próxima (PASSO FUNDO,

2015e).

Além dos documentos citados acima, a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, com sua secretaria

competente, desenvolveu a Minuta de Contrato, onde a própria prefeitura define-se como

fiscalizadora da qualidade dos serviços executados, dando-se o direito de realizar solicitações

de correção de serviços já executados que estejam em desacordo com as normas técnicas,

ambientais ou legais (PASSO FUNDO, 2015f).

Além disso, neste documento, a municipalidade estabelece que o contrato terá vigência de 1

ano, podendo ser prorrogado, caso haja interesse de ambas as partes, após ajustes de preço

reajustados pela variação do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio

Vargas (FGV) ou outro índice legal que vier a substituí-lo (PASSO FUNDO, 2015f).

Dessa forma, após a publicação destes documentos, apresentaram-se 3 empresas para concorrer

a licitação, ou seja, a Mobhis Automação Urbana Ltda., a M2 Soluções em Engenharia Ltda., e

a Samba Transportes Sustentáveis Ltda. No decorrer dos tramites legais, a licitante Samba

Transportes Sustentáveis Ltda. apresentou proposta com preço global de R$ 420.000,00

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(quatrocentos e vinte mil reais), a Mobhis Automação Urbana Ltda. apresentou proposta com

preço global de R$ 462.000,00 (quatrocentos e sessenta e dois mil reais) e a M2 Soluções em

Engenharia Ltda. apresentou proposta com preço global de R$ 480.000,00 (quatrocentos e

oitenta mil reais), valores estes a serem pagos pela prefeitura à empresa ganhadora da licitação.

Contudo, devido ao fato de o edital voltado à contratação da empresa dar prioridade às

microempresas- ME e empresas de pequeno porte- EPP, colocando este como critério de

desempate, a empresa Mobhis Automação Urbana Ltda. apresentou documentação para

comprovação de ME ou EPP e, além disso, apresentou nova proposta de valores. Dessa vez

com preço global de R$ 418.200,00, classificando-se, portanto, em primeiro lugar no processo

licitatório. Dessa forma, esta foi a empresa contratada pela prefeitura para implantação e gestão

do sistema Passo Fundo Vai de Bici.

A empresa ganhadora da licitação já havia implantado um sistema de compartilhamento de

bicicletas em outra cidade antes de ganhar a licitação em Passo Fundo. Sendo assim, adequou-

se às exigências da Prefeitura Municipal de Passo Fundo para fornecimento de equipamentos e

operação do sistema. O modelo de estação utilizado pela empresa ganhadora da licitação pode

ser visualizado na Figura 52. Já o modelo de bicicleta utilizado pela empresa pode ser visto na

Figura 53.

Figura 52: Modelo de estação da empresa ganhadora da licitação.

Fonte: Mobhis (2018).

Figura 53: Modelo de bicicleta da empresa ganhadora da licitação.

Fonte: Mobhis (2018).

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Para complementar a etapa de compreensão das fases de idealização, projeto e implantação do

Passo Fundo Vai de Bici, foi realizada entrevista semiestruturada (Apêndice B), de forma

presencial. Reuniram-se a Secretária adjunta de Planejamento da Prefeitura Municipal de Passo

Fundo, responsável pela implantação do sistema de bicicletas na cidade, juntamente com dois

representantes da empresa operadora do Passo Fundo Vai de Bici.

Neste sentido, quanto à implantação do sistema de bicicletas compartilhadas na cidade, a

secretária afirmou que a iniciativa surgiu da vontade política da época, principalmente por meio

do então prefeito. A partir do diagnóstico desenvolvido junto ao Plano Municipal de

Mobilidade, onde constatou-se o baixo índice de viagens realizadas com bicicletas juntamente

com a constatação do potencial de utilização, a municipalidade começou a investigar as

possibilidades de aumentar o uso da bicicleta como lazer, esporte e meio de transporte.

Na fase de idealização do sistema, a secretária esclareceu que a prefeitura começou a visualizar

inúmeros casos de cidades que possuíam sistemas de compartilhamento de bicicletas. Contudo,

a mesma elucidou que inicialmente, os envolvidos tiveram receio quanto à implantação das

bicicletas compartilhadas em Passo Fundo, já que identificaram que a maioria dos sistemas

existentes no Brasil estavam implantados em capitais estaduais.

Contudo, a secretária esclareceu que, para dar continuidade à ideia, a prefeitura inicialmente

criou uma Secretaria Extraordinária de Esportes, separando a Secretaria de Esportes da

Secretaria de Cultura, que até o momento funcionavam em conjunto, a SEDEC. O projeto de

implantação das bicicletas compartilhadas foi inicialmente designado ao SEDEC.

Contudo, como a secretaria de esportes possuía muita demanda, o projeto não pôde ser

desenvolvido ali. Dessa forma, a secretária adjunta de planejamento esclareceu que foi criado

um escritório voltado às iniciativas inovadoras para a cidade, denominado Escritório de

Inovação Urbana, vinculado à Secretaria de Planejamento. Este escritório passou então a ser o

responsável pelo processo de planejamento e implantação do sistema de compartilhamento de

bicicletas.

A partir daí a secretária elucidou que os responsáveis começaram a pesquisar e estudar editais

de outros municípios que já haviam implantado o sistema, além de procurarem por empresas

que poderiam operar o mesmo na cidade. A secretária esclareceu que o melhor modelo elencado

nas pesquisas do Escritório de Inovações Urbanas foi o de Sorocaba em São Paulo, que foi

seguido como referência para Passo Fundo.

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Esclareceu-se também que a principal premissa do sistema a ser implantado em Passo Fundo

era de que o usuário não precisaria pagar para utilizá-lo, o que o diferenciava da maioria dos

sistemas de outras cidades. Esta premissa tornaria o sistema acessível para toda a população e,

dessa forma, o edital foi ajustado para isso.

Quanto ao financiamento do sistema, a secretária esclareceu que não existiam recursos públicos

de nível federal vinculados a este tipo de projeto. Sendo assim, os recursos para implantação

do Passo Fundo Vai de Bici vieram da própria prefeitura. A secretária confirmou também que

todos os serviços de fornecimento, manutenção e reposição de equipamentos ficou sob a

responsabilidade da empresa operadora, sendo a prefeitura a fiscalizadora de todos os serviços.

Quanto às principais dificuldades enfrentadas no início da operação do sistema, a secretária

esclareceu que, para a prefeitura não houve dificuldades, já que o sistema foi bem aceito pela

população. Contudo, esclareceu que a maior dificuldade ficou para a empresa operadora, devido

aos inúmeros casos de roubo e vandalismo.

Os representantes da empresa complementaram que, no início, os casos de vandalismo

superaram o que eles haviam previsto. Esta dificuldade inicial levou a empresa a investir em

medidas de segurança, como a instalação de câmeras de monitoramento em todas as estações.

Além desta dificuldade, os representantes da empresa esclareceram que, no primeiro dia de

operação do sistema o mesmo foi hackeado, sendo que o banco de dados foi acessado.

Os representantes da empresa complementaram ainda que os problemas de vandalismo estão

diminuindo com o tempo. Eles esclarecem que percebem o empoderamento da comunidade

passofundense que passou a apropriar-se do bem público e consequentemente, cuidá-lo. Ainda,

os representantes da empresa esclareceram que os casos de vandalismo são muito maiores nos

finais de semana8.

A secretária adjunta de planejamento complementou que, de acordo com o seu ponto de vista,

a inserção da cultura da bicicleta na cidade de Passo Fundo está ocorrendo de forma rápida, e,

de forma geral, sendo bem aceita pela população.

Quanto aos locais de implantação das estações a secretária confirmou que quem especificou foi

a própria prefeitura e para isso, partiram das análises do Plano de Mobilidade. Primeiramente

8 Os dados referentes aos casos de roubo e vandalismo do sistema Passo Fundo Vai de Bici não foram

disponibilizados.

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selecionaram os pontos de maior fluxo de pessoas na área central da cidade, atentando-se para

as distâncias entre as estações. Também optaram por locais que atraem pessoas diariamente

como o Parque da Gare, onde as bicicletas poderiam ser utilizadas isoladamente, na ciclovia do

parque. Analisaram também os eixos estruturadores da cidade e assim, optaram por implantar

uma estação na Avenida Presidente Vargas e outra na Avenida Rio Grande, formando-se então

uma rede.

A secretária complementou que foram feitos estudos que comprovaram que 100 bicicletas eram

suficientes para a demanda da cidade. Além disso, a mesma esclareceu que havia limitação

financeira para o projeto e, por isso não era possível implantar uma rede maior.

Quanto à intermodalidade, a secretária esclareceu que as estações foram colocadas próximas às

paradas de ônibus. Quanto à ampliação da rede, a secretária esclareceu que o projeto só permite

que seja aditivado financeiramente até 25% e havendo necessidade de ampliar mais, seria

necessário realizar novo processo licitatório.

Ela complementou que, na época em que se idealizou o sistema já se previa a criação de estações

no Parque Linear Sétimo Céu, no bairro Petrópolis, já que o mesmo possui área favorável ao

uso da bicicleta. Contudo, esclareceu que, como o bairro Petrópolis é uma área relativamente

isolada do restante da cidade e a topografia entre o centro e o bairro não favorecem o uso da

bicicleta, ficaria difícil de ligar esta região com o restante da cidade e por este motivo, não

foram implantadas estações até o momento.

Além desta, também já se tinha a ideia de implantar mais uma estação da Avenida Presidente

Vargas, que é uma via importante para a cidade. Contudo, a secretária complementou que não

existem planos nem prazos para ampliação e que, no caso de haver, seriam necessários novos

estudos.

Sendo assim, com base nos documentos analisados e em conjunto com as entrevistas realizadas,

este subcapítulo da dissertação possibilitou compreender como ocorreram as fases de

idealização e projeto do sistema de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de Bici,

bem como compreender as principais dificuldades enfrentadas.

Neste sentido, constatou-se primeiramente o papel fundamental da Lei 12.587/2012 e do Plano

Municipal de Mobilidade, que, a partir do diagnóstico e das propostas apresentadas motivou o

poder público local a incentivar os percursos de bicicleta e consequentemente implantar o Passo

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Fundo Vai de Bici.

A partir da visualização da possibilidade de se criar novas formas de deslocamento na cidade,

a municipalidade organizou-se para promover o processo licitatório para implantação e

operação do sistema de compartilhamento de bicicletas em Passo Fundo, bem como todas as

especificações relacionadas ao mesmo. Para isso, a municipalidade baseou-se em casos de

cidades brasileiras que já haviam implantado o sistema e assim, foi possível contratar a empresa

que atualmente opera as bicicletas compartilhadas na cidade, já em seu segundo ano de

operação.

Constatou-se que a maior dificuldade enfrentada nas fases iniciais de operação relacionava-se

aos problemas de vandalismo e roubo. Contudo, a própria empresa operadora declarou que os

casos vêm sendo reduzidos com o passar dos meses, confirmando a aceitação por parte da

população local.

Por fim, esta investigação quanto as fases de idealização e implantação do sistema de

compartilhamento de bicicletas possibilitou conhecer a principal premissa do projeto, que é a

gratuidade do serviço, os critérios de distribuição das estações na cidade e confirmar a

inexistência de planos de ampliação da rede atual.

5.2. Implantação e Caracterização do Passo Fundo Vai de Bici

Conforme mencionado, esta dissertação possui como objeto de estudo o Passo Fundo Vai de

Bici, um sistema de compartilhamento de bicicletas inaugurado em maio de 2016 e ofertado de

forma gratuita para a população da cidade de Passo Fundo. Este sistema conta com um total de

10 estações distribuídas pela malha da cidade, equipadas com 10 bicicletas cada e 15 vagas para

deposição das bicicletas.

Este tópico do trabalho destina-se a caracterização do sistema e a uma análise microescala,

como forma de reconhecer, além das características físicas do Passo Fundo Vai de Bici, os

entornos das estações com suas características distintas. Neste contexto, o ITDP (2014a) define

que cada estação possui um raio de abrangência de 500 metros entorno dela mesma e por este

motivo este será o raio de análise microescala para cada uma delas.

Na Figura 54 é possível visualizar a localização de cada estação na malha urbana de Passo

Fundo, bem como a abrangência do sistema. Pode notar que a maioria das estações possui área

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de abrangência em comum e, portanto, a área de cobertura total do sistema é de 5,68 km²

concentrada em sua maioria na área central.

Figura 54: Mapa com a localização das estações de bicicleta e seus raios de abrangência. Fonte: Autora (2018).

Quanto ao modelo de estação e bicicleta, conforme mencionado anteriormente, adotou-se o

modelo utilizado pela empresa ganhadora da licitação, sendo que foram feitas adaptações para

o caso de Passo Fundo. Primeiramente quanto à forma de acesso, baseada em CPF e senha e

também quanto à capacidade das estações, características especificadas no Termo de

Referência, que será abordado com mais detalhes no próximo capítulo. O modelo de estação

implantado em Passo Fundo e o modelo de bicicleta podem ser vistos na Figura 55.

Além destas características, o mapa da Figura 56 ilustra a topografia dos entornos das 10

estações de bicicleta. Neste sentido, pode-se observar que, de forma geral, as estações foram

implantadas em áreas com pouca variação altimétrica, o que favorece o uso das bicicletas nos

entornos das mesmas e principalmente nos eixos indutores de Passo Fundo, seguindo a

estratégia citada no Plano de Mobilidade.

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Figura 55: Foto da estação Brigada Militar.

Fonte: Autora (2018).

Figura 56: Mapa de relevo com a localização das 10 estações de bicicleta.

Fonte: Autora com base em Google (2018).

Quanto à intermodalidade, no mapa da Figura 57 é possível observar que todas as estações de

bicicletas foram implantadas próximas à pontos de ônibus, sendo esta a única estratégia voltada

a promover a integração entre as bicicletas compartilhadas e o transporte público. Destaca-se

que a cidade de Passo Fundo possui somente os ônibus urbanos como modalidade de transporte

coletivo e não possui terminais.

Frade e Ribeiro (2014) afirmam que os sistemas de compartilhamento de bicicletas podem ser

utilizados como um serviço isolado ou como um serviço intermodal, complementado com

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outras modalidades de transportes. No caso do Passo Fundo Vai de Bici as bicicletas do sistema

podem ser utilizadas em conjunto com o transporte coletivo, já que a maioria dos bairros não

possuem estações. Ou, pode ser utilizado de forma isolada, principalmente para lazer nas

estações Parque da Gare e Vera Cruz, que situam-se próximas a parques com ciclovias isoladas.

Figura 57: Mapa com a localização das paradas de ônibus e das estações de bicicleta.

Fonte: Autora com base no aplicativo Moovit (2018).

Quanto à integração, o mapa de Integração Local R3 ilustrado na Figura 58 desenvolvido por

meio da sintaxe espacial demonstra que todas as estações implantadas na Avenida Brasil e na

área central da cidade estão em regiões com alta integração, ou seja, áreas com alta

conectividade e acessibilidade. Destaca-se que mesmo as estações mais afastadas do centro

principal, como as implantadas nos bairros São Cristóvão, Vera Cruz e Boqueirão estão

localizadas nos eixos indutores e nas centralidades secundárias da cidade.

Os dados coletados por meio de Relatório de controle mensal junto a Prefeitura Municipal

mostraram que, até o dia 15 de maio de 2018, 68,2% dos usuários das bicicletas compartilhadas

eram do sexo masculino e 31,8% do sexo feminino. Quanto à faixa etária, aproximadamente

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43,5% dos usuários possuía entre 20 e 30 anos e 25,6% possuía de 30 a 40 anos, mostrando que

o sistema atinge principalmente a população de 20 a 40 anos da cidade.

Quanto à escolaridade, observou-se que a maior parcela de usuários, ou seja, 29%, possuía

ensino médio completo, 25,9% possuía ensino superior incompleto e 13,5% possuía ensino

superior completo. Quanto à renda, 35,4% dos usuários declarou que não possui nenhuma fonte

de renda, cerca de 18,1% recebe até 1 salário mínimo e 24,9% recebe entre 1 a 2 salários

mínimos, 10,3% recebem de 2 a 3 e 5,8% recebem de 3 a 5 e 5,5% recebe mais de 5 salários

mínimos, indicando que em geral, os usuários possuem baixos rendimentos.

Figura 58: Mapa de Integração Local com a localização das estações.

Fonte: Autora (2018).

Quanto ao uso, 76% dos usuários declararam que utilizam as bicicletas durante os dias da

semana e 24% durante os finais de semana. Quanto aos horários, 23% utilizam pela parte da

manhã (das 06h às 11h59min), 47% pela parte da tarde (12h às 17h59min) e 30% pela parte da

noite (18h às 22h).

Ainda, segundo os dados gerais fornecidas pela Prefeitura Municipal, o número de usuários

cadastrados no sistema até o dia 15 de maio de 2018 era de 26.002, ultrapassando 10% da

população total da cidade de Passo Fundo.

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A empresa operadora do sistema informou que o total de quilômetros percorridos até o dia 15

de maio de 2018 era de 1.998.614 km, calculado de acordo com a distância entre o ponto de

retirada da bicicleta até o ponto de devolução da mesma. Em caso de retiradas e devoluções na

mesma estação, calcula-se a distância estimando uma velocidade média de 12 km/h. Além

disso, a média de viagens diárias e mensais era de 219 e 3.732, respectivamente.

A densidade das estações (estações por km² na área de cobertura) é de 1,76. A Figura 59

apresenta a demanda por estação, de acordo com o número de bicicletas retiradas e devolvidas

até o dia 15 de maio de 2018. Pode-se visualizar que 4 das 5 estações localizadas na Avenida

Brasil (01 a 04), principal via da cidade, que concentra importantes atividades de comércio,

serviços e educação, são as estações mais utilizadas.

Figura 59: Demanda por estação de acordo com número de bicicletas retiradas e devolvidas nos 24

meses de operação do sistema.

Fonte: Autora com base em dados da PMPF (2018).

A estação Parque da Gare (08) também é uma das mais utilizadas, devido ao fato de o Parque

ter sido revitalizado recentemente, atraindo inúmeras pessoas diariamente para lazer ou prática

de esportes. Nota-se também que as estações mais distantes do centro da cidade e das ciclovias

e ciclofaixas maiores, como a Brigada Militar (10), Praça Santa Terezinha (09) e Vera Cruz

(06) são as menos utilizadas. Além disso, as estação Praça Tochetto (07) e Marechal Floriano

(05) localizam-se em área central mas estão entre as menos utilizadas.

Já nas Figuras 60 e 61 torna-se possível visualizar o número de bicicletas retiradas e devolvidas

em cada estação entre os meses de março de 2017 a abril de 2018. Nota-se que há uma

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considerável variação quanto ao número de bicicletas retiradas e devolvidas durante os meses

analisados.

Neste sentido, destaca-se que a cidade de Passo Fundo possui estações climáticas bem

definidas, sendo que, no inverno, as temperaturas chegam próximo de 0°. Desse modo, quanto

ao uso das bicicletas compartilhadas, de forma geral, nota-se que nos meses em que as

temperaturas são mais baixas na cidade, ou seja, de abril a agosto, o número de usos é reduzido,

enquanto que nos meses entre setembro até fevereiro, quando as temperaturas estão mais

elevadas, o uso é mais intenso em todas as estações de bicicleta.

Contudo, pode-se notar também a redução na intensidade de utilização nos meses de férias, ou

seja, entre janeiro e fevereiro, podendo ser justificada pela diminuição da população da cidade

durante esta época. Além disso, nota-se uma queda na utilização durante os meses de setembro

e outubro, sendo esta uma época chuvosa na região, justificando a redução.

Figura 60: Quantidade de bicicletas retiradas em cada estação por mês.

Fonte: Autora com base em dados da PMPF (2017, 2018)

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Figura 61: Quantidade de bicicletas devolvidas em cada estação por mês.

Fonte: Autora com base em dados da PMPF (2017, 2018)

Com isso torna-se possível analisar o funcionamento do sistema e a partir desta análise geral

elencar algumas recomendações encontradas na literatura acerca dos sistemas de

compartilhamento de bicicletas. Primeiramente cabe recordar que para Fishman, Washington e

Haworth (2013) e ITDP (2014a), um bom indicador de desempenho é o número de viagens por

dia por bicicleta, que deve ser de 4 a 8. Segundo os dados coletados, o sistema analisado realiza

cerca de 2,19 viagens por bicicleta por dia. Além disso, o ITDP (2014a) recomenda que haja de

10 a 16 estações por km², ou seja, cerca de 1 estação a cada 300 m. Em Passo Fundo, as estações

estão posicionadas com uma distância média de 680 m. O ITDP (2014a) também recomenda

que haja de 2 a 2,5 vagas para cada bicicleta. O sistema Passo Fundo Vai de Bici possui 1,5

vagas por bicicleta.

Ainda, o ITDP (2014a) recomenda que haja de 10 a 30 bicicletas por grupo de 1.000 moradores

da área de cobertura de cada estação, ou seja, de 33 a 100 moradores por bicicleta. Neste

contexto, constatou-se que as estações IE, Boqueirão Legal, Vera Cruz e Santa Terezinha

possuem cerca de 400 moradores por bicicleta na área de cobertura, as estações Notre Dame,

Praça Tochetto, Parque da Gare e Brigada Militar possuem cerca de 300 moradores por

bicicleta dentro da área de cobertura, a estação Teixeirinha possui cerca de 200 moradores por

bicicleta e a estação Marechal Floriano possui cerca de 150 moradores por bicicleta dentro da

área de cobertura, já que algumas estações compartilham a área de abrangência.

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Segundo García-Polomares, Gutiérrez e Latorre (2012), Ho e Szeto (2017), um dos principais

fatores que influenciam o sucesso de implantação das bicicletas compartilhadas é a localização

das estações, já que elas devem estar posicionadas de acordo com a demanda potencial de

usuários, ou seja, próximas aos locais onde ocorrem atividades importantes e conectadas a

outros modais de transporte, a fim de maximizar a área de cobertura de cada uma delas.

Recomenda-se que a implantação do sistema inicialmente concentre as estações em zonas

centrais, onde há maior densidade e gradualmente se expanda até as áreas mais periféricas,

como os bairros e áreas industriais, para que o mesmo funcione como um sistema integrado de

transporte (ITDP, 2014a).

Como forma de complementar a caracterização do sistema de compartilhamento de bicicletas

Passo Fundo Vai de Bici, abaixo estão descritas e detalhadas as características dos entornos das

10 estações de bicicleta.

A estação 01 foi denominada Estação Boqueirão Legal, ela está localizada no bairro Boqueirão,

uma importante região da cidade situada à oeste da Avenida Brasil, principal eixo de Passo

Fundo. Esta estação está localizada ao longo do canteiro central da avenida, comumente

utilizado pela população para lazer, já que possui mobiliário urbano e farta arborização, além

de ser utilizado para prática de esportes, já que esta parte do canteiro está equipada com trecho

de ciclovia e caminhódromo, conforme Figura 62.

Figura 62: Fotos da estação Boqueirão Legal (esquerda) e ciclovia do entorno (direita).

Fonte: Autora (2018).

Além disso, próximo a esta estação localizam-se 4 instituições de ensino de nível infantil,

fundamental, médio e superior. O bairro Boqueirão, especialmente ao longo da Avenida Brasil,

possui inúmeros pontos de comércio e prestação de serviços, destacando-se a existência de

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bancos, farmácias e restaurantes. A densidade demográfica do setor urbano em que está inserida

a estação é de 5373 habitantes/km².

Na Figura 63 pode-se visualizar que no entorno da Estação Boqueirão Legal existe uma série

de quarteirões de grandes dimensões e formas irregulares, desfavoráveis para a mobilidade

ativa. Em conjunto, existem algumas vias que são interrompidas e geram um tecido urbano

descontínuo, também desfavorável para a mobilidade ativa.

Figura 63: Mapa do entorno da Estação Boqueirão legal.

Fonte: Autora (2018).

A estação 02 denominada Estação IE também se localiza no bairro Boqueirão e recebeu este

nome por estar localizada quase em frente ao Instituto Educacional IE, uma escola de nível

infantil, fundamental e médio. Esta estação também está posicionada ao longo do canteiro

central, ao lado da ciclovia e caminhódromo, conforme Figura 64.

Figura 64: Fotos da Estação IE (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita).

Fonte: Autora (2018).

Nos arredores da Estação IE encontram-se duas instituições de ensino e uma praça, frequentada

diariamente por estudantes e moradores da região. Esta região possui inúmeros pontos de

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comércio e prestação de serviços (Figura 65). No entorno da Estação IE nota-se a

predominância de quarteirões regulares e vias contínuas, sendo que a densidade demográfica

do setor em que está inserida a estação também é de 5373 habitantes/km².

Figura 65: Mapa do entorno da Estação IE.

Fonte: Autora (2018).

A estação 03 (Figura 66) denomina-se Estação Notre Dame, já que está posicionada próxima

ao Colégio Notre Dame, no centro da cidade. A mesma foi implantada no canteiro central da

Avenida Brasil em uma área equipada com bancos, mesas, arborização, iluminação pública,

ciclovia e caminhódromo. O entorno desta estação possui 6 instituições de ensino, entre escolas

e faculdades, além do Hospital São Vicente de Paulo, o maior da cidade e um dos principais

responsáveis pela polarização da cidade.

Figura 66: Fotos da Estação Notre Dame (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita).

Fonte: Autora (2018).

Também no entorno da Estação Notre Dame estão situadas duas praças e o Shopping Bella

Citta, principal shopping da cidade. Esta região da cidade possui uso misto e alta densidade

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populacional, ou seja, 7878 habitantes/km² (Figura 67). Há no entorno inúmeros prédios que,

em sua maioria, possuem térreo comercial e torre residencial. No entorno da Estação Notre

Dame a malha urbana é predominantemente regular e as vias circundantes são contínuas.

Figura 67: Mapa do entorno da Estação Notre Dame.

Fonte: Autora (2018).

A estação 04 denomina-se Estação Teixeirinha, já que está situada próxima a estátua do

Teixeirinha, um importante ponto turístico da cidade. Assim como as já citadas, a Estação

Teixeirinha também foi implantada no canteiro central, equipado com mobiliário urbano e

arborização, conforme Figura 68. A Estação Teixeirinha é a estação mais central, pois está

situada entre os 2 principais eixos da cidade, ou seja, no cruzamento entre a Avenida Brasil

com a Avenida Sete de Setembro.

Figura 68: Foto da Estação Teixeirinha (esquerda) e da ciclovia do entorno (direita).

Fonte: Autora (2018).

Nos entornos da Estação Teixeirinha localiza-se a região com maior número de pontos

comerciais da cidade e com alta densidade demográfica, ou seja, 7878 habitantes/km². Além

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disso, no entorno desta estação existem 3 instituições de ensino superior, o shopping Bella Cittá,

duas praças, o centro cultural Roseli Doleski Pretto, além de 2 hospitais. Na Figura 69 é possível

perceber que a malha urbana do entorno é predominantemente regular e as vias são contínuas.

Figura 69: Mapa do entorno da Estação Teixeirinha.

Fonte: Autora (2018).

A estação 05 (Figura 70) recebeu o nome de Estação Praça Marechal Floriano, já que está

implantada nesta praça. Esta região também se situa no centro da cidade e possui inúmeros

pontos de comércio e prestação e serviços em seu entrono, incluindo o shopping Bella Cittá.

Além disso, no entorno da Estação Praça Marechal Floriano encontram-se duas instituições de

ensino, o maior parque da cidade, ou seja, o Parque da Gare e a Catedral Nossa Senhora

Aparecida, outro ponto turístico de Passo Fundo que recebe inúmeras visitas diariamente

(Figura 71).

Figura 70: Fotos da Estação Praça Marechal Floriano.

Fonte: Autora (2018).

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A malha urbana é predominantemente regular, com exceção dos quarteirões próximos ao

Parque da Gare, que são irregulares. As vias no entorno da Estação Praça Marechal Floriano

são predominantemente contínuas e a densidade demográfica do setor urbano é de 7878

habitantes/km².

Figura 71: Mapa do entorno da Estação Praça Marechal Floriano.

Fonte: Autora (2018).

A estação 06 (Figura 72) denomina-se Estação Vera Cruz, já que está situada no Bairro Vera

Cruz, outro bairro importante da cidade, situado ao longo do importante eixo de Passo Fundo,

formado pelas ruas Teixeira Soares e a Avenida Rio Grande, que juntamente com a Avenida

Presidente Vargas formam o segundo principal eixo de Passo Fundo.

Figura 72: Fotos da Estação Vera Cruz.

Fonte: Autora (2018).

A Estação Vera Cruz é a estação mais distante das demais estações (aproximadamente 1200

metros da Estação Teixeirinha), sendo que seu entorno se caracteriza pela presença de 3

instituições de ensino, 1 hospital e o maior cemitério da cidade, o Cemitério Vera Cruz (Figura

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73). Este bairro, assim como o Boqueirão, também possui inúmeros pontos de comércio e

prestação de serviços, destacando-se pela presença de bancos e farmácias.

Próximo a esta estação existe um pequeno trecho de ciclovia com cerca de 490 metros de

comprimento, ao redor do Parque Ambiental Banhado da Vergueiro, sendo que este parque é a

única área verde da região. O entorno da Estação Vera Cruz caracteriza-se pela presença de

malha urbana irregular e inúmeras vias descontínuas. A densidade demográfica do setor em que

a estação está implantada é de 5017 habitantes/km².

Figura 73: Mapa do entorno da Estação Vera Cruz.

Fonte: Autora (2018).

A estação 07 denomina-se Estação Praça Tochetto (Figura 74), já que foi implantada nesta

praça. Ela está localizada na área central de Passo Fundo e seu entorno caracteriza-se pela

presença de 3 instituições de ensino, 2 hospitais e duas praças, além de intensa incidência de

pontos de comércio e prestação de serviços (Figura 75).

Figura 74: Fotos da Estação Praça Tochetto.

Fonte: Autora (2018).

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Esta região da cidade não possui trechos de ciclovia nem ciclofaixas. Além disso, a malha

urbana é predominantemente regular e a presença de vias descontínuas é pequena. A densidade

demográfica do setor em que está inserida a estação é de 7878 habitantes/km², sendo que no

entorno desta estação existem inúmeros edifícios em altura, com térreo comercial e torre

residencial.

Figura 75: Mapa do entorno da Estação Praça Tochetto.

Fonte: Autora (2018).

A estação 08 (Figura 76) denomina-se Estação Parque da Gare, pois foi implantada neste

parque, considerado o maior da cidade. Este parque foi revitalizado no ano de 2016 e junto à

revitalização recebeu um trecho de ciclovia em seu entorno. Além disso, no entorno da estação

Parque da Gare encontra-se uma instituição de ensino, a catedral e uma praça (Figura 77). A

densidade demográfica do setor em que está implantada a estação é de 7878 habitantes/km².

Figura 76: Fotos da Estação Parque da Gare.

Fonte: Autora (2018).

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O Parque da Gare, após sua revitalização no ano de 2016, tornou-se um importante ponto

turístico de Passo Fundo, recebendo inúmeros visitantes diariamente. A malha urbana presente

no entorno desta estação caracteriza-se a norte pela regularidade e a sul pela irregularidade,

sendo que as vias circundantes se caracterizam de maneira geral pela descontinuidade.

Figura 77: Mapa do entorno da Estação Parque da Gare.

Fonte: Autora (2018).

A estação 09 (Figura 78) recebeu o nome de Estação Praça Santa Terezinha, já que se localiza

na Praça Capitão Jovino, popularmente chamada de Praça Santa Terezinha. Ela está localizada

no bairro Rodrigues e seu entrono caracteriza-se pela presença de 4 instituições de ensino

(Figura 79).

Figura 78: Foto da Estação Praça Santa Terezinha (esquerda) e entorno (direita).

Fonte: Autora (2018).

A Estação Praça Santa Terezinha situa-se próximo à Avenida Presidente Vargas, outro

importante eixo estruturador da cidade. Esta região da cidade possui inúmeros prédios

residenciais, além de pontos de comércio e prestação de serviços.

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146

A Estação Santa Terezinha está situada em uma região com quarteirões predominantemente

regulares a norte e irregulares a sul, muitas vias circundantes a esta estação caracterizam-se pela

descontinuidade. A densidade demográfica do setor urbano em que a estação está inserida é de

5521 habitantes/km².

Figura 79: Mapa do entorno da Estação Praça Santa Terezinha.

Fonte: Autora (2018).

A estação 10 (Figura 80) denomina-se Estação Brigada Militar, já que está situada em frente à

sede da Brigada Militar de Passo Fundo, no bairro São Cristóvão. Ela foi implantada ao longo

da Avenida Presidente Vargas, próxima ao shopping Passo Fundo, que se encontra em fase de

construção. Conforme mencionado, a Avenida Presidente Vargas está recebendo um trecho de

ciclovia, que irá do Parque da Gare até o shopping Passo Fundo.

Figura 80: Fotos da Estação Brigada Militar.

Fonte: Autora (2018).

O entorno da Estação Brigada Militar caracteriza-se pela presença duas instituições de ensino,

uma indústria, e uma praça (Figura 81). Além disso, assim como os bairros Boqueirão e Vera

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147

Cruz, o bairro São Cristóvão possui inúmeros pontos de comércio e prestação de serviços,

destacando-se pela presença de inúmeros bancos, farmácias e restaurantes.

O entorno da Estação Brigada Militar possui malha urbana irregular, destacando-se a presença

de extensos quarteirões, sendo que as vias que circundam a estação são predominantemente

descontínuas. A densidade demográfica do setor urbano em que está inserida a estação é de

4197 habitantes/km², a menor entre as 10 estações.

Figura 81: Mapa do entorno da Estação Brigada Militar.

Fonte: Autora (2018).

Sendo assim, os levantamentos realizados permitiram identificar que 9 das 10 estações estão

localizadas próximas a escolas, 9 das 10 estações ou estão localizadas em praças e parques, ou

estão localizadas muito próximas a estes, 7 estações estão localizadas próximas a instituições

de ensino superior e somente uma estação localiza-se próximo a uma indústria. Todas as

estações foram posicionadas em áreas centrais, seja no centro principal ou nos centros

secundários da cidade que se caracterizam pelo uso misto do solo.

Pode-se observar que metade das estações estão localizadas na Avenida Brasil, principal via da

cidade que conecta inúmeras áreas importantes. Somente as estações Vera Cruz (06) e Brigada

Militar (10) foram implantadas em bairros afastados do centro principal da cidade porém

também situam-se em um importante eixo de Passo Fundo.

Por fim, constatou-se que todos os entornos das estações possuem uso misto do solo

caracterizando os entornos pela presença de pontos atrativos que geram fluxo de pedestres e

veículos diariamente. O reconhecimento destes entornos serviu de subsídio para a etapa de

pesquisa destinada às estimativas de demanda de cada estação, que será apresentado em

subcapítulo específico.

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148

5.3. Estimativas de Potencial de Utilização

Neste subcapítulo foram apresentados os resultados obtidos voltados às estimativas de potencial

de utilização das estações, baseando-se principalmente nas análises dos entornos de cada uma

delas, anteriormente apresentadas.

O Quadro 4 mostra os dados levantados em cada uma das 10 estações de acordo com os cinco

critérios elencados e citados no capítulo 1 (Metodologia).

Quadro 4: Medição/ levantamento dos cinco critérios nas 10 estações

Estações Educaçã

o – E

Áreas verdes

– V (m²)

Segurança no

tráfego – ST

(m)

Distância da estação

mais próxima - DE

(m)

População

potencial –

PP

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

4

2

6

6

2

3

3

1

4

2

21890

45719

57627

41373

37000

15638

42560

79396

36050

8172

0

0

0

0

523

1270

790

0

520

1550

690

655

300

300

530

1390

780

711

711

1350

4219

4219

6187

6187

6187

3940

6187

6187

4336

3296 Fonte: Autora (2018).

Por fim, realizou-se duas análises de regressão linear multivariada, relacionando os critérios

escolhidos para a criação das variáveis analisadas nas 10 estações com os dados reais de

utilização das bicicletas em cada estação, sendo uma regressão linear para as bicicletas retiradas

e uma para as bicicletas devolvidas, no período de 12 meses analisados. Foi utilizada a Equação

(1) para regressão:

𝑌 = 𝛽0 + ∑ 𝛽𝑖 ∗ 𝑥𝑖𝑛𝑖=1 (1)

Onde, Y = variável dependente; 𝛽0= constante; 𝛽𝑖= coeficiente de regressão; 𝑥𝑖= variáveis

independentes. Para as regressões, a constante 𝛽0 foi considerada zero, porém, para garantir o

funcionamento adequado da equação nesta situação, deve se respeitar as seguintes condições

de intervalo das variáveis: PP > 0, devido ao fato de que se necessita de uma população

potencial mínima para haver retiradas de bicicletas; DE > 0, pois deve se considerar a estação

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149

mais próxima, considerando que haja uma distância a ser percorrida. A Equação 2 apresenta a

regressão linear para as bicicletas retiradas:

𝑌𝑅 = 13,4079 ∗ 𝐸 − 0,0037 ∗ 𝑉 − 0,2598 ∗ 𝑆𝑇 + 0,2183 ∗ 𝐷𝐸 + 0,0524 ∗ 𝑃𝑃 (2)

onde, YR é a quantidade de retiradas de bicicletas, E (Educação), V (Áreas verdes), ST

(Segurança no tráfego), DE (Distância da estação mais próxima) e PP (População potencial)

são os critérios que foram descritos anteriormente.

A regressão linear considerando o número de bicicletas devolvidas e os cinco critérios

elencados na pesquisa é apresentada através da Equação 3:

𝑌𝐷 = 15,7222 ∗ 𝐸 − 0,0036 ∗ 𝑉 − 0,2830 ∗ 𝑆𝑇 + 0,2692 ∗ 𝐷𝐸 + 0,0453 ∗ 𝑃𝑃 (3)

Onde, YD corresponde ao número de bicicletas devolvida nas estações.

O Coeficiente de determinação (R²) da Equação 2 foi de 86,51% e da Equação 3 foi de 85,93%.

De acordo com o P-valor todas as variáveis tiveram influência significativa com confiabilidade

de 95% ou mais, conforme pode ser visto nas Tabelas 4 e 5 que mostram as análises de variância

para os modelos matemáticos de bicicletas retiradas e devolvidas.

Tabela 4: Análise de variância para a quantidade de bicicletas retiradas

Critérios Grau de

Liberdade

Soma dos

Quadrados

Soma dos

Quadrados

Ajustada

Média dos

Quadrados

Ajustada

F-valor P-valor

E 1 5637427 42460 42460 5,238 0,0238

V 1 345489 140836 140836 17,374 0,0000

ST 1 9581 464225 464225 57,269 0,0000

DE 1 290839 307802 307802 37,972 0,0000

PP 1 214382 214382 214382 26,447 0,0000

Erro 125 1013263 1013263 8106

Fonte: Autora (2018).

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Tabela 5: Análise de variância para a quantidade de bicicletas devolvidas

Critérios Grau de

Liberdade

Soma dos

Quadrados

Soma dos

Quadrados

Ajustada

Média dos

Quadrados

Ajustada

F-valor P-valor

E 1 5574579 58132 58132 6,849 0,0099

V 1 298660 137893 137893 16,247 0,0000

ST 1 1612 550179 550179 64,825 0,0000

DE 1 449672 467707 467707 55,107 0,0000

PP 1 160958 160958 160958 18,965 0,0000

Erro 125 1060898 1060898 8487 Fonte: Autora (2018).

Também, através das análises de variância, pode-se afirmar que o critério de maior influência

sobre as retiradas e devolução de bicicletas é a segurança no tráfego (ST), pois, estatisticamente,

quanto maior o valor de F mais influente é o fator. Este resultado é corroborado através de uma

pesquisa realizada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET, 2014), a qual mostrou que

após a implantação de um trecho de ciclovia em uma importante avenida da cidade de São Paulo

(Brigadeiro Faria Lima), o número de ciclistas em circulação aumentou 37% nesta via. Isto

também confirma a importância da presença de infraestrutura dedicada à bicicleta, já que

garante maior segurança e conforto para os usuários.

Ao analisar as Equações 2 e 3 verificou-se que duas das cinco variáveis consideradas, V e SE,

obtiveram sinal negativo. Quanto ao sinal negativo da variável SE entende-se que quanto mais

distante uma estação encontra-se de um trecho cicloviário, menos bicicletas serão utilizadas.

Constatou-se que, de forma geral, este é o comportamento das estações do Passo Fundo Vai de

Bici, já que estações posicionadas ao longo dos trechos cicloviários existentes são as mais

utilizadas.

O sinal negativo da variável V (áreas verdes) ocorre, possivelmente, porque as estações

localizadas na Praça Marechal Floriano e na Praça Tochetto, as quais possuem abundantes áreas

verdes em seus entornos, estão entre as estações menos utilizadas, ou seja, o fato de as estações

estarem posicionadas próximas a áreas verdes em Passo Fundo não garante que elas sejam

intensamente utilizadas.

Esta constatação corrobora a necessidade de uma amostragem maior para que a equação possa

ajustar-se e para que possam ser alcançados resultados mais precisos, já que somente foram

consideradas as 10 estações existentes baseando-se nos 5 critérios elencados e desconsiderando

outras variáveis não medidas e que podem influenciar no uso das estações.

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151

As Equações 2 e 3 serviram para avaliação do sistema de variáveis, ou seja, dos cinco critérios

analisados e avaliados nos entornos, podendo ser verificado na Figura 82, que mostra a

comparação entre os valores coletados com a Prefeitura Municipal (média das bicicletas

retiradas e devolvidas) e os valores previstos pelo modelo matemático.

Observa-se que, de forma geral, os dados seguiram um mesmo comportamento. Contudo, pode-

se observar que nas estações Brigada Militar, Marechal Floriano, Santa Terezinha e Teixeirinha

houveram maiores dispersões entre os dados reais e os dados estimados. Acredita-se que estes

resultados ocorreram devido ao fato de existirem outras variáveis não consideradas neste estudo

por dificuldades de medição e que possuem grande influência no uso destas estações, como a

presença de áreas de intenso comércio e prestação de serviços.

Figura 82: Média de bicicletas retiradas e devolvida nas diferentes estações por mês Fonte: Autora (2018).

Portanto, sugere-se que em estudos futuros sejam realizadas novas análises quanto aos critérios

que podem contribuir com o uso das bicicletas compartilhadas, como forma de alcançar

resultados mais precisos. Sugere-se que sejam consideradas as áreas de intenso comércio, a

proximidade com o shopping center, bares e restaurantes, dentre outros locais que geram

atratividade diária.

Porém, pode-se afirmar que estes resultados permitiram compreender o funcionamento do

sistema “Passo Fundo Vai de Bici”, além de demonstrar como o entorno das estações de

bicicletas e as características da cidade afetam diretamente a utilização do sistema, sendo que

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se pode compreender os aspectos mais influentes, como a presença de ciclovias e a proximidade

entre as estações, que possibilitam a criação de redes voltadas à ciclomobilidade, facilitando os

deslocamentos ativos. Além dos apectos menos influentes, como a presença de instituições de

ensino, áreas verdes e a população potencial.

Acredita-se que a presença de instituições de ensino tenha sido pouco significativa devido ao

fato de a Prefeitura Municipal de Passo Fundo ter estabelecido uma regra de que somente

maiores de 18 anos podem utilizar o sistema, significando que boa parte dos alunos das

instituições de ensino fundamental e médio não tem acesso às bicicletas compartilhadas.

Quanto à variável População Potencial acredita-se que ela esteja entre as menos influentes já

que, de acordo com a literatura, as estações de bicicleta podem ser dimensionadas de acordo

com a população em potencial da área de cobertura de cada uma delas (ITDP, 2014a).

Com base nos resultados alcançados acredita-se que este estudo pode contribuir para possíveis

projetos de expansão da rede na cidade, avaliando-se os critérios mais influentes que podem

potencializar o uso das bicicletas compartilhadas.

Além disso, este sistema de avaliação de critérios pesquisados pode ser replicado em outras

áreas, utilizando-se da equação para contribuir com o processo avaliativo do potencial de

utilização de bicicletas em novas regiões. Vogel, Greiser e Mattffeld (2011), Lin e Yang (2011),

García-Polomares, Gutiérrez e Latorre (2012), Martinez et al. (2012), ITDP (2014a) e Tran,

Ovtracht e D’arcier (2015), confirmam a necessidade de estudos voltados ao entendimento das

variáveis que influenciam na utilização das bicicletas compartilhadas. Estes estudos tendem a

contribuir com a tomada de decisão quanto à localização das estações e podem evitar

implantações pouco úteis que tendem a gerar custos desnecessários.

Dessa forma, tendo como objetivo analisar o potencial de utilização de cada estação de acordo

com as características dos entornos, esta etapa da pesquisa demonstrou que a avaliação dos

diferentes cenários em cada estação tornou possível visualizar a demanda de cada uma delas e

visualizar as estações com maior potencial.

As estações Boqueirão Legal (01), Teixeirinha (04) e Parque da Gare (08) são as estações mais

utilizadas e com potencial de acordo com as características de seus entorno. Além disso, foi

possível identificar as estações menos utilizadas, como as estações Vera Cruz (06) e Praça Santa

Terezinha (09), que apesar de possuírem pontos geradores de viagens no entorno, como as

intituições de ensino, estão localizados afastados da área central, distantes das outras estações

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153

e, principalmente, não possuem ciclovias contínuas em seus entornos, variável mais

significativa de acordo com esta análise.

Contudo, destaca-se que estas estações possuem papel importante para a dinâmica do sistema,

pois permitem que o sistema abranja áreas mais periféricas da cidade e alcancem uma parcela

maior de usuários, possibilitando que os mesmos partam de suas residências para os locais de

interesse.

Ainda, a partir da criação das equações, embora tenha se detectado a necessidade de melhorias,

já que a amostra se mostrou pequena, negativando o coeficiente da variável V, relacionado às

áreas verdes, além de existirem outros critérios não considerados nesta análise, tornou-se

possível avaliar o potencial de diferentes locais para implantação de novas estações de bicicleta,

de acordo com as características destacas neste estudo.

Ademais, mesmo que as equações necessitem de ajustes para alcançarem resultados mais

precisos, por meio desta etapa de pesquisa tornou-se possível avaliar os critérios que mais

influenciam no uso das bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo, como a presença

de ciclovias. Dessa forma, estas informações podem contribuir em processos decisórios de

futuros projetos de extensão do programa Passo Fundo Vai de Bici, a fim de evitar estações

pouco utilizadas, que podem gerar custos desnecessários para o poder público local.

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6. USO, PERCEPÇÃO E IMPACTO AMBIENTAL DO PASSO FUNDO VAI DE

BICI

Na primeira parte deste capítulo serão apresentados os principais resultados coletados por meio

das ferramentas de APO, ou seja, os questionários aplicados junto aos usuários e não usuários

das bicicletas compartilhadas e a observação do pesquisador, como forma de diagnosticar o uso

do sistema. Após, serão demonstrados os resultados relacionados às contribuições ambientais

provenientes do uso das bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo.

6.1. Percepção de Usuários e Não Usuários do Passo Fundo Vai de Bici

Conforme mencionado anteriormente no capítulo destinado às metodologias, as respostas

coletadas por meio dos questionários presenciais e on-line foram analisadas com o software

estatístico SPSS. As respostas foram divididas em 2 grupos, sendo o primeiro deles destinado

aos usuários do Passo Fundo Vai de Bici e o segundo destinados aos não usuários de bicicleta

da cidade de Passo Fundo.

Para cada pergunta do questionário foi criada uma coluna, sendo que as respostas foram

adicionadas sequencialmente ao longo desta. Todas as respostas foram transformadas em

valores numéricos, como forma de possibilitar a realização de cálculos estatísticos bem como

comparações entre grupos e análise de possíveis correlações.

Nos casos em que os respondentes não responderam da forma esperada ou optaram por não

responder à questão, adicionou-se a opção “N/A”, ou seja, nenhuma das alternativas. As

perguntas com escalas de concordância foram codificadas de acordo com a escala Likert, com

valores de 1 a 5, significando 1 discordância total e 5 concordância plena.

Ainda, junto à apresentação dos dados socioeconômicos dos respondentes usuários das

bicicletas compartilhadas da cidade de Passo Fundo, optou-se por apresentar dados nacionais,

baseados na Pesquisa Nacional Sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO,

2015), como forma de realizar comparações.

Dessa forma, por meio dos cálculos realizados no SPSS foram analisadas as médias e desvio

padrão, especialmente nas respostas escalares, além de eventuais correlações entre grupos de

respostas. Sendo assim, todas as análises realizadas serão apresentadas a seguir.

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6.1.1. Usuários: Perfil Socioeconômico

De acordo com os 240 questionários aplicados junto aos usuários do sistema de

compartilhamento de bicicletas da cidade de Passo Fundo, 61,66% (148 respondentes) são do

sexo masculino, enquanto 38,33% (92 respondentes) são do sexo feminino. Neste contexto, a

Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO, 2015) apontou

que, em todas as capitais pesquisadas o cenário se repetiu. Em Belo Horizonte, por exemplo, a

porcentagem de mulheres ciclistas foi de 18,3%, enquanto a pocentagem de homens ciclistas

foi de 80,9%. Em São Paulo a disparidade é ainda maior, 86% homens e somente 14% mulheres.

Quanto à faixa etária, a maior parcela de usuários entrevistados possui idade entre 19 e 35 anos

(74,58%), conforme pode ser visto no Quadro 5. Na Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista

Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO, 2015) 20,2%, dos ciclistas possui até 24 anos e a maior

parcela, ou seja, 34,3% possui entre 25 a 34 anos. Além disso, 23,7% possuem idade entre 35

e 44 anos, 13,8% de 45 a 54, 5,6% de 55 a 64 e apenas 2,4% possuem mais de 64 anos.

Quadro 5: Dados faixa etária dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de Bici

Qual é a sua idade?

Até 18 anos De 19 a 25

anos

De 26 a 35

anos

De 36 a 45

anos

De 46 a 55

anos

De 56 a 65

anos

Acima de

65 anos

15

(6,25%)

124

(51,66%)

55

(22,91%)

23

(9,58%)

20

(8,33%)

3

(1,25%)

0

(0,00%)

Fonte: Autora (2018).

Quanto ao grau de escolaridade a maior parcela (35%) possui ensino superior incompleto,

seguidos pelo ensino superior completo (21%) e ensino médio completo (18%), conforme

Figura 83. A Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO,

2015) demonstrou que, no Brasil, a maior parcela dos ciclistas possui ensino médio9 42,5% e

23,4% possui ensino superior, contudo, a pesquisa não difere se o grau de escolaridade está

concluido ou não.

9 A pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO, 2015) não difere os graus de

escolaridade completos e incompletos.

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156

Figura 83: Gráfico do grau de escolaridade dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de Bici.

Fonte: Autora (2018).

Quanto à renda, a maioria dos usuários das bicicletas compartilhadas (38%) declarou receber

de 1 a 3 salários mínimos, conforme Figura 84. Ressaltando que o sistema de compartilhamento

de bicicletas atinge uma parcela da população que não possui altos rendimentos financeiros.

Figura 84: Gráfico de renda familiar mensal dos respondentes usuários do Passo Fundo Vai de Bici.

Fonte: Autora (2018).

Já quanto a Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO,

2015), os resultados ficaram muito próximos. A maior parcela dos ciclistas, ou seja, 30%,

recebe de 1 a 2 salários mínimos, seguida pelos 17% que recebem de 2 a 3 salários e somente

12,9% recebem até 1 salário mínimo.

Quanto ao local e moradia, o Centro e Vila Vergueiro foram os mais citados (38,33%), seguidos

pelos bairros Boqueirão (20,41%), São Cristóvão (7,91%) e Vera Cruz (6,66%), conforme

Figura 85. Cabe destacar que estes são os bairros que possuem estações de bicicleta

1%2%

7%

18%

35%

21%

6%

10%

Qual é o seu grau de escolaridade?

1. Ensino fundamental incompleto

2. Ensino fundamental completo

3. Ensino médio incompleto

4. Ensino médio completo

5. Ensino superior incompleto

6. Ensino superior completo

7. Pós incompleto

8. Pós completo

14%

38%24%

18%

6%

Qual a sua renda familiar mensal bruta?

1. Até 1 salário mínimo

2. De 1 a 3 salários mínimo

3. De 3 a 5 salários mínimos

4. De 5 a 15 salários mínimos

5. Mais de 15 salários

mínimos

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157

compartilhada implantadas, comprovando que a maioria dos usuários do sistema de

compartilhamento de bicicletas residem nos bairros onde estão implantadas as estações de

bicicleta.

Figura 85: Gráfico da distribuição dos usuários por bairros.

Fonte: Autora (2018).

6.1.2. Usuários: Caracterização de Uso do Sistema

Quanto à caracterização do uso do sistema, primeiramente os usuários foram questionados

quanto à forma de cadastramento. Quanto a isso, 52,91% declarou que realizou o cadastro pela

internet, 35,41% na sede física do Passo Fundo Vai de Bici e 11,66% no lançamento do sistema,

já que, nesta fase, a Prefeitura Municipal de Passo Fundo implantou diversos pontos de

cadastramento pela cidade, localizados, em sua maioria, nos espaços públicos.

Quanto ao uso das 10 estações de bicicleta constatou-se que a estação mais utilizada pelos

usuários entrevistas foi a estação Boqueirão Legal (22,08%), seguida pela estação Teixeirinha

(14,16%), Notre Dame (13,75%) e Parque da Gare (9,16%), conforme Figura 86.

38,33%

20,41%

2,08%

5%

1,66% 2,08% 1,66%

7,91%6,66%

2,91% 3,33% 2,50%4,58%

0,83%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

1. Centro e

Vila

Vergueiro

2.

Boqueirão

3.

Integração

4. Lucas

Araújo

5.

Petrópolis

6. Santa

Maria

7. Santa

Marta

8. São

Cristóvão

9. Vera

Cruz

10. Vila

Fátima e

Annes

11. Vila

Luiza

12. Vila

Rodrigues

Outros N/A

Po

rcen

tagem

de

resp

on

den

tes

Em qual bairro/região você reside?

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158

Figura 86: Gráfico da distribuição por estação de bicicleta.

Fonte: Autora (2018).

Quando questionados quanto à finalidade de uso das bicicletas compartilhadas, a maior parcela

de respondentes (58,33%) declarou que utiliza as bicicletas para lazer. Contudo, uma parcela

significativa (15,00%) declarou que utiliza as bicicletas para deslocamentos ao trabalho,

destacando o papel fundamental das bicicletas no dia a dia destes usuários, conforme Figura

87.

Figura 87: Gráfico da finalidade de uso das bicicletas compartilhadas.

Fonte: Autora (2018).

Neste mesmo sentido, a Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE

ATIVO, 2015) concluiu que, diferente do resultado encontrado na cidade de Passo Fundo, no

Brasil a maioria dos ciclistas (88,1%) utilizam a bicicleta para deslocamentos ao trabalho,

22,08%

9,16%7,50%

5%

13,75%

9,16%7,50%

5,41%

14,16%

6,25%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

1.

Boqueirão

Legal

2. Brigada

Militar

3. IE 4.

Marechal

Floriano

5. Notre

Dame

6. Parque

da Gare

7. Praça

Tocheto

8. Santa

Terezinha

9.

Teixeirinha

10. Vera

Cruz

Po

rcen

tagem

de

resp

on

den

tes

Qual é a estação que você mais utiliza?

15%

3,33%

58,33%

17,92%

5,41%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1. Trabalhar 2. Estudar 3. Lazer 4. Esporte 5. Outras

Porc

enta

gem

de

resp

on

den

tes

Para qual finalidade você mais utiliza as bicicletas?

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159

seguidos pelos que utilizam para lazer (76%), para deslocamentos à escola/faculdade (30,5%)

e os que utilizam para realização de compras (59,2%)10.

Quanto à frequencia de uso, a maior parcela de usuários (73,33%) declarou que utiliza de 1 a 2

vezes por semana, seguido pelos usuários que utilizam de 3 a 4 vezes por semana (18,75%), os

que utilizam de 4 a 5 vezes (6,25%) e os que utilizam todos os dias (1,66%). Ainda quanto ao

uso, 64,58% dos usuários declarou que utiliza mais as bicicletas durante os dias de semana,

sendo que 35,42% declarou utilizar mais durante os finais de semana.

Os usuários também foram questionados quanto às distâncias percorridas com as bicicletas

compartilhadas. Para esta pergunta as respostas eram abertas e, dessa forma, variaram de 1 km

(24 respondentes) até 30 km (1 respondente). Contudo, a maioria das respostas (69,58%)

concentraram-se entre 1 e 5 quilômetros, conforme pode ser visto no Quadro 6. A média foi de

4,5 km, a mediana foi de 3 km e o desvio padrão foi 3,8, considerando-se todas as respostas.

Neste sentido, cabe recordar que, de acordo com a literatura, em média, a distância máxima

percorrida de bicicleta é de aproximadamente 5 quilômetros (BAUDRIN, 2007).

Quadro 6: Distâncias percorridas com as bicicletas compartilhadas.

De 1 a 2 km De 3 a 5 km De 5 a 10 km Acima de 10 km N/A

30% 39,58% 20,41% 5% 5%

Fonte: Autora (2018).

Também quanto às distâncias, os usuários foram questionados quanto ao afastamento dos

pontos de origem e destino até a estação mais próxima (Figura 88). Quanto ao ponto de origem,

a maioria dos usuários (57,50%) declarou que a estação mais próxima se localiza no máximo a

até 4 quadras. Quanto ao ponto de destino, repetiu-se o mesmo cenário, a maioria (56,25%)

declarou estar a no máximo até 4 quadras de distância. Este resultado corrobora novamente com

o fato de que a maioria dos usuários residem e/ou realizam atividades próximas às estações.

10 O percentual geral é maior que 100 devido a diferentes viagens de um mesmo individuo.

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160

Figura 88: Gráfico das distâncias entre pontos de origem e destino até a estação mais próxima.

Fonte: Autora (2018).

Quando questionados quanto aos locais mais utilizados enquanto circulam com as bicicletas

compartilhadas, a maior parcela, ou seja, 76,25% dos respondentes declarou que utiliza as

ciclovias da cidade, 17,50% declarou que utiliza as pistas de rolamento dos automóveis e

somente 6,25% declarou que utiliza o passeio público, conforme Figura 89.

Figura 89: Gráfico da distribuição por via de circulação.

Fonte: Autora (2018).

Neste sentido, cabe recordar que, de acordo com o Art. 59 do Código de Trânsito Brasileiro, é

proibido circular de bicicleta nas calçadas, exceto quando há sinalização permitindo. O Art. 68

do Código de Trânsito Brasileiro assegura também que os passeios públicos são para os

57,50%

26,66%

15,83%

56,25%

28,33%

15,41%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%

Até 4 quadras

De 5 a 10 quadras

Mais de 10 quadras

Porcentagem de respondentes

A quantas quadras o seu ponto de destino (chegada) fica da estação mais próxima?

A quantas quadras o seu ponto de origem (partida) fica da estação mais próxima?

76,25%

17,50%

6,25%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

1. Ciclovia ou

ciclofaixa

2. Pista de rolamento

de automóveis

3. Passeio Público

Po

rcen

tagem

de

resp

onden

tes

Por onde você mais circula com as bicicletas compartilhadas?

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161

pedestres, sendo que, em necessidade de circular pelo passeio, o ciclista deve desmontar a

bicicleta e empurrá-la, equiparando-se ao pedestre, em direitos e deveres.

O resultado alcançado quanto ao uso das ciclovias de Passo Fundo provavelmente ocorreu pelo

fato de que 3 estações (Boqueirão, IE e Teixeirinha) estão localizadas ao longo da ciclovia

localizada na Avenida Brasil (da rua Sete de Setembro até a rua Livramento), situada na área

central da cidade e também no bairro Boqueirão, onde residem a maioria dos usuários. Além

disso, uma das 10 estações localiza-se no Parque da Gare, que possui ciclovia em seu entorno.

Neste sentido, os usuários que utilizam a ciclovia foram convidados a responder algumas

perguntas sobre as mesmas. A primeira delas referia-se a qual dos trechos de ciclovia existentes

na cidade era mais utilizado pelos usuários. Neste contexto, a maioria (53,77%) declarou que

utiliza o trecho existente na Avenida Brasil, que parte da área central da cidade até o bairro

Boqueirão, onde estão localizadas 3 estações. O segundo trecho mais utilizado foi a ciclovia

que dá continuação ao trecho central, ou seja, da rua Livramento até o Trevo do Boqueirão

Legal, com 35,11%. O trecho menos utilizado pelos usuários foi o trecho existente no Parque

da Gare, com 11,11%, conforme gráfico da Figura 90.

Figura 90: Gráfico de distribuição por trecho cicloviário.

Fonte: Autora (2018).

Cabe destacar que, além destes 3 trechos, o questionário apresentou mais três opções de

ciclovias existentes na cidade. Um deles localizado no Parque Linear, na rua Rui Barbosa, no

bairro Petrópolis, que, até o momento não possui estações de bicicleta, outro localizado no

Parque Banhado da Vergueiro e outro trecho que vai da Avenida João Catapan até a Perimetral

53,77%

35,11%

11,11%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

1. AV. Brasil: Av. Sete de

Setembro - Rua Livramento

no Bairro Boqueirão

2. Av. Brasil: Rua

Livramento - Trevo do

Boqueirão Legal

3. Parque da Gare

Porc

enta

gem

de

resp

on

den

tes

Se você utiliza a ciclovia, qual dos trechos existentes na cidade você mais

transita?

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162

Sul, no bairro Santa Marta, que também não possui estações de bicicleta nas proximidades.

Contudo, estes 3 trechos não foram citados por nenhum dos respondentes e consequentemente

conclui-se que não são muito utilizados pelos usuários.

Quanto às características da ciclovia, os usuários que utilizam a mesma foram convidados a

avaliar itens como largura, material, sombreamento, conservação e sinalização. As avaliações

foram feitas utilizando-se uma escala de 1 a 5, que variavam de péssimo até o muito bom.

As respostas atribuídas pelos respondentes foram dividias de acordo com o trecho de ciclovia

utilizado, como forma de avaliar a percepção dos usuários quanto aos trechos citados. A Tabela

6 demonstra as médias alcançadas em cada um dos trechos avaliados pelos usuários.

Tabela 6: Média para cada item avaliado nos 3 trechos de ciclovia citados.

Característica ciclovia Sinalização Conservação Sombreamento Material Largura

Média (trecho 1) 3,58 3,47 3,57 3,68 3,01

Média (trecho 2) 3,60 3,64 3,75 3,78 3,03

Média (trecho 3) 3,70 3,58 3,54 3,70 3,45

Média geral 3,62 3,56 3,62 3,72 3,16

Fonte: Autora (2018).

Nesta avaliação, constatou-se que, de forma geral, os usuários avaliam os trechos de ciclovia

da cidade de forma positiva, sendo que os itens materiais, sombreamento, conservação e

sinalização receberam altos índices de avaliação, ou seja, considerados bons em todos os

trechos e consequentemente alcançaram médias mais altas. O item largura alcançou as menores

médias nos trechos 1 e 2.

Quanto à largura das ciclovias, cabe destacar que o trecho 1 possui pista de caminhada agregada

à ciclovia, sendo muito utilizada para corridas e caminhadas esportivas, além de ser utilizada

para passeios com crianças e animais. Este pode ser um dos motivos para o resultado alcançado

quanto à largura das ciclovias, já que o espaço muitas vezes é disputado entre ciclistas e

pedestres.

Já o trecho 2, que também recebeu avaliação negativa quanto à largura, situa-se junto às vias

de circulação de automóveis, separada unicamente por tachões na pista, sendo que possui

largura somente para uma bicicleta no sentido de ida e uma bicicleta no sentido de volta.

Um resultado muito relevante coletado com os questionários refere-se à substituição de outras

modalidades de transporte pelo uso das bicicletas compartilhadas. Neste contexto, resultados

da pesquisa realizada constatam que 15,41% das viagens com as bicicletas compartilhadas estão

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163

substituindo viagens antes realizadas com automóvel particular, 27,91% viagens de ônibus

urbano e 44,58% estão substituindo viagens a pé (Figura 91). Este resultado confirma os

benefícios ambientais do uso da bicicleta como meio de transporte, já que a redução no número

de viagens motorizadas, especialmente de automóvel particular, tende a contribuir com a

redução das emissões de gases poluentes, conforme será abordado com mais profundidade em

capítulo específico.

Figura 91: Gráfico da substituição de outras modalidades de transporte pela bicicleta compartilhada.

Fonte: Autora (2018).

6.1.3. Usuários: Motivações

Quanto às motivações para o uso das bicicletas como meio de transporte, os usuários foram

convidados a avaliar, novamente com a escala Likert, 3 afirmativas. Neste contexto, de forma

geral, a maioria dos usuários concorda que o uso da bicicleta é uma maneira saudável de se

deslocar, além de ser econômico. A afirmativa com o menor índice de concordância foi “É fácil

e rápido”. Conforme pode ser visto no Quadro 7, a afirmativa com a maior média foi a

relacionada à saúde, com 4,42, seguida pela afirmativa relacionada a economia e, por fim, a

afirmativa relacionada à facilidade e rapidez.

Quadro 7: Média e desvio padrão das motivações para o uso da bicicleta.

Motivação Média N Desvio Padrão

Saudável 4,42 240 1,12

Econômico 4,21 240 1,17

Fácil e rápido 3,68 240 1,30

Fonte: Autora (2018).

Embora em Passo Fundo a média alcançada na afirmativa “Fácil e rápido” tenha sido a menor,

na Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro (TRANSPORTE ATIVO, 2015) os

44,58%

27,91%

15,41%

2,50%

8,75%

0,83%0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

1. A pé 2. Ônibus 3. Carro

particular

4.

Motocicleta

particular

5. Bicicleta

particular

6. Carona

Porc

enta

gem

de

resp

onden

tes

Se você não estivesse utilizando as bicicletas compartilhadas, como você se

deslocaria?

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164

ciclistas declararam que o que mais os motiva a continuar pedalando é o fato de ser rápido e

prático (44,6%), em segundo lugar por ser saudável (25,9%), em terceiro por ser economico

(17,7%), em quarto por outros motivos (7,8%) e em quinto por ser ambientalmente correto

(3,4%). Cabe recordar que a maioria dos usuários das bicicletas compartilhadas de Passo Fundo

utiliza as mesmas para lazer e prática de esporte, justificando a média mais alta alcançada,

atribuída às questões relacionadas à saúde, e a média mais baixa, relacionada com o tempo e

praticidade.

Quanto às principais dificuldades enfrentadas pelos usuários ao fazer uso do sistema de

compartilhamento, o questionário apresentou 5 opções, elencadas com base em questionário

posteriormente aplicado em amostra de 100 respondentes (SARAIVA et al., 2017a). Neste

questionário teste constatou-se que a opção “espaçamento entre estações” não era considerada

uma dificuldade pelos usuários e dessa forma optou-se por excluí-la das opções. Da mesma

forma, por meio do questionário teste constatou-se que muitos usuários haviam enfrentado

problemas relacionados ao sistema de operação do Passo Fundo Vai de Bici. Desta forma,

optou-se por acrescentar a opção “falhas com o sistema”.

Assim sendo, as opções apresentadas no questionário relacionavam-se com a ausência de

bicicletas na estação desejada, a ausência de ciclovia ou ciclofaixa para realização do percurso,

a insegurança no trânsito, a ausência de estações em áreas não centrais e, por último, as falhas

com o sistema, nas retiradas e devoluções das bicicletas nas estações.

Em cada uma das opções os usuários foram convidados a atribuir notas de 1 a 5, sendo 1 para

a menor dificuldade e 5 para a maior. Nestas alternativas, os usuários não eram obrigados a

responder, já que poderiam nunca ter enfrentado às dificuldades elencadas, dessa forma, o

número total de respondentes foi menor que 240.

A dificuldade mais destacada pelos usuários foram os problemas com o sistema, na retirada ou

devolução das bicicletas nas estações. Nesta opção a média alcançada foi de 3,53, a maior dentre

as opções. A segunda opção mais destacada pelos usuários foi a insegurança no trânsito, que

alcançou uma média de 3,34. A terceira opção mais destacada foi a ausência de estações em

áreas residenciais, seguida pela ausência de ciclovias para realização das viagens e a ausência

de bicicletas nas estações. Todas as médias e desvios padrão podem ser vistos no Quadro 8.

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165

Quadro 8: Média e desvio padrão das dificuldades enfrentadas no uso do sistema.

Dificuldade Média N Desvio Padrão

Falhas com o sistema (retirada e devolução) 3,53 226 1,49

Insegurança no trânsito 3,34 216 1,41

Ausência de estações em áreas residenciais 3,10 214 1,50

Ausência de ciclovias 3,02 215 1,49

Ausência de bicicleta na estação desejada 2,87 222 1,41

Fonte: Autora (2018).

6.1.4. Usuários: Análise de Correlações

Objetivando verificar a existência de correlações entre as variáveis do questionário,

especialmente entre as dificuldades enfrentadas pelos usuários foi realizada uma análise para

identificação de graus de correlação. Esta análise permitiu inferir importantes informações

quanto às percepções dos usuários do sistema de compartilhamento de bicicletas. Contudo, cabe

ressaltar que a identificação das variáveis fortemente correlacionadas não quer dizer que haja

relação de causa e efeito entre as mesmas.

Para realização desta etapa utilizou-se o coeficiente de correlação linear de Pearson, disponível

no software estatístico empregado. O grau de correlação varia de -1 (correlação negativa

perfeita) a 1 (correlação positiva perfeita) sendo que os valores próximos de 0 são considerados

de fraca correlação ou nulos, e por este motivo, não são relevantes para o estudo.

Na presente análise optou-se por isolar somente os respondentes que concordaram (4) ou

concordaram totalmente (5) com as afirmativas relacionadas às principais dificuldades quanto

ao uso da bicicleta. Conforme pode ser visto no Quadro 8, todas as variáveis de dificuldades

foram relacionadas entre si. Optou-se por inserir no quadro somente as correlações com valores

acima de 0,50.

Conforme pode ser visto no Quadro 9, foram identificadas somente correlações positivas e,

destas, é possível traçar algumas análises. Primeiramente, destaca-se a correlação perfeita

positiva representada pelo valor 1,00, encontrada entre as variáveis de “Ausência de ciclovias”

e “Insegurança no trânsito”. Esta correlação pode ser facilmente explicada, já que há forte

relação entre a presença de infraestrutura para a bicicleta e a promoção de segurança para os

ciclistas urbanos.

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166

Quadro 9: Correlações existentes entre variáveis de dificuldade e motivação.

Dificuldade

Ausência de

bicicleta na

estação

desejada

Ausência de

ciclovias

Insegurança

no trânsito

Ausência de

estações em

áreas

residenciais

Falhas com o

sistema

(retirada e

devolução)

Ausência de

bicicleta na

estação

desejada

x 0,581 0,581 0,669 0,831

Ausência de

ciclovias - x 1,00 0,909 0,628

Insegurança no

trânsito - - x 0,909 0,628

Ausência de

estações em

áreas

residenciais

- - - x 0,622

Falhas com o

sistema

(retirada e

devolução)

- - - - x

Fonte: Autora (2018).

Além desta, destaca-se as fortes correlações positivas encontradas entre as variáveis “Ausência

de estações em áreas residências” e “Ausência de ciclovias” e também entre as variáveis

“Ausência de estações em áreas residenciais” e “Insegurança no trânsito”, representadas pelo

valor 0,909 para ambas. Esta correlação denota a necessidade de vínculo entre o aumento da

área de abrangência do sistema e a promoção de segurança para os ciclistas, por meio de

infraestrutura para a bicicleta.

Também se encontrou forte correlação positiva entre as variáveis “Falhas com o sistema” e

“Ausência de bicicletas na estação desejada”, representada pelo valor 0,831. Estas variáveis

estão relacionadas à manutenção e redistribuição das bicicletas, ou seja, duas dificuldades

provenientes exclusivamente do serviço que está sendo ofertado pela empresa operadora do

sistema.

6.1.5. Usuários: Análise das Respostas Abertas

As duas últimas questões do questionário destinado aos usuários do sistema eram abertas, sendo

que na primeira delas os usuários eram convidados a sugerir melhorias para o sistema de

compartilhamento Passo Fundo Vai de Bici.

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167

Analisando estas respostas, concluiu-se que a sugestão que mais se repetiu foi a ampliação da

rede de estações na cidade, com 30 respostas relacionadas ao tema. A segunda sugestão mais

repetida, com 27 respostas relacionava-se à manutenção do sistema e principalmente das

bicicletas, que em muitos casos encontram-se degradadas. Também com 27 respostas

relacionadas, a redução das falhas com o sistema, na retirada e devolução das bicicletas foi

citada.

Neste sentido, muitos usuários aproveitaram o espaço da resposta para retratar dificuldades que

tiveram com o bloqueio de CPFs devido a não identificação da devolução das bicicletas pelo

sistema. Muitos usuários esclareceram que, além das falhas no sistema, a resolução dos

problemas por parte dos responsáveis se dá de forma lenta, sendo que muitos declararam não

utilizar mais o sistema por este motivo.

A quarta sugestão mais citada pelos respondentes relaciona-se com a ampliação da rede

cicloviária existente na cidade, com 16 respostas relacionadas. Em quinto lugar, a sugestão de

realização de campanhas educativas voltadas tanto aos usuários, relacionadas ao cuidado com

os bens públicos, quanto aos motoristas, relacionadas ao respeito e divisão do espaço de

circulação, e aos pedestres, relacionadas ao uso do caminhódromo existente ao lado da ciclovia

da Av. Brasil, já que muitos pedestres acabam atrapalhando a circulação dos ciclistas.

Alguns usuários também sugeriram melhorias relacionadas às características das estações e

bicicletas, como a possibilidade de estações cobertas por toldos, uma maior facilidade na

regulagem dos bancos das bicicletas e a opção de algumas bicicletas sem cestinha. Outras

sugestões que também apareceram foram relacionadas à redistribuição das bicicletas nas

estações, já que algumas delas ficam cheias durante boa parte do dia. Também sugeriu-se que

o cadastramento seja facilitado.

Sendo assim, como forma de sintetizar as respostas utilizou-se a ferramenta Word Cloud

Generator, para criar uma nuvem de palavras, sendo que, as mais citadas aparecem maiores,

conforme pode ser visto na Figura 92.

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168

Figura 92: Nuvem de palavras relacionadas às sugestões de melhorias.

Fonte: Autora (2018).

A segunda pergunta aberta e também a última presente no questionário destinado aos usuários

convidava os respondentes a sugerirem locais para implantação de novas estações. Neste

sentido, no Quadro 10 é possível visualizar o ranking dos locais/bairros mais citados pelos

respondentes.

Quadro 10: Locais mais citados pelos respondentes para criação de novas estações.

Local Número de vezes que foi citado

Bairro Petrópolis 56

Universidade de Passo Fundo- UPF 33

Bairros (de forma geral) 30

Bairro São Cristóvão 25

Bairro Boqueirão 25

Bairro Vera Cruz 17

Rodoviária 17

Centro 10

Fonte: Autora (2018).

Uma série de sugestões relacionadas ao bairro Petrópolis vieram acompanhadas das sugestões

Parque Linear ou Praça da Literatura (que fica próxima à Estação Rodoviária). Quanto ao bairro

São Cristóvão, inúmeras sugestões vieram acompanhadas da sugestão Avenida Presidente

Vargas e Estádio Vermelhão da Serra. Junto às sugestões para o bairro Boqueirão, apareceu

diversas vezes a sugestão “Caravela”, monumento que fica próximo ao trevo da Avenida Brasil

Oeste com a RS-153.

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169

Para uma melhor visualização das propostas dos usuários, a Figura 93 mostra um mapa com a

localização das estações existentes na cidade de Passo Fundo e com as propostas para

distribuição de novas estações, baseadas nas respostas. Destaca-se que, como em alguns casos

os respondentes sugeriram bairros e não os locais específicos, as estações foram posicionadas

sem critérios, somente para visualização da rede como um todo. Não foi considerado no mapa

a sugestão “Bairros”, já que é pouco específica.

Figura 93: Mapa com a localização das estações existentes e com as sugestões dos respondentes.

Fonte: Autora (2018).

Com isso, é possível perceber que as sugestões dos usuários se concentraram em locais ou

bairros importantes para a dinâmica da cidade, além de, em sua maioria, concentrarem-se nos

eixos estruturadores de Passo Fundo, que possibilitam um maior alcance da rede de bicicletas

compartilhadas com o restante da cidade. Cabe destacar o elevado número de sugestões voltadas

aos bairros, já que, atualmente a maioria das estações está localizada na área central da cidade,

impossibilitando percursos maiores.

Além do entendimento quanto às percepções dos usuários do Passo Fundo Vai de Bici, a

adaptação da APO nesta pesquisa também buscou investigar as percepções dos não usuários de

bicicleta na cidade de Passo Fundo, como forma de buscar subsídios para a proposição de

diretrizes de melhoria, adequação e ampliação da rede de bicicletas compartilhadas. Os

principais resultados alcançados foram apresentados no tópico abaixo.

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170

6.1.6. Não usuários: Perfil Socioeconômico

Para o grupo de não usuários de bicicleta da cidade de Passo Fundo calculou-se uma amostra

representativa de 270 questionários. Contudo, foram aplicados 314 questionários, já que, desta

amostra, 16% precisou ser excluída, pois alguns respondentes declararam que utilizavam a

bicicleta, consequentemente, não puderam ser considerados na pesquisa. Sendo assim, foram

considerados para análises 270 questionários.

A partir da criação e análises do banco de dados foi possível conhecer e caracterizar o perfil de

não usuários de bicicleta da cidade de Passo Fundo. Primeiramente, quanto ao perfil

socioeconômico, os não usuários de bicicleta da cidade de Passo Fundo caracterizaram-se da

seguinte forma: 66,29% deles eram do sexo feminino enquanto 33,71% do eram do sexo

masculino. Este dado condiz com as médias nacionais quanto aos usuários de bicicleta, já que,

ao contrário, de forma geral, o número de ciclistas homens é muito superior que o número de

ciclistas mulheres (TRANSPORTE ATIVO, 2015).

Quanto à faixa etária, a maior parcela dos entrevistados (71,10%) possuía entre 19 e 35 anos,

conforme pode ser visto no Quadro 11.

Quadro 11: Dados faixas etárias dos respondentes não usuários de bicicleta.

Qual é a sua idade?

Até 18

anos

De 19 a 25

anos

De 26 a 35

anos

De 36 a

45 anos

De 46 a

55 anos

De 56 a

65 anos

Acima de

65 anos

N/A

21

(7,77%)

97

(35,92%)

95

(35,18%)

26

(9,62%)

19

(7,03%)

4

(1,48%)

0

(0,00%)

8

(2,96%)

Fonte: Autora (2018).

Quanto ao grau de escolaridade, a maior parcela dos entrevistados, ou seja 30% possuía ensino

superior incompleto, seguido pelos 24,8% que possuíam ensino superior completo e os 20%

que possuíam pós-graduação completa, conforme Figura 94.

Quanto à renda, a predominância se deu de forma equilibrada em 3 categorias, ou seja, de 1 a

3 salários mínimos (33,33%), de 3 a 5 salários mínimos (29,62%) e de 5 a 15 salários mínimos

(28,14%), conforme pode ser visto na Figura 95.

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171

Figura 94: Gráfico do grau de escolaridade dos respondentes não usuários.

Fonte: Autora (2018).

Figura 95: Gráfico da renda mensal familiar dos respondentes não usuários de bicicleta.

Fonte: Autora (2018).

Quanto aos locais de moradia, a maior parcela de entrevistados declarou residir na região central

e Vila Vergueiro (27,77%), seguidos pelos bairros São Cristóvão (10,37%), Boqueirão (9,61%),

Santa Maria (8,51%) e Vera Cruz (8,51%), conforme Figura 96.

1,11%1,85%

2,96%

7,77%

30%

24,81%

11,48%

20%

Qual é o seu grau de escolaridade?

1. Ensino fundamental incompleto

2. Ensino fundamental completo

3. Ensino médio incompleto

4. Ensino médio completo

5. Ensino superior incompleto

6. Ensino superior completo

7. Pós incompleto

8. Pós completo

2,96%

33,33%

29,62%

28,14%

5,92%

Qual a sua renda familiar mensal bruta?

1. Até 1 salário mínimo

2. De 1 a 3 salários mínimo

3. De 3 a 5 salários mínimos

4. De 5 a 15 salários mínimos

5. Mais de 15 salários mínimos

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172

Figura 96: Gráfico de distribuição por bairro dos respondentes não usuários. Fonte: Autora (2018).

6.1.7. Não Usuários: Caracterização de Deslocamento

Quanto à caracterização das formas de deslocamento, os entrevistados foram interrogados

quanto à posse de automóvel particular. Neste contexto, 68,52% deles declarou possuir

automóvel particular enquanto 31,48% declarou não possuir. Além disso, a maior parcela de

entrevistados, ou seja, 50% declaram que o meio de transporte mais utilizado no dia a dia para

os deslocamentos é o automóvel particular, seguido pelo ônibus urbano (24,44%) e pelos

deslocamentos a pé (17,40%), conforme pode ser visto no gráfico da Figura 97. Quando

questionados quanto à posse de bicicleta particular, 22,96% declarou que possui, enquanto

77,04% declarou não possuir.

Figura 97: Gráfico quanto ao meio de transporte mais utilizado.

Fonte: Autora (2018).

27,77%

9,62%

2,96%

6,29%

1,85%

8,51%

1,85%

10%

2,59% 2,96%

8,51%

2,59%

7,77%6,29%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

1. Centro e

Vila

Vergueiro

2.

Boqueirão

3. Lucas

Araújo

4.

Petrópolis

5.

Planaltina

6. Santa

Maria

7. Santa

Marta

8. São

Cristóvão

9. São José 10. São

Luiz

Gonzaga

11. Vera

Cruz

12. Vila

Fátima e

Annes

13. Vila

Rodrigues

14. Outros

Porc

enta

gem

de

resp

onden

tes

Em qual bairro/região você reside?

135

8 9

66

47

30

20

40

60

80

100

120

140

160

1.

Automóvel

particular

2.

Motocicleta

particular

3. De carona 4. Ônibus

urbano

5.

Caminhada

6. Outros

mer

o d

e re

spo

nd

ente

s

Qual meio de transporte você mais utiliza diariamente para se deslocar?

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173

6.1.8. Não usuários: Percepção Sobre o Uso da Bicicleta

Os entrevistados foram questionados quanto ao desejo de utilizar a bicicleta como meio de

transporte. Neste contexto, 64,44% deles afirmaram que gostariam de utilizar a bicicleta como

meio de transporte e 35,55% declararam que não gostariam.

Além disso, o questionário apresentou aos respondentes 8 razões para não utilizar a bicicleta na

cidade de Passo Fundo, em que os entrevistados concordavam ou discordavam das afirmativas

apresentadas, utilizando-se da escala Likert, de acordo com o nível de concordância para cada

uma das afirmativas. Estas questões forneceram importantes informações quanto às motivações

dos não usuários de bicicleta.

O primeiro dos motivos apresentados para a não utilização da bicicleta na cidade relacionava-

se ao fato de o entrevistado não saber andar de bicicleta. Nesta afirmativa, 68,14% dos

respondentes discordaram totalmente, 20,74% discordaram, 4,07% foram imparciais, 2,22%

concordaram e 4,81% concordaram totalmente, ressaltando que este não é um motivo relevante

para a não utilização da bicicleta.

O segundo motivo apresentado era referente à insegurança no trânsito, tendo em vista a

insuficiência de ciclovias na cidade de Passo Fundo. Nesta alternativa 45,92% dos respondentes

concordaram, 31,85% concordaram totalmente, 11,48% foram imparciais, 7,03% discordaram

e somente 3,7% discordaram totalmente, sendo este então, um motivo considerado relevante

para a não utilização da bicicleta como meio de transporte na cidade, de acordo com a percepção

dos não usuários.

O terceiro motivo apresentado referia-se à indisposição relacionada ao esforço físico necessário

para se deslocar de bicicleta. Nesta afirmativa, os respondentes, em sua maioria, discordaram,

ou seja, 31,11% discordaram totalmente e 31,11% discordaram, 17,77% foram imparciais,

17,40% concordaram e somente 2,59% concordaram totalmente. Sendo assim, de forma geral,

os respondentes não encaram como um problema a necessidade de se fazer esforço físico para

o deslocamento.

Já o quarto motivo apresentado referia-se ao fato de o entrevistado não andar de bicicleta por

não possuir ou não ter acesso a uma. Nesta afirmativa as respostas foram mais distribuídas,

sendo que 23,33% dos respondentes discordaram totalmente, 22,22% discordaram, 17,03 foram

imparciais, enquanto 25,55% concordaram e 11,85% concordaram totalmente.

O quinto motivo para o não uso da bicicleta para os deslocamentos referia-se às roupas

utilizadas no dia a dia, pelo fato de não favorecerem o uso da bicicleta. Nesta afirmativa a

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174

maioria, ou seja, 31,85% concordou, sendo que 11,48% concordou totalmente, 20% foi

imparcial, 21,11% discordou e 15,55% discordou totalmente.

O sexto motivo apresentado referia-se as distâncias percorridas diariamente, consideradas

inadequadas para o uso da bicicleta. Nesta afirmativa as respostas foram mais equilibradas,

contudo, 27,03% dos respondentes discordaram e 24,16% discordaram totalmente da

afirmativa, 20,37% foram imparciais, 21,85% concordaram e 9,25% concordaram totalmente.

O sétimo motivo para a não utilização da bicicleta como meio de transporte referia-se a

topografia da cidade, considerando a existencia de vias íngremes, que dificultam o uso da

bicicleta. Nesta alternativa a maioria, ou seja, 26,29% declararam concordar com a afirmativa

e 14,07% concordaram totalmente, contudo uma parcela, ou seja, 25,55% declararam nem

concordar nem discordar, 23,70% declararam discordar e 10,37% declararam discordar

totalmente.

O oitavo e último motivo apresentado referia-se ao clima da cidade, tendo em vista a existência

de estações bem definidas, com invernos e verões rigorosos. Nesta afirmativa, a maioria, ou

seja, 37,77% dos respondentes declararam que discordam e 18, 51% discordaram totalmente,

27,77% foram imparciais, 10,37% concordaram e somente 5,55% concordaram totalmente,

enfatizando que este não é um motivo considerado relevante para o não uso da bicicleta, sob a

ótica dos não usuários.

Quanto a estas afirmativas, pode-se concluir que, de forma geral, as características menos

inluentes para o não uso da bicicleta como meio de transporte são o fato de não saber andar de

bicicleta que alcançou uma média de 1,52, o fato de não gostar de fazer esforço físico para se

deslocar, com média de 2,05 e o clima da cidade, com média de 2,30, conforme Quadro 12.

Por outro lado, a insegurança no trânsito, relacionada a insuficiencia de ciclovias na cidade foi

a que obteve a média mais alta, com 3,94. Em segundo lugar a topografia da cidade, com média

de 3,41 e em terceiro as roupas usadas no dia a dia, com média de 2,80.

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175

Quadro 12: Média e desvio padrão das variáveis de motivos para o não uso da bicicleta.

Motivos para não usar bicicleta Média N Desvio Padrão

O trânsito é muito inseguro (poucas ciclovias) 3,94 270 1,24

A topografia da cidade não favorece o uso da bicicleta 3,41 270 1,31

As roupas que costumo vestir não favorecem o uso da

bicicleta 2,80 270 1,26

Eu não possuo ou não tenho acesso à bicicleta 2,66 270 1,45

As distâncias que percorro diariamente não permitem o

uso da bicicleta 2,44 270 1,22

O clima da cidade não favorece o uso da bicicleta 2,30 270 1,19

Eu não gosto de fazer esforço físico para me deslocar 2,05 270 0,98

Eu não sei andar de bicicleta 1,52 270 0,90

Fonte: Autora (2018).

Além dos motivos para a não utilização da bicicleta como meio de transporte, o questionário

também apresentava 7 fatos motivacionais para que o respondente começasse a usar a bicicleta,

sendo que os mesmos novamente foram convidados a concordar ou discordar das afirmativas,

utilizando-se a escala Likert.

A primeira afirmativa apresentada relacionada às motivações para o uso da bicicleta referia-se

ao fato de o entrevistado motivar-se a partir da visualização de outras pessoas utilizando a

bicicleta como meio de transporte, como amigos, familiares e conhecidos. Nesta afirmativa

42,59% dos respondentes concordaram que esta seria uma motivação relevante para usar a

bicicleta como meio de transporte, 11,85% concordaram totalmente, 16,66% foram imparciais,

15,18% discordaram e 13,70% discordaram totalmente.

A segunda afirmativa referia-se à existência de mais infraestrutura para a bicicleta na cidade,

como ciclovias, estacionamentos para bicicletas e sinalização. Nesta afirmativa 41,11%

concordaram e 37,40% concordaram totalmente, sendo esta uma motivação extremamente

relevante para os não usuários motivarem-se ao uso da bicicleta. Além disso, 9,62% foram

imparciais, 6,29% discordaram e somente 5,55% discordaram totalmente.

A terceira afirmativa referia-se à existência de chuveiros e vestiários nos locais de destino.

Nesta afirmativa as respostas foram mais equilibradas, e a maioria respondeu que concorda, ou

seja, 28,88%, sendo que 15,55% concordou totalmente, 25,18% foi imparcial, 18,88%

discordou e somente 11,48% discordou totalmente.

A quarta afirmativa referia-se à integração da bicicleta com o transporte público, como forma

de promover a intermodalidade na cidade. Nesta afirmativa 41,85% dos respondentes

concordaram e 21,11% concordaram totalmente, sendo esta uma motivação considerada

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176

importante para o uso da bicicleta como meio de transporte sob a ótica dos não usuários.

Ademais, 19,62% foi imparcial, 10,74% discordou e somente 6,66% discordou totalmente.

A quinta afirmativa referia-se à motivação proveniente do barateamento das bicicletas. Nesta

afirmativa as respostas foram mais distribuídas, contudo, a maioria, ou seja, 27,77% concordou

que esta seria uma importante motivação para o uso da bicicleta, 16,66% concordou totalmente,

25,55% foram imparciais, 19,62% discordou e somente 10, 37% discordou totalmente.

Contudo, destaca-se que, apesar de a maioria de não usuários considerar o barateamento das

bicicletas uma motivação para o seu uso, cabe recordar que as bicicletas compartilhadas são

ofertadas da forma totalmente gratuita para a população, o que poderia suprir esta motivação.

A sexta afirmativa referia-se ao fato de motoristas e pedestres possuírem maior respeito e

conscientização com relação aos ciclistas. Nesta afirmativa as respostas concentraram-se

principalmente nas opções concordo, com 40% e concordo totalmente, com 44,81%, sendo esta

a motivação com o maior nível de concordância para não usuários. Somente 7,03% dos

respondentes foram imparciais, 4,44% discordaram e 3,70% discordaram totalmente.

Por fim, a sétima motivação referia-se ao fato de as estações de bicicletas compartilhadas

estarem presentes também em áreas residências, e não somente na área central da cidade.

Novamente nesta afirmativa a maioria das respostas concentraram-se nas opções concordo, ou

seja, 34,07% e concordo totalmente, com 31,48%. 19,25% foram imparciais, 9,62%

discordaram e somente 5,55% discordaram totalmente. Dessa forma, a ampliação da rede de

bicicletas compartilhadas é percebida como motivadora para o surgimento de novos ciclistas na

cidade de Passo Fundo.

Quanto a estas afirmativas, voltadas às motivações para o uso da bicicleta, é possível destacar

que, a afirmativa considerada mais influente foi a relacionada ao respeito e conscientização de

motoristas e pedestres frente aos ciclistas, com uma média de 4,44 (Quadro 13). Em segundo

lugar, a afirmativa relacionada à infraestrutura para bicicleta, que alcançou uma média de 4,16.

Também se destacou com influência para o uso da bicicleta a presença de estações de bicicletas

compartilhadas em áreas residências, ressaltando a necessidade de ampliação da rede existente,

que se concentra, de forma geral, na área central da cidade. A média alcançada nesta afirmativa

foi de 3,97. Além disso, a afirmativa relacionada à integração modal também recebeu destaque,

já que alcançou uma média de 3,80. A afirmativa de menor influência foi a relacionada aos

chuveiros e vestiários nos locais de destino, com uma média de 2,88.

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177

Quadro 13: Média e desvio padrão das variáveis relacionadas às motivações para começar a usar a

bicicleta.

Motivações para começar a usar bicicleta Média N Desvio Padrão

Se os motoristas e pedestres tivessem maior consciência

e respeito com os ciclistas 4,44 270 0,80

Se houvesse mais infraestrutura para a bicicleta na

cidade (ciclovias, sinalização, bicicletários) 4,16 270 0,97

Se as bicicletas compartilhadas/públicas abrangessem

mais áreas da cidade 3,97 270 0,99

Se houvesse integração da bicicleta com o transporte

público 3,80 270 1,03

Se as bicicletas fossem mais baratas 3,30 270 1,30

Ver outras pessoas (amigos, familiares, conhecidos)

utilizando a bicicleta como meio de transporte 3,08 270 1,22

Se houvessem chuveiros/vestiário no meu local de

destino 2,88 270 1,08

Fonte: Autora (2018).

6.1.9. Não usuários: Análise de Correlações

Do mesmo modo que se realizou uma análise de correlação linear entre as variáveis dos usuários

do sistema de compartilhamento de bicicletas, foi realizado para os não usuários de bicicleta.

Novamente, a análise concentrou-se nas variáveis onde se utilizou escala Likert como resposta

e optou-se por isolar somente as respostas “Concordo” (4) e “Concordo totalmente” (5). As

variáveis selecionadas para a análise foram as relacionadas às motivações para o não uso da

bicicleta e as motivações para começar a usar a bicicleta.

O coeficiente de correlação empregado foi o de Pearson e, no Quadro 14 é possível visualizar

as correlações existentes entre variáveis relacionadas aos motivos para o não uso da bicicleta

com as variásseis relacionadas aos motivos para começar a usar. Novamente optou-se por

inserir no quadro somente as correlações com valores superiores a 0,50.

Conforme pode ser visto, foram encontradas fortes correlações positivas entre as variáveis,

sendo que algumas delas serão discutidas a seguir. Destaca-se primeiramente a correlação

existente entre a variável relacionada aos motivos para o não uso da bicicleta “Insegurança no

trânsito” com a variável relacionada aos motivos para começar a usar “Se houvesse mais

infraestrutura para a bicicleta”, representada pelo valor 0,889. Essa correlação pode ser

facilmente explicada, já que, neste caso, as variáveis podem ser analisadas como problema e

solução, já que os respondentes declararam que não andam de bicicleta por sentirem-se

inseguros no trânsito, contudo, declaram que se houvesse mais infraestrutura para bicicleta os

mesmos passariam a utilizar a bicicleta já que circulariam com mais segurança.

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178

Quadro 14: Correlações existentes entre as variáveis de motivos para o não uso com as variáveis de

motivações para começar a usar a bicicleta.

Motivo não

uso/uso

Não

sei

andar

Insegurança

no trânsito

Não

gosto

de

fazer

esforço

Não

possuo

bicicleta

As roupas

não

favorecem

As

distâncias

não

favorecem

A

topografia

não

favorece

O clima

não

favorece

Ver outras

pessoas - 0,789 - - - - - -

Se houvesse

mais

infraestrutura

- 0,889 - - - - - -

Se houvessem

chuveiros e

vestiários

- - - 0,786 0,846 - 0,859 -

Se houvesse

integração - 0,842 - - - - - -

Se as bicicletas

fossem mais

baratas

- - - 0,857 0,798 - 0,919 -

Se motoristas

e pedestres

tivessem mais

respeito

- 0,847 - - - - - -

Se as bicicletas

compartilhadas

abrangessem

mais áreas

- 0,667 - - 0,864 - 0,577 -

Fonte: Autora (2018).

Também se encontrou forte correlação entre a variável relacionada aos motivos para o não uso

da bicicleta “As roupas que costumo vestir não favorecem o uso da bicicleta” e a variável

relacionada aos motivos para começar a usar a bicicleta “Se houvessem chuveiros e vestiários

em meu local de destino”, representada pelo valor 0,846. Novamente uma correlação de fácil

explicação, já que as variáveis se apresentam como problema e solução. Da mesma forma, a

variável “Eu não possuo bicicleta” relacionou-se com a variável “Se as bicicletas fossem mais

baratas”, correlação representada pelo valor 0,857, considerada forte positiva.

Outra correlação importante encontrada foi entre a variável relacionado ao não uso da bicicleta

“Insegurança no trânsito” com a variável relacionada aos motivos para começar a usar “Se

motoristas e pedestres tivessem mais respeito e conscientização com os ciclistas”, com o valor

de 0,874, também considerada forte positiva.

Abaixo, no Quadro 15 é possível visualizar as correlações existentes entre as variáveis

relacionadas aos motivos para começar a usar a bicicleta e elas mesmas. Novamente optou-se

por inserir no quadro somente as correlações com valores acima de 0,50.

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179

Quadro 15: Correlações existentes entre as variáveis de motivações para começa a usar a bicicleta e elas

mesmas.

Motivo uso

Ver

outras

pessoas

Se houvesse

mais

infraestrutura

Se

houvessem

chuveiros

e

vestiários

Se

houvesse

integração

Se as

bicicletas

fossem

mais

baratas

Se

motoristas

e

pedestres

tivessem

mais

respeito

Se as bicicletas

compartilhadas

abrangessem

mais áreas

Ver outras

pessoas x 0,961 - 0,961 - 0,875 0,677

Se houvesse

mais

infraestrutura

- X - 1,00 - 0,954 0,780

Se houvessem

chuveiros e

vestiários

- - x - 0,946 - 0,746

Se houvesse

integração - - - x - 0,937 0,769

Se as bicicletas

fossem mais

baratas

- - - - x - 0,706

Se motoristas

e pedestres

tivessem mais

respeito

- - - - - x 0,830

Se as bicicletas

compartilhadas

abrangessem

mais áreas

- - - - - - x

Fonte: Autora (2018).

Destaca-se primeiramente a correlação perfeita positiva encontrada entre as variáveis “Se

houvesse integração entre a bicicleta e o transporte público” e a variável “Se houvesse mais

infraestrutura”, com valor 1,00.

Também se destacam as fortes correlações positivas existentes entre as variáveis “Se motoristas

e pedestres tivessem mais respeito e conscientização com os ciclistas” e “Se houvesse mais

infraestrutura para a bicicleta”, com o valor de 0,954 e entre as variáveis “Se motoristas e

pedestres tivessem mais respeito e conscientização com os ciclistas” e “Se houvesse integração

entre a bicicleta e o transporte público”, com o valor de 0,937. Todas estas variáveis estão

relacionadas à segurança do ciclista.

Por fim, foi realizada uma análise de correlação entre as variáveis relacionadas aos motivos

para o não uso da bicicleta e elas mesmas. Contudo, não foram encontradas correlações

significativas que pudessem contribuir com a compreensão da percepção dos respondentes

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180

6.1.10. Atribuição de Valores (notas)

Em ambos os questionários, tanto para usuários do sistema Passo Fundo vai de Bici quanto para

os não usuários de bicicleta moradores de Passo Fundo, os entrevistados foram convidados a

atribuir notas de importância para o sistema de compartilhamento de bicicletas com relação à

mobilidade urbana e ao seu dia a dia, conforme gráficos das Figuras 98 e 99.

Figura 98: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários.

Fonte: Autora (2018).

Com isso, foi possível notar que a percepção quanto às melhorias na mobilidade urbana da

cidade de Passo Fundo provenientes da implantação do Passo Fundo Vai de Bici é positiva,

tanto sob a ótica dos usuários quanto dos não usuários, já que a maioria dos respondentes

atribuiu notas acima de 5. A média alcançada para os não usuários foi de 7,54 e para os usuários

foi de 8,55.

Quanto a importância das bicicletas no dia a dia, era de se esperar que a maioria dos não usuários

atribuíssem pouca importância, o que foi verificado, já que 67,40% atribuiu notas entre 0 e 5,

sendo que uma parcela significativa, ou seja, 19,62% atribuiu nota 0. Já os usuários das

bicicletas tiveram um posicionamento diferente, sendo que a maioria, ou seja, 72,08% atribuiu

notas entre 7 a 10. A média atribuída pelos não usuários foi de 4,30, e a média atribuída pelos

usuários foi de 7,35.

2 2 5 7 3

24 24

41

74

32

56

0 1 0 3 2 716

23

52

33

103

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

mer

o d

e re

sponden

tes

Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de

compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de Bici para a melhoria

da mobilidade em Passo Fundo? Avalie de 0 a 10 sendo 0 para menos

importante e 10 para mais importante.

Não usuários Usuários

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181

Figura 99: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários.

Fonte: Autora (2018).

Também, os respondentes de ambos os grupos foram convidados a atribuir um valor, em uma

escala de 0 a 10 de acordo com sua percepção quanto ao nível de relação entre as bicicletas

compartilhadas e os itens: qualidade de vida; desenvolvimento sustentável; e inclusão social. A

Figura 100 ilustra o resultado das notas atribuídas à relação com qualidade de vida.

Figura 100: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários.

Fonte: Autora (2018).

De forma geral, ambos os grupos compreendem a relação entre as bicicletas compartilhadas e

qualidade de vida, mesmo os não usuários. A média atribuída pelos não usuários foi de 7,69,

pelos usuários foi de 8,90.

Quanto à relação entre as bicicletas compartilhadas e desenvolvimento sustentável, o gráfico

da Figura 101 apresenta os resultados.

53

14 1726

19

53

1523 22

1117

7 3 310

5

2217

36

52

23

62

0

20

40

60

80

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Núm

ero d

e re

sponden

tes

Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de

compartilhamento de bicicletas para o seu dia a dia? Avalie de 0 a 10

sendo 0 para menos importante e 10 para mais importante.

Não usuários Usuários

5 4 7 8 621 14

3047 44

84

1 0 0 0 3 6 719

41 37

126

0

50

100

150

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Núm

ero d

e re

sponden

tes

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas

compartilhadas relacionam-se com qualidade de vida?

Não usuários Usuários

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182

Figura 101: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários.

Fonte: Autora (2018).

Novamente, de forma geral pode-se dizer que ambos os grupos percebem de forma positiva a

relação entre as bicicletas e o desenvolvimento sustentável. A média atribuída pelos não

usuários foi de 8,74 e pelos usuários foi de 9,24.

Por fim, os respondentes foram questionados quanto a relação entre as bicicletas compartilhadas

e inclusão social. Os resultados podem ser vistos no gráfico da Figura 102.

Figura 102: Gráfico de atribuição e notas pelos usuários e não usuários.

Fonte: Autora (2018).

A média atribuída pelos não usuários foi de 7,49 e pelos usuários foi de 7,80. Estas foram as

menores médias alcançadas neste grupo de respostas, indicando que, quanto à inclusão social,

a compreensão quanto a relação com as bicicletas compartilhadas ainda é menor.

1 1 2 2 314 8 17

39 41

142

1 0 0 0 0 4 4 1132 38

150

0

50

100

150

200

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

mer

o d

e re

spo

nd

ente

s

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas

compartilhadas relacionam-se com desenvolvimento sustentável?

Não usuários Usuários

8 3 3 9 6

2616

3951

34

75

5 1 1 8 6 1321

3444

28

79

0

50

100

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

mer

o d

e re

sponden

tes

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas

compartilhadas relacionam-se com inclusão social?

Não usuários Usuários

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183

Dessa forma, tendo como objetivo principal neste capítulo conhecer a percepção dos usuários

do Passo Fundo Vai de Bici e dos não usuários de bicicleta residentes na cidade de Passo Fundo,

os resultados apresentados forneceram uma visão geral de usuários e não usuários de bicicletas.

Primeiramente, conclui-se que o método utilizado para coleta de dados, ou seja, questionários

presenciais e on-line mostrou-se adequado, sendo que a amostragem para ambos os grupos foi

suficiente para as análises. Os resultados obtidos por meio da adaptação das técnicas de APO

para o viés da mobilidade urbana formaram um importante subsidio para a compreensão do uso

do sistema, além das percepções, dificuldade e motivações de usuários e não usuários. Dessa

forma, estes resultados são uma importante ferramenta para a fase final da presente pesquisa

quanto a criação de diretrizes de ampliação, melhorias e adequações para o sistema.

Quanto aos resultados e análises realizadas junto aos usuários, constatou-se que a maior parcela

deles reside e/ou realiza atividades próximo às estações de bicicleta. Além disso, a maioria deles

circula com as bicicletas compartilhadas pelas ciclovias existentes na cidade, mesmo que não

haja muita infraestrutura para bicicletas na mesma. Acredita-se que este resultado tenha

ocorrido devido a maioria das estações existentes estarem localizadas ao longo da ciclovia

existente na Avenida Brasil, ou muito próximas a ela.

Outro dado relevante quanto aos usuários refere-se às substituições de viagens antes realizadas

com automóvel particular e que atualmente estão sendo substituídas pelas bicicletas

compartilhadas (15%). Este resultado remete aos benefícios ambientais quanto ao uso da

bicicleta como meio de transporte e será abordado com maior profundidade em outro capítulo.

Além disso, destaca-se também as dificuldades relatadas pelos usuários do sistema,

especialmente a referida às falhas com o sistema na devolução e retiradas das bicicletas nas

estações. Esta foi a dificuldade mais citada nas perguntas, sendo que também apareceu diversas

vezes nas respostas às perguntas abertas. Este dado denota a necessidade de melhorias no atual

sistema, tendo em vista a manutenção dos atuais usuários e o aumento do alcance do mesmo.

Além disso, cabe destacar que, em ambos os grupos de respondentes a questão da infraestrutura

para bicicleta foi muito destacada, tanto a ausência da mesma, citada como promotora de

insegurança para os usuários do sistema, quanto como motivadora para os não usuários

começarem a andar de bicicleta, considerando-se um cenário de ampliação de melhoramento

da infraestrutura existente. Este resultado indica a necessidade urgente de ampliação da rede

cicloviária existente na cidade.

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184

Ainda quanto aos usuários, na pergunta aberta destinada às sugestões de melhorias cabe

destacar a alta incidência das sugestões quanto à redução das falhas com o sistema, a

manutenção das bicicletas e estações e, novamente a questão da ciclovia. Quanto às sugestões

para novos locais para implantação de estações constatou-se que, de forma geral as sugestões

foram adequadas, já que se concentraram nos principais eixos da cidade, além de alguns pontos

considerados atrativos e de alto fluxo de pedestres.

Quanto aos não usuários constatou-se que os principais motivos para a não utilização da

bicicleta foram a insegurança no trânsito e a topografia da cidade. Já quanto às motivações para

o uso da bicicleta, conclui-se que em primeiro lugar destacou-se a questão educacional, ou seja,

se motoristas e pedestres tivessem mais respeito e conscientização frente aos ciclistas, em

segundo, se houvesse mais infraestrutura para bicicleta e em terceiro, se as bicicletas

compartilhadas abrangessem mais áreas da cidade.

Por fim, quanto à atribuição e notas, em ambos os grupos de respondentes constatou-se que há

consciência quanto à importância do sistema de bicicletas compartilhadas para a cidade, seja

para a mobilidade urbana, qualidade de vida e desenvolvimento sustentável.

6.2. Observação do Pesquisador: O Uso das Ciclovias de Passo Fundo

Conforme mencionado, a infraestrutura dedicada à ciclomobilidade é essencial para que os

ciclistas possam circular nas cidades de maneira segura e confortável, sem terem que arriscar-

se em meio aos veículos motorizados (MENGHINI et al., 2010; LI et al., 2012).

Autores como Sagadilha e Sanches (2014) afirmam que há uma série de variáveis que

influenciam na escolha das rotas a serem trilhadas pelos ciclistas, como as características das

vias, as características do tráfego de veículos, as características do ambiente relacionadas à

segurança pessoal, as características da viagem a ser realizada, como tempo e distância e

principalmente a existência de ciclovias ou ciclofaixas.

Neste sentido, esta pesquisa propôs a análise de alguns trechos cicloviários da cidade de Passo

Fundo, objetivando conhecer o comportamento dos usuários. Sendo assim, após realizadas as

duas sessões de observação nos 3 trechos de ciclovia (Avenida Brasil Centro, Avenida Brasil

Boqueirão e Parque da Gare), conforme descritas na metodologia, tornou-se possível conhecer

alguns desafios relacionados ao uso desta infraestrutura.

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185

Destaca-se, primeiramente, que durante as observações não se constatou diferenças

significativas de comportamento entre os usuários do Passo Fundo Vai de Bici e os usuários de

bicicleta particular e, portanto, os mesmos serão descritos nesta etapa da pesquisa sem

distinções.

Por meio da aplicação da metodologia estabelecida pode-se perceber que o trecho de ciclovia

implantado na Avenida Brasil (centro), que vai da Avenida Sete de Setembro até a Rua

Livramento no Bairro Boqueirão (Figuras 103 e 104) foi o trecho de maior fluxo tanto de

pedestres quanto de ciclistas. Neste trecho, implantado no canteiro central já existente da

Avenida Brasil, com farta arborização, mobiliário urbano e iluminação, há um caminhódromo

junto às faixas destinadas aos ciclistas, sinalizado unicamente através de pintura no piso.

Figura 103: Fotos do trecho de ciclovia da Avenida Brasil Centro, próximo à Escola Notre Dame.

Fonte: Autora (2018).

Além disso, o canteiro central da Avenida Brasil onde encontra-se este trecho de ciclovia é

comumente utilizado como praça, já que diariamente é visitado pelos moradores dos arredores

para lazer, contemplação, realização de passeios com crianças e animais.

Por este motivo, constatou-se que há um conflito entre pedestres e ciclistas ao compartilharem

os trechos de ciclovia e caminhódromo. Neste caso, muitos pedestres não respeitam o espaço

destinado aos ciclistas, seja pela não visualização da sinalização, já que em alguns trechos ela

não existe, ou porque alguns grupos de pedestres optam por andar lado a lado enquanto

caminham, invadindo as faixas cicláveis e impedindo a passagem dos ciclistas. Estes, por sua

vez, necessitam desviar dos pedestres e muitas vezes acabam invadindo os canteiros laterais ou,

em muitos casos, optam por circular na via dos automóveis e ignorar a ciclovia.

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186

Figura 104: Fotos do trecho de ciclovia da Avenida Brasil Centro, próximo à Escola Notre Dame

(esquerda) e Bairro Boqueirão (direita).

Fonte: Autora (2018).

Além disso pôde-se perceber que, tanto no final de semana quanto durante a semana, este trecho

de ciclovia é muito utilizado para prática de esportes e lazer, sendo que, especialmente no fim

de semana foram visualizados inúmeros grupos de ciclistas uniformizados circulando pela

ciclovia, além de grupos de adolescentes.

Ainda, constatou-se que o fluxo de ciclistas é muito maior no fim de semana do que durante a

semana, confirmando a predominância de utilização deste meio de transporte e da infraestrutura

para lazer e prática de esporte.

Destaca-se que, durante os períodos de observação o número de ciclistas utilizando bicicleta

particular foi muito maior que o número de ciclistas utilizando as bicicletas compartilhadas,

tanto em dias de semana quanto em finais de semana.

Já o trecho existente na Avenida Brasil entre a Rua Livramento e a saída para a RST 153 (Figura

105) caracteriza-se pela existência de uma única faixa para ciclistas localizada no sentido da

via, uma faixa para ida e outra para volta, separadas por um canteiro central estreito, sem a

presença de caminhódromo. Este trecho de ciclofaixa está sinalizada por meio de pintura no

piso, além de barreira física proporcionada pela presença de tachões. Elas possuem largura para

uma bicicleta somente em cada sentido.

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187

Figura 105: Fotos da ciclofaixa presente na Avenida Brasil Bairro Boqueirão.

Fonte: Autora (2018).

Observou-se que mesmo não havendo caminhódromo junto a este trecho muitos pedestres

utilizam a ciclofaixa para corridas e caminhadas, gerando novamente conflitos com os ciclistas.

Por ser um trecho com largura para passagem de somente uma bicicleta por vez, a presença dos

pedestres impede que os ciclistas possam circular com fluidez. Novamente, observou-se que

muitos ciclistas optam por circular na via dos automóveis ou no passeio público.

Constatou-se também que este comportamento dos pedestres não é justificável, já que este

trecho da Avenida Brasil possui calçadas largas, que poderiam ser utilizadas pelos pedestres.

Contudo, como há caminhódromo no trecho anterior, muitos pedestres, para não terem que

atravessar a rua (entre canteiro central e passeio público) acabam circulando na ciclovia, para

dar continuidade aos seus trajetos.

Observou-se que alguns pedestres utilizam a ciclofaixa para realização de caminhadas e

corridas no sentido contrário do fluxo de ciclistas. Constatou-se que esta é uma atitude positiva,

já que o pedestre pode visualizar a vinda de ciclistas e, assim, subir no canteiro central para dar

passagem e prioridade ao mesmo.

Novamente observou-se um número muito maior de ciclistas circulando durante o fim de

semana com grande incidência de grupos de ciclistas uniformizados e grupos de adolescentes

circulando juntos. Além disso, notou-se que a quantidade de ciclistas utilizando bicicleta

particular foi muito maior que os que utilizavam as bicicletas compartilhadas.

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188

Notou-se também que, durante a semana o maior fluxo ocorre no sentido do centro para o bairro,

sendo que muitos trabalhadores utilizam a ciclovia no fim do dia para deslocarem-se até seus

locais de destino. Observou-se a presença de inúmeros ciclistas uniformizados circulando no

final da tarde.

O trecho existente no Parque da Gare (Figura 106) caracteriza-se por possuir largura para duas

bicicletas lado a lado e concentrar-se somente nos arredores do parque. Neste trecho observou-

se que há dificuldade de os ciclistas circularem somente na ciclovia, ou seja, notou-se que a

maioria dos ciclistas que estão dando voltas no parque intercalam entre a ciclovia e o passeio

público.

Figura 106: Fotos da ciclovia presente no entorno do Parque da Gare.

Fonte: Autora (2018).

Notou-se também que muitos pedestres circulam na ciclovia, utilizam para passear com

animais, sendo que muitos casais circulam de mãos dadas ou até mesmo, grupos de pessoas

param em cima da ciclovia para conversarem, impedindo a passagem dos ciclistas.

Novamente observou-se que muitos ciclistas, especialmente os que estão se deslocando do

bairro São Cristóvão para o Centro e vice-versa, circulam pela via dos automóveis e não pela

ciclovia. Esse comportamento pode ser justificado já que a ciclovia é local e, até então, não há

continuidade que conecte o parque com o centro ou com o bairro.

Ainda, notou-se que a ciclovia do parque no trecho presente na Avenida Sete de Setembro não

está na extremidade do passeio público, e sim dentro. Este posicionamento pode motivar os

pedestres a invadirem a ciclovia e os ciclistas a invadirem o passeio público.

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189

Durante o fim de semana, observou-se que há mais equilíbrio entre o número de ciclistas

utilizando as bicicletas compartilhadas e as bicicletas particulares. Durante a semana o número

de ciclistas utilizando bicicleta particular foi maior.

Por fim, apesar das dificuldades observadas e relatadas e apesar de esta análise ser qualitativa,

pode-se perceber um intenso fluxo de ciclistas nos 3 trechos analisados, tanto durante a semana

quanto nos finais de semana, o que pode ser avaliado como positivo. Esta constatação contribui

para o entendimento das formas e intensidades da inserção da bicicleta na cidade e Passo Fundo.

Além disso, esta etapa da pesquisa serve como diagnóstico para que sejam investigadas

soluções para os problemas detectados, como o comportamento dos pedestres e

consequentemente dos ciclistas. Delabrida (2004) destaca que a implantação de um sistema

cicloviário deve vir acompanhado de outros itens que o compõe, como estacionamentos,

sinalização e, não menos importante, campanhas educativas. O Autor complementa que:

Qualquer promoção de novos hábitos como, por exemplo, a implementação

de uma ciclovia, deve ser acompanhada de medidas educativas para que o

usuário saiba utilizar esse novo recurso. Essas medidas podem ser de variadas

formas, desde campanhas educativas até sinalização específica

(DELABRIDA, 2004, p. 16).

Neste sentido, constatou-se que na cidade de Passo Fundo há a necessidade de campanhas

educativas voltadas tanto aos pedestres quanto aos ciclistas, para que aprendam a compartilhar

os espaços e possam circular com facilidade, de forma segura e confortável.

Ainda, o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta (BRASIL, 2005) defende que a

inclusão do transporte cicloviário nos sistemas de transporte consolidados deve ter foco em 4

áreas, ou seja, o desenvolvimento urbano, a sustentabilidade ambiental, a inclusão social e, por

fim, a democratização espacial. Ou seja, é necessário que os espaços públicos se tornem

acessíveis para todas as pessoas, independente do meio de transporte, reforçando ainda mais a

necessidade de a população urbana aprender a compartilhar os espaços.

Por fim, esta etapa da pesquisa pode servir como contribuinte para possíveis projetos de

ampliação das ciclovias e ciclofaixas de Passo Fundo, para que as mesmas possam se configurar

como uma rede e possibilitar que os ciclistas possam circular por mais áreas da cidade de forma

adequada.

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190

Como consequência das fases de pesquisa já apresentadas, neste capítulo serão apresentados os

resultados alcançados por meio do desenvolvimento de três equações. No primeiro subcapítulo

serão demonstrados estudos voltados ao impacto ambiental e às contribuições quanto ao uso

das bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo. No segundo subcapítulo serão

apresentados os resultados referentes às análises dos entornos das 10 estações, que serviram

como subsídio para criação de duas equações que permitem estimar o uso de determinados

locais, para implantação de novas estações.

6.3. O Passo Fundo Vai de Bici e as Contribuições Ambientais

Conforme mencionado no capítulo de revisão bibliográfica, o forte incentivo por parte do

governo brasileiro, desde a década de 1950, ao crescimento da indústria automobilística,

juntamente com a cultura de valorização do automóvel, dentre outros fatores, fizeram com que,

até os dias atuais, o número de veículos em circulação nas cidades não parasse de crescer.

Dentre as consequências destes fatos está a poluição atmosférica, que tem como efeito as

mudanças climáticas e a redução na qualidade de vida da população (BARCKZAC, DUARTE,

2012).

Este aumento da frota de veículos, movidos, em sua maioria, a partir da queima de combustíveis

fósseis, são importantes contribuintes na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Isso ocorre

devido ao processo de combustão, que gera Dióxido de Carbono (CO2) através da oxidação do

carbono contido nos combustíveis (CARVALHO, 2011).

O PlanMob (BRASIL, 2015) esclarece que, no Brasil, os GEE provenientes do transporte de

passageiros têm aumentado significativamente nos últimos anos. Neste contexto, o Sistema de

Registro Nacional de Emissões (SIRENE, 2015) divulgou que, no ano de 2015 foram emitidos

1.368 milhões de toneladas de CO2eq e, deste total, a segunda maior parcela, ou seja, 31,3%

advém da queima de combustíveis fósseis.

Neste contexto, no presente subcapítulo da pesquisa serão apresentados os resultados quanto às

estimativas referentes a contribuição ambiental do sistema de compartilhamento Passo Fundo

Vai de Bici frente à substituição de viagens motorizadas pelas bicicletas do sistema.

Conforme explanado no capítulo Metodologia, partiu-se do objetivo de calcular a redução de

consumo de combustíveis fósseis e a redução das emissões de CO2. Para isso foram utilizados

como base para cálculo os dados de avaliação disponibilizados pelo INMETRO e PBE acerca

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191

de 4003 Modelos/Versões de veículos motorizados leves produzidos no Brasil, nos anos de

2013 a 2017, além da quilometragem total percorrida com as bicicletas do sistema e a

porcentagem de viagens realizadas de bicicleta que antes seriam realizadas com automóvel

particular.

A partir daí, quanto aos dados coletados junto ao INMETRO e PBE (2013 a 2017) calculou-se

uma média de consumo de gasolina de 9,59878076 km/L e uma média de emissões de CO2 nos

últimos 5 anos de 138,9482 g/km.

Quanto à quilometragem percorrida com as bicicletas, constatou-se um total de 1.998.614,00

km até o dia 15 maio de 2018. Quanto ao resultado dos 240 questionários, constatou-se que a

porcentagem de viagens de bicicleta que estavam substituindo viagens antes realizadas com

automóvel particular foi de 15%.

Dessa forma, para o cálculo da economia de combustíveis desenvolveu-se a Equação 4:

CP: (KM x SVM)/ MCG (4)

Onde: CP: combustível poupado; KM: quilometragem total percorrida com as bicicletas; SVM:

substituição de viagens motorizadas; e MCG: média de consumo de gasolina.

Já para o cálculo da mitigação das emissões de CO2 desenvolveu-se a Equação 5:

ECO2: MC x KM x SVM (5)

Onde: ECO2: emissão de CO2 evitada; ME: emissão média de CO2 dos veículos nos últimos 5

anos; KM: quilometragem total percorrida com as bicicletas; e SVM: substituição de viagens

motorizadas.

Dessa forma, quanto a redução no consumo de gasolina foi alcançado os seguintes resultados:

CP: (1.998.614 km x 15%) / 9,59878076 km/L

CP: 299.792,1 km / 9,59878076 km/L

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192

CP: 31.232,310 L

Sendo assim, constatou-se uma economia de mais de 30.000 litros de gasolina no período

analisado. Dessa forma, tendo em vista o preço do litro da gasolina (no dia 20 de abril de 2018)

na cidade de Passo Fundo (R$ 4,20/L), obteve-se uma economia de cerca de R$ 131.175,00.

Quanto à mitigação de CO2, alcançou-se os seguintes valores:

ECO2: 138,9482 g/km x 1.998.614 km x 15%

ECO2: 41.655.572,67 g

ECO2: 41.655 kg

Sendo assim, deixaram de ser emitidos cerca de 41 mil kg de CO2, e, para traçar uma

comparação do quanto equivale estas emissões de gás carbónico, demonstrou-se em duas

comparações simples o que poderia ser realizado com as mesmas emissões. Por exemplo, isto

equivale a 10,62 voltas no planeta Terra com, por exemplo, um carro popular do ano de 2017,

1.0 que, segundo o INMETRO e PBE emite 0,098 kg/km de CO2, ou seja:

41.655 Kg/ 0,098 kg/km: 425.051,02 km

425.051,02 km / 40.000 km (diâmetro da linha do Equador): 10,62 voltas

Em outro exemplo mais real, estas emissões equivalem a 1.475,87 idas de Passo Fundo a Porto

Alegre, capital do Rio Grande do Sul, já que a distância entre as cidades é de 288 km. O

infográfico presente na Figura 107 representa uma síntese das informações coletadas e dos

resultados obtidos nesta etapa da pesquisa.

Estes dados representam um subsídio valioso para o poder público, que pode quantificar os

benefícios ambientais gerados pelo sistema de compartilhamento e, a partir disso, justificar seus

investimentos e seguir promovendo a mobilidade ativa na cidade. Seja por meio de

planejamento urbano ou criação de novas políticas voltadas à melhoria da qualidade ambiental.

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193

Além disso, estes dados também são valiosos para a sociedade, que pode compreender o

impacto positivo do uso da bicicleta, tanto para o meio ambiente quanto para a própria saúde.

Já que com a mitigação das emissões destes poluentes no meio urbano, esperar-se-ia verificar

um efeito positivo na saúde da população urbana, onde doenças causadas pela poluição

poderiam apresentar menor ocorrência. Acarretando assim em menores gastos com saúde

pública para o poder público.

Figura 107: Infográfico dos resultados e contribuição ambiental do Passo Fundo Vai de Bici.

Fonte: Autora (2018).

Por fim, cabe ressaltar que os dados utilizados para a quantificação se referem a veículos leves

dos últimos 5 anos, e, neste sentido, sabe-se que existem inúmeros veículos mais antigos em

circulação na cidade, sendo que, na realidade, este resultado de economia pode ser ainda maior

que o alcançado neste estudo.

Como limitantes desta etapa de pesquisa destaca-se que um dos dados utilizados como base

para cálculo foi o dado coletado por meio dos questionários, quanto à substituição de viagens

motorizadas, o que pode ser considerado uma limitante, já que resulta unicamente da percepção

dos respondentes.

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194

7. DIRETRIZES DE MELHORIA, ADEQUAÇÃO E AMPLIAÇÃO DO PASSO

FUNDO VAI DE BICI

Como forma de alcançar todos os objetivos elencados nesta pesquisa e, especialmente o

objetivo principal, neste tópico serão apresentadas as diretrizes de melhoria, adequação e

ampliação do Passo Fundo Vai de Bici. Para isso, foram sistematizadas todas as informações

relevantes coletadas nas mais variadas etapas metodológicas, que permitiram o

desenvolvimento de um diagnóstico do sistema de compartilhamento de bicicletas e serviram

como base para a proposição de diretrizes.

As diretrizes desenvolvidas por meio desta pesquisa constituem recomendações para o

enfrentamento dos principais problemas apontados no diagnóstico desenvolvido previamente,

além da seleção de aspectos pertinentes que podem ser consideradas em possíveis projetos de

ampliação do sistema de compartilhamento de bicicletas. Destaca-se que nesta etapa da

pesquisa optou-se por não considerar aspectos políticos nem econômicos.

Dessa forma, o roteiro básico para a elaboração das diretrizes foi composto pelas seguintes

partes:

I) Critérios: Identificação dos problemas e/ou indicadores baseados nas informações coletadas

no diagnóstico desenvolvido por meio das etapas metodológicas da pesquisa. Ou seja, os

principais critérios que levaram a definição da diretriz;

II) Diretriz: definição da diretriz de forma ampla, ou seja, orientações que podem ser seguidas

tanto pela Prefeitura Municipal quanto pela empresa operadora do Passo Fundo Vai de Bici

para possíveis projetos, ações e atividades futuras;

III) Objetivos: descrição dos principais objetivos e metas que norteiam as possíveis ações a

serem desenvolvidas na diretriz.

Dessa forma, abaixo estão descritas as diretrizes propostas juntamente com uma síntese de

informações pertinentes quanto a esta etapa final da pesquisa. Neste sentido, quanto ao

diagnóstico do sistema de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de Bici, foram

identificados problemas operacionais, comportamentais e de infraestrutura, que serviram como

premissa básica para as diretrizes de adequação, melhoria e ampliação.

Quanto aos problemas operacionais, os mesmos foram identificados principalmente por meio

das fases de aplicação da APO, ou seja, a aplicação de questionários junto aos usuários do

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195

sistema e da observação do pesquisador. Por meio destas ferramentas tornou-se possível

identificar as duas principais dificuldades elencadas pelos usuários, ou seja, as falhas com o

sistema de operação do Passo Fundo Vai de Bici quanto à retirada e principalmente na

devolução das bicicletas e a manutenção das bicicletas, destacadas como insuficientes pelos

usuários.

Quanto às falhas ocorridas no sistema operacional do Passo Fundo Vai de Bici, muitos usuários

relataram não utilizarem mais as bicicletas compartilhadas devido às dificuldades para resolver

estas questões. Em muitos casos os usuários relataram que realizam a devolução da bicicleta na

estação, porém o sistema não realiza a identificação da ação, ficando o usuário com o CPF

bloqueado e impossibilitado de continuar usufruindo do serviço.

Dessa forma, a primeira diretriz volta-se a uma recomendação quanto à redução destas falhas e

a um retorno em tempo real da empresa operadora junto ao usuário, quanto a resolução destes

casos, para que o usuário não tenha o seu CPF bloqueado sem necessidade. Sugere-se que seja

criado uma ferramenta on-line para solução destas dificuldades e que facilite a comunicação

entre usuário e operador, com o objetivo de agilizar estes imprevistos e manter os usuários

satisfeitos.

Quanto ao segundo problema operacional identificado, relacionado à manutenção das

bicicletas, o mesmo também se tornou identificável através das fases de APO. Identificou-se

que em muitas situações as bicicletas encontravam-se paradas nas estações, aparentemente

disponíveis para utilização. Contudo, ao retirá-la da vaga, o usuário percebia algumas situações

que impossibilitavam sua utilização, como banco travado em altura inadequada, pneus murchos

e freios em mau funcionamento.

Frente a isso, a segunda diretriz proposta volta-se a uma maior fiscalização quanto às condições

das bicicletas disponíveis para os usuários. Além disso, sugere-se novamente que seja criado

um dispositivo on-line onde os próprios usuários possam contribuir como fiscalizadores e

comunicar os operadores da situação das bicicletas, informando-lhes a estação e o número da

vaga em que a bicicleta danificada se encontra. Por meio desta alternativa tornar-se-á mais fácil

monitorar e manter as bicicletas em bom estado de conservação, além de empoderar os usuários

frente ao serviço gratuitamente oferecido.

Quanto aos problemas comportamentais, identificou-se que o comportamento dos motoristas e

pedestres influencia o comportamento dos ciclistas, sejam eles usuários do Passo Fundo Vai de

Bici ou de bicicleta particular. A identificação deste problema também se tornou possível

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através das fases de APO. Neste sentido, com o uso de ferramentas de APO como os

questionários, identificou-se que a segunda maior dificuldade enfrentada pelos usuários é a

insegurança no trânsito.

Esta dificuldade refere-se principalmente a falta de espaço destinado exclusivamente aos

ciclistas, que em muitos casos obrigam-se a circular em vias de alto fluxo de veículos

motorizados, conforme será mencionado mais a frente, junto aos problemas de infraestrutura.

Como já mencionado, através das fases de levantamento documental e estudos em macro escala

da cidade de Passo Fundo, o incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte na cidade é

muito recente. Neste sentido cabe destacar que os motoristas de forma geral não estavam

acostumados com a necessidade de compartilhar o espaço das vias com outras modalidades de

transporte, como a bicicleta.

Além disso, cabe recordar que, por meio dos questionários aplicados junto aos não usuários de

bicicleta na cidade de Passo Fundo, a maior motivação para começarem a utilizar a bicicleta

seria o fato de motoristas e pedestres terem maior respeito e conscientização frente aos ciclistas.

Por este motivo a terceira diretriz volta-se a promoção de campanhas educativas voltadas à toda

a população, como forma de instruí-la para o compartilhamento dos espaços de circulação da

cidade, de forma harmoniosa.

Ainda relacionado aos problemas comportamentais, identificou-se outra dificuldade, desta vez,

relacionada aos pedestres. Identificou-se a existência de conflitos entre pedestres e ciclistas

quanto ao uso dos trechos de ciclovia analisados (Av. Brasil Centro, Av. Brasil bairro

Boqueirão e Parque da Gare). Conforme mencionado, muitos pedestres invadem as ciclovias

existentes para a realização de atividades físicas, dificultando os percursos realizados pelos

ciclistas, que muitas vezes optam por circular nas vias dos veículos, mesmo nos trechos em que

há ciclovia.

Sendo assim, a quarta diretriz volta-se novamente à promoção de campanhas educativas

voltadas aos pedestres, para que, assim como os motoristas, sejam instruídos a compartilhar os

espaços de circulação. Além disso, a identificação desta situação reforça a necessidade de

investimentos em espaços públicos na cidade de Passo Fundo, como parques, praças e espaços

para prática de esportes, que possam atender às necessidades de pedestres e ciclistas.

O objetivo das duas diretrizes propostas voltadas à educação é, em conjunto com outras

diretrizes, a redução de conflitos e acidentes envolvendo pedestres, cliclistas e motoristas.

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Estudos como o de Rissel et al. (2010) confirmam que a existência de campanhas educativas

voltadas ao uso de infraestruturas para bicicleta tende a contribuir com mudanças de

comportamento.

Quanto aos problemas de infraestrutura os mesmos foram identificados novamente por meio

das fases de APO, além dos estudos em macro e microescala realizados na cidade de Passo

Fundo. Primeiramente identificou-se que a cidade de Passo Fundo não possui infraestrutura

dedicada à bicicleta suficiente para a demanda atual. Além disso, identificou-se que a cidade

possui trechos de ciclovia e que de forma geral os mesmos não se configuram como uma rede,

nem mesmo considerando os novos trechos que estão em obras na cidade.

Dessa forma, a falta de continuidade destes trechos impossibilita que os usuários das bicicletas

compartilhadas e das bicicletas particulares realizem trajetos seguros por toda a cidade. Stinson

e Bath (2003) destacam que a infraestrutura dedicada aos ciclistas deve ser contínua e que, além

disso, as vias continuas são muito mais atrativas do que os trechos de ciclovia ou ciclofaixas

dispersos pela cidade, sendo que muitos trechos deixam de ser utilizados pela população devido

a descontinuidade.

Autores como Sykes e Driscoll (1996), Krizek, El-Geneidy e Thompson (2007) e Dill (2009)

afirmam que boa parte dos ciclistas tende a não utilizar as ciclovias ou ciclofaixas caso seja

necessário realizar um desvio muito grande em relação ao caminho mais curto entre seus locais

de interesse. Esta afirmação corrobora com a necessidade de continuidade da infraestrutura

dedicada à bicicleta, principalmente nos eixos que conectam as principais regiões das cidades.

Além disso, a insegurança no trajeto promovida principalmente pela falta de ciclovias foi o

principal motivo destacado pelos não usuários de bicicleta na cidade de Passo Fundo para o não

uso da mesma. Este resultado reforça a necessidade de estratégias e investimentos em

infraestrutura para que o número de ciclistas na cidade aumente.

Neste sentido, considera-se que não há necessidade de cobrir toda a malha urbana da cidade

com infraestrutura para bicicleta, já que em vias locais com baixo fluxo de veículos

motorizados, os ciclistas podem circular em segurança mesmo sem a presença de infraestrutura

segregada do tráfego.

Sendo assim, optou-se por seguir as orientações do Plano de Mobilidade de Passo Fundo quanto

ao papel dos 2 principais eixos estruturadores da cidade ao afirmar que “Os eixos estruturadores

devem funcionar como espinha dorsal, não somente para carros e ônibus, mas também para

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ciclistas e pedestres” (PASSO FUNDO, 2014a, p. 121). Ademais, optou-se por considerar a

infraestrutura para bicicleta já consolidada na cidade. Dessa forma, a quinta diretriz propõe que

estes 2 eixos recebam infraestrutura contínua para bicicleta.

A prioridade quanto à instalação de infraestrutura ciclável em toda a Avenida Brasil, a Avenida

Presidente Vargas e a Avenida Sete de Setembro, seguindo até a Avenida Rio Grande

possibilitará que os ciclistas acessem todas as regiões da cidade de forma mais segura e

confortável e representará um importante avanço para a cidade frente ao incentivo à mobilidade

ativa. Ademais, recomenda-se que nos principais eixos da cidade sejam priorizados os

transportes ativos e coletivos. Sendo que, especialmente ao que se refere à Avenida Brasil,

podem ser utilizadas algumas vias paralelas para priorização dos automóveis, como forma de

tornar a Avenida Brasil mais segura para pedestres e ciclistas.

Além do sistema cicloviário, outro problema relacionado à infraestrutura relaciona-se a

intermodalidade. Por meio desta pesquisa identificou-se que a estratégia utilizada pela

Prefeitura Municipal de Passo Fundo para integrar as bicicletas compartilhadas com o

transporte público foi a proximidade das estações com os pontos de paradas de ônibus já

existentes. Neste contexto, tendo em vista a inexistência de terminais de transporte na cidade,

pode-se considerar esta uma alternativa válida ao que se refere as bicicletas compartilhadas.

Contudo, assim como identificado em Barcelona, caso de referência estudado nesta pesquisa,

os usuários das bicicletas compartilhadas tenderão a comprar uma bicicleta particular com o

tempo, reforçando a cultura da bicicleta na cidade. Dessa forma, assim como mencionado no

Plano de Mobilidade (PASSO FUNDO, 2014a), a cidade necessita de mais estratégias voltadas

à integração do transporte coletivo com o transporte por bicicleta, de forma geral.

O equilíbrio entre a caminhada, o uso da bicicleta e do transporte público é a opção mais

sustentável tanto em termos ambientais, quanto econômicos e sociais. A combinação entre

bicicleta e transporte público tende a possibilitar viagens mais longas, combinando os

benefícios dos dois modais de transporte. Fiad (2016) cita algumas das vantagens relacionadas

à intermodalidade da bicicleta com transporte público: redução do tempo de viagens porta a

porta em relação ao uso do automóvel; melhoria no acesso ao transporte público; aumento no

número de usuários do transporte público; e menor necessidade de ônibus de pequena

capacidade que alimentem o transporte público massivo.

Ainda, Souza, Neto e Brasileiro (2008) destacam que:

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Há necessidade urgente de promover a integração intermodal para atingir

melhor desempenho dos sistemas de transporte público. Isso significa

articulação de diferentes modos de transporte, conferindo-lhes por um lado o

papel estruturante (metrô, trem, VLT e BRT) e, por outro, alimentador

(ônibus, microônibus, van, bicicleta e a pé), de maneira a propiciar alternativas

de qualidade para a população (SOUZA; NETO; BRASILEIRO, 2008, p.

1).

Assim sendo, a sexta diretriz proposta volta-se à inclusão de alguns ônibus do transporte público

na frota passofundense que possibilitem o transporte de bicicletas, seja internamente ao veículo

ou externamente. Esta alternativa tende a contribuir com a redução do uso dos automóveis

particulares e permitir que as viagens de bicicleta sejam complementadas, especialmente devido

às dificuldades relacionadas ao relevo da cidade.

Quanto à ampliação do sistema de compartilhamento de bicicletas, por meio desta pesquisa

foram identificadas uma série de aspectos que devem ser considerados concomitantemente em

possíveis projetos de ampliação da rede de estações e da própria infraestrutura para bicicleta

pela cidade.

Além disso, cabe recordar que uma das principais motivações destacadas pelos não usuários de

bicicleta na cidade de Passo Fundo para começarem a usar bicicleta seria se existissem mais

estações na cidade, especialmente em áreas residenciais, ressaltando a necessidade de

ampliação da rede existente, que se concentra, de forma geral, na área central da cidade.

Primeiramente, constatou-se a necessidade de análises em macro escala, que levem em

consideração características da cidade, como o relevo. Neste sentido, tendo em vista o relevo

acidentado de Passo Fundo, especialmente fora dos 2 eixos estruturadores da cidade e a leste

da Avenida Brasil, cabe destacar que esta é uma dificuldade para o uso da bicicleta nestas áreas.

Neste contexto, através dos questionários aplicados junto aos não usuários de bicicleta, este foi

o segundo maior motivo destacado para o não uso da mesma.

Menghini et al. (2010) destacam que a existência de aclives influencia na escolha das rotas a

serem percorridas pelos ciclistas, já que aumenta a necessidade de esforço ao pedalar. De acordo

com Stinson e Bhat (2003) a escolha das rotas está diretamente relacionada ao perfil do ciclista,

ou seja, ciclistas mais experientes preferem trafegar em vias com maior declividade, já que

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aumentam a intensidade do exercício físico, porém, ciclistas menos experientes preferem vias

mais planas.

Neste contexto, Winters et al. (2010) afirmam que não há consenso quanto ao limite de

declividade considerado inadequado para o ciclismo, contudo, em sua pesquisa este limite foi

considerado como sendo 10%.

Neste sentido, destaca-se que, apesar da dificuldade, isso não significa que não podem ser

implantadas estações em locais com maiores variações topográficas, como no caso de vários

bairros passofundenses. Porém, há a necessidade de se compreender que em alguns casos estas

estações podem vir a ser mais utilizadas de forma isolada, ou seja, as bicicletas podem ser

utilizadas para percursos menores dentro dos bairros ou entre bairros lindeiros.

Ademais, estações posicionadas em áreas com maiores variações topográficas podem vir a ser

utilizadas predominantemente para viagens em um único sentido, ou seja, aquele em que for

mais fácil deslocar-se utilizando a bicicleta, as descidas.

A exemplo de Barcelona, essa possibilidade demanda um serviço de redistribuição de bicicletas

contínuo. Ou seja, o operador do sistema deverá realizar um monitoramento para transportar as

bicicletas das estações situadas nas regiões mais baixas, que tenderão a ficar cheias para as

estações situadas nas regiões mais altas, de acordo com a demanda de cada local.

Além disso, a questão do relevo pode ser superada levando-se em conta as estratégias

supracitadas relacionadas à intermodalidade, sendo que o usuário pode realizar uma parte do

percurso com transporte público e complementá-lo com o uso das bicicletas compartilhadas ou

bicicletas particulares.

Ainda, a exemplo das estratégias utilizadas em Barcelona, podem ser implantadas estações

mistas, ou seja, com bicicletas elétricas, que possibilitem percursos em áreas com relevo mais

acidentado. Mesmo que para isso a municipalidade cobre uma taxa dos usuários, para

contribuição com a compra de novos equipamentos e manutenção dos existentes.

Quanto à possibilidade de estações com bicicletas elétricas, pode-se ainda propor a integração

modal com o transporte público através da integração tarifária. Ou seja, a municipalidade pode

propor que os usuários de ambas as modalidades adquiram um passe único que lhes permita o

uso tanto dos ônibus quanto das bicicletas elétricas, gerando mais facilidade para os usuários.

Neste contexto, a sétima diretriz propõe que, em projetos de ampliação sejam realizados estudos

em macro escala do relevo da cidade, priorizando as regiões com menores variações e

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201

avaliando-se as possíveis formas de utilização que a estação pode vir a ter de acordo com a sua

posição na cidade. Em conjunto, baseando-se nos exemplos supracitados, estabelecer

estratégias para otimização de utilização destas estações para que não fiquem isoladas e

consequentemente não sejam utilizadas.

Outra característica a ser considerada junto as análises em macro escala para implantação de

novas estações é a integração global, ou seja, o quanto uma área está conectada e é acessível

frente a cidade como um todo, avaliando-se especialmente o sistema viário em questão. Esta

característica deve ser uma premissa básica em projetos de ampliação, já que os sistemas de

compartilhamento de bicicletas e a própria infraestrutura cicloviária devem fundamentar-se

essencialmente na criação de redes e dessa forma, deve-se implantar estações em locais

facilmente acessíveis e integrados.

De acordo com Hillier et al. (1993) esta variável contribui com a identificação de fluxos de

pedestres, veículos e das áreas mais propícias para encontros sociais. Além de contribuir com

o entendimento da dinâmica de uso do solo urbano, essencial para a compreensão da demanda

de usuários do sistema de compartilhamento de bicicletas.

Neste contexto, propõe-se como oitava diretriz que em projetos de ampliação da rede de

estações sejam realizados estudos que considerem a variável integração, sendo que devem ser

priorizadas primeiramente as áreas mais integradas da cidade, visando a implantação de

estações em áreas de maior fluxo de pessoas.

Outro aspecto que deve ser considerado em projetos de ampliação é a densidade demográfica

dos setores urbanos de Passo Fundo. Em conjunto com o aspecto supracitado, torna-se possível

conhecer a população em potencial na área de cobertura das estações. Estações implantadas em

áreas com baixa densidade demográfica podem ser pouco utilizadas e gerar custos

desnecessários para a municipalidade.

Neste contexto por meio da nona diretriz recomenda-se que em projetos de ampliação da rede

de estações sejam realizados estudos demográficos na cidade, buscando primeiramente

implantar estações nas áreas mais povoadas e, posteriormente expandir a rede de estações para

as áreas menos povoadas.

Além disso, por meio deste estudo detectou-se que a maioria dos usuários do Passo Fundo Vai

de Bici (51,66%) possui idade entre 19 e 25 anos, com rendimentos de 1 a 3 salários mínimos

(38,33%). Maiores concentrações deste perfil de usuário podem ser mapeados na cidade sendo

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que esta informação pode contribuir no processo decisório quanto à implantação de novas

estações.

Ademais, outra variável importante a ser avaliada em projetos de ampliação refere-se à

integração local, ou seja, a identificação de subcentros. Neste sentido, deve-se realizar uma

análise microescala como forma de identificar regiões acessíveis e bem conectadas onde

ocorram distintas atividades, com a presença de comércio e serviços, ou seja, locais com pontos

suficientes para gerar demanda de viagens por bicicleta.

Kneib et al. (2012) reforçam que as centralidades urbanas se caracterizam pela acessibilidade,

pela infraestrutura viária e pela concentração e atividades, além de relacionarem-se fortemente

com o número de viagens geradas nestas regiões.

Neste sentido, cabe recordar que entre as sugestões de melhoria e ampliação advindas dos

questionários, grande parte dos usuários sugeriu que sejam criadas estações em áreas mais

afastadas do centro, como forma de aumentar o alcance do sistema.

Sugere-se como décima diretriz que em projetos de ampliação das estações do Passo Fundo Vai

de Bici, especialmente quando se tratar de bairros, que sejam realizadas análises em

microescala, priorizando a implantação nos subcentros dos bairros, ou seja, nas áreas de maior

importância para cada região.

Além disso, recomenda-se que além da identificação dos subcentros, seja realizada uma análise

quanto ao sistema viário, sendo que, sempre que necessário, sejam propostos em conjunto com

a ampliação da rede de estações projetos urbanos. Ou seja, entende-se que para aumentar o

desempenho do sistema de compartilhamento de bicicletas seja necessário propor estratégias

que melhorem o tecido urbano de Passo Fundo, no sentido de torná-lo mais coeso e integrado.

Como a necessidade de conexão de inúmeras vias que são interrompidas, de mudanças nos

sentidos de algumas vias, de requalificação de passeios públicos dentre outras estratégias.

Dessa forma, com base nos aspectos destacados como relevantes para a ampliação de rede de

bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo, ou seja, relevo, integração global,

densidade demográfica e integração local, torna-se possível identificar as regiões mais

adequadas para novas instalações. Nos mapas presentes na Figura 108 estão sinalizadas por

meio de manchas sob a malha urbana de Passo Fundo as regiões com relevo menos acidentado

(Figura 108a), as regiões mais integradas, considerando-se a cidade como um todo (Figura

108b), as regiões mais densificadas (Figura 108c) e os principais subcentros da cidade de Passo

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203

Fundo (Figura 108d). As machas foram feitas baseadas nos estudos, informações coletadas e

mapas desenvolvidos nas etapas anteriores desta pesquisa.

Figura 108: Esquema de mapas com aspectos a serem considerados em projetos de ampliação do Passo

Fundo Vai de Bici.

Fonte: Autora (2018).

Nota-se que de forma geral o principal eixo estruturador de Passo Fundo concentra as maiores

machas de identificação destes aspectos, com exceção dos subcentros que podem ser

identificados em praticamente toda a malha da cidade. Além da Avenida Brasil, o segundo

principal eixo da cidade, formado pela Avenida Presidente Vargas, Avenida Sete de Setembro

e Avenida Rio Grande também apresenta potencial, mesmo que em inúmeros trechos necessite

de estratégias urbanas para integrar-se mais com o restante da cidade. De acordo com o nível

de importância destes eixos, os mesmos podem ser caracterizados como corredores de

centralidade.

Dentro deste contexto, de acordo com Dill e Carr (2003) a existência por si só de infraestrutura

para bicicleta não é suficiente para que o uso massivo da bicicleta seja inserido na cultura de

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204

uma cidade. É necessário que a mesma seja inserida em ligações movimentadas e atrativas,

tanto na origem quanto no destino.

Sendo assim, com base nas análises realizadas propõe-se que nos projetos de ampliação da rede

de bicicletas compartilhadas para a cidade de Passo Fundo considere-se os dois eixos como

corredores de centralidade, priorizando-os para a implantação de novas estações.

Posteriormente, a partir dos corredores de centralidade as novas estações se ramifiquem até as

áreas mais periféricas, a partir de estudos mais aprofundados de cada setor urbano. O esquema

da Figura 109 demonstra esta proposta em um cenário hipotético, considerando o caso de Passo

Fundo possuir 56 estações.

Figura 109: Mapa esquemático da sugestão de criação de rede de estações a partir dos corredores de

centralidade.

Fonte: Autora (2018).

Destaca-se que este é um cenário hipotético e que as sugestões apresentadas se voltam a

demonstração da ideia de rede a partir dos corredores de centralidade e não das posições

propriamente ditas. Em caso de novas implantações considera-se necessário o trabalho de uma

equipe multidisciplinar, capaz de cruzar todos os aspectos destacados, dentre outras variáveis

importantes que podem não ter sido consideradas nesta pesquisa.

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205

Contudo, com base nas análises realizadas foram identificados alguns pontos com potencial

para instalação de novas estações. No mapa da Figura 110 demonstrou-se um cenário hipotético

onde Passo Fundo passaria de 10 para 20 estações.

Figura 110: Mapa com as sugestões para próximas instalações de estações.

Fonte: Autora (2018).

Destaca-se que foram priorizados os corredores de centralidade, sendo que foram propostas

algumas estações novas entre as já existentes, que se encontram com um distanciamento maior

que o ideal. Além disso, estendeu-se a rede para os extremos de ambos os eixos, especialmente

na Avenida Brasil Leste, que atualmente não possui estações.

Além disso, destaca-se que quanto aos aspectos citados neste capítulo referentes à ampliação

da rede de estações, constatou-se como mais relevantes a identificação dos subcentros, já que o

posicionamento da estação em locais atrativos e acessíveis tende a contribuir com o uso das

bicicletas compartilhadas, além da integração global, já que áreas bem conectadas com o

restante da cidade tendem a facilitar os percursos ativos. Quanto ao aspecto relevo, conforme

mencionado, podem ser traçadas estratégias complementares para resolução desta barreira e

quanto à densidade demográfica, destaca-se que as estações podem ser dimensionadas de

acordo com a população existente na área de abrangência.

Ademais, conforme relatado anteriormente, por meio desta pesquisa tornou-se possível

desenvolver um método de cálculo de estimativas de uso das possíveis estações de bicicletas.

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Este dispositivo baseia-se em uma série de variáveis geradas a partir das características locais

e permite estimar o quanto uma estação poderá ser utilizada.

Recomenda-se então, como décima primeira diretriz que em projetos de ampliação da rede de

estações em Passo Fundo sejam utilizados os dados obtidos por meio desta etapa de pesquisa,

priorizando os critérios mais influentes quanto à implantação de estações, como a proximidade

com ciclovias e/ou ciclofaixas. Além disso, sugere-se que se utilize das equações desenvolvidas

para obter-se uma estimativa de uso e auxiliar no processo decisório, já que podem ser testados

inúmeros locais antes da execução e priorizar as áreas onde as estimativas de uso são maiores,

analisando-se caso a caso.

Como forma de validar a diretriz proposta, realizou-se uma análise com utilização das equações

criadas, para estimar o uso de 3 das estações propostas no cenário hipotético de 20 estações,

conforme destacado no mapa da Figura 111.

Figura 111: Localização das 3 estações onde realizou-se estimativas de uso

Fonte: Autora (2018).

A Estação A, posiciona-se na Avenida Brasil Oeste e foi sugerida com o intuito de expandir a

rede neste sentido, possibilitando que os usuários que residem ou realizam outras atividades

nesta região possam realizar percursos maiores com as bicicletas compartilhadas e menores

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com outros meios de transporte. Ademais, este foi um dos pontos mais citados nas sugestões

advindas dos usuários do sistema, por meio dos questionários.

A Estação B foi sugerida entre as estações já existentes, ou seja, a Praça Santa Terezinha e a

Brigada Militar, que se encontram a uma distância de aproximadamente 1300 metros, muito

acima do indicado. Sendo assim, esta sugestão objetivou facilitar o uso das estações nesta região

da cidade e efetivar a criação de uma rede de estações.

A Estação C faz parte de um conjunto de estações novas, sugeridas com base nos estudos

realizados e nas sugestões dos usuários, que citaram o Bairro Petrópolis inúmeras vezes, já que,

atualmente, a Avenida Brasil Leste não possui estações. Para validação das equações de

estimativas considerou-se que as estações vizinhas a Estação C, que também estão sendo

sugeridas, são existentes.

Ademais, considerou-se como já existentes os dois trechos de ciclovia que atualmente

encontram-se em obras, ou seja, o trecho da Avenida Presidente Vargas, que influenciará os

resultados da Estação B, e o trecho da Avenida Brasil Leste, que influenciará os resultados da

Estação C. No Quadro 16 encontram-se os levantamentos realizados nas 3 estações sugeridas,

como forma de aplicar as Equações 4 e 5, para estimar as bicicletas retiradas e devolvidas.

Quadro 16: Medição/levantamento dos cinco critérios nas 3 estações sugeridas

Estações Educação

- E

Áreas verdes –

V (m²)

Segurança no

tráfego – ST (m)

Distância da estação

mais próxima - DE (m)

População

potencial – PP

A 2 0 0 700 4219

B 6 8170 0 530 2370

C 3 46000 0 560 3559

Fonte: Autora (2018).

No Quadro 17 encontram-se os resultados obtidos a partir da aplicação das equações para

estimar as bicicletas retiradas e devolvidas nos pontos analisados

Quadro 17: Resultados das estimativas de uso das estações sugeridas

Estações Bicicletas retiradas

(estimativa)

Bicicletas devolvidas

(estimativa)

A 400,70 411,00

B 290,10 314,95

C 178,76 193,54

Fonte: Autora (2018).

Com estes resultados constatou-se que a estação sugerida A que encontra-se próxima a estação

Boqueirão Legal obteve valores de retiradas e devoluções próximos ao desta estação.

Possivelmente por possuírem características muito parecidas.

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A estação sugerida B obteve valores acima de suas estações vizinhas existentes, ou seja, a

Brigada Militar e a Praça Santa Terezinha. Possivelmente pelo fato de ter-se considerado como

já existente o trecho de ciclovia que se encontra em obras, já que este é o critério mais influente

quanto ao uso das bicicletas compartilhadas. Dessa forma, acredita-se que ela aumentará o uso

das estações de bicicletas compartilhadas e da bicicleta particular nesta região. A estação

sugerida C obteve os valores mais baixos entre as três sugestões. Os valores de retiradas e

devoluções ficaram próximos aos valores reais mensais comumente ocorridos na estação Notre

Dame. Destaca-se que esta estação seria a mais distante da atual rede de estações existentes

atualmente e também a mais distante da área central de Passo Fundo.

Ademais, além dos aspectos supracitados, no âmbito da criação de uma rede de estações,

destaca-se aqui alguns indicadores encontrados na literatura que devem ser considerados.

Identificou-se que se recomenda um espaçamento médio entre estações de 300 metros (ITDP,

2014a). Contudo, constatou-se um espaçamento médio entre as estações do Passo Fundo Vai

de Bici de cerca de 680 metros, principalmente devido às estações Vera Cruz e Brigada Militar,

que estão a mais de 1200 metros de distância da estação mais próxima.

Apesar de no questionário teste aplicado em uma amostragem de 100 usuários ter se constatado

que os mesmos não consideram o espaçamento estre as estações do Passo Fundo Vai de Bici

uma grande dificuldade (SARAIVA et al., 2017a), propõe-se como décima segunda diretriz que

as novas estações de Passo Fundo sigam a recomendação encontrada na literatura. Ou seja, que

sempre que possível, as estações estejam posicionadas com distâncias de aproximadamente 300

metros (ITDP, 2014a). A proximidade entre estações tende a contribuir com a integração modal

e com o aumento das possibilidades de percursos para os usuários, tornando o sistema mais

atrativo, mesmo que a municipalidade leve um tempo para alcançar estes espaçamentos.

Ainda, recomenda-se que os indicadores de desempenho como o número de viagens por dia por

bicicleta, onde a literatura recomenda de 4 a 8, sirva como meta e como monitoramento diário

do desempenho do sistema. Neste sentido, sugere-se que, assim como em Barcelona, a exemplo

dos projetos de criação dos games, a prefeitura crie mecanismos de estímulos para a população

utilizar cada vez mais o sistema e, de forma geral, a bicicleta como meio de transporte na cidade.

Como forma de sistematizar as informações inseridas neste capítulo, desenvolveu-se um quadro

para inserção de todas as diretrizes propostas. A síntese das diretrizes desenvolvidas encontra-

se no Quadro 18.

Quadro 18: Síntese das diretrizes propostas

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209

DIR

ET

RIZ

ES

DE

AD

EQ

UA

ÇÃ

O E

ME

LH

OR

IAS

CRITÉRIO DIRETRIZ OBJETIVO

1

Dificuldades de utilização

devido às falhas com o

sistema operacional

Redução de falhas com o

sistema e retorno em tempo real

Manter os usuários

satisfeitos e facilitar a

utilização do sistema

2 Degradação das bicicletas Aumento da fiscalização quanto

às condições das bicicletas

Reduzir o número de

bicicletas em mau estado

de conservação e facilitar

sua utilização para os

usuários

3

Dificuldade dos ciclistas

ao se compartilhar os

espaços de circulação

Campanhas educativas voltadas

aos motoristas

Reduzir os conflitos entre

ciclistas e motoristas

4

Dificuldade dos ciclistas

ao se utilizar as

ciclovias/ciclofaixas

existentes

Campanhas educativas voltadas

aos pedestres

Reduzir os conflitos entre

pedestre e ciclistas ao

utilizarem as vias

cicláveis

5

Pouca existência de

infraestrutura cicloviária

(trechos)

Implantação de

ciclovias/ciclofaixas contínuas

nos 2 principais eixos da cidade

Cobrir os principais eixos

da cidade e garantir maior

segurança nos percursos

de bicicleta

6

Inexistência de estratégias

voltadas à integração da

bicicleta com o transporte

público

Inclusão de ônibus que

possibilitem o transporte de

bicicletas- intermodalidade

Aumentar o alcance destas

duas modalidades de

transporte

DIR

ET

RIZ

ES

DE

AM

PL

IAÇ

ÃO

7

Identificação de grandes

variações de altimetria

que podem dificultar

percursos ativos

Realização de estudos em macro

escala quanto ao relevo da

cidade

Distribuir as estações de

forma estratégica quanto

às condições de relevo

8

Identificação de áreas

com maior potencial de

utilização das estações

Priorização das áreas mais

integradas à cidade como um

todo (integração global, áreas de

maior fluxo)

Potencializar a utilização

do sistema

9 Identificação de áreas

mais densas

Realização de estudos de

densidade demográfica,

priorização de áreas mais

densificadas

Potencializar a utilização

do sistema

1

0

Identificação de regiões

onde ocorrem atividades

diárias, gerando fluxo de

pessoas

Realização de estudos em

microescala para priorização dos

subcentros, integração local

Potencializar a utilização

1

1

Prever a intensidade de

utilização de novas

estações em determinadas

localidades

Utilização das equações

desenvolvidas, levando-se em

conta as características dos

entornos

Contribuir com a

assertividade quanto à

implantação de novas

estações, buscando

potencializar a utilização

das mesmas

1

2

Padronização quanto à

alguns critérios

relacionados ao sistema

Adequação aos indicadores

propostos pela literatura

(espaçamento, desempenho)

Deixar a rede de estações

mais uniforme e buscar

potencializar a utilização

do mesmo

1

3

Identificação da

necessidade de se criar

mecanismos de incentivo

Criação de games de incentivo

Manter os usuários já

ativos e incentivar novos

usuários

Fonte: Autora (2018).

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210

Por fim, acredita-se que as diretrizes propostas nesta pesquisa contribuam com possíveis

projetos e ações advindas da municipalidade, sejam elas de curto, médio ou longo prazo. As

recomendações elencadas foram objetivadas para contribuir com o fortalecimento da cultura da

bicicleta na cidade de Passo Fundo e consequentemente reduzir os problemas de mobilidade

urbana e aumentar a qualidade de vida dos habitantes locais.

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211

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foram revistas e resumidas as principais informações relacionadas ao tema

abordado e aos dados coletadas por meio desta dissertação. Objetivou-se aqui identificar e

discutir os métodos utilizados bem como suas implicações para a pesquisa e a geração de

resultados. Além disso, buscou-se ressaltar a necessidade de trabalhos futuros que podem

complementar os resultados alcançados e demonstrar as contribuições da presente pesquisa.

8.1. Conclusões e recomendações para estudos futuros

Recorda-se que o problema de pesquisa partiu da identificação do crescimento contínuo de

veículos motorizados nas cidades brasileiras, que gera graves consequências tanto ao meio

ambiente quanto à população urbana. A partir daí, identificou-se como possível solução o

incentivo à mobilidade ativa, com especial atenção aos sistemas de compartilhamento de

bicicletas. Neste contexto, definiu-se o objeto de estudo e desenvolveu-se os objetivos da

pesquisa, sendo o principal deles a proposição de diretrizes de melhoria, adequação e ampliação

do sistema de compartilhamento de bicicletas Passo Fundo Vai de Bici, a partir do estudo do

atual cenário da mobilidade ativa na cidade.

A partir do estabelecimento dos objetivos foram então criadas as etapas metodológicas da

dissertação, organizadas em 6 partes. As primeiras etapas juntamente com a etapa de estudo de

caso voltaram-se a criação de um capítulo de fundamentação teórico e prático, onde buscou-se

informações pertinentes na literatura, em leis e decretos voltados à mobilidade urbana e ao

estudo de caso do sistema Bicing, eleito como objeto de referência desta pesquisa.

Quanto a etapa de levantamento documental, destaca-se que se tornou possível relacionar a

implantação do Passo Fundo Vai de Bici com o contexto nacional das políticas públicas

voltadas à mobilidade urbana. A partir desta etapa tornou-se possível responder a uma das

perguntas que motivaram esta pesquisa, ou seja, identificou-se que o incentivo à bicicleta como

meio de transporte na cidade de Passo Fundo partiu do Plano Municipal de Mobilidade, que se

tornou obrigatório a partir da lei 12.587/2012. Esta, por sua vez, relaciona-se ao contexto global

voltado à promoção da sustentabilidade urbana e a preocupação quanto ao aumento da

qualidade de vida dos habitantes.

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212

Quanto ao estudo de caso destaca-se que as entrevistas com os especialistas realizadas em

Barcelona contribuíram para a criação de subsídios para a proposição de diretrizes,

principalmente de adequação e melhorias. Já que nesta etapa foi possível conhecer uma série

de estratégias voltadas à solução de problemas, sendo que, muitos deles são comuns tanto em

Barcelona quanto em Passo Fundo, como os problemas de vandalismo e roubo de bicicletas.

Ademais, após esta primeira fase, elencou-se algumas ferramentas para compreensão da

mobilidade na cidade de Passo Fundo, buscando-se respostas para outra pergunta de pesquisa,

ou seja, de qual seria o cenário da mobilidade na cidade de Passo Fundo a partir da implantação

das bicicletas compartilhadas.

Destaca-se aqui a utilização da teoria da Sintaxe Espacial, que possibilitou a compreensão da

configuração espacial e morfológica da cidade de Passo Fundo, além de contribuir com a

compreensão dos entornos das estações de bicicletas compartilhadas na cidade. A partir do

desenvolvimento de mapas e do reconhecimento do histórico de crescimento da cidade tornou-

se possível compreender algumas das causas que geram dificuldades de deslocamento em Passo

Fundo. Como a descontinuidade de vias, a irregularidade de quarteirões e a ausência de

planejamento orientando o crescimento urbano.

Como forma de compreender as fases de idealização e implantação do Passo Fundo Vai de Bici,

foi realizado um levantamento de documentos referentes a estas fases, complementando a coleta

de dados com entrevistas junto aos envolvidos. Esta etapa contribuiu para o entendimento das

motivações do poder público frente à implantação do sistema, confirmando o estímulo a partir

dos diagnósticos desenvolvidos junto ao Plano de Mobilidade. Esta etapa também permitiu

compreender todos os procedimentos necessários relacionados as fases de projetação e

implantação do sistema.

Outra importante etapa metodológica utilizada nesta pesquisa foi a adaptação da APO para um

projeto urbano, já que se utilizou de duas ferramentas pertencentes a esta metodologia, ou seja,

a percepção e a observação do pesquisador. Dessa forma, a aplicação de questionários tornou-

se um subsidio importante para o alcance do objetivo principal do trabalho, já que contribuiu

com o desenvolvimento de um diagnóstico quanto ao funcionamento do sistema além de

permitir a compreensão da percepção, motivações e dificuldades de usuários e não usuários do

sistema. Já a observação do pesquisador permitiu identificar um problema relacionado ao uso

da infraestrutura dedicada às bicicletas na cidade de Passo Fundo, ou seja, os conflitos entre

pedestres e ciclistas, que também fomentaram algumas diretrizes de melhoria e adequação.

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213

Ademais, como consequência das etapas metodológicas supracitadas, foram propostas três

equações, sendo uma delas voltada às estimativas de mitigação de poluentes e as outras duas

voltadas ao entendimento das variáveis que influenciam no uso das bicicletas compartilhadas.

Ao que se refere ao estudo das contribuições ambientais do Passo Fundo Vai de Bici, constatou-

se que esta etapa contribuiu como justificativa para a implantação do sistema e, em geral, como

incentivo ao uso das bicicletas como meio de transporte na cidade. Esta etapa da pesquisa

permitiu quantificar os benefícios ambientais provenientes do uso das bicicletas

compartilhadas, respondendo a mais uma das perguntas de pesquisa, ou seja, de como as

bicicletas compartilhadas estão contribuindo para a cidade e meio ambiente.

Quanto às equações desenvolvidas para estimar a utilização das estações, constatou-se que esta

etapa de pesquisa necessita ser melhorada, já que a amostra, ou seja, as 10 estações existentes

atualmente, mostrou-se pequena para que se pudesse alcançar resultados mais precisos.

Contudo, esta etapa da pesquisa permitiu identificar os critérios mais e menos influentes no uso

das estações, como a proximidade com ciclovias ou ciclofaixas, que tendem a aumentar o uso

das bicicletas compartilhadas e, a presença de instituições de ensino nos entornos, que se

mostraram pouco influentes no uso das estações. De qualquer forma, as equações podem ser

utilizadas para realização de estudos quanto a implantação de novas estações, já que permitem

que sejam testados vários locais antes da implantação definitiva.

Por fim, a última etapa metodológica foi a proposição de diretrizes voltadas ao sistema Passo

Fundo Vai de Bici, respondendo a última e principal pergunta da pesquisa. Nesta etapa foram

abrangidas todas as informações e resultados coletados nas etapas anteriores e, a partir da

sistematização de dados tornou-se possível alcançar o objetivo principal da pesquisa. Sendo

assim, foram desenvolvidas diretrizes de melhoria e adequação, sendo que se baseou

principalmente no diagnóstico desenvolvido a partir da APO e das análises morfológicas

realizadas na cidade de Passo Fundo, que permitiram a identificação de problemas operacionais,

comportamentais e de infraestrutura.

Além disso, foram destacados os principais aspectos em macro e microescala que devem ser

considerados em possíveis projetos de ampliação da rede de estações de bicicleta, como a

integração global, a identificação de subcentros, a densidade demográfica e o relevo. Nesta

etapa, sugeriu-se a criação de uma rede de estações de bicicletas com priorização dos dois

principais eixos de centralidade da cidade de Passo Fundo, sendo que, nestas vias, deve-se

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214

priorizar os percursos ativos e coletivos e, para isso, aconselhou-se que a municipalidade deve

investir principalmente na criação de ciclovias contínuas.

Em microescala, sugeriu-se considerar os critérios destacados na etapa de estimativas de

potencial de utilização das estações, como a proximidade com a ciclovia e a população em

potencial na área de cobertura de cada estação.

Portanto, os resultados alcançados por meio desta pesquisa representam uma contribuição para

o entendimento das questões relacionadas à mobilidade urbana de Passo Fundo, especialmente

ao que se refere ao uso das bicicletas compartilhadas. Além disso, estes resultados confirmaram

o potencial de utilização da bicicleta como meio de transporte na cidade, além de formarem um

subsídio para a municipalidade propor novas estratégias voltadas à mobilidade ativa.

Ademais, os resultados obtidos por meio desta dissertação podem servir como base para outras

cidades que estejam planejando implantar sistemas de compartilhamento de bicicletas,

especialmente para cidades pequenas e médias. Já que, a partir das informações contidas nesta

pesquisa, pode-se conhecer uma série de aspectos relevantes que podem contribuir com o

entendimento destes sistemas e auxiliar no desenvolvimento de projetos de implantação de

redes de estações.

A partir das conclusões desta pesquisa, recomenda-se que em estudos futuros seja aprofundada

a etapa relacionada às variáveis que influenciam no uso das estações de bicicletas em

microescala, sendo que podem ser selecionados sistemas de outras cidades, que possuam mais

estações em funcionamento, para possíveis comparações.

Além disso, recomenda-se como estudos futuros que seja avaliado também a percepção de

usuários da bicicleta particular na cidade, já que estes podem trazer novas informações e

contribuir com novas propostas voltadas à promoção da ciclomobilidade na cidade de Passo

Fundo. Por fim, recomenda-se a realização de estudos voltados à criação de gamificação

voltada a promover e incentivar o uso das bicicletas compartilhadas pertencentes ao Passo

Fundo Vai de Bici ou sistemas pertencentes a outras cidades.

8.2. Contribuições

Como forma de socializar os resultados parciais obtidos ao longo do desenvolvimento desta

dissertação foram desenvolvidos artigos científicos e publicados em eventos relacionados ao

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215

tema e em revistas da área. Abaixo encontra-se uma lista com os artigos mais relevantes já

publicados e aceitos para publicação:

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A.; NECKEL, A.; LERMEN, R. T.; SILVA, J. L. da.

Evaluating the bicycle sharing system in a medium-sized city. International Journal of

Humanities and Social Science, v. 7, n. 5, 2017.

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A. Passo Fundo Vai de Bici: a redução no consumo de

combustíveis fósseis e as contribuições para o meio ambiente. Revista de Arquitetura

da IMED, v. 6, n. 1, 2017.

• SARAIVA, P. P.; SANTIAGO, A. G.; RIBEIRO, L. A. Avaliação das diretrizes e ações

do Plano de Mobilidade da cidade de Passo Fundo de acordo com a Lei n° 12.587/2012.

REVISTA DE ENGENHARIA CIVIL IMED, v. 4, p. 34-54, 2017.

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A.; NECKEL, A.; SILVA, J. L.; LERMEN, R. T.

Avaliação da influência do entorno no uso das estações de bicicletas compartilhadas.

URBE- Revista Brasileira de Gestão Urbana (aceito para publicação);

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A.; NECKEL, A. Sistema de bicicletas compartilhadas

em relação ao fluxo pedonal e veicular em uma cidade de médio porte. In:5°

ENANPARQ- Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em

Arquitetura e Urbanismo, 2018, Salvador. (aceito para publicação);

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A.; NECKEL, A. Quantificação e características das

estações de bicicletas compartilhadas na cidade de Passo Fundo/RS-Brasil. In: 5°

Seminário Internacional de Construções Sustentáveis, 2016, Passo Fundo. Anais V

Sics, 2016.

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A.; NECKEL, A. Diagnóstico do sistema de bicicletas

compartilhadas da cidade de Passo Fundo/RS - Brasil. In: 5° Seminário Internacional

de Construções Sustentáveis, 2016, Passo Fundo. Anais V Sics, 2016.

• SARAIVA, P. P.; RIBEIRO, L. A. Bicicletas compartilhadas e sustentabilidade urbana:

os casos de Passo Fundo, Washington e Barcelona. In: IX Encontro nacional, VII

Encontro latino-americano, II Encontro latino-americano e europeu sobre edificações

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2017. v. 1. p. 1873-1882.

• SARAIVA, P. P.; MUSSI, A. Q.; RIBEIRO, L. A.; SARAIVA, P. P. Caracterização,

padrão de deslocamento e percepção dos usuários do sistema de compartilhamento de

bicicletas “Passo Fundo Vai De Bici”. In: V Encontro de Sustentabilidade em Projeto

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VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. 2° edição. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP:

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229

APÊNDICES

APÊNDICE A- PERGUNTAS PARA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DO

PODER PÚBLICO DE PASSO FUNDO

1. De onde surgiu a iniciativa do Passo Fundo Vai de Bici?

2. Quem foram os principais envolvidos na idealização da proposta?

3. Quais foram as premissas do projeto?

4. O projeto foi inspirado em algum modelo já existente?

5. Como foram escolhidos os 10 pontos a serem instaladas as estações?

6. Para você, quais foram as principais dificuldades e desafios do Passo Fundo Vai de Bici

em sua fase de implantação e nos primeiros meses de operação?

7. E nos dias atuais, quais são as dificuldades e desafios?

8. Quais estratégias você conhece que foram e são utilizadas para as dificuldades

enfrentadas?

9. De acordo com o seu conhecimento, o Passo Fundo Vai de Bici foi pensado como forma

de complementar outras modalidades de transporte? Se sim, você sabe qual ou quais as

estratégias utilizadas?

10. Existem projetos de ampliação da rede de bicicletas em Passo Fundo?

11. Em sua opinião, qual o impacto do Passo Fundo Vai de Bici na sustentabilidade urbana

da cidade quanto às questões ambiental, social e econômicas?

12. Como se deu financiamento do Passo Fundo Vai de Bici?

13. Qual é o envolvimento do governo local com o Passo Fundo Vai de Bici?

14. Como se deu a parceria entre a empresa operadora e o governo local?

15. Qual foi o investimento inicial do Passo Fundo Vai de Bici?

16. Qual é a fonte de receitas destinadas ao Passo Fundo Vai de Bici?

17. Você utiliza as bicicletas do Passo Fundo Vai de Bici para se deslocar na cidade? Se

sim, para quais atividades?

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APÊNDICE A- PERGUNTAS PARA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DA

EMPRESA OPERADORA DO PASSO FUNDO VAI DE BICI

1. Quais são as responsabilidades da Mobhis quanto ao Passo Fundo Vai de Bici?

2. Para você, quais foram as principais dificuldades e desafios do Passo Fundo Vai de Bici

em sua fase de implantação e nos primeiros meses de operação?

3. E nos dias atuais, quais são as dificuldades e desafios?

4. Quais estratégias você conhece que foram e são utilizadas para as dificuldades

enfrentadas?

5. Como é a infraestrutura da Mobhis existente na cidade para a operação do Passo Fundo

Vai de Bici?

6. Em sua opinião, qual o impacto do Passo Fundo Vai de Bici na sustentabilidade urbana

da cidade quanto às questões ambiental, social e econômicas?

7. A Mobhis possui sistemas de compartilhamento de bicicletas em outras cidades?

8. Quais os diferenciais da experiência com a cidade de Passo Fundo?

9. Como se deu a parceria entre a empresa operadora e o governo local?

10. Você utiliza as bicicletas do Passo Fundo Vai de Bici para se deslocar na cidade? Se

sim, para quais atividades?

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APÊNDICE B- ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA USUÁRIOS DO SISTEMA DE

BICICLETAS COMPARTILHADAS PASSO FUNDO VAI DE BICI

Este questionário é parte de uma Pesquisa de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Faculdade Meridional – IMED, de Passo Fundo- RS. Ele é composto por 29 questões e as informações contidas

nas respostas serão utilizadas unicamente com fins estatísticos, visando o conhecimento da cultura da bicicleta na

cidade de Passo Fundo.

Bloco 1: Perfil socioeconômico

1) Você é de qual gênero?

Feminino Masculino

2) Qual é a sua idade?__________________

3) Qual é o seu grau de escolaridade?

Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo

Ensino médio incompleto Ensino médio completo

Ensino superior incompleto Ensino superior completo

Pós incompleto Pós completo

4) Qual é a sua renda familiar mensal bruta?

Até 1 S.M. De 1 a 3 S.M. De 3 a 5 S.M. SM De 5 a 15 S.M.

Mais de 15 S.M.

Bloco 2: Local de Moradia e cadastramento

5) Em qual bairro/região você reside?

Centro e Vila Vergueiro Roselândia Victor Isler

Boqueirão Santa Maria Vila Cruzeiro

Integração Santa Marta Vila Fátima e Annes

José Alexandre Zachia São Cristóvão Vila Luiza

Lucas Araújo São José Vila Mattos

Nenê Graeff São Luiz Gonzaga Vila Rodrigues

Petrópolis Valinho

Planaltina Vera Cruz Outro_________________

6) Como você se cadastrou como usuário das bicicletas compartilhadas?

Pela internet Na sede do P. F. Vai de Bici No lançamento do P. F.Vai de Bici

Bloco 3: Caracterização do uso

7) Qual é a estação que você mais utiliza?

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Boqueirão Legal Notre Dame Santa Terezinha

Brigada Militar Parque da Gare Teixeirinha

IE Praça Tocheto Vera Cruz

Marechal Floriano

8) Para qual finalidade você mais utiliza as bicicletas compartilhadas?

Trabalhar Estudar Lazer Esporte

Outra________________

9) Com que frequência você utiliza as bicicletas compartilhadas?

1 a 2 x por semana 3 a 4 x por semana 5 a 6 x por semana Todos os dias

10) Quando você mais utiliza as bicicletas compartilhadas?

Dias de semana Finais de semana

11) Qual a distância aproximada (em quilômetros) percorrida com as bicicletas em cada viagem?

_________________________________________

12) A quantas quadras o seu ponto de origem fica da estação mais próxima?

Até 4 quadras De 5- 10 quadras Mais de 10 quadras

13) A quantas quadras o seu ponto de destino fica da estação mais próxima?

Até 4 quadras De 5- 10 quadras Mais de 10 quadras

14) Por onde você mais circula com as bicicletas compartilhadas?

Ciclovia ou ciclofaixa Pista de rolamento dos automóveis Passeio público

15) Se você utiliza a ciclovia, qual dos trechos existentes na cidade você mais transita?

Av. Brasil: Av. Sete de Setembro- Rua Livramento no Bairro Boqueirão

Av. Brasil: Rua Livramento- trevo do Bairro Boqueirão

Parque da Gare

Parque Linear (Rui Barbosa)

Av. João Catapan - Perimetral Sul

Parque Banhado da Vergueiro

16) Como você avalia os seguintes itens da ciclovia que você utiliza? Marque de 1 a 5 sendo 1 para o pior

e 5 para o melhor:

Largura Material Sombreamento Conservação Sinalização

1. Péssimo

2. Ruim

3. Indiferente

4. Bom

5. Muito bom

s

t

u

d

a

r

s

t

u

d

a

r

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17) Se você não estivesse utilizando as bicicletas compartilhadas, como você se deslocaria?

A pé De ônibus De carro particular De motocicleta particular

De bicicleta particular De carona

Bloco 4: Motivações

18) Quanto aos motivos citados abaixo para se deslocar na cidade utilizando as bicicletas

compartilhadas, marque de 1 a 5:

É fácil e rápido É econômico É saudável

1. Discordo totalmente

2. Discordo

3. Não discordo nem concordo

4. Concordo

5. Concordo totalmente

19) Você considera o esporte como essencial na sua vida?

Sim Não

20) Quantas vezes por semana você pratica esporte?

Todos os dias 1 a 2 x por semana 3 a 4 x por semana 5 a 6 x

por semana

Bloco 5: Percepção

21) Quais são as principais dificuldades que você encontra ao utilizar o sistema de bicicletas

compartilhadas? Marque de 1 a 5 sendo 1 para a menor dificuldade e 5 para a maior dificuldade que

você enfrentou.

1 2 3 4 5

Ausência de bicicleta na estação desejada

Ausência de ciclovias para realizar a viagem

Insegurança no trânsito

Ausência de estações em áreas residenciais

Falhas com o sistema (devolução ou retirada

das bicicletas nas estações)

Enfrentou alguma outra? Qual?____________________________________________________________

22) Você considera as bicicletas confortáveis?

Sim Não

Se não, porque? ______________________________________________________________________________

23) Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de compartilhamento de bicicletas para a

melhoria da mobilidade em Passo Fundo? Avalie de 0 a 10 sendo 0 para menos importante e 10 para

mais importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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24) Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de compartilhamento de bicicletas para o

seu dia a dia? Avalie de 0 a 10 sendo 0 para menos importante e 10 para mais importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

25) Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas compartilhadas relacionam-se com

qualidade de vida?

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

26) Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas compartilhadas relacionam-se com

desenvolvimento sustentável?

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

27) Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que as bicicletas compartilhadas relacionam-se com

inclusão social?

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

28) Você possui sugestões para melhoria do sistema? Quais?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

29) Em quais pontos da cidade você acha que deveriam ser criadas novas estações de bicicleta?

______________________________________________________________________________________

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APÊNDICE B- ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA NÃO USUÁRIOS DE BICICLETA

Este questionário é parte de uma Pesquisa de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Faculdade Meridional – IMED, de Passo Fundo- RS. Ele é composto por 17 questões e as informações contidas

nas respostas serão utilizadas unicamente com fins estatísticos, visando o conhecimento da cultura da bicicleta na

cidade de Passo Fundo.

Bloco 1: Perfil socioeconômico

1) Você é de qual gênero?

Feminino Masculino

2) Qual é a sua idade?

___________________________________

3) Qual o seu grau de escolaridade?

Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo

Ensino médio incompleto Ensino médio completo

Ensino superior incompleto Ensino superior completo

Pós incompleto Pós completo

4) Qual sua renda familiar mensal bruta?

Até 1 S.M. De 1 a 3 S.M. De 3 a 5 S.M. SM De 5 a 15 S.M.

Mais de 15 S.M.

Bloco 2: Local de Moradia

5) Em qual bairro/região você reside?

Centro e Vila Vergueiro São José Planaltina

Boqueirão São Cristóvão Nenê Graeff

Vera Cruz Roselândia Victor Issler

Petrópolis Vila Mattos Santa Maria

São Luiz Gonzaga Vila Fátima e Annes Vila Rodrigues

Vila Cruzeiro José Alexandre Zachia Vila Luiza

Lucas Araújo Valinhos

Santa Marta Integração Outro_________________

Bloco 3: Meios de transporte

6) Você possui automóvel particular?

Sim Não

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7) Qual meio de transporte você mais utiliza diariamente para se deslocar?

Automóvel particular Ônibus urbano

Motocicleta particular Caminhada

De carona Outro:____________________

Bloco 4: Motivações

8) Você possui bicicleta particular?

Sim Não

9) Você utiliza bicicleta?

Sim Não

10) Você considera o esporte como essencial na sua vida?

Sim Não

11) Quantas vezes por semana você pratica esporte?

Todos os dias 1 a 2 vezes por semana 3 a 4 vezes por semana

5 a 6 vezes por semana Nenhuma

12) Você gostaria de utilizar a bicicleta como meio de transporte?

Sim Não

13) Abaixo encontram-se 8 razões para não se deslocar de bicicleta na cidade de Passo Fundo. Marque as

opções a esquerda de acordo com a sua percepção para cada uma das afirmativas.

MOTIVO Discordo

totalmente Discordo

Não discordo

nem concordo Concordo

Concordo

totalmente

Não sei andar de bicicleta

Trânsito inseguro (poucas ciclovias)

Não gosto de fazer esforço físico p/ me

deslocar

Não possuo ou não tenho acesso a

bicicleta

As roupas que costumo vestir não

favorecem o uso da bicicleta

As distâncias que percorro diariamente

não permitem o uso da bicicleta

A topografia da cidade não favorece o

uso da bicicleta

O clima da cidade não favorece o uso

da bicicleta

14) O que lhe motivaria a utilizar a bicicleta como meio de transporte em Passo Fundo? Abaixo

encontram-se 7 motivações, marque as opções a esquerda de acordo com a sua percepção para cada um

deles.

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MOTIVO Discordo

totalmente Discordo

Não discordo

nem concordo Concordo

Concordo

totalmente

Ver outras pessoas (amigos, familiares,

conhecidos) utilizando a bicicleta como

meio de transporte

Se houvesse mais infraestrutura para a

bicicleta na cidade (ciclovias,

sinalização, bicicletários)

Se houvessem chuveiros/vestiário no

meu local de destino

Se houvesse integração da bicicleta

com o transporte público

Se as bicicletas fossem mais baratas

Se os motoristas e pedestres tivessem

maior consciência e respeito com os

ciclistas

Se as bicicletas compartilhadas/públicas

abrangessem mais áreas da cidade

Bloco 5: Percepção

15) Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de compartilhamento de bicicletas para a

melhoria da mobilidade em Passo Fundo? Sendo 1 para menos importante e 10 para mais importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

16) Na sua concepção qual a nota de importância do sistema de compartilhamento de bicicletas para o seu

dia a dia? Sendo 1 para menos importante e 10 para mais importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

17) Qual é o significado do programa Passo Fundo Vai de Bici (ciclovias e ciclofaixas, bicicletários, bicicletas

compartilhadas, educação no trânsito) em sua opinião? Atribua notas de 1 a 10 para as atribuições abaixo:

Qualidade de Vida (saúde, prática de esportes)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Desenvolvimento urbano sustentável (menos poluição do ar, menos congestionamentos)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Inclusão social (equidade no uso do espaço público, maior acessibilidade)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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APÊNDICE C- MODELO DE TABELA UTILIZADA PARA OBSERVAÇÃO

Diário de campo: Usuários do Passo Fundo Vai de Bici utilizando a ciclovia

Detalhes descritivos Observações individuais Comentários analíticos

Trecho:

Dia:

Horário:

Condições climáticas:

Número de ciclistas:

Diário de campo: Outros ciclistas utilizando a ciclovia

Detalhes descritivos Observações individuais Comentários analíticos

Trecho:

Dia:

Horário:

Condições climáticas:

Número de ciclistas:

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239

APÊNDICE D- PERGUNTAS PARA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DO

BICING

1. De acordo com o seu conhecimento no tema, qual era o principal objetivo da

implantação do Bicing?

2. Para você, quais foram as principais dificuldades e desafios do Bicing em sua fase de

implantação e nos primeiros 2 anos de operação?

3. E nos dias atuais, quais são as dificuldades e desafios?

4. Quais estratégias você conhece que foram e são utilizadas para as dificuldades

enfrentadas?

5. Em sua opinião, como era a cultura da bicicleta na cidade de Barcelona antes do Bicing?

Você considera que já existia uma parcela significativa da população que se deslocava

diariamente de bicicleta?

6. De acordo com o seu conhecimento, o Bicing foi pensado como forma de complementar

outras modalidades de transporte existentes em Barcelona? Se sim, você sabe qual ou

quais as estratégias utilizadas?

7. Você acredita que a implantação do Bicing incentivou novos investimentos em

infraestrutura para bicicleta? Se sim, você sabe em que?

8. Em sua opinião, qual o impacto do Bicing na sustentabilidade urbana de Barcelona

quanto às questões ambiental, social e econômicas?

9. Em sua opinião, o que mais motiva a população local a se deslocar com as bicicletas do

Bicing? (Fácil, econômico, rápido, saudável?)

10. Existem receitas destinadas ao Bicing além das taxas pagas pelos usuários? Quais?

11. Qual é o envolvimento do governo local com o Bicing?

12. Como se deu a parceria entre a empresa operadora e o governo local?

13. Qual foi o investimento inicial do Bicing?

14. Você utiliza as bicicletas do Bicing para se deslocar em Barcelona? Se sim, para quais

atividades?

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APÊNDICE D- PERGUNTAS PARA ENTREVISTAS COM PROFESSOR E

PESQUISADOR DA UPC E REPRESENTANTE DO PODER PÚBLICO DE

BARCELONA

1. De acordo com o seu conhecimento no tema, qual era o principal objetivo da

implantação do Bicing?

2. Para você, quais foram as principais dificuldades e desafios do Bicing em sua fase de

implantação e nos primeiros 2 anos de operação?

3. E nos dias atuais, quais são as dificuldades e desafios?

4. Quais estratégias você conhece que foram e são utilizadas para as dificuldades

enfrentadas?

5. Em sua opinião, como era a cultura da bicicleta na cidade de Barcelona antes do Bicing?

Você considera que já existia uma parcela significativa da população que se deslocava

diariamente de bicicleta?

6. Você considera que a cidade de Barcelona já possuía infraestrutura adequada para

bicicleta antes da implantação do Bicing?

7. Você acredita que a implantação do Bicing incentivou novos investimentos em

infraestrutura para bicicleta? Se sim, você sabe em que?

8. De acordo com o seu conhecimento, o Bicing foi pensado como forma de complementar

outras modalidades de transporte existentes em Barcelona? Se sim, você sabe qual ou

quais as estratégias utilizadas?

9. Em sua opinião, qual o impacto do Bicing na sustentabilidade urbana de Barcelona

quanto às questões ambiental, social e econômicas?

10. Em sua opinião, o que mais motiva a população local a se deslocar com as bicicletas do

Bicing? (Fácil, econômico, rápido, saudável?)

11. Você utiliza as bicicletas do Bicing para se deslocar em Barcelona? Se sim, para quais

atividades?