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FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PROCESSO CIVIL ANNE ROSE SANTANA CAVALCANTI DOS SANTOS A EFETIVIDADE DAS EXECUÇÕES CONTRA A FAZENDA PÚBLICA E O INSTITUTO DO PRECATÓRIO NO ESTADO DA BAHIA Salvador 2019

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FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PROCESSO CIVIL

ANNE ROSE SANTANA CAVALCANTI DOS SANTOS

A EFETIVIDADE DAS EXECUÇÕES CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA E O INSTITUTO DO PRECATÓRIO NO ESTADO

DA BAHIA

Salvador 2019

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ANNE ROSE SANTANA CAVALCANTI DOS SANTOS

A EFETIVIDAS DAS EXECUÇÕES CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA E O INSTITUTO DO PRECATÓRIO NO ESTADIO

DA BAHIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pós- Graduação em Processo Civil da Faculdade Baiana de Direito como requisito parcial à obtenção do Título de Pós-Graduada.

Salvador 2019

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ANNE ROSE SANTANA CAVALCANTI DOS SANTOS

A EFETIVIDADE DAS EXECUÇÕES CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA E O INSTITUTO DO PRECATÓRIO NO ESTADO

DA BAHIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para

obtenção do grau de Especialista em Direito Processual Civil, pela Faculdade

Baiana de Direito.

Nome:________________________________________________

Títulação e instituição:___________________________________

Nome:________________________________________________

Títulação e instituição:___________________________________

Nome:________________________________________________

Títulação e instituição:___________________________________

Salvador, ______ de _____________ do ano de 2019.

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Dedico este Trabalho à Deus, por me permitir cursar essa Pós-Graduação, por me dar forças para lutar diariamente pelo que quero e por me proteger e amar como ninguém mais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, à minha família, por me apoiar, ser meu alicerce e

principalmente, por ser uma das minhas maiores alegrias. Ao meu namorado, Marcelo, por ser

meu melhor amigo, maior incentivador, seu companheirismo e paciência. Aos meus amigos,

por sempre estarem do meu lado para o que precisasse. Ao Escritório Azi e Torres Castro Habib

e Pinto por me ensinarem diariamente o que é ser Advogada e exigirem de mim o meu melhor.

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RESUMO

O presente trabalho visa demonstrar a efetividade ou não das Execuções Contra a

Fazenda Pública e o instituto do Precatório no Estado da Bahia. Inicialmente, será explicado e

demonstrado o procedimento de realização do cumprimento de sentença, suas particularidades

e características, no que pertine as obrigação de pagar quantia certa, fazer, não fazer e entregar

coisa. Além disso, também conceituaremos o instituto do Precatório, informações pertinentes e

o procedimento necessário à formação e pagamento deste título de crédito no nosso Estado. Por

fim, iremos demonstrar que são dois os fatores que influem diretamente na entrega do direito

às partes. O primeiro deles se refere a estrutura física e funcional dos nossos três poderes para

a realização adequada das atividades. E, o segundo está atrelado as prerrogativas que são

atribuídas a Fazenda Pública e o que isso interfere na efetivação dos direitos da partes.

Palavra-chave: Efetivação, Direito, Fazenda Pública e Precatório.

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ABSTRACT

The present work aims to demonstrate the effectiveness or not of the Executions

Against the Public Treasury and the Pretoria Institute in the State of Bahia. Initially, it will be

explained and demonstrated the procedure of accomplishing the fulfillment of the sentence, its

particularities and characteristics, as it pertains to the obligation to pay certain amount, to do,

to do and to deliver thing. In addition, we will also conceptualize the Pretoria Institute, pertinent

information and how the formation and payment of this title of credit in our State. Finally, we

will demonstrate that there are two factors that directly influence the delivery of the right to the

parties. The first one refers to the physical and functional structure of our three powers for the

proper accomplishment of activities. And, the second is tied to the prerogatives that are

attributed to the Public Treasury and what this interferes in the realization of the rights of the

parties.

Keyword: Effectiveness, Law, Public Finance and Prediction.

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LISTA DE ABREVIATURA

CF – Constituição Federal de 1988

CPC – Código de Processo Civil de 2015

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

EC – Emenda Constitucional

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................11 2. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA.....................................................................................................................13

2.1. CONCEITO DE FAZENDA

PÚBLLICA...................................................................................................................13

2.2. REGIME

JURÍDICO.....................................................................................................................19

2.3. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM FACE DA FAZENDA

PÚBLICA......................................................................................................................21

2.4. A IMPUNGAÇÃO: PEÇA DEFENSÓRIA DA FAZENDA

PÚBLICA......................................................................................................................24

2.5. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE TÍTULOS JUDICIAIS CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA......................................................................................................................31

2.6. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E

ENTREGAR COISA CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA......................................................................................................................33

2.7. EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍULO EXTRAJUDICIAL EM FACE DA FAZENDA

PÚBLICA......................................................................................................................34

2.8. OS EMBARGOS À

EXECUÇÃO................................................................................................................ 37

2.9. EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGAR COISA

CONTRA A FAZENDA PÚBLICA COM TÍTULO EXECUTIVO

EXTRAJUDICIAL........................................................................................................40

3. PRECATÓRIO................................................................... ........................................41

3.1 PRECATÓRIOS DE NATUREZA

ALIMENTÍCIA...........................................................................................................44

3.2 A CORREÇÃO MONETÁRIA E OS JUROS MORATÓRIOS AO SEREM

APLICADOS NOS

PRECATÓRIOS..........................................................................................................49

3.3 PARCELAMENTO DE

PRECATÓRIO.............................................................................................................58

3.4 CESSÃO DE

PRECATÓRIO.............................................................................................................60

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3.5 A INCONSTITUCIONALIDADE DA COMPENAÇÃO DE DÉBITOS DO

EXEQUENTE COM A FAZENDA

PÚBLICA.....................................................................................................................61

3.6 REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR –

RPV..............................................................................................................................62

4. A EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA E O

INSTITUTO DOS PRECATÓRIOS NO ÂMBITO DO ESTADO DA

BAHIA..........................................................................................................................65

5. CONCLUSÃO.............................................................................................................79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.INTRODUÇÃO.

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A Fazenda Pública quando da litigância no judiciário, por conta do seu regime próprio

possui determinadas prerrogativas. Por possuírem essa característica específica o procedimento

aplicado às execuções comuns não deve ser aplicada ao mesmo. Prazos em dobro, pagamento

de obrigação de pagar quantia certa feita por Precatório, bem como tipos de medidas coercitivas

a serem aplicadas quando do descumprimento por parte do ente da Fazenda Pública são alguns

dos benefícios dado aos entes, considerando a especialidade da sua pessoa jurídica.

O Precatório, por sua vez, decorrente de previsão constitucional é o título de crédito

decorrente de trânsito em julgado de cumprimento de sentença. Ressalta-se que este tipo de

título é único e exclusivo da Fazenda Pública, como podemos observar a partir das palavras de

José Carlos Moreira: Nas ações de execução por quantia certa contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias e fundações, a satisfação do crédito em execução não pode ser obtida mediante expropriação de bens do devedor, por se tratarem de bens públicos, portanto, inalienáveis e, consequentemente, impenhoráveis.1

Ou nas palavaras de Gustavo Schmit: Consiste o precatório judicial numa “carta-requisitória” expedida pelos juízes das ações de execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, ao Presidente do Tribunal competente, solicitando o pagamento da quantia executada. Os créditos representados por precatórios ao Presidente do Tribunal até o dia 1º de julho de cada ano deverão ser incluídos no orçamento do ente público respectivo para pagamento no exercício financeiro subsequente, mas consignados diretamente ao Poder Judiciário, que lhes providenciará o pagamento, observada a ordem cronológica de apresentação dos diversos Precatórios.2

Este tem procedimento próprio para sua formação, previsão de pagamento, bem como

especificações para tanto, além de percebimento diferenciado para os credores que possuem

idade avançada, que sejam portadores de doença grave e/ou deficiência

A efetividade da Execução Contra a Fazenda Pública depende, inicialmente, de dois

fatores. O primeiro deles, a estrutura física e funcional dos 03 (três) poderes: executivo,

judiciário e legislativo do Estado da Bahia. Para a prestação de um serviço de qualidade e que

seja eficiente é indispensável um corpo funcional apto para realização das atividades. E para

que isso aconteça é extremamente importante, que esses servidores tenham computadores,

ambiente limpo e digno e todo o material necessário para desempenhar sua função com

qualidade.

O outro fator, que de certa forma depende do primeiro, é o respeito que o executivo

deve ter quando da emissão das decisões judiciais, uma vez que, muitas vezes a Fazenda Pública

1 MOREIRA, José Carlos Barbosa. “O novo processo civil brasileiro. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 258-259. 2 SCHMIT, Gustavo da Rocha. “O Precatório Judicial e o Art. 78 das Disposições Constitucionais Transitórias”. Revista de Direito Administrativo, São Paulo, v. 244, n. 1, p. 167, jan/fev/mar/abrr. 2007

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se aproveita da sua grandiosidade, ou até mesmo de suas prerrogativas, como por exemplo atos

administrativos em nome da Supremacia do Interesse Público sobre o privado, para não

efetivar/entregar ou o faz de maneira parcial, o que deve e que ficara reconhecido na demanda

judicial.

Após tudo isso, existindo uma prestação de serviço efetiva que gere o trânsito em

julgado do cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública o Precatório poderá ser formado.

Este, a partir da distribuição no Núcleo de Conciliação de Precatório do nosso Tribunal de

Justiça do Estado deverá ser pago até o final do exercício financeiro seguinte.

Assim, considerando tudo o que será exposto acerca da Efetividade da Execução

Contra a Fazenda Pública tentaremos demonstrar se o Estado da Bahia efetiva de maneira

adequada e célere o direito a quem lhe cabe e se os Precatórios são pagos consoante previsão

constitucional.

2. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.

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2.1. CONCEITO DE FAZENDA PÚBLICA.

À Fazenda Pública são atribuídas prerrogativas quando da sua atuação em juízo. Tal

afirmação se baseia nas características que as Pessoas Jurídicas de Direito Público possuem.

Dentre as primeiras, podemos apontar o regime de Execução das Obrigações de Pagar

Quantia Certa, que diferente do sistema privado, possui o instituto do Precatório.

Salienta-se que a especialidade do procedimento se deve ao fato de que as pessoas

jurídicas de direito público não poderiam se submeter à forma da execução comum. Esta é

caracterizada pela invasão “permitida” do patrimônio do devedor, com a finalidade de retirar

bens para satisfazer direito pré-constituído judicialmente ou extrajudicialmente. Assim, este

tipo de execução não poderia sujeitar a Fazenda Pública, considerando a indisponibilidade do

seu acervo, a institutos como penhora, expropriação ou apreensão peculiares da execução contra

o particular.

Desta forma, é o que leciona o mestre Araken de Assis: A causa do procedimento específico repousa no regime especial dos bens do domínio nacional e do patrimônio administrativo. É disciplina usual em vários ordenamentos jurídicos. Em razão desse regime, a constrição imediata e incondicionada dos bens públicos se revela inadmissível, em princípio, e inoperante, por decorrência, a técnica expropriatória genérica (art. 825 do NCPC) e aplicável aos particulares. E, de fato, conforme o artigo 100 do CC, os bens de uso comum do povo e os de uso especial – definidos nos incisos I e II do precedente art. 99 do CC – são inalienáveis, “enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar”.3

É imprescindível compreender, que nos bens pertencentes a Fazenda Pública estão

creches, escolas, hospitais, delegacias, prédios onde a administração pública tem suas

repartições e sedes, de modo que, existindo o risco de sujeição ao rito comum da execução a

população restaria ameaçada na continuidade de prestação destes serviços.

Entretanto, para que se diferencie os procedimentos de execução é fundamental

conceituar e identificar as entidades que são efetivamente consideradas como Fazenda Pública.

Nas palavras do ilustríssimo doutrinador Leonardo Carneiro da Cunha a Fazenda

Pública pode ser conceituada e identificada da seguinte forma: A Expressão Fazenda Pública identifica-se tradicionalmente como a área da Administração Pública que trata da gestão das finanças, bem como da fixação e implementação de políticas econômicas. (...) O uso frequente do termo Fazenda Pública fez com que se passasse a adotá-lo num sentido mais lato, traduzindo a atuação do Estado em juízo; em Direito Processual, a expressão Fazenda Pública contém significado de Estado em Juízo. (...)4

Aprofundando este entendimento o nobre Cândido Dinamarco esclarece que: Na verdade, a expressão Fazenda Pública representa a personificação do Estado, abrangendo as pessoas jurídicas de direito público. No processo em que haja a

3 ASSIS, Araken de. “Manual da Execução”: 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. P. 1359. 4 CUNHA, Leandro Carneiro. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.Edição. São Paulo: Dialética, 2014, p. 15.

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presença de uma pessoa jurídica de direito público, esta pode ser designada, genericamente, de Fazenda Pública.5

Compreende-se então, que a expressão Fazenda Pública é utilizada para representar a

personificação do Estado em seu sentido amplo e são abrangidas, pelo seu conceito, todas as

pessoas jurídicas de direito público.

Inicialmente, não restam dúvidas de que os entes da administração pública direta são:

União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O mesmo pode se afirmar quanto as autarquias

e as fundações de direito público.

No tocante às Sociedades de Economia Mista e as Empresas Públicas, apesar de

possuírem o título de administração pública indireta, exploram atividade econômica ou

comercializam bens ou prestam serviço, por isso, consoante disposição do artigo 173, § 1º, II

da Constituição Federal, em regra, possuem regime jurídico concernente das empresas

privadas.6

Contudo, existem determinadas circunstâncias envolvendo estas duas entidades que

devido a particularidade da situação passam a ser equiparadas a Fazenda Pública, submetendo-

se ou lhes sendo aplicado o seu regime próprio. Por isso, é equivocado afirmar que a Sociedade

de Economia Mista e as Empresas Públicas são somente consideradas como pessoas jurídicas

de direito privado.

No que se refere às Empresas Públicas, quando instituídas com a finalidade de prestar

serviço público de competência dos entes da Administração Pública Direta passam a ser

equiparadas à Fazenda Pública e por isso, submetem-se ao regime executivo especial. Este

entendimento, inclusive, é predominante no Superior Tribunal de Justiça, como podemos

observar: PROCESSUAL. ADMINISTRATIVO. EMPRESA PÚBLICA. ART. 730 DO CPC. ACÓRDÃO EMBASADO EM FATOS, PROVAS E CLÁUSULAS CONTRATUAIS. REVISÃO. SÚMULAS 5 E 7 AMBAS DO STJ. 1. A empresa pública, desde que prestadora de serviços públicos, goza dos privilégios inerentes à Fazenda Pública, de modo que a execução proposta contra essa empresa deve seguir

5 DINAMARCO, Cândido Rangel. “Fundamentos do Processo Civil Moderno”: Tomo I. 3. ed. São Paulo: Malheiros ,2000, p.179. 6 Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;

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o rito previsto nos arts. 730 e seguintes do CPC. Precedentes. (...) 4. Agravo regimental não provido.7

O Relator, Ministro Castro Meira, ao proferir o seu voto, que fora seguido e acatado

pelos demais, deixou este entendimento de forma clara: (...)Consoante a jurisprudência do STJ, a empresa pública, desde que prestadora de serviços públicos, goza dos privilégios inerentes à Fazenda Pública, de modo que a execução proposta contra esta empresa deve seguir o rito previsto nos arts. 730 e seguintes do CPC. (...)

E com base nesse entendimento, pelo fato da Agravante, Empresa Pública, ter

contratado terceirizada para a prestação do serviço, não foi acobertada por tal prerrogativa,

assim, não fez jus ao rito previsto no artigo 730 do antigo CPC e em decorrência disso teve o

seu Agravo em Recurso Especial não provido.

Em outra decisão semelhante, o Superior Tribunal de Justiça compartilhou deste

entendimento: (...)É que a EMOP - Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, criada por Decreto, é prestadora de serviços públicos de prestação obrigatória pelo Estado, devendo ser processada pelo rito do art. 730 do CPC, inclusive com a expedição de precatório.(...)8

Ao longo do voto, o ministro Relator citou este posicionamento apresentado em um

outro julgado, desta vez, do Supremo Tribunal Federal, cujo processo estava sob a relatoria do

Ministro Maurício Corrêa, que deixou bem claro o que fora exposto aqui: Nesse julgamento o Exmo. Sr. Relator o Min. Maurício Corrêa declarou que "...o fato de as empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades que explorem atividade econômica estarem sujeitas ao regime jurídico de empresas privadas não significa que a elas sejam equiparadas sem qualquer restrição". Remata o insigne julgador que na execução de Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da competência da União e por ela mantido, há que ser observado o regime de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da Constituição Federal.9

Logo, é possível concluir que levando-se em consideração a circunstância em que a

Empresa Pública foi criada, qual seja, prestação de serviço público, cuja titularidade pertença a

ente da Administração Pública Direta esta passa a ser equiparada à Fazenda Pública. Por conta

disso, passa a possuir prerrogativas como a submissão ao rito de execução específico e

pagamento de suas dívidas decorrentes de título judiciais, por meio de Precatório.

Em relação as Sociedades de Economia Mista, o posicionamento jurisprudencial é

semelhante, ou seja, é imprescindível a prestação do serviço a ente da Administração Pública

7 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo em Recurso Especial número 234.159. Agravante: Empresa Municipal de Urbanização Rio Urbe. Agravado: Multidiesel Comércio Representações e Serviços LTDA. Relator: Ministro Castro Meira. Brasília, 07 de Maio de 2013. 8 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial número 709.807. Recorrente: Estado do Rio de Janeiro e Outro. Recorrido: SERGEN SERVIÇOS GERAIS DE ENGENHARIA S/A. Relator Ministro Mauro Campbell, Segunda Turma, Dje 13/11/2009. 9 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário de número 206. Relator: Ministro Maurício Correa, Tribunal Pleno, DJe 14/11/02.

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Direta para sua equiparação. Como consequência disso, nas situações em que a pessoa jurídica

possua bem atrelado a consecução da função de natureza pública, este goza da

impenhorabilidade, desde que seja demonstrando ser indispensável para o desenvolvimento da

atividade pública. Tal entendimento é também consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça.

O Ministro Relator, Luiz Fux, quando da elaboração do seu voto no Recurso Especial

de número 521.047/SP, explicou que a Companhia de Saneamento de Diadema – SANED,

apesar de se tratar de Sociedade de Economia Mista, que presta serviço público, não demonstrou

evidências suficientes de que ocorrendo a penhora afetaria diretamente na prestação dos seus

serviços, de maneira a contribuir no não provimento do recurso, pela primeira turma do STJ: Argumenta que, por se tratar de sociedade de economia mista, prestadora de serviços públicos essenciais, seus bens não podem ser penhorados. A questão não é nova nesta Corte. Deveras, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no sentido de que por possuir a sociedade de economia mista personalidade jurídica de direito privado, a cobrança de seus débitos está sujeita ao regime comum das sociedades em geral, nada importando o fato de prestarem serviço público. (...) Não havendo nos autos qualquer evidência de que a constrição efetivada inviabiliza a prestação dos serviços públicos afetos à Recorrente, tem-se que é viável a penhora sobre seus ativos financeiros, como procedida.10

Assim, no casos em que as Sociedades de Economia Mista prestem serviço a ente

pertencente a Administração Pública Direta e sejam equiparadas a Fazenda Pública, caso

possuam bens que sejam utilizados na consecução da atividade e que sejam indispensáveis para

tanto, a impenhorabilidade, prerrogativa inerente ao regime próprio das execuções em que há a

administração pública lhe é atribuída. Desta forma, esses bens são inalcançáveis em eventual

demanda judicial.

O entendimento do Supremo Tribunal Federal, no que concerne a extensão das

faculdades dadas a Fazenda Pública para as Empresas Públicas e Sociedades de Economia

Mista acompanha o Superior Tribunal de Justiça. Para a Suprema Corte tais pessoas jurídicas

de direito público só serão beneficiadas caso comprovem a não exploração de atividade

econômica, bem como a efetiva prestação de serviço, cuja competência é de um dos entes

federativos.

Neste sentido, de maneira clara e objetiva o ilustre professor Marcelo Alexandrino

expôs: Não obstante esse fato, a doutrina administrativista há muito defende que, no caso das empresas públicas e sociedades de economia mista que tenham por objeto a prestação de um serviço público, os bens que estejam sendo diretamente empregados nessa atividade sofrem restrições – a exemplo da impenhorabilidade – impostas em atenção ao princípio da continuidade dos serviços públicos. Assim, o regime jurídico aplicável

10 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial número 521.047. Recorrente: COMPANHIA DE SANEAMENTO DE DIADEMA – SANED. Recorrido: COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO – SABESP. Relator: Ministro Luiz Fux. Brasília, 20 de Novembro de 2003.

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a alguns dos bens dessas entidades coincidirá, total ou parcialmente, com aquele a que se sujeitam os bens públicos. Notem que não é a natureza do bem em si que é levada em consideração; o regime jurídico equivalente ao dos bens públicos é conferido em função, exclusivamente, da destinação específica do bem – e só existe enquanto esta durar, isto é, enquanto o bem estiver sendo diretamente empregado na prestação do serviço público.11

É possível concluir que no tocante as empresas estatais, para que lhes seja atribuído

benesses decorrentes do regime de execução da Fazenda Pública é imprescindível que estas

prestem serviço público e que qualquer bem que seja utilizado para tanto seja indispensável

para sua realização. Não ocorrendo desta forma o rito de execução a ser aplicado em eventual

demanda judicial será o dirigido às corporações privadas.

Uma empresa estatal que é inserida neste conceito e serve como exemplo é a Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos, considerada como prestadora de serviço público exclusivo

do Estado, por isso, possui todos os benefícios atribuídos a Fazenda Pública em seu regime

próprio de execução. E é desta forma, que entende o mestre Araken de Assis: As empresas públicas e as sociedades de economia mista, porque subordinadas ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários, a teor do artigo 173, § 1º, II da CF/1988, se ostentam alheias ao regime executivo especial. Nada obstante, o STF divisou a recepção do artigo 12 do Dec. – lei 509/1969 pela Carta Política, e assim, admitida a impenhorabilidade do patrimônio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, que é uma empresa pública, incluiu-a na execução mediante precatório.12

Considerando o critério abordado pelo Supremo Tribunal Federal, qual seja, “não

exploração de atividade econômica”, para a extensão dos privilégios da Fazenda Pública à

outras pessoas jurídicas de direito público deve-se entender que em decorrência desse conceito

certos entes perderão tais benefícios. Entre esses, podemos apontar as Autarquias que forem

instituídas com o único intuito de explorar atividade privada. Por assim o serem, a mencionada

instituição perderá, como por exemplo, o pagamento por meio de Precatórios, onde inclusive,

já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: Na espécie, ao contrário do que afirma o BANCO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL BRDE, o Tribunal de Justiça estadual decidiu, de forma fundamentada, que, a despeito de ser considerado, em sua forma, como uma autarquia, o banco ora recorrente, em razão de explorar atividade econômica, não é de se aplicar o regime jurídico-processual típico da Fazenda Pública. (...) Assim, reconheceu-se, na origem, que a natureza autárquica do BANCO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL BRDE não contém o condão, na espécie, de possibilitar aplicação do rito previsto para execução por quantia certa contra a Fazenda Pública previstos nos artigos 730 e seguintes do Código de Processo Civil, visto que na substância, tem-se uma empresa pública.

11ALEXANDRINO, Marcelo. “Empresas estatais e regime de precatórios”. Ponto dos Concursos, 2013, https://www.pontodosconcursos.com.br/artigo/14288/marcelo-alexandrino/empresas-estatais-e-regime-de-precatorios, acessado em 01/05/2019. 12 ASSIS, Araken de. Manual da Execução: 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. P. 1374.

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(...) Dessa forma, é de se entender que o banco ora recorrente não pode gozar do privilégio executivo previsto pelo Código de Processo Civil em favor da Fazenda Pública, de sorte que a execução deve seguir o rito comum destinado aos entes privados.13

Não existe precedente nesse sentido no Supremo Tribunal Federal. As decisões

relacionadas a equiparação destas espécies de pessoa jurídica de direito público à Fazenda

Pública e consequente extensão das prerrogativas somente se referem as situações apresentadas

em momento anterior no que tange às Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.

Entretanto, por questão de coerência é notório que não se deve ter outro entendimento.

Como há precedente no sentido de que as Empresas Públicas e as Sociedades de Economia

Mista, quando do exercício de atividade exclusiva e de competência de ente da Administração

Pública Direta lhes serem estendidos privilégios atribuídos a Fazenda Pública, não há

explicação plausível que não apoie a exclusão de tais benesses às Autarquias, quando do

exercício de atividade privada.

Inclusive é de bom alvitre trazer a baila o informativo 858 do Supremo Tribunal Federal

que finaliza qualquer dúvida que ainda reste neste sentido: É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

Destarte, para equiparação das empesas estatais à Fazenda Pública ou atribuição de

prerrogativas inerentes a mesma é bastante a prestação do serviço público e que o bens

utilizados para tanto sejam indispensáveis a realização das suas atividades.

Cumpre salientar, que as Agências Executivas e Reguladoras, por serem caracterizadas

como Autarquias Especiais, são consideradas pessoas jurídicas de direito público. Por isso,

também são incluídas no conceito de Fazenda Pública.

Os Conselhos de Fiscalização de Atividade Profissional, de acordo com o Supremo

Tribunal Federal tem natureza de Autarquia, por isso, também são considerados como pessoas

jurídicas de direito público, como podemos observar: EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. CONSELHO PROFISSIONAL DE FISCALIZAÇÃO. DISPENSA IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. O Supremo Tribunal Federal já assentou a necessidade de prévio procedimento administrativo para a demissão de servidor de órgãos de fiscalização profissional, tendo em vista que são entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento.14

13 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial de número 579.819. Recorrente: BANCO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL BRDE. Recorrido: BRAULIO DINARTE DA SILVA PINTO E OUTRO. Relator Ministro Massami Uyeda, Brasília, 04 de Agosto de 2009. 14 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário de número 683.010. Agravante: CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA - CREA/MG. Agravado: RENATO ANDRÉ CORREIA. Relator Ministro Roberto Barroso. Brasília, 12 de Agosto de 2014.

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No nosso Código de Processo Civil, inclusive, no artigo 45 caput, enumera o Conselho

de Fiscalização de Atividade profissional e o equipara a pessoa jurídica de público.15

Assim, certos privilégios processuais atribuídas aos Conselhos, como os prazos

especiais previstos no artigo 188 do Código de Processo Civil do ano de 1973, disposto no

artigo 183 do atual também lhe são estendidos.

Desta forma, considerando o Conselho de Fiscalização de Atividade Profissional ser

incluído no conceito de Autarquia as prerrogativas que são dadas a Fazenda Pública também

lhe são estendidas. Assim, deverá sofrer o processo executório próprio previsto na Constituição

Federal e no Código de Processo Civil atual.

2.2. REGIME JURÍDICO.

Como já mencionamos em momento anterior a Fazenda Pública possui um regime

próprio de execução: Em razão da própria atividade de tutelar o interesse público, a Fazenda Pública ostenta condição diferenciada das demais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.16

Assim ocorre pelo fato da Fazenda Pública não só tutelar o aporte financeiro que é

concedido e recolhido pela administração, como também pelo dever que os entes possuem ao

prestar serviços à sua população corroborando para a necessidade de existência de certas

particularidades, quando este se encontra como réu em demandas judiciais.

Um dos motivos que justifica tal alegação é a natureza dos bens públicos (de uso

comum, de uso especial ou dominicais), que lhes atribui inalienabilidade e consequentemente

impenhorabilidade.

Outra explicação apontada se baseia no princípio da continuidade do serviço público,

tendo em vista, o fato não só dos bens não poderem ser afastados de sua utilização pública, sob

pena de prejuízo a coletividade, como também do ente da administração pública, seja direta ou

indireta, possuir fundos suficientes para mantê-lo disponível a população.

Desta forma pensa o ilustre José Roberto de Moraes, quando expôs: (...) quando a Fazenda Pública está em juízo, ela está defendendo o erário. Na realidade, aquele conjunto de receitas públicas que pode fazer face às despesas não é de responsabilidade, na sua formação, do governante no momento. É toda a sociedade que contribui para isso. (...) Ora, no momento em que a Fazenda Pública é condenada, sofre um revés, contesta uma ação ou recorre de uma decisão, o que se estará protegendo, em última análise é o erário. É exatamente essa massa de recurso que foi

15 Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações (...). 16 DA CUNHA, Leandro Carneiro. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12ª Edição. São Paulo: Editora Dialética, 2014, p. 37.

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arrecadada e que evidentemente supera, aí sim, o interesse particular. Na realidade, a autoridade pública é mera administradora.17

Por último, o rito especial é também explicado pelo princípio da isonomia, que impõe,

como por exemplo, o pagamento dos títulos judiciais por meio de Precatórios ou Requisição de

Pequeno Valor, para garantir o percebimento da quantia de maneira que respeite a ordem

cronológica dos credores da Fazenda Pública.

O nobre doutrinador Leonardo Carneiro nos leciona que à Fazenda Pública,

considerando o fato de defender o interesse público, bem como levando-se em conta a sua

abrangência somente é viável a sua atuação em juízo de maneira isonômica a partir das

prerrogativas que lhes são devidas: Para que a Fazenda Pública possa, contudo, atuar da melhor e mais ampla maneira possível, é preciso que se lhe confiram condições necessárias e suficientes a tanto. Dentre as condições oferecidas, avultam as prerrogativas processuais, identificadas por alguns como privilégios. (...) As vantagens processuais conferidas à Fazenda Pública revestem o matiz de prerrogativas, eis que contém fundamento razoável, atendendo, efetivamente, ao princípio da igualdade, no sentido aristotélico de tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. Ora, a Fazenda Pública que é representada em juízo por seus procuradores, não reúne as mesmas condições que um particular para defender seus interesses em juízo. Além de estar defendendo o interesse público, a Fazenda Pública mantém uma burocracia inerente à sua atividade, tendo dificuldade para ter acesso aos fatos, elementos e dados da causa. O volume de trabalho que cerca os advogados públicos impede, de igual modo, o desempenho de suas atividades nos prazos fixados para os particulares.18

Destaque-se que o regime próprio de Execução Contra a Fazenda Pública está

relacionado apenas com a obrigação de pagar quantia certa. As demais espécies obrigacionais

de fazer, não fazer e entrega de coisa seguem o rito comum. Contudo, nas situações em que há

obrigação de fazer é possível aplicar o artigo 53719 do Código de Processo Civil com a aplicação

das astreintes com a ressalva prevista no artigo 1º da Lei 9.494/97, como podemos observar: PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ART. 461 DO CPC. ASTREINTES. APLICAÇÃO PARA A FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. REVISÃO DO QUANTUM ESTIPULADO. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. 1. É permitido ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória (astreintes) contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de fazer. 2. A revisão do valor da multa demanda, como regra, o reexame de matéria fática, vedado a esta Corte nos termos da Súmula 7/STJ. Precedentes do STJ. 3. Agravo Regimental provido.20

17 MORAES, José Roberto de. “Prerrogativas Processuais da Fazenda Pública”. Direito Processual Público: a Fazenda Pública em juízo”. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 69. 18 DA CUNHA, Leandro Carneiro. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12. ed.. São Paulo: Dialética, 2014, p. 38. 19 Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito. (...) § 5o O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional. 20 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo de Instrumento de número 1.040.411. Agravante: ADRIANE BECK LEITE E OUTROS. Agravado INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. Relator Ministro Herman Benjamin, Brasília, 02 de Outubro de 2008.

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Insta salientar, que o rito da execução contra a fazenda pública é baseado em títulos

executivos judiciais e extrajudiciais. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento

sumulado que possibilita a aplicação do regime próprio executório da administração pública

aos últimos. A súmula ao qual nos referimos é a de número 27921. A mesma decorre do

entendimento de que executar esta espécie de título não ofende o regime jurídico de direito

público inerente da atuação do Estado em juízo. Vale ressaltar, que esta interpretação já foi

pacificada com a aprovação do artigo 910 do Código de Processo Civil22.

Outrossim este entendimento somente passou a ser pacificado pelo fato dos nossos

tribunais compreenderem que o título extrajudicial pode e deve ser equiparado a sentença

transitada em julgado, uma vez que, não seria justo impor ao credor deste tipo de título a

apresentação de demanda de conhecimento para ser possível reivindicar o que o mesmo já

possui, o crédito. Os nobres professores Luis Wambier e Eduardo Talamini desta forma

elucidam: Todavia, pacificou-se na jurisprudência o entendimento de que é cabível a execução contra a Fazenda Pública aparelhada com título extrajudicial, sob o fundamento de que os títulos executivos extrajudiciais se equiparam à sentença condenatória transitada em julgado, não sendo óbice a obrigatoriedade do reexame necessário (art. 496). Argumenta-se que não é justo obrigar o credor, que já tem título extrajudicial, a ajuizar ação de conhecimento, para obter aquilo que já tem: título executivo. Nessa linha, o STJ editou a súmula 279, admitindo a execução fundada em título extrajudicial contra a Fazenda.23

A edição da súmula 279 do STJ foi o marco da consolidação deste entendimento pela

nossa corte superior, não só por proporcionar celeridade processual a execução desta espécie

de título, como também por conceder segurança jurídica ao credor da Fazenda Púbica.

No tocante, aos diferentes tipos de títulos a serem executados contra a administração

pública, seja o judicial ou extrajudicial, ambos possuem ritos diferentes. Enquanto que os

primeiros estão previstos nos artigos 534 e 535 do Código de Processo Civil, os títulos

extrajudiciais estão dispostos ao longo do artigo 911.

2.3. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM FACE DA FAZENDA PÚBLICA.

21 É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. 22 Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será citada para opor embargos em 30 (trinta) dias. § 1o Não opostos embargos ou transitada em julgado a decisão que os rejeitar, expedir-se-á precatório ou requisição de pequeno valor em favor do exequente, observando-se o disposto no art. 100 da Constituição Federal. § 2o Nos embargos, a Fazenda Pública poderá alegar qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento. § 3o Aplica-se a este Capítulo, no que couber, o disposto nos artigos 534 e 535. 23 WAMBIER, Luis Rodrigues; TALAMANI, Eduardo. “Curso Avançado de Processo Civil”. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 682.

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Como já fora exposto em momentos anteriores os bens públicos são regidos da

impenhorabilidade e da inalienabilidade. Por conta disso, o rito executório aplicado a fazenda

pública é diverso do privado, assim o ilustre doutrinador Leonardo Carneiro da Cunha lecionou: Os bens públicos são revestidos dos atributos da inalienabilidade e impenhorabilidade, motivo pelo qual se revela inoperante, frente à Fazenda Pública, a regra da responsabilidade patrimonial insculpida no artigo 591 do CPC. Desse modo, a execução por quantia certa contra a Fazenda Pública deve revestir-se de matiz especial, não percorrendo a senda da penhora, nem da apropriação ou expropriação de bens da alienação judicial, a fim de satisfazer o crédito executado.24

Devido a esta especialidade a Fazenda Pública possui regras próprias, quando é parte

em uma execução e todas encontram-se dispostas no nosso Código de Processo Civil vigente.

Vale lembrar que as normas atinentes ao cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública

referem-se a obrigação de pagar quantia certa e foram criadas visando a adequação ao

pagamento por meio de Precatórios, como continuou elucidando Leonardo Carneiro da Cunha: Nesse caso, ou seja, sendo o executado a Fazenda Pública, não se aplicam as regras próprias da execução por quantia certa contra devedor solvente, não havendo a adoção de medidas expropriatórias para a satisfação do crédito. Diante da peculiaridade e da situação da Fazenda Pública, a execução por quantia certa contra ela intentada contém regras próprias. Põe-se relevo no particular, a instrumentalidade do processo, a impor adequação procedimental, na exata medida em que as exigências do direito material na disciplina das relações jurídicas que envolvem a Fazenda Pública influenciam e ditam as regras processuais. Isso porque os pagamentos feitos pela Fazenda Pública são despendidos pelo erário, merecendo tratamento específico a execução intentada contra as pessoas jurídicas de direito público, a fim de adaptar as regras pertinentes à sistemática do precatório.25

Assim, conclui-se que tudo o que é necessário saber sobre o rito próprio de execução

contra a fazenda pública, qual seja, o cumprimento de sentença, encontra-se disposto no nosso

CPC.

O cumprimento de Sentença tem como objeto a obrigação de pagar quantia certa contra

a Fazenda Pública e deve ser promovida pelo exequente apresentando demonstrativo atualizado

do cálculo da dívida, bem como outros dados enumerados no artigo 53426 do nosso Código de

24 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 322. 25 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 321. 26 Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente; II - o índice de correção monetária adotado; III - os juros aplicados e as respectivas taxas; IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados; V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados.(...).

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Processo Civil. Salienta-se que no tocante, as obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa

aplica-se o previsto nos artigos 53627 e 53828.

Nos cumprimentos de sentença promovidos contra a Fazenda Pública a principal

prerrogativa se baseia na forma do pagamento dos débitos discutidos em juízo, que assim o

serão por Precatório ou por Requisição de Pequeno Valor.

É imprescindível salientar, que nos casos onde a sentença fora proferida de maneira

ilíquida o título deverá, necessariamente, passar por liquidação para ser executado. As espécies

da mesma (por procedimento comum ou por arbitramento) podem ser aplicadas nas demandas

em que a Fazenda Pública atua em juízo. Por isso, as regras expressas dos artigos 509 a 512 do

nosso códice processual também são aplicáveis nos processos em que a administração pública

é parte.

Diferentemente, das execuções comuns a Fazenda Pública não é intimada para pagar,

mas sim, para apresentar impugnação. Por conta disso, não há incidência da multa prevista no

§ 1o , do artigo 52329 do código processual, conforme disposto no § 2º do artigo 534: “A multa

prevista no § 1o do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública”.

Os nobres doutrinadores Fredie Diddier, Leonardo Cunha Braga, Paula Sarno e Rafael

Alexandria de Oliveira abordam de maneira clara e interessante sobre o assunto: A Fazenda Pública não é intimada para pagar, justamente porque não lhe é franqueada a possibilidade de pagamento voluntário. Cabe-lhe pagar as condenações que lhe são impostas, de acordo com a ordem cronológica de inscrição de Precatórios. É por isso que não é intimada para pagar, nem incide, no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública, a multa prevista no § 1º do artigo 523 do CPC. Por essa mesma razão, não é possível à Fazenda Pública valer-se do expediente previsto no artigo 526 do CPC e antecipando-se à intimação para pagamento, já efetuá-lo no valor que entende devido.30

Assim, conclui-se que à Fazenda Pública não é atribuída faculdade de pagar

voluntariamente o débito, tendo em vista, o fato de lhe ser imposto o dever de quitar os créditos

dos exequentes via Precatório. Em decorrência disso, também não lhe é imposta a multa, pelo

não pagamento voluntário no prazo de 15 dias previsto no Código de Processo Civil.

27 Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.(...). 28 Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.(...). 29 Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. § 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.(...) 30 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed., 2017.

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Em relação aos débitos que serão pagos por Requisição de Pequeno Valor, não há

obrigação do pagamento ser realizado por ordem cronológica. Assim, nessas hipóteses a

quitação poderá ser feita de forma voluntária. Por conta disso, a Fazenda Pública pode utilizar-

se do que se encontra disposto no artigo 52631 do códice e antecipar o pagamento à intimação

e efetuá-lo no valor que entender devido. Contudo, consoante disposição do § 1o deste artigo,

caso o autor discorde do valor pago, o mesmo poderá impugnar, tendo a faculdade de retirar a

quantia incontroversa.

Caso o título executivo judicial tenha sido proposto por mais de um autor, cada um

deles deverá requerer individualmente seu cumprimento de sentença, com demonstrativo

individual dos cálculos. Nas situações em que há litisconsórcio ativo, os valores serão

analisados e pagos a cada um dos exequentes, separadamente, por meio de Precatório.

Após o requerimento do cumprimento de sentença e posterior citação dos entes da

Fazenda Pública para impugnarem à execução, no caso da mesma não ser interposta, ou a

decisão que a tenha rejeitado ou inadmitido venha a transitar em julgado, o débito discutido

deverá ser constituído por meio de Precatório, consoante regramento do artigo 100 da

Constituição Federal. Aprofundaremos sobre este título de crédito mais a frente.

2.4. A IMPUGNAÇÃO: PEÇA DEFENSÓRIA DA FAZENDA PÚBLICA.

A impugnação é a peça defensória apresentada pela Fazenda Pública no cumprimento

de sentença. Em relação aos embargos à execução, os mesmos somente são interpostos, quando

a pessoa jurídica de direito público apresenta defesa na execução cujo título executivo é o

extrajudicial. Assim ditam os nobres Fredie Didier, Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno

Braga e Rafael Alexandria de Oliveira: No cumprimento de sentença, a Fazenda Pública defende-se por impugnação e não por embargos. Os embargos constituem o meio de defesa que a Fazenda Pública apresenta na execução fundada em título extrajudicial. A impugnação é uma defesa, não ostentando a natureza de ação ou demanda judicial.32

31 Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, apresentando memória discriminada do cálculo. § 1o O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor depositado, sem prejuízo do levantamento do depósito a título de parcela incontroversa. § 2o Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes. § 3o Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o processo. 32 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed, 2017, p. 680.

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Esta peça defensória será interposta pelo ente público, quando o exequente apresenta

o cumprimento de sentença e o juiz/desembargador o intima para tanto dentro de um prazo de

30 (trinta) dias, consoante disposição do artigo 535, caput33.

Como mencionado em momento anterior, o cumprimento de sentença pode ser

apresentado em litisconsórcio ativo, onde cada exequente deve apresentar demonstrativo

individual de cálculos atualizados, consoante disposição do § 1o, do artigo 53434 do Código de

Processo Civil.

Destaque-se que, caso exista uma quantidade considerável de litisconsortes que

comprometa ou dificulte a apresentação da impugnação pela pessoa jurídica de direito público,

o magistrado pode limitar o número dos mesmos aplicando o exposto no § 1º do artigo 11335.

A própria Fazenda Pública antes de apresentar a impugnação, pode solicitar a limitação ao juiz.

Este requerimento interrompe o prazo para apresentação da impugnação, que será devolvido de

forma integral, quando do despacho que acolha ou não o pedido, conforme § 2º36 do mesmo

artigo. Decisões nesse sentido são proferidas, como podemos observar: Nos termos do art. 113, parágrafo único do Código de Processo Civil, desmembre-se o presente feito para que este prossiga apenas em relação aos 05 (cinco) primeiros autores que constam da inicial, retificando, desde já, o Termo de Autuação. E em relação aos demais autores sejam formados novos processos com no máximo de 5 autores para cada processo. Para cumprimento da diligência encaminhe-se os autos à Distribuição. Intime-se a parte autora para juntar a sentença e os recursos da ação coletiva, objeto da presente execução. Em seguida, retornem-me conclusos.37

É notório, que ao existir a possibilidade de desmembramento da execução o

magistrado não só respeita o princípio do devido processo legal, como também oportuniza que

o ente da administração, de maneira adequada exerça o direito ao contraditório. Assim o é

levando-se em conta a dificuldade que seria dada ao procurador de se manifestar e impugnar o

cálculo de um grande número de exequentes em um mesmo cumprimento de sentença dentro

do prazo estipulado por lei.

33 Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos impugnar à execução, podendo arguir (...) 34Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: § 1o Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for o caso, o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 113.(...) 35 Art. 113 (...) 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. 36 § 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. 37 BRASIL. Justiça Federal 1ª Região. Cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública de número 1007678-82.2017.4.01.3300. 11ª Vara Federal, Juiz Rodrigo Britto Pereira Lima, 16 de janeiro de 2018.

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A intimação da Fazenda Pública para impugnar o cumprimento de sentença é realizada

de formar pessoal: por realização de carga, remessa ou meio eletrônico, de acordo com o artigo

183, § 1º38 do códice processual.

Caso seja feita por carga, o prazo se inicia da data em que a mesma fora realizada (artigo

231, VIII39 do CPC). Por remessa dos autos, o entendimento dominante do Superior Tribunal

de Justiça é que o lapso prazal começa a correr a partir da remessa com vistas, mas, nas situações

em que os dias não coincidem, será do recebimento dos autos pelo servidor do órgão: (...) inicia-se no dia da remessa dos autos com vista, ou se as datas não coincidirem, do recebimento destes por servidor do órgão, e não a partir do dia em que o representante ministerial manifesta, por escrito, sua ciência do teor da decisão(...).40

E, quando a intimação é feita por meio eletrônico, considera-se “o dia útil seguinte à

consulta ao teor da citação ou da intimação ou do término do prazo para que a consulta se dê,

quando a citação ou intimação for eletrônica” (artigo 213, V do CPC).

O trâmite processual do cumprimento de sentença é explicado de forma simples por

Marcelo Abelha, como podemos observar: Uma vez recebido o requerimento inicial e dado início ao cumprimento de sentença , então a Fazenda Pública será intimada na pessoa do seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: I – falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II – ilegitimidade de parte; III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; V – incompetência absoluta ou relativa do juízo de execução; VI – qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença. 41

Como exposto acima a Fazenda Pública tem um prazo de 30 (trinta) dias para impugnar

o cumprimento de sentença. O mencionado lapso prazal é específico e próprio para os entes da

administração, por isso, não deve ser contado em dobro, consoante disposição do artigo 183, §

2º42, bem como computa-se, somente, dias úteis (artigo 21943 do CPC).

38 Art. 183.(...) § 1o A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico. 39 Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: (...) VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria.(...). 40 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargo de Declaração no RHC de número 43.374/PA. 5ª Turma, Relatora Ministra Laurita Vaz, Dje 30/04/2014. 41 ABELHA, Marcelo. “Manual de Execução Civil”. 5ª ed. ver. e atual.. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 42 Art. 183(...) §2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público. 43 Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.

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Vale ressaltar, que os atos executivos apresentados no § 6º do artigo 52544 do CPC, não

se aplicam ao cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública. Tal afirmação se sustenta no

fato de que para atribuir efeito suspensivo ao procedimento é necessário a penhora, depósito,

ou caução, situações onde os entes da administração pública não podem ser submetidos

considerando, a não necessidade de garantir o juízo em decorrência do seu regime jurídico

especial. Assim também explicou Marcelo Abelha: É claro, portanto, que a Fazenda Pública não é intimada do requerimento executivo para pagar ou nomear bens à penhora, porque os bens fazendários são impenhoráveis e o pagamento depende da dotação e previsão orçamentária dos créditos devidos pela Fazenda. 45

À Fazenda Pública é atribuída regime executório próprio. Desta forma não é imaginável

que os atos executivos específicos do rito comum lhe sejam despendidos, principalmente,

quando os bens públicos não são passíveis de disponibilização

Ademais, para a formação do crédito perquirido pelos exequentes, seja por Precatório

ou por Requisição de Pequeno Valor é necessário o trânsito em julgado da decisão que julgar a

impugnação, para assegurar o encerramento das discussões acerca do valor, como será

demonstrado mais a frente.

Desta forma, é imprescindível que o instrumento defensório apresentado pela ente da

Fazenda Pública tenha efeito suspensivo. Assim, enquanto o valor discutido em sede de

cumprimento de sentença não transitar em julgado, o Precatório ou o PRV não poderão ser

expedidos.

Contudo, salienta-se o efeito suspensivo desta peça defensória somente é mantido até a

decisão que julga o recurso do ente é que dispõe no artigo 535, § 3o46do CPC. Assim explicam

os mestres Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini: O efeito suspensivo dura apenas até o primeiro julgamento de rejeição da impugnação – e não até o trânsito em julgado dessa decisão. É o que se extrai do cotejo do artigo 535, § 3º (“rejeitada as arguições da executada”) (...). Como o recurso contra a decisão

44 Art. 525 (...) § 6o A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. 45 ABELHA, Marcelo. “Manual de Execução Civil”. 5ª ed. ver. e atual.. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 46 Art.535 (...) § 3º Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada: I- expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente, precatório em favor do exequente, observando-se o disposto na Constituição Federal; II- por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.

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de rejeição da impugnação não tem efeito suspensivo automático, uma vez, sendo ela rejeitada, a execução toma seu curso.47

É perceptível que a segurança jurídica é necessária para que os créditos contra o ente

devedor sejam formados, uma vez que, distribuídos dificilmente poderão ser cancelados. Em

alguns casos a estabilidade da decisão só se efetua por meio da certidão do trânsito em julgado.

Em outros, quando existem valores incontroversos e que, por isso, podem passar a ser títulos

de crédito.

O trânsito em julgado das decisões que julgaram ou o cumprimento de sentença ou o

embargo à execução são imprescindíveis para a expedição dos créditos dos exequentes. Esta

alegação se baseia na necessidade de segurança jurídica do título, para que possa ser incluído

no orçamento do ente devedor. Por conta disso, as leis orçamentárias que são aprovadas impõem

à formação do Precatório ou Requisição de Pequeno de Valor, bem como a inclusão em suas

dotações para pagamento a apresentação da Certidão do Trânsito em Julgado da decisão que

julgou o cumprimento de sentença ou o embargo à execução, ou caso não seja possível, a

Certidão de Negativa de Apresentação de qualquer tipo de impugnação aos cálculos.

Destaque-se que o trânsito em julgado é indispensável para a expedição do Precatório

e do RPV. Tal fato não impede que determinados valores sejam executados provisoriamente,

principalmente quando há a perda do efeito suspensivo após o julgamento da impugnação à

execução. Leonardo Carneiro da Cunha explica: (...) a exigência constitucional do prévio transito em julgado diz respeito à expedição do precatório ou da requisição de pequeno valor. Tal exigência não impede a execução provisória, nem a liquidação imediata ou provisória. O transito em julgado, não custa repetir, é necessário, apenas, para a expedição do precatório ou da requisição de pequeno valor. O procedimento que antecede tal expedição já pode – e recomenda-se que assim o seja – ser adiantado, em prol, até mesmo do princípio constitucional da duração razoável dos processos (...).48

Diante disso, quando a impugnação, seja do cumprimento de sentença, seja do

embargo à execução for parcial a parte incontroversa poderá ser objeto de cumprimento, como

mencionado anteriormente, consoante disposição do § 4º do artigo 53549 do CPC. Assim, a

parcela não discutível poderá desde logo ser expedido por Precatório ou por Requisição de

Pequeno Valor.

47 WAMBIER, Luis Rodrigues; TALAMANI, Eduardo. “Curso Avançado de Processo Civil”. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 686. 48 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 324. 49 Art. 535 (...) § 4o Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada será, desde logo, objeto de cumprimento.

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A vedação exposta no § 8º do artigo 10050 da Constituição Federal não se aplica ao

presente vez que, a intenção dos exequentes não é de parcelar a quantia para percepção de parte

dessa por RPV e a outra por Precatório.

Quando apresentada a impugnação o magistrado poderá liminarmente rejeitá-la. As

hipóteses que permitem o juiz atuar dessa forma ocorrem nas situações em que a peça

defensória é intempestiva ou quando a matéria contestada não se encontra dentre as previstas

no artigo 53551 do Código de Processo Civil. Desta forma, lecionam os mestres Fredie Didier,

Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira: Apresentada a impugnação, o juiz poderá rejeitá-la liminarmente, quando intempestiva ou quando verse sobre matéria não prevista no art. 535 do CPC, caso em que deve ser considerada manifestamente protelatória. Não há previsão para essa rejeição liminar, mas constitui uma decorrência lógica da previsão de prazo para o seu ajuizamento e, igualmente, da regra inscrita no aludido art. 535.52

Apesar de não existir um artigo específico que permita rejeição liminar da impugnação

apresentada pelo ente da Fazenda Pública tal procedimento é conclusivo, como bem ministrado

pelos doutrinadores, considerando, inicialmente, existir um prazo para apresentação desta peça

defensória, bem como pelo fato do nosso códice ser explícito acerca das matérias que o ente da

administração pode impugnar. Assim, mesmo que não haja previsão para rejeição liminar o juiz

poderá agir desta forma, vez que existe disposição tanto para apresentação da impugnação, bem

como para quais matérias são passíveis de alegação.

Na hipótese de apresentação de impugnação pela Fazenda Pública, onde seja alegado

excesso de execução e os cálculos que comprovem tal afirmação não sejam juntados, o

magistrado pode de plano rejeitar a impugnação, de acordo com o § 2º do artigo 53553 do CPC.

50 Art. 100 (...) § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo. 51 Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença.(...) 52 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed, 2017, p. 680. 53 (...)§ 2o Quando se alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante do título, cumprirá à executada declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de não conhecimento da arguição. (...)

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Aquém das matérias que se encontram taxativamente expressas no artigo 53554 do

Código de Processo Civil a Fazenda Pública pode ainda alegar vícios, defeitos, impedimentos,

causas modificativas ou extintivas, desde que supervenientes à sentença ou acórdão, bem como

questões intrínsecas da própria execução.

Neste sentido, nos casos em que no processo de conhecimento, com exceção da falta

ou nulidade da citação, revelia (artigo 535, I do CPC) e a coisa julgada inconstitucional, do

artigo 535, § 5º55, não é permitida à Fazenda Pública alegar questões anteriores a sentença,

somente posteriores ao trânsito em julgado da decisão meritória ou da própria execução. E isso

se deve, pelo fato das primeiras já terem sido acobertadas pela preclusão ou coisa julgada, não

podendo ser reanalisada na execução. E assim, mais uma vez, os mestres Fredie Didier,

Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira nos

abrilhantaram com o seu saber: Ressalvadas a falta ou nulidade de citação, se o processo correu à revelia (CPC, art. 535, I) e a chamada coisa julgada inconstitucional (CPC, art. 535, § 5º ), à Fazenda Pública não se permite alegar questões anteriores à sentença, restringindo-se a suscitar matéria que diga respeito à própria execução ou que seja superveniente ao trânsito em julgado da sentença. E isso porque as questões anteriores à sentença já foram alcançadas pela preclusão ou pela coisa julgada, não devendo mais ser revistas na execução.56

Diante de todo o exposto, notamos que a impugnação a ser apresentada pela Fazenda

Pública o deve ser em um prazo de 30 (trinta) dias. A mesma, quando proposta tem efeito

suspensivo e caso concorde com parte do valor, permite a formação de Requisição de Pequeno

Valor e de Precatório do valor incontroverso.

Além disso, compreendemos que o hall de matérias do que pode ser alegado pelo ente

público, presente no artigo 535 do nosso códice é taxativo, e, por isso, nas situações em que

outras matérias são abordadas e/ou a peça defensiva seja apresentada de maneira intempestiva

54 Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença. 55 Art. 535 (...) § 5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. 56 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed, 2017, p. 682.

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exceto nos casos em que há vício, defeitos, causas impeditivas, questões da própria execução,

situações extintivas da obrigação, modificativas o juiz pode rejeitá-la prima facie.

2. 5 CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE TÍTULOS JUDICIAIS CONTRA A FAZENDA

PÚBLICA.

Antes da promulgação da Emenda Constitucional de número 30 do ano de 2000 a

possibilidade de execução provisória contra a Fazenda Pública era indubitável. Contudo, desde

então, pelo fato desta norma passar a exigir o trânsito em julgado para a expedição do

precatório, uma vez que, estamos tratando de verbas e do interesse público o entendimento

majoritário passou a ser no sentido contrário.

Leonardo Carneiro da Cunha nos explica que a Emenda Constitucional ao impor tal

requisito preservou a superveniência do interesse público, tendo em vista, ser necessário

observar a utilidade daquela verba. Caso a mesma fosse deslocada para pagamento de um

Precatório, cujo título judicial ainda não se encontrava estabilizado, poderia estar desprovendo

ou até mesmo tornando precário um serviço prestado a sociedade em virtude de um crédito que

poderia ser desconstituído: Daí a referida Emenda Constitucional nº 30/2000 exigir o prévio trânsito em julgado, com vistas, inclusive, a resguardar o interesse público no pagamento de verbas orçamentárias, evitando-se o desvio despropositado de destinações mas úteis e vantajosas à consecução de finalidades igualmente públicas. Em outras palavras, não atende ao interesse público a destinação de verba para pagamento de Precatório inscrito provisoriamente, tornando indisponível um valor que poderia ter outra destinação, já que é incerto que realmente será pago ao credor, em vista da possível modificação do status quo, decorrente do eventual provimento de algum recurso interposto ou, até mesmo, de modificação da sentença no reexame necessário. 57

Contudo, como a nossa justiça é morosa, principalmente, quando a lide é contra ente

da Fazenda Pública a jurisprudência, bem como nosso CPC vigente bem encontrando saídas

que não desrespeitam o previsto na Emenda Constitucional e ainda agilizam o trâmite da

demanda. Assim em que pese as disposições dos parágrafos 3º e 5º do artigo 100 da

Constituição Federal exigirem a certidão de trânsito para a formação dos respectivos créditos

não impede que o cumprimento provisório seja apresentado, vez que o referido procedimento

pode ser realizado e antecipado enquanto aguarda a certificação do trânsito, para aí então se

expedir o Precatório ou o RPV. O Superior Tribunal de Justiça assim decidiu: PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. AJUIZAMENTO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 30/2000. POSSIBILIDADE. 1. A Emenda Constitucional nº 30 deu nova redação ao §1º do art. 100 da Constituição para estabelecer, como pressuposto da expedição de precatório ou da requisição do pagamento de débito de pequeno valor de responsabilidade da Fazenda Pública, o trânsito em julgado da respectiva sentença. 2.

57 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 391.

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Há de se entender que, após a Emenda 30, limitou-se o âmbito dos atos executivos, mas não foi inteiramente extinta a execução provisória. Nada impede que se promova, na pendência de recurso com efeito apenas devolutivo, a liquidação da sentença, e que a execução (provisória) seja processada até a fase dos embargos (CPC, art. 730, primeira parte) ficando suspensa, daí em diante, até o trânsito em julgado do título executivo, se os embargos não forem opostos, ou forem rejeitados. 3. Em relação às execuções provisórias iniciadas antes da edição da Emenda 30, não há a exigência do trânsito em julgado como condição para expedição de precatório. Precedente: RESP 331.460/SP, 1ª Turma, Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 17.11.20003. 4. Recurso especial a que se nega provimento.58

Portanto, apesar de existir vedação constitucional para a formação de precatório de

processo cujo trânsito em julgado ainda não tenha ocorrido, ao requerente não é vedado o direito

de apresentar cumprimento provisório, dando a oportunidade ao ente fazendário de exercer o

seu contraditório e impugnar à execução, ou não, e aguardar o encerramento da demanda de

conhecimento para que seja possível a formação do seu crédito. Desta forma, respeita-se o que

é previsto na norma e antecipa-se o procedimento que poderia tramitar por anos e prejudicar o

efetivo percebimento do credor.

Em relação as obrigações de fazer, não fazer e entregar coisas são passivas de

cumprimento provisório perante as entidades da administração pública. Estes gêneros não

impõem a necessidade de requerimento para a sua apresentação, consoante artigos 53659

(obrigações de fazer e não fazer) e 53860 (obrigação de entregar coisa) ambos do CPC. Cumpre

salientar, que decisões permitindo este tipo de cumprimento no Egrégio Tribunal de Justiça do

Estado da Bahia já são rotineiras, como podemos observar: Trata-se de execução provisória do acórdão proferido nos autos do Mandado de Segurança n.º 0019908-43.2014.8.05.0000, concessivo da segurança vindicada pelo requerida pelo IAF – Instituto dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia, ora requerente, objetivando a (i) incorporação do Prêmio por Desempenho Fazendário aos proventos dos filiados do exequente sem lhes exigir o recolhimento prévio de contribuição previdenciária sobre parcelas retroativas, e (ii) a interrupção dos descontos parcelados dos valores das reportadas contribuições nos proventos dos seus filiados. (...) Ante o exposto, intimem-se as autoridades coatoras para, no prazo de 20 (vinte) dias, adotarem as providências necessárias ao cumprimento da ordem mandamental, no tocante ao não recolhimentos prévio de contribuições previdenciárias sobre as parcelas retroativas do PDF incorporados aos proventos de aposentadoria dos filiados do exequente, bem como a abster-se dos descontos efetuados nestes proventos, a título de contribuições previdenciárias, sob pena de adoção das medidas indutivas e coercitivas previstas nos artigos 139 e 536 e seguintes do CPC, sem embargo de outras

58 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial de número 702.264 SP. Recorrente: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Recorrido: WALDOMIRO VERGARA E OUTRO. Relator Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, 06 de dezembro de 2005. 59 Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. (...) 60 Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. (...) § 3o Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couber, as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.

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providências para responsabilização pessoal dos agentes públicos apontados como coatores. 61

É notório que não só os nossos Tribunais permitem o cumprimento provisório das

decisões contra a Fazenda Pública, como tal supremacia permitiu que o procedimento fosse

consolidado e expresso em nosso códice processual.

Cumpre salientar, que como já mencionamos em momento anterior, o § 4º do artigo

53562 do CPC, admite a possibilidade de execução de valores incontroversos contra a Fazenda

Pública, tendo em vista, apresentação de impugnação parcial pelo ente. Desta forma, havendo

a anuência com parte do valor é possível o cumprimento imediato desta parcela.

Em vistas deste entendimento ser majoritário não só nas instâncias superiores, como

nos demais Tribunais do país, o nosso códex o consolidou e o positivou, conforme

demonstramos.

2.6. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E

ENTREGAR COISA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.

Nas situações em que as obrigações sejam de Fazer e Não Fazer e decorram de título

judicial, serão cumpridas conforme o artigo 536 do Código de Processo Civil. Caso, a partir da

prolatação da sentença/acórdão estas não sejam adimplidas, o magistrado deverá utilizar-se do

previsto no § 1º63 do mencionado artigo. Desta forma Leonardo Carneiro da Cunha64 ministrou: Em se tratando de ação contra a Fazenda Pública, não há regra diferente, já que as obrigações de fazer e não fazer não se submetem à sistemática dos precatórios. Então, o regime é o mesmo, caso o devedor seja a Fazenda Pública. Aliás, segundo anotado em precedente do Superior Tribunal de Justiça, “Esta Corte Superior já sedimentou a orientação segundo a qual é desnecessária a citação da Administração Pública por ocasião da exigibilidade de sentença que impõe a obrigação de fazer “65

61 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Cumprimento Provisório de Número 0024059-47.2017.8.05.0000. Exequente: IAF- Instituto dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia. Executado: Secretário de Administração do Estado da Bahia, Secretário da Fazenda e Superintendente da SUPREV. Relatora Desembargadora Ilona Márcia Reis, 04 de dezembro de 2017. 62 Art. 535 (...) § 4o Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada será, desde logo, objeto de cumprimento. 63 Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. § 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.(...) 64CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 411. 65 BRASIL. Apud. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 999.849/RS. Relatora Minsitra Jane Silva, 6ª Câmara, Dje 26/05/2008.

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Assim o é, como observado, em virtude do regime de execução especial dado a

Fazenda Pública somente se referir a obrigação de pagar, vez que, este está relacionado

diretamente com as finanças da administração pública.

Destaca-se que nos casos em que a obrigação decorrer de título extrajudicial a

execução contra a Fazenda Pública poderá ser intentada, nos termos da Súmula 27966 do STJ.

Ademais é importante mencionar que nestas circunstâncias não há diferença entre os

procedimentos executórios ministrados entre particulares e a Administração Pública: Estando a obrigação de fazer ou não fazer prevista em título executivo extrajudicial, é possível a execução contra a Fazenda Pública, nos termos da súmula 279 do STJ. Nesse caso, não há qualquer diferença entre o procedimento adotado para as execuções contra particulares e aquelas manejadas contra a Fazenda Pública(...).67

No que pertine ao dever de entregar coisa decorrente de título judicial, deverá respeitar

o disposto no artigo 538 do CPC.

O cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública, apesar de possuir regras

específicas para as obrigações de pagar quantia certa, não impõe rito especial, quanto as

obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. Tal afirmação se baseia no fato de que as

mencionadas incumbências não atraem o regime de precatórios. Desta forma, as regras

pertinentes e aplicadas sãos as gerais e comuns ao cumprimento de sentença geral.

2.7. EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL EM FACE DA FAZENDA

PÚBLICA.

As execuções propostas perante a Fazenda Pública com base em título extrajudicial

são disciplinadas pelo artigo 910 do Código de Processo Civil. Neste procedimento, sendo a

obrigação de pagar quantia certa também é necessário observar os regimes de Precatório e

Requisição de Pequeno Valor expostos no artigo 100 da Constituição Federal.

Salienta-se apenas a título de informação, que antes da vigência do novo Código de

Processo Civil, existia discussão jurisprudencial acerca do cabimento de execução a partir de

título extrajudicial contra a Fazenda Pública. Esta divergência, inicialmente, fora pacificada

com a edição da Súmula 27968 do Superior Tribunal de Justiça, já mencionada anteriormente.

Entretanto, findou com a positivação do artigo 910 do nosso código atual.

Assim o fora sob o argumento de que títulos extrajudiciais podem ser equiparados a

uma sentença transitada em julgado e que por isso, não são passíveis de reexame necessário

obrigatório, uma vez que, não seria justo ao credor se submeter a todo o rito processual de uma

66 É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. 67 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 414. 68 É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. (...)

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ação de conhecimento para obtenção de algo que o mesmo já possui: o título. Desta maneira

lecionam os mestres Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamani: Todavia, pacificou-se na jurisprudência o entendimento de que é cabível a execução contra a Fazenda Pública aparelhada com título extrajudicial, sob o fundamento de que os títulos executivos extrajudiciais se equiparam à sentença condenatória transitada em julgado, não sendo óbice a obrigatoriedade do reexame necessário (art. 496). Argumenta-se que não é justo obrigar o credor, que já tem título executivo extrajudicial, a ajuizar ação de conhecimento, para obter aquilo que já tem: título executivo. Nesta linha, o STJ editou a súmula 279, admitindo execução fundada em título extrajudicial contra a Fazenda. Em consonância com essa orientação, o CPC/2015 disciplinou expressamente a execução contra a Fazenda Pública fundada em título executivo extrajudicial (art. 910). 69

Esse entendimento foi pacificado e gerou a criação do dispositivo 910 do CPC vigente

por ser óbvio, uma vez que, se nos casos de apresentação do cumprimento de sentença ser

necessário o transito em julgado para que o título possa ser exigível, nas situações em que há

título extrajudicial, como este por si só já é exigível não há necessidade de pô-lo a prova, tendo

em vista, a sua exigibilidade lhe ser inerente.

Apenas a título de informação vale trazer a baila decisão proferida no nosso Tribunal

de Justiça em sede de Apelação interposta em face da sentença de embargo à execução fundada

em título extrajudicial. No caso em comento, o Município de Santa Luzia resistia em quitar

cheque entregue ao Sr. Ângelo Ribeiro de Souza Neto. Em sua defesa, o ente da administração

pública arguiu a nulidade da execução sob o argumento de que a execução contra a Fazenda

Pública submete-se somente perante título judicial e que por isso, o cheque deveria ser

submetido a ação de conhecimento.

A nobre relatora quando da elaboração do seu voto expõe, de maneira brilhante, não

só o entendimento jurisprudencial majoritário, como também trouxe a ideia de que a condição

de exigibilidade e legalidade do título é intrínseco a sua espécie e que por isso, da alegação de

inexigibilidade do mesmo cabe ao Município provar o que alega: A argumentação, no entanto, não resiste a um enfrentamento mais profundo da questão posta a exame. Com efeito, na esteira do quanto asseverado pelo Magistrado prolator da sentença guerreada, ao invés do alegado pelo Recorrente, é pacífico o entendimento jurisprudencial acerca do cabimento da execução de título executivo extrajudicial contra a Fazenda Pública pela via prevista no aludido art. 730 do CPC/73. (...) Lado outro, embora submetida a atividade administrativa ao princípio da supremacia do interesse público ao particular, tal preceito não pode servir para legitimar o locupletamento sem causa da Administração Pública em detrimento dos seus credores, notadamente quando não apresenta a devedora qualquer indício plausível de ilegalidade do título ou do ato negocial que teria ensejado a sua emissão. Tem-se que os títulos de crédito, por essência, revestem-se do caráter da abstração, de modo a se desvincular da causa debendi no momento da sua emissão; tornando-se, pois, perfeito e suficiente quanto à possibilidade de exigência da prestação pecuniária

69 WAMBIER, Luis Rodrigues; TALAMANI, Eduardo. “Curso Avançado de Processo Civil”. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 682.

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contida na cambial, pelo seu portador, independentemente da origem do débito. Com efeito, não se exige que o Demandante faça qualquer menção à relação jurídica que ensejou a emissão do título exequendo, porquanto despiciendo à luz da sua própria característica. Ao revés, é ônus do Réu, em entendendo pela ilegalidade do título, proceder à devida demonstração do quanto alegado.70

E com base nisso, a quinta Câmera Cível não deu provimento a apelação do Município. A Fazenda Pública, como explicado no início deste trabalho, possui prerrogativas. Por

isso, ao contrário da execução com base em título extrajudicial comum, a mesma não é citada

para pagar ou nomear bens à penhora. O ente da administração será citado para em 30 (trinta)

dias opor embargos à execução, consoante disposição do artigo 91071 do CPC. Não agindo desta

forma, ou transitando em julgado a decisão, deverá se expedir o respectivo Precatório ou o

competente RPV.

Nas situações em que há pluralidade de exequentes também existe necessidade de

demonstrativo do cálculo individualizado. Para quando for expedido o Precatório ou a

Requisição de Pequeno Valor, cada um perceba o que lhe cabe. Contudo, salienta-se, que em

determinadas situações podem ser expedidos os dois, considerando a diferença de ambos se

situar justamente no valor. Por isso, caso a quantia de um dos exequentes seja menor do que a

do outro, por exemplo, no Estado da Bahia até 20 (vinte) salários mínimos, se expedirá o RPV

ao invés do Precatório. Os mestres Fredie Didier, Leonardo Carneiro Cunha. Paula Sarno Braga

e Rafael Alexandria nos brindaram com este entendimento: Em caso de litisconsórcio ativo, será considerado o valor devido a cada exequente, expedindo-se cada requisição de pagamento para cada um dos litisconsortes. Pode ocorrer, porém, de serem expedidas, simultaneamente, requisições de pequeno valor e requisições mediante precatório. 72

Insta salientar, apenas a título de curiosidade, que aplica-se também a execução de

título extrajudicial o aplicado ao cumprimento de sentença de título judicial: existindo um

grande número de exequentes, que comprometa o andamento do processo, o juiz, caso entenda

ser necessário pode aplicar o disposto no artigo 113, § 1º e 2º73 do CPC e desmembrar em mais

de uma execução.

70 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Apelação número 0000027-89.1997.8.05.0222. Apelante Município de Santa Luzia, Apelado Ângelo Ribeiro de Souza Neto. Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, Quinta Câmara Cível, Dje 27/03/2017. 71 Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será citada para opor embargos em 30 (trinta) dias.(...) 72 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed, 2017, p. 976. 73 Art. 113 (...) § 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.

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Reprise-se que o desmembramento não prejudica os exequentes, apenas individualiza

os seus respectivos títulos, promovendo uma tutela jurisdicional mais adequada e efetiva.

2.8. OS EMBARGOS Á EXECUÇÃO.

A Fazenda Pública, quando a parte apresenta execução com base em título

extrajudicial se defende por meio de embargos à execução. Quando citada, deve apresentar a

peça recursal em um prazo de até 30 (trinta) dias.

Humberto Theodoro Júnior74 nos explica que o rito para execução cujo título é o

extrajudicial deve se submeter ao artigo 910 do Código de Processo Civil, como também expõe

as diferenças superficiais entre o cumprimento de sentença e a espécie de execução ora tratada: Se o Credor da Fazenda Pública dispuser de um título executivo extrajudicial, deverá observar o procedimento do art. 910, cuja diferença do procedimento de cumprimento de sentença consiste basicamente: (i) na necessidade de citação do ente público (e não apenas a intimação); (ii) na defesa por meio de embargos à execução (e não por impugnação); e na (iii) ampliação da matéria de defesa a ser eventualmente oposta em sede de embargos à execução (art. 910, § 2o). De resto, aplica-se o procedimento previsto nos arts. 534 e 535, por disposição expressa do código (art. 910, §3º).

É notório que as diferenças entre as execuções dos títulos judiciais e extrajudiciais

reside principalmente nas características inerentes do último. Para se ter um título extrajudicial

é necessário que o mesmo seja certo, exigível e líquido. Desta forma, para que esta espécie de

título seja executável é necessário um prévio juízo de valor que por sua natureza o dispensa da

fase de conhecimento, uma vez que, a sua discussão no âmbito da existência já ocorrera antes

da proposição da execução.

O Embargo à Execução não possui limite das matérias a serem arguidas, consoante

disposição do § 2º, do artigo 91075 do Código de Processo Civil. Ao contrário da impugnação

à execução no cumprimento de sentença, tendo em vista, a obrigatoriedade de alegação do

disposto nos incisos do artigo 535 do CPC, como já demonstrado em momento anterior.

74 JÚNIOR, Humberto Theodoro. “Curso de Direito Processual Civil”. vol. III. ed. 50ª. Forense, Rio de Janeiro, 2017, pág. 619. 75 Art. 910(...) § 2o Nos embargos, a Fazenda Pública poderá alegar qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento.

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O artigo 91776 do Código de Processo Civil enumera em seus incisos os temas que

podem ser afirmados em sede de Embargos à Execução. Caso, a Fazenda Pública queira arguir

suspeição ou impedimento deve utilizar o disposto nos artigos 14677 e 14878.

Na oposição dos Embargos à Execução a Fazenda Pública, quando da alegação do

excesso de execução, em regra, deve demonstrar os valores que acredita serem corretos.

Contudo, nas situações em que, além de não concordar com os mesmos e for necessário a

dilação probatória para apuração da quantia correta, serão realizados determinados

procedimentos. Dentre eles, estão as audiências para produção de provas, como a testemunhal

e pericial.

Nessas situações (somente nestas) não incide a exigência de o ente da administração

provar o valor devido ou em que consistiria o excesso afirmado, bem como a incumbência de

apresentar o valor. Esta alegação se baseia no fato de que estas circunstâncias não constituem

hipóteses de excesso de execução, mas sim situação de iliquidez da obrigação, o que permite a

não apresentação do valor que deve ser discutido. Ao executado, caberá apenas alegar a

iliquidez da obrigação, indicando a necessidade de uma liquidação por artigos ou arbitramento.

A Fazenda Pública, quando da oposição dos Embargos à Execução, os efeitos da

execução são suspensos, tendo em vista, o seu efeito suspensivo automático. Salienta-se, que

caso a mencionada peça defensória não seja apresentada pela Fazenda Pública a execução

transitará em julgado e permitirá a expedição do Precatório ou da Requisição de Pequeno Valor,

de acordo com § 1º do artigo 91079 do Código de Processo Civil. Assim defendem os mestres

Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamani em sua doutrina: Em exceção à regra aplicável à generalidade dos devedores, os embargos da fazenda à execução por quantia certa têm efeito suspensivo automático. Isso é, uma vez deferido seu processamento, suspende-se o curso da execução, independentemente da concessão de uma medida de tutela provisória pelo juiz. E esse efeito suspensivo dura

76 Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar: I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; II - penhora incorreta ou avaliação errônea; III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa; V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento. 77 Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. (...) 78 Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. (...) 79 Art. 910 (...) § 1o Não opostos embargos ou transitada em julgado a decisão que os rejeitar, expedir-se-á precatório ou requisição de pequeno valor em favor do exequente, observando-se o disposto no art. 100 da Constituição Federal.

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até o trânsito em julgado da decisão final do processo de embargos – e não apenas até a sua rejeição em primeiro grau de jurisdição (como ocorrida quando, na legislação anterior, os embargos tinham efeito suspensivo na generalidade dos casos. É o que se extrai da regra segundo a qual o precatório ou a requisição de pequeno valor apenas poderão ser expedidos quando “não opostos embargos ou transitada em julgado a decisão que os rejeitar” (art. 910, § 1o). 80

Nota-se que apesar do juízo de valor acerca da credibilidade do título extrajudicial ser

inerente ao mesmo, por se tratar de Fazenda Pública os recursos interpostos pelos entes em fase

de execução sempre possuem efeito suspensivo automático. É importante lembrar que estamos

tratando de dinheiro público e que em respeito aos princípios da supremacia do interesse público

sobre o privado e do interesse público é indispensável a segurança jurídica dos títulos para

posterior formação do Precatório ou RPV. Daí a necessidade de esgotamento de todas as vias

recursais para tanto.

Quando o ente da administração pública opor embargos parciais, ou seja, somente

contestar parte do apresentado, a execução referente a parcela não questionada prosseguirá

normalmente, consoante exposição do § 3º artigo 91981 do código processual. Neste caso, a

execução referente a parte incontroversa, transitará em julgado, o que permitirá à formação do

Precatório ou RPV.

Reprise-se que, apesar desta regra estar prevista no hall do procedimento de Embargo

à Execução comum, o mesmo se aplica a Fazenda Pública. E desta forma, tem decidido os

nossos tribunais. Como por exemplo a decisão que fora proferida no Agravo Interno do Recurso

Especial de número 1.571.538/RS, que tramitou perante a Segunda Turma do STJ: Ressalte-se que a orientação da Corte Especial/STJ firmou-se no sentido de que, em sede de execução contra a Fazenda Pública, é possível a expedição de precatório referente à parcela incontroversa do crédito, ou seja, em relação ao montante do valor executado que não foi objeto de embargos à execução. Cumpre registrar que, no âmbito federal, a orientação deste Tribunal foi consolidada na Súmula 31/AGU, in verbis: "É cabível a expedição de precatório referente a parcela incontroversa, em sede de execução ajuizada em face da Fazenda Pública.82

Na decisão ficou claro que nas parcelas não discutidas ou contestadas pelo ente público

transitarão em julgado imediatamente e poderão ser objeto de Precatório ou RPV de valor

incontroverso.

Neste sentido, é importante frisar que formar Precatório ou Requisição de Pequeno

Valor de valor incontroverso não viola o efeito suspensivo atribuído as peças recursais de

80 WAMBIER, Luis Rodrigues; TALAMANI, Eduardo. “Curso Avançado de Processo Civil”. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, pags. 684-685. 81 Art. 919 (...) § 3o Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante. 82 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.571.538 – RS. Agravante: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Agravado: REJANE RAFFO KLAES. Segunda Turma, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, Dje 10/05/2016.

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responsabilidade da Fazenda Pública ou a coisa julgada. A realização deste procedimento é

possível, uma vez que, quando a administração impugna ou embarga á execução e apresenta

um valor a menor, que de certa forma é englobado pelo apresentado pelos exequente significa

que houve concordância expressa quanto a esta parcela. Diante disso, a quantia incontroversa

restará estabilizada e transitada em julgado, permitindo a sua transformação em Precatório ou

RPV.

2.9. EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGAR COISA

CONTRA A FAZENDA PÚBLICA COM TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.

A Execução das obrigações de Fazer, Não Fazer e Entregar Coisa previstas nos títulos

extrajudiciais, contra a Fazenda Pública é possibilitada graças a previsão da Súmula 27983 do

STJ.

Nas situações em que o cumprimento tem por objeto as obrigações de fazer e não fazer

o procedimento não é diferente das execuções promovidas contra os particulares. Por isso,

aplica-se o disposto nos artigos 814 a 823 do Código de Processo Civil.

Em relação a execução contra a Fazenda Pública das obrigações de entregar coisa, de

igual modo, utiliza-se as regras previstas no código processual às execuções contra particulares,

previstas nos artigos 806 a 813. Contudo, ressalta-se que na eventual conversão da obrigação

em pagar quantia certa o procedimento a ser realizado será o de cumprimento de sentença,

disposto, como já observamos, nos artigos 5384 e 535, passando a seguir a sistemática dos

Precatórios e RPVs, como explicam os ilustres Fredie Didier, Paula Sarno, Leonardo Braga e

Rafael Alexandria: Apenas, nesses casos, se a obrigação for convertida em obrigação de pagar, deverá, a partir daí, ser adotado o procedimento dos arts. 534 e 535 do CPC, passando a seguir a sistemática do precatório.84

É notório que o que dita o regime próprio da execução contra a fazenda pública é o

tipo da obrigação, uma vez que, a mesma determinará se será necessário dispêndio financeiro

da administração pública ou não. Assim, nas situações em que a obrigação de fazer, não fazer

ou entregar coisa for descaracterizada e passar a ser de pagar quantia certa é necessário que o

rito executório também seja modificado e siga o regime específico da espécie.

83 É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. 84 DIDDIER, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. Salvador, Jus Podium, 7 ed, 2017, p. 981.

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3. PRECATÓRIO.

O Precatório é a forma que tem a Fazenda Pública de quitar os seus débitos decorrentes

de sentença/acórdão proferidos em demandas judiciais. O mencionado título tem previsão

expressa no caput do artigo 10085 da Constituição Federal.

O Excelentíssimo Nelson Jobim em seu artigo Precatórios: O caminho do “Meio”86

traz à baila o porquê da criação deste instituto para pagamento de dívidas da Fazenda Pública: Desde suas primeiras formulações constitucionais- especialmente após Constituição de 1934 – o precatório se constitui em importante mecanismo de pagamento das dívidas. Sua criação se baseou no compromisso de se constituírem fórmulas de pagamento judicial de dívidas que superassem as práticas pessoais e clientelistas utilizadas na República Velha. A história da utilização dos precatórios é, por isso, uma história de criação de mecanismos que garantissem a impessoalidade necessária ao trato da coisa pública.

Os ilustríssimos doutrinadores Marco Aurélio Peixoto e Renata Cortez Peixoto87

abordam em seu livro um conceito muito claro e interessante sobre o tema: A ferramenta indicada pelo texto constitucional para o pagamento das dívidas da Fazenda Pública é o Precatório, que se expede pelo juiz da execução, nos casos de não apresentação ou não atribuição de efeito suspensivo aos embargos – para que admitem essa possibilidade – ou quando estes forem julgados improcedentes.

Os mestres Nelson Nery Júnior e Georges Abboud88 também compartilharam do seu

entendimento acerca do conceito de Precatório: “Com a vigência da Constituição Federal de

05.01.1988, o instituto do precatório requisitório, meio processual da parte alcançar a satisfação

da execução de quantia certa da Fazenda Pública(...)”.

A formação do crédito é permitida quando da não interposição de impugnação ao

cumprimento de sentença (título judicial), não oposição de embargos (execução de títulos

extrajudiciais), ou quando as decisões dos mesmos são denegatórias e transitam em julgado.

Ressalta-se, que para a expedição do Precatório é indispensável a certidão do trânsito

em julgado das fases de conhecimento e execução, consoante disposição do § 3º do artigo 10089

85 Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 86 JOBIM, Nelson. “Precatórios: O caminho do “Meio””. Revista de Direito Administrativo, São Paulo, v. 243, n. 3, p. 132-147, set/out/nov/dez. 2006. 87 PEIXOTO, Marco Aurélio e PEIXOTO, Renata Corte. “Fazenda Pública e Execução”. Jus Podium. Salvador, 2018. 88JÚNIOR, Nelson Nery; ABBOUD, Georges. “Direito Processual Civil: Execução”. Vol. 3. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2015, p. 931. 89 § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.

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da Constituição Federal; artigo 5º, VIII e IX da Resolução 11590 do Conselho Nacional de

Justiça, bem como do Enunciado 53291 do Fórum Permanente dos Processualistas.

Após a certificação do trânsito em julgado o juízo da execução, seja de 1º ou 2º Grau,

forma o Precatório e o encaminha ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado

correspondente, que se submete a decisão exequenda. Este, então, envia a requisição do

pagamento por meio de ofício ao ente da Fazenda Pública devedor, para que inclua o crédito na

lei orçamentária competente.

A atividade do Presidente do Tribunal de Justiça, quando da formação do crédito, já

foi objeto de muita discussão doutrinária e jurisprudencial, no que pertine a sua natureza

(administrativa ou jurídica).

Em relação a doutrina existem entendimentos nos dois sentidos. Alguns dos

ilustríssimos professores acreditam ser jurisdicional o processamento do Precatório pelo

Presidente. Enquanto, outros acreditam que esta atividade é administrativa, apontando como

último ato jurisdicional o juízo da execução quando da determinação da expedição do título de

crédito.

Neste sentido, Araken de Assis compartilha do entendimento majoritário ao declarar

ser de natureza administrativa a atividade do Presidente do Tribunal de Justiça a autorização da

formação do título de crédito: Em contraste com a competência do juízo de execução, a do Presidente do Tribunal é de natureza administrativa, de acordo com o entendimento do STF. A respeito, o STJ editou o verbete nº 311 da Súmula: (...). Em princípio, portanto, tais atos ostentam-se passíveis de controle através de mandado de segurança.92

O Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, por meio de suas

jurisprudências dirimiram a divergência jurisprudencial. Ambas, as cortes superiores acreditam

ser a atividade do Presidente do Tribunal de Justiça, ao processar o Precatório, meramente

administrativa.

O Supremo Tribunal Federal pacificou este entendimento quando julgou a ADI de

número 1.098 de São Paulo ao definir que a ordem judicial de pagamento, bem com os demais

atos necessários a tal finalidade são administrativos e não jurisdicionais: PRECATÓRIO – TRAMITAÇÃO – CUMPRIMENTO – ATO DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL – NATUREZA. A ordem judicial de pagamento (§ 2º, do artigo 100 da Constituição Federal), bem como os demais atos necessários a tal finalidade,

90 VIII – data do trânsito em julgado da sentença ou acórdão no processo de conhecimento; IX – data do trânsito em julgado dos embargos à execução ou impugnação, se houver, ou data do decurso de prazo para sua oposição; 91 A expedição do precatório ou da RPV depende de trânsito em julgado da decisão que rejeita as arguições da Fazenda Pública executada. 92 ASSIS, Araken de. Manual da Execução: 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 1382.

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concernem ao campo administrativo e não jurisdicional. A respaldá-la tem-se sempre uma sentença exequenda.93

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, de acordo com a edição da Súmula 311,

mencionada, inclusive, pelo mestre Araken, também compreende que a atividade do Presidente

do Tribunal de Justiça do Estado é administrativa, quando assim dispunha: “Os Atos do

Presidente do Tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de Precatório não têm

caráter Jurisdicional”.

Desta forma, tem-se como administrativa a atividade desenvolvida pelo Presidente do

Tribunal de Justiça quando do processamento dos Precatórios. Por conta disso, o

Desembargador somente pode se ater a analisar os aspectos formais, ou questões pertinentes ao

controle da ordem cronológica de pagamento dos títulos de crédito, uma vez que, toda a

divergência já fora solucionada durante as fases de conhecimento e de execução.

Caso surjam questões incidentais, como juros e correção monetária, as mesmas devem

ser resolvidas pelo juiz/desembargador responsável pela execução. De fato, eventuais

indagações que surgirem após a expedição do Precatório devem ser discutidas pelo juízo

original, cabendo ao Presidente do Tribunal apenas o processamento do Precatório.

Reprise-se que as manifestações de caráter administrativo do Presidente do Tribunal,

quando do desenvolvimento desta atividade não são passíveis dos Recursos Especial e

Extraordinário, uma vez que não houve o julgamento de uma causa para fim de cabimento do

recurso excepcional. Salienta-se que esse é o tema abordado na Súmula 73394 do Supremo

Tribunal Federal.

No entanto, em eventual situação de usurpação de função do Presidente do Tribunal e

o mesmo emita decisão de natureza jurisdicional no processamento do precatório é cabível

contra o mesmo a impetração de Mandado de Segurança.

A apresentação do Precatório deve ser realizada até 1º de Julho de cada ano, para que

o débito seja incluído no orçamento da entidade devedora e pago no exercício financeiro

seguinte. Assim, por exemplo, se o título de crédito for distribuído até o dia 1º de Julho de 2018,

o mesmo será incluído no orçamento de 2019, mas se for entregue no dia 02 será orçado para

2020.

93 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 1.098/SP. Requerente: Governo do Estado de São Paulo. Requerido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, 11/09/1996. 94 Não cabe Recurso Extraordinário contra Decisão proferida no processamento de precatórios.

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Destaca-se, que por previsão constitucional (§ 5º, do artigo 100)95 é obrigatória a

inclusão do debito no orçamento da Fazenda Pública para o consequente pagamento. Contudo,

a obrigatoriedade é limitada a disponibilidade financeira do ente da administração pública,

como bem explicam os nobre Nelson Nery e Georges Abboud: É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos constantes de precatórios judiciários, apresentados até 1º de Julho, data em que terão atualizados seus valores, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte. As dotações orçamentária e os créditos abertos serão consignados ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias respectivas à repartição competente, cabendo ao Presidente do tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pagamento, segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para o caso de preterimento de seu direito de precedência, o sequestro da quantia necessária a satisfação do débito.96

Infelizmente, na prática, principalmente, quando se tratam de entes estatais ou

municipais a obrigatoriedade do pagamento do Precatório no exercício financeiro seguinte não

é respeitada. A Fazenda Pública utiliza-se do argumento da indisponibilidade financeira para

quitar seus débitos. Por isso, credores que se encontram na fila para percebimento do que lhe é

devido chegam a aguardar por mais de 10 (dez) anos.

3.1. PRECATÓRIO DE NATUREZA ALIMENTÍCIA.

O § 1º do artigo 100 da Constituição Federal conceitua o Precatório de natureza

alimentícia: Art. 100 (...) § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (...)

Com base neste conceito legislativo Araken de Assis aprofundando o tema definindo

da seguinte forma esta espécie do título de crédito: A noção do crédito alimentar se desenvolveu no âmbito da jurisprudência, abrangendo condenações por ato ilícito e as vantagens pecuniárias dos servidores e dos empregados públicos. Por exemplo, o STJ outorgou caráter alimentar à dívida “decorrente de vencimentos de funcionários públicos”. O precedente acompanhou o alvitre doutrinário. De modo assaz oportuno, o § 1º - A, introduzido pela EC 30/2000, definiu, exaustivamente, os débitos de natureza alimentar, compreendendo “salários, vencimentos, proventos pensões e sua complementações, benefícios previdenciários

95 § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. 96 JÚNIOR, Nelson Nery; ABBOUD, Georges. “Direito Processual Civil: Execução”. Vol. 3. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2015, p. 943.

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e indenizações por morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil, em virtude de sentença transitada em julgado”. (...).97

Logo, depreende-se que Precatório de Natureza Alimentícia é aquele que decorre de

demanda que tratou de verbas remuneratórias ou indenizatórias do funcionário público ou ex-

servidor, de proventos de aposentadoria do primeiro e dos seus dependentes financeiramente.

Cumpre salientar, que o artigo supracitado determina que esta espécie de precatório

deve ser paga com preferência sobre os demais, com exceção dos títulos dos quais sejam

credores os idosos (mais de 60 anos), portadores de doença grave (enfermidades apontadas na

Resolução 115 do CNJ), ou pessoas com deficiência. Estes credores, por conta das suas

circunstâncias particulares perceberão parte do valor de forma antecipada consoante o disposto

no § 2º do artigo 10098 da CF.

A respeito deste assunto, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula de número

14499, que prioriza os precatórios de natureza alimentícia sob os de natureza diversa

desvinculando-os da ordem cronológica geral.

Neste mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal publicou a Súmula 655100, que

determina que mesmo existindo as exceções previstas no caput do artigo 100 da CF, o precatório

deve ser expedido, contudo, a particularidade da situação exige que seja observada ordem

cronológica diversa da dispensada aos créditos de natureza diversa.

Assim, existem duas ordens cronológicas diferentes, uma para os precatórios de

natureza alimentícia e outra para os créditos de natureza diversa, sendo os primeiros pagos de

maneira prioritária. Desta forma, expõe os doutrinadores Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo

Talamani: Formam-se, portanto, diferentes ordens de pagamento das dívidas da Fazenda Pública: uma de natureza alimentar (com uma subdivisão interna), que tem prioridade, mas cujos créditos, respeitam a ordem cronológica, e outra, para os demais créditos, logicamente também respeitando a ordem cronológica de apresentação. Nesse sentido, a Súmula 144 do ST (...). Ainda mais explícita a respeito é a Súmula 655 do STF (...).101

97 ASSIS, Araken de. “Manual da Execução": 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. pgs. 1365-1366. 98 § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. 99 Os Créditos de Natureza Alimentícia gozam de preferência, desvinculados os precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa. 100 A exceção prevista no art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia, não dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-los da observância da ordem cronológica dos precatórios decorrentes de condenações de outra natureza. 101 WAMBIER, Luis Rodrigues; TALAMANI, Eduardo. “Curso Avançado de Processo Civil”. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, pag. 675.

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A existência das três filas é justa. Como já explicamos o Precatório decorre de uma

demanda contra ente da Fazenda Pública. E esta pode se tratar de diversas matérias, de uma

multa por rompimento de um contrato a uma revisão de pensão de uma beneficiária de um ex-

servidor. Contudo, no último caso pelo fato de se tratar de uma pensão, que por sua natureza

conclui-se que é o sustento da beneficiária é notória a sua dependência com a verba que irá

perceber por precatório. Diante disso, é correta a preferência no percebimento em detrimento

da empresa que obtém título por rompimento de um contrato com a administração pública.

Desta forma, as diferentes filas de créditos são assim pagas: Precatórios com

prioridade são pagos primeiramente, após serem exauridos, os comuns começam a ser quitados.

Contudo, os títulos de natureza alimentícia, devem ser percebidos depois dos

Precatórios denominados de preferenciais. Nestes, os titulares são os idosos, os portadores de

doença grave ou pessoas com deficiência. Salienta-se que o precatório desses credores deve

possuir natureza alimentar e o valor a ser antecipado corresponde ao quíntuplo do limite fixado

por lei para a Requisição de Pequeno Valor, consoante disposição do artigo 2º102 da Emenda

Constitucional de número 99 do ano de 2017, que adicionou o § 2º no artigo 102 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, sendo o restante percebido na ordem cronológica de

apresentação dos precatórios de natureza alimentícia.

A nossa legislação estadual, especificamente, a Lei 9.446/2005 fixou como Teto para

a expedição de Requisição de Pequeno Valor a quantia correspondente a 20 (vinte) salários

mínimos (artigo 1º da Lei). Desta forma, considerando a nova disposição do artigo 102 da

ADCT, que influi diretamente no § 3º do artigo 100103 da CF, o quantum percebido a título de

preferência, equivalerá, no Estado da Bahia a 100 (cem) salários mínimos.

O legislador determinou o pagamento da preferência a partir do valor da Requisição

de Pequeno Valor de cada ente levando em consideração a disponibilidade orçamentária de

cada um. Por isso, a previsão do quantum de que cada pessoa jurídica de direito público direta

deve possuir norma que estipule o limite a título de RPV, uma vez que, os mesmos sabem do

102 Art. 2º O art. 102 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º, numerando-se o atual parágrafo único como § 1º: "Art. 102 (...). § 1º (...). § 2º Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, as preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à deficiência serão atendidas até o valor equivalente ao quíntuplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º do art. 100 da Constituição Federal, admitido o fracionamento para essa finalidade, e o restante será pago em ordem cronológica de apresentação do precatório." 103 § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.

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quanto dispõe e da quantia que poderá ser gasta para pagamento dos títulos. Sobre isso Araken

de Assis lecionou de maneira brilhante: À primeira vista, parecia razoável aplicar aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios o valor estipulado na lei federal, que é de sessenta salários mínimos (...). A generalização se revela imprudente e inaceitável, porém: o conjunto das obrigações neste generoso limite, comprometeria o orçamento da maioria dos Estados e, talvez, ultrapassaria o valor total do orçamento de incontáveis Municípios. O legislador federal definiu a obrigação de pequeno valor, na medida daquele comprometimento, considerando o porte do próprio orçamento. Por identidade de razões, impõe-se assegurar às demais pessoas jurídicas de direito público. É o que dispôs o artigo 100, § 4º (...), segundo o qual leis próprias definirão os créditos de pequeno valor (...).104

Apesar de estarmos tratando de débito, mesmo que contra a Fazenda Pública é

importante lembrar que os devedores são pessoas jurídicas de direito público e que por isso,

possuem orçamento, programação de pagamentos e principalmente, responsabilidade perante a

população, que não podem ser desconsideradas em detrimento de um ou mais débitos, mesmo

que estes também sejam importantes.

A prioridade do pagamento dos precatórios de natureza alimentícia, para os idosos e

portadores de doença grave foi estabelecida pela Emenda Constitucional de número 62 do ano

de 2009 (artigo 1º), enquanto que a EC 94 do anos de 2016 acrescentou as pessoas com

deficiência física.

Salienta-se ainda, que consoante disposição do § 2º do artigo 100 da CF caso o credor

do Precatório venha a falecer e o mesmo possua ou doença grave, ou mais de 60 (sessenta) anos

ou deficiência física e por isso, possuir o direito a prioridade tais circunstâncias alcançam os

seus sucessores. O mesmo ocorre quando um dos herdeiros, integrantes do espólio passe a

locupletar qualquer um destes requisitos. Em decorrência disso, a antecipação dos 100 (cem)

salários mínimos, no Estado da Bahia também lhe será devida.

Após o exposto, nota-se que temos três ordens cronológicas distintas; uma em

decorrência da natureza alimentícia e pelo credor ser portador de doença grave, ou ter 60

(sessenta) anos ou possuir deficiência; a de natureza alimentícia pura e simples e a que os

Precatórios possuem natureza comum.

No que tange os honorários advocatícios estes possuem natureza alimentícia, consoante

disposição do §14º do artigo 85105 do Código de Processo Civil. Desta forma, caso haja

estipulação de honorários sucumbenciais nas execuções ou exista contrato de honorários os

advogados terão direito a formação do Precatório ou RPV com natureza alimentícia e

104 ASSIS, Araken de. “Manual da Execução”: 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. pgs. 1365-1368. 105Art. 85.(...) § 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.

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preenchido os requisitos constados no § 2º do artigo 100 da CF, também terão direito a

percepção da quantia equivalente a 100 (cem) salários mínimos.

Nesta senda, é importante mencionar o Tema 18 de repercussão geral, julgado pelo

Supremo Tribunal, que permite aos advogados fracionarem os seus honorários, sejam

contratuais ou sucumbenciais do crédito do exequente: EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. ALEGADO FRACIONAMENTO DE EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA DE ESTADO-MEMBRO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR, A QUAL NÃO SE CONFUNDE COM O DÉBITO PRINCIPAL. AUSÊNCIA DE CARÁTER ACESSÓRIO. TITULARES DIVERSOS. POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO AUTÔNOMO. REQUERIMENTO DESVINCULADO DA EXPEDIÇÃO DO OFÍCIO REQUISITÓRIO PRINCIPAL. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL DE REPARTIÇÃO DE EXECUÇÃO PARA FRAUDAR O PAGAMENTO POR PRECATÓRIO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 100, § 8º (ORIGINARIAMENTE § 4º), DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.106

Ao proferir seu voto o Ministro Relator Eros Grau explicou que por se tratar de verba

de caráter alimentar do advogado pode ser executada de maneira autônoma: A verba honorária consubstancia direito autônomo, podendo mesmo ser executada em separado. Não se confundindo com o crédito principal que cabe à parte, o advogado tem o direito de executar seu crédito nos termos do disposto nos artigos 86 e 87 do ADCT.

É possível concluir que os honorários contratuais ou sucumbenciais, por serem

inerentes ao trabalho do advogado são considerados como verbas alimentares e por isso, podem

ser executadas a parte. Esta obrigação a ser paga não pode estar atrelada a obrigação principal

uma vez que foi gerada por fatos jurídicos distintos.

Assim, a partir deste julgamento passou a ser permitido ao Advogado, que quando da

formação do Precatório do montante principal poder destacar do crédito do exequente, o que

lhe é devido a título de honorários contratuais, e/ou sucumbenciais e formar Precatório ou RPV

autônomos, em seu nome.

Vale dizer que, por serem de titularidade do advogado possuem, além da natureza

alimentar, característica autônoma, ou seja, não são interligados com a obrigação principal. Por

isso, podem ser objeto de execução própria, gerando Precatório ou Requisição de Pequeno

Valor próprio, sem atentar contra o disposto no § 8º do artigo 100107 da Constituição Federal.

106 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 564132RS. Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul. Recorrido: Rogério Mansur Guedes. Relator: Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, Dje 10/02/2015. 107 Art. 100 (...) § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.

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3.2. A CORREÇÃO MONETÁRIA E OS JUROS MORATÓRIOS AOS SEREM

APLICADOS NOS PRECATÓRIOS.

A Emenda Constitucional de número 30 do ano de 2000 promoveu alteração na

Constituição Federal em seu artigo 100, §1º e possibilitou que os credores tivessem o valor

originário dos seus créditos atualizados até a data do efetivo pagamento. Assim, os mesmos não

seriam prejudicados pelo déficit orçamentário da Fazenda Pública no ano em que deveriam ter

percebido a quantia devida. Esta alteração evitou algo que era muito frequente na época: a

expedição de precatórios complementares nos anos posteriores a formação do crédito original,

para compensar o atraso no pagamento dos mesmos.

Após a realização desta alteração a Emenda Constitucional 62 do ano de 2009 alterou

o disposto no §1º do artigo 100 e tal proposição passou a vigorar em seu §5º108, que dispõe que

a atualização monetária do crédito será realizada até o final do exercício financeiro seguinte,

quando do efetivo percebimento pelo credor.

Quanto a aplicação dos juros moratórios pelo atraso no pagamento destes títulos o

entendimento uníssono e pacífico é que devem incidir no período compreendido entre a

homologação dos cálculos de execução e a efetiva expedição do Precatório. O nosso Supremo

Tribunal Federal, a respeito disso, julgou o Tema 96 de repercussão geral que possui a seguinte

ementa: JUROS DA MORA – FAZENDA PÚBLICA – DÍVIDA – REQUISIÇÃO OU PRECATÓRIO. Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório.109

Ao proferir o seu voto o Ministro Relator deixou clara a ideia de que os juros de mora

devem incidir na dívida enquanto houver mora do ente fazendário: (...) Continuo convencido de que, enquanto persistir o quadro de inadimplemento do Estado, hão de incidir os juros da mora. Então, desde a citação – termo inicial firmado no título executivo – até a efetiva liquidação da requisição de pequeno valor, os juros moratórios devem ser computados, o que, a toda evidência, compreende o período entre a data da elaboração dos cálculos e a da requisição, objeto de exame no presente extraordinário. (...) Assentada a mora da Fazenda até o efetivo pagamento do requisitório, não há fundamento jurídico para afastar a incidência dos juros moratórios durante o lapso temporal anterior à expedição da requisição de pequeno valor, que é objeto do extraordinário. (...)

108 § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. 109 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordnário de número 579.431/RS. Recorrente: Universidade Federal de Santana Maria – UFSM. Recorrido: GENI MARISA RODRIGUES CEZAR. Plenário. Relator Ministro Marco Aurélio, Dje 22/06/18.

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Salienta-se que apesar do tema ter como objeto a Requisição de Pequeno Valor o

mesmo também fora aplicado aos Precatórios: Conquanto o Plenário físico haja, no julgamento da questão de ordem, reconhecido a existência de repercussão geral de forma abrangente, a incluir os precatórios, o caso versa requisição de pequeno valor. Limito-me a julgar a matéria apreciada na origem. Ante o quadro, nego provimento ao extraordinário. Proponho a seguinte tese para efeito de repercussão geral: incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da requisição relativa a pagamento de débito de pequeno valor.

O Supremo Tribunal Federal decidiu de forma coerente, considerando o direito do

exequente já ter sido consolidado, uma vez que, o título executivo já existe. Por isso, não

poderia o credor da pessoa jurídica de direito público ficar a mercê da demora do nosso poder

judiciário e ainda assim restar prejudicado.

É compreensível a situação da administração pública em não poder pagar a dívida de

maneira voluntária ou com base no procedimento de execução privado. Entretanto, o seu credor

não pode ser de todo penalizado pelo procedimento específico de cumprimento de sentença.

Por isso, durante o trâmite da execução contra a fazenda pública os juros de mora devem sim

incidir no cálculo do débito, pois, como fora explicado o título que o gerou existe, é estabilizado

e está acobertado pela segurança jurídica e pela coisa julgada.

Nas situações em que a sentença condenatória prevê a incidência dos juros moratórios

até o pagamento do Precatório, caso não seja objeto de impugnação será acobertada pela coisa

julgada e, por isso, deverá ser respeitada.

Para o Superior Tribunal de Justiça esse entendimento é majoritário, vez que, a coisa

julgada é a aquisição da estabilidade da decisão e da sua imutabilidade, onde, em nome do

devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa é oportunizado ao ente fazendário a

impugnação da mesma. Por isso, não existindo ou não sendo acolhida a impugnação à execução

a decisão, o Precatório deverá respeitar todo o disposto no conteúdo decisório, inclusive, no

que tange a correção monetária.

Apenas a título demonstrativo se faz interessante trazer decisão em sede de Agravo

Interno decorrente do Recurso Especial tombado sob o número 639.196 ministrado pelo

ilustríssimo Paulo Galotti, que ao proferir seu voto teceu consoante o que expomos acima: (...)Entretanto, tendo a sentença de conhecimento determinado expressamente serem devidos juros de mora até o depósito integral da dívida, não é possível a alteração da decisão exeqüenda, sob pena de ofensa à coisa julgada. 3. Agravo regimental improvido.110

110 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial de número 639.196/RS. Agravante: UNIÃO. Agravado: LÍGIA MARIA BRAESCHER E OUTROS. 6ª Turma, Relator Ministro Paulo Gallotti, 14/02/2006.

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Ademais, quando da formação do Precatório e da sua inclusão no orçamento do ente

da administração direta correspondente os juros moratórios somente incidem a partir do decurso

do exercício financeiro do qual o crédito estiver previsto, ou seja, quando efetivamente há o

atraso do pagamento do título. Assim, a mora só pode ser reconhecida a partir de janeiro do ano

seguinte em que deveria ter o adimplemento do débito. A título de exemplo, caso um Precatório

seja apresentado até 01 de Julho de 2006, sendo orçado para até dezembro de 2007 e não for

quitado, a partir de janeiro de 2008 os juros moratórios lhe serão aplicados.

Ressalta-se que para esses juros serem pagos, Precatórios complementares deverão ser

expedidos, tendo em vista, não existir a possibilidade de se aditar valores de outras naturezas

ao original do crédito. Contudo, em momento anterior a expedição de outro título o credor será

intimado a apresentar o cálculo que acredita ser o devido, sendo dada a oportunidade a Fazenda

Pública para se manifestar.

Após todo o exposto, conclui-se que os juros moratórios podem e devem ser aplicados

a partir da homologação dos cálculos do débito até a expedição do Precatório, nas situações em

que a Fazenda Pública não respeita a regra constitucional de pagamento do crédito até o final

do exercício financeiro seguinte. Além disso, nas hipóteses em que nas sentenças condenatórias

houver previsão de incidência dos mesmos até o efetivo pagamento e o ente da administração

não impugne a mesma, permitindo que a decisão seja acobertada pelo coisa julgada.

No que pertine a correção monetária, em relação ao §5º do artigo 100 da Constituição

Federal, já mencionado em momento anterior, o mesmo é claro quando informa que o

pagamento do precatório deverá ser realizado de maneira atualizada até o dia do efetivo

pagamento: § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente.

O §12 do artigo 100111 da Constituição Federal determina que os Precatórios,

independentemente da sua natureza após a sua expedição até o seu efetivo pagamento serão

atualizados pelo índice de remuneração básica da caderneta de poupança, qual seja TR, e os

juros moratórios serão calculados como simples (0,5% ao mês e 6% ao ano), no mesmo

percentual incidente na caderneta de poupança, não se aplicando os juros compensatórios.

111 § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.

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O Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento das Ações Diretas de

Inconstitucionalidade de número 4.357 e 4.425 declarou inconstitucional o §12 do artigo 100

da CF e por arrastamento o artigo 1º- F da Lei 9.494/97, com redação que lhe foi conferida pela

Lei 11.960/09: EMENTA:DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL NÃO CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE INTERSTÍCIO CONSTITUCIONAL MÍNIMO ENTRE OS DOIS TURNOS DE VOTAÇÃO DE EMENDAS À LEI MAIOR (CF, ART. 60, §2º).(...) IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CF, ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS. INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS MORATÓRIOS DOS CRÉDITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS, QUANDO ORIUNDOS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CF, ART. 5º, CAPUT). INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME ESPECIAL DE PAGAMENTO. OFENSA À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO ESTADO DE DIREITO (CF, ART. 1º, CAPUT), AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES (CF, ART. 2º), AO POSTULADO DA ISONOMIA (CF, ART. 5º, CAPUT), À GARANTIA DO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL (CF, ART. 5º, XXXV) E AO DIREITO ADQUIRIDO E À COISA JULGADA (CF, ART. 5º, XXXVI). PEDIDO JULGADO PROCEDENTE EM PARTE. (...) 5. O direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII) resta violado nas hipóteses em que a atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios perfaz-se segundo o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, na medida em que este referencial é manifestamente incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. É que a inflação, fenômeno tipicamente econômico-monetário, mostra-se insuscetível de captação apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneração da caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do período). 6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre débitos estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte processual privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art. 161, §1º, CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da expressão “independentemente de sua natureza”, contida no art. 100, §12, da CF, incluído pela EC nº 62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário. 7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos vícios de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se revela inconstitucional por arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra.112

112 BRASIL. Supremo Tribunal Federal.Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 4.357. Tribunal Pleno, Ministro Ayres Brito, 14/03/2013.

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Nota-se que a nossa Corte Superior ao julgar a ADI de número 4.357 entendeu que a

correção monetária, bem como a aplicação dos juros moratórios utilizando o índice de

remuneração da caderneta de poupança não é apta para preservar o valor real que aquele crédito

possui, uma vez que, segundo o voto do relator, Ministro Ayres Brito, o mencionado índice não

acompanha a desvalorização da moeda, em um certo período de tempo e por conta disso fere o

direito subjetivo do credor de ter o seu débito quitado consoante a obrigação originária: (...) Convém insistir no raciocínio. Se há um direito subjetivo à correção monetária de determinado crédito, direito que, como visto, não difere do crédito originário, fica evidente que o reajuste há de corresponder ao preciso índice de desvalorização da moeda, ao cabo de um certo período; quer dizer, conhecido que seja o índice de depreciação do valor real da moeda – a cada período legalmente estabelecido para a respectiva medição – , é ele que por inteiro vai recair sobre a expressão financeira do instituto jurídico protegido com a cláusula de permanente atualização monetária. (...) Valor real que só se mantém pela aplicação de índice que reflita a desvalorização dessa moeda em determinado período. Ora, se a correção monetária dos valores inscritos em precatório deixa de corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda, o direito reconhecido por sentença judicial transitada em julgado será satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será, quase que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver que, nos últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de remuneração da poupança) foi de 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de acordo com o IPCA. Não há como, portanto, deixar de reconhecer a inconstitucionalidade da norma atacada, na medida em que a fixação da remuneração básica da caderneta de poupança como índice de correção monetária dos valores inscritos em precatório implica indevida e intolerável constrição à eficácia da atividade jurisdicional. Uma afronta à garantia da coisa julgada e, por reverberação, ao protoprincípio da separação dos Poderes. (...)Sucede que o § 12 do art. 100 da Constituição da República, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 62/2009, ordenou que se aplicassem os juros de mora incidentes sobre a caderneta de poupança aos valores constantes de ofícios requisitórios, “independentemente de sua natureza”. Logo, até mesmo aos precatórios concernentes a restituições tributárias. Daí porque tenho por inconstitucional, se não todo o § 12 do art. 100 da Constituição, pelo menos o fraseado “independentemente de sua natureza”, para que aos precatórios de natureza tributária se apliquem os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário. (...)

De maneira coerente decidiu o STF. Seria injusto com os exequentes, após passarem

por todo o trâmite processual e terem seu direito efetivado por meio do Precatório, serem

obrigados, por disposição constitucional, a ter seus créditos atualizados e corrigidos consoante

índice que não acompanha a inflação, o que lesionaria o seu direito, uma vez que, a quantia não

corresponderia ao valor originário quando do seu percebimento e principalmente, pelo fato do

próprio ente da Fazenda Pública ter seus créditos perante os cidadãos corrigidos com índice

distinto e que acompanha a inflação.

É cristalina a violação ao princípio da igualdade e a coisa julgada. Em primevo,

considerando o fato de nas condenações de natureza tributária a Fazenda Pública cobrar seus

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créditos com índice distinto do que era disposto na CF, qual seja, a SELIC, que acompanha

muito mais o mercado financeiro que a própria TR. E em relação a coisa julgada pelo fato de

lesar o direito do exequente, que formou o seu precatório com um valor, que naquelas

circunstâncias era coerente com a realidade e teria que perceber a quantia (direito) defasada e

sabe-se lá quantos anos depois.

O Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Questão de Ordem suscitada

na ADI 4.425, que modulou os efeitos temporais da ADI 4.345, permitiu que a TR, que fora em

momento anterior declarada como inconstitucional para correção monetária dos precatórios,

fosse aplicada em um determinado lapso temporal, como podemos observar: EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DE DECISÃO DECLARATÓRIA DE INCONSTITUCIONALIDADE (LEI 9.868/99, ART. 27). POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE ACOMODAÇÃO OTIMIZADA DE VALORES CONSTITUCIONAIS CONFLITANTES. PRECEDENTES DO STF. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. EXISTÊNCIA DE RAZÕES DE SEGURANÇA JURÍDICA QUE JUSTIFICAM A MANUTENÇÃO TEMPORÁRIA DO REGIME ESPECIAL NOS TERMOS EM QUE DECIDIDO PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (...) 2. In casu, modulam-se os efeitos das decisões declaratórias de inconstitucionalidade proferidas nas ADIs nº 4.357 e 4.425 para manter a vigência do regime especial de pagamento de precatórios instituído pela Emenda Constitucional nº 62/2009 por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de primeiro de janeiro de 2016. 3. Confere-se eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber: (i) fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (a) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (b) os precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; e (ii) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária. (...)113

Assim a TR ficou mantida, nos termos da EC 62/2009, para correção monetária dos

precatórios que já se encontravam expedidos ou pagos até 25/03/2015. E, para os títulos de

crédito que vierem a ser distribuídos ou percebidos, em momento posterior ao marco apontado

deverão ser atualizados consoante o IPCA-E (Índice de Preços ao Consumidor Amplo

Especial).

Em relação aos Precatórios decorrentes de débito de natureza tributária, aos mesmos

deverão ser aplicados os critérios que a Fazenda Pública corrige os seus créditos de mesma

natureza ficando resguardado o título de crédito que já tivesse sido expedido no âmbito federal,

113 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.425 QO. Tribunal Pleno, Ministro Luiz Fux, 25/03/2015.

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pois, consoante exposição do artigo 27 das Leis nº 12.919/13 e nº 13.080/15 a correção

monetária seria realizada com aplicação do IPCA-E.

Apesar desta discussão jurisprudencial o entendimento só passou a ser uníssono no

ano de 2017, quando do julgamento do Tema 810, em sede de repercussão geral, pelo Supremo

Tribunal Federal: EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS. INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS MORATÓRIOS DE CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA, QUANDO ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CRFB, ART. 5º, CAPUT). RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput), no seu núcleo essencial, revela que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico tributária, os quais devem observar os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto legal supramencionado. 2. O direito fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII) repugna o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, porquanto a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.(...). 4. A correção monetária e a inflação, posto fenômenos econômicos conexos, exigem, por imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados a realizar a primeira sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual os índices de correção monetária devem consubstanciar autênticos índices de preços. 5. Recurso extraordinário parcialmente provido.114

O mencionado Tema esclareceu o desentendimento no sentido de que nos débitos

oriundos das relações jurídico tributárias, o artigo 1º F da Lei 9.494/97 com a redação dada pela

Lei 11.960/09 é inconstitucional, por isso, os juros moratórios, de acordo com o índice de

remuneração da caderneta de poupança não são mais aplicados.

A incidência dos juros de mora nos títulos originários das relações jurídico-não

tributárias, por sua vez, em virtude do mencionado artigo ter sido considerado constitucional

ainda será aplicado, como bem demonstrado pelo nobre Relator Ministro Luiz Fux: Concluo esta primeira parte do voto manifestando-me pela reafirmação da tese jurídica já encampada pelo Supremo Tribunal Federal e assim resumida:

114 Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário de número 870.947/SE. Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. Recorrido: DERIVALDO SANTOS NASCIMENTO. Tribunal Pleno, Ministro Luiz Fux, 20/09/2017.

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1. Quanto aos juros moratórios incidentes sobre condenações oriundas de relação jurídico-tributária, devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); 2. Quanto aos juros moratórios incidentes sobre condenações oriundas de relação jurídica não-tributária , devem ser observados os critérios fixados pela legislação infraconstitucional, notadamente os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, conforme dispõe o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09.

Nesta primeira questão, o Supremo Tribunal Federal decidiu de forma coerente, em

vistas, de ser necessário vislumbrar a natureza da relação jurídica da qual originou o crédito

perante o ente da administração pública. Sendo tributária o justo é aplicar o mesmo percentual

do qual a administração utiliza para cobrar seu contribuinte. No caso da relação jurídica ser

diversa da tributária os 6% (seis por cento) ao mês aplicados assim o são levando em conta a

igualdade entre as partes, vez que, sendo o ente de direito público credor ou réu, nesta hipótese

este seria o percentual a ser aplicado. Em nome do princípio da isonomia decidiram os ministros

da corte superior, tendo em vista, o referencial de igualdade que deve presidir as relações entre

Estado e particulares.

Em relação a correção monetária das condenações contra a Fazenda Pública, quando

do julgamento do tema o STF entendeu que o artigo 1º F da lei mencionada é inconstitucional

e que o índice de remuneração da caderneta de poupança não preserva o valor real da moeda.

Por isso, não deve ser aplicado aos débitos dos entes da administração pública.

A suprema corte ainda neste julgamento, acompanhando o voto do relator apontou

como compatível para atualizar os valores das condenações contra a Fazenda Pública o Índice

de Preços Amplos ao Consumidor Amplo Especial – IPCA-E. E assim o fez, tendo em vista, a

verificação de que o mencionado índice é compatível com a variação do mercado e o índice

inflacionário, bem como para manter a compatibilidade com o que já havia sido decididos nas

ADIs 4.357 e 4.425: (...)Esse estreito nexo entre correção monetária e inflação exige, por imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados a realizar a primeira sejam capazes de capturar a segunda. Em outras palavras, índices de correção monetária devem ser, ao menos em tese, aptos a refletir a variação de preços de caracteriza o fenômeno inflacionário, o que somente será possível se consubstanciarem autênticos índices de preços. (...) A fim de evitar qualquer lacuna sobre o tema e com o propósito de guardar coerência e uniformidade com o que decidido pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar a questão de ordem nas ADIs nº 4.357 e 4.425, entendo que devam ser idênticos os critérios para a correção monetária de precatórios e de condenações judiciais da Fazenda Pública. Naquela oportunidade, a Corte assentou que, após 25.03.2015, todos os créditos inscritos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). Nesse exato sentido, voto pela aplicação do aludido índice a todas as condenações judiciais impostas à Fazenda Pública, qualquer que seja o ente federativo de que se cuide. (...)

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Apenas a título de informação, o mencionado tema está com sua aplicação suspensa

em virtude do acolhimento do pedido de efeito suspensivo realizado nos Embargos

Declaratórios opostos em face do Acórdão.

Vale ressaltar, que o STJ, em decisão recente, quando do julgamento do Recurso

Repetitivo de número 1.492.221/PR (Tema 905) delimitou a aplicação do artigo 1ºF da Lei

4.494/94 (com redação dada pela Lei. 11.960/09) às condenações contra a Fazenda Pública,

vejamos: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO À REGRA PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 02/STJ. DISCUSSÃO SOBRE A APLICAÇÃO DO ART. 1º-F DA LEI 9.494/97 (COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009) ÀS CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. CASO CONCRETO QUE É RELATIVO A CONDENAÇÃO JUDICIAL DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA. • TESES JURÍDICAS FIXADAS. 1.Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza. 1.1 Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção monetária. No presente julgamento, o estabelecimento de índices que devem ser aplicados a título de correção monetária não implica pré-fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização monetária. Do contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente, refletem a correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse contexto, em relação às situações futuras, a aplicação dos índices em comento, sobretudo o INPC e o IPCA-E, é legítima enquanto tais índices sejam capazes de captar o fenômeno inflacionário. (...) 2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-tributária. 3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. 3.1 Condenações judiciais de natureza administrativa em geral. As condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária com base no IPCA-E. (...) 4. Preservação da coisa julgada. Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e compensação da mora, de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda Pública, cumpre ressalvar eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de índices diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto. (...)115

Depreende-se então, que o artigo 1ºF da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei

11.960/09, no que tange a correção monetária não deve ser aplicado às condenações contra a

Fazenda Pública. Os Ministros julgaram por utilizar como índices para atualização dos créditos

o INPC e o IPCA-E (a depender da natureza da relação jurídica com o ente da administração).

115 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Repetitivo de número 1.492.221/PR. Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Recorrido: JOSÉ AZEVEDO. Tribunal Pleno, Ministro Mauro Campbell, 22/02/18.

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Ressalta-se que a aplicação destes ocorrerá até quando refletirem o valor real da moeda e da

inflação.

No tocante aos juros moratórios, o Tema 905 do STJ manteve o que fora decidido no

julgamento do Tema 810 do Supremo Tribunal Federal, além do exposto no julgamento das

ADIs 4.357 e 4.425. Os juros de mora, com base no índice de remuneração da caderneta de

poupança somente é considerado constitucional e aplicado nas situações onde a condenação

contra a Fazenda Pública decorre de relação jurídica-não tributária.

Desta forma, quando o crédito decorrer de relação tributária os juros de mora a serem

aplicados em determinado lapso temporal se encontram expostos no próprio julgamento do

tema. Interessante mencionar, que o Superior Tribunal de Justiça, quando julgou o Tema 905

detalhou as espécies de condenação e os índices que devem ser aplicados a título de correção

monetária e juros moratórios, para nortear o julgador quando da elaboração da condenação

contra a Fazenda Pública e não mais suscitar futuras discussões acerca do tema, que diga-se de

passagem já fora amplamente debatida.

Por último, cabe trazer a baila a ressalva feita pelos nobres Ministros. Apesar de no

Acórdão ter expresso os tipos de natureza da relação jurídica contra a Fazenda Pública e os

índices respectivos que devem ser aplicados a título de atualização, bem como juros moratórios,

além dos períodos que devem incidir, os julgadores excetuaram a hipótese de na sentença

transitada em julgado existir estipulação do índex a ser aplicado. Assim, a mesma estará

acobertada pelo instituto da coisa julgada e por isso, deverá ser respeitada, podendo se analisar,

no caso concreto, a legalidade/constitucionalidade da mesma.

Ao analisar todos os julgados percebe-se que as nossas cortes superiores se preocupam

em sempre balancear a relação jurídica entre contribuinte/parte autora e a Fazenda Pública. O

equilíbrio é feito com base no princípio da isonomia, que determina que as condenações contra

ou a favor da Fazenda Pública devem utilizar índices que acompanham a inflação bem como

sejam coerentes com o mercado financeiro. Assim, apesar da morosidade do nosso poder

judiciário as partes não serão prejudicadas, quanto ao valor monetário da condenação.

3.3. PARCELAMENTO DE PRECATÓRIO.

A Constituição Federal em seus Atos das Disposições Constitucionais Transitórias,

especificamente, no artigo 33116 permitia o parcelamento do Precatório. Contudo, existia

116 Art. 33. Ressalvados os créditos de natureza alimentar, o valor dos precatórios judiciais pendentes de pagamento na data da promulgação da Constituição, incluído o remanescente de juros e correção monetária, poderá ser pago em moeda corrente, com atualização, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de oito anos, a

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determinados requisitos a serem preenchidos para que tal procedimento pudesse ser realizado.

Primeiramente, o título de crédito já deveria estar formado e pendente de pagamento no ano da

promulgação da Constituição, ou seja, em 1988. Além disso, ressalta-se, o Precatório não

poderia ter natureza alimentar. Assim, além do valor, os seus juros e correção monetária

poderiam ser parcelados em até 08 (oito) prestações anuais, a partir de 01 de julho de 1989.

Outras hipóteses foram criadas com a promulgação da Emenda Constitucional de

número 30 do ano de 2000. No artigo 78117 da ADCT, além de reafirmar o disposto no artigo

33 fora permitido o parcelamento dos Precatórios pendentes de pagamento até a data da

promulgação da emenda, bem como dos que decorressem das ações ajuizadas até 31 de

dezembro do ano anterior, em um período de até 10 (dez) anos. Salienta-se que a mencionada

regra também não poderia ser aplicada aos títulos de crédito cuja natureza fosse alimentar, ou

os considerados de pequeno valor (RPV) e os que foram tratados pelo artigo 33 mencionado

anteriormente.

Desta forma, o artigo 78 supramencionado alcança os Precatórios pendentes de

pagamento até o dia 13 de setembro de 2000 e os que decorrerem das ações demandadas até 31

de dezembro de 1999. Estes poderão ser parcelados, em prestações anuais, iguais e sucessivas,

em até 10 (dez) anos.

Assim elucidaram didaticamente os mestres Fredie Didier, Leonardo Carneiro, Paula

Sarno e Rafael Alexandria: O parcelamento previsto no art. 78 do ADCT alcança apenas os precatórios pendentes na data da promulgação da Emenda Constitucional nº 30/2000 e os que decorram de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999. Os precatórios expedidos e que, em 13 de setembro de 2000 (data da promulgação da EC nº 30/2000), ainda não tinham sido pagos, puderam ser parcelados em até 10 anos. De igual modo, os

partir de 1º de julho de 1989, por decisão editada pelo Poder Executivo até cento e oitenta dias da promulgação da Constituição. Parágrafo único. Poderão as entidades devedoras, para o cumprimento do disposto neste artigo, emitir, em cada ano, no exato montante do dispêndio, títulos de dívida pública não computáveis para efeito do limite global de endividamento. 117 Art. 78. Ressalvados os créditos definidos em lei como de pequeno valor, os de natureza alimentícia, os de que trata o art. 33 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e suas complementações e os que já tiverem os seus respectivos recursos liberados ou depositados em juízo, os precatórios pendentes na data de promulgação desta Emenda e os que decorram de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999 serão liquidados pelo seu valor real, em moeda corrente, acrescido de juros legais, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, permitida a cessão dos créditos." (AC) "§ 1º É permitida a decomposição de parcelas, a critério do credor." (AC) "§ 2º As prestações anuais a que se refere o caput deste artigo terão, se não liquidadas até o final do exercício a que se referem, poder liberatório do pagamento de tributos da entidade devedora." (AC) § 3º O prazo referido no caput deste artigo fica reduzido para dois anos, nos casos de precatórios judiciais originários de desapropriação de imóvel residencial do credor, desde que comprovadamente único à época da imissão na posse." (AC) § 4º O Presidente do Tribunal competente deverá, vencido o prazo ou em caso de omissão no orçamento, ou preterição ao direito de precedência, a requerimento do credor, requisitar ou determinar o seqüestro de recursos financeiros da entidade executada, suficientes à satisfação da prestação.

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Precatórios que resultarem de ações de conhecimento propostas até 31 de dezembro de 1999 podem ser liquidados pelo seu valor real, em moeda corrente, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos. Logo, proposta uma demanda a partir de 1º de janeiro de 2000, o precatório que daí resultar não poderá mais ser objeto de parcelamento.118

Reprise-se que este artigo está com a sua vigência suspensa, em razão, da concessão

da medida cautelar nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade de números 2.356 e 2.362.

3.4. CESSÃO DE PRECATÓRIO

Quando tratamos do artigo 78 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

notamos que do parcelamento dos Precatórios é possível a cessão do crédito. Assim, caso o

credor opte por negociar ou transferir a outrem o seu título, este novo credor assumirá esta nova

condição e deverá se habilitar ao recebimento das parcelas restantes.

Insta salientar, que a cessão era somente prevista para as situações de parcelamento do

artigo 78 da ADCT. Contudo, graças ao disposto nos §§ 13º e 14º119 do artigo 100 da

Constituição Federal, ambos inseridos pela Emenda Constitucional 62 do ano de 2009, tal

procedimento passou a ser permitido para todo e qualquer Precatório.

Cabe salientar, que nas situações em que o título seja de natureza alimentícia e o titular

originário tenha direito a preferência, devido às circunstâncias de idade, ou por ser portador de

doença grave, ou de alguma deficiência, estas não são estendidas ao cessionário, sobre este

assunto de maneira cristalina expôs Leonardo Carneiro da Cunha: Se houver cessão de crédito alimentício de que seja titular idoso ou portador de doença grave, tais atributos não se mantêm com a cessão, valendo dizer que a preferência de que goza o cedente não se transfere ao cessionário (...) Em outras palavras, o disposto nos parágrafos 2º e 3º do artigo 100 da Constituição Federal não se aplica ao cessionário. A cessão de crédito é feita sem as qualidades de preferência ou de pequeno valor.120

Da mesma forma, nos casos de cessão parcial, se o valor equivaler ao montante que

dispensa a formação do Precatório o cessionário não irá se beneficiar com esta característica. E

se a cessão for total mesmo que o valor a ser requisitado possa ser por meio de dispensa de

Precatório, ou seja, por Requisição de Pequeno Valor, o novo credor não poderá ser beneficiado.

Assim, o seu requerimento terá que ser realizado por meio de Precatório.

118 JÚNIOR, Fredie Didier; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno e OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. “Curso de Direito Processual Civil: Execução”. 9 ed. Salvador, 2019, p. 717. 119 § 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º. § 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora. 120 CUNHA, Leandro Carneiro da. “A Fazenda Pública em Juízo”. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2014, p. 405.

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Assim quis o legislador com base no caráter personalíssimo de tais benesses. As

características que regulam a concessão da preferência constitucional ou da dispensa do

Precatório giram em torno de características que estão inerente a situação do próprio credor.

Cessionário não é credor.

De tal forma o constituinte agiu também considerando a injustiça com os demais

credores que se encontram na fila. O cessionário se vale não só da dispensa do desgaste do

trâmite processual, como também de pagar a menos por um crédito que lhe dará um retorno

financeiro muito maior.

Salienta-se que a cessão dos Precatórios somente passa a ser válida quando é

comunicada por meio de petição, tanto no juízo da execução, quanto à entidade devedora. Por

conta disso, o artigo 5º121 da Emenda Constitucional 62/2009 convalidou todos os

procedimentos de cessão realizados em momento anterior a promulgação da mesma,

independentemente de concordância do devedor.

3.5. A INCONSTITUCIONALIDADE DA COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS DO

EXEQUENTE COM A FAZENDA PÚBLICA.

A nossa Constituição Federal em seus §§ 9º e 10º122 do artigo 100 permitia, que antes

da expedição do Precatório a Fazenda Pública fosse intimada a se manifestar, para verificar se

o exequente possuía eventual débito perante a Fazenda Pública respectiva. Caso existisse, a

dívida deveria ser abatida e o título formado quitando a dívida com o ente. Daniel Amorim

Assunção Neves nos explica o procedimento: (...) antes da expedição dos precatórios, o Tribunal intimaria a Fazenda Pública devedora para que, num prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de compensação, informasse sobre a existência de débitos do credor que pudessem ser compensados com o débito da Fazenda Pública. Não era, entretanto, qualquer crédito que poderia ser objeto de compensação (...) só era possível nos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. 123

121 Art. 5º Ficam convalidadas todas as cessões de precatórios efetuadas antes da promulgação desta Emenda Constitucional, independentemente da concordância da entidade devedora. 122 § 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. 123 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “Manual de Direito Processual Civil”. 9 ed. Salvador: juspodivm, 2017. p. 1332

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Este Procedimento era realizado com o intuito de dar celeridade processual ao

percebimento de quantias devidas à Fazenda Pública em nome da Supremacia do Interesse

Público sobre o Privado. E assim era realizado até o julgamento das Ações Diretas de

Inconstitucionalidade de número 4.357 e 4.425, onde os mencionados dispositivos tiveram sua

inconstitucionalidade decretada pelo Supremo Tribunal Federal.

Ao declarar inconstitucional o mencionado artigo o Supremo Tribunal Federal

acreditou que violava a efetividade da jurisdição, a coisa julgada material, a isonomia entre o

Poder Público e o particular e vulnerava a separação dos poderes. Ressalta-se que houve

modulação de efeitos do julgado, por isso, foram reputadas válidas as compensações previstas

na EC 62/2009, desde que realizadas até 25/03/2015. A partir daí o mencionado procedimento

passou a ser não mais admitido com a finalidade de promover a quitação dos Precatórios.

De maneira correta agiu a nossa Suprema Corte, vez que, para ser possível a formação

do Precatório perante a Fazenda Pública é imposto processualmente ao exequente a necessidade

do trânsito em julgado da decisão, considerando, a segurança jurídica, bem como a

disponibilidade/indisponibilidade dos cofres públicos. Mas esta mesma prerrogativa não era

atribuída ao credor em claro desrespeito ao princípio da igualdade.

Desta forma, não era igualitária ou justa a relação processual por este viés. Enquanto

os exequentes, quando credores da Fazenda Pública deveriam aguardar, inicialmente, todo o

trâmite processual, que diga-se de passagem era moroso, para poder formar o Precatório e ainda

aguardar em uma fila por anos para obtenção do crédito para a administração pública existia a

possibilidade de compensar seu possível crédito, sem aguardar o encerramento processual e

ainda de maneira imediata.

3.6. REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR - RPV.

A Requisição de Pequeno Valor é uma das formas que tem a Fazenda Pública de quitar

seus débitos advindos de sentenças/acórdãos transitados em julgado. O mesmo recebe esta

intitulação, pelo fato de devolver valor abaixo do estipulado por lei do respectivo ente

federativo. A formação deste dispensa a expedição de Precatório e, por conta disso, é uma

maneira mais ágil de percebimento da quantia pelo credor.

A Requisição de Pequeno Valor foi criada a partir da Emenda Constitucional de

número 30 do ano de 2000, consoante disposição do artigo 1º, § 3º, que acrescentou este

parágrafo no artigo 100 da Constituição Federal124. Cada entidade de direito público tem o seu

124 Art. 1º O art. 100 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: (...)

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limite para pagamento de RPV previsto em Lei, de acordo com o § 4º125 do mesmo artigo. E

assim o é considerando as diferenças nos orçamentos de cada ente da administração pública e

possibilidade de pagamento dos mesmos, como ilustrimente expôs Araken de Assis: Resta localizar a noção de “pequeno valor”. À primeira vista, pareceria razoável aplicar aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios o valor estipulado na lei federal, que é de sessenta salários mínimos (art. 17, p. 1º, c/c art. 3º, caput da lei 10.259/2001). A generalização se revela imprudente e inaceitável, porém: o conjunto das obrigações, neste generoso limite, comprometeria o orçamento da maioria dos Estados, e, talvez, ultrapassaria o valor total do orçamento de incontáveis Municípios. O legislador federal definiu a obrigação de pequeno valor, na medida daquele comprometimento, considerando o porte do próprio orçamento. Por identidade de razões, impõe-se assegurar análoga faculdade às demais pessoas jurídicas de direito público.126

O legislador fora coerente em sua decisão. O Brasil é um pais extenso, com diferentes

regiões, climas, atividades financeiras que contribuem diretamente para sua arrecadação e

desigualdade. Desta forma, estipulando um único teto para todos os entes federativos com toda

certeza existiriam municípios ou até mesmo estados, que teriam seus orçamentos

completamente comprometidos nos pagamentos das RPVs.

Em relação ao âmbito federal a Lei 10.259/01 (Juizados Especiais Federais) determina

em seu artigo 17, §1º127 o limite para pagamento o correspondente a 60 (sessenta) salários

mínimos, mesmo valor que é atribuído para competência deste juizado. No Estado da Bahia,

por exemplo, o teto estabelecido, conforme artigo 1º da Lei 9.446/2005 é o correspondente a

20 (vinte) salários mínimos. O Município de Salvador, por sua vez, prevê a quantia de R$

12.000,00 (doze mil reais), como parâmetro a partir da Lei 8.723/2014.

Contudo, caso os entes federativos, por qualquer motivo que seja, não venham a ter

disposição legislativa nesse sentido, o artigo 87128 dos Atos das Disposições Constitucionais

§ 3º O disposto no caput deste artigo, relativamente à expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal deva fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. (...) 125 4º A lei poderá fixar valores distintos para o fim previsto no § 3º deste artigo, segundo as diferentes capacidades das entidades de direito público.(...) 126 ASSIS, Araken de. Manual da Execução: 18. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. Pgs. 1424-1425. 127 Art. 17 (...) § 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de precatório, terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3o, caput). 128 Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.

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Transitórias prevê que nestes casos o débito poderá ser de até 40 (quarenta) salários mínimos

para os Estados e Distrito Federal e 30 (trinta) salários mínimos para as fazendas municipais.

Quando do trânsito em julgado da demanda, da mesma forma que ocorre na formação

dos Precatórios, o juízo da execução expede a requisição ao Presidente do Tribunal competente,

que toma as providências necessárias. A diferença reside no pagamento, que aqui não há a

necessidade de espera para que o mesmo ocorra até o final do exercício financeiro seguinte. Os

pagamentos são realizados pelos tribunais, por meio de depósito em conta de instituição

financeira oficial, onde os saques podem ser realizados independentemente de Alvará. O

pagamento ocorre por volta de 90 dias após a expedição do ofício requisitório.

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4. A EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA E O

INSTITUTO DOS PRECATÓRIOS NO ÂMBITO DO ESTADO DA BAHIA.

A partir do momento em que a tutela jurisdicional passa a ser atribuição do Estado

Democrático de Direito, a sua efetividade se tornou garantia do mesmo. A emissão das decisões

é monopólio do estado e, por isso, os conflitos não são mais solucionados de maneira unilateral

ou por imposição da força, mas sim de forma positiva, neutra e substituindo o interesse das

partes pelo direito em si.

Na nossa Constituição Federal quando o artigo 5º, XXXV dispõe: “a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” o Estado Brasileiro se compromete

e se responsabiliza em prestar uma tutela jurisdicional efetiva, concreta, absoluta e,

principalmente, justa. Para tanto, o ente se vale de instrumentos processuais adequados que

proporcionem a solução adequada dos conflitos e do direito ameaçado de uma maneira célere e

efetiva.

Um destes instrumentos se encontra previsto no artigo 5º, LXXVIII da Constituição

Federal, que assim dispõe: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a

razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”. Da

leitura deste dispositivo notamos o conceito do princípio da celeridade, que imputa ao estado

brasileiro a necessidade de duração do processo, seja administrativo ou judicial, por um período

razoável de tempo, para que a prestação jurisdicional seja realizada de maneira efetiva. O

mencionado princípio está ligado diretamente com o conceito de efetividade que abordaremos

a seguir.

Para o ilustríssimo doutrinador Daniel Amorim Assumpção Neves, o conceito de

efetividade corresponde a: Não cabe ao Estado brasileiro o julgamento de demandas que não tem aptidão de gerar efeitos em outro Estado, que muito provavelmente não reconhecerá tal decisão. O princípio da efetividade determina que a justiça brasileira só deva se considerar competente para julgar demandas cuja decisão gere efeitos em território nacional ou em Estado estrangeiro que reconheça tal decisão, tornando assim sua atuação sempre útil e teoricamente eficaz.129

O nobre Ministro Luís Roberto Barroso, entende, por sua vez, como efetividade: (...) a realização do direito, o desempenho concreto de sua função social, a materialização no mundo dos fatos, dos preceitos legais, simbolizando a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-se normativo e o ser da realidade social.130

A efetividade, então, se baseia, na responsabilidade que é dada ao Estado, considerando

a sua legitimidade em resolver conflitos e proferir decisões, de solucionar a lide entre as partes,

129 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “Manual de Direito Processual Civil”. Editora Jus Podium. 8ª Edição, Salvador, 2016. 130 Barroso (2000, p.76 e ss).

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de maneira justa, célere, com a devida aplicação dos princípios do devido processo legal, do

contraditório e da ampla defesa, modificando a esfera jurídica de ambos e entregando á quem

de direito o bem da vida que é tutelado no momento que a lei prevê.

Este conceito nada mais é do que a aplicação correta dos princípios constitucionais

processuais acima enumerados, bem como dos princípios do nosso CPC: boa-fé, cooperação,

além das regras de conduta moral como o respeito mútuo, todos interligados e dependentes de

uma administração pública, bem aparelhada, que garanta a materialização do bem jurídico

tutelado.

No nosso Código de Processo Civil o artigo 4º131 tipifica o mencionado conceito. Neste,

há previsão no sentindo de que às partes é assegurado, que a partir de toda a aparelhagem estatal

adequada aquele conflito será resolvido em um prazo razoável, ou seja, coerente, de maneira

definitiva (com discussão do mérito) e o direito pleiteado será entregue a quem deve, no

momento legítimo para tanto.

Quando o conflito tem a Fazenda Pública como parte, considerando o seu regime

próprio será que a solução do mesmo consegue se dar de forma efetiva? E quando é um

cumprimento de sentença? No que tange o regime de Precatórios, o pagamento é feito no

orçamento? Todas estas perguntas serão respondidas com base no poder judiciário do Estado

da Bahia e quando contra o mesmo são os conflitos.

Inicialmente, cumpre salientar que nosso aparelhamento do poder judiciário,

infelizmente, não atende a demanda. Apenas a título de informação, em pesquisa realizada no

ano de 2017, pelo CNJ, o nosso Tribunal de Justiça Estadual foi considerado o mais

congestionado dentre os 27 de todo o país. O relatório apontou que o nosso Tribunal possui

uma taxa de 83,9% de casos que permanecem sem solução ao final do ano em relação aos

pendentes e aos que foram solucionados.

Quando se trata de 1º Grau o cenário é ainda pior. Nesta instância a porcentagem de

congestionamento chega a 85% (oitenta e cinco por cento). Em relação ao 2º Grau, a situação

melhora, sendo a pontuação equivalente a 60% (sessenta por cento), o que ainda é baixo

comparando a média dos outros estados, que correspondem a 49% (quarenta e nove por cento).

Vale ressaltar, que quando se trata de conflito contra a Fazenda Pública do Estado da

Bahia ou Municipal, o cumprimento das decisões não depende única e exclusivamente do poder

judiciário, mas também do aparelhamento do executivo ou do legislativo.

131 Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

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Considerando o “tamanho” de tais entidades públicas federativas existem órgãos

específicos para cada função que a administração pública precisa desempenhar. Por conta disso,

a comunicação oficial entre elas, muitas vezes se dá de forma deficitária, vez que ocorre

predominantemente por ofício, que deve ser encaminhado por servidores oficias da entidade,

que nem sempre o órgão possui exclusivamente para tal função (acaba deslocando servidor de

uma outra função para desempenhar esta e o mesmo acaba por atrasar ou sobrecarregar a função

ao qual foi designado) ou pelo próprio sistema interno, que querendo ou não também depende

de uma estrutura mínima para o seu bom funcionamento.

Além disso, ressalta-se que a função é desempenhada pelos servidores ligados a Fazenda

Pública e ao poder judiciário. Os Procuradores Estaduais e Municipais também acabam por

desempenhar suas funções de maneira diminuta. As respectivas fazendas, considerando sua

amplitude, número de órgãos e tudo o que lhe pertence são demandadas a todo o instante e em

decorrência disso os processos dos quais são parte são inúmeros. E, pelo fato, de não existir o

número de servidores o suficiente a própria defesa dos entes não é realizada da forma que

deveria. Nelson Nery de maneira objetiva e clara aprofunda esse entendimento: Ora, a Fazenda Pública, que é representada em juízo por seus procuradores, não reúne as mesmas condições que um particular para defender seus interesses em juízo. Além, de estar defendendo o interesse público, a Fazenda Pública mantém uma burocracia inerente à sua atividade, tendo dificuldade de ter acesso aos fatos, elementos e dados da causa. O volume de trabalho que cerca os advogados públicos impede, de igual modo, o desempenho de suas atividades nos prazos fixados para os particulares. Demais disso, enquanto um advogado particular pode selecionar suas causas, recusando aquelas que não lhe convém, o advogado público não pode declinar de sua função, deixando de proceder à defesa da Fazenda Pública.132

Assim, mesmo que a Fazenda Pública possua prerrogativas processuais, por faltar

procuradores e até servidores que auxiliem administrativamente, os procuradores que se

encontram em efetivo exercício se sobrecarregam, no que interfere na qualidade do trabalho

apresentado e consequentemente na efetividade do direito.

Diante disso, percebe-se que o primeiro fato que influi diretamente na efetividade do

direito, quer seja no cumprimento de sentença, quando da litigância na fase de conhecimento

com a Fazenda Pública é a dependência com um aparelho funcional e estrutural digno do

mesmo.

Nos referimos, principalmente, aos servidores, que devem ser contratados em número

suficiente para o desempenhos das funções, nos três poderes. Além disso, deve existir também

uma estrutura física mínima, para que seja possibilitado aos mesmos que desempenhem suas

tarefas de forma eficaz e o mais plena possível.

132 JÚNIOR, Nelson Nery. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 3. ed. São Paulo: RT, 1996, p. 45.

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Pois bem, quando um destes quesitos, ou os dois “desanda” a efetividade da tutela

jurisdicional, também, por consequência. Apenas a título de informação na cidade de Salvador,

no Fórum Ruy Barbosa nós temos apenas 12 Varas exclusivas da Fazenda Pública, 2 nos

Juizados e no Tribunal de Justiça temos apenas uma Seção específica pra tratar do direito

público, que é a Seção Cível de Direito Público.

Quando o trâmite do processo ocorre em primeiro grau, no Fórum Ruy Barbosa,

inúmeros problemas ocorrem da citação a demora na prolatação da sentença.

O processo de número 0521234-41.2015.8.05.0001 em trâmite na 5ª Vara da Fazenda

Pública, distribuído no dia 16/04/2015 só promoveu a expedição do ofício de citação do Estado

da Bahia, para apresentar a contestação, no dia 14/09/2018. Percebe-se que houve uma demora

de 03 (três) anos e 05 (cinco) meses para apenas ocorrer a citação da Fazenda Pública,

procedimento que é o ponto inicial do tramitar processual. Apenas a título de informação nesta

demanda existiram despachos anteriores relacionados a deferimento do pedido de assistência

judiciária gratuita, contudo, ainda assim, é um período um tanto quanto grande para ocorrer

apenas a citação do ente.

A demanda tombada sob o número 0566465-28.2014.8.05.0001, por sua vez, interposta

por um idoso acometido de doença grave e que pleiteia a isenção do Imposto de Renda,

justamente, por conta da moléstia fora distribuída no dia 26/11/2014 na 4ª Vara da Fazenda

Pública e somente em 24/11/2018 teve o seu pedido de Liminar analisado e concedido.

Destaque-se um idoso portador de doença grave teve que aguardar 4 (quatro) anos para ter um

pedido de urgência verificado.

O processo autuado sob o número 0522959-02.2014.8.05.0001 em trâmite na 7ª Vara

da Fazenda Pública, onde o autor também é idoso, foi distribuído em 21/05/2014 e desde o dia

16/09/2016 a demanda se encontra conclusa para sentença não tendo sido tal decisão proferida

ainda.

No Tribunal de Justiça, como apontado pelo Relatório do Conselho Nacional de Justiça,

a prestação do serviço ocorre de maneira mais efetiva, contudo, ainda assim não ocorre da forma

que deveria.

Como, por exemplo, no Mandado de Segurança (impetrante idosa) distribuído sobre o

número 0024744-25.2015.8.05.0000 no dia 16/11/2015 na Seção Cível de Direito Público, que

buscava a Revisão da Pensão da impetrante, teve o seu trânsito em julgado certificado no dia

19/03/2018 com concessão da segurança. Contudo, o Estado da Bahia só veio a cumprir a

obrigação de fazer em Maio de 2018, quando o julgamento fora realizado em 14/02/2017.

Salienta-se que o trânsito em julgado da demanda somente ocorreu, pois, a Fazenda Pública

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protocolou petição informando que não iria apresentar recurso. Em aproximadamente 03 (três)

anos o processo foi encerrado, com entrega do bem jurídico pleiteado.

Outro Mandado de Segurança, cujo impetrante também é pessoa idosa, distribuído sobre

o número 0014384-94.2016.8.05.0000 no dia 21/07/2016 teve o seu julgamento realizado no

dia 19/04/2018. Contudo, houve deferimento do pedido de Liminar e concessão da segurança,

mas até o presente momento a Fazenda Pública não cumpriu a obrigação de fazer requerida

pelo impetrante. Ressalta-se, que entre a impetração e o julgamento houve um lapso temporal

de aproximadamente dois anos, o que, mesmo em sede de Mandado de Segurança é um período

razoável.

O processo de número 0005503-31.2016.8.05.0000 também Mandado de Segurança

impetrado por idosa, fora distribuído em 23/03/2016. No mesmo teve concessão de medida

Liminar, especificamente, em 15/06/2016, o Estado da Bahia já cumpriu a obrigação de fazer,

contudo, não de maneira integral. Neste, ocorreu o julgamento do mérito em outubro de 2018,

onde houve a concessão da segurança, contudo até o presente momento o ente persiste em

descumprir integralmente a medida. Além disso, a Desembargadora, insiste em não se

pronunciar e atribuir medidas coercitivas mais graves, como imputação do crime de

desobediência as autoridades coatoras, se limitando a intimação das partes à se manifestarem.

Como depreende-se estamos diante de uma liminar e concessão de segurança totalizando um

período de três anos, que ainda não fora efetivamente cumprida.

O Mandado de Segurança 0002335-02.2008.8.05.0000 impetrado em 29/05/2008 por

um Sindicato de uma determinada categoria de servidores fora distribuído na Seção Cível de

Direito Público do Tribunal de Justiça. O mesmo fora julgado em 29/06/2009, com concessão

de segurança e teve o seu trânsito em julgado em 22/07/2014. Os filiados do mesmo já executam

individualmente o Acórdão, onde, inclusive, algumas dessas execuções também transitaram em

julgado e já tiverem seus Precatórios expedidos e ainda assim até o presente momento o Estado

da Bahia não cumpriu a obrigação de fazer. Estamos falando de um descumprimento de mais

de 10 (dez anos). O Relator, inclusive, recentemente, determinou que a Secretaria da Seção

extraísse as cópias cabíveis para promoção de Ação Penal cabível a serem remetidas ao

Ministério Público. Tal procedimento já ocorrera, mas ainda assim, o ente se mantém inerte.

A princípio, contudo, não de forma conclusiva ainda, visto que estamos no início da

nossa discussão, podemos notar, pelo menos, que quando tratamos de processos de

conhecimento, independentemente, das prioridades existentes no que concerne as partes, como

idade, ou acometimento de moléstia grave, ainda assim, nosso judiciário peca, principalmente,

quando nos referimos aos processos promovidos em primeiro grau. Talvez, estejamos pensando

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de forma pessimista ou exigente demais, tendo em vista, existir a possibilidade do poder

judiciário baiano estar funcionando dentro da normalidade e o problema decorrer dos próprios

requerentes (população) que demandam demais e que mesmo com um aparelhamento estrutural

e funcional adequado ainda não realizaria suas atividades como esperamos. Veremos.

Quando nos referirmos ao cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública também

não podemos esquecer, que mesmo se tratando, em sua grande maioria, de obrigação de pagar

quantia certa que será objeto de formação de Precatório ou Requisição de Pequeno Valor, não

deixa de ser uma fase processual e por isso, com risco de interposição de recursos e de ser

prolongada no tempo.

No que concerne o 1º Grau, existem situações em que além de se esperar por anos pelo

trânsito em julgado da fase de conhecimento, os exequentes devem ainda respeitar o tramitar

normal dos processos, incluindo as prerrogativas que são atribuída a Fazenda Público, quando

o último é uma das partes, como o prazo contado em dobro e o início do mesmo a partir da

carga.

Um bom exemplo é o processo de número 0008812-19.2000.8.05.0001 em trâmite na

6ª Vara da Fazenda Pública, que fora distribuído em 31/01/2000. A fase de conhecimento do

mesmo transitou em julgado em 20/01/2016. Estamos falando de 16 (dezesseis) anos para

encerramento da fase de conhecimento da demanda.

Salienta-se que sendo o processo interposto em primeiro grau contra qualquer ente da

Fazenda Pública, a sentença, obrigatoriamente, deverá ser remetida ao Tribunal de Justiça, por

conta do instituo da remessa necessária. O mesmo prevê que nos casos onde há proferimento

de sentença contra ente da administração pública a mesma deverá ser reanalisada por uma

câmara competente.

Em decorrência disso, o cumprimento de sentença fora juntado aos autos em

28/11/2017, sendo a Fazenda Pública intimada para apresentar impugnação somente em

23/07/2018. Houve atraso de aproximadamente 08 (oito) meses somente para intimar o Estado

da Bahia à apresentar peça defensoria, sendo que o mesmo só realizara a carga em 30/07/2018.

Assim, o prazo só começa a contar desta última data. Ressalta-se que a impugnação fora

apresentada no dia 12/09/2018.

Notem que, os exequentes, além de terem que aguardar 16 (dezesseis) anos para o

encerramento da fase de conhecimento tiveram que aguardar quase 01 (um) ano só para citação

e apresentação da impugnação à execução pela Fazenda Pública, correspondendo a um total de

17 (dezessete) anos sem a efetivação daquilo que lhe cabe. Infelizmente, nem sempre todos os

autores conseguem aguardar todo esse tempo, repassando a quantia para seus filhos e netos.

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Na demanda de número 0534214-83.2016.8.05.0001 distribuído no dia 02/06/2016 na

7ª Vara da Fazenda Pública refere-se a execução individual de sentença coletiva, onde as partes

são pessoas idosas. A intimação ocorrera em 29/08/2016, para a realização de dois

procedimentos, o cumprimento da obrigação de fazer decorrente do título judicial transitado em

julgado e para o ente da administração pública apresentar a impugnação à execução.

Ressalta-se, que neste primeiro despacho fora imposta multa diária de R$ 1.000,00

(mil reais) limitada até a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). No dia 16/10/2017 fora

emitida outra decisão, onde o magistrado reiterou a determinação de cumprimento da obrigação,

com base no artigo 536 do CPC.

Diante do descumprimento reiterado do ente no dia 29/08/2018 o juiz determinou mais

uma vez o cumprimento, contudo, majorou o importe da multa para R$ 5.000,00 (cinco mil

reais), onde caso o Estado da Bahia não acatasse o que fora requerido iria ocorrer o Bloqueio

Judicial via Bacenjud no valor equivalente a até R$ 100.000,00 (cem mil reais) a serem

revertidas a parte autora. E na eventual situação, de ainda assim, a Fazenda Pública não cumprir,

houve a determinação de remessa dos autos ao Ministério Público para que seja realizada

investigação. Até o presente momento, não temos notícia de que se tal pedido fora atendido.

Reprise-se que estamos diante de um período de mais de dois anos, onde a Fazenda

Pública não cumpriu a obrigação de fazer, apesar das determinações realizadas pelo magistrado

com aplicação de medidas mais gravosas. Além disso, neste lapso temporal os cálculos ainda

não foram objeto de discussão processual. Estamos diante de exequentes idosas, que mesmo

tendo vencido a fase de conhecimento, ainda estão aguardando pelo cumprimento da obrigação

de fazer objeto do título, infelizmente, pelo estado de saúde sensível em que se encontram, o

judiciário não tem como garantir que as mesmas terão o seu pleito atendido quer seja a

obrigação de fazer, quer seja o percebimento de qualquer quantia advinda do Precatório ou

Requisição de Pequeno Valor.

O processo tombado sob o número 0008816-56.2000.8.05.0001 distribuído em

31/01/2000 na 8ª Vara da Fazenda Pública é um processo de conhecimento, que teve o seu

trânsito em julgado em 04/04/2016. O cumprimento de sentença fora apresentado pelos

exequentes em 12/12/2016, onde a Fazenda Pública fora intimada para apresentar impugnação

à execução em 19/12/2016. O Estado da Bahia fez carga dos autos em 12/06/2017 e o devolveu

em 27/10/2017, somente neste período, para o início da contagem do prazo para impugnar à

execução fora perdido 06 (seis) meses.

Pois bem, o processo ficara concluso em 20/11/2017. Até que em 18/06/2018, o

magistrado, diante da concordância do Estado da Bahia com os valores apresentados pelos

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exequentes, determinou a extinção do cumprimento de sentença e determinou que os autores

formem seus Precatórios, como também o Advogado, no que pertine os Honorários

Sucumbenciais.

Nesta demanda, apesar da fase de execução ter sido extinta em menos de 2 (dois) anos,

o encerramento do processo e consequente determinação de expedição do Precatório só ocorreu,

pois, a Fazenda Pública anuiu com os valores apresentados pelas partes. Contudo, caso

houvesse interposição de impugnação à execução, com toda a certeza, o processo ainda estaria

tramitando.

Em relação ao 2º Grau de jurisdição, pelo fato das respectivas fases de conhecimento

tramitarem com um pouco mais de celeridade, acredita-se que a sua fase de cumprimento de

sentença também assim será.

O processo tombado sob o número 0022271-03.2014.8.05.0000, embargo à execução,

vez que ainda na vigência do Código de Processo Civil de 1973, fora distribuído na Seção Cível

de Direito Público. Esta demanda se trata de execução individual de Acórdão decorrente de

processo coletivo, onde, alguns dos embargados são pessoas idosas. O embargo à execução fora

julgado em 02/06/2015, o que comparado ao 1º Grau é consideravelmente mais rápido.

Nesta demanda, por motivos que não foram expostos a Fazenda Pública não recorreu

e o embargo á execução teve o seu trânsito em julgado 09/09/2016. Reprise-se que consoante o

acórdão disponibilizado existe dois tipos de obrigação a serem cumpridas pelo Estado da Bahia: EMBARGOS À EXECUÇÃO INDIVIDUAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA DE DECISÃO COLETIVA EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIFERENÇAS APURADAS EM RAZÃO DA ADOÇÃO DE PARÂMETRO ERRÔNEO PARA EFEITO DE TETO REMUNERATÓRIO. DECISÃO COLETIVA OBTIDA PELO IAF – INSTITUTO DOS AUDITORES FISCAIS DO ESTADO DA BAHIA. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA COISA JULGADA A TODA A CATEGORIA. (...)VALORES APURADOS. RETROAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO À DATA DA IMPETRAÇÃO. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA DO ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97. CORREÇÃO MONETÁRIA. UTILIZAÇÃO DO IPCA-E. REGIME DE PAGAMENTO. PARCELAS ANTERIORES AO DECRETO LIMINAR. SUJEIÇÃO AOS PRECATÓRIOS. VERBAS POSTERIORES. INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. ACOLHIMENTO PARCIAL DOS EMBARGOS. (...) 4. Em regra, os efeitos da ordem concessiva retroagem à data da impetração, na forma do art. 14, §4º da lei de regência do mandamus, de sorte que devem ser afastadas as diferenças apuradas relativas a período anterior. Enunciados nº 269 e 271 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. (...) 6. O pagamento dos débitos da Fazenda Pública, via de regra, se desenvolve pelo regime de precatórios, ainda que decorra de decisão proferida em mandado de segurança. Contudo, após a concessão da ordem, ainda que em caráter liminar, não há cogitar que o Estado se furte ao cumprimento da decisão e seja agraciado com a adimplemento dos valores inseridos no período da mora mediante regime mais benéfico; é dizer, não se pode condicionar ao sabor do Poder Público devedor a eleição da forma de pagamento de seus próprios débitos. Quanto a estas parcelas, o pagamento deve-se dar mediante inclusão em folha suplementar. 7. Na espécie, revela-se inegável que a manutenção da maior parcela da importância

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pretendida pelos Exequentes que ora se propõe aponta para o decaimento da resistência estatal, razão por que deve o ente público arcar com os consectários da sucumbência, notadamente para honorários advocatícios, fixados segundo os critérios previstos no art. 20, §4º do Código de Processo Civil.133

Desta forma, compreendemos que neste embargo à execução duas serão as formas de

cumprimento da obrigação pelo Estado da Bahia. Parte dos valores, considerando, o fato de

decorrerem de descumprimento de obrigação de fazer, uma vez que, durante o trâmite do

Mandado de Segurança e na vigência da medida liminar o Estado da Bahia se absteve em

cumprir a obrigação (parar com os estornos nas remunerações dos filiados, como se o Teto

Constitucional correspondesse ao de Governador, quando corresponde ao de Desembargador)

serão adimplidos por meio de implementação em folha suplementar. A outra parte será paga,

consoante o regime próprio de execução contra a Fazenda Pública, qual seja, por expedição de

Precatório ou RPV.

Apesar, do mencionado processo ter transitado em julgado em setembro de 2016 até o

presente momento, a Fazenda Pública não cumpriu qualquer das obrigações. Pelo contrário,

vem interpondo recursos sequentemente tentando rediscutir o mérito e embasamento das

obrigações. Já fora oposto Embargo de Declaração, interposto Agravo Interno (sendo ambos

não acolhidos), oposição de Embargo de Declaração novamente e ainda apresentou os Recursos

Especial e Extraordinário, ambos pendentes de juízo de admissibilidade atualmente. Tudo isso,

com o trânsito em julgado certificado.

A Relatora do processo, inclusive, emite despachos determinando o cumprimento da

obrigação de fazer e da expedição da Requisição de Pequeno Valor, vez que alguns exequentes,

visando o pagamento mais célere dos seus créditos, optaram por renunciar de parte da quantia,

que excedesse os 20 (vinte) salários mínimos, reconhecendo o trânsito em julgado, bem como

a preclusão processual do Estado da Bahia, como podemos observar: Considerando o trânsito em julgado do acórdão de fls. 163/184, determino a intimação do Estado da Bahia, na pessoa de seu representante judicial, para que promova, no prazo de 15 (quinze) dias, o cumprimento do decisum nos exatos termos em que proferido, em especial, no que toca à implementação em folha suplementar das diferenças ali consignadas. Salvador, 13 de novembro de 2017.134 (...) Considerando que tanto a matéria atinente aos juros de mora e correção monetária, como também a questão alusiva à forma de pagamento das parcelas controvertidas mediante o regime de precatórios e inclusão em folha suplementar já foram objeto de deliberação judicial, na forma da decisão de fls. 163/184, tendo o Estado da Bahia se conformado com a decisão, ainda que tacitamente, posto que não manejara o recurso

133 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargo á Execução de número: 0022271-03.2014.8.05.0000. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, DJe 02/06/2015. 134 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Augusto Ricardo Jansen Ferrari e outros. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, 16/11/2017.

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cabível, cumpre se reconhecer a preclusão consumativa a incidir sobre a referida questão, não sendo possível pois ao ente estatal, nesta oportunidade, revisitá-la. Nesse sentido, mantenho os termos da decisão de fls. 452. Salvador, 5 de fevereiro de 2018.135

Contudo, ainda assim, não houve cumprimento de quaisquer das obrigações. O Estado

da Bahia, após aproximadamente (três) anos do trânsito em julgado do Embargo à Execução se

mantém inerte. Além disso, desrespeita os procedimentos estabelecidos em nosso Código de

Processo Civil, as decisões proferidas pela Relatora, visando o cumprimento, bem como o

princípio da segurança jurídica.

Notem, que como mencionado em momento anterior, alguns dos exequentes são

pessoas idosas e que abriram mão de parte da quantia que lhe cabe para perceber de uma forma

mais ágil e ainda assim não fora possível. São quase três anos de certificação de trânsito em

julgado, sem qualquer respeito da Fazenda Pública Estadual.

Outro exemplo a ser dado é a Execução Contra a Fazenda Pública tombada sobre o

número 0004399-04.2016.8.05.0000 distribuída em 10/03/2016 na Seção Cível de Direito

Público do Tribunal de Justiça. Esta também se refere a execução de título judicial coletivo.

Neste processo a Fazenda Pública optou por apresentar impugnação à execução. Contudo, como

houve divergência de valores considerável, o Relator do processo optou por nomear perito.

Nesta Execução, o perito fora nomeado em 15/06/2016. E, após todas as discussões

sobre honorários, nomeação de assistente técnico e apresentação de quesitos para a perícia o

mesmo apresentou o Laudo Pericial em Julho de 2017. Apesar de ambas as partes já terem se

manifestado acerca do parecer apresentado, o perito fora intimado a apresentar suas alegações

acerca do que fora colocado pelo Estado da Bahia, mas até o presente momento não houve

avanço, mesmo que o perito tenha sido oficiado duas vezes. O processo foi distribuído em

março de 2016 e estamos em junho de 2019 e o processo ainda não teve o seu mérito julgado.

O Embargo à Execução tombado sobre o número 0002865-40.2007.8.05.0000 fora

distribuído em 17/09/2007 no Tribunal Pleno. O mesmo decorre de um Mandado de Segurança

impetrado no ano de 1995. Este embargo teve o seu trânsito em julgado certificado em Abril de

2014 e até o presente momento não fora possível a formação dos Precatórios de cada um dos

exequentes.

A relatora do processo em 29/09/2017, optou por, antes de determinar a expedição do

Precatório dos valores já homologados, requisitou que os embargados promovessem a

atualização das quantias, de acordo com o sistema do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe,

135 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Augusto Ricardo Jansen Ferrari e outros. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, 18/12/2019.

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contudo, não estipulo os índices e juros moratórios que deveriam ser aplicados ao caso, como

podemos observar: Em face do quanto estatuído na Resolução de nº 16/2014, bem como tendo em vista o termo de cooperação tecnológica firmado entre este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, determino a intimação das partes para que proceda a atualização monetária e os cálculos judiciais pelo programa desenvolvido pelo TJ/SE. Após, retornem os autos conclusos. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. Salvador, 26 de Setembro de 2017.136

Após a juntada do requerido pela Relatora, considerando o grande número de

exequentes e em decorrência disso a pluralidade de causídicos atuantes na demanda, somente

em Agosto de 2018 a Desembargadora optou por nomear perito para análise dos cálculos

apresentados, mediante a divergência dos mesmos: Compulsando os autos, verifica-se que as planilhas de cálculos trazidas pelas partes aos autos apresentam divergências relevantes. Nesse contexto, faz-se necessária análise por técnico contábil para fim de apurar o real valor do título executivo. O art. 156, parágrafo 1º, do CPC/2015, determina a assistência de perito técnico quando o fato requisitar tal conhecimento, devendo o mesmo estar inscrito em cadastro prévio mantido pelo Tribunal. Dessa forma, nomeio a perita Catia Lima Correia (...) para atuar na presente demanda, já que devidamente cadastrada no Sistema de Apoio a Perícias Judiciais desta Corte de Justiça. Intime-se a Douta Perita acerca da sua nomeação. À Secretaria do Tribunal Pleno para as diligências de praxe. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. Salvador, 03 de Agosto de 2018.137

Notem, que o presente embargo à execução decorreu de um Mandado de Segurança do

ano de 1995, teve o seu trânsito em julgado certificado no ano de 2014 e até setembro de 2018

os exequentes não conseguiram que os seus créditos sequer fossem formados. A espera dessas

partes para usufruírem da quantia que lhe é devida já ultrapassou os 20 (vinte) anos. Não seria

estranho se boa parte destes embargados já esterem perto de se tornarem cidadãos da 3ª idade

ou se já não o são.

Na verdade, após a análise de todos esses processos movidos contra a Fazenda Pública,

especificamente, Estado da Bahia a sensação que é passada é de que a demora do nosso poder

judiciário em analisar as suas demandas e efetivar os respectivos direitos não tem como fator

único a estrutura física e funcional dos 03 (três) poderes. Existe também algo que pode ser

chamado de “falta de boa vontade” da Fazenda Pública em o fazer efetivo.

Apresentamos alguns cumprimentos de sentença movidos contra o Estado da Bahia,

todos com pelo menos 05 (cinco) anos de trâmite relacionado a fase de conhecimento. Após o

enfrentamento de mais pelo menos 03 (três) anos referente a fase de cumprimento de sentença,

136 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Eurivaldo Raimundo Ribeiro dos Santos e outros. Tribunal Pleno, Relatora Desembargadora Gardênia Duarte, Dje 29/09/2017. 137 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Eurivaldo Raimundo Ribeiro dos Santos e outros. Tribunal Pleno, Relatora Desembargadora Gardênia Duarte, Dje 10/08/2018.

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nos casos em que a Fazenda Pública opta por não recorrer e sendo bem otimista o exequente

espera em média 10 (dez) anos para a formação do seu Precatório ou Requisição de Pequeno

Valor.

Quanto a Requisição de Pequeno Valor, que no âmbito do Estado da Bahia chega ao

Teto de 20 (vinte) salários mínimos, em regra, o pagamento deveria ser realizado após 60

(sessenta) dias da expedição do Ofício, contudo, na prática, infelizmente não ocorre desta

forma.

Por exemplo, no cumprimento provisório de número 0021597-20.2017.8.05.0000,

onde houve aquiescência do valor apresentado pelo Estado da Bahia o Ofício Requisitório de

RPV fora recebido pela Fazenda Pública Estadual em maio de 2018, a certidão de decurso de

prazo de impugnação fora certificada em agosto de 2018, mas o Alvará só fora expedido em

Abril de 2019. Estamos nos referindo de um atraso de aproximadamente 1 (um) ano.

Em relação ao Precatório a situação é um pouco mais complicada. Os credores esperam

em média 10 (dez) anos para que possam formar seus Precatórios. No Estado da Bahia, quando

os créditos são distribuídos passam a tramitar em um Órgão Administrativo da Presidência do

Tribunal de Justiça do Estado chamado de Núcleo Auxiliar de Conciliação de Precatórios

(NACP), onde um Juiz Auxiliar, nomeado pelo Presidente do Tribunal acompanha os títulos de

crédito. Este ocupa o carga por 02 (dois) anos, podendo ser prorrogado por mais 02 (dois).

Em regra, quando um Precatório é formado até o dia 01 de Julho de um determinado

ano, ele deveria ser pago até Dezembro do ano seguinte. Contudo, o Estado da Bahia não

cumpre o que prevê o artigo 100 da Constituição Federal.

Ao acessarmos o site do Tribunal de Justiça do Estado, na parte concernente a

Precatórios é possível visualizarmos a “Fila” de créditos contra o Estado da Bahia. E o primeiro

credor, é uma empresa que teve o seu crédito formado no ano de 2002 (28/05/2002) e que estava

orçado para 2003. Estamos diante de um atraso no pagamento de mais de 16 (anos).

Notem, que os exequentes em média aguardam 10 (dez) anos, quando não mais, para

a formação do Precatório e ainda assim têm que esperar mais, pelo menos, 15 (quinze) anos

para perceber a quantia correspondente do seu crédito. Estamos nos referindo a espera média

de 25 (vinte e cinco) anos para a efetivação de um direito. Reprise-se este foi um cálculo médio,

podendo tal lapso temporal ser muito maior.

Por conta disso, muitos credores, que chegam a 3ª idade, ou infelizmente, não

sobrevivem para ver os frutos daquilo que o Estado da Bahia lhe devia, optam por fazer Acordo

com o ente da Fazenda Pública.

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O artigo 100, § 20138 da Constituição Federal prevê a possibilidade de realização de

acordos entre credor e Fazenda Pública. Esta transação é possível, desde que o exequente abra

mão de até 40% (quarenta por cento) do valor que tem direito.

No Estado da Bahia, o NACP promove a realização de Acordo entre o credor e o ente

devedor. Entretanto, como previsto pelo artigo 100 da CF o exequente deve abrir mão de 40%

(quarenta por cento do valor) para aderir. Além disso, não se pode esquecer que na quantia

restante deverá incidir Imposto de Renda, Honorários Advocatícios e sendo o crédito de

natureza alimentar o FUNPREV, que é a contribuição previdenciária realizada pelos servidores

do Estado. Logo, diante de tais condições percebe-se que a adesão ao mesmo não é o melhor

dos negócios.

A Fazenda Pública abriu Edital no ano de 2016 e este vem sendo prorrogado para

adesão de novos credores. O primeiro edital, foi o de número 11/2016, que foi reaberto em

dezembro de 2017 e prorrogado mais uma vez em junho de 2018. Para aderir ao mesmo, é

necessário que o crédito não tenha sido objeto de qualquer espécie de impugnação pelo Estado

da Bahia e deve obrigatoriamente estar, pelo menos, orçado para o ano em que o Edital foi

aberto, ou seja, se for disponibilizado para o ano de 2017, o Precatório deve estar orçado para

até o ano de 2017, os créditos previstos para 2018 ou 2019 ainda não podem aderir.

Ressalta-se, a adesão ao acordo não é garantia de pagamento. Após o encerramento do

prazo para adesão, os servidores do NACP organizam uma fila dos créditos que aderiram, a

partir dos critérios impostos pelo edital. Os Precatórios começam a ser pagos, por meio de lotes

de 20 (vinte) credores por vez. Os pagamentos serão realizados enquanto a quantia entregue

pelo Estado da Bahia, para pagamento deste créditos pelo acordo durar. Caso a mesma acabe e

ainda existam créditos a serem pagos, os mesmos continuarão na fila para que na próxima

reabertura de acordo eles possam ser pagos. Por isso, a espera pode durar anos.

Ainda assim, diante de todas essas dificuldades e deméritos, os credores, quando da

análise da demora dos pagamentos pela ordem cronológica (15 anos) optam por aderir a este

acordo. Muitos destes pensam na demora do pagamento, bem como em todo o processo que já

passaram ao aguardar o trânsito em julgado das duas fases processuais.

138Art. 100 (...) § 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada pelo ente federado.

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Por isso, do ano de 2016 para cá, em todos os editais, houve grande adesão de credores

aos Acordos. Ressalta-se, que no ano de 2018, quando da reabertura deste edital já existiam 837

credores habilitados nos editais anteriores e que ainda não tinham percebido a quantia. Quando

da elaboração da nova lista, por conta do edital foram separados mais de 100 (cem) lotes de

Precatório, ou seja, existem mais de 2.000 (dois mil) créditos aguardando pagamento somente

em acordo. Salienta-se, todos com previsão de pagamento para até dezembro de 2019.

No tocante a preferência dos 100 (cem) salários mínimos pagos aos credores que

tenham mais de 60 (sessenta) anos, ou por serem portador de doença grave ou deficiência, o

pagamento é realizado por meio de Alvará e é um benefício personalíssimo. Na prática,

considerando a análise e deferimento realizada pelo juiz, remessa para a Procuradoria Geral do

Estado para impugnar ou não o pagamento e realização de cálculos pelo NACP, vez que,

algumas pessoas são isentas de Imposto de Renda, o pagamento sai entre 08 (oito) e 10 (dez)

para estes credores.

Este lapso temporal, não é de todo ruim, contudo, alguns destes credores, como

mencionamos são acometidos por moléstia grave e por isso, necessitariam desta quantia o mais

urgente possível, não só pela sensibilidade da sua saúde, mas pelo risco, de infelizmente, não

suportarem o proveito de qualquer valor decorrente do seu Precatório.

Após todo o exposto, percebemos que os exequentes/credores esperam, no total, uma

média de 25 (vinte e cinco) anos para perceberem a quantia mediante Precatório. Tal período é

extenso, primeiramente, pelo fato do litígio ser contra a Fazenda Pública, como também pela

falta de estrutura física e funcional dos poderes judiciário e executivo. Além disso, é perceptível

o abuso da utilização das prerrogativas do regime próprio dado a Fazenda Pública, pela própria.

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5.CONCLUSÃO.

Não há efetividade quando das execuções contra a Fazenda Pública. Por consequência,

os Precatórios também não são pagos da maneira que prevê a Lei. A falta de estrutura física e

funcional dos poderes do Estado da Bahia contribui diretamente para a não prestação

jurisdicional adequada aos requerentes. Além disso, as prerrogativas inerentes ao ente da

administração pública colaboram para que o mesmo não cumpra aquilo que deve conforme

previsão legislativa/ordem judicial.

É notório, que quando se tratam de processos contra a Fazenda Pública o demandante,

infelizmente, não tem previsão palpável do quando o seu direito será efetivado, ou se será. Desta

forma expôs de maneira ilustre Gustavo da Rocha Schmidt em seu artigo “O Precatório Judicial

e o artigo 78 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias”: (...) não se mostra minimamente razoável que o particular, ao sair vencedor num conflito judicial, após anos de muita briga e desgaste, ainda tenha que esperar dez anos, ou mesmo morrer esperando, para receber aquilo que lhe é reconhecidamente devido, em virtude de decisão judicial. A pergunta que surge, naturalmente, é: que justiça é essa? Ou melhor: é essa a justiça prometida pela Constituição Federal? Evidentemente que não. Como se costuma dizer, “justiça tardia não é justiça, mas rematada injustiça”. O princípio do acesso à justiça, contido no artigo 5º, XXXV, da Lei Maior, traz nele embutido a ideia de um processo judicial eficaz, oportuno e de qualidade. Vale dizer: que a prestação jurisdicional seja entregue em prazo razoável e de forma efetiva. Nem de longe, no entanto, se pode dizer razoável, efetiva, oportuna ou eficaz a entrega da prestação jurisdicional, parcelada, no período de 10 (dez) anos (...).139

Torna-se paradoxal a relação entre demandado (Fazenda Pública) e a própria

Administração Pública, uma vez que, a última é a detentora da tutela jurisdicional e não entrega

aos seus tutelandos aquilo que lhe cabe, de uma maneira efetiva e célere.

A administração pública tem 03 (três) poderes que a compõe: Executivo, Judiciário e

Legislativo. Para o seu efetivo desempenho, conforme previsão da Lei, é indispensável um

corpo funcional que seja suficiente, bem como estrutura física mínima que permita o

desempenho dos servidores.

Infelizmente, no nosso Estado não há corpo funcional, nem a estrutura física necessária

para o desempenho efetivo da função do respectivo poder. Tal fator influi diretamente na

prestação do serviço à sociedade, seja qual for.

Em decorrência disso, muitas vezes temos servidores ocupando mais de uma função

ou simplesmente não temos servidores que abarquem mais de uma. Tal situação acaba por

influir no psicológico do funcionário, considerando a sobrecarga de trabalho e como

consequência o mesmo diminui o seu desempenho.

139 SCHMIT, Gustavo da Rocha. “O Precatório Judicial e o Art. 78 das Disposições Constitucionais Transitórias”. Revista de Direito Administrativo, São Paulo, v. 244, n. 1, p. 175-176, jan/fev/mar/abrr. 2007.

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Além disso, pela falta ou sobrecarga dos servidores há um atraso na prestação do

serviço. Meras expedições de ofício, realização de carga dos processos físicos, ausência de

procuradores que possam analisar as demandas com a atenção que merecem, falta de servidor

para apenas expedir certidão de publicação, juízes para despachar e prolatar as sentenças,

acarretam na qualidade e efetivação do direito dos requerentes.

Os requerentes não têm a efetivação do seu direito e quando o têm, ou já se passou

muito tempo, ou a sua pretensão perdeu o objeto. Da mesma maneira pensam os mestres Nelson

Nery e Georges Abboud explicitaram: A investigação detalhada dos procedimentos adotados em nosso ordenamento jurídico para a Execução contra a Fazenda Pública não revela qualquer progresso no sentido de se garantir ao jurisdicionado a plena satisfação da entrega do direito que lhe pertence e que foi reconhecido pelo poder Judiciário. (...) Observa-se através dos tempos, no que acaba de ser enunciado uma distância muito intensa entre o direito desenvolvido nas entranhas do processo de execução contra a Fazenda Pública e a realidade. Sente-se a influência do poder do Estado e a colocação do indivíduo em nítida posição de inferioridade. Pratica-se violento atentado à cidadania no instante em que se permite a demora na entrega da prestação jurisdicional, sob a falsa invocação de que se procura defender o interesse público.140

A Administração Pública sabe que toda e qualquer prestação de serviço público, ou

pagamento, depende direta ou indiretamente da mesma e se utiliza deste conhecimento para não

respeitar e não cumprir decisões ou atrasá-las, vez que, para tanto é necessário seu aval. Reprise-

se, com o “aval” ou sob o argumento da proteção da sociedade.

Somada a falta de corpo funcional existe a precariedade da estrutura física. Falta de

gasolina no carro dos oficiais, computadores suficientes para todos os servidores, condições

dignas de limpeza no ambiente de trabalho, locais ventilados para exercício das atividades

funcionais. Tudo isso influencia diretamente na qualidade do serviço que é prestado à

sociedade, muitas vezes existe no servidor a vontade de trabalhar, mas diante do apresentado o

mesmo se desestimula e não labora como seria esperado. No Estado da Bahia ambos os fatores

ocorrem, infelizmente.

Acreditamos que adicionado a todos os fatores anteriormente expostos, há o abuso

pelo Estado da Bahia das prerrogativas que lhe são dadas processualmente. A sensação que é

passada, quando do litígio contra a Fazenda Pública é de que o ente se beneficia do seu

“tamanho” para descumprir as ordens judiciais.

O Estado da Bahia se aproveita da desigualdade da relação entre o ente e a parte e não

cumpre quando determinado as ordens judicias. O ente federativo, além de ser litigante é quem

140 JÚNIOR, Nelson Nery; ABBOUD, Georges. “Direito Processual Civil: Execução”. Vol. 3. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2015, p. 937-938.

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domina o poder de entregar o direito a quem deve. Por isso, quando as ordens são emitidas

pelos juízes, quase que sempre não existem respostas imediatas ao requerido. Há atraso nos

cumprimentos, muitas vezes de anos, ou há interposição contínua de recursos, tudo com a única

intenção de postergar a efetivação do direito.

Infelizmente, nem todos os magistrados conseguem, ou não querem, impor medidas

mais graves ao Estado da Bahia, para que o mesmo cumpra quando deve. E isso, colabora ainda

mais com o descumprimento da decisão e a efetivação do direito. Consequentemente, temos

demandas tramitando por décadas no nosso judiciário, autores que envelhecem junto com ela,

ou acabam por não suportar e passam os frutos dos seus direitos para os seus herdeiros ou

terceiros. Tudo se resume a não concretude do direito, quando e onde lhe deveria ser.

A partir de tudo isso e em contrapartida, o judiciário e as partes tentam driblar, de

maneira legal, toda a dificuldade imposta pelo sistema para verem efetivos os direitos.

O poder judiciário através de suas supremas cortes emite decisões que permitem o

cumprimento das decisões judiciais, pelo menos as de obrigação de pagar quantia certa, por

outros meios, além dos Precatórios, desde que preencham determinados requisitos.

No que pertine aos doutrinadores, aplicadores do direito e legisladores tentam por meio

das suas áreas modificar o atual cenário e fazer de, alguma forma, mais efetivo aos

jurisdicionando que litiga contra a Fazenda Pública. Assim, pensam os ilustres Nelson Nery e

Georges Abboud: As regras fixadas pelo Direito Constitucional e pela legislação ordinária apresentam padrões tradicionais que espelham um injustificado favorecimento à Fazenda Pública e provocam sérios prejuízos de ordem patrimonial aos exequentes. A permanência desse quadro tem gerado uma inquietação doutrinária e jurisprudencial que não pode deixar de ser preocupação do direito processual, tudo provocado pelo inconformismo dos interessados que veem a entrega da prestação jurisdicional que lhes foi outorgada se realizar, quase sempre, tardiamente e incompleta. O agravamento do panorama que acabo de narrar chegou a um patamar tão elevado que que urge uma tomada de posição dos doutrinadores, do legislador, e dos aplicadores do direito que resulte na imposição de uma estrutural modificação na maneira de se realizar a execução contra a Fazenda Pública, a fim de fazer valer a aplicação dos princípios da igualdade, da segurança jurídica e da integralidade da entrega da prestação jurisdicional e da valorização da cidadania.141

Como por exemplo, temos o entendimento recente do Supremo Tribunal Federal, do

Tema 45, julgado em sede de repercussão geral, que impõe a Fazenda Pública, quando do

descumprimento de obrigação de fazer, o não benefício pelo pagamento por meio de Precatório,

mas sim, por implementação em folha, vez que fora o gerador direto do não cumprimento: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO CONSTITUCIONAL FINANCEIRO. SISTEMÁTICA DOS PRECATÓRIOS (ART.

141 JÚNIOR, Nelson Nery; ABBOUD, Georges. “Direito Processual Civil: Execução”. Vol. 3. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2015, p. 935.

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100, CF/88). EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE DÉBITOS DA FAZENDA PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. SENTENÇA COM TRÂNSITO EM JULGADO. EMENDA CONSTITUCIONAL 30/2000. 1. Fixação da seguinte tese ao Tema 45 da sistemática da repercussão geral: “A execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda Pública não atrai o regime constitucional dos precatórios.” 2. A jurisprudência do STF firmou-se no sentido da inaplicabilidade ao Poder Público do regime jurídico da execução provisória de prestação de pagar quantia certa, após o advento da Emenda Constitucional 30/2000. Precedentes. 3. A sistemática constitucional dos precatórios não se aplica às obrigações de fato positivo ou negativo, dado a excepcionalidade do regime de pagamento de débitos pela Fazenda Pública, cuja interpretação deve ser restrita. Por consequência, a situação rege-se pela regra regal de que toda decisão não autossuficiente pode ser cumprida de maneira imediata, na pendência de recursos não recebidos com efeito suspensivo. 4. Não se encontra parâmetro constitucional ou legal que obste a pretensão de execução provisória de sentença condenatória de obrigação de fazer relativa à implantação de pensão de militar, antes do trânsito em julgado dos embargos do devedor opostos pela Fazenda Pública. 5. Há compatibilidade material entre o regime de cumprimento integral de decisão provisória e a sistemática dos precatórios, haja vista que este apenas se refere às obrigações de pagar quantia certa. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.142

Este inclusive, apenas consolidou o entendimento aplicado anteriormente, pelo nosso

Tribunal de Justiça, inclusive, no processo de número 0022271-03.2014.8.05.0000 aqui

explanado.

Além disso, muitos autores, para verem seus direitos serem efetivados mais

rapidamente, optam, por renunciar boa parte do que tem a receber, no caso de obrigação de

pagar quantia certa, para apresentar demandas nos Juizados da Fazenda Pública. Não só os

mesmos, os próprios advogados, quando do percebimento dos seus honorários seja contratual

ou sucumbencial também renunciam o valor excedente para perceber por meio de Requisição

de Pequeno Valor, vez que, as chances de esperarem décadas para a entrega por meio de

Precatório são grandes.

Após todo o exposto, concluímos que não há efetividade nas execuções contra a

Fazenda Pública, nem no percebimento dos Precatórios conforme previsão legislativa. Caso a

sociedade não cobre a abertura de novos concursos, para que tenhamos uma quantidade que

corresponda à demanda e que exista um maior investimento na estrutura dos nossos poderes, a

litigância contra os entes da administração continuará sendo ineficaz e as partes continuaram a

perder o que é de direito.

Não só a população, mas especialmente o próprio funcionalismo estadual baiano

precisa se impor, tendo em vista, serem os mesmos as vítimas do descaso do poder executivo.

Infelizmente, não podemos aguardar que essa iniciativa seja dada espontaneamente pelo Estado

142 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário de número 573872 / RS. Recorrente: UNIÃO. Recorrido: ELI PETRAZINI EBONI. Relator Edson Fachin, Plenário, 24/05/2017.

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da Bahia, vez que, já notamos que o mesmo se utiliza da sua quase “intocabilidade” para

desrespeitar o que o judiciário lhe impõe.

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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial de número 1.330.190. Recorrente: CONSELHO REGIONAL DE CORRETORES DE IMÓVEIS DO ESTADO DE SÃO PAULO - CRECI 2ª REGIÃO. Recorrido: PAULO RIBEIRO DE OLIVEIRA. Relator Ministro Herman Benjamin. Brasília, 11 de dezembro de 2012. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 999.849/RS. Relatora Minsitra Jane Silva, 6ª Câmara, Dje 26/05/2008. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo de Instrumento de número 1.040.411. Agravante: ADRIANE BECK LEITE E OUTROS. Agravado INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. Relator Ministro Herman Benjamin, Brasília, 02 de outubro de 2008. BRASIL. Justiça Federal 1ª Região. Cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública de número 1007678-82.2017.4.01.3300. 11ª Vara Federal, Juiz Rodrigo Britto Pereira Lima, 16 de janeiro de 2018. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial de número 702.264 SP. Recorrente: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Recorrido: WALDOMIRO VERGARA E OUTRO. Relator Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, 06 de dezembro de 2005. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Cumprimento Provisório de Número 0024059-47.2017.8.05.0000. Exequente: IAF- Instituto dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia. Executado: Secretário de Administração do Estado da Bahia, Secretário da Fazenda e Superintendente da SUPREV. Relatora Desembargadora Ilona Márcia Reis, 04 de dezembro de 2017. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Augusto Ricardo Jansen Ferrari e outros. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, 16/11/2017. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Augusto Ricardo Jansen Ferrari e outros. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, 18/12/2019. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Eurivaldo Raimundo Ribeiro dos Santos e outros. Tribunal Pleno, Relatora Desembargadora Gardênia Duarte, Dje 29/09/2017. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargante: Estado da Bahia. Embargado: Eurivaldo Raimundo Ribeiro dos Santos e outros. Tribunal Pleno, Relatora Desembargadora Gardênia Duarte, Dje 10/08/2018. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargo de Declaração no Agravo em Recurso Especial de número 368.378 PR. Embargante: NATANAEL IBIAPINA DA SILVA E OUTROS. Embargado: UNIÃO. Segunda Turma, Ministro Herman Benjamin, 07 de novembro de 2013.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 1.098/SP. Requerente: Governo do Estado de São Paulo. Requerido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, 11/09/1996. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Divergência no Recurso Especial de número 706.331/PR. Embargante: ELEONORA SCHUTTA E OUTROS. Embargado: ESTADO DO PARANÁ. Corte Especial, Ministro Humberto Gomes de barros, 31/03/2008. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial de número 758.736/PR. 1ª Turma, 17/12/2008. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial número 1.143.677/RS. Recorrente: SUELI DORVALINA DA SILVA. Recorrido: INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL IPERGS. Tribunal Pleno, Relator Ministro Luiz Fux, 04/02/2010. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial de número 639.196/RS. Agravante: UNIÃO. Agravado: LÍGIA MARIA BRAESCHER E OUTROS. 6ª Turma, Relator Ministro Paulo Gallotti, 14/02/2006. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial de número 1.068.812/SP. Agravante: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Agravado: AFFONSO AMGARTEN. 1ª Turma, Ministro Herman Benjamin, 19/03/2014. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 4.357. Tribunal Pleno, Ministro Ayres Brito, 14/03/2013. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.425 QO. Tribunal Pleno, Ministro Luiz Fux, 25/03/2015. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário de número 870.947/SE. Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. Recorrido: DERIVALDO SANTOS NASCIMENTO. Tribunal Pleno, Ministro Luiz Fux, 20/09/2017. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Repetitivo de número 1.492.221/PR. Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Recorrido: JOSÉ AZEVEDO. Tribunal Pleno, Ministro Mauro Campbell, 22/02/18. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Embargo á Execução de número: 0022271-03.2014.8.05.0000. Seção Cível de Direito Público, Relatora Desembargadora Márcia Borges Faria, DJe 02/06/2015. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário de número 573872 / RS. Recorrente: UNIÃO. Recorrido: ELI PETRAZINI EBONI. Relator Edson Fachin, Plenário, 24/05/2017. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Apelação número 0005146-59.2011.8.05.0000. Apelante Município de Serrinha, Apelado: Rosaneide Boaventura de Menzes. Relatora Juiza Convocada Marta Moreira Santana. Terceira Câmara Cível, Dje 25/02/2014.

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