extensão da distribuição geográfica de callicebus ... · envolve a biogeografia, ciência que...

56
Extensão da distribuição geográfica de Callicebus personatus (Geoffroy, 1812). Sara Machado de Souza

Upload: trinhtruc

Post on 10-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

Extensão da distribuição geográfica

de Callicebus personatus (Geoffroy,

1812).

Sara Machado de Souza

Page 2: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

2

Extensão da distribuição geográfica de

Callicebus personatus (Geoffroy, 1812).

Dissertação apresentada para a obtenção do

título de Mestre em Ciências Biológicas à Universidade

Estadual de Montes Claros, Minas Gerais.

Área de Concentração: Biologia e Conservação

Orientador: Dr. Waldney Pereira Martins

Page 3: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

3

Extensão da distribuição geográfica de

Callicebus personatus (Geoffroy, 1812).

“O problema não é inventar.

É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronto nossa edição convincente.”

Carlos Drumond de Andrade

Montes Claros – Março de 2015

Page 4: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

4

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Waldney pela orientação, confiança, conhecimento compartilhado, amizade e

também pelas risadas e pelo objetivo realizado.

Dedico esse trabalho aos meus pais Guilherme e Elenice, que me ensinaram o tripé para

realizações dos sonhos: a humildade, o conhecimento e o trabalho. E aos meus irmãos

Tiago e Lucas que são sempre meus melhores amigos e companheiros. A todos vocês muito

obrigada: Pai, Mãe, Tiaguinho, Lulu, Regi, Tintia, Gui, por toda força e dedicação. Meu

amor por vocês é incondicional.

Ao Alcilane, que acreditou, confiou, ajudou. Que foi companheiro e colaborador.

Aos colegas de mestrado e da Unimontes, vocês estarão sempre na lembrança.

Ao laboratório de Ecologia e Conservação de Mamíferos.

Ao laboratório de Geoprocessamento pela ajuda na elaboração dos mapas.

Ao Steve Nash pela disponibilização das suas pranchas.

Ao programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Unimontes.

Aos integrantes da banca Dr. Fabiano Rodrigues Melo e Dr. Rodrigo Pessoa por aceitarem

o convite e pelo acréscimo na discussão desse estudo.

Aos dias de alegria e aos dias de tristeza que a vida me mandou, me amadureceram.

Aos meus guigós, impossível não chamá-los de meus, pela beleza do conhecimento

proporcionado.

E finalmente agradeço a quem inspirou e tornou possível tudo isto, dimensionando meus

dias através de cada beleza que eu pude ver e de cada pedra que precisei carregar e pelo

tanto que aprendi: A Deus.

Page 5: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

5

RESUMO

O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das

tarefas básicas da Ecologia sendo uma questão complexa, principalmente quando as

espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação. O gênero

Callicebus é amplamente distribuído na América do Sul a leste dos Andes, ocorrendo em

quase todos os principais biomas. Atualmente são reconhecidos cinco grupos: Torquatus,

Cupreus,Moloch, Donacophilus e Personatus. O grupo Personatus está restrito à Mata

Atlântica e Caatinga do leste do Brasil. Vários autores apontam dificuldade na identificação

dos táxons deste grupo. O objetivo desse estudo foi definir os limites atuais de distribuição

de Callicebus personatus e mapear a área de ocorrência da espécie na região norte do

estado de Minas Gerais. A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações

sobre a distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio

do Sistema de Informações Geográficas (SIG). Para atrair os guigós e obter respostas,

utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a partir do CD “Sounds of

Neotropical Rainforest Mammals” Das 29 localidades visitadas que compreendem norte,

vale do Jequitinhonha e região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades

foram registrados Callicebus personatus, nos municípios de Claros dos Poções, Francisco

Dumont e Montes Claros. Tal espécie apresenta característica de coloração e distribuição

geográfica que ainda não haviam sido citadas na literatura.

Page 6: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

6

ABSTRACT

O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das

tarefas básicas da Ecologia sendo uma questão complexa, principalmente quando as

espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação. O gênero

Callicebus é amplamente distribuído na América do Sul a leste dos Andes, ocorrendo em

quase todos os principais biomas. Atualmente são reconhecidos cinco grupos: Torquatus,

Cupreus,Moloch, Donacophilus e Personatus. O grupo Personatus está restrito à Mata

Atlântica e Caatinga do leste do Brasil. Vários autores apontam dificuldade na identificação

dos táxons deste grupo. O objetivo desse estudo foi definir os limites atuais de distribuição

de Callicebus personatus e mapear a área de ocorrência da espécie na região norte do

estado de Minas Gerais. A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações

sobre a distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio

do Sistema de Informações Geográficas (SIG). Para atrair os guigós e eliciar respostas,

utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a partir do CD “Sounds of

Neotropical Rainforest Mammals” Das 29 localidades visitadas que compreendem norte e

região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades foram registrados

Callicebus personatus, nos municípios de Claros dos Poções, Francisco Dumont e Montes

Claros. Tal espécie apresenta característica de coloração e distribuição geográfica que ainda

não haviam sido citadas na literatura.

Page 7: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

7

SUMARIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8

2. OBJETIVO ..................................................................................................................... 21

2.2. Objetivo Geral .......................................................................................................... 21

3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 22

3.1. Área de estudo .......................................................................................................... 22

3.2. Coleta de dados ........................................................................................................ 26

4. RESULTADOS .............................................................................................................. 29

4.1 Distribuição geográfica ............................................................................................. 29

4.2. Taxonomia ................................................................................................................ 37

5. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 40

5.1 Distribuição Geográfica............................................................................................ 40

5.2 Taxonomia ................................................................................................................. 43

6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 46

Page 8: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

8

1. INTRODUÇÃO

O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das

tarefas básicas da Ecologia (May, 1999), sendo uma questão complexa, principalmente

quando as espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação

(Gould & Johnston, 1972). Entender o padrão de distribuição de determinada espécie, de

acordo com suas características ecológicas e as condições ambientais é o assunto que

envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do

espaço e do tempo (Hugget, 1998).

A biogeografia possui duas abordagens fundamentais, sendo a histórica, que se

fundamenta nos eventos de grande escala e de longo prazo como a deriva continental e as

mudanças climáticas; e a ecológica, onde a área de ocorrência de um táxon é inferida a

partir de informações pontuais, ou seja, as localidades nas quais o táxon foi registrado

(Cerqueira, 1995). O objetivo comum dessas abordagens é definir os limites de distribuição

de um táxon em relação aos de outros taxa e os fatores ambientais e histórico-geográficos

que a influencia (Townsend et al., 2006).

Os fatores que limitam a distribuição geográfica das espécies sejam eles bióticos ou

abióticos ou ainda determinados por processos de diferentes escalas tanto históricas como

ecológicas são muitas vezes difíceis de serem identificados. As dificuldades vão desde a

falta de amostras suficientes para detectar as extensões e descontinuidades da distribuição

da espécie, até a dinâmica espaço-temporal que as espécies apresentam nas suas

distribuições geográficas. As espécies não se distribuem aleatoriamente, indicando que

alguns, ou muitos, fatores ambientais podem determinar os limites das distribuições.

(Cerqueira, 1995).

Mudanças na distribuição geográfica podem surgir devido à descaracterização da

paisagem, sendo essa causada principalmente em decorrência da crescente demanda das

populações humanas que geram com isso a degradação ambiental. (Turner, 2005).

Page 9: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

9

O clima e a vegetação são determinantes conhecidos das distribuições geográficas de

várias espécies de mamíferos, onde os pontos empíricos de ocorrência das espécies podem

ser analisados a partir de seus fatores climáticos, de vegetação e de altitude. (Grelle e

Cerqueira, 2006).

O Estado de Minas Gerais abrange uma grande variedade de formações vegetais,

devido principalmente a sua vasta extensão territorial e, consequentemente, as diversas

condições topográficas, geológicas e climáticas (Fernandes, 2002). Entre estas formações,

estão presentes o Cerrado e a Caatinga com suas várias fitofisionomias (Sano & Almeida,

1998).

O Norte de Minas Gerais está inserido em uma área de transição entre os domínios

do Cerrado e da Caatinga. A vegetação da região expressa uma condição de sobrevivência

ligada à deficiência hídrica, adaptada a um clima severo, com baixa precipitação anual

distribuída em um curto período do ano (Sano & Almeida, 1998; Fernandes, 2002). A

vegetação local compreendida como uma floresta estacional decídua, abrangendo as “Matas

Secas”, que segundo Pedralli (1997) possuem estrutura e composição florística muito

variadas, definidas pelo seu ritmo estacional, que se traduz por elevado grau de deciduidade

foliar durante a seca. Adicionalmente, as “Matas Secas” nessa região são freqüentemente

cortadas por córregos intermitentes rodeados por florestas de galeria. As Matas de Galeria

são perenifólias e floristicamente similares à Mata Seca, sendo a transição entre estas

praticamente imperceptível na região, diferenciando-se pela estrutura, que em geral é mais

densa e mais alta e pela associação ao curso de água (Ribeiro & Walter, 1998).

A dinâmica dos rios tem sido sugerida como a maior força na especiação alopátrica

(processo de formação de espécies a partir de um isolamento geográfico completo) e

parcialmente responsável pela alta diversidade biológica, principalmente no alto Amazonas

(Salo et al., 1986 apud Rylands, 1996). Grandes rios, tais como Rio São Francisco, Rio

Doce, Rio Jequitinhonha e Rio Grande, vêm sofrendo com a destruição das florestas e o

assoreamento, tais efeitos nos rios dificultam a compreensão do papel destes como barreiras

geográficas para primatas (Rylands, 1996). Em alguns casos a redução da largura e volume

Page 10: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

10

dos rios resulta na expansão da distribuição de algumas espécies de primatas (Rylands,

1996). No entanto, diferente do que ocorre na Amazônia, acredita-se que a topografia da

Mata Atlântica é mais significante do que a dinâmica dos rios para determinar a

composição florística dos habitats disponíveis para os primatas (Rylands, 1996).

A distribuição geográfica e a taxonomia estão profundamente ligadas, já que cada

espécie está limitada a uma determinada região. Populações vizinhas de uma (ou várias)

espécie(s) podem ter sua variação estruturada de três formas (Mayr, 1963, 1977, apud

Martins 2005):

a) Variação Clinal: populações próximas que apresentam mudança gradual. Grande parte da

variação geográfica é clinal. Os fatores seletivos ambientais variam ao longo da clina e

fazem com que os organismos respondam fenotipicamente a essa variação. Mas o fluxo

gênico diminui as forças seletivas, homogeneizando as populações.

b) Isolamento geográfico: populações separadas geograficamente da área de distribuição

geográfica da espécie. Esta separação, de origem extrínseca, limita o fluxo gênico das

populações de uma espécie. Esses isolamentos podem transformar em espécies distintas,

extinguir ou restabelecer o contato com o corpo principal da espécie formando uma zona

secundária de contato;

c) Zona de intergradação: Faixas estreitas da distribuição de uma espécie, com

variabilidade acentuada, limitadas de qualquer lado por grupos de populações ou

subespécies estáveis e bastante uniformes.

Um dos grandes problemas para a conservação de primatas neotropicais é a

existência de várias lacunas em relação à distribuição geográfica de várias espécies e

subespécies (Rylands et al., 1995). Um conhecimento inadequado sobre a distribuição das

espécies pode causar uma avaliação equivocada da situação de suas populações, limitando

os esforços de conservação (Heltne & Thorington, 1976).

A fauna de primatas da América do Sul caracteriza-se por uma grande riqueza de

espécies e subespécies, com alto grau de endemismo e padrões biogeográficos complexos.

A amplitude do continente, a escassez de coletas e o pequeno número de pesquisadores de

Page 11: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

11

campo fazem com que a taxonomia e distribuição geográfica de muitos grupos de primatas

e os fenômenos evolutivos a ela associados, sejam pouco conhecidos (Mendes, 1997).

O gênero Callicebus Thomas, 1903 está inserido dentro da família Pitheciidae

juntamente com os gêneros Pithecia, Chiropotes e Cacajao (Rylands et al., 2000; Rylands

& Mittermeier, 2009). Os pitecídeos constituem um grupo ligado ecologicamente e

filogeneticamente, mas exibem uma ampla variação em características como o tamanho

corporal e comportamento social (Norconk, 2007).

Callicebus ocorre exclusivamente na América do Sul, a leste dos Andes. Sua

distribuição inclui quase todos os principais biomas tropicais da América do Sul, como a

Floresta Amazônica, o Pantanal, as florestas secas e semideciduais do Chaco e da Caatinga,

a Mata Atlântica e a floresta adjacente semidecidual do leste do Brasil (Hershkovitz 1990;

Kinzey, 1983). Popularmente são conhecidos como sauás e guigós (Mata Atlântica) e

zogue-zogues (Amazônia brasileira).

Segundo Printes, (2006) definir a origem do gênero Callicebus no tempo e no

espaço é tão complexo quanto estabelecer a origem de todos os primatas neotropicais. A

grande dificuldade está na ausência de seqüências fósseis completas, ficando as evidências

muito inferior aos pressupostos. Ainda segundo esse autor, fragmentações e interrupções

das rotas de dispersão provocadas pela formação dos rios teriam isolado populações,

resultando padrões de simpatria e especiação gradativa.

Hershkovitz (1988, 1990) acredita que a origem do gênero Callicebus foi na região

do alto Amazonas, tendo os primatas posteriormente dispersado para as terras mais baixas

através das florestas de galeria dos cursos dos rios. Esta dispersão teria ocorrido

principalmente durante as mudanças climáticas do período quaternário.

Para explicar a especiação do gênero Callicebus, Kinzey (1997) utilizava a Teoria

dos Refúgios do Pleistoceno, segundo a qual mudanças climáticas nos últimos milhões de

anos do quaternário, tais como uma marcada diminuição da precipitação durante períodos

frios e secos, teriam causado a fragmentação de regiões de florestas e de outros tipos de

vegetação, restando refúgios nos quais os primatas e outros organismos teriam sobrevivido

Page 12: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

12

(Defler, 2003). Ainda hoje não existe um consenso sobre isto, embora a Teoria dos

Refúgios do Pleistosceno seja atualmente mais aceita para os primatas em geral (Futuyma,

1996).

Hershkovitz (1963) analisando uma amostra total de 105 espécimes do gênero

produziu uma revisão sistemática dos Callicebus da bacia dos rios Amazonas e Orinoco,

reconhecendo apenas três espécies politípicas para o gênero, e propôs formalmente a

separação do gênero em grupos de espécies, os quais chamou de: grupo C. moloch (com

sete subespécies – C. m. moloch, C. m. hoffmannsi, C. m. donacophilus, C. m. cupreus, C.

m. brunneus, C. m. ornatus, C. m. discolor), grupo C. torquatus (com três subespécies – C.

t. torquatus, C. t. lugens e C. t. medemi- sendo esta última uma nova subespécie descrita

nesta ocasião), e ainda o terceiro grupo, que apesar de não estar incluso no trabalho, o autor

cita ser composto por três subespécies (gigot, melanochir, brunello) que se distribuem do

estado de São Paulo até a Bahia, que seria as formas do leste do Brasil.

Hershkovitz (1988) analisou aproximadamente 1.200 espécimes, e baseando-se na

morfologia do crânio, pós-crânio, dentição, pelagem e coloração, o autor elaborou um novo

arranjo taxonômico para o gênero, onde reconheceu 13 espécies, sendo cinco delas

politípicas (totalizando 24 táxons terminais). O autor incluiu a espécie politípica C.

personatus no seu grupo C. moloch, mas reconhece que as formas de C. personatus (C. p.

melanochir, C. p. nigrifrons, C. p. personatus) possuem tamanho maior que as demais

formas do grupo C. moloch, e que possivelmente poderiam representar um grupo distinto,

com tamanho similar ao grupo C. torquatus.

Hershkovitz (1990) considerou treze espécies válidas, com o mesmo arranjo de

grupos, chamando-os modestus, donacophilus, moloch e torquatus. Uma nova subespécie

foi descrita nessa ocasião, C. personatus barbarabrownae, totalizando 25 táxons.

Kobayashi (1995) produziu uma análise fenética do gênero baseado em caracteres

métricos cranianos. Analisando uma amostra total de 686 espécimes, o autor propôs um

arranjo com 13 espécies sendo quatro politípicas, totalizando 25 táxons terminais. Os

táxons adotados por Kobayashi (1995) são exatamente os mesmos considerados válidos por

Page 13: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

13

Hershkovitz (1990). O grupo Personatus de Kobayashi (1995) equivale exatamente às

formas do leste do Brasil.

Kobayashi e Langguth (1999) descreveram uma nova espécie que classificaram

como pertencente ao Personatus (Kobayashi, 1995), C. coimbrai, que estaria presente na

Mata Atlântica do Estado de Sergipe, Brasil. Os autores sugeriram que as outras

subespécies deste grupo (C. p. personatus, C. p. nigrifrons, C. p. melanochir, C. p.

barbarabrownae) deveriam ser tratadas como espécies plenas.

Van Roosmalen et al. (2002) fizeram uma revisão dos trabalhos de Hershkovitz

(1963, 1988, 1990), de Kobayashi (1995) e de Kobayashi e Langguth (1999), e com base

em uma união de dados de literatura, van Roosmalen et al. (2002) consideraram válidos os

cinco grupos de espécies propostos por Kobayashi (1995), e elevaram ao nível de espécies

plenas, todos os 26 táxons reconhecidos até aquele momento, incluindo mais duas espécies

descritas nesta ocasião, C. stephennashi e C. bernhardi. Em relação ao grupo Personatus,

van Roosmalen et al. (2002) consideraram válidas as cinco espécies: C. personatus, C.

nigrifrons, C. melanochir, C. barbarabrownae e C. coimbrai (figura 1).

Page 14: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

14

Figura 1. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al

2002, evidenciando a distribuição geográfica.

Page 15: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

15

Espécies do grupo Personatus (figura 1), são exclusivamente as únicas espécies do

gênero Callicebus extra-amazonico e são encontradas em todos os estados da região

Sudeste do Brasil e dois do Nordeste (Bahia e Sergipe).

Os guigós (Figura 2) são primatas monogâmicos com grupos constituídos

basicamente por dois adultos (macho e fêmea) e proles de um a quatro indivíduos, sendo

um deste o sub-adulto (Bicca-Marques & Heymann, 2013). São territorialistas, de hábitos

arborícolas, quadrúpedes, e diurnos (van Roosmalen et al., 2002). Pesam entre 1 e 2 Kg,

com tamanho variando entre 287-390 mm de comprimento (cabeça-corpo) e a cauda pode

chegar a 1/3 ou maior que esse comprimento (Kinzey & Becker, 1983; Kinzey, 1997) e

habitam uma área de vida relativamente pequena, geralmente entre 10 e 22 hectares (Bicca-

Maques & Heymann,2013).

São animais que costumam se adaptar a qualquer tipo de habitat, sendo

relativamente tolerante a fragmentação (Chagas, 2009), contudo, alguns autores comentam

que os guigós, são considerados especialistas de habitat (Defler, 2003; Ferrari et al., 2000).

São observados mais frequentemente nos estratos médio abaixo da floresta (Kinzey, 1981;

Palacios et al., 1997).

O macho adulto contribui para o cuidado parental, principalmente com o transporte

do filhote. A defesa do território é baseada em vocalizações inter-grupal usualmente

realizado pelo macho e fêmea adulta em dueto (Kinzey et al., 1977). São principalmente

frugívoros, com preferência pelas espécies das famílias Moraceae, Leguminosae e

Sapotaceae (Norconk, 2007), mas complementam sua dieta com folhas, flores ou insetos.

Embora sejam frugívoros, as espécies que habitam a Mata Atlântica preferem

complementar sua dieta com folhas e as espécies amazônicas mostram certa preferência por

insetos (Bicca-Marques & Heymann,2013).

Poucos estudos de longo prazo têm examinado a dieta dos guigós. Alguns autores

(Kinzey & Becker, 1983; Palacios et al., 1997) comentam que diferenças no tipo de

alimento escolhido podem ser influenciadas pelo habitat ou da disponibilidade de recursos.

Os guigós passam a maior parte do dia em atividades de descanso, seguido por alimentação

Page 16: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

16

e locomoção (Heiduck, 2002). O percurso diário raramente ultrapassa 1 km (Bicca-

Marques & Heymann, 2013).

Em relação às espécies do leste do Brasil, em especial, suas formas historicamente

reconhecidas como subespécies, não passaram por uma análise criteriosa sobre sua

variação. Alguns autores têm citado uma grande dificuldade em diferenciar e identificar os

táxons deste grupo (Printes, 2007; Sousa et al, 2008). As espécies de Callicebus são

divididas em grupos, que são arranjos informais baseados em semelhanças morfológicas,

citogenéticas e zoogeográficas (Silva et al., 2013). Existe uma grande variação na

coloração entre as espécies, que é a característica geralmente usada para identificação e

classificação taxonômica (Hershkovitz, 1990, van Roosmalen et al, 2002).

A espécie Callicebus personatus É. Geoffroy, 1812 é encontrada na Mata Atlântica

no sudeste do Brasil, no estado do Espírito Santo, leste de Minas Gerais e norte do Rio de

Janeiro (Oliver & Santos, 1991; van Roosmalen et al., 2002). Tanto o Rio Doce a oeste,

quanto o Rio Jequitinhonha ao norte formaram barreiras para a dispersão de C. personatus,

separando-a das demais espécies do gênero (Rylands, et al., 1988). Mas Oliver e Santos em

1991 indicaram a região do Rio Itaúnas e Mucuri com zona de intergradação entre C.

personatus e C. melanochir.

A área de ocorrência de Callicebus personatus não é bem conhecida em Minas

Gerais. Sua distribuição geográfica neste estado parece ser à margem direita do Rio

Jequitinhonha (Rylands, et al.,1988), sendo o rio Mucuri, ao norte do Rio Itaúnas, o limite

norte de distribuição da espécie (Hershkovitz ,1990). No entanto, Oliver & Santos (1991)

indicaram que a região dos Rios Itaúnas e Mucuri pode ser uma zona de intergradação

entre C. personatus (ao sul) e C. melanochir (ao norte). C. personatus ocorre na margem

direita do Rio Jequitinhonha, mas não fica claro se esta, ou outra espécie de guigó, ocorre

ao noroeste deste rio (van Roosmalen et al., 2002). A abrangência desta espécie se estende

para o oeste ao longo do vale do Rio Doce em Minas Gerais, (van Roosmalen et al.,

2002). Hershkovitz (in litt. AB Rylands, janeiro de 1988) apontou Buenópolis, próximo a

Page 17: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

17

Serra do Cabral (17º54'S, 44º11'W), norte de Minas Gerais, como uma localidade para

Callicebus sp, mas não foi incluída como uma localidade em sua publicação de 1990. Em

comunicação pessoal com A. B. Rylands ficou esclarecido que Hershkovitz não soube

“dizer” qual espécie se tratava, pois o guigó tinha características de C. personatus, mas

estava dentro dos limites de distribuição, ate então conhecidos, para C. nigrifrons. Desse

modo o autor preferiu não publicar esses dados, por não ter certeza de qual espécie

correspondia.

A espécie Callicebus personatus segundo a caracterização de van Roosmalen et al

(2002) possui caracteres faciais todos enegrecidos até a altura das orelhas, características

que distingue a espécie Callicebus personatus de todas as outras espécies do grupo

Personatus (Figura 2 e 3). Além disso, van Roosmalen, et al (2002) também afirma a

espécie C. personatus tendo duas variações de cor de corpo e cauda uniformes, uma

alaranjada e outra amarela clara, o que o autor nomeia como tipo 1 e tipo 2 (Figura 2).

Apesar de citar os dois tipos de variação na coloração, não são fornecidos detalhes sobre a

distribuição entre os morfotipos.

Page 18: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

18

Figura 2. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al 2002,

evidenciando duas formas da espécie Callicebus personatus.

Page 19: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

19

Figura 3. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al

2002, evidenciando a coloração da face (van Roosmalen et al, 2002).

Habitando a mais desenvolvida e populosa região do Brasil, todas as cinco espécies

têm sofrido extensiva perda e fragmentação de habitat pelos últimos cinco séculos (Printes

et al., 2013). As pequenas e isoladas populações remanescentes estão expostas à riscos

demográficos, ecológicos e genéticos (Ferrari et al., 2013). Pressões antrópicas de todos os

tipos, combinadas com a falta de informação biológica básica sobre as espécies, como

Page 20: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

20

distribuição geográfica, têm resultado em todas as espécies do grupo Personatus serem

consideradas ameaçadas de extinção (Jerusalinsky, 2013; Printes et al., 2013).

As características das espécies de Callicebus tais quais agilidade de locomoção,

dificuldade de habituação e dificuldade de localização e monitoramento levam a uma

dificuldade de obter dados e assim há poucos estudos dos primatas do gênero (Bicca-

Marques e Heymann, 2013; Ferrari et al., 2013). A escassez de estudos do gênero leva a

uma lacuna de muitos parâmetros importantes, como distribuição geográfica e fatores que

levam a esta distribuição, se tornando um dos principais desafios para o desenvolvimento

de estratégias de conservação efetivas (Ferrari et al., 2013).

Segundo Melo (2004), em seu estudo no Vale do Jequitinhonha, um dos gêneros

mais raros foi Callicebus. Somente vocalizações e relatos comprovaram a ocorrência das

espécies desse gênero para a região. A situação de Callicebus sp. é definida como crítica na

maioria dos municípios estudados para o Vale do Jequitinhonha, sendo que em diversas

áreas pode ser considerado extinto e/ou nunca presente (Melo, 2004). Esta situação, já

verificada por Rylands et al., (1988), também se mostrou comum em outras regiões nos

estados da Bahia e Rio de Janeiro (Oliver & Santos, 1991).

Embora haja um grande avanço da pesquisa científica com o gênero Callicebus nos

últimos anos (Carrillo-Bilbao et al., 2005; Chagas & Ferrari, 2010; Defler et al., 2010;

Caselli & Setz, 2011; Souza-Alves et al., 2011; Vermeer et al., 2011; Deluycker, 2012,

Printes, et al 2013, Bicca-Marques et al, 2013), os estudos sobre ecologia, estudos

genéticos, taxonômicos e de distribuição geográfica de guigó ainda são pontuais, antigos e

com pouco tempo de dados de observação. O grau de conhecimento sobre várias espécies

melhora com estudos de distribuição, permitindo uma análise mais acurada de seu real

status conservacionista (Mendes, 1997).

Os limites de distribuição geográfica do guigó são poucos conhecidos, as hipóteses

vigentes argumentam que os limites geográficos seriam basicamente acidentes geográficos,

como rios e montanhas (Kinzey, 1982).

Page 21: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

21

2. OBJETIVO

2.1. Objetivo Geral

Definir os limites atuais de distribuição de Callicebus personatus e mapear a área de

ocorrência da espécie na região norte do estado de Minas Gerais.

Page 22: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

22

3. METODOLOGIA

3.1. Área de estudo

A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações sobre a

distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio do

Sistema de Informações Geográficas (SIG) (figuras 4 e 5).

Devido à grande área a ser percorrida e ao curto tempo de permanência em cada

localidade, não foram realizados levantamentos fitossociológicos, sendo a vegetação

classificada fitofisionomicamente. A vegetação da região percorrida em busca do guigó foi

classificada de acordo com IEF 2006, visando estabelecer quais habitats preferenciais da

espécie, ou pelo menos em quais tipos de ambiente a espécie estaria presente, em meio a

transformação da paisagem.

O norte do estado Minas Gerais é uma região de transição entre o Sudeste e o

Nordeste do País, esta área está contida no polígono das secas e apresenta aspectos físico-

climáticos similares aos do Semi-Árido nordestino – região caracterizada por alta insolação

(IBGE 2005). Geograficamente, a região de estudo, limita-se ao norte com o Estado da

Bahia e a oeste, sul e leste com diversos municípios mineiros das respectivas regiões de

planejamento: Noroeste, Central e Jequitinhonha/Mucuri.

A região objeto de estudo deste trabalho conta com 89 municípios. Os 127.532 km²

de área territorial correspondem a 21,89% do território mineiro (IBGE, 2005) e abrangem

sete microrregiões denominadas: Grão-Mogol, Bocaiúva, Janaúba, Januária, Montes

Claros, Pirapora e Salinas. (IBGE 2005).

Os solos norte–mineiros são de forma geral de baixa fertilidade natural,

excessivamente drenante e de baixa retenção de água (Scolforo et.al., 2000). Quanto aos

recursos hídricos superficiais, especificamente os cursos d’água, pode-se dizer que a região

apresenta várias limitações (Scolforo et.al., 2000). O norte de Minas é drenado

principalmente pelas bacias dos Rios São Francisco, Jequitinhonha e Pardo, apresentando a

Page 23: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

23

maior parte dos seus afluentes fluxos intermitentes ou fortemente reduzidos em

determinadas épocas do ano, esse fato se deve, principalmente, aos longos períodos de

estiagens (Scolforo et.al., 2000).

A região norte do Estado se caracteriza por apresentar vegetação que expressa uma

condição de sobrevivência ligada à deficiência hídrica, adaptada a um clima severo e com

baixa precipitação anual distribuída em um curto período do ano (Fernandes, 2002). Essa

região pertence ao domínio da Caatinga em sua parte norte e nordeste, com transição para o

Cerrado, ao sul e a oeste (Brandão, 1994). Desse modo, duas fisionomias florísticas bem

distintas e características têm seus limites na região norte do Estado de Minas Gerais, sendo

uma representada pela área seca da Caatinga e a outra pelo Cerrado (Brandão, 1994).

Page 24: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

24

Figura 4. Mapa de distribuição do grupo Personatus, evidenciando o norte de Minas Gerais sem informações

sobre os guigós (Printes et al., 2013).

Page 25: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

25

Figura 5. Mapa evidenciando a área de estudo.

Page 26: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

26

3.2. Coleta de dados

O estudo foi realizado de janeiro de 2014 a julho de 2014. Tendo em vista o

objetivo de cada expedição, definimos setores arbitrários de investigação, utilizando a

bibliografia e imagens de satélite.

Levamos em consideração para esta definição: i) a provável existência de matas nas

localidades; ii) relatos sobre a possível presença de guigó encontrados na literatura. Dentro

de cada região de investigação, as localidades foram sendo sugeridas por pessoas que

moravam próximos a fragmentos florestais.

Para atrair os guigós utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a

partir do CD “Sounds of Neotropical Rainforest Mammals” (Emmons et al., 1997). O áudio

reproduz as vocalizações de Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812). O equipamento

utilizado é composto de aparelho de mp3 e megafone (Figura 6 e 7) desenvolvido por

Santos Jr. (2007). O playback foi acionado tentando cobrir um ângulo de emissão de 360º,

durante o tempo da emissão (Costa, 2009).

Para as seções de playback, inicialmente, procurava-se, no interior dos fragmentos

amostrados, trilhas já existentes para facilitar a aplicação do método. Quando não era

encontrada nenhuma trilha e a mata era muito densa, o playback foi emitido na borda dos

fragmentos. Quando a mata não era densa e permitia o deslocamento em seu interior, o

playback foi realizado ao longo de um transecto seguindo sempre uma única direção da

borda para o interior.

Em cada ponto foram realizadas duas seções de playback dentro de um período de

dez minutos, durante 2,5 minutos com intervalos de 2,5minutos. Em cada seção a gravação

com a vocalização foi reproduzida nas quatro direções norte, sul, leste, oeste. A cada

200m da trilha foi estabelecido um ponto de emissão do som. Essa distância foi mantida em

razão de um estudo realizado por Djalles (2012) no Parque Municipal de Pouso Alegre,

com um grupo de C. nigrifrons em que a distância máxima que o grupo respondeu ao

playback foi de 200m.

Page 27: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

27

Uma vez atraídos pelo playback, os animais eram seguidos e identificados com o

auxílio do binóculo e quando possível também foram fotografados. Os avistamentos foram

geralmente rápidos. Os guigós foram procurados nas áreas indicadas normalmente no

período da manhã. Mas, não foi observada menor atividade durante o dia, os animais

responderam o playback durante todo o dia de campo igualmente em todas as áreas

visitadas.

As informações coletadas durante os trabalhos de campo foram plotadas na base de

dados geográfica do IBGE (2003) utilizando SIG (Sistema de Informações Geográficas),

através do software ARC GIS 9.3. Foi utilizada a projeção cartográfica UTM, Zona 23S,

Datum Córrego Alegre. Foram analisadas imagens do Google Earth das áreas a serem

visitadas.

Page 28: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

28

Figura 6. Imagem ilustrativa evidenciando o equipamento de playback utilizado no estudo.

Figura 7. Reprodução de playback em campo para atração dos Guigós.

Page 29: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

29

4. RESULTADOS

4.1 Distribuição geográfica

Para se chegar às localidades previamente escolhidas, foram percorridos, durante sete

meses aproximadamente 10.000 kilometros em 25 expedições, compreendendo no total 29

localidades distribuídas em 14 municípios (Tabela 1). As expedições variavam de três a

cinco dias de duração, dependendo da distância e do cumprimento dos objetivos pré-

estabelecidos antes de cada viagem. Todas as localidades visitadas estão plotadas no mapa

da figura 8.

Das 29 localidades visitadas que compreendem norte, vale do Jequitinhonha e

região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades foram registrados

Callicebus personatus (figura 9). Sendo nos municípios de Claros dos Poções, Francisco

Dumont e Montes Claros, como apresentado nas figuras 10 a 12.

Todos os guigós que foram objeto do presente estudo responderam ao playback, que

utilizou vocalizações de C. personatus. Vale registrar que os guigós responderam ao

playback durante todo o dia, das 05h30min as 18h00min, período que o pesquisador esteve

em campo à procura dos animais. Mas foi preciso utilizar o playback com muito cuidado,

em situações favoráveis aos avistamentos, pois quando a gravação era usada repetidamente,

os guigós deixavam de responder.

O município de Claros dos Poções foi visitado já como uma área de ocorrência de

Callicebus sp, (W.P.Martins com. pess). Os guigós, da espécie C. personatus foram

encontrados em mata ciliar do córrego Santa Fé, afluente do rio Traíras, Claros dos Poções

está na margem direita do Rio Jequitaí.

O município de Buenopólis foi citado anteriormente na literatura por van

Roosmalen et al, (2002) como área de ocorrência de Callicebus sp, o registro mais próximo

dessa localidade citada na literatura foi no município de Francisco Dumont, e onde foi

confirmada a presença de C. personatus. Os animais foram encontrados em áreas de mata

Page 30: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

30

ciliar do Rio Embaiassaia afluente do Rio Jequitaí, o município está na margem esquerda

do Rio Jequitaí.

O registro mais ao norte onde foi encontrado C. personatus para esse estudo foi no

município de Montes Claros. Os guigós foram encontrados 30 km ao sul da sede municipal

da cidade de Montes Claros. Os animais foram encontrados em florestas de encosta com

característica de mata de galeria.

Page 31: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

31

Tabela 1. Localidades visitadas durante o estudo.

Municípios Localidades Coordenadas

Latitude (S) Longitude (W)

G M S G M S

Montes Claros 16 ° 38’ 18’’ 43° 54’ 00’’

Montes Claros 16° 49’ 08’’ 43° 54’ 19’’

Montes Claros 16° 38’ 49’’ 43° 53’ 00’’

Montes Claros 16° 49’ 08’’ 43° 54’ 19’’

Montes Claros 16° 27’ 03’’ 45° 52’ 21’’

Montes Claros Fazenda Sr. Piuzim 16° 53’ 40’’ 43° 49’ 55’’

Montes Claros 16° 45’ 22’’ 43° 46’ 40’’

Montes Claros 16° 45’ 53’’ 43° 46’ 03’’

Montes Claros 16° 39’ 35’’ 43° 54’ 15’’

Montes Claros 16° 37’ 42’’ 43° 52’ 01’’

Montes Claros 16° 40’ 33’’ 43° 57’ 40’’

Juramento Fazenda Sr Oswaldo 16° 54’ 05’’ 43° 32’ 10’’

Juramento Fazenda Sr Valdir 16° 54’ 18’’ 43° 32’ 10’’

Juramento 16° 48’ 53’’ 43° 37’ 58’’

São Francisco Barra do Urucuia 16° 09’ 54’’ 45° 04’ 43’’

Icaraí de Minas Fazenda Sr Alfredo 16° 11’ 27’’ 45° 03’ 24’’

Icaraí de Minas Fazenda Belmonte 16° 10’ 12’’ 45° 04’ 37’’

Bonito de Minas 15° 17’ 41’’ 44° 49’ 14’’

Capitão Eneas 16° 20’ 46’’ 43° 40’ 49’’

São Gonçalo do Rio Preto P E Rio Preto 18° 07’ 35’’ 43° 22’ 30’’

Manga P E Mata Seca 14° 51’ 51’’ 43° 59’ 41’’

Claros dos Poções Fazenda Sr Euclides 17° 07’ 38’’ 44° 12’ 53’’

Bocaiúva 17° 02’ 48’’ 43° 50’ 21’’

Bocaiúva 17° 02’ 21’’ 43° 50’ 18’’

Araçuaí 16° 39’ 50’’ 44° 59’ 41’’

Itamarandiba P E Serra Negra 17° 51’ 40’’ 42° 51’ 55’’

Francisco Dumont Fazenda Sr Eli 17° 25’ 52’’ 42° 07’ 15’’

Conceição do Mato Dentro Fazenda Canto da Serra 19° 08’ 40’’ 43° 24’ 47’’

Conceição do Mato Dentro Fazenda Santo Antonio 19° 04’ 39’’ 43° 24’ 14’’

Page 32: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

32

Figura 8. Mapa evidenciando as localidades visitadas durante o estudo no Norte de Minas Gerais.

Page 33: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

33

Figura 9. Mapa evidenciando as localidades onde foi encontradas populações de Callicebus personatus,

durante o estudo na região Norte e Central de Minas Gerais.

Page 34: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

34

Figura 10. Callicebus personatus

registrado em Claros dos Poções, MG.

Figura 11. Callicebus personatus

registrado em Francisco Dumont, MG.

Figura 12. Callicebus personatus

registrado em Montes Claros, MG.

Page 35: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

35

Em uma expedição realizada para cidade de São Francisco foi registrado através de

informação pessoal com moradores locais a presença de Callicebus sp, mas durante essa

expedição não foi possível confirmar a presença da espécie nessa localidade.

Outras localidades como Parque Estadual da Serra Negra no município de

Itamarandiba, Parque Estadual do Rio Preto no município de São Gonçalo do Rio Preto e o

município de Conceição do Mato Dentro foram investigados com a finalidade de confirmar

a presença de Callicebus personatus e ratificar de que se travava de Callicebus personatus

tipo 1. Em todas essas três localidades visitadas, a espécie Callicebus personatus tipo 1 foi

encontrada e identificada

Uma visita no alto Rio Santo Antonio no município de Conceição do Mato Dentro,

foi efetuada durante esse estudo, com o intuito de verificar qual espécie do gênero

Callicebus ou qual forma de Callicebus personatus habitava aquela região. A fim de

verificar se a Serra do Espinhaço era mesmo uma barreira geográfica como descreve a

literatura. Porém, Callicebus personatus com características da forma típica descrita na

literatura foi observada naquela região, demonstrando assim que a forma típica habita o

lado leste da Serra do Espinhaço.

Um novo mapa de distribuição geográfica de Callicebus personatus foi elaborado,

baseado em dados disponibilizados da literatura, e dos dados coletados nesse estudo.

Segundo a IUNC a extensão de ocorrência da espécie é de 93.453km2 e que sua área de

ocupação seria maior que 2000km2. Para nosso estudo uma área de ocorrência de

133,30km2 foi encontrada, baseada nas novas localidades de distribuição. Apresentando

agora a espécie um acréscimo de 39,847km2, como pode ser observado na figura abaixo

(figura 13).

Page 36: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

36

Figura 13. Mapa evidenciando distribuição geográfica de Callicebus personatus no estado de Minas Gerais.

Page 37: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

37

4.2. Taxonomia

Durante as expedições do presente estudo, foram encontradas duas formas de

Callicebus, uma identificada como Callicebus personatus tipo 1, que é a forma típica

descrita na literatura, que habita a face leste da Serra do Espinhaço encontradas nos

municípios de Itamarandiba, São Gonçalo do Rio Preto e Conceição do Mato Dentro, e uma

outra forma de Callicebus personatus que ainda não foi descrito na literatura, que habita o

lado oeste da Serra do Espinhaço e tem sua distribuição do nordeste do Rio das Velhas até

o município de Montes Claros.

Os demais registros feitos para os municípios de Claros dos Poções, Francisco

Dumont e Montes Claros, o animal visualizado trata-se de uma forma diferente, pois sua

coloração não condiz com nenhuma outra descrita na literatura e sua distribuição geográfica

está em uma que área ainda não havia sido investigada, sendo uma coloração tendendo ao

palha, porém com cauda alaranjada, com porções distais de braços e pés pretos, como pode

ser observado nas figuras 15 e 16.

Page 38: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

38

Figura 14. (A) Formas da espécie Callicebus personatus tipo 1 e 2 modificado do artigo de van Roosmalen et al

(2002) .(B) Callicebus personatus em Conceição do Mato Dentro e (C) Callicebus personatus em Claros dos Poções

evidenciando a cauda alaranjada.

B

C

A

Tipo 2

Tipo 1

Page 39: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

39

Figura 15. (A) Formas da espécie Callicebus personatus tipo 1 e 2 modificado do artigo de van Roosmalen et al

(2002) (B) Callicebus personatus encontrados no Norte de Minas Gerais nos municípios de Claros do Poções (C)

Callicebus personatus encontrados no Norte de Minas Gerais nos municípios de Montes Claros, evidenciando a

diferença na coloração da cauda.

A

C

B

Page 40: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

40

5. DISCUSSÃO

5.1 Distribuição Geográfica

Callicebus personatus é uma espécie pouco estudada em Minas Gerais, e com isso tem-se

poucos acréscimos de novas localidades da espécie para esse estado.

De acordo com esse estudo o guigó não é muito comum no norte do estado de Minas Gerais,

o resultado mostrou que grande parte das áreas visitadas, apresentaram ausência da espécie. Esse

fato pode indicar a associação dessa espécie com a Floresta Estacional Semidecidual.

O guigó foi encontrado no bioma Cerrado, mas em áreas com características florestais que

se encaixam na fitofisionomias de Floresta Estacional Semidecidual Submontana, sendo vegetações

de mata ciliar e mata de galeria, de acordo com a classificação do IEF (2006), a fitofisionomia

predominante no estado de Minas Gerais e a vegetação que esta intimamente ligada a distribuição

de Callicebus personatus na região norte do Estado de Minas Gerais é Floresta Estacional

Semidecidual.

Os registros feitos para os municípios de Francisco Dumont e Claros dos Poções foram em

ambientes florestais, associados a curso de água e confirmam a ideia que os guigós estão

intimamente relacionados com fitofisionomias florestais. Ambientes com características florestais

tendem a fornecer mais proteção para os primatas quanto à predação, e como os guigós são animais

crípticos, esses ambientes fornecem características ideais para esse tipo de comportamento.

A ocorrência da espécie no município de Claros dos Poções e Francisco Dumont está

associada a fragmentos de mata ciliar, apresentando porte arbóreo com altura média variando entre

15 m e 25 m e 20 m e 30 m, respectivamente (ICMBio, 2014), corroborando com o porte arbóreo

usado pelas espécies do gênero citado na literatura (Bicca-Marques e Heymann, 2013). Outro fator

observado no estudo foi a presença de corpos d’água dentro ou nas proximidades de todos os

fragmentos nos quais foram registrada a presença dos guigós, sendo que dois registros foram em

vegetação de mata ciliar, diretamente associada a rios. Sendo assim, estes dois fatores, vegetação de

mata ciliar e cursos d’água associados, são possivelmente fatores limitantes da distribuição de

Callicebus sp. Pois dentro do bioma onde essas formas de guigó foram encontras, as característica

vegetacionais associada a espécie também esta associada a esse tipo de ambiente.

Page 41: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

41

O grupo de guigó encontrado no município de Montes Claros em uma mata de encosta é, até

o presente momento, o registro mais ao norte do gênero no Norte de Minas Gerais. Outros

municípios ao norte do estado foram investigados e não registramos a presença de espécies do

gênero mais ao norte que o município de Montes Claros. O município de Montes Claros, de acordo

com os mapas de fitofisionomias da vegetação de Minas Gerais é o limite entre a Floresta

Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, condição que limitaria a distribuição desse

guigó encontrado no norte de Minas Gerais, e que tem habitado preferencialmente áreas com

condições vegetacionais de florestas.

Dentro dos limites de distribuição geográfica do gênero Callicebus conhecidos nos três

Estados (ES, RJ e MG), a maior área se encontra em Minas Gerais, porém, ao contrário do que se

poderia esperar, é a área pouco estudada e conhecida em termos da ocorrência de espécies do

gênero.

Melo e Rylands (2008) descreveram, no livro vermelho de Fauna ameaçada de Extinção, as

seguintes considerações para a distribuição geográfica de Callicebus personatus:

“Callicebus personatus é uma espécie pouso estudada e por isso mesmo, tem raros acréscimos de

novas localidades os últimos anos. Novas populações foram identificadas no Vale do Aço, em

Minas Gerais (A.P. Paglia, com. pess.), mas, como era esperado para a distribuição geográfica da

espécie (Hershkovitz, 1990), as áreas estão na margem direita do rio Doce. Ainda em Mias Gerais,

o rio Manhuaçu parece marcar seu limite mais ao sul, onde as populações podem ser encontradas

em Manhumirim (C.L.Mendes, com. pess) e no Parque Nacional do Caparaó, sendo essa unidade de

conservação uma incógnita quanto a ocorrência da espécie. Classicamente, C. personatus ocorre em

boa parte do norte de Minas Gerais (Rylands et al. 1988) estendendo-se a oeste, ao longo das

margens norte e sul do rio Jequitinhonha, e alcançando, possivelmente, a localidade de Buenópolis,

indicada por Hershkovitz.

No vale do Jequitinhonha, Melo (2004) conseguiu identificar grupos de C. melanochir

apenas no extremo nordeste do estado, não tendo informação precisa sobre qual espécie habita as

áreas de mata do interior d vale, assim como ocorre ao sul de sua distribuição, seus limites de

ocorrência a oeste do médio rio Doce ainda são pouco definidos”.

Nosso estudo confirma a presença de Callicebus personatus na margem esquerda do Rio

Santo Antônio, e mostra que o Alto Rio Santo Antônio possui vales muito estreitos e que não

Page 42: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

42

servem como barreira para a espécie naquela região. Esse fato corrobora o estudo de Martins,

(2005), em que o Alto Santo Antônio não serve como barreira geográfica para Sapajus robustus e

apresenta essa região como sendo uma zona de intergradação entre S. robustus e S. nigritus. Fato

que pode também ocorrer entre Callicebus personatus e Callicebus nigrifrons, já que é a espécie

que tem a distribuição mais setentrional do gênero. De acordo com Mayr (1963, 1977) apud

Martins (2005), a zona de intergradação entre as espécies se trata de uma faixa estreita, mas o autor

não define bem qual o tamanho dessa faixa para ser considerada estreita. Provavelmente, este

tamanho deve variar de acordo com o tipo de espécie e com o tamanho de sua área de distribuição

geográfica.

Dessa forma, as formações florestais, como mata ciliar e mata de galeria são fundamentais

para a proteção das áreas onde se localizam e constituem uma condição básica para garantir a

manutenção da integridade das populações de guigó, presentes no norte do estado de Minas Gerais.

O status conferido às essas formações florestais permite que estas áreas sejam atualmente

reconhecidas, dentro das unidades fitogeográficas, como uma das formações florestais mais

importantes (Schiavini, 2001).

Em decorrência das pressões antrópicas a que está sujeita a vegetação, ambientes florestados

no estado de Minas Gerais estão se transformando progressivamente em pequenos fragmentos, o

que, consequentemente, pode comprometer a sobrevivência das espécies vegetais e animais

(Rizzini, 1997). Essas formações florestais apresentam uma importante condição ambiental para a

presença de populações de guigó, pois a composição florística é capaz de proporcionar às

características ambientais favoráveis a espécie de estudo.

A escassez de estudos do gênero leva a uma lacuna de muitos parâmetros importantes, como

distribuição geográfica e fatores que levam a esta distribuição, se tornando um dos principais

desafios para o desenvolvimento de estratégias de conservação efetivas (Ferrari et al., 2013)

Os limites de distribuição geográfica do guigó são poucos conhecidos, as hipóteses vigentes

argumentam que os limites geográficos seriam basicamente acidentes geográficos, como rios e

montanhas (Kinzey, 1982). Printes et al (2013) caracteriza o Cerrado como sendo desfavorável a

presença de guigó, mas, nosso estudo mostra que para o norte de Minas, as fitofisionomias

associadas ao Bioma Cerrado, são sim barreiras geográficas para a distribuição de guigó, a falta de

vegetação favorável associada às fitofisionomias que abrangem o Norte de Minas acima do

Page 43: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

43

município de Montes Claros, são vegetações como a mata seca e o cerrado sentido restrito que

aparentemente parece não fornecer ambiente favorável a ocorrência de guigó, que pode esta

associado com dieta, com o comportamento, guigós apresentam comportamento arisco, e o tipo

vegetacional mais condensado pode também oferecer mais segurança em relação a predadores.

Hershkovitz acreditava que, no passado, a mata ciliar em sistemas fluviais do Cerrado teria

fornecido habitats adequados para Callicebus, facilitando a dispersão entre os Biomas Amazônia e

Mata Atlântica. Ele propôs que estes habitats desapareceram durante as mudanças climáticas do

Quaternário, o que deixou o bioma ainda mais seco, restringindo matas ciliares para vales isolados.

Com isso, o Cerrado é caracterizado como barreira ecológica da distribuição de Callicebus em

vários estudos que consideram o bioma como sendo desfavorável para espécies do gênero e que

estas ocorrem somente em áreas de Mata Atlântica vicinais ao bioma (Hershkovitz, 1988; van

Roosmalen, et al 2002; Printes et al., 2013).

Para explicar a especiação do gênero Callicebus, Kinzey (1997) usa a Teoria dos Refúgios

do Pleistoceno, segundo a qual mudanças climáticas nos últimos milhões de anos do quaternário,

tais como uma marcada diminuição da precipitação durante períodos frios e secos, teriam causado a

fragmentação de regiões de florestas e de outros tipos de vegetação, restando refúgios nos quais os

primatas e outros organismos teriam escapado (Defler, 2003). Tais refúgios teriam inclusive

originado gêneros de primatas endêmicos da Mata Atlântica, como Brachyteles e Leontopithecus

(Kinzey, 1982).

5.2 Taxonomia

O histórico taxonômico do gênero Callicebus envolve muitas confusões acerca da validade e

identificação dos táxons. As principais alterações no arranjo taxonômico deste gênero, propostas

por Hershkovitz (1988, 1990), Kobayashi (1995) van Roosmalen et al., (2002) foram arranjos

informais baseados em similaridades morfológicas, citogenéticas e zoogeográficas. Em 1990

Hershkovitz considera a espécie politípica C. personatus que é então composta por quatro

subespécies: C. p. personatus, C. p. melanochir, C. p. nigrifrons e C. p. barbarabrownae,

consideradas membros do seu grupo moloch, porém, o autor cita que a posição sistemática de C.

personatus permanece incerta, e justifica o status subespecífico para as formas de C. personatus

Page 44: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

44

alegando que essas subespécies apresentam uma variação clinal, e que ate os dias atuais não foram

efetivamente investigados.

Esse estudo também teve a intenção de verificar qual espécie de Callicebus sp. Hershkovitz

viu em Buenópolis, norte de Minas Gerais, mas não incluiu em sua publicação de 1990. Segundo o

artigo de van Roosmalen et al., (2002), Hershkovitz não soube dizer qual espécie se tratava e

preferiu não incluir em seu artigo. Pois o guigó visualizado tinha características de coloração

diferentes das descritas na literatura. Nós registramos uma espécie de guigó no município de

Francisco Dumont que dista 30km do ponto de observação de Hershkovitz, assim como os

indivíduos visualizados em Claros dos Poções e Montes Claros e que têm as características de

coloração diferentes das duas formas de Callicebus personatus citado no artigo de van Roosmalen

et al(2002).

A espécie Callicebus personatus segundo a caracterização de van Roosmalen (2002) possui

caracteres faciais todos enegrecidos até a altura das orelhas, características que distingue a espécie

Callicebus personatus de todas as outras espécies do grupo C. personatus. Além disso, van

Roosmalen et al (2002) também afirma a espécie C. personatus tendo duas variações de cor de

corpo e cauda uniformes, uma alaranjada e outra amarela clara, o que o autor nomeia como tipo 1 e

tipo 2. Apesar de citar os dois tipos de variação na coloração, não são fornecidos detalhes sobre a

distribuição entre os morfotipos. Neste estudo a espécie encontrada apresenta os caracteres faciais

de C. personatus, e coloração do corpo bege clara, tendendo ao palha, como C. personatus tipo 2,

porém com cauda diferente da coloração do corpo, com coloração alaranjada.

As espécies do gênero Callicebus que compõem o leste do Brasil apresentam grande

polimorfismo no padrão de coloração entre corpo e cauda como C. barbarabrownae, C. coimbrai e

C. nigrifrons (van Roosmalen et al , 2002), as duas formas descritas de Callicebus personatus não

foram descritas de forma esclarecedora quanto a características morfológicas e distribuição

geográfica, o que vem causando confusões taxonômicas em estudo atuais.

A fim de verificar a forma de Callicebus personatus que ocorria na porção leste da Serra do

Espinhaço, fizemos expedições em três municípios. E as formas visualizadas de Callicebus

personatus em Conceição do Mato Dentro, Parque Estadual da Serra Negra e Parque Estadual do

Rio Preto, confirma a forma 1, conhecida como típica na literatura, no lado leste da Serra do

Espinhaço. A expedição realizada para o município de Conceição do Mato Dentro, teve e intenção

Page 45: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

45

de verificar qual forma ocorria naquela região, a fim de comparar e confirmar que a espécie

encontrada no nosso estudo se tratava mesmo de um tipo diferente, já que nenhuma forma de

Callicebus personatus descrita foi visualizada na face oeste da Serra do Espinhaço. A presença da

forma 1 no Parque Estadual do Rio Preto, confirma que não ocorre variação clinal em Callicebus

personatus, pois os guigós visualizados possuem as mesmas características de coloração dos guigós

presentes nas matas do estado do Espírito Santo e que são descritos na literatura como forma típica

da espécie.

Existe uma grande variação na coloração entre as espécies, que é a característica geralmente

usada para identificação e classificação taxonômica juntamente com a distribuição geográfica

(Hershkovitz, 1990, van Roosmalen et al , 2002).

Nenhum estudo de genética molecular, paleontologia, biogeografia, fisiologia e

comportamento foram conduzidos para contribuir e determinar se são mesmo espécies distintas as

espécies que compõe o leste do Brasil. Essa falta de trabalhos recentes utilizando métodos

modernos de analises das populações de Callicebus resulta em conhecimento deficiente da

diversidade do grupo e da distribuição das espécies. O status específico proposto a todos os táxons

não partiu de uma revisão taxonômica propriamente dita, e sim de uma compilação de dados de

literatura.

Apesar do nosso estudo não ter sido uma revisão taxonômica, mas diante da falta de

consenso entre autores sobre o real status das espécies e que a atual definição de espécie para o

gênero se baseia em coloração e distribuição geográfica, inferimos que o guigó encontrado nesse

estudo trata-se de uma nova forma. Baseado nas características de coloração, as quais se mostraram

diferentes das que já foram apresentadas na literatura e na sua distribuição geográfica, que parece

colocar essas populações de guigó geneticamente isoladas na região norte do estado de Minas

Gerais.

Page 46: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

46

6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BICCA-MARQUES, J. C. & HEYMANN, E. W. Ecology and Behaviour of titi monkey (genus

Callicebus). In: Barnett, A.A., Veiga, L.M., Ferrari, S.F., Norconk, M.A. (eds.). Evolutionary

Biology and Conservation of Titis, Sakis, and Uacaris. Cambridge, Inglaterra: Cambridge

University Press, 2013.

BRANDÃO, M. Área Mineira do Polígono das Secas / cobertura vegetal. Informe Agropecuário,

v.17, n.181, p.5-9, 1994.

CARRILLO-BILBAO,G.; DI FIORE, A.;FERNANDEZ-DUQUE, E. Dieta, forrajeo y presupuesto

de tiempo em cotoncillos (Callicebus discolor) del Parque Nacional Yasuni en la Amazonia

Ecuatoriana. Neotropical Primates. 13: 7-11. 2005

CASELLI, C.B; SETZ, E.Z.F. Feeding ecology and activity pattern of black-fronted titi monkeys

(Callicebus nigrifrons) in a semideciduous tropical forest of southern Brazil. Primates, 52:35– 359.

2011.

CERQUEIRA, R. Determinação de distribuições potenciais de espécies, p. 141-161. Oecologia

Brasiliensis, Vol. 2. Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade Federal

do rio de Janeiro, 161p. 1995.

CHAGAS, R.R.D.; FERRARI, S.F. Habitat use by Callicebus coimbrai (Primates Pitheciidae) and

sympatric species in the fragmented landscape of the Atlantic forest of southern Sergipe, Brazil.

Zoologia. 27: 853–860. 2010.

CHAGAS, R.R.D., SOUZA-ALVES, J.P, JERUSALINSKY, L. & FERRARI, S.F. New records of

Bradypus torquatus (Pilosa: Bradypodidae) from southern Sergipe, Brazil. Edentata, 8-10: 21-24,

2009.

Page 47: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

47

COSTA, M. D.; BONILLO-FERNANDES, F.A.; GONÇALVES, A.V. Densidade e tamanho

populacional de sauás Callicebus nigrifrons em fragmento de mata atlântica em Pouso Alegre, MG.

Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, São Lourenço – MG, pp: 13. 2009.

DJALLES, M. O uso do método áudiotelemetria para mapeamento e estimativa de área de uso dos

sauás no parque municipal de Pouso Alegre.Dissertação de mestrado. 2012.

DEFLER, T.R.; BUENO, M.L.; GARCÍA J. Callicebus caquetensis a new and critically

endangered titi monkey from southern Caquetá, Colombia. Primate Conservation. 25:1 9. 2010.

DEFLER, T.R. Densidad de especies y organizacion espacial de una comunidad de primates:

Estacion Biologica Caparu, Departamento del Vaupes, Colombia. In: Pereira, V., Nassar, F. &

Savage, A. (eds.). Primatología del Nuevo mundo, Bogota, Fundacion Araguatos, 21–37, 2003b.

DELUYCKER, A.M. Insect Prey Foraging Strategies in Callicebus oenanthe in Northern Peru.

American Journal of Primatology. 74: 450–461. 2012.

EMMONS, L.H.; WHITNEY, B.M.; ROSS JR., D.L. Sounds of Neotropical Rainforest Mammals:

an audio field guide. New York: Library of Natural Sounds, Cornell Laboratory of Ornithology,

Ithaca, 1997.

FERNANDES, A. Biodiversidade da caatinga. In: ARAÚJO, E.L. et al. (Ed.). Biodiversidade,

conservação e uso sustentável da flora do Brasil. Recife: UFRPE e SBB, . p.42-43. 2002.

FERRARI, S.F.; Veiga, L.M.; Pinto, L.P.; Marsh, L.; Mittermeier, R.A. & Rylands, A.B. Family

Pitheciidae (titis, sakis and uacaris). In: Handbook of the Mammals of the World. Vol. 3. Primates,

R.A. Mittermeier, A.B. Rylands and D.F. Wilson (Eds.). pp. 432-483. Lynx Edicions, Bracelona.

2013.

FERRARI, S. F., IWANAGA, S., MESSIAS, M. R., RAMOS, E. M., RAMOS, P. C. S., CRUZ

NETO, E. H. & COUTINHO, P. E. G. Titi monkeys (Callicebus spp., Atelidae: Plathyrrini) in the

Brazilian State of Rondonia. Primates, 41(2), 229-234, 2000.

Page 48: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

48

FUTUYMA, D. J. Biologia Evolutiva. Sociedade Brasileira de Genética, CNPq, 2ª edição, São

Paulo, 631pp. 1996.

GEOFFROY SAINT-HILAIRE, É. 1812. Tableau de Qaudrumanes. Annales du Muséum

d’Histoire Naturelle, Paris, 19: 113-114.

GOULD, S.J. & JOHNSTON, R.F. Geographic variation. Annu. Rev. Ecol. Syst. 3:457-498.1972.

GRELLE, C.E.V; CERQUEIRA, R. Determinantes da distribuição geográfica de Callithrix

flaviceps (Thomas) (Primates, Callitrichidae). Revista Brasileira de Zoologia, Vol. 23(2), p. 414-

420. 2006.

HERSHKOVITZ, P. Titis, New World monkeys of the genus Callicebus (Cebidae, Platyrrhini): A

preliminary taxonomic review. Fieldiana, Zool. N.S., 55: 1-109. 1990.

HERSHKOVITZ, P. Origin, speciation, dispersal of South American titi monkeys, genus

Callicebus (family Cebidae, Platyrrhini). Proce. Acad. Nat. Sci. Philadelphia. 140(1): 240–272.

1988.

HERSHKOVITZ, P. Living New World monkeys (Platyrrhini) with an introduction to primates.

Vol.1. University of Chicago Press, Chicago. 1977.

HERSHKOVITZ, P. A. Systematic and zoogeographic account of the monkeys of the genus

Callicebus (Cebidae) of the Amazonas and Orinoco River basins. Mammalia 27(1): 1–80. 1963.

HELTNE, P.G; THORINGTON, Jr.R.W. Problems and potentials for primate biology and

conservation in the New World. R.W. Thorington; P.G. Heltne (orgs.). Neotropical Primates- field

studies and conservation. National Academy of Sciences, Washington, D.C, p.110-124. 1976.

HEIDUCK, S. The use of disturbed and undisturbed forest by masked titi monkey Callicebus

personatus melanochir is proportional to food availability. Oryx, 36, 133-139, 2002.

HUGGETT, R. J. Fundamentals of Biogeography. 2. Ed. p. cm. – (Routledge fundamentals of

physical geography series) Includes bibliographical references and index. 1. Biogeography. I. Title.

II. Series. 1998.

Page 49: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

49

IEF (INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS) Inventário Florestal do Estado de Minas Gerais.

2006.

ICMBIO- INSTITUTO CHICO MENDES DE BIOLOGIA. 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapas Interativos:

relevo, solos e vegetação. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

CONCAR.2005.

JERUSALINSKY, 2013. Distribuição geográfica e conservação de Callicebus coimbrai Kobayashi

e Langguth, 1999 (Primates, Pitheciidae) na Mata Atlântica do nordeste Brasil. Tese de Doutorado.

Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade Federal da Paraíba.

KINZEY, W.G. New World Primates: Ecology, Evolution and Behaviour. New York, Aldine de

Gruyter, 440p. 1997.

KINZEY, W.G; BECKER, M. Activity pattern of the masked titi monkey, Callicebus personatus.

Primates 24: 337-343. 1983.

KINZEY, W.G. Distribution of primates and forest refuges. In: Biological Diversification in the

Tropics. G. T. Prance (ed.). New York: Columbia University Press, p. 455-482, 1982.

KINZEY W.G. The titi monkey, genus Callicebus. In. Ecology and Behaviour of Neotropical

Primates (Coimbra-Filho AF, Mittermeier RA, eds.), pp. 241-276. Rio de Janeiro, Academia

Brasileira de Ciências. 1981.

KINZEY, W.G., Rosenberger, A.L., Heisler, P.S., Prowse, D.L. & Trilling, J. S. A preliminary field

investigation of the yellow handed titi monkey, Callicebus torquatus torquatus, in northern Peru.

Primates, 18, 159-181, 1977.

KOBAYASHI, S. & LANGGUTH, A.B. A new species of titi monkey, Callicebus Thomas, from

north-eastern Brazil (Primates, Cebidae). Revista Brasileira de Zooogia, 16, 531-551, 1999.

Page 50: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

50

KOBAYASHI, S. A phylogenetic study of titi monkey, genus Callicebus, based on cranial

mensurements: I. Phyletic groups of Callicebus. Primates, 36(1): 101-120. 1995.

MARTINS, W.P. Distribuição geográfica e conservação do macaco-prego-de-crista, Cebus

robustus (Primates, Cebidae). 2005. Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas

como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ecologia, conservação e manejo de

vida silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2005.

MAY, R. Unanswred questions in ecology. Philosophical transactions of the Royal Society B.

Biological Sciences. 353;1951-1959. 1999.

MELO, F.R. Primatas e áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no vale do rio

Jequitinhonha, Minas Gerais. Tese de doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. 2004.

MELO, F..R; RYLANDS. Mamíferos: Callicebus personatus, in: A. MACHADO A.B.M.;

DRUMMOND, G.M.; PAGLIA, A.P. eds. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de

Extinção. Brasília, Ministério do Meio Ambiente. 2008.

MENDES, S.L. Padrões biogeográficos e vocais em Callithrix do grupo jacchus.1997. Tese de

Doutorado. Programa de Pós-graduação em Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Estadual

de Campinas. Campinas, São Paulo,. 155 p. 1997.

NORCONK, M. A.; ROSENBERGER, A. L. & GARBER, P. A. (Eds.). Adaptative radiations of

neotropical Primates. New York, Plenum Press. p. 383-401.2007.

OLIVER, W. L. R.; SANTOS, I. B.. Threatened endemic mammals of the Atlantic Forest region of

South-east Brazil. Wildlife Preservation Trust. 125p. (Special Scientific Report,4). 1991

Page 51: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

51

PALACIOS, E., RODRIGUEZ, A. & DEFLER, T. R. Diet of group of Callicebus torquatus lugens

(Humboldt, 1812) during the annual resource bottleneck in Amazonian Colombia. International

Journal of Primatology, 18, 503-522, 1997.

PINTO, L.P. de S. Distribuição Geográfica, População e Estado de Conservação do mico-leão-da-

cara-dourada Leontopithecus chrysomelas (Callitrichidae, Primates). 1994. Tese de Mestrado,

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1994.

PEDRALLI, G. Florestas secas sobre afloramento de calcário em Minas Gerais: Florística e

fisionomias. Rev. BIOS, Cadernos do departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v.5,

p.81-88, 1997.

PRINTES, R. C., JERUSALINSKY, L., SOUSA, M., RODRIGUES, L. R. & HIRSCH, A.

Zoogeography, genetic variation and conservation of the Callicebus personatus Group. In: Barnett,

A.; Veiga, L.; Ferrari, S. & Norconk, M. (eds.). Evolutionary Biology and Conservation of Titis,

Sakis and Uakaris. Cambridge University Press, Cambridge, UK. 2013.

PRINTES, R.C., A.B. RYLANDS; J.C. BICCA-MARQUES.. Distribution status of the critically

endangered bold titi monkey Callicebus barbarabrownae of north-east Brazil. Oryx 45(3): 439-443.

2011.

PRINTES, R.C. Avaliação taxônomica, distribuição e status do guigó-da-Caatinga Callicebus

barbarabrownae, Hershshkovitz, 1990. Tese apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas como

parte dos requisitos para a obtenção do grau de Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de

Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007.

RYLANDS, A.B.; Mittermeier, R.A. & Silva-Júnior, J.S. Neotropical primates: taxonomy and

recently described species and subspecies. International Zoo Yearbook, 45(1): 1748-1090. 2012.

RYLANDS, A. & MITTERMEIER, A. R. The diversity of the new world Primates (Platyrrhini): an

annotated taxonomy. In: Garber, P. A.; Estrada, A.; Bicca-Marques, J. C.; Heymann, E. W. &

Page 52: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

52

Strier, K. B. (Eds.). South American Primates: Comparative Perspectives in the Study of Behavior,

Ecology and Conservation. New York, Springer. p.23-54. 2008.

RYLANDS, A.B.; CHIARELO, A.G. Official List of Brazilian Fauna Threatened with Extinction –

2003. Neotropical primates, v. 11, n. 1, p. 43- 49, 2003.

RYLANDS, A.B.;MITTERMEIER, R.A.;RODRIGUEZ-LUNA, E. A species list for the New

World primates (Platyrrhini): distribution by country, endemism, and conservation status according

to the Mace-Land system. In: Neotropical Primates, Vol. 3, p.113-160. 1995.

RYLANDS, A.B.; KEUROGHLIAN, A. Primate populations in continuous forest and forest

fragments in central amazonia. Acta amazonica, v. 18, n. 3-4, p. 291-307, 1988.

RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2ª

ed. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural Ltda. 1997.

RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do bioma cerrado. In: SANO, S. M.;

ALMEIDA, S. P. (Ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, p. 89-166. 1998.

SANTOS JUNIOR, E. M. Observações preliminares sobre a ecologia comportamental do

Callicebus coimbrai na Mata Atlântica de Sergipe. Universidade Federal de Sergipe, Monografia.

2007.

SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina. EMBRAPA-CPAC, 556 p.

1998.

SILVA-JÚNIOR, J.S.; FIGUEIREDO, W.M.B. & FERRARI, S.F. Taxonomy and Geographic

Distribution of the Pitheciidae. In: L.M. Veiga, A.A. Barnett, S.F. Ferrari and M.A. Norconk (Org.).

Evolutionary Biology and Conservation of Titis, Sakis and Uacaris, 1 ed. Cambridge: Cambridge

University Press, pp. 31-42. 2013.

Page 53: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

53

SILVA-JÚNIOR, M. C.; FELFILI, J. M.; WALTER, B. M. T. NOGUEIRA, P. E.; REZENDE, A.

V.; MORAIS, R. O. & NÓBREGA, M. G. G. Análise da flora arbórea de matas de galeria no

Distrito Federal: 21 levantamentos. Pp. 142-191. In: J. F RIBEIRO; C. E. L. FONSECA & J. C.

SOUSA-SILVA (eds.). Cerrado: caracterização e recuperação de matas de galeria. Planaltina,

EMBRAPA-Cerrados. 2001

SOUZA-ALVES, J.P.; FONTES, I.P.; CHAGAS, R.R.D.; FERRARI, S.F. Seasonal versatility in

the feeding ecology of a group of titis (Callicebus coimbrai) in the northern Brazilian Atlantic

Forest. American Journal of Primatology 73: 1199–1209. 2011.

SOUSA, M.C., SANTOS, S.S. & VALENTE, M.C.M. Distribuicao e variacao na pelagem de

Callicebus coimbrai (Primates: Pitheciidae) nos estados de Sergipe e Bahia, Brasil. Neotropical

Primates, 15:54-59, 2008.

SCOLFORO, J. R.; MELLO, J. M.; OLIVEIRA, A. D. Inventário florestal de Minas Gerais,

Cerrado: florística, estrutura, diversidade, similaridade, distribuição diamétrica e de altura,

volumetria, tendências de crescimento e áreas aptas para manejo florestal. Lavras: UFLA, 816 p.

2008.

SCHIAVINI, I.; RESENDE, J. C. F. & AQUINO, F. G. Dinâmica de populações de espécies

arbóreas em matas de galeria e mata mesófila na margem do ribeirão do Panga, MG. Pp. 267-299.

In: J. F. RIBEIRO; C. E. L FONSECA; J. C. & J. C. SOUSA-SILVA (eds.). Cerrado:

caracterização e recuperação de matas de galeria. Planaltina, EMBRAPA-Cerrados. 2001.

TOWNSEND, C.R.; BEGON, M.; HARPER, J.L. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre,

Artmed. 2010.

TURNER, I. M. Species loss in fragments of tropical rain forest: A review of the evidence. Journal

of Animal Ecology, 33: 200–209, 2005.

Page 54: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

54

Van ROOSMALEN, M.G.M., T.; van ROOSMALEN; R.A. MITTERMEIER. A taxonomic review

of the titi monkeys, genus Callicebus Thomas, 1903, with the description of two new species,

Callicebus bernhardi and Callicebus stephennashi, from Brazilian Amazonia. Neotropical Primates

10 (Suppl.): 1-52. 2002.

VERMEER, J.; TELLO-ALVARADO, J.C.; MORENO-MORENO, S.; GUERRA-VÁSQUEZ, F.

Extension of the geographical range of white-browed titi monkeys (Callicebus discolor) and

evidence for sympatry with san martin titi monkeys (Callicebus oenanthe). International Journal of

Primatology 32:924–930. 2011

Page 55: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

55

LOCALIDADE MUNICIPIO ESTADO LATITUDE LONGITUDE FONTE

Alegre Alegre Espírito Santo 20°46’ 00’’ 41° 28’ 00’’ Kinzey 1982

Domingos Martins Domingos Martins Espírito Santo 19° 08’ 00’’ 40° 38’ 00’’ Kinzey 1982

Colatina Colatina Espírito Santo 19° 32’ 00’’ 40° 37’ 00’’ Kinzey 1982

São Mateus São Mateus Espírito Santo 18°44’ 00’’ 39° 51’ 00’’ Kinzey 1982

R B Sooretama Linhares Espírito Santo 19° 00’ 00’’ 40° 10’ 00’’ Kinzey 1982

Linhares Linhares Espírito Santo 19° 25’ 00’’ 40° 04’ 00’’ Kinzey 1982

Santa Tereza Santa Tereza Espírito Santo 19° 55’ 00’’ 40° 36’ 00’’ Kinzey 1982

Rio Suaçui Governador Valadares Minas Gerais 18° 50’ 00’’ 41° 46’ 00’’ Kinzey 1982

Teófilo Otoni Teófilo Otoni Minas Gerais 17° 51’ 00’’ 41° 30’ 00’’ Kinzey 1982

P E Rio Doce Timóteo Minas Gerais 19° 30’ 00’’ 42° 30’ 00’’ Kinzey 1982

Coronel Fabriciano Coronel Fabriciano Minas Gerais 19° 31’ 00’’ 42° 38’ 00’’ Kinzey 1982

Fazenda Sr. Piuzim Montes Claros Minas Gerais 16° 53’ 40’’ 43° 49’ 55’’ Souza 2014

P E do Rio Preto P E Rio Preto Minas Gerais 18° 07’ 35’’ 43° 22’ 30’’ Souza 2014

Fazenda Sr. Euclides Claros dos Poções Minas Gerais 17° 07’ 38’’ 44° 12’ 53’’ Souza 2014

P E Serra Negra Itamarandiba Minas Gerais 17° 51’ 40’’ 42° 51’ 55’’ Souza 2014

Fazenda Sr. Eli Francisco Dumont Minas Gerais 17° 25’ 52’’ 44° 07’ 15’’ Souza 2014

Fazenda Canto da Serra Conceição do Mato Dentro Minas Gerais 19° 08’ 40’’ 43° 24’ 47’’ Souza 2014

Fazenda Santo Antonio Conceição do Mato Dentro Minas Gerais 19° 04’ 39’’ 43° 24’ 14’’ Souza 2014

Minas Novas Minas Novas Minas Gerais 17° 12’ 56’’ 42° 35’ 10’’ Rylands 1988

Page 56: Extensão da distribuição geográfica de Callicebus ... · envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do espaço e do tempo (Hugget,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

56