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EXPLORANDO O ENSINO DA ÁLGEBRA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS
Autor: Avelino Munaro1
Orientadora: Rosangela Villwock2
Resumo
Ao ensinar Álgebra tem-se uma grande dificuldade para fazer com que os alunos
entendam os conteúdos abordados. Ensinar com significados é uma alternativa para
o seu ensino, tendo em vista a superação das dificuldades de aprendizagem.
Explorar os conteúdos da álgebra por meio da resolução de problemas é uma
metodologia que possibilita ao aluno ser agente de seu próprio conhecimento. Além
disso, constitui uma estratégia interessante integrar a aritmética, a geometria e a
álgebra de forma contextualizada e com material concreto para que os conteúdos
tenham significado. A proposta é ensinar álgebra, não tendo o foco no
desenvolvimento de habilidades de cálculo escrito e mecânico, mas em algo
significativo para o estudante. O objetivo é estudar os conceitos de álgebra,
propondo significados aos conteúdos trabalhados, utilizando como metodologia a
resolução de problemas. Apesar das dificuldades associadas a interpretação e
concentração, este trabalho demonstrou que o ensino da álgebra, através da
resolução de problemas, produz resultados satisfatórios no desenvolvimento da
capacidade cognitiva, quando é explorado adequadamente.
Palavras chave: Ensino de Matemática; Resolução de Problemas; Álgebra.
1 Professor PDE 2010, graduado em Ciências – Habilitação Matemática (FACEPAL), Especialização
em Ensino de Matemática (UNICENTRO), professor de Matemática na Escola Estadual Marquês de Maricá de Santa Izabel do Oeste (SEED-PR). 2 Professora Orientadora do PDE 2010, Doutora em Métodos Numéricos em Engenharia
(PPGMNE/UFPR), Licenciada em Matemática (UNIOESTE), professora no Curso de Matemática na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel.
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1 Introdução
A Matemática, e consequentemente a Álgebra, são saberes construídos
historicamente e apresentam-se como ferramentas importantes nos processos de
generalização e de resolução de problemas. Através da Álgebra, o ser humano
transpôs questões que, a princípio, pareciam insolúveis.
Atualmente, o conhecimento matemático obteve tal grau de
desenvolvimento, que ter seu domínio é uma questão de cidadania. Assim, no
processo para tornar essa ciência conhecida, a escola tem papel fundamental, uma
vez que os conhecimentos não são repassados de modo hereditário, mas
necessitam do processo de ensino e aprendizagem (PARANÁ, 2008).
Embora a escola não seja o único lugar onde se educa, ela se caracteriza
como espaço privilegiado em que se estabelecem relações formais de ensino e de
aprendizagem, de forma articulada, planejada, visando à formação integral dos
alunos de modo a propiciar o desenvolvimento de uma consciência crítica que
possibilite a análise e a compreensão do mundo, da história, da cultura e dos
processos de trabalhos (KRAMER, 1989).
Segundo Sacristán e Gómez (1998) as aquisições adaptativas humanas,
não se fixam biologicamente e também não acontecem de forma hereditária, mas o
ser humano cria mecanismos e sistemas de transmissão que garantem a
sobrevivência, nas futuras gerações, de suas conquistas históricas. Este processo
de aquisição das conquistas sociais às futuras gerações passou a denominar-se de
processo de educação.
As preocupações com os processos de socialização, que conteúdo escolher,
como transmitir, tornaram-se amplas e a escola especializou-se no exercício
exclusivo, e cada vez mais complexo e sutil, de tal função. Na escola, seus agentes
devem levar em consideração os saberes que se encontram nos livros, os seus
saberes e os saberes que os alunos trazem consigo. Isto porque o ser humano é
fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, e é também,
um ser que atua no mundo a partir da maneira como o compreende e de como dele
participa (PARANÁ, 2008).
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O conhecimento é fruto da atividade humana no decorrer do tempo, e a
escola tem papel de destaque na socialização desse saber às novas gerações. Deve
fazê-lo de forma crítica, mostrando as contradições sociais, políticas e econômicas,
presentes na sociedade, tendo em vista um indivíduo com formação necessária para
compreender e atuar no sentido de transformar a realidade, tornando-a mais justa.
Assim, a organização escolar foi se adaptando em diferentes aspectos, seja quanto
à flexibilização, à criatividade, à racionalidade, ao reflexo e impacto da economia,
dependendo do grau de participação e da organização da comunidade aos
princípios mercadológicos (LIMA, 2004).
O trabalho pedagógico deve apontar na direção da totalidade do
conhecimento e sua relação com o cotidiano, ou seja, a escola é o espaço do
confronto e do diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos
do dia-a-dia.
Considerando que há uma grande dificuldade por parte dos alunos em
compreender o significado e a utilidade dos conteúdos relativos à Álgebra, a questão
que se colocou foi: como abordar os conteúdos da Álgebra para que ocorra uma
aprendizagem significativa?
Um dos desafios do ensino de Matemática é a abordagem de conteúdos via
resolução de problemas, por se tratar de uma metodologia que proporciona ao
estudante a oportunidade de aplicar os conhecimentos matemáticos de modo a
resolver a questão proposta (DANTE, 2003).
Neste trabalho desenvolveram-se atividades que procuraram dar significado
a álgebra, no sentido de o aluno ter uma atitude de investigação em relação ao que
lhe é proposto. O objetivo foi estudar os conceitos de álgebra, propondo significados
aos conteúdos trabalhados, utilizando como metodologia a resolução de problemas.
Para tornar a álgebra compreensível, foi ainda utilizado material manipulável como
auxílio para o seu entendimento.
As atividades propostas neste trabalho foram desenvolvidas com alunos do
oitavo ano do Ensino Fundamental. Essas atividades propiciaram aos alunos
compreenderem os problemas, suas relações e como deduzir fórmulas de uma
determinada situação cotidiana. Assim, os alunos obtiveram uma melhora no
desempenho e passaram a manipular as expressões algébricas, as operações
algébricas e as resoluções das equações com grau elevado de acerto, em grande
parte devido ao fato de compreenderem o significado do que estavam fazendo.
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2 Fundamentação Teórica
2.1 Ensino da matemática
A Matemática é uma área de conhecimento importante e necessária,
contudo, há insatisfações diante dos resultados negativos obtidos em relação à sua
aprendizagem (MEC, 2010). Em relação ao ensino da álgebra, o quadro torna-se
mais crítico; a aprendizagem não acontece de modo significativo.
Conforme trabalho de Vasconcelos (2008), a contextualização dos
conteúdos a serem trabalhados podem efetivamente contribuir para dar significado e
proporcionar o desenvolvimento cognitivo. Ao ensinar os conteúdos da Matemática
deve-se buscar uma boa relação entre os conceitos e as relações que lhe dão
sentido de maneira a torná-los interessantes e compreensíveis aos alunos.
Nos últimos tempos podemos dizer que não tem havido ideias
revolucionárias com relação ao ensino da Matemática em sala de aula, no sentido
de tornar esta ciência compreensível e desejável. Não conseguimos desfazer os
estigmas produzidos pela Matemática, seja pela forma como é ensinada, seja pelos
conteúdos que fazem parte de seus programas.
Algumas ideias expressas por D’Ambrosio em 1957, comentadas
recentemente em D’Ambrosio (2011), continuam atuais. O autor escreve que os
processos mecânicos de cálculos têm efeito entorpecente sobre os alunos, levando-
os a pensar como máquinas, deturbando o caráter formativo da Matemática. Ainda,
segundo ele, muitos conteúdos trabalhados são desnecessários, seja pela pouca
aplicação ou mesmo pelo efeito negativo que produz no aluno, criando verdadeira
aversão à matéria e levando-o a deixar as séries sem ter a ideia do que é, para que
serve e qual a força da Matemática.
Como consequência, continua D`Ambrosio (2011), o aluno não vê essa
ciência com interesse e confirmando esta realidade, vemos cada vez mais reduzir o
número de alunos que, ao concluir o Ensino Médio, abraçam o estudo da
Matemática.
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Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – DCE (PARANÁ,
2008) é importante que o professor, em seu desenvolvimento individual e
profissional, reflita sobre sua prática e seja um educador pesquisador em contínua
formação, que concebe a Matemática como produto de construção humana, que
está em constante processo de elaboração e, por isso, sujeita a dúvidas, erros e
acertos, hesitações e contradições que somente com um longo trabalho de reflexão
e estudo consegue eliminar, para assim surgirem novas dúvidas, contradições e
novos problemas a solucionar.
A concepção da Matemática que temos, segundo Mendes (2009), influencia
decisivamente no que se ensina e como se ensina. A Matemática, não permanece a
mesma ao longo do tempo, mas transforma-se constantemente e as perspectivas
refletem as questões emergentes do meio social, cultural, científico, político e
econômico. Portanto, deve-se conceber a Educação Matemática como saber vivo,
dinâmico, construído para atender às necessidades sociais, econômicas e teóricas,
em um determinado período histórico.
Almeja-se, através de seu ensino, que os estudantes tenham a possibilidade
de análises, discussões, conjecturas, apropriação de conceitos e formulação de
ideias. A Matemática deve contribuir para que, por meio dela, o ser humano amplie
seu conhecimento e, assim, contribua para o desenvolvimento humano.
No processo de transmissão e aquisição dos saberes, há interferência de
vários fatores de acordo com o momento histórico em que este se processa. As
Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008)
apresentam algumas tendências metodológicas que devem ser levadas em
consideração ao abordar um conteúdo, tais como:
Resolução de Problemas, que é o foco deste trabalho, que requer uma
leitura interpretativa e a escolha de uma estratégia de resolução do
problema;
Modelagem Matemática, que visa à contextualização de situações do
cotidiano;
Etnomatemática, que procura resgatar a matemática produzida por
diferentes culturas;
Mídias Tecnológicas, que são os ambientes gerados por aplicativos
informáticos e que atualmente estão em destaque;
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História da Matemática, que resgata e destaca a natureza e a
relevância desta disciplina para a humanidade;
Investigação Matemática, onde o aluno busca investigar e estabelecer
relações, também necessária na Resolução de Problemas, tendo em
vista a compreensão e resolução do problema.
Assim, ao desenvolver um conteúdo matemático, podemos dar ênfase a
uma tendência ou também, de acordo com os objetivos, abordar várias tendências
em uma mesma atividade (PARANÁ, 2008). Isso fará com que o processo do ensino
e aprendizagem tenha maior consistência, facilitando a compreensão e fixação por
parte do aluno.
2.2 A álgebra e o seu ensino
Da necessidade de resolver problemas da vida prática, que a princípio
pareciam insolúveis, é que a álgebra se originou. Para isso, ela levou um longo
tempo para se desenvolver e superar desafios considerados extremamente difíceis
(SANTOS 2005).
A álgebra é um conhecimento matemático que se formou com a contribuição
de diferentes culturas (FIORENTINI; MIORIM; MIGUEL, 1993) e, por meio de sua
utilização, passou-se a resolver problemas mais complexos. Com o seu uso são
possíveis as generalizações, tão importantes para a compreensão e resolução de
problemas de aplicação, em diferentes áreas do conhecimento.
O cálculo algébrico por si só não faz sentido, é necessário explorar o
significado da álgebra, indo muito além da simples mecanização. A álgebra deve ser
ensinada no contexto com outros conteúdos, como nas questões de áreas,
perímetros, sequências numéricas, diferentes padrões, funções, entre outros,
inserida em um enfoque que procura mostrá-la como conhecimento útil, de valor
prático. Por outro lado, devemos tomar o cuidado para não restringir o alcance da
álgebra a casos particulares, mas fazer as generalizações e ampliar sua aplicação
(PARANÁ, 2008).
Para dar significado ao fazer pedagógico na Educação Matemática, o
professor deve ter uma visão do conjunto e integrar os diferentes conteúdos, isto é,
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a álgebra, a aritmética e a geometria devem ser concebidas não como conteúdos
independentes, sem qualquer ligação, mas como saberes que participam da
organização da atividade humana e que se desenvolvem juntas, uma implicada no
desenvolvimento da outra (LINS; GIMENEZ, 1997).
O ensino e a aprendizagem devem investir na produção de significados para
a álgebra, em vez de simplesmente aprendizagem de álgebra. Queremos que
nossos alunos sejam também capazes de trabalhar com significados matemáticos
no dia-a-dia e não somente na sala de aula. Vivemos um momento de
transformações constantes e rápidas, sendo importante desenvolver nos educandos
a capacidade de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar (PARANÁ,
2008).
Atualmente a álgebra é trabalhada mais nos últimos anos do Ensino
Fundamental, ou seja, oitavo e novo ano. Segundo Lins e Gimenez (1997), não há
um convencimento da importância de se trabalhar a álgebra desde cedo nos
processos de generalizações, também nas séries iniciais.
Deste modo, segundo estes autores, quando se fala em álgebra, logo se
pensa no 8º ano e nos vêm à mente conteúdos como: equações, inequações,
cálculo algébrico, sistemas de equações, produtos notáveis, entre outros, assim
concentra-se no conteúdo e na técnica.
A abordagem da álgebra pode se tornar muito interessante, a depender da
condução do processo pedagógico (PARANÁ, 2008), pois o conceito da álgebra é
muito abrangente e sua linguagem esta cheia de convenções, de modo que o
conhecimento algébrico não pode ser concebido pela simples manipulação dos
conteúdos abordados isoladamente.
Segundo Rodrigues e Magalhães (2011), apesar de muitos professores
reconhecem a importância da Resolução de Problemas em suas aulas, a maioria
não utiliza de forma satisfatória, trabalhando principalmente com os problemas
propostos em livros didáticos e estes são tratados meramente como exercícios de
fixação, gerando insatisfação do aluno que encontra dificuldade ao tentar resolver os
problemas. Afirmam Lins e Gimenez (1997) que, a mudança de perspectiva mais
importante refere-se a passarmos a pensar em termos de significados sendo
produzidos no interior de atividades, e não como em termos de técnicas ou
conteúdos.
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Observa-se que o livro didático desempenha um papel não somente de um
instrumento de trabalho, ele acaba sendo a cartilha do professor, visto que é mais
cômodo segui-lo à risca (DANTE, 1996). Há, por parte dos professores, certa
resistência quanto às mudanças. Com raras exceções, estes preferem adotar um
livro mais tradicional, isto é, o novo livro tem de apresentar características mais
próximas daquele adotado anteriormente (DAMAZIO, 2006).
Nos livros didáticos, o tratamento dado à álgebra, em geral, carece de
significado para os alunos e se constitui em um dos obstáculos à sua aprendizagem.
Porém, o movimento da Educação Matemática acabou produzindo mudanças
curriculares e uma nova visão da disciplina. Isso possibilitou adaptações nos livros
didáticos do ensino da Matemática, por parte de muitos autores, no sentido de tornar
este conteúdo e outros, algo significativo para o estudante (CARVALHO, 2008).
Além disso, o tratamento dado aos conteúdos da Álgebra necessita de uma
atenção especial uma vez que a atividade algébrica, na visão de Lins e Gimenez
(1997), depende de conteúdos na medida em que os mesmos explicitam afirmações
para as quais se produz certo significado A ideia de que a aritmética deve preceder,
necessariamente, a álgebra, ou o contrário, é infundada, pois há todo um conjunto
de experiências aritméticas extraescolares, que as crianças trazem consigo. O que
se deve buscar é a coexistência da educação algébrica com a aritmética e a
geometria, de modo que uma esteja implicada no desenvolvimento da outra.
De acordo com Lorenzato (2008), essa integração da aritmética com a
geometria e a álgebra exerce papel importante na aprendizagem matemática,
porque possibilita ao aluno a visualização do todo, bem como das partes que o
compõem, facilitando assim, o desenvolvimento da habilidade mental de operar com
as partes sem perder de vista o todo. É o movimento de composição e
decomposição, tão importante na aprendizagem dos conceitos da matemática.
2.3 A resolução de problemas no ensino da álgebra
Conhecer os problemas e as deficiências do ensino é condição necessária
para transformar, enfatizam Sacristán e Gómez (1998), pois é preciso ter
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consciência e compreensão das dimensões que se entrecruzam na prática dentro da
qual nos movemos.
As experiências vividas nas escolas têm mostrado que os alunos aprendem
pouco da álgebra que lhes é ensinada. O contato com ela inicia-se por volta da 7º
ano, com mais aprofundamento nos dois anos seguintes. O foco é o
desenvolvimento de habilidades de cálculo escrito mecânico e a resolução de
problemas é deixada para segundo plano. Isso é verificado em grande parte dos
livros didáticos, onde os conteúdos são trabalhados com modelos, sem preocupação
para fazer com que o aluno faça a relação com o seu dia-a-dia. Deste modo, ele tem
uma matemática para a sala de aula e outra matemática para a rua ou em casa
(CARRAHER, 2006).
A álgebra deve ser ensinada no trabalho com observação de padrões em
diferentes situações, levando os alunos a fazer generalizações de regularidades,
onde é necessário deduzir fórmulas em que letras representam quantidades
variáveis. Neste processo, a resolução de problemas deve ser explorada de maneira
especial, pois permite que se trabalhem diferentes conteúdos, nos quais muitas
soluções podem ser representadas por letras e isso leva às equações e suas
incógnitas, cuja solução será obtida usando-se a analogia com a balança de dois
pratos (IMENES, 2010).
Na metodologia da resolução de problemas, segundo Onuchic (1999), o
ponto de partida das atividades matemáticas não é a definição, mas o problema; que
não é um exercício no qual o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula
ou uma determinada técnica operatória. Aproximações sucessivas ao conceito
criado são construídas para resolver certo tipo de problemas e que, num outro
momento, o aluno utiliza o que já aprendeu para resolver outros problemas; o aluno
não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de
conceitos que tomam sentido num campo de problemas A resolução de problemas
não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da
aprendizagem, mas como orientação para a ela.
Numa aula de Matemática realizada dentro dessa concepção, um problema
proposto aos alunos – problema gerador – é que conduzirá ao conteúdo que o
professor planejou construir naquela aula. Nesta metodologia, os problemas são
propostos aos alunos antes mesmo de lhes ter sido apresentado formalmente o
conteúdo matemático que, de acordo com o programa da disciplina para a série
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atendida, é pretendido pelo professor. Dessa forma, o ensino-aprendizagem de um
tópico matemático começa com um problema que expressa aspectos-chave desse
tópico e técnicas matemáticas devem ser desenvolvidas na busca de respostas
razoáveis ao problema dado. A avaliação do ensino e aprendizagem deve ocorrer
simultaneamente durante a construção do conhecimento e de forma colaborativa.
(0NUCHIC, 1999).
Tratando da resolução de problema, Polya (2006) propõe quatro fases, a
saber:
Compreender o problema: não é possível responder corretamente algo
que não se entendeu, deve-se também desejar resolvê-lo;
Elaborar um plano: é necessária uma estratégia de ação, fazer a
conexão entre os dados do problema e o que ele pede;
Executar o plano: é preciso colocar em prática o que foi elaborado,
verificando cada passo a ser dado;
Fazer o retrospecto ou verificação: é examinar a solução obtida,
repassando todo o problema; fazer com que o aluno reveja como
pensou inicialmente, como encaminhou sua estratégia de solução,
como efetuou os cálculos, enfim, o caminho trilhado para obter a
solução.
Com relação à resolução de problemas, Krulik e Reys (1997) dizem que ela
é um processo de aplicação de conhecimentos adquiridos previamente a situações
novas e desconhecidas e por isso se constitui em uma estratégia excelente como
metodologia de ensino da matemática.
Algumas habilidades desejáveis no ensino da matemática à destacar são:
interpretar matematicamente situações do dia-a-dia e de outras áreas do
conhecimento; resolver problemas criando estratégias próprias e que desenvolvem a
iniciativa, a imaginação e a criatividade; estabelecer conexões entre a matemática e
outras áreas do saber; utilizar argumentação matemática apoiada em vários tipos de
raciocínio; utilizar as novas tecnologias de computação e tecnologia. Estas e outras
habilidades, a serem construídas não esgotam todas as possibilidades e devem ser
adaptadas em função dos diversos contextos educacionais (BRASIL, 2012).
Com estas habilidades, pretende-se formar estudantes autônomos e
criativos, competentes para estudar e pesquisar por si mesmos.
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Segundo Imenes e Lellis (2009), a disseminação da informação, sobretudo
com a Internet, diminuiu o papel da escola como fonte de informação, mas
aumentou sua responsabilidade de formação de cidadãos competentes, para
interpretar adequadamente essas informações e utilizá-las com ética e inteligência.
3 Encaminhamento Metodológico
O PDE/PR (Programa de Desenvolvimento Educacional do estado do
Paraná) é uma política de formação continuada articulada á progressão na carreira e
foi desenvolvido em três etapas: o projeto elaborado a partir da intenção manifesta e
do diagnóstico realizado na escola de atuação; o material didático pedagógico para
utilização durante o processo de implementação e o artigo científico. O projeto e o
material didático pedagógico foram colocados para apreciação dos professores da
rede de ensino através do GTR(Grupo de Trabalho em Rede).
A implementação do projeto de intervenção pedagógica realizou-se com os
alunos do 8º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Marquês de Maricá no
município de Santa Izabel do Oeste – Paraná, no ano de 2011. Trabalhou-se com
três turmas, uma no período matutino e duas no vespertino.
O objetivo foi desenvolver os conteúdos da álgebra de forma significativa
para o aluno, procurando, através da resolução de problemas, integrar a aritmética,
a geometria e a álgebra. Foi priorizado o entendimento da importância da álgebra na
atualidade, fazendo o aluno deduzir algumas fórmulas em situações cotidianas.
A avaliação foi realizada através da observação e do registro da participação
dos alunos nas atividades e realização das mesmas, com destaque à compreensão
conceitual, à leitura e à interpretação de texto matemático, como também à
competência de ligar o saber matemático a contextos reais.
Ao trabalhar a resolução de problema, inicialmente foi explanado sobre o
que é um problema e quais as etapas para sua resolução: entender o problema;
traçar uma estratégia de ação que poderá levar a sua solução; realizar as
estratégias pensadas e finalmente verificar se o que foi encontrado responde
realmente o problema.
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As atividades propostas foram elaboradas no sentido de apresentar aos
alunos a resolução de problema através de situações-problema com vista a
desenvolver o conteúdo da álgebra para a série.
Com o propósito de integrar os alunos, o conhecimento e a troca de ideias,
foram formadas duplas para o desenvolvimento das atividades. Essas duplas não
necessitavam ser fixas, mas os alunos raramente as trocavam, porque tiveram
liberdade para formá-las com quem tivesse mais afinidade, favorecendo assim a
troca de ideias. Todas as atividades foram desenvolvidas em duplas, inclusive as
avaliações.
Coube ao professor dar liberdade os alunos, atuando como mediador em
relação ao ensino e aprendizagem, orientando os trabalhos de modo a levá-los a
pensar e refletir sobre os conteúdos desenvolvidos em cada unidade.
Na sequência são apresentadas, de forma resumida, algumas atividades
realizadas.
Como atividade da Unidade 01 – A Álgebra, os palitos e o contorno de
quadrados – foram entregues aos alunos três problemas, sem qualquer explicação
antecipada, sendo solicitado que lessem e resolvessem os mesmos.
Os problemas apresentavam certo padrão e os alunos deveriam continuar a
sequência, traduzir em números e fazer a generalização, deduzindo uma fórmula
que representasse a situação apresentada.
Na solução destes problemas, ao deduzir uma fórmula ou expressão, o
aluno pode perceber que as letras representam valores desconhecidos e qual era o
seu significado.
Uma das atividades desenvolveu o perímetro do quadrado e teve por
objetivo perceber a regularidade na formação da sequência dos quadrados, fazendo
a generalização com a dedução de uma fórmula, usando para isso a álgebra. Os
conteúdos trabalhados foram: sequências de números, perímetro de quadrado e
relação entre grandezas.
Buscou-se tornar este conteúdo compreensível e de fácil assimilação. A
atividade se iniciou construindo uma sequência de quadrados, utilizando palitos.
A partir desta construção, estabeleceu-se uma relação entre o número de
palitos de cada lado do quadrado (q) e o número total de palitos (p) utilizados em
sua confecção.
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Na unidade 02 – A álgebra das mesas – desenvolveram-se os produtos
notáveis, iniciando com o conceito e a realização de alguns produtos interessantes
em que os alunos deveriam descobrir algumas regularidades. Posteriormente,
trabalhou-se com os três casos iniciais: quadrado da soma de dois termos,
quadrados da diferença de dois termos e produtos da soma pela diferença de dois
termos.
Cada problema foi apresentado numericamente, representado
geometricamente e com o auxílio da álgebra, fez-se a generalização. Por exemplo, o
quadrado de um número x foi representado por outro quadrado de lado (a + b),
introduzindo assim, o quadrado da soma de dois termos.
Desenvolvido este conceito, direcionou-se para o quadrado da soma de dois
termos quando um de seus termos for desconhecido e, após, a generalização,
quando os dois termos eram desconhecidos.
Os outros dois casos dos produtos notáveis foram desenvolvidos seguindo
este padrão: apresentação numericamente, representação geométrica em papel
quadriculado e, finalmente, a linguagem algébrica.
Na unidade 03 – Operações algébricas – exploraram-se as operações
algébricas e a resolução de equações. Para a visualização e representação das
operações e resoluções das equações foi confeccionado material didático com papel
cartão, de forma adaptada ao elaborado por Hellmeister e Galvão (2004). Foram
confeccionados aproximadamente vinte quadrados pequenos (a x a), com “a”
representando a unidade; quinze retângulos (a x b), nos quais “a” é a mesma
medida do lado do quadrado pequeno e “b” é uma medida qualquer diferente de a,
que não seja um múltiplo inteiro da unidade escolhida; e dez quadrados maiores (b x
b) em que “b” é a mesma medida escolhida para o lado “não unitário” do retângulo.
Também convencionou-se que o lado colorido representaria valores positivos e seu
verso, valores negativos.
Utilizou-se este material e a metodologia de efetuar inicialmente a
representação da operação e em seguida o registro algébrico, Objetivando levar o
aluno a compreender e a observar as representações das unidades positivas, as
unidades negativas e os possíveis cancelamentos.
A operação de subtração seguiu a mesma metodologia, o aluno representou
com o material e, após, fez o registro. Para se realizar a subtração, usou-se como
estratégia transformá-la em uma soma de expressões opostas.
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Para realizar a multiplicação das expressões algébricas com a utilização do
material de papel cartão, estabeleceu-se que os dois fatores representam as
dimensões do comprimento e da largura de um retângulo e, com essa
representação, dever-se-ia procurar formar um retângulo. Ou seja, representam-se
os fatores na vertical (x) e na horizontal (y), como no gráfico cartesiano. A região
formada representa a área (x . y), completando-se os espaços vazios com as peças.
Finalmente, também com uso de material concreto, se desenvolveu o
conceito de equação e sua resolução. Para a compreensão utilizou-se a ideia da
gangorra (equilíbrio).
Após as atividades relativas a cada operação: adição, subtração ou
multiplicação, bem como sua representação com o material, orientou-se os alunos a
desenvolverem outras atividades para que resolvessem as expressões ou equações
sem o auxílio do material.
As figuras apresentadas neste trabalho foram elaboradas através do
software GeoGeobra (HOHENWARTER, 2011).
4 Resultados e Discussão
4.1 Grupo de Trabalho em Rede – GTR
O GTR é um ambiente virtual de aprendizagem na modalidade à distância,
sendo uma atividade obrigatória do PDE. Foi um momento importante, porque
permitiu colocar o projeto, o material didático pedagógico e a implementação para
socialização, apreciação e interação dos professores na Rede Estadual de Ensino.
Participaram do GTR professores que atuam em diferentes regiões do
Paraná, que opinaram sobre este proposta, destacando os pontos positivos e
negativos, além de propor melhorias.
O GTR é constituído de três temáticas, todas com duração de duas
semanas, compostas de um fórum e um diário. A primeira tinha por objetivo
promover discussão sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica, tendo em vista o
compartilhamento de ideias entre os participantes e o professor do PDE. Nele os
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professores descrevem suas angústias, esperanças e preocupações na atividade de
ensinar a álgebra.
A segunda temática teve como foco o material didático-pedagógico. Nesta,
os professores relataram as dificuldades de encontrar materiais que tratam do
ensino da álgebra de modo significativo. Os cursistas aprovaram o material e as
ideias ali contidas, afirmando que poderiam ser colocadas em prática.
Na terceira temática debateu-se sobre a implementação, detalhando-se
como seria realizada a intervenção em sala de aula. Tiveram também os professores
a oportunidade de descrever experiências de sala de aula ou colocar em pratica o
material. Os professores que fizeram a implementação do material (ou parte dele)
em suas escolas, descreveram que os alunos entenderam e tiveram sucesso na
compreensão da álgebra.
4.2 Os problemas e suas resoluções
O conceito de problema e as etapas para sua resolução foram os conteúdos
introdutórios desta unidade, nos quais os alunos não levantaram questionamentos e
declararam não haver dúvidas. Na sequência, ao entregar as atividades que
continham os problemas a serem resolvidas, as reações dos alunos foram diversas;
muitos ficavam a espera de alguma explicação; alguns pediram o que era para fazer;
houveram os que foram em busca de auxilio em outras duplas e aqueles que leram
o problema e começaram a resolvê-lo. Os que começaram a resolução dos
problemas diziam: “Mas que moleza, é isso mesmo?”. Alguns alunos mostravam o
que tinham feito para certificar-se de estar no caminho.
Ao trabalhar desta forma, uma das primeiras dificuldades encontradas diz
respeito à indisciplina, os alunos fizeram um alvoroço e ficaram preocupados sobre o
que era para fazer, se o professor não ia explicar, se era para entregar ou se seria
uma avaliação. Para acalmar os ânimos explicou-se novamente que seriam
avaliados no decorrer do processo, que poderiam ficar com o material e dar
continuidade nas aulas seguintes, não sendo necessário resolver todos os
problemas naquela aula.
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Observou-se grande defasagem nos mecanismos de interpretação da leitura
dos problemas matemáticos, sendo necessária a leitura crítica e a cognitiva, e que
sem esta aquisição, o aluno tem sua aprendizagem comprometida.
Ao trabalhar com a resolução de problemas, um aspecto que chamou a
atenção foi a questão do tempo, sendo necessário o dobro de tempo ou até mais do
que se tinha planejado inicialmente, porém as manifestações de satisfação dos
alunos por resolver corretamente sem a ajuda do professor são gratificantes.
Esse tempo foi mais acentuado na resolução do primeiro problema, pois os
alunos não estão seguros quanto à proposta e quais são os objetivos das atividades.
Após, resolvido o primeiro problema, os alunos adquiram maior habilidade,
passando a necessitar de menos tempo.
Os alunos com maior habilidade com a matemática passaram a colaborar
com o professor, auxiliando aos que não compreenderam os dados dos problemas.
Uma das vantagens, e que ajudou os alunos na obtenção da lei geral, foi a
tabulação dos dados dos problemas. Isso facilitou muito o entendimento de como
obter a expressão algébrica que representava a situação – problema.
4.2.1 Produtos notáveis
Ao trabalhar os produtos notáveis, inicialmente efetuou-se mentalmente o
produto de dois fatores. Foram utilizados dois números, onde um dos fatores
continha apenas a unidade e o outro fator continha a dezena e a unidade Fez-se a
representação geométrica do produto destes dois fatores, através de um retângulo
em papel quadriculado, no qual a largura representava o fator que continha somente
a unidade e o comprimento representando um fator que continha a dezena e a
unidade. Calculou-se assim a área das duas regiões em que o retângulo foi
decomposto para em seguida adicionar e obter assim, o produto desejado.
Na sequência, passou-se a efetuar o produto de dois fatores, sendo ambos,
números que continham unidade e dezena. Estes dois fatores eram transformados
em um produto na forma (a + b) (c + d) e representados geometricamente em papel
quadriculado, para levar a aluno a entender que o produto é igual a soma das áreas
formadas pelas quatro partes em que o retângulo foi decomposto.
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Em seguida efetuou-se o produto de um número por ele mesmo, ou seja, o
quadrado deste número. Neste caso o número utilizado continha unidade e dezena,
ou seja, pode ser decomposto na soma (a + b). Ao representar este produto em
papel quadriculado, como anteriormente, o aluno entendeu que o produto é igual a
soma das áreas formadas pelas quatro partes do retângulo, que neste caso são um
quadrado de lado a, outro quadrado de lado b e dois retângulos de lados a e b.
Também se efetuou o quadrado da soma de dois termos, dos quais um
deles era desconhecido, para o aluno construir o conceito da generalização do
quadrado da soma de dois termos que seria trabalhado posteriormente.
Ao efetuar estas atividades, os alunos não apresentaram dificuldades no que
diz respeito ao entendimento do que foi proposto, mas nas operações que exigiam o
domínio dos produtos de números (tabuada). Outra dificuldade foi fazer com que os
alunos se envolvessem na realização das atividades, não sendo passivos,
acreditando no seu potencial de efetuar as atividades com êxitos.
Alguns alunos necessitavam de ajuda na decomposição dos números, mas
depois conseguiam realizar corretamente os produtos e a soma.
Dando continuidade, passou-se a analisar os resultados para realizar esses
cálculos mentalmente, sem necessitar da representação geométrica. Assim
introduziu-se o primeiro caso dos produtos notáveis, o quadrado da soma de dois
termos. As mesmas atividades foram realizadas para o quadrado da diferença e
para o produto da soma pela diferença. Na sequência esses três casos dos produtos
notáveis foram generalizados.
O quadrado da soma de dois termos, Figura 1, quando representado pelos
alunos na forma geométrica, tinha sua resolução e solução indicada pela soma da
área do quadrado vermelho (a²), mais a área dos dois retângulos azuis (ab) e mais a
área do quadrado cinza (b²) em que a figura foi decomposta. Assim, a expressão (a
+ b)² = a² + 2 ab + b², era manipulada, visualizada e compreendida de forma
significativa pelos alunos.
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Figura 1 – Generalização do quadrado da soma de dois termos.
Ao trabalhar o desenvolvimento do quadrado da diferença de dois termos, o
aluno procurava compreender o significado de cada uma das partes em que o
quadrado foi decomposto. Assim, no desenvolvimento do produto notável (a - b)² =
a² - 2.a.b + b², sua solução estava representado pelo cálculo da área da região
vermelha, conforme Figura 2.
Figura 2 – Generalização do quadrado da diferença de dois termos
Portanto, para encontrar a área da região vermelha da Figura 2 o aluno
calculava a área da figura inteira, isto é, a área total (a²) e subtraia a área dos dois
retângulos (ab). Porém, para não subtrair duas vezes a área do quadrado que está
sobreposta (azul mais forte), mostrou-se que é necessário somar a área do
quadrado menor (b²). Situação destacada na Figura 3.
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Figura 3. - Região sobreposta do quadrado da diferença de dois termos.
O terceiro caso dos produtos notáveis, o produto da soma pela diferença de
dois termos, quando representado geometricamente equivale a área da região de
cor azul, conforme representação da Figura 4.
Figura 4 – Produto da soma pela diferença de dois termos.
A área da região azul é igual a área total (a²) menos a área do quadrado de
cor vermelha (b²). Assim, realizou-se a decomposição da superfície azul em dois
retângulos, conforme segmento pontilhado na parte interna da Figura 4 e
transformado em um único retângulo, visualizado na Figura 5.
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Figura 5 – Retângulo representativo do produto (a + b).(a – b).
O cálculo da área deste retângulo pode ser representado pela forma algébrica
(a + b) (a – b), conforme demostrado acima e equivale a a² - b², portanto (a + b) (a –
b) = a² - b².
Observou-se que o fato de representar geometricamente ajuda a visualizar as
partes que compõem o todo, facilitando a compreensão dos casos dos produtos
notáveis e também da importância da álgebra.
4.3 Operações algébricas
Para ensinar as operações algébricas, confeccionou-se o material com o
papel cartão. Desta forma foi possível a visualização das operações e assim, muitas
das dúvidas com relação aos conceitos básicos de operar com as variáveis foram
sendo sanadas, como por exemplo, o porquê de não se somar x² com x. Os alunos
perceberam que a primeira expressava uma área, enquanto a segunda uma medida
de comprimento.
Dada uma expressão, os alunos a representavam com o material concreto
sobre a carteira e transcreviam o resultado no caderno. Encontrou-se um pouco de
dificuldade em fazer com os alunos compreendessem a relação do material e sua
representação, além da conversa gerada quando se utiliza material manipulável.
Isso aconteceu no início das atividades, sendo amenizadas e eliminadas no decorrer
das aulas seguintes.
Com o desenvolvimento das atividades, muitos alunos já não utilizavam a
representação com o material, pois achavam trabalhosas, uma vez que já tinham
compreendido os processos, as regras e o faziam mentalmente.
21
Assim, sempre que possível, ao ensinar um conteúdo, o material
manipulável deve fazer parte para facilitar e auxiliar na sua compreensão e o
processo natural é que os alunos, ao entenderem os conceitos, deixem de utilizá-los.
4.4 Equações
Ao trabalhar o conceito de equação utilizou-se a analogia da gangorra, e
também o material concreto, o mesmo utilizado na atividade anterior das operações
algébricas. Isso facilitou o entendimento e deu agilidade às resoluções, pois os
alunos manipulavam e dominavam as representações a serem feitas.
Deste modo, os alunos passaram, em pouco tempo, a efetuar as resoluções
sem o auxílio da representação geométrica, pois, segundo eles, não era mais
necessário e que somente o cálculo mental era suficiente.
Alguns alunos questionaram como se faria a representação de uma equação
com o papel cartão, quando a sua solução não era um número inteiro. Explicou-se
assim que o material concreto tem o objetivo de permitir a visualização de alguns
casos, para que o aluno compreenda o conceito, não sendo possível representar
todos os casos. Aproveitou-se este momento para reforçar a importância e a
necessidade de dominar os conteúdos da álgebra.
4.5 Avaliação geral
Trabalhando de forma integrada a aritmética, a geometria e a álgebra,
usando a metodologia da resolução de problemas, verificou-se que esta é uma
alternativa no ensino e aprendizagem dos saberes da Matemática. Resgata-se o que
é importante na disciplina: as operações com os números (aritmética), sua
representação geométrica (geometria) e a generalização (álgebra).
Na maioria das vezes, nós professores, na ânsia de fazer com que os alunos
aprendam e também em vista de não utilizar muito tempo, antecipamos as respostas
ou soluções e não deixamos que os alunos consigam, por si, encontrar a resposta
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aos problemas propostos. Este procedimento muitas vezes esta na contramão da
atividade de se trabalhar com a resolução de problemas, que requer mais tempo
para que o aluno possa pensar e refletir.
Como o projeto foi desenvolvido em três salas, os resultados foram
diferentes entre elas, comprovando que cada classe tem suas peculiaridades, com
grau diferenciado de aprendizagem e entendimento.
Em uma das salas onde o número de alunos não era muito grande, mas
apresentavam pouco interesse em estudar e grande número de faltas, os resultados
foram abaixo do esperado. Na segunda sala, com número maior de alunos e sem
alunos faltosos, os resultados foram bons. Na terceira, os resultados foram muito
bons, sendo que nesta, a quase totalidade dos alunos efetuou a resolução dos
problemas sem qualquer ajuda e o tempo de resolução que necessitaram reduziu-se
a metade.
É interessante que o professor desenvolva algumas dessas atividades, ou
quantas julgar conveniente, para que os alunos compreendam o processo, e
estabeleçam a relação como, por exemplo, entre o quadrado/ produto do binômio e
o produto/ quadrado na construção geométrica, com o cálculo de áreas.
A partir da compreensão da relação, o aluno entenderá que não é mais
necessária a construção das figuras para visualizar e encontrar a solução, visto que
ela apresenta certa regularidade ou característica. Somente após essa compreensão
significativa é que o professor, junto com os alunos, trabalhou o conceito dos termos
utilizados na linguagem matemática. Convém destacar que é de suma importância
que o professor, sempre que possível, utilize material concreto.
Deve-se abordar a álgebra com os alunos, de forma com que estes sintam-
se cativados a apreender. Precisa-se fazer com que percebam o quanto a álgebra é
importante para sua vida, em seu cotidiano. Para que isso ocorra, não se pode
apresentar o conteúdo ao aluno de forma mecânica, precisam-se criar meios que
tornem a álgebra algo significativo.
A resolução de problemas é uma boa estratégia a ser utilizada, pois pode-se
proporcionar situações próximas à realidade do educando, fazendo-o perceber sua
importância.
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5 Conclusão
Ao trabalhar a álgebra em sala de aula, tem-se uma grande dificuldade para
fazer com que os estudantes entendam os conteúdos abordados e o objetivo que
todo educador almeja, que é a aprendizagem significativa, não é realmente
efetivado. Sabe-se também que a Matemática é uma disciplina importante e
necessária, contudo, há insatisfações diante dos resultados negativos obtidos em
relação à sua aprendizagem.
Neste sentido, o projeto procurou discutir sobre o ensino e aprendizagem da
álgebra e, além disso, encontrar respostas, meios ou maneiras de como trabalhar de
forma possível esses conteúdos, através da resolução de problemas. Ele é uma
resposta às dificuldades para a formação e compreensão dos conceitos da álgebra
pelos alunos e teve como objetivo estudar os conceitos de álgebra, propondo
significados aos conteúdos trabalhados, utilizando como metodologia a resolução de
problema.
As várias atividades propostas e exploradas oportunizaram realizar
articulações entre a Aritmética, a Geometria e a Álgebra na resolução de problemas,
incluindo a investigação e a experimentação, de forma contextualizada, criando
condições para que o aluno construísse seu conhecimento de forma significativa.
A representação da situação-problema e a confecção de tabelas auxiliam na
percepção das regularidades, essencial à generalização e compreensão da utilidade
e importância da álgebra. A utilização de material concreto como recurso, no caso o
papel quadriculado e o papel cartão, possibilitou a representação, a visualização e
auxiliaram o aluno no entendimento dos conceitos algébricos. Estes recursos são
essenciais para a descoberta da lei geral das situações trabalhadas, contribuindo
para diminuir as dificuldades no tratamento da álgebra. Esta compreensão, muitas
vezes, está relacionada a abordagem do conteúdo e da metodologia utilizada.
No decorrer da realização da implementação observamos uma evolução no
desempenho dos alunos, sendo possível identificar um crescimento da compreensão
da linguagem algébrica. A sequência de atividades propostas aos alunos possibilitou
a compreensão da utilidade e da importância da álgebra, bem como sua aplicação
em situações práticas.
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Assim, existe a necessidade de aprofundar as reflexões, os
questionamentos no ensino de Matemática no Ensino Fundamental, de modo a
possibilitar ao aluno dominar adequadamente os conceitos da álgebra com
significado, uma vez que se constitui um diferencial para o aluno, tendo este maior
possibilidade de compreensão da realidade.
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