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INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃO FABÍOLA ARAUJO DE OLIVEIRA SOUZA DEPOIS DO CARNAVAL: BARÃO DO RIO BRANCO NO IMAGINÁRIO POPULAR BRASILEIRO. RIO DE JANEIRO 2015

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INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃO

FABÍOLA ARAUJO DE OLIVEIRA SOUZA

DEPOIS DO CARNAVAL: BARÃO DO RIO BRANCO NO IMAGINÁRIO POPULAR

BRASILEIRO.

RIO DE JANEIRO

2015

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FABÍOLA ARAUJO DE OLIVEIRA SOUZA

DEPOIS DO CARNAVAL: BARÃO DO RIO BRANCO NO IMAGINÁRIO POPULAR

BRASILEIRO.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Instituto Brasileiro de Medicina de

Reabilitação, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Relações

Internacionais.

ORIENTADOR: Ms. Elizeu Santiago Tavares de Sousa

RIO DE JANEIRO

2015

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FABÍOLA ARAUJO DE OLIVEIRA SOUZA

Depois do Carnaval: Barão do Rio Branco no Imaginário Popular Brasileiro.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Instituto Brasileiro de Medicina de

Reabilitação, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Relações

Internacionais.

Data de aprovação: 04/12/2015

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________

Ms. Elizeu Santiago Tavares de Souza

Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR

________________________________________________

Dr. André Luis Prudêncio Sena

Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR

________________________________________________

Ms. Jorge Egardo Sapia

Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer imensamente a ajuda e apoio de algumas pessoas para a confecção

deste artigo durante os meses de elaboração e também às pessoas que estiveram desde o

primeiro semestre da faculdade me apoiando.

Agradeço primeiramente a Deus, por todas as oportunidades e principalmente por estar

concluindo mais uma etapa importante da minha vida.

Ao meu orientador, Ms. Elizeu Santiago, pela orientação, disponibilidade, atenção e

preocupação durante este percurso. Todas as explicações, sugestões, ensinamentos e

incentivos foram essenciais para o resultado alcançado. Muito obrigada!

Aos professores do curso de Relações Internacionais da IBMR, que contribuíram

imensamente para o meu crescimento intelectual, e sempre se dispuseram a ajudar no que

fosse preciso. Um obrigada especial ao professor André Sena, que nesse último período,

através da disciplina Seminário de Pesquisa II, mostrou a sua preocupação com o meu artigo e

acreditou que eu conseguiria.

Aos meus pais, Keila e Williams, que acompanharam cada etapa dessa jornada e me apoiaram

sempre que necessário.

Ao Vinícius, meu noivo, por compreender os momentos em que eu precisava me dedicar ao

estudo, por acreditar que tudo daria certo, e não me deixar desistir jamais. Obrigada por todo

apoio e por estar ao meu lado sempre.

Aos amigos da universidade e do trabalho que também acreditaram no meu potencial, me

colocaram para cima em momentos de desânimo, me acompanharam nessa jornada durante

alguns anos e principalmente nessa fase final de elaboração de TCC, com dicas, sugestões e

até mesmo com simples incentivos como “você vai conseguir”. Obrigada Alexia Martins,

Aline Araujo, Angelina Froes, Clara Duarte, Felipe Albuquerque, Felipe Ferreira, Fernanda

Heredia, Juliana Lucchini, Karla Martins, Lucas Padilha, Lucas Ramos, Maria Thereza,

Mayara Dibo, Millena Xavier, Naor Marinho, Nathalia Kersher, Nathalia Kruschewsky,

Valber Labre e Yris Vianna.

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RESUMO

O presente artigo pretende analisar o personagem histórico Barão do Rio Branco na cultura

popular brasileira. Pretende-se compreender como ele surge e é retratado nas mais variadas

esferas da produção popular nacional: na música, no cinema, na produção monetária, na

gastronomia e no espaço urbano, este último personificado no grande número de logradouros

erigidos em sua homenagem. Para tanto, serão utilizados não somente as principais produções

bibliográficas sobre o tema, mas também periódicos de 1912 para ilustrar sua importância

popular já no ano de sua morte. Será argumentado, ao longo deste trabalho, que a principal

identificação com as relações internacionais presente no panteão de heróis nacionais está

diretamente associada à construção mitológica da figura de Rio Branco enquanto diplomata

tipo-ideal a ser seguida pelas gerações futuras ou enquanto o último bandeirante da história

pátria, o qual, mediante utilização exclusiva da diplomacia, teria logrado construir os

contornos lindeiros do país.

Palavras-chave: Barão do Rio Branco, Imaginário Popular Brasileiro, Política Externa

Brasileira.

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ABSTRACT

This article analyses the historical figure of Baron of Rio Branco in the Brazilian popular

culture. The aim is to understand how he comes up and is portrayed in various spheres of

national popular production: in music, cinema, monetary production, gastronomy and urban

space, this last topic personified in many public streets named in his honor. For this purpose,

it will be used not only the main bibliographic productions on the subject, but also 1912

journals to illustrate his popular importance already in the year of his death. It will be argued

throughout this work, that the primary identification with the international relations present in

the pantheon of national heroes is directly associated with the mythological construction of

Rio Branco figure as a diplomat ideal type to be followed by future generations or as the latter

pioneer of national history, who, through exclusive use of diplomacy, have succeeded in

building the contours of our country.

Keywords: Baron of Rio Branco, Brazilian Popular Imaginary, Brasilian External Politics.

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7

2- CONHECENDO UM POUCO MAIS SUA HISTÓRIA ..................................................... 11

3- FIXANDO-SE NO IMAGINÁRIO POPULAR BRASILEIRO .......................................... 17

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 26

REFERÊNCIAS ESTRITAMENTE DIGITAIS ...................................................................... 27

ANEXOS .................................................................................................................................. 28

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1- INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende analisar o personagem histórico Barão do Rio Branco na

cultura popular brasileira. Pretende-se compreender como ele surge e é retratado nas mais

variadas esferas da produção popular nacional: na música, no cinema, na produção monetária,

na gastronomia e no espaço urbano, este último personificado no grande número de

logradouros erigidos em sua homenagem.

Ao longo deste trabalho será argumentado que a principal identificação com as

relações internacionais presente no panteão de heróis nacionais está diretamente associada à

construção mitológica da figura de Rio Branco enquanto diplomata tipo-ideal a ser seguida

pelas gerações futuras ou enquanto o último bandeirante da história pátria, o qual, mediante

utilização exclusiva da diplomacia, teria logrado construir os contornos lindeiros do país.1

O tema em questão é relevante para o campo de estudo das Relações Internacionais

devido à importância histórica de José Maria da Silva Paranhos Júnior para a política exterior

brasileira, assim como pelo seu papel ubíquo na construção do Estado-nação brasileiro ao

longo de todo o século XX.

Ao falar sobre o Barão do Rio Branco, o nome de seu pai, José Maria da Silva

Paranhos, um dos maiores estadistas do império, vem logo à cabeça. Sua figura é muito

conhecida, principalmente por sua atuação no movimento abolicionista e por seus serviços

diplomáticos.

Falando brevemente sobre seu histórico, ele foi ministro dos Negócios Estrangeiros,

Ministro da Fazenda, Ministro da Marinha, Ministro da Guerra, Ministro das Relações

Exteriores, presidente do Conselho de Ministros, dentre outros cargos e nomenclaturas.

Como Diplomata, sua conquista mais marcante foi o acordo de paz no fim da Guerra

do Paraguai. Paranhos teve um papel decisivo criando um "governo provisório democrático"

diante da fuga de López, garantindo assim que o Paraguai permanecesse um país

independente.

O desfecho dessa conquista foi o reconhecimento do imperador:

1 Argumento similar foi desenvolvido anteriormente pelos professores LYNCH (2015) e SOUSA (2013; 2014).

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Mais feliz, porém, ao saber do ato do imperador, reconhecido pelos serviços

prestados pelo seu ministro. Pedro II acabava de fazê-lo visconde, dando-lhe

o nome do pequeno rio que o Paraguai quisera para fronteira, em 1858, tendo

Paranhos conseguido fixá-la no rio Apa. Chamava-se o Riacho,

pomposamente, rio Branco, visconde do Rio Branco, assim se chamaria, a

partir de agora, o plenipotenciário José Maria da Silva Paranhos. Era uma

grande honra, que o punha repentinamente, entre os grandes do Império.

Visconde do Rio Branco tinha 51 anos.2

O ponto alto de sua carreira política se deu com a aprovação da "Lei do Ventre Livre".

Ele teve que usar suas habilidades para convencer os deputados, visto que a oposição estava

em maioria. Realizou diversos discursos até a aprovação em 1871, tornando-o ainda mais

famoso e popular não só no Brasil como no mundo.

Visconde do Rio Branco morreu em 1880 vítima de câncer na boca, devido aos trinta

charutos (aproximadamente) que fumava por dia. Deixou uma nação inteira em lágrimas.

Suas últimas palavras foram: "Confirmarei diante de Deus tudo quanto houver afirmado aos

homens."3

A admiração de Paranhos Júnior por seu pai, mesmo com a sua morte, estaria intacta,

afirmando diversas vezes em suas futuras ações que estaria tomando determinado rumo, pois

assim igualmente o teria feito seu pai.

Paranhos Júnior, conhecido como Juca Paranhos, era o filho primogênito do Visconde

do Rio Branco. Formado em Direito, tinha fama de boêmio, divertia-se com os amigos na

noite carioca na segunda metade do século XIX. Em 1872 conheceu Marie Philoméne, que

viria a ser a mãe de seus cinco filhos.

Seu interesse pela pesquisa o fazia colecionar mapas, documentos, fatos, datas e

depoimentos. Foi eleito deputado por Mato Grosso, mas não era exatamente esse o seu

objetivo. Quando finalmente pode dirigir o jornal A Nação, teve o entusiasmo de fazer algo

que gostasse.

Porém, no auge desse bom espírito, recebeu de Paris a notícia do nascimento de Raul,

seu primeiro filho. Na época era um escândalo, pois Juca não era casado com Marie e vivia

uma vida considerada boêmia no Brasil. Esse seu estilo de vida foi crucial para o que viria a

seguir.

2 AMARAL, Marcio Tavares. Barão do Rio Branco. São Paulo: Edições Isto É, 2001, p. 61. 3Ibid, p. 82.

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Para esfriar a cabeça de problemas pessoais, Juca quis ser cônsul em Liverpool.

Porém, devido à sua fama de boêmio, o imperador era contra. O Visconde do Rio Branco,

apesar de não querer se meter, criticou o posicionamento do imperador, alegando ter direitos

por ter sido considerado "um de seus homens".

Somente então, na ausência do imperador e vencida pela pressão do Ministério, a

princesa Isabel assinou o decreto em 1876, tornando-o cônsul geral do Brasil em Liverpool.

No ano de 1888, quando foi sancionada a Lei Áurea, abolição que o Cônsul Paranhos

apoiava, a princesa o agraciou "Barão do Rio Branco". Foi uma grande alegria, pois logo

remetia ao trabalho do pai.

Mesmo com a proclamação da República, o Barão manteve seu título, em homenagem

ao seu pai e também por ser um homem do império. De 1902 a 1912 (ano de sua morte), o

Barão do Rio Branco foi Ministro das Relações Exteriores.

Sua fama até os dias atuais reside principalmente na resolução das pendências

fronteiriças do Brasil. Conhecida como estrela de cinco pontas (principais questões

solucionadas pelo Barão), pode-se citar a questão de Palmas e Missões, onde definiu-se a

fronteira com a Argentina; a questão de Lagoa-Mirim, definindo a fronteira com o Uruguai; a

questão do Amapá, que por sua vez definiu a fronteira com a Guiana Francesa; e a mais

importante de suas conquistas, a questão do Acre, que através do Tratado de Petrópolis, o

território passou a pertencer ao Brasil.

Todas essas questões foram consolidadas pacificamente, através da arbitragem ou de

princípios jurídicos, como por exemplo, no caso do Acre, onde foi utilizado o Uti-Possidetis.

Para além do encaminhamento de nossas pendências fronteiriças – feito que,

de tão plenamente integrado à nossa identidade nacional, pode chegar a

passar despercebido pelas gerações mais recentes –, Rio Branco permanece

também como exemplo de formulador de política externa. Frente a um

cenário internacional que experimentava transformações profundas,

notadamente o deslocamento do eixo de poder da Europa para os EUA,

soube não apenas apreender o sentido das mudanças como reagir a elas, sem

automatismos, para assegurar que o Brasil pudesse interagir com a nova

ordem em posição de crescente autonomia. Num momento como o atual, em

que o mundo atravessa, como há um século, redefinições significativas, as

qualidades de Paranhos Júnior como analista da realidade e homem de ação

constituem lembrança que inspira o presente e aponta para o futuro, no que

se refere tanto à integração regional quanto à inserção global do país.4

4 FUNDAÇÃO ALEXANDRE GUSMÃO & MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Rio Branco: 100 anos de

memória. 2012, p. 5.

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Rio Branco, portanto, deixou para a diplomacia brasileira alguns legados importantes,

como o pragmatismo, a defesa da soberania nacional, o respeito ao princípio da não

intervenção e aos direitos humanos, a solução pacífica de controvérsias, a busca de

estabilidade da América do Sul e a aproximação com os Estados Unidos.

Diante dessa apresentação do Barão do Rio Branco, pretende-se entender agora quem

é Rio Branco para o povo? Por que ele foi escolhido como o principal símbolo das Relações

Internacionais? Quem construiu essa memória diretamente ligada ao Barão quando se trata de

Relações Internacionais?

As principais homenagens musicais a Rio Branco, A Morte do Barão do Rio Branco

(1912) e Ode a Rio Branco (1913), têm relação com essa construção do imaginário popular

brasileiro?

A principal hipótese para responder essas perguntas é que ele consegue, em um

momento conturbado para o país, estabilizar a Primeira República. Ele a legitima, consegue

empréstimos, aumenta as exportações, consolida a República, mesmo sendo um monarquista

convicto. Afinal, mesmo servindo à República, ele fez questão em manter seu título de Barão,

dado pela princesa Isabel nos tempos do império.

Porém, isso gera uma questão: Por que colocar um monarquista como Ministro das

Relações Exteriores na República? Os políticos da época percebem que o Barão está acima

dos partidos. Sua maior preocupação é o Estado, e não a política interna. Seu histórico de

consolidação da nossa fronteira com a Argentina e com a Guiana Francesa já o faziam uma

figura admirada, e era exatamente isso que era interessante trazer para o Brasil e mostrar para

o povo: um homem típico do império, trabalhando na República, com os olhos no exterior.

Entende-se então que ele foi construído no imaginário popular. Um símbolo das

Relações Internacionais, um grande líder com atuação externa. Assim seria visto o Barão do

Rio Branco.

Em muitos livros e textos sobre o tema5, pode-se ler Rio Branco como o maior herói

nacional. Por mais que ele tenha realizado um trabalho brilhante e deixado um legado

importantíssimo para a política externa brasileira, a leitura de elogios pode tornar-se

exagerada, devido aos interesses políticos por trás dos mesmos.

5 Entre eles, destacam-se os trabalhos de LYNCH (2014) e SOUSA (2013; 2014).

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Neste trabalho, utilizaremos como fonte de pesquisa tanto fontes primárias quanto

secundárias. Além da leitura de periódicos da época, este artigo se debruçará sobre as

principais publicações sobre o tema, tais como aquelas publicados por Álvaro Lins, Luiz

Felipe de Seixas Corrêa, Celso Lafer, e outros, focando na atualidade e nas memórias sobre o

Barão do Rio Branco

Será utilizada também, a obra publicada na coleção A vida dos grandes brasileiros, de

Marcio Tavares D'Amaral. Sua obra é uma biografia do Barão do Rio Branco, onde é possível

entender a história que antecede e perdura durante sua vida.

Além da biografia6, dados do seminário do centenário do Barão realizado pela

Fundação Alexandre Gusmão e pelo Ministério das Relações Exteriores7 e publicações dos

autores citados, serão analisadas, para a formulação do presente artigo, produções artísticas

como músicas, como a mais relevante literatura de cordel8, as séries históricas de moedas e

notas emitidas pelo Banco Central brasileiro e o catálogo de logradouros do governo

brasileiro, e também a principal produção cinematográfica já produzida sobre o tema.

Comecemos, então, a entender quando e como o Barão do Rio Branco tornou-se um

mito na história do Brasil, sendo conhecido atualmente como o pai da diplomacia brasileira.

2- CONHECENDO UM POUCO MAIS SUA HISTÓRIA.

José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como o Barão do Rio Branco,

tinha um espírito de historiador. Era amante da pesquisa, da história e da geografia, além de

ter conhecimento em direito internacional, por ter cursado universidade de Direito em São

Paulo, concluindo posteriormente a mesma em Recife. Esses conhecimentos, mais algumas de

suas características como paciência e improvisação inteligente, o tornariam forte o suficiente

para o que viria a enfrentar.

Ele tinha uma certa febre de servir o seu país, mas como cidadão, sem exigir

nada em troca do seu trabalho. Somente um cargo Rio Branco solicitou do

governo imperial: o de um modesto consulado na Europa. E este único cargo

que ele pediu foi aquele que obteve com maior dificuldade. Havia sido já

deputado, professor, promotor, jornalista, historiador, mas d. Pedro II

receava colocar em uma representação no estrangeiro aquele boêmio, a cujo

respeito lendas de extravagâncias começavam a circular na cidade. Foi uma

6 AMARAL, Marcio Tavares. Barão do Rio Branco. São Paulo: Edições Isto É, 2001.

7 FUNDAÇÃO ALEXANDRE GUSMÃO & MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Rio Branco: 100 anos de

memória. 2012 8 NETO, Crispiniano. Barão do Rio Branco. Literatura de Cordel. FUNAG.

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ausência do Imperador que tornou possível a sua nomeação para o consulado

de Liverpool. Esse mal-entendido não teve forças, no entanto, para alterar os

sentimentos de Rio Branco por em face ao velho Imperador.9

Tinha gosto por colecionar fatos, comparar datas, estudar mapas e documentos de

velhos arquivos. "O conhecedor mais minucioso e mais documentado da nossa história e da

nossa geografia. Era assim considerado na Europa por todos aqueles que se interessavam por

assuntos da América Latina."10

Passou praticamente um quarto de século como cônsul em

Liverpool, sendo pouquíssimo conhecido no Brasil, exceto pelas classes sociais mais

elevadas, visto que nunca utilizou-se de recursos de exibição.11

Atualmente, há cordéis sobre o Barão. O trecho a seguir nos permite prosseguir para as

questões mais sensíveis ao imaginário popular brasileiro sobre essa figura:

Começou logo a assumir

Delicadíssimos serviços

Diplomáticos da República,

Em casos claros e omissos

Foi mostrando competências

Pra resolver as pendências

Dos conflitos fronteiriços.12

Entremos então na questão de Palmas (inapropriadamente chamada de Missões,

segundo Celso Lafer13

). Ocorre em 1895 e busca resolver o limite fronteiriço com a

Argentina. Para ajudar o Brasil, Rio Branco havia de consolidar elementos e argumentos

verdadeiros, diante de tantos elementos duvidosos, para que assim excluísse o erro. A questão

foi "colocada sob a arbitragem do presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland, após a

rejeição do Congresso Nacional do acordo previamente assinado pelo Governo Provisório

com a Argentina."14

Como principal estratégia, o Barão queria achar o original Mapa das Cortes, feito em

1749 para poder orientar o tratado de 1750, onde se podia então conseguir, pelas posições dos

rios, uma resolução favorável ao Brasil.

9 LINS, Alvaro. Memórias Sobre Rio Branco. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 415.

10 Ibid, p. 417.

11 Loc. cit.

12 NETO, Crispiniano. Barão do Rio Branco. Literatura de Cordel. FUNAG, p. 9.

13 LAFER, Celso. Rio Branco e a memória nacional. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 354.

14 CORRÊA, Luiz. O barão do Rio Branco no centenário de sua morte: memória, inspiração, legado. Cadernos

do CHDD, FUNAG, 2012, p. 272.

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Após muito trabalho, muita pesquisa, estudo e dedicação, o laudo foi a favor do Brasil,

consolidando brasileiro o território que, antes mesmo de aceitar a missão, Rio Branco

considerava incontestavelmente nosso.15

Com essa vitória, Rio Branco começava a se tornar o

nosso herói nacional.

A questão seguinte a ser resolvida, consolidando sua imagem de herói, seria a fronteira

do Amapá com a Guiana Francesa. Também resolvida por arbitramento, mas dessa vez com o

julgamento de Walter Hauser, presidente da Confederação Suíça.16

No trecho a seguir, pode-

se entender o que aconteceu depois do árduo trabalho do Barão para resolução da questão:

Em julho de 1895, deixaria o consulado-geral de Liverpool e passaria a

preparar, em Paris, a defesa da posição brasileira na questão de limites com a

Guiana Francesa, sobre a qual o Brasil e a França viriam a assinar um

compromisso arbitral em abril de 1897. O governo suíço foi indicado como

árbitro. O laudo, dado ao conhecimento das partes em dezembro de 1900,

atendeu plenamente às posições nacionais. Praticamente todo o território em

litígio ficou com o Brasil, a fronteira foi fixada no curso de água que

identificávamos como sendo o Oiapoque e vedou-se à França o acesso à

margem esquerda do rio Amazonas. O Brasil, pela mão de Rio Branco, havia

obtido algo aparentemente impensável para a época: lograra ganhar uma

causa contra uma grande potência. Seu prestígio no Brasil tornou-se

imenso.17

Depois das duas vitórias, não demorou muito a receber um telegrama do presidente

Rodrigues Alves, convidando-o a assumir a pasta do Exterior no Brasil. Era o poder que

estava em jogo. Aceitando o convite, Rio Branco poderia reviver as lembranças dos dias de

glória do pai. Porém, na época, seus amigos acreditavam que não aceitaria, por preferir o

anonimato e a dedicação à pesquisa histórica. Era receoso com a nova posição ofertada. Além

disso, vacilava por estar acostumado com a Europa e temer o clima quente do Brasil e a

contaminação da febre amarela. Mas o presidente não aceitou sua recusa, insistindo

novamente para fazer esse sacrifício em nome da nação. Tornava-se, então, Ministro das

Relações Exteriores do Brasil.

15 AMARAL, Marcio Tavares. Barão do Rio Branco. São Paulo: Edições Isto É, 2001, p. 109. 16

RICUPERO, Rubens. Entrevista do Embaixador Rubens Ricupero para a revista Digesto Econômico. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 286. 17

CORRÊA, Luiz. O barão do Rio Branco no centenário de sua morte: memória, inspiração, legado. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 273.

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Ao assumir a pasta, buscou imediatamente a resolução da questão do Acre, fixando-se

no princípio do Uti Possidetis18

, de Alexandre Gusmão. Diferente de todas as outras questões,

essa se passa em volta de um território rico em borracha, em processo de exploração. Era uma

fonte de riqueza. Além disso, o território não era disputado só pela Bolívia. O Peru também

queria participar da disputa.

Como se já não fosse complicado o bastante, ainda tinha o Bolivian Syndicate,

"entidade privada composta de acionistas norte-americanos, ao qual o Acre havia sido

arrendado pelo governo boliviano".19

O sindicado visava à exploração da borracha, e tornava

alto o risco de envolvimento ativo dos países dos investidores, nesse território, que, por sua

vez, estava completamente povoado de agricultores brasileiros. O problema era grave.

Para iniciar as negociações, Rio Branco propôs à Bolívia que o Brasil comprasse o

Acre, mas Pando, general-presidente da Bolívia, recusou-se a essa negociação. Resolveu,

então, isolar os adversários.

Para o Bolivian Syndicate, prometeu uma indenização se o Brasil saísse vencedor do

conflito. E ao Peru, prometeu respeito aos seus direitos. Os dois aceitaram, restando na mesa

do jogo apenas a Bolívia e o Brasil, sendo que o último contava com uma habilidade única e

inestimável, a do Barão do Rio Branco.

Ao tentar fixar definitivamente a linha divisória que definiria o território, a reação de

Pando foi marchar para tentar intimidar o Brasil. Mas Rio Branco contra-atacou mandando o

Exército e a Marinha para o Acre, passo que a Bolívia não contava por achar que o Brasil não

haveria de querer guerra.

Foi grande em certos setores a grita contra o "espírito militarista" de

Paranhos. Mas este, que sabia tudo a respeito do jogo de poder entre os

Estados, conhecia as consequências nefastas da boa fé desarmada quando se

negocia com uma potência revolucionária. A Bolívia estava em armas, e com

elas procurava impor seus interesses ao Brasil. A resposta não podia ser

outra senão contrapressionar. Metternich, da Áustria, não fizera outra coisa

ao negociar com Napoleão. E vencera. O exemplo do astuto chanceler do

imperador Francisco José era de ser seguido. Rio Branco não desprezava sua

lição.20

18

Princípio jurídico internacional que afirma que o território pertence à quem de fato o ocupa. 19

CORRÊA, Luiz. O barão do Rio Branco no centenário de sua morte: memória, inspiração, legado. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 274. 20 AMARAL, Marcio Tavares. Barão do Rio Branco. São Paulo: Edições Isto É, 2001, p. 144.

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O resultado, como esperado, foi a vitória. Pando querendo apressar o fim das

negociações estava praticamente cedendo a Rio Branco, pois o mesmo contava com uma

habilidade única em suas negociações: a paciência. Seu próprio filho, Raul do Rio Branco,

viria a afirmar que seu lema era "mãos à obra lentamente.” 21

Não no sentido preguiçoso, e

sim no sentido de ser constante e insistente.

Em novembro de 1903, era assinado então o Tratado de Petrópolis. O Brasil cedia a

Bolívia 2296 km² de território, mais dois milhões de libras esterlinas (equivalente hoje a mais

de 200 milhões de dólares), além da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré,

assegurando à Bolívia uma saída para o Atlântico pelo rio Madeira. Em troca, ficava com 191

mil km² de território, hoje equivalente ao Acre. Grande vitória para o Brasil, porém, apesar

das indenizações, foi uma derrota para Bolívia, pois perdeu todo aquele território que antes

lhe pertencia e só era disputado pelo Peru. O território recebido não agregava nada de novo.

Porém, os opositores de Rio Branco, que consideravam o território originalmente

brasileiro, afirmavam que ele havia realizado um atentado à integridade territorial brasileira,

cedendo à Bolívia uma parte do nosso território e ainda dando compensações financeiras.

O senador Rui Barbosa, acreditando que a questão deveria ser levada à arbitragem, era

um de seus maiores opositores na época. "Também foram contrários os monarquistas, os

positivistas, o Correio da Manhã e outros órgãos da imprensa."22

Paranhos sentia-se injustiçado, afinal dedicou sete anos de sua vida à questão das

Missões e ao Amapá, e só aceitou a Pasta do Exterior por patriotismo. Não levou a questão do

Acre para arbitragem, pois não acreditava no direito brasileiro para aquele território. E isso

viria a se confirmar.

Um mapa de 1860 foi encontrado, onde era comprovado que o império considerava o

território dado ao Brasil no Tratado de Petrópolis, boliviano. Mais uma vez, com seu "golpe"

de paciência e intuição genial, Rio Branco provou estar certo, pois, se a questão fosse levada à

arbitramento, não teríamos nenhuma das vantagens alcançadas através da negociação direta.

Era a sua mais difícil e valiosa vitória, pois de fato consagrava expansão territorial ao

Brasil, diferentemente das outras que somente revalidaram direitos já existentes. A oposição

calou-se e Rio Branco consolidava-se no poder. Passava a andar pelas ruas do Rio de Janeiro,

21

LINS, Alvaro. Memórias Sobre Rio Branco. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 420. 22

RICUPERO, Rubens. Entrevista do Embaixador Rubens Ricupero para a revista Digesto Econômico. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 294.

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fazendo parte do cotidiano carioca com seus gestos simpáticos. De contrapartida, o povo

começava a criar uma lenda em volta daquele homem. Sua popularidade chegou ao auge.23

Segundo Corrêa, "Encerrada essa etapa de seu trabalho, Rio Branco comentaria já ter

‘construído o mapa’ do Brasil e que seu programa seria, então, o de contribuir para a união e a

amizade entre os países sul-americanos". 24

As diretrizes de política externa utilizadas por Rio Branco se mantiveram vigentes: o

americanismo, que era a aproximação com a potência emergente da época (EUA), e também a

aproximação com os países sul-americanos.

Já em 1906, a 3ª Conferência Pan-Americana, que defendia uma política derivada da

Doutrina Monroe25

, foi realizada no Rio de Janeiro. Rio Branco abriu a conferência e batizou

o Palácio onde estava sendo realizada, de Monroe. Discursou e não se rebaixou. Ao final da

conferência, os dois países (Brasil e Estados Unidos) saíam engrandecidos, e a popularidade

de Rio Branco só aumentava.

Trabalhava incessantemente. Sua sala no Itamaraty servia-lhe também de quarto. E,

para a 2ª Conferência da Paz de Haia, enviou Rui Barbosa para nos representar. De forma

grandiosa, Rui fez o ponto de vista brasileiro ser ouvido. Era contra a discriminação

militarista que organizava o Tribunal Permanente de Arbitragem através do poderio militar.

Por suas próprias convicções e também pelas instruções que recebia de Rio Branco, Rui

defendeu a igualdade jurídica dos Estados - todos são iguais perante o direito internacional.

Ao voltar ao Brasil, foi reconhecido como herói pela população, mas ninguém

ignorava o papel que cabia ao Barão. Todos davam-lhe os parabéns, e sua imagem de

invencível crescia. Sabia o que fazia para o Brasil, fazia sempre o melhor, a serviço da paz

duradoura no continente.

Enquanto viveu, era considerado ministro obrigatório em todos os governos.

Rodrigues Alves, até 1906, Afonso Pena e Nilo Peçanha, entre 1906 e 1910, e Hermes da

Fonseca, até a sua morte em 1912.

23

Ver Anexo 1. 24

CORRÊA, Luiz. O barão do Rio Branco no centenário de sua morte: memória, inspiração, legado. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 275. 25

Doutrina cuja máxima é "América para os americanos", ou seja a América deve ser independente da antiga Europa dominadora.

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Sua morte causou tal comoção nacional e tantas homenagens que o carnaval foi

adiado.26

O país inteiro estava em luto. Segundo Corrêa, "A morte do Barão, após penosa

enfermidade, foi percebida instantaneamente como uma 'grande perda nacional', tal como

estampado na primeira página do Jornal do Brasil em 11 de fevereiro de 1912". 27

3- FIXANDO-SE NO IMAGINÁRIO POPULAR BRASILEIRO

O Barão do Rio Branco viveu durante anos intensos para o Brasil, com eventos como

o fim da escravidão e a proclamação da República. Sua morte, em 10 de fevereiro de 1912,

após consolidar nossas fronteiras e definir a política externa brasileira, foi considerada uma

tragédia nacional, estampada em todos os jornais da época.

Como pode ser visto no anexo 3 deste trabalho, o jornal O Paiz, de domingo a quarta-

feira, teve as suas primeiras páginas dedicadas ao falecimento do Barão do Rio Branco.28

O

primeiro parágrafo desse jornal, no dia seguinte à sua morte, estampava tristemente:

A morte de Rio Branco não representa só um desastre irreparável para o

Brazil, mas uma perda para a civilização americana. Servindo o seu paiz

com uma intelligencia brilhante, uma energia fecunda e uma abnegação

exemplar, elle honrou a cultura do continente pela sua obra extraordinária de

apologista do direito, regulando pela arbitragem velhas pendencias

internacionaes e realizando o milagre de estender o nosso território de fórma

definitiva e simultaneamente estreitar com os povos litigantes relações de

amisade mais duradoura. Chamou-se-lhe com razão o maior dos brazileiros,

porque nenhum do tempo em que a Nação assim o victoriava dispunha de

um activo tão preciso de campanhas intellectuaes, feridas com glorioso exito

em beneficio da grandeza da Patria.29

Não só os estados brasileiros choravam sua morte, mas também os países estrangeiros

enviavam mensagens demonstrando profundo pesar. No Brasil, a notícia abalou a população,

e logo o comércio fechou as portas.

A cidade então concentrou-se em um recolhimento de magua profunda. Em

todos os semblantes houvera a terrível catastrophe estampado a manifestação

do desalento. [...] Todo o Rio de Janeiro, emfim, só teve um coração para

sentir fundo a morte de Rio Branco.30

26

Ver Anexo 2. 27

CORRÊA, Luiz. O barão do Rio Branco no centenário de sua morte: memória, inspiração, legado. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 276. 28

Ver Anexo 3. 29

JORNAL O PAIZ. Domingo, 11 de Fevereiro de 1912, p. 1. 30

JORNAL DO BRASIL. Domingo, 11 de Fevereiro de 1912, p. 13.

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Nas homenagens musicais que recebeu, "A Morte do Barão do Rio Branco" e "Ode a

Rio Branco", nota-se o luto em que a população brasileira se encontrava, e como a sua morte

era triste também para os países estrangeiros. Sua imagem através dessas músicas é a do

"herói da pátria" e "o mensageiro da paz", ambas simbolizando a conquista de nossas

fronteiras sem o uso de armas de fogo.

Em 1904, o maestro Francisco Braga compôs o "Dobrado do Barão", que presente no

repertório das marchas de bandas militares brasileiras, faz parte da memória musical de

grande parte da população. Embora não seja associado popularmente ao Barão do Rio Branco,

o dobrado foi feito em sua homenagem e à vitória de 1903.31

Mais presente no nordeste brasileiro, embora já seja encontrado em feiras culturais e

livrarias de outros estados, existem os cordéis, que são “poemas populares”, escritos de forma

rimada, que costumam ser pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome. São

importantes pois fazem parte de nossa literatura e mantém identidades locais perpétuas.

Podem ser recitados acompanhados de uma viola, de forma animada, atraindo compradores.

Alguns cordéis foram feitos falando sobre a história do nosso herói, como já citado

anteriormente. Temos o exemplo abaixo das últimas estrofes da Literatura de Cordel Barão

do Rio Branco, de Crispiniano Neto, exemplificando a sua imagem:

Quando ele se foi, deixou

Um país agigantado

Com as fronteiras definidas

Amigos pra todo lado

E uma cultura de paz

Que fez e que ainda faz

O Brasil mais respeitado!

61

Um Brasil não agressivo

Arauto do pacifismo,

A geopolítica da paz,

Diálogo, acordo e civismo,

Doze nações irmanadas

E as raízes adubadas

Do Pan-americanismo.

62

Hoje o nome do Barão

Destaca-se em toda parte:

Em rios, ruas, cidades,

Moeda, cédula, estandarte,

Livro, filme, distintivo,

Escola e clube esportivo,

Centros de cultura e arte.

63

31

Vitória da conquista do território do Acre, através do Tratado de Petrópolis.

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Morreu aos sessenta e seis

De idade, em alto astral,

Na sala onde trabalhava,

Na véspera do carnaval

Causando assim, de momento

Pelo seu encantamento

Comoção nacional!

64

O BARÃO DO RIO BRANCO

Foi herói, foi líder, guia

Gigante da fala mansa

O PAI DA DIPLOMACIA...

Um exemplo de vitória,

Um construtor da história

Símbolo da cidadania!32

Na linguagem popular, o Barão tornou-se sinônimo de dinheiro.33

Isso reside no fato

de ter sua imagem presente nas séries históricas de moedas e notas emitidas desde o último

século. De 1913 a 1942, sua figura era vista nas notas de cinco mil réis34

, unidade monetária

herdada da época da colonização. Nesse mesmo ano, na mudança do padrão monetário do

país no governo de Getúlio Vargas, via-se sua imagem nas cédulas de cinco cruzeiros35

.

Foi em 1978 (até 1989), com a nota que antecipava o surgimento de um novo grupo de

cédulas, cujas características permitiam a leitura em qualquer sentido, que a efígie do Barão

do Rio Branco apareceu na nota de mil cruzeiros36

, popularmente chamada de "Um Barão"37

,

passando a significar dinheiro e poder. Em seu reverso, continha um mapa cartográfico,

representando a delimitação de fronteiras. Era a cédula de maior valor da época. Até os dias

de hoje, a expressão "Um Barão" é utilizada para referir-se ao valor de mil. Além disso,

começamos, então, a chamá-lo somente por "Barão", como se não existisse nenhum outro

com esse título, somente o Rio Branco.

Atualmente, a imagem do Barão está presente na moeda de cinquenta centavos38

, em

circulação desde 1998. Junto à sua efígie, tem-se a cena alusiva à consolidação das fronteiras

brasileiras. Sua presença nessas cédulas e moedas contribuiu para a sua fixação no imaginário

32

NETO, Crispiniano. Barão do Rio Branco. Literatura de Cordel. FUNAG, p. 15 e 16. 33

FUNDAÇÃO ALEXANDRE GUSMÃO & MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Rio Branco: 100 anos de memória. 2012, p 69. 34

Ver Anexo 4. 35

Ver Anexo 5. 36

Ver Anexo 6. 37

FABER, Marcos. História do Dinheiro no Brasil. Disponível em <http://www.historialivre.com/brasil/dinheiro_brasil.pdf> Data de consulta: 24/10/2015. 38

Ver Anexo 7.

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popular, afinal, para estar nesse imaginário, é necessário estar presente no cotidiano da

população, e nada está mais presente do que o dinheiro.

Muitas homenagens prestadas ao Barão são vistas até hoje em diversos lugares do

Brasil e do mundo. A capital do Acre chama-se Rio Branco; deu nome a ruas, avenidas,

praças e parques importantes em cidades brasileiras39

; é o nome do instituto reconhecido

internacionalmente, que forma os nossos diplomatas, e também de colégios e faculdades; tem

a imagem estampada em um vitral da Washington National Cathedral, nos Estados Unidos;

foram erigidas estátuas em sua homenagem, assim como o monumento presente na praça do

Expedicionário40

com 31 metros de altura, no Uruguai, e a sua estátua com 4 metros de altura,

preservada no Palácio do Itamaraty41

no Rio de Janeiro.

No trecho a seguir, do Jornal do Brasil no mês de sua morte, já vê-se algumas das

estátuas que seriam construídas em sua homenagem.

O Instituto Santos Saraiva, de S. Paulo, vae tomara a iniciativa de se erigir,

em uma das praças daquella capital, um monumento.

Brevemente serão dados os necessarios passos para tal fim, convidando-se

todas as corporações dos estabelecimentos de ensino publicos e particulares

de São Paulo, para constituirem uma grande commissão, à qual será confiada

a realização de tal "desideratum".

Além desta, outras estatuas são projectadas na capital do Pará, na da Bahia,

em Santos e em Curityba.

O Governo da Republica do Uruguay vae mandar tambem erigir uma estatua

a Rio Branco.42

No Jornal O Paiz, também via-se os esforços para a perpetuação da gratidão do povo

ao glorioso brasileiro:

O coronel Silva Guimarães, presidente da Camara Municipal de Nitheroy,

telegraphou ao general Bento Ribeiro declarando que a referida assembléa

auxiliará e promoverá, com todo o esforço, a erecção da estatua do eminente

estadista brazileiro, segundo os desejos do illustre Sr. prefeito.43

39

Ao buscar por "Barão do Rio Branco" no site dos Correios em 24/10/2015 <http://www.buscacep.correios.com.br/sistemas/buscacep/buscaCepEndereco.cfm> mais de 400 resultados possíveis são encontrados entre logradouros brasileiros. 40

Ver Anexo 8. 41

Ver Anexo 9. 42

JORNAL DO BRASIL . Quinta-feira, 15 de Fevereiro de 1912, p. 6. 43

JORNAL O PAIZ. Sexta-Feira, 16 de Fevereiro de 1912, p. 4.

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A Avenida Central44

, no Rio de Janeiro, onde Rio Branco costumava passear junto ao

povo, recebeu o nome de Avenida Rio Branco, também no mesmo mês de sua morte. Uma

fotografia retirada dessa importante avenida em 1910 pode ser encontrada no anexo 10 desse

trabalho.

O Sr. prefeito do Districto Federal assignou hontem o decreto, quiçá mais

justo e habil da sua administração, impondo à Avenida Central o nome de

Rio Branco. [...] Elle tem o merito de fixar indelevelmente nas placas da

antiga Avenida Central o nome digno, o nome insubstituivel, que a

defenderá para sempre das contingencias, tão frequentes as nossas ruas, do

apagar e reapagar de denominações, nem sempre felizes, ao influxo de

sentimentos e de impulsos passageiros. A cidade honrou Rio Branco,

honrando a sua formosa avenida, ponto de irradiação de todas as bellezas

novas.

Atualmente, essa é a avenida que cruza o centro da cidade do Rio de Janeiro, umas das

principais vias públicas, onde se encontram os principais escritórios da cidade. Mais de

quinhentas mil pessoas passam por dia por essa avenida, advindas de várias partes do Rio de

Janeiro.

Vale citar também sua perpetuação na gastronomia. Rio Branco, grande fã de peixes e

frutos do mar, vivia amontoado de trabalho, porém "Pascoal, santo empregado do Itamaraty,

estendia uma toalha sobre os muitos livros e papéis na mesa de trabalho do gabinete e servia

ali mesmo generosas porções de ensopado de camarão com quiabo”. 45

Rio Branco também gostava de apreciar os pratos dos restaurantes pelas ruas do centro

da cidade do Rio de Janeiro. Seu restaurante favorito era o Rio Minho, ainda hoje localizado

na rua do Ouvidor, onde ficava lendo seu jornal. Em sua homenagem o restaurante contém

uma peixada nomeada "Ao Barão" que custa atualmente aproximadamente R$ 140,00.

No mesmo ano de sua morte, 1912, Rio Branco foi retratado em um filme, atualmente

desaparecido, chamado A Vida do Barão do Rio Branco. Também foi retratado no filme

Barão do Rio Branco - A Nação em Luto, que teve trechos apresentados no final da exposição

sobre o centenário de sua morte, em 2012. Esse último registra imagens da reação da

população frente à sua morte e mostra o presidente Hermes da Fonseca e seus ministros em

seu velório.46

44

Ver anexo 10. 45

TAMBELLI, Mônica e KESSEL, Carlos. Gastronomia nos tempos do Barão. Textos do Brasil: Edição nº 13 - Sabores do Brasil, p. 31. 46

FUNDAÇÃO ALEXANDRE GUSMÃO & MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Rio Branco: 100 anos de memória. 2012, p 74.

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Outras produções cinematográficas foram publicadas sobre a sua história. O programa

De Lá Para Cá e a série Construtores do Brasil também tiveram episódios homenageando

Paranhos. No documentário Barão do Rio Branco - Encontros47

, ele é retratado como

celebridade nacional, e destaca-se o fato do Itamaraty - "órgão do Poder Executivo

responsável pela política externa e pelas relações internacionais do Brasil, nos planos

bilateral, regional e multilateral"48

- ser conhecido como a casa do Barão do Rio Branco, visto

que era seu local de trabalho e por muitos anos acabou sendo também a sua casa.

Com essas produções, é possível entender a habilidade do Barão na delimitação de

nossas fronteiras, fixando-nos como o quinto maior país do mundo em extensão territorial.49

Afinal, ele foi responsável por agregar aproximadamente 900 mil km² ao nosso território, área

equivalente à da França e Alemanha juntas. Ele é visto como o último bandeirante, porém um

bandeirante pacífico. Era um homem, que devido ao tempo que viveu na Europa, nunca falava

sobre suas intenções, focava nos fatos.

Na série Construtores do Brasil50

, ele é descrito como personagem do mundo. O

diplomata Rodrigo Cardoso afirma que ele "ultrapassava ideologias ou partidos", e é

exatamente isso que também identifica-se no episódio em sua homenagem no programa De

Lá Pra Cá51

, quando se levanta a questão dele ter assumido o Ministério das Relações

Exteriores durante a República, mesmo sendo um monarquista convicto. Para ele, a questão

não era a monarquia ou a república, a questão era o Estado Brasileiro.

Rio Branco lançou as bases de uma nova política exterior. Definiu uma boa relação

com os vizinhos da América do Sul, e aproximou-se da nova potência emergente na época, os

Estados Unidos da América (EUA). Essa última ação de descolamento do eixo diplomático da

Europa para os EUA acabava por conciliar economia com política, visto que o principal

produto de exportação da época era o café e o principal comprador de café brasileiro eram os

EUA.

47

Itau Cultural. Barão do Rio Branco – Encontros. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=stcw0Zi606s. Acesso em 25/10/2015. 48

<http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5680&Itemid=194&lang=pt-BR> Acesso em 25/10/2015. 49

Ver Anexo 11. 50 TV Câmara. Barão do Rio Branco - Série "Construtores do Brasil". Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=H-fwoopdsR8. Acesso em 25/10/2015. 51

TV Brasil. Barão do Rio Branco - De Lá Pra Cá (26/02/2012). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QPUpLSIMyno. Acesso em 25/10/2015.

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4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é possível perceber que na memória da população, o Barão do Rio

Branco foi construído como um símbolo da diplomacia, como um herói nacional, e por trás

dessa construção houve o interesse dos políticos do início do século XX em legitimar a

República.

Mesmo acabando com o Império, no qual o Visconde do Rio Branco, pai do Barão,

havia sido uma figura tão importante, os homens da República escolhem um monarquista

convicto, um típico homem do Império para ser o grande herói e legitimar a Primeira

República.

Escolheram Rio Branco pois precisavam criar um símbolo com uma imagem

apartidária, com um olhar para o Estado, acima de paixões domésticas. Precisavam de um

grande líder com atuação externa, alguém que simbolizasse as relações internacionais no

Brasil, que simbolizasse algo superior e moderno. E devido às suas primeiras conquistas

plenamente bem sucedidas, Rio Branco era visto com bons olhos pela população, o que o

enquadrava nos requisitos dos homens da República que, por sua vez, o moldaram de acordo

com seus interesses.

É curioso notar que os feitos inauguradores de outros Estados estão usualmente

ligados à condição doméstica, enquanto, no Brasil, esses feitos estão diretamente ligados com

Rio Branco e as relações internacionais. Olhando o rol dos grandes heróis nacionais, Rio

Branco é o único personagem diretamente identificado com as relações internacionais.

Mesmo após a sua morte, ele continua sendo retomado como herói. Rio Branco é o

único que permaneceu no imaginário popular brasileiro desde a Primeira República até os dias

de hoje. Está presente nas cédulas monetárias, em nomes de ruas, na gastronomia, e em tudo

que é popular, como foi analisado no decorrer deste trabalho.

Todo e qualquer diplomata que adentra a carreira faz de alguma forma alusão ao mito

Rio Branco em algum momento, afinal, ele se tornou o pai da diplomacia brasileira. As

decisões de política externa também acabam por vez por retomar seu trabalho. Suas diretrizes

continuam a orientar as decisões do Itamaraty não somente por ser considerado um herói nas

relações internacionais, mas também porque ainda hoje é interessante ter esse mito para se

basear.

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Sua herança para o Brasil, principalmente no que diz respeito à delimitação de nossas

fronteiras, é importantíssima. Todos os países da América do Sul ainda enfrentam disputas

fronteiriças, exceto o Brasil.

Vale lembrar que Rio Branco utilizou-se do que hoje é conhecido como soft-power

para entendimento com nossos vizinhos e para a aproximação com os EUA. Soube obter

prestígio na sociedade e defendia a paz como uma condição essencial ao desenvolvimento dos

povos.

A "aliança não escrita"52

realizada com os EUA (grande potência emergente da época)

dava-se principalmente para poder utilizar a influência desse país em favor do Brasil, afinal

era uma época imperialista e os países da Europa podiam vir a surpreender sobretudo na zona

das Guianas, o que fazia com que essa aliança fosse fundamental.

No artigo de Celso Lafer, há um trecho no qual são citados os três requisitos propostos

por Bobbio para definir um clássico da nossa diplomacia. Curiosamente, Rio Branco se

encaixa nos três:

(i) É não só representativo, mas um intérprete autêntico e bem

sucedido do potencial da diplomacia do seu tempo e, como tal,

imprescindível para o conhecimento da sua época - época

diplomaticamente importante, que levou à definitiva consolidação das

fronteiras do Brasil.

(ii) É sempre atual, posto que cada geração sente a necessidade de

uma releitura própria da exemplaridade da sua obra e atuação.

(iii) E, finalmente, é o elaborador e criador de categorias gerais de

compreensão diplomática, aplicáveis a distintas realidades daquelas

das quais se originaram.53

Diante de um Brasil inseguro e sem saber qual seria seu futuro, devido à ruptura entre

a Monarquia e a República, Rio Branco soube se colocar como a figura que compreendia a

importância do contexto externo para afirmação do Brasil, transformando a sua imagem em

um mito.

Durante o século XIX, pode-se considerar a figura dos Imperadores dom Pedro I e II

enquanto construções simbólicas de legitimação do regime político instalado. Porém eles

representavam o Império, que deveria, no início do século seguinte, ser considerado “velho” e

“decaído”. Portanto, devido aos interesses políticos de legitimar a República, ou seja, o novo

regime político, Rio Branco tornou-se o novo mito. Afinal, mesmo sendo um homem do

52

BURNS, Bradford. A aliança não escrita: o Barão do Rio Branco e as relações Brasil-Estados Unidos. Rio de Janeiro: EMC, 2003. 53

LAFER, Celso. Rio Branco e a memória nacional. Cadernos do CHDD, FUNAG, 2012, p. 352.

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Império, seu interesse maior não era a política interna, e sim as relações internacionais.

Porém, apesar dos interesses de construí-lo como herói nacional, não se deve negar a sua

visão de passado e contribuição prestada ao futuro do país, os quais foram fundamentais para

o Brasil até os dias atuais.

O Barão do Rio Branco foi um homem de notável virtude política, com visão e

capacidades únicas. E seus traços, vivos na cultura nacional, permanecerão presentes no

imaginário popular brasileiro por muitos anos.

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http://www.buscacep.correios.com.br/sistemas/buscacep/buscaCepEndereco.cfm. Acesso em

24/10/2015.

Informações Instituto Rio Branco. Disponícel em:

http://www.institutoriobranco.mre.gov.br/pt-br/o_instituto.xml. Acesso em 25/10/2015.

Informações Itamaraty. Disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5680&Itemid

=194&lang=pt-BR. Acesso em 25/10/2015.

Itau Cultural. Barão do Rio Branco – Encontros. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=stcw0Zi606s. Acesso em 25/10/2015.

TV Brasil. Barão do Rio Branco - De Lá Pra Cá (26/02/2012). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QPUpLSIMyno. Acesso em 25/10/2015.

TV Câmara. Barão do Rio Branco - Série "Construtores do Brasil". Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=H-fwoopdsR8. Acesso em 25/10/2015.

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28

ANEXOS

ANEXO 1

“Sobre as extraordinárias manifestações de apoio ao sucesso obtido pelo Barão na

condução da questão do Acre, motivo de ampla cobertura da Imprensa.” Jornal do Brasil

22/02/1904

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ANEXO 2

O Carnaval – Fechas-me a porta? ! ...

A Capital – Fecho, e serias muito inconveniente se insistisses neste momento!54

54

Biblioteca Nacional. Jornal O Paiz. 15 de Fevereiro de 1912, p. 1.

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ANEXO 3

Jornal O Paiz – Domingo, 11 de Fevereiro de 1912.

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Jornal O Paiz – Segunda-Feira, 12 de Fevereiro de 1912.

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32

Jornal O Paiz – Terça-Feira, 13 de Fevereiro de 1912.

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Jornal O Paiz – Quarta-Feira, 14 de Fevereiro de 1912.

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ANEXO 4

Cédula de cinco mil réis

ANEXO 5

Cédula de cinco cruzeiros

ANEXO 6

Cédula de mil cruzeiros

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ANEXO 7

Moeda de cinquenta centavos

ANEXO 8

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ANEXO 9

ANEXO 10

Avenida Central em 1910.

Em 1912 teve seu nome alterado para Avenida Rio Branco.

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ANEXO 11

Maiores países do mundo em extensão territorial.55

55

Disponível em: maxescola.blogspot.com.br. Acesso em 24/10/2015.