expansÃo e ocupaÇÃo territorial -...

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EXPANSÃO E OCUPAÇÃO TERRITORIAL A expansão e a ocupação do território brasileiro foram ocasionados por diversos fatores, entre os quais destacam-se as atividades econômicas, as expedições para expulsão de estrangeiros, a busca de riquezas minerais e de índios para escravizar. Em 1750, com o tratado de Madri, praticamente estavam delineados os contornos de nossas fronteiras atuais. SERTÃO NORDESTINO: O GADO ABRE CAMINHO Inicialmente, o gado era criado nas fazendas de açúcar, sendo utilizado na alimentação e também como força motriz nas atividades do engenho. Com o tempo, a criação desse “gado de quintal” tornou-se anti-econômica, pois além de os animais embrenharem-se em meio o canavial, estragando a plantação, exigiam uma grande área para pastagem, a qual daria muito mais lucro, se coberta de canaviais. Para a Coroa portuguesa interessava o aumento da exportação de cana-de-açúcar, mesmo que com isso o gado fosse levado para o interior. Por isso, em 1701, o monarca português proibiu a criação de gado a menos de 10 léguas do litoral. A busca de novas pastagens levou os fazendeiros de gado para o interior da atual região nordeste, onde surgiram postos avançados de povoação no sertão. Duas regiões podem ser consideradas zonas de irradiação da pecuária. A primeira era Olinda, de onde o gado se expandia para o interior de Pernambuco e Paraíba, daí se espalhando pelos campos do Piauí e Maranhão. A criação de gado atendia a um mercado específico: os engenhos de cana-de- açúcar. A segunda zona de irradiação era Salvador, na Bahia, em direção ao Rio São Francisco e espalhando-se pelo seu vale. Essa região, conhecida como currais de dentro, desenvolveu- se em função do mercado consumidor surgido com a mineração. A pecuária integrava os diversos centros econômicos brasileiros da época, pois era a única atividade voltada para o mercado interno. Serviu também para amenizar as disputas surgidas no seio da própria classe dominante, pois um senhor de engenho falido sempre tinha a possibilidade de se tornar fazendeiro de gado. A pecuária entrou em decadência com o declínio de seus centros consumidores – primeiro os engenhos de açúcar, depois as áreas de mineração. CONQUISTA DO LITORAL NORTE, DO PARÁ E DO AMAZONAS Os franceses, depois de expulsos do Rio de Janeiro, passaram a ocupar regiões praticamente desabitadas do litoral norte da colônia. Com as ameaças de ocupação, o governo luso-espanhol promoveu expedições para ocupar e defender essas terras que hoje correspondem aos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte Ceará e Maranhão. Por vezes, as expedições luso-espanholas entraram em luta com os franceses, que, apoiados pelos índios da região, dificultavam a missão das expedições. Data dessa época a fundação de várias fortalezas litorâneas que mais tarde viriam a ser importantes cidades. Em 1584, Frutuoso Barbosa fundava Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, capital da Paraíba. Em 1597, erguia-se o Forte dos Reis Magos, atual cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Em 1613, mais um forte era inaugurado, o Forte de Nossa Senhora do Amparo, atual Fortaleza capital do Ceará. Mas coube aos próprios franceses a criação de uma vila, São Luis atual capital do Maranhão, onde conseguiram se fixar, resistindo até 1615, quando foram definitivamente expulsos.

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EXPANSÃO E OCUPAÇÃO TERRITORIAL A expansão e a ocupação do território brasileiro foram ocasionados por diversos fatores, entre os quais destacam-se as atividades econômicas, as expedições para expulsão de estrangeiros, a busca de riquezas minerais e de índios para escravizar. Em 1750, com o tratado de Madri, praticamente estavam delineados os contornos de nossas fronteiras atuais. SERTÃO NORDESTINO: O GADO ABRE CAMINHO Inicialmente, o gado era criado nas fazendas de açúcar, sendo utilizado na alimentação e também como força motriz nas atividades do engenho. Com o tempo, a criação desse “gado de quintal” tornou-se anti-econômica, pois além de os animais embrenharem-se em meio o canavial, estragando a plantação, exigiam uma grande área para pastagem, a qual daria muito mais lucro, se coberta de canaviais. Para a Coroa portuguesa interessava o aumento da exportação de cana-de-açúcar, mesmo que com isso o gado fosse levado para o interior. Por isso, em 1701, o monarca português proibiu a criação de gado a menos de 10 léguas do litoral. A busca de novas pastagens levou os fazendeiros de gado para o interior da atual região nordeste, onde surgiram postos avançados de povoação no sertão. Duas regiões podem ser consideradas zonas de irradiação da pecuária. A primeira era Olinda, de onde o gado se expandia para o interior de Pernambuco e Paraíba, daí se espalhando pelos campos do Piauí e Maranhão. A criação de gado atendia a um mercado específico: os engenhos de cana-de-açúcar. A segunda zona de irradiação era Salvador, na Bahia, em direção ao Rio São Francisco e espalhando-se pelo seu vale. Essa região, conhecida como currais de dentro, desenvolveu-se em função do mercado consumidor surgido com a mineração. A pecuária integrava os diversos centros econômicos brasileiros da época, pois era a única atividade voltada para o mercado interno. Serviu também para amenizar as disputas surgidas no seio da própria classe dominante, pois um senhor de engenho falido sempre tinha a possibilidade de se tornar fazendeiro de gado. A pecuária entrou em decadência com o declínio de seus centros consumidores – primeiro os engenhos de açúcar, depois as áreas de mineração. CONQUISTA DO LITORAL NORTE, DO PARÁ E DO AMAZONAS Os franceses, depois de expulsos do Rio de Janeiro, passaram a ocupar regiões praticamente desabitadas do litoral norte da colônia. Com as ameaças de ocupação, o governo luso-espanhol promoveu expedições para ocupar e defender essas terras que hoje correspondem aos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte Ceará e Maranhão. Por vezes, as expedições luso-espanholas entraram em luta com os franceses, que, apoiados pelos índios da região, dificultavam a missão das expedições. Data dessa época a fundação de várias fortalezas litorâneas que mais tarde viriam a ser importantes cidades. Em 1584, Frutuoso Barbosa fundava Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, capital da Paraíba. Em 1597, erguia-se o Forte dos Reis Magos, atual cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Em 1613, mais um forte era inaugurado, o Forte de Nossa Senhora do Amparo, atual Fortaleza capital do Ceará. Mas coube aos próprios franceses a criação de uma vila, São Luis atual capital do Maranhão, onde conseguiram se fixar, resistindo até 1615, quando foram definitivamente expulsos.

A região da foz do rio Amazonas era um paraíso para os contrabandistas europeus. Não foi esse o único motivo, entretanto, que levou os luso-espanhóis a povoá-la. O temor de novas invasões estrangeiras e a intenção de explorar os ricos recursos naturais da região também foram fatores importantes que impulsionaram o povoamento dessa área. Com esses objetivos, Caldeira Castelo Branco fundo, em 1615, no estuário do Amazonas, o Forte do Presépio, que deu a origem a Belém, no atual estado do Pará. Como os portugueses haviam perdido o monopólio do comércio com as Índias, a descoberta das especiarias brasileiras vinham preencher, pelo menos, em parte, esse vazio comercial. Entre essas especiarias – as chamada drogas do sertão – estavam: cravo, canela, castanha-do-pará, cacau, urucum, tabaco, essências de perfume, resinas, plantas medicinais, etc. A obtenção desses produtos, entretanto, não era fácil: para o europeu, entrar na selva era quase impossível, sair dela com vida, então, era uma verdadeira proeza. Assim, para exercer esse tipo de atividade, o elemento mais indicado era sem dúvida o índio, que, alem de conhecer as peculiaridades da vida na selva, sabia onde encontrar as drogas do sertão. Ele seria, conforme o historiador Ferreira Reis, o “nervo e a vida” dessa atividade. Havia porém, uma dificuldade: os índios teriam de ser conquistados e convencidos a realizar essa tarefa. Os jesuítas, interessados na catequese dos índios, assumiram a liderança desse empreendimento. Assim, graças a essa atividade, o Norte foi povoado. A EXPANSAO TERRITORIAL ALÉM TORDESILHAS Durante o séc. XVII, o território brasileiro sofreu uma grande expansão para o interior, graças a dois tipos de expedições desbravadoras: entradas e bandeiras. À procura de riquezas minerais e índios para escravizar, os membros dessas expedições se embrenharam no interior da colônia. Costuma-se dizer que as entradas eram organizadas pelo governo, e as bandeiras, por particulares. Essa diferenciação não é totalmente correta, mas é a que mais se aproxima da realidade. As expedições que seguiam acompanhando o curso dos rios eram chamadas de monções. As primeiras entradas foram organizadas logo após o descobrimento de nossas terras. Américo Vespúcio, em 1504, enviou ao interior da colônia uma entrada, que partiu de Cabo Frio, e outras duas foram organizadas por Martim Afonso de Souza. Com a criação dos governos-gerais, muitas outras percorreram o interior brasileiro, restringindo-se basicamente aos sertões baianos e ao norte de Minas Gerais. O centro irradiador das bandeiras, por sua vez, foi São Vicente por motivos que se relacionam diretamente com a situação da lavoura canavieira dessa região. Apesar de ter sido pioneira na produção de açúcar, a capitania de São Vicente assistiu ao rápido declínio de seus engenhos. Muitos problemas contribuíram para isso, destacando-se o solo impróprio pra o cultivo da cana e a maior distancia da metrópole, se comparada a Pernambuco. Com a decadência do açúcar, os habitantes de São Vicente não tiveram outra alternativa, senão embrenhar-se no interior ‘a procura de riquezas. As bandeiras de São Paulo foram, assim, muito mais fruto da estagnação econômica do que do espírito desbravador de seus habitantes. As bandeiras dividiram-se em ciclos (períodos), de acordo com a atividade que as motivou em determinado momento. - Ciclo do ouro de lavagem - Ciclo da preação ou caça ao índio - Ciclo do sertanismo de contrato - Ciclo do ouro e dos diamantes

O AVANÇO AO SUL Era do interesse português estender seus domínios até a estratégica foz do rio da Prata, para controlar o mercado de couro e sebo da região. A Inglaterra, com grande influencia sobre Portugal, incentivou os lusos, mas por outra razão: o contrabando do ouro espanhol, vindo das minas de Potosí (Bolívia). O ouro descia o rio da Prata até o Atlântico, de onde era embarcado para a Europa. Assim, utilizando-se de seus aliados portugueses, os ingleses conseguiram a fundação, na foz do Prata, da Colônia de Sacramento, em 1680. Em Buenos Aires, cidade de colonização espanhola localizada em frente de Sacramento, a noticia da presença dos portugueses causou péssima repercussão. Ocorreram vários conflitos locais e discussões diplomáticas. A mais importante delas resultou no tratado de Madri, em 1750. O brasileiro Alexandre Gusmão defendeu Portugal, baseando-se no principio uti possidetis, ita possideatis (“quem possui de fato possui de direito”). A resolução firmada no tratado de Madri, entretanto, entregou a Colônia de Sacramento, à Espanha e passou Sete Povos das Missões, comunidade jesuítica a noroeste do Rio Grande do Sul, para o território português. Os jesuítas, os comerciantes e todos os habitantes da região que se tornava propriedade lusitana revoltaram-se e insulflaram os índios à luta. Desencadeou-se, então, a chamada guerra Guaranítica. A Colônia de Sacramento, embora não permanecendo com o Brasil, foi responsável pelo início do povoamento da região Sul. A cidade de Porto dos Casais, mais tarde denominada Porto Alegre, foi fundada para povoar a região e garantir a posse de Sacramento. Com o tratado de Madri, os contornos do Brasil tornavam-se mais definidos. A configuração geográfica determinada por esse acordo aproximava-se muito da atual. Apenas a anexação do Acre em 1903 e algumas pequenas modificações viriam a ser acrescentadas, delineando nossas atuais fronteiras. PARA SABER MAIS FILME – REPÚBLICA GUARANI (Brasil, documentário, 100min, CIC Vídeo, 1982. Dir.: Sylvio Back.) Do início do séc. XVII até serem expulsos, em 1767, os jesuítas implantaram na América do Sul um amplo projeto de catequese, mas também de exploração da mão-de-obra dos povos nativos. Por meio de núcleos – as missões, para os portugueses, ou reduções, para os espanhóis, - estabeleceram com os indígenas um tipo de relação polêmica, ora visto como integração, ora como genocídio cultural. FILME – O CAÇADOR DE ESMERALDAS – Oswaldo de Oliveira, 1980 – Destinado ao grande público, mas com certo interesse para a história do movimento bandeirante.