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Page 1: EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA EXMO. SR. DR. JUIZ … · Entende a Embargante que a fixação de honorários advocatícios sucumbenciais em percentual inferior a 10% sobre o valor

EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 4ª

VARA FEDERAL DE PORTO ALEGRE - RS.

Processo nº 11111111 (RS)

aaaaaaaaaaaaaaa, já qualificada nos autos do

processo epigrafado, em que é embargante a UNIÃO FEDERAL, interpõe

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO da decisão que julgou os embargos à

execução pelo que passa a expor:

Honorários Advocatícios

Vossa Excelência assim determinou, relativamente

aos honorários advocatícios:

A União deverá arcar com honorários advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (um mil reais), com base no artigo 20 do CPC. Custas ex lege.

A Embargante não questiona o valor, mas sim a

fundamentação, visto que, como está lançada a fundamentação há prejuízo

quanto ao recurso de apelação ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Explica-se:

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Entende a Embargante que a fixação de honorários

advocatícios sucumbenciais em percentual inferior a 10% sobre o valor da

condenação/ou decaimento, é inconstitucional. Normalmente a fundamentação

para tais fixações é o parágrafo 4º, do art. 20, do Código de Processo Civil.

No presente processo não constou em qual parágrafo

fundamentou este Juízo para fixar honorários de R$1.000,00.

A Embargante vai recorrer por vários motivos, e um

deles é a inconstitucionalidade da norma citada, porém, a sentença foi omissa

quanto à aplicação desta norma, contida no §4º, do art. 20, do Código de

Processo Civil. Porém, a falta de fundamentação está a empecilhar o direito de

defesa de sua tese, que abaixo segue para apreciação deste Juízo, para que, se

for o entendimento, imprima efeito modificativo aos presentes embargos para o

fim de condenar a União ao pagamento de honorários de, no mínimo, 10% sobre

o valor da causa.

Inconstitucionalidade do §4°, do artigo 20, da Lei 5.869

O disposto no artigo 20, §§3º e 4°, do Código de Processo

Civil é inconstitucional no que diz respeito à Fazenda Pública.

O citado artigo assim prevê:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao

vencedor as despesas que antecipou e os honorários

advocatícios. Essa verba honorária será devida, também,

nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.

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§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de 10%

(dez por cento) e o máximo de 20% (vinte por cento) sobre

o valor da condenação, atendidos:

a) o grau de zelo do profissional;

b) o lugar de prestação do serviço;

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado

pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

§ 4º. Nas causas de pequeno valor, nas de valor

inestimável, naquelas em que não houver condenação ou

for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções

embargadas ou não, os honorários serão fixados

consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as

normas das alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo anterior.

A regra para fixação dos honorários advocatícios é

sua aplicação sobre o valor da condenação.

Esta regra que prevê que cabe ao Juiz a fixação dos

honorários fora do patamar previsto para os particulares, parágrafo 3º do artigo

20, é absolutamente inconstitucional.

A regra ora em questão (§4°, do artigo 20, da Lei

5.869 – de 11-01-1973 na parte em que privilegia condenações contra a

Fazenda Pública) afronta o princípio constitucional da igualdade, foi editada

sob os auspícios do ato institucional de 1969, uma Constituição Imposta, criada

sob a égide do pensamento antidemocrático, quando não se imaginava

igualdade entre o Estado (todo poderoso) e os particulares.

Desde a promulgação da Constituição Federal de

1988, instituída por um Poder Constituinte Originário (não à toa chamada de

cidadã, por sua índole democrática), todos são iguais perante a Lei, portanto,

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a condenação sucumbencial no processo civil tem de ser igual para o

particular e para o Estado.

O artigo 5º da Constituição Federal dispõe que “Todos

são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:”. Esta garantia consta de todas as Constituições Brasileiras e é

pilar do Sistema Constitucional Brasileiro.

Muito embora se entenda que esta garantia de

isonomia não seja absoluta, pois há na própria Constituição Federal normas

anti-isonômicas, não se admite que possa a legislador infraconstitucional

criar normas discriminatórias.

No processo civil, a busca pela isonomia entre as

partes é fundamental, tanto que se admitem regras que, em princípio

desigualam as partes, como é o caso da inversão do ônus da prova para o

consumidor, entre outros.

Em suma, uma norma que em tese desiguala as

partes pode ser isonômica, desde que o objetivo seja igualar partes

desiguais.

CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO1, sobre

este tema, entende que se deve indagar “se há justificativa racional para, à vista

o traço desigualador adorado, atribuir o específico tratamento jurídico construído

em função da desigualdade afirmada”.

1 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3.ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2001, p.41.

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Para CRISTIANE FLORES SOARES ROLLIN2,

“estará violada a garantia do tratamento isonômico sempre que não houver

correlação lógica entre a norma que estabeleceu a desigualdade e o fator que a

tenha ensejado”.

No caso em tela, quanto aos honorários advocatícios

há extrema desigualdade entre as partes, pois a Apelante – Contribuinte – É

MUITO MAIS FRÁGIL QUE A FAZENDA NACIONAL. Somente a título de

exemplo, tem-se que os Advogados da Apelante estão advogando para uma

pessoa jurídica em liquidação judicial (falida), em contrato de risco cuja

remuneração é a sucumbência, todo o processo é custeado pelos Advogados

da Apelante, ao passo que os Procuradores da Fazenda (que tiveram ixados

honorários de 5% (cinco por cento) sobre o valor atualizado da causa), para

atuar no feito usam papel pelo qual não pagam, computador que não pagam,

energia que não custeiam, a petição é levada ao Fórum por um preposto que

não remuneram, etc: em outras palavras, os Procuradores da Fazenda não

têm custo algum com o processo, sem contar a estrutura Jurídica ao seu

dispor. Portanto, se há alguma iniqüidade que merece ser revista é em favor da

Apelante.

O fator que paulatinamente tem sido invocado

para ensejar esta desigualdade na fixação de honorários sucumbenciais é

“O INTERESSE PÚBLICO”.

Em nome do “interesse público” a lei processual

concede este PRIVILÉGIO à Fazenda, que, na prática, determina a

INEXISTÊNCIA DE SUCUMBÊNCIA PARA A FAZENDA.

Entende a Recorrente que efetivamente trata-se de

um PRIVILÉGIO e não de prerrogativa.

2 DONADEL, Adriane... [et. al].As garantias do cidadão no processo civil: relações entre constituição e

processo. Org. Sérgio Porto. Porto Alegre: Licraria do Advogado, 2003, p. 63.

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ADA PELLEGRINI GRINOVER3 distingue

prerrogativas de privilégios nos seguintes termos: “As prerrogativas são

instituídas em razão do interesse público e, por isso, são irrenunciáveis. Os

privilégios, em contrapartida, são instituídos para proteção de interesses

pessoais”.

O interesse público é algo vago, seu conceito está

embasado com o bem comum, outro instituto vago, onde cabe tudo e ao mesmo

tempo, nada.

Em tese, se se pensar no conceito abrangente,

sempre a Fazenda Pública tratará do interesse público, porém, isto não é

verdade; pelo menos para justificar o privilégio de litigar com absurda e

desigualitária vantagem de não pagar honorários nos mesmos patamares que o

particular.

Para o particular, a condenação honorária – se

vencido – será de 10% a 20% sobre o valor da condenação. Para a Fazenda, na

mesma ação, a condenação poderá ser inferior a 10% do valor da condenação, e

neste caso foi exatamente isso que ocorreu.

Esta diferenciação de tratamento afronta a garantia da

isonomia processual e não se justifica, visto que neste processo a Fazenda

atuou como parte tal qual a Recorrente e deve correr os mesmos riscos de

sucesso ou insucesso na demanda.

Neste sentido lecionam ROGÉRIO DE LAURIA TUCCI

E JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI4: “não há como vislumbrar diferença, de

que natureza seja, entre a sucumbência de um particular e a de uma pessoa

3 GRINOVER, Ada Pellegrini. Os Princípios Constitucionais e o Código de Processo Civil. São Paulo:

Bushatsky, 1975, p. 25. 4 TUCCI, Rogério de Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e. Constituição de 1988 e Processo. São Paulo:

Saraiva, 1989, p. 40.

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jurídica de direito público, no processo civil. E isso, sobretudo, à vista do

motivo determinante da adoção da regra da sucumbência, qual seja, a de que ao

vencedor deve ser assegurada total reparação patrimonial dos encargos

resultantes da demanda”.

ADA PELLEGRINI GRINOVER5 sobre este tema

assim afirma: “não se trata de levar em consideração o aparelhamento completo

dos órgão estatais; não se trata, tampouco, de atentar para o interesse social ou

bem comum. O que se pretende, simplesmente, é privar a parte contrária da

parcela de honorários que receberia, se seu adversário, sucumbente, não

fosse órgão estatal”.

Estas opiniões vão ao encontro da tese aqui exposta.

O argumento contrário à condenação da Fazenda ao

pagamento de honorários no mesmo patamar que o particular é o interesse

público, porque, em última análise os honorários seriam pagos pela população...

Ocorre que o privilégio aqui combatido não atinge somente a Recorrente ou

alguns particulares, mas uma coletividade, uma infinidade de pessoas que

buscam a tutela Jurisdicional contra o estado.

A regra ora em questão (§4°, do artigo 20, da Lei

5.869 – de 11-01-1973 na parte em que privilegia condenações contra a

Fazenda Pública) desestimula o exercício da cidadania e a própria melhoria

do serviço de arrecadação pública, pois a Fazenda pensaria duas vezes

antes de ingressar com ação temerária.

5 GRINOVER, ob. cit., p. 40/41.

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Além disso, afronta o princípio constitucional da

igualdade, foi editada sob os auspícios do ato institucional de 1969, uma

Constituição antidemocrática.

Desde a promulgação da Constituição Federal de

1988, todos são iguais perante a Lei, portanto, a condenação sucumbencial

no processo civil tem de ser igual para o particular e para o Estado.

Não se pode aqui invocar princípio de Direito

Administrativo da prevalência do interesse público sobre o privado.

Em termos de processo civil todos são iguais, até

mesmo porque a abertura absurda e discriminatória de possibilidade de

fixação de honorários abaixo dos 10% sobre o valor da condenação, com

base no parágrafo 4º, do artigo 20, do Código de Processo Civil quando a parte

vencida for a Fazenda ACABA COM A REGRA DA SUCUMBÊNCIA.

Isso é desigual, irrazoável, desproporcional e

injustificável frente ao princípio da isonomia.

Para ser coerente, ou se declara inconstitucional o

parágrafo 4º, do artigo 20, do Código de Processo Civil na parte que diz respeito

à Fazenda, OU SE DECLARA QUE O ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL NÃO SERVE PARA NADA.

Demais disso, há uma questão de ordem prática

muito importante que está em jogo e a aplicação da benesse de não arcar

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com os ônus sucumbenciais afronta o sistema jurídico, na medida em que

estimula lides e atos temerários dos agentes públicos, que – na pior das

hipóteses, terão somente os atos anulados, sem enfrentar os riscos que os

particulares têm ao litigar em Juízo.

É óbvio que se a Fazenda Pública não fosse

privilegiada por aqueles que aplicam a regra citada, fixando honorários

advocatícios no mais das vezes irrisórios e desproporcionais aos honorários

que são fixados - em percentual - aos advogados da Fazenda, o Judiciário não

estaria tão abarrotado de processos e recursos estatais, os quais no mais

das vezes são meramente procrastinatórios.

Já está na hora de se desestimular atos como os que

estão sendo objeto da presente lide através da condenação firme e proporcional

aos danos, da Fazenda Pública.

Portanto, a decisão recorrida contraria o artigo 5º da

CF, merecendo reforma, para o fim de, com base na inconstitucionalidade do

parágrafo 4º do artigo 20 do CPC, serem arbitrados honorários advocatícios

entre 10% e 20% sobre o valor da condenação.

Requerimentos

Ante ao exposto, requer seja esclarecida a sentença

para:

1) que se manifeste este Juízo sobre a extensão da

assistência judiciária gratuita requerida na manifestação sobre os embargos.

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2) que indique, este Juízo, se sua sentença se fundou

na norma contida no parágrafo quarto, do artigo 20 do Código de Processo Civil

para fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais e, em sendo afirmativa

esta premissa, se manifeste Vossa Excelência sobre a Constitucionalidade do

referido dispositivo para fins de pré-questionamento da matéria já em primeiro

grau de jurisdição.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Porto Alegre, 21 de setembro de 2010.

ccccccccccc

OAB/RS