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Presidência da República Portuguesa Alto Patrocínio Um evento Patrocínio Agora, o Juiz Venda imparcialidade e objectividade Espada força, prudência, ordem e regra Balança equidade, equilíbrio e ponderação és tu! faça-se justiça “Ser bom é fácil. O difícil é ser justo” Victor Hugo Revista de Educação Cívica para a Justiça e para o Direito · Ano I · Setembro 2010 · Propriedade e Produção de Forum Estudante

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Revista de Educação Cívica para a Justiça e para o Direito

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Presidênciada RepúblicaPortuguesa

Alto PatrocínioUm evento Patrocínio

Agora,o Juiz

Vendaimparcialidadee objectividade

Espadaforça, prudência,ordem e regra

Balançaequidade, equilíbrioe ponderação

és tu!

faça-se justiça“Ser bom é fácil. O difícil é ser justo” Victor Hugo

Revista de Educação Cívica para a Justiça e para o Direito · Ano I · Setembro 2010 · Propriedade e Produção de Forum Estudante

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ADVOGAMOS A SUSTENTABILIDADESomos social, económica e ambientalmente responsáveis e estamos em evolução constante.

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editorial

Ao longo da tua vida muitas vezes te irás cruzar coma Lei e com a Justiça. Mesmo sendo um cidadão

exemplar, sem “problemas” com a Justiça, é inevitávelque como profissional, proprietário, condutor, vizinho,consumidor ou em qualquer outro papel social, tenhas deconhecer e respeitar várias leis, bem como sejas por elasprotegido. Em todas as circunstâncias de uma convivên-cia em sociedade, regulamo-nos por leis – explícitas ouimplícitas - que tornam viável a interacção entre cida-dãos, e entre estes e as instituições, sem abusos e como respeito por todos e cada um. O desafio que te queremos lançar com esta iniciativa“Faça-se Justiça” é que participes numa “viagem” atra-vés das leis e da Justiça, para que as possas compreen-der melhor e, dessa forma, ajudes a melhorá-las econtribuas para uma sociedade mais justa. Assim, ao pre-parar um “caso” para a Semana Faça-se Justiça, a de-correr em Março de 2011, vais ter de perceber a dinâmicados vários interesses em confronto, a diferença de pontosde vista ou a importância da imparcialidade e da objecti-vidade. Saberás quem são e o que fazem os vários pro-tagonistas que intervêm – advogados, juízes,procuradores, polícias. Irás, provavelmente, entender me-lhor que a realidade quase nunca é a “preto e branco”,que a Justiça também está sujeita à dúvida e ao erro eque as ideias feitas e os preconceitos nos influenciam tre-mendamente em qualquer juízo que fazemos. Nesta viagem conjunta queremos proporcionar-te, pri-meiro que tudo, a oportunidade de chegar às perguntascertas, porque muitas vezes o erro da resposta começana pergunta mal feita. O espírito crítico, a argúcia, a ca-pacidade de não te deixares levar por ideias simplistasserão alguns dos teus “músculos” intelectuais a que ire-mos apelar. Queremos que desenvolvas não só a tua ca-pacidade de analisar um problema e argumentar em favorda defesa de um ponto de vista, como também sejasmais capaz de construir consensos, negociando, estabe-lecendo compromissos e resolvendo conflitos. É desafioà tua altura!Quando, no final do programa, tiveres que simular um jul-gamento do “caso” que foi escolhido pela tua Escola, játerás percorrido um longo caminho. Terás chegado a umpatamar onde estarás mais preparado para a grande mis-são que é ser cidadão de pleno direito. Rui Marques, Forum Estudante

“Faça-se Justiça”um desafio para uma sociedade melhor

índice

p.4Alguns casos dos que vão ser apresen-tados em que também tu podes parti-cipar... Aceitas o desafio?

p.12Lista das escolas participantes.

p.13Simbologia da justiça.

p.14Os parceiros deste projecto ‘Faça-seJustiça’ falam sobre ele.

p.16Contraponto. Diogo Costa e ManuelMachado respondem a cinco pergun-tas sobre direito e justiça.

p.1825 perguntas sobre justiça. Respondequem sabe.

p.26Entrevista a António Pedro BarbasHomem, Vice-Reitor da Universidadede Lisboa - Área Estratégica das Ciên-cias Jurídicas e Económicas.

p.31Pontos de vista da nossa actualidadetrazidos por docentes da Faculdade deDireito da Universidade Católica Portu-guesa.

p.34Alguns professores participantes falamsobre o projecto ‘Faça-se Justiça’ e oque os motivou a participarem.

p.36FAQ (Frequently Asked Questions) ouas perguntas mais frequentes acercade direito e do nosso sistema jurídico.

A revista Faça-se Justiça é propriedadee produção da Revista Forum EstudanteTiragem 20 mil exemplares · Impressão Lisgráfica

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António era um rapaz de 14 anos quefrequentava o 9º ano da Escola EB 2+3de Setúbal.António era um dos melhores alunos da-quela Escola, mas também um dos maisintrovertidos. Não era muito participa-tivo dos jogos da turma, nomeadamentedos desportivos.Já Bento, de 15 anos, era conhecido emtoda a Escola, desde alunos a professo-res, passando por funcionários. Bentofrequentava a mesma turma de António- o 9º ano A.Bento era o rapaz por quem as rapari-gas mais se interessavam. Um atleta deeleição, só ligava ao desporto, qualquerque ele fosse, deixando de lado todasas outras matérias que implicassem li-vros, estudo ou pesquisa de documen-tos.O outro “hobby” de Bento era sair ànoite com os amigos. Bento não parava.Não fosse a tradição familiar de Bento,nunca teria escolhido a área de econo-mia e sim a de desporto, mas o pai que-ria que ele seguisse economia etomasse conta da pequena empresa depanificação da família. O 9º ano de António, recém-chegado àEscola, transferido do seu colégio na ci-dade de Beja, onde os pais viviam porali trabalhar, tem sido muito difícil.Os pais de António, João e Maria, eramempregados numa empresa que a crisefez encerrar portas, estando o pai de-sempregado e a mãe a trabalhar numaempresa de telecomunicações.Desde o primeiro dia que Bento o temperturbado. Metia-se com ele e dizia-lheque era um “menino que nem jogarsabia… só ligava aos livros e aos cole-gas, nada”.Tudo isto, a par da situação difícil emcasa, começou a incomodar António.Depois foi o dinheiro. Em dia que nãosabe ao certo precisar, mas certamenteno mês de Novembro, começaram asameaças: “se não tiveres a massa ama-nhã tás feito… és mesmo um cromo”.Estes factos foram presenciados peloscolegas Bernardo e Daniela.

As ameaças foram subindo de tom. Nodia 10 de Fevereiro, não gostando deum comentário depreciativo de Antóniosobre o seu clube, Bernardo diz-lhe: “seionde moras, tens a mania que és omaior mas não és. Gostas de gozar comos outros mas a mim não gozas… vê láse tens cuidadinho e não arranjas maisconfusão…”.António optou sempre por não fazerparticipação de Bento na escola comreceio de piores represálias. Também em casa António nada diziasobre o que se ia passando na escola.A situação dos pais não era agradável emais um problema era tudo o que nãoprecisavam. Mas tudo ia mudando: as dores de ca-beça e estômago constates, a falta àsaulas, o maior isolamento quer em casaquer na escola, os conflitos com a irmã. Corolário deste crescente desinteresseprovocado pela vivência na escola: orendimento escolar baixou no 2º pe-ríodo. António começou a ter negativas,notas essas que nunca havia tido.Mas o pior estava para acontecer, paramal de António, no dia 5 de Março.Bento, ao pé do bar da escola, maisuma vez pediu dinheiro a António que,dessa vez e farto daquela permanentecoacção, lhe disse: “não te dou mais di-nheiro ó burro, vai chatear outro, deixa-me em paz!”.Bento reagiu, abeirando-se de Antónioe com dois murros, no estômago e nacara, arrumou a questão. Os colegasnada fizeram.No mesmo dia, António chegou a casacom o olho negro e com fortes dores deestômago. Aproveitou e contou tudo aopai e, por telefone, à mãe. O pai acom-panhou-o nesse mesmo dia ao Hospitalde Santa Maria.Os pais de António, indignados comtoda esta situação, nomeadamente afalta de segurança e de acompanha-mento que o seu filho sentiu, escreve-ram à Direcção da Escola.António e Bento, desde essa altura, têmacompanhamento psicológico.

1. O que deve e pode António fazer?2. Poderá Bento ter alguma atenuante?3. Será que a Escola podia fazer alguma coisa?4. E os colegas tiveram a melhor atitude?5. Os pais de António podiam ter agido de outra forma?

n CASO DE BULLYING

Pergunta-se

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António, de 13 anos, é filho de paiscabo-verdianos. Os seus pais vie-ram de Cabo Verde para Portugal há15 anos atrás, pelo que António jánasceu em Portugal. António e osseus pais sempre viveram em Lis-boa, na casa da avó materna. Esteano, devido ao novo emprego dopai, foram viver para Sintra. A mu-dança de casa implicava ainda paraAntónio uma mudança de escola.Os pais informaram-se das escolasexistentes na nova área de residên-cia. Reunidos os documentos ne-cessários para fazer a matrícula,António dirigiu-se à escola. Che-gado à secretaria, António entregoutodos os documentos – passaporte,boletim de matrícula preenchido,boletim de vacinas e cartão do cen-tro de saúde. Apesar de ter ido so-zinho fazer a matrícula (os paisestavam a trabalhar), António estavadescansado pois tinha preparadotodos os documentos com os pais. Mas as coisas não correram comoAntónio tinha previsto. A funcionáriacomeçou por lhe pedir o bilhete deidentidade. António respondeu quenão tinha bilhete de identidade eque só tinha passaporte. A funcio-nária pediu-lhe então o bilhete deidentidade dos pais. António expli-cou que os pais também não tinhambilhete de identidade mas apenaspassaporte, pois não eram portu-gueses mas sim cabo-verdianos.Perante esta informação, a funcio-nária pede-lhe o documento com-provativo de residência dos pais(autorização de residência). E foiaqui que António ficou aflito: os paisnão tinham tal documento de resi-dência, estavam em situação irregu-lar em Portugal. Não querendoexplicar isto à funcionária (commedo do que podia acontecer), An-

tónio decidiu sair da escola e ir paracasa esperar pelos pais. Incomodado com o que se tinhapassado e já cansado de tantoandar a pé, António decide apanharo autocarro. Estava ansioso porchegar a casa e contar à mãe o queacontecera. Mal sabia António queo pior ainda estava para vir. Na pa-ragem de autocarro estavam, paraalém de António, um casal de ido-sos, Beatriz e Carlos, e um grupo derapazes. Pensou em meter con-versa, talvez fossem da escola. Re-solveu perguntar a um dos rapazes:“Andas nesta escola?”. Daniel, orapaz ao seu lado, de 16 anos, nãorespondeu, virou-lhe as costas echamou os restantes rapazes, Edgare Francisco. António não percebeuo que se estava a passar… o seupensamento foi interrompido pelachegada do autocarro. António dei-xou passar o casal de idosos que jáestava na paragem. Quando chegoua sua vez, António foi impedido deentrar pelo grupo de rapazes. Danielvirou-se para ele e disse: “Ainda nãopercebeste que os autocarros nãosão para pessoas como tu?”. Antó-nio tentou entrar no autocarro aomesmo tempo que respondia a Da-niel: “Qual é a diferença entre mim eti?”. Daniel e os amigos começarama rir. Daniel acrescentou: “As pes-soas como tu andam a pé e é sequerem… vê lá se encontras deuma vez o caminho para a tuaterra”.António ficou perplexo e sem sabero que fazer. Até àquele dia nunca lhetinha acontecido uma coisa assim.Olhou para Gustavo, o motorista doautocarro, à procura de ajuda. Estenada fez, limitando-se a desviar oolhar, fechando as portas, pondo deseguida o autocarro em andamento.

1. Teria toda esta situação acontecido se António fosse filho de portugueses?2. O comportamento de Daniel foi correcto? Em caso negativo, o que pode António fazer?3. Poderia a escola ter recusado a matrícula de António com fundamento na situação de

irregularidade dos pais em Portugal?4. Tendo nascido em Portugal, António não é português?5. Pode António adquirir a nacionalidade portuguesa?

Pergunta-se

n CASO NACIONALIDADE

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João, 17 anos de idade, da turma A do 11º ano.Maria, 17 anos de idade, turma C do 11ºano.João e Maria conhecem-se desde o 7ºano, alturaem que entraram para esta Escola.João tem dois irmãos, ambos mais velhos: Alexan-dre, de 19 anos, já na Universidade, e Bárbara, de23, a fazer uma viagem pela Europa após ter aca-bado o curso de Arquitectura.Os pais de João vivem em Lisboa e têm um em-prego que os faz estar constantemente em via-gem pela Europa.Maria tem uma irmã mais nova, Isabel, de 11anos, no 6º ano da Escola. Os seus pais sãoambos funcionários públicos, o pai na área do Di-reito e a mãe enfermeira.João e Maria namoram há cerca de 1 ano. Tudo começou no final do 7º ano quando, embrincadeira de turma, todos diziam que João gos-tava de Maria. A partir daí, começou uma boa amizade. Come-çaram a partilhar os seus problemas, os seusgostos e mesmo a contar de quem iam gostandonas turmas por onde passavam.João teve uma namorada, Joana, aos 15 anos,com quem namorou 4 meses. Joana era de outraescola em Lisboa e conheceram-se através deamigos comuns.Maria teve uns pequenos amores, mas nada demuito substancial. João era o seu namorado maisa sério. Além disso, em casa de Maria, João já era conhe-cido, pois desde o 7º ano que ouviam o seu nomee, mais tarde, o ficaram a conhecer fruto de al-guns trabalhos de grupo.Já Maria era mais um nome a somar a tantos ou-tros que se ouviam na casa de João, numa mis-tura sempre contínua de primos, amigos,namorado/as dos seus irmãos e ainda os jantaresdos pais, o seu círculo de amizades pessoais eprofissionais.O começo do namoro para ambos foi como sem-pre o é para todos: um idílio maravilhoso. João eMaria passaram a ser conhecidos na escola pelos“colas” tal era a junção que um e outro tinhamfeito: chegavam, estavam e saíam sempre juntos.Apesar de terem amigos comuns, João afastou-se um pouco, pois estava sempre ao lado deMaria.João e Maria tinham alguns ciúmes um do outro.Maria não gostava que o seu namorado falassemuito com Ana, antiga amiga de Joana e quetodos diziam ter sido a causa do fim daquele na-moro.Já João não se sentia muito bem quando ouviaos comentários dos seus amigos e restantes co-legas de escola, a dizer que Maria era isto, Mariaera aquilo, dando a entender que a namorada já

tinha curtido, de vez em quando, com alguns ra-pazes.De quando em vez, João levantava a voz paraMaria fazendo-a saber que não achava muitapiada a essas insinuações.Maria sempre acatava tais palavras, com algumatristeza, é certo, mas compreendia João e achavaaté que era bom que ele tivesse alguns ciúmes.Contudo, João começou a proibir Maria de aten-der certos telefonemas, controlando-lhe o tele-móvel, e a proibi-la de sair à noite com as amigas.Maria, nunca deu muita importância ao facto deAna, um dia, a ter avisado que João não eraaquilo que parecia e que a Joana sabia muito bemdo que estava a falar. Dizia-se às vezes que João tinha batido na Joanae que tinha sido por isso que ela tinha acabado onamoro.O que se sabe é que, na 6ªfeira, dia 23 de Abrilde 2010, João não ficou nada contente que Mariativesse ido jantar ao Bairro Alto para comemoraros anos da sua melhor amiga Patrícia. João não foi ao jantar porque o pai fazia 50 anose tinha resolvido dar um grande jantar lá em casa.E como eram poucas as vezes que a família es-tava junta, João ficou em casa.Ainda por cima, Maria não atendeu o telemóvel,porque não o ouviu, durante o jantar.Só por volta da 23h30 Maria ligou a João parasaber se estava tudo bem. João furioso, chamou-a de todos os nomes, dizendo-lhe que ia ter comela à 1h30 à porta do bar no bairro alto.Maria entretanto telefonou aos pais dizendo queo João ia ter com ela e que a levava a casa, queeles estivessem descansados. João chegou à hora combinada àquele bar, es-tando Maria muito animada a conversar com oirmão de Patrícia, Bernardo, de 20 anos. Estavamambos muito bem-dispostos.João chamou-a e disse que se sentia mal dis-posto e tinha de ir para casa. Maria saiu com ele.Andaram um pouco a pé. Numa rua lateral poronde tinham ido, depois de uma ligeira altercaçãoentre ambos, Maria disse a João que ele era umestúpido e um anormal e que Ana é que tinharazão.João partiu o telemóvel de Maria e desferiu-lhedois murros que a fizeram cair ao chão.A seguir, João levou-a casa, na sua mota, tendoMaria dito aos pais no dia seguinte que tinhamcaído da mota, por terem entrado uma linha deeléctrico e que, por estupidez, ela não levava ca-pacete. Mesmo assim, os pais acharam por bem levarMaria às urgências do Hospital de São José.Durante um mês, Maria ficou em casa, medicadae não mais quis falar com João.

1. O que deve e pode Maria fazer?2. As histórias que se ouviam justificam o comportamento de João?3. Pode João fazer alguma coisa?4. Como resolver esta questão entre namorados?

Pergunta-se

n CASO VIOLÊNCIA NO NAMORO

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1. Ana e João criaram alguma sociedade? 2. Se sim, qual a sua sede?3. E terão contratado Bernardo?4. O que pode Bernardo fazer?5.Podem Ana e João dizer alguma coisa em sua defesa?6.Devem Ana e João ser responsabilizados?7.Vender produtos ou serviços sem factura viola a lei?

Pergunta-se

Ana e João, de 17 anos, estudantes do 11ºano, decidiram que iriam fazer uma viagempela Europa, no final do ano lectivo, utili-zando o famoso cartão “InterRail”.Para angariar fundos para tamanha emprei-tada, puseram em prática a seguinte ideia:aproveitando os inúmeros festivais de mú-sica de Verão decidiram criar um site na in-ternet para venda de produtos alusivos aoseventos, desde t-shirts, cachecóis, lenços,pins, entre outros, segundo propostas dosclientes. Ana e João geriam toda a parte comercial:eram eles quem asseguravam a manuten-ção do site e iam aos locais combinadosfazer a entrega do material. Para a partecriativa falaram com Bernardo, de 16 anos,que, dado o seu jeito para as artes, dese-nhava o que os clientes iam pedindo.O esquema de compra e venda era simples- para adquirir um desses produtos, o com-prador devia:1 - Fazer o seu registo no site (nome, ende-reço de email e contacto telefónico) e inserira morada onde o produto devia ser entre-gue2 - Escolher o produto e indicar a frase/de-senho pretendido 3 - Receber a compra na morada indicada,a qualquer hora, contra pagamento presen-cial, sem facturas.Este esquema revelou-se um verdadeirosucesso: em pouco tempo, Ana e João játinham metade da viagem paga.O que combinaram com Bernardo, oral-mente, foi que do produto final das vendas,ele teria direito a 10%.Acontece que esse dinheiro nunca chegoua Bernardo.Bernardo quis interpelar os seus amigospara pagar o que lhe deviam. O pior é quenão sabia para onde enviar a carta, poisnão havia uma sede daquela “empresa”,nem sabia o montante a que tinha direito.

n CASO CONTRATO

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casos

n CASO RUÍDOAntónio, de 16 anos, estava feliz masnervoso. No dia seguinte seria a pri-meira apresentação pública da suabanda de música, na qual António to-cava bateria. Na escola decorria a se-mana cultural e a associação deestudantes tinha convidado a bandapara fazer um concerto. Nessa noite já era tarde mas Antónionão conseguia dormir. Não parava depensar no concerto. Os nervos eramtantos que precisava de fazer algumacoisa que o acalmasse e distraísse. De-pois de muito pensar, decidiu-se: nadamelhor do que tocar um pouco de ba-teria! Assim conseguiria distrair-se e en-saiar uma última vez. E podia aproveitaro facto de os pais, que nunca o deixa-vam tocar à noite, terem saído para jan-tar fora. Cenário perfeito! Levantou-se da cama num ápice, di-recto à sua bateria. Ensaiou as primei-ras duas músicas que apresentariam noconcerto. Quando iniciou a terceira mú-sica tocaram à porta. António pensouque os pais se tivessem esquecido dachave. Qual não é o seu espantoquando, ao perguntar quem era, obtémcomo resposta: “é a Beatriz, sua vizinhade cima”.Mas a surpresa não terminava por aqui.Ao abrir a porta, António encontra a suavizinha Beatriz, acompanhada por umpolícia, Carlos.Beatriz estava furiosa. Explicou a Antó-nio que tentava desesperadamente rea-dormecer Daniela, sua filha de doisanos, que tinha acordado na sequênciado barulho. António ainda tentou argu-mentar que aquilo não era barulho massim música, mas foi interrompido porBeatriz que, furiosa, lhe disse: “sincera-mente António, já passa da meia-noite,o que te passou pela cabeça? Que faltade respeito, chega uma pessoa a casacansada do trabalho, faz o jantar, deitaos miúdos e quando finalmente pensaque vai poder descansar, começas afazer barulho e pronto, volta tudo aomesmo… acordam os miúdos… chamaa tua mãe que quero falar com ela”.

Nesse momento, Carlos reforça a ideia:“sim, por favor chama a tua mãe parafalarmos com ela”.António retorquiu que os pais não esta-vam em casa. E achou melhor não dizermais nada, pois percebeu que só piora-ria a situação. Pensava: “ando eu quasea dar em doido com a miúda que nãopára de chorar noite e dia e esta resolvequeixar-se que faço barulho no primeirodia em que decido ensaiar um pouco ànoite… é preciso ter lata… devia dizer-lhe das noites em que nem sequer con-segui estudar para os testes tal era aberraria…e amanhã é o grande dia! Omeu concerto!”.Os seus pensamentos foram interrom-pidos por Carlos, que lhe disse: “se osteus pais não estão em casa, falo con-tigo. Mas por favor presta atenção. Nãosabes que à meia-noite não podes ouvirmúsica, fazer barulho? É uma hora emque as pessoas já estão a descansar.Temos de nos respeitar uns aos outros”.António anuiu acenando a cabeça. De-pois da explicação, Beatriz e Carlosdespediram-se e foram-se embora.Furioso e sentindo-se injustiçado, Antó-nio pensou: “tu já vais ver”. E começoua ensaiar a terceira música, a sua prefe-rida, e que tinha sido interrompida.Quase de seguida, a campainha daporta volta a tocar. E lá estavam nova-mente Beatriz e Carlos. Só que destavez a conversa foi outra. Assim que An-tónio abriu a porta Carlos disse-lhe:“não podes dizer que não te avisei.Desta vez não tens desculpa. Vou le-vantar-te um auto por violação do regu-lamento geral do ruído. E vais ter depagar uma multa”.António ficou sem palavras. A situaçãotinha-se complicado… não fazia ideiado que seria o regulamento do ruídonem de quanto seria a multa. Já via amesada a desaparecer… tinha de arran-jar maneira de se safar… e nem pensarem contar aos pais quando estes che-gassem a casa… seria meio caminhoandado para não ir ao concerto do diaseguinte…

1. Pode António tocar bateria àquela hora?2. As razões por que o fez justificam o comportamento?3. Quais as consequências desse acto?4. Beatriz procedeu da forma mais correcta? 5. Tem António razões para se sentir injustiçado?6. Como resolver esta questão entre vizinhos?

Pergunta-se

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n CASO ACIDENTE DE VIAÇÃOLuísa, com 22 anos de idade, tinha acabado a sua li-cenciatura em Desporto.Tinha combinado, nessa noite, ir jantar fora com ospais, irmãos e tios para comemorar esse dia tão espe-cial.Por ainda serem 6 da tarde, decidiu pegar no carro e irmais cedo a casa da irmã buscar a sobrinha, Andreia,de 2 anos. Era um típico dia de Inverno, chovia muito e as ruasestavam em péssimo estado.A irmã vivia perto da Escola.As aulas tinham acabado e os alunos do secundárioestavam todos a sair. Aquele temporal deixava cada vez menos à vista apassadeira em frente ao portão que, por brincadeirasde mau gosto, alguém tinha tentado ocultar numa noiteda semana passada, pintando metade da passadeirade preto. As zebras quase não se viam.Na escola, alguns alunos diziam que aquelas pinturaseram uma forma de protesto estudantil contra o estadodegradado da Escola.Pedro e Carla, da associação de estudantes, eram osmais firmes adeptos da contestação. O seu slogan mais conhecido era que a educaçãodevia estar de luto e apoiavam tudo o que fosse feitopara demonstrar esse estado.A direcção da Escola já por diversas vezes tinha aler-tado as autoridades municipais, centrais e a políciapara repintar as passadeiras.A única resposta que tinha obtido até ali foi da juntade freguesia a informar que, por falta de verba e pornão ser sua competência, não podia proceder àquelestrabalhos.Às 6 da tarde desse dia chuvoso, naquele local, An-dreia, a bebé de 2 anos, cuspiu a chucha para o ladoe começou a chorar.Luísa voltou-se inadvertidamente para trás para alcan-çar aquele objecto e dar de novo a chucha ao bebé.Nessa altura, Daniel, melhor aluno do 12º ano daquelaescola, atravessava a semi-passadeira. O choque foiinevitável, tendo Daniel partido as duas pernas.

1. O que deve e pode Daniel fazer?2. Pode Luísa dizer alguma coisa em sua defesa?3. Devem Pedro e Carla ser responsabilizados?4. Poderia e deveria a escola ter feito mais alguma coisa?5. Poderia e deveria a autarquia ter feito alguma coisa?

Pergunta-se

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1. Poderá Inês fazer queixa de David?2. Terá David agido correctamente ao iniciar os contactos com Inês?3. Deveria Inês ter tido alguns cuidados especiais?4. O que podem fazer os pais de Inês?5. Podem as empresas solicitar dados pessoais? Em que termos e para que efeitos?6. Precisava Inês de consentir na utilização da sua fotografia na página do facebook dos

Greenshoes?7. Quais as consequências da manipulação de imagens feita por David?

Pergunta-se

A empresa “Soundbyte, Lda.” é umamultinacional do mundo da música,jogos de computador e conteúdos detelemóvel.Recentemente, num inquérito feitojunto da população jovem, distribuiuentradas grátis para o concerto dos“Greenshoes”, a realizar no Clube dePraia da Zambujeira do Mar.Para isso, os jovens entre os 14 e os 16anos só tinham de registar-se online nosite www.musicheroes.com, dar osseus dados pessoais – nome, idade, fi-liação, morada, endereço de e-mail, bi-lhete de identidade, nº de contribuinte,telefone de casa e telemóvel – juntaruma foto de corpo inteiro, na praia, emfato-de-banho com uns sapatos ver-des e aguardar o contacto da empresa.As 10 melhores fotografias dariam en-trada grátis no concerto.Em letras pequenas, um texto faziamenção a que os jovens autorizavam arecolha, tratamento e difusão dos seusdados, a não ser que expressamente oproibissem.Inês, 16 anos, foi uma das selecciona-das. Três dias depois, os pais de Inês virama foto da sua filha, de biquíni, na pá-gina do Facebook dos Greenshoes,com comentários dos utilizadores, queiam do mais simpático ao mais ofen-sivo.Mal sabiam eles que Inês já tinha rece-bido 50 convites para adicionar à sua

página no Facebook, tendo já aceite25. Inês começou a trocar mensagenscom David, primeiro sobre o concerto,depois sobre outros grupos de músicade que gostavam, acabando por com-binar um encontro num café para seconhecerem e falar pessoalmente.Inês ficou surpreendida quando che-gou ao café. David parecia bem maisvelho. Ficou indecisa mas a conversacom David foi tão divertida que aceitouo convite para uma ida ao cinema nodia seguinte. Antes de se despedirem ainda troca-ram os nºs de telemóvel para combinara hora e o local.Nessa noite, já em casa, Inês recebeuma mensagem de David propondodar-lhe boleia de carro para o cinema.Achando graça por ter um amigo jácom carro, Inês aceitou a boleia, tendoenviado uma mensagem com as indi-cações para sua casa.A meio do filme, David começa a insi-nuar-se junto de Inês, chegandomesmo a beijá-la, sem que ela esti-vesse à espera.Inês, muito assustada, decide fugir da-quela situação, saindo à pressa do ci-nema.Sem dinheiro e sem boleia telefona àmãe que, surpreendida por julgá-la emcasa de uma amiga, a vai buscar.David, irritado com a situação, mani-pula as imagens e coloca uma fotogra-fia de Inês, nua, na internet.

n CASO REDES SOCIAIS E DADOS PESSOAIS

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casos

André, de 17 anos, estava entusiasmadomas nervoso. No dia seguinte ia participarno concurso de “Lisboa Arte Urbana” pro-movido pela Câmara Municipal. A autarquiaia requalificar um prédio em Alfama e tinhalançado um concurso de graffiti para a fa-chada do edifício. André estava confiante, sentia que ia ganharo concurso. Considerado um dos melhoresda sua idade, tinha agora uma oportunidadeúnica de mostrar o seu valor. Nessa manhã, André estava com dificulda-des em concentrar-se nas aulas. À medidaque as horas iam passando, a sua ansie-dade aumentava. Só conseguia pensar naexecução do seu projecto. Deu consigo nasaulas sempre a desenhar, treinando todosos pormenores. Depois da aula de português, resolveu nãoperder tempo com a hora de almoço e en-caminhou-se para o pátio da Escola. As pa-redes iriam inspirá-lo. Precisava de pensarem larga escala, e não a olhar para umafolha de papel A4. Minutos depois, Beatriz, Carlos e Daniel jun-taram-se a André. Nos últimos dias a con-versa girava sempre à volta do mesmo: oconcurso. Os amigos de André não aguen-tavam de curiosidade. Afinal, André tinhamantido em segredo o projecto de graffitique ia apresentar. Mas os amigos não de-sistiam: queriam ser os primeiros a ver aobra. E começaram a insistir com André: “Ese fizesses uma demonstração aqui na pa-rede?” dizia Carlos. “Grande ideia e não

está aqui ninguém” acrescentou Daniel. “Eajudas a escola, as paredes já precisam deuma boa pintura” rematou, sorrindo, Beatriz.E o nervosismo de André ia aumentando. Asua vontade de ganhar o concurso era tantaque pensou: “Sempre é mais uma e mesmoa última oportunidade de me preparar… ese calhar a escola até achava graça… afinal,isto é arte! E muito boa!”. Convicto da sua arte e apoiado pelos ami-gos, André fez o graffiti na parede do pátioda escola. A reacção dos amigos não podiater sido melhor. “Está brutal, brutal” diziaCarlos. “Espectacular” gritava Daniel. “Jáganhaste”, exclamou Beatriz, acompanhadapelos restantes que começaram a cantar “jáganhou, já ganhou!”.Quem não se mostrou nada animado foi oDirector da escola, que se aproximou, re-gressado do almoço. Estupefacto, pergun-tou: “Qual de vocês é o responsável porestes rabiscos gigantescos nesta parede?”.Perante o silêncio dos estudantes o Directoracrescentou: “Pois se nenhum de vocês sedá como responsável por este acto de van-dalismo da escola, considerarei que todosparticiparam e que, portanto, todos são res-ponsáveis!”. André ainda tentou argumentar: “Oh Profes-sor, isto não são rabiscos nem vanda-lismo… isto é arte! Aliás, fique o Professorsabendo que fui convidado para…”. O di-rector, furioso, interrompeu André, não odeixando acabar a frase: “Todos para o meugabinete, já!”

n CASO GRAFFITI

1. André agiu bem?2. As razões por que o fez justificam o comportamento?3. E os amigos procederam da forma mais correcta? 4. Pode e deve a escola fazer alguma coisa?5. Quais as consequências do acto de André?

Pergunta-se

04a11 CASOS_Layout 1 8/26/10 6:00 PM Page 11

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faça-se justiça

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escolas

n Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro(Oeiras), Professora: Teresa Rodrigues

n Agrupamento de Escolas de Tábua (Tábua),Professora: Maria Alice Alves

n Agrupamento de Escolas Mães d'Água(Amadora), Professora: Ana Santos

n Agrupamento Vertical de Escolas de Fiães(Fiães), Professores: António Pedro,Fernandes Lima

n Centro de Formação Profissional KolpingPortugal (Lamego), Professores: Maria JoséViseu, Maurício André

n Colégio Bartolomeu Dias (Santa Iria deAzóia), Professor: José Manuel Serradas

n Colégio D.Dinis (Porto), Professora: DanielaCunha

n Colégio da Imaculada Conceição(Cernache), Professora: Maria João Soares

n Colégio de Nossa Senhora da Graça (VilaNova de Milfontes), Professora: RosáliaFátima Sabina Valente

n Colégio de Nossa Senhora do Rosário(Porto), Professor: Pedro Martins

n Colégio de Santa Doroteia (Lisboa),Professora: Maria do Carmo Gonzalez

n Colégio de São João de Brito (Portugal),Professora: Maria da Câmara Pestana

n Colégio de São Teotónio (Coimbra),Professora: Maria da Luz Campos

n Colégio Guadalupe (Corroios), Professor:Ricardo Presumido

n Colégio Internato dos Carvalhos (Pedroso),Professora: Maria José Queirós

n Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas(Santa Maria de Lamas), Professor: ManuelRubens

n Colégio Sagrado Coração de Maria (Lisboa),Professor: Paulo Campino

n Colégio São Martinho (São Martinho doBispo), Professor: Filipe Menezes

n Escola Básica do 2º e 3º ciclos e Secundáriade Baião (Baião), Professora: Madalena Neto

n Escola Básica e Secundária da Sé (Lamego),Professora: Esmeralda de Almeida Costa

n Escola Básica e Secundária de Alfândega daFé (Alfândega da Sé), Professor: FranciscoJosé Lopes

n Escola Básica e Secundária de Alvide(Alcabideche), Professora: Ana Maria VilasBoas

n Escola Básica e Secundária de Barroselas(Barroselas), Professora: Rosa Maria RibeiroCruz

n Escola Básica e Secundária Ferreira deCastro (Oliveira de Azeméis), Professor:Augusto Cunha Costa

n Escola Cooperativa de Vale S. Cosme (VilaNova de Famalicão), Professora: Ana PatríciaFernandes

n Escola de Dança do Conservatório Nacional(Lisboa), Professor: Pedro Carneiro, PauloFerreira

n Escola Dona Luísa de Gusmão (Lisboa),Professora: Isabel Morgado

n Escola Profissional de Aveiro (Aveiro),Professores: Paulo Manuel Alexandre daSilva Andrade, Andrea Cordeiro

n Escola Secundária António Sérgio (Vila Novade Gaia), Professora: Maria do RosárioMacedo Costa Alves

n Escola Secundária c/ 3º ciclo AugustoCabrita (Barreiro), Professora: MariaElisabete Cavaco Cameirão Pama

n Escola Secundária c/ 3º ciclo de Montejunto(Cadaval), Professor: Sergio Ricardo SilvaRodrigues

n Escola Secundária c/ 3º ciclo José MacedoFragateiro (Ovar), Professor: Helder Joaquimde Pinho Almeida

n Escola Secundária c/ 3º ciclo Padre AntónioVieira (Lisboa), Professora: Eduarda Carnot

n Escola Secundária D. Afonso Sanches (Vilado Conde), Professora: Nelly Silva

n Escola Secundária D. Dinis (Lisboa),Professora: Ana Moura Trigo

n Escola Secundária D. João V (Amadora),Professora: Albertina Trabulo

n Escola Secundária D. Pedro V (Lisboa),Professor: Joaquim M. Almeida SantosDiogo

n Escola Secundária da Cidadela (Cascais),Professor: José Manuel Machado

n Escola Secundária da Lourinhã (Lourinhã),Professor: Delfim António Ferreira Campos

n Escola Secundária da Sé (Guarda),Professora: Cristina Maria Vicente

n Escola Secundária de Albufeira (Albufeira),Professora: Emília Oliveira

n Escola Secundária de Almeida Garrett (VilaNova de Gaia), Professora: Maria da GraçaBarros Moreira

n Escola Secundária de Alves Redol (VilaFranca de Xira), Professora: Maria MadalenaRodrigues da Silva Ferreira

n Escola Secundária de Arganil (Arganil),Professor: João Mendonça

n Escola Secundária de Bocage (Setúbal),Professora: Josete Perdigão

n Escola Secundária de Caldas das Taipas(Caldas das Taipas), Professor: Carlos JustoMachado

n Escola Secundária de Camões (Lisboa),Professor: Pedro António Lemos Pinto, MariaAntónia Barbosa Araújo, Maria GabrielaFragoso Almeida

n Escola Secundária de Cascais (Cascais),Professora: Teresa Cristovão e Lúcia Pereira

n Escola Secundária de Eça de Queirós(Lisboa), Professor: Acúrcio Domingos

n Escola Secundária de Fafe (Fafe),Professora: Ana Margarida GuimarãesBastos de Carvalho

n Escola Secundária de Gago Coutinho(Alverca do Ribatejo), Professora: MariaLaura Cavaleiro

n Escola Secundária de Latino Coelho(Lamego), Professor: António Luís CarrapaSarmento

n Escola Secundária de Miraflores (Algés),Professora: Ana Sales

n Escola Secundária de Moura (Moura),Professora: Maria Raquel Salvadinho CaeiroBastos

n Escola Secundária de Ponte de Lima (Pontede Lima), Professora: Paula Maria MatosGomes Leite Marinho Gomes

n Escola Secundária de Santa Maria (Sintra),Professora: Manuela Queiroz

n Escola Secundária de São Lourenço(Portalegre), Professora: Maria Luísa GalianoTavares Moreira

n Escola Secundária do Cartaxo (Cartaxo),Professor: Vitor Oliveira

n Escola Secundária do Castêlo da Maia(Castêlo da Maia), Professor: Ilídio Machado

n Escola Secundária do Padrão da Légua(Senhora da Hora), Professora: Ana CristinaCordeiro dos Santos

n Escola Secundária Dr. João Carlos CelestinoGomes (Ílhavo), Professor: Manuel Oliveirade Sousa

n Escola Secundária Dr. Joaquim GomesFerreira Alves (Valadares), Professora: MariaFernanda Coelho

n Escola Secundária Dr. Mário Sacramento deAveiro (Aveiro), Professor: Armandino Bonitoda Conceição Galacho

n Escola Secundária Eng.º Acácio CalazansDuarte (Marinha Grande), Professora: IsabelMaria Seabra Galamba de Castro

n Escola Secundária Felismina Alcântara(Mangualde), Professora: Sara Isabel FerreiraCoelho de Sousa Vermelho

n Escola Secundaria Fernando Namora(Amadora), Professora: Ana Cristina Aguiar

n Escola Secundária Francisco RodriguesLobo (Leiria), Professora: Maria de FátimaGonçalves da Silva

n Escola Secundária Francisco Simões(Laranjeiro), Professora: Maria de LurdesPalma

n Escola Secundária Frei Rosa Viterbo (Sátão),Professora: Rosa Costa

n Escola Secundária José Belchior Viegas(São Brás de Alportel), Professora: SusanaPott

n Escola Secundária José Falcão (Coimbra),Professora: Ana Pato Catroga

n Escola Secundária José Gomes Ferreira(Lisboa), Professora: Clara Andrade

n Escola Secundária Manuel da Fonseca(Santiago do Cacém), Professor: ManuelEstrela Raposo

n Escola Secundária Martins Sarmento(Guimarães), Professor: António Moura

n Escola Secundária Santa Maria Maior (Vianado Castelo), Professor: Benjamim Moreira

n Escola Secundária/3 de Amarante(Amarante), Professora: Fátima Isabel Araújo,Marco Matos

n Escola Secundária/3 de Caneças (Caneças),Professora: Lívia Araújo, António Macário

n Escola Secundária/3 de Tondela (Tondela),Professora: Cidália Maria Chaves Botelho

n Escola Secundária/3 Santa Maria do Olival(Tomar), Professora: Isabel Conceição

n Escola Técnica e Liceal Salesiana Sto.António (Estoril), Professora: Paula CristinaBatista

n Escola Tecnológica Artística e Profissionaldo Pombal (Pombal), Professora: FátimaCosta

n Externato Paulo VI (Gondomar), Professora:Vera Pimenta

n Instituto D. João V (Louriçal), Professora:Maria Antónia Marques

n Oficinas de S. José - Associação Educativa(Lisboa), Professora: Celeste Vinhas

Escolas participantes e respectivos professores responsáveis

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símbolos

Os símbolos da Justiça

A representação da JustiçaSegundo a mitologia grega, a figura demulher que representa a Justiça é adeusa Thémis, filha de Urano (Céu) ede Gaia (Terra), ela própria a deusa daJustiça. Dotada de grande sapiência,além de esposa de Zeus, o deussupremo, era sua conselheira. Cri-adora das leis, dos ritos e dos orácu-los, era a guardiã dos juramentos doshomens. As leis e os oráculos proferi-dos por Thémis seriam obrigatoria-mente acatados tanto por homenscomo por deuses.Na Grécia, a Justiça teria sido repre-sentada pela deusa Diké (filha deThémis) que, de olhos abertos, segurauma espada e uma balança ou porThémis exibindo só uma balança, ouainda uma balança e uma cornucópia.Mais tardiamente, em Roma, é a figurada deusa romana Ivstitia que aparecede olhos vendados, sustentando umabalança já com o fiel da balança aomeio.Esta representação da Justiça, aolongo dos tempos, é sugestiva da suaprópria evolução.Pensa-se que as deusas gregas daJustiça, Thémis ou Diké, armadas deespada, sem o fiel da balança, repre-sentam uma realidade epistemológicae normativa anterior e menos desen-volvida que a deusa romana Ivstitiacom fiel da balança. A actividadedo executor simbolizada pela es-pada punitiva perde importância,para os romanos, face à val-orização do conhecimento, dointelecto e do rigor, simbolizadospelo fiel da balança, alegórico aopretor romano.Nas primeiras representações con-hecidas, a deusa da Justiça surge derosto descoberto, sem venda,aparentemente aludindo à necessi-dade de ter os olhos bem abertos eobservar todos os pormenores rele-vantes para a justa aplicação da Lei,só mais tardiamente a figura da deusase revela de olhos vendados. Não sig-nifica que a justiça seja cega, mas quetrata a todos com igualdade. Não vê,porque a lei é igual para todos.Ainda associados à imagem deusa ro-mana Ivstitia, não é raro estarem rep-resentadas as Tábuas da Lei,alegóricas à Lei das Doze Tábuas, es-crita em doze tábuas de bronze (cercade 451 a.C.) e considerado o primeirocódigo romano, ou outros elementosem alegoria à Lei e ao Direito: ramosde louro, um código representativo da

lei, ou ainda, uma imagem ostentandoa pena, alusiva ao acto de legislar oucriar a Lei.Referências à figura do ImperadorJustiniano e ao seu legado: o Corpusluris Civilis (cerca de 530 d.C.) são fre-quentes, devido à influência do direitoromano que perdura até hoje.As imagens alegóricas à Justiça e àLei são muitas vezes representadasem simultâneo.

SimbologiaA espada › Representa a força,prudência, ordem, regra e aquilo que aconsciência e a razão ditamA balança › Simboliza a equidade, oequilíbrio, a ponderação, a justeza dasdecisões na aplicação da leiDeusa de olhos vendados › Podesignificar o desejo de nivelar otratamento de todos por igual, semdistinção, tem o propósito daimparcialidade e da objectividade.A ausência de venda › Pode serinterpretada como a necessidade de teros olhos bem abertos, para quenenhum pormenor relevante para aaplicação da lei seja descurado.

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opinião

AFundação Luso-Americanaapoia vivamente programa

que contribui para um efectivosistema de justiça em Portugal.O complexo desafio para melho-rar o sistema judicial requer di-versas medidas, dos quais asmais importantes são acçõesque envolvam a sociedade civile o grande público permitindoque eles compreendem o valorda justiça, as suas leis e os seuscastigos.

O projecto “Faça-se Justiça!” apresenta uma aborda-gem original e ousada ao ensinar aos jovens o sentidodas leis, os seus propósitos e consequências. Ao tra-balhar com estes os jovens, traz esperança para o fu-turo e uma garantia de que os conceitos da justiçapossam ser entendidos e partilhados por todos os ci-dadãos.A Fundação orgulha-se de estar associada a esta inicia-tiva e felicita o Doutor Rui Marques e os seus colabora-dores.Charles Buchanan, Administrador, Luso AmericanFoundation.

AAbreu Advogados é, ainda,uma teenager no universo das

sociedades de advogados, e comoqualquer jovem está imbuída devontade, imaginação, determina-ção, disponibilidade, irreverência ea convicção que vai mudar omundo. E vai! Pelo menos o mundodaqueles a quem conseguir che-gar.Nestes 17 anos de vida, a acçãoda Abreu Advogados, ou AB comoinformalmente é apelidada, foi sem-

pre pautada por preocupações sociais que se reflecteminterna e externamente, talvez por isso, apesar de tercrescido de seis para 240 colaboradores tenha sido dis-tinguida, em 2010, pela quarta vez consecutiva, como aMelhor Sociedade de Advogados Portuguesa para Tra-balhar pela revista Exame e pela Heidrick & Struggles.A caminho da maioridade que se prepara para atingir nopróximo ano, e inspirada pelo Relatório de Sustentabilidadepublicado em 2009 – o primeiro na área da Justiça emPortugal -, a AB assumiu um conjunto de compromissosentre os quais:›› Contribuir para a reflexão no sector da Justiça sobre a

responsabilidade social e o serviço jurídico;›› Aprovar uma política de serviço jurídico pro bono e de

apoio comunitário global; ›› Criar uma acção de sensibilização do público jovem so-

bre Justiça e Cidadania.

Foi precisamente no âmbito da concretização deste últimoobjectivo que a AB se associou ao Programa Faça-seJustiça. E porquê este Programa? Porque sentimos queos jovens precisam de conhecer conceitos tão essenciaiscomo os conceitos de “Lei”, de “Dever”, de “Direito” oude “Justiça”. Porque queremos que os jovens acreditemna Justiça e nos Tribunais e não perpetuem a imagemnegativa que todos os dias nos é passada nos jornais enas televisões. Porque queremos que os jovens ensinemàs suas famílias que têm direitos e que devem lutar poreles. Porque cada um desses jovens é um potencial futurocolega e queremos que ele experimente ser advogadopor um dia e perceba que a N/ vida está muito distantedas séries americanas. Porque percebemos que todostemos uma noção de Justiça mas sabemos que nemtodos aceitam que a Justiça deve ser enquadrada pelalei. No ano lectivo 2009/2010 a AB associou-se à AssociaçãoAprender a Empreender. Neste âmbito 24 voluntários (nãoapenas advogados) abraçaram o desafio de dar aulas acrianças/adolescentes das diversas faixas etárias e de di-versos grupos sociais procurando transmitir-lhes a suaexperiência de vida, opções e oportunidades profissionaise académicas. Foi uma descoberta para os alunos mastambém para os voluntários. Compreendemos que nasN/ escolas existe uma geração de jovens com potencia-lidades, esperanças e objectivos mas também uma ge-ração desacompanhada à procura de referências e devalores.São estes jovens que as 240 pessoas da Abreu Advogadosquerem continuar a acompanhar através do ProgramaFaça-se Justiça para que, todos juntos, construamos umPortugal que acredite numa Justiça “com olho de lince”!Alexandra Courela, Advogada Associada na Abreu Ad-vogados

Onovo contexto educacionalgerado pela sociedade de

risco deve ser levado à sala deaula e ter implicações no saber-fazer da praxis docente. O Pro-grama “Faça-se Justiça” e assituações dilemáticas que os ca-sos a trabalhar pelos alunos sus-citam desafiam a ESE de PaulaFrassinetti à criatividade e inova-ção pedagógicas de modo a qua-lificar os docentes para que

possam formar a consciência cívica dos alunos no res-peito pela Lei e de confiança na Justiça. Aliados a outrosparceiros de prestígio e de reconhecida implicaçãocívica, constitui para nós uma honra e um desafio integrareste desígnio.José Luis Gonçalves, Conselho de Direcção, ESEPF

Odesconhecimento leva-nosinevitavelmente ao precon-

ceito, ao medo, à incompreensãodo outro e à negação dos direi-tos.A ignorância sobre o funciona-mento da justiça, sobre os seusmeandros e o papel de cada umdos seus actores, fomenta a faltade credibilidade nos Tribunais enas instituições do Estado de Di-reito Democrático.

Por isso, a APAV aderiu com entusiasmo ao Faça-seJustiça”. Acreditando que dando a conhecer a sua ac-tividade no apoio à vítima de crime, contribui para umamelhor sensibilização quanto à vítima no âmbito dosTribunais; para a relevância das ongs nesse apoio; paraa importância de uma intervenção articulada; para a es-sencialidade um responsável exercício de cidadania. Joana Marques Vidal, Presidente da APAV

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opinião

Faça-se Justiça é um Programa de educa-ção cívica para a Justiça e para o Direito,

direccionado para estudantes do ensino se-cundário, promovido pela revista Forum Estu-dante e com o apoio do Ministério daEducação, através da Direcção-Geral de Ino-vação e de Desenvolvimento Curricular. Tempor base um conjunto de acções organizadasde divulgação, workshops e jogos de simula-ção de um caso em Tribunal ou em mediação,procurando, deste modo, ajudar os alunos acompreender o sistema jurídico português.Visando a promoção de uma educação para acidadania democrática dos jovens, consti-tuem-se como objectivos deste Programa, deentre outros, dar a conhecer fundamentos es-senciais da Lei e da Justiça e como estes re-flectem os valores e as convicções colectivase formar uma consciência cívica de respeitopela Lei e de confiança na Justiça.Este Programa é constituído por jogos de si-mulação de julgamentos de caso, em que asequipas de alunos participantes (de defesa ede acusação) estudam um determinado casoe argumentam em sua defesa e acusação, re-correndo a diferentes metodologias e dinâmi-cas de trabalho articulado com os professoresresponsáveis, os advogados-tutores e com asdiversas organizações e instituições envolvi-das (de carácter académico, cívico e profissio-nal).Esta natureza teórico-prática do Faça-se Jus-tiça constitui-se, assim, como um relevantecontributo didáctico e pedagógico, no con-texto das aprendizagens de alunos do ensinosecundário, na medida em que permite ajudá-los a apurar o seu sentido de justiça; a valorizaro Direito, as leis e o papel que têm nas socie-dades democráticas; a construir consensos noâmbito da deliberação, da negociação, docompromisso e da resolução de conflitos; amelhorar a comunicação das suas ideias, con-vicções e opiniões sobre as leis e a Justiça.DGIDC

Faça-se justiça é, ou parece,uma frase simples. Tem duas

componentes. Faça-se - sinónimode acção, de actividade, de inte-resse, de operatividade, de movi-mento, de decisão.Contra a inércia, o desinteresse, aparagem, a indolência, o des-prezo, a pendência, a indecisão. Justiça – que não é sinónimo delei, de sentença ou de tribunal.É um valor social, de todos e paratodos, de composição, de res-

peito, de equidade e de solidariedade a prosseguir.O fazer e o justiçar não são exclusivos dos juízes, dosprocuradores, dos advogados, dos polícias e dos funcio-nários de justiça. São dever de todos os cidadãos.Todos estamos sujeitos à lei, vivemos no direito e faze-mos justiça. No dia-a-dia. Nas coisas pequenas e nascoisas grandes. Mas todos também incumprimos a lei ecometemos injustiças.Não há preto e branco, mas várias tonalidades de claros,cinzentos e escuros.Muitas vezes, na vida real, as aparências iludem e o queparece não é e, pior, o que é não parece.Por isso é difícil, muito difícil, julgar.E, por isso, mas não só por isso, há que cumprir escru-pulosamente a lei mesmo na reacção ao ilegal e ao in-justo.É por isso que há processos e procedimentos. É por issoque há regras, contraditório e recursos.Porque há erro e quem minta, há culpados e inocentes…em vários graus.Cumprir a lei não é simplesmente absolver ou punir.Porque nem sequer há sempre culpados.Também há risco e acidentes.Punir pode ser necessário.Mas mais importante…… é resolver.Resolver é apresentar respostas inteligentes e adequa-das, solucionar questões e litígios. Reparar, compensar eindemnizar. Não, claro, criar mais problemas. Fazer cumprir rigorosamente a lei e agir com justiça sãotarefas sempre em construção e, por natureza, inacaba-das.A lei e a justiça são a um tempo instrumento e arma e poroutro objectivo e destino a cumprir.Os instrumentos mal utilizados ou usados como meraarma são um mal.O mal não está nas leis mas na infracção às normas.E, às vezes, mesmo, na sua (má) aplicação.Por isso é que desde os mais pequenos, aos adolescen-tes e mesmo aos jovens e aos jovens adultosse há-de apostar em educar para o Direito.Este Programa tem essa virtualidade, a de educar.E a de retirar ao Direito o seu carácter obscuro, indecifrá-vel, enigmático e secreto.É educativo e pressupõe intervenção, porque não háaprendizagem que prescinda da acção e do exemplo.São casos, casos da vida. Casos nem sempre fáceis.Casos que todos conhecemos bem demais.Mas que se têm de abordar, de conhecer e de decidir emconsciência.Ouvindo atentamente todos e compreendendo razões.Sem esquecer que cada caso é um caso.E que o que conta são as pessoas.Só assim se faz Justiça…... decidindo.Carlos Pinto de Abreu, Advogado

“Esta naturezateórico-práticado Faça-se

Justiça constitui-se,assim, como um relevante contributodidáctico e pedagó-gico

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contraponto

Será o direito de voto a expressão máxima da democracia? Q 1O voto é um direito. Mas será um dever?2

Deve o voto ser obrigatório (e não facultativo)? A 3Concordas com os 18 anos como idade mínima para poder exercer o d 4

Como definirias o conceito de cidadania? E 5

1Infelizmente no sistema demo-crático actual o direito de voto éo único método de os cidadãos

poderem definir uma posição sobre omesmo, sendo o direito de votar de ex-trema importância enquanto não hou-ver uma outra forma de o cidadãocomum poder participar na vida poli-tica.

2Num sistema democrático édado o direito dos cidadãosao voto, agora estes muitas

vezes não o encaram com a importân-cia que este têm, abstendo-se nas al-turas decisivas, comprometendo assimuma estatística do contentamento oudescontentamento do poder governa-mental em vigor. Sendo assim o cida-dão deve encarar o voto como se umdever se tratasse e perceber que a suaparticipação na vida politica através dovoto, pode fazer a diferença no futurodo pais.

3O voto não deve ser obrigató-rio, deve ser incentivado! Enão é obrigando as pessoas a

votar que irá fazer a diferença, pois a li-berdade destas no momento de tomarum partido, pode ser influenciado oucontrariado devido à obrigação devotar. O cidadão deve antecipada-mente analisar todas as vertentes, re-flectir e tomar uma decisão, e fazersentir a sua decisão no boletim de voto.

4De certa forma concordo, por-que nem todos os jovens temainda capacidade para com-

preender o sistema politico do mundoactual, e sendo a idade dos 16 anos,muitas vezes um período de rebeldiaem muitos jovens, o direito de votar porparte dos mesmos, podia muitas vezesdestronar decisões importantes para opais.Aos 18 anos, além de ganharem totalresponsabilidade pelos seus actos,terão já a experiência de vida necessá-ria para tomar um partido, pensandosempre no melhor para a sua pessoa epara o pais. Agora, existem jovens comidades inferiores a 18 anos com matu-ridade suficiente para tomar decisõesresponsáveis, isso é um facto, agoraaté que ponto devemos deixá-lostomar decisões que influenciam o sis-tema, isso é outro. Cabe ao Governocriar um direito de voto especial que seenquadre, e que exija alguns requisitosmínimos aos jovens para ter o direito devotar.

5Cidadania é um termo que eudefino por ser um cidadão ac-tivo com direitos e deveres

que se preocupa e luta pelo estado danação. A participação cívica é a chavede ouro para resolver problemas ine-rentes na nossa sociedade. Se nãocontestar-mos as irregularidades e in-justiças da sociedade no momento emque estas acontecem, não haverá pro-gresso, logo há que denunciar para sepoder corrigir, e assim melhorar o sis-tema.

*21 anos, 12º ano de Humanidades,Escola Secundária Maria AmáliaVaz de Carvalho (Lisboa)

Diogo Costa*

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contraponto

? Qual a importância do direito de voto?

? Achas que a atitude das pessoas mudava se fosse obrigatório?

direito de voto? Ou devia ser aos 16 anos? E porquê?

? E qual a importância da participação cívica?

1O direito de voto é a expressãomáxima da democracia. É atra-vés do sufrágio universal, directo

e secreto que o povo se faz representarnuma sociedade politicamente organi-zada. O voto representa a vontade dapopulação, mostrando as diferençasentre os cidadãos e que pela represen-tação dos seus ideais guia a uma so-ciedade mais justa.

2O voto, além de direito, é umdever cívico. Mesmo votandoem branco, vivendo numa so-

ciedade democrática, devemos fazeros nossos ideais representados pelovoto. Não é pela abstenção que de-monstramos os nossos ideais. O vototem validade no sistema eleitoral, aabstenção não.

3O voto não deve, de longe, serobrigatório. Se o voto fosseobrigatório deixaria de ser um

dever cívico e passaria a ser um deverjurídico. O direito de voto concede aoscidadãos a possibilidade de participa-ção na organização da sociedade emque vivem. Vivendo numa época emque as taxas de abstenção por vezesse comparam às taxas de total devotos, posso dizer que caso se fizessedo direito de voto, uma obrigação, es-taria-se a dizer à população que estanão participa na organização da suasociedade, e assim, deve ser sancio-nada se não o fizer. Obviamente que ataxa de abstenção diminuiria, por maisirrisória que fosse a sanção sabemosque ninguém gosta de “não cumprir alei”. A obrigação de um Estado é incutirna população um sentido de responsa-bilidade perante a sociedade, para quelivremente todos percebam que é im-portante que os seus ideais sejam de-monstrados pelo seu voto.

4Nem uma coisa, nem outra. Odireito de voto é uma respon-sabilidade imensa. Numa so-

ciedade que constantemente olha paraa juventude ora como adulta, ora comocriança, é importante ver que aos 18anos, num panorama geral, os jovensainda demonstram um grande nível deimaturidade. Na minha opinião, a idademínima para se poder exercer o direitode voto devia ser 21 anos. Segundo onosso Código Penal só aos 21 é queatingimos a maioridade penal. Com 21anos entramos oficialmente na idadeadulta. Quanto mais conhecimento eexperiência o cidadão adquirir, commaior discernimento e sabedoria po-derá participar na organização políticada sua sociedade.

5Como conceito ambíguo queé, quando penso em cidada-nia penso em respeito pelo

Estado, respeito pelo mundo em quevivo, respeito pelo meu país e pelaminha cultura e pela cultura de outros.Creio que o conceito de cidadania sejainerente também ao de participação cí-vica. O sermos activos na nossa comu-nidade, quer seja na nossa Junta deFreguesia ou mesmo no nosso Go-verno, é da maior importância. O viver-mos numa sociedade politicamenteorganizada pressupõe que todos ajude-mos a construir e manter esta. Cumpriros nossos deveres cívicos e participarna actividade política da nossa socie-dade é de grande importância, pois sóassim a fazemos funcionar, com asnossas divergências e pontos emcomum construímos uma sociedadejusta para todos.

*18 anos, 12º ano deHumanidades, ColégioSão João de Brito (Lisboa)

Manuel Pestana Machado*

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25 perguntas

e a Justiça

25perguntasfundamentais

sobre

o Direito

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por Dra. Rita MaltezABREU ADVOGADOS

1. O que é a Lei? Como é feita? A Lei é o conjunto de regras destinadasa regular as relações entre os indiví-duos em sociedade, bem como assuas relações com o Estado.A nossa Lei Fundamental, da qual nas-cem todas as outras, é a Constituição.A Constituição estabelece quais sãoos nossos direitos fundamentais ecomo se organiza o Estado.A Constituição diz algumas coisasmuito importantes. Por exemplo, dizque “Todos os cidadãos têm a mesmadignidade social e são iguais perantea lei.”Esta é uma regra básica da nossa con-dição de cidadãos, a base da nossavida em sociedade, conjuntamentecom a liberdade, que a lei estabelecee protege.Em Portugal temos as “Leis” propria-mente ditas e os “Decretos-Lei”. As“Leis” são feitas pelo Parlamento (As-sembleia da República) e os “Decre-tos-Lei” são feitos pelo Governo. È aConstituição que diz quais são as ma-térias sobre as quais a Assembleia daRepública e o Governo podem fazerLeis ou Decretos Leis. Se quisermos,podemos dizer que a Constituição é amãe de todas as leis.Há muitos tipos de leis, umas maiores(normalmente agrupadas em Códigos),outras mais pequenas, umas maiscomplicadas outras mais simples e fá-ceis de entender. Mas todas, cada umadelas no seu lugar, são importantes eestabelecem regras importantes parapodermos viver harmoniosamente emsociedade. Para além das leis e dos decretos-leihá ainda muitas outras regras a quetemos que obedecer e que decorremdeles (portarias, regulamentos, etc,etc, etc ...).Há regras sobre muitas coisas (algu-mas de que nunca os lembraríamosse não viessem nas notícias, por exem-plo a quantidade de sal que o pão podelevar ou a distância a que os barcosturísticos que nos Açores nos levam aver baleias têm que ficar das próprias

Lei

baleias, já imaginaram?). Na verdadehá regras sobre quase tudo o que tema ver com a nossa vida em sociedade.Ás vezes parece um bocadinho asfi-xiante e com certeza que algumas leissão desnecessárias, mas em muitosaspectos é muito importante que exis-tam leis. Porque a melhor garantia quetemos de que os nossos direitos estãoprotegidos é a lei. Até porque a lei tam-bém define onde é que a própria leinão pode interferir.

2. A mesma lei pode ser inter-pretada de forma diferente?A lei deve ser geral e abstracta. Ouseja, como a lei é feita para toda agente e sem se ter em mente um casoconcreto, deve ser feita de modo a po-der aplicar-se a toda a gente e ao maiornúmero de situações possíveis. Quando se faz uma lei não sabemos

que situações vão correr no futuro e alei deve poder aplicar-se a muitas si-tuações diferentes.De cada vez que se aplica a lei, deve-mos olhar para o caso concreto e ten-tar ver se ele coincide com o que estádescrito na lei. Mas, por vezes acontece que o quese passa na realidade não encontrareflexo imediato e evidente na lei.E, por isso, as pessoas, mesmo os ju-ristas, os Juízes ou os Advogados, têmque tentar tirar um sentido da lei e dosfactos e podem ter opiniões diferentessobre o mesmo caso e sobre o sentidoda lei, sobre aquilo que a lei nos querdizer, os valores que pretende prote-ger.Para se chegar a uma conclusão, mui-tas vezes é necessário estudar as ori-gens da lei, ir ler decisões de Tribunais

que já discutiram aquela lei, consultarprofessores de Direito. Nem sempre a lei, ou a interpretaçãoque um Juíz faz da lei, nos agrada oucorresponde aos nossos desejos. Epor vezes até nos parece injusta.

3. Porque devemos ser todosiguais perante a lei? As leis representam o padrão pelo qualtodos os cidadãos devem reger a suavida em sociedade e, porque vivemosem democracia, as leis representamaquilo que a maioria pensa que é me-lhor para todos.A importância de haver leis e de ser-mos todos iguais perante a lei é queassim todos sabemos as regras e elasrepresentam o comportamento médioque se espera do bom cidadão. Mas esta é uma pergunta um poucocomplicada e a resposta ainda podeser mais. Talvez seja mais fácil se per-guntarmos porque é que não havemosde ser iguais perante a lei? Não há nenhuma razão válida, paranão termos todos os mesmos direitose deveres uns em relação aos outros,em comunidade.Como viveríamos se as regras fossemdiferentes em função do sexo, da raça,da religião? Na verdade já vivemos assim, noutrostempos e não correu nada bem.No nosso país, como na maior partedos países, somos todos iguais pe-rante a lei porque as discriminaçõeslevam a grandes injustiças, provocamgrande infelicidade e geram normal-mente grande violência, tornado a vidaem comunidade impossível.

4. Porque devemos obedecer àlei? Porque, como já dissemos, a lei repre-senta o padrão, a linha média daquiloque a maioria dos homens, ao longodos séculos, tem aceite que é o que émelhor para a maioria de nós ou quemelhor protege os valores que a maiorparte de nós acha importante prote-ger.É como num jogo, se existem regras,temos que as cumprir ou não há jogo.Só que aqui é a sério.

5. As leis podem mudar?Sim, claro que as leis podem mudar. Apesar de as leis representarem aquiloque a maioria das pessoas acham queestá correcto, as circunstâncias defacto em que uma lei foi feita podemalterar-se, os costumes e as mentali-dades também se alteram e tudo isso

“A Lei é oconjunto de regras

destinadas a regularas relações entre os indivíduos emsociedade, bemcomo as suasrelações com o Estado.

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pode justificar a alteração de leis.Por outro lado, por vezes há gruposde cidadãos (partidos politicos, asso-ciações, ou simplesmente grupos maisou menos organizados) que não con-cordam com uma lei e provocam dis-cussões e debates sobre elas paratentar levar as pessoas pensar nos as-suntos e a alterar as suas perspecti-vas.Exemplos simples e actuais de leis quemudaram são os da proibição de fumarou a permissão de casamento entrepessoas do mesmo sexo.

6. Tenho de conhecer todas asleis? Posso invocar o desconhe-cimento da lei para justificar oseu incumprimento?O Código Civil (que é a lei mais impor-tante depois da Constituição) diz quea ignorância da lei não aproveita a nin-guém. Ou seja, o facto de eu desco-nhecer a lei não é justificação para nãoa cumprir.A verdade é que não temos que co-nhecer todos as leis todas. E hoje emdia, tal é completamente impossível.Nem os juízes, nem os advogados,nem os professores de Direito ou osdeputados ou ministros, conhecem to-das as leis que existem. Mas temos todos um dever genéricode conhecer as regras de convivênciae de conduta em comunidade a quedevemos obedecer. E, se não conhe-cemos uma a uma todas as leis, sa-bemos todos o que está certo e o queestá errado e conseguimos avaliar an-tecipadamente o que é legal e ilegal.

por Dr. José Souto de Moura

7. Direitos o que são?No sentido que é sugerido pelo plural“direitos”, diria que os direitos são opoder de se exigir de outrem queadopte um certo comportamento. É oque se costuma chamar o direito “sub-jectivo”.�Mas o que é o poder? Emtermos muito simples é uma situação.É a situação da pessoa em relação àqual os outros fazem o que ela pre-tende.�E que comportamento? Obvia-mente que não é um comportamento

Direitos

que responde a um capricho ou satis-faz uma arbitrariedade. É um compor-tamento que alguém, concretamenteo legislador disse que naquela situaçãoera devido. E aqui chegamos  a outraconcepção de “direitos”. Serão entãoestes os direitos que, em abstracto, epara�todos, estão consagrados na lei.Sem ser preciso estar perante uma si-tuação concreta e histórica, em quealguém em particular os faça valer.De notar que só falei em direitos con-sagrados na lei porque essa é que é a

regra, pelo menos em Portugal, aquie agora. O que não quer dizer que, so-bretudo em termos históricos nãopossa haver outras fontes de direi-tos.�De notar, também, que o poderde exigir um comportamento não ser-viria de nada, se a pessoa que temque o assumir, caso não o fizesse vo-luntariamente, não fosse obrigada atal, em princípio por um tribunal.Por isso é que se diz que uma carac-terística importante do direito é a coer-cividade, o que o distingue, entreoutras coisas, da moral.

8. Há direitos mais importantesdo que outros?Claro que há. Entre o direito númeroum, que é o direito à vida (o direito aque ninguém nos tire a vida) e, porexemplo, o direito a receber a rendada casa em certo lugar e dentro decerto prazo, vai um abismo.Os direitos mais importantes, básicos,e de que os outros são desenvolvi-mentos, especificações ou concreti-zações, chamam-se por isso mesmo“direitos fundamentais”. São tão im-

portantes que estão na Constituiçãoe logo na primeira parte dela.�Estesdireitos fundamentais também podemcorresponder àquilo a que se costumachamar os “direitos humanos “. A di-ferença reside basicamente no factode os direitos fundamentais terem asua fonte, numa lei constitucional ouordinária interna dos Estados, e a de-signação “direitos humanos” ser usadapara direitos básicos consagrados eminstrumentos de direito internacional -tratados ou convenções, na medidaem que obriguem quem os assinou.Perguntarão: e em relação a paísesque não assinam esses tratados ouconvenções e que não reconhecemos ditos direitos humanos? Claro queesses países estão moral, e até juridi-camente, vinculados, na mesma, a es-ses direitos, só que, não havendo umórgão supraestadual que os obrigue arespeita-los, falha o requisito do direito,que é a coercibilidade, em relação aesses Estados.

por Dr. Carlos Pinto de Abreu

9. O que é um crime?Crime é(1) um comportamento, acção ou omis-são humana (os menores de 16 anose os inimputáveis não cometem cri-mes, embora possam ser usadoscomo instrumentos para tal), (2) típico, porque previsto na legislaçãopenal (no Código Penal ou na restantelegislação penal avulsa), (3) ilícito, porque contrário à lei (podehaver comportamentos típicos que nãosejam ilícitos – a legítima defesa, porexemplo), (4) culposo, porque censurável ou co-metido com dolo ou mera culpa (nãohá crime sem culpa), e (5) punível, porque pode ser sancio-nado com penas de natureza criminale, no limite, com pena de prisão.Crimes são os comportamentos da-nosos ou perigosos, contrários à leipenal interna ou internacional, gravese censuráveis que põem em causa in-teresses sociais e pessoais relevantese a que podem corresponder, desig-nadamente, as seguintes penas ou

Crimes

“Os direitos maisimportantes,básicos, e de que

os outros sãodesenvolvimentos,especificações ouconcretizações,chamam-se por issomesmo “direitosfundamentais”

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efeitos (1) prisão contínua, (2) prisãoem regime de dias livres, (3) prisão emregime de semi-detenção, (4) regimede permanência na habitação, (5) sus-pensão da execução da pena de pri-são, com ou sem regime de prova (6)multa, (7) trabalho a favor da comuni-dade, (8) admoestação, (9) dispensade pena, (10) registo criminal, sem ex-cluir outras sanções acessórias, comoa proibição do exercício de poderes,de funções ou de profissão.O facto de os menores de 16 anos nãocometerem crimes não significa quenão possam ser responsabilizados eaccionados judicialmente, bem comoalvo de julgamento e de “castigo”, em-bora sempre com carácter pedagó-gico. É que entre os 12 e os 16 anosos menores podem ser julgados e con-denados em Tribunal e alvo de medi-das educativas que podem ir noscasos mais sérios até ao internamentoem Centro Educativo.

10. Pode um crime ser maisgrave que outro?Claro. Todos percebem que, em abs-tracto, um homicídio é muito maisgrave que uma injúria. Ou que umabuso sexual de crianças é muito maisgrave que um abuso de liberdade deimprensa. Ou que uma fraude fiscal émais grave que uma cópia ilegal deum filme.

Mas mesmo dentro do mesmo tipo le-gal, por exemplo se pensarmos nocrime de dano, pode haver crimesmais graves e crimes menos graves.É mais grave um graffiti aplicado noMosteiro dos Jerónimos do que omesmo grafitti na parede da Escola.Por isso é que existem tribunais, juízes,procuradores e advogados, para aferirdas diferentes circunstâncias essen-

ciais e acidentais do crime e acusar,defender e decidir com a máxima jus-tiça possível, porque cada caso é umcaso. E nem sempre o que parece é,e o que é não parece.

11. O que é o dolo? E o que é aculpa?Dolo é, numa palavra, intencionalidade.Pode ser definido como o conheci-mento [elemento cognitivo] e a vontade[elemento volitivo] de praticar deter-minado acto/facto ilícito. O dolo podeser directo [o agente representa o factoque preenche o tipo de crime e actuacom intenção de o realizar (A quer ma-tar B e dispara na direcção da sua ca-beça)], dolo necessário [o agenterepresenta a realização de um factoque preenche o tipo de crime comoconsequência necessária da sua con-duta (C sabe de certeza, e não se im-porta com isso, que incendiará todo oprédio, embora o que quisesse mesmoera incendiar o carro de D] ou doloeventual [o agente representa a reali-zação de um facto que preenche o tipocomo consequência possível da suaconduta e actua conformando-se comaquela realização (A na fuga sabe queaquela velocidade a que conduz podeatropelar mortalmente alguém, vê D aatravessar a passadeira, não abranda,confia que não lhe acerta, mas em bomrigor isso é-lhe indiferente e pensa “seacertar, acertei, paciência”)].A culpa é, numa palavra, a censurabi-lidade com que se pratica ou omite oacto. Para se punir alguém pela práticade um crime não basta, pois, que setenha cometido um facto ilícito típico,

“Crimes são oscomportamentosdanosos ou

perigosos, contráriosà lei penal interna ouinternacional, gravese censuráveis quepõem em causainteresses sociais epessoais relevantes

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é ainda necessário que o tenha come-tido culposamente. A culpa, em sentidoamplo, é um dos pressupostos da res-ponsabilidade criminal. É um juízo dereprovação, de censura jurídica doagente, por ter cometido um facto ilícitotípico.  Culpa, em sentido amplo, é  aimputação subjectiva do acto ao res-pectivo agente, abrangendo o dolo ea negligência. Em sentido estrito, culpaou mera culpa, por contraposição adolo, é ausência da diligência exigível.Não se quer o facto e o seu efeito, masnada se fez, consciente ou inconscien-temente, para o evitar, apesar da exi-gibilidade de comportamento diverso.Finalmente, a existência e a medidada culpa são o fundamento e o limiteda medida da pena. Por exemplo, nãoage, não age com culpa o sonâmbuloque destrói, enquanto dorme e deam-bula, o automóvel do vizinho. E agecom culpa leve quem é determinadoa cortar a árvore do vizinho porque re-cebe uma ordem ilícita da sua entidadepatronal sob pena de despedimentose não obedecer.

12. Pode um “crime” não sercrime? Pode justificar-se oudesculpar-se um crime? Podeum criminoso não agir ilicita-mente ou não ter culpa?Às vezes aquilo que aparenta ser umcrime não o é. Pode ter que se chegarao ponto de matar para não morrer, ouseja ter que, para repelir uma agressãograve, ilícita e em curso, agir em legí-tima defesa. Por outro lado não gostoespecialmente da palavra criminoso,muito menos neste contexto, até por-que quem não age ilicitamente ou nãoage com culpa nem sequer comete umcrime. É uma etiqueta infeliz. Assimsimplesmente, e sem mais, não há ino-centes nem criminosos. Há pessoasque, na vida, cometem um crime ouvários crimes. Uns quase inócuos, ou-tros mais graves, ainda alguns outrosgravíssimos. Nem todas as pessoassão detectadas, nem todas são julga-das e nem todas são condenadas. As-sim como nem todos os suspeitos sãoacusados, nem todos os acusados sãocondenados e nem todos os conde-nados são culpados. Quem não injurioujá ou difamou? Quem não cometeu jácondução perigosa? Quem não copiouilegalmente um filme? Quem não usouou descarregou software ilegal? Tudoisto podem ser crimes.A verdade é que há circunstâncias es-peciais que podem afastar a tipicidade,a ilicitude, a culpa ou, até, a punição

(caducidade ou desistência da queixa,amnistia, prescrição, etc.). Vejamos asseguintes causas de exclusão da tipi-cidade, da ilicitude e da culpa. Se doisboxers treinam num ginásio, cumpremas regras do desporto e, ainda assim,quebram reciprocamente um a “canado nariz” e o outro “os queixos” nenhumdeles comete o crime de ofensas à in-tegridade física. Se se verifica que umacriança raptada está numa garagemprivada e fechada e no interior de umveículo automóvel nela estacionado,pode-se forçar o portão, entrar na ga-ragem e partir o vidro para recuperar acriança que não se cometem os crimesde introdução em lugar vedado ao pú-blico e de dano. Se se arromba a portado vizinho, que foi de férias, para entrarna sua residência, fechar a torneira daágua ou apagar o foco do incêndio, evi-tando a inundação ou a destruição totaldo prédio não se comete o crime deviolação de domicílio.

por Dr. José Souto de Moura

13. Fazer justiça: porque nãopode ser cada um por si?Distinguiria quatro razões principais:Em primeiro lugar porque hoje a justiçanão é pensável sem a mediação dodireito e nem toda a gente sabe di-reito.Depois, porque, se cada um de nósse propusesse fazer justiça, seria ne-cessário que houvesse quem estivessedisposto a aceitar a justiça que fizés-semos, sob pena de só se criarem maisfocos de conflituosidade, e não se con-seguir a solução para os conflitos…que nos levaram a fazer justiça.Acresce que fazer justiça exige, namaior parte dos casos, que se tenhaque obrigar outrem a adoptar um certocomportamento. Para obrigar é precisoter força. Gente civilizada só aceita aforça da autoridade legitimada demo-craticamente. Finalmente, fazer justiça implica dis-tanciamento emocional o que nuncaocorreria se essa “justiça” fosse feitapor mãos próprias. Descambaria asmais das vezes numa vingançazitapessoal, ou num “puxar a brasa à sua

Justiça eTribunais

sardinha”. Portanto falharia a impar-cialidade.

14. Porque é que se diz que umtribunal deve ser independente?A justiça é um serviço que o Estadopresta e que exige pelo menos cincocondições:› Não há justiça se ela não for acessívela todos e a cada um.

› Não há justiça se esta não for célere. › Não há justiça se quem a administraou nela intervém não for tecnicamentecompetente.

› Não há justiça se quem a administranão for imparcial.

› Não há justiça se quem a administranão for independente.

Fala-se de independência dostribunais com o sentido de queos juízes têm que ser indepen-dentes. Porquê?Porque enquanto que a imparcialidadeliberta o juiz daquilo que internamenteo limita (gostos pessoais, preconceitos,caprichos, manias), a independêncialiberta o juiz das pressões exteriores. O juiz deve procurar libertar-se da in-fluência externa de outros poderes,

como o político, o económico, ou dacomunicação social, em geral, ou aindada influência pessoal de alguém (pres-sões ou ameaças, por exemplo). Se não for independente o juiz decide

“(...) se cada umde nós sepropusesse fazer

justiça [pelaspróprias mãos], serianecessário quehouvesse quemestivesse disposto aaceitar a justiça quefizéssemos, sob penade só se criaremmais focos deconflituosidade, enão se conseguir asolução para osconflitos… que noslevaram a fazerjustiça.

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de acordo com o interesse que estápor detrás da pressão que sofreu. Ouda pressão que se fez sentir primeiro,ou da que foi mais forte.Para ir ao encontro desse interesse,só de um dos lados, ele vai ter queprejudicar a outra parte.Ora a única maneira de o juiz evitaresse tipo de prejuízo é decidir apenasde acordo com a lei e a sua consciên-cia. Se assim for é independente e aspessoas podem confiar na justiça.

15. Porque deve ser a justiçacega?Quem está de olhos abertos nuncaestá a olhar para todos os lados aomesmo tempo.Está a olhar para certa pessoa ou coisaem detrimento das outras. Porque se-lecciona, exclui. Ao excluir, está a desatender o inte-resse de um dos lados (ou mais).Se estiver de olhos tapados não estáa privilegiar ninguém porque não estáa “fixar-se” mais numa parte do quenoutra.

16. Porque deve haver sempredireito à defesa?Ao falar-se de defesa está implicita-mente a admitir-se uma acusação.Quando o juiz ouve uma acusação ouuma reivindicação, ouve só uma versãodos factos. É preciso saber o que é quesobre o assunto tem a dizer o visado.A verdade nunca está só de um lado.

E mesmo que não haja grandes dúvi-das sobre o que aconteceu, por exem-plo estando em causa a prática de umcrime que toda a gente viu, sempre seirá julgar uma pessoa, para além doacontecimento. Nada surge isolado ou por acaso navida de uma pessoa, e é ela que vaisofrer as consequências da possívelcondenação. O juiz tem então que re-ceber (e procurar) informação sobrequem é essa pessoa e perceber porqueé que ela fez o que fez.Ora a defesa tem que poder forneceros elementos que devem ser tidos emconta e beneficiem o réu.

17. E porque se deve presumira inocência até ao final do pro-cesso?Presumir a inocência significa, funda-mentalmente, que quem acusa outremde um crime é que tem que provar osfactos que levam à condenação da-quele que acusou. Porque provar “osnão factos”, ou aquilo que se não fez,é, em regra, muito difícil. A condenação é um ponto de chegada,uma conclusão. Eu não posso começarpor fazer uma condenação e depoisacrescentar: “e agora defende-te”. Mas o princípio tem ainda uma dimen-são ligada ao processo que é mais oumenos isto:Durante a investigação e até se terfeito a prova do julgamento não háuma certeza completa sobre a culpa

do arguido. Mas têm que se tomar emrelação a ele atitudes, ele tem que sertratado de certo modo. E então dasduas uma. Ou é tratado com tendopraticado o crime ou como não o tendopraticado. Porque a situação ainda éde dúvida (relativa, e sempre menor àmedida que o processo avança), entãoo melhor é tratar o arguido o mais pos-sível como se fosse inocente. Até aoúltimo momento pode chegar-se àconclusão de que afinal… não foi ele…

por Dr. Laborinho Lúcio

18. As penas na Justiça: paraque servem? A todo o crime, mais ou menos grave,corresponde um valor violado - a vida,no homicídio, a honra, nas injúrias, a pro-priedade, no furto, etc. - sendo que, acada crime, corresponde uma norma legalque o prevê e que pune a sua prática.Àquela violação vem assim a corres-ponder, pois, por via da lei, uma pena,também ela mais ou menos grave con-soante o crime cometido e o grau deculpa do seu autor.

Penas

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Ora esta pena serve, por um lado para,castigando o delinquente, mostrar ovalor da norma que proibe a práticado crime - se este fosse cometido enunca fosse punido, a norma perdiavalidade, tudo seria como se ela nãoexistisse - e, assim, levar todos a quenão os pratiquem; e, por outro lado,para mostrar afastar o próprio autorda ideia de vir a cometer outros crimesno futuro.

19. As prisões existem para quê? As prisões existem para garantirem ocumprimento das penas privativas daliberdade. Constituindo a liberdade umdos maiores bens do cidadão, a suaprivação constitui uma pena, entre nós,a mais grave, para cuja execução asprisões são instrumento. Importa, en-tretanto, que a pena consiste tão sóna privação da liberdade pelo que ao

recluso devem ser garantidos todosos seus direitos enquanto pessoa eassegurado o seu respeito por todos.

20. Porque não há pena demorte?Toda a pena deve ter um limite éticoque marca os limites do direito de punir.Uma pena que tem como objectivonegar a vida constitui uma violaçãoinaceitável e indigna desse princípio.Portugal compreendeu-o e foi o pri-meiro país europeu a abolir a pena demorte.

21. Porque não há prisão per-pétua? As razões não são muito diferentesdas que fundamentam a abolição dapena de morte. Uma pena para todauma vida ultrapassa os mesmos limiteséticos. Acontece, aliás, que nos paísesonde subsiste a prisão perpétua estanunca se cumpre para lá de um certonúmero de anos acabando sempre porser substituida por outra.

22. E não seria justo haver cas-tigos corporais? Porque não seusa tortura para obter a confis-são de um crime?Os castigos corporais são penas oumétodos degradantes de actuação.Ora, o Estado de Direito repousa osseus fundamentos no respeito peladignidade da pessoa humana, de todaa pessoa humana. Assim, usar castigoscorporais ou tortura, seria negar o pró-prio Estado de Direito e todas as aqui-sições civilizacionais e culturais quedele resultaram e que constituem hojepatrimónio irrecusável que nos identi-fica.

23. O que é a reinserção social?A reinserção social constitui um dosobjectivos da execução das penas. Sealguém comete um crime e é conde-nado, é importante que o Estado, aomesmo tempo que o obriga a cumprira respectiva pena, se envolva num es-forço de ressocialização do delinquentepara que este se integre socialmentee não cometa outros crimes. Por issoque a reinserção social corra tambéma favor da sociedade, em sua defesa,na medida em que o seu primeiro ob-jectivo é aqui o de evitar a prática denovos crimes e, assim, a repetida vio-lação de valores com relevo social.

por Dra. Joana Marques VidalAPAV

24. Porque não vão os jovensmenores para a cadeia?Em Portugal, face à lei a maioridadeatinge-se aos 18 anos, idade a partirda qual o cidadão assume em pleno atitularidade e a capacidade de exercício

Menores

de todos os seus direitos e responsa-bilidades. No entanto, a responsabilidade penalassume-se aos 16 anos, idade da im-putabilidade criminal. Assim, um jovemque pratica factos previstos comocrime, ainda que tenha entre os 16 eos 18 anos, será investigado e julgado,conforme as normas do Código Penale do Código do Processo Penal, nosmesmos termos em que o é um adulto. Considera-se que uma pessoa até aos16 anos, se encontra em fase de cres-cimento e desenvolvimento, não tendoainda atingido a maturidade, quer físicaquer psíquica, suficiente para ter umacompleta e total consciência da gravi-dade dos seus actos e das respectivasconsequências para a comunidade, paraos outros e para si. Tal não lhe permitedecidir racionalmente, livre na sua von-tade, sobre a prática ou não de deter-minado facto qualificado como crime.Por isso, até aos 16 anos, não lhes éaplicável a pena de prisão, nem qualqueruma das outras penas previstas no Có-digo Penal para quem cometa crimes.Mas, isso não implica impunidade edesresponsabilização.O nosso sistema legal, na Lei TutelarEducativa, prevê a aplicação de me-didas tutelares educativas, para os jo-vens com idades entre os 12 e os 16anos que cometam factos considera-dos pela lei penal como crimes. Estasmedidas têm como finalidade a “edu-cação do menor para o direito”, ouseja a interiorização e conscienciali-zação sobre a existência de determi-nados valores e bens essenciais paraa comunidade e para a vida em socie-dade, de tal modo importantes quenão podem ser violados sem a exis-tência de uma sanção; visam, também,as medidas a inserção do jovem, deforma digna e responsável, na vida emcomunidade. São medidas de naturezaeducativa e responsabilizante.As medidas previstas são, entre outras,a admoestação, a reparação ao ofen-dido, a realização de tarefas a favorda comunidade, a imposição de regrasde conduta e de obrigações, o acom-panhamento educativo e o interna-mento em centro educativo.A medida de internamento, em regimefechado ou semiaberto, é tão restritivada liberdade como a prisão, decor-rendo todo o quotidiano do jovem nointerior do centro.As medidas são aplicadas pelo Tribunalde Família e Menores, sendo ponde-radas a gravidade do facto praticadoe a personalidade do jovem.

“A reinserçãosocial constituium dos objectivos

da execução daspenas. Se alguémcomete um crime e écondenado, éimportante que oEstado, ao mesmotempo que o obriga acumprir a respectivapena, se envolva numesforço deressocialização dodelinquente para queeste se integresocialmente e nãocometa outros crimes

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A medida é aplicada no âmbito de umprocesso com normas rígidas que sedesenvolve pela fase de inquérito, pre-sidida pelo Ministério Público em quese investiga o facto e a problemáticaem causa e pela fase jurisdicional, pre-sidida pelo Juiz, em que decorrida aaudiência (julgamento) se decide a me-dida.Em caso de flagrante delito o menorpode ser detido e apresentado ao Juizpara primeiro interrogatório.Existem países, como a Espanha, emque a maioridade penal e civil coinci-dem, atingindo-se, ambas, aos 18anos.

25. Uma criança tem os mes-mos direitos que os adultos?A ideia de que a criança é um ser au-tónomo, titular e sujeito de direitos, éuma aquisição jurídica e civilizacionalhistoricamente muito recente. Foi na segunda metade do século XX,designadamente no período a seguirà II Guerra Mundial que se assistiu auma progressiva afirmação dos direitosda criança, conceptualizados a partirdo paradigma mais amplo dos direitoshumanos, como direitos próprios e au-tónomos do cidadão criança. A “De-claração dos Direitos da Criança”,assinada em Novembro de 1959, pelaAssembleia-Geral das Nações Unidas

e a Convenção dos Direitos da Criança,assinada em Nova Iorque, em 1989,constituem marcos fundamentaisdesse reconhecimento. Portugal rati-

ficou a Convenção, a qual faz parte doordenamento jurídico interno, por forçada Constituição da República Portu-guesa.Poderemos afirmar que as criançastêm os mesmos direitos dos adultos,

intrínsecos à dignidade da pessoa hu-mana e ainda mais alguns outros di-reitos, específicos da sua condição deser criança, como o direito a brincar eo direito à protecção.A nossa lei, desde a Constituição, aoCódigo Civil, à Lei de Protecção deCrianças e Jovens e à Lei Tutelar Edu-cativa, consagra os direitos da criançae estabelece, também o modo de osmesmos serem exercidos. Efectiva-mente, alguns desses direitos, pelaprópria natureza do desenvolvimentodas crianças, ainda que estas mante-nham a sua titularidade, não tem ca-pacidade para os exercer, pelo quesão representados pelos Pais. Em caso de conflito de direitos, quandoos direitos das crianças não são com-patíveis com outros direitos, designa-damente dos adultos, prevalece osuperior interesse da criança, princípiofundamental do Direito das Criançase Jovens.De qualquer modo, a lei estabelece oreconhecimento da intervenção directada criança em todos os processos quelhe dizem respeito, sendo a opinião dojovem, designadamente com mais dedoze anos, determinante em certoscasos.O direito à palavra e à participação éum dos mais relevantes direitos reco-nhecido à criança e ao jovem.

“Poderemosafirmar que ascrianças têm os

mesmos direitos dosadultos, intrínsecos àdignidade da pessoahumana e ainda maisalguns outrosdireitos, específicosda sua condição deser criança, como odireito a brincar e odireito à protecção.

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25 perguntas

por Dra. Rita MaltezABREU ADVOGADOS

1. O que é a Lei? Como é feita? A Lei é o conjunto de regras destinadasa regular as relações entre os indiví-duos em sociedade, bem como assuas relações com o Estado.A nossa Lei Fundamental, da qual nas-cem todas as outras, é a Constituição.A Constituição estabelece quais sãoos nossos direitos fundamentais ecomo se organiza o Estado.A Constituição diz algumas coisasmuito importantes. Por exemplo, dizque “Todos os cidadãos têm a mesmadignidade social e são iguais perantea lei.”Esta é uma regra básica da nossa con-dição de cidadãos, a base da nossavida em sociedade, conjuntamentecom a liberdade, que a lei estabelecee protege.Em Portugal temos as “Leis” propria-mente ditas e os “Decretos-Lei”. As“Leis” são feitas pelo Parlamento (As-sembleia da República) e os “Decre-tos-Lei” são feitos pelo Governo. È aConstituição que diz quais são as ma-térias sobre as quais a Assembleia daRepública e o Governo podem fazerLeis ou Decretos Leis. Se quisermos,podemos dizer que a Constituição é amãe de todas as leis.Há muitos tipos de leis, umas maiores(normalmente agrupadas em Códigos),outras mais pequenas, umas maiscomplicadas outras mais simples e fá-ceis de entender. Mas todas, cada umadelas no seu lugar, são importantes eestabelecem regras importantes parapodermos viver harmoniosamente emsociedade. Para além das leis e dos decretos-leihá ainda muitas outras regras a quetemos que obedecer e que decorremdeles (portarias, regulamentos, etc,etc, etc ...).Há regras sobre muitas coisas (algu-mas de que nunca os lembraríamosse não viessem nas notícias, por exem-plo a quantidade de sal que o pão podelevar ou a distância a que os barcosturísticos que nos Açores nos levam aver baleias têm que ficar das próprias

Lei

baleias, já imaginaram?). Na verdadehá regras sobre quase tudo o que tema ver com a nossa vida em sociedade.Às vezes parece um bocadinho asfi-xiante e com certeza que algumas leissão desnecessárias, mas em muitosaspectos é muito importante que exis-tam leis. Porque a melhor garantia quetemos de que os nossos direitos estãoprotegidos é a lei. Até porque a lei tam-bém define onde é que a própria leinão pode interferir.

2. A mesma lei pode ser inter-pretada de forma diferente?A lei deve ser geral e abstracta. Ouseja, como a lei é feita para toda agente e sem se ter em mente um casoconcreto, deve ser feita de modo a po-der aplicar-se a toda a gente e ao maiornúmero de situações possíveis. Quando se faz uma lei não sabemos

que situações vão correr no futuro e alei deve poder aplicar-se a muitas si-tuações diferentes.De cada vez que se aplica a lei, deve-mos olhar para o caso concreto e ten-tar ver se ele coincide com o que estádescrito na lei. Mas, por vezes acontece que o quese passa na realidade não encontrareflexo imediato e evidente na lei.E, por isso, as pessoas, mesmo os ju-ristas, os Juízes ou os Advogados, têmque tentar tirar um sentido da lei e dosfactos e podem ter opiniões diferentessobre o mesmo caso e sobre o sentidoda lei, sobre aquilo que a lei nos querdizer, os valores que pretende prote-ger.Para se chegar a uma conclusão, mui-tas vezes é necessário estudar as ori-gens da lei, ir ler decisões de Tribunais

que já discutiram aquela lei, consultarprofessores de Direito. Nem sempre a lei, ou a interpretaçãoque um Juíz faz da lei, nos agrada oucorresponde aos nossos desejos. Epor vezes até nos parece injusta.

3. Porque devemos ser todosiguais perante a lei? As leis representam o padrão pelo qualtodos os cidadãos devem reger a suavida em sociedade e, porque vivemosem democracia, as leis representamaquilo que a maioria pensa que é me-lhor para todos.A importância de haver leis e de ser-mos todos iguais perante a lei é queassim todos sabemos as regras e elasrepresentam o comportamento médioque se espera do bom cidadão. Mas esta é uma pergunta um poucocomplicada e a resposta ainda podeser mais. Talvez seja mais fácil se per-guntarmos porque é que não havemosde ser iguais perante a lei? Não há nenhuma razão válida, paranão termos todos os mesmos direitose deveres uns em relação aos outros,em comunidade.Como viveríamos se as regras fossemdiferentes em função do sexo, da raça,da religião? Na verdade já vivemos assim, noutrostempos e não correu nada bem.No nosso país, como na maior partedos países, somos todos iguais pe-rante a lei porque as discriminaçõeslevam a grandes injustiças, provocamgrande infelicidade e geram normal-mente grande violência, tornado a vidaem comunidade impossível.

4. Porque devemos obedecer àlei? Porque, como já dissemos, a lei repre-senta o padrão, a linha média daquiloque a maioria dos homens, ao longodos séculos, tem aceite que é o que émelhor para a maioria de nós ou quemelhor protege os valores que a maiorparte de nós acha importante prote-ger.É como num jogo, se existem regras,temos que as cumprir ou não há jogo.Só que aqui é a sério.

5. As leis podem mudar?Sim, claro que as leis podem mudar. Apesar de as leis representarem aquiloque a maioria das pessoas acham queestá correcto, as circunstâncias defacto em que uma lei foi feita podemalterar-se, os costumes e as mentali-dades também se alteram e tudo isso

“A Lei é oconjunto de regras

destinadas a regularas relações entre os indivíduos emsociedade, bemcomo as suasrelações com o Estado.

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entrevista

Um dos materiais de apoio funda-mentais no programa ‘Faça-se Jus-tiça!’ É o seu livro “O que é oDireito”, um manual dedicado aosmais jovens e com pouca paciênciapara longas explicações sobre te-mas mais ‘sérios’. Quais foram asmotivações que o levaram a escre-ver este livro: pessoais (as filhasadolescentes que tinha na altura)ou profissionais (os alunos a quemdava aulas)?Posso dizer que as motivações foramdos dois tipos. De um lado, a noçãode que muitos dos estudantes quandoentram na Faculdade de Direito nãotêm a noção do que é o Direito, doque é a Justiça, de como é que fun-ciona o Sistema Político e Jurídico por-tuguês… De outro lado, tinha em casana altura 3 filhas – que agora são 4 –que se interrogavam muito, precisa-mente, sobre o que era o Direito. Naaltura era um tipo de actividade quedesgasta muito – a minha mulher éjuiz, os pais chegam muito tarde acasa, o que é uma grande maçada.Portanto, foi essa incompreensão so-

bre o que é o Direito e como é quefunciona na prática que gerou essaideia de escrever um livro para jovens.�

Eram dúvidas de que género, as quelhe eram colocadas… Dúvidas derelatos noticiosos na TV, por exem-plo?Muitas vezes, aquilo que se verificaem Portugal é que muitos dos jorna-listas, por exemplo, que têm respon-sabilidades neste sector – mesmo quepontualmente, como no caso dos jul-gamentos – não têm noções básicasdo Direito, não têm noções básicassobre a Organização Judiciária Portu-guesa, sobre o Processo Civil, sobreo Processo Penal… E por isso, fre-quentemente, as notícias têm errosflagrantes. Por exemplo, o erro fla-grante de não entenderem a funçãoconstitucional do Ministério Público,de não compreenderem o que é apresunção de inocência. Portanto,havia e há a necessidade de comunicar– que o problema não está resolvido– em termos muito simples quais sãoessas ideias-base que estruturam num

país e num estado democrático quaissão as regras fundamentais de umEstado de Direito.

Acha que uma disciplina de ensinosecundário que abordasse o Direitoiria colmatar algumas destas lacu-nas sentidas pelos caloiros, quandoestes chegam à universidade?Aquilo que se vai ensinar no ensinosecundário não pode ser uma anteci-pação total daquilo que vai ser dadono ensino superior, porque para issohá o próprio ensino superior. Por isso, o que deveria ser ensinadosão os aspectos essenciais que or-ganizam o Estado de Direito Demo-crático, que organizam a Política eobviamente, os aspectos essenciais,nomeadamente, sobre, como hápouco estava a referir, a organizaçãodos tribunais… As bases que possampermitir a um jovem compreender ofuncionamento da sociedade contem-porânea – por exemplo, que possamcompreender uma notícia de jornalsobre um julgamento, possam com-preender o que é a Organização das

O Direito trocado por

Entrevista a António Pedro Barbas Homem,Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

“… só as pessoas que agem comculpa podem ser responsabili-zadas, só elas podem ser julga-

das e condenadas pelos seus actos.(…) É verdade que só as pessoas sãocapazes de culpa, isto é, de ser cons-cientes dos seus actos e de actuar vo-luntariamente de acordo com essaconsciência. Porém, tu sabes bem queexistem pessoas que não se aperce-bem do que fazem.”

“Que castigos são adequados aoscrimes? (…) Fomos um dos pri-meiros países do Mundo a abolir

a pena de morte (em 1867). (…) Umdos bens mais preciosos que temosé a liberdade. Por isso parece ade-quado que a pessoas que pratica umamaldade para com a sociedade sofraum castigo na sua liberdade: ser pri-vado dela! As prisões nasceram paralembrar às pessoas a importância daliberdade, que é o maior bem de queum cidadão pode usufruir num Es-

tado democrático. (…) devemos or-gulhar por Portugal ter sido dos pri-meiros países a abolir a pena deprisão perpétua. (…) Para outras si-tuações, existem penas de multa.Contudo, a pena de multa leva-nosde novo a ideia de equilíbrio e de me-dida.”

“(…) existem milhões de homense centenas de milhar de famílias.Não é possível reunir-nos todos

para decidir as regras das relaçõessociais. (…) Como não é possível reu-nirmos todas as pessoas, é necessáriodecidir o modo como vão ser esco-lhidas as regras das relações sociais:quem as escolhe, como, para quê,com que fins.”

“Do mesmo modo, as leis sãopublicadas para que todas aspessoas possam conhecê-las.

Publicar significa dar a conhecerao público. (…) Assim, a publica-

ção das leis tem de ser suficiente eigual: suficiente, para dar a conhe-cer a lei ao público; igual, para queninguém seja beneficiado (…) Apublicação das leis é hoje em diafeita num jornal chamado Diárioda Republica. Infelizmente, muitasvezes as pessoas ignoram as leis,(…) porque o número de leis semultiplica e a sua linguagem émuito complicada. Apesar disto,desde há muito tempo que se en-contra consagrado este princípio:a ignorância da lei não aproveita aninguém. Isto quer dizer o se-guinte: os cidadãos de um país de-vem estar informados sobre as leisque nele estão em vigor e podemser aplicadas. Todos admitimos queeste conhecimento não acontece(…) Contudo, o critério é o de es-tabelecer a igualdade dos cidadãos,evitando que os infractores possaminvocar o incumprimento das leisque lhes são desfavoráveis”

in O que é o Direito? de António Pedro Barbas Homem

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O primeiro ponto de partida para acompreensão do Direitoé este: não existem leisfora da sociedadehumana.

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Nações Unidas, possam compreendero que é o Parlamento, o que é quefaz o Parlamento… São estas ques-tões essenciais que, de facto, devemmerecer a atenção do legislador edu-cativo, mas também devem merecera atenção por parte da sociedade.

A carreira de Direito este durantemuito tempo associada a prestígio ea um certo status diferenciador deoutras profissões. O número de alu-nos que se tem inscrito na Faculdadede Direito da Universidade de Lisboatem diminuído, baixado ou tem-semantido constante nos últimos anos?Em relação à Faculdade de Direito, nãosó não diminuiu, como o número decandidatos tem aumentado. A Facul-dade de Direito tem esta situação, oque não é, provavelmente uma situaçãoidêntica às restantes faculdades de di-reito do país. �Aquilo que nós estamosa verificar é o seguinte: o problema é aligação entre o Curso de Direito e asprofissões jurídicas. Obviamenteo acesso a uma profissão jurí-dica, como a de juiz, procuradorda república, advogado… Exigeuma formação jurídica. Nestemomento, na sequência das re-formas do ensino superior quenão foram totalmente congruen-tes, no chamado Processo deBolonha, no acesso às profis-sões, aí é que nós verificamosque, neste momento, há situa-ções que precisavam de ser re-solvidas. Portanto, é nessesequência entre o curso de Di-reito e o acesso às profissões ju-rídicas que é necessário aindaclarificar quais é que são as re-gras do jogo, porque elas, defacto, deixam compreensivel-mente todos os jovens estudan-tes de Direito inquietos.

A páginas tantas do seu livro“O que é o Direito”, refere, comsentido do humor, que os as-suntos relacionados com o Di-reito podem parecer maçudospor não terem livros com bo-necos, por exemplo. É, defacto, uma linguagem muito hermé-tica e centrada em muito texto, leisque têm de ir sendo actualizadas enumerações…. No fundo, convencionou-se hoje emdia falar da crise do Direito e aindamais na crise da Justiça, o que é, emboa parte, é uma situação dramáticano bom funcionamento do Estado deDireito. E essa crise na Justiça resultade factores muito diferentes, por exem-plo o excesso de leis. Todos os diasnós somos confrontados com leis querevogam leis, que alteram outras leis,criando problemas jurídicos às vezesabsolutamente escusados.

Como podemos tornar assuntos me-nos ‘interessantes’ mais apetecíveispara os mais novos?Outras vezes, o que os jovens não seapercebem é que toda a nossa vida éuma vida emersa no Direito: desde quenos levantamos até ao momento emque nos deitamos à noite, vivemos oDireito, às vezes sem nos aperceber-mos. Quando vamos a um bar e pe-dimos um refrigerante ou um café,nós estamos a praticar um acto jurí-dico. Entramos num transporte públicoe estamos a praticar um acto jurídico…Toda a nossa vida é, por isso, o con-junto de todos esses actos jurídicosque nós praticamos e que muitas vezesnem nos damos conta que toda anossa vida é regida pelo Direito.Quando um jovem entra numa escolapública ou privada também vai praticaractos jurídicos e toda a escola está or-ganizada ou deve estar organizadapara que esse espaço jurídico seja ten-dencialmente um espaço não conflitual

– as regras sobre o estatuto disciplinarsão regras jurídicas, regras sobre aspróprias classificações dos estudantessão também regras jurídicas. Portanto,aquilo a que no fundo os jovens se têmque habituar é que o Direito faz parteda vida e, sobretudo, a boa organiza-ção da vida depende também de umaboa organização do Direito.O que é dramático na situação portu-guesa é esse excesso de leis e, muitasvezes, o excesso não ponderado deleis, gera uma própria conflitualidadeque era escusada e que, obviamente,se torna exagerada. Por exemplo, estareforma constante do estatuto disci-

“O acesso aos tribunais é umdos direitos fundamentais”

“Não se pode esquecer o carác-ter definitivo e obrigatório queadquirem as decisões dos tri-

bunais. Estas são obrigatórias paratodas as pessoas. (…)É um modode garantir a paz e a segurança doDireito, evitando que as pessoaspossam estar eternamente em con-flito umas perante as outras (…)

“(…) é necessário que existamregras e é necessário que al-guém assegure o seu cumpri-

mento. A ética e o Direito fazemparte destas regras. Temos agora quever como e quem pode ser o seu juiz.”

“Muitos até dizem, a propósitoda ética e do Direito, que é o Es-tado quem define as regras. (…

) Será assim? A verdade é que quemdefine as regras das relações dos ho-mens uns perante os outros são ospróprios homens. (…) as regras queorganizam a vida em sociedade sãoquase todas criação dos homens. Ape-tecia-me dizer: são a mais importantecriação do homem, porque são essasregras que nos vão ensinar (…) comonos devemos comportar uns peranteos outros. Contudo, existem limitespara as invenções dos homens: nãopodemos ordenar à natureza que façachover ou que deixe de chover, porexemplo.”

“Se praticamos um acto inde-vido, é de esperar que procu-remos repor a situação existente

antes de acto. Partiste um jarra; com-pras uma jarra igual e esperas queninguém dê pelo teu acto… Muitasvezes, no entanto, não é possível areconstituição da situação que existiaantes da prática do nosso acto da-noso (diz-se assim dos actos que pro-vocam danos, (…) A consequênciaé esta: quem provoca um dano temobrigação de indemnizar aquele queo sofreu, isto é, de lhe pagar com di-nheiro ou de outro modo o prejuízosofrido. Os prejuízos podem sermuito variados e às vezes não é fácilavaliá-los. Como é que se avalia amorte de uma pessoa? E o sofri-mento? Avaliar uma coisa é mais fá-cil: uma casa, um objecto, umanimal. Em certos casos falamos dedanos morais, noutros de danos ma-teriais. (…) Assim, tudo tem de seravaliável em dinheiro para se podersaber qual a indemnização que umaspessoas têm o direito de exigir e ou-tras o dever de prestar”

in O que é o Direito? de AntónioPedro Barbas Homem

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Actualmente fala-se muito em di-reitos. No entanto, existem tiposmuito diferentes de direitos do

homem. É importante não esquecer que a con-quista destes direitos não foi uma etapa pacíficae calma na história da humanidade: houve rev-oluções, guerras sangrentas, genocídios. Hojeconsiderados intoleráveis a escravatura, osmaus tratos, as penas corporais, a discrimi-nação em função da raça, da religião, da cor…Infelizmente, em muitas regiões do Mundo,especialmente em África e na Ásia, muitasdestas práticas permanecem para nos recordara importância dos direitos do homem. Falamosdeles como uma coisa evidente, esquecendotantas páginas negras da história do homem eda situação actual em muitos países. Lembro-

te como ainda há pouco tempo todos nos emo-cionámos com a opressão dos Timorenses. Osmais importantes são os direitos de personal-idade. São aqueles direitos através dos quaiscada homem se afirma como pessoa e vive opeso da sua liberdade e da sua responsabilidade.Estes direitos devem ser respeitados pela so-ciedade e pelas autoridades políticas, dizendo-se serem inalienáveis porque não podem sernegados nem transferidos para outros e porquee porque não representam uma concessão doEstado ou da sociedade: são inerentes a cadapessoa pelo simples facto de existir e pertencer-lhe desde a origem da vida. Assim, o respeitoe a protecção da vida humana levam-nos àproibição da degradação do homem num ob-jecto e no reconhecimento do direito que eletem ao livre desenvolvimento. A Constituiçãoprefere outra denominação, referindo comotipo mais importante de direitos os chamadosdireitos, liberdades e garantias pessoais. Emprimeiro lugar está o direito à vida. Logo aseguir temos o direito à liberdade, à segurançae à integridade física e moral das pessoas, doque se segue como consequência, nomeada-mente, a proibição da tortura e das penas cruéis,desumanas ou degradantes. Sendo cadahomem uma pessoa, existe um direito geralde personalidade, do qual faz parte o recon-hecimento do direito ao desenvolvimento e orespeito da personalidade como resultado dadignidade humana. Liberdade para escolhero destino e o modo de ser feliz – ou infeliz…Actualmente, este direito de personalidade lev-anta alguns problemas complexos, face ao de-senvolvimento da bio-ética, como utilizaçãode embriões humanos, e face ao problema dadefinição do início e do termo da vida,nomeadamente por causa do aborto e da eu-tanásia e da utilização de cadáveres e órgãoshumanos para transplantes. O direito à iden-tidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania,ao bom nome e à reputação, à imagem, àpalavra e à reserva de intimidade de vida pri-vada e familiar são igualmente direitos pessoais,os quais garantem que ninguém deve sofrerintromissões arbitrárias na sua vida privada,na sua família, no seu domicilio ou na sua cor-respondência, nem ataques às suas honra econsideração. Outros direitos pessoais incluema liberdade de circulação, incluindo a faculdadede escolher a residência e a de abandonar oseu país, de que temos como aplicação o prob-lema da emigração clandestina e do auxílio àemigração; o direito de casar e de construirfamília, assente na liberdade do consentimentodos futuros esposos e na igualdade de direitosdos cônjuges; o direito de propriedade, in-cluindo o direito ao respeito pelos seus bens;a liberdade de pensamento, de consciência ede religião; a liberdade de reunião e de asso-ciação; a liberdade de opinião e de expressão,o que implica o direito de ninguém ser inqui-etado pelas suas opiniões e o de procurar, re-ceber e difundir informações e ideias porqualquer meio de expressão (livros, jornais,televisão, Internet…). Contudo, existem re-strições à liberdade de expressão, porque essedireito impõe deveres e responsabilidades quepodem ser impostos numa sociedadedemocrática, tendo em vista defender certosbens essenciais da democracia pluralista, comosegurança nacional, a integridade territorial ea segurança pública, a defesa da ordem e a pre-

venção do crime, a protecção da saúde e damoral, a protecção da honra e dos direitos deoutrem, para impedir a divulgação de infor-mações confidenciais, ou para garantir a au-toridade e a imparcialidade do poder judicial.A relevância moral da liberdade de consciênciaé tão grande que constitui um limite inultra-passável às decisões das maiorias. Com elegân-cia, o preâmbulo da Declaração Universal dosDireitos do Homem apela para o “advento deum mundo em que os seres humanos sejamlivres de falar e de crer, libertos do terror e damiséria”. Já estás cansada com a enumeraçãodos direitos? Ainda mal começámos! Comotemos falado, em matéria penal são direitosfundamentais a proibição da tortura, da penascruéis, desumanas ou degradantes; a proibiçãode arbítrio na privação de liberdade, por prisão,detenção ou exílio – pelo que a privação deliberdade só é consentida nos casos e pelosmotivos previstos por lei; o direito de cada pes-soa ser informada no momento da detençãodas suas razões e da acusação que sobre elaimpende; a obrigação de o arguido ser pronta-mente conduzido perante juiz ou autoridadejudiciária (deste modo, a prisão preventiva daspessoas aguardando julgamento não deve serregra geral); o direito a que o julgamentodecorra em prazo razoável ou sem demora ex-cessiva ou em curto prazo de tempo; o direitodos indivíduos detidos ou presos de apre-sentarem recurso perante um tribunal. É im-portante recordar a diferença entre os conceitosde prisão e de detenção, nomeadamente pelaobrigação de os Estados manterem separadasas pessoas condenadas e aquelas que aguardamjulgamento, bem como de separar nas prisõesos jovens dos adultos. Infelizmente, estes últi-mos direitos são ignorados mesmo em Portu-gal, o que é afrontoso. Por estas razões degarantia da defesa, as audiências devem serpúblicas e os arguidos devem dispor de temporazoável e de facilidades para preparar a defesa,bem como do direito a estar presentes noprocesso e nomearem um defensor da sua es-colha ou ser-lhes atribuído um oficioso a títulogratuito se não tiverem meios para remunerar.Não podemos perder de vista a proibição deleis penas retroactivas, o direito à compreensãopor prisão ou detenção ilegais ou por motivode condenação por erro judiciário; a proibiçãode repetição de julgamento de pessoas absolvi-das ou condenadas por sentença definitiva –excepto se existirem factos novos ou recente-mente revelados ou um vício fundamental noprocesso anterior poder afectar o resultado dojulgamento; a proibição de penas de prisãocom fundamento no incumprimento de obri-gações contratuais; o direito à presença em jul-gamento, com a consequente proibição dejulgamentos à revelia, ou seja, sem presençado réu. Outro tipo de direitos fundamentaissão os direitos políticos, entre os quais encon-tramos o de participar na direcção da vidapolítica do país, o direito de acesso a funçõespúblicas e a exigência de eleições honestas arealizar periodicamente por sufrágio igual euniversal, por voto secreto ou processo equiv-alente para o órgão legislativo, bem como aexigência de sufrágio universal assente na igual-dade dos votos.”

in O que é o Direito? de António PedroBarbas Homem

Título: O que é o DireitoAutor: Prof. António PedroBarbas HomemEditora: Principia

Trata-se de um livro escrito emtom coloquial e completado comexemplos acessíveis a jovens lei-tores que parte da constatação deque, actualmente, «a Justiça e oDireito vivem uma crise profunda»e que «ninguém se revê nas insti-tuições de justiça», António PedroBarbas Homem procura clarificarem que consiste o Direito e a im-portância de que ele se revesteem qualquer sociedade.

Começando por sublinhar que asduas matérias-primas do Direitosão, no fundo, a liberdade e a res-ponsabilidade, o autor toma comointerlocutora a sua filha de 16anos para discorrer, com base nasmais diversas situações da vidaquotidiana, acerca dos modos deque se serve o Direito para «orga-nizar a liberdade» e «disciplinar aresponsabilidade».

Podes adquirir este livro em:

www.principia.pt

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plinar do estudante é algo que se tornaincompreensível – é um vai e vem cons-tante que é, por um lado, absoluta-mente escusado. De outro lado, temefeitos muito negativos no bom fun-cionamento das escolas e no própriobom funcionamento da sociedade. Éo facto de se introduzirem essas refor-

mas de forma imponderada que gerauma conflitualidade entre os alunos,os professores com os alunos e ospais, as direcções das escolas com to-dos.

Já assistiu a várias gerações de alu-nos. A sensibilidade a conceitoscomo os de Direito e Justiça mudou?Lá porque os tempos mudaram e astecnologias mudaram… Teve neces-sidade de reformular as suas aulas?Eu penso que não. O que nós verifica-mos é a mudança do contexto. As ge-rações mudam, obviamente, e oscontextos mudam também, mas aspreocupações com as grandes preocu-

pações com a organização da socie-dade, do Estado, da Justiça, essas,penso eu, são eternas. Elas mantêm-se. Obviamente que numa faculdade nemtodos os estudantes têm as mesmaspreocupações e motivações sociais…Há muitos estudantes que têm aolongo do seu percurso académico mui-

tos problemas de natureza familiar, pes-soal e outras. Agora o que se verificaé essa constante: há sempre um nú-mero de estudantes muito preocu-pado com estas questões sociais emuito empenhado também na própriavida académica.

Para os nossos leitores mais novos:conseguiria resumir em apenas umafrase e de uma forma simples o queé o Direito?Não (risos). Perderia o interesse todo…

Para finalizar… Que mensagem querdeixar à equipa do projecto ‘Faça-se Justiça!’ e quais são as suas ex-

pectativas em relação a este con-curso?Eu penso que o Projecto ‘Faça-se Jus-tiça!’ é um projecto extremamente in-teressante e muito importante nasociedade contemporânea. Um dosproblemas que nós actualmente vive-mos tem a ver, como eu há poucodisse, exactamente com a crise na Jus-tiça e a crise da Justiça e a crise doDireito. E estas crises levam a todo otipo de oportunismos, quer de naturezapolítica, quer de natureza cívica e émuito importante que os jovensaprendam que a sociedade e o Direitotêm valores e têm que viver de acordocom esses valores. Esses valores têmde ser incorporados como valores so-ciais, mas também como valores vivi-dos pessoalmente. Nesse sentido, osjovens têm de perceber que a Justiçanão é apenas algo que se exija do Es-tado, mas algo que corresponde à ac-tividade de cada um, não é só aactividade profissional do jurista, éum valor social que tem de ser, defacto, vivido pelas pessoas na suaconvivência umas com as outras.Esse é um aspecto fundamental paraa boa ordenação da sociedade e umdos aspectos mais graves que nós vi-vemos na sociedade contemporâneatem a ver com essa ausência de edu-cação para os valores, entre os quaisse encontra a Justiça. Por isso, é muitoimportante que os jovens se habituedesde cedo não só a compreender anecessidade da Justiça, mas a com-preender o modo como essa Justiçase realiza nas relações sociais: as re-lações que têm com os amigos, comos pais, nas relações que têm dentroda escola, na vizinhança... Toda essaaprendizagem para o Direito e para aJustiça é essencial para a própria boavida em comunidade.

“Para além deste tipo de direitosfundamentais, existem igual-mente outros a que se dá a de-

nominação de direitos sociais.Também aqui a enumeração é muitoextensa. Entre estes podemos enu-merar o direito à segurança social; odireito ao emprego e à livre escolhado trabalho, (…) Também existemdireitos sociais em matéria educativae cultural, como o direito à educação,nomeadamente a gratuitidade e a ob-rigatoriedade de frequência do ensinoelementar, o estabelecimento de con-dições de igualdade no acesso ao en-sino superior em função do mérito,e o direito dos pais para, com pro-priedade, escolherem o género deeducação a dar aos filhos.”

“(…) as nossas acções devem serconformadas com a virtude.”

“(…) os pilares (…) a dignidadede cada pessoa humana e a cer-teza e segurança do Direito. (…

) Declaração Universal dos Direitosde Homem (…) É o principio daigualdade dos cidadãos perante a lei.(…) a escravatura (…) condenação àmorte (…) a dignidade pessoal de ho-mem concreto não pode ser violada.(…) Também a Constituição portu-guesa declara o princípio da igualdadedos cidadãos. Porém, existem muitosexageros quanto ao entendimento adar a este princípio. Por exemplo (…) As pessoas não podem aproveitar-se do incumprimento dos deverespelo Estado para justificar os seus ac-tos proibidos.(…) Assim, o princípioda igualdade não é uma regra de or-ganização da sociedade, mas é, antesdo mais, uma exigência dirigida aoEstado, um princípio que dirige a ac-

tividade legislativa e administrativado Estado. Porque as pessoas sãoiguais perante a lei, as leis devem sergeridas e abstractas, sem as distinguirde modo arbitrário ou sem funcio-namento. Contudo, se as situaçõessão diferentes, as leis devem igual-mente tratar de forma distinta essassituações. (…) O princípio da igual-dade é, assim, essencial ao Estado deDireito através da actuação dos se-guintes critérios: proíbe o arbítrio;proíbe a discriminação; obriga a di-ferenciar aquilo que é desigual. (…)Infelizmente, em muitos países doMundo continua-se a praticar costu-mes que nós só podemos considerarabsolutamente contrários à dignidadedos homens: a escravatura; os castigoscorporais (…) a desigualdade do es-tatuto das mulheres; (…) o trabalhode crianças (…)”

in O que é o Direito? de António Pedro Barbas Homem

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entrevista

Actualmente fala-se muito em di-reitos. No entanto, existem tiposmuito diferentes de direitos do

homem. É importante não esquecer que a con-quista destes direitos não foi uma etapa pacíficae calma na história da humanidade: houve rev-oluções, guerras sangrentas, genocídios. Hojeconsiderados intoleráveis a escravatura, osmaus tratos, as penas corporais, a discrimi-nação em função da raça, da religião, da cor…Infelizmente, em muitas regiões do Mundo,especialmente em África e na Ásia, muitasdestas práticas permanecem para nos recordara importância dos direitos do homem. Falamosdeles como uma coisa evidente, esquecendotantas páginas negras da história do homem eda situação actual em muitos países. Lembro-

te como ainda há pouco tempo todos nos emo-cionámos com a opressão dos Timorenses. Osmais importantes são os direitos de personal-idade. São aqueles direitos através dos quaiscada homem se afirma como pessoa e vive opeso da sua liberdade e da sua responsabilidade.Estes direitos devem ser respeitados pela so-ciedade e pelas autoridades políticas, dizendo-se serem inalienáveis porque não podem sernegados nem transferidos para outros e porquee porque não representam uma concessão doEstado ou da sociedade: são inerentes a cadapessoa pelo simples facto de existir e pertencer-lhe desde a origem da vida. Assim, o respeitoe a protecção da vida humana levam-nos àproibição da degradação do homem num ob-jecto e no reconhecimento do direito que eletem ao livre desenvolvimento. A Constituiçãoprefere outra denominação, referindo comotipo mais importante de direitos os chamadosdireitos, liberdades e garantias pessoais. Emprimeiro lugar está o direito à vida. Logo aseguir temos o direito à liberdade, à segurançae à integridade física e moral das pessoas, doque se segue como consequência, nomeada-mente, a proibição da tortura e das penas cruéis,desumanas ou degradantes. Sendo cadahomem uma pessoa, existe um direito geralde personalidade, do qual faz parte o recon-hecimento do direito ao desenvolvimento e orespeito da personalidade como resultado dadignidade humana. Liberdade para escolhero destino e o modo de ser feliz – ou infeliz…Actualmente, este direito de personalidade lev-anta alguns problemas complexos, face ao de-senvolvimento da bio-ética, como utilizaçãode embriões humanos, e face ao problema dadefinição do início e do termo da vida,nomeadamente por causa do aborto e da eu-tanásia e da utilização de cadáveres e órgãoshumanos para transplantes. O direito à iden-tidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania,ao bom nome e à reputação, à imagem, àpalavra e à reserva de intimidade de vida pri-vada e familiar são igualmente direitos pessoais,os quais garantem que ninguém deve sofrerintromissões arbitrárias na sua vida privada,na sua família, no seu domicilio ou na sua cor-respondência, nem ataques às suas honra econsideração. Outros direitos pessoais incluema liberdade de circulação, incluindo a faculdadede escolher a residência e a de abandonar oseu país, de que temos como aplicação o prob-lema da emigração clandestina e do auxílio àemigração; o direito de casar e de construirfamília, assente na liberdade do consentimentodos futuros esposos e na igualdade de direitosdos cônjuges; o direito de propriedade, in-cluindo o direito ao respeito pelos seus bens;a liberdade de pensamento, de consciência ede religião; a liberdade de reunião e de asso-ciação; a liberdade de opinião e de expressão,o que implica o direito de ninguém ser inqui-etado pelas suas opiniões e o de procurar, re-ceber e difundir informações e ideias porqualquer meio de expressão (livros, jornais,televisão, Internet…). Contudo, existem re-strições à liberdade de expressão, porque essedireito impõe deveres e responsabilidades quepodem ser impostos numa sociedadedemocrática, tendo em vista defender certosbens essenciais da democracia pluralista, comosegurança nacional, a integridade territorial ea segurança pública, a defesa da ordem e a pre-

venção do crime, a protecção da saúde e damoral, a protecção da honra e dos direitos deoutrem, para impedir a divulgação de infor-mações confidenciais, ou para garantir a au-toridade e a imparcialidade do poder judicial.A relevância moral da liberdade de consciênciaé tão grande que constitui um limite inultra-passável às decisões das maiorias. Com elegân-cia, o preâmbulo da Declaração Universal dosDireitos do Homem apela para o “advento deum mundo em que os seres humanos sejamlivres de falar e de crer, libertos do terror e damiséria”. Já estás cansada com a enumeraçãodos direitos? Ainda mal começámos! Comotemos falado, em matéria penal são direitosfundamentais a proibição da tortura, da penascruéis, desumanas ou degradantes; a proibiçãode arbítrio na privação de liberdade, por prisão,detenção ou exílio – pelo que a privação deliberdade só é consentida nos casos e pelosmotivos previstos por lei; o direito de cada pes-soa ser informada no momento da detençãodas suas razões e da acusação que sobre elaimpende; a obrigação de o arguido ser pronta-mente conduzido perante juiz ou autoridadejudiciária (deste modo, a prisão preventiva daspessoas aguardando julgamento não deve serregra geral); o direito a que o julgamentodecorra em prazo razoável ou sem demora ex-cessiva ou em curto prazo de tempo; o direitodos indivíduos detidos ou presos de apre-sentarem recurso perante um tribunal. É im-portante recordar a diferença entre os conceitosde prisão e de detenção, nomeadamente pelaobrigação de os Estados manterem separadasas pessoas condenadas e aquelas que aguardamjulgamento, bem como de separar nas prisõesos jovens dos adultos. Infelizmente, estes últi-mos direitos são ignorados mesmo em Portu-gal, o que é afrontoso. Por estas razões degarantia da defesa, as audiências devem serpúblicas e os arguidos devem dispor de temporazoável e de facilidades para preparar a defesa,bem como do direito a estar presentes noprocesso e nomearem um defensor da sua es-colha ou ser-lhes atribuído um oficioso a títulogratuito se não tiverem meios para remunerar.Não podemos perder de vista a proibição deleis penas retroactivas, o direito à compreensãopor prisão ou detenção ilegais ou por motivode condenação por erro judiciário; a proibiçãode repetição de julgamento de pessoas absolvi-das ou condenadas por sentença definitiva –excepto se existirem factos novos ou recente-mente revelados ou um vício fundamental noprocesso anterior poder afectar o resultado dojulgamento; a proibição de penas de prisãocom fundamento no incumprimento de obri-gações contratuais; o direito à presença em jul-gamento, com a consequente proibição dejulgamentos à revelia, ou seja, sem presençado réu. Outro tipo de direitos fundamentaissão os direitos políticos, entre os quais encon-tramos o de participar na direcção da vidapolítica do país, o direito de acesso a funçõespúblicas e a exigência de eleições honestas arealizar periodicamente por sufrágio igual euniversal, por voto secreto ou processo equiv-alente para o órgão legislativo, bem como aexigência de sufrágio universal assente na igual-dade dos votos.”

in O que é o Direito? de António PedroBarbas Homem

Título: O que é o DireitoAutor: Prof. António PedroBarbas HomemEditora: Principia

Trata-se de um livro escrito emtom coloquial e completado comexemplos acessíveis a jovens lei-tores que parte da constatação deque, actualmente, «a Justiça e oDireito vivem uma crise profunda»e que «ninguém se revê nas insti-tuições de justiça», António PedroBarbas Homem procura clarificarem que consiste o Direito e a im-portância de que ele se revesteem qualquer sociedade.

Começando por sublinhar que asduas matérias-primas do Direitosão, no fundo, a liberdade e a res-ponsabilidade, o autor toma comointerlocutora a sua filha de 16anos para discorrer, com base nasmais diversas situações da vidaquotidiana, acerca dos modos deque se serve o Direito para «orga-nizar a liberdade» e «disciplinar aresponsabilidade».

Podes adquirir este livro em:

www.principia.pt

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visto da Católica

Do Google aoFacebook: Desa-fios da Internetem Democracia

Por Pedro Garcia Marques, Facul-dade de Direito da Universidade Ca-tólica Portuguesa

No passado dia 12 de Janeiro de 2010,a multinacional norte-americana Goo-gle anunciou “não estar na disposiçãode continuar a censurar os resultadosde pesquisa” no servidor que utiliza naChina continental, o Google.cn.Até há pouco, a empresa americanafora alvo de repetidas críticas por adop-tar uma política favorável ao screeningde palavras-descritores, seleccionandoa informação a prestar no motor depesquisa disponível no território chinêscontinental, quando em causa estives-sem palavras politicamente sensíveis.Assim, por exemplo, o resultado depesquisa para palavras como “Tankman (homem do tanque)”, “Tiananmen”ou ainda “June 4, 1989 (4 de Junho de1989)” traduzia-se, habitualmente, ape-nas no surgimento de uma nota infor-mando que “os resultados da pesquisapoderão não estar de acordo com asleis, regulamentos e políticas relevantese não podem ser exibidos”.Ora, notícias vindas a público no iníciodo ano confirmavam o levantamentopela Google dos filtros até aí existentes,permitindo o acesso livre a informaçãoantes censurada no conhecido motorde busca.Aparentemente, a Google decidira in-verter a sua política de apaziguamentocom as autoridades chinesas, aban-donando os procedimentos de censuraintroduzidos nos servidores a operarno território.

Iniciou-se um conflito entre ambas asinstituições, a que não faltou insistentesataques informáticos à entidade norte-americana, alegadamente da autoriade hackers ao serviço do governo chi-nês, e que culminou na ameaça daGoogle de retirada daquele apetecívelmercado. Nesta disputa, o Governo chinês de-fendeu a sua política de restrição deacesso a informação em motores depesquisa, considerando que, como to-dos os governos nacionais, tambémele adopta procedimentos de monito-rização de acordo com as especifici-dades nacionais de cada país e que asociedade chinesa tem menos capa-cidade de lidar com informação do queas sociedades ocidentais, como a dosEstados Unidos da América (Cfr. Peo-ple’s Daily, 19 de Janeiro de 2010). A 22 de Março, os utilizadores na Chinacontinental aperceberam-se que qual-quer pesquisa no domínio Google.cnpassou automaticamente a ser redirec-cionada para o Google.com.hk, de HongKong, o qual não censura qualquer re-sultado de pesquisa. Deste modo, aGoogle levantou todas as medidas decensura até aí existentes no seu motorde pesquisa da China continental.Em reacção a esta medida, a 30 domesmo mês, quase todos os sites daGoogle, com excepção dos GoogleMail e Google Maps, são banidos doterritório chinês continental, indicandoas respostas a todas as pesquisas fei-tas naqueles servidores a existênciade “DNS Error”.Aparentemente, aqui encontramos umexemplo dos desafios colocados porum motor de pesquisa capaz de as-segurar aos seus utilizadores uma ja-nela aberta ao mundo.Na verdade, é isso a Internet – uma ja-nela aberta ao mundo – e se outrasexistiam já, esta tem ainda um plus:abre-se de acordo com a vontade doseu utilizador, percorre o caminho queeste escolheu e, dando-lhe acesso ainformação que este não domina, per-mite-lhe ir mais longe nos seus conhe-cimentos. Ora, se se sabe mais,conhece-se mais e se assim é, pensa-se mais e critica-se de forma mais es-clarecida. Mas a net é também um espaço emque a informação, ao circular sem res-trições, pode levantar dificuldades queobrigam a considerar a adopção demedidas que limitem o acesso à e autilização da mesma. Quem discute,por exemplo, a possibilidade de res-trição de acesso a menores de idadea sites com conteúdos para adultos oua adopção de meios técnicos que per-mitam evitar downloads indiscrimina-dos de conteúdos sujeitos a direitosde autor?Assim, se é possível e necessário acei-tar restrições à circulação de informa-

ção na net, as enormes vantagens quea mesma traz na promoção de umaopinião pública mais informada, maisalerta e mais culta, obriga a uma cla-rificação, a uma separação de águas,entre as restrições que são admissíveisnuma democracia e que têm semprede existir e aquelas que correspondema puros actos de censura, incompatí-veis com o respeito pela liberdade in-dividual.Assim, a necessidade de proteger pú-blicos sensíveis e frágeis, como crian-ças e jovens, justifica a adopção demedidas de bloqueio de acesso a in-formação proveniente da net. Pelo quea possibilidade de atribuir a pais o po-der de introduzir software capaz de as-segurar a restrição de acesso a sitesde conteúdos eróticos, pornográficosou violentos em computadores dosseus filhos menores de idade, justifica-se, plenamente, no âmbito do exercíciolegítimo do seu direito e dever de edu-car. A exigência de protecção utiliza-dores da net menores de idade é umvalor que justifica bem algumas restri-ções no seu acesso livre.Também assim, quando em causa es-teja a protecção da privacidade e daintimidade da vida privada.Em relação a este valor constitucional,há que reconhecer que a utilização daInternet levanta alguns problemas,dada a facilidade com que aí se podeviolar a intimidade das pessoas. Naverdade, é hoje comum e particular-mente fácil publicar fotos e vídeos depessoas, em situações de vida privadae íntima, no facebook, no hi5, no you-tube ou noutros servidores, sem queestas tenham dado, para isso, a suaautorização. É, por isso, importantecompreender que cada pessoa tem di-reito à preservação da sua privacidadee da sua intimidade e que ninguémpode dispor de qualquer delas sem oseu conhecimento e consentimento.Pelo que, em democracia, os tribunaispodem sempre responsabilizar quemactue daquele modo e podem ordenara retirada de conteúdos colocados netpor atingirem a privacidade e a intimi-dade de pessoas que não autorizarama sua publicação.Do mesmo modo quando em causaestá a protecção do bom nome e dahonra de pessoas individuais. É comumencontrar em sites ou blogs abertos acomentários, afirmações, muitas pro-venientes de utilizadores anónimos,cujo conteúdo é gratuitamente insul-tuoso e ultrajante. Também aqui, a pro-tecção do valor do bom nome e dahonra, pode bem justificar que o ofen-dido possa procurar a intervenção dostribunais no sentido de apurar respon-sabilidades.Também a necessidade de protecçãodos direitos de artistas em relação àssuas obras (ex. música e literatura), ex-

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plica que as mesmas apenas se pos-sam disponibilizar, na íntegra, medianteautorização dos mesmos. E que pos-sam ser tomadas medidas no sentidode impedir os seus downloads gratuitosilegais. Assim o impõe o valor de pro-tecção de direitos de autoria, em ma-téria artística.Há, por isso, alguns valores que justi-ficam que, excepcionalmente, se possajustificar, mesmo em democracias, al-gumas restrições de acesso à Internet,bem como, o apuramento de respon-sabilidades em relação a quem não ascumpra. Foram referidos alguns dessesvalores. Contudo, apenas quando valores in-dividuais constitucionalmente relevan-tes estejam em causa, será de admitir,em democracia, tais restrições e ape-nas na medida em que as mesmas se-jam necessárias à sua protecção.Ora, se assim é, a limitação e bloqueiode acesso a sites por exprimirem certasideias e opiniões ou por promoveremcertas críticas às autoridades não pa-rece justificar-se à luz de nenhum valorindividual constitucionalmente relevante. Muito pelo contrário, aí está em causauma verdadeira liberdade: o exercícioda liberdade expressão de opinião ede crítica, pelo que a imposição decensura naqueles casos seria insus-tentável numa democracia. Assim, se um Estado de Direito Demo-crático está obrigado a respeitar e de-fender as liberdades individuais, cabeaos poderes públicos garantir que aopinião se expresse livremente, mesmoquando e principalmente quando, aopinião expressa seja crítica em relaçãoa esses poderes. Só assim pode existiruma opinião pública livre e esclarecida,a qual é a base de uma democracia,sustentada em cidadãos que se que-rem verdadeiramente livres e iguais. n

Os direitos dasgerações futuras

Por Jorge Pereira da Silva, Faculdadede Direito da Universidade CatólicaPortuguesa

Não é moralmente aceitável que ospais procurem viver à conta dos filhos.

Nenhum pai contrai um empréstimopara os seus filhos pagarem mais tarde,quando começarem a ganhar dinheiro.Pelo contrário, os bons pais investemna educação dos filhos e, quando po-dem, poupam algum do seu rendi-mento para mais tarde os ajudarem aconstruir a sua independência. Sacri-ficam parte do seu bem-estar para queeles possam ter um futuro melhor. Por que razão não aplicamos estemesmo princípio no governo dos Es-tados? Por que razão se tolera que osgovernantes actuais sobrecarreguemas gerações futuras com pesados en-cargos financeiros e com desmesura-dos passivos ambientais? Algunsasseguram, convictamente, que é justoque as gerações futuras compartilhemcom a geração presente os custos deobras, investimentos e políticas de que,elas próprias, também virão a retirarbenefícios. Seria este o único proce-dimento conforme com os cânones daracionalidade económica e financeira. Pode ser que estejam certos, mas épouco provável. É preciso não esque-cer que somos nós – isto é, a geraçãopresente – que decidimos fazer asobras, realizar os investimentos e adop-tar as políticas públicas. Somos nós,e não as gerações futuras. E, precisa-mente porque somos nós que toma-mos as decisões, fazemo-lo à luz dasnossas prioridades políticas, dos nos-sos modelos de desenvolvimento, darelação que estabelecemos entre am-biente e progresso económico. Deresto, fazemo-lo também visando a sa-tisfação das nossas aspirações debem-estar e das nossas ingentes ne-cessidades de emprego. Não é de es-tranhar que nos pareça equitativo queas gerações vindouras suportem osencargos decorrentes das nossas ac-ções de hoje. É fácil considerar comojusto um veredicto quando julgamosem causa própria, em sintonia com osnossos interesses, sem ter de pergun-tar a opinião dos demais afectados. No entanto, num mundo cada vez maisimprevisível, quem pode garantir queas gerações oneradas com as obras,investimentos e políticas que pusemosem marcha vão pensar como nós?Num mundo em que a única certeza éa permanente mudança, ainda quandoas nossas intenções presentes sejamas melhores, não terão as gerações fu-turas o direito de exigir uma especialprudência e uma particular probidadenas decisões que as vão onerar?É evidente que sim. Não obstante, osgovernantes insistem em comportar-se à semelhança de um pai que com-pra uma casa nova, à medida das suasnecessidades, e que deixa grandeparte do respectivo preço para os filhospagarem, com o argumento de queeles também vão viver nela e que maistarde a virão a herdar. A verdade, con-

tudo, é que cada vez mais os gover-nantes actuam desta forma porque asociedade actual constitui uma imensaglorificação do presente. Vive-se o pre-sente como se não houvesse futuro.O próprio presente é reduzido à actua-lidade. O tempo é sentido como cadavez mais curto e urgente, para serusado intensamente. E, por conse-quência, podem tomar-se decisões po-líticas de enorme alcance como se ofuturo não existisse ou, pior, como seo futuro fosse apenas mais uma opor-tunidade de viver comodamente a ac-tualidade e de uma forma maisdespreocupada.Decidir desta forma, hipotecando sis-tematicamente a vida das geraçõesvindouras, é inaceitável à luz de umaética de responsabilidade. Mas conti-nua a ser politicamente possível emrazão da enorme discrepância existenteentre o tempo normal de permanênciaem funções dos governantes e o tempoem que se fazem sentir as consequên-cias dos seus actos. A escala temporaldos decisores políticos reparte-se, namelhor das hipóteses, em curtas le-gislaturas de quatro ou cinco anos, aopasso que as escalas das transforma-ções económicas estruturais, das mu-tações sociais e culturais profundas edos ciclos biológicos e naturais sãosempre bastante mais espaçadas, me-dindo-se muitas vezes em dezenas deanos, quando não – como sucede comas decisões gravemente lesivas do am-biente – em centenas ou milhares deanos.Atendendo ao modo de funcionamentodas democracias ocidentais, não podedizer-se que elas estejam aptas a ga-rantir a solidariedade intergeracional eos direitos das gerações futuras. Na-turalmente, estas gerações não vota-ram nas últimas eleições – aquelas emque se escolheram os governantes eas políticas que as virão a onerar –,como não chegarão a tempo de votarnas próximas eleições – por certo asúltimas em que será possível respon-sabilizar aqueles governantes e cen-surar as suas políticas. Depois dissoo ciclo político-partidário muda. Assim,a legitimidade das decisões do poderpúblico que afectam negativamente ofuturo e os seus protagonistas nãopode deixar de ser questionada no pró-prio plano democrático, sobretudoquando essa afectação seja muito gra-vosa, demasiado prolongada ou irre-versível. Sempre que decisões políticasse repercutam desfavoravelmente so-bre gerações que não tiveram oportu-nidade de participar no processo dasua adopção, nem tão-pouco de res-ponsabilizar quem as tomou, a regrada maioria torna-se claudicante, por-quanto já não se trata de fazer preva-lecer a vontade da maioria sobre a daminoria, mas sim de fazer prevalecer

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a vontade da maioria presente sobre(sucessivas) maiorias futuras.Como se garante um tratamento justopara os cidadãos de amanhã numaépoca em que a sociedade e o sistemapolítico convergem na mais desen-freada glorificação do presente? Esteé, porventura, um dos mais importantesproblemas que a teoria política e a teoriajurídica têm para resolver no início desteséculo, se querem ajudar a pôr cobroà “irracionalidade organizada” em queestamos mergulhados. A sua soluçãopassa, antes de mais, pelo reconheci-mento e consagração formal, nos textosconstitucionais e em documentos in-ternacionais, do princípio da justiça in-tergeracional e dos direitos dasgerações vindouras – à imagem do quesucede já, embora em termos limitados,com a Constituição portuguesa e coma Declaração da UNESCO de 1997. Doque se trata é, no fundo, de aditar umadimensão temporal à velha ideia da se-paração de poderes. Só assim serápossível moderar o poder das maioriasactuais, limitando-as juridicamenteàquele que é, em termos razoáveis, olapso temporal da sua legitimidade de-mocrática, e subordinando o tempocurto das legislaturas e das maioriasconjunturais aos horizontes mais longosda vida das Constituições e das Con-venções internacionais. Afinal, na senda iniciada por Hans Jo-nas na sua ética de responsabilidade,torna-se imperativo agir – individuale politicamente – de modo a que asnossas acções sejam consistentescom a permanência das condições davida humana tal como nós a conhe-cemos. n

O Tratado de Lisboa

Inês Quadros, Faculdade de Direitoda Universidade Católica Portuguesa

O Tratado de Lisboa, assinado noMosteiro dos Jerónimos no final de2007, entrou em vigor em Dezembrode 2009. Para que serve, e quais osdesafios que abre?Livre circulação das mercadorias, li-berdade de circulação de pessoas peloespaço europeu, liberdade de trabalharnum outro País, direito de votar e deser eleito para as eleições locais num

outro Estado Membro, direito à pro-tecção diplomática conferida por ou-tros Estados Membros fora da Europa...O que mais poderia um Tratado de Lis-boa acrescentar, que não tivesse sidojá alcançado pelos anteriores Tratadoseuropeus?A edificação da Europa, iniciada no iní-cio da década de 50 do século pas-sado, conheceu um impulso forte nasprimeiras décadas, motivado pela ne-cessidade de união dos povos euro-peus sentida no período pós-guerra.Este impulso teve grande expressãono início dos anos 90, com a criaçãoda cidadania europeia – a partir daí,todos os cidadãos dos Estados Mem-bros são também cidadãos da Europa–, a criação da União Europeia – coma extensão das suas áreas de inter-venção para domínios tão vastos comoo ambiente, a educação, o desenvol-vimento tecnológico e a defesa dosconsumidores – e, já no final dessa dé-cada, com a instituição de uma únicamoeda, o Euro, a circular por todo oespaço europeu.Apesar destes importantes marcos naconstrução europeia, à medida que asnovas gerações se foram distanciandodo período crítico inicial e se acostu-maram a um nível económico de vidaem ascensão constante, o ímpeto foi-se perdendo e o distanciamento dopovo europeu em relação às institui-ções europeias foi-se acentuando. OTratado de Lisboa procurou, assim, ac-tualizar a união entre os Estados Mem-bros, dotando-a de meios capazes deresponder aos desafios do séc. XXI.

Quais são as suas novidades?Em primeiro lugar, a Carta de DireitosFundamentais da União Europeia, apro-vada em 2000, passa a ser obrigatóriapara todos os Estados Membros e paraos órgãos da União. Desse modo, to-dos os actos legislativos da União Eu-ropeia, e os actos dos EstadosMembros que apliquem o Direito eu-ropeu terão de respeitar os direitos fun-damentais previstos na Carta, que,nalguns aspectos, são mais completosdo que os previstos nas Constituiçõesdos Estados-Membros.Uma outra novidade consistiu na adap-tação dos órgãos e do método de re-presentação dos Estados à novadimensão da Europa: os Estados-Membros são hoje 27, diversos em nú-mero de população (desde a Alemanhacom 82 milhões de habitantes, a Maltacom apenas 400 mil), em condiçõesgeográficas (dos quentes países Me-diterrânicos aos frios países nórdicos,das zonas planas às regiões aciden-tadas) em diversidade cultural e emdesenvolvimento económico. Tal rea-lidade, tão distinta da existente em1951 (com apenas 6 Estados do centroda Europa) obrigou a uma revisão dos

métodos de funcionamento dos cen-tros de decisão europeia, no sentidode, por um lado, acolher os interessesdos países mais pequenos, e, por ou-tro, flexibilizar a tomada de decisões.Por outro lado, o Tratado de Lisboapretendeu clarificar aqueles que sãoos poderes da União e dos EstadosMembros. Desse modo, distribuindotarefas, a acção de cada um torna-semais eficaz.Por fim, uma novidade trazida por esteTratado foi a possibilidade de um Es-tado-Membro sair da União, o que, cu-riosamente, não estava previsto nosanteriores Tratados europeus.

Quais são, agora, os novos desafiosque se abrem agora à construçãoeuropeia?No curto prazo, a consolidação daseconomias europeias, sobretudo dosEstados mais afectados com a criseeconómica dos últimos anos. Os novosinstrumentos económicos, como amoeda única, tornaram os países eu-ropeus mais dependentes das flutua-ções económicas mútuas, e, por isso,é exigido um esforço conjunto no ul-trapassar dos problemas.Os restantes desafios relacionam-secom as questões prementes deste virarde década. As questões ambientaisagudizaram-se com o estudo das al-terações climáticas, e os seus efeitosestendem-se para lá das fronteiras decada Estado, exigindo uma acção con-junta; a luta contra o terrorismo pedeuma Europa com uma só voz no planointernacional, o que ficou agora facili-tado pela criação do Alto Represen-tante da União para os NegóciosEstrangeiros e a Política de Segurança,com funções semelhantes a um Minis-tro dos Negócios Estrangeiros.Por fim, talvez o desafio mais impor-tante actualmente para a União seja ofortalecimento da democracia europeia,ou seja, a associação dos cidadãosdos Estados-Membros à tomada dedecisões no plano europeu, assumindointegralmente a sua condição de cida-dãos da Europa. Ao Parlamento Euro-peu são hoje atribuídos amplospoderes no domínio legislativo e orça-mental, justificando-se cada vez maisa participação do povo europeu na es-colha dos seus representantes.O tempo dirá se a execução do Tratadode Lisboa corresponde ao empenhoque a ele dedicaram os políticos eu-ropeus, e se conseguirá aglutinar, nomesmo esforço, todos os cidadãos daEuropa. n

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e o projecto?

Paula Leite MarinhoGomes46 anos, Professora de Direito e Eco-nomia da Esc. Sec. de Ponte de Lima(Viana do Castelo)Decidi inscrever a escola devido ao in-teresse que desperta nos alunos umaaudiência de discussão e julgamento;devido ao entusiasmo que os alunosrevelam em trabalhos práticos, quedevem ser sempre alicerçados em con-ceitos teóricos; devido ao empenhoque os alunos de Direito (turma 12º G- no ano lectivo 2009/2010, demons-traram numa actividade proposta – rea-lização de um julgamento sob o tema“Julgar o Bullying” (e em que eles es-creveram o argumento e os diálogos,imaginaram as cenas e fizeram a en-cenação da peça, distribuíram os pa-péis - Juiz, Ministério Público,Advogado de Defesa, Oficial de Jus-tiça, Arguidos, Testemunhas, etc. - eeu fiz apenas o enquadramento legal)e o sucesso desta iniciativa. Tambémdevido à necessidade dos alunos sa-berem assumir os direitos e respon-sabilidades no quadro do Estado deDireito e das declarações dos direitoshumanos, devido à premência de osalunos conhecerem o funcionamentodos sistemas legislativo e judicial; edevido à urgência de os alunos com-preenderem a importância e a indis-pensabilidade do Direito enquantoregulador da vida social.As expectativas sobre essa mesmaparticipação são: fomentar a aquisiçãoe a aplicação de um saber assente noestudo, na reflexão crítica, na obser-vação e na experimentação; saber pro-curar informação, sistematizá-la,compreender a sua relevância para oassunto a abordar e conhecer as suaspotencialidades para utilizações futu-ras; fornecer instrumentos fundamen-tais para a participação do aluno comocidadão consciente e responsável; e,especialmente, que os alunos com-preendam que o Direito ocupa um lugarfundamental no mundo em que vive-mos. Espero ainda que os alunos de-

senvolvam competências nos chama-dos valores da cidadania; conheçamos direitos, liberdades e garantias numestado de Direito; e conheçam as pro-fissões jurídicas e compreendam osfins subjacentes às mesmas.

Carlos Justo Machado50 anos, Professor de Filosofia daEsc. Sec. de Caldas das Taipas(Braga)A vossa iniciativa “Faça-se Justiça –Educação cívica para a Justiça e parao Direito’, integra-se num projecto quedesenvolvemos há muitos anos. EsteProjecto: Educação para a Cidadania,contempla ainda outros subprojectos:A Assembleia na Escola; Prémio InfanteD. Henrique; Parlamento Jovem Euro-peu. Há dois anos, integrando esteprojecto, participamos no GOVERNOFORUM, dinamizado pela Revista Fo-rum Estudante. Este projecto na suaConcepção e Natureza é Transversalda Escola. Este projecto tem comoprincipais objectivos: divulgar juntodos jovens os valores das práticas de-mocráticas e a educação para a cida-dania; aprofundar nos jovens o gostopela Democracia, proporcionando-lhesa possibilidade de serem sujeitos deum processo de decisão política cominfluência na sua vida social; promovero espírito de grupo e o respeito pelooutro, e a tolerância e o consenso navida em sociedade; promover o con-ceito de cidadania, o intercâmbio deexperiências, partilha de valores.Esperamos que com esta actividadeos nossos alunos desenvolvam com-petências argumentativas, realizem de-bates com respeito, dedicação,responsabilidade, e tomem consciên-cia para os assuntos do mundo daÉtica, da Política, e do Direito.

Ana Cristina Cordeirodos Santos53 anos, Professora da Esc. Sec. doPadrão da Légua (Matosinhos) No ano lectivo de 2009/2010, leccionei,para além do Curso Profissional deTécnico de Óptica Ocular, as disciplinasde Direito e de 12º Ano.Penso que este próximo ano leccio-narei outra vez estas duas disciplinas:daí que esse tema tenha sido um dosmotivos que me levou o inscrever aescola, no programa ‘Faça-se Justiça’Depois ao ler o anúncio do programa,achei que podia juntar o útil ao agra-dável e de uma forma mais lúdica, en-sinar, sensibilizar e consciencializar osmeus alunos para o Direito e para asua importância, na sociedade.

Maria Luísa Moreira50 anos, Professora de Portuguêsda Esc. Sec. de São Lourenço (Por-talegre)Num mundo em mudança (ou em co-lapso?), considero que é a cada minutomais importante que os jovens (e osadultos também!), sejam capazes de,assertivamente, defender pontos devista, dar opiniões e, sobretudo, con-tribuir para a (re) construção de ummundo novo. Melhor.

Vozes de Professores

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e o projecto?

Não pode fazer sentido, no século dos‘clics’ e dos ‘deletes’, educar para ouvire repetir, para parafrasear e imitar!Numa época em que, cruelmente, seinsiste em formar telectuais – APE-NAS… – participo no ‘Faça-se Justiça’,pondo a tónica no prefixo in: - Queseja possível dar espaço ao que vemlá de dentro, do Eu, da pessoa quemora em cada aluno.Do ‘Faça-se Justiça’ espero, apenas,um espaço de intervenção participada,pedagógico e formativo, capaz de mo-tivar os participantes para a importân-cia de confrontar ideias e, sobretudo,de TER ideias próprias!

Madalena Netoe Eva Fernandes34 e 49 anos, Professoras de Filo-sofia e dinamizadoras da Oficina dosDireitos Humanos (ODH) da EscolaEB 2, 3/S de Baião (Porto)Ao tomarmos conhecimento do pro-grama ‘Faça-se Justiça’, não hesitá-mos em concorrer, por considerarmospertinente e estimulante para os alunosda disciplina de Filosofia e elementosintegrantes da ODH, participar numprojecto que articula conteúdos da Fi-losofia, valores promovidos pela Ofi-cina e a intervenção esclarecida eempenhada dos jovens, na sociedadeactual.É, assim, nosso intuito envolver a es-cola e os alunos num projecto que con-juga a teoria e a prática em domíniostão sensíveis como os da Justiça e doDireito e proporcionar o intercâmbiodeste com uma realidade mais alar-gada.Na sequência do programa apresen-tado, pretendemos: consolidar inte-resses nos alunos para as questõesda Justiça e do Direito; dar a conhecero sistema jurídico português; promovero exercício de uma cidadania plena deresponsabilidade pessoal e social, as-sente no respeito pela dignidade hu-mana e pelos Direitos Humanosfundamentais.Esperamos com esta participação

concretizar os objectivos propostos eenriquecer o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais sig-nificativo.

Hélder Pinho Almeida54 anos, Professor de História, Es-cola Secundária C/ 3º CEB José Ma-cedo Fragateiro (Ovar)O convite que a FORUM ESTUDANTEendereçou à Secundária José MacedoFragateiro, apelando para a participaçãono projecto ‘Faça-se Justiça – Educaçãocívica para a Justiça e para o Direito’,não podia merecer, pelos objectivos quepersegue, outro acolhimento que nãouma adesão imediata. Entendemos aeducação como um processo de ac-tuação sobre o indivíduo, promovendoo seu desenvolvimento integral e tor-nando-o um cidadão participante e res-ponsável. Importa que a Escolaconfronte o aluno com a realidade, fa-vorecendo o desabrochar apoiado dasua personalidade e das suas poten-cialidades. Por isso, são de louvar asiniciativas que promovem o envolvi-mento dos alunos na construção de sa-beres significativos e funcionais. Aparticipação no projecto ‘Faça-se Jus-tiça’, tem o mérito de estimular o de-senvolvimento de uma cultura deautonomia, pesquisa e reflexão, fomen-tando a interdisciplinaridade e a expres-são pública de ideias e opiniões epromovendo uma cultura de participa-ção na comunidade. Por outro lado, estainiciativa articula-se na perfeição como nosso projecto “NOVOSFORANADA:Temas & Debate”, criado com o propó-sito de promover uma visão integradados saberes e uma reflexão sobre osproblemas sociais, económicos, tecno-lógicos, científicos e ambientais domundo que nos cerca.

Paulo Ferreira47 anos, Professor de Português,Escola de Dança do ConservatórioNacional (Lisboa)Decidi participar na iniciativa ‘Faça-seJustiça’ porque considero ser necessárioenvolver os alunos em temáticas que vãopara além do seu quotidiano, neste caso,profissionalizante na área da dança. Asminhas expectativas sobre essa mesmaparticipação são que os alunos possamdesmistificar a concepção desvalorizadae desmoralizante que os media dão daaplicação da justiça no nosso país.

Maria Eduarda Carnot52 anos, Professora de Economia eÁrea de Projecto, Escola SecundáriaPadre António Vieira (Lisboa)Inscrevi-me neste programa por consi-derar fundamental a abordagem destastemáticas junto dos jovens do Ensino Se-cundário. Urge desenvolver as compe-tências descritas no programa da FORUMESTUDANTE a fim de proporcionarmoscondições adequadas à formação dosentido cívico, que lhes permita a práticade uma cidadania baseada em valoreséticos e na responsabilização pelos actosde cada um e de todos na sociedadeque se pretende mais Justa. Outro as-pecto que me fez ponderar aderir aovosso programa foi o facto de concede-rem formação e apoio, permitindo umaactuação mais segura junto dos alunos.

Alguns dos professores participantes falam sobre o projectoFaça-se Justiça e o que os levou a concorrer

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FAQ

PROCESSO PENAL- AS SUAS FASES

1) INQUÉRITOFase obrigatória de investigação quese inicia sempre que há notícia daprática de um crime

2) INSTRUÇÃOFase facultativa requerida pelo arguidoou pelo assistente (nunca pelo MP)

3) JULGAMENTO

4) RECURSOS (fase eventual)

5) EXECUÇÃO DAS PENAS

INQUÉRITO

O que é o inquérito?Primeira fase do processo penal, ondese faz a investigação e recolha deprovas sobre a existência de um crime

e as pessoas que o praticaram. A di-recção do inquérito pertence ao Min-istério Público auxiliado pelas polícias.

Qual é a duração máxima do in-quérito?Em regra, o Ministério Público encerrao inquérito, arquivando-o ou deduzindoacusação, nos prazos máximos de seismeses, se houver arguidos presos ousob obrigação de permanência nahabitação, ou de oito meses, se os nãohouver.

O que é um crime?Comportamento voluntário do qual re-sulta a violação de normas penais -contidas no Código Penal ou em leg-islação avulsa - que visam proteger esalvaguardar os bens jurídicos funda-mentais à sobrevivência da sociedadecomo, por exemplo, a vida, a integri-dade física e o direito de propriedade.

O que significa notícia do crime?Informação de que foi praticado umcrime. Para que o Ministério Públicopossa iniciar o processo penal énecessária esta informação que podeser obtida por modos diversos: porconhecimento próprio, por intermédiodos órgãos de polícia criminal ouatravés de denúncia.

O que é um auto de notícia?Documento elaborado pelos juízes,magistrados do Ministério Público oupelas polícias, sempre que tenhampresenciado qualquer crime de denún-cia obrigatória; dá início a um processode investigação.

O que são autoridades judiciárias?São autoridades judiciárias o juiz, o juizde instrução e o Ministério Público.

O que se entende por MinistérioPúblico?Entidade, formada por um corpo demagistrados, que exerce a acção penal:recebe as denúncias e as queixas,dirige o inquérito, elabora a acusação,arquiva e interpõe recursos.

Em que consiste um crime público?Crime cujo processo de investigaçãose inicia independentemente da von-tade da vítima do crime; pode ser de-nunciado por terceiros e não exige queseja a vítima a apresentar a queixa pes-soalmente.

O que se entende por crime semi-público?Crime cujo processo de investigação

Perguntas & Respostas sobre a Justiça

Notícia do crime

Inquérito (MP)

Encerramento

Acusação Suspensãoprovisória doprocesso

Arquivamentodo inquérito,o assistentepode requerera abertura deinstrução

Acusar ao lado doMinistério Público

Requerer abertura deinstrução (discordância)

Assistente pode

Arguido pode requerera abertura de instrução

Investigação e recolha deprovas sobre a existência deum crime e as pessoas que opraticaram, tendo em vistauma decisão de acusação ounão acusação

O Ministério Público écoadjuvado pelos orgãos depolícia criminal (PJ, PSP, GNRe SEF) que se encontram nasua dependência

Instrução (JIC)

Decisão instrutória

Actos de Instrução(eventuais)

Debate instrutório(fase obrigatória)

Despachode pronúncia

Despacho denãopronúncia

Fim: verificar sea acusação ouo arquivamentose justificavamcom as provasrecolhidas oupor apreciar

Audiência de discussãoe julgamento (Juiz de julgamento)

Fim: aqui será produzidaprova, será apreciada edebatida a matéria defacto apresentada, sendodepois discutida a questãojurídica e finalmenteproferida uma decisão(sentença no caso detribunal singular, acórdãono caso de tribunalcolectivo ou de júri

termina

Sentençacondenatória(condenação)

Sentençaabsolutória(absolvição)

Recursos

Modo de Reacçãocontra uma decisãojudicial tida comoerrada e que visa aintervenção de umtribunal superior(Spremo Tribunal deJustiça e Tribunaisda Relação)

Ordinários

Extraordinários

liberdadecondicional

substituição dapena de prisão

regime depermanência nahabitação

prisão por diaslivres

regime de semi--detenção

prestação detrabalho a favorda comunidade

substituição demulta portrabalho

conversão damulta não pagaem prisãosubsidiária

admoestação

Penas principais

Pena de prisão Pena de multa

Fonte: APAV

Fonte: APAV

Fonte: APAV

Fonte: APAV

Fonte: APAV

Fonte: APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima)

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FAQ

se inicia apenas após a apresentaçãode queixa pela vítima do crime.

O que é um crime particular?Crime em que, para além do exercíciodo direito de queixa, é necessário queo titular do direito se constitua assis-tente, sem o que a acção penal nãopode prosseguir.

Como apurar se determinado crime épúblico, semi-público ou particular?Deve atender-se à letra da lei: quandoesta nada diz, o crime em apreço épúblico; quando se preceitua que o pro-cedimento criminal depende de queixaestamos perante um crime semi-público; quando a lei refere que o pro-cedimento criminal depende de queixae de acusação particular, o crime é par-ticular.

Qual é o significado de vítima?Pessoa que, em consequência de actoou omissão violadora das leis penaisem vigor, sofreu um atentado à sua in-tegridade física ou mental, um sofri-mento de ordem moral ou uma perdamaterial; o conceito de vítima abrangetambém a família próxima ou as pes-soas a cargo da vítima directa e as pes-soas que tenham sofrido um prejuízoao intervirem para prestar assistênciaàs vítimas em situação de carência oupara impedir a vitimação.

O que é o ofendido?É a vítima nos crimes públicos.

O que é o queixoso?É aquele que exerce o direito de queixa,tratando-se de um crime semi-públicoou particular.O que significa ser assistente?É a vítima (ofendido/queixoso) do crimee actua como colaborador do MinistérioPúblico competindo-lhe, designada-mente: intervir no inquérito e na in-strução (ex.: oferecendo provas) erecorrer das decisões que o afectem.

Fui vítima de um crime. O que possofazer?Pode denunciar o crime de que foi vítimaem qualquer esquadra de polícia, nosserviços do Ministério Público ou porhttps://queixaselectronicas.mai.gov.pt.A denúncia não necessita de ser apre-sentada por escrito, nem carece da in-tervenção de advogado. Estando emcausa crimes dependentes de queixa(crimes semi-públicos e particulares), amesma tem de ser apresentada noprazo de 6 meses a contar da data emque o titular da queixa tiver conheci-mento do facto e dos seus autores, sobpena de extinção daquele direito.

Tem de ser a vítima a apresentar adenúncia?Essa exigência apenas se verifica no

âmbito dos crimes semi-públicos e par-ticulares.Relativamente aos crimes públicos,além da própria vítima, pode ser um ter-ceiro a apresentar a denúncia. No querespeita aos crimes particulares énecessária, além da apresentação daqueixa, a constituição como assistente,o que implica o pagamento de taxa dejustiça e a constituição de advogado,sem prejuízo da concessão do benefíciodo apoio judiciário.

O que é a denúncia?Forma de comunicação do crime às au-toridades judiciárias; pode ser obri-gatória ou facultativa.

Quando é que a denúncia é obri-gatória?Este dever de comunicação recai sobreas entidades policiais (quanto a todosos crimes públicos) e sobre os fun-cionários públicos, demais agentes doEstado e gestores públicos (relativa-mente aos crimes públicos de quetomem conhecimento no âmbito dassuas funções).

Em que consiste a queixa electrónica?Trata-se de um sistema destinado a fa-cilitar a apresentação à Guarda NacionalRepublicana, à Polícia de SegurançaPública e ao Serviço de Estrangeiros eFronteiras de queixas e denúncias porvia electrónica quanto a determinadostipos de crimes públicos e semi-públi-cos: ofensa à integridade física simples;violência doméstica, maus tratos, tráficode pessoas, lenocínio, furto, roubo;dano; burla, burla a trabalho ou em-prego; extorsão; danificação ou sub-tracção de documento e notaçãotécnica; danos contra a natureza; usode documentação de identificação ouviagem alheio; poluição; auxílio à imi-gração ilegal; angariação de mão-de-obra ilegal e casamento deconveniência. Para crimes não abrangi-dos pelo Sistema Queixa Electrónica,o cidadão deverá continuar a dirigir-seou a contactar a autoridade policial maispróxima.

O que é um suspeito? Pessoa sobre a qual recai a suspeitade ter praticado um crime e que podevir a ser constituída como arguida.

O que é o arguido?Pessoa sobre a qual recaem suspeitasfundadas de ter praticado um crime ea quem é assegurado o exercício de di-reitos e deveres processuais após terassumido essa qualidade.

Em que circunstâncias podem as au-toridades policiais pedir a identificaçãode um cidadão?Os órgãos de polícia criminal podemproceder à identificação de qualquer

pessoa encontrada em lugar público,aberto ao público ou sujeito a vigilânciapolicial, sempre que sobre ela recaiamfundadas suspeitas da prática decrimes, da pendência de processo deextradição ou de expulsão, de que tenhapenetrado ou permaneça irregularmenteno território nacional ou de haver contrasi mandado de detenção. Na impossi-bilidade de identificação, os órgãos depolícia criminal podem conduzir o sus-peito ao posto policial mais próximo eobrigá-lo a permanecer ali pelo tempoestritamente indispensável à identifi-cação, em caso algum superior a seishoras. Será sempre facultada ao iden-tificando a possibilidade de contactarcom pessoa da sua confiança.

Em que consiste a detenção?É uma privação da liberdade por umperíodo muito curto, com diversos fins:para, no prazo máximo de quarenta eoito horas, o detido ser submetido a jul-gamento ou ser presente ao juiz com-petente para interrogatório judicial ouaplicação de uma medida de coacção;ou para assegurar a presença imediatado detido perante o juiz em acto proces-sual.

O que é o habeas corpus?Meio de reacção processual contra umadetenção ou prisão ilegais, com carácterde urgência.

O que são órgãos de polícia criminal?Entidades que cooperam com as au-toridades judiciárias na investigaçãocriminal e são: Polícia Judiciária (PJ),Polícia de Segurança Pública (PSP),Guarda Nacional Republicana (GNR) eServiço de Estrangeiros e Fronteiras(SEF).

Em que consistem as medidas decoacção?Meios que diminuem a liberdadeprocessual dos arguidos e que se des-tinam a tornar eficaz o processo penal,são: termo de identidade e residência;caução; obrigação de apresentaçãoperiódica; suspensão do exercício defunções, de profissão e de direitos;proibição de permanência, de ausênciae contactos; obrigação de permanênciana habitação e prisão preventiva. Taismedidas, com excepção da primeira,só podem ser aplicadas por juiz.

Em que se traduz o termo de identi-dade e residência (TIR)?É a menos grave das medidas decoacção podendo ser aplicada pelo juiz,pelo Ministério Público e pelas polícias;é de aplicação obrigatória, sempre quealguém for constituído como arguido,e consiste, para além da identificaçãodo arguido e da indicação da suaresidência, em o arguido ficar obrigadoa comparecer perante as autoridades

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FAQ

sempre que a lei o obrigar ou para talfor notificado; o arguido fica igualmenteobrigado a não mudar de residêncianem dela se ausentar por mais de cincodias sem comunicar a nova residênciaou o lugar onde possa ser encontrado.

O que é a prisão preventiva?É a mais grave das medidas de coacçãoaplicáveis ao suspeito da prática decrime, só sendo aplicável quando foreminadequadas ou insuficientes todas asoutras medidas de coacção.

Qual é o prazo máximo da prisão pre-ventiva?Em regra, a prisão preventiva extingue-se quando, desde o seu início, tiveremdecorrido: quatro meses sem que tenhasido deduzida acusação; oito mesessem que, havendo lugar a instrução,tenha sido proferida decisão instrutória;um ano e dois meses sem que tenhahavido condenação em 1ª instância; umano e seis meses sem que tenha havidocondenação com trânsito em julgado.

Em que consiste a acusação?É uma forma de encerramento do in-quérito criminal que se traduz pela sub-missão do arguido a julgamento pelaprática de determinados crimes; em re-gra, é realizada pelo Ministério Público(MP), mas também pode ser levada acabo pelo assistente quando estiveremem causa crimes particulares.

O que é o arquivamento?Outra forma de encerramento do in-quérito e que se traduz na não submis-são do arguido a julgamento, dado quenão foram recolhidos indícios suficientessobre a prática de um crime por certo(s)agente(s).

O que é o segredo de justiça?O segredo de justiça significa que aquiloque consta do processo não pode serdivulgado nem o público pode assistiraos actos processuais. Porém, a regraé a de que o processo é público em to-das as suas fases, quer relativamenteaos sujeitos processuais (publicidadeinterna), quer para o público em geral(publicidade externa) o que implica: as-sistência pelo público à realização dosactos processuais; narração dos actosprocessuais pelos meios de comuni-cação social e consulta do processo eobtenção de cópias e certidões dequaisquer partes dele. Pode contudo oJuiz de Instrução, a requerimento doarguido, assistente ou ofendido e ouvidoo Ministério Público, restringir a publi-cidade externa, determinando a sujeiçãodo processo, durante a fase de in-quérito, a segredo de justiça. Nestescasos em que tiver sido determinado osegredo de justiça pode o MinistérioPúblico, durante o inquérito, opor-se àconsulta de auto, obtenção de certidão

e/ou informação por sujeitos proces-suais. A violação do segredo de justiçaconstitui crime.

INSTRUÇÃO

Em que consiste a instrução?É uma fase não obrigatória do processopenal que tem lugar entre o inquérito eo julgamento; tem como fim verificar sea acusação ou o arquivamento se jus-tificavam com as provas recolhidas oupor apreciar.

Qual é a duração máxima da in-strução?Em regra, o juiz encerra a instrução nosprazos máximos de dois meses, se hou-ver arguidos presos ou sob obrigaçãode permanência na habitação, ou dequatro meses, se os não houver.

O que é o juiz de instrução criminal?Juiz a quem incumbe a direcção da in-strução e que na fase de inquérito in-tervém para defesa dos direitosfundamentais das pessoas.O que são actos de instrução?São actos de investigação e de recolhade provas ordenados pelo juiz, comvista a fundamentar a decisão instrutória

Em que consiste o debate instrutório?Diligência com intervenção do MinistérioPúblico, arguido e assistente, que visapermitir uma discussão perante o juizsobre a existência de indícios suficientespara submeter o arguido a julgamento.

O que é a decisão instrutória?É a decisão tomada pelo juiz de in-strução criminal (JIC) no final da faseprocessual da instrução, podendo con-figurar a forma de despacho de pronún-cia ou não pronúncia.

Em que consiste o despacho depronúncia?É a decisão instrutória que decideavançar com o processo para julga-mento, porquanto foram recolhidos in-dícios suficientes de se terem verificadoos pressupostos de que depende a apli-cação ao arguido de uma pena.

O que é o despacho de não pronún-cia?É a decisão proferida pelo juiz, quandotermina a instrução, pronunciando-seno sentido que o arguido não deve sersubmetido a julgamento, dado que nãoforam recolhidos indícios suficientes dese terem verificado os pressupostos deque depende a aplicação ao arguido deuma pena.

JULGAMENTO / RECURSOS

O que é o julgamento?É a fase do processo penal em que éproduzida a prova, geralmente em au-

diência pública e, a final, proferida sen-tença, condenatória ou absolutória.A audiência é pública: regra geral, oslocais onde se realizam as audiênciasde julgamento devem estar abertos aopúblico em geral, bem como as audiên-cias podem ser relatadas publicamente,mesmo pelos órgãos de comunicaçãosocial.A audiência é contraditória: significa aoportunidade que é dada a todo o su-jeito processual de intervir no decursodo processo, apresentando as suasrazões e podendo contestar as razõesdos outros sujeitos.

O que é o juiz? É o titular do órgão de soberania Tribunal,ou seja, aquele que tem o poder de jul-gar, de aplicar o Direito ao caso concreto;o mesmo que magistrado judicial.

O que são os tribunais?São órgãos de soberania que adminis-tram a justiça, isto é, órgãos de autori-dade com a função de resolução delitígios.

Em que consiste o tribunal singular?É o tribunal constituído apenas por umjuiz que julga os processos respeitantesaos crimes menos graves (pena deprisão igual ou inferior a cinco anos).

O que é o tribunal colectivo?É o tribunal constituído por três juízesque julga os processos respeitantes aoscrimes mais graves (pena de prisão su-perior a cinco anos).

O que é o tribunal do júri?É o tribunal constituído por três juízesde carreira e quatro jurados.

O que é um jurado?É o cidadão escolhido para o tribunaldo júri. Terá que estar inscrito no re-censeamento eleitoral, ter idade inferiora 65 anos, escolaridade obrigatória,ausência de anomalia física ou psíquicaque torne impossível o bom desem-penho do cargo, pleno gozo dos direitoscivis e políticos e não estar preso ou de-tido nem em situação de contumácia.

Como se efectua a selecção dos ju-rados?A selecção dos jurados efectua-seatravés de duplo sorteio, o qual seprocessa a partir dos cadernos de re-censeamento eleitoral e compreendeas seguintes fases: sorteio de pré-se-lecção dos jurados; inquérito para de-terminação dos requisitos decapacidade; sorteio de selecção dosjurados; audiência de apuramento edespacho de designação. O desem-penho da função de jurado constituiserviço público obrigatório, sendo a suarecusa injustificada punida como crimede desobediência qualificada.

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FAQ

O que é o defensor?É o advogado do arguido que, por es-colha do interessado ou nomeação ofi-ciosa, faz valer os direitos daqueleperante as autoridades judiciárias.

O que é o defensor oficioso?É o advogado designado pela autori-dade judiciária (magistrado do MinistérioPúblico ou juiz) para defender o arguido;a designação pode ser feita oficiosa-mente ou a requerimento.

O que se entende por procuração?É o acto pelo qual alguém confere aoutra pessoa poderes para actuar emseu nome; se for conferido a advogadochama-se procuração forense.O que se entende por prova?São elementos de vária natureza quetêm por função a demonstração da re-alidade dos factos (ex.: documentos,testemunhas, perícias)

O que se entende por notificação?É o meio utilizado para chamar as pes-soas a tribunal ou para lhes comunicarcertos factos (assuntos).

O que é uma testemunha?Pessoa que é convocada para ser ou-vida em tribunal, sob juramento, acercade factos de que possua conhecimentodirecto.

Quais são os deveres da testemunha?Os mais importantes são: apresentar-se, no dia, hora e local devidos, à au-toridade que o convocou; obedecer àsindicações que lhe forem dadas quantoà forma de prestar depoimento e re-sponder com verdade às perguntas quelhe forem colocadas (sob pena de in-correr em responsabilidade criminal).

Em que consiste o rol de teste-munhas?É a relação de pessoas que a parte in-dica para serem ouvidas no processo.

O que é um perito?É a pessoa com especiais conhecimen-tos técnicos, científicos ou artísticos,nomeada pelo tribunal para observarou apreciar determinados factos e rel-ativamente a eles emitir uma conclusão.

Recebi uma notificação para, na qual-idade de assistente, prestar declar-ações em julgamento. Sou obrigadoa falar com verdade?O assistente está obrigado a falar comverdade, sob pena de incorrer em re-sponsabilidade criminal.

O arguido pode mentir?O arguido apenas está obrigado a re-sponder com verdade às perguntas quelhe forem colocadas quanto à sua iden-tificação pessoal; quanto ao mais, o ar-guido pode remeter-se ao silêncio e até

faltar à verdade sem qualquer sançãolegal.

Em que consistem as alegações orais?Exposição que cada uma das partes -Ministério Público e advogados do as-sistente, do arguido e das partes civis- tem direito a fazer após a produçãode prova.

O que se entende por in dubio proreo?É um princípio fundamental no nossoProcesso Penal, que decorre da pre-sunção constitucional de inocência econsiste em: na dúvida, o tribunal decideem favor do arguido (absolvição, nãoagravação, atenuação, etc.).

O que é a sentença?É a decisão do tribunal singular, o qualé constituído por um juiz.

O que é um acórdão?É a decisão de um tribunal constituídopor mais de um juiz; o mesmo quearesto.

Em que consiste a pena?É a sanção aplicável em Direito Penal;as penas principais podem ser de prisãoou multa.

O que é a pena de prisão?A pena de prisão é uma pena principalque consiste na privação da liberdadedo condenado a cumprir em estabelec-imento prisional.

Qual é a duração da pena de prisão?A pena de prisão tem, em regra, a du-ração mínima de um mês e a duraçãomáxima de vinte anos; o limite máximoda pena de prisão é de vinte e cincoanos nos casos previstos na lei (ex.homicídio qualificado).

O que é a pena de multa?A pena de multa é uma pena principal,de natureza pecuniária, fixada em dias,entre 10 e 360, correspondendo a cadadia uma sanção económica entre € 5 e€ 500, consoante a situação económicado condenado e os seus encargos pes-soais.

O que é uma acta?É o documento em que se descreve eregista o que se passou durante deter-minado acto praticado no processo pe-nal, como por exemplo, a audiência dejulgamento.

O arguido foi condenado pela práticade mais de um crime. Aplicam-se tan-tas penas quantos os crimes pratica-dos?Não. O arguido é condenado numaúnica pena cujos limites são assim de-terminados: o limite máximo da pena éigual à soma das penas aplicadas, sem

ultrapassar 25 anos, e o limite mínimoé igual à mais elevada das penas apli-cadas.

O que é um recurso?É o modo de reacção contra uma de-cisão judicial tida como errada e quese traduz na intervenção de um tribunalsuperior (Tribunal da Relação ouSupremo Tribunal de Justiça).

O recurso interposto pelo arguido podeagravar a pena aplicada?Não. Na verdade, a lei proíbe o tribunalde recurso de alterar a decisão parapior; mas não se encontra vedada apossibilidade de alterar para melhor,isto é, em benefício do recorrente/ar-guido.

O condenado pela prática de um crimepode ser julgado outra vez pela práticadesse crime?Não. Na verdade, nenhuma pessoapode ser julgada duas vezes pela práticado mesmo crime.

EXECUÇÃO DAS PENAS

É descontado na pena de prisão, acumprir pelo condenado, o período deprisão preventiva?Sim, é descontado na pena de prisãoo período de prisão preventiva, bemcomo os períodos de detenção e obri-gação de permanência na habitação.

A pena de prisão pode ser substituídapor outra pena?Sempre que a pena de prisão aplicadafor não superior a um ano pode ser sub-stituída por pena de multa. Porém, sea multa não for paga, o condenadocumpre a pena de prisão aplicada nasentença.

Sendo o arguido condenado em penade prisão irá cumprir a totalidade dotempo? Por força do instituto da liberdadecondicional, o condenado a pena deprisão superior a seis anos é colocadoem liberdade condicional logo que hou-ver cumprido cinco sextos da pena. Otribunal coloca igualmente o conde-nado a prisão em liberdade condicionalquando se encontrar cumprida metadeda pena e no mínimo seis meses, ouquando se encontrarem cumpridosdois terços da pena e no mínimo seismeses. A liberdade condicional de-pende sempre do consentimento docondenado.

A liberdade condicional é de con-cessão obrigatória? Não, envolve um processo que culminanum despacho do Tribunal de Execuçãodas Penas que defere ou nega a liber-dade condicional, excepto quandocumpridos cinco sextos da pena.

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