f cus · parte do mundo, participe na sua continuidade por meio de vários tipos de...
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UA actualização: 1
Progressos recentes sobre paz e
segurança
Kathryn Sturman
Identificando os culpados: 3
No rasto da circulação das armas
de pequeno porte
Ben Coetzee
ECOWAS/CEDEAO: 6
Qual o caminho a seguir com a
Moratória?
Nelson Alusala
A proliferação de armas de 7
pequeno porte coloca desafios na
África Ocidental
Zebulon Takwa
O Quénia é anfitrião da Primeira 9
Conferência sobre a Análise e Revisão
da Situação das Minas e Armadilhas
Noel Stott
África e o Programa de Acção 11
sobre Armas de Pequeno Porte:
Progresso e oportunidades
Emily Schoeder
Desarmamento prático: 13
Começando a identificar o melhor
processo
Nelson Alusala
F CUSSOBRE AS ARMAS EM ÁFRICA VOL 3 NO 1
2004
UNIÃO AFRICANA
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I T U T E F O R
SmallArmsNet:Um ponto
central para arecolha de
informaçõessobre armas depequeno portee armas ligeiras
em África.
Em Novembro de 2003, foi iniciado
o primeiro pórtico de Website
sobre o controle de armas de
pequeno porte em África. Este
portal, SmallArmsNet
(www.smallarmsnet.org), é uma
iniciativa do Programa para a
Gestão de Armas (PGA) no Instituto
para Estudos de Segurança, em
Pretória. Com menos de doze
meses de existência, SmallArmsNet
já atrai mais de 22.000 visitantes
por mês.
Porquê SmallArmsNet?Devido à dinâmica na natureza da
gestão de armas em África, o
Programa de Gestão de Armas
constatou a necessidade de um
instrumento que pudesse assistir
no estímulo e manutenção de um
muito necessário debate sobre
questões de paz e segurança no
continente.
Quem beneficia?SmallArmsNet é para grupos e
indivíduos que trabalham para
conter a abundância e o fácil
acesso a armas. Devido à sua
natureza interactiva, permite que
qualquer pessoa, em qualquer
parte do mundo, participe na sua
continuidade por meio de vários
tipos de contribuições. Oferece
também uma plataforma sem
precedentes para organizações e
indivíduos que desejem
desenvolver parcerias e
compartilhar experiências.
O pórtico serve para comparar,
documentar e disseminar
informação para os seguintes
grupos:
• Organizações não
governamentais (ONGs) da
sociedade civil,
• Académicos, pesquisadores e
estudantes,
• Departamentos governamentais
de protecção, segurança e
defesa,
• Organizações regionais e
internacionais,
• planeadores governamentais de
políticas de acção,
• Jornalistas e organizações de
comunicação social,
• Agências para o cumprimento da
lei e
• Quem quer que esteja envolvido
na luta contra a fácil
possibilidade de utilização de
armas de pequeno porte em
África.
SmallArmsNet está dividido nas
seguintes categorias de
informação:
• Títulos de notícias,
• Novidades no website,
• Questões a debater,
• Recursos,
• Acontecimentos,
• Ligações e
• Fórum de discussão.
TÍTULOS DE NOTÍCIAS dão uma
actualização diária sobre os
últimos acontecimentos no
campo das armas, em todo o
continente.
NOVO NO WEBSITE oferece uma
lista de novos documentos e
relatórios sobre o assunto.
QUESTÕES A DEBATER estão
divididas em TEMAS e REGIÕES.
Sob o título TEMAS encontrará
informação sob vários tópicos,
incluindo: agências, crianças,
juventude e conflito, controle de
exportações, redução da procura,
seguindo as pegadas das armas de
fogo e do negócio de armas.
REGIÕES dá informações sobre
armas de pequeno porte e armas
ligeiras na África Ocidental,
Central, Oriental e Austral.
RECURSOS apresenta-lhe
documentos, factos e números,
publicações e minutas de
conferências, enquanto a secção
de DOCUMENTOS contém
informação de recurso sobre
armas ligeiras, armas
convencionais e minas e
armadilhas.
A secção de ACONTECIMENTOS dá-
lhe a lista de acontecimentos que
terão lugar no ano corrente e a
página LIGAÇÕES dá acesso a várias
organizações internacionais e
regionais, redes e institutos de
pesquisa que estão envolvidos em
esforços para restringir a
proliferação de armas ilegais. O
FÓRUM DE DISCUSSÃO permite-lhe
expressar a sua opinião sobre
qualquer tópico relacionado com
armas de pequeno porte e armas
ligeiras.
O Programa para a Gestão de
Armas (AMP/PGA) acredita que a
troca de informações e o
conhecimento são vitais para se
encontrarem maneiras de
enfrentar a proliferação de armas
em África. Para mais detalhes
sobre o website, pode escrever
para o seguinte endereço
electrónico:
Este Boletim Informativo é uma iniciativa
conjunta do Instituto para Estudos de
Segurança (ISS/IES) e da União Africana
(AU/UA)
1
Em Sirte, os líderes Africanos
confirmaram a sua intenção
de estabelecer uma Força de
Alerta Africana (ASF/FAA), e
adoptaram uma Declaração Solene
sobre uma Política Africana Comum
de Defesa e Segurança
(CADSP/PACDS). A reunião do
Conselho Executivo que teve lugar
antes da Assembleia dos Chefes de
Estado e Governo, chegou à
conclusão que a proposta da Líbia
para um único exército Africano era
ainda precoce e que a UA devia,
antes, concentrar os seus esforços
na criação de uma força de alerta.
Um projecto de decisão para adiar
as deliberações sobre esta proposta,
assim como sobre um projecto do
Pacto de Defesa Comum e Não
Agressão, não foi finalizado, mas
“pedia ao Presidente da Comissão
para convocar uma reunião de
Peritos Governamentais para
estudar as propostas em
profundidade e elaborar um
documento único para a
consideração da Assembleia durante
a sua sessão ordinária seguinte”.
Os planos da (ASF/FAA) foram
adiados pela segunda Cimeira
Ordinária da UA que teve lugar em
Maputo, em Julho de 2003, devido a
preocupações quanto ao
financiamento de um projecto tão
ambicioso. Um acontecimento bem
vindo à Cimeira de Sirte, foi que o
Presidente da Comissão da União
Europeia (UE), confirmou o
financiamento para o Fundo de
Apoio à Paz da UE, comprometendo-
se a contribuir com 250 milhões para
“operações de apoio à paz” da UA.
Isto será uma contribuição
significativa para a materialização da
capacidade Africana para a
manutenção das paz.
A Declaração Solene compromete os
estados membros ao processo vital
de desenvolverem “uma posição
comum em questões relacionadas
com a defesa”, “promoverem o
crédito e confiança mútuos entre
os Estados Africanos” na área
politicamente sensível da defesa e
segurança, e “cooperarem em
questões de defesa,
por meio do treino de
pessoal militar; troca
de informações e
segredos militares
(sujeito a restrições
impostas pela
segurança nacional); o
desenvolvimento de
uma doutrina militar e
a edificação de uma
capacidade colectiva”.
A declaração contém
uma importante afirmação sobre a
definição de segurança comum, a
qual, “... engloba tanto a tradicional,
estado-cêntrica, noção sobre a
sobrevivência do estado e a sua
protecção militar contra a agressão
externa, assim como a noção não
militar a qual é informada pelo novo
ambiente internacional, e a elevada
incidência de conflito entre estados.
As causas do conflito entre estados
necessitam de um novo ênfase na
segurança humana ... isto envolve
questões como os direitos
humanos; o direito de participação
completa no processo da
governação; o direito ao
desenvolvimento equitativo
...[segundo os quais] o objectivo
seria o de salvaguardar a segurança
de indivíduos, famílias, comunidades
e o estado ...”
Este reconhecimento da
necessidade de
segurança humana,
assim como do
estado, é fundamental
para a elaboração do
enquadramento da
acção por parte do
Conselho para a Paz e
Segurança, o que o
CADSP/PACDS deve
ser. Contudo, existe o
perigo de que uma
definição de
segurança tão vasta,
permita a Política Africana Comum
de Defesa e Segurança (PACDS)
colocar toda a espécie de questões
– desde a globalização ao VIH/SIDA, à
Actualização UA: ProgressosRecentes sobre Paz e SegurançaOs novos planos sobre paz e segurança da União Africana (UA) estão a progredir de uma forma notável. Os
progressos mais recentes tiveram lugar numa Reunião Cimeira Extraordinária dos Chefes de Estado e Governo que
teve lugar em Sirte, na Líbia, em 28 de Fevereiro de 2004. Subsequentemente, os Ministros dos Negócios
Estrangeiros passaram à séria tarefa de eleger quinze membros do Conselho para a Paz e Segurança, durante a
reunião da Quarta Sessão Ordinária do Conselho Executivo, em Addis Ababa de 12 a 16 de Março.
Kathryn Sturman
... Um acontecimento
bem vindo à Cimeira
de Sirte, foi que o
Presidente da
Comissão da UE
confirmou o
financiamento de um
Fundo para a Paz e
Segurança...
2
Kathryn Sturman
redução da pobreza e
desenvolvimento económico – na
agenda da UA sobre paz e
segurança. Esta formulação vaga de
ameaças à segurança pode dar à
comissão para a paz e segurança
um mandato indefinido, duplicando
o papel de outras comissões da UA
responsáveis pelo desenvolvimento
económico, e programas como a
Nova Associação para o
Desenvolvimento de África (NEPAD/
NADA) e a Conferência sobre
Segurança, Estabilidade,
Desenvolvimento e Cooperação em
África (CSSDCA/
CSEDCA). Por
outras palavras,
é possível ajustar
e melhorar a
Política Africana
Comum de
Defesa e
Segurança.
Ao mesmo
tempo, a política
faz referência aos
numerosos
tratados,
protocolos e
planos de acção a
que os líderes
Africanos se
comprometeram em cimeiras
anteriores da UA e da sua
antecessora, a Organização para a
Unidade Africana (OUA/OUA).
O catálogo de expectativas em
relação à Convenção sobre
Mercenários, ao Tratado de
Pelindaba sobre a Zona Africana
Livre de Armas Nucleares, à
Declaração de Bamako sobre Armas
Ligeiras e Armas de Pequeno Porte
(SALW/ELAP), a Convenção de Argel
sobre Terrorismo e a Declaração de
Yaoundé sobre Drogas, entre
outras, salienta o facto de que a UA
não precisa de mais políticas – o
que é necessário é mais
implementação e a capacidade de
monitorizar os progressos
realizados.
Assim, o maior progresso que a UA
poderia fazer sobre paz e
segurança em 2004, é estabelecer
instituições responsáveis por
monitorizar, implementar e fazer
aplicar os princípios e política. O
mais importante destes é o
Conselho para a Paz e Segurança.
A inauguração do Parlamento Pan-
Africano em 18 de Março, foi a
demonstração simbólica dos
valores
democráticos e
da participação
popular na UA, os
quais são pré-
requisitos para a
noção de
segurança
humana e
estabilidade
interna dos
estados
membros. A
terceira
instituição que
deveria ser
estabelecida
durante este ano,
é o Tribunal
Africano dos
Direitos Humanos e dos Povos.
Demorou seis anos a recolher as 15
ratificações necessárias para o
protocolo sobre o tribunal entrar
em vigor, em Janeiro deste ano.
Apesar de tudo, talvez mais do que
qualquer outro, este instrumento
de coacção colectiva dos direitos
humanos em África, podia ser a
pedra fundamental da estrutura de
segurança colectiva da UA.
Eventualmente, o progresso não
será medido pelo estabelecimento
de novas instituições, mas antes
pelas consequências práticas que
elas possam dar às decisões da
União Africana.
O catálogo de expectativas
salienta o facto de a UA não
necessitar de mais
políticas – o que é necessário
é mais implementação e a
capacidade de monitorizar os
progressos realizados ...
o maior progresso que a UA
poderia fazer ... é estabelecer
as instituições responsáveis
por monitorizar, implementar
e fazer aplicar os princípios e
política
Embaixador Said Djinnit,
Comissário do Conselho Africano
para a Paz e Segurança (à direita)
e El Ghassim Wane, Director
Interino do Centro para a Gestão
de Conflitos(CMC / CGC).
3
Ben Coetzee
Identificando os Culpados: No Rasto daCirculação de Armas de Pequeno Porte
Apercepção entre o público na
África do Sul é de que o
crime violento está a
aumentar.1 Isto levou a um aumento
no número de pedidos de licenças
para porte de armas e, com mais
armas de fogo, surge a possibilidade
da sua perda. Contudo a Lei Sul
Africana sobre o Controlo de Armas
de Fogo, entrou em vigor em Julho
de 2004. Esta nova legislação
estabelece maior controlo sobre a
posse legal de armas do que a
legislação desactualizada que
substituiu.
A nova legislação deverá ter um
impacto positivo no resto do
continente. Maior controlo na posse
de armas na África do Sul, por
exemplo, pode levar ao declínio do
número de armas vendidas no país.
Para além disto, a
nova legislação
exige um maior
controlo por parte
dos proprietários de
armas de fogo, o
que deve, por seu
lado, reduzir o
número de roubos
e perdas. Regulamentação mais
estrita no que respeita à importação
e exportação de armas de fogo,
devia também beneficiar a região da
África Austral.
Legado
Enquanto o controlo sobre fontes
conhecidas de armas é relativamente
fácil de estabelecer, restos de guerra
são de fácil acesso a muita gente na
África Austral. Foi exercido pouco
controlo sobre o armamento
distribuído aos combatentes nas
zonas de conflito, por toda a região,
e algumas destas zonas ainda são
instáveis. Esta incerteza sobre a
disponibilidade de armas, pode ter
um impacto nas políticas de
desarmamento, uma vez que o receio
pela segurança pessoal pode levar
muitos indivíduos a ficarem com
armas para a sua segurança pessoal.
Armas usadas com frequência
Na África do Sul, dois
calibres diferentes de
armas são preferidos
para utilização pelos
criminosos: o 9x19mm e
o .38 especial. As
munições deste calibre
são também utilizadas
em várias pistolas e
pistolas-metralhadoras que existem
na África Austral. Ambas estas armas
são fáceis de esconder e podem ser
utilizadas sem dar nas vistas,
tornando-as a escolha óbvia para os
criminosos.
As seguintes armas foram declaradas
como problemáticas por vários
países na África Austral, durante uma
oficina de trabalho sobre a
identificação de armas de fogo e
explosivos, a qual teve lugar na África
do Sul, em 2003, e foi organizada pela
Organização de Cooperação do
Chefes de Polícia Regionais da África
Austral (SARPCCO/OCCPRAA).Os
participantes desta oficina de
trabalho registaram que esta eram as
armas mais notáveis ma, de modo
algum, o único armamento
problemático encontrado nos seus
países. Cada país afirmou que tinha
problemas com algumas, senão
todas, das seguintes armas de fogo:
Pistolas
• Tokarev TT33 • Walter P38
• Beretta 92 • NORINCO
• CZ (Range) • Walther(Range)
• Lorcin • Browning HP
• Baby Browning • Colt
• Z88 • SIG-Sauer
• Lugar • Astra
• Vektor (Range) • Taurus
• Star • Jennings
➠cont. na página 4
A proliferação de armas de pequeno porte e armas ligeiras tem sido preocupação para muitos durante a última
década. Organizações não governamentais e governos, têm vindo a trabalhar de mãos dadas para resolver esta
questão. Os governos são responsáveis pela protecção e segurança dos seus cidadãos e, para esse efeito, mudam
e fazem aplicar políticas que se adaptem ao nosso mundo, sempre em mudança. As organizações não
governamentais avaliam o impacto e as reacções; como representantes da sociedade civil monitorizam o estado
e sugerem alterações à política a fim de possibilitar um ambiente mais seguro. Se ocorrer uma situação em que
o público em geral sente que o estado é incapaz de cumprir com a sua obrigação de o proteger, a populaça pode
tentar proteger-se a si própria. Uma das principais ocorrências que dão forma à percepção de insegurança por
parte da comunidade, é a violência desnecessária na prática de crimes.
Estas armas sãofáceis de esconder
e podem ser usadassem dar nas vistas,
tornando-as aescolha óbvia para
os criminosos.
4
Ben Coetzee
Revólveres
• Rossi • Taurus
• Smith & Wesson • Arminius
• Colt • Webley & Scott
• Ruger • Olympic 6
Espingardas, pistolas metralhadoras
e pistolas automáticas
• AK-47 • R4
• FN FAL 7.62 • R5
• UZI • Galil 7.62
• LM4 • LM5
• Simonov • Skorpion
• Heckler & Koch G3
Caçadeiras
• Calibre 12 Baikal
• Calibre 12 Stevens
• Calibre 12 Pietro Beretta
Armas de fabrico caseiro
• Espingardas “Zip”
Calibres
• .308 • .303 MK I & II
• 30.06 • .38 Special
• .375 • .357
• .45 • .22
Similaridade das armas
A similaridade no desenho básico de
armas contribui para a dificuldade
de identificar as diferentes armas de
fogo. Existe uma tal variedade de
armas que se está a tornar cada vez
mais difícil identificar
uma determinada
arma que tenha sido
encontrada. Por
exemplo, a bem
conhecida espingarda
de assalto AK47 tem
sido fabricada como
vários modelos por
vários países. Num
esforço para baixar os
custos de produção
através do uso de
material existente na região, cada
fabricante fez algumas alterações ao
desenho básico da arma, de acordo
com as necessidades, dificultando
ainda mais a identificação.
Características distintivas
AK-472
AK-47s
AK-M
Identificação e registo
São necessários conhecimentos de
especialista para identificar estas
armas; portanto é necessário criar
bases de dados para seguir as pistas
da circulação de armas de fogo
através da região da
África Austral.
Registos deviam ser
mantidos sobre o local
onde cada arma foi
encontrada e
pesquisas deviam ser
feitas no sentido de
determinar o país de
origem. Isto auxiliaria
no processo de se
estabelecer os padrões
de distribuição no
continente Africano. Por exemplo, em
armas como a AK47 e suas variantes,
existem marcas do selector no lado
direito da arma e marcas da fábrica
no lado esquerdo, as quais podem ser
usadas para identificar o país e
origem (a não ser que estas marcas
tenham sido deliberadamente
apagadas pelo país produtor).
Exemplo de identificação
• Identificação fotográfica
Marcas de fábrica (lado esquerdo
da arma)
Marcas do selector (lado direito da
arma)
Num esforço parabaixar os custosde produção ...cada fabricante
fez algumasalterações ao
desenho básicoda arma ...
5
• Marcas conhecidas
Lado esquerdo da arma
Lado direito da arma
Obstáculos na identificação de
armas de fogo
A identificação de armas tem sido
considerada como um grande
desafio para as agências de polícia
na África Austral. Armas que são
recuperadas podem ser de origem
desconhecida e difíceis de
identificar. Armas de fogo utilizadas
em actividades criminosas têm,
muitas vezes, o número de série e
outras marcas de identificação
apagadas numa tentativa de impedir
a identificação da sua origem. Para
fins de identificação, algumas armas
só podem ser agrupadas segundo o
seu calibre. Existem no mundo
vários bancos de dados para fins de
identificação de armas, mas não
consideram as necessidades
específicas da região da África
Austral.
Base de dados para armas africanas
A oficina de trabalho da SARPCCO
(OCCPRAA) sobre a identificação de
armas de fogo e explosivos, afirmou
que é necessário criar uma base de
dados, para fins de identificação,
que inclua as armas que se
encontram na região da África
Austral. Essa base de dados incluiria
fotografias e desenhos das marcas
encontradas nas armas, a fim de
assistir na identificação dos
diferentes tipos de armas. A
importância de uma base de dados
desta natureza incluiria os seguintes
elementos:
• A polícia estaria apta a:
– identificar as armas encontradas
nos seus respectivos países com
maior precisão,
– compartilhar os conhecimentos
com as outras polícias da região;
• Os oficiais dos tribunais teriam
maior facilidade em preparar os
processos onde conhecimentos
especializados são necessários;
• Seriam identificadas as áreas onde
certos tipos de armas são
encontrados;
• As origens das armas encontradas
seriam determinadas com maior
exactidão;
• Seriam compilados registos
completos do armamento
encontrado na região da África
Austral;
• Poderia ocorrer a uniformização da
terminologia global, o que
estimularia o debate sobre a
proliferação de armas de fogo e
outras questões relacionadas;
• Questões de língua e interpretação
podiam ser resolvidas a fim de
uniformizar definições legais; e
• A base de dados também assistiria
os membros da sociedade civil que
se encontram envolvidos na área
da proliferação de armas ligeiras e
armas de pequeno porte, com
conhecimentos sobre armas de
fogo e outros assuntos
relacionados.
Está a ser desenvolvido
presentemente, um protótipo de e
uma tal base de dados e o seu
progresso será actualizado nesta
carta informativa.
Notas
1 Ted Leggett, Os factos por trás dos
números, Estatísticas de crime 2002/3,
Crime Quarterly no 6, Dezembro de 2003,
p 5.
2 Fotografias por cortesia do Serviço de
Polícia Sul Africano. Fotógrafo: Ben
Coetzee
6
Nelson Alusala
ECOWAS/CEDEAO; Qual o Caminhoa Seguir com a Moratória?
Quando os Chefes de Estado e Governo dos quinze estados membros da Comunidade Económica dos Estados da
África Ocidental (ECOWAS/CEDEAO) se reuniram em Abuja, na Nigéria, em 30 de Outubro de 1998, procuraram
encontrar um compromisso comum de enfrentar o problema da proliferação de armas na África Ocidental.
A cimeira levou à assinatura de uma moratória de três anos na importação, exportação e fabrico de armas ligeiras
na África Ocidental, vulgarmente conhecida como a “Moratória ECOWAS”. A Moratória era renovável por um
período, após a data da sua expiração.
As actividades da Moratória
incluem o estabelecimento de
bases de dados de armas,
campanhas de educação e
informação do público, treino das
forças de segurança, uma revisão da
legislação sobre a copra de armas
ligeiras e a recolha e destruição de
armas. Foi renovada por mais três
anos em 2001, tendo este segundo
período terminado em Outubro de
2004.
Num esforço de reflexão e a fim de
elevar o espírito da Moratória, o
Secretariado da ECOWAS (CEEAO)
realizou um a conferência em Março
de 2004. Esta conferência analisou
vários aspectos da Moratória,
incluindo todos os aspectos
relacionados com armas ligeiras, em
particular os intermediários, que não
tinham sido completamente tratados
no documento original. A
conferência reuniu representantes
de todos os estados membros da
ECOWAS, sociedade civil, doadores
das Nações Unidas, diplomatas e
especialistas.
Duas razões determinaram a
necessidade da realização desta
conferência. Primeiramente, era a
necessidade de transformar a
Moratória num instrumento mais
obrigatório do que uma declaração
política, a qual, no seu formato
actual, é baseada na vontade dos
estados membros. Portanto, dado
que o segundo período da Moratória
termina em Outubro de 2004, torna-
se necessário remodelá-la num
instrumento mais obrigatório e
executório, a fim de poder atingir o
máximo das suas possibilidades.
A segundo objectivo da conferência
de Abuja era recomendar a criação
de um instrumento para substituir a
Moratória, o qual trataria, para além
das questões estipuladas na
Moratória, de outros aspectos das
armas ligeiras e armas de pequeno
porte, incluindo a questão dos
intermediários e a
de uma maior
participação por
parte da sociedade
civil.
Uma análise
consultiva da
Moratória realizada
no Senegal, em
Janeiro de 2003, por
organizações da sociedade civil na
África Ocidental, também comentou
que a eficácia da Moratória tinha
sido significativamente reduzida pela
sua natureza voluntária e pela falta
de um sistema correspondente de
sanções executórias. Esta análise
consultiva também chamou a
atenção para o facto de a natureza
estado-cêntrica da Moratória, não
lhe permitir tratar da questão dos
actores, fora das estruturas do
estado, na região.
As discussões de três dias em Abuja
levaram à formulação de um
comunicado o qual recomendou a
adopção de um plano de acção
operacional para enfrentar a
proliferação de armas ligeiras na
região, sob a direcção de uma
unidade para as armas ligeiras, a ser
estabelecida no secretariado da
ECOWAS. A criação desta unidade
pode significar o fim do Programa
para Coordenação e Assistência para
a Segurança e Desenvolvimento em
África (PCASED/PCASED), o qual está
encarregado dos desafios com a
segurança relacionados
com armas ligeiras e
edificação da paz na
região.
O plano de acção para
o PCASED foi adoptado
em Março de 1999,
durante uma reunião
do Conselho de
Ministros dos Negócios
Estrangeiros da ECOWAS, a qual teve
lugar em Bamako, no Mali. As
prioridades eram a promoção de
uma cultura de paz, treino das forças
armadas e de segurança, reforço do
controlo nas fronteiras,
estabelecimento de um registo para
armas ligeiras, recolha e destruição
de armas, diálogo com os
produtores e fornecedores e armas,
revisão e harmonização das
legislações nacionais, mobilização de
recursos e extensão da Moratória.
... A eficácia daMoratória tinha sidosignificativamentereduzida pela sua
natureza voluntária ea falta de um sistemacorrespondente de
sanções executórias...
7
Zebulon Takwa
A Proliferação de ArmasLigeiras Coloca Desafios
na África Ocidental
Contudo, a implementação destes
objectivos tem tido diferentes
níveis de sucesso.
O comunicado apresentado no final
da conferência de Ajuba, intitulado
“Elementos para o Combate ao
Negócio de Armas Ligeiras e Armas
de Pequeno Porte na África
Ocidental”, estipulou três áreas
prioritárias de acção : legal,
institucional e operacional. Ao
mesmo tempo, o comunicado
recomendou para a Cimeira
seguinte dos Chefes de Estado e
Governos da ECOWAS, a
necessidade de transformar a
Moratória ECOWAS numa
convenção.
Qualquer que seja a direcção que a
Moratória siga, a África Ocidental
observa atentamente, à medida
que a Moratória se transforma
numa organização que irá reduzir a
proliferação de armas na região.
Será que os atributos que os
estados membros da ECOWAS
angariaram, como os iniciadores da
primeira moratória regional, em
todo o mundo, sobre a proliferação
de armas, está em vias de passar a
acções concretas?
Nota Final
1 Os estados membros da ECOWAS e
signatários da Moratória são: Benin,
Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do
Marfim, Gâmbia, Ghana, Guiné, Guiné-
Bissau, Libéria, Mali, Niger, Nigéria,
Senegal, Serra Leoa e Togo.
Durante a maior parte da
história moderna, armas têm
sido utilizadas tradicional-
mente na África Ocidental.
Introduzidas pelos traficantes de
escravos, mercadores coloniais e
exploradores em viagens para o
interior do continente, a arma de
fogo e a pólvora tornaram-se num
símbolo de força e poder. Desde que
o período das guerras para captura
de escravos, conquista e os conflitos
inter-tribais/étnicos deu lugar à
‘modernidade’, as espingardas
passaram a ser armas cerimoniais,
muitas vezes disparadas e
apresentadas durante cerimónias
fúnebres e festivais tradicionais,
entre as tribos e grupos étnicos na
África Ocidental. A grandeza e
heroísmo a nível individual, de clã,
tribal, e étnica, era expressa, por
vezes, por meio de espingardas pois
eram consideradas como um
elemento desencorajante para
agressores e invasores.
Hoje, as espingardas mudaram. São
mais pequenas, sofisticadas e
mortais. O tráfico de armas ilegais
tornou-se num jogo lucrativo e
perigoso, praticado por muitos
partidos na região. Apesar da
existência da Moratória ECOWAS, o
crime armado, violência e conflito,
continuam a ser uma realidade por
toda a África Ocidental. Em vez de
oferecer um enquadramento para
reacção, a Moratória parece ter-se
mantido como uma declaração de
intenções.
Nigéria
A Nigéria, quartel general do
Secretariado da ECOWAS e um
participante importante na sub-
região, tem sido vítima de
assassínios políticos e ataques
armados de alto nível. Em Março de
2004, houve uma vaga de ataques a
governadores estatais, incluindo os
do Estado de Benue e o Estado de
Lagos. Roubos em auto-estradas
A África Ocidental é uma região com um historial de guerras sem sentido que
muitas vezes têm sido dirigidas mais às populações civis do que aos
combatentes. Em Outubro de 1998, os Chefes de Estado e Governos dos 16
estados membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(ECOWAS/CEEAO)1, assinaram formalmente a Moratória sobre a importação,
exportação e produção de armas ligeiras e armas de pequeno porte (SALW/
ALAPP). Os Estados Membros da ECOWAS adoptaram um código de conduta,
assim como um plano de acção, para a implementação da Moratória. A criação
de comissões nacionais para a luta contra o negócio e a posse ilegal de armas
ligeiras, estratégias de verificação e a introdução de certificados para os
possuidores de armas, são os pontos altos deste documento.
Este artigo faz uma revisão dos acontecimentos na África Ocidental que
desafiaram a eficácia e relevância da Moratória, no seu objectivo de restringir a
proliferação de armas ligeiras e armas de pequeno porte na região.
8
Zebulon Takwa
também aumentaram nas estradas
principais, com ataques a autocarros
de passageiros e a pilhagem de
dinheiro e mercadorias.
Armas ligeiras são identificadas
como parte integrante do crime e
violência no país.2 Recentemente, o
Inspector Geral da Polícia Nigeriana,
Tafa Balogun, pediu a todos aqueles
que tivessem armas ilegais, para que
as entregassem às autoridades
policiais. Apesar da Nigéria ter
estabelecido uma Comissão
Nacional de Armas Ligeiras, como
requerido pela Moratória, enfrenta
a tarefa enorme de controlar e
reduzir a circulação e
disponibilidade de armas ligeiras no
país.
Conflito na sub-região
Guerras de rebeldes na Serra Leoa,
Libéria e Costa do Marfim, têm
debilitado seriamente o espírito da
Moratória ECOWAS. Armas e
munições têm sido adquiridas tanto
por forças governamentais com por
forças rebeldes,
Charles Taylor, que foi ajudado pelo
falecido presidente Houphouet-
Boigny, da Costa do Marfim, entre
outros, a lançar a sua guerra
revolucionária, forneceu armas e
munições à Frente Unida
Revolucionária (RUF /FUR) na Serra
Leoa. O Burkina Faso tem sido
acusado de fornecer a rebelião na
Costa do Marfim, enquanto o
governo de Laurent Gbagbo, na
Costa do Marfim, é mencionado
como tendo assistido um dos
grupos rebeldes na Libéria, o
Movimento para a Democracia na
Libéria (MODEL).
Na sub-região foram fornecidas
armas à Liberiana Unida para a
Reconciliação e Democracia (LURD),
contra o embargo de armas imposto
pelas Nações Unidas. A continuação
do abastecimento de mais armas e
munições à sub-região, tem
contribuído para os presentes
conflitos nestes países.
Mercenários, traficantes e
saqueadores
Intimamente ligada ao aparecimento
de conflitos na região, está a aliança
entre chefes militares e
mercenários, traficantes e
saqueadores, especialmente nos
países da bacia fluvial do rio Mano,
na África Ocidental. Negociantes de
ouro e diamantes, traficantes de
drogas e mercadores de armas,
parecem prosperar em situações de
confusão e instabilidade. Existe
agora uma rede nesta região da
África Ocidental, com ligações que se
estendem a todo o mundo e que
utiliza mercenários de quase todos
os países da sub-região.3
Um relatório em 2003, publicado na
revista New York Times4, revela como
os traficantes de armas escaparam a
todos os controlos e estabeleceram
um negócio florescente, através de
sistemas operacionais de transporte
clandestino, cheios de canais de
dinheiro, intermediários e vias de
tráfico. Em Junho de 2002, por
exemplo, Victor Bout, natural da
Rússia, foi contactado e ofereceu-se
para fornecer armas à Libéria, em
violação do embargo das Nações
Unidas.5
Peter Landesman, no New York
Times, afirmou que os
contrabandistas utilizam o que
parecem ser actividades em
negócios legítimos, para disfarçarem
o contrabando. Funcionários do
exército e das alfândegas, são
subornados para fazerem de conta
que não vêem e, algumas vezes,
soldados são pagos para agirem
como funcionários de armazém.
Armas têm sido aparentemente
identificadas como ‘mercadorias
perecíveis’; funcionários de linhas
aéreas, são conhecidos por
mudarem de carga durante paragens
para ‘reabastecimento’. Os
pagamentos podem ser feitos através
de companhias fictícias ou por
empresas de carga quase legítimas
ou, simplesmente, por troca directa
com quantidades de diamantes.6
Conclusão
Com a insegurança a aumentar, em
parte devido à má utilização de armas
ligeiras, a procura de armas está
também a aumentar. Como única
resposta sub-regional, a Moratória
precisa de ser revista, e preparado
um documento com mais poderes,
tendo em vista o novo contexto, com
o reaparecimento de novas
realidades. É imperativo que haja
uma acção mais completa e
coordenada para combater a
proliferação de armas ligeiras,
incluindo a identificação, a
perseguição e descoberta. Mais
importante ainda, é fundamental agir
sobre as causas principais do recurso
às armas.
Notas finais
1 A Mauritânia saiu mais tarde para se juntar
aos países do Mageb.
2 O jornal The Guardian de Domingo, 7 de
Março, compilou uma alarmante lista não
exaustiva de assassinatos cometidos na
Nigéria, entre 1999 (um ano depois da
Moratória ter sido assinada) e 2004.
3 Os Ucranianos têm sido citados, em
muitos casos, como sendo contrários ao
negócio ilegal e à rebelião. Alguns deles
trabalharam como mercenários. Fugitivos,
criminosos e soldados exilados do Ghana,
Togo, Gâmbia, Burkina Faso,Libéria, Serra
Leoa, Guiné e Mali, constituem a maior
parte deste soldados da fortuna.
4 www.nytimes.com/2003/08/17magazine/
17BOUT.html? Este artigo dá conta de
como Victor Bout, talvez o maior
negociante de armas em todo o mundo,
opera, quais os seus aliados, as suas
ligações com África, a sua protecção pela
Rússia, e mesmo pelas NU e Governos
Ocidentais, quando se trata de expediente
político. Transportou tropas das Nações
Unidas, via aérea, para Timor Leste e
Somália (e possivelmente Serra Leoa),
transportou de avião 2500 tropas de elite
francesas para o Ruanda, em 1994 e retirou
Mobutu da RD do Congo.
5 Ibid.
6 Ibid
9
Ao criar o comité de
organização da cimeira em
Nairobi, o Ministro Queniano
dos Negócios Estrangeiros, Kalonzo
Musyoka, reiterou o cometimento
do Quénia na erradicação de minas e
armadilhas. “Vamos organizar a
cimeira, como um gesto de
solidariedade para com os povos e
países afectados por minas e
armadilhas em todo o mundo”1
A negociação, com sucesso, do
Tratado sobre a Proibição de Minas
(MBT/TPM) foi elogiada por Annan
como “um marco histórico na
história do desarmamento” e “uma
vitória histórica para os fracos e
vulneráveis do nosso mundo”.2 Foi
desenvolvida e aprovada no período
de um ano a assinada por 122 nações
em Ottava, Canadá, em 3 de
Dezembro de 1997. O Tratado entrou
em vigor a 1 de Março de 1999,
depois do Burkina Faso ter sido o
quadragésimo país a ratificá-lo, em
16 de Setembro de 1998. Faz agora
parte da Lei Internacional e é
considerado um “empreendimento
notável”.3
A partir de Março de 2004, um total
de 141 países são Estados
Signatários do Tratado sobre a
Proibição de Minas.4 Destes países,
50 estão em África. Apenas Marrocos
(um membro suspenso da UA), a
Líbia e o Egipto se mantêm
totalmente fora do tratado. A
Etiópia ainda não ratificou o tratado,
apesar de o ter assinado. Tanto
quanto se pode determinar, o Egipto,
que é afectado por minas, é o único
país Africano que continua a produzir
minas anti-pessoal.
África desempenhou um papel crucial
nas negociações da Convenção e,
hoje, é o continente com o maior
número de estados membros. O
papel pivotal que África
desempenhou, pode ser atribuído ao
facto de ser considerada como o
continente mais fortemente
afectado, em termos de minas e
vítimas.5 Países e áreas afectados por
minas e bombas por explodir
(UXO/BPE) em África, incluem: Argélia,
Angola, Burundi, Chad, República
Democrática do Congo, Djibouti,
Egipto, Eritreia, Etiópia, Guiné- Bissau,
Quénia, Libéria, Líbia, Malawi,
Mauritânia, Marrocos, Moçambique,
Namíbia, Niger, República do Congo,
Rwanda, Senegal, Serra Leoa, Somália,
Somalilândia, Sudão, Suazilândia, Síria,
Tunísia, Uganda, Saara Ocidental,
Zâmbia e Zimbabwe. Nos últimos
anos, foram divulgados acidentes
com minas/UXO nos seguintes países
ou áreas Africanas: Argélia, Angola,
Burundi, Chad, RD do Congo, Egipto,
Eritréia, Etiópia, Guiné-Bissau, Quénia,
Mauritânia, Moçambique, Namíbia,
República do Congo, Ruanda,
Senegal, Somália, Somalilândia, Sudão,
Tunísia, Uganda, Saara Ocidental e
Zimbabwe.
O continente foi também o local de
encontro para a primeira reunião dos
países signatários do Tratado sobre a
Proibição de Minas, quando
Moçambique foi o país anfitrião da
Primeira Reunião dos Países
Signatários (FMSP/PRPS), em Maputo,
de 3 a 7 de Maio de 1999. Participaram
na reunião governos de 108 países,
para além de grande número de
organizações internacionais e não
governamentais.
O Quénia está bem colocado para ser
o anfitrião da Primeira Conferência de
Revisão. Assinou o Tratado sobre a
Proibição de Minas, em 5 de
Dezembro de 1997 e ratificou-o em
23 de Janeiro de 2001. O Quénia não
produziu nem exportou minas.6 O
país está principalmente contaminado
com bombas por explodir (UXO). O
Quénia está presentemente
envolvido, juntamente com o
governo Britânico, em operações de
limpeza.7 O Quénia destruiu todas as
suas reservas de minas anti-pessoal
dois anos antes do prazo que se
estipulara. O país tinha estabelecido
que destruiria todas as suas reservas
de minas até 1 de Julho de 2005.
Completou a destruição de 35.774
minas em Agosto de 2003. O país
manteve 3.000 minas, como permitido
pelo artigo 3 do tratado.8
A necessidade de cortar a proliferação
de minas e armadilhas é um dos
pontos centrais da agenda sobre a
Noel Stott
O Quénia é Anfitrião da Primeira Conferência deRevisão sobre a Situação das Minas e Armadilhas
O Quénia foi escolhido para ser o país hospedeiro da Primeira Conferência de Revisão da Convenção sobre a
Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Anti-Pessoal e Sobre a sua Destruição
(Tratado sobre a Proibição de Minas). Terá lugar de 29 de Novembro a 3 de Dezembro de 2004. O Secretário Geral
das Nações Unidas, Kofi Annan, e chefes de estado participarão na “Cimeira de Nairobi de 2004 Sobre um Mundo
Livre de Minas”.
10
Noel Stott
Paz e Segurança da Nova Associação
para o Desenvolvim-wento de África
(NEPAD/NADA). Endossada por todos
os líderes Africanos, na cimeira da
Organização da Unidade Africana
(agora União Africana), em 11 de
Julho de 2001, NEPAD/NADA
reconhece que combater a
proliferação ilícita de armas ligeiras,
armas de pequeno porte e minas e
armadilhas, é uma das pré-condições
importantes necessárias para colocar
os países Africanos, individual e
colectivamente, no caminho do
crescimento e desenvolvimento
sustentáveis.
A conferência de Revisão estudará,
entre outras coisas, o progresso
feito na implementação das
provisões da Convenção, incluindo “a
destruição de todas as minas anti-
pessoal em zonas minadas”;9 “dar
assistência para o tratamento e
reabilitação, reintegração social e
económica das vítimas de minas e
realização de programas de
divulgação sobre minas e
armadilhas”;10 “tomando as medidas
necessárias, legais, administrativas e
outras, incluindo a imposição de
sanções, para evitar e suprimir
qualquer actividade de um Estado
Signatário da Convenção”.11
Os Estados Signatários também
concordaram em nunca, em
circunstância alguma:
• Utilizar minas anti-pessoal;
• Desenvolver, produzir ou adquirir,
armazenar, reter ou transferir para
quem quer que seja, directa ou
indirectamente, minas anti-
pessoal;
• Assistir, encorajar ou induzir, por
qualquer forma, quem quer que
seja, a envolver-se em qualquer
actividade proibida a um Estado
Signatário da Convenção.
A adesão dos estados a estas
obrigações gerais vai também ser
analisada pelos outros estados e
organizações da sociedade civil.
De acordo com a Campanha
Internacional para Banir Minas e
Armadilhas (ICBL/CIBM), o desafio
humanitário e legal que a
comunidade internacional enfrenta,
mantém-se enorme, apesar dos
grandes progressos alcançados na
implementação desta convenção
global única. Quarenta e quatro
países ainda não assinaram o Tratado,
incluindo a China, Rússia, os EUA,
Israel, Índia, Paquistão, ambas as
Coreias, Iraque e Irão.12
Um aspecto ambicioso do Tratado
sobre a Proibição de Minas, foi a
marcação de prazos para a limpeza
de minas. O ano de 2009 foi marcado
como a data pela qual a maior parte
dos campos de minas do mundo
devem ficar desminados. O Comité
Internacional de Cruz Vermelha
(ICRC/CICV) acredita que “o prazo
deve ser mantido como objectivo,
mesmo que não seja possível cumpri-
lo a 100%”. O ICBL calcula que há
entre 15.000 e 20.000 vítimas
anualmente, 25% sendo crianças.
Contudo, tem havido um declínio do
número de acidentes desde o
princípio dos anos 90, quando a acção
humanitária de desminagem acabara
de começar, altura em que o
ICRC/CICV calculou em, pelo menos,
26.000 o número de mortos e
feridos anualmente.13
O ano de 2004 será um
acontecimento importante na vida
do tratado. A Cimeira de 2004
planeará o caminho a seguir para a
implementação total e
universalização do Tratado sobre a
Proibição de Minas.
Notas finais
1 http://www.eastandard.net/headlines/
news05020426.htm.
2 Kofi Annan, Declarações na Cerimónia de
Assinatura, Ottawa, Canadá, 3 de
Dezembro 1997.
3 Campanha Internacional para a Proibição
de Minas Terrestres, Relatório sobre a
Monitorização de Minas Terrestres de
1999: A Caminho de um Mundo Livre de
Minas, Human Rights Watch, Washington,
1999.
4 Para as últimas informações sobre os
países que acederam ao Tratado para a
Proibição de Minas, veja
http://www.icbl.org/ratification.
5 Campanha Internacional para a Proibição
de Minas Terrestres (ICBL/CIPMT),
Relatório sobre a Monitorização de Minas
Terrestres de 1999: A Caminho de um
Mundo Livre de Minas, Human Rights
Watch, Washington, 1999.
6 Campanha Internacional para a Proibição
de Minas Terrestres (ICBL/CIPMT),
Relatório sobre a Monitorização de Minas
Terrestres de 2003: A Caminho de um
Mundo Livre de Minas, Human Rights
Watch, Washington, 2003, p 312.
7 Campanha Internacional para a Proibição
de Minas Terrestres (ICBL/CIPMT),
Relatório sobre a Monitorização de Minas
Terrestres de 2003: A Caminho de um
Mundo Livre de Minas, Human Rights
Watch, Washington,2003, p 313.
8 O artigo 3 afirma que a quantidade de
minas mantidas ‘não deve exceder o
número absolutamente necessário’. Ele
permite aos Estados membros manter
ou transferir um certo número de minas
para o desenvolvimento de, e treino em,
detecção de minas, limpeza de zonas
minadas ou técnicas de destruição de
minas.
9 Artigo 5: destruição de minas anti-
pessoal em zonas minadas.
10 Artigo 6: Cooperação e assistência
internacional.
11 Artigo 9: Medidas de implementação
nacional.
12 Artigo 9: Medidas de implementação
nacional.
13 A longa estrada para um mundo livre de
minas, IRIN 02 de Março de 2004.
11
Emily Schroeder
O Programa de Acção das NaçõesUnidas sobre Armas Ligeiras em
África: Progresso e OportunidadesO Programa de Acção para Impedir, combater e Irradicar o Negócio Ilegal de Armas Ligeiras e Armas de Pequeno
Porte (SALW/ALAPP), em todos os seus aspectos (PoA) tem importantes implicações para o continente Africano.
O programa resultou da Conferência da Nações Unidas sobre SALW/ALAPP, em Julho de 2001. O alastramento
de armas ligeiras fez parar o desenvolvimento em África, devido ao aumento da violência criminosa, o colapso
dos serviços de Saúde e educação, o vasto desalojamento de pessoas e o declínio da actividade económica.
O PoA representa um importante passo para a melhoria da cooperação e assistência internacionais sobre
o problema das armas ligeiras.
Em Julho de 2003, as NU
convocaram a Primeira
Reunião Bienal de Estados
(BMS/RBE) para considerar a
implementação do PoA, a nível
nacional, regional e global. Os
Estados Africanos que
apresentaram relatórios à BMS
foram a Argélia, Benin, Burkina
Faso,Burundi, Camarões, Republica
Centro Africana,
Tchad, República do
Congo, Djibuti, Guiné
Equatorial, Gâmbia,
Quénia, Mali,
Marrocos, Niger,
Ruanda, Senegal,
África do Sul e
Uganda. Para além
disto, os estados que
fizeram declarações
durante a reunião
incluíram Botswana,
Gabão, Gana, Nigéria,
Serra Leoa e Togo.1
As questões da marcação e
localização de armas ligeiras, assim
como o diálogo sobre o negócio de
armas, são áreas onde houve
progresso na implementação do
Programa de Acção em África.
Várias áreas foram identificadas
pelos estados Africanos nos seus
relatórios nacionais à BMS 2003,
como necessitando de maior
progresso e assistência.
I. Áreas onde houve progresso no
PoA desde a BMS/RBE de Julho
de 2003
Marcação e localização de armas
ligeiras
Vários estados Africanos estão
preocupados com a
falta de informação
sobre a circulação de
armas ilegais através
das suas fronteiras,
reservas de armas e
fabrico local de armas.
A este respeito, a
questão da marcação
e localização de armas
ligeiras e armas de
pequeno porte, é uma
daquelas em que tem
havido progresso a
nível internacional.
Em 2003, o Grupo de Peritos
Governamentais das NU,
determinou que era possível
começar negociações com vista à
criação de um instrumento
internacional que permitisse aos
Estados identificar e localizar armas
ligeiras ilegais. Como consequência,
a Assembleia Geral estabeleceu, em
2004, um grupo de trabalho com
agenda aberta, a fim de criar um tal
instrumento. O presidente do
grupo de trabalho, Embaixador
Anton Thalmann, da Suíça, foi eleito
a 3 de Fevereiro de 2004. Enquanto
um tratado sobre a marcação e
localização, terá pouco impacto
sobre as armas já em circulação,
será útil para o controlo da
circulação de armas nos futuro. O
grupo de trabalho concordou em
realizar três sessões substantivas,
em Junho de 2004, Fevereiro de
2005 e Junho de 2005. O plano é ter
um tratado pronto para adopção
pela Conferência de 2006 das NU,
sobre Armas Ligeiras.
O negócio de armas ilegais em África
Em 2003, a Assembleia Geral das NU
pediu ao Secretário Geral para
iniciar consultas com os Estados
Membros, no que respeita à sua
opinião sobre o negócio de armas.
Num esforço para contribuir para as
discussões que presentemente têm
lugar em África, O Instituto para
Estudos de Segurança realizou uma
oficina de trabalho, em Março de
2004, sobre a compreensão e
regulamentação do negócio de
armas na África Austral. O objectivo
da oficina de trabalho foi de
recolher recomendações concretas
O objectivo da oficinade trabalho foi de
recolherrecomendações
concretas dos paísesAfricanos que
enfrentam desafiossobre a
regulamentação donegócio de armas...
12
Emily Schroeder
de países Africanos que enfrentam
desafios sobre a regulamentação do
negócio de armas, que pudessem
ser utilizadas para a criação de um
processo harmonizado Africano que
pudesse regulamentar as
actividades dos negociantes d
armas. A necessidade de controlo
mais eficaz sobre o negócio de
armas é uma questão emergente,
tanto internacionalmente como em
África.2
II. Oportunidades para assistência
O desafio de facilitar a
implementação do Programa de
Acção, está no estabelecimento da
ligação entre os doadores
internacionais e provedores de
vários tipos de assistência e os
países que deles têm necessidade.
Nos Relatórios Nacionais
apresentados pelos países Africanos
à Reunião Bienal de Estados, são
identificadas várias áreas para
assistência internacional, as quais
incluem:
Para melhorar a capacidade:
• Criar estruturas permanentes a
nível nacional para tratar da
questão das armas ligeiras e
armas de pequeno porte
(SALW/ALAPP);
• Criar Agências de Coordenação
Nacionais/Pontos Focais;
• Criar os necessários instrumentos
legais a nível nacional no que
respeita a SALW/ALAPP ilegais
• Recolher a informação existente e
obter dados estatísticos a nível
nacional, com vista à preparação
de uma base de dados
centralizada sobre as armas
ligeiras em armazém e a produção
local de armas;
• Identificação dos armazéns de
armas para fins criminosos; e
• Organizar campanhas de recolha
de armas a nível nacional,
entregas voluntárias e destruição
de armas.
Assistência Técnica:
• Construir a infra-estrutura que
seja necessária para a gestão de
armas em armazém;
• Computadorizar os registos de
SALW/ALAPP mantidas em
armazéns nacionais;
• Obter equipamento de monitoria
para a detecção de armas nas
fronteiras, incluindo
equipamento de vigilância,
incluindo crivos e pesquisadores;
• Comprar veículos e tecnologias
de comunicação para as
fronteiras; e
• Adquirir equipamento para a
destruição de armas ilegais
recolhidas.
Outras áreas de pedido de
assistência incluem:
• Actividades de divulgação ao
público para promover o
desarmamento voluntário e a
importância da destruição de
armas ligeiras;
• Assistência financeira para levar a
cabo o projecto Armas por
Projectos de Desenvolvimento;
• Desarmamento pós conflito,
actividades de desmobilização e
reintegração, incluindo a
reintegração da juventude e o
financiamento de programas de
desarmamento;
• Reforma do sector da segurança;
e
• Aumento da cooperação entre o
elemento civil e o militar da
população.
A próxima Reunião Bienal de
Estados sobre a Implementação do
Programa de Acção, terá lugar nas
Nações Unidas, em 2005, sendo a
primeira conferência de revisão em
2006.
Notas finais
1 http://disarmament.un.org/small-arms -
8 March 2004: 14:00
2 www.smallrmsnet.org 8 March 2004 –
14:30
13
Nelson Alusala
Desarmamento Prático: Começandoa Identificar a Melhor Prática?
“Desarmamento prático” e “micro desarmamento” são duas expressões usadas com frequência como referência a
programas cujo objectivo é a remoção de armas ligeiras de uma sociedade através da sua recolha e destruição. No
Suplemento de uma Agenda para a Paz, o anterior Secretário Geral das Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali,
utilizou o termo “micro desarmamento” para se referir a armas ligeiras que eram utilizadas normalmente em
conflitos de que as NU trataram nos anos 90.1
AAssembleia Geral das NU
substituiu o “micro
desarmamento” por
“desarmamento prático” e,
simultaneamente, alargou o seu
significado para incluir uma gama
mais vasta de medidas, tais como
a recolha, controlo e destruição de
armas ligeiras e armas de pequeno
porte, medidas para
melhoramento da confiança,
desmobilização e reintegração de
antigos combatentes,
desminagem e conversão. O
Desarmamento prático está a ser,
cada vez mais, um componente
formal dos mandatos das missões
de paz, como já foi no caso da
Nicarágua, El Salvador, Libéria,
Serra Leoa e Macedónia.2
Cenários de desarmamento pós
conflito
Uma sociedade acabada de sair de
um conflito apresenta certas
características. Entre elas contam-
se os mecanismos enfraquecidos
da segurança do estado, os quais
não conseguem manter a lei e a
ordem na sociedade em geral. Do
mesmo modo, tal sociedade não
dispõe de mecanismos para
controlar a proliferação ilegal de
armas. Os cidadãos, ainda incertos
quanto à sua segurança, tendem a
adquirir armas ou a manterem as
que têm por uma questão de auto
protecção. Tal fenómeno pode levar
a um acréscimo descontrolado na
aquisição de armas. Isto explica as
constatações de um estudo
realizado pelo Comité Internacional
da Cruz Vermelha (ICRC/CICV) no
oeste do Camboja, no qual foi
estabelecido que os ferimentos em
pessoas tratadas, devido a acidentes
com armas de fogo, representavam
147 casos por 100.000 pessoas,
pouco tempo antes da assinatura
do acordo de paz, em 1991. Durante
o período de transição, sob o
controlo dos agentes de paz das
NU, este número
diminuiu para 71
casos por 100.000
habitantes. Cinco
meses depois das NU
terem saído, sem
terem conseguido
desarmar
completamente a
população, o número
tinha aumentado para
163 casos por 100.000
pessoas.3
A cessação formal das hostilidades
não significa, portanto, o fim
imediato da violência, a não ser que
os factores alimentando a procura
de armas sejam eficazmente
resolvidos. Quando um acordo de
paz é atingido, assinalando o fim de
um conflito, ocorre imediatamente
a seguir um período de
insegurança. Toda a gente espera
uma mudança. Este período de
transição pode ser marcado por
acontecimentos importantes,
incluindo o início do
desarmamento voluntário por
parte dos antigos beligerantes.
Consequentemente, à medida que
a situação passa de guerra para
paz, a situação da segurança em
geral não necessita dos largos
contingentes de forças militares
que estavam envolvidas
anteriormente. Isto
acontece, muitas
vezes, bastante
tempo antes de as
instituições de
segurança interna ( o
sector da segurança)4
estarem organizadas,
treinadas e equipadas
para tomarem conta
das responsabilidades
da segurança. Os
esforços no seio das
forças militares
(agentes de paz), à medida que se
adaptam aos seus papéis e níveis
de força na situação de segurança
em mudança, em conjunto com a
incapacidade das forças de
segurança interna de assumirem
maiores responsabilidades, cria
uma falha na segurança.5
Os esforços no seio
das forças militares...
à medida que se
adaptam aos seus
papéis e níveis de
força na situação de
segurança em
mudança ... cria uma
falha na segurança...
14
Nelson Alusala
A recolha de armas,
imediatamente após o fim da
guerra, é uma prioridade. Isto
porque, se as armas são deixadas
em circulação, o desenvolvimento
e a assistência humanitária serão
retardados devido a incidentes de
violência armada. É, portanto,
aconselhável que os programas de
recolha de armas em cooperação
com a reforma do sector da
segurança, medidas de
reconstrução da paz e de
reconciliação, por forma a resolver
os problemas associados com as
armas ligeiras.
A recolha de armas não tem lugar
apenas em casos de pós conflito,
mas também em comunidades
afectadas pelo crime violento. O
objectivo é melhorar a segurança
pública através da remoção
indirecta de armas, elevando os
conhecimentos sobre os perigos
relacionados com a posse de
armas. Em tais casos, as
autoridades podem encorajar as
pessoas a entregarem as armas
em troca de alguma compensação,
incluindo estímulos legais como
amnistias.6
A recolha de armas como medida
para a prevenção do crime,
ocorreu pela primeira vez em
Filadélfia (EUA), em 1968, e em
Baltimore, seis anos mais tarde,
por meio de um programa de
compra, segundo o qual os
cidadãos entregavam as armas de
que já não precisassem, em troca
de dinheiro, certificados para a
compra de mercadorias, estímulos
e doações educacionais.7
De acordo com o Inquérito sobre
Armas Ligeiras de 2002, a recolha
de armas pode, portanto, ter
lugar como parte de um acordo
formal de paz ou como medida
pós conflito para a edificação da
paz. O primeiro é muitas vezes
referido como o programa da fase
I, ou desarmamento por comando,
enquanto o segundo, também
chamado programa da fase II, é o
desarmamento voluntário.
O Inquérito continua, explicando
que em muitos casos, o programa
de desarmamento da fase I, faz
parte integral de um programa de
desarmamento, desmobilização e
reintegração (DDR) que é
geralmente inspeccionado por
forças de paz e observadores
internacionais. Durante o processo,
os grupos a desarmar (1podem ser
milícias, rebeldes ou beligerantes),
podem ter um prazo para
entregarem as armas, passado o
qual, os que ainda tiverem armas
em seu poder, serão desarmados
pela força. Isto acontece muitas
vezes quando missões de paz das
NU operam sob mandato do
Capítulo VII. O maior objectivo do
desarmamento fase I é criar
estabilidade, evitando que a
sociedade volte a cair na violência.
O desarmamento fase I tem
usualmente uma certa duração,
como especificado no mandato
dos agentes de paz. Isto limita o
processo, a ponto de não ser
conclusivo, dado que os
portadores de armas podem não
estar completamente convencidos
da durabilidade da paz. Assim, no
fim do mandato dos agentes de
paz e depois da sua partida, ainda
existem armas no seio da
sociedade. Daí a necessidade do
desarmamento fase II, cuja eficácia
depende da boa vontade e
cumprimento por parte do
público. Esta fase é principalmente
voluntária, e depende de até que
ponto os possuidores de armas
pensem se devem mantê-las ou
entregá-las. São aconselháveis
campanhas de divulgação dirigidas
às comunidades que se pretende
atingir.
15
O desarmamento voluntário e
espontâneo pode começar antes da
conclusão do desarmamento fase I.
Mas devia ser um processo
contínuo e parte de um programa
formal de DDR, mesmo depois da
partida dos agentes de paz.
África foi testemunha de vários
casos de recolha e destruição de
armas. Casos notáveis
incluem a cerimónia
da Chama da Paz, em
1999, no Mali, depois
da assinatura, em
1992 do acordo de paz
entre o governo e a
coligação dos
rebeldes Tuaregues
que lutavam pela
autonomia. A
cerimónia da Chama
da Paz assinalou a
destruição pública de
mais de 3.000 armas
recolhidas entre 1995 e 1996.
Um dos mais bem sucedidos
desarmamentos fase II foi o
projecto Ferramentas por Armas
realizado em Moçambique, entre
1995 e 2000, a seguir ao fim da
guerra entre a Frelimo e a Renamo.
O Conselho Cristão de Moçambique,
em colaboração com o governo e
os antigos combatentes, recolheu e
destruiu cerca de 200.000 armas e
munições. Os possuidores de armas
receberam incentivos tais como
ferramentas agrícolas e outro
equipamento. Após a destruição
das armas, os fragmentos foram
reciclados para produzir
ornamentos e outros objectos de
arte.8
A Operação Rachel, um programa
de destruição de armas lançado em
1995, numa operação conjunta
entre o Serviço de Polícia Sul
Africano e a Polícia da República de
Moçambique, tinha, em 2002,
localizado e destruído mais de 2.200
armas e 1,2 milhões de munições.9
A operação Rachel começou como
um meio de recolher e destruir
depósitos de armas que tinham
sido abandonados depois da
guerra civil em Moçambique.
Contudo, o seu sucesso depende
da forte cooperação com as
comunidades locais que têm
conhecimento dos depósitos de
armas nas suas
zonas.
O programa para
recolha e
confiscação de armas
de 1997, Na
República Central
Africana (CAR/RCA)
foi conduzido sob a
MISAB (Missão
Interafricana para a
observação de
Acordos). Conseguiu
recuperar 95% das
armas pesadas e 62%
das armas ligeiras e armas de
pequeno porte que tinham sido
roubadas dos armeiros do governo
em 1996.10
Contudo, o programa de recolha
de armas da RCA tem sido muito
criticado por ter envolvido apenas
os revoltosos em vez de toda a
gente (combatentes e civis).11 Em
contraste com o programa da RCA,
uma coligação de El Salvadorenhos,
organizações da sociedade civil e
grupos religiosos, reuniram os
seus esforços num programa de
desarmamento fase II sob o nome
de Movimento Patriótico Contra o
Crime, entre 1996 e 1999.12
Uma análise
O presente debate a nível global
centra-se no desarmamento e não
no armamento. Contudo, isto não
significa que os estudos para
investigar os motivos de grupos e
indivíduos para recorrerem às
armas devam ser ignorados. Por
exemplo, estudos de conflito em
países em desenvolvimento
revelaram que, apesar dos países
desenvolvidos continuarem a
utilizar programas de auxílio para
alcançar o desenvolvimento,
relativamente pouco tem sido
conseguido. Em especial, Dumont
denuncia o falhanço das iniciativas
para o desenvolvimento da África
pós colonial, afirmando que o
número de pessoas
desesperadamente pobres se tem
mantido constante, em cerca de
um quinto da raça humana, que
estas pessoas vivem nos limites da
sobrevivência, à mercê dos
cavaleiros do apocalipse cujas
condições de vida (habitação,
saúde e nutrição) são um insulto às
noções de igualdade.13
Kirkby et al14 completam a sua
análise observando que a criação
de armamento mais poderoso, com
maior poder de destruição, torna a
devastação ainda mais mortífera,
acrescentando que, para dezenas,
senão centenas de milhões de
pessoas no Sul, a sobrevivência é
praticamente impossível devido às
guerras. Os autores sublinham que
guerras por procuração entre o
Leste e o Oeste durante a Guerra
Fria, guerras coloniais, pós
coloniais, guerras de recursos
como o conflito do óleo no Médio
Oriente e guerras étnicas como no
Ruanda, continuarão a devastar
área enormes do Sul. Assinalam
que guerras no interior de estados,
como as guerras separatistas na
Etiópia, Nigéria e Sudão,
dominaram as vidas das pessoas
durante os últimos cinquenta anos.
Em face do conflito existente, a
pergunta é: Como pode o
desarmamento ser sustentável?
É recomendada uma mudança na
prática do desarmamento, com
vista a incluir outros processos
como a desmobilização e
Os possuidores dearmas receberam
incentivos tais comoferramentas agrícolase outro equipamento.Após a destruição dasarmas, os fragmentos
foram reciclados eutilizados para
produzir ornamentose outros objectos de
arte...
16
Nelson Alusala
reintegração, reestruturação de
forças armadas, desenvolvimento
da justiça de transição e
desenvolvimento socio-
económico. Para o desarmamento
ser sustentável, o mundo tem que
mostrar mais acções do que
palavras. O Inquérito Sobre Armas
Ligeiras, 2003, sublinha isto ao
propor que o desarmamento
sustentável requer medidas
preventivas para o controle de
armas, como a limitação do
fornecimento de armas a uma
determinada área, através da
adopção de embargos e
moratórias, melhoria na aplicação
e adopção de legislações que
estabeleçam regras estritas e sem
ambiguidades para a posse e uso
de armas.15
A implementação de iniciativas de
desarmamento sustentáveis
requererá o comprometimento e
esforço de governos, das NU,
doadores e organizações da
sociedade civil em colocarem a paz
acima de tudo.
Notas finais
1 Documento A/50/60 – S/1995/1,
Suplemento a uma Agenda para a Paz:
Tomada de Posição do Secretário Geral
por ocasião do quinquagésimo
aniversário das Nações Unidas, 3 de
Janeiro de 1995, parágrafo 21.
2 Inquérito sobre Armas Ligeiras,
Contando o Custo Humano ( Oxford
Press), 2002, pg286.
3 Comité Internacional da Cruz
Vermelha. Disponibilidade de armas e
a situação dos civis em conflitos
armados, IRRC Relatório sobre a
disponibilidade de armas, Geneva,
1999, pg 13.
4 O termo sector da segurança, ou
estrutura de segurança, é um termo
genérico incluindo todas as
instituições envolvidas em segurança,
como as forças armadas, a polícia e os
serviços secretos.
5 Ver F Scott, “ Reconstruindo melhores
fundações: Segurança na reconstrução
pós conflito”, em
http://www.twq.com/02automn/feil.p
df accessed on 5March 2004-12-02.
6 Inquérito sobre Armas Ligeiras,
Contando o Custo Humano, op. Cit.,
pag 282-3.
7 Ibid, pag 282
8 Ver Conselho Cristão de Moçambique,
Projecto Ferramentas por Armas: Uma
iniciativa do Conselho Cristão de
Moçambique (CCM), em
http://sand.miis.edu/research/1999/Ap
ril1999/projectPDF, accessed on 5
March 2004.
9 Ver FOCUS Boletim Informativo No.2,
Junho de 2002.
10 Ver S Faltas, “Revolta e Desarmamento
na República Central Africana”, em S
Faltas e J di Chiaro III , Gerir os Restos
da Guerra ( Baden –Baden:Nomos
Verlagsgesellschaft, 2001, pag 76 a 96.
11 Ibid
12 Para uma detalhada discussão, ver W H
Godnick, “ O Movimento Patri’otico
contra o Crime de El Salvador (MPCD) –
A décima sétima ronda do programa
de recolha voluntária de armas –
mercadorias por armas.” São Salvador,
El Salvador, julho de 1998.
http://sand.miis.edu/research/1998/jul
1998/elsgoods4guns. PDF, Accessed on
8 March 2004.
13 R Dumont, Falso Começo em África
(London: Earthscan), 1988, citado em J
Kirkby et al., The Earthscan Reader in
Sustainable Development ( London:
Earthscan Publications), 1995, pag 1-14:
2-3.
14 Ibid.
15 Inquérito Sobre Armas Ligeiras,
Desenvolvimento Negado ( Oxford:
Oxford Press), 2003, pag. 309.
Medidas para Controlo de ArmasLigeiras: Actualização
• 11 países no Corno de África e nos Grandes Lagos endossam o protocolo sobre armas
• A Libéria começa o seu programa melhorado de desarmamento
• A Comissão Europeia combate minas e armadilhas
• A África Ocidental procura recolher 8 milhões de armas ilegais na região
• O Conselho de Segurança toma medidas para fortalecer o embargo de armas de oito meses
• A exportação de componentes de armas Britânicas “coloca vidas em risco”
11 países no Corno de África e nos
Grandes Lagos endossam o
protocolo sobre armas
A 22 de Abril, o Protocolo de Nairobi
foi endossado por 11 países das
regiões do Corno de África e dos
Grandes Lagos. Eles são o Quénia,
Tanzânia, Uganda, Burundi, Ruanda,
RDC, Djibuti, Etiópia, Sudão, Eritréia
e Seichelles.
De acordo com o tratado, um
centro sub-regional para armas
ligeiras será estabelecido a fim de
implementar as políticas sobre as
armas.
A Libéria começa o seu programa
melhorado de desarmamento
A 15 de Abril, centenas de
combatentes rebeldes Liberianos
entregaram espingardas, lançadores
de granadas-foguete e outras armas
segundo um melhorado esquema
para desarmar combatentes depois
de quase 14 anos de guerra.
Combatentes do grupo rebelde
Liberianos Unidos para a
Reconciliação e Democracia (LURD)
fizeram bicha para entregarem as
suas armas e receber conselhos em
preparação para a vida civil. Isto
assinalou o início do programa
apoiado pelas NU, na cidade central
de Gbarnga.
A Comissão Europeia combate minas
e armadilhas
Em 25 de Março, a Comissão Europeia
adoptou o seu Programa Anual de
Trabalho para 2004, para minas anti
pessoal com um orçamento de 11,3
milhões de Euros. O objectivo deste
programa é assistir os países
sofrendo as consequências de minas
anti-pessoal a criar as condições
necessárias para o seu
desenvolvimento económico e social.
Os países a que se dirige em 2004
são Moçambique, Sudão, Somália,
Angola, Eritréia, Bósnia Herzegovina,
Kirgistão, Georgia/Abkhazia, Ucrânia,
Tajikistão e Perú/Equador
A África Ocidental procura recolher 8
milhões de armas ilegais na região
A 26 de Março, o bloco económico
regional da África Ocidental começou
a desenvolver um enquadramento
para a recolha de cerca de 8 milhões
de armas ilegais e armas ligeiras em
circulação. Depois de uma
conferência de três dias, na capital
Nigeriana de Abuja, os membros da
Comunidade Económica dos Estados
da África Ocidental publicaram um
comunicado recomendando “ a
adopção de um plano operacional de
acção” para resolver o problema da
proliferação de armas ligeiras na
região.
O Conselho de Segurança toma
medidas para fortalecer o embargo de
armas de oito meses
Em 12 de Março, o Conselho de
Segurança estabeleceu um Comité
para monitorizar o progresso na
implementação do embargo de armas
de oito meses, contra todos os grupos
armados, estrangeiros e Congueses,
que operam no leste da República
Democrática do Congo. O Conselho
também autorizou a missão das NU no
país, a apreender ou recolher e
destruir armas e material relacionado
encontrado, em violação da proibição.
A exportação de componentes de
armas Britânicas “coloca vidas em
risco”
A 15 de Fevereiro, Oxfam, Amnistia
Internacional e IANSA, publicaram um
relatório conjunto intitulado ‘Lock,
Stock and Barrel - Como os
Componentes de Armas Britânicas
Correspondem a Armas Mortíferas’. O
relatório afirma que o controlo
governamental mais fraco sobre as
licenças para exportação de armas está
a “colocar vidas em risco” em alguns
dos regimes mais repressivos do
mundo. Afirma ainda que a atitude do
governo tem, com efeito, permitido
que componentes Britânicos cheguem
a países como o Zimbabwe, Israel,
Indonésia, Colômbia, Nepal e Filipinas.
Novas PublicaçõesLock, Stock and Barrel: How British Arms Components Add up to Deadly
Weapons
IANSA, Oxfam and Amnesty International, February 2004
Small Arms Survey 2004: Rights at Risk
Small Arms Survey, Oxford University Press, 2004
A Step Towards Peace: Disarmament in Africa
Thokozani Thusi & Nelson Alusala, ISS Monograph 98, Institute for Security
Studies, February 2004
Guns in the Borderlands: Reducing the Demand for Small Arms
Taya Weiss, ISS Monograph 95, Institute for Security Studies, January 2004
Qui Arme les Maï-Maï? Enquête sur une Situation Originale
Charles Nasibu Bilali, GROUPE DE RECHERCHE ET D’INFORMATION SUR LA
PAIX ET LA SÉCURITÉ (GRIP), 2004/5
Weapons in Mozambique: Reducing Availability and Demand
Ana Leão, ISS Monograph 94, Institute for Security Studies, January 2004
Guns or Growth? Assessing the Impact of Arms Sales on Sustainable
Development
IANSA, Oxfam & Amnesty International, published in association with
Ploughshares and Saferworld, June 2004
From Protection to Empowerment: Civilians as Stakeholders in the DRC
Vanessa Kent & Angela McIntyre, ISS Monograph 84, Institute for Security
Studies, April 2004
Conversion Survey 2004: Global Disarmament, Demiliterisation and
Demobilization
Bonn International Center for Conversion, Nomos Verlagsgesellschaft
Baden-Baden, 2004
Re-Examining Voluntarism: Youth Combatants in Sierra Leone
Krijn Peters, ISS Monograph 100, Institute for Security Studies, April 2004
União Africana
P O Box 3243
Addis Ababa
Ethiopia
Tel: +251 151 3822
Fax: +251 151 9321
email: [email protected]
http: //www.africa-union.org/
Programa de Gestão de Armas do ISS
P O Box 1787
Brooklyn Square
Pretoria
0075
Tel: +27 12 346 9500
Fax: +27 12 460 0998
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