fabiana luiza ranzato filardi2,3,4, flávia cristina pinto garcia3

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RESUMO (Espécies lenhosas de Papilionoideae (Leguminosae) na Estação Ambiental de Volta Grande, Minas Gerais, Brasil) Neste trabalho apresentamos o estudo taxonômico das Papilionoideae lenhosas em formações de cerrado e de floresta semidecidual na Estação Ambiental de Volta Grande. A área de estudo, localizada no Triângulo Mineiro, faz parte do complexo da Usina Hidrelétrica Estadual de Volta Grande, reúne 391ha e retrata 30 anos de regeneração natural. Foram registrados 14 táxons reunidos em 11 gêneros e quatro tribos: Dalbergieae, com Centrolobium, Dalbergia, Machaerium e Platypodium; e Sophoreae, com Acosmium, Bowdichia, Myroxylon e Ormosia foram as tribos mais representativas, enquanto Dipterygeae, está representada por Dipteryx e Pterodon; e Robinieae, apenas por Sesbania. O gênero mais expressivo foi Machaerium, com três espécies, seguido por Acosmium, com duas, enquanto que os demais gêneros foram representados por uma espécie cada. Chave para identificação, descrições e ilustrações dos táxons encontrados são apresentadas além de comentários sobre a distribuição geográfica dos mesmos. Palavras-chave: Leguminosae, Papilionoideae, florística, Cerrado, Triângulo Mineiro. ABSTRACT (Woody species of Papilionoideae (Leguminosae) at the Estação Ambiental de Volta Grande, Minas Gerais, Brazil) This work is a taxonomic study of woody taxa of Papilionoideae in “cerrado” and seasonal semideciduous forest at the Estação Ambiental de Volta Grande. This environmental station is localized within the Triângulo Mineiro, to the southwest of the state of Minas Gerais, and belongs to the Companhia Energética de Minas Gerais, covering 391ha and portraying 30 years of natural regeneration. Fourteen taxa distributed in 11 genera and four tribes were reported for the subfamily. Dalbergieae, with Centrolobium, Dalbergia, Machaerium and Platypodium; and Sophoreae, with Acosmium, Bowdichia, Myroxylon and Ormosia were the most representative tribes, followed by Dipterygeae, with Dipteryx and Pterodon and Robinieae, with Sesbania. Three species of Machaerium, and two species of Acosmium were found, while the other genera were represented by one species each. An identification key, descriptions and illustrations are presented for the taxa studied, as well as comments regarding their geographical distribution. Key words: Leguminosae, Papilionoideae, floristic, Cerrado, Triângulo Mineiro. ESPÉCIES LENHOSAS DE PAPILIONOIDEAE (LEGUMINOSAE) NA ESTAÇÃO AMBIENTAL DE VOLTA GRANDE, MINAS GERAIS, BRASIL 1 Fabiana Luiza Ranzato Filardi 2,3,4 , Flávia Cristina Pinto Garcia 3 & Rita Maria de Carvalho-Okano 3 INTRODUÇÃO O domínio do cerrado cobre, aproximadamente, 2.000.000 km 2 (Coutinho 2002) que abrangem mais de 20 o de latitude (Ratter et al. 1997). Considerado o segundo maior bioma do Brasil, atualmente seus remanescentes de vegetação primária correspondem somente a 20% da área original e apenas 6,2% estão localizados em áreas de preservação (Myers et al . 2000). Com diversidade florística estimada em 10.000 espécies, sendo 4.400 endêmicas, o cerrado é Artigo recebido em 08/2006. Aceito para publicação em 02/2007. 1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, Programa de Pós-graduação em Botânica, Universidade Federal de Viçosa. 2 Bolsista do convênio n o 315 SIF – CEMIG / ANEEL (registro P & D 042). 3 Universidade Federal de Viçosa, Depto. Biologia Vegetal, Avenida P. H. Rolphs s/n o , 36571-000, Viçosa, MG, Brasil. 4 Autor para correspondência: [email protected] um dos 25 ecossistemas mais ricos e mais ameaçados do planeta (Myers et al. 2000; Pennington et al . 2000). Sua vegetação caracteriza-se pela existência de fitofisionomias ecotonais entre dois extremos fisionômicos: o cerradão apresenta predomínio do componente arbustivo-arbóreo, enquanto no campo limpo o estrato lenhoso é inexpressivo (Coutinho 2002). Leguminosae é considerada a família de maior riqueza florística no cerrado (25% dos táxons), seguida por Asteraceae (16%), Orchidaceae (14%) e Poaceae (11%), famílias

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Page 1: Fabiana Luiza Ranzato Filardi2,3,4, Flávia Cristina Pinto Garcia3

RESUMO

(Espécies lenhosas de Papilionoideae (Leguminosae) na Estação Ambiental de Volta Grande, Minas Gerais,Brasil) Neste trabalho apresentamos o estudo taxonômico das Papilionoideae lenhosas em formações decerrado e de floresta semidecidual na Estação Ambiental de Volta Grande. A área de estudo, localizada noTriângulo Mineiro, faz parte do complexo da Usina Hidrelétrica Estadual de Volta Grande, reúne 391ha eretrata 30 anos de regeneração natural. Foram registrados 14 táxons reunidos em 11 gêneros e quatro tribos:Dalbergieae, com Centrolobium, Dalbergia, Machaerium e Platypodium; e Sophoreae, com Acosmium,Bowdichia, Myroxylon e Ormosia foram as tribos mais representativas, enquanto Dipterygeae, estárepresentada por Dipteryx e Pterodon; e Robinieae, apenas por Sesbania. O gênero mais expressivo foiMachaerium, com três espécies, seguido por Acosmium, com duas, enquanto que os demais gêneros foramrepresentados por uma espécie cada. Chave para identificação, descrições e ilustrações dos táxons encontradossão apresentadas além de comentários sobre a distribuição geográfica dos mesmos.Palavras-chave: Leguminosae, Papilionoideae, florística, Cerrado, Triângulo Mineiro.

ABSTRACT

(Woody species of Papilionoideae (Leguminosae) at the Estação Ambiental de Volta Grande, Minas Gerais,Brazil) This work is a taxonomic study of woody taxa of Papilionoideae in “cerrado” and seasonal semideciduousforest at the Estação Ambiental de Volta Grande. This environmental station is localized within the TriânguloMineiro, to the southwest of the state of Minas Gerais, and belongs to the Companhia Energética de MinasGerais, covering 391ha and portraying 30 years of natural regeneration. Fourteen taxa distributed in 11 generaand four tribes were reported for the subfamily. Dalbergieae, with Centrolobium, Dalbergia, Machaerium

and Platypodium; and Sophoreae, with Acosmium, Bowdichia, Myroxylon and Ormosia were the mostrepresentative tribes, followed by Dipterygeae, with Dipteryx and Pterodon and Robinieae, with Sesbania.Three species of Machaerium, and two species of Acosmium were found, while the other genera wererepresented by one species each. An identification key, descriptions and illustrations are presented for thetaxa studied, as well as comments regarding their geographical distribution.Key words: Leguminosae, Papilionoideae, floristic, Cerrado, Triângulo Mineiro.

ESPÉCIES LENHOSAS DE PAPILIONOIDEAE (LEGUMINOSAE) NA ESTAÇÃO

AMBIENTAL DE VOLTA GRANDE, MINAS GERAIS, BRASIL1

Fabiana Luiza Ranzato Filardi2,3,4, Flávia Cristina Pinto Garcia3

& Rita Maria de Carvalho-Okano3

INTRODUÇÃO

O domínio do cerrado cobre,aproximadamente, 2.000.000 km2 (Coutinho2002) que abrangem mais de 20o de latitude(Ratter et al. 1997). Considerado o segundomaior bioma do Brasil, atualmente seusremanescentes de vegetação primáriacorrespondem somente a 20% da área originale apenas 6,2% estão localizados em áreas depreservação (Myers et al. 2000). Comdiversidade florística estimada em 10.000espécies, sendo 4.400 endêmicas, o cerrado é

Artigo recebido em 08/2006. Aceito para publicação em 02/2007.1Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, Programa de Pós-graduação em Botânica, Universidade Federalde Viçosa.2 Bolsista do convênio no 315 SIF – CEMIG / ANEEL (registro P & D 042).3Universidade Federal de Viçosa, Depto. Biologia Vegetal, Avenida P. H. Rolphs s/no, 36571-000, Viçosa, MG, Brasil.4Autor para correspondência: [email protected]

um dos 25 ecossistemas mais ricos e maisameaçados do planeta (Myers et al. 2000;Pennington et al. 2000). Sua vegetaçãocaracteriza-se pela existência de fitofisionomiasecotonais entre dois extremos fisionômicos: ocerradão apresenta predomínio do componentearbustivo-arbóreo, enquanto no campo limpo oestrato lenhoso é inexpressivo (Coutinho 2002).

Leguminosae é considerada a família demaior riqueza florística no cerrado (25% dostáxons), seguida por Asteraceae (16%),Orchidaceae (14%) e Poaceae (11%), famílias

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expressivas apenas para a flora herbáceo-subarbustiva (Mendonça et al. 1998). Assim,Leguminosae é importante para a dinâmica dascomunidades nas diferentes fitofisionomias,tanto extremas quanto intermediárias (camposujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto),que compõem o bioma (Eiten 1972; Warming& Ferri 1973; Mendonça et al. 1998).

Papilionoideae reúne cerca de 13.800espécies em 483 gêneros e 28 tribos (Lewis et

al. 2005) e, segundo Mendonça et al. (1998)está representada no cerrado por 398 táxons,que representam 46% do total citado paraLeguminosae neste bioma. Caracteriza-se porfolhas pinadas, nunca bipinadas, florespapilionáceas com simetria zigomorfa eprefloração imbricada vexilar havendo, porém,exceções nas tribos Sophoreae e Swartzieaeque apresentam flores actinomorfas (Polhill &Raven 1981; Lewis et al. 2005).

Originalmente, o cerrado cobria mais de30 milhões de hectares em Minas Gerais(Laca-Buendia & Brandão 1995), porém apartir da década de setenta, principalmente noTriângulo Mineiro, imensas áreas de vegetaçãonativa foram degradadas para dar lugar àagropecuária e à monocultura. A EstaçãoAmbiental de Volta Grande (EAVG), após 30anos de regeneração natural, apresenta-secomo um dos poucos refúgios da região deUberaba, que segundo Drummond et al.

(2005) reúne áreas prioritárias para aconservação e investigação científica noestado, pois apresenta alta importânciabiológica, alto grau de ameaça e númeroreduzido de unidades de conservação.

Estudos específicos sobre Leguminosaeem Minas Gerais são restritos principalmentea áreas do domínio da mata atlântica (Lima2006; Bortoluzzi et al. 2004; Bosqueti 2004;Nunes 2003; Mendonça Filho 1996) e decampos rupestres (Dutra 2005; Queiroz 2004).Devido à importância da família para o cerrado,este trabalho teve como objetivo realizar oestudo taxonômico dos representanteslenhosos da subfamília Papilionoideae naEAVG, a única área de compensação ambiental

da Companhia Energética de Minas Gerais(CEMIG) implantada em conjunto com ocomplexo industrial de produção de energia.Apresentamos chave analítica para aidentificação dos táxons, descrições eilustrações dos mesmos, além de nomespopulares, comentários sobre distribuiçãogeográfica e preferência por habitat na EAVG.

MATERIAL E MÉTODOS

A Estação Ambiental de Volta Grande fazparte do complexo da Usina HidrelétricaEstadual de Volta Grande, que pertence àCEMIG e localiza-se a 40 km de Uberaba,entre os municípios de Conceição das Alagoas(MG) e Miguelópolis (SP) (20º00’-20º01’S e48º12’-48º15’W) (Fig. 1). Nesta região doTriângulo Mineiro, o clima é do tipo Cwa, deacordo com a classificação de Köppen, comtemperatura média anual entre 22ºC e 24ºC,estação seca bem definida, de maio a outubro,e precipitação média anual de 1.550 mm(CPTEC/INPE 2006). A área de estudoapresenta altitude média de 524 m e relevo debaixa declividade, característico do curso oestedo rio Grande, na divisa dos estados de MinasGerais e São Paulo, com trechos de margensalagadiças e muitas lagoas marginais (Vazet al. 2000). Criada em 1976, a EAVG reúne391 ha, sendo que cerca de 190 ha de cerradoe 85 ha de floresta estacional semidecidualencontram-se em franco processo de sucessãosecundária, existindo ainda 30 ha de várzeaque são muito importantes para a faunapresente na área (Fig. 1).

Foram realizadas 10 expedições para acoleta de material botânico, entre setembro de2002 a novembro de 2005. Com a finalidadede cobrir a variação fisionômica da vegetação,foram estabelecidas seis trilhas em formaçõesde cerrado e quatro em áreas de florestaestacional semidecidual. A trilha 1 representaa área de cerrado sensu stricto em estágiode regeneração mais avançado, com cerca de60 ha, as trilhas 2, 3 e 4 representam áreasmais alteradas de cerrado sensu stricto,enquanto que as trilhas 5 e 6 são manchas de

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cerradão, que reúnem aproximadamente 16ha.Nas formações de floresta estacionalsemidecidual, as trilhas 7 e 8 são adjacentes àárea de várzea, enquanto que as trilhas 9 e 10localizam-se nas margens mineira e paulistado reservatório, respectivamente (Fig. 1).

O material botânico foi coletado eherborizado conforme as técnicas de Fidalgo& Bononi (1984), registrado e incorporado noacervo do herbário VIC. A terminologiamorfológica adotada nas descrições foi baseadana literatura taxonômica sobre a subfamília enos trabalhos de Radford et al. (1974) e Polhill

& Raven (1981) e os tipos de frutos emBarroso et al. (1999). A classificação adotadapara tribos e gêneros foi a de Lewis et al.(2005). Os táxons são apresentados em ordemalfabética dentro de cada gênero, sendofornecidos comentários sobre distribuiçãogeográfica e preferência por habitat na EAVGapós cada descrição. As ilustrações, dascaracterísticas vegetativas e reprodutivas,foram realizadas a partir de materiaisherborizados e /ou fixados em álcool 70%, como auxílio de uma câmara clara acoplada aoestereomicroscópio Olympus.

Figura 1 - Localização da Estação Ambiental deVolta Grande (EAVG), limitada ao norte pelomunicípio de Conceição das Alagoas, MG e ao sulpelo município de Miguelópolis, SP: 1-4. trilhasem cerrado sensu stricto; 5-6. trilhas no cerradão;7-10. trilhas em floresta estacional semidecidual.(modificado de Vaz et al. 2000; Escala 1: 10.000).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na EAVG, foram identificados 14 táxonsnativos de Papilionoideae, pertencentes a 11gêneros e quatro tribos: Dalbergieae(Centrolobium, Dalbergia, Machaerium ePlatypodium) e Sophoreae (Acosmium,Bowdichia, Myroxylon e Ormosia) foram astribos mais representativas, seguidas porDipterygeae (Dipteryx e Pterodon) e Robinieae(Sesbania). Machaerium, com três espécies,e Acosmium, com duas, foram os gêneros mais

expressivos, enquanto que os demais foramrepresentados por apenas uma espécie. Amaioria dos táxons (86%) apresentou hábitoarbóreo, sendo apenas dois deles arbustivos.Todos os táxons tratados já foram citados paraa flora do cerrado (Mendonça et al. 1998). NaEAVG, a maioria das espécies (64%) mostrou-se restrita às formações de cerrado, umaocorreu apenas na mata e quatro espécies(29%) ocorreram tanto nas áreas de cerrado,quanto nas de floresta estacional semidecidual.

Chave para a identificação das Papilionoideae lenhosas ocorrentes naEstação Ambiental de Volta Grande, MG

1. Folhas paripinadas.2. Árvore; raque foliar alada, glabra; folíolos 4–6 pares, glabros, nervura principal excêntrica;

cálice com 2 lacínias petalóides; fruto drupa ..................................... 5.1. Dipteryx alata

2’. Arbusto; raque foliar não alada, serícea; folíolos 17–22 pares, face abaxial serícea, nervuraprincipal central; cálice com 5 lacínias semelhantes, não petalóides; fruto legume nucóide..................................................................................................... 11.1. Sesbania virgata

1’. Folhas imparipinadas.3. Folíolos alternos.

4. Lâmina foliar com pontuações e traços translúcidos; fruto sâmara, ala com nervurasubmediana ................................................................... 7.1. Myroxylon peruiferum

4’. Lâmina foliar sem pontuações e traços translúcidos; fruto legume samaróide ousâmara, ala sem nervura submediana.5. Folíolos 9–11; legume samaróide ........................... 2.1. Bowdichia virgilioides

5’. Folíolos 13–23; sâmara.6. Folíolos ovados a orbiculares, base cordada, ápice arredondado; androceu

monadelfo; região seminífera central ............ 4.1. Dalbergia miscolobium

6’. Folíolos oblongos a elípticos, base oblíqua a obtusa, ápice emarginado;androceu poliadelfo; região seminífera distal .... 9.1. Platypodium elegans

3’. Folíolos opostos a subopostos.7. Folíolos 3–13.

8. Plantas totalmente glabras; corola actinomorfa ......1.2. Acosmium subelegans

8’. Plantas densamente indumentadas; corola actinomorfa ou zigomorfa.9. Ápice do folíolo retuso; corola actinomorfa; legume samaróide ..................

.......................................... 1.1. Acosmium dasycarpum ssp. dasycarpum

9’. Ápice do folíolo agudo; corola zigomorfa; sâmara ou legume.10. Folíolo com pontuações resiníferas na face abaxial; fruto sâmara, região

seminífera proximal equinada; semente não bicolor, castanho-avermelhada ...................................... 3.1. Centrolobium tomentosum

10’. Folíolo sem pontuações resiníferas na face abaxial; fruto legume;semente bicolor, vermelha e preta ................. 8.1. Ormosia fastigiata

7’. Folíolos 15 ou mais.11. Estípulas espinescentes.

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1. Acosmium Schott., Linn. Syst. Veg. (ed.16)4: 406. 1827.

1.1 Acosmium dasycarpum ssp. dasycarpum

(Vog.) Yakov., Not. Roy. Bot. Gard. Edinb. 29:351. 1969. Fig. 2 a-c

Arvoretas 2,5–3 m alt. Ramos angulosos,suberosos, vilosos. Folhas imparipinadas;estípulas lanceoladas, ca. 3 mm compr.,lanuginosas, caducas; pecíolo 2,5–3,3 (–3,8) cmcompr., lanuginoso; raque (2,3–) 4,5–6,6 cmcompr., lanuginosa; folíolos 3–5 (–7), (3,3–)4,2–8,5 × 2–4 cm, opostos a subopostos,elípticos, base obtusa, raro oblíqua, ápice retuso,face adaxial ciliada, face abaxial lanuginosa.Inflorescências em panículas, axilares,terminais, pedúnculo 11–15 mm compr., raque6–8 cm compr., vilosa; brácteas não observadas,bractéolas lanceoladas, ca. 1,5 mm compr.,lanuginosas. Flores actinomorfas, hipantoca. 1,5 mm compr., pedicelo 2–3 mm compr.;cálice campanulado, 5 x 6 mm, 5-laciniado,esparsamente lanuginoso; corola amarelo-alaranjada, glabra, pétalas 3,5–5 × 2–3,2 mm,base atenuada, unguícula 2,5–3 mm compr.,ápice obtuso; androceu dialistêmone, ca. 9 mmcompr., 10 estames, anteras com deiscêncialongitudinal; ovário ca. 5 mm compr.,lanuginoso; estípite ca. 2 mm compr.; estileteca. 4,5 mm compr.; estigma inconspícuo,oblíquo. Legumes samaróides, 3,2–5,2 × 2,1–2,5 cm, elípticos, estípite 7–11 mm compr., baseatenuada, cálice persistente, ápice obtuso,mucronulado, lanuginosos, castanho-dourados;sementes 1–2 (3), castanho-claras.Material examinado: trilha 2, 24.II.2003, fr., F. L. R.

Filardi et al. 214 (VIC); idem, 9.XII.2003, fl.e fr., F.

L. R. Filardi et al. 396 (VIC); trilha 3, 7.III.2004, fr.,F. L. R. Filardi et al. 459 (VIC).

Nome popular: perobinha, amargoso, chapada.Restrita ao Brasil (Yakovlev 1969;

ILDIS 2005), ocorre em Minas Gerais, Riode Janeiro, São Paulo (Yakovlev 1969),Bahia (Lewis 1987) e no Planalto Central(Lorenzi 2002b), ocupando principalmenteáreas de cerrado (Yakovlev 1969). A espécieé freqüente e restrita às áreas de cerradosensu stricto na EAVG e, segundo Cordeiro(2002), apresenta potencial para arecuperação de áreas degradadas. Floresceuentre setembro e dezembro e frutificou entrejaneiro e março, apresentando flores e frutosem dezembro.

1.2 Acosmium subelegans (Mohlenbr.)Yakov., Not. Roy. Bot. Gard. Edinb. 29: 353.1969. Fig. 2 d,e

Árvores ca. 5 m alt. Ramos angulosos,suberosos, lenticelados, glabros. Folhasimparipinadas; estípulas não observadas; pecíolo4,3–7,3 cm compr., glabro; raque 5,6–10 cmcompr., glabra; folíolos (5–) 7–9, 3,1–5,4 ×2,4–3,5 cm, opostos a subopostos, ovados, basearredondada, raro obtusa, ápice retuso, glabros.Inflorescências em panículas, axilares,terminais, pedúnculo 1,5–3,2 cm compr., raque5,5–7,5 cm compr., glabra; brácteas nãoobservadas, bractéolas lanceoladas, ca. 1 mmcompr, glabras. Flores actinomorfas, hipantoca. 1 mm compr.; pedicelo ca. 3 mm compr.;cálice campanulado, ca. 4 × 5 mm, 5-laciniado,glabro; corola amarelo-clara, glabra; pétalas4–5 × 3–3,5 mm, base atenuada, unguícula2–3 mm compr., ápice obtuso; androceudialistêmone, ca. 1 cm compr., 10 estames,anteras com deiscência longitudinal; ovário ca.2 mm compr., glabro, estípite ca. 3 mm compr.;

12. Arbusto escandente; estípulas espinescentes recurvadas; folíolos 23–43 ................................................................................................................... 6.1. Machaerium aculeatum

12’. Árvore; estípulas espinescentes retilíneas ou sobrepostas; folíolos 37–53 ......................................................................................................................... 6.3. Machaerium hirtum

11’. Estípulas não espinescentes.13. Apêndice foliar terminal presente; raque foliar tomentosa; folíolos 23–37; fruto

criptossâmara . ................................................................... 10.1. Pterodon emarginatus

13’. Apêndice foliar terminal ausente; raque foliar glabra; folíolos 15–17; fruto sâmara ................................................................................................. 6.2. Machaerium acutifolium

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estilete ca. 2,5 mm compr.; estigma inconspícuo,crestado. Frutos não observados.Material examinado: trilha 2, 24.IX.2002, fl., F. L. R.

Filardi et al. 94 (VIC); idem, 8.XI.2005, fl., F. L. R.

Filardi & F. C. P. Garcia 673 (VIC); idem, 676 (VIC).Nome popular: amendoim-falso, chapadinha.

Restrita ao sul da América do Sul(Yakovlev 1969; ILDIS 2005), no Brasil,ocorre nos estados de Goiás, Mato Grosso,Mato Grosso do Sul (Lorenzi 2002a), MinasGerais, São Paulo e Paraná, ocupandoprincipalmente áreas de cerrado (Yakovlev1969). Na EAVG, a espécie é freqüente aolongo da estrada asfaltada que leva da recepçãoà barragem (trilha 2), mas também ocorre natrilha 1, área em estágio de regeneração maisavançado (Fig. 1). A floração foi observadaentre setembro e dezembro.

2. Bowdichia Kunth., Nov. Gen. Sp. (folio ed.)6: 295. 1823.

2.1 Bowdichia virgilioides Kunth., Nov. Gen.Sp. 6: 376. 1823. Fig. 2 f,g

Árvores ca. 11 m alt. Ramos cilíndricosa levemente angulosos, levemente suberosos,espessados na inserção das folhas,puberulentos. Folhas imparipinadas; estípulasnão observadas; pecíolo 1,4–2,9 cm compr.,puberulento; raque 8,8–9,8 cm compr.,puberulenta a esparsamente tomentosa; folíolos(7–) 9–11, 5,2–7,5 × 1,5–2,2 cm, alternos,oblongos, base obtusa, ápice emarginado, faceadaxial glabra, lustrosa, face abaxialesparsamente serícea, tricomas esparsos sobreas nervuras secundárias e terciárias. Flores nãoobservadas. Legumes samaróides, 5,3–7,2 ×1,5–1,7 cm, oblongos, estípite 9–11 mm compr.,ala vexilar proeminente, ca. 2 mm larg., baseatenuada, cálice persistente, ápice obtuso,mucronulado, glabros, castanho-avermelhados;sementes 3–10, alaranjadas a amarelas.Material examinado: trilha 1, 23.IX.2002, fr., F. L. R.

Filardi et al. 70 (VIC).Nome popular: sucupira-do-cerrado,sucupira-preta.

A espécie é nativa da América do Sul(ILDIS 2005) e no Brasil, pode ser

encontrada nos estados da Bahia (Lewis1987), Pará, Goiás, Mato Grosso, MatoGrosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo(Lorenzi 2002a). Ocorre, geralmente, emformações de cerrado (Ratter et al. 2003),mas é citada também para áreas de camposrupestres (Zappi et al. 2003) e de restinga(Lewis 1987). Na EAVG, a espécie éfreqüente e restrita à trilha 1, que representaa área de cerrado sensu stricto em estágiode regeneração mais avançado da área deestudo (Fig. 1). A capacidade para aassociação simbiótica com bactériasdiazotróficas foi atestada em isoladosprovenientes do cerrado (Cordeiro 2002) ede sua casca foram isoladas substânciasativas contra a malária (Deharo et al. 2001).A frutificação foi observada em setembro.

3. Centrolobium Mart. ex Benth., Comm.Legum. Gen. 31. 1837.

3.1 Centrolobium tomentosum Guillem. ex

Benth., J. Bot. (Hooker) 2: 66. 1840.Fig. 2 h-j

Árvores 6–7 m alt. Ramos cilíndricos alevemente angulosos, canaliculados, lenticelados,tomentosos. Folhas imparipinadas; estípulaslanceoladas, ca. 12 mm compr., tomentosas,caducas; pecíolo (4,7–) 5,4–8,6 (–9,5) cmcompr., tomentoso, pontos resiníferosdourados; raque (6,5–) 10,5–19,6 cm compr.,tomentosa, pontos resiníferos dourados; folíolos7–13, 5,8–13,6 × 3–6 cm, opostos a subopostos,elípticos a oblongos, base obtusa, ápicecuspidado, face adaxial levemente tomentosa,face abaxial tomentosa, pontos resiníferosdourados em depressões do limbo.Inflorescências em panículas, axilares,terminais, pedúnculo 1–2,7 cm compr., raque6–10,5 cm compr., vilosa; brácteas nãoobservadas, bractéolas lanceoladas, 7–10 mmcompr., tomentosas, pontos resiníferosdourados. Flores zigomorfas; pedicelo ca.4 mm compr.; cálice campanulado, 15–17 ×7–8 mm, 4-laciniado, tomentoso, pontosresiníferos dourados; corola amarela, glabra;vexilo 18–19 × 16 mm, base recurvada,

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Papilionoideae lenhosas da Estação Ambiental de Volta Grande

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Figura 2 - a-c. Acosmium dasycarpum ssp. dasycarpum - a. folha; b. indumento dos folíolos; c. flor em corte longitudinal(Filardi 396); d-e. Acosmium subelegans - d. folha; e. flor em corte longitudinal (Filardi 94); f-g. Bowdichia virgilioides

- f. folha; g. fruto (Filardi 70); h-j. Centrolobium tomentosum - h. folha; i. pontos resiníferos na face abaxial dos folíolos;j. fruto (Filardi 345); k-l. Dalbergia miscolobium - k. folha; l. flor sem o perianto (Filardi 445); m-o. Dipteryx alata -

m. folha; n. flor com sépalas petalóides (setas) (Filardi 196); o. fruto (Filardi 440); p-q. Machaerium aculeatum -

p. folha; q. frutos (Filardi 513).

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auriculada, ápice obtuso; alas ca. 14 × 7 mm,base oblíqua, auriculada, unguícula 3–4 mmcompr.; pétalas da carena ca. 14 × 6 mm, baseoblíqua, auriculada, unguícula ca. 4 mm compr.;androceu monadelfo, ca. 19 mm compr., 10estames, anteras com deiscência longitudinal;ovário ca. 7 mm compr., densamente tomentoso,pontos resiníferos dourados; estilete ca. 12 mmcompr.; estigma inconspícuo, crestado.Sâmaras, 13–15 × 5–5,5 cm, base oblíqua,espinho estilar lateral, ápice obtuso, tomentosas,castanhas, região seminífera proximal, 3,5–4,3 cm larg., equinada, ala 5–5,5 cm larg.;semente castanho-avermelhada.Material examinado: trilha 2, 6.III.2004, fl., F. L. R.

Filardi et al. 435 (VIC); trilha 3, 28.I.2003, fl., F. L.

R. Filardi & S. L. Faria 174 (VIC); idem, 29.IX.2003,fr., F. L. R. Filardi et al. 345 (VIC).Nome popular: araribá, araribá-rosa, araruvá.

Restrita ao Brasil, ocorre desde SãoPaulo até a Bahia, avançando para o interioraté Goiás, ocupando principalmente áreas defloresta estacional semidecidual e de cerrado(Lima 1988). Na EAVG, a espécie é freqüentenas áreas mais alteradas de cerrado sensu

stricto, principalmente às margens da estradaasfaltada (trilha 2) próximo a entrada para apiscicultura e para a barragem (Fig. 1).Produz grande quantidade de sementesviáveis amplamente disseminadas pelo vento,apresentando grande vigor nos estágiosiniciais de secessão secundária (Lorenzi2002a). Floresceu entre janeiro e março efrutificou em setembro.

4. Dalbergia L. f., Suppl. Pl. 52: 316. 1782.

4.1 Dalbergia miscolobium Benth. in Mart.;Eichl. et Urb., Fl. bras. 15 (1): 222. 1862.

Fig. 2 k,lÁrvores 3,5–7 m alt. Ramos cilíndricos,

canaliculados, lenticelados, pulverulentos,esparsamente ciliados a glabrescentes. Folhasimparipinadas; estípulas não observadas; pecíolo(7–) 10–14 mm compr., glabro; raque 6,8–10,6cm compr., glabrescente; folíolos (15–) 17–21,11–23 × 10–14 mm, alternos, ovados, orbiculares,base cordada, ápice arredondado, faces adaxial

e abaxial glabrescentes. Inflorescências empanículas, axilares, terminais, pedúnculo 8–12 mmcompr., raque 2,3–5,3 cm compr., tomentosa;brácteas obovadas, ca. 2 mm compr., seríceas,caducas, bractéolas ovado-elípticas, ca. 1,8 mmcompr., tomentosas, caducas. Flores zigomorfas,hipanto ca. 1 mm compr.; pedicelo ca. 4 mmcompr.; cálice bilabiado, ca. 4 × 3 mm, 5-laciniado, 2 sépalas adaxiais fundidas quasecompletamente, glabro, ápice das sépalasindumentado; corola roxa, glabra; vexilo ca. 6× 8 mm, base truncada, unguícula ca. 2,5 mmcompr., ápice obcordado; alas ca. 5,5 × 4 mm,base auriculada, unguícula ca. 2 mm compr.;pétalas da carena ca. 5 × 3 mm, base oblíqua,unguícula ca. 2 mm compr.; androceu monadelfo,ca. 7 mm compr., 9–10 estames, anteras comdeiscência transversal, apical; ovário ca. 2 mmcompr., glabro, tricomas estrigosos na base elateralmente, estípite ca. 2,5 mm compr.;estilete ca. 1 mm compr.; estigma inconspícuo,crestado. Sâmaras, 3,5–6 × 1,7–2,2 cm,elípticas, base e ápice obtusos, glabras,castanhas, região seminífera central, 1–1,8 cmlarg.; semente castanha.Material examinado: trilha 1, 6.V.2005, fr., F. L. R.

Filardi et al. 581 (VIC); trilha 2, 6.III.2004, fl., F. L.

R. Filardi et al. 445 (VIC); trilha 3, 24.II.2003, fl., F.

L. R. Filardi et al. 205 (VIC).Nome popular: caviúna-do-cerrado,jacarandá-do-cerrado.

Restrita ao Brasil, a espécie ocorre do Piauíaté o Paraná, sendo característica da vegetaçãodo cerrado (Carvalho 1997), mas ocupandotambém áreas de caatinga (Lewis 1987) e decampos rupestres (Zappi et al. 2003). NaEAVG, a espécie foi coletada nas trilhas decerrado sensu stricto, sendo freqüente na áreamenos alterada (trilha 1) e estando em francaregeneração, principalmente, nas proximidadescom o cerradão (trilha 5) (Fig. 1). Apresentapotencial para a recuperação de áreasdegradadas pela capacidade de fixaçãobiológica de nitrogênio quando em associaçãocom bactérias do solo (Cordeiro 2002; Sprent2001). Floresceu entre dezembro e março efrutificou entre maio e julho.

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Papilionoideae lenhosas da Estação Ambiental de Volta Grande

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5. Dipteryx Schreb., Gen. Pl. 2: 485. 1791.

5.1 Dipteryx alata Vog., Linnaea 11: 383. 1837.Fig. 2 m-o

Árvores 5–8 m alt. Ramos cilíndricos,lenticelados, glabros. Folhas paripinadas;estípulas não observadas; pecíolo 6,9–12,9 cmcompr., glabro, alado; raque 13,3–19 cm compr.,glabra, alada; folíolos 3–6 pares, 5,3–9,3 × 3–4,7 cm, opostos a subopostos, elípticos, basecordada ou oblíqua, ápice agudo, glabros,nervura principal excêntrica. Inflorescênciasem panículas, axilares, terminais, pedúnculo8–15 mm compr., raque 6,4–7,6 cm compr.,densamente puberulenta; brácteas e bractéolasnão observadas. Flores zigomorfas, hipantoca. 2 mm compr., pedicelo ca. 3 mm compr.;2 sépalas adaxiais petalóides e 3 sépalasabaxiais reduzidas, ca. 6 × 5 mm, internamentepuberulentas, externamente com pontosglandulares; corola creme, glabra; vexilo ca.7,5 × 8 mm, base truncada, unguícula ca. 1 mmcompr., recurvada, ápice obcordato; alas ca.6,5 × 4 mm, base oblíqua, unguícula ca. 1,2 mmcompr.; pétalas da carena ca. 5 × 3,2 mm, baseoblíqua, unguícula ca. 1,5 mm compr.; androceumonadelfo, ca. 6 mm compr., 10 estames,anteras com deiscência longitudinal; ovário ca.2 mm compr., glabro, estípite ca. 2,5 mm compr.;estilete ca. 2,2 mm compr.; estigma inconspícuo,crestado. Drupas, 5,1–5,5 × 4,5–4,7 cm,piriformes, base e ápice arredondados,lenhosas, castanho-claras a pardas; sementecastanho-escura.Material examinado: trilha 2, 24.IX.2002, fr., F. L. R.

Filardi et al. 91 (VIC); idem, 28.IX.2003, fr., F. L.

R. Filardi et al. 300 (VIC); idem, 6.III.2004, fr., F.

L. R. Filardi et al. 440 (VIC); trilha 3, 24.II.2003,fl., F. L. R. Filardi et al. 196 (VIC).Nome popular: cumarú.

Restrita à América do Sul (ILDIS 2005),no Brasil é citada para os estados de Goiás,Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, MinasGerais e São Paulo (Lorenzi 2002a), ocupandoprincipalmente áreas de cerrado (Ratter et al.

2003). Na EAVG, a espécie é abundante aolongo da estrada asfaltada que leva da recepçãoà barragem (trilha 2), ocorrendo de forma

esporádica nas demais trilhas de cerrado sensu

stricto. Seus frutos são comestíveis (polpa esemente) e apreciados pela população local,sendo o óleo da semente utilizado naperfumaria. Floresceu entre dezembro efevereiro e frutificou entre março e setembro.

6. Machaerium Pers., Syn. Pl. 2 (2): 276. 1807.

6.1 Machaerium aculeatum Raddi, Mem.Soc. Ital. Modern. 18: 598. 1820. Fig. 2 p,q

Arbustos escandentes ca. 2,5 m alt.Ramos cilíndricos, lenticelados, puberulentosa glabrescentes. Folhas imparipinadas; estípulasespinescentes, recurvadas, ca. 3 mm compr.,glabras; pecíolo 3–6 mm compr., tomentoso;raque 7,6–11,3 cm compr., tomentosa; folíolos23–43, 8–15 × 3–4 mm, opostos a subopostos,oblongos, base oblíqua a obtusa, ápiceemarginado, face adaxial glabra, face abaxialpuberulenta. Flores não observadas. Sâmaras,ca. 4,4 × 1,2 cm, estípite 6–7 mm compr., baseobtusa, cálice persistente, ápice obtuso,mucronulado, glabrescentes, castanho-clarascom faixas tranversais enegrecidas e amarelo-esverdeadas, região seminífera proximal, 5–6 mm larg., enegrecida, ala 10–12 mm larg.;semente castanha.Material examinado: trilha 4, 6.V.2004, fr., F. L. R.

Filardi et al. 513 (VIC).Nome popular: jacarandá-de-espinho.

As espécies M. aculeatum e M. hirtum

são muito próximas e diferenciam-se,principalmente, pelo hábito escandente daprimeira, que apresenta estípulas espinescentesrecurvadas e folhas com 23–43 folíolos,enquanto que a segunda é estritamente arbórea,apresenta estípulas espinescentes retilíneas ousobrepostas e folhas com 37–53 folíolos. Citadapara a América Central e América do Sul(ILDIS 2005), no Brasil, M. aculeatum ocorrenos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia(César et al. 2006), Minas Gerais, Rio deJaneiro e São Paulo (Bortoluzzi et al. 2004),ocupando áreas de mata atlântica (MendonçaFilho 1996), cerrado (Durigan et al. 2004) ecampos rupestres (Zappi et al. 2003). A espécieé comum em áreas alteradas de cerrado,

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estando apta ao início da colonização devido àassociação com bactérias para a fixação denitrogênio (Cordeiro 2002). Na EAVG, a espécieocorre apenas em uma trilha, que representa aárea mais alterada de cerrado sensu stricto

(trilha 4). A frutificação foi observada em maio.

6.2 Machaerium acutifolium Vog., Linnaea11: 187. 1837. Fig. 3 a,b

Árvores 3–8 m alt. Ramos cilíndricos,canaliculados, lenticelados, glabros. Folhasimparipinadas; estípulas não observadas;pecíolo 4,3–6 cm compr., glabro; raque 14,5–19,4 cm, glabra; folíolos 15 (–17), 5,3–8,4 × 1,8–3,2 cm, opostos, subopostos, raro alternos,lanceolados, base obtusa, ápice agudo,mucronulado, glabrescentes. Flores nãoobservadas. Sâmaras, 7,5–9,1 × 1,9–2,2 cm,estípite 6–8 mm compr., base atenuada, ápiceobtuso, glabras, castanho-claras, regiãoseminífera proximal, 10–13 mm larg., enrugada,castanha, ala 19–22 mm larg.; sementecastanho-escura.Material examinado: trilha 1, 9. XI.2005, fr., F. L. R.

Filardi & F. C. P. Garcia 682 (VIC); idem, 683

(VIC); trilha 2, 8.XII.2003, fr., F. L. R. Filardi et al.

369 (VIC); trilha 3, 28.I.2003, fr., F. L. R. Filardi & S.

L. Faria 160 (VIC).Nome popular: jacarandá-tã.

Restrita à América do Sul (ILDIS 2005),no Brasil, apresenta ampla distribuição,ocorrendo nos estados do Pará, Maranhão,Piauí, Ceará (Ducke 1949), Bahia (Lewis1987), Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e SãoPaulo, predominantemente em formações decerrado (Sartori & Tozzi 1998). Na EAVG, aespécie é freqüente nas formações de cerradosensu stricto, sendo abundante na trilha 1, querepresenta a área em estágio mais avançadode regeneração (Fig. 1). A frutificação foiobservada de setembro a janeiro.

6.3 Machaerium hirtum (Vell.) Stellfeld.,Tribuna Farm. 14 (2): 246. 1946. Fig. 3 c-e

Árvores ca. 9 m alt. Ramos cilíndricos,lenticelados, glabrescentes. Folhas imparipinadas;estípulas espinescentes, retilíneas ou

sobrepostas, 4–6 mm compr., puberulentas;pecíolo 3–6 mm compr., densamente tomentoso;raque 7,6–11,3 cm compr., puberulenta; folíolos37–53, 17–23 × 4–5 mm, opostos a subopostos,estreito-oblongos, base oblíqua, ápice retuso,mucronulado, glabros, face abaxial puberulenta.Inflorescências em panículas, axilares,terminais, pedúnculo 3–12 mm compr.; raque2,2–7,5 cm compr., tomentosa; brácteas nãoobservadas, bractéolas orbiculares, 1,5–2 mmcompr., tomentosas. Flores zigomorfas, hipantoca. 1,5 mm compr.; pedicelo ca. 3 mm compr.;cálice campanulado, 6 × 4 mm, 5-laciniado,tomentoso; corola violácea, serícea; vexilo ca.10 × 5 mm, base atenuada, unguícula ca. 2 mmcompr., ápice retuso; alas 10–13 × 4,5 mm,base truncada, unguícula ca. 3 mm compr.;pétalas da carena 8–13 × 5 mm, base oblíqua,unguícula ca. 3 mm compr.; androceu monadelfo,ca. 9 mm compr., 10 estames, anteras comdeiscência longitudinal; ovário ca. 4 mmcompr., velutino, estípite ca. 4 mm compr.;estilete ca. 4,2 mm compr.; estigma inconspícuo,crestado. Sâmaras, 4,4–5 × 1–1,2 cm, estípiteca. 9 mm compr., base atenuada, cálicepersistente, ápice obtuso, mucronulado,esparsamente tomentosas, castanho-claras,região seminífera proximal, 5–6 mm larg., alas1–1,2 cm larg.; semente castanha.Material examinado: trilha 1, 20.IX.2002, fl., F. L. R.

Filardi et al. 64 (VIC); trilha 4, 6.V.2005, fr., F. L. R.

Filardi et al. 641 (VIC); trilha 8, 8.III.2004, fr., F. L.

R. Filardi et al. 495 (VIC); trilha 9, 27.II.2003, fl.efr., F. L. R. Filardi et al. 287 (VIC).Nome popular: jacarandá-bico-de-pato.

Apresenta distribuição neotropical,sendo considerada uma espécie generalista(Morim 2006), e no Brasil ocorre nos estadosdo Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo,Goiás, Espírito Santo e Paraná (Sartori &Tozzi 1998), ocupando áreas de mataatlântica (Morim 2006; Lima 1995) e decerrado (Ratter et al. 2003). É uma daspoucas espécies lenhosas de Papilionoideaeque ocorrem tanto nas áreas de cerradoquanto nas de floresta estacionalsemidecidual da EAVG. A espécie é comum

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Papilionoideae lenhosas da Estação Ambiental de Volta Grande

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Figura 3 - a-b. Machaerium acutifolium - a. folha; b. frutos (Filardi 369); c-e. Machaerium hirtum - c. folha; d. flor(Filardi 64); e. frutos (Filardi 465); f-g. Myroxylon peruiferum - f. folha; g. frutos (Filardi 322); h-k. Ormosia

fastigiata - h. folha; i. indumento na face abaxial dos folíolos; j. fruto; k. semente bicolor dentro do fruto (Filardi 99);l-n. Platypodium elegans - l. folha; m. flor sem o perianto (Filardi 334); n. frutos (Filardi 509); o-q. Pterodon emarginatus -

o. folha; p. botão floral com sépalas petalóides (Filardi 328); q. fruto (Filardi 211); r-t. Sesbania virgata - r. folha;s. inflorescência (Filardi 426); t. frutos (Filardi 206).

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Rodriguésia 58 (2): 363-378. 2007

nas áreas de cerrado sensu stricto (trilhas 1e 4), porém mais freqüente nas formaçõesflorestais das trilhas 8 e 9, localizadas próximaà várzea e na margem mineira do reservatório,respectivamente. Devido à capacidade deassociação com microorganismos do solo, aespécie pode ser utilizada para a recuperaçãode áreas degradadas (Sprent 2001). Floresceude setembro a janeiro e frutificou de março amaio, apresentando flores e frutos emfevereiro.

7. Myroxylon L. f., Suppl. Pl. 34: 233. 1781.

7.1 Myroxylon peruiferum L. f., Suppl. Pl.34: 233. 1781. Fig. 3 f,g

Árvores ca. 7 m alt. Ramos cilíndricos,canaliculados, lenticelados, tomentosos aglabrescentes. Folhas imparipinadas; estípulasnão observadas; pecíolo 15–19 mm compr.,esparsamente tomentoso; raque 6,7–10 cmcompr., esparsamente tomentosa; folíolos 7–13,2,8–6,6 × 1,4–2,5 cm, alternos, elípticos, baseobtusa, ápice agudo, retuso, face adaxial glabra,levemente tomentosa na nervura principal, faceabaxial esparsamente tomentosa sobre anervura principal, traços e pontuaçõestranslúcidas no limbo. Flores não observadas.Sâmaras, 5,4–6,1 × 1,7–2,1 cm, estípite 5–6 mmcompr., base oblíqua, cálice persistente, ápiceoblíquo, mucronado, glabras, douradas, regiãoseminífera distal, 10–14 mm larg., enrugada,ala com nervura sub-mediana comprimida,13–15 mm larg.; semente amarelo-clara.Material examinado: trilha 8, 28.IX.2003, fr., F. L. R.

Filardi et al. 322 (VIC).Nome popular: bálsamo, cabreúva.

Amplamente distribuída nas Américas,assim como no Brasil, onde ocorre no nordeste,centro-oeste, sudeste e sul do país, ocupandoáreas de floresta pluvial, floresta estacionalsemidecidual (Sartori 2000) e formaçõesflorestais do cerrado (Mendonça et al. 1998).Na EAVG, a espécie é rara e restrita à áreade floresta estacional localizada próxima àvárzea (trilha 8) (Fig. 1). A frutificação foiobservada em setembro.

8. Ormosia Jacks., Trans. Linn. Soc. London10: 358-362. 1811.

8.1 Ormosia fastigiata Tul., Arch. Mus. Par.4: 108. 1844. Fig. 3 h-k

Árvores ca. 9 m alt. Ramos cilíndricos a leve-mente angulosos, velutinos. Folhas imparipinadas;estípulas lanceoladas, ca. 1 cm compr., tomentosas;pecíolo (1,5–) 3,8–6 cm compr., velutino; raque(7,2–) 10,5–18,3 (–22) cm compr., velutina;folíolos 7–9, 5,5–13,5 × 3,3–6 cm, opostos asubopostos, elípticos a amplamente elípticos,distais obovados, base obtusa a arredondada,ápice obtuso a acuminado, face adaxial glabra,face abaxial tomentosa, indumento mais densosobre as nervuras. Flores não observadas.Legumes, 3–5,8 × 2,3–3 cm, orbiculares ouconstritos entre as sementes, base atenuada,ápice cuspidado, velutinos, castanhos acastanho-escuros; sementes 1–2, bicolores,vermelhas e pretas.Material examinado: trilha 1, 3.V.2005, fr., F. L. R.

Filardi et al. 584 (VIC); trilha 4, 24.IX.2002, fr., F.

L. R. Filardi et al. 99 (VIC); trilha 5, 26.II.2003,fr., F. L. R. Filardi et al. 258 (VIC).Nome popular: tento.

Restrita ao Brasil, a espécie é citada paraos estados de Goiás, Mato Grosso, MinasGerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná(Rudd 1954) e Bahia (Lewis 1987), ocupandoáreas acima de 500 m de altitude (Rudd 1954),inclusive formações florestais do cerrado(Mendonça et al. 1998). A espécie é comumnas formações de cerrado da EAVG, sendomais freqüente no cerrado sensu stricto

limítrofe à várzea (trilha 4) e em uma dasáreas de cerradão (trilha 5). Foram observadosdois indivíduos de grande porte, com cercade 18 m de altura e 170 cm de diâmetro,na “ilhota” que faz parte da trilha ao longoda margem mineira do reservatório (trilha 9)(Fig. 1). Pode ser utilizada para a recuperaçãode áreas degradadas, pois é capaz deestabelecer associação com bactérias parafixação de nitrogênio (Sprent 2001), sendo suassementes muito utilizadas em trabalhosartesanais. A frutificação foi observada nosmeses de fevereiro, maio e setembro.

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Papilionoideae lenhosas da Estação Ambiental de Volta Grande

Rodriguésia 58 (2): 363-378. 2007

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9. Platypodium Vog., Linnaea 11: 420. 1837.

9.1 Platypodium elegans Vog., Linnaea 11:422. 1837. Fig. 3 l-n

Árvores 3,5–8 m alt. Ramos cilíndricos,canaliculados, lenticelados, puberulentos.Folhas imparipinadas; estípulas lineares, ca.3 mm compr., tomentosas, caducas; pecíolo1,4–2,2 cm compr., tomentoso; raque (8,2–)10,3–16 cm compr., tomentosa; folíolos 13–21,(2,5–) 3,2–4,8 × 1,3–2 cm, alternos, oblongosa elípticos, base oblíqua a obtusa, ápiceemarginado, mucronulado, face adaxial glabra,face abaxial tomentosa. Inflorescênciasracemosas, axilares, terminais, pedúnculo 8–19 mm compr., raque 9,8–12 cm compr.,tomentosa; brácteas deltóides, ca. 3 mmcompr., tomentosas; bractéolas ovadas, 1 nabase do pedicelo, ca. 4 mm compr., 2 no ápicedo pedicelo, ca. 2 mm compr., tomentosas.Flores zigomorfas, hipanto ca. 2 mm compr.;pedicelo 5–8 mm compr.; cálice campanulado,8–10 × 6–7 mm, 5-laciniado, internamenteseríceo, externamente glabro; corola amarela,glabra; vexilo 14 × 17–20 mm, base truncada,unguícula ca. 4 mm compr., ápice retuso; alas15–17 × 8 mm, base oblíqua, unguícula ca. 6 mmcompr.; pétalas da carena 11–12 × 6 mm, baseoblíqua, unguícula ca. 5 mm compr.; androceupoliadelfo, ca. 13 mm compr., 4+1+4+1estames, anteras com deiscência longitudinal;ovário ca. 4 mm compr., glabro, seríceo namargem, estípite ca. 6 mm compr.; estilete ca.3,5 mm compr.; estigma inconspícuo, crestado.Sâmaras, 6,9–8 × 1,8–2,6 cm, estípite 1–1,3 cmcompr., base atenuada, cálice persistente,ápice obtuso, glabras, castanho-claras, regiãoseminífera distal, 1,8–2 cm larg., castanho-escura, ala 2,3–2,6 cm larg.; sementecastanho-alaranjada.Material examinado: trilha 1, 25.IX.2002, fr., F. L. R.

Filardi et al. 100 (VIC); idem, fl., F. L. R. Filardi et

al. 102 (VIC); trilha 2, 27.II.2003, fr., F. L. R. Filardi

et al. 290 (VIC); trilha 4, 6.V.2004, fr., F. L. R. Filardi

et al 509 (VIC); trilha 5, 29.IX.2003, fl., F. L. R.

Filardi et al. 334 (VIC).Nome popular: jacarandá-branco.

Apresenta distribuição neotropical, sendoconsiderada uma espécie generalista (Morim

2006) e no Brasil, ocorre do Piauí até Goiás,Mato Grosso do Sul, São Paulo (Lorenzi 2002a)e Minas Gerais, ocupando áreas do domínio damata atlântica (Bortoluzzi et al. 2004), decerrado (Ratter et al. 2003) e caatinga (Lewis1987). A espécie é comum nas formações decerradão da EAVG (trilha 5), porém é maisfreqüente na área de cerrado sensu stricto emestágio mais avançado de regeneração (trilha1). Floresceu em setembro e a frutificação foiobservada entre fevereiro e maio, apresentandoflores e frutos em setembro.

10. Pterodon Vog., Linnaea 11: 384. 1837.

10.1 Pterodon emarginatus Vog., Linnaea 11:384. 1837. Fig. 3 o-q

Árvores 12–20 m alt. Ramos cilíndricos,tomentosos a glabrescentes. Folhasimparipinadas, com apêndice terminal; estípulasnão observadas; pecíolo (1–) 1,6–2 cm compr.,tomentoso; raque 11–17 cm compr., tomentosa;folíolos 23–37, 22–57 × 7–16 mm, opostos asubopostos, oblongos, base obtusa a oblíqua,ápice emarginado, mucronulado, face adaxialciliada a esparsamente ciliada, face abaxialtomentosa a esparsamente tomentosa.Inflorescências em panículas, axilares,terminais, pedúnculo 11–13 mm compr., raque7,2–10,5 cm compr., tomentosa; brácteas ebractéolas não observadas. Flores zigomorfas,hipanto ca. 1 mm compr.; pedicelo ca. 5 mmcompr.; 2 sépalas adaxiais petalóides e 3 sépalasabaxiais reduzidas, ca. 8 × 4 mm, internamentepuberulentas, externamente com pontosglandulares; corola branca, glabra; vexilo ca. 9× 8 mm, base atenuada, unguícula ca. 1,5 mmcompr., ápice emarginado, apêndice acicularentre os lobos; alas ca. 11 × 4 mm, baseauriculada, unguícula ca. 1 mm compr., ápiceemarginado, apêndice acicular entre os lobos;pétalas da carena ca. 9 × 3 mm, base auriculada,unguícula ca. 1 mm compr., ápice com apêndiceacicular; androceu monadelfo, ca. 7 mm compr.,10 estames, anteras com deiscência longitudinal;ovário ca. 1,5 mm compr., glabro, estípite ca.3 mm compr.; estilete ca. 3 mm compr.; estigmainconspícuo, lobado. Criptossâmaras, 4,4–5,3× 2,7–3,3 cm, elípticas, base obtusa a atenuada,

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ápice obtuso, glabras, exocarpo deiscente,castanho-escuro, endocarpo indeiscente,castanho-claro, região seminífera central,1,3–1,6 cm larg.; semente castanho-escura.Material examinado: trilha 2, 24.II.2003, fr., F. L. R.

Filardi et al. 211 (VIC); idem, 29.IX.2003, fl.fr., F. L.

R. Filardi et al. 328 (VIC); trilha 8, 18.IX.2002, fl., F.

L. R. Filardi et al. 29 (VIC).Nome popular: sucupira-amarela.

A espécie é nativa da Bolívia e do Brasil(ILDIS 2005), onde ocorre em Goiás, MatoGrosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo (Lorenzi2002a), principalmente no cerrado (Ratter et al.

2003). Na EAVG, a espécie é pouco freqüente,mas ocorre tanto em áreas de floresta estacionalsemidecidual (trilha 8), quanto em cerrado sensu

srticto (trilha 2), sendo também observadosindivíduos nas áreas de cerradão. Suas sementessão utilizadas na medicina popular comofortificante. Floresce de agosto a outubro efrutifica de setembro a fevereiro.

11. Sesbania Scop., Introd. Hist. Nat. 308-309. 1777.

11.1 Sesbania virgata (Cav.) Pers., Syn. Pl.2: 316. 1807. Fig. 3 r-t

Arbustos 1,5–3 m alt. Ramos cilíndricos,lenticelados, ciliados a glabrescentes. Folhasparipinadas; estípulas lanceoladas, 1–3 mmcompr., seríceas; pecíolo 9–14 mm compr.,seríceo; raque 12–22,3 cm compr., serícea;folíolos 17–22 pares, 21–32 × 6–10 mm, opostosa subopostos, oblongos a elípticos, base obtusa,ápice obtuso, mucronulado, face adaxial glabra,face abaxial serícea. Inflorescências racemosas,axilares, pedúnculo 8–17 mm compr., raque 4,2–7,4 cm compr. serícea; brácteas não observadas,bractéolas lanceoladas, ca. 1,8 mm compr.,seríceas. Flores zigomorfas, hipanto ca. 2 mmcompr.; pedicelo ca. 4,5 mm compr.; cálicecampanulado, ca. 4 × 4,5 mm, 5-laciniado, seríceo;corola amarelo-clara, glabra; vexilo ca. 9 × 9 mm,base truncada, unguícula ca. 2 mm compr., 2apêndices na ½ da unguícula, ápice obcordato,recurvado, estrias verdes dorsais; alas ca. 8 ×3 mm, base atenuada, unguícula ca. 4 mmcompr.; pétalas da carena ca. 7 × 3,5 mm, baseatenuada, unguícula ca. 5 mm compr.; androceu

diadelfo, ca. 9 mm compr., 9+1 estames, anterascom deiscência longitudinal; ovário ca. 8 mmcompr., glabro, estípite ca. 2,5 mm compr.;estilete ca. 3 mm compr.; estigma inconspícuo,clavado. Legumes nucóides, 4–5,7 × 0,7–1 cm,retangulares, angulosos, estípite 6–7 mm compr.,base atenuada, ápice agudo, margem constritalongitudinalmente, glabros, castanho-escuros;sementes 5–9, castanhas.Material examinado: trilha 3, 24.II.2003, fr., F. L. R.

Filardi et al. 206 (VIC); trilha 8, 10.XII.2003, fl., F.

L. R. Filardi et al. 426 (VIC).Nome popular: mangerioba.

Restrita à América do Sul (ILDIS 2005),no Brasil ocorre no Distrito Federal, MatoGrosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro,São Paulo e Rio Grande do Sul (Monteiro1994). Citada para áreas alteradas do biomacerrado (Mendonça et al. 1998), apresentagrande vigor nos estágios iniciais de sucessãopela capacidade de associação com bactériasdiazotróficas (Sprent 2001). Na EAVG, aespécie é comum e ocorre ao longo de estradasde terra que delimitam áreas de cerrado sensu

stricto (trilha 3) e de floresta estacionalsemidecidual (trilha 8). Floresceu emdezembro e frutificou em fevereiro.

AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem a CEMIG-ANEEL pelo financiamento do projeto e pelabolsa concedida à primeira autora; à UsinaHidrelétrica de Volta Grande pela estruturafísica concedida na Estação Ambiental eatenção de seus funcionários; ao Reinaldo A.Pinto pelas ilustrações; aos amigos SebastiãoL. Faria e Carlos Matheus S. Paixão peloauxílio nos trabalhos de campo e aos doutoresHaroldo C. de Lima (JBRJ) e Luciano P. deQueiroz (UEFS), bem como aos revisores,pelas valiosas sugestões.

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