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1 Expressões idiomáticas A expressão idiomática (expressão popular ou idiomantismo) pode ser definida como uma uni- dade sintática, lexicológica e semântica. É um conjunto de palavras que se caracteriza por não ser possível identificar seu significado através do sentido literal de seus termos individuais. Desta forma, em geral, é muito difícil ou mesmo impossível traduzi-la para outras línguas, pois sua interpretação é captada globalmente, sem necessidade de compre- ensão de cada uma das partes. São usadas frequentemente: nas situações informais do dia a dia, no noticiário da televisão, em anúncios dos jornais, no rádio, na tv, em discursos políticos, campanhas eleitorais, em filmes, em letras de música, na literatura, etc. O uso de expressões idiomáticas não se restringe a um aspecto específico da vi- da, nem a uma determinada camada social. São uma parte importante da comunicação informal, tanto escrita como falada, e também são usadas no discurso e na correspondência formal. Tudo o que se pode expressar usando expressões idiomáticas pode também ser transmitido por meio de frases convencionais. O motivo que leva um falante ou um escritor a usar expressões idiomáticas é o desejo de acres- centar à mensagem algo que a linguagem convencional não poderia suprir. Uma expressão idiomática pode enriquecer uma frase, dando-lhe força ou sutileza, pode enfatizar a intensidade dos sentimentos de alguém e pode ainda atenuar o impacto de uma declaração austera, com humor ou ironia. O uso que um fa- lante faz das expressões idiomáticas determina o seu grau de domínio da língua, possibilitando-o expres- sar-se de muitas maneiras. As expressões idiomáticas muitas vezes estão associadas a gírias, jargões ou contextos culturais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem pela classe, idade, região, profissão ou outro tipo de afinidade. Muitas destas expressões têm existência curta ou ficam restritas ao grupo onde surgiram, en- quanto algumas outras resistem ao tempo e acabam sendo usadas de forma mais abrangente, extrapolando o contexto original. Neste último caso, a origem histórica do seu significado muitas vezes se perde de todo ou fica limitada a um relativamente pequeno grupo de usuários da língua. Observações Expressão idiomática não se confunde com provérbio. Os provérvios, bem como as expressões idio- máticas, são unidades codificadas, que denominam um conceito geral e têm um sentido convencional. O provérbio exprime uma verdade geral, uma situação genérica, uma relação independente das situações particulares. Este estatuto de frase genérica e verdade geral permite distingui-lo das frases idiomáticas. A expressão idiomática atualiza-se no discurso. Por outro lado, a expressão idiomática não veicula uma moral, uma verdade, mas descreve, complementa, torna mais expressiva uma determinada atribuição ao sujeito ou a uma determinada situação. Na língua inglesa, o termo "idiom" corresponde ao conceito de "expressão idiomática" em português. Segundo o linguista John Saeed, um "idiom" pode ser definido como "um conjunto de palavras que se tornou fixo, petrificado, através do tempo e do uso" . Essa justa-posição de palavras, originalmente usada por um grupo determinado, altera a definição literal de cada palavra ali posicionada e cria um significado no- vo e original, desta forma enriquecendo a linguagem. A importância dos "idioms" em inglês é às vezes ainda maior que a das expressões idiomáticas no português, visto que o inglês tem carência, num certo sentido, de certas palavras e expressões. Deve-se observar que o termo idioma em português, significa uma língua (corrente ou extinta) fa- lada por seres humanos e usada como instrumento de comunicação verbal e/ou escrita. Desta forma a pa- lavra "idioma" não dever ser traduzida para o inglês por "idiom" e sim por "language".

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Page 1: Expr idiom ponto

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Expressões idiomáticas

A expressão idiomática (expressão popular ou idiomantismo) pode ser definida como uma uni-dade sintática, lexicológica e semântica. É um conjunto de palavras que se caracteriza por não ser possível identificar seu significado através do sentido literal de seus termos individuais. Desta forma, em geral, é muito difícil ou mesmo impossível traduzi-la para outras línguas, pois sua interpretação é captada globalmente, sem necessidade de compre-ensão de cada uma das partes. São usadas frequentemente: nas situações informais do dia a dia, no noticiário da televisão, em anúncios dos jornais, no rádio, na tv, em discursos políticos, campanhas eleitorais, em filmes, em letras de música, na literatura, etc. O uso de expressões idiomáticas não se restringe a um aspecto específico da vi-da, nem a uma determinada camada social. São uma parte importante da comunicação informal, tanto escrita como falada, e também são usadas no discurso e na correspondência formal. Tudo o que se pode expressar usando expressões idiomáticas pode também ser transmitido por meio de frases convencionais. O motivo que leva um falante ou um escritor a usar expressões idiomáticas é o desejo de acres-centar à mensagem algo que a linguagem convencional não poderia suprir. Uma expressão idiomática pode enriquecer uma frase, dando-lhe força ou sutileza, pode enfatizar a intensidade dos sentimentos de alguém e pode ainda atenuar o impacto de uma declaração austera, com humor ou ironia. O uso que um fa-lante faz das expressões idiomáticas determina o seu grau de domínio da língua, possibilitando-o expres-sar-se de muitas maneiras. As expressões idiomáticas muitas vezes estão associadas a gírias, jargões ou contextos culturais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem pela classe, idade, região, profissão ou outro tipo de afinidade. Muitas destas expressões têm existência curta ou ficam restritas ao grupo onde surgiram, en-quanto algumas outras resistem ao tempo e acabam sendo usadas de forma mais abrangente, extrapolando o contexto original. Neste último caso, a origem histórica do seu significado muitas vezes se perde de todo ou fica limitada a um relativamente pequeno grupo de usuários da língua.

Observações Expressão idiomática não se confunde com provérbio. Os provérvios, bem como as expressões idio-máticas, são unidades codificadas, que denominam um conceito geral e têm um sentido convencional. O provérbio exprime uma verdade geral, uma situação genérica, uma relação independente das situações particulares. Este estatuto de frase genérica e verdade geral permite distingui-lo das frases idiomáticas. A expressão idiomática atualiza-se no discurso. Por outro lado, a expressão idiomática não veicula uma moral, uma verdade, mas descreve, complementa, torna mais expressiva uma determinada atribuição ao sujeito ou a uma determinada situação. Na língua inglesa, o termo "idiom" corresponde ao conceito de "expressão idiomática" em português. Segundo o linguista John Saeed, um "idiom" pode ser definido como "um conjunto de palavras que se tornou fixo, petrificado, através do tempo e do uso" . Essa justa-posição de palavras, originalmente usada por um grupo determinado, altera a definição literal de cada palavra ali posicionada e cria um significado no-vo e original, desta forma enriquecendo a linguagem. A importância dos "idioms" em inglês é às vezes ainda maior que a das expressões idiomáticas no português, visto que o inglês tem carência, num certo sentido, de certas palavras e expressões. Deve-se observar que o termo idioma em português, significa uma língua (corrente ou extinta) fa-lada por seres humanos e usada como instrumento de comunicação verbal e/ou escrita. Desta forma a pa-lavra "idioma" não dever ser traduzida para o inglês por "idiom" e sim por "language".

Page 2: Expr idiom ponto

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A tradução das expressões idiomáticas (intralíngua ou interlínguas) exige do tradutor um conhecimento profundo da língua materna e da língua estrangeira. Traduzir não corresponde sempre a uma procura de equivalentes linguísticos (no caso das expressões, tais equivalências raramente sugerem uma outra expres-são) ... Traduzir expressões idiomáticas é ter em conta a especificidade de cada tipo de texto, mas também a especificidade de cada língua, de cada povo, os seus usos e costumes, a sua expressividade. Aquisição das expressões idiomáticas: na língua materna, as expressões idiomáticas adquirem-se no contato direto com a língua, na socialização do indivíduo. Não existe uma aprendizagem deste tipo de estruturas. No entanto, a partir dos cinco ou seis anos, as crianças começam a usar algumas expressões e, a partir daí, continuarão a enriquecer o seu dicionário mental. Para a língua estrangeira, o processo será idêntico às outras estruturas linguísticas, mas dificultado pela especificidade das expressões idiomáticas. Como não existe emersão linguística e o sujeito não pode aprender estas estruturas pelo contato direto com a língua, tem de recorrer ao processo de ensino/aprendizagem e armazenar no seu dicionário mental as tais “palavras” plurais.

Expressões idiomáticas no Brasil e em Portugal

Abrir o coração desabafar; declarar-se sinceramente

Abrir o jogo denunciar; revelar detalhes

Abrir os olhos a alguém convencer, alertar

Agarrar com unhas e dentes não desistir de algo ou alguém facilmente

Andar feito barata tonta estar distraído

Armar-se até aos dentes estar preparado para uma qualquer situação

Arrancar cabelos desesperar-se

Arregaçar as mangas iniciar algo

Bater as botas morrer, falecer

Bater na mesma tecla insistir

Baixar a bola acalmar-se, ser mais comedido

Comprar gato por lebre ser enganado

Com o cu na mão estar com medo

Dar com o nariz na porta decepcionar-se, procurar e não encontrar

Dar o braço a torcer voltar atrás numa decisão

Dar com a língua nos dentes contar um segredo

Dar uma mãozinha ajudar

Engolir sapos fazer algo contrariado; ser alvo de insultos / injustiças / contrariedades sem reagir/revidar, acumulando ressentimento

Estar com a cabeça nas nuvens estar distraído.

Estar com a corda no pescoço estar ameaçado, sob pressão ou com problemas financeiros

Estar com a faca e o queijo na mão estar com poder ou condições para resolver algo

Estar com a pulga atrás da orelha estar desconfiado

Estar com aperto no coração estar angustiado

Estar com o pé atrás da porta/de pé estar desconfiado, cabreiro

Page 3: Expr idiom ponto

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atrás

Estar com os pés para a cova/o pé na cova

estar para morrer

Estar com uma pedra no sapato ter um problema por resolver

Estar de mãos a abanar/abanando não conseguir o que pretendia

Estar de mãos atadas não poder fazer nada

Fazer com uma perna às costas/de olhos fechados

fazer com muita facilidade

Fazer tempestade em copo d'água transformar banalidade em tragédia

Fazer um negócio da China aproveitar grande oportunidade

Fazer vista grossa fingir que não viu, relevar, negligenciar

Feito nas coxas de qualquer modo, sem cuidado

Ficar à sombra da bananeira ficar despreocupado

Gritar a plenos pulmões gritar com toda a força

Ir desta para melhor morrer, falecer

Lavar roupa suja discutir assunto particular

Meter os pés pelas mãos agir desajeitadamente ou com pressa; confundir-se no raciocínio

Meter o rabo entre as pernas submeter-se

Onde Judas perdeu as botas lugar remoto

O gato comeu a língua diz-se de pessoa calada

Pendurar as chuteiras aposentar-se, desistir

Ir pentear macacos ir chatear outra pessoa

Pensar na morte da bezerra estar distraído/a

Perder as estribeiras desnortear-se

Pôr as barbas de molho precaver-se

Pôr as cartas na mesa/lançar os dados

expor os fatos

Pôr mãos à obra trabalhar com afinco

Pôr os pontos/pingos nos ís esclarecer a situação detalhadamente

Procurar uma agulha num palheiro tentar algo quase impossível

Prometer mundos e fundos fazer promessas exageradas

Receber um balde de água fria inverter o entusiasmo em desilusão

Riscar do mapa fazer desaparecer

Sem pés nem cabeça sem lógica; sem sentido

Sentir dor de cotovelo sentir despeito amoroso

Sentir dor de corno sentir despeito amoroso

Segurar a vela estar sozinho/a com um casal

Ser um chato de galocha ser uma pessoa de comportamento desagradável

Ter macacos (ou macaquinhos) no sótão

ter ilusões, achar que algo muito improvável de acontecer é bastante possível

Tirar água do joelho urinar

Tirar o cavalo (ou cavalinho) da chuva

desistir com reluctância por motivo de força maior ou impedimento hierárquico

Trepar paredes estar desesperado

Trocar alhos por bogalhos confundir fatos e/ou histórias

Uma mão lava a outra (e as duas lavam as orelhas)

entreajuda; trabalhar em equipe ou para o mesmo fim

Page 4: Expr idiom ponto

4

Virar casacas mudar de ideias facilmente; traídor

Voltar à vaca fria voltar ao assunto com que se iniciou uma conversa

Resolver um pepino solucionar um problema

Expressões idiomáticas usadas ou com origem no Brasil

Acertar na mosca acertar precisamente

Abotoar o paletó morrer

Acabar em pizza quando uma situação não resolvida acaba encerrada (especial mente em casos de corrupção quando ninguém é punido)

Acertar na lata (ou na mosca) acertar com precisão, adivinhar de primeira

A céu aberto ao ar livre

Achar (procurar) chifre em cabeça de cavalo

procurar problemas onde não existem

Achar (procurar) pêlo em ovo buscar coisas impossíveis

A dar com pau em grande quantidade

Afogar o ganso fazer sexo (homem)

Agarrar com unhas e dentes agir de forma extrema para não perder algo ou alguém

Água que passarinho não bebe pinga, bebida alcóolica

Amarrar o burro ficar em descanso (folgado); Se comprometer (normalmente em relação a relacionamentos)

Amigo da onça falso amigo, amigo interesseiro ou traidor

Andar na linha estar elegante ou agir corretamente (ver também "perder a linha")

Andar nas nuvens estar desatento

Ao deus dará abandonado, sem rumo

Ao pé da letra literalmente

Aos trancos e barrancos de forma atabalhoada, desajeitada

Armado até os dentes exageradamente armado, preparado para uma situação

Amarrar a cara fechar a cara e ficar zangado

Armar um barraco criar confusão em público, discutindo ou brigando com alguém

Arrancar os cabelos entrar em desespero

Arrastar as asas (para alguém) enamorar-se, insinuar-se romanticamente para alguém

Arregaçar as mangas dar início a um trabalho ou atividade com afinco

Arrumar sarna para se coçar procurar por problemas

Até debaixo d'água em todas as circunstâncias

Babar ovo puxar o saco, idolatrar incondicionalmente

Bafo de onça mau hálito

Banho de água fria romper as espectativas de alguém, decepcionar, desiludir

Banho de gato lavar superficialmente as partes do corpo

Barata tonta perdido, desorientado, sem saber o que fazer

Barra pesada situação difícil, ou pessoa grosseira e violenta

Bate e volta ir e voltar a algum evento ou lugar rapidamente

Bater as botas morrer

Bater com as dez morrer

Bater na mesma tecla insistir demais no mesmo assunto

Bater papo conversar (informalmente)

Boca do inferno entrando em problemas sérios

Page 5: Expr idiom ponto

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Bode expiatório aquele que leva a culpa no lugar de outro

Bola pra frente expressão de encorajamento, para se seguir em frente mesmo frente a adversidades

Bom de bico galanteador, que tenta convencer os outros na conversa

Borracho bêbado (ver Portugal)

Botar a boca no trombone revelar um segredo, tornar algo público

Botar o carro na frente dos bois pular ou queimar etapas de forma inapropriada, geralmente atrapalhando o andamento ou resolução de uma situação

Botar pra quebrar fazer algo com extrema intensidade, em geral em sentido positivo; similar a "mandar ver"

Briga de cachorro grande embate entre forças as quais se julga superiores

Briga de foice (no escuro) mulher feia

Cara de pau descarado, sem-vergonha

Colocar melancia na cabeça querer aparecer, se exibir

Comer água ato de sair para consumir bebida alcoólica (em grande quantidade)

Comer cru e quente ser apressado e pouco perfeccionista

Confundir alhos com bugalhos confundir ou misturar conceitos ou fatos

Conversa com a minha mão quando alguém fala sobre um assunto chato e não se deseja continuar a conversa

Chorar de barriga cheia reclamar sem motivo

Chutar o balde / Chutar o pau da barraca

agir irresponsavelmente em relação a um problema

Dar bola (para alguém) insinuar-se romanticamente para alguém

Dar a volta por cima se recuperar

Dar com a cara na porta levar um fora, decepcionar-se, procurar e não encontrar

Dar com a língua nos dentes contar um segredo

Dar mancada descumprir promessa, relaxo, deslize

Dar pau na máquina dar urgência

Dar uma mãozinha dar uma pequena ajuda

Deixar na mão não colaborar, abandonar

Descascar o abacaxi resolver problema complicado

Estar com dor de cotovelo estar despeitado devido a uma decepção amorosa

Encher/entortar o caneco beber até cair

Enfiar o pé na jaca embriagar-se, cometer excessos, cometer um erro

Encher linguiça enrolar, preencher espaço com embromação

Estômago de avestruz aquele que come qualquer coisa

Ensacar fumaça fazer trabalho inútil

Entrar pelo cano se dar mal, ficar encrencado

Estar com a bola murcha estar sem ânimo

Estar com a corda toda estar animado, empolgado

Estar dando sopa estar inadvertidamente vulnerável

Estar no bico do corvo estar para morrer

Enxugar gelo insistir em um trabalho inútil

Fazer boca de siri manter segredo sobre algum assunto

Fazer nas coxas fazer sem cuidado

Ficar a ver navios ficar sem nada ou sem coisa alguma

Ficar de olho vigiar

Page 6: Expr idiom ponto

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Ir catar coquinho ir fazer outra coisa

Ir para o espaço não funcionar, falhar, dar errado

Ir para o saco não funcionar, falhar, dar errado

Lavar as mãos não se envolver

Lavar a roupa suja acertar as diferenças com alguém

Levar chumbo/ferro/pau fracassar ou dar-se mal; sofrer violência

Levar toco ser dispensado(a) pela namorada(o)

Levar um fora ser descartado, desprezado, bloqueado ou impedido por alguém (sentimental)

Levar tudo por trás entender tudo de maneira pejorativa ou oposta

Malhar meter pau

Marcar touca distrair-se e perder uma oportunidade

Meter o dedo na ferida insistir em situação problemática

Molhar o biscoito fazer sexo (homem)

Mudar da água para o vinho mudar totalmente, mudar radicalmente

Mudar do saco para a mala mudar totalmente de assunto

Na mão do palhaço ver-se numa situação fora de controle

Não fazer bom cabelo não ouvir, não servir, não combinar bem

Onde Judas perdeu as botas lugar muito distante

O que vem debaixo não me atinge expressão usada para menosprezar alguém ou estabelecer diferença de nível entre os interlocutores

Pagar o pato ser responsabilizado por algo que não cometeu

Pé na jaca cometer excessos

Pendurar as chuteiras aposentar-se, desistir

Pensar na morte da bezerra distrair-se

Perder a linha perder a educação, perder a elegância

Pirar na batatinha pensar/imaginar ou propor coisa improvável ou impossível de acontecer

Pisar na bola/no tomate cometer deslize

Plantar bananeira colocar-se de cabeça para baixo

Pôr minhoca na cabeça criar ou refletir sobre problemas inexistentes

Procurar chifre em cabeça de cavalo/pêlo em ovo

procurar significados ou imaginar problemas que não existem

Procurar sarna para se coçar se envolver em problemas sem necessidade

Quebrar o galho dar solução precária, improvisar

Segurar vela atrapalhar namoro, acompanhar um casal ou ser o único solteiro numa roda de casais

Sem pé nem cabeça confuso, sem sentido

Dar uma de João sem braço fazer-se de desentendido

Ser uma mala sem alça ser muito chato e difícil de ser tolerado

Ser uma mão na roda ajudar muito, ser prestativo

Ser uma pedra no sapato/no caminho

ser um estorvo, atrapalhar

Soltar a franga desinibir-se (geralmente assumindo um lado feminino/alegre)

Tirar o cavalo da chuva desistir de algo ou alguém

Tomar um chega para lá ser descartado

Trocar as bolas atrapalhar-se, confundir-se

Trocar os pés pelas mãos agir desajeitadamente, com pressa

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Trocar seis por meia dúzia trocar uma coisa por outra que não vai fazer a menor diferença

Voltar à vaca fria retornar a um assunto inicial/principal numa discussão, após divagação

Tempestade em copo d'agua dar importancia muito grande a uma coisa muito pequena

Tirar de letra fazer algo com facilidade

Expressões idiomáticas com origem em Portugal

Acertar agulhas pôr-se de acordo ou combinar algo com alguém

Acordar com os pés de fora estar mal disposto logo pela manhã

Abrir o coração desabafar; declarar-se sinceramente

Abrir o jogo denunciar; revelar detalhes

Abrir os olhos a alguém convencer, alertar

À sombra da bananeira despreocupado

Agarrar com unhas e dentes não desistir de algo ou alguém facilmente.

Água pela barba situação desesperante

Aperto no coração estar angustiado

Aproveitar a boleia ir junto, já que vais, eu também vou

Armado até aos dentes estar preparado para uma qualquer situação

Arrancar cabelos desespero

Arregaçar as mangas iniciar algo

Balde de água fria desilusão

Barata tonta distraído/a

Bater as botas morrer, falecer

Bater na mesma tecla insistir

Baixar a bola acalmar-se; ser mais comedido

Cabeça de alho chocho distraído, esquecido

Cabeça nas nuvens distraído, alheio

Calinada pontapé na gramática, gafe, forma jocosa de se referir a erro ortográfico

Cair das nuvens voltar à realidade

Cara de caso estar preocupado

Cartas na mesa fatos expostos

Cabeça nas nuvens distraído

Coisas do arco da velha coisas insólitas

Comer como um abade comer muito, ser glutão

Comprar gato por lebre ser enganado

Cortar as vazas impedir algo ou alguém

Chatear o Camões ir chatear outra pessoa

Chorar sobre o leite derramado lamentar-se por algo que não tem solução/volta ou fato passado

Com a corda no pescoço ameaçado, sob pressão ou com problemas financeiros

Com a faca e o queijo na mão com poder ou condições para resolver algo

Com uma perna às costas sem dificuldade nenhuma

Dar com o nariz na porta decepcionar-se, procurar e não encontrar

Dados lançados fatos expostos

Dar o braço a torcer voltar atrás numa decisão ou opinião

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Dar com a língua nos dentes contar um segredo

Dar uma mãozinha ajudar

Dar troco dar conversa

Dar a volta ao bilhar grande ir chatear outra pessoa

De pedra e cal definitivo, para ficar

Descalçar a bota resolver um problema

Dor de cotovelo inveja

Dor de corno despeito amoroso

De olhos fechados sem dificuldade alguma

Engolir sapos fazer algo contrariado; ser alvo de insultos/injustiças/contrariedades sem reagir/revidar, acumulando ressentimento

Estar com os azeites estar aborrecido / chateado com algo

Estar de mãos a abanar não conseguir o que pretendia

Estar de mãos atadas não poder fazer nada

Estar de trombas estar aborrecido / chateado com algo; má cara

Estar-se nas tintas não querer saber, ser indiferente, ignorar deliberadamente

Encostar a roupa ao pêlo bater em alguém

Estar giro estar bonito, engraçado

Estar fixe estar muito bom

Estar feito ao bife estar em risco de ser tramado

Fazer um negócio da China aproveitar de grande oportunidade

Fazer vista grossa fingir que não viu; relevar; negligenciar

Fazer tempestade em copo d'água

transformar banalidade em tragédia

Ficar a dizer: - Ó tio! Ó tio! ficar numa grande confusão que exige pedir a ajuda de alguém

Ficar para tia ficar solteira

Gritar a plenos pulmões gritar com toda a força

Ir desta para melhor morrer, falecer

Ir aos arames enervar-se, irritar-se

Lavar roupa suja discutir em público

Levar a peito tomar para si, transpor para o plano pessoal, ofender-se

Macaquinhos na cabeça dar ou ter motivos para a desconfiança

Meter os pés pelas mãos agir desajeitadamente ou com pressa; confundir-se no raciocínio

Meter o rabo entre as pernas submeter-se

Muitos anos a virar frangos muita experiência

Não bater bem da bola não estar bom da cabeça

Onde Judas perdeu as botas lugar remoto

O 1º milho é dos pardais diz-se a pessoa impaciente

O gato comeu a língua diz-se de pessoa calada

Paninhos quentes com todos os cuidados

Pão, pão, queijo, queijo diz-se daquilo que é muito simples

Papas na língua (não ter...) dizer o que se pensa sem receio

Passar a pente fino analisar ou escrutinar minuciosamente

Pés de lã diz-se do cuidado e silêncio que se tem (sobretudo com o caminhar) para não se ser percebido por outros

Pés para a cova estar para morrer

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Pendurar as botas aposentar-se, desistir

Pentear macacos ir chatear outra pessoa

Pensar na morte da bezerra estar distraído/a

Pedra no sapato problema por resolver

Pior que uma lesma enfurecido/a

Pôr a cabeça em água cansar, extinguir a paciência

Pôr a pata na poça fazer asneira

Pôr as barbas de molho precaver-se

Pôr mãos à obra trabalhar com afinco

Pôr os pontos nos ís esclarecer a situação detalhadamente

Pôr pulga atrás da orelha ficar desconfiado

Pôr-se a pau estar atento

Pregar uma peta enganar, mentir

Prometer mundos e fundos fazer promessas infundadas ou exageradas

Procurar uma agulha num palheiro

tentar algo impossível

Rebeubéu, pardais ao ninho grande alvoroço

Riscar do mapa fazer desaparecer

Sacudir a água do capote livrar-se de problemas ou de acusações

Sem pés nem cabeça sem lógica; sem sentido

Segurar a vela estar sozinho/a com um casal

Ser um troca-tintas mudar de ideias facilmente; traídor

Ter a barriga a dar horas ter fome

Ter bicho carpinteiro estar irrequieto

Ter lata ser descarado

Ter macacos (ou macaquinhos) no sótão

ter ilusões, achar que algo muito improvável de acontecer é bastante possível

Tirar água do joelho urinar

Tirar o cavalo (ou cavalinho) da chuva

desistir com reluctância por motivo de força maior ou impedimento hierárquico

Trinta por uma linha fazer muita algazarra por uma ninharia

Trepar paredes estar desesperado

Trocar alhos por bogalhos confundir fatos e/ou histórias

Tocar ao bicho masturbar-se

Uma mão lava a outra (e as duas lavam as orelhas)

entreajuda; trabalhar em equipa ou para o mesmo fim

Virar casacas mudar de ideias facilmente; traídor

Voltar à vaca fria voltar ao assunto com que se iniciou uma conversa

Expressões idiomáticas de origem histórica ou mitológica As expressões idiomáticas estão presentes em todas as línguas e culturas e caracterizam-se por não ser possível identificar seu significado apenas através do sentido literal das palavras que as compõem. As religiões, mitologias e a própria história costumam representar ricas fontes para geração de ex-pressões idiomáticas, que são preservadas através das gerações. Na cultura lusófona, muitas expressões referem-se especialmente a episódios da mitologia greco-romana, das religiões judaica e cristã e da história do mundo ocidental.

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Origem mitológica

O julgamento de Páris. Peter Paul Rubens.

trabalho de Sísifo - tarefa exaustiva, interminável e inútil. Origem: Na mitologia grega, Sísifo, rei de Corinto, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Após ter provocado a ira de Zeus por denunciar o rapto da mortal Egina, Sísifo escapou algumas vezes de Tâ-natos, o deus da Morte, através de engenhosos ardis. Muito depois Hermes logrou levá-lo ao Hades, onde foi condenado, por toda a eternidade, a rolar até o cume de uma montanha uma grande pedra, que, ao alcançar o topo, despenca novamente montanha abaixo. esforço hercúleo ou titânico – esforço gigantesco, além (ou no limite) das possibilidades humanas. Origem: Héracles (nome original grego) ou Hércules (nome romano) era um herói e semi-deus, filho de Zeus e da mortal Alcmena e um importante personagem da mitologia greco-romana. Dotado de coragem e força descomunais, participou de inúmeros episódios heróicos, destacando-se seus famosos doze traba-lhos. Os Titãs eram criaturas formidáveis, descendentes do Céu, Urano e da terra, Gaia e destacam-se entre os seres que enfrentaram Zeus e os deuses olímpicos na sua ascensão ao poder. Dentre os mais famosos ti-tãs (masculinos) e titânides (femininos), podem-se mencionar Atlas, Hipérion, Prometeu, Reia e Tétis.

bicho de sete cabeças – enorme ameaça ou dificuldade, requerendo grande coragem e/ou astúcia para ser superada. Origem: A expressão tem origem discutida, mas destacam-se duas interpretações. A primeira sustenta que sua origem está na mitologia grega, mais precisamente na história da Hidra de Lerna, uma monstruosa serpente com sete (ou nove) cabeças que se regeneravam mal eram cortadas e exalavam um vapor que matava quem estivesse por perto. A morte da Hidra foi o segundo dos famosos doze trabalhos de Hércules. De acordo com uma segunda teoria, a expressão seria uma referência à primeira das duas bestas do Apo-calipse de São João, descrita como um monstro de sete cabeças e dez chifres. calcanhar de Aquiles - ponto vulnerável, físico, moral ou intelectual. Origem: Aquiles foi um semi-deus e herói da mitologia grega, considerado o maior guerreiro da Guerra de Tróia e o personagem principal da Ilíada, de Homero. Quando Aquiles nasceu, sua mãe Tétis mergulhou seu corpo no rio Estige para torná-lo imortal; ficou, no entanto, vulnerável no calcanhar, parte do corpo pelo qual ela o segurava. No final da guerra contra Tróia, Aquiles foi efetivamente morto por uma flechada no calcanhar, desferida por Páris, príncipe troiano. toque de Midas - capacidade de enriquecimento fácil, que pode se voltar contra o beneficiado, como castigo por sua ambição desmedida. Origem: Midas foi um personagem da mitologia grega, rei da cidade frígia de Pessinus. Após ter libertado Sileno, mestre e pai de criação do deus Dionísio, recebeu, como recompensa que ele próprio escolhera, o dom de transformar qualquer coisa em ouro, pelo simples toque. Este dom mostrou-se trágico quando Midas percebeu que nunca mais poderia comer nem beber nada. Desesperado, quase morrendo de fome, Midas implorou a Dionísio que lhe retirasse o terrível dom.

leito de Procrusto - aplicação arbitrária de uma medida única; sujeição forçada à opinião ou vontade de outrem. Origem: Procrusto (ou Procusto) era um bandido da Ática, famoso pelas torturas que infligia aos viajantes a que oferecia hospedagem, até que ficassem da medida de um leito de ferro que havia em sua casa. Se os hóspedes fossem mais altos, ele os amputava; se eram mais baixos, eram esticados até atingirem o com-primento correto. Ninguém sobrevivia, pois nunca uma vítima se ajustava exatamente ao tamanho da cama. Mais tarde, foi morto por Teseu, que lhe aplicou seu próprio castigo. Curiosamente, a tradição rabínica menciona que um dos crimes cometidos contra os forasteiros pelos habitantes de Sodoma era quase idêntico ao de Procusto, dizendo respeito à cama de Sodoma (mitat s'dom) na qual os visitantes da cidade eram obrigados a dormir.

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tomar a nuvem por Juno - iludir-se; tomar os desejos por realidade. Após apiedar-se de uma punição aplicada ao vilão Íxion, criador de cavalos, Zeus convidou-o para um ban-quete no Olimpo. Tendo-se embriagado pelo néctar, Íxion passou a assediar Hera (Juno, na mitologia romana), a própria mulher de seu anfitrião. Ao perceber as intenções do visitante, Hera alertou o esposo a respeito das intenções de seu convidado. Zeus, em lugar de irritar-se, achou divertida a situação, e para testar seu hóspede, moldou uma nuvem na forma de sua própria esposa e deixou-a a sós com Íxion, que a possuiu. Desse conúbio nasceu a raça dos Centauros, metade homens, metade cavalos. Como Íxion divul-gou aos mortais que havia possuído a esposa de Zeus, este o fulminou com um raio e o lançou ao Tártaro, onde foi preso a uma roda em chamas e condenado a nela girar pela eternidade. pomo da discórdia - motivo principal de uma disputa; algo que dá motivo a uma grande desavença. Origem: Ofendida por não tendo sido convidada para as núpcias de Tétis com Peleu, Éris, a deusa da Discórdia, resolveu vingar-se lançando sobre a mesa do banquete uma maçã de ouro, com a inscrição "Para a mais bela das deusas". As três deusas mais poderosas, Hera, Afrodite e Atena, imediatamente qui-seram o troféu. Para se livrar da delicada situação, Zeus, o senhor do Olimpo, transferiu a decisão para Páris, filho do rei Príamo, de Tróia, que havia demonstrado imparcialidade em uma disputa de touros contra o deus Ares. Em troca da maçã de ouro, Atena ofereceu a Páris uma vitória gloriosa na guerra; Hera, o rei-nado absoluto de toda a Europa e Ásia; Afrodite, o amor da mais bela mulher do mundo. Páris concedeu o título a Afrodite e a deusa prometeu-lhe o amor da belissima Helena, casada com o rei de Esparta, Me-nelau. Com a ajuda de Afrodite, Páris raptou Helena e levou-a para casar-se com ele em Tróia, evento que provocou a célebre Guerra de Tróia. profecia de Cassandra - profecia catastrófica, na qual ninguém acredita. Origem: Cassandra era uma das filhas de Príamo, rei de Tróia, que recebera do deus Apolo a proposta de ganhar o dom da profecia, em troca de entregar-se a ele. Cassandra aceitou a condição, mas depois de receber o dom, esquivou-se a cumprir o combinado. Para vingar-se, Apolo manteve o dom, mas condenou-a a uma completa falta de persuasão. Durante a guerra de Tróia, Cassandra por diversas vezes alerta os troianos de perigos iminentes (sendo o último deles a armadilha do cavalo de Tróia), mas invariavelmente não é ouvida. Após a guerra é levada como escrava e amante por Agamenon, chefe supremo dos exércitos gregos. presente de grego - presente ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimentos a quem a recebe. Origem: Após 10 anos de sítio, sem derrotar as defesas das muralhas de Tróia, os gregos, num estratage-ma concebido por Odisseu, simularem terem desistido da guerra e embarcaram em seus navios, deixando na praia um enorme cavalo de madeira, que os troianos levaram para o interior de sua cidade, como símbolo de sua vitória. À noite, quando todos dormiam, os soldados gregos escondidos dentro do cavalo saíram e abriram os portões da cidade. O exército grego pôde assim entrar em Tróia, conquistar a cidade, destruí-la e incendiá-la. voto de Minerva - voto de desempate, dado por uma autoridade superior. Origem: Orestes era filho do rei grego Agamemnon, que foi assassindado por sua esposa, Clitemnestra e o amante, Egisto, logo após ter retornado da guerra de Tróia. Revoltado, Orestes vingou a morte do pai ma-tando Clitemnestra e Egisto. Segundo a tradição, aquele que cometesse um crime contra o próprio genos era punido com a morte pelas terríveis Erínias, para as quais o matricídio era o mais grave e imperdoável de todos os crimes. Sabendo do castigo que o esperava, Orestes apelou para o deus Apolo, que decidiu advo-gar em seu favor, levando o julgamento para o Areópago. As Erínias foram as acusadoras e Palas Atená (que corresponde à deusa romana Minerva), a presidente do julgamento. A votação, num júri formada por doze cidadãos atenienses, terminou empatada. Atena, então, proferiu sua sentença decisiva, declarando Orestes inocente. espada de Dâmocles - perigo iminente, fruto da inveja e/ou da ambição pelo poder. Origem: Dâmocles, cortesão e bajulador do rei Dionísio I de Siracusa, expressava constantemente sua inveja pela sorte do tirano. Para dar-lhe uma lição, Dionísio combinou que lhe passaria o poder por um dia. À noite, durante o banquete que o tirano lhe ofereceu, Dâmocles percebeu que sobre sua cabeça pendia a espada do tirano, suspensa por um fio de cabelo. Com isso este lhe fez perceber que o poder está sempre à mercê das mais perigosas ameaças. cova de Caco - esconderijo de ladrões. Origem: Caco era um célebre bandido da mitologia romana, metade homem e metade animal, filho do deus do fogo, Vulcano. Caco vivia numa caverna sob o monte Aventino, onde guardava o fruto de seus roubos. Certa feita, Hércules retornava para casa depois de haver roubado os bois de Gerião (um de seus famosos doze trabalhos) e parou para descansar às margens do Tibre. Naquela noite, Caco roubou oito dos melhores touros e novilhas do rebanho, arrastando-os pelas caudas para cobrir suas pegadas. Quando Hér-

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cules despertou, procurou em vão o gado perdido, mas, ao passar perto da cova de Caco, escutou uma das novilhas mugir. Seguindo o som, Hércules encontrou Caco e o matou, recobrando assim o gado roubado.

caixa de Pandora - algo que gera forte curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado. Origem: Pandora foi a primeira mulher, forjada por Hefestos e Atena por orientação de Zeus, para punir a raça humana, a quem Prometeu tinha acabado de dar o fogo roubado dos deuses. Pandora foi foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar o presente, mas Epimeteu ignorou a advertência e tomou Pandora como esposa. Pandora trou-xera consigo uma pequena caixa de ouro (ou jarra, ou ânfora, de acordo com outras tradições), colocada por Zeus em sua bagagem. Mal chegou à Terra, Pandora, movida por irresistível curiosidade, acabou abrin-do a caixa, liberando assim todos os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a dor, o sofrimento, a velhice, a doença, a miséria, a ambição, o ódio, a guerra, a loucura, a mentira, a paixão... No fundo da caixa, restou apenas a esperança. A vingança de Zeus estava consumada.

Origem religiosa

paciência de Jó - paciência, tolerância ou resignação acima dos limites razoáveis. Origem: Jó foi um personagem do Antigo Testamento, que viveu na terra de Uz, atual Iraque. Em função de uma aposta entre Deus e o diabo, foi vítima de muito sofrimento (incluindo a perda de sua fortuna, da saúde e de quase todos os parentes), para ver se ele mantinha sua fé a despeito de todas as adversidades. Ape-sar de incitado pela mulher e amigos a amaldiçoar a Deus, Jó aguentou firme todas as provações. Ao final, Deus o recompensou, devolvendo-lhe em dobro tudo o que perdera. sabedoria salomônica - grande sabedoria, utilizada para governar com justiça e equidade. Origem: Salomão, personagem bíblico, filho de Davi e terceiro rei de Israel, governou durante cerca de quarenta anos e ficou conhecido como um sábio governante e um juiz justo e imparcial. Ficou especial-mente notório seu julgamento do caso em que duas mães disputavam um bebê, onde distinguiu a falsa mãe da verdadeira simulando dividir o bebê em dois e dar metade a cada uma.

Daniel na cova dos leões. Briton Rivière.

cova dos leões - enorme perigo, do qual só se pode escapar com grande fé e coragem. Origem: Daniel, personagem do Antigo Testamento, um dos maiores exemplos de fidelidade e dedicação a Deus, foi lançado a uma cova de leões por haver desrespeitado com suas orações um decreto de Dario, rei dos Medos. Na manhã do dia seguinte, Dario foi até a entrada da cova e surpreendeu-se por encontrar Daniel são e salvo, sem que os leões lhe tivessem feito qualquer mal. Questionado pelo rei, Daniel afirmou que Deus havia enviado um anjo para protegê-lo, porque era inocente. Admirado com sua fé e com o poder do deus de Israel, Dario libertou o profeta.

Madalena arrependida - alguém que se arrepende do passado e/ou muda radicalmente de estilo de vida. Origem: Maria Madalena é um personagem do Novo Testamento, apresentada como uma das discípulas mais devotas de Jesus Cristo. O Evangelho de Lucas, no Novo Testamento, cita: "Maria, chamada Mada-lena, da qual saíram sete demônios" (Os sete pecados capitais: Luxuria, Ódio, Cobiça, Avareza Orgulho, Gula, Preguiça). Apesar de não haver qualquer fundamento bíblico para considerá-la como uma prostituta arrependida dos pecados e que pediu perdão a Cristo, esta é a versão que vulgarmente ficou disseminada.

lavar as mãos - eximir-se de responsabilidade. Origem: Pôncio Pilatos era prefeito (praefectus) da província romana da Judéia na época da pregação de Jesus Cristo. Quando o Sinédrio judaico lhe enviou Jesus para execução, Pilatos, por não ter nele encon-trado nenhuma culpa, ficou hesitante e tentou livrá-lo da morte, mas o povo de Jerusalém preferiu salvar Barrabás. Pilatos então, após lavar as próprias mãos, em sinal de renúncia de qualquer responsabilidade, condenou Jesus a morrer na cruz. onde Judas perdeu as botas - lugar distante ou inacessível.

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Origem: Após trair Jesus e receber seus 30 dinheiros, Judas Iscariotes, imerso em depressão e culpa, de-cidiu suicidar-se por enforcamento. Acontece que ele se matou sem as botas e os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Os soldados saíram em busca das botas de Judas, onde provavelmente estaria o di-nheiro. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro, mas a expressão atravessou os sé-culos.

Origem histórica (ou pseudo-histórica)

estilo lacônico - modo breve ou conciso de falar ou de escrever. Origem: O autodomínio, a sobriedade e a concisão eram algumas das características mais valorizadas pela sociedade de Esparta, cidade grega da região da Lacônia, situada na península do Peloponeso. amor platônico - relação afetuosa que exclui a atração sexual. Origem: O termo amor platônico foi utilizado pela primeira vez no século XV, pelo filósofo neoplatônico Marsilio Ficino, como um sinônimo de amor socrático. Ambas as expressões significam um amor centrado na beleza do caráter e na inteligência de uma pessoa, em vez de em seus atributos físicos, e se remetem ao laço especial de afeto entre dois homens a que o filósofo grego Platão tinha se referido em seu diálogo O Banquete, exemplificando-o com o afeto que havia entre Sócrates e seus discípulos homens, em parti-cular Alcibíades. ir além das sandálias - dar palpite em assunto que não seja de sua especialidade. Origem: O escritor latino Plínio menciona que Apeles, célebre pintor grego que viveu na Jônia no século IV a.C., tinha o costume de exibir suas novas obras na porta de seu ateliê e esconder-se para ouvir os co-mentários dos passantes. Quando um sapateiro comentou sobre um engano técnico que encontrou numa sandália pintada em um dos seus quadros, Apeles fez a correção naquela mesma noite. Na manhã seguin-te, vaidoso por perceber que o pintor havia considerado seu comentário, o sapateiro começou a criticar a forma com que Apeles havia pintado uma perna. Apeles saiu então imediatamente de seu esconderijo e exclamou "Ne sutor ultra crepidam": "Não vá o sapateiro além das sandálias".

Diógenes. John William Waterhouse. atitude cínica - comportamento hipócrita, descarado, despudorado, insensível Origem: O Cinismo foi uma corrente filosófica grega fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates, e cujo maior nome foi Diógenes de Sínope. Pelo fato de que a corrente pregava o desapego aos bens materiais e externos, assim como o mesprezo pelo sofrimento, a doença e a morte, tanto dos outros quanto de si pró-prio (preocupações das quais os cínicos desejavam libertar-se), o termo cínico passou à posteridade com uma conotação destorcida e pejorativa, por influência dos detratores da corrente. nó górdio – fulcro da questão; cerne de um problema complexo, resolvido de maneira simples e eficaz. Origem: Alexandre, o Grande, a caminho da Ásia Menor, escutou uma lenda que afirmava que quem desa-tasse um dificílimo nó, amarrado por Górdio, antigo rei da Frígia, dominaria toda a região. Após bastante re-fletir, Alexandre desembainhou sua espada e cortou o nó. Poucos anos depois Alexandre se tornou se-nhor da Ásia Menor. vitória de Pirro ou vitória pírrica - uma vitória obtida a alto preço, causando prejuízos irreparáveis. Origem: Pirro, rei do Épiro e da Macedônia, era o general que comandou o exército grego, na campanha pelo controle da Magna Grécia. Após ter vencido a Batalha de Ásculo contra os romanos, em 279 a.C., com um número considerável de baixas, e ao ser parabenizado pela vitória, teria dito: "Mais uma vitória como es-ta, estou perdido". queimar as naus, queimar os navios ou queimar as caravelas - seguir em frente, com confiança abso-luta na vitória final. Origem: Agátocles, tirano de Siracusa, após o desembarcarque nas costas da África, numa expedição marí-tima contra os cartagineses, mandou queimar todos os próprios navios e marchou contra Cartago, onde

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alcançou a vitória. Fez isso para anular qualquer possibilidade de fuga ou recuo, pois sem os navios seria impossível voltar atrás. Conta-se que o mesmo estratagema foi utilizado por Menelau, Régulo, Juliano, Guilherme o conquistador e ainda por Cortez, no México. ficar para as calendas gregas - ser agendado ou transferido para uma data que jamais ocorrerá. Origem: As calendas eram o primeiro dia do mês romano, onde estes habitualmente realizavam seus paga-mentos. Ad calendas græcas é uma expressão latina que indica algo que jamais ocorrerá, pois as calendas eram inexistentes no calendário grego. erro crasso - falha grosseira de planejamento, com consequências trágicas. Origem: Marco Licínio Crasso era um aristocrata, general e político romano, que comandou a vitória da batalha da Porta Collina e esmagou a revolta dos escravos liderada por Espártaco. Em campanha contra os partos, porém, apesar da enorme superioridade numérica de seu exército, sofreu uma derrota fragorosa na batalha de Carras, em 53 a.C., em função de uma série de falhas táticas grosseiras. Mais de 20.000 solda-dos perderam a vida e cerca de 10.000 foram feitos prisioneiros; a cabeça e a mão direita de Crasso foram levadas ao rei parto, Orodes II. ai dos vencidos! - aos vencidos não resta senão resignar-se. Origem: Breno, foi um chefe celta que liderou o exército gaulês em 390 a.C., capturando e saqueando a ci-dade de Roma, após ter batido os romanos na batalha de Allia. Após um longo cerco, os romanos concor-daram em pagar um pesado resgate em ouro para libertar a cidade. Durante a pesagem do resgate, de acordo com a lenda, os romanos reclamaram contra o uso de pesos falsos. Breno atirou então a sua espa-da ao prato da balança, pronunciando a frase "Vae victis!", que significa "Ai dos vencidos!" agir como um vândalo - destruir ou depredar bens públicos por revolta ou simples prazer da destruição. Origem: A tribo germânica oriental dos Vândalos, procedente da Escandinávia, penetrou no Império Roma-no durante o século V, estabelecendo-se no norte da África, com base na cidade de Cartago. Em 455 os vândalos invadiram Roma, saqueando-a e destruindo edificações, monumentos, tesouros religiosos e obras de arte, que se perderam para sempre. Inês é morta - expressão utilizada, no sentido de “agora é tarde”, em relação a uma providência tomada atrasadamente. Origem: Inês de Castro uma nobre galega do século XIV, foi amante do futuro rei Pedro I de Portugal, de quem teve quatro filhos, para escândalo da corte e do próprio povo. Foi executada às ordens do pai deste, Afonso IV, tendo sido sua morte cantada por Camões, António Ferreira, João de Barros e muitos outros. Pe-dro só foi reconhecer que havia se casado secretamente com Inês, para dar legitimidade aos filhos, 5 anos mais tarde, quando já era Rei de Portugal. Em referência a esta decisão tardia, tornou-se popular a expres-são “É tarde. Inês é morta”.

casa da Mãe Joana - lugar bagunçado, onde todos podem entrar, sem maiores cerimônias. Origem: Joana I de Nápoles, rainha de Nápoles e condessa de Provença no século XIV, foi acusada de participar do assassinato do marido e precisou passar um tempo refugiada em Avignon. Durante este período aprovou um decreto que regulamentava os bordéis da cidade, incluindo um artigo que dizia: "- et que siegs une porto... dou todas las gens entraron." Ou seja, ... e que tenha uma porta por onde todas as pessoas possam entrar.

Colombo quebrando o ovo. William Hogarth.

ovo de Colombo - solução aparentemente fácil e óbvia, mas que não ocorreu a ninguém anteriormente.

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Origem: Num banquete na casa do cardeal Ximenes, ao ouvir o comentário de que para descobrir a América bastava ter pensado nisso, Cristóvão Colombo desafiou os presentes a colocarem um ovo em pé sobre uma das extremidades. Como ninguém conseguiu, Colombo bateu ligeiramente a ponto do ovo na mesa e assim o colocou em equilíbrio estável. Todos retrucaram que assim também o fariam. Sem dúvida, retrucou Colombo, mas era preciso pensar isso, e ninguém o fez, senão eu. tempo de D. João Charuto - tempo muito antigo. Origem: Tempo muito antigo, de Dom João VI, quando iniciou-se a fabricação de charutos no Brasil. entregar a carta a Garcia - ter iniciativa, espírito empreendedor e capacidade para cumprir difíceis missões. Origem: Expressão originada num episódio ocorrido durante a Guerra Hispano-Americana. Quando se ini-ciou a guerra, o Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, teve necessidade de comunicar rapi-damente com o comandante dos rebeldes cubanos, o General Garcia, que se encontrava nas montanhas de Cuba. Na impossibilidade de se comunicar por correio ou telégrafo, McKinley mandou chamar um jovem militar chamado Rowan e deu-lhe uma carta para entregar a Garcia. Rowan, sem nem perguntar onde esta-va o General, guardou a carta numa bolsa impermeável junto ao coração e em apenas três semanas, após várias aventuras, entregou a carta a Garcia e saiu pelo outro lado da ilha. até aí morreu Neves - expressão idiomática que significa “isto já sei, quero novidades”. Origem: Joaquim Pereira Neves, assessor do Regente Feijó e governador do Rio Grande do Norte, foi morto barbaramente pelos índios. Como durante muito tempo não se falava de outro assunto no Rio de Janeiro, a população da capital, entediada, começou a usar a expressão "até ai morreu o Neves", com o significado de “já sei disto tudo, quero novas notícias”.