FADIGA EM COMBATE SEUS HOMENS ESTO PREPARADOS PARA

COMBATER CONTINUAMENTE?

HEITOR FREIRE DE ABREU - Major de Cavalaria, Mestre em Operaes Militares (EsAO), Especialista em Manuteno de Material Blico (EsMB), Poltica e Estratgia (ADESG) e Superviso Escolar (UFRJ).

hfa19@hotmail.com

A guerra o domnio do esforo fsico e do sofrimento. Para um homem no ser dominado por estes

aspectos, ele precisa possuir uma certa fora fsica e mental, inata ou adquirida, que o torna indiferente a eles.

Clausewitz, Da Guerra, vol I, captulo 3.

Introduo O sono um estado fisiolgico, peridico e reversvel, caracterizado essencialmente

pela suspenso temporria da conscincia e acompanhado por uma inibio mais ou menos

importante da sensibilidade e lentido das funes orgnicas, inclusive com o decrscimo

da temperatura corporal em cerca de 0,5C. Ele responsvel por uma espcie de recarga

do organismo, preparando-o para um novo perodo de estado de alerta.

Alm disso, sabe-se que a perda de qualquer uma das cinco fases do sono, provoca

reaes diferentes no homem. Se uma pessoa perde a fase relacionada com os sonhos1 ela

se torna irritada e excitada. O mesmo acontece quando ela privada da fase caracterizada

por uma baixa freqncia das ondas cerebrais, deixando a pessoa deprimida e letrgica.

Quando no proporcionamos ao corpo a necessria recarga ou sono, ele comea a

externar a falta de repouso atravs de sinais mais ou menos perceptveis. A falta de sono, o

estresse, a ausncia de alimentao ou alimentao incorreta, causa o que chamamos de

Fadiga de Combate. De todos esses, o sono o que mais degenera a capacidade do

homem de combater.

1 Conhecida pela sigla em ingls (Rapid Eye Movements), que quer dizer Movimento Rpido dos Olhos.

A fadiga durante o combate atinge todos os combatentes, em maior ou menor grau.

Manter os homens acordados e atentos, mesmo na iminncia de morrer, pode se tornar uma

tarefa difcil aps os primeiros dias de combate.

Atualmente, as doutrinas militares apostam nas chamadas Operaes Continuadas.

Elas so uma evoluo dos conflitos mundiais, onde o tempo de combate era

excessivamente grande. Visam, sobretudo, o combate rpido e decisivo. Conflitos que

durem tanto tempo quanto 2 Guerra Mundial (1939-1945), Coria (1950-1953), Vietn

(1957-1975), Ir x Iraque (1980-1988), so cada vez menos comuns. As guerras tendem a

ser resolvidas em pouco tempo. A Guerra contra Saddam Hussein e o atual conflito contra

os Talibs so exemplos que refletem a tendncia agressiva e fulminante dos combates

atuais.

A idia de transformar as guerras em confrontos rpidos e letais no nova. Muitas

idias, principalmente de tericos americanos, russos e alemes, preconizavam esse tipo de

confronto. Essas teorias foram sintetizadas no FM 105 Operations, do Ex EUA, publicados

em 1984 j modificado diversas vezes que sintetizou a chamada Doutrina Ar-terra dos

EUA. Isso s foi possvel com o advento da guerra tridimensional e a chegada de novos

equipamentos que possibilitam o combate continuado. Com isso, novas doutrinas e tcnicas

esto sendo implementadas no sentido de manter uma tropa em combate durante as vinte e

quatro horas do dia.

Em 1954, a ento Unio Sovitica2 j estudava o assunto. O resultado dessa anlise

preconizava os seguintes imperativos doutrinrios para as foras armadas russas:

# ataques com grande velocidade e continuados, mediante ao emprego de dois escales na fora atacante, sempre apoiados por elementos blindados a fim de manter a

velocidade inicial;

# nfase na velocidade e no poder de choque em detrimento do fogo e da manobra; # velocidade de progresso de 60 a 100 quilmetros por dia, em situao nuclear; e

de 30 a 50 quilmetros por dia em um quadro convencional;

# deslocamentos diurnos e noturnos na mesma velocidade; # utilizao em larga escala de equipamentos de viso noturna3 e # desbordamentos de pontos fortes e grande penetrao em profundidade no

dispositivo inimigo.

2 Estudo realizado pela URSS em 1954 que visava preparar a nova doutrina sovitica contra uma possvel agresso por parte da OTAN. Privilegiava, para isso, as imensas formaes de blindados. Nota do autor (NA)

Tal quadro, proposto em 1954, a tnica das doutrinas atuais, notadamente as

ocidentais. Elas apontam para guerras de curta durao, mas de intensidade nunca vistas,

pois no h a previso da interrupo dos combates at a vitria final. Paradas por causa do

inverno, m visibilidade ou outras causas, tornar-se-o improvveis no campo de batalha

moderno. Os equipamentos, as vestimentas, o apoio logstico intenso e os armamentos

sofisticados tornam desnecessrias as paradas de outrora.

Sono versus Desempenho O novo manual de Operaes C 100-5 do Exrcito Brasileiro, editado em 1997 -

francamente inspirado na doutrina de batalha ar-terra dos EUA - quando trata dos conceitos

operacionais e guerra de movimento, preconiza que o combate continuado deve ser

perseguido pelo Exrcito Brasileiro. Isso demonstra a preocupao do EB em enfrentar

situaes de contingncias de forma rpida e decisiva, seguindo a tendncia atual.

Mas para que esse objetivo seja alcanado, necessrio que o soldado seja capaz

de manter sua capacidade operacional; ou seja, mesmo com sono ele deve ser capaz de

executar as tarefas que dele so esperadas. Isso no fcil.

Segundo Kellet4, durante a Guerra da Coria verificou-se que uma companhia do 27

Batalho de Infantaria dos EUA, apesar de ter homens em bom estado fsico,

experimentados e o ataque que estavam realizando ser curto, aps decorridas trs horas de

ataque, o maior problema para os oficiais e sargentos no era coordenar o ataque, mas sim

manter os homens acordados, face a fadiga dos soldados.

Verifica-se ainda, fruto da anlise de Kellet, quando estuda as atuaes das Foras

Especiais de Israel, dos EUA e do Reino Unido, que h uma tendncia das tropas especiais

em adormecer em ao. Isso se deve ao fato delas tornarem-se excitadas nas vsperas de

um assalto e no conseguirem dormir. Aps se infiltrarem, nota-se que estas podem tender

a ter sono rapidamente, mesmo estando em uma rea de alto risco.

A Experincia de Israel e da Argentina Mas, se um exrcito possui armamento, equipamento e material diverso apropriados

para aes continuadas, no deve esquecer-se do seu principal meio de combate: o

homem. A carga de trabalho, a presso psicolgica e a fadiga conseqente iro se abater

sobre esse combatente continuado de forma jamais vista.

3 A URSS, naquela poca, j desenvolvia projetos diversos sobre aparelhos optrnicos. Tinha como vantagem o baixo preo, mas a precariedade da tecnologia empregada e a baixa qualidade logo perderam para os equipamentos ocidentais.NA 4 KELLET, Anthony. Motivao para o Combate. Rio de Janeiro: Bibliex, 1987.

A Guerra do Yom Kippur clebre pelos exemplos de combate continuado. A

fortificao de Purkan, defronte de Ismalia, resistiu, continuamente e sem dormir, por 68

horas de combate. Numa outra oportunidade, o TC Avigdor, comandante da 7 Brigada

Israelense, travou um dos mais sangrentos combates do Yom Kippur. Nesta oportunidade, o

combate continuado foi a tnica.

Numa 2 feira, a sua brigada enfrentara um poderoso ataque da 3 Diviso Blindada e

da 7 Diviso de Infantaria, ambas srias, alm de elementos da Guarda Republicana do

Egito. Ao final daquele dia, suas tropas estavam esgotadas. Havia trs dias que combatiam

sem parar. No existia tempo para comer, para dormir ou qualquer outra atividade que no

fosse lutar. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde, sua linha de defesa iria cair. Alm da

superioridade em carros, os srios e egpcios possuam equipamentos de viso noturna e os

israelenses no5. Isso implicava em combates continuados.

Na manh de 3 feira, verificou que sua tropa estava em situao desesperadora.

Nesse momento, seu carro foi atingido e ele foi ferido. Abandonou o carro e subiu em um

outro. Era o segundo carro que perdera naqueles dias. Pouco tempo depois recebeu um

chamado da Fora Tigre, solicitando autorizao para retrair e remuniciar, pois se

encontravam quase sem munio. No havia tempo para isso. Avigdor no autorizou

(quando, mais tarde os reforos chegaram, encontram, incrdulos, os homens da Fora

Tigre combatendo atrs dos carros, com fuzis e granadas de mo). Disse que s poderia

retrair quando cada carro tivesse somente um tiro.

Aps uma anlise rpida, decidiu que a nica sada seria um contra-ataque de

desorganizao, a fim de atrasar as foras srias e egpcias. A confuso era tamanha que a

distncia entre os carros contendores estava entre 50 a 27 metros! A capacidade mental e

fsica das guarnies israelenses era mnima. Apoio ao combate e logstico no existiam

mais. Chegavam a quatro noites de luta, ininterruptas. O cansao era tanto que quando

Avigdor falava com o seu oficial de operaes, este adormeceu no rdio.

Foi neste momento que o TC Yossi, comandando o que restara da Brigada Barak (11

carros), penetrou na defesa de Avigdor e proporcionou-lhe algum reforo. A 7 Brigada

encontrava-se com apenas sete carros dos cem iniciais.

Neste momento, observadores israelenses verificaram que os srios estavam

recuando. Tiveram que deter o ataque, pois as perdas estavam sendo inaceitveis para as

foras atacantes. O que sobrou da 7 Brigada mais as tropas da Brigada Barak, indo contra

5 HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977.

qualquer lgica, deflagraram um pequeno contra-ataque contra as foras srias que se

retiravam. Destruram ainda, carros e transportes inimigos. Ao atingir um fosso Anticarro,

pararam o contra-ataque. A 7 Brigada atingira o limite das possibilidades fsica e mental

dos seus homens e mecnicas dos carros.

O recente conflito pela posse das Ilhas Malvinas/ Falklands, tambm bastante

elucidativo nesta rea.

O trecho a seguir, nos d uma idia de como a fadiga pode gerar perda de poder de

combate:

3) Situacin de personal. Al 14 Jun la Guarnicin, de 955 efectivos (46 Jefes y Oficiales, 166 Suboficiales y 746 Soldados), tiene 7 muertos y 70 heridos. Adems de stas, el RI 5 (+) presenta bajas no producidas en combate, sino resultentes del paulatino y progresivo debilitamiento fsico del personal. Este debilitamiento es producido por las inclemencias del tiempo, los esferzos en los desplazamientos que impone el terreno sumamente escabroso, y especialmente, por la carencia, en perodo prolongado, de hidratos de carbono en la alimentacin diaria(...). Por lo enunciado anteriormente, a la fecha considerada, el personal presenta uma sensible disminucin en su capacidad combateiva.6 (grifos do autor).

Verifica-se que apesar do RI 5 Argentino possuir 92% da sua tropa viva e sem

ferimentos, ela j havia perdido boa parte do seu poder de combate face a fadiga.

Pesquisas sobre o Sono e a Fadiga Modernamente, fruto das pesquisas realizadas pelos diversos centros mundiais que

atuam no sono, verifica-se que a privao do sono pode ter conseqncias diferentes em

cada indivduo. Uma delas que quanto mais tempo o homem fica sem dormir, mais sua

atividade metablica reduzida. Ou seja, as transformaes qumicas e fsico-qumicas do

organismo comeam a ser prejudicadas.

Outro aspecto que dificulta uma sistematizao de aes a realizar a fim de diminuir

os efeitos da fadiga em tropas em combate, que segundo estudos realizados pelos EUA,

os indivduos respondem de forma diferente a um mesmo perodo de tempo de privao do

sono. Contudo, sabe-se que o fator moral uma varivel importante quando se trata de

minimizar os efeitos malficos da fadiga em combate. Avanos rpidos, objetivos

conquistados conforme o planejado, confiana nos chefes e certeza da vitria, podem

minimizar tais efeitos, na medida em que excitam positivamente a tropa e a coloca num

estado de nimo que supera o cansao fsico.

O Exrcito Britnico realizou, em 1976, uma experincia interessante sobre o efeito

da falta de sono em combate. A primeira parte chamou-se Antecipada n 1. Suas

concluses demonstram que soldados que dormiam trs horas por noite, permaneciam

eficientes por nove dias ou mais; os que dormiam uma hora e meia por noite, eram

eficientes por apenas cinco dias. Os soldados que nada dormiam, perdiam sua eficincia em

parcos trs dias.

Na segunda experincia, chamada Antecipada n 2 (nessa oportunidade no houve

intervalo de sono), os homens deixaram de ser considerados como fora eficiente aps 68

horas sem dormir. Ao contrrio do que se pensa, a perda da eficincia fsica foi mnima. O

que os tornou pouco eficiente foi o comportamento inapropriado e irracional. Verificou-se,

neste exerccio, que todos os indivduos que participaram da experincia, relataram

alucinaes visuais depois de 72 a 96 horas sem dormir. Vale ressaltar que tais alucinaes

foram mais intensas quando os indivduos estavam ss ou isolados socialmente. Disso,

resultou que o Dr. Belenky do Instituto do Exrcito Walter Reed, concluiu que apoio social e

estmulo sensorial so importantes na manuteno do comportamento normal dos

indivduos cansados e estressados.7

A fadiga trs outros efeitos, alm de homens adormecendo em combate. Diminuio

na aceitao de riscos, moral baixo, questionamento da liderana, planejamentos

equivocados e mal feitos, pnico, so alguns.

Vejamos um exemplo real de pnico para que possamos ter uma pequena idia

sobre o assunto:

Durante a retirada do 1 Corpo da Birmnia, em 1942, uma patrulha inimiga de inquietao logrou infiltrar-se atravs do dispositivo de segurana e jogou granadas nas proximidades do quartel-general (QG). O pessoal que trabalhava no QG tinha de ficar de p parte da noite pois o peloto de birmaneses que dava guarda s instalaes havia desertado. Durante a noite, um sargento de artilharia foi acordado por uma pancada forte e repentina. Estonteado de sono, entrou em pnico e correu para o seu chefe e ofegante informou que A bateria foi tomada. Esto todos mortos; o armamento foi perdido. E caiu sem sentidos. Na verdade, nada havia acontecido bateria. Kellet, pg 260

Tais atitudes equivocadas podem acontecer com homens experimentados e de

competncia inquestionvel.

Na retirada que se seguiu Batalha de Cateau (Ago-Set 1914), os exaustos remanescentes de dois batalhes de tropa regular da 4 Diviso Inglesa encontravam-se

6 Informe Oficial del Ejrcito Argentino, Conflicto Malvinas, 1983, pg 122 (Situacin de la Guarnicin Militar Malvinas al 141030Jun82). 7 Citado por Kellet

perto de Saint Quentin, com moral muito baixo. Os comandantes dos dois batalhes, tambm muito abatidos, estavam procurando posies defensivas quando o prefeito se aproximou e pediu-lhes para que poupassem a cidade de ser bombardeada. Quando foi informado de que os homens estavam muito cansados para prosseguir a marcha, o prefeito sugeriu que os dois batalhes se rendessem. Os dois coronis, quase em estado de choque, concordaram, e a tropa ensarilhou as armas e esperou. Entretanto, pouco depois, apareceu um destacamento de cavalaria , tambm ingls, e seu comandante cancelou a rendio e ps os remanescentes (alguns estavam relutantes) em marcha. Finalmente a tropa conseguiu se reunir ao grosso do exrcito. Os dois comandantes foram destitudos. Eram ambos oficiais experientes. Um deles mais tarde incorporou-se Legio Estrangeira francesa onde serviu durante toda a guerra, perdeu uma perna e recebeu duas condecoraes por atos de herosmo. muito provvel que a deciso deles tenha sido influenciada pela exausto em que se encontravam.8

Dos textos acima, verifica-se que a fadiga pode gerar comportamentos inesperados e

distantes da realidade. Disso resulta que um comandante, sabendo que a tropa a ele

subordinada est sob duras condies de fadiga, deve sempre confirmar as informaes

emanadas por ela, preferencialmente com ele prprio presente. Uma informao incorreta

por motivo de fadiga, pode levar um comandante a tomar decises extremamente infelizes.

importante saber que tropas fatigadas tm a tendncia de exagerar suas deficincias e

aumentar as possibilidades do inimigo.

A Fadiga e suas conseqncias Fora os problemas logsticos de vulto que iro ocorrer, os problemas de fadiga,

baixas psiquitricas e outros relacionados com o desgaste fsico e psicolgico aumentaro

exponencialmente.

As causas da fadiga so muitas: desgaste emocional, baixa ingesto de calorias,

esforo fsico vigoroso, fuga de uma situao crtica de perigo e a prpria privao do sono

por longos perodos.

As pesquisas sobre o sono remontam desde a dcada de 20.9 Diversas experincias

foram feitas para verificar a reao do ser humano sob condies de pouco sono. Uma das

mais famosas, foi a realizada por Nathaniel Kleitman e Bruce Richardson. Ambos viveram

32 dias em uma caverna totalmente escura, em Kentucky. Dentro da caverna, de forma

propositada, o ciclo de claridade e escurido era de 19 horas acordados e 9 horas

dormindo, num total de 28 horas por dia. Os resultados mostraram que Kleitman manteve-

se obediente ao ciclo de 24 horas e Richardson adaptou-se ao ciclo de 28 horas. Mais tarde,

verificou-se que Richardson era um caso atpico. A norma para a grande maioria das

8 Kellet, pg 261. 9 A falta de Sono e suas conseqncias em Combate. Major Ex EUA Henry L. Thompson. Military Review, 3 Trim 1984.

pessoas manter o ritmo de 24 h, independente das alteraes externas. o relgio

biolgico agindo.

Fruto de inmeras experincias, inclusive realizadas no Instituto de Cincias Sociais

e do Comportamento do Exrcito dos EUA e pelo Instituto de Pesquisa Walter Reed,

tambm do Ex EUA, chegou-se s seguintes concluses sobre privao do sono:

# a falta de sono atua como depressivo geral para o crebro, com mais erros de omisso do que de ao;

# a capacidade de decodificar dados seriamente prejudicada; # a capacidade de raciocnio lgico debilitada; # a articulao de mensagens (comunicao) seriamente afetada; # h mudanas significativas de temperamento ( depresso, raiva, euforia); # tornam-se difceis tarefas que exigem preciso (locao de coordenadas, codificao e decodificao de mensagens cifradas);

# as deficincias advindas da privao do sono so cumulativas; ou seja elas tendem a aumentar a cada ciclo de 24 horas que o indivduo no dorme direito;

# os aspectos de tenso, falta de alimentao correta e outros ampliam geometricamente as conseqncias da falta de sono;

# h uma tendncia a tornar os indivduos mais lentos; ou seja, as respostas sero mais vagarosas, mesmo as fsicas e

# o preparo fsico tem relativa importncia quando se trata da privao do sono, principalmente nas primeiras 72 horas em as operaes continuadas. Contudo, em perodos

maiores que 72 horas, um bom preparo fsico pode ser atenuante no que se refere s

conseqncias da falta de sono.

O Comandante Precisa Dormir! Outra idia importante, diz que os chefes so os que sofrem maior degenerao.

Sendo assim, so os mais necessitados de sono para evitar que tomem decises erradas

causadas por privao de sono. Embora a formao da maioria dos exrcitos preconize a

presena quase divina dos chefes, transformando-os em seres invulnerveis ao sono, a

fome e a fadiga, isso no uma verdade. Os chefes, assim como os soldados, sofrem da

mesma maneira os problemas biolgicos e fisiolgicos da fadiga.

A tentativa de manter-se acordado por longos perodos, notadamente por parte de

oficiais e sargentos, pode ser uma armadilha. Essa crena de invulnerabilidade fantasiosa.

Em parte, deve-se ao fato de que as batalhas antigas eram caracterizadas por curta durao

e longos perodos de descanso, possibilitando que o comandante pudesse realmente estar

em todas as fases do combate, pois sabia que haveria um tempo de descanso no futuro.

Isso foi passando de gerao em gerao, como uma tradio e ponto de honra para um

bom comandante em qualquer nvel.

Entretanto, no campo de batalha moderno, sabe-se que embora as guerras sejam de

curta durao, os combates sero de longa durao, por dias a fio, sem diferenciao de

noite ou dia. Isso obriga uma postura diferente dos comandantes no que se refere ao

descanso e s medidas contra a fadiga. Isso significa cercar-se de bons auxiliares e saber

delegar decises a eles. O comandante moderno no poder estar presente 24 h por dia em

todos os lugares, e nem o seu subordinado poder exigir isso dele.

H ainda muita mitificao a respeito dos grande generais. Ser que Napoleo,

Montgomery e tantos outros passaram toda a sua vida de campanha sem dormir direito? Os

textos abaixo nos mostram a realidade.

A privao do sono afetava todo mundo, dos mais modestos aos de patente mais elevada, com uma exceo o General Montgomery. Durante toda a retirada ele insistia em fazer as refeies nas horas certas e nunca deixou de dormir noite. Por isso, quando chegamos a Dunquerque ele estava to bem como quando partimos.10 Relato do Gen Horrocks, do Ex Britnico.

O Gen Slim, tambm do Ex Britnico, se deitava s 22h00 e se algum o acordasse

por qualquer razo que no fosse importante, era chamado a ateno. No seu livro Courage

and other Broadcasts, ele diz:

Vi muitos companheiros fraquejarem sob as grandes tenses em campanha por no compreenderem que, se preciso continuar, deve-se ter tempo para pensar e para descansar, sem interrupes...os generais que esto ocupados o dia inteiro e parte da noite, alvoroados em dispor pelotes e preparar grficos de marcha, deixam exaustos no s os subordinados como tambm eles prprios. De forma que quando surgem as emergncias no dispes do necessrio vigor que lhes permitiria, se necessrio, permanecer vrios dias sem descansar ou dormir.11(grifo do autor)

Segundo Freitag-Loringhoven12, Napoleo tambm dormia com certa disciplina

durante suas batalhas:

A vida de Napoleo aps uma campanha um bom exemplo do equilbrio que um comandante deve imprimir entre as necessidades de sua tropas e as suas necessidades pessoais. Ele, geralmente, dormia muito cedo e estava pronto, na manh seguinte, para, quando chegavam os relatrios das Unidades de tropas distantes, dar suas ordens finais.13

10 Kellet, pg 261 11 Kellet, pg 261 12 FREYTAG-LORINGHOVEN, Hugo von. O Poder da Personalidade na Guerra. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986. 13 O Poder da Personalidade na Guerra. Hugo Von Freitag-Loringhoven, pg 53.

Os Estados-Maiores tambm so vitimas desse equvoco. Muitos deles tendem a

ficar com todos os seus integrantes acordados durante toda a noite, acompanhando o

desenrolar dos combates. Esquecem-se de que a sua parte j foi feita durante o

planejamento. A partir do incio das operaes, a responsabilidade e o peso do xito est

pendendo para aquelas tropas que executam. Pouco podero fazer nesta fase.

Durante os diversos Jogos de Guerra - ou simulao do combate - dos quais

participei, pude verificar essa tendncia errnea em se permanecer acordado praticamente

durante todo o tempo. Ficvamos horas a fio do Cmt ao sargento auxiliar - mesmo sem ter

muito o que fazer, acordados ou adormecidos sobre mesas. Sempre questionei tal

procedimento, haja vista que em certos momentos, bastaria um oficial de estado-maior e um

sargento auxiliar acompanhando o desenrolar do combate e emitindo as ordens rotineiras de

coordenao para as subunidades envolvidas. O resultado era o de que quando havia uma

situao de crise (conduta) exigindo a interveno do comandante - estvamos cansados

e acabvamos no respondendo da melhor maneira ou deixvamos de utilizar a nossa

mxima capacidade de assessoramento ao processo decisrio.

Minimizando os Efeitos da Fadiga Fruto dessas conseqncias, verifica-se, ainda embasados nos estudos supracitados,

que algumas medidas podem ser tomadas por comandantes que tenham tropas sob

condies de fadiga.

Embora tradicionalmente haja uma certa preferncia por turnos de 1 ou 2 horas, os

turnos de 4 horas de descanso e 4 de trabalho so os mais apropriados para uma melhor

recuperao do combatente, principalmente para os que desempenham tarefas de

planejamento.

Outra importante medida deve ser a de que os militares com maiores

responsabilidades de comando e planejamento, durmam no perodo compreendido entre

03h00 e 06h00. Isto se deve ao fato de que o ponto mais baixo de desempenho de um ser

humano, de maneira geral, situa-se neste horrio. Ora, se sabemos que estaremos

debilitados neste horrio, nada mais lgico do que dormir neste intervalo e aproveitar-se o

pice do desempenho (entre 12h00 e 21h00) para realizar tarefas que exijam maior ateno

e concentrao.

Alm disso, devemos ter noo de quanto tempo um homem precisa para se

restabelecer suas foras aps operaes de longa durao.

Thompson nos prope um interessante quadro sobre o tempo necessrio para a

recuperao do sono em ambiente de combate:

HORAS DE PRIVAO

HORAS PARA RECUPERAO

12 24 48 72 96 120

As horas de recuperao aqui mostradas representam o perodo de tempo em um ciclo de sono normal( de 6 a 8 horas dirias). Quadro 01

Tempo de Recuperao

Concluso Verifica-se, por fim, que a fadiga inerente ao combate. Ela envolve todos, desde os

mais modernos aos mais experimentados. Nos dias de hoje, onde o combate continuado,

por dias ininterruptos de refrega, a tnica, o cuidado e a maneira correta em se minimizar

os seus efeitos devem ser objeto de estudo dos exrcitos. necessrio que haja um

entendimento geral de que o sono uma necessidade fisiolgica do homem e que a sua

falta poder trazer prejuzos para uma operao inteira. No deve ser considerado

vergonhoso um soldado dormir por curtos perodos durante um ciclo de 24 horas. dever

dos comandantes proporcionar esse tipo de repouso aos homens nos momentos em que

isso for possvel.

Alm disso, importante que todos os que detenham funes de comando (oficiais e

sargentos), conheam um pouco sobre a fadiga, suas conseqncias e maneiras de evitar a

perda prematura de eficincia. Algumas horas de sono, alimentao correta, turnos divididos

de 4 em 4 horas, moral elevado e conhecimento dos sintomas da fadiga so algumas

solues simples e possveis de serem realizadas.

Aos comandantes de mais alto nvel, cresce de importncia a preocupao com suas

condies mentais e fsicas durante uma batalha. Eles devem ser poupados de detalhes

irrelevantes pelo seu estado-maior, a fim de que o chefe possa estar alerta e 100% eficiente

para tomar as decises que repercutam profundamente entre a vitria e a derrota.

Vale, como concluso, as palavras de Richardson, em 1978, quando este era oficial

mdico do Exrcito dos EUA e alertava o comando superior sobre problemas de fadiga em

combate. Ele dizia que havia a necessidade de que os comandantes descansassem, em

todos os nveis, deixando parte do processo decisrio aos seus subcomandantes. A no ser

que acrescentava ele esteja-se buscando os elos fracos para romp-los.

Fotos:

Viatura blindada Leopard 1 A 1, do Exrcito Brasileiro, durante exerccio ttico Fonte: http://www.exercito.gov.br/01Instit/bcoimage/carros/

Membros do 30 Corpo Britnico Operao Market-Garden Fonte: http://get-me.to/september1944

Coluna israelense avanando durante a guerra do Yom Kippur

Fonte: http://www.boyntonweb.net/Policy/Israel/1973.htm

Comboio de carros de combate dos EUA, em 1991, dirigindo-se para a cidade de Dhahran. Foto de AFP/File/Mike Nelson

Carro de combate M 41-C, do Exrcito Brasileiro, cruzando curso dgua durante um exerccio ttico. Fonte: http://www.exercito.gov.br/01Instit/bcoimage/carros/

Carro de combate Leopard 1 A 1, do Exrcito Brasileiro, realizando operaes noturnas. Fonte: http://www.exercito.gov.br/01Instit/bcoimage/carros/

Lanamento de tropas pra-quedistas da 82 Diviso Aeroterrestre (EUA) sobre a Holanda Operao Market-Garden. Fonte: http://www.sanelson.com/82web/Mkt_Garden.htm