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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, SAÚDE E TECNOLÓGICAS DO PIAUÍ - CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI CARLOS KELSON LAION MACHADO MARQUES LOPES ARRENDAMENTO RURAL: evolução e elementos jurídicos do contrato agrário TERESINA 2019

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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, SAÚDE E TECNOLÓGICAS DO PIAUÍ

- CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI

CARLOS KELSON LAION MACHADO MARQUES LOPES

ARRENDAMENTO RURAL: evolução e elementos jurídicos do contrato agrário

TERESINA

2019

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CARLOS KELSON LAION MACHADO MARQUES LOPES

ARRENDAMENTO RURAL: evolução e elementos jurídicos do contrato agrário

Artigo Cientifico apresentado ao Centro Universitário UNINOVAFAPI como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sobre Direito Civil – Arrendamento Rural. ORIENTADOR: Prof. Msc. Horácio Lopes Mousinho Neiva

TERESINA

2019

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pela

força е coragem durante a longa caminhada. Aos

amigos (as), familiares, professores e todos aqueles

(as) que cruzaram pela minha vida, participando, de

alguma forma, na construção e realização desse tão

desejado sonho.

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AGRADECIMENTOS

A gratidão nos aproxima de Deus. Por isso reconheço que sem Ele nada disso

seria possível.

Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a execução

desse trabalho seja trocando ideias, dando sugestões ou simplesmente pela amizade.

Minha gratidão, especialmente, àqueles que desempenharam um papel

importantíssimo nessa caminhada:

Ao meu Orientador, Professor Horácio Lopes Mousinho Neiva, agradeço pela

oportunidade e confiança na realização desse trabalho e por tantas vezes ser um

exemplo de pessoa e profissional, nos ensinando através de sua postura, como ser

alguém melhor.

Aos meus pais que nunca mediram esforços para que eu pudesse investir nos

meus sonhos.

Aos meus familiares, irmão, tios, primos, avó que sempre apostaram,

incentivaram e confiaram em mim desde pequeno.

Aos meus amigos, que mesmo não estando realmente ligados ao trabalho,

estiveram por perto dando apoio e ouvindo meus problemas.

Aos membros da banca por aceitarem o convite e pelas sugestões que

certamente enriquecerão este trabalho.

Aos funcionários da IES, que vivenciaram conosco durante estes anos o sonho

de uma vida inteira, que em poucos momentos tornar-se-á realidade.

Ademais, agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para a minhas

realizações pessoais e acadêmicas.

Obrigada por me ajudarem a vencer mais esta etapa!

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“A justiça é o vínculo das sociedades

humanas; as leis emanadas da justiça são a

alma de um povo.”

Juan Vives

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ARRENDAMENTO RURAL: EVOLUÇÃO E ELEMENTOS JURÍDICOS DO

CONTRATO AGRÁRIO

RURAL LEASING: EVOLUTION AND LEGAL ELEMENTS OF THE AGREEMENT

CARLOS KELSON LAION MACHADO MARQUES LOPES*

RESUMO

O objetivo do referido estudo é apresentar a evolução dessa modalidade de contrato

agrário que é o arrendamento rural, além de suas distinções dentro do ordenamento

jurídico brasileiro. A construção do estudo se deu a partir de metodologia baseada em

material bibliográfico, constituído principalmente de repertório jurisprudencial e artigos

de periódicos. Observou-se que os contratos agrários foram tipificados devido à

importância do meio rural para a economia do País, por isso, a legislação definiu e

criou cláusulas para amparar esse negócio jurídico para benefício do setor

agropecuário. Pode-se perceber também que o arrendamento rural é tratado em

vários artigos do Estatuto da Terra e do Decreto 59.566/66. Concluiu-se que, o

arrendamento rural é um tema que proporciona bastante material de estudo, pois,

pressupõe-se que o contrato surja de uma interação entre duas partes e de realidades

diferentes, portanto, para compreensão da matéria é necessário conhecer os

estatutos legais que o cercam, bem como os princípios, suas especificidades e

cláusulas obrigatórias.

PALAVRAS-CHAVE: Contratos. Arrendamento Rural. Estatuto da Terra.

ABSTRACT

The objective of this study is to present the evolution of this modality of agrarian

contract that is the rural lease, besides its distinctions within the Brazilian legal order.

The construction of the study was based on a methodology based on bibliographical

material, mainly composed of jurisprudential repertoire and periodical articles. It was

observed that agricultural contracts were typified due to the importance of the rural

__________________________ Aluno do 9° período do Curso de Bacharel em Direito - UNINOVAFAPI. e-mail: [email protected]

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environment for the country's economy, so the legislation defined and created clauses

to support this legal business for the benefit of the agricultural sector. It can also be

seen that the rural lease is dealt with in several articles of the Land Statute and Decree

59.566/66. It was concluded that rural leasing is a subject that provides a lot of study

material, because it is assumed that the contract arises from an interaction between

two parties and different realities, therefore, to understand the matter it is necessary to

know the legal statutes that as well as the principles, their specificities and mandatory

clauses.

KEYWORDS: Contracts. Rural Rentals. Statute of the Earth.

1 INTRODUÇÃO

Os contratos de arrendamento e parcerias são as modalidades contratuais

mais praticadas na atividade rural no Brasil, eles são classificados como contratos

agrários típicos – pois estão previstos em lei própria do Direito Agrário – e são

regulamentados pelo Estatuto da Terra e pelo Decreto 59.566/66.

O Decreto nº 59.566/66 dispõe em seu artigo 3º que o arrendamento rural

é aquele pelo qual o proprietário (arrendante) cede ao arrendatário, por tempo

determinado ou não, o uso e gozo de seu imóvel rural (no todo ou em parte, com ou

sem benfeitorias e outros bens), para que o arrendatário exerça atividade extrativa,

agropecuária, agroindustrial ou mista, mediante retribuição certa ou aluguel.

Deste modo, verifica-se a importância e relevância do tema, visto que o

Piauí se tornou o 13º maior produtor agrícola do Brasil, em que a safra de grãos

2018/2019 deve alcançar a marca de 233,3 milhões de toneladas, mantendo-se como

a segunda maior registrada na série histórica do país, segundo dados disponíveis no

6º levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento - Conab

(RIBEIRO, 2019). Assim, muitos contratos do tipo arrendamento são utilizados no

Estado, então o objetivo do referido estudo é apresentar a evolução dessa modalidade

de contrato agrário, além de suas distinções dentro do ordenamento jurídico brasileiro.

Para construção do estudo, utilizar-se-á a metodologia baseada em

material bibliográfico, constituído principalmente de repertório jurisprudencial e artigos

de periódicos. O presente trabalho será dividido em tópicos para a melhor

compreensão acerca do tema, primeiramente apresentando o conceito e normas

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aplicáveis aos contratos agrários, além da evolução dessa modalidade de sociedade.

Posteriormente, descrevendo-se o contrato de arrendamento rural, sua

estrutura e formalidades, como também os princípios aplicáveis e as cláusulas

obrigatórias. Além disso, abordar-se-á o ponto relativo aos preços e prazos

estabelecidos ao referido contrato.

2 DOS CONTRATOS AGRÁRIOS

Os contratos agrários possuem características específicas e estão

fundamentados sob a orientação do dirigismo estatal, sendo importante para a cadeia

produtiva agrícola, ao permitir a exploração agrícola mesmo por aqueles que não

possuem terras.

O Estatuto da Terra, por meio de seus dispositivos, previu e tipificou os

contratos de parceria e arrendamento rural, para garantir o acesso a terra àqueles que

não a possuíssem e para dar garantias aos que eram considerados hipossuficientes

(SILVA, 2015). Logo, é possível afirmar que a normatização desses contratos trouxe

uma nova dinâmica ao campo agroindustrial.

Cabeleira (1985, p. 20) descreve a mudança de tratamento quanto aos

contratos agrários:

Com a evolução da sociedade e a necessidade de regular de uma forma mais clara, direta e atualizada a relação existente entre os homens que trabalham no meio rural, bem como a execução da reforma agrária e a promoção da política agrícola, o estado complementou as normas existentes através de leis agrárias, adequando-as à realidade do meio rural brasileiro.

Os contratos agrários foram então tipificados devido à importância do meio

rural para a economia do país, por isso, a legislação definiu e criou cláusulas para

amparar esse negócio jurídico para benefício do setor agropecuário.

Segundo Ramos (2018), as referidas legislações classificaram o

arrendamento rural como contrato de interesse social e com características próprias,

regrado por normas cogentes que devem ser respeitadas, portanto, tem natureza

especial.

2.1 O Código Civil de 1916, Decreto nº 59.566/66 e Estatuto da Terra

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Na legislação brasileira, de outrora, eram ausentes normas que dispunham

sobre os contratos agrários, a Lei de Terras, de 1850, não continha definição para

este tipo de acordo. Isso mudou a partir do Código Civil de 1916, que disciplinava o

contrato de parceria rural em seu Livro III (sobre direito das obrigações), Capítulo XII,

tipificando referido instrumento em seu artigo 1.410, nestes termos: “Dá-se a parceria

agrícola, quando uma pessoa cede um prédio rústico a outra, para ser por esta

cultivado, repartindo-se os frutos entre as duas, na proporção que estipularem.”

(BRASIL, 1916)

Porém, não era tipificado o contrato de arrendamento, apenas previa a

locação de prédio rústico, de maneira geral. Rizzardo (2014, p. 425) descreve que “ao

tempo da aprovação do Código Civil de 1916, predominantemente rural, poucos eram

os dispositivos reservados a questões rurais, sobressaindo o caráter de uma

legislação eminentemente urbana”, e talvez por este motivo os contratos agrários têm

sido tratados em poucos artigos do referido Diploma (SILVA, 2015).

O Estatuto da Terra, Lei nº 4.504 de 1964, trouxe em seu texto algumas

definições para esta modalidade de acordo:

Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, nos termos desta Lei. § 1° O proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou cedido em parceria (BRASIL, 1964).

A tipificação dos contratos agrários veio a partir do Decreto nº 59.566 de

1966:

Art. 1º. O arrendamento e a parceria são contratos agrários que a lei reconhece, para o fim de posse ou uso temporário da terra, entre o proprietário, quem detenha a posse ou tenha a livre administração de um imóvel rural, e aquele que nela exerça qualquer atividade agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista (BRASIL, 1966).

Sendo típicos, os contratos devem seguir a forma e as imposições previstas

em lei, sob pena de nulidade do contrato, se totalmente contrário à sua forma prevista,

ou nulidade de cláusulas, se contrárias à previsão legal (SILVA, 2015). Ou seja, os

contratos deveriam seguir todas as normas impostas para realmente ter validade

jurídica.

Silvia Opitz e Oswaldo Opitz (2007, p. 274) bem esclarecem o assunto:

A posse ou uso da terra sob a forma de arrendamento rural ou parceria agrícola, etc. são, legalmente, as únicas formas típicas para essas atividades. No entanto, outros contratos agrários existem em que se usa e goza a terra fora desses parâmetros legais, sem deixarem de ser atividades agrícola ou

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pecuária, tais como o pastoreio, a pastagem, o uso da água, das florestas, sociedade rural, etc.

Segundo o artigo 39 do Decreto n. 59.566/66 “quando o uso ou posse

temporária da terra for exercido por qualquer outra modalidade contratual, diversa dos

contratos de Arrendamento e Parceria, serão observadas pelo proprietário do imóvel

as mesmas regras aplicáveis a arrendatários e parceiros” (BRASIL, 1966).

Para Lorenzetti (2004, p. 229-230), a tipificação dos contratos possui

algumas funções, quais sejam, facilitadora, delimitativa e programadora, observe-se:

A função facilitadora se refere ao fato de os particulares, ao celebrarem um contrato típico, não precisarem inventar novas cláusulas e regulamentos quando forem celebrar determinada operação jurídica. A função delimitativa trata da consagração de um dever e mostra o que é desejável no desenvolvimento de uma finalidade socioeconômica específica. Por fim, a função programadora trata das classes de finalidades que o Direito considera suscetíveis de proteção, estabelecendo figuras contratuais e as cláusulas que as caracterizam.

Conforme Rizzardo (2014, p. 425), a parceria rural e o arrendamento foram

duas formas de tornar proveitosa a terra. Desde quando o Brasil ainda era uma colônia

portuguesa, existia a exploração de terra nas grandes fazendas e os maiores

proprietários monopolizavam seu uso, com o advento do ordenamento jurídico para

regulamentar o uso ou posse temporária do imóvel, surgiram os contratos agrários,

que buscavam proteger e impor limitações à vontade das partes, visando à boa

utilização do imóvel e proteger quem se encontrava em situação de oprimido na

relação contratual.

Os contratos agrários partilham de disposições em comum, por isso, há

cláusulas obrigatórias que devem ser observadas nesses negócios jurídicos. Neste

sentido, Coelho (2011, p.67) conceitua o contrato agrário como “o acordo de vontades

que permite o uso temporário da terra alheia por agricultores e pecuaristas,

subordinados às cláusulas obrigatórias e ao dirigismo estatal, com a prevalência das

normas de ordem pública”.

3 ARRENDAMENTO RURAL

As características dos contratos agrários de arrendamento e parcerias são

a posse, o uso e gozo da propriedade rural, como se observa na descrição do art. 92

do Estatuto da Terra. De acordo com Ramos (2012, p. 50-51):

O arrendamento rural é um contrato agrário que a lei reconhece para o fim de posse ou uso temporário da terra, entre o proprietário, que detenha a posse

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ou que tenha a livre administração de um imóvel rural, e aquele que nela exerça qualquer atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista. Regulará a posse ou uso temporário da terra.

Os riscos que envolvem a atividade agrícola como intempéries do tempo,

variação no preço das commodities, acesso a financiamento são fatores que motivam

proprietários a arrendar suas fazendas para que outros produtores e/ou empresas

efetuem o plantio (SILVA, 2015).

Nisso, o arrendamento rural torna-se uma alternativa para utilização e

produção da terra com divisão de alguns riscos. O arrendamento funciona como o

aluguel de um imóvel, à locação de um automóvel e por meio da qual uma parte cede

à outra o uso de determinado bem, móvel ou imóvel, sob determinadas condições de

tempo, utilização, manutenção e remuneração (ALMEIDA; BUAINAIN, 2013, p. 319-

343).

Os contratos possuem as características, segundo Rizzardo (2014, p. 425),

de serem bilaterais, consensuais, onerosos, aleatórios (mas também podem ser

comutativos) e não solenes (pois se admite a forma escrita e a verbal).

O arrendamento rural é tratado em vários artigos do Estatuto da Terra e do

Decreto 59.566/66, as cláusulas obrigatórias dos contratos agrários são previstas nos

artigos 11 a 15 do Decreto 59.566/66 e 92 a 94 do Estatuto da Terra.

Já as regras específicas sobre arrendamento rural estão previstas nos

artigos 16 a 33 do Decreto 59.566/66 e artigos 95 e 95-A do Estatuto da Terra (SILVA,

2015).

3.1 Sujeitos

Os sujeitos do arrendamento ou chamados de contratantes, são o

arrendador (ou arrendante) e o arrendatário. Denomina-se arrendador:

[...] a pessoa física ou jurídica, proprietária ou não de imóvel rural, ou de partes ou parte dele – e do qual tenha sua livre disposição e administração – que cede por contrato de arrendamento rural a outrem, por tempo determinado ou não, o uso e gozo do mesmo imóvel, com ou sem benfeitorias, para nele ser exercida atividade agrária, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais estabelecidos pela lei (SODERO, 1968, p. 47).

O arrendatário é:

[...] a pessoa física ou jurídica, ou chefe de família, representando o conjunto familiar, que recebe, no contrato agrário de arrendamento, imóvel rural, parte ou partes dele, com ou sem benfeitorias, por tempo determinado ou não, da

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outra parte denominada arrendante ou arrendador, com o fim de, nesse imóvel, exercer atividade agrária, mediante o pagamento de um aluguel ou renda, observados os limites percentuais estabelecidos na lei (SODERO, 1968, p. 103).

3.2 Objeto

O objeto necessário dos contratos de arrendamento rural consiste no uso

e gozo de um imóvel rural com fins à execução de uma atividade agrária, com vistas

à função social inerente à propriedade ou, mais propriamente, à empresa (SCAFF,

2017).

Visto que a propriedade da terra apresenta uma função social, o destino dado a esta deve ser para atender tal princípio, ou seja, desenvolver atividade agrária de forma eficiente e em consonância com o bem-estar social. Se a finalidade do arrendamento for à exploração de produtos agrícolas proibidos pela lei, por exemplo, o plantio da maconha, o contrato será ilícito e sem validade jurídica (ALMEIDA; BUAINAIN, 2013, p. 319-343).

3.3 Forma

Tanto os contratos de arrendamento rural como os de parcerias não exigem

forma especial, admitindo-se, nos termos do artigo 92 do Estatuto da Terra, que sejam

verbais ou escritos. Essa mesma previsão está no artigo 11 do Decreto 59.566/66,

Art. 11: Os contratos de arrendamento e de parceria poderão ser escritos ou verbais.

Nos contratos verbais presumem-se como ajustadas as cláusulas obrigatórias

estabelecidas no art. 13 deste Regulamento (BRASIL, 1966).

Não obstante, quando se tratar de contrato escrito, o artigo 12 do Decreto

prevê algumas indicações que obrigatoriamente deverão constar no instrumento,

como, por exemplo, qualificação das partes, objeto do contrato, prazo de duração,

descrição da gleba, etc (MACHADO, 2018).

Como não se exige forma especial para os contratos agrários e admitindo-

se o contrato verbal, a prova testemunhal possui bastante importância para comprovar

o vínculo contratual, permitindo-se este meio de prova para comprovação do vínculo

contratual, como ensina Silvia Opitz e Oswaldo Opitz (2007, p. 352):

O contrato de arrendamento, em regra, é aformal, porquanto não se exige forma especial. A regra se estende a todo o contrato agrário, de modo que a norma do art.107 do CC – a validade das declarações de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir – incide por fora do art. 13 da Lei n. 4.947/66, caput, pois não deixa de ser princípio geral de direito comum. Por isso, os contratos, em geral, provam-se mediante: confissão, atos processados em juízo, documentos (públicos ou particulares), testemunhas, presunção e perícias (CC, art. 212). Esses modos

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de provar-se o contrato agrário aplicam-se quando incidir o ET, embora o art. 92, §8º e art. 14 do Regulamento dizem que ‘os contratos agrários, qualquer que seja o seu valor e sua forma, poderão ser provados por testemunhas’, querem mostrar que não impõem forma especial e que não há limite de valor que impeça a prova unicamente testemunhal, como ocorre com os arts. 221 e 227 do CC.48.

Como já discutido, apesar de não haver forma específica para os contratos,

se uma das partes exigir, o contrato deverá ser ajustado por escrito.

Rizzardo (2014, p. 430-431) assim instrui:

Admitidas, pois, as formas escrita e verbal. A escrita é obrigatória se a exigir uma das partes, segundo o mesmo artigo, §2º: ‘Cada parte contratante poderá exigir da outra a celebração do ajuste por escrito, correndo as despesas pelo modo que convencionarem’. Mas, permite o art. 14, qualquer que seja o seu valor ou a forma, é autorizada a prova testemunhal. O Estatuto da Terra, no art. 92, §8º, firma que a ausência de contrato não impede a aplicação da lei: ‘A ausência de contrato não poderá elidir a aplicação dos princípios estabelecidos neste Capítulo e nas normas regulamentares’.

Pode-se pensar que o legislador, atento a amparar ambas as formas

contratuais, procurava dar incentivos à prática dos contratos agrários, pois, de fato, a

maioria dos contratos de arrendamento e parceria no Nordeste e, em outras regiões

do país, é verbal e está sujeita a relações de amizade e confiança (ALMEIDA;

BUAINAIN, 2013, p. 319-343).

3.4 Preço e pagamento

De acordo Scoton (2014, p. 231-248) sobre o tema em apreço:

O preço do contrato de arrendamento é estabelecido de forma proporcional à área do imóvel a ser cedida. Conforme o artigo 18, parágrafo único, do Estatuto da Terra, este somente poderá ser prefixado em dinheiro, numa relação moeda corrente x extensão de área, sendo vedada a sua estipulação em quantidade fixa de frutos ou produtos. O preço do contrato de arrendamento diferencia-se, portanto, do pagamento do preço. Este sim será passível de conversão em frutos ou produtos, quando da data de liquidação estipulada em contrato, de acordo com o que estabelece o caput do mesmo artigo: Assim, o pagamento do preço, quando ajustado para ser convertido em frutos ou produtos, deverá ser realizado na data previamente estipulada, segundo o valor corrente praticado no mercado local. Contudo, caso o arrendador exija que a conversão seja calculada com base em preços inferiores aos vigentes na região, fica assegurado ao arrendatário o direito de pagá-lo em moeda corrente, nos termos do artigo 19 do Decreto.

O principal objetivo seria fixar um valor-limite e impor um efetivo controle

do Poder Público sobre o preço do arrendamento, a fim de salvaguardar o

economicamente frágil da especulação do proprietário, que nem sempre cultiva, mas

explora, demasiadamente, o arrendatário (ALMEIDA; BUAINAIN, 2013, p. 319-343).

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Quanto ao pagamento, o inciso III do artigo 13 do Decreto 59.566 fixa que

se deve dar em quantia certa, a ser paga em dinheiro ou seu equivalente em frutos ou

produtos, mencionando a previsão do artigo 95, XII do Estatuto da Terra (MACHADO,

2018).

Segundo Silva (2015), quando o pagamento se der em frutos, para evitar

abusos, é assegurado ao arrendatário o direito de realizar o pagamento em dinheiro,

na hipótese do arrendador exigir o cálculo com base em preços inferiores aos vigentes

na região do contrato.

3.5 Prazo

No que se refere ao prazo de duração, há a previsão de prazos mínimos,

respectivamente, de três, cinco e sete anos, quando se tratar de exploração de lavoura

temporária; de exploração de lavoura permanente ou pecuária de grande porte; e para

atividade de exploração florestal. Isso está previsto no artigo 13, II, “a” do Decreto

59.566/66 (MACHADO, 2018).

O Estatuto da Terra procurou superar as falhas do Código Civil, que não

considerava o prazo contratual com as especificidades biológicas da lavoura, além de

outras hipóteses e fixou prazos mínimos para os contratos agrários, disposto no art.

95, inciso I e II:

Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-se-ão os seguintes princípios: I - Os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua ultimação; II - Presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o arrendamento por tempo indeterminado, observada a regra do item anterior; (BRASIL, 1964).

O Decreto n. 59.566/66 também dispõe no art. 13, II, “a”, sobre os prazos

mínimos nos contratos agrários:

Art. 13. II - Observância das seguintes normas, visando a conservação dos recursos naturais: a) prazos mínimos: - de 3 (três), anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os casos de parceria; - de 5 (cinco), anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias primas de origem animal; - de 7 (sete), anos nos casos em que ocorra atividade de exploração florestal; (BRASIL, 1964).

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A prorrogação do prazo dos contratos agrários é tratada na segunda parte

do inciso I do art. 95 do Estatuto da Terra, em concordância com a segunda parte do

§ 1º do art. 21 do Decreto: “Em caso de retardamento da colheita por motivo de força

maior esses prazos ficarão automaticamente prorrogados até o final da colheita”.

Conforme Almeida e Buainain (2013, p. 319-343), a segunda hipótese de

prorrogação do prazo está expressa no § 3º do art. 21 do Decreto:

O arrendamento que, no curso do contrato, pretender iniciar nova cultura cujos frutos não possam ser colhidos antes de terminado o prazo contratual, deverá ajustar, previamente, com o arrendador, a forma de pagamento do uso da terra por esse prazo excedente.

Oliveira (1988) argumentou que o legislador, ao determinar prazos mínimos

obrigatórios, visava conservar os recursos naturais renováveis, além de dar

estabilidade ao contratante não proprietário, ou seja, proporcionar o tempo necessário

para o cultivador fixar-se na terra, preparar o solo, zelar pelo plantio e aguardar o

período da colheita.

3.6 Subarrendamento

O art. 3º, § 1º, do Decreto n. 59.566/66 prevê: “Subarrendamento é o

contrato pelo qual o Arrendatário transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos

e obrigações do seu contrato de arrendamento” (BRASIL, 1966).

O Decreto n. 59.566/66, no art. 31 também trata do subarrendamento:

Art. 31. É vedado ao arrendatário ceder o contrato de arrendamento, subarrendar ou emprestar total ou parcialmente o imóvel rural, sem prévio e expresso consentimento do arrendador. Parágrafo único. Resolvido ou findo o contrato, extingue de pleno direito o subarrendamento, salvo disposição convencional ou legal em contrário (BRASIL, 1966).

Pelo art. 95, VI, do Estatuto da Terra, o subarrendamento só é permitido se

há o consentimento do proprietário: Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-

se-ão os seguintes princípios: VI - Sem expresso consentimento do proprietário é

vedado o subarrendamento; (BRASIL, 1964)

3.7 Vedações

Existem cláusulas irrevogáveis que devem ser obrigatoriamente aplicadas

nos contratos agrários que são direcionadas aos recursos naturais e sua conservação,

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assegurando a proteção dos contratantes economicamente (MACHADO, 2018). O

artigo 13 do Decreto 59.566/66 prevê:

Art. 13. Nos contratos agrários, qualquer que seja a sua forma, contarão obrigatoriamente, cláusulas que assegurem a conservação dos recursos naturais e a proteção social e econômica dos arrendatários e dos parceiros-outorgados a saber: I - Proibição de renúncia dos direitos ou vantagens estabelecidas em Leis ou Regulamentos, por parte dos arrendatários e parceiros-outorgados (BRASIL, 1966).

Sobre as cláusulas obrigatórias nos contratos agrários, assim analisa

Coelho (2011, p, 78):

Pela natureza dos contratos rurais algumas cláusulas devem ser sempre observadas, tanto nos contratos nominados, quanto nos inominados. Desta forma, deve constar do contrato a obrigatoriedade de conservar os recursos naturais da terra, bem como, a proteção social e econômica do arrendatário ou do parceiro-outorgado, sendo, portanto, irrenunciáveis os direitos e vantagens definidos em lei ao arrendatário, a proibição de uso e costumes predatórios da econômica agrícola. Estas normas nada mais são do que efeito de haver uma supremacia do direito público, onde prevalece o interesse social em detrimento do interesse particular.

Portanto, essas normas ditas obrigatórias devem ser seguidas de maneira

irrevogável, visto que as mesmas, além de proteger o meio ambiente de maneira geral,

protegem também as partes de exploração pelo arrendador ou arrendatário como

resguardam o negócio jurídico como peça do Direito.

3.8 Extinção

Quanto à rescisão do contrato de arrendamento, o artigo 26 do Decreto

59.566/66 traz em seus dez incisos as hipóteses gerais de rescisão. Conforme

descreve Scoton (2014, p. 231-248), as modalidades contratuais podem extinguir-se

quando: “a) a extinção do contrato por iniciativa exclusiva de uma das partes; b) o

término do contrato a partir do consenso ou da concordância de ambas as partes; e

c) a extinção do arrendamento por força ou vontade externa aos contratantes”.

No contrato também deve constar a forma e direito de indenização quanto

a danos substanciais causados pelo contratado na área de exploração ou nos

implementos e benfeitorias a ele cedidos (SILVA, 2015).

O Decreto nº 59.566/66, em seu artigo 32, tratou de elencar as hipóteses

em que o arrendatário é obrigado a desocupar a propriedade sob pena de incorrer nas

sanções impostar pela ação de despejo, são elas:

Término do prazo do contrato ou de sua renovação; Se o arrendatário subarrendar, ceder ou emprestar o imóvel rural, integralmente ou em parte,

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sem prévio e expresso consentimento do arrendador, conforme já mencionado; Se o arrendatário não pagar o aluguel ou a renda estipulada no prazo determinado; Dano causado à parte da terra arrendada ou às colheitas, provado o dolo ou culpa do arrendatário; Abandono total ou parcial de cultivo, nas cumprindo as obrigações que lhe são devidas; Mudança na destinação do imóvel rural; Inobservância das normas obrigatórias fixadas no artigo 13 do Decreto n.º 59.566/66; Nos casos de pedido de retomada, permitidos e previstos em lei e no Regulamento, comprovada em Juízo a sinceridade do pedido; Infração a obrigação legal e contratual grave pelo arrendatário (RAMOS, 2012).

4 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO RURAL

Os princípios norteadores dos contratos rurais, especialmente no caso do

arrendamento rural são importantes, pois, norteiam a construção do acordo, visando

atender as peculiaridades e proteger as partes interessadas, além da melhor

ocupação e exploração do imóvel rural.

É relevante destacar alguns princípios, que se aplicam de forma especial

nos negócios rurais como a supremacia do interesse público, função social do

contrato, boa-fé, da obrigatoriedade e da autonomia da vontade.

4.1 Princípio da supremacia do interesse público

Os contratos de arrendamento rural, assim como os negócios rurais de

forma geral, são orientados por legislação especial e possuem condições obrigatórias

e comuns que precisam ser ressaltadas nas relações jurídicas com base no dirigismo

estatal e estão embasadas no princípio da supremacia do interesse público sobre o

particular.

Os negócios que envolvem a atividade rural, geralmente são de interesses

da sociedade plural, todavia, isso não significa que os direitos individuais serão

ignorados. Como ensina Fagundes (2015), as disposições dos contratos de

arrendamento rural também devem contemplar suas aspirações, portanto, as

manifestações de vontade excessivamente individualistas ou de características

egoísticas são consideradas nulas.

O Estado é o detentor das leis e busca avaliar o melhor para a coletividade,

por isso conduz a vontade das partes através de princípios que devem ser observados

e cláusulas obrigatórias, a ofensa ao acordo resguardado pela lei torna nulo o contrato.

Segundo Marques (1986, p. 97), no que concerne ao acordo de vontades e ao objeto:

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a vontade individual nos contratos agrários é residual e no componente objeto estão

a atividade produtiva em sentido lato e a terra, bem de produção. Este princípio

fundamenta a não permissão da renúncia dos benefícios a favor da parte

hipossuficiente (PINHEIRO, 2018).

4.2 Função social do contrato

Como já descrito anteriormente, o contrato rural não interessa apenas as

partes envolvidas, mas toda a comunidade, pois ecoa no meio social. Portanto, a

função social está presente na subordinação da liberdade individual em função do

interesse social.

Este princípio visa além de tornar a terra produtiva e distribui-la para garantir o acesso à mesma, mas também efetivar estes objetivos através da proteção ao meio ambiente, do uso racional dos recursos, da proteção e resguardo das regras trabalhistas, da tutela das relações que envolvam o solo, garantindo proteção aos menos favorecidos. Portanto, ao assegurar o respeito à função da terra, é possível elaborar um contrato agrário que obedeça ao princípio da função social dos contratos (PINHEIRO, 2018)

Um exemplo de aplicação da função social do contrato está presente

quando o mesmo repercute de maneira negativa na sociedade, seja em malefício ao

meio ambiente ou algum motivo que fere o bem-estar coletivo, o juiz pode intervir para

preservação do interesse público.

4.3 Boa-fé

Esse princípio é tratado no Código Civil, art. 422: os contratantes são

obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os

princípios da probidade e boa-fé (BRASIL, 2002). Com isso, o Estado buscou trazer

maior confiança às parcerias contratuais, que significa mitigar a liberdade sem

precedentes, que procura incentivar a confiança entre os contratantes.

A boa-fé é uma cláusula geral que deve ser considerada na elaboração dos

contatos rurais, de acordo Pinheiro (2018), o juiz deve adequar o princípio à análise

do caso concreto através da preservação dos contratos, pois a não observância da

boa-fé contratual, nos contratos em geral e nos contratos agrários, pode ensejar

nulidades e reparações de danos.

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4.4 Princípio da obrigatoriedade

O princípio da obrigatoriedade também é conhecido como da força

vinculante, ou seja, as partes são livres para contratar com quem quiserem, se assim

desejar, porém, a partir do negócio feito, são obrigadas a cumprir com o contrato.

Quando o contrato agrário deixar de observar as disposições normativas

mencionadas, ou incluir cláusulas conflitantes com as mesmas, é nulo no todo ou em

parte, e de nenhum efeito (FAGUNDES, 2015).

Conforme Pinheiro (2018) diante da nova concepção de justiça contratual,

a pacta sunt servanda tornou-se mais discreto, sendo mitigado por mecanismos

jurídicos de regulação do equilíbrio contratual, portanto, poderá haver relativização

desse princípio quando o conteúdo do contrato divergir com outros princípios do direito

contratual.

Isso é exposto de maneira clara no art. 2º do Decreto 59.566/66, dizendo

que é nula toda a disposição contratual que o contrarie: Todos os contratos agrários

reger-se-ão pelas normas do presente Regulamento, as quais serão de obrigatória

aplicação em todo o território nacional e irrenunciáveis os direitos e vantagens neles

instituídos (art.13, inciso IV da Lei nº 4.947-66).

Proença (2007, p. 234) instrui que tanto a obrigatória aplicação como a

irrenunciabilidade dos direitos e vantagens estão a indicar que as normas, relativas

aos contratos agrários, constantes do Estatuto da Terra e de seu Regulamento, devem

sobrepor à vontade das partes, aplicando-se compulsoriamente, mesmo que as partes

pretendam dispor de modo diverso.

O dito princípio não é absoluto em matéria de contratos agrários,

principalmente em razão do princípio da função social do contrato, portanto, a

importância da obrigatoriedade está na segurança e credibilidade dos acordos porque

oferecem garantias às partes do cumprimento do negócio firmado (PINHEIRO, 2018).

4.5 Princípio da autonomia da vontade

Assim como a obrigatoriedade, o princípio da autonomia da vontade deixa

livre às partes contratarem da maneira que quiserem, pois, o contrato é um acordo de

vontades. Todavia, o limite para sua atuação é a lei. O princípio da autonomia da

vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos

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contratantes disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando

efeitos tutelados pela ordem jurídica (GONÇALVES, 2012).

Este princípio atualmente vem sofrendo limitações pelas normas de ordem pública, uma vez que a interferência do Estado cresce progressivamente nas relações privadas, então a autonomia da vontade encontra-se presente no atual Código Civil, sendo de supra importância para as relações contratuais, já que permite que os pactuantes se manifestem no plano social e deliberem sobre com quem desejam contratar e qual será o conteúdo do pacto. Aqui, a exigência que se faz é que o objeto da convença seja lícito (PINHEIRO, 2018).

Esse princípio não serve apenas para proteger o pequeno agricultor e o

trabalhador rural, mas traz a possibilidade de os produtores analisarem e estabelecer

um contrato que favoreça ambas as partes.

Ressalta-se que se permite com a proteção aos pequenos agrários e grupo de trabalhadores rurais, a qual poderia manter-se, porém, agricultores que tem conhecimento técnico suficiente para analisar seus empenhos e direitos por ocasião da celebração do contrato, precisam ter a comodidade de tratar sob o princípio da autonomia da vontade, sem limitações ao que melhor considerarem, não estimulando o dirigismo contratual nesses casos (BORGES, 2013).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, constata-se que o arrendamento de rural é um tema que

proporciona bastante material de estudo, porque se pressupõe que o contrato surja

de uma interação entre duas partes e de realidades diferentes, portanto, para

compreensão da matéria é necessário conhecer os estatutos legais que o cercam,

bem como os princípios, suas especificidades e cláusulas obrigatórias.

Com o artigo buscou-se apresentar como surgiram os contratos de

arrendamento no Brasil, descrever minuciosamente suas partes, prazos, como

funciona o pagamento e as hipóteses de extinção do contrato.

Em relação à legislação vigente, pode-se perceber que somente a partir do

Código Civil Brasileiro de 1916 que os contratos de arrendamento se tornaram

juridicamente ordenados. Com o Estatuto da Terra em 1964, a matéria regulada pelo

Direito Agrário avançou, o que permitiu uma melhoria das relações contratuais. Apesar

de que na época em que o estatuto nasceu, a realidade da sociedade agrária brasileira

era bastante diferente da atual, visto que houve diminuição da população que vive no

campo, mas também aumento da mecanização e produção, assim, os legisladores

buscaram proteger o pequeno produtor rural de excessos estabelecidos pelos grandes

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produtores. Portanto, é possível afirmar que a observação das cláusulas obrigatórias

pode ser um instrumento eficaz quanto à proteção ao hipossuficiente e ao

cumprimento do princípio da função social da propriedade rural.

Dito isso, o artigo apresenta-se como reforço para o desenvolvimento do

tema, visto que com o apoio de referencial teórico especializado é possível construir

projetos e leis que auxiliam o desenvolvimento do estado do Piauí, como também do

país, principalmente na área de políticas públicas que promovam mudanças na

legislação, de maneira a assegurar melhores condições produtivas e financeiras aos

arrendatários, sobretudo, aos pequenos produtores que têm difícil acesso à terra e

aos demais mercados. Além do mais, espera-se contribuir para a formação dos

estudantes na área do Direito Agrário e Civil, profissionais jurídicos, bem como da

sociedade em geral.

REFERÊNCIAS

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