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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos de boroaustêmpera em ferros fundidos nodulares e caracterização dos produtos resultantes São Carlos 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

FÁBIO EDSON MARIANI

Tratamentos térmicos e termoquímicos de boroaustêmpera em ferros fundidos

nodulares e caracterização dos produtos resultantes

São Carlos

2014

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FÁBIO EDSON MARIANI

Tratamentos térmicos e termoquímicos de boroaustêmpera em ferros fundidos

nodulares e caracterização dos produtos resultantes

Versão corrigida

Original na unidade

Dissertação apresentada a Escola de

Engenharia de São Carlos para obtenção

do título de Mestre em Ciências

Área de Concentração: Desenvolvimento,

Caracterização e Aplicação de Materiais

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Casteletti

São Carlos

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO

E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, em especial aos meus pais, Donizete e Ana Rosa, pelo apoio, amor

e paciência a mim conferidos.

Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Casteletti, pela confiança e apoio durante a realização do

estudo.

Ao orgão de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), pela bolsa de estudos concedida.

Aos amigos do Núcleo de Pesquisa em Engenharia de Materiais (NuPES), Clinton,

Galtiere, Gustavo, Kramer e Takeya, pela amizade e excelente convivência.

A todos os amigos do Departamento de Engenharia de Materiais (SMM) da EESC.

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RESUMO

MARIANI, F. E. (2014). Tratamentos térmicos e termoquímicos de

boroaustêmpera em ferros fundidos nodulares e caracterização dos produtos

resultantes. 96 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em

Ciência e Engenharia de Materiais, Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

Amostras de ferros fundidos nodulares ligados com Cu, Cu-Ni ou Cu-Ni-Mo

foram austemperadas, boretadas e boroaustemperadas e caracterizadas quanto à

dureza e o comportamento ao desgaste microadesivo, tendo sido também estudada

a cinética de formação da camada. O método de boretação utilizado foi via líquida

em banho de bórax fundido, com tempos de permanência de 2 e 4 horas nas

temperaturas de 850, 900 e 950 ºC. Procedeu-se o tratamento direto de austêmpera,

a partir dessa temperatura, em banhos de sal fundidos nas temperaturas de 240,

300 e 360 ºC com tempos de permanência de 4 horas (boroaustêmpera). Realizou-

se também, para fins de comparação, tratamento convencional de austêmpera.

Microscopias óptica e eletrônica de varredura, EDS por raios-X, testes de dureza

Brinell (substrato) e Vickers (revestimento) foram realizados, bem como ensaios de

desgaste microadesivo do tipo esfera presa. A boretação resultou na formação de

camadas de elevadas durezas, na faixa de 1300 a 1700 HV, e elevadas resistências

ao desgaste. As resistências ao desgaste das amostras boretadas ou

boroaustemperadas foram aumentadas em até 40x em relação às amostras brutas

de fundição ou apenas austemperadas, indicando a grande eficácia do tratamento

neste tipo de propriedade.

Palavras-chaves: Ferro fundido nodular. Boretação. Austêmpera. Desgaste adesivo.

Cinética.

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ABSTRACT

MARIANI, F. E. (2014). Boro-austempered thermal and thermochemical

treatments in ductile cast iron and characterization of resulting products. 96 f.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de

Materiais, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São

Carlos, 2014.

Samples of ductile cast iron alloyed with Cu, Cu-Ni or Cu-Ni-Mo were

austempered, borided and boroaustempered and afterwards characterized for

hardness and micro-adhesive wear behavior. The kinetics of layer formation were

also studied. The boriding method used was liquid molten borax bath, in periods of 2

and 4 hours at temperatures of 850, 900 and 950 °C. The direct austempering

treatment was performed from the borax bath temperature using molten salt baths at

temperatures of 240, 300 and 360 °C for 4 hours (boroaustempered). For

comparative purposes, the conventional austempering treatment was also

conducted. Optical microscopy, scanning electron microscopy, EDX, Brinell hardness

measurements (substrate) and Vickers (coating) were performed, as were the tests

for micro-adhesive wear. The boriding treatment resulted in the formation of layers

with high hardness, in the range of 1300 to 1700 HV and high wear resistance. The

wear resistance of borided or boroaustempered samples were increased by 40 times

when compared to cast irons or austempered samples, indicating the high efficiency

of this type of treatment in increasing the wear resistance of this material.

Keywords: Ductile cast irons. Boride. Austempered. Adhesive wear. Kinetics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema das amplitudes vibracionais contra o tempo para os aços

carbono juntamente com os ferros fundidos nodulares e cinzentos10 .... 22

Figura 2 – Diagramas de fases para o sistema Fe-C (em linhas sólidas) e sistema

Fe-C-Si (em linhas pontilhadas) para um teor de Si de 2,5%p14 ............ 23

Figura 3 – Ilustração esquemática da transformação da ausferrita durante o

tratamento de austêmpera. Contorno de grão (CG), ferrita acicular (α),

austenita saturada (γHC) e austenita primária (γo)48 ................................ 27

Figura 4 – (a) Janela de processamento para temperaturas de austenitização de

870, 900 e 950 ºC50. (b) Janela do processamento para cinética de

austêmpera de ferros fundidos nodulares contendo adições de 0,37 e

0,67%p de Mn, respectivamente49 ......................................................... 28

Figura 5 – Representação esquemática da transformação da microestrutura para (a)

ausferritas produzidas em baixas ou (b) altas temperaturas49 ............... 29

Figura 6 – Diagrama TTT (Temperatura, tempo-transformação) esquemático para

um ferro fundido nodular juntamente com uma curva esquemática de

tratamento, consistindo de: (1) Austenitização; (2) Tratamento de

austêmpera; (3-I) Estágio I; (3-II) Estágio II; (TAUS) Temperatura de

austêmpera e (TAMB) Temperatura ambiente37 .................................... 30

Figura 7 – Micrografias ópticas de (a) ADI ligado com Cu-Mn-Mo austemperado a

390 ºC por 120min40, (b) ADI ligado com Cu austemperado a 350 ºC por

120min51, e (c) ADI ligado com Cu-Ni-Mo austemperado a 320 ºC por

150min1 .................................................................................................. 31

Figura 8 – Microestruturas ausferríticas de ADIs ligados com Cu-Mn-Cr-Ti

austenitizados a 900 ºC e austemperado a (a) 250, (b) 300 e (c) 350 ºC

por 1h55 .................................................................................................. 32

Figura 9 – Gráficos de desgaste microadesivo para os ferros fundidos nodulares no

estado bruto de fundição ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo, juntamente

com os ADIs austemperados a 360 ºC por 3h44 ..................................... 34

Figura 10 – Gráfico da resistência à tração em função do alongamento para

diferentes estruturas de matriz de ferro fundido nodular9 ....................... 35

Figura 11 – Gráfico da tenacidade à fratura em função do limite de escoamento para

diferentes estruturas de matriz de ferro fundido nodular9 ....................... 35

Figura 12 – Comportamento cinético do crescimento da camada boretada em aço

AISI 4140 em diferentes temperaturas de tratamento62 ......................... 37

Figura 13 – Determinação da energia de ativação por regressão linear para o aço

AISI 4140 boretado62 .............................................................................. 38

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Figura 14 – Diagrama de fases binário do sistema Fe-B68 ....................................... 39

Figura 15 – Desenho esquemático dos estágios de crescimento dos cristais de

Fe2B70 .................................................................................................... 40

Figura 16 – Micrografias eletrônicas de varredura mostrando cristais Fe2B que, ao

crescer na superfície do substrato, foram (a) impedidos de crescer e (b)

forçados a mudar sua direção de crescimento, devido ao contato com

outros cristais de boretos adjacentes70 .................................................. 40

Figura 17 – Gráficos de comportamentos ao desgaste microadesivo para um aço

AISI D2 revestido por NbC, V-C e boretos de ferro, juntamente com o

material sem tratamento71 ..................................................................... 41

Figura 18 – (a) Camada boretada do tipo “dente de serra” produzida em um aço com

teor de carbono a 0,3%p e de fósforo a 0,02%68. (b) Camada boretada

com morfologia mais uniforme produzida em um aço AISI P2072 .......... 42

Figura 19 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu-Mn-Cr-Ti

boretado a 900 ºC por 3 horas e austemperado a 300 ºC por 1 hora, com

as regiões indicadas55 ........................................................................... 43

Figura 20 – Exemplos de filmes metálicos de transferência: (a) Transferência de

filme de bronze em alumina, (b) transferência de filme de uma liga Al-Si

em um anel do pistão81 e (c) transferência de filme de um aço sobre a

superfície de outro aço de maior dureza76 ............................................. 47

Figura 21 – Fluxograma dos procedimentos realizados ........................................... 48

Figura 22 – Sistema usado no tratamento termoquímico ......................................... 50

Figura 23 – Diagrama de Gantt do processo de boretação e boroaustêmpera ........ 51

Figura 24 – Esquema para a medição da espessura média de uma camada

boretada, produzida em um ferro fundido nodular austemperado ......... 52

Figura 25 – Equipamento utilizado para a realização do ensaio de desgaste

microadesivo .......................................................................................... 55

Figura 26 – Esquema ilustrativo da calota no ensaio de desgaste microadesivo ..... 56

Figura 27 – Micrografias eletrônicas de varredura dos ferros fundidos nodulares

brutos de fundição ligados com (a) Cu, (b) Cu-Ni e (c) Cu-Ni-Mo,

respectivamente. Ataque químico: Nital 3% .......................................... 58

Figura 28 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesse último são

indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3% ............................................ 59

Figura 29 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu-Ni

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesse último são

indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3% ............................................ 60

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Figura 30 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu-Ni-Mo

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesses dois últimos são

indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3% ............................................. 61

Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a

850 ºC por 4 horas e resfriado ao ar, com as regiões indicadas. Ataque

químico: Nital 2% ................................................................................... 62

Figura 32 – Ferro fundido nodular ligado com Cu. Temperatura de boretação 900ºC.

Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados ao ar;

boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC. Ataque

químico: Nital 2% ................................................................................... 63

Figura 33 – Ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni. Temperatura de boretação

850ºC. Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados

ao ar; boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC. Ataque

químico: Nital 2% ................................................................................... 64

Figura 34 – Ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni-Mo. Temperatura de boretação

950ºC. Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados

ao ar; boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC. Ataque

químico: Nital 2% ................................................................................... 65

Figura 35 – EDS por raios-X em linha da secção transversal de um ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni. Boretado a 850 ºC por 2 horas e

austemperado a 240 ºC ........................................................................ 67

Figura 36 – EDS por raios-X em linha da secção transversal de um ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni-Mo. Boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

ao ar ....................................................................................................... 68

Figura 37 – Análises de EDS por raios-X pontuais da secção transversal do ferro

fundido nodular ligado com Cu boretado a 900 ºC por 4 horas e

austemperado a 240ºC ........................................................................... 69

Figura 38 – Análises de EDS por raios-X pontuais da secção transversal do ferro

fundido nodular ligado com Cu-Ni boretado a 900 ºC por 4 horas e

austemperado a 240 ºC .......................................................................... 69

Figura 39 – Perfil de microdureza Vickers em um ferro fundido nodular ligado com

Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado ao ar. Ataque químico:

Nital 2% .................................................................................................. 73

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Figura 40 – Determinação da energia de ativação para o ferro fundido nodular ligado

com Cu ou Cu-Ni por regressão linear................................................... 76

Figura 41 – Determinação da energia de ativação para o ferro fundido nodular ligado

com Cu-Ni-Mo por regressão linear ....................................................... 76

Figura 42 – Aspectos dos interiores das calotas de desgaste. Distância percorrida

aproximada: 640 m. (a) Ferro fundido ligado com Cu-Ni, (b) ADI Cu-Ni

austemperado a 240 ºC, (c) ADI Cu-Ni austemperado a 300 ºC e (d) ADI

Cu-Ni austemperado a 360 ºC ............................................................... 77

Figura 43 – Aspecto do interior da calota de desgaste do ferro fundido nodular

boretado por 2 horas, resfriado ao ar, para o último tempo de ensaio.

Distância percorrida aproximada: 640 m ............................................... 78

Figura 44 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 850 ºC

............................................................................................................... 79

Figura 45 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 900 ºC

............................................................................................................... 79

Figura 46 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 950 ºC

............................................................................................................... 80

Figura 47 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 850 ºC

............................................................................................................... 81

Figura 48 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 900 ºC

............................................................................................................... 81

Figura 49 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 950 ºC

............................................................................................................... 82

Figura 50 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 850 ºC ........................................................................ 83

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Figura 51 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 900 ºC ......................................................................... 83

Figura 52 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 950 ºC ......................................................................... 84

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composições químicas dos ferros fundidos nodulares (% em peso) ..... 57

Tabela 2 – Espessuras médias medidas por análises microscópicas das camadas

produzidas nos ferros fundidos nodulares .............................................. 66

Tabela 3 – Resultados dos ensaios de dureza Brinell para os três ferros fundidos

nodulares brutos de fundição e austemperados [HB] ............................. 70

Tabela 4 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu boretado ou boroaustemperado (dureza da camada em

HV) ......................................................................................................... 71

Tabela 5 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu-Ni boretado ou boroaustemperado (dureza da camada

em HV) ................................................................................................... 71

Tabela 6 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu-Ni-Mo boretado ou boroaustemperado (dureza da

camada em HV) ..................................................................................... 72

Tabela 7 – Resultados para os cálculos dos coeficientes de difusão e médias das

espessuras da camada boretada calculadas para o ferro fundido nodular

ligado com Cu ou Cu-Ni ......................................................................... 74

Tabela 8 – Resultados para os cálculos dos coeficientes de difusão e médias das

espessuras das camadas boretada calculadas para o ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni-Mo ................................................................. 74

Tabela 9 – Resultados obtidos para determinação da energia de ativação para

amostras boretadas de ferro fundido nodular ligado com Cu ou Cu-Ni .. 75

Tabela 10 – Resultados obtidos para determinação da energia de ativação para

amostras boretadas de ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni-Mo ...... 75

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 21

2.1 Ferros fundidos: definição, classificação e características .................................. 21

2.2 Digramas de fases dos sistemas Fe-C e Fe-C-Si ............................................... 22

2.2.1 Ferros fundidos brancos ................................................................................... 24

2.2.2 Ferros fundidos maleáveis ............................................................................... 24

2.2.3 Ferros fundidos cinzentos ................................................................................ 25

2.2.4 Ferros fundidos nodulares ................................................................................ 25

2.3 Ferros fundidos nodulares austemperados ......................................................... 26

2.3.1 Produção do ferro fundido nodular austemperado ........................................... 26

2.3.2 Microestrutura ausferrítica ................................................................................ 30

2.3.3 Elementos de ligas adicionados aos ferros fundidos nodulares ....................... 32

2.3.3.1 Adição de Cobre ............................................................................................ 33

2.3.3.2 Adição de Níquel ........................................................................................... 33

2.3.3.3 Adição de Molibdênio .................................................................................... 33

2.3.4 Propriedades mecânicas do ADI ...................................................................... 33

2.3.5 Aplicações dos ADIs......................................................................................... 35

2.3.6 Problemas que podem ocorrer ......................................................................... 36

2.4 Tratamentos superficiais ..................................................................................... 36

2.4.1 Características e mecanismo de formação das camadas boretadas ............... 36

2.4.2 Propriedades das camadas boretadas em ligas ferrosas ................................. 38

2.4.3 Influência dos elementos de liga para materiais ferrosos ................................. 41

2.4.4 Boretação dos ferros fundidos nodulares ......................................................... 42

2.4.5 Tipos de boretação ........................................................................................... 43

2.4.6 Aplicações da boretação .................................................................................. 44

2.4.7 Boroaustêmpera ............................................................................................... 45

2.5 Desgaste: tipos e características ......................................................................... 45

3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 48

3.1 Materiais utilizados .............................................................................................. 48

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3.2 Análises químicas ............................................................................................... 49

3.3 Preparação dos corpos de prova ........................................................................ 49

3.4 Tratamentos isotérmicos e termoquímicos: austêmpera, boretação e

boroaustêmpera ........................................................................................................ 50

3.5 Análises microestruturais .................................................................................... 51

3.6 Ensaios de durezas ............................................................................................ 53

3.7 Cinética ............................................................................................................... 53

3.8 Ensaios de desgaste ........................................................................................... 54

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 57

4.1 Análises químicas ............................................................................................... 57

4.2 Caracterização dos ferros fundidos nodulares .................................................... 57

4.2.1 Ferros fundidos nodulares nos estados brutos de fundição e austemperados 57

4.2.2 Ferros fundidos nodulares nos estados boretados e boroaustemperados ...... 62

4.3 Cinética dos tratamentos termoquímicos de boretação ...................................... 73

4.3.1 Cálculo do coeficiente de difusão do boro ....................................................... 73

4.3.2 Cinética do tratamento de boretação nos ferros fundidos nodulares ............... 75

4.4 Ensaios de desgaste microadesivo..................................................................... 77

5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 86

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19

1 INTRODUÇÃO

Ferro fundido nodular é um material onde a grafita é encontrada no formato

esferoidal devido a adição dos elementos químicos Mg ou Ce durante seu

vazamento. Comparado ao aço carbono, os ferros fundidos nodulares apresentam

boa fluidez, alta resistência à fadiga, bom amortecimento vibracional e boa

combinação de resistência à tração e tenacidade, além de temperaturas de fusão

significativamente menores. Essas propriedades juntamente com o baixo custo de

produção proporcionam ao material um vasto campo de aplicação, sendo

frequentemente usado como material de construção mecânica. Com a intenção de

melhorar ainda mais as vantagens, alguns elementos de liga são adicionados no

processo de fabricação (fundição) para alcançar uma austemperabilidade satisfatória

e com isso permitir que sua estrutura seja modificada por meio do tratamento

isotérmico de austêmpera, aumentando assim a dureza e melhorando as

propriedades mecânicas e a resistência ao desgaste do material. Os ferros fundidos

nodulares austemperados (ADI - Austempered Ductile Iron) apresentam uma

estrutura exclusiva, também conhecida como ausferrita, composta de austenita

retida de elevado carbono e ferrita acicular. O ADI tem atraído a atenção como um

substituto para os componentes de aço forjado em diversas aplicações. Dentre as

indústrias onde esse material é utilizado se destacam a automotiva, agrícola,

ferroviária, militar e de construção.

Embora a prática do tratamento de austêmpera proporcione aos ferros

nodulares uma melhora na resistência ao desgaste, a aplicação de técnicas de

tratamentos superficiais amplia ainda mais seu campo de utilização, aumentando a

vida útil da peça e diminuindo o tempo ocioso causado por manutenções. A

boretação é um dos métodos empregados para aumentar a resistência ao desgaste

superficial, além de proporcionar elevada resistência à corrosão. Essas vantagens

são obtidas por meio da produção de camadas de boretos de ferro (FeB e Fe2B)

proveniente do tratamento, com durezas que podem atingir valores superiores a

2000 HV. A difusão de boro na superfície pode resultar em camadas com

profundidade entre 40 e 270 μm, sempre dependente da composição química do

material, temperatura e tempo de tratamento.

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20

Realizada entre 800 e 1100 ºC, com tempos de permanência de 1 a 8 horas,

a boretação em banho de sal (bórax) consiste numa técnica altamente promissora

para o tratamento superficial dos ADIs por ser um método simples, barato e permitir

que a austêmpera seja realizada diretamente a partir da boretação. A junção desses

dois tratamentos é denominada boroaustêmpera.

O objetivo do presente trabalho consistiu na verificação da influência do

tratamento termoquímico de boretação na resistência ao desgaste adesivo de ferros

fundidos nodulares com diferentes composições químicas.

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21

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Ferros fundidos: definição, classificação e características

Ferros fundidos são ligas ferrosas contendo basicamente carbono ou

carbono e silício. A proporção de carbono nesses materiais situa-se acima de

2,1%p, sendo produzidas industrialmente com teores na faixa de 3,0 a 4,5%p1-5. O

silício é adicionado em quantidades acima de 1%p para retardar a formação da

cementita6. Outros elementos de liga podem ser incorporados para modificar suas

propriedades7,8. Além da adição de silício, taxas de resfriamento menores durante a

solidificação favorecem a formação da grafita, que se separa no momento da

solidificação do líquido. A cementita (carboneto de ferro – Fe3C) é uma fase

metaestável, que dependendo da taxa de resfriamento e da composição química

(silício acima de 1%p), pode decompor-se formando ferrita (α) e grafita, de acordo

com a reação (Equação 1)2:

Fe3C → 3Fe (α) + C (grafita) (1)

Nos ferros fundidos mais utilizados industrialmente, o carbono encontra-se

na forma de grafita, e tanto a microestrutura quanto o comportamento mecânico

dependem de suas composições e dos tratamentos térmicos9.

Os ferros fundidos apresentam reação eutética durante a solidificação, com

temperatura de fusão entre 1150 e 1300 ºC, que são inferiores as dos aços

carbono2,4,5. Devido a isso, tais materiais apresentam custos de produção inferiores

aos dos aços (menos energia utilizada para aquecer os fornos, refratários de

menores custos). O processo de fundição permite a obtenção de peças com as

dimensões próximas as do produto final, reduzindo assim custos e tempo na

produção (near net shape).

Os ferros fundidos são a alternativa mais adequada quando o objetivo é

aumentar a capacidade de amortecimento de vibrações em equipamentos, por

absorverem mais energia vibracional do que os aços carbono devido à presença da

grafita2,5,10. Na Figura 1 é apresentado um esquema das amplitudes de vibração com

o decorrer do tempo para os ferros fundidos cinzentos e nodulares em relação aos

aços carbono. A fabricação de componentes feitos de ferro fundido ao invés de aço

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22

forjado se tornou um grande atrativo para as indústrias automobilísticas, uma vez

que a sua densidade é 10% inferior a do aço11.

Figura 1 – Esquema das amplitudes vibracionais contra o tempo para os aços

carbono juntamente com os ferros fundidos nodulares e cinzentos10

Essas características e propriedades, juntamente com a vantagem de baixo

custo resultaram em um aumento do seu uso ao longo dos anos. A fundição de

ferros fundidos já soma 71% da produção de materiais fundidos no mundo, sendo o

restante dividido em 17% na fundição de materiais não ferrosos e 9% na fundição de

aços em geral12.

Os ferros fundidos são divididos em quatro classes: brancos, maleáveis,

cinzentos e nodulares2,13.

2.2 Digramas de fases dos sistemas Fe-C e Fe-C-Si

Apresenta-se na Figura 2 os diagramas de fases das ligas Fe-C e Fe-C-Si

(teor de silício de 2,5%p).

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23

Figura 2 – Diagramas de fases para o sistema Fe-C (em linhas sólidas) e sistema

Fe-C-Si (em linhas pontilhadas) para um teor de Si de 2,5%p14

No diagrama de fases Fe-C são encontrados dois pontos eutéticos

decorrentes de dois equilíbrios: estável (formado por austenita e grafita) e

metaestável (formado por austenita e carbonetos). Entre esses pontos existe a

presença de uma faixa de temperatura de aproximadamente 7 ºC. O diagrama de

fases ternário do sistema Fe-C-Si é semelhante ao diagrama binário Fe-C,

ocorrendo uma pequena variação nas temperaturas de equilíbrio e no teor de

carbono do ponto eutético. Essas variações dependem do teor de Si (até 3%p) e de

outros elementos adicionados à liga como o Al, Cu e Ni, que também são

conhecidos por facilitar a formação da grafita nos ferros fundidos. A presença de Mo,

Mn, Cr, V e W favorece a formação de carbonetos, tornando esse intervalo de

temperatura menor. Para ferros fundidos com teores de silício de 2%p, a faixa de

temperatura entre os pontos de equilíbrio pode exceder 35 ºC. Esse intervalo de

temperatura pode ser atenuado adicionando 1,1%p de Cr à liga2,14.

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24

2.2.1 Ferros fundidos brancos

O carbono encontra-se na forma combinada de cementita (Fe3C) e

apresenta teores de silício abaixo de 1%p. A taxa de resfriamento durante a

solidificação deve ser rápida o suficiente para evitar a formação de outros

microconstituintes. Sua superfície fraturada apresenta uma aparência

esbranquiçada, característica esta responsável pelo nome da classe. Devido a sua

elevada concentração de cementita, esse material é muito duro e frágil, sendo sua

usinagem inviável2. A aplicação dos ferros fundidos brancos está limitada a

componentes que não sofram impactos e que exijam uma elevada resistência ao

desgaste, tais como cilindros de laminação, betoneiras e em componentes utilizados

nas indústrias de mineração15. Outras características desse material são o baixo

preço e fácil produção16.

2.2.2 Ferros fundidos maleáveis

Os ferros fundidos maleáveis podem ser obtidos pelo aquecimento do ferro

fundido branco entre 700 e 900 ºC acima de 30 horas17. Existem dois métodos para

a obtenção desse tipo de ferro fundido; O primeiro é por grafitização, no qual toda a

cementita se decompõe em ferrita e grafita, obtendo-se assim uma matriz ferrítica

com aglomerados de grafita. Esse tipo de material também é conhecido como ferro

fundido maleável de núcleo preto. O segundo método é por descarbonetação, onde

o carbono da cementita e da perlita é eliminado por oxidação na superfície da peça.

A matriz obtida nos ferros fundidos maleáveis de núcleo branco, assim denominado,

é perlítica com aglomerados de grafita18. A microestrutura do ferro fundido maleável

é semelhante a do ferro fundido nodular, o que confere propriedades semelhantes

entre as duas classes9,19,20. As propriedades de condutividade térmica e

amortecimento de vibrações dos ferros fundidos maleáveis são semelhantes as dos

ferros fundidos cinzentos, que apresentam propriedades mecânicas inferiores e

melhor usinabilidade17,21. Essas características e propriedades intermediárias, entre

os ferros fundidos nodular e cinzento, fazem do ferro fundido maleável um material

potencialmente atraente em aplicações onde os ferros fundidos nodulares e

cinzentos não são adequados20,22. Entre as indústrias que utilizam essa classe de

ferro fundido destaca-se a automobilística na produção de blocos de motor, barras

de ligação, engrenagens de transmissão e cárteres do diferencial21,23. Outros

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25

componentes feitos dessa classe de material são as conexões hidráulicas18.

Recentemente, foram desenvolvidos ferros fundidos maleáveis com melhores

propriedades mecânicas, o que tornou-se possível com os avanços dos processos

de fundições controladas por computador12.

2.2.3 Ferros fundidos cinzentos

Apresentam concentrações de carbono na faixa de 2,5 e 5,0%p e de silício

na de 0,8 e 3%p. O carbono encontra-se na forma de veios de grafita e a matriz

pode ser ferrítica, perlítica ou ferrítica-perlítica. A denominação “cinzento” é devida

ao aspecto cinza da superfície fraturada do material2,4,9,24,25. Os veios da grafita

exercem influência sobre as propriedades mecânicas desses materiais, atuando

como concentradores de tensão que podem iniciar a fratura na matriz26. Devido a

isso, os ferros fundidos cinzentos apresentam uma capacidade de deformação muito

pequena e o alongamento é menor que 1%. A resistência à compressão é

aproximadamente três ou quatro vezes superior a de sua resistência à tração4,9. É o

material mais utilizado na fabricação de estruturas de máquinas. O baixo custo

também é um fator favorável a sua grande aplicação, sendo 20 a 40% mais baratos

que o aço25,27. Dentre suas aplicações se destacam as estruturas de máquinas,

blocos de motores, válvulas das instalações de abastecimento de água, discos de

freio e tampões de cilindros. A presença dos veios de grafita também atribui aos

ferros fundidos cinzentos excelente usinabilidade e propriedades auto

lubrificantes25,28.

2.2.4 Ferros fundidos nodulares

Os Ferros fundidos nodulares, ou dúteis, contém entre 3,2 e 3,8%p de

carbono e 2,0 e 2,8%p de silício. As proporções de manganês e enxofre são

inferiores a 0,50 e 0,02%p, respectivamente. Com a adição de cério e/ou magnésio

no metal fundido pouco antes do processo de vazamento, torna-se possível obter a

grafita na forma de nódulos, decorrendo daí a designação ferro fundido nodular. Os

teores de Ce e/ou Mg são próximos a 0,5%p. Normalmente, o segundo elemento é o

mais usado por ser mais barato. A forma esférica da grafita fornece a menor

proporção de superfície/volume e, consequentemente, o menor volume ocupado. A

matriz pode ser ferrítica, perlítica ou ferrítica-perlítica2,4,9,18. Os ferros fundidos

nodulares apresentam maiores resistência à tração, ductilidade, ao impacto e à

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fadiga, em comparação com os demais ferros fundidos, uma vez que a grafita na

forma esférica não atua como concentrador de tensões, alta absorção de vibração,

além de boa resistência ao desgaste e custo relativamente baixo.

Consequentemente, eles são utilizados como substitutos dos ferros fundidos

cinzentos ou aços carbono em componentes estruturais e peças. Como exemplos de

utilização dos mesmos, destacam-se as indústrias automobilística (cames, pistões,

cilindros e engrenagens) e de mineração (bombas de lama e moinho de bolas)9,11,29-

34.

2.3 Ferros fundidos nodulares austemperados

Os ferros fundidos nodulares podem ser submetidos a tratamentos térmicos

para um melhoramento significativo de suas propriedades. Dentre os tratamentos

disponíveis, destaca-se o de austêmpera, resultando daí os ferros fundidos dúcteis

austemperados (Austempered Ductile Iron - ADI), que vem despertando o interesse

dos pesquisadores e indústrias metalúrgicas por apresentar uma combinação de

custos inferiores aliado a boas propriedades mecânicas. Devido à associação

dessas duas características, o ADI tornou-se um potencial substituto econômico

para componentes de aço forjado em diversas aplicações estruturais9,30,35-44.

2.3.1 Produção do ferro fundido nodular austemperado

O ADI é produzido a partir da austenitização do ferro fundido nodular na

faixa de temperaturas 850 e 950 ºC, seguido por resfriamento em banho de sal entre

230 e 400 ºC. Devido à alta concentração de carbono e silício, a transformação da

austenita durante o processo de austêmpera é diferente da que ocorre nesse tipo de

tratamento quando realizado em aços carbono.

Durante a austêmpera, placas de ferrita (α) nucleiam e crescem nos

contornos de grãos de austenita (γo), sendo separadas por finas camadas de

austenita saturada de carbono (γHC). Com o decorrer do tempo, a difusão do carbono

torna-se mais difícil e o crescimento das placas é interrompido. A austenita

remanescente torna-se estável e o material pode ser resfriado até a temperatura

ambiente, sem a formação de martensita. O resultado do tratamento é uma

microestrutura formada por austenita retida e ferrita acicular, também denominada

de ausferrita. Esse procedimento é conhecido como Estágio I e está ilustrado na

Figura 3. Períodos de tempos prolongados em banhos de austêmpera provocam a

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27

decomposição da austenita de alto carbono em ferrita e carbonetos do tipo ε

(epsilon). A microestrutura bainítica é o resultado desse processo, que é conhecido

como Estágio II, e é prejudicial para as propriedades mecânicas do ADI, devendo

portanto, ser evitado. Os Estágios I e II podem ser resumidos da seguinte maneira:

Estágio I: austenita primária (γo) → ferrita (α) + austenita estável de elevado teor de

carbono (γHC) = ausferrita. Estágio II: austenita estável de elevado teor de carbono

(γHC) → ferrita (α) + carbonetos ε = bainita7,30,36,37,39,45-48.

Figura 3 – Ilustração esquemática da transformação da ausferrita durante o

tratamento de austêmpera. Contorno de grão (CG), ferrita acicular (α),

austenita saturada (γHC) e austenita primária (γo)48

O período de tempo entre o fim do primeiro estágio e o início do segundo é

denominado janela de processo. A janela de processo de um ADI pode ser

determinada pela concentração de austenita retida, e de carbono na austenita ou o

volume de austenita residual de austêmpera. Esses dados podem ser obtidos por

meio de análise de difração de raios-X. A variação da dureza do material também

pode ser utilizada. Compreender as variáveis que modificam a janela de processo é

muito importante para obtenção de uma microestrutura com as propriedades

desejadas. São consideradas variáveis da janela de processamento dos ADIs as

temperaturas de austenitização e de austêmpera (a janela de processo da ausferrita

formada em baixas temperaturas de tratamento é menor que a formada em altas

temperaturas), composição química e a microestrutura do ferro fundido no estado

bruto de fundição49,50. Na Figura 4 são ilustrados dois gráficos que apresentam

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28

janelas de processo com diferentes variáveis. Na Figura 4(a) apresenta-se a

influência da temperatura de austenitização na janela de processamento. Na Figura

4(b) verifica-se a influência do manganês no retardamento da cinética de

austêmpera e como o elemento influência na temperatura de fechamento da janela

de processo, o que dificulta a formação da microestrutura ausferrítica em

temperaturas de austêmpera mais elevadas.

Figura 4 – (a) Janela de processamento para temperaturas de austenitização de

870, 900 e 950 ºC50. (b) Janela do processamento para cinética de

austêmpera de ferros fundidos nodulares contendo adições de 0,37 e

0,67%p de Mn, respectivamente49

(a)

(b)

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29

Na Figura 5 são representados os estágios de formação da ausferrita,

juntamente com a janela de processamento. Verifica-se que no decorrer do tempo, a

quantidade de ferrita acicular e austenita retida aumentam simultaneamente até

atingir um patamar (Estágio I). A janela de processamento é o tempo que a ferrita e

a austenita retida se mantém constantes. Após determinada quantidade de tempo a

janela termina e começa a precipitação de carbonetos na microestrutura a partir da

austenita retida, fragilizando o material (Estágio II)49.

Figura 5 – Representação esquemática da transformação da microestrutura para (a)

ausferritas produzidas em baixas ou (b) altas temperaturas49

Na Figura 6 apresenta-se um diagrama Temperatura, Tempo-Transformação

esquemático para um ferro fundido nodular, juntamente com uma curva esquemática

do tratamento de austêmpera que pode ser resumida da seguinte maneira: a peça é

aquecida até sua temperatura de austenitização, que depende da composição

química do ferro fundido. O material é mantido nessa condição até sua

(a)

(b)

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30

microestrutura se transformar em austenita saturada de carbono (ponto 1). A peça é

resfriada até a temperatura de austêmpera em banho de sal (ponto 2) e mantida o

tempo suficiente para a austenita se transformar em ausferrita. Após a

transformação, a peça é retirada do banho de sal e resfriada ao ar, evitando a

precipitação de carbonetos indesejados (ponto 3-I). Caso o material permanecesse

no banho de sal, ocorreria a formação da bainita (Ponto 3-II)37.

Figura 6 – Diagrama TTT (Temperatura, tempo-transformação) esquemático para

um ferro fundido nodular juntamente com uma curva esquemática de

tratamento, consistindo de: (1) Austenitização; (2) Tratamento de

austêmpera; (3-I) Estágio I; (3-II) Estágio II; (TAUS) Temperatura de

austêmpera e (TAMB) Temperatura ambiente37

2.3.2 Microestrutura ausferrítica

Apresenta-se na Figura 7 as fases encontradas em microestruturas

ausferríticas obtidas em ADIs. Em todas elas observa-se os produtos da

transformação ausferrítica, com a presença de nódulos de grafita (G) envoltos por

uma matriz composta de ferrita acicular (α) e austenita retida (γ)1,40,51.

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31

Figura 7 – Micrografias ópticas de (a) ADI ligado com Cu-Mn-Mo austemperado a

390 ºC por 120min40, (b) ADI ligado com Cu austemperado a 350 ºC por

120min51, e (c) ADI ligado com Cu-Ni-Mo austemperado a 320 ºC por

150min1

Na Figura 8 apresenta-se as microestruturas de ADIs austemperados a 250,

300 e 350 ºC. O tratamento a 250 ºC proporcionou estruturas mais refinadas do que

os ADIs tratados a 300 e 350 ºC. Temperaturas de austêmpera inferiores

proporcionam uma microestrutura ausferrítica mais refinada do que as temperaturas

de tratamento superiores. Isso ocorre porque quanto menor a temperatura de

austêmpera, maior é o resfriamento da austenita primária e menor a taxa de difusão

de carbono, favorecendo a nucleação das placas de ferrita ao invés de seu

crescimento (ausferrita refinada). Efeito contrário ocorre para a maior temperatura de

(a) (b)

(c)

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32

austêmpera, onde a taxa de difusão de carbono é maior, favorecendo o seu

crescimento (ausferrita grosseira)42,52-55.

Figura 8 – Microestruturas ausferríticas de ADIs ligados com Cu-Mn-Cr-Ti

austenitizados a 900 ºC e austemperado a (a) 250, (b) 300 e (c) 350

ºC por 1h55

2.3.3 Elementos de ligas adicionados aos ferros fundidos nodulares

A adição de alguns elementos de liga no ferro fundido nodular pode

aumentar o período de tempo da janela de processo, afetando positivamente a

eficácia do processo de austêmpera, em relação os Estágios I e II. Quanto maior a

adição de elementos de liga, maior será a possibilidade do ferro nodular

austemperar, ao mesmo tempo maior será a possibilidade de segregação dos

elementos. A norma ASTM A897/A897M especifica os elementos de liga que podem

ser adicionados na produção dos ferros fundidos nodulares, juntamente com suas

respectivas quantidades. A variação de carbono e silício também é regida pela

mesma. Entre os elementos de liga, Mg, Mn, Cu, Ni e Mo são os principais e podem

ser adicionados de forma individual ou conjunta39,41,43,46,47,56.

(a) (b)

(c)

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33

2.3.3.1 Adição de Cobre

Adicionado em teores de até 0,80%p para aumentar a dureza do ADI. Acima

disso, o elemento cria uma barreira de difusão em torno dos nódulos de grafita,

inibindo assim a mobilidade de carbono durante a austenitização57. O cobre aumenta

a ductilidade em temperaturas de austêmpera inferiores a 350 ºC9.

2.3.3.2 Adição de Níquel

Pode ser utilizado em proporções de até 2,0%p para aumentar a dureza do

ferro fundido nodular. Adições maiores podem resultar em desperdício e elevação do

custo do produto57. Para temperaturas de austêmpera abaixo de 350 ºC, o níquel

reduz a resistência à tração, porém aumenta a ductilidade9.

2.3.3.3 Adição de Molibdênio

Entre todos os elementos de liga, o molibdênio é o mais adequado para

aumentar a capacidade de austêmpera do ferro fundido. Normalmente é utilizado em

componentes de grandes dimensões. Adições acima de 0,30%p podem resultar em

degradação das propriedades, devido a segregação do elemento e formação de

carbonetos57.

2.3.4 Propriedades mecânicas do ADI

Os ADI apresentam boas propriedades mecânicas, destacando-se entre

elas: alta resistência à tração e à fadiga, boa ductilidade e ao impacto e excelente

resistência ao desgaste39-47. Essa última propriedade é observada na Figura 9, onde

apresenta-se gráficos de desgaste microadesivo de ferros fundidos nodulares no

estado bruto de fundição ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo, respectivamente,

juntamente com amostras desses materiais austemperados a 360 ºC por 3h. Para

todos os casos, após o tratamento de austêmpera ocorreu um aumento na

resistência ao desgaste adesivo. A adição de Cu-Ni representou ao ADI resistência

ao desgaste 5 vezes maior que o ferro fundido bruto de fundição ligado com Cu-Ni,

isso evidência a eficácia do tratamento44.

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34

Figura 9 – Gráficos de desgaste microadesivo para os ferros fundidos nodulares no

estado bruto de fundição ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo, juntamente

com os ADIs austemperados a 360 ºC por 3h44

Modificando-se a distribuição de fases da matriz ausferrítica, pode-se

modificar suas propriedades, com os elementos de liga adicionados na fundição

exercendo grande influência nas propriedades do material48-51,53. Na Figura 10 são

apresentadas as relações de resistência à tração e alongamento para o ADI

(especificação ASTM A897) em comparação com outros tipos de ferros fundidos

nodulares convencionais (especificação ASTM A536). Na Figura 11 demonstra-se

uma comparação entre as propriedades de tenacidade à fratura e o limite de

escoamento dos ADI com outros tipos de ferros fundidos nodulares9.

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35

Figura 10 – Gráfico da resistência à tração em função do alongamento para

diferentes estruturas de matriz de ferro fundido nodular9

Figura 11 – Gráfico da tenacidade à fratura em função do limite de escoamento para

diferentes estruturas de matriz de ferro fundido nodular9

2.3.5 Aplicações dos ADIs

Os ADIs são usados em várias aplicações industriais, e dentre elas se

destacam a automotiva (virabrequins, engrenagens de transmissão, bielas), agrícola

(componentes de máquinas de terraplanagem), ferroviária (rodas do carro de trem) e

minas (bombas de lama e moinhos de bolas)4,10,32,37-40,43-46,56.

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36

2.3.6 Problemas que podem ocorrer

A austenita retida apresenta uma taxa de encruamento superior a da ferrita

acicular, o que pode ocasionar problemas na usinagem dos ADIs. Como a maioria

dos componentes nas indústrias automotivas necessitam ser usinados, o ADI pode

se tornar inviável em algumas aplicações. As resistências ao choque térmico, bem

como à fadiga térmica, dependem da condutividade térmica dos materiais. Na

ausferrita, a austenita retida que apresenta estrutura CFC (cúbica de face centrada)

apresenta menor condutividade térmica quando comparada com a ferrita acicular

que é CCC (cúbica de corpo centrado), o que resulta em resistências ao choque

térmico e à fadiga térmica relativamente baixas. O coeficiente de expansão térmica

da ferrita é menor que o da austenita, o que pode causar problemas em aplicações

onde a fadiga térmica é importante39,45.

2.4 Tratamentos superficiais

O desempenho de peças e componentes podem ser melhorados

significativamente pela produção de vários tipos de camadas superficiais com

características superiores. Dentre os processos disponíveis, destaca-se a boretação

pelo elevado nível de dureza alcançado (até 2100 HV), muito superior ao obtido com

a maioria dos demais tratamentos termoquímicos tradicionais, tais como a

cementação ou a nitretação. Isto leva normalmente a um aumento significativo das

propriedades tribológicas do material, aliado ao aumento na resistência à corrosão.

Boretação é um tratamento termoquímico em que o boro é introduzido na

superfície do material por meio da difusão. Assim como em outras formas de

tratamentos que envolvem difusão (nitretação e cementação), o material a ser

tratado deve estar em contato com o meio fornecedor do elemento. Os átomos de

boro reagem com o material em tratamento, formando boretos e promovendo a

formação da camada boretada58-61. O tratamento superficial pode ser aplicado em

materiais ferrosos, ligas de níquel e titânio, além de carbonetos sinterizados. A

temperatura de tratamento pode variar entre 700 e 1200 ºC e o tempo de

permanência é de 1 a 8 horas4.

2.4.1 Características e mecanismo de formação das camadas boretadas

A espessura da camada pode variar com o tempo e temperatura de

tratamento. A difusão de boro na camada é controlada pela taxa de crescimento

Page 41: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

37

(cinética) que pode ser dividida em dois estágios. O primeiro estágio obedece a uma

equação parabólica (Equação 2), na qual x é a espessura da camada, t é o tempo e

K é o coeficiente de difusão. O segundo estágio é caracterizado por uma reta

(Equação 3), onde K’ é o coeficiente angular da reta. Quanto mais elevada for à

temperatura de boretação e/ou maior for o tempo de tratamento, maior será a

espessura da camada boretada62-67.

x2 = t. K (2)

x = K′. t + b (3)

Na Figura 12 observa-se a cinética de crescimento ilustrada por um gráfico

da profundidade da camada pelo tempo de tratamento para o aço AISI 4140

boretado a 850, 900 e 950 ºC. Na Figura 13 apresenta-se a determinação da energia

de ativação por regressão linear para o aço AISI 4140 boretado, sendo o valor

calculado igual a 218,4 kJ.mol-1.

Figura 12 – Comportamento cinético do crescimento da camada boretada em aço

AISI 4140 em diferentes temperaturas de tratamento62

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38

Figura 13 – Determinação da energia de ativação por regressão linear para o aço

AISI 4140 boretado62

2.4.2 Propriedades das camadas boretadas em ligas ferrosas

Nas ligas ferrosas, os boretos formados nas camadas podem ser FeB (mais

externamente) e/ou Fe2B e atingir valores de durezas até 2100 HV59,61. Caso os

aços sejam ligados, formam-se também boretos dos elementos de liga. Na Figura 14

apresenta-se um diagrama do sistema Fe-B no qual os principais constituintes são

as fases FeB e Fe2B.

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39

Figura 14 – Diagrama de fases binário do sistema Fe-B68

A fase FeB (célula unitária ortorrômbica) 16,3% em peso de boro, módulo de

elasticidade de 590 GPa e densidade de 6,75 g/cm3, e na fase Fe2B (célula unitária

tetragonal de corpo centrado) 8,83% em peso de boro, módulo de elasticidade entre

285 a 295 GPa e densidade de 7,43 g/cm3. À medida que os átomos de boro

difundem para o interior a partir da superfície do substrato, Fe2B é formado e

aumenta de acordo com um mecanismo de três estágios59,69,70:

Estágio I: O crescimento da camada boretada começa com a nucleação e

crescimento de cristais aciculares de Fe2B, plano [001], com o seu eixo mais

orientado paralelamente à superfície do substrato, formando uma rede de cristal com

orientações variadas;

Estágio II: À medida que esses cristais da superfície começam a tocar uns

aos outros, eles são forçados a crescer perpendicularmente a superfície, mantendo

a forma acicular;

Estágio III: A camada cresce, e a maioria dos cristais com direção axial de

crescimento (direção [001]) crescem perpendicularmente à superfície do substrato,

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40

para minimizar a resistência mecânica dos cristais adjacentes em crescimento, que

culmina na formação de um revestimento de Fe2B ao longo da direção [002].

Na Figura 15 são esquematizados os estágios de crescimento dos cristais

de Fe2B. Na Figura 16 apresentam-se micrografias eletrônicas de varredura do

processo de formação dos cristais aciculares de Fe2B.

Figura 15 – Desenho esquemático dos estágios de crescimento dos cristais de

Fe2B70

Figura 16 – Micrografias eletrônicas de varredura mostrando cristais Fe2B que, ao

crescer na superfície do substrato, foram (a) impedidos de crescer e (b)

forçados a mudar sua direção de crescimento, devido ao contato com

outros cristais de boretos adjacentes70

O coeficiente de expansão de Fe2B (2,9x10-8 K-1) é menor do que o do ferro

(5,7x10-8 K-1) e, portanto, essa fase permanece em compressão depois do

(a) (b)

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41

tratamento, enquanto que o da fase FeB (8,7x10-8 K-1) é maior do que o ferro ou

Fe2B e, logo, mantém-se sob tensão. Esta disparidade nas tensões residuais pode

resultar na formação de fissuras na zona da interface de FeB – Fe2B, especialmente

quando o componente é submetido a choque térmico e/ou mecânico59. Embora

pequenas quantidades de FeB estejam presentes na maioria das camadas de

boreto, eles não são prejudiciais quando não contínuos. No entanto, uma camada

contínua de FeB poderia levar à fragmentação61. Os boretos produzidos em ligas

ferrosas têm maior dureza e estabilidade térmica quando comparados aos

carbonetos16.

A combinação de alta dureza e baixo coeficiente de atrito das camadas

boretadas resulta numa contribuição significativa para a resistência ao desgaste. Na

Figura 17 apresenta-se um gráfico de desgaste microadesivo para o aço AISI D2

tratado em diferentes tratamentos termoquímicos. Observa-se que o aço AISI D2

boretado apresentou uma resistência ao desgaste seis vezes superior a do

substrato71.

Figura 17 – Gráficos de comportamentos ao desgaste microadesivo para um aço

AISI D2 revestido por NbC, V-C e boretos de ferro, juntamente com o

material sem tratamento71

2.4.3 Influência dos elementos de liga para materiais ferrosos

O formato da camada boretada depende principalmente dos elementos de

liga do material tratado. A configuração de “dente de serra” é característica de

camadas de boreto em ferro puro, aços de baixo carbono e aços de baixa liga. Com

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42

o aumento de elementos de liga e/ou teor de carbono no aço, a morfologia da

camada boretada torna-se menos acentuada e uma interface lisa entre camada e

substrato é formada59,69. Na Figura 18 apresenta-se as morfologias das camadas

boretadas encontradas em ligas ferrosas.

Figura 18 – (a) Camada boretada do tipo “dente de serra” produzida em um aço com

teor de carbono a 0,3%p e de fósforo a 0,02%68. (b) Camada boretada

com morfologia mais uniforme produzida em um aço AISI P2072

Com a exceção de níquel, cobalto e manganês, os elementos de liga

retardam o crescimento da camada de boretos pela formação de uma barreira de

difusão que limita a difusão de boro para o aço e aumenta a quantidade de FeB na

camada. Carbono, silício e alumínio são insolúveis em FeB e Fe2B, logo, sendo

deslocados à frente da camada durante o seu crescimento. Silício e alumínio

promovem a formação de estruturas frágeis58,59.

2.4.4 Boretação dos ferros fundidos nodulares

As camadas boretadas em ferros fundidos nodulares apresentam uma

morfologia semelhante a dos aços carbono (“dentes de serra”). Três regiões são

identificadas na seção transversal de um ferro fundido nodular boretado. (I) Fases de

boretos (FeB e/ou Fe2B) próxima a superfície, contendo nódulos de grafita similares

ao do substrato. (II) Interface entre os dentes da camada boretada e o substrato. (III)

Matriz do ferro fundido55,73.

Na Figura 19 apresenta-se a morfologia típica da secção transversal do ferro

fundido nodular boretado ou boroaustemperado.

(a) (b)

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43

Figura 19 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu-Mn-Cr-Ti

boretado a 900 ºC por 3 horas e austemperado a 300 ºC por 1 hora,

com as regiões indicadas55

A adição de cobre em ferros fundidos nodulares produz camadas

monofásicas de boreto (Fe2B) no substrato. Baixas proporções de cobre, juntamente

com baixos tempos e temperaturas de tratamento de boretação proporcionam ao

material uma interface menor abaixo da camada produzida73.

Ferros fundidos nodulares boretados são utilizados em componentes de

vários setores: têxtil, equipamentos de moldagem e fabricação de gabaritos para

fixação. O baixo coeficiente de desgaste das camadas boretadas em ferros fundidos

são similares ao do aço carbono73.

2.4.5 Tipos de boretação

A boretação pode ser realizada em diferentes meios: sólido, líquido, gasoso,

eletrolítico, plasma ou multicomponentes.

Na boretação líquida utiliza-se de um banho de sal contendo uma fonte de

boro (Na2B4O7, KBF4 ou K2B4O7) e um agente ativador (B4C, SiC, Fe-Al ou Al). A

maioria dos tratamentos baseia-se na redução de bórax fundido (Na2B4O7), a

temperaturas entre 900 e 950 ºC. Banhos de baixo custo contendo bórax com

adições de ferro-titânio e alumínio podem ser utilizados para produzir camadas de

alta qualidade. Existe também a possibilidade de utilizar apenas a adição de

alumínio ao bórax para a produção de camadas de boreto. A camada é então

formada pela combinação do ferro presente no substrato com o boro resultante da

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44

redução química de bórax pelo alumínio. A ação do alumínio facilita a formação da

camada de boretos. Após o tratamento, o excesso de sal e de boro que não reagiu

deve ser removido. Os custos de manutenção são elevados, devendo levar em

conta a necessidade de recarga regular com bórax devido ao aumento da

viscosidade do banho causada por acúmulo de produtos de reação, que prejudicam

a reprodutibilidade do tratamento, e a perda do sal promovido pelo movimento de

arraste quando se remove a peça do banho59,69.

2.4.6 Aplicações da boretação

As elevadas durezas das camadas boretadas atribuem ao material tratado

elevada resistência ao desgaste, em especial a abrasão (desgaste abrasivo). Os

materiais que atuam em condições de adesão (desgaste adesivo) também podem

ter sua resistência ao desgaste melhorada. Os boretos ainda fornecem elevada

resistência à corrosão para os materiais tratados, aumentando assim seu campo de

aplicação. Boretação pode ser usada como um revestimento multifuncional em

aplicações automotivas, como engrenagens de aço, válvulas, pistões e discos,

parafusos, bicos, unidades de engrenagens e bombas61. A lista a seguir fornece

algumas aplicações do uso de tratamentos de boretação para vários tipos de

aços59,74.

• Aço AISI 1020 – Engrenagens e eixos de bomba;

• Aço AISI W1 – Garras de fixação e barras de guia;

• Aço AISI D3 – Ferramentas de prensa, placas e mandris;

• Aço AISI C2 – Ejetores, guias e pinos;

• Aço AISI H11 – Cilindros de injeção;

• Aço AISI H13 – Moldes e matrizes (superior e inferior) para moldagem a

quente;

• Aço AISI D2 – Prensas de moldes e matrizes, rolos de gravura;

• Aço AISI E52100 – Barras de guia de reposição para equipamentos de

fundição de metais não ferrosos;

• Aço AISI 4140 – Ferramentas de prensa, parafusos da extrusora e válvulas

de retenção;

• Aço AISI 316 – Peças para as indústrias têxteis e de borracha;

• Aço AISI 410 – Componentes de válvulas e conexões;

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45

• Aço AISI 420 – Componentes da válvula, hastes de pistões, peças para

fábricas de produtos químicos, eixos e válvulas.

2.4.7 Boroaustêmpera

Boroaustêmpera consiste na combinação de dois tratamentos: boretação

(termoquímico) e austêmpera (isotérmico). Seu objetivo é a produção de uma

camada de boretos em um material austemperado diretamente a partir da

temperatura de boretação, sem a necessidade de reaquecimento posterior e com a

consequente economia. Isso resulta numa superfície de elevada dureza, resistente

ao desgaste e à corrosão, juntamente com um substrato com melhores resistências

mecânicas. O tratamento de boroaustêmpera pode melhorar acentuadamente o

desempenho dos ADI3,5,35,55,61,75.

2.5 Desgaste: tipos e características

Desgaste pode ser definido como remoção de material ou danos a uma

superfície sólida, devido a repetidos movimentos mecânicos desta superfície em

contato com outra ou com outra substância (processos químicos)76,77. O maior

desafio de resolver um problema envolvendo desgaste consiste em antecipar o(s)

tipo(s) de desgaste(s) a que os componentes serão submetidos77,78. A compreensão

dos efeitos de todas as variáveis de um sistema sobre as taxas de desgaste é de

extrema importância. Assim é possível tomar conceitos apropriados em um projeto

de máquina e na escolha dos materiais para reduzir o nível de desgaste78.

De acordo com a norma DIN 50320-72, os principais tipos de desgaste são:

abrasivo, adesivo, fadiga de superfície e reação triboquímica. Eles podem atuar de

forma individual ou conjunta79. Tais desgastes são explicados a seguir:

Desgaste abrasivo: Remoção de material mediante processo de riscamento

(ex.: processo de microcorte) ou sulcamento76.

Desgaste Adesivo: Em escala microscópica, em qualquer superfície, por

mais lisa e polida que esteja, é observada a presença de asperezas que consistem

de vários picos e vales. Caso tais superfícies sejam colocadas em contato e um

esforço seja realizado para deslizar uma sobre a outra, uma força contrária e de

mesma intensidade tenta a impedir o deslocamento. Essa força é gerada pela

deformação plástica quando as asperezas aderem-se devido a soldagens

localizadas (ligações adesivas), ficando altamente tencionadas quando as

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46

superfícies são forçadas a deslizar. Com o deslizamento relativo, a fratura ocorre

nos pontos mais fracos (força de cisalhamento) dando continuidade ao

deslizamento76,78. Desgaste adesivo é descrito como a formação e a quebra dessas

ligações adesivas interfaciais, transferindo material de uma para outra durante o

movimento relativo. Engrenagens, eixos, cames, pistões, mancais e ferramentas de

corte são exemplos de componentes que podem sofrer com esse tipo de desgaste.

Em escala industrial, o desgaste adesivo é responsável por 15% das perdas

e danos em máquinas e equipamentos76,80. Lubrificantes como a graxa e o óleo são

utilizados para evitar ou minimizar o contato entre as superfícies e diminuir o

coeficiente de atrito, desse modo é possível minimizar os efeitos desse tipo de

desgaste81.

É possível caracterizar o desgaste adesivo pela formação de filmes de

transferência fixados nas superfícies onde ocorreu o desgaste. Parte desses filmes

pode ser liberada como partículas no decorrer do processo, fazendo com que o

mecanismo passe de adesivo para abrasivo76,81. Na Figura 20 são apresentados

exemplos de filmes de transferência característicos de uma superfície desgastada

por adesão.

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47

Figura 20 – Exemplos de filmes metálicos de transferência: (a) Transferência de

filme de bronze em alumina, (b) transferência de filme de uma liga Al-Si

em um anel do pistão81 e (c) transferência de filme de um aço sobre a

superfície de outro aço de maior dureza76

Desgaste por fadiga superfícial: Formação de trincas ou esfoliação do

material devido a esforços alternados e repetitivos sobre a superfície, onde o contato

por deslizamento, rolamento ou impacto pode resultar na tensão cíclica da mesma76.

Desgaste por reação triboquímica: Contato de duas superfícies sólidas, onde

o material removido com o movimento de fricção reage quimicamente com o

ambiente, que pode ser gasoso ou líquido, formando uma camada sobre a superfície

desgastada76.

(a) (b)

(c)

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48

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Na Figura 21 apresenta-se o fluxograma dos procedimentos realizados neste

trabalho.

Figura 21 – Fluxograma dos procedimentos realizados

3.1 Materiais utilizados

No desenvolvimento desse estudo foram utilizados três ferros fundidos

nodulares perlíticos ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo, respectivamente. A

produção desses materiais foi realizada na Fundição do Grupo Indústrias Reunidas

Colombo LTDA. (FUCOL), conforme a norma ASTM A897/A897M. Os materiais

básicos da carga de fundição foram 40%p de ferro gusa, 20%p de sucata de aço e

1,6%p de Fe-Si em pedras (inoculante). Adicionou-se grafite granulado (carburante),

para regular o carbono, e carboneto de silício para ajustar a proporção de silício

necessária à produção da grafita. Para formação de nódulos de grafita foram

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49

adicionados 1,2%p de Mg-Ca. Os 37,2%p restantes foram compostos por

massalotes e sucata de peças fundidas. Para a fundição, utilizou-se um forno de

indução e o processamento ocorreu a 1500 ºC. Os materiais foram vazados em

forma de tarugos redondos em moldes de areia, com as seguintes dimensões: 2, 3 e

4 polegadas para as corridas com as adições de Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo,

respectivamente. Tais variações de dimensões deveram-se à verificação do efeito

dos elementos de liga na austemperabilidade dos materiais em trabalho anterior com

os mesmos.

3.2 Análises químicas

As composições químicas dos ferros obtidos foram determinadas por via

úmida, no Laboratório de Análises Químicas do Departamento de Engenharia de

Materiais (SMM) da EESC/USP, e as composições nominais foram obtidas da norma

ASTM A897/A897M.

3.3 Preparação dos corpos de prova

Para cada material foram preparadas 28 amostras, sendo divididas em: 18

para tratamentos termoquímicos de boroaustêmpera, 6 para o tratamentos

termoquímicos de boretação, 3 para os tratamentos isotérmicos de austêmpera e

uma (estado bruto de fundição) foi separada e utilizada como padrão para efeito

comparativo. Todas as amostras foram seccionadas por meio de uma cortadeira

metalográfica (cut-off) nas dimensões de 30x20x4 mm. As amostras foram

previamente preparadas em uma lixadeira rotativa com lixa de grana 80 mesh.

A preparação metalográfica, realizada no Laboratório de Análise

Metalográfica do SMM da EESC/USP, seguiu os procedimentos convencionais de

corte com disco abrasivo de carboneto de silício em cut-off, embutimento a quente

com baquelite, desbaste em lixas d’água até a grana de 2000 mesh e polimento com

solução aquosa de alumina 0,05 µm. Após o polimento as amostras foram limpadas

em banho álcool etílico em equipamento ultrassônico, e atacadas com Nital 2%

(solução de 98% de álcool etílico e 2% de ácido nítrico). Essa técnica foi realizada

para todas as amostras de ferro fundido nodular, ADI, boretada ou

boroaustemperada.

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50

3.4 Tratamentos isotérmicos e termoquímicos: austêmpera, boretação e

boroaustêmpera

Para os banhos dos tratamentos isotérmicos de austêmpera utilizou-se o sal

AS-140, fabricado pela empresa Durferrit. O mesmo foi fundido em caixas de aço

AISI 316. As temperaturas utilizadas na austêmpera foram 240, 300 e 360 ºC, com

tempo de permanência de 4 horas. Três fornos com resistência elétrica e com taxa

de aquecimento de 10 ºC/min foram utilizados no processo.

Os componentes usados no banho de sal para boretação foram: Bórax

(borato de sódio P.A.: Na2B4O7.10H2O) e alumínio (10% em peso). A boretação foi

realizada em um forno do tipo “fosso” com aquecimento por resistência elétrica. Um

controlador de temperatura marca Flyever, modelo FE50RP calibrado com uma taxa

de aquecimento de 10 ºC/min e um termopar do tipo “K” (cromel/alumel) também

foram usados no processo. Na Figura 22 é apresentado o sistema utilizado na

boretação.

Figura 22 – Sistema usado no tratamento termoquímico

O bórax foi fundido em um cadinho de aço AISI 316 a 1000 ºC, sendo o

alumínio adicionado gradualmente. Para homogeneização do banho, foi usada uma

haste de aço carbono com constante agitação, para uma melhor dissolução dos

aditivos.

As amostras foram lixadas em lixas d’água até a grana de 600 mesh e

limpadas em banho ultrassônico com álcool etílico, sendo posteriormente aquecidas

em um forno convencional a 110 ºC para remoção de umidade.

Controlador de temperatura

Forno tipo

“fosso”

Termopar tipo “K”

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51

As temperaturas usadas nos tratamentos termoquímicos foram 850, 900 e

950 ºC, com tempos de permanência de 2 e 4 horas. Foram introduzidas quatro

amostras por vez no banho, sendo distribuídas e fixadas em distâncias semelhantes.

Após o tempo de boretação, três amostras foram transferidas imediatamente para

seus respectivos banhos de austêmpera e uma foi resfriada ao ar. Ao término do

tempo de permanência em austêmpera, as amostras foram retiradas dos banhos e

resfriadas ao ar. Os tratamentos térmicos e superficiais foram realizados no

Laboratório de Tratamentos Térmicos do SMM da EESC/USP. Na Figura 23

apresenta-se um diagrama de Gantt, que foi utilizado com o intuito de otimizar os

processos de boretação e boroaustêmpera (boretação seguida imediatamente de

austêmpera a partir da temperatura de boretação).

Figura 23 – Diagrama de Gantt do processo de boretação e boroaustêmpera

3.5 Análises microestruturais

Após os tratamentos térmicos e superficiais, as amostras foram seccionadas

e preparadas pelo processo de metalografia convencional. Realizaram-se análises

microestruturais dos ferros fundidos nodulares brutos de fundição e austemperados,

e das seções transversais às superfícies boretadas ou boroaustemperadas, por meio

de microscopia óptica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e

espectroscopia de energia dispersiva (EDS) por raios-X. As análises ópticas (MO)

foram realizadas no Laboratório de Análise Microscópica do SMM da EESC/USP.

Foram utilizados um microscópio óptico de luz refletida marca Carl Zeiss, modelo

Axio Lab.A1 com câmera integrada. Foi utilizado o software AxioVision® para

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52

captação das imagens e para medições das espessuras das camadas e dos

diâmetros das calotas de desgaste. No caso das camadas boretadas, que

apresentam uma interface irregular com o substrato, as medições foram realizadas

conforme mostrado na Figura 24. Foram obtidas fotomicrografias das seções

transversais, com o intuito de caracterizar as estruturas dos ferros fundidos e as

camadas produzidas pelo tratamento de boretação ou boroaustêmpera.

Figura 24 – Esquema para a medição da espessura média de uma camada

boretada, produzida em um ferro fundido nodular austemperado

As fotomicrografias feitas por microscopia eletrônica de varredura foram

obtidas na Central de Análises Químicas Instrumentais do Instituto de Química de

São Carlos (CAQI/IQSC/USP) em um equipamento Carl Zeiss, modelo LEO 440 com

detector da Oxford Instruments, modelo 7060, operando com feixe de elétrons de 20

kV.

As análises de EDS por raios-X, pontual e varredura em linha (perpendicular

ao crescimento da camada e em direção ao substrato), foram realizadas na Central

de Análises Químicas Instrumentais do Instituto de Química de São Carlos

(CAQI/IQSC/USP) em um equipamento da Oxford Instruments, modelo Isis System

Series 200, com detector de SiLi Pentafet, janela ultrafina ATW II (Atmosphere Thin

Window), resolução de 133 eV à 5,9 keV e área de 10 mm2, acoplado a um

Microscópio Eletrônico Carl Zeiss, modelo LEO 440. Utilizou-se padrão de Co para

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53

calibração, feixe de elétrons de 20 kV, distância focal de 25 mm, dead time de 30%,

corrente de 2,82 A e I probe de 2,5 nA.

3.6 Ensaios de durezas

Foram realizados dois tipos de ensaios de dureza, Brinell nos substratos dos

ferros fundidos e microdureza Vickers nas camadas boretadas. Para os dois casos

foram realizados um total de 15 medições em cada material, para obtenção das

médias e desvios padrões. O ensaio Brinell foi realizado em um durômetro da Otto

Wolpert-Werke, modelo Dia Testor 2 Rc, do Laboratório de Ensaios Mecânicos do

SMM da EESC/USP. Foram usados um penetrador de esfera de aço temperado de

Ø 2,5 mm e carga de 187,5 kgf. Foi analisado o conjunto (matriz e nódulos de

grafita) dos ferros fundidos nodulares para a obtenção de uma dureza média

representativa. As medidas de microdurezas foram realizadas no Núcleo de

Pesquisa em Engenharia de Superfícies (NuPES) do SMM da EESC/USP em um

microdurômetro da marca Buehler, modelo 1600-6300, utilizando-se uma carga de

50 gf para a obtenção dos perfis de durezas das amostras boretadas e outra carga

de 200 gf a fim de obter uma dureza média da camada produzida.

3.7 Cinética

A partir dos dados de espessuras médias das camadas boretadas, obtidas

por análise microscópica, calculou-se as características cinéticas da boretação para

os ferros fundidos nodulares, utilizando a Equação 4, onde: x é a espessura de

boretação, K é o coeficiente de difusão do boro e t é o tempo de permanência do

tratamento termoquímico62,64,65,67.

𝑥 = √𝐾 𝑡 (4)

O valor do coeficiente de difusão do boro foi calculado baseado nas médias

dos coeficientes de difusão calculados para cada tempo de boretação. A energia de

ativação foi determinada pela regressão linear dos dados obtidos pela equação de

Arrehnius (Equação 5), a partir dos dados de coeficiente de difusão calculados para

cada temperatura de boretação.

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54

𝐾 = 𝐾𝑜 𝑒𝑥𝑝 (−𝑄𝑑

𝑅𝑇) (5)

Onde Ko é a constante pré-exponencial independente da temperatura, Qd é

a energia de ativação para a difusão, R é a constante dos gases: 8,31 J/mol-K ou

8,62.10-5 eV/átomo-K, e T é a temperatura absoluta em Kelvin. Tomando os

logaritmos na base 10 da Equação 5, é obtido a Equação 6.

log 𝐾 = log 𝐾𝑜 − 𝑄𝑑

2,3𝑅(

1

𝑇) (6)

Uma vez que Ko, Qd e R são constantes, a Equação 6 assume a forma de

uma linha reta, conforme mostrado na Equação 7.

𝑦 = 𝑏 + 𝑚𝑥 (7)

Onde y e x são análogos às variáveis log K e 1/T, respectivamente. Dessa

forma se o valor de log K for plotado em função do inverso da temperatura absoluta,

o resultado deverá ser uma linha reta, com inclinação e interseção com o eixo y de

-Qd/2,3R e log Ko.

3.8 Ensaios de desgaste

Ensaios de desgaste microadesivos foram realizados em um equipamento

construído no Núcleo de Pesquisa em Engenharia de Superfícies (NuPES) do SMM

da EESC/USP, mostrado na Figura 25. Esse método de ensaio é do tipo esfera

presa (calotest). Usou-se uma esfera de aço AISI 52100, temperado, com Ø 25,4

mm e 60 HRc de dureza, girando com 400 rpm e uma carga de 2,8 N contra a

amostra. Não foram utilizados abrasivos ou lubrificantes. Cada amostra foi ensaiada

com tempos de 5, 10, 15 e 20 minutos, equivalentes a 160, 320, 480 e 640 metros,

respectivamente, de distâncias percorridas, para obtenção das curvas de volumes

removidos em função da distância percorrida, para as amostras dos ferros fundidos

nodulares no estado bruto de fundição, austemperados, boretados ou

boroaustemperados. Para a realização desse ensaio, a superfície das amostras foi

preparada em lixas d’água grana de 600 mesh, polidas em solução aquosa de

alumina 0,05 µm e limpadas em banho ultrassônico com álcool etílico. Esse

Page 59: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

55

procedimento foi realizado para garantir que todas as amostras apresentassem as

superfícies nas mesmas condições, além de permitir uma melhor visualização do

resultado obtido.

Figura 25 – Equipamento utilizado para a realização do ensaio de desgaste

microadesivo

O ensaio produz uma região desgastada em forma de calota, sendo seu

diâmetro usado para a obtenção do volume desgastado segundo a Equação 8,

onde: V: volume removido; d: diâmetro médio da calota formada e R: raio da esfera,

12,7 mm. Essa equação somente é válida quando a camada não é perfurada

durante o ensaio71,82,83. A Figura 26 ilustra um esquema da calota de desgaste

obtida em um ensaio microadesivo.

𝑉 = 𝜋𝑑4

64𝑅2 (𝑅−𝑑4

8𝑅) ≅

𝜋𝑑4

64𝑅; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑑 <<< 𝑅 (8)

Porta amostra

Esfera do aço AISI 52100

Amostra

Contra peso

Peso

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56

Figura 26 – Esquema ilustrativo da calota no ensaio de desgaste microadesivo

Após os ensaios as amostras foram limpadas em um banho ultrassônico

com álcool etílico, para a remoção de resíduos decorrentes do desgaste. Em

seguida as calotas foram observadas em um microscópio óptico, para obtenção de

seus diâmetros médios e análise dos mecanismos de desgaste atuantes. Após os

cálculos dos volumes removidos, para todos os tempos de ensaio, as curvas de

desgaste foram obtidas plotando-se em gráficos os volumes removidos (mm3) em

função das distâncias percorridas (m).

Page 61: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

57

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análises químicas

As composições químicas, obtidas por via úmida, dos ferros fundidos

nodulares ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Composições químicas dos ferros fundidos nodulares (% em peso)

Elementos

químicos

Ferro fundido

nodular Cu

Ferro fundido

nodular Cu-Ni

Ferro fundido

nodular Cu-Ni-Mo

C 3,71 3,73 3,78

Si 2,69 2,65 2,56

Mn 0,22 0,22 0,25

Cu 0,69 0,68 0,69

Ni - 1,24 1,69

Mo - - 0,27

Fe Balanço Balanço Balanço

As composições dos elementos químicos se enquadram nos limites

especificados pela norma ASTM A897/A897M.

4.2 Caracterização dos ferros fundidos nodulares

4.2.1 Ferros fundidos nodulares nos estados brutos de fundição e austemperados

Na Figura 27 apresenta-se as micrografias eletrônicas de varredura das três

amostras dos ferros fundidos nodulares nos estados brutos de fundição.

Page 62: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

58

Figura 27 – Micrografias eletrônicas de varredura dos ferros fundidos nodulares

brutos de fundição ligados com (a) Cu, (b) Cu-Ni e (c) Cu-Ni-Mo,

respectivamente. Ataque químico: Nital 3%

Observa-se em todos os ferros fundidos a presença de matrizes perlíticas,

com regiões ferríticas envolvendo os nódulos de grafita. Essa estrutura é conhecida

como “olho-de-boi”, e se deve à reação eutetóide estável (γ → α + grafita),

velocidade de resfriamento e composição química do material1,43,84,85.

Nas Figuras 28 a 30 são apresentadas as micrografias eletrônicas de

varredura realizadas nos três ferros fundidos austemperados nas temperaturas de

240, 300 e 360 ºC, respectivamente.

Page 63: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

59

Figura 28 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesse último são

indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3%

As temperaturas de austêmpera de 240 e 300 ºC proporcionaram

microestruturas mais refinadas e semelhantes. A austêmpera realizada a 360 ºC

produziu uma microestrutura mais grosseira e acarretou no aumento do nível de

austenita retida, sendo encontrada entre as ripas de ferrita acicular ou na forma de

blocos. Tais características foram observadas em outros trabalhos de austêmpera

nos ADIs1,51,55,86.

Page 64: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

60

Figura 29 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu-Ni

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesse último são

indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3%

A microestrutura produzida no ferro fundido nodular austemperado em baixa

temperatura de austempêra (Figura 29a) é mais refinada. Na temperatura de

austêmpera mais elevada obteve-se uma microestrutura mais grosseira, com a

presença de blocos de austenita retida (Figura 29c). Verifica-se também que com o

aumento da temperatura de austêmpera, aumenta também a fração volumétrica de

austenita retida. Outros pesquisadores também encontraram essa influência da

temperatura de austêmpera na morfologia do ADI1,51,55,86.

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61

Figura 30 – Micrografias eletrônicas de varredura do ADI ligado com Cu-Ni-Mo

austemperado a (a) 240, (b) 300 e (c) 360 ºC. Nesses dois últimos

são indicadas (setas vermelhas) as regiões no formato de blocos de

austenita retida. Ataque químico: Nital 3%

A microestrutuda ausferrítica produzida a 240 ºC (Figura 30a) apresentou

uma morfologia mais refinada e um volume maior de ferrita acicular, quando

comparada com as microestruturas produzidas nas demais temperaturas de

austêmpera. O tratamento de austêmpera a 300 ºC (Figura 30b) produziu uma

microestrutura com grãos de ferrita acicular grosseiros e em algumas áreas a

austenita retida foi encontrada na forma de blocos. A temperatura de tratamento de

360 ºC (Figura 30c) conferiu uma microestrutura com elevado nível de austenita

retida na forma de blocos, o que está associado à quantidade de elementos de liga

adicionados ao ferro fundido. Essa mesma morfologia foi observada em outros

estudos1,49-51,55,86,87.

Para as três composições analisadas ocorreram mudanças na estrutura com

o aumento da temperatura de austêmpera. Os ADIs austemperados a 240 ºC

apresentaram estruturas mais refinadas do que os ADIs austemperados a 300 e 360

Page 66: FÁBIO EDSON MARIANI Tratamentos térmicos e termoquímicos ... · Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado

62

ºC. Isso ocorre porque quanto menor a temperatura de austêmpera, maior é o

resfriamento da austenita e menor a taxa de difusão do carbono, favorecendo a

formação de pontos de nucleação da ferrita acicular, formando ausferrita refinada.

Efeito contrário ocorre para a maior temperatura de austêmpera, onde a taxa de

difusão de carbono é maior, desenvolvendo a ausferrita grosseira. Quanto maior a

quantidade de ligantes e maior a temperatura de austêmpera, menos refinada fica a

estrutura ausferrítica42,52-55.

A presença de quantidades crescentes de austenita retida com o aumento

dos teores de elementos de liga pode ser explicada com o uso da Equação 9,

relacionando a temperatura de início de transformação bainítica (Bs). Tal fórmula,

usada para o caso dos aços, na qual se verifica a forte influência dos elementos de

liga no abaixamento da temperatura de transformação pode indicar o

comportamento de transformação dos ADIs. O abaixamento simultâneo da

temperatura final de transformação bainítica (Bf) pode acarretar um volume

crescente de austenita retida88.

𝐵𝑆 = 830 − 270𝐶 − 90𝑀𝑛 − 37𝑁𝑖 − 70𝐶𝑟 − 83𝑀𝑜 (9)

4.2.2 Ferros fundidos nodulares nos estados boretados e boroaustemperados

Na Figura 31 apresenta-se a micrografia da secção transversal do ferro

fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC por 4 horas. Essa morfologia é

verificada nas demais amostras boretadas ou boroaustemperadas55,73. Nas Figuras

32 a 34 são apresentadas as micrografias ópticas das três composições de ferros

fundidos nodulares boretados ou boroaustemperados em diferentes condições.

Figura 31 – Secção transversal do ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a

850 ºC por 4 horas e resfriado ao ar, com as regiões indicadas. Ataque

químico: Nital 2%

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63

Figura 32 – Ferro fundido nodular ligado com Cu. Temperatura de boretação 900ºC.

Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados ao ar;

boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC. Ataque

químico: Nital 2%

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64

Figura 33 – Ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni. Temperatura de boretação

850ºC. Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados

ao ar; boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC.

Ataque químico: Nital 2%

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65

Figura 34 – Ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni-Mo. Temperatura de boretação

950ºC. Somente boretados durante (a.1) 2 e (a.2) 4 horas e resfriados

ao ar; boretados por (b.1) 2 e (b.2) 4 horas e austemperados a 240 ºC;

boretados por (c.1) 2 e (c.2) 4 horas e austemperados a 300 ºC; e

boretados por (d.1) 2 e (d.2) 4 horas e austemperados a 360 ºC.

Ataque químico: Nital 2%

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66

Verifica-se três regiões distintas na seção transversal dos ferros fundidos

nodulares boretados ou boroaustemperados: (I) Camada de boretos de ferro que

inclui nódulos de grafita; (II) interface entre os dentes de boretos e a (III) matriz do

substrato. Tais morfologias foram observadas em outros trabalhos de boretação e

boroaustêmpera em ferros fundidos nodulares55,73.

Os substratos das amostras boretadas de forro fundido nodular ligado com

Cu-Ni ou Cu-Ni-Mo, Figuras 33 (a.1 e a.2) e 34 (a.1 e a.2), apresentaram estruturas

ausferríticas. Isso pode estar associado aos elementos adicionados ao material, que

alteraram o diagrama TTT (curva temperatura, tempo e transformação) do mesmo.

Esse caso não se repete nas amostras boretadas do ferro fundido ligado com Cu,

Figura 32 (a.1 e a.2), que apresenta matriz perlítica.

Conforme a temperatura de tratamento aumenta, a espessura da camada

também aumenta. Esse fato pode ser explicado pelo crescimento cinético que ocorre

em dois estágios. O primeiro obedece a uma equação parabólica: x2 = Kt, onde x é a

espessura obtida, K é o coeficiente de difusão do boro e t é o tempo de tratamento.

O segundo estágio é representado por uma reta conforme a fórmula: x = K’t + b,

onde K’ é o coeficiente angular da reta. O crescimento da camada de boretos passa

de uma curva parabólica para um patamar linear. Essas características foram

encontradas na literatura, onde diversos trabalhos relatam o comportamento cinético

de tratamentos termoquímicos62-67. As espessuras das camadas produzidas e

obtidas a partir das análises microscópicas são mostradas na Tabela 2.

Tabela 2 – Espessuras médias medidas por análises microscópicas das camadas

produzidas nos ferros fundidos nodulares

Temp. de

boretação

(ºC)

Tempo de

boretação

(horas)

Espessura das camadas boretadas (µm)

Ferro fundido

nodular Cu

Ferro fundido

nodular Cu-Ni

Ferro fundido

nodular Cu-Ni-Mo

850

2

4

50

80

50

80

35

60

900

2

4

80

110

80

110

60

85

950

2

4

100

130

100

130

100

130

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67

Os ferros fundidos nodulares ligados com Cu e Cu-Ni apresentaram

camadas com espessuras semelhantes para as mesmas condições de tratamento.

Observa-se que a adição de Ni ao ferro fundido ligado apenas com Cu não

influenciou na espessura da camada. A adição de Mo retardou a formação da

camada de boretos. Esse fenômeno está associado à formação de uma barreira de

difusão que limita a difusão do boro para o substrato. Outros estudos verificaram o

mesmo efeito em ligas com diferentes composições químicas58,59.

Nas Figuras 35 e 36 são apresentadas as análises de espectroscopia de

energia dispersiva (EDS) por raios-X (em linha a partir da superfície da camada de

boretos em direção ao substrato) das secções transversais dos ferros fundidos

nodulares boretados ou boroaustemperados. As análises de EDS por raios-X não

identificaram o boro devido ao seu pequeno raio atômico.

Figura 35 – EDS por raios-X em linha da secção transversal de um ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni. Boretado a 850 ºC por 2 horas e

austemperado a 240 ºC

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68

Figura 36 – EDS por raios-X em linha da secção transversal de um ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni-Mo. Boretado a 850 ºC por 4 horas e

resfriado ao ar

Observa-se que as varreduras em linha (EDS por raios-X) das secções

transversais das amostras apresentaram maior concentração de silício abaixo da

camada boretada (interface). Isso ocorre devido à difusão do elemento da superfície

em direção ao centro do substrato, durante a formação da camada, devido sua baixa

solubilidade na mesma. Tais características foram observadas em outros trabalhos

de tratamentos termoquímicos de boretação58,59,73.

Nas Figuras 37 e 38 são apresentadas as análises de espectroscopia de

energia dispersiva (EDS) por raios-X pontual, valores semiquantitativos, das secções

transversais dos ferros fundidos nodulares ligados com Cu ou Cu-Ni, boretados a

900 ºC por 4 horas e austemperados a 240 ºC.

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69

Figura 37 – Análises de EDS por raios-X pontuais da secção transversal do ferro

fundido nodular ligado com Cu boretado a 900 ºC por 4 horas e

austemperado a 240ºC

Figura 38 – Análises de EDS por raios-X pontuais da secção transversal do ferro

fundido nodular ligado com Cu-Ni boretado a 900 ºC por 4 horas e

austemperado a 240 ºC

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70

Verifica-se, na Figura 37, que foram detectados nos Ponto 1, 4 e 5 somente

a presença de ferro, sendo esse associado à boretos formadores do revestimento.

Nos Pontos 2 e 3, localizados abaixo da camada (interface), são observados a

presença de silício e cobre, juntamente ao ferro. Na Figura 38 nota-se a presença

apenas de ferro nos Pontos 1, 2 e 5. Também são observados ferro, silício, cobre e

níquel nos Pontos 3 e 4. Os elementos Cu, Ni e Si estão ligados as composições

químicas dos ferros fundidos nodulares, sendo esse último utilizado na formação da

grafita.

Apresenta-se na Tabela 3 os resultados de dureza Brinell para os ferros

fundidos no estado bruto de fundição ou austemperados.

Tabela 3 – Resultados dos ensaios de dureza Brinell para os três ferros fundidos

nodulares brutos de fundição e austemperados (dureza em HB)

Material Bruto de

fundição

Temperatura de austêmpera

(ADIs)

240 ºC 300 ºC 360 ºC

Ferro Fundido ligado com Cu 242 ± 3 474 ± 7 344 ± 9 339 ± 8

Ferro Fundido ligado com Cu-Ni 266 ± 4 463 ± 5 338 ± 6 336 ± 6

Ferro Fundido ligado com Cu-Ni-Mo 313 ± 15 456 ± 8 405 ± 10 316 ± 4

A adição de elementos de liga nos ferros nodulares aumentou as durezas

dos materiais brutos de fundição. Nos ADIs observou-se o efeito inverso, exceto

para o ADI ligado com Cu-Ni-Mo austemperado a 300 ºC. Percebe-se também que

com o aumento da temperatura de austêmpera ocorreu um decréscimo da dureza

dos materiais. Isso ocorre devido à ausferrita grosseira presente em temperaturas

maiores do tratamento. Conforme a temperatura de austêmpera aumenta, aumenta

também a quantidade de austenita retida. A estrutura cúbica de face centrada (CFC)

da austenita tem grande número de direções e planos de deslizamento,

consequentemente possui maior ductilidade comparada à estrutura cúbica de corpo

centrado (CCC) da ferrita acicular. Logo, o aumento da austenita retida na

morfologia do material proporciona baixas durezas aos ADIs, o mesmo acontece

com a ductilidade. Esses resultados são consistentes com os encontrados na

literatura54,87.

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71

Nas Tabelas 4 a 6 são apresentados os resultados de microdureza Vickers

para os revestimentos produzidos.

Tabela 4 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu boretado ou boroaustemperado (dureza da camada em

HV)

Material / Temperatura de boretação 850 ºC 900 ºC 950 ºC

Liga Cu boretada por 2h 1473 ± 27 1414 ± 19 1663 ± 42

Liga Cu boretada por 4h 1564 ± 26 1586 ± 23 1658 ± 31

Liga Cu boretada por 2h e

austemperada a 240 ºC 1476 ± 31 1462 ± 34 1683 ± 37

Liga Cu boretada por 4h e

austemperada a 240 ºC 1521 ± 24 1503 ± 31 1669 ± 35

Liga Cu boretada por 2h e

austemperada a 300 ºC 1439 ± 30 1446 ± 26 1652 ± 32

Liga Cu boretada por 4h e

austemperada a 300 ºC 1526 ± 26 1518 ± 29 1649 ± 44

Liga Cu boretada por 2h e

austemperada a 360 ºC 1436 ± 34 1473 ± 21 1682 ± 41

Liga Cu boretada por 4h e

austemperada a 360 ºC 1509 ± 31 1524 ± 22 1673 ± 36

Tabela 5 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu-Ni boretado ou boroaustemperado (dureza da camada

em HV)

Material / Temperatura de boretação 850 ºC 900 ºC 950 ºC

Liga Cu-Ni boretada por 2h 1467 ± 32 1470 ± 29 1681 ± 42

Liga Cu-Ni boretada por 4h 1520 ± 21 1538 ± 33 1677 ± 39

Liga Cu-Ni boretada por 2h e

austemperada a 240 ºC 1453 ± 35 1489 ± 26 1658 ± 37

Liga Cu-Ni boretada por 4h e

austemperada a 240 ºC 1543 ± 26 1502 ± 31 1653 ± 43

Liga Cu-Ni boretada por 2h e

austemperada a 300 ºC 1445 ± 30 1471 ± 37 1662 ± 45

Liga Cu-Ni boretada por 4h e

austemperada a 300 ºC 1504 ± 24 1553 ± 32 1685 ± 38

Liga Cu-Ni boretada por 2h e

austemperada a 360 ºC 1485 ± 29 1464 ± 35 1660 ± 42

Liga Cu-Ni boretada por 4h e

austemperada a 360 ºC 1513 ± 26 1511 ± 27 1672 ± 31

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72

Tabela 6 – Resultados dos ensaios de microdureza Vickers para o ferro fundido

ligado com Cu-Ni-Mo boretado ou boroaustemperado (dureza da

camada em HV)

Material / Temperatura de boretação 850 ºC 900 ºC 950 ºC

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 2h 1335 ± 24 1473 ± 37 1767 ± 51

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 4h 1449 ± 31 1548 ± 45 1765 ± 49

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 2h e

austemperada a 240 ºC 1398 ± 26 1482 ± 33 1774 ± 34

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 4h e

austemperada a 240 ºC 1478 ± 23 1594 ± 49 1782 ± 45

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 2h e

austemperada a 300 ºC 1366 ± 26 1423 ± 38 1763 ± 56

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 4h e

austemperada a 300 ºC 1490 ± 35 1583 ± 51 1786 ± 52

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 2h e

austemperada a 360 ºC 1309 ± 39 1462 ± 45 1775 ± 48

Liga Cu-Ni-Mo boretada por 4h e

austemperada a 360 ºC 1446 ± 28 1579 ± 55 1771 ± 43

Verifica-se que para os dois tratamentos, boretação e boroaustêmpera,

foram produzidos revestimentos de elevadas durezas. A temperatura de tratamento

termoquímico mais alta (950 ºC) resultou em camadas com durezas mais elevadas,

quando comparada com as demais (850 e 900 ºC, respectivamente). Isso esta

associado ao aumento da fase FeB, que apresenta maior dureza quando comparada

com a fase Fe2B. Os valores obtidos para as camadas de boretos são condizentes

com os encontrados na literatura59,69. Na Figura 39 é demonstrado um perfil de

microdureza Vickers para um ferro fundido nodular ligado com Cu boretado a 850 ºC

por 4 horas.

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73

Figura 39 – Perfil de microdureza Vickers em um ferro fundido nodular ligado com

Cu boretado a 850 ºC por 4 horas e resfriado ao ar. Ataque químico:

Nital 2%

Note-se que a dureza da camada perto da superfície é de cerca de 1700 HV,

diminuindo em direção ao substrato. A dureza obtida na interface foi de 600 HV,

muito inferior às obtidas na camada boretada e semelhantes as do substrato. Todas

as amostras boretadas ou boroautemperadas apresentaram comportamento

semelhante.

4.3 Cinética dos tratamentos termoquímicos de boretação

4.3.1 Cálculo do coeficiente de difusão do boro

Na literatura foram encontrados trabalhos que consideram que o

crescimento da camada boretada obedece à equação x2 = Kt. Com base nisso, o

coeficiente de difusão do boro (K) foi calculado para cada tempo de permanência do

tratamento termoquímico (t), em seguida foram calculados os coeficiente de difusão

médio da temperatura de boretação62-67. Os valores médios das espessuras das

camadas boretada (x) foram os mesmos obtidos por análises microscópicas. Nas

Tabelas 7 e 8 são apresentados os coeficiente de difusão do boro calculado para

cada tempo de boretação e os coeficientes de difusão médio para cada temperatura

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74

do tratamento, juntamente com as espessuras das camadas calculadas utilizando o

coeficiente de difusão médio, para os ferros fundidos ligados com Cu, Cu-Ni e Cu-Ni-

Mo, respectivamente.

Tabela 7 – Resultados para os cálculos dos coeficientes de difusão e médias das

espessuras da camada boretada calculadas para o ferro fundido nodular

ligado com Cu ou Cu-Ni

Temp. de

boretação

(ºC)

Tempo de

boretação

(horas)

Espessura

da camada

obtida (µm)

Coeficiente

de difusão

(m2s-1)

Média dos

coeficientes

de difusão

(m2s-1)

Espessura

da camada

calculada

(µm)

850

2

4

50

80

3,47x10-13

4,44x10-13

3,95x10-13

53,3

75,4

900

2

4

80

110

8,89x10-13

8,41x10-13

8,65x10-13

78,9

111,6

950

2

4

100

130

1,39x10-12

1,17x10-12

1,28x10-12

96,0

135,7

Tabela 8 – Resultados para os cálculos dos coeficientes de difusão e médias das

espessuras das camadas boretada calculadas para o ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni-Mo

Temp. de

boretação

(ºC)

Tempo de

boretação

(horas)

Espessura

da camada

obtida (µm)

Coeficiente

de difusão

(m2s-1)

Média dos

coeficientes

de difusão

(m2s-1)

Espessura

da camada

calculada

(µm)

850

2

4

35

60

1,70x10-13

2,50x10-13

2,10x10-13

38,9

55,0

900

2

4

60

85

5,00x10-13

5,02x10-13

5,01x10-13

60,0

84,9

950

2

4

100

130

1,39x10-12

1,17x10-12

1,28x10-12

96,0

135,7

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75

A cinética de crescimento das camadas de boretos obtidos na superfície dos

três ferros fundidos nodulares é estimada pelo modelo simples que considera o

tempo de permanência e os coeficientes de difusão em função das diferentes

temperaturas e tempos do tratamento termoquímico de boretação. Os valores

calculados das espessuras por meio do coeficiente de difusão médio estão em boa

concordância com os obtidos por análises microscópicas.

4.3.2 Cinética do tratamento de boretação nos ferros fundidos nodulares

Os resultados da energia de ativação do tratamento de boretação são

apresentados pelo cálculo dos coeficientes de difusão médio em cada temperatura

analisada, considerando que o coeficiente de difusão varia com a temperatura de

acordo com a equação de Arrehnius (Equação 6).

As cinéticas das reações foram determinadas pela regressão linear dos

dados de ln K (m2.s-1) em função do inverso da temperatura (1/T). Os valores de Ln

K e 1/T, para o cálculo da energia de ativação dos três ferros fundido boretados, são

apresentados nas Tabelas 9 e 10.

Tabela 9 – Resultados obtidos para determinação da energia de ativação para

amostras boretadas de ferro fundido nodular ligado com Cu ou Cu-Ni

Temp. de

boretação (ºC) 1/T (10-3.K-1)

Média dos

coeficientes de

difusão (m2.s-1)

ln da média dos

coeficientes de

difusão (m2.s-1)

850 0,89 3,95x10-13 -28,56

900 0,85 8,65x10-13 -27,78

950 0,82 1,28x10-12 -27,38

Tabela 10 – Resultados obtidos para determinação da energia de ativação para

amostras boretadas de ferro fundido nodular ligado com Cu-Ni-Mo

Temp. de

boretação (ºC) 1/T (10-3.K-1)

Média dos

coeficientes de

difusão (m2.s-1)

ln da média dos

coeficientes de

difusão (m2.s-1)

850 0,89 2,10x10-13 -29,19

900 0,85 5,01x10-13 -28,32

950 0,82 1,28x10-12 -27,38

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76

Os valores calculados para ln K e 1/T, juntamente com os resultados da

análise por regressão linear são apresentados nas Figuras 40 e 41.

Figura 40 – Determinação da energia de ativação para o ferro fundido nodular ligado

com Cu ou Cu-Ni por regressão linear

Figura 41 – Determinação da energia de ativação para o ferro fundido nodular ligado

com Cu-Ni-Mo por regressão linear

O produto do coeficiente angular da reta encontrada por regressão linear e a

constante dos gases (8,31 J/mol-K) fornece a energia de ativação do processo (Qd).

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77

Logo, para os ferros fundidos nodulares ligados com Cu ou Cu-Ni o valor de energia

de ativação obtido foi de 141,27 kJ/mol, e para o ferro fundido ligado com Cu-Ni-Mo

foi de 212,98 kJ/mol. Verifica-se que os parâmetros estatísticos, coeficientes de

correlação (R) e de determinação (R2), apresentaram resultados satisfatórios.

4.4 Ensaios de desgaste microadesivo

Apresenta-se na Figura 42 as micrografias dos interiores das calotas do

último tempo de desgaste (20 minutos) para o ferro fundido nodular ligado com Cu-

Ni sem tratamento ou austemperados a 240, 300 e 360 ºC, respectivamente.

Figura 42 – Aspectos dos interiores das calotas de desgaste. Distância percorrida

aproximada: 640 m. (a) Ferro fundido ligado com Cu-Ni, (b) ADI Cu-Ni

austemperado a 240 ºC, (c) ADI Cu-Ni austemperado a 300 ºC e (d)

ADI Cu-Ni austemperado a 360 ºC

Para as três composições analisadas de ferros fundidos nodulares no estado

bruto de fundição ou austemperados, a morfologia da superfície de desgaste indicou

dois mecanismos de desgaste atuantes. O primeiro do tipo abrasão a dois corpos,

com a presença dos riscos característicos. O segundo mecanismo observado é o

adesivo, representado pelos filmes metálicos de transferência. As mesmas

características foram observadas nos demais tempos de ensaio.

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78

Na Figura 43 é mostrada a micrografia do interior da calota do último tempo

de desgaste (20 minutos) para o ferro fundido nodular ligado com Cu boretado por 2

horas e resfriado ao ar. Verifica-se a presença de filmes metálicos de transferência,

característica do desgaste adesivo. O mesmo foi observado nos demais tempos de

ensaio. Para todas as amostras boretadas ou boroaustemperadas o mecanismo de

desgaste atuante foi do tipo adesivo.

Figura 43 – Aspecto do interior da calota de desgaste do ferro fundido nodular

boretado por 2 horas, resfriado ao ar, para o último tempo de ensaio.

Distância percorrida aproximada: 640 m

Nas Figuras 44 a 46 são apresentados os gráficos de desgaste

microadesivos dos ferros fundidos brutos de fundição, ADIs, boretados ou

boroaustemperados, para o ferro fundido ligado com Cu.

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79

Figura 44 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 850

ºC

Figura 45 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 900

ºC

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80

Figura 46 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado ou

boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de 950

ºC

Verifica-se que o ferro fundido no estado bruto de fundição apresentou

menor resistência ao desgaste adesivo quando comparado com as demais

amostras. Entre os ADIs, as amostras tratadas em menores temperaturas

apresentaram inicialmente melhores resultados. Durante os ensaios ocorreu uma

convergência de comportamentos, sendo que ao final tais desempenhos foram

similares. Para as amostras boretadas ou boroaustemperadas, nas Figuras 44 e 45,

as que apresentaram melhores resistências ao desgaste foram a boretada e as

boroaustemperadas a 240, 300 e 360 ºC, todas com tempo de boretação de 4 horas.

Na Figura 46 verifica-se que as amostras boretadas ou boroaustemperadas

apresentaram comportamentos de desgaste semelhantes para os dois tempos de

tratamentos termoquímicos.

Nas Figuras 47 a 49 são apresentados os gráficos de desgaste

microadesivos dos ferros fundidos brutos de fundição, ADIs, boretados ou

boroaustemperados, para o material apenas ligado com Cu-Ni.

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81

Figura 47 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado

ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de

850 ºC

Figura 48 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado

ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de

900 ºC

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82

Figura 49 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni. Material no estado bruto de fundição, austemperado, boretado

ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento termoquímico de

950 ºC

Verificou-se que o ferro fundido nodular no estado bruto de fundição

demonstrou menor resistência ao desgaste adesivo quando comparado com as

demais amostras. Entre os ADIs, as amostras apresentaram comportamentos

distintos no decorrer dos ensaios, sendo que no final os desempenhos das

amostras austemperadas a 300 e 360 ºC foram próximos. O ADI austemperado a

240 ºC demonstrou maior resistência ao desgaste, comparado aos austemperados a

300 e 360 ºC. Para as amostras boretadas ou boroaustemperadas, as que

evidenciaram melhores resistências ao desgaste foram a boretada e as

boroaustemperadas a 240, 300 e 360 ºC, todas com tempo de boretação de 4 horas.

Nas Figuras 50 a 52 são apresentados os gráficos de desgaste

microadesivos dos ferros fundidos brutos de fundição, ADIs, boretados ou

boroaustemperados, para o material apenas ligado com Cu-Ni-Mo.

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83

Figura 50 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 850 ºC

Figura 51 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 900 ºC

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84

Figura 52 – Gráficos de desgaste microadesivo do ferro fundido nodular ligado com

Cu-Ni-Mo. Material no estado bruto de fundição, austemperado,

boretado ou boroaustemperado. Temperatura do tratamento

termoquímico de 950 ºC

Verifica-se que o ferro fundido no estado bruto de fundição apresentou

menor resistência ao desgaste adesivo quando comparado às outras amostras.

Dentre os ADIs, o que apresentou maior resistência ao desgaste foi o austemperado

a 240 ºC, seguido por 300 e 360 ºC.

Para as amostras boretadas ou boroaustemperadas, Figuras 50 e 51, as que

apresentaram maiores resistências ao desgaste foram a boretada e as

boroaustemperadas a 240, 300 e 360 ºC, todas com tempo de boretação de 4 horas.

Na Figura 52 nota-se que as amostras boretadas ou boroaustemperadas

apresentaram comportamentos de desgaste semelhantes para os dois tempos de

tratamento termoquímico. As camadas boretadas produzidas nos ferros fundidos

mais ligados, Cu-Ni e Cu-Ni-Mo tiveram os melhores comportamentos ao desgaste,

com a última apresentando um desempenho excepcional, seguido das do Cu-Ni. Isto

pode estar associado a formação de boretos mistos de maiores durezas formados

com os elementos de liga.

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85

5 CONCLUSÕES

A energia de ativação calculada para os ferros fundidos nodulares ligados

com Cu e Cu-Ni (141,27 kJ/mol) é inferior a energia de ativação para o ferro fundido

ligado com Cu-Ni-Mo (212,98 kJ/mol). Logo, a adição de Mo ao ferro fundido nodular

retardou a formação da camada, sendo necessária uma energia de ativação maior

para que o revestimento fosse formado.

Os tratamentos isotérmicos de austêmpera aumentaram significativamente

(até 4 vezes) as resistências ao desgaste dos ferros nodulares, sendo que para as

três composições, os ADIs austemperados a 240 ºC apresentaram os melhores

desempenhos, seguidos pelos tratados a 300 e 360 ºC.

Os tratamentos de boretação foram altamente eficazes no aumento das

resistências ao desgaste adesivo das amostras. Para os três materiais analisados,

as maiores temperaturas e tempos do tratamento termoquímico resultaram nos

melhores desempenhos ao desgaste.

O tratamento de boroaustêmpera proporcionou camadas com características

semelhantes aos das camadas obtidas com boretação seguida de resfriamento ao

ar, o que indica a viabilidade desse tratamento.

Foram verificados aumentos nas durezas dos revestimentos obtidos com

maiores tempos de tratamento, o que pode estar associado ao aumento do teor da

fase FeB na camada de boretos, com o consequente aumento de durezas e

resistências ao desgaste.

As camadas boretadas produzidas nos ferros fundidos mais ligados, Cu-Ni e

Cu-Ni-Mo tiveram os melhores comportamentos ao desgaste, com a última

apresentando um desempenho excepcional, seguido das do Cu-Ni. Isto pode estar

associado à formação de boretos mistos de maiores durezas formados com os

elementos de liga. As resistências ao desgaste das amostras de ferro fundido

nodular ligado com Cu-Ni-Mo boretadas ou boroaustemperadas foram aumentadas

em até 40x em relação às amostras brutas de fundição ou apenas austemperadas.

O aumento acentuado da resistência ao desgaste proporcionado pelos

tratamentos de boretação ou de boroaustêmpera nos ferros fundidos nodulares

indica a possibilidade de se expandir o campo de aplicação dos mesmos e reduzir

custos de manutenção, aumentando assim a vida útil em serviço de peças e

componentes.

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