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I UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO Sistemas de Processos Químicos e Informática Análise de Viabilidade Econômica de um Processo de Extração e Purificação da Bromelina do Abacaxi Autor Ana Claudia Wabiszczewicz Cesar Orientador Prof. Dr. Elias Basile Tambourgi Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Engenharia Química como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Engenharia Química. Campinas - São Paulo Dezembro - 2005

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  • I

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA QUMICA

    REA DE CONCENTRAO

    Sistemas de Processos Qumicos e Informtica

    Anlise de Viabilidade Econmica de um Processo de Extrao e Purificao da

    Bromelina do Abacaxi

    Autor Ana Claudia Wabiszczewicz Cesar Orientador Prof. Dr. Elias Basile Tambourgi

    Tese de Doutorado apresentada Faculdade de Engenharia Qumica como parte dos requisitos exigidos para a obteno do ttulo de Doutor em Engenharia Qumica.

    Campinas - So Paulo Dezembro - 2005

  • IV

    Aos meus pais Ary Cesar e Janina Wabiszczewicz Cesar(in memoriam)

  • V

    Agradecimentos

    Deus, por ter me dado oportunidade de merecer este caminho.

    Ao Prof. Dr. Elias Basile Tambourgi pela orientao, confiana e amizade.

    Aos Prof.s Dr.s Jabra Haber, Jlio Csar Dutra e Luiz Carlos Bertevello,

    pelo apoio e pelas valiosssimas contribuies.

    Aos professores da UNINOVE pelo apoio, colaborao e discusso dos

    resultados.

    Ao amigo mdico, Odair Manzini Jr., por demonstrar, sua maneira, a

    importncia da minha determinao para concluso deste trabalho.

    Ao prezado amigo MsC.Paulo Eduardo Orlandi Mattos da Universidade

    Federal de So Paulo, UNIFESP, por partilhar a paixo e o conhecimento pelos

    bioprodutos.

    minha famlia, pelo amor, pacincia e compreenso nas minhas

    ausncias.

    Aos meus fiis companheiros Fbio De Chiara e Giovanni Cesar De

    Chiara, sem os quais, no teria motivos para seguir nesta jornada.

  • VI

    NOTAO E NOMENCLATURA

    A Atividade Enzimtica (U) Ae Atividade Especfica (U/mg) Aefundo Atividade especfica da Fase Inferior Aetopo Atividade Especfica da Fase Superior ABIFARMA Associao Brasileira da Indstrias Farmacuticas BSA Albumina Bovina ( Bovine Serum Albumin) Cf Concentrao da Fase Inferior Ct Concentrao da Fase Superior CT Custo Total Da daltons g/g Grama/grama IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica K Coeficiente de Partio Kbioesp Fator de Afinidade Bioespecfica KDa Kilo Dalton Kconf Fator de Conformao Keletro Fator eletroqumico Khfob Fator de afinidade hidrofbica Ktam Fator Tamanho M Molaridade ou Molar MPEG Massa Molecular do PEG P Protena Total (mg/L) PEG Polietileno Glicol pI Ponto Isoeltrico Ptopo Concentrao de Proteinas na Fase Superior (mg/L) Pfundo Concentrao de Proteinas na Fase Inferior (mg/L) p/p Peso/peso PV Preo de Venda R Retorno sobre o Investimento s Desvio padro SBA Sistemas Bifsicos Aquosos sefeitpo Desvio Padro dos Efeitos TCA cido Tricloroactico v/v Volume/volume Xm Mdia dos resultados Obtidos xi Grandeza Medida

  • VII

    LISTA DE FIGURAS Figura 1: Exemplo de um Diagrama de Fases. 32 Figura 2: Ciclo de vida de um produto 41 Figura 3: Preparo da amostra 59 Figura 4: Descrio dos testes de liquefao da gelatina . 60 Figura 5: Resultados dos volumes de perfurao da gelatina. 61 Figura 6: Curva de solubilidade em etanol da bromelina e das protenas presentes no abacaxi

    63

    Figura 7 : Esquema da micro-coluna de campnulas pulsantes. 64 Figura 8: Variao do preo de venda em relao margem de lucro. 78 Figura 9: Evoluo do preo de vendas em funo da margem de lucro 81 Figura 10: Prazo de retorno sobre investimento (payback) em funo as margem de lucro

    82

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Dados da concentrao das amostras de polpa do fruto, casca e talo do abacaxi.

    07

    Tabela 2: Dados de protena total, atividade e acares redutores. 07 Tabela 3 - Produo de Frutas, Brasil 1994/1995 e 2004/2005 (1000 toneladas) 07 Tabela 4: Produo Mundial de abacaxi em 2005. 08 Tabela 5: Vantagens e desvantagens da liderana tecnolgica 44 Tabela 6: Exemplo de aplicao de um modelo de pontuao para avaliao de projetos.

    56

    Tabela 7: Resultados do volume de perfurao (VP) 61 Tabela 8 Variveis estudadas na operao da Micro-coluna 67 Tabela 9 - Descrio dos nveis e efeitos. 69 Tabela 10 - Efeitos calculados para porcentagem de recuperao de protena total 69 Tabela 11 - Porcentagem de recuperao de protena total 70 Tabela 12 - Clculo dos efeitos para recuperao da protena total 70 Tabela 13 - Porcentagem de recuperao de atividade enzimtica 71 Tabela 14 - Clculo dos efeitos para recuperao de atividade enzimtica 72 Tabela 15 : Descrio dos valores de investimento em equipamentos para extrao 75 Tabela 16: Custos de matria -prima para produo de 8 kg de precipitado. 76 Tabela 17: Descrio de despesas e tributos 77 Tabela 18 : Variao do Preo de venda em Funo da Margem de Lucro 77 Tabela 19: Quantidade de precipitado necessria para o retorno sobre o investimento em funo da margem de lucro

    78

    Tabela 20: Custos de equipamentos para extrao em contnuo. 79 Tabela 21: Custos com matria -prima para extrao em contnuo 79 Tabela 22: Custos com matria- prima para purificao na obteno de 1 grama 80 Tabela 23: Evoluo de preo de venda do extrato purificado em funo da margem de contribuio.

    80

    Tabela 24: Quantidade em gramas de extrato purificado a ser vendida em funo da margem de lucro para retorno sobre investimento

    81

  • SUMRIO

    Lista de Tabelas e Figuras VII 1. INTRODUO 01 2. FUNDAMENTAO 03 2.1. Protenas 03 2.1.1. Bromelina 03 2.1.2. Enzimas 05 2.1.3. Desnaturao 06 2.1.4. Protena Total, Atividade e Acares Redutores 06 2.2. Abacaxi 07 2.2.1. Fruticultura Brasileira 07 2.2.2. Cultivo e Colheita 08 2.2.3. Caracterizao da Fruta 10 2.2.4. Composio Qumica 11 2.2.5. Processamento da Fruta 11 2.2.6. Produtos e Subprodutos do Processamento. 12 2.3. Consumo de Bromelina. 15 2.4. Separao e Purificao de Protenas 17 2.4.1. Precipitao por Etanol 18 2.4.2 Extrao Lquido-Lquido 20 2.4.2.1. Sistemas de Duas Fases Aquosas 20 2.4.2.2. Tipos de Sistemas de Duas Fases Aquosas 23 2.4.2.3. Sistema PEG/Sal 24 2.4.2.4. Polietileno Glicol 25 2.4.2.5. Recuperao de Sais e Polmeros 26 2.4.3. Teoria de Formao das Fases 27 2.4.3.1. Tempo de Separao das Fases 29 2.4.3.2. Fatores que Influenciam no Sistema de Fases 30 2.4.3. 3. Diagrama de Fases 31 2.4.4. Fundamentos da Partio das Protenas 33 2.4.4.1. Coeficiente de Partio 34 2.4.4.2. Influncia do Peso Molecular do Polmero e da Protena no Coeficiente de Partio

    34

    2.4.4. 3. Influncia do pH do Sistema no Coeficiente de Partio 35 2.4.4.4 Influncia das Interaes entre a Protena e o Sistema de Fases no Coeficiente de Partio

    36

    2.4.4.5. Influncia da Concentrao dos Componentes do Sistema no Coeficiente de Partio

    36

    2.4.4.6. Influncia da Concentrao de Protenas no Coeficiente de Partio 37 2.4.4. 7.Modelagem Matemtica do Coeficiente de Partio 37 2.5. Planejamento Fatorial 38 3. INOVAO TECNOLGICA 39 3.1. Tecnologia e Inovao 39 3.2. Desenvolvimento de Produtos 40 3.3. Liderana Tecnolgica 42 3.4. A Adoo de uma Nova Tecnologia 45

  • 4. CUSTOS 48 4.1. Custos Diretos e Custos Indiretos 48 4.1.1. Fatores que Afetam as Classificaes de Custos Diretos Indiretos 49 4.2. FIXAO DO PREO DE VENDA 51 4.2.1. Formao de Preos com Base em Custos 51 4.3. ANLISE ECONMICA DE PROJETOS 52 4.3.1Avaliao de Projetos de Inovao Tecnolgica 55 4.3.2. Modelo de Deciso por mltiplos Atributos ou de Pontuao 55 4.4. Anlise Linear de Equilbrio 57 4.4.1. Ponto de Equilbrio entre Receitas e Despesas 57 5. MATERIAIS E MTODOS 59 5.1. Extrao por Batelada 59 5.1.1. Preparo da Amostra 59 5.1.2. Extrao com Etanol 60 5.2. Extrao em Contnuo 64 5.2.1 Descrio do Equipamento 64 5.2.2. Procedimentos de Operao da Micro-Coluna 65 5.2.3. Variveis Estudadas 66 5.3. Extrao Contnua Utilizando Uma Micro-Coluna De Campnulas Pulsantes 67 5.3.1. Planejamento de Ensaios 68 5.3.2 Efeito da Razo entre as vazes das fases (RV) e da Freqncia da pulsao (FP) das Campnulas na Porcentagem de Recuperao de Protena Total com Bromelina P.A.

    69

    5.3.3. Efeito da Razo entre as vazes das fases (RV) e da Freqncia da pulsao (FP) das Campnulas na Recuperao de Protena Total.

    69

    5.3.4. Efeito da Razo entre as vazes das fases (RV) e da Freqncia da pulsao (FP) das Campnulas na Recuperao da Atividade da Bromelina.

    70

    5.4. Mtodos Analticos 72 5.4.1. Determinao de Protena Total 72 5.4.2. Determinao da Atividade Enzimtica 72 5.5. Metodologia de Clculo 73 5.5.1.Coeficiente de Partio 73 5.5.2. Atividade Especfica 74 6. RESULTADOS E DISCUSSO. 75 6.1. Custos da Extrao por Batelada 75 6. 2. Custos de Purificao 79 7. COMENTRIOS FINAIS E CONCLUSES 83 8. SUGESTO DE TRABALHOS FUTUROS 85 9. REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS 86 ANEXOS 95

  • RESUMO

    O Brasil encontra-se entre um dos maiores produtores mundiais de

    abacaxi ocupando o terceiro lugar no ranking mundial. Visando o aproveitamento

    do material considerado resduo agrcola (caule e folhas) e resduos do

    processamento do fruto, muitos estudos tem sido realizados para a obteno de

    enzimas proteolticas do abacaxi. As enzimas proteolticas de origem vegetal so

    provenientes principalmente do figo (ficina), do mamo (papana) e do abacaxi

    (bromelina). Por bromelina entende-se o conjunto de enzimas proteolticas

    produzidas por plantas da famlia das Bromeliaceae. uma enzima de amplo uso

    na indstria alimentcia para o amaciamento de carne e clarificao da cerveja,

    para o amaciamento de couro, e na indstria farmacutica, em medicamentos

    destinados a distrbios de digestibilidade,e tambm por sua ao antiinflamatria

    e antimucoltica. O desenvolvimento de novos processos de extrao e purificao

    de protenas muito importante, uma vez que esta uma etapa limitante na

    produo de bioprodutos. O presente trabalho prope um processo de recuperao

    da bromelina do fruto de abacaxi por tcnica de precipitao do caldo prensado

    com etanol frio onde foram obtidos resultados demonstrando que em uma

    precipitao em 1 estgio com 80% v/v de etanol a 5C possvel recuperar praticamente toda a enzima originalmente presente, aumentando de 3 a 5 vezes a

    atividade especfica inicial e purificao atravs da extrao lquido-lquido em

    duas fases aquosas, formado por duas fases aquosas imiscveis ou parcialmente

    miscveis entre si , obtidas pela adio de polmeros hidroflicos ou um desses

    polmeros e um sal , como o sistema PEG ( polietileno glicol ) e o fosfato de

    potssio. O trabalho apresenta um estudo sobre os custos do processo e estimativas

    sobre o preo de venda e retorno sobre o investimento , demonstrando a

    viabilidade econmica da proposta quer para utilizao como pr-processo nos

    tradicionais sistemas cromatogrficos, quer para sua comercializao direta, como

    alternativa para o produtor do abacaxi, ou do fabricante de sucos e compotas.

    Palavras Chave: Custos, Abacaxi, Extrao Lquido-Lquido

  • ABSTRACT

    Brazil is one of the worlds largest producers of pineapples, its production being the

    third one in the world. To take advantage of the residues from fruit processing, many

    studies have been conducted to obtain proteolytic enzymes from them. These proteolytic

    enzymes are extracted mainly from fig (ficine), papaya (papain), and pineapple

    (bromelain). Bromelain is a mixture of proteolytic enzymes found in Bromeliaceae family.

    It is an enzyme with ample use in food industry for meat tenderizer and beer clarification,

    in leather and pharmaceutical industries, in drugs for digestion disorders, anti-inflammatory

    action, and anti-colitis action. The development of new extraction and purification

    processes of proteins is very important, as this is a limiting step in the production of

    byoproducts. The present work proposes a recovery process of bromelain from pineapples

    by precipitation of their pressed juice with cold ethanol, whereby a one stage precipitation

    with 80% v/v of ethanol at 5C made possible the recovery of practically all originally

    present enzyme, increasing from 3 to 5 times the initial specific activity and purification by

    a liquid-liquid extraction in two aqueous phases, formed by immiscible aqueous phases or

    partially miscible ones, which are obtained from the addition of hydrophilic polymers or

    one of these polymers and a salt, such as PEG system (polyethylene-glycol) and potassium

    phosphate. This work presents a study about the costs of this process and the estimated sale

    prices as well as its return of investment, showing its economic viability, whether it is for

    use as a pre-process in traditional chromatographic systems or direct commercialisation, as

    an alternative for the pineapple producer of the juice market.

    Key-words: costs, pineapple, liquid-liquid extraction

  • 1

    1. INTRODUO

    O abacaxizeiro produz frutos de sabor e aroma aceitveis no mundo todo. O Brasil

    um grande produtor de abacaxi, sendo conhecidas cinco espcies de Ananas e uma de

    Pseudoananas. Dentro da espcie Ananas comosus esto includos todos os cultivos de

    interesse agrcola, onde os principais cultivados no Brasil so o Prola e o Smooth Cayenne

    (SANTOS, 1995).

    O abacaxi fruto a parte comercializvel da planta, porm, esta poro representa

    somente 63% do total da planta, enquanto que o restante, formado por caule, folha, casca,

    coroa e talos, considerado resduo agrcola, e no tem sido devidamente aproveitado,

    resultando em perdas econmicas. Trabalhos j realizados demonstram que estes resduos

    apresentam teores representativos de carboidratos, protenas e enzimas proteolticas, que

    possibilitam a sua utilizao industrial como matria-prima para a obteno de bromelina,

    amido, fibras, lcool etlico e raes animais (BALDINI et.al., 1993).

    Bromelina o nome genrico dado ao conjunto de enzimas proteolticas

    encontradas nos vegetais da famlia Bromeliaceae, da qual o abacaxi o mais conhecido. A

    bromelina tem diversos usos, todos baseados em sua atividade proteoltica, como nas

    indstrias alimentcias e farmacuticas. Pode-se mencionar sua utilizao no amaciamento

    de carnes, na clarificao de cervejas, na fabricao de queijos, no preparo de alimentos

    infantis e dietticos, no pr-tratamento de soja, no tratamento do couro, na indstria txtil,

    no tratamento da l e da seda, no tratamento de distrbios digestivos, feridas e inflamaes,

    preparo de colgeno hidrolisado, etc.

    Muitas tcnicas tm sido utilizadas para a recuperao e purificao de protenas e

    enzimas de origem animal, vegetal ou microbiana. Tcnicas mais antigas como a

    precipitao, extrao com solventes e filtrao geralmente tem alto poder de concentrao

    e baixa purificao e tcnicas mais modernas como a cromatografia de afinidade, troca

    inica ou gel-filtrao, eletroforese, extrao em duas fases aquosas, extrao com micela

    reversa, recuperam e purificam, com alto grau de seletividade.

  • 2

    A separao de protenas de meios aquosos por precipitao um dos mtodos

    mais tradicionais para a recuperao e parcial purificao dessas biomolculas. Os

    precipitados de protenas so agregados de molculas proticas, grandes o suficiente para

    serem decantados ou centrifugados. uma tcnica de fcil ampliao de escala e com

    viabilidade para operao contnua a custos aceitveis para grandes volumes. Porm uma

    tcnica mais de concentrao do que propriamente de purificao.

    A extrao lquido-lquido uma operao unitria de transferncia de massa,

    utilizada para separao de componentes presentes em uma mesma soluo, distribuindo-se

    entre as duas fases lquidas e insolveis entre si.

    A extrao em duas fases aquosas uma tcnica que vem sendo aplicada na

    indstria, principalmente em separao de enzimas, por se tratar de um processo de baixo

    custo, alta seletividade e com possibilidade de reciclagem dos reagentes. Alm disso, as

    enzimas permanecem estveis no sistema, devido alta concentrao de gua e utilizao

    de reagentes no desnaturantes.

    O interesse em novos processos biotecnolgicos vem crescendo substancialmente

    nas ltimas dcadas e os estudos nesta rea esto bastante consolidados. Porm para que os

    mesmos possam contribuir de forma efetiva para a sociedade, h a necessidade de definio

    dos custos dos processos desenvolvidos para tornar os processos cientficos tangveis aos

    olhos dos investidores.

    Assim, o presente trabalho faz uma anlise dos custos diretos de fabricao

    envolvidos na proposta de um processo de recuperao e purificao da bromelina do

    abacaxi, baseado na anlise dos processos de precipitao por etanol e extrao lquido-

    lquido em duas fases aquosas.

  • 3

    2. FUNDAMENTAO

    2.1. Protenas

    Berzelius cunhou a palavra protena em 1838, para salientar a importncia dessa

    classe de molculas. Protena vem do grego Proteios, que significa o que vem em primeiro

    lugar, sendo responsveis pelo funcionamento das funes vitais dos organismos animais,

    nos quais so alguns dos principais constituintes.

    As protenas so as molculas orgnicas mais abundantes nas clulas e constituem

    50% ou mais de seu peso seco. So encontradas em todas as partes das clulas, uma vez

    que so fundamentais sob todos os aspectos da estrutura e funo celular. Existem muitas

    espcies diferentes de protenas, cada uma especializada em determinada funo biolgica

    diferente.

    2.1.1. Bromelina

    Bromelina o nome genrico dado ao conjunto de enzimas proteolticas

    encontradas nos vegetais da famlia Bromeliaceae, da qual o abacaxi o mais conhecido.

    As enzimas proteolticas encontradas nos talos recebem o nome de bromelina do talo e tem

    o nmero sistemtico EC 3.4.22.4, e as encontradas no fruto so chamadas de bromelina do

    fruto ou ainda, bromelina e tem o nmero sistemtico EC 3.4.22.5. A bromelina uma

    glicoprotena, tendo um resduo oligosacardeo por molcula, que est covalentemente

    ligado cadeia peptdica. A bromelina do talo uma enzima sulfidrlica, e este grupamento

    essencial para a sua atividade proteoltica. A bromelina do fruto uma protena cida, e

    seu ponto isoeltrico foi determinado por focalizao isoeltrica como pH 4,6 e mudanas

    conformacionais irreversveis ocorrem em valores de pH maiores que 10,3 (MURACHI,

    1976).

    A enzima no est presente nos primeiros estgios de desenvolvimento do fruto,

    porm, seu nvel aumenta rapidamente, mantendo-se elevado at o amadurecimento, onde

    tem um pequeno decrscimo. Essa uma das vantagens da utilizao das proteases do

    abacaxi em comparao com outras proteases vegetais. Apesar da diminuio da atividade

    proteoltica durante a maturao, o abacaxi o nico fruto que possui concentraes

    relativamente altas de proteases no estado maduro. No mamo e no figo, tanto a papana

    como a ficina, somente so encontradas em altos nveis quando o fruto est verde; com o

    completo amadurecimento, a concentrao de proteases praticamente desaparece.

  • 4

    Diferentes partes da planta podem ser usadas como matria-prima para a obteno da

    bromelina: folhas, talos, polpa da fruta, cascas e resduos industriais do processamento do

    fruto.

    Outras fontes de enzimas proteolticas so as proteases microbianas, por exemplo,

    de: Bacillus subtilis, Aspergillus sp., Actinomyces sp., e as proteases animais tripsina (EC

    3.4.21.4) e pepsina (EC 3.4.23.1), alm das vegetais papana (EC 3.4.22.2), ficina (EC

    3.4.22.3) j citadas. Algumas das proteases microbianas so geralmente proteases alcalinas

    e tm sido usadas na produo de sabes e detergentes para a remoo de manchas de

    sangue, por exemplo.

    A bromelina tem diversos usos, todos baseados em sua atividade proteoltica,

    como nas indstrias alimentcias e farmacuticas. Pode-se mencionar sua utilizao no

    amaciamento de carnes, na clarificao de cervejas, na fabricao de queijos, no preparo de

    alimentos infantis e dietticos, no pr-tratamento de soja, no tratamento do couro, na

    indstria txtil, no tratamento da l e da seda, no tratamento de distrbios digestivos,

    feridas e inflamaes, preparo de colgeno hidrolisado etc. Foi verificado por ROWAN et.

    al. (1990) que a bromelina do fruto tem uma atividade proteoltica maior que a bromelina

    do talo em diversos substratos proticos, e sua atividade mxima em pH 8,0 e a

    temperatura de 70C. A bromelina do talo apresentou atividade mxima a 60C e pH 7,0. A forma de bromelina comercialmente encontrada a bromelina do talo, apesar da grande

    quantidade de resduos de abacaxi fruto proveniente das indstrias de conservas de abacaxi.

    As preparaes de bromelina so impuras, e geralmente as principais enzimas

    contaminantes so outras enzimas proteolticas e enzimas no proteolticas, tais como:

    fosfatases, peroxidases, celulases e outras glicosidases (MURACHI, 1976). SUH et. al.

    (1992) purificou a bromelina do fruto e do talo at a homogeneidade (18 e 46 vezes de

    aumento de pureza respectivamente) por cromatografia de gel-filtrao e determinou os

    pesos moleculares em 32.5 e 37 KDa respectivamente, com rendimento de 23% em

    atividade. MURACHI (1976) purificou a bromelina do talo de abacaxi por cromatografia

    de gel-filtrao, e determinou que o peso molecular da frao pura era de 28 KDa por SDS-

    PAGE. (ROWAN et. al. 1990) descreve a presena de quatro proteases principais presentes

    em abacaxis (Ananas comosus): bromelina do fruto, bromelina do talo, ananana e

    comosana.

  • 5

    2.1.2. Enzimas

    A maior parte da histria da bioqumica a histria da pesquisa sobre enzimas. A

    catlise biolgica inicialmente descrita e reconhecida no incio do sculo XIX, em estudos

    sobre a digesto da carne por secrees do estmago e a converso do amido em acares

    simples pela saliva e por vrios extratos vegetais. Na dcada de 50, Louis Pasteur concluiu

    que a fermentao do acar em lcool pela levedura catalisada por fermentos. Ele

    postulou que esses fermentos depois nomeados de enzimas eram inseparveis da estrutura

    das clulas vivas do levedo, uma hiptese que prevaleceu por muitos anos. Em 1897,

    Eduard Buchner, descobriu que extratos de levedo podiam fermentar o acar at o lcool,

    provando que as enzimas envolvidas na fermentao continuavam funcionando mesmo

    quando removidas da estrutura das clulas vivas. Desde ento numerosos estudos vm

    sendo realizados na tentativa do isolamento das numerosas enzimas diferentes e o estudo de

    suas propriedades catalticas.

    A catlise enzimtica das reaes essencial para os sistemas vivos. Sob

    condies biolgicas relevantes, as reaes no catalisadas tendem a ser lentas. A maioria

    das molculas biolgicas muito estvel no ambiente aquoso de pH neutro e temperatura

    moderada encontrado no interior das clulas. Muitas reaes bioqumicas comuns

    envolvem eventos qumicos que so muito improvveis nas condies do ambiente celular,

    como a formao transiente de intermedirios eletricamente carregados e instvel ou a

    coliso de duas ou mais molculas com a orientao precisa e necessria para que ocorra a

    reao. ( LEHNINGER, 1995).

    As reaes necessrias para digerir alimentos, enviar sinais atravs de nervos, ou

    contrair um msculo simplesmente no ocorrem em velocidade til sem catlise.

    Uma enzima contorna estes problemas fornecendo um ambiente especfico dentro

    do qual uma reao dada energeticamente mais favorvel. A caracterstica distintiva de

    uma reao catalisada enzimaticamente que ela ocorre no interior dos limites de uma

    cavidade, ou fenda, na estrutura molecular da enzima chamado stio ativo. A molcula que

    se liga ao stio ativo e que sofre a ao da enzima chamada substrato. O complexo

    enzima-substrato tem papel central na reao enzimtica, sendo ponto de partida para os

    tratamentos matemticos que definem o comportamento cintico das reaes catalisadas

    enzimaticamente e para as descries tericas dos mecanismos enzimticos.

  • 6

    2.1.3. Desnaturao

    Quando uma soluo de protena, como a albumina do ovo, aquecida lentamente

    at 600 ou 700 C, a mesma torna-se gradualmente leitosa e logo forma um cogulo. Isto

    comum j que ocorre quando fervemos ovos em gua. A clara do ovo, que contm

    albumina, coagula pelo aquecimento num slido branco. Depois que o calor coagulou a

    clara no sofre redissoluo pelo resfriamento, nem forma outra vez uma soluo lmpida

    como a original. Portanto, o aquecimento transformou a ovoalbumina e, aparentemente, de

    forma irreversvel. Esse efeito do aquecimento ocorre virtualmente com todas as protenas,

    no importando seu tamanho ou funo biolgica, embora a temperatura exata para

    provoc-lo varie. A mudana provocada pelo calor e outros agentes conhecida como

    desnaturao.

    H outra importante conseqncia da desnaturao de uma protena, que quase

    sempre, perde sua atividade biolgica caracterstica. Assim, quando uma soluo aquosa de

    uma enzima, por exemplo, aquecida at seu ponto de ebulio por uns minutos e depois

    resfriada, a enzima torna-se insolvel e, principalmente, no mais apresenta atividade

    cataltica.

    A desnaturao de protenas pode ser provocada no apenas pelo calor, mas

    tambm por valores inadequados de pH, por solventes orgnicos, por solutos como a uria,

    pela exposio da protena a alguns tipos de detergentes, pela agitao vigorosa da soluo

    protica at formao abundante de espuma, presena de certos ons ou sais caotrpicos na

    soluo que contm as protenas, oxidao, fora inica, entre outros. Cada uma das formas

    citadas como causa de desnaturao pode ser considerada como tratamento relativamente

    suave, isto , a desnaturao pode ocorrer em condies amenas, no h necessidade de

    ocorrer em condies drsticas. As molculas de protena nativa so frgeis e facilmente

    desorganizadas pelo calor e outros tratamentos aparentemente suaves.

    2.1.4. Protena Total, Atividade e Acares Redutores

    CESAR (1999) realizou anlises de protena total, acares redutores e atividade

    enzimtica de amostras preparadas da polpa do fruto, da casca e do talo para a

    caracterizao do meio inicial. As concentraes e os resultados so mostrados nas Tabelas

    1 e 2. O fruto e o talo apresentam o mesmo teor de protena total, porm o talo apresenta

    cerca de 60% menor quantidade de enzimas proteolticas. O abacaxi utilizado para as

  • 7

    anlises foi o fruto maduro, por isso apresentou uma quantidade elevada de acares

    redutores expressos em glicose, 0,2 a 0,4 g/g de abacaxi. De qualquer forma, o talo e a

    casca do abacaxi maduro tem um teor de enzima considervel para recuperao, como

    mostrado na Tabela 2, ainda mais se tratando de resduo de muitas indstrias de conservas.

    Tabela 1: Dados da concentrao das amostras de polpa do fruto, casca e talo do

    abacaxi.

    massa (g) Vgua (mL) VTOTAL (mL) Concentrao Fruto 1734,11 600 3420 507 g polpa/L Casca 850,50 1000 1074 792 g casca/L Talo 413,54 400 980 422 g talo/L

    Tabela 2: Dados de protena total, atividade e acares redutores.

    Protena Total Atividade Enzimtica Acares Redutores (mg/L) (mg/g) (U/L) Fruto 1127,00 2,22 1428,50 Casca 842,30 1,06 865,00 Talo 893,70 2,12 431,50

    2.2. Abacaxi

    2.2.1. Fruticultura Brasileira

    A fruticultura brasileira cresceu consideravelmente nos ltimos dez anos, como

    podemos observar utilizando os dados comparativos de produo dos binios 1994/1994 e

    2004/2005 apresentados na Tabela 3 .

    FRUTA 2005 2004 1994 1995 Abacaxi 2.279 2.297 1.558 1.463 Banana 6.606 6.691 7.438 7.384 Laranja 17.998 18.270 14.213 16.004 Ma 827 973 456 432 Uva 1.133 1283 807 825

    Tabela 3 - Produo de Frutas, Brasil 1994/1995 e 2004/2005 (1000 toneladas)

    Fonte: IBGE (07/2005) Fatores de converso : abacaxi: 1,6 kg/fruto; banana 13kg/cacho;

    ma 130gramas/fruta ; laranja 250 frutos por caixa com 40,8 kg.

  • 8

    No Estado de So Paulo, devido aos diferentes ciclos de maturao (desde

    muito precoces at tardias) e as diversas regies de cultivo, pode-se dizer que a poca de

    colheita das frutas se estende por nove meses at pelo ano todo. No caso das frutas de clima

    temperado e subtropical a colheita se inicia em setembro e se prolonga at junho, enquanto

    que para tropicais pode durar o ano todo.

    Em razo de sua posio geogrfica e do cultivo das variedades

    especialmente criadas ou adaptadas para as condies de inverno brando, com poucas

    horas de frio abaixo de 7,20C, a produo paulista mais precoce que as dos estados do Sul

    do Brasil, assim como de pases produtores como Argentina, Uruguai e Chile, o que traz

    vantagens econmicas, devido a ausncia de concorrentes no incio da safra. Ao mesmo

    tempo, para vrias espcies permite-se que sejam exportadas para pases do hemisfrio

    Norte quando no h produo regional tendo condies de adentrarem os mercados com

    reduo ou ausncia de tarifas aduaneiras de importao.

    2.2.2. Cultivo e Colheita

    O abacaxizeiro uma planta muito sensvel ao frio, mas resiste bem seca.

    Exige, por isso, clima quente ou mesotrmico, onde no h perigo de ocorrncia de

    geadas. A temperatura mdia favorvel situa-se entre 21 e 270C. Quando a temperatura se

    mantm acima de 320C, verificam-se danos na planta devido transpirao excessiva;

    quando a temperatura cai abaixo de 200C, a planta entra em estado de inatividade

    (MEDINA, 1978). Portanto, o Brasil possui um clima muito favorvel para a produo do

    fruto. Na Tabela 4 podemos observar que o pas encontra-se em segundo lugar no ranking

    mundial de produo do fruto, contribuindo com mais de 13% da produo mundial.

    ABACAXI PRODUO(t) PRODUO(t/ha) Mundial 15.288.018 843.231

    PRODUO (t) PRODUO (t/ha) Tailndia 1.900.000 87.000 Filipinas 1.759.290 48.230

    Brasil 1.435.190 54.683 China 1.320.000 70.500 ndia 1.300.000 90.000

    Tabela 4: Produo mundial de abacaxi em 2005. Fonte: FAO (2005). Atualizado em fevereiro/2005.

  • 9

    Os frutos colhidos durante o vero apresentam melhor qualidade do que os

    amadurecidos durante o inverno. Aqueles se apresentam mais aromticos e mais ricos em

    slidos solveis, menos cidos e com maior contedo de leos volteis.

    O momento da colheita depende do fim a que se destinam os frutos. Se for

    para a fabricao de conservas, deve-se aguardar at que os frutos fiquem maduros, ou seja,

    o momento em que suas qualidades organolpticas sejam timas. Mas, se destina-se

    exportao como fruta fresca, a colheita deve ser feita com antecipao para que sua

    maturao total no ocorra at o momento em que seja ofertado ao consumidor. preciso,

    contudo, neste caso, no colher frutos demasiado verdes.

    A colorao da casca habitualmente tomada como indicao para julgar se

    um fruto est ou no maduro. A madureza da polpa e a colorao da casca ocorrem

    progressivamente, iniciando-se ambas pela base do fruto e se estendendo paulatinamente

    para o pice. Tal avaliao, contudo, muito mais difcil do que parece primeira vista,

    pois h necessidade de se levar em conta o tamanho do fruto, as condies ecolgicas, por

    ocasio da sua maturao e variedade do produto.

    O abacaxizeiro frutifica dentro de 24 meses aps o plantio, quando as mudas

    so do tipo coroa. De modo geral, pode-se obter 15 a 20 mil frutas por hectare, por safra,

    servindo este valor como mdia para as variedades.

    A poca da colheita est intimamente relacionada poca de plantio e ao

    tipo e idade da muda. O plantio no Estado de So Paulo feito de dezembro a fevereiro, no

    perodo que coincide com a colheita das frutas (poca de maior produo) e,

    conseqentemente, poca favorvel para obteno de mudas.

    As colheitas das frutas de um abacaxizal no podem ser feitas por meios

    mecnicos, pois as frutas no amadurecem todas ao mesmo tempo. Todavia, no Hava e em

    outras regies onde a cultura do abacaxi feita com alto nvel tcnico, os trabalhos de

    colheita so grandemente facilitados graas utilizao de uma esteira rolante, na qual as

    frutas so colocadas e transportadas para fora dos talhes to logo sejam colhidas.

    No Brasil, o trabalho de colheita geralmente feito com auxlio de um faco,

    com o coletor tendo as mos protegidas por luvas de lona grossa. Enquanto com a mo

    esquerda segura o fruto pela coroa, com a direita secciona, com o faco, a haste a 5-6 cm

    abaixo da fruta. As frutas colhidas vo sendo entregues a outro coletor, que encarregado

  • 10

    de transport-las em cestas at a margem do carreador. Necessita-se, em mdia, trs

    carregadores para cada colhedor. A produtividade mdia de 30.000 a 40.000

    frutos/ha/ano.

    Em geral, a comercializao do abacaxi feita com o fruto ainda no campo,

    antecipadamente e a granel. Leva-se em conta o tamanho e a aparncia do fruto, de acordo

    com os padres das variedades. Para os grandes mercados consumidores ao natural, seguem

    os frutos de primeira qualidade, sadios e com peso igual ou acima de 1,5 kg. Os que no

    atingem esse padro so vendidos nos mercados locais, perto das regies produtoras, ou so

    destinados industrializao.

    2.2.3. Caracterizao da Fruta

    Em vista da grande comercializao do abacaxi, tanto no mercado interno como

    internacional, e tambm para a indstria, e cuja produo agrcola vem aumentando de ano

    para ano, os produtores devem procurar manter um padro de qualidade da fruta a fim de

    garantir sua comercializao.

    Para isso, necessrio que sejam observadas as seguintes caractersticas:

    -COR: a cor revela nas frutas o seu grau de maturao, o que, apesar de ser uma

    apreciao subjetiva, permite distinguir a qualidade do produto. O abacaxi dever

    apresentar uma colorao uniforme, porm sem estar muito maduro, o que indesejvel,

    tanto para a indstria como para o mercado consumidor.

    -TAMANHO: a uniformidade de tamanho bastante importante, principalmente

    para a indstria, onde os diferentes comprimentos e dimetros das frutas afetam a

    regulagem das mquinas (ginaca, principalmente).

    - SABOR: importante conhecer a relao Brix/acidez total titulvel da variedade

    que vai ser comercializada ou industrializada. Essa relao varia de ano para ano, de acordo

    com as condies climticas (principalmente), e tambm com a estao do ano. H,

    portanto, grandes variaes entre as safras de vero e de inverno .

    -FORMA: esta caracterstica afeta o descascamento mecnico e, portanto, o

    rendimento, devendo ser a fruta de forma cilndrica para evitar uma perda excessiva de

    polpa nessa operao. A variedade Smooth Cayenne de origem havaiana, apresenta frutas

  • 11

    mais uniformes e cilndricas do que a variedade Prola (brasileira), que vem facilitar e

    muito o trabalho das ginacas e um menor desperdcio de fruto na indstria de compotas.

    2.2.4. Composio Qumica

    O abacaxi apresenta uma variao muito grande na sua composio qumica, de

    acordo com a poca em que produzido. De modo geral, a sua produo ocorre no vero,

    sendo sua colheita uniformizada atravs da induo qumica do seu florescimento.

    Neste caso, as frutas apresentam maior teor de acares e menor acidez. Por outro

    lado, as frutas produzidas fora de poca, ou seja, as frutas tempors , apresentam alta acidez

    e baixo teor de acares, visto a produo ocorrer nos meses que a temperatura ambiente

    baixa .

    O valor nutricional das frutas de abacaxi depende, principalmente, dos seus

    acares solveis, das vitaminas e dos sais minerais que contm, uma vez que os teores de

    protenas e de lipdeos so relativamente baixos.

    O abacaxi uma fruta deliciosa, muito apreciada em todos os pases tropicais; sua

    polpa sucosa, saborosa e ligeiramente cida muito refrescante. Ao lado das qualidades

    organolpticas, que o distinguem universalmente, h seu alto valor diettico, comparvel

    ao das melhores frutas tropicais. O suco de abacaxi um alimento energtico, pois um copo

    do mesmo propicia cerca de 150 calorias ao organismo humano. O teor de acares varia

    em geral em torno de 12 a 15%, dos quais aproximadamente 66% so de sacarose e 34%

    de acares redutores. As cinzas, que apresentam 0,4-0,6% do peso total, so ricas em

    bases, principalmente em potssio, ao qual seguem o magnsio e clcio, geralmente em

    partes iguais, e essas caractersticas permanecem em sua maioria nos resduos triturados do

    abacaxi para o processamento da bromelina, sendo ento este resduo de grande interesse

    por suas caractersticas de alta riqueza nutricional.

    2.2.5. Processamento da Fruta

    O comrcio mundial de abacaxi in natura atingiu 700 mil toneladas, e o comrcio

    de abacaxi transformado em suco ou conserva equivalente a quatro milhes de toneladas

    de frutas frescas (AGRIANUAL, 2000).

    O fruto presta-se tanto para consumo ao natural como para processamento

    industrial em suas mais diversas formas (pedaos em calda, suco, pedaos cristalizados,

  • 12

    gelias, licor, vinho, vinagre e aguardente). Como subproduto da sua industrializao,

    pode-se obter lcool, cidos ctrico, mlico e ascrbico, raes para animais e bromelina

    (enzima proteoltica de uso medicinal). O talo da planta pode ser aproveitado para extrao

    de bromelina, sendo tambm fonte de amido. As folhas podem ser utilizadas para a

    obteno de fibras. De alto valor diettico, a polpa do abacaxi energtica (150 calorias por

    copo de suco); contm boa quantidade das vitaminas A e B1 e da C, no contendo a D.

    Contm, ainda, a bromelina que favorece a digesto.

    A fruta em calda, que o principal produto industrializado do abacaxi, ocupa,

    atualmente, a segunda posio em vendagem no mercado internacional, logo em seguida do

    pssego em calda.

    As tcnicas industriais de preparo de fatias e pedaos para enlatamento so

    conhecidas internacionalmente. Linhas completamente automatizadas encontram-se em

    vrias fbricas espalhadas pelo mundo tais como Hava, Formosa, Filipinas, Tailndia,

    Austrlia, frica do Sul e outros pases, no mundo todo.

    Essas linhas, com capacidade de 80 a 120 frutas por minuto, apresentam,

    atualmente, rendimentos prximos de 46% de partes slidas da fruta para enlatamento.

    2.2.6. Produtos e Subprodutos do Processamento.

    Na grande indstria do abacaxi, a industrializao da fruta integrada. Isso

    significa que no existe uma indstria trabalhando com um ou dois produtos, mas procura-

    se tirar o mximo de rendimento da fruta em relao ao produto principal (fruta em calda)

    e aos produtos de carter secundrio (como o caso do suco simples e do suco

    concentrado), e mesmo os subprodutos, como o caso especfico do suco da casca e

    resduos e da rao, esta ltima utilizada na alimentao animal.

    O processamento tem incio com a lavagem das frutas, que chegam do

    campo em grandes recipientes ou carretas, j desprovidas da coroa que pode ser utilizada

    para o replantio da fruta. A seguir, as frutas so conduzidas por meio de transportadoras

    para uma seo superior onde a lavagem completada. Um sistema de transportadores

    conduz as frutas lavadas para um segundo pavimento, no qual, feito um corte em uma das

    extremidades da fruta. Essa operao tem por finalidade principal eliminar as partes

    restantes da coroa e talo, a fim de facilitar o trabalho posterior da mquina ginaca. Essas

  • 13

    partes eliminadas, seguem, por meio de um transportador, para a linha de processamento de

    rao.

    Na etapa seguinte, ainda no segundo pavimento, as frutas so selecionadas

    por tamanho, seleo esta que feita por meio de roscas sem fim, dispostas de tal forma

    que permitem a classificao das frutas em trs tamanhos distintos: grande, mdio e

    pequeno.

    As frutas de tamanho mdio constituem aproximadamente 60 a 65% do total

    de abacaxis que entram na usina de processamento.

    O processo tem por finalidade dar um fluxo contnuo s fases posteriores,

    reduzindo assim a capacidade ociosa da ginaca. Esta mquina cujo nome foi dado em

    homenagem a seu inventor o engenheiro havaiano de sobrenome Ginaca, completamente

    automatizada e de grande capacidade (80-120 frutas por minuto), executando uma srie de

    operaes sucessivas, e que so as seguintes: - corte das extremidades, descascamento da

    fruta e encaminhamento do cilindro etapa seguinte do processamento. O equipamento

    tambm dotado de um dispositivo raspador, que erradica a polpa da casca e das

    extremidades do fruto. A maior parte deste material erradicado (polpa erradicada) se

    destina produo de crush (espcie de salada de frutas) e uma pequena parte produo

    de suco .

    Nas ginacas de produo mais antiga tambm havia um dispositivo para

    remoo do miolo do cilindro da fruta

    Dentro de um sistema mais moderno, conhecido como sistema de

    processamento de abacaxi em dois dimetros da Honiron, a remoo da parte central

    do cilindro da fruta feita em fase posterior. Esse sistema permite maior rendimento

    industrial em termos slidos, pois o cilindro cortado em fatias quando ainda inteiro, isto ,

    com miolo, e estas apresentam maior resistncia mecnica remoo do miolo, reduzindo-

    se assim, o nmero daquelas quebradas.

    Nas diversas linhas de ginaca geralmente encontradas nas grandes indstrias

    de abacaxi do mundo, a mquina usualmente regulada para o processamento de frutas dos

    trs tamanhos anteriormente mencionados.

    Pode-se ento observar, uma boa fonte da matria-prima a ser utilizada no

    processo de recuperao e purificao de enzimas do abacaxi, visto que, uma das maiores

  • 14

    dificuldades da indstria de processamento do fruto a venda do suco, obtido como

    subproduto e posteriormente reprocessado, tratado, pasteurizado e embalado para

    comercializao em um mercado que no responde produo de suco devido ao seu alto

    custo ocasionado pelo tratamento.

    Do total de frutos produzidos nos Estados Unidos da Amrica em 2003,

    aproximadamente 73% foram industrializados (FAO, 2005) e os restantes 27% consumidos

    na forma fresca. Do total mundial industrializado, 46% foram comercializados no mercado

    mundial, com seu valor de mercado quintuplicado graas aos custos de processamento,

    embalagem e distribuio.

    O Brasil diferencia-se completamente dos grandes produtores e consumidores

    mundiais de abacaxi, pois quase toda sua produo consumida na forma fresca, sendo a

    quantidade industrializada insignificante (BERTEVELLO, 2001). Portanto, uma das

    principais fontes de matria prima para a extrao de enzimas no Brasil, no seriam os

    subprodutos do processamento e sim os resduos agrcolas, especialmente a sua haste (stem)

    que tem demonstrado bons resultados nos mais recentes estudos de extrao e purificao

    (RABELO, 2004) e nas aplicaes teraputicas da Bromelina (MYNOTT, 1999).

    Uma maneira que vem sendo estudada para a utilizao dos subprodutos a

    silagem dos resduos do abacaxi. A silagem de resduos industriais de abacaxi, por

    apresentar caractersticas nutricionais prximas da silagem de milho, poderia substitu-la

    como fonte de volumoso para animais em confinamento. Alm da qualidade nutricional,

    um produto de baixo custo por ser considerado um resduo, diferente de outros

    freqentemente utilizados, como por exemplo, a silagem de milho, que apresenta altos

    valores no perodo de entressafra do milho, sendo que neste perodo tambm h queda na

    produo de forragem. Dessa maneira, o produtor passaria a dispor de mais uma alternativa

    de produto, seja durante o perodo de escassez de forragem, ou como alimento para

    confinamento.(PRADO et all, 2003).

    A composio qumica da silagem de resduos industriais de abacaxi varia em

    funo do tipo de resduo gerado, ou seja, de acordo com o produto da indstria, compondo

    assim, o resduo, de diferentes partes da planta ou do fruto. RODRIGUES & PEIXOTO

    (1990) utilizaram frutos descartados sem coroa, cascas e miolos, como resduo ensilado, e

    obtiveram valores de 12,93% de matria seca (MS); 3,95% de protena bruta (PB); 62,76%

  • 15

    de fibra em detergente neutro (FDN) e 41,27% de fibra em detergente cido (FDA). Em

    outro trabalho, RODRIGUES & PEIXOTO (1990), utilizando outro tipo de resduo, no

    ensilado, composto de frutos descartados, casca, miolo e coroa. Por outro lado, alguns

    trabalhos tm sido desenvolvidos com o uso de resduos de plantas de abacaxi aps

    colheita. Este resduo constitudo da parte superior da planta do abacaxi aps a colheita do

    fruto. MLLER (1978) observou que a composio qumica dos resduos das plantas do

    abacaxi e dos resduos da indstria de conserva nutricionalmente diferente.

    Todos estes dados reforam a idia que subprodutos poderiam ser usados na

    alimentao animal, principalmente pelo fato de contriburem para minimizar os custos de

    produo, lembrando sempre que a silagem oriunda de frutos contm alta porcentagem de

    gua, que acaba dificultando o transporte dos mesmos, devendo a propriedade localizar-se

    prxima indstria geradora de resduos. Da mesma forma, este produto pode apresentar

    deficincia em energia e protena ou ambos, exigindo o fornecimento de uma fonte de

    suplementao adequada (PRADO, 2003)

    Segundo Prado (2003) a silagem de resduos industriais de abacaxi apresentou

    composio qumica e caractersticas fermentativas (cor, odor e pH) favorveis, podendo

    ser utilizada como alimento alternativo para terminao de bovinos de corte, em

    confinamento, sem alterar o desempenho do animal ou o rendimento da carcaa.

    2.3. Consumo de Bromelina.

    Para a utilizao de bromelina, a indstria alimentcia no se apresenta

    como um mercado atrativo pois, vem sendo largamente utilizada a papana no amaciamento

    de carnes e a grande barreira seria romper o cartel de indstrias produtoras da enzima, pois

    o consumidor s compra a carne amaciada ou o amaciante de carnes sem preocupar-se com

    o princpio ativo do produto. Tambm, atualmente a frica do Sul vem produzindo e

    exportando papana a preos muito reduzidos.

    A indstria de cervejas, onde a bromelina pode ser usada como clarificante,

    aboliu a utilizao da mesma, alegando que esta enzima produz resduos de difcil retirada

    dos tanques de armazenagem do produto.

    A concentrao principal est na indstria farmacutica brasileira. Bromelina uma mistura que contm enxofre, protena da enzima digestiva (enzima proteoltica ou

    protease), obtida no caule da planta do abacaxi. Bromlia foi reconhecida como agente

  • 16

    medicinal em 1957 e, desde ento, mais de 200 documentos integraram a literatura

    medicinal. A Bromelina tem sido muito bem documentada pelos seus efeitos em todas

    condies inflamatrias, alm de ter sua eficcia provada em vrios outros problemas de

    sade tais como: angina, indigesto e problemas respiratrios.

    Introduzida pela primeira vez como composto teraputico em 1957, a ao da

    bromelina inclui: inibio da agregao plaquetria, atividade fibrinoltica, ao

    antiinflamatria, ao antitumoral, modulao de citocinas e imunidade, propriedade

    debridante de pele, aumento da absoro de outra drogas, propriedades mucolticas;

    facilitador da digesto, acelerador da cicatrizao, melhora da circulao e sistema

    cardiovascular. Bromelina bem absorvida por via oral e a evidncia disponvel indica que

    sua atividade teraputica aumenta com as doses mais altas. Apesar de todos os seus

    mecanismos de ao ainda no estarem totalmente esclarecidos, foi demonstrado que um

    seguro e efetivo suplemento. A bromelina parece ter tanto ao direta quanto indireta,

    envolvendo outros sistemas enzimticos, ao exercer seus efeitos antiinflamatrios.

    (MATTOS, 2005).

    A bromelina, uma protease sulfdrica presente nesta espcie, , talvez, o enfoque

    cientfico mais estudado. Isto se d pela importncia desta protena na farmacologia, onde

    foi registrada sua interferncia no crescimento de clulas malignas, inibio de cogulos,

    atividade fibrinoltica e ao antiinflamatria (TAUSSIG & BATKIN, 1998). O Ananas

    comosus um produto fitoterpico com ao mucoltica e fluidificante das secrees

    brnquicas e das vias areas superiores (HEBRON, 2005). Contribui para a melhor

    fluidificao das secrees mucosas do paciente, graas s propriedades mucolticas e

    fluidificantes destas enzimas, conforme pesquisas realizadas pela Universidade Federal de

    Pernambuco, Universidade de Pernambuco e Universidade Federal da Paraba. As enzimas

    bromelina, ribonuclease, glucose oxidase, invertase e diastase contidas no Ananas comosus,

    catalizam a quebra de ligaes entre as ligaes peptidicas, pela incorporao de molculas

    de gua, facilitando, assim a fluidificao do muco espesso.

    A bromelina uma endopeptidase que no necessita de sistema precursor para

    desempenhar suas atividades farmacolgica e teraputica. Alm disso, o Ananas comosus

    contm os ctions divalentes dos oligoelementos magnsio, mangans, zinco, ferro e clcio,

    que atuam como cofatores nas funes das referidas enzimas.

  • 17

    As enzimas proteolticas so aplicadas em formulaes tpicas com a finalidade de

    reduzir a espessura da camada crnea da pele por hidrolisar, em pontos especficos, a

    queratina cutnea. um peeling mais suave e seguro, comparado aos tradicionais peelings

    qumicos, e mais eficaz que os mtodos fsicos comumente usados em formulaes

    cosmticas (RACINE, 2004).

    A Bromelina tambm usada em forma de soluo para preparao de suspenso

    de hemcias a ser utilizada na tipagem sangunea .

    O principal foco industrial da produo de bromelina a indstria faramcutica

    que um dos setores que mais investe em tecnologias e novos produtos, tendo realizado

    uma previso de investimentos no perodo de 1997 2000 de US$ 1.300 milhes

    (ABIFARMA). Reflexos do plano econmico, do primeiro mandato do governo de

    Fernando Henrique Cardoso, que melhorou substancialmente o poder aquisitivo dos

    brasileiros que esto investindo em sade e medicamentos, o que vem refletindo no

    aumento da expectativa de vida pois, segundo o IBGE, o nmero de idosos atualmente o

    dobro do registrado em 1980 (CESAR, 2000).

    Ainda segundo Csar (2000), at bem pouco tempo atrs um novo remdio que era

    lanado no mercado brasileiro no tinha a sua frmula protegida. Ento, logo que era

    lanado, sem proteo legal, um concorrente logo aparecia. A proteo legal muito

    importante na indstria de farmacolgicos pois chega-se a gastar 15 anos com pesquisas, o

    que gera um investimento de capital em torno de US$ 700 milhes . Com esta proteo

    que dura 20 anos at a patente ser de conhecimento pblico.

    2.4. Separao e Purificao de Protenas

    Muitas tcnicas tem sido utilizadas para a recuperao e purificao de

    protenas e enzimas de origem animal, vegetal ou microbiana. Tcnicas mais antigas como

    a precipitao, extrao com solventes e filtrao geralmente tem alto poder de

    concentrao e baixa purificao e tcnicas mais modernas com a cromatografia de

    afinidade, troca inica ou gel-filtrao, eletroforese, extrao em duas fases aquosas,

    extrao com micela reversa, recuperam e purificam, muitas vezes at a homogeneidade.

    O processo de separao e purificao de bioprodutos, tambm chamado

    downstream processing, atualmente um segmento muito importante na indstria, pois

  • 18

    pode chegar a representar de 80 a 90% do custo de produo. Portanto, o desenvolvimento

    de um processo eficiente e de baixo custo de extrema importncia (BELTER et al, 1998).

    A grande questo ao iniciar um processo de purificao o grau de pureza exigido

    para a protena. Protenas para fins teraputicos ou de uso direto em humanos necessitam de

    um alto grau de pureza, o que no necessrio para as enzimas que sero aplicadas em

    processos industriais. Em uma purificao em larga escala, o processo normalmente

    consiste de 4 a 6 etapas que podem ser divididas em dois grupos. O primeiro formado

    pelos processos de recuperao da protena: separao e ruptura de clulas, separao dos

    fragmentos e concentrao da protena. No segundo grupo o objetivo purificar a protena,

    utilizando-se das etapas de pr-tratamento ou isolamento primrio, purificao de alta

    resoluo e refinamento final.

    A purificao de protenas encontra muitas dificuldades, do ponto de vista tcnico, e

    exige um elevado nmero de etapas. Por exemplo, a remoo dos fragmentos das clulas

    difcil devido ao pequeno tamanho das partculas e viscosidade da soluo. As etapas de

    concentrao podem levar a baixos rendimentos e reprodutibilidade limitada. Os

    procedimentos de alta purificao, como a cromatografia, limitado pela escala de

    operaes e pelo custo das resinas. Por isso, a extrao lquido-lquido vem despertando

    tanto interesse a fim de ser utilizada como uma etapa intermediria de separao, que

    substitui mtodos de separao mais caros ou diminui o nmero de etapas de separao

    necessrias ao processo (RABELO, 1999).

    A purificao e separao de protenas baseadas nos princpios de partio em

    sistemas de duas fases aquosas tem sido muito desenvolvido nos ltimos anos. Esta tcnica

    de extrao parece ser especialmente adequada para as primeiras etapas dos procedimentos

    de separao, mas pode substituir etapas cromatogrficas ou ser aplicada antes da

    cromatografia. (HUSTEDT et al, 1985).

    2.4.1. Precipitao por Etanol

    A separao de protenas de meios aquosos por precipitao um dos mtodos

    mais tradicionais para a recuperao e parcial purificao dessas biomolculas. Este mtodo

    implica na alterao da estrutura tridimensional da protena, desconformando-a, e pode ser

    agressivo, sendo aplicado somente quando a ressolubilizao do precipitado possvel. Os

    precipitados de protenas so agregados de molculas proticas, grandes o suficiente para

  • 19

    serem decantados ou centrifugados. uma tcnica de fcil ampliao de escala e com

    viabilidade para operao contnua a custos aceitveis para grandes volumes. Porm, uma

    tcnica mais de concentrao do que propriamente de purificao.

    A solubilidade das protenas depende da distribuio de grupos ionizveis, zonas

    hidrofbicas e hidroflicas na superfcie da molcula. Tais caractersticas so responsveis

    por interaes polares com o solvente aquoso, interaes inicas com os sais presentes no

    meio, alm da repulso eletrosttica entre molculas de mesma carga. A presena de sais,

    solventes orgnicos e o pH so fatores importantes na solubilidade das protenas (SCOPES,

    1994).

    A adio de solventes orgnicos miscveis tais como etanol, metanol ou acetona a

    um meio aquoso contendo protenas causa uma variedade de efeitos, os quais, combinados

    provocam a precipitao da protena. O solvente destri a camada de hidratao hidrofbica

    em torno das zonas hidrfobas e passa a circundar tais regies devido maior solubilidade

    destas em meio ao solvente. Com isso, as regies carregadas com carga positiva ou

    negativa da superfcie da protena podem interagir, atraindo-se umas s outras, formando

    agregados. As interaes do solvente com as zonas hidrfobas internas causam uma

    desconformao irreversvel da protena. Isto pode ser minimizado pela reduo da

    temperatura at valores da ordem de zero ou abaixo, pois a baixas temperaturas a

    flexibilidade da molcula menor, reduzindo a capacidade de penetrao do solvente e a

    desnaturao irreversvel das protenas, sendo que, os lcoois de cadeia mais longa

    apresentam maior efeito desnaturante do que os de cadeia mais curta (SCOPES, 1994).

    Uma carga global prxima a zero na superfcie da protena, o que acontece no

    ponto isoeltrico das protenas (pH =pI= ponto isoeltrico), minimiza a repulso

    eletrosttica podendo causar precipitao por interao entre as zonas hidrofbicas, e esse

    processo chama-se precipitao isoeltrica, e realizado apenas com a correo do pH. De

    modo geral, a precipitao por qualquer mtodo escolhido facilitada no ponto isoeltrico

    da protena. A adio de sais neutros, principalmente (NH4)2 SO4 a elevadas concentraes

    1,5 a 3,0 M, reduz a disponibilidade da gua devido hidratao dos ons, criando

    condies para a precipitao, a qual ocorre principalmente por interao das zonas

    hidrfobas. O sal e outros precipitantes no provocam a precipitao de todas as protenas

    pois o seu efeito o de reduzir a solubilidade. Com isso, a concentrao de sal ou solvente

  • 20

    que provoca a precipitao varia com a concentrao da protena e a presena de outras

    protenas contaminantes. Este fato aproveitado para a realizao de um fracionamento.

    A precipitao uma operao unitria muito comum, e amplamente utilizada na

    separao de protenas. A vantagem da utilizao do etanol como agente de precipitao

    encontra-se na abundncia e baixo custo deste solvente, tornando a recuperao da enzima

    economicamente interessante, alm do fato de que o etanol pode ser reciclado ao processo

    por uma operao de destilao, reduzindo impactos ambientais pela liberao de efluentes,

    como o caso da precipitao com sulfato de amnio. As desvantagens do uso de etanol

    so: a necessidade de operao em baixa temperatura para minimizar a desnaturao da

    enzima, e o perigo de inflamabilidade deste solvente.

    2.4.2 Extrao Lquido-Lquido

    Uma situao comum na Engenharia Qumica a separao dos constituintes de

    uma mistura lquida homognea composta de dois ou mais componentes. Para realizar esta

    separao existem vrios mtodos cuja aplicao limitada pelas caractersticas fsicas e

    qumicas dos componentes da mistura a ser separada, pelos custos do processo de separao

    e pelas condies disponveis para a implantao do processo escolhido.

    A extrao lquido-lquido um processo que envolve a transferncia de massa

    entre dois lquidos imiscveis. Na extrao lquido-lquido, a separao de um componente

    de uma soluo lquida homognea ocorre pela adio de um constituinte lquido, insolvel

    ou parcialmente solvel, o solvente, no qual o componente a ser extrado da soluo, o

    soluto, preferencialmente solvel. O soluto difunde-se no solvente com uma velocidade

    caracterstica at atingir as concentraes de equilbrio em cada uma das fases formadas.

    Este processo de separao baseado na distribuio do soluto entre as fases e a

    miscibilidade parcial dos lquidos (RABELO, 1999).

    2.4.2.1. Sistemas de Duas Fases Aquosas

    Na escolha de meios de extrao para aplicaes em biotecnologia, vrios critrios

    devem ser considerados, j que nesta rea alguns parmetros tais quais, solubilidade e

    estabilidade dos compostos so importantes e no podem ser desprezados. Entre estes

    critrios deve-se citar (PORTO, 1998):

    - O meio no deve ser txico ao sistema biolgico nem ao homem;

  • 21

    - A recuperao do bioproduto a partir do meio extrator deve ser fcil;

    - Deve ter baixo custo e estar disponvel comercialmente em grande

    quantidade;

    - Ser possvel de esterilizar;

    - Ser imiscvel ou parcialmente miscvel com solues aquosas;

    - No deve apresentar tendncias de formao de emulses estveis com

    materiais biolgicos;

    - No ser inflamvel.

    Alm disso, em processos de extrao lquido-lquido aplicados a quaisquer

    sistemas, imprescindvel que os solventes escolhidos formem duas fases (sejam imiscveis

    ou parcialmente miscveis) e tenham densidades diferentes. Alm destes fatores a separao

    entre as fases deve ser rpida.

    Nos processos biotecnolgicos, em que se opera com biomolculas ou clulas,

    existe um nmero muito limitado de solventes adequados a serem usados. Assim, a

    introduo dos sistemas de duas fases aquosas em processos biotecnolgicos uma

    alternativa que possibilita o emprego da extrao lquido-lquido nestes processos, j que

    estes sistemas caracterizam-se por ajustar-se aos critrios requeridos pelos processos de

    bioseparao (MATIASSON et al, 1987).

    O uso de solventes orgnicos , normalmente, limitado pelas caractersticas

    hidroflicas dos produtos de fermentao, levando necessidade de utilizao de elevadas

    razes entre as fases orgnica e aquosa, devido aos baixos coeficientes de partio dos

    produtos em relao ao solvente orgnico. Alm disso, os solventes orgnicos so

    geralmente txicos para as protenas e, tambm, provocam desnaturao das mesmas.

    Sistemas de duas fases aquosas formam-se pela adio de solues aquosas de dois

    polmeros hidroflicos, como PEG (polietileno glicol) e dextrana ou de um polmero e um

    sal, como PEG e fosfato de potssio. A fase mais leve rica em polietileno glicol enquanto

    a fase mais pesada enriquecida com dextrana ou sais. Os polmeros e os sais so solveis

    em gua, mas so incompatveis entre si e se separam em duas fases (ALBERTSSON,

    1986). Eles constituem um meio conveniente e adequado para a extrao de substncias de

    origem biolgica pois a constituio das fases, entre 70% e 90% de gua, proporciona um

  • 22

    ambiente ameno para o trabalho com compostos biologicamente ativos, preservando sua

    estabilidade molecular e permitindo, assim, o seu processamento neste meio

    (COIMBRA,1995).

    A separao espontnea, em fases distintas, devido a adio de solues aquosas de

    dois polmeros foi inicialmente observada pelo microbiologista holands Beijerinck, em

    1956, ao misturar gar com gelatina ou amido solvel. A fase inferior era rica em gar e a

    superior em gelatina (ou amido). Em 1956, Albertsson constatou que sistemas formados por

    polmeros solveis e solventes orgnicos tambm possibilitam a partio de materiais

    biolgicos, ou seja, permitiam que uma terceira substncia introduzida no sistema fosse

    coletada, preferencialmente, numa das fases por ajuste de parmetros fsico-qumicos.

    Devido a esta particularidade os sistemas de duas fases aquosas so empregados no

    isolamento e purificao de biomolculas de importncia comercial, tais como, protenas,

    vrus, fragmentos de membranas e organelas celulares. De acordo com ALBERTSSON

    (1986), possvel ter uma separao bastante seletiva de substncias usando sistemas

    aquosos de polmeros.

    Os sistemas de duas fases aquosas formados por PEG-Dextrana- gua e PEG-Sal-

    gua tm sido, nos ltimos anos, os mais freqentemente estudados e utilizados para

    purificao de um grande nmero de biomolculas (DIAMOND et al, 1992)

    ALBERTSSON (1986) reconheceu a possibilidade de utilizarem-se sistemas de

    duas fases aquosas como um mtodo de separao aplicado a materiais biolgicos sob

    condies que preservam a sua atividade biolgica. Alm disso, os sistemas de duas fases

    aquosas so usados tambm na determinao de propriedades superficiais de biomolculas,

    tais como, carga e hidrofobicidade. Assim, ao lado de trabalhos no campo tecnolgico

    existe tambm o interesse na utilizao da partio como meio de preparao de amostras

    para uso em tcnicas analticas. Para tanto, so aplicados os diferentes tipos de sistemas de

    duas fases aquosas existentes.

    A variada faixa de aplicabilidade dos sistemas de duas fases aquosas tem estimulado

    o estudo a fim de estabelecer fundamentos para o trabalho com estes sistemas, alm de

    identificar os mais adequados para a separao de diferentes biomolculas. (GUAN et al,

    1993)

  • 23

    ALBERTSSON (1971) comparou sistemas de duas fases aquosas com os solventes

    mais convencionais, de acordo com a natureza hidrofbica, hidroflica. A fase rica em sal

    mais hidroflica e a fase rica em PEG( polietilenoglicol) mais hidrofbica.

    Considera-se que a separao de molculas, incluindo protenas, em sistemas de

    duas fases aquosas dependente das caractersticas da superfcie molecular dos compostos

    a serem particionados tais como: carga, tamanho e propriedades hidrofbicas.

    A extrao com sistemas de duas fases aquosas oferece certas vantagens para o

    processamento em larga escala. Algumas delas so: o elevado rendimento, a faixa de

    trabalho prxima do equilbrio, a fcil ampliao de escala (scale up) e o processamento

    contnuo. Com isto, o interesse na aplicao de sistemas de duas fases aquosas deixou de se

    restringir biologia celular para concentrar-se na anlise dos fundamentos da separao de

    fases e da partio de protenas, na reduo dos custos do processamento, no aumento da

    seletividade da extrao (por exemplo, pela adio de ligantes), na pesquisa de novos

    componentes formadores das fases, especialmente para substituir a dextrana, que um

    componente de elevado custo, e na operao em mltiplos estgios (COIMBRA, 1995).

    2.4.2.2. Tipos de Sistemas de Duas Fases Aquosas.

    Existem vrias substncias que podem formar duas ou mais fases aquosas ao se

    misturarem. Estas substncias podem ser polmeros ou compostos de baixo peso molecular,

    como os sais, que permitem a separao de fases.

    Os sistemas de duas fases aquosas podem ser divididos em quatro grandes grupos

    (ALBERTSSON, 1986):

    a) dois polmeros no inicos

    exemplos: PEG/ficoll, PEG/Dextrana, PEG/polivinil lcool, polipropileno

    glicol/dextrana, metil celulose/hidroxipropildextrana, ficoll/dextrana;

    b) um polieletrlito e um polmero no inico

    exemplos: sulfato dextrana de sdio/polipropileno glicol, carboximetildextrana de

    sdio/PEG, carboximetilcelulose de sdio/ metil celulose;

    c) dois polieletrlitos

  • 24

    exemplos: sulfato dextrana de sdio/carboximetildextrana de sdio,

    carbometildextrana de sdio/carboximetil celulose de sdio;

    d) um polmero no inico e um composto de baixo peso molecular

    exemplo: polipropileno glicol/fosfato de potssio, PEG/fosfato de potssio,

    metoxipolietileno glicol/fosfato de potssio, polipropileno glicol/glicose, PEG/glicose,

    PEG/sulfato de magnsio, PEG / citrato de sdio.

    H ainda novos sistemas formados por PEG/FeSO4 e PEG/Na2SO4 que apresentam

    algumas vantagens em relao aos sistemas com sais de fosfato e citrato, como, por

    exemplo, o baixo nvel de PEG na fase salina, que reduz as perdas do PEG e facilita a

    purificao das biomolculas e a reciclagem do PEG. Nesse tipo de sistema foi observado

    que a concentrao de sal na fase PEG e a concentrao na fase salina tendem a diminuir

    com o aumento da temperatura (PATHAK et al, 1991).

    Apesar da grande variedade de sistemas de duas fases aquosas, a quantidade de

    sistemas realmente aplicveis para extrao lquido-lquido fica reduzida basicamente aos

    formados por PEG/sal (fosfato/citrato/sulfato) e PEG/dextrana, quando se levam em

    considerao fatores importantes do ponto de vista industrial, como custo e possibilidade de

    reciclagem dos reagentes, tempo de separao das fases, possibilidade de esterilizao,

    atoxicidade e faixa de aplicao. Devido a tais fatores, os estudos mais recentes tendem a

    concentrar-se mais nesses dois sistemas, sendo o sistema PEG/sal o mais estudado devido

    ao seu baixo custo e menor tempo de separao das fases em relao ao sistema

    PEG/dextrana (COIMBRA, 1995).

    2.4.2.3. Sistema PEG/Sal

    A formao de sistemas PEG/sal foi primeiro observada por Albertsson nos anos

    50, mas os fundamentos tericos ainda no so bem explicados.

    Eles foram introduzidos para a aplicao prtica da separao de protenas em larga

    escala devido maior diferena de densidade entre as fases, menor viscosidade e menores

    custos; levando a uma separao mais rpida que para os sistemas PEG/dextrana. A

    aplicao industrial de sistemas PEG/sal foi incentivada e desenvolvida pela

    disponibilidade de separadores comerciais que permitam separaes de protenas

    continuamente e de forma mais rpida. (KULA, 1990 e FRANCO,1992).

  • 25

    Para sistemas PEG/sal, os efeitos de salting out parecem atuar aumentando o

    comprimento da linha de amarrao, retirando as protenas da fase salina para a fase rica

    em PEG, ou, se a solubilidade da protena na fase rica em PEG no for suficiente, elas

    tendem a precipitar na interface. Os limites de solubilidade e salting out so dependentes

    das protenas, portanto uma resposta diferencial esperada quando uma mistura de

    protenas manipulada (KULA,1982).

    2.4.2.4. Polietileno Glicol

    O polietileno glicol, HO-(CH2CH2)n-CH2CH2OH, um polister sinttico neutro,

    linear ou de cadeia ramificada, disponvel numa grande variedade de pesos moleculares, de

    poucas centenas milhares de daltons. Solubiliza-se em gua e em diferentes solventes

    orgnicos. A sua solubilizao em gua atribuda ligao das molculas de gua a

    muitas ou todas as molculas em torno da cadeia de polietileno. Essa ligao ocorre pelo

    mecanismo de pontes de hidrognio. Ligaes deste tipo so relativamente fracas e podem

    ser quebradas de vrias maneiras.

    O PEG tambm conhecido pelos nomes comerciais de poliglicol E, carbowax E, dependendo da empresa que o fabrica. Para pesos moleculares acima de 20000 daltons so denominados xidos de polietileno, PEO. So fornecidos na forma de

    solues incolores estveis ou pastas se possurem pesos moleculares menores que 1000.

    Os de pesos moleculares elevados, acima de 1000, so encontrados na forma de p ou de

    flocos brancos. Podem ser estocados temperatura ambiente, embora a 40 C a ocorrncia de

    oxidao em solues seja retardada. A oxidao do PEG, detectada pela diminuio do pH

    devida a liberao de grupos cidos, altera a colorao da soluo para marrom

    (COIMBRA, 1995).

    Sendo no antignico nem imunognico foi aprovado pelo FDA, Food and

    Drug Administration. Devido sua capacidade de formao de uma camada protetora, o

    PEG pode diminuir a taxa de rejeio de materiais em sistemas biolgicos em humanos.

    Devido s suas propriedades, o PEG tem uma srie de aplicaes farmacuticas, biolgicas

    e bioqumicas. Ele pode formar um composto ativado PEG-protena que mantm a protena

    ativa e diminui consideravelmente a reao imune, alm de aumentar o tempo de vida de

    soros sangneos. Ele pode ser ligado tambm a superfcies, formando uma camada

    protetora e biocompatvel, para ser empregado em aparelhos de diagnsticos, substituio

  • 26

    de artrias e dispositivos relacionados a sangue. O PEG protetor pode ser usado tambm

    para evitar a adsoro de protenas em anlises bioqumicas de eletroforese por zona

    capilar, que uma importante tcnica analtica empregada em bioqumica. Alm disso, o

    PEG pode ser usado com lipossomas para a liberao controlada e distribuio seletiva de

    medicamentos, pois os lipossomas sem o PEG podem ser rapidamente atacados e

    eliminados do corpo humano, sem cumprir a sua funo. Por ser solvel em muitos

    solventes orgnicos, o PEG pode ser utilizado para solubilizar enzimas neste meio sem

    desnatur-las atravs da formao de uma camada protetora. Alm disso, compostos

    insolveis em gua podem tornar-se solveis quando ligados ao PEG, como por exemplo

    substratos de enzimas, cofatores, corantes, etc. (HARRIS, 1992).

    2.4.2.5. Recuperao de Sais e Polmeros

    A possibilidade de reutilizao dos constituintes das fases deve ser considerada ao

    se efetuar o scale up pois os custos dos componentes das fases aumentam linearmente

    com a escala de produo (KRONER et al., 1982).

    A reciclagem de PEG pode ser facilmente integrada ao processo, chegando a nveis

    de recuperao em torno de 90 a 95% (HUSTEDT et al.,1988). As tcnicas de recuperao

    de PEG mais usadas so a ultrafiltrao e a extrao com solvente orgnico seguida de

    evaporao (COIMBRA, 1995).

    O descarte de sais geralmente mais problemtico. Em sistemas contendo clulas,

    cido nucleico, protenas solveis e insolveis, a separao de sais da fase primria por

    tcnicas de separao mecnica, tais como a centrifugao ou ultrafiltrao muito difcil

    de ser conduzida eficientemente. A eletrodilise considerada um mtodo geral para a

    reciclagem de sais e para a dessalinizao da fase rica em PEG (HUSTEDT et al., 1988).

    Sais tambm podem ser recuperados usando uma mistura lcool aliftico-sal-gua.

    Especificamente para a separao de fosfato de potssio, um resfriamento abaixo de 60 C

    provoca a precipitao do sal, possibilitando a sua reutilizao (PAPAMICHAEL et al.,

    1992, COIMBRA,1995).

    GREVE & KULA (1991) recentemente estudaram maneiras de reciclar a fase

    fosfato desses sistemas para minimizar a poluio ambiental. A reciclagem da fase fosfato

    foi obtida pela sua separao atravs do uso de lcoois. O PEG da fase do topo rica em

  • 27

    PEG pode tambm ser reciclado, como pode ser visto em alguns trabalhos de KULA E

    HUSTEDT, principalmente.

    2.4.3. Teoria de Formao das Fases

    Existem diversos modelos e teorias para a formao dos sistemas de duas

    fases aquosas que tentam prever a curva binodal dos sistemas polmero-polmero e

    polmero-sal. A existncia de tantos modelos deve-se ao pouco conhecimento das misturas

    lquido-lquido, principalmente de polmeros e solues eletrolticas. Na realidade no

    existe, at o momento, uma boa compreenso das teorias de misturas de lquidos.

    (CABEZAS Jr, 1996)

    A grande maioria dos modelos est contida em dois grupos bsicos: um

    grupo baseado na teoria da soluo de polmeros, e outro grupo com teorias adaptadas dos

    tratamentos termodinmicos do equilbrio de fase lquida. Dentro desses dois grupos, a

    modelagem de formao das fases pode ser dividida em quatro tipos: modelos baseados em

    expanso virial osmtica; modelos baseados na extenso da teoria de Flory-Huggins;

    modelos incorporando a teoria da equao integral como principal elemento; modelos que

    no se encaixam em nenhuma destas categorias, como o modelo de volume excludo.

    Existe ainda, o modelo Pitzer que o mais aplicvel para os sistemas polmero-sal. No caso

    dos sistemas polmero-sal, ainda no existem muitas teorias que se apliquem bem a este

    tipo de sistema, pois a maioria no considera o efeito dos eletrlitos nas solues, levando a

    um erro na modelagem da formao das fases. Alm disso, o estudo de tais sistemas ainda

    muito recente (CABEZAS Jr, 1996, WU et al, 1996, WALTER et al. 1991).

    As condies utilizadas para a modelagem da formao das duas fases so a

    igualdade dos potenciais qumicos de cada componente (o solvente, a gua, e os solutos, o

    polmero ou sal) nas duas fases aquosas e o balano de massa de cada componente, ambos

    aps o equilbrio entre as fases (CABEZAS Jr, 1996).

    O modelo de expanso virial osmtico ficou mais conhecido com o

    desenvolvimento do trabalho de Edmond e Ogston. O equacionamento matemtico e a

    interpretao fsica dos parmetros do modelo no so complicados. Existem dois tipos

    diferentes de expanso virial osmtica: uma a teoria de McMillan - Mayer e a outra a

    teoria de Hill. Na teoria de McMillan - Mayer, o solvente tratado como uma substncia

    sem caractersticas especiais, e, portanto considera-se somente a interao entre as

  • 28

    molculas do soluto, simplificando muito os mecanismos estatsticos do problema. Porm,

    aqui existe a necessidade de correo da presso pois como o solvente no importante, o

    seu potencial qumico deve ser constante e independente do soluto e portanto a presso no

    pode ser constante. Logo, para se utilizar esse modelo em condio de presso constante,

    deve-se acrescentar a presso osmtica da soluo. J a teoria de Hill no considera o

    solvente como uma substncia secundria e por isso os potenciais qumicos dos

    componentes podem ser determinados em temperatura e presso constantes (CABEZAS Jr,

    1996).

    A teoria da trelia uma idia de modelagem macromolecular de misturas lquidas

    em termos de uma trelia de cristal. A idia principal que em uma trelia as

    macromolculas e as molculas pequenas podem se distribuir e redistribuir at que todos os

    arranjos ou configuraes possam ser estudados. Basicamente um estudo estatstico de

    como essas molculas podem ser arranjadas. A teoria de Flory-Huggins utiliza-se destes

    princpios. a mais utilizada em sistemas polmero-polmero, chegando a oferecer uma

    tima aproximao da curva binodal. A sua grande vantagem em relao a outras teorias a

    simplicidade aliada qualidade de suas previses e correlaes da formao de fases. Nesse

    modelo o sistema representado por uma trelia tridimensional, onde cada lado

    preenchido com uma molcula de solvente ou um segmento de um dos polmeros. O

    problema bsico obter a expresso da energia livre de Gibbs de mistura. Existem

    tentativas de adaptar esta teoria para os sistemas polmero-sal, porm estes modelos ainda

    no esto muito ajustados para a formao de fases neste tipo de sistema (CABEZAS Jr,

    1996, WALTER et al, 1991, BROOKS et al., 1985, WU et al., 1996).

    Outra teoria muito utilizada nos sistemas polmero-polmero, para modelar a curva

    binodal, a do volume excludo, baseada em argumentos estatsticos e geomtricos: as duas

    fases esto saturadas com cada polmero, ou seja, todo o volume est ocupado pelas

    molculas dos dois polmeros e da gua de hidratao; a concentrao de cada polmero em

    cada fase determinada pela quantidade de molculas de cada polmero ajustado no

    volume da fase.

    A teoria geomtrica estatstica aplicada em sistemas polmero-polmero considera as

    seguintes hipteses: as molculas da mesma espcie esto distribudas randomicamente na

    fase homognea; a estrutura da soluo est geometricamente saturada em termos de

    tamanho e forma de todas as molculas do sistema; a existncia de interaes moleculares

  • 29

    no muda a natureza da distribuio molecular. A formao das duas fases explicada da

    seguinte forma: na situao monofsica, as molculas do soluto esto separadas e as

    molculas adicionais de soluto ainda podem ser inseridas no espao livre que existe. No

    ponto de separao de fase, as molculas do soluto esto bem prximas umas das outras e a

    soluo no aceita mais molculas adicionais de soluto. Quando a concentrao total do

    soluto aumenta, ocorre a formao de duas solues geometricamente saturadas e

    estruturalmente diferentes(GUAN et al., 1994).

    A teoria de Debye-Huckel a mais adequada para os sistemas que contm solues

    com cargas, como o caso dos sistemas polmero-sal ou sistemas polmero-polmero com

    sais. Essa teoria leva em considerao a distribuio dos ons na soluo para o clculo de

    potencial qumico e mais utilizada em solues com concentrao inica at 0,1 M, de

    onde se obtm timos resultados. medida que a concentrao inica aumenta, o desvio

    entre os resultados tericos e experimentais aumenta. Isso ocorre porque a teoria precisa

    apenas para solues diludas, onde o comportamento eletrosttico domina. Em solues

    concentradas, o comportamento eletrosttico reduzido devido presena de muitos ons

    que tendem a isolar as cargas eletrostticas entre si (CABEZAS Jr, 1996).

    O modelo virial de Pitzer um modelo que pode ser aplicado com sucesso em

    sistemas polmero-sal. Ele utiliza o excesso de energia livre de Gibbs nos sistemas

    polmero-sal, combinando os parmetros eletrostticos com a equao virial. Esse modelo

    uma extenso do modelo de Debye-Huckel, pois alm das interaes eletrostticas,

    considera-se o efeito da fora inica. Com a utilizao do termo da equao virial, o

    modelo leva em considerao tambm os solutos no-eletrlitos, como o caso dos

    polmeros, o que faz com que ele se adapte melhor aos sistemas polmero-sal (WU et al.,

    1996).

    2.4.3.1. Tempo de Separao das Fases

    O tempo de separao das fases aps a mistura dos componentes depende do tipo de

    sistema. Sistemas contendo PEG/sal possuem um tempo de separao das fases muito

    menor que os sistemas PEG/dextrana devido densidade e viscosidade do sistema. Em

    sistemas dextrana/ficoll, o tempo varia de 1 a 6 horas pela ao da gravidade, enquanto em

    sistemas PEG/dextrana esse valor cai para 5 a 30 minutos, dependendo da concentrao e

  • 30

    do peso molecular dos polmeros. Nos sistemas PEG/fosfato, o tempo de separao entre as

    fases inferior a 5 minutos (COIMBRA, 1995).

    Outro fator que tambm influencia o tempo de separao a velocidade de

    coalescncia das pequenas bolhas que se formam durante a agitao. Quando se agita um

    sistema de fases de maneira a uniformiz-lo, inicialmente ocorre a formao de pequenas

    regies ricas em cada componente. Com o tempo, essas regies aumentam e separam-se em

    duas regies distintas (BAMBERGER et al, 1985).

    A posio em relao ao ponto crtico tambm exerce influncia no tempo de

    separao das fases. Nos sistemas prximos ao ponto crtico, o tempo de separao maior

    devido a uma pequena diferena de densidade. J no caso dos sistemas muito distantes do

    ponto crtico, a viscosidade aumenta devido ao aumento da concentrao do polmero,

    tornando a separao de fases mais lenta.

    2.4.3.2. Fatores que Influenciam no Sistema de Fases

    Os principais fatores que influenciam no sistema de fases e

    conseqentemente alteram o diagrama de fases so: peso molecular do polmero,

    concentrao dos componentes do sistema e temperatura.

    Quanto maior o peso molecular do polmero, menor a concentrao

    necessria para a formao de duas fases. Isso significa que a curva binodal desloca-se no

    sentido da regio monofsica medida que o peso molecular do polmero aumenta. Para

    um sistema polmero-polmero (PEG/dextrana, por exemplo) a curva binodal torna-se cada

    vez mais assimtrica a medida que a diferena entre os pesos moleculares dos polmeros

    aumenta. O peso molecular do polmero afeta tambm o tempo de separao das fases, mas

    tal problema pode ser minimizado pela centrifugao do sistema aps a mistura das fases

    (ALBERTSSON, 1986, ALBERTSSON et al., 1994). A massa molecular afeta tambm o

    comprimento da linha de amarrao, que tende a aumentar com o aumento da concentrao

    dos polmeros (FORCINITI et al., 1991).

    A concentrao dos componentes do sistema pode afetar a viscosidade e a

    densidade do sistema, causando diferenas no tempo de separao das fases e na razo de

    volumes.

    A temperatura causa influncia no diagrama de fases, pois altera a

    composio das fases no equilbrio, deslocando a curva binodal, e modificando tambm o

  • 31

    comprimento da linha de amarrao. Em geral, o comprimento da linha de amarrao

    diminui com o aumento de temperatura. O seu efeito varia de acordo com o tipo de sistema.

    No caso de sistemas PEG/dextrana, a formao das fases facilitada em temperaturas

    baixas (menores que a ambiente) e para os sistemas PEG/fosfato, a situao oposta, pois

    temperaturas mais altas e prximas do ambiente facilitam a separao entre as fases.

    Quando o sistema est prximo ao ponto crtico, ele mais instvel devido ao

    deslocamento da curva binodal, podendo atingir mais facilmente a regio monofsica. O

    aumento da temperatura do sistema causa ainda, em um sistema PEG/sal, aumento na

    concentrao de PEG na fase polimrica e reduo da sua concentrao na fase salina. Esse

    efeito uma das razes de se trabalhar com a temperatura do sistema fixa.

    O pH e o tipo de ction tambm so variveis que podem influenciar no

    diagrama de fases. Diminuindo o valor do pH, as concentraes necessrias de polmero e

    sal de um sistema PEG/sal aumentam, deslocando a curva binodal para a direita. Esse fato

    pode ser explicado pelo aumento da razo H2PO4-/HPO42-. Para o caso do fosfato, com a

    diminuio do pH, pois como o nion monovalente menos efetivo no salting out do

    PEG (fenmeno de expulso devido ao tamanho do PEG), ser necessria uma

    concentrao maior dos componentes para formar o sistema bifsico. No caso do tipo de

    ction, a substituio de fosfato de potssio desloca a curva binodal para a direita, e

    portanto a concentrao dos componentes necessria para a formao do sistema de duas

    fases aumenta, sugerindo que o ction sdio mais eficiente que o ction potssio para o

    efeito do salting out do PEG.

    2.4.3. 3. Diagrama de Fases

    A formao das duas fases aquosas depende da concentrao dos componentes do

    sistema. O diagrama de fases mostra a regio monofsica e bifsica de acordo com a

    concentrao de cada componente expressa em % p/p.

    A curva que separa a regio de duas fases da regio de uma fase chamada curva

    binodal ou curva de equilbrio. A regio acima da curva binodal chamada bifsica e

    abaixo monofsica.

  • 32

    Figura 1: Exemplo de um Diagrama de Fases

    A Figura 1 mostra um exemplo genrico de um diagrama de fases. A composio

    inicial do sistema dada pelo ponto M e a composio final de cada fase aps atingir o

    equilbrio dada pelos pontos T (fase superior ou de topo) e F (fase inferior ou de fundo).

    O segmento TMF chamado de tie-line ou linha de amarrao, e todos os sistemas cuja

    composio inicial est contida nessa linha possuem a mesma composio de fases aps o

    equilbrio, porm com diferentes razes de volumes entre as fases: superior e inferior. J a

    linha de amarrao determinada pelo ponto N define uma nova linha de amarrao que

    aumentou proporcionalmente a concentrao entre as fases em relao linha de amarrao

    determinada por M.

    Como se pode observar, o fato de mudarmos da linha de amarrao, definida pelo

    ponto M, para a linha definida pelo ponto N, variando proporcionalmente a concentrao

    dos componentes das fases, no se obtm uma melhora significativa na recuperao e

    purificao da protena em estudo.

    %p/p PEG

    %p/p Sal

    M

    T

    F

    N

  • 33

    2.4.4. Fundamentos da Partio das Protenas

    Devido ateno que vem sendo dada produo de protenas pela engenharia

    gentica e o desenvolvimento da tecnologia de enzimas renovaram-se os interesses pelos

    processos de separao de protenas e suas descries quantitativas que servem de base

    para o scale up. Os fundamentos de partio de biomolculas entre as duas fases ainda

    no so totalmente compreendidos.

    A tendncia de separao de fases apresentada por dois polmeros, quando

    adicionados num solvente comum, ocorre porque a baixa concentrao molar dos polmeros

    na soluo (tipicamente menos que 0,05 M) leva a um pequeno ganho de entropia durante a

    mistura. Por outro lado, cadeias polimricas tm uma rea superficial por molcula maior

    do que compostos de baixo peso molecular, tanto que as energias de interao entre dois

    polmeros se sobrepem energia de Gibbs do sistema. Estes fatores levam formao de

    duas fases em sistemas ternrios polmero-polmero-gua, em baixas concentraes de

    polmer