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Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, Bruxelas 2019 31 de Janeiro a 8 de Fevereiro de 2019 Agradecimentos A participação desta delegação neste evento não teria sido possivel sem o apoio e motivação de várias pessoas quer de Moçambique quer da Bélgica. Por isso, gostaríamos de agradecer a todos eles, em particular, ao Director da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane Prof. Doutor Cláudio Mungói por ter autorizado o seu financiamento, a Direcção do curso de Mestrado em Antropologia Social na pessoa do seu coordenador Doutor Elísio Jossias e a Directora-Adjunta para Pós-graduação Profª. Doutora Esmeralda Mariano. Do lado Belga, o nosso agradecimento é endereçado a Professora Doutora Ann Cassiman que é a coordenadora do projecto de mobilidade académica na Universidade Católica de Leuven e também co-coordenadora do Programda de Mestrado em Culturas e Estudos de Desenvolvimento da Universidade de Leuven (CADEs) do Instituto de Pesquisa Antropológica de África. Estes agradecimentos são também dirigidos à Doutora Eliana Rosa de Queiroz Barbosa e ao Doutor Gorik Reynders, ambos do Instituto de Pesquisa Antropológica de África, a todos os que estiveram envolvidos na organização do evento, bem como aos palestrantes, estudantes e moradores da Zona do Canal de Bruxelas. 1 - Contexto Entre os dias 31 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 2019 realizou-se um trabalho de campo internacional denominado Escola de Campo 2019 que contou com a participação de 5 universidades, sendo quatro africanas e uma europeia no âmbito do acordo académico assinado peas universidades membros do consórcio. Este evento ftinha como tema A Gentrificação de uma cidade mercantilizável: a Zona do Canal de Bruxelas”, e teve a professora Ann Cassiman, Doutora Eliana Barbosa e o Doutor Gorij Reynders como seus mentores, supervisores e responsáveis por questões logísticas na Bélgica. Foi um encontro de carácter internacional e multidisciplinar no qual participaram estudantes, docentes e pesquisadores da University of Leuven da Bélgica (universidade anfitriã) representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e de quatro (4) universidades africanas nomeadamente a Universidade

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Page 1: Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, … · representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e

Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, Bruxelas 2019

31 de Janeiro a 8 de Fevereiro de 2019

Agradecimentos

A participação desta delegação neste evento não teria sido possivel sem o apoio e motivação de

várias pessoas quer de Moçambique quer da Bélgica. Por isso, gostaríamos de agradecer a todos

eles, em particular, ao Director da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade

Eduardo Mondlane Prof. Doutor Cláudio Mungói por ter autorizado o seu financiamento, a

Direcção do curso de Mestrado em Antropologia Social na pessoa do seu coordenador Doutor

Elísio Jossias e a Directora-Adjunta para Pós-graduação Profª. Doutora Esmeralda Mariano. Do

lado Belga, o nosso agradecimento é endereçado a Professora Doutora Ann Cassiman que é a

coordenadora do projecto de mobilidade académica na Universidade Católica de Leuven e

também co-coordenadora do Programda de Mestrado em Culturas e Estudos de

Desenvolvimento da Universidade de Leuven (CADEs) do Instituto de Pesquisa Antropológica

de África. Estes agradecimentos são também dirigidos à Doutora Eliana Rosa de Queiroz

Barbosa e ao Doutor Gorik Reynders, ambos do Instituto de Pesquisa Antropológica de África, a

todos os que estiveram envolvidos na organização do evento, bem como aos palestrantes,

estudantes e moradores da Zona do Canal de Bruxelas.

1 - Contexto

Entre os dias 31 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 2019 realizou-se um trabalho de campo

internacional denominado Escola de Campo 2019 que contou com a participação de 5

universidades, sendo quatro africanas e uma europeia no âmbito do acordo académico assinado

peas universidades membros do consórcio. Este evento ftinha como tema “A Gentrificação de

uma cidade mercantilizável: a Zona do Canal de Bruxelas”, e teve a professora Ann Cassiman,

Doutora Eliana Barbosa e o Doutor Gorij Reynders como seus mentores, supervisores e

responsáveis por questões logísticas na Bélgica.

Foi um encontro de carácter internacional e multidisciplinar no qual participaram estudantes,

docentes e pesquisadores da University of Leuven da Bélgica (universidade anfitriã)

representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de

Desenvolvimento e de quatro (4) universidades africanas nomeadamente a Universidade

Page 2: Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, … · representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e

Eduardo Mondlane representada pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais através do

Departamento de Arqueologia e Antropologia, Universidade de Cape Town da África do Sul

através do Departamento de Antropologia, a National University of Science and Technology do

Zimbabwe e a Universidade de Arba Minch da Etiópia.

A Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) esteve representada pela Prof a. Inês

Raimundo (Geógrafa) e pelos Mestrandos Anifa Vilanculos e Khevlon de Araújo, estudantes do

curso de Mestrado em Antropologia Social da FLCS.

Figura nº1 – Membros da equipa Faculdade de Letras e Ciências Sociais: da esquerda para a

direita: Mestranda Anifa Vilanculo, Profa. Inês Raimundo e Mestrando Khelvon de Araújo

Fotografia tirada por Eliana Barbosa, Coop, 8de Fevereiro 2019

2 - Objectivos

A Escola de Campo 2019 teve como o objectivo geral de praticar no terreno as metodologias de

pesquisa em ciências sociais e humanas, e especificamente:

1. Estudar as transformações urbanas em curso na Zona do Canal de Bruxelas, área povoada

principalmente por imigrantes africanos e árabes;

2. Avaliar a dinâmica da gentrificação na área em referência;

3. Compreender as mudanças sociais ocorridas nessa dinâmica;

4. Participar em palestras sobre o Canal, gentrificação e metodologia de investigação;

5. Participar na recolha de dados sobre o referido canal; e

6. Produzir um relatório dos dados recolhidos.

3 – Os trabalhos Realizados

Os trabalhos da Escola de Campo 2019 foram intensivos. Decorreram na Zona do Canal de

Bruxelas durante 10 dias num ambiente académico calmo, amigável e de solidariedade, debaixo

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de chuviscos, neve (últimos dias de neve) e de frio com temperaturas que variavam entre 0 e 8

graus centígrados.

3.1 - Palestras

Desde o primeiro dia da Escola de Campo docentes, investigadores e estudantes da Pós-

graduação das cinco universidades participaram em palestras relacionadas com várias temáticas

com maior destaque para a “História da Zona do Canal”, “ Métodos de pesquisa em Geografia e

questões éticas”, “Antropologia urbana e métodos visuais”, “Gentrificação: lugares, dignidade e

personalidade em cidades africanas”, “Novas infraestruturas”, “Gentrificação e segurança na

Zona do Canal de Bruxelas” e o “Matadouro”.

A Profª. Inês Raimundo, representando a Faculdade de Letras e Ciências Sociais apresentou o

tema sobre “Métodos de pesquisa em Geografia e questões éticas” dando ênfase a três (3)

aspectos:

i) - Aspectos espaciais que ocorrem em tempos determinados;

ii) - Informação espacial relaccionada com a população, economia, questões fisico-

ambientais; e

iii) - Respostas a vários problemas espaciais a várias escalas que a informação deve ser

recolhida, analisada e mostrada.

Page 4: Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, … · representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e

Figura nº2 - Profª Inês Raimundo apresentando

o tema sobre “Métodos de pesquisa em

Geografia e questões éticas”

Fotografia tirada por Eliana Barbosa, Le Space

(Canal Zone), 2 de Fevereiro de 2019

Facebook da Profa. Ann Cassiman.

Durante as palestras os participantes tinham oportunidade de questionar e sugerir sobre os

trabalho apresentados. As fotografias abaixo ilustram melhor estes momentos:

Page 5: Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, … · representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e

Fotografia tirada por Inês Raimundo, 3 de Fevereiro de 2019.

Nesta fotografia é possível ver Khelvon (o segundo contado da

esquerda para a direita) intervindo após uma apresentação.

Fotografia tirada por Inês Raimundo, 3 de

Fevereiro de 2019, pode ser observada a Anifa

(a 4ª da esquirda para a direita) a prestar

atneção a apresentação.

3.2 – Trabalho de campo

Ao longo desse período, os participantes realizaram trabalho de campo na Zona do Canal de

Bruxelas. Caminharam dezenas de quilómetros recolhendo dados relacionados com a

organização do espaço através da observação não participante e realizaram entrevistas com os

moradores dos bairros de Kuregem (the Abattoir/matadouro), Old Molenbeek1, Dansaert e Tours

& Taxis que se encontram ao longo do referido Canal.

Figura nº4 - Diferentes momentos durante a Escola de Campo 2019

Anifa Vilanculos durante a visita ao Matadouro da Zona do

Canal (1 de Fevereiro de 2019).

Khelvon Araújo durante a visita ao Matadouro da

Zona do Canal (1 de Fevereiro de 2019)

1 Também conhecida como “Buraco do inferno’’ em referência ao facto de os bombistas que atacaram o

aeroporto de Bruxelas em 2016 serem originários deste bairro. .

Page 6: Experiência de Escola de Campo na Zona do Canal de Bruxelas, … · representada pelo programa CADES através do Mestrado em Antropologia Cultural e Estudos de Desenvolvimento e

Fotografia tirada por Inês Raimundo, 1 de Fevereiro de

2019

Fotografia tirada por Inês Raimundo, 1 de Fevereiro

de 2019

Nesse processo, os estudantes foram divididos em equipas de 5 elementos e avaliaram as

seguintes questões: i) Medo e insegurança; ii) infraestrutura nas áreas gentrificadas; iii)

Actividades culturais e artísticas; e iv) exclusão e inclusão social e .mobilidade social.

No final do trabalho de campo, os estudantes apresentaram os resultados do estudo realizado

conforme evidenciado nas fotografias abaixo.

Figura nº5 e no

6 - Anifa durante a apresentação dos resultados de estudo no bairro Molenbeek

(a esquerda) e Khelvon durante a apresentação dos resultados de estudo no bairro Dansaert e

Tours & Taxis (a direita) na Zona do Canal

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Fotografia tirada por Inês Raimundo, 8 de Fevereiro de

2019

Fotografia tirada por Inês Raimundo, 8 de Fevereiro de

2019

4 - Lições da Escola de Campo 2019

A Escola de Campo 2019 pela sua natureza peculiar e pelo impacto que ela provocou na

comunidade belga do espaço estudado ficou “apelidada” pela Imprensa Belga como “Estudiosos

africanos que vieram estudar os belgas”. Este facto, por si só, não só mostra a importância que

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este evento teve para a comunidade académica dos países representados pelos seus participantes,

como também nos deixa importantes lições a considerar:

1. Estudar e perceber outras comunidades é um processo muito longo, particularlmente onde

o processo de Gentrificação tem significados distintos para as várias áreas do saber

representadas na Escola de Campo. Neste contexto, importa referir que as comunidades

de africanos e árabes sempre são vistas como estranhas e, mesmo com a nacionalidade

belga nunca são reconhecidos como tal;

2. A Gentririfcação para alguns, significa mudanças para o melhor. Porém, para outros

significa exclusão, a medida em que os melhoramentos nas infraestruturas encarecem o

custo de vida incluindo o preço da habitação. Por último, importa dizer que para outros, a

Gentrificação significa a perpetuação da discriminação;

3. Os estudantes moçambicanos demonstraram elevadas capacidades de interacção e de

intervenção em debates ao mesmo nível que estudantes os locais e os oriundos de outras

universidades africanas; e

4. A abordagem multidisciplinar usada nesta pesquisa demonstrou a funcionalidade de

vários olhares sobre um mesmo tema de análise.