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Universidade Federal da Bahia Instituto de Geociências Departamento de Geografia FABRINE DOS SANTOS LIMA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE NASCENTES NO MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO BA: O CASO DO RIACHO XAVIER. SALVADOR - BA 2015

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Universidade Federal da Bahia

Instituto de Geociências

Departamento de Geografia

FABRINE DOS SANTOS LIMA

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE NASCENTES NO

MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO – BA: O CASO

DO RIACHO XAVIER.

SALVADOR - BA

2015

FABRINE DOS SANTOS LIMA

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE NASCENTES NO

MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO – BA: O CASO

DO RIACHO XAVIER.

SALVADOR - BA

2015

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências - UFBA

L732

Lima, Fabrine dos Santos Recuperação ambiental de nascentes no município de Elísio

Medrado - BA : O caso do Riacho Xavier. / Fabrine dos Santos Lima.- Salvador, 2015.

49 f. : il. Color.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Tomasoni Monografia (Conclusão de Curso) – Universidade Federal da

Bahia. Instituto de Geociências, 2015.

1. Nascentes. 2. Análise ambiental. 3. Recuperação ambiental - Elísio Medrado (BA). I. Tomasoni, Marco Antônio. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 551:504(813.8)

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Dr. Marco Antônio Tomasoni (Orientador)

_________________________________________

Prof. Dr. Antonio Puentes Torres

_________________________________________

Prof. Msc. Nilton de Oliveira

Salvador, 23 de Novembro de 2015.

“Se sou de água, nada me resta além de jogar-me nela, deixar me envolver e lavar.

Levar pra ela meus melhores gestos, respeito e carinho.

Sou de água, aquela que toda vida me abre os caminhos.”

Fabrine Lima.

Dedicatória

A Deus, que em sua infinita sabedoria guia

meus caminhos me proporcionando saúde,

serenidade e disposição para enfrentar todas

as etapas desta caminhada. Por nunca me

deixar perder a fé.

À minha mãe e ao meu pai, que com seu amor

infinito e apoio incondicional é responsável

por minha base pessoal, espiritual e pela

minha existência.

À minha irmã e sobrinha, pelo amor e carinho

sempre presentes.

AGRADECIMENTOS

À minha família, por ser a base de minhas realizações, por estarem sempre presentes e me

incentivarem a sempre buscar ser uma pessoa melhor. Por me compreenderem e serem o

meu suporte em todos os momentos.

A todos os amigos que fiz nos meus estágios no Inema e no Ministério Público do Estado

da Bahia, além dos amigos do Projeto Floresta Sustentável, vocês fazem parte do meu

crescimento como profissional e pessoa.

Aos Professores que tive o prazer de conviver durante esses anos de graduação.

Aos Professores Tomasoni e Puentes, pela orientação e paciência.

Aos meus queridos amigos, em especial os Binos e Binas, Geiza, João, Renatinha, Sarah,

Andressa, Daiana, Fábia e Orlando, pela amizade, nossas viagens, carinho e pela força que

sempre me deram, seja nos anos de graduação ou também nesta etapa final.

Aos meus queridos amigos Carlos e Pedro, por serem os meus companheiros nesta jornada

e pelo carinho, amor e amizade que compartilhamos.

Ao querido Antônio e sua família, por serem tão receptivos e amigos e também por

proporcionar aos alunos da Geografia o aprendizado em um laboratório mais do que

especial, sua casa.

ANÁLISE E PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM UMA ÁREA DE

NASCENTE NO MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO – BA.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo realizar a análise ambiental de uma área de nascente, a partir

de uma visão sistêmica e a percepção ambiental do morador da área, sendo esta uma maneira

direta de observação da tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de

perceber o ambiente que se está inserido, buscando assim a compreensão do ambiente

vivido, onde ações de recuperação ambiental foram desenvolvidas e aliaram o conhecimento

científico ao empírico, no objetivo de reverter o cenário de degradação ambiental existente e

proteger o manancial hídrico presente, refletindo ainda sobre a importância de ações de

preservação ambiental e da ligação entre a sociedade e ambiente acadêmico.

Palavras-Chave: Análise ambiental; Nascente; Percepção; Ambiente.

Índice de Figuras

Figura 1: Hierarquia dos fatores geoecológicos formadores da paisagem. ____________ 20

Figura 2: Localização da área de estudo. ______________________________________ 29

Figura 3: Localização da sub bacia do rio Jacutinga na RPGA do Recôncavo Sul. _____ 30

Figura 4: Degradação próxima à área da nascente, dentro dos limites de uma das

propriedades vizinhas. ________________________________________________ 34

Figura 5: Imagem do entorno da área de estudo, indicando diferentes usos. ___________ 35

Figura 6: : Delimitação da APP de nascente e os limites da propriedade de Antônio. ___ 35

Figura 7: Turbidez da água na área de estudo. __________________________________ 37

Figura 8: Presença de peixes na área de estudo. _________________________________ 37

Figura 9: Margens da área de nascente. _______________________________________ 38

Figura 10: Conversa com Seu Antônio. _______________________________________ 41

Figura 11: Área desmatada e presença de pastagem na margem direita da nascente no

período anterior a 2000. _______________________________________________ 42

Figura 12: Aspecto da nascente em 2006. _____________________________________ 43

Figura 13: Cultivo de frutíferas na propriedade. ________________________________ 44

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Parâmetros para qualificar os impactos ambientais na área de estudo. _____ 14

Tabela 2 - Classificação quanto ao grau de preservação _________________________ 14

Tabela 3 - Largura da Área de Preservação Permanente (APP) em função do tipo de corpo

d´água. ____________________________________________________________ 27

SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 10

II. OBJETIVOS _________________________________________________________ 12

II.1. Objetivo Geral ____________________________________________________ 12

II.2. Objetivos Específicos _______________________________________________ 12

III. METODOLOGIA _____________________________________________________ 13

IV. REVISÃO DA LITERATURA __________________________________________ 15

IV.1. A Geografia no contexto da análise ambiental ___________________________ 15

IV.2. A Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento ambiental ____________ 22

IV.3. Preservação de nascentes e aspectos legais da política ambiental brasileira ____ 24

V. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO _________________________________ 28

VI. ANÁLISE AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO _________________________ 32

VI.1. Análise Macroscópica da Qualidade da Água ___________________________ 36

VII. ANÁLISE AMBIENTAL A PARTIR DA PERCEPÇÃO – O AMBIENTE VIVIDO

DE SEU ANTÔNIO. _____________________________________________________ 39

VIII. DISCUSSÃO _______________________________________________________ 46

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____________________________________ 10

ANEXOS

ANEXO A – Projeto Verde Vale

ANEXO B – Roteiro para conversa com Seu Antônio

10

I. INTRODUÇÃO

Sabe-se que a água, além de ser um elemento indispensável para a vida (dimensão

ecológica) e para a qualidade da vida (dimensão social) é, também, um insumo necessário

praticamente para todas as atividades produtivas (dimensão econômica). Por isso, “o

desenvolvimento econômico e social de qualquer país está fundamentado na disponibilidade

de água de boa qualidade e na capacidade de conservação e proteção dos recursos hídricos”

(TUNDISI, 1999). Com isso, percebe-se a relevância do cumprimento das obrigações legais

no âmbito da legislação ambiental brasileira e, para que esta seja realizada de maneira

coerente, efetiva e fazendo real sentido na vida da sociedade, é de suma importância que haja

a compreensão do meio e a conexão entre este e quem nele está inserido.

A necessidade de suprir as demandas de água para o abastecimento humano, para a

dessedentação animal e para os usos na agricultura, lazer e indústria, exige técnicas de gestão

criteriosa dos recursos hídricos no âmbito municipal, estadual e federal. Faz-se necessário

então o conhecimento detalhado dos processos hidrológicos ,uma vez que a falta de água em

quantidade e qualidade é um problema frequente nos dias atuais em virtude, dentre outros,

da ocorrência maior de secas, poluição e aumento da demanda. O Brasil enfrenta sérios

problemas quanto ao uso e distribuição desse recurso em seu território. Considerado como o

país que tem a maior reserva de água doce do mundo, a Política Nacional dos Recursos

Hídricos e a Agenda 21 mostram aspectos que convergem para a importância da gestão

sustentável das águas, o que envolve a preservação de suas matas ciliares.

Ações de recuperação ambiental são previstas na política ambiental brasileira, porém

sua efetividade ainda é limitada, tendo em vista as dificuldades de monitoramento por parte

dos órgãos competentes e a pouca conexão entre o real, observado em campo e o que está

redigido na legislação.

A normativa ambiental brasileira possui dispositivos sobre a recuperação de danos

ambientais, envolvendo assim os proprietários rurais no processo de recuperar os

ecossistemas degradados em suas terras, ações estas que em alguns casos, são iniciadas a

partir da compreensão destes sobre a fragilidade em que o meio está inserido. Há situações, no

entanto, em que ações de recuperação ambiental são uma prioridade. Esse é o caso da

obrigatoriedade da recuperação, em cada propriedade rural, das “florestas e demais formas de

vegetação natural de preservação permanente” localizadas nas “Áreas de Preservação

Permanente” (APPs), de acordo com o atual Código Florestal, Lei nº12.651/12, bem como da

11

vegetação natural que deveria ser mantida no que a Lei denomina “Reserva Legal” (RL). No

entanto, é importante salientar que a legislação ambiental pode não ser compreendida

adequadamente e também não ser apresentada ou assimilada por grande parte da população,

que viveu até então com suas próprias maneiras de lidar com os recursos hídricos, seguindo

hábitos antigos que por vezes não são concordantes com a atual situação dos mananciais

locais. Os pequenos proprietários, em geral,não tem conhecimento sobre os aspectos legais

que definem a sua relação com o meio ambiente, por falta de acesso à legislação ambiental e

falta de representatividade das secretarias municipais de meio ambiente, ilustrando assim a

pouca efetividade espacial da política ambiental brasileira, principalmente em escala local.

A proteção dos mananciais que ainda estão conservados e a recuperação daqueles

que já estão comprometidos são alternativas para conservar a água ainda existente. Se houver

a preservação da floresta nativa em um manancial, sua água será de boa qualidade, mas com

supressão da vegetação entorno aos cursos d’água para construção de casas, implantação de

plantações e outros usos, como industriais, a sua água começará a receber substâncias além

daquelas naturais (TORRES, 2003).

Com isso, percebe-se a essencial relevância da recuperação das matas ciliares e a

constante interação entre entidades responsáveis e diretamente ligadas à sociedade, a fim de

se obter maior troca de informações e efetiva gestão ambiental e dos recursos hídricos. Ações

realizadas por Universidades em conjunto com a sociedade são de grande valia para a

manutenção destes, justamente por aproximar o conhecimento legal e científico à vivência dos

atores sociais que acabam sendo por vezes multiplicadores do saber obtido.

Pela sua estratégica localização, as matas ciliares têm vocação de servirem como

corredores naturais entre fragmentos florestais e reservas e também exercem papel

fundamental na manutenção da qualidade da água, na conservação da biodiversidade e do

patrimônio genético da flora e da fauna.

A área de estudo deste trabalho está localizada no município de Elisio Medrado –

Bahia e é um exemplo de realidade da aplicabilidade legal. A recuperação e recomposição da

vegetação não se deu de maneira efetiva no seu entorno, dificultando a conectividade entre as

manchas florestais e, com isso apresentando uma realidade discordante do apresentado e

proposto na lei.

12

II. OBJETIVOS

II.1. Objetivo Geral

Realizar a análise ambiental da área em questão, utilizado, além das técnicas e

metodologias científicas, a percepção do Sr. Antônio (Seu Antônio), morador da área de

estudo e responsável pela manutenção da nascente. Utilizar abordagens da Análise da

Paisagem, buscando realizar a análise ambiental juntamente com elementos da percepção

ambiental, compreendendo que os elementos que compõem a paisagem são os sujeitos

pertencentes à relação sociedade natureza, objeto de estudo da ciência geográfica, observando

o ambiente em questão a partir da tênue relação entre homem e meio e suas dinâmicas.

II.2. Objetivos Específicos

Visando atingir o objetivo principal, alguns objetivos específicos serão requeridos,

entre eles:

1. Revisão de literatura base para conhecimento teórico sobre o tema abordado;

2. Realizar visitas a campo, a fim de avaliar aspectos físico/ambientais da área de

estudo;

3. Avaliar a área de estudo a partir da percepção ambiental de Seu Antônio, aliando

assim o conhecimento científico ao conhecimento empírico.

13

III. METODOLOGIA

Para que fosse possível a realização deste trabalho foram necessárias algumas etapas

metodológicas:

1. Levantamento teórico sobre os temas abordados, onde foi possível ter

conhecimento prévio sobre as abordagens a serem trabalhadas na pesquisa;

2. Listagem de pontos a serem observados nas visitas a campo , realizadas em Agosto

de 2015 e Julho de 2015, no que diz respeito às características físicas como

densidade da vegetação, presença de serapilheira e diferentes tipos de uso

presentes na área, de maneira a compreender o ambiente de maneira sistêmica.

3. Utilização da metodologia de análise macroscópica da água, considerando aspectos

visíveis e de clara compreensão.

4. Construção de um roteiro de temas para realização de uma entrevista com o dono

da propriedade, a fim de colher informações sobre a percepção deste em relação ao

ambiente em questão, roteiro estre presente no ANEXO 1.

A metodologia da etapa do trabalho que compreende a análise macroscópica da água

tem como base o trabalho de Gomes et al (2005), que aplicou esta ao estudo de impactos

ambientais em variadas nascentes.

Nesta metodologia, são aplicados 12 parâmetros para a observação da área (tabela 1),

onde cada um deles tem três subtipos para sua classificação (ruim, média e boa), com valores

1, 2 e 3, a fim de indicar a qualidade menor ou maior da água, de acordo com o observado em

campo. Após a observação destes 12 parâmetros, faz-se um somatório dos valores encontrados

e assim se obtém o resultado sobre a condição de qualidade da água, quando observada

macroscopicamente.

14

Tabela 3 - Parâmetros para qualificar os impactos ambientais na área de estudo.

Parâmetro

Macroscópico

Qualificação

Ruim (1) Média (2) Boa (3)

Cor da Água Escura Clara Transparente

Odor Forte Com odor Não há

Lixo ao redor Muito Pouco Não há

Materiais flutuantes Muito Pouco Não há

Espumas Muita Pouca Sem espumas

Óleos Muito Pouco Sem óleos

Esgoto Esgoto doméstico Fluxo superficial Sem esgoto

Vegetação Degradada ou Ausente Alterada Bom estado

Uso por animais Presença Apenas marcas Não detectado

Uso por pessoas Presença Apenas marcas Não detectado

Acesso Fácil Difícil Sem acesso

Equipamentos urbanos Menos de 50m Entre 50 e 100m Mais de 100m

Fonte: Adaptado de Gomes et al., 2005.

Tabela 4 - Classificação quanto ao grau de preservação

Classe Grau de Proteção Pontuação

A Ótimo Acima de 22

B Bom 19 – 21

C Razoável 16 – 18

D Ruim 14 – 15

E Péssimo Abaixo de 13

Fonte: Adaptado de Gomes et al., 2005

15

IV. REVISÃO DA LITERATURA

IV.1. A Geografia no contexto da análise ambiental

De acordo com Ross (2006), pode-se intuir que a Geografia tem um caráter de

investigar fenômenos naturais e o seu ressoar na dinâmica dos sistemas humanos, sempre na

busca de um inter-relacionamento deste sistema com os processos que dinamizam os meios

naturais como os fluxos de energia e matéria entre partes de um todo em conjunto e ainda

segundo o autor, forma um segmento denominado de “estrato geográfico” (op.cit. p. 13).

Atualmente os problemas ambientais são estudados sob diversas esferas terrestres,

seja em nível da litosfera, hidrosfera, biosfera ou também integradamente na paisagem, tendo

como contribuição expressiva a Geografia, uma ciência que se ocupa com o entendimento do

espaço geográfico e dos diversos ambientes como um todo, motivo que a qualifica para

estudos dessa natureza, de maneira importante para a compreensão das dinâmicas do meio

ambientais.

É inegável que o homem “é agenciado pelo ambiente geográfico: ele sofre influência

do clima, do relevo, do meio vegetal (...). A natureza geográfica o lança sobre si mesmo, dá

forma a seus hábitos, suas ideias, às vezes a seus aspectos somáticos” (DARDEL, 2011, p.

09). Assim, sociedade e natureza, invariavelmente, se integram dentro da análise geográfica,

pois formam um todo indissociável.

De acordo com Mendonça (2011), praticamente todas as localidades da epiderme

terrestre estão preenchidas pela ação humana e o grande mosaico de paisagens que constituem

o espaço geográfico são os sinais claros que atestam uma situação jamais observada na

história da natureza e das sociedades humanas. É o tempo célere de um mundo sob a

singularidade da globalização.

No Brasil, pode-se constatar por meio das produções científicas apresentadas em

congressos, seminários e publicações nacionais e internacionais, diversoos trabalhos de

geógrafos que tentam compreender, analisar, diagnosticar o espaço geográfico em seus

trabalhos de campo, gabinete, laboratório entre outros. Dentre as questões ambientais mais

estudadas por estes pesquisadores está evidenciada a preocupação com os recursos hídricos,

uma vez que a água é considerada o mais importante recurso da humanidade.

Vital para a sobrevivência de qualquer espécie animal e vegetal, a água é uma das

preocupações mundiais mais expressivas, tendo em vista que a água é considerada um bem

16

finito para o consumo humano, principalmente devido ao crescente aumento nos níveis de

poluição e ausência de políticas de recuperação de corpos hídricos.

O meio natural tem as suas estruturas organizacionais manifestadas nas diferentes

configurações que o relevo assume na epiderme terrestre. O “estrato geográfico” de Grigoriev

sob o raciocínio de Ross (2006) é fruto dos processos físicos e químicos e também das

morfologias que os diversos materiais que o compõem, assumem na paisagem a que também

se somam os componentes antrópicos e que, no relevo se externalizam.

Nesse estrato geográfico, se compreende que o homem tem uma função essencial em

sua feitura, pois é neste que se vão evidenciar os efeitos mais imediatos da ação humana sobre

os recursos naturais e como estes irão se reconfigurar de acordo com o uso que lhe são dados

e também a própria dinâmica ambiental será mais efetivamente percebida. O relevo, então, se

mostrará revelador do próprio estrato geográfico, ilustrando as interações ali existentes, sejam

elas nocivas ou não à sua dinâmica.

La Blache (1985, p.41) afirma que “o campo de estudo, por excelência, da Geografia

é a superfície”. Para ele, o objeto da Geografia abarca os fenômenos que se produzem na zona

de contato entre massas sólidas, líquidas e gasosas que conformam o planeta. Assim, a

Geografia compreende o conjunto da Terra que sofre a participação de uma dinâmica geral. O

princípio da unidade é outra ideia base para a Geografia Humana de La Blache, a que lhe

outorga o patamar de ciência. A razão para esta atribuição está ligada ao fato de a noção de

unidade encontrar significado na correspondência ou correlação dos fenômenos observados na

superfície terrestre e comparados entre si. Segundo La Blache (1985),

A análise desses elementos, o estudo de suas relações e de suas combinações

compõem a trama de toda pesquisa geográfica (...) Estas causas, se é permitido

usar esta palavra ambiciosa, ao se combinar originam as variedades sobre as

quais o geógrafo trabalha. (p. 41).

A noção de meio para La Blache (1985, p. 45) vem da observação dos inúmeros elos

existentes entre diversos elementos, que juntos, adquirem a noção de complexidade. Os

elementos constantes de determinada fração da superfície terrestre “se apresentam a nós em

grupos organizados, em associações regidas por um equilíbrio que o homem perturba

incessantemente ou, conforme os casos,retifica colocando a mão”. Por tais características, a

Geografia, nesta perspectiva que se apresenta, segundo La Blache, na mesma obra, dá à

descrição e à observação, um papel preponderante:

17

Não seguramente que renuncie à explicação: o estudo das relações dos

fenômenos, de seu encadeamento e de sua evolução são também caminhos que

levam a ela. Mas esse objeto mesmo a obriga, mais que em outra ciência, a

seguir minuciosamente o método descrito. Uma dessas tarefas principais não é

localizar as diversas ordens de fatos que a ela concernem determinar exatamente

a posição que ocupam, as áreas que abrangem? Nenhum índice, mesmo nenhuma

nuança não poderia passar despercebida; cada uma tem seu valor geográfico, seja

como dependência, seja como fator, no conjunto que se trata de analisar. É

preciso, então, tomar sobre o fato cada uma das circunstâncias que o

caracterizam, e estabelecer exatamente o resultado. No rico teclado de formas

que a natureza expõe a nossos olhos, as condições são tão diversas, tão

intercruzadas, tão complexas, que elas arriscam escapar a quem acredita tê-las

cedo demais. (p. 41).

Dentro do estudo geográfico direcionado para a observação do meio ambiente

destaca-se a análise sistêmica. No Brasil, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro,

preocupando-se com a unidade da Geografia, tentou superá-la como professor propiciando a

seus alunos um esforço de relacionar os fatos ditos físicos aos humanos, sendo que o mesmo

esforço foi realizado na sua trajetória como geógrafo. Em seu livro “Geossistemas - a história

de uma procura”, Monteiro (2000) retrata essa busca e muitas vezes se refere à complexidade

dos fatos geográficos, além da complexidade em se entender a própria dinâmica da natureza

dentro do ponto de vista sistêmico.

A abordagem sistêmica teve início na Biologia, com a Teoria Geral dos Sistemas

proposta por Bertalanfy e anteriormente já introduzida por Chorley, na Geomorfologia. Foi

incorporada por muitos autores de diversas áreas de estudo. Foi um divisor de águas para a

ciência, pois possibilitou uma visão integrada de fenômenos e elementos dentro dos sistemas,

sejam eles de qualquer espécie, onde as estruturas são totalidades organizadas segundo

princípios internos próprios e que comandam seus elementos, seu funcionamento e suas

possibilidades de transformação temporal ou histórica.

Dentro da abordagem sistêmica é indispensável a compreensão de que o todo não é a

soma das partes. Dentro de um sistema as partes dialogam entre si e se complementam,

formando assim um conjunto organizado de elementos e de interações entre elementos.

As análises sistêmicas são base para a discussão geossistêmica, visto que apresentam

a união de elementos indissociáveis que se encontram aglomerados em uma dada totalidade e

que segundo Christofoletti, busca a visão do “todo” conjunto de vários fenômenos em

detrimento das “partes” isoladas refutando o viés cartesiano newtoniano que apesar do

extremo valor para o desenvolvimento cientifico se mostrou ineficiente para o entendimento

da dinâmica e do geocomplexo ambiental atual.

18

Portanto, os sistemas tratam de conjuntos de unidades estritamente relacionadas, pois

cada parte possui funções especificas que dependem da soma de todo sistema, assim, se o

controle de uma unidade sofrer alterações todo sistema pode ser influenciado, dependendo da

intensidade ou grandeza de cada unidade. Por este motivo, pode-se dizer que “o equilíbrio de

um sistema representa o ajustamento completo das variáveis internas às condições externas”

(ALMEIDA; TERTULIANO 2009 p. 116).

Com isso “a geografia da complexidade e a análise espacial permitem verificar a

interconexão inerente à própria realidade e, por isso, possibilitam ir muito além da

fragmentação cartesiana que até nossos dias inundam a ciência moderna” ao ponderar o

ambiente pela metade, externalizando o homem em relação à natureza (CAMARGO, 2008 p.

215).

No que tange ao surgimento do conceito do que vem a ser o geossistema, nota-se que

sua “criação” se dá no bojo da escola soviética pelo russo Victor Sotchava na década de 1960,

que fundou o conceito ligado às experiências desenvolvidas na região da planície siberiana –

Rússia. O mesmo entendia geossistema como “uma classe peculiar de sistemas dinâmicos

abertos e hierarquicamente organizados” (ROSS 2006 p. 24) o qual expunha os fluxos de

matéria e energia entre elementos bióticos e abióticos, sendo este influenciado pela ação

antrópica que em seu estudo não era o cerne da questão. Referindo-se, sobretudo, a imagem

de homogêneo e diferenciado, como princípios ímpares à classificação do geossistema

(VALE, 2011). Portanto, na Geografia russa, criou-se a partir de Victor Sotchava (1976) a

concepção de geossistema, como unidades espaciais que integram os aspectos físicos,

ecológicos e sociais de dada paisagem, possuindo como fator primordial a dinâmica

relacionada aos fluxos termodinâmicos de matéria e energia, apresentando-se entre sob uma

hierarquia estrutural, locada entre o nível planetário, regional e topológico. Como visto em

Freitas e Cunha, apresentam-se:

[...] divididos entre geômeros (que apresentam uma estrutura homogênea) e

geócoros (com estruturas diferenciadas) em relação de interdependência. Entre as

unidades principais dos geômeros são os geomas (de nível regional), as fácies e a

unidade elementar (biogeocenose, equivalente à ecossistema elementar). Entre os

geócoros, propõe várias diferenciações escalares de microgeócoros até zonas

físico-geográficas regionais. (SOCHAVA, 1978; ROUGERIE;

BEROUTCHACHVILI, 1991 apud FREITAS; CUNHA, 2004, p. 90).

19

De acordo com Sotchava (1976), o geossistema é um sistema dinâmico aberto e

hierarquicamente organizado. Em um sistema aberto, segundo Bertalanffy (1973), a condição

inicial do sistema não determinaria necessariamente as condições finais, princípio chamado

pelo autor de equifinalidade. No sistema aberto a entrada e saída de energia nunca estão em

equilíbrio, mas é conservada mediante a produção e a decomposição de seus componentes

(BERTALANFFY, 1973).

Para Tricart (1977), o conceito de sistema na análise ambiental é o melhor

instrumento para estudar os problemas ambientais. Para o autor o fluxo de matéria e energia,

inerente ao sistema, gera “dependência mútua entre os fenômenos”, seus elementos reagem

uns com os outros de forma dialética tornando-o singular. O conceito, segundo o autor, possui

uma essência dinâmica, portanto, não se deve cometer o equivoco de entender os fenômenos

como a “soma das propriedades dos seus componentes”.

[...] a superfície geográfica é concebida como o geocomplexo (ou geossistema)

de nível mais superior que existe no globo terrestre, como um sistema material

integral, composto de esferas inter-relacionadas (atmosfera, hidrosfera, litosfera,

biosfera) entre as quais desenvolve-se um intercâmbio de energia, substância e

informações. Concebe-se ainda como um sistema integral complexo,

espacialmente heterogêneo e diferenciado, formado por uma multiplicidade de

tamanhos e complexidades. (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2007 p.

30).

Segundo Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), o conceito de geossistema considera

como componentes naturais os elementos intrínsecos a paisagem (estrutura, funcionamento,

evolução e dinâmica), estruturados em seis principais fatores geoecológicos influentes na

formação da paisagem: geológico, climático, geomorfológico, hídrico, edáfico e biológico;

organizados de forma hierárquica em quatro categorias geoecológicas, conforme pode ser

visto na Figura 1.

20

Figura 1: Hierarquia dos fatores geoecológicos formadores da paisagem.

Fonte: Adaptado de (RODRIGUEZ, SILVA, CAVALCANTI, 2007 P.87)

A atuação de cada fator geoecológico é descrita a seguir:

1. Fatores diferenciadores - determinam as propriedades dos outros componentes

do sistema. Não são diretamente modificados pela ação humana, estão

21

condicionados por uma ação em escala global e modificados paulatinamente no

decorrer de eras geológicas;

2. Fatores de redistribuição - são responsáveis pela distribuição de matéria e

energia e determinantes na formação dos componentes restantes;

3. Fatores diferenciadores indicadores - são resultados dos processos ocorridos no

sistema;

4. Fatores indicadores - são resultados da combinação das categorias supracitadas.

(RODRIGUEZ, SILVA, CAVALCANTI, 2007 p. 85).

Dentro das categorias geoecológicas formadoras da paisagem, os fatores

diferenciadores indicadores e os indicadores são os mais facilmente transformados pela ação

antrópica e sofrem transformações imediatas. Isto significa dizer que, o mau uso do solo e dos

recursos hídricos provoca alterações na estrutura dos solos, na distribuição da vegetação, cria

novos habitats não existentes nos tempos pretéritos, redistribuindo a fauna local

(RODRIGUEZ, SILVA, CAVALCANTI, 2007).

A utilização da análise geossistêmica, além de hierarquizar os fatores formadores da

paisagem, implica em relacionar esses elementos a fim de compreender de forma integrada a

dinâmica da paisagem. Nesta teoria, cada paisagem é única devido à distribuição de umidade,

calor e sua evolução (matéria, energia e informação). Entretanto, estão conectadas às outras

paisagens de diversas formas, em pequenas escalas (grandes bacias hidrográficas, biomas e

formações florestais) e grandes escalas (topos, vertentes e fundos de vale), por conta dos

elementos climáticos (incidência de calor, correntes de ar, variação das precipitações etc.),

litológicos (cimentação, porosidade, dureza etc.), geomorfológicos (declividade, formato dos

topos; vertentes, vales etc.) pelo resultado da interação desses elementos tais como: tipo de

solo, flora e fauna.

O uso da abordagem sistêmica na Geografia possibilita ainda hoje que os aspectos

físicos do ambiente possam ser estudados em comunhão com as atividades humanas que, na

escala de estudo deste trabalho (geofácies), tem impacto direto e muito mais perceptível,

quando em campo. Bertrand define geofácies como um setor fisionomicamente homogêneo,

onde se desenvolve uma mesma fase da evolução geral do geossistema e, o geótopo é uma

microforma no interior do geossistema e dos geofácies – é a menor unidade geográfica

homogênea diretamente discernível ao terreno -, uma particularidade do meio ambiente.

22

A abordagem sistêmica permite à Geografia uma maior aproximação entre o

conhecimento da natureza e sua relação com a sociedade, que se dá de maneira intrínseca, ou

seja, a interação é clara, pois as funções bióticas e abióticas são complementares e se

relacionam de maneira a dar funcionamento ao sistema. Permite ainda que o estudo de um

todo (que não é a soma das partes, mas sim um resultado da conectividade entre estas) seja

base para a compreensão de um espaço analisado por uma Geografia mais completa, por

assim dizer. Os Geossistemas, entendidos como algo além das abordagens puramente

naturalistas trazem uma noção de união dos conhecimentos existentes dentro da pesquisa

Geográfica, possibilita que diferentes visões sobre a paisagem sejam complementares e

fortaleçam ainda mais o entendimento da superfície terrestre.

IV.2. A Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento ambiental

A utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gerenciamento

ambiental não é recente. Estudos hidrológicos e limnológicos utilizam a bacia hidrográfica

para as análises qualitativa e quantitativa do recurso água e dos fluxos de sedimentos e

nutrientes há várias décadas. As ligações entre as características físicas e de drenagem de uma

bacia, a vazão e as características da água do corpo hídrico, tem levado vários autores a uti-

lizarem o conceito de bacia hidrográfica como análogo ao de ecossistema, como unidade de

estudo ou de gerenciamento ambiental (PIRES et al., 2002).

Uma bacia hidrográfica é um sistema aberto, complexo e organizado, composto por

uma grande quantidade de componentes interativos, capazes de intercambiar informações com

seu entorno e capazes ainda de adaptar sua estrutura interna como consequência destas

interações (CHRISTOFOLETTI, 2002). Como um sistema geomorfológico, a bacia

hidrográfica recebe energia através de agentes climáticos e perde através do deflúvio,

podendo ser descrita em termos de variáveis interdependentes, que oscilam em torno de um

padrão e desta forma, uma bacia mesmo quando não perturbada por ações antrópicas,

encontra-se em equilíbrio dinâmico (LIMA, ZAKIA, 2004).

Na bacia hidrográfica, a água das chuvas apresenta os seguintes destinos;

interceptada pelas plantas, evapora-se e volta para a atmosfera, escoa superficialmente

formando enxurradas que, através de um córrego ou rio abandona a bacia, infiltra no solo

(retida nos espaços porosos, absorvida pelas plantas ou evaporando-se através da superfície do

solo) e alimentando os aquíferos, que constituem o horizonte saturado do perfil do solo

(LOUREIRO, 1983).

23

A bacia hidrográfica, onde diferentes fatores interferem de maneira integrada na sua

dinâmica, necessita de um entendimento também integrado. A união entre elementos físicos,

biológicos e sociais constroem dentro da bacia hidrográfica a relação de integridade que por

vezes é muito pouco harmônica. Tucci (1993) cita que o estudo da bacia hidrográfica permite

observar em detalhes a variação dos diferentes processos que ocorrem nela e que, com base

no registro das variáveis hidrológicas envolvidas, é possível entender melhor os fenômenos e

representá-los matematicamente. Isso porque a bacia hidrográfica possui características

essenciais, que permitem a integração multidisciplinar entre diferentes sistemas de

gerenciamento, estudo e atividade ambiental, especialmente por ser um processo

descentralizado de conservação e proteção do ambiente. A ocupação das bacias hidrográficas

reflete na dinâmica da qualidade ambiental no entorno da rede de drenagem, modificando sua

natural estrutura e dinâmica, bem como a qualidade dos recursos hídricos.

A necessidade do planejamento e gestão ambiental articular-se ao processo de gestão

do território como um todo, revela a importância da bacia hidrográfica enquanto unidade de

análise e planejamento ambiental, uma vez que, a partir dela “é possível avaliar de forma

integrada as ações humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos sobre o equilíbrio

hidrológico, presente no sistema representado pela bacia de drenagem” (BOTELHO e SILVA,

2010, p.155).

A rede hidrográfica, responsável pela drenagem de uma bacia possui configurações

ou arranjos espaciais que refletem a estrutura geológica e composição da morfogenética da

área da bacia. Neste sentido, cada bacia hidrográfica desempenha um papel importante nos

moldes da ocupação territorial dentro do raio de sua abrangência, já que essas configurações

definem diferentes padrões de drenagem e, por conseguinte, combinações de padrões que,

podem caracterizar-se numa unidade territorial facilitadora das atividades desenvolvidas pelas

sociedades locais ou, ao contrario, combinar ações que comprometem certos tipos de

ocupação.

A drenagem da bacia representa ao mesmo tempo a dimensão territorial da área e a

integração dos diversos componentes de caracterização natural da bacia e da ocupação

humana. A dinâmica da drenagem ao longo do tempo geológico promove mudanças na

topografia do terreno, aumentando ou diminuindo as rugosidades, os aclives e declives

permitindo certa evolução do relevo. No entanto, a ocupação do território contíguo das bacias

hidrográficas, com rápidas mudanças decorrentes das humanas, acelera os desequilíbrios nos

solos, nas vertentes e encostas, nos vales fluviais e em toda a drenagem da bacia. Cunha &

24

Guerra (1996), destaca algumas atividades que causam degradação entre elas estão o

desmatamento, as práticas agrícolas, a mineração, a urbanização e outros. Os efeitos

hidrológicos dos desmatamentos nas bacias hidrográficas, portanto, podem ser observados

através da alteração do pulso natural ou hidroperíodo característico de um curso d’água.

Durante o período de chuvas a menor interceptação da precipitação pluviométrica decorrente

da redução da cobertura vegetal acarreta no maior escoamento superficial das águas,

aumentando o fluxo fluvial. Este aumento de vazão durante o período de cheias diminui o

armazenamento sub superficial e subterrâneo da água na bacia levando desta forma à

diminuição das vazões mínimas durante o período de estiagem.

IV.3. Preservação de nascentes e aspectos legais da política ambiental

brasileira

As áreas de nascentes de rios, assim como seus trechos de drenagem são impactados

pelas ações humanas há séculos, uma vez que estas preferencialmente se estabeleciam nas

margens de rios, facilitando assim suas atividades, quaisquer que sejam estas e facilitando

ainda a manutenção das condições de vida.

Nascentes não são apenas os conhecidos olhos-d’água ou minas existentes nas áreas

rurais e as áreas que as contornam, mas, sim, todo um sistema constituído pela vegetação,

pelo solo, pelo relevo e pelos demais componentes das áreas de recarga a montante.

Pode-se dividir as nascentes em dois tipos quanto à sua formação. Nascente sem

acumulo d’água inicial e nascente com acumulo. No primeiro caso podemos encontrar a

nascente ou olho d’água é quando a descarga de um aquífero concentra-se em uma pequena

área localizada. Este tipo de nascente é comum quando o afloramento ocorre em um terreno

declivoso, surgindo em um único ponto em decorrência da inclinação da camada impermeável

ser menor que a da encosta. Existem também as veredas é quando a superfície freática ou um

aquífero artesiano interceptar a superfície do terreno e o escoamento for espraiado numa área

o afloramento tenderá a ser difuso formando um grande número de pequenas nascentes por

todo o terreno, originando as veredas. No caso de nascente com acumulo inicial a vazão é

pequena podendo apenas molhar o terreno, comum quando a camada impermeável fica

paralela a parte mais baixa do terreno e, estando próximo a superfície, acaba por formar um

lago (LIMA, et.al., 2004).

O lençol freático é definido hidrogeologicamente como uma camada saturada de

água no subsolo, cujo limite inferior é uma outra camada impermeável, geralmente um

25

substrato rochoso. Em sua dinâmica, usualmente é de formação local, delimitado pelos

contornos da bacia hidrográfica, origina-se da água de chuva que se infiltram através das

camadas permeáveis do terreno até encontrar uma camada impermeável ou de permeabilidade

muito menor que a superior. Nesse local fica em equilíbrio com a gravidade, satura os

horizontes de solos porosos logo acima, deslocando-se de acordo com a configuração

geomorfológica do terreno e a permeabilidade do substrato (LIMA, et.al., 2004).

Considerando que as matas ciliares são fundamentais para o equilíbrio ambiental, a

sua recuperação pode trazer benefícios muito significativos sob vários aspectos. Em escala

local e regional, as matas ciliares protegem a água e o solo, proporcionam abrigo e sustento

para a fauna e funcionam como barreiras, reduzindo a propagação de pragas e doenças em

culturas agrícolas. A retirada da mata ciliar contribui para o assoreamento, o aumento da

turbidez das águas e, principalmente, para a erosão das margens de grande número de cursos

d’água, carregando para os reservatórios substâncias poluidoras como defensivos e

fertilizantes, quando utilizadas.

Geralmente estas áreas não podem ser ocupadas, devido à legislação de proteção

ambiental. O termo “preservação permanente” surgiu no âmbito da Lei nº 4.771/1965,

considerado o segundo Código Florestal brasileiro. O primeiro Código Florestal Brasileiro

(Decreto nº 23.793, de 23/01/1934) não classificava as florestas e demais formas de vegetação

como de preservação permanente. Em seu art. 3º, a referida norma classificava as florestas

em: protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento.

Em razão dos seus objetivos, as florestas classificadas como “protetoras” eram aquilo

que mais se aproximava do que atualmente se considera como de “preservação permanente”.

Em 15 de setembro de 1965 foi então editada a Lei nº 4.771, norma dotada de preocupações

ambientais.

Com a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro pela Lei nº 12.651, de 25 de

maio de 2012, foi revogada a Lei nº 4.771/1965 e suas respectivas alterações, ou seja, o antigo

Código Florestal. Porém, a Presidente da República vetou doze dispositivos do texto aprovado

pelo Congresso Nacional e, na oportunidade, editou a Medida Provisória nº 571/2012, a qual

incluiu e alterou dispositivos no texto do novo Código Florestal. A referida MP foi convertida

na Lei nº 12.727, de 17 de outubro de 2012.

Áreas de Preservação Permanente (APP) são áreas protegidas, cobertas ou não por

vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a

26

estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o

solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

As APPs são de grande importância para a manutenção da qualidade dos recursos

hídricos uma vez que atuam como barreiras para águas pluviais, aumentando a absorção da

água no solo. Possui papel fundamental na composição de matéria orgânica, elemento

fundamental para a fertilidade dos solos. Contribui ainda para a quantidade e qualidade das

águas, aumentando a vazão em períodos secos, além de melhorar a qualidade do ar, com

menores variações de temperatura e menores prejuízos a biota. Retém sedimentos do solo

evitando o assoreamento e a turbidez do corpo d’água.

As áreas de preservação permanentes são espaços territoriais que por suas

características ligadas a manutenção da qualidade de vida, a lei determina que sejam

protegidas impedindo que o uso comprometa a integridade dos atributos que fundamentam

sua proteção.

A resolução N°303, de 20 de março de 2002 do CONAMA, a qual dispõe sobre

parâmetros, definições e limites de áreas de preservação permanente. Em seu artigo 2°, inciso

II, adota a seguinte definição para nascentes ou olho d’água, como sendo um local onde aflora

naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea.

Constitui Área de Preservação Permanente a área situada em faixa marginal, medida

a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, em largura conforme Tabela 3.

27

Tabela 3 - Largura da Área de Preservação Permanente (APP) em função do tipo de corpo d´água.

Largura dos cursos d’água Largura da APP

10 m ou menor 30 m

10 a 50 m 50 m

50 a 200 m 100 m

200 a 600 m 200 m

Mais 600 m 500 m

Nas nascentes, ainda que intermitentes

e nos chamados “olhos d’água” 50 m de largura em raio

Fonte: Elaborado pela autora.

O Código Florestal atual, no seu art. 4º, estabelece como áreas de preservação permanente

ainda:

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d'água com até 20 (vinte) hectares

de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas.

28

V. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área em estudo está localizada no município de Elísio Medrado, no Recôncavo da

Bahia. Está inserida na RPGA, Região de Planejamento e Gestão das Águas, do Recôncavo

Sul, que abrange as bacias hidrográficas dos rios Jaguaripe, Jequiriçá, Una e das Almas.

Encontra-se especificamente na sub bacia do rio Jacutinga, bacia hidrográfica do rio Jequiriçá.

Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI

(2014), o município de Elísio Medrado possui o tipo climático subúmido a seco, com chuvas

intensas e alta temperatura o que favorece os processos de intemperismo e o desgaste das

formas de relevo. Desta forma, é possível afirmar que a ação do clima com suas precipitações

abundantes durante o ano ocasiona um relevo mais rebaixado com altitude de média a baixa,

sendo as maiores altitudes próximas a 400m. Apresenta temperatura média anual de 22,9°C,

com um período chuvoso compreendido entre os meses de novembro e abril pluviosidade

anual de 1066,4mm. Essa região caracteriza-se por apresentar temperatura média do mês mais

frio sempre superior a 18ºC apresentando uma estação seca de pequena duração que é

compensada pelos totais elevados de precipitação.

Os tipos de vegetação da área são a Floresta Estacional Decidual e Floresta

Estacional Semidecidual, sendo estas, formações de ambientes menos úmidos do que aqueles

onde se desenvolve a floresta ombrófila densa. Em geral, ocupam ambientes que transitam

entre a zona úmida costeira e o ambiente semiárido. Esta formação vegetal apresenta um porte

em torno de 20 metros (estrato mais alto) e apresenta, como característica importante, uma

razoável perda de folhas no período seco, notadamente no estrato arbóreo. Na área de estudo,

por localizar-se às margens de cursos d’água, a vegetação se mostra durante todo o ano,

inclusive nos meses de menor índice pluviométrico (maio a outubro), sempre verde,

apresentando assim a disponibilidade de água durante todo o ano.

Verificou-se em campo que grande parte da vegetação original encontra-se

substituída por atividades de pecuária e agricultura, principalmente o plantio de mandioca,

favorecendo assim a erosão em diferentes pontos dentro da sub-bacia.

29

Figura 2: Localização da área de estudo.

Fonte: Elaborado pela autora.

30

Figura 3: Localização da sub bacia do rio Jacutinga na RPGA do Recôncavo Sul.

Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto à geologia, não há grande diversidade no que se refere aos tipos de rocha.

Logo, gnaisses e gnaisses charnockíticos, granulitos são as mais comuns no contexto

ambiental da área de estudo e entorno. Porém é possível encontrar também diatexitos,

arenitos, folhelho, rochas intermediárias básicas, quartzitos, entre outras, originando assim,

aliada ao clima, a predominância dos Latossolos e Podzolicos e suas respectivas variações.

Segundo o Plano Estadual de Recursos Hidricos – PERH, na área de estudo são

encontrados Argissolos amarelos, que segundo a EMBRAPA (2011), tem as seguintes

características:

Os Argissolos Amarelos (PA) são solos desenvolvidos principalmente de

sedimentos do Grupo Barreiras, mas, são também desenvolvidos de rochas

cristalinas ou sob influência destas. São solos que apresentam como

característica principal um horizonte de acumulação de argila, B textural (Bt).

[...] São solos com muito baixa a baixa fertilidade natural, forte a

moderadamente ácidos e que podem apresentar horizontes coesos, que ao serem

umedecidos, tornam-se friáveis, exceto quando são cimentados, os quais podem

ocorrer em relevo abaciado e com restrições de drenagem, apresentando

mosqueados e concreções ferruginosas nos horizontes sub superficiais,

principalmente nos solos que ocorrem próximos às bordas dos Tabuleiros

Costeiros.

31

Como dito acima, os argissolos não são classificados como solos que apresentam

grande fertilidade, porém estes são bem estruturados e podem ser bem utilizáveis quando

aplicadas práticas corretas de manejo aliados aos conhecimentos de práticas de plantio.

Ainda de acordo do PERH, a área de estudo está inserida no contexto

geomorfológico do Planalto Pré – Litorâneo, que se caracterizam pela presença de planaltos

rebaixados, onde estes apresentam altitudes inferiores a 300 m e são balizados por elevações

alinhadas na direção NO-SE, que podem atingir 1.000 m de altitude. A dissecação é

homogênea prevalecendo pequeno grau de aprofundamento dos vales entre 20 a 61 m com

grande densidade de drenagem.

Inicialmente, para compreender o processo de recomposição da vegetação no entorno

da nascente estudada, é necessário o conhecimento do Projeto Verde Vale, que teve incisiva

presença na recuperação de matas ciliares de rios e nascentes pertencentes às bacias dos Da

Dona e Jiquiriçá.

O Projeto realizou replantio de vegetação na área entre os anos de 1994 e 1995 e

desde então área continuou sendo recuperada pelo dono da propriedade, Seu Antônio, com

auxílio contínuo de professores da UFBA e UNEB, que continuaram visitando a área e

realizando parte de suas aulas de campo dentro da propriedade.

O Projeto Verde Vale está anexado a este trabalho (ANEXO A), tendo sido fornecido

gentilmente pelo professor Nilton de Oliveira.

Além do replantio com espécies nativas, a área em questão também apresenta plantio

de espécies frutíferas e vegetais, na borda exterior da APP, próxima a residência e pequeno

estabelecimento comercial da família.

As atividades realizadas no período de ação deste projeto resultaram na área de

estudo deste trabalho em ações de recuperação ambiental.

32

VI. ANÁLISE AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO

Inicialmente, para compreender o processo de recomposição da vegetação no entorno

da nascente estudada, fez-se necessário o conhecimento do Projeto Verde Vale, que teve

incisiva presença na recuperação de matas ciliares de rios e nascentes pertencentes às bacias

dos Da Dona e Jiquiriçá.

O Projeto realizou replantio de vegetação na área entre os anos de 1994 e 1995 e

desde então área continuou sendo recuperada pelo dono da propriedade, Seu Antônio, com

auxílio contínuo de professores da UFBA e UNEB, que continuaram visitando a área e

realizando parte de suas aulas de campo dentro da propriedade.

O Projeto Verde Vale está anexado a este trabalho (ANEXO A), tendo sido fornecido

gentilmente pelo professor Nilton de Oliveira.

Além do replantio com espécies nativas, a área em questão também apresenta plantio

de espécies frutíferas e vegetais, na borda exterior da APP, próxima a residência e pequeno

estabelecimento comercial da família.

As atividades realizadas no período de ação deste projeto resultaram na área de

estudo deste trabalho em ações de recuperação ambiental.

Recuperação pode ser definida pela Lei Federal nº 9985/2000, que institui o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, como “restituição de um

ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que

pode ser diferente da sua condição original”, ou seja, o princípio da recuperação envolve o

retorno das principais características e funções do ecossistema degradado. De modo que a sua

recuperação permite que o ecossistema seja restabelecido de maneira natural sem a

necessidade e intervenção posterior.

Segundo Barbosa (2000), as matas ciliares, ripárias ou de galeria, normalmente com

flora influenciada pela formação vegetal circundante, são as que têm recebido maior atenção

dos pesquisadores, quer pela sua importância ecológica na manutenção da biodiversidade ou

de corredores biológicos, quer pela sua importância na manutenção da qualidade hidrológica

dos mananciais, sendo necessário, no entanto, considerar a região ecológica em que elas se

localizam, o que pode facilitar a forma de recuperação.

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu art. 2º, distingue, para seus fins, um

ecossistema “recuperado” de um “restaurado”, da seguinte forma:

33

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

[...]

XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre

degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua

condição original;

XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre

degradada o mais próximo possível da sua condição origina.

A esse respeito Barbosa (2006) ainda afirma que pesquisas envolvendo diversos

aspectos que possam garantir o sucesso dos reflorestamentos com perpetuação da floresta no

tempo são ainda muito necessárias, investigar os padrões e a dinâmica dos reflorestamentos

heterogêneos com espécies nativas é importante na agilização dos processos de restauração

(regeneração natural), visando diminuir esforços relacionados ao processo de recuperação de

áreas degradadas, principalmente aqueles relacionados com as interações flora e fauna.

O Projeto em questão não teve continuidade. Segundo Jesus (2007) isso se deu por

conta da falta de comprometimento dos proprietários das terras. A autora ainda informa que

palestras foram realizadas por pessoas envolvidas no projeto, como Moysés Peixoto Aquino,

Nilton de Oliveira, entre outros, informando à população a importância da recuperação da

vegetação e inclusive sobre os cuidados com as matas ciliares.

Nota-se então uma singularidade na área da nascente de Seu Antônio, que continuou

realizando práticas conservacionistas, compreendendo ainda mais sobre a área, a importância

do Projeto outrora realizado e da preservação dos recursos hídricos.

Porém, a continuidade da conservação aparentemente tem suas limitações espaciais.

Percebe-se no entorno da área em estudo a presença de espécies exóticas, aliadas ao

desmatamento no entorno da área preservada caracterizando assim certo tipo de pressão no

ambiente. Ainda vale ressaltar que vertentes desmatadas podem causar danos ainda maiores

como ravinas e voçorocas, influenciando assim na dinâmica natural do ambiente em questão.

Do ponto de vista ecológico as matas ciliares são consideradas extremamente

importantes, assim como corredores ecológicos ligando fragmentos florestais e, portanto,

facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de animais e

vegetais, por isso então a importância da conectividade entre as diferentes propriedades

existentes na área.

34

Figura 4: Degradação próxima à área da nascente, dentro dos limites de uma das propriedades vizinhas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Espacialmente é possível visualizar que as áreas no entorno apresentam usos

diferentes, o que pôde ser confirmado com as idas a campo. Há presença de loteamentos,

pastagens, introdução de espécies exóticas e equipamentos urbanos, como estradas e casas.

Ou seja, o entorno da área preservada é um mosaico de diferentes atividades, transformando-a

assim em uma espécie de “ilha” preservada, que impossibilita o fluxo de espécies animais e

ocasiona o isolamento de espécies vegetais.

A não aplicabilidade do disposto na legislação ambiental, aliado a não continuidade de

atividades que incentivem a recuperação de matas ciliares acabaram constituindo um

ambiente que permanece ainda fragilizado, principalmente quando observado de maneira

sistêmica, percebe-se que não há interação e equilíbrio da área de estudo e o seu entorno.

35

Figura 5: Imagem do entorno da área de estudo, indicando diferentes usos.

Fonte: Google Earth 2014.

Figura 6: Delimitação da APP de nascente e os limites da propriedade de Antônio.

Fonte: Google Earth 2014.

Nascente

APP – 50metros

36

Caso as matas ciliares estivessem sido conservadas como rege a Lei, bastaria interligá-

las aos fragmentos de matas e reservas até então existentes, para que houvesse uma situação

mais confortável em relação à conservação dos recursos florestais.

Verificou-se então, a partir da delimitação da Área de Preservação Permanente,

realizado no software de SIG Arcgis 10.2, onde a localização da nascente foi identificada a

partir da base de hidrografia oficial do Estado da Bahia e a partir do Modelo Digital de

Elevação – MDE, disponibilizado no Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil –

TOPODATA, que parte desta encontra-se desmatada, não concordando assim com o

estabelecido na lei.

A área compreendida dentro da propriedade de Seu Antônio, delimitada em amarelo

na imagem, encontra-se protegida, como pode ser verificado na Figura 6. O que indica, mais

uma vez, a eficácia das ações realizadas no local, no entanto, a área fora da propriedade em

questão encontra-se sem vegetação.

Compreende-se então a importância do envolvimento de diferentes proprietários

rurais no envolvimento em práticas de recuperação ambiental e a sua manutenção.

VI.1. Análise Macroscópica da Qualidade da Água

O objetivo desta etapa do trabalho é observar a situação da área de estudo, de uma

maneira menos aprofundada do que seria se fosse realizada a análise físico química da água,

porém, tendo em vista as dificuldades para realizar esta última, por conta do alto custo para

sua realização, a análise macroscópica mostrou-se adequada.

A partir da análise de campo realizado no dia 07/08/2015, foram obtidas as

características da água enquanto ao grau de preservação.

A água tem pouca turbidez, como pode ser visto na Figura 7, não apresenta odor, não

há presença de lixo ao redor nem durante o curso do riacho nas proximidades da nascente, não

há também, presença de espumas, óleos, esgotos nem material flutuante, nenhum resquício

aparente de resíduo poluente de nenhuma espécie.

A qualidade da água pode ser observada também pela presença de peixes, observados

desde a superfície da água, indicando mais uma vez a baixa turbidez da mesma, como

observado na Figura 8. Segundo Vinícius, morador da área,são encontradas espécies de peixes

como Tilápia, Piaba e Traíra.

As crianças inclusive pescam no local, o que se torna uma atividade recreativa, de

interação com o meio.

37

Figura 7: Turbidez da água na área de estudo.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 8: Presença de peixes na área de estudo.

38

Fonte: Elaborado pela autora.

A vegetação nas margens permanece em bom estado de conservação, sendo a da

margem direita, nunca alterada e a margem esquerda, replantada preferencialmente com

espécies nativas, o que indica ainda mais a qualidade do ambiente, como ilustrado na Figura

9.

Não há uso por animais na área, somente por pessoas, principalmente as crianças que

utilizam a área para lazer, tomam banho e pescam em praticamente toda a dimensão do

ambiente. O acesso não é difícil, porém o caminho para chegar é uma pequena trilha, com

algumas árvores frutíferas, impossibilitando que ocorra deslocamento de material e

sedimentos para a nascente. O corpo hídrico está a mais de 100m de distância da casa.

Tendo em vista as informações coletadas em campo e realizando a metodologia

aplicada ao estudo, foram somados 31 pontos, caracterizando assim um ótimo grau de

preservação, o que pode ser observado no ambiente de maneira clara.

Figura 9: Margens da área de nascente.

Fonte: Elaborado pela autora.

39

VII. ANÁLISE AMBIENTAL A PARTIR DA PERCEPÇÃO – O AMBIENTE

VIVIDO DE SEU ANTÔNIO.

Neste trabalho, a percepção ambiental foi vista como uma ferramenta no estudo da

Geografia, quando esta é voltada para a análise do meio. Como foi observado no referencial

teórico anteriormente apresentado, a Geografia contribui de maneira essencial para o

entendimento da relação entre a sociedade e a natureza. Neste caso, a percepção parte como

uma iniciativa de se entender a vida humana como parte da natureza, algo que é negado há

tempo, por parte da população. A natureza é vista como algo além, separado da existência

humana, o que contradiz com análise sistêmica.

Cada indivíduo necessita compreender a realidade em que vive. Identificar os

problemas da realidade vivida o torna apto a estabelecer planos para uma melhoria em sua

qualidade de vida. Esta percepção é a capacidade que o indivíduo tem de compreender a sua

realidade bem como os problemas nela presentes. Os estudos que se baseiam na percepção

ambiental propõem que não só a relação entre homem e meio ambiente seja estudada, mas

também que perspectivas em pesquisas científicas, sociais ou políticas sejam elucidadas

através da utilização deste conceito (PACHECO e SILVA, 2006), promovendo inclusive a

sensibilização e compreensão do meio ambiente a partir do desenvolvimento de um sistema

de percepção (FAGGIONATO, 2009). A percepção ambiental é a precursora do sistema que

estimula a conscientização do sujeito em analogia às realidades ambientais contempladas

(MACEDO, 2000).

Conforme Rodrigues (1998), entende-se por percepção a forma como o indivíduo

sente seu ambiente geográfico. Ela resulta de vários fatores, entre eles, o grau de dependência

da pessoa frente ao ambiente no qual está inserido.

Ainda, destaca-se o conceito de Faggionato (2003) exposto por Soares (2007) onde

informa que a percepção ambiental representa uma tomada de consciência do ambiente pelo

homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente no qual se está inserido, aprendendo a proteger

e a cuidar do mesmo.

Há uma ligação direta entre os conceitos propostos por Faggionato e Rodrigues, onde

a compreensão do espaço no qual o homem se insere é de suma importância para que este

possa compreender os problemas ali existentes.

Assim, compreender o meio é condição inerente à percepção ambiental e é necessário

para qualquer ação. Segundo Macedo,

40

A percepção ambiental é considerada uma precursora do processo que desperta a

conscientização do indivíduo em relação às realidades ambientais observadas,

estimulando ações relativas à conservação da natureza. (MACEDO, 2000, apud

SOARES, 2007).

Tuan ressalta que, “Cada indivíduo percebe, reage e responde de forma diferente às

ações sobre o ambiente em que vive” (TUAN, 1980 apud SOARES,2007).

A percepção é inerente a cada ser humano, que percebe, reage e responde de forma

diferente tanto às relações interpessoais quanto às ações sobre o meio (Faggionato, 2009). São

os valores presentes nas manifestações resultantes da percepção – cultura, história, religião,

classe social e uma série de outros – que influenciam diretamente no processo, o que explica

que indivíduos atuantes em um mesmo grupo social expressem atitudes e pensamentos

distintos (RIBEIRO, 2003). Portanto, o reconhecimento das percepções torna-se

extremamente relevante para fornecer subsídios ao processo de gestão e formulação de

políticas públicas.

O ideal para a percepção individual seria se o homem pudesse compreender sua

realidade, identificando os problemas nela existente, sejam eles individuais, sociais,

ambientais, pertencente ao próprio individuo ou não, compreendendo as várias faces da

realidade social identificada, estabelecendo ligações entre os problemas identificados, os que

o atingem ou não, fazendo com que se forme uma rede de problemas interligados mostrando

ao individuo deste pensamento como a realidade ambiental é complexa, e como sua ação em

prol da qualidade ambiental afetaria a vida da sociedade.

Para o desenvolvimento desta etapa da pesquisa, foi necessário ir à área de estudo,

para que fosse realizada uma conversa com seu Antônio. Como não foi a primeira vez que a

propriedade foi visitada ou diálogos realizados sobre o ambiente em questão, o diálogo foi

conduzido de maneira a se obter informações que pudessem ampliar o conhecimento sobre a

área, a relação entre Antônio, sua família e a nascente. Um breve questionário (ANEXO 1)

foi elaborado para dar direcionamento à conversa com Seu Antônio, o que acabou sendo

apenas um roteiro, pois a conversa surge naturalmente e se torna uma parte essencial nesta

pesquisa.

41

Figura 10: Conversa com Seu Antônio.

Fonte: SILVA, 2015.

Como foi dito anteriormente, a área em questão foi uma das propriedades selecionadas

para participar com Projeto Verde Vale, que auxiliou de maneira técnica os donos de

propriedades rurais, atuando também na área urbana do município de Elísio Medrado. Seu

Antônio afirma que algumas tentativas de recuperação da área já vinham acontecendo, pois

notou-se a importância de se preservar a nascente, pois ele mesmo conta que existiu a

preocupação de se perder um bem tão essencial, tendo em vista que na margem direita do

corpo hídrico, havia ainda traços de pastagem, como pode ser visto na Figura 11.

42

Figura 11: Área desmatada e presença de pastagem na margem direita da nascente no período anterior a 2000.

Fonte: Arquivo pessoal de Seu Antônio.

Seu Antônio vive em Elísio Medrado há 32 anos, nasceu no município e durante

alguns anos morou em São Paulo e Salvador. Ele conta que uma parte da área foi adquirida no

ano de 1983 e desde o ano de 1990 a 1995 já se começou a se preocupar com a degradação na

área de nascente. Houve a percepção de que a nascente poderia morrer a qualquer instante,

tendo em vista que não havia proteção desta por mata ciliar. Foi a partir daí que se deu a

aquisição de uma pequena área, de aproximadamente 10 tarefas de terra, ou aproximadamente

40.000 m², que estava sendo desmatada e após a aquisição, ela foi isolada, de maneira a

recomposição ocorrer naturalmente e hoje pode se perceber que a recomposição se deu de

maneira efetiva, como foi ilustrado nas figuras no decorrer deste trabalho.

Seu Antônio conta ainda que a nascente se manteve estável durante os 30 anos.

Sempre há água disponível, não havendo oscilação, nem nos períodos chuvosos, onde a

quantidade de água poderia aumentar de maneira brusca, nem nos períodos de seca, onde o

processo seria contrário e haveria baixa no volume de água. Ele fala que se sente muito

gratificado, pois esta característica se deu justamente por conta da influência da mata ciliar no

comportamento da nascente.

Ele ainda fala sobre a qualidade do solo, que pôde ser percebida na área que era pasto

aumentou sua produção, a partir do auxílio técnico que foi presente durante os anos de

vigência do Projeto Verde Vale, se tornou uma agrofloresta, que mistura espécies nativas e

43

árvores frutíferas e que tem grande influência sobre a vida cotidiana da família, pois

diferentes tipos de cultura foram implantadas, sendo fonte parcial de alimentação dos

moradores. O processo de recomposição desta se iniciou há cerca de 16 anos, onde foi evitada

a queima, impedindo ao máximo a erosão e evitando a plantação de espécies que apresentam

raízes mais superficiais.

Figura 12: Aspecto da nascente em 2006.

Fonte: JESUS, 2006.

Seu Antônio afirma a todo instante a importância do Projeto e a presença de corpo

técnico que compreendesse o ambiente de maneira a melhor manejá-lo. Ele fala que o projeto

foi mais uma alavanca, para acordar ele e outros proprietários que era importante e necessário

recuperar as áreas sem vegetação e fala ainda que já havia por parte dele e de alguns vizinhos

pequenas atitudes de reflorestamento, mas que foram impulsionadas pelo projeto, por causa

da falta de conhecimento que eles tinham de manejo, principalmente nas vertentes mais

inclinadas, logo, o projeto auxilio que os proprietários trabalhassem de maneira mais correta e

que hoje ele obtém o resultado de todo esse processo.

Conta ainda que hoje ele vê muito pouco trabalho de recuperação das matas ciliares

por parte dos outros moradores da região. Fala ainda que há muita degradação na área, e que

inclusive vizinhos comentam sobre seus plantios, onde inclusive ele citou o exemplo de um

vizinho que preparou sua terra para o plantio e cavou covas para plantar banana e que no dia

44

seguinte as covas estavam cheias de água, mesmo com pouca chuva, caracterizando assim um

provável déficit de infiltração da água no solo, o que ele diz que acontece muito na região.

Figura 13: Cultivo de frutíferas na propriedade.

Fonte: Elaborado pela autora.

JESUS (2007) informa que o trabalho realizado pelo Projeto envolveu diferentes

escolas e foram realizadas diferentes idas a campo envolvendo diferentes escolas rurais, como

a Escola Agrotécnica de Amargosa (EAA). Nota-se então a importância destas instituições no

auxílio às práticas de manejo do solo e plantio.

A água da área é utilizada nas tarefas diárias da casa, além de ser utilizada também em

uma pequena horta e para os animais que a família cria. A vizinhança também faz uso da água

quando necessário. Seu Antônio conta que houve um período em que 12 residências faziam

uso da água, o que não se faz necessário hoje pois existe abastecimento, exceto quando ocorre

algum tipo de problema no fornecimento, como uma quebra de aparelhos ou queima da

bomba.

Quando Seu Antônio é perguntado sobre sua relação com o meio, como ele se vê

dentro desta interação, ele fala de maneira simples e direta: “Eu sinto que tenho parcialmente

meu dever cumprido”, ele compreende que suas ações podem determinar o futuro seu, da sua

família e do meio. A todo instante menciona a importância da educação ambiental e política,

para que a sociedade compreenda o ambiente de maneira a ser mais atuante nas questões

ambientais e aja de maneira efetiva na modificação da realidade ambiental que vivemos.

45

Ele cita ainda que age como um “fiscal”, que a todo instante está presente, tentando

minimizar os danos e cuidar, da maneira mais próxima possível do lugar no qual é sua vida,

onde ele escolheu para construir sua família.

46

VIII. DISCUSSÃO

Dentro deste trabalho pode-se perceber o quanto a ciência, produzida pela Academia é

tão mais eficaz quando aliadas a experiências de vida e o cotidiano da sociedade.

A Geografia, vista como a ciência que estuda a relação entre os diferentes atores da

sociedade, a natureza, fenômenos atmosféricos, características físicas e culturais do meio, tem

um poder completamente único em suas mãos, ainda mais quando o assunto é água.

Um bem precioso e que durante décadas foi visto como algo que jamais os homens perderiam o

controle sobre. Porém atitudes incoerentes , que discordam totalmente com as leis da natureza,

fazem com que hoje parte da população tenha que sofrer com a ausência da água mesmo em

regiões onde isto não era necessário nem esperado ocorrer.

A sociedade está sim sob regras estabelecidas pela natureza, pois estes também estão

inseridos nela e fazem parte de seu ciclo, logo, sofrem diretamente e também se beneficiam

diretamente pelo que o equilíbrio dinâmico produz. Somos parte de um organismo e todas as

regras, invenções, destruições e maravilhas construídas são células de um corpo em pleno

funcionamento.

A dinâmica natural e a ação antrópica deveriam coexistir de forma integrada e

enquadrar-se numa perspectiva de equilíbrio dinâmico, até porque é preciso notar que o Homem,

um ser natural, não é um fator externo ou alheio à orgânica dos ecossistemas. Contudo, a sua

intervenção tem causado a ruptura do equilíbrio ambiental existente.

O conhecimento ambiental, no qual a Geografia pode dar contribuições significativas é

um dos caminhos para que ações conjuntas entre esferas governamentais e sociedade, além de

escolas e Universidades possam existir. Ambientes preservados e com usos conscientes

dependem também desta interação.

A partir desta análise e da importância que esta área tem para o aprendizado sobre

ambiente, sociedade e natureza para os alunos de Geografia da Universidade Federal da Bahia,

além de outras instituições, como a própria Universidade do Estado da Bahia, escolas técnicas e

básicas do interior do estado, torna-se necessário propor um projeto que dê continuidade a este

tipo de ação, onde o conhecimento científico se une ao conhecimento empírico, subsidiando

assim ações de recuperação de áreas degradadas e preservação de nascentes e consequentemente

de rios e riachos, além do próprio auxílio no manejo do solo, que durante a conversa com Seu

Antônio foi notório que os produtores são carentes de informações que são básicas, de como

realizar de maneira adequada os plantios, de maneira a impactar negativamente o mínimo

possível o ambiente e os corpos hídricos que ainda restam na região.

47

Que haja assim uma mobilização que se reinicie na bacia do rio Jacutinga e sirva de

exemplo para aplicação em outras bacias hidrográficas no Estado, onde o conhecimento sobre as

questões ambientais e as práticas dos ensinamentos obtidos em sala de aula, saiam do ambiente

físico escolar e vá para o campo, para que sejam aplicados no cotidiano da sociedade, tornando

assim, o pertencimento ambiental uma prática diária e consequentemente, hábito.

Que a sociedade possa compreender que a relação com o meio é a extensão da própria

vida, uma interação mútua e essencial. Pois é importante que o cuidado ambiental não se dê de

maneira espaçada, mas de maneira conectada, a fim de beneficiar também outros diferentes tipos

de vida. Pois uma ação sozinha acaba tendo muito menos representatividade espacial e biológica,

por mais bem feita que seja.

É fundamental a sociedade impor regras ao crescimento, assumindo o dever de se

preocupar com as outras pessoas e outras formas de vida, agora e no futuro. O desenvolvimento

deve ser tal que garanta a proteção da estrutura, das funções e da diversidade dos sistemas

naturais dos quais depende a sobrevivência humana.

O Projeto Verde Vale foi uma iniciativa que, se prolongada por mais anos, poderia fazer

muito mais pela preservação, recuperação e conservação dos ambientes trabalhados. Como o

próprio texto deste traz: “O projeto assim como uma árvore, teve sua semente plantada, agora

necessita de cuidado e acompanhamento para que se desenvolva e possa frutificar em futuro

próximo, não só como exemplo para áreas similares, mas, sobretudo, como fato concreto

capaz de trazer melhorias na qualidade de vida das populações envolvidas com o mesmo.”

O conhecimento fornecido no projeto e posteriormente pelas visitas de diferentes

professores na propriedade de Seu Antônio não ficou apenas lá. Quando pode, ele compartilha

o que vivencia e o que aprende, dando uma aula para qualquer pessoa que esteja disposta a

aprender. Ele é um multiplicador do saber, à sua maneira e de forma clara e acessível.

Contudo, percebe-se a necessidade da análise quantitativa de alguns fatores presentes

na área de estudo, como taxas de infiltração e perda do solo, a fim de verificar a gradual

efetividade das ações de recuperação além de nortear a interpretação da evolução do

ambiente.

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J. R.; TERTULIANO, M. F. Diagnose dos Sistemas Ambientais: métodos e

indicadores. In: Avaliação e perícia ambiental. CUNHA, S. P. da; GUERRA, A. J. T. (Org.),

2. ed. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2000. p. 115 – 171.

BERTRAND, G. BERTRAND, C. Uma Geografia transversal e de travessias: o meio

ambiente através dos territórios e das temporalidades. Tradução coordenada por Messias

Modesto Passos. Maringá: Massoni, 2007.

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Esboço Metodológico. Caderno da

Terra, n. 13, p. 1-27, 1971.

BRASIL. Lei n° 12.727, de 17 de outubro de 2012. Altera a Lei no 12.651, de 25 de maio de

2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa... Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/L12727.htm. Acesso em: 15 de

julho de 2015.

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos

Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm. Acesso em: 15 de julho de 2015.

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e

gestão das unidades de conservação. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm. Acesso em: 20 de outubro de 2015.

CAMARGO, L. H. R. A ruptura do meio ambiente: conhecendo as mudanças ambientais

do planeta através de uma nova percepção da ciência: a Geografia da complexidade. 2.

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p. 131, out. 1978.

CHRISTOFOLETTI, A. Perspetivas da Geografia. In: As Perspectivas dos Estudos

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EMBRAPA. Argissolos Amarelos. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/.

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na cidade de Uberlândia-MG: análise macroscópica. Uberlândia, Sociedade & Natureza,

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Engenharia de São Carlos, São Paulo.

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MENDONÇA, Francisco. A geografia (física) brasileira e a cidade no inicio do século

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Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza. UFC, 2007.

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SOTCHAVA, V. B. O Estudo de Geossistemas. Métodos em Questão, São Paulo, n. 16, p.

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Curitiba : SENAR – PR, 2003. 620p.

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TUCCI, C. E. M. Alguns desafios brasileiros em recursos hídricos e meio ambiente –

Parte 1. A água em revista, ano III, n. 8, p. 9-15, 1995.

VALE, C. C. Teoria Geral do Sistema: Histórico e Correlações com a Geografia e com o

Estado da Paisagem. Anais... XIV Simpósio de Geografia Física Aplicada. Dourados, 2011.

VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Reflexões sobre a geografia física no Brasil. 1. ed.

Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2004.

ANEXO A- Projeto Verde Vale.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

PRÓ REITORIA DE ASSUNTOS COMUNITÁRIOS E ESTUDANTIS

CAMPUS V – SANTO ANTÔNIO DE JESUS – BA

EDUCACÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS

NAS BACIAS DOS RIOS DA DONA E JIQUIRIÇÁ (2ª ETAPA)

PROJETO VERDE VALE

Elaboradores: Augusto César Rodrigues Mendes – Goógrafo – UNEB Jorge Glauco Costa Nascimento – Geógrafo – UNEB Moysés Peixoto Aquino – Eng. Agrônomo – IBAMA Nilton de Oliveira – Lic. Geografia – CODEVAJI Rubem Castro Neves – Ms. Agronomia – UNEB

1. APRESENTAÇÃO

A Faculdade de Formação de Professores de Santo Antônio de Jesus –FFPSAJ –, o

Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

– IBAMA – em Santo Antônio de Jesus e a Comissão de Defesa do Meio Ambiente do Vale

do Jiquiriçá – CODEVAJI –,preocupados com a situação sócio-ambiental dos vales dos rios

Jiquiriçá e Da Dona articularam-se no sentido de desenvolverem um programa de extensão,

com ampla penetração social, no sentido de buscarem soluções de curto, médio e longo prazos

para melhoria da qualidade de vida das populações residentes nas bacias hidrográficas citadas.

A estratégia de extensão delineada está fundamentada no Programa de Educação

Ambiental Através de Práticas Conservacionistas nas Bacias dos Rios Da Dona e Jiquiriçá,

sendo a Educação Ambiental a alternativa de solução, a longo prazo, para os problemas

detectados. O veículo do processo educativo é a adoção de práticas de recomposição de matas

ciliares, com essências nativas e frutíferas aclimatadas, capazes de a um só tempo recuperar o

patrimônio ambiental que se degrada ao longo do processo de ocupação do território e

fornecer uma alternativa econômica rentável à população, sobretudo aos pequenos

proprietários rurais. Esta estratégia está ancorada na sensibilização da população quanto à

necessidade da conservação dos recursos hídricos, decorrentes dos graves problemas de

abastecimento de água nas cidades da região.

As três entidades diretamente envolvidas já vêm atuando conjuntamenteem atividades

pontuais. Agora, por iniciativa da FFPSAJ/UNEB, baseada nosprincípios que fundamentam o

Programa Parceria, reúnem-se com umaperspectiva de uma atuação mais articulada e

sistemática.

O Programa Parceria foi pensado desde o momento da composição do currículo do

curso de Geografia, em 1991, como uma forma de exercitar a indissociabilidade entre o

ensino, a pesquisa e a extensão. Desenvolve-se através de projetos ou eventos, gerados a partir

dos conteúdos das disciplinas do curso, com expressão relevante no contexto regional, sempre

em parceria com alguma organização do setor publico, privado ou da sociedade civil.

Apesar das dificuldades enfrentadas nos dois anos de funcionamento do curso de

Geografia (92/93), o Programa Parceria aproxima-se dos seus objetivos através da proposta

que ora apresentamos. Cabe salientar que ao longo dos cinco anos previstos para o

desenvolvimento da mesma, pretendemos incorporar novos parceiros (Prefeituras, Diretorias

de Educação e Cultura – DIREC’s, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA,

Colégios Agrícolas, etc).

CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO

PROGRAMA DE EXTENSÃO – PROEX

TÍTULO:

Educação Ambiental Através de Práticas Conservacionistas nas Bacias dos

Rios da Dona e Jiquiriçá.

DURAÇÃO:

5 (cinco anos ) – prorrogáveis

1ª Etapa – 1 ano

INÍCIO DA EXECUÇÃO:

Abril de 1994 – CONDICIONADO A CAPTAÇÃO DE RECURSOS.

REALIZAÇÃO:

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA

Comissão de Defesa do Meio Ambiente do Vale do Jiquiriçá – CODEVAJI

CLIENTELA:

700 pessoas diretamente envolvidas, na primeira etapa, entre técnicos da Universidade,

IBAMA, Ambientalistas, Estudantes e Membros da Comunidade.

ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA 1ª ETAPA

Municípios de: Santo Antônio de Jesus, Elísio Medrado, Varzedo, Amargosa e São Miguel

das Matas.

CARACTERIZAÇÃO DOS ÓRGÃOS ENVOLVIDOS

NOME:

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Faculdade de formação de professores de Santo Antônio de Jesus – FFCSAJ

ENDEREÇO:

Loteamento Jardim Bahia s/n

Santo Antônio de Jesus – BA CEP: 44.570.000

Telefax – (075) – 731-2855

RESPONSÁVEIS

Antônio Raimundo dos Anjos – Reitor

José Raimundo Galvão – Pró-Reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis

Augusto César Rodrigues Mendes – Diretor da Unidade

NOME:

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA

Superintendência regional da Bahia

Escritório Regional de Santo Antônio de Jesus

ENDEREÇO:

Av. Ruy Barbosa 147, Centro

Santo Antônio de Jesus – BA CEP: 44.570.000

Telefone: (075) 731-3830

RESPONSÁVEIS:

José Guillherme da Motta – Superintendente – BA

Walfrido Vieira de Melo – Chefe do Escritório Regional

NOME:

Comissão de Defesa do Meio Ambiente do Vale do Jequiriçá – CODEVAJI

ENDEREÇO

Rua Roque Azevedo Andrade s/n

Elísio Medrado – BA CEP 45.305.000

Telefone (075) 749 2113

RESPONSÁVEL

Nilton de Oliveira

NOME

Escola Agrotécnica de Amargosa

ENDEREÇO

Km 2 Rodovia Amargosa Milagres s/n

Amargosa – BA CEP 45 300 000

Telefone (075) 734 1429

RESPONSÁVEL

Maria Auxiliadora

COORDENADORES DO PROJETO

Rubem Castro Neves – Professor Assistente – FFPSAJ/UNEB

Marco Antônio Tomasoni – Professor Auxiliar – FFPSAJ/UNEB

Moysés Peixoto Aquino – IBAMA/BA

Nilton de Oliveira – Presidente da CODEVAJI

Maria Auxiliadora Lemos Passos de Souza – EAA

2. JUSTIFICATIVA

O Programa de Educação Ambiental através de Práticas Conservacionistas nas Bacias

dos Rios Da Dona e Jiquiriçá, agora denominado Projeto Verde Vale, foi aprovado ao

PROEX, no ano de 1994, obtendo aprovação.

Já em sua primeira versão, caracterizava-se como um programa plurianual, razão pela

qual, novamente, o submetemos à apreciação do MEC/SESU/DIEG.

O Projeto Verde Vale, coordenado pela UNEB, através do Campus V – Santo Antônio

de Jesus, pelo Escritório Regional do IBAMA e pela CODEVAJI– Comissão de Defesa do

Meio Ambiente do Vale do Jiquiriçá, já obteve apoio efetivo da Escola Estadual Agrotécnica

de Amargosa, Prefeitura Municipal de Elísio Medrado e PETROBRÁS, em atividades ligadas

ao transporte e produção de mudas. A Escola Agrotécnica já está, também, participando das

demais etapas do programa e a Petrobrás analisa a possibilidade de tornar-se parceira do

Verde Vale, através de apoio permanente as suas ações.

Vale ressaltar que estamos mantendo contatos com diversas Prefeituras, Órgãos

Públicos e outras instituições, no sentido de potencializarmos a ampliação da clientela a ser

alcançada pelo Programa, a exemplo do CRA(Centro de Recursos Ambientais ),

Departamento de Florestas do Estado da Bahia, EMBASA ( Empresa Baiana de Água e

Saneamento), ACISAJ(Associação Comercial e Industrial de Santo Antônio de Jesus).

O mais representativo desdobramento deste projeto apoiado pelo MEC/PROEX tem

sido seu efeito multiplicador. Têm chegado à coordenação do projeto pedidos de apoio no

sentido de orientar trabalhos em outras regiões do estado. Estas solicitações estão sendo

examinadas, os interessados são orientados, até mesmo com a elaboração de minutas, no

sentido de que cada comunidade viabilize os meios necessários para implantação de seus

projetos específicos.

Não apresentamos aqui maiores detalhes do desenvolvimento das ações do Verde

Vale, uma vez que o seu cronograma de execução foi alterado em virtude do atraso na

liberação dos recursos, tendo o prazo da conclusão da 1ªetapa sido prorrogado pelo

MEC/SESU, até junho de 1995, ocasião na qual encaminharemos relatório circunstanciado do

Projeto.

Entretanto, desde já, nos é possível constatar a grande repercussão que o programa

vem alcançando. A nível da prática acadêmica, o envolvimento de professores e monitores

dos cursos de Geografia, História, Letras e do curso de Comunicação Social (Salvador), tem

possibilitado o rico e complexo aprendizado da prática interdisciplinar.

Já se obteve indicativos de reorientação curricular de disciplinas do curso de Geografia

(mais diretamente envolvido) através das atividades do projeto, uma vez que trabalhos

práticos de disciplinas como Análise Ambiental, Pedologia, Recursos Hídricos, Didática,

Metodologia do Ensino têm sido realizados no âmbito das ações do Verde Vale. Depoimentos

de monitores no sentido de que “no projeto, têm aprendido mais do que na sala de aula”,

revelam a urgência de uma articulação cada vez maior entre o ensino, a pesquisa e a extensão

universitária. Acrescenta-se o fato de ser este o primeiro projeto da Faculdade de Santo

Antônio a obter apoio do MEC, o que significa não somente um importante aval para o

mesmo mas, principalmente, a possibilidade de executar um programa deste porte, que

contribui de maneira efetiva para que a população da região melhor compreenda o papel e a

importância das universidades públicas.

A nível do atendimento das demandas sociais, o interesse demonstrado pelas escolas

de educação fundamental e pela comunidade, em geral tem chegado a surpreender.

Acreditamos que a imagem do Verde Vale, associada à conservação dos recursos hídricos têm

facilitado seu diálogo com a comunidade regional, cujas cidades de maior porte, como Santo

Antônio de Jesus e Amargosa, voltaram a enfrentar graves problemas de abastecimento de

água no último verão.

A CODEVAJI – Comissão de Defesa do Meio Ambiente do Vale do Jiquiriçá, a

organização não governamental, pode, através do projeto, ampliar dar maior visibilidade a sua

atuação. Vale ressaltar a eminência de uma conquista histórica para o movimento, qual seja, a

implementação da Área de Proteção Ambiental da Serra da Jibóia, compromisso assumido

pelo CRA(Centro de Recursos Ambientais da Bahia), em sessão especial da Câmara de

vereadores de Elísio Medrado, na qual o Projeto Verde Vale foi apresentado.

Ao IBAMA – Escritório de Santo Antônio de Jesus, o projeto tem possibilitado o

exercício da linha de ação educativa de órgão, uma vez que a limitação de recursos humanos e

financeiros do escritório o restringem, apesar da disponibilidade de seus técnicos, há uma

ação precária na linha da fiscalização, considerando a grande demanda de ocorrências nos

mais de quarenta municípios de sua área de abrangência.

Considera-se o apoio do MEC/PROEX fundamental para continuidade do projeto,

uma vez que os objetivos da extensão universitária vêm sendo alcançados. Por outro lado, a

descontinuidade das ações pode vir a comprometer a credibilidade da proposta da

Universidade junto à comunidade.

O projeto assim como uma árvore, teve sua semente plantada, agora necessita de

cuidado e acompanhamento para que se desenvolva e possa frutificar em futuro próximo, não

só como exemplo para áreas similares, mas, sobretudo, como fato concreto capaz de trazer

melhorias na qualidade de vida das populações envolvidas com o mesmo.

3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS

Reafirmamos os fundamentos expostos na 1ª etapa do programa, qual sejam, os de que

a melhoria da qualidade de vida das populações de países como o nosso, ocorrerá através de

processos de aumento da renda familiar que sejam ecologicamente sustentáveis. Isso significa

a necessidade de reorientação dos modelos predatórios de apropriação dos recursos naturais

que, ate então, predominaram no desenvolvimento do capitalismo do Brasil, no qual a

qualidade de vida seja entendida não apenas a partir de parâmetros econômicos, mas

incorpore o principio de que o bem estar implica, necessariamente, em um ambiente saudável.

Trata-se de pressupostos cuja síntese vem se denominando como “desenvolvimento

ecologicamente sustentável”, expressos em importantes documentos como o Tratado

Internacional de Educação Ambiental, constantemente analisado e divulgado pela equipe do

Verde Vale e na Agenda 21.

4. REFERENCIAL METODOLÓGICO

A Temática da qualidade ambiental, tal como apresenta-se neste final de século, tem

sido um dos referenciais básicos a demonstrar a fragilidade ou os resultados deformados da

analise excessivamente especializada da realidade.

A diversidade de dimensões da realidade que compõem e moldam o ambiente de

reprodução cotidiana das sociedades, indica a necessidade de se caminhar na direção da

interdisciplinaridade, ou mesmo, da transdisciplinaridade. Neste sentido, pretendemos

aprofundar os canais de diálogo entre os geógrafos, geólogos, agrônomos, pedagogos,

historiadores, lingüistas, comunicólogos e outros profissionais que venham a incorporar-se ao

projeto, de modo que possamos conseguir uma aproximação cada vez mais rica da realidade

com qual estamos interagindo.

Orienta-nos, também, o referencial de que o saber científico não pode pretender ser

absoluto, devendo, portanto dialogar com outras formas de elaboração e representação do real.

Isso nos leva a um interesse constante pelo saber popular, nascido da relação cotidiana com o

ambiente. Nesta direção, várias ações do programa vem se desenrolando e devem aprofundar-

se com a utilização de técnicas de historia oral, entre outras.

Estes trabalhos serão fundamentais inclusive, nas redefinições do nível da linguagem

que o Verde Vale adotará no diálogo com os diferentes seguimentos que atinge, campo sobre

o qual nos vem dando importantes contribuições os lingüistas, comunicólogos e historiadores.

“Pensar globalmente e atingir localmente”. Este lema do movimento ecológico nos

tem servido como referencia. Acreditamos que a partir da reflexão de da ação sobre os

desafios e problemas da realidade regional, poderemos chegar a construir uma “consciência

planetária” cada vez mais urgente, tendo em vista o crescente processo de globalização da

vida humanada Terra.

5. OBJETIVO GERAL

Contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da região das bacias

dos Rios Da Dona e Jiquiriçá, através da implementação de projetos de educação ambiental e

práticas conservacionistas em áreas rurais e urbanas da região.

5.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Produzir material didático e audiovisual, com fins educativos, compatíveis com a

realidade sócio-ambiental da região;

Integrar o sistema educacional (fundamental, médio e superior) na vida regional,

através da articulação do conhecimento científico com o sabe r popular;

Incentivar a comunidade a recuperar e valorizar o seu patrimônio ambiental;

Articular a Universidade ao ensino fundamental e médio através da troca de

informações/experiências e da participação conjunta em ações de educação ambiental;

Reavaliar as práticas curriculares, particularmente, do curso de Geografia da UNEB,

em função das demandas que surgirão com o desenvolvimento do Programa;

Demonstrar a possibilidade de um desenvolvimento ecologicamente sustentável, a

partir de práticas como a da recomposição de matas ciliares, com espécies frutíferas

aclimatadas e essências nativas;

Contribuir para a reversão do processo de degradação ambiental dasbacias dos rios Da

Dona e Jiquiriçá, através de recomposição de matas ciliares em áreas demonstrativas;

Incentivar o envolvimento da comunidade acadêmica da UNEB em práticas

extensionistas.

6. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA

LOCAL DA REALIZAÇÃO:

Municípios das bacias dos rios Da Dona e Jiquiriçá

Obs: Conforme projeto original, pretendíamos atingir, progressivamente, os

municípios da região. Entretanto, o desenvolvimento do programa tem demonstrado que a

concentração da ação em determinados municípios, não pode excluir a realização de

atividades em outros que venham solicitando.

PÚBLICO ABRANGIDO:

Comunidade acadêmica, produtores e trabalhadores rurais, professores e estudantes de 1º e 2º

graus, políticos, ambientalistas e comunidade em geral.

População diretamente atingida na 2ª etapa: 2 000 pessoas.

EQUIPE RESPONSÁVEL/CARGA HORÁRIA SEMANAL/INSTITUIÇÃO

Professor Rubem Castro Neves Agrônomo 20h -UNEB

Professor Augusto César R. Mendes Geógrafo 20h -UNEB

Professor Marco Antônio TomasoniGeógrafo 20h - UNEB

Professora Alice ValvardeLingüista8h -UNEB

Professora Nadja Maciel Lingüista 8h - UNEB

Professora Ana Maria Santos Historiadora 8h- UNEB

Professora Maria L. de Souza Bióloga 20h - EAA

Moysés Peixoto Aquino Agrônomo 20h- IBAMA

Nilton de Oliveira Lic. Geografia 20h - CODEVAJI

INTER-RELAÇÃO E COMPLEMENTARIDADE ENTRE AS ÁREAS DOCONHECIMENTO

Conforme citações anteriores, a temática ambiental e da qualidade de vida é,

necessariamente, interdisciplinar.

O ambiente envolve uma série de aspectos que vão muito além da dimensão ecológica.

No caso de nosso projeto, além da evidente contribuição das áreas que procuram avaliar os

impactos ecológicos da intervenção humana(Geologia, Geografia, Agronomia, Biologia, etc)

ressalta-se a importância de resgatarmos o processo e os valores que produziam a degradação

do ambiente (história ambiental).

Nas ações educativas, torna-se imprescindível a construção de produtos e discursos

com um repertório que facilite o diálogo com a clientela atingida.

Aqui revela-se essencial a contribuição dos pedagogos, dos lingüistas e dos

comunicólogos.

FORMAS DE ARTICULAÇÃO COM O ENSINO E/OU PESQUISA E COM ASDEMANDAS

SOCIAIS

Além das considerações a este respeito presente na justificativa, cabe acrescentar a

necessidade de envolvermos cada vez mais professores e estudantes da UNEB no projeto, a

partir do desenvolvimento da programação das próprias disciplinas que compõem a grade

curricular dos cursos oferecidos, de modo que extensão não ocorra em processo de “hora

extra” ou voluntarista, mas seja organicamente integrada às atividades de ensino e pesquisa

que se desenvolvem na Universidade.

A nível das demandas sociais, além da relevância da área específica de atuação do

projeto, já salientada anteriormente, é urgente a necessidade da Universidade tornar-se mais

visível à comunidade externa.

Nesta direção, a questão da preservação dos mananciais hídricos, do abastecimento de

água e do saneamento relacionadas ao projeto, constituem-se em canais privilegiados para o

diálogo UNIVERSIDADE – COMUNIDADE.

PROJETO/ATIVIDADE

METAS AÇÕES

Cadastramento de proprietários e diagnóstico

de áreas selecionadas

1.Seleção e acompanhamento de

30monitores (UNEB/Escola Agrotécnica)

2. Cadastramento de 200 propriedades rurais

às margens dos Rios das Bacias Da Dona e

Jiquiriçá.

3. Seleção de seis áreas para realização de

estudos sócio-ambientais.

Produção de material didático

4. Organizar 01 videoteca, 01 arquivo e 01

hemeroteca vinculados às áreas de atuação

do programa.

5. Produção de textos, cartilhas e material

audiovisual sobre a temática ambiental na

região destinadas, principalmente, às escolas

de 1º e 2ºgraus.

6. Realização de eventos mensais nas escolas

e organizações comunitárias.

7. Produção de material de divulgação nos

meios de comunicação regionais.

8. Capacitação de professores e estudantes

multiplicadores do projeto.

Público envolvido 9. Envolvimento direto de 2.000pessoas.

Incremento da inserção social 10. Aglutinação de novos apoios e parceiros

ao projeto, alcançando, ao menos, 1 escola

núcleo em 5municípios.

Recomposição de matas ciliares 11. Ampliação de produção de mudas na

Escola Agrotécnica para 20 000mudas.

12. Plantio de um total de 6 000mudas em 6

áreas demonstrativas.

Educação ambiental rural e urbana 13. Produção e divulgação de folders sobre

questões ambientais, rural e urbana.

14. Plantio de espécies adequadas ao

sombreamento e embelezamento de áreas

urbanas em, pelo menos, 2áreas

demonstrativas.

15. Implantação de pequenos hortos urbanos

em, pelo menos, duas cidades da região

sendo o primeiro no campus da UNEB em

Santo Antônio de Jesus.

7. FORMA E CRONOGRAMA DE AVALIAÇÃO

7.1 Reuniões semanais com a equipe do projeto;

7.2 Dois seminários de avaliação envolvendo, pelo menos, representantes de 6municípios nos

meses de setembro e dezembro;

7.3 Seminário acadêmico de avaliação do projeto quanto ao seu impacto na articulação

ensino-pesquisa-extensão – outubro/95.

8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

META ESPECIFICAÇÃO INDICADOR FÍSICO DURAÇÃO

Unidade Quantidade Início Término

1 Seleção e

acompanhamento

de monitores

Monitor 30 Jul. Dez.

2 Cadastramento de

200 propriedades

Propriedade 200 Ago. Ago.

3 Estudos

sócioambientais

em 06 áreas

Estudos 06 Ago. Out.

4 Organização e

divulgação de

material educativo

na área ambiental

Videoteca 01

Hemeroteca 01

Arquivo 01

Jul. Dez.

“ “

““

5 Produção de

material didático

Vídeo 01

Cartilha1000

Jul. Set.

Jul. Set.

6 Atividades de

divulgação nas

escolas e

comunidade

Eventos 20 Jul. Dez.

7 Divulgação nos

meios de

comunicação

Jingle 01

Entrevistas

(Rádio) 06

Notícias

(Jornal) 12

Set. Dez.

Jul. Dez.

Jul. Dez.

8 Capacitação de

multiplicadores

Pessoa 100 Jul. Dez.

9 Envolvimento

direto de 2.000

pessoas

Pessoa 2000 Jul. Dez.

10 Aglutinação de

novos parceiros

Instituições 05 Jul. Dez.

11 Ampliação da

produção do

viveiro

Mudas 20.000 Jul. Dez.

12 Recomposição de

matas ciliares

(6.000 mudas)

Áreas piloto 06 Out. Dez.

13 Produção de folder

sobre temas

ambientais

Folder 1000 Ago. Dez.

14 Plantios de mudas

em áreas urbanas

Áreas piloto 02 Out. Dez.

9. ORÇAMENTO

Concedente – despesa Proponente – Despesa corrente total

PF PJ MC

PAS

PF PJ MC PAS Total

18.000,0012.000,00 12.000,00

8.000,000

1.800,00 1.200,00 1.200,00800,00

55.000,00

PF – Pessoa Física; PJ – Pessoa Jurídica; MC – Material de Consumo; PAS –Passagens.

Projeto Verde Vale

Educação Ambiental nas bacias dos rios Da Dona e Jequiriçá.

Questionário de identificação e cadastramento de proprietários

1.Dados pessoais:

Nome completo-------------------------------------------------------------------------------------

CIC ou CPF------------------------------------------------------------------------------------------

Endereço---------------------------------------------------------------------------------------------

Telefone----------------------------------------------------------------------------------------------

Grau de instrução----------------------------------------------------------------------------------

Profissão---------------------------------------------------------------------------------------------

2. Descrição da propriedade:

Município---------------------------------------------------------------------------------------------

Distrito-------------------------------------------------------------------------------------------------

Nome da propriedade-----------------------------------------------------------------------------

Área total (ha)---------------------------------------------------------------------------------------

Nome dos rios ou riachos que cortam a propriedade ou se localizam nas

propriedades----------------------------------------------------------------------------------------

Qual a forma de abastecimento de água da propriedade?

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Extensão marginal possível de ser recomposta por cobertura vegetal (arbórea)

(m )-----------------------------------------------------------------------------------------------------

Qual a forma de energia utilizada?

( ) eletricidade ( )óleo ( ) querosene ( ) gás ( )biodigestor ( ) outra

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Atividades praticadas na propriedade:

( ) agricultura ( ) pecuária ( ) outra ----------------------------------------------------

Recebe algum auxílio técnico?

( ) sim ( ) não

Método de irrigação utilizado:

( ) inundação ( ) infiltração ( ) aspersão ( ) outro---------------------------------

( ) nenhum

Obs:----------------------------------------------------------------------------------------------------

Adubo ou corretivo utilizado:

( ) adubo químico ( ) adubo orgânico

( ) calcário e outros corretivos ( ) não usa

Obs:----------------------------------------------------------------------------------------------------

Utiliza o receituário agronômico? Sabe do que se trata?

Defesa sanitária e conservação do solo:

( ) animal ( ) vegetal ( ) nenhuma

Utiliza técnicas de conservação do solo? ( ) sim ( ) não

Tipos de solo----------------------------------------------------------------------------------------

Relevo-------------------------------------------------------------------------------------------------

Maquinaria agrícola utilizada:

( ) trator ( ) arados ( ) tração animal ( ) tração mecânica

Outros:------------------------------------------------------------------------------------------------

Lavoura(s) permanente(s)-----------------------------------------------------------------------

Lavoura(s) temporária(s)-------------------------------------------------------------------------

Hortaliças cultivadas------------------------------------------------------------------------------

Flores cultivadas-----------------------------------------------------------------------------------

Tipos de criação------------------------------------------------------------------------------------

( ) bovino ( ) eqüino ( ) suínos ( ) caprinos

( ) aves ( ) abelha ( ) outros

Possui melhoramento genético? Especificar raça-----------------------------------------

Espécies frutíferas ou florestais de interesse do proprietário:

Espécie Espaçamento Quantidade de mudas

Deseja colaborar com o projeto?

( ) sim ( ) não ( ) talvez

Em caso afirmativo, assinale as formas de colaboração:

( ) balizamento das linhas de plantio

( ) abertura de covas

( ) capinas ou coroamento

( ) adubação com esterco

( ) isolamento de áreas

( ) combate às formigas

( ) limpeza da área

( ) plantio e replantio

( ) adubação de cobertura com esterco de curral

Área recoberta por mata na propriedade (estimativa em m² e %)---------------------

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Área disponível para revegetação da mata ciliar------------------------------------------

Qual a visão do proprietário sobre a necessidade de proteção ao ambiente?

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

ANEXO B - Roteiro de perguntas para conversa com Seu Antônio

1. Há quanto tempo vive na área?

2. Nos conte sobre a história da sua propriedade (a aquisição da área verde, recuperação

da área de pastagem).

3. Como o sr recebeu a ideia vinda pelo Projeto Verde Vale na época?

4. Quanto tempo durou o replantio? Como se deu esse processo?

5. Quais são os usos da água da área?

6. Quantos litros são bombeados por dia?

7. Quantas pessoas são beneficiadas pelo uso da água?

8. Quais espécies foram introduzidas na agrofloresta?

9. Existe algum tipo de uso na área preservada?

10. O sr tem conhecimento sobre o código florestal? Em especial, às Áreas de Preservação

Permanente?

11. O sr percebe influência do entorno com a quantidade ou qualidade de água na

barragem?

12. Qual sua forma de relação com o lugar, como o sr se vê interagindo com ele? Qual o

significado dele para o sr?

13. Como o sr analisa a influência da Universidade no desenvolvimento da área?