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Fabrico por Enformação de Porcas e Parafusos Ocos de Parede Fina Pedro Afonso Antunes Coelho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador(es):Doutor Luís Manuel Mendonça Alves Doutor Paulo António Firme Martins Júri Presidente: Doutor Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista Orientador: Doutor Luís Manuel Mendonça Alves Vogais: Doutor Carlos Manuel Alves da Silva Engenheiro José Miguel Graça Medeiros Novembro de 2014

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Fabrico por Enformação de Porcas e Parafusos Ocos de Parede Fina

Pedro Afonso Antunes Coelho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientador(es):Doutor Luís Manuel Mendonça Alves

Doutor Paulo António Firme Martins

Júri

Presidente: Doutor Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista

Orientador: Doutor Luís Manuel Mendonça Alves

Vogais: Doutor Carlos Manuel Alves da Silva

Engenheiro José Miguel Graça Medeiros

Novembro de 2014

i

Agradecimentos

Pretendo proferir a minha gratidão a todas a pessoas que tornaram este trabalho possível.

Ao meu coordenador científico, Professor Doutor Luís Manuel Mendonça Alves, por toda a ajuda,

ensinamentos e conhecimentos que me transmitiu ao longo desta dissertação, quer a nível prático,

quer a nível teórico. A frequente motivação e boa disposição foram elementos-chave para conclusão

desta dissertação.

Ao meu co-ordenador científico, Professor Doutor Paulo António Firme Martins, por demonstrar

disponibilidade em retirar qualquer dúvida e em aconselhar na melhor resolução de qualquer

problema.

Ao Técnico do Laboratório de Tecnologia Mecânica, Senhor Farinha, pela ajuda no decorrer da toda a

parte experimental, tanto a nível da experiência técnica na parte laboratorial, como na concepção

teórica de todos os componentes da presente tese.

Ao Doutor Carlos Manuel Alves da Silva, em reconhecimento por toda a ajuda preciosa no desenrolar

desta tese. Todas as ideias, pensamentos e inovações, sem descartar o espírito de ajuda e incentivo,

fizeram com que o trabalho se desenrolasse com muito mais fluidez.

Aos meus Pais pelo ambiente estável, descansado e positivista que sempre me deram ao longo de

todo o percurso da dissertação e de todo o curso.

Á minha namorada, Rita, por toda a paciência, apoio que me deste e por tares sempre ao meu lado.

Esta tese é dedicada a ti.

Aos meus colegas de curso, pois sempre me apoiaram e me transmitiram o que necessitei ao longo

desta dissertação e do curso, Bruno, Moura, Soeiro e resto do grupo.

Aos meus familiares e aos meus amigos por toda a motivação, esforço e dedicação que fizeram com

que nunca desistisse.

A todos o meu sincero MUITO OBRIGADO!

iii

Abstract

In modern days, there has been a growing concern related to the production of components.

Nowadays, it is said that the production methods must be more efficient, less pollutant and more

sustainable. Thus, the present thesis has the main goal to implement a new process, the

manufacturing of thin-walled hollow screws and nuts by tube forming.

This process has its bases in the plastic deformation of steel tubes, which were granted by the

company MCG. The scope of this procedure was to conceive and fabricate the tools involved in this

experiment and make a characterization study about the material used.

The process was implemented at a low level of industrial production to verify the applicability

of the procedure in reality.

To study the process in detail, numerical simulations regarding the manufacturing process

were made with the help of an existing in-house computer software called I-FORM2 and I-FORM3,

developed in the Mechanical Technology Section of Instituto Superior Técnico.

The thesis concludes with a section concerning the comparison between the experimental

part and the numerical simulations in terms of results and an analysis related to the feasibility of this

new procedure.

Keywords:

Thin-walled hollow screw and nut

Tools manufacture

Finite Element Method

Compression beading

Tube forming

Experimental development

v

Resumo

Actualmente tem-se notado uma crescente preocupação em relação ao fabrico de

componentes de um modo mais eficiente, não poluente e mais sustentável. Deste modo, a presente

tese teve como objectivo, executar um novo processo de fabrico de parafusos ocos e porcas ocas de

parede fina por enformação.

Este processo tem como base a deformação plástica de tubos de aço ao carbono, cedidos

pela empresa MCG. Para perfazer e analisar este procedimento realizou-se a concepção e fabrico

das ferramentas que envolvem todo o aparato experimental, assim como um estudo de

caracterização do material a ser utilizado neste trabalho.

Recorreu-se à análise experimental de modo a provar a praticabilidade deste processo a nível

industrial.

De maneira a validar todo o processo, ver fluxos de material, determinar campos de extensão

efectiva, entre outros, executaram-se inúmeras análises numéricas dos processos de fabrico do

parafuso e da porca, com a cooperação de softwares de deformação plástica, I-FORM2 e I-FORM3

desenvolvidos na Secção de Tecnologia Mecânica do Instituto Superior Técnico.

Após a conclusão das duas secções anteriores, experimentação e simulação numérica,

procedeu-se a uma comparação de resultados obtidos entre ambos e assim finalização do respectivo

processo como exequível, do ponto de vista de fabricação.

Palavras-chave:

Parafuso e porca ocos de parede fina

Desenvolvimento sustentável

Método dos Elementos Finitos

Instabilidade

Enformação de tubos

Desenvolvimento experimental

vii

Índice

Agradecimentos .........................................................................................................................................i

Abstract.................................................................................................................................................... iii

Resumo ....................................................................................................................................................v

Lista de Figuras ....................................................................................................................................... xi

Lista de Tabelas .................................................................................................................................... xiii

Abreviaturas ........................................................................................................................................... xv

Lista de Símbolos .................................................................................................................................. xvi

Lista de Símbolos Gregos .................................................................................................................... xvii

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1. Objectivos ................................................................................................................................ 3

1.2. Estrutura do trabalho ............................................................................................................... 3

2. Estado de Arte ................................................................................................................................. 5

2.1. Definição de Parafusos e Porcas ............................................................................................ 5

2.2. História ..................................................................................................................................... 6

2.3. Métodos de fabrico convencionais .......................................................................................... 7

2.3.1. Parafuso .......................................................................................................................... 7

2.3.2. Porcas ............................................................................................................................ 10

2.3.3. Parafusos ocos .............................................................................................................. 11

2.4. Aplicações de Mercado ......................................................................................................... 11

3. Conceitos Físicos .......................................................................................................................... 15

3.1. Ensaio de compressão de discos .......................................................................................... 15

3.2. Instabilidade Plástica ............................................................................................................. 16

3.3. Inversão Tubular .................................................................................................................... 18

3.4. Redução Tubular ................................................................................................................... 20

3.5. Deformação de Tubos ........................................................................................................... 21

4. Componente Teórica ..................................................................................................................... 23

4.1. Plasticidade ........................................................................................................................... 23

4.1.1. Critérios de Plasticidade ................................................................................................ 23

4.1.2. Equações constitutivas .................................................................................................. 27

4.2. Método dos Elementos Finitos .............................................................................................. 27

4.2.1. Origem do método ......................................................................................................... 28

4.2.2. Equações básicas.......................................................................................................... 29

4.3. Software utilizado .................................................................................................................. 31

4.3.1. I-FORM .......................................................................................................................... 31

viii

4.3.2. GiD ................................................................................................................................. 32

5. Desenvolvimento Experimental ..................................................................................................... 33

5.1. Prensas .................................................................................................................................. 33

5.2. Equipamentos utilizados ........................................................................................................ 34

5.3. Caracterização Mecânica ...................................................................................................... 36

5.3.1. Lei do Material ............................................................................................................... 36

5.3.2. Carga Crítica .................................................................................................................. 38

5.3.3. Determinação do tipo de material usado ....................................................................... 39

5.4. Procedimento - Conceitos iniciais ......................................................................................... 40

5.5. Ensaios preliminares de fabrico do parafuso ........................................................................ 40

5.5.1. Execução do batente ..................................................................................................... 40

5.5.2. Enformação da cabeça sextavada ................................................................................ 41

5.6. Ensaios preliminares de fabrico da porca ............................................................................. 42

5.6.1. Criação de parede dupla por inversão .......................................................................... 42

5.6.2. Enformação da cabeça sextavada ................................................................................ 43

5.6.3. Enformação do batente ................................................................................................. 44

5.7. Redução e Formação do batente do parafuso ...................................................................... 44

5.8. Roscagem dos componentes ................................................................................................ 45

5.9. Etapas de Fabrico dos componentes .................................................................................... 46

5.9.1. Parafuso oco .................................................................................................................. 46

5.9.2. Porca oca ....................................................................................................................... 48

5.10. Sequências de fabrico ....................................................................................................... 49

6. Simulações Numéricas .................................................................................................................. 51

6.1. Indicações iniciais .................................................................................................................. 51

6.2. Primeira etapa: SOLIDWORKS ............................................................................................. 51

6.2.1. Dimensões do Parafuso oco e matrizes ........................................................................ 51

6.2.1.1. Matriz de redução .................................................................................................. 52

6.2.1.2. Matriz cilíndrica dos GAP’s .................................................................................... 52

6.2.1.3. Mandril interno ....................................................................................................... 52

6.2.1.4. Punção sextavado ................................................................................................. 53

6.2.2. Dimensões da Porca Oca e matrizes ............................................................................ 53

6.2.2.1. Matriz de caixa ....................................................................................................... 54

6.2.2.2. Matriz sextavada furada ........................................................................................ 54

6.2.2.3. Mandril interno ....................................................................................................... 54

6.2.2.4. Matriz de inversão ................................................................................................. 54

6.3. Segunda Etapa: GiD .............................................................................................................. 55

6.3.1. Matrizes e pré-formas .................................................................................................... 56

6.3.1.1. Matrizes usadas na produção do parafuso ........................................................... 57

ix

6.3.1.2. Matrizes usadas na produção da porca ................................................................ 58

6.3.1.3. Pré-formas iniciais ................................................................................................. 58

6.4. Terceira Etapa: I-FORM ........................................................................................................ 59

6.4.1. Aspectos a ter em atenção nas análises do I-FORM .................................................... 59

6.5. Quarta e Última Etapa: GiD ................................................................................................... 60

6.6. Cronograma das simulações numéricas ............................................................................... 61

6.7. Abordagem 2D/3D para o fabrico do parafuso ...................................................................... 61

7. Discussão de resultados ............................................................................................................... 63

7.1. Análise gráfica das etapas de fabrico ................................................................................... 63

7.1.1. Etapas de fabrico do parafuso ....................................................................................... 63

7.1.1.1. Redução e Formação do batente .......................................................................... 63

7.1.1.2. Calibração .............................................................................................................. 64

7.1.1.3. Formação da cabeça ............................................................................................. 65

7.1.2. Etapas de fabrico da porca ............................................................................................ 66

7.1.2.1. Formação da cabeça ............................................................................................. 66

7.1.2.2. Formação do batente............................................................................................. 67

7.2. Comparação entre 2 e 3 dimensões ..................................................................................... 68

7.3. Analogia entre a simulação numérica e experimentação ..................................................... 69

7.4. Distribuição de espessura nos componentes ........................................................................ 70

7.4.1. Parafuso ........................................................................................................................ 71

7.4.2. Porca ............................................................................................................................. 72

7.5. Comparação de pesos .......................................................................................................... 72

8. Conclusões e Trabalhos Futuros................................................................................................... 77

8.1. Conclusões ............................................................................................................................ 77

8.2. Trabalhos Futuros ................................................................................................................. 78

Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 79

Anexo ..................................................................................................................................................... 82

xi

Lista de Figuras

Figura 1 – Tipos de parafusos baseado na forma da cabeça ................................................................. 5

Figura 2 – Parafuso e porca de madeira ................................................................................................. 7

Figura 3 – Rolo de varão utilizado no fabrico de parafusos maciços ..................................................... 8

Figura 4 – Máquina industrial de fabrico das várias etapas da cabeça do parafuso .............................. 8

Figura 5 – Da esquerda para a direita, as geometrias sucessivas das fases de fabrico do parafuso

maciço ..................................................................................................................................................... 9

Figura 6 – Etapa de roscagem do corpo do parafuso maciço ................................................................ 9

Figura 7 – Parafuso maciço fabricado no LTM por tornamento ............................................................ 10

Figura 8 – Porcas maciças fabricadas por forjamento a quente ........................................................... 10

Figura 9 – Parafuso de gelo .................................................................................................................. 12

Figura 10 – Parafuso oco do cubo do aro de uma mota [Teixeira, 2010] ............................................. 12

Figura 11 – Forqueta de uma moto ....................................................................................................... 13

Figura 12 – Parafuso oco do cubo do aro de uma bicicleta .................................................................. 13

Figura 13 – Parafusos ocos no avanço do guiador de uma bicicleta ................................................... 13

Figura 14 – Parafuso oco, como constituinte de um implante dentário ................................................ 14

Figura 15 – Parafuso oco constituinte do motor AGRALE M95W ........................................................ 14

Figura 16 – 4 Discos empilhados para execução do stack compression test [Alves, 2011] ................ 15

Figura 17 – Representação esquemática do processo de criação de instabilidade [Alves, 2011] ....... 17

Figura 18 – Representação esquemática do processo de inversão externa entre matrizes [Rosa,

2004] ...................................................................................................................................................... 19

Figura 19 – Representação esquemática do processo de redução [Alves, 2008]................................ 20

Figura 20 – Representação gráfica do andamento Tensão e extensão [adaptado de Wikipedia Strain-

Stress] .................................................................................................................................................... 23

Figura 21 – Representção gráfica dos critérios de plasticidade no espaço das tensões de Haigh-

Westergaard .......................................................................................................................................... 26

Figura 22 – Discretização de um corpo em elementos finitos .............................................................. 28

Figura 23 – Logo do software I-FORM 3D ............................................................................................ 31

Figura 24 - Logo do software GiD ......................................................................................................... 32

Figura 25 – a) Prensa hidráulica INSTRON KN1200 SATEC, do LTM b)Computador para

aquisição de dados ................................................................................................................................ 34

Figura 26 – Prensa manual STENHOJ CP40 ....................................................................................... 35

Figura 27 – Torno convencional QUANTUM D320x920SG .................................................................. 35

Figura 28 – Serrote MAQFORT WE210S ............................................................................................. 35

Figura 29 – Representação gráfica da lei do material segundo o ensaio de compressão de discos

empilhados ............................................................................................................................................ 37

Figura 30 – Representação gráfica para determinação da carga crítica do tipo de tubo utilizado ....... 38

Figura 31 – Máquina de Espectroscopia SHIMADZU EDX-720 ........................................................... 39

Figura 32 - Representação esquemática do processo de determinação da janela de processo de

instabilidades ......................................................................................................................................... 41

Figura 33 - a) Pré-formas iniciais com 5, 10 e 15mm de GAP b) Pré-formas após ensaios com 5, 10

e 15mm de GAP .................................................................................................................................... 41

Figura 34 – Concepção inicial para o fabrico da porca oca .................................................................. 42

Figura 35 – Representação das tentativas falhadas de inversão da pré-forma tubular ....................... 43

Figura 36 - Representação da etapa de enformação do batente da porca oca ................................... 44

Figura 37 – Ferramentas utilizadas na primeira e segunda etapas de produção do parafuso oco ...... 45

Figura 38 – Representação de roscagem manual, similar à utilizada no corpo do parafuso fabricado 45

Figura 39 – Representação de uma tentativa falhada de roscagem de um parafuso oco fabricado ... 46

Figura 40 – Representação da etapa de formação da cabeça do parafuso oco .................................. 47

Figura 41 – Ferramentas utilizadas na primeira e segunda etapas de fabrico do parafuso oco .......... 47

Figura 42– Esquema representativo das etapa de fabrico do parafuso oco ........................................ 47

Figura 43 – Ferramentas utilizadas na primeira etapa de fabrico da porca oca ................................... 48

xii

Figura 44 – Matriz de inversão utilizada na etapa de formação do batente ......................................... 48

Figura 45– Esquema representativo das etapa de fabrico do parafuso oco ........................................ 49

Figura 46 – Representação esquemática do processo de fabrico do parafuso oco ............................. 50

Figura 47 – Representação de um processo alternativo de fabrico da cabeça sextavada da porca ... 50

Figura 48 – Representação esquemática do processo de fabrico da porca oca .................................. 50

Figura 49 – Desenho CAD da Matriz de redução ................................................................................. 52

Figura 50 – Desenho CAD da Matriz cilíndrica dos GAPS’s ................................................................. 52

Figura 51 – Desenho CAD do Mandril interno ...................................................................................... 53

Figura 52 – Desenho CAD do Punção sextavado ................................................................................ 53

Figura 53 – Desenho CAD da Matriz de caixa ...................................................................................... 54

Figura 54 – Desenho CAD da Matriz sextavada furada ........................................................................ 54

Figura 55 – Desenho CAD da Matriz de inversão ................................................................................. 55

Figura 56 – Representação do desenho CAD do punção sextavado e do mesmo na realidade ......... 55

Figura 57 – Discretização da malha para a pré-forma do parafuso ...................................................... 56

Figura 58 – Malha da matriz de redução ............................................................................................... 57

Figura 59 – Malha da matriz cilindrica do GAP’s .................................................................................. 57

Figura 60 – Malha do mandril interno .................................................................................................... 57

Figura 61 – Malha do punção sextavado .............................................................................................. 57

Figura 62 – Malha de uma base para simular o prato inferior da prensa ............................................. 57

Figura 63 – Malha da matriz sextavada furada ..................................................................................... 58

Figura 64 – Malha da matriz de caixa ................................................................................................... 58

Figura 65 – Malha da matriz de inversão .............................................................................................. 58

Figura 66 – Malha da pré-forma do parafuso ........................................................................................ 58

Figura 67 - Malha da pré-forma do porca .............................................................................................. 58

Figura 68 – Formação do batente com a ferramenta ‘contac’ activada ................................................ 59

Figura 69 – Formação do batente com a ferramenta ‘contac’ desactivada .......................................... 59

Figura 70 – Apresentação do problema de jacobiano negativo ............................................................ 60

Figura 71 – Geometria do parafuso depois da fase de ‘remesh’ .......................................................... 62

Figura 72 – Geometria do parafuso antes da fase de ‘remesh’ ............................................................ 62

Figura 73 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de redução e

formação do batente do parafuso ......................................................................................................... 63

Figura 74 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de calibração

do parafuso ............................................................................................................................................ 64

Figura 75 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação

da cabeça do parafuso .......................................................................................................................... 65

Figura 76 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação

da cabeça da porca ............................................................................................................................... 66

Figura 77 - Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação

do batente da porca ............................................................................................................................... 67

Figura 78 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na primeira fase de fabrico

do parafuso ............................................................................................................................................ 68

Figura 79 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na segunda fase de

fabrico do parafuso ................................................................................................................................ 68

Figura 80 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na última fase de fabrico

do parafuso ............................................................................................................................................ 69

Figura 81 – Comparação dos componentes finais segundo as abordagens experimental (à esquerda)

e numérica (à direita) ............................................................................................................................. 70

Figura 82 - Representação gráfica da variação da espessura com a distância, no parafuso .............. 71

Figura 83 - Representação gráfica da variação da espessura com a distância, na porca ................... 72

Figura 84 – Representação dos conjuntos de componentes maciços e ocos ...................................... 73

xiii

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Exemplo de parâmetros da equação de Ludwik-Hollomon para 3 tipos de aços carbonos

(Rodrigues & Martins , 2010)................................................................................................................. 36

Tabela 2 – Percentagem dos elementos presentes no material usado na presente dissertação ........ 39

Tabela 3 – Dimensões das pré-formas utilizadas na determinação da janela de processo de

instabilidade (Figura 32) ........................................................................................................................ 41

xv

Abreviaturas

MEF Método dos elementos finitos

KTM Kronreif Trunkenpolz Mattighofen

ACTMGI Área Científica de Tecnologia Mecânica e Gestão Industrial

IST Instituto Superior Técnico

MCG Manuel Conceição da Graça

LTM Laboratório de Tecnologia Mecânica

DEM Departamento de Engenharia Mecânica

CNC Controlo Numérico Computorizado (computer numerical control)

CAD Desenho Assistido por Computador (computer-aided design)

NOF Núcleo de Oficinas

xvi

Lista de Símbolos

ℎ0 - Altura inicial do provete para o ensaio de compressão uniaxial

𝐴 - Área da secção útil do tubo

𝑃𝑐𝑟 - Carga crítica para a qual ocorre instabilidade

𝑛 - Coeficiente de encruamento

𝐾 - Constante de penalidade

𝑑0 - Diâmetro inicial do provete para o ensaio de compressão uniaxial

𝑙𝑔𝑎𝑝 - Espaçamento inicial entre matrizes

𝑡0 - Espessura inicial da pré-forma tubular

𝑆 - Estrutura cristalina do material

𝐹(𝜎𝑖𝑗) - Função limite de elasticidade

𝐼𝑖 - Invariante do tensor das tensões

𝐽𝑖 - Invariante do tensor desviador das tensões

𝐸 - Módulo de Young

𝐻 - Parâmetro da equação da lei do material

𝑟𝑐𝑚 - Raio do canto da matriz

𝑟0 - Raio exterior inicial da pré-forma tubular

𝑇 - Temperatura

xvii

Lista de Símbolos Gregos

𝜇 - Coeficiente de atrito

𝜈 - Coeficiente de Poisson

𝑑𝜆 - Constante de proporcionalidade das equações de Levy-Mises

𝛿𝑖𝑗 - Delta de Kronecker

휀 ̅ - Extensão efectiva

휀 - Extensão verdadeira

𝜆 - Multiplicador de Lagrange

𝜎𝑧 - Tensão axial

𝜎𝑐𝑟 - Tensão crítica para a qual ocorre instabilidade

𝜏 - Tensão de corte

𝜎 - Tensão efectiva

𝜎𝑒 - Tensão limite de elasticidade

𝜎𝑚 - Tensão média hidrostática

𝜎𝑖 - Tensão principal

𝜎𝑟 - Tensão radial

𝜎𝜃 - Tensão tangencial

𝜎 - Tensão verdadeira

휀𝑖𝑗 - Tensor das extensões

𝜎𝑖𝑗 - Tensor das tensões

휀�̇�𝑗 - Tensor das velocidades de deformação

𝜎𝑖𝑗′ - Tensor desviador das tensões

휀̇ - Velocidade de deformação

휀 ̅̇ - Velocidade de deformação efectiva

1

1. Introdução

Nos últimos anos temos presenciado o desenvolvimento de enormes empreendimentos na

área industrial que têm permitido acompanhar a cada vez maior exigência e procura dos seus

produtos. Estes desenvolvimentos nem sempre tomaram em consideração o quão sérias e graves

poderiam ser as consequências para o ambiente advindas dos processos de fabrico aplicados –

processos esses altamente poluentes. Estas consequências muito facilmente se repercutiram no

bem-estar da população e, talvez por isso, têm sido feitos esforços no sentido de tornar as unidades

industriais mais eficientes. Algo que abona tanto para a unidade fabril – poupando em matéria-prima

– como também para a população em geral que poderá continuar a beneficiar dos produtos de que

necessita, não comprometendo o seu bem-estar. Com a ideia de poupança de matéria-prima em

mente poder-se-ia diminuir a compra à entidade de aquisição da matéria, fazendo com que esta não

retirasse tantos recursos naturais ao meio ambiente. Ou seja, limitavam-se os custos da empresa,

pois esta comprava menos matéria-prima ou comprava a mesma quantidade, mas a quantidade de

produto final seria muito menor. Reduzia-se, de igual modo, o custo do transporte da matéria-prima

para a empresa.

Neste seguimento, a Convenção-Quadro das Nações Unidas emitiu algumas directivas, tendo

como principal alvo as mudanças climáticas. A directiva 2003/87/CE de Outubro de 2003 estabelece

que a comunidade se compromete a conseguir uma redução de 8% das suas emissões de gases

com efeito de estufa, em relação a níveis de 1990 e a longo prazo, uma redução de 70% das mesmas

emissões. Como se pode constatar, a maioria das emissões de gases com efeito de estufa provêm

de empresas de fabrico dos mais variados componentes, desde carros, aviões, electrodomésticos,

etc. Deste modo, foram estabelecidos parâmetros de controlo bastante mais restritivos que

promoveram a diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, diminuindo ainda o consumo

de combustíveis fósseis alcançando-se, desta forma, métodos de produção mais limpos. Neste

contexto, a sociedade actual tem vindo a adoptar uma nova filosofia de gestão de produção chamada

Produção Limpa ou «Lean Manufacturing», que demonstra que eliminando sete tipos de desperdícios

é possível melhorar a qualidade, o custo e o tempo de produção, assim como potenciar o decréscimo

da poluição reduzindo consumos excessivos.

A diminuição dos níveis de poluição é alcançável pelo desenvolvimento de processos que

apresentem menores perdas inerentes ao processo de fabrico. Se existir a possibilidade de minorar o

peso de componentes e tornar as estruturas mais leves, obtêm-se as inúmeras vantagens já

explicitadas anteriormente e consegue-se satisfazer melhor o mercado, aumentando a

competitividade em relação a outras empresas com o mesmo público-alvo.

Em contexto industrial existem os seguintes meios de ligação de componentes: ligação

mecânica (parafusos/porcas ou rebites), ligação química (adesivos ou colas) e ligação térmica

(soldadura). A soldadura é uma das mais utilizadas, é relativamente rápida de se executar, no

entanto, devido aos ciclos de aquecimento-arrefecimento as propriedades dos materiais são

afectadas, não sendo esta uma boa opção de ligação. Por seu lado, os adesivos tornam a ligação

muito boa a nível estético, entretanto, com o passar do tempo tornam a ligação fraca e daí advém que

não correspondem à opção mais usada. Por último, os parafusos e porcas são muito empregados

2

devido aos mesmos terem a capacidade de serem amovíveis e da ligação se tornar não permanente,

não obstante, as suas propriedades vão sendo diminuídas devido a efeitos de corrosão e desgaste.

Após esta breve descrição partiu-se do pressuposto que a melhor ligação é a ligação mecânica por

parafusos, pois possui melhores vantagens e menores inconvenientes que os outros tipos de ligação,

porque o desgaste que esta ligação possui é muito menor comparativamente à ligação por adesivos.

Actualmente, o processo convencional de produção de parafusos e porcas apresenta grandes

desperdícios energéticos e de recursos naturais. Uma análise mecânica a estes componentes, numa

grande variedade de funções, demonstra que os parafusos e as porcas estão tipicamente

sobredimensionados para a função que desempenham e está também relacionado com uma maior

facilidade de manuseamento dos componentes. Em muitos casos, o dimensionamento para as

tensões de trabalho não se aproximam minimamente às tensões a que, de facto, vão ser submetidos.

Existe um nicho nesta área de produção que se destina à transformação de parafusos

maciços em parafusos ocos de parede fina através da remoção do interior por maquinagem. Os

processos convencionais envolvidos nesta transformação apresentam desperdícios passíveis de

serem evitados, para além de serem bastante morosos.

Desta forma, a presente dissertação de mestrado tem como finalidade, apresentar e analisar

por meios numérico-experimentais um processo de fabrico inovador de parafusos e porcas ocas.

Portanto, o processo que se irá descrever tem por objectivo ser mais eficiente e rápido,

apresentar menos desperdícios energéticos - ao nível de consumo de matéria-prima, por exemplo,

repercutindo-se na diminuição de emissões poluentes - e mostrar a sua potencialidade para ser

implementado em ambiente industrial. Isto porque embora pareça que a poupança advinda da

produção de parafusos ocos e porcas ocas seja diminuta, a poupança equivalente à escala mundial

será bastante apreciável. Senão, vejamos: o Boeing 737 tem aproximadamente trinta e seis mil

parafusos na sua estrutura e desde 1967, data de início de produção da empresa americana

BOEING, já produziram aproximadamente oito mil aviões tendo ainda cerca de três mil pedidos de

produção em Dezembro de 2013, o que perfaz uma média de aproximadamente nove milhões de

parafusos por ano apenas para este avião. Se analisarmos o ramo automóvel, a conclusão é

semelhante. Em 2012, a Autoeuropa Volkswagen teve uma produção de mais de 112 mil unidades.

Sabendo que um carro tem em média cerca de 1500 parafusos na sua estrutura, estima-se a

utilização de cerca de 168 milhões de parafusos nesse ano (Visão, 2013) (Ugeda, 2011). Como se

pode comprovar, estes números são astronómicos e estão muito longe dos valores reais. Isto porque

estamos apenas a considerar uma única classe de avião e uma única empresa de aviação.

Estaremos a falar, com toda a certeza, de milhões de parafusos e porcas produzidos diariamente.

A aplicação maioritária em que se baseou o presente trabalho foi o fabrico de um tipo

específico de parafusos. Este tipo é chamado parafuso de gelo (Ice Screw) e é, normalmente,

utilizado por alpinistas. No entanto, o parafuso oco pode ser utilizado em inúmeras aplicações

descritas mais à frente.

Como se pode prever, os parafusos ocos apenas não funcionam em casos em que o

objectivo seja de funcionamento como rolha ou em casos em que a secção resistente seja

fundamental ao desempenho do parafuso. O objectivo principal impõe-se como sendo o fabrico de

3

parafusos e porcas, segundo um novo e mais eficiente processo, mas sem diminuição das

características mecânicas, típicas dos componentes maciços.

Em suma, devem-se executar processos e produtos mais limpos, com o menor desperdício

de matéria-prima. Os produtos, na sua aplicação final, desejam-se leves para que o consumo

energético no transporte da empresa de fabrico para o mercado e utilização dessa matéria-prima

sejam os menores possíveis, poupando também os recursos materiais da Terra e reduzindo custos

no fabrico deste inovador procedimento.

Em seguida ir-se-á explicitar cada uma das secções, nas quais o actual trabalho se divide,

seguido de uma breve descrição do seu conteúdo.

1.1. Objectivos

Em prol do explicitado anteriormente, os principais objectivos desta dissertação de mestrado

são:

Investigação experimental e numérica do método de fabrico de parafusos ocos por

deformação plástica;

Análise, desenvolvimento e fabrico de um conjunto de ferramentas para enformação de

parafusos ocos;

Por último, desenvolver e fabricar um conjunto de ferramentas para enformação de porcas

ocas, partindo de uma análise numérica e experimental, utilizando sempre o mesmo tubo.

1.2. Estrutura do trabalho

Após uma breve introdução abordar-se-á de uma forma passageira o conteúdo desta

dissertação.

Esta dissertação de mestrado é composta por nove capítulos, estando já abrangida a

presente “Introdução”. Nesta introdução é demonstrado e explicitado o tema a abordar, assim como

os objectivos e enquadramentos da dissertação.

No segundo capítulo, “Estado de arte” expõem-se a história do parafuso e da porca, as

aplicações dos parafusos ocos na actualidade, tal como são descritos, os métodos de fabrico usuais

destes componentes mecânicos.

O capítulo três, ”Conceitos Físicos”, trata de temas envolvidos no presente trabalho, que são

importantes de denotar: a deformação plástica de tubos, instabilidade e trabalhos nesta área,

inversão interna e externa de tubos e Stack Compression Test.

No capítulo número quatro, ”Componente Teórica”, aborda-se a parte matemática e base de

todo o processo de deformação, plasticidade, assim como, o método dos elementos finitos e uma

breve explicação na óptica do utilizador sobre os softwares, I-FORM e GiD, a utilizar nesta

dissertação.

O capítulo número cinco, “Desenvolvimento experimental”, é constituído por uma

enumeração dos equipamentos utilizados e do material estudado, efectuando-se uma explicação da

Lei do material usada e da análise da sua carga crítica, relata-se também o aparato experimental,

4

desde a concepção das ferramentas, passando por demonstrar as etapas de fabrico do parafuso e da

porca.

No capítulo seis, “Simulações Numéricas”, são descritas as análises numéricas realizadas

para a produção dos parafusos e das porcas ocas, para posterior comparação com a parte

experimental.

Na subdivisão do capítulo sete, “Análise dos resultados obtidos”, proceder-se-á a um

exame minucioso dos resultados e à comparação da componente experimental com as simulações

numéricas.

Por fim, no capítulo número 8, denominado “Conclusões e trabalhos futuros”, são

apresentadas as conclusões da presente dissertação, onde se resumem os aspectos mais

significativos do trabalho desenvolvido, baseando-se nos resultados obtidos e referem-se algumas

sugestões e perspectivas com o intuito de promover o desenvolvimento de trabalho futuro nesta área

de investigação.

5

2. Estado de Arte

Nesta secção proceder-se-á à elaboração de toda actividade que envolve o know-how de

parafusos e porcas. Começando por abordar o tópico ‘o que são parafusos e porcas’, fazendo uma

breve descrição histórica dos mesmos, demonstrando os métodos de fabrico usuais deste tipo de

componentes mecânicos (explicitando o fabrico de componentes ocos e maciços) e colmatando numa

panóplia de exemplos de aplicação dos elementos em questão.

2.1. Definição de Parafusos e Porcas

No mercado mundial existem infindos métodos de união e fixação de peças como: parafusos

de cabeça, parafusos de retenção, rebites, retorno por mola, dispositivos de travagem, pinos,

chavetas, soldadura e adesivos (Shigley, 2005).

Como é notório e sabido, o uso de parafusos é universal. Não se sabe ao certo o número de

parafusos fabricados diariamente mas deve rondar os centenas de milhões. Desde parafusos de

tamanho muito reduzido (décima de milímetro para relojoaria e informática) a parafusos de tamanho

elevado (com centenas de milímetros para pontes).

O parafuso é um componente metálico ou constituído por outro material como, plástico, vidro

ou madeira, de geometria cilíndrica ou cónica. Em aplicações onde a resistência ao tempo e à

corrosão são necessárias, o aço inoxidável, o titânio e o bronze são os materiais mais utilizados.

Normalmente apresenta um formato cilíndrico ou cónico, sulcado em espiral ao longo da sua face

externa e com a sua base superior, designada por cabeça do parafuso, podendo se adaptar a

diversas ferramentas de fixação, como por exemplo uma chave de fendas. A cabeça também pode

ser quadrada ou sextavada e deste modo é utilizada uma chave de bocas para proceder à sua

fixação (Figura 1).

O parafuso pode ser combinado com o uso de porca ou através do efeito agrupado de

rotação e pressão num local destinado ao mesmo. O parafuso de rosca é a base de parafusos de

potência, transformando o movimento angular em movimento linear, a fim de transmitir potência

ou desenvolver grandes forças de aperto. Assim, a função do parafuso pode ser: peça de ligação,

mecanismo cinético como transformador de movimento ou como multiplicador de forças.

Baseando-se nas roscas, os parafusos possuem uma terminologia específica. As roscas

métricas são particularizadas encontrando-se designado o diâmetro e o passo em milímetros. Por

Figura 1 – Tipos de parafusos baseado na forma da cabeça

6

exemplo, o parafuso M12x1,75 tem uma rosca com um diâmetro maior nominal de 12mm e um

passo de 1,75mm. É importante referir ainda que o passo é a distância entre as formas

adjacentes de rosca, medidas paralelamente ao eixo da rosca e o avanço é a distância que a

porca percorre paralelamente ao eixo do parafuso, ao longo de uma volta.

Procedendo a uma análise de tensões num parafuso, conclui-se que as tensões são

superiores na periferia dos mesmos, se estes tiverem sujeitos a momentos de flexão ou torsão.

Deste modo, o núcleo na maioria dos casos não possui grande importância, constatando-se

também que a generalidade dos parafusos está sobredimensionada.

A porca tem geralmente um formato quadrado ou sextavado e é um elemento de fixação em

conjunto com o parafuso. No entanto, pode ser usada também, para transmissão de movimentos.

As porcas para fixação possuem geralmente roscas com um perfil triangular, para aplicação em

transmissão de movimento, ou o perfil pode ser quadrado, trapezoidal ou redondo.

Este tipo de fixação parafuso-porca resulta da cinemática de movimento existente entre as

roscas do parafuso e da porca e por compressão dos dois elementos. Pode ser constituída pelos

mesmos materiais que o parafuso - descritos anteriormente - e o seu tipo depende da rosca

interior que possui. Devido ao largo número de porcas que são utilizadas, denominam-se as

mesmas relativamente ao seu tipo como: porca borboleta, recartilhada, cega, redonda, sextavada

ou castelo, sendo as mais comuns as porcas sextavadas, quadradas, para apertos manuais, auto

bloqueante e por pressão.

2.2. História

Em termos históricos, desconhece-se concretamente a origem do parafuso existindo várias

opiniões como:

Algumas versões apontam o grego Archytas of Tarentum por volta de 400 anos a.C. como o

seu inventor. Este desenvolveu o parafuso em madeira para ser utilizado em prensas para

extracção de azeite e da produção de vinho;

Outra hipótese baseia-se em vários estudos, revelando a possibilidade dos egípcios terem

utilizado o parafuso para transporte de água, de poços, minas e do rio Nilo, para terrenos mais

altos, por volta de 950 a.C.(Matos & Ribeiro, 2013).

Sabe-se que Arquimedes visitou o Egipto e observou estes utensílios por volta de 300 a.C.,

apontando a data entre 285 e 212 a.C. como primeiro uso científico do parafuso por Arquimedes.

O matemático grego desenvolveu aplicações científicas com o uso do Parafuso de Arquimedes,

tendo como base o princípio da rosca, utilizando-o para construir dispositivos de elevação de

água para irrigação (Strizhak, 2004).

No primeiro século a.C. existe informação do uso de parafusos de madeira em dispositivos

como prensas de óleo e vinho no Império Romano (Teixeira, 2010).

A chegada dos parafusos metálicos à Europa data apenas do início do século XV. Em

meados do século XVII, uma máquina para fabricar parafusos, desenhada por Leonardo Da Vinci,

desenvolvida por Jacques Besson ganhou forma. Henry Maudslay foi a pessoa que patenteou o

7

parafuso de fenda em 1797. Decorrido um ano, é patenteado um mecanismo semelhante por

David Wilkinson nos Estados Unidos da América.

Com o desenrolar da história, o parafuso foi solucionando incalculáveis problemas, no

entanto, cada inventor ou indústria desenvolviam os seus tipos de parafusos e quando eram

utilizados noutras situações ou territórios, estes apresentavam problemas técnicos por falta de

padronização. Como resultado, promoveu-se a criação de padrões para garantir o intercâmbio

dos mesmos, tornando-os universais.

Com estes progressos, o parafuso com rosca surgiu e a ideia de acoplar o seu uso a uma

porca ocorreu mais tarde (elemaq, 2014).

O primeiro marco de uma porca roscada data do fim do século XVI, início do século XVII. Tal

como os primeiros parafusos, as primeiras porcas eram feitas à mão (Figura 2). Desta forma,

conseguir coincidir a rosca da porca com a do parafuso era uma questão de pura sorte. Quando

tal acontecia, o conjunto parafuso-porca era deixado de lado até ser dado uso ao mesmo.

Muitos investigadores afirmam que apenas a Revolução Industrial tornou o conjunto parafuso-

-porca como fixadores comuns.

2.3. Métodos de fabrico convencionais

2.3.1. Parafuso

A presente dissertação de mestrado tem como objectivo o fabrico de parafusos ocos de

parede fina por um processo alternativo, logo torna-se imperial explicitar o método comum de

fabrico de parafusos.

O aço é a matéria-prima constituinte dos parafusos, este é obtido através de minério,

transformado em ferro-coque que sofre processos de fusão e vazamento até chegar às fábricas

de produção de parafusos em forma de rolos de aço.

Figura 2 – Parafuso e porca de madeira

8

Estes rolos possuem um diâmetro elevado contendo vários varões de secção relativamente

cilíndrica (Figura 3). Estes rolos são escolhidos com base na constituição do material e com base

nas características mecânicas desejadas para o parafuso (Teixeira, 2010).

A primeira etapa no processamento consiste na colocação do rolo dentro de um forno durante

cerca de 30 horas, para a matéria-prima ficar mais macia. De seguida o rolo é colocado num

banho de ácido sulfúrico, de modo a retirar partículas de ferrugem (óxidos). Após esta etapa, o

rolo é enxaguado e coberto por um fosfato, que permite que o material não enferruje, fique

lubrificado para que o material seja mais fácil de moldar.

Os varões do rolo passam por roldanas, sob pressão, de modo a ficarem esticados.

Seguidamente, os varões passam por matrizes que os tornam axissimétricos (ou seja, arredonda

a secção dos varões) e mais em frente são cortados em pedaços de tamanho aproximado do

parafuso desejado. Não é do tamanho mesmo correcto devido à produção da cabeça do

parafuso.

Estes pequenos varões percorrem a linha de produção, passando por várias matrizes que

irão modelar a cabeça do parafuso em três fases sucessivas em série (como uma ferramenta

transfer, poupando assim tempo e espaço industrial, observado na Figura 4).

Figura 3 – Rolo de varão utilizado no fabrico de parafusos maciços

Figura 4 – Máquina industrial de fabrico das várias etapas da cabeça do parafuso

9

Na primeira matriz forma-se uma pequena coluna por deformação, zona do material que irá

sofrer o processamento para produção da cabeça. Na segunda matriz ocorre o aumento do

diâmetro e o arredondamento na zona onde se forma concretamente a cabeça. Nesta fase fica

bem definido o corpo e a cabeça do parafuso. Por último, na terceira matriz, a cabeça já formada

é acabada e modelada para ser sextavada (Figura 5).

Continuando o processamento, é tempo de delinear a parte inferior do parafuso, oposta à

cabeça. Maquina-se o chanfro típico dos parafusos, por onde entra a porca, através de um

ferramenta chamada «ponteiro» (pointer).

Na parte final do fabrico de parafusos é criada a rosca. A rosca é feita por forjamento a frio. O

parafuso é orientado para passar entre duas placas, paralelas a alta pressão, com o passo da

rosca incluído (Figura 6). Estas placas são previamente maquinadas e temperadas e comprimem

o parafuso na zona onde se requer a rosca. Sendo uma das placas móvel e outra fixa, movendo-

se paralelamente, obtém-se a rosca por enformação plástica.

Concluiu-se o processo com a execução de testes de segurança e qualidade, de modo a

certificar os mesmos. E por último são empacotados e selados em caixas devidamente rotuladas.

Com este processo produzem-se cerca de 300 parafusos por minuto (Discovery, 2014).

Figura 6 – Etapa de roscagem do corpo do parafuso maciço

Figura 5 – Da esquerda para a direita, as geometrias sucessivas das fases de fabrico do parafuso maciço

10

Embora tenha sido explicitado o processo de eleição para fabrico destes componentes,

existem vários processos para a sua produção. Tais como: Fundição, Pulverometalurgia,

Maquinagem, Soldadura da cabeça à parte com a rosca e Prototipagem rápida. Um destes

exemplos foi realizado numa das aulas laboratoriais da cadeira de Tecnologia Mecânica, onde foi

demonstrado o método de produção de parafusos por maquinagem num torno CNC (Figura 7).

Este processo é muito demorado e muito dispendioso, tanto a nível energético como a nível de

aproveitamento de matéria-prima. Este método de fabrico apenas deve ser utilizado para

produção de parafusos com características muito específicas e para produção unitária.

Em Portugal a empresa mais importante no ramo de produção de parafusos é a empresa

PECOL, sediada em Aveiro.

2.3.2. Porcas

Os processos de forjamento podem ser classificados pelo tipo de ferramenta utilizada ou de

acordo com a temperatura a que são realizados. Segundo a primeira classificação, em função das

ferramentas utilizadas distinguem-se: forjamento em matriz aberta, forjamento em matriz fechada e

outros tipos de forjamento. Pelo segundo método, podem ser subclassificados em forjamento: a frio, a

morno ou a quente (Jorge, 2008).

O fabrico de porcas é feito por forjamento a quente (Figura 8).

A matéria-prima a partir da qual as porcas são fabricadas é igual à dos parafusos. Os varões

são cortados em pedaços mais pequenos e são aquecidos até cerca de 1200°C para os tornar mais

Figura 7 – Parafuso maciço fabricado no LTM por tornamento

Figura 8 – Porcas maciças fabricadas por forjamento a quente

11

maleáveis.

Após esta fase, passam por martelos hidráulicos que transformam os pedaços pequenos em

hexágonos. De seguida, o furo é produzido por corte por arrombamento.

Seguidamente é feita a rosca, por uma ferramenta chamada macho (tapper) que é usada

para fazer roscas internas, usando-se muito lubrificante neste período de fabrico para prevenir

desgaste e baixar o atrito.

O processamento continua, passando por um forno, durante sensivelmente uma hora à

temperatura de 870°C, de modo a proporcionar uma maior resistência. Posteriormente é arrefecido

em óleo durante cinco minutos para solidificar a estrutura metálica do componente (têmpera). Este

estágio fornece maior resistência, no entanto, torna o metal mais frágil, logo os componentes vão

novamente ao forno por uma hora de modo a retirar a fragilidade, sem perda de resistência

(revenido).

São novamente realizados testes de qualidade e segurança, sendo por último empacotadas

em caixas especificamente rotuladas (Discovery, 2014).

2.3.3. Parafusos ocos

De modo, a restringir mais o nosso estudo torna-se necessário fazer uma pequena

abordagem sobre o método de produção usual de parafusos ocos.

O ponto de partida deste tipo de parafusos são os parafusos convencionais obtidos pelos

processos usuais. Estes são maquinados interiormente até se obter a espessura de parede

pretendida. Este processo pode ser feito por torneamento ou recorrendo à fresadora.

Neste processo existem muitos desperdícios energéticos e materiais. O tempo também é um

factor muito decisivo neste método de fabrico, pois torna-se mais moroso o fabrico de um parafuso

oco do que um parafuso maciço (Teixeira, 2010).

Também é do conhecimento geral, que existem aplicações onde o uso de parafusos grandes

não é devido às elevadas cargas a que está sujeito, mas por requerimentos geométricos de fabrico.

Deste modo, o uso de parafusos ocos torna-se imperativo.

Inúmeros estudos trouxeram como solução inovadora para elementos de ligação em peças

de madeira laminada colada, o uso de parafusos ocos, em vez de parafusos tradicionais. Esta

escolha deve-se, além da ductilidade esperada na ligação, ao facto de menos material ser utilizado

na sua confecção (Bremen & Carrasco, 2013).

Actualmente, não existe nenhum método de fabrico de porcas ocas, noticia que promove

ainda mais a descoberta deste novo tipo de concepção.

2.4. Aplicações de Mercado

Uma das partes mais importantes desta dissertação é saber o mercado de aplicação dos

parafusos ocos. Estes não têm uma saída tão abrangente quanto os parafusos convencionais, no

entanto, cada vez mais se empregam parafusos ocos.

A aplicação mais importante e na qual ingressámos o foco do trabalho são os parafusos de

gelo. Estes são usados pelos alpinistas que gostam de escalar montanhas cobertas de gelo. Têm

como finalidade servir de segurança em caso de uma pessoa desequilibrar-se e cair, pois estes

12

albergam um grampo por onde a corda passa e fica presa nesse momento. Estes são ocos de modo

a possuírem uma penetração superior no gelo ao mesmo tempo que não o destroem nesse processo.

Nesse furo passante, o gelo vai saindo ao mesmo tempo que a penetração na parede inclinada

ocorre (Figura 9).

Existem inúmeros fabricantes destes parafusos, apelidados de parafusos do gelo, tais como:

Black Diamond, Omega Pacific, Petzl, Grivel e E-Climb.

Um outro emprego deste tipo de parafusos é para os injectores dos carros

Devido aos rolamentos utilizados no cubo do aro das rodas das motas poderem possuir

parafusos de elevada secção, os parafusos ocos podem ser utilizados, porque a resistência requerida

a estes não é justificativa para uso de parafusos maciços (Figura 10).

Com base na tese de mestrado de Carlos Teixeira, pode constatar-se que a forqueta de uma

moto KTM pode ser oca (Figura 11). Além da resistência não necessitar que a mesma seja maciça,

por ser oca possibilita a passagem de cablagem para o circuito electrónico do conta-quilómetros.

Figura 9 – Parafuso de gelo

Figura 10 – Parafuso oco do cubo do aro de uma mota [Teixeira, 2010]

13

O parafuso do cubo da roda de uma bicicleta é oco com o objectivo de se poder passar um

parafuso maciço mais estreito com a finalidade da fixação da roda (Figura 12).

No guiador destes veículos podem também se utilizar parafusos ocos, pois o objectivo destes,

neste caso, é redução de peso e neste caso não existe perda de resistência por esta utilização

(Figura 13).

Em situações onde é necessário que circule um fluido no interior do parafuso, a aplicação de

parafusos ocos é clara. Como é exemplo o parafuso da pinça de travão hidráulica (Teixeira, 2010).

Utilização no ramo da ortodontia tem já alguma notoriedade. Na área da fixação de excertos,

pode-se referir que no sistema Thorp, a placa de titânio utiliza parafusos ocos e é vantajosa em

relação ao sistema A-0, visto que a osteointegração se faz melhor com o uso destes (Lucardi et al.,

Figura 12 – Parafuso oco do cubo do aro de uma bicicleta

Figura 13 – Parafusos ocos no avanço do guiador de uma bicicleta

Figura 11 – Forqueta de uma moto

14

2001). Na área de implantes dentários, existe o exemplo do uso de parafusos ocos na colocação de

um sistema cone morse (Pitinha, 2011) (Figura 14).

Não obstante o uso dos mesmos, noutros sectores, é no sector dos motores onde o seu uso é

mais notório devido ao consumo energético ser inferior, assim como o peso ser reduzido. Um

exemplo é o conjunto da bomba injectora do motor Agrale M95W, que possuí 2 parafusos ocos,

sendo um deles com cabeça fechada e outro não (Figura 15). A bomba injectora Bosch PFR1K 80 A

465 também possuí um parafuso oco na sua constituição (Fleischman, 2013). No sector automóvel

encontramos também, no travão do Volkswagen Touareg, um par de parafusos ocos na sua

estrutura.

Quanto à inversão de tubos (a ser abordada no fabrico da porca), a sua utilização no

quotidiano é ainda mais pequena, uma vez que é um tema relativamente recente. No entanto, no

Instituto Superior Técnico foi realizada uma experiência no chassis de um Peugeot 406, em que

utilizaram inversão tubular como processo de deformação localizada, de tubos presentes no chassis

no caso de acidente. Esta citação foi retirada do trabalho: «é um processo tecnológico que permite

fabricar componentes que não podem ser obtidos através das técnicas de produção tradicionais,

garantindo boas tolerâncias dimensionais, menores desperdícios de matéria-prima e com boas

propriedades mecânicas e metalúrgicas.» (Gonçalves & Ferreira, 2005)

Figura 14 – Parafuso oco, como constituinte de um implante dentário

Figura 15 – Parafuso oco constituinte do motor AGRALE M95W

15

3. Conceitos Físicos

Nesta secção vai-se debruçar sobre temas essenciais que no decurso do presente trabalho vão

ser referenciados, alguns de forma breve. Estes temas são os seguintes: ensaio de compressão de

discos empilhados, instabilidade plástica, inversão tubular e deformação de tubos.

3.1. Ensaio de compressão de discos

De maneira a qualificar e caracterizar o comportamento mecânico dos materiais usam-se os

ensaios mecânicos e tecnológicos. Estes são um conjunto de procedimentos normalizados e que têm

o objectivo de estabelecer um conjunto de propriedades dos materiais (Rodrigues & Martins, 2010).

A curva de lei do material é um dado muito importante para conhecer a enformabilidade, o

encruamento e para deduzir as leis constitutivas da plasticidade do material em estudo.

O ensaio de compressão é o ensaio mais usado para caracterizar os materiais por ser possível

avaliar os mesmos quando as extensões são elevadas, devido ao não aparecimento de estricção e

simular condições de escoamento dos processos mais próximos da realidade, como: forjamento,

extrusão e laminagem. Por seu lado, o ensaio de tracção não pode ser utilizado devido à ocorrência

de estricção, que não origina resultados fidedignos para valores de extensão muito elevados (apenas

é usado para extensões verdadeiras muito inferiores à unidade).

O ensaio de compressão é feito por compressão axial de um cilindro sólido entre dois pratos

paralelos, polidos e lubrificados e a curva de escoamento é dada pela combinação dos valores

experimentais de força e deslocamento (medidos por transdutores). Embora este seja o ensaio de

compressão mais utilizado, existe mais um ensaio, o de compressão de um anel, para avaliar

propriedades de atrito.

Os provetes usados no ensaio de compressão possuem limites do rácio altura/diâmetro exterior.

O limite máximo é dado por falha por instabilidade ou flexão ocorrer para valores superiores a 3,

enquanto o limite mínimo é citado por questões de colocação de extensómetros no provete ser difícil

para valores inferiores a 1. Logo recai na seguinte expressão 1 ≤ ho/do ≤ 3.

O teste de compressão de discos empilhados foi proposto por Pawelski em 1967. Os trabalhos de

Merklein e Kuppert em 2009 discutiram o uso deste ensaio para analisar a curva de escoamento de

Figura 16 – 4 Discos empilhados para execução do stack compression test [Alves, 2011]

16

materiais anisotrópicos e Hochholdinger et al, no mesmo ano, usaram o teste para obter a curva de

escoamento termomecânica do aço com pouco teor de carbono.

Neste ensaio são cortados vários discos do varão de matéria-prima, por exemplo, por

electroerosão e empilhados em contacto com os pratos lubrificados (Figura 16). Estes discos têm

uma forma côncava e após o ensaio têm um formato plano.

Com base no artigo de Alves, Martins & Nielsen sobre este assunto retirou-se inúmeras

conclusões. Tais como: razões de aspecto muito reduzidas aumentam a sensibilidade ao atrito ao

longo da interface de contacto com os pratos e podem dar origem a significantes aumentos de

pressão que causam falha do lubrificante e escoamento de material não homogéneo; um modelo com

2 discos empilhados pode ser extrapolado para provetes com vários discos e que se existir

escorregamento dos discos, os resultados iriam culminar num escoamento de material não

homogéneo. Segundo esta última informação, muitos investigadores usam cola para ligar todos os

discos uns aos outros, para tal não ocorrer.

Este ensaio foi simulado com pequenos discos do material descrito anteriormente partindo de

provetes cilíndricos. Estes discos foram fabricados por corte na parede de um tubo do mesmo

material, na electroerosora. Foram utilizados dois discos com uma altura total de 2,4mm e um

diâmetro de 8mm. Utilizou-se lubrificante, estearato de zinco, nas superfícies de contacto com os

pratos da prensa, de modo a reduzir o efeito de barril durante a compressão.

3.2. Instabilidade Plástica

Inteiramente integrada nesta dissertação de mestrado está a teoria de instabilidade plástica, pois

é o tema em que se baseia o fabrico alternativo de parafusos ocos de parede fina.

No ensaio de compressão uniaxial de perfis tubulares existe a possibilidade de ocorrência de dois

tipos de instabilidades: global ou local. A instabilidade global acontece quando o tubo falha como um

todo (coluna) e é espectável de ocorrer quando o tubo é longo e tem paredes relativamente grossas,

isto é, o tubo dobra como um todo de forma simétrica em relação a um plano que atravessa a região

média da dobra (Figura 17). A instabilidade local dá origem ao desenvolvimento de dobras

axissimétricas ao longo do tubo e ocorre normalmente onde o tubo tem a parede mais fina.

A caracterização mecânica de instabilidade global é dada pela teoria de colunas de Euler (mais

tarde melhorada por Engesser e Shanley). A caracterização mecânica de instabilidade local é dada

com base no trabalho de Timoshenko que assumiu condições de carga concêntrica e uniforme (Alves

& Martins, 2012).

Em suma, em tubos de parede fina sujeitos a uma carga de compressão, quando se atinge a

carga crítica, verifica-se a ocorrência de uma instabilidade local, dando origem a uma dobra

axissimétrica. Se a carga continuar e se atingir novamente a carga crítica repetidamente, sucede-se

uma sequência de instabilidades de dimensão semelhante à primeira.

Durante a ocorrência destas instabilidades existe uma elevada dissipação de energia específica a

uma carga de instabilidade aproximadamente constante, fornecendo um mecanismo eficiente de

absorção de energia cinética (Gupta & Nagesh, 2004).

Shanley em 1947 foi o primeiro a realizar investigações neste ramo, este modificou a teoria

elementar de Euler, sugerindo o conceito do módulo tangente para o cálculo da carga crítica em

17

deformação plástica de tubos à compressão, para um modelo discreto. Este tema tem sido muito

desenvolvido e analisado nos últimos anos, desde Hill em 1958, que estendeu estes resultados a um

espaço tridimensional usando o conceito de «Comparação Elástica de Sólido», continuando com

Hutchinson em 1974 que postou a interferência das imperfeições geométricas na formação de

instabilidade e no comportamento pós-crítico de várias estruturas, a Tvergaard em 1983, que

descobriu a influência do raio e da espessura do tubo nos modos de deformação e que um pequeno

encruamento facilitará a falha, passando por Goto e Zhang em 1999, demonstrando a relevância das

condições de fronteira, com o uso da teoria de escoamento plástico e colmatando em Peek no início

do segundo milénio, que derivou soluções analíticas para o comportamento imediatamente pós-crítico

de compressão axial de um cilindro, considerando extensões finitas (Le Grognec & Le Van, 2008).

Em 2006, Gouveia demonstrou que ao utilizar um conjunto de matrizes, escolhendo um

determinado espaçamento entre a matriz inferior e a superior, lgap, a formação da instabilidade ocorre

nesse local restrito. O que acontece é que a energia recebida da compressão, fará aumentar

ligeiramente a espessura das paredes do tubo até se atingir a carga crítica, Pcr, onde surge o início da

instabilidade. Se a matriz superior continuar a deslocar-se paralelamente ao eixo do tubo, no sentido

de continuar a comprimir, verifica-se o escoamento radial do material e o afastamento do mesmo do

eixo (devido à conservação de volume), dando origem progressivamente a uma dobra bem definida

(Leitão, 2013).

Por último, o uso do método dos elementos finitos foi usado para determinar o valor da carga

crítica para a ocorrência de instabilidade por Le Grongnec e Le Van em 2008.

Após estes inúmeros estudos e investigações, concluiu-se que os principais parâmetros

envolvidos neste processo são: o comprimento inicial do espaçamento entre matrizes (lgap), o raio

exterior (r0) e a espessura do tubo (𝑡0).

A descrição destes parâmetros é dada em seguida. O espaçamento entre matrizes define o

comprimento final da aba, quanto menor a distância, menor é o comprimento da aba. A relação r0

𝑡0

possibilita a subdivisão do mecanismo de deformação em dois grupos distintos: para valores

reduzidos as dobras tendem a formar-se dominantemente para o exterior, para valores elevados as

dobras são formadas tanto para o exterior como para o interior do tubo.

Figura 17 – Representação esquemática do processo de criação de instabilidade [Alves, 2011]

18

Com base nesta última constatação, que o escoamento do material ocorre para o interior, notou-

-se também que existe uma pequena redução do raio interno do tubo e existe a ocorrência de

defeitos na superfície do tubo, localizados em cima e por baixo da dobra. Estes problemas são

arrematados pela utilização do mandril interno.

A tensão de compressão, σcr , para a qual ocorrem fenómenos de instabilidade local pode ser

calculada com base na seguinte expressão analítica proposta por Timoshenko em 1961:

σcr =1

√3 (1 − ν2)Et

h

ro

(1)

Em que ν é o coeficiente de Poisson, Et é o módulo tangente definido através do declive dσ

dε da

curva tensão-extensão do material em condições de deformação plástica, h é a espessura do tubo e

ro o raio exterior do tubo. A tensão que se compara com esta é dada pela seguinte expressão:

σ =P

A (2)

O efeito de coeficientes de encruamento elevados contribui para que a tensão de compressão

aplicada pela matriz superior se aproxime do valor da tensão de compressão crítica, σcr .

A ausência de lubrificação ou um regime de lubrificação imperfeito pode metamorfosear uma

inversão com sucesso, numa sem êxito, onde predominem os fenómenos de instabilidade local.

A instabilidade local enunciada não é necessariamente má. Aliás o objectivo do trabalho é

permitir que ocorram de modo controlado e que assistam na construção do produto final.

3.3. Inversão Tubular

Devido ao facto de um dos desenvolvimentos deste trabalho ser o fabrico de porcas ocas por

inversão interna ou externa de tubos ocos, torna-se necessário referir um pouco sobre este tema.

A deformação por inversão de tubos é um processo segundo o qual o tubo, quando sujeito a

compressão axial irá passar por uma inversão da parte de fora para dentro ou vice-versa, de forma a

criar uma parede dupla. Pode ser utilizado em operações de acabamento ou fixação de extremidades

de tubos, no fabrico de pré-formas para operações subsequentes ou para produzir componentes

tubulares de parede dupla, que caso contrário, seriam muito difíceis, senão mesmo impossíveis, de

realizar.

Este fenómeno constitui-se de três mecanismos: dobragem ou desdobragem, atrito e expansão

ou compressão.

Em 1966 surgiu o primeiro trabalho nesta área pelas mãos de Guist e Marble, que examinaram a

obtenção de paredes tubulares duplas para dispositivos de absorção de energia adequados para a

utilização em estruturas de aviões e automóveis. Foi posteriormente analisado por meios

experimentais e numéricos por Sekhon et al, 2003 e Rosa et al, 2004.

Estes estudos permitiram também identificar os parâmetros tecnológicos mais importantes deste

processo: o rácio rcm

r0 (

raio do canto da matriz

raio interior do tubo) , o rácio

h0

r0 (

espessura da parede do tubo

raio interior do tubo) , o coeficiente de

encruamento do material e a lubrificação.

No caso de sucederem altas tensões tangencias de tracção, a fissuração dá-se na extremidade

livre do tubo, resultante de um desmesurado adelgaçamento da parede do tubo. Na parte da

19

compressão, a presença das tensões tangenciais dá origem ao engelhamento livre do tubo e o

excessivo aumento de espessura da parede do tubo. Todas estas concretizações criam obstáculos à

progressão de inversões tubulares.

Por outro lado, elevados valores desse rácio de enrolamento, rcm

r0, promovem a ocorrência de

rotura em regiões onde a espessura é diminuta devido ao grande fluxo de material. A propagação de

fendas deve ser revista devido à influência na qualidade geral e aparência dos componentes

invertidos.

Para o caso de inversão interna constatou-se que a enformabilidade é limitada devido à tendência

de instabilidades (Alves & Martins, 2009).

Num trabalho publicado por Alves & Martins, observou-se que a curva extensão-tensão do PVC

depende do nível de pressão hidrostática, existindo diferenças entre tensões em tracção e

compressão. Este fenómeno é chamado de efeito de resistência diferencial e é típico da deformação

plástica a frio de polímeros (Alves & Martins, 2010).

Vejamos agora, o modo mecânico como se processa a inversão de um tubo a partir das suas

condições iniciais (Figura 18).

O primeiro contacto e o início da dobragem iniciam-se no ponto «B» da figura anterior. O contacto

entre a matriz inferior e o material ocorre ao longo do raio de curvatura, rcm, e mantém-se até ao ponto

«C». Após essa fase, o material deixa de estar em contacto com a matriz e continua a sua expansão

tangencial e radial. Na zona «D» o corpo desdobra e começa a escoar na direcção oposta ao

deslocamento da matriz.

Dentro dos parâmetros presentes neste processo, o fundamental é o raio de canto da matriz

inferior, rcm, que influencia grandemente a evolução da inversão.

Se, por um lado, este tiver um valor muito reduzido, a força de atrito entre os pontos «B» e «C»

aumenta, acabando por instabilizar localmente o tubo, em vez do material escoar ao longo do raio;

se, por outro lado, o valor for muito elevado, pode acontecer que a expansão tangencial pode

provocar fractura dúctil. Nesta última, Sekhon et al em 2003, justificou a ocorrência destas fendas

pela magnitude da tensão circunferencial exceder o valor crítico da tensão (Leitão, 2013).

Figura 18 – Representação esquemática do processo de inversão externa entre matrizes [Rosa, 2004]

20

Rosa et al, em 2004 observou a influência do ar no interior do tubo e denotou-a como sendo

importante. Redesenhou a ferramenta para perfazer as inversões, fazendo um furo na matriz inferior

para o ar, aquando do movimento da matriz superior, sair (Rosa et al., 2004). Assim como

demonstrou que com a utilização de diagramas de limite de enformação em conjunto com o

modelamento numérico do processo, é possível fornecer um conhecimento adequado da incidência

da fractura.

3.4. Redução Tubular

A redução tubular é um modo de deformação de tubos, e tal como a inversão irá ser utilizada no

decorrer do fabrico do componente parafuso.

Tanto quanto foi possível investigar, o primeiro trabalho na área da redução de tubos data de

1965, pela mão de Avitzur. Em 1996 é utilizado o programa de elementos finitos FORGE2 para

calcular parâmetros deste processo, por Sadok et al. Um e Lec apresentaram uma comparação de

resolução de problemas de trefilagem e de redução, em 1997. Um ano passado, é realizada uma

análise do efeito da forma da matriz nas propriedades mecânicas e deformação do material, por

Ruminski et al (Brito, 2006).

Este processo é executado pela passagem de uma matriz por uma das pontas do tubo e

retirando-a após a forma requerida ser conseguida (Figura 19).

As propriedades mais importantes deste modo de deformação tubular são: ângulo 𝛼 da entrada

da matriz, raio exterior inicial do tubo - 𝑟0 e raio final requerido para a redução do tubo inicial - 𝑟𝑑 .

As regras para concepção destas matrizes foram obtidas com base na experiência e informação

teórica disponível na literatura do tema (Almeida, 2006).

Na imagem anterior está exemplificada a forma de efectuar uma redução, a descrição do gráfico

é feita de seguida.

No ponto B, na zona em que o mesmo entra em contacto com a matriz de redução ocorre a

flexão do tubo, enquanto a partir do ponto D a flexão é cessada, local onde o tubo já não se encontra

em contacto com a matriz.

Figura 19 – Representação esquemática do processo de redução [Alves, 2008]

21

O ponto E é o sítio de início da região de deformação livre do tubo, a qual termina no ponto F.

Nesta última secção, EF, o tubo tem movimento de corpo rígido.

Entre C e D surge a ocorrência de compressão e alongamento, durante a deformação plástica do

tubo.

A influência do atrito é mais preponderante entre os pontos B e D (Alves & Martins, 2008).

Através da experimentação conseguiu-se demonstrar o aparecimento de 2 modos diferentes de

deformação: Para valores baixos do rácio 𝑟𝑑

𝑟0 e comprimentos de redução pequenos, isto é, α muito

pequenos, existe o desenvolvimento de instabilidade local, enquanto elevados comprimentos de

redução levam a um excessivo aumento de espessura do tubo e à ocorrência de enrugamento na

parte cónica do tubo (zona do tubo em deformação junto à entrada da matriz de redução) , devido a

altas tensões circunferenciais compressivas, 𝜎𝜃.

Neste procedimento, a energia é dissipada sobre duas formas: por atrito na interface

ferramenta/material e pelo trabalho plástico na deformação do tubo. Deste modo, a lubrificação tem

um papel muito importante no decorrer deste procedimento. Devido ao facto da redução ser

executada por inúmeros passos de deformação na zona a deformar, as forças envolvidas neste

processo são muito reduzidas. Não existindo a ocorrência de nenhum tipo de corte por arranque de

apara.

3.5. Deformação de Tubos

A presente dissertação tem como objectivo o fabrico de parafusos com base na enformação de

tubos, logo torna-se útil explicar um pouco sobre tubos e sua deformação.

Os métodos mais utilizados para fabricar tubos e perfis são extrusão e perfilagem. Não obstante,

podem ser fabricados por outros processos de deformação plástica e podem possuir ligações de

soldadura. Para tal ocorrer os tubos devem possuir relativa ductilidade e o processo deve ser

realizado a frio.

Este modo de transformação de matéria-prima em tubos e perfilados é considerado em tensão

plana, isto é, σz = 0 , porque a largura é geralmente diminuta.

Aquando deste processamento, existe a probabilidade de ocorrerem defeitos, tais como efeito de

sela, esbeiçamento, entre outros, resultantes da distribuição da tensão radial σr em determinadas

zonas da secção transversal dos tubos.

A dobragem é um destes processos descritos anteriormente. Os processos tecnológicos de

dobragem de tubos podem ser subdivididos em quatro grupos: dobragem por movimento axial de um

cunho móvel (possuí semelhanças com a quinagem), dobragem por intermédio de rolos (análogo à

calandragem), dobragem por compressão e dobragem por estiramento.

Na dobragem de tubos, o efeito da instabilidade da curva relacionado com as tensões normais σr

dá origem à ovalização da secção resistente (Rodrigues & Martins, 2010). Por seu lado as tensões σθ

, tangenciais, originam reduções de espessura nas zonas de tracção e aumentos da mesma nas

zonas de compressão. No caso de algumas zonas possuírem uma espessura muito reduzida e

estarem à compressão, existe a possibilidade de ocorrerem fenómenos de instabilidade por presso-

flexão/engelhamento da parte interior do tubo.

22

23

4. Componente Teórica

No decorrer deste capítulo explicitar-se-á a componente teórica/matemática implícita na

deformação plástica de materiais, isto é, a Teoria da Plasticidade. Seguidamente abordar-se-á o

Método dos Elementos Finitos, definição, origem e desenvolvimento, concluindo este capítulo com

uma pequena explanação sobre os software utilizados no decorrer deste trabalho.

4.1. Plasticidade

A Plasticidade é parte intrínseca de toda a explanação, e caracteriza a nível teórico o

fenómeno físico de deformação plástica.

4.1.1. Critérios de Plasticidade

Os corpos sólidos que estão submetidos a solicitações exteriores sofrem dois tipos de

deformações: Elásticas e Plásticas. Quando um material está sujeito a deformações elásticas, após

as solicitações serem cessadas, o mesmo restaura a sua configuração inicial, sendo deste modo um

processo reversível.

A definição de regime plástico diz que um material entrou em plasticidade, quando o mesmo

não consegue recuperar totalmente a sua forma inicial quando o(s) carregamento(s) ou as

solicitações externas deixam de actuar (processo irreversível). Em sentido físico deduz-se que o

material possui deformações plásticas se as suas características mecânicas e geométricas forem

dependentes do modo como o carregamento foi aplicado (Figura 20).

De acordo com o explicitado, existem dois tipos de teorias para descrever a mecânica da

deformação plástica dos corpos sólidos: as físicas e as matemáticas. As últimas, também apelidadas

de tecnológicas, analisam as distribuições de tensão e de extensão baseando-se na modelação dos

materiais e recorrem à experimentação para validar esse modelo empírico. Um exemplo muito usado

Figura 20 – Representação gráfica do andamento Tensão e extensão [adaptado de Wikipedia Strain-Stress]

24

e bastante conhecido deste tipo de teorias são os Critérios de Plasticidade. As teorias físicas

examinam a natureza da deformação plástica a nível microscópico, demonstrando que o

comportamento plástico relaciona-se com a estrutura dos metais (Rodrigues & Martins, 2010).

Para introduzir estes critérios torna-se intuitivo que ter-se-á de explicar um dos aspectos mais

importantes da teoria de plasticidade, as relações entre as tensões que permitem determinar as

condições em que se entra em domínio plástico. Estas relações têm a denominação de Critérios de

Plasticidade, são independentes do estado de tensão a que o corpo material está sujeito e têm como

finalidade estabelecer o limite de elasticidade (Leitão, 2013).

A extensão impõe-se como sendo o alongamento por unidade de comprimento, enquanto que

a tensão está relacionada com a noção de força aplicada por unidade de área inicial.

A teoria da tensão, no domínio tridimensional, define que o estado de tensão num

determinado ponto é dado através do tensor das tensões. Este é representado pela seguinte

equação, onde devido ao tensor das tensões ser simétrico σij = σji :

σij = [

σxx σxy σxz

σyx σyy σyz

σzx σzy σzz

] (3)

O tensor total das tensões pode ser decomposto num tensor hidrostático ou de tensões

médias com estados de tensão pura de compressão e tracção, σm , e num tensor desviador em que

as componentes normais são o desvio da tensão média, σ′ij:

σij =1

3δijσkk + σ′

ij = [

σm 0 00 σm 00 0 σm

] + [

σ′xx τxy τxz

τyx σ′yy τyz

τzx τzy σ′zz

] (4)

Na equação anterior δij é o delta de Kronecker e a tensão média σm é dada por:

σm =σxx + σyy + σzz

3 (5)

De igual forma, a extensão é um parâmetro matemático muito útil para descrever as

deformações dos materiais. Quando as deformações em jogo forem muito elevadas, habituámo-nos a

usar a extensão verdadeira ou extensão logarítmica, ε, dada por:

ε = ∫dl

l

l

l0

= ln (l

l0

) (6)

Na equação em cima, l , significa o comprimento de referência imediatamente anterior e dl é

uma pequena quantidade comparada com l.

De modo a construir a equação da lei do material, necessita-se de calcular a extensão

verdadeira e a tensão verdadeira. A tensão verdadeira calcula-se de acordo com a seguinte equação:

σ =P

A0

(l

l0

+ 1) (7)

Em que, P, é a carga no instante a considerar e A0 é a área inicial do provete.

Tal como a deformação, a interpretação da velocidade de deformação é dada da mesma

forma, pois a deformação é expressa em termos de campo de deslocamentos, ui e a velocidade de

deformação expressa-se em termos de campo de velocidades, vi. A velocidade de deformação é

dada pela expressão seguinte:

25

ε̇ =1

2(

dvi

dxj

+dvj

dxi

) (8)

Na generalidade dos casos, os critérios de plasticidade podem ser escritos na forma a seguir:

F(σij) = K com i, j = 1,2,3 (9)

F(σij) é uma função do estado de tensão e é denominado de função limite de elasticidade e K

é um parâmetro característico do material que se obtém experimentalmente.

Para o caso de materiais isotrópicos, o início do domínio plástico é independente do sistema

de coordenadas, logo a expressão anterior pode ser escrita em função dos três invariantes do tensor

das tensões, σij , isto é:

F(I1, I2, I3) = K (10)

Os invariantes do tensor das tensões relacionam-se com o estado de tensão do corpo da

seguinte forma (Cardoso, 2009):

I1 = σii (11)

I2 =1

2[(σiiσjj) − (σijσij)] (12)

I3 =1

6[2σijσjkσki − 3σijσjiσkk + σiiσjjσkk] (13)

Bridgman em 1952 explicou que, na condição de se tratar de materiais densos, a deformação

plástica não é afectada pela tensão hidrostática, logo a função limite de elasticidade será apenas

função dos invariantes do tensor desviador das tensões, uma vez que J1 = 0 :

F(J2, J3) = K (14)

Sendo J2 e J3 o segundo e o terceiro invariantes do tensor desviador das tensões, dados por:

J2 =1

2σ′

ijσ′ij (15)

J3 =1

3σ′

ijσ′jkσ′

kl (16)

Após explicitar toda esta parte torna-se necessário introduzir os critérios de plasticidade. Para

o estudo dos materiais metálicos, os mais utilizados são o critério de Tresca e o de von Mises. No

entanto foram desenvolvidos outros critérios para ter em conta o efeito de encruamento, anisotropia

ou o facto de se estar a estudar materiais frágeis, são exemplos destes os critérios de: Coulomb-

-Mohr, Beltrami, Drucker-Prager e Green (Dinis & Jorge, 2004).

O critério de Tresca pressupõe que a deformação plástica ocorre quando a tensão de corte

máxima atinge um valor crítico, k. Ou seja, acima do valor crítico os átomos da rede alteraram as

suas posições permanentemente, ocorrendo a plasticidade.

O critério de von Mises admite que o início da deformação plástica ocorre quando a energia

elástica de distorção no ponto atinge um valor crítico, correspondente ao limite de elasticidade em

tracção uniaxial.

Verifica-se que a transição elastoplástica é definida por uma recta para o critério de Tresca,

ao passo que von Mises demarca-a por uma faixa, onde os valores da tensão de corte crítica variam

com o valor da tensão σ2 (a qual tem influência neste último critério).

Na forma matemática os dois critérios são escritos sequentemente:

26

τmáx =σ1 − σ3

2≥ k (17)

Nesta equação σ1 e σ3 são as tensões principais e k representa a tensão limite de

elasticidade em corte puro e pode ser encontrado através de ensaios de tracção, compressão ou

torção. Este valor está relacionado com a tensão limite de elasticidade no ensaio de tracção uniaxial,

σe , pelas expressões 2k = σe e √3k = σe , para os casos do critério de Tresca e von Mises,

respectivamente.

A representação gráfica no espaço de Haigh-Westergaard tridimensional (Figura 21), ou

espaço das tensões principais, define as superfícies limite de elasticidade de Tresca e von Mises,

como um prisma hexagonal e um cilindro, respectivamente, sendo que no eixo de simetria σ1 = σ2 =

σ3 (Teixeira, 2010).

Para o caso de materiais metálicos o critério de plasticidade de von Mises reproduz melhores

resultados experimentais. É, no entanto, útil explanar que o critério de Tresca é mais conservador que

o de von Mises.

Uma vez que os critérios de plasticidade assentam em ensaios com características uniaxiais

e por vezes biaxiais, para obtenção de resultados mais fidedignos utilizam-se os conceitos de tensão

e extensão efectivas ou equivalentes, de modo a perfazer a equivalência entre estados complexos

(multiaxiais) de deformação e estados uniaxiais.

A tensão efectiva para o critério de von Mises é dada por:

σ̅ =1

√2[(σ1 − σ2)2 + (σ2 − σ3)2 + (σ1 − σ3)2]

12 (18)

Partindo do trabalho incremental por unidade de volume, é possível definir a extensão

efectiva como uma quantidade conjugada de tensão,

dw = σ̅dε̅ (19)

Logo segundo o mesmo critério, demonstra-se que o incremento de extensão efectiva dε̅ , é

dado por:

dε̅ =√2

3[(dε1 − dε2)2 + (dε2 − dε3)2 + (dε1 − dε3)2] (20)

Utilizando o método da integração, a extensão efectiva vem:

Figura 21 – Representção gráfica dos critérios de plasticidade no espaço das tensões de Haigh-Westergaard

27

ε̅ = ∫ dε̅ (21)

4.1.2. Equações constitutivas

Após a explicação precedente é necessário introduzir as equações que relacionam as

tensões com as extensões no domínio plástico, estas são chamadas de equações constitutivas. A

primeira equação constitutiva importante de referenciar foi obtida por Levy em 1871 e mais tarde, em

1918 por von Mises. Esta foi apelidada de Equação de Levy-Mises e relaciona o total de incrementos

de extensão com o valor da tensão desviadora da forma subsequente:

dεij

P

σ′ij

= dλ (22)

Na presente equação σ′ij e dεij

P são incrementos de tensão desviadora e de extensão plástica,

respectivamente, dλ é uma constante de proporcionalidade que depende dos carregamentos

aplicados. Esta última é definida pela relação de trabalho por unidade de volume,

dλ =3

2

dε̅

σ̅ (23)

Substituindo as equações anteriores, obtém-se a equação de Levy-Mises como:

dεijP =

3

2

dε̅

σ̅σ′

ij (24)

Como se pode constatar a equação anterior despreza a componente elástica de deformação,

logo apenas é válida em regime plástico. É muito utilizada para analisar processos de deformação

plástica em que a mesma alcança valores relativamente elevados, podendo a parte elástica ser

desprezada sem erros nos resultados.

De forma a resolver problemas mais amplos, incluindo a deformação elástica, Prandtl em

1925 e Reuss em 1930, generalizaram a equação de Levy-Mises, considerando que o incremento de

extensão total como a soma dos incrementos das extensões elásticas e plásticas, sendo explicitado

na equação de Prandtl-Reuss,

dεij = dεijP + dεij

e (25)

O incremento de extensão com o índice p refere-se à parte plástica, enquanto que o índice e

denota a parte da deformação elástica. O incremento de extensão plástica é obtido pela equação de

Levy-Mises e o incremento de extensão elástica é calculado a partir das leis de Hooke, relações

tensão-extensão no domínio elástico. Logo:

dεije =

1 + ν

Eσ̅′

ij +1 − 2ν

E dσij

3δij (26)

Com ν e E, o coeficiente de Poisson e o módulo de Young, respectivamente. Resultando na

expressão final baseada nas expressões (24), (25) e (26),

dεij = dεije + dεij

P =1 + ν

Edσ′

ij +1 − 2ν

E dσij

3δij +

3

2

dε̅

σ̅σ′

ij (27)

4.2. Método dos Elementos Finitos

Optou-se por fazer esta breve explicação deste método, uma vez que tal como já foi referido,

este método sustenta a parte de simulação numérica, descrita mais à frente nesta dissertação.

28

4.2.1. Origem do método

O método dos elementos finitos é um método muito utilizado actualmente como meio de

simular processos reais a nível computacional. Ou seja, serve como primeira abordagem de um

processo que se pretenda implementar na realidade industrial.

Antes do aparecimento do MEF, o estudo dos meios contínuos eram efectuados por

resolução directa dos sistemas de equações de derivadas parciais que regem o caso, tendo em conta

as condições de fronteira do problema. Esta técnica recorria às séries de Fourier para resolução de

problemas não elementares (desta abordagem resulta o método das diferenças finitas). Devido à sua

complexidade, estes procedimentos só eram aplicáveis a meios contínuos de geometria simples e

homogéneos (Azevedo, 2003).

Em 1795 Gauss propôs o uso de funções de aproximação para a solução de problemas

matemáticos e foi esta a primeira etapa para o futuro aparecimento da teoria do método dos

elementos finitos (De Las Casas).

O desenvolvimento do MEF data do final da década de 1950, através de trabalhos de Turner,

Argyris, Kelsey e Clough.

Ray Clough, entre 1952 e 1953, após trabalhar em estágios de Verão da Boeing, coordenado

por Jon Turner, descobriu as primeiras ideias do método dos elementos finitos. Durante licença

sabática reflectiu sobre as suas ideias e com a ajuda de artigos de Argyris e Kelsey publicados em

1954 e 1955, desenvolveu a base do método, usando o método matricial de análise estrutural e

implementando o mesmo computacionalmente.

Após inúmeros estudos na Universidade de Berkeley com alunos seus, desenvolveu um

artigo, «The Finite Element Method In Plane Stress Analysis», em 1960, que demonstrava a aplicação

do MEF no seu estágio inicial (Clough & Wilson, 1999).

As primeiras aplicações foram efectuadas na resolução de problemas de análise estrutural,

no âmbito das tecnologias de fabrico na década de 60. Os primeiros investigadores a aplicar este

método na resolução de problemas elastoplásticos em deformação plana ou axissimétrica (tais como

indentação, compressão simples e extrusão), foram Kobayashi, Marçal, Yamada e Zienkiewicz.

Nestas abordagens usava-se a formulação sólida para deformações infinitesimais como base.

Constatando-se rapidamente, que esta formulação não era aplicável para analisar processos de

Figura 22 – Discretização de um corpo em elementos finitos

29

fabrico em que existissem grandes deformações plásticas e grandes rotações, devido às não-

linearidades associadas ao material e à geometria.

Nos anos de 70, Lee e Kobayashi, Cornfield e Johnson e Zienkiewicz e Godbole,

desenvolveram a formulação de escoamento plástico (flow formulation), uma formulação alternativa

que caracteriza o escoamento de materiais metálicos em deformação plástica como fluídos

incompressíveis. Devido aos materiais das peças possuírem elevadas deformações plásticas em

relação às elásticas, é possível desprezar estas últimas, culminado no axioma que os materiais

podem ser descritos através de leis de comportamento rígido-plástico/viscoplástico e, que relações

entre a tensão e a velocidade de deformação baseiam-se nas equações constituintes de Levy-Mises.

Também nesta década, é introduzida a teoria Langrangeana Total, por Hibbit, Marçal e Rice, que

caracteriza a deformação do material relativamente ao seu estado inicial não deformado.

A vantagem deste método reside no facto de permitir adquirir conhecimentos sobre qualquer

tipo de peça, independentemente da sua forma geométrica, das matrizes e das condições de atrito

que decorrem entre os componentes. Tornando-o num método mais geral e versátil.

Wang iniciou a extensão da formulação rígido-plástica de chapa no decorrer de 1970. No

entanto, constatou-se que esta extensão podia levar a alterações na geometria da chapa e nas

tensões residuais associadas, devido ao tal desprezo da componente elástica.

Recentemente, têm vindo a ser apresentados projectos de simulação computacional de

processos de deformação plástica baseados na utilização de formulações dinâmicas. No entanto,

estas formulações possuem problemas numéricos inerentes dos incrementos de tempo serem

relativamente baixos (na gama de 10-6

segundos) e a possibilidade de se obterem soluções

fisicamente impossíveis, devido aos processos de deformação plástica não serem processos

dinâmicos.

Nos últimos anos têm existido avanços ao nível de procedimentos para regeneração

adaptativa, geradores automáticos de malha, algoritmos de contacto, modelos de atrito, entre outros

(Rodrigues & Martins, 2010).

Concluindo, o método dos elementos finitos baseia-se na divisão (discretização) de um meio

contínuo em diversos elementos mais simples (Figura 22). Estes elementos são definidos por

equações diferenciais e resolvidas por modelos matemáticos. As superfícies ou volumes obtidos são

conhecidos por malhas. Quanto maior o número de divisões, mais elementos existem, menor o erro

na solução aproximada obtida e maior o tempo computacional que requererá a perfazer a solução.

O MEF tornou-se numa poderosa ferramenta para simular processos de deformação plástica,

contribuindo para o desenvolvimento de novas metodologias de concepção, de fabrico, de projecto e

de investigação de novos produtos e processos tecnológicos.

4.2.2. Equações básicas

De seguida, ir-se-á explicitar as equações que regem o método, isto é, a base matemática

inerente ao mesmo.

Com base nas equações de equilíbrio de tensões, mais concretamente na forma variacional

fraca, podemos descrevê-las como:

30

∫dσij

dXjV

δui dV = 0 (28)

A equação diferencial das equações de equilíbrio de tensões na forma abreviada,

dσij

dXj

= 0 (29)

apenas tem de ser respeitada em termos médios para a globalidade do corpo sólido, em vez de ter

que ser respeitada na totalidade dos pontos que constituem o corpo sólido. Aplicando a regra da

derivada do produto, o teorema da divergência e efectuando a seguinte substituição σijnj = ti :

∫ σijV

dδui

dXj

dV − ∫ tiST

δui dS = 0 (30)

, sendo δui a perturbação arbitrária de velocidade ui e ti são as tensões exteriores impostas na

superfície do corpo sólido.

Devido a requisitos de continuidade no campo de tensões, introduzindo o tensor das

velocidades de deformação ε̇ e decompondo o tensor das tensões σij , na soma do tensor desviador

σ′ij com o tensor esférico σm , a equação fica na seguinte forma:

∫ σij′ δε̇ijdV

V

+ ∫ σmδε̇VdV

V

− ∫ tiδuidS

St

= 0 (31)

Fazendo uma substituição, σmδε̇V = σ̅ε̅ ̇ , adicionando um termo de valor nulo, ∫ δσmε̇VdVV

, a

equação fica:

∫ σ̅ε̅ ̇dV

V

+ ∫ σmδε̇VdV

V

+ ∫ δσmε̇VdV

V

− ∫ tiδuidS

St

= 0 (32)

Ou na forma condensada:

∏ = ∫ σ̅ε̅ ̇dV

V

+ ∫ σmε̇VdV

V

− ∫ tiuidS

St

(33)

Este resultado podia ter sido obtido a partir do segundo princípio externo de Hill. Este

estabelece que a solução de problemas rígido-plásticos assenta no estabelecimento de um campo de

velocidade ui cineticamente admissível que satisfaça a condição de incompressibilidade, a

compatibilidade das deformações, que obedeça às condições de fronteira e que minimize o funcional:

∏ = ∫ σ̅ε̅ ̇dV

V

− ∫ tiuidS

St

(34)

De forma a ultrapassar os requisitos exigidos às funções de forma, modifica-se o funcional

anterior através da introdução de um multiplicador de Lagrange, λ , que coincide com o valor de

tensão média, σm .

A discretização das equações efectua-se subdividindo o volume de controlo V em M

elementos, ligados entre si através de N pontos nodais. Elementos, estes, que possibilitam a

computação de propriedades (tensões, extensões,…), muito mais simples do que do corpo total.

Este método é a base dos programas I-FORM2/3, para o cálculo de tensões, extensões,

cargas, deslocamentos, etc.

31

O autor gostaria de salientar a título final, uma metodologia que se utilizava no passado,

apenas como aproximação, chamada de fotoelasticidade para medição de tensões de componentes

metálicos.

A fotoelasticidade consiste na parte óptica que investiga a distribuição de tensões em corpos

transparentes com a ajuda de luz polarizada. Surge um sistema de bandas de cor claro e escura

(quando se utiliza luz monocromática). Consoante a sua disposição, deduz-se o tamanho e

distribuição das tensões em cada um dos pontos do corpo. No ensaio de materiais investigam-se

modelos transparentes feitos de resina sintética, e com a ajuda de processos de fotoelasticidade,

determinam-se as cargas que aparecem na realidade (Fotoelasticidade, 2014).

4.3. Software utilizado

Do modo com foi abordado anteriormente, de seguida proceder-se-á à enumeração descritiva

dos programas computacionais utilizados em todo o desenvolvimento da presente dissertação.

4.3.1. I-FORM

O I-FORM foi o software de elementos finitos utilizado para analisar e desenvolver a parte

numérica (simulações) da presente dissertação. I-FORM é a abreviação de Industrial Forming

Technologies (Figura 23).

Este teve a sua génese nos finais dos anos de 80 pelo Professor Paulo Martins e foi

desenvolvido com a ajuda de inúmeros colaboradores da secção de Tecnologia Mecânica do Instituto

Superior Técnico, ao longo dos últimos anos. Este programa fornece soluções quantitativas de

problemas relacionados com processos de enformação plástica (Rodrigues, 2011).

Tanto o I-FORM2 como o I-FORM3 têm apoio na formulação de escoamento plástico

irredutível baseada no recurso a uma função de penalidade, de modo a garantir a condição de

incompressibilidade.

Esta formulação serve de base a alguns programas de elementos finitos, como por exemplo:

DEFORM2/3 ou o FORGE2/3 (Rodrigues & Martins, 2010).

O sistema de elementos finitos I-FORM permite obter um largo espectro de resultados, dos

quais se destacam os seguintes: Defeitos de enformabilidade; Distribuição das principais variáveis de

campo: velocidade de deformação, tensão, extensão e temperatura; Evolução da carga ou volume

com o deslocamento; Forças locais na ferramenta; Força total a aplicar e evolução da mesma no

decorrer da deformação do material; Geometria da peça (final e ao longo da sua deformação);

Influência das condições de atrito nas interfaces peça-ferramenta e Influência da velocidade da

ferramenta.

Figura 23 – Logo do software I-FORM 3D

32

4.3.2. GiD

GiD é um programa desenvolvido em Barcelona, no Centro Internacional de Métodos

Numéricos em Engenharia (Figura 24). Este software é um pré-processador que permite a modelação

geométrica e discretização do modelo, sendo deste modo utilizado em conjunto com o I-FORM. No

entanto, também é um pós-processador, na medida que possibilita a visualização e análise de

resultados dos steps importados do processamento do I-FORM e não só, a duas ou três dimensões

(GiD, 2014).

Este programa teve como intuito abordar todas as necessidades das simulações numéricas,

tais como: definição eficaz de análise de informação, modelação geométrica, geração de malha,

transferência de informação para um software de análise, entre outros. De maneira que o seu

desenvolvimento teve como finalidade ser fácil, rápido, eficaz e preciso de utilização por parte do

utilizador. Tem a vantagem de poder «ler» e «escrever» informação num número quase ilimitado de

formatos.

Figura 24 - Logo do software GiD

33

5. Desenvolvimento Experimental

Após a conclusão da introdução e referências teóricas da presente dissertação, passar-se-á

de seguida, à análise/descrição do trabalho, através da descrição das análises experimental e

numérica, estudo do material e equipamentos utilizados e por último exame de resultados.

O conteúdo desta secção irá explanar toda a parte experimental referente ao tema da

presente dissertação de mestrado. Abordar-se-ão todas as inúmeras experiências executadas, bem

como todas as análises experimentais necessárias para a caracterização do material.

Focar-se-á de seguida, o estudo em torno do material utilizado para o fabrico dos

componentes mecânicos já enumerados e no conhecimento dos principais dispositivos utilizados em

toda a parte experimental.

Em primeiro lugar far-se-á uma alusão à máquina-ferramenta Prensa, pois foi a máquina mais

utilizada e mais importante de todo o aparato experimental e seguidamente enumerar-se-ão as

características de todas as máquinas utilizadas no Laboratório de Tecnologia Mecânica.

5.1. Prensas

A designação de prensa é tida como, uma máquina-ferramenta que consegue prover energia

e força, necessárias para a realização de um determinado processo, a uma ferramenta montada

sobre a estrutura de apoio (Rodrigues & Baptista, 1997).

Uma prensa é composta por uma estrutura de montantes ou colunas, que conectam a parte

superior, o capitel, à parte inferior, a mesa, possuindo um ou mais carros móveis (Rodrigues &

Martins, 2010).

Esta máquina-ferramenta possui uma elevada relevância em contexto industrial, porque

realiza diversos processos de fabrico e consegue aplicar cargas elevadas. Estes inúmeros processos

são: fabrico de componentes simples por forjamento, ensaios de compressão, obtenção de peças

complexas por estampagem ou quinagem e, podem mesmo ser utilizadas, para conceber corte.

Assim como a maioria das máquinas usadas em processamento tecnológico, a obtenção de

uma prensa representa um enorme investimento de capital (na ordem de centenas de milhares de

Euros). Deste modo torna-se imprescindível uma análise das exigências requeridas do processo e

colmatação com as características do referido equipamento. Isto é, o objectivo é seleccionar uma

prensa adequada à tarefa que se pretende realizar, necessitando de uma compreensão de todo o

processo, assim como das características da máquina.

Devido à existência de um certo número de prensas no mercado torna-se imperativo que se

classifique as mesmas segundo certos critérios. São estes: a Natureza do Agente Motor (manuais,

pneumáticos, mecânicos e hidráulicos), a Forma da sua Estrutura (montantes direitos, «colo de

cisne», colunas e mesa ajustável), o Número de Carros Móveis (simples, duplo ou triplo efeito), a

Direcção de Actuação (vertical ou horizontal), Velocidade de Actuação (convencional e corte rápido) e

Precisão de Movimentos (convencional e corte fino ou de precisão).

Este tipo de máquinas é muito utilizado devido a ser combinado com ferramentas amovíveis

fixas à mesa da prensa, ou sendo parte integrante da mesa (no caso desta ser maquinada) e deste

modo possibilitam a execução de inúmeros tipos de peças. A título de exemplo, pode-se destacar que

34

uma mesma prensa pode realizar um ensaio de compressão simples e no momento seguinte estar a

concretizar uma operação com uso de ferramentas progressivas.

Em analogia com a escolha da prensa, também o tipo de ferramenta deve ser analisado de

acordo com a sua funcionalidade final. A categorização de ferramentas é feita em conformidade com

a sua função por: Calibração, Fixação ou Guiamento, Corte, Deformação Plástica, Forjamento e

Extrusão.

A parte experimental foi executada no interior das instalações do Instituto Superior Técnico,

mais concretamente no Laboratório de Tecnologia Mecânica do Departamento de Engenharia

Mecânica. O equipamento e materiais possibilitaram tratamento de dados e consequente análise de

resultados experimentais, à temperatura ambiente nas referidas instalações.

5.2. Equipamentos utilizados

Prensa hidráulica de maior capacidade da marca americana INSTRON modelo KN1200

SATEC, com capacidade máxima de 1200kN e um sistema integrado de sensores de deslocamento e

carga, operados pelo controlador INSTRON 5500. A medição da carga aplicada verticalmente é

medida através de uma célula de carga com 1200kN de capacidade e a medição do deslocamento é

feita através de um transdutor de deslocamento com resolução de 0,001mm. As dimensões da

prensa são 1436x1500x940mm e uma tara aproximada de 6600kg. Os dados são adquiridos pelo

software BLUEHILL, incorporado no computador junto à prensa (Figura 25).

Figura 25 – a) Prensa hidráulica INSTRON KN1200 SATEC, do LTM b) Computador para aquisição de dados

a)

b)

35

A prensa manual da marca Dinamarquesa STENHOJ modelo CP40 com capacidade de

400kN e accionamento hidráulico, tem um peso de cerca de 460kg e possui as dimensões de

1030x400x1960mm (Figura 26).

O torno convencional utilizado é da marca QUANTUM (empresa alemã), modelo

D320x920SG, com um spindle de 65-1800 rpm e uma potência de 1,1kW. As suas dimensões são:

1600x740x1300mm e possui um peso aproximado de 500 kg (Figura 27).

O serrote usado tem como marca a MAQFORT (empresa portuguesa), modelo WE 210 S,

com descida hidráulica. É um serrote de fita manual com dimensões da lâmina de 20x0,9x2110mm,

uma potência de 0,75kW, um peso de 170kg e tem uma capacidade de corte a 90° de diâmetros até

170mm (Figura 28).

Figura 26 – Prensa manual STENHOJ CP40

Figura 27 – Torno convencional QUANTUM D320x920SG

Figura 28 – Serrote MAQFORT WE210S

36

5.3. Caracterização Mecânica

5.3.1. Lei do Material

No decorrer desta dissertação, utilizou-se um material nos inúmeros testes e ensaios de

laboratório. Este material foi disponibilizado pela empresa MCG (Manuel da Conceição Graça) na

forma de tubos de aço ao carbono soldados com diâmetro exterior de 13,90mm, diâmetro interior de

11,50mm e espessura de 1,2mm.

De modo a caracterizar o material, e assim saber a equação que rege o seu comportamento,

executou-se o ensaio de compressão de discos empilhados. Este ensaio foi detalhadamente

explicado no precedente capítulo 3. Pediu-se ao Engenheiro Ivo Bragança para produzir 10 discos

circulares, com diâmetro de 8mm e 1,2mm de espessura, partindo de um tubo do material em

questão, utilizando a electroerosora presente no Núcleo de Oficinas. Este procedimento irá ser útil

para conhecer a lei do material e saber o limite de enformabilidade do material do tubo.

Ao juntar todos os pequenos discos, empilhando-os, constatou-se que era uma tarefa

bastante complicada. No entanto com o uso de cola procedeu-se à junção de 6 deles.

Realizaram-se 2 ensaios: o primeiro com 6 discos colados com cola-tudo, com uma altura

conjunta de 6,8mm (medidos com base na distância entre o carro móvel e a mesa da prensa) e a

seguir com apenas 2 discos colados, com uma altura de 2,4mm. Antes de executar os ensaios

procedeu-se à remoção de algumas partículas de lubrificante de modo que os discos não

escorregassem entre si.

Após a etapa de setup da máquina e de colocação dos provetes (discos pequenos) na mesa

da prensa realizaram-se os ensaios. O primeiro demonstrou que mesmo com cola, os discos

escorregavam passado pouco tempo de compressão, não perfazendo uma curva com o aspecto

requerido, devido à informação do teste não estar correcta. O segundo ensaio com apenas 2 discos

originou os resultados pretendidos para caracterizar o material mecanicamente.

Depois de perfazer os dois ensaios, o objectivo da análise dos dados é chegar a uma

equação com os mesmos parâmetros que a equação tensão-extensão empírica de Ludwik-Hollomon.

Esta equação é descrita pela subsequente equação:

σ = Hεn (35)

,com H dependendo do material e das condições de ensaio (temperatura, velocidade de deformação

e extensão) e n , coeficiente de encruamento do material, que varia entre 0 < n < 1.

A seguinte tabela exemplifica alguns aços ao carbono e respectivos parâmetros.

Material H (MPa) n

Aço carbono (0,08%) 600 0,25

Aço carbono (0,15%) 620 0,18

Aço carbono (0,45%) 950 0,12

Tabela 1 – Exemplo de parâmetros da equação de Ludwik-Hollomon para 3 tipos de aços carbonos (Rodrigues &

Martins , 2010)

O coeficiente de encruamento pode ser tido como um factor de distribuição de deformações.

Se o material tiver um n elevado (alta capacidade de encruamento), nos locais em que as

deformações forem superiores existe encruamento e logo aumento de resistência.

37

Consequentemente promoverá a deformação de regiões vizinhas em que o material se tenha

deformado menos. O limite de enformabilidade diminui com o valor do expoente (coeficiente) de

encruamento.

Esta equação será bastante importante devido ao facto de ter que ser introduzida nos

programas de simulação numérica I-FORM2 e I-FORM3. A lei de escoamento plástico designa o

comportamento dos materiais em deformação plástica. Este depende de diversos factores: da

velocidade de deformação (ε̇), da temperatura (T), da extensão (ε) e de factores intrínsecos, como a

composição química e a estrutura (S).

σ = f(ε, ε̇, T, S) (36)

Os ensaios realizaram-se à temperatura ambiente e a uma velocidade de deslocamento de

10mm/min. Estas duas condições correspondem a condições quasi-estáticas e deformação a frio, o

que possibilita a minimização dos efeitos dinâmicos. Depois de perfeitos os ensaios referidos

anteriormente, procede-se à sua análise e estudo com a ajuda do programa EXCEL.

De acordo com inúmeros experimentos na prensa de maior capacidade do Laboratório de

Tecnologia Mecânica do Instituto Superior Técnico, os investigadores deparam-se com a ocorrência

de um certo erro nos resultados. Esses erros estão associados a dois tipos: os erros típicos de folgas

e recolha de dados e um erro muito mais crucial devido à ocorrência de fenómenos estruturais da

máquina. Este último erro não é abordado muitas vezes em artigos desenvolvidos nesta área.

Aquando do ensaio de compressão as colunas da prensa esticam, enquanto o cilindro, em

contacto com a ferramenta, encolhe (deformações elásticas da prensa). Logo estes investigadores

chegaram a uma fórmula que rectifica os deslocamentos medidos por transdutores da máquina.

A fórmula é a seguinte:

Deslocamento real = Deslocamento medido − (0,02551 Carga0,62099) (37)

Com base nesta fórmula procedeu-se à respectiva correcção nos ficheiros EXCEL, e assim

retirou-se a lei de comportamento mecânico.

Após se calcular a equação que regia o comportamento do material e assim descobrir a lei do

material, constatou-se que uma equação da forma potencial não descrevia bem a curva. Perfazendo

uns ajustes, concluímos que a lei a utilizar teria de ter uma equação da forma linear, ou seja,

σ = A + Bε (38)

A curva tensão-extensão obtida para o material em análise, está descrita a seguir (Figura 29), e

foi utilizada para o ensaio de discos empilhados com 2 discos:

Figura 29 – Representação gráfica da lei do material segundo o ensaio de compressão de discos empilhados

38

A lei calculada é regida pela seguinte equação:

σ = 667,7ε + 324,4 (39)

5.3.2. Carga Crítica

De maneira a caracterizar a enformabilidade do material, torna-se necessário calcular e

analisar a sua carga crítica de instabilidade, Pcr.

Esta carga pode ser obtida de duas formas: analiticamente, recorrendo à expressão

encontrada por Timoshenko, e experimentalmente, por um ensaio de compressão de um tubo, em

que as suas extremidades estão livres.

Para conhecer a carga crítica da forma experimental é necessário perfazer um ensaio de

compressão de um tubo numa matriz de pratos paralelos. Para tal, utilizou-se um provete com cerca

de 29,20mm de comprimento. Os resultados obtidos deste ensaio estão explicitados no gráfico

seguinte (Figura 30).

Através da análise do gráfico correspondente a este ensaio, pode-se constatar que

inicialmente a carga aumenta muito pronunciadamente, desde zero, até chegar a um valor máximo ou

crítico, momento em que se forma a primeira gelha. De seguida, existe uma redução da carga até um

certo deslocamento, onde se começa a formar a segunda gelha e a partir desse instante a carga

recomeça a aumentar. Assim, segundo um comportamento cíclico, ir-se-ão formar um número de

gelhas, enquanto existir tubo para ser deformado (sempre que se forma uma gelha, encontra-se um

pico no gráfico). Em suma, a carga crítica de instabilidade corresponde à carga a partir da qual ocorre

a instabilidade local.

Segundo o gráfico anterior, pode-se verificar que para o presente caso a carga crítica é

aproximadamente, Pcr = 31,3 kN.

Debrucemo-nos agora na parte analítica. Para tal, necessitamos de saber a curva tensão-

-extensão do material a estudar. Esta curva está explicitada na figura 29.

Para calcular a equação de Timoshenko, expressão (1), necessitamos de calcular três

parcelas da equação: Et , h

r e a parcela da raiz. Para calcular parcela da raiz apenas necessitamos

de conhecer o coeficiente de Poisson; O rácio h

r é também facilmente calculado, necessitando apenas

Figura 30 – Representação gráfica para determinação da carga crítica do tipo de tubo utilizado

39

de saber a espessura e o raio exterior do tubo a ensaiar; por último, Et é o declive da curva tensão-

extensão, ou seja, a derivada dσ

dε (Teixeira, 2010).

5.3.3. Determinação do tipo de material usado

Embora se tenha efectuado o ensaio de compressão de discos empilhados para

determinação da curva da lei do material, a mesma já se encontra determinada para inúmeros metais.

Deparou-se, no entanto, com o problema que não se conhece, concretamente, o aço carbono a

utilizar no presente trabalho.

Na actualidade existem inúmeros aparelhos electrónicos para determinação do tipo de

material. São de realçar os métodos clássicos (gravimetria e volumetria) e os métodos modernos

(técnicas instrumentais) (Da-Col, 2014). De entre todos, o mais utilizado e usado no referido caso, foi

a espectroscopia de fluorescência de raios-X, que constitui um exame não destrutivo.

A espectroscopia utiliza radiação electromagnética para a análise dos elementos químicos

presentes na estrutura do composto. No presente caso, o material da amostra é colocado em vácuo e

sobre ele é emitida luz por uma fonte de energia. Consoante a constituição do material, o mesmo

emite radiação-X, devido a transições electrónicas de orbitais dos átomos, com determinados tipos de

comprimentos de onda (ou frequências), relacionados com os elementos que o constituem. Com base

na velocidade de propagação da onda e, nomeadamente, da sua energia consegue-se determinar a

concentração dos elementos presentes na estrutura do material em questão (Ferretti, 2009).

Esta análise foi efectuada na máquina EDX-720 Energy Dispersive X-ray Fluorescence

Spectrometer da empresa SHIMADZU (Figura 31). Esta possui inúmeros dispositivos que permitem

uma rápida e grande sensibilidade de análise, devido a deter filtros especializados, um grande

compartimento para a amostra, um circuito com alta taxa de análise, uma câmara com um sensor

semicondutor para captação de imagens (CCD camera) e funciona a vácuo.

O resultado do exame de espectroscopia está apresentado na tabela seguinte, em

percentagem:

Fe 96.172 Ni 0.915 Cl 0.072 Nb 0.037 Mo 0.013

Mn 1.212 Al 0.110 Cu 0.061 Zn 0.031 Sr 0.009

Cr 1.202 Si 0.095 S 0.051 Br 0.019 C 0.001

Tabela 2 – Percentagem dos elementos presentes no material usado na presente dissertação

Figura 31 – Máquina de Espectroscopia SHIMADZU EDX-720

40

Com base no software MATWEB determinou-se que o material é um aço com reduzida

quantidade de carbono (low carbon steel).

5.4. Procedimento - Conceitos iniciais

A primeira tarefa executada foi explicitar a ideologia a ser desenvolvida, ou seja, o novo

conceito de fabrico de parafusos ocos e porcas ocas. Iniciou-se a análise pelo fabrico do parafuso.

O parafuso e a porca irão ser deformados a frio, a partir de uma pré-forma tubular, pois assim

obter-se-á um maior encruamento. O objectivo foi a obtenção de 3 secções distintas: cabeça

sextavada, batente e um corpo. A cabeça sextavada é fabricada, uma vez que o propósito é o

parafuso poder albergar alguns dispositivos de aperto, tais como: chave de bocas, chaves allen,

chave de lunetas ou chave de caixa. O batente tem o propósito de servir como anilha para este

parafuso, de modo a reduzir o desgaste na cabeça do parafuso. Por último, o corpo terá a maior

dimensão de todas as secções, devido a ser necessário a sua roscagem parcial.

A abordagem da porca tornou-se bastante interessante, devido ao facto de não existir

nenhum fabrico de porcas ocas. Idealizaram-se duas hipóteses para o seu fabrico. A porca fabricar-

se-á perfazendo uma parede dupla, por inversão exterior de uma pré-forma tubular, ao longo de uma

parede exterior sextavada; A porca produzir-se-á fazendo passar um tubo por uma matriz sextavada,

como se fosse uma redução mas apenas passando de secção cilíndrica para sextavada, e em

seguida fazendo uma inversão interior desse novo perfil, ficando o interior cilíndrico.

Do mesmo modo, também possuirá roscagem interior, com o objectivo de existir um encaixe

no parafuso fabricado.

5.5. Ensaios preliminares de fabrico do parafuso

5.5.1. Execução do batente

Na fase inicial do fabrico do parafuso, a pré-forma inicial será deformada, entre duas matrizes

de modo a produzir uma gelha por instabilidade (ver o capítulo 3), de modo a criar o batente.

No entanto, primeiramente ter-se-á de analisar a janela de processo de instabilidade local

(gelha) para este tipo de tubo.

Tal como demonstrado no capítulo 3, ao restringir o tubo entre matrizes, deixando apenas

uma distância sem constrangimento de matrizes, será nesse local que se formará a instabilidade.

Portanto, a finalidade é determinar qual a distância indispensável para se criar essa gelha.

Para a etapa descrita anteriormente, utilizaram-se matrizes já fabricadas de trabalhos

anteriores e as quais são descritas de seguida: duas matrizes cilíndricas com um diâmetro exterior de

49,90mm, com um furo de 14,10mm e uma altura de 23,50mm e um mandril interno (pois tal como foi

referido no capítulo 3 é um elemento imprescindível) maquinado para as dimensões necessárias

usando o torno e seguidamente uma limagem numa zona de modo a entrar no interior do tubo mais

facilmente, devido à zona da soldadura, com 46,80mm de altura, 11mm de diâmetro.

Este aparato experimental pode ser visualizado na seguinte imagem (Figura 32):

41

De modo a calcular a janela de execução da instabilidade, perfez-se um conjunto de ensaios

com pré-formas tubulares de diferentes comprimentos, ou seja, com diferentes GAPS. Estes provetes

foram cortados dos tubos maiores cedidos pela MCG (6 tubos com 265mm de altura), com a ajuda do

serrote mecânico e correctamente dimensionados no torno. Após colocação do respectivo tubo, nas

ferramentas descritas na imagem anterior, segue-se a compressão axial na prensa INSTRON e

adquisição de dados utilizando o software BLUEHILL do computador ligado à prensa. De seguida são

mostradas as imagens das pré-formas antes dos ensaios e depois dos ensaios (Figura 33).

Na tabela posterior estão descritos a análise dos resultados obtidos.

Caso ri (mm) l0 (mm) GAP (mm) ri/GAP Formação de 1 gelha

1 5,75 28,80 5 1,15 NÃO

2 5,75 32,20 7,5 0,767 SIM

3 5,75 33,80 10 0,575 SIM

4 5,75 37,20 12,5 0,46 SIM

5 5,75 38,80 15 0,385 NÃO

Tabela 3 – Dimensões das pré-formas utilizadas na determinação da janela de processo de instabilidade (Figura 32)

Baseando-se na tabela anterior pode-se constatar que existe a formação de 1 gelha para

GAP’s entre 7.5 e 12.5mm de distância entre matrizes (15mm formavam-se 2 gelhas). Logo a partir

deste ponto utilizou-se o GAP de 10mm para se proceder à formação do batente.

5.5.2. Enformação da cabeça sextavada

O modo considerado para a criação da cabeça sextavada foi enformação do tubo com um

punção sextavado, logo a etapa inicial foi encontrar uma ferramenta que pudesse perfazer esta

tarefa. Experimentou-se uma abordagem com uma ferramenta ALLEN com um diâmetro de 12mm.

Figura 33 - a) Pré-formas iniciais com 5, 10 e 15mm de GAP b) Pré-formas após ensaios com 5, 10 e 15mm de GAP

a) b)

Figura 32 - Representação esquemática do processo de determinação da janela de processo de instabilidades

42

Esta ferramenta foi cortada no serrote e desbastada no torno. Seguidamente foi executado

um pequeno cone na ponta deste novo punção sextavado, para que a entrada no tubo a enformar

seja mais facilitada. Após maquinação de um provete para teste deste procedimento, executou-se a

compressão na prensa STENHOJ. Esta enformação da cabeça ficou bem definida e após esta etapa,

esta cabeça sextavada era possível colocá-la numa chave de caixa de 15mm.

Considerou-se uma nova conjectura utilizar uma chave ALLEN de 14mm de diâmetro.

Efectuou-se as mesmas etapas utilizadas na chave de 12mm e ao se testar a compressão observou-

-se que existia corte por arranque de apara na criação da cabeça. Este fenómeno deveu-se ao facto

do cone do referido punção sextavado de 14mm, para entrada suave no tubo, ser muito pequeno e

pouco acentuado. Após rectificação deste, a criação da cabeça sextavada estava definida, mas ficava

com uma dimensão elevada, assim como o esforço era excessivo. Por esta razão, decidiu-se antes

utilizar o punção de diâmetro 12mm para proceder ao fabrico da cabeça sextavada.

5.6. Ensaios preliminares de fabrico da porca

5.6.1. Criação de parede dupla por inversão

Para produzir a porca, supôs-se efectuar a inversão exterior do tubo de modo a criar uma

parede dupla e assim retirar material do interior da porca. Esta abordagem é explicitada na figura

seguinte (Figura 34).

Como se pode prever a primeira etapa foi testar se o tubo pode ser invertido, pois a matéria-

-prima e as dimensões do tubo, nunca foram testadas.

Realizou-se uma panóplia de experimentos, com uma matriz de inversão com raios de 2, 2.5,

3, 3.5 e 4mm de raio. Estes raios foram construídos no torno CNC. Conforme o raio aumentava, a

inversão torna-se melhor, no entanto, sabe-se que o raio não poderá ser muito excessivo, pois

poderá fissurar (mais detalhes no capítulo 3). Embora a inversão fosse melhorada com o aumento do

raio, constatou-se que mesmo assim o tubo não invertia de modo a perfazer uma parede dupla

(instabilizava localmente), isto é, a maneira como se tinha projectado fazer a porca, não é possível

para este tipo de tubo. Alguns exemplos estão explícitos na figura seguinte (Figura 35).

No entanto, esta primeira etapa de fabrico da porca não foi completamente inútil.

Descobriram-se algumas ocorrências:

Normalmente, os tubos deformam-se da mesma forma ao longo do comprimento, pois na

zona onde a deformação for maior (num certo instante) essa zona encruará e permitirá que

vizinhança se deforme mais em vez dela própria. Este procedimento faz com que a deformação seja

uniforme ao longo de todo o tubo. No entanto, este tubo é extremamente anisotrópico devido à

presença de um cordão de soldadura, por isso, o mandril interno tem o objectivo de não permitir que

Figura 34 – Concepção inicial para o fabrico da porca oca

43

haja desalinhamentos e assim permitir uma deformação mais uniforme. Isto é, o tubo quando é

invertido fica inclinado em relação ao eixo vertical (Figura 35).

Constatou-se, também, que realizando a roscagem manualmente com a ajuda de um roquete,

de um macho M12 e de bastante lubrificante, a porca roscada tinha a possibilidade de encaixar

devidamente num parafuso maciço M12, no entanto, o número reduzido de dentes de rosca que

possuía (2 a 3 dentes), não garantia muita segurança à ligação.

Por último, observou-se que o parafuso oco fabricado, não dava para encaixar na tentativa de

porca oca executada, pois a dimensão dos diâmetros não o permitiam, logo deliberou-se que far-se-ia

uma redução do parafuso (exteriormente, de 14 para 12mm) ou uma expansão da porca

(interiormente, de 12 para 14mm). Através de dados experimentais (executados por investigadores),

constata-se que existe uma maior facilidade de redução do que expansão, deste modo, resolveu-se

fazer uma etapa de redução do parafuso.

5.6.2. Enformação da cabeça sextavada

Prosseguindo o raciocínio anterior, pressupôs-se uma nova abordagem para o fabrico da

porca oca. Esta propunha que a porca fosse fabricada pelas seguintes etapas: Enformação da

cabeça sextavada e enformação do batente por inversão.

A primeira abordagem deste novo processo foi determinar uma maneira do tubo criar uma

gelha na ponta do mesmo e que essa gelha esteja em contacto com uma matriz sextavada exterior,

formando a parede exterior da gelha sextavada. Para isso decidiu-se utilizar uma ferramenta de caixa

de 17mm (possuía uma parede sextavada no interior). Medindo a profundidade do furo sextavado da

ferramenta, constatou-se que a profundidade era aproximadamente 10mm (dimensão necessária

para criar a gelha). Para empurrar a pré-forma tubular da porca decidiu-se maquinar também um

pedaço do varão sextavado, pois este pedaço, ao longo da compressão, irá entrar dentro da

ferramenta de caixa.

Seguiu-se então a maquinagem de uma pré-forma inicial do tubo e à respectiva enformação

da cabeça sextavada. O resultado foi satisfatório, não obstante, concluiu-se que desta maneira, o

tubo poderá deformar ao longo de um comprimento relativamente elevado (superior a 10mm, para

fora da ferramenta de caixa), logo não seria certo que a instabilidade se começasse a criar na zona

requerida. Deste modo decidiu-se partir para outra concepção.

Nesta hipótese, determinou-se que se iria restringir ao máximo as zonas onde não se deseja

formar a gelha, ou seja, admitindo a priori que a instabilidade se irá processar na região que está

Figura 35 – Representação das tentativas falhadas de inversão da pré-forma tubular

44

dentro da ferramenta de caixa e na ponta do tubo. Para efectuar este procedimento, pegou-se

novamente no varão sextavado e decidiu-se fazer um furo circular com uma profundidade de 10mm

para que o tubo esteja completamente restringindo na sua área lateral, fora da ferramenta de caixa.

Em suma, o tubo apenas executará a gelha na sua ponta e dentro da ferramenta de caixa, pois não

pode instabilizar em nenhuma outra zona, devido à restrição dada pelo furo explicitado anteriormente.

Seguidamente procedeu-se ao fabrico desta nova matriz, mantendo todas as restantes, já

explicitadas anteriormente, procedeu-se ao teste. Aquando do teste experimental, constatou-se que a

enformação da cabeça funcionava correctamente.

Utilizou-se em todas as abordagens mandril interno, o mesmo presente no aparato

experimental do parafuso. Observou-se, de igual modo, que a dimensão de 20mm para a pré-forma

tubular da porca, era a dimensão melhor para que a cabeça ficasse bem enformada.

5.6.3. Enformação do batente

De igual modo ao explicado anteriormente, a formação do batente da porca foi feito por

inversão (Figura 36). Não consiste concretamente numa inversão, uma vez que o material não inverte

totalmente, pode-se considerar uma semi-inversão. O que ocorre é uma transformação da ponta do

tubo oposta à cabeça sextavada, de uma inclinação paralela ao eixo vertical (Z) para uma posição a

90°. Esta descrição pode ser vista na figura seguinte.

Para executar a etapa descrita anteriormente, utilizou-se a matriz de inversão usada

anteriormente para as tentativas de inversão do tubo, com raio de 3mm. Utilizou-se a de 3mm, visto

que de todas as inversões realizadas, a que iria apresentar melhores resultados para esta tarefa seria

esta. A matriz com um raio de 4mm, faria um raio muito elevado e a matriz de raio 2mm instabilizava

o tubo, então a matriz de raio 3mm foi empregada dado que também perfazia um batente com um

raio semelhante ao raio da cabeça sextavada.

5.7. Redução e Formação do batente do parafuso

Depois de explicitar que se teria de fazer a redução do parafuso, partiu-se para o fabrico de

uma matriz de redução. Perfazendo algumas reduções constatou-se que se utilizarmos uma matriz de

redução de 12mm de raio interior, o tubo ficará com um diâmetro menor que 12mm, logo decidiu-se

executar a redução com uma matriz de 12,5mm de diâmetro interior. As matrizes de redução foram

produzidas no torno, utilizando fresas de tamanho crescente desde 5mm até 12,5mm (tal como é

realizado normalmente) e com a ajuda de lubrificante (Figura 37). Com esta matriz de 12,5mm o tubo

Figura 36 - Representação da etapa de enformação do batente da porca oca

45

já fazia uma redução para um diâmetro de aproximadamente 12mm. Para mais detalhes deste tema

consultar o capítulo 3.

5.8. Roscagem dos componentes

A rosca é um conjunto de saliências na área lateral de um corpo cilíndrico e tem como

utilidade servir o encaixe de dois componentes entre si. As suas principais características são:

diâmetro da rosca, número de filetes, espessura do filete e material de que é feita.

No decorrer desta presente dissertação surgiu a necessidade de obter rosca nos dois

elementos mecânicos fabricados. O objectivo desta etapa era executar uma roscagem precisa ou

normalizada, de modo que exista encaixe entre o parafuso e a porca fabricados.

Em termos industriais, a roscagem é executada de dois modos distintos: recorrendo a um

torno e baseando-se nos parâmetros de velocidade de avanço e no próprio avanço ou, tal como

descrito anteriormente no capítulo 2, fazendo passar o corpo do parafuso entre dois pratos paralelos

e com a rosca maquinada nestes. Com estes métodos era possível criar-se roscas normalizadas, no

entanto, ter-se-iam de criar as matrizes dos pratos paralelos e utilizar-se um mandril interno ou

programar o ficheiro para o torno CNC perfazer a roscagem. Devido à explicação anterior, no

presente caso, as roscas dos dois componentes mecânicos foram geradas manualmente com a ajuda

de um torno - imóvel, sem rotação de modo a servir apenas de mecanismo de aperto - macho de

rosca e roquete, para a roscagem interior da porca oca e caçonete e roquete, para a rosca exterior do

parafuso oco. Assim, perder-se-ia menos tempo, dado que o objectivo da rosca é proceder ao

encaixe dos dois componentes.

Figura 38 – Representação de roscagem manual, similar à utilizada no corpo do parafuso fabricado

Figura 37 – Ferramentas utilizadas na primeira e segunda etapas de produção do parafuso oco

46

A figura anterior (Figura 38) demonstra muito claramente a maneira como se obtém a rosca

exterior, no caso de ser feita manualmente.

Após alguma pesquisa sobre o comprimento correcto para a zona de roscagem exterior do

parafuso, constatou-se que a mesma depende da norma que se decide seguir. No entanto, segundo

a teoria, 2 a 3 dentes (filetes) de rosca eram suficientes para que existisse um encaixe razoável.

Com uma grande ajuda por parte do Engenheiro José Manuel da empresa PECOL, concluiu-

-se que se nos guiarmos pela norma DIN 931, a qual indica qual o comprimento da rosca de acordo

com o comprimento do corpo do parafuso e do diâmetro do mesmo, podemos concluir que o parafuso

fabricado deveria ter rosca total e não parcial. Optou-se, no entanto, por fazer parcial de maneira a

clarificar as duas zonas: roscada e não roscada, no corpo do parafuso.

Para executar a roscagem procedemos, inicialmente, à roscagem do parafuso. Utilizou-se um

roquete e um caçonete para parafuso M12, mas o caçonete utilizado possuía algum desgaste. Logo

não se verificou uma roscagem correcta uma vez que o parafuso não tinha sido ainda reduzido, além

de que chegou mesmo a danificar o parafuso. O facto imediatamente explanado pode ser revisto na

figura seguinte (Figura 39).

De modo a se fazer uma roscagem exemplar do parafuso, refez-se a mesma, mas utilizando

um caçonete mais novo e o parafuso reduzido. Desta vez o processo ficou bem definido. Este

processo foi executado, como referido, empregando-se bastante lubrificante, durante um tempo

relativamente elevado e com a ajuda do torno, como dispositivo de aperto.

A roscagem da porca foi mais fácil, uma vez que o comprimento de rosca é menor que o do

parafuso e o macho utilizado encontrava-se em boas condições.

5.9. Etapas de Fabrico dos componentes

Depois de todas as etapas terem sido explicadas, é necessário proceder à enumeração das

fases de fabrico dos componentes produzidos:

5.9.1. Parafuso oco

O Parafuso oco necessita então das seguintes etapas, de forma sequencial: Redução e

Enformação do batente; Calibração e, por último, Enformação da cabeça sextavada.

A redução e enformação do batente realizam-se com a ajuda de 3 matrizes: a matriz cilíndrica

utilizada nas análises de GAP’s, o mandril interno e a matriz de redução de 12,5mm (as respectivas

dimensões estão mais detalhadas no capítulo seguinte da simulação numérica) (Figura 41).

Figura 39 – Representação de uma tentativa falhada de roscagem de um parafuso oco fabricado

47

A calibração é executada de modo a retirar o chanfro, presente no tubo após a etapa de

redução. Este chanfro está presente na matriz de redução e facilita a entrada do tubo no estágio

anterior, que se irá formar na criação do batente. Esta etapa é em tudo semelhante á anterior, no

entanto, neste caso a matriz de redução é invertida e é esta que se desloca, em vez de ser a matriz

cilíndrica (de cima).

Por fim, a enformação da cabeça é concebida, utilizando 2 matrizes: um punção sextavado de

12mm e deixando o tubo, já deformado pelas etapas anteriores, dentro da matriz de redução

invertida, de modo a servir de dispositivo de aperto (Figura 40).

Em suma:

1-Maquinagem da pré-forma tubular, partindo de um tubo maior;

2-Concepção e fabrico das matrizes necessárias: Matriz de redução, matriz cilíndrica (GAP’s),

punção sextavado e do mandril interno;

3-Colocação do mandril no interior do tubo;

4-Posicionamento do tubo em cima da matriz de redução (em baixo) e no interior da matriz

cilíndrica (em cima);

5-Colocação da junção do ponto 4, na mesa da prensa;

6-Proceder ao ensaio experimental na referida prensa (Figura 42 a));

7-Inverter a matriz de redução (possui um ligeiro chanfro no lado oposto à redução);

Figura 41 – Ferramentas utilizadas na primeira e segunda etapas de fabrico do parafuso oco

Figura 40 – Representação da etapa de formação da cabeça do parafuso oco

Figura 42– Esquema representativo das etapa de fabrico do parafuso oco

a) b)

b) c) a)

48

8-Proceder ao ensaio experimental na referida prensa (Figura 42 b));

9-Retirar a matriz cilíndrica (GAP’s);

10-Colocar o punção sextavado em contacto com a parte oposta à redução;

11-Proceder ao ensaio experimental na referida prensa (Figura 42 c));

12-Retirar o parafuso final das matrizes;

13-Tratamento de dados adquiridos dos ensaios por um computador com o software

BLUEHILL.

Após estas etapas de deformação plástica procede-se à obtenção de rosca exterior no

parafuso pelo método descrito no subcapítulo anterior.

5.9.2. Porca oca

A porca oca possui as seguintes fases, de forma sequencial: Enformação da cabeça

sextavada e Enformação do batente.

A etapa de enformação da cabeça utiliza as seguintes matrizes: uma ferramenta de caixa de

17mm, o mandril interno e a matriz sextavada furada (que restringe o tubo) (Figura 43).

Por último, o batente é enformado retirando o tubo já deformado de dentro das matrizes e

colocando o mesmo em contacto com o prato da prensa (zona da cabeça da porca) e com a matriz

de inversão de 3mm (zona não deformada nesse instante) (Figura 44).

Todos estes ensaios finais, ou seja, para os componentes na forma correcta e definida como

final, foram executados na prensa hidráulica INSTRON, com aquisição de dados por um computador

ligado às células de carga da prensa e utilizando o software BLUEHILL.

Figura 43 – Ferramentas utilizadas na primeira etapa de fabrico da porca oca

Figura 44 – Matriz de inversão utilizada na etapa de formação do batente

49

Em suma:

1-Maquinagem da pré-forma tubular, partindo de um tubo maior;

2-Concepção e fabrico das matrizes necessárias: matriz de inversão, matriz sextavada

furada, ferramenta de caixa e do mandril interno;

3-Posicionamento do mandril no interno do tubo;

4-Colocação da matriz sextavada furada no tubo;

5-Posicionamento da matriz sextavada furada em cima do tubo+mandril+ferramenta de caixa;

6-Posicionar o aparato experimental na mesa da prensa;

7-Proceder ao ensaio experimental na referida prensa (Figura 45 a));

8-Retirar todas as matrizes;

9-Colocar a matriz de inversão em contacto com o tubo já deformado e na mesa da prensa;

10-Proceder ao ensaio experimental na referida prensa (Figura 45 b));

11-Retirar a porca final da matriz;

12-Tratamento de dados adquiridos dos ensaios por um computador com o software

BLUEHILL.

5.10. Sequências de fabrico

Como foi já referido, executaram-se alguns ensaios para o fabrico destes componentes

metálicos. Para a realização do parafuso, primeiramente concebeu-se um parafuso sem as etapas de

redução e calibração, isto é, apenas com a enformação do batente e a enformação da cabeça

sextavada. Onde se observou que não se poderia proceder ao encaixe do mesmo na porca fabricada.

Depois desta abordagem procedeu-se à concepção de uma matriz de redução de 12mm,

após a redução desta constatou-se que existia uma folga entre a porca e o parafuso, no encaixe.

Decidiu-se que em vez de uma matriz de redução de 12mm, deveria ser antes de 12,5mm.

Para a etapa da enformação da cabeça, concebeu-se a deformação com um punção

sextavado de 14mm (a partir de uma ferramenta ALLEN), no entanto, no fim deste ensaio, foi notório

que o esforço desta deformação era muito elevado para este tubo, assim como a dimensão desta

cabeça era imensa. Utilizou-se, então um punção sextavado de 12mm (a partir de uma ferramenta

ALLEN).

Figura 45– Esquema representativo das etapa de fabrico do parafuso oco

a) b)

50

Na produção da porca, efectuou-se uma concepção um pouco mais abrangente. No início, a

porca era produzida por inversão exterior e formação de parede dupla, no entanto, após vários testes

de inversão deste tubo, reparou-se que este não poderia ser invertido desta forma.

Partiu-se então para mais uma reflexão do fabrico deste elemento mecânico. A primeira ideia

proposta, foi fazer um batente numa das extremidades, fazendo uma semi-inversão. Tal experiência

decorreu na perfeição. De seguida procedeu-se à enformação da cabeça. Após inúmeros

experimentos, chegou-se à enformação da cabeça sextavada de maneira igual ao parafuso, embora

esta fase fosse realizável, o seu aspecto estético não era o melhor, no entanto, não deixa de ser um

novo conceito para o fabrico de porca oca (figura 47).

Seguiu-se então uma nova fase de testes desta etapa. Chegou-se por fim à enformação da

cabeça sextavada por instabilidade local dentro de uma ferramenta com uma parede sextavada

adequada. Concluindo então que seria este o meio de produção desta fase (Figura 48).

Figura 46 – Representação esquemática do processo de fabrico do parafuso oco

Figura 48 – Representação esquemática do processo de fabrico da porca oca

Figura 47 – Representação de um processo alternativo de fabrico da cabeça sextavada da porca

51

6. Simulações Numéricas

Neste capítulo da presente dissertação tratar-se-á da parte numérica. Como já foi referido

previamente, esta serve de complemento à análise experimental em termos comparativos, assim

como possui relevância elevada na análise destes novos processos de fabrico. O principal objectivo é

perfazer as análises numéricas e fazer a analogia com a fase experimental, anotar diferenças e

semelhanças entre ambas.

6.1. Indicações iniciais

Para realizar estas análises, usar-se-ão 4 software informáticos: o SOLIDWORKS, o GiD, o I-

-FORM2 e o I-FORM3. Estes vão ser utilizados segundo o seguinte plano:

Primeiro usar-se-á o SOLIDWORKS para fazer a geometria das ferramentas e do material a

estudar;

Segundo exportar-se-ão esses ficheiros para o GiD de modo a criar a malha de elementos

finitos dos respectivos componentes;

Nesta altura proceder-se-á à resolução dos problemas com a ajuda dos software I-FORM;

Por último, retiram-se os ficheiros que saem dos I-FORM, exportam-se para o GiD, onde se

fará a análise mais detalhada dos mesmos.

Nesta secção obter-se-ão gráficos e imagens a duas e três dimensões do material ao longo

do processo de fabrico do parafuso oco.

Toda a componente numérica descrita de seguida, foi realizada num computador com o

Windows 7, equipado com um processador AMD dual-core 1.6 GHz e 4.00 GB de memória RAM.

6.2. Primeira etapa: SOLIDWORKS

O SOLIDWORKS é um software desenvolvido em 1997 pela empresa Dassault Systèmes

S.A., sediada em Vélizy, França e é um programa informático de CAD.

De modo a começar as simulações numéricas, o primeiro estágio é medir e estudar as

dimensões requeridas para as ferramentas e para os componentes ocos finais e proceder ao seu

desenho técnico no SOLIDWORKS 2012.

6.2.1. Dimensões do Parafuso oco e matrizes

Estudando o processo de fabrico do parafuso em detalhe, concluímos que as dimensões para

a pré-forma inicial do parafuso são as seguintes: 10mm para a cabeça sextavada, 10mm para a

formação do batente e 24mm para o corpo do parafuso (sendo a dimensão total da pré-forma 44mm).

A dimensão da cabeça foi escolhida com base na possibilidade de poder albergar uma

quantidade razoável de dispositivos de aperto. Logo após um breve estudo concluiu-se que os 10mm

era uma dimensão suficiente. Tal como demonstrado no estudo da janela de processo de formação

de gelha (em maior detalhe no capítulo anterior), a dimensão de 10mm é a dimensão correcta para se

criar a instabilidade local e o consequente batente. Por fim, a dimensão do corpo do parafuso foi dada

com base no tamanho da matriz de redução que se utilizou, a qual tinha uma Altura de 24mm.

52

Seguindo os raciocínios explícitos no capítulo anterior, ir-se-á de seguida proceder a uma

enumeração das dimensões utilizadas para a concepção do desenho técnico das matrizes para o

fabrico do parafuso oco.

6.2.1.1. Matriz de redução

A matriz de redução utilizada na parte experimental e, consequentemente usada nesta parte

possuí as seguintes dimensões: Diâmetro exterior de 25,4mm, Diâmetro interior de 12,5mm, Altura de

24mm, um chanfro de entrada para a redução de 3,5mm de Altura e 20° e um pequeno chanfro com

0,4mm de Altura e 45°, na ponta oposta à entrada para a redução, para perfazer a etapa da

calibração (Figura 49).

6.2.1.2. Matriz cilíndrica dos GAP’s

A matriz cilíndrica dos GAP’s é uma matriz que foi utilizada na análise da janela de processo

da gelha. Foi empregada na etapa de redução e criação do batente, devido ao facto de já estar

fabricada e o seu propósito possibilitar a criação da gelha de forma correcta. As dimensões desta

matriz são: Diâmetro exterior 50mm, Furo de 14mm de diâmetro e profundidade de 10mm (onde

contacta com a pré-forma tubular), Furo de 11,4mm e profundidade 13,7mm (na ponta oposta ao

primeiro furo) e Altura de 23,7mm (Figura 50).

6.2.1.3. Mandril interno

O mandril interno tem como objectivo permitir que a instabilidade local se forme para o

exterior, em vez de interiormente. Logo é colocado maioritariamente na zona de formação do batente.

Este mandril possui dois diâmetros diferentes, uma vez que ao se deslocar para o interior da secção

reduzida do tubo, esta tem um diâmetro interior menor do que a pré-forma inicial (passando 11,5mm

Figura 49 – Desenho CAD da Matriz de redução

Figura 50 – Desenho CAD da Matriz cilíndrica dos GAPS’s

53

para 9,5mm). Exposto isto, far-se-á a explicitação das suas dimensões: Diâmetro de 11mm e

comprimento de 22,90mm, um Diâmetro de 8mm e comprimento de 22,30mm e uma transição de

1,70mm de comprimento e 60° (Figura 51).

6.2.1.4. Punção sextavado

Para concretizar a enformação da cabeça sextavada foi necessária a utilização do punção

sextavado, anteriormente explicado. As suas dimensões são: Diâmetro de 7,8mm e comprimento

16mm, Diâmetro sextavado de 12mm e comprimento de 22mm e uma transição cónica, originária da

maquinagem no torno para a entrada se efectuar de forma suave, com 30° e Altura de 5,3mm (Figura

52).

6.2.2. Dimensões da Porca Oca e matrizes

Após conclusão da parte experimental, constatou-se que a pré-forma inicial da porca teria de

ter 20mm de altura e as dimensões do tubo já referidas no capítulo de caracterização do material.

Possui 10mm para a formação da cabeça sextavada (tal como o batente do parafuso) e o restante

para a inversão e comprimento necessário para a realização da roscagem interior.

Figura 52 – Desenho CAD do Punção sextavado

Figura 51 – Desenho CAD do Mandril interno

54

6.2.2.1. Matriz de caixa

A matriz de caixa é uma ferramenta de caixa de 17mm. Esta possui as seguintes dimensões:

Diâmetro interior de sextavado de 17mm, Diâmetro cilíndrico exterior de 24,1mm, Profundidade de

10mm e uma Altura de 35,90mm (Figura 53).

6.2.2.2. Matriz sextavada furada

A matriz sextavada furada foi utilizada em detrimento da enformação da cabeça sextavada

ficar restrita à matriz de caixa. As suas dimensões são: Furo de 6mm numa ponta (para se retirar o

tubo deformado), Furo de 14mm e profundidade 10mm (na ponta oposta do primeiro furo), um

Diâmetro de sextavado exterior de 17mm e uma Altura de 19,8mm (Figura 54).

6.2.2.3. Mandril interno

Para a enformação do batente e da inversão foi utilizado o mesmo mandril interno do caso do

parafuso.

6.2.2.4. Matriz de inversão

A matriz de inversão é usada para produzir o batente presente na ponta oposta à cabeça

sextavada da porca. As dimensões desta matriz são: Diâmetro de 10,40mm e Altura de 5mm, Raio de

inversão de 3mm, Diâmetro exterior de 19mm e Altura de 20mm (Figura 55).

Figura 53 – Desenho CAD da Matriz de caixa

Figura 54 – Desenho CAD da Matriz sextavada furada

55

Depois de explicitadas e estudadas todas as dimensões das matrizes e das pré-formas

procedeu-se ao desenho técnico das mesmas no SOLIDWORKS. Optou-se por desenhar apenas 1

4

do desenho total, de modo a que a simulação numérica tenha um bom rácio tempo/qualidade. De

uma forma geral, toda a esta etapa decorreu fluentemente, no entanto, existiu uma pequena

dificuldade de realização da transição cónica do punção sextavado do parafuso. Após inúmeras

tentativas de proceder ao desenho deste cone, nunca se conseguiu chegar a uma parte cónica, a

transição realizava-se mas não de forma cónica. Depois de uma pesquisa, descobriu-se que existe

uma ferramenta no SOLIDWORKS, que permite fazer esta transição da maneira como foi feita na

realidade. De facto o cone foi feito no torno, logo o que se fez foi, desenhou-se uma geratriz e

utilizando a ferramenta «revolve cut» procedeu-se à criação do cone. Este cone ficou desenhado da

mesma forma do cone real, tal como podemos observar na seguinte Figura 56:

Após a realização dos desenhos procedeu-se à criação dos ficheiros em formato ‘.iges’, de

modo a ser possível a sua leitura no programa GiD.

6.3. Segunda Etapa: GiD

De modo, a analisar os processos de fabrico no software I-FORM, é necessário criar a malha

de elementos finitos das matrizes e das pré-formas tubulares.

Para gerar esta malha procede-se à exportação dos ficheiros ‘.iges’ do SOLIDWORKS para o

ambiente do GiD. A primeira fase, no caso das matrizes, é retirar superfícies e linhas que não estão

em contacto com o material. De seguida define-se o tipo de elementos a utilizar nestes componentes.

Figura 55 – Desenho CAD da Matriz de inversão

Figura 56 – Representação do desenho CAD do punção sextavado e do mesmo na realidade

56

Uma vez que este material não se deforma (considera-se rígido), decidiu-se utilizar o elemento

triangular. Se existisse deformação das matrizes, este elemento triangular poderia criar inúmeros

problemas ao nível de existência de jacobianos negativos em alguns elementos. Finda esta etapa,

torna-se útil analisar a malha e determinar se as normais estão correctas (de modo que o material

não entre para dentro das matrizes e exista deformação).

No caso da pré-forma inicial do parafuso, a geração de malha no GiD foi feita em secções.

Isto é, dividiu-se o volume total da pré-forma em 3 partes: enformação da cabeça, formação do

batente e corpo do parafuso. Pode-se concluir, antes de efectuar a análise, que a zona que terá maior

deformação é a zona de formação do batente, seguida da zona de formação da cabeça, enquanto a

zona do corpo do parafuso não possuirá grande deformação. Deste modo, efectuou-se um maior

refinamento na zona de criação da gelha (batente), um refinamento menos pormenorizado para a

formação da cabeça sextavada e por fim, um refinamento muito fraco da zona do corpo do parafuso.

Para esta criação de malha utilizou-se o tipo de elemento hexaédrico (uma vez que este material se

encontra em deformação). Esta tarefa pode ser revista na figura seguinte (Figura 57).

Após a parte do GiD estar concluída, as matrizes e as pré-formas têm de ser guardadas com

uma determinada denominação de modo a poderem ser lidas no pré-processamento dos I-FORM2/3.

Esta designação está escrita no pré-processador dos I-FORM e é a seguinte: Em 2D tem de ser

“die*.lin.msh” para as matrizes e “fem.qua.msh” para as pré-formas; Em 3D escreve-se “die3*.tri.msh”

para as matrizes e “fem3.hex.msh” para as pré-formas. Sendo que «*» significa o número da matriz.

6.3.1. Matrizes e pré-formas

De seguida são explicitadas todas as matrizes utilizadas nas simulações numéricas, referindo

a que processo estão associadas e o número de elementos que possuem. Depois de mencionadas

as matrizes, são ainda indicadas as pré-formas utilizadas.

Figura 57 – Discretização da malha para a pré-forma do parafuso

57

6.3.1.1. Matrizes usadas na produção do parafuso

Devido ao facto de não existir os pratos da prensa, no caso numérico, procedeu-se ao

desenho de uma matriz que simplesmente servisse para esse propósito, isto é, fazer com que o

material não se desloque mais para baixo e, que neste caso, proceda à criação da instabilidade local

na zona predefinida para tal.

A figura 58 mostra a matriz de redução decomposta por 673 elementos. Na figura 59 observa-

-se a matriz cilíndrica dos GAP’s, esta possuí 612 elementos. Com uma soma de 148 elementos, está

apresentada a matriz de base na figura 62. Na figura 60 visualiza-se o mandril interno com um total

de 570 elementos. Por último, o punção sextavado, representado na figura 61, é composto por 696

elementos.

Figura 58 – Malha da matriz de redução

Figura 59 – Malha da matriz cilindrica do GAP’s

Figura 60 – Malha do mandril interno

Figura 62 – Malha de uma base para simular o prato inferior da prensa

Figura 61 – Malha do punção sextavado

58

6.3.1.2. Matrizes usadas na produção da porca

Na figura 63 observa-se a matriz sextavada furada, esta possuí 566 elementos. A figura 64

apresenta a matriz de caixa, com uma soma de 596 elementos. Na figura 65, por fim, está

representada a matriz de inversão, com um total de 358 elementos.

6.3.1.3. Pré-formas iniciais

Figura 64 – Malha da matriz de caixa Figura 63 – Malha da matriz sextavada furada

Figura 65 – Malha da matriz de inversão

Figura 66 – Malha da pré-forma do parafuso

Figura 67 - Malha da pré-forma do porca

59

Para a geração de malha no caso das pré-formas iniciais utilizaram-se um total de 2800

elementos (Figura 66) para o parafuso e 1400 elementos (Figura 67) para a porca.

6.4. Terceira Etapa: I-FORM

Depois de estarem concebidos todos os ficheiros das matrizes e das pré-formas, parte-se

para o seu pré-processamento no programa I-FORM. Neste pré-processamento ir-se-ão criar os 2

ficheiros base de toda a análise deste software: o «die3.dat» e o «fem3.dat», com informação relativa

às matrizes e à pré-forma, respectivamente.

Neste estágio introduz-se todas as informações necessárias para que a simulação numérica

decorra da maneira correcta. A título de exemplo: o número de steps que se pretende que o

programa execute, o tipo de material que é composto a pré-forma, o tipo de erro que se quer ter na

resolução matemática, entre outros. É neste passo que se irá introduzir a equação da lei do material,

calculada anteriormente no capítulo cinco, assim como a velocidade de 1mm/s em todas as

simulações numéricas.

Embora o atrito não influencie as cargas pontualmente, o mesmo afecta os modos de

deformação do material, podendo assim influenciar as cargas a nível global. No presente caso, o

atrito foi dado como 0,2 nas matrizes que tivessem escorregamento de material nas suas superfícies,

nas restantes matrizes o atrito foi tido como nulo.

6.4.1. Aspectos a ter em atenção nas análises do I-FORM

Durante esta tarefa obtiveram-se alguns problemas que se tornam necessários de referir:

Constatou-se que na etapa de formação do batente do parafuso, esta simulação deveria ter

menos incrementos para o batente fique bem definido, e não haja material a entrar para dentro do

mesmo (Figura 69). Isto ocorre devido ao programa fazer uma camada/zona onde, se começar a

existir contacto de material o mesmo arranja maneira de o contrariar (tornando activa a ferramenta

‘contact’ no I-FORM). No entanto, se o incremento for muito elevado, quando o programa for a fazer

esse varrimento, o material num instante pode não estar em contacto, mas no instante imediatamente

seguinte já ter entrado dentro do material e ter passado essa camada, logo ele não o detecta (não

fazendo o que é suposto). Logo a solução achada, para colmatar estas interferências nas superfícies,

foi reduzir o incremento de tempo, aumentando assim o número de steps e consequentemente o

tempo computacional (Figura 68).

Figura 69 – Formação do batente com a ferramenta ‘contac’ desactivada

Figura 68 – Formação do batente com a ferramenta ‘contac’ activada

60

Ao longo de inúmeras análises efectuadas, houve alturas em que o programa não chegava a

realizar a análise completa devido à presença de jacobianos negativos (Figura 70). Este problema

deve-se ao facto dos hexaedros da malha inicial se transformarem em triângulos. O jacobiano é uma

medida da área do elemento. Um jacobiano negativo deve-se a erros em coordenadas nodais ou

conectividade inadequada do elemento. O jacobiano está presente na matriz de rigidez para

resolução dos problemas de elementos finitos e se o mesmo for negativo existirão entradas da matriz

de rigidez que assim o serão, quando tal não pode acontecer. Deste modo, o programa deixa de

correr e alerta o utilizador para este problema. A resolução desta situação é dada por um refinamento

da área próxima do elemento em questão ou, na maioria das vezes, a constatação de que o número

de steps é elevado e a deformação já não está a existir no local requerido.

Na análise numérica do fabrico da porca oca constatou-se que embora o tempo

computacional fosse relativamente elevado, não era nada comparado com a elevadíssima quantidade

de tempo que o programa demorava a correr a várias etapas do parafuso, mais concretamente, a

redução/formação do batente e a calibração. Para solucionar este problema decidiu-se efectuar estas

etapas iniciais em 2D, de seguida proceder à transformação para 3D e por fim efectuar a última fase

(enformação da cabeça) em 3D.

6.5. Quarta e Última Etapa: GiD

Posteriormente à resolução e cálculo do processo imposto ao I-FORM, basta, exportar os

steps (ficheiros ‘.neu’), que se querem analisar pormenorizadamente, para um formato acessível no

GiD, utilizando o pós-processador do I-FORM.

No GiD pode visualizar-se todo o tipo de dados: tensões, extensões, cargas, entre outras, no

material deformado, através de um código de cores.

Figura 70 – Apresentação do problema de jacobiano negativo

61

6.6. Cronograma das simulações numéricas

6.7. Abordagem 2D/3D para o fabrico do parafuso

Como referido atrás, existiu a necessidade de se proceder a uma poupança de tempo

computacional. Para tal decidiu-se realizar as 2 primeiras fases do fabrico do parafuso a 2

dimensões. Para este tipo de análise utilizou-se o I-FORM2, relativamente semelhante ao I-FORM3,

mas para 2D.

As tarefas realizadas foram as seguintes:

1) Converter os desenhos técnicos das matrizes e da pré-forma para formato ‘.DXF’ (pontos

e linhas a 2 dimensões);

2) Proceder à geração de malha no GiD;

3) Pré-processamento no «pre» do I-FORM2 e criação dos ficheiros ‘die.dat’, ‘fem.dat’ e

‘mesh.ini’;

4) Simulação no I-FORM2;

5) Transformação da peça em 3D;

6) Alteração do ‘die3.dat’ e com as matrizes correctas da etapa final;

7) Pré-processamento no «prepost3» do I-FORM3 e correcção dos ficheiros ‘die3.dat’ e

‘fem3.dat’;

8) Simulação no I-FORM3;

GiD

Entrada Saída

Fem*.post.msh Observações

Fem*.post.res

POST3

Entrada Saída

Fem*.neu Fem*.post.msh

Fem*.post.res

SOLIDWORKS

Entrada Saída

Dimensões CAD.iges

GiD

Entrada Saída

CAD.iges Die3*.tri.msh

Die*.lin.msh

Fem3.hex.msh

Fem.qua.msh

PRE3

Entrada Saída

Die3*.tri.msh Die3.dat

Fem3.hex.msh Fem3.dat

Material.dat

Simulation.dat

Fem0.post.msh

I-FORM3

Entrada Saída

Die3.dat Fem*.neu

Fem3.dat Fem*.gph

Material.dat Die3_*.rst

Simulation.dat Fem3_*.rst

Fem.asc

Quadro 1 – Cronograma das fases da análise numérica

62

9) Tratamento de resultados.

Como previsto o tempo computacional foi reduzido. No entanto, existiu uma tarefa que

demorou algum tempo a ser finalizada, a conversão de 2D para 3D.

Ao se proceder a esta conversão constatou-se que não existia uma numeração optimizada

dos nós dos elementos, assim como a malha utilizada estava muito discretizada em secções que não

era necessário. Estes dois problemas levavam a que a simulação da cabeça em 3D demorasse

imenso tempo.

Para solucionar, propôs-se exportar o tubo deformado, após a etapa de calibração, para o

formato ‘.DFX’ e refazer a malha no GiD. Depois de se refazer a malha tem de se associar essa

malha a toda a informação que existe no ficheiro ‘fem.dat’. Este trabalho é realizado pela ferramenta

‘remesh’ do I-FORM2. Na figura seguinte é possível visualizar a malha antes de se efectuar o

‘remesh’, com 841 elementos (Figura 72) e a mesma depois desta elaboração, com apenas 100

elementos (Figura 71).

Por último, ocorreu um erro bastante mais complicado que se deveu à inexistência de

informação relativa às condições de fronteira e ausência de força ao longo da análise. Essa

informação não estava a ser escrita no ficheiro ‘fem.dat’,o que também faria com que as matrizes não

tocassem no material e assim não existissem forças. Logo procedeu-se a essa introdução das

condições de fronteira no ficheiro.

Introduzindo estas alterações, a análise decorreu com muito mais facilidade e existiu uma

redução de tempo computacional significativa. Esta melhoria deve-se ao facto de os elementos 2D

serem menos rígidos que os elementos 3D, isto é, a deformação é mais facilitada no caso 2D.

Em suma, toda a parte de simulação numérica foi implementada correctamente e foram

exportados os ficheiros para se proceder ao tratamento de dados e posterior análise comparativa com

a experimentação destes processos.

Figura 72 – Geometria do parafuso antes da fase de ‘remesh’

Figura 71 – Geometria do parafuso depois da fase de ‘remesh’

63

7. Discussão de resultados

Neste capítulo apresentar-se-á a análise dos resultados obtidos nas simulações numéricas e

de toda a parte experimental deste trabalho.

Poder-se-á observar os gráficos das operações de fabrico, assim como uma análise de

comparação entre as partes numérica e experimental, após o seu tratamento de resultados.

Torna-se útil referir que foram efectuados inúmeros testes experimentais e os resultados de

seguida retratados são considerados credíveis.

7.1. Análise gráfica das etapas de fabrico

Dado que os gráficos deverão possuir um andamento idêntico, efectuar-se-á a explicação dos

mesmos de acordo com a simulação numérica, devido a ser mais facilitada a demonstração dos

passos detalhadamente ao longo de cada etapa.

7.1.1. Etapas de fabrico do parafuso

Iniciando a análise pelo componente parafuso, pode-se constatar, tal como referido

anteriormente, que possui 3 fases para a sua produção: Redução e Formação do batente, Calibração

e Formação da cabeça. Refere-se que nas imagens presentes nos gráficos não está incluído o

mandril interno, de modo a permitir uma melhor interpretação das mesmas.

7.1.1.1. Redução e Formação do batente

Na figura seguinte (Figura 73) visualiza-se o primeiro estágio, Redução e Formação do

batente.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 5 10 15 20 25 30 35

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Redução e Formação dobatente_Numérica

Redução e Formação dobatente_Experimental

Figura 73 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de redução e formação do batente do parafuso

64

Aquando do início do deslocamento da pré-forma tubular ao encontro da matriz de redução

existe um aumento da carga instantâneo embora para um valor muito reduzido (cerca de 2,5kN),

dado que a deformação começa a ocorrer.

Após este primeiro aumento de carga existe uma estabilização da mesma de acordo com a

entrada suave dada pelo chanfro realizado na matriz. O novo pico de carga deverá de acontecer

quando a quantidade de material que se agrega no referido chanfro originar uma deformação mais

pronunciada da pré-forma e dando início, propriamente dito, à redução do tubo para o diâmetro de

12mm.

Depois de se efectuar a passagem da parte inicial do tubo pelo chanfro, toda a restante

redução sucede de modo relativamente constante, dado visualizado pela estabilização da carga entre

os deslocamentos de 3 e 21mm, com uma carga aproximadamente de 8kN.

Quando o tubo toca na mesa da prensa – fim da matriz de redução – devido à presença do

mandril interno o material não consegue se deslocar interiormente. Uma vez que o fluxo de material

plástico realiza-se no sentido de menor resistência, o material irá instabilizar no local previamente

estipulado (Lgap) e começar a criação do batente. Esta ocorrência é notória devido a um aumento

bastante acentuado após o deslocamento de 20mm.

Embora a carga continue a aumentar ao longo do deslocamento da pré-forma, destaca-se

que a mesma deixa de ser tão clara a partir do valor de carga de aproximadamente 30 kN - valor

crítico de instabilidade deste tipo de material. A carga não aumenta tanto a partir deste ponto, uma

vez que o valor da carga crítica já foi alcançado e assim a deformação ocorre de modo mais suave. A

partir deste ponto efectua-se a criação do batente, dado pelo fluxo de material exteriormente.

Quando se chega ao deslocamento de aproximadamente 29,5mm, a etapa de redução e

formação do batente está concluída. Constata-se, no entanto, um crescimento da carga que poderá

estar relacionada com um ligeiro esmagamento do batente.

7.1.1.2. Calibração

O gráfico presente na figura seguinte (Figura 74) permite a visualização do crescimento da

carga ao longo desta etapa de fabrico.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Calibração_Experimental

Calibração_Numérica

Figura 74 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de calibração do parafuso

65

Como se pode constatar a carga aumenta a partir do momento inicial, devido ao facto de se

proceder à remoção do chanfro ao longo do comprimento do corpo do parafuso.

A explicação para que a carga se eleve pode estar relacionada com a permanência residual -

mas cada vez maior - de material na extremidade da matriz. Neste local, onde sucede a remoção do

chanfro, o material em vez de fluir para o interior da matriz, permanece “agarrado” à mesma, devido

ao atrito entre a matriz/material. No caso da quantidade de material fosse elevada, poderia chegar ao

ponto de originar uma instabilidade local nessa zona e assim se desenvolver uma nova gelha, a qual

seria um incidente nesta fase. No entanto é importante explicitar que ao longo do corpo do parafuso

(região que sofreu a redução tubular) existe um ligeiro aumento do diâmetro, logo será expectável

que ocorra um aumento da carga ao longo do deslocamento.

A partir do deslocamento de 2.1mm, surge um aumento muito pronunciável na carga, este

facto pode significar que existiu o contacto entre a matriz de redução invertida e o batente criado no

período anterior. Este facto leva a que a carga aumente desta maneira devido à área de contacto ser

maior e assim a deformação ser muito mais difícil, necessitando de uma força maior para continuar a

deformar o tubo (esmagamento).

7.1.1.3. Formação da cabeça

A imagem seguinte permite a observação do comportamento da carga ao longo do

deslocamento, no caso da etapa final do fabrico do parafuso oco, a formação da sua cabeça

sextavada.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 2 4 6 8 10

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Formação da cabeça_Numérico

Formação dacabeça_Experimental

Figura 75 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação da cabeça do parafuso

66

Como se pode observar no gráfico anterior, o processo de formação da cabeça sextavada do

parafuso inicia-se com um aumento da força dado pela entrada suave do punção sextavado na região

do tubo onde se irá formar a cabeça. A força aumenta após este passo de modo mais controlado uma

vez que a deformação se torna mais facilitada após a entrada do punção no tubo.

Chegando ao deslocamento de cerca de 7mm surge um aumento mais marcado da carga em

prol da aproximação da região de formação do batente. Esta zona aquando da deformação para

criação do batente encrua, ficando o material nas vizinhanças mais rígido e mais difícil de deformar.

7.1.2. Etapas de fabrico da porca

A porca oca produzida possui os seguintes estágios de fabrico: Formação da cabeça, seguido

da Formação do batente. É importante mencionar que, tal como para o caso do parafuso, as imagens

presentes nos gráficos não incluem o mandril interno, de modo a permitir uma melhor interpretação

das mesmas.

7.1.2.1. Formação da cabeça

Na imagem anterior está explicita a primeira fase de concepção da porca oca, a formação da

cabeça sextavada.

Tal como se pode comprovar pela explicação dada no capítulo 5, a primeira ocorrência desta

etapa é a instabilização local numa das extremidades do tubo. Esta está constatada no aumento da

carga a partir do instante inicial, seguida de uma ligeira diminuição da mesma.

Após a gelha ser criada, começa a aumentar de diâmetro até encontrar as paredes da matriz

sextavada. Este aumento de tamanho da gelha sucede enquanto a carga se eleva gradualmente, ao

longo do deslocamento.

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Formação dacabeça_Experimental

Formação dacabeça_Numérico

Figura 76 – Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação da cabeça da porca

67

O último pico de carga, dá-se quando surge o contacto com as paredes da matriz, conforme

se cria a secção sextavada na cabeça da porca.

7.1.2.2. Formação do batente

O gráfico presente na imagem anterior representa o estágio final da produção da porca oca,

a formação do batente.

Como se pode constatar o tubo entrou na matriz de redução com folga o que significa que

existem 2 mm, inexistentes no gráfico, nos quais a carga é nula. A partir do momento em que existe o

toque entre o tubo e o boleado da matriz de redução a carga começa a aumentar, este ponto está

explicito como o início do gráfico da imagem anterior.

Este aumento de carga ocorre enquanto o material percorre o referido boleado, ou seja, até

ao deslocamento de relativamente 3mm.

Depois desta posição existe uma diminuição da carga devida ao encontro com a parte da

matriz que está horizontal e assim durante aproximadamente 1mm, o material flui mais facilmente

pois as restrições de deformação são menores.

O novo e último pico de carga está relacionado com o aumento da área de material na qual a

matriz desloca, uma vez que nesta altura o objectivo passa por fazer com que o material fique o mais

horizontal possível, de modo a criar o batente da forma requerida.

0

5

10

15

20

25

30

0 1 2 3 4 5 6

Deslo

cam

en

to (

mm

)

Deslocamento (mm)

Formação dobatente_Experimental

Formação dobatente_Numérico

Figura 77 - Representação gráfica da evolução da carga com o deslocamento na etapa de formação do batente da porca

68

7.2. Comparação entre 2 e 3 dimensões

No decorrer deste trabalho foi necessário proceder a uma abordagem um pouco diferente,

uma passagem de 3D para 2D, de modo a realizar uma poupança de tempo computacional nas

análises numéricas do fabrico do parafuso oco.

De seguida são mostrados os gráficos das etapas de produção desse componente, por

ordem: Formação do batente e Redução, Calibração e Formação da cabeça sextavada.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 5 10 15 20 25 30 35

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Redução eFormação dobatente_2D

Redução eFormação dobatente_3D

Figura 78 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na primeira fase de fabrico do parafuso

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Calibração_2D

Calibração_3D

Figura 79 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na segunda fase de fabrico do parafuso

69

A partir dos gráficos anteriores podemos concluir que existe uma analogia muito semelhante

entre os gráficos 2D e 3D das fases de Redução e Formação do batente e da Formação da cabeça.

Consistindo em resultados fidedignos.

A fase intermédia de calibração (Figura 79) não possui as semelhanças encontradas nas

duas outras fases. Esta discrepância é dada pela diferença entre o comprimento do chanfro e o

ângulo do mesmo. Durante inúmeras tentativas para analogia entre ambas, chegou-se á conclusão

que tal não era possível. Para um dado comprimento e ângulo era possível executar a etapa em 2D,

mas tal tarefa era impossível em 3D e vice-versa.

Uma conclusão que se retira também é o facto de possuindo mais elementos o gráfico torna-

-se mais suave, logo possui menos “degraus”, fazendo com que o gráfico seja mais contínuo. É por

este motivo que os gráficos 2D são menos contínuos que os 3D.

Embora uma melhoria na simulação do fabrico do parafuso nas duas etapas iniciais em 2D,

deve-se ter muito cuidado em termos da passagem para o 3D. Esta passagem não é uma tarefa fácil

e tornou-se difícil conseguir chegar ao resultado pretendido para a última etapa, tal como foi referido

no capítulo da simulação numérica. No entanto, o estudo comparativo de tempos entre análises

numéricas 2D e 3D para o parafuso foi:

Análise 2D – 1h:37min e Análise 3D – 14h:00min. Não obstante do tempo requerido ao

utilizador na fase de passagem de 2D para 3D.

No entanto, no geral, as fases de fabrico podem ser executadas tanto em 2D como em 3D,

sucedendo uma melhoria na quantidade de tempo computacional despendido no caso 2D.

7.3. Analogia entre a simulação numérica e experimentação

Prosseguindo a análise de resultados, a discussão entre as análises experimental e numérica

torna-se evidente. Para melhor comparação, os gráficos foram colocados junto dos gráficos das

etapas de fabrico numéricas, como pode ser verificado nas Figuras 73 a 77.

0

5

10

15

20

25

30

0 2 4 6 8 10 12

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

Formação dacabeça_2D

Formação dacabeça_3D

Figura 80 – Representação gráfica da comparação das abordagens 2D/3D na última fase de fabrico do parafuso

70

Através dos gráficos anteriores, pode-se verificar que existe uma coerência muito elevada

entre as duas análises, dado que os resultados numéricos são muito próximos da realidade.

Deste modo conclui-se que os resultados obtidos são muito satisfatórios.

A comparação entre as análises para o caso do parafuso é bastante idêntica. Confirma-se

que o andamento é igual e os valores de carga muito semelhantes.

No caso da porca, averigua-se que no primeiro estágio, a analogia é elevada, no entanto no

segundo e último estágio apenas o andamento do gráfico é semelhante. Notam-se pequenas

diferenças nos valores da carga, cerca de 10%, que poderão estar relacionadas com o factor de atrito

utilizado na análise numérica. Este teve como base inúmeras repetições do mesmo caso com

diferentes coeficientes de atrito. Esta fase foi efectuada devido a ser relativamente difícil realizar o

ensaio em anel neste material – o ensaio na massa é mais fácil que o na chapa – de modo a

determinar o coeficiente de atrito. Tal como na suposição de que o material das matrizes é rígido

(afirmação tida em causa na análise numérica), a qual se sabe ser falsa, mas que facilita a análise e

a sua relevância nos resultados finais é remota.

No seguinte conjunto de imagens (Figura 81) estão explícitos os componentes finais

fabricados, pelas vias numérica e experimental.

7.4. Distribuição de espessura nos componentes

Neste capítulo abordasse um aspecto muito importante em termos estéticos e de resistência,

a variação da espessura ao longo dos componentes. Para tal efectuar-se-á uma medição da mesma

no fim de cada etapa dos dois componentes produzidos.

Uma vez que não se queria efectuar cortes nos elementos produzidos experimentalmente,

decidiu-se realizar as medições nos componentes concebidos nas análises numéricas.

Figura 81 – Comparação dos componentes finais segundo as abordagens experimental (à esquerda) e numérica (à direita)

71

7.4.1. Parafuso

No gráfico seguinte (Figura 82) está expressa a variação da espessura no final das três

etapas de fabrico do parafuso oco.

Como se pode constatar não se consegue proceder á visualização do primeiro estágio (a

azul), devido ao facto de a variação de espessura ser exactamente igual á etapa número 2 (a

vermelho).

A distância expressa no eixo horizontal foi medida desde a base do tubo (extremidade oposta

à cabeça) até ao topo do tubo (extremidade da cabeça sextavada do parafuso).

No caso das duas primeiras fases de produção, até uma distância de 24mm, a variação da

espessura em relação á inicial – com o valor de 1,2mm – é aproximadamente 10%. Este aumento é

devido á realização da redução que impõe um aumento da espessura no volume reduzido. Uma vez

que existe conservação de volume na pré-forma, sabe-se que se reduzirmos o diâmetro, o material

deverá aumentar o seu comprimento (altura) ou aumentar a espessura. Através de inúmeros

experimentos (Alves & Martins, 2008), concluiu-se que o aumento da espessura é maior, sendo este

o fenómeno que ocorre neste caso.

Entre os valores de 24 e 28mm está presente a dobra (batente), que induz um aumento ainda

maior da espessura neste local.

Na distância restante até á outra extremidade, é visível que a variação da espessura é muito

reduzida, sendo que apenas na ponta final da cabeça existe um aumento mais considerável, porque é

uma zona que entra primeiro em deformação e que está em contacto com o prato da prensa, na

compressão.

Na formação da cabeça, observa-se que a variação da espessura apenas difere das etapas

anteriores a partir da distância de cerca de 28mm. Desde esse ponto, a espessura diminui para

valores próximos de 17%. Esta diminuição é imposta pela transformação da secção do tubo de

circular para hexagonal. Esta ocorrência aumenta a secção interior do tubo e consequentemente a

exterior, existindo a compensação desse aumento por uma diminuição da espessura (um pouco em

oposição à redução).

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Vari

ação

da E

sp

essu

ra (

%)

Distância (mm)

Redução e Formação do batenteCalibraçãoFormação da cabeça

Figura 82 - Representação gráfica da variação da espessura com a distância, no parafuso

72

7.4.2. Porca

No gráfico seguinte (Figura 83) está exposta a distribuição da espessura no final dos estágios

de produção da porca oca.

Do modo idêntico ao parafuso, a distância expressa no eixo horizontal foi medida desde a

base do tubo (extremidade da cabeça sextavada da porca) até ao topo do tubo (extremidade oposta á

cabeça).

Relativamente á etapa de formação da cabeça da porca, visualiza-se um aumento da

espessura na zona de formação da cabeça, ou seja, nos primeiros 3mm, para valores de

aproximadamente 30% e diminuição do raio interior (para ser possível roscagem interior M12). Este

valor é semelhante ao encontrado na zona do batente do parafuso, o que leva a concluir que a

formação da gelha decreta um aumento da espessura do tubo nesse local. Desde a distância de 3mm

até à extremidade oposta à cabeça, a espessura não varia muito pois nesta zona não ocorre uma

deformação suficiente para tal.

Abordando a última fase de criação da porca oca, constata-se que a variação da espessura já

apresentada na fase anterior é aumentada devido a uma compressão inicial na zona da cabeça. Na

distância restante constata-se que a variação da espessura atinge valores de aproximadamente 10%,

dado pela formação do batente. Esta variação positiva está relacionada com a deformação que

acontece em contacto com a matriz de inversão, como a altura do tubo se reduz, o material tende a

fluir para o local que ofereça menor resistência, ou seja, de modo a aumentar a espessura, porque as

outras dimensões estão restringidas pela matriz.

Em suma, os produtos finais não usufruem de espessura constante ao longo do seu

comprimento, no entanto, esta variação não é muito acentuada, fazendo com que estes possuam um

bom nível estético e uma boa resistência.

7.5. Comparação de pesos

Depois de produzidos os componentes finais, isto é, a porca oca e o parafuso oco, decidiu-se

proceder à sua medição de peso e constatar as diferenças em relação aos componentes maciços.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Vari

ação

da E

sp

essu

ra (

%)

Distância (mm)

Formação da cabeçaFormação do batente

Figura 83 - Representação gráfica da variação da espessura com a distância, na porca

73

Precedentemente procurou-se um parafuso, uma porca e uma anilha que possuíssem

dimensões que se assemelhassem aos componentes fabricados. Após uma breve procura foi

possível encontrar uma porca maciça de dimensões muito semelhantes (altura e diâmetros exterior e

interior) e uma anilha de mola análoga ao batente criado no parafuso (com um diâmetro aproximado

do diâmetro do batente do parafuso). Quanto ao parafuso, encontrou-se um M12, o qual teve de ser

cortado no torno porque a sua altura era maior que a altura do parafuso oco fabricado, 34,80mm.

Procedeu-se a este corte para se obter uma comparação mais rigorosa entre os componentes

anteriormente explicitados.

De seguida, no laboratório de Metrologia e Qualidade, procedeu-se à medição dos

respectivos componentes ocos e maciços numa balança analítica de precisão, presente no referido

laboratório da STMGI.

Nas tabelas seguintes estão explicitados os dados recolhidos desta tarefa.

Como se pode deduzir das tabelas anteriores, o peso do parafuso oco é cerca de 40,85% do

peso do parafuso maciço; o peso da porca oca é 44,55% do peso da porca maciça e o peso do

conjunto parafuso-porca é aproximadamente 41,93% do peso do conjunto maciço. Em suma, no

parafuso oco constata-se uma redução de peso de 59%, na porca uma redução na ordem de 56% e

no conjunto total cerca de 58% de redução no seu peso.

Tal como era espectável, foi possível fazer uma diminuição de peso relativamente

pronunciada e a um custo e espaço temporal muito mais reduzidos, indo ao encontro do objectivo

deste processo.

Componentes Ocos (g)

Porca 7,046

Parafuso+Anilha 15,544

Total 22,590

Conjunto Oco 22,588

Componentes Maciços (g)

Porca 15,815

Anilha 3,512

Parafuso 34,542

Total 53,869

Conjunto Maciço 53,870

Redução de Pesos

Relação de pesos Redução Percentagem de redução

Parafuso 0.4085 0.5915 59.15%

Porca 0.4455 0.5545 55.45%

Conjunto 0.4193 0.5807 58.07%

Figura 84 – Representação dos conjuntos de componentes maciços e ocos

74

77

8. Conclusões e Trabalhos Futuros

No último capítulo efectuar-se-á a conclusão da respectiva dissertação e uma explanação de

perspectivas de trabalhos futuro.

8.1. Conclusões

Ao longo desta dissertação a vertente teórica tornou-se bastante prática, tal como foi

prontamente explicado, aquando da escolha do tema pelo orientador. Esta vertente tornou a

dissertação muito mais interessante e desencadeou inúmeras aprendizagens ao aluno.

Estudou-se um dos meios de proceder à caracterização do material, o ensaio de discos

empilhados, para se poder atribuir uma curva de comportamento mecânico ao material em estudo.

Executou-se uma panóplia de testes de modo a determinar se o material poderia ser solicitado às

deformações que a concepção inicial dos componentes impunha, tais como ensaio de carga crítica,

ensaio de deliberação da janela de execução de instabilidade plástica local e teste de inversão do

tubo em questão.

Após esta etapa, partiu-se para a concepção propriamente dita, onde se pôde observar a

produção da porca e do parafuso, numa envolvente industrial e relativamente próxima da realidade.

Primeiro existiu uma fase de projecto e idealização da forma dos produtos e segundo uma fase de

fabrico das pré-formas e ferramentas necessárias a todos os estágios de fabrico.

Por fim procedeu-se à medição e peso dos componentes onde se constatou que o principal

objectivo deste trabalho tinha sido conseguido. Obteve-se uma redução de peso na ordem de 59% no

parafuso oco e 56% na porca oca, em relação aos mesmos componentes maciços. Esta redução

pode ser tida em conta em termos de custos, uma vez que um metro de tubo de aço carbono custa

cerca de 43% do preço do varão deste material, ou seja, obter-se-á uma redução de 57% no preço

final (dados obtidos com a ajuda da empresa Aços Boixareu - IRESTAL).

Por último, procedeu-se a uma análise numérica dos referidos processos de fabrico, na qual

se desenvolveu conhecimentos em termos computacionais e estudo do método dos elementos finitos,

contando com a ajuda do programa computacional I-FORM desenvolvido no IST. Pode-se conferir

que existe uma grande coerência entre os resultados obtidos em termos experimentais e numéricos,

o que confere uma prova de confirmação dos resultados obtidos como muito satisfatórios. Analisou-

-se também a variação da espessura no comprimento dos componentes, concluindo-se que a

espessura da pré-forma tubular aumenta na etapa de redução e diminui na fase de criação da cabeça

sextavada do parafuso. Tal como nas etapas de criação do batente do parafuso e da cabeça da porca

existe um aumento da espessura dada pela instabilidade local que ocorre nessas fases.

Tal como descrito no capítulo da Introdução, os principais factores que determinam a

viabilidade de um processo tecnológico são as propriedades mecânicas do material usado

copulativamente aos custos associados à sua implementação. E constatou-se ao longo deste

trabalho que é possível, através de conhecimentos adquiridos, colmatar problemas como: poluição,

desperdícios energéticos e poupança de recursos naturais. Conseguiu-se comprovar a aplicabilidade

dos métodos de fabricos inovadores utilizados para o fabrico de uma porca oca e um parafuso oco

por enformação de tubos de parede fina.

78

Em suma, a inovação não tem de ser guiada por ideias complicadas e investimentos elevados

em novas tecnologias. O processo elaborado requer uma prensa básica, pré-formas e matrizes com

geometrias relativamente simples. Deste modo, fica demonstrado um bom exemplo de reinvenção de

processos de fabrico e um incentivo na procura de tecnologias mais limpas.

8.2. Trabalhos Futuros

No decorrer desta dissertação, a informação e análise do referido problema induziram um

desenvolvimento de novas ideias e temas que podem ser abordados no futuro.

Com base no referido anteriormente surgiram os seguintes planos:

Elaborar ensaios de fabrico de parafusos ocos para materiais não metálicos, como por

exemplo, materiais poliméricos ou materiais compósitos e também em outros materiais metálicos

como ligas leves, magnésio ou titânio.

Fazer a porca e o parafuso ao mesmo tempo na prensa, estudo de tempos, distâncias e

forças, em suma, proceder a um estudo para implementação industrial.

Investigar a execução de parafusos com dimensões na escala dos micrómetros (relojoaria)

segundo este método de fabrico alternativo.

Testar a inversão completa de uma pré-forma tubular para fabrico de porcas ocas, mas desta

vez com um tubo diferente, uma vez que este tubo não inverte.

Realizar experimentos para a produção de diferentes geometrias de parafusos e porcas e

executar a roscagem por deformação plástica.

Executar um estudo de aplicabilidade económica destes novos conceitos de fabrico de

parafusos e porcas.

Avaliar a enformação de diferentes tipos de cabeça, tais como fenda ou estrela.

Analisar o parafuso e a porca mecanicamente em: tracção, torção e flexão e proceder à

comparação das propriedades dos mesmos componentes maciços.

79

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Anexo

Exame de Espectroscopia do material usado no decorrer da presente dissertação.

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