faculdade cathedral boa vista-rr curso de direito ... filefaculdade cathedral boa vista-rr curso de...

5
Faculdade Cathedral Boa Vista-RR Curso de Direito - Direito Agrário Prof Vilmar PROVA OFICIAL 2. Bimestre 2012-1 Turma 8º Semestre. RESPOSTAS ESPERADAS (Aqui procurei um aprofundamento em cada um dos temas. Espera-se que os acadêmicos apresentem alguns dos argumentos aqui elencados, sendo esperados também argumentos diferentes destes) _______________________________________ QUESTÃO A Na ligação do direito ao patrimônio cultural e dos direitos dos povos indígenas, está a proteção das culturas vivas, locais e atuantes no cenário brasileiro, gerando um direito coletivo que deve ser entendido como a proteção da pluriculturalidade da organização social brasileira, expressa exatamente no mencionado preceito constitucional. (SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O Renascer dos Povos Indígenas para o Direito . Curitiba. Juruá: 2002, p. 183.) Levando em consideração o conceito doutrinário acima, analise as preposições abaixo: I) O Tuchaua Pedro, das Terras Indígenas Coiote Serra da Lua, autoriza um grupo de garimpeiros que explorem uma área em busca de ouro, exercendo seu direito constitucional de exploração daquelas terras indígenas demarcadas. Porém, II) O Estado, através de seu aparato policial e judicial, interfere, impedindo que essa exploração tenha prosseguimento, uma vez não terem os índios direito a esse tipo de exploração, mesmo se tratando de terras indígenas demarcadas. Assinale a alternativa correta. Explicar a escolha sob a ótica do Direito Agrário. Fundamentar em duas fontes: legislação, doutrina ou jurisprudência. (3 pontos) 1. As alternativas I e II estão incorretas. 2. As alternativas I e II estão corretas e a alternativa II complementa a alternativa I. 3. A alternativa I está correta e a alternativa II está incorreta. 4. A alternativa I está incorreta e a alternativa II está correta. 5. As alternativas I e II estão corretas e a alternativa I contradiz a alternativa II. A alternativa I está errada, pois, segundo a Constituição Federal, art. 231: Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. § 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

Upload: doliem

Post on 10-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Faculdade Cathedral Boa Vista-RR

Curso de Direito - Direito Agrário – Prof Vilmar

PROVA OFICIAL – 2. Bimestre – 2012-1 – Turma 8º Semestre.

RESPOSTAS ESPERADAS

(Aqui procurei um aprofundamento em cada um dos temas. Espera-se que os acadêmicos

apresentem alguns dos argumentos aqui elencados, sendo esperados também argumentos diferentes

destes)

_______________________________________

QUESTÃO A

Na ligação do direito ao patrimônio cultural e dos direitos dos povos indígenas, está a proteção das

culturas vivas, locais e atuantes no cenário brasileiro, gerando um direito coletivo que deve ser

entendido como a proteção da pluriculturalidade da organização social brasileira, expressa exatamente

no mencionado preceito constitucional. (SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O Renascer dos

Povos Indígenas para o Direito . Curitiba. Juruá: 2002, p. 183.)

Levando em consideração o conceito doutrinário acima, analise as preposições abaixo:

I) O Tuchaua Pedro, das Terras Indígenas Coiote Serra da Lua, autoriza um grupo de garimpeiros que

explorem uma área em busca de ouro, exercendo seu direito constitucional de exploração daquelas terras

indígenas demarcadas.

Porém,

II) O Estado, através de seu aparato policial e judicial, interfere, impedindo que essa exploração tenha

prosseguimento, uma vez não terem os índios direito a esse tipo de exploração, mesmo se tratando de terras

indígenas demarcadas.

Assinale a alternativa correta. Explicar a escolha sob a ótica do Direito Agrário. Fundamentar em

duas fontes: legislação, doutrina ou jurisprudência. (3 pontos)

1. As alternativas I e II estão incorretas.

2. As alternativas I e II estão corretas e a alternativa II complementa a alternativa I.

3. A alternativa I está correta e a alternativa II está incorreta.

4. A alternativa I está incorreta e a alternativa II está correta.

5. As alternativas I e II estão corretas e a alternativa I contradiz a alternativa II.

A alternativa I está errada, pois, segundo a Constituição Federal, art. 231:

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos

originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos

os seus bens.

§ 2º – As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente,

cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e

a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do

Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos

resultados da lavra, na forma da lei.

Faculdade Cathedral Boa Vista-RR

Curso de Direito - Direito Agrário – Prof Vilmar

Assim, não lhes cabe o direito de exploração de recursos do subsolo, tampouco a competência

para autorizar tal exploração.

Ainda, nas palavras de Souza Filho: O sistema jurídico brasileiro deu proteção e reconhecimento aos direitos indígenas sobre o

solo,mas tropeçou na separação entre bens do solo e riquezas do subsolo. A Constituição elencou

que são bens da União os recursos minerais inclusive os do subsolo e mencionou que os indígenas

possuem posse permanente da área que ocupam com usufruto exclusivo das riquezas que existem

neste solo, mas não sobre o subsolo. (SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O Renascer dos Povos Indígenas

para o Direito. 1ª ed., 2ª tir. Curitiba: Juruá, 1999, p. 138.)

A alternativa II está correta, pois, uma vez que tal exploração se dá de forma ilegal, tem o poder público

(Federal), tomar as devidas providências. A Constituição Federal assim estatui:

CF, Art. 20. São bens da União:

IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Ainda:

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia

hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou

aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da

lavra.

§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o

"caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União,

no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua

sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando

essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 6, de 1995)

§ 3º - A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e

concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente,

sem prévia anuência do poder concedente.

Ainda, segundo Cretella Júnior: “Tanto os recursos minerais expostos, como os do subsolo, são

classificados como bens públicos dominicais da União”. (CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à

Constituição Brasileira de 1988, vol.3. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991).

QUESTÃO B

Na Faixa de Fronteira, por conta do interesse da Defesa e da Segurança do Território nacional, e a

despeito da atuação dos Estados e das prefeituras, nos 588 Municípios que estão na Faixa de Fronteira,

existe toda uma disciplina própria voltada para a proteção do Território e da Segurança, e da qual

resultam competências administrativas e competências normativas específicas.( Seminário faixa de

fronteira: novos paradigmas. Presidência da República. Brasília, 2004, p. 9)

Fulcrado no texto acima, analise o enunciado abaixo.

Jorge Maradona Mesi, argentino, residente em Cantá-RR, adquire uma fazenda naquele município, para

plantação de soja e milho. Ocorre que muitos de seus compadres argentinos também fazem o mesmo,

Faculdade Cathedral Boa Vista-RR

Curso de Direito - Direito Agrário – Prof Vilmar

estabelecendo uma comunidade argentina na zona rural de Cantá. Muitos outros parentes, que ainda vivem

na Argentina, demonstram interesse em vir morar no Brasil, juntando-se à comunidade cantaense.

Responda contextualizando no texto acima, fundamentando suas respostas OBRIGATORIAMENTE em

DUAS fontes (lei e doutrina).

1. Existe alguma regulamentação quanto à aquisição dessas terras? Explique (2 pontos)

2. Essa situação seria diferente caso esses argentinos residissem em Buenos Aires? Explique (2

pontos) 3. Qual a situação caso empresas argentinas fizessem o mesmo? Explique (2 pontos)

Resposta 1. - Sim. A CF:

Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por

pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do

Congresso Nacional.

A Lei n. 5.709/71 assim estabelece:

Art. 1º - O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no

Brasil só poderão adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei.

Art. 3º - A aquisição de imóvel rural por pessoa física estrangeira não poderá exceder a 50

(cinqüenta) módulos de exploração indefinida, em área contínua ou descontínua.

§ 1º - Quando se tratar de imóvel com área não superior a 3 (três) módulos, a aquisição

será livre, independendo de qualquer autorização ou licença, ressalvadas as exigências gerais

determinadas em lei

Art. 7º - A aquisição de imóvel situado em área considerada indispensável à segurança nacional

por pessoa estrangeira, física ou jurídica, depende do assentimento prévio da Secretaria-Geral do

Conselho de Segurança Nacional.

Art. 12 - A soma das áreas rurais pertencentes a pessoas estrangeiras, físicas ou jurídicas, não

poderá ultrapassar a um quarto da superfície dos Municípios onde se situem, comprovada por

certidão do Registro de Imóveis, com base no livro auxiliar de que trata o art. 10.

§ 1º - As pessoas da mesma nacionalidade não poderão ser proprietárias, em cada

Município, de mais de 40% (quarenta por cento) do limite fixado neste artigo.

Ainda, a Lei 6.634/79:

Art. 2º. - Salvo com o assentimento prévio do Conselho de Segurança Nacional, será vedada, na

Faixa de Fronteira, a prática dos atos referentes a:

V - transações com imóvel rural, que impliquem a obtenção, por estrangeiro, do domínio, da posse

ou de qualquer direito real sobre o imóvel;

Segunda a doutrina:

A escritura relativa à tal aquisição por pessoa física estrangeira constará, obrigatoriamente, o

documento de identidade do adquirente, que poderá ser a cédula de Identidade de estrangeiros

classificados como permanentes (RNE), com validade de nove anos, ou o passaporte com o visto

dentro do prazo de validade, ou ainda o Bilhete de Identificação para os estrangeiros signatários

do Mercosul; prova de residência no território nacional; e, quando for o caso, a autorização do

órgão competente, ou assentimento prévio do Conselho de Defesa Nacional, quando for o caso,

observado o disposto nas Leis 5.709/71 e 6.634/79. Adriano Erbolato Melo. Imóvel rural. 2011,

p.05.

Faculdade Cathedral Boa Vista-RR

Curso de Direito - Direito Agrário – Prof Vilmar

O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica autorizada a funcionar no Brasil só poderão

arrendar imóvel rural na forma da Lei Nº 5.709/71,

tendo competência o Congresso Nacional para autorizar tanto a aquisição ou o

arrendamento além dos limites de área e percentual fixados na Lei Nº 5.709/71, como a aquisição

ou arrendamento, por pessoa jurídica estrangeira, de área superior a 100 (cem) módulos de

exploração indefinida.(art. 23 e §2º, Lei 8.629/93) (Darcy Walmor Zibetti. Aquisição e exploração

de imóvel rural por estrangeiro. 2010, p. 232.)

Resposta 2 - Há sim, diferença:

Segundo a legislação acima apontada, somente os estrangeiros que têm residência no Brasil

podem adquirir imóveis rurais. Entenda-se residência permanente ou provisória, desde que tenham

residência.

Senão vejamos:

LEI No 5.709, DE 7 DE OUTUBRO DE 1971 - Art. 1º - O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil só poderão adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei.

Vejamos a doutrina:

Para que haja a alienação de imóveis para estrangeiros, necessária a verificação da sua

compatibilidade com os princípios fundamentais de Direito Agrário. (BORGES, Paulo Torminn.

Institutos Básicos de Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 26)

Resposta 3. No caso de empresas estrangeiras, as pessoas jurídicas estrangeiras autorizadas a

funcionar no Brasil só poderão adquirir imóveis rurais destinados à implantação de projetos agrícolas,

pecuários industriais ou de colonização, vinculados a seus objetivos estatutários, onde tais projetos

devem ser aprovados pelo Ministério da Agricultura, ouvido o órgão federal competente de

desenvolvimento regional na respectiva área, e, caso se trate de projeto de caráter industrial será ouvido

o Ministério da Indústria e Comércio .

Quanto ao limite de área, a pessoa jurídica estrangeira só poderá adquirir imóveis rurais cuja

soma não ultrapasse 1/4 (um quarto) da superfície do município onde se situe, ou, caso se trata de

pessoas jurídicas da mesma nacionalidade, não podem ser proprietárias de mais de 40% (quarenta por

cento) do limite de 1/4 (um quarto) da superfície em cada município (Art. 5º, §§ 1º e 2º do Decreto n.

74.965/74.).

Na faixa de fronteira, envolvendo pessoa física estrangeira residente no Brasil, pessoa jurídica

estrangeira autorizada a funcionar no país, ou pessoa jurídica brasileira, da qual participe, a qualquer

título, detendo a maioria de seu capital social, pessoa física estrangeira aqui não residente ou pessoa

jurídica estrangeira sediada no exterior, os negócios jurídicos que envolvam a obtenção de posse, do

domínio ou de qualquer outro direito real sobre o imóvel rural, dependerão, após início do processo no

INCRA, da autorização prévia do Conselho de Defesa Nacional.

A autorização do Conselho de Defesa Nacional, antiga Secretaria-Geral do Conselho de

Segurança Nacional, é exigível nas áreas de fronteira- faixa de fronteira de 150 Km ao longo da divisa

do ,país, ou ainda em uma faixa de 100 Km ao longo de rodovias federais.

Lei 6.634/79: - Art. 2º. - Salvo com o assentimento prévio do Conselho de Segurança Nacional,

será vedada, na Faixa de Fronteira, a prática dos atos referentes a:

Faculdade Cathedral Boa Vista-RR

Curso de Direito - Direito Agrário – Prof Vilmar

VI - participação, a qualquer título, de estrangeiro, pessoa natural ou jurídica, em pessoa jurídica

que seja titular de direito real sobre imóvel rural;

Ainda, segundo Oliveira:

A Lei nº 5.709 (7/10/71) é o diploma legal em vigor no país, relativo à aquisição de terras por

estrangeiros. Essa lei, como se viu, limitou à aquisição de terras por estrangeiros em 50 módulos

fiscais (o tamanho de um módulo varia de acordo com o município, sendo que o menor tem 5

hectares e o maior 110 hectares). Indicou também que a soma de imóveis rurais por estrangeiros

não pode ultrapassar a quarta parte da superfície de um município e, uma mesma nacionalidade

tem limitada o acesso à terra em 10% da área de um município. OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de. A QUESTÃO DA AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL. 2011, p. 18.