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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO EXPECTATIVAS DE CARREIRA DE JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO CARLA PEREIRA SIEBLER BRANCO ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA Rio de Janeiro, junho de 2014.

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO

EXPECTATIVAS DE CARREIRA DE JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL

MÉDIO

CARLA PEREIRA SIEBLER BRANCO

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro, junho de 2014.

ii

EXPECTATIVAS DE CARREIRA DE JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO

CARLA PEREIRA SIEBLER BRANCO        

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Gestão de Recursos Humanos

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro, junho de 2014.

iii

 

iv

B816 Branco, Carla Pereira Siebler.

Expectativas de carreira de jovens estudantes do ensino técnico de nível médio / Carla Pereira Siebler Branco. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2014.

63 f. : il.

Dissertação de Mestrado Profissionalizante Administração do IBMEC.

Orientador (a): Profa.: Lucia Barbosa de Oliveira.

1. Gestão de Recursos Humanos. 2. Ensino Médio Integrado 3. Formação profissional. I. Título.

CDD 658

v

À minha mãe que me ensinou a ler. À minha tia que não deixou que me faltassem livros.

À minha avó que não pôde realizar seus sonhos. Aos anjos Gabriel e Raphael que me trouxeram até aqui. Às minhas irmãs, sobrinhos e afilhados, amores eternos.

vi

AGRADECIMENTOS

À Carla, minha grande xará, que colocou em minha cabeça a ideia de fazer esse mestrado e

que aos “45 do segundo tempo” me ajudou a obter dados para a conclusão deste trabalho. E

ao Lê, que em tantas noites de sua curta vida prescindiu da companhia de sua mulher para que

ela pudesse estar comigo.

Ao Wellington, ex-chefe e amigo, por todo apoio, sem o qual eu não teria nem começado o

mestrado. Agradeço toda sua confiança e aposta.

À minha doce, querida e compreensiva orientadora, que teve sensibilidade para me ajudar a

descobrir qual seria o melhor tema e abordagem para minha pesquisa e que muito me ensinou

durante o curso e nos últimos meses em especial. Obrigada, Lucia!

À professora e amiga Leila Iannone que me auxiliou recomendando bibliografia e que leu

meus primeiros originais, tendo contribuído com sua bagagem na área de educação de forma

fundamental para o sucesso deste trabalho.

Aos grandes amigos que fiz no IBMEC, na turma maravilhosa do primeiro semestre de 2012,

que têm todo meu amor, respeito e admiração, principalmente a Charlene Santino, que me deu

ideias e livros para me ajudar a começar a escrever, e Eduardo Pereira, pelo infinito carinho.

Ao Danilo, que esteve comigo quando comecei a redigir as primeiras linhas e me

proporcionou atenção, apoio moral, brigadeiros, mate gelado, caronas, suporte estatístico,

computador emprestado etc..

Ao auxílio luxuoso do Luciano Trigo no parágrafo que menciona Machado de Assis e Lima

Barreto.

Ao querido amigo Adair Rocha que me entusiasmou e me apoiou com suas leituras.

Ao Carlo Carrenho que, com seu olho clínico, ajudou a melhorar o inglês do abstract.

À Roberta Fernandes e Jonathan Caroba que me ajudaram na gravação das entrevistas e

geração de arquivos para transcrição.

Aos entrevistados que com sua alegria espontânea me animaram e me fizeram constatar que o

que estávamos fazendo era importante para a educação para o trabalho no Brasil.

vii

E finalmente ao Oi Futuro – em especial à Fernanda Sarmento, Ana Helena, Fernanda

Pedrosa e Mônica Duarte – com o essencial apoio da equipe de Educação; à Cristiane

Sanches, pela ajuda na coleta de dados quantitativos, e ao Colégio Estadual José Leite Lopes,

pela boa vontade em facilitar o acesso aos dados necessários para a condução da pesquisa

qualitativa.

viii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - População economicamente ativa com mais de 15 anos e ensino fundamental incompleto ____________________________________________________________ 9  

Gráfico 2 - População cujo nível de escolaridade é o ensino médio ou pós-médio tecnológico (percentual de habitantes entre 25 e 64 anos) _________________________________ 18  

Gráfico 3 - Remuneração por grau de instrução - 2012 _____________________________ 23  Gráfico 4 - Renda familiar dos ingressantes de 2012 – CEJLL _______________________ 32  Gráfico 5 - Escolaridade dos pais dos ingressantes de 2013 – CEJLL __________________ 33  Gráfico 6 - Situação educacional dos egressos ____________________________________ 46  Gráfico 7 - Distribuição dos cursos universitários _________________________________ 47  Gráfico 8 - Status profissional dos egressos ______________________________________ 47  

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Taxa de Abandono Ensino Médio - Brasil ______________________________ 11  Tabela 2 - Projeção de demanda por postos de trabalho industrial por região para 2015 ___ 12  Tabela 3 - Matriculados na Educação Básica – Ensino Médio e Educação Profissional (Brasil,

2011 a 2013) __________________________________________________________ 13  Tabela 4 - Trabalhadores por nível de escolaridade ________________________________ 16  Tabela 5 - Taxas de conclusão da formação secundária, por modalidade, com idades médias

dos formandos, em países pesquisados pela OECD em 2010 ____________________ 20  Tabela 6 - Destino dos egressos do Programa NAVE ______________________________ 48  

x

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Composição dos grupos de discussão _________________________________ 34  

xi

LISTA DE ABREVIATURAS CEJLL Colégio Estadual José Leite Lopes CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca C.E.S.A.R. Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife CNE Conselho Nacional de Educação CNCT Catálogo Nacional de Cursos Técnicos CNI Confederação Nacional da Indústria EJA Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos EM Ensino Médio EMI Ensino Médio Integrado ENEM Exame Nacional do Ensino Médio ETE Escola Técnica Estadual FIES Financiamento do Ensino Profissional e Tecnológico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas LDB Lei de Diretrizes e Bases MEC Ministério da Educação MTE Ministério do Trabalho e Emprego NAVE Núcleo Avançado em Educação OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIT Organização Internacional do Trabalho PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação

Básica na Modalidade de Jovens e Adultos PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego PROJOVEM Programa Nacional de Inclusão de Jovens RAIS Relação Anual de Informações Sociais SEEDUC Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte SESC Serviço Social do Comércio SESI Serviço Social da Indústria TIC Tecnologias da Informação e Comunicação UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

xii

RESUMO

Observa-se hoje no Brasil demanda importante por profissionais de nível técnico,

principalmente na indústria (GUERRA, 2013; CNI, 2013). Com o chamado apagão de

talentos nos mais variados segmentos, cursos profissionalizantes de nível médio podem ser

uma alternativa para o desenvolvimento de capital humano. Nesse sentido, o presente trabalho

teve por objetivo investigar a modalidade de Ensino Médio Integrado, a partir da visão de um

grupo de jovens alunos. Foram analisadas suas motivações para a escolha do curso técnico e

os caminhos profissionais que desejam seguir para a construção de sua carreira. A

metodologia utilizada foi qualitativa, através de grupos focais e entrevistas individuais com

alunos de uma escola da rede estadual pública do Rio de Janeiro. O principal resultado é que a

maior parte dos jovens entrevistados considera o nível médio profissionalizante um degrau

para o ensino universitário e não um passo na construção de uma carreira na área em que

estão se especializando. Tais evidências podem ser úteis tanto para empresas que buscam

atrair esse tipo de profissional, como também para formuladores de políticas públicas de

qualificação de mão de obra jovem.

Palavras Chave: ensino médio integrado, formação profissional, qualificação, carreira,

apagão de mão de obra, ensino superior.

xiii

ABSTRACT

A relevant demand for technical-level professionals, mainly in the secondary sector, is

noticeable in Brazil today (GUERRA, 2013; CNI, 2013). In the context of the war for talents,

upper secondary vocational education may be an alternative for human capital development.

The purpose of this work, therefore, was to investigate one of the existing options for formal

training at the vocational level in Brazil, Upper Secondary Integrated Education, from the

perspective of a group of young students. This study analyses both the students’ motivations

to choose professional vocational courses and the career paths they wish to follow. The

methodology applied in this work was a qualitative one, based on focus groups and also on

individual interviews with students from a Rio de Janeiro public school. This investigation’s

most relevant finding is that most interviewees consider upper secondary vocational education

a stepping-stone to university and not a means of developing their careers in the field they are

majoring in at school. Such evidence can be useful not only to companies that are trying to

attract these professionals, but also to public policy makers involved in young labour

qualification.

Key words: upper secondary education, vocational education and training, qualification,

career, war for talent, tertiary education.

xiv

SUMÁRIO

1.   INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 1  

1.1   Objetivos ___________________________________________________________ 2  

1.2   Relevância __________________________________________________________ 3  

2.   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ___________________________________________ 4  

2.1   Histórico da Educação Profissional no Brasil _____________________________ 4  2.2   Ensino Médio Integrado ______________________________________________ 10  

2.3   Educação profissional no Brasil e em outros países _______________________ 15  2.4   Transição escola-trabalho ____________________________________________ 22  

3.   MÉTODO ___________________________________________________________ 29  3.1   Tipo de pesquisa ____________________________________________________ 29  

3.2   Coleta de dados _____________________________________________________ 30  3.3   Perfil da escola e dos entrevistados _____________________________________ 31  3.3.1   Descrição do colégio _________________________________________________ 31  3.3.2   Perfil dos participantes ________________________________________________ 33  

4.   ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ___________________________ 35  4.1   A opção pelo ensino médio profissionalizante ____________________________ 35  4.1.1   Empregabilidade _____________________________________________________ 35  4.1.2   Prestígio/qualidade da escola ___________________________________________ 38  4.1.3   Transição para a vida adulta ____________________________________________ 39  4.2   Por que a faculdade? ________________________________________________ 40  4.2.1   Empregabilidade _____________________________________________________ 40  4.2.2   Formação __________________________________________________________ 42  4.2.3   Prestígio ___________________________________________________________ 44  4.3   O que sonham esses jovens? __________________________________________ 44  

4.4   A situação dos egressos _______________________________________________ 46  4.5   Resumo ___________________________________________________________ 49  

5.   CONCLUSÕES _______________________________________________________ 51  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________ 56  

1

1. INTRODUÇÃO

A educação profissionalizante no Brasil vem adquirindo novos contornos nos últimos anos,

especialmente após 2004, com a criação do Ensino Médio Integrado (EMI), uma nova

modalidade de ensino médio que permite que o estudante obtenha dois diplomas ao final do

curso – o do ensino médio regular e o do técnico. O MEC criou novos programas e cursos que

ainda estão se estabelecendo na comunidade educacional e junto ao público e ao mercado

como um todo.

A indústria nacional – tendo em vista o crescimento econômico e o fato de as melhores

posições, principalmente do ponto de vista financeiro, serem as de nível superior – hoje vive

um dilema para tentar atrair o jovem egresso de cursos técnicos. A taxa de retorno

educacional brasileira ainda é bastante elevada. Psacharopoulos e Patrinos (2002), ao

estimarem a taxa de retorno para um conjunto de países, mostram que a do Brasil é de 15%

por ano adicional de estudo, colocando-nos em 9o lugar num ranking de 71 países. Segundo

Pereira e Zavala (2012), um brasileiro tem salário melhor se tiver mais anos de estudo do que

com a experiência adquirida em sua vida profissional. Além disso, os autores falam do

impacto na renda que anos extras de nível universitário proporcionam, geralmente maior que

os anos adicionais de educação básica.

Atualmente, até para funções de menor complexidade demanda-se o nível universitário. O

ingresso em instituições de ensino superior do país também vem sendo incentivado pela

proliferação de faculdades privadas, de custo cada vez mais acessível, e pela criação de

diferentes sistemas de cotas para acesso às instituições públicas. Pereira e Zavala (2012)

afirmam que a graduação proporciona emprego de melhor remuneração não porque a

universidade tenha melhorado suas habilidades, mas porque o diploma de bacharel o

identifica como trabalhador de maior iniciativa.

Desta forma, poucos jovens brasileiros têm escolhido a educação profissional, diferentemente

do que ocorre em economias mais desenvolvidas. Apenas 6,6% dos estudantes optam pela

educação profissional concomitante ao ensino médio regular no Brasil, por exemplo, contra

55% no Japão, 52% na Alemanha e 41% na França e Coréia do Sul (SENAI, 2012).

2

1.1 Objetivos

Frente a esta realidade, o presente estudo teve como objetivo avaliar como jovens estudantes

do EMI encaram a formação técnica de nível médio, com foco nas motivações para a escolha

dessa modalidade de ensino e nos impactos dessa escolha para a construção de sua trajetória

pessoal e profissional.

Mais especificamente, procurou-se analisar:

§ O que leva os estudantes a optar por essa modalidade de ensino;

§ Como avaliam o ensino médio de nível técnico, tanto de uma perspectiva pessoal

como profissionalmente;

§ Que caminho profissional pretendem trilhar após a conclusão do ensino médio;

§ Numa perspectiva de mais longo prazo, o que almejam para o seu futuro profissional.

Para tanto, foram pesquisados estudantes dos três anos de cursos técnicos de uma escola da

rede estadual pública do Rio de Janeiro. Por razões de acessibilidade, o estudo foi conduzido

no CEJLL – Colégio Estadual José Leite Lopes/NAVE (Núcleo Avançado em Educação),

situado no Andaraí. O NAVE é um programa concebido pelo Oi Futuro, instituto de

responsabilidade social da Oi, e envolve uma parceria público-privada entre a empresa e a

Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ). Também cabe destacar

que essa escola foi inspiradora do Programa Dupla Escola, implementado pelo Governo do

estado em 2012, cujo objetivo é oferecer educação integral em escolas da rede estadual e que

tem o EMI como principal modalidade de ensino.

A pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, foi conduzida por meio de seis grupos de

discussão, dois em cada um dos três anos do ensino médio, com seis alunos em cada grupo,

num total de 36 estudantes. Para complementar as informações qualitativas levantadas nos

grupos de discussão, também foram conduzidas entrevistas individuais com 11 egressos que

participaram dos grupos de discussão e que concluíram o ensino médio em dezembro de 2013.

Também foram utilizados dados quantitativos sobre o perfil dos estudantes e egressos da

escola.

3

1.2 Relevância

Muitas organizações ainda não conseguem saber exatamente porque persiste o pouco interesse

de profissionais por funções de nível médio técnico. Este trabalho pode auxiliar a entender as

razões para que isso ocorra e ter ainda utilidade para as empresas nacionais, carentes de mão

de obra oriunda de formação profissional em nível médio, principalmente para a gestão de

RH, colaborando com as áreas de recrutamento e seleção e de treinamento e desenvolvimento

para investigarem a melhor maneira de lidar com essa questão ou se readaptar à realidade da

formação de nível técnico no Brasil.

Este trabalho pode propiciar maior entendimento sobre o público-alvo da educação

profissionalizante no Brasil, possibilitando conhecer as motivações por esse tipo de formação.

Há atualmente no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, uma movimentação de órgãos

públicos da área de educação no sentido de atrair o interesse de parceiros privados

interessados em investir em educação profissionalizante de nível médio.

Espera-se ainda que o trabalho realizado seja relevante para instituições públicas que

desenvolvem políticas de formação, em especial o MEC, responsável pela regulação do novo

modelo de Ensino Médio Integrado. Considerando as mudanças que o MEC vem

estabelecendo nessa modalidade, este trabalho pretende jogar luz sobre políticas que

contemplem a formação profissionalizante e seus alunos.

Além do interesse e relevância para as iniciativas privada e pública, seja para auxiliar políticas

públicas ou de RH, seja para investir em formação profissionalizante, pretende-se também dar

uma contribuição à literatura sobre carreira da perspectiva de jovens oriundos de cursos

técnicos, grupo relativamente pouco pesquisado. Assim, espera-se igualmente fomentar a

produção intelectual sobre o assunto.

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O referencial teórico foi dividido em quatro blocos. O primeiro trata do histórico da educação

profissionalizante de nível técnico no Brasil, juntamente com a descrição das diferentes

modalidades existentes no país e as diferentes legislações e programas públicos. No segundo

bloco discute-se a mais nova modalidade de ensino médio profissionalizante, o integrado, e

sua importância. A terceira parte diz respeito ao tratamento que outros países dão a essa etapa

na educação. Por fim, o quarto bloco aborda como a carreira pode ser afetada pela transição

da escola para o mercado de trabalho e/ou universidade, incluindo um debate sobre a

juventude no mundo contemporâneo.

2.1 Histórico da Educação Profissional no Brasil

No Brasil, a educação profissional sempre foi destinada às classes desfavorecidas. Nos

próprios documentos do MEC que tratam do assunto, encontramos passagens como:

Os primórdios da formação profissional no Brasil registram apenas decisões circunstanciais especialmente destinadas a “amparar os órfãos e os demais desvalidos da sorte”, assumindo um caráter assistencialista que tem marcado toda sua história. (CNE, 1999)

O acesso ao estudo e ao conhecimento formal como direito de todos os cidadãos só foi

incorporado no Brasil no século XX. A educação profissional com o advento do “Colégio das

Fábricas” em 1809 encarregava-se da formação de mão de obra para tarefas mais simples e

manuais consideradas de segunda categoria, já que o saber estava atrelado ao ensino

secundário, normal e superior, destinado às classes mais abastadas (MOURA, 2010). Assim, o

fato de o trabalhador mais pobre ter baixa escolaridade não representava nenhuma espécie de

empecilho à expansão econômica (CNE, 1999).

Com a criação da Escola de Belas Artes no início do século XIX e do Instituto Comercial em

1861, ambos no Rio de Janeiro, começavam a se delinear os cursos profissionalizantes. Na

primeira, ensinavam-se ciências e desenho (para trabalho com mecânica) e no último, a

principal ideia era capacitar pessoal para trabalhar nas secretarias estaduais públicas.

Durante a década de 1920 uma comissão da Câmara dos Deputados, “Serviço Remodelagem

do Ensino Profissional Técnico”, é criada. Na mesma época, são estabelecidos os novos

Ministérios da Educação e Saúde Pública e do Trabalho, Indústria e Comércio. Nos anos

5

1930, surgiram novas demandas por profissionais mais qualificados. Com foco nessa

necessidade, a legislação brasileira passa a determinar algumas novas diretrizes (CNE, 1999).

O Decreto Federal no 20.158/31 regulamentou a profissão de contador (algo como Técnico em

Contabilidade atualmente, já que na época ainda não havia sido criado o curso de Ciências

Contábeis de nível superior). Foi a primeira iniciativa legal no sentido de organizar cursos

profissionalizantes. Em 1932, os Pioneiros da Educação Nova lançam um manifesto para

estabelecer novos caminhos para as políticas públicas educacionais. A intenção era agrupar os

cursos profissionalizantes em três blocos ou eixos (extração de matérias-primas, elaboração

de matérias-primas e distribuição de produtos) (CNE, 1999).

Em 1937, de forma até então inédita, a Constituição brasileira, através de seu artigo 129,

passou a considerar as escolas vocacionais e pré-vocacionais como dever do Estado. A

Constituição previa que para tal deveria contar com a colaboração da indústria e dos

sindicatos existentes. Na década de 1940, foram criadas “Leis Orgânicas da Educação

Nacional” que estabeleciam as diferentes categorias de ensino oferecidas no Brasil:

Secundário, Comercial, Primário e Agrícola. A partir de meados do século XX, começou-se a

oferecer formação prática e teórica nos chamados Liceus de Artes e Ofícios. Em seguida,

surgiram em muitos estados da federação Escolas de Aprendizes Artífices, com foco em

formação para trabalho na indústria (CNE, 1999).

Todas essas iniciativas favoreceram o surgimento de entidades como as componentes do

Sistema S (SENAI e SENAC) ainda na década de 1940. Nesse mesmo período, Getúlio

Vargas lançou o conceito de menor-aprendiz e organizou a Rede Federal de Estabelecimentos

de Ensino Industrial. Apesar do estabelecimento formal do ensino profissional no país, este

ainda era visto como menos importante ou mal qualificado de forma preconceituosa (CNE,

1999).

Na década de 50 existiam leis que possibilitavam a realização de exames e formas de

equivalência de cursos profissionalizantes com vistas ao acesso ao ensino de nível superior

(CNE, 1999). Com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei

Federal no 4.024/61, determinou-se que a realização do ensino profissionalizante possibilitaria

a continuidade dos estudos.

Nos anos 70, promoveu-se alteração na LDB, com a Lei Federal nº 5.692/71. Apesar dos

esforços e de muitas experiências com o ensino secundário, algumas questões ainda careciam

6

de solução, como a carga horária reduzida que não era suficiente para a formação de base

junto à do ensino técnico que havia se tornado obrigatório. Com isso, foram criados muitos

cursos profissionalizantes, com o mero intuito de atender a imposições legais, sem ater-se às

necessidades reais do mercado de trabalho e da sociedade como um todo (CNE, 1999).

Em 1982, nova versão da LDB sanou de certa forma os enganos cometidos com a Lei nº

5.692/71. A Lei nº 7.044/82 tornou o ensino profissionalizante facultativo e determinou que

somente instituições especializadas poderiam ministrá-lo. Logo, muitas escolas de segundo

grau alteraram suas grades curriculares e passaram a oferecer apenas o ensino propedêutico,

às vezes, acompanhado de uma tentativa nem sempre bem-sucedida de profissionalização

(CNE, 1999).

No Brasil, o que se veio observando foi uma constante adequação aos novos formatos da

educação nacional. Por conta das alterações legais, muitas das instituições formativas

passaram a oferecer currículos precários no âmbito profissionalizante de forma a manter-se

concomitante ao ensino acadêmico formal. O antigo ensino de segundo grau descaracterizou-

se devido à ambiguidade de seu confuso e mesclado currículo, apartado da realidade

necessária à formação profissional, repleto de inconsistências no âmbito técnico (CNE, 1999).

O Parecer CNE/CEB nº 16/99 também afirma que a mais recente versão da LDB, Lei Federal

nº 9.394/96, reconfigura a identidade do ensino médio e representa o início da superação dos

enfoques assistencialista e economicista ainda tão fortemente associados à educação

profissional. A nova LDB tem o ensino médio como uma etapa de consolidação da educação

básica, de aprimoramento do educando como ser humano, de aprofundamento dos

conhecimentos adquiridos previamente em sua vida escolar para continuar aprendendo e de

preparação básica para o trabalho e a cidadania, desenvolvendo permanentemente aptidões

para a vida produtiva.

Após o ensino médio, a rigor, tudo é educação profissional. Nesse contexto, tanto o ensino

técnico e tecnológico, quanto os cursos sequenciais por campo de saber e os demais cursos de

graduação, devem ser considerados como cursos de educação profissional. A diferença fica

por conta do nível de exigência das competências e da qualificação dos egressos, da densidade

do currículo e respectiva carga horária (CNE, 1999).

O Brasil volta a pensar o formato das políticas de educação profissional de forma integrada

por conta do cenário econômico global que privilegia o mercado de trabalho (SALDANHA,

7

2012). Um dos passos nessa direção foi a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino

Técnico e Emprego (PRONATEC) em 2011 – Lei nº 12.513, de 26 de outubro (BRASIL,

2011). Diversos críticos consideram que essa não seria a melhor alternativa, tendo em vista a

subordinação da educação pública ao mercado privado, que terminaria considerando a

formação do homem em apenas uma dimensão, a profissional (SALDANHA, 2012).

O Pronatec foi criado com os objetivos de ampliar a oferta de cursos de educação profissional

e tecnológica, aumentar as oportunidades educacionais para os trabalhadores por meio de

cursos de formação inicial e continuada (ou qualificação profissional) e melhorar a qualidade

do ensino médio (BRASIL, 2011).

Para o atingimento desses objetivos, o Pronatec envolve as seguintes iniciativas:

§ Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

presente em todos os estados brasileiros, com mais de 350 unidades em

funcionamento.

§ Programa Brasil Profissionalizado que consiste na ampliação da oferta e

fortalecimento da educação profissional e tecnológica integrada ao ensino médio nas

redes estaduais, em parceria com o Governo Federal.

§ Rede e-Tec Brasil que oferece gratuitamente cursos técnicos e de formação inicial e

continuada ou de qualificação profissional, na modalidade a distância. Poderão

oferecer cursos a distância as instituições da Rede Federal de Educação Profissional,

Científica e Tecnológica; as unidades de ensino dos serviços nacionais de

aprendizagem (SENAI, SENAC, SENAR e SENAT); e instituições de educação

profissional vinculadas aos sistemas estaduais de ensino.

§ Acordo de gratuidade com os Serviços Nacionais de Aprendizagem (SENAI,

SENAC, SESC, SESI) para população de baixa renda com prioridade para estudantes

e trabalhadores.

§ Fies Técnico e Empresa (Financiamento do Ensino Profissional e Tecnológico). O

FIES Técnico tem como objetivo financiar cursos técnicos e cursos de formação

inicial e continuada ou de qualificação profissional para estudantes e trabalhadores em

escolas técnicas privadas e nos serviços nacionais de aprendizagem – SENAI,

8

SENAC, SENAT e SENAR. No FIES Empresa, serão financiados cursos de formação

inicial e continuada para trabalhadores, inclusive no local de trabalho.

§ Bolsa-Formação Além das iniciativas voltadas ao fortalecimento do trabalho das

redes de educação profissional e tecnológica existentes no país, o Pronatec criou a

Bolsa-Formação, por meio da qual serão oferecidos, gratuitamente, cursos técnicos

para quem concluiu o ensino médio e para estudantes ainda matriculados nessa etapa

de ensino, e cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional para

os trabalhadores.

No último ano, a Lei nº 12.816, de 5 de junho de 2013, estabeleceu novas prerrogativas que

podem facilitar outras iniciativas do Pronatec (BRASIL, 2013), tais como:

§ Estímulo à articulação entre a política de educação profissional e tecnológica e as

políticas de geração de trabalho, emprego e renda.

§ Definição de eixos e cursos prioritários, especialmente nas áreas relacionadas aos

processos de inovação tecnológica e à elevação de produtividade e competitividade da

economia do país.

§ Articulação com o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, que tem

como principais objetivos preparar o jovem para o mercado de trabalho e para

ocupações alternativas geradoras de renda. Podem participar do Programa os jovens

desempregados com idades entre 18 e 29 anos, e que sejam membros de famílias com

renda per capita de até um salário mínimo (MTE, 2014).

Há também por parte do Governo federal outra iniciativa chamada Proeja, Programa Nacional

de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e

Adultos, que tem por objetivo oferecer oportunidade de estudos àqueles que não tiveram

acesso ao ensino médio na idade regular. Este programa possibilita, em uma única matrícula,

reunir os conhecimentos do ensino médio às competências da educação profissional. Não há

idade mínima, nem máxima, para ingressar nos cursos do Proeja, mas deve-se observar que a

proposta do Programa está voltada, prioritariamente, para um público com mais idade (MEC,

2007a).

Segundo o MEC (2007), a organização dos tempos na modalidade EJA é sempre do projeto

de curso, cumprindo definições legais, mas cabendo ao aluno a possibilidade de permanecer

9

no curso pelo período que precisar, segundo seu ritmo e conhecimentos previamente

adquiridos, desde que alcance os objetivos escolares previstos, podendo prosseguir os estudos

em nível superior ou exercer atividades profissionais técnicas.

O Proeja foi criado com a intenção de contribuir na redução do número de jovens e adultos

com mais de 15 anos que trabalham e não concluíram ensino fundamental. Este número era

estimado em 68 milhões de pessoas em 2003 e foi consideravelmente reduzido (MEC, 2014).

Segundo dados da PNAD de 2011, o número de brasileiros ocupados com mais de 15 anos e

ensino fundamental incompleto caiu para aproximadamente 32 milhões de pessoas (IBGE,

2012b) – ver Gráfico 1.

Gráfico 1 - População economicamente ativa com mais de 15 anos e ensino fundamental incompleto

Fonte: BRASIL, 2014; IBGE, 2012b.

O Programa propõe integrar a educação profissional à educação básica, buscando superar a

dualidade trabalho manual e intelectual, vendo-o como fator de criação e de não alienação

(MEC, 2007a).

O MEC começou em 2007, por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, a

sistematizar e organizar os cursos técnicos no país. Em 2008, foi publicado o primeiro

Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT). Antes disso, porém, o MEC havia lançado

uma nova modalidade de ensino médio integrado à educação profissional técnica de nível

equivalente, através do Decreto nº 5.154/04. Essa nova modalidade contempla a formação

tanto para o nível superior quanto para o mercado de trabalho, seguindo o que reza a última

0  10.000.000  20.000.000  30.000.000  40.000.000  50.000.000  60.000.000  70.000.000  80.000.000  

2003   2011  

10

versão da LDB que afirma que o jovem não deve mais ser formado para atender a uma

demanda estritamente profissional, mas para a vida, de forma holística (MEC, 2007b).

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (LDB, 1996)

A criação do Pronatec e demais esforços do Governo federal na mesma linha parecem estar

relacionados à escassez de mão de obra de nível técnico. A educação hoje, e não só do jovem,

mas também do profissional, aprendiz ou sênior, precisa estar mais alinhada aos novos

padrões da produção e das trocas proporcionadas pela globalização. Essa nova realidade faz

com que se necessite de novos talentos, aptidões e saberes. As rápidas mudanças no mercado

passam a exigir uma atualização constante das qualificações e habilitações existentes e a

identificação de novos perfis profissionais (CNE, 1999).

Também associado a essa realidade está o surgimento, em 2004, como já mencionamos, do

Ensino Médio Integrado (EMI), cujo objetivo é realizar o encontro do saber formal acadêmico

regular em nível médio e a formação técnica, incluindo as Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC), conforme discutido a seguir.

2.2 Ensino Médio Integrado

A modalidade de Ensino Médio Integrado, instaurada pelo Decreto nº 5.154/04, é uma

tentativa de solucionar o impasse gerado entre educação tradicional e formação profissional,

como constava no Decreto nº 2.208 de 1997, ano em que se dá a chamada Reforma da

Educação Profissional ou Reforma do Ensino Técnico (MEC, 2007a).

Lodi (2006) afirma que organizacionalmente a proposta da modalidade do EMI deveria

integrar em um mesmo currículo a formação plena do educando através de construções

intelectuais elevadas, a apropriação de conceitos para intervenção consciente na realidade e

compreensão do processo histórico de construção do conhecimento.

A proposta de integração do currículo é ainda cercada de significativos desafios,

considerando-se o histórico da educação no Brasil, as condições socioeconômicas e

socioculturais, e as novas demandas do mercado. A construção desse desenho segue um

princípio educativo investigado por Gramsci (1978), permitindo o diálogo entre trabalho,

11

tecnologia e ciência, considerando prática e teoria e oferecendo meios de compreensão e

apropriação do mundo contemporâneo por todos, garantindo uma formação humana integral

que equilibre a capacidade técnica com a competência intelectual.

O Brasil ainda é um dos campeões mundiais de evasão escolar. Segundo o Relatório de

Desenvolvimento Humano de 2013, publicado pelo PNUD, só perdemos, entre os 100 países

de maior IDH, para a Bósnia e as ilhas São Cristovam e Névis no Caribe, com o percentual de

24,3% apurado no período compreendido entre 2002 e 2011, considerando o ensino

fundamental.

Já com relação ao ensino médio, uma das possíveis razões da evasão é a de os jovens

estudantes terem a frequente e muitas vezes imperiosa necessidade de ingressar no mercado

de trabalho, geralmente informal, para dar suporte à família e/ou se auto sustentar. Apesar do

percentual ainda alto de evasão, as taxas anuais de abandono nesse nível de escolaridade vêm

diminuindo como podemos observar abaixo:

Tabela 1 - Taxa de Abandono Ensino Médio - Brasil

Ano Taxa de abandono 2007 13,2% 2008 12,8% 2009 11,5% 2010 10,3% 2011 9,5% 2012 9,1%

Fonte: MEC/INEP/DTDIE (2014).

Ainda não foi possível colocar toda criança e adolescente na escola, mas os esforços vêm

gerando resultados.

[...] no período de 1980 a 2000, o percentual da população de 7 a 14 anos que estava no sistema escolar passa de 80% para 96,4% [...] A principal forma de exclusão já não é a falta de escola, nem a evasão e nem mesmo a não conclusão do ensino fundamental. Ao contrário, o acesso começa a se generalizar, também, para o ensino médio. (OLIVEIRA, 2007)

Nesse sentido, seria importante que a escola pudesse auxiliar o jovem em sua inserção no

mercado de trabalho, como forma de estimulá-lo a continuar estudando. Além disso, no

estudo sobre os desafios do ensino médio, realizado pelo Ministério da Educação e a

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2008), um dos pontos

12

reforçados é a necessidade crucial da qualificação profissional para o desenvolvimento do

país.

Segundo o Mapa do Trabalho Industrial (SENAI, 2012), até 2015 serão necessários

aproximadamente 7,2 milhões de postos com função técnica, em 177 ocupações diferentes.

Este número é superior em 24% ao observado entre 2008 e 2011, que ficou na casa de 5,8

milhões de profissionais demandados.

Na Tabela 2, encontra-se a distribuição geográfica dos cerca de 7 milhões de profissionais que

serão necessários em 2015 para trabalho que precise de nível médio profissionalizante. Dessas

posições, 1,1 milhão provavelmente serão compostas de novas vagas para profissionais com

formação técnica. Os outros pouco mais de 6 milhões de profissionais que já estiverem

trabalhando terão que se reciclar para manterem-se atualizados com os avanços tecnológicos

(SENAI, 2012).

Tabela 2 - Projeção de demanda por postos de trabalho industrial por região para 2015

Região Postos de trabalho (em milhões)

Sudeste 4,1 Sul 1,5 Nordeste 0,9 Centro-Oeste 0,4 Norte 0,3 Total 7,2

Fonte: SENAI (2012)

O Ensino Médio Integrado é ainda muito recente e carece de ajustes para seu

desenvolvimento. Falta, por exemplo, clareza quanto à nomenclatura das modalidades de

Ensino Médio existentes:

§ Subsequente ou sequencial: destinado a jovens e adultos que tenham concluído o ensino

médio, de forma regular ou supletiva, e que busquem uma formação profissional técnica.

O curso tem duração média de um ano e meio, garantindo aos participantes um diploma

profissional.

§ Concomitante: para alunos que vão cursar, ao mesmo tempo, o ensino médio regular e o

técnico na mesma escola ou em duas instituições distintas. Nesse caso, ocorre uma

13

complementaridade entre o curso técnico e o ensino médio. O aluno tem assim duas

matrículas.

§ Integrado: voltado para os jovens estudantes concluintes do ensino fundamental que

queiram, além do diploma de nível regular, obter mais um de formação técnica

profissional. Com uma única matrícula, o jovem frequenta um curso cujo currículo reúne

conhecimentos do ensino médio às competências da educação profissional. Os cursos têm

em média duração de três anos (BRASIL, 2004; MEC, 2007b).

Além disso, é possível que a forma como os dados oficiais têm sido apresentados gerem

dificuldades de entendimento. Por exemplo, a Tabela 3, elaborada pelo INEP, pode sugerir

que a educação profissional não faz parte do ensino médio, o que não é necessariamente o

caso.

Tabela 3 - Matriculados na Educação Básica – Ensino Médio e Educação Profissional (Brasil, 2011 a 2013)

Ano Total * (milhões)

Ensino Médio Educação Profissional

Total Ensino Médio

Ensino Médio

Normal/ Magistério

Ensino Médio

Integrado Total Conco-

mitante Subse-quente

2011 50,97 8.400.689 7.978.224 164.752 257.713 993.187 188.572 804.615 2012 50,55 8.376.852 7.944.741 133.566 298.545 1.063.655 240.226 823.429 2013 50,04 8.312.815 7.854.207 120.218 338.390 1.102.661 309.976 792.685

(*) Inclui Educação Infantil e Ensino Fundamental. Fonte: INEP (2011, 2012b, 2013b).

No estado do Rio de Janeiro, uma parceria entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de

Desenvolvimento criou o programa Dupla Escola, que lança mão da educação em horário

integral, contando com o Ensino Médio Integrado (EMI) como a principal modalidade. Para

evidenciar como os conceitos ainda não estão completamente assimilados, no portal da

instituição não há nenhuma menção ao EMI no âmbito daquele Programa. Já no edital para

ingresso de novos alunos, a modalidade é citada para escolas que fazem parte do Dupla

Escola (SEEDUC, 2014). O mesmo se dá com as informações fornecidas pelo CEFET/RJ,

centro de referência nacional em formação em nível técnico. O manual do candidato (CEFET,

2014) menciona o EMI, que possibilita a obtenção de duplo diploma (nível médio

convencional e técnico profissionalizante), mas o portal da escola informa haver somente o

14

ensino médio concomitante (para alunos que vão cursar, ao mesmo tempo, o ensino médio, no

próprio CEFET/RJ ou em outra instituição) e sequencial (para os alunos que já cursaram o

ensino médio, de forma regular ou supletiva).

Com tantas informações, muitas vezes incompletas, inevitável depreender o estado nebuloso

do ensino técnico no Brasil. O Pronatec informa em sua página web a diferença entre as três

modalidades existentes, mas isso não garante que o estudante e seus pais tenham condições de

entender exatamente o que cada uma representa. Além disso, existe ainda o desafio de

acompanhar a velocidade com que tudo vem mudando no mundo contemporâneo,

principalmente no que se refere às profissões e novos ofícios.

A UNESCO (2013) afirma que há boas reflexões teóricas, argumentações ideológicas e

normas sobre o EMI, mas também aponta que operacionalização dessa modalidade é frágil,

além de existirem poucas experiências de sucesso na implantação efetiva de cursos

integrados. Ainda segundo o estudo (UNESCO, 2013), o currículo do ensino médio regular é

fragmentado e voltado essencialmente à preparação genérica dos jovens para ingresso na

universidade. Já com relação ao ensino médio integrado com a educação profissional, apesar

de os cursos serem apresentados formalmente como dispõe o Decreto no 5.154/2004, a

maioria apenas inclui numa só matrícula dois currículos justapostos e fragmentados em

disciplinas isoladas.

Um dos ajustes necessários à modalidade de EMI é, na verdade, seu desafio central para

superar a inadequação curricular do ensino médio, cuja formulação, na maior parte das vezes,

não só desconsidera a realidade e expectativa dos jovens, mas também não os prepara para

uma vida em sociedade, nem para prosseguimento de estudos posteriores, nem para inserção

no mundo do trabalho (UNESCO, 2013).

Por fim, cumpre apontar algumas questões sociopolíticas envolvidas. Frigotto (2007) afirma

que sob os conceitos de conteúdo ou de organização e financiamento da educação profissional

e tecnológica, é estabelecido um longo embate de caráter político ideológico que expressa

relações de poder que se reiteram no processo histórico nacional. Segundo o autor, um dos

equívocos mais frequentes e recorrentes nas análises da educação no Brasil, em todos os seus

níveis e modalidades, têm sido o de tratá-la em si mesma e não como constituída e

constituinte de um projeto dentro de uma sociedade cindida em classes, frações de classes e

grupos sociais desiguais.

15

Anteriormente, Tumolo (1996) discutia a proposta do trabalho como princípio educativo,

considerando-a um projeto de educação vinculado aos interesses das classes trabalhadoras.

Como Frigotto (2007) declara, é necessária uma agenda de superação para o Brasil, dessas e

de outras questões relacionadas a direitos essenciais como a educação, pensando num bem

maior para a população, para além de interesses individuais.

2.3 Educação profissional no Brasil e em outros países

Uma das razões para haver menos estudantes em cursos de nível técnico no Brasil é o fato de

ainda haver preconceito com relação a essas carreiras no país, tendo em vista que as

profissões de nível técnico estiveram por muito tempo, e ainda hoje estão, de certa forma,

associadas a camadas não privilegiadas da sociedade (FONSECA, 1961; MANACORDA,

1995).

No Brasil, o caráter assistencialista (MOURA, 2010) e patronal dos cursos técnicos

possibilitou, por exemplo, a criação de escolas como as que existem hoje no sistema S

(SENAI, SENAC, SESC e SESI), únicas instituições de educação profissional e tecnológica

com pelo menos uma fonte sistemática de recursos financeiros (MEC, 2007).

Por conta do crescimento econômico e a industrialização da década de 1930, acreditava-se

que, ao preencher as lacunas de formação para o nível técnico com as camadas mais pobres,

as posições de nível superior – envolvendo maior poder e conhecimento – continuariam sendo

ocupadas pela elite socioeconômica, que historicamente sempre teve mais acesso à

universidade (MANFREDI, 2002 apud WITTACZIK, 2008; KUENZER, 1997 apud MEC,

2007).

Já em outros países, como na Alemanha, por exemplo, uma grande camada da sociedade

ocupa as posições de nível técnico sem almejar a formação de nível superior. Na cultura desse

e de outros países, não há nenhum demérito em não se tornar bacharel (OECD, 2013).

Em diferentes países da Europa, há cursos que oferecem formação pós-secundária que

funcionaria quase como um equivalente ao nível tecnológico no Brasil. Nesses países, essa

modalidade se dá entre o ensino médio (regular ou profissionalizante) e ensino superior

tecnológico e/ou acadêmico. Ao cursar essa etapa intermediária, por exemplo, o estudante

16

pode obter diploma que o possibilite assumir posições de nível técnico/tecnológico (OECD,

2013).

De acordo com dados da PNAD (IBGE, 2012b), uma camada cada vez maior de indivíduos

tem demonstrado interesse em seguir os estudos no Brasil, seja concluindo o ensino

fundamental, seja concluindo o nível superior, apesar de o nível médio ser a modalidade de

ensino com o maior contingente de mão de obra formal no país. Segundo dados da RAIS

(2012), 44% dos trabalhadores possuem nível médio completo e 18% têm nível superior – ver

Tabela 4.

Tabela 4 - Trabalhadores por nível de escolaridade

Grau de instrução 2012 Percentual do total

Analfabeto 168.913 0,4% Até 5o ano incompleto 1.552.101 3,3% 5o ano completo 1.802.377 3,8% 6o a 9o ano 3.294.414 6,9% Fundamental completo 5.604.327 11,8% Médio incompleto 3.692.042 7,8% Médio completo 20.996.292 44,2% Superior incompleto 1.901.385 4,0% Superior completo 8.446.861 17,8% Total 47.458.712 100% Fonte: BRASIL/MTE/RAIS (2012).

O ensino médio, que consolida habilidades básicas e conhecimentos através tanto do ensino

regular (mais acadêmico, voltado para a continuidade dos estudos em nível universitário),

quanto do técnico (descrito como vocacional na literatura mundial sobre o assunto), tem o fim

de preparar os estudantes para ingressarem na universidade ou na força de trabalho, tornando-

os cidadãos plenos e engajados. Em muitos países, este nível de escolaridade não é

obrigatório e pode durar de 2 a 5 anos. O que é fundamental, no entanto, é que essas duas

vertentes sejam de qualidade igual e que ambas assegurem que os estudantes possam fazer

essas transições com sucesso (OECD, 2013).

A conclusão do ensino médio tem se tornado cada vez mais importante em todos os países, já

que as habilidades necessárias para ingresso no mercado de trabalho são cada vez mais

baseadas no conhecimento. Segundo a OECD (2013), em 23 dos 29 países estudados pela

17

organização, a taxa de conclusão dos formandos que obtiveram o diploma de ensino médio,

foi igual ou superior a 75%. Na Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Japão, Coréia, Holanda,

Noruega, Eslovênia e Reino Unido, essa taxa é igual ou maior a 90%.

O Brasil faz parte do grupo onde mais de 30% da população (32% exatamente) entre 25 e 64

anos tem o ensino médio completo como último nível de escolaridade (OECD, 2013). No

entanto, os dados disponíveis não permitem diferenciar facilmente que percentual desse

contingente fez curso técnico de caráter profissionalizante.

O fato, contudo, de concluir o ensino médio não significa que todos os formandos ingressarão

no ensino superior ou começarão a trabalhar imediatamente. Na realidade, o número de

formandos que não está nem trabalhando nem estudando tem aumentado em todo o mundo

(OECD, 2013), inclusive no Brasil onde, segundo dados da PNAD, o número de jovens de 15

a 29 anos que não estudava nem trabalhava no período apurado chegou a 9,6 milhões (IBGE,

2012b). O ensino médio profissionalizante poderia, portanto, refletir não só preferências dos

alunos e necessidades dos empregadores, mas também ajudar os jovens a adquirirem

conhecimentos matemáticos, letramento e habilidades transferíveis e genéricas que sejam

necessárias para uma vida de aprendizagem e desenvolvimento de carreira (OECD, 2010 apud

OECD, 2013).

A educação profissionalizante é uma parte importante da educação de nível médio em muitos

dos países pesquisados pela OECD. Entre 2005 e 2011, as taxas de conclusão dos programas

pré-profissionalizantes e profissionalizantes mantiveram-se alinhadas às do ensino médio

como um todo. Em países como Holanda, Alemanha, República Tcheca, Eslováquia, França,

Itália e Austrália, por exemplo, o ensino médio de nível técnico/vocacional (ou algum outro

curso pós-médio de cunho profissionalizante, mas de nível não-universitário) tem a maior

parte do percentual das pessoas que não chegaram a ingressar no nível superior (OECD,

2013).

Na Itália, pouco mais de 40% das pessoas de 25 a 64 anos concluiu o ensino médio (OECD,

2013). Desse percentual, pouco mais de 75% fez curso técnico/vocacional como se pode

depreender do Gráfico 2. Isso significa dizer que, de certo modo, a formação mais

privilegiada naquele país é a de nível técnico pré-universitário.

18

Gráfico 2 - População cujo nível de escolaridade é o ensino médio ou pós-médio tecnológico (percentual de habitantes entre 25 e 64 anos)

Fonte: OECD (2013).

Na Alemanha, o percentual da população entre 25 e 64 anos que concluiu o ensino médio sem

ingressar na faculdade é de quase 60%, conforme mostra o Gráfico 2. Desse índice,

aproximadamente 93% concluiu o ensino médio regular com o ensino médio

profissionalizante num sistema duplo (OECD, 2013), simultâneo, algo semelhante ao que vem

se fazendo no Brasil na modalidade de Ensino Médio Integrado.

O Brasil precisa também vencer o desafio imposto pelo ensino profissionalizante técnico na

modalidade de EMI, que ainda não conseguiu responder se sua principal intenção é inserir o

jovem no mercado de trabalho ou garantir a continuidade de seus estudos na faculdade

(UNESCO, 2013). No restante do mundo, há um direcionamento muito claro para que tipo de

carreira os estudos devem seguir, de acordo com a opção do estudante (OECD, 2013).

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

80  Re

pública  Tche

ca  

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blica  Eslovaca  

Polônia  

Áustria

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 Eslovênia  

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anha  

Japão  

Estônia  

Suécia  

Estado

s  Unido

s  méd

ia  OEC

D  Luxembu

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Finlândia  

Dinamarca  

Suíça  

Norue

ga  

Chile  

França  

Itália  

Nova  Zelând

ia  

Grécia  

Coréia  

Rússia  

Holand

a  Islând

ia  

Canadá  

Reino  Unido

 Irlanda  

Bélgica  

Israel  

Austrália  

Brasil  

Espanh

a  México  

Turquia  

Portugal  

Nível  secundário  ou  pós-­‐secundário  tecnológico  sem  dis`nção  de  orientação  

Nível  secundário  ou  pós-­‐secundário  tecnológico  com  orientação  genérica  (EM  regular)  

Nível  secundário  ou  pós-­‐secundário  tecnológico  com  orientação  vocacional  (EM  profissionalizante)  

%  

19

Nos países pesquisados, o índice de adultos que concluíram a universidade aumentou em

quase 10% desde o ano 2000 (OECD, 2013). No entanto, o nível de escolaridade mais comum

entre os jovens é o ensino médio. Tendo isso em consideração, alguns países passaram a

alinhar o desenvolvimento de determinadas habilidades com as necessidades do mercado de

trabalho através dos cursos profissionalizantes. Essas políticas parecem ter exercido forte

impacto no nível de escolaridade observado nesses países. Ainda assim, mesmo com as taxas

de conclusão de nível superior tendo crescido nos últimos anos, menos de 35% da população

mundial tem nível universitário.

Em países como Áustria, República Tcheca, Alemanha e Polônia, pelo menos metade da

população concluiu o ensino médio ou cursos pós-médios não-universitários. Nesses mesmos

países, após concluírem esse nível de escolaridade, a maior parte de seus habitantes não

ingressa na universidade.

Os sistemas praticados por países como Alemanha e Suíça, por exemplo, mostram que a

obtenção de um diploma de nível superior não é a única maneira de conseguir as aptidões

desejadas pelo mercado de trabalho. Nesses lugares, as qualificações obtidas por educação

profissionalizante avançada, através de cursos em escolas técnicas, promovem avanços na

carreira sem a necessidade de um diploma de nível superior. Há algumas ocupações como

“mestres artesãos” que têm equivalência com títulos universitários (OECD, 2013).

Mesmo com o forte pendor para a formação técnica no nível médio (ver Gráfico 2), a grande

maioria dos países participantes da pesquisa realizada pela OECD conta com maior número

de concluintes do ensino correspondente ao regular no Brasil, com foco no ingresso direto na

universidade (ver Tabela 5). A exceção fica para a Áustria, Eslovênia e Suíça, onde os

sistemas de educação são muito mais direcionados para que a formação do indivíduo seja a de

nível médio profissionalizante, fazendo com que a continuidade dos estudos, quando ocorra,

seja em nível pós-médio/tecnológico. Além disso, na maior parte desses países, é possível –

como no Brasil – obter mais de um diploma de ensino médio. A pessoa pode ter um diploma

de ensino regular e obter outro(s) de nível técnico profissionalizante a posteriori se assim o

desejar.

20

Tabela 5 - Taxas de conclusão da formação secundária, por modalidade, com idades médias dos formandos, em países pesquisados pela OECD em 2010

Total (graduados no EM pela

primeira vez)

Programas gerais com

EM

Programas pré-

vocacionais e vocacionais

Preparação para a entrada

direto na universidade

Preparação para cursos

tecnológicos com

orientação vocacional

Preparação para o

trabalho ou para cursos

de longa duração pós-médio que

não sejam de nível

superior

Preparação para o

trabalho ou para cursos

de curta duração pós-médio que

não sejam de nível superior

M +

F idade média

M + F

idade média

M + F

idade média

M + F

idade média

M + F

idade média

M + F

idade média

M + F

idade média

OECD Austrália - - 71 17 51 30 71 17 N/A N/A 51 30 N/A N/A Áustria 67 18 18 18 76 19 18 18 55 20 1 22 20 17 Bélgica - - 35 18 68 25 59 19 N/A N/A 20 19 23 38 Canadá 85 19 82 18 4 - 82 18 N/A N/A 4 - N/A N/A Chile 83 18 53 19 30 18 83 18 N/A N/A N/A N/A N/A N/A República Tcheca 78 20 23 20 55 20 55 20 n - 22 20 N/A N/A Dinamarca 90 21 60 19 46 28 60 19 N/A N/A 46 28 n - Estônia - - 55 18 23 20 66 18 21 19 2 28 N/A N/A Finlândia 96 22 46 19 99 29 96 22 N/A N/A N/A N/A N/A N/A França - - 52 17 69 20 53 17 19 19 4 21 46 21 Alemanha 92 - 46 - 47 - 46 - 46 - N/A N/A 1 - Grécia 68 - 68 - 33 - 68 - N/A - 33 N/A 33 - Hungria 86 19 70 19 17 20 70 19 N/A N/A 17 20 17 - Islândia 88 23 69 21 54 26 65 21 N/A N/A 37 27 18 24 Irlanda 89 19 68 19 69 25 94 19 N/A N/A 6 18 37 30 Israel 85 17 54 17 33 17 80 17 N/A N/A 7 17 N/A N/A Itália 79 - 36 18 62 - 75 19 1 - N/A N/A 23 - Japão 96 - 73 - 23 - 73 - 1 - 22 - 22 - Coréia 93 - 71 - 22 - 71 - N/A N/A 22 - N/A N/A Luxemburgo 70 19 29 18 45 20 43 19 10 20 19 21 2 20 México 49 18 45 18 4 18 45 18 N/A N/A 4 18 N/A N/A Holanda 92 21 41 17 75 25 68 20 N/A N/A 47 26 N/A N/A Nova Zelândia - - - - - - - - - - - - - - Noruega 90 22 61 19 35 27 61 19 N/A N/A 35 27 - - Polônia 84 20 51 20 39 20 76 20 N/A N/A 14 19 N/A N/A Portugal 89 25 51 25 38 25 - - - - - - - - Eslováquia 85 19 26 18 66 20 76 19 N/A N/A 15 19 1 37 Eslovênia 99 - 37 18 75 - 41 18 48 - 21 - 2 17 Espanha 88 - 51 - 53 - 51 - 20 - 9 - 23 - Suécia 75 18 32 18 44 18 75 18 n - n - n - Suíça - - 33 - 73 - 30 - 71 - 6 - 6 - Turquia 56 17 31 17 25 17 56 17 N/A N/A N/A N/A - - Reino Unido 93 - - - - - - - - - 75 - 17 - Estados Unidos 77 17 77 17 77 17 77 17 77 17 77 17 77 x(4) Média OECD 83 20 50 19 47 22 64 19 10 19 18 22 9 26 Média EU21 84 20 45 19 55 22 63 19 12 19 18 22 11 26 Outros G20 Argentina - - 36 19 7 18 43 18 N/A - N/A N/A N/A N/A Brasil - - 63 21 12 26 65 21 12 26 N/A N/A N/A N/A China 73 - 40 - 53 - 42 - 42 - 31 - 20 - Índia - - - - - - - - - - - - - - Indonésia - - 34 18 22 18 34 18 22 N/A N/A N/A N/A N/A Rússia - - 47 - 45 - 47 - 19 - 22 - 4 - Arábia Saudita - - - - - - - - - - - - - - África do Sul - - - - - - - - - - - - - - Média G20 79 - 52 - 32 - 57 - 9 - 16 - 9 - Fonte: OECD (2013).

21

Na Finlândia, muitos dos concluintes do nível médio profissionalizante vão para o mercado de

trabalho após o fim do curso, sem ingressarem no nível superior. A quantidade de vagas para

as universidades no país é restrita, através de um sistema numerus clausus, expressão que vem

do latim e que significa número fechado. O sistema conta com número fixo, pré-estabelecido,

de vagas que termina por definir a quantidade de pessoas que podem ser aceitas. Sendo assim,

tal prática pode talvez inibir o ingresso de quem ainda não tem muita certeza do que deseja,

incentivando, de certa forma, o maior reconhecimento da formação de nível médio técnico.

Assim, ao terminar o ensino médio profissionalizante, se o estudante desejar ingressar na

universidade, normalmente terá de esperar de 2 a 3 anos até conseguir uma vaga na faculdade

ou instituição politécnica.

Na Irlanda, a maioria dos estudantes de ensino médio faz uma prova ao fim do curso, similar

ao ENEM no Brasil. A aprovação dá direito ao ingresso na universidade, mas nem todos os

que são aprovados desejam ter nível superior.

Já na Eslovênia, a taxa de ingresso no ensino médio profissionalizante e pós-médio não-

superior é bem menor do que no ensino médio regular. No Brasil, a modalidade Pós-Médio

tem ainda número reduzido de instituições que a ofereçam como especialização de nível

médio e não foram encontrados dados oficiais disponíveis para efeitos de comparação.

Apesar de muitos eslovenos tenderem mais a fazer o ensino médio direcionado a carreiras

com cursos tecnológicos não acadêmicos no nível terciário (equivalente ao ensino superior,

nosso antigo 3º. grau), alguns podem escolher ingressar na universidade e obter seu diploma

de nível superior mais tarde. Os estudantes desse país contam com a flexibilidade do sistema

educacional que permite mudanças entre os tipos de curso terciários – tecnológicos e

acadêmicos (OECD, 2013). Ou seja, se ingressarem num curso de cunho mais acadêmico,

podem migrar para o tecnológico e vice-versa. O que ocorre é que a primeira opção é de

normalmente realizarem cursos que permitam o ingresso no nível superior não tecnológico.

Pode-se enxergar nas práticas adotadas por outros países uma das oportunidades para o Brasil,

que tanto tem investido para a continuidade dos estudos em nível superior, romper com o

estigma associado aos cursos técnicos, viabilizando a construção de carreiras dignas e melhor

remuneradas, sem a necessidade mandatória do bacharelado. Segundo Guerra (2013), dados

da PNAD mostram que cerca de 19 milhões de jovens não ingressam na universidade ao

concluir o ensino médio. Ao investir na educação profissional de forma estruturada e

22

consistente, garantindo a inserção dos formados no mercado de trabalho aliada a boa

qualificação, o Brasil estará inovando tanto no campo da Educação quanto no da Economia. A

indústria brasileira precisa de incentivo para não perder ainda mais espaço e chances de

crescimento e a educação profissional pode ser um dos suportes de que ela necessita

(GUERRA, 2013).

2.4 Transição escola-trabalho

Estudos nacionais têm apontado para o já mencionado apagão de mão de obra e para as

dificuldades associadas à realidade da baixa qualificação da força de trabalho (BARRETO et

al., 2010; STEFANO, KROEHN e OSCAR, 2011). Na guerra por talentos é ressaltada a

importância – tanto para as empresas como para a sociedade como um todo – de uma força de

trabalho capaz de superar os crescentes desafios enfrentados pelas organizações

(CHAMBERS et al., 1998).

Para os indivíduos, a baixa qualificação tende a representar dificuldades de obtenção de

emprego e melhores salários (RAMOS e VIEIRA, 2001). Para as empresas, é um problema

para a manutenção de sua competitividade, num cenário de incertezas e rápidas mudanças

tecnológicas (WRIGHT, MCMAHAN e MCWILLIAMS, 1994).

Nesse contexto de instabilidade, contar com uma força de trabalho bem qualificada e

motivada representa uma necessidade imperiosa para que as empresas consigam efetivamente

se adaptar e permanecer competitivas ou, ainda, buscar a construção de vantagens

sustentáveis (CAPPELLI, 2008; GUTHRIDGE, KOMM e LAWSON, 2008; NIKANDROU

et al., 2008; WRIGHT, MCMAHAN e MCWILLIAMS, 1994). Investimentos em formação

profissional poderiam atuar como as fontes principais de garantia para o aumento da

produtividade e como consequência da empregabilidade da mão de obra brasileira (LEMOS e

COSTA, 2012).

Nos últimos anos, observa-se que jovens estudantes, formados no atualmente chamado Ensino

Médio, não ingressam necessariamente no mercado de trabalho em posições de nível

educacional correspondente. Apesar de existirem dados relacionando renda e escolaridade

(Gráfico 3), há pouca informação sobre os egressos e, portanto, torna-se difícil mensurar o

impacto dos cursos técnicos na inserção do jovem formando no mercado de trabalho. No

23

entanto, reforça-se o que já afirmamos em relação à remuneração bem mais elevada de

empregados com nível superior completo e pós-graduação – ver Gráfico 3.

Gráfico 3 - Remuneração por grau de instrução - 2012

Fonte: BRASIL, 2012.

Mesmo com parte desses jovens começando a trabalhar, há indícios de que a atividade

profissional não está relacionada à sua área de formação, no caso do ensino médio integrado.

Enquanto sobram vagas para técnicos e tecnólogos na indústria brasileira, a maioria dos jovens ainda busca os cursos técnicos integrados ao ensino médio como ponto de partida para um bacharelado. Embora não sigam carreira técnica, a contribuição do conhecimento técnico para a formação profissional desses jovens é inquestionável (JUNGES, 2012).

Os jovens hoje enfrentam uma enorme gama de dificuldades e incertezas, talvez mais do que

em qualquer outra época. Isso em função da intensidade e velocidade das transformações

econômicas, sociais e tecnológicas (JEFFREY e MCDOWELL, 2004).

Um dos aspectos importantes causados por esse novo contexto foi a ambição das famílias

contemporâneas de que a educação formal pudesse promover incrementos substanciais de

renda e mobilidade social. Existe a percepção de que a educação formal pode ser um meio de

ascensão socioeconômica, minimizando privilégios de classe enraizados.

0  1.000  2.000  3.000  4.000  5.000  6.000  7.000  8.000  9.000  10.000  

24

No entanto, apesar de a educação realmente promover a possibilidade de mudança de status

em vários âmbitos, o que vem ocorrendo de modo geral no mundo é um encolhimento no

mercado de trabalho. As oportunidades de emprego formal vêm rareando por conta da

reestruturação produtiva e seu impacto sobre a quantidade e a qualidade dos empregos

gerados, sobrecarregando pais da classe média que tentam preparar os filhos para um mundo

de incertezas (JEFFREY e MCDOWELL, 2004). Autores brasileiros como Helal e Rocha

(2011) também falam do agravamento da crise do mercado de trabalho aqui e fora do país, por

conta da redução do número de empregos formais e do aumento dos índices de desemprego e

do trabalho informal.

Esse contexto pode estar contribuindo para alterar a noção da duração da juventude em

diferentes setores da sociedade (JEFFREY e MCDOWELL, 2004). O alargamento desse

período da vida e a demora a entrar na fase adulta têm sido atribuídos ao maior tempo

despendido na educação formal e em atrasos na saída da casa dos pais e na construção de

novos lares e relacionamentos amorosos (GOLSCH, 2003).

Amadeo (1999) afirmou que os mais jovens têm postergado sua entrada no mercado de

trabalho porque preferem estudar mais tempo antes de assumir uma vida profissional. Tal

motivação teria relação com a elevada demanda de formação e qualificação vinda das

empresas. No entanto, Rego et al. (2013) afirmam que diante da realidade social brasileira é

contraditório afirmar que os jovens fazem a escolha de se manter estudando em detrimento do

trabalho porque assim o preferem. Segundo os autores, esse discurso faria parte do projeto

político neoliberal que transfere a culpa do desemprego e responsabilidade pela qualificação

para o indivíduo.

Parece haver uma crise, como parte dos desequilíbrios globais e regionais, para se conseguir

um emprego remunerado e seguro. Dore (1976 apud JEFFREY e MCDOWELL, 2004) previu

há quase 40 anos, em sua análise da “febre do diploma” (diploma disease), que a combinação

do aumento do nível de escolaridade com o declínio das oportunidades de emprego seguros

aumentaria os sentimentos de frustração, inadequação e fracasso entre os jovens de várias

partes do Terceiro Mundo.

Essa febre ou “efeito diploma” (PEREIRA e ZAVALA, 2012), como vimos, também acomete

o Brasil, chamado de “país dos bacharéis”, traço social bastante recorrente em nossa cultura e

explorado já no século XIX por escritores como Machado de Assis e Lima Barreto em obras

25

como “Teoria do Medalhão” do primeiro e “Triste fim de Policarmo Quaresma” e “Os

Bruzundangas” do último.

Os detentores de nível superior possuem um diferencial que legitima o exercício da autoridade

e do poder perante os desprovidos de distinções sociais e/ou acadêmicas. A valorização do

diploma acadêmico pode estar associada ao reduzido número de bacharéis formados nos

séculos XVIII e XIX nas Américas. Uma minoria era portadora de títulos universitários, o que

a destacava naquele período. Outra explicação da supervalorização do diploma no Brasil

deriva da característica cultural de Portugal, nosso colonizador, que considerava que os títulos

dignificavam os homens (HOLANDA; FREIRE, 1936 apud CRUZ e MARTINS, 2006).

Segundo recente pesquisa, a melhora da economia brasileira atual, com mais opções de

emprego e uma elevação da renda média, fez com que jovens de 17 a 22 anos ingressassem

direto para o mercado de trabalho após concluírem o ensino médio (MENEZES et al., 2013).

De acordo com a análise, a partir de dados da PNAD, nos últimos anos cresceu a proporção

dos jovens nessa faixa etária que apenas trabalham, enquanto diminuiu a proporção dos

jovens desse grupo que somente estudam (MENEZES, 2013 apud DUARTE, 2013). No

entanto, nessa pesquisa não há nenhuma menção a ensino profissionalizante de nível médio.

Não se pode assegurar que os indivíduos estão se empregando, por exemplo, por terem

adquirido uma profissão após conclusão de curso de nível médio técnico. Cumpre ressaltar

que os autores da pesquisa avaliam negativamente o número reduzido de anos escolares,

tendo em vista que no Brasil há evidências de que a quantidade de tempo na escola representa

maior renda e, portanto, o ensino de nível superior deveria ser considerado meta.

Ainda com relação à dura transição para a vida adulta e o ingresso no mercado de trabalho,

talvez seja possível torná-los mais amenos por intermédio dos cursos profissionalizantes de

ensino médio, que poderiam garantir autonomia e independência mais cedo. Nesse sentido, o

ensino profissionalizante poderia ser uma alternativa importante na carreira do jovem, visto

que somente 15% dos brasileiros ingressam no nível superior (CNI, 2012). Evidências

mostram que a renda mensal de trabalhadores com ensino técnico de nível médio é 12% maior

do que daqueles que cursaram o ensino médio regular. Para os cursos na área industrial, a

diferença pode chegar a 20% (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2010 apud CNI, 2012).

O nível educacional dos profissionais da indústria brasileira ainda é insuficiente. É

imprescindível para o Brasil que a qualidade da oferta de trabalho reflita o crescimento que a

26

nação quer ter. Atualmente, em nosso país, a qualidade do capital humano disponível ainda é

inferior às exigências das ofertas de postos de trabalho como um todo.

De acordo com resumos disponibilizados do seminário Juventude e Risco: Perdas e Ganhos

Sociais na Crista da População Jovem, promovido em 12 de julho de 2013 pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), em

parceria com o Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IDRC, Canadá) e o

Centro de Estudios Distributivos Laborales y Sociales (Cedlas) da Universidade de La Plata,

Argentina, temos casos de êxito na inserção no mercado de trabalho de jovens formados em

cursos profissionalizantes, bem perto de nós, em Córdoba. Este estudo mostrou que um

programa de formação profissional para os jovens teve impacto positivo sobre o emprego no

setor formal da economia. Esta iniciativa efetivamente impulsionou a entrada no mercado

formal de trabalho, principalmente dos homens mais jovens (18 a 24 anos). Comprovou-se,

também, que os participantes deste programa são mais propensos a contrair empréstimos

bancários de melhor qualidade no futuro (CRUCES, 2014).

Considerando-se os cursos técnicos com viés vocacional em todo mundo, a OECD (2013)

informa que países com programas orientados para a educação profissionalizante, como

Áustria, República Tcheca, Alemanha e Luxemburgo, conseguiram reduzir o risco de

desemprego entre os jovens concluintes dessa etapa de escolaridade, sem terem ingressado na

universidade. Inversamente, países com baixo índice de formação técnica profissionalizante,

como Grécia, Irlanda e Espanha, viram aumentos de mais de 12% na taxa de desemprego

entre jovens.

Para os jovens que não ingressam no ensino superior em todo o mundo, a educação dita

técnica ou vocacional oferece claramente melhores perspectivas para empregabilidade do que

o EM regular, cuja orientação é a continuidade na vida acadêmica, ou seja, o ingresso no nível

universalmente chamado de terciário (nosso antigo 3o. grau, nível superior no Brasil).

Como já afirmado por Junges (2012), no Brasil, os jovens têm usado os cursos técnicos como

degrau para a graduação. A educação profissionalizante tem um papel crucial no

fortalecimento da capacidade dos países para lidarem com as condições de trabalho atuais que

vêm mudando em ritmo cada vez mais acelerado. Vários países têm desenvolvido políticas no

sentido de melhorar e ampliar programas de nível médio vocacional. Muitos desses programas

são resultados de parcerias entre governo e iniciativa privada, como na Áustria, Alemanha,

27

Luxemburgo e Suíça, por exemplo, onde esse tipo de aliança já tem longa tradição

desempenhando papel fundamental no preparo dos jovens para a vida profissional. Nesses

países, essa passagem se dá de forma suave e a taxa de desemprego entre jovens é mais baixa

do que a média observada pela OECD (2013).

Mesmo em países como a Espanha, com índice ainda pequeno de concluintes de ensino médio

profissionalizante, entre 2005 e 2011, houve aumento de mais de 10% de formandos nessa

categoria (OECD, 2103). O Brasil, conforme podemos depreender de análises realizadas por

instituições vinculadas à indústria (CNI, 2013; SENAI, 2012), e por conta dos esforços de

criação de programas como Pronatec e Proeja, tem demonstrado estar alerta para agir nessa

direção. É necessário, porém, um grande esforço para organização das informações existentes,

separando o ensino médio em suas modalidades quando apurados indicadores educacionais.

Além disso, seria necessário realizar acompanhamento dos egressos do ensino médio

profissionalizante do país para que fosse possível verificar, através das análises resultantes, se

os caminhos utilizados são realmente os mais indicados (MÁXIMO, 2013). O jornal Valor

Econômico informa:

Mesmo com 4,2 milhões de matrículas e mais de 2 milhões de concluintes em quase dois anos, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) carece de um sistema de avaliação de resultados. O governo só terá no fim do ano as primeiras informações sobre alunos que conseguiram um emprego.

[…] o Ipea vai elaborar um questionário online para ser respondido pelos alunos do Pronatec. Cada resposta será cruzada, por meio do CPF do aluno, com informações de emprego da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), pesquisa do Ministério do Trabalho respondida todos os anos pelas empresas. (VALOR ECONÔMICO, 2013)

Os jovens que deixam a escola sem terminar o ensino médio enfrentam sérias dificuldades

para ingressar e se manter no mercado de trabalho, além de terem salários menores, maior

risco de pobreza, e maiores chances de se tornarem fardos do ponto de vista social e

econômico para a sociedade (OECD, 2013).

Fazer com que os sistemas educacionais sejam mais flexíveis e permitam a realocação do

jovem no curso regular ou técnico e vice-versa, se for de sua vontade, pode aumentar sua

motivação para terminar os estudos. Abaixo, alguns exemplos que permitem a mudança de

rumos, mas que, ao mesmo tempo em que estimulam a permanência na escola, podem impedir

a conclusão dos cursos por conta da ampliação da duração dos estudos:

28

§ Na Holanda, os estudantes ainda no segundo segmento do ensino fundamental já são

direcionados para o ensino profissionalizante ou regular que terão durante o ensino médio.

Mesmo assim, se durante o curso secundário eles mudarem de ideia, a estrutura do sistema

educacional do país permite que eles façam a migração, estudando o que sentem mais

adequado para concretização de seus desejos.

§ Na Finlândia, os jovens têm reconhecido o direito de trocar de modalidade de curso ou

mesmo de fazer disciplinas de outros cursos para alcançar os objetivos de seus planos de

estudo (SAHLBERG, 2006 apud OECD, 2013).

§ Outro exemplo, na Islândia, de troca de modalidade de cursos, inclui também a de troca de

escola devido ao sistema de créditos utilizado no ensino médio. (BLONDAL et al., 2011

apud OECD, 2013).

Os estudantes podem adquirir habilidades, conhecimento e experiência prática relevante para

ocupações especializadas por meio dos programas de ensino médio profissionalizante e,

assim, preparar-se para o trabalho. Contudo, dados confiáveis sobre esses programas e

sistemas assemelhados são escassos e é muito difícil estabelecer comparações internacionais.

Mesmo com a educação profissionalizante sendo uma parte importante da educação em

muitos países, ela é normalmente ocultada em favor da educação tradicional, do ensino dito

regular.

A relação entre as escolhas das carreiras dos jovens estudantes, desenvolvimento de

habilidades num determinado campo de estudo e efetiva empregabilidade é mais complexa do

que normalmente se acredita. Indivíduos sem uma educação de nível médio ganham em

média 25% a menos do que outros que tenham completado esta etapa de escolaridade. Esses

mesmos indivíduos com lacunas em sua formação, sem ao menos o nível médio completo,

não podem esperar aumentos substanciais de renda conforme forem envelhecendo (OECD,

2013). Já se a escolaridade é mais alta, quanto mais velho, maior a remuneração.

29

3. MÉTODO

3.1 Tipo de pesquisa

Para o alcance dos objetivos propostos neste trabalho, optou-se pela realização de uma

pesquisa qualitativa e exploratória, recomendada quando se busca aprofundar o conhecimento

sobre um tema e quando existe pouco conhecimento acumulado sobre o assunto (GODOY,

1995a). Conforme se pode verificar ao longo da construção do referencial teórico, estudos

nacionais sobre as perspectivas de carreira de jovens oriundos do ensino técnico de nível

médio são relativamente escassos.

A pesquisa foi conduzida por meio de grupos de discussão com 36 jovens alunos de uma

escola do Rio de Janeiro, que oferece a modalidade de ensino médio integrado. Além disso,

uma segunda entrevista virtual, realizada via chat da rede social Facebook, foi conduzida com

os alunos que estavam no 3º ano quando da realização dos grupos de discussão. Esse novo

contato teve por objetivo checar o encaminhamento dos mesmos, averiguando se haviam

ingressado na universidade ou no mercado de trabalho, por exemplo. Dos 12 contatos

realizados, apenas um não respondeu.

Ao contrário de estudos quantitativos, que partem de planos previamente estabelecidos e

hipóteses claramente definidas, a pesquisa qualitativa tende a ser estruturada de forma menos

rígida. A pesquisa qualitativa permite que a imaginação e a criatividade conduzam os

pesquisadores na exploração de novos enfoques, sem perder o rigor necessário ao trabalho

científico. Este método de pesquisa não pretende listar ou mensurar eventos e, na maior parte

das vezes, não lança mão de instrumentos estatísticos para análise dos dados. O foco de

interesse deste tipo de estudo é mais amplo e os dados são obtidos por meio do contato direto

e interativo do investigador com pessoas e/ou situações objeto de pesquisa. Na metodologia

qualitativa, o pesquisador busca entender e interpretar os fenômenos, levando em conta o

ponto de vista dos sujeitos estudados (GODOY, 1995b; NEVES, 1996).

O grupo de discussão, também chamado de grupo focal ou grupo de foco (do inglês focus

group), é um dos métodos usados em pesquisas qualitativas (MORGAN, 1997). Utiliza-se a

nomenclatura grupo por conta do caráter coletivo, das sessões semiestruturadas, da existência

de um contexto informal e da presença de um facilitador/moderador que organiza e conduz as

atividades junto aos participantes. Já o termo focal vem do propósito essencial de promover a

30

interação entre os participantes e o investigador, que deseja obter dados após discussão com

ênfase em itens específicos e diretivos.

Para esta pesquisa, além dos dados provenientes das transcrições dos grupos de discussão e

dos textos das entrevistas individuais, foram considerados arquivos com dados

socioeconômicos dos ingressantes no CEJLL, desenvolvidos pela área de Indicadores do Oi

Futuro. Foram também utilizados relatórios de pesquisas realizadas em 2012 e 2013 com

egressos das escolas que fazem parte do programa NAVE no Rio e em Recife. As pesquisas

foram conduzidas por um renomado instituto de pesquisa contratado pelo Oi Futuro, por meio

de entrevistas telefônicas (OI FUTURO, 2013).

3.2 Coleta de dados

A coleta de dados realizada via método de grupo focal tem como premissa a formação de

opinião através da interação entre os componentes do grupo em questão, já que a análise

qualitativa baseia-se nas motivações das atitudes, colhendo dados com foco em um roteiro

pré-estabelecido. As reuniões são normalmente gravadas em áudio e vídeo para futura

transcrição e análise dos dados obtidos.

Os encontros dos grupos, de tamanho reduzido, pressupõem a identificação de tendências

através das recorrências apuradas. Os principais pontos discutidos nas entrevistas para esta

pesquisa serão expostos e analisados a seguir juntamente com os resultados alcançados com a

leitura crítica das transcrições de seus conteúdos, levando em conta as perguntas do roteiro de

discussão informal.

Os grupos de foco desta pesquisa foram organizados no sentido de apurar a percepção do

jovem estudante de ensino médio profissionalizante com relação a seu curso e de como o

último pode afetar sua vida pessoal e profissional. Uma das intenções do trabalho é tentar

auxiliar os gestores de RH que precisam de mão de obra qualificada para este nível de

formação.

Os grupos se reuniram por aproximadamente uma hora, nas instalações do Colégio Estadual

José Leite Lopes, no bairro do Andaraí, nos dias 12 e 13 de dezembro de 2013. O Colégio faz

parte do programa NAVE que está sob coordenação da autora desta pesquisa e por questões

31

de acessibilidade, foi a instituição escolhida para a realização da pesquisa. Cada grupo foi

composto de 6 estudantes separados por série, mas de cursos e turmas diferentes.

3.3 Perfil da escola e dos entrevistados

3.3.1 Descrição do colégio

O Colégio Estadual José Leite Lopes (CEJLL) é fruto de parceria da Secretaria de Estado de

Educação do Rio de Janeiro com o Oi Futuro, instituto de responsabilidade social da Oi,

companhia de telecomunicações, para compor, a partir de maio de 2008, o Núcleo Avançado

em Educação – NAVE, programa que conta também com a Escola Técnica Estadual (ETE)

Cícero Dias em Pernambuco.

O prédio que abriga o CEJLL localiza-se no Andaraí, zona Norte da cidade do Rio de Janeiro,

e abriga no momento aproximadamente 420 educandos em uma antiga estação telefônica da

Oi. A área do prédio dedicada ao funcionamento do NAVE foi doada em comodato à

Secretaria de Estado de Educação do RJ - SEEDUC e totalmente reformada e adaptada pelo

Oi Futuro. O Colégio também conta com estúdio de produção, laboratórios de informática,

auditório e área de exposição.

A escola onde se deu a pesquisa no Rio oferece três cursos profissionalizantes de nível médio:

§ O curso Técnico em Programação de Jogos apresenta a teoria e a prática para a

concepção e desenvolvimento de jogos e sistemas computacionais para diferentes

plataformas e segmentos do mercado.

§ O curso Técnico de Multimídia apresenta conceitos e técnicas que permitem ao

estudante desenvolver produtos diversos para diferentes mídias, tais como desktop,

dispositivos móveis e web. Procurando dar uma visão geral da produção de conteúdos

digitais, o curso relaciona-se às áreas de Cinema, Animação e Design.

§ O curso Técnico em Roteiros para Mídias Digitais visa qualificar o jovem cidadão nos

domínios do mundo digital, concorrendo para o seu entendimento sobre o papel da

tecnologia na sociedade contemporânea e criando estratégias de incentivo e

desenvolvimento de talentos nas áreas de Comunicação e Tecnologia.

32

Na parceria público-privada aqui mencionada, o estado do Rio de Janeiro é responsável pelos

professores das disciplinas convencionais do ensino médio dito regular e a Oi/Oi Futuro se

responsabiliza pela contratação de instituições para se encarregarem das aulas dos cursos

técnicos. O curso de Programação é dado pelo C.E.S.A.R. (Centro de Estudos e Sistemas

Avançados de Recife), o de Multimídia pelo VisionLab/PUC-Rio e o de Roteiros pela

Planetapontocom.

Além das questões pedagógicas, é de responsabilidade do estado prover o quadro

administrativo do colégio e a alimentação dos estudantes. A Oi/Oi Futuro se encarrega da

manutenção do edifício e limpeza, compra e reposição de mobiliário, equipamentos e

softwares.

Anualmente, são oferecidas 160 vagas para novos alunos da primeira série do ensino médio.

A concorrência tem sido elevada. Em 2012, por exemplo, o número de inscritos passou de

5.000. De acordo com a última informação disponível, obtida através das fichas de matrícula

dos ingressantes de 2012, a renda familiar dos alunos do CEJLL é relativamente baixa, com

40% com renda igual ou menor do que quatro salários mínimos – ver Gráfico 4 (OI

FUTURO, 2014b).

Gráfico 4 - Renda familiar dos ingressantes de 2012 – CEJLL

Fonte: Oi Futuro, 2014b.

sem  info,  27%  

até  1  sal.  mín.,  2%  

1  a  2  sal.  mín.,  17%  

2  a  3  sal.  mín.,  11%  

3  a  4  sal.  mín.,  12%  

4  a  5  sal.  mín.,  15%  

5  a  6  sal.  mín.,  2%   mais  de  6  

sal.  mín.,  14%  

33

Com relação à escolaridade da família dos alunos do CEJLL, temos o Gráfico 5, obtido

através das fichas de matrícula dos ingressantes de 2013. A formação prevalente para mães e

pais é o ensino médio completo (OI FUTURO, 2014b).

Gráfico 5 - Escolaridade dos pais dos ingressantes de 2013 – CEJLL

Fonte: Oi Futuro, 2014b.

3.3.2 Perfil dos participantes

Participaram da pesquisa 26 homens (72%) e 10 mulheres (28%), com idades entre 14 e 19

anos. Eram estudantes dos três anos letivos, de diferentes cursos técnicos profissionalizantes,

conforme mostra o Quadro 1. O número maior de participantes do sexo masculino coincide

com o perfil dos alunos matriculados em 2013 – 61% de homens (OI FUTURO, 2014b).

0%  5%  

10%  15%  20%  25%  30%  35%  40%  45%  

pós  completa  

superior  completo  

médio  completo  

EF  completo   EF  incompleto  

sem  info  

Mães  

Pais  

34

Quadro 1 - Composição dos grupos de discussão

SÉRIE GÊNERO CURSO

Primeira 5 homens / 1 mulher (escolha para 2014) 3 – Roteiros 3 – Multimídia

Primeira 4 homens / 2 mulheres

(escolha para 2014) 3 – Roteiros 2 – Programação 1 – Multimídia

Segunda 3 homens / 3 mulheres 5 – Multimídia 1 – Programação

Segunda 4 homens / 2 mulheres 6 – Multimídia

Terceira 4 homens / 2 mulheres 5 – Multimídia 1 – Roteiros

Terceira 6 homens 6 – Roteiros

35

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 A opção pelo ensino médio profissionalizante

Na avaliação das motivações para a escolha do ensino médio profissionalizante, identificamos

três categorias principais: empregabilidade, qualidade do ensino e aprendizado para a vida,

associado à transição para a vida adulta – discutidas em detalhes a seguir. Conforme se pode

verificar, alguns pontos referem-se à escolha do ensino técnico de forma geral e outros podem

estar associados à escolha da escola onde ocorreram as entrevistas, visto que a mesma é

reconhecida pela qualidade do ensino que oferece.

4.1.1 Empregabilidade

A partir da coleta de dados, pôde-se verificar que a maioria dos entrevistados valoriza o curso

técnico realizado, e ao falar dele quase que invariavelmente menciona a perspectiva de

ingresso na vida profissional.

Me tornou uma pessoa muito mais formal, muito mais preparada pro mercado de trabalho.

O ponto realmente positivo é […] que aí você já vai realmente estar preparado pro mundo lá fora, pra qualquer emprego lá fora.

As principais respostas associadas à empregabilidade foram:

§ Facilidade de ingresso no mercado de trabalho.

§ Forma de incrementar o currículo.

§ Conhecimento específico.

§ Segurança de ter um ofício e, portanto, ampliar as chances de ingresso no mercado de

trabalho.

§ Melhor remuneração em relação a estudantes de EM regular quando participarem de

processos seletivos.

§ Oportunidades de fazer contatos e obter emprego.

§ Melhor desempenho profissional em relação aos que vão direto para a universidade sem

ter feito curso técnico e conhecido a parte prática de uma área específica.

36

Ao se perguntar aos jovens entrevistados o porquê da escolha pelo curso técnico, as respostas

eram quase sempre relacionadas à possibilidade de ingresso no mercado de trabalho e/ou ao

conhecimento que ele pode proporcionar:

Eu acho uma coisa boa, assim, da questão do curso técnico é porque eu acho que a nossa mente fica mais aberta.

Primeiro que já é um passo, é um pé no mercado de trabalho. Você ter um curso técnico, você saindo do ensino médio com um curso técnico, você já tem uma certa credibilidade.

A maioria das pessoas não tem ensino médio com curso técnico, então já é um começo, já fica diferente.

Eu acho que quando a gente pode passar por essa experiência de ter um curso técnico, a gente cria uma bagagem muito maior de informações.

O curso técnico oferece uma carga bem maior. Querendo ou não, você sai na frente das outras pessoas, sabe? De quem não tem esse curso técnico. Então, oferece para você uma bagagem bem grande assim.

Eu queria fazer um curso em qualquer escola que tivesse um curso técnico pra poder já sair sabendo alguma coisa pra começar como trabalho.

No entanto, a maior parte deles ingressou no curso sem saber exatamente do que se tratava,

crendo apenas que a formação técnica os auxiliaria na sua entrada no mercado de trabalho,

por exemplo, sem ater-se necessariamente ao conteúdo do curso.

Bom, eu antes de vir para o colégio, eu não sabia nada que eu ia fazer. Eu comecei a conhecer os cursos. Assim: Multimídia. Aí eu conheci esse curso, aí eu pretendo seguir esse curso sim para a área de trabalho.

É, assim, eu, na verdade, eu não tinha muito conhecimento de quais cursos técnicos tinham aqui na escola e não sabia o que era multimídia direito, pra falar a verdade.

Aí eu fiquei sabendo que eu tinha passado pro NAVE. Aí, tipo, eu não sabia quais os cursos que tinha no NAVE, mas eu tinha passado.

Eu queria fazer um curso em qualquer escola que tivesse um curso técnico, pra poder já sair sabendo alguma coisa pra começar como trabalho.

Além disso, não se nota a real percepção do jovem com relação ao que ele estudou no sentido

de seguir carreira na área.

37

Eu acho que o curso técnico é mais uma segurança mesmo. Mesmo que a gente não vá seguir exatamente essa carreira, é mais pra você ter tipo uma coisa no seu currículo.

Eu particularmente não vou seguir a carreira de Roteiros, mas eu acho que o que eu

quero fazer é Direito.

Reforçando o que já viemos apresentando, o curso técnico profissionalizante é percebido

pelos estudantes entrevistados como diferencial, item importante no currículo. A

empregabilidade, compreendida como elegibilidade para o emprego, torna-se a depositária

das esperanças dos trabalhadores na conquista do trabalho desejado. É também apresentada

como condição de ser e manter-se empregável (LEMOS e COSTA, 2012).

Segundo Lemos e Costa (2012), ações voltadas para a qualificação da força de trabalho, como

meio de possibilitar aos trabalhadores a conquista de empregos, são ponto de convergência

entre empresariado, governo e trabalhadores. A formação profissional nesse contexto é o

grande desafio a ser enfrentado pela sociedade.

Por conta da falta de entendimento quanto à forma de melhorar a qualificação dos

trabalhadores, existe um consenso de que esforços precisam ser envidados no sentido de

promover a capacitação, tendo em vista que a força de trabalho brasileira é mal preparada.

Essa valorização da necessidade de qualificação profissional termina por cunhar o neologismo

empregabilidade (LEMOS e COSTA, 2012).

Helal e Rocha (2011) destacam que das concepções acerca da empregabilidade a que a

condiciona à capacidade da mão de obra adaptar-se às novas exigências do mundo do trabalho

e das organizações é a que prevalece. Nem sempre, no entanto, o fato de estar preparado,

possuir a empregabilidade desejável, traz consigo a garantia de empregos. A busca incessante

pelo conhecimento (capital humano) nem sempre é garantia de colocação no mercado de

trabalho.

Pelo exposto, podemos entender melhor a preocupação do jovem entrevistado ao apontar de

que maneira a formação técnica pode auxiliá-lo a ingressar no mundo do trabalho. Além

disso, alguns demonstraram preocupação com o prestígio pessoal adquirido com a formação

técnica que pode impactar diretamente o profissional.

38

Boa parte dos jovens, ao serem questionados se o curso técnico os ajudaria na construção de

sua carreira, atribuiu a esta formação a possibilidade de aquisição de conhecimento para

ingresso na universidade e para a vida como um todo. Alguns valorizam o conteúdo técnico,

mas parece haver ainda a percepção de que o conhecimento que estão adquirindo será

importante para a vida profissional de uma forma geral.

[O Técnico] só dá mais conhecimento mesmo.

[O Técnico] é uma alternativa, né?

Porque [o Técnico] já te abre portas para um mercado de trabalho gigantesco.

Eu acho que o que a gente faz aqui ajuda em todos os sentidos e não só na área de nosso curso técnico.

Porque aqui […] as pessoas já tratam a gente assim, como pessoas responsáveis, dão importância pras coisas que a gente faz. Então é meio que um caminho já para o mercado mesmo, e a gente passando por essa experiência, eu acho que já é fundamental porque quando a gente chegar lá, não vai tomar aquele susto, porque a gente vai estar mais acostumada com as coisas.

Mesmo que você não vá seguir [o curso técnico], você já tem experiência de fazer, por exemplo, […] trabalhos em equipe. Você vai ter que enfrentar isso em qualquer que seja a profissão, você vai ter que ter isso.

No entanto, ao mesmo tempo em que a faculdade é considerada superior qualitativamente ao

curso técnico, os entrevistados consideram-no como diferencial enriquecedor do curso

superior, como podemos depreender dos depoimentos abaixo:

Foi o que eu tinha falado antes, dá uma bagagem muito maior do que quem só tem a faculdade.

Você já está na frente dessas pessoas [quem só tem a faculdade] porque você vai ter um conhecimento específico sobre algo. Eu acho que isso que é o mais fundamental, você já tem algo mais.

4.1.2 Prestígio/qualidade da escola

No caso dos entrevistados, um fator preponderante para a opção pela formação técnica foi a

qualidade de ensino da escola escolhida de modo geral, principalmente no que diz respeito a

resultados em avaliações externas como ENEM, por exemplo.

39

Eu voltei um ano, eu já estava no ensino médio, eu voltei pra poder fazer um ensino médio melhor.

Só que eu sempre fui envolvido com arte, eu sempre gostei dessa área mais artística, só que eu nunca tive contato com tecnologia e eu só queria ir para uma escola, ir para um colégio melhor e tentar melhorar de vida assim.

Eu acho que não só o técnico é um ponto forte no colégio, mas o ensino em geral. Os professores que vêm pra cá são muito bem capacitados e trazem um bom conhecimento pra gente ter uma boa base pro Enem.

As principais recorrências nas respostas que mencionavam a qualidade da escola como

determinantes para a escolha do curso técnico foram as a credibilidade do curso, a qualidade

do ensino e carga horária maior.

4.1.3 Transição para a vida adulta

O interesse pelo curso técnico de nível médio também se mostrou associado a facilidades na

transição para a vida adulta, conforme abaixo:

§ Facilidade de adaptação ao mercado de trabalho e ao cotidiano profissional, já que estarão

habituados a uma rotina e carga de atividades semelhante à das empresas.

§ Mobilidade social, conquistando patamares profissionais e socioeconômicos diferentes

dos de seus pais.

§ Experimentação antes de entrar na faculdade.

§ Posse de uma profissão.

§ Aprendizado de responsabilidade.

§ Empreendedorismo.

§ Vivência do mercado de trabalho com professores que são profissionais das áreas dos

cursos, além de docentes.

Em linha com Jeffrey e McDowell (2004), constatamos no grupo pesquisado o interesse em

atingir melhores níveis socioeconômicos através da qualificação escolar e profissional. Tendo

o trabalho como motivador e fonte de status diferenciado, o jovem entrevistado aposta na

educação profissionalizante como prévia do mundo profissional que tanto o interessa e que

mobiliza suas escolhas acadêmicas futuras, ou seja, ingresso na universidade para obter

40

melhor remuneração (JUNGES, 2012; PEREIRA e ZAVALA, 2012; DORE, 1976 apud

JEFFREY e MCDOWELL, 2004).

4.2 Por que a faculdade?

Nas discussões em grupos, foi possível constatar a importância atribuída e a necessidade

percebida de se cursar o nível superior. Cabe lembrar que o poder aquisitivo e a origem

familiar de boa parte dos matriculados é relativamente baixo (ver Gráficos 4 e 5), de forma

que o diploma do ensino superior parece ser percebido como um importante caminho para a

mobilidade social e a obtenção de um nível de renda superior ao de seus familiares.

4.2.1 Empregabilidade

Exatamente como se deu quando perguntamos aos jovens o porquê da escolha pelo curso

técnico, suas principais respostas sobre o motivo de fazer faculdade têm relação com a

capacidade de se manter empregável, como se pode observar nas recorrências abaixo:

§ Diferença salarial

§ Exigência do mercado

§ Currículo

§ Melhores chances

§ Sucesso profissional atrelado a conhecimento

§ Abertura de mais portas

§ Diferencial

§ Conhecimento de pessoas da área.

Os jovens entrevistados entendem como sua a responsabilidade por sua formação, reiterando

o que afirmam Rego et al. (2013) com relação à individualização em busca da

empregabilidade. Boa parte desses jovens suspeita haver poucos matriculados atualmente em

cursos de nível médio profissionalizante no Brasil por conta da diferença salarial entre

profissionais de nível técnico e detentores de diploma universitário. A seguir, trechos de

alguns dos depoimentos a respeito:

41

Acho que no Brasil a questão fica muito com salário, né? A pessoa, eu vou ser técnico com salário de dois mil, aí eu faço faculdade tem salário de seis. Então, tipo, acho que no exterior é mais nivelado isso; então a pessoa tem o técnico com salário razoável, dá pra viver melhor. No Brasil, fica bem mais desequilibrado, então acho que é por isso que tem essa diferença também.

Eu acho, assim, que as pessoas veem a faculdade como algo superior ao técnico, como se tipo o técnico tivesse menos valor que a faculdade.

Que a faculdade daria uma melhor posição pra ela no mercado.

Jeffrey e McDowell (2004) já afirmavam que o mundo globalizado com tantas e ao mesmo

tempo, paradoxalmente, tão poucas oportunidades oferece um grande desafio aos jovens em

transição da escola para o trabalho. A percepção de que quanto mais qualificado e/ou

capacitado estiver, mais fácil será obter um bom emprego é geral.

Os jovens entrevistados, quase que de forma unânime, afirmaram que o curso superior é mais

importante que o curso técnico. Essa importância, no entanto, não se explicou exatamente

com relação ao que se pretende academicamente de um curso universitário. Muitos dos jovens

acreditam que sem a faculdade não se tem de fato uma profissão e que o curso técnico por

outro lado seria uma introdução ao que viria em seguida, ou a parte prática de uma

determinada carreira, ou ainda uma experimentação do mundo adulto como já mencionado

antes neste trabalho.

Até pode existir uma carreira de nível técnico, mas, por exemplo, um cara, por exemplo, tenho uma empresa. Aí, com certeza eu vou preferir contratar alguém que já tem um ensino superior do que alguém que tem ensino técnico, entendeu?

E mais, a motivação principal para o ingresso na universidade está diretamente relacionada a

melhores condições de acesso ao mercado de trabalho, melhor remuneração, mais respeito por

parte da sociedade e maiores chances de ascensão profissional.

Assim, uma pessoa vai entrar com curso técnico, tá, ela pode ser boa e tal, mas talvez ela não assuma determinado cargo porque ela não tem sei lá uma faculdade que talvez você só vai poder se tiver no ensino superior e tal e aí a pessoa vai continuar trabalhando e vai procurar fazer uma faculdade e aí vai assumir esse cargo.

[A faculdade] me dá muito mais capacidade pra entrar nessa área do que simplesmente o técnico porque uma grande empresa não vai procurar a pessoa que só tem o técnico, ele vai querer também a pessoa que tem a informação além do técnico. .

42

[…] a importância da faculdade, eu acho importante porque a cidade onde a gente vive, ela, se você tem mais estudo, você é mais valorizado. Tipo, às vezes as pessoas têm sorte de nascer em uma família que tem dinheiro, talvez. Mas, assim, quando você tem estudo, assim como mestrado que você está fazendo agora, as pessoas são mais valorizadas pelo nível de estudo que ela tem. E acho que, tipo assim, no passado, a maioria das pessoas que trabalhavam pediam assim: ah, segundo grau completo pelo menos, e eu acho que agora as coisas já estão mudando […].

A importância da faculdade, eu acredito que exatamente pra gente foi o que eles falaram pra gente focar em uma coisa só […], então eu tenho que focar em alguma coisa pra poder investir no mercado de trabalho, acredito que é pra me aprofundar mais.

A importância da faculdade, acho que a faculdade é importante porque atualmente no mercado de trabalho eles sempre querem algo mais de você, então quanto mais você, como o mercado é concorrido, quanto mais estudo você tem, acho que melhores são as chances de você se colocar em um lugar bom.

Além disso, existe também a percepção complementar ao que acabamos de ver de que a

universidade é a continuação natural do que eles já vêm fazendo.

Então acho que às vezes escolhem a faculdade também por esse negócio do salário, que vai ganhar mais e tal, mas eu acho que o técnico e a faculdade, um completa o outro, entendeu?

4.2.2 Formação

Alguns dos jovens alegam desconhecimento do público em geral com relação ao curso técnico

e às mudanças que o mesmo vem sofrendo, como a criação da modalidade de Ensino Médio

Integrado (EMI). Essa nova modalidade em princípio se propõe a dar conta da formação

adequada para ingresso tanto na universidade quanto no mercado de trabalho. Nota-se no

depoimento a seguir uma grande preocupação com a qualidade da formação para ingresso na

universidade.

A única questão que eu já ouvi e escuto muitos amigos é porque as pessoas dizem: ah, vou fazer um técnico e tudo o que eu fizer no técnico eu vou estar focado no técnico. Eu vou perder um ano depois pra retomar esse estudo que eu estava focado no técnico e não focado pra fazer uma prova pra faculdade. Então a pessoa pensa o seguinte: ela vai terminar o técnico e vai ter que ficar um ano estudando de novo a mais pra poder fazer a prova pra poder passar numa faculdade.

43

Dados da OECD (2013) reiteram que apesar de grande número de países no mundo contarem

com formação técnica profissionalizante no EM, grande parte das vezes, as escolhas acabam

recaindo nos programas de educação secundária que possibilitem ao estudante, se assim for

seu desejo, ingressar na universidade. Isso não quer dizer que nesses países todas as pessoas

que não fizeram curso técnico profissionalizante farão cursos de nível superior. Isso significa

que o curso superior é o primeiro lugar na consideração de muitos jovens e não só no Brasil,

país dos bacharéis.

A seguir, listamos as principais recorrências das respostas sobre a motivação pelo nível

superior, atreladas à formação após a conclusão do EMI:

§ Complementariedade do nível técnico e da faculdade

§ Melhor qualificação

§ Superioridade da faculdade com relação ao nível técnico

§ Valorização do estudo

§ Aprofundamento

Quando o jovem mostra interesse pelo conteúdo do curso técnico, normalmente sua

motivação não está diretamente relacionada a trabalhar na área em que está se formando logo

após o fim do curso, mas sim a experimentar e se preparar para continuar estudando a mesma

coisa ao ingressar na universidade:

Eu escolhi justamente pelo mercado de trabalho e também pra conhecer sobre a faculdade, o que eu faria na faculdade também.

Os jovens igualmente deixam claro que a prioridade, apesar do interesse de alguns em

ingressar na vida profissional, é a universidade. Somente se houver a possibilidade de se

manter estudando, eles cogitam trabalhar.

Eu também gostaria de assim que estiver na faculdade preencher o espaço que restar com trabalho.

Até porque [trabalhar] seria dependendo da faculdade também, né? Se eu pegar uma faculdade de período integral, aí não tem como, mas se for uma faculdade de um turno, por exemplo, de manhã, eu estudaria de manhã e trabalharia de tarde e à noite.

44

4.2.3 Prestígio

Não devemos desconsiderar as respostas relacionadas ao prestígio que um diploma de nível

superior pode oferecer. O status social é frequente nas falas dos jovens, bem como a pressão

familiar, que em alguns casos é literalmente uma imposição, e da sociedade como um todo. O

jovem acredita que não gozará de suficiente consideração quando adulto se não concluir o

nível superior.

4.3 O que sonham esses jovens?

Eu quero fazer Biotecnologia, não é muito bem o que eu escolhi como curso técnico [Roteiros], mas é algo também como uma forma de segurança, mais pra ter alguma coisa.

A fala acima é um bom resumo do que os jovens entrevistados desejam para seu futuro:

ingressar na universidade após a conclusão do curso técnico, pensando na segurança,

estabilidade profissional e financeira, que ambos em conjunto (universidade e nível médio

profissionalizante) podem proporcionar.

Apesar de o mundo estar cada vez mais promovendo mudanças por conta da tecnologia e

globalização e de os jovens entrevistados estarem se formando em ocupações que podem ser

consideradas modernas, a grande maioria deles se refere ao futuro de forma conservadora.

Quase todos mencionam o mercado de trabalho conforme o conhecemos há décadas,

desejando estabilidade e segurança, e falam em seguir padrões.

Apesar de boa parte deles falar de seu interesse em empreender, notou-se intensa necessidade

de atender às demandas de empresas contratantes, mencionando não só a iniciativa privada,

mas também o serviço público (incluindo também o militar).

Os jovens entrevistados, por exemplo, demonstraram preocupação com o nível de exigência

do mercado de trabalho, insinuando que quem contrata já quer o profissional pronto:

Eu acho que assim é essencial aprender o curso técnico […] porque eu acho que, assim, eu não acho, eu tenho certeza que muitas das coisas que eu aprendi, e que eu não vou aprender lá fora […]. […] trabalho em equipe, eu não vou aprender isso lá no mercado de trabalho. No mercado de trabalho, ninguém quer saber de nada.

Você já tem que saber, né?

45

Dessa forma, esses alunos falaram almejar serem bons profissionais, tendo condições de dar

conta de todos os pré-requisitos solicitados pelo mercado atualmente. Alguns dos poucos

jovens que se manifestaram a favor de prosseguir nas carreiras dos cursos técnicos

expressaram desejo de trabalhar na área de cinema ou publicidade (seja com o curso de

Roteiros ou Multimídia) e de desenvolvimento de jogos (curso de Programação).

Os sonhos que poderiam ser considerados mais distantes da realidade dos cursos técnicos

realizados foram os de um estudante que disse desejar ser goleiro da seleção brasileira, com o

diferencial de possuir nível superior (usou como exemplo e inspiração o médico e futebolista

Sócrates, capitão do time na Copa Mundial de Futebol em 1982), e de outro que disse que

faria faculdade somente para atender a uma exigência dos pais, já que o que queria realmente

era ser cantor.

O que se pôde essencialmente apreender como principal sonho dos jovens entrevistados foi o

desejo de independência (incluindo-se, principalmente, a financeira), segurança econômica,

reconhecimento profissional através de possibilidades de promoção e remuneração elevada e,

ao conseguirem atingir este patamar, talvez a abertura de suas próprias empresas.

Para a realização desses sonhos, é essencial, na opinião de quase todos eles, ter nível

universitário e pós-universitário (mestrado, etc.). Boa parte deles também considera

primordial falar línguas estrangeiras para obter sucesso profissional. Os jovens sonham

aprender diferentes idiomas para realizar suas ambições profissionais e poder conhecer outras

pessoas e culturas. O idioma mais mencionado foi o inglês, seguido de castelhano e

mandarim.

[…] principalmente curso de idioma, né? Que é bem padrão hoje em dia.

E essa questão também do curso do idioma, eu também faço Inglês e tipo futuramente eu pretendo fazer Espanhol que eu acho que hoje em dia são as línguas que são mais procuradas, né?, pra um candidato no emprego.

Por exemplo, eu estou fazendo o Técnico, estou fazendo Inglês, porque eu vou fazer intercâmbio ano que vem. E eu pretendo, é uma coisa que eu quero quando eu tiver já a faculdade e tiver meu dinheiro, eu vou querer fazer um curso de Mandarim que é uma coisa que eu sempre achei sinistro, entendeu?

46

4.4 A situação dos egressos

Foram entrevistados virtual e individualmente, em maio de 2014, 11 egressos que

participaram dos grupos de discussão e que, em dezembro de 2013, estavam concluindo a

terceira série do EMI.

Dos 11 ex-alunos, cinco estão hoje na universidade, quatro estão se preparando para ingressar,

um está fazendo formação de nível tecnológico, diferente da área de formação do curso

técnico recém-concluído e um faz curso de extensão, também diferente da área de formação

do curso técnico – ver Gráfico 6.

Gráfico 6 - Situação educacional dos egressos

Dos cinco que ingressaram na universidade, apenas dois estão fazendo curso na mesma área

de formação de nível médio, conforme mostra o Gráfico 7.

universidade,  5  

preparam-­‐se  para  ingressar,  

4  

nível  tecnológico,  1  

curso  extensão,  1  

sem  info,  1  

47

Gráfico 7 - Distribuição dos cursos universitários

O Gráfico 8 mostra o status profissional dos entrevistados.

Gráfico 8 - Status profissional dos egressos

des.  Industrial  +  publicidade  (área  curso  

Mul`mídia),  2  

biologia,  1  

economia,  1  

hotelaria,  1  

estágio  na  área  do  curso  técnico,  

1  estágio  não  remunerado  nova  área,  1  

aprovada  em  concurso  público,  

aguardando  convocação,  1  

teleatendimento,  1  

empreendedor,  2  

em  casa,  escrevendo  por  conta  própria,  2  

tentando  processos  sele`vos  aprendiz,  1  

sem  info,  1  

estudando  para  ves`bular,  1  

faculdade,  1  

48

Considerando os dados da pesquisa realizada em 2013 com egressos de 2011 e 2012, das duas

escolas que fazem parte do NAVE, aproximadamente 70% estão na faculdade, cursando os

quatro primeiros períodos, o que demonstra que a saída da escola os levou diretamente para o

ensino superior. Prevalecem as universidades públicas (cerca de 60%) e cursos relacionados

às áreas de ensino das duas escolas, como Design e Ciência da Computação (OI FUTURO,

2014a).

Na pesquisa realizada em 2012 com egressos (formados ou não) de todos os anos anteriores

desde as primeiras turmas (2008 a 2011), cerca de dois terços deles estavam na faculdade –

sendo a maior parte no início (três primeiros períodos). Apenas 9% não estavam trabalhando

nem estudando (OI FUTURO, 2013). A percepção desses egressos era de que a natureza das

escolas havia lhes permitido uma formação ampla, refletida na variedade de cursos e na

grande pulverização de áreas de estudo escolhidas na faculdade (com prevalência de

Humanas).

Os dados aqui mencionados também nos dão informação sobre a entrada no mercado de

trabalho do grupo de egressos. Na pesquisa de 2013, por exemplo, 40% dos entrevistados

estavam trabalhando, sendo que 40% deles na área do curso e cerca da metade com carteira

assinada. Além disso, um em cada três alunos já havia realizado trabalhos como freelancer

demonstrando que apesar do interesse pela universidade, o lado profissional é importante na

vida pós-escola do jovem egresso. Mais da metade dos entrevistados acreditava que ter

estudado no NAVE tinha ajudado a conseguir o emprego (OI FUTURO, 2014a).

A Tabela 6 resume essas informações e, como se pode observar, a preferência dos egressos é

realmente pelo ensino superior após conclusão do curso técnico profissionalizante.

Tabela 6 - Destino dos egressos do Programa NAVE

 N (amostra) Só faz

faculdade Só trabalha Estuda e trabalha

Nem na faculdade, nem

trabalhando Pesquisa 2012 (Rio e Recife) 155 35% 17% 30% 18%

Pesquisa 2013 (Rio e Recife) 175 43% 17% 29% 11%

Total 230 39% 17% 29% 14%

Entrevistados para esta pesquisa 11 3 - 3 (trabalho

formal) 5

Fonte: Oi Futuro (2013, 2014a).

49

Tal constatação encontra também amparo no que já se afirmava há mais de uma década,

quando se relacionava o valor dado à educação (não só à formal, mas à qualificação

profissional como um todo) pelo jovem por conta da cobrança do mercado de trabalho

(AMADEO, 1999).

4.5 Resumo

Considerando-se a pouca idade dos entrevistados, torna-se fácil entender porque tantos deles

ainda não se decidiram com relação à carreira, se irão ou não trabalhar ao terminar a escola (o

auxílio na composição da renda familiar não aparece como determinante para motivar o

jovem a ingressar no mercado de trabalho), qual curso escolherão na faculdade no caso da

maioria que seguirá estudando, qual será sua ocupação. Deve-se considerar também que

somente 1/3 dos entrevistados estava concluindo o ensino médio na ocasião da organização

dos grupos.

Com relação ao aspecto profissional, boa parte dos jovens apresentou perfil empreendedor,

desejando um dia com mais maturidade no trabalho ter seu próprio negócio. Alguns chegaram

a falar da hipótese de abrir empresa com amigos da própria escola, utilizando os

conhecimentos ali adquiridos.

Aproximadamente 1/3 dos jovens falou que ingressaria na faculdade para estudar assuntos

completamente alheios ao que cursaram durante o nível médio. Poucos deles demonstraram

interesse em seguir a área da carreira técnica. De qualquer forma, desses poucos, alguns

manifestaram interesse em trabalhar na área para testar se é o que deveriam seguir estudando

na universidade. Aliás, a palavra “teste” apareceu diversas vezes: alguns jovens disseram que

o curso técnico deu a eles a oportunidade de testar como funciona o mercado de trabalho, que

o fato de ficar o dia inteiro na escola era também um teste para adaptar-se à rotina da vida

adulta, etc..

Também conforme apresentado anteriormente, os jovens veem o curso técnico

profissionalizante como forma de obter melhor resultado na faculdade, auxiliando na escolha

do curso de nível superior, por exemplo.

50

Então, o curso técnico também ajuda você quando você sair. Você vai fazer o ensino médio, mas pensando na faculdade. Aí, o curso técnico já vai te encaminhar. Tipo, eu gosto disso, vou fazer o curso técnico para saber como que é e depois eu vou escolher uma área especifica dentro daquele contexto.

Tendo em vista a continuidade dos estudos, poucos dos jovens entrevistados afirmaram

desejar efetivamente seguir a vida acadêmica, fazendo especialização lato ou stricto sensu,

apesar de a grande maioria considerar que estas especializações se refletiriam em maiores

conquistas no âmbito profissional.

Somente uma aluna demonstrou interesse em fazer mestrado para se tornar professora. Os

outros alegaram desejar o mestrado ou doutorado para melhorar o currículo como abaixo:

Depois que eu concluir a faculdade eu pretendo fazer mestrado, doutorado, porque isso ajuda bastante no currículo e pra conseguir um bom emprego, né? Se você tem mestrado e doutorado, você consegue um status, um lugar acima de quem só tem a faculdade.

O curso técnico pelo que se pôde apurar não representa para a grande maioria dos

entrevistados um fim em si mesmo. Pouquíssimos dos respondentes mencionaram algum viés

vocacional relacionado à escolha do curso como o estudante abaixo:

Ah, pra mim, eu escolhi um curso daqui, porque seria o que mais me guiaria na área que eu quero trabalhar. Porque tudo que eu quero é trabalhar na área de desenho industrial e design. O curso de multimídia aqui, seria muito mais útil pra mim do que um curso de informática do CEFET. Vai me ensinar muito mais coisa da parte técnica […] Então pra mim é mais jogo fazer o curso de multimídia.

Os jovens usam o ensino técnico como trampolim, ou diferencial (palavra muito usada por

eles), para a vida profissional, mas não obrigatoriamente na área em que se formaram ou vão

se formar. O curso técnico parece ser algo como um item para figurar no currículo, já que boa

parte deles também expressou que não trabalharia logo que saíssem da escola.

Porque você já começa com um diferencial comparado às pessoas que cursaram o regular […]. Você sai do técnico com qualquer conhecimento acima da média, já é algo interessante.

51

5. CONCLUSÕES

Após a realização da pesquisa aqui exposta, verifica-se a importância do curso técnico na

formação do jovem estudante, seja pela abrangência curricular oferecida pelo EMI, seja pela

oportunidade de experimentação prévia do mundo do trabalho. De acordo com Junges (2012),

a contribuição do conhecimento técnico para a formação profissional desses jovens é

inquestionável, mesmo que não exerçam a profissão aprendida na escola após o fim do curso.

O curso técnico de nível médio, pelo que se pode verificar neste trabalho, é usado pelos

alunos pesquisados como meio de enriquecer seu currículo e como degrau para o ensino

superior, como já afirmava o mesmo Junges (2012) ao declarar que a maior parte dos jovens

que buscam cursos profissionalizantes de nível médio o fazem considerando-o como ponto de

partida para um bacharelado, não para seguir carreira técnica.

Isso demonstra que o estado da educação pública de nível médio regular vem sendo percebido

pelos estudantes de uma forma geral como insuficiente para a preparação para o ingresso na

universidade. Ao optar pela educação profissionalizante, o jovem parece estar apostando na

melhor qualidade dessa formação para poder seguir os estudos de nível superior.

Soma-se a isso uma preocupação muito grande dos estudantes pesquisados com sua inserção

no mercado de trabalho, desejando se destacar dos jovens que concluem somente o ensino

médio regular na hora de disputar uma vaga.

Praticamente não se observou neste trabalho caráter vocacional na escolha pelo curso técnico

de nível médio, ou mesmo necessidade financeira familiar para se obter uma profissão

rapidamente ao fim dos estudos na escola. O jovem estudante de nível médio

profissionalizante considerado nesta pesquisa parece pensar em sua carreira mais a médio e

longo prazo, buscando acrescentar o máximo de conteúdo possível a seu histórico acadêmico

e profissional, sem no entanto ficar claro o que deseja exatamente fazer quando estiver

trabalhando.

Com relação aos dados da pesquisa contratada pelo Instituto Oi Futuro, 40% dos jovens

estudantes das escolas do programa NAVE que ingressaram no mercado de trabalho têm

ocupação nas áreas em que estudaram no curso técnico. No entanto, os jovens que

participaram desta pesquisa não se mostraram inclinados a seguir na área em que se deu sua

formação técnica, seja acadêmica ou profissionalmente.

52

A absoluta maioria dos jovens entrevistados nessa pesquisa pretende ingressar na

universidade e boa parte deles estudará em faculdades que não são da mesma área cursada no

nível médio. A justificativa mais comum para o desejo de fazer faculdade é a afirmação da

necessidade de obtenção do diploma de nível superior, visto por quase todos como

determinante para o sucesso pessoal e profissional. Esse desejo é derivado de uma “febre do

diploma”, fenômeno que Dore (1976 apud JEFFREY e MCDOWELL, 2004) previa como

possível fonte de frustração para os jovens de nossa época, tendo em vista o crescente número

de bacharéis e o cada vez mais inversamente proporcional número de vagas capazes de

absorvê-los. Sobre isto, temos inclusive o depoimento de um dos entrevistados: “é só um salto

que você dá no seu currículo, mas dizer assim que, pô, é show você ter faculdade porque isso

vai te dar rios e rios de dinheiro, é balela”.

Por essa razão, acredita-se que, apesar dos esforços empreendidos tanto pela iniciativa pública

quanto pela privada no sentido de investir em formação técnica profissionalizante, devam ser

consideradas pelas instituições governamentais e educacionais novas alternativas de

divulgação do ensino técnico profissionalizante, e não só de nível médio, bem como criação

de vantagens para estudantes desses cursos para que o nível universitário não seja a única

alternativa possível de formação e de empregabilidade, colaborando para reverter o apagão de

talentos hoje no Brasil no segmento de profissões de nível técnico, como apontado pela CNI

(2013).

O Brasil hoje carece de mão de obra de nível técnico profissionalizante. A tendência é essa

carência aumentar, ainda mais se nada muito efetivo for feito a respeito. Investimentos e

reflexões sobre a estrutura educacional formal brasileira são imprescindíveis para solucionar

esse impasse e dar conta do crescimento da economia, reduzindo essa demanda reprimida por

capital humano qualificado nos mais diferentes segmentos profissionais.

Além disso, por conta da cultura brasileira de valorização do diploma de nível superior,

poderia se cogitar a criação de uma política de formação continuada no sentido de que o que

se estude no nível médio, dependendo do caso, possa ser aproveitado como créditos na

universidade, por exemplo, principalmente quando estiver relacionado à formação

técnica/tecnológica.

As empresas interessadas em capital humano de nível técnico médio poderiam se beneficiar

do interesse dos jovens em se manter estudando e estabelecer parcerias com eles ainda na

53

escola, acompanhando o desenrolar de sua carreira e investindo ainda mais em sua formação

ao ingressar na universidade.

Pelo exposto, o que se nota é uma preocupação de cunho muito mais mercadológico do que

acadêmico. A motivação pelo nível superior da grande maioria dos jovens entrevistados

deriva da necessidade de status social que possibilite ascensão profissional. O mesmo se dá

com a motivação por mestrado e doutorado.

Ou seja, o raciocínio dos jovens e de suas famílias como se pôde depreender em vários dos

depoimentos é de que quanto mais anos de estudo, maior será a renda, corroborando assim

Pereira e Zavala (2012) ao afirmarem que no Brasil os salários são maiores de acordo com a

quantidade de anos estudados.

Os jovens pesquisados neste trabalho demonstraram ambição e vontade de obter êxito

profissional, sempre relacionado a conquistas de melhores posições e compensação financeira

elevada. Outra coisa que se pôde apurar com esse estudo é que a diversidade internacional dos

programas de ensino profissionalizante é imensa. Há muitos desafios e o Brasil poderia se

beneficiar de diferentes experiências externas.

Pelo que se pôde apurar em estudos da OECD (2013), alguns países têm êxito quando

escolhem como alocar seus recursos e como estabelecer políticas para melhorar a eficiência e

a relevância da educação que oferecem. Isso é em nossa opinião o que deve importar no

sentido de fortalecer o capital humano de uma nação e consequentemente sua economia, além

de outros fatores.

Algumas das experiências bem-sucedidas pelo mundo que poderiam ser implementadas e/ou

ampliadas no Brasil são:

§ Assegurar que os jovens tenham tanto um bom nível de habilidades básicas como de

outras mais “refinadas”, como trabalho cooperativo, habilidades comunicativas e de

negociação, etc., que os auxiliarão em sua vida profissional.

§ Reduzir as taxas de evasão e assegurar dentro do possível que todo jovem conclua

pelo menos o ensino médio.

§ Tornar a educação secundária relevante para as necessidades do mercado.

54

§ Desenvolver a educação vocacional/profissionalizante, criando pontes entre a escola e

o mundo profissional e fazendo com que a educação e aprendizado possam também

acontecer no trabalho.

Outra ação que poderia ser tomada pelos órgãos educacionais públicos brasileiros seria a de

criar programas de empregos para concluintes de cursos técnicos. Sem considerar questões de

cunho ideológico como a pertinência ou não de se contar com parceiros outros como Banco

Mundial e BID (OLIVEIRA, SENAC), por exemplo, não adianta propagar a educação dita

para o trabalho sem estabelecer garantias de aplicabilidade e real demanda da mão de obra

formada pelo mercado.

Como o estudante de nível técnico brasileiro tende a experimentar o conteúdo

profissionalizante para em seguida ingressar na faculdade, o contratante interessado nessa

mão de obra poderia se antecipar a essa realidade e estimular que o jovem empregado obtenha

uma formação de nível superior ou tecnológico, como acontece em países da Europa (OECD,

2013). Poderia também ser produtivo revisitar currículos para assegurar que o que é

aprendido, muitas vezes só na teoria nos bancos escolares, esteja atualizado e afinado com o

que se espera do profissional de nível técnico.

É essencial desenvolver ações de política pública para corrigir a distorção que se dá hoje de

certa forma no ensino médio profissionalizante. O EMI vem servindo como etapa de transição

e preparação para a faculdade, sem efetivamente fomentar o ingresso do jovem formado no

mercado de trabalho, que seria algo desejável nesse tipo de educação.

Para pesquisas futuras, sugere-se a investigação da possibilidade de criação de currículos de

Ensino Médio Integrado com disciplinas que tenham condições de ser aproveitadas dentro das

já existentes no nível superior, tendo uma continuidade natural e mais objetiva na

universidade, preferencialmente de forma sequencial. Acredita-se que como há um desejo

forte de obtenção de diploma universitário no país, os estudos de nível técnico deveriam

contemplar esse anseio, estabelecendo de forma mais prática e complementar um desenho de

nível superior que pudesse contextualizar o que foi estudado no nível médio

profissionalizante, enriquecendo a qualificação do profissional ao sair da universidade,

motivando-o e dando uma razão efetiva ao curso técnico realizado no passado.

O ideal seria que os profissionais de nível médio técnico pudessem ter sua formação de nível

superior, quando desejada, incentivada pela empresa que os tivesse contratado previamente

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como mão de obra já qualificada. Dessa forma, no exercício da função, por meio de sugestões

de passos formativos, a empresa poderia colaborar com a formação individual e coletiva de

seus funcionários, fomentando o aperfeiçoamento do perfil desejável para o posto de trabalho,

sem deixar de lado o estímulo ao desenvolvimento de competências e autonomia do jovem

profissional para analisar diferentes cenários e levantar hipóteses de ação no que se refere à

sua própria formação.

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