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Exposição:13 de junho a 31 de agosto 2017
Espaço Cultural Ministro Menezes Direito
O OLHAR DE WALDOMIRO57 ANOS DE PINTURA
Produção:Secretaria-Geral da Presidência
Secretaria de DocumentaçãoCoordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
Coordenadoria de Memória e Gestão DocumentalSeção de Memória InstitucionalSeção de Padronização e RevisãoSeção de Distribuição de Edições
Apoio:Seção de Áudio e Vídeo
Curadoria:Edemm Shalon
Fotografias das obras:Valdemy Teixeira
Waldomiro de Deus: a ingênua sabedoria que reinventa a vida
À primeira vista, a arte de Waldomiro de Deus pode parecer simples ou ingênua. Porém, é nessa aparente simplicidade que reside uma pintura feita pela alma, por quem já nasceu com o dom de ser artista e que, com a dedicação infatigável própria dos grandes talentos, alcançou o reconhecimento.
Livre de convenções, a expressão artística de Waldomiro baseia-se na intuição e na criatividade, sem qualquer preocupação com o rigor das escolas especializadas. Também conhecida como naïf ou pri-mitiva, é uma arte despojada de orientação estética mais padronizada ou mesmo do fardo de ensina-mentos que a cultura nos inculca.
Enquanto o acadêmico pinta com o cérebro, o naïf faz arte com o coração. O artista é livre para desa-gregar, para desconstruir. Abandona a perspectiva, desvirtua a composição, subverte a lógica e abusa de uma extravagante paleta de cores. A arte primitiva é espontânea e se afigura como extremamente individual.
Waldomiro de Deus, um dos mais legítimos representantes da arte naïf brasileira e mundial, desen-volveu seu talento nato na escola da vida. Ao observar e retratar situações do cotidiano, comunica-se com o mundo a partir da intuição e da criatividade, criando telas com exuberância de cores e formas.
Da Bahia para o mundo
Em 1944, na cidade baiana de Itagibá, nascia Waldomiro de Deus Souza. Ainda pequeno, em busca de melhores condições de vida, embarcou em um pau de arara rumo a São Paulo. Na cidade grande, viveu como menino de rua e dormiu em bancos de praça. Até o dia em que um sargento da guarda civil lhe deu abrigo e uma caixa de engraxate. A partir daí, começou a polir sapatos e a rabiscar panfletos de rua.
Nos anos 1960, um italiano ofereceu a Waldomiro um emprego de jardineiro. Na casa do patrão, en-controu pincéis, tintas e cartolinas. Mais dedicado à arte do que aos jardins – pintava à noite e dormia em serviço –, acabou demitido por negligência.
A primeira exposição pública de Waldomiro foi ao ar livre, nas ruas do Viaduto do Chá, em São Paulo. Suas peças – guaches sobre cartolina que retratavam a paisagem, a flora, a fauna e a natureza – foram logo arrematadas por um americano. Com o dinheiro arrecadado, investiu em matéria-prima para sua arte e em um quarto de cortiço para dormir.
A grande virada na vida de Waldomiro aconteceu em 1962, quando participou de uma feira popular de arte em São Paulo. No evento, conheceu o decorador e mecenas Terry Della Stuffa, “o primeiro anjo” de sua vida. Stuffa adquiriu parte da produção de Waldomiro e o convidou para morar em sua mansão.
Da miséria aos ambientes mais requintados da alta sociedade paulista, Waldomiro de Deus ganhou visibilidade e admiração. As telas do artista receberam o aval do crítico de arte Mario Schenberg, que comprou muitas de suas obras e o incentivou a produzir mais.
Em 1966, Waldomiro expôs suas obras na I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador/BA. No ano seguinte, participou da IX Bienal Internacional de São Paulo. A partir daí, foi convidado a atra-vessar o Oceano Atlântico e a expor as cores de seu Brasil fascinante em diversos países da Europa. O sucesso foi tanto que, na França, recebeu um beijo do mestre surrealista Salvador Dalí e teve um de seus trabalhos adquirido pela atriz Brigitte Bardot.
O baiano Waldomiro ganhava o mundo.
Brasilidade
Após temporadas na Europa, na Ásia e na América Latina, a temática das obras de Waldomiro foi ampliada. Enquanto suas primeiras pinturas retratavam o mundo rural do sertão baiano, a partir dos anos 1970 a cultura popular brasileira e a religião passam a figurar nas telas do artista.
Na década de 1980, a temática religiosa ganha força e viés político. Polêmico, retratou Nossa Senhora usando minissaia, botas e cinta-liga, pelo que foi alvo de acalorados protestos da Igreja e de setores tradicionais da sociedade. Outra obra impactante trouxe Jesus Cristo vestido com uma bermuda. Waldomiro apresenta os santos como meros indivíduos do cotidiano.
A violência urbana e as agressões à natureza também têm lugar nas telas de Waldomiro, sobretudo a partir da década de 1990, quando ainda passa a criticar fortemente o cenário político brasileiro. E não sem razão, já que muito do que surgia embrionário naquele momento histórico de carência democrática aparece hoje nas manchetes jornalísticas.
A partir dos anos 2000, Waldomiro amplia seu olhar para o mundo por inteiro. O atentado terrorista às torres gêmeas de Nova York/EUA e o tsunami que atingiu parte do Japão são alguns dos temas retratados por ele. A crítica política, a religiosidade apocalíptica, o surrealismo cotidiano, o roman-tismo e a alegria de viver também são característicos das obras desse período que perduram até os dias de hoje.
Reconhecimento
Não são muitos os artistas que alcançam a glória da fama ainda em vida, sobretudo os pintores. Já reconhecido internacionalmente como um dos grandes nomes da arte naïf mundial, Waldomiro recebeu vários prêmios ao longo de sua carreira, com destaque para a sala própria com que lhe homenagearam na Quinta Bienal Naïfs do Brasil, em 2000.
Entre tantas citações e estudos da crítica especializada, merece relevo a menção a seu nome no livro Genius in the Backlands: popular artists of Brazil, de Selden Rodman, lançado em 1976, em que o re-nomado crítico salienta a genialidade do pintor brasileiro referindo duas de suas obras no capítulo “Six popular másters”. Consagrado em seu métier, Waldomiro de Deus parece ter conseguido realizar a aspiração suprema de todo artista em deixar seu grão de alma na Terra em pleno gozo de existir.
O mundo é uma fantasia
Dotado de personalidade pictórica singular, Waldomiro de Deus ultrapassa os setenta anos de vida a pleno vapor. A cada novo quadro, reinventa a realidade. Com tintas, pincéis e telas, ressignifica o mundo e recria a seu modo a história.
Waldomiro pode ser naïf, mas sempre manteve os olhos e o coração abertos para retratar o que via no campo, na cidade, no mundo. Afinal, nas palavras do próprio artista, “o mundo é uma fantasia e eu faço parte desta fantasia. Eu vivo para criar”.
Amanhecer 80cm x 80cmAcrílica sobre tela2015
Árvore dos amores150cm x 150cm
Acrílica sobre tela2017
Liberdade150cm x 150cmAcrílica sobre tela2017
A fazenda150cm x 150cm
Acrílica sobre tela2017
Véspera de feriado140cm x 140cmAcrílica sobre tela2008
Mobral140cm x 140cm
Acrílica sobre tela2008
Festa na Slovenia150cm x 100cmAcrílica sobre tela2015
Labirintos150cm x 100cm
Acrílica sobre tela2015
Família unida150cm x 100cmAcrílica sobre tela2015
Yes, nós temos Petróleo150cm x 100cm
Acrílica sobre tela2015
Campo da prosperidade150cm x 100cmAcrílica sobre tela2015
Assalto na linha amarela140cm x 90cm
Acrílica sobre tela2006
Carro abandonado100cm x 80cmAcrílica sobre tela2012
Estrela nascente70cm x 120cm
Acrílica sobre tela2003
Tragédia em Mariana MG150cm x 100cmAcrílica sobre tela2015
É verdade, caiu!150cm x 100cm
Acrílica sobre tela2016
São Francisco violeiro120cm x 80cmAcrílica sobre tela2012
Os céus podem esperar160cm x 100cm
Acrílica sobre tela1996
Voo dos peixes70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Colhedor de melancias70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2017
Melancias e flores70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Vaso suspenso80cm x 70cm
Acrílica sobre tela2017
Meu pai é um boêmio80cm x 70cmAcrílica sobre tela2017
Amigo para tudo70cm x 50cm
Acrílica sobre tela2012
Carneiros70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Nos espaços70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2017
Carneiros80cm x 70cmAcrílica sobre tela2017
Árvore dos pássaros80cm x 70cm
Acrílica sobre tela2017
Flores dos anjos80cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Peixes que voam80cm x 70cm
Acrílica sobre tela2017
Pais70cm x 60cmAcrílica sobre tela2016
Pássaros no alto70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2017
Passagem70cm x 70cmAcrílica sobre tela2015
Marido bom70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2016
Vaso80cm x 60cmAcrílica sobre tela2006
Cidade70cm x 70cm
Acrílica sobre tela2015
Rebanho de peixes40cm x 40cmAcrílica sobre tela2017
Reinado de peixes40cm x 40cm
Acrílica sobre tela2017
Casal apaixonado70cm x 70cmAcrílica sobre tela2017
Cidade rei70cm x 50cm
Acrílica sobre tela2015
Partida80cm x 70cmAcrílica sobre tela2017
Aplausos para Monteiro Lobato80cm x 70cm
Acrílica sobre tela2017
Flores de um anjo70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Pássaros e Anjo70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2017
A máquina70cm x 60cmAcrílica sobre tela2016
Papo de pai e filho70cm x 70cm
Acrílica sobre tela2006
Dois pássaros60cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Sítio70cm x 60cm
Acrílica sobre tela2017
Fantasia taturana70cm x 50cmAcrílica sobre tela2015
Patriotas80cm x 70cm
Acrílica sobre tela2017
Anjo e peixes80cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Vaso80cm x 60cm
Acrílica sobre tela2016
Pássaros rosas80cm x 60cmAcrílica sobre tela2012
Saci boca de vaca70cm x 70cm
Acrílica sobre tela2006
Socorro espiritual80cm x 60cmAcrílica sobre tela2003
Guaridas no trabalho80cm x 60cm
Acrílica sobre tela2007
A partida70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
Silos em Sinop150cm x 100cm
Acrílica sobre tela2016
A Ilha de Patmos520cm x 165cmAcrílica sobre tela2017
Olimpíadas 2016350cm x 165cm
Acrílica sobre tela2016
Quatro irmãos70cm x 60cmAcrílica sobre tela2017
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
D’AMBROSIO, Oscar. Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naif Waldomiro de Deus. São Paulo: Unesp, 1999.
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8628/waldomiro-de-deus>. Acesso em: 8 de jun. 2017.
O camaleão Waldomiro de Deus. Estadão, São Paulo, 11 nov. 2000. Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,o-camaleao-waldomiro-de-deus,20001111p6346>. Acesso em 9 jun. 2017.
SACRAMENTO, Enock. Waldomiro de Deus: 50 anos de pintura. Ed. Centro Cultural dos Correios, 2011.