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Extensão da distribuição geográfica
de Callicebus personatus (Geoffroy,
1812).
Sara Machado de Souza
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
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Extensão da distribuição geográfica de
Callicebus personatus (Geoffroy, 1812).
Dissertação apresentada para a obtenção do
título de Mestre em Ciências Biológicas à Universidade
Estadual de Montes Claros, Minas Gerais.
Área de Concentração: Biologia e Conservação
Orientador: Dr. Waldney Pereira Martins
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
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Extensão da distribuição geográfica de
Callicebus personatus (Geoffroy, 1812).
“O problema não é inventar.
É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronto nossa edição convincente.”
Carlos Drumond de Andrade
Montes Claros – Março de 2015
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AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Waldney pela orientação, confiança, conhecimento compartilhado, amizade e
também pelas risadas e pelo objetivo realizado.
Dedico esse trabalho aos meus pais Guilherme e Elenice, que me ensinaram o tripé para
realizações dos sonhos: a humildade, o conhecimento e o trabalho. E aos meus irmãos
Tiago e Lucas que são sempre meus melhores amigos e companheiros. A todos vocês muito
obrigada: Pai, Mãe, Tiaguinho, Lulu, Regi, Tintia, Gui, por toda força e dedicação. Meu
amor por vocês é incondicional.
Ao Alcilane, que acreditou, confiou, ajudou. Que foi companheiro e colaborador.
Aos colegas de mestrado e da Unimontes, vocês estarão sempre na lembrança.
Ao laboratório de Ecologia e Conservação de Mamíferos.
Ao laboratório de Geoprocessamento pela ajuda na elaboração dos mapas.
Ao Steve Nash pela disponibilização das suas pranchas.
Ao programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Unimontes.
Aos integrantes da banca Dr. Fabiano Rodrigues Melo e Dr. Rodrigo Pessoa por aceitarem
o convite e pelo acréscimo na discussão desse estudo.
Aos dias de alegria e aos dias de tristeza que a vida me mandou, me amadureceram.
Aos meus guigós, impossível não chamá-los de meus, pela beleza do conhecimento
proporcionado.
E finalmente agradeço a quem inspirou e tornou possível tudo isto, dimensionando meus
dias através de cada beleza que eu pude ver e de cada pedra que precisei carregar e pelo
tanto que aprendi: A Deus.
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RESUMO
O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das
tarefas básicas da Ecologia sendo uma questão complexa, principalmente quando as
espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação. O gênero
Callicebus é amplamente distribuído na América do Sul a leste dos Andes, ocorrendo em
quase todos os principais biomas. Atualmente são reconhecidos cinco grupos: Torquatus,
Cupreus,Moloch, Donacophilus e Personatus. O grupo Personatus está restrito à Mata
Atlântica e Caatinga do leste do Brasil. Vários autores apontam dificuldade na identificação
dos táxons deste grupo. O objetivo desse estudo foi definir os limites atuais de distribuição
de Callicebus personatus e mapear a área de ocorrência da espécie na região norte do
estado de Minas Gerais. A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações
sobre a distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio
do Sistema de Informações Geográficas (SIG). Para atrair os guigós e obter respostas,
utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a partir do CD “Sounds of
Neotropical Rainforest Mammals” Das 29 localidades visitadas que compreendem norte,
vale do Jequitinhonha e região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades
foram registrados Callicebus personatus, nos municípios de Claros dos Poções, Francisco
Dumont e Montes Claros. Tal espécie apresenta característica de coloração e distribuição
geográfica que ainda não haviam sido citadas na literatura.
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ABSTRACT
O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das
tarefas básicas da Ecologia sendo uma questão complexa, principalmente quando as
espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação. O gênero
Callicebus é amplamente distribuído na América do Sul a leste dos Andes, ocorrendo em
quase todos os principais biomas. Atualmente são reconhecidos cinco grupos: Torquatus,
Cupreus,Moloch, Donacophilus e Personatus. O grupo Personatus está restrito à Mata
Atlântica e Caatinga do leste do Brasil. Vários autores apontam dificuldade na identificação
dos táxons deste grupo. O objetivo desse estudo foi definir os limites atuais de distribuição
de Callicebus personatus e mapear a área de ocorrência da espécie na região norte do
estado de Minas Gerais. A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações
sobre a distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio
do Sistema de Informações Geográficas (SIG). Para atrair os guigós e eliciar respostas,
utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a partir do CD “Sounds of
Neotropical Rainforest Mammals” Das 29 localidades visitadas que compreendem norte e
região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades foram registrados
Callicebus personatus, nos municípios de Claros dos Poções, Francisco Dumont e Montes
Claros. Tal espécie apresenta característica de coloração e distribuição geográfica que ainda
não haviam sido citadas na literatura.
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SUMARIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8
2. OBJETIVO ..................................................................................................................... 21
2.2. Objetivo Geral .......................................................................................................... 21
3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 22
3.1. Área de estudo .......................................................................................................... 22
3.2. Coleta de dados ........................................................................................................ 26
4. RESULTADOS .............................................................................................................. 29
4.1 Distribuição geográfica ............................................................................................. 29
4.2. Taxonomia ................................................................................................................ 37
5. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 40
5.1 Distribuição Geográfica............................................................................................ 40
5.2 Taxonomia ................................................................................................................. 43
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 46
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1. INTRODUÇÃO
O conhecimento e a caracterização da distribuição geográfica de organismos é uma das
tarefas básicas da Ecologia (May, 1999), sendo uma questão complexa, principalmente
quando as espécies ocorrem ao longo de gradientes geográficos, climáticos e de vegetação
(Gould & Johnston, 1972). Entender o padrão de distribuição de determinada espécie, de
acordo com suas características ecológicas e as condições ambientais é o assunto que
envolve a Biogeografia, ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no contexto do
espaço e do tempo (Hugget, 1998).
A biogeografia possui duas abordagens fundamentais, sendo a histórica, que se
fundamenta nos eventos de grande escala e de longo prazo como a deriva continental e as
mudanças climáticas; e a ecológica, onde a área de ocorrência de um táxon é inferida a
partir de informações pontuais, ou seja, as localidades nas quais o táxon foi registrado
(Cerqueira, 1995). O objetivo comum dessas abordagens é definir os limites de distribuição
de um táxon em relação aos de outros taxa e os fatores ambientais e histórico-geográficos
que a influencia (Townsend et al., 2006).
Os fatores que limitam a distribuição geográfica das espécies sejam eles bióticos ou
abióticos ou ainda determinados por processos de diferentes escalas tanto históricas como
ecológicas são muitas vezes difíceis de serem identificados. As dificuldades vão desde a
falta de amostras suficientes para detectar as extensões e descontinuidades da distribuição
da espécie, até a dinâmica espaço-temporal que as espécies apresentam nas suas
distribuições geográficas. As espécies não se distribuem aleatoriamente, indicando que
alguns, ou muitos, fatores ambientais podem determinar os limites das distribuições.
(Cerqueira, 1995).
Mudanças na distribuição geográfica podem surgir devido à descaracterização da
paisagem, sendo essa causada principalmente em decorrência da crescente demanda das
populações humanas que geram com isso a degradação ambiental. (Turner, 2005).
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O clima e a vegetação são determinantes conhecidos das distribuições geográficas de
várias espécies de mamíferos, onde os pontos empíricos de ocorrência das espécies podem
ser analisados a partir de seus fatores climáticos, de vegetação e de altitude. (Grelle e
Cerqueira, 2006).
O Estado de Minas Gerais abrange uma grande variedade de formações vegetais,
devido principalmente a sua vasta extensão territorial e, consequentemente, as diversas
condições topográficas, geológicas e climáticas (Fernandes, 2002). Entre estas formações,
estão presentes o Cerrado e a Caatinga com suas várias fitofisionomias (Sano & Almeida,
1998).
O Norte de Minas Gerais está inserido em uma área de transição entre os domínios
do Cerrado e da Caatinga. A vegetação da região expressa uma condição de sobrevivência
ligada à deficiência hídrica, adaptada a um clima severo, com baixa precipitação anual
distribuída em um curto período do ano (Sano & Almeida, 1998; Fernandes, 2002). A
vegetação local compreendida como uma floresta estacional decídua, abrangendo as “Matas
Secas”, que segundo Pedralli (1997) possuem estrutura e composição florística muito
variadas, definidas pelo seu ritmo estacional, que se traduz por elevado grau de deciduidade
foliar durante a seca. Adicionalmente, as “Matas Secas” nessa região são freqüentemente
cortadas por córregos intermitentes rodeados por florestas de galeria. As Matas de Galeria
são perenifólias e floristicamente similares à Mata Seca, sendo a transição entre estas
praticamente imperceptível na região, diferenciando-se pela estrutura, que em geral é mais
densa e mais alta e pela associação ao curso de água (Ribeiro & Walter, 1998).
A dinâmica dos rios tem sido sugerida como a maior força na especiação alopátrica
(processo de formação de espécies a partir de um isolamento geográfico completo) e
parcialmente responsável pela alta diversidade biológica, principalmente no alto Amazonas
(Salo et al., 1986 apud Rylands, 1996). Grandes rios, tais como Rio São Francisco, Rio
Doce, Rio Jequitinhonha e Rio Grande, vêm sofrendo com a destruição das florestas e o
assoreamento, tais efeitos nos rios dificultam a compreensão do papel destes como barreiras
geográficas para primatas (Rylands, 1996). Em alguns casos a redução da largura e volume
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dos rios resulta na expansão da distribuição de algumas espécies de primatas (Rylands,
1996). No entanto, diferente do que ocorre na Amazônia, acredita-se que a topografia da
Mata Atlântica é mais significante do que a dinâmica dos rios para determinar a
composição florística dos habitats disponíveis para os primatas (Rylands, 1996).
A distribuição geográfica e a taxonomia estão profundamente ligadas, já que cada
espécie está limitada a uma determinada região. Populações vizinhas de uma (ou várias)
espécie(s) podem ter sua variação estruturada de três formas (Mayr, 1963, 1977, apud
Martins 2005):
a) Variação Clinal: populações próximas que apresentam mudança gradual. Grande parte da
variação geográfica é clinal. Os fatores seletivos ambientais variam ao longo da clina e
fazem com que os organismos respondam fenotipicamente a essa variação. Mas o fluxo
gênico diminui as forças seletivas, homogeneizando as populações.
b) Isolamento geográfico: populações separadas geograficamente da área de distribuição
geográfica da espécie. Esta separação, de origem extrínseca, limita o fluxo gênico das
populações de uma espécie. Esses isolamentos podem transformar em espécies distintas,
extinguir ou restabelecer o contato com o corpo principal da espécie formando uma zona
secundária de contato;
c) Zona de intergradação: Faixas estreitas da distribuição de uma espécie, com
variabilidade acentuada, limitadas de qualquer lado por grupos de populações ou
subespécies estáveis e bastante uniformes.
Um dos grandes problemas para a conservação de primatas neotropicais é a
existência de várias lacunas em relação à distribuição geográfica de várias espécies e
subespécies (Rylands et al., 1995). Um conhecimento inadequado sobre a distribuição das
espécies pode causar uma avaliação equivocada da situação de suas populações, limitando
os esforços de conservação (Heltne & Thorington, 1976).
A fauna de primatas da América do Sul caracteriza-se por uma grande riqueza de
espécies e subespécies, com alto grau de endemismo e padrões biogeográficos complexos.
A amplitude do continente, a escassez de coletas e o pequeno número de pesquisadores de
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campo fazem com que a taxonomia e distribuição geográfica de muitos grupos de primatas
e os fenômenos evolutivos a ela associados, sejam pouco conhecidos (Mendes, 1997).
O gênero Callicebus Thomas, 1903 está inserido dentro da família Pitheciidae
juntamente com os gêneros Pithecia, Chiropotes e Cacajao (Rylands et al., 2000; Rylands
& Mittermeier, 2009). Os pitecídeos constituem um grupo ligado ecologicamente e
filogeneticamente, mas exibem uma ampla variação em características como o tamanho
corporal e comportamento social (Norconk, 2007).
Callicebus ocorre exclusivamente na América do Sul, a leste dos Andes. Sua
distribuição inclui quase todos os principais biomas tropicais da América do Sul, como a
Floresta Amazônica, o Pantanal, as florestas secas e semideciduais do Chaco e da Caatinga,
a Mata Atlântica e a floresta adjacente semidecidual do leste do Brasil (Hershkovitz 1990;
Kinzey, 1983). Popularmente são conhecidos como sauás e guigós (Mata Atlântica) e
zogue-zogues (Amazônia brasileira).
Segundo Printes, (2006) definir a origem do gênero Callicebus no tempo e no
espaço é tão complexo quanto estabelecer a origem de todos os primatas neotropicais. A
grande dificuldade está na ausência de seqüências fósseis completas, ficando as evidências
muito inferior aos pressupostos. Ainda segundo esse autor, fragmentações e interrupções
das rotas de dispersão provocadas pela formação dos rios teriam isolado populações,
resultando padrões de simpatria e especiação gradativa.
Hershkovitz (1988, 1990) acredita que a origem do gênero Callicebus foi na região
do alto Amazonas, tendo os primatas posteriormente dispersado para as terras mais baixas
através das florestas de galeria dos cursos dos rios. Esta dispersão teria ocorrido
principalmente durante as mudanças climáticas do período quaternário.
Para explicar a especiação do gênero Callicebus, Kinzey (1997) utilizava a Teoria
dos Refúgios do Pleistoceno, segundo a qual mudanças climáticas nos últimos milhões de
anos do quaternário, tais como uma marcada diminuição da precipitação durante períodos
frios e secos, teriam causado a fragmentação de regiões de florestas e de outros tipos de
vegetação, restando refúgios nos quais os primatas e outros organismos teriam sobrevivido
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(Defler, 2003). Ainda hoje não existe um consenso sobre isto, embora a Teoria dos
Refúgios do Pleistosceno seja atualmente mais aceita para os primatas em geral (Futuyma,
1996).
Hershkovitz (1963) analisando uma amostra total de 105 espécimes do gênero
produziu uma revisão sistemática dos Callicebus da bacia dos rios Amazonas e Orinoco,
reconhecendo apenas três espécies politípicas para o gênero, e propôs formalmente a
separação do gênero em grupos de espécies, os quais chamou de: grupo C. moloch (com
sete subespécies – C. m. moloch, C. m. hoffmannsi, C. m. donacophilus, C. m. cupreus, C.
m. brunneus, C. m. ornatus, C. m. discolor), grupo C. torquatus (com três subespécies – C.
t. torquatus, C. t. lugens e C. t. medemi- sendo esta última uma nova subespécie descrita
nesta ocasião), e ainda o terceiro grupo, que apesar de não estar incluso no trabalho, o autor
cita ser composto por três subespécies (gigot, melanochir, brunello) que se distribuem do
estado de São Paulo até a Bahia, que seria as formas do leste do Brasil.
Hershkovitz (1988) analisou aproximadamente 1.200 espécimes, e baseando-se na
morfologia do crânio, pós-crânio, dentição, pelagem e coloração, o autor elaborou um novo
arranjo taxonômico para o gênero, onde reconheceu 13 espécies, sendo cinco delas
politípicas (totalizando 24 táxons terminais). O autor incluiu a espécie politípica C.
personatus no seu grupo C. moloch, mas reconhece que as formas de C. personatus (C. p.
melanochir, C. p. nigrifrons, C. p. personatus) possuem tamanho maior que as demais
formas do grupo C. moloch, e que possivelmente poderiam representar um grupo distinto,
com tamanho similar ao grupo C. torquatus.
Hershkovitz (1990) considerou treze espécies válidas, com o mesmo arranjo de
grupos, chamando-os modestus, donacophilus, moloch e torquatus. Uma nova subespécie
foi descrita nessa ocasião, C. personatus barbarabrownae, totalizando 25 táxons.
Kobayashi (1995) produziu uma análise fenética do gênero baseado em caracteres
métricos cranianos. Analisando uma amostra total de 686 espécimes, o autor propôs um
arranjo com 13 espécies sendo quatro politípicas, totalizando 25 táxons terminais. Os
táxons adotados por Kobayashi (1995) são exatamente os mesmos considerados válidos por
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Hershkovitz (1990). O grupo Personatus de Kobayashi (1995) equivale exatamente às
formas do leste do Brasil.
Kobayashi e Langguth (1999) descreveram uma nova espécie que classificaram
como pertencente ao Personatus (Kobayashi, 1995), C. coimbrai, que estaria presente na
Mata Atlântica do Estado de Sergipe, Brasil. Os autores sugeriram que as outras
subespécies deste grupo (C. p. personatus, C. p. nigrifrons, C. p. melanochir, C. p.
barbarabrownae) deveriam ser tratadas como espécies plenas.
Van Roosmalen et al. (2002) fizeram uma revisão dos trabalhos de Hershkovitz
(1963, 1988, 1990), de Kobayashi (1995) e de Kobayashi e Langguth (1999), e com base
em uma união de dados de literatura, van Roosmalen et al. (2002) consideraram válidos os
cinco grupos de espécies propostos por Kobayashi (1995), e elevaram ao nível de espécies
plenas, todos os 26 táxons reconhecidos até aquele momento, incluindo mais duas espécies
descritas nesta ocasião, C. stephennashi e C. bernhardi. Em relação ao grupo Personatus,
van Roosmalen et al. (2002) consideraram válidas as cinco espécies: C. personatus, C.
nigrifrons, C. melanochir, C. barbarabrownae e C. coimbrai (figura 1).
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Figura 1. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al
2002, evidenciando a distribuição geográfica.
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Espécies do grupo Personatus (figura 1), são exclusivamente as únicas espécies do
gênero Callicebus extra-amazonico e são encontradas em todos os estados da região
Sudeste do Brasil e dois do Nordeste (Bahia e Sergipe).
Os guigós (Figura 2) são primatas monogâmicos com grupos constituídos
basicamente por dois adultos (macho e fêmea) e proles de um a quatro indivíduos, sendo
um deste o sub-adulto (Bicca-Marques & Heymann, 2013). São territorialistas, de hábitos
arborícolas, quadrúpedes, e diurnos (van Roosmalen et al., 2002). Pesam entre 1 e 2 Kg,
com tamanho variando entre 287-390 mm de comprimento (cabeça-corpo) e a cauda pode
chegar a 1/3 ou maior que esse comprimento (Kinzey & Becker, 1983; Kinzey, 1997) e
habitam uma área de vida relativamente pequena, geralmente entre 10 e 22 hectares (Bicca-
Maques & Heymann,2013).
São animais que costumam se adaptar a qualquer tipo de habitat, sendo
relativamente tolerante a fragmentação (Chagas, 2009), contudo, alguns autores comentam
que os guigós, são considerados especialistas de habitat (Defler, 2003; Ferrari et al., 2000).
São observados mais frequentemente nos estratos médio abaixo da floresta (Kinzey, 1981;
Palacios et al., 1997).
O macho adulto contribui para o cuidado parental, principalmente com o transporte
do filhote. A defesa do território é baseada em vocalizações inter-grupal usualmente
realizado pelo macho e fêmea adulta em dueto (Kinzey et al., 1977). São principalmente
frugívoros, com preferência pelas espécies das famílias Moraceae, Leguminosae e
Sapotaceae (Norconk, 2007), mas complementam sua dieta com folhas, flores ou insetos.
Embora sejam frugívoros, as espécies que habitam a Mata Atlântica preferem
complementar sua dieta com folhas e as espécies amazônicas mostram certa preferência por
insetos (Bicca-Marques & Heymann,2013).
Poucos estudos de longo prazo têm examinado a dieta dos guigós. Alguns autores
(Kinzey & Becker, 1983; Palacios et al., 1997) comentam que diferenças no tipo de
alimento escolhido podem ser influenciadas pelo habitat ou da disponibilidade de recursos.
Os guigós passam a maior parte do dia em atividades de descanso, seguido por alimentação
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e locomoção (Heiduck, 2002). O percurso diário raramente ultrapassa 1 km (Bicca-
Marques & Heymann, 2013).
Em relação às espécies do leste do Brasil, em especial, suas formas historicamente
reconhecidas como subespécies, não passaram por uma análise criteriosa sobre sua
variação. Alguns autores têm citado uma grande dificuldade em diferenciar e identificar os
táxons deste grupo (Printes, 2007; Sousa et al, 2008). As espécies de Callicebus são
divididas em grupos, que são arranjos informais baseados em semelhanças morfológicas,
citogenéticas e zoogeográficas (Silva et al., 2013). Existe uma grande variação na
coloração entre as espécies, que é a característica geralmente usada para identificação e
classificação taxonômica (Hershkovitz, 1990, van Roosmalen et al, 2002).
A espécie Callicebus personatus É. Geoffroy, 1812 é encontrada na Mata Atlântica
no sudeste do Brasil, no estado do Espírito Santo, leste de Minas Gerais e norte do Rio de
Janeiro (Oliver & Santos, 1991; van Roosmalen et al., 2002). Tanto o Rio Doce a oeste,
quanto o Rio Jequitinhonha ao norte formaram barreiras para a dispersão de C. personatus,
separando-a das demais espécies do gênero (Rylands, et al., 1988). Mas Oliver e Santos em
1991 indicaram a região do Rio Itaúnas e Mucuri com zona de intergradação entre C.
personatus e C. melanochir.
A área de ocorrência de Callicebus personatus não é bem conhecida em Minas
Gerais. Sua distribuição geográfica neste estado parece ser à margem direita do Rio
Jequitinhonha (Rylands, et al.,1988), sendo o rio Mucuri, ao norte do Rio Itaúnas, o limite
norte de distribuição da espécie (Hershkovitz ,1990). No entanto, Oliver & Santos (1991)
indicaram que a região dos Rios Itaúnas e Mucuri pode ser uma zona de intergradação
entre C. personatus (ao sul) e C. melanochir (ao norte). C. personatus ocorre na margem
direita do Rio Jequitinhonha, mas não fica claro se esta, ou outra espécie de guigó, ocorre
ao noroeste deste rio (van Roosmalen et al., 2002). A abrangência desta espécie se estende
para o oeste ao longo do vale do Rio Doce em Minas Gerais, (van Roosmalen et al.,
2002). Hershkovitz (in litt. AB Rylands, janeiro de 1988) apontou Buenópolis, próximo a
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Serra do Cabral (17º54'S, 44º11'W), norte de Minas Gerais, como uma localidade para
Callicebus sp, mas não foi incluída como uma localidade em sua publicação de 1990. Em
comunicação pessoal com A. B. Rylands ficou esclarecido que Hershkovitz não soube
“dizer” qual espécie se tratava, pois o guigó tinha características de C. personatus, mas
estava dentro dos limites de distribuição, ate então conhecidos, para C. nigrifrons. Desse
modo o autor preferiu não publicar esses dados, por não ter certeza de qual espécie
correspondia.
A espécie Callicebus personatus segundo a caracterização de van Roosmalen et al
(2002) possui caracteres faciais todos enegrecidos até a altura das orelhas, características
que distingue a espécie Callicebus personatus de todas as outras espécies do grupo
Personatus (Figura 2 e 3). Além disso, van Roosmalen, et al (2002) também afirma a
espécie C. personatus tendo duas variações de cor de corpo e cauda uniformes, uma
alaranjada e outra amarela clara, o que o autor nomeia como tipo 1 e tipo 2 (Figura 2).
Apesar de citar os dois tipos de variação na coloração, não são fornecidos detalhes sobre a
distribuição entre os morfotipos.
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Figura 2. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al 2002,
evidenciando duas formas da espécie Callicebus personatus.
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Figura 3. Ilustração de Stephen D. Nash para o grupo Personatus apresentados por van Roosmalen et al
2002, evidenciando a coloração da face (van Roosmalen et al, 2002).
Habitando a mais desenvolvida e populosa região do Brasil, todas as cinco espécies
têm sofrido extensiva perda e fragmentação de habitat pelos últimos cinco séculos (Printes
et al., 2013). As pequenas e isoladas populações remanescentes estão expostas à riscos
demográficos, ecológicos e genéticos (Ferrari et al., 2013). Pressões antrópicas de todos os
tipos, combinadas com a falta de informação biológica básica sobre as espécies, como
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distribuição geográfica, têm resultado em todas as espécies do grupo Personatus serem
consideradas ameaçadas de extinção (Jerusalinsky, 2013; Printes et al., 2013).
As características das espécies de Callicebus tais quais agilidade de locomoção,
dificuldade de habituação e dificuldade de localização e monitoramento levam a uma
dificuldade de obter dados e assim há poucos estudos dos primatas do gênero (Bicca-
Marques e Heymann, 2013; Ferrari et al., 2013). A escassez de estudos do gênero leva a
uma lacuna de muitos parâmetros importantes, como distribuição geográfica e fatores que
levam a esta distribuição, se tornando um dos principais desafios para o desenvolvimento
de estratégias de conservação efetivas (Ferrari et al., 2013).
Segundo Melo (2004), em seu estudo no Vale do Jequitinhonha, um dos gêneros
mais raros foi Callicebus. Somente vocalizações e relatos comprovaram a ocorrência das
espécies desse gênero para a região. A situação de Callicebus sp. é definida como crítica na
maioria dos municípios estudados para o Vale do Jequitinhonha, sendo que em diversas
áreas pode ser considerado extinto e/ou nunca presente (Melo, 2004). Esta situação, já
verificada por Rylands et al., (1988), também se mostrou comum em outras regiões nos
estados da Bahia e Rio de Janeiro (Oliver & Santos, 1991).
Embora haja um grande avanço da pesquisa científica com o gênero Callicebus nos
últimos anos (Carrillo-Bilbao et al., 2005; Chagas & Ferrari, 2010; Defler et al., 2010;
Caselli & Setz, 2011; Souza-Alves et al., 2011; Vermeer et al., 2011; Deluycker, 2012,
Printes, et al 2013, Bicca-Marques et al, 2013), os estudos sobre ecologia, estudos
genéticos, taxonômicos e de distribuição geográfica de guigó ainda são pontuais, antigos e
com pouco tempo de dados de observação. O grau de conhecimento sobre várias espécies
melhora com estudos de distribuição, permitindo uma análise mais acurada de seu real
status conservacionista (Mendes, 1997).
Os limites de distribuição geográfica do guigó são poucos conhecidos, as hipóteses
vigentes argumentam que os limites geográficos seriam basicamente acidentes geográficos,
como rios e montanhas (Kinzey, 1982).
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2. OBJETIVO
2.1. Objetivo Geral
Definir os limites atuais de distribuição de Callicebus personatus e mapear a área de
ocorrência da espécie na região norte do estado de Minas Gerais.
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3. METODOLOGIA
3.1. Área de estudo
A região de estudo foi estabelecida de acordo com as informações sobre a
distribuição geográfica do gênero de estudo existente na literatura e com o auxílio do
Sistema de Informações Geográficas (SIG) (figuras 4 e 5).
Devido à grande área a ser percorrida e ao curto tempo de permanência em cada
localidade, não foram realizados levantamentos fitossociológicos, sendo a vegetação
classificada fitofisionomicamente. A vegetação da região percorrida em busca do guigó foi
classificada de acordo com IEF 2006, visando estabelecer quais habitats preferenciais da
espécie, ou pelo menos em quais tipos de ambiente a espécie estaria presente, em meio a
transformação da paisagem.
O norte do estado Minas Gerais é uma região de transição entre o Sudeste e o
Nordeste do País, esta área está contida no polígono das secas e apresenta aspectos físico-
climáticos similares aos do Semi-Árido nordestino – região caracterizada por alta insolação
(IBGE 2005). Geograficamente, a região de estudo, limita-se ao norte com o Estado da
Bahia e a oeste, sul e leste com diversos municípios mineiros das respectivas regiões de
planejamento: Noroeste, Central e Jequitinhonha/Mucuri.
A região objeto de estudo deste trabalho conta com 89 municípios. Os 127.532 km²
de área territorial correspondem a 21,89% do território mineiro (IBGE, 2005) e abrangem
sete microrregiões denominadas: Grão-Mogol, Bocaiúva, Janaúba, Januária, Montes
Claros, Pirapora e Salinas. (IBGE 2005).
Os solos norte–mineiros são de forma geral de baixa fertilidade natural,
excessivamente drenante e de baixa retenção de água (Scolforo et.al., 2000). Quanto aos
recursos hídricos superficiais, especificamente os cursos d’água, pode-se dizer que a região
apresenta várias limitações (Scolforo et.al., 2000). O norte de Minas é drenado
principalmente pelas bacias dos Rios São Francisco, Jequitinhonha e Pardo, apresentando a
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23
maior parte dos seus afluentes fluxos intermitentes ou fortemente reduzidos em
determinadas épocas do ano, esse fato se deve, principalmente, aos longos períodos de
estiagens (Scolforo et.al., 2000).
A região norte do Estado se caracteriza por apresentar vegetação que expressa uma
condição de sobrevivência ligada à deficiência hídrica, adaptada a um clima severo e com
baixa precipitação anual distribuída em um curto período do ano (Fernandes, 2002). Essa
região pertence ao domínio da Caatinga em sua parte norte e nordeste, com transição para o
Cerrado, ao sul e a oeste (Brandão, 1994). Desse modo, duas fisionomias florísticas bem
distintas e características têm seus limites na região norte do Estado de Minas Gerais, sendo
uma representada pela área seca da Caatinga e a outra pelo Cerrado (Brandão, 1994).
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24
Figura 4. Mapa de distribuição do grupo Personatus, evidenciando o norte de Minas Gerais sem informações
sobre os guigós (Printes et al., 2013).
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25
Figura 5. Mapa evidenciando a área de estudo.
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26
3.2. Coleta de dados
O estudo foi realizado de janeiro de 2014 a julho de 2014. Tendo em vista o
objetivo de cada expedição, definimos setores arbitrários de investigação, utilizando a
bibliografia e imagens de satélite.
Levamos em consideração para esta definição: i) a provável existência de matas nas
localidades; ii) relatos sobre a possível presença de guigó encontrados na literatura. Dentro
de cada região de investigação, as localidades foram sendo sugeridas por pessoas que
moravam próximos a fragmentos florestais.
Para atrair os guigós utilizamos equipamento de playback, com uma gravação feita a
partir do CD “Sounds of Neotropical Rainforest Mammals” (Emmons et al., 1997). O áudio
reproduz as vocalizações de Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812). O equipamento
utilizado é composto de aparelho de mp3 e megafone (Figura 6 e 7) desenvolvido por
Santos Jr. (2007). O playback foi acionado tentando cobrir um ângulo de emissão de 360º,
durante o tempo da emissão (Costa, 2009).
Para as seções de playback, inicialmente, procurava-se, no interior dos fragmentos
amostrados, trilhas já existentes para facilitar a aplicação do método. Quando não era
encontrada nenhuma trilha e a mata era muito densa, o playback foi emitido na borda dos
fragmentos. Quando a mata não era densa e permitia o deslocamento em seu interior, o
playback foi realizado ao longo de um transecto seguindo sempre uma única direção da
borda para o interior.
Em cada ponto foram realizadas duas seções de playback dentro de um período de
dez minutos, durante 2,5 minutos com intervalos de 2,5minutos. Em cada seção a gravação
com a vocalização foi reproduzida nas quatro direções norte, sul, leste, oeste. A cada
200m da trilha foi estabelecido um ponto de emissão do som. Essa distância foi mantida em
razão de um estudo realizado por Djalles (2012) no Parque Municipal de Pouso Alegre,
com um grupo de C. nigrifrons em que a distância máxima que o grupo respondeu ao
playback foi de 200m.
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27
Uma vez atraídos pelo playback, os animais eram seguidos e identificados com o
auxílio do binóculo e quando possível também foram fotografados. Os avistamentos foram
geralmente rápidos. Os guigós foram procurados nas áreas indicadas normalmente no
período da manhã. Mas, não foi observada menor atividade durante o dia, os animais
responderam o playback durante todo o dia de campo igualmente em todas as áreas
visitadas.
As informações coletadas durante os trabalhos de campo foram plotadas na base de
dados geográfica do IBGE (2003) utilizando SIG (Sistema de Informações Geográficas),
através do software ARC GIS 9.3. Foi utilizada a projeção cartográfica UTM, Zona 23S,
Datum Córrego Alegre. Foram analisadas imagens do Google Earth das áreas a serem
visitadas.
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Figura 6. Imagem ilustrativa evidenciando o equipamento de playback utilizado no estudo.
Figura 7. Reprodução de playback em campo para atração dos Guigós.
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29
4. RESULTADOS
4.1 Distribuição geográfica
Para se chegar às localidades previamente escolhidas, foram percorridos, durante sete
meses aproximadamente 10.000 kilometros em 25 expedições, compreendendo no total 29
localidades distribuídas em 14 municípios (Tabela 1). As expedições variavam de três a
cinco dias de duração, dependendo da distância e do cumprimento dos objetivos pré-
estabelecidos antes de cada viagem. Todas as localidades visitadas estão plotadas no mapa
da figura 8.
Das 29 localidades visitadas que compreendem norte, vale do Jequitinhonha e
região central do estado de Minas Gerais, em três novas localidades foram registrados
Callicebus personatus (figura 9). Sendo nos municípios de Claros dos Poções, Francisco
Dumont e Montes Claros, como apresentado nas figuras 10 a 12.
Todos os guigós que foram objeto do presente estudo responderam ao playback, que
utilizou vocalizações de C. personatus. Vale registrar que os guigós responderam ao
playback durante todo o dia, das 05h30min as 18h00min, período que o pesquisador esteve
em campo à procura dos animais. Mas foi preciso utilizar o playback com muito cuidado,
em situações favoráveis aos avistamentos, pois quando a gravação era usada repetidamente,
os guigós deixavam de responder.
O município de Claros dos Poções foi visitado já como uma área de ocorrência de
Callicebus sp, (W.P.Martins com. pess). Os guigós, da espécie C. personatus foram
encontrados em mata ciliar do córrego Santa Fé, afluente do rio Traíras, Claros dos Poções
está na margem direita do Rio Jequitaí.
O município de Buenopólis foi citado anteriormente na literatura por van
Roosmalen et al, (2002) como área de ocorrência de Callicebus sp, o registro mais próximo
dessa localidade citada na literatura foi no município de Francisco Dumont, e onde foi
confirmada a presença de C. personatus. Os animais foram encontrados em áreas de mata
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30
ciliar do Rio Embaiassaia afluente do Rio Jequitaí, o município está na margem esquerda
do Rio Jequitaí.
O registro mais ao norte onde foi encontrado C. personatus para esse estudo foi no
município de Montes Claros. Os guigós foram encontrados 30 km ao sul da sede municipal
da cidade de Montes Claros. Os animais foram encontrados em florestas de encosta com
característica de mata de galeria.
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Tabela 1. Localidades visitadas durante o estudo.
Municípios Localidades Coordenadas
Latitude (S) Longitude (W)
G M S G M S
Montes Claros 16 ° 38’ 18’’ 43° 54’ 00’’
Montes Claros 16° 49’ 08’’ 43° 54’ 19’’
Montes Claros 16° 38’ 49’’ 43° 53’ 00’’
Montes Claros 16° 49’ 08’’ 43° 54’ 19’’
Montes Claros 16° 27’ 03’’ 45° 52’ 21’’
Montes Claros Fazenda Sr. Piuzim 16° 53’ 40’’ 43° 49’ 55’’
Montes Claros 16° 45’ 22’’ 43° 46’ 40’’
Montes Claros 16° 45’ 53’’ 43° 46’ 03’’
Montes Claros 16° 39’ 35’’ 43° 54’ 15’’
Montes Claros 16° 37’ 42’’ 43° 52’ 01’’
Montes Claros 16° 40’ 33’’ 43° 57’ 40’’
Juramento Fazenda Sr Oswaldo 16° 54’ 05’’ 43° 32’ 10’’
Juramento Fazenda Sr Valdir 16° 54’ 18’’ 43° 32’ 10’’
Juramento 16° 48’ 53’’ 43° 37’ 58’’
São Francisco Barra do Urucuia 16° 09’ 54’’ 45° 04’ 43’’
Icaraí de Minas Fazenda Sr Alfredo 16° 11’ 27’’ 45° 03’ 24’’
Icaraí de Minas Fazenda Belmonte 16° 10’ 12’’ 45° 04’ 37’’
Bonito de Minas 15° 17’ 41’’ 44° 49’ 14’’
Capitão Eneas 16° 20’ 46’’ 43° 40’ 49’’
São Gonçalo do Rio Preto P E Rio Preto 18° 07’ 35’’ 43° 22’ 30’’
Manga P E Mata Seca 14° 51’ 51’’ 43° 59’ 41’’
Claros dos Poções Fazenda Sr Euclides 17° 07’ 38’’ 44° 12’ 53’’
Bocaiúva 17° 02’ 48’’ 43° 50’ 21’’
Bocaiúva 17° 02’ 21’’ 43° 50’ 18’’
Araçuaí 16° 39’ 50’’ 44° 59’ 41’’
Itamarandiba P E Serra Negra 17° 51’ 40’’ 42° 51’ 55’’
Francisco Dumont Fazenda Sr Eli 17° 25’ 52’’ 42° 07’ 15’’
Conceição do Mato Dentro Fazenda Canto da Serra 19° 08’ 40’’ 43° 24’ 47’’
Conceição do Mato Dentro Fazenda Santo Antonio 19° 04’ 39’’ 43° 24’ 14’’
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Figura 8. Mapa evidenciando as localidades visitadas durante o estudo no Norte de Minas Gerais.
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Figura 9. Mapa evidenciando as localidades onde foi encontradas populações de Callicebus personatus,
durante o estudo na região Norte e Central de Minas Gerais.
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Figura 10. Callicebus personatus
registrado em Claros dos Poções, MG.
Figura 11. Callicebus personatus
registrado em Francisco Dumont, MG.
Figura 12. Callicebus personatus
registrado em Montes Claros, MG.
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35
Em uma expedição realizada para cidade de São Francisco foi registrado através de
informação pessoal com moradores locais a presença de Callicebus sp, mas durante essa
expedição não foi possível confirmar a presença da espécie nessa localidade.
Outras localidades como Parque Estadual da Serra Negra no município de
Itamarandiba, Parque Estadual do Rio Preto no município de São Gonçalo do Rio Preto e o
município de Conceição do Mato Dentro foram investigados com a finalidade de confirmar
a presença de Callicebus personatus e ratificar de que se travava de Callicebus personatus
tipo 1. Em todas essas três localidades visitadas, a espécie Callicebus personatus tipo 1 foi
encontrada e identificada
Uma visita no alto Rio Santo Antonio no município de Conceição do Mato Dentro,
foi efetuada durante esse estudo, com o intuito de verificar qual espécie do gênero
Callicebus ou qual forma de Callicebus personatus habitava aquela região. A fim de
verificar se a Serra do Espinhaço era mesmo uma barreira geográfica como descreve a
literatura. Porém, Callicebus personatus com características da forma típica descrita na
literatura foi observada naquela região, demonstrando assim que a forma típica habita o
lado leste da Serra do Espinhaço.
Um novo mapa de distribuição geográfica de Callicebus personatus foi elaborado,
baseado em dados disponibilizados da literatura, e dos dados coletados nesse estudo.
Segundo a IUNC a extensão de ocorrência da espécie é de 93.453km2 e que sua área de
ocupação seria maior que 2000km2. Para nosso estudo uma área de ocorrência de
133,30km2 foi encontrada, baseada nas novas localidades de distribuição. Apresentando
agora a espécie um acréscimo de 39,847km2, como pode ser observado na figura abaixo
(figura 13).
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Figura 13. Mapa evidenciando distribuição geográfica de Callicebus personatus no estado de Minas Gerais.
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4.2. Taxonomia
Durante as expedições do presente estudo, foram encontradas duas formas de
Callicebus, uma identificada como Callicebus personatus tipo 1, que é a forma típica
descrita na literatura, que habita a face leste da Serra do Espinhaço encontradas nos
municípios de Itamarandiba, São Gonçalo do Rio Preto e Conceição do Mato Dentro, e uma
outra forma de Callicebus personatus que ainda não foi descrito na literatura, que habita o
lado oeste da Serra do Espinhaço e tem sua distribuição do nordeste do Rio das Velhas até
o município de Montes Claros.
Os demais registros feitos para os municípios de Claros dos Poções, Francisco
Dumont e Montes Claros, o animal visualizado trata-se de uma forma diferente, pois sua
coloração não condiz com nenhuma outra descrita na literatura e sua distribuição geográfica
está em uma que área ainda não havia sido investigada, sendo uma coloração tendendo ao
palha, porém com cauda alaranjada, com porções distais de braços e pés pretos, como pode
ser observado nas figuras 15 e 16.
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Figura 14. (A) Formas da espécie Callicebus personatus tipo 1 e 2 modificado do artigo de van Roosmalen et al
(2002) .(B) Callicebus personatus em Conceição do Mato Dentro e (C) Callicebus personatus em Claros dos Poções
evidenciando a cauda alaranjada.
B
C
A
Tipo 2
Tipo 1
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Figura 15. (A) Formas da espécie Callicebus personatus tipo 1 e 2 modificado do artigo de van Roosmalen et al
(2002) (B) Callicebus personatus encontrados no Norte de Minas Gerais nos municípios de Claros do Poções (C)
Callicebus personatus encontrados no Norte de Minas Gerais nos municípios de Montes Claros, evidenciando a
diferença na coloração da cauda.
A
C
B
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40
5. DISCUSSÃO
5.1 Distribuição Geográfica
Callicebus personatus é uma espécie pouco estudada em Minas Gerais, e com isso tem-se
poucos acréscimos de novas localidades da espécie para esse estado.
De acordo com esse estudo o guigó não é muito comum no norte do estado de Minas Gerais,
o resultado mostrou que grande parte das áreas visitadas, apresentaram ausência da espécie. Esse
fato pode indicar a associação dessa espécie com a Floresta Estacional Semidecidual.
O guigó foi encontrado no bioma Cerrado, mas em áreas com características florestais que
se encaixam na fitofisionomias de Floresta Estacional Semidecidual Submontana, sendo vegetações
de mata ciliar e mata de galeria, de acordo com a classificação do IEF (2006), a fitofisionomia
predominante no estado de Minas Gerais e a vegetação que esta intimamente ligada a distribuição
de Callicebus personatus na região norte do Estado de Minas Gerais é Floresta Estacional
Semidecidual.
Os registros feitos para os municípios de Francisco Dumont e Claros dos Poções foram em
ambientes florestais, associados a curso de água e confirmam a ideia que os guigós estão
intimamente relacionados com fitofisionomias florestais. Ambientes com características florestais
tendem a fornecer mais proteção para os primatas quanto à predação, e como os guigós são animais
crípticos, esses ambientes fornecem características ideais para esse tipo de comportamento.
A ocorrência da espécie no município de Claros dos Poções e Francisco Dumont está
associada a fragmentos de mata ciliar, apresentando porte arbóreo com altura média variando entre
15 m e 25 m e 20 m e 30 m, respectivamente (ICMBio, 2014), corroborando com o porte arbóreo
usado pelas espécies do gênero citado na literatura (Bicca-Marques e Heymann, 2013). Outro fator
observado no estudo foi a presença de corpos d’água dentro ou nas proximidades de todos os
fragmentos nos quais foram registrada a presença dos guigós, sendo que dois registros foram em
vegetação de mata ciliar, diretamente associada a rios. Sendo assim, estes dois fatores, vegetação de
mata ciliar e cursos d’água associados, são possivelmente fatores limitantes da distribuição de
Callicebus sp. Pois dentro do bioma onde essas formas de guigó foram encontras, as característica
vegetacionais associada a espécie também esta associada a esse tipo de ambiente.
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41
O grupo de guigó encontrado no município de Montes Claros em uma mata de encosta é, até
o presente momento, o registro mais ao norte do gênero no Norte de Minas Gerais. Outros
municípios ao norte do estado foram investigados e não registramos a presença de espécies do
gênero mais ao norte que o município de Montes Claros. O município de Montes Claros, de acordo
com os mapas de fitofisionomias da vegetação de Minas Gerais é o limite entre a Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, condição que limitaria a distribuição desse
guigó encontrado no norte de Minas Gerais, e que tem habitado preferencialmente áreas com
condições vegetacionais de florestas.
Dentro dos limites de distribuição geográfica do gênero Callicebus conhecidos nos três
Estados (ES, RJ e MG), a maior área se encontra em Minas Gerais, porém, ao contrário do que se
poderia esperar, é a área pouco estudada e conhecida em termos da ocorrência de espécies do
gênero.
Melo e Rylands (2008) descreveram, no livro vermelho de Fauna ameaçada de Extinção, as
seguintes considerações para a distribuição geográfica de Callicebus personatus:
“Callicebus personatus é uma espécie pouso estudada e por isso mesmo, tem raros acréscimos de
novas localidades os últimos anos. Novas populações foram identificadas no Vale do Aço, em
Minas Gerais (A.P. Paglia, com. pess.), mas, como era esperado para a distribuição geográfica da
espécie (Hershkovitz, 1990), as áreas estão na margem direita do rio Doce. Ainda em Mias Gerais,
o rio Manhuaçu parece marcar seu limite mais ao sul, onde as populações podem ser encontradas
em Manhumirim (C.L.Mendes, com. pess) e no Parque Nacional do Caparaó, sendo essa unidade de
conservação uma incógnita quanto a ocorrência da espécie. Classicamente, C. personatus ocorre em
boa parte do norte de Minas Gerais (Rylands et al. 1988) estendendo-se a oeste, ao longo das
margens norte e sul do rio Jequitinhonha, e alcançando, possivelmente, a localidade de Buenópolis,
indicada por Hershkovitz.
No vale do Jequitinhonha, Melo (2004) conseguiu identificar grupos de C. melanochir
apenas no extremo nordeste do estado, não tendo informação precisa sobre qual espécie habita as
áreas de mata do interior d vale, assim como ocorre ao sul de sua distribuição, seus limites de
ocorrência a oeste do médio rio Doce ainda são pouco definidos”.
Nosso estudo confirma a presença de Callicebus personatus na margem esquerda do Rio
Santo Antônio, e mostra que o Alto Rio Santo Antônio possui vales muito estreitos e que não
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42
servem como barreira para a espécie naquela região. Esse fato corrobora o estudo de Martins,
(2005), em que o Alto Santo Antônio não serve como barreira geográfica para Sapajus robustus e
apresenta essa região como sendo uma zona de intergradação entre S. robustus e S. nigritus. Fato
que pode também ocorrer entre Callicebus personatus e Callicebus nigrifrons, já que é a espécie
que tem a distribuição mais setentrional do gênero. De acordo com Mayr (1963, 1977) apud
Martins (2005), a zona de intergradação entre as espécies se trata de uma faixa estreita, mas o autor
não define bem qual o tamanho dessa faixa para ser considerada estreita. Provavelmente, este
tamanho deve variar de acordo com o tipo de espécie e com o tamanho de sua área de distribuição
geográfica.
Dessa forma, as formações florestais, como mata ciliar e mata de galeria são fundamentais
para a proteção das áreas onde se localizam e constituem uma condição básica para garantir a
manutenção da integridade das populações de guigó, presentes no norte do estado de Minas Gerais.
O status conferido às essas formações florestais permite que estas áreas sejam atualmente
reconhecidas, dentro das unidades fitogeográficas, como uma das formações florestais mais
importantes (Schiavini, 2001).
Em decorrência das pressões antrópicas a que está sujeita a vegetação, ambientes florestados
no estado de Minas Gerais estão se transformando progressivamente em pequenos fragmentos, o
que, consequentemente, pode comprometer a sobrevivência das espécies vegetais e animais
(Rizzini, 1997). Essas formações florestais apresentam uma importante condição ambiental para a
presença de populações de guigó, pois a composição florística é capaz de proporcionar às
características ambientais favoráveis a espécie de estudo.
A escassez de estudos do gênero leva a uma lacuna de muitos parâmetros importantes, como
distribuição geográfica e fatores que levam a esta distribuição, se tornando um dos principais
desafios para o desenvolvimento de estratégias de conservação efetivas (Ferrari et al., 2013)
Os limites de distribuição geográfica do guigó são poucos conhecidos, as hipóteses vigentes
argumentam que os limites geográficos seriam basicamente acidentes geográficos, como rios e
montanhas (Kinzey, 1982). Printes et al (2013) caracteriza o Cerrado como sendo desfavorável a
presença de guigó, mas, nosso estudo mostra que para o norte de Minas, as fitofisionomias
associadas ao Bioma Cerrado, são sim barreiras geográficas para a distribuição de guigó, a falta de
vegetação favorável associada às fitofisionomias que abrangem o Norte de Minas acima do
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43
município de Montes Claros, são vegetações como a mata seca e o cerrado sentido restrito que
aparentemente parece não fornecer ambiente favorável a ocorrência de guigó, que pode esta
associado com dieta, com o comportamento, guigós apresentam comportamento arisco, e o tipo
vegetacional mais condensado pode também oferecer mais segurança em relação a predadores.
Hershkovitz acreditava que, no passado, a mata ciliar em sistemas fluviais do Cerrado teria
fornecido habitats adequados para Callicebus, facilitando a dispersão entre os Biomas Amazônia e
Mata Atlântica. Ele propôs que estes habitats desapareceram durante as mudanças climáticas do
Quaternário, o que deixou o bioma ainda mais seco, restringindo matas ciliares para vales isolados.
Com isso, o Cerrado é caracterizado como barreira ecológica da distribuição de Callicebus em
vários estudos que consideram o bioma como sendo desfavorável para espécies do gênero e que
estas ocorrem somente em áreas de Mata Atlântica vicinais ao bioma (Hershkovitz, 1988; van
Roosmalen, et al 2002; Printes et al., 2013).
Para explicar a especiação do gênero Callicebus, Kinzey (1997) usa a Teoria dos Refúgios
do Pleistoceno, segundo a qual mudanças climáticas nos últimos milhões de anos do quaternário,
tais como uma marcada diminuição da precipitação durante períodos frios e secos, teriam causado a
fragmentação de regiões de florestas e de outros tipos de vegetação, restando refúgios nos quais os
primatas e outros organismos teriam escapado (Defler, 2003). Tais refúgios teriam inclusive
originado gêneros de primatas endêmicos da Mata Atlântica, como Brachyteles e Leontopithecus
(Kinzey, 1982).
5.2 Taxonomia
O histórico taxonômico do gênero Callicebus envolve muitas confusões acerca da validade e
identificação dos táxons. As principais alterações no arranjo taxonômico deste gênero, propostas
por Hershkovitz (1988, 1990), Kobayashi (1995) van Roosmalen et al., (2002) foram arranjos
informais baseados em similaridades morfológicas, citogenéticas e zoogeográficas. Em 1990
Hershkovitz considera a espécie politípica C. personatus que é então composta por quatro
subespécies: C. p. personatus, C. p. melanochir, C. p. nigrifrons e C. p. barbarabrownae,
consideradas membros do seu grupo moloch, porém, o autor cita que a posição sistemática de C.
personatus permanece incerta, e justifica o status subespecífico para as formas de C. personatus
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44
alegando que essas subespécies apresentam uma variação clinal, e que ate os dias atuais não foram
efetivamente investigados.
Esse estudo também teve a intenção de verificar qual espécie de Callicebus sp. Hershkovitz
viu em Buenópolis, norte de Minas Gerais, mas não incluiu em sua publicação de 1990. Segundo o
artigo de van Roosmalen et al., (2002), Hershkovitz não soube dizer qual espécie se tratava e
preferiu não incluir em seu artigo. Pois o guigó visualizado tinha características de coloração
diferentes das descritas na literatura. Nós registramos uma espécie de guigó no município de
Francisco Dumont que dista 30km do ponto de observação de Hershkovitz, assim como os
indivíduos visualizados em Claros dos Poções e Montes Claros e que têm as características de
coloração diferentes das duas formas de Callicebus personatus citado no artigo de van Roosmalen
et al(2002).
A espécie Callicebus personatus segundo a caracterização de van Roosmalen (2002) possui
caracteres faciais todos enegrecidos até a altura das orelhas, características que distingue a espécie
Callicebus personatus de todas as outras espécies do grupo C. personatus. Além disso, van
Roosmalen et al (2002) também afirma a espécie C. personatus tendo duas variações de cor de
corpo e cauda uniformes, uma alaranjada e outra amarela clara, o que o autor nomeia como tipo 1 e
tipo 2. Apesar de citar os dois tipos de variação na coloração, não são fornecidos detalhes sobre a
distribuição entre os morfotipos. Neste estudo a espécie encontrada apresenta os caracteres faciais
de C. personatus, e coloração do corpo bege clara, tendendo ao palha, como C. personatus tipo 2,
porém com cauda diferente da coloração do corpo, com coloração alaranjada.
As espécies do gênero Callicebus que compõem o leste do Brasil apresentam grande
polimorfismo no padrão de coloração entre corpo e cauda como C. barbarabrownae, C. coimbrai e
C. nigrifrons (van Roosmalen et al , 2002), as duas formas descritas de Callicebus personatus não
foram descritas de forma esclarecedora quanto a características morfológicas e distribuição
geográfica, o que vem causando confusões taxonômicas em estudo atuais.
A fim de verificar a forma de Callicebus personatus que ocorria na porção leste da Serra do
Espinhaço, fizemos expedições em três municípios. E as formas visualizadas de Callicebus
personatus em Conceição do Mato Dentro, Parque Estadual da Serra Negra e Parque Estadual do
Rio Preto, confirma a forma 1, conhecida como típica na literatura, no lado leste da Serra do
Espinhaço. A expedição realizada para o município de Conceição do Mato Dentro, teve e intenção
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45
de verificar qual forma ocorria naquela região, a fim de comparar e confirmar que a espécie
encontrada no nosso estudo se tratava mesmo de um tipo diferente, já que nenhuma forma de
Callicebus personatus descrita foi visualizada na face oeste da Serra do Espinhaço. A presença da
forma 1 no Parque Estadual do Rio Preto, confirma que não ocorre variação clinal em Callicebus
personatus, pois os guigós visualizados possuem as mesmas características de coloração dos guigós
presentes nas matas do estado do Espírito Santo e que são descritos na literatura como forma típica
da espécie.
Existe uma grande variação na coloração entre as espécies, que é a característica geralmente
usada para identificação e classificação taxonômica juntamente com a distribuição geográfica
(Hershkovitz, 1990, van Roosmalen et al , 2002).
Nenhum estudo de genética molecular, paleontologia, biogeografia, fisiologia e
comportamento foram conduzidos para contribuir e determinar se são mesmo espécies distintas as
espécies que compõe o leste do Brasil. Essa falta de trabalhos recentes utilizando métodos
modernos de analises das populações de Callicebus resulta em conhecimento deficiente da
diversidade do grupo e da distribuição das espécies. O status específico proposto a todos os táxons
não partiu de uma revisão taxonômica propriamente dita, e sim de uma compilação de dados de
literatura.
Apesar do nosso estudo não ter sido uma revisão taxonômica, mas diante da falta de
consenso entre autores sobre o real status das espécies e que a atual definição de espécie para o
gênero se baseia em coloração e distribuição geográfica, inferimos que o guigó encontrado nesse
estudo trata-se de uma nova forma. Baseado nas características de coloração, as quais se mostraram
diferentes das que já foram apresentadas na literatura e na sua distribuição geográfica, que parece
colocar essas populações de guigó geneticamente isoladas na região norte do estado de Minas
Gerais.
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Alegre Alegre Espírito Santo 20°46’ 00’’ 41° 28’ 00’’ Kinzey 1982
Domingos Martins Domingos Martins Espírito Santo 19° 08’ 00’’ 40° 38’ 00’’ Kinzey 1982
Colatina Colatina Espírito Santo 19° 32’ 00’’ 40° 37’ 00’’ Kinzey 1982
São Mateus São Mateus Espírito Santo 18°44’ 00’’ 39° 51’ 00’’ Kinzey 1982
R B Sooretama Linhares Espírito Santo 19° 00’ 00’’ 40° 10’ 00’’ Kinzey 1982
Linhares Linhares Espírito Santo 19° 25’ 00’’ 40° 04’ 00’’ Kinzey 1982
Santa Tereza Santa Tereza Espírito Santo 19° 55’ 00’’ 40° 36’ 00’’ Kinzey 1982
Rio Suaçui Governador Valadares Minas Gerais 18° 50’ 00’’ 41° 46’ 00’’ Kinzey 1982
Teófilo Otoni Teófilo Otoni Minas Gerais 17° 51’ 00’’ 41° 30’ 00’’ Kinzey 1982
P E Rio Doce Timóteo Minas Gerais 19° 30’ 00’’ 42° 30’ 00’’ Kinzey 1982
Coronel Fabriciano Coronel Fabriciano Minas Gerais 19° 31’ 00’’ 42° 38’ 00’’ Kinzey 1982
Fazenda Sr. Piuzim Montes Claros Minas Gerais 16° 53’ 40’’ 43° 49’ 55’’ Souza 2014
P E do Rio Preto P E Rio Preto Minas Gerais 18° 07’ 35’’ 43° 22’ 30’’ Souza 2014
Fazenda Sr. Euclides Claros dos Poções Minas Gerais 17° 07’ 38’’ 44° 12’ 53’’ Souza 2014
P E Serra Negra Itamarandiba Minas Gerais 17° 51’ 40’’ 42° 51’ 55’’ Souza 2014
Fazenda Sr. Eli Francisco Dumont Minas Gerais 17° 25’ 52’’ 44° 07’ 15’’ Souza 2014
Fazenda Canto da Serra Conceição do Mato Dentro Minas Gerais 19° 08’ 40’’ 43° 24’ 47’’ Souza 2014
Fazenda Santo Antonio Conceição do Mato Dentro Minas Gerais 19° 04’ 39’’ 43° 24’ 14’’ Souza 2014
Minas Novas Minas Novas Minas Gerais 17° 12’ 56’’ 42° 35’ 10’’ Rylands 1988
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