extensao rural no periodo socialista
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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS
II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
Os intelectuais Africanos face aos desafios do século XXI
Em Memória de Ruth First (1925-1982)
e
por ocasião do 50º aniversário da Universidade Eduardo Mondlane
Local: Complexo Pedagógico da UEM, Maputo
Data: 28-29 de Novembro, 2012
A Extensão rural no período do socialismo1
Wilson Adão2
1 O presente trabalho é uma versão modificada de um dos capítulos da Tese de Mestrado sob orientação
do Prof. Doutor Castilho Amilai, sem ao qual, não seria possível a materialização do mesmo.
2 Mestrando em Ciências Agrárias, Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal da Universidade
Eduardo Mondlane – FAEF/UEM.
Introdução
Desde a década 60, influenciado pelos efeitos de II Guerra Mundial e também em reposta
às crescentes críticas, incongruências e falhas de projectos reducionistas e disciplinares de
desenvolvimento rural direccionado aos pequenos agricultores promovidos pelo modelo
difusionista e clássico da extensão rural, países do mundo inteiro desdobram-se na procura de
novas formas de intervir no espaço rural.
Em função desse acontecimento, esses países, com particularidade subdesenvolvidos,
principalmente os da América Latina, começaram a reestruturar os serviços de extensão rural, e,
segundo Fonseca, citado por Karam e Freitas3, sempre faziam em parcerias com agências de
extensão e pesquisa rural norte-americana.
Nos finais da década 80 e princípios de 90, foram particularmente dois aspectos que
marcaram a efervescência da época. Por um lado, a incontornável introdução do enfoque
sistémico no campo da agricultura e por outro lado, a prerrogativa dada ao conceito de
sustentabilidade nos debates em torno do desenvolvimento, uma vez que se aponta uma série de
problemas ocasionados pelo tipo de desenvolvimento em curso, adoptado até então pelos países
capitalistas.
Influenciado por estes aspectos, a extensão rural começa a “respirar novos ares”
passando, todavia, a atender a demanda dos movimentos sociais do meio rural, em particular a
ligada à agricultura familiar; evidenciam também a preocupação com os problemas ambientais.
Desde então, a extensão rural começa actuar em bases democráticas seguindo processos
participativos, valorizando o conhecimento das populações rurais, até então excluídas.
Portanto, é neste prisma que se enquadra o presente trabalho que pretende, como
principal objectivo: traçar a experiencia da extensão rural nem Moçambique no período
socialista, 1977-87.
3 Karam e Freitas, 2008.
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1. Contextualização
O Golpe de Estado em Portugal, a 25 de Abril de 1974, que culminou com a derrocada do
Imperialismo Salazarista, teve uma manifesta importância na intensificação do processo de
descolonização das colónias portuguesas, em particular Moçambique, facto que impulsionou o
acordo de Lusaka realizado a 7 de Setembro de 1974, culminando com a proclamação da
independência do país a 25 de Junho de 1975, constituindo-se então a Republica Popular de
Moçambique.
Nesta altura, as populações encontravam-se dispersas em todo o país obedecendo, ainda,
como fruto de herança colonial, um ordenamento que ia de acordo com os interesses do
colonialismo-capitalista português, desde então inexistente.
No que concerne a agricultura, esta era desenvolvido por dois sectores: O sector familiar
e privado. O primeiro, constituído maioritariamente por nativos, produzia para sua subsistência
produtos da primeira necessidade para além de uma grande variedade de cultura comercializável.
Este sector, também constituía uma fonte de mão-de-obra para outros sectores e principalmente
os de sistema capitalista quer seja no país quer no estrangeiro, com particular enfoque na África
de Sul enquanto o segundo sector, o privado, segundo Ministério de Finanças (1978), albergava
agricultores capitalistas (especialmente os ex-colonos) e semi-capitalistas (alguns pequenos
agricultores moçambicanos) que produziam, geralmente e por regra, culturas de exportação com
maior destaque para a produção de algodão, chá, copra, cana-de-açúcar, sisal, cereais para além
de carne e lacticínios. Este sector, também empregava a mão-de-obra assalariada.
2. Estratégia adoptada pelo Governo: O Socialismo
Diante do quadro socioeconómico que o país se encontrava se afigurava pertinente
(re)estruturar a ordem socioeconómica do pais, organizando a produção e mobilizar os
trabalhadores na reconstrução económica e na luta contra o subdesenvolvimento. E é, também,
tendo em conta essa situação que foi realizado o III congresso da FRELIMO onde se confirmou a
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opção socialista4 do desenvolvimento, sobre a égide da qual são traçadas as orientações políticas,
socioeconómica do país.
3. Características do país à partir de 1977
Uma das principais políticas que marcou acentuadamente o período é a política de
centralização que teve como um dos instrumentos para a sua materialização o Decreto nº. 1/75,
de 27 de Julho e o Decreto nº. 4/81, de 10 de Junho.
As implicações desta política impactaram sobretudo na organização social e nos serviços
de agricultura.
A nível de organização social, se definiram dois (2) eixos fundamentais de/para
orientação dos planos de desenvolvimento: aldeias comunais e produção em moldes colectivos.
Embora formadas por diversas situações, as aldeias comunais passaram a constituir a
“coluna vertebral” do processo de sociabilização de campo e, portanto, foram estabelecidas as
normas da sua estruturação e funcionamento.
O Comité Central, na sua 8a sessão fez um finca-pé no modelo de produção colectivo e
traça os princípios sobre os quais dever-se-iam reger. Particularmente no que Concerne a
distribuição de produtos, postula que a produção deverá assegurar reservas para as campanhas
seguintes em sementes e alimentos em caso de seca, financiar os serviços sociais, pagar as
despesas contraídas e criar um excedente. Este excedente, por sua vez, será destinado a
constituição de um fundo de acumulação – 20% - e o restante será distribuído pelos membros das
aldeias segundo as suas “capacidades e o trabalho”. E sobre o trabalho, afirma que este deverá
4 A opção marxista resultou das condições históricas do colonialismo português e do contexto
internacional caracterizado pela Guerra-Fria e da proliferação do movimento dos países não-alinhados.
Chipenembe (2004:76).
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ser organizado em brigadas e equipes de trabalho fazendo balanços e sintetizando as
experiências.
A nível dos serviços de agricultura, é importante ressalvar que centralização política
impactou tanto a nível estrutural como funcional.
Em termos estruturais, houve, em 1976, através da Portaria n.º 116/76, de 24 de Julho,
uma reestruturação do Ministério da Agricultura.
A nível de base, são criados Centros de Apoio ao Desenvolvimento Cooperativo que, por
si, constituíam a materialização de apoio diversificado aos produtores, de entre os quais
destacam-se: Gabinete de Organização e Desenvolvimento das Cooperativas (GODCA), Centro
Rural de Experimentação e Desenvolvimento (CRED’s), Centro de Apoio ao Desenvolvimento
Cooperativo (CODECO).
Ainda a nível da estrutura, de referir que passou a existir no país quatro (4) sectores de
produção nomeadamente: as empresas públicas/estatais, cooperativas de produção, o sector
privado e o sector camponês, sendo as duas primeiras, as formas colectiva de produção, as quais
dava-se mais atenção.
Em termos funcionais, há a referir que embora não se fizesse menção a extensão rural,
nesse período, pela complexidade de concretização do programa de Cooperativização, parte dos
projectos elaborados pelo Ministério da Agricultura bem como os centros supracitados, para
além de se referirem a ela, implicitamente, já a exerciam e contava com os seguintes principais
tipos de actividades: i) acompanhamento técnico de campanhas agrícolas; ii); formação; iii)
planificação da produção; iv) introdução de tecnologias e, v) aprovisionamento;
No que diz respeito a introdução de tecnologias, chamava-se atenção ao facto dela ter de
ser feita de forma gradual tendo sempre em consideração, o grau de organização e de
conhecimento dos produtores, os recursos existente a nível local, as condições naturais,
acompanhando-se essa introdução com acções de formação que permitissem aos produtores,
principalmente os cooperativistas, o domínio dessa tecnologia.
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A política de centralização era apenas um dos principais acontecimentos que
caracterizava a contexto nacional e, aliado a ele, estava a crise de entendimento reflectida pela
guerra
Em termos financeiros, a ajuda a essa guerra, era dada pelo regime da Rodésia de Ian
Smith e da África do sul e de grupos económicos em Moçambique com algum interesse no país.
Com o fim da guerra na Rodésia do Sul (actual Zimbabwe) e a sua posterior proclamação
a independência em 1980, a África de Sul assumiu às rédeas dessa guerra em nome do anti-
comunismo moçambicano (Darch, 1992). Desde então, os alicerces que fundamentavam os
discursos da guerra estavam assentes no “anti-comunismo” e “democracia” ganhando, desta
forma, apoio até de certas igrejas protestantes e de alguns antigos colonos portugueses
ressentidos com a independência nacional e a ideologia que o Estado adoptara.
Contudo, fortificaram-se os instrumentos de desestabilização5 usados e, por conseguinte,
intensificaram-se os ataques a aglomerados populacionais, destruição de infraestruturas sociais,
económicas, educacionais e de saúde.
Paralelamente a este acontecimento desenrolava no país, as calamidades naturais. Em
1977, as cheias, particularmente nas regiões dos rios Limpopo e Incomáti e no ano de 1978, a
cheia de rio Zambeze afectando directamente as províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia,
para além de devastarem uma grande área no país causando perda de culturas, destruição de
infraestruturas de comunicação, de comercialização, de educação e saúde, equipamentos, perdas
de vidas humanas e obrigando a migração afectou , também, a economia, como não deixaria de
ser.
Juntam-se a essas calamidades, e com efeito de menor dimensão na economia do país, os
ciclones, quedas irregulares das chuvas e a seca.
5 Uma mistura de coerção económica e agressão militar.
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4. Impacte dos eventos do período de Socialismo na Extensão rural
Como se constacta, no Moçambique pós-independente, o período que sucede ao ano 1977
é marcado por eventos/situações que o caracterizam, para além de terem uma forte implicação
em toda uma estratégia desenvolvimentista da época. Esses acontecimentos, devido o seu
impacte a nível da estrutura e funcionamento dos serviços agrários podem ser considerados como
sendo de dois (2) tipos nomeadamente o intrínseco: a centralização, e extrínseco: a guerra e
calamidades naturais.
Atinente aos eventos de ordem extrínseca especialmente a guerra, Brück et al (2000:13)
refere que ela, “ao contrário das catástrofes naturais que têm menos impacto na capacidade
produtiva e deixam intacto o capital humano (aparte as vítimas mortais, como é evidente) e o
capital organizacional, destrói todas as formas de capital e a incerteza que reduz, radicalmente, o
investimento”. Por esta mesma razão que a nossa análise centrar-se-á apenas neste evento.
4.1. Impacte dos eventos extrínsecos nos serviços de extensão rural
Brück (1998), afirma que, em contexto de guerra, “quanto mais claro se torna o objectivo
do oponente/adversário em assumir a liderança, mais o Governo se preocupa em colocar o
esforço de guerra acima de todas outras políticas”.
Entretanto, não constituindo uma excepção no caso de Moçambique, este esforço
ressentiu-se a nível da economia na medida em que as despesas governamentais com salários,
bens e serviços decresceram 60% e as despesas reais em investimento públicos caíram para um
quinto (1/5) do seu valor máximo em apenas três (3) anos, desde 1983, tudo em benefício dos
gastos com a defesa, que por sua vez aumentaram mais do que o dobro, em termos reais, entre
1980 e 1984.
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Como consequência directa da diminuição dos investimentos públicos, aliado também a
questão de insegurança particularmente no sector da agricultura, houve uma diminuição da oferta
dos serviços de extensão rural passando, desde então, a serem oferecidos a áreas com uma
segurança relativa. E ainda assim, mesmo nestas zonas, aliado ao factor de obsolescência e/ou
destruição de material e equipamentos, infraestruturas, fraco incentivo, estes serviços tornaram-
se ineficazes e ineficientes;
A redução de investimentos públicos, que fez-se também sentir por parte do sector
privado, teve como consequência directa a redução de número de programas e projectos agrários
e particularmente programas de extensão. E assim sendo, houve, de forma quase que
proporcional, uma redução na oferta bem como na provisão dos serviços de extensão.
Os ataques aos centros populacionais foram umas das principais estratégias adoptadas
pelos fazedores da Guerra e muitas vezes culminaram com a morte ou mesmo desaparecimento
de alguns chefes de família. Em situações como estas, as mulheres é que tinham a obrigação de
tomar o lugar do chefe-de-família. Todavia, as diferenças em níveis educacionais bem como suas
perspectivas para a acumulação do capital, a discriminação cultural, as diferenças de restrições
de tempo, as diferenças no acesso a infraestrutura económica e sociocultural contribuíram em
grande para baixo nível de participação destas em programas de extensão.
A questão dos ataques aos centros populacionais, que geralmente culminavam em saque
de produtos agrícolas alimentares, gados ou de outra espécie de produtos (que serviam muitas
das vezes para alimentar as tropas), aliados a existência de zonas minadas (algumas destas zonas
com grande potencial agrogeológico) constituíram um elemento fundamental, não somente para
a limitação da intervenção extensionista mas também para a redução da área de produção. Desta
forma, ao reduzirem-se as áreas de produção, reduz, de forma proporcional, a procura pelos
serviços de extensão.
Por ora, é importante notar que a redução da área de produção, por sua vez, teve como
consequência directa a baixa produtividade e a consequente carência alimentar. A prevalência
desta situação foi um dos factores que minou a participação da população rural visto que, em
situação que se encontravam, somente lhes interessava atividades com efeitos/retornos a curto
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prazo, contrariamente aos projectos agrícolas levados a cabo pelo Governo, através de seus
extensionistas.
Ainda na senda dos ataques a aglomerados populacionais, estes resultaram em mortes não
apenas da população civil campesina, como já referenciamos acima, mas também de
agentes/funcionários do Estado como professores, médicos e extensionistas. Por conseguinte,
reduziu o efectivo dos extensionistas que, de princípio, já era muito reduzido. A redução do
número de efectivo de extensionistas, reduz-se também a oferta e a qualidade dos serviços de
extensão.
A situação de guerra a que o país se encontrava levou a que se desse muita atenção a
questão de segurança quer em recursos humanos quer em recursos financeiros e materiais em
detrimento de muitos outros sectores e particularmente ao sector agrário. Em consequência desta
directiva, o sector agrário, assim como muitos outros, deixa de ser dada a devida atenção em
termos de assistência e manutenção o que levou a degradação das condições de trabalho, de
infraestruturas, de maquinarias ou equipamentos, etc. afectando os serviços de extensão nas suas
componentes de oferta e provisão.
4.1.1. Impacte dos eventos intrínsecos nos serviços de extensão rural
No contexto da Politica de Centralização, os planos anuais e plurianuais constituíam um
documento orientador de toda a economia e, por conseguinte, eram elaborados a nível central do
Governo. Tais planos, para além de definirem/estabelecerem produção agrícola concentravam a
afectação de recursos da economia, priorizavam investimentos entre outros.
Relativamente a produção agrícola, que muitas das vezes extrapolava as reais realidades e
condições de produção da população ou da cooperativa, a planificação6 não tomou em
6 “O processo de planificação era composto, regra geral, pelas seguintes fases: primeiramente, os órgãos
de tutela estabeleciam as metas nacionais e com base nestas, atribuíam-se os volumes a produzir por
empresas. Seguia-se o processo de elaboração do documento do plano nas empresas que poderiam contra
propor os volumes «sugeridos» pelos órgãos do estado. As propostas eram analisadas em primeiro lugar
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consideração as diferenças sociais inerentes a estratificação social quer a nível de sexo, idade ou
tribo; de igual maneira, não tomou em consideração as suas prioridades em termos de culturas
alimentares, nas forcas de trabalho7, nos termos de organização social ou seja seu modus vivendi
e operandi (relações de poder, relações económicas, religiosas, etc) e todos os aspectos dai
decorrente. Este procedimento, aliado aos métodos militares de trabalho em comunicação
descendente para além de ter como consequência directa a limitação da participação das
populações levaram a uma construção/concepção ideológica8, particularmente no seio do povo,
de um Estado “explorador” que procura tirar dividendos da força de trabalho campesinato/rural.
E essa situação fez com que diminuísse, por parte da população, a procura pelos serviços
prestados pelo Estado, e muito em particular a procura pelos serviços de extensão.
Tendo estatizado todos os sectores da economia nacional e estando consciente do
contexto internacional, regional e nacional que vinham então tendo uma forte implicância na
direcção politica do novo Estado emergente criando uma situação de desconfiança politica e de
constate alerta, principalmente contra os inimigos internos e com vista a selecionar os membros
que passariam então a constituir o quadro técnico do Aparelho do Estado em quase todos os
no Governo da província através da DPA e posteriormente no Ministério. No caso de as contrapropostas
serem diferentes das inicialmente orientadas pelo órgão central, havia alguma discussão prevalecendo
quase sempre a decisão da estrutura hierarquicamente superior em relação ao qual a empresa dependia
directamente. O documento era feito em função das últimas decisões e submetidos à CNP integrado no
plano sectorial do Ministério. Seguia-se a execução do plano que assumia o estatuto de lei depois da
aprovação formal na Assembleia Popular a quem era submetido pelo conselho de Ministros que era a
quem efectivamente decidia” (Mosca;2011:57).
7 Van de Loo (1984), refere que “as cooperativas na zona sul tinham um crescimento gradual em membros
e áreas desde a independência até o ano de 1981 mais ao menos em que a relação entre a forca de trabalho
(número de membros) e a área trabalhada variava entre 1 até 4 há cada membro, resultando muita das
vezes numa fraca produção por ter planificado áreas demasiadas grandes, o problema mais característico
destas cooperativas.”
8 A esta concepção ideológica contribuiu também o facto de ser o próprio Estado quem estabelecia os
preços dos produtos no mercado, os salários a serem pagos, etc.
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sectores da economia o Estado decide adoptar critérios9 não muito claro/subjectivos como:
qualidade e confiança política, posição na hierarquia do partido, experiência militar, a não
vinculação com práticas “subversivas”, “liberalistas”, “reacionárias” ou “obscurantistas”. As
implicações destas medidas, por um lado, reflectiram-se na qualidade dos quadros técnicos,
extensionistas, que ocupavam os cargos para os quais foram seleccionados: baixa qualidade de
formação na área, sendo que alguns tinham apenas as experiências do trabalho nas zonas
libertadas, muito embora cientes dos embargos com os quais se deparariam, dado terem a
consciência de tratar-se de contextos diferente10
; reflectiram-se também nos métodos de trabalho
empregue, militarista11
: rígido, hierarquizado, obediência linear e acrítica; por outro lado,
conduziu a um elevado nível de burocratização e também a uma baixa na eficiência dos serviços
agrários, com forte implicação na gestão administrativa, o que traduziu-se de uma forma
genérica, entre outros aspectos, nas entregas tardias dos factores de produção às cooperativas e
também as empresas estatais.
9 Relativamente às cooperativas, MINAG (1982) ressalva que “Deve-se trabalhar no sentido de
garantir que, pelo menos 15% dos membros de cada cooperativa sejam membros do partido
FRELIMO e/ou Deputados das Assembleias do Povo Locais”. “Torna-se ainda importante
engajar neste processo quadros da F.P.L.M., sobretudo os antigos combatentes, com a vista a
beneficiar às cooperativas das suas ricas experiencias de mobilização e organização das
massas”.
10 Vide Casal (1991)
11 Os grupos de trabalho possuíam nomes militares, por exemplo, brigada, companhia, pelotão,
etc., para designar um sector de produção ou uma equipa de trabalhadores com funções
relacionadas com a Protecção de plantas, mecanização, etc. Os trabalhadores deslocavam-se
em fila e muitas vezes a passo de marcha militar, entre outros exemplos Mosca (1999:124)
citado em Mosca (2011).
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5. Considerações finais
Embora durante o período de socialismo não se fizesse menção a extensão rural,
conhecimentos técnicos assim como as actividades inerentes a este serviço eram difundidas aos
produtores rurais. Não obstante a medida politica centralizadora tomada após a adopção do
modelo socialista de desenvolvimento, a situação nacional que era caracterizada pela guerra e
por calamidades naturais constituíram os pólos (re)orientadores das actividades de serviços de
extensão rumo a um fracasso. Por conseguinte, algumas questões são aqui trazidas para debate:
Que modelo de desenvolvimento seguir? Socialismo?! Capitalismo!? Ou criação de um
modelo Moçambicano de desenvolvimento?
Que actores, políticas de (des)centralização e (des)concentração para os serviços
públicos, especialmente para o sector agrário e para os serviços de extensão rural?
Que tipo de abordagem a desenvolver para extensão rural?
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