fabianalucioliveira - supremo tribunal e a dimensionabilidade da votação

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38º Encontro Anual da ANPOCS GT18 - Instituições judiciais, agentes e repercussão pública 2º Sessão - Conflitos morais e lutas políticas nos tribunais Supremo Tribunal Federal – a dimensionalidade da votação Fabiana Luci de Oliveira Caxambu, 27 a 31 de Outubro de 2014

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FabianaLuciOliveira - Supremo Tribunal e a Dimensionabilidade da votação

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  • 38 Encontro Anual da ANPOCS

    GT18 - Instituies judiciais, agentes e repercusso pblica

    2 Sesso - Conflitos morais e lutas polticas nos tribunais

    Supremo Tribunal Federal a dimensionalidade da votao

    Fabiana Luci de Oliveira

    Caxambu, 27 a 31 de Outubro de 2014

  • 1

    Processo decisrio no Supremo Tribunal Federal a dimensionalidade da votao Fabiana Luci de Oliveira1 Resumo

    O artigo discute a formao de grupos de votao no STF, enfocando as alteraes de composio do tribunal, verificando o impacto da trajetria de carreira dos ministros na determinao da composio dos grupos e no processo decisrio do STF. A discusso se insere no debate terico sobre comportamento judicial e relaes entre Judicirio e poltica. O cerne est na dinmica decisria interna, visando mapear fatores capazes de explicar o comportamento de voto dos juzes. Trs modelos tericos esto em disputa: legal, atitudinal e estratgico, com a articulao de suas caractersticas principais nas abordagens neoinstitucionais. No Brasil, o modelo atitudinal criticado a partir do questionamento de sua aplicabilidade nossa realidade, e dificuldade de operacionalizao da ideologia dos juzes. O artigo se posiciona nesta discusso ao buscar responder se importa quem est sentado no STF no momento da deciso e se e como possvel testar o papel da ideologia dos ministros. Para isso, so analisadas ADIns decididas de forma majoritria entre 1995-2012, buscando explicar o dissenso, e entender o papel da trajetria de carreira dos ministros nessas divises.

    Palavras-chave: Supremo Tribunal Federal, processo decisrio, comportamento judicial, dissenso, ideologia, trajetria de carreira.

    Introduo

    O objetivo central do paper discutir a formao de grupos e a constituio de

    redes de votao no Supremo Tribunal Federal, enfocando as alteraes de composio

    da corte ao longo de dezessete anos (1995-2012), verificando o impacto da trajetria de

    carreira dos ministros (e de outras variveis) na determinao da composio dos grupos

    (redes) e no processo decisrio do STF.

    Essa discusso se insere em um debate terico mais amplo sobre comportamento

    judicial e relaes entre Poder Judicirio e poltica, pensando a forma pela qual os

    tribunais participam do processo decisrio. O debate tem se constitudo em pelo menos

    quatro mbitos: do desenho institucional, focando as caractersticas e ferramentas que 1 Professora do Departamento e do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal de So Carlos. Bolsista Produtividade CNPq. O paper apresenta os resultados iniciais de pesquisa que conta com financiamento da FAPESP. A autora agradece as alunas de iniciao cientfica Sarah Pereira e Simone Braghin pela dedicao na coleta e codificao dos dados das ADIns.

  • 2

    possibilitam ao Judicirio ter impacto nas decises polticas2; da mobilizao dos

    tribunais por atores polticos diversos, e a consequente formao de uma agenda temtica

    a partir da alada de assuntos de impacto politico, econmico e social aos tribunais3; da

    dinmica interna, ou seja, do processo de deciso e das respostas que os tribunais tm

    dado4; e da reao dos diversos atores s decises do tribunal (compliance)5.

    Embora o projeto que d origem ao paper passe por esses quatro mbitos, o cerne

    aqui a dinmica decisria interna, inserindo-se em uma agenda de pesquisas empricas

    que busca mapear os fatores e as caractersticas capazes de explicar o comportamento de

    voto dos juzes que integram os tribunais superiores. Esta agenda tm sido influenciada

    por trs modelos tericos principais, elaborados para entender o comportamento da

    Suprema Corte norte-americana: legal, atitudinal e estratgico, e pela articulao de

    caractersticas desses trs modelos nas abordagens neoinstitucionais.

    No Brasil, o modelo atitudinal tem sido bastante criticado, a partir do

    questionamento da sua capacidade de ser aplicado realidade jurdica e poltica do pas,

    especialmente pela dificuldade de se operacionalizar sua varivel central: a ideologia dos

    juzes. Uma vez que classificao da ideologia tem se dado a partir de posies liberais

    2 Ver entre outros: ARANTES, Rogrio Bastos (1997). Judicirio e Poltica no Brasil. So Paulo, Idesp: Sumar: Fapesp: Educ. VIEIRA, Oscar Vilhena (1994). Supremo Tribunal Federal: Jurisprudncia Poltica. So Paulo: Revista dos Tribunais. TAYLOR, Matthew (2008). Judging Policy Courts and Policy Reform in Democratic Brazil. Stanford University Press. 3 Ver entre outros: TAYLOR, Matthew. (2007), O Judicirio e as polticas pblicas no Brasil. Dados, 50 (2): 229-257. PACHECO, Cristina Carvalho. (2008), Os estudos sobre judicirio e poltica no Brasil ps-1988: uma reviso da literatura. Pensar, Fortaleza, 13 (1): 75-86. MACIEL, Dbora Alves & KOERNER, Andrei (2002). Sentidos da Judicializao da poltica: duas anlises. Lua Nova: Revista de Cultura e Poltica, 57: 113-133. SADEK, Maria Tereza Aina (2011), O Judicirio e a arena pblica, in Lourdes Sola e Maria Rita Loureiro, Democracia, mercado e Estado: o B de Brics, Rio de Janeiro, Editora FGV. CARVALHO NETO, Ernani (2009). Judicializao da poltica no Brasil: controle de constitucionalidade e racionalidade poltica. Anlise Social, vol. XLIV (191), p. 315-335. 4 Ver entre outros: OLIVEIRA, Fabiana Luci de. (2012). Supremo Relator: Processo decisrio e mudanas na composio do STF nos governos FHC e Lula. RBCS, vol. 27, n:80, p. 89-115. SUNDFELD, Carlos Ari et al (2010). Controle de constitucionalidade e judicializao: o STF frente sociedade e aos Poderes - Belo Horizonte Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas. 5 Ver entre outros: KAPISZEWSKI, Diana and TAYLOR, Matthew M. (2008). Doing Courts Justice? Studying Judicial Politics in Latin America. Perspectives on Politics, , pp 741-767. OLIVEIRA, Vanessa Elias (2005). Judicirio e Privatizaes no Brasil: existe uma judicializao da poltica? Revista de Cincias Sociais, vol. 48, n. 3, p. 559-587.

  • 3

    versus conversadoras, a opo no Brasil tem sido priorizar a filosofia judicial,

    classificada como ativismo versus conteno judicial6.

    Nos Estados Unidos, a classificao da ideologia dos juzes da Suprema Corte

    tm se dado de trs formas principais (i) pelo modelo de escalonamento desenvolvido

    por Schubert (1965) 7 , dimensionando o voto de juzes em decises anteriores e

    verificando a tendncia de cada juiz em manter percepes consistentes em seus votos

    em casos parecidos. Esse mtodo foi criticado pela falta de independncia em utilizar

    decises anteriores para prever decises futuras; (ii) pelo modelo de atributos (Ulmer,

    19738; Tate e Handberg, 19919), que usa caractersticas pessoais dos juzes para predizer

    seus votos (como gnero, faculdade de formao, classe social, e tambm o partido

    poltico do governo de nomeao); e pela cobertura miditica (Segal e Cover, 198910),

    analisando editoriais de jornais acerca da vida pregressa dos juzes antes de ingressarem

    no tribunal.

    A pesquisa que d origem ao paper testa estas diferentes formas de mensurar a

    ideologia dos ministros do Supremo Tribunal Federal, observando as clivagens entre os

    ministros do Supremo em casos de controle de constitucionalidade das leis, buscando

    responder se importa quem est sentado ao tribunal no momento da deciso desses casos.

    Para isso, analisamos as ADIns (Aes Diretas de Inconstitucionalidade) com

    deciso final no perodo de 1995 a 2012, com destaque para os casos que provocaram

    divises no tribunal (decises majoritrias). Buscamos identificar os motivos e as

    consequncias do dissenso, discutindo se e como a trajetria de carreira dos ministros

    6 Ver entre outros KAPISZEWSKI, Diana (2010). How Courts Work: Institutions, Culture, and the Brazilian Supremo Tribunal Federal.In: COUSO, Javier A. et ali (org). Cultures of Legality Judicialization and Political Activism in Latin America, Cambridge University Press. KOERNER, Andrei. Ativismo Judicial? Jurisprudncia Constitucional e poltica no STF ps-88. Novos estud. - CEBRAP, So Paulo , n. 96, p. 69-85. 7 Schubert, Glendon. (1965). The Judicial Mind: the attitudes and ideology of Supreme Court Justices, 1946-1963. Evanston: Northwestern University Press. 8 Ulmer, Sidney. (1973). Social Background as an indicator of the votes of Supreme Court Justices in Criminal Cases: 1947-1956 terms. American Journal of Political Science, 17: p. 622-30. 9 Tate, N. e Handberg, R. (1991). Time Biding and theory building in personal attribute models of Supreme Court Behavior, 1916-1988. American Journal of Political Science, 35: p. 460-80. 10 Segal, J. A. e Cover, A. D. (1989). Ideological Values and the votes of US Supreme Court Justices. American Political Science Review, 83: p. 557-65.

  • 4

    influencia no grau de divergncia entre eles, e quais outras caractersticas ajudam a

    entender tais divises11.

    Como j ressaltado, aqui so apresentados e discutidos apenas os dados iniciais

    da pesquisa, estando assim os resultados e a discusso sujeitos a revises significativas.

    O paper que segue est estruturado em trs sees: a primeira cobrindo o perfil da

    agenda decisria do STF em controle de constitucionalidade no perodo analisado e o

    perfil dos atores que acionam o tribunal; a segunda voltada ao processo decisrio interno,

    identificando os elementos que ajudam a entender o dissenso no Supremo; e a terceira

    enfocando a constituio das redes de votao no Supremo.

    I. Agenda decisria em controle de constitucionalidade no STF entre 1995-2012

    A partir do trabalho de Falco, Cerdeira e Arguelhes (2013) sabemos que o

    Supremo em pouco mais de 20 anos proferiu 1,3 milhes de decises, sendo 91% deste

    montante em sede recursal. E a partir das estatsticas do STF, vemos que no perodo de

    outubro de 1988 a julho de 2014, foram proferidas 3.530 decises em sede de ADIn,

    sendo 2.493 decises finais objeto central de interesse da presente pesquisa. Aqui

    cobrimos as 2.090 decises finais entre os anos de 1995 e 2012.

    Conforme j observado por outras pesquisas (Werneck Vianna, 1999; 2007), h

    um predomnio de diplomas estaduais sendo questionados nas ADIns, correspondendo a

    62% do total de aes julgadas no perodo; 26% dos diplomas so federais, 9% tm

    origem no Judicirio e outros 2% so de outras origens, como municpios, Ministrio

    Pblico e conselhos profissionais.

    E quando observamos os principais autores ou requerentes dessas aes, vemos

    que os governadores lideram, responsveis por 28% do total de ADIns, seguidos de perto

    por associaes, confederaes e sindicatos.

    Vianna et al (2007: 43-45) j haviam observado que no perodo pr-governo

    FHC, do montante de 1.184 ADIns impetradas, os governadores e a Procuradoria-Geral

    da Repblica foram responsveis cada um por 28% do total de aes, seguidos de perto

    pelas associaes, com 25% do total.

    11 Numa continuidade e refinamento de pesquisa anterior, publicada em OLIVEIRA, Fabiana Luci. (2012). Processo decisrio no Supremo Tribunal Federal: coalizes e panelinhas. Rev. Sociol. Polt., Curitiba, v. 20, n. 44, p. 139-153.

  • 5

    Durante o governo FHC os partidos polticos se destacam, sendo que das 1.631

    ADIns propostas, 28% foram de partidos polticos (contra 13% no perodo pr-FHC). Os

    governadores e as associaes continuam tendo forte presena, com 27% e 26% do total

    de aes impetradas respectivamente. J a Procuradoria-Geral da Repblica reduziu sua

    atuao, sendo responsvel por apenas 11% do total de aes propostas no perodo.

    Os autores observam que nos trs primeiros anos do governo Lula a Procuradoria-

    Geral da Repblica volta a ter destaque, sendo responsvel por 36% das 830 ADIns

    impetradas, vindo na sequncia as associaes, com 23%, e os governadores, com 21%

    do total. Os partidos reduzem sua participao, sendo autores de 14% das ADIns.

    Apesar de alternncia no predomnio dos requerentes entre os perodos, no geral

    notamos que h um relativo equilbrio na participao desses quatro atores:

    Governadores, Procurador-Geral da Repblica, Associaes e Partidos Polticos.

    No perodo consta, tambm, o arquivamento e no conhecimento de 30 ADIns

    monocraticamente por serem provenientes de atores no legitimados, correspondendo a

    pessoas fsicas, prefeitos e cmara de vereadores (agrupados em municpio), sendo que

    pessoas fsicas tentaram checar ao STF via ADIn sobretudo para questionar diplomas do

    prprio judicirio, como acrdos e resolues judiciais.

    Tabela 1. Requerentes das ADIns

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Em termos de atores questionados, temos o Legislativo Estadual, seguido do

    Governo Estadual (categoria que rene mais de um requerido no nvel estadual, podendo

    ser o Governador e a Assembleia, ou alguma secretaria do governo ou ainda o Tribunal

    de Contas do Estado) juntas essas duas categorias representam 57% dos requeridos nas

    aes julgadas nesse perodo.

    Em terceiro lugar aparece o Governo Federal (reunindo tambm mais de um ator

    questionado, podendo ser o Executivo e o Legislativo, ou ainda algum Ministrio,

    N %Governador 576 28Associao/Confederao/Sindicato 510 24Partido Poltico 457 22Procurador-Geral da Repblica 413 20OAB 80 4Mesa Assemblia 23 1Pessoa Fsica 22 1Municpio 8 0,4Presidente da Repblica 1 0,0Total 2090 100

  • 6

    Agncia Reguladora, ou o Tribunal de Contas da Unio), seguido pelo Executivo

    Federal, ambos totalizando 22% dos atores questionados nessas ADIns. Tabela 2. Requeridos nas ADIns

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Uma das variveis centrais para a compreenso da atuao do Supremo o

    assunto em discusso no tribunal. O tipo de caso em julgamento pode ser um importante

    preditor para a formao de redes e esta varivel ser testada aqui. Mas alm disso a

    partir do tema e da temtica em disputa que se tem acesso agenda do Supremo, ou seja,

    s questes que tm sido levadas ao Tribunal, os temas sobre os quais ele tem sido

    chamado a responder.

    Vianna et al (2007) observaram que 60% de todas as ADIns que ingressaram no

    STF entre 1988 e 2005 referiam-se a assuntos ligados administrao pblica, embora

    no seja possvel a partir de seus dados identificar especificamente o peso que cada

    aspecto da administrao pblica tem nesses questionamentos. Seus dados indicam

    tambm que 13% das aes tratam de assuntos tributrios, 12% da regulao da

    sociedade civil, 6% da regulao da economia, 4% de politica social, 3% de regulao

    da competio poltica, e 2% de relaes de trabalho.

    Ao desdobrar nesta pesquisa a classificao da administrao pblica em trs

    frentes, notamos que a discusso acerca da regulamentao de carreiras e de

    prerrogativas de cargos (reunidos aqui na categoria agentes pblicos) ocupa 41% de

    toda a agenda de controle concentrado do tribunal em sede de ADIn o que torna o

    tribunal uma espcie de departamento pessoal do Estado, ou um Supremo RH. Outros

    14% tratam de questes da administrao pblica relativas s finanas pblicas, poltica

    oramentria, ao processo legislativo, criao e delimitao de municpios, s licitaes

    e concesses de servios pblicos, e a separao de poderes (categoria administrao

    pblica). E 7% referem-se administrao das instituies da justia, englobando

    N %Legislativo Estadual 602 29Governo Estadual 578 28Governo Federal 261 12Executivo Federal 219 10Judicirio 200 10Executivo Estadual 114 5Legislativo Federal 63 3Municpio 36 2Ministrio Pblico 13 1Conselhos 4 0Total 2090 100

  • 7

    emolumentos, precatrios, direito processual, e as polticas de segurana pblica no

    tocante atuao das polcias civil e federal (categoria administrao da justia).

    Ou seja, 62% de tudo o que o STF decidiu em termos de controle concentrado via

    ADIn foi referente organizao do Estado, e s carreiras de seus agentes e servidores.

    Apenas 15% das aes tratam de assuntos de maior impacto para a sociedade

    civil, como polticas de direitos sociais, civis, direitos do consumidor, meio ambiente,

    entre outros.

    A agenda temtica do Supremo em controle direto de constitucionalidade faz com

    que o que tem se chamado de judicializao da poltica no Brasil, gire em torno do

    funcionamento do prprio Estado, afetando muito pouco polticas pblicas de alcance

    mais amplo.

    Tabela 3. Tema das ADINS

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Evidente que o Supremo um ator reativo, dependendo dos legitimados para

    levarem as questes at ele. Mas torna-se preocupante quando detalhamos o que tem sido

    debatido na temtica agentes pblicos e percebemos que 45% das questes referem-se s

    prprias carreiras da justia e organizao do Judicirio.

    Esses dados sobre os assuntos e as temticas especficas sendo discutidos num

    tribunal que recebe cerca de 30 mil processos por ano - o que segundo Falco, Cerdeira e

    Arguelhes (2013: 307), demandaria 118 decises por dia, 15 decises por hora de

    trabalho ou mais de uma deciso por hora por ministro- explicitam a necessidade de

    promover-se um debate em torno do tipo de instituio mxima da justia que a

    democracia brasileira requer e almeja: o colegiado de uma corte suprema deveria dedicar

    cerca de metade de seu tempo no controle concentrado para decidir sobre questes afetas

    ao funcionalismo pblico? Essa uma questo central ao debate das relaes entre

    judicirio e poltica no Brasil, mas que foge ao escopo desse paper.

    N %Agentes pblicos 849 41Sociedade civil 311 15Administrao pblica 301 14Poltica tributria 215 10Regulao da economia 175 8Administrao da justia 144 7Competio poltica 95 5Total 2090 100

  • 8

    Os atores que mais tm levado questes afetas ao funcionalismo pblico ao STF

    so o Procurador-Geral da Repblica, a Ordem dos Advogados do Brasil e os

    governadores, havendo grande participao tambm das associaes de classe e dos

    partidos polticos.

    preocupante que instituies representativas como so os partidos polticos

    dediquem tanto esforo a essa temtica 32% das ADIns de partidos polticos so

    referentes aos agentes pblicos, sendo a temtica mais frequente de sua atuao no

    tribunal, vindo em segundo lugar questes de administrao pblica, com 24% do total

    de sua atuao.

    Feita essa descrio do perfil das ADIns, e dos atores envolvidos no acionamento

    do Supremo, focamos agora no processo decisrio.

    II. Dinmica decisria no STF entre 1995-2012

    O primeiro aspecto a ser observado no estudo do processo decisrio a

    composio do colegiado. Um fato j notado e criticado pelos estudiosos do Supremo o

    percentual elevado de casos decididos de forma monocrtica. No perodo em anlise

    foram 935 ADIns (ou 45% do total) com deciso monocrtica. A Lei 9.868/99, prev em

    seu artigo quarto que a petio inicial inepta, no fundamentada e a manifestamente

    improcedente sero liminarmente indeferidas pelo relator, cabendo agravo neste caso.

    Note-se que a maioria dessas decises so tomadas monocraticamente como decises

    finais, e por isso integram a base de dados.

    Falco, Cerdeira e Arguelhes (2013) afirmam que esse comportamento decisrio

    monocrtico deturpa o perfil institucional do STF. E constatam essa realidade ao

    verificarem que das 1,3 milhes de decises proferidas entre 1988 e 2009, 87% foram

    tomadas monocraticamente; 11,6% nas turmas e menos de 1% no plenrio.

    Tabela 4. Forma como colegiado votou

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Os temas que mais foram decididos monocraticamente foram os ligados

    competio poltica, poltica tributria e regulao econmica. As decises

    N %Monocrtica 935 45Unnime 814 39Majoritria 341 16Total 2090 100

  • 9

    monocrticas no so foco dessa pesquisa, mas dada a vasta produo de dados nesse

    aspecto, tornar-se- questo a ser abordada futuramente de forma mais detalhada.

    Grfico (1) Comportamento do colegiado de acordo com o tema geral das ADINS Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Aqui, interessam as decises do plenrio e mais especificamente aquelas que

    dividiram a corte considerando apenas as ADIns julgadas pelo colegiado, 70% foram

    decididas com unanimidade, 30% de forma majoritria.

    Quando observamos o resultado das ADIns, excluindo as decises monocrticas,

    notamos que o STF no tem sido nada tmido em se posicionar de forma a declarar a

    inconstitucionalidade dos diplomas normativos questionados: 53% das aes foram

    julgadas procedentes, e 15% parcialmente procedentes o que indica que o Supremo tem

    acolhido as demandas que chegam at ele de forma bastante responsiva aos demandantes.

    Mas a situao varia dependendo da origem do diploma questionado: o STF

    parece mais cauteloso ao decidir sobre diplomas federais. Ainda preciso observar os

    detalhes desses questionamentos para uma anlise mais precisa, mas no podemos

    desconsiderar nessa anlise o que afirmam Kapiszewski e Taylor (2008),

    it is undeniably the case that governments often act constitutionally (implying that judicial endorsement of their actions cannot be equated with either deference or subservience). Further, opposition political forces frequently use the judiciary to challenge perfectly legal and constitutional governmental policies as an extension of their political strategies elsewhere in the political system. Third, even courts widely considered to be independent more frequently than not rule in favor of the government. Finally, dependent courts are perfectly capable of selectively challenging governments: for instance, case selection mechanisms (especially in high courts) may permit judges to issue challenging rulings in less highly charged cases that fall within the tolerance interval of the executive and legislative branches, while avoiding more controversial cases. (Kapiszewski e Taylor , 2008: 749).

    56%$ 56%$ 55%$47%$ 45%$ 42%$ 39%$

    27%$36%$

    24%$32%$ 40%$ 38%$ 45%$

    17%$8%$

    21%$ 21%$ 16%$ 21%$ 15%$

    0%$

    10%$

    20%$

    30%$

    40%$

    50%$

    60%$

    70%$

    80%$

    90%$

    100%$

    Compe2o$pol2ca$

    Tributria$ Econmico$ Administrao$da$Jus2a$

    Administrao$Pblica$

    Sociedade$Civil$ Agentes$Pblicos$

    Monocr2ca$ Unnime$ Majoritria$

  • 10

    Observando as respostas do STF ao longo do tempo (tabela 6) no parece haver

    grandes oscilaes, com exceo de uma aparente mudana na orientao entre aes no

    conhecidas e julgadas prejudicadas.

    No que diz respeito aos assuntos, as temticas em que o STF mais interveio foram

    agentes pblicos e sociedade civil, julgando mais da metade das aes procedente. E

    a que menos interveio foi a competio poltica isso porque muitos dos

    questionamentos referem-se decises do TSE, corte na qual h ministros do prprio

    STF.

    Tabela 5. Sentido da deciso final (mrito)

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012 Tabela 6. Sentido da deciso final (mrito), de acordo com governo de deciso

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    Grfico (2) Sentido da deciso final (mrito), de acordo com tema da ADIN Fonte: Elaborao prpria, a partir das 1.155 ADIns julgadas entre 1995-2012 (excluindo monocrticas)

    Para os propsitos da pesquisa, foi importante identificar as composies ou

    cortes que se alternaram no STF ao longo do perodo analisado. A partir do quadro 1

    verifica-se que houve treze diferentes composies ao longo desses dezessete anos

    N % N %Procedente 606 29 606 53Prejudicado 464 22 55 5No conhecido/No provido 392 19 138 12Negado seguimento 202 10 2 0,2Improcedente 184 9 178 15Parcialmente procedente 173 8 173 15Arquivado/Extinto 69 3 3 0,3Total 2090 100 1155 100

    Total Excluindo monocrticas

    19951998 1999-2002 2003-2006 2007-2010 2011-2014 TotalImprocedente 9% 5% 10% 10% 8% 9%Procedente 26% 25% 32% 31% 26% 29%No conhecido/No provido 44% 34% 18% 5% 3% 19%Prejudicado 12% 19% 23% 24% 29% 22%Parcialmente procedente 10% 6% 8% 9% 13% 8%Negado seguimento 0% 11% 9% 11% 12% 10%Arquivado/Extinto 0% 0% 0% 10% 8% 3%Total 104 525 775 491 194 2090

    53%$60%$ 54%$ 49%$ 49%$

    42%$ 40%$29%$

    15%$16%$

    14%$14%$ 17%$

    13%$ 13%$19%$

    15%$10%$

    15%$18%$

    20%$

    22%$ 22%$36%$

    12%$ 10%$ 12%$ 16%$ 12%$15%$ 15%$

    12%$5%$ 5%$ 4%$ 4%$ 3%$ 7%$ 11%$

    2%$

    0%$

    10%$

    20%$

    30%$

    40%$

    50%$

    60%$

    70%$

    80%$

    90%$

    100%$

    Total$ Agentes$Pblicos$ Sociedade$Civil$ Administrao$Pblica$

    Econmico$ Tributria$ Administrao$da$JusIa$

    CompeIo$polIca$

    Procedente$ Parcialmente$procedente$ Improcedente$ No$conhecido$ Prejudicado$

  • 11

    catorze quando considerarmos a nomeao de Roberto Barroso mas este ministro s

    entrar na anlise quando se completar a base das decises at 2013, em decorrncia do

    baixo volume de ADIns das quais participou em 2012.

    Uma primeira explorao a fazer com relao s cortes observar o

    comportamento decisrio a partir do resultado final das ADIns julgadas. Os dados

    apresentados no grfico 3 indicam que as cortes 12, 6, 3 e 7 foram as que mais

    proferiram decises monocrticas. E quando exclumos as decises monocrticas da

    base, as cortes 10, 2 e 6 foram as mais divididas a corte 13 ainda apresenta poucos

    casos, restando ser completada a base para que se possa trabalhar com essa composio.

    Quadro (1). Composies (cortes) no STF entre 1995-2013

    Grfico (3) Comportamento do colegiado, de acordo com composio da corte Fonte: Elaborao prpria, a partir das 2.090 ADIns julgadas entre 1995-2012

    116 Dez 1994 - 15 Abr 1997 Moreira Alves; Nri da Silveira; Sydney Sanches; Octavio Gallotti;Seplveda Pertence; Celso de Mello;

    Carlos Velloso; Marco Aurlio; Ilmar Galvo; Francisco Rezek; Maurcio Corra (Paulo Brossard)

    216 Abr 1997 - 22 Nov 2000 Moreira Alves; Nri da Silveira; Sydney Sanches; Octavio Gallotti;Seplveda Pertence; Celso de Mello;

    Carlos Velloso; Marco Aurlio; Ilmar Galvo; Maurcio Corra; Nlson Jobim (Francisco Rezek)

    323 Nov 2000 - 26 May 2002 Moreira Alves; Nri da Silveira; Sydney Sanches; Seplveda Pertence; Celso de Mello; Carlos Velloso;

    Marco Aurlio; Ilmar Galvo; Maurcio Corra; Nlson Jobim; Ellen Gracie (Octavio Gallotti)

    427 May 2002 - 24 Jun 2003 Moreira Alves; Sydney Sanches; Seplveda Pertence; Celso de Mello; Carlos Velloso; Marco Aurlio;

    Ilmar Galvo; Maurcio Corra; Nlson Jobim; Ellen Gracie; Gilmar Mendes (Nri da Silveira)

    525 Jun 2003 - 14 Jun 2004

    Seplveda Pertence; Celso de Mello; Carlos Velloso; Marco Aurlio; Maurcio Corra; Nlson Jobim; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim Barbosa (Moreira de Barros; Ilmar Galvo; Sydney Sanches)

    615 Jun 2004 - 15 Feb 2006 Seplveda Pertence; Celso de Mello; Carlos Velloso; Marco Aurlio; Nlson Jobim; Ellen Gracie; Gilmar

    Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim Barbosa ; Eros Grau (Maurcio Corra)

    716 Feb 2006 - 20 Jun 2006 Seplveda Pertence; Celso de Mello; Marco Aurlio; Nlson Jobim; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar

    Peluso; Ayres Britto; Joaquim Barbosa; Eros Grau; Ricardo Lewandowski (Carlos Velloso)

    821 Jun 2006 - 31 Dec 2006 Seplveda Pertence; Celso de Mello; Marco Aurlio; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres

    Britto; Joaquim Barbosa; Eros Grau; Ricardo Lewandowski; Crmen Lcia (Nelson Jobim)

    901 Jan 2007 - 01 Set 2009 Celso de Mello; Marco Aurlio; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim

    Barbosa; Eros Grau; Ricardo Lewandowski; Crmen Lcia; Menezes Direito (Seplveda Pertence)

    1023 Out 2009 - 02 Mar 2011 Celso de Mello; Marco Aurlio; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim

    Barbosa; Eros Grau; Ricardo Lewandowski; Crmen Lcia; Dias Toffoli (Menezes Direito)

    1103 Mar 2011 - 18 Nov 2011 Celso de Mello; Marco Aurlio; Ellen Gracie; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim

    Barbosa; Ricardo Lewandowski; Crmen Lcia; Dias Toffoli; Luiz Fux (Eros Grau)

    1219 Nov 2011 - 28 Nov 2012 Celso de Mello; Marco Aurlio; Gilmar Mendes; Cesar Peluso; Ayres Britto; Joaquim Barbosa; Ricardo

    Lewandowski; Crmen Lcia; Dias Toffoli; Luiz Fuz; Rosa Weber (Ellen Gracie)

    1329 Nov 2012 - 25 Jun 2013 Celso de Mello; Marco Aurlio; Gilmar Mendes; Ayres Britto; Joaquim Barbosa; Ricardo Lewandowski;

    Crmen Lcia; Dias Toffoli; Luiz Fuz; Rosa Weber; Teori Zavascki (Cezar Peluso)

    7%#

    36%#54%#

    35%#45%#

    58%# 50%#31%#

    44%# 48%# 37%#

    76%#67%#

    61%#

    39%#

    38%#57%# 45%#

    27%#34%#

    47%#

    40%# 29%# 43%#

    5%#32%# 25%#

    8%# 8%# 10%# 16%# 16%# 22%# 16%# 24%# 20%# 20%#33%#

    0%#

    10%#

    20%#

    30%#

    40%#

    50%#

    60%#

    70%#

    80%#

    90%#

    100%#

    1# 2# 3# 4# 5# 6# 7# 8# 9# 10# 11# 12# 13#

    Monocr3ca# Unnime# Majoritria#

    66%# 61%#

    82%# 88%# 81%#

    63%# 68%# 68%#71%#

    55%#69%#

    19%#

    34%# 39%#

    18%# 12%# 19%#

    37%# 32%# 33%#29%#

    46%#31%#

    81%#

    0%#

    10%#

    20%#

    30%#

    40%#

    50%#

    60%#

    70%#

    80%#

    90%#

    100%#

    1# 2# 3# 4# 5# 6# 7# 8# 9# 10# 11# 12#

    Unnime# Majoritria#

  • 12

    Considerando o sentido da deciso a partir das cortes (grfico 4), tem-se as cortes

    11, 8, 9, 4 e 5 como as mais receptivas s demandas dos autores. Aqui um ponto crucial

    para a anlise entender as caractersticas dos ministros sentados corte, assim como dos

    casos sendo discutidos, para compreender esses padres.

    Grfico (4) Resultado do mrito, de acordo com composio da Corte Fonte: Elaborao prpria, a partir das 1.155 ADIns julgadas entre 1995-2012 (excluindo monocrticas)

    Na observao das caractersticas (perfil) dos ministros, seguimos as orientaes

    adotadas por Songer et al (2012). Os autores se voltam ao estudo da suprema corte

    canadense, buscando entender se no processo decisrio judicial importa quem est

    sentado corte no momento da deciso. Eles partem das crticas ao modelo atitudinal, e

    especialmente da dificuldade de export-lo a realidades externas ao cenrio

    estadunidense, e propem uma combinao de dimenses na forma de chegar ao perfil

    ideolgico dos juzes da Suprema Corte, separando a classificao do perfil dos juzes

    em (i) ideologia judicial e (ii) filosofia judicial.

    A ideologia judicial teria a ver com valores pessoais e atitudes polticas ou seja,

    com a tendncia de um juiz individual manter percepes consistentes sobre o escopo e o

    propsito adequado do papel do governo na sociedade. Por exemplo, esse juiz favorece a

    interveno do governo na economia? Tende a se inclinar para o governo com mais

    frequncia quando est avaliando o julgamento de criminosos ou a apoiar os direitos do

    ru ao devido processo legal?

    A ideologia judicial usualmente classificada em liberalismo x conservadorismo

    ou federalismo x comunitarismo. Aqui adotamos a classificao conservador x

    progressista.

    34%$ 29%$

    55%$ 61%$ 60%$ 54%$45%$

    64%$ 61%$46%$

    60%$

    31%$

    13%$10%$

    11%$13%$ 19%$

    17%$

    16%$

    11%$ 12%$26%$

    21%$

    44%$5%$6%$

    4%$

    17%$18%$

    18%$ 34%$19%$ 18%$ 18%$

    18%$19%$

    34%$ 48%$

    21%$

    6%$1%$

    7%$3%$ 5%$

    3%$ 1%$0%$

    0%$13%$ 7%$ 7%$4%$ 2%$ 4%$ 3%$ 1%$ 6%$ 7%$

    0%$ 6%$

    0%$

    10%$

    20%$

    30%$

    40%$

    50%$

    60%$

    70%$

    80%$

    90%$

    100%$

    1$ 2$ 3$ 4$ 5$ 6$ 7$ 8$ 9$ 10$ 11$ 12$

    Procedente$ Parcialmente$procedente$ Improcedente$ No$conhecido$ Prejudicado$

  • 13

    J a filosofia judicial tem a ver com a forma como o juiz interpreta e aplica o seu

    poder de reviso judicial na sua atividade interpretativa, num sentido de expanso ou

    restrio de direitos. Assim, a filosofia judicial usualmente classificada em ativismo x

    restrio ou ativismo x autoconteno. Aqui utilizamos tcnico (significando restritivo

    ou autocontido) x poltico (significando ativista).

    Quadro (2). Perfil dos ministros do STF com atuao entre 1995-2013

    As categorias para a classificao do perfil ideolgico e filosfico dos juzes se

    constituem em "cdigos in vivo, no sentido postulado pela teoria fundamentada

    (Strauss e Corbin, 1990), tendo sido adotadas a partir da prpria terminologia da fonte de

    dados. As classificaes foram feitas com base em reportagens do jornal Folha de S.

    Paulo quando da nomeao do ministro para o STF, no caso daqueles nomeados a partir

    de 2004. Para os ministros nomeados de 2003 para trs, utilizamos a classificao de

    estudos anteriores (Oliveira, 2004; 2011; 2012). Note-se que as classificaes ainda

    precisam ser refinadas, estando em fase de consolidao, pois foram baseadas

    exclusivamente em um nico perfil apresentado pelo jornal. Essa classificao ser

    revisada a partir do apoio de outras fontes miditicas, incluindo a revista Veja etapa da

    pesquisa em andamento.

    Na esteira do modelo atitudinal, observamos a influncia que o presidente que

    nomeou o ministro tem sobre o resultado da deciso. A operacionalizao dessa

    observao se d com base no trabalho de Lindquist, Yalof e Clark (2000).

    PJ MP Poltica1 Moreira Alves Geisel 20/06/75 tcnico conservador 19/04/03 Proc-Geral da Rep no sim sim 2 Nri da Silveira Figueiredo 01/09/81 tcnico conservador 24/04/02 Juiz TFR sim no no3 Sydney Sanches Figueiredo 31/08/84 tcnico conservador 23/04/03 Desembargador TJSP sim no no4 Octavio Gallotti Figueiredo 20/11/84 tcnico conservador 27/10/00 Ministro TCU no sim no5 Paulo Brossard Sarney 05/04/89 poltico progressista 24/10/94 Ministro da Justia no no sim 6 Seplveda Pertence Sarney 17/05/89 poltico progressista 17/08/07 Proc-Geral da Rep nao sim no7 Celso de Mello Sarney 30/06/89 tcnico conservador * Secret Consultoria Geral Presid Rep no sim sim 8 Carlos Velloso Collor 13/06/90 tcnico progressista 19/01/06 Ministro STJ sim sim no9 Marco Aurlio Collor 13/06/90 poltico conservador * Ministro TST sim sim no

    10 Ilmar Galvo Collor 26/06/91 tcnico progressista 02/05/03 Ministro do STJ sim no no 11 Francisco Rezek Collor 21/05/92 poltico progressista 05/02/97 Ministro Relaes Exteriores no sim sim 12 Maurcio Corra Itamar 15/12/94 tcnico conservador 09/05/04 Ministro da Justia no no sim 13 Nelson Jobim FHC 15/04/97 poltico progressista 29/03/06 Ministro da Justia no no sim 14 Ellen Gracie FHC 14/12/00 tcnico conservador 05/08/11 Juza TFR sim sim no15 Gilmar Mendes FHC 20/06/02 tcnico conservador * Advogado Geral da Unio no sim sim 16 Cezar Peluso Lula 25/06/03 tcnico conservador 31/08/12 Desembargador TJSP sim no no17 Ayres Britto Lula 25/06/03 poltico progressista 14/11/12 Advogado no no sim18 Joaquim Barbosa Lula 25/06/03 poltico progressista 31/07/14 Procurador MP no sim no19 Eros Grau Lula 30/06/04 tcnico progressista 30/07/10 Advogado no no no20 Ricardo Lewandowski Lula 16/03/06 tcnico progressista * Desembargador TJSP sim no sim21 Crmen Lcia Lula 21/06/06 tcnico progressista * Procuradora-geral do Estado no no no22 Menezes Direito Lula 05/09/07 tcnico conservador 01/09/09 Ministro STJ sim no sim23 Dias Toffoli Lula 23/10/09 poltico progressista * Advogado-geral da Unio no no sim24 Luiz Fux Dilma 03/03/11 tcnico conservador * Ministro STJ sim sim no25 Rosa Weber Dilma 19/11/11 tcnico progressista * Ministra STJ sim no no 26 Teori Zavascki Dilma 29/11/12 tcnico conservador * Ministro STJ sim no no 27 Roberto Barroso Dilma 26/06/13 tcnico progressista * Advogado no no no

    Data Aposentadoria Carreira anterior

    Experiencia prviaID Ministro Presidente nomeaoData de posse

    no STFFilosofia Judicial

    Ideologia Judicial

  • 14

    Os autores afirmam que para que haja influncia do presidente no direcionamento

    das decises do tribunal, trs condies precisam ser atendidas: (1) o presidente deve ter

    a oportunidade de nomear um ou mais juzes, (2) quando um presidente nomeou vrios

    juzes, estes devem votar de forma igual entre si em aes decididas de forma majoritria

    (decises no unnimes), e (3) a coeso deve, ainda, corresponder s preferncias

    polticas do presidente. Assim, alm da anlise da composio de grupos no tribunal, e

    dos fatores que explicam estas composies, observamos em assuntos de interesse dos

    governos FHC, Lula e em parte do governo Dilma, demandas que questionam diplomas

    federais com origem no Poder Executivo. Buscamos responder como os ministros

    nomeados por cada um desses governos se comportaram em termos de votao

    (deferimento, indeferimento, absteno/ausncia no plenrio, impedimento, etc.) dos

    diplomas de interesse direto do governo federal.

    A partir dos dados dispostos no grfico 5, vemos que as duas primeiras cortes

    sistematicamente no conheceram das aes que questionavam diplomas federais, em

    mais da metade dos casos. Sendo que a oitava corte foi a que mais deferiu no todo ou em

    parte diplomas federais aqui novamente caber uma anlise detalhada do perfil dos

    ministros e das temticas para dar sentido a estes dados.

    Grfico (5) Resultado do mrito das ADIns que questionam diplomas federais, de acordo com composio da Corte. Fonte: Elaborao prpria, a partir das 544 ADINS(diplomas federais), julgadas entre 1995-2012

    Para finalizar essa seo, observamos com base em um modelo de regresso

    logstica, quais os fatores que contribuem para haver ciso no colegiado.

    Os dados dispostos na tabela 8 indicam que quanto maior a proporo de

    ministros com perfil progressista no Supremo, maiores so as chances de haver

    30%$

    14%$

    37%$23%$

    46%$ 42%$30%$

    10%$

    29%$15%$

    24%$

    44%$

    50%$

    65%$

    33%$

    32%$

    18%$ 21%$

    15%$

    21%$

    9%$

    3%$

    5%$

    0%$

    5%$ 19%$

    9%$

    9%$ 16%$

    15%$

    21%$

    33%$

    50%$ 33%$

    22%$

    7%$3%$

    25%$18%$ 10%$

    20%$

    17%$

    18%$15%$ 24%$ 13%$

    20%$ 4%$ 7%$ 8%$ 15%$

    17%$

    6%$ 15%$ 10%$

    4%$

    5%$ 8%$ 5%$ 9%$ 3%$ 5%$ 14%$6%$ 3%$ 5%$

    17%$

    0%$

    10%$

    20%$

    30%$

    40%$

    50%$

    60%$

    70%$

    80%$

    90%$

    100%$

    1$ 2$ 3$ 4$ 5$ 6$ 7$ 8$ 9$ 10$ 11$ 12$

    Prejudicado$ No$conhecido$ Negado$seguimento/arquivado$ Improcedente$ Procedente$ Procedente$em$parte$

  • 15

    polarizao nas decises. E que nos casos em que o diploma questionado de origem

    federal, as chances de haver ciso diminuem.

    A proporo de ministros com perfil poltico ou com carreira prvia na

    magistratura no obtiveram coeficientes estatisticamente significativos. J o tema em

    questo faz diferena, sendo que nos casos em que esto em discusso temas da

    sociedade civil e regulao da economia aumentam as chances de haver divises no

    colegiado, comparados temtica de agentes pblicos.

    O autor das aes tambm tem algum impacto, sendo que as ADIns propostas por

    governadores em comparao s propostas pelo Procurador-Geral da Repblica,

    diminuem as chances de ciso, enquanto as propostas por associaes em comparao ao

    Procurador-Geral, aumentam as chances de diviso.

    Tabela 8. Regresso logstica considerando como alvo a varivel forma de agrupamento do colegiado (deciso majoritria)

    B Sig. Ideologia judicial - proporo de progressistas na composio 5,51 0,00 Origem do diploma - federal -0,53 0,00 Proporo de magistrados na composio 0,11 0,97 Filosofia judicial proporo de polticos na composio -2,31 0,16 Deciso no mesmo perodo (governo) de entrada 0,11 0,46 Tema Agentes pblicos (referncia) Tema Sociedade civil 0,39 0,05 Tema Regulao da economia 0,77 0,00 Tema Poltica tributria -0,43 0,16 Tema Administrao da justia 0,22 0,42 Tema Administrao pblica 0,30 0,16 Tema Competio poltica -0,12 0,74 Autor Procurador-Geral da Repblica (referncia) Autor Governador -0,42 0,04 Autor Associaes (inclui OAB) 0,70 0,00 Autor Partidos polticos 0,17 0,43 Autor Outros -0,01 0,99 Constante -2,027 0,225

    Nagelkerke R Square = 0,15 Nmero de observaes: 1.155

    Observando apenas as ADIns que tiveram deciso majoritria, num modelo de

    regresso logstica, notamos que as chances de o Supremo julgar procedente a ao

    diminuem quando se trata de diploma de origem federal e quando a ao julgada

    dentro do mesmo governo em que deu entrada. E aumentam conforme aumenta a

    proporo de ministros com perfil progressista na composio, assim como quando h

    maior proporo de ministros com carreira na magistratura.

  • 16

    O autor da ao tambm faz diferena aqui, sendo que o que os governadores, os

    partidos polticos e as associaes, em comparao ao Procurador-Geral da Repblica,

    tm menores chances de ter uma ao julgada procedente.

    E as temticas tambm influenciam em alguma medida, sendo que as aes que

    questionam diplomas relativos administrao da justia, administrao pblica e

    competio poltica tm menores chances de ser deferidas se comparadas s aes que

    questionam temas ligados aos agentes pblicos. Tabela 8. Regresso logstica considerando como alvo a varivel resultado da deciso (deciso procedente)

    B Sig. Origem do diploma - federal -1,518 0,00 Deciso no mesmo perodo (governo) de entrada -0,753 0,01 Ideologia judicial - proporo de progressistas na composio 7,868 0,01 Proporo de magistrados na composio 7,244 0,08 Autor Procurador-Geral da Repblica (referncia)

    Autor Governador -0,804 0,05 Autor Partidos polticos -1,773 0,00 Autor Associaes (inclui OAB) -1,276 0,00 Tema Agentes pblicos (referncia)

    Tema Administrao da justia -1,359 0,01 Tema Administrao pblica -0,689 0,09 Tema Competio poltica -1,07 0,12 Tema Regulao da economia -0,37 0,44 Tema Poltica tributria -0,892 0,16 Tema Sociedade civil -0,357 0,34 Constante -4,399 0,12

    Nagelkerke R Square = 0,35 Nmero de observaes: 341 Como j ressaltado, esses so apenas alguns modelos iniciais, havendo

    necessidade de maior explorao dos dados, sobretudo os relativos ao perfil ideolgico

    (filosofia e ideologia judicial) e ao perfil profissional dos ministros. III. Redes e dimensionalidade da votao no Supremo

    Observar as divises no STF, a partir das decises no unnimes, permite discutir

    um dos assuntos mais polmicos (tanto no mundo acadmico quanto miditico) relativos

    ao tribunal: a forma de nomeao dos ministros e a consequncia das nomeaes para a

    configurao ideolgica e doutrinria do tribunal.

    Nesta anlise h trs categorias de destaque: a carreira dos ministros (experincia

    na magistratura varivel central da pesquisa); a experincia poltica dos ministros

    (passagem por cargos majoritrios ou de nomeao) e o presidente que nomeou o

    ministro ao STF.

    Aqui observamos as 341 aes majoritrias, verificando o comportamento dos

  • 17

    ministros nomeados por cada presidente em relao aos demais ministros nomeados pelo

    menos presidente, comparando seu posicionamento frente ao dos demais ministros

    nomeados em outros governos, e atentando especialmente para o comportamento de

    ministros com trajetrias de carreira semelhantes mas nomeados por diferentes

    presidentes. Ou seja, o interesse est em entender as relaes existentes entre trajetria de

    carreira, nomeao presidencial e processo decisrio.

    Note-se que j realizamos esta anlise para um perodo mais curto, de oito anos12.

    Agora o objetivo expandir a anlise e permitir a comparao com todas as nomeaes

    presidenciais ao longo de duas dcadas, agregando robustez anlise.

    O primeiro aspecto observado a quantidade de decises majoritrias em que

    cada ministro votou (ver coluna total, quadro 3). E a partir deste total calcular os votos na

    maioria e na minoria. Quadro (3). Comportamento de deciso dos ministros em decises majoritrias

    Como j verificado na pesquisa anterior, o ministro Marco Aurlio o campeo

    isolado de votos vencidos em 77% das decises majoritrias de que participou, ele

    ficou na posio vencida, e ainda em 50% das decises em que votou na posio

    dissidente, ele ficou vencido sozinho, sem a adeso de nenhum outro membro do

    tribunal. 12 Ver OLIVEIRA, Fabiana Luci de. (2012). Processo decisrio no Supremo Tribunal Federal: coalizes e panelinhas. Rev. Sociol. Polt., Curitiba, v. 20, n. 44, p. 139-153.

    Total MaioriaMinoria

    (N)Minoria

    (%)Minoria

    isolada (N)Minoria

    isolada (%) Relator

    Marco&Aurlio 329 76 253 77% 127 50% 27Seplveda&Pertence 219 157 62 28% 6 10% 15Ayeres&Brito 209 154 55 26% 9 16% 20Joaquim&Barbosa 188 153 35 19% 4 11% 23Celso&De&Mello 250 219 31 12% 0 11Carlos&Velloso 152 122 30 20% 4 13% 16Nri&Da&Silveira 83 54 29 35% 0 6Cezar&Peluso 219 197 22 10% 4 18% 9Gilmar&Mendes 226 206 20 9% 1 5% 32Eros&Grau 142 123 19 13% 2 11% 44Ilmar&Galvo 98 81 17 17% 2 12% 17Ellen&Gracie 197 183 14 7% 0 14Crmen&Lcia 140 128 12 9% 0 14Maurcio&Corra 127 116 11 9% 2 18% 32Octavio&Gallotti 70 61 9 13% 2 22% 10Nelson&Jobim 150 142 8 5% 0 10Ricardo&Lewandowski 153 145 8 5% 1 13% 8Menezes&Direito 35 29 6 17% 0 4Sidney&Sanches 97 91 6 6% 0 6Dias&Toffoli 55 50 5 9% 1 20% 8Moreira&Alves 99 94 5 5% 0 10Francisco&Rezek 10 7 3 30% 0 1Luiz&Fux 31 28 3 10% 1 33% 4Rosa&Weber 14 14 0 0 0

  • 18

    Foi tambm codificado o nmero de vezes em que cada ministro foi relator de

    ADIns. Em apenas 12% das decises no unnimes o voto do relator foi derrotado. H

    uma forte correlao entre o voto do relator e o resultado do mrito (coeficiente de

    Pearson de 0,737).

    Outro aspecto importante para a anlise observar o tamanho das maiorias. A

    constituio estabelece que no controle concentrado, preciso haver um mnimo de oito

    ministros votando, e que a deciso se d por maioria simples. Em 16% das 341 ADIns

    com deciso majoritria, apenas 8 dos 11 ministros votaram; em 23% dos casos, 9

    ministros votaram, e em 38% dos casos, 10 ministros votaram, sendo que em apenas 23%

    dos casos o colegiado completo participou.

    No perodo foram 42 aes decididas por um ou dois votos de diferena, e so

    essas as aes que mais interesse despertam na identificao dos fatores de influncia na

    constituio das redes de votao. As aes com um s voto de diferena no interessam,

    ainda mais quando verificamos que um nico ministro responsvel por 76% delas.

    Tabela 11. Quantidade de votos na minoria

    Quantidade de votos na minoria N %

    1 166 49 2 83 24 3 50 15 4 29 9 5 13 4

    Total 341 100 Fonte: Elaborao prpria, a partir das 341ADIns com deciso majoritria, julgadas entre 1995-2012

    Os diplomas de origem federal tendem a gerar maiores divises na corte, mas

    ainda preciso explorar melhor os dados. Nesses casos em que houve maior dificuldade

    para se chegar a uma deciso, como os ministros se agruparam para decidir? Quem votou

    com quem? Nas decises em que cada voto conta, a carreira do ministro e o presidente

    que nomeou tem alguma importncia na compreenso da formao de coalizes? Essa

    anlise ainda est em curso. Aqui apresentaremos apenas parte da anlise, focada na

    constituio de coalizes e no peso que o presidente que nomeou o ministro tem nessas

    composies.

    Para isso, identificamos isoladamente a combinao de cada par de votos, e

    percebemos algumas combinaes mais robustas que poderiam configurar "panelinhas",

    ou seja, grupos com posio compartilhada consistente. Por combinaes robustas

  • 19

    entendemos um nvel de coeso de mais de 0,85 (a partir de 86%) entre os juzes (ver

    quadro 4).

    Quadro (4). Matriz dos ndices de similaridade, correspondentes s combinaes de juzes 2 x 2, nas aes no-unnimes

    Foram identificados dois grupos robustos (panelinhas). O primeiro grupo

    composto por ministros nomeados durante o regime militar, um nomeado por Itamar

    Franco e os trs ministros nomeados por Fernando Henrique Cardoso (Moreira Alves,

    Sydney Sanches, Maurcio Corra, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes). O

    segundo grupo composto por trs dos ministros nomeados por Lula: Cezar Peluso,

    Ricardo Lewandowski e Carmen Lcia.

    Seplveda Pertence, Ayres Britto e Joaquim Barbosa so os ministros, aps

    Marco Aurlio de Mello, com maior proporo de votos dissidentes. Esses ministros no

    tm uma forte coeso com nenhum dos grupos identificados no Tribunal, no constituem

    qualquer panelinha. Mas Seplveda Pertence apresentam alta coeso com Carmen Lcia.

    E Barbosa tem uma coeso alta com Rosa Weber, mas ainda h poucos votos codificados

    no governo Dilma, portanto esses grupos a partir dos nomeados por Lula e Dilma podem

    ser alterados uma vez que a base de dados se expanda.

    No entanto, medir a coeso entre os juzes no suficiente para identificar o

    impacto que as nomeaes presidenciais tem sobre as decises judiciais como um todo,

    especialmente quando os presidentes tm a oportunidade de nomear mais de um Justia.

    Nri%da%Silveira

    Sydn

    ey%San

    ches

    Octavio%Gallotti

    Sep

    lved

    a%Pe

    rten

    ce%

    Celso

    %de%Mello%

    Carlo

    s%Velloso%

    Marco%Aurlio%

    Ilmar%Galvo%

    Fran

    cisco%Re

    zek

    Mau

    rcio%Corra%

    Nelson%Jobim%

    Ellen%Gracie%

    Gilm

    ar%M

    ende

    s%

    Cezar%P

    eluso%%

    Ayres%B

    ritto%

    Joaq

    uim%Barbo

    sa%

    Eros%Grau%

    Lewan

    dowski%

    Crm

    en%Lcia%

    Men

    ezes%Dire

    ito%

    Dias%Toffoli%

    Luiz%Fux%

    Rosa%W

    eber%

    Moreira%Alves 63% 92% 83% 56% 90% 77% 12% 78% 70% 95% 97% 89% 92%Nri%da%Silveira 68% 64% 69% 67% 70% 34% 72% 70% 66% 62% 83%Sydney%Sanches 85% 56% 86% 79% 18% 81% 67% 92% 91% 82% 100%Octavio%Gallotti 49% 74% 79% 9% 89% 75% 80% 86%Seplveda%Pertence% 70% 61% 38% 55% 56% 58% 70% 73% 77% 76% 73% 70% 83% 80% 92%Celso%de%Mello% 71% 30% 75% 78% 81% 86% 84% 78% 78% 73% 73% 73% 82% 82% 78% 74% 78% 78%Carlos%Velloso% 31% 67% 44% 78% 81% 70% 76% 75% 67% 58% 70%Marco%Aurlio% 22% 22% 16% 20% 25% 24% 29% 34% 23% 25% 25% 25% 26% 17% 26% 29%Ilmar%Galvo% 67% 77% 81% 77% 80%Francisco%Rezek 71%Maurcio%Corra% 94% 81% 83% 75% 43% 67%Nelson%Jobim% 86% 91% 80% 56% 76% 87% 50%Ellen%Gracie% 89% 83% 66% 74% 78% 91% 88% 78% 88%Gilmar%Mendes% 86% 66% 81% 82% 86% 86% 81% 92% 89% 91%Cezar%Peluso%% 65% 78% 82% 88% 86% 88% 84% 71% 57%Ayres%Britto% 66% 69% 74% 71% 69% 71% 75% 100%Joaquim%Barbosa% 71% 85% 82% 69% 82% 81% 82%Eros%Grau% 82% 84% 83% 79%Lewandowski% 87% 79% 90% 86% 100%Crmen%Lcia% 91% 85% 77% 69%Dias%Toffoli% 85% 92%Luiz%Fux% 100%

  • 20

    Assim, concordamos com Lindquist, Yalof e Clark (2000) que, para o presidente

    de exercer influncia sobre as decises do Tribunal, trs condies devem ser atendidas:

    (1) o Presidente deve ter a oportunidade de nomear um ou mais ministros, (2) quando um

    presidente nomeou vrios ministros, esses ministros devem votar juntos nas decises por

    maioria, e (3) a coeso deve corresponder s preferncias polticas do presidente.

    Assim, com a finalidade de testar o impacto global das nomeaes presidenciais

    no Supremo, e em alinhamento com a metodologia utilizada por Lindquist, Yalof e Clark

    (2000), foi calculado o score de coeso para cada um dos blocos de nomeao

    presidencial no Supremo.

    Quadro (5). Blocos de nomeao presidencial

    Bloco Nomeao Ministros

    1 Militares

    o Moreira Alves o Neri da Silveira o Sidney Sanches o Octavio Gallotti

    2 Sarney o Seplveda Pertence o Celso de Mello

    3 Collor / Itamar

    o Carlos Velloso o Francisco Rezek o Ilmar Galvo o Marco Aurlio o Maurcio Corra

    4 FHC o Nelson Jobim o Ellen Gracie o Gilmar Mendes

    5 Lula

    o Cezar Peluso o Ayres Britto o Joaquim Barbosa o Eros Grau o Ricardo Lewandowski o Carmen Lcia o Menezes Direito o Dias Toffoli

    6 Dilma o Luiz Fux o Rosa Weber o Roberto Barroso

    Aqui foi replicada a questo que Lindquist, Yalof e Clark (2000) se propuseram

    a responder em seu estudo: o presidente teve ou no xito ao escolher os ministros

    nomeados? Por xito entende-se que os ministros votam coesamente como grupo.

  • 21

    Grfico (6) Resultado do mrito das ADIns que questionam diplomas federais, de acordo com composio da Corte. Fonte: Elaborao prpria, a partir das 341 ADIns julgadas entre 1995-2012

    A hiptese elaborada por Lindquist, Yalof e Clark (2000), e que foi testada aqui,

    de que:

    1. Blocos presidenciais so mais propensos a votar juntos do que a dividir seus

    votos.

    2. Blocos presidenciais so mais propensos a fornecer pontos de coeso

    superiores a blocos gerados pela combinao aleatria de ministros.

    Os blocos de maior coeso foram o bloco 4 (ministros nomeados por Fernando

    Henrique Cardoso), com 96% de coeso e o bloco 1 (juzes nomeados pelos presidentes

    militares), com 89% de coeso.

    Na sequncia, est o Bloco 2 (ministros nomeados por Sarney) e o bloco 5

    (ministros nomeados por Lula), ambos apresentando 85% de coeso interna. O bloco 3

    (ministros nomeados por Collor / Itamar) apresentou o menor nvel de coeso - um grau

    to baixo principalmente devido ao comportamento de voto o ministro Marco Aurlio.

    Com exceo do Bloco 3, todos os outros blocos presidenciais tm escores de

    coeso maiores do que os dos grupos aleatrios (mdia da corte excluindo grupo).

    No entanto, segundo Lindquist, Yalof e Clark (2000), os escores de coeso de

    grupos, se analisados isoladamente ou em relao a pontuao de combinao aleatria,

    no so suficientes para comprovar a influncia da nomeao presidencial.

    Para isso, seria necessrio ter uma base de comparao com o comportamento de

    voto da corte como um todo, para garantir que a coeso do bloco no reflete apenas o alto

    nvel de coeso que j existe na instituio durante o perodo.

    89%$ 85%$

    68%$

    96%$

    85%$75%$ 79%$

    85%$76%$ 76%$

    14%$6%$

    *17%$

    20%$

    9%$

    79%$ 80%$ 79%$ 80%$ 80%$

    *40%$

    *20%$

    0%$

    20%$

    40%$

    60%$

    80%$

    100%$

    120%$

    Bloco%1% Bloco%2% Bloco%3% Bloco%4% Bloco%5%

    Mdia$Bloco$ Mdia$Corte$(sem$bloco)$ Diferena$entre$mdias$ Mdia$corte$total$

  • 22

    Mais uma vez, a nica exceo o bloco 3. Entre os outros blocos, confirmou-se

    que a coeso do bloco presidencial maior do que a coeso do Tribunal como um todo,

    durante o perodo considerado.

    Em seguida, observou-se o grau de coeso dos grupos no perodo de cada

    governo, a fim de verificar se havia diferenas (quadro 6). Aqui foram consideradas

    apenas as aes em que pelo menos dois ministros do bloco votaram.

    Quadro (6). Comportamento dos blocos de acordo com governo de deciso

    Como se pode observar, com exceo do bloco 3, os escores de coeso de grupos

    aumentaram de um governo para o outro, o que indica que quanto mais tempo os

    ministros passam votando juntos, mais prximos eles ficam em suas preferncias de voto.

    Esses so os dados iniciais que ainda esto sendo consolidados na pesquisa em

    andamento, com finalizao prevista para o incio de 2015. Resta ainda finalizar a

    codificao das ADIns at o ano de 2013 e consolidar os parmetros de anlise.

    At o momento, os achados iniciais mais interessantes dizem respeito agenda

    decisria da corte, constatao de que os blocos de nomeao presidencial tendem a ser

    mais coesos internamente do que os demais membros da corte agrupados aleatoriamente,

    e as evidncias de que quanto mais tempo os ministros nomeados por um mesmo

    presidente passam votando juntos, mais coesos eles ficam. No aspecto do peso que o

    perfil dos ministros tm para a sua atuao, embora as classificaes ainda necessitem de

    aprimoramento, j notamos alguns indcios do impacto da carreira e da ideologia dos

    ministros no processo decisrio.

    !

    Grupo Governo no momento da

    deciso

    Coeso do grupo

    Coeso da corte

    (excluindo grupo)

    Diferena coeso grupo e

    corte (sem grupo

    Coeso total da corte

    Casos (N)

    1 FHC 1 (1995-1998) 85% 73% 12% 77% 47 FHC 2 (1999-2002) 92% 75% 17% 80% 48 Lula 1 (2003-2006) 94% 84% 10% 83% 8

    2

    FHC 1 (1995-1998) 75% 77% -2% 76% 30 FHC 2 (1999-2002) 82% 82% 0% 81% 28 Lula 1 (2003-2006) 88% 79% 9% 80% 84 Lula 2 (2007-2010) 93% 81% 12% 82% 7

    3

    FHC 1 (1995-1998) 72% 83% -11% 77% 47 FHC 2 (1999-2002) 69% 87% -18% 80% 53 Lula 1 (2003-2006) 65% 86% -21% 79% 71 Lula 2 (2007-2010) 65% 79% -14% 74% 8

    4 FHC 2 (1999-2002) 96% 76% 20% 80% 23 Lula 1 (2003-2006) 96% 76% 20% 80% 106 Lula 2 (2007-2010) 97% 77% 20% 80% 77

    5 Lula 1 (2003-2006) 84% 78% 6% 80% 102 Lula 2 (2007-2010) 89% 68% 21% 81% 36

  • 23

    As evidncias iniciais aqui reunidas constituem indcios em alguns aspectos

    mais robustos, em outros menos de que importa, sim, o perfil dos ministros sentados

    Corte no momento da deciso.

    Bibliografia

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