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1 UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS Departamento de Ciência Política e Administração Pública Licenciatura em Ciência Política AUTOR: FIDEL TERENCIANO SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR JOSÉ JAIME MACUANE CO-SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR LUÍS DE BRITO COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA: Análise do voto leal e a persistência do Eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO (1994-2009) MAPUTO, Abril de 2014

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1

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

Departamento de Ciência Política e Administração Pública

Licenciatura em Ciência Política

AUTOR: FIDEL TERENCIANO

SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR JOSÉ JAIME MACUANE

CO-SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR LUÍS DE BRITO

COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA:

Análise do voto leal e a persistência do Eleitorado de Mueda a favor da

FRELIMO (1994-2009)

MAPUTO, Abril de 2014

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2

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA:

Análise do voto leal e a persistência do Eleitorado de Mueda a favor da

FRELIMO (1994-2009)

Trabalho de Fim de Curso (Monografia) apresentado/a em cumprimento parcial dos requisitos

exigidos para obtenção do grau de Licenciatura em Ciência Política, na Faculdade de Letras e

Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.

AUTOR

_______________________________

FIDEL TERENCIANO

SUPERVISOR

_______________________________

PROFESSOR DOUTOR JOSÉ JAIME MACUANE

CO-SUPERVISOR

_______________________________

PROFESSOR DOUTOR LUÍS DE BRITO

PRESIDENTE DO JÚRI OPONENTE

_________________________ _________________________

Maputo, _____/________________/ 2014

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I

ÍNDICE

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS ............................................................................................. I

COMPROMISSO DE HONRA ...................................................................................................... II

EPÍGRAFE ................................................................................................................................... III

DEDICATÓRIA ........................................................................................................................... IV

AGRADECIMENTO ..................................................................................................................... V

ABREVIATURAS ....................................................................................................................... VII

RESUMO ................................................................................................................................... VIII

PARTE I.......................................................................................................................................... 1

CAPÍTULO I .................................................................................................................................. 1

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 3

1.1.1. Geral: ................................................................................................................................ 3

1.1.2. Específicos: ...................................................................................................................... 3

1.2. Contextualização e objecto de estudo .................................................................................. 4

1.2.1. Objecto de Estudo ............................................................................................................ 6

1.3. Problemática ........................................................................................................................ 7

1.4. Questões de Partida .............................................................................................................. 9

1.5. Hipóteses: ........................................................................................................................... 10

1.5.1. Hipótese Básica: ............................................................................................................. 10

1.5.2. Hipótese secundária 1: ................................................................................................... 10

1.5.3. Hipótese secundária 2: ................................................................................................... 10

1.6. Justificativas ....................................................................................................................... 11

CAPÍTULO II ............................................................................................................................... 13

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ........................................................................................ 13

2.1. Revisão da literatura .......................................................................................................... 13

2.2. QUADRO TEÓRICO ........................................................................................................ 26

2.2.1. Teoria da Lealdade partidária ......................................................................................... 26

2.2.2. Lealdade Partidária dos Eleitores .................................................................................. 27

2.3. Conceptualização ............................................................................................................... 29

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II

2.4. Operacionalização das Variáveis .................................................................................. 32

Modelo de Análise .................................................................................................................... 34

CAPÍTULO III .......................................................................................................................... 35

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................... 35

3.1. Limitações do Estudo .................................................................................................... 39

PARTE II................................................................................................................................... 41

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS................ 41

CAPÍTULO IV .......................................................................................................................... 41

4.1. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO DISTRITO DE MUEDA ............................. 41

CAPÍTULO V ........................................................................................................................... 53

5. INFLUÊNCIA DOS FACTORES SÓCIO-ECONÔMICOS E A RELAÇÃO HISTÓRICA

ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA CONFIGURAÇÃO DO

COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA .................................................................... 53

5.1. Comportamento Eleitoral em Mueda Vs. Factores Sócio-Econômicos ......................... 54

5.2. O Papel da ligação histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construção da

Identificação Partidária do Eleitorado de Mueda ...................................................................... 60

5.2.1. Inexistência de acções mobilizadoras dos Partidos da Oposição ............................... 63

5.3. Abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos expressos a favor da FRELIMO ...... 66

CAPÍTULO VI .......................................................................................................................... 70

6.1. Acções Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o Papel dos

Líderes de Opinião na Construção do Comportamento Eleitoral ............................................. 70

6.2. O impacto das Acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda ........................... 74

CAPÍTULO VII......................................................................................................................... 77

7. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS......................................................................................... 81

Anexos 1 .................................................................................................................................... 86

Anexo 2 ..................................................................................................................................... 87

Anexos 3 .................................................................................................................................... 92

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I

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Figura 1: Modelo de Análise………..……………………………………………………............34

Tabela 1: Distribuição dos indivíduos em sexo e o número total das entrevistas……….……….38

Tabela 2: Divisão Administrativa do distrito…………………………………………………….42

Tabela 3: Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de

Mueda 2012………...…………………………………………………...…………...……..……45

Tabela 4: Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de

Mueda, 2012.……………..………………………………………………………..………….…46

Tabela 5: Educação………………………………………………………………………………46

Tabela 6: Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de

Montepuez, 2012…………………..……………………………………………...……………...48

Tabela 7: Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de

Montepuez, 2012…………………………………………………………………………………48

Tabela 8: Votos a favor da FRELIMO e a Média de abstenção eleitoral no distrito de Mueda

1994 a 2009 ………………………………………………………………………………...……68

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II

COMPROMISSO DE HONRA

Declaro que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado na sua essência para obtenção

de qualquer grau académico, e que constitui fruto do meu empenho e da minha investigação,

estando indicadas no texto, assim como na bibliografia, as fontes que foram utilizadas na

elaboração do mesmo.

_______________________________

Fidel Terenciano

Maputo, ____/____________/ 2014

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III

EPÍGRAFE

__________________________________

‘’A instituição social que se chama eleição é um ritual regularmente repetido, que termina com a contabilização

dos votos. No entanto, a contagem dos votos é o final de um longo processo Social (...). Os diversos modelos de

explicação desse fenómeno competem entre si exactamente ao tentar reconstruir o processo social que levou a um

dado resultado eleitoral, e tentar também explicar porque ocorreu exactamente uma dada distribuição das vontades

políticas e não outra’’.

FIGUEIREDO (1991, p. 13-14).

__________________________________

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IV

DEDICATÓRIA

= Aos meus pais Terenciano Lauia e Ana Rosa S. Muchichera Nicoco =

Vocês são e sempre serão a minha razão de existência e fonte de inspiração.

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V

AGRADECIMENTO

Espera-se que este trabalho seja o início duma longa caminhada no mundo intelectual, e por via

disso, há que agradecer os que contribuíram na efectivação desta caminhada:

A Deus, o senhor que ordena todas as coisas na terra, agradeço seu sustento incansável.

Aos meus pais (Terenciano Lauia e Ana Rosa), que tanto amo, respeito-os, imploro-os, em fim,

eles são meu espelho. Tudo o que faço tenho em vista à experiencia deles.

Absolutos agradecimentos vão para o meu Supervisor PhD. José Jaime Macuane, que

incansavelmente deu duras críticas e comentários em cada passagem do meu trabalho. Desde o

primeiro minuto, acreditou que seria possível guiar-me na elaboração desta humilde monografia.

Agradecimentos estendem-se ao meu Co-supervisor PhD. Luís de Brito, pelos comentários

enérgicos, pelas sugestões e conselhos bem como a forma como devia abordar o tema. Também

agradeço ao departamento de CP & AP, no seu todo, aos docentes que ensinaram-me os trilhos

das Ciências Sociais, em particular a Ciência Política, entre eles, PhD. João Pereira; PhD. Isabel;

PhD. Domingos; MA. Padil; MA. Lumbela; MA. Egídio; dr Muendade, ao Chefe do

departamento Prof. Alexandrino (que é exemplo de humildade) entre outros, vocês serão sempre

um adágio a seguir.

Agradecimentos profundos vão para meus irmãos: Deva (Edelson), José, Hélder, e aos meus

terceiranistas (Edimilson, Leonel, Tobias), às minhas irmãs (Felizarda, Rita, Ancha). Obrigado

manos/manas por tudo que vocês têm proporcionado.

Pelos ensinamentos nos momentos que convivemos juntos, agradeço ao (Tio Pascoal, tia vitoria,

Tio Raimundo, vovô Nicoco) In memória…

Não devo esquecer dos meus tios: Luís, Leo (Ou simplesmente TITIO LEO), tio Cipriano,

Daniel, Abudo, Hermenegildo, e as minhas tias: (mama Tima), tia Estefânia, Cacilda, Fátima,

que tanto agradeço pelo esforço que me deram nesta etapa da vida.

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VI

Aos meus sinceros amigos Achirafi, Bacar, Belafonte, Malipa, Pinda, Sineque, Stélio, Tidónio,

Pino, Ndugo, Faquiro, Amaral (minha bússola na colheita de dados em Mueda e não sei o que

seria deste trabalho sem ti) e entre outros meus manos. Obrigado perenemente por tudo.

Agradecer a presença incansável dos meus peritos (Tony, Aly Ntombe, Mano Gimo e Farlay).

Não esqueço o papel importantíssimo de ti Da Tânia, Énia e as minhas mães: Tónia e Sónia que

sempre acreditaram em mim, obrigado e estou sem palavra para vós descrever.

Aos colegas da turma de Ciência Política – 2010 (os manos Mate, Cármen, Nelson e outros que

tanto os admiro) e em especial aos colegas do meu grupo de estudos dos denodados ‘’GRUPO

1’’ (Régio, Justo, Rajú, Juvinaldo, Nascimento, Simião, Saide/Bay, Horácio), vocês me

ensinaram em prol do crescimento intelectual. Obrigado ‘’CAMARADAS’’.

A comunidade de Mueda que me recebeu com respeito e forneceu-me as informações detalhadas

que eu necessitava para o enriquecimento do trabalho. Sem vocês não sei o que seria do

fundamento deste trabalho. Obrigado aos eleitores do Planalto de Mueda.

A todos que directa ou indirectamente ajudaram na efectivação deste trabalho. Não tenho

palavras para descrever-vos, mas para já digo (obrigado) ….

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VII

ABREVIATURAS

CNE Comissão Nacional de Eleições

FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique/Partido

INE Instituto Nacional de Estatística

MAE Ministério de Administração Estatal

MDM Movimento Democrático de Moçambique

PEDD Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital

PIMO Partido Independente de Moçambique

RENAMO Resistência nacional de Moçambique/Partido

STAE Secretariado Técnico de Administração Eleitoral

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VIII

RESUMO

O presente estudo tem como objectivo analisar o comportamento do eleitorado no distrito de

Mueda, a fim de perceber as dinâmicas do eleitorado de Mueda na sua relação com a FRELIMO,

sobretudo das eleições de 1994 até as eleições gerais de 2009. Nesta perspectiva, procuramos

perceber as motivações que estão por detrás da contínua tendência do eleitorado votar a favor da

FRELIMO, ou seja, procurar perceber porque a persistência do eleitorado a favor da FRELIMO.

Mais ainda, o estudo defende o pressuposto segunda a qual a persistência e lealdade do

eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO são explicadas em última instância pelo processo de

estruturação de Mueda enquanto uma entidade histórica da FRELIMO e que, por via disso, os

eleitores estão alienado pela FRELIMO. Isso tem como suportes básicos os condicionalismos

históricos-estruturais de Moçambique, desde o período colonial até após a independência.

Ademais, o estudo mostra que as vivências históricas e os valores colectivos que estão

enraizados dentro da colectividade, cuja transmissão é feita de geração em geração, constituem

um factor extremamente importante para a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a

favor da FRELIMO.

Palavras-chave: Comportamento eleitoral, eleições, Lealdade, persistência, FRELIMO.

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1

PARTE I

CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

O comportamento eleitoral se forma dentro de uma cultura política vigente e as escolhas dos

eleitores não estão indiferentes a este fenómeno (Radmann, 2001).

Ora, a literatura que se debruça sobre a ciência eleitoral, teoria do voto, e o comportamento

eleitoral, não se esquece sempre dos condicionalismos históricos-estruturais, que de alguma

forma são determinantes no processo de construção da cultura política ou até da construção das

atitudes sociopolíticas (Idem).

Quiçá, fundamentar este pressuposto tendo em conta as teorias construídas na ciência política

que procuram explicar o comportamento eleitoral. Entre eles podemos destacar: a perspectiva

sociológica, psicológica, identificação partidária e escolhas racional, e nós acrescentamos a

teoria da lealdade sobre o comportamento eleitoral.

Assim, neste trabalho, o principal objectivo é compreender o comportamento eleitoral, as razões

e as motivações que estão por detrás da lealdade e persistênte do eleitorado de Mueda para com a

FRELIMO, sobretudo das eleições de 1994, até às eleições Gerais de 2009.

Vamos procurar perceber ainda as grandes motivações por detrás da contínua tendência do

eleitorado depositar seu voto a favor da FRELIMO ou seja procurar perceber porque a

persistência do eleitorado a favor da FRELIMO.

Neste perspectiva, a pesquisa foi guiada pelo pressuposto segunda a qual, a persistência e

lealdade do eleitorado a favor da FRELIMO em Mueda é explicado em última instância pelo

processo histórico de construção de Mueda enquanto uma entidade histórica da FRELIMO e que

por via disso, o eleitorado esta alienado pela FRELIMO. Isso tem como suportes bases, os

condicionalismos históricos-estruturais de Moçambique desde o período colonial até após

independência. Mais ainda, tendo como base os pressupostos sustentados pela teoria da lealdade

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2

partidária, pode-se admitir que o cenário de Mueda vai comprovar os fundamentaremos da teoria

da lealdade onde nota-se relações de comprometimento e compromisso provindas quiçá, do

hábito entre o partido FRELIMO (produto normal), e os eleitores de Mueda (seus compradores

leais). Mediante estas questões, importa evidenciar que as formas e as diversas manifestações

dos eleitores em Moçambique, em particular os de Mueda, é resultante das estruturas históricos

do passado, bem como consequência directa da cultura política vigente em Moçambique antes da

implementação do multipartidarismo em 19941, isto é, o momento em que Mueda, foi e

constituía-se como o centro das poucas zonas libertadas em Moçambique sob domínio da

FRELIMO e não necessariamente uma zona libertada, visto que Mueda estava sob domínio do

exército Português.

Este trabalho encontra-se organizado da seguinte forma:

Tem duas partes, a primeira: estrutura-se da seguinte maneira: primeiro capítulo que compreende

a introdução do trabalho, os objectivos, a problemática, a pergunta de partida, as hipóteses, e a

justificativa do trabalho; O segundo capítulo engloba o enquadramento teórico que da menção a

revisão da literatura, onde apresentamos as diversas abordagem sobre o comportamento eleitoral.

Elucidámos também alguns estudos no contexto Moçambicano e igualmente engloba a

conceptualização bem como o modelo de análise; O terceiro capítulo é composto pelos

procedimentos metodológicos que foram usados na elaboração do trabalho.

A segunda parte do trabalho disserta-se sobre a análise e interpretação dos resultados e engloba

os seguintes capítulos: O quarto capítulo está dedicado a apresentação e descrição do distrito de

Mueda; O quinto capítulo faz uma análise das informações colhidas ao longo das entrevistas

sobre a Influência dos factores sócio-econômicos e a relação histórica entre a FRELIMO e o

distrito de Mueda na configuração do comportamento eleitoral em Mueda e para efeito

elaborados três subcapítulos: a questão do comportamento eleitoral em Mueda e a sua relação

com os factores sócio-econômicos; Num segundo momento discutiu-se o Papel da ligação

histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construção da Identificação Partidária do

Eleitorado de Mueda;

1 Nos referimos necessariamente após a independência de Moçambique e até o período da implementação do

multipartidarismo em Moçambique, com a Constituição de 1990 e a realização das primeiras eleições fundadoras.

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3

Em terceiro lugar discutimos sobre não existência de acções mobilizadoras dos Partidos da

Oposição. Também dissertamos sobre a abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos

expressos a favor da FRELIMO.

No sexto capítulo da segunda parte do trabalho discutimos duas temáticas: por um lado,

abordamos sobre as acções mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o papel

dos líderes de opinião na construção do comportamento eleitoral e por outro lado, discutimos o

impacto das acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda. Finalmente o sétimo capítulo e

último capítulo ficou reservado para as conclusões do trabalho.

1.1. Objectivos

Com vista a materialização dos propósitos deste trabalho, é necessário ser dirigido por alguns

objectivos a saber:

1.1.1. Geral:

Analisar a lealdade e a persistência do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido

FRELIMO, nas eleições de 1994 até às eleições de 2009.

1.1.2. Específicos:

Identificar os pressupostos que ajudam a compreender o comportamento eleitoral em

Mueda;

Explicar os factores que determinam a persistência do eleitorado de Mueda a favor da

FRELIMO.

Mostrar a importância da trajectória histórica na formação do voto leal e persistente em

Mueda a favor da FRELIMO.

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4

1.2. Contextualização e objecto de estudo

O debate sobre o distrito de Mueda e a estruturação do comportamento eleitoral, convida-nos a

reflectir sobre a história antroposociocultural, política e económica do distrito, muito antes do

período que pretendemos analisar.

Assim, o nascimento de Moçambique como nação resultou da guerra contra os colonizadores

portugueses levada a cabo pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) entre 1964 a

1974 (West, 2008). Isto foi auxiliado a partir das bases recuadas na recém-independente

Tanzânia de orientação socialista e a FRELIMO cedo estabeleceu a sua base central no planalto

de Mueda, geralmente entre as simpatizantes populações maconde (idem). Com apoio militar da

China, da URSS e de outros países do bloco de Leste, a Frente tinha expulsado os portugueses de

zonas substanciais das províncias setentrionais de Tete, Niassa e Cabo Delgado2 (incluindo a

maioria do planalto de Mueda) quando o golpe militar de 1974, em Lisboa, derrubou Marcelo

Caetano e abriu caminho para a independência de Moçambique, em 1975, sob o poder da

FRELIMO (Henriksen, 1983; Munslow, 1983). A orientação socialista da FRELIMO foi

consolidada em 1977, com a adopção oficial do marxismo-leninismo pelo partido (Munslow

1983 apud West, 2008).

Ora, o processo histórico da FRELIMO em Mueda foi construído desde os anos que o distrito de

Mueda constituía-se como sendo a zona rodeada pelas poucas zonas sob domínio total da

FRELIMO, ou seja, zonas libertadas. E esta proximidade que existe desde o período antes das

eleições fundadoras de 1994 está de entre os vários factores que concorrem para explicar a

ligação intrínseca entre a FRELIMO e o eleitorado de Mueda.

Mais ainda, sob a liderança do movimento de libertação (FRELIMO), Moçambique

independente tornou-se um Estado socialista de partido único baseado nos princípios do

centralismo democrático e num sistema político e administrativo altamente hierarquizado (Lina

Soiri, 1999).

2 Como tem-se destacado entre muitos autores chamam estas zonas por (zonas libertadas). Estas que foram

compreendidas como sendo as zonas que estavam sob domínio da FRELIMO, mesmo no período da Guerra da

descolonização em Moçambique. Ou seja, o aparecimento das zonas libertadas implica assim uma modificação no

conteúdo da luta; a zona libertada torna-se uma zona em que a nível de organização da vida política, económica e

das relações sociais de produção se rompe com o sistema de exploração do Homem pelo Homem. E as conquistas

revolucionárias das Zonas Libertadas são estendidas a todo o Pais, e ampliadas. Veja: GEFFRAY, C. (1990);

HANLON, J. (2004); HENRIKSEN, T. H. (1983); Noticias (1986).

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5

Este período em que o Estado foi guiado pela ideologia socialista foi muito crítico e

controverso3. Para sustentar esta posição, Anne Pitcher (2003) fundamenta que atravessou-se

rapidamente um período de crise e subsequente transição, bem como mudanças ocasionais do

modelo socialista de governação, ao mesmo tempo que o Governo Socialista da FRELIMO

lutava pela sobrevivência aos dezassete4 anos de conflito contra RENAMO.

Como forma de corrigir estes problemas, inicia um processo de reformas económicas que foi

acompanhada pela liberalização política (Macuane, 1996). Esta passagem é ilustrada quando em

1989, no Vº Congresso do Partido, à FRELIMO abandonou sua ideologia marxista-leninista e

transformou-se num partido de frente mais ampla. Ademais, Macuane (op. cit) explica que isso

possibilitou um caminho aberto para que as condições estruturais e estruturantes seguissem

finalmente o modelo capitalista (Idem).

Ora, o processo de abertura política também foi caracterizado por um amplo debate sobre a

organização institucional da nova república que culminou com a promulgação da nova

Constituição em Novembro de 1990. Entre outras mudanças notáveis foi introduzido pela

primeira vez o multipartidarismo e Moçambique deixou de ser República Popular para tornar-se

simplesmente República de Moçambique5 (Macuane 1996).

Oponente duradoura da FRELIMO na guerra civil, a RENAMO assinou um Acordo Geral de Paz

em 1992 e começou a edificar um partido político e a fazer a sua campanha para as eleições.

Nestes primeiros pleitos em Moçambique, a FRELIMO ganhou com 44% dos votos para

Assembleia da Republica mas a RENAMO transformou-se numa robusta força de oposição,

ganhando 38% do voto nas eleições para a Assembleia da República de 1994.

3 Muitos debates sobre a génese do socialismo da FRELIMO foram levados a cabo por diversos académicos, como

por exemplo: Henrikson, Cahen, Brito, Geffray, Saul, Chichava, e demais. 4 O debate sobre os anos concretos da guerra civil tem sido complexo, pois para um grupo de autores como:

Chichava, Brito, Pélissier, Newitt, Rocha, Serra, Macuane, preferem dizer que a guerra civil vigorou num intervalo

de 16 anos, e outros como Pitcher, Hanlon, MacQueen, Pereira e Shenga, dizem que a guerra entre irmãos da mesma

pátria durou quase 17 anos. 5 Encontram-se diferenças substantivas e claras, pois República é uma forma de governo na qual o chefe do Estado é

eleito pelos cidadãos ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada. A eleição do chefe de Estado,

por regra chamado presidente da república, é normalmente realizada através do voto livre e secreto; enquanto

República popular é o título frequentemente utilizado por governos socialistas, em sua maioria de orientação

marxista-leninista, para designar um tipo de Estado republicano. Fonte: Wikipedia, enciclopédia livre, acesso em 12

de Abril de 2013, 04h35min.

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Notou-se ainda que, a democratização deu um passo mais em frente com as eleições

governamentais locais de 1998 e de 2003 e com as eleições gerais em 1999 e em 2004.

1.2.1. Objecto de Estudo

O objecto de estudo do presente trabalho concentra-se sobre o comportamento eleitoral do

eleitorado de Mueda, nas eleições gerais de 1994 à 2009.

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1.3. Problemática

O problema que se pretende analisar circunscreve-se sobre o comportamento político-eleitoral

dos eleitores do distrito de Mueda, sobretudo nas eleições gerais de 1994 à 2009. A partir dos

estudos feitos sobre o mesmo tema, apresentaremos as diversas abordagens no contexto

Moçambicano e particularmente em Mueda.

O argumento principal a apresentar é que no distrito de Mueda, na província de Cabo Delgado,

há uma permanente e contínua tendência do eleitorado depositar seu voto a favor da FRELIMO

desde as primeiras eleições gerais de 1994 até as eleições gerais de 2009. Isto é ilustrado pelos

resultados oficiais das quatro eleições gerais que indicam o seguinte: nas eleições de 1994, 1999,

2004 e 2009, a FRELIMO consegui amelharar votos nas seguintes percentagens: 92%, 86%,

94% e 96% respectivamente.

Ora, neste contexto analisar os resultados que se tem registado ao longo dos quatro pleitos (1994,

1999, 2004 e 2009) importa dizer que verificou-se uma persistência do eleitorado a favor da

FRELIMO neste distrito. Ou seja, Mueda diferentemente dos outros distritos vizinhos que a sua

tendência tem sido de baixar os níveis esmagadores que à FRELIMO tem conseguido em cada

pleito continua persistênte e leal a FRELIMO.

Este cenário demostra um domínio quase total da FRELIMO em relação ao eleitorado de Mueda.

Isso leva-nos a categorizar que os eleitores de Mueda são fiéis e persistem constantemente a

votar na FRELIMO mesmo passado quase 15 anos, isto é, desde as primeiras eleições, o

eleitorado ainda contínua leal e persistente ao partido FRELIMO.

Por exemplo, há contínuas crises de governação (altos níveis alarmantes de corrupção, nepotismo

e a identificação político-partidário dos funcionários públicos com certas agremiações políticas

(neste caso a FRELIMO) que verifica-se em Moçambique e particularmente em Mueda, que de

alguma forma periga a boa gestão da coisa pública virada aos serviços e satisfação do cidadão. A

questão da má governação sobretudo na gestão não eficiente da Rés pública, que culmina com a

tendência de depressão e empobrecimento cada vez mais da população do distrito de Mueda,

falta de serviços mínimos e também falta de oportunidades aos cidadãos de Mueda), que até

então são leais a FRELIMO e que continuamente votam a favor do mesmo partido com números

acima de 90% dos votos expressos nos quatro pleitos eleitorais como ilustramos acima.

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Importa realçar que nesta perspectiva deu-se mais ênfase aos efeitos das políticas ou políticas

públicas conduzidas pela FRELIMO no poder ao longo dos 39 anos de governação, onde a

medida que o tempo se vai, as expectativas duma vida melhor criadas na ocasião da adesão na

FRELIMO na luta de libertação até após a independência, estão cada vez mais se desfazendo

(Brito, 1995: 487)6.

Ademais, esta forma de manifestação dos eleitores de Mueda pode também ter ligações pela

combinação dos factores conjunturais e factores históricos, estes últimos, mais estruturantes que

são parte integrante do processo de construção e consolidação do comportamento eleitoral

Mueda. Aqui dá-se mais enfase aos factores conjunturais que têm demostrado que alguns

eleitores optam continuamente em votar na FRELIMO, como uma medida destinada a manter as

dinâmicas da cultura política vigente no País e particularmente em Mueda e evitar de todas as

formas uma possível decadência do partido FRELIMO, que em parte ou no seu todo o eleitorado

de Mueda contínua leal.

Porém, um outro elemento que explica o comportamento eleitoral em Moçambique é a

distribuição regional do voto (clivagens campo vs. cidade) que reflectem na estruturação das

atitudes políticas eleitorais das zonas rurais e urbanas. Neste contexto percebe-se que a expressão

do voto e do comportamento político eleitoral em Moçambique é meramente regional em favor

de cada partido (FRELIMO e Renamo, Outros). Assim, associando esta situação a questões da

marginalização ou inclusão de alguns grupos regionais do País na máquina governamental, pode-

se constatar que há um número considerável dos principais dirigentes históricos e quadros da

FRELIMO que são oriundos das provinciais do Sul do país, e alguns relativamente oriundos da

província de Cabo Delgado, o que favorece o processo de identificação das respectivas

populações com este partido (Brito, 1995: 489).

Por outro lado, foi precisamente nas províncias Nortenhas do País (Niassa e Cabo Delgado), nas

chamadas (zonas libertadas), onde se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação cuja

presença político-militar da FRELIMO, mais se fez sentir (idem).

6 O itálico é do autor.

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9

Ademais, constata-se que os melhores eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente em alguns

distritos de Maputo, na maior parte dos distritos de Gaza, e na Zona do planalto de Mueda (outro

berço histórico da FRELIMO, donde saíram muitos combatentes e quadros históricos) (Brito, op.

cit). Neste último, o partido FRELIMO conseguiu as seguintes percentagens nas votações: 1994:

92%, 1999: 86%, 2004: 94% e 2009: 96%. Contudo, estes elementos nos chamam atenção a

ideia segunda a qual apesar dos enormes problemas que forma arrolados acima, o eleitorado do

distrito de Mueda é leal e persiste em votar na FRELIMO.

1.4. Questões de Partida

Portanto, as questões pertinentes a levantar tendo em consideração a problemática apresentada

são:

1. Quais são as razões que explicam a persistência e a lealdade dos eleitores do distrito de

Mueda, ao que se refere ao voto a favor do partido FRELIMO?

2. E porque permanece a tendência do voto a favor deste partido, no eleitorado de Mueda,

apesar dos problemas da governação e ineficiência dos serviços básicos?

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1.5. Hipóteses:

As hipóteses que tomamos como ponto de partida para a realização do estudo, são:

1.5.1. Hipótese Básica:

A Persistência e a Lealdade do eleitorado de Mueda em relação a FRELIMO é o

resultado directo do processo histórico e da ligação histórica existente entre a FRELIMO

e o distrito de Mueda desde a luta de libertação de Moçambique, até os primeiros anos da

independência.

1.5.2. Hipótese secundária 1:

A persistência do eleitorado de Mueda em votar na FRELIMO é condicionada pelas

vivências históricas e os valores colectivos que estão enraizados dentro da colectividade,

por via disso nasceu a identificação partidária com a FRELIMO.

1.5.3. Hipótese secundária 2:

O Eleitorado do distrito de Mueda persiste em votar na FRELIMO pelo facto de não

encontrar alternativas nas acções mobilizadoras dos partidos além da FRELIMO e falta

de confiança nos mesmos partidos.

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1.6. Justificativas

Foram vários os determinantes para a escolha do tema, dentre eles destacamos: o simples

interesse de enriquecer os estudos existentes sobre à temática do comportamento eleitoral na

literatura Moçambicana, mas partindo do pressuposto das perspectivas da Ciência Política. Não

se decepando de algum modo as outras perspectivas que possam interpretar o fenómeno com

vista a enxergar o mesmo com as outras balizas e áreas do saber, como por exemplo: sociologia,

história, etc.

Pensamos que é importante e necessário realizar um estudo neste distrito que vai auxiliar a

perceber algumas dinâmicas sobre a matéria inerente ao comportamento político eleitoral em

Moçambique.

Este tema é relevante na sociedade no geral na medida em que ao procurarmos entender as

razões que determinam o comportamento do eleitorado no distrito de Mueda, percebemos que

esta situação também pode ser vista em outras pontos do País, como por exemplo o eleitorado de

Gaza, de Muidumbe, Inhambane, e alguns dos distritos de Maputo7. Mas ainda o tema é portante

na sociedade no geral e em particular os interessados, pois poderão se informar das formas de

manifestação do comportamento do eleitorado daquele ponto do País e as suas nuances relativas

as escolhas eleitorais8.

Em relação a relevância deste tema no campo de análise (das ciências sociais) e em particular a

ciência política, importa referir que o debate sobre o comportamento eleitoral, as escolhas que os

eleitores fazem, a forma como os eleitores decidem, a capacidade do eleitor avaliar e chegar a

conclusão que é este ou aquele partido que tem de escolher é explicado em grande parte pelas

diversas manifestações do comportamento eleitoral e de salientar que já existem estudos e teorias

explicativas do comportamento eleitoral.

7 Não se pretende fazer um estudo comparado, e muito menos um estudo de caso nestes locais, é uma tentativa de

demonstrar com base nos dados estatísticos e resultados oficiais das eleições dos quatro pleitos que são objecto de

análise, que em outros pontos do País, também nota-se o mesmo cenário. Seria interessante um estudo nestes locais,

para perceber, e posteriormente fazer-se um estudo comparado das razões da persistência do voto a Favor da

FRELIMO, nestes locais. 8 Escolhas eleitorais nos referimos essencialmente as escolhas que o eleitorado faz para eleger os seus

representantes, ao nível local ou ao nível nacional. Ainda percebe se como sendo as escolhas que os eleitores fazem

para a eleição do Presidente da República, que é órgão máximo no tocante a soberania nacional.

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12

Entendemos ainda que este tema é de cariz importante na ciência política porque vai dar uma

dosagem sobre o debate que foi levado a cabo na ciência política dos anos 50 até actualmente ao

que se refere as escolhas eleitorais, as motivações e os determinantes dessas escolhas eleitorais.

Contudo, foram os contactos que adquiri no processo de ensino e aprendizagem, a forma de ver o

mundo, as diversas interpretações sobre o comportamento eleitoral na componente de escolhas

eleitorais, que impulsionaram no desenvolvimento deste estudo sobre as percepções e

interpretações das escolhas eleitorais em Mueda, nas eleições de 1994 à 2009.

A escolha dos pleitos dos períodos de 1994, 1999, 2004 e 2009, foi pelo facto de procuramos

harmonizar por um lado as percepções sobre comportamento eleitoral no distrito de Mueda

analisados conjuntamente com os processos eleitorais que até então já foram realizados no País e

por outro lado, pelo facto de percebermos que há tendências de similaridades nos resultados dos

pleitos acima indicados.

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13

CAPÍTULO II

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Neste capítulo, vão ser explorados vários aspectos que darão o suporte teórico ao estudo. Tendo

em vista que o foco da pesquisa é a compreensão do comportamento eleitoral, as razões e

motivações que estão por detrás da persistência e da lealdade do eleitorado de Mueda a favor da

FRELIMO sobretudo nas eleições gerais e multipartidárias no País de 1994, até as eleições

gerais de 2009. Assim os aspectos abordados são: as teorias básicas sobre o comportamento

eleitoral (Sociológica, psicossociológica/psicológica, racional, identificação partidária), a teoria

da lealdade/lealdade partidária.

2.1. Revisão da literatura

Um dos pontos mais controversos nos estudos sobre o comportamento eleitoral é a tentativa de

explicar as razões e as causas por detrás da contínua ou mudança que leva os sujeitos à alterarem

ou a permanecerem a sua opção de uma eleição à outra (Antunes, 2008). Mediante esta

colocação, importa descrever sobre os estudos que se tomam como referências teóricas na análise

sobre o comportamento eleitoral.

Portanto, Freire (2001), Antunes (2008), demonstram claramente que os estudos sobre o

comportamento eleitoral são dominados por quatro grandes abordagens: a abordagem

sociológica, com defensores como (Berelson, Lazarsfeld & Mcphee, 1954; Lipset e Rokkan,

1967; Lazarsfeld, Berelson, & Gaudet, 1994;).

Encontramos ainda à abordagem psicossociológica com defensores como (Campbell, Converse,

Miller, & Stokes, 1960; Miller & Shanks, 1996) apud (Antunes, 2008).

Vejamos que para Antunes (op. cit) estes estudos em última instância fornecem uma explicação

rígida para a estabilidade das opções do eleitorado mas que demonstram em muitos casos

algumas limitações no esclarecimento das razões que levam alguns eleitores a votar de forma

diferente em eleições consecutivas.

Mais na dianteira está à abordagem de escolha racional apadrinhada por (Arrows, 1986; Downs,

1957 e Buchanan & Tullock, 2001).

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14

Embora esta abordagem como evidência Radmann (2001); Antunes (2008) forneça indícios

interessantes para melhor compreensão da volatilidade no comportamento eleitoral9, demonstra-

se insuficiente ao que se refere a explicação do facto duma considerável maioria de eleitores

votarem com uma notável persistência.

Finalmente, à abordagem da identificação partidária ou seja abordagem psicossocial, evidenciada

por Antunes (2008). Este apresenta-se a luz dos estudos actuais sobre a identidade social10

e teve

como defensores de raiz (Merton & Kitt, 1950; Hyman & Singer, 1968; Campbell, Manro &

Alford, 1986), (Idem).

Todavia, os estudos sobre o comportamento eleitoral em grande parte são guiados pelas

perspectivas teóricas que explicam este ou aquele fenómeno tendo em conta as suas ferramentas

de análise. Assim, iniciar um debate sobre as teorias dominantes que velam sobre o

comportamento eleitoral, convida-nos a trazer também os principais argumentos sustentados por

cada abordagem.

2.1.1. Comportamento eleitoral na abordagem Sociológica e psicossociológica

Uma parte significativa da literatura procura explicar as decisões eleitorais, ou seja, o

comportamento eleitoral focalizando-se na influência do contexto social e psicológico. No

mundo moderno assistimos a mudanças cada vez mais rápidas do paradigma civilizacional e do

contexto social, levando a que as teorias baseadas nesta dimensão tenham evoluído de forma a

adaptarem-se às novas realidades (Antunes, 2008). Esta parte é um roteiro histórico dos

principais desenvolvimentos nas abordagens sociais do comportamento eleitoral. Numa primeira

secção, expõe-se a abordagem sociológico do comportamento eleitoral e seguidamente vamos

expor a abordagem Psicossociológica do comportamento eleitoral.

9 Para um debate mais aprofundado sobre a temática da volatilidade eleitoral, veja: Emerson Urizzi Cervi, 2002.

10 O debate levado a cabo sobre a temática dos modelos explicativos do voto, e ao que se refere a abordagem

psicossocial ou de identidade partidária, com mais detalhes veja: a tese de Doutoramento de Antunes, Rui Jorge;

Identificação partidária e comportamento eleitoral: factores estruturais, atitudes e mudanças no sentido do voto;

Coimbra, 2008.

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15

Assim, destacamos que as abordagens sociológicas e psicossociológicas mostram-se mais

relevantes e adequadas na análise do comportamento eleitoral dentro do contexto político e

social específico e com suas especificidades11

. Como forma de argumentar esta posição, daremos

mais ênfase à cultura política que acreditamos auxiliar a compreensão do comportamento dos

eleitores do distrito de Mueda, que constitui o nosso pano do fundo.

A abordagem sociológica do comportamento eleitoral teve alguns expoentes destacáveis, dentre

eles: Siegfried (1913), Lipset (1959); Lazarsfeld e outros (1965), Lipset e Rokkan (1967),

Bourdieu (1979)12

, para além de muitos outros.

O ponto de partida desta abordagem, segundo Lipset (1959) apud Freire (2001) é que uma das

preocupações da sociologia política consiste na análise das condições sociais que configuram e

reconfiguram à cultura política dentro dum contexto. Para tal, Lipset (op. cit) enfatiza que é

preciso entender as condições sociais que podem concorrer para explicar quer as divisões bem

como os consensos políticos, os traços característicos da própria cultura política.

De acordo com Figueiredo (1991) apud Freire (2001, p: 26):

``… tais condições constituem o contexto no qual as próprias instituições, as práticas, as ideologias e os

objectivos políticos se formam e actuam. Nesse sentido, para compreender o voto de um jovem ou de um

idoso, é necessário conhecer o seu contexto social e político: onde esses eleitores vivem e como vivem

nesse contexto…´´.

Segundo Castro (1992), os argumentos da abordagem sociológica mostram que o estudo do

comportamento eleitoral teve início na sociologia e foi responsável por grande parte da produção

nesta área. Neste contexto, a perspectiva original desta bordagem é macro pois parte da ideia de

que os factores históricos-estruturais e culturais globais conformam as características sociais,

económicas e políticas de uma sociedade, fazendo drenar determinadas clivagens sociais que se

expressam através de partidos específicos, com os quais sectores do eleitorado se identificam

(Idem).

11

Segundo Figueiredo (1991) apud Radmann (2001) o contexto político refere-se à conformação institucional do

sistema político e as interacções políticas institucionalizadas. Os contextos sociais referem-se às estruturas sociais e

às formas básicas de organização da vida social nas quais os indivíduos fazem parte. 12

Os estudos de Bourdieu, também podem ser enquadrados na teoria sociológica sobre o comportamento político

dos eleitores, pelo facto de dar ênfase aos determinantes sociais da acção política.

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16

Mais ainda, a participação política dos indivíduos pode ser explicada pelo ambiente

socioeconómico e cultural em que vivem e pela inserção em determinados grupos sociais ou

categorias demográficas, no campo político (Castro, 1992), ou seja, os grupos sociais se

expressam através dos partidos políticos com os quais se identificam e a participação política se

processa a partir das interacções sociais dentro de um determinado contexto (Meires, 1994, apud

Radmann, 2001).

Para Figueiredo (1991, p. 21) a partir das expectativas, opiniões e atitudes individuais dos

eleitores, este modelo busca compreender o seu comportamento político, visto como uma função

do ambiente social no qual ocorre a socialização política ao longo do tempo e do conjunto de

atitudes que se consolidam nesse processo.

Os estudos de Lipset (1967), Radmann (2001), Antunes (2008), demonstram que em função das

influências que recebe nas interacções dentro dos diversos grupos de que participa, o eleitor é

levado a votar, ou não, em uma ou outra direcção, enfim, é levado a escolher um determinado

curso de acção (Figueiredo, 1991, p. 21).

Algumas conclusões de Castro (op. cit, p: 13) nos ajudam a perceber estas dinâmicas: as

conclusões mais gerais a que chegou enfatizam a ideia segunda a qual, a influência do grupo ao

qual pertence o eleitor é importante para explicarem a sua escolha partidária. Mas também, os

eleitores que trabalham ou vivem juntos votam mais provavelmente nos mesmos candidatos

(Idem). E indivíduos em situação social semelhante têm mais probabilidade de interagir; se

vivem juntas, e em condições externas iguais, as pessoas muito provavelmente podem

desenvolvam necessidades e interesses também semelhantes, e tendem a ver o mundo da mesma

maneira e ter interpretações parecidas a experiências comuns (Meires, 1994 apud Castro, 1992,

p: 17).

Os estudos feitos por Lazarsfeld et al. (1965) apud Castro (1992, p: 21) mostram que na decisão

dos eleitores em votar num determinado partido ou candidato, parece mais importante a

influência do “líder de opinião”13

que se comunica com cada eleitor dentro de seu grupo, do que

13

Para Walf (1992), os líderes de opinião, representam o sector da população mais activo na participação política e

mais decidido no processo de formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de

motivação e intelectuais dos indivíduos examinados. Neste contexto, compreendemos por líderes de opinião: os

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17

os instrumentos formais de comunicação política14

(campanha política) através dos meios de

comunicação de massas15

,ou seja, as condições sociais, o meio em que o indivíduo/eleitor está

inserido são importantes na estruturação das atitudes sociopolíticas e consequentemente do

comportamento político-eleitoral (Lipset, 1959; apud Freire, 2001).

2.1.2. Abordagem psicossociológica ou modelo Michigan sobre o comportamento

eleitoral

Um dos aspectos importante a fundamentar é que em alguma literatura pode ter a designação de

Modelo de Michigan, pois foi uma teoria desenvolvida por professores da Universidade de

Michigan entre eles: (Angus Campbell; Philip Converse; Warren Miller e Donald Stoker). Isso

levou com que muita das vezes a abordagem psicossociológica do comportamento eleitoral

tivesse está designação (Freire, 2001: 41).

Radmann (2001) afirma que a corrente psicossociológica sobre o comportamento eleitoral, pode

ser considerada um ramo de orientação mais micro da corrente sociológica do comportamento

eleitoral. Sem negar a relevância da contribuição da sociologia, que considera-a insuficiente.

Por exemplo, Antunes (2008, p: 21) adianta que a influência dos factores sociais seria mais

remota, não daria conta das flutuações de curto prazo das decisões de voto.

Essa corrente propõe uma abordagem baseada nas atitudes, em que se procuram as motivações e

percepções que levariam os indivíduos imediatamente à escolha partidária e consequentemente

ao comportamento político.

Campbell et al. (1965) apud Castro (1992, p: 16) mostra que as variáveis de atitude são

consideradas intervenientes entre os factores sociais que caracterizam os indivíduos (como raça,

escolaridade ou status socioeconómico) e ou até o comportamento eleitoral propriamente dito.

chefes do bairro/quarteirões, das aldeias, das localidades, dos postos, os líderes tradicionais, curandeiros, chefes de

clã, etc. 14

Veja com mais detalhes: MESQUITA, Mário (2004). O quarto equívoco: o poder dos média na sociedade

contemporânea. 2ª Ed. Coimbra: Minerva Coimbra, p: 89. 15

Um debate mais aprofundado sobre o assunto veja: LAZARSFELD, P. PERELSON, E. & GAIDET, H. (1965),

The people's choice. Nova Iorque e Londres, Columbia University Press.

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18

Assim, atitudes forneceriam uma explicação mais completa porque estariam mais próximas do

comportamento, em uma masmorra causal e temporal (Idem).

A abordagem psicossociológica sobre o comportamento eleitoral defende que a participação

política e comportamento eleitoral estão directamente ligados às percepções e motivações dos

indivíduos em relação à política e aos partidos (Radmann, 2001, p: 15).

Tendo como base as explicações da abordagem psicossociológica e a sociológica sobre o

comportamento eleitoral, é importante demonstrar que:

``… Tudo leva a crer que, para explicar o comportamento eleitoral, ao que se refere a direcção do voto,

não há como excluir variáveis de tipo social, cultural e psicológico; não há como ignorar factores

macroestruturas, que definem os diferentes contextos sociais nos quais os eleitores vivem…´´ (Castro,

1992, p: 17).16

Freire (2001) fundamenta que o modelo psicossociológico do comportamento eleitoral procurou

superar as limitações da abordagem sociológica, combinando-a com uma abordagem de carácter

mais ou menos psicológica. Nesta perspectiva o indivíduo é a unidade de análise e considera-se

mais as atitudes políticas dos eleitores que são consequência directa da cultura política bem

como a sua proximidade ao fenómeno que se pretende explicar 17

(Campbell e outros, 1960, p:

13 e 33-36; Figueiredo, 1991, p: 20 apud Freire, 2001, p: 42).

De acordo com a teoria da socialização política aliada à teoria da psicossociologia, as diversas

formas de manifestação das atitudes dos indivíduos18

e a sua relação com os fenómenos

políticos, formam-se muito antes dos indivíduos terem idade para votar e são um reflexo do

ambiente social imediato (família, grupos de vizinhança, grupos de amigos) e em especial

atenção o contexto familiar (Figueiredo, 1991, apud Freire, 2001, p: 41).

16

São conclusões que autora chegou, depois de apresentar os pressupostos da abordagem sociológica e

psicossociológica do comportamento eleitoral, no artigo (Sujeito e estrutura no comportamento eleitoral, 1992: 17). 17

O fenómeno que se pretende explicar é necessariamente o comportamento político dos eleitores ou seja o

comportamento politico-eleitoral dos eleitores. Foi as formas razoáveis que encontramos para evitar repetidamente

escrever: comportamento eleitoral. 18

Estas atitudes como fundamenta Freire (2001, p: 24) dizem respeito a forma como os indivíduos percebem os

fenómenos políticos e a conjuntura económica, social, política, cultural.

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19

Assim, as atitudes adquiridas através da socialização passam necessariamente a integrar a

estrutura da personalidade dos indivíduos e tornam-se a base para a formação das opiniões,

avaliação e inclinações para a acção frente ao ambiente político mais amplo (Idem).

2.1.3. Comportamento eleitoral na abordagem de escolha racional

Em princípio, é fundamental dizer que, a obra “An Economic Theory of Democracy”, da autoria

de Downs (1999) é uma das obras que explorou e aplicou a teoria da escolha racional na Ciência

Política. Tal teoria propõe a explicação do comportamento social e político partindo do

pressuposto segundo o qual as pessoas são racionais e agem intencionalmente, calculando os

custos e os benefícios de cada acção antes de decidirem, maximizando seus ganhos (Idem).

No mesmo argumento, Oliveira (2012, p: 21) demonstra que a teoria da escolha racional sobre o

comportamento eleitoral foi desenvolvida com base nos estudos da economia política de Arrow

(1963)19

na qual enfatiza que argumentos económicos são relacionados com uma escolha ou

resultado. Presumiu-se de acordo com Arrow (op. cit) apud Oliveira (2012, p: 24) que se as

hipóteses da escolha racional são capazes de explicar o funcionamento do mercado, podem

igualmente explicar o funcionamento político. Logo por um lado, enquanto os consumidores

estão para as empresas, os votantes estão para os partidos políticos. Por outro lado, os

consumidores procuram maximizar a utilidade, as empresas o lucro, e os eleitores estão em busca

da maximização da utilidade de seu voto e os partidos buscam alavancar os ganhos eleitorais

(Idem).

Percebe-se segundo esta abordagem que os políticos agem motivados pela busca de prestígio,

poder e renda, desenvolvendo para este fim, acções que visam à maximização de seu apoio,

promovendo políticas orientadas para esta finalidade. Esta hipótese é demonstrada por Downs

(1999, p: 71) quando argumenta que os governos conquistam votos ao aumentar os gastos

públicos, porém, perdem quando elevam os impostos.

19

Mais detalhes, veja em: ARROWS, Kenneth. Social choice and individual values. New Haven: Yale University

Press, 1963.

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20

Segundo Figueiredo (2008) apud Oliveira (2012) o Homus politicus da teoria downsiana é

racional, e procura sempre minimizar os efeitos da condição de incerteza da vida política movido

por razões egoístas. Assim, a maior parte dos eleitores é composta por esta concepção do Homus

politicus. Mas são irrelevante como sustenta Downs, as características psicológicas que os

eleitores possuem, embora o autor não o considere uma “máquina calculista” como na concepção

dos Homus económicos presente nas teorias utilitaristas.

Um indivíduo racional para Downs (1999, p: 28) se comporta da seguinte forma:

1. Ele sempre pode tomar uma decisão quando confrontado com uma série de alternativas;

2. Ele classifica todas as alternativas na ordem de sua preferência;

3. Seu ranking de preferência é transitivo;

4. Ele sempre escolhe entre todas as alternativas possíveis, aquela que fica em primeiro

lugar no ranking ordenado de preferência;

5. Ele sempre toma a mesma decisão quando é confrontado com as mesmas alternativas.

Para Downs (1999, p: 67) todos os que tomam decisões racionalmente no modelo proposto,

incluindo (partidos políticos, grupos de interesse e governos) possuem as mesmas qualidades.

Um homem racional, portanto, sempre opta pela alternativa que lhe proporciona maior utilidade

(Idem). Assim, um eleitor ao agir racionalmente leva em consideração os benefícios esperados,

resultantes da actividade governamental para escolher o candidato ou partido que lhe trará a

maior utilidade ou opta por abster-se de votar.

Para decidir se vai participar ou não da eleição, o eleitor realiza um cálculo que inclui a tarefa de

escolher um candidato, os custos referentes ao deslocamento e as possíveis vantagens que podem

ser obtidas caso decida votar. Se tais benefícios esperados superarem os custos, o eleitor

participa da eleição (Downs, op. cit).

Neste contexto Downs (op. cit) sugere que os partidos se posicionem ideologicamente de modo a

contemplar maior quantidade possível de grupos sociais, o que Figueiredo (2008) chama de pré-

requisitos20

para o sucesso eleitoral.

20

Mais detalhes sobre o debate a respeito dos pré-requisitos dos partidos políticos numa competição política

eleitoral, tendo em conta a abordagem de escolha racional, veja: Figueiredo (2008).

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21

Contudo, as abordagens inspiradas pela teoria da escolha racional consideram a decisão do voto

como produto duma acção racional individual orientada por cálculos de interesse, que levam o

eleitor a se comportar em relação ao voto como um consumidor no mercado (Caplan, 2007:

137)21

. Neste contexto, a esfera da política é visualizada como um mercado político, onde os

políticos tentam vender seus produtos e os cidadãos assumem o papel de consumidores, que vão

escolher aqueles produtos que melhor diminuem seus custos e maximizem ou optimizem seus

ganhos22

.

2.1.4. Comportamento eleitoral na abordagem de Identidade política / Identificação

partidária

O debate sobre o processo de construção de identidades partidárias tem sido complexo para

tentar explicar a natureza das manifestações do comportamento eleitoral. Nesta perspectiva,

compreender as identidades políticas como fundamento para identificação partidária, nos chama

mais atenção ao processo de estruturação dessas identidades políticas e consequentemente a

identificação há um partido.

Assim, a identificação partidária como sugere Silveira (1998, p: 26) é a relação estabelecida em

função da lealdade, confiança e vínculos tradicionais com o partido ou com o candidato. Aqui o

voto pode ser produto de tradição familiar, pertencimento ao reduto eleitoral, bem como relações

de lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido (Idem).

Segundo Silveira (op. cit) as manifestações do comportamento eleitoral, proveniente do

personalismo tradicional podem ser compreendidos como sendo uma identificação com a qual o

eleitor cria com o partido ou candidato em função de qualidades especiais que são consideradas

como um dom destas lideranças (idem). Essa identificação pode ser da decorrência do

magnetismo carismático do líder ou de relações sociais tradicionais que se estabelecem entre o

contexto social, o eleitor e o candidato (op. cit., p. 64).

21

Um debate aprofundado, veja: CAPLAN, Bryan (2007), The Myth of the Rational Voter: Why democracies

choose bad policies, EUA, University Press, Ney Jersey. 22

Referência neste tipo de abordagem encontra-se na obra de Anthony Downs, Uma Teoria Económica da

Democracia; Tradução de Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos. São Paulo: EDUSP, 1999.

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22

Segundo Silveira (op. cit) a identificação partidária pode estar associada ao comportamento

eleitoral personalizado pela confiança e lealdade que os eleitores têm com líder. Como lembra a

autora, esta corresponde à antiga concepção duma identificação com o candidato construída em

função de admiração, magnetismo, devoção, fidelidade, lealdade pessoal, subordinação ao chefe

político local ou regional, tradição familiar ou pertencimento ao reduto eleitoral (Idem).

Muitos autores, dentre eles Freire (2001), Silveira (1998), Campbell et al (1960) fundamentam

que as atitudes políticas compreendidas na perspectiva da abordagem da identificação partidária,

podem ser vistas para:

”…Caracterizar a orientação efectiva dos indivíduos em relação a determinados grupos do seu

ambiente. Quer as teorias sobre os grupos de referência, quer os estudos sobre o comportamento em

pequenos grupos se têm referido à atracção ou repulsão em relação aos grupos como uma identificação.

O partido político surge como o grupo em relação ao qual o indivíduo pode desenvolver uma

determinada identificação, positiva ou negativa, com certo grau de intensidade…” Campbell et al

(1960) apud Freire (2001, p: 21)23

.

Outro elemento importante nas características da identidade política é a identificação grupal

tradicional. Para Silveira (1998) está refere-se ao voto definido em função da identificação com

grupos de referência (grupo étnico, comunidade religiosa, categoria profissional, género, região).

Ora, essa identificação é construída a partir de relações de lealdade, de sentimentos de

pertencimento ao grupo e de tradição24

.

23

Uma explicação mais detalhada demonstra claramente que a identificação partidária, se intensifica e isso significa

necessariamente que há uma identificação dos indivíduos com um partido. Veja com mais aprofundamento:

Campbell et al (1960), apud Freire (2001). 24

Com mais detalhes, veja: SILVEIRA, Flávio Eduardo. Factores que influenciam o voto conforme os tipos de

eleitores. In: A decisão do voto no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 122-139.

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23

2.1.5. Estudos sobre comportamento eleitoral em Moçambique

Segundo Elsón (s/d) os estudos sobre o comportamento eleitoral não podem ser vistos de forma

isolada, pois devem ser considerados em seus contextos específicos de análise e em suas

singularidades. Mais ainda, há uma série de condição estruturais e conjunturais diversas que

influenciam o acto de votar. Por isso, os resultados duma eleição reflectem necessariamente um

determinado momento e situação singular do espaço político onde ocorre a eleição25

.

Assim, é importante discutir também as explicativas do comportamento eleitoral a luz do

contexto da literatura nacional.

Porém, partindo das discussões levadas a cabo a título de exemplo por Brito26

, Pereira27

e outros

estudiosos no contexto Moçambicano, na matéria inerente ao comportamento eleitoral em

Moçambique, nos convidam claramente à aceitar que o eleitorado Moçambicano esta

fragmentado e que cada ângulo compõe características próprias. Assim, por um lado

encontramos o eleitor das zonas urbanas e por outro lado encontramos o eleitor das zonas rurais e

que cada um desses possui suas características e posições diferenciadas sobre o campo político28

.

Para Baloi (2001) o comportamento eleitoral em Moçambique reflecte uma combinação de

factores conjunturais e factores históricos, estes últimos mais estruturantes. Apelando ainda para

o peso de factores conjunturais onde argumenta-se que alguns eleitores optaram pela FRELIMO

como uma medida destinada a manter o partido dentro do circuito do sistema democrático e

assim evitar qualquer desmoronamento deste partido (Idem).

Lundin (1995) avança que os limites contextuais são extremamente determinantes, pois em

última instância referenciam à importância destes elementos na decisão do eleitorado.

Os elementos contextuais e as clivagens sociais aqui consideradas são: posição socioeconómica,

trajectória social, prestígio da profissão, formação educacional, religião e cultura urbana ou rural.

25

O artigo que Elsón escreveu está intrinsecamente relacionado com as manifestações do comportamento eleitoral,

cujo título é: Comportamento político eleitoral; s/d. 26

Consultado em: BRITO, Luís. O comportamento eleitoral nas primeiras eleições multipartidárias em

Moçambique. In MAZULA, Brazão. Moçambique: Eleições, Democracia e Desenvolvimento. Maputo, Elo Gráfica,

Lda., 1995. 27

PEREIRA, João. Comportamento Eleitoral em Marromeu. Maputo, EM-Faculdade de Letras e Ciências Sociais,

Dissertação. 1996. 28

Com vista a ter uma percepção ampla sobre as dinâmicas do comportamento eleitoral em Moçambique e a sua

fragmentação, veja em: Luís de Brito, 1995; Pereira, 1996; Brito, L.; Pereira, J.; Rosário, D.; e outros, 2005; Pereira,

2007; que apresentam estudos sobre as dinâmicas do comportamento eleitoral em Moçambique.

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24

Silveira (1998) apud Baloi (2001) explica que a tentativa de absorver as diversas possibilidades

de comportamento eleitoral em Moçambique, acaba levando-nos a enquadrar variadas correntes

explicativas do voto a partir do grau de importância de factores estruturais-colectivos ou

cognitivos-individuais na determinação da decisão eleitoral.

Como tem explicado Brito, em muito dos seus escritos, que uma teoria do comportamento

eleitoral pode ser capaz de prever a tendência do voto de grupo de eleitores, sem necessariamente

explicar os motivos das escolhas. Ou inversamente pode explicar o conjunto dos

comportamentos, mas ser incapaz de prever como certos eleitores agirão (Brito, s/d)29

.

Os argumentos apresentados por Brito (1995) assim como Pereira (1996) nos chamam atenção a

ideia de que o comportamento eleitoral em Moçambique pode ter fundamento básico na questão

da distribuição regional do voto, ou seja, pode ser associado aos aspectos pertencentes às

clivagens campo e cidade, que tem reflectido necessariamente na formação do voto das zonas

rural e das zonas urbano (Idem).

Assim, Brito (1995, p: 488) constatou que o debate em relação a distribuição regional do voto

pode ser demostrado pelo facto da FRELIMO em 1994, ter ganhado com uma votação superior a

75%, nos quatro círculos eleitorais do Sul do Pais (Maputo-Cidade; Maputo-Província; Gaza e

Inhambane); e dois círculos no Norte (Niassa e Cabo Delgado), enquanto a Renamo teve

domínio quase total nas províncias do Centro e Norte (Sofala, Manica, Tete, Zambézia e

Nampula), também com uma votação acima de 75%.

Neste contexto, como forma de ilustrar a persistência do voto nos dois círculos da região

nortenha do País (Cabo Delgado e Niassa), mas especificamente no distrito de Mueda, em Cabo

Delgado o partido FRELIMO teve uma votação nas seguintes percentagens: 1994: 92%; 1999:

86%; 2004: 94% e 2009: 96%.

Considerando os argumentos de Brito (op. cit) e a demostração das percentagens que a

FRELIMO conseguiu nas votações acima apresentadas, observa-se que á expressão do voto é

distribuída numa escala regional e em favor de cada partido (FRELIMO e RENAMO).

29

Estas colocações têm sido fundamentadas pelo autor Luís de Brito, nas suas discussões sobre modelos

explicativos do voto, com uma frase célebre: ´´A nossa capacidade de prever como os eleitores vão votar é muito

menor que a nossa capacidade de explicar porque é que votaram de uma determinada maneira’’.

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25

Tal como é o caso da diferenciação na distribuição do voto nas zonas rurais e urbanas, também é

visível a demarcação regional do voto e das manifestações do comportamento eleitoral no País

que procuram se enquadrar na história recente do País. Neste contexto, está é uma forma de

demonstrar que a distribuição do voto e as formas de manifestação do comportamento eleitoral

pode ter ligações fortes com a recente história de Moçambique (guerra de libertação, guerra civil,

marginalização de alguns grupos da elite do Centro do País, desconfiança política da FRELIMO

em relação às populações das zonas do Centro do País, etc.)30

.

Segundo Brito (1995) a maioria dos principais dirigentes históricos e numerosos quadros da

FRELIMO são oriundos das provinciais do Sul e relativamente do Norte do País, oque favorece

o processo de identificação das respectivas populações com este partido. Por outro lado, foi

precisamente nas províncias Nortenhas do País (Niassa e Cabo Delgado) nas chamadas (zonas

libertadas) que se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação e onde a presença

político-militar da FRELIMO mais se fez sentir (Idem).

Como resultado disso, o comportamento eleitoral em Moçambique associado a maior afluência

do voto favorável a FRELIMO, assentou-se nestas regiões, ou seja, os melhores resultados

eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente nos distritos onde a FRELIMO tem grande

influência, como é o caso do distrito de Mueda/nas zonas do planalto de Mueda que é um berço

histórico da FRELIMO, donde advém muitos quadros militares, onde o partido FRELIMO

obteve nas eleições de 1994 à 2009 a seguinte votação: 1994 (92%), 1999 (86%), 2004 (94%) e

2009 (96%).

30

Mais detalhes veja: Brito (1995).

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26

2.2. QUADRO TEÓRICO

2.2.1. Teoria da Lealdade partidária

No presente estudo, tomou-se em consideração a teoria da lealdade partidária como a perspectiva

teórica para análise que levamos a cabo em todo trabalho, em virtude do nosso foco de análise

ser a lealdade e persistência que são parte integrante da teoria da lealdade partidária. Por outro

lado, pelo facto destes elementos (lealdade, persistência) constituírem as variáveis dependentes

do nosso estudo e que melhor explicam os fenómenos do comportamento eleitoral em estudo.

Mais ainda, a escolha desta teoria ligando aos estudos sobre o comportamento eleitoral no

contexto Moçambicano, permite-nos associar os elementos da teoria da lealdade com as

dinâmicas contextuais, conjunturais e estruturais que são importantes para compreender o

comportamento político eleitoral em Moçambique. Também por compreendermos que nesta

teoria encontram-se elementos suficientes como (lealdade, fidelidade, comprometimento,

confiança, habito) que explicam a persistência do voto em algumas regiões do País e

concretamente no distrito de Mueda.

Em relação à teoria, convém dizer que até recentemente esta teoria não atraia atenção na ciência

e grande parte de estudos detalhados sobre a lealdade surgem com escritores criativos e

académicos como (Jacoby & Chestnut31

, Goman32

, Kotler33

), fundamentalmente pelo economista

e político Hirschman (1970)34

que com um interesse particular, procurou desenvolver uma teoria

sobre a lealdade (Ewin, 1992, p: 32)35

.

Para Oliver (1999) apud Patrocínio (2012) a lealdade é a existência de um comprometimento

profundo em comprar um produto ou serviço de forma consistente no futuro.

31

Jacoby J. and Chestnut, R.W., 1978, Brand Loyalty: Measurement and Management, New York: John Wiley. 32

Obra de Goman, Carol K., 1990, The Loyalty Factor, Berkeley: KCS Publishing. 33

Kotler, Philip (2000): Administração de Marketing. São Paulo: Prentice-Hall. 34

Foi com base neste autor, nas colocações desenvolvidas por este autor, que desenvolvemos a teoria da lealdade:

Hirschman, Albert O., 1970, Exit, Voice, and Loyalty: Response to Decline in Firms, Organizations and States,

Cambridge, MA: Harvard University Press. 35

Veja-se com mais detalhes: Ewin, R.E., 1992, Loyalty and Virtues, Philosophical Quarterly, 42 (169), p: 403-19.

New York: Fordham University Press. Mais ainda, veja em: Foust, Mathew A., 2012, Loyalty to Loyalty: Josiah

Royce and the Genuine moral Life, New York: Fordham University Press.

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27

Esta acção configura uma relação de compras repetidas de produtos da mesma marca ou

empresa, apesar de todas as influências situacionais e esforços de marketing da concorrência

apresentarem potencial para incitar um comportamento de mudança no consumidor (Idem).

Assim, o comprometimento do consumidor com a marca, produto, serviço ou empresa é um

importante factor na construção da fidelização e da lealdade dentro dessa relação entre o cliente e

a empresa (Patrocínio, 2012).

Olhando os pressupostos que a teoria da lealdade partidária apresenta, convém dizer que os

elementos da teoria explicam de facto a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor

da FRELIMO no período em que nos propusemos analisar. Pois, no contexto de Mueda a

lealdade partidária pode compreender-se a como um factor determinante para a existência dum

comprometimento profundo dos eleitores com o partido FRELIMO e isso se reflecte na compra

do produto (neste caso a FRELIMO e as suas propostas eleitorais, por meio do voto), duma

forma continua e consistente no futuro, e associamos esta situação com a questão da votação

persistente do eleitorado de Mueda.

2.2.2. Lealdade Partidária dos Eleitores

A lealdade do eleitor é definida como aqueles eleitores que são favoráveis as atitudes que dizem

respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido (Anderson e

Srinivasan, 2003, apud Riet, 2010, p: 28). Nesta perspectiva, os pressupostos da teoria da

lealdade partidária segundo Riet (2010), podem ser explicadas pela baixa frequência de eleições,

a baixa qualidade de controlo sobre o cumprimento de campanha e promessas eleitorais, e a

ausência de preço que são diferenças importantes que possam sugerir que a marca/partido

equitativamente desempenhem um papel mais proeminente na política.

Segundo (Riet, loc. cit) os eleitores habituais têm um baixo nível de envolvimento na política e

no comportamento eleitoral repetitivo, logo estes eleitores não parecem leais e genuínos assim

como se pressupõe. Ademais, os eleitores podem geralmente ser divididos em dois grupos, os

eleitores habituais e eleitores com alto envolvimento. Entre os eleitores habituais, a lealdade é

aumentada através da criação do conhecimento da marca (neste caso o partido), anúncios e

outras formas de dar atenção e transformar a marca em novidades (coisas novas).

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28

Enquanto os eleitores com alto envolvimento são menos afectados pela percepção da marca e

respondem mais à imagem da marca forte.

As partes podem criar uma imagem da marca forte por ser distinta e única, mas também

adequadas e consistentes em suas acções e ideologias de modo a atrair o mesmo grupo de

eleitores por um longo tempo, o que irá criar o hábito neles e consequente a lealdade (Idem).

Na perspectiva deste trabalho, vai se olhar para a lealdade36

dos eleitores, usando os princípios

do marketing, como forma de demostrar como o processo da lealdade partidária no distrito de

Mueda, joga um papel crucial na cabeça dos eleitores e em ultima instância compreender a

persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda em relação a FRELIMO desde as primeiras

eleições de 1994 até as eleições de 2009, com votos expressos de uma forma esmagadora.

Contudo, os elementos como comportamento de compra repetida juntamente com uma atitude

fortemente positiva em relação à uma marca/partido, são elementos que podemos encontrar no

contexto de Mueda, pois a partir dos dados das votações de 1994, 1999, 2004 e 2009, pode-se

categorizar que o eleitorado de Mueda vota persistentemente de uma forma repetida e tem uma

relação positiva com partido FRELIMO.

Outro elemento importante na adequação desta teoria ao nosso objecto de estudo é o processo de

criação da imagem da marca ou partido na consciência dos eleitores, por meio de anúncios e

outras formas de criar atenção. No contexto de Mueda, compreendemos que a imagem do partido

FRELIMO está criada e continuamente se consolidando de algum modo com auxílio dos chefes

locais ou tradicionais que tem procurado implantar as diversas formas de anunciar a marca (o

partido FRELIMO), sobretudo por meio de acções mobilizadoras no eleitorado de Mueda. De

entre outras razões, esta patente a relação histórica existente entre o partido FRELIMO e o

eleitorado de Mueda bem como as diversas formas e acções mobilizadoras que em última

instância ajudam na criação da marca (partido FRELIMO) e consequentemente jogam um papel

fulcral para atrair este grupo de eleitores para continuar leal por um longo tempo, o que fez com

que criassem o hábito entre eles em relação ao partido FRELIMO e não confiança nos outros

partidos ou produtos.

36

Em Inglês, Loyalty, que na tradução pode ser: Lealdade ou Fidelidade. Para o nosso caso, usaremos (Lealdade).

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29

2.3. Conceptualização

Conceitos principais:

Comportamento Eleitoral, Voto, Lealdade Eleitoral, Partidos Políticos.

Em busca duma explicação dos conceitos principais da nossa pesquisa, nos propusemos a

desenvolver duma forma sintetizada.

2.3.1. Comportamento Eleitoral

Segundo Limeira e Maia (2010) comportamento eleitoral é entendido como um processo social

que se desenvolve ao longo do tempo e se desdobra em três etapas, sendo que cada uma dessas

etapas sofre influências da comunicação política transmitida pela imprensa ou propaganda

eleitoral37

ou ainda por meio das interacções sociais.

Ou seja nas palavras de Limeira e Maia (loc. cit) os comportamentos políticos se expressam de

diversas formas: pode ser pelas opiniões declaradas, pelas actividades individuais cotidianas

públicas ou não ou por actividades colectivas, demonstrações e excursões. Eles se expressam

também pelo pertencimento a organizações e em última instância através do voto (Idem).

De uma forma geral o comportamento eleitoral comporta três componentes ou etapas: a primeira

que é o processo de formação de opinião sobre o processo político no seu todo e em particular

quando o eleitor obtém às informações sobre os candidatos; a segunda etapa compreende o

processo de formulação de decisão sobre quem votar e como votar; e a finalmente a terceira

etapa é o acto de votar38

.

2.3.2. Voto

Brito (1995) define o voto como sendo o acto pessoal do cidadão eleitor que assim exprime a sua

vontade, entendida outrora como livre escolha entre o conjunto de candidatos ou partidos.

37

Para uma visão mais aprofundada do assunto, veja: Tânia Limeira e Tânia Maia (2010), Comunicação política e

decisão de voto: o que as pesquisas revelam. Artigo publicado na revista Ponto e Vírgula, pág.: 42-55. 38

Cf. p: 24.

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30

Para Amora (2003) apud Valverde (2006)39

compreende o voto como um modo de manifestar a

opinião num pleito eleitoral. Segundo Pinto (2003) voto é o meio pelo qual é exercida a parte

activa do direito de sufrágio40

. Mais ainda, Valverde (op. cit) compreende que o voto é o

instrumento pelo qual os eleitores expressam sua vontade, escolhendo quem os representará.

Neste contexto, é através do voto que o eleitor expressa sua confiança ou não confiança a um

determinado candidato ou partido.

2.3.3. Lealdade Eleitoral

A lealdade eleitoral é definida como uma combinação de medidas atitudinais e comportamentais

da lealdade ou seja, a lealdade eleitoral é definida como aqueles eleitores que são favoráveis as

atitudes que dizem respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido

(Anderson e Srinivasan, 2003, apud Van Riet, 2010);

2.3.4. Partidos Políticos

Segundo Gramsci41

apud Mezzaroba (1994: 42)42

Partido Político é uma organização que é

agente da vontade colectiva. Ainda neste sentido, Acquaviva (2000)43

trazendo a perspectiva de

Edmund Burke, diz que partidos políticos são grupo de pessoas que se unem para promover num

processo de cooperação, o interesse nacional mediante o emprego dum processo específico com

o qual todos os seus membros se acham de acordo. Novamente Mezzaroba (op. cit) citando as

lições de Robert Michels, diz que partido político é uma potência oligárquica repousada sobre

uma base democrática que possibilita a dominação das elites sobre os eleitores, dos mandatários

sobre os mandantes e dos delegados sobre os que delegam.

39

Veja mais detalhes em: VALVERDE, Thiago Pellegrini. Voto no Brasil: democracia ou obrigatoriedade?

Disponível em <http://www.papiniestudos.com.br/ler_estudos.php? idNoticia=40>. Acesso no dia 3 de Setembro de

2013. 40

Mais detalhes, veja: PINTO, Djalma. Direito Eleitoral, 1a ed. São Paulo, Atlas, 2003. Pag. 68. 41

Gramsci, que é da corrente Neomarxista, a sua definição de Partido político, esta dotada de pressupostos

claramente marxistas. 42

Veja-se em: MEZZAROBA, Orides. O Partido Político: Concepção Tradicional e Orgânica. In: Revista de

Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, ano 31, n. 122, 1994. 43

Mais detalhes sobre este aspecto, veja-se em: ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 2. ed. Ver.

São Paulo: Saraiva, 2000.

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31

Igualmente Bastos (2002)44

conceitua partido político como sendo uma organização de pessoas

reunidas em torno do mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e mantê-lo

ou, ao menos de influênciar na gestão da coisa pública através de críticas e oposição.

Para o presente trabalho, tendo em conta as colocações dos conceitos, ou seja, se inspirando na

discussão conceptual dos autores acima, compreendemos por Comportamento Eleitoral como

sendo as manifestações que se expressam por meio de opiniões políticamente declaradas, e em

última instância através do voto.

Voto no presente estudo, entende-se como sendo o acto pessoal de escolher um determinado

candidato ou partido mediante a influência ou não, do meio sociopolítico em que esta inserido.

Partidos Político para este estudo, compreendemos como sendo uma organização política de

pessoas que se reúnem em torno dum programa político e com objectivo de assumir o poder

político ou de influênciar na gestão da rés pública.

44

Veja-se com mais detalhes em: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Celso

Bastos Editor, 2002.

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32

2.4. Operacionalização das Variáveis

O presente estudo pretende ostensivamente analisar a persistência e a lealdade do eleitorado de

Mueda a favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009. E vai centrar-se

basicamente na persistência e lealdade dos eleitores de Mueda nestes pleitos.

Ora, nesta perspectiva, considerou-se dois tipos de variáveis. Por um lado temos a variável

dependente que é (persistência e lealdade dos eleitores de Mueda a Favor da FRELIMO nos

pleitos de 1994 à 2009) e por outro lado, temos as variáveis independentes (acções mobilizadoras

da FRELIMO, a falta de confiança dos outros partidos, as ligações históricas entre Mueda e a

FRELIMO; socialização política, cultura política e o papel dos líderes de opinião).

Associando estas variáveis com à teoria usada neste estudo, pode constatar-se que os elementos

que perfazem as duas variáveis, como (persistência e lealdade, a falta de confiança, as ligações

históricas entre Mueda e o partido FRELIMO, socialização e a cultura politica bem como as

acções mobilizadoras) encontramos também na interpretação que fizemos da teoria usada para a

análise dos dados e informações do presente estudo. Contudo, a imagem e as ideologias do

partido FRELIMO estão criadas e vão se consolidando com apoio dos líderes de opinião, que

procuram implantar as diferentes formas de anunciar a marca FRELIMO no contexto de Mueda,

usando diferenciados tipos de acções mobilizadoras. A persistência do eleitorado a favor da

FRELIMO em Mueda, é estruturado a partir da relação histórica-estrutural existente entre o

partido FRELIMO e o distrito de Mueda, que ajuda na criação da marca (partido FRELIMO) e

consequentemente jogam um papel fulcral para atrair que o eleitorado de Mueda persiste e

continue leal a favor da FRELIMO por um longo tempo.

Ademais, no presente estudo as variáveis independentes explicam a variável dependente. Pois a

persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO é resultado directo dos

factores históricos-estruturais que a FRELIMO e o distrito de Mueda ostentam, isto é, a forte

ligação que num passado recente possuíram, pelo facto da FRELIMO sobretudo nas províncias

nortenhas do País ter-se instalado com maior rigidez, aos arredores do distrito de Mueda (zonas

libertadas) bem como a mobilidade com que a população de Mueda aderiu às fileiras da

FRELIMO nos primórdios da década de 60 do século XX, cujo esta recente ligação sustenta as

relações fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO.

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33

Uma outra variável independente é o papel dos líderes de opinião. E partimos do pressuposto de

que estes desempenham um papel preponderante na socialização e na transmissão dos valores

colectivos de geração para geração. Neste aspecto percebe-se que estes são determinantes na

estruturação do comportamento político eleitoral em Mueda, pois são os agentes importantes na

mobilização e na definição do voto dos eleitores do distrito de Mueda.

Mais ainda, em relação as acções mobilizadoras que evidenciamos como sendo uma das

variáveis independentes, podemos compreender que estas se referem essencialmente as

campanhas políticas eleitorais, aos comícios e as diversas reuniões que os partidos políticos

possam efectivar no contexto de Mueda, com vista a convencer e activar as predisposições

políticas latentes e transforma-los em voto manifesto para o seu partido. No contexto de Mueda,

o partido FRELIMO contam com o apoio da liderança de base (líderes comunitários, chefes do

bairro, do quarteirão, etc). Aliado a isso, está presente a ideia da confiança que maior parte do

eleitorado de Mueda tem com à FRELIMO e a total falta de confiança em relação aos partidos

além da FRELIMO que por via disso nasceu a identificação partidária do eleitorado de Mueda

com à FRELIMO.

Assim, dentre outros factores que concorrem para explicar a persistência e a lealdade dos

eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, os mais visíveis são os que compõem o leque das

variáveis independentes acima explícitas. Ou seja, ao analisarmos está relação é importante

também não perder de vista o factor históricos-estruturais que dentro deste podemos encontrar

outras ramificações importantíssimas para compreender a persistência e a lealdade dos eleitores

de Mueda a favor da FRELIMO, a destacar: as vivências históricas, a transmissão da história do

distrito de geração para geração, laços históricos, as ligações existentes entre Mueda e a

FRELIMO, inclusão dos dirigentes históricos provenientes de Mueda na máquina administrativa

do País, entre outros.

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34

Modelo de Análise

Figura: 1

VARI ÁVEIS INDEPENDENTES:

Acções mobilizadoras da

FRELIMO e falta de Confiança

nos outros partidos

Ligações históricas entre Mueda e a

FRELIMO

Outros factores:

- Socialização

- Cultura Política

- Influência dos líderes de

opinião.

Variável dependente:

PERSISTÊNCIA E A LEALDADE

DOS ELEITORES DE MUEDA A

FAVOR DA FRELIMO: 1994 a 2009

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35

CAPÍTULO III

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como diversas literaturas discutiram este ponto, os procedimentos metodológicos de acordo com

Barreto e Honorato (1998) apud Ventura (2002) podem ser compreendidos como sendo os

métodos e técnicas que se usam para a efectivação dum trabalho científico.

Em seguida abordaremos sobre: método de estudo, tipo de observação, tipo de documentação

consultada, as entrevistas, o tipo de amostragem, o método bem como a técnica usada para

analise dos resultados.

Como método de abordagem adaptamos o Dedutivo. Para Richardson (1999), Neto (2007)45

defendem que este método fundamenta-se na ideia segunda a qual é necessário que se formulem

hipóteses a partir de leis gerais, que depois estas (às hipóteses) são confrontadas com a realidade.

A opção da escolha deste método de abordagem é pelo facto de tratar-se dum método que tem

em vista estudar o objecto de estudo partindo dum conhecimento apriori sobre o problema,

alinhando-se deste modo com possíveis conjecturas (neste caso as hipóteses do trabalho). Ora, no

caso concreto, a pesquisa partiu para este estudo com um conhecimento prévio do problema,

sobre a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da RELIMO, desde as eleições

de 1994, 1999, 2004 e 2009, com votação nas seguintes percentagens: 92%, 86%, 94% e 96%

respectivamente. Isso de algum modo ajudou a trazermos elementos práticos e teóricos sobre o

objecto de estudo em análise.

No presente estudo, a colheita de dados foi eminentemente qualitativa, pois esta teve como

propósitos extrair o significado, percepções e interpretações dos próprios eleitores de Mueda,

sobre a persistência e a lealdade destes em votar na FRELIMO nos pleitos que nos propusemos

analisar. Todavia, este estudo foi auxiliado pela abordagem quantitativa. Neste aspecto, está

colheita de dados (qualitativo e quantitativo) se associa ao método dedutivo, no sentido de

solidificar e refutar os argumentos apresentados na construção do problema, na análise

multidimensional do objecto de estudo bem como nas hipóteses que inicialmente foram

construídas.

45

Consultado em: NETO, Carvalho (2007), Como fazer uma monografia, Fortaleza, 1ª Edição, Brasil.

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36

Em relação à observação, importa dizer que o processo de observação foi realizado mediante a

participação do observador, ou seja, observação directa, com participação individual do

pesquisador, aproveitando-se desta forma das habilidades particulares46

do observador que

permitiram ter maior facilidade de contacto com os observados. Esta observação por sua vez foi

acompanhada pelas entrevistas semi-estruturadas47

.

A documentação directa intensiva que foi consultada, constituída maioritariamente por livros,

artigos científicos, monografias, periódicos, teses, dissertações bem como relatórios diversos

sobre o comportamento eleitoral no seu todo, em particular Moçambique, sobre a história do

distrito de Mueda e a história da FRELIMO.

Para além desta documentação, utilizamos também os dados quantitativos: os resultados

eleitorais constantes no apuramento estatístico feito pelo STAE dos quatro pleitos que

analisamos bem como a cartografia eleitoral elaborada por Brito (IESE)48

e a cartografia da

distribuição nacional, provincial e distrital do voto feita também por Brito (idem).

Tendo como base os dados quantitativos acima referenciados foi possível obter dados históricos

e numéricos (também quantitativos) que possibilitaram uma melhor interpretação do objecto de

estudo.

Mais ainda, foram feitas entrevistas no terreno aos líderes da opinião (chefes de bairro, chefes de

quarteirão, autoridade comunitária, chefe de posto administrativo)49

como forma de captar a

partir destes a sua capacidade de influência no processo da socialização política, bem como as

suas potencialidades de influênciar a comunidade em diversas matérias de natureza política, as

suas tendências e tendenciosidades relativas à sua identificação política partidária, que são

factores explicativos para estruturação do comportamento político-eleitoral num determinado

contexto.

46

Muitos autores preferem chamar de astúcias, do latim astutia, que significa (as habilidades, as estratégias, as

manobras, manhas, inteligência, esperteza do pesquisador com vista a permitir ter maior facilidades de contacto com

os observados). Veja em: MACEDO, J. M. C (Anselmo e a astúcia da razão), s/d. 47

Entrevistas semi-estruturadas de acordo com MARCONI, M e LAKATOS, E. (2003), são aquelas de inspiração

etnográfica, no sentido de se estabelecer um encontro construtivo fundamentado na linguagem e altos

comunicativos. 48

Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique. 49

Os líderes de opinião representam o sector da população mais activa na participação política e mais decidido no

processo de formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de motivação e

intelectuais dos indivíduos examinados.

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37

Também em grosso modo foram feitas entrevistas estratificadas aos eleitores de Mueda50

que

constituem a nossa amostra por excelência.

A amostra do estudo não abrangeu os membros activos do partido FRELIMO em Mueda (chefes

de circulo, Secretária da OMM, Secretario distrital), como forma de captar destes membros da

FRELIMO as suas percepções em relação as dinâmicas do comportamento político eleitoral em

Mueda, ou seja, não foram ouvidos em forma de entrevista, alguns membros activos do partido

FRELIMO, pelo facto do estudo não prever e muito menos incluídos este extrato como parte

integrante do estudo.

No presente estudo foram realizadas 18 entrevistas. Todas elas no distrito de Mueda mas

distribuídos nos postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda e N’gapa). Contudo, no total de

18 entrevistas que englobou indivíduos de ambos sexos por um lado eleitores com idades

compreendidas a partir dos 18 a 23 anos e por outro lado eleitores com idade acima de 50 anos,

com experiencia na participação nos processos políticos eleitorais51

dos quais 4 (quatro) foram

entrevistados os líderes de opinião52

(líderes tradicionais, chefes do bairro, chefes das

localidades), dentre eles (1 mulheres e 3 homens) e 14 entrevistas foram exclusivamente

constituídos por eleitores residentes no distrito de Mueda nos respectivos postos administrativos,

dentre eles (2 Mulheres e 12 Homens)53

.

50

Não será usado a técnica de questionário ou inquérito, que claramente poderia abordar outros aspectos sobre o

comportamento eleitoral em Mueda, e também pelo facto de a priori perceber que poderiam não existir condições

para obter as informações fidedignas, desta feita, usamos as entrevistas semi-estruturadas. 51

A escolha desta estratificação deveu-se há duas razões: Por um lado os eleitores de 18 a 24 anos, engloba todos

eleitores em potência com idade de votar, salvo os casos previstos na lei, e que por meio do contexto social sofrem

influência no processo de estruturação das suas atitudes sociopolíticas e consequentemente a forma de votar. Por

outro lado, escolhemos eleitores com idade acima de 50 anos com experiência em processos políticos eleitorais, pelo

facto de englobar indivíduos com uma experiência de vida, desde à independência até os pleitos eleitorais que nos

propusemos analisar, e deste procuramos compreender o processo de estruturação do comportamento eleitoral em

Mueda e a influência que o contexto social tem em relação aos indivíduos. 52

Segundo Walf (1992), no seu livro: Teoria da Comunicação demonstra que num processo político, os líderes de

opinião, representam o sector da população mais activa na participação política e mais decidido no processo de

formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de motivação e intelectuais dos

indivíduos examinados. 53

O desequilíbrio do género deveu-se ao facto de: por um lado a pesquisa atingir um número consideravelmente

pequeno, e também por usar-se a técnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre incidiu

aos eleitores do sexo masculino, e por outro lado, as diversas vezes que incidiu em eleitores do sexo feminino, estas

na sua maioria não se disponibilizaram, alegando que não detinham informações suficientemente satisfatórias, para

conversar sobre as dinâmicas do comportamento político eleitoral em Mueda.

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38

Distribuição dos indivíduos em sexo e o número total das entrevistas

Tabela 1:

SEXO

Número de

eleitores

entrevistados

Líderes de

Opinião

Total

Total em

percentagem

(%)

Masculino

12

3

15

82 %

Feminino

2

1

3

18 %

Quadro elaborado pelo autor.

O processo de selecção da unidade da amostra foi com base na amostragem não probabilística

intencional54

, ou seja, usou-se a técnica da amostragem intencional55

(esta que consistiu em

selecionar um subgrupo de população que com base nas informações disponíveis, foram

considerados ser representativos de toda a população e que também em princípio partiu-se do

pressuposto de que este subgrupo tinham um conhecimento suficiente em relação às dinâmicas

inerentes ao comportamento político eleitoral em Mueda) e partiu-se do pressuposto que tinham

informações consistente e chaves que pretendíamos colher.

Esta técnica foi auxiliada pelo critério de selecção, ou seja, técnica de selecção das unidades da

amostra bola de neve56

(que é uma técnica realista e adaptativa na qual os atores que fizeram

54

Mais detalhes, consulte: MARCONI, Marina & LAKATOS, Eva (2009) Metodologia do Trabalho Cientifico:

Procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projecto e relatório, publicações e trabalhos científicos 7ª Ed. 3ª

Reimpressão. São Paulo, Atlas. 55

Mais detalhes sobre o desenvolvimento e explicações deste tipo de amostra, Veja em: In amostra (estatística). In

Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consulta. 2013-04-12]. Disponível na www: <URL:

http://www.infopedia.pt/amostra- (estatística)>. 56

Bola de neve, do inglês snowball sampling. A amostra bola de neve é uma técnica realista e adaptativa na qual os

atores que irão fazer parte da pesquisa são indicados pelos próprios pesquisados. De acordo com tal técnica,

pergunta-se para um pré-determinado grupo de atores (zona de primeira ordem), como sugere WASSERMAN;

FAUST (1999) apud Matheus, R (2005) ou é o primeiro estágio, (ROTHENBERG, 1995), com quem ele tem laços,

resposta que serve como indicação do próximo grupo de atores na rede a ser pesquisado (segundo estágio, ou zona

de segunda ordem). Matheus (2005) fundamenta ainda que a pesquisa prossegue até que não sejam indicados novos

atores.

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39

parte desta pesquisa forma indicados pelos próprios pesquisados), mas partiu-se dum ponto de

referência (sede dos bairros, nas sedes dos postos administrativos, sedes das localidades).57

Mais ainda, usou-se o estudo de caso que segundo Yin (2009) é uma investigação empírica que

investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real especialmente

quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos. A escolha do

estudo do caso deveu-se ao facto do nosso método de abordagem ser o dedutivo, cujas lições que

se podem tirar do estudo de caso terem a intenções evidentemente particulares mas em algumas

vezes generalistas e pelo facto do seu propósito procurar aprofundar os conhecimentos em

relação a certos elementos de um certo objecto de estudo. Assim, o estudo de caso incidiu sobre

o distrito de Mueda.

Em relação à análise e interpretação dos resultados, usou-se a técnica de análise de conteúdo dos

resultados obtidos, recorrendo-se quase na totalidade aos aspectos qualitativos. Associadamente

recorreu-se a uma examinação profunda dos pontos básicos desenvolvidos na extensão da

revisão bibliográfica, que permitiram criarmos às categoriais que possibilitaram a colocação das

ideias, das revelação ou dos discursos dos entrevistados na ementa dos objectivos previamente

anunciados para este estudo. Isso facilitou também a organização e categorização do trabalho na

parte que se relaciona à análise e interpretação dos resultados, que apresentamos em capítulos e

subcapítulos inerentes ao comportamento político eleitoral no contexto de Mueda.

3.1. Limitações do Estudo

A representatividade das percepções femininas do total dos entrevistados foi fraca. Isso deveu-se

há duas razões: por um lado, porque a pesquisa atingiu um número consideravelmente pequeno e

também por usar-se a técnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre

incidiu nos eleitores do sexo masculino e por outro lado, as diversas vezes que a bola calhou em

um dos eleitores do sexo feminino, na sua maioria não se disponibilizaram para a entrevista

57

De notar que o distrito de Mueda é composto por cinco postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda,

Negomano e N’gapa), e estes compostos pelas seguintes localidades: Chapa (Chapa); Imbuho (Imbuho e Namaua);

Mueda (Lipelua, Litembo, Miula, Mpeme e Vila de Mueda); Negomano (Negomano); N’gapa (Chipinga, Natsenge,

N’gapa e Nonge). Fonte: INE, Cabo Delgado, Wikipédia, Enciclopédia Livre, acesso: 17 de Junho de 2013.

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40

alegando que não detinham informações suficientemente satisfatórias para conversar sobre as

dinâmicas do comportamento político eleitoral em Mueda;

Mais ainda, este estudo teve como limitações o simples facto das entrevistas não serem

realizadas em todos cinco (5) postos Administrativos de Mueda, somente atingiu-se a 4 postos

administrativos, e a causa Sui generis deste incidente foi à falta de recursos financeiros.

A primeira dificuldade deste estudo é o facto de não ter tido financiamento com vista a uma

deslocação com facilidade para o local de estudo, como forma de colher os dados também duma

forma confortável. A segunda dificuldade é o facto da língua de alguns dos entrevistados ser

Maconde e que por via disso, em alguns casos recorreu-se a intérpretes para melhor

compreender-se o pano do fundo das entrevistas58

.

58

A escolha de Cabo Delgado, sobretudo o distrito de Mueda, apesar das limitações da língua, é pelo facto de ter um

interesse intrínseco sobre o tema como forma de procurar perceber a causa sui generis da persistência dos eleitores

em votar na FRELIMO. Mas também pelo facto do estudante que é autor da monografia, ser natural daquela

província Nortenha do País e uma forma de retribuir a província que lhe viu nascer.

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PARTE II

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

CAPÍTULO IV

4.1. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO DISTRITO DE MUEDA

Neste capítulo as nossas intenções centrar-se-ão na localização, descrição e caracterização do

distrito de Mueda que constitui o nosso campo de estudo. Isso vai proporcionar-nos um

panorama relativamente geral da região em estudo nas diversas vertentes (política, económica,

social, cultural, etc.) que dalguma forma vai ajudar a estabelecer uma base analítica mais sólida

do nosso objecto de estudo.

Assim, sobre os limites geográficos59

o distrito de Mueda é localizado na parte norte da

Província de Cabo Delgado, demarcando a Norte com o Rio Rovuma (Fronteira com a República

Unida da Tanzânia) a Sul com os distritos de Montepuez, Meluco e Muidumbe, a Este com o

distrito de Mocímboa da Praia e a Oeste com o distrito de Mecula da Província de Niassa e pelo

rio Lugenda (PILILÃO, 1989: 24)60

.

De salientar que o distrito de Mueda integra a micro-região norte de Cabo Delgado constituída

pelos distritos de Mueda, Muidumbe, Nangade, Mocímboa da Praia e Palma (Idem). Tem uma

superfície aproximada de 14.150 Km2 e uma população estimada de cerca de 153.800

habitantes61

.

4.1.1. Divisão administrativa

Tendo em conta os dados do MAE (2005) administrativamente o distrito de Mueda está

subdividido em 5 postos Administrativos nomeadamente:

59

Vide, Atlas Geográficas, Vol. I, pág. 12. 60

Vide em Comissão Nacional do Plano. Enumeração da população e agregados familiares das cidades e alguns

distritos e postos administrativos de Moçambique, serie estimativas demográficas, Maputo, 1991, tabela No 3, p.5.

Também sobre o mesmo assunto vide: PILILÃO, Fernando., Moçambique: evolução da toponímia e da divisão

territorial, 19974-1987, Maputo, 1989. 61

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População e Habitação 2007. (INE- estatística do distrito de Mueda,

2012) Estatística Distrital (Estatísticas do Distrito de Mueda) © 2012 Instituto Nacional de Estatística.

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42

Posto Administrativo de Imbuho, Chapa, Posto Sede, Negomano e N’gapa62

e estes Postos

Administrativos estão subdivididos em 14 localidades conforme ilustra o quadro abaixo:

Tabela 2: Quadro: Divisão Administrativa do distrito

Posto Administrativo Localidades

Mueda Sede 1. Mueda Sede

2. Litembo

3. Miula

4. Mpeme

Chapa 1. Chapa Sede

2. Lipelua

3. Nanhala

Imbuho 1. Imbuho Sede

2. Namaua

Negomano 1. Negomano Sede

N’gapa

1. N’gapa Sede

2. Chipingo

3. Nachitenge

4. Nonge

INE (2013), Adaptado pelo Autor.

4.1.2. Características físico-geográficas

4.1.2.1. Clima

O distrito de Mueda tem temperaturas médias anuais regra geral inferiores a 22ºC, ou seja, a

temperatura é quase a mesma em todo ano. O período húmido, quente e chuvoso vai de

Novembro ao mês de Abril, e período seco e fresco é de Abril a Novembro (MAE, 2005).

O distrito de Mueda possui um clima tropical húmido de Savana, embora localmente possam

exceder esses valores (MAE, 2005). Além disso, a precipitação média anual é superior a 1000

mm e a evapotranspiração potencial de referência está entre 1300 a 1500 mm (idem).

62

De salientar que os postos administrativos de N’gapa e Negomano ficam situados a um distância de 60 e 172 km

da Sede Distrital respectivamente.

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43

4.1.2.2. Relevo e Solo

O distrito de Mueda é constituído por uma vasta plataforma de relevo ondulado com planaltos de

variedades altitudes, na qual se observam baixos planaltos com altitudes que vão de 200-500

metros a volta dos quais se estendem uma planície com altitude que varia entre 100-200 metros

(atlas geográfico, vol. I, apud Nachaque, 1998).

Podemos ainda destacar que no Distrito de Mueda podemos encontrar alguns retalhos de

planaltos médios, sendo o mais importante o planalto de Mueda, com 847 m de altitude (idem).

Em relação aos solos é importante referir que a composição dos solos no distrito de Mueda é

constituída fundamentalmente por solos arenosos avermelhados na parte nordeste do distrito,

solos franco-argilosos e argilosos vermelhos na parte ocidental do distrito (idem), ou seja, para

Daniel (1997) os solos do Planalto de Mueda não constituem um complexo homogéneo.

4.1.2.3. Recursos hídricos

Em geral, o Distrito de Mueda é conhecido como uma das regiões da Província de Cabo

Delgado, com graves carências de água à superfície. Isso deve-se pelo facto da região ser

atravessada por poucos cursos de água, dos quais os rios Rovuma, Messalo e Lugenda, são

conhecidos como principais e Muirite, Muera, Chude, Omba e N’tamba como rios secundários,

que durante os meses de Agosto e Setembro ficam completamente secos, causando deste modo

graves e sérios problemas à população da região (Nachaque, 1998).

4.1.3. Características económicas

Com este subcapítulo pretende-se descrever de forma resumida a evolução de algumas

actividades chaves que de algum modo constituem a base do desenvolvimento socioeconómico

do distrito de Mueda. Assim descrição incidirá fundamentalmente nas áreas: agricultura, infra-

estruturas e serviços.

No tocante á agricultura, nota-se que os aspectos mais marcantes se confinam necessariamente

na evolução das formas de organização do campesinato, os métodos que o campesinato usa para

o cultivo e certos rituais63

à ela ligada.

63

A semelhança das outras sociedades africanas em geral, e Moçambicanas em particular, a população de Mueda

praticam certos rituais ligados a agricultura como: Ritos de lupaleko (imunização) das machambas contra os

feiticeiros, que consiste no enterramento em qualquer dos cantos em redor da machambas, de uma cabaça ou panela

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44

Mais ainda, á agricultura é a actividades económica principal. E destacam-se dentre outras

culturas: o milho, a mandioca, a mapira, o amendoim, o feijão, abobora, entre outras. E plantam

árvores de fruto como: mangueiras, cajueiros, ananaseiros, entre outros (Cooperação Suíça,

1982)64

.

No distrito de Mueda distinguem-se dois tipos de sistema agrícolas principais, nomeadamente a

agricultura itinerante que é praticada nas zonas baixas e com mais terras para o cultivo e o

sistema de rotação de culturas que é praticada nas zonas altas e com maior densidade

populacional, visando nestes aspectos o aproveitamento racional da pouca terra disponível

(idem). Na sociedade tradicional, a agricultura é desenvolvida com fins de subsistência familiar e

é feita em grosso modo dentro dum espaço pertencente a povoação familiar (Dias, 1974)65

.

4.1.3.1. Infra-estruturas

Em relação às infra-estruturas, importa fundamentar que em Mueda têm sido realizadas obras de

manutenção de rotina periódica de estradas com uso de mão-de-obra intensiva. As estradas de

terra batida são transitáveis ao longo de todo ano, excepto nos anos que se registam chuvas

intensas (MAE, 2005). Mas as viaturas de grande porte dos madeireiros têm sido as principais

causadoras da degradação das vias de acesso. Nos últimos anos tem-se registado o crescimento

do número de transportadores de passageiros e de carga respectivamente. E este facto deve-se ao

melhoramento das rodovias de/e para os outros pontos da província (idem).

Contudo, existem uma pista de aterragem asfaltada operacional, que tem permitido a

movimentação normal de aeronaves. O distrito de Mueda deste modo é servido por transporte

público terrestre, embora irregular (MAE, 2005). Mais ainda, o distrito de Mueda dispõe de

comunicação via rádio. Neste momento está em curso a fase de automatização da rede telefónica.

de barro contendo ntela e/ou inumba (droga) contra feiticeiros, para impedir que estes atentem contra os rendimentos

das machambas. O outro ritual é a proibição de assobios e conversas com estranhos durante a sementeira, para

garantir que as sementes germinem bem; e algumas pessoas dotadas de certos poderes sobrenaturais, que são

geralmente curandeiras-feiticeiros, tem a capacidade de criar cobras que protegem a machambas contra qualquer

malefício preparado por um feiticeiro e que atente contra as boas colheitas. Veja em: OLIVEIRA, Maria Ângelo R.

de, 1988. 64

COOPERAÇÃO SUÍÇA (1982): MOÇAMBIQUE: Plano a médio e longo prazo para o desenvolvimento de

Mueda. Relatório. Ministério de Agricultura, Maputo. 65

DIAS, Jorge., Os Macondes de Moçambique, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, Vol. I, 1974, P. 103.

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45

O distrito ressente-se pelo facto das TDM66

funcionarem apenas até as 17 horas e os correios

funcionam normalmente, embora com pouca afluência (idem).

No distrito de Mueda, o sector de água enfrenta inúmeros problemas e um pouco por todo

distrito surgem conflitos sobre este recurso. Os subsistemas existentes têm avariado

permanentemente e muitas aldeias não têm acesso a fontes de água melhorada, obrigando as

populações a percorrerem distâncias que vão até 1 dia de caminhada (MAE, 2005: 4). Contudo,

no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de água. Para tal, as

populações que habitam na zona baixa, o abastecimento é realizado através de furos, poços e em

muitas zonas, as populações vêem-se obrigados a consumir água imprópria (idem)67

.

Tabela 3:

Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de

Mueda, 2012.

FONTE DE ÁGUA

DISTRITO DE MUEDA

Número total de AF %

Água canalizada dentro de casa 29 0.1

Água canalizada fora de casa 93 0.3

Poço/furo protegido 1,109 4.1

Fontenária 4,152 15.2

Poço sem bomba (céu aberto) 14,078 51.5

Rio/Majune/Lagoa 7,448 27.2

Água da chuva 380 1.4

Água mineral 2 0.0

Outros 52 0.2

Número total 27, 343 100

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo

autor.

66

Telecomunicações de Moçambique. 67

De salientar que no distrito de Mueda, já existe o sistema de Água canalisada, mas para um número reduzido de

agregados familiar (total de 122 famílias) num total de 27,343 mil famílias (INE, 2007).

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46

O sistema de fornecimento de energia eléctrica à vila de Mueda carece de reabilitação. Apesar de

terem canalizado a rede de energia eléctrica nacional (energia da Cahora Bassa), um grosso

modo de famílias ainda não usufrui desde bem precioso. Por exemplo, num universo de 27,343

famílias, somente 114 agregados familiares que usufruem deste bem.

Tabela: 4:

Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de

Mueda - 2012

FONTE DE ENERGIA

DISTRITO DE MUEDA

Número total de AF %

Electricidade 114 0.4

Gerador/Placa solar 74 0.3

Gás 20 0.1

Petroleo/platina/querosene 14.359 52.5

Bateria 29 0.1

Vela 872 3.2

Lenha 11.729 42.9

Outros 146 0.5

Total 27, 343 100

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo

autor.

4.1.4. Educação

O distrito possui 91 Escolas das quais (89 do ensino primário nível 1 + 2). Como ilustrado na

Tabela: 5

ESTABELECIMENTO

DE ENSINO

DISTRITO DE MUEDA

2008 a 2010 2010 a 2012 Variação 2008-2012 em %

Número total de escolas 84 91 7.1

Escolas Primarias

(EP1 + EP2)

83 89 7.2

EP1 61 64 4.9

Publicas 61 64 4.9

Privadas/comunitárias 0 0 -

EP2 22 25 13.6

Publicas 22 25 13.6

Privadas/comunitárias 0 0 -

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47

Escolas Secundarias

Gerais (ESG1 + ESG2)

2 2 0.0

ESG 1 1 1 0.0

Publicas 1 1 0.0

Privadas 0 0 -

ESG 2 0 1 0.4

Publicas 0 2 0.6

Privadas 0 0 -

Escolas Técnico-

profissional

0 0 -

Publicas 0 0 -

Pivadas 0 0 -

Fonte: MINED – Direcção de Planificação e Cooperação (2012). Adaptado pelo autor.

4.1.5. Saúde

O distrito de Mueda esta servido por 8 unidades sanitárias, que possibilitam o acesso progressivo

da população aos serviços do Sistema Nacional de Saúde, apesar de a um nível bastante

insuficiente como se conclui dos seguintes índices de cobertura media:

Uma unidade sanitária por cada 22 mil pessoas;

Uma cama por cada 1000 habitantes;

Um profissional técnico para cada 2.600 residentes no distrito (PEDD Mueda, 2012).

Ademais, apesar dos esforços realizados importa reter que o estado geral da conservação e

manutenção das infra-estruturas não é suficiente. De realçar a necessidade de manutenção da

rede de bombas de água bem como a rede de estradas e pontes que na época das chuvas tem tido

problemas de transitabilidade.

Na tentativa de demostrar a ineficiência bem como os problemas da governação no distrito de

Mueda, onde o eleitorado é leal e persiste em votar na FRELIMO, comparativamente

apresentaremos uma tabela dos dados estatísticos do distrito de Montepuez, na província de Cabo

Delgado, que vota na FRELIMO mas não de uma forma esmagadora como é o caso do distrito de

Mueda, cujos dados estatísticos do distrito de Montepuez mostram uma melhoria substantiva dos

serviços básicos, sobretudo a fonte principal de energia, água e os serviços de saúde, os mesmos

comparados com os serviços existentes no distrito de Mueda, um distrito leal e persistente ao

partido FRELIMO.

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48

Tabela 6:

Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de

Montepuez, 2012.

FONTE DE ÁGUA

DISTRITO DE MONTEPUEZ

Número total de AF %

Água canalizada dentro de casa 400 0.8

Água canalizada fora de casa 1,268 2.4

Poço/furo protegido 7,253 22.0

Fontenária 1,768 3.4

Poço sem bomba (céu aberto) 39,429 69.1

Rio/Majune/Lagoa 1,567 3.0

Água da chuva 32 0.1

Água mineral 4 0.0

Outros 79 0.2

Número total 51,799 100

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, indicadores socio-demográficos

distritais, Província de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.

Em seguida apresentamos os dados estatísticos sobre os Agregados Familiares segundo

principal fonte de Energia na habitação no distrito de Montepuez – 2012

Tabela: 7

FONTE DE ENERGIA

DISTRITO DE MONTEPUEZ

Número total de AF %

Electricidade 2.201 3.5

Gerador/Placa solar 299 0.6

Gás 34 0.1

Petroleo/platina/querosene 23,484 41.9

Bateria 80 0.2

Vela 366 0.7

Lenha 25.232 52.6

Outros 266 0.4

Total 51, 799 100

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, indicadores socio-demográficos

distritais, Província de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.

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49

Em relação aos serviços de saúde, é de extrema importância referenciar que o distrito de

Montepuez tem um total de 9 unidades sanitárias (comparativamente ao distrito de Mueda, este

distrito está relativamente melhor), pois de alguma forma permite o acesso gradual da população

aos serviços do Sistema Nacional de Saúde. Como é ilustrado da seguinte maneira:

COBERTURA MEDIA DISTRITAL

Cada uma unidade sanitária está para 5 730 mil pessoas;

Uma cama numa unidade sanitária corresponde 44 habitantes;

Um servidor do Serviço Nacional de Saúde técnico está para 423 residentes no distrito

(PEDD Montepuez, 2012).

Fazendo uma analise comparativa em relação à principal fonte de água, energia e os serviços de

saúde, entre a situação que se vive no distrito de Mueda (que têm votado persistentemente a

favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009, com a votação em: 92%,

86%, 94% e 96% respectivamente), e os dados do distrito de Montepuez, de igual modo da

Província de Cabo Delgado (cuja votação a favor da FRELIMO desde os pleitos de 1994, 1999,

2004 e 2009, tem sido de 62%, 58%, 73% e 78% respectivamente), compreendemos que, apesar

do eleitorado de Montepuez não ter votado duma forma esmagadora como apresentamos acima,

o governo distrital tem sido relativamente eficiente e eficaz no provimento dos serviços mínimos

para a população daquele distrito, sobretudo a questão da fonte principal de água, energia e

serviços de saúde.

Nesta perspectiva, apesar de ter ouvido colocações dos nossos entrevistados em Mueda, que

votam na FRELIMO persistentemente pois acreditam numa mudança na forma da gestão da

coisa pública, sobretudo no provimento dos serviços básicos como é o caso do melhoramento da

fonte principal de água e de energia, bem como os serviços de saúde, compreende-se que não

tem sido muito linear, visto que, para o caso do distrito de Montepuez, mesmo com uma votação

não puramente esmagadora a favor da FRELIMO, o distrito se encontra numa situação melhor ao

que se refere aos problemas evidenciados (fonte principal de água, energia e os serviços de

saúde), e que o distrito de Mueda acredita que o simples facto de votar persistentemente na

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50

FRELIMO, implicaria necessariamente no melhoramento do provimento dos serviços básicos

para a população.

Enquanto o distrito de Mueda, com a votação esmagadora que se registam nos pleitos que

analisamos, nota-se que os dados estatísticos apontam desfavoravelmente ao que tange a

provisão dos serviços públicos (fonte de água, energia e serviços de saúde).

Esta situação demostra que apesar dos diversos problemas de governação que o distrito de

Mueda enfrenta, como ilustrado nos exemplos acima (fonte principal de água; fonte principal de

energia e os serviços de saúde), o eleitorado de Mueda vota persistentemente a favor da

FRELIMO, como uma medida relacionada a lealdade partidária do eleitorado e não

necessariamente uma situação em que os eleitores fazem uma análise de custo e beneficio do

acto de ir votar num certo partido ou candidato nos moldes da perspectiva económica68

, que foi

avançada na revisão da literatura deste trabalho. Portanto, estes são os problemas de governação

referenciados.

4.1.6. Actividades Económicas e Industriais no distrito de Mueda

As actividades económicas e industriais do distrito de Mueda resumem-se à existência de agro-

processamento e turismo caseiro. Ora, no sector de indústria agro-processamento existem as

seguintes unidades: 63 moageiras, das quais 49 operacionais e 14 paralisadas, 2 maquinetas de

descasque de arroz (MAE, 2005, actualizado pelo INE, 2008). No sector da indústria madeireira,

funcionam as seguintes unidades: 3 serrações móveis e 1 carpintaria (Idem).

Existem no distrito de Mueda operadores autorizados para exploração de pedras semipreciosas

(águas marinhas). Contudo, tem-se registado um movimento de furtivos que aliciam as

populações locais com produtos diversos, em troca da exploração ilegal dos minerais (MAE,

2005 e PEDD, 2008-201269

).

68

Veja em Downs (1999). 69

Plano Estratégico do Desenvolvimento Distrito de Mueda 2008 a 2012.

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51

O distrito de Mueda esta relativamente isolado dos principais centros comerciais da província.

Por exemplo a sua rede comercial é limitada, apesar de reconhecer que existem elos comerciais

agrícolas. Mesmo sendo um distrito fronteiriço, não há dados que confirmem oficialmente trocas

comerciais entre as populações do distrito de Mueda e da Tanzânia (MAE, 2005).

No distrito de Mueda funcionam dois sistemas paralelos concorrentes. Por um lado, encontramos

o comércio formal que compreende as lojas, cantinas rurais e por outro lado, o comércio

informal que envolve sobretudo os jovens e mulheres que a ela recorrem como forma de

subsistência e aumento de renda familiar (Idem). E a rede comercial está distribuída de forma

desigual, já que a maioria dos estabelecimentos comerciais está concentrada na sede do Distrito.

4.1.7. História do distrito

Os estudos feitos nos mostram claramente que a partir do último quartel do século XIX, foi se

encontrando os povoamentos dos Macondes denominados por nomes dos respectivos Régulos

como Panalidimo (actual Namaua), Panachipungu (actual Imbuho), Namachangano,

Panambavala (Miula), Mbomela, Likomantili, Ndyankali, Nanachombe e Nachilavi (MAE,

2005). Estes últimos próximos do rio Mueda, donde surgiu o topónimo do distrito Mueda.

Na era colonial, em 2 de Setembro de 1967, Mueda foi elevada a categoria de vila com a

denominação de circunscrição dos Macondes, que abrangia os actuais distritos de Muidumbe e

Nangade (MAE, 2005 e PEDD, 2008). Um ano a seguir à proclamação da Independência

Nacional em 1976, a circunscrição dos Macondes passou a chamar-se distrito de Mueda e

abrangia o actual distrito de Muidumbe (idem).

No ano de 1986 na sequência da nova divisão administrativa, Mueda passou a constituir uma

unidade administrativa separada de Muidumbe. Mueda foi crescendo de maneira heterogénea, a

partir das imigrações dos Macuas do litoral, Ngonis, Yaos, Makué e até Swahilis da terra vizinha

da República Unida da Tanzânia (MAE, 2005).

A população de Mueda é maioritariamente falante da língua Shimakonde. Outras línguas faladas:

Emacua, Kisuahil, Makué, Yao, Mtambué, Ngoni e kimuani, para além da língua oficial, o

Português.

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52

Tal como acontece no resto da província a estrutura da sociedade de Mueda assenta no regime

matrilinear. As comunidades vivem em aldeias e outros aglomerados populacionais junto às vilas

(PEDD, 2012).

A dança é uma das actividades ligadas ao ciclo de vida da comunidade praticada em momentos

de dor, recordação dos antepassados, ritos de iniciação, momentos de alegria e agradecimentos

aos antepassados pelos êxitos na produção agrícola e outras benesses (PEDD Mueda, 2012).

As populações do distrito de Mueda acreditam na existência de uma força sobrenatural que está

ligada aos destinos das comunidades (chuva, sorte, morte, luz e vida). Esta percepção da vida

leva a que as populações se agreguem em organizações religiosas diversificadas que tem por fim

preparar uma vida eterna para cada indivíduo (PEDD Mueda, 2012). As seitas religiosas mais

conhecidas são agrupadas em 2 congregações nomeadamente, Cristã e Islâmica. A maior parte

da população do distrito de Mueda que não se encontra enquadrada num dos dois grupos das

congregações pratica a religião africana mais conhecida por Animista (op. cit).

4.1.7.1. Liderança tradicional

Segundo o PEDD (2012), a liderança tradicional, é assegurada pelos seguintes representantes do

poder ao nível das comunidades:

Chefe da Aldeia/ Secretário;

Chefe do bairro;

Chefe do quarteirão;

Chefe de clã Ancião;

Curandeiros;

Outras personalidades na comunidade são respeitadas e legitimadas pelo seu papel social,

cultural, económico e religioso. Na liderança tradicional existe uma espécie de divisão de

trabalho e de funções entre os diferentes líderes das comunidades. Assim, os Secretários têm hoje

como função principal a mobilização da comunidade para as tarefas sociais e económicas. Os

líderes tradicionais tratam principalmente dos aspectos tradicionais, tais como cerimónias, ritos e

conflitos sociais (PEDD Mueda, 2008).

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53

CAPÍTULO V

5. INFLUÊNCIA DOS FACTORES SÓCIO-ECONÔMICOS E A RELAÇÃO

HISTÓRICA ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA

CONFIGURAÇÃO DO COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA

Neste capítulo objectivamente vamos se concentrar em fazer uma análise em relação às

informações que obtivemos nas entrevistas realizadas no campo. Nesta perspectiva, vamos focar

diversos pontos, dentre eles destacamos: a questão do comportamento eleitoral aliada aos

factores sócio-econômicos ou seja a importância dos factores sócio-econômicos na configuração

e estruturação do comportamento eleitoral em Mueda; vamos ainda discutir o papel da ligação

histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na construção da identificação partidária do

eleitorado de Mueda e seguidamente vamos falar da inexistência de acções mobilizadoras dos

Partidos da Oposição. Mais ainda, iremos abordar a questão da abstenção eleitoral e a sua ligação

com os votos expressos a favor da FRELIMO.

Acreditamos que estes aspectos ajudaram a termos mais fundamento em relação ao nosso objecto

de estudo, e os resultados disso auxiliou para o estabelecimento duma base analítica mais sólida.

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5.1. Comportamento Eleitoral em Mueda Vs. Factores Sócio-Econômicos

Nesta parte de trabalho, o nosso maior foco é explicar e argumentar como os factores sócio-

econômicos no distrito de Mueda, tem influenciado na construção do comportamento político

eleitoral em Mueda e olhar esses factores como sendo a causa sui generis da forma como tem-se

manifestado os eleitores do mesmo distrito de eleição para eleição.

Assim, partindo das colocações de Antunes (2008), quando ilustra em relação a corrente

psicológica para explicar o comportamento eleitoral, analisado a partir das expectativas, opiniões

e atitudes individuais dos eleitores, muita das vezes busca-se compreender o comportamento

político-eleitoral, dentro duma função da esfera social, na qual ocorre a socialização política ao

longo do tempo bem como o processo de percepção e análise em relação aos aspectos políticos,

económicos, sociais, culturais, etc (Idem, p. 21)70

.

Foram as várias inquietações a respeito das situações que acontecem hoje em dia no distrito

Mueda e tentamos mostrar como estes têm tentado estruturar o comportamento político-eleitoral.

De acordo com os dados do MAE (2005) e INE (2013) vê-se em termos estatísticos, claramente

existência de grandes problemas na ordem do dia. Problemas de índole económica, infra-

estruturas, saúde, água, energia, etc. que assolam um grosso modo do eleitorado de Mueda, como

por exemplo é o distrito da região de Província de Cabo Delgado, com agricultura não

mecanizada como a actividade económica principal, que devia ser uma agricultura com vista a

dar maior rendimento à população, mas o que se nota, é que os investimentos do governo distrital

estão longe de corresponder às expectativas da população71

e é um dos distritos da província com

graves carências de água na superfície e isso é visível pelo facto do sector de água enfrentar

inúmeros problemas e um pouco por todo distrito.

70

Antunes (2008). 71

É uma tese fundamentada tendo em conta os argumentos dos nossos entrevistados que declararam inúmeras vezes

que não viam claramente as acções do governo distrital, e muito menos em ajudar os camponeses a melhorar as suas

produções. Diferentemente ao que acontecia nos anos 80, onde os governos distritais eram responsáveis pela

mobilização de recursos para a produção massiva da população. Foram estes e outros discursos que nós deparamos

ao longo das nossas entrevistas no distrito de Mueda.

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Mais ainda, de acordo com os dados do PEDD-Mueda (2012) os subsistemas existentes têm

avariado permanentemente e muitas aldeias não têm acesso a fontes de água melhorada (idem, p:

14).

Ora, no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de água. Para tal, as

populações que habitam na zona baixa, o abastecimento é realizado através de furos e poços. Em

muitas zonas, as populações vêem-se obrigados a consumir água imprópria (PEDD, 2012).

Outro problema esta relacionado ao sistema de fornecimento de energia eléctrica no distrito de

Mueda que carecem desde muito de reabilitação. Apesar de terem canalizado a rede de energia

eléctrica nacional (Cahora Bassa) somente um pequeno agregados familiar que usufrui72

.

Os problemas inerentes aos aspectos sócio-econômicos vão mais além. Pois há ainda grandes

problemas relativos as infra-estruturas, nomeadamente: estradas, pontes (MAE, 2005; INE,

2013) mas que paulatinamente estes problemas estão sendo resolvidos.

Um dos problema que mais afecta os cidadãos do distrito de Mueda, é a falta de Escolas que é

ilustrado na tabela 5 deste trabalho, onde avançam-se as informações segunda as quais em todo

distrito existem apenas 91 Escolas das quais (89 são do ensino primário do 1º e 2º nível e mais 2

Escolas Secundarias do 2º Grau). Estes dados que se apresentam são relativamente baixo tendo

em conta que a população total do distrito é estimada em 153. 80073

, na sua maioria jovens com

idade compreendida entre 11 a 18 anos de idade (INE, 2012).

Em relação ao serviço de saúde é um caso ainda crítico, visto que o distrito de Mueda tem 8

unidades sanitárias, que permitem o acesso gradual da população aos serviços da Saúde. Os

números são bastantes insuficientes para a cobertura média distrital, isto é, cada 1 unidade

sanitária esta para cada 22 mil pessoas; 1 cama por cada 1000 habitantes e 1 profissional técnico

para cada 2.600 residentes no distrito (MAE, 2005, PEDD, 2012).

72

Por exemplo, num total de 27, 343 agregados familiares, somente 114 famílias tem energia eléctrica nas suas

casas. 73

Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População e Habitação 2007. (INE-estatística do distrito de Mueda,

2012) Estatística Distrital (Estatísticas do Distrito de Mueda) © 2012 Instituto Nacional de Estatística.

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Assim, é relativamente importante ainda afincar que em relação aos problemas sócio-econômicos

que o distrito vive, e como estes tem reflectido na maneira como os eleitores tomam as suas

decisões políticas eleitorais, pode compreender-se de duas maneiras: temos um grupo pró (que

acredita que a FRELIMO tem feito alguma coisa e por via disso e por força do habito são

obrigados a votar na FRELIMO como forma de recompensar aquilo que a este partido tem feito

para eles) e temos outro grupo que afirma categoricamente o desagrado e o descontentamento da

governação e que ponderam mudar a sua forma de votar em caso de não se notar melhorias num

futuro muito breve.

Mais ainda, pensamos que é pertinente apresentar a trajectória histórica ou se quisermos a parte

da história de Mueda ligada a FRELIMO.

O distrito de Mueda permanece como uma ilustração do funcionamento do sistema colonial, das

suas contradições internas e da necessidade de violência que o Estado colonial tinha para se

manter quando já não era capaz de responder às pressões populares.

Neste contexto as primeiras reivindicações de independência nacional para todo Moçambique

começam nos finais da década de 50, do seculo XX, dentre outros grupos em diferentes pontos

do País, surge um grupo de camponeses macondes situados nos confins do território setentrional

de Cabo Delgado (Arquivo, 1993).

Ora, Adam (1993), explica que o processo de confrontação e fortalecimento das tropas no

planalto de Mueda começam também a partir de 1957, como forma de se precaver e tentar de

alguma forma antecipar o ambiente nacionalista acentuado pela independência de Tanzânia.

Foi neste contexto que nos finais da década de 50, do seculo XX, surgiu no planalto de Mueda o

movimento cooperativa Liguilanilu, composta por naturais locais que tinha como presidente:

Lázaro Nkavandame. Analisando o contexto, compreende-se que dentre outras razões, este

movimento surge como contestação das políticas coercivas de produção, de cultivo de plantas

(Adam, 1993).

Por exemplo, Adam (1993) mostra que o planalto de Mueda será sempre uma referência para

quem queira abordar sobre a temática relacionada a luta armada de libertação nacional, levada a

cabo pela FRELIMO, contra as tropas coloniais Portuguesas.

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Deste modo o planalto constitui o que se pode designar por santuário dessa luta, que culminou

com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, e Mueda constitui-se como um

cenário importante da luta pela independência de Moçambique, que dentre outras figuras

proeminentes do distrito de Mueda que actualmente algumas delas são figuras influentes na

FRELIMO, destacam-se: Lázaro Nkavandame; Joaquim Alberto Chipande, Faustino Vanomba,

Raimundo Pachinuapa, João Namiba, Cornélio João Mandanda, Lago Lidhimo, entre outros

(idem).

Após o início da luta de libertação, muitos dos membros se refugiaram no interior do planalto,

quer nos centros da FRELIMO, quer nos locais independentes ou seja zonas libertadas (Adam,

1993).

Foi neste período em que a FRELIMO traçou estratégias, não só para proteger a população dos

ataques inimigos, mas também uma forma de organização de produção em moldes colectivos

(Adam, 1993). Contudo, a ideia de aldeias comunais parece ter a sua origem na experiencia

vivida nas chamadas zonas libertadas (algumas delas se encontravam em redor do distrito de

Mueda)74

, pois durante a luta armada de libertação nacional, para a FRELIMO estes tinham

constituído um modelo em termos de organização politica, económica, social (idem).

Nesta perspectiva, estes factores demostram o contexto em que ocorrem às dinâmicas do

comportamento político eleitoral no distrito de Mueda sobretudo a persistência e a lealdade do

eleitorado a favor da FRELIMO nas eleições de 1994 a 2009. Todavia, é de caracter importante

sustentar que os factores que explicam o comportamento político eleitoral (oque leva com que

alguns grupos da sociedade votem duma certa forma) são vários, mas para o presente estudo

estes são os elementos que identificamos no contexto de Mueda e se apresentam mais fortes ao

ponto de relegar para um segundo plano os factores sócio-económicos que também influenciam

de alguma forma na estruturação do comportamento político eleitoral em Mueda.

Assim, apresentamos alguns resultados das entrevistas realizadas com os eleitores de Mueda,

onde um dos entrevistados disse o seguinte:

… Apesar de reconhecer as dificuldades que muitos de nós aqui em Mueda vivemos, sobretudo a falta de

transporte, problemas de água, não termos energia e sermos esquecidos pela FRELIMO, nós ainda

74

Sobre o conceito Zonas libertadas, consulte FRELIMO, Rumo ao Socialismo, 3º Congresso, Maputo, p: 21.

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confiamos. Mesmo com o fraco fornecimento de serviços básicos, como saúde, escolas, estradas, nós

sabemos que a FRELIMO tem feito muito para nós, pois a FRELIMO tem nós ajudado e sempre esteve

connosco desde a luta pela independência. Tudo que tenho é por causa da FRELIMO, por isso vou votar

sempre na FRELIMO e vou falar para meus filhos votarem na FRELIMO, pois nós ajuda, é nosso pai e

nasceu e cresceu aqui em Mueda…75

Ainda outro entrevistado explicou que:

… O País é grande e a FRELIMO não pode conseguir atender a todos e todas as coisas de uma única

vez. Sabemos ainda que para a construção de um País não é necessariamente insultar os governantes,

mas sim pedindo duma boa forma, e aí daremos tempo dos governantes reflectirem e resolverem os nosso

problemas e ajudar-nos naquilo que tem sido as nossas prioridades, e quando resolvem nossas

prioridades temos de votar neles porque merecem confiança…76

Perante estas palavras, compreendemos que apesar dos problemas que o distrito de Mueda vive,

o eleitorado vota persistentemente no partido no Poder, neste caso a FRELIMO, embora existam

tendências de mudança do status quo em Mueda.

Uma situação a salientar é o facto de constatarmos a existência de problemas sócio-econômicos,

mas fazendo uma análise profunda, percebe-se que estes não influenciam na forma como se

estrutura o comportamento político eleitoral em Mueda.

Isto é, apesar da insuficiência dos serviços relativamente básicos, os eleitores de Mueda

continuam leais e persistem em votar na FRELIMO. Isto é, no contexto de Mueda não se trata

necessariamente daquelas situações em que os eleitores fazem uma análise instrumental do valor

do seu voto (custo e benefício) em Mueda, mas uma situação em que votar na FRELIMO

constituiu um hábito e por via disso nasceu o comprometimento, que são condições sine qua non

para o nascimento e fortalecimento da lealdade partidária. Todavia, o voto a favor da FRELIMO

ou a persistência do eleitorado a favor da FRELIMO nesta perspectiva assemelha-se a uma

recompensa ou agradecimento por tudo que a FRELIMO tem feito naquele distrito, ou seja, pelo

facto do governo da FRELIMO prover alguns serviços mínimos então existentes, os eleitores de

Mueda sentem a necessidade de agradecer, e isso o fazem votando persistentemente na

FRELIMO.

75

Anónimo; Técnico na Administração distrital., Entrevistado em Mueda-Sede., 01 de Outubro de 2013. 76

Anónimo; Negociante. Entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.

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Seguidamente têm eleitores que não compactuavam com a ideia de votar na FRELIMO como

sinónimo de recompensa. São aqueles eleitores como explicamos anteriormente, que

ponderavam a mudança da forma de votar e de ver os processos políticos, bem como a sua

participação na política caso estes problemas prevalecessem por muito tempo. E isso é ilustrado

pelas palavras dum dos entrevistados:

.... A FRELIMO aqui em Mueda tem apoio, a FRELIMO aqui vai ganhar, e sempre votou-se na

FRELIMO, porque a FRELIMO apoia mesmo que seja de uma forma mínima. Sabemos que não satisfaz

todas coisas mas o mínimo faz, e nós não queremos o mínimo, nós aqui em Mueda por sermos filhos

próprios da FRELIMO eles deviam fazer muito mais. Hoje sabemos que o distrito de Mueda já é vasta e

tudo isso é por causa da FRELIMO. Aqui em Mueda não temos empresas e nem entidades como nos

outros distritos e é a FRELIMO que nós ajuda. Mas não ajuda muito, faz pouco. Muitos jovens já estão

revoltados, se a FRELIMO continuar a fazer somente poucas coisas vai perder um dia aqui em Mueda ou

as pessoas não irão votar…77

.

Neste contexto, compreendemos que apesar dos eleitores reconhecerem o papel que a FRELIMO

enquanto partido que faz a gestão da Rés pública desembrenha no progresso ou ate

desenvolvimento do distrito, os eleitores de Mueda querem mais, pois essa é a lei universal da

vida78

, e isso demonstra que os eleitores reconhecem que os problemas são maiores e que o facto

de votar continuamente na FRELIMO deixa este partido numa situação de relaxamento e

consequência disso não faz muito esforço com vista a resolução dos grandes problemas da ordem

do dia que assolam a comunidade de Mueda, ou seja, não tem feito quase nada para continuar a

ganhar simpatia e proximidade do eleitorado de Mueda.

Por outro lado, tendo em conta as palavras dos entrevistados, compreendemos que este cenário

poderá levar há uma situação em que se um dos partidos da oposição conseguir mobilizar um

grupo de apoiantes no distrito de Mueda e consequentemente conseguir simpatia no eleitorado de

Mueda, a forma de votar e a configuração do comportamento eleitoral em Mueda se transfigure

num outro sentido.

77

Horácio Ntchanhenga; pensionista; Entrevistado em Mueda no dia 02 de Outubro de 2013. 78

O homem sempre quer mais em detrimento dos outros, o egoísmo (vide: Thomas Hobbes, O Leviatã)

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5.2. O Papel da ligação histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na

Construção da Identificação Partidária do Eleitorado de Mueda

Na nossa concepção tendo em conta as colocações de Freire (2001: 45-46) o voto implica mais

do que uma escolha, pois é o reflexo do processo de adesão duma determinada situação ou a

causa, relacionado ao contexto sociocultural, económico, social em que estão inseridos

indivíduos e grupos. Para tal, votar significa expressar a adesão ou o posicionamento político do

eleitor de acordo com a ideia que ele possui acerca do campo político e o “local” que pretende e

ocupa em tal espaço (idem). Na mesma perspectiva, se o voto ou escolha é uma decisão, seja ela

individual ou coletiva, tomada com base em certos critérios e em um determinado momento, a

identificação é um processo que vai comprometendo o indivíduo, ou a família, ou alguma outra

unidade social significativa ao longo do tempo, para além do tempo da política79

(Idem).

Partindo do pressuposto de que a identificação partidária é a possível relação que pode se

estabelecer em função da lealdade, confiança e vínculos tradicionais com um certo partido ou

com o candidato. Podemos compreender que grosso modo do eleitorado de Mueda nas diversas

formas de fazer as suas escolhas políticas eleitorais, estão sempre presente os pressupostos ou

alguns elementos da identificação partidária. E isso é demostrado nas palavras dum dos

entrevistados:

… Nós aqui em Mueda somos unidos, não há nenhum outro partido além da FRELIMO que possa

arrancar as nossas raízes, porque confiamos e vamos confiar até a nossa morte. Nós aqui em Mueda,

parece que já consumimos o sangue da FRELIMO e não podemos largar. Nós somos próprios da

FRELIMO, nós somos a FRELIMO, e a FRELIMO nasce aqui e não podemos largar. A FRELIMO somos

nós, todos aqui em Mueda. Mueda são próprios da FRELIMO, e somos filhos da FRELIMO e estamos

crescendo com a FRELIMO. Nós achamos que gozamos da bênção da FRELIMO e o partido sensibilizou

muito este distrito, por isso achamos que somos primeiros filhos da FRELIMO, pois foi aqui onde

ganhou os primeiros apoiantes…80

Aqui, percebemos que a questão da lealdade é aplicável no contexto de Mueda; Mas está

lealdade deve ser associada a duas situações (comprometimento e o hábito).

79

Aplicamos o termo (tempo da política), para significar necessariamente o tempo do processo eleitoral, o tempo

das visitas governamentais, o caso das visitas abertas do Presidente da Republica, etc. 80

Félix Luís; Antigo combatente e pensionista., entrevistado em Mueda, no dia 05 de Outubro de 2013.

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Assim, um número considerável de eleitores de Mueda, sentem estar comprometidos com a

FRELIMO e votar contra este partido significaria necessariamente uma traição, ou seja, o

comprometimento nos remete à ideia de compromisso e não votar na FRELIMO implica faltar a

palavra ou não executar o compromisso. Por isso eleição após eleição, um grosso modo do

eleitorado de Mueda sente-se auto obrigado e coagido por diversas razões a votar na FRELIMO,

como podemos ilustrar a entrevista a baixo:

… Os líderes comunitários aqui em Mueda são a base para a destruição dos partidos da oposição, não

deixam intervenção dos partidos da oposição aqui em Mueda e a nossa decisão de quem votar depende

muito deles. Pois somos unidos, e quem votar contra oque os líderes comunitários dizem é mandado

embora deste distrito ou da localidade…81

Em relação ao hábito, percebemos que o eleitorado de Mueda na sua maioria vota na FRELIMO

como sinónimo do hábito. E isso é ilustrado com um dos nossos entrevistados:

… Eu e muitos outros colegas do bairro votamos na FRELIMO porque já estamos habituados. Não

podemos trocar de partido, isso seria ofender a nós mesmos. Eu não posso votar contra a FRELIMO, já

estou habituada a ela. Desde que nasci, muito antes de conhecer mulher, já conhecia a FRELIMO, pois

ela lutou e libertou o País. Desde a juventude vivo a partir da FRELIMO e assim vai custar largar este

partido que amo. O meu hábito a FRELIMO não é porque dá-me dinheiro, mas sim porque gosto e

confio, confio muito este partido, e sou fiel a ele …82

A identificação partidária pode estar aliada a falta de alternativas ou talvez produto directo das

influências da comunidade ou tradição familiar e isso que pode ser potenciado pelas relações de

lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido. Para tal, ao longo duma das entrevistas com

um dos eleitores, disse que:

… Aqui em Mueda, poderá ser difícil largar-se a FRELIMO, pois nós não vimos nenhum outro partido

aqui em Mueda, ou seja não existem. Isso não significa que os partidos da oposição são proibidos de

chegar aqui, ou são proibidos de instalar sua sede e exercer suas actividades livremente, oque acontece é

que eles sabem da história da FRELIMO aqui em Mueda, então os partidos sentem que não terão espaço,

e só aparecem em momentos de campanha e não são muitos partidos, é um ou dois partidos.

81

Idem. 82

Anónimo; professor, entrevistado em Mueda no dia 01 de Outubro de 2013.

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Também não vamos largar a FRELIMO porque para nós de Mueda é como nosso pai, nossa mãe e nosso

filho. Não podemos trocar por nada…83

Porém, identificação do eleitorado de Mueda ao partido FRELIMO pode estar associada também

um comportamento eleitoral personalizado que nasceu pela confiança e lealdade que os eleitores

têm com o partido. E esta situação pode ter fundamentos na ideia de que das diversas formas de

identificação partidária, o principal aspecto para efectivação da identificação é a confiança. Isso

que quase a totalidade dos eleitores entrevistados afirmaram que confiavam levianamente na

FRELIMO e que os chefes locais ou tradicionais desempenhavam um papel preponderante na

socialização e mobilização quase total do eleitorado de Mueda em votar na FRELIMO, como

ilustra nosso entrevistado:

… Eu voto na FRELIMO, fielmente porque confio e acho que deve ser assim aqui em Mueda e em todo

País. A FRELIMO lutou por muito tempo. Por exemplo no tempo da guerra de independência, a guerra

contra a Renamo, e eles não tinham nenhum salário e sem recompensa, então eu acho que tenho de votar

na FRELIMO, como forma de pagar o sofrimento que a FRELIMO passou. E os chefes ou autoridades

tradicionais aqui em Mueda também nos chamam atenção para votarmos na FRELIMO e não em outro

partido, pois os chefes são da FRELIMO…84

Um aspecto importante nas características da identificação partidária é meramente a

identificação grupal tradicional. Esta que comporta aspectos como: voto definido em função de

identificação com um certo grupo de referência (grupo étnico, comunidade religiosa, categoria

profissional, género, região). Para o caso do eleitorado do distrito de Mueda, compreendemos

que a identificação partidária que se associa as categorias que demostramos acima, é a

identificação com o grupo de pertença regional e étnica aliada a confiança. Isso pode ser

demostrado tendo em conta uma as palavras dum dos nossos entrevistadas:

… A minha confiança com a FRELIMO é porque aqui na região de Mueda, aqui no planalto de Mueda

quase todos falam da FRELIMO e dizem muita das vezes que ela nasceu aqui em Mueda e que devemos

muito a FRELIMO, por isso tenho de ser da FRELIMO e votar sempre na FRELIMO. É o partido que

está mais próximo, nasceu aqui, e todos falam da FRELIMO… a nossa geração que têm (+ 40 anos) vai

83

Anónimo; Carpinteiro e pensionista; entrevistado em Mueda Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. 84

Napalena Nkalipa, pensionista; entrevistado em Mueda-Namaua, no dia 06 de Outubro de 2013.

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ser difícil deixarmos de votar na FRELIMO, tornará difícil, pois tudo sentimos na FRELIMO. A não ser

a geração dos jovens, estes até poderão votar contra a FRELIMO, não sei…85

Outro entrevistado afirmou o seguinte:

… Aqui em Mueda somos pobres, as coisas são caras e a FRELIMO não faz nada. Seria bom se construi-

se uma escola profissional. Sentimos que a FRELIMO nos esqueceu, mas é um distrito histórico e a

FRELIMO não nos ajuda… apesar dos problemas, vamos votar e eu sempre vou votar na FRELIMO,

porque é nossa, é nosso filho, e nos gostamos e confiamos, e estamos habituados com eles, só que tem de

melhorar. A FRELIMO nasce aqui em Mueda e não podemos trair…86

5.2.1. Inexistência de acções mobilizadoras dos Partidos da Oposição

Um dos pressupostos que levamos em conta ao analisarmos a persistência e a lealdade dos

eleitores de Mueda a favor da FRELIMO foi a tentativa de compreender também o papel dos

partidos da oposição no contexto de Mueda, ou seja, procurarmos perceber como os partidos da

oposição se fazem ou não sentir no contexto de Mueda. Portanto os pressupostos que

avançaremos neste subcapítulo vão sustentar a hipótese segunda a qual a oposição não existe ou

não se faz sentir em Mueda e esta situação pode ser a razão relativamente principal dos votos

quase absolutos a favor da FRELIMO em Mueda.87

Assim, como forma de demostrar estes argumentos recorremos as palavras dum dos nossos

entrevistados que afirmou o seguinte:

… Aqui em Mueda a oposição não existe, não se faz sentir e nenhum partido da oposição têm sede. A

maioria dos seus apoiantes já abandonaram os partidos da oposição porque não tem sede para as suas

reuniões e nem para debater outros assuntos importantes para o distrito de Mueda. A oposição aqui em

Mueda é uma pessoa, que é representante do partido mas sem um lugar fixo para saber-se que aqui

pertence ao partido Renamo ou MDM etc…88

Mais ainda outro nosso entrevistado disse o seguinte:

… Os partidos da oposição como PIMO, RENAMO, MDM, não existem aqui em Mueda. Só existem em

tempos de eleições. E também não tem objectivos e aparecem para enganar e mentir o povo, não

85

Anónimo, domestica; entrevistado em Mueda-Imbuho Sede, no dia 31 de Setembro de 2013. 86

Fabiano Nambavila, pensionista; entrevistado em Mueda-Miula, no dia 10 de Outubro de 2013. 87

Mais detalhes a respeito deste debate, visite a cartografia eleitoral no site: WWW. IESE. AC. MZ 88

Anónima, domestica; entrevistado em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.

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mostram os objectivos que querem alcançar, por isso está sendo e será difícil votarmos na oposição…

Nos não conhecemos os partidos da oposição, e quando a oposição vem aqui em Mueda não convence,

enquanto a FRELIMO nos convence…89

Sobre o aspecto da regionalização do voto, um dos entrevistados foi mais longe e afirmou o

seguinte:

Aqui em Mueda o nosso principal partido é a FRELIMO. Aqui em Mueda vai ser difícil deixarmos a

FRELIMO, porque a oposição não se faz sentir muito e também não sabe convencer o povo. Só no centro

do Pais, a oposição pode convencer, pois a RENAMO, MDM nasceram lá. E aqui no Norte custa muito

agente largar a FRELIMO, pois este partido está aqui na zona desde os anos 60, no tempo da luta de

libertação…90

Assim, a partir destas palavras, percebemos que por um lado, a oposição é inexistente, ou seja,

existe disfuncionalmente. Somente em alguns momentos que se fazem sentir. Porém a política

não é feita somente em tempos de campanha ou em tempos de processos eleitoral, ela é feita

continuamente. É nesta perspectiva que entendemos que está é uma das razões que leva com que

maior parte do eleitorado de Mueda continue a votar na FRELIMO.

Por outro lado, percebemos que a questão não é só de não fazer-se sentir; Oque acontecido é que

os principais quadros destes partidos da oposição e muito menos os apoiantes dos mesmos

partidos não tem feito quase nada para ganhar a simpatia de alguns eleitores no distrito de

Mueda, simplesmente em momentos de campanha ou em processos eleitorais é que tem-se feito

presentes, e isso foi ilustrado com um dos entrevistados:

… Não vou confiar em nenhum outro partido além da FRELIMO, porque não conheço, ou seja é difícil

confiar numa coisa que não conhecemos… aqui no distrito as pessoas não conhecem os partidos, porque

não estão organizados, não tem objectivos, não fazem campanha e os seus dirigentes nunca chegam aqui

em Mueda… e eu gostaria que os partidos viessem aqui em Mueda, para haver concorrência, porque

assim poderia melhorar o distrito…91

89

Anónimo; Negociante, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 02 de Outubro de 2013. 90

Anónimo; Professor, entrevistado em Mueda-Litembo, no dia 01 de Outubro de 2013. 91

Anónimo, entrevista realizada em Mueda-Chapa Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.

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Com estas palavras percebemos que apesar da não existência quase efectiva dos partidos da

oposição ou fraca actuação dos mesmos partidos em Mueda, existem aqueles defensores da ideia

do multipartidarismo efectivo onde anseiam à existência de partidos se confrontando

políticamente e ideologicamente com vista a alastrar a sua base de apoio e consequentemente

conquista da máquina governamental. Razão disso, muitos jovens como sustentou um dos

entrevistados92

, estão à espera deste momento, pois se sentem injustiçados com a maneira da

gestão da coisa pública em Mueda e aguardam que alguma coisa melhore no seio do distrito93

.

Mais ainda, a existência dos partidos da oposição significaria para alguns dos nosso entrevistados

a mudança do foco e da forma como a FRELIMO tem tratado o distrito.

92

Os jovens no distrito de Mueda são tidos como sendo os defensores do MDM, e os eleitores com idade (40 +…),

vê isso como um perigo. Apesar de reconhecer que existem eleitores que dão enfase a ideia de que devem existir

outros partidos porque a FRELIMO esqueceu Mueda, e já não trás nenhum desenvolvimento. 93

Idem.

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5.3. Abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos expressos a favor da FRELIMO

Nesta parte do trabalho, vamos discutir os pressupostos segundo os quais, os números dos votos

que indicam 92%, 86%, 94% e 96%, nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, a

favor da FRELIMO no distrito de Mueda, que combinados com os factores históricos-estruturais

no contexto do presente trabalho preferimos chamar de persistência e lealdade do eleitorado a

favor da FRELIMO, não significam necessariamente que o eleitorado de Mueda no seu todo vota

vivamente na FRELIMO, mas sim que a participação política eleitoral no tocante a abstenção

eleitoral tem se registrado em grosso modo.

Assim, começamos a apresentar as colocações de Lipset (1959) segundo as quais, são vários

factores que concorrem para explicar a maior ou a menor participação em processos eleitorais. E

ele destaca três condições: em primeiro lugar é necessariamente o ponto de contacto que o

indivíduo mantém com a política governamental; Em segundo lugar o acesso a informação94

; Em

terceiro lugar a pressão social no sentido da votação bem como a existência de pressões

múltiplas. Em termos práticos, ao que tange a participação eleitoral, a identificação partidária

tem um impacto mobilizador, pois quanto mais forte é essa identificação, maior é o

envolvimento político dos cidadãos e também maior será a sua propensão para ir votar

(Campbell et al. 1960, pag. 128).

A identificação partidária desempenha um papel fundamental no processo por um lado, de

construção e consolidação das bases de apoio dos partidos, mas também desempenham um papel

importantíssimo para mobilizar as mesmas bases de apoio a se fazerem presente nas actividades

inerentes ao processo político-eleitoral. Isso pode ser constatado e sustentado, com base nas

palavras dum dos entrevistados:

… Eu sou da FRELIMO, vivo da FRELIMO, nasci com a FRELIMO e sempre vou votar, mesmo que caia

chuva vou na mesa de voto e votarei sempre na FRELIMO. Meu sangue corre FRELIMO e votar contra,

seria trair a mim mesmo… Nunca faltei em nenhuma reunião do partido, mesmo comícios, palestras aqui

no distrito de Mueda, eu sempre me faço presente. Porque eu amo e gosto este partido…95

Fundamentou ainda:

94

Se referimos necessariamente as informações de índole política ou seja que tem alguma ligação com a política

governamental. 95

Anónimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.

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… Antes do dia das eleições nós reunimos para se lembrar que somente devemos votar na FRELIMO.

Nos dias de eleições nós se convidamos um ao outro e todos nós votamos no mesmo partido que é a

FRELIMO. Pelo menos nós que temos participado nas reuniões…96

A votação que atinge na média os 90% a favor da FRELIMO não significa que o eleitorado no

seu todo votou taxativamente a favor da FRELIMO. Isso é ilustrado por um lado, pelos

resultados eleitorais (níveis de abstenção media em cada pleito eleitoral que analisamos)97

pois

nota-se que em cada pleito eleitoral, há uma tendência do eleitorado se distanciar da FRELIMO,

significando em última instância a fragilidade da lealdade e da persistência a favor da FRELIMO

no contexto de Mueda. Por outro lado, a votação acima dos 90% não pode ser vista como sendo

resultados que mostram uma votação quase na totalidade dos eleitores a favor da FRELIMO,

pois estes são percentagens dos eleitores que foram votar. Isso é confirmado pelas sensibilidades

e informações que obtivemos no processo das entrevistas com alguns dos eleitores que tivemos

oportunidade de dialogar com eles. Por exemplo um dos entrevistados fundamentou o seguinte:

… Nós jovens vamos parar de votar na FRELIMO, veja que somos desempregados, não temos condições

para conseguir emprego e a FRELIMO simplesmente esqueceu nosso distrito. Para mim, seria bom se

existisse oposição aqui em Mueda, para votarmos. Pois a geração dos nossos pais, avôs, vão morrer e

nós que iremos votar contra a FRELIMO. Estes mais velhos votam porque ganham pensões e nos não

ganhamos nada, não temos nenhum benefício pelo facto de votarmos na FRELIMO…98

Mais ainda, um outro entrevistado explicou que:

… Nós jovens já começamos a convidar- se para votar num outro partido ou deixar de votar nem na

FRELIMO e nem no outro partido. Mas também sabemos que os mais velhos vão continuar a votar

sempre na FRELIMO, logo isso significa não fizer nada…99

Com estas palavras compreende-se que os jovens acreditam ainda que os mais velhos sobretudo

(avôs, pais, etc), está geração poderá desaparecer e que eles enquanto estrato que constitui

sangue novo é que vão decidir o rumo dos acontecimentos num futuro próximo. A segunda

percepção é que a FRELIMO poderá continuar tendo os votos expressos acima dos 90% ao

menos ao que se refere os votos expressos a seu favor, visto que nos momentos de votação (dias

96

Idem. 97

É de capital importante demonstrar que nos quarto pleitos eleitorais, a média de abstenção no distrito de Mueda

foi de: 1994 (8%); 1999 (39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 98

Anónimo, desempregado, entrevista em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013. 99

Anónimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 03 de Outubro de 2013.

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de votação) um número considerável de eleitores que são simpatizantes e se identificam com a

FRELIMO sobretudo pelas acções que a FRELIMO tem encaminhado, tem-se mobilizado e vão

em massa votar na FRELIMO, enquanto um grosso número de eleitores não se fazem presente

para a votação, ou seja, se abstêm 100

.

Encontramos discursos típicos das comunidades ou aglomerados que não tem nada a perder ao

afirmarem que tinha parado de ir votar nos últimos dois pleitos eleitorais porque não enxergavam

o rendimento de ir votar, mas claramente se faziam e sempre se fazem presente nos postos de

recenseamento, reconhecendo deste modo a importância cívica do recenseamento eleitoral, como

ilustrado com palavras do entrevistado:

… Sabemos que estamos em Mueda, uma terra em que a maioria vota na FRELIMO, em que quase todos

só falam da FRELIMO, e que o partido FRELIMO é amado e gostado nesta comunidade, mas algumas

pessoas que pensam como eu, e principalmente a camada jovem, não vê a vantagem de ir votar, ou seja,

oque tem acontecido é que nos vamos votar e os mais velhos é que vão comer, recebem as pensões e nos

não, passamos fome, nas nossas casas sem comida. Temos certificados de estudos, mas não temos

emprego, os certificados apodrecem nas nossas casas, não temos e não há emprego e solução é sentar

em casa, isolar-se do que os outros vão fazer nos dias de eleições…101

Outro dos entrevistado ainda enfatizou que:

… Quando é recenseamento, nós jovens somos os primeiros a ir para lá. Porque achamos que é

obrigatório e não podemos faltar…102

Como forma de ilustrar o debate a cima, apresentamos as médias dos votos expressos a

favor da FRELIMO e abstenção eleitoral nos pleitos de 1994 a 2009 no distrito de Mueda:

Tabela 8: Votos a favor da FRELIMO e a Média de abstenção eleitoral no distrito de

Mueda (1994 a 2009).

Eleições de: 1994 1999 2004 2009

Votos expressos a favor da FRELIMO 92% 86% 94% 96%

Abstenção em Mueda 8% 39% 53% 48%

100

A média de abstenção no contexto de Mueda nas eleições que nos propusemos analisar é de: 1994 (8%); 1999

(39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 101

Anónimo, Comerciante, entrevistado em Mueda-M’gapa, no dia 31 de Setembro de 2013. 102

Anónimo, carpinteiro e estudante, entrevistado em Mueda-Chapa, Lipelua, no dia 01 de Outubro de 2013.

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Assim, subentende-se que a votação nos pleitos de 1994 a 2009, a favor da FRELIMO não

significa necessariamente que os eleitores de Mueda no seu todo votam na FRELIMO, mas sim

são números que dão significado e significância aos votos expressos, ou seja, votos na urna e que

na sua maioria pertencentes a um grupo de eleitores que se identifica com as políticas

governamentais e que acreditam tirar vantagens pelo facto de se fazerem presente as mesas de

voto e votar na FRELIMO. É de notar ainda que são inúmeras pessoas que não se fazem presente

nas respectivas mesas de voto alocadas para o efeito nos dias de votação, preferindo ficar em

suas casas, pois não encontram nenhum incremento pelo facto de irem votar. Esta situação é

justificada pela falta de oportunidades, que somente é favorável a uns em detrimento da maioria.

No contexto de Mueda, ao que se refere a abstenção eleitoral, nota-se uma tendência de

acréscimo, ou seja, em Mueda de eleições após eleições, nota-se que a participação política nos

processos eleitorais tem sido baixa, estando reservada há um grosso modo de eleitores que se

identificam pelo partido FRELIMO e das políticas governamentais, como foi ilustrado em alguns

depoimentos acima.

Isso mostra a tendência dos sectores mais excluídos da sociedade se distanciarem com os

processos políticos no seu todo, e em particular aos processos eleitorais, visto que não encontram

um incremento pelo acto de ir votar. Neste caso, deu-se o exemplo mais soante que é (a questão

das pensões para os antigos combatentes da luta de libertação). Esta pensão a jovem legalmente

não tem idade para recebê-la, visto que em termos legais é para aqueles veteranos de guerra (é

um subsídio para os que participaram na luta de libertação nacional.

Assim, são vários os pressupostos que podem explicar a abstenção eleitoral em Mueda, dentre

outros, destacamos a exclusão de alguns grupos nas relações socialmente construídas no dia-a-

dia; as filiações políticas e partidárias do eleitorado de Mueda; a desconfiança bem como o

esgotamento com o governo do dia; a influência que sofrem os eleitores que se abstêm nos seus

grupos de pertença bem como a sua condição sociopolítica, económica nos momentos

precedentes a ocorrência das eleições. Contudo, em Mueda a abstenção pode ser compreendida

como sendo uma medida em que os eleitores tomam pelo facto de estarem descontentados pelas

políticas e políticas governamentais e as más condições de vida em que maior parte do eleitorado

de Mueda se encontra.

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CAPÍTULO VI

6.1. Acções Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o Papel dos

Líderes de Opinião na Construção do Comportamento Eleitoral

Esta é uma temática que se enquadra numa tentativa de explicar e demostrar o papel que as

acções mobilizadoras desempenham na construção do comportamento político e eleitoral bem

como a sua relevância na persistência e na lealdade dos eleitores de Mueda a favor da

FRELIMO. E vamos de alguma forma tentar demostrar tendo em conta as entrevistas que

realizamos no local de estudo.

Assim, partindo do pressuposto de que os líderes de opinião num processo político, muita das

vezes representam o sector da população mais activo com vista a participação e mobilização em

aspectos meramente políticos, e também são o centro mais decisivo no processo de formação das

atitudes e comportamentos sobre o voto e a política. E isto consubstancia-se com as colocações

de Pereira (2007)103

, quando discutiu o processo de formação de opinião pública.

Os líderes de opinião desempenham um papel extremamente importante no processo de

construção do comportamento político eleitoral em Mueda. E isso foi demostrado por um lado

pelas entrevistas que tivemos com os líderes da opinião, e por outro lado fundamentado pelos

próprios eleitores. Como inicialmente afincou um dos líderes de opinião:

… Nós líderes comunitários somos grandes mobilizadores da população, sempre chamamos atenção a

população para ir recensear, ir votar mas não influenciamos em que votar. Temos explicado ao povo

como devemos se comportar nos dias de votação, mas nunca dissemos a eles em que devem votar,

simplesmente explicamos como devem votar e aqui em Mueda existem rumores que nós influenciamos os

eleitores para votarem na FRELIMO…104

Estas palavras foram diversas vezes postas em causa, pois na opinião de muitos dos nossos

entrevistados/eleitores, os líderes de opinião eram mobilizadores sim, mas também que

representavam a FRELIMO, pois eram da FRELIMO e que faziam de tudo para destruir a

oposição. Como ilustrou o nosso entrevistado:

103

Mais detalhes veja em: Pereira, J. C. G. (2007). Onde que os eleitores Moçambicanos adquirem as suas

informações políticas. Artigo publicado pelo IESE, Conference Paper número 30. 104

Vítor Mbonda, Líder Comunitário, entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.

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… Os líderes tradicionais ou comunitários na minha forma de perceber são os grandes mobilizadores

para votarmos na FRELIMO. São eles que vêm nos dizer quando teremos reunião no partido, eles dizem

quem devemos votar e também eles explicam que não queremos outro partido aqui no planalto de Mueda

para além da FRELIMO…105

Mais ainda, outros dos entrevistados demostraram sempre a mesma tendenciosidade, pois os

líderes de opinião claramente influenciavam na forma como eles votavam.

Ademais, o simples facto da comunidade não ter acesso por exemplo aos manifestos, a campanha

ser restrita a um ou dois partidos, etc, percebe-se que os líderes de opinião devem ter uma voz

activa no processo de construção das atitudes políticas e consequentemente na expressão do voto.

Está posição dá importância os líderes da opinião na construção do comportamento eleitoral, e a

influência que estes têm na determinação do voto num contexto específico.

Compreendemos que estas palavras do entrevistado englobam dois aspectos importantes: por um

lado, percebemos que os líderes de opinião em Mueda são a forma motora para a fragilização

quase total dos partidos da oposição ou da sua ineficiência e inexistência no contexto de Mueda,

por outro lado, compreende-se que os líderes de opinião fortificam a FRELIMO na base e são

eles que mobilizam os eleitores e dão indicações a forma como os eleitores devem votar e em

que votar.

Outra componente importante quando analisamos o papel dos líderes de opinião em Mueda na

construção das atitudes sociopolíticas e eleitorais. De acordo com um dos eleitores entrevistados:

… Os chefes de quarteirão, os chefes do bairro, as autoridades tradicionais, são os responsáveis pela

mobilização e participação das reuniões, comícios tanto o partido FRELIMO assim como do governo.

Muitas das vezes nós percebemos ou distinguimos as reuniões com o símbolo (bandeira).

Quando a reunião é do partido FRELIMO, o líder comunitário anda de casa em casa com a bandeira da

FRELIMO e também no local da reunião ou comício colocam a bandeira da FRELIMO. Quando a

reunião é do governo ele anda com a bandeira do governo e também no local da reunião colocam a

bandeira do Governo…106

105

Anónimo; entrevistado em: 02 de Outubro de 2013. 106

Anónimo, entrevistado em: 01 de Outubro de 2013.

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Está estratégia é de vangloriar, pois a partir destas distinções a população consegue distinguir o

tipo de reunião que será realizada e quem convocou, se é o partido ou o governo, apesar de

saber-se que não tem existido tanta rigorosidade nestas distinções como nos explicou o mesmo

do entrevistado:

… Neste distrito de Mueda, os líderes comunitários só falam da FRELIMO, não falam nem do governo

nem de outros partidos, só da FRELIMO. Por exemplo, dizem: a FRELIMO que fez escolas, hospitais,

trouxe água, portanto devemos votar nela. Mas também os líderes ocupam cargos no partido FRELIMO

aqui no distrito e para mim é um alargamento da FRELIMO e estão a controlar-nos… mesmo que nos

chamem nos comícios do governo com bandeira do governo ou identificados com roupa e bandeira do

Governo, nos sabemos que são da FRELIMO…107

Os líderes de opinião em Mueda desempenham um papel considerável na construção do

comportamento político eleitoral, este por sua vez intencional, pois têm como pressupostos bases

influênciar aos eleitores a quem devem votar. Mais ainda é importância reconhecer o papel que

esta camada desempenha no processo de consciencialização política no seu todo, que todo o

cidadão tem de participar nos processos políticos eleitorais. E esta liderança tradicional tem feito

um papel importantíssimo na mobilização e na divulgação das informações à população para se

fazerem presente em comícios, reuniões, nos recenseamentos, no dia de eleições, etc.

Há uma situação que nos foi relatada com um dos entrevistados:

… Aqui em Mueda, quando termina o recenseamento, os líderes comunitários marcam reuniões nas

escolas para levarmos os nossos cartões de eleitores para irem carimbar e ai nos informam que devemos

votar na FRELIMO, porque aquilo é confirmação de que vamos votar na FRELIMO. Mesmo este ano

(em Junho de 2013), pediram os nossos cartões para carimbar; E também eles fazem campanha para a

FRELIMO no período de campanha eleitoral…108

Estas palavras são importantes para compreender as diversas formas de mobilização, pois os

líderes de opinião no distrito de Mueda tem feito de tudo com vista a controlar o eleitorado de

Mueda e mobilizar de todas maneiras para votar na FRELIMO. Por via disso, tem-se cometido

muitas e diversificadas irregularidades como forma de ampliar a base de apoio da FRELIMO em

Mueda.

107

Idem. 108

Anónimo, entrevistado em: 03 de Outubro de 2013.

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Estas irregularidades que não tem nenhum suporte legal na legislação eleitoral em vigor109

. O

exemplo que encontramos á a questão da obrigatoriedade que os eleitores de Mueda estão

sujeitos a levar os cartões nas células/estruturas da FRELIMO com vista a carimbar, que

significa puramente violação da periodicidade fixa do recenseamento e a devida consulta dos

cadernos eleitorais. Com esta prática, muitos eleitores compreendem que o simples facto de

deixar os seus cartões de eleitores ou seus nomes em algumas listas pertencentes ao partido

FRELIMO após o fim do período legal/normal do recenseamento significa um comprovativo de

que vão votar no mesmo partido.

109

Se referimos necessariamente à Lei Eleitoral: 5/2013- lei sobre o recenseamento eleitoral.

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6.2. O impacto das Acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda

Nesta componente do trabalho, o principal objectivo é demostrar como as acções mobilizadoras

(campanhas eleitorais, mobilizações dos partidos políticos, comícios, reuniões, etc) influenciam

na forma como os eleitores de Mueda fazem as suas escolhas políticas eleitorais.

Assim, no distrito de Mueda um dos pontos que conseguimos denotar é a fraca mobilização do

eleitorado, ou seja, o eleitorado pouco ou quase nunca é mobilizado pelos partidos. E esta

situação ficou a cargo das chefaturas tradicionais. Mais ainda a ínfima mobilização política nota-

se em períodos de campanha eleitoral, quer dizer quando está próximo aos processos eleitorais.

Como afirmou um dos entrevistados:

… A FRELIMO só nos quer quando é tempo de eleições, após isto desaparece, nós esquece. Só faz duas

coisas ou três coisas durante os próximos cinco anos e quando chega no período de campanha, dizem:

nos fizemos esta estrada, nos construímos poços e nos ficamos felizes e votamos na FRELIMO

novamente. Mas eles têm de vir sempre aqui em Mueda, vir ouvir nossos problemas e tentar resolver.

Mas não fazem isso…110

Nessa perspectiva compreendemos que os partidos políticos e até a FRELIMO dificilmente se

fazem presente em Mueda. Para a FRELIMO, sai em vantagem graças as estruturas locais que

estão ao seu serviço e do governo. Por via disso conseguem fazer-se sentir. Enquanto para os

partidos da oposição a sua visibilidade fica ainda mais complicada pelo facto de por um lado,

não terem sede e nem ter representantes e por outro lado, o facto dos principais dirigentes destes

partidos não se fazerem presente ou chegam em Mueda111

.

Ademais, no distrito de Mueda tendo em conta as entrevistas realizadas, as campanhas eleitorais

apesar de serem de 1 ou 2 partidos têm um papel importante para sensibilizar e cativar o

eleitorado nas matérias inerentes ao processo político eleitoral. Em seguida demostramos como o

nosso entrevistado abordou sobre o assunto:

110

Anónimo., desempregado, entrevista realizada no dia 01 de Outubro de 2013. 111

Nesta componente, compreendemos que os dirigentes dos partidos da oposição podem não chegar em Mueda

pelo facto de evitar represálias e repreensão da comunidade local, e isso pode de facto encontrar uma explicação na

conjuntura política e histórica entre o distrito de Mueda, o partido FRELIMO e a sua relação com os partidos da

oposição.

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… As campanhas podem fazer a FRELIMO permanecer no poder, porque é uma forma de cativar ou

recordar o povo o que a FRELIMO é e oque ela foi… e também é importante que o eleitor seja

aproximado e atendido da mesma forma como no tempo de campanha. Aqui em Mueda no tempo de

campanha chegavam carros, visitas frequentes de ministros, mas após às eleições abandonam o nosso

distrito…112

Disse ainda que:

… As campanhas são para consolidar a população a conhecer os seus direitos e também saber escolher

indivíduos da sua vontade e não pela obrigação…113

Em relação as formas como o eleitorado de Mueda tem-se informado sobre os diversos feitos do

Pais, muitos deles afirmaram que não o tinham lido nem se quer uma vez o manifesto eleitoral e

que dificilmente acompanhavam o debate político nacional, por isso davam maior confiança aos

líderes comunitários em Mueda:

… Nós confiamos os líderes comunitários porque eles informam-nos sobre coisas que acontecem no País.

Aqui em Mueda muitos não têm televisão e não leem jornal, então os líderes comunitários é que nós

informa… Por isso confiamos neles. São eles que no comunicam diversos assuntos daqui em Mueda e do

Pais. Quando o partido FRELIMO ou o governo quer informar algo, fala com os líderes comunitários e

eles vem nós informar de casa em casa...114

Com estas palavras, percebemos que os líderes de opinião desempenham um papel

preponderante no processo de construção do comportamento político-eleitoral em Mueda.

Apesar de reconhecer-se o papel destes, não deixamos de fora a possibilidade dum número

considerável de eleitores de Mueda não dar aval oque estes representantes de base do povo têm-

lhes informado no dia-pós-dia. Pois se isso não acontece-se em Mueda, não poderiam existir

divergências em relação o que alguns eleitores neste estudo demostraram e por outro lado o que

os líderes de opinião afirmaram neste estudo é muito contraditório.

Mais ainda, apesar da dimensão importante do papel dos líderes de opinião na mobilização da

população nas diversas vertentes, compreendemos duas assunções:

112

Anónimo, líder religioso. Entrevista realizada em Mueda- Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. 113

Idem. 114

Anónimo; Pensionista. Entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 13 de Outubro de 2013.

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A primeira é que o líder de opinião tem tido um papel preponderante na mobilização da

população com vista a sua participação nas diversas componentes da participação política

eleitoral e isso claramente foi confirmado por alguns dos entrevistados e no contacto feito aos

próprios líderes de opinião.

A segunda assunção é que muitos dos eleitores que entrevistamos, demonstraram que a liderança

tradicional, os chefes do bairro e diversas componentes na liderança da estrutura da comunidade,

muito que fazem é destruir outros partidos além da FRELIMO e mobilizam em forma de

comunicados e informações quase à totalidade da população de Mueda para votar

constantemente na FRELIMO, consequentemente os eleitores persistentemente estarem ligados e

leais ao partido FRELIMO.

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CAPÍTULO VII

7. CONCLUSÕES

O trabalho desenvolvido ao longo dos capítulos anteriores tinha como objectivo analisar a

lealdade e a persistênte do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido FRELIMO, nas

eleições de 1994 até as eleições de 2009 e desenvolveu-se em conformidade com a seguinte

pergunta de partida: quais são as razões que explicam a persistência e a lealdade dos eleitores do

distrito de Mueda a favor da FRELIMO? E porque permanece a crença do voto a favor deste

partido, no eleitorado de Mueda?

Para a análise do objecto de estudo do trabalho, usou-se a teoria da lealdade partidária secundada

com as diversas teorias sobre o comportamento eleitoral: a teoria sociológica, psicossociológica,

a racional e a identidade partidária. Usamos também o método dedutivo, bem como o método de

estudo de caso. Mais ainda, à abordagem de colheita de dados foi eminentemente qualitativa

auxiliada pela abordagem quantitativa, bem como, usamos a técnica não probabilística de

amostragem intencional auxiliada pela técnica de bola de neve.

Como tal, partimos do pressuposto de que a persistência e a lealdade do eleitorado a favor da

FRELIMO em Mueda no período em que analisamos é resultado da ligação histórica existente

entre a FRELIMO e o distrito de Mueda bem como pelas vivências históricas e os valores

colectivos que estão enraizados dentro colectividade que são transmitidos de geração em

geração. Assim, ao procurarmos identificar a razão da persistência e da lealdade do eleitorado de

Mueda, compreendemos que dentre outras razões, é pelo facto dos eleitores confiarem

profundamente na FRELIMO e não ter alternativas nas suas escolhas eleitorais, aliado a

inexistência quiçá não funcionamento dos partidos da oposição em Mueda.

Ora, o estudo sobre o comportamento eleitoral no seu todo e especificamente para o caso de

Mueda, não pode ser compreendido duma forma generalizada pois este deve ser considerado em

seu contexto específico de análise e suas diversas singularidades, ou seja, deve-se compreender

que há um conjunto de factores estruturais e conjunturais que influenciam o simples acto de

votar no contexto de Mueda.

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Por isso, os resultados de uma eleição em Mueda reflectem necessariamente um determinado

momento e situação singular do momento e espaço político em que ocorre a eleição.

Os resultados do trabalho nos ajudam a concluir que apesar da ineficiência da governação, pouco

ou quase inexistentes serviços públicos básicos, bem como falta de oportunidades de emprego, a

razão da persistência do eleitorado em votar na FRELIMO está associado ao hábito e por via

disso nasceu o comprometimento que são as balizas para a consolidação da lealdade partidária.

Mais ainda, da analise feita dos dados obtidos ao longo do trabalho, podemos de forma detalhada

concluir que:

1º O voto leal e a persistência do eleitorado do distrito de Mueda a favor da FRELIMO é

resultado directo da simpatia histórica que existe entre o partido FRELIMO e o distrito de

Mueda, por via disso, elementos como a socialização política bem como as acções mobilizadoras

da FRELIMO a partir dos líderes de opinião, desempenha um papel crucial na estruturação do

comportamento político eleitoral em Mueda. Isso leva com que na decisão sobre quem votar, à

análise retrospectiva do desempenho e os feitos do governo na legislatura que antecede as

eleições sejam afastados para um segundo plano. Nestes moldes, o voto do eleitorado de Mueda

é sinónimo de retribuição por tudo que a FRELIMO têm feito naquele distrito.

2º Em relação a identificação ou lealdade partidária do eleitorado a favor da FRELIMO no

distrito de Mueda e as acções mobilizadoras da FRELIMO, compreendemos por um lado que a

lealdade ou identificação partidária do eleitorado está relacionado com comportamento político

eleitoral personalizado dos eleitores, que nasceu da confiança que os eleitores têm com o partido

FRELIMO. Por outro lado, esta situação é consolidada pelos diversos mecanismos de

sensibilização e as acções mobilizadoras que a FRELIMO usa ou aplica, sobretudo usando o

papel preponderante dos chefes locais ou tradicionais.

Assim, chegamos a conclusão que os chefes locais desempenham um papel fundamental quer na

sensibilização política bem como na alienação da totalmente do eleitorado de Mueda a favor da

FRELIMO, ou seja, nesta última componente compreende-se que os chefes locais ou tradicionais

são mobilizadores por excelência (são eles responsáveis a dar informações a população, são eles

que mobilizam a população a fazer-se presente em comícios, reuniões, etc, e em quase todo

processo político-eleitoral).

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Nesta perspectiva, a liderança comunitária desempenha um papel preponderante na

consciencialização do processo político no seu todo, por outro lado, está liderança representa a

FRELIMO nos escalões de base e que tem feito de tudo para destruir, fazer desaparecer os

partidos da oposição no distrito de Mueda.

3º Os números percentuais que apontam uma votação a favor da FRELIMO em: 92%, 86%, 94%

e 96%, nas eleições gerais de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, não significam

meramente que os eleitores de Mueda no seu todo votam a favor da FRELIMO, mas sim deve

entender-se que uma parte do eleitorado pró-FRELIMO (eleitores simpatizantes e que se

identificam com e pelas acções da FRELIMO) tem-se mobilizado para votar na FRELIMO e por

via disso fazem-se quase todos presentes no dia de eleições e votam em coro a favor da

FRELIMO.

Por outro lado, existe um número considerável de eleitores de Mueda que não vão votar como

consequência da má governação, falta de serviços mínimos para a população, ilustrados nas

tabelas 3, 4, 5 do presente trabalho e sobretudo falta de oportunidades de emprego para muitos

cidadãos de Mueda, como evidenciaram alguns eleitores entrevistados cuja as revelações podem

ser encontradas ao longo do trabalho.

Por último, tendo como base os pressupostos da teoria da lealdade partidária, igualmente

concluímos que as dinâmicas do eleitorado de Mueda e a sua relação com a FRELIMO

evidenciam os fundamentos da teoria da lealdade partidária que foram avançados no quadro

teórico do presente trabalho, onde nota-se uma relações de comprometimento e compromisso

provindas quiçá do hábito entre o partido FRELIMO, que neste caso é (produto normal) e os

eleitores de Mueda (seus compradores leais).

Contudo, os elementos que figuram nos factores mais determinantes do voto em Mueda, tendo

em conta as diferentes colocações acima, destacamos: à influência que os eleitores sofrem no seu

contexto político (cultura politica) e social (grupo de pertença em que o eleitor está inserido); à

influência dos líderes de opinião (na estruturação do comportamento politico eleitoral), cujos

estes líderes de opinião são favoráveis ao partido FRELIMO, aliás que pertencem as estruturas

do partido FRELIMO; as percepções e motivações que os eleitores possuem em relação o partido

FRELIMO (a questão da confiança, o comprometimento, hábito) que se denota no seio do

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eleitorado do distrito de Mueda; o papel da identificação política grupal (pelo facto de alguns

dirigentes históricos serem oriundos do distrito de Mueda, deste modo se sentem representados

na governação) e a ligação histórica existente entre Mueda e o partido FRELIMO que também

desempenha um papel fulcral na estruturação do comportamento eleitoral e sobretudo no voto.

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ANEXOS

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Anexos 1

Lista de Pessoas Entrevistadas

Nome do Entrevistado Actividade que

exerce/Profissão

Local das

Entrevistas

Data

Anónimo Técnico na

Administração distrital

Mueda-Sede 01 de Outubro de 2013

Anónima Desempregada Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013

Anónimo Chefe do bairro Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013

Anónimo Camponês Mueda-M’gapa 31 de Setembro de 2013

Bernardo Akuseka Pensionista Mueda-Sede 13 de Outubro de 2013

Anónimo Negociante Mueda-Sede 02 de Outubro de 2013

Anónima Pensionista Mueda-Imbuho 31 de Setembro de 2013

Fabiano Nambavila Pensionista Mueda-Miula 10 de Outubro de 2013

Horácio Ntchanhenga Pensionista Mueda-Sede 02 de Outubro de 2013

Issufo Abdulahi Líder religioso Mueda-Sede 01 de Outubro de 2013

Anónimo Professor Mueda-Litembo 01 de Outubro de 2013

Anónimo Carpinteiro e Estudante Mueda-Chapa 01 de Outubro de 2013

Anónimo Desempregado Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013

Anónimo Negociante Mueda-Chapa 31 de Setembro de 2013

Nkume Manuel Carpinteiro e

pensionista

Mueda Sede 01 de Outubro de 2013

Napalena Nkalipa Pensionista e chefe da

localidade

Mueda-Namaua 06 de Outubro de 2013

Vítor Mbonda Líder Comunitário Mueda-Sede 31 de Setembro de 2013

Anónimo Professor Mueda-M’gapa 01 e Outubro de 2013

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Anexo 2: Guião de Entrevistas

Guião de entrevistas

LÍDERES DE OPINIÃO

Perfil do entrevistado:

Nome do Entrevistado:

Local:

Data: Hora de Inicio: Hora de Termino:

Este guião de entrevistas enquadra-se numa pesquisa académica, e visa obter

conhecimento complementares sobre a persistência e a lealdade dos eleitores de

Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994 à 2009.

O interesse destas perguntas é exclusivamente académico, e Agradece-se

antecipadamente, toda a colaboração que possa ser dedicada.

SECÇÃO ÚNICA

1. Qual o seu papel por um lado na construção de um comportamento político por

meio da vossa actuação e consequentemente a decisão do voto?

2. Partindo do princípio de que satisfazer os eleitores é mais difícil, porque a política

envolve a tomada de compromissos, o que significa que os partidos e suas bases

eleitorais, muitas vezes não conseguem o que querem. Enquanto Líder de opinião,

qual a sua visão sobre este ponto?

3. Na influência sobre o voto, qual seu papel enquanto líder desta comunidade?

4. As suas formas de mobilização enquanto líder apartidário, não se confundem com

acções da FRELIMO?

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5. Nas reuniões do partido aqui na comunidade, você mesmo sendo ou não um

membro do partido FRELIMO, tens participado? E qual tem sido a sua atitude?

6. Sobre as campanhas eleitorais, alguma vez já fez a favor da FRELIMO?

7. Qual é a visão que a população nesta localidade tem em relação a FRELIMO? E oque

vocês como líderes de opinião tem feito para mudar ou melhorar estas percepções?

8. Oque representa a FRELIMO para vocês líderes da opinião? e nos dias de hoje?

MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL.

2013

Observações:

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Guião de entrevistas

ELEITORES

Perfil do entrevistado:

Nome do Entrevistado:

Local:

Data: Hora de Inicio: Hora de Termino:

Este guião de entrevistas enquadra-se numa pesquisa académica, e visa obter

conhecimento complementares sobre a persistência e a lealdade dos eleitores de

Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994-2009.

O interesse destas perguntas é exclusivamente académico, e Agradece-se

antecipadamente, toda a colaboração que possa ser dedicada.

SECÇÃO: A

Acções mobilizadoras da FRELIMO e falta de Confiança dos outros partidos

1. Tem sido pacífico nesta comunidade mudar as suas escolhas e recorrer a outro

partido?

2. Em sua opinião, qual a importância das campanhas eleitorais?

3. Acha que as campanhas eleitorais têm sido um ponto forte para a consolidar a

marca FRELIMO nesta comunidade?

4. Como vê as campanhas eleitorais na criação e proximidade entre o eleitorado de

Mueda e a os Partidos?

5. As campanhas eleitorais, tanto da FRELIMO, assim como de outros partidos, têm

ajudado na decisão sobre quem votar?

6. Qual a sua visão em relação aos partidos da oposição?

7. Sobre a confiança: em relação aos partidos da oposição; e em relação a FRELIMO.

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8. O seu voto a favor de um partido, é pela confiança que tens pelo partido ou porque

não encontra outra alternativa além da FRELIMO?

SECÇÃO: B

Factores históricos-estruturais e Ligações Históricas entre a FRELIMO e o distrito

de Mueda

1. Sabendo que a FRELIMO tem uma história forte neste distrito e que já se constitui

em um hábito, será que o hábito tem tido um papel preponderante no seu voto e no

voto dentro da comunidade?

2. Qual o papel dos laços históricos que o distrito tem com a FRELIMO, na definição do

voto e na contínua votação da FRELIMO pelos eleitores de Mueda?

3. As vossas vivências, contos, histórias do vosso distrito, tem influenciado na vossa

forma de votar?

4. Será que o passado histórico do distrito de Mueda que teve ligações fortes com a

FRELIMO tem jogado um papel forte na construção do comportamento eleitoral?

5. Reconhecendo que existiram ligações fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO,

em sua opinião, este factor tem influenciado na vossa persistência em votar na

FRELIMO?

6. O voto contínuo dos eleitores de Mueda para a FRELIMO tem ligações fortes pela

transmissão da história do distrito pelos seus antepassados?

7. Será que a história tem um peso na sua decisão do voto individual e colectivo?

SECÇÃO: C

Socialização Política, cultura política, influência dos líderes de opinião

1. O seu voto tem como consequência a cultura política e as formas de manifestação e

actuação do jogo político em Moçambique?

2. Tem tido oportunidades de ler os programas e assistir debates nacionais sobre a

política e como este aspecto influência na sua decisão do voto?

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3. Será que os líderes de opinião nas suas formas de actuação (Comunicados,

informações, anúncios, etc.), tem influenciado na construção do comportamento

políticos e consequente a forma de expressão do voto na comunidade?

4. O seu voto é da sua escolha ou esta associada a influência da comunidade?

SECÇÃO:D

OUTROS

1. Em que tem votado continuamente nas eleições pós eleições pós eleições? E

porque?

2. Terá votado em diferentes partidos alguma vez? E quais as razoes? Como sentiu-

se?

3. A FRELIMO tem melhorado ou piorado algumas coisas com vista a ter mais apoio

aqui em Mueda?

4. Oque vos leva a votar continuamente num determinado partido?

5. Porque vota fielmente na FRELIMO?

6. Quais são os elementos que te levam a decisão de uma determinada forma de

votar?

7. Como decide o seu voto?

8. Como nasce a sua identificação com o partido que tem votado continuamente?

9. Toda gente vota num único partido porque?

MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL.

2013.

Observações:

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Anexo 3:

RESULTADO DA VOTAÇÃO NO DISTRITO DE MUEDA: ELEIÇÕES DE 2004

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RESULTADO DA VOTAÇÃO NO DISTRITO DE MUEDA: ELEIÇÕES DE 2004

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2009

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CARTOGRAFIA ELEITORAL

VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 1994

VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 1999

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VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 2004