fabulações sobre o real

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  • 8/17/2019 Fabulações sobre o Real

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    A restituição ao visível pela fabulação do real

    Resumo: Este artigo propõe que se pense o espetáculo Real – Teatro deRevista Política como concretização de um projeto estético-político do grupomineiro Espanca! de enfrentamento mais direto com a realidade sociopolítica

    rasileira a partir da análise das quatro peças curtas que compõem a o raconsiderando relações entre o real a fá ula e a alteridade"

    #ala$ras-c%a$e: alteridade Espanca! fá ula real

    Resumen: Este artículo propone que se piense el espectáculo Real – Teatro deRevista Política como concretizaci&n del pro'ecto estético ' político del grupoEspanca! de (inas )erais en confrontaci&n más directa con la realidad social' política rasile*a com asis en el análisis de las cuatro piezas cortas quecomponen la o ra teniendo en cuenta las relaciones entre lo real la fá ula ' laalteridad"

    +a trajet&ria de um grupo de teatro longe$o as flutuações de seus integrantestendem a gerar insta ilidades criati$as" E estas podem enfraquecer o tra al%ocoleti$o como tantas $ezes já $imos ocorrer quando um elemento-c%a$e , por $ezes o de maior responsa ilidade pelo desen%o estético das o ras daquele

    grupo de artistas ou seu fator coagulante , desliga-se dos demais e toma rumodistinto independente" Entretanto como é tam ém da insta ilidade que $em omo$imento tais mudanças estruturais podem pa$imentar todo um no$ocamin%o artístico aut nomo que se descole das realizações do passado nosentido de não se tornar tri utário dos pr&prios feitos mas as ten%a como asepropulsora para no$as jornadas e am ições estético-políticas"

    .alo de modo geral para a ordar um caso específico: o do grupo Espanca! %ámais de dez anos ati$o na cidade de /elo 0orizonte 1()2" #eríodo em quepassou por mudanças significati$as de formação com a saída dos atores #aulo 3ze$edo e 4amira 5$ila a apro6imação de no$os cola oradores e$entuais oafastamento da diretora dramaturga e atriz )race #ass ap&s 78 9íquido átil;e a recente passagem do ator 3le6andre de 4ena de cola orador a integrantefi6o" Em ? em meio a essas reconfigurações a cena curta 78nde Está o

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    3marildo@;1 apontou um redirecionamento dos interesses artísticos do grupopara um tratamento mais direto de questões $inculadas A realidade social dopaís num diálogo frontal com os acontecimentos no tempo presente"Respostas artísticas A $iolBncia das cidades com a qual ficou cara a caradesde que a riu a porta da sede A rua 3arão Reis no ai6o centro elo-%orizontino ao lado do Ciaduto 4anta ereza e da #raça da Estação palcos degrande parte das manifestações político-culturais dos Dltimos anos na capitalmineira" entre elas a #raia da Estação os duelos de (FGs e outras iniciati$ascríticas de reapropriação do cenário ur ano pela população" Hmpactado por esse mo$imento o eatro Espanca! a riu editais para acol%er uma di$ersidademaior de linguagens artísticas incluindo as periféricas em sua programação"

    Em ora o comentário social já esti$esse presente desde 7#or Elise; e maisdiretamente nos argumentos de 7Fongresso Hnternacional do (edo; 7(arc%apara Ienturo; e 7 ente de 9eão; 1primeiro espetáculo do Espanca! ap&s asaída de )race escrito por 3ssis /ene$enuto2 o enfrentamento com outrasrealidades e as mudanças na composição do grupo culminaria numatransformação do seu projeto artístico no que se refere aos modos de

    ela oração do real a partir de casos concretos e específicos , algo que 78ndeEstá o 3marildo@; já antecipa$a" aí a recuperação da e6pressão quesu intitula o no$o tra al%o 7Real , eatro de Re$ista #olítica; estreado emno$em ro de J" K época áurea do eatro de Re$ista o palco era espaçopara uma re$isão crítica dos acontecimentos recentes que impacta$am asociedade" Fom a popularização da radiodifusão nos anos >L?= essa funçãomigrou para as ondas radiof nicas" 0oje nos estertores da era da imprensa em

    papel quando dominam os meios de comunicação digitais o teatro mostra-seno$amente espaço pri$ilegiado para retratar criticamente a realidade recentenuma e6periBncia coleti$a em con$í$io"

    7Real , eatro de Re$ista #olítica; traz a força do específico com toda suaconcretude so re a qual se projeta o que %ou$er de uni$ersal na tragédia1 Cena apresentada no 14º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto,criada em referência ao desaparecimento do ajudante de pedreiro AmarildoDias de Sou a, ap!s ser detido por policiais militares "ue o #uscaram emsua casa, na $ocin%a&

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    %umana" 8 quadro traçado nesse projeto am icioso realizado por meio doprograma Rumos HtaD Fultural compõe-se de quatro janelas para o mundoinicialmente a$istadas por dramaturgos con$idados pelo grupo a escre$erem apartir de epis&dios noticiados no passado recente rasileiro" iogo 9i erano1 eatro Hnominá$el Rio de Maneiro2 enfrentou o linc%amento de uma mul%erNRo erto 3l$im 1Flu +oir 4ão #aulo2 o motorista que atropelou um ciclista e jogou o raço dele num rioN /'ron 8G+eill 1Fia" J Fa eças /elo 0orizonte2 agre$e dos garis ap&s o carna$al cariocaN e (arcio 3 reu 1Fia" /rasileiraFuriti aORio2 uma c%acina praticada por policiais no Fomple6o da (aré" 0áainda um te6to encomendado a 9eonardo (oreira 1Fia" 0iato 4ão #aulo2so re a carta de suicídio )uarani-PaioQá que foi adiado para uma segundaetapa ainda por estrear re$elando tal$ez os limites e6equí$eis de um projetocomple6o que depende da confluBncia de muitas mentes criati$as"

    8s riscos do te6to por encomenda: de os dramaturgos não se mo ilizarempelos temas propostosN das $ozes plurais e dissonantesN dos desencontrosN oEspanca! enfrentou-os com perdas mínimas reconfiguradas na sala de ensaioaté que as quatro peças formassem um mecanismo interdependente mas

    tam ém de autonomias indi$iduais que crescem ao serem colocadas emrelação umas com as outras"

    3 fá ula tão cara ao grupo nos seus primeiros dez anos gan%a então outrosaspectos formas e consequBncias" Está lá na medida em que o real éreimaginado: no jogo entre as crianças e o pai de 7Hnquérito;N nos %omens-

    onecos do tri unal de 78 odo e as #artes;" 3 metáfora igualmente faz-se

    presente transformada nos ecos da maré de (arcio 3 reu ou nos corpos de7#arada 4erpentina;N e a metonímia estrutura a peça escrita por Ro erto 3l$im"Esse tratamento poético da linguagem contudo mesmo ao fundar um mundooutro mantém o $ínculo com o real diretamente recon%ecí$el" #or outro lado ofato de cada uma dessas %ist&rias potencialmente ser de con%ecimento pré$iodos espectadores , ainda que a co ertura jornalística ten%a sido fal%a ,acrescenta um peso %ist&rico e %umano A e6periBncia teatral modifica os seus

    modos de percepção adiciona informações de fora ao %orizonte de

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    e6pectati$as de cada um pre$endo um compromisso ético e uma $ontadepolítica no projeto teatral"

    8 procedimento de criar dramaturgias a partir de notícias de jornal não éinéditoN o mais notá$el no projeto do Espanca! é como traz A $isi ilidade opresente ou passado recente e as forças que atuam agora na sociedade" 3sescol%as dos 7fatos; depõem so re as preocupações políticas de uma geraçãoque já não isola a arte compreende que autonomia di$erge de separação poistransita entre esferas de ação so re o mundo: a política das ruas e a dosteatros a estética das ruas e a dos teatros" istintas porém em diálogo" 3tra$és do recorte noticioso engendrado pelo grupo mineiro atra$essamquestões relati$as A ocupação e mo ilidade ur ana A $iolBncia policial e A$iolBncia como contágio coleti$o aos direitos das comunidades periféricas edas comunidades indígenas A força de resistBncia de indi$íduos e conjuntos%umanos" Essas %ist&rias encenadas tBm impacto e rele$ ncia distinto pra n&sseus contempor neos do que terão em dez $inte cinquenta anos se até láso re$i$eremN e é possí$el que so re$i$am porque as relações %umanasmotoras dos acontecimentos tendem a se perpetuar se rein$entando"

    8 real então aparece como gesto de ir ao encontro do outro social.Especialmente porque as %ist&rias en$ol$em camadas da sociedaderecorrentemente desfa$orecidas tanto nas ruas quanto nas páginas de jornaisonde mantBm-se muitas $ezes ocultadas não nomeadas destituídas do direitoa uma narrati$a pr&pria" +ão se está a fazer o teatro de re$ista da corte dosno res dos políticos das cele ridades" +esse sentido o recurso ao real a re a

    possi ilidade da restituição não de um acontecimento 1o que seria impossí$el ,como iogo 9i erano rada no te6to de 7Hnquérito;2 mas de umadívida deinvisibilidade " #ara tanto é necessário uscar uma coerBncia entre a realidadee sua representação compreendendo que coerBncia não se confunde comreprodução e6ataN diz antes dos sentidos apreensí$eis e partil%á$eis pelaforma-discurso" iante disso o Espanca! reconfigura o que se possacompreender por teatro político contempor neo 1por camin%o distinto ao do

    grupo paulista a lado de 3rruar outro a assumir a empreitada de ela orar teatralmente a %ist&ria recente do /rasil em 73 negação HH;2 e encontra no$os

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    direcionamentos artísticos apropriados As inquietações da sua composiçãoatual e ao conte6to presente do país"

    +ão ca e neste artigo uma refle6ão e6tensi$a so re as implicações do real ,ou quais seriam as formas do real , no teatro ' " 8 que nos interessa aqui éconstatar a 7a ertura ao mundo; identificá$el com o projeto estético de outrosartistas de teatro que operam na zona limiar do real e do ficcional" 3o comentar a ascensão do cinema documental o crítico e te&rico espan%ol Mosé 3nt&nio4ánc%ez aponta que 7os e6cessos da cultura do simulacro produziram umaurgBncia por recuperar o princípio de realidade sem por isso renunciar aos jogos de ficção tanto no m ito da prática artística como no da ação social epolítica; 1< p" >J2" Essa afirmação que corresponde A segunda metade doséculo SS quando Mean /audrillard escre$ia 7Fultura e 4imulacro; 1>LTT2 umadécada ap&s )u' e ord ter pu licado sua crítica A 74ociedade do Espetáculo;1>LUT2 pode ser transposta para a atualidade considerando a e6pansão daespetacularização e das formas de simulacro" 3pesar de a assimilação darealidade dentro da cultura contempor nea frequentemente dar-se por meio derealit' s%oQs e da consequente sensacionalização do real concordamos com

    4ánc%ez que 7as perversões de um meio ou de um gBnero não podem ser suficientes para desqualificar tudo o que se produz nele; 1< p" >T2"

    8 camin%o seguido pelo Espanca! o compro$a" Hdentifica-se A necessidade deum 7retorno ao real; que apela 7ao entrecruzamento entre o social e o artísticoacentuando a implicação ética do artista; conforme proposto pelapesquisadora me6icana Hleana iéguez Fa allero 1> p" VJ2" +o artigo

    7E6periBncias do Real no eatro; a pesquisadora rasileira 4íl$ia .ernandestam ém constata como uma das premissas do retorno ao real essa7in$estigação das realidades sociais do outro e a interrogação dos muitosterrit&rios da alteridade e da e6clusão social no país; 1? p" U2" 8 projeto do7Real , eatro de Re$ista #olítica; responde a semel%antes inquietações semque %aja uma ruptura com a representação nem a renDncia aos jogos de

    ' So#re o tema, ver o dossiê ()eatros do $eal* +em!rias, Auto#io ra-as eDocumentos em Cena., pu#licado pela revista Sala /reta, v& 10, n& ' '2103,dispon vel em* %ttp*55666&revistas&uspr5salapreta5issue5vie657'4'

    http://www.revistas.usp.br/salapreta/issue/view/5242http://www.revistas.usp.br/salapreta/issue/view/5242

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    ficção" 3 representação não é superada mas posta em crise com furosesgarçamentos e a e6posição dos processos e artifícios de modo a estimular no espectador a refle6ão so re as escol%as , e o pr&prio caráter de 7escol%a;que não conce e a arte como espel%o do real mas construção a partir da e narealidade" Fada notícia se $este de fá ula diante dos ol%os de espectadoresN eestes mantBm no %orizonte de suas e6pectati$as a relação com o real tantocomo resquício do processo criati$o do espetáculo quanto como fim prop&sitofinalidade"

    Wuando destaco o caráter específico dos acontecimentos noticiados e tomadospela ficção do teatro no espetáculo o faço pela relação entre o particular e ouni$ersal operação que encontra resson ncia no jogo que %á em 7Real; entreas partes e o todo" 78 odo e as #artes; a prop&sito é o título da peçaassinada por Ro erto 3l$im segunda na sequBncia de quatro peças curtasindependentes em tema forma linguagem estéticaN mas entre as quais seproduzem ecos e reiterações que proporcionam no cruzamento dase6periBncias um mais além do que a princípio é tangí$el: a impossi ilidade dae6plicação da $iolBncia do trauma da morteN o questionamento das formas de

    justiça conce í$eisN o silBncio que resta"

    X importante o ser$ar que o Espanca! não tra al%a na encenação comestratégias do teatro documentalN o real não está ane6ado A cena enquantomaterialidadeN a in$estigação da realidade social do outro não se faz pelodocumento nem pelo depoimento mas sim pelo corpo do ator quee6perimenta o lugar do outro sem dei6ar de ser aquele primeiro corpo ciente

    de que outra alternati$a seria impossí$el" al centralidade do corpo nase6periBncias de recon%ecimento do real no teatro é reiterada por 4ánc%ez:

    Wualquer tentati$a de recuperação do real passa pelaafirmação do corpo" 8 corpo do ator constitui o limite darepresentação: o ator pode fingir ser outro mediante apala$ra ou o mascaramento $isual mas não podedesprender-se do seu corpo não pode fingir ser outrocorpo 1< p" ?

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    mesma o ponto de síntese entre o real , a mul%er morta em um linc%amento ,e a fá ula , o fantasma dessa mul%er:

    8 .3+ 34(3 , Má faz mais de um ano que eu morri edesde então é como se min%a família não sou essecomo continuar" Eu estou morta agora mas mesmoassim estou aqui con$ersando com $ocBs" Hsso não énecessariamente ru6aria ou coisa incapaz de se e6plicar:isso é teatro e como tal isto aqui é s& uma possi ilidade"Eu sei que $ocBs podem me $er" Eu sinto" E tudo isso euapenas sei porque estou morta"

    1"""2 4e %oje é s& assim que eu posso e6istir por que nãoe6istir assim da Dnica forma que me é possí$el@

    19H/ER3+8 J2"

    Fomo o .antasma diz o teatro em 7Hnquérito; 1e em 7Real;2 é o lugar daquiloque é impossí$el no mundo real" 3 persistBncia da mãe morta ao lado dafamília é apenas um desses impossí$eis concretizados numa peça curta deterror" (as a atriz tam ém afirma que nunca será .a iane nunca será aquelamãe" 3 morte conforme nos lem ra 4ánc%ez instaura o furo da ficção e olimite do 1ir2representá$el:

    3 morte do outro pro$oca o efeito da incredulidade asensação de que $i$emos um pesadelo uma ficçãodistinta da ficção que %a itamos cotidianamente" E essec%oque de ficções é o indício do real a morte comoacontecimento irre$ersí$el a morte como furo na ficção:furo na ficção de quem mantém a $ida limite insondá$elde quem cumpre aí o seu destino 1< p" >T?2"

    Em ora fure a ficção a morte nunca será senão artificial no teatro , é possí$elperformar quase qualquer coisa menos a morte" 3 Dnica coisa real no palco é onome de .a iane (aria de Mesus a Dnica capaz de não trair seu referente" 3inda assim é somente traída por uma representação que nunca a restituiráque sua %ist&ria encontra lugar no mundo e a consciBncia dessa contradição épartil%ada com o pD lico de modo que este se torne tam ém responsá$el peloacontecimento teatral"

    iogo 9i erano apresenta o palco como espaço de jogo literalmente" 8 que

    mo$e a ação entre pai 13le6andre de 4ena2 e fil%as é uma rincadeira de

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    perguntas e respostas proposta pela mais $el%a um jogo que permite criar uminterstício no cotidiano daquela família onde se possa dizer o que realmenteimporta e que emula a $iolBncia sofrida pela mãe como forma de catarse e detentati$a de dar sentido ao que para as crianças e o adulto é incompreensí$el"8 dramaturgo escre$e so re a perda e o luto como quem con%ece seusengen%os e os modos como afeta um nDcleo familiar" .az da repetiçãoinsistente de uma pergunta supostamente simples , por quB@ , a constataçãodo a surdo" 8 específico é transcendido então para a uni$ersalidade dopro lema da $iolBncia ur ana e mais para a finitude a perda e o insondá$elda fDria %umana"

    Cem do te6to o jogo entre o ingBnuo e o agressi$o manifestos nas tensõesentre o infantil e o adulto e concomitantes na rincadeira de 7linc%ar; 1ou7 rincadeira; de linc%ar@2" 3 encenação dirigida por )usta$o /onespotencializa essa possi ilidade ao colocar dois atores adultos 13ssis/ene$enuto e (arcelo Fastro2 para representar as duas fil%as" 3cima dasquestões de gBnero , em ora tam ém presentes , essa operação ressalta aconsciBncia do jogo dentro do jogo 1que é o teatro2N além disso gera um

    distanciamento que conduz o espectador a uma zona de oscilação entre razãoe emoção" E principalmente permite uma modulação de tons desde a doçurada pequena dormindo no colo do pai até a e6plosão de agressi$idade num gritogra$e de (arcelo quando a menina é contrariada confrontando o pD lico comos e6tremos do temperamento %umano e com a $iolBncia sempre A espreita"

    Essas modulações de energia $ariá$el criam um ritmo de afetos determinante

    para a e6periBncia que 7Hnquérito; proporciona e que culmina na e6acer açãoda agressi$idade pela ação de uma espécie de coro de linc%adores formadocom os atoresOdançarinos 3ll'son 3maral e 9eandro /elilo" 8 acontecimentoteatral nunca afeta do mesmo modo cada espectador a depender dos fatoresmais di$ersos possí$eis desde a %ist&ria pessoal ao lugar que ocupa naplateia porém é justo dizer que Aqueles que sentirem nos pés as $i raçõespro$enientes do espancamento com almofadas 7Hnquérito; atinge além de

    racional e emocionalmente como um atra$essamento físico sensorial do qualnão se sai ileso" X um tra al%o comple6o e completo em si mesmo ao mesmo

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    tempo em que se a re a articulações com as trBs proposições artísticas que oseguem"

    78 odo e as #artes; ao seu modo responde o 7por quB@; que as fil%as de7Hnquérito; repetiam A e6austão" 7(as não %á não %á moti$os!; diz em refrãopoético o te6to de Ro erto 3l$im escrito como uma recusa A usca de sentidoe concomitantemente uma in$estigação de fundo filos&fico e tratamentoaleg&rico so re a justiça e natureza da $iolBncia"

    3inda que %aja essa re$er eração te6to e cena assumem formas aut nomas econtrastantes em relação ao que se $iu na primeira peça" +orteadora doprojeto teatral de 3l$im a recusa A l&gica cultural instaura um tempo e umespaço suspensos de estran%amento em que a redução da luz e domo$imento redirecionam a atenção para presenças m&r idas que semanifestam primordialmente pela musicalidade das pala$ras" Fomo emdescre$eu 9uiz .ernando Ramos acerca do tra al%o do diretor do Flu +oir 7oespaço e a matéria escura que ele contém fundem-se ao campo sonoro dasenunciações $ocais; 1J p"

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    som rio de direção de Eduardo .éli6 ? com a manipulação de onecos um meio&timo para o desen$ol$imento dessa dimensão transumana em que a emoçãodo ator recua diante da pai6ão $iolenta da pr&tese- raço o jeto da operaçãometonímica anunciada desde o título" 8 espaço do teatro é então %a itadopelas estran%ezas das pala$ras emitidas pelos atores e da dança performadapela parte manipulada" Esse descolamento do cultural recon%ecí$el por meiodo artifício teatral so repõe uma contraface mais a strata racional ee6cBntrica ao quadro do 7Real;"

    7#arada 4erpentina; $em redefinir outra $ez os c&digos de linguagem so re opalco e esta elecer para o espectador de 7Real; a necessidade de umafluBncia entre modos de ela oração cBnica con$ocando outras formas depercepção e relação com o que se apresenta" #or razões que somente umacrítica genética do processo criati$o poderia alcançar o te6to encomendado a/'ron 8G+eill resultou em fragmentos disparadores de uma criação no campoda dança que conjuga a desconstrução coreográfica contempor nea A forçacontagiante do #assin%o" Este traz consigo um índice do real 1outro são osfigurinos A semel%ança da #raia da Estação2 como gBnero popular geralmente

    mantido fora de espaços legitimados da arte e com o qual os corpos de partedos atores- ailarinos demonstram pouca familiaridade"

    3 configuração desses corpos em si é definidora da estética e da ética dacena na medida em que se misturam fisicalidades esculpidas pela dançacontempor nea ou pela dança de rua , e outras estran%as a am as" 8 domíniotécnico ainda que e$idenciado em momentos específicos não é o foco do

    tra al%o mas sim a possi ilidade de construção de umacoreopolítica ,conceito desen$ol$ido por 3ndré 9epecZi e que segundo o grupo afirmou emuma rede social 7c%egou como uma Dssola na nossa criação;" +o início doartigo 7Foreopolítica e Foreopolícia; lido pelo grupo em sala de ensaio opesquisador indaga:

    #odem a dança e a cidade refazer o espaço de circulaçãonuma coreopolítica que afirme um mo$imento para umaoutra $ida mais alegre potente %umanizada e menos

    0 Diretor do rupo mineiro /i malião 8scultura "ue +e9e, com o "ual o 8spanca:planeja seu pr!9imo tra#al%o&

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    reprodutora de uma cinética insuporta$elmente cansati$ase em que agitada e com certeza espetacular@19E#EFPH > p" VL2

    3 esta pergunta o Espanca! responde com uma performance dos corposenquanto formas políticas em mo$imento a figurar o li6o acumulado durante agre$e de garis e a metaforizar o 7li6o; %umano em condições de $ida precárias"Forpos que oscilam da energia $ital pulsante da dança de rua ao tom amentodos corpos-detritos para enfim redesco rirem a potBncia do %umano nainteração no coleti$o e no indi$íduo" Fonforme já foi dito pela crítica 4ora'a/elusi faz-se 7uma re$olução dos e pelos corpos em que a carna$alização emotinsOmontin%os são formas de desesta ilizar pro lematizar e reconfigurar our ano e seus sujeitos; 1U2" 3ssim 7#arada 4erpentina; traz ao quadro do7Real; uma e6periBncia de outra ordem , predominantemente sens&ria ecinética , e uma esperança frente As tragédias ur anas concretizada numgesto de mo ilizaçãoOre$olução popular"

    #or fim 7(aré; retoma o ol%ar so re um nDcleo familiar a $iolBncia a inf nciae a morte dando rele$o ao medo e ao espanto diante do %orror" 8 te6to foi

    escrito por (arcio 3 reu como um flu6o de $ozes de trBs gerações de umafamília soltas de pontuações maiDsculas ou demais organizações gramaticais"#ala$ras indomadas uma massa te6tual A qual cou e ao Espanca! atri uir contornos e modulações tal como 3 reu %a$ia ele mesmo feito anteriormenteem 7Hsso te interessa@;4" o te6to de +o_lle Renaud ecoa tam ém o modocomo algumas sentenças corriqueiras quando repetidas parecem dar conta dadimensão mais comple6a de uma $ida" 3quilo que %á de indizí$el escapa como

    sugestão entre as frestas do anal e se instaura como afeto: eis o poder dalinguagem quando performada poeticamente"

    3 forma cBnica encontrada pelo Espanca! para a peça so a direção de(arcelo Fastro des$ia da confusão $ocal que a possi ilidade deconcomit ncia das falas pro$ocaria" Em $ez disso so repõem-se as camadasde $ozes no espaço e no tempo" 3 pros&dia musical estran%ada a su $erter as4 Espetáculo da Fompan%ia /rasileira com te6to igualmente deslimitado da autora francesa +o_lle

    Renaude"

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    fronteiras das frases en$ol$e a analidade do relato em uma atmosferasensí$elN e a repetição opera como uma estratégia de reforço e de propagaçãoaumentando o peso das pala$ras a cada $ez que são proferidas"

    +um palco de dimensões restritas como são as das casas nas comunidadesdos morros cariocas a a$& 1)laucia2 é a primeira a narrar a %ist&ria numadescrição realista de minDcias e afetos do cotidiano ruscamente interrompidapelas reações sensoriais a uma rajada de tiros" epois $em a mãe ascrianças e cada uma que se cala se soma a um cenário desolado a assom rar o que $irá com a consciBncia pré$ia da tragédia até a c%egada do pai Dltimo arecontá-la melodicamente $ítima direta dela" 7[m pedaço de carne; 7um

    $ermel%o; 7um quente;" antas $ezes ou$idas ao longo das narrati$as essaspala$ras carregam um acDmulo de densidade ao serem ditas pela Dltima $ezpor 3le6andre de 4ena" E6plodem em sentidos trazendo ao 7Real; asensorialidade e as emoções da morte como materialidade no tempo dilatadodos instantes"

    9onge de uma estética e6plorat&ria da po reza de pri$ar o outro desu jeti$idade ou de ignorar a alteridade o que se constr&i pela estetização é

    um dos gestos primordiais da arte: fazer do ordinário e6traordinário atraindo ereinaugurando o ol%ar so re ele" endo a empatia como ética a ficção torna-sea estratégia para tocar o real" Recon%ecer o outro em sua %umanidade: um$ermel%o um quente um pedaço de carne , como n&s" Recon%ecer o comum" 3 finalidade idealmente compartil%ada entre palco e plateia é a do impulso Atransformação social moti$ada pela afetação sensí$el e pela restituição ao$isí$el"

    ReferBncias i liográficas:

    39CH( Ro erto" ramáticas do ransumano so re os 3tores ticas-do-transumano-so re-os-atores 3cesso em >V fe$ U"/E9[4H 4ora'a" Ciolentamente #oético U" isponí$el em:%ttp:OOQQQ"%orizontedacena"comO$iolentamente-poeticoO 3cesso em >V fe$U"F3/399ER8 Hleana ieguez" Fenários 9iminares: teatralidades performancese política" [ erl ndia: E [.[ >"9E#EFPH 3ndré" Foreopolítica e Foreopolícia" Re$ista Hl%a $" >? n" > p" V>-U= jan"Ojun" isc% 4c%ool of t%e 3rts +eQ orZ [ni$ersit' E[3 1>2

  • 8/17/2019 Fabulações sobre o Real

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