expiação - limitação e propósitos
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8/18/2019 Expiação - Limitação e Propósitos
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EXPIAÇÃO: EXTENSÃO E PROPÓSITOS Saulo Vilela
RESUMO Não é de hoje que existem várias discussões sobre o sacrifício expiatório de
Cristo. Várias denominações, várias linhas teológicas em diferentes igrejas têm se
posicionado à respeito da extensão e propósitos da expiação de Cristo. Uns, com uma
idéia mais abrangente, até mesmo universalistas, outros, de forma mais bíblica,
mostram-se compreender tal obra como limitada. Esse artigo visa esclarecer, não de
maneira exaustiva, mas de forma sucinta, os propósitos e a extensão dessa obra, afinal,
caberiam ser escritos alguns livros sobre o assunto e, ainda assim, certamente não
esgotaríamos completamente de falar tudo o que é possível sobre isso.
Então, ressaltaremos, por fim, a importância desse assunto para os dias de hoje,
demonstrando que tal conhecimento é, muito mais do que apenas teórico, mas que, tê-lo
implica em uma mudança de postura na vida cristã, ajudando a lidar com várias
ansiedades, trazendo, de maneira geral, muito mais paz do que para aqueles que
desconhecem ou interpretam tal doutrina de maneira errada.
PALAVRAS-CHAVES
Expiação; Extensão; Propósitos; Doutrina
INTRODUÇÃO
Muito se fala sobre a obra de expiação que foi realizada por meio de Cristo
Jesus. Desde a razão pela qual Jesus teria que morrer, até mesmo por quem Jesusmorreu, ou o que esteve envolvido nesse processo de expiação.
Esse artigo visa discutir um pouco sobre esse assunto, mostrando a opinião de
alguns teólogos e chegando à algumas conclusões. Irei me ater, principalmente, ao
propósito e extensão dessa expiação para, então, comentar um pouco sobre a
importância desse assunto nos dias de hoje, entendendo que o conhecimento desse
assunto serve como base para muitas outras doutrinas que existem em diferentes igrejas.
O autor é seminarista junto ao Seminário Presbiteriano do Norte. Atualmente está cursando o 4ºsemestre do bacharelado em teologia.
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Se entendermos errado apenas um aspecto desse ensino, é possível criar heresias que
vão minar completamente a vida cristã, a santificação e, em última instância, a própria
salvação, pois, se não compreendermos bem a obra de Cristo, é possível que não o
conheçamos, de fato. E sem conhecer e confessar o verdadeiro Cristo, não há salvação.
1. Conceituando
Mas afinal, o que é expiação? A palavra “expiação” vem do termo hebraico
cofer . Trata-se de um substantivo do verbo caufar , cobrir. O cofer ou a cobertura era o
nome da tampa ou cobertura da arca da aliança e constituía o que era chamado
propiciatório. A palavra grega traduzida por expiação é katallage. Isso significa
reconciliação com o favor ou, mais estritamente, os meios ou condições para que haja
reconciliação com o favor; de katallasso, “mudar ou trocar”. O significado estrito do
termo é substituição. Um exame dessas palavras originais, no contexto em que se
apresentam, mostrará que a expiação é a substituição governamental da punição dos
pecadores pelos sofrimentos de Cristo. São os sofrimentos de Cristo cobrindo os
pecados dos homens.1
Wayne Gruden, em sua sistemática define expiação como “A obra que Cristo
realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.2 É importante entender, com
essa definição que, a obra de Cristo não se limita apenas à sua morte, pagando os nossos
pecados na Cruz. A obra expiatória de Cristo também compreende o tempo antes da
morte de Cristo na cruz, na sua vida como humano.
Podemos entender esse processo de sofrimento expiatório antes da morte na cruz
quando olhamos para a vida de Cristo. Ele não apenas se tornou humano, mas, mesmo
diante da humanidade, ele assumiu forma de servo (Fp 2.7). Ele não nasceu em uma
família rica, antes, ele foi filho de um carpinteiro; foi criado numa cidade que eraconsiderada escória naquela época (Jo 1.46); Ele precisou se submeter à lei, passando
por todos os processos e ritos que eram necessários naquela época. Tudo isso é parte da
humilhação de Jesus, quando sendo Deus, precisou passar por cada um desses
processos, por cada um desses sofrimentos a fim de expiar os nossos pecados.
1
FINNEY, Charles, Teologia Sistemática,
Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 228-2292 GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1990, p.471
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E toda a vida de Cristo vem culminar no ponto mais alto de sua humilhação, o
acontecimento que define alguém por ser humano: A morte. Mas não qualquer morte,
Jesus vem sofrer a pior morte possível: A morte de Cruz. Uma morte que era reservada
para os piores bandido, para os piores pecadores. A própria bíblia diz que aquele que é
pendurado num madeiro é maldito (Dt 21.23).
Assim, expiação é o processo que vai desde o nascimento de Jesus, passando por
cada um de seus sofrimentos, culminando em sua morte, cobrindo os nossos pecados.
Tudo isso foi realizado com alguns propósitos que iremos discutir.
2. Propósitos
Berkhof, em sua sistemática, divide os propósitos em 3 partes: Seu efeito com
referência à Deus, Seu Efeito com Respeito à Cristo e Seu efeito no que se refere ao
pecador. Tal divisão abrange, de maneira suscinta, praticamente todos os propósitos que
foram cumpridos por Jesus Cristo por meio da expiação. Por esta razão usaremos sua
divisão para tratar do assunto.
2.1 Seu efeito com referência à Deus
Em primeiro lugar, precisamos deixar claro que nenhuma mudança aconteceu no
ser interior de Deus, pois este é imutável. A mudança aconteceu, na verdade, na relação
entre Deus e os objetos de seu amor expiatório, reconciliando-se com aqueles que eram
objetos de sua ira, desviando-a assim por esse sacrifício. É importante salientar que a
expiação não foi a causa motora do amor de Deus, antes ela, em Cristo, já é a expressão
desse amor. O que a expiação fez foi remover os obstáculos às manifestações desse
amor.
2.2 Seu efeito com respeito à Cristo
Cristo foi recompensado de diversas formas em consequência da expiação. Ele
foi feito Espírito Vivificante; onte inesgotável de todas as bênçãos da salvação para os
pecadores; recebeu glória; a plenitude dos dons e graças que ele concede ao seu povo; O
dom do Espírito Santo, tanto para formar o seu corpo místico como para a aplicação dos
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frutos de sua obra expiatória; Os confins da terra como possessão e o mundo como seu
domínio.
2.2 Seu efeito no que se refere ao pecador
O mais importante quanto à expiação par ao pecador é a garantia de sua
salvação, não apenas sua possibilidade. Por ela o pecador foi judicialmente justificado
perante Deus, que inclui perdão de pecados, adoção de filhos e direito à herança eterna.
Também garantiu a união mística dos crentes com Cristo, com a regeneração e
satisfação, sem esquecer do processo de santificação, mortificação da carne e
revestimento do novo homem. Por fim, foi garantida ao pecador, sua felicidade final,
em comunhão eterna com Deus, numa nova e perfeita criação.
3. Extensão
Essa, talvez seja o tópico de maior discussão dentro desse assunto, tanto
teólogos católicos quanto teólogos protestantes e reformados tem diferentes visões
sobre isso. Essa divergência se resumiria, basicamente, na resposta à pergunta: Quando
Cristo morreu, ele pagou pelos pecados de toda a raça humana, ou somente pelos
eleitos?
3.1 Posição Reformada
A posição reformada diz que “Cristo morreu com o propósito real e seguramente
salvar os eleitos, e somente os eleitos”3, essa doutrina é chamada de Expiação Limitada.
Algumas coisas evidenciam que essa doutrina é verdadeira, dentre elas: A compreensão
que os desígnios de Deus não podem ser frustrados pela ação do homem, pois, se fossesua intenção salvar todos os homens, Ele não poderia ser frustrado pela incredulidade do
homem, assim, por sabermos que nem todos serão salvos, compreende-se que assim
Deus determinou que acontecesse, do contrário, se Jesus tivesse morrido por todos,
todos seriam salvos; A bíblia, por diversas vezes, mostra que Jesus morreu por alguns,
como em Mt1.21 “o seu povo”, Jo 10.11, 15, 26 “Minhas ovelhas”, At 20.28 e Ef 5.25-
27 “Igreja”, Rm 8.32-35 “Os Eleitos”; A obra intercessória de Cristo é um aspecto de
3 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, São Paulo: Luz Para o Caminho Publicações, 1990 p. 395
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sua obra expiatória, assim, o alcance de uma não pode ser diferente da outra. Em Jo
17.9, Jesus limita sua obra de intercessão de maneira clara, assim, porque sua obra
expiatória seria maior que a intercessória?
3.1 Posições Contrárias à Reformada
A A primeira objeção à posição da Expiação limitada é baseada no argumento
que diz que, em várias passagens da bíblia (Jo 1.29; 3.16; 6.33, 51; Rm 11.12, 15; 2 Co
5.19; 1 Jo 2.2.) existe a afirmação de que Jesus havia morrido pelo “mundo”, onde a
palavra mundo significaria, literalmente, todas as pessoas do mundo. Mas, em muitas
outras passagens (Lc 2.1; Jo 1.10; At 11.28; 19.27; 24.5; Rm 1.8; Cl 1.6.) vemos que tal
palavra “mundo” é utilizada, não para denominar, literalmente todas as pessoas domundo, mas antes, tem vários outros sentidos, como: Pessoas de todas as nações, de
modo geral, sem excluir nação nenhuma e não todas as pessoas; ou mesmo: O mundo
dos crentes ou a igreja;
Outra objeção segue a mesma linha da primeira que mencionamos, mas, ao invés
de usar a palavra “mundo”, os objetantes se apegam à palavra “todos”, afirmando da
mesma forma, que, quando em algumas passagens (Rm 5.18; 1 Co 15.22; 2 Co 5.14; 1
Tm 2.4, 6; Tt 2.11; Hb 2.9; 2 Pe 3.9) em que a bíblia afirma que Jesus “morreu por
todos”, essa palavra se refere a todos sem exceção. Nessas passagens, se
compreendermos que “todos”, significa todos indistintamente, seremos obrigados a cair
no universalismo soteriológico, que diz que todos, em exceção, serão salvos. Mas, na
verdade, essas passagens se referem, não a todos indistintamente, mas à todos os que
estão em Cristo, ou à todas as classes de homens, ou à judeus e gentios.
Uma terceira objeção vem trazer à tona algumas passagens que, segundo dizem,
implicam na possibilidade daqueles por quem Cristo morreu deixarem de ser salvos.
Passagens como Rm 14.15 ou 1 Co 8.11, são utilizadas para reforçar tal argumento.
Mas, como o próprio Berkhof, citando o Dr. Russel Shedd vem dizer, essas passagens
são “uma suposição, à guisa de argumento, de aguma coisa que não pode acontecer.”4 ,
ou seja, o que Paulo vem fazer, no caso dessas passagens, é simplesmente usar uma
suposição para argumentar, mas não afirma tal posição. 1 Pe 2.1 e Hb 10.29 também são
usados nesse argumento, mas também são derrubados quando entendemos que esses
4 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, São Paulo: Luz Para o Caminho Publicações, 1990 p. 398
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citados eram falsos mestres, que se apresentavam como redimidos e que a igreja os
considerou, mas que, de fato, nunca eram crentes.
Por fim, uma última objeço nasce da oferta de boa fé de salvação (bona fide),
que diz que, de boa fé, Deus chama a todos os que estão vivendo debaixo do evangelho
para crer e lhes oferece salvação através do arrependimento e da fé. Aqueles que se
objetam à expiação limitada dizem que, aqueles que crêem nessa doutrina não poderiam
fazer tal oferta de salvação. Sendo que, quando prega-se o evangelho fazendo tal oferta,
não se está buscando reveler um secreto conselho de Deus, mas antes, é expalhar a
promessa de salvação de que, se crer, será salvo. Essa oferta é universal, pois é
mandamento que preguemos à todos os homens, mas é condicionada à fé e
arrependimento que só vêm pelo Espírito Santo. Portanto, é possível pregar a oferta de
salvação sem entrar em contradiçao com a doutrina da Expiação Limitada.
4. Importância Hoje
Entendemos, assim, a importância desse assunto, não só para a Igreja
Reformada, mas também para toda a Igreja de Cristo, visto que, ao compreender de
maneira correta esse assunto, existem algumas aplicações práticas que vão fazer toda a
diferença na vida e postura cristã.
A principal delas é que, ao compreender os propósitos e a extensão da expiação
sacrificial, haverá uma postura diferenciada daqueles que não crêem nela. Se, por um
lado, aquele que crê que a a expiação tornou possível a salvação de todos, mas que esta
pode ser perdida, ele viverá todos os seus dias em uma angústia profunda, sem saber se
no momento em que ele está vivendo ele está salvo ou perdeu a salvação devido a
algum pecado. Por outro lado, o que entende tal doutrina de maneira correta, vive uma
vida de paz por saber que sua salvação não foi apenas possível, mas garantida na
expiação. Outra postura que se pode assumir é a de uma vida completamente alheia à
santificação e a mortificação da carne quando se entende que a expiação serviu para
salvar à todos, que ninguém vai para o inferno independente de pecados ou mesmo
relacionamento com Deus. Aquele que pensa assim, viverá, possivelmente, uma vida
sem se preocupar com “combater o bom combate”, como o Apóstolo Paulo nos ensina.
Enquanto o reformado viverá buscando a santificação sempre, mas entendendo que, até
mesmo isso é obra do Espírito Santo em nossas vidas, dando a tranquilidade de saber
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que, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade.”
CONCLUSÃO
Ao terminar esse breve artigo, sobre um assunto que é tão extenso, creio que
ficou claro que a posição reformada é, de fato, aquela que interpreta de forma correta, a
extensão e os propósitos da expiação, principalmente ao compararmos aos que se
objetam à ela.
Compreendemos, assim, que a bíblia, em vários trechos e passagens, deixa claro
os propósitos da expiação, tanto com relação à Cristo, como com relação à Deus e, omais discutido, com relação ao homem. Deixando claro, também, a extensão da
Expiação, sendo ela limitada, não universal.
Por fim, é importante ressaltar o fato de que, conhecer essa doutrina consiste em,
não apenas ter um conhecimento teórico que não tem relevância alguma na vida, antes,
compreender a Expiação auxilia a cada cristão, dando ferramentas para viver de forma
mais relevante onde quer que ele esteja, pois, certamente, ele viverá uma vida com
menos essa preocupação, pois tem garantida por Cristo a sua salvação.
ABSTRACT
It's not new out there the many discussions about Christ's expiatory sacrifice.
Many denominations, and many different theological views in different churches are
positioning theyselves about the extension and purposes of Christ's expiation. Some
with a broader idea, getting even to the universalist point, some others, in a more
biblical way, show that they comprehend that work as limited. This article's goal is toenlight, not in an exhaustive way, but succinctly, the purpose and extention of this
work, after all, many books vould be written about the topic and, still, surely it wouldn't
completly talk about everything that is possible to talk on this topic. Then, in the end,
we'll highlight this topic's relevance for today, showing that such knowledge is, much
more than just theoretical, but that, having it means a change of attitude on the christian
life, helping to deal with many anxieties, bringing, generally, much more peace than for
the ones that don't know or misinterpret this doctrine.
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KEYWORDS
Expiation; Extension; Purposes; Doctrine