extra #3 - a tecnologia na educação

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Bauru, 1 de junho de 2012 3º termo - Jornalismo/FAAC - Unesp Feiras são vitrines de novas ideias para o ambiente escolar Interdidáca 2012 reuniu cerca de 12 mil visitantes nos três dias de exposição Divulgação/Interdidática A Tecnologia Educacional envol- ve recursos pedagógicos que faci- litem o aprendizado por meio de ferramentas multimídia. A aplicação do conteúdo escolar por softwares, jogos educativos e dispositivos de interação entre usuários é uma al- ternativa moderna para atrair a aten- ção do estudante e tornar o apren- dizado mais dinâmico e prazeroso. Os métodos são eficazes, sobre- tudo em países mais desenvolvidos, onde há maior maturidade tecnoló- gica. No Brasil, a adaptação ainda é lenta e limitada por discrepâncias sócio-econômicas, mas o professor doutor Willians Balan, pesquisador em plataformas digitais, entende que a tecnologia pode ser utiliza- do de maneira complementar. “O professor expõe temas em recor- tes delimitados ao mesmo tempo em que o aluno pode ter uma vi- são mais ampla do mesmo assunto pelos acessos online, com fontes compartilhadas pelas redes sociais”, destaca. Dessa forma, “cabe tam- bém ao docente se manter atuali- zado com o que está disponível”. É o que busca fazer o professor Rodolfo Neves, idealizador do pro- jeto História Online, um site voltado para toda e qualquer pessoa que tenha interesse em História e Atualidades. Aquilo que surgiu como um simples canal de comunicação entre profes- sor e aluno tomou outras proporções e já beira um milhão de acessos. “É um portal aberto, gratuito, onde dis- ponibilizamos video-aulas, listas de exercícios, promovemos debates e interação pelas mídias sociais para conseguir reunir o maior número de pessoas através do potencial demo- crático da internet”, explica Rodolfo. A constante evolução tecnológi- ca não poderia deixar de abranger a área da educação. Lousas digi- tais, tablets recheados de aplicativos utilizáveis em sala e diversos ou- tros aparatos tecnológicos tendem a afastar o caráter conservador das escolas. A chance de usufruir dessas tecnologias, porém, parece não con- trariar a ordem social vigente. Enquanto a tecnologia aplicável às escolas avança, o cenário brasi- leiro apresenta milhares de colégios em situações precárias, tanto em relação à infraestrutura quanto no tocante à qualidade de ensino. Es- ses colégios não têm condições de bancar tais tecnologias, e ficam es- tanques no velho quadro-e-giz. Os aparatos vêm para facilitar o ensino, mas só vêm para um número irrisó- rio de instituições. E mesmo essas escolas privilegiadas têm dificulda- des no uso das tecnologias em sala de aula. As vantagens da evolução tecno- lógica aplicada à educação são, em teoria, indiscutíveis. Recursos mais avançados podem tornar o ensino mais atrativo para os estudantes e fazer a informação ser passada de forma mais simples e objetiva. O grande problema – para as institui - ções que têm a chance de utilizar os aparatos –, então, não é o uso das tecnologias em si, mas as adaptações que ele exige. Um exemplo disso é a qualificação dos professores. Nem todo mundo que dá aula sabe mexer numa lousa digital. Além disso, uma nova filosofia de ensino precisa ser criada, porque um aluno com um caderno não é a mesma coisa que um aluno com um iPad. Sendo assim, o uso das tecnolo- gias em sala de aula, que onipresente e compreendido por todos seria um avanço fantástico para o ensino, tor- na-se praticamente impotente, devi- do à falta de estrutura das escolas e de preparação dos profissionais. Leonardo Zacarin* Evolução e estagnação Opinião *Leonardo Zacarin é estudante de jornalismo da Unesp de Bauru Fomento à Tecnologia Educacional No Brasil, encontros periódicos de discussão, exposição e desen- volvimento de novas ideias a res- peito da modernização pedagógica amplificam o uso da tecnologia no ensino. O país conta com duas feiras anuais de grande porte: a EducarEducador e a Interdidá- tica, pontos de difusão de novas concepções, produtos e serviços relativos ao aprender e ao ensinar. A 19ª edição da EducarEduca- dor foi realizada entre os últimos dias 16 e 19 de maio, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Dentre as atrações do even- to, houve a exibição de lousas ele- trônicas interativas, softwares em 3D com conteúdos para várias dis- ciplinas e ferramentas com sistema “Kinect”, em que figuras na tela de projeção imitam os movimentos dos alunos, permitindo o aprendizado de uma maneira mais participativa. A Interdidática é um evento pro- fissional e de negócios, voltada exclusivamente para o ramo das tecnologias educacionais. A sua 5ª edição, realizada entre os dias 17 e 19 de abril deste ano no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, teve alcance internacional e participação de profissionais do mundo todo. Para Balan, “as feiras permitem fazer com que os envol- vidos encontrem num só local di- versas possibilidades emergentes e esclareçam como utilizar cada recurso em sua área de atividade”. Eventos como esses atraem cres- cente atenção. O aquecimento do mercado da educação é evidenciado por dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo IBGE. No ano de 2010, a alta do setor foi de 23,5%, o equivalente a 1% do Pro- duto Interno Bruto (PIB) do país. Felipe Vaitsman Lucas César Ramos O fim do quadro-negro

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Terceira edição do jornal produzido por alunos do 3º termo de Jornalismo da Unesp de Bauru.

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Page 1: Extra #3 - A tecnologia na educação

Bauru, 1 de junho de 2012 3º termo - Jornalismo/FAAC - Unesp

Feiras são vitrines de novas ideias para o ambiente escolar

Interdidática 2012 reuniu cerca de 12 mil visitantes nos três dias de exposição

Divulgação/Interdidática

Primeiro a obrigação

A Tecnologia Educacional envol-ve recursos pedagógicos que faci-litem o aprendizado por meio de ferramentas multimídia. A aplicação do conteúdo escolar por softwares, jogos educativos e dispositivos de interação entre usuários é uma al-ternativa moderna para atrair a aten-ção do estudante e tornar o apren-dizado mais dinâmico e prazeroso.

Os métodos são eficazes, sobre-tudo em países mais desenvolvidos, onde há maior maturidade tecnoló-gica. No Brasil, a adaptação ainda é lenta e limitada por discrepâncias sócio-econômicas, mas o professor doutor Willians Balan, pesquisador em plataformas digitais, entende que a tecnologia pode ser utiliza-do de maneira complementar. “O professor expõe temas em recor-tes delimitados ao mesmo tempo em que o aluno pode ter uma vi-são mais ampla do mesmo assunto pelos acessos online, com fontes compartilhadas pelas redes sociais”, destaca. Dessa forma, “cabe tam-bém ao docente se manter atuali-zado com o que está disponível”.

É o que busca fazer o professor

Rodolfo Neves, idealizador do pro-jeto História Online, um site voltado para toda e qualquer pessoa que tenha interesse em História e Atualidades. Aquilo que surgiu como um simples canal de comunicação entre profes-sor e aluno tomou outras proporções e já beira um milhão de acessos. “É um portal aberto, gratuito, onde dis-ponibilizamos video-aulas, listas de exercícios, promovemos debates e interação pelas mídias sociais para conseguir reunir o maior número de pessoas através do potencial demo-crático da internet”, explica Rodolfo.

A constante evolução tecnológi-ca não poderia deixar de abranger a área da educação. Lousas digi-tais, tablets recheados de aplicativos utilizáveis em sala e diversos ou-tros aparatos tecnológicos tendem a afastar o caráter conservador das escolas. A chance de usufruir dessas tecnologias, porém, parece não con-trariar a ordem social vigente.

Enquanto a tecnologia aplicável às escolas avança, o cenário brasi-leiro apresenta milhares de colégios em situações precárias, tanto em relação à infraestrutura quanto no tocante à qualidade de ensino. Es-ses colégios não têm condições de bancar tais tecnologias, e ficam es-tanques no velho quadro-e-giz. Os aparatos vêm para facilitar o ensino, mas só vêm para um número irrisó-rio de instituições. E mesmo essas escolas privilegiadas têm dificulda-des no uso das tecnologias em sala de aula.

As vantagens da evolução tecno-lógica aplicada à educação são, em teoria, indiscutíveis. Recursos mais avançados podem tornar o ensino mais atrativo para os estudantes e fazer a informação ser passada de forma mais simples e objetiva. O grande problema – para as institui-ções que têm a chance de utilizar os aparatos –, então, não é o uso das tecnologias em si, mas as adaptações que ele exige. Um exemplo disso é a qualificação dos professores. Nem todo mundo que dá aula sabe mexer numa lousa digital. Além disso, uma nova filosofia de ensino precisa ser criada, porque um aluno com um caderno não é a mesma coisa que um aluno com um iPad.

Sendo assim, o uso das tecnolo-gias em sala de aula, que onipresente e compreendido por todos seria um avanço fantástico para o ensino, tor-na-se praticamente impotente, devi-do à falta de estrutura das escolas e de preparação dos profissionais.

Leonardo Zacarin*

Evolução e estagnação

Opinião

*Leonardo Zacarin é estudante de jornalismo da Unesp de Bauru

Fomento à Tecnologia Educacional

No Brasil, encontros periódicos de discussão, exposição e desen-volvimento de novas ideias a res-peito da modernização pedagógica amplificam o uso da tecnologia no ensino. O país conta com duas feiras anuais de grande porte: a EducarEducador e a Interdidá-tica, pontos de difusão de novas concepções, produtos e serviços relativos ao aprender e ao ensinar.

A 19ª edição da EducarEduca-dor foi realizada entre os últimos dias 16 e 19 de maio, no Centro

de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Dentre as atrações do even-to, houve a exibição de lousas ele-trônicas interativas, softwares em 3D com conteúdos para várias dis-ciplinas e ferramentas com sistema “Kinect”, em que figuras na tela de projeção imitam os movimentos dos alunos, permitindo o aprendizado de uma maneira mais participativa.

A Interdidática é um evento pro-fissional e de negócios, voltada exclusivamente para o ramo das tecnologias educacionais. A sua 5ª edição, realizada entre os dias 17 e 19 de abril deste ano no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, teve alcance internacional e participação de profissionais do mundo todo. Para Balan, “as feiras permitem fazer com que os envol-vidos encontrem num só local di-versas possibilidades emergentes e esclareçam como utilizar cada recurso em sua área de atividade”.

Eventos como esses atraem cres-cente atenção. O aquecimento do mercado da educação é evidenciado por dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo IBGE. No ano de 2010, a alta do setor foi de 23,5%, o equivalente a 1% do Pro-duto Interno Bruto (PIB) do país.

Felipe VaitsmanLucas César Ramos

O fim do quadro-negro

Page 2: Extra #3 - A tecnologia na educação

TecnologiaDiagramação: Wagner Alves Jorn. Resp.: Angelo Sottovia MTB: 12870

A tecnologia voltada antes para os estudos e depois para o lazer

A tecnologia assistiva modifica a vida de deficiente físicos, auditivos e visuais

Tablet ou livro: qual desperta mais o interesse de uma criança?

Tecnologia assitiva em tablets, celulares e computadores dá olhos a quem não vê

Julia Travieso Leonardo Zacarin/Extra

Na escola carregam mochilas pesadas, dezenas de livros e con-vivem com um quadro negro cheio de pó de giz. Em casa jogam vídeo games, ouvem música no iPod e acessam a internet por tablets e computadores. Não é difícil apon-tar qual ambiente é mais atraen-te, muito menos entender por que os alunos de hoje se mostram tão desinteressados na sala de aula.

E o desinteresse é inversamente proporcional à idade dos alunos: quanto mais novos, maior a facili-dade para lidar com os aparelhos, apresentados às crianças cada vez mais cedo. Por que então não con-ciliar os dois ambientes? Por que não trazer a tecnologia utilizada no lazer também para a sala de aula?

Quem concorda é a professo-ra doutora de História da Edu-

A cena comum em nada deveria chamar a atenção. Patrícia conversa com outra garota quando o celular vibra. “Ela me perguntou porque eu tinha um celular, como se uma cega não pudesse falar ao telefone” con-ta Patrícia Haddad, deficiente visual que se nega à exclusão tecnológica. Além do celular que diz carregar sempre, a jovem possui ainda um tablet e um computador. “Eles têm

Primeiro a obrigação

Da cadeira de rodas ao tablet

Lucas Leite

Wagner Alves

cação na Unesp, Maria da Graça Magnoni, ela considera “inadiá-vel a necessidade de todos os ní-veis educacionais incorporarem os acervos dos meios impressos, do cinema, do rádio e da televi-são como instrumentos didático--pedagógicos”. Outro favorável à atualização do ambiente escolar é o professor doutor Willians Ba-lan, da área de Comunicação da

uma série de ferramentas que pos-sibilitam que eu mexa nesses apa-relhos só com um fone de ouvido e uma boa noção de espaço”, explica.

As produções de novos equipa-mentos e softwares para acessibi-lidade de deficientes visuais, audi-tivos e físicos compõem o que se chama de tecnologia assistiva. Tal termo engloba desde os avanços em cadeiras de rodas a impressoras em braile. As melhorias são tamanhas nessa área que hoje é possível que

Unesp, destacando que “essa dis-tância entre a dinâmica do mundo atual e a forma tradicional de en-sino gera desinteresse, desmotiva-ção e dificuldade no processo de aprendizagem por parte do aluno”.

Na teoria tudo parece muito sim-ples, mas na prática a história é bem diferente. O difícil acesso, os altos custos e a burocracia – das escolas públicas – são apenas al-

uma pessoa com defíciência moto-ra controle um cursor de computa-dor apenas com impulsos mentais.

Para fomentar as pesquisas na área e apoiar o desenvolvimento da tec-nologia assistiva, o Governo Fede-ral lançou em fevereio deste ano o Plano Nacional dos Direitos da Pes-soa com Deficiência, cuja ideia é ga-rantir aos deficientes mais acesso às ferramentas assitivas. “Hoje, com-prar um celular que tenha boa aces-sibilidade ou até mesmo um tablet

guns dos obstáculos a serem en-frentados. Mas o mais relevante deles está dentro da sala de aula. De nada adianta todo o aparato à disposição de um professor des-preparado ou resistente ao seu uso.

“Muitas vezes um docente, por não dominar alguns recursos tec-nológicos, não procura se atua-lizar, se afastando da realidade vivida pelos alunos”, lamenta Willian. Para que isso não acon-teça, Maria da Graça acredita que “aos conhecimentos científicos e pedagógicos presentes no proces-so de formação do professor, deve-riam ser acrescentados os saberes relativos às novas tecnologias”.

Mas o professor está longe de ser o culpado por esse atraso. Com a falta de segurança nas escolas, pou-ca remuneração e nenhum reconhe-cimento, sua desmotivação parece ser ainda maior que a dos alunos.

que facilite algumas funções não é fácil. As opções são poucas e geral-mente muito caras” critica Patrícia.

O Plano prevê ainda uma linha de crédito para compra de cadei-ras de rodas, andadores, apare-lhos auditivos, impressoras em Braille, equipamentos de adap-tação de veículos automotores e sobretudo equipamentos tecnoló-gicos voltados à acessibilidade.

Patrícia reconhece, contudo, que houve melhorias em termos de acessibilidade nos grandes centros urbanos. “Tem crescido o número de suportes tecnológicos voltados para o deficiente. Basta perceber que um cadeirante não precisa mais passar pelo constragimento de des-cer da cadeira de rodas para subir em um ônibus. Um deficiente au-ditivo consegue fazer uma ligação em orelhões adaptados nos shop-pings. São coisas que passam desa-percebidas para quem não usa, mas que para quem usa, é essencial”.