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Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 Recorrente: Luiz Roberto Nuñesos Padilla Recurso 002637-10.00/05-3 URGENTE Recurso com efeito suspensivo 1 Luiz Roberto Nunesos Padilla Já qualificado no processo supramencionado vem respeitosamente perante Vossa Excelência, em causa própria por não dispor de recursos para arcar com pagamento de despesas sem prejuízo do sustento familiar 2 , atento a r.Decisão da qual foi intimado dia 12 do corrente, às 18:10 horas, pedir seja recebido e processado o presente recurso, pelas razões anexas. Recebido o recurso face inclusas razões, cuja juntada requer, e cumpridas as demais formalidades legais, sejam os autos remetidos ao Gabinete do Governador. Atenciosamente, espera deferimento. Objetivando alcançar J u s t i ç a Da Procuradoria do Domínio Público, Porto Alegre, 27 de janeiro do ano 2005. 1 Lei Complementar RS nº 11.742, de 17 de janeiro de 2002. Art. 184 - Ao Procurador do Estado é assegurado, no prazo de 15 (quinze) dias da intimação ou da publicação o direito de: I – pedir reconsideração da penalidade aplicada pelo Governador do Estado; II – recorrer, ao Governador do Estado, da penalidade aplicada pelo Procurador-Geral do Estado e, a este, se aplicada pelo Corregedor-Geral. Parágrafo único - O recurso, na hipótese do inciso II deste artigo, terá efeito suspensivo . (grifamos) 2 Conforme demonstramos ao longo do arrazoado.

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Page 1: Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado - Professor PADilla UFRGS Faculdade de … · 2005-05-16 · Recurso com efeito suspensivo 1 Luiz Roberto Nunesos Padilla ... (quinze) dias da

Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 Recorrente: Luiz Roberto Nuñesos Padilla

Recurso 002637-10.00/05-3

URGENTE

Recurso com efeito suspensivo 1

Luiz Roberto Nunesos Padilla

Já qualificado no processo supramencionado vem respeitosamente perante Vossa Excelência, em causa própria por não dispor de recursos para arcar com pagamento de despesas sem prejuízo do sustento familiar2, atento a r.Decisão da qual foi intimado dia 12 do corrente, às 18:10 horas, pedir seja recebido e processado o presente recurso, pelas razões anexas. Recebido o recurso face inclusas razões, cuja juntada requer, e cumpridas as demais formalidades legais, sejam os autos remetidos ao Gabinete do Governador.

Atenciosamente, espera deferimento.

Objetivando alcançar J u s t i ç a Da Procuradoria do Domínio Público, Porto Alegre, 27 de janeiro do ano 2005.

1 Lei Complementar RS nº 11.742, de 17 de janeiro de 2002. Art. 184 - Ao Procurador do Estado é assegurado, no prazo de 15 (quinze) d ias da int imação ou da publicação o direito de: I – pedir reconsideração da penalidade aplicada pelo Governador do Estado; II – recorrer , ao Governador do Estado, da penal idade apl icada pelo Procurador-Geral do Estado e, a este, se aplicada pelo Corregedor-Geral. Parágrafo único - O recurso, na hipótese do inciso II deste artigo, terá efeito suspensivo . (grifamos) 2 Conforme demonstramos ao longo do arrazoado.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 2

Luiz Roberto Nuñesos Padilla Advogado Procurador do Estado Classe Superior OABRS 16697

www.padilla.adv.br

Excelentíssimo Senhor

Governador do Estado

Colendo Gabinete

Não obstante o respeito merecido pelo ponderado e erudito Conselho Superior da Procuradoria Geral do Estado –

entidade que dignifica o serviço público gaúcho, a r. Decisão

merece reforma porque - com toda vênia devida não laboraram S.Exªs, in casu, com costumeira Justiça.

O presente recurso apontará falhas no processo que

cercearam a defesa. Demonstrará não haver permissivo legal

federal atribuindo competência para o Estado do RS em lei local

disciplinar o exercício de profissões e em especial sobre processo

civil e exercício da advocacia. Apontará os registros e autorizações

da OAB, inclusive a Carteira Profissional do Recorrente ,

destaque ao recente registro de 16 de abril de 2004 referindo

impedimento para advogar apenas contra o Estado do Rio Grande

do Sul, asseguram o direito de defender-se em causa própria,

mormente diante do art.36, do CPC que o Conselho Superior não

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 3

analisou. Que viola a Lei Federal única capaz de disciplinar

exercício de profissões ou tratar de processo civil – pretender

impedir de defender-se em causa própria. Que a Constituição

Estadual, legislação de iniciativa da Assembléia Legislativa do

Estado, não pode estabelecer vedações aos servidores do

executivo cujo regramento só pode ocorrer em legislação nascida

por iniciativa do Governador do Estado. Demonstrará que o

Recorrente não possui recursos para pagamento de advogado para

sacar alvará em seu favor expedido por trabalhos realizados

muitos anos antes de ingressar na PGE porque efetivamente e

comprovadamente não os possui, porque o total de seus ganhos

sequer cobre gastos do sustento, e que o art.36 do CPC assegura

direito de defender-se em causa própria. Que o Recorrente não

poderia ser condenado com base em assinatura falsa. Que a Lei

Federal é única competente para disciplinar processo civil, ou

profissões, e em especial a advocacia. Que a Lei Processual retira

qualquer valor ao documento cuja assinatura foi contestada e que

competia a quem interessava tal documento a prova a respeito.

Que o Supremo Tribunal Federal ADIn 2652 entende de forma

unânime que os advogados procuradores de entes públicos estão

sujeitos exclusivamente ao Estatuto da OAB. A imoralidade de

punir o Recorrente ante a habitualidade e atualidade da atuação

fora das atribuições por todos procuradores do Estado notória no

âmbito Estadual e documentada em milhares de processos. A

liberdade positiva permitindo somente à Lei Federal criar

proibições. A disciplina federal do exercício da atividade na

advocacia e do direito processual. E o documento público

comprovando a habilitação para atuar em causa própria.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 4

“ TTTooouuuttteeesss llleeesss pppuuunnniiitttiiiooonnnsss dddeeevvviiieeennnnnneeennnttt iiinnnjjjuuusssttteeesss,,, dddèèèsss

qqquuu’’’eeelllllleeesss nnneee sssooonnnttt pppaaasss nnnéééccceeessssssaaaiiirrreeesss;;; cccaaarrr pppaaarrr lllààà ccceee

gggaaarrraaannnttt dddeee lllaaa sssuuurrreeetttééé pppuuubbbllliiiqqquuueee pppeeerrrddd tttooouuuttt sssooonnn ppprrriiixxx !!! ”

Imperatriz Catharina

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 5

O Recorrente está mui satisfeito com o louvável

empenho de vários Conselheiros em aplicação da legalidade e

lembra o mestre José de Aguiar Dias comentando v.Acórdão

relatado pelo eminente Desembargador Mário da Rocha Lopes

há duas décadas quando o e.TJRGS proveu apelo - redigido por

este incansável batalhador das causas da Justiça - aplicando

corretamente normas constitucionais ao processo. O eminente

doutrinador da responsabilidade civil prolatou comentário lapidar

que serviu de título ao artigo publicado em vários locais, de

colunas de periódicos até os mais lidos informativos jurídicos como

o Adv (Advocacia Dinâmica) do COAD-RJ: “Há juízes em Porto Alegre”.

A preocupação faz ressurgir a lembrança porque demonstra estar

o Dr. José de Aguiar Dias certo: Há juristas em Porto Alegre

preocupados em aplicar o Direito. Contudo, não obstante

haver, no Conselho Superior da Procuradoria Geral do Estado,

grandes juristas, o caso terminou analisado de maneira fracionada

cerceando a defesa. Tal implica nulidade do julgamento.

Cerceamento de defesa

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 6

Houve fracionamento prejudicando a defesa. Ao

prolatar a r.Decisão, o Conselho Superior não computou a soma

dos entendimentos pelo arquivamento do Processo por cada um

dos motivos. Primeiro, ocorreu um debate sobre a questão da

inconstitucionalidade das normas punitivas que durou horas.

Durante ele, vários procuradores manifestarem abertamente

entender inconstitucionais as normas punitivas. Contudo,

numa manobra corporativista em detrimento do saber jurídico o

Colegiado terminou alcançando uma maioria para afastar a

questão da inconstitucionalidade quando vários Conselheiros se

deixaram vencer pelo argumento de não ser “oportuno”, naquele

momento, decidir sobre a inconstitucionalidade. Muitos que

votaram contra o acolhimento da inconstitucionalidade

salientaram não ter convicção a respeito de serem legais as

normas, mas sim de sua impressão de ser inconveniente, no

momento, tomarem aquela decisão porque a categoria “luta” por

vantagens que – segundo foi reiteradamente afirmado no Conselho

– seriam prejudicadas por tal posicionamento.

Vários Conselheiros votaram sem conhecer a matéria e

mesmo o Relator perante o Conselho admitiu não conhecer os

Pareceres Jurídicos a respeito da inconstitucionalidade

elaborados pelas PGE´s de Minas Gerais, Paraná e Sergipe,

cujas normas estaduais possuíam texto praticamente idêntico ao

do nosso Estado.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 7

Mesmo assim, somando os abertamente convencidos

da inconstitucionalidade e os que votaram apenas por

conveniência, a maioria do Conselho Superior entendia a que a

punição não teria amparo em Lei conforme à Constituição.

O julgamento prosseguiu, apesar do adiantado da

hora e do cansaço dos integrantes do Colegiado e - novamente por

maioria - mas com composição distinta, decidiu haver ocorrido

prática de atos privativos da advocacia fora das atribuições

institucionais do cargo. Três nulidades houve nesse ponto. Ao

computar os votos, o Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral

Adjunto para Assuntos Jurídicos que presidia a sessão não

considerou os anteriores votos que – por entender serem

inconstitucionais as normas punitivas, conduziriam ao

arquivamento. Com isto, restou claramente cerceada a defesa. O

real somatório de votos pelo arquivamento nos dois distintos

motivos era mais favorável à tese da defesa !

As demais nulidades desse passo serão abordadas em

capítulos destacados, pois decorrem de equívoco legal a ser

abordado em destacado e cuja ocorrência só pode ser imputada

ao cansaço e a pressa em acabar.

Por fim, mas não por menos, e mais uma ver

cerceando a defesa – a douta Presidência dos trabalhos colocou

em votação apenas duas propostas, ambas de punir com

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 8

suspensão por 60 ou 90 dias. Não colocou em votação o Parecer

do Relator do Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-

1000/02-7, Dr. Marcos Leandro de Freitas Xavier quem –

justamente - mais examinou o processo, e entendeu que as duas

– salientamos: apenas duas hipóteses em mais de dez anos

investigados, não configuravam exercício da advocacia. O fez

baseado em doutrina e jurisprudência, que consideramos parte

integrante da presente para evitar tautologia. Fato que não foi

apreciado pelo Colegiado, e nem poderia – face à exigüidade do

tempo. O recorrente teve sua vida devassada, numa ampla

pesquisa, com período de abrangência de uma década, na qual

encontraram duas ocorrências mencionadas em que teria havido

prática de atos privativos da advocacia fora de atribuições

institucionais. Tal atitude provocou espécie. O procurador Marco

A. Piazza Pfitscher chegou a se recusar a votar e só terminou

concordando ter seu voto “somado” à proposta menos gravosa

devido ao adiantado da hora.

Intenção de punir a qualquer custo

O Processo Administrativo Disciplinar nasceu num

contexto político. O recorrente foi uma verdadeira barreira contra

perseguições que caracterizaram a administração passada. Bateu

de frente com a ilegalidade dos detentores do poder e foi

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 9

perseguido. Desde 1997 o Recorrente defende a tese de que os

procuradores do Estado deveriam advogar para completar sua

renda. Veja, por exemplo, www.padilla.adv.br/pgers/xutandobaldi1997.mht Aliás, o

recorrente sempre avisou que, sem adotar tal alternativa, haveria

um desmanche e perda do potencial humano da PGE. Como

previra, a perda ocorreu, conforme destacado em

www.padilla.adv.br/pgers/sangria.mht A administração passada perseguiu o

Recorrente de variadas formas, o que foge ao âmbito da presente.

In casu,– procedeu ampla devassa na vida do Recorrente – que

advogou por 10 anos antes de ingressar no cargo público, e –

pesquisando toda uma década, pinçou alguns processos antigos,

anteriores a posse no cargo de Procurador de Estado, em que

figurava seu nome, para criar-lhe mais um embaraço. Aliás,

demonstra o intento de INCOMODAR o processo da empresa

Fundirossi SA Metalurgia Fina, sediada em Novo Hamburgo.

Conforme comprovado na instrução de fls. 354, o Recorrente

nunca atuou em tal processo e somente a deliberada intenção de

incomodar explicaria o fato de ter sido colocado um processo de

outra Comarca, obrigando o Recorrente a se afastar da Capital

para examinar o processo.

Ou seja, a administração anterior se deu ao trabalho

de buscar pela Internet, e imprimir, listagem de todos processos

da Justiça Federal e Estadual onde o número de inscrição na OAB

do Recorrente aparecia para, depois, confrontar MANUALMENTE

com as listagens dos processos do Estado e de suas várias

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 10

autarquias, fundações, e empresas da administração indireta – as

quais o indiciado defende fora das atribuições institucionais para

finalmente - numa clara demonstração de manifesta intenção de

desperdiçar recursos públicos na perseguição, “fundamentar” a

acusação como represália à tese que o Recorrente sustentava, da

advocacia para completar a renda..

Esse procedimento inquisitório – retroagindo ao

tempo da idade média em que procuravam desculpas para

matar – causou preocupações, aborrecimentos, e

constrangimentos ao Recorrente porque diversas pessoas que

conhece noticiaram estarem sendo insistentemente procuradas

pela Corregedoria da PGE para falar sobre o indiciado. A situação

fez com que as pessoas pensassem estar sendo processado como

funcionário relapso, corrupto ou desidioso em suas funções. A

bem da verdade, o recorrente atua com diligência acima e além do

cumprimento do dever como prova seu índice de sucesso muito

acima da média. O próprio processo inquisitório representa uma

pequena parte das várias condutas de perseguição sofridas em

função da sua postura ética (www.padilla.adv.br/etica) e de

diligência com a qual exercia suas funções no cargo público, que

inevitavelmente - devido a interesses politiqueiros contrários ao

interesse do erário - confrontava com a gestão da época.

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Inexistência de prova da prática de atos

privativos da advocacia.

O Parecer do Relator do Processo Administrativo

Disciplinar nº 7800-1000/02-7, Dr. Marcos Leandro de Freitas

Xavier, reconhece apenas duas hipóteses - salientamos: apenas

duas hipóteses em dez anos detalhadamente investigados – mas

com base em doutrina e jurisprudência entende não configurar

exercício da advocacia. Ocorre, contudo, que não há “prova” da

prática de atos privativos da advocacia nas duas hipóteses pelas

quais o Recorrente foi injustamente condenado. Senão, vejamos as

duas situações.

Direito de defesa em causa própria

Uma das hipóteses é relativa ao processo da Justiça

Federal em que é parte Martin Kuroczka. Houve expedição de

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alvará para recebimento de honorários que constituíam contra-

prestação devida ao Recorrente por trabalhos que realizou em

1988 muitos e muitos anos antes de entrar na PGE. O Relator

perante o Conselho Superior sugeriu que deveria abrir mão de

parte da receita3 para que algum advogado recebesse em seu

nome. Contudo, com todo respeito, tal sugestão viola a Lei e a

Constituição. Ao contrário do que sugere o relato no Conselho não

há obrigação de contratar advogado para receber alvará conforme

preceitua o art. 36 do CPC:

“A parte será representada em juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á l ícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver.” A redação é semelhante ao art.106, 1º, do CPC de 1939.

Sobre artigo supra, Celso Agrícola Barbi4 leciona:

“Sendo as regras de direito de natureza técnica, a atuação das partes em juízo, pessoalmente, acarretará defesa insuficiente, motivo pelo qual as partes que não tiveram preparo jurídico suficiente deverão ter pessoa especializada em assuntos dessa natureza, para defender o seu direito.

“A norma significa que não há necessidade de duas pessoas, o representante e o representado. Por habilitação legal entende-se a inscrição na Ordem dos Advogados se tiver a condição de advogado poderá defender-se amplamente, sem necessidade de outro advogado.

“Quando o código diz “em caso de falta de advogado”, significa não só a não-existência de residente, mas também a de os profissionais existentes não merecerem a confiança da parte. Não é possível que a parte seja

3 Antecipamos que, adiante, detalharemos que as despesas reduziram a renda líquida do Recorrente mas que a Defensoria Pública e as unidades de AJG Universitárias atendem somente quem tem renda bruta abaixo de 10 Salários Mínimos ! Ou seja, não dispõe de recursos para pagar, nem tem acesso à defesa gratuita !

4 BARBI, Celso Agrícola, “Comentários ao Código de Processo Civil”, ed. Forense, v.I, Tomo I, p. 233/238.

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compelida a entregar a defesa dos seus direitos a pessoa que não seja de sua confiança. Seria odioso obrigar a parte a contratar o advogado. O Código dispõe apenas genericamente sobre a representação judicial da parte”.

Sálvio de Figueiredo Teixeira5 admite que “pessoa não

habilitada a postular em juízo possa substabelecer a advogado poderes que eventualmente tenha recebido. Nesse sentido: ‘Não são nulos os embargos interpostos por estagiários já bacharel e ratificados por advogado inscrito na OAB’ (RE 84344, STF, Rel. Cunha Peixoto, RTJ 77/992, RT 494/241)

Mesmo sentido Theotônio Negrão6:

“Não se decreta a nulidade sem que haja demonstração de prejuízo. Advogado impedido de advogar contra a parte adversa(STJ-RT 725/172 e STJ-Bol. AASP 1.930/405j)

“Não é nulo o ato praticado por estagiário já bacharel e ratificado por advogado inscrito na OAB(RTJ 77/992, RT 494/241). Nesse sentido: RTJ 60/196, JTA 42/85.

“A posterior graduação do estagiário e conseqüente registro na Ordem dos Advogados habilita-o a praticar todos os atos inerentes à profissão, independentemente de novo mandato” (STJ-4ª Turma, Resp 114.534-SC, rel. Min. Ruy Rosado, j. 28.4.97, deram provimento, v.u., DJU 19.5.97, p. 20.641)

“Quem recebe mandato judicial e não é advogado pode validamente substabelecê-lo(RT 486/145, 600/117, 626/170, JTA 42/183, 44/185, RJTA-MG 28/214, 34/94, RAMPR 45/277)

Vemos, portanto, a questão não enfrentada: O direito

de defender-se em causa própria violando não apenas a garantia

da ampla defesa e devido processo legal, mas o princípio da

dignidade da pessoa humana:

5 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo, “Código de Processo Civil Anotado”, 4 ed. Aumentada, Revista

e atualizada São Paulo: Saraiva, 1992, p. 30. 6 NEGRÃO, Theotônio, “Código de Processo Civil e legislação processual em vigor” 30 ed.

Atualizada até 5 de janeiro de 1999. São Paulo: Saraiva, p. 137.

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Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio

de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre

si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa

do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

Logo, constitui abuso de poder alegar que não possa

se defender em causa própria se tal direito decorre da Lei e consta da Carteira de Identidade da OAB com (impedimento parcial) cuja validade não pode ser recusada senão com ofensa direta ao art.19-II, da Constituição Federal:

TÍTULO III

Da Organização do Estado

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

II - recusar fé aos documentos públicos;

Está nos autos, documentos públicos repetidas

vezes aparecendo a Carteira de Identidade da OAB e o registro, comprovando ser advogado e poder exercer a

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advocacia em causa própria não podendo a PGE, sob pretexto de punir, “recusar fé aos documentos públicos”. Ora, não

dispondo de recursos para contratar advogado para representá-lo

porque suas despesas reduziram a renda líquida e se nem

Defensoria Pública ou unidades de AJG Universitárias atendem

quem tem renda bruta acima de 10 Salários Mínimos só podia

defender seus interesses em causa própria.

Condenação baseada em assinatura falsa

A outra hipótese pela qual foi condenado versa sobre

processo de uma pessoa chamada Romeu, que o Recorrente não

conhece. Consta dos autos, por cópia, o que seria, segundo a

acusação, assinatura do Recorrente. Desde a primeira

oportunidade em que falou no processo o Recorrente denunciou

essa suposta cópia de assinatura como falsa, industriada para

causar incômodos. Em momento algum a administração quis

provar a validade de tal assinatura. Talvez porque sabiam qual

seria o resultado do exame... Ora, pouco importa: A Lei é clara. O

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 16

Recorrente não tinha obrigação de “provar” não ser sua a

assinatura. Não só porque a prova negativa é sabidamente ilógica

e contraria o sistema da liberdade positiva, pelo qual ninguém é

obrigado a provar não ser sua uma assinatura. Pelo contrário, era

ônus de quem pretendia punir com base na assinatura hostilizada

provar sua veracidade. Basta ver a lei processual, clara, ou a

doutrina e a jurisprudência, todas atribuindo a quem apresenta a

assinatura a prova de sua autenticidade. Aliás, a Lei retira da

assinatura contestada qualquer fé:

Código de Processo Civil:

Art. 388. Cessa a fé do documento particular quando:

I - lhe for contestada a assinatura e enquanto não se Ihe comprovar a veracidade;

“ Contestada a assinatura do documento

particular, cessa-lhe a fé, independente da argüição de

falsidade, cabendo o ônus da prova, nesse caso, à parte

que o produziu, durante a instrução da causa” STJ - 3ª Turma,

Resp 15.706 - SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 24.3.92, deram provimento, em parte, v.u., DJU

13.4.92, p. 4.998) No mesmo sentido, RJ 177/87 citado no CPC de Theotonio Negrão.

“Se foi contestada a assinatura, não se pode atribuir fé ao documento particular, e cabe ao interessado comprovar a autenticidade da assinatura, ou a veracidade do conteúdo. Uma vez que o art. 388, I, faz cessar a fé do documento particular por ter havido impugnação da assinatura (contestação), apenas se dá ensejo a que a pessoa que produziu o documento prove a veracidade (art. 389, II). Se houver argüição da falsidade do conteúdo do documento, quem argüiu é que tem de prová-lo (art. 389, I).

A respeito do art. 388, I, que fala da cessação da fé, se foi contestada a assinatura, até que se lhe comprove a veracidade

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 17

(veracidade da assinatura), o ônus da prova é de quem produziu o documento. Fonte: Comentários ao CPC, Pontes de Miranda.

Código de Processo Civil:

Art. 389. Incumbe o ônus da prova quando:

I - se tratar de falsidade de documento, à parte que a argüir;

II - se tratar de contestação de assinatura, à parte que produziu o documento.

Art. 389: “A antecipação das despesas será pela parte que tem o ônus de provar, a saber, a parte que apresentou o documento, e não do que contestou a assinatura (a respeito, Ernane Fidélis dos Santos, “Comentários”, Forense; Buzaid, “Estudos de Direito”, Saraiva, 1972, pág. 61, citando Carnelutti).”

“Alegada em defesa, a falsidade de assinatura, ao autor cabe o ônus da prova da autenticidade. (Ap. Cív. 43274, TJMG, Rel. Helvécio Rosenburg, RJM 66/136). No mesmo sentido, Ap. 27057, TAMG, Rel. Caetano Carelos. Fonte: CPC Anotado, Sálvio de Figueiredo Teixeira

“Falsidade de assinatura. Alegada em defesa a falsidade de assinatura, ao autor cabe o ônus da prova da autenticidade (Teixeira, CPCA, 226).” Fonte: CPC Comentado, Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery

Logo, o Recorrente não poderia ser punido com base

em tal hipótese, não provada.

Imoral a punição quando centenas de

procuradores do Estado praticam atos privativos

da advocacia fora de atribuições institucionais.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 18

Não é lícito ignorar o fato no âmbito da PGE e do

Governo Estadual de que justamente por possuírem capacidade

de advogar fora das atribuições da carreira há mais de uma

década os procuradores do Estado do RGS atuam e continuam

atuando num total acumulado de dezenas de milhares de

processos com procurações de pessoas jurídicas de direito

privado conforme documentado no processo 110141976 da 5ª

Vara da Fazenda Pública e no Agravo de Instrumento nº

70004587192.

Aliás, no que configura uma testilha intestina com o

conteúdo deste processo, o próprio Poder Público Estadual, pela

Procuradoria Geral do Estado, através de requerimento de

fls.218 a 226 do Agravo de Instrumento nº 70004587192 de 2 de

julho de 2002 do Exmo. Sr. Dr. Procurador-Geral Adjunto para

Assuntos Jurídicos, postulando nos limites da sua competência

funcional em nome do Estado, especificamente na p. 221

referindo-se ao Estatuto da OAB e seu art.30 que trata dos

impedimentos confessa que o Estado do Rio Grande do Sul não

pode ampliar restrições da Lei Federal porque "se a lei federal

disciplina... não cabe ao Poder local acrescer novas

hipóteses..." porque o direito constitucional e as leis dele

emanadas prevalecem sobre regras estaduais. A Constituição

Federal adota o princípio da liberdade do exercício de qualquer

profissão, preconizado no art. 5º-XIII, e estabelece competência

privativa da União para legislar sobre profissões regulamentadas -

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 19

art.22 - tais regras devem ser examinadas em 1º lugar antes de

pretender aplicar restrições da lei local. Quando o legislador

constitucional quis estabelecer limites ao exercício de qualquer

função ou profissão, o fez claramente. Nem poderia ser diferente,

conforme demonstramos adiante em capítulo destacado.

Inconstitucionalidade das normas

No julgamento, aprazado às pressas, não houve

preocupação de assegurar aos membros do Colegiado ciência dos

estudos a respeito do tema. Diversos Conselheiros – e dentre eles

o próprio Relator do Processo perante o Conselho Superior, o

procurador José Ribeiro Ribeiro Serpa, confessaram não

conhecer Pareceres Jurídicos a respeito da

inconstitucionalidade elaborados pelas PGE´s de Minas Gerais,

Paraná e Sergipe, cujas normas estaduais possuíam texto

praticamente idêntico ao do nosso Estado. Adiante retornamos a

esses Pareceres. Por hora, importante saber que, quando o

legislador constitucional quis estabelecer limites ao exercício de

qualquer função ou profissão, o fez claramente. Nem poderia

ser diferente porque:

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 20

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (grifamos)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (grifamos)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; (grifamos)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito ... do trabalho; (...omissis...) XVI - organização do sistema

nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; (grifamos) (...omissis...) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a

legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. (grifamos salientando não haver qualquer Lei Complementar autorizando o Estado do RGS a tratar da advocacia)

Impossível sobrepor normas locais impondo odiosa

restringenda às normas e princípios federais que, ao contrário,

ampliam o leque de direitos. Antes, contudo, projetemos alguma

luz sobre o “punctum saliens” do presente recurso.

Afronta à dignidade

A “criação” de vedação para exercer advocacia em

legislação local afronta direitos constitucionais assegurados como os de Acesso à Justiça, Legalidade, Ampla Defesa e Obrigatoriedade

da Fundamentação das decisões judiciais e o processo disciplinar

violou direito de defesa, gerando estresse, ansiedade, e abalo

psicológico no Recorrente e em sua família.

Exercício da Advocacia

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 21

A tese de “dedicação exclusiva” dos procuradores do

Estado revela desconhecimento de fatos notórios no meio jurídico

estadual porque incontáveis as manchetes de jornais, destaques

na imprensa falada e televisionada, tratando do fato de que

justamente por poder advogar fora das atribuições da carreira,

os procuradores do Estado do RGS vêem, há mais de uma

década, atuando em um total acumulado de dezenas de milhares

de processos com procurações de pessoas jurídicas de direito

privado conforme documentado no processo 110141976 da 5ª Vara da Fazenda Pública e

Agravo de Instrumento nº 70004587192. Aliás, o próprio Poder Público

Estadual, e sua Procuradoria Geral do Estado, através de

requerimento de fls.218 a 226 do Agravo de Instrumento nº 70004587192

de 2 de julho de 2002 do Exmo. Sr. Dr. Procurador-Geral Adjunto para Assuntos Jurídicos, postulando nos limites da sua competência funcional em nome do Estado, especificamente na pag.221 (anexa) referindo-se ao Estatuto da OAB e seu art.30 que trata dos impedimentos confessa que o Estado do Rio Grande do Sul não pode ampliar restrições da Lei Federal porque "se a lei federal disciplina... não cabe ao Poder local acrescer novas hipóteses...". Seria abuso manifestar - ainda que “tacitamente” –

em sentido contrário para punir o Recorrente...

A Lei Federal disciplina a atuação dos advogados e o

exercício da advocacia sendo que o único o órgão competente

para dizer que pode, ou não, advogar, é a Ordem dos Advogados

do Brasil. Conforme é incontroverso, a OAB afirma que o

Recorrente pode advogar em causa própria, sendo o

impedimento apenas parcial e somente contra o Estado do RS e demais pessoas de direito da administração, conforme

consta de sua Carteira de Advogado, abaixo, e certidões anexas:

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 22

Art. 30. São impedidos de exercer a advocacia: I - os servidores da administração direta, indireta ou fundacional, contra a Fazenda Pública que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora;

Notamos constar do documento público impedimento

parcial contra o poder público estadual... Eventual insatisfação

com a r.Decisão da OAB acima não compete ser questionada em

juízo estadual porque decisões da OAB não estão sujeitas a

intervenção, qualquer que seja, de Justiça que não seja a Federal.

No sistema jurídico adotado em todo planeta, o direito

constitucional e as regras dele emanadas prevalecem sobre as

regras estaduais, ainda que encartadas numa Constituição

Estadual. Regras emanadas da Constituição Federal prevalecem

sobre todas e quaisquer outras normas, cuja aplicação deve ser

harmonizada aos textos constitucionais e regras da legislação

federal complementares à Constituição Federal. Se a Constituição

Federal adota o princípio da liberdade do exercício de qualquer profissão, preconizado no art. 5º-XIII, e se a mesma estabelece

competência privativa da União para legislar sobre profissões

regulamentadas - art.22 - tais regras devem ser examinadas em 1º

lugar antes de pretender aplicar restrições da lei local em

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 23

dissonância e, vamos combinar, imorais no contexto atual,

conforme detalhamos a seguir.

Quando o legislador constitucional quis estabelecer

limites ao exercício de qualquer função ou profissão, o fez

claramente. Nem poderia ser diferente porque, permita repetir

para frisar:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (grifamos)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (grifamos)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; (grifamos)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito ... do trabalho; (...omissis...) XVI - organização do sistema

nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;

(grifamos) (...omissis...) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a

legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. (grifamos salientando não haver qualquer Lei Complementar autorizando o Estado do RGS a tratar da advocacia)

Com relação ao Defensor Público – que para exercer sua

atividade deve ser advogado inscrito na OAB - o legislador

constitucional vedou o exercício da advocacia fora das atribuições

institucionais porque a advocacia privada com interesses

econômicos é incompatível com a natureza das funções do

Defensor Público nas quais deve estar a disposição e a serviço

permanente dos necessitados SEM qualquer INTERESSE

ECONÔMICO no resultado das demandas. É público e notório

que a necessidade por serviços dos Defensores Públicos é

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 24

insaciável, daí sua dedicação exclusiva ao cargo. Mas o Defensor

Público, entre outras prerrogativas de suas funções, atua dentro

das dependências do Foro, onde desfruta de privilégios tais como

o de receber intimações pessoais em todos atos, manifestar-se por

cotas nos autos, etc., tudo para facilitar o exercício de suas

atividades. Por isto a vedação ao exercício da advocacia fora das

atribuições institucionais expressa no texto constitucional:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.

Parágrafo único. Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. (grifamos)

A Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988, ao tratar no Título IV, da Organização dos Poderes, reserva capítulo IV para as

“Funções Essenciais à Justiça”, nelas destacando o Ministério

Público, a Advocacia e a Defensoria Pública. O Constituinte deu à Defensoria Pública status de instituição essencial à função jurisdicional

do Estado, destinado-a especificamente à orientação jurídica e à

defesa dos necessitados. Embora deixando para Lei Complementar organizar a Defensoria, a Carta Magna fixou linhas mestras da

instituição e expressamente vedou exercício da advocacia fora

das atribuições institucionais. E no art.22 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ao permitir que os ocupantes de cargos pudessem optar pela carreira, reafirmou a vedação:

ADCT Art.22. É assegurado aos defensores públicos investidos na função até a data da instalação da Assembléia Nacional Constituinte o direito de opção pela carreira, com a observância das garantias e vedações previstas no art. 134, parágrafo único, da Constituição”. (grifamos)

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 25

A Lei Complementar nº 80, de 12 janeiro de 1994 disciplinou em seu art. 4º:

“Além das proibições decorrentes do exercício do cargo público, aos membros da Defensoria Pública da União é vedado:

I - exercer a advocacia fora das atribuições institucionais...”

Aludida vedação é repetida pelo legislador ao dispor

acerca da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios (art. 91, inc. I) e da Defensoria Pública dos Estados(art. 130, inc. I). No art. 137, inserto no título V, que trata das Disposições Finais e Transitórias, a Lei Complementar nº 80/94 repete o preceito

do art. 22 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

“Art.137. Aos Defensores Públicos investidos na função até a data da instalação da Assembléia Nacional Constituinte é assegurado o direito de opção pela carreira, garantida a inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições constitucionais”.

Ao expressar a atividade-fim e a posição constitucional

da nova Defensoria Pública, concluímos que comandos da Carta

Cidadã de 1988 vedam atuação dos Defensores Públicos em

advocacia fora das atribuições institucionais porque incompatível

com a das funções públicas inerentes ao cargo,

independentemente da data de sua admissão no cargo ou no

quadro de carreira.

Mesma vedação constitucional há para Magistrados,

Membros do Ministério Público e Delegados de Polícia:

Constituição Federal Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: (...omissis...) Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo

uma de magistério; II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em

processo; III - dedicar-se à atividade político-partidária. Constituição Federal Art. 128. O Ministério Público abrange: (...omissis...)

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 26

§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:

(...omissis...) II - as seguintes vedações: a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários,

percentagens ou custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública,

salvo uma de magistério; e) exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas na lei.

A Constituição Federal, antes e depois da Emenda 19/98, define os

procuradores de entes públicos como categoria especial de

advogados, mas não impõe exclusividade:

"DA ADVOCACIA PÚBLICA". Seção II (*) DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO (*) Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98:

Os procuradores do Estado são organizados em carreira, não havendo qualquer sinalização de proibição ao exercício da advocacia fora das atribuições do cargo:

"Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.

Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias."

A regra é de que procuradores são advogados e

mediante concurso e após avaliados no exercício, possuem

habilitação especial para a defesa de interesses públicos. Mas

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 27

continuam sendo advogados sujeitos às regras e direitos da advocacia regulados em lei própria:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. (grifamos)

A profissão do advogado é regulada na Lei Federal nº

8.904/94. Recentemente, ao decidir sobre o alcance da nova redação do art.14 do CPC, julgando a ADIn 2652, o Supremo

Tribunal Federal unanimemente afirmou que os advogados

procuradores de entes públicos estão sujeitos exclusivamente ao Estatuto da OAB. Mas vamos admitir

que , apenas por exercício de argumentação, que a competência para legislar

sobre a advocacia pública não fosse privativa da União Federal. Trata-se de mero exercício porque entre as competências comuns

ou concorrentes da União e dos Estados previstas nos arts.23 e 24

não há qualquer que permita ao Estado-Membro legislar sobre o exercício da advocacia pública. Mas mesmo se fosse possível

prevaleceriam as normas editadas pela União. Lógico, na

hierarquia das normas, e texto expresso da própria Constituição

Federal:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar ...... § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a

estabelecer normas gerais. § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a

competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a

competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a

eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

E nem poderia ser diferente, porque sendo os

procuradores do Estado advogados responsáveis pela defesa dos

interesses confiados estão sujeitos aos mesmos direitos e

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 28

deveres dos advogados. Não é possível pretender retirar a

condição de desfrutar da mesma condição econômica dos demais advogados. Submetê-los a singela contraprestação pelo

Estado, cada dia menor, colocaria em risco a defesa dos

interesses públicos porque avilta a carreira. Notório que a

Constituição Federal de 1988 sobrecarregou os Estados de

atribuições e encargos ao mesmo tempo que deles retirou

significativa parcela de recursos. Os Estados não conseguem

continuar outorgando remunerações condignas aos seus advogados para assegurar um “contrato de exclusividade”. Em face

disto, a “vedação imprópria” – que decorria de uma necesidade

moral, perdeu razão de existir porque:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio

de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o

Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 29

“Proibir” advocacia fora das “atribuições institucionais”

nasceu no Rio Grande do Sul na década de setenta como

necessidade moral. Em 1º de junho de 1970, acordo entre Ajuris, Associação do Ministério Público e a então Associação dos

Consultores Jurídicos e Advogados de Ofício, presidida pelo Dr.Aldo

Leão Ferreira7, concretizado em requerimento conjunto ao

Governador do Estado solicitou estabelecimento de isonomia e

paridade entre as funções. O Governador atendeu ao pedido e,

em conseqüência da paridade acordada por Juízes, Promotores e

Procuradores, seria imoral não haver os mesmos encargos/vedações – não há ônus sem bônus. Quem faria

concurso para Juiz ou Promotor se pudesse ingressar na carreira

de Procurador do Estado recebendo mesmo vencimento e

aumentando a renda com a advocacia fora das atribuições

institucionais ? Logo, era uma necessidade ética num momento

em que as carreiras estavam equiparadas.

Uma década depois, quando elaborado Estatuto dos

Procuradores do Estado, essa necessidade moral foi introduzida

na Lei Estadual 7.705/82-RS prevendo as mesmas vedações da

magistratura e do MP. Em 1989, quando a Assembléia Legislativa

gaúcha editou a Constituição Estadual, ao referir à carreira de

Procurador do Estado transcreveu regras da Lei 7.705/82. Mas a

paridade – que emprestava suporte moral para tolerarmos a

vedação inconstitucional - foi perdida por uma conjunção de

fatores. Ao longo de uma década não houve reposições

inflacionárias (fato público e notório, dispensando produção de provas vg. art. 334, inc. I, do CPC; a propósito, em 17 de outubro de 2003 Assembléia Geral dos Procuradores do Estado autorizou sua Associação a ajuizar indenização contra o Estado por danos materiais e morais). Notório que o vencimento dos procuradores é inferior à metade da

7 Presidente do IARGS 2004-5.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 30

magistratura e Ministério Público de mesma “entrância” 8. Não há

possibilidade de recuperar a paridade por dois motivos:

Primeiro, porque as carreiras diferenciaram-se. Segundo, porque

recuperar a paridade se tornou economicamente impossível devido a manobras politiqueiras ocorridas ao longo de vários

governos: São tantos os servidores e pensionistas de outros

órgãos que se beneficiariam(efeito “cascata”) que é economicamente impossível o nivelamento – principalmente diante do quadro

econômico que se abate sobre o Estado que sequer consegue

pagar o 13º salário pelo valor atual dos vencimentos. Imagine os

efeitos da reposição inflacionária... Assim, podemos concluir que a

paridade de vencimentos entre procuradores do Estado do R.G.S.

com o MP e Magistratura faleceu por múltiplas causas.

Para que não restem indecisões explicitemos algumas

razões – pouco conhecidas, que conduziram a classe dos

Procuradores do Estado que atuam na defesa judicial a uma

situação vexatória:

8 As vantagens conquistadas pelas carreiras da magistratura e MP diferenciam dos procuradores do Estado: Percebem gratificações por atuação nos plantões ou na Justiça Eleitoral; por atuar em Juizados Especiais ou Turmas Recursais; dispõe de dois meses de férias com adicionais de 1/3, etc. Os procuradores do Estado não desfrutam de quaisquer dessas vantagens e, aliás, nem mesmo um mês de férias dispõe porque só podem efetivamente descansam após terminar os processos anteriormente distribuídos, o que consome média de um terço do período de férias. Além disto, com o novo Estatuto em janeiro de 2002, há procuradores do Estado de c lasse f ina l lotados no interior diferente do MP e magistratura onde a transferência para a Capital é condição para chegar à classe final. Procuradores são inscritos na OAB, pagam anuidade, pagam carteira da OAB. São obrigados a votar nas eleições da OAB sob pena de multa, cujo não pagamento acarreta perda da habilitação para a profissão. Juízes e Promotores não precisam estar inscritos na OAB e não tem qualquer risco de perda da habilitação profissional por multas, etc. Juízes e Promotores podem se associar à Ajuris - VEDADO aos Procuradores – o que impossibilita acesso a uma série de vantagens. Juízes e Promotores podem comprar e portar armas de uso exclusivo das forças armadas. Portaria nº 535, de 1º de outubro de 2002, do Gabinete do Comando do Exército, publicada no Diário Oficial da União nº 198, de 11 de outubro de 2003, pág.8, autoriza membros do Ministério Público e da Magistratura a adquirirem para uso próprio arma de uso restrito, a pistola calibre 40, mais adequada a proteção do portador contra bandidos que não se mixam diante de um 38 com meros 5 ou 6 tiros...

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 31

Causas da quebra financeira:

Motivos totalmente alheios à vontade

O Recorrente mantinha equilíbrio econômico-financeiro

precário até os primeiros meses de 2004, quando escapou o

controle9. Os custos do trabalho (que crescem todo mês) e sustento (alimentos aumentam praticamente todo dia) exigem gastos superiores à receita

(renda baixou, conforme demonstraremos). Fatores totalmente alheios à

vontade colocaram o Suplicante nessa situação. Aliás, pelo

contrário: Luta incansavelmente, com todas forças, inclusive

sofrendo perseguições e discriminações, mas persistindo nas

pautas reivindicatórias institucionais (confira www.padilla.adv.br/pgers) que

fogem ao augusto âmbito da presente e constituem objeto de ação

própria buscando reparação dos danos provocados pelo assédio

moral.

Militante da advocacia, nos anos oitenta cursou

Mestrado na UFRGS para, em 1989, iniciar carreira de docente do

ensino jurídico superior, aspiração acalentada nos bancos

universitários na década de 70. Na época, professores ainda eram

valorizados como prova simples fato de que os primeiros

vencimentos de professor auxiliar no regime de 20 horas em 1989 e início de 1990 ultrapassavam o limite de isenção do Imposto de Renda na

fonte. Com Cheirando Collor de Melo iniciou oficialmente a era de

9 O equilíbrio precário era mantido à custa de muito esforço, compreendido nos exemplos: Há 3 anos o suplicante compra café e outros produtos direto de distribuidores conseguindo preços 20% a 40% inferior aos dos supermercados. Há 4 anos substituiu todas lâmpadas por modelos econômicos. Há 3 anos retirou noBreaks, estabilizadores e comutador de rede da sala de trabalho colocando-os no corredor porque geram calor sobrecarregando o ar-condicionado. Colocou exaustor permitindo ligar ar-condicionado apenas nos dias mais quentes. Há cerca de 2 anos fez “leasing” para substituir monitores por telas de LCD. Mantidos os padrões de consumo de 4 anos atrás, a conta de energia elétrica seria o triplo da atual que é, em moeda corrente, a mesma porque a energia elétrica triplicou de preço.

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sucateamento do ensino público superior e HOJE o vencimento do

professor auxiliar no regime de 20 horas é tão baixo que recebe

complementação para chegar ao valor do salário mínimo.

Em 1992 lecionava na UFRGS como professor substituto – cargo temporário por um ano, prorrogável para o máximo de dois. Haveria concurso para o Quadro Permanente e foi incentivado10 a se inscrever no concurso para

Procurador do Estado. O Suplicante não estava interessado no

cargo porque exercia advocacia há uma década, possuía centenas

de clientes e boa renda... Foi vencido pelo argumento de contar pontos na prova de títulos do Concurso para Professor. Aprovado

para Procurador, obteve Certidão, colocou no currículo mas

terminou assumindo apenas para (pensou) melhorar seu currículo

substituindo “aprovado no concurso para” por “exerceu a função de”. Assumiria

apenas por um dia mas, ao saber do estágio de sessenta dias na

Capital quis adquirir experiência em direito público11. Antes de 10 Entre os colegas do Mestrado da UFRGS que incentivaram a se inscrever no Concurso estavam os atuais professores da UFRGS Jamil Andraus Hanna Bannura, Césio Sandoval Peixoto, e Sérgio Viana Severo; bem como outros que não seguiram a docência como Maria Denise Feix Vargas (mais tarde acresceria ao nome o patronímico Amorim); os dois últimos são procuradores do Estado aprovados no mesmo concurso. Os dois primeiros tiveram mais sorte optando por se manter na advocacia privada.

11 Época: Início dos anos noventa, Internet não disseminada. Hoje, os desocupados de todo gênero despendem tempo e energia criando trotes e vírus de Internet. Raras pessoas possuíam o caro serviço de identificador de chamadas telefônicas facilitando os “trotes” por telefone. Numa manhã de sexta, pensou estar recebendo um trote porque pediram para falar com o “Dr.Luiz Roberto”. O Suplicante invariavelmente era “chamado” pelo Sobrenome... Perdeu o pai relativamente cedo e padeceu circunstâncias traumatizantes da infância. Menor impúbere, foi obrigado a tirar carteira de identidade para poder receber um pequeno valor de seguro que o pai havia deixado. Coisas de seguradoras criando obstáculos para retardar o pagamento... E como retardou: Foram necessários cinco vezes tirar foto, e comparecer ao Instituto de Identificação sujando os dedos de tinta ó lembre que hoje a tinta é facilmente removida dos dedos mas, na época, levava dias óEm três oportunidades erraram o nome do seu pai, grafando-o como Padilha - o que troca a origem. O nome Padilla vem da Espanha, seu pai nasceu na cidade de Jaén, Andaluzia, produtora de azeite de oliva. Mas Padilha vem de Portugal. Na quarta vez, talvez represália pela insistência do garoto pobre, trocaram o sobrenome do meio... Só na quinta vez saiu com a carteira de identidade... A partir daí, sempre que falavam seu sobrenome, ou era chamado, salientava que era Padilla, escrito com dois Éhhhhles” frisando a grafia. Era trauma daquele erro na escrita. No início dos anos setenta foi cursar eletrônica na então mais

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assumir, numa reunião foi seduzido pelo axioma de que carreira

de procurador permitia continuar na mesma faixa de remuneração

alcançada na advocacia com 3 vantagens. Primeiro, carga menor

de trabalho, permitindo dedicar-se à vida acadêmica, estudos,

planos de aula, pesquisa, etc. Segundo, tranqüilidade de 30 dias

de férias anuais recebendo 1/3 de adicional com efetivo descanso, sem

incômodos ao retornar porque os processos seriam acompanhados

por colegas, procuradores de elevadíssimo nível profissional.

Frise-se: A PGE-RS era, até dez anos atrás, o melhor escritório de

advocacia do país. Terceiro, liberar da preocupação com o futuro, e de um dos mais estressantes aspectos da advocacia: Incerteza de

contraprestação, cobrar pouco para não perder o cliente, levar

calotes, etc. Dr.Jorge, Drª Solange, Dr.Fadel, entre outros,

garantiam como conquista inarredável o poder aquisitivo do conceituada escola do pais, o Parobé. Mas veio a reforma do ensino obrigando reformulação curricular mixando formação técnica com cultura para vestibular. A direção da Escola misturou as turmas de todos cursos técnicos e as re-dividiu por ordem alfabética. A turma era composta por 18 Marias, 15 Márcias e 8 Luíses e para evitar confusão todos eram chamados pelo sobrenome. Na TV, crescia o sucesso de Jô Soares com o “Planeta dos Homens” destaque para o quadro “Vai p´r´á casa Padilha” no qual encontrava um baixinho e careca, cara de “pouca prática”, ao qual perguntava desdenhoso o que fazia na rua quando tinha “um mulherão” em casa... O suplicante passou a ser alvo de brincadeiras dos colegas: “Vai p´r´á casa Padilha”. Pouco adiantava dizer que era Padilla, com dois Eles. Os Colegas não perdiam a nova versão da piada: “Vai p´r´á casa Padilla”. Continuou na Faculdade, e passado um tempo as pessoas nem sabiam seu primeiro nome. Muitas vezes, até em atas de audiências e documentos oficiais, constavam outros nomes, desde Luíses como Luiz Carlos, Luiz Fernando, até mesmo nomes diferentes, como Rodrigues. Todos invariavelmente o chamavam pelo sobrenome e quando alguém perguntava pelo “Luiz Roberto” era “trote” ou vendedor de telemarketing... Pois a ligação instava ir a Gramado participar de Congresso de Procuradores do Estado. Informou não ser procurador. Retrucaram haver sido nomeado no dia anterior. Agradeceu respondendo já “estar saindo” para Gramado. Depois de ministrar as aulas, no escritório, recebeu outra ligação - voz diferente – outra convidando “nomeados” para reunião na PGE e enfatizando convite para ir até a Serra. Comentou com a secretária: Que trote elaborado... Duas pessoas sincronizadas querendo motivar ir até Gramado. Com clientes a atender e cobrar, contas a pagar, processos, prazos e afazeres, nem lembrava do concurso. Foi a auxiliar que recordou da certidão anexada ao currículo. Conferiu e, ainda surpreso, decidiu comparecer à reunião cogitando assumir o cargo por um dia para mudar seu currículo substituindo “aprovado no concurso para” por “exerceu a função de”. A reunião era para fixar a posse e combinar o estágio de 60 dias na Capital. Decidiu ficar por este período para adquirir experiência em direito público.

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vencimento corrigido monetariamente. V.Exª perdoe usar moeda

estrangeira, mas a brasileira trocou 3 vezes(no período) e a atual, o (i?)Real, acumula inflação superior a 100%. Dólar é referencial

confiável para dimensionar e comparar poder aquisitivo.

Procuradores do Estado, Promotores de Justiça e Juízes de Direito da classe inicial – abatido imposto de renda e contribuição compulsória ao Ipergs, mensalmente recebiam suficiente para comprar 4.000 mil dólares americanos

no mercado paralelo.

O volume de trabalho era muito menor. Atendiam o

Estado e às pessoas jurídicas de direito público estadual, numa

média de centenas de processos por procurador. Em 1994

iniciou a imposição de defender (sem remuneração) às empresas

públicas, autarquias e fundações privadas, além de outras

entidades, e iniciou uma avalanche de processos, com prazos

preclusivos. A quantidade de processos quadruplicou. Hoje,

Procuradores do Estado desfrutam média real de apenas 15 dias

de férias anuais, porque metade dos trinta dias “oficiais” previstos

na lei ocupam em atender prazos dos processos em seu poder. Ao

entrar em férias, não podem devolver processos cujo prazo tenha

fluído metade. Lembre que o tempo todo recebemos contestações prazo de 60 dias e recursos prazo de 30 dias. Ao voltar de férias, as prateleiras (há anos os escaninhos foram substituídos por armários devido ao volume de trabalho diário) estão repletas de

processos com prazos em curso. Há 10 anos - ah que saudades ! - a

PGE-RS possuía estrutura exemplar. Era considerada o melhor

escritório de advocacia do país. Havia assessores, estagiários,

equipamentos de última geração... Cada procurador possuía pelo

menos um assistente direto, por ele escolhido, além de equipes de

apoio para pesquisa, diligências, etc. A carreira permitia conciliar atividades docentes, e o progresso funcional conduziria à Classe

Superior com remuneração idêntica a dos Desembargadores e

Procuradores de Justiça. Não foi o que ocorreu.

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Ao longo dos últimos anos o Suplicante foi

sobrecarregado de trabalho enquanto sua renda e poder aquisitivo

despencavam. Oposto ao que pretendia ao aceitar o cargo de

procurador. Seu progresso acadêmico parou(é “professor auxiliar 2” há 9 anos) porque não sobrou tempo para se dedicar à pesquisa e teses.

A opção pela advocacia pública fundou-se na perspectiva “certa”

de renda segura e razoável – como Classe Superior o poder aquisitivo deveria ser equivalente a 5 mil dólares mensais para trabalho de responsabilidades, e tempo para se

dedicar à vida acadêmica. Dez anos atrás o Suplicante publicava

e era ativista dos estudos processuais. Auxiliou na reforma do

CPC pelo IBDP do qual era um dos únicos membros gaúchos, que auxiliou a desbravar. Leia sobre o IBDP no RGS, relação de

trabalhos(local e data da publicação) e acesso a centenas de textos

completos (muitos atualizados e ampliados) em www.padilla.adv.br/teses

Em 1994, com a nova moeda e suposto “fim” da

inflação12, começaram as dificuldades dos Estados para pagar.

Iniciou o arrocho. Se tal não tivesse acontecido, e fosse mantido o

poder aquisitivo, o Recorrente - como classe superior - receberia

mensalmente cerca de R$ 18.000,00 líquidos – que corresponderia a um bruto aproximado de R$ 25.000,00.

As dificuldades financeiras são agravadas porque:

(1º)recebe cada vez menos, vencimentos congelados a uma

década. As despesas cresceram reduzindo a renda líquida.

Consome a quase totalidade. Pouco resta, efetivamente, após

pagar os custos do trabalho. No processo de desmanche da

advocacia publica foram (2º) cortadas verbas para pessoal de

apoio e equipamentos. Há três anos, para dispor de auxiliares, o

Suplicante é obrigado a pagar de seu bolso13. Ou seja: Do valor

12 Leia análise do Suplicante publicada em 1993 no trabalho “Porque existe inflação” disponibilizado em www.padilla.adv.br/teses

13 Os gastos com mão-de-obra de trabalho iniciaram no ano 2000. Para dispor de auxiliares, passou a ter que pagar de seu bolso... Além disto, passou a pagar papel e tinta para impressão

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recebido para trabalhar. Além disto, como os equipamentos da

PGE são precários14 e manifestamente insuficientes para a

demanda de serviço a maioria dos procuradores do Estado

trabalha em suas casas (3º)pagando do bolso desde a energia

elétrica até o custo de aquisição e manutenção dos equipamentos

de informática, a tinta de impressão e papel. A situação de

precariedade vergonhosa é fato incontroverso, pois objeto de recente Resolução da PGE, disciplinando “ajuda de custo” aos

procuradores que exercem trabalho funcional em suas

residências:

Decreto 42.819 Art . 29 - Os Procuradores do Estado poderão firmar Termo de Permissão de Uso para utilização, em serviço, de equipamentos particulares de informática, observada a regulamentação a ser estabelecida por ato do Procurador-Geral do Estado. RESOLUÇÃO Nº 02/2004 - PGE Dispõe sobre a ut i l ização de equipamentos part icu lares de in formát ica em objeto de serviço, pelos Procuradores do Estado. A Procuradora-Geral do Estado, no uso de suas atribuições, Considerando a autorização contida no art. 29, do Decreto 42.819,de 14 de janeiro de 2004; Considerando o número insuficiente de microcomputadores e impressoras para atender a demanda diária de trabalho no âmbito da Procuradoria-Geral do Estado,

RESOLVE: Art. 1º - Os termos de permissão de uso a serem firmados pelos Procuradores do Estado, para utilização em serviço de

equipamentos particulares de informática, em ambiente externo, dependerão de autorização expressa do Procurador-Geral Adjunto para Assuntos Administrativos, ouvida a Comissão de Controle de Utilização de Equipamentos Particulares de Informática, de que trata o art. 2°, e serão encaminhados através de expediente administrativo que conterá:

dos trabalhos quando, primeiro por alegada falta, depois por recusa, pararam de os entregar, não obstante obrigado a efetuar os trabalhos em sua residência face à carência de equipamentos na PGE. Aliás, isso aumenta custo da energia elétrica, que também paga do seu bolso.

14 Ilustra a precariedade dos equipamentos da PGE que no início de 2005 mais de CEM dos computadores que aparelham” os 4 andares do Centro Administrativo e 20 escritórios Regionais - 19 no interior do Estado e um em Brasília, são tão obsoletos, tão antigos e ultrapassados, que seu hardware “placa mãe” e processador não permitem instalar plataforma operacional mais “moderna” do que o Windows 95, criado há doze anos... Quer dizer, quando começou a ser difundido o Windows 98, no ano de 1997, o sucateamento físico e humano da PGE-RS corria solto... V.Exª já tentou pesquisar jurisprudência na Internet em computador “aparelhado” com Windows 95 ? Nem perca tempo. É como tentar participar de uma corrida de automóveis pilotando carroça com um jumento: Nem sai do lugar... A maioria das páginas não abre. Nada aparece. As páginas que lê, demora uma eternidade. Num micro desses produzir petiçãozinha pedindo juntada de documento demanda tempo... Obviamente não dá para depender de equipamento obsoleto e lento desses quando há muitos prazos a atender. Some a carência de material humano em quantidade adequada para auxiliar nas pesquisas. A PidapPGE, setor de pesquisa, desde início de 2004 limitos os pedidos de pesquisa ao ponto de os inviabilizar.

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I - a manifestação do Coordenador da Unidade do requerente sobre a necessidade e conveniência da utilização de equipamento particular para o serviço; II - a prova da propriedade ou posse direta do equipamento; III - a prova de adequação do equipamento à configuração mínima exigida, de acordo com o Anexo I, deste instrumento.

Art. 2° - Será constituída Comissão de Controle de Utilização de Equipamentos Particulares de Informática no âmbito da Procuradoria-Geral do Estado, integrada por um representante da Corregedoria-Geral do Estado, um representante da Assessoria de Informática e um representante do Departamento de Administração, designados pelo Procurador-Geral do Estado, com as seguintes atribuições:

I - definir anualmente a configuração mínima admissível para os equipamentos, bem como os softwares e aplicativos necessários ao desenvolvimento dos trabalhos do Órgão; II - apreciar as propostas de utilização de equipamentos particulares de informática de que trata esta Resolução; III - elaborar os termos de permissão de uso, providenciando a publicação no Diário Oficial do Estado das respectivas súmulas, no prazo de 20 dias, contados da assinatura dos mesmos; IV - apresentar sugestões e propor medidas referentes à utilização dos equipamentos particulares de informática para o serviço do Órgão.

Art. 3º - Pela utilização de equipamento particular de informática, compreendendo microcomputador e impressora, em objeto de serviço, em decorrência da assinatura de termo de permissão de uso, o Procurador do Estado receberá indenização mensal e de valor fixo, de acordo com os seguintes critérios:

I - para a utilização do microcomputador, será fixada em 80% do maior valor de locação estabelecido pela PROCERGS e terá como referência as tabelas de preço do Contrato LEQ, realizado, entre a PGE e a PROCERGS, obedecendo os mesmos parâmetros de renovação, correção e período de vigência (Anexo II); II - para a utilização de impressora, será calculada em 80% do custo unitário de 1 (uma) folha impressa a laser, no modo simples, cobrado pela PROCERGS, tendo como referência o número médio de folhas mensais que a Administração estima possam ser gastas por um Procurador do Estado por mês, em serviço realizado fora de sua base de trabalho (Anexo III); III - as indenizações de que trata este artigo serão pagas no mês subseqüente ao da utilização do equipamento, depois de atestada pelo Coordenador da Unidade e homologada pela Comissão de Controle de que trata o art. 2º desta Resolução.

Art. 4º - As despesas decorrentes da execução desta Resolução correrão à conta do Fundo de Reaparelhamento da PGE - FURPGE - Projeto 6027 - Recurso 161.

Art. 5º - As disposições desta Resolução entram em vigor 30 dias após sua publicação. Porto Alegre, 12 de julho de 2004. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado. ANEXO I Menor configuração de equipamento admitida: 1) Hardware a) Microcomputador Pentium III, 400 MHZ ou Microcomputador K6 II, 500 MHZ b) Memória RAM de 64

MB 2) Software a)Sistema Operacional Windows 98 ou superior b) Microsoft Office 97 ou superior ANEXO I I Microcomputadores Maior valor de locação - PROCERGS = R$ 120,00 - 80% x R$ 120,00 =

96,00 Valor Mensal = R$ 96,00 Período de Vigência: junho a outubro de 2004 ANEXO I I I Impressoras Valor do custo de impressão - PROCERGS = R$ 0,08 (por folha) - 80% x R$ 0,08 = R$

0,064 - R$ 0,064 x 400= R$ 25,60 Valor Mensal = R$ 25,60 Período de Vigência: junho a outubro de 2004 Maria Aparecida Dias de Moraes. Diretora do Departamento de Administração. (Boletim 107-2004, DOE 13-07-2004, p. 6-7)

A Resolução prevê valores de pouco mais de 100 reais

- pífios diante dos gastos de elaborar os trabalhos. O prazo expirou em outubro mas só foi implantados depois, inexistindo contrato firmado até aquele momento, porque dependiam de elaboração e aprovação do “modelo de contrato”.

No vai e vem ao Foro gasta combustível, desgasta

veículo; o do Suplicante, com sete anos de uso, necessita

manutenção. Para racionalizar deslocamentos, adotou envio de

petições por fax, entregando-as agrupadas até cinco dias depois.

Isto reduz bastante o custo de combustível, cada dia mais caro -

subiu 4 vezes em 2004. Mas eleva a conta telefônica, embora esse

acréscimo seja inferior ao que despenderia procedendo a entrega

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diária. Aliás, seria impossível. Residindo e trabalhando na zona

norte, deslocar-se para levar petições todo dia ao Foro... Implicaria

uma hora e meia (pelo menos) de trânsito caótico. Restaria ainda

menos tempo para analisar, pesquisar e redigir todos trabalhos

forenses... Sobre todos gastos de energia elétrica, tarifas

telefônicas, bobina de fax (importante imprimir o comprovante de envio para evitar “problemas”), papel para as petições, tinta de impressão, manutenção

de equipamento, combustível, etc., incidem taxas e impostos na

maioria do fisco estadual. Quer dizer: O Suplicante trabalha cada

dia mais em defesa dos interesses do Estado e devolve ao Estado

considerável parcela de sua “renda” porque paga os custos do

trabalho. Essas circunstâncias revelam que a renda líquida,

abatidas pensões alimentícias15, contribuição compulsória para o IPERGS – agora maior, e descontando o gasto com o trabalho. A

renda líquida do Suplicante é de cerca de mil reais mensais, os quais consome em coisas triviais como condomínio e

supermercado – IGUALMENTE recolhendo ICMS para o Estado.

Quer dizer: A renda líquida do Suplicante está totalmente aviltada

15 Das 3 pensões alimentares descontadas em folha, duas têm valores impostos contra a

vontade do Suplicante que envida esforços para modificar a situação. Exceção feita à pensão da filha Ângela de 9 anos, cujo valor, liminarmente arbitrado em cerca de R$ 1.200 em agosto de 2003, restou reduzido a um terço em dezembro de 2003 após colheita da prova e análise em audiência de instrução e julgamento que durou três horas magistralmente presididas pelo Juiz de Direito André Guidi Colossi, ao fim da qual a mãe e representante legal da filha concordou com o valor de R$ 425,oo como adequado. Mas as duas demais filhas estão com os valores das pensões, que as mães embolsam e não reverte em favor das meninas, distanciados da realidade, valores excessivos. Somam mais de R$ 3.000, justamente porque os valores foram baseados no “bruto” dos contracheques do Suplicante, que luta para modificar a situação, mas sofre entraves. Uma delas - por exemplo é objeto de pedido l iminar perante a 1ª Vara de Família e Sucessões que aguarda, desde novembro de 2003, que o pedido seja analisado, retardado primeiro por um Agravo de Instrumento totalmente protelatório nº 70008085318, e depois pela recusa pura e simples em analisar, sob pretexto de que o Suplicante, não obstante manifestamente sem recursos, teria que contratar um advogado e não poderia atuar em causa própria... Mas as duas pensões – cujos valores não levaram em conta o que o Suplicante gasta para poder trabalhar, tem valores - cada uma delas, superiores à renda líquida. Quer dizer: O Suplicante trabalha, faz malabarismos para pagar os custos do trabalho, e sobra uma mixaria porque alguém – que recebe para isto, ainda não teve tempo de fazer analisar os documentos e fazer contas !

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para a natureza e importância econômica do trabalho pela

conjunção de (a) congelamento do valor e (b) aumento dos custos.

Todo dia aumenta o trabalho dos procuradores, e com isto eleva o

custo porque demanda mais papel, tinta, o uso das máquinas

torna mais freqüente a manutenção. Só para ilustrar: O aparelho

de fax Brother MFC 890MC adquirido em 1994 como “último tipo”– com

verba recebida da advocacia privada em 2004 esteve três vezes

em conserto sinalizando necessidade de substituição mas... Onde

obter recursos? Outro exemplo, em maio de 2004, o micro que

também funcionava como servidor da rede (pela impossibilidade financeira de manter um micro específico para a função) queimou o HD (disco rígido). Também

pudera: Contava 4 anos de uso e a especificação técnica dos HDs

recomenda troca anual, no máximo a cada 2 anos. Mas onde vamos conseguir milhares de reais para todo ano trocar HD de cada computador ?

Contracheques do Suplicante somada pequena retribuição

que aufere na UFRGS por lecionar alcançam cerca de R$ 10.000,oo - número relativamente expressivo – o resultado da soma bruta –

mas totalmente ilusório porque a “real” renda líquida é 10% -

dez por cento – do bruto. Inferior a cinco salários mínimos, os

quais consome praticamente com alimentos para si e para as suas

três filhas com idades de 13, 9 e 3 anos que - metade do tempo - estão na

casa do Pai e precisam se comer16.

16 As três filhas do suplicante passam a metade do tempo na casa do Pai e precisam se

alimentar constantemente por estarem em crescimento. Ontem, por exemplo, as três estiveram na casa do pai. Alimentaram-se de dia e à noite. Vai leite. A pequena Ellisa só toma leite em pó desde bebê, recusando leite processado que vomita. Entre chegar a tardinha e ir para a Escolinha no final da manhã seguinte foram duas mamadeiras, quase 100g de leite em pó. Vai Pão, vai queijo, iogurte. As crianças também precisam de carne, frutas. Todas gostam de Pizza, mas em 2004 o Suplicante pediu TELE ENTREGA uma única vez. Comer fora ? Colocando a mesa na varanda... Pizza? Só das congeladas e apenas quando há oferta. Esforçamo-nos para estimular as meninas a comer salada. Aliás, para reduzir o custo da salada, que envolve também o deslocamento quase diário implicando custo de transporte e de tempo, o Suplicante transformou o seu antigo mini jardim numa horta. Plantou rúcula, pimentões, algumas verduras e frutas. Há um ano toma suco de maracujá colhido no pátio. V.Exª percebeu que o pimentão, na semana

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O Suplicante foi levado a essa situação aos poucos,

despercebidamente, ao longo de uma década. Sobrecarregado

pelo trabalho, só percebeu a ruína econômico-financeira há um

ano. No passado as despesas eram menores, e o Suplicante tinha

renda maior. Até há pouco recebia pelos trabalhos realizados há dez anos ou mais na advocacia privada. Quando iniciou na advocacia

pública acertou percentuais variados, conforme o trabalho já

realizado, com Colegas substabelecidos. Nos primeiro anos, todo

mês recebia participações nos honorários, conforme amplamente

comprovado nas declarações de imposto de renda e documentos

do livro caixa. Foi com o dinheiro proveniente dos trabalhos na

advocacia privada que comprou um carro (usado), computadores

(ultrapassados), impressoras, etc. Mas essa receita foi escasseando. Não ajuizando novos “causos” os processos findam. A última

receita foram R$ 219,oo em janeiro de 2004, valor pífio que não

custeia uma carga de tinta de impressão17. Quer dizer: A renda real passada, custava mais caro que a carne de primeira ? Estava R$4,00 o kg e do pimentão aproveita-se metade porque o talo, relativamente grande e mais pesado, bem como o miolo com sementes, são descartados. E o tomate ? Viu quanto custa ? Com o preço do Kg de tomate, hoje, há 5 anos comprávamos uma caixa de 10Kg !

17 O Suplicante utiliza impressoras Epson modelo Stylus C80 que possuem 4 cartuchos, um preto, e 3 coloridos (magenta, ciano e amarelo). O equipamento foi adquirido com um dos últimos valores recebidos dos trabalhos na advocacia privada e não fosse por ela, realmente muito econômica, a situação seria pior. No ano de 2001 os técnicos da Assoc iação Bras i le i ra de Defesa do Consumidor , da qual o Suplicante é associado-fundador, realizaram análise criteriosa das impressoras no mercado nacional e visando a relação custo/benefício, qualidade, velocidade de impressão, e redução do custo por fo lha impressa . Demonstraram que a impressora Epson Stylus C-80 é a escolha adequada para usuários que imprimem volume de texto com eventuais imagens ou timbres. Quadro mais tarde publicado no Informat ivo Proteste nº 6, de agosto de 2002, pág.8 a 11, comparou todas impressoras do mercado, das jatos de tinta às lasers, e considerando do preço de aquisição da própria impressora ao necessário para cartuchos de tinta, e considerando volumes de milhares de páginas impressas, o custo da impressora Epson Stylus C80 é inferior à metade do das demais. O custo reduzido se deve à tecnologia. A impressão é realizada ponto por ponto até compor a imagem desejada, figuras ou letras. Na Epson Stylus C-80 a tecnologia reduziu o ponto de impressão consumindo menos da metade da tinta de uma impressora convencional. É como comparar duas canetas. Uma escrita fina, outra escrita grossa, ambas com mesma quantidade de tinta. A caneta escrita fina escreve o dobro porque, em cada traço gasta metade da tinta... A Epson Stylus C-80 é uma impressora rápida e econômica. Apesar do volume de texto impresso, despende apenas uma carga de

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– da qual vive o Suplicante e alimentam-se suas 3 filhas nos

períodos em que estão com o pai, todo mês cai porque: (a) a

renda fixa (PGE+UFRGS) está congelada há uma década; (b) a renda

variável dos trabalhos anteriormente realizados praticamente

esgotou; e (c) as despesas com o trabalho sobem todo mês.

Além das despesas pessoais, condomínio e

alimentação para si e para as 3 filhas, possui gastos com médicos

e medicamentos. No mês de agosto de 2004, sofreu intervenção

cirúrgica, gastando mais de mil reais entre a anestesia, ponta de shaver e medicamentos; e persiste gastando com fisioterapia.

Estes fatores são totalmente alheios à vontade do Suplicante que,

aliás, enfrenta batalha institucional. E ainda querem que contrate

advogado para receber algumas dezenas de reais que destinam-

se a minorar suas dificuldades !

Não obstante as agruras e dificuldades, trabalha

incessantemente para colocar em dia seus estudos, acompanha

centenas de processos da PGE e prepara suas aulas na UFRGS.

Evidentemente precisa ajuda, mas tem que arcar de seu bolso. No mencionado mês de agosto de 2004, visando minorar seu déficit financeiro provocado pela cirurgia, dispensou a estagiária.

O desmanche da PGE é comentado no meio jurídico,

mas certamente V.Exª não possuía um conjunto de informações

precisas. Dizer que a situação financeira permanece inalterada

faltaria com a verdade... Porque piora ! As despesas sobem ! Há

meses tornaram-se superiores aos ganhos. Procuradores

cartuchos de tinta a cada 10 a 20 dias. Os 3 cartuchos coloridos tornam mais econômica evitando necess idade de trocar cartucho de 3 cores quando apenas uma acabou. Nas máquinas padrão, o cartucho colorido tem 3 compartimentos obrigando a efetuar a troca quando apenas uma cor acabou porque usar cartucho colorido com um reservatório vazio danifica o cartucho, impedindo recarga, e coloca em risco a impressora porque pode vazar causando curto-circuito na placa. Uma carga de cartuchos, 3 coloridos e um preto, custa menos de R$ 300,oo.

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 42

recebem metade dos vencimentos da magistratura e Ministério

Público18. Assessores do Ministério Público e Tribunal de Justiça

estão com vencimentos superiores aos dos Procuradores do

Estado.

A maioria dos Procuradores do Estado do RS passam

necessidade ou dificuldades. Também pudera: Uma década sem

reposição inflacionária e “proibidos” de completar a renda com a

advocacia ! Porto Alegre foi a cidade de maior elevação do custo de vida ! A situação aqui é - s.m.j., a pior do país porque, embora

haja Estados onde o vencimento dos Procuradores de Estado seja

nominalmente menor que na Capital gaúcha, como MG, mas lá

completam a renda advogando. A vida em Porto Alegre, onde vive a

maioria dos procuradores, é a mais cara. As condições são cada

dia piores19. A carreira virou cargo de “passagem”. Em

www.padilla.adv.br/pgers/sangria.mht está a lista de evasões que

supera metade do quadro.

18 Vantagens conquistadas pelos membros do MP e magistratura estabeleceram uma

diferença muito grande dos procuradores do Estado: Entre outras vantagens que os procuradores não recebem, S.Exªs percebem gratificações por atuação na Justiça Eleitoral; nos Juizados Especiais ou Turmas Recursais; e plantões. Desfrutam dois meses de férias com adicionais de 1/3 enquanto procuradores do Estado não gozam nem mesmo um mês de férias porque só podem descansar após terminar os processos distribuídos consumindo vários dias de férias. Estatuto da PGE de janeiro de 2002 criou procuradores do Estado de c lasse f ina l no interior, diferente do MP e magistratura onde a transferência para a Capital é condição para chegar à classe final. Procuradores são inscritos na OAB, pagam anuidade, pagam carteira da OAB e são obr igados a votar nas eleições da OAB sob pena de multa, cujo não pagamento acarre ta perda da habi l i tação para a prof issão . Juízes e Promotores não precisam estar inscritos na OAB e não tem qualquer risco de perda da habilitação profissional por multas, etc. Juízes e Promotores podem se associar à Ajuris - VEDADO aos Procuradores – o que impossibilita acesso a uma série de vantagens. Juízes e Promotores podem comprar e portar armas de uso exclusivo das forças armadas. Portaria nº 535, de 1º de outubro de 2002, do Gabinete do Comando do Exército, publicada no Diário Oficial da União nº 198, de 11 de outubro de 2003, pág.8, autoriza membros do Ministério Público e da Magistratura a adquirirem para uso próprio arma de uso restrito, a pistola calibre 40, mais adequada a proteção do portador contra bandidos que não se mixam diante de um 38 com meros 5 ou 6 tiros... 19 O “sucateamento” decorre da carência de recursos pelo Estado. Ilustra-o que, para não deixar os servidores sem o 13º salário, o Estado do RS “inventou” um mecanismo no qual o Banrisul "empresta" aos servidores o valor que corresponderia ao 13º salário...

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 43

Manchetes e destaques na imprensa tratam de uma

década de perda de remuneração. Procuradores do RS, como

professores federais, estão com remuneração notoriamente

aviltada, (dispensando produção de provas art. 334, I do CPC). Preocupações são

ilustradas pelo comentário do Jornalista Lasier Martins, há 3 anos,

na Rádio Gaúcha: "Olha Rosane, nós já estamos quase cansados de pedir melhor policiamento e defender um melhor

tratamento remuneratório a essas categorias que têm a dura missão de zelar pela segurança de todos nós gaúchos. Mas agora surge um novo problema salarial que está atingindo uma outra importante categoria do funcionalismo, sobre a qual nunca se fala, porque era bem paga e porque muita gente nem sabe bem o que fazem os seus integrantes :

"São os Procuradores do Estado. Hoje, em torno de 200 mais ou menos, na ativa. Cada um cuidando em média de 1500 processos. É uma categoria que há sete anos não recebe um tostão de reajuste ou reposição de inflação. Os procuradores vivem uma defasagem em torno de 63% dos seus salários[hoje 100%], mas falo no assunto por causa das conseqüências. Muitos procuradores estão migrando para outras atividades: concursos, atividades privadas, enfraquecendo a Defesa do Estado, que é indispensável. E os que ficam estão desestimulados, os procuradores, como se sabe, cuidam da vida jurídica do Estado, cobram a dívida ativa, que é grande, defendem o Estado nas ações que o Estado sofre, dão parecer sobre toda e qualquer iniciativa que o Governo queira tomar... Tudo passa pela Procuradoria do Estado, para que um procurador diga se aquilo é legal ou não. Pois esse órgão da administração está começando uma Operação Padrão em várias cidades do interior em protesto por não receberem reajuste há sete anos[hoje 100%]. Mas agora também porque os procuradores acabam de receber uma proposta do Governo para renunciarem os direitos que ganharam na justiça: as diferenças da conversão do Cruzeiro em URV, ainda quando houve a passagem do Cruzeiro em 94, do Cruzeiro para a Unidade Real de valor. Algo que o Judiciário e o Ministério Público já concederam administrativamente há mais tempo. Daí o conflito de agora. O Governo Olívio até havia prometido resgatar a paridade dos procuradores com juízes e promotores, o que não aconteceu, hoje há uma diferença muito grande. E agora o Governo quer que os procuradores renunciem o que ganharam, as diferenças da URV desde 94, mais ou menos 9%, e que só aceitem esse pagamento a partir do mês que vem. Então a desavença está deflagrada. O Estado perde, e com ela perde também aquela cultura de que o Estado é bem defendido. Há muito desestímulo e isto é ruim para todos." (grifamos - A notícia é de 2001, por isto fala em 7 anos sem reajuste)

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 44

O Suplicante trabalha incessantemente apenas e

exclusivamente para sustentar 3 filhas, mas já não consegue

arcar com todas as despesas indispensáveis ao sustento.

Obviamente não dispõe de recursos para custas, muito menos

para contratar advogado para receber alvará. Foi obrigado a

advogar em causa própria, o que a ética recomendaria evitar,

pedindo vênia por destacar a situação econômico-financeira mas,

há mais de um ano o gasta o que ganha apenas com despesas de

trabalho e o indispensável ao sustento. Em meados de 2004, a

elevação do valor das despesas fez gastar mais do que recebeu.

Artigos de legislação estadual, sejam da Constituição

Estadual ou de Leis Orgânicas das Procuradorias Estaduais, não

podem criar incompatibilidade ou impedimento não estabelecidos

no Estatuto da Advocacia da OAB, Lei Nacional de Advocacia. O atual Estatuto da OAB reprisa norma contida no Estatuto anterior (Lei

Federal n° 4.215/63, art.85, inc.VI), prevendo proibição parcial, ou seja,

mero impedimento, afastando o exercício da advocacia pelos

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Recurso no Processo Administrativo Disciplinar nº 7800-1000/02-7 por Luiz Roberto Nunesos Padilla *página 45

Procuradores de Estado tão somente “contra a Fazenda Pública

que os remunere” (art. 30, inc I da Lei 8.906/94). Na confecção de lei orgânica de sua Procuradoria, cada Estado-membro deve obediência ao comando. Se elaborou – com o in casu,

anteriormente à vigência do atual Estatuto da Advocacia (Lei Federal n° 8.906 de 4/794) a legislação estadual deve estar harmonizada com o

disposto no art. 85, inc. VI, do antigo Estatuto da Advocacia. A

atuação dos Procuradores de Estado é pautada por forte

regramento ético, forçoso admitir que o pleno exercício da

advocacia é fator importantíssimo para o aprimoramento e valorização das funções desempenhadas no âmbito da Advocacia

de Estado.

Digne-se a dar provimento ao presente recurso para

reformar a r.Decisão e determinar o arquivamento do processo.

Atenciosamente, espera deferimento.

Objetivando alcançar J u s t i ç a Da Procuradoria do Domínio Público, Porto Alegre, 27 de janeiro do ano 2005.

Luiz Roberto Nuñesos Padilla Advogado Procurador do Estado Classe Superior OABRS 16697

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