experiências de financiamento à cultura em municípios de minas gerais

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gastos públicos, aparato institucional e mecanismos de incentivo. EXPERIÊNCIAS DE FINANCIAMENTO À CULTURA EM MUNICÍPIOS DE MINAS GERAIS:

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Experiências de financiamento à cultura em municípios de Minas Gerais: gastos públicos, aparato institucional e mecanismos de incentivos.

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  • gastos pblicos, aparato institucional e mecanismos deincentivo.

    EXPERINCIAS DEFINANCIAMENTO CULTURA EMMUNICPIOS DEMINAS GERAIS:

  • Belo Horizonte, maro de 2007Centro de Estudos Histricos e Culturais

    Fundao Joo Pinheiro

    gastos pblicos, aparato institucional e mecanismos deincentivo.

    EXPERINCIAS DEFINANCIAMENTO CULTURA EMMUNICPIOS DEMINAS GERAIS:

  • Projeto realizado com recursos da Lei Estadual de Incentivo Cultura de Minas Gerais.

    Patrocnio Cultural: Telemig Celular.

    gastos pblicos, aparato institucional e mecanismos deincentivo.

    EXPERINCIAS DEFINANCIAMENTO CULTURA EMMUNICPIOS DEMINAS GERAIS:

  • Fundao Joo Pinheiro. Centro de Estudos Histricos e Culturais.

    Experincias de financiamento cultura em municpios de

    Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismos

    de incentivos. Belo Horizonte, 2007.

    152 p.: il.

    1. Cultura Minas Gerais. 2. Cultura-financiamento Minas Gerais.

    3. Cultura-incentivo cultura Minas Gerais.

    4. Cultura - despesa pblica Minas Gerais. I.Ttulo.

    CDU: 008 (815.1)

  • Governador

    Acio Neves da Cunha

    Secretria de Estado de Planejamento e Gesto

    Renata Maria Paes de Vilhena

    Presidente da Fundao Joo Pinheiro

    Amilcar Vianna Martins Filho

    Diretor do Centro de Estudos Histricos e Culturais

    Leonardo Alves Lamounier

  • Coordenao

    Mnica Barros de Lima Starling

    Elaborao

    Fabrcio Augusto de Oliveira (consultor)Isabella Virgnia Freire Mnica Barros de Lima Starling Ncia Raies Moreira Souza

    Colaborao

    Sylvana de Castro Pessoa Santana

    Estagirias

    Jaqueline de Medeiros FarahRoberta Alves e Silva

    Apoio Administrativo

    Luzia Oliva Barros

    Produo Executiva

    Ronara Vieira de Paula

    Reviso

    Heitor Vasconcelos

    Normalizao

    Helena Schirm

    Projeto Grfico

    Tlio Linhares

  • Apresentao

    Esta publicao d continuidade linha de trabalhos sobre o financiamento da cultura desenvolvida pelo Centro de Estudos Histricos e Culturais da Fundao Joo Pinheiro. As pesquisas sobre esse tema abrangem as trs esferas da federao Unio, estados e municpios e geraram dados e indi-cadores que se tornaram referenciais nas anlises posteriores sobre o setor cultural no Brasil. A gera-o de informaes fidedignas, confiveis e teis administrao pblica e sociedade umas das principais tarefas assumidas pela Fundao Joo Pinheiro na busca de solues para os problemas que hoje se colocam para a formulao, implementao e avaliao das polticas pblicas.

    No estudo aqui apresentado, pretendemos construir um referencial analtico que subsidie a reflexo sobre as polticas pblicas de cultura em mbito municipal no estado de Minas Gerais. Os temas analisados abrangem as diversas experincias municipais de financiamento cultura (financiamento pblico, incentivos fiscais e demais mecanismos de fomento), a estruturao institucional do setor e as suas prioridades de polticas.

    Na etapa de levantamento das informaes, a interlocuo com o gestor pblico municipal, por meio dos instrumentos de pesquisa, permitiu-nos desvelar a riqueza e a complexidade da realidade cultural dos municpios mineiros. Essa pesquisa exploratria junto aos municpios foi complementada por um acompanhamento das contas pblicas municipais da cultura, divulgadas pelos rgos pbli-cos oficiais, o que nos permitiu construir parmetros sobre os diversos estgios de investimentos rea-lizados pelo setor pblico e sobre sua capacidade de financiamento do setor.

    O painel construdo confere transparncia aos processos de descentralizao das polticas culturais em Minas Gerais, particularmente no momento em que essa condio considerada prioritria para a construo do Sistema Nacional de Cultura, um dos principais objetivos da gesto pblica da cul-tura em mbito federal.

    Nesse sentido, esperamos que o trabalho oferea aos diversos militantes da rea da cultura gestores pblicos, artistas, agrupamentos artstico-culturais, produtores, pesquisadores, acadmicos e empre-sas interessadas no patrocnio de projetos culturais - um material de reflexo til para o planejamen-to de suas aes.

    Agradecemos o apoio da Secretaria Estado da Cultura de Minas Gerais e os gestores pblicos municipais de cultura pelo empenho e disponibilidade em responder ao questionrio da pesquisa. Agradecemos, em especial, o patrocnio da Telemig Celular, que viabilizou a realizao deste trabalho por meio da Lei Estadual de Incentivo Cultura de Minas Gerais. Ressaltamos que essa ao de patrocnio confirma o papel pioneiro desempenhado pela empresa na ampliao do conhecimento e do debate sobre a poltica cultural em Minas Gerais.

    Leonardo Alves LamounierDiretor do Centro de Estudos Histricos e Culturais

  • Sumrio

    1 - Introduo .............................................................................................................................13

    2 - Estado, mercado e sociedade no financiamento cultura .........................................................17

    3 - Os gastos com cultura dos municpios no Brasil e no estado de Minas Gerais: um quadro comparativo ..........................................................................................................25

    4 - Os gastos municipais com cultura em Minas Gerais: diversidade .............................................31

    5 - Os gastos em cultura nos municpios acima de 50 mil habitantes do estado de Minas Gerais ............ 375.1 - Os gastos em cultura ...........................................................................................................385.2 - Gastos per capita em cultura ................................................................................................425.3 - A concentrao dos gastos em cultura ..................................................................................445.4 - Os agentes responsveis pela realizao dos gastos em cultura ..............................................485.5 - A composio do gasto: despesas correntes e de capital ........................................................515.6 - As despesas em cultura por subcategorias econmicas:

    pessoal, outras despesas correntes e investimentos ................................................................545.7 - Gastos em cultura com patrimnio histrico e difuso cultural .............................................57

    6 - Financiamento e esforo de gasto em cultura ..........................................................................67

    7 - O aparato institucional da cultura nos municpios mineiros .....................................................797.1 - A estruturao do setor do patrimnio nos municpios .........................................................817.2 - Aparato institucional da cultura e gastos pblicos .................................................................827.2.1 - Aparato institucional da cultura e gastos per capita em cultura ..........................................847.2.2 - Aparato institucional da cultura e esforo de gasto per capita em cultura ............................887.3 - Conselhos municipais de cultura ..........................................................................................897.3.1 - Composio e dinmica de funcionamento dos conselhos municipais de cultura ....................... 917.4 - Conselhos municipais de patrimnio cultural .......................................................................927.4.1 - Composio e dinmica de funcionamento dos conselhos municipais de patrimnio ................ 907.5 - Prioridades da poltica municipal de cultura .........................................................................937.5.1 - reas dos programas em andamento.................................................................................97

    8 - Mecanismos de incentivo cultura ....................................................................................... 1018.1 - As legislaes municipais de incentivo cultura: renncia fiscal ......................................... 102

    8.2 - As legislaes municipais de incentivo cultura: fundo de projetos ..................................... 1058.3 - Contrapartidas ................................................................................................................. 1098.4 - Outros mecanismos de financiamento cultura ................................................................. 111

    9 - Consideraes finais ............................................................................................................. 115

    10 - Apndice ............................................................................................................................ 121

    11 - Referncias ........................................................................................................................ 145

    Lista de ilustraes .................................................................................................................... 149

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 13

    Introduo

    Este trabalho de pesquisa tem por objetivo subsidiar a reflexo sobre as polticas de financiamen-to cultura em mbito municipal no estado de Minas Gerais. A pesquisa envolveu a execuo das seguintes etapas: (a) anlise dos gastos pblicos municipais em cultura; (b) levantamento e qualificao do aparato institucional da cultura; (c) levantamento das legislaes municipais de incentivo buscando delinear seus perfis, comparar sua abrangncia e dimensionar seu papel nas polticas pblicas de gastos com cultura; (d) identificao de outros mecanismos de fomento cultura criados nos municpios mineiros.

    O trabalho se desenvolveu em duas principais dimenses quantitativa e qualitativa. Na pri-meira, foram levantados os gastos pblicos em cultura dos municpios de Minas Gerais com populao superior a 50 mil habitantes no binio 2002-2003. Alm de entender o comportamen-to dos gastos municipais nessa rea e colher elementos que permitissem avaliar o seu desempe-nho, procurou-se, ainda que de forma ligeira, comparar a performance desses gastos com a do conjunto dos municpios brasileiros, a dos que integram as regies geo-econmicas do pas, a de algumas capitais e, por ltimo, a do universo dos municpios mineiros de forma um pouco mais desagregada.

    A base de dados de finanas pblicas utilizada nessa pesquisa advm da Prestao de Contas Anual realizada pelos municpios, obtida do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Os dados fo-ram processados seguindo a nova classificao implementada pela Portaria n.42/99, do Ministrio de Oramento e Gesto (MOG). Essa portaria extinguiu a classificao funcional-programtica das despesas contempladas na Portaria n. 9, de 1974, e modificou as classificaes funcionais, amplian-do-as de 16 para 28 funes. Tambm o fez com as suas subfunes, visando a possibilitar Unio, aos estados e aos municpios a prtica de um oramento-programa mais ajustado aos verdadeiros fundamentos dessa tcnica (MOG/Manual tcnico. Oramento de 2000). As mudanas introduzidas no plano de con-tas das administraes pblicas com essa portaria possibilitaram a divulgao de informaes sobre

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    os gastos pblicos com maior riqueza e detalhamento. Foi possvel, inclusive, evidenciar novas reas que passaram a ser atendidas pelos governos, em seus trs nveis. Essas mudanas, no entanto, com-prometeram a comparao de sua evoluo com a dos anos anteriores, razo pela qual o trabalho teve de se restringir ao perodo dos dados j divulgados com a nova classificao, o binio 2002-2003, j que, para 2004, eles ainda se encontravam em fase de consolidao.

    Observa-se, nesse aspecto, que a mudana da metodologia de classificao trouxe algumas impli-caes pragmticas relacionadas s apropriaes indevidas em determinadas rubricas. Esse fato pode refletir um perodo transitrio de adaptao tcnica por parte dos servidores municipais, ou ainda, algo mais estrutural, atinente ao grau diferenciado das capacitaes dos planejadores/im-plementadores pblicos municipais.

    Quanto aos dados referentes aos municpios no-pertencentes ao territrio mineiro, utilizaram-se as informaes disponveis no site da Secretaria do Tesouro Nacional1. Isso possibilitou, mesmo com algumas ressalvas, vislumbrar comparativamente a situao dos municpios mineiros e os de outras regies do pas.

    Na dimenso qualitativa procurou-se levantar os aspectos que caracterizam a estruturao e a dinmica municipal para o financiamento da cultura. Procedeu-se, pois, ao levantamento do aparato institucional da cultura nos municpios estudados, das legislaes de incentivo fiscal e de outros mecanismos existentes na esfera municipal. Com a preocupao explcita de caracterizar e qualificar a estruturao institucional e os mecanismos de incentivo implementados, esse pro-cedimento objetivou tambm a quantificao dos resultados. Apesar do pequeno nmero de ca-sos estudados, a sua anlise permitiu dimensionar a importncia de cada tipo encontrado e a sua representatividade no conjunto dos municpios estudados.

    O levantamento dos dados qualitativos foi realizado por pesquisa direta nos municpios mineiros selecionados e se viabilizou por intermdio de questionrios estruturados enviados por meio ele-trnico e pelo correio. Os dados referem-se, em sua maior parte, ao ano de 2005, com exceo de algumas questes nas quais se demandaram informaes sobre datas de criao de rgos, con-selhos e da instituio de legislaes de incentivo. A pesquisa obteve retorno para o universo de municpios pesquisados.

    Diante das limitaes financeiras da pesquisa, a seleo dos 62 municpios com populao supe-rior a 50 mil habitantes deveu-se ao fato de se tratar de um conjunto de municpios mais represen-tativo do estado do ponto de vista econmico e tambm das atividades culturais. Por essas razes, o estudo desses municpios rene condies mais favorveis de fornecer um nmero maior de elementos para melhor entendimento desse problema. De fato, maior a incidncia de eventos culturais nos grandes centros populacionais, geralmente mais bem dotados de infra-estrutura para sua realizao e possuidores tambm de maiores economias de escala para viabilizar custos, especialmente em termos de pblico. Considerando isso, o estudo tanto dos gastos da administra-o pblica com a atividade cultural nesse universo quanto dos arranjos fiscais e financeiros es-truturados para financi-la pode fornecer importantes subsdios para a formulao de polticas mais globais para essa atividade.

    1 www.stn.fazenda.gov.br

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    Este trabalho se encontra organizado em nove sees. Na segunda, introduz-se o tema do finan-ciamento cultura no Brasil, identificando a atuao dos trs principais atores Estado, merca-do e sociedade no financiamento cultura.

    A terceira seo visa a colher elementos que permitam analisar comparativamente os gastos com cultura dos municpios selecionados e examina, de forma mais agregada, os gastos realizados nessa rea pelo conjunto dos municpios do Brasil, pelas regies geo-econmicas, por algumas capitais selecionadas e tambm pelo conjunto dos municpios de Minas Gerais.

    A quarta seo avalia os gastos com cultura dos municpios mineiros, relacionando-os com o ta-manho de sua populao. O objetivo apreender a grande diversidade nesse universo e tambm destacar a representatividade dos municpios selecionados para essa pesquisa.

    A quinta dedica-se anlise das principais caractersticas dos gastos em cultura do grupo dos municpios selecionados. Para tanto, apresentam-se indicadores de sua representatividade, tradu-zida em variveis econmicas, fiscais e de populao e analisa-se a participao de seus gastos em cultura no total de suas despesas, sua distribuio por modalidades de aplicaes (aplicaes di-retas e transferncias para instituies privadas) por subfunes ou sub-reas (difuso cultural e patrimnio histrico) e por categorias econmicas (investimento e custeio).

    A sexta seo avalia o arranjo fiscal/financeiro contemplado para o financiamento desses gastos e investiga se existe alguma correlao entre os gastos com cultura e seus componentes de receitas.

    A stima analisa a estruturao institucional do setor cultural nos municpios mineiros e procura relacion-la com o comportamento dos gastos pblicos na rea. Alm do levantamento e da clas-sificao dos diferentes rgos executivos da cultura e de suas prioridades de poltica, a seo analisa a importncia numrica dos conselhos municipais de cultura nos municipios selecionados e a dinmica da sua atuao no setor.

    A oitava seo analisa os mecanismos de incentivo cultura existentes nos municpios estudados. O levantamento das experincias municipais de financiamento cultura est focado em duas modalidades principais: o incentivo fiscal e os fundos de projetos culturais. Apresentam-se as caractersticas principais de funcionamento assim como os critrios de seleo de projetos a se-rem contemplados pelos recursos disponveis. O levantamento realizado abrange tambm outros instrumentos de incentivo, tais como os prmios, os concursos e os festivais.

    Por fim, nas consideraes finais apresenta-se uma sntese das principais concluses da pesquisa e suas contribuies para uma reflexo sobre o atual estgio de institucionalizao e descentrali-zao dos mecanismos de financiamento e da poltica pblica de cultura em Minas Gerais.

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    Estado, mercado e sociedade no financiamento cultura

    O financiamento cultura no Brasil vem ocupando, a partir de meados da dcada de 1980, lugar de destaque no debate sobre as polticas culturais. A nfase nessa questo reflete a busca de alter-nativas ao papel at ento desempenhado pelo Estado no patrocnio cultura e s artes no pas. Essa tendncia acompanha o movimento mundial ocorrido, nessa dcada, de minimizao do papel do Estado e de seus encargos financeiros, motivada pela crise econmica mundial e pela propagao do iderio neoliberal, segundo o qual os governos passam a cortar o financiamento para as reas sociais, entre elas a cultura.

    O financiamento pblico da cultura no Brasil desempenhou papel significativo historicamente, embora a participao do setor pblico seja decrescente, especialmente quando se avalia a esfera federal. De um modelo, entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadas do sculo XX, quando os recursos do governo federal constituam parcela predominante no investimento ao setor cultu-ral (mecenato de Estado), o financiamento pblico da cultura passou, a partir dos anos 90, a ser partilhado tambm pelas esferas estadual e municipal. De acordo com os dados da Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministrio da Fazenda, a participao federal no financiamento cultura caiu de 19% em 1994 para 13% em 2002, enquanto a participao dos municpios evoluiu de 40%, para 51%, nvel que vem se mantendo relativamente estvel desde 1995. No que diz respei-to aos gastos dos estados, sua participao relativa diminuiu de 41% para 36% nesse mesmo pe-rodo. Esse aumento da participao da esfera municipal no financiamento cultura constituiu uma tendncia importante observada a partir dos anos 90. Assim, embora no perodo 1985-1995 a taxa de crescimento anual de gastos pblicos (Unio, Estados e Municpios) seja de quase 3% ao ano, os gastos do governo federal apresentaram crescimento negativo, o que se deve, segundo estudos de especialistas na rea, poltica do governo Collor, 1990-1992, de desmantelamento do aparato institucional da cultura (FUNDAO JOO PINHEIRO, 1998).

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    Pesquisa recente realizada pelo Instituto de Pesquisas Econmica Aplicada (IPEA) demonstra a tendncia dos municpios brasileiros a ampliar a sua participao no financiamento pblico das polticas culturais (BARBOSA, 2005). De acordo com os dados levantados por essa pesquisa, os dispndios pblicos em cultura no Brasil, incluindo a esfera da Unio, estados e municpios so-maram mais de 2 bilhes de reais em 2002. A evoluo do indicador Gastos culturais per capta de R$ 5,00 no perodo 1985-1995 para R$ 11,78 no ano de 2002, confirma o investimento efetuado pelo setor pblico no setor. Apesar desses indicadores constiturem mdias resultantes da diversi-dade de situaes encontradas entre os estados e municpios brasileiros eles nos servem de par-metro para avaliar a evoluo do setor.

    No h legislao especfica que regulamente a repartio das responsabilidades ou competncias no financiamento de aes na rea cultural entre as trs esferas do governo: federal, estadual e municipal. A legislao brasileira afirma, de modo geral, a importncia do setor pblico no fomen-to produo, difuso e preservao cultural. Entretanto, a dimenso e a forma de participao do estado no financiamento da cultura tem sido objeto de controvrsias e condicionadas a progra-mas e polticas dos governantes. Ao longo do tempo, como mostra os dados da pesquisa do IPEA, estados e municpios por intermdio de suas secretarias, fundaes e rgos setoriais, vm aumen-tando suas participaes na gesto e no apoio das atividades culturais (BARBOSA, 2005).

    Com as modificaes institudas pela Constituio Federal de 1988 na forma de atuao do Es-tado federal brasileiro, priorizou-se o seu papel como agente regulador. Sua atuao direta na proviso de polticas pblicas foi restringida, e a posio dos governos subnacionais no processo de descentralizao dessas atividades culturais, reforada. Posto em marcha, contudo, num cen-rio de crise fiscal generalizada e sem contar com a regulamentao de mecanismos de cooperao financeira intergovernamental, conforme previsto na Constituio Federal, o processo de descen-tralizao enfrentou uma srie de dificuldades, que ainda hoje se mantm, especialmente nas reas no protegidas por normas legais e/ou constitucionais que lhes garanta recursos do ora-mento, entre as quais se inclui a cultura. Caracterizada como bem meritrio (merit good), como outros bens pblicos, sua oferta sociedade cabe tambm ao poder pblico, especialmente para cobrir deficincias apresentadas pelo mercado tanto em sua produo quanto em seu consumo. O esforo desenvolvido pelos municpios para garantir a oferta de cultura e os arranjos financei-ros construdos e utilizados para viabiliz-la tornaram-se, portanto, questes importantes das agendas governamentais.

    As solues encontradas privilegiaram o modelo de financiamento baseado no patrocnio privado a projetos culturais estimulado por mecanismos de renncia fiscal. Esse instrumento, adotado nas esferas da Unio, estados e municpios, baseia-se na deduo de imposto devido ao poder pblico por pessoas fsicas e jurdicas que invistam em atividades artsticas e culturais. Esse modelo pres-supe uma parceria entre os trs principais atores envolvidos: Estado, sociedade (produtores cul-turais, artistas e organizaes no governamentais) e mercado (empresas patrocinadoras).

    Ao Estado cabe a delimitao das normas que regero os mecanismos de incentivos fiscais, com a definio dos percentuais de renncia fiscal e de desconto sobre os impostos e o teto de incen-tivo das empresas. Responsabiliza-se, portanto, pela sinalizao para a sociedade e para o merca-do das condies e prioridades da produo cultural por meio da aprovao dos projetos que conformam a demanda cultural da sociedade.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 19

    A funo reguladora do Estado decorre do carter publico dos recursos, oriundos de renncia fiscal. Assim, necessrio que ele possa orientar o investimento privado para aquelas modalida-des artsticas que expressem valores culturais importantes para as comunidades nas quais se ori-ginaram. Nesse sentido, a sistemtica dos incentivos fiscais institudos ao nvel federal definiu-se pela articulao e complementaridade entre dois mecanismos o mecenato privado e o fundo pblico especial direcionado ao setor. O primeiro adequa-se aos projetos culturais com maior capacidade de captao no mercado de patrocnio, em sua maior parte oriundos das regies so-cioeconmicas que apresentam mercado mais dinmico e dotado de capacidade de resposta s demandas culturais. O segundo viabiliza-se por intermdio do Fundo Nacional de Cultura e en-contra-se orientado para as modalidades culturais que apresentam maiores dificuldades de capta-o no mercado devido a suas caractersticas de inovao, experimentalismo, etc, embora repre-sentem, tambm, aspectos da pluralidade e diversidade da cultura brasileira.

    O Estado desempenha ainda um papel de estimulador ou de indutor do financiamento privado. O sistema delineado pelas leis de incentivo cultura tem como uma de suas principais caracters-ticas a definio de um percentual de contrapartida a ser desembolsado pelas empresas no apoio a projetos culturais. Nas modalidades definidas no pas, esse percentual variava entre 20% e 30% do custo do projeto. Supunha-se que essa sistemtica seria capaz de mobilizar parcela dos recur-sos prprios das empresas, independente de iseno fiscal. A idia central inserida na legislao era gerar as condies institucionais e o ambiente necessrio para que as empresas invistam no desenvolvimento cultural do pas.

    Entretanto, essa que constituiu a idia original do modelo de financiamento a cultura via incen-tivos fiscais acabou por ser distorcida quando se instituram novas legislaes ou mudanas nas legislaes existentes, especialmente de mbito federal, que ampliaram para 100% o percentual de deduo do investimento efetuado em projetos culturais pelas empresas patrocinadoras. Esse o caso da Lei do Audiovisual e de algumas legislaes de mbito municipal. No caso da Lei Rouanet, modificaes introduzidas em 1997 estabeleceram o teto de deduo em 100% para projetos culturais das reas: artes cnicas, msica erudita e instrumental, edio de livros de valor artstico, literrio e humanstico, circulao de exposio de artes plsticas e doaes de acervos para bibliotecas pblicas e museus. A deduo de 100% foi estendida tambm rea de produo videogrfica e cinematogrfica, preservao do acervo audiovisual e do patrimnio material e imaterial em setembro de 2001.

    Esse modelo, portanto, atribuiu ao mercado um importante papel no fomento cultura, especial-mente quanto dinmica empresarial gerada com a participao das empresas pblicas e priva-das no financiamento a projetos culturais. Embora tenha se observado investimento privado ao setor cultural anteriormente criao dos incentivos fiscais, a afluncia maior de empresas no mercado de patrocnio se deu a partir da instituio dos incentivos fiscais, em nvel federal, em 1986 (Lei 7 505 ou Lei Sarney). Esse processo ampliou-se com a instituio de nova lei federal, em 1991 (Lei 8 313 ou Lei Rouanet), e de incentivos fiscais nas esferas estadual e municipal. A partir da pode-se falar de uma progressiva constituio de um mercado cultural, com estmulos formao de uma viso e um comportamento empresariais modernos.

    O marketing cultural em aes de comunicao das empresas passou a constituir uma estratgia empresarial de ponta, passando a ser utilizado tanto por empresas pblicas quanto privadas.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo.20

    consensual entre diversos autores que refletem a respeito dessa temtica que, por promover a as-sociao entre a atividade cultural e a comunicao empresarial, o marketing cultural tem-se re-velado um dos mais eficazes instrumentos de comunicao corporativa. A saturao da publici-dade convencional levou as empresas a buscarem formas de comunicao que, de forma gil e eficiente, consigam atrair um pblico consumidor exigente e diferenciado, agregando valor de mercado s empresas. Segundo esses autores, o marketing cultural movimenta atualmente boa parte do mercado artstico e provavelmente j constitui sua principal fonte de recursos (FISHER, 2002; SARKOVAS, 1994).

    Por outro lado, a deciso sobre onde investir passa a ser de responsabilidade das empresas, em que pese a interferncia na fase de aprovao dos projetos por parte do setor pblico e represen-tantes da classe artstica, que compem as comisses de avaliao dos projetos. Nesse sentido, projetos de visibilidade mais restrita, quer por sua natureza inovadora ou experimental, quer por se concentrarem em manifestaes de carter local, tero grande dificuldade para atrair o interes-se de empresas potencialmente patrocinadoras. Somadas ao fraco dinamismo econmico de al-gumas regies e ao desconhecimento do mecanismo de incentivo cultura, essas caractersticas dificultam a captao de recursos para realizao dos projetos culturais.

    Deve ser considerado ainda o papel que cabe sociedade nesse modelo de financiamento cul-tura. Em primeiro plano, deve ser ressaltada sua participao como proponente (artista ou produ-tor cultural). As leis de incentivo cultura levam a uma mobilizao intensa de artistas, produto-res e entidades culturais em busca de patrocnio privado para o desenvolvimento de seus projetos. Essa mobilizao gera uma mudana de conscincia em relao responsabilidade pela promo-o do desenvolvimento cultural da sociedade. Anteriormente visto como funo especfica dos poderes pblicos, aos quais caberia dar apoio institucional e financeiro, o setor cultural vem pas-sando progressivamente para o mbito de interesse da sociedade, que vem, inclusive, se instru-mentalizando para participar das decises relativas sua gesto. Observa-se assim a criao de vrios tipos organizaes no governamentais ou de associaes sem fins lucrativos voltadas tanto para a promoo de projetos de natureza artstica e cultural quanto para auxiliar por meio de parcerias a manuteno de museus, teatros, cinematecas etc. As parcerias do setor pblico com organizaes da sociedade tm representado uma forma de ampliao das chances de realizao de projetos culturais.

    Em segundo plano, possvel discernir o papel da sociedade como consumidora de cultura. O consumo de cultura amplia a capacidade crtica do indivduo e sua identificao com os valores de sua comunidade. Nesse sentido, a defesa dos interesses do setor cultural, considerado de forma ampla, vem estimulando a organizao e a atuao efetivas da sociedade para a reunio de de-mandas dispersas em torno de interesses comuns, assim como sua canalizao para foros de discusses, capazes de lhes dar visibilidade e chances de se agregar agenda governamental.

    Desde sua implantao, em 1986, as leis de incentivo baseadas na renncia fiscal tm sido alvo de controvrsias e debates sobre sua verdadeira contribuio para o desenvolvimento cultural. Anlises realizadas sobre o desempenho desse mecanismo nos mbitos federal e estadual vm evidenciando problemas relacionados concentrao e centralizao dos benefcios em termos de reas culturais, empreendedores, regies e empresas patrocinadoras. Chama ateno ainda o esvaziamento da dimenso pblica da cultura, que se traduz na ausncia de uma poltica pblica

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 21

    que envolva a criao de sistemas de gesto, informao e promoo da cultura, pactuados entre os entes federados e a sociedade civil, com participao e controle social (FUNDAO JOO PINHEIRO, 1988; 2003; 2004).

    Os principais autores que tratam dessa questo se posicionam, de forma geral, como partidrios ou crticos desses mecanismos. Entre os primeiros esto aqueles que se responsabilizaram pela criao dessa sistemtica de financiamento cultura em mbito federal. Suas argumentaes esto pautadas nos impactos positivos decorrentes dos investimentos realizados em cultura a partir da poltica de incentivos fiscais. So exemplos: o impulso produo cultural de diversas modalidades artstico-culturais, a profissionalizao do setor cultural e a constituio de um mer-cado de patrocnio especializado no investimento em cultura. Outras argumentaes apontam, ainda, a libertao da atividade cultural do paternalismo estatal e das restries ideolgicas dos grupos polticos que eventualmente ocupam o poder (MOISS, 1998). Fundamentalmente, po-rm, esses argumentos ressaltam que a nova poltica de incentivos fiscais cultura impulsionou a modernizao da conduta empresarial, em favor de um trabalho de parceria que envolve o Esta-do, produtores culturais e a comunidade (BRASIL, 1995). Nesse sentido, e paralelamente ao mecanismo de financiamento a fundo perdido institudo o Fundo Nacional de Cultura , o financiamento cultural apoiado em deduo fiscal tenderia, segundo a viso desses autores, a apoiar projetos que atenderiam tambm ao interesse pblico.

    inegvel o adensamento da produo cultural decorrente da implementao das leis de incen-tivo nas trs esferas de governo. Esse processo se caracteriza ainda pela mobilizao de artistas e produtores culturais, pelo surgimento de um segmento profissional de intermediao entre artista e empresa patrocinadora, pelo crescimento do nmero de empresas que desenvolvem aes de marketing cultural e pelos impactos positivos sobre a economia e o emprego. Apesar desses im-pactos positivos, no se pode desconsiderar os efeitos perversos das mesmas, ressaltados por es-pecialistas da rea (SARKOVAS, 2004; PORTO; 2005 BRANT, 2003; FARIA; SOUZA, 1997) e comprovados por pesquisas em mbito federal e estadual (FUNDAO JOO PINHEIRO, 1998; 2003; 2004).

    Os dados da pesquisa realizada pela Fundao Joo Pinheiro (1998) sobre gastos culturais reali-zados por empresas pblicas e privadas no perodo 1990 a 1997 revelam grande concentrao nas reas de msica, cinema/vdeo, patrimnio histrico e cultural, teatro/circo/pera/mmica e produo editorial. s reas mais incentivadas corresponde tambm um nmero maior de patro-cinadores. Destaca-se a participao percentual das empresas nas reas de msica (61,1%) e cine-ma/vdeo (52,8%). Como 74% das empresas amostradas que efetivamente realizaram patrocnios culturais localizam-se no eixo Rio-So Paulo, de se concluir a extrema concentrao dos inves-timentos realizados nessa regio do pas.

    O maior volume de recursos canalizado exatamente para as regies mais desenvolvidas, onde o adensamento da atividade econmica resulta na disponibilizao de maior volume de renncia fiscal e, por conseguinte, potenciais empresas patrocinadoras. Nesse sentido, essas regies, que j concentram maior populao e dispem de uma produo cultural mais expressiva, acabam sen-do as principais favorecidas pelos recursos da renncia fiscal para a cultura. Dados do Ministrio da Cultura apontam que 84% dos recursos captados por projetos culturais em 2001 beneficiaram as grandes capitais brasileiras, Rio de Janeiro e So Paulo, onde esto instaladas as maiores em-

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo.22

    presas nacionais e o poder de mdia dos veculos de comunicao (PORTO, 2005). Informaes mais recentes do Ministrio da Cultura revelam uma melhoria desses indicadores, sem contudo ter alterado substancialmente o padro de distribuio dos recursos da renncia em mbito fede-ral. Assim, a mdia de captao dos anos 2003 a 2005, indicou uma diminuio da concentrao dos recursos na regio Sudeste de 81,8% para 77,5%. Todas as outras regies apresentaram uma evoluo da mdia de captao, embora o crescimento no tenha sido superior a 1,2 pontos per-centuais (BRASIL, 2005) .

    No que diz respeito ao desempenho da Lei Estadual de Incentivo Cultura de Minas Gerais, a pesquisa realizada pela Fundao Joo Pinheiro comprovou o carter concentrador e excludente do mecanismo fiscal tambm em mbito estadual, beneficiando reas artsticas que se caracteri-zam por maior visibilidade do mercado (artes cnicas e msica), alm de canalizar recursos para a regio central do estado, que respondeu, no perodo 1998-2002, por 78,5% dos projetos apresen-tados, 79,6% dos aprovados e 75,6% dos incentivados. Esse alto percentual se deve particular-mente a Belo Horizonte, que concentrou cerca de 70% dos projetos incentivados e 73,6% dos recursos captados por intermdio da lei Estadual de Incentivo Cultura no perodo 19982001.

    Essa a primeira grande crtica em relao aos mecanismos fiscais de financiamento cultura: seu carter concentrador. A segunda crtica diz respeito ao fato de que os institutos culturais e as fundaes pertencentes aos grandes conglomerados econmicos acabam se beneficiando dos in-vestimentos realizados por essas mesmas empresas, estimuladas pelas dedues fiscais viabiliza-das pela Lei Rouanet. Assim, as grandes empresas estariam investindo em suas prprias aes de marketing por meio dessas entidades, gerando, no mnimo, uma dinmica no competitiva no mercado de patrocnio cultural.

    A terceira crtica incide sobre o fato de que o financiamento por deduo fiscal estaria transferin-do e pulverizando aleatoriamente o dinheiro e a responsabilidade pblica pela deciso de patro-cnio a projetos culturais para as empresas pblicas e privadas, gerando, portanto, um processo pouco democrtico na distribuio dos recursos, concentrador em termos de reas culturais, regi-es e empresas patrocinadoras. As leis de incentivo cultura acabam geridas pela lgica do mer-cado, beneficiando os projetos culturais que mais se adequam aos objetivos corporativos das empresas, a sua identidade e ao perfil de sua clientela (SARKOVAS, 2004; PORTO, 2005; FUN-DAO JOO PINHEIRO, 2003; 2004; SANTANA; SOUZA; 2004).

    Essas questes denotam a limitao do mecanismo de renncia fiscal, restrito em seu escopo e abrangncia em relao amplitude e diversidade da demanda cultural. A nfase nos mecanis-mos de financiamento cultura, da forma como se realizou no Brasil, resultou em um esvazia-mento de seu carter pblico e no constrangimento do Estado como formulador de poltica p-blica para o setor2. Segundo Porto (2005), a cultura caracterizou-se, nos ltimos anos, como uma rea de disputa de privilgios. Estes esto representados pelos limites reivindicados de iseno fiscal aos diversos setores artsticos, pelo lobby de aprovao dos tetos permitidos nas comisses de cultura e, naturalmente, pelas verbas publicitrias e de marketing das grandes empresas brasi-

    2 Botelho (2001) apontou, pioneiramente, que o foco na temtica do financiamento ocorria de forma equivocada, estimulando a concepo de que a poltica cultural se definisse em funo dos mecanismos de financiamento cultura.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 23

    leiras, especial e paradoxalmente, das estatais. Esse processo tem revelado, segundo a autora, uma prevalncia dos interesses privados e das solues imediatistas e restritas a poucos, sobre as necessidades de um corpo social diverso, a quem se nega o direito de emancipao cultural e vi-sibilidade pblica.

    A abordagem crtica em relao ao tema enfatiza a importncia da formulao de uma estratgia de desenvolvimento para o setor em sintonia com uma poltica de desenvolvimento econmico e social. Esse procedimento pressupe uma ao planejadora e reguladora do Estado que estabele-a estratgias e diretrizes de poltica. De forma abrangente e segmentada, elas devem contemplar os vrios contedos e repertrios da atividade artstico-cultural, evitando as descontinuidades de programas e polticas para a rea e as tendncias concentracionistas observadas regionalmente. Essa leitura refora ainda a importncia da formao de instncias de interlocuo em que atores do setor pblico, empresas, agentes culturais e consumidores possam ampliar os espaos de nego-ciao, de forma a influir na formulao e implementao de uma poltica pblica de cultura que atenda aos anseios e s demandas da sociedade, possibilitando o estabelecimento de compromis-sos mtuos.

    Nesse aspecto, chama a ateno a tendncia visualizada a partir da Constituio Federal de 1988, de criao dos conselhos setoriais como forma de viabilizar a ampliao da participao da so-ciedade na gesto das polticas. A literatura especializada indica que os conselhos tornam-se mais efetivos quando tm competncia para formular diretrizes polticas, gerir fundos e fiscalizar a execuo dos planos e programas governamentais. A efetividade torna-se ainda mais incisiva quando esses conselhos so deliberativos (e no apenas consultivos) e paritrios, com participa-o igualitria da sociedade civil e do poder pblico (TATAGIBA, 2002). A paridade, entretanto, no pode ser vista como exigncia apenas quantitativa. Deve abranger tambm uma dimenso qualitativa, expressa pela igualdade das condies de participao dos representantes governa-mentais e no governamentais em termos de acesso a informaes e equipamentos, qualificao profissional e disponibilidade de tempo. importante tambm a efetiva representatividade de-sempenhada por esses membros em relao aos setores por eles representados: rgos governa-mentais, segmentos culturais, movimentos sociais e entidades culturais.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 25

    Os gastos com cultura dos municpios no Brasil e no estado de Minas Gerais: um quadro comparativo

    Os gastos com a rea da cultura dos municpios brasileiros atingiram R$ 1,07 bilho em 2002 e R$ 1,2 bilho em 2003, em valores correntes da poca, correspondentes, nos dois anos, a 1,01% do total de seus gastos oramentrios. Considervel como montante analisado isoladamente, esse resultado no revela, contudo, o esforo oramentrio diferenciado realizado por essas unidades de governo no financiamento dessa atividade, de acordo com as unidades da federao e das re-gies a que pertencem. A tabela 3.1 fornece os elementos necessrios para essa avaliao.

    Como se percebe do exame dos gastos com cultura em relao aos gastos oramentrios totais em 2003, apenas duas regies Nordeste e Sudeste apresentaram esforo superior mdia regis-trada para o Brasil3. Na primeira, a relao Gastos com Cultura (GC) /Gastos Totais (GT) de 1,11% resultou dos maiores gastos realizados pelos municpios da Bahia (GC/GT=1,24%), Ser-gipe (1,37%) e Pernambuco (1,86%), que mais do que compensaram os gastos mais reduzidos dos municpios das demais unidades da federao que a integram. No Sudeste, com relaes superio-res mdia regional e nacional, os municpios de So Paulo (1,06%) e Rio de Janeiro (1,31%) tambm mais do que compensaram os menores ndices dos municpios do Esprito Santo (0,87%) e de Minas Gerais (0,92%).

    Os municpios das demais regies Norte, Sul e Centro-Oeste registraram, por sua vez, rela-es GC/GT inferiores mdia nacional, embora tambm com desempenho diferenciado das unidades federadas que as compem. No Norte, onde essa relao foi de 0,86%, em 2003, desta-

    3 Considera-se 2003 por no serem significativas as mudanas registradas em relao a 2002, a no ser em alguns poucos casos.

    3

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    caram-se com melhor desempenho apenas os municpios de Roraima, com o melhor ndice entre todos os estados do Brasil (3,56%)4, os demais tendo se situado abaixo da mdia regional exceo do Par e nacional. Nessa regio, chama a ateno a acentuada reduo dessa relao ocorrida no Amazonas, entre 2002 e 2003, quando caiu de 2,22% para 0,79%. No Sul, apenas os municpios do Paran conseguiram ndice superior mdia nacional (1,05%). Os do Rio Grande do Sul apresentaram o pior desempenho. No Centro-Oeste, cuja relao foi menos que a metade da observada para o Brasil, constata-se o pequeno esforo oramentrio no financiamento da cultura realizado pelos municpios das unidades federadas que a compem. Nesse caso, merecem ligeiro destaque os do Mato Grosso do Sul, cujo ndice de 0,60% foi superior mdia regional, embora bem inferior nacional.

    Estendendo a comparao desse indicador para algumas capitais de estados do pas, constata-se que, de maneira geral, elas apresentam posio mais favorvel na destinao relativa de recursos de seus oramentos para o financiamento da cultura. Isso compreensvel, j que se trata de cen-tros urbanos onde, devido ao tamanho de suas populaes, tanto a oferta como o consumo dos bens culturais encontram terreno mais favorvel para expandirem-se e para diversificarem-se e viabilizarem-se financeiramente. Das oito capitais para as quais esse esforo foi mensurado, seis Belm, Recife, Vitria, Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre registraram ndices supe-riores mdia nacional e regional. Entre elas, destacam-se a capital do Esprito Santo, Vitria, com 1,5%, em 2002, e 1,49%, em 2003, seguida da capital paulista (1,33%, em 2002, e 1,21%, em 2003) e a do Rio de Janeiro (1,33% e 1,20% respectivamente). Belo Horizonte e Cuiab, por sua vez, aparecem com desempenho menos favorvel nos dois anos. Chama a ateno o pequeno esforo desenvolvido por Cuiab, cujo ndice de apenas 0,11%, em 2003 (0,15% em 2002), repre-sentou menos de 1/3 da mdia regional e apenas cerca de 10% da observada para o pas.

    Embora fornea elementos importantes para avaliao do esforo oramentrio realizado por essas unidades de governo para o financiamento da cultura, e, portanto, da prioridade conferida oferta desse bem, esse indicador insuficiente, entretanto, para revelar a contribuio efetiva dessas administraes na oferta desse bem traduzido em termos de gastos por habitante. Isso porque relaes GC/GT mais elevadas nem sempre indicam que maiores gastos esto sendo re-alizadas por habitante. Podem resultar de gastos oramentrios mais baixos vis--vis os de unida-des que apresentam nveis mais elevados. A tabela 3.2, que mostra os gastos per capita em cultura dessas unidades de governo, oferece melhores condies para avaliao desse desempenho e do grau de prioridade por elas conferido ao financiamento dessa rea.

    Os resultados apresentados na tabela 3.2 mostram uma situao um pouco distinta da anterior. Considerando o gasto per capita realizado por essas unidades de governo, constata-se que apenas os municpios que integram as regies Sudeste e Sul registraram, em conjunto, nveis mais eleva-dos que os observados para o Brasil. De fato, enquanto o Sudeste aparece na liderana nos dois anos da srie, com gastos de R$ 7,75 e R$ 8,93 por habitante, respectivamente, os municpios da regio Sul gastaram, em mdia, no mesmo binio, R$ 6,24 e R$ 7,29, valores tambm superiores mdia nacional. Entre as unidades da federao que integram essas duas regies, destacam-se, na regio Sudeste, os municpios do Rio de Janeiro e de So Paulo, e na regio sul, Porto Alegre

    4 Em 2002, Roraima apresentou tambm um ndice elevado de 2,87%.

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    e Paran, com nveis de gastos bem mais elevados. Os do Esprito Santo e de Minas Gerais regis-tram desempenho bem menos favorvel, com nveis abaixo da mdia brasileira.

    A regio Nordeste, que apresentou desempenho favorvel no que diz respeito ao esforo de gasto traduzido na relao GC/GT, revela, por sua vez, um indicador menos significativo, quando considerados os nveis de gastos em cultura de seus municpios por habitante. Contra uma mdia nacional de R$ 6,22, em 2002, e de R$ 6,88, em 2003, seus municpios registraram gastos mdios de R$ 4,90 no primeiro ano e de R$ 5,09 no segundo. Entre suas unidades da federao, apenas Alagoas, Pernambuco e Sergipe, em 2002, conseguiram se situar em posio mais favorvel, em 2002. Em 2003, apenas Pernambuco e Sergipe o fizeram, j que os gastos municipais per capita em Alagoas foram reduzidos para menos da metade dos registrados no ano anterior.

    Por sua vez, os municpios das regies Norte e Centro-Oeste, aparecem realizando gastos ainda menores nesse perodo. Na primeira regio, destacam-se, em 2002, apenas os municpios do Amazonas e de Roraima, estes de forma mais expressiva, com nveis elevados de gastos, enquan-to apenas os municpios de Roraima continuam dando continuidade e sustentando esse esforo em 2003. Os demais estados apresentam nveis extremamente reduzidos. Chamam a ateno os nveis nfimos realizados pelos municpios do Amap, Acre, Par e de Rondnia. J na regio Centro-Oeste, a mdia regional representou menos da metade da nacional. Sobressairam-se ape-nas os municpios do Mato Grosso do Sul, com valores per capita menos inexpressivos (R$ 4,80, em 2002, e R$ 4,58, em 2003), mas, ainda assim, correspondendo a apenas 2/3 da mdia regis-trada para o pas.

    Em relao aos gastos realizados pelos municpios das capitais, esse indicador revela, com mais nitidez, a maior importncia que nelas assume essa atividade, bem como a maior prioridade que lhe conferida. Das oito capitais selecionadas, apenas Cuiab (Mato Grosso) registra nveis inex-pressivos de gastos por habitante, confirmando a pouca ateno destinada ao financiamento da cultura na regio Centro-Oeste. Embora em nvel inferior mdia nacional, os nveis de Belm, capital do Par, superam a mdia regional e so praticamente o dobro da observada para o esta-do. Recife, capital de Pernambuco, tambm registra gastos bem superiores mdia regional e nacional. J no Rio Grande do Sul, Porto Alegre, com gastos per capita de R$ 12,83, em 2002, e de R$ 13,92, em 2003 (o dobro da mdia nacional), destoa do conjunto dos municpios do estado, cujos gastos per capita, nesses dois anos, foram inferiores registrada para o pas. No Sudeste, a capital do Esprito Santo, Vitria, apresenta nveis mais elevados de gastos em cultura (R$ 21,42 em 2003) entre as capitais pesquisadas, o que pode ser explicado pelas condies fiscais e finan-ceiras mais favorveis do municpio. Rio de Janeiro e So Paulo, metrpoles onde se concentra grande parte da atividade cultural do pas, aparecem logo depois de Vitria, com expressivos gastos por habitante: R$ 14,5 e R$ 13,1, respectivamente, em 2003. J Belo Horizonte, com gas-tos que atingiram R$ 8,43 por habitante, em 2003, ocupa uma posio intermediria, com mdia superior nacional, mas inferior da regio.

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    Tabela 3.1: Gastos dos municpios com cultura e gastos oramentrios totais por regies, unidades da federao e capitais selecionadas Brasil 2002-2003

    Regio, unidade

    da federao

    e capital

    2002 2003

    Gastos com cultura (GC)

    (R$ mil)

    Gastos Totais (GT)

    (R$ mil)

    (GC)/ (GT)(%)

    Gastos com cultura (GC)

    (R$ mil)

    Gastos totais (GT)

    (R$ mil)

    (GC)/

    (GT)

    (%)

    Norte 67.107 6.326.352 1,06 54.790 6.338.154 0,86

    Acre 1.149 335.130 0,34 1.448 304.308 0,48

    Amap 313 208.261 0,15 978 189.310 0,51

    Amazonas 33.186 1.490.216 2,22 12.477 1.586.670 0,79

    Par 18.565 2.601.211 0,71 23.198 2.599.283 0,89

    Belm 6.413 592.223 1,08 8.827 694.761 1,27

    Roraima 7.435 25.257 2,87 8.006 224.481 3,56

    Rondnia 852 678.427 0,13 2.932 714.281 0,41

    Tocantins 5.607 754.848 0,74 5.752 719.821 0,80

    Nordeste 239.571 21.142.193 1,13 251.682 22.544.989 1,11

    Alagoas 17.631 1.425.350 1,24 10.295 1.497.947 0,69

    Bahia 66.135 5.661.607 1,17 74.365 5.996.795 1,24

    Cear 26.548 3.401.774 0,78 32.156 3.892.246 0,83

    Maranho 16.464 2.069.335 0,80 14.063 1.931.1.62 0,73

    Paraba 15.971 1.525.062 1,04 14.224 1.672.041 0,85

    Pernambuco 63.788 3.331.891 1,91 67.973 3.643.193 1,86

    Recife 12.249 976.175 1,33 14.825 1.073.189 1,38

    Piau 8.597 1.267.123 0,68 9.699 1.271.570 0,76

    Rio Grande Norte 12.249 1.530.651 0,80 15.123 1.635.397 0,92

    Sergipe 12.188 929.402 1,31 13.785 1.004.638 1,37

    Sudeste 577.531 55.144.177 1,05 673.733 62.368.855 1,08

    Esprito Santo 14.768 1.984.838 0,74 18.649 2.149.284 0,86

    Vitria 6.102 405.777 1 50 6.483 435.0364 1,49

    Minas Gerais 101.184 10.834.181 0,93 108.557 11.740.480 0,92

    Belo Horizonte 17.269 1.967.155 0,88 19.434 2.286.617 0,85

    Rio de Janeiro 125.473 11.773.709 1,07 176.732 13.433.135 1,31

    Rio de Janeiro 85.006 6.415.051 1,33 86.598 7.226.030 1,20

    So Paulo 336.106 30.551.419 1,10 369.796 35.045.956 1,06

    So Paulo 133.926 9.690.033 1,38 139.516 11.511.392 1,21

    Sul 160.659 17.393.705 0,92 189.837 19.996.444 0,95

    Paran 62.272 6.829.745 0,91 80.099 7.587.682 1,05

    Santa Catarina 39.877 3.637.737 1,10 38.102 4.177.364 0,91

    Rio Grande Sul 58.150 6.932.223 0,84 71.636 8.231.398 0,87

    Porto Alegre 17.756 1.620.741 1,10 19.406 1.827.962 1,26

    Centro-Oeste (1) 28.835 6.229.718 0,46 32.768 6.810.144 0,48

    Gois 12.730 3.145.458 0,40 15.115 3.334.471 0,45

    Mato Grosso 5.390 1.544.572 0,35 7.704 1.814.150 0,42

    Cuiab 533 362.753 0,15 400 376.760 0,11

    Mato Grosso Sul 10.265 1.539.688 0,67 9.949 1.661.523 0,60

    Brasil (1) 1.073.256 106.236.117 1,01 1.202.881 118.058.588 1,01

    Fonte: Dados bsicos: Ministrio da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Finanas do Brasil (FINBRA)Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).(1) No inclui o Distrito Federal.

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    Tabela 3.2: Gastos com cultura, populao e gastos per capita dos municpios, por regies, unidades da Federao e capitais selecionadas Brasil 2002-2003

    Regio, unidade da federao e capital

    2002 2003

    Gastos com cultura (GC)

    (R$ mil)Populao

    Gastos com cultura per capta (R$)

    Gastos com cultura (GC)

    (R$ mil)Populao

    Gastos com cultura per capta (R$)

    Norte 67.107 13.504.599 4,97 54.790 13 784 881 3,97

    Acre 1.149 586.942 1,96 1.448 600 595 2,41

    Amap 313 516.511 0,61 978 534 835 1,82

    Amazonas 33.186 2.961.801 11,20 12.477 3 031 068 4,11

    Par 18.565 6.453.683 2,88 23.198 6 574 993 3,52

    Belm 6.413 1.322.683 4,85 8.827 1 342 202 6,58

    Roraima 7.435 346.871 21,43 8.006 357 302 22,40

    Rondnia 852 1.431.777 0,60 2.932 1 455 907 2,01

    Tocantins 5.607 1.207.014 4,65 5.752 1 230 181 4,68

    Nordeste 239.571 48.845.112 4,90 251.682 49 352 225 5,09

    Alagoas 17.631 2.887.535 6,11 10.295 2 917 664 3,52

    Bahia 66.135 13.323.212 4,96 74.365 13 435 612 5,53

    Cear 26.548 7.654.535 3,47 32.156 7 758 441 4,14

    Maranho 16.464 5.803.224 2,84 14.063 5 873 655 2,39

    Paraba 15.971 3.494.893 4,57 14.224 3 518 595 4,04

    Pernambuco 63.788 8.084.667 7,89 67.973 8 161 862 8,32

    Recife 12.949 1.449.135 8,94 14.825 1 461 320 10,15

    Piau 8.597 2.898.223 2,97 9.699 2 923 725 3,31

    Rio Grande Norte 12.249 2.852.784 4,29 15.123 2 888 058 5,23

    Sergipe 12.188 1.846.039 6,60 13.785 1 874 613 7,35

    Sudeste 577.531 74.447.456 7,76 673.733 75 391 969 8,93

    Esprito Santo 14.768 3.201.722 4,61 18.649 3 250 219 5,73

    Vitria 6.102 299.357 20,38 6.483 302 633 21,42

    Minas Gerais 101.184 18.343.517 5,52 108.557 18 553 312 5,85

    Belo Horizonte 17.269 2.284.468 7,56 19.434 2 305 812 8,43

    Rio de Janeiro 125.473 14.724.475 8,52 176.732 14 879 118 11,88

    Rio de Janeiro 85.006 5.937.253 14,32 86.598 5 974 081 14,50

    So Paulo 336.106 38.177.742 8,80 369.796 38 709 320 9,55

    So Paulo 133.926 10.600.060 12,63 139.516 10 677 019 13,07

    Sul 160.659 25.734.253 6,24 189.837 26 025 091 7,29

    Paran 62.272 9.798.006 6,36 80.099 9 906 866 8,52

    Santa Catarina 39.877 5.527.707 7,21 38.102 5 607 233 6,79

    Rio Grande Sul 58150 10.408.540 5,59 71.636 10 510 992 6,81

    Porto Alegre 17.756 1.383.454 12,83 19.406 1 394 085 13,92

    Centro-Oeste (1) 28.835 9.955.701 2,90 32.768 10 127 482 3,23

    Gois 12.730 5.210.335 2,44 15.115 5 306 459 2,84

    Mato Grosso 5.390 2.604.742 2,07 7.704 2 651 335 2,91

    Cuiab 533 500.288 1,06 400 508 156 0,79

    Mato Grosso Sul 10.265 2.140.624 4,80 9.949 2 169 688 4,58

    Brasil (1) 1.073.256 172.487.121 6,22 1.202.881 174 681 648 6,89

    Fonte: Dados bsicos: Ministrio da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Finanas do Brasil (FINBRA).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES). (1) No inclui o Distrito Federal.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 31

    Os gastos municipais em cultura em Minas Gerais: diversidade

    Em 2002 e 2003, os municpios de Minas Gerais destinaram, respectivamente, R$ 101,2 milhes e R$ 108,6 milhes de suas receitas, em valores correntes da poca, para o financiamento da rea da cultura. Esses valores corresponderam a 0,93% e 0,92% do total de seus gastos oramentrios (tab. 4.1), percentuais ligeiramente abaixo, embora prximos, dos registrados para o conjunto dos municpios brasileiros. Os gastos com cultura dos municpios do estado representaram, em 2002, 9,4% do total dos gastos realizados no Brasil, por essa esfera de governo. Nessa participao, foi registrado um declnio para 9%, em 2003, acompanhando o comportamento observado para o total dos gastos municipais no estado. Entretanto, no se pode considerar essa trajetria tendn-cia, j que a srie de dados utilizada limitada e o ano de 2003 conheceu adversidades macroe-conmicas que afetaram as finanas governamentais de forma diferenciada.

    Tabela 4.1: Gastos com cultura e gastos oramentrios totais por municpios de Minas Gerais e do Brasil 2002-2003

    Gastos

    Minas Gerais(R$ milhes correntes)

    Brasil(R$ milhes correntes)

    Minas Gerais/ Brasil (%)

    2002 2003 2002 2003 2002 2003

    Totais (A) 10.834.2 11.740,5 106.236,1 118.058,6 10,20 9,00

    Com cultura (B) 101,2 108,5 1.073,3 1.202,9 9,42 9,02

    B/A (%) 0,93 0,92 1,01 1,01 92,00 91,00

    Fonte: Dados Bsicos Ministrio da Fazenda.Secretaria do Tesouro Nacional, Finanas do Brasil (FINBRA).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).

    4

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    Se, por um lado, apresentaram um quadro menos favorvel em relao mdia dos gastos com cultura vis--vis os gastos totais comparada registrada para o pas, por outro, os municpios mi-neiros tambm aplicaram nessa rea valores inferiores, por habitante, aos registrados para o Bra-sil. Como mostra a tabela 4.2, enquanto os gastos municipais per capita no Brasil foram de R$ 6,22, em 2002, e de R$ 6,89, em 2003, os dos municpios do estado foram de R$ 5,51 (89% da mdia nacional) e de R$ 5,85 (85% do valor observado para o pas) no perodo. Isso se deu devido ao crescimento menor observado para os recursos destinados ao financiamento dessa rea nos municpios mineiros. Vistos globalmente, esses nmeros no revelam, entretanto, o esforo dife-renciado realizado pelos municpios do estado para o financiamento da cultura. Alm disso, no permitem identificar os que apresentam melhor desempenho nesse campo, nem os que enfrentam dificuldades para garantir maior oferta desse bem populao. Essas so informaes indispen-sveis para balizar e reorientar polticas pblicas voltadas para essa finalidade. Para isso, a tabela 4.3 fornece elementos que contribuem para desvelar tanto a diversidade de situaes entre os mu-nicpios do estado no financiamento da cultura quanto para apreender importantes caractersti-cas desse universo.5

    Tabela 4.2:

    Gastos per capita com cultura por municpios de Minas Gerais e do Brasil 2002-2003

    AnoGastos com cultura per capita

    (R$ correntes) Minas Gerais/Brasil(%)

    Minas Gerais Brasil

    2002 5,51 6,22 89,0

    2003 5,85 6,89 84,9

    Fonte: Dados bsicos: Ministrio da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Finanas do Brasil (FINBRA).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC).Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).

    Em 2003, percebe-se que so os municpios de pequeno (at 20 mil habitantes) e mdio (de 20 mil a 50 mil habitantes) portes os que dedicaram, no oramento, maior espao para os gastos com cultura vis--vis os de maior porte. De fato, enquanto os com at 50 mil habitantes apresentaram participaes dos gastos com cultura no total dos gastos oramentrios superiores mdia regis-trada para o estado e tambm mdia nacional, os com populao superior registraram, em to-dos os estratos, ndices inferiores tanto mdia do estado como do Brasil. Chama a ateno a posio singular dos municpios com mais de 500 mil habitantes, cuja relao gastos com cultu-ra/gasto total (GC/GT) correspondeu a 83% da observada para o conjunto dos municpios do estado e a 75% da registrada para o Brasil. Embora possam ser vistos como indicadores do esfor-o oramentrio realizado por essas administraes no financiamento da cultura, esses nmeros so insuficientes para dar uma idia mais precisa de sua real contribuio nessa rea. Isso se d

    5 Para os municpios mineiros, utilizam-se os dados do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), que no coincidem exatamente com os da STN/FINBRA, razo porque registram-se algumas pequenas diferenas nas mdias e indi-cadores deles derivados.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 33

    medida que podem conduzir a concluses equivocadas sobre seus resultados, j que no levam em conta nem a populao beneficiada com esses gastos nem os valores oramentrios absolutos envolvidos. Nessa avaliao, a considerao dessas variveis modifica a contribuio efetiva des-sas administraes na proviso dos bens culturais.

    Tabela 4.3: Gastos com cultura e gastos oramentrios por estratos de populao dos municpios de Minas Gerais 2003

    Estrato de Populao

    (hab)

    Nmero de Municpios

    Populao Total

    Gastos (R$ mil) (GC)/(GT)(%)

    Gastos com Cultura(GC)

    Gastos Totais(GT)

    I At 10 000 514 2.750.424 19.998,1 1.9990.757,8 1,00

    II De 10 001 a 20 000 168 2.384.151 13.286,0 1.236.016,9 1,07

    III De 20 001 a 50 000 109 3.169.239 18.579,9 1.659.183,3 1,12

    IV de 50 001 a 100 000 36 2.534.086 12.015,0 1.444.179,5 0,85

    V de 100 000 a 200 000 16 2.131.103 10.261,1 1.266.819,7 0,81

    VI de 200 001 a 500 000 7 2.170.698 15.150,9 1.563.799,8 0,97

    VII + de 500 000 3 3.413.611 22.713,4 3.001.919,5 0,76

    Total do Estado 853 18 553 312 112.204,3 12.162.676,3 0,92

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).

    Os dados contidos na tabela 4.4 ajudam a lanar mais algumas luzes para melhor entendimento das caractersticas do universo de municpios que integram Minas Gerais e do desempenho que apresentaram, no binio 2002-2003, no tocante aos gastos realizados com a rea da cultura. Como se percebe, os municpios com at 50 mil habitantes, representando 92,8% dos municpios mineiros, que abrigavam 44,8% da populao em 2003, foram responsveis por 40,2% do total dos gastos oramentrios dessa esfera de governo e por 46,2% do total dos gastos com cultura. Comparando a participao destes estratos no total da populao do estado com a sua participa-o no total dos gastos com cultura, evidencia-se que o estrato I, nesse ano, apresentou uma situ-ao mais favorvel que os demais, com a relao porcentagem dos gastos com cultura/porcen-tagem da populao total atingindo o ndice de 1,2 contra 0,92 do estrato II e 0,97 do estrato III. No caso dos municpios com populao superior a 50 mil habitantes, a situao apresenta-se de forma menos homognea. Os grandes municpios (entre 50 mil e 200 mil habitantes) ostentam relaes bem inferiores, em torno de 0,8. Os com mais de 200 mil habitantes registram melhores ndices de desempenho, embora inferiores aos dos pequenos municpios. preciso notar que os municpios com populao superior a 50 mil habitantes absorvem 55,2% da populao do estado e respondem por 59,8 % do total dos gastos oramentrios e 53,8% dos gastos com cultura.

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    Tabela 4.4: Distribuio dos municpios, da populao, dos gastos oramentrios e dos gastos com cultura por estratos de populao Minas Gerais 2003

    Estratos de Populao (hab.)

    Participao no total (%)

    B/AMunicpios Populao (A) Gastos TotaisGastos com Cultura (B)

    (%) simples

    (%)acumulado

    (%) simples

    (%)acumulado

    (%) simples

    (%)acumulado

    (%) simples

    (%)acumulado

    I at 10 000 60,3 60,3 14,8 14,8 16,4 16,4 17,8 17,8 1,20

    II de 10 001 a 20 000 19,7 80,0 12,9 27,7 10,2 26,6 11,8 29,6 0,92

    III de 20 001 a 50 000 12,8 92,8 17,1 44,8 13,6 40,2 16,6 46,2 0,97

    IV de 50 001 a 100 000 4,2 97,2 13,7 58,5 11,9 52,1 10,9 57,1 0,80

    V de 100 000 a 200 000 1,9 98,9 11,5 70,0 10,4 62,5 9,1 66,2 0,80

    VI de 200 001 a 500 001 0,8 99,6 11,7 81,7 12,9 75,3 13,5 79,7 1,15

    VII + de 500 000 0,3 100,0 18,3 100,0 24,7 100,0 20,3 100,0 1,10

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).

    Outro indicador que permite avaliar com maior preciso o grau de envolvimento e/ou de apoio destinado rea de cultura por esse universo diz respeito considerao sobre os gastos dos dis-tintos estratos por habitante. Como mostra a tabela 4.5, os municpios com at 10 mil habitantes foram os que mais destinaram recursos, per capita, para o seu financiamento. So seguidos, em ordem, tanto para 2002 como para 2003, dos municpios do estrato VI (200 mil a 500 mil habi-tantes) e do VII (mais de 500 mil habitantes). Os municpios dos estratos II e III (entre 10 001 e 50 000 habitantes) registraram gastos per capita ligeiramente inferiores mdia do estado, nos dois anos. Enquanto isso, os dos estratos IV e V (entre 50 mil e 200 mil) figuram como os de pior de-sempenho, com gastos per capita cerca de 20% abaixo da mdia do estado na rea da cultura. As causas desse desempenho pior dos municpios com populao entre 50 mil e 200 mil habitantes no podem ser identificadas com base nos dados aqui utilizados6. No obstante, cabe assinalar que essa situao assemelha-se a uma das caractersticas do federalismo brasileiro, cujas regras de repartio de receitas e de encargos tendem a favorecer os municpios de menor e de maior porte em relao aos de mdio porte, afetando negativamente a capacidade de financiamento dos lti-mos e dificultando-os a garantir a oferta de bens e servios populao em algumas reas.

    6 Isso se deve ao fato de existirem outros fatores de ordem institucional, poltica e cultural, e at mesmo local, que influenciam os gastos nessa rea.

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    Tabela 4.5: Gastos per capita por estratos de populao Minas Gerais 2002-2003

    Estratos de populao (hab.)

    2002 2003

    Gastos per capita (R$ correntes)

    (%) na mdia do estado

    Gastos per capita (R$ correntes)

    (%) na mdia do estado

    I at 10 000 6,66 121,4 7,27 120,2

    II de 10 001 a 20 000 5,07 92,3 5,57 92,1

    III de 20 001 a 50 000 4,97 90,5 5,86 96,9

    IV de 50 001 a 100 000 4,48 81,6 4,82 79,7

    V de 100 000 a 200 000 4,36 79,4 4,81 79,6

    VI de 200 001 a 500 001 6,65 121,2 6,98 115,4

    VII + de 500 000 6,02 109,7 6,65 110,0

    Mdia do Estado 5,49 100,0 6,06 100,0

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).

    Embora se trate de questes relevantes que merecem respostas, seria necessrio possuir muito mais informaes do que se dispe e pesquisas adicionais s contempladas neste trabalho. Mesmo circunscrevendo-se a esses limites, a anlise feita em seguida, que dedicada ao exame das princi-pais caractersticas que apresentam os municpios com populao superior a 50 mil habitantes no tocante aos gastos que realizam com a cultura, procura, sempre que possvel, colher e destacar elementos que permitam identificar os fatores que explicam o pior desempenho dos municpios de mdio porte bem como aqueles que conduzem melhor performance dos de maior porte.

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    Os gastos em cultura nos municpios acima de 50 mil habitantes do estado de Minas Gerais

    Com populao superior a 50 mil habitantes, 62 municpios de Minas Gerais representavam, em 2002 e 2003, 7% do total dos 853 municpios do estado. Desses, 52 (83,9% da amostra) contavam com populao estimada entre 50 mil e 200 mil habitantes, e apenas dez (16,1% da amostra), com populao superior a 200 mil. Dada sua representatividade na populao total do estado (25%) e dados os nveis de gastos per capita mais reduzidos do primeiro grupo, no suficientemente com-pensados pelos melhores nveis registrados para o segundo grupo, a mdia de gastos per capita em cultura dos municpios dessa amostra, R$ 5,89, a preos de 2003, foi ligeiramente inferior ob-servada para o conjunto do estado, que alcanou R$ 6,06 (tab. 5.1). Esse resultado sugere a exis-tncia de dificuldades no seu financiamento e na oferta dessa poltica, especialmente quando se considera que so os maiores centros populacionais e as regies mais ricas onde a atividade cul-tural encontra terreno mais frtil para se frutificar.

    Tabela 5.1: Caracterizao da amostra de municpios (1) de Minas Gerais 2002-2003

    Variveis/Parmetros Unidade Ano Amostra EstadoAmostra/Estado (%)

    Nmero de Municpios Nmero 2003 62 853 7,3

    Populao Nmero 2003 10.246.010 18.553.312 55,2

    PIB R$ milhes correntes 2002 86.069,9 125.388,8 68,6

    Receita Oramentria R$ milhes correntes 2003 7.483.871,9 13.594.228,1 55,1

    Gasto Oramentrio R$ milhes correntes 2003 7.276.718,5 12.162.676,3 59,8

    Gasto com Cultura R$ milhes correntes 2003 60.340,4 112.390,1 53,7

    Gasto per capita com cultura R$ 2003 5,89 6,06 97,2

    Fontes: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE -MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES). (1) Municpios com populao superior a 50 mil habitantes.

    5

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo.38

    Apesar de representar apenas 7,3% do total dos municpios do estado, o conjunto dos municpios analisados revela-se bastante representativo desse universo. Isso garante que os resultados extra-dos deste estudo podem fornecer importantes subsdios para identificar tanto problemas gerais que afetam a proviso dos bens culturais pelas administraes municipais quanto polticas que podem ser adotadas para sua correo. De fato, abrigando 55% da populao do estado, esse conjunto de municpios responde por algo prximo a 70% de toda a riqueza nele gerada expres-sa em termos de seu Produto Interno Bruto (PIB) para o ano de 2002, por 55% da receita p-blica dos municpios, deduzidos os recursos do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Funda-mental e Valorizao do Magistrio (Fundef), por 60% do gasto oramentrio e, por 54% do gasto realizado em cultura por essa mesma esfera de governo. So nmeros que no deixam d-vidas sobre a sua representatividade.

    5.1 Os gastos em cultura

    A tabela 5.2 relaciona os gastos em cultura realizados pelos municpios, em 2002 e 2003, com o total de seus gastos oramentrios. De seu exame, constata-se que o gasto conjunto desses muni-cpios com a rea cultural representou, nesse binio, cerca de 54% do total dos gastos realizados pelos municpios do estado, um ndice inferior ao registrado para os seus gastos oramentrios totais, como proporo dos gastos municipais no estado, que foi de 59,8%.

    Abstraindo variveis como populao e dimenso dos recursos do oramento, a participao dos gastos com cultura no total dos gastos oramentrios de cada municpio um indicador que su-gere a prioridade conferida pela administrao a essa poltica. Em conjunto, o grupo selecionado apresenta ndice inferior a 1%, que corresponde mdia registrada para o Brasil e tambm do estado, tendo se mantido praticamente estvel nos dois anos (0,85% em 2002 e 0,83% em 2003).

    Todavia, como todo ndice mdio, vlido para as comparaes de desempenho, ele incapaz de retratar realidades marcadas pela diversidade e heterogeneidade dos elementos que as compem e tambm para fornecer pistas que permitam captar suas especificidades. No caso em tela, porque oblitera situaes extremamente diferenciadas e rene, em torno dessa mdia, municpios onde considervel o apoio e incentivo concedido atividade cultural com outros onde essa iniciativa praticamente inexiste ou no assume dimenso relevante. Os dados da tabela 5.3 ajudam a escla-recer melhor essa questo.

    Agrupando os municpios por faixas de gastos com cultura/gastos totais (%) (tab. 5.3), os dados ali contidos mostram que, para 43 dos municpios do grupo, em 2002, e 41, em 2003, essa relao no passou de 1%, nos dois anos considerados, percentual que corresponde mdia nacional. Desse subgrupo, oito municpios, em 2003 (12,9% da amostra), situaram-se na faixa de relaes GC/GT que variam at 0,2%; 13 (21%), entre 0,2% e 0,5%; e 20 (32,3%) entre 0,5% e 1%. Compreensivel-mente, figuram nessas faixas tanto municpios mais pobres que no dispem de recursos orament-rios suficientes para atender adequadamente as demandas de servios essenciais por parte da popu-lao, como municpios que, embora em posio mais favorvel, carecem de tradio de investimen-to no setor cultural. No primeiro grupo, podem ser citados, como exemplo, os municpios de Janu-ria, Janaba, Leopoldina, So Francisco, Una e Curvelo. No segundo grupo, podem ser apontados os casos de Coronel Fabriciano, Ibirit, Joo Monlevade, Patrocnio e Ponte Nova, entre outros.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 39

    Nesse segundo grupo, chama a ateno, entretanto, o reduzido esforo oramentrio no financia-mento da cultura realizado por municpios de maior porte e que contam com oramentos bem mais robustos, devido sua condio econmica mais favorvel. So exemplos Contagem, Poos de Caldas e Sete Alagoas, cujos valores reservados e destinados a essa atividade apresentam-se ir-risrios em relao a seus gastos totais. Embora Belo Horizonte e Ouro Preto tambm apaream includos neste grupo, o fato de outros rgos/secretarias de suas administraes serem, alm da Secretaria da Cultura ou rgo especfico da rea, tambm responsveis pela realizao de gastos nessa atividade, modificam expressivamente suas posies quando eles so considerados.

    Tabela 5.2: Gastos com cultura e gasto oramentrio dos municpios (1) Minas Gerais - 2002-2003 (Continua)

    Municpio

    2002(R$ mil corrente)

    2003(R$ mil corrente)

    Gasto com Cultura

    (GC)

    GastoTotal(GT)

    (GC)/(GT)(%)

    Gasto com Cultura

    (GC)

    GastoTotal(GT)

    (GC)/(GT)(%)

    Alfenas 281,76 42.396,83 0,66 101,37 45.874,66 0,22

    Araguari ... 47.301,48 ... 237,18 56.306,56 0,42

    Arax 229,51 58.707,88 0,39 1.246,29 62.099,00 2,01

    Barbacena 988,13 79.447,26 1,24 627,08 88.051,00 0,71

    Belo Horizonte 17.268,75 1.967.154,66 0,88 19.434,21 2.286.616,61 0,85

    Betim 2.963,98 345.027,39 0,86 2.757,86 395.953,87 0,70

    Campo Belo 251,43 31.547,45 0,80 200,40 27.751,99 0,72

    Caratinga ... 36.056,10 ... 149,73 35.962,12 0,42

    Cataguases 245,31 34.118,38 0,72 407,68 34.914,35 1,17

    Conselheiro Lafaiete 332,75 38.687,89 0,86 316,25 38.908,77 0,81

    Contagem 38,18 338.207,20 0,01 53,77 349.773,40 0,02

    Coronel Fabriciano 109,95 32.332,85 0,34 83,60 33.898,26 0,25

    Curvelo 71,41 25.552,48 0,28 69,33 26.438,81 0,26

    Divinpolis 1.215,08 105.424,00 1,15 1.343,41 123.594,43 1,09

    Esmeraldas 138,66 14.671,70 0,95 230,06 18.725,40 1,23

    Formiga 261,17 26.259,86 0,99 310,42 29.407,74 1,06

    Governador Valadares 1.314,32 141.990,02 0,93 1.531,69 164.378,17 0,93

    Ibirit 102,95 38.360,59 0,27 75,43 55.275,56 0,14

    Ipatinga 2.380,12 200.609,66 1,19 3.419,72 199.590,95 1,71

    Itabira 2.434,07 108.072,20 2,25 1.772,17 130.985,44 1,35

    Itajub 229,78 34.769,34 0,66 249,06 39.678,33 0,63

    Itana 477,9 39.522,92 1,21 308,98 48.536,30 0,64

    Ituiutaba 654,65 59.952,96 1,09 731,56 60.987,32 1,2

    Janaba 222,09 26.738,32 0,83 216,27 21.755,51 0,99

    Januria 17,78 22.957,95 0,08 33,37 24.845,69 0,13

    Joo Monlevade 299,97 40.145,45 0,75 319,46 50.112,95 0,64

    Juiz de Fora 3.174,13 312.276,24 1,02 3.659,03 359.141,10 1,02

    Lavras 273,54 45.945,07 0,6 404,86 49.454,13 0,82

    Leopoldina 44,3 16.701,94 0,27 64,14 21.039,58 0,3

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo.40

    Tabela 5.2: (Concluso)

    Municpio

    2002(R$ mil corrente)

    2003(R$ mil corrente)

    Gasto com Cultura

    (GC)

    GastoTotal(GT)

    (GC)/(GT)(%)

    Gasto com Cultura

    (GC)

    GastoTotal(GT)

    (GC)/(GT)(%)

    Manhuau 778,9 32.036,14 2,43 7,44 36.141,19 0,02

    Montes Claros 1.128,47 152.302,03 0,74 998,09 171.914,43 0,58

    Muria 517,01 42.141,16 1,23 33,28 43.781,04 0,08

    Nova Lima 1.313,28 70.121,81 1,87 1.632,10 86.708,67 1,88

    Ouro Preto 215,01 53.790,54 0,4 242 63.057,20 0,38

    Par de Minas 189,31 36.176,57 0,52 271,98 38.395,05 0,71

    Paracatu 400,95 39.381,11 1,02 362,84 47.840,59 0,76

    Passos 44,31 42.887,25 0,10 474,52 48.273,41 0,98

    Patos de Minas 684,3 64.897,01 1,05 802,67 71.204,63 1,13

    Patrocnio 70,43 35.880,30 0,20 106,94 44.968,54 0,24

    Pedro Leopoldo 387,08 35.531,38 1,09 558,2 36.999,02 1,51

    Pirapora 1.044,95 27.185,99 3,84 990,44 31.494,54 3,14

    Poos de Caldas 1.024,54 175.197,24 0,58 862,8 171.503,40 0,50

    Ponte Nova 43,64 31.242,80 0,14 219,14 38.122,32 0,57

    Pouso Alegre 276,64 58.853,27 0,47 1.327,86 62.763,50 2,12

    Ribeiro das Neves 418,48 57.040,59 0,73 474,96 64.357,11 0,74

    Sabar 442,11 48.063,45 0,92 588,24 49.862,82 1,18

    Santa Luzia 417,76 67.470,93 0,62 371,51 79.538,44 0,47

    So Francisco 0,15 17.941,25 0,0 ... 18.432,74 ...

    So Joo del Rei 898,52 33.189,05 2,71 627,64 38.692,26 1,62

    So Sebastio do Paraso 293,97 29.767,44 0,99 395,73 32.154,37 1,23

    Sete Lagoas 231,25 103.775,23 0,22 323,61 111.192,27 0,29

    Tefilo Otoni ... 66.876,74 ... ... 60.738,44 ...

    Timteo 579,30 52.358,49 1,11 211,38 68.582,10 0,31

    Trs Coraes 324,55 35.446,99 0,92 427,59 38.261,88 1,12

    Trs Pontas 552,41 26.164,56 2,11 480,66 28.877,84 1,66

    Ub 111,01 28.723,42 0,39 245,82 32.621,67 0,75

    Uberaba 2.761,96 187.282,47 1,47 2.309,61 208.464,15 1,11

    Uberlndia 2.985,64 353.754,99 0,84 3.225,45 365.529,47 0,88

    Una 118,14 32.744,57 0,36 112,83 44.530,56 0,25

    Varginha 104,00 54.914,80 0,19 1.054,75 84.722,77 1,24

    Vespasiano ... 39.498,56 ... ... 42.585,26 ...

    Viosa 402,24 30.405,65 1,32 246,00 34.348,77 0,72

    Total (A) (2) 54.781,99 6.473.979,86 0,85 60.340,44 7.276.718,45 0,83

    Minas Gerais (B) (2) 100.657,09 11.123.684,11 0,90 112.390,16 12.162.676,31 0,92

    (A)/(B) (%) 54,42 58,20 93,51 53,69 59,83 89,74

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE -MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).Nota: sinal convencional utilizado: ... dado no disponvel. 0,00 dado numrico igual a zero resultante de arredondamento de um dado numrico originalmente positivo(1) Municpios com populao superior a 50 mil habitantes.(2) Diferenas no somatrio devem-se a arredondamentos feitos e desconsiderao de valores insignificantes.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 41

    J os municpios, em nmero de 14 em 2002 (22,6% do grupo), que se situaram na faixa 1%2% foram reduzidos de 5 (8,1% na amostra) para 3 (4,8%) no mesmo perodo. Nessas duas faixas esto os municpios que apresentam esforo oramentrio superior mdia nacional e estadual, podendo, por essa razo, ser apontados como dotados de maior consistncia das polticas dessa rea. Ca-racterizam-se, geralmente, como centros mais desenvolvidos, que contam com oramentos mais robustos, casos mais notrios de Ipatinga, Divinpolis, Juiz de Fora, Nova Lima e Uberaba, por exemplo, onde so mais fortes as demandas por bens culturais. Ou municpios que embora no desfrutem dessas condies econmicas e/ou financeiras, forte a tradio e herana cultural, e histrica sua associao atividade turstica, o que exige maior incentivo e apoio das administra-es pblicas locais para a divulgao da imagem e preservao de sua memria. Este o caso dos municpios de Itabira, Patos de Minas, Pirapora e So Joo Del Rei.

    Tabela 5.3: Proporo dos gastos com cultura (GC) em relao aos gastos totais (GT) dos municpios (1) Minas Gerais 2002 - 2003

    (GC)/(GT) (%)2002 2003

    Nmero Municpios (%) Nmero de Municpios (%)

    At 0,20 11 17,7 8 12,9

    De 0,21 a 0,50 10 16,1 13 21,0

    De 0,51 a 1,00 22 35,5 20 32,3

    De 1,01 a 2,00 14 22,6 18 29,0

    Mais de 2,00 5 8,1 3 4,8

    Total 62 100,0 62 100,0

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE -MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).(1) Municpios com populao acima de 50 mil habitantes.

    Nem sempre melhores relaes GC/GT significam oferta mais ampla e eficiente de bens pblicos do ponto da vista da populao. Relaes GC/GT mais elevadas podem resultar de gastos que, apesar de modestos, ganham expressividade relativa quando comparados a oramentos de peque-na dimenso em relao a outros que mobilizam e movimentam volumes maiores de recursos. Por isso, para uma idia mais clara e precisa da contribuio efetiva das administraes pblicas na oferta desses bens, torna-se necessrio considerar, de um lado, o volume de gastos efetuado, e de outro, a populao beneficiada com ele. O ndice de gastos per capita que resulta dessa combi-nao o que melhor espelha o esforo efetivamente realizado pela administrao na proviso de bens pblicos para a populao. o que se analisa na seo 5.2.

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo.42

    5.2 Gastos per capita em cultura

    As tabelas 5.4 e 5.5 apresentam os gastos per capita em cultura dos municpios selecionados nesta pesquisa e do conjunto dos municpios do estado. Como se confirma de sua leitura, apenas em 40% dos municpios selecionados (25 dos 62, em 2002, e 24, em 2003) foram registrados gastos per capita em cultura superiores a R$ 5,00, no binio 2002-2003, enquanto a mdia do estado al-canou R$ 5,49 no primeiro ano e R$ 6,06 no segundo. Por ordem de importncia, os municpios de maior destaque em 2003 foram Nova Lima (R$ 23,97), Pirapora (R$ 19,23), Itabira (R$ 17,33), Ipatinga (R$ 15,37), Arax (R$ 15,24) e Pouso Alegre (R$ 11,60). Numa posio intermediria, mas com gastos bem superiores mdia do estado, aparecem Pedro Leopoldo (R$ 9,66), Trs Pontas (R$ 9,13), Uberaba (R$ 8,69), Belo Horizonte (R$ 8,43), Ituiutaba (R$ 8,03), Betim (R$ 7,91), So Joo Del Rei (R$ 7,80), Juiz de Fora (R$ 7,65) e Divinpolis (R$ 6,93). A melhoria da posio de Belo Horizonte em relao que figurou no caso do indicador GC/GT evidencia a necessidade de se considerar a varivel populacional em relao ao volume de gastos efetuados nessa avaliao.

    No extremo inferior, com gastos inexistentes ou com gastos per capita de at R$ 0,50, chama no-vamente a ateno o caso de Contagem, que registrou gastos per capta de apenas R$ 0,10, em 2003, nvel inferior ao de municpios mais pobres, como Januria (R$ 0,53), Coronel Fabriciano (R$ 0,83), Curvelo (R$ 0,99), Leopoldina (R$ 1,25) e Janaba (R$ 3,32). Uma importante hip-tese a ser considerada para explicar o caso de Contagem a de que o municpio, conurbado com Belo Horizonte, sede da regio metropolitana, se beneficia e se utiliza de sua estrutura de oferta de servios culturais, atuao caracterstica de free rider (carona) nessa rea. Isso comumente ocorre com outros servios, notadamente com a sade. Grandes centros econmicos e/ou popu-lacionais, Uberlndia, Montes Claros, Timteo, Governador Valadares e Poos de Caldas tam-bm merecem destaque por apresentarem performance inferior ou em torno da mdia registrada para o grupo dos municpios pesquisados e para o estado.

    Tabela 5.4: Gastos per capita em cultura dos municpios (1) Minas Gerais 2002-2003

    Gasto per capita (R$)2002 2003

    Nmero Municpios (%) Nmero de Municpios (%)

    At 0,50 8 12,9 7 11,3

    De 0,51 a 1,00 5 8,1 3 4,8

    De 1,01 a 2,00 6 9,7 8 12,9

    De 2,01 a 5,00 18 29,0 20 32,3

    De 5,01 a 10,00 17 27,4 18 29,0

    De 10,01 a 20,00 6 9,7 5 8,1

    Mais de 20,00 2 3,2 1 1,6

    Total 62 100,0 62 100,0

    Fonte: Dados bsicos: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE -MG).Elaborao: Fundao Joo Pinheiro (FJP). Centro de Estudos Histricos e Culturais (CEHC). Centro de Estudos Econmicos e Sociais (CEES).(1) Municpios com populao superior a 50 mil habitantes

  • Experincias de financiamento cultura em municpios de Minas Gerais: gastos pblicos, aparato institucional e mecanismo de incentivo. 43

    Tabela 5.5: Gasto com cultura, populao e gastos per capita dos municpios (1) Minas Gerais 2002-2003 (Continua)

    Municpio

    2002 2003

    Gastos com Cultura(R$ mil)

    PopulaoGastos per

    capita (R$)

    Gastos com Cultura(R$ mil)

    PopulaoGastos per

    capita(R$)

    Alfenas 281,7 69 957 4,03 101,4 71 349 1,42

    Araguari ... 104 223 0,00 237,2 105 267 2,25

    Arax 229,5 80 909 2,84 1.246,3 81 796 15 24

    Barbacena 988,1 117 108 8,44 627,1 118 492 5,29

    Belo Horizonte 17.268,7 2 284 468 7,56 19.434,2 2 305 812 8,43

    Betim 2.963,9 335 236 8,84 2.757,9 348 491 7,91

    Campo Belo 251,43 50 167 5,01 200,40 50 623 3,96

    Caratinga ... 79 168 0,00 149,7 79 808 1,88

    Cataguases 245,3 65 209 3,76 407,7 65 780 6,20

    Conselheiro Lafaiete 332,8 105 735 3,15 316.3 107 080 2,95

    Contagem 38,2 556 623 0,07 53,8 565 258 0,10

    Coronel Fabriciano 110,0 99 558 1,10 83.6 100 535 0,83

    Curvelo 71,4 69 300 1,03 69,3 70 130 0,99

    Divinpolis 1.215,0 190 800 6,37 1.343,4 193 974 6,93

    Esmeraldas 138,66 51 886 2,67 230,06 54 111 4,25

    Formiga 261,1 64 122 4,07 310,4 64 685 4,80

    Governador Valadares 1.314,3 250 625 5,24 1.531,7 252 247 6,07

    Ibirit 103,0 144 594 0,71 75,4 149 955 0,50

    Ipatinga 2.380,1 219 319 10,85 3.419,7 222 485 15,37

    Itabira 2.434,0 100 998 24,10 1.772,2 102 239 17,33

    Itajub 229,8 86 036 2,67 249,1 86 918 2,87

    Itana 477,9 79 064 6,04 309,0 80 086 3,86

    Ituiutaba 656,7 90 041 7,27 731,6 90 482 8,09

    Janaba 222,1 64 054 3,47 216,3 65 170 3,32

    Januria 17,8 63 295 0,28 33,4 63 151 0,53

    Joo Monlevade 300,0 68 236 4,40 319,5 68 954 4,63

    Juiz de Fora 3.174,1 471 693 6,73 3.659,0 478 607 7,65

    Lavras 273,5 81 482 3,36 404,9 82 740 4,89

    Leopoldina 44,3 50 866 0,87 64,1 51 223 1,25

    Manhuau 778,9 68 943 11,30 7,4 69 788 0,11

    Montes Claros 1.128,5 318 916 3,54 998,1 324 471 3,08

    Muria 517,0 94 368 5,48 33,3 95 420 0,35

    Nova Lima 1.313,3 66 909 19,63 1.632,1 68080 23,97

    Ouro Preto 215,0 67 069 3,21 242,0 67 436 3,59

    Par de Minas 189,3 75 493 2,51 272,0 76 646 3,55

    Paracatu 401,0 77 834 5,15 362,9 79 049 4,59

    Passos 44,3 99 860 0,44 474,5 101 089 4,69