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Extração, absorção e acúmulo de micronutrientes no milho doce cultivado em condições de campo. Ana Luiza Dias Coelho Borin 1 ; Regina Maria Quintão Lana 2 ; Hamilton Seron Pereira 3 ; Ednaldo Carvalho Guimarães 2 ; José Magno Queiroz Luz 2 . 1 Msc. Agronomia; 2 UFU – Dept° de Solos, Uberlândia – MG; 3 UFG - Dept° de Solos, Jataí – GO, e-mail: [email protected] RESUMO O milho doce é uma hortaliça voltada para o processamento industrial, sendo ainda pouco difundido para o consumo in natura pelo brasileiro, talvez pelo restrito número de cultivares adaptadas ao clima tropical. Os estudos sobre as práticas de manejo mais adequadas incluindo a dinâmica de absorção de micronutrientes pela cultura ainda são inexistentes, portanto este trabalho teve como objetivo determinar a extração, a absorção e o acúmulo de micronutrientes no milho doce cultivado em condições de campo. Foi realizado no município de Jataí-GO, em Latossolo Vermelho distrófico, utilizou-se o híbrido simples Tropical em delineamento inteiramente casualizado, constituído por nove tratamentos (9, 18, 27, 36, 47, 45, 54, 63, 72 e 81 dias após a emergência) com quatro repetições. As plantas amostradas em cada época (tratamento) foram cortadas ao nível do solo, para avaliação de toda a parte aérea, e dividida em planta e espigas que foram utilizadas para a determinação da absorção de nutrientes por planta e a translocação deles para a sua espiga. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão polinomial, em seguida foram calculadas as taxas de absorção diária dos micronutrientes, bem como as porcentagens de acúmulo de boro, cobre, ferro, manganês e zinco, que em determinados períodos do crescimento do milho, auxiliam a visualização da época de maior acúmulo pela parte aérea. A ordem decrescente de acúmulo de nutrientes na parte aérea foi: Fe > B > Mn > Zn > Cu. Já para a espiga a ordem foi: B > Fe > Zn > Mn > Cu. Palavras-chave: Zea mays L. , marcha de absorção de micronutrientes, nutrição mineral ABSTRACT - Extraction, absorption and accumulation of micronutrients in the sweet corn cultivated in field conditions The sweet corn is a vegetable addressed for the industrial processing, being still not very diffused for the natural consumption by the Brazilian, perhaps for the restricted number of varieties adapted to the tropical climate. The studies on the more appropriate handling practices, including the micronutrients absorption dynamics for the culture, are still nonexistent, therefore, this work has as objective to determine the extraction, the absorption and the accumulation of micronutrients in the sweet corn cultivated in field conditions. The

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Page 1: Extração, absorção e acúmulo de micronutrientes no milho ... · apresentados por Andrade (1975) em que o máximo acúmulo de cobre ocorreu em torno de 100 dias. Na parte aérea

Extração, absorção e acúmulo de micronutrientes no milho doce

cultivado em condições de campo.

Ana Luiza Dias Coelho Borin1; Regina Maria Quintão Lana2; Hamilton Seron Pereira3;

Ednaldo Carvalho Guimarães2; José Magno Queiroz Luz2. 1Msc. Agronomia; 2UFU – Dept° de Solos, Uberlândia – MG; 3UFG - Dept° de Solos, Jataí – GO,

e-mail: [email protected]

RESUMO

O milho doce é uma hortaliça voltada para o processamento industrial, sendo ainda pouco

difundido para o consumo in natura pelo brasileiro, talvez pelo restrito número de cultivares

adaptadas ao clima tropical. Os estudos sobre as práticas de manejo mais adequadas

incluindo a dinâmica de absorção de micronutrientes pela cultura ainda são inexistentes,

portanto este trabalho teve como objetivo determinar a extração, a absorção e o acúmulo

de micronutrientes no milho doce cultivado em condições de campo. Foi realizado no

município de Jataí-GO, em Latossolo Vermelho distrófico, utilizou-se o híbrido simples

Tropical em delineamento inteiramente casualizado, constituído por nove tratamentos (9,

18, 27, 36, 47, 45, 54, 63, 72 e 81 dias após a emergência) com quatro repetições. As

plantas amostradas em cada época (tratamento) foram cortadas ao nível do solo, para

avaliação de toda a parte aérea, e dividida em planta e espigas que foram utilizadas para a

determinação da absorção de nutrientes por planta e a translocação deles para a sua

espiga. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão polinomial, em

seguida foram calculadas as taxas de absorção diária dos micronutrientes, bem como as

porcentagens de acúmulo de boro, cobre, ferro, manganês e zinco, que em determinados

períodos do crescimento do milho, auxiliam a visualização da época de maior acúmulo pela

parte aérea. A ordem decrescente de acúmulo de nutrientes na parte aérea foi: Fe > B >

Mn > Zn > Cu. Já para a espiga a ordem foi: B > Fe > Zn > Mn > Cu.

Palavras-chave: Zea mays L. , marcha de absorção de micronutrientes, nutrição mineral

ABSTRACT - Extraction, absorption and accumulation of micronutrients in the sweet

corn cultivated in field conditions

The sweet corn is a vegetable addressed for the industrial processing, being still not very

diffused for the natural consumption by the Brazilian, perhaps for the restricted number of

varieties adapted to the tropical climate. The studies on the more appropriate handling

practices, including the micronutrients absorption dynamics for the culture, are still

nonexistent, therefore, this work has as objective to determine the extraction, the absorption

and the accumulation of micronutrients in the sweet corn cultivated in field conditions. The

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experiment was conducted in Jataí-GO and the hybrid was used simple Tropical in a

completely randomized experimental design, constituted by nine treatments (9, 18, 27, 36,

47, 45, 54, 63, 72 and 81 days after the emergency) with four repetitions. The plants

obtained in each time (treatment) were cut in the surface of the soil, for evaluation of the

whole aerial part, and divided in plant and spikes that were used for the micronutrients

absorption determination by plant and their transmigration for spike. The data were

submitted to the variance analysis and polynomial regression, soon after the daily rates of

the micronutrients adsorption were calculated, as well as the percentages of boron, copper,

iron, manganese and zinc accumulation, that in certain periods of the corn growth, they aid

the visualization of the time of larger accumulation for the aerial part. The pattern of

micronutrients accumulation followed the plants dry matter accumulation. The decreasing

order of micronutrients accumulation in the aerial part was: Fe> B> Mn> Zn> Cu. Already

for the spike the order was: B> Fe> Zn> Mn> Cu.

Keywords: Zea mays L., march of micronutrientes absorption, mineral nutrition

INTRODUÇÃO

O milho doce é uma hortaliça utilizada principalmente para o processamento industrial no

Brasil. A principal diferença entre o milho convencional e o milho doce é a presença de

alelos mutantes que bloqueiam a conversão de açúcares em amido no endosperma

conferindo caráter doce. Suas principais características são o alto teor de açúcares e o

baixo teor de amido, apresentando pericarpo delgado e características texturais

particulares do endosperma que o fazem superior ao milho comum, quando no estado

leitoso(BARBIERI, 2004). O estado de Goiás destaca-se como o maior produtor do vegetal,

objetivando um mercado para exportação. Apesar de ser um mercado crescente ainda

faltam estudos sobre as práticas de manejo mais adequadas incluindo a dinâmica de

absorção de nutrientes pela cultura, para garantir o máximo de aproveitamento das

adubações realizadas. Este trabalho teve como objetivo determinar a extração, a absorção

e o acúmulo de micronutrientes no milho doce cultivado em condições de campo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado no município de Jataí, na área experimental do campus

avançado de Jataí da Universidade Federal de Goiás (UFG). O solo da região é

caracterizado como Latossolo Vermelho distrófico e apresentava as seguintes

características químicas: pH em água igual a 5,8, matéria orgânica igual a 2,1 dag kg-1,

fósforo igual a 3,0 mg dm-3, potássio igual a 0,15 mg dm-3, cálcio igual a 2,5 Cmolc dm-3,

magnésio igual a 1,0 Cmolc dm-3, acidez potencial igual a 4,1 Cmolc dm-3, capacidade de

troca de cátions igual a 7,8 Cmolc dm-3 e saturação por bases igual a 47%. Utilizou-se o

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híbrido simples Tropical no espaçamento de 80 cm entre linhas e 4 plantas por metro linear

obtendo um stand de 50 mil plantas por hectare. O manejo do milho-doce foi o mesmo

proposto para o milho-verde comum e a recomendação de adubação foi conforme Ribeiro

et al, (1999). O experimento foi instalado utilizando o delineamento inteiramente

casualizado, com 9 tratamentos e 4 repetições. Cada tratamento correspondeu a uma

época de amostragem realizada em intervalos de 9 dias aos 9, 18, 27, 36, 45, 54, 63, 72 e

81 dias, a partir da emergência. As plantas amostradas em cada época (tratamento) foram

cortadas ao nível do solo, para avaliação de toda a parte aérea que foi dividida em planta e

espigas. Depois foram colocadas na estufa de ventilação forçada, com temperatura

controlada à 65ºC, por 48 horas, até atingir peso constante. A moagem do material vegetal

amostrado foi feita em moinho de facas de aço inoxidável, tipo Willey, para reduzir as

amostras a um pó fino (peneira de 20 a 40 mesh). Para avaliar o estado nutricional das

plantas, foram realizadas análises químicas do tecido vegetal pelo laboratório da

Universidade Federal de Uberlândia conforme metodologia descrita por Malavolta et al.,

1997. Os micronutrientes analisados foram: boro, cobre, ferro, manganês e zinco. Em

seguida foram calculados os conteúdos e as taxas de absorção diárias de cada um deles

na planta e na espiga, com a derivada primeira da equação de melhor ajuste ao conteúdo

de cada nutriente em função de dias após a emergência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A taxa diária de absorção de micronutrientes pela planta do milho foi crescente até 81 dias.

De modo geral, a máxima absorção diária dos micronutrientes coincidiu com a colheita da

espigas, provando que a espiga é colhida antes da maturação fisiológica, sendo que o

mais absorvido foi o ferro seguido do boro, manganês, zinco e cobre (Tabela 01 e Figura

01). O acúmulo de B na parte aérea, foi crescente até 81 dias após a emergência,

praticamente não ocorreu translocação de boro da planta para a espiga. Da mesma forma

para o cobre, o acúmulo foi crescente até os 81 dias, o que está de acordo com dados

apresentados por Andrade (1975) em que o máximo acúmulo de cobre ocorreu em torno

de 100 dias. Na parte aérea total, o acúmulo de ferro foi crescente até 81 dias, atingindo

1,59 kg ha-1, reafirmando os dados apresentados por Andrade (1975), mostrando que

existe um pico de acúmulo deste nutriente entre 70 e 90 dias. O acúmulo de manganês foi

crescente até 81 dias, atingindo o valor máximo de 404,95 g ha-1, o que está de acordo

com os dados de Andrade (1975), em que o máximo acúmulo de manganês ocorreu em

torno de 80 dias, com quantidade máxima acumulada de 656 g ha-1. Na parte aérea total,

considerando a translocação de Zn da planta para a espiga, o acúmulo de zinco foi

crescente até 81 dias, atingindo 224,51 g parcela-1. Pode-se concluir que o padrão de

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acúmulo de micronutrientes em ordem decrescente de na parte aérea foi: Fe > B > Mn >

Zn > Cu. Já para a espiga a ordem foi: B > Fe > Zn > Mn > Cu.

LITERATURA CITADA

ANDRADE, A.G. Acumulação diferencial de nutrientes por cinco cultivares de milho (Zea mays L.). 1975. 75 f. Dissertação, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

BARBIERI, V.H.B. Parâmetros e componentes de produção de milho doce em função do híbrido, espaçamento e população de plantas. 2004. 53 p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional de plantas: princípios e aplicações. 2 ed. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1997. 319 p. RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ, V.H.A.V. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (CFSEMG), p.359, 1999.

Conteúdo de micronutrientes na parte aérea total do

milho

0

10

20

30

40

50

60

0 9 18 27 36 45 54 63 72 81

Idade da planta - dias após emergência

Co

nte

úd

o d

e n

utr

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tes

-

mg

pla

nta

-1

Figura 01. Conteúdo de micronutrientes na parte aérea total do milho doce, cultivado no

campo, em função da idade. Jataí, UFG, 2005.

Tabela 01. Quantidade de micronutrientes acumulados na parte aérea total (planta e

espiga) e na espiga do milho doce cultivado no campo. Jataí – GO, UFG,

2005.

N u t r i e n t e

A c ú m u l o m á x i m o n a p l a n t a 1 /

A c ú m u l o m á x i m o n a e s p i g a 1 /

A c ú m u lo m á x i m o n a

p a r t e a é r e a t o t a l 1 /

T a x a m á x i m a d e a b s o r ç ã o d a p l a n t a 2 /

T a x a m á x i m a d e a l o c a ç ã o n a e s p i g a 2 /

B 9 , 8 5 7 , 0 7 1 7 , 9 1 0 , 1 7 0 , 3 0 C u 1 , 3 8 0 , 4 9 1 , 8 5 0 , 0 3 0 , 0 4 F e 4 5 , 1 9 4 , 6 3 5 0 , 2 4 0 , 6 8 0 , 2 4 M n 9 , 1 3 1 , 7 1 1 1 , 5 8 0 , 1 3 0 , 0 8 Z n 2 , 9 9 2 , 9 5 6 , 2 3 0 , 1 0 0 , 1 4 1 / m g p l a n t a - 1 p a r a o s m i c r o n u t r i e n t e s 2 / m g p l a n t a - 1 d i a - 1 p a r a o s m i c r o n u t r i e n t e s

Ferro

Boro Manganês

Cobre Zinco